So Much to Lose Escrita por: Andressa Buss Betada por: That
Aquele dia, diferente dos outros, ela escolheu sair de casa sem lhe dar tchau, sem um beijo de até logo, sem um sorriso. Saiu batendo a porte como se quisesse deixar claro todo o ressentimento e toda a mágoa dentro dela.
Afinal, o que poderia acontecer? Passaria o dia ignorando seus sinais, suas mensagens, suas ligações. Quando chegasse em casa, ele pediria desculpas, talvez uma pequena briga, um abraço e em seguida a certeza de que ele nunca a deixaria. O que poderia acontecer, não é mesmo?
Ela caminhou uma rua ou duas cantarolando baixinho a música que seus fones tocavam, distraída. E quando passou por uma livraria quis parar para comprar o livro que desejava há semanas. Ah, se tivesse parado ali... Mas deixaria para depois, talvez comprasse para ela como um pedido de desculpas.
Ela continuou avançando e parou em uma cafeteria, pediu um chocolate quente. Deveria ter ficado ali também, lido o jornal, riscado no copo, não ter ido ao trabalho. Aliás, ela queria ter ficado na cama, deveria ter ficado. Deveria ter abraçado e pedido desculpa, dito que sentia muito, deveria ter inventado uma razão qualquer para permanecer em casa, estava tão frio aquele dia.
Mas ela levantou, brigou, saiu batendo a porta porque estava magoada, não parou na livraria e tomou seu chocolate quente enquanto caminhava. Bom, não exatamente, pois o copo ainda estava cheio quando atingiu o chão e espalhou-se pela calçada, porque foi rápido demais.
Alguém puxou seu braço bruscamente e ela resistiu, por impulso. Quando se virou para ver o que estava acontecendo, olhos azuis a encararam. Mas não azuis acolhedores, doces e com um pequeno toque de malícia como os de ... Os olhos que a encaravam eram frios e vazios. Havia uma arma apontada para sua cabeça e ela nem mesmo teve tempo para entender o motivo.
E foi naquela hora que ela finalmente teve certeza que era sua vida. Ora, não deveria ser toda a sua vida a passar na frente de seus olhos naquele momento? Mas ele foi a única coisa que preencheu sua mente.
Naquele espaço de tempo minúsculo ela desejou estar na cama, sentindo o hálito quente dele em seu pescoço. Desejou não ter brigado com ele, desejou não estar magoada. Desejou ter pedido desculpas e desejou ter recebido um abraço dele que acabaria com todo aquele sentimento sufocante que estava em seu peito.
Ela viu seus olhos azuis e o brilho intenso deles, viu seu sorriso, sua tatuagem e suas mãos entrelaçadas.
Uma última vez, o mesmo arrepio que ele sempre causara nela a preencheu e, mais do que nunca, ela desejou estar em seus braços.
Ela se lembrou de sair sem se despedir e lembrou-se de como os olhos dele pareciam sofrer quando ela o viu pela última vez. Ela se lembrou de se amaldiçoar um segundo depois de bater a porta e desejar voltar para ele, desejar abraçá-lo.
Maldito orgulho.
Naquele instante, seu coração comprimiu-se em uma partícula insignificante e o ar abandonou seus pulmões. Suas pupilas dilataram-se e ela desejou estar ao lado dele.
Mas, em um piscar de olhos, tudo o que ela sentiu foi uma dor aguda enquanto seu corpo chocava-se com o chão.
A vida abandonou seu corpo tão rápido quanto abandonou os olhos dele ao receber a notícia. E logo, eles também se tornariam frios e vazios como os daquele homem, ainda que de uma maneira diferente, mais amarga.
E quando a primeira lágrima escorreu por seu rosto, ele sabia que não seria a última. Ele sabia que aquela angústia não o abandonaria tão cedo. Ele sabia que estava perdendo uma parte dele e que a culpa por não ter corrido atrás dela e a beijado, como queria ter feito, seria a única coisa que existiria dentro dele além daquele vazio.
Todas as lembranças que sua mente guardava dela, todos os seus sorrisos, todos os seus beijos, queimavam-no por dentro no meio de uma confusão de sentimentos. A saudade, a angústia, a raiva.
Ele tomou então mais um gole da bebida que havia em seu copo e queimava sua garganta na esperança de apagar toda aquela dor.
Afinal, o que poderia acontecer?
Nota da autora: Hey, folks! @whoismcfly aqui, agradecendo a sua presença o/ Obrigada por ter lido, por estar lendo isso aqui e por comentar (eu sei que você vai... né? haha). A ideia desta short simplesmente me encantou, e ela surgiu depois que eu lia um livro sobre fatos reais de um dos sequestros mais famosos que existem (mas infelizmente eu não lembro o nome do livro). A menina saía de casa sem dar tchau para a mãe, por estar braba, e no fim era sequestrada e etc. Anos depois, depois de crescer presa naquele inferno, ela conseguiu fugir do homem que a sequestrou, e ela conta no livro que antes de sair de casa, pensava "bom, o que poderia acontecer?". Aquilo REALMENTE me marcou, e eu fico com uma angústia gigante cada vez que saio de casa depois de uma briga, ou se alguém com quem estou braba viaja sem que a gente faça as pazes, etc. Acho que é uma ótima lição de vida.
Bom, a n.a. está ficando maior que a fic, mas eu gostaria de agradecer aos followers do @whoismcfly (porque sem eles eu não seria nada, e não teria postado a fic) a minha incrível beta que está sempre aqui quando eu preciso (hug em você, that), a @heluyssa porque ela é uma das pessoas mais incríveis que eu já conheci, e à @marrygalletti porque ela esteve comigo no pior (e melhor) momento da minha vida, e é uma pessoa AWESOME. Hug em todos vocês <3 Espero que tenham gostado.