História por Jennifer D. | Revisão por Taaci


[...] Havia apenas uma coisa em minha mente desde quando eu
Acordei bem de manhã
E quando fui dormir à noite
Você sabe como meu coração se sente? Como eu quero
Guardar os sentimentos que tenho para você?
Se, no fim, eu não souber nada sobre o quanto eu te amo
Eu não posso deixar você ir
Você é o único em minha vida![...]


TRHEE DAYS
Musica: Rainy Night - Xiah Junsu


Chove em meu coração,
As lágrimas não param, esta noite
No fim, você me deixou para trás.
Como algo temporariamente esquecido...
Sinto sua falta.

- !!!

Olhei pra trás. Sorri. Era impossível não sorrir quando ele estava perto de mim. Por mais que o dia estivesse péssimo. Por mais que eu quisesse sumir. Por mais que toda a culpa fosse apenas e absolutamente dele. Quando ele aparecia à vontade não mais existia. A minha felicidade estava com ele. Era ele. Se ele me deixasse, ela se esvaia. O momento mais feliz e mais triste do meu dia era quando ele estava ao meu lado.
- !! - Ele caminhava sorridente em minha direção. Sequei as lágrimas que ainda insistiam em cair, respirei fundo e coloquei o sorriso já treinado no rosto.
- Oi. - Levantei e ele me abraçou quase derrubando a nós dois.
O cheiro dele veio com tanta intensidade que eu fechei os olhos com força e minha garganta se prendeu em um nó. O cheiro que sempre estava comigo. O cheiro que eu reconhecia de longe. O cheiro só dele, indescritível e inesquecível. Mordi o lábio inferior em uma tentativa de impedir que as lágrimas, presas em meus olhos, caíssem. Eu não podia chorar na frente dele sem poder depois explicar o porquê das minhas lágrimas. Ele não entenderia e eu não poderia explicar, não iria conseguir. Eu também não podia chorar na frente dela. Eu apenas não podia chorar. Não era justo com ele chorar, não era justo comigo chorar. Sumir! Era isso que eu queria. Era isso que eu realmente desejava, apenas isso.

me soltou devagar e pegou em minha mão, sorrindo. O sorriso que jamais saía do rosto dele, o sorriso que iluminava meus dias, que me protegia.
- Você me deu o bolo ontem. - Ele falou fingindo irritação, eu sorri fraco encarando meus pés.
- Tive uns probleminhas, me desculpa. - Não consegui erguer a cabeça para olhá-lo. De uns meses pra cá era impossível olhá-lo nos olhos. Encarei minha mão entrelaçada na dele.
- To brincando, pequena. - sorriu sapeca. Meu coração apertou. Por que isso tinha que estar acontecendo comigo? - Eu tive que sair também pra resolver umas coisinhas antes do dia. - explicou e olhou para ela.
- Oi, Tae. - Sorri e soltei a mão de , por mais que o meu desejo fosse ficar com ele assim pra sempre, e a abracei.
- Oi, . - ela sorriu, meiga. Eu queria ter raiva dela. Queria culpá-la por tudo. Queria brigar com ela, mas não conseguia. Por mais que eu quisesse pôr a culpa nela, ela não tinha culpa alguma. Era perfeita!

- Está fazendo o que aqui só, pequena? Está escuro e frio. - ele me abraçou por trás e colocou o queixo no meu ombro. Eu me arrepiei com o toque. Cada toque era um choque em meu corpo, era como se ele estivesse ligado em uma corrente elétrica. Taeyeon sorriu. Bem no fundo eu desejava que ela sentisse ciúmes, que me odiasse. Talvez eu merecesse que ela sentisse ódio por mim. Mas ela não me odiava e, estranhamente, isso me deixava ainda mais machucada.
- Apenas estudando. - falei. Não era uma mentira. Virei meu rosto para olhá-lo, nossos rostos a centímetros de distância, sua respiração fria e o hálito de menta batendo em meu rosto. Prendi a respiração, isso era doloroso.
- Vamos entrar, pequena, está frio demais. - ele me apertou contra seus braços e eu olhei para os seus braços arrepiados. Por mais que eu estivesse apenas com uma blusinha de alça, eu não estava com frio, eu não tinha espaço para sentir frio. O frio não era nada comparado à dor que me atingia naquele momento.
- Ain, você vai congelar, ! - Tae me olhou dos pés a cabeça fazendo uma careta. Provavelmente estranhando eu estar de shorts e regata com o frio que estava fazendo.
- Ela é estranha, Tae. - falou e o meu ombro doeu, já que ele estava com o queixo pressionado contra ele.
Eu ri. Ele sempre me chamava de estranha, desde criança...
Por um minuto várias lembranças vieram à tona, todos os momentos felizes e tristes que eu tinha passado com ele. Mais felizes do que tristes. Todas as bobagens que aprontamos, todos os castigos que tivemos que aguentar, todas as roubadas que nos metemos. O nosso primeiro beijo. Sim! Resolvemos aprender sozinhos mesmo. Quem melhor que o melhor amigo para nos ajudar numa hora dessas? Tudo passou como um filme sendo acelerado, e por um momento eu me esqueci da presença deles ali comigo.

Baby, eu ainda te amo
Por favor, não chore mais.
Você está sempre chorando, baby
Mas essa parte de você é tão doce
Mas agora não sou eu, é outro alguém
Que está enxugando as suas lágrimas


O tempo passou tão rápido. Tão rápido que foi impossível notar. Eu que pensava que tínhamos todo o tempo do mundo. Em um momento éramos crianças, adolescentes, e fazíamos tudo juntos. Agora ele estava noivo.
No dia em que ele mencionou essa palavra, meu mundo caiu. Eu não entendi bem o porquê, afinal, ele era só meu amigo, meu irmão, nada mais que isso. Sempre foi a minha vida toda. Por que eu havia de ficar triste com uma notícia que tinha tudo para ser feliz?! É, mas felicidade foi a última coisa que eu senti naquela noite.

O sempre me apresentava às namoradas, e pretendentes a namorada. Eu fazia o mesmo com ele, mesmo já sabendo que sua opinião era sempre a mesma. Nenhum dos meus namorados prestava. Na maioria das vezes, ele tinha razão. Já eu sempre o mandava seguir em frente. sempre teve bom gosto para garotas, e com a Tae não foi diferente. Eu gostei dela logo de cara. Simpática, bonita, meiga e sempre com um sorriso nos lábios. Era o meu amigo em versão feminina. Apoiei quando eles disseram que estavam namorando. Eu ajudava o a fazer as festas surpresas do Dia dos Namorados e aniversários, dava conselhos quando brigavam, e não foram poucas vezes... Mas quando aquela noticia veio tudo mudou; e junto com a grande notícia veio o convite para ser madrinha. Eu não tive como recusar. Eu não podia recusar.

No início eu pensei que fosse apenas ciúme bobo de melhor amiga. Eu, apaixonada pelo meu melhor amigo? Que absurdo! Por mais que tivéssemos nossos rolos de vez em quanto - principalmente quando estávamos solteiros -, mas era apenas por brincadeira. Nós nunca levamos a sério nossas ficadas e eu nunca tive ciúmes dele com outras garotas.
Depois que ele e a Tae ficaram juntos não rolou mais nada entre a gente, e isso já fazia dois anos.
sempre esteve ao meu lado e se eu fosse mesmo apaixonada por ele teria descoberto mais cedo, certo? Era pra ser assim. Mas eu demorei demais pra perceber meus verdadeiros sentimentos, ou talvez não quisesse aceitá-los. Eu era apaixonada por ele desde sempre. Só demorei muito para perceber isso. Demorei demais para entender e diferenciar meus sentimentos por ele. Demorei uma vida inteira.

Eu estou apenas vivendo em lembranças
Este sentimento será eterno
Mesmo se incessantes chuvas caíam em meu solitário coração,
Eternamente o encharcando
Eu não posso dizer ‘adeus’ porque eu te amo...


A cada dia, a cada minuto do meu dia, que passava eu me sentia pior, me sentia sem chão. A cada dia que a data, já marcada, do casamento se aproximava um pedaço de mim desaparecia. Já não comia mais direito e minhas notas na faculdade haviam caído. Tentei me afastar de para tentar entender melhor o que se passava comigo, mas isso foi completamente impossível. Eu não podia tirar ele da minha vida, porque assim eu morreria. Ele era minha vida!
Tive esperanças de que tudo ficasse mais claro dentro de uns dias e que eu apenas estivesse apenas confusa com tudo aquilo. Mas já tinham se passado três meses, e tudo só piorava. Eu tinha certeza que só iria piorar ainda mais.
sempre esteve ao meu lado em todos os momentos da minha vida. Eu imaginava um futuro em que nos iríamos estar juntos, não como marido e mulher, mas sim como eternos amigos que ficavam juntos de vez em quando. Eu devia saber que isso era impossível. Era só minha mente criando barreiras para que eu não aceitasse meus verdadeiros sentimentos por ele. Eu sempre o tive e na hora que ele está saindo descubro que a minha vida sem ele não existe. Que ele é tudo pra mim. Eu não estava perdendo o amigo, talvez esse eu nunca perdesse, mas estava perdendo o amor da minha vida.

Sempre dizem que só descobrimos o que uma pessoa realmente significa, e o quanto é importante para nós, quando estamos prestes a perdê-la. Eu nunca imaginei que algum dia eu fosse realmente saber o significado dessa frase e de uma forma tão dolorosa. E sabe o que mais me dói? É não poder fazer absolutamente nada.
Ele estava feliz. Eu podia ver a cada sorriso que seus lábios vermelhos exibiam, a cada palavra que saía de sua boca, no brilho dos seus olhos pequenos e expressivos. Ele a amava de verdade e ela também o amava. Ela o fazia feliz. Como odiar uma pessoa que faz a pessoa que você mais ama no mundo feliz? É impossível. O que mais importava pra mim era a felicidade dele. Não seria egoísta ao ponto de pedir para que ele não se casasse. Eu nem ao menos sabia o que estava sentindo de verdade. Talvez seja só minha mente pregando peças mais uma vez... Eu me sentia confusa, com saudades, com raiva, angustiada, com um grande buraco dentro de mim e parecia que um grande peso me impedia de respirar corretamente. Todo esse turbilhão de sentimentos e sensações dói. Dói pra caramba. E está me destruindo aos poucos. Como se algo estivesse sendo arrancado de mim. E realmente estava.

Mas eu te amo,você é inesquecível
Estou apenas vivendo em lembranças que não posso esquecer.
Este sentimento é eterno
O seu perfume do dia que nos abraçamos, nunca deixara meu corpo
Baby, eu te amo


- Congelou? - A voz de tirou-me do transe. Eu apenas balancei a cabeça negativamente. - Vai entrar ou quer que a gente congele aqui com você também? - ele soltou-se devagar de mim e foi para o lado de Taeyeon.
- Vamos, , quero te mostrar umas coisas. - Tae falou animada. Eu sabia o que ela queria me mostrar, e não estava preparada pra isso naquela noite.
- Você vai ficar folheando revistas de novo? - rolou os olhos e passou o braço pela cintura dela, abraçando-a. Eu tremi, o frio nada tinha a ver com isso.
- Ela passou o dia todo folheando revistas, pequena. - olhou pra mim, sorrindo, e deu um beijo na bochecha dela.
- É o nosso casamento, tem que ser tudo perfeito. - ela deu de ombros. - A é mulher, ela entende. Eu preferiria ter levado um soco no estômago do que ter escutado essa palavra novamente. CASAMENTO! Há meses eu vinha evitando ouvir ou ver qualquer coisa que se relacionasse a isso, o que estava sendo um pouco possível.
- Vai sair tudo perfeito, porque você é perfeita. - ele acariciou o rosto dela. Eu não conseguia ver aquela cena. Abaixei a cabeça na esperança que um buraco se abrisse no chão e eu entrasse dentro dele, seria tão mais fácil.
- Ok, minha dose de frio por hoje já está esgotada. - reclamou novamente.
- Vamos entrar. - falei sem olhá-los, não queria vê-los abraçados. Peguei os livros que estavam em cima da mesa. Estava tentando recuperar minhas notas na faculdade. Saí andando na frente, sentindo que eles estavam logo atrás de mim.

Foi a noite mais longa da minha vida. E olha que de uns meses para cá minhas noites têm sido bem longas. Mas essa entrava para a lista de maiores e piores; a pior ainda estava para chegar, faltavam apenas 2 dias.
Tudo que se falava ao meu redor tinha a ver com o casamento, casamento, casamento... Quem sabe repetindo essa palavra eu me acostume com ela?
Me encolhi no sofá na tentativa de que aquilo não passasse de um pesadelo. Eu não tinha aberto a boca um minuto sequer e encarava minhas unhas, ou meus pés, a maioria do tempo enquanto Taeyeon e minha mãe conversavam animadamente. assisti alguma coisa na televisão. De vez em quando sentia o olhar dele sobre mim, mas eu não tinha coragem de olhar pra ele. Eu só queria poder sumir dali.

Este mundo sem você vive na escuridão
Seria bom se tudo isso fosse apenas um sonho.
Eu quero te ver, oh my boy
A razão porque eu não posso te ver
É seu adeus, que eu não quero ouvir.



TWO DAYS
Musica: TAXI - DBSK


Virei-me para o outro lado da cama quando o sol atingiu meu rosto. Espera. Cama? Como eu tinha ido parar na cama?
Abri os olhos preguiçosamente protegendo-os com uma das mãos contra a luz do dia. A claridade estava mais forte do que imaginei, e meus olhos arderam, provavelmente a cortina estava aberta. Tentei lembrar como tinha ido parar ali. A última coisa que lembrava era de estar na sala escutando minha mãe e a Taeyeon, mas não lembrava de ter vindo pro quarto e muito menos de ter dormido.
Coloquei o travesseiro sobre minha cabeça enquanto a outra mão tateava a mesinha que ficava ao lado da minha cama, à procura do meu celular. Assim que achei o peguei para ver as horas; oito da manhã. Virei-me e encarei o teto. Eu não queria acordar, o que eu mais desejava era dormir para sempre. Estiquei minha mão para colocar o celular de volta na mesinha e acabei derrubando alguma coisa no chão. Estiquei-me na cama e peguei o que tinha derrubado no chão; um bloquinho de papel. Quando fui colocá-lo de volta ao lugar de onde caiu percebi que na primeira folha tinha algo escrito, trouxe para mais perto do rosto para conseguir ler. Logo reconheci a caligrafia fina e quase ilegível de . Sentei-me na cama, já não me incomodando com o sol ou com a hora.

'Pequena! Você está bem? Estava estranha ontem. Ta que eu sei que você é estranha desde que nasceu, mas você está um pouco mais estranha do que já é estranha. O que é estranho. Haha Sério, você me deixou realmente preocupado. Te sinto um pouco distante... Não sei. Espero que não esteja acontecendo nada. Quero conversar com você, ok? Enfim...
Ontem você acabou dormindo no sofá, eu te carreguei e te coloquei na cama, ta ficando pesada, ok? Não se acostume. Mentira, pode se acostumar sim.
Hmm, a Tae pediu pra te lembrar da prova de roupas amanhã, mas sei que você deve ter anotado em algum canto. Ela vai passar aí na sua casa com a mãe dela.
E eu REALMENTE quero conversar com você! Depois da prova de roupas, a Tae vai ver umas coisas com a mãe dela sobre a cerimônia e sei que você vai achar isso chato, eu te conheço! Então me liga que eu vou te buscar, ok? Vou está livre o dia todo, porque vida de noivo é fácil.

Eu te amo mais do que você me ama.
Beijo.


Ele estava tremendamente errado sobre me amar mais.
Sorri fraco encarando o bilhete e, depois de alguns segundos encarando aquela caligrafia estranha, coloquei o bilhete de volta ao lugar que estava antes de cair e me encolhi na cama querendo que o mundo parasse naquele momento e eu conseguisse descer dele.
Fiquei encarando o teto por minutos incontáveis, enquanto sentia as lágrimas escorrem pelo canto do meu rosto. O que eu mais tinha feito todos esses meses foi chorar. Era a única coisa que eu podia fazer para aliviar tudo que eu estava sentindo. Chorar era meu único escape.

Mesmo a sua voz, mesmo seus frágeis ombros.
Mesmo os seus olhos não são meus.
Não importa que eu esteja ao seu lado,
Meus sentimentos não se tornarão realidade, a menos que se destrua o seu futuro.
Um sonho de um momento. Eu te amo tanto que me dói.

Eu queria ter coragem para pedir ao que não se casasse. Mas eu tive meses para fazer isso e não tive coragem, por que iria fazer agora faltando apenas um dia para o casamento? Não era justo acabar com a felicidade de uma pessoa assim. Em nenhum momento seria justo.
E se ele me rejeitasse? Como iria ficar nossa amizade depois disso? Valeria à pena ter feito tudo? Não, eu tinha muita coisa a perder e não estava disposta a isso. E eu vivo bem com metades. Se eu não posso tê-lo completamente iria sobreviver apenas com a parte que já possuía, não podia ser tão difícil.
Eu tinha certeza que ele me amava, mas a certeza era do amor de amigo-irmão que eu também sentia por ele antes de todo esse novo sentimento vir à tona. Eu não podia pedir pra ele deixar o certo, o amor que a Tae sentia por ele e ele sentia por ela, pelo duvidoso. Eu ainda estava confusa com os meus próprios sentimentos.
A vontade de falar estava me sufocando, me enlouquecendo. O mais irônico é que nessas horas a gente precisa desabafar com os amigos, ter alguém com quem conversar, mas a única pessoa que eu podia desabafar a única pessoa que me consolava, que me ajudava a resolver todos os meus problemas, que sempre me dava o ombro para que eu chorasse e que aguentava minhas crises, era a que não podia saber, era pra qual eu não podia contar, pois tudo que eu estava sentindo era absolutamente por causa dele. era o meu refúgio dos momentos ruins e agora eu tinha que me refugiar do meu refúgio. Que ironia é a minha vida.
Eu ainda tinha esperanças que ele entendesse tudo que eu estava sentindo apenas com o olhar, como ele sempre fazia, mas nem conseguir olhá-lo nos olhos eu conseguia. E como outra pessoa pode entender o que está acontecendo com você quando você mesma não se entende?

Sequei as lágrimas que ainda desciam por minha bochecha. Não adiantaria mais ficar chorando na cama, isso não iria fazer que eu sumisse, isso não iria afastar os problemas. Estava apenas prendendo mais uma pedra ao meu pé para que afundasse no rio de dor mais rápido. Levantei-me da cama e fui em direção ao banheiro. A Tae como sempre pontual, já estaria chegando. Entrei no banheiro e bati a porta com força, depositando minha raiva nela.
Toda vez que separadas nossas mãos entrelaçadas,
Tentava agarrá-la com calor.
Toda vez que acho que poderei te ver novamente,
Meu coração tinge de uma adorável sombra.


Não adiantaria mais ficar chorando na cama, isso não iria fazer que eu sumisse, isso não iria afastar os problemas. Estava apenas prendendo mais uma pedra ao meu pé para que afundasse no rio de dor mais rápido. Levantei-me da cama e fui em direção ao banheiro. A como sempre pontual, já estaria chegando. Entrei no banheiro e bati a porta com força, depositando minha raiva nela.

• • •


- Linda! Linda! Linda! - A mãe de Taeyeon a olhava deslumbrada. Ela estava em cima de um pequeno palco redondo que ficava no meio de uma sala toda cheia de espelhos. Vestia um vestido romântico, tomara que caia, com detalhes em pérolas. Era lindo. Era doloroso ver.
Eu estava sentada no sofá branco que enfeitava o local, com os braços cruzados, tentando manter um sorriso animado no rosto, mas querendo apenas sumir dali. Eu nunca quis tanto sumir de um lugar como eu queria naquele momento.
- O que você achou, ? - Tae me olhou com aquele sorriso que me lembrava o do Junsu. - Está perfeito, Tae. – falei fracamente tentando sorrir. Juro que tentei falar com animação e mostrar o quanto gostei. Mas era simplesmente impossível pra mim. Era masoquismo.
- Tem certeza?! Não está estranho? - ela se mexeu na frente do espelho, fazendo o tecido branco rodar. Era uma afronta inocente, ela não tinha noção do que estava fazendo comigo. - Quero sua opinião em tudo, , afinal, você é a melhor amiga dele. Você o conhece melhor do que ninguém. - ela sorriu doce. Me senti a pior pessoa do mundo. O diabo em forma de gente e este estava sendo meu inferno particular na terra, em todos os sentidos. Ela não merecia a minha amargura.
- Você está linda, Tae. Linda mesmo! Não se preocupa que tudo vai ficar perfeito. - cada palavra que saía da minha boca doía. Mas ela não tinha culpa. Amanhã seria o melhor dia da vida dela. Ela estava feliz e merecia está feliz. Eu não podia acabar com isso. Ela confiava em mim, por mais que eu preferisse que não confiasse. Eu não confiava em mim. Precisava dizer isso a ela. Mas como?
- Você deve estar achando tudo isso muito chato, né? - Ela sorriu, virando-se completamente pra mim. – Desculpa por te alugar a manhã toda.
Droga, eu não tinha o direito de fazer isso.
- Não, é que... - tentei falar alguma coisa, mas nada vinha em minha cabeça. Eu não queria magoá-la, mas realmente não suportava ficar mais naquele lugar.
- Eu sei, . O me fala muito sobre você. A cada dez palavras que ele fala no dia, onze tem o seu nome. - ela riu, e eu tive vontade de me jogar da janela mais próxima. - Se vocês não fossem tão amigos eu morreria de ciúmes, mas não tem como competir com melhor amiga, não é? Ele disse que você odeia provar roupas e odeia esperar, eu acho que te conheço mais de tanto que ele fala de você. - ela falava tudo com um sorriso no rosto. Fofa como sempre. É, eu tinha que sair dali. - Ele pediu pra você ligar pra ele quando terminasse, se você quiser fazer isso. - disse simpática e voltou a olhar-se no espelho.
Eu precisava do meu refúgio doloroso.
- Você não se importa? - perguntei me sentindo mal.
- Não, sua boba, você já fez muito por mim. - ela balançou a mão em minha direção.
- Vou ligar pra ele então. - me levantei do sofá e fui até onde ela estava. - Você está linda, Tae, de verdade. - fui sincera.
- Obrigada, , obrigada por tudo mesmo. - ela desceu do palco e veio me abraçar.
- Que isso. - sorri fraco e me despedi dela, e antes de sair daquele ambiente fechado, acenei para mãe dela que sorriu amigavelmente.
Saí quase correndo daquele ateliê. Peguei o celular em minha bolsa e disquei o número de , que eu sabia de cor. Depois de três toques, ele atendeu.
- Oi, pequena. - O som de sua voz era feliz. Eu sorri, só de ouvir a voz dele eu sorria, era instantâneo. Por mais que eu quisesse está longe dele não era possível. Ficar perto me matava aos poucos, ficar longe me matava ainda mais lentamente e mais dolorosamente.
- Você ta onde? - perguntei com a voz abafada. Ele demorou um pouco para responder.
- Não sei te explicar, vim provar minha roupa, sabe. - o imaginei falando isso com sua cara de desgosto, ele também odiava provar roupas. - Mas não sei o nome da loja.
Eu ri. - Está sozinho? - perguntei atravessando a rua na faixa de pedestres. Vi um táxi parar do o outro lado, fiz sinal para que ele esperasse.
- Sim. - respondeu.
- Explica direito onde você está. - entrei no táxi e fiz sinal para que o motorista esperasse.
- É perto do shopping... - ele falava pausadamente. - Espera! O telefone ficou mudo por uns segundos.
- Teukbyeol-shi, Gangnam, Cheongdamdong n°97-1.- ele falou rapidamente e eu repeti tudo para o motorista dando sinal para que ele partisse.
- Ta, já chego aí. -
- Ok, amo você. - ele falou e a linha ficou muda, mas eu sabia que ele não tinha desligado ainda.
- Te amo mais. - falei com dificuldade e escutei um riso baixo do outro lado, a linha foi cortada.
Joguei minha cabeça pra trás, encostando-me no banco e só abri meus olhos quando o motorista falou que tínhamos chegado.
Não sei bem o quanto de dinheiro que dei a ele e nem ao menos esperei pra ver se teria troco, desci do carro e logo vi a enorme loja de roupas masculinas.
Entrei sob o olhar dos vários vendedores. Um deles se aproximou de mim.
- Posso ajudá-la? - perguntou.
- Sim, estou procurando um amigo, o nome dele é . - falei não tendo certeza se ele poderia mesmo me ajudar.
- Ah! Ele avisou que uma garota chamada ia procurá-lo.
- É, sou eu.
- Ele está na terceira cabine. - O vendedor apontou um pouco para o fundo da loja, onde tinha uma placa com o nome ‘provadores’. - Ele deve estar lhe esperando.
Agradecei e caminhei até a direção que ele tinha me indicado. A plaquinha com o número '3' logo chamou minha atenção. Os homens que estavam por perto me olhavam assustados. Não liguei, bati duas vezes na porta.
- ?! - chamei em dúvida, a porta se abriu. Eu não estava nenhum pouco preparada para isso. Paralisei. Se estar lá com a Tae estava sendo difícil, aqui isso tornava-se extremamente doloroso. Tentei puxar o ar mais não consegui. Ele sorriu em dúvida e eu sorri. Instantâneo.
- Nossa! - eu tive que falar alguma coisa pra conseguir respirar.
- Ta tão ruim assim? - ele mordeu o lábio e ficou de costas pra mim, se olhando no grande espelho.
Ele estava usando um fraque preto. Parecia um príncipe saindo do conto de fadas. As palavras que viam em minha mente não faziam jus ao que eu estava vendo. Ele estava absurdamente lindo.
- Está lindo. - minha voz saiu embargada. Eu tossi.
- Não estou parecendo um pinguim? - fez uma careta. Nós nos olhávamos pelo espelho.
- Um pinguim lindo, vai fazer sucesso com a pinguinzada. – eu disse, ele rolou os olhos. Nós rimos. - Estou me sentindo tão estranho. - ele mexia na roupa sem parar, entortando-a um pouco.
- Está perfeito, ok? - me aproximei dele com receio e o virei de frente pra mim.
- Você só fala isso porque é minha amiga. - disse enquanto eu tentava desentortar a roupa e fazer minhas mãos pararem de tremer.
- Por isso mesmo, estou sendo sincera. - sorri fraco e o virei novamente para frente do espelho. Nós dois o olhávamos.
- Hm, vou fingir que acredito. - ele disse e eu belisquei a cintura dele. – Aí, malvada. - se encolheu e depois me abraçou pela cintura. Próximo demais, próximo demais. - Depois que sairmos daqui, quer comer alguma coisa? - perguntou e eu apenas balancei a cabeça confirmando.
- Pensei que despedidas de solteiro fossem feitas só de homem. - tentei fazer piada. – Cadê seus amigos imprestáveis? - Ele sorriu.
- Minha despedida de solteiro vai ser com você. - ele olhou em meus olhos, eu desviei o olhar para o seu colarinho.
Um pigarro chamou nossa atenção e olhamos para porta que eu tinha esquecido aberta, o vendedor que antes tinha me ajudado estava parado lá. - Err, desculpe atrapalhar. - ele disse sorrindo sem graça.
- Você não atrapalhou. - me afastei um pouco de .
- A noiva também não pode ver o noivo vestido antes do casamento. - o vendedor falou sorrindo. Meu estômago embrulhou. me olhou de lado, rindo. - Não sou a noiva. - falei tentando não mostrar o quanto aquilo tinha me feito mal.
- É minha melhor amiga. - explicou.
- Desculpem. – o vendedor sorriu envergonhado. - O senhor já vai levar ou vem pegar mais tarde? - perguntou. se olhou mais uma vez no espelho.
- Acho melhor levar de uma vez. - ele deu de ombros. - Está bom mesmo? - olhou pra mim.
- Perfeito. - sorri fraco e mordi o lábio. As malditas lágrimas insistiam em voltar.
- Vou levar. - ele disse e eu saí da cabine para que ele trocasse de roupa, em menos de dez minutos ele estava ao meu lado com uma sacola enorme em mãos.
- Obrigado e felicidades. - o vendedor sorriu simpático, ele retribuiu e saímos da loja.
O sol forte fez com que eu fechasse meus olhos. Algumas pessoas andavam com cuidado na rua, pois a neve que caíra a noite passada estava derretendo. Os carros andavam mais devagar que o normal.
O carro conversível preto de estava estacionado em frente à loja. Ele colocou a sacola no banco de trás e abriu a porta da frente para que eu entrasse, logo depois ele estava ao meu lado.
- Aonde nós vamos? - perguntou com as mãos no volante.
- Você convidou. - dei de ombros.
- Quer ir ao restaurante do ? - perguntou e eu apenas concordei.
- Ele deve está ocupado com os preparativos do... - não consegui continuar e agradeci quando ele falou:
- É, mas pelo menos eu vejo como estão indo as coisas. - sorriu.
- Você não vai entender nada. - ri. Ele só sabia que tinha que estar pronto amanhã, às quatro da tarde, mais nada.
- Eu sei. - ele fez uma careta. - Mas isso não quer dizer que eu não possa me mostrar interessado. - sorriu sapeca, mostrando um pouco a língua.
Eu só suportava mais estar ao lado do quando o assunto era casamento, porque ele não se prolongava no assunto, ele não entendia muita coisa para que pudesse falar algo.
Toda a organização estava na mão da Tae e da família dela. As horas que eu estava com ele eram as horas do meu dia que eu simplesmente me esquecia de tudo. O que era bastante irônico. Ficar com ele me fortalecia e me matava ao mesmo tempo.
Vasculhei a lista de músicas do carro dele, nossos gostos eram bem parecidos. Coloquei uma música agitada. Escutar baladas não seria recomendável. Sendo que, da lista de noventa músicas, uma era agitada, demorei tanto para achar uma que antes que terminasse a música chegamos ao Moriya, o restaurante do melhor amigo do .
Estava bastante movimentado e todas as mesas à vista estavam ocupadas, mas isso não era problema para os amigos do dono do restaurante, claro.
Não demorou muito para que um dos responsáveis pela a entrada viesse nos cumprimentar e fossem chamar o . Assim que nos avistou acenou e veio na nossa direção, animado.

- Pensei que só ia te ver amanhã, cara. - ele apertou a mão do amigo. – Oi, . - deu um beijo na minha bochecha.
- Hoje eu tenho o dia livre. - falou sorridente.
- Cadê a Tae?
- Está fazendo as provas de roupas. - ele deu de ombros. - Tem mesa vaga? - olhou em volta eu acompanhei seu olhar, não encontrei nenhuma.
- Vamos lá pra dentro. O pessoal está todo lá. - falou. "Lá dentro" ficava o lugar para receber só os amigos.
- Pessoal? - perguntou com uma cara curiosa enrugando um pouco a testa, a minha não devia está diferente.
- Era pra ser uma surpresa, mas você acabou com ela e eu também estava louco pra contar. - falava animado enquanto andava na nossa frente. - Eles vieram me ajudar com algumas coisas.
e eu nos olhamos sem entender, mas, antes que conseguíssemos perguntar alguma coisa, abriu as duas portas marrons que trancava o salão de festas do restaurante.
- Olha quem chegou. - falou saindo da nossa frente.
- Chegou o noivo! - gritou levantando e vindo em nossa direção.
Eu demorei um pouco para assimilar o que estava vendo. Não podia ser verdade... Gritinhos e risos eufóricos ecoaram por todo o salão. Olhei em volta e foi impossível conter o verdadeiro sorriso que se formou em meus lábios.
Todos estavam ali. Todos os nossos melhores amigos. Toda a nossa turma. Todos os amigos que tinham feito parte dos melhores momentos da minha vida. Todos aqueles rostos inesquecíveis, que há tanto tempo eu não via. Era como se o meu maior desejo tivesse se realizado. Voltar no tempo.

e eu paramos como estátuas no lugar onde estávamos.
- Eu fiz de tudo para que todos viessem. - falou ao nosso lado. - Foi difícil. Bem difícil mesmo, mas consegui. - ele sorriu orgulhoso ao olhar pra mesa onde todos estavam sentados.
- Eu não estou acreditando nisso... - disse, a voz dele estava tão embargada que e eu o olhei de lado, seus olhos brilhavam ou seria o brilho dos meus que estavam refletindo nos dele?!
David se levantou da mesa. O irmão do que estava nos Estados Unidos há quatro anos.
- Mano. - ele o abraçou apertado, depois se virando pra mim e me abraçando, ou melhor, me deixando quase sem ar. - Pirralha, como você está? – David me perguntou, rindo, depois que me soltou e me examinando dos pés à cabeça. - Você não muda nada, continua pirralha. – fiz uma careta pra ele e o abracei mais uma vez. Um sorriso bobo brincava em meus lábios.
- Para de monopolizar a , ogro, agora é a minha vez. - escutei a voz de . Meu sorriso aumentou. David me soltou. estava ao lado de e de , seu namorado. Ela também morava nos Estados Unidos, por causa da faculdade de música. Eles tinham uma relação difícil, já que só se viam duas ou três vezes por ano quando podia ir nos Estados Unidos, mas o amor que sentiam um pelo outro vencia qualquer distância. Era lindo de ver.
Ela me abraçou apertado. E eu percebi o quanto ela me fazia falta. , minha melhor amiga. Eu não podia acreditar que ela estava ali na minha frente. Nós conversávamos algumas vezes por telefone, mas depois que ela viajou tudo ficou mais difícil.
- , que saudades. - falou ainda me abraçando, meus olhos estavam molhados e eu parecia ter desaprendido a falar.
Eu estava chorando; agora por todos os motivos existentes. Ver aqueles rostos depois de tanto tempo traziam lembranças que há muito tempo eu tinha esquecido. Os momentos mais felizes da minha vida, o momento que eu estava rodeada de amigos, que eu não tinha que me preocupar com nada, apenas viver! Agora estavam todos na minha frente, tão diferentes e ao mesmo tempo tão iguais. Aquilo me deixou tonta.
Quando me soltou para abraçar , olhei atentamente para mesa, parando em cada rosto tão especial para mim.
- NÃO ACREDITO! – exclamei com a voz fina e levei as mãos à boca quando eu vi o bebê no colo de . Ela sorriu. Aproximei-me dela. - Não acredito! - repeti em um sussurro ao ver a criança rosinha, fofa e perfeita dormindo em seus braços.
- Não é lindo? - ela olhou para o bebê com os olhos brilhando.
- Você me mandou a foto grávida e agora... - eu não parava de olhar para o bebê. - Ele é muito lindo!
- Tão bonito quanto o pai. - escutei a voz presunçosa e convencida de atrás de mim, também admirando o filho.
- Você continua humilde. - eu sorri virando-me e o abraçando.
- Esse aí não muda. - disse divertida olhando o marido.
- Dolphin, você continua pirralha. - ele disse e depois deu um beijo em minha cabeça e depois se aproximou de . Dolphin... Fazia tempo que não escutava esse apelido.
- Ele é perfeito como a mãe dele. - passou a mãos pelos ombros de e deu um beijo na bochecha dela. Eu sorri. Eles eram um dos casais mais fofos que eu já tinha visto. Tinham se casado há tão pouco tempo, chegava a ser inacreditável que já tivessem um filho.
- Ele tem a mistura perfeita de nós dois. - falou e eu sorri abobadamente.
- CUNHADA! - olhei pra trás quando escutei a voz de . Ele abraçava Má, a namorada de David e irmã mais nova de . É, toda nossa vida tinha se formado naquele círculo de amizades, chegava a ser confuso.
- CHRIS! - e eu gritamos ao mesmo tempo, Chris olhou confuso pros dois lados.
- Qual Dolphin eu abraço primeiro? - ele se levantou falando o nosso apelido. Nós rimos enquanto ele abraçava a nós dois ao mesmo momento. Dolphin foi o apelido que eles deram ao e a mim quando viram nossa primeira e única briga. Eles disseram que a gente mais chorava do que brigava e que nossas vozes não passavam de gritos que lembravam os golfinhos. Daí surgiu o apelido bobo. E também porque éramos os mais irresponsáveis do grupo e vivíamos aprontando e nos fazendo de vítimas.
- Larga eles, Chris, também estou com saudades. - a voz mandona e tão familiar de Fernanda me fez rir. Ela me abraçou.
A mais velha das garotas, a mãe do grupo. Ela e o Chris que tomavam conta da bagunça toda. A última vez que estivemos todos juntos tinha sido no casamento deles e isso tinha sido há três anos. Ela havia se mudado para cidade natal de Chris, Jeju, que ficava no interior da Coréia.
- Cadê o Simmon? - perguntei pelo filho dela.
- Não deu pra ele vir, ficou na casa dos pais do Chris. - explicou. - Manda um beijão para ele, e diz que a tia o ama e que está louca para apertar aquelas bochechas vermelhas. - falei e ela concordou sorrindo.
- Gente, eu não estou acreditando que todos vocês estão aqui. - falou com os olhos molhados, quando todos voltaram a se sentar. Ele estava se impedindo de chorar. Era difícil ver o chorando. Em toda minha vida eu só o vi chorando umas duas vezes.
- Agradeça ao . - Má falou sorrindo.
- É, agradeça a mim. - fez pose.
- Cara, não sei nem o que falar. - o abraçou, ou melhor, quase pulou em cima dele. Todos riram. - Bom, vou deixar vocês aqui por enquanto. Vou terminar de fazer umas coisas e depois volto. - disse depois que o soltou.
Os assuntos não paravam. Foi desde a infância até os dias de hoje, tínhamos muito que falar. Eu queria que o mundo congelasse naquele momento pra sempre. Pela primeira vez em meses, eu estava realmente feliz.

se juntou a nós umas horas depois, quando o restaurante já havia fechado. Eu conversava com e meus olhos de vez em quando procuravam por , ele sorria sempre pra mim, como se estivesse esperando que eu o olhasse, mas depois voltava a conversar com , David, e Chris.
Má segurava o sobrinho no colo com a cara mais boba possível, todos já tinham pegado o bebê pelo menos umas quinze vezes, e conversava com Ludy. , conversava animadamente com Fernanda.

Era cinco da tarde. Foi a primeira vez que olhei para o relógio, mas me arrependi rapidamente. A realidade me invadiu mais uma vez, faltava menos que vinte e quatro horas.
Todos estavam absolutamente felizes. Eu não queria estragar isso com a minha tristeza.
Para melhorar tudo começaram a perguntar ao pela Tae e a fazer gracinhas sobre casamento, algemas e liberdade. Eu me mantive calada, torcendo para que meu exterior não estivesse passando toda a dor do meu interior.
- Juro, eu pensei que vocês dois um dia iriam se casar. – escutei o final da frase de , ele olhava de mim para o . Minha respiração falhou por alguns minutos. me olhou e sorriu.
- Ela não me quis, disse que eu sou feio demais. – ele disse brincalhão, fazendo todos rirem. Eu ri fraco. Enfiar agulhas embaixo das minhas unhas seria menos doloroso.
- Mas eu também. - Fernanda disse - Fariam um belo casal, sempre fizeram. – observou. ficou sem graça, e eu também.
- Acho que todo mundo pensava isso. – Chris juntou-se, todos balançaram a cabeça concordando.
, sorria. Eu não consegui fazer nenhum dos dois, era demais para mim.
- Amor, queremos comer. - cortou o assunto. Todos começaram a cobrar a por comida e logo todos concordaram com ela. Agradeci a ela mentalmente.
chamou todos de gulosos e foi na cozinha do restaurante pegar mousse de chocolate.

Recusei o mousse de chocolate quando me ofereceu. Eu estava enjoada demais para comer alguma coisa.
Todos voltaram a conversar normalmente. Eu observava cada rosto, cada sorriso, enquanto tentava me esquecer de tudo que iria acontecer dali a algumas horas, sem muito sucesso. Eu estava me sentindo sufocada, como se todo o ar do mundo estivesse se esvaindo. Tentei retribuir os sorrisos e responder às perguntas que me faziam, mas minha mente não conseguia formar mais que monossílabos.
Todo aquele papo de ‘Achávamos que vocês iriam se casar. ’, tinha me feito realmente mal. Havia aberto ainda mais a cicatriz que se formava em meu peito. Eu nunca havia sentindo tamanha dor física por uma coisa que era emocional. Eu não desejo a ninguém que um dia sintam uma dor dessas. O que seria de mim daqui a umas horas?
Sem pensar direito, pedi licença a todos e me levantei rapidamente. Senti o olhar de todos sobre mim enquanto eu abria a porta e saía daquele espaço. Ali naquela sala, só duas pessoas me conheciam tão bem a ponto de tentar imaginar o que estava acontecendo comigo. e . E esta última me lançou um olhar de dúvida quando me levantei e saí do salão.

Quero te abraçar, quero te abraçar fortemente,
Mas ainda assim não serás meu. O meu coração quebrado
Quero abraçar-te, mas não posso,
Amo-te tal que transborda que me derrete,
Mesmo sem ser capaz de parar o táxi e fazer uma promessa
Suas mãos...


Eu conhecia um lugar bem perto do restaurante que sempre me serviu de abrigo, e que a muito tempo eu não o visitava.
O sol estava se pondo, deixando o dia numa cor alaranjada. Um vento frio soprava, mas não me incomodava. Dentro de poucos minutos de caminhada, cheguei ao local que me traziam ótimas lembranças. Eu precisava de lembranças felizes. Naquele momento eu precisava viver de passado.
O parque verde estava pouco movimentado, esquecido por muitos que por ali passavam todos os dias. Como sempre não havia muitas pessoas, só alguns idosos e algumas crianças brincando. Andei até o centro do parque, onde tinha uma ponte de madeira em formato de arco, que dava travessia pelo pequeno e o rio que ficava embaixo. Caminhei até a metade da ponte e me sentei com as pernas balançando no ar, observando os raios do sol brincarem na água. Eu não tinha mais forças para segurar as lágrimas e logo senti-as molhando o meu rosto. Fechei os olhos quando o vento trouxe o cheiro das folhas. Quando meus olhos se abriram, foi como se eu tivesse voltado no tempo.

- Flashback -
Todos estávamos lá, sorrindo e felizes, adolescentes. Uma grande toalha xadrez estava forrada no chão com duas cestas de piquenique segurando-a. O sol brilhava fraco no céu, estava entardecendo. Ludy, Má e David, jogavam alguma coisa com pedrinhas, e a cada minuto um caía na gargalhada. Chris, , e Fernanda jogavam futebol um pouco mais distantes e de vez em quando a bola acertava onde , , e eu estávamos sentados aproveitando o clima. E pela milionésima vez a bola de futebol acertou minha cabeça. Basta! Agarrei a bola e me levantei. - Joga. - pediu com a mão estendida. Ele estava suado.
- Nem pensar, já é quinta vez que essa coisa bate na minha cabeça. – eu disse segurando a bola atrás do meu corpo.
- Não me faz ir até aí pegar. – ele me ameaçou, sorrindo.
- Bem que você poderia tentar, . – eu ri. Ele não esperou mais e correu em minha direção, eu corri dele, mesmo sabendo que logo ele iria me pegar. Cheguei até a ponte que cobria o rio de águas limpas, arfando. Tentei recuperar o fôlego sem muito sucesso. parou na ponta da ponte, rindo molecamente pra mim e dando passos estratégicos em minha direção. Eu comecei a rir da cara de peste que ele estava fazendo, estendi a mão para que ele parasse de andar. Ele não o fez.
- Para, , eu te dou a bola. – estendi a bola pra ele. Ele balançou a cabeça lentamente enquanto um sorriso arteiro tomava conta de seus lábios. Isso não ia prestar.
- !!! – eu disse em meio a risadas nervosas. Ele veio se aproximando lentamente. – Para, . – pedi manhosa. Ele rolou os olhos. - Medrosa.
Eu dei língua, mas aliviada.
Me aproximei mais da ponta da ponte pra ver o rio que brilhava com o sol. De vez em quando nós gostávamos de nos aventurar e tomar banho nas águas geladas, mas isso não acontecia com frequência.
- Olha que lindo! – eu disse apontando pra água, se aproximou para ver.
Os raios de sol brincavam na água formando desenhos estranhos, mas lindos. Parecia que milhões de diamantes estavam no fundo do rio.
- É lindo, pequena. – ele disse, sorrindo. E então ele me abraçou, o sorriso arteiro de volta em seus lábios.
- Peguei! – Ele disse no meu ouvido.
- Eu te dou a bola, juro. – eu ria.
- Você vai ter que pagar por ter corrido com a bola. – ele falou num tom divertido, eu não entendi.
- Hm?
Não deu tempo de olhar pra ele, com um impulso nós estávamos indo de encontro ao rio. Ele, eu e a bola. Só senti o impacto e a água gelada perfurando minha pele como se fossem espinhos. Quando emergimos, ele ainda me segurava.
- Seu louco. - falei tossindo e ao mesmo tempo rindo. A bola já não estava mais comigo.
- Falei que ia pagar. - ele sorriu sapeca.
- Vou te afogar. – eu disse e coloquei minhas mãos na cabeça dele, empurrando-o para baixo.
No final das contas todos acabaram entrando no rio, e fomos pra casa à noite completamente encharcados e tremendo, depois que o guarda do parque pediu para que a gente se retirasse.

- Flashbak off -

A ponte continuava lá, o parque continuava lá, só eu que tinha mudado, só a vida que tinha mudado, só os momentos felizes haviam passado.
O sol ainda tinha o mesmo efeito sobre o rio, os diamantes do fundo ainda continuavam a brilhar.
Me deitei na ponte e fechei os olhos com a esperança que todos os sentimentos ruins se esvaíssem, com a esperança de um milagre acontecesse. Não sei bem quanto tempo passei com os olhos fechados, mas, quando os abri, o sol já não se fazia presente, o céu estava em uma mistura de laranja com cinza, a noite anunciava sua chegada. Não demorei em sentir uma presença ao meu lado e não me assustei por ver ali, me olhando em silêncio. Me sentei e encarei meus pés.
- Fiquei preocupado. - ele quebrou o silêncio. - Pensei que você tivesse ido pra casa, mas lembrei desse lugar, você sempre gostou muito dele. – ele sorriu fraco, continuei em silêncio. - Eles ficaram preocupados. – disse. Eu sabia que ele estava se referindo aos nossos amigos.
- Onde estão? - perguntei ainda fitando os meus pés.
- Eles foram para o hotel, mas tarde irão à minha casa. - explicou e eu apenas balancei a cabeça.
Pela nossa conversa mais cedo, todos eles passariam uma semana na cidade.
- . - me chamou eu o olhei. - Você quer conversar?
Sim, eu queria, como eu queria. Mas eu podia?
- , eu.. - respirei fundo e abaixei a cabeça sem conseguir continuar a frase.
- Você? - os dedos dele ergueram minha cabeça, me forçando a olhá-lo nos olhos.
- Eu... - minha voz saiu trêmula. Não tive certeza se ele conseguia me ouvir, estava difícil até para eu me ouvir. Ele me olhou em silêncio, esperando para que eu continuasse.
- . - tentei acalmar minha voz falando o nome dele, aquele nome tão especial pra mim.
- Diga. - os olhos dele estavam confusos, acho que ele nunca tinha me visto daquele jeito, tão sem chão. Nem eu.
- Eu só... Eu não, consi... Ah! – as lágrimas voltaram a vazar por meus olhos. Levei a mão o rosto na tentativa de que aquilo fosse pará-las, mesmo sabendo que não era.
Os braços dele me envolveram com uma força nunca usada, eu me encolhi com aquela sensação de choque, que já tinha ficado tão frequente. O choro foi ficando cada vez pior, por mais que eu tentasse me acalmar, não conseguia, encostei a cabeça no peito dele soluçando. E a cada soluço ele me abraçava cada vez mais forte. Não sei por quanto tempo passamos ali abraçados, mas ele esperou pacientemente em silêncio, mexendo em meus cabelos enquanto eu chorava em seu peito.

Ele me afastou um pouco quando meus soluços se acalmaram e eu já podia falar alguma coisa, suas mãos em cada lado do meu rosto. O polegar dele secava as lágrimas que ainda jorravam. Eu não consegui olhá-lo nos olhos, minha atenção estava em sua camisa xadrez molhada por minhas lágrimas, mas sabia que ele só soltaria meu rosto quando eu fizesse isso. Eu o fiz.
E o que eu vi fez meus olhos se encharcarem mais. Nunca tinha visto os olhos dele tão confusos, e a expressão tão triste, lágrimas escorriam pelo seu rosto. Ele estava chorando. Chorando por minha causa. Me senti culpada. Eu estava o fazendo chorar, consegui tirar do seu rosto o sorriso sempre presente. Seus olhos estavam encharcados, sua bochecha mais rosada que o comum, estava aflito, esperando uma explicação por tudo aquilo. Ele não fazia barulhos como os meus soluços, era um choro silencioso. Eu me odiei por isso.
Nos encaramos por um tempo. Um tempo que parecia uma eternidade, simplesmente não conseguia tirar os olhos do dele. Ele aproximou minha cabeça da sua e beijou minha testa. Eu respirei fundo e pus a mão em cima da dele que ainda segurava o meu rosto, acariciando-a.
- O que ta acontecendo? - a voz dele saiu em um sussurro, eu abaixei a cabeça.
Talvez eu devesse falar...
- , eu...
O toque do celular dele interrompeu, eu silenciei. Ele não deu sinal de que iria atender apenas me olhava, esperando.
- Não vai atender? – perguntei.
- Não. - ele falou sério e ainda me encarava. O toque continuava a insistir, irritantemente.
- Atende, , pode ser importante.
- Nada mais é importante do que você nesse momento. - ele pegou o celular do bolso, e sem nem mesmo olhar o número ele o jogou no rio embaixo de nós. Eu o olhei, bestificada.
- Você podia ter apenas desligado, ta que você é rico, mas não precisa passar na cara. - tentei fazer piada, mas não consegui. Ele continuou sério. - Podia ser a... - respirei fundo, sentindo-me mal. A palavra não dita, mas pensada foi um tapa na cara pra mim. Eu não podia contar nada a ele, não era justo com ela. Não era. Eu estava sendo egoísta, eu era a pior pessoa do mundo. - Podia ser a Tae. - terminei a frase com esforço.
- Não importa, é você que está aqui na minha frente chorando e eu não posso fazer nada porque, nem ao menos, sei o motivo. É você que está precisando de mim. Ver você chorando me deixa indefeso, .
Cada palavra dele me deixava tonta. O rio abaixo de nós ficou estranhamente mais perto.
- O que está acontecendo, ? Eu nunca te vi desse jeito. Faz muito tempo que você está assim, faz tempo que eu não vejo um sorriso realmente feliz em seu rosto. - ele entrelaçou nossas mãos e apertou. - Eu não gosto de te ver assim, metade de mim está sofrendo com você e eu nem ao menos sei o motivo, o que torna o sofrimento pior. - ele falava rapidamente, atordoado.
- .
Já tinha perdido as contas de quantas vezes tinha falado o nome dele, minhas mãos estavam tremendo e ele estava percebendo isso, pois cada vez mais ele as apertava contra sua. Senti uma lágrima rolar por minha bochecha, com a mão livre ele a tirou de lá. Decidi falar a única coisa que podia e que explicava tudo. - Eu te amo. - falei. Foi diferente de todas as vezes que eu dizia que o amava, o que acontecia várias vezes por dia, foi um 'Eu Te amo' de uma mulher para o homem que amava, e não para o melhor amigo, mas eu não esperei que ele entendesse isso, por mais que desejasse. O silêncio se instalou entre nós, os olhos dele estavam surpresos, confusos, ele abriu a boca algumas vezes até algum som sair de lá.
- Eu também te amo. – disse. Eu sorri acariciando o seu rosto com a minha mão livre. Eu sabia que aquele 'Te Amo' não era igual ao meu, mas gostei de escutar ele do mesmo jeito, por mais que fosse normal ele falar sempre, mas naquele momento eu precisava ouvir.
- Eu sei, , eu sei. - eu sabia que ia começar a chorar novamente, mas não queria chorar ali na frente dele mais uma vez. Eu precisava ficar realmente sozinha. E não queria vê-lo chorando por minha causa mais uma vez. Não era justo, eu não podia acabar com o sonho de uma pessoa para conseguir o meu, isso era egoísta demais. E eu não era assim. Eu não podia ser assim. Antes que eu fizesse qualquer coisa que me arrepende, continuei.
- O que eu mais desejo na minha vida, , é a sua felicidade, porque a minha felicidade depende extremamente disso. A Tae te faz feliz, eu sei, e só por isso eu estou te deixando casar com ela. Eu amo você demais, nunca se esqueça disso. – eu sorri pra ele, escondendo naquela frase mil significados. – Você é a pessoa mais importante da minha vida e eu estou muito feliz por você... - as lágrimas que se soltavam dos meus olhos contradiziam minhas palavras, abaixei a cabeça deixando que elas caíssem em minha perna. Ele levantou minha cabeça novamente, seus olhos ainda estavam confusos.
- ? - a voz dele era de dúvida quando falou meu nome.
Eu suspirei, não podia mais continuar ali. Não queria mais sofrer e não queria fazer ninguém sofrer. Se eu continuasse ali era só isso que iria conseguir. Levantei-me rápido e uma vertigem de tontura me atingiu. Senti os braços dele me segurando para que eu não tombasse. Não tinha visto quando ele tinha se levantado tão rápido.
- ! - A voz dela era aflita. - Eu tenho que ir... – não consegui terminar a frase. Apenas me afastei dele. Eu tinha que sair de perto dele o mais rápido possível. Ele segurou minha mão quando tentei me afastar. Ele não podia tornar as coisas mais difíceis pra mim, ele não tinha esse direito.
- , por favor, não vai... Eu te levo. - ele suplicou com os olhos. Eu não podia atender a esse pedido. Juntei todas as forças que ainda me restavam e consegui soltar a mão dele da minha.
- Desculpa, - o olhei e corri o mais rápido que pude para longe do meu melhor amigo, para longe do homem que eu amava, para longe da minha vida.

Mesmo a sua voz, mesmo seus frágeis ombros,
Mesmo os seus olhos não são meus.
Não importa que eu esteja ao seu lado,
Meus sentimentos não se tornarão realidade, a menos que se destrua o seu futuro,
Um sonho de um momento, eu te amo tanto que me dói...


Abri a porta de casa e corri para o meu quarto batendo a porta com força. Eu precisava gritar, precisava machucar alguma coisa, bater em alguma coisa, mesmo sabendo que isso não iria amenizar em nada a dor que eu estava sentindo.
Fui uma covarde, para não ser uma egoísta. Eu tinha feito a coisa certa, eu sabia disso.
Meu coração batia rapidamente, e a cada batimento, meu peito doía, minha respiração estava descompassada. Eu havia corrido todo o caminho até em casa. Minhas costas escorregaram pela parede do meu quarto e, sem nem ao menos perceber, eu já estava no chão, encolhida, abraçando meus joelhos. O único lugar que eu me sentia protegida quando não estava com , agora estava me sufocando, as paredes pareciam querer me engolir, tudo estava grande demais e pequeno demais, aquele lugar já não surtia nenhum efeito em mim. Eu queria fugir, mas não sabia pra onde, tem como fugir de si mesmo?
Escutei três batidas na porta do meu quarto e a voz da minha mãe soou em seguida.
- , você está bem?
Eu não tinha voz para responder, estava me sentindo estrangulada, minha garganta doía demais.
- Filha, está tudo bem? - insistiu ela batendo na porta mais uma vez.
Coloquei a cabeça entre os joelhos reprimindo um soluço.
- ! - mais três batidas na porta. Eu levantei a cabeça.
- Me deixa só, mãe. - tentei falar o mais alto que pude, sem muito sucesso.
- Está tudo bem? - o tom de sua voz era preocupado.
- Não! Mas me deixa só, eu só quero ficar só, por favor. - pedi e voltei a colocar a cabeça entre os joelhos e pressionar minhas costas contra a parede na intenção de que ela me engolisse.
Sentia o colar em meu pescoço pesar quilos, enquanto o pingente de golfinho balançava entre minhas pernas. Eu conseguia ver o meu nome e o de cravados nele. Sem pensar o apertei com força, até sentir um ardor em minha mão e uma sensação molhada. Sangue. Não me importei. Eu não senti dor alguma, aquele tipo dor era irrelevante a que eu estava sentindo dentro de mim.

A porta do meu quarto se abriu. Olhei para o lado, pronta pra colocar quem quer que fosse pra fora. trancou a porta e correu até o meu lado, se abaixando perto de mim. Assustada.
- Eu sempre soube. - ela disse e me abraçou. Eu entendi ao que ela se referia. Escolha errada de palavras. Meus soluços ficaram cada vez mais altos, por mais que eu tentasse parar, não tinha força alguma. Ela me abraçou de lado, me apertando, a abracei de volta com toda a minha força, depositando ali toda a minha dor, ela pareceu não ligar por está sendo apertada. Esperou que eu me acalmasse, ou pelo menos a soltasse e foi até minha cama. Pegou minha toalha de rosto, que estava em cima, e a pressionou sobre a minha mão suja de sangue. Ela tocou no colar de golfinho, prata que estava balançando em meu pescoço.
- Por que, ? Não era pra ser assim. Eu não queria isso, eu juro que não queria! – eu disse derrubando todas as barreiras que eu tinha construído em volta de mim por todos esses meses. – Eu amo ele, , mas do que amo a mim mesma. – foi um alívio dizer aquilo em voz alta pela primeira vez na minha vida, com todos os significados ocultos sendo revelados.
- Eu sei disso, , eu sempre soube, só você que era cega demais para enxergar isso. – ela não me passava sermão. A voz dela era triste, não estava com pena, apenas triste.
- Isso está me matando por dentro, , ele é meu melhor amigo, não era pra ser assim.
Ela levou a mão ao meu rosto.
- Eu não gosto de te ver assim. -
- Ele vai se casar amanhã! - eu falei o óbvio, mas para mim do que para ela. Eu queria repetir isso até conseguir aceitar, me acostumar. Mas eu sabia que não surtiria efeito algum. - Eu vou perder ele pra sempre. - as palavras saíram como brasa da minha boca.
- Você falou com ele? Já disse o que está sentindo? – ela perguntou, aflita, os olhos enchendo-se de lágrimas.
- Eu não tenho esse direito, , não mais. Não vou estragar tudo na véspera do casamento dele. Não seria justo nem com ele, nem com a Tae. - minha voz saía em um sussurro, a verdade literalmente doía.
- Eu sei. - disse baixo. Como se não quisesse concordar com aquelas palavras. - Ele está triste, . Ele que me ligou e disse que estava vindo até aqui, me explicou por cima o que aconteceu no parque, está confuso...
Ela respondeu ao meu olhar de alerta. - Mas eu pedi para que ele não viesse, eu sabia o que iria ver quando chegasse aqui.
- Ta vendo? Eu só faço merda! Deixei-o triste e preocupado na véspera do casamento dele, na véspera do dia mais feliz da vida dele.
- Para! Para de ser assim! - ela alterou um pouco a voz. - Quem está sofrendo aqui é você, quem está triste aqui é você. Pensa um pouco em você, !! - ela disse com um tom aborrecido que sempre usava quando achava que tinha razão. - Eu tenho certeza que se você estiver triste no dia mais feliz da vida dele, então não será o dia mais feliz da vida dele. Ele te ama!
- Mas não me ama como eu o amo. - eu gritei aquelas palavras.
- Você não sabe disso. Você nem ao menos tentou.
- Se ele me amasse da mesma maneira não estaria se casando amanhã, . – joguei, amargurada.
- Você demorou a se dar conta dos seus sentimentos, e só aconteceu porque foi posta em prova de fogo, talvez ele não seja diferente de você, eu tenho quase certeza que não é... – Talvez, talvez... Eu não ia arriscar tudo por um talvez.
- Eu não vou colocar tudo em risco, , não agora. Posso estar colocando em jogo nossa amizade, e é pedir demais que eu coloque isso em risco. É a única coisa que não posso perder nessa vida. Eu vou aprender a amá-lo de uma forma saudável de novo. – eu ri fraco pelo nariz, uma mistura de suspiro e riso.
Ela sorriu fraco.
- Eu não posso deixar você fazer isso.
- Eu vou ser madrinha, , madrinha. Eu que não posso fazer isso com ele e com a Tae.
- Mas com você, tudo bem? – ela disse sem humor, irônica.
- Sou a única que sobrou, não? E a única com quem posso lidar. Se eu fizer o sofrer, sofrerei mais ainda. Não tem muito que salvar aqui, eu já fiz isso comigo. Todos esses meses eu morri aos poucos, aguentei até aqui...
- Você vai aguentar toda uma vida? Sabendo que poderia ter tentando e que tudo poderia ter sido diferente? – ela me encarou, os olhos me fuzilando.
- Eu vou tentar, sou boa em ocultar sentimentos. – suspirei.
me olhou em silêncio. Não consegui ler o que se passava em seus olhos.
O celular vibrou em meu bolso eu o peguei, o número do telefone da casa de brilhava na tela. Eu olhei pra em dúvida, mas atendi.


Quero te abraçar. Quero te abraçar fortemente.
Mas ainda assim não serás meu, o meu coração quebrado
Quero abraçar-te, mas não posso,
Amo-te tal que transborda que me derrete,
Mesmo sem ser capaz de parar o táxi e fazer uma promessa
Suas mãos...


- ! - a voz dele soou rápida, aflito.
- Oi, . – tentei maquiar minha voz, para que ele não detectasse nada.
- Você ta bem? Eu não que... Porque... - ele começou a falar, mas não terminou nenhuma palavra, eu podia sentir a preocupação em sua voz. Por fim, ele deu um suspiro, eu fiz o mesmo e o esperei continuar.
- Eu posso ir aí? A disse que era melhor não, mas eu nem sei por quê! Eu te fiz alguma coisa? Se fiz, me perdoa, eu jamais te magoaria, você sabe... Mas eu fiz? - ele falava rápido demais, e cada vez eu me sentia pior. Não era justo deixá-lo naquela situação.
- Ei... - tentei rir fraco, chamando a atenção dele, ele silenciou. - Você não fez nada.
- Então por que você estava daquele jeito? - perguntou ele.
- Desculpa por isso, ok? Não queria ter te deixado sozinho lá.
- Você não tem que pedir desculpas, . É você que está sofrendo, o que aconteceu? Me fala, por favor, eu vou enlouquecer aqui. - ele implorou, desesperado.
- Ei, ei... Nada aconteceu, você sabe que eu tenho TPM do nada. - eu falei sorrindo, tentando aliviar o peso que esmagava meu peito. balançou a cabeça negativamente. - É tudo muito novo pra mim, , você vai se casar amanhã, eu vou ter que dividir você com alguém, vou te perder um pouquinho. - minha voz saiu chorosa.
- Oww, pequena, você jamais vai me perder, ok? Você não pode perder o que já é seu. E se você quiser, eu não caso. - ele falou rindo. Eu gelei. Ele não tinha noção do que aquelas palavras causavam em mim.
- HAHA engraçado. - tentei não levar nada a sério. Não era pra levar a sério.
- Sério, você está bem? - o tom preocupado voltou.
- Estou. – menti.
- Eu quero falar com você ainda hoje, eu posso ir aí? - voltou a perguntar. Fiquei em silêncio por uns segundos.
- Desde quando você tem que perguntar isso? - tentei fazer uma voz divertida, acho que tive sucesso.
- Certo, dentro de dez minutos estou chegando aí. Te amo! - ele não esperou que eu respondesse, a linha foi cortada. Eu desliguei o celular e coloquei ao meu lado. me olhou esperando por uma resposta.
- Ele vai vir aqui! - falei me levantando e indo em direção ao banheiro, a toalha suja de sangue caiu no chão. Ela ficou em silêncio apenas observando meus movimentos.

Entrei no banheiro para ver meu estado, não que me importasse com isso naquele momento. O espelho mostrou uma pessoa estranha pra mim. Eu não me sentia eu mesma, era como estar olhando uma caixa vazia. Meus olhos estavam superinchados, e, por causa do sangue em meu colar, minha blusa branca estava com pingos vermelhos. Lavei o rosto com água fria na tentativa de melhorar, minha mão ardeu quando a água entrou no corte. Fui até o guarda-roupa e peguei uma blusa preta. Quando terminei de prender o cabelo em um rabo de cavalo, uma buzina soou do lado de fora. Pela janela do meu quarto dava pra ver o conversível preto estacionado na frente da minha casa, já estava encostado no carro com os braços cruzados.
Saí do quarto sem falar nada pra , ela não me seguiu.
Desci as escadas correndo, e quase a desci rolando quando tropecei no segundo degrau, minha casa nunca tinha ficado tão grande. Atravessei a sala e abri a porta. Ele estava encostado na porta do carro com os braços cruzados no peito.
Eu corri e o abracei como nunca havia o abraçado antes. O cheiro dele me invadiu mais uma vez. Eu inalei aquele cheiro como se fosse a última vez que eu faria aquilo.
Soltei-o, mas não fiquei muito distante. Ele pegou em minha mão não machucada e entrelaçou na dele.
- Desculpa. - falei assim que nossos olhos se encontraram.
- Shhh! - ele me puxou para mais um abraço. - Você me deixou preocupado.
- Eu sei, me desculpa mesmo. – disse com a voz abafada pelo ombro dele.
- A está aí? - ele olhou para a porta aberta da minha casa.
- Aham, lá dentro.
- Hm... E você, como está? - ele me colocou na frente dele e acariciou meu rosto.
- Bem. - sorri fraco.
- Você não mente bem. - ele enrugou a testa.
- Eu estou bem, sério. - tentei falar com mais segurança, ele me avaliou um pouco e depois pareceu se convencer do que eu disse.
O silêncio se instaurou entre nós. Ele deu um suspiro pesado. - Que foi? – perguntei. - Estou confuso. - ele levou uma das mãos aos cabelos, e o assanhou um pouco.
- Confuso? - perguntei, me encostando ao lado dele no carro, mas sem soltar nossas mãos.
- É, sabe... Amanhã. Casamento. - ele olhava para um ponto qualquer da minha casa.
- Deve ser normal, , tipo, é o seu casamento. - a dor estava apenas por dentro, eu não iria deixar que nada transparecesse. - Sabe como é, vida nova, trabalho... - sorri pra ele.
- É, eu tenho medo disso. - ele acariciava meus dedos.
- Você ama a Tae, não ama?
- Amo. - ele disse convicto. Acho que a minha expressão não mudou.
- E então, é isso que importa. - eu disse sincera.
- É. - ele respirou fundo e logo depois me olhou, sorrindo, o sorriso que eu amava.
- Eu amo quando você sorri. – deixei que meus pensamentos escapassem, o sorriso dele se alargou mais.
- Eu odeio quando você chora. - ele acariciou minha bochecha, fechei os olhos com aquele toque. Guardando todas as sensações que causavam em mim.
- É só você sorrir que eu paro de chorar. - falei com os olhos ainda fechados.
- Então vou sorrir sempre. - falou e eu abri meus olhos. Ele estava com um sorriso forçado que enrugou todo o rosto. Eu dei uma risada.
- Vai ficar com o maxilar doendo, porque eu sou uma chorona. - eu disse ainda rindo e acariciando o rosto dele perto do maxilar.
- Vou aparafusar meu sorriso, assim você nunca mais vai chorar. E se doer, não me importo. Faço tudo para ter ver sorrir também. - ele me puxou para mais um abraço, eu o abracei pelo pescoço, ficando um pouco nas pontas dos pés, já que era mais alto que eu, e encaixei meu rosto na dobra do pescoço dele, deixando que aquele cheiro tão dele me preenchesse.
- Eu te amo. - falei mais para mim do que para ele.
- Eu te amo. – ele repetiu e apertou minha cintura. Ficamos daquele jeito durante alguns segundos.
- Você devia estar em casa. - disse me soltando daquele abraço, mas sem ficar muito distante. - Já é amanhã...
- Eu sei. - ele deu de ombros. - Mas eu queria te ver, eu precisava te ver.
- E como está lá na sua casa? - perguntei mudando um pouco de assunto. Estava difícil segurar as lágrimas. Eu estava cansada de chorar.
- Minha mãe está completamente louca. - ele riu. Eu ri. Instantâneo. - Minha casa ta um manicômio.
- Eu vou sentir saudades. - eu me arrependi de ter falado isso. Mas já era tarde.
- De? - ele ficou em minha frente, enquanto eu me encostei em seu carro.
- Desses momentos, das nossas conversas... De você.
- Isso não vai mudar, pequena, eu sem você não sou ninguém.
- Não vai ser a mesma coisa, , você terá sua vida, sua esposa, as coisas vão mudar... É normal.
- Existem coisas que nunca mudam, , e nossa amizade é uma delas. – ele se aproximou e encostou a testa na minha. - Eu nunca vou te deixar. Você é uma das partes mais importantes da minha vida. Quem seria sem ? Não existe sem . - ele sorriu e não consegui não sorrir verdadeiramente nessa hora e nem segurar as lágrimas que estavam em meus olhos. Tentei falar alguma coisa, mas tudo que saiu foi um 'Ah' e eu sorri em meio às lágrimas.
- Eu não aguentaria te dizer adeus, .

- Você nunca vai precisar me dizer isso. Você não vai se livrar de mim tão fácil. - ele juntou meu corpo ao dele, mais uma vez.
Meus olhos bateram no colar de golfinho, igual ao meu, que ele usava, eu toquei nele. Ele seguiu meu olhar e pegou minha mão colocando em cima dos golfinhos e a dele em cima da minha. Eu conseguia sentir as batidas do coração dele e conseguia ouvi-las. Tentei respirar fundo e me forçar a parar de chorar. Eu estava fazendo a coisa certa. E eu sabia disso. Senti dar um beijo no topo da minha cabeça e me abraçar mais forte. Ficamos assim por incontáveis minutos.

Meus sentimentos não se tornarão realidade, a menos que se destrua o seu futuro.
Um sonho de um momento, eu te amo tanto que me dói...
Enquanto esta noite começa a terminar.


- Você tem que ir. - falei, enquanto tentava limpar o rastro salgado do meu rosto. Passei o polegar pelo rosto dele para enxugar as que permaneciam sua bochecha. Nós dois sorrimos ao mesmo tempo.
- A Tae não vai querer um noivo com cara de sono. - sorri fraco, ele mordeu a língua.
- É, minha mãe daqui a pouco me liga louca da vida. - riu e eu me desencostei do carro. Ele abriu a porta e me olhou. Cruzei meus braços em volta do meu corpo, impedindo minhas mãos de o agarrarem e não o deixar ir embora.
Ele olhou pros lados antes de olhar pra mim mais uma vez. Veio até mim e me abraçou mais uma vez. Eu passei os braços sobre seu pescoço.
- Eu te amo, pequeno. - Sussurrei no ouvido dele e senti-o estremecer.
- Também te amo, pequena, muito. - ele deu um beijo no meu pescoço. Eu tremi. Ele me largou aos poucos, mas nossas mãos continuaram unidas. Ele não queria ir. Eu ri.
- Eu estarei lá, . - sorri vendo que ele não se mexia. - E você também.
- Eu sei, pequena. - ele se aproximou mais de mim e pegou meu rosto com as duas mãos e beijou minha testa, depois me abraçando. - Até amanhã. - ele foi soltando minha mão aos poucos, até que só nossos dedos escorregassem. Entrou no carro e o ligou. Sorriu. Eu sorri. E em questões de minutos ele estava entrando na primeira esquina.
Respirei fundo. E engoli em seco. Eu tinha conseguido!
Quando me virei para entrar em casa, estava na porta com os braços cruzados. Com um olhar não acusador, como eu esperava. Mas compreensivos e vermelhos. Ela também havia chorado. Lágrimas brotaram dos meus olhos mais uma vez, mas não havia barulho algum. Era um choro silencioso. Eu tentei sorrir para ela, mas a única coisa que fiz foi entreabrir a boca e soltar um suspiro. Ela veio até mim e me abraçou.

LAST DAY.
Música: Doushite - DBSK


Por quê...
Eu acabei me apaixonando por você?
Não importe quanto tempo passe,
Eu ainda acho, que você está aqui.
Mas você já escolheu um caminho diferente...


, Má, , Ludy, Fernanda, Taeyeon e eu estávamos no quarto, quase todas em volta da Tae. A cerimônia seria na casa dos pais de Taeyeon. Eu já estava pronta, meu vestido creme um pouco acima dos joelhos. Abusei da maquiagem para tentar esconder as olheiras. Eu havia chorado a noite toda, e não tinha dormido mais que uma hora. O olhar de me alcançava de vez em quando, eu sabia que meu rosto estava sem expressão alguma. Todas tentavam ajudar Tae em alguma coisa. Eu estava encostada na porta sem prestar atenção em nada que acontecia naquele quarto. Me programei para não pensar em absolutamente nada.
- ! - chamou minha atenção. Todas olhavam pra mim.
- Hm?
- Acho que escutei a senhora Kim te chamando. - ela disse olhando sugestivamente para mim. As outras se olharam sem entender. Eu sorri concordando e saí do quarto. Agradeci a mentalmente por ela me conhecer tão bem.
Desci as escadas da enorme casa dos pais da Tae, tudo estava perfeitamente arrumado. Eu não tinha tido chance de olhar a parte de fora ainda, mas eu sabia que estaria tudo lindo.
Caminhei por um dos únicos corredores da casa que encontrei vazio. Observando o carpete que cobria o piso como se fosse a coisa mais interessante do mundo. E para mim, naquele momento, era. Mas não pude controlar meus pensamentos por muito tempo. É difícil não se lembrar de algo, quando esse algo está bem à sua frente.
Eu sabia que estava fazendo a coisa certa! Deixando todos felizes, mesmo que isso só me fizesse mal. Eu aguentava lidar com a minha dor; com a dos outros, não.
O som dentro de um dos quartos chamou minha atenção quando passei pela frente dele, e, antes que eu pudesse imaginar quem estaria lá, saiu do quarto e me assustou um pouco.
- Você! - ele falou eufórico. – Estava precisando de uma mulher.
Eu levantei uma das sobrancelhas com a declaração.
- A não é suficiente? – perguntei acusadoramente.
Ele me olhou assustado e depois começou a rir. - Você não entendeu... Ta procurando alguém? - Me perguntou.
- Não. - Cruzei os braços em volta do corpo, confusa.

"- Fica quieto . -" a voz de soou do quarto que tinha acabado de sair.
"- Aish, você ta me espetando. - " ouvi reclamar.

- Ótimo, vem cá. - pegou na minha mão e me puxou para dentro do quarto.
Chris, David, , e um outro garoto que eu não conhecia estavam dentro do quarto. Meus olhos pararam em .

Por quê...
Não consegui mostrar a você?
O meu amor que crescia dia e noite.
As palavras começam a ser demais,
Mas eu sei que você nunca vai entendê-las...


Se ele estava lindo no dia em que apenas estava provando a roupa, hoje eu não tinha palavras para descrevê-lo. 'Príncipe saindo de contos de fadas' era pouco.
- Uma mulher! - falou olhando pra mim.
- Bem observado. – ri.
- !! - se desvencilhou das mãos dos meninos e me abraçou.
- Ajuda a gente? Essa coisa que coloca no pescoço não quer ficar certa. - Chris mexeu no lenço creme que estava no pescoço de . - , fica quieto. - ele brigou e puxou para o lugar que ele estava antes. Eu ri.
- Onde está a pérola? - perguntei e eles se olharam.
- Seria isso? - o cara que eu não conhecia estendeu a pérola dentro de um saquinho.
- Sim. – sorri em agradecimento e peguei das mãos dele.
Eu estava tremendo quando me aproximei de , ele se virou para mim com o sorriso perfeito nos lábios. Eu sorri.
Toquei no lenço que estava em seu pescoço, e, enquanto eu fazia isso, sentia o olhar dele sobre mim.
- Pronto. - dei uma última arrumada e o virei para os espelhos, ficando com o rosto ao lado dele.
- O que seria de mim sem você, me explica? - ele segurou meu rosto e me deu um beijo na bochecha.
- Vou deixar o clube agora. - sorri e quando me virei, segurou minha mão.
- Não! Fica aqui. - Ele pediu. 'Não faz isso comigo, '. Mas eu fiz o que ele pediu.
Como eu já disse: ficar perto dele me mata e me fortalece ao mesmo tempo.
- Ok.

Os garotos tentavam arrumar , mas só atrapalhavam. Eu pensei que não iria conseguir rir naquele dia. Estava errada!
Meu rosto já estava vermelho de tanto que eu ria, das piadas sem graça e do quanto garotos podiam ser atrapalhados. No momento em que eu estava naquele quarto, esqueci completamente que dentro de alguns minutos o homem que eu mais amava iria se casar com outra mulher. Depois de quase meia hora, alguns dos garotos já tinham saído do quarto, a cerimônia estava perto de começar.
- Vou pegar meu filhão. - anunciou e foi o último a sair.
e eu nos olhamos quando a porta foi fechada. Ele veio até a cadeira que eu estava sentada e estendeu a mão para mim, eu a peguei e ele me puxou, me deixando na frente dele.

Desde a primeira vez que nos encontramos, eu senti que já a conhecia.
Nos demos bem naturalmente.
Era tão natural para você estar comigo.
Nós crescemos juntos.
Mas você já escolheu um caminho diferente.

- Você está linda! - ele me olhou dos pés a cabeça. Eu corei.
- Obrigada! Eu não vou te elogiar porque ainda não encontrei uma palavra.
- A palavra tem a ver com pinguim? - ele perguntou com uma careta e eu soltei uma risada.
- Bobo! Digamos que príncipe ainda não chega aos seus pés. - sorri tocando no rosto dele.
Ele fez uma cara de convencido. Eu ri.
- Chegou a hora. - Não tinha sido uma pergunta. Ele falava mais pra si.
- É.
Ele balançou nossas mãos entrelaçadas no ar. A mão dele estava gelada.
- Está conseguindo respirar? – perguntei rindo.
- Está difícil, pequena. – riu.
- Vai sair tudo perfeito. – eu disse achando fofo as bochechas dele vermelhas.
- Eu sei, já está tudo perfeito.
Uma batida na porta fez com que nós nos assustássemos. A porta não foi aberta. A voz do pai de soou.
- Filho, está na hora!
- Já estou indo, pai. – respondeu um pouco mais alto. Nós olhávamos para porta. Não houve resposta.
- E então... - ele olhava pras nossas mãos entrelaçadas, eu acompanhei o seu olhar.
- Chegou a hora. – repeti o que ele disse. A frase ficou ecoando em minha mente, mas eu havia prometido a mim mesma que não iria me deixar abalar naquele dia. - Não vou te abraçar pra não te amassar. – eu disse ignorando todos os meus pensamentos e sentimentos, ele rolou os olhos, logo depois me abraçou.
- ! - briguei. - Você está me amassando também. - Não me importo. - ele me apertou mais.
- Vai, eu não quero ter que te arrumar de novo. - bati no braço dele, devagar enquanto ria. Ele se afastou também rindo. Respirei fundo, quando nossos olhos se encontraram e eu sentia a respiração dele em meu rosto.

Por quê...
Eu me apaixonei por você?
Não importe quanto tempo passe,
Eu ainda acho que você está aqui.
Agora não tem mais volta.
Por esse dia que guarda um significado especial.
Por esse dia em que mostramos a nossa alegria.


- Eu amo você. - a voz dele soou baixa e antes que eu me desse conta os lábios dele encostaram nos meus, levemente. Meus olhos se fecharam automaticamente, as mãos dele apertaram minha cintura e seus lábios capturaram o meu inferior. Eu não conseguiria pôr em palavras todas as sensações que me atingiram. Não passamos disso. Uma lágrima escorregou por minha bochecha e caiu entre os nossos lábios. Nós abrimos os olhos ao mesmo tempo, e nossos lábios se separaram.
Nós sorrimos.
- Eu também te amo. - Ele deu um beijo na minha bochecha e tirou vestígios de lágrimas com o polegar do meu rosto. A porta se abriu, era . Ele não estranhou a cena que viu, nem tinha o que estranhar, eu e o sempre estávamos perto demais.
- Vamos, dude, é a noiva que chega atrasada. - ele falou e nós três rimos.
- Vai lá. – eu disse e, como da última vez, ele soltou minha mão aos poucos até só nossos dedos estivessem juntos.
- Eu já estou indo. - sorri, ele apenas acenou a cabeça saindo do quarto e fechando a porta.
Me olhei no espelho sem prestar atenção em meu reflexo. Respirei fundo tentando não ter qualquer pensamento.
Eu estava preparada pra isso! Por ele!
Saí do quarto e esbarrei em , não sei como consegui ficar em pé, não por ter sido um esbarrão forte, mas sim porque eu sentia que iria desmoronar a qualquer momento, a qualquer toque.
- Você está bem? - ela me olhou com preocupação.
- Não!
- Está preparada? – perguntou.
- Sim! - sorri e ela pegou em minha mão.
- Eu estou aqui. - nós caminhávamos para sair do grande corredor.
- Eu sei, obrigada.

Quando chegamos ao lado de fora, eu pude ver toda a ornamentação da festa. Estava simplesmente lindo!
O sol estava fraco, mas sem indícios de chuva, uma brisa leve soprava balançando as flores dos arranjos e as toalhas das mesas.
já estava posicionado em seu lugar. Nos olhamos por uns minutos e sorrimos. A mãe de Taeyeon estava arrumando os padrinhos em uma fila, logo quando me viu, ela me puxou. apertou minha mão antes de ir ficar ao lado de , que estava ao lado de . Má e David também estavam lá.
Nossos outros amigos estavam nas primeiras fileiras das cadeiras.
e brincavam com o filho entusiasmados. Fernanda e o noivo Chris estavam conversando de cabeça baixa e de vez em quando sorriam.
A mãe da Tae me colocou em uma fila, atrás de algumas pessoas, umas eu conhecia de vista. A mãe de Taeyeon colocou o padrinho que iria me acompanhar perto de mim.

Por você estar lindo enquanto caminha ao altar.
Mas não era eu que estava ao seu lado
A imagem de alguém verdadeiramente feliz.
Como pude perdê-lo?


- Oi. - escutei a voz do homem que estava ao meu lado. Tive medo de falar e apenas retribuí com um sorriso. Era o mesmo garoto 'desconhecido' que estava no quarto com os meninos. Antes que ele pudesse falar qualquer coisa, uma música ao som de violinos começou a tocar. Eu prendi a respiração e meu coração acelerou.
Vi o casal à nossa frente começar a andar. Eu não sabia se conseguiria dar um passo em frente e, antes que eu tentasse fazer isso, os braços do garoto se entrelaçaram nos meus. Eu agradeci por ter um apoio naquele momento.
O caminho até o lugar que estava foi o mais longo da minha vida. Todos os momentos passaram por minha mente, toda a minha vida ao lado de passaram entre meus olhos. Agora uma nova fase começaria e eu tinha medo do que estava por vir. Só tinha me preparado até o dia de hoje.
Algumas pessoas dizem que nossa vida só passa diante dos olhos quando estamos perto de morrer. Elas não estão erradas! Uma parte de mim naquele momento estava morrendo, o meu coração estava morrendo. E eu conseguia visualizar os melhores momentos da minha vida ao lado de , e todos os nosso beijos, que antes eram insignificantes e levados na brincadeira. Suspirei fraco e o braço do meu companheiro pressionou o meu, por um momento pensei que ele estivesse sentindo minha dor. Será que estava tão transparente assim? Não, eu estava boa nessa coisa de fingir.
Não consegui olhar pra frente por nenhum minuto. Só me dei conta que o trajeto tinha terminado, quando, com a força do braço "dele", nós paramos e nos viramos. Meu olhar continuou no chão, a música se intensificou. Eu sabia que a Tae estava entrando. Não conseguia olhar nem impedir que minhas lágrimas caíssem. Eu chorava em silêncio, meu coração chorava em silêncio.
Em nenhuma das partes minha cabeça se ergueu, eu não tinha coragem de encarar ninguém. A única coisa que eu sentia era aquele braço sobre o meu, que cada vez que minha perna fraquejava, ele me segurava. Mas nem pra ele eu tinha coragem de olhar. Foram as horas mais longas da minha vida. Só quando escutei uma salva de palmas eu ergui a cabeça, no momento errado.

Então por quê...?
Eu me apaixonei por você.
E as coisas não podem mais ser
Como eram no passado
Eu já decidi!


e Taeyeon se beijavam. A maioria das pessoas chorava. Eu não precisaria explicar o porquê das minhas lágrimas agora.
Quando os noivos se separaram, o olhar de alcançou o meu. Ele sorriu, eu sorri.
Estava na hora de assinarmos o livro. Eu não queria pegar em uma caneta agora, não sei se teria forças para segurar uma pena. Taeyeon assinou e depois que assinou, ele me passou a caneta, nossas mãos se encostaram. Tremi ainda mais com isso.
Juntei todas as forças e assinei, minha letra saiu tremida, mas nunca tive uma caligrafia impecável. Passei a caneta para o meu companheiro, que sorriu em agradecimento.
Depois de algumas fotos, eu consegui escapar e fui me sentar em uma das mesas que ficavam mais distantes. O sol já estava se pondo. me acompanhou com os olhos, mas não me seguiu. Eu necessitava ficar um tempo só.

Por quê...
Eu não consegui segurar a sua mão?
Não importe quanto tempo passe,
Você deveria estar ao meu lado.
É assim que deveria ser.


A festa rolou sem que eu prestasse muita atenção. chamou todos os amigos para uma foto e essa foi uma das únicas vezes que eu me levantei da mesa. Todos já estavam desarrumados e alguns descalços.
Durante a foto ele me abraçou pela cintura e sussurrou no meu ouvido. ‘Eu te amo’ eu o olhei e sorri. A foto foi tirada.
Ele e Taeyeon saíram logo em seguida para viagem de lua de mel, que duraria um mês.
Tudo tinha acabado... Ou começado? Eu não sabia responder.
Me sentei na mesa mais uma vez, enquanto observava, uma por uma, as estrelas aparecerem no céu. Eu sabia que tinha feito a coisa certa, só estava sendo difícil aceitar.

Mas, mesmo que eu não esteja mais ao seu lado,
Eu rezo para que você
Seja feliz eternamente.


Senti uma presença do meu lado, mas não tive coragem nem disposição para olhar.
- Ele tem sorte por duas garotas lindas o amarem tanto e por conseguir manter as duas por perto, sem isso o tornar um cafajeste. Ele conseguiu conquistar as duas melhores maneiras de amar.
Mas... o quê?
Olhei surpresa para a minha companhia. O meu companheiro de "altar" estava sentado na cadeira do meu lado. Antes que eu conseguisse organizar meus pensamentos e perguntar sobre o que ele estava falando, quer dizer, eu sabia muito bem sobre o que ele estava falando, mas como ele sabia?! O examinei por alguns minutos em dúvida, mas não encontrei vontade nem força para fazer perguntas.
- Não tive a chance de me apresentar. - ele sorriu e estendeu a mão para mim. - Me chamo .
- . - minha voz saiu fraca, e confusa, mas estendi a mão pra ele.
- Posso ficar sentado aqui? – perguntou.
- Talvez eu não seja uma boa companhia hoje. – falei fazendo o máximo para não parecer mal educada.
- Não acho que isso seja verdade. - ele deu um sorriso de lado, aconchegante.
- Se você diz. - dei de ombros. – Ah! E obrigada. - eu disse me referindo ao suporte que ele tinha me dado durante a cerimônia, mesmo sem saber o que de fato estava se passando. Ou talvez soubesse. Não esperei que ele entendesse pelo que eu estava agradecendo. Ele abriu um sorriso sincero e doce depois que eu falei.
- Não tem de quê. - se recostou na cadeira, sereno. Ele tinha entendido. O olhei por alguns minutos em silêncio examinando aquele garoto. Ele não me conhecia, mas por algum motivo estranho me entendia.
- Podemos sentar aqui?
Olhei pro lado e encontrei , , , , Chris, David, Fernanda e Má. - Claro. - falou se levantando e puxando algumas cadeiras.
se sentou do meu lado e tocou em meu rosto, preocupada.
- Eu fiz a coisa certa. - falei a olhando e sorri fraco.
- Eu sei. - ela sorriu fraco e apertou a minha mão que estava em cima da mesa.
De agora em diante, uma nova página da minha vida seria escrita com os restos que sobraram de mim.

Não importa o quanto isso faça me sentir só
Ou me faça triste.


THE END

Nota da Beta: Que história linda. Nada mais a dizer. <3

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