00h00min.
Cheguei à conclusão que tenho problemas com essa hora. Não sei, mas ela pareceu cismar comigo. Se for um dia de semana, neste exato horário, eu estou tentando dormir, mas muito preocupado com alguma coisa da faculdade ou outro problema pessoal. Se for um fim de semana, é hora que eu estou na balada e fico 'atacado', meu relógio biológico parece despertar sempre nesse horário, seja lá qual for o motivo.
E, hoje, essa maldita meia-noite resolveu vir pra foder.
Eu ainda estava em sã consciência, observando as pessoas que dançavam. Meus olhos correram todo o salão e, inevitavelmente, pararam na porta, por onde ela passava. Estava com um vestido preto, curto, simples e bem justo, mas somado às perfeitas curvas de seu corpo, se tornava o vestido mais lindo do mundo. Nos pés, sapatos vermelhos, altos, o que fazia com que seu andar ficasse ainda mais sexy. A leveza do seu caminhar me levava a pensar se as pessoas podiam flutuar. Visto que a pessoa em questão era ela, podiam sim. Ela podia absolutamente tudo. No minuto em que fui capaz de desprender meus olhos dela, pude notar que todos no salão, sem exceção nenhuma, a olhavam como se quisessem comê-la com aquele simples gesto. Não que essa fosse minha intenção, longe disso.
Meus pensamentos foram interrompidos por um aroma, para muitos, suave; mas, para mim, aquele perfume já agia como um veneno. Aflorava todos os meus sentidos e detonava minha consciência.
- Você veio mesmo. - foi a única coisa que meu cérebro conseguiu processar e mandar para fora de minha boca, ao focar aqueles grandes olhos me encarando bem de perto.
- Já te dei motivos para desconfiar de mim? - ela pegou o copo da minha mão, dando um pequeno gole.
- Não...
- Então. - ela piscou para mim, devolvendo-me o copo, e se jogou na pista de dança.
Ela era tão linda dançando sozinha que eu seria capaz de deixá-la lá a noite toda, se não fosse aquele cara com perversão transbordando pelos olhos se aproximando rapidamente dela. Mas, nem eu sei como, consegui ser ainda mais rápido e chegar até ela antes dele. Qual é, pelo menos para mim, aquela garota era minha e de mais ninguém. Abracei-a pela cintura e ela deu uma risada gostosa quando colei nossos corpos com certa agressividade. passou os braços por meu pescoço e roçou seus lábios bem de leve pelos meus, dando-me uma pontinha de esperança que ela finalmente me beijaria naquela noite, mas fez questão de quebra-lá quando jogou a cabeça para trás, sorrindo, com os olhos fechados. Inclinei minha cabeça para frente, alcançando sua garganta e distribui beijos lentos pelo local. Ela se encolheu um pouco devido às cócegas, mas continuava sem perder o ritmo. Comecei a subir minha boca por seu queixo e quando estava quase alcançando o que eu tanto queria, ela me empurrou de leve, começando a dançar de costas para mim. Ficamos brincando, aliás, eu fiquei brincando de dançar a madrugada toda, enquanto ela conseguia atrair todos os olhares daquele local.
Acordei umas onze da manhã, imagino eu, e já não estava mais ao meu lado na cama. Levantei cambaleando e fui até o banheiro. E, para minha suspresa, ouvi o barulho do chuveiro.
- Você não tava pensando em fugir de mim de novo, tava? - falei, vendo sua silhueta através do boxe e tentando colocar creme dental na minha escova ao mesmo tempo.
- Não. - ela disse simplesmente. - Eu te falei que dessa vez ia esperar, não falei?
- Uhum... - falei com espuma na boca.
- Tá vendo? Você ainda não aprendeu a confiar em mim. - ao desligar o chuveiro, ela puxou a toalha que estava pendurada no boxe para dentro e saiu de lá envolta nela. Pisou cuidadosamente no tapete e me deu um beijo rápido nas costas, voltando para meu quarto.
- Ah, desculpa. - enxaguei minha boca, inda atrás dela. Sentei-me na cama enquanto ela revirava sua bolsa procurando alguma coisa. - Mas é dificil confiar em uma pessoa em tão pouco tempo.
- Não é pouco tempo, . - ela desistiu de mexer na bolsa e vestiu uma camisa minha. - Faz uns três meses que a gente se conhece.
- Isso é, mas... são noites, só noites. A gente se encontra na balada, você vem pra cá e depois vai embora. E, tipo, eu nem sei de onde você é e tal. Nem mesmo sei se o seu nome é de verdade. - ela balançou a cabeça negativamente, rindo da minha indagação idiota e veio se sentar atrás de mim.
- Ah, é isso? Bom, vou me apresentar. - sentei-me de lado para encará-la. - Oi, meu nome é , de verdade - ela riu, estendendo a mão. - E eu tenho 20 anos. Curso o penúltimo ano de moda.
- Boba! Não foi isso que eu quis dizer.
- Me explica, então, porque eu não entendi.
- Ah, deixa pra lá. Tenho uma coisa mais importante para falar. Vem cá. - chamei e ela se sentou no meu colo, com uma perna de cada lado do meu corpo. - Assim, mesmo que tenham sido apenas algumas noites, eu já sinto que preciso da sua presença, sabe? - apenas me escutava atentamente, acariciando minha nuca. - Eu sinto falta do volume a mais na minha cama, de alguém me chutando durante a noite, de entrar no banheiro e sentir um perfume misturado ao vapor do chuveiro.
- Mas eu imagino que você não tenha problema com as garotas e consiga resolver isso fácil, fácil.
- Sim, mas eu sinto falta do volume que você faz na minha cama, do seu joelho batendo nas minhas costas enquanto eu durmo, do seu perfume no banheiro.
- Ótimo, e o que você quer dizer com tudo isso? - ela sorriu, carinhosa, enquanto passava os dedos por meu cabelo.
- Quero dizer que, mesmo que tenham sido só noites, poucas noites, eu já sinto que preciso da sua presença, preciso de você comigo. - ela me olhava atentamente. - Eu quero estender essas noites, entende? Quero que elas virem dias completos, semanas, meses. Eu quero você pra mim, e só pra mim.
- Na verdade, eu me perdi no seu raciocinio. - ela se divertiu. - Me explica resumida e claramente, que tal? - beijou a ponta do meu nariz.
- Tá. O fato é que eu não quero, eu não posso mais ficar esperando essas baladinhas pra poder ter você comigo, sabe? Eu passo muito tempo pensando em você pra só te ver semana sim, semana não, outra talvez... Enfim, to te enrolando, mas o que eu quero te perguntar é se você quer ser minha namorada. - sorri de lado e a vi fazer uma cara de imensa surpresa que logo se desmanchou em um sorriso infantil.
- Huum, por que não? - ela piscou. Pode não parecer, mas para ela, essa era a forma mais gentil de se dizer um sim.
- Aah, você não sabe o quanto eu fico feliz em saber que agora eu posso te chamar de minha namorada. - dei-lhe um selinho demorado. - , acho que eu te...
- Shhh - ela colocou o indicador sobre meus lábios. - Deixa isso pra depois, combinado?
- Como você quiser. - sussurrei, hipnotizado por seu sorriso.
Quem diria que um dia, eu, , estaria em casa me arrumando para ir a balada com meu namorado. Sim, um namorado. No auge dos meus 20 anos arrumei alguém para me levar a balada e dançar comigo. E isso já dura quatro meses.
Eu, que sou independente desde que saí da barriga de minha mãe, agora tenho alguém que aparentemente 'depende' de mim e, seguindo o roteiro, eu também deveria depender dele. Mas, espera aí, eu ainda amo dançar, sair sozinha, nunca precisei de ninguém que me acompanhasse nisso. E acho que não é agora que isso vai mudar. Eu ainda quero continuar vivendo minha vida do meu jeito: com tudo à minha maneira. E eu vou continuar, sem magoar ninguém que tenha alguma importância para mim.
Mas que caralho!Tudo some bem na hora em que preciso sair.
Era quase meia noite e eu ainda não havia nem encontrado a porra da minha carteira. E nem a campainha parecia querer me ajudar, visto que tocou quando eu estava quase me lembrando onde enfiei aquela merda. Corri até a porta, mas o esforço valeu já que, quando a abri, encontrei com um sorriso sapeca no rosto.
- Acho que me atrasei um pouco, né?! - dei espaço para que ela entrasse.
- Um pouquinho - ela sorriu, dando-me um beijo rápido. -, mas não vim por isso.
- Não? - ela negou com a cabeça.
- Não, quero conversar com você. - ela respondeu simplesmente.
- Conversar? Beleza. - sentei-me no sofá, puxando-a pela mão. - Senta aqui.
- Bom, vou direto ao ponto. - ela estralava os dedos, demonstrando certo nervosismo. - Eu preciso... não, imagino que você precise e queira dar um rumo para sua vida. E sei que sou um tipo uma barreira no meio disso, sabe? E você, de certa forma e sem nenhuma ofensa, também empata minha vida. Eu não gosto de sair e ter que dar satisfação pra alguém.
- Mas eu nunca exigi isso de você. - falei calmo.
- Eu sei, meu amor, mas, como sua namorada, eu me sinto no dever de te dar explicações. E eu sei que, mesmo que você negue, sempre quer saber pra onde eu vou, com quem eu vou e que horas volto. Mas, cara, eu nem sei como se responde essas perguntas. Não nasci pra isso.
- Eu achei que estivéssemos nos dando bem...
- E nós estamos. Nossa, em todos os sentidos, eu adoro a sua presença e tal. Mas não é o que eu quero pra mim, não agora.
- Pera aí, você quer terminar comigo e não sabe como. É isso?
- Terminar, ? - ela alargou seu sorriso, levantando-se. - Eu quero começar, aliás, quero que você comece a viver intensamente, assim como eu faço, sabe? Ir pra onde eu quero, com quem eu quero, dançar sozinha e voltar pra minha casa no meu carro quando me der na telha. E você, se olha no espelho, garoto. - ela riu de um jeito meigo. - Você só tem 19 anos! É novo demais para assumir qualquer compromisso que te impeça de fazer alguma coisa. Você, eu... a gente tem muito o que viver ainda, muito o que aprender sozinho. E é isso que eu quero, para nós dois. - ela segurou minhas mãos entre as suas. - Eu gosto de você pra caralho, de verdade - me olhou nos olhos. -, e quis te falar antes que alguma atitude minha te machuque, coisa que eu não quero jamais.
- Mas... - levantei e ia começar a falar, mas ela me impediu, colocando o indicador sobre meus lábios.
- Desculpe, mas você não vai conseguir me fazer mudar de ideia.
- Posso pelo menos tentar? - passei a mão por meu cabelo, sorrindo nervoso.
- Por que, ao invés de falar, você não aproveita que eu ainda estou aqui? - ela mordeu o lábio inferior, brincando com a gola de meu blaser.
Envolvi sua cintura com um braço, passando a outra mão por seu cabelo, tirando-o de sua testa.
- Eu não acredito que você vai me deixar assim... - balancei a cabeça negativamente. Ela apenas sorriu, fitando meus lábios em seguida.
- Faz direito, porque pode ser a última vez. - ela falou contra meu queixo, mordendo-o em seguida. Depois me encarou com um sorriso malicioso nos lábios.
- Não vai ser, pode ter certeza. - rocei minha boca em seu pescoço.
- Bom pra você. - ela puxou meu cabelo.
- Eu te amo. - sussurrei bem perto de seu ouvido, sentindo-a arrepiar. Posso jurar que ela soprou um 'eu também' mas não tive como confirmar, já que no segundo seguinte ela colou nossos lábios, empurrando-me de volta para o sofá.
- Fica, pelo menos pra tomar café comigo. - eu a seguia, enquanto ela pegava suas coisas, colocando-as na bolsa.
- Não dá, lindo. Vou visitar minha mãe.
- Mas... - ela abriu a porta e olhou para mim, arqueando as sobrancelhas rapidamente, como se tivesse lembrado de algo. Quando pensei em perguntar, ela me prensou contra a parede, dando-me um longo e quente beijo. Logo em seguida, entrou em seu carro. - Espera! - berrei, enquanto ela fechava a porta. - A gente vai se ver de novo?
- Você sempre sabe onde me encontrar. - ela piscou, antes de arrancar, fazendo o carro desparecer na linha do horizonte em poucos segundos. She said she likes to dance all by herself cause she's a party girl. She don't care for nobody else, she's in her own world.
Eu sabia que, no fundo, ela se importava, sim.