Summertime

Alfa: Cah Sodré
Beta: Rafaela Julich (até o capítulo 14) e Marii-Marii



Capítulo 10: Nothing’s wrong with dreaming

null’s P.O.V mode ON.

Comecei a andar de um lado para o outro dentro do quarto feito um idiota. A idéia de que null não aparecesse era mais do que humilhante, era assustadora. Eu nunca tinha deixado as coisas chegarem nesse ponto: seja lá de qual ponto estamos falando, digo, nunca tinha gostado assim de uma garota. É claro que algumas delas já me surpreenderam, mas com a null era diferente: Era estranho porque mesmo ela sendo bastante teimosa e insuportável, - Além de irmã do meu melhor amigo, devo acrescentar – Ela parecia me ter em mãos. Tudo o que ela fazia, cada gesto, o jeito de falar, de andar, até a forma com que ela me tirava do sério era irresistível pra mim. E eu não sei como isso veio acontecer, porque sinceramente eu a odiava. Tudo aquilo que eu não suportava nela tinha sumido, ou pior ainda, se transformado em alguma forma estranha de qualidade. Qualquer garota que me desse um bolo pra sair com as amigas deveria ser ignorada até a morte. Mas não, quando ela faz isso...

Olhei para o visor do celular e percebi que estava andando sem parar há pelo menos quinze minutos. Mas que merda, porque ela tinha que demorar tanto? Tirei os tênis e me joguei na cama, procurando algo na TV. Passei canal por canal, sem reparar em nada do que estava ali, era um gesto automático, irritante. Soltei o controle na cama e olhei para a tela, onde algumas mulheres realmente gostosas estavam fazendo o que bem queriam numa piscina. Ri sozinho.

- null, olha o meu estado!
- Liga no Playboy TV. – Ela respondeu rindo e sumiu escada acima.

- Playboy TV.
Murmurei, rolando os olhos. Até nisso eu tinha que lembrar dela. Desliguei a TV poucos minutos depois, eu não prestaria atenção nem naquilo, quando tinha algo engasgado em minha garganta. Ela estava demorando demais. Conseguia ouvir o som alto da festa no andar debaixo, aquilo iria longe. Eu poderia descer e ver com meus próprios olhos, ela provavelmente estaria dançando em cima de alguma coisa com as amigas, como se não se importasse. Mas eu sabia que ela se importava. Ela tinha que se importar. Puxei dois travesseiros enormes e deitei neles, virando a barriga para baixo e fechando os olhos, como se convencesse a mim mesmo de que não estava esperando ninguém. Mas eu tinha bebido muito, e meus olhos começaram a ficar pesados. Procurei pelo celular no bolso.
- Quarenta minutos. – Disse baixo e enterrei o rosto nos travesseiros, nervoso.
Eu não estava mais conseguindo vencer a luta contra meus próprios olhos, eu teria que levantar naquele instante se quisesse estar acordado quando ela chegasse. Se ela chegasse. Respirei fundo, mas não consegui me mover. O som da festa parecia mais distante, minha cabeça já começou a misturar as imagens de tudo o que eu tinha visto e feito no dia. Eu não tinha mais forças.

Londres, 2002.

- Eu quero fazer um boneco de neve gigante! – null disse maravilhado enquanto os flocos caiam sobre nossas cabeças. Meus olhos brilharam.
- Claro, e dessa vez ele não vai cair! – Eu disse e nós dois rimos, entrando pelo jardim coberto de neve da casa dos null.
Fazia pouco menos de um mês que eu havia me mudado com minha mãe para aquele bairro. Meus pais tinham se separado e eu estava achando tudo aquilo uma droga. Como todo moleque de dez anos, eu queria ter meu pai por perto, mas com a mudança eu estava a pelo menos duas horas dele. Várias estações de metrô e um ônibus. Eu havia decidido que faria o possível pra irritar minha mãe, o suficiente pra que ela resolvesse voltar pra nosso outro bairro, perto do meu pai e dos meus amigos. Mas logo nos dias que eu cheguei, conheci meu vizinho da frente, o null. Ele era um garoto legal, e tinha um outro amigo, o null. Logo me enturmei com eles e acabei perdendo o foco do filho revoltado que eu queria ser. Eu nunca tinha ido até a casa do null, costumávamos ficar na casa do null. Assim que ele abriu a porta da casa, sua mãe, que estava sentada no enorme sofá enrolada em uma manta, sorriu pra mim.
- Hey querido, você é o famoso null?
- Famoso? – Fiz careta e null também.
- É, o null e o null falam bastante de você.
- Ah. – Respondi um pouco sem graça e ela riu.
- Estou com um bolo de chocolate no forno, vocês vão fazer o que?
- Boneco de neve! – Respondemos juntos e a Sra. null riu.
- Tudo bem, eu os chamo assim que ficar pronto.
Saímos para o jardim e começamos nossa milésima tentativa de um boneco de neve. O mais próximo que chegamos, tinha desmoronado em vinte segundos. null tinha saído com os pais dele e provavelmente não viria aquele dia, o que não tinha tanta importância, na verdade. Ele reclamava demais de ficar no frio por tanto tempo.
- Vou buscar uma pá maior, acho que deve ter alguma nas coisas que minha mãe usa no jardim – null disse fazendo careta quando nosso boneco caiu de novo. Eu ri.
- Vou continuar montando.
Comecei a juntar a neve novamente assim que null sumiu. Poucos minutos depois, uma garotinha se aproximou. Garotas não eram legais, não naquela época. Ela estava toda de rosa, parecia de brinquedo, com as bochechas vermelhas por causa do frio e um gorro imenso na cabeça. Eu ri, e ela sorriu. Tossi logo em seguida, lembrando que eu não devia sorrir para garotas e me virei para o boneco. Mas ela não se moveu. Continuou ali, como uma Barbie em miniatura que alguém tinha fincado na neve. Fiz uma careta.
- Perdeu alguma coisa? – Disse, levantando.
- Posso ajudar você? – Ela respondeu com uma voz animada, voz de menininha. Torci o nariz.
- Não, meu amigo já está me ajudando. – Bufei.
- Porque garotos são tão idiotas? Eu sou uma menina, não um leão. Eu não vou morder você! – Ela disse num tom de voz óbvio e meu queixo quase caiu no chão. Ela era menor que eu, como podia falar daquele jeito? Fiquei sem resposta, e ela riu.
- Mas... Mas... – Gaguejei – Essa é a casa do meu amigo!
- Eu sou irmã do seu amigo. – Ela riu – Você é o null, né? Minha mãe falou. Cadê o null, ele não vem hoje? Ele escondeu minha boneca, eu tenho certeza! Mas ele vai pagar, vai pagar muito caro e... – A pequena criatura disparou a falar e tudo o que eu fiz foi ficar com cara de bobo, sem conseguir interromper. Menina estranha aquela.
- Achei uma maior, null! – null chegou – Ah, já se conheceram? Essa é a null, minha irmã.
- null, me chama de null! – Ela resmungou e eu ri.
- Que seja. – null murmurou.
- Posso ajudar vocês null? – Ela perguntou e ele deu de ombros, fazendo-a dar pulinhos animados e se juntar a nós.

- null! – Vi null correr em nossa direção e pular em null. Ele pareceu sem graça, mas a abraçou.
- Hey, null! – Respondeu sorridente.
- Oi, null! – Ela disse feliz e eu dei um passo pra trás, pra evitar que ela fizesse o mesmo comigo. Não que eu achasse que ela faria, ela parecia gostar bem mais de null. Mas só pra garantir. – O null está no quarto dele!
- Valeu, baixinha! – null disse e ela fez careta, o que me fez rir.
- Ei, eu tô quase da sua altura, null! – Ela bufou e cruzou os braços, caminhando até a cozinha – Ô mãe, o null me chamou de baixinha de novo! – Ela dizia com a voz chorosa e nós gargalhamos, subindo para o quarto.
- Hey null! – Dissemos ao entrar no quarto, e ele sorriu.
- E aí! – Disse estendendo a mão para nosso novo jeito de cumprimentar. Algo como bate as mãos, gira pra lá e pra cá e faz um barulhinho com a boca. Afinal, todos os garotos e turmas legais tem que ter seu próprio toque. – Vocês acreditam que a minha irmã e as amigas dela conseguiram fazer um boneco de neve? Bem melhor que o nosso!
- Ah, fala sério! Elas são garotas de nove anos! – Respondi. E daí que eu só tinha dez, elas tinham NOVE. Pirralhas.
- A null consegue tudo o que ela quer, null! – null riu. – Meu pai veio aqui no fim de semana e terminou a casa da árvore! – Ele disse empolgado.
- Estamos esperando o que? Vamos pra lá! – null saltou da cama e nós descemos as escadas correndo.
null estava no jardim balançando numa árvore em frente a enorme casa de madeira que o pai deles havia feito. Ela sorriu ao nos ver.
- Vão fazer o que? Posso brincar com vocês? A null não vem mais... – Ela fez bico e null riu.
- Casa da Árvore. – Ele disse gargalhando. null fez uma careta e depois fechou a cara, null olhava sério. E eu com cara de nada.
- Vou ficar aqui mesmo. – Ela respondeu fazendo bico.
- Por quê? – Ouvi minha própria voz perguntar, sem eu nem ter pensado antes. Ela levantou o olhar, sem responder nada.
- Porque ela tem medo! – null apontou e começou a rir, e eu comecei a rir junto com ele. Medo de ir numa casa da árvore? Que garota besta!
- Gente, deixem ela... – null disse baixo e eu vi uma lágrima escorrer pelo rosto de null.
- Medrosa! – Eu disse rindo e bati minha mão na de null.
- Eu odeio você, null null. Meu irmão é um idiota depois que te conheceu. Você é um idiota – Ela chorava – Fiquem com sua casa da árvore estúpida. Eu odeio todos vocês! – Ela saiu correndo em direção a casa, e parou na escadinha, virando de frente – Menos o null, eu não odeio o null! – Disse chorando e correu pra dentro, enquanto nós ainda ríamos.

Acordei num pulo. Meus olhos demoraram pra se acostumar com a luz do abajur, e eu esfreguei os olhos.
- É por isso que ela me odiava? – Lembrei, confuso, sem saber se aquela imagem fazia parte de um sonho ou de uma realidade distante. Meu quarto estava vazio, nenhum sinal de que null tinha passado por lá. Olhei para o relógio, quase quatro da manhã, eu tinha cochilado por vinte minutos. Passei a mão pelo cabelo, revoltado, e me joguei nos travesseiros. Estava claro: Ela não iria aparecer.

Londres, 2007.

Era triste ser um calouro de colegial. Nos primeiros dias de aula, era tudo novo, estávamos empolgados e tudo mais. Nunca tinha visto tantas garotas bonitas concentradas em um só lugar. Mas quando você é novo na High School e não é exatamente como os jogadores de futebol veteranos, tudo perde a graça bem rápido. Garotos de quinze anos, magrelos e com tendências roqueiras não agradam as líderes de torcida. Talvez quando tivermos dezesseis... Coloquei os fones de ouvido e fiquei observando a movimentação da escola. Vi alguns garotos do terceiro ano pararem suas idiotices por dois segundos e virei o pescoço pra ver o que eles viam. null e suas amigas estavam entrando no pátio do colégio, que nem naqueles filmes americanos, desfilando. Parecia que todo mundo abria espaço pra que elas passassem. Porra, elas também são calouras! Quando cruzaram ao lado dos playboys do colégio, um deles a segurou pelo braço. Eu não estava perto o suficiente pra entender o que diziam, sei que ela sorriu idiotamente pra qualquer merda que aquele acéfalo disse. Os dois riram e ela continuou seu caminho, enquanto ele e seus quatro amigos encaravam sua bunda.
- Hey dude! – null chegou do meu lado e eu chacoalhei a cabeça com força.
- Hey.
- Tava olhando o que? - Sua irmã, aquela nojenta gostosa! Quase respondi, mas respirei.
- Umas garotas que estavam passando, só isso. – Murmurei, rolando os olhos.

- null! null! null! – null chegou pulando e eu arqueei uma sobrancelha, assim como null. Ele também não estava acostumado com o jeito estranho daquela garota.
- Meu Deus, vai chover hoje! A null null passando pela mesa dos losers com o refeitório lotado, wow! – Bati palmas e ela levantou o dedo do meio, sem olhar pra mim. Ri baixo.
- O que aconteceu, sua doida?
null perguntou rindo e null encarava interessado. Duas amigas dela estavam paradas logo atrás. null, que era simpática, vizinha deles desde sempre, e null, uma garota meio maluca que se juntou a elas no colégio. A outra nojentinha, a tal da null, não se deu ao trabalho de chegar perto de nós, estava na mesa dos populares, olhando para o nosso lado com desdém.
- Você está olhando para a mais nova integrante da equipe de líderes de torcida desse colégio! – null pulou animada junto com as amigas. null riu.
- Você passou? – Ele perguntou empolgado e null riu. A amiga dela deu um tapa na cabeça de null.
- Claro que não, null, ela só está empolgada porque perdeu! – null disse gargalhando e ele fez careta – Eu tô brincando, bobinho! – Ela sorriu e null e null também.
- Parabéns! – null disse tentando parecer empolgado, mas parecia um pouco preocupado. Muito provavelmente porque sua irmãzinha querida viraria uma biscate como todo o resto das cheerleaders. Mas eu desconfiava que ela já era assim.
- Obrigada, chuchu! – null sorriu. – E nem venha pedir os telefones das minhas companheiras de equipe, null. Conheço sua tara por líderes de torcida, mas gosto bastante daquelas garotas para desejar algum mal a elas. – Ela disse com uma piscadinha e os garotos gargalharam.
- Outch! – null sacaneou.
Apoiei as duas mãos na mesa e inclinei meu corpo pra frente, aproximando meu rosto do dela. null fez o mesmo, queria mostrar que não tinha medo de mim, mas deveria. Vi os veteranos amigos dela se aproximarem e acariciei seu rosto.
- Mas que mal eu posso oferecer a elas, docinho? – Disse sorrindo o primeiro apelido infeliz que veio na minha cabeça – Elas já vão ter que aturar você, qualquer coisa depois disso é lucro! – Ri alto e os garotos também. null abriu a boca, mas não emitiu nenhum som. Sorri vitorioso.

Minha relação como null parecia ficar cada dia pior. Não que eu realmente me importasse com isso, afinal, infernizar a vida da docinho (ela odiava esse apelido, então eu passei a usar sempre) era um dos meus hobbies favoritos. O único problema é que ela parecia gostar de arruinar minha vida também, então eu sempre me via em situações complicadas por causa daquela garota. Eu odiava admitir, mas ela era esperta. Nossa guerra nunca teria fim.
- null, ME LARGA! – Ela berrou enquanto eu a prendia entre minhas pernas na cama, e segurava seus braços – SAI DE CIMA DE MIM!
- Você vai ter que retirar o que disse. Você foi longe demais, porra! – Gritei, sentia meu rosto queimar. Acho que nunca tive tanta raiva de alguém como naquele momento. Eu estava segurando seus pulsos porque se ela não fosse uma garota, meus braços já teriam parado no seu rosto, num murro bem dado. Ela merecia.
- Eu não vou retirar porra nenhuma! – Ela parecia gritar mais alto do que eu – Eu estou pouco me lixando pro que vão achar de você!
- Mas é mentira, caralho! – Apertei mais seus pulsos, e vi null morder o lábio para não gritar. Tentei afrouxar um pouco minhas mãos – Eu não broxei porra nenhuma!
Então ela começou a rir descontroladamente. Senti meu coração acelerar em um nível que poderia ser escutado a quilômetros. Bom, eu estava ficando com uma das líderes de torcida, a Janet. Ela era muito gostosa – Burra como uma porta, mas não é preciso muita inteligência para as intenções que eu tinha com ela – E a maldita da garota apareceu na minha casa no dia do aniversário da minha mãe. Estava cheio de parentes lá, e sabe... Ela queria um pouco mais do que eu conseguiria oferecer com toda a minha família no andar de baixo. Eu simplesmente a dispensei, o que não significa que eu broxei. Mas não, é claro que a null null fofoqueira espalhou para o colégio inteiro que eu era um broxa. Ótimo. Eu poderia matá-la ali mesmo.
- Para de rir! – Berrei e ela tentava recuperar o fôlego, mas não conseguia. Comecei a torcer pra ela ter um colapso e morrer engasgada. De verdade.
- Ai null! – Ela disse com a voz arrastada – Pela última vez: Eu não me importo que você não consiga dormir com mais nenhuma garota daquele colégio. Eu não me importo com nada que venha de você.
Meu estômago revirou e eu a apertei com um pouco mais de força, e dessa vez ela gritou. Num movimento rápido, subiu um dos joelhos e me atingiu bem nas partes, se é que me entende. Caí para o lado, gemendo. null xingava baixo e girava os pulsos com cara de dor. Depois um sorriso malicioso tomou conta de seu rosto, ao ver o meu estado.
- É – Ela riu – Parece que agora realmente você vai virar um broxa. – Disse por fim e gargalhou, saindo de seu próprio quarto.
- Nunca mais olha na minha cara. – Murmurei, me contorcendo. Ela sorriu.
- Será um prazer.

Leeds, 2007.

- Onde é o banheiro mais próximo? – Disse ofegante e Stacey riu, esfregando seu corpo contra o meu. Estávamos em uma arquibancada quase cheia, e ela rebolando no meu colo enquanto me beijava. Tudo bem que ela era gostosa e tudo mais, mas aquilo estava ficando bastante constrangedor.
- Tem o vestiário dos times – Ela disse beijando meu pescoço. Sorri malicioso.
- STACEY! – Ouvi aquela voz irritante e abri os olhos. Era ela mesma. Bufei.
- Oi, null! – A garota pulou do meu colo e se arrumou, sem graça.
- Pro alongamento, agora! – null rolou os olhos brava enquanto arrumava seus cabelos em um rabo de cavalo. – Se você tiver uma torção no meio da partida, eu juro que quebro sua cara.
Como ela era educada, minha nossa! Poderia dizer “Juro que substituo você por outra oxigenada burra”, mas não! Ela tinha que agir como se mandasse em tudo. Na verdade ali ela mandava, ela era capitã das líderes de torcida. Até hoje, no caso. Ela tinha renunciado ao cargo por causa do teatro. De cheerleader a Julieta, grande evolução. Era final do campeonato de futebol, estávamos em Leeds, no colégio dos adversários. Eu odiava futebol, mas os caras também vieram, e eu tinha a Stacey pra me animar um pouco.
- Desculpa. – Vi Stacey murchar e saí do meu transe. null rolou os olhos.
- Que seja. – Ela murmurou como se fosse para si mesma, e Stacey nem me deu tchau, apenas desceu as escadas correndo em direção ao resto da equipe. null me olhou de sobrancelha erguida. – null. – Disse, com um sorrisinho forçado, e eu ri.
- Fala, docinho. – Sim, aquele papo de nunca mais olhe na minha cara não durou duas semanas. Só o tempo suficiente para ela ter se revoltado com algo que eu disse tacado uma bola na minha cabeça. Mais uma vez, um poço de delicadeza.
- Pare de desencaminhar a Stacey, ela já é péssima, mas estamos sem saltadoras. Não me irrite. – Ela disse apontando o dedo e eu gargalhei.
- Não tenho culpa se você não cuida bem das suas oxigenadas, null.
- null, corre aqui! – Ouvi null gritar com vários pompons em mãos e fiz uma careta. null apenas virou e foi embora, me deixando sozinho na arquibancada. Em dois minutos null chegou – Ele estava namorando uma líder de torcida, uma tal de Lucy, que era morena, coisa rara naquela equipe - null veio com ele e null tinha ficado dando em cima das cheerleaders do time adversário. Ficamos conversando qualquer besteira até que o jogo iniciasse.

Go, Lions! Go, Go, Lions!
Quem é seu Lion favorito?
JOSHUA!
Go Go Joshua!

- Go Go Joshua!
Imitei com a voz afetada e null gargalhou. Ao contrário do que eu torcia secretamente, o time do colégio estava ganhando, 3x0 na casa do adversário, em uma final... É óbvio que o Joshua Savage, capitão dos Lions - que parecia mais um modelo com aqueles cabelos voando de lá pra cá - tinha feito dois dos três gols. Não me chamem de gay, mas aquele idiota era realmente bonito. Cento e dois por cento das garotas do colégio sonhavam em dormir com ele. Mas ele não podia, claro que não. Ele tinha dona. Isso mesmo, adivinhem? null null. O capitão do time com a capitã das cheerleaders. Típico. Fim de jogo e todos começaram a pular ao meu redor, inclusive null, que parecia realmente empolgado. Papéis prateados caíram sobre nossas cabeças, e eu vi Josh – como ele era chamado – Correr em direção a null. Ele poderia ter escorregado, seria tão legal. Mas ele não escorregou, e ela também estava correndo. Como naqueles filmes melosos de romance, ela pulou em seu colo, cruzando as pernas ao redor de sua cintura, e eles trocaram um beijo de cinema. Meu estômago revirou e eu fiz uma careta, sem nem saber porque. Olhei para o lado e vi a expressão de null mudar. Qual era o problema dele? Devia saber da reputação da irmã, então porque parecia tão surpreso? Parei de pensar no que não devia quando Stacey surgiu na minha frente – Parecia ter brotado do chão – Já me beijando. Correspondi ao beijo já pensando que ela estaria animada para comemorar, e ri sozinho.

Eu não gostava de festa com pessoas populares. Tudo bem que era engraçado ver aquelas riquinhas perderem a linha, os brutamontes brigarem entre si, mas definitivamente não era a coisa que mais me agradava no mundo. Stacey tinha ido ao banheiro com as amigas, coisa que eu me recusei a entender anos atrás, esse lance de banheiro com companhia. null nem tinha vindo, tinha ido comemorar a sós com Lucy. Certo ele. null e null deviam ter se arranjado com algumas garotas por aí. Esperei que Stacey voltasse, e ela começou a falar sem parar. Ela era irritante, a voz dela me irritava e eu não estava bêbado o suficiente pra agüentar aquilo. Saí atrás de algo mais forte, e vi null sentada no colo de Joshua enquanto conversava com null e o namorado dela, o goleiro do time que eu não lembrava o nome. Ela parecia ter um ataque de riso de algo que a amiga estava dizendo. Chacoalhei a cabeça e tirei meus olhos de lá, porque diabos eu estava os encarando mesmo? Fui até a cozinha, peguei um copo cheio de vodka e virei. E virei mais alguns outros, assim que Stacey me encontrou. Já estava sentindo meu corpo formigar, aquilo não era nada bom.
- Eu vou pra casa. – Disse com a voz arrastada e não ouvi o que ela disse, mas girei as chaves do carro nos dedos. Saí cambaleando, não vi nenhum dos garotos, nem procurei. Acionei o botão que abria a porta do carro e tentei acha-lo entre tantos. Olhei para trás e vi que null discutia com Joshua. null e o goleiro estavam atentos a tudo. Josh a puxou pelo braço, ela o com força e para a minha surpresa, veio até mim. Pisquei os olhos com várias vezes.
- Você não vai dirigir nesse estado, null. – Ela puxou a chave da minha mão, mas não com força suficiente para arrancar. Segurei ainda mais forte, rindo.
- Quem vai me impedir, você? – Gargalhei e ela bufou.
- Sim. – Opa. Por essa eu não esperava. – Dá essa chave, eu vou te levar.
- Que? – Definitivamente eu estava mais bêbado do que eu pensava. null null preocupada com meu estado? Não, aquilo não estava acontecendo.
- Anda null, dá a porcaria da chave! – Ela disse mais alto e eu olhei para suas pernas descobertas. Ri malicioso.
- Belas pernas. – Ouvi minha voz de tarado e ri mais alto. null girou os olhos e pude perceber que ela reprimiu o riso.
- Pervertido!
- Mas é verdade! – Não, eu não estava falando isso! Dessa vez ela riu alto.
- Cala a boca. – Disse baixo e eu poderia estar louco o suficiente, mas acho que vi suas bochechas corarem.
Sorri sozinho e atravessei a rua até meu carro. Ela estava logo atrás de mim. Bufei.
- Eu vou dirigir, volta pro seu capitão, anda! – Disse impaciente.
- Você não sabe nem o que tá falando, seu idiota! Não vou deixar você dirigir assim!
- Por quê? – Perguntei e ela suspirou.
- Porque... Porque meu irmão gosta de você e porque a Stacey é muito nova pra ficar sem namorado! – Ela disparou e eu gargalhei, entrando no carro.
- Quem é o namorado da Stacey?
Foi a última coisa que eu disse, rindo alto, antes de arrancar cantando pneus. Olhei pelo retrovisor e não sei como – Ela devia ser ninja ou coisa do tipo – Mas seu Audi estava atrás do meu carro. Buzinei, impaciente. Mas ela continuou me seguindo. Coloquei a cabeça pra fora da janela e virei pra trás, gritando:
- Pára de me seguir, porra!
- null! – Ela gritou, e eu virei para a frente. Não consegui frear, meu carro foi direto numa árvore. Bati a cabeça com força no volante e senti meus olhos girarem, procurando algum foco. Eu estava perdendo os sentidos. Ouvi o barulho da porta abrindo ao meu lado e alguns gritos desesperados. Dela.
- null, olha pra mim por favor! null! – Ela gritava, e do nada a dor em meu rosto parecia pequena, meu coração parecia que ia explodir. – null, por favor... – Ela repetia, e eu ouvi o barulho das teclas do celular dela.
- null... – Minha voz saiu fraca, e eu consegui levantar a cabeça, ainda completamente tonto. Ouvi o barulho de algo caindo no chão, e em seguida sua voz estava próxima de mim, baixa, chorosa.
- Vai ficar tudo bem... – Ela murmurou – Fique calmo.
Abri os olhos devagar, e a vi abaixar pra pegar o celular.
- Eu tô bem. – Disse baixo – Me leva pra casa. – Pedi, vendo duas null’s em minha frente.
- Eu vou ligar pra uma ambulância, é melhor e... – Ela ia dizendo e eu a interrompi.
- Não, eu estou bem, só estou um pouco tonto, juro. – Disse e ela suspirou alto.
- Consegue se mexer? – Perguntou, sua voz tão baixa e doce que nem parecia ela. Eu podia ver o desespero em seu olhar. Sorri de canto, involuntariamente.
- Você me ajuda?
Disse jogando as pernas pra fora do carro e ela assentiu com a cabeça. Foda-se meu orgulho. null me ajudou a levantar e a andar até seu carro, que estava quase do lado do meu. Não lembro exatamente o que ela foi falando no caminho, mas percebi que ela tentava me manter acordado, porque eu tinha batido a cabeça. Chegamos até o hotel onde todos estávamos hospedados, e ela subiu até seu quarto, me levando meio sem jeito. O perfume dela era bom, mas eu nunca iria admitir isso. Sentei em sua cama e ela correu, arrumando seu cabelo em um coque. Meus sentidos estavam voltando. Ela veio com uma caixa de primeiros socorros.
- Você tem certeza que não quebrou o nariz? – Perguntou baixo e eu ri. Meu nariz realmente devia estar parecendo uma merda. Mas não doía.
- Tenho. Tá tão feio assim? – Perguntei e ela riu.
- Razoável. Vou precisar limpar esse corte, vai arder.
Disse com um algodão na mão e eu fiz careta. null se aproximou do meu rosto, e de repente meus olhos ganharam foco novamente. Puta merda, ela era muito linda. sua respiração calma e quente perto da minha boca fez com que eu mordesse o lábio sem querer, mas ela não reparou. Segurou meu rosto e passou algo que ardia muito na minha bochecha. Arfei e apertei sua cintura. Ela riu, e eu fiquei vermelho.
- Tudo bem. – Ela murmurou, sem olhar pra minha mão, e continuou o que estava fazendo.
Minha cabeça doía feito o diabo quando eu acordei naquela manhã. Xinguei todos os palavrões possíveis suspirei. Eu não lembrava exatamente de como tinha chegado ali, mas sorri ao lembrar do jeito que null havia me tratado. Tomei um banho e olhei meu rosto, não estava tão ruim, tinha um curativo na bochecha. Eu não sabia porque, mas senti meu coração bater mais forte, e fiquei com medo daquilo. Me troquei rapidamente e corri para o hall principal. Muita gente estava indo embora. Avistei null com algumas meninas e sorri, indo até elas. Ela saiu do meio das garotas e veio até mim.
- Não fala comigo, null. – Disse baixo, sua voz era de raiva.
- Mas... O que foi que eu fiz? – Eu disse, assustado. Ela abaixou o olhar, percebi que tinha chorado. Aquilo deu um nó na minha garganta.
- Você existe. – Disse simplesmente e saiu da minha frente, mas parou – Ah! A chave do seu carro está com o null.
Então ela partiu, e eu fiquei com cara de nada, no meio do saguão do hotel. Andei meio desnorteado entre as pessoas e ouvi null, sua amiga, comentando com uma menina.
- O Joshua terminou com a null por causa daquele idiota. Ela não devia ter ido atrás dele. Ele que morresse no primeiro poste. – Disse, olhando pra mim, e eu entendi tudo. Até tentei falar com null uns dias depois, mas ela não me ouvia. Então começamos a nos odiar de novo. Afinal, não era um gesto daqueles que ia mudar muita coisa. Ela não queria que mudasse, então, pra mim estava ótimo daquele jeito. null null volta pra lista negra. Fim de papo.

Londres, 2008.

Ouvi o telefone tocar e fiz um esforço enorme pra tentar achar que aquilo era um pesadelo. Mas não era. Quem diabos liga na casa dos outros quatro da manhã numa quarta feira? Puta que pariu! Cocei os olhos e tentei focar no visor do celular. null.
- Que é, cacete?
- null, eu preciso da sua ajuda! – null disse e sua voz era realmente preocupada. Quando vi já estava sentado e preocupado também.
- O que aconteceu? – Perguntei, com a voz meio estranha.
- A null sumiu, dude! E tá chovendo pra caralho, minha mãe tá preocupada e... – Ele continuou a falar, mas eu ri. – Puta merda null, dá pra você ser meu amigo uma vez na vida? – Outch! Ameaçar a amizade é golpe baixo.
- Desculpe, dude... Mas eu achei que fosse normal a null sumir! – Eu realmente achava, diga-se de passagem.
- Normal é, mas hoje ela ligou dizendo que estava voltando da casa dos tios da null, que é a uns quarenta minutos daqui... Ela ligou meia noite, são quatro da manhã e tá essa puta chuva, dude, eu vou sair pra procurar, falei com o null e o null e eles vão ajudar! Posso contar com você?
Suspirei. Até o null? Não devia ser nada, nunca era nada. null amava fazer o null arrancar os cabelos por porra nenhuma. Mas ele parecia realmente preocupado dessa vez. Suspirei, derrotado.
- Tô aí em cinco minutos.
Realmente estava chovendo muito, com trovões e tudo mais. Fiquei com dó da Sra. null, ela estava desesperada e o null também. Eu ficaria realmente puto se fosse só mais uma gracinha da null. Mas eu não sabia porque, eu sentia que não era. null foi procurar com null, porque achamos que ele não tinha condições de fazer isso sozinho. null e eu nos separamos, cada qual com um carro. Comecei a andar pelos lugares improváveis, já que null podia ser tudo, menos previsível. Rodei cinqüenta minutos com o carro, já estava longe e com medo de nem saber voltar. A visibilidade tava uma porcaria. Liguei para os caras, mas nem sinal, então me obriguei a continuar procurando. Não era algo que eu soubesse explicar, mas eu já não me movia mais por apoio ao meu amigo ou a mãe dele. Eu queria encontra-la. Eu estava preocupado. Aquilo era ridículo, mas era um fato. A chuva fazia um barulho meio medonho contra o capô do carro, e eu parei em um posto de gasolina para abastecer. Entrei na loja de conveniência pra comprar uma água, e enquanto pagava, ouvi os comentários das funcionárias.
- Aonde isso? – Uma delas parecia assustada.
- A uns cem metros daqui. – A outra respondeu, com a mesma cara de espanto. – A garota realmente parecia mal, mas o cliente que passou não teve coragem de parar. Poderia ser uma emboscada, você sabe como anda essa cidade e...
Não consegui ouvir mais nada. Garota. Mal. null. Saí correndo e larguei a água, o dinheiro, tudo em cima do balcão. Cem metros pra que lado? Pensei rápido e lembrei que não tinha visto nada do lado que eu vim. Saí correndo na chuva grossa, ventava muito e estava muito frio. Quase não passava carro nenhum ali aquela hora. Continuei correndo, e então limpei meus olhos.
- null! – Gritei e fui até onde ela estava. Eu senti meu coração acelerar e meu corpo inteiro tremer ao avistá-la caída em um gramado vazio. – null! – Repeti alto, segurando seu corpo em meu colo e sem querer, a chacoalhando. Seus olhos se abriram, perdidos em qualquer lugar, e fecharam novamente.
- null... – Ela disse muito baixo, um sussurro. Minha cabeça girava.
null estava completamente gelada, seus lábios estavam arroxeados. Perguntei a mim mesmo quanto tempo ela estaria vagando na chuva, mas afastei o pensamento rapidamente. Eu precisava tirar ela dali.
- null, você tá me ouvindo? null! – Repeti, segurando seu rosto entre mãos. Ela não respondeu, e eu fiquei mais desesperado. Minha voz falhou. – Eu vou salvar você. Eu prometo.
A peguei nos braços e ela estava mole, seus braços escorregaram pra baixo e sua cabeça também. Senti uma lágrima escorrer em meu rosto, meu coração não batia normal. Eu não queria pensar naquilo, não queria. Ela não podia. Ela não faria isso. Não pensei naquela palavra, e quando vi, eu estava chorando feito um idiota com ela em meus braços. A sorte é que estava chovendo e não tinha ninguém ali, o que era bem menos constrangedor. Meu choro se transformou num soluço, a medida que eu andava mais rápido. Quando cheguei no posto, as mulheres vieram correndo, espantadas, mas eu não consegui entender o que diziam. Eu não ia deixar ela... morrer. Suspirei, ainda alheio a tudo o que falavam e a coloquei no banco do carro. Abri o porta malas correndo e peguei um casaco que tinha deixado lá, tentei colocar nela, mas minhas mãos tremiam absurdamente. Senti alguém tocar meu ombro, era uma das moças da loja, com mais dois casacos.
- Valeu. – Disse ainda tremendo e peguei. Ela me encarou desesperada.
- Você a conhece?
Fiz que sim com a cabeça, e ela começou a enrolar null com as blusas. Peguei o celular no porta luvas, mas não tinha sinal. Eu também não conseguiria discar. Não lembro como agradeci as duas, se é que agradeci, só vi meu dinheiro e a água voando pro banco traseiro do carro.
- Moço... – Uma delas fazendo sinal com a cabeça e eu olhei pra trás. null tinha aberto os olhos de novo. Dei a volta no carro e corri até ela, segurando seu rosto. Percebi que ela se esforçava pra tentar dizer alguma coisa, então interrompi rapidamente. - Não fala nada, fica quieta... Eu vou cuidar de você. Vai ficar tudo bem. – Disse, tentando parecer calmo, mas minha voz mal saía. – Promete pra mim que você não vai... – Parei no meio da frase. Ela sorriu, de olhos fechados.
- Eu não vou morrer. – Disse com a voz muito baixa e eu suspirei aliviado, e não sei porque, mas eu beijei sua testa – Fica calma.
- Você que tá nervoso. – Ela sussurrou e eu não pude conter o riso. Até nessas horas ela consegue ser assim?
- Você não muda! – Chacoalhei a cabeça e entrei no carro, dando partida.
null estava tremendo, mas eu não podia fazer mais nada. Eu mal conseguia falar, a única coisa que saía era “Vai ficar tudo bem”. Era quase um mantra, e eu me sentia impotente ali.
- Água... – Ela sussurrou e eu estiquei o braço pra trás, alcançando a garrafa. Também estava com sede, mas tinha prioridades ali. Encostei o carro e a ajudei a tomar. Quando encostei em seu pescoço, percebi que estava queimando. Deslizei minha mão até sua testa, que parecia pegar fogo. Meu estômago revirou de novo.
- Você está queimando! – Eu disse, e depois me arrependi. Eu não precisava desesperar a garota. Mas ela continuou imóvel.
- Desculpe. – Ela sussurrou, e virei para a encarar. Ela estava de olhos abertos.
- Pelo quê?
- Por isso. – Ela disse baixo e segurei sua mão gelada. Corpo quente e mãos geladas. Honestamente, ela estava bem mal.
- Não por isso... – Empurrei a frase, antes que outro “Vai ficar tudo bem” escapasse. Acho que falava isso mais pra mim do que pra ela.
- Eu fui assaltada... – Ela parou num longo suspiro – Levaram meu carro. – Sua voz parecia sumir, e eu me desesperei.
- Mas não fizeram nada com você? – Quase berrei. Ela fez que não, e eu respirei com um pouco mais de facilidade. – Descansa, null. Já estamos chegando, eu prometo.
Dois minutos depois ela apagou. Não sabia se ela tinha me obedecido ou se tinha desmaiado, aquilo era terrível. Avistei um hospital e parei, a pegando no colo. Gritei com algumas pessoas, e os enfermeiros a carregaram pra dentro. Eu andava no corredor branco como um pai que esperava o nascimento dos filhos. Parecia que qualquer coisa dentro de mim ia explodir. Tinha conseguido falar com null, eles estavam a caminho, mas desconfiava que demorariam por causa da chuva. Não sei quanto tempo demorou, mas pra mim pareceu uma eternidade. Então o médico voltou.
- Você é o acompanhante da null null? – Ele perguntou e eu assenti – Já fizemos todos os exames, ela está se recuperando. A febre está abaixando e ela parecia estar em estado de choque, mas está melhorando. Você fez muito bem em traze-la correndo. Deve ser um ótimo namorado.
Quase engasguei com a última frase. Arregalei os olhos e respondi rapidamente.
- Ela é só minha... Amiga. – Tive dificuldade pra nomear nosso estranho relacionamento. Ele riu.
- Perdão. Sua amiga quer te ver, então. Pode entrar.
Abri a porta do quarto e null estava deitada presa a alguns fios estranhos. Caminhei até o lado da cama, e ela abriu os olhos. Curvou o corpo para sentar, e eu a ajudei. Então, mesmo com todos aqueles fios e com força alguma, ela me abraçou. Eu não consegui me mover, apenas passei a mão em seu cabelo, sem reações maiores.
- Obrigada. Você salvou minha vida, null. – Ela disse com a voz num tom audível e eu sorri.
- Você fez isso por mim uma vez. Estamos quites? – Perguntei e ela sorriu.
- Obrigada.
Então null e a mãe dele invadiram o quarto e eu vi null e null do lado de fora. Vi os dois abraçarem a garota, a apertarem e sorri. Saí para junto dos meus amigos, respirando mais aliviado. Ela estava viva, e aquilo bastava.

Mal vi null depois daquele dia. Isso porque ela ficou quinta e sexta em casa, e nossas aulas terminaram na sexta. Não tive coragem de visitá-la, e meu pai passou no colégio na sexta pra me buscar pra viajarmos. Quando voltei, dois meses depois, ela ainda estava viajando com sua família. Algo em mim pedia pra que eu tentasse contato, mas eu não o fiz. Aproveitei o resto das férias arrumando uma namorada, e quando null voltou, ficou sabendo disso. Eu tinha esquecido que null null e Andy Simons se odiavam. Elas não podiam ficar no mesmo ambiente, porque Andy não se conformava de null ter tirado alguns papéis dela quando entrou para o teatro. Acho que null encarou isso como uma provocação, e nós continuamos as brigas de sempre. Quando é com null null e null null, nada é fácil. Nada.

Girei na cama acordei, desconfiando que mal tinha dormido. Lembrar de coisas assim enquanto se dorme é cansativo. Desenterrei minha cabeça do travesseiro, coçando os olhos. Então meu coração deu um pulo. Olhei para o relógio – cinco e dezenove – E voltei meu olhar pra ela. Sentada na poltrona olhando a chuva cair na varanda. Ela. Ela estava ali. Não consegui me mover, parecia que eu tinha borboletas no estômago. Tudo bem, isso foi bem gay, mas parecia.
- Você disse meu nome enquanto dormia – Ela disse sem virar. Porra, como ela sabia que eu tava acordado? – Duas vezes. – Completou e eu senti meu rosto corar. Ela olhou por cima do ombro, sorrindo. – Talvez eu seja a garota dos seus sonhos... – Disse rindo, enquanto levantava em minha direção. Fiz o mesmo, me aproximando rapidamente.
- Talvez você seja... – Disse baixo, aproximando meu rosto do dela. A pouca luz vinha do abajour, e eu podia sentir um tremor na espinha ao olhar em seus olhos. Parecia que tinha alguma conexão ali. Ela sorriu de canto, cruzando os braços ao redor do meu pescoço.
- Pensei que você fosse me chamar de pretenciosa. – Disse baixo e eu a puxei pra muito mais perto, aproximando minha boca de seu ouvido.
- E você é. – Eu ri, e ela me acompanhou. – Pretenciosa, teimosa, mandona, irritante, maluca, bipolar...
- Eu espero que tenha um “mas” no final dessa frase... – Ela disse rindo e eu gargalhei.
- Mas... – Disse e ela me encarou nos olhos – Eu sei que eu também não sou grande coisa... Então eu me atrevo a dizer que a gente se merece - Eu ri e ela sorriu, mordendo minha bochecha.
- Um amor bipolar... – Ela sussurrou – Eu gosto dessa idéia! – Disse rindo, e eu ia me manifestar, quando ela me deu um longo selinho – Não mais do que eu gosto de você. Eu acho que no fim das contas, você sempre foi a parte que faltava, docinho - Rimos alto e ao mesmo tempo, e ela estava corada, o que fazia meu coração bater de forma estranha - Eu só demorei muito pra reparar. – Ela disse por fim.
null sorriu o sorriso que eu adorava, aquele que ela não mostrava pra ninguém. A puxei pra cima, e ela cruzou as pernas ao redor da minha cintura.
- Linda... – Disse sem nem pensar, colocando uma mecha de seu cabelo para trás da orelha, e aproximando nossas bocas. Ela fechou os olhos sorrindo e eu soube que aquilo era certo. Ela não era apenas quem eu queria. Ela era o que eu sempre quis.

null’s P.O.V mode OFF.

Capítulo 11: Who could deny these butterflies?

null’s P.O.V mode ON

Senti meu corpo estremecer quando null acabou de vez com o espaço seguro que tínhamos entre nós. Suas mãos se embrenharam em meus cabelos e o toque gentil de sua língua na minha quase me fez ter um colapso. Alguém me explica se um coração pode bater tão forte assim? Espero que possa, porque eu sou muito nova pra morrer. Foi o suficiente para saber que tudo o que eu precisava era estar ali, nos braços dele. Ninguém nunca me faria sentir daquela forma, mas o docinho não precisava ficar sabendo disso. Talvez só um pouco, vai. Ele merece.
- Por quê você demorou tanto? – null sussurrou com a boca quase colada na minha, e eu abri os olhos devagar, encarando os dele bem próximos. Sorri ao perceber que ele estava ansioso. null null podia ser fofo, que gracinha!
- Assim que você saiu do banheiro, eu já tinha tomado minha decisão. Eu teria chegado aqui em cinco minutos ou menos – Sorri tímida ao ver o enorme sorriso que estampava o rosto de null – Só que meu irmão me viu, e começou a me dar uma puta bronca!
Rolei os olhos ao lembrar da cena. null riu baixo e sentou, ainda me mantendo em seu colo, e eu acabei ficando com uma perna de cada lado de seu corpo.
- Bronca? – Ele sorriu maroto e eu mostrei a língua.
- Hot’n’Cold numa mesa de sinuca pode agradar a muita gente, mas o null tende a ser um pouco ciumento com a irmã, se é que você me entende... – Respondi olhando pras unhas e null gargalhou. Eu adorava aquela risada.
- Tá certo, tem que cuidar da irmãzinha! – null disse com um olhar malicioso e eu gargalhei de verdade. Num movimento rápido, me deitou na cama e me prendeu entre seus braços. – Sabe quantos marmanjos podem querer se aproveitar dela nessa Riviera? – O estapeei e nós dois rimos.
- Babaca... – Murmurei, rolando os olhos. null riu mais alto.
- O null demorou tudo isso pra te dar bronca? Caralho! – Ele disse beijando meu pescoço e eu segurei o riso, ponderando contar ou não a outra coisa que me manteve mais tempo lá embaixo.
- Na verdade... – Mordi o lábio mudando de ideia. Ele não precisava saber. null mordiscou o lóbulo da minha orelha e eu apertei seu braço com mais força.
- Na verdade... – Ele me incentivou, ainda beijando meu pescoço, e eu não sabia se respirava ou tentava falar alguma coisa. Minhas unhas começaram a apertar em seu braço com um pouco mais de força que o necessário, e ele não parecia se importar com isso. Beijo no pescoço é maldade, null.
- Um idiota me parou lá embaixo – Comecei a dizer, com a voz fraca. Percebi que os beijos de null cediam a medida que ele ia ouvindo a historia. – Ele... Gostou de me ver dançando.
Pronto. null apoiou seu corpo nos braços e afastou o rosto do meu. Sua expressão era indecifrável, mas ele não disse nada, então presumi que queria que eu continuasse falando.
- É ele... – Parei o puxando pra mais perto, mas null continuou imóvel. Merda. – Estava bêbado e veio falar alguma coisa, mas o null deu um jeito nele.
- Dar jeito? O que ele fez? – Vi a expressão de null se contorcer em raiva e engoli seco. Eu e minha boca grande. Acariciei seu braço devagar e o puxei pra mais perto, roçando meu nariz em seu pescoço. Vi sua pele arrepiar e sorri. – null!
Ele me advertiu, mas eu encostei meus lábios devagar ali, soltando meu hálito quente. null cedeu e passou a mão pelas minhas costas, me apertando com força.
- Me fala... – Sua voz era quase um sussurro. Ri baixo.
- Ele queria algo mais né, null... – Senti seu corpo enrijecer, e antes que dissesse algo, colei meus lábios no dele e percebi cada músculo de se braço – Incrivelmente fortes, por sinal – Relaxarem. Como ele era gostoso! Tá, sem vocabulário chulo nesse momento! null me apertou com mais força contra seu corpo e eu tinha a impressão que nada mais me obedeceria, minhas mãos pareciam perder o rumo em suas costas e ele me segurava com tanta força que parecia que ia fundir nossos corpos em um só.
- Eu deveria estar lá pra quebrar a cara dele... – Ele murmurou e eu tentei rir, sem força alguma.
- Ninguém quebrou a cara dele. Ele só foi convidado a se retirar depois que não aceitou minha resposta... – Murmurei e null me encarou nos olhos, tomando uma distância mínima, mas que parecia gritante. – Eu disse pra ele que eu estava acompanhada.
Senti minhas bochechas arderem absurdamente. Como eu podia ser tão ridícula? null acariciou meu rosto e sorriu, aquele sorriso que faz qualquer garota desmaiar, e que eu fingia inutilmente que não surtia efeitos maiores em mim. É claro que surtia. Talvez mais em mim do que nas outras.
- Acompanhada? – Ele disse com uma voz idiota e eu ri de verdade.
- Foi o que você disse quando saiu do banheiro e me deixou com cara de nada, não? – Respondi rapidamente e ele gargalhou.
- Cada dia mais surpreendente, docinho!
Um calor repentino tomou conta de mim ao ouvir o famoso apelidinho sem vergonha. O mais engraçado era que dessa vez, eu tinha gostado. Não tive necessariamente tempo pra pensar em nada, null já estava tentando me matar do coração de novo. Senti o beijo calmo se transformar em algo mais intenso, mais quente e irresistível. A maneira com que suas mãos se moviam era delicada e ao mesmo tempo desesperada. Mordi seu lábio devagar na medida que minha respiração ficava um pouco mais alta que o normal, e null deu um gemido baixo. Tive vontade de rir, mas me segurei enquanto ele apertava com força o lado das minhas coxas e me fazia ficar presa entre suas pernas. A pressão de seus lábios contra os meus era quase furiosa, mas não é como se estivéssemos perdendo algum toque. Era como simplesmente nossos corpos pedissem por mais, como se tivéssemos esperado tempo demais. Talvez aquilo fosse verdade. As mãos de null subiram por baixo da minha blusa, a puxando devagar para cima. Parei o beijo, completamente ofegante, e ri baixo. Vi as bochechas de null ganharem um tom rosado e sorri.
- Rapidinho você, hein?
null riu alto e puxou a blusa para cima, deixando meu sutiã preto a mostra.
- Eu já acho que demorei demais... – Ele disse, a voz rouca e arrastada perto do meu ouvido, enquanto dava beijos suaves ali. Senti meu corpo inteiro estremecer, e concordei inutilmente, rindo baixo.
- Pervertido.
- Como sempre, realista. – null gargalhou.
- Não deixa de ser verdade.
Respondi e null me encarou nos olhos, um sorriso quase infantil no rosto. Como uma criança que vira os presentes de Natal embaixo da árvore. Simplesmente lindo.
- O que foi? – Perguntei, um sorriso igualmente idiota nos lábios.
null chacoalhou a cabeça, e voltou a beijar meu pescoço, dando a entender que não iria dizer nada. Gemi.
- null null! – Ele riu ao ouvir o nome completo e me deitou de volta, acariciando meu rosto.
- Isso vai soar estúpido... – null fez uma careta, o que só me deixou mais curiosa.
- Fala, vai! Por favor... – Pedi, a voz fofa, e ele arqueou uma sobrancelha.
- Eu só não consigo acreditar que... Que eu consegui ter você.
Um sorriso se estampou em meu rosto e eu senti meu coração bater mais forte gradativamente. null sorriu junto comigo, e me beijou, dessa vez devagar e delicadamente, o que só fazia meu cérebro girar e meu corpo responder sozinho a cada toque. Comecei a desabotoar sua camisa, sem me desfazer do beijo, e ele a jogou para longe. Os beijos de null começaram a fazer um caminho pelo meu pescoço e busto, enquanto suas mãos já buscavam os botões da minha calça. Tentei fazer o mesmo com a dele, mas era complicado demais para me concentrar enquanto ele me torturava com beijos no pescoço. Gemi em protesto e ele riu, me fazendo sorrir vitoriosa quando desabotoei a calça e a empurrei com meus próprios pés pra longe. Observei seu corpo coberto apenas pelas boxers pretas e mordi o lábio. Não demorou muito para que null de desfizesse de meu sutiã, que tomou o mesmo rumo que as demais peças que eu vestia. Eu o beijava no pescoço muito mais ferozmente do que podia calcular, tinha certeza que algumas marcas sobrariam por ali. null soltou um braço das minhas costas e começou a tatear a mesinha do lado, derrubando alguns objetos que pareciam fazer muito barulho quando tocavam o chão. Ri baixo do desespero dele. Seu olhar encontrou o meu enquanto nos livrávamos das últimas peças de roupa que estavam entre nós.
- Hey. – Suspirei. Ele me encarou, o olhar tão fixo no meu que parecia poder ver através deles.
- O que foi, linda?
- Eu acho que gosto um pouquinho de você. – Murmurei e null gargalhou. A melhor risada que eu podia ouvir, que me fazia estremecer. Ri junto.
- Só um pouquinho? – Ele sussurrou, encostando a testa na minha.
- É. – Respondi, a voz fraca.
Ele sorriu.
- Acho que podemos trabalhar nisso, docinho.
Assenti, sem forças pra dizer mais nada, com um sorriso no rosto. O olhar de null no meu, o corpo dele no meu, era algo inexplicável. Nunca poderia ser dito em palavras, ele era só meu e eu era só dele. Dentro das nossas loucuras, brigas, dentro do nosso mundinho impenetrável. Algo só nosso, que nem nós mesmos éramos capazes de entender.

Em nenhum instante pensei em negar aquele momento. Com ele era tudo completamente diferente. Era melhor, muito melhor. Nada parecia precipitado, parecia certo, e isso fazia toda a diferença. Senti o corpo pesado e suado de null cair sutilmente sobre o meu. O coração dele batia tão forte que eu sentia em mim. Ou talvez o contrário, não faço idéia. Respirei fundo, tentando sair do êxtase do qual eu estava, mas foi inútil. null me puxou para si e apoiou minha cabeça em seu peito, mexendo em meu cabelo.
- Isso foi... – Ele começou. Interrompi.
- Shhh. – Dei um selinho longo nele – Não estrague o momento.
Ele riu.
- Essa frase é minha.
- Você é meu nesse momento, logo, suas frases me pertencem. – Disse baixo e null me encarou, rindo.
- Eu não sou seu só nesse momento.
Sorri, mesmo contra todo o cansaço que consumia meu corpo. Meus olhos estavam fechando.
- Eu acho que fui sempre sua. – Respondi, encarando-o nos olhos em uma distância mínima. null acariciou meu rosto e me beijou suavemente.
- Você gosta um pouquinho mais de minha agora? – Ele disse com a voz baixa, e eu ri um pouco mais alto.
- Um dia você chega lá, meu bem. – Provoquei e null gargalhou, me puxando pela cintura.
- Eu não te mereço, docinho!
Ri e mordi seu ombro, deixei que meus olhos se fechassem, sentindo o cheirinho bom que vinha de seu pescoço.
- Boa noite, linda. – Ele sussurrou.
- Boa noite, docinho. – Eu ri.
Achei que fosse capotar logo em seguida – Minhas pálpebras estavam pesadas, meu corpo estava mole – Mas não foi isso que aconteceu. De repente, uma lembrança veio em minha mente e eu comecei a rir. De início, tentei me conter, mas depois comecei a rir alto demais. null apoiou o corpo em um braço e me encarou nos olhos.
- null, tá maluca? Vai acordar a casa toda! – Ele disse, segurando o riso. – O que foi?
Eu não conseguia falar. null começou a rir junto e isso só piorou minha situação.
- O que foi? – Ele repetiu, me chacoalhando, e eu percebi que estava extremamente curioso. Tentei recuperar o fôlego.
- Você... Você se lembra... Do dia que eu espalhei pro colégio que você era um broxa?
Dessa vez null riu alto demais, então eu joguei o edredon por cima de nossas cabeças, numa tentativa inútil de abafar o som.
- Eu lembro! – Ele dizia entre risos.
- Quem diria hein? Eu estava tão errada! – O encarei com um olhar malicioso, mas pouco via seu rosto embaixo do edredon. null me puxou pra perto.
- Aposto que você queria provar... – Ele disse, presunçoso, e eu dei um tapa em seu braço – Outch! Você é má comigo, null!
Ri alto e o beijei, depois beijei algumas vezes o lugar onde havia estapeado. null suspirou, tirando o edredon de nossos rostos.
- Posso perguntar uma coisa? – null disse baixo, mexendo no meu cabelo. Sorri, assentindo. – Você começou a me odiar por causa daquela maldita casa na árvore, huh?
Franzi a testa e busquei uma casa da árvore na minha memória. Depois sorri.
- Não, acho que não. - null pareceu confuso, mas antes que dissesse algo, eu continuei. – Acho que sei o que você está pensando. Mas na verdade, eu fiquei brava com você na época porque... Porque você roubou meu irmão de mim.
- Que? – null arregalou os olhos, quase rindo.
- É. – Eu ri, me sentindo uma idiota – O null me ignorava perto de você. Ele não fazia isso com o null, porque o null gostava de mim. Você só era um dos garotinhos idiotas que achavam que não podiam conviver com meninas. Isso me deu raiva.
- Own, que gracinha! – null disse com a voz afetada e eu ri – Como a gente é idiota, não é? Em pensar que eu poderia... Que a gente poderia... Sabe, antes.
Sorri e beijei sua bochecha.
- O tempo não diz nada, null. Talvez se fosse antes, não seria tão bom quanto agora.
- Você tem razão... – null dizia, quando me viu bocejar. Ele riu baixo. – Mas depois a gente conversa sobre isso. Sonha comigo, pra ficar menos constrangedor...
Sorri e ele beijou minha testa.
- Vou sonhar. Boa noite, lindo.

Abri os olhos devagar ao sentir um maldito feixe de luz em minha visão. Pisquei algumas vezes, tentando retomar o foco, e encarei null dormindo tranquilamente ao meu lado. Minha cabeça apoiada em seu peito ia e vinha conforme sua respiração calma e serena. Fiquei o observando por alguns minutos – Ah, vai, que garota não faz isso? – E como percebi que não acordaria tão cedo, resolvi levantar. O relógio marcava meio dia, mas a casa estava muito quieta, provavelmente todos dormiam. Eu estava com sono, mas não queria dormir. Era como se fosse perder muita coisa se não estivesse acordada. Olhei para trás e espiei null novamente, sorrindo de leve. Uma sensação boa tomou conta de mim, ele era meu. Poucas vezes em minha vida tinha tido essa conclusão. Mesmo em namoros sérios, sempre ficava totalmente desconfiada. Mas ele, por incrível que parecesse, parecia meu, e eu sabia que não queria mais ninguém. E mesmo que não tivesse nada definido em minha mente – Eu sabia que não éramos namorados ou coisa do tipo. Mas também sabia que não era coisa de uma noite só – Eu estava completa e irrevogavelmente feliz. Quem diria. Abri o armário de null e encarei as camisas perfeitamente enfileiradas. Peguei uma branca e uma samba canção e corri para o banheiro. Tomei um banho demorado e fiz minha higiene matinal, tudo meio arrastada. Penteei os cabelos, ainda molhados, e decidi que não iria fazer nada com eles. Meu estômago pedia por atenção, eu precisava comer alguma coisa urgentemente. Abri a porta do banheiro e null estava sentando na cama, esfregando os olhos.
- Hey! – Sorri, me aproximando da cama. Ele me encarou com um sorriso enorme.
- Pode parar onde está. – Disse com a voz baixa e eu arqueei uma sobrancelha, sem entender nada.
- O que foi? – Perguntei e ele riu.
- Acabo de concluir que roupas de homens definitivamente ficam melhores em garotas. – null disse e eu ri, pulando na cama.
- Como se você nunca tivesse visto uma garota com suas roupas antes... – Murmurei, me aproximando. null me deitou na cama, me beijando calmamente.
- Todas as garotas não são você.
Um arrepio percorreu minha espinha na mesma hora. Sorri.
- Fico melhor do que a Andy? – Fiz uma careta e null gargalhou, mordendo meu lábio em seguida.
- Precisaria de quarenta Andy’s pra chegar na metade de uma null.
- Você é bom nisso! – Sussurrei, derrotada, enquanto beijava seu pescoço. null sorriu vitorioso.
- Você não viu nada, docinho.
Ri alto e ele levantou, caminhando em direção ao banheiro.
- Anda rápido que eu tô com fome! – Disse e ele olhou para trás, rindo.
- Se você quiser me ajudar no banho! – Seu olhar era malicioso. Taquei um travesseiro em sua direção, e null riu ainda mais ao desviar dele.
- Anda logo, seu tarado! – Desatei a rir enquanto a porta fechava.
- Tá destrancada! – Ele gritou lá de dentro. Ninguém merece esse null null.
- Vai rápido, null! Se você ficar enrolando eu te afogo na banheira!
Ele gargalhou.
- Psicopata! – Gritou.
- Tarado!
Ouvi o barulho do chuveiro sendo ligado.
- Acho que esse foi meu “Cala a boca” – Murmurei rolando os olhos e ri, ligando a televisão.

null saiu do banho em pouco tempo, apenas de boxers e secando o cabelo. Como podia ser tão bonito? Dava até calafrios ficar olhando.
- Vamos tomar café? – Ele disse colocando uma bermuda e me puxou em seguida. Eu ri.
- Preciso me trocar!
null fez bico e me abraçou.
- Ah não, eu gosto dessa roupa! – Ele reclamou e eu ri baixo, o apertando com mais força.
- Imagina se eu desço com a sua camisa e meu irmão tá lá embaixo? Ele infarta com dezoito anos! – Eu disse e null gargalhou, concordando. – Vou até o meu quarto rapidinho, dá uma olhada pra ver se o corredor tá liberado! Tudo bem que eles vão ficar sabendo de nós logo menos, mas não precisa ser na base do choque!
null gargalhou.
- Não será tão chocante assim, eu acho! O null e o null sabem, a null desconfia. Só o null, a null e a null vão ter algum problema com a imagem! – Ele olhou para o lado – Tudo certo, pode ir.
Dei um selinho nele, mas null me prensou contra a porta e me beijou de verdade. Senti meus joelhos cederem.
- Te vejo na cozinha. – Disse rápido e saltitei para o lado de fora, antes que passasse o dia no quarto.

Coloquei um vestido rapidamente e peguei um chinelo, desci as escadas correndo e ninguém estava na sala. null estava parado na porta da cozinha, sorrindo.
- Não temos comida! – Ele disse, fazendo uma careta. Meu estômago pulou.
- Tá brincando? – Disse, desanimada. Ele negou e me puxou pela mão.
- Vamos até a padaria comer alguma coisa, e trazemos uns pães para os desmaiados que acordarão mortos de fome! – Ele disse e eu ri, entrelaçando meus dedos nos dele e saindo.
Fomos andando até uma padaria e comemos vários croissants maravilhosos – Obviamente, já que estávamos na França – conversando sobre qualquer besteira e dando risada. Pagamos pães, queijo e leite para levarmos pra casa, e saímos novamente. null tentava inutilmente espantar o sol daquela hora do dia com a mão, cobrindo o rosto pra tentar enxergar alguma coisa. Comecei a rir e ele me encarou.
- Isso, ria da desgraça alheia! – Ele disse e eu o virei de costas contra o sol.
Pendurei meus braços em sem pescoço e aproximei nossos rostos, ficando na ponta dos pés.
- Você é lindo. – Sorri, sem sentir nenhuma vergonha daquilo. Para uma garota que mal conseguia expressar qualquer tipo de sentimento, até que eu não estava tão ruim. Ele sorriu e largou as sacolas no chão, me puxando para cima.
- Eu gosto quando você tenta me agradar. – Ele sorriu e me beijou de leve.
- Isso vai acontecer com mais freqüência, eu acho. Pelo menos estou tentando... – Respondi, sincera, e null encostou a testa na minha.
- Mesmo quando você tenta me irritar, você me agrada. Não adianta. – Ele disse e eu ri, o beijando novamente.
- Preciso de métodos melhores pra te tirar do sério, então... – Respondi num tom pensativo e null fez cara de indignado, antes de começar a rir.
- Sabe, hoje quando eu acordei e você não estava do meu lado... – null parou como quem iria editar o pensamento, mas eu continuei em silêncio, e ele sorriu – Eu achei que aquilo tudo tivesse sido coisa da minha cabeça.
Pronto! Alguém me ensina a controlar essas benditas borboletas no estômago?
- Own! – Deixei escapar, fazendo null rir, complemente corado. – Isso foi muito fofo, null.
Ele fez uma careta.
- Você desperta meu lado gay. – Disse e eu gargalhei.
- Eu gosto de todos os seus lados. – Retruquei. – Acho que você despertou meu lado menininha... – Franzi a testa, e null riu, sussurrando próximo a minha boca.
- Só espero que seu lado menininha não leve meu lado gay pra fazer compras... Isso seria demais! – Ele completou e nós desatamos a rir, antes de retomarmos o fôlego para perdê-lo de novo... Em um beijo.

- Ah null, não, não!
Saí correndo em direção ao portão com null em meu encalço. Ele queria se vingar de mim. Só porque eu taquei areia nele? Que absurdo!
- Vou te jogar dentro da piscina! – Ele gritou de volta, quase rindo, e eu arregalei os olhos.
- Você não é louco, docinho!
- Você quem pensa! – Ele disse e eu gritei, abrindo o portão com força. Olhei para trás e vi null largar as sacolas da padaria no chão e correr atrás de mim. – null, por favor!
- Agora ela vem toda meiguinha, né? – Ele disse com a voz afetada e eu gargalhei, correndo pela lateral da casa, gritando.
null me alcançou e me segurou pela cintura, me virando de frente. Fui dando passos para trás, tentando me preparar para fugir.
- E agora, docinho? – Ele me puxou para perto e eu senti minha nuca arrepiar.
- Por favor... – Pedi com a voz mais fofa que consegui, eu sabia que isso derretia null. Ele sorriu, derrotado, e me puxou para si.
Continuei andando de costas, procurando algo em que me apoiar, minhas pernas tinham a terrível mania de tremer com aqueles beijos de null. Esbarrei em uma árvore e parei, separando o beijo com um sorriso no rosto. null manteve as mãos em meu rosto, então eu ouvi um barulho.
- null! – A voz de null parecia de pânico. null me encarou com um olhar calmo, como quem me incentivava a olhar para minha amiga. Sorri e me virei, e ele fez o mesmo.
Foi quando eu percebi que todos estavam ali. Sem exceção. null, que parecia tão em pânico quanto null, que estava ao seu lado. null tinha uma expressão estranha no rosto, null parecia preocupada. null estava entre a surpresa e o nojo, e eu não entendia o motivo de todo aquele desespero.
null apertou minha mão com força.
- null, não!
Vi meu irmão sair de trás de null como um flash e ouvi um grito de null. Numa fração de segundo, minha mão caiu ao lado do meu corpo.
E então null estava no chão.

null’s P.O.V mode OFF

Capítulo 12: Unexpected

null definitivamente não estava esperando por aquilo. O murro certeiro de null em próximo a seu olho tinha o pegado desprevenido, sentia o rosto latejar. Segurou o nariz, completamente dolorido, sem conseguir esboçar nenhuma reação.
- Eu vou te matar, seu traidor! – null gritava, e null rapidamente segurou o amigo – Me solta, null!
null olhou assustada para o irmão, que se debatia contra o corpo de null, com o rosto vermelho de raiva. Abaixou rapidamente em frente a null, sentindo o coração dar cambalhotas dentro do peito.
- Ai Meu Deus, você está bem? – Perguntou, sentindo os olhos arderem. Mas não esperou resposta alguma, virando o pescoço para trás – null, você tá maluco? – Berrou.
- Eu não tô maluco porra nenhuma, você que deve ter ficado louca! – Ele tentava se soltar de null, enquanto null punha-se de pé com ajuda de null e null.
- Dude, não vá... – null segurou null, que encarava null com um olhar indecifrável.
- Eu não vou fazer nada. – null respondeu simplesmente.
- Eu nunca esperei isso de você, dude! Porra, você é meu melhor amigo! – null gritava, ficando ainda mais nervoso com os braços de null em sua volta – ME SOLTA!
- null, olha pra mim, por favor! – null se aproximou do irmão, que virou o rosto – Deixa eu explicar...
- Eu não quero falar com você! Meu assunto é com o null!
null passou a mão pelo rosto, sentindo o pouco de sangue que escorria de seu nariz. Respirou fundo.
- Solta ele, null. – Disse baixo.
- O quê? – null e null disseram juntas, e null segurou a mão de null quase imperceptivelmente.
- Vai ficar tudo bem. – Ele disse baixo, apenas para que ela ouvisse.
- null, não...
Ela dizia baixo, seu olhar era de dor, e isso deixou null ainda mais inquieto. Não gostava de vê-la daquela forma. Sorriu com o canto da boca, brevemente, e aproximou-se de null. Viu, com a visão periférica, null abraçar null de lado.
- Vamos conversar então, dude... – null disse calmo, medindo as palavras. Olhou firmemente para null, que hesitou em soltar null, mas por fim o fez. null respirou fundo.
- Você é inacreditável, null. – Disse com desprezo – É a minha irmã, porra! – null disse e null ia abrir a boca para se manifestar, mas null a repreendeu com o olhar.
- Dude, eu sei, mas...
null ia dizendo quando null lhe acertou um soco na barriga, não com toda a força de antes, mas que ainda assim fez null gemer. O próprio null deu alguns passos para trás, piscando várias vezes, e sentindo a aproximação rápida de null. null levantou a cabeça e null correu para seu lado, sentindo as lágrimas escorrerem pelo rosto.
- É... É melhor eu sair daqui, eu não sei mais o que eu tô fazendo! – null disse por fim e andou em passos largos em direção ao portão, sendo seguido por null. – Me deixa sozinho!
Ele berrou, mas a garota não obedeceu, e continuou a segui-lo para o lado de fora.

- Me desculpa, me desculpa! – null tentava engolir o choro, passando as mãos trêmulas pelo rosto de null, que estava sentado em uma cadeira de praia. Ele sorriu fraco.
- Ei... – Disse, segurando suas mãos – Não é sua culpa. Pare com isso!
- Claro que é minha culpa! Se eu não tivesse um irmão tão idiota, você não teria... – null ia dizendo, quando foi interrompida.
- Seu irmão não é um idiota. Ele é meu melhor amigo, e a culpa não é sua, nem minha. Acho que nem dele... – null disse olhando para baixo, e null tentou abraçá-lo de uma forma que não fizesse nada doer ainda mais.
- Obrigada por não bater nele. Por mais que aquele idiota mereça, é claro...
null sorriu, selando os lábios da garota brevemente.
- Eu nunca bateria no null, null. – Ele disse, tentando puxá-la para mais perto, e gemendo quando sentiu a musculatura da barriga contrair.
null chegou correndo e null estava logo atrás dela.
- Aqui, null. – Ela estendeu um kit de primeiros socorros para a amiga. null desatou a rir, ao ver o que null carregava.
- Pra que diabos esse pedaço de carne, null? Eu não tô com fome, e não como comida congelada! – Ele disse e todos em volta riram, ainda que estivessem visivelmente preocupados. Principalmente null, que estava completamente confusa.
- Acabou o gelo na festa, então você vai colocar essa carne congelada no nariz! – null disse engraçadamente e null sorriu, ainda sem vontade de rir. null pegou a carne, fazendo graça, e encostou no nariz, contorcendo o rosto em uma careta.
- Apanhei do meu melhor amigo, não revidei, estou todo dolorido e com um pedaço de CARNE na cara! – null gargalhou – Mais humilhante, impossível!
Todos riram alto, especialmente null e null. null sentiu-se um pouco melhor ao ver que null também ria, e sorriu.
- Vamos melhorar a humilhação... – A garota sorriu – Vou cuidar de você.
Disse, com um olhar divertido, e null riu, puxando-a para um beijo rápido. Então null desatou a rir.
- O que foi, sua doida? – null olhou para trás.
- É tão engraçado... Vocês dois juntos. – null ria e logo todos fizeram o mesmo.
- Relaxa, no começo é meio assustador, mas depois você acostuma! – null disse e null tacou um rolo de esparadrapos em sua direção, fazendo-o gargalhar.

- Qual a parte do eu quero ficar sozinho, você não entendeu, null? – null perguntou com rispidez, enquanto a garota sentava ao seu lado, perto do mar.
- Qual a parte do você está agindo como um idiota, você não entendeu, null? – A garota arqueou uma sobrancelha e ele bufou.
- O que você quer?
- Nada.
- Então me deixa sozinho! – null respondeu, e null rolou os olhos.
- Você poderia ser menos estúpido? O que eu fiz pra você? – Ela disse um pouco irritada, fazendo-o encará-la.
- Desculpe. Você não tem nada a ver com isso. – null disse ainda olhando para frente, e os dois ficaram em silêncio por alguns instantes. – Você sabia disso?
null negou.
- Estou tão surpresa quanto você. – Respondeu baixo.
- Tenho certeza que quase todo mundo sabia! Porque aquele merda tinha que... – null já ia começar o descontrole, quando null o encarou.
- Não chame o null de merda. Você só está nervoso com ele.
- Agora você vai defendê-lo? – null perguntou, olhando nos olhos da garota pela primeira vez.
- É claro que não. Eu também estou muito preocupada com os dois, null. null e null não é algo que possa dar certo sem que ninguém saia ferido... – null balançou a cabeça, reprimindo um sorriso – Mas nem por isso concordo com seu ataque pra cima do null! E se ele tivesse revidado? Você tem noção do que você fez, null?
O garoto parou e a fitou, incrédulo.
- Eu não acredito que eu tô tomando uma bronca logo de você!
- Pode acreditar! – null disse séria, e o queixo do garoto caiu.
- Quer saber, null? Não tô afim de conversinha, de sermão! Se você vai ficar aqui sentada, eu vou andar por aí! – Disse, levantando o mais rápido que conseguiu, e saiu em passos largos. – O que você tá fazendo atrás de mim? – Perguntou, colocando as mãos na cintura, e a garota riu alto, fazendo a expressão de null, que beirava a ira, transformar-se em confusão.
- Eu sinceramente não sei. – null ria – Acho que quero garantir que você não bata em ninguém, sabe como é... – Disse arqueando uma sobrancelha e null sorriu brevemente.
- Pode ficar tranqüila, eu não vou atacar ninguém que não mereça! - Respondeu e null sorriu.
- Prefiro ir junto, se não se importa... – Ela disse e null bufou.
- Como se adiantasse dizer não! Mas você vai calada!
- Não tô nem aqui! – Ela fez sinal de zíper nos lábios, depois parou – null, me paga uma Coca?
null gargalhou. Não sabia se estava rindo de raiva ou de espanto, mas aquilo também fez null rir. Nem ela sabia o que estava fazendo.
- Se você calar a boca, eu te pago uma na volta.
- Fechado! – null deu um pulinho, saltitando atrás de null.

- O que diabos vocês estavam fazendo todos lá no quintal? – null perguntou do nada e null riu, sapeando os canais da televisão.
- A gente ia fazer hambúrgueres, porque não tinha nada pro café da... – null parou no meio da frase e trocou um olhar de pânico com null.
- OS HAMBÚRGUERES! – Gritaram e saíram correndo juntos, fazendo null, null, null e null gargalharem.
- Devem ter virado carvão... – null deu de ombros.
- Você tá melhor? – null perguntou baixo, acariciando o rosto de null, que sorriu, assentindo.
- Eu tô ótimo, linda... Relaxa! – Ele disse sorrindo fraco e deitando a cabeça no colo de null.
A verdade era que estava preocupado com o que estava por vir. Sabia que a reação de null, num primeiro instante, seria negativa, mas nem em suas piores hipóteses havia cogitado apanhar do amigo. Sentiu que null mexia em seus cabelos e sorriu, encarando a televisão e tentando engolir todo aquele sentimento ruim que tomava conta de seu corpo. Ela era tudo o que sempre quisera, mas null era seu melhor amigo. Aquela não era uma situação agradável de estar.

- São quase oito da noite, eu tô realmente preocupada! – null andava de um lado para o outro, e null a segurou pelos braços.
- null, quer parar? – Disse, com a voz calma – Não vai acontecer nada! O null não tá sozinho!
- É amiga, a null tá com ele, agora fica calma! – null a encarou, sorrindo – Pare de surtar, você quer deixar o seu... Namorado? Ficante? Peguete? – null riu e null fez o mesmo.
- Não sei classificar... – Respondeu ainda rindo.
- Tá, você quer deixar o seu docinho ainda mais preocupado? – null perguntou e null suspirou alto – Meu amor, a única coisa que você tem que fazer agora, é sentar nesse sofá e esperar que ele volte do banheiro com sua melhor cara de “tô nem aí”, ok? O null já sofreu demais por hoje.
null sorriu obedecendo, enquanto null encarava null de sobrancelha erguida.
- Você daria uma ótima psicóloga... – Ele disse baixo e null riu.
- Só se fosse pra enlouquecer meus clientes... Você me conhece. – Ela disse e os dois riram baixo, voltando os olhares para a televisão.
- Eu quero uma pizza! – null disse de boca cheia, e null riu, vendo que null sentava em seu lado.
- null seu ogro, você tá comendo um sanduíche e pensando na pizza! – Disse e null gargalhou.
- Ei, pizza seria uma boa ideia... – Disse com a carinha fofa e null sorriu.
- Tá, pizza pra você então!
- Ei, que folgado! Ele tá se aproveitando da sua boa vontade, null! – null disse e tomou uma almofada na cabeça, entre risos.
- Come teu sanduíche aí e cala a boca, dude! – null disse e null pulou de volta no sofá, deitando no colo de null.
- Hoje o docinho tá merecendo, né? – Ela sorriu e null fez cara de nojo, enquanto null e null gargalhavam.
O barulho da porta abrindo foi discreto, mas todos ouviram. No fundo, estavam disfarçando com risadas o pânico em que estavam. null entrou primeiro, e em seguida, null. A garota andou calmamente até o sofá, mas virou para trás e olhou sugestivamente para null, que fitou os próprios pés. Em seguida, começou a caminhar na mesma direção que ela, mas passando direto para as escadas.
- Dude! – null disse alto, e null sentiu que por um momento, seu coração havia parado de bater. Suas mãos gelaram na mesma hora. – A gente pode conversar agora?
- Eu não tenho nada pra falar com você, null. – null respondeu baixo e com firmeza, e virou as costas.
- Eu vou até lá! – null levantou num pulo, e antes que alguém pudesse se manifestar, já estava subindo as escadas.

- null, preciso falar com você.
null disse entrando no quarto e dando de cara com o irmão deitado de bruços na cama, com a cabeça enterrada em travesseiros. Ele murmurou alguma coisa ininteligível, fazendo-a rolar os olhos.
- E eu não vou sair daqui enquanto isso não acontecer.
Disse, firme, e sentou em uma cadeira. null levantou a cabeça e sentou na cama, tentando arrumar o cabelo bagunçado. null teve que reprimir um sorriso vitorioso que iria se espalhar em seu rosto. Pelo menos ele havia aceitado a conversa, o que já era meio caminho andado.
- Fala. – Ele disse, encarando a cama. null puxou a cadeira pra mais perto, ponderando as palavras. Sabia que se desse um sermão logo de cara, ele a expulsaria do quarto, e era um fato que null era mais forte que ela e a tiraria carregada se fosse preciso.
- Por quê você fez aquilo? Digo, porque você bateu no null? – Ela cuspiu as palavras, sem saber exatamente por onde começar. O rosto de null levantou, já adquirindo sinais de raiva.
- Como porque? Francamente, null! – null se colocou de pé, quase em um salto – Você é minha irmã! Ele tava te agarrando, aquilo não faz sentido!
- Desde quando você liga pra quem eu agarro ou deixo de agarrar? – null perguntou, impetuosa, mas permanecendo sentada.
null gargalhou, sarcástico.
- Desde quando o IDIOTA do meu melhor amigo resolve ser o cara que você agarra... Ou que agarra você, foda-se! – null fez careta – null, pelo amor de Deus, você ODEIA o null!
- Eu não odeio o null. – null disse baixo, tentando manter a calma, coisa que considerava que seria impossível – Não era você quem sempre quis que nós nos déssemos melhor e...
- ... Uma coisa é vocês se tratarem decentemente, outra é aquele merda com a mão na tua bunda! – null disse, ficando cada vez mais vermelho. null riu, também já ficando irritada.
- Para de chamá-lo de merda, de idiota! Você não percebe que o único idiota aqui É VOCÊ? – null berrou, apontando o dedo para o irmão – Puta merda, null, você nunca foi assim! Eu tô feliz! O null me faz feliz, porque você tem que estragar isso?
Os gritos da garota ecoaram por todo o corredor. Os outros tinham resolvido que ficariam no andar debaixo, mas null não pode deixar a curiosidade de lado, e subiu alguns degraus da escada. Sorriu ao ouvir o que null havia dito, mas o silêncio que seguiu a frase o deixou perturbado.
null encarou a irmã, que tinha lágrimas nos olhos. Mas ele a conhecia como ninguém, sabia que aquelas eram lágrimas de raiva. A segurou pelos ombros.
- null, eu amo você. Eu sou seu irmão mais velho, eu estou fazendo isso pra te proteger! – Disse, um pouco mais baixo. E null já não conseguia ouvir mais nada.
- Pra me proteger do que, null? – null deixou uma lágrima escorrer, e ele respirou fundo.
- Eu conheço o null tão bem quanto conheço você. Eu convivo com ele, mais do que eu convivo com você, inclusive! – null respirou fundo - null, o null é um cara legal, mas porra, você sabe muito bem que ele nunca quer nada sério! Quantas garotas ele já comeu naquele colégio, hein? – Ele dizia sério, tentando conter o impulso de abraçar a irmã, que chorava – QUANTAS?
- Eu não sei, que merda! – null soltou dos braços de null, enxugando as lágrimas com as costas da mão.
- Eu já vi muitas meninas chorarem por ele. Já vi todas as desculpas que ele inventa pra se livrar delas, eu sei do que ele é capaz! Eu não quero que você sofra, null! – null disse, a abraçando, mas a garota mantinha os braços do lado do corpo, sem conseguir reagir. – Fala alguma coisa! – Pediu, aflito, vendo que a irmã não se movia e que o silêncio era cada vez mais assustador.
null respirou fundo, e encarou null nos olhos.
- Ele não vai fazer isso comigo. – Disse baixo, quase em um sussurro. Percebeu que null ia dizer alguma coisa, então continuou falando – E o único que está me machucando aqui, é você.
Disse por fim e correu para fora do quarto, fazendo com que null finalmente derrubasse a maldita lágrima pelo rosto. null correu até o fim do corredor e bateu sua porta com força.

A sala entrou em silêncio profundo, nem as respirações eram ouvidas. Ninguém sabia o que havia se passado no outro andar, mas estavam apreensivos. Ao ouvir o baque da porta, null levantou rapidamente, sem nem pensar.
- Dude, não é melhor que você... – null tentou dizer, mas null o ignorou.
- Já esperei tempo demais.
Subiu as escadas rapidamente e parou diante do quarto de null. A porta estava aberta, e ele não enxergou ninguém lá dentro. Rapidamente, correu a distância do corredor até o quarto de null. Não bateu na porta, que estava destrancada. null tomou um susto e tentou limpar o rosto, que tinha marcas do rímel preto manchado. Pela primeira vez em sua vida, null desejou estar em dois lugares ao mesmo tempo. Queria consolar null e sim, queria encher null de porrada. Mas engoliu essa segunda vontade, caminhando rápido até a cama da garota, e sem dizer nada, a tomando em um abraço apertado e silencioso. Afagou seus cabelos e começou a ouvir soluços da menina.
- Eu não acredito nisso! – null segurou o rosto vermelho de null entre mãos, e sentiu a raiva subir. – O que diabos o null... Eu vou até lá, eu vou... – null ameaçou levantar, mas null o puxou pelo braço.
- Por favor, não... – Disse baixo, tentando fazer com que sua voz saísse normalmente – Só fica aqui comigo. Não me deixa sozinha, por favor... – Ela pediu e null sentiu que seu coração tinha sido quebrado. Era algo estranho, protetor. null deitou na cama e null fez o mesmo, a abraçando e mexendo em seus cabelos.
- O que aconteceu? – Ele perguntou baixo, e null respirou fundo.
- Eu não quero falar sobre isso, desculpe.
- Tudo bem. – Ele sorriu fraco, ficando em silêncio.
Aos poucos, null sentia que melhorava gradativamente sua situação. Ainda doía, e muito, lembrar das coisas que o irmão tinha lhe dito, mas afastou o pensamento, porque null estava ali, e ela simplesmente se recusava a acreditar.
- Ei... – null sussurrou, sentando na cama e esfregando os olhos. null fez o mesmo, mas não tinha sinal algum de sono. – Promete que você nunca vai me decepcionar?
null sorriu, confuso, e aproximou sua boca da dela.
- Por que a pergunta?
- Só prometa.
- Eu nunca vou te decepcionar. Prometo.
Disse e sentiu-se aliviado quando viu um sorriso tímido no rosto de null. A segurou pela nuca, beijando-a calmamente, mas de uma forma estranha, seu corpo todo parecia ceder e seu coração tinha a sensação esquisita de que tinha aquecido. Preferiu não lutar contra isso, afinal sabia que era perda na certa. Deixou as preocupações de lado ao sentir os dedos frios da garota em sua nuca, o que provocava arrepios. Suspirou pesadamente quando null desfez o beijo, e abriu os olhos.
- Obrigada. Por tudo, null. – Ela sorriu.
null beijou sua testa carinhosamente, e a abraçou. Encarou o relógio na mesinha, que marcava duas horas da manhã.
- null, acho melhor eu ir... Já tá tarde! – Ele sorriu forçado, e null sorriu verdadeiramente ao perceber esse detalhe.
- Dorme aqui comigo? – Perguntou, manhosa, e null sentiu aquela sensação estranha de novo. Desistiria de entender.
- null, o null vai... – null ia dizendo, tentando parecer convencido de suas próprias palavras, mas ela o interrompeu.
- Eu só quero acordar abraçada a você. Só isso.
Disse, sincera. Era tudo o que realmente precisava, o perfume de null, seus braços largos e o calor de seu corpo perto do seu. Não estava realmente pensando em nada além disso, só queria sentir-se segura. Queria que seus olhos fossem a primeira coisa que visse ao acordar, depois daquela confusão toda. Chacoalhou a cabeça, deixando de lado os pensamentos progressivamente idiotas e melosos, e encarou null, que sorria.
- Só porque você implorou... – Ele disse fazendo bico, e a menina gargalhou.
- Implorei? – Ela riu – Vaza da minha cama, null!
- Ah, é assim? – Ele disse segurando o riso – Eu vou mesmo!
null levantou, e a garota desatou a rir, o puxando de volta.
- Volta aqui!
- Pede com jeitinho... – Ele disse malicioso, e os dois riram alto.
- Você vai me deixar aqui sozinha e indefesa? – null disse, fazendo biquinho, e null pulou de volta na cama, a abraçando e rindo. – Há, eu sou uma conquistadora nata!
Disse, brincando, e null gargalhou.
- Fica quietinha, vai... – Murmurou, e os dois riram, jogando o edredon por cima de suas cabeças.

Era praticamente uma da tarde quando null e null acordaram. Não voluntariamente, já que null e null tacaram dezenas de almofadas nos dois, gargalhando feito loucas. null foi para seu quarto, tomar um banho e mudar de roupa, e null fez o mesmo, enquanto as garotas tagarelavam em sua cama.
- Pega uma blusinha pra mim? – null pediu e null tacou uma regata preta em sua direção. Ela sorriu, colocando-a. – E o null?
Perguntou, sentindo um nó na garganta. null deu de ombros.
- Não sei. Bom, ele não estava lá embaixo quando acordamos, e ninguém sabia de nada.
null ia perguntar mais alguma coisa, mas resolveu não fazê-lo. Pegou as amigas pelas mãos e desceu as escadas, vendo null com cara de pânico. Então viu que null e null estavam frente a frente, no meio da sala, a uma distância mínima. null, null e null estavam mais adiante, observando apreensivos. Rapidamente, null correu e puxou as amigas com ela.
- Vocês não estão brigando, não é? – Perguntou, sua voz estava falhando e odiava quando isso acontecia. null apertou sua mão com um pouco mais de força, tentando frear a amiga que ia se meter entre os dois.
- null. – null olhou para o lado, sorrindo fraco – A gente só está conversando.
- No meio da sala com essas caras de assassinos? – null se intrometeu – Gente, se vocês se socarem eu vou chamar a polícia, juro!
null rolou os olhos.
- Eu não vou socar ninguém. – Respondeu baixo, e logo os outros três estavam perto das garotas.
- Vocês podem ir, eu garanto que não vai acontecer nada e... - null tentava dizer, mas fora rapidamente interrompido.
- Não preciso que ninguém vá embora. A conversa aqui é rápida, null.
null levantou as mãos ao lado da cabeça, como quem se rendia.
- Eu não acredito no que você fez, dude! – null chacoalhou a cabeça – Eu nunca esperei isso logo de você!
- O que eu fiz, null? Eu não fiz nada de errado! – null dizia, aparentemente calmo – Eu não planejei isso, simplesmente aconteceu! E eu não estou nenhum pouco arrependido.
null tentou sorrir, mas o misto de sensações que tomava conta dela não permitiu. Achava que teria um colapso, seria eternamente grata pela mão de null e pelo abraço de null, que era a única coisa que a mantinha em pé. Sua mente desviou por alguns segundos, e quando voltou ao foco, null já gritava.
- Caralho, com tantas meninas nessa merda de lugar e você tinha que escolher justo a minha irmã? – Ele gritou, visivelmente transtornado, e então respirou fundo, deixando transparecer toda a decepção em seu olhar. – Você era meu melhor amigo.
null sentira os olhos arderem, não queria acreditar que aquilo estava acontecendo. Encarou null nos olhos, respirando fundo.
- Como assim eu ERA seu melhor amigo?
- Isso mesmo que você ouviu! Depois de tudo o que você fez... – Dessa vez null interrompera null, agora já perdendo o controle.
- Eu não fiz metade do que eu devia ter feito com você, null! Talvez se eu tivesse revidado seu soco, você não estaria falando tanta merda agora! – null gritou, e null o encarou, incrédulo.
- Você acha que eu GOSTEI de bater em você? Porra, dude! Quem você pensa que eu sou? – null gritou – Eu te conheço, null! Você pode estar curtindo agora, mas vai passar outra gostosa e você vai esquecer da null! E aí, você acha que EU tenho que deixar isso acontecer?
- Você tá maluco, dude! – null também gritava – Eu não sou esse putão que você tá dizendo!
null gargalhou.
- Quantas vezes eu te ajudei a fugir de meninas no teu pé? Quantas vezes eu vi você pegar quatro na mesma noite? – null parou, chacoalhando a cabeça – E não era com qualquer garota! Até tua ex, que todo mundo achava que você gostava, você traiu!
- PUTA QUE PARIU, a null não é qualquer uma! – null berrou, interrompendo – Sabe qual é a diferença? A diferença é que eu gosto da tua irmã! De verdade, e até demais! Você acha que eu me senti bem quando descobri isso? Quando eu percebi que era ela quem eu queria? – null disparou a falar, deixando null completamente pasmo – Eu posso realmente ter feito Londres inteira sofrer, e eu admito isso! Mas eu nunca faria isso com ela, null! E se um dia eu fizer, vou ser eu quem vai pedir pra você me bater, porque eu vou ter perdido a única que eu realmente quis! E com ou sem sua aprovação, eu não vou...
null parou de falar, percebendo o silêncio absurdo que a sala estava. Olhou para o lado, e viu null dois passos adiante dos demais, com um sorriso quase infantil no rosto.
- Você não vai...?
Ela o incentivou, e null aproximou-se, com as mãos nos bolsos. Não sabia como aquilo tinha simplesmente escapado de sua mente. Tinha esquecido totalmente que tinham seis pessoas além dele e null na sala. Mas já era tarde para ficar com vergonha. Sorriu, a encarando.
- Eu não vou deixar você. – Ele disse baixo, e a garota sorriu, pulando e o abraçando.
- Isso foi perfeito! – Ela disse baixo, mas todos da sala ainda podiam ouvir – Você derreteu meu coração, docinho. – null disse rindo e olhando nos olhos de null, que sorria idiotamente, aproximando a boca da dela.
- EI! – null berrou – O que vocês pensam que estão fazendo? – Disse, sério. – Eu ainda não terminei a conversa aqui!
- null, cala a boca! – null dizia, fechando os punhos, e ele arqueou uma sobrancelha.
- Os nulls são violentos, huh? – Ela apontou para as mãos de null, e null prendeu o riso – Dois minutos.
- Argh! – null deu um passo pra trás, murmurando algo que ninguém entendeu.
- Você pode ter “derretido” o coração dela... – null disse fazendo aspas – Mas eu tô de olho em você! – Disse, dando uma piscadinha, e o queixo de null caiu. – Eu fui um idiota, dude. Cuida bem da minha irmã.
- QUE? – null interrompeu, incrédula.
- Acho que esse cara gosta de você, baixinha. – null disse sorrindo – E se vocês estão felizes... Quem sou eu para dizer não?
- Meu irmão idiota e ciumento? – null fez bico e null riu.
- Me desculpa, null. – null falou baixo, olhando para os pés. null sorriu.
- Você tá falando sério, dude?
- Nunca falei tão sério em toda minha vida.
null ficou em silêncio, em seguida abriu um sorriso maior que o próprio rosto.
- Aaaaah, dá aqui um abraço, nullzinho! – null o puxou com a voz afetada e os dois gargalharam, assim como null. – Obrigado, dude. Você não vai se arrepender!
null piscou e puxou null pela mão, encostando os lábios nos dela.
- Eca! Não! Não! – null interrompeu de novo – Demais pra minha visão! Uma coisa de cada vez, argh!
Ele disse engraçadamente e todos gargalharam, derrubando-o no sofá sob um montinho sufocante. null encarou null, que ria sem fôlego, e sorriu largamente, sentindo que talvez ele fosse muito mais do que ela pensava. Tudo aquilo era inesperado, mas aquele era o sorriso, o olhar, o garoto que tinha realmente conseguido mexer com ela. Como nenhum outro jamais conseguiria.

Capítulo 13: When the lights went out...

- Ei, dá pra tirar a língua da boca da minha irmã? - null chegou na sala, tacando uma almofada em null e null, que gargalharam.
- null, vai ver se eu tô lá na esquina, vai amorzinho? - null disse rindo da cara de indignado do irmão.
- Eu já falei pra vocês: Só passaram quatro dias desde quando eu autorizei isso aí – Ele apontou abanando a mão – Quando der uma semana, eu deixo você dar um selinho nela, dude. Mas só selinhos!
Então a risada de null ecoou na sala.
- Pobre iludido... - Ela ria junto com null e null, enquanto null fazia careta – Vai nessa, nullzinho, vai nessa...
- Ei, o que ela quis dizer com isso? - Perguntou com uma voz afetada, e os olhos de null arregalaram.
- Ela não quis dizer nada, chuchu, a null é maluca. - Disse entredentes, enquanto null segurava o riso.
- Ai, ai! - null já ia começar outro discurso, quando a sala fora invadida por um furacão, que atendia pelo nome de null.
- null, porque você não cuida da sua vida ao invés de ficar controlando o casal docinho? - Ela disparou, mas antes que null protestasse, continuou – Eu preciso da sua ajuda pra carregar minha sacolas.
- Desde quando eu carrego sacolas pra patricinhas no shopping?
- Desde quando sou em quem pede, e desde quando tem um stand do Beatles Rock Band onde você pode competir enquanto eu me divirto. - null sorriu com todos os dentes, e null, assim como os demais da sala, ficaram boquiabertos – Acredite, null, eu só preciso da sua ajuda quando acabar.
- Você vai me pagar uma coca? - Ele sorriu maroto, e a garota riu.
- Pago duas.
- Até mais galera, comportem-se, vou fazer compras! - null disse com uma voz afetada, e ele e null riram, antes de sumir do campo de visão dos demais.
Assim que sairam, o silêncio pairou na sala por alguns segundos.
- Ok, fui só eu que achei isso... Estranho? - null se pronunciou e as garotas riram.
- Não mesmo. - Responderam juntas.
- Ah... E o que temos com isso, não é mesmo? - null arqueou uma sobrancelha de um jeito malicioso, e null riu, mordendo seu lábio inferior.
- Definitivamente nada.
- Ah, adoro segurar vela! - null reclamou, fazendo os dois rirem – Se me dão licença, vou comer um doritos, porque ficar aqui já aumentou consideravelmente meu teor de diabetes! - Ela gargalhou.
- Vá a merda! - null gritou, olhando por cima das costas do sofá, rindo alto.
- Também te amo, docinho! - A amiga gritou de volta.
- Que folgada! - null reclamou, ainda rindo, deitando o corpo por cima do de null no sofá.
- Nem ligo... - Ele disse baixo, distribuindo alguns beijos no pescoço da garota, e sorrindo ao ver que ela estava arrepiando.
- Ela vai pagar e...
- Dá pra você ficar quieta? - null disse, mordendo o lóbulo da orelha de null, que riu baixo.
-Ah, você vai ter que me calar... - Sorriu maliciosa, vendo null rir e aproximar suas bocas.

Quatro dias. Exatos quatro dias desde que tudo estava as claras para null e null. Quatro dias praticamente sem brigas – Pelo menos não as tradicionais e sérias. Apenas aquelas briguinhas bobas de sempre, porque por mais que estivessem juntos, ainda eram os mesmos. As coisas com null e o resto dos amigos estavam bastante fáceis, e de fato, o surgimento de um casal tão inesperado quanto esse, melhorou o relacionamento dos garotos com as garotas, e vice-versa. Eles não tinham mais tanta implicância em conviverem em harmonia. Cada qual a seu modo, obviamente.

Estavam os oito na sala de estar, comendo hot-dogs e bebendo. Uma chuva torrencial caía do lado de fora, impedindo que saíssem para curtir a noite francesa.
- Ah! - null berrou, apertando o braço de null. Mais um trovão.
Todos riram ao ver null cuspir a Coca, por causa do susto, mas apenas null sorriu ao sentir o braço arder um pouco com as unhas da garota. Ele estava adorando aquela chuva, mais dois ou três trovões ou raios, e teria uma null em seu colo. Riu sozinho do próprio pensamento.
- Calma amiga, foi só um... Ah! - null dessa vez gritou, fazendo com que os amigos rissem ainda mais. Não tinha medo, mas o barulho realmente estava ensurdecedor.
- Garotas... - null murmurou, encarando seu lanche – null, segura bem a null aí, se seguir a ordem, o próximo grito é dela! - Disse, rindo. null chacoalhou a cabeça, enquanto null a encarava.
- Eu não vou gritar, é só um trovão... - Ela riu baixo, enquanto null a encarava de cara feia – Eu não preciso que me protejam.
null arqueou uma sobrancelha, enquanto todos riam baixo.
- Ela não é um amor? - null disse rindo, enquanto null fazia o mesmo – Não quero mais você, vou proteger a null. - Disse fazendo bico, e partindo pro outro lado da roda, arrancando uma risada alta da garota.
- Vai lá, se a luz acabar eu dou uns beijos no null, né delícia? - null piscou para null, enquanto todos riam muito.
- Ah moleque, perdeu! - null disse, malandro, quando a luz piscou de verdade, por três vezes seguidas.
E depois apagou de vez.
- Ah, dá pra tirar a mão daí, null?
- Daonde? Minha mão tá no copo!
- Ei, de quem é essa mão?
- Eu to com medo!
- Dá pra todo mundo calar a boca e alguém achar uma vela ou coisa do tipo?
- Ah claro, porque eu carrego velas comigo all the time!
- Cala a boca!
- Alguma alma pura pode acender a merda de um celular?
- null, você tá com seu celular? - A voz de null ecoou entre as demais.
- Ela não pode falar, tá muito ocupada aqui comigo... - null disse e todos gargalharam.
- Ai null, como você é sexy! Isso, faz assim!
- ALGUÉM ACENDE A PORRA DO CELULAR?

null acendeu a luz, entre gargalhadas. null abriu os olhos rapidamente, vendo que null e null estavam bem distantes, e percebendo que ele realmente estava checando, todos caíram na gargalhada.
- Ai docinho, não acredito nisso! - null dizia, entre risadas, enquanto ia ajoelhada até onde null estava.
- Não quero papo com você.
- E quem disse que eu quero papo, chatinho? - Ela sussurrou, cruzando os braços no pescoço do garoto, que deu um sorriso torto perfeitamente lindo, fazendo-a sorrir junto.
- Ah, vão pra um quarto! - null interrompeu, e tomou uma latinha vazia de Coca na cabeça.
- Quer parar de dar ideia? - null disse, enquanto null ria. null mordeu o lábio de null, rindo baixo, e a puxou para seu colo.
null olhou para o lado e viu que null abraçava as pernas, olhando para o nada. Sorriu brevemente, e chegou um pouco mais perto.
- O que foi? - Ele perguntou baixo.
- Nada. - A garota sussurrou, a voz quase inaudível.
- Ainda tá com medo dos trovões? - null perguntou.
- Não, eu tô com dor de cabeça.
- Medo dos raios? - Ele insistiu, fazendo-a rir.
- Dor de cabeça. - Ela repetiu.
Então o garoto, timidamente, passou o braço por trás de suas costas, fazendo com null apoiasse o rosto em seu pescoço. A respiração quente da menina fez com que ele se arrepiasse, e ela fechou os olhos ao sentir o perfume de null invadir seus pulmões.
- Medo dos trovões. - Ela riu baixo, e ele também.
- Sabia. - null disse rindo, apertando-a um pouco mais, numa tentativa muda de dizer que ele a protegeria. Ela entendeu o recado.

- Ah não, que saco, que chuva dos infernos! - null reclamou, enterrando o rosto numa almofada – Vamos fazer alguma coisa? Vamos? Diz que siiiiiim! - Ele chacoalhava null como uma criança de cinco anos.
null e null voltaram correndo da cozinha, com uma garrafa de tequila fechada, copinhos e pedaços cortados de limão. Os olhos dos demais brilharam, entre vários comentários.
- Essas são minhas garotas! Eu nem dou a ideia, elas já trazem pronta! - null riu.
- Isso só prova que nós garotas somos muito mais avançadas que vocês, queridinho... - null jogou beijo no ar, enquanto as meninas riam e os garotos reclamavam.
- Tá, então vamos encher a cara pra tirar o tédio e... - null ia pegar um copinho, mas null estapeou sua mão – Ei! Outch! - Ele reclamou, e ela riu.
- O que vocês acham de um pouco do clássico “Eu nunca...” - Ela disse maliciosa, enquanto os garotos riam.

[n/a: Sabem que brincadeira é essa? A pessoa fala algo que nunca fez na vida, e quem fez, tem que beber hihi (6)]

- Lembrei da festa da Cora! - null desatou a rir, assim como as garotas.
- Prefiro nem perguntar o motivo dessas risadas... - null disse fazendo uma careta, e null sentou ao seu lado.
- Melhor não perguntar mesmo. - Ela gargalhou – Ok, mas chega de falar de festas passadas, o que importa é o aqui e o agora! - A garota encheu calmamente cada um dos oito copinhos. - Prontos?
Todos concordaram rapidamente, cheios de olhares maliciosos e risadas.
- Eu começo! - null deu um pulo, fazendo null rir.
- Eu tenho a sensação de que a null curte esse joguinho...
- Quietinho, null! - Ela riu – Ok. Eu nunca colei nas provas de francês do colégio.
- Mentirosa! - null, null e null gritaram juntas, fazendo a garota gargalhar.
- Sou mesmo! Só queria ver se vocês estavam espertas! - null deu uma piscadinha – Bom, dessa vez é sério. Eu nunca peguei ninguém atrás da capela do colégio, acho pecado.
Todos riram do comentário da garota, e null arqueou uma sobrancelha, levantando o copo e bebendo. null gargalhou, fazendo o mesmo. Em seguida, null, null e null.
- Nossa, seus pecadores! Vocês vão pro inferno! - null disse e todos riram.
- Eu só acho um bom lugar, é seguro... - null deu de ombros.
- Não é como se fosse dentro da sacristia e... - null ia falando, quando todos o encararam, fazendo-o rir muito alto – Ei, eu nunca peguei ninguém dentro da sacristia!
Todos riram, mas ninguém bebeu mais. Nenhum deles havia chegado a esse ponto.
- Ufa, se alguém tivesse tentado reproduzir a espécie numa igreja, eu parava por aqui! - null riu – Tá, eu nunca dormi com uma pessoa na mesma noite que a conheci. - Ela arqueou a sobrancelha, rindo para os meninos, que levantaram os copos rapidamente, sem excessão.
- Não vale, você sabia que a gente ia ter que beber... - null reclamou.
- Cada um no seu quadrado, nullzinho! - Ela gargalhou.
- Beleza, se é assim, minha vez então! - Ele disse desafiador, fazendo null rir – Eu nunca tive um caso com nenhum professor.
Todos encararam null abruptamente. A garota arregalou os olhos, tentando abrir a boca para falar algo, mas não conseguiu emitir som algum.
- Tá maluco, null? Eu também nunca dormi com nenhum professor! - Ela despejou.
- Eu disse ter um caso. - Ele seguiu, rindo.
- Nem tive caso! - null rolou os olhos, impaciente – Você não devia acreditar em tudo o que ouve naquela merda de colégio, null! - A garota disse séria, fazendo null engolir seco.
- De-Desculpe. - Ele gaguejou.
- E para sua informação – Ela cruzou os braços – Estagiários de Educação Física não são professores. - null gargalhou, sorrindo vitoriosa da cara de pasmo do amigo. Todos começaram a rir, ainda um pouco assustados com a revelação repentina, e null se movimentou rapidamente, desconfortável. Rolou os olhos, e encarou a garrafa.
- Eu nunca peguei mais de seis garotas na mesma noite. - null disparou, e null deixou o queixo cair.
- E você acha isso pouco? - Ela perguntou, fazendo-o rir. Então olhou para o lado, e viu null e null levantando os copinhos – Puta merda! Quantas?
- Dez. - null disse, o rosto vermelho. Não que alguém fosse reparar no escuro quase completo.
- Doze. - null fez uma careta, e null franziu a testa.
- Insaciável, docinho? - Sussurrou perto de seu ouvido, fazendo o garoto rir baixo. - Quantidade não é qualidade.
- Esquece o passado – Ele respondeu no mesmo tom – Quem importa agora é você.
A garota sorriu largamente, sentindo um arrepio na espinha, quando null finalizou a frase com um beijo demorado em seu pescoço.
- Eu nunca peguei a Tess Baker!
null gritou do nada e os olhos, principalmente das garotas, arregalaram. null fez uma careta absurda, sentindo o rosto praticamente em chamas. Levantou o copinho, enquanto todos o encaravam.
- A TESS? - null e null gritaram em uníssono, enquanto null rolava de rir.
- Dude, eu vou te matar! - null apontava para null, que gargalhava também.
- null, meu amor, meu irmão, QUE NOJO! - null riu com as mãos na cabeça – Eu não acredito, null! Aquela garota é simplesmente NOJENTA!
- Ei, em minha defesa, eu tava MUITO CHAPADO!
- Aquela ali nem chapado... - null ria – Dude, a garota tem bigode!
- Mentira! Mentira! - null ficava cada vez mais irritado e envergonhado, enquanto todos riam dele.
- Claro que tem! - null disse, boquiaberta – null, amigo, só Deus pode te salvar. Ninguém merece! - Ela gargalhou, e todos começaram a sacanear o garoto, que não sabia onde enfiar a cara. Lembrou mentalmente de fuzilar null quando tudo aquilo acabasse. Ou algo mais dolorido.

O álcool entra, a verdade sai. Depois de umas brincadeirinhas sem sentido, muitas risadas e muita tequila, estavam todos consideravelmente bêbados, e a coisa começou a baixar o nível e esquentar.
- Eu nunca transei com duas pessoas ao mesmo tempo. - null disse, encarando firmemente null, que engoliu seco.
- Nem eu, pra mim é só a partir de três. - Ele gargalhou, deixando a menina sem resposta. Antes que alguém se manifestasse, virou mais um copinho.
null riu, e tentando levantar, caiu no colo de null, fazendo todos rirem.
- Jesus, eu estou muito bêbada! - Ela olhava para o nada, fazendo null e null gargalharem. - Eu nem queria ir ao banheiro mesmo... - Deu de ombros, rindo como uma louca.
- Eu tenho medo de você, null. - null disse, e a garota riu.
- Ah, você acostuma! - null se apressou em dizer.
- Ok, já que eu não consigo levantar... - A garota lançou um olhar malicioso - Eu nunca transei com ninguém que está aqui nessa roda, nessa viagem. - null sorriu com todos os dentes, fazendo com que null apertasse as unhas no braço de null, involuntariamente.
De repente, todos, sem exceção alguma, olhavam para ela e null. null movimentou os dedos, sinuosamente, até perto do copo. Sentiu null apertar sua cintura.
- Você quer me ver morto? - Ele sussurrou, a voz fraca de pânico em seu ouvido.
- Deixa de drama, não vai acontecer nada... - Ela riu baixo – Eu te protejo. - Respondeu no mesmo tom.
O garoto sorriu, mas ainda atordoado com a menção que null fazia em levantar o copo, começou a pensar em modos ágeis de correr dali caso null tentasse matá-lo. Nunca tivera medo do amigo, mas depois da reação dele quando soube dos dois, ficara com um pé atrás.
- Quer dizer que ninguém aqui transou com ninguém? - null continuou, rindo.
- null, lindinha... - null disse baixo – Eu acho que você bebeu demais... - Ele a encarou de perto, nervoso.
- Foi só uma pergunta, ué. - Ela fez bico.
- Qual é, não vai levantar esse copo? - null levantou o olhar, que estava fixo na mão da irmã, e a encarou – Eu fecho os olhos pra ficar menos constrangedor. - Ele riu, estava bêbado, mas parecia ser sincero. null e null se entreolharam, rindo, e viraram os copinhos. - Eu vi isso!
null disse, fazendo uma careta.
- Você trapaceou, disse que ia fechar os olhos e... - null dizia, divertida, quando algo que simplesmente ninguém esperava, aconteceu.
null e null trocaram um longo olhar cúmplice, e em seguida, em perfeita sincronia, viraram seus copinhos de tequila, dando uma risada alta no final.
- O que... O que... Vocês...? - null estava com os olhos arregalados, fazendo null rir muito mais.
- Meu queixo acabou de abrir uma cratera no chão. - null disse, jogando o corpo pra trás, totalmente pasma.
- Ok, vocês estão brincando, né? - null disse, olhando para null, que negou com a cabeça.
Quando todos começaram a falar ao mesmo tempo, bombardeando-os com perguntas, null teve um acesso de riso ainda pior, o que fez null rir.
- CALA A BOCA TODO MUNDO! - null berrou – Nós bebemos porque é verdade.
- E vocês estão esperando o que pra contar essa história pra gente? - null deu um pulo, fazendo as garotas rirem.
- null, amor, prenda o gay aí dentro, tudo bem que já passou da meia noite e...
- null null, foco por favor! - null berrou.
- Tá, tá, não posso nem mais terminar uma piadinha...- Ela fez bico – Vai lá null, conta pra eles!
Ela deu um tapinha nas costas de null, que abriu a boca indignado.
- Por que eu?
- Porque a culpa é toda sua. - Ela riu e ele também.
- Tá, tá.

null's P.O.V ON
Flashback.

Eu acho que a maioria de vocês sabem que eu sempre tive uma queda pela null. Isso nunca foi novidade pra ninguém, muito menos pra ela. Sempre achei que ela queria alguma coisa, mas nunca tive coragem de perguntar, afinal, ela sempre estava ocupada demais com os casos lamentáveis dela...

- Ei! Olha como fala dos...
- CALA A BOCA null! - Todos gritaram.
- Ignorantes. - Ela rolou os olhos, fazendo null rir.

Continuando... A gente sempre se deu bem, mas nunca achei que pudesse rolar mais nada. Semana passada, depois que o null e a null foram pegos no flagra, e aquela confusão toda, a gente ficou conversando de madrugada na piscina, falando disso. Conversa vai, conversa vem, resolvemos rachar uma garrafinha de Smirnoff Ice, nada demais, rachamos mais duas depois disso. Então eu me aproveitei do fato de que eu estava completamente lúcido, mas podia alegar que estava bêbado, e resolvi levar a conversa pro lado mais... pessoal.
- null... Você já pensou em ficar com algum de nós? - Perguntei, e ela me encarou, a testa franzida.
- Com um dos garotos daqui?
- Ou com as garotas... - Ri, sentindo as mãos suarem.
Ela deu uma risada alta, tomando um gole da garrafa.
- Essas eu peguei, não tem mais graça. - Disse, séria, e eu gargalhei. - Tá, falando sério... Não sei, acho que nunca parei pra pensar nisso.
- Acabei de dar a oportunidade pra você pensar pela primeira vez. - Sorri da maneira mais sedutora que consegui.
- Por que você não diz primeiro quem de nós você pegaria, enquanto eu penso? - Ela sorriu, duas vezes mais maliciosa. Droga.
- Hummm... - Fingi pensar muito na hipótese, enquanto ela mantinha os olhos fixos em meu rosto.
- Você. - Respondi firmemente.
Os olhos de null arregalaram.
- Eu? - Sua voz saiu baixa. Assenti com a cabeça.
Encarei apreensivo, esperando qualquer reação. Se ela não gostasse, eu fingiria não lembrar de nada no dia seguinte. Então ela abriu um sorriso enorme e lindo, e eu sorri sem nem saber porque.
- Boa escolha, null. Porque eu já tinha escolhido você.

null's P.O.V OFF.

- Ownnnn! - As garotas disseram juntas, enquanto os meninos riam.
- Isso foi absurdamente fofo! - null sorriu. - Vocês são uns gostosinhos e eu vou mordê-los. - Disse, depois fez uma careta – Tá, isso soou meio estranho.
- Ok, a parte gay da história já foi contada, mas quando é que vocês... - null perguntou, e null o interrompeu.
- Ontem. - Ela disse, envergonhada.
- Onde? Que horas? Como que ninguém viu? Como ninguém ouviu? - null disparou em perguntas, e todos riram.
- Respira, null. - null disse, e a garota mostrou o dedo do meio.
- Ontem quando a gente sumiu da balada, não lembro que horas eram, no meu quarto e CHEGA! - null escondeu o rosto, e null a abraçou de lado, rindo.
- Vocês estão juntos? - null perguntou.
- Estamos? - null perguntou, sorrindo meio idiota.
- Por mim, estamos. - null sorriu de volta.
- Então estamos. - Ela riu, e as garotas começaram a emitir sons graciosos enquanto os meninos riam.
- Muita informação. - null arregalou os olhos, fazendo null rir – Preciso da minha cama.
Ela levantou, cambaleando, e segurou a cabeça. null levantou num pulo.
- Eu te ajudo. - Disse baixo, e a garota sorriu, aceitando.
- Quem diria... - null disse baixo, rindo – Meu irmão do lado da null, o null ajudando a null, a null e o null juntos... - Ela sorriu, sem terminar a frase.
- Tudo culpa nossa. - null riu, mordendo o ombro da garota.
- Tá parando de chover... - null disse aleatoriamente.
- Acabou a tequila. - null virou a garrafa, com cara feia.
- Eu to morrendo de fome e não tem comida. - null fez bico, e null riu.
- Padaria 24 horas? - Ele sorriu de canto, e a garota riu.
- Só se for agora!

- Eu quero levar essa padaria comigo pra Londres! - null disse, voltando para o carro que tinham alugado. null riu.
- Eba, vou ganhar pães de graça! - A garota riu, andando rápido sob a garoa fina.
- Quem disse? Pra você é mais caro! - null mostrou a língua, depois riu da cara de indignada de null.
- Que absurdo! Vou comprar a padaria antes de você, e não deixar que você pise nem na minha calçada! - Ela fez bico, e null riu, abraçando-a pela cintura, fazendo com que tirasse um pouco os pés do chão. - Não quero papo com você.
- E quem disse que eu quero papo, docinho? - Ele sussurrou, fazendo a garota rir alto.
- Pare de roubar minhas frases! - Ela disse baixo, sentindo alguns beijos em seu pescoço. - Sabe o que eu quero levar pra Londres comigo?
- O que? - null encostou a testa na dela, sorrindo.
- Você. - null deu uma piscadinha, e null riu.
- Mas eu já ia pra Londres de qualquer forma...
- Argh, null! Estragou toda a magia da minha cantada! - null disse, e os dois gargalharam.
- Eu só fui realista.
- Insuportável.
- Chatinha.
- Cala a boca, por favor?
null riu, mordendo o lábio de null, e sentindo que ele a prensava contra a porta do carro. Passou a língua devagar em seus lábios, e ela não hesitou em dar passagem para que todos aqueles sentimentos estranhamente bons a entorpecessem. Bagunçou os cabelos úmidos de null, enquanto ele apertava sua cintura e subia a barra de sua blusa sutilmente.
- Acho melhor a gente sair daqui... - null respirou fundo, e null riu.
- Concordo.
null sempre se via pensando no poder que aquela garota exercia sobre ele. Chegava a ser ridículo, ele não conseguia controlar os próprios atos quando estava perto dela. Bastava um toque, um beijo, e o mundo parecia resumir-se a uma só pessoa: null. Sempre ela, por todos os lados e por todos os cantos.

- They love to tell you "stay inside the lines", but something's better on the other side...
null cantava baixo enquanto batucava nas pernas. null achava aquilo simplesmente adorável, sorriu sem tirar os olhos da estrada, a visibilidade estava horrível. Não era nem de longe a melhor cantora, mas sua voz já o fazia sorrir. Ela o encarou, percebendo que sorria. Os dois riram, e continuaram cantando, juntos.
- I want to run through the halls of my high school, I want to scream at the top of my lungs!
- I just found out there's no such thing as the real world, just a lie you've got to rise above!
Começaram a rir, ao perceber que estavam cantando alto demais.
- Nossa, seu agudo foi ótimo, quase acreditei que o John Mayer estava do meu lado... - null riu, fazendo o garoto corar.
- Quem é esse cara? John Mayer não é nada perto de null null! - Disse, presunçoso, e a garota teve um ataque de riso.
- Esqueceu a humildade em casa, né?
- Nada, eu sou super modes...
O carro parou de andar. A chuva caía mais forte do lado de fora, e estavam passando por uma rua coberta de lama.
- Merda. - Disseram juntos, mas suprimiram a vontade de rir.
- Perfeito, sem sinal... - null mostrou o visor do celular, e null fez uma careta. - Sai daí...
null soltou o cinto, fazendo sinais para null, que a encarou de sobrancelha erguida.
- Ahn? - Ele riu.
- Vai empurrar o carro, null. Eu dou partida. - Disse, numa voz tediosa.
Então null começou a rir, chacoalhando a cabeça.
- Tá bom, já tô lá nessa puta chuva empurrando o carro só porque você quer. - Disse, ainda rindo.
- Mas que saco, null! Você é um homem ou um rato? Vai querer que eu empurre? - A garota disse, um pouco irritada, e null parou de rir.
- Você tá gritando porque? - Ele mudou de expressão, parecia repentinamente nervoso – Então eu tenho que enfrentar essa chuva só porque a patricinha não pode esperar um pouco dentro da porra do carro? - Dessa vez ele quem gritou.
- Patricinha? Não querer ficar parada no meio do nada com o carro atolado nessa puta chuva é ser PATRICINHA? - null passou a mão pelos cabelos, indignada – Tá bom, null, tá bom. Você não quer empurrar, foda-se. Eu empurro.
null disse decidida, alcançando a maçaneta para abrir o carro. null chacoalhou a cabeça, numa risada cínica, e segurou-a pelo pulso.
- Pára de ser ridícula, como se você fosse mesmo conseguir empurrar um carro! - Ele falou com desdém.
- Eu vou fingir que não ouvi isso, null. - null bufou – E eu só vou empurrar esse carro, porque não tem um HOMEM aqui dentro que faça isso por mim!
- Eu vou mostrar pra você se tem homem ou não aqui... - Ele disse, destravando a porta.
null deu um pulo, passando a perna e o braço por cima dele, batendo a porta com força.
- Eu não preciso mais da sua ajuda! Eu não quero mais que você empurre essa merda de carro, EU vou fazer isso! - Ela gritou, tentando voltar para seu banco, e assim, sair.
- Você não vai a lugar nenhum! - null a segurou pela cintura, puxando-a pra trás.
null caiu em seu colo, com rosto quase colado no seu, as pernas prensadas nas suas. A respiração pesada da garota começou a falhar perto de seu rosto, e num impulso, ele a segurou pelas costas e apertou seu corpo contra o dela, como se pudesse fundi-los num só. Sem pedir permissão alguma, colou a boca na dela, num beijo voraz, rápido, mal conseguia respirar. null arranhava insistentemente sua nuca, enquanto suas mãos passeavam por baixo da camiseta que ela vestia. Ela mordeu o lábio de null, fazendo com que um gemido escapasse.
- Tentando me mostrar que é um homem? - A voz dela saía falha e abafada, enquanto distribuía beijos e mordidas no pescoço do garoto.
- Não... - Ele disse, fechando os olhos e sentindo arrepios que percorriam toda a extensão de seu corpo, enquanto null mordiscava sua orelha – Isso você já sabe. - Ele apertou sua cintura com força, puxando a regata de null para cima.
- Então o que você quer provar? - Ela sussurrou, encarando-o com a luz mínima que vinha do lado de fora. null sorriu de lado, o sorriso preferido da garota. null mordeu o lábio, também sorrindo.
- Eu vou provar que eu sou seu.
Ele disse, e null sentiu que se o mundo acabasse ali, ela morreria indescritivelmente feliz. Não teve tempo de responder muita coisa, null a calou num beijo calmo, porém quente, que faria qualquer uma enlouquecer. null desabotoou rapidamente os botões da camisa que ele vestia, sem separar o beijo, que acelerava cada vez mais o ritmo. Assim que a camisa tomou um rumo desconhecido por ambos, null começou a beijar a barriga nua de null, subindo devagar até próximo ao sutiã dela, soltando-o sem dificuldade. null o encarou, soltando um pouco o peso nos joelhos, enquanto desabotoava a bermuda que null vestia. Ela fez uma careta, e os dois riram percebendo que tirar aquela bermuda seria quase uma operação impossível.
- Banco de trás?
null sugeriu, e os dois foram pra lá em poucos segundos, enquanto null já se desfazia da bermuda, com a embalagem do preservativo em mãos. null ficou por cima, beijando seu peitoral bem definido, sentindo a excitação bastante evidente embaixo das boxers de null. Ele apressou em tirar o short que ela vestia, e em poucos minutos, as únicas peças de roupas que faltavam, tinham ido parar no chão. null mordeu o lábio, investindo devagar e colando a testa na da garota. Os dois estavam ofegantes, as respirações misturadas, e conforme o ritmo aumentava, deixavam escapar alguns gemidos altos demais, e vez ou outra, null sussurrava seu nome, o que para null, era a coisa mais excitante do mundo.
- null... - Ela sussurrou, e ele sorriu, olhando-a fixamente.
- O que? - Sua voz saiu baixa e rouca.
- Me diz que você é meu... - Ela apertou as unhas em suas costas, com força, enquanto mordia o lábio.
- Eu sou seu. - null disse baixo, mas com um olhar intenso no dela. Ela sorriu.
- Diz do jeito que eu quero ouvir.
null sorriu largamente, apertando-a ainda mais contra si.
- Eu sou seu, docinho.

Capítulo 14: She's slipping away

null's P.O.V mode ON

- Você não vai pra lugar nenhum vestida assim! - null quase gritou, e eu bufei, tentando me controlar ao máximo para não voar em seu pescoço e matá-lo estrangulado.
- Quem diabos você pensa que é pra falar assim comigo, null? - Gritei – Eu vou vestida com a roupa que EU quiser!
- Não vai porra nenhuma! Você é minha namo...
null parou de berrar no meio da frase.
E de repente um silêncio cortante tomou conta do quarto.
Eu poderia ouvir uma agulha caindo no chão, tenha certeza disso.
- Você não vai assim. - Ele gaguejou.
- O que você disse?
- Que você não vai assim. - Ele coçou a nuca, desconfortável. - Foi isso que eu disse.
- O que você disse ANTES, null?
Então a porta abriu, e null colocou a cabeça para dentro, assustado.
- Vocês estão brigando? - Ele perguntou inocentemente. Bufei.
- Se manda daqui, null. - null disse sem olhá-lo. Então eu me virei para a porta.
- null, o que há de errado com esse vestido? - Perguntei repentinamente e ouvi o riso sarcástico de null.
- Você não tá fazendo isso... - Ele murmurou.
- Cala a boca, docinho. - Olhei de soslaio, nervosa. null pareceu querer sair correndo dali.
- Na-nada. - Ele gaguejou.
- Você pode melhor do que isso, null. - Incentivei – Estou feia?
- Ei, eu nunca disse que você estava... - null interrompeu, mas eu logo gritei.
- EU NÃO ESTOU FALANDO COM VOCÊ! - Respirei fundo. - null.
- Claro que não, null. Você está muito bonita... - null dizia sem graça, pelo olhar de null sobre ele. Continuei o encarando, esperando que continuasse.
- Vai, null. Fala! - null se intrometeu – Pode falar que ela tá gostosa pra caralho! É o que todos os bêbados daquela porra de boate vão dizer mesmo!
Respirei fundo.
- null, sai. - Dessa vez eu quem disse. Ouvi a porta encostar – Você não confia em mim? - Perguntei repentinamente, e null me encarou nos olhos.
- O quê?
- Você não confia em mim, null? - Repeti, e ele gaguejou.
- Não é isso, é só que...
- É só que você não confia em mim. - Continuei, sentindo meu coração apertar – Porque se confiasse, não se importaria com o tamanho do meu vestido. Em momento algum eu reclamei do seu excesso de perfume que vai fazer todas as francesas virarem a cabeça pra te olhar, reclamei? - Gritei.
- O que há de errado com o meu perfume? - null berrou.
- O que há de errado com VOCÊ? - Gritei de volta – Quer saber, eu não quero mais sair com você. Eu vou sair com as minhas amigas!
- Ótimo, é um favor que você me faz! - null me encarou, sarcástico – Agora toma cuidado pra não se arrepender disso, docinho. - Ele sussurrou perto de meu ouvido – As francesas podem realmente gostar do meu perfume.
- Que morram asfixiadas! Todas elas. - Ri, sarcástica – E que levem você junto. Babaca.
Peguei minha bolsa e abri a porta.
- Insuportável... - null murmurou e eu bati a porta, o deixando sozinho com a merda da insegurança dele.
E com o inferno daquele perfume delicioso que ele estava usando.
Que morresse por asfixia de 212 MEN. Eu realmente não estou ligando.

- Vocês são tão idiotas que me dá até vontade de rir! - null disse, de fato rindo da minha desgraça, enquanto bebia seu Martíni. Virei uma tequila de vez, enquanto null sentava ao meu lado.
- Fala sério, null. Acho até bonitinho esse ciúme do null. - null sorriu – Isso prova que ele gosta de você.
- Isso prova que ele é um babaca inseguro que não confia na própria namo... - Parei no meio da frase, assim como null tinha feito antes. Aquela briga idiota tinha me feito esquecer dessa parte. As três me encaravam, com os olhos arregalados.
- Vocês estão namorando? - null perguntou interessada, e eu olhei para baixo.
- Não. Não que eu saiba... Isso foi modo de dizer, que saco! - Respondi e null arqueou uma sobrancelha.
- Calminha, gata! Não tá mais aqui quem falou!
Suspirei.
- Desculpa, amiga. Estou meio estressada, não devia ter descontado em você.
Disse rapidamente, antes que ela viesse com sentimentalismos pro meu lado. Se null fosse homem, com certeza seria gay. Então um cara realmente bonito sentou ao meu lado no balcão. Ele parecia um modelo de cuecas da Calvin Klein ou algo do tipo, e o amigo dele também. null se ajeitou na cadeira, o que me deu uma vontade leve de rir.
- Duas cervejas. - O loiro disse com sua voz ainda mais sexy, e null olhava para ele descaradamente.
O barman colocou as cervejas na frente dos dois, e quando aquele que estava ao meu lado foi pegar a sua, esbarrou em mim.
- Desculpe. - Ele abriu um enorme sorriso – Tequila essa hora? Alguém não vai chegar andando em casa hoje... - Ele riu me olhando, e eu tive que acompanhar. Qual é, o cara era realmente gatíssimo.
- Não estou me importando muito em não chegar em casa hoje. - Ri, e null me encarou de sobrancelha erguida. Merda. Não é que isso tinha parecido uma cantada?
- Isso é bom. - Ele riu – Ei, estamos indo para uma festa no cais, estão afim de vir junto? Garanto que hoje você não chega em casa, linda!
Olhei para as meninas. Olhei para o par de olhos âmbar em minha frente.
Imagine-o de cueca Calvin Klein.
Confesso que imaginei também que estivesse sem ela.
E então minha mente se desvencilhou dele e parou em null. Que tinha agido como um perfeito idiota há menos de duas horas atrás, mas que ainda assim era meu namo-eu-não-consigo-terminar-a-frase.
E inevitavelmente lembrei do seu 212.
E das francesas saidinhas que iriam oferecer um ombro amigo caso ele estivesse deprimido por minha causa. Ou pior! Que iriam aceitar uma festinha particular porque ele está puto com sua namo-ou-sei-lá-o-quê e vai querer se vingar.
Merda. Mil vezes merda.
- Gata? - Ouvi a voz de tele-sex do rapaz e acordei.
- Desculpe. Eu só estava lembrando de... Alguém. Eu preciso ir.
- Que? Mas eu pensei que...
- Deixa ela ir, meu filho! Ela precisa resolver as coisas dela! - null disse do nada e null riu – Aliás, null, vou com você. Não estou muito contente com meu gostosinho solto na pista com o seu docinho irritado.
Dessa vez eu ri de verdade.
- Ei, essa festa parece interessante! - null sorriu para um dos garotos.
É. Ela e null estavam perdidas com os saradões CK.
Pobre do null e do meu irmão. Não que eles tenham nada, mas...

O lado de fora da boate estava lotado, sorte que null, esperta como sempre, tinha carregado as pulseirinhas do camarote que null havia deixado com ela. Devo anotar que esses dois começarão a namorar em breve, quase certeza. O lado de dentro parecia duas vezes mais cheio que o de fora, como se isso fosse sequer possível. Tomei uns esbarrões na pista, xinguei umas duas ou três biscates que pisaram no meu pé e quase enfiei a mão na cara de um ser humano que devia ter mais de 95% de álcool no sangue e que queria saber se rolava um sentimento. Há, puta merda! null foi me puxando pela mão, e finalmente chegamos no andar de cima, no camarote. Estava bem mais tranquilo, mas ainda assim cheio. Não consegui avistar nenhum dos garotos de primeira.
- Eles devem estar perto do bar! - null gritou, devido à música altíssima, e apontou para a extremidade oposta de onde estávamos. Maldito seja esse meu salto agulha nessas horas, que preguiça de viver.
null chegou até nós, visivelmente bêbado. Já iria fazer piada do modo engraçado com que ele estava andando, quando olhei por sobre seu ombro. E quase tive um treco.
As pessoas transformaram-se em vultos, a música ficava mais longe.
Tudo o que meus olhos se prestavam a enxergar nitidamente era alguém chamado null null. Alguém esse que estava com uma loira pendurada no pescoço, quase caindo em cima do sofá vermelho da boate. Senti meu estômago revirar, paralisei cada músculo ao ver a garota pressionar a boca contra a dele, puxando-o pra baixo.
E então uma lágrima escorreu.

- null, volta aqui! - Ouvi o grito de null, não tinha a menor noção de onde ele tinha surgido.
- Me deixa em paz, null! - Gritei de volta, me aproximando das escadas do camarote. Estava fazendo um esforço enorme para segurar as lágrimas que queriam cair a todo custo.
Então null segurou meu braço.
- Não é o que você está pensando, null, ele...
- CALA A BOCA! - Berrei, e mesmo com o som absurdamente alto, as pessoas ao redor me ouviram – Eu não quero saber de nada, de NADA! Não venha defender seu amiguinho, null! Isso é ridículo!
Corri escadaria abaixo, ouvindo xingamentos de todos aqueles que quase atropelei.
E então, null null se ferra de novo. Isso não costumava doer tanto, não como agora. Parecia que havia alguém apertando meu coração pelo meio, com tanta força que fazia com que minha respiração falhasse. Eu estava enjoada. Não conseguia sequer distinguir uma emoção no meio de todas aquelas. Raiva, tristeza... Decepção.

– Eu posso realmente ter feito Londres inteira sofrer, e eu admito isso! Mas eu nunca faria isso com ela, null! E se um dia eu fizer, vou ser eu quem vai pedir pra você me bater, porque eu vou ter perdido a única que eu realmente quis!

As palavras de null eram como uma faca. Eu realmente tinha confiado nele. Eu tinha achado que conosco poderia ser tudo diferente. Mas eu estava enganada, aliás, como sempre. Eu e meu dedo podre terrível para homens! null null, o pegador de Londres... Isso nunca iria mudar, só se fosse na minha cabeça!
- Idiota, idiota! - Murmurei para mim mesma, sentindo a brisa leve do lado de fora do local. Deixei que as lágrimas finalmente escorressem, contendo meus próprios pulsos para que não batesse em mim mesma. Eu merecia. Eu não devia confiar nele, nunca!
- null! null!
Respirei fundo, sentindo um ódio súbito percorrer minhas veias ao ouvir a voz dele. Mas nem tive o trabalho de virar para trás, continuei andando, como se tivesse um Ipod imaginário no último volume em meu ouvido.
- null! - Dessa vez o grito foi mais alto, e eu senti sua mão segurar meu braço.
Não fui delicada. Puxei o braço com força e virei de frente para ele. Seu rosto estava a milímetros do meu. Respirei fundo, mas não senti mais o aroma delicioso de seu perfume. Ele cheirava a perfume barato de francesas vadias, com toda certeza. Não o encarei nos olhos.
- Esquece que eu existo, null! Simplesmente esqueça!
Gritei, categoricamente, mas não consegui virar para ir embora, porque ele me segurou de novo.
- null, me escuta, eu não fiz absolutamente NADA! - Sua voz estava firme, contrastando com seu rosto de filhotinho de cachorro caído da mudança. Eu ODIAVA aquela carinha. Porque eu amava quando ele fazia aquilo. E dane-se minhas bipolaridades.
Ri, sarcástica.
- Não adianta você me olhar assim, null! Nada que você disser vai apagar o que eu vi! EU VI, null! - Senti uma maldita lágrima quente percorrer meu rosto. null aproximou sua mão para enxugá-la, mas eu virei abruptamente – Não. Toca. Em. Mim. - Respirei fundo - Acabou, null. O que quer que seja isso que nós temos... Acabou.
- null, dá pra você me ouvir? Não aconteceu nada, você entendeu tudo errado, deixa eu explicar! - null corria atrás de mim, enquanto eu fazia sinal para o táxi.
O veículo parou rapidamente ao meu lado, e eu olhei para null. Seus olhos estavam vermelhos, e por um momento, isso cortou (mais) meu coração. Mas desviei o olhar, batendo a porta.
- Eu disse que está acabado, docinho.

null's P.O.V mode ON

Deixei a merda de uma lágrima escapar, assim, no meio da rua. O táxi saiu em disparada e tudo que eu conseguia pensar era O QUANTO ELA ESTAVA SENDO IDIOTA. E o pior de tudo: Ao menos dessa vez, eu estava limpo. Eu não tinha feito absolutamente nada.

Alguns minutos antes...

- Dude, o null tá muito louco! - null chegou cambaleando, com uma garota do lado, e eu e null gargalhamos.
- Você também está! - Disse rindo, enquanto tomava um gole da minha cerveja.
Verdade era que não null não saía da minha cabeça. Nós éramos imensamente idiotas, isso é bem verdade. Nossas brigas quase nunca faziam sentido... Tudo bem, elas nunca faziam sentido. E eu... Bem, eu não queria que ficássemos brigados. Tá, eu sei que eu ando cada dia mais gay. E mais babaca também, porque o vestido dela nem estava tão curto assim.
- Ei, gatinhos... Podemos sentar aqui com vocês? - Ouvi uma voz que me tirou do transe. Duas morenas realmente bonitas estavam em pé em nossa frente. null me encarou, apreensivo. Não dispensaríamos isso por nada, mas agora era diferente... Ele tinha a null. E eu tinha uma certa pessoa que estava em outro lugar com seu vestido quase-curto que a deixava gostosíssima e linda como sempre.
- Erm, podem sentar, a gente tem que... Procurar nossos amigos, né null? - null arqueou sua sobrancelha e eu assenti, deixando as garotas confusas.
Quando se vai para uma balada tentando ser fiel a alguém, o que resta é encher a cara. Porque convenhamos, garotas podem até ir em boates só pra dançar, mas essa nunca é nossa intenção. Era inevitável olhar para todas aquelas francesas, ainda mais com algumas delas lançando olhares pervertidos pra cima de mim. Uma loira, em particular, me chamou a atenção. Ela estava sozinha e ria feito louca (sozinha), com uma garrafa de cerveja na mão. Quando tentou dar alguns passos para o meio da pista, quase caiu, o que a fez rir ainda mais. Sorri de lado, ela era realmente engraçada. Então ela abriu seus enormes olhos azuis pra mim, e com cara de espanto, veio saltitando e/ou trocando as pernas até onde eu estava.
- JOOOOOOOOOOOOOOOOOSH, QUE SAUDADE! - A loirinha gritou, e eu comecei a rir, assim como null e null, que chegaram por ali. Ela jogou os braços ao redor do meu pescoço para me abraçar.
- Erm... Meu nome não é Josh! - Disse, e ela afastou o corpo um pouco, me encarando em dúvida. Depois teve mais um ataque de riso.
- Ah, para com isso Josh! Eu posso ter bebido um pouco, mas eu reconheceria você em qualquer lugar! - Ela disse e dessa vez quem riu fui eu. Garota louca!
- Acho que você bebeu demais... - Disse, pegando a garrafa vazia de sua mão, enquanto null ria.
- Josh nem apresenta as amigas... - null disse e null gargalhou.
- AHÁ, tá vendo? Ele disse que você é o Josh! Josh, que saudade, Josh! - A loira pulava em minha frente e eu xinguei baixo, só pra que null ouvisse e risse ainda mais.
- Acho que ela gosta do seu nome, Josh. - Dessa vez a brincadeira partiu de null. - Qual seu nome, amiga do nosso camarada Josh?
Ela sorriu.
- Charlotte! Mas pode me chamar de Hannah, prazer gatão!
Charlotte? Hannah? Essa aí tinha ingerido muito mais que álcool, vá escrevendo.
- Cara, vou confessar um negócio pra vocês... - A menina encostou no balcão – To muito doida! Tonta, tonta, tonta...
- Realmente ninguém tinha reparado ainda... - null disse e eu ri.
- Josh, me ajuda? Preciso deitar antes que eu desmaie!
Os olhos de null arregalaram. Tudo bem, por essa eu não esperava, muito menos ele. Vi um sofá com apenas uma garota sentada, e fiz sinal com a cabeça pra ele, que entendeu o recado, correndo até lá. Passei o braço de Charlotte/Hannah em meu ombro e null abriu caminho em minha frente, mas sumiu na metade dele, parando no meio de uma rodinha de garotas. Bufei, e continuei andando. A menina não falava coisa com coisa, e eu comecei a achar que ela precisava mais de um médico do que de um sofá, mas não acho que morreria, então faria o menos complicado. Coloquei-a sentada, mas Charlotte ficava me puxando, ainda rindo e falando coisas sem sentido.
- Ah, Josh, obrigada por me ajudar! Minha vida não seria nada sem você! - Ela disse, os olhos marejados, e puxou meu pescoço, me pegando de surpresa num beijo rápido. Tudo o que eu consegui fazer foi soltar seus braços, e ela caiu para trás, rindo e já conversando com uma garota que estava ali por perto.

- null! null! - Ouvi a voz de null e olhei para o lado.
Não faço ideia de quanto tempo fiquei parado na calçada, olhando para o nada. Quem me visse, devia achar que eu tinha fumado um, ou que estava em estado de choque.
- Cadê a null, dude? - Ele perguntou.
- Ela... Ela terminou comigo. - Respondi, ainda olhando para o nada, e null pulou em minha frente.
- O QUÊ?
Seu grito ecoou em meu ouvido, e eu dei um pulo. Devia mesmo estar em estado de choque, deve ser mais ou menos assim que as pessoas se sentem.
- POR QUÊ?
- Para de gritar, caralho! - Dessa vez eu quase berrei – Porque você acha? Por causa da idiota do Josh, lá! Ela viu, e entendeu tudo errado!
- E você tá fazendo o que aqui parado? Vai logo atrás dela!
Ouvi a voz de null, não tinha reparado que ela estava por ali. Em um segundo a garota tinha parado um táxi.
- Anda logo, null. - Ela disse, impaciente, e eu tentei sorrir.
- Obrigado.
Quando cheguei em casa, a sala estava completamente escura. Respirei fundo e corri escadaria acima, indo direto até o quarto de null. Mas a porta estava trancada.
- null? - Bati na porta – null, abre essa porta, a gente precisa conversar!
- Ela não quer falar com você, null. - null apareceu no corredor e eu dei um pulo de susto. Sei que ela teria rido, se não tivesse um olhar um tanto demoníaco, nunca vira null assim.
- null, ela entendeu tudo errado, eu preciso conversar com ela! - Falei o mais docemente possível, null sempre fora a mais simpática das garotas comigo, na época em que todas nos pseudo-odiavam.
Mas seu olhar ainda era severo demais. Ela realmente estava convencida de que eu tinha feito o que null provavelmente tinha dito a ela. Mas que inferno! Nem me ouve e já sai falando merda por aí!
- null, não. Não vai conseguir resolver nada agora, sinceramente. - Pra minha surpresa, a voz de null era calma – Você está encrencado, amiguinho. É bom que saiba disso. - Antes que eu abrisse a boca pra retrucar, ela bateu na porta.
- null, voltei, abre aqui pra mim... - Nenhuma resposta – Amiga, ele não vai entrar, eu prometo! - Dessa vez null me encarou, e por seu olhar entendi que ela queria que eu ficasse longe.
Pobre iludida.
Ouvi o barulho da chave, e null ainda esperou um minuto me encarando, até alcançar a maçaneta.
- Aqui fora, null.
Não respondi nada. Quando ela abriu a porta, vi null de costas, com o rosto enfiado nos travesseiros. Ela já vestia um pijama. Antes que eu me movesse, null levantou a cabeça e olhou para a porta (provavelmente imaginando que null já tinha entrado e a encostado) e se assustou ao me ver. Seu rosto estava vermelho e molhado. Merda! As coisas estavam piores do que eu pensava.
- null, eu... - Entrei no quarto, quase atropelando null, e null pegou imediatamente uma almofada, tacando em minha direção.
- SAI DAQUI! - Ela gritou, e quando desviei, percebi que ficou irritada – null, TIRA ELE DAQUI!
- null, eu te falei que era pra você esperar, mas que inferno! - null gritou e sussurrou ao mesmo tempo. Não tenho a mínima ideia de como ela conseguiu fazer isso. - Vai, sai daqui!
- null, mas que merda, você vai ter que me ouvir alguma hora! Dá pra parar de ser criança? - Gritei, e null enxugou o rosto com a mão, depois deu alguns passos pra perto de mim.
- Eu vou parar de ser criança no dia que você aprender a tratar uma mulher como ela merece, tudo bem pra você? - Ela me encarou, e fiz um esforço imenso para não mandar que calasse a boca. Sério, ela estava insuportavelmente sem razão, e aquilo estava me irritando.
- Não diga que eu não te tratei como uma mulher de verdade, porque você estará mentindo, docinho... - Disse, sarcástico, a segurando pelo braço. Nossos rostos estavam próximos demais, e eu já sentia meu corpo me empurrar inconscientemente pra perto do dela. null respirou fundo, fechando os olhos.
E então sua reação foi totalmente inesperada. Ela simplesmente deu um tapa na minha cara!
- Eu disse que ACABOU, null! Sai do meu quarto, ESQUECE que eu existo! - Gritou, se jogando de volta na cama, e eu segurei o rosto, contando até dez. Agora ela tinha passado dos limites! Aliás, estava tão longe do limite, que nem estava mais VENDO o limite!
- Você vai se arrepender de ter feito isso, garota! - Disse, rude, e passei como um furacão por null, batendo a porta com tanta força que o barulho ecoou na casa inteira.

Minha cabeça ia explodir, eu tinha certeza. Meu corpo doía, eu não tinha pregado os olhos a noite inteira. Estava com tanta raiva que era capaz de invadir o quarto de null para bater nela, se ela não fosse uma garota. Mas com o tempo eu fui respirando, e comecei a me acalmar – Eu tinha que fazer alguma coisa, ela tinha que saber a verdade, e quando visse que estava errada, ela quem teria que se desculpar. Porque convenhamos, vou me desculpar porque? Eu só queria apagar aquela porra de episódio da minha vida! Estava dando tudo tão certo antes, que chegava a ser estranho. Eu, null null, também conhecido como o pegador de Londres, estava finalmente me envolvendo por alguém. Ah, quem eu quero enganar? Eu já estava mais do que envolvido... Eu estava... Ah, que merda! Tentei parar de pensar em qualquer assunto que envolvesse null null e tomei um banho gelado. Coloquei uma bermuda e uma camiseta, e desci as escadas. null estava jogada no sofá, com as roupas que tinha saído para a balada, parecendo exausta. É, pelo menos para alguém a noite tinha sido boa. Quando cheguei na cozinha, dei de cara com null, null, null e... É, a null. Todos pareceram ficar incomodados quando me viram, especialmente quando null olhou pra mim.
- Que cara de merda, null. - null disse do nada e eu o xinguei por dentro. Sempre com seus comentários super inconvenientes. Será que ninguém tinha dito nada?
Não respondi, sentei ao lado de null, exatamente de frente para null na mesa. Ela desviou o olhar quando eu a encarei, e null pareceu confuso.
- O que houve com vocês dois? - Ele, como eu imaginava, perguntou. Alguém devia ensinar null a manter a merda da boca dele CALADA.
- Porque você não come seu bolo e fica quieto, null? - null respondeu, quase lendo meus pensamentos.
O silêncio na mesa foi cortante durante uns cinco minutos. Eu tinha que fazer alguma coisa.
- null, passa o requeijão? - Merda, null, alguma coisa menos estúpida, por favor?
Ela levantou o olhar, depois chacoalhou a cabeça, como se estivesse indignada.
- Até onde eu sei você tem as duas mãos em perfeito estado, null. - Ela sorriu, cínica, e eu senti o sangue correr mais rápido nas veias.
Então é isso. Voltamos a estaca zero.
- Engraçado, uma vez eu fiz isso com você, e você disse que não custava ter um mínimo de educação... - Respondi calmamente, e ela sorriu.
- Você perdeu qualquer tipo de respeito que eu tinha por você, null. Logo, não merece minha educação.
Outch. Mas que porra.
- Eu bebi demais, acordei vendo flashbacks, não é possível! - A voz de null era quase um sussurro.
- Eu não chamaria isso de flashback, amiga. - null disse, levantando com seu prato e colocando-o na pia – Eu chamaria de nova realidade.
- Ah, você é tão patética, docinho... - Ouvi minha própria voz dizer, e ela me encarou nos olhos.
- Sou apenas realista.
null não deu tempo para que eu a mandasse calar a boca, saindo da cozinha no mesmo instante. Todos me encararam, null e null estava pasmos, null parecia me culpar com o olhar e null parecia ter pena de mim. Como se pena resolvesse alguma coisa.

Apareci na varanda do meu quarto, e lá embaixo, vi null com as garotas na piscina. null também estava com elas. Ela parecia estar profundamente entediada e com vontade de sair correndo. Parecia a cara que ela fazia nas aulas de história. Mas porque diabos estou lembrando disso? Resolvi descer até lá – Foda-se meu orgulho. Eu quero que ela saiba a verdade porque aí se sentirá uma merda. Ela merece se sentir assim.
- Hey. - Eu disse simplesmente, sentando na cadeira de praia ao lado da dela – Até quando vai ficar bancando a irritadinha?
null não respondeu. Então vi que estava com os fones do Ipod, e é claro que usaria daquele artefato para fingir que eu não existo. Conheço as táticas de null null como a palma da minha mão. Tirei o fone, e aproximei minha boca de seu ouvido.
- Não acha que minha voz é muito mais interessante? - Sussurrei e depois mordi o lóbulo de sua orelha, vendo que a pele de seu pescoço arrepiou quase instantaneamente. Ah é, esqueci de comentar que também sou muito mau quando quero. null virou para mim.
- Melhor do que a voz do Caleb em Reverly? - Ela sorriu largamente – Não acho que seja humanamente possível, meu bem.
- Quer parar com isso e me escutar de uma vez? Estou perdendo a paciência, docinho...
- Eu não me importo. - Ela aproximou o rosto do meu – Eu não quero ouvir a historinha mal feita que o null já fez o favor de me contar. Eu te conheço, null.
E então ela me empurrou sutilmente para trás, e eu caí como uma jaca podre na água.
As garotas começaram a rir escandalosamente, e eu percebi que null tentava prender o riso. null e null também estavam chegando por ali no momento.
- Hey, maninho! - null gritou pra ele, e null se aproximou – Lembra daquela vez que você disse que quebraria a cara do null caso ele me magoasse?
null ergueu uma sobrancelha.
- Lembro. - Ele assentiu.
- Talvez esteja na hora de você dar outro soco daqueles naquele rostinho... Cínico. - Ela parou no meio da frase. - Não estou magoada, mas estou profundamente irritada.
null a encarou como se tudo o que ela dissera fosse uma grande mentira. De repente, senti algo como pânico em mim. Merda, eu não queria ter que bater no null!
- null, erm... O null já me contou o que houve, na verdade eu tava lá, só não vi exatamente. Eu acho que ele está falando a verdade.
null baixou a haste do óculos imenso que estava usando. Não pude conter meu sorriso vitorioso. A garota abriu a boca algumas vezes, mas não conseguiu dizer nada, e então saiu marchando para a casa. Algo me dizia que ela estava começando a acreditar, só não queria perder a razão... Afinal, ela é a null de sempre.

null não apareceu pra almoçar. O que era estranho, tendo em vista que ela e as meninas estavam organizando uma nova festa na casa, que aconteceria naquela mesma noite, e ela adorava fazer essas coisas. Estava trancada no quarto há horas. Estava com null e null no gramado, fazendo nada. Eu optei por isso, não iria fazer nada, aquela garota era insuportável. Insuportavelmente linda com o biquíni que ela apareceu no jardim, mas isso eu não ia dizer. Vindo do portão, null chegou com uma garota em cada braço, ambas muito gostosas. A Riviera nos amava, isso era fato.
- Trouxe duas convidadas especiais pra festa! - Ele riu – Essa é a Maureen. E essa e a prima dela, Harriet.
O queixo de null caiu ao olhar o farto decote de Harriet.
- A lista de convidados foi enviada por email, null, você não precisava sair caçando francesas por aí. - null disse, incomodada. Por que diabos garotas se estressam quando tem outras gostosas na área?
- Se quiser fazer um menáge, null, mantenha as francesinhas fora do alcance do null, ele não é muito confiável. - null sorriu, cínica, cruzando os braços. Levantei imediatamente.
- Chega, null! - Gritei – Se você quer agir como uma criança e não me ouvir, tudo bem! Mas eu não suporto mais essas suas piadinhas! Não era pra eu fingir que você não existe? Então porque você não faz o mesmo, porra?
null pareceu perder a fala, mas logo se recuperou. Claro que ela se recuperou.
- Desculpe informar, null, mas não é porque você teve a chance de colocar sua língua na minha boca que você pode mandar em mim!
- Eu fiz muito mais do que colocar a língua na sua boca, docinho. - Gritei, e não consegui virar pra olhar, mas vi que null levantou. Os olhos de null estavam marejando, mas eu não me importaria com aquilo.
- É, você fez, e arruinou tudo! Exatamente por isso que você não fará nunca mais! - Ela berrou de volta, ainda segurando as lágrimas.
- Quem disse que eu quero você? Quem disse que eu não posso arrumar uma melhor que você em dois minutos? QUEM DISSE? - Berrei, e dessa vez null se intrometeu.
- Dude, porra, olha como você fala com a minha...
- CALA A BOCA! - Gritei pra ele – Sabe o que mais, docinho? - Ri, sarcástico, e aproximei meu rosto do de null – Vou arrumar uma agora.
Não sei porque diabos eu fiz aquilo, só sei que eu puxei Maureen pela mão, e a agarrei ali mesmo. A garota não ofereceu nenhuma resistência, talvez ela estivesse esperando por essa reação. Senti meus olhos arderem, mesmo fechados, quando percebi a merda que eu tinha feito. E aquela eu talvez nunca conseguiria consertar. Alguém me puxou, e eu larguei a garota.
Foi tudo muito, muito rápido.
Eu vi null correr e ela estava chorando. Vi null correr atrás dela, deixando as francesas. Senti o murro de null em meu rosto. Mas eu não me movi, quando caí no chão. Eu esperava por aquilo, e pior... Eu merecia.
null chegou correndo, mas não precisou parar null, porque ele mesmo já tinha parado.
- Você tá ferrado, null. E eu não estou falando por mim.
Essas foram as exatas palavras de null, quando ele sumiu correndo para a casa, sendo seguido por null.

Subi as escadas correndo, null estava me xingando de alguma coisa, mas eu não dei atenção. Bati na porta de null, eu precisava falar com ela de qualquer jeito. Eu não deixaria que aquilo fosse o fim, nunca.
- null, abre, por favor! - Continuei batendo, e ela estava sozinha lá dentro. Não quis que nenhuma das amigas ficasse lá com ela, coisa que null já tinha feito o favor de berrar no meu ouvido.
Respirei fundo.
- null, eu sei que eu sou um idiota, eu sei que eu não devia ter feito aquilo só pra te provocar! Mas porra, você me tira do sério! - Disse para a madeira.
- Agora a culpa é minha? - Ela gritou de lá de dentro, com seu habitual sarcasmo – Me erra, null! Eu nunca mais quero olhar pra sua cara!
Dei um murro na parede, totalmente irritado. Ela tinha que me ouvir. Eu ficaria o dia todo plantado em frente aquela porta, mas não daria resultado nenhum, a conheço o suficiente para saber que voluntariamente, nunca me escutaria. Voluntariamente, nunca me daria uma chance pra explicar. Mas que porra, qual o meu problema? Qual o problema dela? Passei as mãos pelos cabelos, sentindo os olhos arderem. Se ela não queria me ouvir por bem, iria me ouvir por mal.
Entrei no quarto de null, indo direto para sua varanda. Pulei para o parapeito que ligava a varanda dela com a de null, e em segundos, abri a porta de vidro que separava o quarto. null deu um pulo ao me ver. Seus olhos ainda estavam um tanto vermelhos.
- Merda, null! Quando uma pessoa não abre a porta pra você, significa que ela não quer olhar pra tua cara, não que você tem que invadir o quarto pela varanda! - Ela gritou.
- Eu pedi pra você abrir... - Disse, baixo. Eu queria me aproximar dela, queria enxugar aquela lágrima que null se esforçava tanto pra não derramar. Deus, eu estou muito gay. - Por favor, eu só preciso de um minuto, é sério.
null rolou os olhos, estava tentando manter a pose de forte. - Eu não me importo com o que quer que você diga, docinho. Sinto muito, seu tempo acabou. Não me controlei, a segurei pelos ombros e a empurrei direto pra cama. Não demorou muito, tempo suficiente para que null abrisse os olhos, atordoada, e eu já estava em pé diante dela, a prendendo entre minhas pernas. Ela realmente conseguia me deixar puto.
- Eu não vim aqui pra ver mais uma ceninha patética dessas. - Bufei, segurando seus pulsos – Eu vim aqui falar com você. E você vai calar a boca e me ouvir.
null arregalou os olhos, num misto de raiva e surpresa. Tentou me empurrar, mas eu me mantive firme. E ela continuou calada, parecia até um pouco... Assustada.
- null, a história que o null te disse... É completamente verdade, aquela garota achava que eu era outro cara! Ela estava totalmente bêbada, sério. - Parei de falar, esperando alguma intromissão típica de null null, mas ela continuou apenas me encarando firmemente, e aquilo estava dando voltas no meu estômago – E depois... Você não confiou em mim. Eu quis te contar, podia ter sido tudo muito mais fácil! Eu errei, eu não queria ter beijado aquela garota, mas você me conhece... Eu sou meio... Descontrolado.
E ela continuou calada. Minhas mãos gelaram, eu estava suando e meus olhos ardiam. Respirei fundo.
- Me desculpa, por favor.
null abaixou o olhar pela primeira vez. Suas mãos também estavam geladas, até um pouco trêmulas. Uma lágrima escorreu por seu rosto, quando ela voltou a me olhar.
- Acabou? - Ela disse, firme. Engoli em seco e assenti – Você poderia fazer o favor de soltar meus pulsos agora, estão doendo...
null disse na maior calma do mundo, e meu coração acelerou.
- null, você beijou uma garota na minha frente, e de propósito! - Ela gaguejou – Eu... Eu só preciso que você saia do meu quarto, por favor. Eu não sei o que pensar.
- null, por favor... - Sabia que meu rosto devia transparecer toda a minha agonia. Principalmente quando eu senti uma lágrima quente em minha bochecha. null limpou as próprias lágrimas.
- Nós nos vemos na festa, null... Me deixe sozinha.
Virei de costas, limpando meu rosto, e abri a porta. Antes de sair, olhei para null.
- Isso não está acabado.
- O que? - Ela soluçou.
- Nós. - Tentei sorrir. - Eu não vou perder você, docinho.

[n/a: coloquem Into your Arms, do The maine, para carregar ;D]

A casa estava lotada, mas já não me impressionava mais a capacidade daquelas meninas de fazerem uma festa se tornar o maior hit do verão. Elas deviam trabalhar com isso, sério. O Dj tocava uma música da Ke$ha, a sala estava envolta por luzes e fumaça. Todos estavam bebendo drinks coloridos que um barman que elas tinham conhecido estava fazendo, e null não descia nunca! Confesso que não estava ouvindo absolutamente nada do que null me dizia, eu não conseguia parar de olhar a escada, como se isso fosse fazer com que ela aparecesse mais rápido. Chacoalhei a cabeça, tentando prestar atenção em null, quando vi Maureen chegar perto de nós. Merda! Tudo o que eu precisava era essa garota no meu pé agora!
- Oi, meninos! A festa está linda, parabéns! - Ela sorriu largamente, jogando seus cabelos castanhos para trás.
- Ah, então você devia agradecer a uma de nós, queridinha! - null apareceu e eu respirei aliviado – Os garotos não ajudaram em nada dessa vez.
Maureen pareceu sem graça, disse qualquer coisa desconexa (desconexa talvez porque eu não tenha prestado um mínimo de atenção) e sumiu.
E no mesmo instante, null apareceu na escada. Ela estava com um vestido listrado e sapatos vermelhos, maravilhosa. Senti meu queixo cair, e null riu um pouco, mas eu não liguei. Ela não estava linda. Ela era linda e eu não queria nenhuma das outras daquela sala.

There was a new girl in town (Tinha uma menina nova na cidade)
She had it all figured out (Ela tinha tudo decidido)
Well I'll state something rash (Bom, eu vou dizer algo imprudente)
She had the most amazing... Smile (Ela tinha o mais maravilhoso... Sorriso)

null olhou para mim, e ela estava sorrindo, não sei porque. Provavelmente olhando para a própria festa, ou alguma coisa do tipo. Eu simplesmente amava aquele sorriso. Eu também amava outros atributos dela, mas aquele sorriso... Bem, ela poderia conseguir qualquer coisa comigo, e acho que nem sequer sabia disso.

Bet you didn't expect that (Aposto que você não esperava por isso)
She made me change my ways (Ela fez com que eu mudasse meu jeito)
With eyes like a sunset, baby (Com olhos como o pôr-do-sol, baby)
And legs that went on for days (E pernas que andavam por dias)

Quando desceu as escadas cheias de gente, algumas pessoas pararam para olhar. null empurrou meu ombro, e murmurou algo como um “Vai lá”. Não entendi direito, eu não conseguia pensar em nada direito. Andei por entre as pessoas, e ela desceu o último degrau da escada, ficando exatamente em minha frente.
- Oi. - Disse simplesmente – Você está... Wow.
Ela riu, tímida. Estranho, null não é alguém que pode ser rotulada de tímida.
- Você também.
- null, corre aqui, deixa eu te apresentar um amigo! - null surgiu, e ela pareceu sem graça ao ver que estava entre nós dois.
- Ahn? - null pareceu sair de um transe – Claro, claro!
Ela caminhou por entre as pessoas olhando para trás, olhando para mim.
E eu tinha a terrível sensação de que quanto mais longe ela fosse, eu nunca conseguiria a trazer de volta.

I'm falling in love, but it's falling apart (Eu estou me apaixonando, mas está caindo aos pedaços)
I need to find my way back to the start (Eu preciso encontrar meu caminho de volta para o começo)
When we were in love (Quando nós estávamos apaixonados)
Things were better than they are (As coisas eram melhores do que são)
Let me back into... (Me deixe voltar...)
Into your arms (Para seus braços)

null deixou null sozinha pouco tempo depois, e tentou, no meio de toda aquela muvuca, chegar até o bar. Alguns caras literalmente pararam de falar quando ela chegou perto deles, estavam boquiabertos.
- null! - Gritei, me aproximando, e ela me olhou, com um copo de Martini em mãos.
Ela murmurou algo como um “Vem aqui”, me chamando com o dedo. Sorri, sentindo cada parte do meu corpo esquentar, minha pulsação aumentar do nada. Isso não é algo muito feminino de se falar? Bom, dane-se. Ela tinha um sorriso discreto nos lábios, mas era triste. Eu tinha certeza daquilo. Talvez ela também quisesse resolver isso tanto quanto eu. Andei pela pista, vendo algumas pessoas conhecidas, mas meus olhos só focavam no dela, que não desviou o olhar. Quando finalmente a alcancei, segurei sua mão, quase como uma atitude inconscientemente babaca de prendê-la ali. Ela não fugiria mais de mim, não mesmo.
- Eu preciso... Eu preciso que você dance essa música comigo. - Parei no meio da frase, e ela riu fraco, apenas assentindo e deixando que eu a guiasse para o meio da pista.

She made her way to the bar (Ela fez seu caminho até o bar)
I tried to talk to her (Eu tentei falar com ela)
But she seemed so far (Mas ela pareceu tão distante)
Out of my league (Fora do meu alcance)
I had to find a way to get her next to me (Eu tinha que achar um jeito de fazer ela vir para mim)

A abracei pela cintura, e a pele do meu pescoço arrepiou quando sua respiração quente se aproximou. null passou os braços em meu pescoço, ainda em silêncio. Ela estava de olhos fechados, e eu não sabia o que falar. Eu só queria que... Bom, isso vai soar meio óbvio e ridículo, mas queria tê-la nos meus braços, e ter a certeza de que não a perderia. Mas eu estava a perdendo, minuto a minuto, e sabia disso.
- Eu não quero perder você. - Ouvi minha própria voz dizer isso, quase em um sussurro, quase implorando. null levantou o rosto e me encarou, seus olhos estavam vermelhos, seus dedos gelados tocaram minha nuca.
- Por quê? - Ela sussurrou – Por quê eu devo te escutar? Por que eu devo te dar outra chance?
Sorri levemente. Ela sempre precisava de um motivo, não?
Mas eu não conseguia pensar em nada coerente pra responder. As palavras simplesmente sumiam quando eu mais precisava delas. null manteve o olhar fixo no meu, eu sabia que ela procurava alguma reposta ali.

I'm falling in love, but it's falling apart (Eu estou me apaixonando, mas está caindo aos pedaços)
I need to find my way back to the start (Eu preciso encontrar meu caminho de volta para o começo)
When we were in love (Quando nós estávamos apaixonados)
Things were better than they are (As coisas eram melhores do que são)
Let me back into... (Me deixe voltar...)
Into your arms (Para seus braços)

- Porque... - Gaguejei, encostando meu nariz no seu, enquanto apertava sua cintura – Talvez isso fale mais que eu.
A segurei pela nunca, nossos rostos já estavam próximos demais. Pressionei minha boca contra a dela, e ela permitiu, acho que esperava por isso. Cada parte do meu corpo reagiu quando nossas línguas se tocaram, era como se tivesse tomado um choque. De alguma forma, meu coração parecia que ia acelerar ao ponto de parar de vez.
Eu não tinha a perdido, no fim das contas.

Oh she's slipping away (Oh, ela está escapando)
I always freeze when I'm thinking of words to say (Eu sempre congelo quando estou pensando nas palavras para dizer)
Oh the things she does (Oh, as coisas que ela faz)
Make it seem like love (Faz isso parecer amor)
If it's just a game (Se for apenas um jogo)
Then I like the way that we play (Eu gosto do jeito que nós jogamos)

- null... - null partiu o beijo, e eu mantive meus olhos fechados, a testa encostada na sua. Conseguia sentir sua respiração falha em meu rosto – Talvez... Talvez esse argumento não seja suficiente.
E então eu abri os olhos. Não, aquilo não era possível.
- null, por favor, será que tá difícil de entender que eu amo...
- Shhh. - Ela me calou com um com um um beijo rápido– Eu não sei se isso é certo. Eu preciso pensar.

I'm falling in love (Eu estou me apaixonando)
But it's falling apart (Mas está caindo aos pedaços)
I need to find my way back to the start (Eu preciso encontrar meu caminho de volta para o começo)

Ela correu por entre as pessoas.
Ela correu de mim.
E eu não conseguia sequer sentir raiva, pra ser bem sincero... Não conseguia sentir nada.
null parou na escada, porque null a segurou. Ele disse alguma coisa pra ela, tive a impressão que colocou algo em sua mão, e ela continuou correndo.
- Lembra quando eu te disse que se um dia você fizesse minha amiga sofrer, eu ia quebrar sua cara? - null apareceu ao meu lado, líndissima com seu vestido verde. Eu só tinha reparado isso agora.
- Lembro. - Assenti de má vontade. Ótimo, tudo o que eu precisava era bronca uma hora dessas!
- Então acho bom você ir até o quarto dela e resolver isso, null. Ela vai sofrer muito mais sem você, acredite. - null sorriu e eu chacoalhei a cabeça.
- Ela disse que precisava pensar, null.
- Desde quando você obedece o que a null diz? - A garota sorriu – Ela é meio surtada, null. Se eu fosse você, eu iria até lá e...
- Não vai dar certo. - Interrompi.
- Argh, null! - null bateu o pé, irritada – Eu estou falando QUE É PRA VOCÊ SUBIR NAQUELA PORCARIA DE QUARTO, okay?
A encarei, assustado e quase rindo do seu descontrole. Coitado do null.
- Porque você tem tanta certeza?
- Só sobe, null. Você vai me agradecer por isso.

Eu não tinha a menor noção do que estava fazendo. Subi as escadas automaticamente, sem olhar para os lados, e encarei a porta de null, com a respiração meio falha. Porque diabos null tinha tanta certeza que eu teria que resolver aquilo exatamente naquele instante? Não me dei o trabalho de bater, simplesmente girei a maçaneta. E ela estava lá, de costas. Deu um pulo, assustada, quando me viu ali. E então jogou um papel no chão, e correu até mim. Não tive reação, null pulou em cima de mim e me beijou, me fazendo cair sentado na cama. Agarrei seus cabelos, intensificando o beijo, enquanto ela arranhava minha nuca. Mordeu meu lábio devagar, sexy como sempre, e depois encostou a testa na minha, fazendo com que eu a encarasse.
- Eu te dei meu coração, null. - Ela sorriu, deixando uma lágrima cair em seu rosto – E você ... Você foi perfeito.
Eu não estava entendendo absolutamente nada, aquela garota era louca, só podia.
- Eu quero ser aquela garota que você vê. - Ela me beijou devagar – Eu quero ser tudo o que você escreveu naquele bilhete, docinho.
Olhei para o chão, e vi uma folha de caderno e um envelope. E tudo estava muito claro.
- Como? Como isso veio parar na sua mão? - Arregalei os olhos – É meu bilhete da aula de literatura!
Ela riu.
- null pegou naquela confusão com o Brian, na festa da praia. Quando ele leu, teve certeza que... Bom, teve certeza de que um dia eu precisaria ler isso. - Ela suspirou – Eu não mereço você, garoto. Você é bom demais pra mim.
- Para com isso! - Senti meu rosto corar.
- Só estou sendo realista – Ela sorriu – Me perdoa por ser tão idiota?
- Shhhh... Não tem nada pra perdoar. Só cala a boca e vem aqui, docinho.
Eu disse e ela riu, quando deitei meu corpo por cima do seu, beijando-a e deixando que aquele sentimento estranho tomasse conta de mim. Alguém uma vez me disse que isso era estar... Apaixonado? Mas bem, não me interesso por esses rótulos. Só precisava do seu corpo perto do meu, e aquilo tudo teria valido a pena.

A null null? Ela é uma garota... Difícil de entender. Eu mesmo a conheço há anos, e demorei para enxergar através da cheerleader popular que todos idolatram. Não que ela realmente não tenha esse ego super elevado das populares, porque ela tem, sim. Mas diferente das outras, ela é humana. Ela gosta de conversar com os nerds da classe sobre computador, não que alguém possa comentar isso, é claro. Ela come sanduíches gordurosos quando suas amigas comem alface, e sempre rola os olhos quando algum garoto do time fala com ela, talvez porque eles não tenham cérebro pra falar algo que preste. Ela sorri para as crianças da pré-escola. Aliás, ela tem três dos sorrisos mais bonitos que eu já vi. O sorriso que ela dá quando está incomodada, pode parecer estranho, mas é lindo. E aquele que ela dá quando encontra as amigas depois de um final de semana, cheio de más intenções, também. Esse costumava ser o meu preferido (É, esse bilhete está muito gay, confesso), mas hoje descobri mais um, que é o da null-null-Tímida. Isso é possível, sim. Nunca tinha a visto sem graça antes. E bom, ela é... Linda. Não que eu vá falar isso pra ela um dia, obviamente. E mesmo ela sendo uma garota incrível, que vive se metendo onde não deve e com quem não deve, ela tem um bom coração. Um dia ela vai encontrar alguém que tenha bolas o suficiente para ser quem ela precisa. Ela acha que não, que nasceu para sofrer, quase uma atriz de novela mexicana. Alguém entenderá que sim, ela é bipolar, estranha. Mas é inteligente e tem um humor ácido que melhora o dia de qualquer um. Que ela pode ser meio louca, mas que quando você bater seu carro e precisar dela, ela vai estar com você. Porque em algum lugar ali, tem uma garota que só precisa que a entendam. E eu não estou dizendo que esse cara sou eu, porque você sabe, a gente se odeia. E eu amo odiá-la, de verdade. Agora mesmo ela está olhando pra mim, e eu vou chamá-la de docinho (só porque ela detesta esse apelido), e ela vai jogar alguma coisa em mim. Eu vou xingar, ela vai xingar, porque isso sim é o certo. Afinal, somos null null e null null. E ninguém nunca vai mudar isso.




Capítulo 15: All you need is a perfect date

- null, você me surpreende a cada dia! - null arregalou os olhos, depois de ler pela quinta vez o bilhete da aula de literatura, fazendo o garoto rir.
- Eu sei, eu sou foda... - null riu presunçoso, e null jogou uma almofada em sua direção. - Outch! Que violência, dude!
- Você tá muito metido! - null riu, tomando sua Coca-Cola.
null desceu as escadas e se deparou com uma situação que estava se tornando comum naquelas férias: null, null, null e null esparramados nos sofás, com cara de ressaca, mesmo sendo três da tarde, enquanto gargalhavam por qualquer besteira. Riu sozinha ao perceber o quanto aquela cena a agradava. E quanto ela seria inimaginável há pouco tempo atrás.
- Bom dia, pessoas mais lindas da minha vida! - Ela sorriu saltitante, e null riu.
- Tá comparecendo, hein, null? - ele disse, e os dois gargalharam da careta que null fez.
- Cala a boca, null. - A garota fez careta, segurando o riso. Caminhou até a poltrona em que null estava e sentou em seu colo, dando-lhe um beijo rápido, e depois sorriu.
- Bom dia, docinho - ele disse com a voz rouca, e a garota sentiu um arrepio na espinha. Já estava ficando acostumada com as reações ridículas e automáticas que tinha perto de null.
- Muito melhor agora. - null respondeu, fazendo o garoto sorrir.
- Como vocês são gays, pelo amor de Deus! - null exclamou, com a voz afetada. - Joga glitter e ilumina!
Todos o encararam no mesmo instante, sem conseguir conter sonoras gargalhadas que poderiam ser escutadas da esquina.
- Dude... Dude! - null estava roxo de tanto rir. - Por favor, pare de sair com a null, ela está transformando você na Barbie Malibu!
- Ei! O null sai do armário e a culpa é minha? - null gritou, fazendo com que todos rissem ainda mais.
- EI! EU NÃO SAÍ DO ARMÁRIO COISA NENHUMA! - null disse muito alto, vendo que os amigos ainda rolavam de rir. - EU SÓ TAVA BRINCANDO E...
- Mas eu já acordo com uma revelação dessas? - null apareceu apenas de boxers na escada, coçando os olhos e rindo. - Sempre bom saber essa hora da manhã que seu amigo assumiu seu lado purpurinado. - null afinou a voz na última palavra, o que irritou ainda mais null, e animou mais o resto.
- Já chega causando, puta merda! - null fechou a cara como uma criança de cinco anos, e se jogou nas almofadas.
- Awn gente, parem de zoar o menino! - null abaixou perto dele, segurando o riso. - Já chega, não é?
- É, chega! - ele fez bico.
- Isso. - null sorriu. - Nós temos que respeitar a opção sexual dos coleguinhas, tão me ouvindo? - a garota disparou, fazendo com que a sala despertasse em gargalhadas novamente.
- Vai brincando, vai, null... - null disse, rindo baixo. - Vamos ver se você aguenta.
null encarou null com os olhos arregalados, e todos subitamente ficaram quietos.
- O... O quê? - null gaguejou.
null aproximou o rosto da garota, que estava tão intrigada que nem conseguiu se mover, como geralmente faria.
- Você vai ver quem é gay aqui - ele sorriu debochado, puxou o lábio da garota com os dentes e depois riu, subindo as escadas.
null estava congelada. Sentiu seu corpo arrepiar, mas pra variar, não conseguiu esboçar reação alguma. Estava chocada, ainda que bastante animada com aquela reação de null.
- Vocês viram o que eu vi? - null pareceu sair de um transe.
- Eu... Eu vi! - null respondeu e null riu.
- Nosso garoto... Virou homem. - Ele gargalhou. - Tipo, literalmente. Não no sentido gay da coisa, no sentido...
- Nós entendemos. - Todos responderam em uníssono.
- null... - null chamou a garota. - Aprenda a respirar de novo e se prepare - ela riu. - Não acho que o null tá brincando.
null sentiu as bochechas arderem. Não respondeu nada.
No fim das contas, talvez esperasse que não fosse uma brincadeira.

- Nossa. - null arqueou uma sobrancelha, após ouvir detalhadamente a história que a irmã havia contado, sobre o dia anterior, e sobre todas as brigas com null. - Você é fogo, sério. - Ele riu. - Eu não aguentaria namorar você.
A garota riu baixo.
- Que bom, mamãe ficará feliz com a impossibilidade de incesto na família. - Ela gargalhou. - Yey!
- Cala a boca! - Ele deu um soco em seu ombro, rindo. - Você entendeu o que eu quis dizer.
- Entendi, meu bem - ela sorriu. - Mas eu sou muito fofa, ok? Não sei por que esse medinho de mim... Sou muito fácil de lidar, pergunta pro null e...
null ouviu a tão característica gargalhada de null, e olhou por cima do ombro. Ele estava parado na porta da cozinha.
- Você é realmente super fácil de lidar, docinho - ele se aproximou, a abraçando pela cintura. - Talvez para domadores de leões do circo, para espiões da CIA, ou algo do tipo...
A garota estapeou o braço nu de null.
- Outch! - Ele riu. - Pare de ser fofa!
null gargalhou ruidosamente e null deu outro tapa no braço de null.
- Quer parar? - ele disse, ainda rindo.
- Me faça parar, docinho.
null deu um sorriso malicioso e apertou mais suas mãos nas costas da garota, fazendo com que ela ficasse nas pontas dos pés. Agarrou seus cabelos e colou seus corpos rapidamente, procurando por sua boca.
- Ah, pelo amor de Deus! - null reclamou. - Filme pornô grátis com minha própria irmã É TRAUMATIZANTE! - ele disse alto e null riu, ainda que estivesse com um pouco de raiva daquela interrupção.
- Dá um tempo, vai, null - null resmungou, fazendo o amigo rir.
- Olha o respeito, rapaz! - null disse, pegando uma maçã e caminhando até a porta da cozinha. - Ah, e só pra constar - ele disse, e null rolou os olhos instintivamente.
- O que é, null?
- É muito desconfortável ver você acordando com a camisa do null. Vou contar pra mamãe. - Ele gargalhou.
- Você tá precisando de sexo, null. - null gargalhou vitorioso da cara que o amigo fez.
null nada respondeu, apenas bufou e mandou o dedo do meio, fazendo o casal rir.
- Então, onde paramos mesmo? - null puxou a garota, distribuindo alguns beijos em seu pescoço.
- Onde você dizia que eu era muito fácil de lidar - null disse com a voz arrastada. - Talvez você tenha um pouco mais de trabalho agora, null null. - Ela riu maliciosa, mordendo o lóbulo da orelha do garoto. Sabia as reações que esse pequeno gesto poderiam ter. null a prensou contra a parede imediatamente, apertando com força a sua cintura.
- Eu gosto de ter trabalho - ele sorriu, malicioso.
- Isso vai ser divertido! - A garota acompanhou o sorriso, fazendo um caminho de beijos desde o pescoço até sua boca. Quando chegou lá, deu uma leve mordida o empurrou pra trás, indo até a porta da cozinha. - Comece a trabalhar, docinho. - Ela riu. - Algo me diz que hoje você vai fazer hora extra.
A garota sorriu vitoriosa e saiu, deixando um null ofegante e sorridente na cozinha. E com alguns pensamentos bastante pervertidos.

- Eu não acredito que ele falou isso! NÃO ACREDITO! - null berrou, fazendo null rir.
- null, se controla, por Deus! - a garota exclamou. - Mas e aí, null, pronta para sentir todo o poder de null null?
As garotas riram da cara que a amiga fez.
- Vocês são muito babacas. Aquilo foi uma brincadeira. - null respondeu, olhando para o teto. Queria passar toda indiferença possível.
- Cala a boca, eu tava lá e vi que ele não tava brincando! - null disse, e as garotas olharam para a porta do quarto de null de imediato.
- O bom é que as pessoas nem são gansas nessa casa! - null disse e null mostrou a língua, rindo.
- Só vim aqui dizer a verdade, eu tava lá, o null vai querer te seduzir sim, null, e com muito vigor!
- Para, null! - A garota escondeu o rosto com as mãos.
- Ah, null, para de ser caipira, fala sério! - null riu. - Fala pra gente... O que você vai fazer? Se ele realmente... quiser... algo?
null riu da explicação de null, mas esperou, interessada, a resposta de null.
- Não faço ideia - null disse. - Estou muito confusa. Não sei como vou reagir.
- Ah, amiga, se joga! - null disse e todas a encararam, um pouco estupefatas. - Qual é, gente? Não é como se já não fôssemos da gangue dos losers, mesmo! A null já está com o null, a null com o null, uma a mais, uma a menos...
null riu.
- Você vai ficar com o null, por acaso? - perguntou. - Não vai querer ficar de fora, não é mesmo, nullzinha?
- Ah, fica quietinha aí e se resolva com seu loser! - null disparou, fazendo as amigas rirem.
- Hey! - null apareceu na porta, sorridente. - Precisamos terminar uma coisa, docinho - ele disse com a voz sexy, e a garota riu.
- Esqueceu que eu sou difícil? - null respondeu, sorridente, enquanto ouvia as risadas abafadas das amigas.
null apoiou o braço na porta, rindo.
- Claro que não esqueci. - Ele deu uma piscadela. - É por isso que eu vim te buscar.
- E quem disse que eu quero ir com você? - a garota respondeu, mesmo se derretendo, só para bancar o próprio joguinho.
Viu null lançar seu sorriso preferido. Aquilo era muita maldade, pensou, mas ficou quieta. null se aproximou, rindo, e colocou os braços ao redor da garota, prendendo-a na poltrona. Abaixou até deixar sua boca a milímetros da de null, e sussurrou:
- Eu não perguntei se você queria. - Ele riu, malicioso. - Hoje quem manda sou eu.
null pegou a garota no colo, enquanto ela murmurava algo como “Me ponha no chão!”, mas ignorou essa parte. Ouviu as risadas das amigas e riu junto, percebendo que null também ria. Por mais que reclamasse, não estava fazendo esforço algum para sair dali. Joguinho, como sempre. Abriu a porta do quarto e a jogou na cama.
- Quer dizer que hoje você é o chefe? - null riu, percebendo que soou quase pervertida.
- Eu sempre sou - null sorriu, e deu um beijo leve na garota, percebendo que ela iria se manifestar. - Só deixo você pensar que não.
null riu, mas calou-se ao sentir o arrepio que percorreu seu corpo quando null começou a beijar seu pescoço com vontade.
- Você não manda em nada - sussurrou, fazendo o garoto rir abafado.
Ele intensificou os beijos, apertando as coxas da garota até chegar em seus lábios. Ela nunca saberia explicar aquelas sensações. Viu null se distanciar, ficando ajoelhado na cama, ainda a prendendo entre suas pernas. Ele não precisou dizer nada: null conhecia bem aquelas provocações. Apenas riu, derrotada, o puxando pelo pescoço com força.
- Você sabe que é o chefe, docinho - sussurrou, fazendo o garoto rir e voltar ao que estava fazendo. Do jeito que só ele sabia fazer.

null estava no jardim fingindo ler uma revista. Estava simplesmente agoniada, as letras da Vogue pareciam dançar em sua frente. Verdade era que não conseguia parar de pensar no que null tinha dito. E mais verdade ainda que ele tinha sumido depois disso, e ela queria saber o que estava aprontando - se é que estava aprontando alguma coisa. Depois que tinha subido as escadas da mansão e deixado todos com cara de interrogação, null sumira do andar de cima da casa. Provavelmente passou despercebido enquanto ela fofocava com as meninas, mas ninguém que estava na sala sequer tinha ideia de onde o garoto poderia estar. Nem null. Nem null. E bom, ela preferiu não entrar no quarto de null para perguntar, preferia não saber o que estava rolando lá dentro. Depois da quinta vez que encarou o portão, ainda fechado, bufou, jogando a revista na cadeira ao lado.
- Procurando alguém? - Ouviu a voz de null e quase deu um pulo.
- Puta merda, null! Quer me matar do coração? - ela reclamou. - De onde você surgiu?
- Não importa de onde eu surgi - ele riu. - E se eu disser que sim, quero te matar do coração, vai soar muito pedreiro? - Ele riu, e null teve certeza que era tudo uma brincadeira. Como sempre era. null era o garoto mais brincalhão que conhecia, chegava a irritar.
- Sim, vai soar como um flagelado sem cultura - respondeu, irritada, e depois percebeu que aquela resposta não tinha nada a ver, o que só a fez sentir mais babaca ainda.
E ouvir a risada de null, agora que ela tinha certeza que era uma brincadeira, só aumentou sua raiva.
- O que você quer?
- Quero que você diga que eu sou lindo e que você me ama - ele respondeu e a garota caiu na risada.
- Qual seu problema, null?
- Fala! - Ele riu, o que era estranho. A essa altura já estaria emburrado, assim era o null.
- Não vou falar coisa nenhuma! - ela disse alto, ainda rindo.
- Duvida que você vai falar?
- Por que você está tão confiante nisso?
- Duvida? - Ele arqueou uma sobrancelha, desafiador.
- Duvido - null respondeu de imediato. null segurou sua mão, a puxando para fora da cadeira.
- Vem comigo.
null começou a correr e a puxar null junto com ele, na direção do portão principal da casa.
- O que você está fazendo? Eu não vou a lugar nenhum! - a garota berrou, mas continuou sendo puxada.
- Você não duvidou? Vou te mostrar!
- null, se você quiser me mostrar algo que tem dentro das suas calças atrás do muro, eu juro por Deus que choco sua cabeça contra o concreto! - null ouviu a gargalhada gostosa do garoto e acabou rindo junto.
- Acho que vou correr esse risco. - Ele deu uma piscadela, e continuou caminhando.

null virou para o lado e encarou o rosto sereno de null, que dormia com seu corpo coberto apenas por um lençol ao lado do seu. Não pode deixar de sorrir ao pensar o quanto aquela garota mexia com ele. Até o jeito em que ela dormia, a forma como ela respirava era estranhamente encantadora. null virou seu corpo, inconscientemente, aproximando ainda mais seu rosto do de null, que não conseguiu conter a vontade de acariciar seu rosto e cabelos por algum tempo. Até que reparasse o que estava fazendo de fato.
- Ah. Meu. Deus - sussurrou, virando seu corpo de frente e encarando o teto, com os olhos arregalados. - Eu... Eu... - null olhou de soslaio para null, que sorria, mesmo dormindo, o que o fez sorrir também. - Eu amo essa garota.
null arregalou os próprios olhos com o que ouviu sua voz dizer. Levantou da cama, tampando o rosto, depois encarou null de novo. Ela não tinha escutado nada, claro. Mas o fato dele ter dito isso em voz alta o assustou. null null não é aquele cara que sabe como agir quando está apaixonado. Na verdade, nunca esteve apaixonado para saber como era, e isso o deixava louco. Mas ela não sabia de nada. Isso era muito, muito bom. Poderia esconder se quisesse.
- Esconder é legal - murmurou pra si mesmo, depois riu da própria idiotice.
Percebeu que se ficasse ali por mais tempo, acabaria tentado a ficar olhando null dormir, o que era extremamente ridículo. Resolveu tomar um banho gelado para acordar direito e colocar as idéias no lugar. Caminhou até o banheiro, tentando não fazer barulho - tudo o que ele não precisava era que ela acordasse, não saberia como agir depois de revelar em voz alta que realmente a amava. Não que ela tivesse ouvido alguma coisa.
Tomou um banho relativamente rápido - a água estava gelada, o que facilitou o processo. Enrolou uma toalha na cintura e encarou seu reflexo no espelho, com os cabelos ainda molhados. Pelo menos agora sabia o que queria fazer.
Esconder.
Fingir que nada aconteceu. Ela nunca saberia.
- Esconder - murmurou baixo e decidido, e virou a maçaneta da porta.
null ainda estava lá. Tentadoramente angelical, os cabelos espalhados pelo travesseiro - o dele -, ainda sorrindo enquanto dormia. null respirou fundo e sorriu, apoiando na porta.
- Namorar. Ela vai ser minha namorada.

- Pronto, chegamos!
null parou de andar, soltando a mão de null. Tinham praticamente andado na mesma calçada da casa por algum tempo, atravessado pra rua da praia e andado mais um pouco. null olhou ao redor sem entender. Aquele lugar não dizia nada para ela. Tudo bem, a praia era bonita, mas isso não significava muita coisa.
- O que você queria me mostrar, null? - a garota indagou, confusa, e null riu de leve.
- Feche os olhos.
null o encarou de sobrancelha erguida. Não precisou dizer nada.
- Relaxa. Eu não vou tirar minhas roupas enquanto você estiver de olhos fechados. - Ele gargalhou. - Você vai querer fazer isso por si mesma.
Dessa vez null riu, irônica.
- Você está estranhamente seguro disso, não é?
- Eu sei o que estou fazendo.
A garota franziu a testa, fechou os olhos mas os abriu em meio segundo.
- Não, eu não vou te agarrar enquanto você estiver de olhos fechados - null disse, fazendo null rir de nervoso. Agora ele lia pensamentos?
- Olha lá, hein? - ela disse, mas estava convencida de que o garoto iria se comportar, não sabia bem por quê.
null fechou os olhos, sentindo uma sensação estranha tomando conta. O que quer que fosse que null tinha aprontado, era suficiente para ele achar que a conquistaria. E ela gostava daquela ideia.
- Pode abrir.
null abriu os olhos, desconfiada e tentando conter uma certa animação que surgia nela. Olhou para frente. null estava lá, parado, no mesmo lugar que estava antes. Ele tinha as mãos nos bolsos, como tinha antes. Não havia sequer mudado de posição. Estranhou, então virou a cabeça para os lados. Nada havia mudado. Atrás dela, tinha apenas uma parede, que bom, obviamente ainda estava lá, intacta.
- Perdi a piada? - Ela disse e null sorriu.
- Eu disse que você falaria que eu sou lindo e que me amava quando visse algo, não era? - null perguntou e null afirmou com a cabeça. - Então. Feche os olhos. E depois abra de novo.
null começara a achar que a mentalidade de null, que já não era das melhores, teria sido afetada por alguma espécie de droga. Mas preferiu não contestar, repetindo o gesto.
- Você é lerda pra caralho - ele disse, rindo, e a garota abriu a boca, indignada.
- Eu não sou lerda! O que você quer mostrar, null? - disse, um pouco nervosa. Ele riu.
- O cara mais gato, mais sexy e mais perfeito que você viu desde a última vez que abriu os olhos. - Ele sorriu.
null tentou dizer algo, mas não conseguiu emitir som algum. Sua mente estava dividida entre dar uma gargalhada ou achar aquilo extremamente fofo. E de fato, ela era um pouco lenta pra decidir.
- Você é maluco! - ela disse, rindo. - Maluco e metido!
- Lindo e adorável? - null disse com a voz em um tom que ele achava que fosse sexy.
- MA-LU-CO e ME-TI-DO! - null soletrou, rindo.
- Eu sei que você me ama... - Ele deu de ombros, e aquela atitude do garoto começou a parecer engraçada para ela.
- Amo muito - ela disse, irônica, e ele riu.
- Qual é, você sabe que eu sou o cara mais lindo que você já viu... - null riu junto com a garota.
- Com toda certeza - ela concordou, ainda debochada. Depois olhou para um null um tanto quanto satisfeito. Ele tinha um sorriso vitorioso nos lábios.
Ela tinha dito exatamente o que ele queria. Maldito.
- Eu disse que você iria me dizer isso - ele gargalhou. Quando percebeu que null ia se manifestar, tocou seus lábios com os dedo, para que se calasse. - Eu sei que eu não sou cara mais lindo que você já viu, você namorava um modelo! - Ele chacoalhou a cabeça, com o rosto muito próximo. - E é claro que você não me ama. Mas acho que tem alguma chance dessa minha brincadeira babaca ter te provado duas coisas.
Ele ficou em silêncio, e a garota mal conseguia respirar direito. Aquele proximidade, somada ao perfume maravilhoso que null estava usando, acabara deixando-a atordoada.
- Que... Coisas? - ela disse, quase em um sussurro.
null levantou o dedo, tocando seu lábio de novo.
- Primeiro. - Ele sorriu de lado. - Eu estou bem longe de ser gay.
A garota quase riu, mas não estava em condições de se mover, poderia ser muito perigoso.
- E segundo - ele mostrou o número com os dedos. - Eu posso ser idiota, mas eu sei que você gostou disso tudo. E eu sei que você quer a mesma coisa que eu.
null suspirou pesadamente.
- E o que você quer?
null não respondeu com palavras, mas ela já imaginava isso. Encostou seus lábios de leve nos da garota, sem pressa alguma, esperando que ela permitisse o que ela estava prestes a fazer. null não recuou, não tinha condições físicas para negar nada naquele momento. O beijo suave de null era até tímido no começo, mas depois os dois se entregaram. A única coisa que null conseguia pensar era por que diabos não tinha tido aquela ideia antes. Era tudo o que ele queria, e não fazia ideia.

- Um encontro? - null arqueou a sobrancelha, olhando para null pelo reflexo do espelho do banheiro. Ele sorriu, aproximando-se, e a abraçou pelas costas.
- É, tipo um encontro. Só nós dois, hoje. - Ele deu um beijo em seu ombro. - O que me diz?
null virou de frente, passando os braços pelo pescoço de null.
- Eu digo que é óbvio que eu quero. - Ela sorriu, dando um selinho no garoto. - Pra onde vamos?
- Isso é surpresa... - Ele sorriu, dando outro selinho. - Mas esteja pronta às sete, não podemos nos atrasar. E esteja linda.
A garota riu, vendo null sair do banheiro.
- Eu sempre estou linda.
null chacoalhou a cabeça.
- Metida.
- Realista - ela respondeu.
null já estava perto demais de novo. Apenas riu, e tomando-a pelos braços, a beijou. Era inevitável aqueles arrepios que null sentia toda vez que sua língua tocava a dele. Passou as mãos por seus cabelos, arranhando de leve a sua nuca, e null puxou seu lábio com os dentes, sorrindo.
- Às sete - repetiu - E linda como sempre.
null sorriu.
- Nós total perdemos a piada do “cala a boca” - disse, e os dois gargalharam.
- Eu gosto de finalizar a piada assim... - Ele riu, mexendo nos cabelos da garota.
- Eu também. - null respondeu, com a voz quase derretida. - Mas agora se manda daqui, que eu preciso começar a me arrumar, tenho só duas horas pra ficar “linda como sempre” - ela fez aspas com os dedos, fazendo null rir.
- Se você fosse com essa toalha, já estaria mais do que linda - disse, galanteador.
- Mas você não gostaria das cantadas que eu iria receber por ser tão gostosa e estar de toalha na rua. - Ela disse, sorrindo vitoriosa, e null riu.
- Bela jogada. Te vejo daqui a pouco - ele sorriu, e null ouviu a porta do quarto batendo, algum tempo depois.

null estava orgulhosa de si mesma. Estava sentada em sua cama, totalmente arrumada, e ainda faltavam três minutos pra sete. Nunca fora assim tão eficiente. Pensou em ir até o quarto de null ver se ele estava pronto, mas queria ver o rosto dele quando a visse com aquele vestido azul claro que estava. Costumava apostar no pretinho básico, mas resolvera inovar. Colocou um par de sapatos brancos e pegou uma bolsa da mesma cor, arrumou os cabelos em um meio rabo e estava sentindo-se deslumbrante. Ouviu alguém bater em sua porta e levantou-se, rapidamente, quase fazendo uma pose, o que a fez rir.
- Wow - null disse, olhando para amiga - Querida, se o null não te pegar de jeito essa noite, eu pego!
- Vou deixar isso bem claro pra ele. - null deu uma piscadela, rindo. - Falando nisso, são sete em ponto, acho que vou até o quarto dele.
- Não, null, o null estava te chamando lá na cozinha. Quer que eu avise ao null que você está lá embaixo?
- Tudo bem então. - null rolou os olhos.
Desceu as escadas até que rapidamente para um salto daquele tamanho. Ao chegar na cozinha, olho em volta e não viu nem sinal do irmão. Bufou, irritada. O que diabos null estava fazendo? Quando ia sair de lá, o interfone tocou.
- Sim? - Atendeu rapidamente.
- Vocês tem visita aqui no portão. - Ouviu a voz do caseiro do outro lado.
- Tudo bem, vou pedir pra alguém ir aí - ela disse, sem paciência.
Ao chegar na sala, nenhum de seus amigos estava lá.
- Merda - murmurou. - null? null?
Ninguém respondeu.
Xingou todos mentalmente e foi até o caminho de pedrinhas que dava até a saída. Não gostava de se aventurar em lugares assim quando estava de salto. Abriu o portão, nervosa, e toda sua raiva foi pelo ralo.
null estava do outro lado, encostado em um carro que ela nunca vira na vida, com uma camisa branca dobrada até os cotovelos, um jeans escuro e sapato social. Estava perfeito. Sorriu ao ver o sorriso imenso que ele abriu ao encará-la da cabeça aos pés.
- Eu pedi pra você ficar linda, não pra humilhar todas as mulheres da cidade - null disse, ainda sorrindo, e chegando mais perto. Acariciou o rosto de null e deu um selinho nela. - Vamos?
- Claro. Quero ver o que você aprontou. - Ela sorriu, caminhando até o carro. - Alugou? - perguntou, e ele afirmou com a cabeça - Ai, meu Deus, deixe que eu chegue viva até onde você está me levando! Você é um péssimo motorista! - disse, rindo da cara que null fez, enquanto abria a porta para que ela entrasse.
- Ei, aquele dia foi um acidente, e eu estava bêbado! - disse, com um biquinho irresistível. null teve que conter a vontade que teve de mordê-lo.
- Awn, tô brincando, meu bem! - Ela riu, dando um beijo rápido em null, que sorriu animado e deu a volta no carro.
- Antes de irmos... - Ele esticou o braço para trás e apanhou um buquê de rosas vermelhas no banco traseiro. - Pra você.
null abriu um sorriso imenso, aquele garoto sabia mesmo agradar.
- Quero fazer disso um encontro mesmo. - Ele sorriu.
- Awn, que lindo! - Ela cheirou as flores em suas mãos. - Obrigada, isso foi muito fofo!
null ligou o rádio e deu partida no carro. Estavam conversando sobre trivialidades, mas ele estava nervoso com o que tinha que fazer naquela noite. Queria que o pedido de namoro fosse tão perfeito que ela não tivesse como recusar de forma alguma. E ele não podia se atrapalhar e acabar fazendo algo dar errado. Estava pensativo, quando seus devaneios foram interrompidos por um espirro de null.
- Saúde. - Ele sorriu, e ela agradeceu.
- Então, o null e a null sumiram! - null disse, tentando conversar sobre alguma coisa. - Algo me diz que eles...
- Atchim! - null espirrou de novo, depois riu. - Desculpa, desculpa! - disse. - Eu também acho que eles podem ter... ATCHIM!
null arqueou a sobrancelha, estranhando aquele ataque repentino de espirros da provável futura namorada.
- Você está bem? - perguntou e ela sorriu.
- Estou sim, só preciso achar um lenço e... - A garota fez uma careta - ATCHIM!
null encostou o carro no acostamento. null estava espirrando e rindo ao mesmo tempo, o que o deixou preocupado e com vontade de chamá-la de tonta ou algo do tipo. Era por isso que gostava dela.
- null, você tá gripada? - perguntou, desconfiado.
- Claro que não, docinho - ela disse, com o nariz vermelho. - Eu tô bem.
E outro espirro.
- null - ele disse com a voz firme, o que fez null lembrar do próprio pai.
- Ah, null, desculpa! - Ela escondeu o rosto com as mãos.
- Ei, o que foi? - null soltou o cinto e tirou as mãos do rosto da menina.
- Eu... Sou alérgica a rosas.
null viu null abrir a boca, sem conseguir dizer nada por alguns segundos. Tinha tentado ao máximo esconder esse fato, afinal, a atitude dele tinha sido uma graça. Mas aqueles espirros malditos estavam a entregando, definitivamente.
- Ai, meu Deus! Eu sou um idiota, desculpe! - null disse rapidamente, pegando o buquê que estava no colo dela. - Eu não sabia, é sério, null, eu...
null riu, chacoalhando a cabeça.
- Você não era obrigado a saber, está tudo bem. - Ela sorriu, ainda coçando o nariz.
- Claro que era, eu podia te matar! - null disse gesticulando muito, fazendo null rir ainda mais.
- Você quer parar de drama? - disse, segurando o rosto de null entre as mãos e dando um selinho nele. - Eu devia ter te dito, não esperado minha crise de...
- Vou jogar isso fora, perai. - null disse, e null o segurou pela mão.
- Não, deixa pelo menos uma comigo. Pra eu guardar de lembrança.
null sorriu, e negou.
- É melhor tirar tudo que possa te matar de dentro desse carro - respondeu, rindo baixo. Pelo menos ela tinha encarado numa boa, e contanto que ele tirasse o buquê dali, ficaria bem.
- Tudo? - null disse, rindo. - Então você vai a pé ou vai me deixar dirigir?
A garota gargalhou da careta que null fez e o viu jogar o buquê em uma lata de lixo. Sentiu dó, mas era melhor assim.
- Lírios da próxima vez? - null entrou no carro, com cara de cachorrinho sem dono. null poderia agarrá-lo ali mesmo, mas apenas sorriu, concordando.

null estacionou o carro em frente a um restaurante italiano lindíssimo que tinha uma varanda imensa com vista para o mar. Viu os olhos de null brilharem. Ponto, pelo menos as coisas estavam começando a dar certo um pouco depois do planejado.
- null, esse lugar é... lindo! - null disse, animada, e ele a abraçou, depois segurou sua mão para guiá-la até a porta.
- E italiano. Eu sei que você não é muito fã da culinária francesa. - null sorriu com todos os dentes. - E agora sei que você também não é fã de rosas. - Ele riu.
- Deixa de ser bobo e esquece isso! - null sorriu e ele concordou, indo até o restaurante.

- Olha, tem um barco passando ali no fundo - null estava realmente deslumbrada com o lugar. A mesa que null tinha arrumado para eles era na varanda, como ela teria preferido.
- Quer olhar a carta de vinhos, senhor? - o somélier perguntou, e null sorriu educadamente.
- Deixo que você escolha o melhor para nós. Não entendo muito dessas coisas.- disse, sincero, e null sorriu.
- Esse é o melhor encontro de todos que eu já tive. - A garota sorriu, tímida, e null teve certeza que ela não poderia ficar mais linda.
- Mas nós mal começamos... - ele sorriu, segurando sua mão.
- Mas eu tenho certeza que é o melhor.
null passou as mãos pelos cabelos de null ao escutar isso, estava sentindo o coração bater tanto que parecia que tinha uma escola de samba dentro dele, deu alguns selinhos longos nela, que logo deu passagem para que aprofundasse o beijo. Talvez aquele fosse o momento certo, não precisaria esperar até o fim da noite.
- Você está linda, sabia? - disse, instintivamente, e ela abriu os olhos, sorrindo.
- Obrigada. Você também está - disse simplesmente. null estava brincando com seus dedos, parecia um pouco nervoso. - Aconteceu alguma coisa?
- Não, claro que não. - Ele sorriu. - Eu só queria...
- Com licença. - O someliér voltou, e null rolou os olhos discretamente. - O vinho de vocês.
- Obrigado, pode servir - ele respondeu rapidamente.
O rapaz estava enchendo a taça que estava em frente a null, quando outro garçon passou atrás dele e null não conseguiu ver o que aconteceu, mas os dois se chocaram, fazendo com que a taça caísse no vestido azul claro de null.
- Ai. Meu. Deus. - A garota disse, com os olhos arregalados. A mancha era pequena, o someliér tinha sido rápido. Mas não o suficiente.
- Minha nossa, me perdoe, senhora, eu nem sei o que dizer, eu... - O outro garçon surgiu, e os dois começaram a se desculpar juntos. null não sabia o que falar.
Aquilo definitivamente não poderia ficar pior.
- Não, está tudo bem - null disse. O gerente estava se aproximando da mesa deles.
- null, eu vou até o banheiro ver se consigo dar um jeito nisso aqui - ela disse muito calma, mas o jeito de sua voz deixava transparecer que estava brava. null a segurou pela mão.
- Eu nem sei o que dizer, isso foi horrível, desculpe - ele disse, mesmo sabendo que não era sua culpa - Vamos sair daqui, podemos ir pra outro lugar e...
- Não precisa não. Eu vou dar uma olhada nisso aqui, estou com fome e quero comer logo. - Ela sorriu, percebendo o quanto null estava desconfortável, e aproximou-se dele. - Ei, relaxe. Não foi sua culpa, amor. Já volto.
null praticamente correu para o banheiro. Ela tinha o chamado de “amor” no meio de um restaurante. E ainda por cima não tinha ficado com vergonha disso. Riu sozinha, e aquela história do vestido pareceu muito menor - ainda se seu Prada ficasse manchado, processaria aquele lugar.

null ainda estava sorrindo idiotamente pela pequena demonstração de afeto pública que tinha acontecido. Ouviu as desculpas do gerente, que acabou dando o jantar pra eles. No fim das contas, a refeição tinha sido muito agradável, os dois tinham rido muito. Tirando que ele se sentia culpado cada vez que olhava para a mancha no vestido. E ele olhava muito, era nos peitos dela. Preferiu não dizer nada sobre o namoro, não depois de uma cena daquelas. Ainda tinham um musical pra ver, e aquilo deixaria null muito feliz. Ela sempre quisera assistir Moulin Rouge na França. Tudo bem, era em Paris, mas a Riviera serviria.
- Nós vamos ao teatro? - null sorriu ao descer do carro.
null mostrou para ela os convites para a peça.
- Ah, meu Deus! - Ela bateu palmas, empolgada. - Você é o melhor, não acredito nisso! - A garota pulou em cima dele. Estava de vestido e eles estavam no meio da rua, mas não estava se importando. Já tinha perdido a dignidade pelo vestido manchado.
- Você merece. - Ele sorriu. - Ainda mais depois da história do vestido. E das flores. - Ele fez uma careta de dor.
- Vamos logo, estamos em cima da hora! - null o puxou pela mão, e os dois atravessaram a rua. Ficaram trocando beijos na pequena fila que tinha em frente ao teatro.
- Seus convites, por favor - o segurança pediu e null entregou, quase sem conseguir parar de beijar null - Boa peça!
null deu outro pulinho empolgado e virou de frente, para entrar.
- Ei, espere um instante, senhorita. - O mesmo segurança a barrou.
- O que houve? - null perguntou.
- Me desculpe, mas a senhorita não pode entrar com o vestido assim...- Ele apontou para a mancha, e null sentiu o sangue subir à cabeça.
- Quem disse isso? Que regra ridícula é essa? - respondeu, ríspido, e null arregalou os olhos.
- null, calma... - Ela sussurrou.
- Desculpe, são normas da casa.
- Nós vamos ver essa peça, você não está me entendendo! - null ainda falava muito alto, e null estava com medo do segurança gigantesco estressar e dar um murro nele.
- Me diz uma coisa - null interrompeu. - Se eu colocar um casaco, está tudo bem, certo? - Ela perguntou.
- Positivo, senhorita. - O segurança respondeu.
null puxou null para fora da fila, correndo até o carro.
- Seu blazer que está no banco de trás! - ela disse, e null suspirou aliviado.
- Você é um gênio.
- Eu sei! - Ela riu.
Os dois correram, e null pegou rapidamente o casaco. Já estava na hora da peça, os dois últimos casais da fila estavam entrando.
- Veste correndo! - Ele quase gritou.
“Ótimo, null. Não podia ser mais romântico. Você está mandando que ela corra de salto no meio da rua pra não perderem a peça. Você é um merda!”
null estava quase batendo a cara nas colunas do teatro de tanta raiva. Por que diabos TUDO dava errado com ele? Tudo que ele havia planejado estava se tornando uma grande piada.
“Nem eu mesmo namoraria comigo depois dessa”, pensou, e chegou até o segurança.
- Pronto, resolvido - ele disse em um tom ameno, porque reparou que era outro cara.
- Me desculpe, senhor. A peça começou há cinco minutos. Sinto muito, mas não posso deixar vocês entrarem.
- Por favor, nós estávamos aqui na hora, é que o outro segurança... - null argumentava.
- Me desculpe, senhorita. Não há nada que eu possa fazer.
A expressão de null era de decepção. Não, agora sim null estava se sentindo um lixo. Não teve coragem de falar nada sobre o teatro. Não tinha mais clima nenhum para falar nada sobre namoro. Estaria com sorte se null ainda quisesse olhar na sua cara no dia seguinte.
- Vamos pra casa - disse, com a voz baixa, e caminhou até o carro.

O silêncio era cortante dentro do carro, chegava a incomodar. null estava com os olhos focados na estrada, as mãos firmes no volante, tão firmes que null achava que quando ele soltasse, cairia um pedaço. Estava se sentindo mal por tudo que acontecera. Sabia que null tinha tentado fazer um encontro perfeito, e sabia como ele devia estar se sentindo.
- null, fala alguma coisa. - Sua voz era quase suplicante. Estava com medo que ele gritasse com ela ou algo do tipo.
- O que você quer que eu diga? - ele respondeu de imediato, nervoso - Desculpa, null. Esse foi o pior encontro da História.
null ia abrir a boca para retrucar, mas null ligou o rádio, e ela percebeu que isso era para que calasse a boca. Encostou a cabeça na janela, sentindo os olhos arderem. Podia parecer coisa de outro mundo, mas para ela, aquele ainda tinha sido o encontro perfeito. O carro começou a fazer algumas movimentações estranhas, e null se segurou na cadeira, rezando para que não quebrasse. null se mataria.
Mas aparentemente papai do céu não estava escutando muito bem. O barulho do pneu furado foi muito característico, e ela só fechou os olhos, esperando que null xingasse muito alto.
Não foi o que aconteceu.
null ouviu a porta do carro batendo com força extrema, e viu que null tinha saído. Imediatamente fez o mesmo, mas ele não estava indo consertar o pneu, estava andando em direção a praia.
- null! - ela gritou - null, me espera!
O garoto parou de andar, ainda estava de costas, e ela se aproximou, jogando os sapatos na areia. Ele virou de frente, olhando em seus olhos. null podia ver a ira neles.
- EU SOU UM IDIOTA! - ele berrou, e chutou a areia, que voou para longe. - Esse é o pior encontro de todos os tempos! O PIOR DE TODOS!
null respirou fundo, segurando-o pelos ombros.
- null, esse não é o pior encontro de todos os tempos, fica calmo - disse baixo, e ele riu, irônico.
- Pelo amor de Deus, null! Para de mentir! - ele disse alto. - Você não precisa ficar fingindo que foi maravilhoso pra me agradar, eu estava lá e vi a MERDA que foi! - null a encarou nos olhos. - Eu quase te matei de alergia, derrubaram vinho tinto no seu vestido claro, a PORRA do teatro não aceitou que a gente entrasse por causa da mancha, depois perdemos a hora pra peça que eu sabia que você queria ver... - Ele riu, chacoalhando a cabeça. - E pra completar, A PORRA DO PNEU FURA? Nem que você tivesse saído com Murphy seria pior que isso!
null começou a rir. Nem ela sabia porque estava agindo daquela forma.
- TÁ RINDO DO QUÊ? - null gritou.
- null, PARA DE GRITAR! - ela mesma gritou. - Você não teve culpa de nada do que aconteceu, pare de se culpar! - null continuou num tom mais alto, vendo que ele iria se manifestar. - Eu sei que TUDO o que você fez foi pra me agradar, e eu achei isso lindo!
- Lindo? - Ele chacoalhou a cabeça. - Você deve ser muito louca mesmo.
null bufou, andando em direção à água. Quando percebeu que null estava em seu encalço, virou abruptamente.
- Você não entende - ele disse baixo. - Isso não podia ter sido assim. Teria que ter sido... perfeito.
null respirou fundo, aproximando seu rosto do de null. Seus olhos estavam ainda mais bonitos refletindo a pouca luz da lua.
- E qual é o problema, amor? - Ela percebeu um sorriso sutil no canto do lábio de null quando usou a palavra. - Não é como se esse fosse nosso primeiro encontro. Nós teremos outros que darão tudo certo, você vai ver e...
- Não, null! - ele disse, com um pouco de raiva - Eu armei isso tudo porque eu queria pedir... Pedir pra você namorar comigo!
null deu um passo pra trás, instintivamente. Não sabia o que dizer. As palavras simplesmente tinham sumido.
- Mas agora já era! Foi o pior encontro das nossas vidas e não tem mais clima nenhum pra nada! - ele disse, entristecido. - Me desculpa. Eu não queria dizer isso assim.
null respirou fundo, seu coração dando sinais de vida parecia pular em seu peito. Ela sorriu e o encarou.
- null, você já olhou ao seu redor? - perguntou, e ele a encarou, sem entender. - Nós estamos em uma praia lindíssima e deserta. A única luz é a da lua cheia. Estamos... Aqui. Só nós dois. Isso não é perfeito?
null olhou para os lados. Era bem verdade que o cenário era deslumbrante, mas ainda assim estava puto. Não conseguia se conformar com aquela noite.
- Eu sei, null, mas...
- Shiu, eu não terminei. - Ela seu um selinho nele, e depois acariciou seu rosto. - Você está bravo, eu posso ver isso nos seus olhos. Mas pra mim, esse encontro foi sim o melhor de todos. - Ela sorriu, calando-o com o dedo. - Pensando agora no que você fez, teria sido sim, um encontro lindo, se tivesse dado certo...
- Mas não deu... - null interrompeu, mas ficou quieto quando viu que ela iria continuar.
- Só que se ele tivesse dado certo, null, nós não estaríamos aqui. Foi incrível tudo o que você tentou fazer. E eu não vejo cenário melhor pra... null, eu adoro você. E eu sei que você não consegue dizer, mas eu... - Ela riu - Você quer namo...
- Não! - Ele deu um selinho nela, fazendo com que se calasse.
- O que... Por quê? - null parecia decepcionada com a interrupção. null sorriu e segurou seu rosto com as mãos.
- Eu... Eu sou um babaca.
- null, por favor... - A garota rolou os olhos, vendo que o tema estava voltando para o início, bem quando achava que teriam um progresso.
- Shiu, eu não terminei. - Ele deu um selinho nela, o que a fez rir de leve, pela cópia da frase. - Eu sou um babaca porque eu achei que eu precisava de um encontro perfeito pra fazer isso. Eu achei que tinha que ser no lugar certo, na hora certa... Mas isso é ridículo! - Ele riu. - Eu estou aqui, com a mulher mais linda e manchada da França - disse, fazendo a garota gargalhar. - Numa praia deslumbrante. E tudo o que eu precisava era dizer que eu também te adoro. E se você foi louca o suficiente para achar nosso encontro lindo... Talvez eu tenha uma pequena chance de você aceitar ser minha namorada.
null teve a sensação que o mundo tinha acabado ao redor dela. Poderia acontecer uma guerra nuclear naquela mesma praia, mas ela não repararia em nada. Só naqueles olhos lindos e naquele sorriso sincero. Ela era a garota mais sortuda do mundo.
- É claro que eu quero namorar você!
null abriu um enorme sorriso, e pulou em cima de null, que a segurou no ar, fazendo com que ficasse em seu colo. Aproximaram seus rostos e por alguns instantes, ficaram apenas rindo, qualquer um que passasse, acharia que estavam bêbados. null passou o nariz de leve na pele da garota, que fechou os olhos e entrelaçou os dedos em seus cabelos. Não precisou de autorização alguma. Ela era sua, agora oficialmente. Beijou-a com tanta vontade que achou que fosse perder o fôlego em cinco segundos, mas durou muito mais que isso. null abriu os olhos, ainda sem ter certeza que aquilo era realmente real, quando ouviu aquela voz rouca perto de seu ouvido, confirmando absolutamente tudo.
- Eu sempre disse que você seria minha, docinho.

Capítulo 16: The last Week of Summer

- Eu não consigo acreditar em tudo que aconteceu nessas férias! - null disse, jogando os pés no colo de null. - E, por Deus, só falta UMA SEMANA!
Todos concordaram com a cabeça.
- Realmente, essa viagem foi meio surreal... - null disse e null riu.
- Meio surreal? - ela fez careta, mudando o canal da televisão. - Você está sendo muito bondoso quanto a isso, baby.
- Vocês já pensaram em como seria se tivéssemos continuado os mesmos? - null fez cara de sábio, fazendo as garotas rirem. - É sério!
- Acho que nunca tinha parado pra pensar nisso não, null! - null disse e sorriu, sentindo o beijo que null depositou em seu ombro.
Todos, com exceção de null e null, estavam na sala, depois do almoço. Estavam com preguiça de fazer qualquer coisa, então resolveram ficar jogando conversa fora. Era a última semana na Riviera, mas já tinham aproveitado tanto que podiam se dar ao luxo de ficar sem fazer absolutamente nada por algumas horas.
- Gente - null sentou-se corretamente, encarando as pessoas ao redor. - E se o null e a null ainda se odiassem? Será que o null e a null teriam se aproximado? Será que eu teria me aproximado do null? Será que... Será que a gente se quer se falaria?

Capítulo 16: Do jeito que poderia ter sido

- O que diabos você ta fazendo aqui? - null gritou para null, que estava jogado no sofá, vendo um jogo de futebol na televisão.
- Fazendo malabares com fogo, não reparou não? - ele riu, sarcástico.
- null, se manda daqui! Essa tarde os garotos tem que SAIR porque a casa É NOSSA! - null disse séria - Esse era o combinado!
- Eu não combinei nada com ninguém. - null disse calmo, percebendo que a garota em sua frente ficava vermelha de ódio. Ele amava fazer isso. Sabia que só faltava um pouco para que explodisse.
- Combinou sim, merda! Tá escrito no papel da geladeira! Nessa semana a casa é só nossa na quarta feira! Por que você não age como um homem uma vez na vida e respeita isso?
null bufou, sentando-se no sofá.
- Eu saio daqui se você me fizer um favor.
- Eu não vou fazer nada pra você, null. - null rolou os olhos.
- Então acostume-se à minha presença. - Ele sorriu, vitorioso, jogando o corpo pra trás de novo. null xingou algo desconexo e o puxou pelo cabelo, fazendo-o gritar: - Outch! Mas que porra!
- O que você quer, idiota?
- Puxar o cabelo não vale tão a pena quando a pessoa não ganha um chupão no pescoço depois - null resmungou e null gargalhou.
- Nem que eu estivesse muito louca.
- Você sabe que me quer, docinho - ele murmurou, e a garota bufou.
- QUANTAS MIL VEZES EU VOU TER QUE FALAR PRA VOCÊ NÃO ME CHAMAR DE...
- Docinho? - null riu. - Te acho tão sexy nervosinha, docinho.
- null! O que diabos você quer pra sair daqui? FALA LOGO!
- Nossa, pra que você quer tanto que eu saia? Vai trazer algum francês fedorento pra cá? - Ele riu.
- Melhor perfume francês forte do que esse bafo de cerveja, queridinho... - null sorriu vitoriosa, vendo a cara que null fez. - Só pra constar: isso está influenciando no seu corpo, dou dois anos para você estar super...
- Cala a boca, eu não vou ficar gordo em dois anos. - null rolou os olhos. - Você é insuportável.
null deu de ombros.
- Só estou sendo realista.
- Cala a boca! - null resmungou.
- Fala logo o que você quer, null, e vá se juntar aos demais losers!
- Ah, sim! - Ele sorriu. - Só quero uma coisinha. Que você dê dois passinhos pro lado.
- Quê? - a garota exclamou, e null fez sinal com a mão.
- Você tá bloqueando a TV.
null tacou uma almofada na cara de null assim que ouviu o que ele disse, fazendo o garoto gargalhar. Ele tinha feito com que perdesse todo aquele tempo? Mas isso não ficaria assim, isso ele podia ter certeza. null achou estranho null não ter dito nada e partido escada acima, mas o pensamento logo lhe fugiu da cabeça quando o Chelsea começou a se aproximar da área.

- Amiga, se toca, eu já disse que não tem como você ser amiguinha de um daqueles losers! - null disse e null rolou os olhos, entediada.
- Por Deus, null! Não é como se eu fosse melhor amiga de infância do null, eu só conversei com ele por 15 minutos!
- Inaceitável - null disse, fazendo a amiga bufar.
- Inaceitável eu ter uma conversa?
- Não, inaceitável O NO NOSSO SOFÁ QUANDO O DIA É NOSSO! - null berrou, mas null mal se movimentou.
- Shiu, tá atrapalhando meu jogo!
- Era pra você estar na praia com o restante da sua turminha, não é mesmo? - ela disse.
- Você não manda em mim, null. - Ele rolou os olhos. - Fica quieta.
- Mas por que você quer ficar em casa com um sol desses mesmo? Não tinha nenhuma biscatinha francesa pra você... - null ia dizendo quando foi interrompida.
- Ele quer testar minha paciência, amiga - null disse, descendo as escadas. - Mas não vou cair nessa.
null soltou uma sonora gargalhada no sofá.
- Como se eu me importasse tanto assim com você, null - disse, olhando pra tela. - Se enxerga.
Ela sorriu, caminhando até a cozinha.
- Eu já disse pra você não mexer comigo, null - disse calmamente.
- Cala a boca, tá nos pênaltis! - ele disse, e ela riu baixo.
- Eu sei - murmurou.

Esse pode ser o gol decisivo do jogo. Se o Chelsea não marcar, o campeonato é do Manchester. Se marcar, a torcida do Blues comemora. Partiu diretamente para o...

- MAS QUE PORRA FOI ESSA? O grito de null ecoou pela casa inteira. null começou a rir descontroladamente, ainda com uma das mãos no quadro de luz da casa. Tinha assistido àquele jogo babaca por meia hora, mas sabia a hora certa de fazer null ter uma síncope. Tudo que ouvia era um palavrão atrás do outro na sala, e eles começaram a ficar mais próximos da cozinha. Rapidamente, fechou o quadro de luz e sentou na bancada, tentando prender o riso.
- FOI VOCÊ! - Ele entrou gritando, e a garota sorriu de canto, cínica.
- Tô limpa, oficial null! - Colocou as mãos pra cima e ele a segurou pelos ombros.
- Você vai me pagar muito caro! - disse entre dentes, null podia ver o ódio em seu olhar. null a soltou com força, fazendo a garota quase tombar de costas. Suas amigas já estavam por perto.
- A culpa é minha que a luz acabou agora? - disse com cara de anjo, vendo null caminhar até o quadro de luz e subir a alavanca, fazendo com que todas as luzes da casa acendessem.
Ele não respondeu. Apenas correu para a sala para ver a televisão.
- MANCHESTER UNITED É CAMPEÃO! - Ouviu o narrador gritar, e xingou mais meia dúzia de palavrões. Estava tão puto que nem conseguia raciocinar.
Viu null, null e null entrarem na sala, cabisbaixos, e teve certeza que a porcaria do Chelsea tinha perdido. Sem pensar, correu até a cozinha, sentindo a fúria que percorria seu corpo.
- NÃO ACREDITO QUE VOCÊ FEZ ISSO! - berrou, apertando o braço de null, que gemeu, mas não disse nada.
- Eu te disse pra não mexer comigo... docinho - a garota soltou a palavrinha que ele tanto amava usar para irritá-la, junto com uma piscadela que o deixou furioso. Como ela conseguia ter aquela carinha de anjo o tempo todo? Filha da puta!
- Você foi longe demais! - ele disse alto. - E vai me pagar caro por isso!
- Vai fazer o que? Me bater? - Ela sorriu com todos os dentes, sabendo que mesmo para null, que a odiava, aquilo não era uma possibilidade.
- Dude, o que você ta fazendo? - null chegou na cozinha, acompanhado do resto da casa.
- Fica fora disso, null - null disse, com o olhar fixo no de null.
- Repito: você vai me bater, queridinho? - ela provocou, e null chegou perto dos dois.
- null, para com isso! - ele disse e puxou null pelo braço. - Você vem comigo.
- Eu não vou pra porra de lugar nenhum! - null disse baixo, mas com a voz quase falha. - Aliás... - Ele riu malicioso. - Vou sim.
null disparou para fora de casa. Todos ficaram sem entender, null brigava com null no canto sobre “a culpa ser toda do null”, e null fez um único movimento: levar a maçã à boca, como se nada tivesse ocorrido. null voltou - ela podia perceber sem se virar -, mas o estranho foi ouvir o grito de pavor que null deu. Pensou que ele estivesse com uma faca ou coisa do tipo. Quando virou o corpo pra olhar, viu que ele tinha uma lata de tinta em spray verde limão nas mãos. E suas sandálias Louboutin nas outras. Antes que conseguisse gritar algo, elas estavam totalmente manchadas com tinta de grafite.
- EU VOU MATAR VOCÊ, GAROTO! - gritou, pulando da bancada e indo em direção a null.
- EU AJUDO! - null se solidarizou, e logo uma gritaria se instalou na cozinha. null tentava segurar null, antes que socasse null, mas não deu muito certo. Todos discutiam em volta deles.
- VOCÊS SÃO MALUCOS!
- VOCÊS QUE SÃO UM BANDO DE PATRICINHAS MIMADAS!
- ESSA É A PIOR VIAGEM DE TODAS!
- PODE TER CERTEZA QUE...
A gritaria cessou com o barulho de algo de vidro caindo no chão.
null segurou a testa, como uma cena que não havia acontecido tanto tempo antes, e sentiu o sangue escorrer.
- EU ODEIO VOCÊ!
null e null gritaram juntos, fazendo todos arregalarem os olhos.

(...)

- PARA, PARA, PARA! - null gritou. - Não gosto de pensar em “como seria” - ele fez aspas com os dedos, abraçando null pelas costas. - Eu gosto muito mais de como é agora - disse, e todos entoaram um “awnnn”, fazendo-o corar e null rir.
- Eu também prefiro muito mais como está agora, namorado - ela sussurrou, fazendo null sorrir abobalhadamente e beijá-la.
- Eu gosto quando você me chama de namorado - ele disse, sorrindo.
- Eu gosto de ser sua namorada. - Ela riu.
- Ah, que nojo, já aumentou minhas diabetes de novo! - null disse, fazendo todos gargalharem.
- Fala sério, aposto que você e o null são super melosos um com o outro. - null desafiou.
- Eca, jamais. - null riu. - Ser meloso é para os fracos. Os fortes curtem umas coisas mais picantes que isso.
- NOSSA! - null gritou, fazendo todos rirem. - Quer dizer então que vocês são o casal made in México? - disse, e todos gargalharam.
- Estamos mais pra um casal made in vulcão - null se gabou, fazendo todos gargalharem.
- Menos, null, quase nada, vai - null disse, fazendo null se contorcer na cadeira.
- Tá rindo do que, senhor “eu sou o cara mais lindo que você já viu?” - null sacaneou. - Pelo amor, hein null, não foi assim que eu te ensinei...
- Cala a boca aí, vai, docinho! - null soltou e todos riram.
- Gente, isso é muito divertido! - null bateu palmas de uma maneira que fez null pensar em uma foca, e rir.
- O quê, null? - null indagou.
- Você namorando o null. O casal mais quente que pimenta null e null e bom... Eu e essa coisa aqui - ela disse, corada, fazendo null rir.
- Obrigado pelo coisa.
- Não há de quê - ela respondeu, rindo baixo.
- Pra ser mais perfeito, só faltava... - null começou a dizer, quando null entrou pela porta.
- Gente, vocês não vão acreditar! Fiquei duas horas na fila do mercado, e quando cheguei lá, tava sem sistema pro meu cartão! QUE ABSURDO! - ela disse, enquanto todos riam baixo. - Do que vocês estão rindo?
- De nada - null disse, segurando o riso.
- Só estávamos conversando sobre como teria sido, caso o null e a null ainda se odiassem - null disse naturalmente.
- Ah... - null fez cara de pensativa, como se ainda calculasse a hipótese. - Estranho, não consigo mais pensar neles separados! - riu. - Vou pôr essas coisas na geladeira.
Todos se entreolharam, tentando rir baixo, mas assim que null ia abrir a boca pra prosseguir, null desceu as escadas.
- Cara, dormi demais! - ele disse, e null bufou.
- Nunca vou terminar meu raciocínio - ela disse e null riu baixo, beijando-a.
- Alguém quer dar uma volta na praia? - null perguntou, mas todos negaram. Ninguém queria sair dali, e se saíssem, null mataria um a um com as próprias mãos. - Ok então. Qualquer coisa, tô no celular.
null bateu a porta, e todos encararam null.
- Acho que minha fala perdeu a graça de tão óbvia - ela disse e null riu, maliciosa.
- Sei bem o que está pensando.
null arqueou a sobrancelha, maroto.
- Declaro aberta a “Operação União do último Casal” - disse, e todos riram, batendo as mãos.

As coisas estavam bastante claras para aqueles seis amigos. Oito pessoas, quatro garotos, quatro garotas, a matemática é simples. Quatro casais. Não podiam ser três, null e null ficariam juntos nem que fossem amarrados. Tudo bem que todos desconfiavam que isso não seria preciso, afinal, assim como os demais, a estranha magia da viagem pra França também tinha os tornado bem amigos, o que facilitava o processo.
- Ok, o que vamos fazer? - null fechou a porta atrás de si, certificando-se que null tinha realmente ligado o chuveiro no quarto ao lado - Precisamos de um plano.
- Ou de vários, porque o null é meio lerdo... - null disse e os garotos riram.
- Ei! Vocês tão falando do meu irmão! - null fez careta, segurando o riso.
- Digamos que você é mais homem que ele, null - null disse simplesmente, e todos o encararam. - Tá, não foi uma boa comparação.
- Ainda bem que você sabe - null disse, e null rolou os olhos.
- Gente, cadê o foco? Tudo bem que a null demora três horas no banho, mas no ritmo que vamos, não teremos nada quando ela sair!
- É, e o null pode voltar e estragar tudo.
- Andei pensando em algumas coisinhas... - null fez cara de intelectual. - Algo simples, como... Verdade ou desafio?
- Ah, não! - todos disseram juntos.
- null, isso só é solução se você está no pré e quer dar seu primeiro... selinho! - null fez careta e null riu.
- Me diz que você não brincava de verdade ou desafio no pré! - null indagou e null riu.
- Com garotas da quarta série - se gabou, e a garota fez careta, dando um tapa em seu braço.
- Seu puto! - Ela riu, e ele a acompanhou.
- Ok, e se nós fizéssemos um encontro pra eles? - null disse, com os olhos brilhando. null fez careta de novo.
- O que foi dessa vez, null? - null bufou e null riu.
- Nada não. null ainda anda traumatizado com encontros - ela disse, rindo baixo.
- Você devia estar também. - Ele fez bico.
- Não podia ter acabado de melhor forma, eu já disse isso pra você. - Ela sorriu, e null sentiu a nuca arrepiar. Como ela era boa nisso!
- Bom, eu acho muito digno um encontro! - null concordou com null.
- Também acho! - null se manifestou.
- Mas e se... - null interrompeu.
- E se nada, null! Você não vai dar ideia melhor! - null disse e todos sacanearam null por pelo menos cinco minutos.
- Patroa, deixa ele continuar, vai? - null riu e null mostrou o dedo do meio pra ele.
- Hoje, quando eu e a null acordamos, tava passando Friends na TV... - null disse, pensativo. - Era um episódio que a Phoebe e o Joey tentam juntar o Ross e a Rachel.
- Nossa, null, genial! - null bateu palminhas e null riu.
- E o que eles fazem? - null perguntou.
- Vocês sabem que se inventarmos um encontro pra eles, eles jamais vão aceitar. Só se for obrigado mesmo. Então no seriado, eles marcam dois encontros terríveis, pra que no final o Ross e a Rachel descubram que são perfeitos um pro outro.
- Eu amei! - null sorriu.
- Pra quem não queria me deixar falar... - null fez bico, e null riu, beijando-o.
- Tá, mas no seriado não dá certo! - null disse. - Eu lembro do episódio.
- Ok, mas o nosso vai dar! - null disse, decidida. - Somos muito fodas. Faremos tudo perfeitamente. Milimetricamente calculado.
- Meio CSI esse papo...
- Cala a boca, null!
- Tá, beleza... - null sorriu, maliciosa. - Vamos arrumar um encontro terrível para a null. E o null vai tomar um bolo.
- Encontro terrível pra null? Hmmm... O cara pode vir buscá-la a pé! - null riu. - Vamos arrumar um cara pobre que venha de ônibus!
Todos riram da idéia, sabendo que ela fazia muito sentido.
- Foda é arrumar alguém pobre na Riviera Francesa! - null disse.
- JÁ SEI! - null deu um pulo da cama - null, como era o nome daquele ator que bonitão que veio na nossa festa?
- null, é pra ela odiar o cara!
- Eu seeeei! - null rolou os olhos. - Mas ele é ator, durd! Ele pode ser bonito, mas pode estar fedido e atuar que é pobre!
- BRILHANTE!
- Eu sei, sou foda.
- Quieta! - null riu. - Esse povo ta muito pretensioso ultimamente! Convivência com você, docinho? - Ela riu da cara que null fez.
- Você vai pagar por essa hein?
- Adoro pagar meus pecados - respondeu, maliciosa.
- AI, JESUS, eu sou muito novo pra ouvir essas coisas! - null fez cena e todos gargalharam, enquanto tentavam formular todos os detalhes do plano.

As garotas estavam na praia - tudo dentro do plano, é claro - e null estava com elas. null escondia-se embaixo do guarda-sol, tomando uma água de coco. Não era adepta ao bronze, enquanto null e null tostavam sob o sol. null tinha ido dar um mergulho. Para voltar com algo de lá.
- Gente, sabe o que eu tava pensando? - null puxou assunto.
- Fala.
- Última semana, acho muito que devemos dar nossa última festa de arromba na Riviera!
null e null se entreolharam, empolgadas. Tinham pensado tanto na “Operação”, como diria null, que tinham esquecido que uma festa de encerramento seria fundamental.
- Seria perfeito, null!
- Pensei em algo diferente dessa vez...
- Como assim? Algo com tema... Tipo baile de máscaras? - null perguntou empolgada.
- Na verdade, não. - null riu da cara de decepção da amiga. - Temos uma praia quase particular aqui. E esse lugar é lindo! Já viramos bests do dono do quiosque, achei que seria bacana uma festa na praia!

Flashback...

As lágrimas escorriam pelo rosto de null, que estava parada, agora olhando para Brian, que ria a cada palavra da maldita carta da aula de literatura. null olhou para trás e seu olhar se encontrou com o de null. Foi quando ele percebeu que ela estava chorando. Em meio segundo, deu mais alguns passos e puxou Brian para baixo do palco, dando um soco certeiro em seu rosto. O garoto caiu na areia.
- Filho da puta! – Brian gritou e acertou outro soco em null, que cambaleou. - Você vai ser só mais uma vítima na mão dela!
null nada respondeu, mas tinha raiva no olhar. Virou outro soco na barriga de Portman.
null já estava ao lado das amigas gritando por socorro quando Ian também partiu pra cima de null, derrubando-o no chão. Então null, null, null e outros garotos conseguiram apartar a briga com algum esforço.
- Eu disse que ia ter volta, vadia! – Brian gritava tentando se soltar dos braços de um desconhecido. – Me solta, porra! Eu ainda quero acertar uma no olho desse...
- Solta, deixa ele vir! – null provocava, chamando-o com o dedo, enquanto também tentava se soltar de null.
- null, fica na sua! – null segurava o amigo com mais força.
- Já chega vocês dois! – null gritou com os olhos vermelhos. – Você é podre, Brian. Muito pior do que eu esperava!

End Flashback.

- Ugh! - null chacoalhou o corpo. - Festas na praia me dão calafrios.
- Ué, por quê? - null perguntou e null olhou pra ela.
- Não se lembra da história da carta da aula de literatura que o Brian leu? - disse e null bateu com a mão na própria testa, envergonhada.
- Ai, amiga, eu esqueci, desculpa! - disse para null. - Mas no fim das contas, acabou sendo bom, vai? Você tá namorando seu loser agora! - null sorriu e as garotas riram.
- Você tem razão. Acho que festa na praia vai ser uma boa mesmo! - null concordou, e null aproximou-se delas, acompanhada do tal ator-bonitão, que atendia pelo nome de Cory Sparks. De acordo com null, um nome meio gay.
- Meninas, vocês não vão acreditar no que acabou de acontecer! - null parecia ofegante.
- O que houve, amiga? Que cara é essa? - null perguntou como se estivesse muito preocupada, fazendo null se perguntar por que não as tinha carregado para o teatro.
- Quase me afoguei!
- Mentira! - null jogou sua Elle de lado. - Você ta bem, amore?
- Estou, porque encontrei com o Cory, ele me salvou! - null sorriu com todos os dentes, e o bonitão acenou para as garotas.
- Por que eu acho que o conheço, mesmo? - null ergueu uma sobrancelha.
- Porque você me conhece. - Ele sorriu. - Fui na última festa de vocês na mansão.
- Ahhh... - null suspirou, com cara de tarada.
- Bom, null, só queria me certificar de que você tava bem. Acho que vou indo - ele disse. - Ah, se mudar de ideia sobre hoje à noite, me liga - Cory deu uma piscadinha e saiu correndo, sem camisa, pela praia. Todas olharam boquiabertas - sem ensaio algum - para o corpo perfeito dele.
- Meu Deus do Céu, tô indo ali me afogar e já volto! - null exclamou e null riu, vitoriosa.
Bingo.
- O que ele queria com você hoje, null? - null perguntou, segurando o riso.
- Ele queria que eu saísse com ele - null respondeu, tímida.
- E VOCÊ NÃO VAI? - null gritou.
- Claro que não! Já ouviu falar em um certo null null que atende pelo nome de meu ficante no momento?
- FICANTE NÃO É NAMORADO! - A reação previsível de null fazia com que as meninas segurassem o riso.
- Na verdade, ele te achou bem gata, amiga. Eu posso ligar pra ele e dizer que você... - null nem conseguiu terminar a frase.
- Fechadíssimo, manda o bonitão me buscar às 20h!

- Cara, não acredito nisso! - null entrou na sala onde null e null jogavam sinuca, e null esperava sua vez.
- Ótimo, podemos em jogar em pares agora? - null bufou e null riu, posicionando-se para sua jogada.
- O que aconteceu, null? - null perguntou e null pareceu cair em si, olhando pra cara de null, do que ele estava fazendo.
- Lembram da Maureen? - null indagou.
- Não. - Os três responderam em uníssono e null riu.
- A gostosa que o null agarrou aquele dia que ele queria irritar a null!
- Ahhhhh. A Maureen. - null fez uma careta, lembrando do dia.
- Então, ela me ligou... Querendo sair comigo. - null fez cara de cãozinho abandonado. - Mas eu tenho a null, nem vai rolar.
- Ah, nosso garoto está entrando num compromisso! - null sacaneou, e null mostrou o dedo.
- null, já que você é o único solteiro da turma, eu acho que você deveria quebrar esse galho e levá-la pra sair pra mim. - null disse simplesmente, e null levantou a cabeça, confuso.
- Por que você não diz pra ela que não pode?
- Porque eu não sei dizer não pra garotas... Vou oferecer você em troca. - Ele riu.
- Não sei se quero. - null murmurou.
- Qual é, para de ser gay, null! - null resmungou. - A Maureen... Bem, pelo que eu lembro, era bem gostosa!
- Ei, olha o respeito, cunhado! - null fez uma voz afetada e os garotos riram.
- Sério, ela é gostosíssima, null! Eu lembro! - null incentivou.
- Tá bom, vai! - null disse, errando uma bola. - Eu passo pra pegá-la?
- Não precisa, eu marco pra vocês no restaurante. - null sorriu de forma angelical, e fez com que null quase cuspisse o refrigerante.
- Ok. Melhor assim.

- Fala, docinho - null atendeu o telefone, e null riu.
- Tudo certo com meu irmão?
- Tudo no esquema. Ele acha que vai encontrar a Maureen - null riu.
- Quem diabos é Maureen? - null sussurrou do outro lado. null não entendeu por que ela estava fazendo aquilo, talvez só quisesse dar um ar de seriado policial à conversa.
- Por que você tá sussurrando? - ele sussurrou de volta, e a garota riu.
- Quem é Maureen? - null disse um pouco mais alto.
- A garota amiga do null... - null parou a frase.
- Que você agarrou? Lembro da vaca - ela disse baixo, e null não estava vendo, mas tinha certeza que tinha rolado os olhos.
- Ei, já passou isso, ok? - ele disse. - Além do mais, ela nem sabe de nada.
null riu.
- Somos muito maldosos. A null já tá de encontro marcado com o Cory. E ele já sabe direitinho como agir.
- Beleza! - null comemorou. - Ah, por que você ta sussurrando mesmo?
- Porque é sexy. - A garota riu. - Porque a null tá aqui, óbvio. Melhor eu desligar.
- Ok, não fique demais no sol, se você se queimar eu não terei como me vingar de você essa noite. - null disse maroto e a garota gargalhou.
- Cala a boca, vai. - Ela ainda ria. - Beijos, amor!
- Beijo, linda.

Estava tudo certo para a “Operação União do Último Casal”. null estava deslumbrante, tinha usado todas as marcas possíveis e um salto finíssimo que com toda certeza não seria bom para o lugar que estava indo. null teve dó e vontade de rir ao mesmo tempo, mas ficou quieta. null tinha se arrumado pra encontrar a gostosona no restaurante, mas ainda estava na sala vendo TV com os caras, porque não teria que buscá-la. O interfone tocou e null correu, rindo baixo, presumindo que seria o tal Cory-Nome-de-Gay-Sparks.
- null! - ele gritou. - O tal do Cory tá aí!
- Ai, meu Deus! - Ela ajeitou o vestido curtíssimo preto que usava. - Estou um arraso?
- Até eu sairia com você, amiga - null disse, rindo. - Vai lá, arrasa o coração do gatão Cory!
null desceu as escadas e os quatro garotos viraram o pescoço pra olhar. Estava deslumbrante. null abaixou o rosto para não rir e estragar tudo, mas presumia que ela ficaria muito puta.
- Wooo-Wow! - null disse, e null cutucou null para que visse a reação dele. - Você está linda - disse, meio corado.
null sorriu largamente.
- Obrigada.
- Bom encontro com o Cory-Gay, null! - null disse e null riu.
- Gay é você! - ela respondeu, rindo.
- Não é o que a null acha - null se gabou e null arqueou a sobrancelha.
- Cão que ladra não morde, null - disse, desafiadora, e ele sorriu.
- Veremos.
null caminhou rindo (de null e null) e xingando (o caminho de pedras que era horrível pra andar de salto) até o portão. Ao abri-lo, encarou um Cory lindo como sempre, porém vestido... De bermuda, camiseta e chinelos?
- Nossa, caprichou! - Cory aproximou-se para cumprimentá-la. - Não sei se mereço tudo isso...
"Ok, null, respire. Pelo menos ele é gatíssimo!"
Cory a abraçou e null xingou a si mesma por ter dito "respire". Ele estava suado e nojento. Ninguém merecia aquilo, ninguém. Mas uma coisa sua mãe tinha lhe ensinado: uma dama jamais comenta algo assim, então sorriu amarelo.
- Vamos? - perguntou, delicada.
- Claro! É melhor irmos mesmo, o ponto mais próximo é a dois quarteirões. - Cory respondeu simplesmente.
- Ponto? - null elevou um pouco a voz. - Ponto de quê?
"Diga táxi, diga táxi..."
- De ônibus, ué! - Cory riu baixo da cara de choque da garota, puxando-a pela mão enquanto contava qualquer história boba sobre "como seu carro tinha quebrado".

null partiu para o restaurante pouco tempo depois. Estava feliz de encontrar a gostosona da Maureen. Tudo que precisava era de uma noite longa de diversão com uma bela garota. Esse negócio de único solteiro da casa estava começando a irritá-lo. É claro que podia optar por se unir a outra solteira da casa, mas isso seria meio óbvio - e convenhamos, bem difícil, tendo em vista que ela também tinha um encontro e estava linda. O tal cara do nome gay tinha sorte, mas ele também. Maureen era um belo passatempo.
- Boa noite, senhor. - Uma moça bonita dos olhos verdes veio atendê-lo. - Posso ajudá-lo?
- Claro. Eu tenho uma mesa reservada em nome de null null.
A garota sorriu, checando.
- Mesa para dois, não? Me acompanhe, por gentileza.

null não poderia estar mais irritada. Tudo que conseguia pensar era que preferia ter sido atropelada pelo carrinho de cachorro quente que cruzava a rua do lado de fora. Aquele cara era gato, mas não valia nem um pouco a pena. Estava de bermuda, suado, a fez andar de salto e pegar ônibus, e como se não bastasse, tinha a levado para comer hamburguer e milk-shake num dinner anos 50 em que a procedência da comida era bastante duvidosa. O cheiro de gordura lhe dava voltas no estômago, e só pra completar, ele comia de um jeito terrível e falava de boca cheia. Era como se alguém tivesse entrado em sua mente e tirado de lá seu pior pesadelo, pra usar contra ela mesma.
- Gata, vou tirar água do joelho.
Cory disse e levantou. null sacou o celular no mesmo instante, ligando para null. - Fala, gatinha. - null atendeu quase rindo, presumindo o que viria. Todos estavam com ela, comendo pizza.
- Me mate. Mas tem que ser AGORA! - null gritou, enfurecida. - Esse é o pior encontro EVER!
- Do que está falando, amiga? - null fez voz de confusa e null chacoalhou a cabeça, falando "malvada", apenas mexendo os lábios.
- Esse Cory é horrível! Ele é nojento, ridículo, ele... Ei, olha por onde você anda, mulher de patins! Se derrubar milk-shake no meu vestido eu te processo! - null gritou, totalmente afetada, e null acabou rindo do outro lado.
- Não entendi nada. Achei que o Cory fosse um bom partido...
- Eu também! Eu preciso me livrar dele e desse lugar antes que eu tenha um derrame! - null sussurrou e null sorriu, maliciosa, fazendo um sinal de positivo para os outro cinco.
A primeira parte do plano estava completa.
- Amiga, fuja! Fale que vai ao banheiro e fuja! - Incentivou.
- Na verdade ele está "tirando água do joelho" agora mesmo - null disse com nojo, fazendo null pensar no ator brilhante que Cory devia ser.
- Que palavreado horrível, amiga! - null riu.
- Vá à merda! - null bufou. - Tô fora daqui.

- Ok, gente, esse é o momento! - null desligou o telefone, tomando um longo gole de refrigerante. - A null vai fugir de lá!
- Yey! - null exclamou.
- Maravilha! - null disse. - Então temos que cair fora daqui agora!
- Mas eu nem acabei de comer minha pizza... - null reclamou de boa cheia, e null acertou um tapa em sua cabeça. - Outch.
- Vá comendo isso, null! - ela disse, jogando o celular na bolsa. - Tudo certo na sala de jantar?
- Tudo perfeito! - null sorriu. - Jantar japonês super chique, com muito saquê! - A garota sorriu, maliciosa.
- Você não era assim, amiga! - null chacoalhou a cabeça e elas riram.
- Tá, o caseiro já sabe o que tem que fazer, não? - null perguntou.
- Tudo certo. Os dois entram juntos! - null disse, engolindo sua pizza tão rapidamente que teve medo de engasgar.
- Fechado. Vamos cair fora daqui. - null sorriu, puxando null pela mão, com o restante dos amigos atrás deles.

- Alô.
- null? - null perguntou e ouviu null bufar.
- Claro que sou eu. Cadê sua amiguinha gostosa, porra?
null tampou o fone para rir.
- Ela não chegou? - perguntou despreocupadamente.
- Não. Eu tô esperando há uma hora, isso é humilhante! - disse, batendo os dedos na mesa. Os garçons já olhavam pra ele, tinha certeza que todos já presumiam o bolo que tinha levado.
- Não acredito, dude! - null disse. - Só tinha ligado pra avisar que íamos sair, você tá sem chave, né?
- Estou. Mas o caseiro ta aí, não?
- Acho que vai estar aqui sim. Ele vai comprar algo no mercado. Hm, espera aí na linha, vou tentar ligar pra Maureen.
- Ok. Anda logo.
null tirou o telefone do ouvido, ficou rindo com null por dois minutos e pegou o telefone de volta.
- Dude, você não vai acreditar!
- O que foi? - null perguntou, nervoso.
- A Maureen teve que viajar com os pais pra Nice e esqueceu de avisar!
null tirou o telefone do ouvido, rindo do sonoro palavrão que null soltou do outro lado da linha.
- Tô indo pra casa.
- Beleza. Qualquer coisa, me liga.
- Senhoras e senhores! Segunda parte da Operação... Concluída! - disse, animado.

null entrou em casa e jogou-se no sofá. Achou estranho ninguém estar ali, mas não eram obrigados a ficar esperando-a, pensou, e então ficou quieta. Estava morta de fome, não tinha conseguido engolir nada naquele encontro imbecil, então tirou as sandálias e correu para a cozinha. A porta estava trancada.
- Ué! – Forçou a mesma, sem sucesso – Mas que droga!
Estava pronto par air atrás do caseiro, quando ouviu alguém mexer no trinco da porta da entrada. - Oi? – null disse, confuso. – Você não tinha que estar no encontro com o gay lá? – Ele riu, e por mais estranho que fosse, ela o acompanhou.
- Antes ele fosse gay – null murmurou, mas alto o suficiente para que null ouvisse – e risse.
- Acho que não fui o único que se deu mal essa noite – ele se aproximou. Quando viu que null ia lhe perguntar o que tinha ocorrido, continuou: – Tomei um bolo da Maureen.
null fez cara de espanto, depois ambos desataram a rir.
- Perfeito – disse, sarcastica.
- Ao menos temos a nós mesmos – null sorriu um pouco corado, depois que percebeu que aquilo tinha soado como uma cantada. – Quer comer alguma coisa? – consertou.
- Bem que eu queria, mas a porta tá emperrada! – null fez bico e null sorriu.
- Deixa eu dar uma olhada.
null girou a maçaneta da porta com tanta força que quase caiu quando ela abriu de vez, fazendo null gargalhar.
- Eu juro que tava emperrada! – disse, levando as mãos à cabeça. null riu.
Os dois entraram na cozinha, e não havia nada demais lá, apenas um envelope vermelho perto de um rádio. null abriu e o leu em voz alta.

“Coloquem o CD para tocar e corram para a sala de jantar. Vocês vão entender (e nos amar por isso!). Ass: Todo mundo!”

- Tenho medo! – null arqueou a sobrancelha e riu. null a acompanhou, apertando o botão do rádio.
“Two is better than one” começou a tocar, e eles se olharam, confusos. null suspirou – amava aquela música – e caminhou até abrir vagarosamente a porta da sala de jantar.
- Wow. – Foi o que null disse, entrando e vendo a decoração com luz baixa, as barcas japonesas, as velas... E então entendeu tudo. Virou-se de frente para onde null estava, mas ela encarava as velas, estupefata. Ele sorriu, e quando ia tomar coragem para dizer alguma coisa, ouviu o grito histérico e agudo da menina, dando um pulo para trás.
- FORAM ELES! AQUELES AMIGOS DA ONÇA ME FIZERAM TER O PIOR ENCONTRO DA MINHA VIDA! ME FIZERAM ANDAR DE ÔNIBUS COM UM CARA FEDORENTO! APOSTO QUE ELE NEM ERA FEDIDO! E EU FUI PARA AQUELE DINNER HORRÍVEL E... Por que você está sorrindo?
Ela parou de gritar e null riu baixo, tirando as mãos dos bolsos e aproximando seu rosto do dela.
- Algo me diz que essa noite pode ficar muito melhor. – Ele colocou uma mecha de cabelo de null atrás da orelha. – Só você querer. – Ele sorriu, tímido, e null achou que nunca tinha visto nada tão fofo na vida. Sorriu largamente, colocando suas mãos no pescoço de null.
- Agora só depende de você.
null sorriu sentindo um misto de adrenalina e uma felicidade estranha naquela frase. Roçou o nariz no dela, que fechou os olhos, ainda sorrindo. Beijou-a sem pedir permissão – e soube que tinha feito o certo.
Pela janela, Bob, o caseiro, sorriu, pegando o celular para avisar os seis amigos malucos do novo casal.

- Eu ainda não entendi porque estamos dando uma "festa de encerramento" na terça, se vamos embora só domingo! - null disse, confuso, enquanto carregava caixas de enfeites.
- null, manda seu homem calar a boca! - null disse, rindo. - Já expliquei mil vezes que era o dia que dava pro best do quiosque dar uma patrocinada!
Os oito amigos - quatro casais, na matemática correta - estavam organizando a praia para aquela que seria a última festa da viagem pra Riviera. Muitas pessoas haviam sido convidadas, incluindo Cory, que segundo ele mesmo "apareceria muito cheiroso". Tinha ficado lindo, como sempre, até os garotos tinham pegado o jeito na organização de festas badaladas no melhor estilo high society. Não precisaram de muito esforço com essa, afinal, era uma festa na praia, então as garotas tiveram muito tempo para se embelezarem o quanto quiseram. Os garotos foram antes para o local, e aos poucos, elas foram chegando.
Alguém tampou os olhos de null, e ele sorriu.
- Alexa? - provocou, e ela riu, beliscando-o. - Outch! Hm, a garota mais linda da Riviera?
null sorriu, fazendo com que ele virasse de frente.
- Errado. A garota mais linda do mundo! - Riu, presunçosa, e null a abraçou.
- Pretenciosa.
- Realista. - Vem cá então, dona garota mais linda. - ele sorriu, puxando-a para seus braços.
Ela tinha razão. Estava realmente deslumbrante com seu short jeans e uma bata branca despojada. null a achava cada dia mais bonita, como se isso fosse possível.
- Você é linda, sabia? - disse, finalizando o beijo, e a menina sorriu, derretida. Era engraçado o quanto tinham se tornado melosos.
- Sabia! - Ela riu da careta que null fez. - Sou uma delícia mesmo - gargalhou. - Humildade ficou em casa? - null riu. - Mas sou obrigado a concordar. - Sorriu, malicioso, beijando o pescoço de null. - Delícia.
null riu, tocando seus lábios no de null, quando null chegou, afobada.
- null! null! Te achei finalmente! Eu acho que acabei de ver o...
- Ah, null, peraí... - null ignorou. - Te procuro em cinco minutos. Tô no meio de um momento aqui.
null riu vitorioso, beijando-a. Estavam apenas os dois ali, a festa estava lotada, mas não naquele local. null sentiu a água gelada tocar seus pés, e deu um pulinho, instintivamente, fazendo null rir, sem cortar o beijo. Quando pararam, tempos depois, ele a encarou, o jogo de luzes da festa e da lua a deixavam ainda mais perfeita. Era a hora, sentiu-se mais do que pronto.
- null... - disse baixo, quase inaudivel. - Eu te...
- Ah, meu Deus! - null interrompeu, espantada.
- Calma, deixa eu terminar... - ele riu, tímido.
- B-Brian. - Ela gaguejou.
- Quê? - null a soltou. - Eu sou o null! - disse, furioso.
Antes que null conseguisse falar algo, null ouviu palmas e uma voz bem conhecida atrás de si.
- Se não é meu casal preferido... - Brian debochou, aproximando-se de null. - Surpresa, gatinha.

Capítulo 17: Thought I knew you for a minute, now I don’t anymore



Aquilo não era possível. Simplesmente não era possível. null tinha certeza que ia acordar daquele pesadelo a qualquer momento, e estaria em sua cama, com a garota que amava ao seu lado, e assim que ela acordasse continuaria aquela frase que estava engasgada.
O problema não era mais dizer aquelas três palavras, aquelas nove letras. Ele precisava acordar logo porque a imagem de Brian era tão real que estava dando náuseas.
Não lembrava de odiar esse cara tanto assim.
Foi só quando ouviu a voz de null, assustada, que chacoalhou a cabeça com força e piscou os olhos algumas vezes.
Aquele filho da puta estava mesmo ali.
- O que diabos você está fazendo aqui? Co-Como você? - null parecia ter dificuldade em terminar uma frase que soasse coerente. Instintivamente, null passou os braços por sua cintura e colou seu corpo no dela.
Brian arqueou uma sobrancelha ao ver isso, mas apenas riu baixo.
- Estou tão de férias quanto você, seu namoradinho e seus amiguinhos losers - Portman sorriu, e depois debochou: - Vim de avião.
null parecia furiosa. Mais do que isso. Parecia estar a ponto de desmaiar de ódio. null, null e null apareceram por ali, mas se mantiveram à distância.
- Ei, eu não sabia que você tinha ficado mudo, null. - Brian se dirigiu a ele pela primeira vez, e null sentiu o sangue correr mais rápido pelas veias.
Para desespero da namorada, a largou, e aproximou-se de Portman.
- Brian, não me interessa saber que merda você está fazendo aqui - disse, firme. - Mas se manda da nossa festa. Você não foi convidado. Na verdade, sua presença aqui não é exatamente bem vinda. Sem ofensas, claro.
null lançou um sorriso vitorioso para o garoto, que não pareceu desconcertado em momento algum. Ao invés disso, deu alguns passos para perto de null, fazendo com que null conseguisse enxergar o fiel amigo de Brian mais atrás - Ian - e logo atrás dele, null, com cara de poucos amigos.
- A praia é pública - Brian disse.
- Mas essa festa não é - null retrucou rapidamente.
- Sinto muito, eu não vou a lugar algum - Portman sorriu, malicioso. - Não é como se você pudesse me expulsar, de qualquer forma.
O garoto saiu da frente de null e aproximou-se de null. A segurou pelo braço, e depois de olhá-la dos pés a cabeça, disse:
- Você fica dia mais gostosa, null - ele gargalhou. - Pena que é a mesma vadia insuportável de sempre.
Foi o que bastou. A finalização daquela frase foi tudo que precisava para que null perdesse o controle. Segurou Brian pelo braço, e o garoto virou de frente, com um sorriso cínico estampado na cara. null levantou o braço para esmurrar aquela carinha de playboy, quando sentiu alguém segurar seu pulso.
- ME LARGA! - gritou, estressado. - null, me larga, olha o que esse filho da puta falou e...
Ian estava puxando Brian para longe, e null apareceu na frente de null, assustada. Segurou seu rosto com as duas mãos trêmulas, e pressionou sua boca contra a dele, num selinho longo e estranho.
- Calma, amor. Por favor - ela disse, seus olhos estavam vermelhos. - É isso que ele quer. Ele quer que você perca a calma - ela fungou. - Não vou deixar que isso aconteça.
null olhou para ela e sentiu um nó no estômago. Ainda queria acertar um soco bem dado no nariz de Brian, e depois mais alguns outros. Mas null estava tão assustada que mudou de ideia por uns instantes, com uma estranha vontade de protegê-la acima de tudo.
E ela tinha o chamado de amor.
É claro que ele tinha reparado.
null segurou a garota, sem dizer nada, e a abraçou com força, acariciando seus cabelos, sabendo que ela estava prestes a chorar. Não queria que isso acontecesse, então sussurrou mais que rapidamente:
- Ei, calma, linda. Já passou... Eu não vou - ele pareceu meio indeciso, mas conseguiu terminar a frase. - Eu não vou fazer nada. Não vou deixar que ele me irrite.
null levantou os olhos marejados, e seus olhares cruzaram.
- Promete? - perguntou com uma voz tão tímida que nem parecia a voz dela.
null deu um selinho demorado em null, antes de dizer, com toda convicção, aquilo que ele tinha certeza (quase absoluta) de que era uma grande mentira.
- Prometo.

A presença de Portman ali pareceu estragar a festa - pelo menos para os oito amigos, o restante dos convidados estava se divertindo até demais. Ele estava certo. Não podiam expulsá-lo da praia. null olhou para null, que estava rodeada pelas amigas, mas claramente não estava prestando atenção em absolutamente nada que elas diziam. null estava tomando alguma coisa com null, que tentava fazer o amigo relaxar. "Nem que pra isso eu precise embebedá-lo", null tinha dito. Era bom que null apagasse. Na verdade, null achava uma sacanagem enorme aquele mauricinho idiota estar ali. Bem quando null e null tinham se acertado? Aquilo era merda na certa. null chegou, fazendo com que null parasse com seus devaneios e encarasse o amigo.
- Achei o cara - null disse, tomando um gole de cerveja.
- Onde ele está? - null se apressou em perguntar, e null apontou para a outra extremidade da festa, quase em outro quiosque.
- Está lá com o Ian e mais um cara que eu nunca vi - ele disse, parecendo irritado. - E umas cinco garotas ou mais. Alguém devia avisá-las da merda em que estão se metendo.
null concordou com a cabeça. Brian era mesmo um grande merda. Um grande merda com um carro importado, que poderia ter todas as garotas do mundo, mas aparentemente ainda queria se vingar de sua amiga. Tudo bem, era justo o que null tinha prometido à null. Ele realmente não devia se meter com o cara.
"Mas eu não prometi nada", null pensou, e um sorriso quase diabólico apareceu em seu rosto.
Se Brian se aproximasse de null ou null, ele estaria literalmente fodido.

- null, você não tá me entendendo - null passou as mãos pelo cabelo, aflita. - Olha a cara do null ! Eu não quero estragar a festa de todo mundo porque o idiota do meu ex-namorado resolveu aparecer sabe-se lá por quê! - A garota choramingou, se jogando na cadeira.
null suspirou e a segurou pela mão.
- null, você não está estragando a festa de ninguém, quem está tentando fazer isso é o Brian! É só você ignorá-lo, e fazer com que o seu docinho o ignore! - As coisas vindas da boca de null pareciam ser muito mais fáceis que na prática. A menina continuou - E ele só está aqui pra isso, gata! Ele quer encher o saco de vocês! Quer atrapalhar! Por favor, pare de se lamentar, levante esse seu traseiro gordo, vá até seu homem, agarre-o como se fossem fazer o kama sutra em público e VÁ SE DIVERTIR!
null riu pela primeira vez. null, que chegava por ali, sorriu sozinho, vendo as duas amigas.
- Hey, olha quem está rindo! - ele comentou e null sorriu. Depois beijou demoradamente a bochecha de null, e fez o mesmo com null.
- Obrigada, meus amores.
- Ei, o null chega, faz uma piadinha e leva crédito também? - null gritou para a amiga que já estava de pé, e ela gargalhou, voltando.
- Eu sei que você me ama e quer mais um beijo! - null sorriu e se jogou na amiga, que teve um ataque de riso.
- Ai, o null tá muito bem de namorada mesmo, viu? - a garota sacaneou, e os três riram, antes de null sair por entre as pessoas.

null aproximou-se de onde null estava, fazendo um sinal com a cabeça para que null e null saíssem. Foi bem nesse momento que pensou que os amigos não estavam aproveitando a festa juntos como casais, de tão preocupados que estavam com eles dois. Não queria que fosse assim.
- Hey, docinho. - null sorriu, sentando no colo de null, que segurava firmemente uma Heineken. null lançou-lhe um sorriso um tanto aliviado, e a abraçou pela cintura.
- Hey. Está mais calma? - ele perguntou de um jeito fofo, largando a garrafa e beijando suavemente seu pescoço, fazendo com que aquela parte arrepiasse.
- Estou. Desculpe por isso, null . Eu realmente não queria... Estragar sua festa.
null encarou-a nos olhos, com o nariz encostado no dela. Não acreditava que ela tinha dito aquilo. A culpa não era dela!
- Ei! - ele roçou o nariz no de null. - Pare com isso. Você não está estragando a festa de ninguém. - Antes que a garota protestasse, ele a calou com um beijo rápido. - Você nunca estraga nada pra mim.
null abriu um enorme sorriso, e null se sentiu bem. Era assim que devia ser. null encostou os lábios nos dele, sem delongas, e ele deixou que suas línguas se acariciassem num beijo um tanto diferente do que estavam acostumados. Tinha sim, todo aquele desejo e vontade se sempre. Mas os dois estavam mais preocupados em mostrar que eram cúmplices e estariam ali para o que fosse preciso. Os pelos da nuca de null eriçaram pela suavidade do toque de null, e ele apertou sua coxa com força, trazendo-a ainda mais pra perto de si, e quase caindo da cadeira onde estava. Os dois pararam o beijo, sem fôlego, e começaram a rir, ainda com os narizes encostados.
- Juro que se alguém me contasse, eu ia achar que isso era uma piada - Brian gargalhou, e todo clima de paz que rolava entre o casal pareceu se desmanchar em uma nuvem de fumaça.
null ficou em pé, e null apenas se endireitou na cadeira, quando ela segurou sua mão e disse, baixo o suficiente para que só ele escutasse.
- Você prometeu.
null rolou os olhos e encarou Portman. Não se achava o cara mais gostoso do mundo, mas não conseguia entender, com toda sinceridade, o que null tinha visto de bom naquele cara. "Porra nenhuma", pensou.
- A vida é feita de surpresas, meu caro Portman... - null sorriu, tomando um gole da cerveja. - Os bons ficam com os melhores prêmios. - Ele olhou pra null de rabo de olho, e viu que ela sorria discretamente. Então continuou: - Os merdas, assim como você, têm que se contentar em tentar estragar festas alheias ou irritar casais porque não têm bolas o suficiente para arrumar uma garota, e então percebem que perderam uma que é insubstituível.
A cara de Portman foi impagável. null não sabia como os caras já estavam ali, mas as risadas histéricas e inconfundíveis deles tomaram seus ouvidos. null riu, aproximando-se dele, e então Ian chegou perto de null, fazendo com que levantasse.
- Quem você pensa que é, seu loser? - ele o empurrou. - QUEM? Acha que é foda só porque tá comendo uma menina que todo mundo já comeu? - ele gargalhou. - QUEM É VOCÊ PRA FALAR QUALQUER MERDA?
null gargalhou. Mas gargalhou de verdade.
Aquilo era simplesmente ridículo.
- FALA ALGUMA COISA, PORRA! - Ian gritou e null o olhou.
- Cara... - ele respirou fundo. - Você é gay?
null não sabia de onde isso estava saindo. Simplesmente não sabia. null estava com umas respostas surreais, respostas que costumava usar quando eles brigavam. Estava orgulhosa. Estava realizada e com uma vontade absurda de rir loucamente, como seus amigos e mais algumas pessoas ao redor estavam fazendo. Ian olhou null, e quando foi esmurrá-lo, null desviou, fazendo com que golpeasse o ar.
- Hey, Brian! - null disse. - Pare de mandar sua putinha resolver seu trabalho sujo. Se você quer falar qualquer merda pra mim, fale com sua própria boca.
Então ele simplesmente andou. Segurou null pela mão, e passou por entre os curiosos, passou direto pelos próprios amigos, e começou a gargalhar freneticamente quando estavam sozinhos.
- Você é maluco! - null gritou, rindo junto - Aquilo foi...
Ele não esperou que continuasse a frase. Segurou-a pelos quadris com tanta força e precisão que a garota entrelaçou as pernas em sua cintura. Lançou-lhe um sorriso que com certeza, era feito pra matar qualquer garota heterossexual que raciocinasse, e beijou-a com tanta vontade que parecia que ia fundir seu corpo contra o dele, ou que os dois iam atravessar a parede da parte de trás do quiosque. Suas mãos subiam por baixo da blusa de null, apertando-a na cintura, contornando as rendas de seu sutiã. Ouviu um gemido baixo que ela soltou e aquilo só o deixou mais louco. Ela sempre o enlouquecia, mas ele só percebeu isso claramente quando sentiu, minimamente, que Brian pudesse ser uma ameaça. Ele não ameaçava porcaria nenhuma, aquela garota era dele. Só dele. E ele precisava dela. Precisava dela de modo urgente, precisava dela em sua cama, precisava abrir o feixe rendado daquele sutiã, precisava que todos aqueles panos entre os dois evaporassem. Estar com ela, naquela hora, pareceu não ser suficiente.
Ele precisava estar dentro dela. No sentido literal da palavra.
Sabia que estava metaforicamente dentro dela - ela o amava, ele tinha certeza. Sabia pelo modo que ela agia, sabia pelo modo que ela reagia ao beijo, ofegante, pela forma em que puxava seus cabelos com força e arranhava suas costas, por baixo da camiseta.
Transmissão de pensamento. Estava começando a acreditar naquela coisa.
null parou o beijo, ofegante, e a garota desceu em beijos desesperados e mordidas em seu pescoço que faziam com que seu corpo inteiro tivesse um choque elétrico.
- Casa. Agora - ele arfou, e ela sorriu, mordendo o lábio, maliciosa.
- Respire fundo ou vai ser meio constrangedor quando passar no meio da festa - null gargalhou, e ele acabou rindo junto. Ela era perfeita.
- É, muito obrigado pela ajudinha - null murmurou, fingindo estar bravo, e ela riu, sussurrando em seu ouvido.
- Sua vó pelada na sauna com velhinhos da ginástica fazendo movimentos do kama sutra.
null arregalou os olhos, e a menina teve um ataque de risos tão absurdo que estava ficando roxa.
- Puta que pariu, que nojo, null null resmungou e a menina riu de novo, segurando-o pela mão.
- Sabe, eu comprei uns morangos essa manhã... Morangos... Com calda.
null sorriu, sempre maliciosa, e saiu andando.
- Melhor me seguir, ou vou me divertir sozinha.
null sorriu, chacoalhando a cabeça, e a seguiu como um cachorrinho.
Não que ele ligasse.
O que quer que null quisesse, dissesse, fizesse, naquela hora e naquele caso... Ele aceitaria.

null estava correndo entre as pessoas, tentando não derrubar ninguém, mas estava quase impossível. Não se lembrava de ter convidado aquele tanto de gente, mas nem estava se importando com isso. Apertou a mão de null com força, esbarrando em uma garota ruiva, mas nem se deu ao trabalho de pedir desculpas ou algo assim. Ao esbarrar pela segunda vez em alguém, percebeu a merda que tinha feito.
"Ok", pensou, "esse cara é o diabo ou o quê? Como ele consegue brotar do chão?"
Lá estava ele. Com sua camiseta pólo, o olhar vidrado e o sorriso cínico característico.
- Sai da minha frente, Brian - ela disse baixo, mas autoritária. Ele apenas sorriu novamente, e chacoalhou a cabeça, negando.
- Saia você da minha frente.
Brian empurrou-a para o lado, sem qualquer delicadeza, e a garota quase caiu, se não fosse a ajuda de um garoto ruivo que a segurou pelo braço.
- Meu papo não é com você - ele disse, nervoso, olhando para null, que sustentou o olhar.
Brian o empurrou com força, fazendo com que null derrubasse duas garotas que conversavam atrás deles.
- Cuidado com o que você faz, Portman... - ele sorriu, claramente nervoso, ajeitando a camiseta.
- Vamos resolver isso de uma vez por todas, null. Sem você fugir, que nem fez meia hora atrás. - Brian gargalhou e null coçou a cabeça.
Seu sangue estava fervendo. Não conseguia evitar.
null se colocou entre eles.
- null, vamos embora, por favor! - ela disse, exasperada, mas quando o puxou, notou que o garoto não moveu um centímetro sequer. Ele a olhou, passando a mão em seu ombro.
- Desculpe. Vou ter que quebrar a promessa - e então virou para Brian - e a sua cara.
Algumas garotas gritaram quando null partiu para cima de Portman, que deu alguns passos pra trás, provocando.
- Ela vai foder com sua vida, sabia? - Brian riu, olhando null - É isso que ela faz. Te faz pensar que vai ficar com você pra sempre. E então te troca pelo primeiro...
- Cala a boca! - null acabou socando o ar, quando Portman deu um passo para o lado. - Não foi essa história que todo mundo ficou sabendo, Portman...
Brian quis socá-lo. Ele bem que tentou, mas alguém o segurou pelos dois braços, como se fosse algemá-lo. Ao olhar seu primo, assustado, viu que null e null seguravam um null furioso do outro lado. null se colocou no meio deles.
- Parem com essa merda AGORA! - null gritou, e olhou para null - Dude, você prometeu...
Brian não entendeu porcaria alguma do que aquele loser estava falando. Nem queria. Se desvencilhou do primos, mas ainda estava parado, porque aquele idiota entre os dois ainda estava fazendo discurso.
- Como eu disse, você prometeu - ele sorriu, malicioso. - Não eu.
null virou um soco no rosto de Brian, pegando-o totalmente desprevenido. Ao ver que o playboy ia cair, o segurou pela camiseta.
- Esse foi por você ter tentado estragar nossa festa.
E então ele o socou novamente, entre gritos de empolgação da festa inteira.
- Esse... Foi por você ter tentando atrapalhar meus amigos.
E então null sorriu diabolicamente, nocauteando Portman com um soco na barriga, fazendo com que ele caísse na areia.
- E esse - null parou para pensar, e todos o encaravam. - Esse foi porque eu sempre quis quebrar tua cara, desde a sexta série. - Ele gargalhou. - Pare de comer areia e vá embora daqui, Portman.
Um mar de aplausos, gritinhos e coisas do gênero tomou o local. null estava atônito. null estava com os olhos arregalados e expressão de espanto. Antes que conseguisse alcançar os dois, levou um tapa no ombro. Quando ia reclamar, viu null.
- Ei! Outch! - ele disse.
- E se ele tivesse quebrado tua cara? - a menina gritou, furiosa, e ele riu.
- O Brian? Há, conta outra! - null fez graça e a garota quase esboçou um sorriso por trás da feição emburrada.
Ela o encarou por dois segundos e depois sorriu.
- Aquilo foi muito, muito sexy.
Eles ouviram as gargalhadas de null, null e os amigos quando null completou a frase, mas nem ligaram, enquanto se beijavam com toda aquela paixão que era comum para o casal. null desistiu de interferir, vendo que Brian já estava deixando o local, escoltado por seu primo e Ian. Olhou para null, e ela sorriu levemente.
- Tá vendo? Nem precisou quebrar a promessa... - ela sorriu. - Só espero que null não tenha quebrado nenhum osso ou algo assim - ela riu, e ele sorriu fraco. - Vamos? Os morangos...
null sorriu de novo. Mas era um sorriso falso. Alcançou uma cerveja na mão do garçon que passava, beijou a testa de null, e suspirou.
- Vá para casa. Eu vou... - ele olhou em volta, sem saber o que dizer. - Eu vou dar uma volta. Estou logo atrás de você.
null não esperou uma resposta. Simplesmente virou, ignorando qualquer coisa que ela dissesse ou o olhar de reprovação que provavelmente lhe lançaria. Precisava pensar. Precisava respirar. Precisava de um tempo sozinho. Se perdeu entre as pessoas rapidamente, respirando fundo. Não queria deixar que as coisas que Brian dizia o afetassem. Não queria descontar em se distanciou o suficiente daquela loucura toda, e sentou perto do mar. A água gelada estava batendo em seus pés, e ele estava grato de ter lembrado de tirar os tênis. Não é que desconfiasse de null - muito pelo contrário -, mas era que... Porra, ele tinha praticamente dito que a amava! E então tudo começou a desandar, como se alguém tivesse dado um peteleco no primeiro dominó de uma fileira. Aquilo não era justo! E de onde aquele cara tinha aparecido? Por que diabos precisava tanto importunar aos dois? Não queria perdê-la. Não depois de todo o esforço que tinha feito para que ficassem juntos. Viu uma movimentação ali perto, mas não virou o olhar. Tomou o último gole da cerveja, o que o deixou só um pouco mais puto. Naquele momento, aquela bebida era tudo de bom que ele tinha. Ok, isso deve ter soado bêbado demais, mas era verdade. Viu uma sombra contrastar com a luz da lua e então null estava ao seu lado. Abraçou as pernas, sem dizer nada, e passou a fitar o horizonte, assim como ele.
Puta merda, como ela era linda.
Aquilo era difícil demais.
null continuou em silêncio, até que null escutou um suspiro profundo, algo parecido com um soluço. Não, ela não podia estar chorando.
- null - null sussurrou, limpando os olhos. Sim, ela estava. Merda, como ele odiava vê-la chorando! - Eu não sei o que dizer.
null a encarou. Ela não olhou para a baixo vagamente, parecia se sentir muito mal por toda aquela situação. Ele ia abrir a boca para dizer alguma coisa, algo que ele nem fazia ideia do que podia ser, quando null ajoelhou em sua frente, obrigando-o a encará-la.
- Eu sei que eu não sou... - ela suspirou. - Eu não sou exatamente o modelo de garota que um namorado procura. Mas acredite em mim, eu jamais gostei de um cara como eu... Como eu gosto de você.
null a olhou, e ela ainda tinha os olhos avermelhados. Sua pele estava arrepiada por causa do vento. Puxou-a para perto, fazendo com que sentasse entre suas pernas, e beijou seu ombro descoberto, enquanto passava as mãos delicadamente por seus braços, numa tentativa de aquecê-la.
- Eu sei - ele disse baixo. - Me desculpe por agir assim. Eu só precisava... Não sei, eu precisava pensar um pouco pra entender tudo que aconteceu hoje.
null forçou um sorriso, e null sabia que não era espontâneo. Sentiu o coração apertar, não queria fazê-la sofrer com suas babaquices. Não de novo. Segurou seu queixo, para que ela olhasse para ele, e passou o nariz em seu rosto, fazendo que null fechasse os olhos.
“Vamos, null. Você quase conseguiu, hoje mais cedo. Eu te amo. Sim, não é difícil. São palavras pequenas. Deve ser menos cansativo que pedir um lanche do McDonalds’. Não seja idiota”.
Mas havia um bloqueio mental. Algo que o impedia, ao menos naquela hora, de desengasgar aquela frase. Ao invés disso, a apertou um pouco mais contra si, e a beijou delicadamente. Ambos suspiraram aliviados durante o beijo, e ele pôde perceber que null estava sorrindo, mesmo de olhos fechados.
- null, eu sei que é difícil com o Brian aqui. Acredite, pra mim também é - ela começou a dizer, mas null mordeu seu lábio inferior, em um sinal claro para que parasse.
- Está tudo bem, de verdade. Não precisamos mais tocar nesse assunto. - Ele murmurou, segurando-a pela nuca. Mas null deu-lhe apenas um selinho, e prosseguiu.
- Deixa eu continuar? - falou, daquele jeito só dela, que fez null rir brevemente. Quem era ele para parar null null? - Como eu dizia... Mesmo sendo uma situação estranha... Eu só queria que você soubesse que eu jamais fiz qualquer coisa que ele tenha dito. E eu nunca magoaria você. - Ela mordeu a bochecha de null, que sorriu. - Você é importante demais pra mim.
Era como seu coração tivesse batido de novo, da maneira que costumava ser. null sorriu de volta.
- Eu me sinto tão idiota tendo essas crises de bicha perto de você - ele disparou, fazendo a namorada gargalhar, e ele acabou rindo junto. - É sério!
null o beijou sem mais nem menos. Não pareceu se importar com a confissão babaca que ele tinha feito segundos atrás. Entrelaçou seus dedos no cabelo de null e aprofundou o beijo, fazendo o garoto sentir um arrepio na espinha, quando ela parou o que estava fazendo.
- Sabe o que eu estava pensando? - null disparou, e null sorriu, maroto.
- Que eu sou o cara mais lindo que você já viu - ele disse, e a menina riu alto.
- Você não tem cara de Gerard Butler - ela respondeu, e depois riu alto. - TÔ BRINCANDO, MEU DOCINHO MAIS LINDO! - null quase berrou, e null caiu pra trás na areia, rindo com a garota em cima de si.
- Ele é velho demais pra você.
- Ok, esquece o Butler? - null riu, acariciando o rosto dele, enquanto null já apoiava uma mão em suas costas, por baixo da bata. - Eu estava pensando que se não fosse aquele idiota do Brian, que roubou aquelas cartas de literatura, talvez nós não tivéssemos nos aproximado - ela sorriu. - Afinal, foi naquele dia, lá na praia, que nós dois começamos a... A nos aturar.
null sorriu largamente e null a acompanhou, ainda que surpreso ao lembrar disso. Puxou-a pelo pescoço, e num movimento rápido, trocou de posição, ficando por cima dela. null sorriu, e null teve certeza que não precisaria de mais nada. Nada que palavras precisassem resolver. Não agora.
- Você tem razão - ele disse, beijando seu colo, perto da bata, e subindo até seu queixo. - No fim das contas, aquele babaca prestou pra alguma coisa.
null riu, e null continuou distribuindo beijos aqui e ali, enquanto os dois brincavam. Não estavam prestando atenção, que mais adiante, alguém os observava.
- Ouviu alguma coisa? - Ian perguntou.
- Só o final da conversa - Brian o encarou, com fúria no olhar. Ele segurava um pacote de gelo na bochecha, o que só o estava deixando mais irado. - Não importa. Estou vendo o suficiente.
- O que você vai fazer?
- Se aqueles idiotas pensam que eu vou deixar por isso mesmo - ele sorriu, sem humor. - Eles estão muito enganados.
Ian deu de ombros, indo até o quiosque.
- Aproveitem seus últimos momentos, casal - ele sorriu, tacando a sacola com gelo na areia. - Não vai durar muito. Podem apostar.

A festa acabara da forma que todos esperavam. Tudo bem, esperavam ter menos confusões no decorrer dela, mas quando cada casal fechou sua porta - não que todos estivessem já na fase de algo mais, mas passaram a dividir as camas, para desespero do caseiro - tudo voltou ao normal. null e null finalmente conseguiram dar um bom destino aos pobres morangos que estavam na geladeira, e estavam muito felizes com isso. null estava aliviada das coisas terem se resolvido de uma maneira tão satisfatória. De uma maneira que a levou até o céu e a trouxe para a Terra em seguida, ela diria. O corpo de null coberto apenas por um lençol, seu braço a segurando firmemente na cintura e sua respiração quente em seu pescoço era tudo que ela precisava para adormecer profundamente e sonhar com os anjos, como alguns diriam. Ele era um sonho. O sonho dela.

O dia seguinte foi tranquilo. Praia pela manhã, almoço em casa, praia de novo à tarde. As garotas estavam se divertindo horrores, rindo dos meninos, que tentavam surfar. Aquilo sim era o que podia se chamar de vida boa.
null saiu da água com null, correndo na direção de null.
- Não, null, nem vem! - ela gritou, quase levantando da cadeira de praia em que estava deitada. Ele apenas gargalhou ao pegá-la pela cintura, fazendo com que se molhasse completamente. - Ah, seu idiota! Se eu quisesse me molhar, eu tinha entrado no mar!
null fez bico e null riu, a apertando mais, enquanto recebia uns tapas aqui e ali.
- Eu sei que você adora quando eu faço isso, docinho - ele sorriu vitorioso da cara de poucos amigos da namorada.
- Te odeio - ela murmurou, quase rindo.
- Então eu também odeio você. - null disse simplesmente, dando-lhe um selinho e pegando uma toalha.
null riu, depois mordeu o lábio, observando o corpo de null. E que corpo. Se sentia a pior das idiotas quando lembrava que ele sempre esteve ali, e ela perdeu seu tempo brigando com ele, quando podia... Vocês sabem.
- Ah, era só o que faltava - null disse, nervoso, e null voltou seu olhar pra ele, assim como todas as meninas e null.
Ele apenas virou a cabeça, e todos acompanharam seu olhar, avistando Brian Portman e sua gangue num quiosque à esquerda.
- O que esse filho da... - null ia dizer, mas null o interrompeu.
- null, calma - ela disse, abaixando os óculos de acetato brancos. - Ele nem deve ter nos visto aqui. Não arrume encrenca.
"É claro que ele nos viu aqui" - null pensou, mas apenas sentou-se de frente para null, tentando ignorar a presença daquele ser humano mais adiante. null e null saíram da água, e os oito ficaram conversando e bebendo, tentando a todo custo ignorar o outro quiosque.
Mas null... null não era boa nisso. null estava se irritando.
O cúmulo foi no meio de uma história que null estava contando.
- null, você lembra disso? - a menina perguntou, gargalhando e todos encararam null.
Os olhos da garota estavam fixos no outro quiosque, o copo de Cuba quase despencando de suas mãos.
- null? - Dessa vez foi null quem lhe chamou. null estava puto.
- null! - Ele disse alto, e a garota chacoalhou a cabeça - O que você...? Para de ficar olhando pra ele, porra! - null disse alto o suficiente para que a praia inteira escutasse.
null arregalou os olhos.
- Ótimo, null , até ele escutou essa! - disse, nervosa.
- Foda-se! O que diabos você tanto olha pra lá?
null não sabia o que responder. Não estava acostumada com crises de ciúme. Não nesse nível. Percebeu, subitamente, que aquilo a estressava.
- Ele me incomoda! A presença dele me incomoda! - ela quase gritou.
- Gente, por favor - null se intrometeu, mas null a ignorou.
- E pra isso você tem que ficar olhando? - Ele riu, sarcástico. - Até parece que você...
- Até parece o quê, null? - null já estava de pé.
- Até parece que você está gostando dele aqui!
null riu tão alto e histericamente que assustou o próprio null.
- null, faz um favor? - Ela disse, sorrindo de uma maneira irônica. - Vão à merda você e seu ciúme idiota! - ela berrou, pegando o vestido, e saiu em passos firmes em direção à orla.
Nem sabia o que estava fazendo, mas se ficasse mais trinta segundos ali, era possível que estrangulasse o próprio namorado. Aquilo sim era uma situação ridícula. Quando foi atravessar a rua, sem olhar direito para os lados, ouviu uma buzina estrondosa e uma mão a puxou pelo braço.
- Você tá maluca? - null gritou, mas ela não tinha certeza se estava se referindo a seu quase atropelamento.
null respirou fundo, sentia os joelhos tremerem devido ao pânico.
Ótimo, tudo que ela precisava era de uma crise de choro.
- Quando... - Ela respirou fundo, limpando o rosto com a mão. - Quando você vai parar de ser idiota e se tocar que eu quero mais é que o Brian exploda?
A garota estava tremendo. Era perceptível.
Muito bom, null. Sinta-se um merda. Você quase fez sua namorada ser atropelada.
null não disse muita coisa. Estava agoniado com null tremendo e quase chorando, e simplesmente esqueceu o que estava engasgado, tudo que queria gritar sobre Brian. Esqueceu quem era Brian. Puxou-a rapidamente para seus braços, apertando-a contra si em um abraço, um daqueles que ela tanto dizia gostar. Sentiu as lágrimas de null em seu pescoço e isso fez com que seus próprios olhos ardessem. Estava cada dia mais gay, tinha certeza. Ele acariciou seus cabelos e enterrou o rosto em seu pescoço.
- Me desculpe – sussurrou. - Eu sei que essa coisa do Brian... Foi ridícula.
null não disse nada, mas beijou suavemente seu pescoço. Ela estava tremendo um pouco menos.
- Me promete uma coisa? - null perguntou e null afrouxou o abraço minimamente, para encará-lo nos olhos. Ela apenas concordou com a cabeça, e ele prosseguiu. - Promete que vai aprender a atravessar a rua? - null sorriu, maroto, e null riu baixo, mordendo seu rosto.
- Olhar para os dois lados. - Ela fez cara de sábia. - Entendido, docinho.

- Cory me ligou - null apareceu na sala, e todos a encararam.
- Quem é Cory? - null se apressou em perguntar, fazendo sua irmã rir.
- Cory Sparks - null disse, rindo. - Mais conhecido como...
- O ator de nome gay! - null e null disseram juntos, e os amigos riram.
- Por que esse cara te ligou? - null não queria ter soado tão patético.
- Awn, meu irmãozinho tá com ciuminho? - null sacaneou, fazendo null corar e rir.
- Pelo menos eu não tô fazendo cena no meio da praia - null disparou, fazendo a cara de null fechar e null cuspir a Coca, enquanto as meninas riam.
- Ei! Podem me deixar fora disso? - null reclamou.
- Claro que não, bichona - null disse, gargalhando. - Tá, mas por que o Sparks ligou, null?
- Ele quer nos convidar, todos nós, para sua festa de aniversário no sábado - ela sorriu, com os olhos brilhando. - Vai ser na cobertura dele. Coisa chique. E nós estamos no meio disso! - null deu pulinhos animados, assim como o restante das garotas.
- Vai ter bebida? - null perguntou e null o encarou como se ele fosse um retardado mental.
- Claro que vai, null.
- Tô dentro - ele riu, antes que começassem a planejar sobre sábado, sobre a festa que marcaria a última noite deles na Riviera Francesa.

- Nossa, esse vestido azul que você comprou ia ficar perfeito em mim, null - null disse pela quinta vez, e null bufou, rolando os olhos.
- Pelo amor de Deus, null! O vestido é meu! - a garota berrou, fazendo null e null rirem, e null ficar com a cara emburrada.
- Grossa... - ela disse, fazendo bico, e null riu, abraçando-a pela cintura.
Era sexta-feira e as garotas tinham ido fazer compras. Precisavam urgentemente de vestidos, sapatos, acessórios e tudo que estivesse à venda. A festa de Cory era no dia seguinte, e nenhuma delas queria fazer feio. Os garotos não se importaram em ter uma tarde só pra eles, jogando futebol na praia e tentando aprender a surfar. De novo.
- De quem é aquela Range Rover? - null perguntou e null deu de ombros, vendo o veículo preto parado próximo ao portão da mansão de sua tia.
- Deve ser de alguém do quiosque - disse simplesmente.
null estava acertando com o motorista do táxi, e null estava com ela. null e null atravessaram até o portão.
Foi quando a porta da Range Rover abriu.
- Ah, não! - null segurou no braço de null , tentando fazer com que ela também olhasse para frente, e muito provavelmente para tentar se equilibrar nas próprias pernas.
null não se deu ao trabalho de olhar quando null fez sinal para que null e null fossem atrás dos meninos.
- Brian, mas que merda! - null gritou. - Por que você não me deixa em paz?
Ele apenas riu, daquele jeito irônico que só Portman tinha.
- Bom te ver também, null.
- Brian, querido - null se intrometeu. - Não acha que você já extrapolou os limites? Essa sua babaquice de perseguição está ficando meio patética...
- Não se mete, null - o garoto disse, e então se virou para null. - Fazendo comprinhas pra quê? Lingerie para seduzir seu loser?
null sorriu, com raiva.
- Claro, pra você que não seria – disse, e o garoto não pareceu se abalar.
Algumas vozes puderam ser reconhecidas, vindas outro lado da rua. Brian esticou o pescoço, vendo null, null, null e null ali.
- Uh, chegou quem não devia - Brian sorriu, malicioso, e null olhou para null.
- Eu cuido disso - null disse, com a voz firme, e null atravessou para segurar os garotos do outro lado.
É claro que eles não ficaram do outro lado.
null e null simplesmente a ignoraram.
- Eu cuido disso! - null disse, um pouco mais nervosa, e antes que um deles abrisse a boca, Portman começou a se aproximar.
Ele tocou os cabelos da menina, com um olhar malicioso.
- Sabe, eu costumava sentir sua falta, mesmo você sendo uma...
- Cuidado com o que você fala, queridinho - null logo interrompeu, e ele colocou as mãos na cabeça, rindo.
- null, sabia que ela comprou umas lingeries novas? - Apesar de ter citado null, ele continuava com os olhos focados nos de null. - Eu ainda lembro o que você estava usando naquela noite que...
- Brian, cala a boca. - null disse, o rosto ficando totalmente corado.
- Shhh, null. Não tem por que ter vergonha. Todo mundo tem que começar de algum lugar - ele sorriu, malicioso.
- Eu não sei do que você está falando. - A garota ia sair, mas ele a segurou pelo braço.
- Claro que sabe - Ele olhou para null de rabo de olho - Afinal... não dizem que a primeira vez é inesquecível?
null tampou o rosto com as mãos. Queria ter dado um soco no nariz de Portman, mas não teve forças. Não tinha coragem para olhar pra trás e encarar null.
- Aquela lingerie preta ficou muito bem em você - ele riu. - Pena que eu rasguei uma ou duas partes... Ainda me lembro de você sussurrando o meu nome o tempo todo e dizendo que me amava.
null sentiu os olhos arderem. Quando null se aproximou deles, ela não sabia identificar algo naquela expressão. Ele estava totalmente... Inexpressivo. Os olhos vidrados, provavelmente com aquela merda de imagem na cabeça.
Ela nunca tinha dito "Eu te amo" para null.
Mas tinha dito para o idiota do Brian.
- null, olha como eu sou bonzinho - ele olhou para null , finalmente. - Ela gosta que você a prense contra a parede e diga coisas sacanas, e se você morder seu pescoço, ela vai... Por que você tá me olhando assim?
Brian encarou null com um falso ar ingênuo. Demorou dois segundos até que null o empurrasse até a parede, segurando com as duas mãos no pescoço do garoto, enquanto as meninas berravam.
- Você - null respirou fundo, vendo Brian ficar roxo e tentar dizer algo. - Cale a boca.
- null, por favor... - null encostou nele, fazendo-o realizar um movimento brusco com o braço.
- Cala a boca, null - ele disse, seco, depois olhou Portman. - Pare de nos perseguir... Pare de importunar a minha namorada. Eu não estou brincando.
null o soltou e o garoto despencou no chão, sem voz, puxando o ar dos pulmões com muita força. null tocou em seu braço para falar alguma coisa, mas null apenas a olhou, nervoso, e entrou batendo o portão.

Quando null entrou no quarto de null, ele estava de costas para a porta. Não percebeu que ela estava ali - ou não fez questão de mostrar isso a ela -, apenas continuou parado, em pé, olhando pela janela.
- null - null conseguiu dizer, após um minuto parada. Nunca tinha se sentido tão mal em toda sua vida. - Preciso conversar com você.
null virou de frente, no mesmo lugar, e a encarou.
- Fala.
- Eu não sei mais o que falar, poxa! - a garota disse, desesperada. - O Brian... Ele quer... Ele quer acabar com a gente!
null arqueou a sobrancelha.
- Era isso que você tinha pra falar? - perguntou, o tom de voz baixo, mas null conseguia sentir a ira por trás daquela frase.
- null, por favor! - null disse, com a voz chorosa. - A culpa... Não é minha! Eu não estava com você quando eu... Você sabe.
O silêncio se instalou no local. null conseguiu escutar passos na escada, conseguiu escutar os carros na rua. null a olhou.
- Você o amava? - ele perguntou subitamente, e então null entendeu que seu problema era um pouco mais complexo do que o previsto.
- Claro que não - respondeu prontamente.
null riu.
- Sabia que eu adoro quando você mente pra mim? - disse, irônico. - Já tentou ser honesta uma vez e falar sério comigo?
null sentiu o peito apertar. Aquilo era muito injusto. Ela daria a vida por aquele cara. Era óbvio que ela o amava. Por tanto tempo, nem sequer se lembrara da existência de Brian. Não achava que fosse um erro não ter dito "Eu te amo", afinal, nunca pensou que isso fosse algo que null sentiria falta.
Pra variar, estava errada.
- Ok, null, não seja injusto - disse, tentando soar coerente e adulta. - Era outro tempo! Eu era uma garota idiota e ingênua demais, e o Brian... Ele era o desejado da escola! Eu posso ter dito que o amava, mas hoje vejo que estava enganada - ela respirou fundo. - Porque eu sei o que é amor, mas aprendi agora. Aprendi... Com você. - null sentiu as bochechas queimarem. Ótimo, que ridículo. - Porque eu amo...
- Não diga - null a interrompeu. - Eu não quero que você diga só porque você disse para ele antes. null deixou o queixo cair.
Mas que merda, tava difícil dele entender?
Aproximou-se de null, colocando os braços ao redor de seu pescoço. Percebeu que instintivamente, ele segurou-a pela cintura.
- Eu estou falando isso porque é verdade, não porque disse ao Brian. Eu te...
- Shhh - null saiu do abraço dela. - De verdade. Eu não quero ouvir. Não agora - ele a olhou. - Você teve tempo suficiente pra fazer isso... E agora eu não tenho mais certeza se você realmente quer.
- Você também teve tempo suficiente, null - null deixou a ira lhe tomar. - E adivinhe? Não ouvi as três palavras até hoje! - ela riu. - Se é pra entrar nesses méritos... Brian me disse.
null riu, sarcástico.
- Antes ou depois dele te trair e o colégio inteiro ficar sabendo, docinho?
null tacou uma almofada nele. Queria simplesmente que ela fosse ma pedra.
- Cala a boca, seu idiota! - ela disse, os olhos cheios de lágrimas. - Você acha que está sendo fácil pra mim?
- Pelo menos você não tem que conviver com a imagem de outro cara tirando a virgindade da sua namorada - null disse, nervoso.
- Você estava ocupado demais em comer todas as líderes de torcida naquela época, tão ocupado que nem se lembrou de mim - null disse. - Eu não posso voltar ao passado, caramba! Eu não posso apagar o Brian da minha vida! Eu não posso fingir que eu não transei com ele - a garota berrava, entre lágrimas. - MAS EU POSSO DIZER SIM QUE EU AMO VOCÊ! - Ela respirou fundo. - Espero que você lide com isso como um homem.
null abriu a porta, mas null a segurou pelo braço.
- Aonde você vai? - ele perguntou, com a mão gelada em seu pulso.
- Qualquer lugar em que eu não precise olhar pra tua cara - a garota respondeu, correndo escada abaixo.

Dez segundos se passaram até que null conseguisse engolir o que havia se passado.
- Ela... Ela disse que me... - o garoto sussurrou, antes de sair correndo para a varanda. Aquele meio era mais prático. Avistou null lá embaixo, indo até o portão, e gritou - null! Volta aqui!
Ela chacoalhou a cabeça, incrédula.
- Eu não mereço você - disse, nervosa. - Qual o seu problema, null?
null apoiou-se na árvore que ornamentava sua varanda e se jogou para baixo. Ouviu um grito de horror de null - esquecera por uns instantes daquele pânico de altura que a namorada tinha - e correu até ela.
- Meu problema - ele disse, meio ofegante, e então a puxou para perto. - Meu problema é você, docinho.
null tentou protestar, mas seus joelhos amoleceram assim que ouviu aquilo. "Como garotas são babacas!", logo pensou, mas null a puxou com força e sua língua invadiu sua boca mais que urgentemente. null tentou estapeá-lo e mandá-lo pra longe - não que realmente quisesse aquilo, mas tinha uma reputação a manter - mas suas mãos fortes apertando a lateral de seu corpo e segurando sua nunca foram demais pra ela. Estava se derretendo como uma garotinha. "Da próxima vez, quero nascer com um pinto", null pensou, e acabou rindo durante o beijo.
- O que foi? - null perguntou, quase rindo. null sorriu.
- Nada - ela disse baixo. - Isso significa que...
- Shhh - null fez sinal de silêncio em seus lábios. - Eu sou um idiota, eu não queria ter dito aquelas coisas. Não precisamos mais falar disso.
null sorriu. E null sussurrou para ela.
- Eu não ligo para o passado, o que importa é que eu que tenho você agora. - Ele a beijou suavemente. - E sou eu quem não vai deixar você ir embora. Nunca.
null sentiu os joelhos amolecerem, rindo idiotamente.
Era por esse cara que tinha se apaixonado.
null ficou contente de null não ter lhe cobrado nada. Iria dizer que a amava de um jeito que provasse isso, e deixasse bem claro, pra Brian e para o mundo, que aquela garota era dele. Ainda não sabia como, mas faria de qualquer forma.

- Meu Deus do céu, como estamos lindas! Como estamos gostosas! Eu poderia ficar a vida inteira nos olhando no espelho! - null disse, e as meninas gargalharam, enquanto encaravam seus reflexos no enorme espelho do hall de entrada do prédio de Cory. O Sr. Sparks podia ter o nome gay, como os garotos teriam dito, mas morava muito, muito bem. O elevador chegou e as garotas apertaram o 33º andar, onde ficava instalada a cobertura duplex com terraço do rapaz. Os garotos tinham passado a tarde na praia, num campeonato de futebol, e viriam mais tarde. Elas não estavam ligando. Gostavam mesmo de ter um tempo só as quatro.
- Eu não consigo acreditar que essa é nossa última noite na França - null choramingou, enquanto arrumava seu vestidinho creme. - Eu queria isso aqui pra sempre!
- Eu também - null concordou, enquanto tirava uma foto com null. - Foram as melhores férias da minha vida.
- Awn, sua gay! - null sacaneou - Tudo culpa do Sr. null Docinho null?
null fez careta, mas depois riu.
- Não só por ele... Mas boa parte, sim - ela confessou, arrancando gritinhos das meninas. - Não sei do que vocês estão falando. Todas super bem arranjadas com os losers!
null riu baixo.
- Isso vai ser um mico na volta ao colégio. - Ela fez uma careta estranha. - O mais engraçado é que eu parei de me importar com isso.
- Isso se chama amor, baby - null brincou com a amiga. - Meu irmão é muito amor. Nós null somos uma delícia!
- Cala a boca, null! - Todas disseram, rindo.
Ao descerem no andar, a música alta já podia ser ouvida. Uma espécie de hostess as recebeu na porta.
- Sejam bem-vindas - ela sorriu. - Fiquem à vontade.
- Uh, que chique! - null bateu palminhas.
O primeiro andar não estava muito cheio, mas o barulho maior veio de cima. Antes que pudessem decidir o que fazer, null avistou Cory e o chamou. Ele pareceu deslumbrado com as quatro meninas.
- Meu Deus! - disse, sorrindo - Vocês vieram pra matar todos meus convidados? - o garoto brincou, mostrando seus dentes brancos e perfeitos, e elas sorriram idiotamente. - Vocês querem uma bebida? Vou pedir para um garçom que...
- Cory, vem cá, dude! - um cara gritou e ele riu.
- Tudo bem, vá cumprimentar o resto dos convidados. A gente sabe se virar - null sorriu, e ele se distanciou.
Ao subirem as escadas, perceberam que ali sim a festa estava rolando.
A decoração com luzes em tons de azul contrastavam com a vista de tirar o fôlego de praticamente toda a cidade da Riviera. Um DJ tocava ao fundo, os bares e pufes coloridos e tanta gente bonita que parecia uma daquelas festas de seriado. Empolgadas, elas resolveram dançar e beber enquanto esperavam que os garotos aparecessem.

- Eu preciso arrumar meu cabelo - null fez bico, com uma mecha fora do coque. - Vem comigo, null?
As duas saíram do bar até a outra extremidade do terraço, onde um letreiro luminoso indicava o banheiro feminino. null simplesmente queria morar naquele lugar.
- Olha, se eu não estivesse com seu irmão - null riu. - Aquele ruivinho ali do canto... Nossa senhora! - Ela abanou e null gargalhou, estapeando seu braço.
null caminhou devagar com a amiga, e sem querer esbarrou em um garoto. Não sabia de onde o conhecia, só sabia que ele lhe era familiar. Ele sorriu.
- Desculpe - disse simplesmente, ao continuar seu caminho.
Depois de ajudar null com o cabelo, null olhou fixamente para seu reflexo no espelho. Estava bonita com seu vestido preto, seu batom levemente avermelhado, e seus cabelos soltos em grandes ondas abaixo do queixo. Puxou a amiga pela mão, carregando-a para fora do toalete.
- Eu... Não pode ser. - null disse, olhando para o nada.
- Que foi, amiga? - null parecia preocupada.
- Aquele cara que esbarrou em mim é o primo do Brian!
null franziu a testa.
- Que cara, null? Acho que você está começando a ficar paranóica.
null preferia estar paranóica. Quando voltaram até onde null e null estavam, buscou o menino com os olhos. Nada.
- Eu vou até o corredor - disse do nada, e null riu.
- Vai o quê?
- Ao corredor - ela disse, exasperada. - Meu telefone tá tocando - mentiu.
Após dar alguns passos em direção ao outro bar, avistou novamente o “primo” de Brian. Caminhou em passos largos, esbarrando em algumas pessoas, quando alguém a segurou.
- Procurando alguém?
Ela não precisou virar para saber quem era.
- O que diabos você está fazendo aqui? - esbravejou, encarando, é claro, Brian Portman.
- Eu sou tão convidado como você.
null riu.
- Corta essa. Quem é o dono da festa, então?
- Cory Sparks, filho do sócio do pai do meu tio, consequentemente, amigo do meu primo, John. Aliás, juro por tudo que não sabia que você viria. - Ele sorriu. - Parece que o destino quer que nós...
null o interrompeu com uma risada histérica.
- O destino só pode querer que eu te mate e vá para a cadeia - disse, fazendo Brian rir um pouco.
- Você não era assim tão ácida.
- Aprendi com a vida - ela olhou sugestivamente para o garoto.
- Olha, null , é sério - ele disse, segurando-a pelo braço. - Vamos conversar.
- Eu não tenho nada para conversar com você, Portman.
- Dez minutos de conversa e eu juro que deixo você e seu namoradinho loser em paz.
Aquilo era tentador. O que quer que fosse que aquele idiota tinha para dizer, não lhe interessava. Entretanto, ele tinha palavra, sempre teve. Mesmo que para coisas erradas. Se passar dez minutos com Brian Portman, fingindo ouvi-lo falar enquanto cantava Pokemon mentalmente fizesse com que ele sumisse, ela toparia.
- Vamos? - ele sorriu. - Por favor!
null olhou por sobre o ombro. Se ia mesmo fazer aquilo, era melhor fazer logo, antes que null chegasse. Ele não ia achar legal qualquer tipo de conversinha entre ela e seu ex-namorado/o cara que lhe tirou a virgindade/o mauricinho que ele odiava.
- Dez minutos - respondeu, séria. - Já comecei a contar.
Brian sorriu vitorioso e a puxou pelas escadas.
- Vamos lá embaixo que tem menos barulho - disse calmamente.
Os dois entraram na cozinha, que tinha um casal se amassando, e dois garçons correndo loucamente. O espaço era realmente grande, então ele a puxou para o fundo. Quando chegaram lá, ele a segurou pelo braço, abrindo uma porta atrás dela.
- O que você está fazendo?
- Tentando conversar com você.
- Eu não vou entrar aí - ela disse, cruzando os braços ao encarar a despensa de Cory.
- Entra logo, null! Você quer ou não que eu te deixe em paz?
Ela não era idiota. Iria verificar bem se tinha alguma chave. Tudo o que não precisava era ficar trancada com aquele idiota em um cubículo minúsculo.
- Fala.

- Sejam bem vindos à festa - a hostess disse calmamente, sorrindo para os quatro garotos bonitinhos que chegaram. - Sintam-se em casa.
null olhou ao redor, estupefato.
- Vou virar ator - null disse - Preciso de um nome gay. null null é muito másculo - disse, fazendo os amigos gargalharem.
Enquanto caminhavam até a escada, uma garçonete passou perto deles, fazendo um incrível esforço com uma caixa.
- Você precisa de ajuda? - null perguntou, e a menina sorriu.
- Está tudo bem, você é convidado, eu que tenho que... - ela não terminou a frase. Ele tirou a caixa dela. A menina sorriu. - Pro bar, lá em cima. Obrigada.
- Tem mais algo pra carregar? - null perguntou e ela sorriu.
- Tem, mas só preciso de um de vocês, você me ajuda? - disse, sorridente - Cara, vocês são uns amores! Estou há duas horas carregando peso e nenhum desses mauricinhos ofereceu ajuda - ela reclamou, fazendo-os rir. - Ah, mil perdões, meu nome é Emma.
- null. Esses são null, null e null. Onde está a outra caixa?
- Vem comigo.
- Nós vamos subindo, dude! - null falou, e null assentiu.
Caminhou lado a lado com Emma, tendo conversas simples, e ela esbarrou em um cara qualquer. Ele seguiu seu caminho, enquanto ela se desculpava, guardando quatro notas de cem libras no bolso.
- Caraca, essa cozinha é imensa! - null falou e ela sorriu.
- A despensa é ali no fundo.

- Você perdeu seis minutos falando nada com nada, Brian - null reclamou, bufando. - O diabos você quer me importunando? Convenhamos, foi um alívio pra você quando nós terminamos, e você pode voltar a pegar o colégio inteiro!
- Não fala assim, meu anjo - ele acariciou seu rosto, e ela reparou o quanto aquilo lhe dava repulsa. - Isso não é verdade.
- Não me toca, Brian - disse, nervosa.
Portman tateou o bolso. Seu celular estava tocando, mas ele apertou o botão e o desligou. null não estava interessada em perguntar por quê. Queria sair correndo dali.
Foi tudo muito súbito. Brian a empurrou contra o armário de enlatados, fazendo algumas coisas espatifarem no chão. Antes que abrisse a boca para xingá-lo, ele a segurou pelos pulsos e pressionou a boca contra a sua. Sua língua tocou a dela de forma quase vândala, enquanto ela fazia de tudo para se livrar dali. Ouviu mais um barulho, e conseguiu empurrá-lo para trás.
- Oh, me desculpem - Uma voz feminina disse, e quando null ia virar de frente, escutou - Vamos sair logo daqui, null.
Ao virar bruscamente, deu de cara com seu null.
Ela não tinha idéia do que ele estava fazendo ali. Seus olhos estavam vermelhos, e ela começou a sentir um torpor tomar conta de seu corpo, como se pudesse desmaiar a qualquer momento. Ele saiu.
- null! null, volta aqui! - Ela gritou, correndo pra fora da despensa, enquanto ele caminhava em passos largos pela cozinha imensa. A garota era uma garçonete, que parecia um pouco assustada. - null, não é isso que você...
- CLARO QUE É, PORRA! - ele virou, berrando, branco feito papel. - Em pensar que eu... Eu ia...
- null, me escuta, ele armou isso tudo, eu não sei como, mas... - null já chorava desesperadamente. null riu, sarcástico.
- Não estou vendo você dopada nem nada, null - disse, seco. - Faz um favor? Esquece que eu existo! null gritou, virando de costas, mas parou. Mexeu no bolso do casaco, e encarou a garota que parecia que ia se despedaçar em sua frente. Jogou com força uma caixa preta na direção dela.
- Esquece que um dia eu fiz parte da sua vida.
As pernas de null bambearam, e ela caiu de joelhos no chão, a visão turva por causa das lágrimas, buscando a caixinha que ele tinha jogado. Ao abrir, viu uma pequena pulseira de prata, que tinha um pingente de bombom e uma fitinha também em prata onde estava escrito “Docinho”. Desabou em lágrimas, mas não tinha tempo para aquilo. Não tinha tempo nem de bater em Brian. null precisava escutá-la. Ela se recusava a perder o seu... docinho.

- Um garoto... Um garoto passou... Passou por aqui? - null tremia da cabeça aos pés, e a hostess simpática ficou assustada.
- Um garoto numa situação parecida com a sua? - Ela não esperou resposta. - Ele desceu, sim.
null não se lembrou de agradecer. Correu até o elevador, e deu sorte de encontrá-lo aberto no andar. Apertou o botão do térreo, e tentou puxar algum ar dos pulmões, mas simplesmente não conseguia. Ao correr pelo piso liso de salto, quase caiu e derrubou uma planta. Não conseguiu escutar o que o porteiro dizia, quando praticamente se jogou na frente de um táxi.
- Você tá maluca? Alguém morreu? - O taxista gritou e ela apareceu na janela.
- Eu preciso... Que você me leve - Ela disse e ele negou.
- Já tenho passageiro.
null encarou a velhinha sentada no banco de trás, ao lado de uma moça de uns vinte e poucos anos.
- Eu vou perder o amor da minha vida - ela gritou, mesmo sem nem entender o que estava falando. - Por favor.
A velhinha arqueou a sobrancelha.
- Leve a moça também - ela sorriu, preocupada. - Eu sei como é perder um amor.
Quando null desceu em frente à mansão, teve certeza de não ter escutado nem duas palavras da história de amor da senhorinha. Não estava se importando. Correndo pelo gramado, toda sua história com null passou em sua cabeça. Ela não ia perdê-lo. Ela precisava dele mais do que tudo. Quando entrou no quarto de null, que estava com a luz apagada, mas a porta aberta, quase vomitou de tanto stress, medo, tantos sentimentos horríveis misturados. Ele pareceu assustado ao sair do banheiro.
- Eu falei pra você me esquecer, null - disse simplesmente. - Acabou.
A garota engoliu o choro, ainda que isso lhe doesse muito mais.
- null, você precisa me ouvir, o Brian armou, ele...
- EU NÃO QUERO OUVIR PORRA NENHUMA! - null gritou. - Você disse que me amava, caralho! Você é uma puta de uma mentirosa! - As lágrimas que insistiram em escapar não pareceram comover null. null nunca tinha o visto assim. Seu olhar parecia morto. - Sai do meu quarto, esquece que eu existo.
- Eu não posso fazer isso! null, ele me levou pra lá, e você apareceu, ele me agarrou! Eu juro que... - ela parou, ao ver que não estava adiantando. Aproximou-se dele, mas null deu um passo para trás - Você acha que eu faria isso com você? Depois de tudo que nós passamos pra ficar juntos?
null olhou para baixo, mas depois voltou a encará-la.
- Se alguém me perguntasse ontem, eu diria que não - ele suspirou. - Mas eu não conheço mais você. Essa garota não é minha namorada. Não é a menina pra quem eu ia dizer que...
- Eu amo você, null, por favor, pare com isso - null disse e ele chacoalhou a cabeça.
- Nesse momento, amar não é merda nenhuma - ele cuspiu as palavras, olhando-a com fúria. Então, sem nem pensar, a segurou com força pelo braço, arrastando-a para fora, sem se preocupar se estava a machucando.
Ele estava muito mais machucado.
Era como se alguém tivesse picotado seu coração ou qualquer coisa que ele nunca assumiria.
Jogou-a no chão, fora do quarto, com força, e viu a garota chorar.
- Seu ex estúpido estava certo. Você não liga pra ninguém, a não ser pra você mesma - disse baixo, mas com a voz firme. E então uma lágrima que correu em sua bochecha contrastou com a imagem forte. - Eu não me importo se você diz que me ama. Saia da minha vida. Eu não sou mais seu namorado. Eu não sou mais seu amigo. Esquece que um dia você falou comigo, null - ele suspirou ao ver a garota soluçando - Por que eu já esqueci você - ele riu, melancólico -, docinho.

Capítulo 18: Just leave the pieces when you go

null sentiu a cabeça latejar quando um feixe de luz tocou seu rosto. Não queria abrir os olhos, sua cabeça parecia uma bomba relógio. Afundou o rosto em alguns travesseiros, abafando um gemido de dor. Não lembrava de ter bebido tanto assim na noite anterior. Esticou o braço para o lado na cama de casal em que estava, procurando instintivamente pelo braço de null, mas ele não estava ali. E com uma pontada mais forte e arrasadora em sua cabeça, que pareceu atingir seu corpo inteiro, ela deu um pulo, sentando na cama, o olhar vidrado e sem enxergar muita coisa, pois seus olhos não estavam adaptados à luz ainda.

- Eu não me importo se você diz que me ama. Saia da minha vida. Eu não sou mais seu namorado. Eu não sou mais seu amigo. Esquece que um dia você falou comigo, null - ele suspirou ao ver a garota soluçando - Porque eu já esqueci você - ele riu, melancólico -, docinho.

- Eu não... Não! - null levantou, desnorteada, caminhando até a porta. Aquele não era seu quarto. Nem sabia o que diabos estava fazendo ali. As imagens, turvas, da noite anterior, começaram a tomar sua mente, e seus olhos começaram a arder.
A dor daquela lembrança não era apenas emocional.
Era física.
Devia doer tanto quanto alguém lhe enfiando uma faca. Ou mais, muito mais.
Ao abrir a porta, viu uma sombra com a visão periférica.
- Bom dia - null disse, com a escova de dentes na boca, e com um olhar de pena. - Como você tá?
null não respondeu. Deixou apenas que suas pernas se movimentassem até null, e que seus braços o envolvessem num abraço desesperado, derrubando a escova de dentes do menino. As lágrimas corriam livremente em seu rosto, e null conseguia ouvir pequenos soluços entrecortados, que lhe doíam. Como doíam.
- null, calma... - ele disse, passando as mãos pelo cabelo da menina. - Você precisa... Ficar calma.
null o encarou com os olhos vermelhos, e viu a preocupação estampada no rosto do amigo.
- Como eu posso ficar calma? Como eu posso... Ficar sem ele? - null cuspiu as palavras, chorando novamente. - Eu simplesmente me recuso... Eu me recuso!
null a abraçou de novo, sem dizer nada. Não sabia o que fazer, queria que a dor de null fosse amenizada a qualquer custo. Sempre teve esse estranho instinto protetor em relação a ela. Não era assim nem com sua irmã. Na noite anterior, depois de terem ligado para null e null insistentemente e não receber resposta, null acabara descobrindo com a hostess que eles tinham saído em estados deploráveis da festa. Mas pra nenhum deles aquilo fazia o menor sentido. Não até null avistar Brian, e todos saírem correndo de lá.
null estava caída no corredor quando chegaram. Seu rosto estava praticamente irreconhecível, tinha chorado tanto que borrara a maquiagem inteira. Ela dizia coisas desconexas entre soluços, e depois de beber um copo de água com açúcar, null conseguiu entender o que a amiga tentava dizer.
- Eu e null... O null... terminou comigo.
Tiraram-na dali o mais rápido que conseguiram, e levaram para o quarto de null, enquanto null e null tentavam fazer com que null abrisse a porta. Não conseguiram absolutamente nada.
null e null limparam o rosto de null e colocaram uma camisola nela, e ainda chorando com a cabeça no colo do próprio null, ela acabara adormecendo. null tivera que tomar um calmante, porque simplesmente não aguentava ver a irmã naquele estado. Cinco da manhã. Eram oito, agora. Ninguém tinha dormido nada, a não ser null, que estava trancado dentro do quarto. null estava preocupada que ele tivesse feito algo errado, mas no fundo, ninguém acreditava que ele seria tão idiota.

- Eu preciso vê-lo - null disse rapidamente, afastando o rosto do peito de null. - Ele tem que me escutar - a garota fungou.
null a encarou, ainda com a boca cheia de creme dental.
- null - perguntou, puxando-a pela mão para o banheiro, e cuspindo na pia -, o que aconteceu com vocês?
null respirou fundo, sentindo o coração acelerar loucamente.
- Brian. - Ela percebeu que começaria a chorar de novo. Aquilo era ridículo, tinha que ser forte. Não podia ficar engasgando e soluçando na frente de null, logo menos. - Ele armou pra gente.
- Como é? - null arqueou a sobrancelha, intrigado e irritado. - Eu mato aquele...
null o interrompeu.
- Eu não sei como ele fez isso e o null não quer acreditar em mim. - Ela respirou fundo. - Mas ele vai acreditar. Nem que eu tenha que bater nele. Nem que eu o obrigue - ela disse, fazendo null rir levemente.
- O null ama você, null. Eu não sei direito o que houve, mas ele deve estar machucado pra caralho. Mas fique tranqüila. - Ele sorriu, beijando o rosto da amiga. - Vocês nasceram pra ficarem juntos e vão se entender. - null fez uma pausa. - Epa! Isso não era pra ter soado tão bicha.
null riu levemente, e null parecia ter ganhado o dia.
- Eu vou até o quarto dele. Me deseje sorte.
- Toda sorte do mundo, baixinha.

Uma mistura de frases e emoções da noite anterior começaram a borbulhar em sua cabeça quando ela se aproximou da porta fechada do quarto de null. Suas pernas tremiam, algo parecia ter emperrado em sua garganta e ela mal conseguia respirar. Não aguentaria que ele gritasse e falasse aquelas coisas horríveis de novo. Percebera pela primeira vez, na noite anterior, o quanto era frágil e suscetível a null. Ele poderia a matar só com palavras, se quisesse. Quando ela bateu levemente na porta, viu que null estava ali, a olhando, no fundo do corredor, com olheiras imensas e aquele mesmo olhar de null. Bateu novamente, e a porta destrancou.
Ela poderia desmaiar ali mesmo.
Não foi o que ela fez. Não, porque quem estava do outro lado era null. A própria null pareceu confusa.
- Oi - null disse, ainda tremendo. - Eu preciso falar com o...
- Acabei de invadir o quarto pela varanda, null - null disse, confuso. - Não faço ideia de como ele saiu daqui. Mas... - null escancarou a porta, e null observou os lençóis da cama revirados, os pedaços do que seria um vaso totalmente quebrado. null acompanhou seu olhar.
- Ops... Aquilo fui eu - ele sorriu, sem graça. - Pulando a varanda.
null sorriu brevemente.
- Aquilo, definitivamente não - ele completou, levando um beliscão de null.
null virou seu olhar para o espelho do quarto. Alguns pedaços de vidro estavam caídos no tapete, mas não eram muitos. A marca no meio do espelho era de um murro. A garota engoliu seco sentiu um arrepio na espinha, mas proibiu a si mesma de voltar a chorar.
- Sua tia vai ficar muito contente com essa nova obra de arte - null tentou quebrar o gelo, e então null apareceu na porta.
- Aí está você - ele sorriu fraco para a irmã, indo abraçá-la. - Quase me matou de susto ontem, sua babaca.
null tentou sorrir.
- Desculpe por isso - a menina ainda tinha o olhar fixo no espelho estilhaçado. - Você viu o...
- Não - null franziu a testa. - Aliás... Ele não devia estar aqui?
null, null e null se entreolharam.
- Ele deve ter pulado a varanda... - null concluiu. - Mas não sei como fez isso sem que nenhum de nós visse.
- Se ele socou um espelho e ninguém ouviu - null tampou a boca ao sentir o olhar de null sobre ele. - Opa! Ai, eu sou um merda mesmo, desculpa, null.
null apenas fez um sinal com a cabeça.
- Ele não pode estar muito longe - ela disse, depois de um minuto. - Eu vou procurá-lo.
Os três se manifestaram quase ao mesmo tempo.
- Eu você com você!
- Não! - null negou. - Eu prefiro fazer isso sozinha. Desculpem.
Ela ia sair do quarto, quando null a segurou.
- Amiga, é sério... Você não tá bem, sabe? Acho melhor que algum de nós vá com você.
- Eu posso fazer isso sozinha... - A menina saiu andando, com os três em seu encalço - É SÉRIO! - ela gritou, nervosa. - Parem de me tratar como uma criança! Que inferno! - null começou a chorar, vendo os amigos paralisados. - Ah, me... desculpem.
null bateu e trancou a porta atrás de si, deixando todos desesperados do lado de fora.

Quinze minutos depois ela abriu a porta, vestindo um short e uma baby look, e um chinelo nos pés. Tinha amarrado os cabelos num coque e era perceptível o esforço que estava fazendo para esconder seu rosto, com o óculos oversized, que mesmo assim não escondia o nariz vermelho.
- Amiga, acabei de fazer panquecas! - null disse, sorridente. - Venha tomar café e...
- Não tô com fome, obrigada - ela disse, descendo as escadas. - Eu vou atrás do null.
Ninguém se opôs quando ela abriu a grande porta de vidro. Apenas null e null estavam do lado de fora, e ela passou por eles, tentando sorrir levemente. Mas era impossível, ela não conseguia fingir.
- null! - null gritou, e veio correndo até ela. - Eu prometo ficar quieto. Juro por Deus que vou calar a boca. Deixa eu ir com você?
- Pra quê? - null perguntou, a voz baixa.
- E se você precisar de um abraço no meio do caminho? - O garoto sorriu, e null tentou lembrar por que não era tão amiga assim dele antes. Só aquele sorriso já a reconfortava. A garota passou a mão na cintura de null, que fez o mesmo em seus ombros.
- Quietinho – disse. e ele sorriu.
- Nham, nham - ele fez um barulho com a boca, fazendo-a rir um pouco, enquanto saíam da mansão.

null e null tinham visitado o quiosque de seu velho amigo, andado em toda a extensão da praia, ido a vários bares, mas não tinham tido nem sequer sinal de null. null via sua amiga cada vez mais preocupada, e então obrigava a si mesmo a vencer o cansaço e continuar procurando. Durante aquele tempo, null tinha lhe contado o que acontecera na festa. Para null, no entanto, parecia bem claro que ela falava a verdade. Estava começando a achar ridículo esse sumiço de null.
"Ponha-se no lugar dele" - ele pensou, e então preferiu não assumir nenhum lado.
Só queria que os se acertassem. Não seria a mesma coisa com os dois separados.
Resolveu ligar na mansão pela quarta vez. Não precisou dizer nada, null entendeu com o olhar que eles não tinham notícias do seu... ex-namorado.
- null, vamos tomar alguma coisa? - A carinha de null a lembrou de um ursinho, ou um cãozinho abandonado. - Muito sol na cabeça. - Ele fez bico, fazendo a garota apertá-lo.
- Ah, me desculpa, querido! Estamos andando há horas sem parar... Acho que nem reparei que...
- Tudo bem - ele a interrompeu, sorrindo, e a puxou pela mão até um quiosque. - Dois sucos de maracujá bem gelados e dois salgados de qualquer coisa boa - null pediu, e null riu baixo, mas fez uma careta.
- Eu não quero...
- Eu não perguntei se você queria. - null lhe lançou um sorriso quase diabólico. - Você nem tomou café da manhã. A não ser que você queira procurar seu docinho online, diretamente de uma cama de hospital, você vai comer esse salgado bem quietinha.
null arqueou a sobrancelha e arregalou os olhos.
- Pai, é você? - Ela zombou, fazendo o garoto estender-lhe o dedo do meio e gargalhar.
- É sério, null, você precisa...
- Tá, tudo bem. - Ela se deu por vencida, mordendo um pão e batata com cara de má vontade.
Não comera nem a metade, mas null estava feliz de pelo menos ter colocado algo no estômago. Quando voltaram a caminhar, null parou subitamente, olhando fixamente para o outro lado. Por um instante, null achou que todo aquele sol na cabeça tinha lhe cegado, porque ele não via null em lugar nenhum.
- null? Onde você tá vendo ele?
- Ele? Não tô vendo ele! - null franziu a testa, e null viu que seus olhos estavam vermelhos. Ela baixou os óculos no mesmo instante.
- O que foi?
- Ontem... Quando a gente brigou - null percebeu finalmente que estavam em frente ao prédio de Cory. - Ele jogou uma pulseira em mim.
- A pulseira escrito "docinho" - null ouviu null completar.
- Você viu a pulseira? - ela perguntou, com o olhar fixo.
null riu.
- Você achou mesmo que estávamos num campeonato de futebol? - Ela sorriu, abraçando-a pelos ombros. - Estávamos correndo atrás daquela maldita pulseira.
null sentiu uma lágrima quente em seu rosto.
"De novo, não", ela pensou, enxugando-a rapidamente. Nunca tinha chorado tanto que nem naqueles dois dias. Não era assim tão mulherzinha, nem queria ser.
- Eu não acredito nisso... - ela disse com a voz chorosa. - Mas não era aniversário, não era nada, por que ele...?
null ficou em silêncio. Sabia que tocar naquele assunto ia escancarar as feridas de null. Se sentia estúpido por ter dito qualquer coisa desde o princípio.
- null? - ela o incentivou.
- Acho que ele só queria te surpreender - mentiu.
"Ele queria dizer que te amava", pensou, e mesmo reparando que null não tinha comprado sua desculpa, tentou mudar de assunto.
- Acha que devemos procurar nas ruas de trás? - disse, e null continuava com o olhar perdido.
- Precisamos ir até o apartamento do Cory - ela falou, e logo viu a expressão confusa de null.
- null, honestamente, acho que ele não vai se esconder na casa do ator-de-nome-gay... - ele disse e null não riu, como normalmente faria.
- A pulseira, null. Eu a derrubei ontem quando fui atrás dele. Eu preciso daquela pulseira!
Alguns minutos de ar condicionado pareceram o céu pra null, que apenas conduziu a menina até a portaria do prédio, sem dizer nada.

- Nossa... É você mesma! - Cory apareceu na sala após dez minutos de espera. Ele vestia uma samba canção vinho e uma regata branca. Seus cabelos estavam bagunçados e sua cara só provava que tinha acabado de acordar. - Quando a moça me avisou... - ele bocejou - eu pensei que fosse, mas não achei que fosse.
null franziu a testa para a criatura atlética e semi-bêbada em sua frente. Ficar perto de Cory não fazia bem para seu ego. null tentou sorrir.
- Acho que te acordamos, não? - rla praticamente afirmou. O garoto riu, alisando os cabelos, numa tentativa frustrada de arrumá-los.
-Tudo bem. - Ele a cumprimentou com um beijo no rosto, depois cumprimentou Poynter. - Eu imagino que não tenha vindo aqui essa hora pra me dar parabéns, não vejo presente e sua cara está mais para um enterro.
Sparks dissera aquilo com tanta naturalidade que null riu um pouco. - Me desculpe! - Ela tentou sorrir. - Feliz aniversário, Cory!
Eles se abraçaram, depois os dois olharam pra null.
- Opa! - ele disse, como se acordasse de um transe. - Parabéns aí, cara!
- Tá, agora me digam a que devo a honra... - Cory se jogou no sofá, depois gritou um nome que nenhum dos dois visitantes entendeu. - Um suco e uma aspirina pra mim, e tudo que meus ilustres convidados quiserem.
- Nós não queremos nada. - null disse.
- Uma Coca. - null disse ao mesmo tempo, sentindo as bochechas corarem.
- Por que você está triste? - Cory perguntou quando null sentou em sua frente.
- Como sabe que eu estou triste? - Ela arqueou a sobrancelha.
- Tá estampado na tua cara, lindinha. - Ele deu de ombros. - O que houve?
- História longa. Você não quer saber.
- Tente. - Cory sorriu, e null viu-se desabafando imediatamente com ele.
O cara era praticamente um estranho. Mas ele lhe passava confiança, e ela sentia que podia contar com aquele ator-de-nome-gay para tudo. Pelo interesse do cara, para null, ou ele era mesmo gay (não só de nome), ou queria pegar sua amiga. Torceu mentalmente para se tratar da primeira opção, enquanto observava os dois conversarem.

Depois de um longo desabafo, que deixou Cory totalmente boquiaberto, os três começaram a vasculhar a casa atrás da tal pulseira. Estava tudo uma bagunça, o que não facilitava em nada, e os funcionários do buffet estavam organizando as coisas. null sentiu que ia parar de respirar ao encarar a porta da despensa. Ficou parada a encarando, por incontáveis segundos, se sentindo a garota mais burra do mundo por ter confiado em Brian e entrado ali voluntariamente. Era tudo culpa dela. Ela era uma idiota.
- Pare de se torturar. - null a virou de frente pra ele - Pare.
A garota saiu em passos largos para a sala, sentou no enorme sofá de couro branco e apoiou a cabeça nas mãos, tentando impedir que as imagens da briga voltassem à tona. A pulseira não estava em lugar nenhum. null não estava em lugar nenhum. Ela queria apenas apagar aquela merda de dia da sua vida. Não adiantava chorar, ela precisava agir. Levantou-se, decidida a sair do apartamento de Cory e procurar o que realmente importava, quando null apareceu na sala, meio pálido, com o celular na mão. Sparks estava a seu lado, e ela deixou seu corpo cair no sofá antes mesmo que eles dissessem qualquer coisa.
- O que ele... Ele está bem? Aonde ele...? - null não conseguia terminar a frase. null abaixou em sua frente, sentado na mesinha de centro.
- Ele... Ele ligou pro null.
- ONDE ELE ESTÁ? - null tampou a boca ao ouvir o eco de sua voz na sala toda, fazendo com que as pessoas do buffet a olhassem.
- Ele foi embora, null - null respirou fundo. - Ele voltou pra Londres.

null não quis falar com ninguém quando voltaram à mansão. Ele tinha ido embora... Então aquilo realmente era pra valer. Ele realmente não confiava nela. Sentiu uma mistura de decepção, dor e raiva quando trancou-se no quarto e viu o relógio que ele deixara na mesinha ao lado da cama. Teve vontade de pisar nele, mas não o fez. A raiva era uma parte mínima que ela estava se obrigando a sentir. Arrependeu-se quando se jogou na cama, fazendo com aquele perfume maldito tomasse o quarto inteiro, e deixasse que suas lágrimas finalmente escapassem. Ficou ali por alguns minutos, até decidir levantar e terminar de arrumar as coisas na mala. Ao ver seu reflexo no espelho, reparou que a garota que via não era ela. Aqueles olhos borrados não eram dela. Aquela cara de sofrimento... Não a pertencia. Era uma versão muito, muito pior. Pedaços de null null mal colados numa pessoa irreconhecível. Desviou o olhar, incomodada, e pegou as roupas que faltavam, jogando-as de qualquer jeito em uma mala. Pegou uma outra mala para colocar o resto de sapatos e cosméticos, mas arrependeu-se imediatamente de tê-lo feito.

Flashback...

- Sabe, nós precisamos conversar muito sério. – A garota tirou o sorriso do rosto e null franziu a testa, confuso e apreensivo.
- Sobre?
- Sobre quem vai ter a guarda da blusa vermelha – null disse ainda com a voz séria e null gargalhou muito alto.
- Sinto informar, mas a blusa é minha e eu não abro mão disso!
- Então teremos um problema.

Flashback Off


- Ótimo... - Ela pegou a blusa e chacoalhou a cabeça. - Só faltava essa.
null agradeceu mentalmente quando alguém bateu em sua porta, fazendo-a jogar a blusa que roubara de null na noite em que começaram a se falar direito, dentro da mala.
- Ei, garota! - null entrou, com um sorrisinho solidário. - Está melhor?
null fez que sim com a cabeça, mesmo que um belo “não” estivesse estampado em sua cara. null a abraçou rapidamente.
- Nós precisamos ir, ok? Não podemos nos atrasar para o voo.
null sorriu, fechando a mala, e deu uma olhada ao redor antes de sair do quarto que tinha sido tão importante pra ela durante esses dois meses de férias.

- Voo 421 com destino a Tóquio, embarque imediato pelo portão 14.

- Eu devia ir pra lá - null murmurou a primeira coisa que dissera na última uma hora. null arqueou a sobrancelha, confuso.
- Pra lá aonde?
- Tóquio. Longe, muito longe... - A garota deu de ombros, como o olhar perdido no saguão. null segurou sua mão.
- Você vai pra Londres e vai enfiar na cabeça do seu docinho idiota que você não fez nada. E pare de graça.
null sorriu vagamente.
Odiava aeroportos. Odiava aviões, odiava altura, odiava null por não estar ali falando coisas idiotas para que se acalmasse. Como se já não bastasse o voo, ainda por cima naquelas circunstâncias, estava mais que nervosa. Mordeu um Kit Kat enquanto tamborilava com os dedos no joelho de null. A cada novo voo anunciado, seu coração vinha até a boca e voltava.

- Voo 178 com destino a Londres, embarque liberado pelo portão 11.

- É o nosso! - null levantou rapidamente, pegando sua bolsa roxa. - Vamos, galera!
Todos começaram a levantar, menos null, que continuou sentada, agora fincando as unhas nos joelhos de null, impedindo-o de se mover também.
- Outch! null! - ele reclamou, dando um tapa meio afeminado em sua mão, que fez null e null rirem. - Vamos?
O garoto estendeu a mão em sua direção com um sorriso fofo nos lábios.
null não conseguiu tocá-lo.
Seu coração estava disparado. Ela sabia que nada aconteceria, tinha certeza. No entanto, sua pele estava gelando e ela parecia estar a ponto de desmaiar ali mesmo.
- Maninha, você tá bem? - null sentou ao seu lado, visivelmente preocupado.
- Eu... - A garota começou a levantar, mas jogou seu corpo na poltrona novamente. - Eu não posso. Eu não consigo.
- Ah, não... - null murmurou, subitamente lembrando do pânico que null tinha de altura. Somados ao problema com null... Aquilo daria em merda.
Alguém anunciou o voo deles novamente.
- null, por favor, não vai acontecer nada... - null disse, sorrindo. - Veja bem, vamos estar com você o tempo todo. É tudo tão...
null já não entendia mais o que a amiga dizia, tudo parecia “bla-bla-bla-whiskas sachê” ao seus olhos e ouvidos, enquanto suas mãos tremiam.
Lembrou de quando foram pra França.
Lembrou da voz de null encorajando-a.
E então segurou com força nos bancos.
- Eu não vou.
- O QUÊ? - Quase todos berraram ao mesmo tempo.
- Eu não consigo.
- Você consegue, null, pare com isso! - null disse batendo o pé no chão. - Você veio sem ele conosco, não veio?
- Você não entende. - Aquilo era ridículo, nem ela entendia. - Eu não posso, EU NÃO CONSIGO!
null apoiou a cabeça nos joelhos, nervosa, tonta, e com vontade de chorar. Nunca mais tinha tido uma crise de pânico assim com altura. Viajava com os pais periodicamente, e no máximo dava um mini-chilique dentro do avião, mas alguém a distraía e ela seguia viagem. Sentiu o toque suave de alguém acariciando seus cabelos, e depois ouviu o anúncio de seu vôo de novo.
- Vão vocês - Ela ouviu a voz de null - Peguem nossas bagagens quando chegarem lá. Vamos de trem.
null levantou minimamente a cabeça.
- Tem certeza? - null disse, e null assentiu, beijando-a nos lábios rapidamente.
- null, você não precisa... - null sentou e ele a interrompeu.
- Shhh... - disse, abraçando-a. - Preciso que você fique calma. Vamos de trem, você precisa do abraço do seu irmão mais gato e não precisa de mais problemas por hoje. Sem aviões, sem altura, eu e você, ok?
null sorriu, apertando null com um pouco mais de força.
- Eu te amo. Obrigada.

null estava mais calma quando chegaram a Londres por terra firme. null era o melhor irmão do mundo. Ficou pentelhando-o com seus problemas a viagem toda, e ele estava ali, sempre sorrindo e acalmando-a. Como as malas tinham viajado com o resto dos amigos, pegaram facilmente um táxi para casa. Ao chegarem, sua mãe já sabia de tudo, coisa que null constatou pela intensidade do abraço e pelo fato de null, null e null estarem ali. Antes que ela começasse a dizer qualquer coisa, null respirou fundo, levantou do sofá e pegou o celular na mesinha.
- Eu vou até a casa do null.
- null, você não acha que... Sei lá, talvez fosse melhor esperar? - null disse e null negou.
- De forma alguma. Eu preciso resolver isso logo. Ele vai me ouvir.
- Quer que eu te leve? - null se apressou em oferecer, mas ela negou novamente.
- Está tudo bem, eu juro. Só preciso... Vocês sabem. Preciso resolver isso logo.
null a beijou na testa antes que ela caminhasse até a porta.
- Boa sorte, maninha!
- Boa sorte - null, null e null disseram em uníssono.
- Vai dar tudo certo, meu anjo - sua mãe disse, e ela sorriu, confiante.
Mães geralmente sabem o que dizem.

- Merda, mas que caralho! - null gritou enquanto tentava enfaixar a mão cortada sozinho após o banho. - Muito esperto, null, foder a própria mão quando está com raiva! ARGH!
null estava sozinho em casa. Sabia que isso ia acontecer, pois sua mãe tinha viajado com algumas amigas para Miami e só apareceria dali a uma semana. O plano inicial era aproveitar muito bem esses dias com a casa só pra ele. Sequestraria null por alguns dias e estariam sozinhos para fazerem o que quisessem, quando quisessem, na hora que quisessem. O plano era perfeito.
- Até aquela vad... - null parou no meio da frase. Como podia ser tão babaca de não conseguir nem xingá-la? - Vadia - cuspiu a palavra com a voz meio alterada, ainda se sentindo mal com isso.
Desceu as escadas só de boxer e foi até a cozinha, ainda lutando com a faixa na mão. O corte era meio feio, sabia que devia dar uma olhada melhor naquilo, mas pelo menos aquela dor amenizava uma certa outra que lhe incomodava mil vezes mais. Pegou uma garrafa de cerveja na geladeira e tomou quase tudo de uma vez só. Tinha passado as últimas horas anestesiado com cervejas, que não faziam efeito nenhum sobre ele. Faziam, claro, com que ele pensasse mais nela e sentisse mais sua falta. Também fazia com que seu ódio por si mesmo só aumentasse. Ele simplesmente tinha que parar de pensar nela! Ele podia ser um merda e ter feito coisas que não aprovaria se null fizesse com ele. Mas nunca faria aquilo. N-u-n-c-a. E ainda por cima com...
Ao pensar em Portman, jogou a garrafa com força na parede.
- Você vai sair da minha cabeça... Você TEM que sair da minha cabeça! - fisse, ao lembrar de null chorando, e apoiou as mãos na pia, respirando fundo.
Tinha chorado. Que porra de homem chorava por mulher?
Ele, claro. Tinha chorado que nem uma criança no quarto da mansão.
Tinha chorado de novo quando chegou em casa.
Estava farto daquela merda toda.
Ouviu a campainha tocar, e momentaneamente feliz ao se lembrar da pizza que havia pedido antes de entrar no banho, correu até a porta com a carteira na mão boa.
Essa mesma carteira caiu no chão quando ele abriu a porta.

Ela não disse nada. Estava abraçando os próprios braços com aquela cara de quem está procurando alguma coisa para falar. null sentiu o ódio correr pelas veias, paralelamente a um tremor estranho em sua espinha.
- Eu disse pra você se esquecer de mim! - falou entre dentes, e null engoliu seco.
- Eu não vou embora enquanto nós não conversarmos - ela respondeu, a voz firme, porém baixa.
null riu, sarcástico.
- Não sabia que você era adepta a acampamentos no meio da rua, null - disse, apoiando uma mão na lateral da porta.
Tomou um susto quando ela subiu no degrau, fazendo seu rosto aproximar do dele.
- Você não vai me fazer esperar aqui fora, null - ela retribuiu com o sobrenome, ótimo. - Você vai me deixar entrar e escutar o que eu tenho pra dizer.
Momentaneamente estupefato por aquela atitude - ele esperava que ela viesse chorando e se derretendo - null chacoalhou a cabeça, e riu novamente.
- Pode parar com o sarcasmo e a ironia, garota. O único direito que você tem aqui é de se colocar no seu lugar pela merda que você fez, calar sua boca e... - null parou, ao ver o entregador de pizza.
Pegou a carteira no chão, deu uma nota para ele sem mesmo ver, e pegou a caixa. null permaneceu parada ao seu lado. null colocou a caixa para dentro, e então voltou-se para ela.
- Vá embora. Nada que você diga vai mudar o que eu vi.
null ia bater a porta, mas null a segurou, e com medo de prender a mão dela e os dois ficarem idiotamente com as mãos enfaixadas, ele abriu de novo.
Parecia outra garota do lado de fora. Outra null.
Aquela que ele esperava de princípio. Ainda com a feição firme, seus olhos estavam vermelhos. Tudo o que ele conseguiu pensar por dez segundos foi o quanto odiava fazê-la chorar. Depois ele lembrou que chorou por ela, e então a raiva voltou.
- null, por favor... - ela pediu, quase sussurrando. - Por favor.
- Não - respondeu, firme, mas com os joelhos quase tremendo.
- Dez minutos, null. Dez minutos e eu prometo que vou embora.
null respirou fundo. Talvez ela pudesse provar que ele estava errado. Porra, como ele queria estar errado.
Não que acreditasse nisso. Ele tinha visto muito bem.
- Dez minutos - respondeu, andando até o sofá, deixando-a entrar sozinha e fechar a porta.

null sentou no sofá em frente a null. Sentiu-se como se estivesse na polícia ou algo do tipo. Os olhos do garoto que ela tanto amava pareciam interrogá-la. null tentava agir despreocupadamente. Pegou a caixa de pizza e a abriu, pegando um pedaço, sem dizer nada.
- O que houve com a sua mão? - null perguntou, mesmo sabendo a resposta. Precisava começar de algum lugar. Fazer null assumir que estava sofrendo parecia um bom jeito.
Ele deu de ombros.
- Honestamente, você veio aqui pra bater papo e fingir que é minha amiguinha, ou pra falar qualquer merda de mentira que você quer que eu acredite?
O balde de água fria que null (não) esperava.
Engoliu o choro que já ameaçava aparecer. Firme, muito firme.
- null, aquilo tudo foi uma armação. Você precisa acreditar em mim!
- Você que precisa que eu acredite.
- Dá pra você calar a boca e me ouvir? - null perdeu a paciência, e ele riu, irônico, enfiando mais um pedaço de pizza na boca. - Eu não sabia que o Brian estaria na festa. Encontrei com ele e dei um chilique, porque achei que ele estava me perseguindo de novo.
- E não estava? - null arqueou a sobrancelha. Ficou quieto assim que viu a cara de null.
- Aparentemente o primo dele é amigo do Cory. Bom, ele disse que precisava conversar comigo, e que se eu falasse com ele, ele nos deixaria em paz. Saímos da muvuca, e fomos até a cozinha. Ele me levou até o fundo e disse que era pra eu entrar na despensa...
- E você, garotinha ingênua de cinco anos de idade, entrou... - null gargalhou. - Qual é, null? Você acha que eu sou idiota? Puta que pariu, você entrou lá VOLUNTARIAMENTE! - ele finalmente gritou. Se sentiu bem, por um instante.
null passou as mãos nervosamente pelo cabelo.
- Ele disse que ia nos deixar em paz. Entrei pra conversar com ele, null. Eu fiquei de olho na chave, eu sei que ele não é boa coisa. Ele ficou me enchendo o saco, e do nada o celular dele tocou, ele não atendeu, deu dois segundos e ele me empurrou e me agarrou - null disse com as mãos trêmulas. - E você... E você apareceu.
O silêncio tomou conta da sala da casa de null. null respirou fundo, limpando a mão em um guardanapo.
- Tá, e como eu entro nisso? - ele perguntou.
- Como assim?
- Como é que o Brian “fez com que eu o visse te agarrando sem você querer” - null fez questão de fazer aspas com os dedos.
null quis dar um murro nele.
- Isso... - ela chacoalhou a cabeça. - Eu não sei. Você foi lá para quê?
null riu.
- Eu só fui lá ajudar uma menina! E eu que ofereci ajuda, uma garçonete! Isso é ridículo, null, não faz o menor sentido!
- null, para com isso... - null quis que sua voz soasse menos estranha. - Você acha mesmo que eu... que eu... - A menina fazia um esforço enorme pra não chorar. null sabia disso. - Você não confia em mim?
Outch. Confiança.
null já nem sabia mais como aquela palavra se encaixava em seu vocabulário.
Estava completamente cego de raiva e de ciúme.
- null... - null sussurrou, dando a volta na mesinha e sentando do lado de null no sofá, tão perto que podia encostar nele. E isso fez os dois estremecerem. - Você não pode estar falando sério quando diz que acreditou naquilo. Eu amo você. - null apoiou sua mão gelada na mão dele, que incrivelmente estava na mesma temperatura. - Eu estou aqui quase me rastejando pra ter você de volta. Por favor, volta pra mim... - Ela respirou fundo. - Eu preciso de você. Você... Você confia em mim?
null apertou a mão de null com a sua. Ela estava tremendo. Ele a encarou nos olhos pela primeira vez, sentindo cada músculo de seu corpo reagir à proximidade. Era algo com o perfume dela. Algo com o jeito dela. Ele não podia ficar tão perto assim. Ele tocou seu rosto, e então começou a misturar tudo novamente em sua cabeça.
- Eu não... - Sua voz era nada. Soava como uma bela bicha. - Eu não...
null roçou o nariz no dele, fazendo-o apertar sua coxa.
- Eu não posso. Eu não confio em você.
A expressão de null mudou completamente. Ele não soube dizer o quê, ou identificar o que era. Ela ficou sem falar por mais de um minuto, o que não era normal.
- Você está muito errado sobre mim, sabia? - disse, levantando e caminhando até a porta. - E um dia você vai se dar conta disso. Cuidado pra não ser tarde demais.
null não conseguiu dizer nada ao vê-la sair.
Jogou-se para trás no sofá, sentindo-se estranho. Ele a amava e a odiava ao mesmo tempo. Ele sabia que aquilo não ia dar certo. Depois de ficar uns cinco minutos tentando se acalmar, ele caminhou até a janela, olhando atrás da cortina.
null ainda estava lá, sentada em sua escada, com o rosto escondido entre as mãos. Pela forma com que seus ombros se mexiam, estava chorando. null encostou o rosto no vidro, se sentindo um verdadeiro merda. Observou-a por dois minutos, até ela limpar o rosto e levantar, caminhando devagar. Ele encarou o relógio – meia-noite e quarenta e sete - e respirou fundo.
A única coisa que subitamente conseguia pensar era que ela não podia ir embora essa hora da noite a pé e sozinha.
Colocou uma calça jeans que estava jogada por lá e uma camiseta, desceu as escadas correndo e calçou um par de chinelos com as chaves do carro nas mãos. Ela não reparou quando ele saiu da vaga, estava distante. Dirigiu a 10km/h, de longe, vendo a garota se arrastar pelo meio da rua até chegar em sua casa, alguns minutos depois.
null estacionou o carro, encarando a fachada da casa. Viu a luz do quarto de null acender e bateu a própria cabeça no volante com raiva de si mesmo.
Como ele podia estar ali, preocupado com ela, depois de tudo o que ela fez?
Preocupado com a segurança dela?
- Caralho, são dois quarteirões! - null xingou, batendo a mão enfaixada sem querer e arfando de dor. Como ele era ridículo! Tinha ódio, tinha nojo de si mesmo. Olhou para a sombra do corpo de null andando de um lado para o outro perto da janela e murmurou: - Você vai sair da minha cabeça. Eu vou esquecer que um dia eu já amei você! Eu... - Ele chacoalhou a cabeça. - Vai ser melhor pra nós dois.

Capítulo 19: I guess we're really over, so come over, I'm not over it

- Ei, null, acorda, querida - null ouviu sua mãe sussurrar e a chacoalhar. - Primeiro dia de aula.
null colocou o travesseiro na cabeça, com raiva por ter sido acordada tão cedo. Já não lhe bastavam as horas de insônia regadas a lágrimas que ela estava cheia de derramar. Devia ter dormido uns quarenta minutos apenas, e agora sua mãe estava ali, a arrastando para fora da cama, para que ela encarasse aquela porcaria de colégio.
Seria fácil fazer isso, mesmo estando um trapo, se ela fosse simplesmente uma ninguém dentro do colégio.
Mas obviamente Murphy tinha uma paixão enlouquecedora por ela, e ela ainda era popular, imitada e teria que discursar em prol do começo das aulas. Dali a dois dias provavelmente suas olheiras virariam moda. Ótimo. Desistiu de lutar contra sua mãe e foi até o banheiro, irritada, tomar um banho quente. Encontrar com null ainda seria o pior de tudo. Não sabia como reagiria, sabia simplesmente que tinha... Desistido.
null null não desiste. Mas depois de ver o cara que ela tanto ama pronunciar que não confia nela com todas as letras, achou que a melhor coisa a fazer era parar de tentar. Bom, pelo menos parar de tentar fazê-lo acreditar nela. Mas a garota ainda não tinha engolido aquela história de null ter aparecido na despensa. Ela encurralaria Brian, faria de absolutamente tudo, mas descobriria a verdade.
- Para esfregar na cara daquele idiota... - murmurou, enquanto limpava o espelho para ver seu rosto.
Sabia que aquilo era mentira. Ela queria mesmo era que null a visse que estava errado e a "perdoasse". Mas poxa, ele não devia acreditar nela?
Ajeitou os cabelos em um coque mal preso - sabia que null iria dar um chilique ao vê-la assim -, passou um corretivo nas olheiras para dar-lhe ao menos um ar de dignidade, um gloss, e vestiu o uniforme.
Quando desceu as escadas, null estava comendo cereal na cozinha.
- Bom dia! - ele disse de boca cheia, e null sorriu.
- Bom dia, chuchu! - Ela lhe apertou as bochechas, fazendo o garoto reclamar. - Vamos?
- Come alguma coisa... - ele disse, limpando a boca com o guardanapo. - A null vai vir nos buscar.
Ótimo, a bronca do visual desarrumado viria antes do esperado.
- Tenho pensando tanto em mim ultimamente que nem perguntei... Como vocês estão? Digo... Juntos e tal... - null perguntou vagamente, vendo o garoto colocar cereal para ela em uma grande xícara. Torceu o nariz, pois esperava que ele tivesse se esquecido do café da manhã. - Estamos muito bem - null abriu um sorriso radiante. - Ela é... Bom, totalmente diferente de mim, sabe? A gente não tem quase nada em comum. Mas acho que a graça é essa.
null brincou com a colher dentro da xícara.
- Eu estou vendo que você tá enrolando... - null disse, e a menina fez careta.
- Você não é a mamãe.
- Mas eu sou. - A Sra. null apareceu na cozinha, fazendo null gargalhar. - Pode comer.
- Mãe, eu não tô com...
- null null! Você acha que eu já não fui adolescente? Acha que eu nunca perdi a fome por causa de algum namorado? No entanto eu fui obrigada a comer porque percebi que minha vida é mais importante do que um garoto que usa as calças tão caídas que aparecem até a cueca.
null arregalou os olhos, e null torceu o nariz.
- Ei! Eu também uso calças assim!
- Filho... - A Sra. null o abraçou de lado. - Eu te amo e você sabe disso. Mas nunca disse que você tinha um bom gosto para moda.
- Outch! - null cutucou, fazendo o irmão levantar o dedo do meio discretamente.
- Cala boca e come, null - ele revidou, e null entrou na sala, rindo alto.
- Vocês são tão fofos, sabe? - Ela rolou os olhos. - null, que coque é esse?
null riu.
- Vamos embora, eu como essa maçã - null se adiantou, deixando null reclamando para trás, vindo de mãos dadas com seu irmão.

null e null cumprimentaram vários desconhecidos quando chegaram ao colégio. null ficou meio estupefato com tantos olhares - a maior parte deles corria do cabelo amarrado de null até sua mão que segurava a de null - e aquilo o deixou um pouco assustado. Ficou feliz quando viu null, null e null em um banquinho onde os garotos sempre costumavam sentar.
- Pessoas conhecidas, amém! - null disse, fazendo os amigos rirem.
- Tem pessoas olhando para cá. Não param! - null disse, com um olhar estranho que fez null rir.
- Deve ser porque elas não se acostumaram com a ideia de tantas garotas sexies e deliciosas sentadas com um bando de losers... - null riu da cara de null. - Losers que são um pouquinho... Bem pouquinho... Sexies.
null assistiu os amigos rirem, enquanto olhava em volta, nervosa.
A qualquer momento ele chegaria, obviamente. Ficou feliz em ver null se aproximar, mas enquanto sua amiga cumprimentava um a um com beijos no rosto, e depois sentou no colo de null, null se deu conta de que estava sobrando ali no meio de três casais.
- Adoro segurar vela... - ela murmurou, fazendo null rir.
- Awn, amor, você sabe que meu coração é todo seu! - null a apertou, arrancando uma risada da menina. - O null é só meu passatempo, você é sempre prioridade!
- Valeu, hein? - null fez um joinha com o dedo, fazendo todos rirem.
- Sorry, querido, eu vi primeiro... - null entrou na brincadeira, puxando null pela mão. - Toda minha!
Enquanto riam de algumas trivialidades, null penteava os cabelos de null para deixá-los soltos, e tudo estava num clima muito ameno, até que null avistou null atravessando o pátio. Ele era a peça que faltava, é claro. Todos estavam observando as trocas de carinho entre os losers e as populares, e null, a mais querida delas, estava lá, sem ninguém. Quando viram null, metade do pátio o acompanhou com o olhar. null percebeu uma certa movimentação, e virou a cabeça, sentindo seu coração quase parar.
Lá estava ele, a gravata do uniforme sempre mal amarrada, as calças caindo, como sua mãe bem notaria, Vans nos pés e os fones do iPod nos ouvidos. Ele olhava para o chão, mas não parecia estar com a feição tão acabada quanto a dela. Não tanto quanto ela gostaria, afinal, queria saber se ele também se sentia mal por estarem separados. O único vestígio ainda era a mão mal enfaixada. null os encarou, e pareceu acordar de um transe, tirando os fones e mexendo na tela do aparelho.
- Bom dia - disse preguiçosamente.
null se ajeitou na cadeira. null parou de rir das idiotices de null, null soltou seus cabelos, null e null fixaram o olhar em null.
"Mas que beleza!", null pensou, irritada. "Isso vai ser pouco incômodo".
- Bom dia! - null respondeu após alguns segundos, e então o resto dos tapados pareceu acordar ao redor de null, fazendo o mesmo.
- Então é por isso que estava todo mundo me olhando... - null disse com um sorrisinho. - Vocês estão... - Ele apontou para os casais em sua frente.
- Achou que fosse por quê, null? - null fez voz de desdém, mas todos sabiam que era uma piada. Nunca o tratara mal, mesmo quando nem se falavam direito.
null riu. O som da risada dele provocou uma onda de calor dentro de null.
- Hum, talvez por eu ficar muito gostoso de uniforme... - Ele sorriu, fazendo os amigos rirem.
O silêncio seguinte não estava previsto. null pensou em abrir a boca para dizer algo, mas viu que null olhara para null pela primeira vez desde que tinha se aproximado deles. Ao sentir o olhar de null sobre si, null ficou paralisada, mas o encarou de volta, e eles ficaram por incontáveis segundos assim, estáticos. A garota coçou o pescoço, confusa, com as mãos gelando. E então null fez um barulho estranho com a boca, chacoalhando a cabeça.
- Eu vou...
- Vai? - null provocou, fazendo null chacoalhar a cabeça.
- Ali - null respondeu simplesmente, deixando a rodinha.
null riu, sem humor.
- Vai ser sempre assim... - disse baixo e null a abraçou pelos ombros.
- Claro que vai, até o dia que vocês pararem de ser idiotas. - null sorriu com todos os dentes, e quando viu que null iria protestar, a puxou pela mão, fazendo o mesmo com disse, arqueando a sobrancelha.
- Eu sei de tudo, meu amor! - null riu, presunçosa. - Sei que você tem aula de Geografia comigo, sei que o null e a null vão cabular aula para ficar se pegando, sei que o null quer me corromper a fazer isso também, e mais importante... - ela fez uma pausa, sorrindo. - Sei que null e null serão sempre um casal, mesmo não sendo um casal. O que significa que em breve eles estarão de volta.
null ficou boquiaberta, enquanto os amigos riam, mas não disse nada quando foi puxada pelo jardim.

- Dude, para de ser idiota! - null cochichou, enquanto a Sra. Brown passava um vídeo, como ela gostava de fazer nas primeiras aulas. - A null não fez porra nenhuma!
null chacoalhou a cabeça, rindo baixo.
- Não, fui eu quem estava lá na despensa com o Brian, né? - disse, sarcástico.
- Isso tudo é orgulho? - Judd riu, sem humor. - Eu sou seu amigo! Eu tô te dizendo que ela não fez nada!
- Ah, fica na tua, dude! Tá escrito na sua testa que você é "Team null".
Dessa vez null riu um pouco alto demais, levando um olhar atravessado da professora.
- Team null? Para de ser idiota, pelo amor de Deus... - null riu. - Se ela tivesse te chifrado eu seria o primeiro a te apoiar, mas eu acredito na null, sabe? Coisa que você deveria fazer.
null bufou, e então virou para null pela primeira vez.
- Faz o seguinte? Cuida da SUA vida e para de falar merda, antes que eu me irrite com você - null disse, sério, e null chacoalhou a cabeça.
- Tá escrito na SUA testa que você é "Team null" - ele provocou, sorrindo. - Só que eu não sabia que você era tão idiota de cair na do Brian e perder a única menina que você realmente quer. - null olhou para a tela. - Mas é melhor eu cuidar da minha vida, mesmo... Só não diga que eu não avisei quando você...
- Cala a boca! - null sussurrou, nervoso, e virou para frente.
null apenas riu. Sabia que o amigo estava louco de vontade de correr até a sala de null e agarrá-la. E também sabia que tinha o irritado o suficiente para que ele ficasse com uma pulga atrás da orelha. Score. Mais cedo ou mais tarde, ele cairia na real.

Ao deixar a aula de geografia, null e null caminharam juntas até o outro prédio. Tinham aulas diferentes, mas iam para o mesmo lugar. null tinha ido para o ginásio onde teria sua temida aula de educação física.
- Ah, droga! - null parou de andar, fazendo null a encarar.
- O que foi?
- O null esqueceu o celular dele comigo... - null girou o aparelho na mão, com cara de sono. - Vamos lá entregar?
- Ih, amiga, bem que eu queria ficar passeando, mas tenho aula do Sr. Thompson... - A simples menção do nome do professor de álgebra fez null torcer o nariz, e null rir.
- Então não se atrase, não dê mais motivos para aquele cara te odiar - null riu. - Aliás, ele nos odeia acima da média dos professores. Tenho medo.
null gargalhou.
- É porque nós somos gostosas e ele não! - null disse, rindo, e então correu pelo corredor.
null caminhou devagar, olhando para dentro de algumas portas entreabertas das salas. Chegou ao ginásio em poucos minutos, e logo avistou null, devidamente sentado na arquibancada e com cara de tédio, enquanto todos os garotos começavam a se aquecer. Aquela imagem a fez rir.
- Seu celular, tontinho esquecido - ela disse, e o garoto riu.
- Também te amo, null - ele disse, enquanto a menina sentava ao seu lado. - Não tem aula agora?
Ela deu de ombros.
- História da arte.
- Aqui é educação física - o garoto disse, divertido, levando um beliscão.
- Tá me expulsando, null null? - null disse com uma voz afetada, e os dois riram.
Não demorou muito para que null virasse o olhar e visse quem estava entrando na quadra. E uma corrente de ódio tão gigantesca cresceu dentro dela que null não conseguiu segurá-la quando ela atravessou a quadra até Brian.
- Hey! Não vejo você desde... - ele ia dizer, com um imenso sorriso, quando a garota fincou as unhas em seu braço.
- Cala a boca! - ela disse baixo, mas com a ira transbordando na voz. - Vem comigo, agora!
- Eu tenho aula, querida, não posso... - O cinismo de Brian estava quase lhe causando um colapso. Ela o empurrou com força em direção às escadas, quase fazendo com que o garoto tropeçasse.
- null, calma... - null apareceu ali, e ela não o olhou.
- COMO VOCÊ PÔDE FAZER AQUILO? - null berrou, ouvindo o eco de sua voz no corredor. Respirou fundo, pois não queria dúzias de caras suados correndo na direção deles. - Você vai me dizer AGORA como é que...
- Eu não sei o que você está falando.
- BRIAN! - A menina gritou de novo, fazendo alguns garotos quase pararem de correr. - Brian. Portman. Não. Me. Faça...
- Vai fazer o quê? - ele riu. - Nada que você possa fazer vai mudar alguma coisa... - ele sorriu largamente -, docinho...
null não conseguiu ouvir mais nada. Acertou um murro na bochecha de Brian. Um murro, não um tapa. Ele pareceu assustado com a reação, gemendo como uma garotinha, e segurando o rosto claramente marcado pelo enorme anel que a menina usava.
- Ai, meu Deus! - null a puxou - null, você vai pra detenção, vamos sair daqui...
Brian riu, ainda segurando o rosto.
- Você é mais homem do que seu ex-loser.
- Cala a boca, seu idiota! - null se desvencilhou de null. - Antes que você tome outro desses, é melhor você falar logo como que você conseguiu armar aquilo tudo!
Brian se aproximou dela, sorrindo.
- Eu não armei nada. Você entrou lá porque quis. Você me beijou de volta porque quis.
null quase gritou de ódio. Não acreditava que ele estava dizendo aquilo. Queria o quê, que null se virasse contra ela também?
Foi quando ouviu uma risada bem característica em suas costas, e entendeu tudo.
- Bela direita, docinho - null sussurou perto do ouvido de null, que ainda estava de costas. - Da próxima vez, tente fazer isso dentro de uma despensa, e quem sabe o próximo idiota que te namorar acredita em você?
null virou para null, que ainda estava ali perto, com null. Não sabia o que ele tinha ouvido - muito provavelmente só o que Brian tinha dito - mas ele tinha visto o soco, nem que fosse de longe. Devia pelo menos cogitar que ela podia ter razão. Ou, do jeito que a mente de null andava distorcida, devia achar que era tudo outra armação. Mas ela estava com raiva. Pela primeira vez desde o ocorrido, sentiu apenas raiva de null. E uma vontade crescente de também marcar seu anel na cara dele.
- Dispenso sua ironia, null - ela sorriu, sarcástica. - Você quer uma marca do meu anel na sua cara para combinar com a mão enfaixada que você ganhou ao socar o espelho... Porque... Ah, sim, porque você me ama tanto que só consegue agir como um merda?
null ficou paralisado, mas logo se recuperou.
- Isso não tem nada a ver com você.
null riu.
- Claro que não. Tem a ver com sua insegurança e orgulho. Tem a ver com sua idiotice - ela riu. - Está tudo bem. Quando você perceber que errou, pelo menos terá uma cicatriz pra se lembrar disso. Pra sempre - ela o encarou. - Para sempre, o dia em que você me perdeu... docinho.

Dois dias tinham se passado após a cena envolvendo Brian no pátio. null ainda não sabia como fazer o garoto falar a verdade, no entanto, estava com tanta raiva de null, que isso parecia menos importante.
Estava com raiva por ele não ter corrido atrás dela, por não ter acreditado nela, por não ter sequer demonstrado que estava abalado com as coisas que ela tinha dito. Quem via de fora, parecia que nada tinha mudado.
Parecia que eles tinham ido e voltado os mesmos da Riviera. As mesmas briguinhas inúteis, os mesmos olhares de fúria, era como ter acordado no passado.
- Bom dia, coisas lindas da null! - A garota saltitou até os amigos, e eles riram. - Como estão?
- Muito bem... - null beijou a bochecha da menina. - Você que parece estar radiante.
- Nada como uma boa noite de sono ouvindo John Mayer. - Ela sorriu. - Aquela voz sexy no meu ouvido a noite inteira, tem como não dormir com os anjos?
- Tem certeza que era o John Mayer? Aposto que você só estava sonhando comigo - null apareceu, com um sorriso cínico estampado no rosto. - Aposto que você estava pensando em como era sexy ouvir minha voz no seu ouvido, agora que você não tem nada. - Ele gargalhou, e então a segurou pela cintura, sussurrando com uma voz quase pervertida: - Docinho.
null não deixou que um sorriso vitorioso se formasse nos lábios de null, quando ele percebeu que a pele do pescoço da menina tinha arrepiado.
- Ah, querido, você está enganado... A voz do John me faz dormir, porque ela é sexy, é suave... É a voz de um anjo. - Ela sorriu, acariciando o rosto de null com uma das mãos. - Da última vez que eu cometi o erro de lembrar da sua voz, passei a noite nauseada e correndo para o banheiro. Sabe como é, você perdeu o efeito, baby - E então ela o imitou, sussurrando em seu ouvido: - Sua hora já passou, docinho.
null abriu um largo sorriso ao ver o garoto desnorteado em sua frente.
Não se lembrava do quanto era boa nas brigas com null.
O sinal tocou, e todos se levantaram, ainda meio abalados com a cena que tinham presenciado.
- Alguém tem aula de literatura agora? - null perguntou, e logo viu a expressão satisfeita de null cair por terra. Ah, não! null não aguentaria duas aulas seguidas com ela.
Aquilo era uma merda, uma grande merda. Literatura de novo. A aula que os juntou, ali, de novamente, com ela. E só com ela.
Mas null não teve tempo de processar a ideia. Viu null andando sozinha pelo corredor cheio de alunos, a caminho da aula, e bufou, depois de sentir um tapinha nas costas e ouvir a risada de null.

Quando chegou na sala, havia um lugar disponível bem atrás da carteira de null. Havia outro, bem em frente à mesa da professora. Resolveu escolher a primeira opção, mesmo quase certo de que ficar encarando a Sra. Brown o tempo todo era menos torturante do que o que ia fazer. null não se moveu quando ele sentou. Continuou conversando com uma cheerleader japonesinha que estava ao lado dela. null lembraria o nome daquela garota, se por acaso prestasse atenção nas garotas com que ficava antes... Dela.
- Bom dia, classe! - A Sra. Brown entrou na sala. - Muito bom revê-los! Tive uma experiência muito boa com alguns de vocês em nossa última aula antes das férias.
null ouviu null bufar e rolou os olhos.
A senhora começou a aula, mas null não conseguia prestar atenção em nada do que ela dizia. null estava se movimentando desconfortavelmente na cadeira, como se quisesse sair correndo dali. Ela pegou um lápis no estojo e começou a fazer um coque.
"Não... Não", null passou as mãos nos cabelos, sentindo o perfume da menina enquanto ela enrolava o cabelo.
Ela terminou rapidamente um coque perfeito, todo preso, e null teve que conter o impulso maluco que teve de tocar sua nuca descoberta. Ela sabia ser sexy até sem querer. Aquilo não estava lhe fazendo bem, se ficasse mais dois minutos encarando seu pescoço, faria algo de que se arrependeria. Viu null cochichando com a japonesinha e subitamente lembrou o nome da garota. Respirou fundo, aproximando o rosto do ombro de null, que levou um susto.
- null, o que diabos você... - a menina virou um pouco o corpo, mas ele fez sinal de silêncio com os lábios.
- Relaxa aí - disse, seco, e virou-se para o lado. - Autumn, certo?
A garota sorriu, visivelmente empolgada por ter sido lembrada por ele.
- Certo - ela disse baixo.
- Quanto tempo não nos falamos. - null continuou com o queixo apoiado na curva do pescoço de null, para falar com Autumn. Aquele perfume estava o matando.
- Deve ser porque você parou de me ligar - a japonesa respondeu, e null ouviu a risada de null, acompanhada de um pedido de silêncio da professora.
- Espere aí - null murmurou para Autumn, e pegou um papel, escrevendo qualquer idiotice. Então, tocou o ombro de null, que virou, nervosa.
- O que você quer, garoto?
null não respondeu nada. Apenas estendeu o papel dobrado e fez sinal com a cabeça para que ela o passasse para Autumn. Ela girou os olhos discretamente, mas passou na maior pose de quem não ligava.
Até mais ou menos o quinto papel.
- Escuta aqui, null! - ela disse, nervosa. - Se você quer ficar paquerando no meio da merda da aula de literatura, faça você mesmo, pare de encher meu saco! - null viu a cara de susto de Autumn, e então amoleceu. - Desculpe, querida. Não é nada com você. É que...
- Eu sei. - Autumn sorriu. - Vocês se odeiam. Todo mundo sabe.
null e null trocaram um olhar muito breve, mas ficaram quietos.

- Hey! - null correu até null, na hora do intervalo. Tinha tido uma aula de matemática sem nenhum dos amigos, mas qualquer coisa era melhor que null a importunando.
Quem ele pensava que era pra ficar trocando risinhos com uma garota qualquer na frente dela?
- null, como foi a aula com o...?
null não deixou que ela acabasse.
- Insuportável. Me deixe perto dele por dois minutos e eu juro que choco a cabeça dele contra a parede - null disse tão séria que fez null rir. - Tá maluca? Perdeu a noção do perigo? - null colocou a mão na cintura, e null engoliu o riso.
- Desculpa, é só... Engraçado.
- O que é engraçado, null? Esse pentelho infernizando minha vida?
- Não - null disse, quando as duas já avistavam seus amigos. - Você tendo ataques de ciúme.
- EU TENDO O QUÊ?
- Ela tendo O QUÊ? - null a imitou, e null só ficou mais puta.
- Ataques de... - null ia dizer, mas o olhar de null a interrompeu. - Tá, parei, parei.
Sentaram para comer em uma mesa quase no centro do pátio. Essa mesa sempre foi delas, mas ultimamente andava frequentada pelos garotos. Enquanto null e null faziam uma guerra de comida que quase acabou em tragédia - sujando o cabelo de null, que provavelmente processaria ambos - null pareceu engasgar.
null estava sentando na mesa com Lisa James, duas outras líderes de torcida que null não reconheceu, e Autumn. Ele pareceu sentir o olhar sobre ele, pois olhou pra ela no mesmo instante. null estava abraçando Lisa pelos ombros, enquanto Autumn ria. null desviou o olhar, tomando um longo gole do suco, e fingiu não ter visto nada.
Mas ele fez questão de, cinco minutos depois, vir andando com Autumn pendurada em seu pescoço até eles.
- Hey, peraí, baixinha! - ele riu, e Autumn também.
Ah, agora com ela é apelidinho fofo?
- Hey... Dude! - null disse com uma voz estranha.
- Gente, essa aqui é Autumn, lembram dela? Vocês devem conhecê-la por causa do...
- Time de cheerleaders - null acrescentou de má vontade. - A gente sabe.
- Posso sentar aqui com vocês? - Autumn perguntou, olhando especificamente para null.
Mal sabia que isso não era a melhor coisa a ser feita. null engoliu o ódio e sorriu largamente.
- Mas é claro, meu anjo, você é sempre bem-vinda.
A cara de null foi impagável. Ele não conseguiu deixar de transparecer o choque.
- Tudo bem mesmo? - perguntou, com a voz meio estranha. null sorriu novamente.
- Claro que sim.
Todos estavam meio boquiabertos encarando null. As meninas nem tanto - sabiam da capacidade da amiga de fingir muito, muito bem quando queria. Era uma atriz, no fim das contas.
O intervalo foi até bastante fingidamente agradável. Quando o sinal tocou, null percebeu, pelos horários, que tinha educação física com as amigas. Menos mau. Uma hora inteira de fofocas e quase nada de suor - já que elas sempre davam um jeito de fugir do principal - parecia perfeita para tentar liquidar os sentimentos sádicos que estava criando em relação a null.

- Hey, null, estou indo pra casa, precisa de carona? - null perguntou, chegando ao lado de null no fim das aulas. Ele negou.
- Vou almoçar com a null em algum lugar, depois vamos ao cinema... Quer vir?
null riu.
- Não, obrigada, não gosto de segurar vela. - Antes que ele protestasse, continuou: - Aliás, tenho uma pesquisa enorme de filosofia pra fazer. - Ela torceu o nariz.
- Ai caramba, ainda tem essa! - null bateu na testa, e null riu. - Bom, eu vou pra casa também. Te ligo mais tarde, tá? - Ela beijou o rosto de null, e depois o de null.
null se despediu do irmão e andou por entre os carros do estacionamento do colégio. Avistou seu New Beatle amarelo, que era fácil de encontrar, e dirigiu-se até ele. Enquanto abria o carro, viu, mais adiante, null e Autumn.
Eles estavam encostados no capô do carro que ela reconheceu como o de Lisa. Autumn estava entre as pernas de null, e eles conversavam perto demais. Ele a segurou pela cintura e a puxou, depois olhou para o lado. Bem na direção do New Beatle. Autumn fez com que ele olhasse pra frente de novo, e o beijou.
null entrou no carro rapidamente, sentindo os olhos arderem e uma sensação de raiva e nojo tomou conta dela. Saiu arrancando com o carro, quase atropelando duas garotas que estavam por ali. Não olhou para trás. Não daria esse gostinho a null.

null mordeu levemente o lábio de Autumn, separando o beijo.
A garota sorriu, satisfeita. Era realmente muito bonita. Se fosse em outros tempos, ele estaria orgulhoso de si mesmo.
- Hey, eu vou para casa... - null disse baixo, e a garota fez bico.
- Se você quiser, podemos ir para a minha... Eu sei... Cozinhar - Autumn soou quase pervertida, e null chacoalhou a cabeça, rindo.
- Claro que sabe - ele piscou. - Mas realmente preciso ir. Tenho trabalho de física.
- Ah... - Autumn acariciou seu rosto. - Eu posso passar na sua casa mais tarde?
- Hm... - null olhava para o nada, enquanto a garota se pendurava em seu pescoço. - Não dá. Desculpe. Tenho outras coisas pra fazer.
Ele não esperou que Autumn protestasse. Deu um beijo em sua bochecha, e desencostou do capô do carro, ligando os fones do iPod. Encontrou seu carro e partiu pra casa, ignorando o celular que tocava, já com Autumn ligando.
Quando entrou em casa, jogou a mochila em uma poltrona e se jogou no sofá. Esticou o braço e apertou o botão da secretária eletrônica.

"null, querido, é a mamãe. Como você está? Nunca mais me ligou! Bom, eu volto no fim da semana, como você sabe. Quando chegar, quero ver os potes de comida que eu congelei para você todos vazios, ok, meu amor? Ah, não durma muito tarde e não esqueça os deveres de casa. Amo você. Me ligue assim que ouvir isso, beijos."


Rolou os olhos, deletando a mensagem. Ligaria para ela assim que tivesse paciência, coisa que já nem sabia mais o que era. Caminhou até a cozinha, abrindo a geladeira e pegando uma garrafinha de Heineken. Puxou a porta do congelador, vendo pilhas e pilhas de comida congelada ali dentro. Fez uma careta. Amava a comida da sua mãe, mas tudo que andava colocando no estômago era Doritos ou Ruffles, e mesmo assim, quase nunca. Não conseguia comer. Era ridículo, simplesmente não tinha fome. Tomou mais um gole da cerveja, voltando ao sofá, e ligou o som bem alto. Os vizinhos andavam reclamando disso? Que se fodam todos eles. O celular vibrou na mesa e ele se irritou ao ver uma mensagem de Autumn. Mas que porra era aquela? O que aquela menina queria tanto com ele?
Não era quem ele queria. Não era dela que ele esperava uma ligação.
null não conseguia fazer nada em casa. Parecia um marionete no colégio, cheiroso e que dava em cima das garotas, só pra esfregar na cara de null. Só queria saber se ela se importava. Tinha vontade de bater em si mesmo quando se pegava pensando nela vinte e quatro horas por dia, olhando as fotos estúpidas que estavam na câmera, mas que ele não tinha coragem de passar pro computador, e ouvindo músicas que marcaram as férias.
Ele era uma garota, só isso explicava. Não era possível sofrer e querer alguém tanto assim.
Gay, muito gay.
Cada vez que ele dizia algo pra ela, parecia que seu coração ia parar de bater, e quando ela revidava, irritada, tudo o que ele pensava era em agarrá-la ali mesmo. Onde estivessem.
E ao contrário disso, ficava dando bola para líderes de torcida biscates e pegajosas.
Como ele queria null. Só ela o entendia.
Aqueles assuntos de Autumn? Preferia conversar com um poste. Os beijos dela eram muito bons, mas para ele, era mecanizado, como colocar uma camiseta dentro da máquina de lavar. Não é algo que você quer fazer, mas você faz. Não tinha vontade de arrancar as roupas dela do nada, ou de gritar qualquer idiotice para fazê-la rir. Não ficava com a imagem fixa do sorriso dela em sua mente quando tentava dormir.
Honestamente, não queria porcaria nenhuma com aquela garota.
null jogou a garrafa vazia no lixo, subindo as escadas para trocar de roupa. Era possível que suas próprias roupas lembrassem null?
- ARGH! - gritou, nervoso, e se jogou pra trás na cama.
Ele acreditava nela, null estava certo. Algo dentro dele sempre disse que ela não estava mentindo.
Mas agora já tinha colocado os pés pelas mãos e não sabia mais como agir. Ainda não suportava a imagem dela com Brian, mas e se... E se fosse tudo uma armação maluca, mesmo?
Desceu as escadas, pegando o telefone para ligar para sua mãe - antes que ela concluísse que ele estava morto - quando tocaram a campainha. Xingou Autumn mentalmente, mas abriu a porta, e tropeçou em uma caixa. Quando olhou para para o outro lado da rua, tomou um susto ao ver null abrindo seu carro.
- O que diabos é isso? - gritou, olhando para a caixa e depois para ela. null sorriu, sem humor.
- Isso? Isso sou eu deixando você pra trás, null. - Ela entrou no carro e partiu, deixando-o com cara de nada olhando o horizonte.

null colocou a caixa na mesa de centro. Respirou fundo anets de abrir. Claro que sabia que não era uma bomba ou algo do tipo, mas ainda assim não sabia o que pensar. Sentiu o estômago rodar quando encarou seu relógio, um urso de pelúcia que ele havia lhe presenteado, dois CDs e um pedaço de papel - a carta de literatura - e... a blusa vermelha.
A blusa que ela fez tanta questão o verão inteiro, a blusa pela qual eles "brigaram" o tempo todo.
E então soube que estava realmente acabado. Ele tinha a perdido de vez.

null não conseguira dormir aquela noite. Rolou de um lado para o outro na cama durante horas, pegou o celular e discou um certo número pelo menos três vezes, até que conseguiu apagar por pouco tempo. Não ouviu o despertador, e sim sua mãe. O que era estranho, não era para ela ter voltado. Depois de levar uma senhora bronca por não ter se alimentado direito, conseguiu a desculpa perfeita: se atrasaria para o colégio. Colocou o uniforme rapidamente, e quando ia apagar a luz para sair, avistou a blusa vermelha. Respirou fundo, dobrou-a e a jogou na mochila.
Aquilo não era mais dele. E ele iria devolver para quem realmente "merecia a guarda".
Dirigiu sem prestar atenção na música que tocava no rádio, até chegar ao colégio e estacionar numa vaga qualquer. Avistou as cheerleaders de longe e tentou se camuflar no meio das pessoas para que não o vissem. Acenou para null e null, que estavam sentados no jardim, enquanto procurava null com o olhar. Ao correr os olhos pela mesa dos jogadores de futebol, arregalou os olhos. Ela não estava sentada com eles. Estava em pé, conversando com um cara que ele reconheceu como goleiro do novo time, rindo e contente.
E ela não tinha o visto.
Logo, estava realmente se divertindo. Mas o pior não era isso: ela estava vestida com o moletom de universidade do cara.
null sentiu o ódio correr nas veias, ao passo que a blusa vermelha pareceu pesar na mochila. Andou até onde null estava, pegando-a pelo braço.
- Agora eu entendo porque você fez tanta questão de devolver aquela merda de blusa! - ele disse rapidamente, e null fez um sinal com a mão para o jogador, empurrando null para longe.
- Você tá maluco, null? Quem você pensa que é para chegar pegando no meu braço e falando comigo desse jeito? - null disse, irada, e null riu.
- Sou o idiota que chegou a pensar que você podia estar falando a verdade! - null estava falando alto demais. null pareceu atordoada, mas respirou fundo, puxando o braço.
- Você é apenas o idiota que terminou comigo e não confiou em mim - ela disse, ríspida, e o coração de null foi até a boca. - Vá fazer showzinho de ciúme com a sua "baixinha" - null fez aspas com os dedos, rindo. - Você não tem mais o direito de se incomodar com quem eu ando, com o que eu visto ou qualquer coisa do tipo.
O goleiro se aproximou dos dois.
- Esse cara tá te incomodando, null? - perguntou, com a voz grossa. null riu, negando.
- O passado não me incomoda. - Ela olhou para null da cabeça aos pés. - O passado eu esqueço.
null virou as costas, voltando para o grupinho de jogadores e algumas líderes de torcida, deixando null para trás com a pior das sensações que já tinha conhecido na vida.

Aquele dia tinha sido longo demais para null. Ao estacionar o carro na garagem, lembrou que sua mãe estaria em casa para encher mais seu saco. Perfeito.
- O passado eu esqueço... - murmurou, nervoso, batendo a porta do carro.
Quando entrou na sala de estar, sentiu o aroma de frango assado vindo da cozinha. O leve palpitar no estômago o deixou momentaneamente animado.
- Olá, amor! - sua mãe lhe deu um beijo na bochecha, limpando as mãos no avental. - Estou cozinhando o almoço! Por que você não avisou que seus amigos viriam?
null olhou para trás. Que amigos?
- Mas meus amigos não vem pra cá, vem? - perguntou, confuso. null, null e null costumavam avisar quando iam se enfiar em sua casa, ainda mais pra almoçar.
- Não, amor, seus amigos da França!
null franziu a testa. Amigos da França? Sua mãe só podia estar bêbada.
- Eles estão na sala de TV. Chegaram há meia hora.
null preferiu não interrogar mais sua mãe, e curioso, andou rápido até a sala de televisão. Escutou um barulho do que parecia ser Maroon 5, que ele comprovou ao ver o clipe deles na televisão. E logo em seguida... Cory?
- E aí, cara? - Cory levantou para cumprimentá-lo.
- O que você...? - null não precisou terminar a frase, ao ouvir a risada de Sparks.
- Vim consertar uma certa merda que aconteceu no meu aniversário...
null rolou os olhos.
- Você veio DA FRANÇA só pra falar aquela mesma história que a null...
null calou a boca quando a porta do banheiro abriu.
Caiu instintivamente para trás, olhando com os olhos arregalados para a garota que saiu do banheiro. Ela vestia um vestido rosa claro rodado e simples, sapatilhas claras e estava de cabelo solto. Mesmo assim, null não demorou dois segundos para lembrar dela.
Emma. A garçonete.
Claro! ELA!
A menina não precisou abrir a boca para ele se tocar da merda que tinha feito.
- null? - Cory perguntou, preocupado, e ele chacoalhou a cabeça.
- Me diz que você não... - null respirou fundo. - Me diz que você não fez o que eu tô pensando que você fez.
Emma abaixou os olhos. Vasculhou algo na bolsa, com as mãos trêmulas, e jogou quatro notas de cem libras na mesa de centro. E a caixinha da pulseira que ele tinha comprado pra null.
- Desculpe, eu...
null começou a lembrar de tudo que null havia lhe dito.
De cada lágrima que ela tinha derramado e das horas de seu dia que passou tentando entender o que tinha acontecido. Sentiu-se um merda. Um terrorista devia se sentir melhor perto dele.
- MAS VOCÊ... - null berrou, depois baixou o tom de voz, lembrando de sua mãe na cozinha - O null te parou! A gente te ofereceu ajuda... Você não... COMO?
- null, calma... - Cory disse baixo. - Ela vai explicar...
- Cara, você não sabe o que eu fiz por causa dessa porra de história! - null se descontrolou, e Cory fez uma careta.
- Eu sei o que você fez.
- Olha, eu sei que vocês me pararam... - Emma interrompeu. - Foi tudo muito fácil, mas se vocês não tivessem feito isso, eu teria parado vocês! Eu ganhei quatrocentas libras... Mas nunca consegui usar... Eu juro que não sabia o que estava fazen...
- AH! - null interrompeu, exasperado. - Que tipo de pessoa aceita uma grana de alguém pra "levar um cara pra despensa" e não sabe o que tá fazendo? Achou que ia ter o que lá? Gremlins cantando? Uma festa surpresa? CARALHO!
A garota escondeu o rosto com as mãos.
- Eu não pensei que isso fosse acontecer, desculpe! - ela disse alto. - Eu não sabia que vocês se amavam! Achei que era uma brincadeirinha idiota e que eu ia ganhar uma grana fácil! Quando eu vi sua cara, quando eu vi o estado dela, eu...
- E PORQUE VOCÊ NÃO DISSE LOGO?
- O Brian, o Ian e o John estavam lá, eles podiam... Sei lá, cara! - null abaixou o rosto, em silêncio. - Eu recolhi a pulseira quando ela saiu correndo atrás de você. Fiquei mal por dias pensando nisso, e então fui até a casa do Cory. Eu juro que não fiz por mal.
null chacoalhou a cabeça.
- Tanto faz se você é uma mula e fez isso ingenuamente ou se é o capeta na forma humana - null levantou a mão para que Cory não o interrompesse. - O que importa é que você me fez perder alguém que eu nunca vou ganhar de novo.
Os olhos de null ardiam.
null nunca iria o perdoar. E ela tinha razão, claro que tinha.
- Mas... Ela queria que você soubesse a verdade, não queria? É pra isso que pedi para o Cory me trazer aqui. Agora vocês podem se entender, se você quiser eu falo com ela... - Emma estava visivelmente envergonhada. null chacoalhou a cabeça.
- Você não sabe o que eu fiz. Você não sabe o que eu disse pra ela. Ela vai me odiar pra sempre.
Cory aproximou-se de null, dando um tapinha em suas costas.
- Você só vai saber se tentar.

null largou Cory e Emma em sua casa. Sua mãe o mataria, claro, mas não estava se importando. Sua mente estava a mil por hora, não sabia nem como estava respirando direito. Dirigiu mais rápido do que o considerado aconselhável até a casa de null. Ao andar até a porta principal, parecia que ia desmaiar de tanto nervoso. A caixinha da pulseira estava no bolso do casaco. Se fosse um anel, pareceria até outra coisa. Tocou a campainha duas vezes seguidas, e enfiou as mãos nos bolsos, ansioso.
Talvez null ou a mãe deles abrisse a porta e ele pudesse respirar.
Talvez... Não.
null abriu a porta tomando uma Coca Cola. A cara de espanto dela teria sido hilária, se o momento fosse outro. null encarou a camisola cor de rosa minúscula que ela vestia e todos aqueles sentimentos de sempre tomaram conta.
- O null está na null - null disse, empurrando a porta para fechá-la.
null pressionou a porta para trás, quase fazendo-a tropeçar.
- Eu vim falar com você - disse, baixo. Mal conseguia encarar nos olhos de tanta vergonha.
- Eu não tenho nada para...
- Mas eu tenho - ele disse, a olhando pela primeira vez. null coçou o pescoço, como fazia quando estava desconfortável. - Eu sou um idiota. Me perdoa?
O queixo de null caiu, ela obviamente não esperava por aquilo. O encarou, em silêncio, com uma expressão indecifrável.
- Você bebeu, null? – perguntou, e ele riu baixo.
- Não. Nunca estive tão sóbrio - respondeu prontamente. - null, me desculpa, eu sei que devia ter acreditado em você, mas a situação era difícil pra mim, e agora eu sei que...
- Como você chegou a essa conclusão? - ela o interrompeu, cruzando os braços.
- A Emma veio até minha casa com o Cory.
- Quem diabos é Emma?
- A garçonete que... - null parou de falar. null começou a gargalhar, sarcástica.
- EU NÃO ACREDITO NISSO! - ela gritou, mas ainda rindo. - Você teve que ver a menina que armou com o Brian pra acreditar em mim? - null ficou séria de repente, e null engoliu seco.
Podia não ter mencionado Emma. Burro!
- null, por favor, não faça isso... Eu estou aqui pedindo desculpas, eu não consigo ficar sem você... - ele susssurrou. - Esses dias foram os piores de todos. - null a segurou pela cintura, puxando-a pra frente. - Eu preciso de você. Eu te...
- Cala a boca! - null disse séria, empurrando-o para trás. - Sabe, queridinho... Alguém muito sábio me disse uma vez que nessas horas o amor não vale de merda nenhuma.
null engoliu seco, aproximando-se de novo.
- Esse cara era um idiota.
- Esse cara É um idiota. - null disse, nervosa. - Você disse na minha cara que NÃO CONFIA EM MIM! E agora vem aqui com essa cara de cãozinho caído da mudança e acha que vai ficar tudo bem? - Ele percebeu que ela tremia. - NÃO VAI FICAR TUDO BEM!
null queria apertá-la contra si. Queria fazer tudo aquilo que sabia que não ia conseguir viver sem. Ela era tudo pra ele. E dessa vez podia ter estragado tudo pra valer.
- null, por favor... - null aproximou-se, o pânico tomando conta. - Eu sei que eu não mereço estar aqui pedindo isso, mas... Poxa, se fosse você no meu lugar, você...
- Eu te daria uma chance de explicar. Eu te daria um voto de confiança - null respondeu rapidamente.
- Fácil pra você dizer - ele disse, um pouco alterado. - Não foi você que viu o que eu vi!
null rolou os olhos, nervosa.
- Eu te dei todas as chances do mundo, null! Eu pedi, eu implorei, eu me rastejei... E você simplesmente ignorou isso tudo! Que porcaria de amor é esse? - null o empurrou para trás, nervosa. - Eu não quero ouvir nada do que você tem pra falar, você poderia ter feito tudo diferente... Nós acabamos, null. - Ela deixou uma lágrima escorrer. - E a culpa é toda sua.
O baque da porta parecia ser muito maior do que realmente foi, pelo menos para ele. Sentiu os olhos arderem, mas não era hora de chorar como uma bicha. Correu em volta da casa, escalando uma árvore, e se jogou na varanda de null, que estava aberta.
Ela deu um grito, pegando um travesseiro e tacando em sua direção, mas esse passou direto e caiu lá embaixo.
- null! SAI DA MINHA VIDA! - ela gritava, nervosa. - Não era pra eu esquecer que você existe? FACILITE! - null chorava, e null a segurou pelos dois pulsos, colando seu corpo no dele.
- Não é pra você me esquecer... – sussurrou. - Porque eu amo você. E eu não vou te perder.
null sentiu os pulsos firmes de null amolecerem, e ela derrubou uma lágrima.
Ele soltou o pulso esquerdo, ainda segurando o outro, e colou seu corpo no dela. Acariciou seu cabelo e rosto, sentindo-a tremer com seu toque. Quando percebeu que ela não ia mais reagir, a puxou de vez para si e soltou o outro pulso. Mordiscou seu lábio inferior, e ela entrelaçou os dedos em seus cabelos, apoiando a outra mão em seu peito.
Em seguida, o empurrou com tanta força que ele bateu as costas contra o vidro da porta da varanda.
- O que você...? - null perguntou, a voz realmente sentida, como se seu prêmio tivesse sido lhe tirado das mãos.
- Saia do meu quarto. Por favor - ela sussurrou.
- null...
- Você não pode consertar as coisas assim, null... - ela disse baixo, limpando o rosto. - Eu não quero saber. Você teve sua chance. E não é um beijo que vai levar embora toda a dor que você me causou.
null não se aproximou. Sentiu o rosto esquentar, a cabeça rodar, tudo o que fosse de ruim junto. Os olhos marejados de null doíam nele. Como podia ter sido tão estúpido?
Apenas tirou a caixinha da pulseira de dentro do bolso, e colocou na cama. null pareceu surpresa, mas não perguntou nada. Apenas jogou-a de volta, com desdém.
- Mude a tira que tem escrito docinho para baixinha e seu prejuízo não será tão grande.
- null, a Autumn...
- Não quero saber.
null sorriu, sem humor, com uma tristeza visível.
Caminhou até a varanda e pendurou-se na árvore para descer. Quando chegou lá embaixo, percebeu que não seria assim. Ele simplesmente se recusava a deixar que terminasse assim.
- EI! – gritou. - null!
A menina apareceu na varanda, em silêncio. Ele sorriu largamente. Não estava confiante. Sabia que podia já tê-la perdido. Mas as lágrimas de null, a dor dela... Só provavam uma coisa: ela ainda o amava. E ele não ia desperdiçar isso.
- Eu vou ter você de volta! – gritou. - Eu vou virar essa cidade de ponta cabeça, eu vou fazer o que você quiser, mas você vai voltar pra mim.
- null...
- Porque nós podemos ser passado... - ele sorriu. - Mas meu futuro é com você. Escreva isso, docinho.

Capítulo 20: The end’s not near... It’s Here

[n/a: deixe carregando essa música e dê play quando aparecer outra nota ;)]

null passou pelo corredor do colégio, que estava lotado de pessoas. Avistou null e null com null, no entanto, não teve paciência para ir até eles. Tudo o que precisava era conversar com null. Não tinha se conformado com o fim da conversa na noite anterior, e precisava resolver aquilo o quanto antes. Precisava saber o que tinha que fazer, e era óbvio que ela não diria, mas talvez ele conseguisse perceber sozinho.
Só que ficar sem ela era absolutamente fora de cogitação.
Quando chegou no gramado que tinha atrás do colégio, viu null com null e null perto de uma árvore. O casal estava sentado em um tronco caído, mas ela estava em pé, de costas. null correu até eles, e quando estava próximo de encostar nela, a garota virou, como se sentisse sua presença ali.
- Ah... É você - null disse com desprezo, e null percebeu que aquilo seria mais difícil do que tinha calculado a princípio. Ela se virou para seu irmão e null. - Amores, vou indo, tenho que ir pro ginásio me trocar. Comportem-se! - disse e sorriu, depois girou nos calcanhares e começou a caminhar, ignorando totalmente null ali.
null o encarou, como se ele fosse um perfeito babaca.
- Anda, vai! - ela apontou pra null, fazendo com que null se movimentasse.
null estava andando muito rápido, se infiltrando em rodinhas, claramente com a ideia de ficar o mais longe possível de null.
- null! - ele quase gritou, mas a menina não olhou para trás. - null null!
Algumas pessoas o olharam.
O que diabos aquele loser queria com a toda-diva-null?
null rolou os olhos, apertando o passo e alcançando-a.
- Quando você vai me perdoar? - segurou-a pelo braço, no meio do pátio. Suas olheiras arroxeadas provavam que tinha tido uma péssima noite de sono. Seus cabelos estavam desgrenhados e a camisa do colégio amassada, como se tivesse dormido com aquelas roupas.
Ainda assim, a garota sentiu um arrepio ao sentir seu perfume. Ele tinha se esquecido de passar um pente no cabelo, mas estava cheiroso? Aquilo não estava certo. Não era justo com sua sanidade.
- Não sei, talvez hoje - null sorriu largamente, e então ela continuou: - Talvez nunca. Muito provavelmente, a segunda opção.
- Ei, espera, volta aqui - ele a puxou de novo, com o estômago revirando. Sua cabeça ia explodir a qualquer momento. - Você precisa me escutar, docinho.
Foi quando ela o olhou nos olhos pela primeira vez. Ele sabia que aquele apelido tinha um poder sobrenatural sobre os dois.
Percebeu, por alguns segundos, que a menina em sua frente estremeceu, e ela pareceu desconsertada.
- Não use mais esse apelido - null disse de forma seca.
- ÓTIMO! - o garoto gritou, perdendo o controle. - Eu não te disse que ia fazer QUALQUER COISA pra gente voltar e pra você me perdoar? Então talvez o colégio inteiro precise saber disso também - null subiu na mesa.
- Desce daí! - Ouviu-a gritar, e então riu, maroto.
- Só quando você disser que vai conversar comigo... - ele deu uma piscadela, tentando controlar todas aquelas emoções que pareciam que o fariam ter um colapso - docinho.
- null, desce daí! - null olhava para os lados, quase escondendo o rosto com as mãos.
- Você vai conversar comigo, ou eu vou ter que fazer alguma declaração idiota aqui mesmo? - ele riu.
Sabia que null tentava, em vão, achar alguma brecha pra escapar, sair correndo, talvez. Mas as pessoas ali perto dificultariam o processo. Era bom que ela falasse logo, afinal, ele não era adepto de declarações públicas e micantes.
Mas faria qualquer coisa por ela, era um fato.
- null! Isso é ridículo! - null disse entre dentes, e ele sorriu.
- Você disse achar lindo quando o Seth fez isso pra Summer - disse simplesmente, e null quase deixou o queixo cair.
Como diabos ele falava com tanta clareza de um seriado que não assistia?
- Eu não sou a Summer - ela murmurou, depois riu, sarcástica. - E você definitivamente não é o Seth.
- Mas sou o cara que você ama - null disse simplesmente, e então desceu da mesa, puxando-a pra perto. - Eu sei que eu disse que amor não é suficiente nessas horas. E eu sei que eu sou um idiota, mas eu preciso de você - ele suspirou, olhando-a intensamente e entrelaçando os dedos em seu cabelo. - Você me faz menos idiota.
- null, a gente não... - null suspirou, estremecendo com aquele olhar. null não deixou que terminasse.
- Eu te amo - sussurrou, mas ainda assim teve certeza que pelo menos quarenta pessoas ao redor dele tinha ouvido.
Não importava.
null sorriu largamente e ele a acompanhou, tomando-a pelos braços e a beijando, enquanto ouviam aplausos e gritinhos. null mordeu seu lábio de um jeito que fez com que seu corpo inteiro vibrasse, e eles se olharam, rindo feito idiotas, com as testas encostadas.
- Ah, o amor é lindo, não é mesmo? - null virou a cabeça e encarou uma pessoa de roxo ao seu lado. Em seguida, a identificou. - Se o mundo pudesse ter mais amor, talvez não houvesse tanta guerra, tanta pobreza. Vejam esse casal, olha que lindo! - a mulher dizia, com lágrimas nos olhos.
- OPRAH?!? - Ele e null berraram juntos, e ela sorriu largamente.
null abriu os olhos, atordoado.
Tudo o que viu foi a luz fraca da televisão.
E toda aquela sensação boa, todo aquele amor, tinha sido arrancado dele.
Pela Oprah.
- Maldita! - ele xingou, encarando a televisão.
Chegara a sentir o coração batendo muito mais forte, de forma que sentisse vergonha de si mesmo. Oprah não podia ter tirado isso dele.

null rolou de um lado pro outro na cama. Não tinha ideia de como sabia um episódio de The OC - null realmente tinha lhe transformado. Mas queria, a todo custo, continuar aquele sonho. Teve aquela sensação de que o mundo dos sonhos estava infinitamente melhor que sua realidade. Mas não conseguia dormir, talvez aquilo fosse uma punição por ter sido um perfeito filho de uma... Ok, sua mãe não tinha nada com isso. Resolveu levantar, ainda eram quatro da manhã, pensou em ligar para ela, mas com certeza seria suicídio.
null não gostava de ser acordada subitamente.
Riu sozinho, com as lembranças vívidas em sua cabeça, como se pudesse tocá-las.

Flashback ON

- Goooooooooood Morniiiiiiiiiiiiiiiing, Sunshine! - ele cantava idiotamente, abrindo as janelas e a varanda, e deixando um sol típico da Riviera invadir o quarto branco. - Olha, está sol, nós vamos poder...
null não conseguiu terminar a frase, apenas viu um sapato de salto alto vermelho voar na direção da sua cabeça.
- VOCÊ FUMOU UM BASEADO? - null berrou, e ele gargalhou, correndo até ela na cama.
- Nossa, que bom hu...
- Vá você, seu sol, seu bom humor, todos unidos pro INFERNO! - null enterrou a cabeça embaixo do travesseiro, e sua voz saiu abafada. - Apagfa a luuuuuuziiii!
null gargalhou, jogando o corpo ao lado do dela na cama.
- Sabia que você fica muito sexy quando está nervosa, docinho? - sussurrou perto de seu ouvido, e ela apenas o empurrou.
- Sabia que eu odeio você? - null murmurou e ouviu a risada do garoto. - Só vou cogitar ir com a sua cara de novo quando você apagar a porra da luz!
- Ah, peraí que eu vou apagar o sol, já venho... - disse irônico, e pensou ouvir a risada da menina.
- Vá se foder.
- Só se você for comigo.
null tirou o travesseiro da cabeça com a maior cara de tédio do mundo.
- null, vá tomar no meio do seu...
Ele a beijou. A garota esperneou, batendo os braços, mas ele a segurou pelos pulsos, e ela gemeu em meio ao beijo.
Quando a soltou, os dois estavam com a respiração ofegante.
- Babaca - ela disse, e o garoto gargalhou.
- Insuportável.
- Idiota!
- Cala a boca e vem cá... - null jogou o edredon por cima de suas cabeças, e os dois riram, antes de arrumarem algo muito mais interessante pra fazer.

Flashback OFF

Pegou um copo de leite e esquentou no micro-ondas. Diziam que aquilo funcionava, no entanto, achava que seria perda de tempo. Tomou em quase um gole só e se jogou no sofá, a casa iluminada apenas pela luz fraca de um poste, através das cortinas. Ligou a televisão e procurou qualquer porcaria que lhe parecesse útil assistir, e acabou dormindo por algumas horas.
Ao levantar, seis e meia, tomou um banho e colocou o uniforme do colégio. A gravata sempre mal apertada, as calças um pouco maiores do que deviam e seu all star surrado nos pés. Desarrumou o cabelo, como sempre, colocou seu perfume preferido - o perfume que ela tanto gostava - e desceu as escadas. Ainda estava cedo, então saiu de casa e sentou nos degraus da frente, com o iPod em mãos.
Estava ansioso.
Precisava vê-la o quanto antes, mesmo que não tivesse ideia do que faria.
- Pensando nela?
null ouviu uma voz fininha e olhou para o lado, assustado. Viu Cassie, sua vizinha de apenas onze anos, sentada na escada da casa dela, com seus pijamas rosa de ursinhos e um livro do Harry Potter e o Cálice de Fogo em mãos. Chacoalhou a cabeça, atordoado.
- O que você está fazendo de pijamas na rua? - antes que a menininha respondesse, continuou: - E como... Como você sabe?
A pequena garota riu, deixando suas bochechas rosarem.
- Insônia - respondeu simplesmente.
- Crianças de dez anos não têm insônia.
- Eu tenho onze - Cassie pareceu nervosa.
- Tá, desculpa - null quase riu; no entanto, não estava tão bem humorado pra isso. - Você estava chorando?
Cassie corou, limpando o rosto com as mãos.
- Já li esse livro quatro vezes... - murmurou. - Sempre choro na morte do Cedric. Não pelo Robert Pattinson, que fique bem claro... É um personagem de coração tão bom...
null sorriu para o jeito que a menina falava. Nem parecia ter sua pouca idade.
- O mundo nem sempre é justo, Cassie.
- Mas na maior parte das vezes, nós apenas pagamos pelos nossos próprios erros, null - ela o olhou de maneira expressiva, e null deixou o queixo cair.
- Do que você está falando? Como que você...?
- Sua mãe contou o que houve ontem para a minha no chá da tarde - Cassie deu de ombros. - E só pra constar: você é um idiota.
null chacoalhou a cabeça, quase rindo da situação bizarra. Estava discutindo seu relacionamento com uma criança!
- Eu sei que eu fui um idiota - murmurou, pronto para dar um ponto final à conversa. Mas por outro lado, tudo que precisava era desabafar.
Cassie encarou o livro despreocupadamente.
- Eu estava cego de ciúmes - disse baixo. - Ah, que droga! Ontem fui até a casa dela, ela não me perdoou, mas eu disse que vou fazer qualquer coisa para...
- Você a ama? - a garotinha interrompeu, virando uma página do livro.
null soltou o ar pesadamente.
- Muito.
Cassie fechou o livro, e o encarou.
- Então você já sabe o que fazer, null. Lute por ela.
- Mas eu... - null sentiu raiva de si mesmo ao dizer o resto da frase. - Já disse a ela que amor não é tudo nessas horas.
Cassie rodou os olhos, impaciente.
- Você é mais babaca do que eu pensei - disse, quase rindo de sua desgraça. - Mas pelo que eu entendi, ela o ama. Se não amasse, não teria corrido atrás pra provar que era inocente. Nem estaria sofrendo agora. Faça alguma coisa!
- Eu sonhei que me declarava em cima da mesa do pátio - null fez uma careta, e a menina riu.
- Piegas. Acha que funciona?
- Não tenho ideia - null acabou rindo junto. - null é indecifrável.
Cassie viu os olhos do garoto brilharem e sorriu.
- Isso daria uma ótima história de livro - disse, sorrindo. - Sabe, null, quando você encontrar com ela, vai saber o que fazer. Se tiver que subir na mesa, suba... Afinal, o amor é assim, não é? Constantemente ridículo e difícil de entender. Só quem ama, sabe.
null sorriu largamente.
- Você me assusta - null disse, encarando a seriedade de uma garota que parecia ter inteligência sobrenatural. - Você ama alguém? Digo, já se apaixonou? - Cassie gargalhou da pergunta.
- Eu tenho onze anos! Talvez eu ame o Draco ou algo assim. Mas eu ainda não amo ninguém de verdade. - Aposto que tem algum príncipe no seu colégio por quem você fica babando - null desafiou, e a menina riu, sem humor.
- Os garotos do meu colégio são idiotas, e o único bonito, é muito velho pra mim.
- Eu sou o príncipe do meu colégio - null disse, presunçoso, e Cassie o encarou dos pés a cabeça, com ar de desdém.
- Bem que minha mãe diz que a juventude desse país está perdida - falou, e null fez cara de espanto, mas depois riu.
- Aonde você vai? - ele perguntou, ao ver Cassie caminhar até sua porta.
- Não posso ir de pijama para o colégio - ela falou como se ele fosse um retardado. - E você, devia ir logo para o seu. E conquistar sua garota de volta - Cassie sorriu. - E saiba que se não vier me contar como foi, quebro sua cara.
null gargalhou.
- Muito simpática - disse, rindo. - Obrigado, Cassie.
- Por nada - ela sorriu. - Agora se manda, se meu pai me ver de papo com você, vai achar que eu ando muito avançadinha.
null gargalhou ao ver a loirinha de cor-de-rosa entrar em casa.
Ela estava mais do que certa. E agora, parecia que tudo seria mais simples.
Eles se amavam.
Quem diabos ia contestar o amor?

null estava determinado. Ao se aproximar do portão do colégio, sabia exatamente o que faria.
Talvez fosse necessária a cena do sonho pra chamar atenção. Ele não ligava.
Se tudo desse certo como imaginava, claro. Porque subir numa mesa e levar um toco na frente do colégio inteiro, seria humilhante.
Mas algo dizia que null não faria isso.
Guardou com cuidado a pulseira que tinha lhe comprado na França em um dos bolsos, pegou o material e correu em direção à porta. O papo com Cassie o tinha distraído, e já estava perto do sinal quando chegou. Olhou em volta, direto para a mesa que as meninas costumavam usar, mas não viu ninguém ali.
Avistou null e null se pegando em um canto e sorriu, fazendo um esforço para tentar lembrar que aula null tinha no primeiro tempo - talvez já estivesse na sala, dormindo sobre a carteira, ou papeando com as meninas.
- Biologia! - disse para si mesmo, admirado por saber.
Sua memória andava mostrando serviço, e ele agradeceu por isso.
Esbarrou em algumas pessoas, mas não se lembrou de desculpar-se. Abriu a porta da sala de uma vez só, fazendo uma nerd que estava na bancada mais próxima pular na cadeira. Teria rido de verdade se não estivesse ali por outros motivos.
- null! - ele apontou para a amiga, que levantou as mãos como uma ladra, rindo.
- Juro que não fui eu! - ela exclamou, e null riu levemente, sentando-se no banquinho ao lado do dela.
- Cadê sua companheira de laboratório? - perguntou fingindo indiferença, mas a cara de “seu idiota” de null o fez rir. - Preciso falar com ela.
- Ela já foi, ué - a menina deu de ombros, mexendo no celular, e null franziu a testa.
- Cabulou hoje?
- Hã? - null o encarou, fazendo careta. - null, já falei pra você parar de beber no meio da semana! É feio!
null rolou os olhos, mas uma sensação horrível começou a tomar conta dele. Não sabia explicar o que era, mas suas mãos estavam geladas, e ele estava começando a não curtir aquele papo.
- Eu não bebi, null - disse, com a voz tediosa. - Do que você está falando? Cadê a null?
null deixou a boca abrir, mas não emitiu som algum. Ela pareceu meio chocada.
- FALA, CACETE! - null ouviu seu próprio grito, acordando um garoto que dormia na bancada da frente e assustando novamente algumas pessoas. - Desculpa, null, eu...
- Tudo bem - null respirou fundo, enquanto um monte de alunos entrava na sala, e atrás deles, o professor.
- Bom dia, classe! Hoje nós vamos estudar... - o professor olhou pra mesa de null, e então virou o rosto para null. - Sr. null, que eu saiba você não frequenta minha aula nesse período.
null sorriu amarelo.
- Só um minuto, professor, já estou indo.
Sorte dele era que o Sr. Bersen, um jovem de trinta e poucos anos, era bastante calmo, apenas rolou os olhos e se dirigiu ao quadro.
- Onde ela está? - null sussurrou, mesmo assim, alto demais. null fez um sinal para que ele calasse a boca.
- Você não soube? - perguntou, mesmo sabendo o que viria a seguir. - A null foi... Ela...
- ELA O QUÊ?
- null null, queira por gentileza se retirar da minha classe! Já não basta estar aqui, ainda vai atrapalhar minha... - Bersen não conseguiu continuar.
- null, me fala! - sua cabeça girava. Que merda ela aquela?
Nem sabia o que estava acontecendo - mas seu sexto sentido lhe dizia que já podia começar a surtar. null o segurou pelo braço, puxando pelo corredor entre as bancadas. - null null, se você sair da sala e perder a explicação do exercício, não se preocupe em voltar hoje - o professor advertiu, e null rolou os olhos, sem responder nada, empurrando null para o corredor.
- Uma bela encrenca você me arrumou, null - ela murmurou no corredor silencioso e vazio.
- null, dá pra você me explicar essa porcaria de história de uma vez só? - null quase cuspiu as palavras, falando um pouco mais baixo, mas sua voz estava estranha. - A null está bem? Ela tá aonde? Ela...
- Ela foi embora, null.
O chão parecia ter aberto debaixo de seus pés. Tudo que ele queria era acordar e descobrir que aquilo era um pesadelo. Ou uma puta piadinha de mal gosto da parte de null. Mas já a conhecia bem agora, e ela não parecia estar de brincadeira. Seus olhos ardiam, e null tocou sua mão.
- Ah, null... - ela sussurrou, tocando a mão do amigo. - A null vai passar uns tempos na França, com a tia dela, dona da mansão... Ela... - null não conseguiu terminar a frase.
Olhou para a cara do amigo, que parecia ter visto um fantasma, a loira do banheiro ou qualquer coisa muito assustadora.
- null, calma...
- Eu não acredito que ela fez isso! - a voz de null era um sussurro. - Eu não... Eu não acredito que ela fugiu de mim.
- null, por favor - null ia dizer, mas foi novamente interrompida.
- COMO NINGUÉM ME AVISOU? - seu grito ecoou no corredor inteiro. null o puxou pela camisa, e tampou sua boca com a mão.
- Quer ser expulso? - sussurrou.
- Foda-se! - null disse alto. - Por que ela não me disse? Por que VOCÊS não me disseram?
- null! Me deixa falar!
- Quer saber, null? - ele riu, meio sarcástico. - Não quero ouvir! - o garoto respirou fundo. - Eu vou atrás dela.
- VOCÊ O QUÊ? - dessa vez null quem gritou.
null sorriu, mas era um sorriso triste.
- Não é o fim - ele suspirou. - Eu não vou deixar que isso termine.

- null, você não pode estar falando sério! - null chacoalhou a cabeça, gesticulando exageradamente.
- Nunca falei tão sério em toda minha vida - ele disse, olhando o corredor vazio. - Eu já perdi tempo demais.
null caminhou pelo corredor, deixando null para trás. A garota correu atrás dele, enquanto um alarme ensurdecedor começou a tocar, e todos os alunos começaram a correr para fora das salas.
- Que porra é essa? - null apareceu em seu lado como se tivesse brotado do chão.
- Alguém deve ter acionado o alarme para fazer gracinha - null gargalhou. - Amo essa pessoa.
null mal podia escutar o que os dois falavam. Não pelo alarme, muito menos pela balbúrdia.
Seu coração martelava em seus ouvidos.
Ela tinha ido embora.
E a culpa era toda dele.
- null! - null segurou em seu braço, esbarrando em null, que nem tinha visto sua garota por ali.
- Oi, amor, eu não... - ele começou a falar, mas ela o empurrou.
- Você não pode fazer isso, null! Você não...
- Eu vou!
- O que está acontecendo? - null perguntou.
- Eu estou indo pra França - null disse rapidamente. - Vou buscar a null. Vou fazê-la me perdoar. Ela não pode simplesmente ir embora e me deixar aqui, fugir do que nós...
- Dude, você pirou? - null disse, com cara de espanto. - Dê tempo ao tempo, vocês vão se acertar!
- Tempo ao tempo? - ele riu, sem humor. - Ela fugiu de mim! Dude, ela me odeia!
- Há, pelo amor de Deus, cara! - null se intrometeu, rindo. - A null não te odeia nem nunca odiou.
- Só que eu me recuso a ficar aqui parado.
null continuou andando, dessa vez com os três em sua cola. Bufou, nervoso, mas continuou ignorando o que falavam. Sabia que aquela era uma atitude precipitada. Estava sendo impulsivo, mas se nunca tinha sido racional na vida, não seria dessa vez.
Se recusava a ter uma conversa daquelas por telefone ou algo assim. As coisas tinham mudado - agora não era o simples fato da briga, era também a fuga dela.
Devia ter imaginado que null faria algo desse tipo.
- Dude, para quieto, porra! - null o segurou. - Dá pra você parar de enlouquecer? Como você vai simplesmente IR PRA FRANÇA?
- Eu não sei - null riu baixo, mas estava ansioso. - Só sei que vou.
- Pra quê? Você quer dar uma de herói? Qual é! - null rolou os olhos. - Olha a merda que você fez, null, você não vai simplesmente...
- Obrigado pelo apoio, queridos amigos - null fez um joinha com a mão. - Vocês não conseguem entender? - null pareceu impaciente, se rosto demonstrava desespero. - É exatamente pela merda que eu fiz que eu tenho que ir atrás dela e trazê-la de volta! Eu não consigo simplesmente apagar meu verão da cabeça, não consigo não tê-la por perto... Eu...
- Ai. Meu. Deus - o queixo de null caiu. - Você... Você a ama!
null sentiu seu rosto corar subitamente. Encarou o piso branco e colocou as mãos nos bolsos. Depois riu de si mesmo.
- Claro que amo.
null e null se entreolharam, quase rindo.
- Tão gay... - null murmurou e null riu um pouco mais alto.
- Isso é algo que eu tenho que fazer, sério - ele sorriu para os amigos.

Não esperou que ninguém dissesse nada, odiava se declarar publicamente, especialmente quando o alvo não estava lá. Ao continuar sua jornada até o portão, mal conseguia ouvir as coisas, e já não sabia mais se seus amigos estavam lhe seguindo. No entanto, no meio daquilo tudo, seu ouvido pareceu captar uma única voz.
- Então ela entrou no meu quarto, e cara, já foi tirando a blusa! - Brian gargalhou, e null olhou para sua esquerda.
Lá estava ele, com Ian, seu capataz gay, dois outros caras e perto deles, algumas líderes de torcida.
null percebeu que o sangue lhe subira à cabeça em uma velocidade que não podia ser considerada saudável. Seu coração acelerou devido ao ódio, e ele fechou as mãos em punhos.
Demorou dois segundos.
Caminhara até Brian, que estava de costas, e tocou o braço dele.
O garoto virou, mas não teve tempo de ver o quem estava ali, quando null acertara em cheio um soco em seu rosto, fazendo-o despencar no chão.
As meninas ao redor gritaram, e ele percebeu que as pessoas corriam até eles.
- QUE PORRA É ESSA? - Brian gritou, segurando o rosto.
null o pegou pelo colarinho da camisa do colégio, fazendo-o levantar mais rápido do que o pretendido.
- Cala a merda da sua boca, seu filho da puta - null disse baixo, quase sussurrando. O garoto engoliu seco. - Você pensou que podia fazer o que fez e se dar bem, né, sua bichinha de merda? - ele riu, sarcástico, e alguém lhe segurou pelo ombro, mas null fez um movimento abrupto, se soltando.
Brian riu, ainda com cara de dor.
- Descobriu? - ele riu alto e irônico, e null acertou outro soco no garoto, sem soltar seu colarinho.
- null null! - ouviu a voz da inspetora. - Para a diretoria! AGORA!
null gargalhou, soltando Brian. Virou o pescoço para encarar a senhora gorda e descabelada, depois voltou um soco na barriga de Portman, que quase caiu.
- null! Para com isso! - era a voz de null.
- Escuta aqui, Portman - ele disse, enquanto null o puxava pra trás. Ele voltou pra perto do garoto. - É melhor você torcer, é melhor você rezar pra null me perdoar! - disse entre dentes, segurando-o - Porque se ela não voltar comigo, isso aqui vai ser pouco perto do que vai acontecer com você.
null soltou o garoto com força, fazendo-o bater as costas na mesa, e quase derrubar Ian. Olhou para trás, e todos pareciam chocados.
Seus amigos estavam lá.
- O que você fez? - null sussurrou, pasma. - Você vai ficar de detenção pra sempre!
A inspetora surgiu o meio deles, e segurou null pelo braço.
- Você está encrencado, garoto.
null sorriu amarelo, ainda com uma vontade absurda de fazer de Brian seu Bob - o boneco do boxe.
- Tomara que ela mande você se foder - Brian gritou, e null sorriu.
- Cuidado, Portman - ele sorriu. - Se eu afundar, você morre afogado.
A inspetora o olhou assustada.
- Fique quieto, garoto! - ela ordenou, o puxando. - Você ganhará uma bela suspensão, e um mês de detenção, se a diretora estiver de bom humor - a inspetora sorriu, como se divertisse com a ideia. null arqueou a sobrancelha.
- Detenção? - perguntou, vendo que null, null , null e as meninas estavam atrás dele e da mulher. Ela assentiu. - Não, eu não posso. Digo... Não agora.
A inspetora gargalhou.
- Você não pode escolher o dia melhor pra você, null. Se não quisesse ficar de castigo, era só não esmurrar outro aluno.
null se desvencilhou do braço da mulher, olhando para os amigos e para ela.
- Eu estou indo embora - ele disse rapidamente. - Quando eu voltar a gente conversa.
- null! - null abafou o berro com a mão, depois se aproximou dele. - Você fumou orégano? Aonde você...?
- Ele vai pra França - null disse simplesmente.
- Ele vai para a diretoria - a inspetora o segurou, quase rosnando.
- Não vou não! - null quase riu. - A senhora não entende? Eu tenho algo muito importante pra fazer! Eu preciso trazer a null de volta!
null viu o queixo de null cair.
- null null? - a inspetora perguntou, tentando disfarçar o interesse. null concordou. - Veja bem, queridinho, eu não tenho nada com a vida amorosa de vocês, meu trabalho é...
- Você vai fazer seu trabalho... Quando eu voltar - null sorriu.
- Deixa eu ver se eu entendi! - null arregalou os olhos. - Você acordou hoje, espancou um filho da puta, e resolveu que vai pra França atrás da minha irmã depois de tudo o que você fez?
null engoliu seco. Várias pessoas estavam ali por perto.
Ah, não... Brigar com o null não estava nos planos, definitivamente.
Optou por apenas concordar com a cabeça, e depois encarou o amigo nos olhos. null sustentou o olhar pelo que pareceram intermináveis segundos, depois sorriu.
- Até que enfim vai fazer algo que preste, cara - disse, sorrindo, depois deu um soquinho no ombro do amigo. - Vá buscá-la, cara. Mostra pra ela que você é só um pouco idiota.
null sorriu largamente, enquanto todos os amigos e a inspetora encaravam null com um certo olhar de espanto. Os dois se abraçaram, e null riu.
- O que foi? - null perguntou.
- Nada... Boa sorte, você vai precisar.
null se aproximou.
- Toma - ela estendeu a mão para null, e lhe deu uma chave. - É a chave do meu carro, eu tenho a cópia de segurança lá em casa. Vá pegar seu passaporte e estacione perto da saída D do aeroporto, mais tarde eu vou lá buscá-lo. E por favor, não bata nem amasse minha lataria, ou eu corto seu pau fora.
null gargalhou, abraçando a amiga.
- Não acredito que isso tá acontecendo - null disse, boquiaberta, e null a abraçou de lado.
- Obrigado, galera - null disse simplesmente, andando de costas.
- null null! - a inspetora gritou. - Saiba que se atravessar esse portão, sua detenção é até o final do ano! - ela disse apontando o dedo.
null riu.
- Eu não me importo.
- null null!
- Corra, null, corra! - null disse, gargalhando.
- Boa sorte! - as meninas sorriram.
- Au revoir!
null disse por fim, fazendo os amigos gargalharem, e saiu correndo portão afora, ouvindo alguns gritinhos de algumas pessoas que tinham escutado a conversa inteira.
- Vá buscá-la, cara!
- Como você conseguiu? A null null é muito gostosa!
- Ai, meu Deus, que romântico!
- Que coisa mais linda!
Apenas gargalhou, correndo até o carro de null, sentindo aquelas borboletas ridiculamente gays no estômago.
Em algumas horas ela seria dele de novo.
Ele tinha certeza.

[n/a: dê play na música e deixe de fundo nas cenas do Guy ;)]

null estacionou o carro de null atropelando a plantação de flores de sua mãe. Sabia que pagaria muito caro por isso, mas quando ela descobrisse, já estaria na França. Riu do seu pensamento, e correu para a porta. Teve dificuldade em encontrar a chave, e quando conseguiu acertar a fechadura, correu pelo piso liso e quase tomou um tombo tropeçando no tapete. Segurou-se na poltrona, gargalhando de si mesmo e totalmente sem fôlego.
- Que porra é essa? - disse, sozinho e rindo.
Estava com uma louca vontade de rir. Na verdade, era tudo ansiedade. Sabia que se parasse de correr e rir feito um retardado, acabaria vomitando de nervoso. E isso seria gay demais para contar aos netos. Ei, mas agora pensava em netos?
- Ah, null - suspirou. - Você está perdido.
Correu escadaria acima, e abriu a porta do quarto, jogando algumas coisas para fora do armário e alcançando uma mochila que tinha levado para a Riviera. Lá dentro, pegou seu passaporte, único documento que lhe faltava. Depois correu até o quarto de sua mãe. Sabia que ela mantinha dinheiro na segunda gaveta do criado-mudo esquerdo, para emergências.
Aquela era uma emergência e tanto pra ele. Assaltar sua própria mãe era mero detalhe. Ela já estaria puta por causa das flores, depois pelo dinheiro e posteriormente pela ligação do colégio avisando sobre a briga e sobre a fuga.
É, ele estava literalmente ferrado.
Ao abrir a gaveta, deu de cara com uma quantidade muito menor do que esperava encontrar.
- Merda... Merda... Merda... - andou de um lado para o outro.
Aquela quantia lhe daria facilmente para uma passagem de trem. No entanto, trem demorava demais. Ele não estava em posição de esperar. Talvez tivesse sido besteira ter estourado seu cartão de crédito na viagem. Idiota. Mil vezes idiota.
Sentou na beira da cama, já pegando o telefone para mendigar para algum amigo - null, provavelmente, ele era sempre o mais muquirana, logo, era o mais rico - quando lembrou de uma coisa.

Flashback ON

- Eu não posso ficar com isso - Emma empurrou o dinheiro na mesinha de centro para null, que rolou os olhos.
A última coisa que conseguia pensar naquele momento era a grana de Brian. As imagens de null chorando e pedindo para que ele a escutasse estavam lhe dando um nó muito sério no cérebro e um aperto no peito que nunca sentira antes.
- Eu não quero essa merda - rosnou, levantando-se. - Eu preciso falar com a null.
Cory o olhou, e dobrou as várias notas em um bolinho, colocando-as embaixo do enfeite da mesa.
- Então, vai, cara - ele sorriu. - Vou deixar isso por aqui.

Flashback OFF

Correu escadaria abaixo, agradecendo, pela primeira vez, a Emma e até a Brian mentalmente. Quatrocentas libras dariam muito bem para lhe comprar uma passagem de avião, e estaria na Riviera o quanto antes. Aquele dinheiro era sujo, e tinha sido por ele que tudo fora estragado, mas talvez ajudasse a consertar também. Levantou o enfeite de mesa e pegou as notas, enfiando-as no bolso de qualquer jeito, e correndo até o carro de null.
Poderia usar o seu, o único problema era que, ao contrário da amiga, não fazia a mais vaga ideia de onde a cópia de segurança de sua chave estava. Nem sabia se tinha uma. Arrastou pneus pensando que null o estrangularia por isso, e correu até o aeroporto.

Chegara lá em tempo recorde, e estacionou o carro perto de onde null tinha pedido. Não tinha muita certeza se era aquela saída mesmo, mas ela podia ligar para ele caso estivesse perdida. Isso era o de menos. Correu pelo saguão, carregando absolutamente nada, além de seus documentos, o dinheiro, seu iPod e a pulseira, e ziguezagueou pela fila, idiotamente, até encarar uma mulher de uns trinta anos, acima do peso e com cara de tédio.
- Eu preciso de uma passagem para Nice! - disse, afobado, e a mulher ajeitou os óculos, entediada.
- Pra quando? - perguntou devagar, fazendo o garoto rolar os olhos perceptivelmente.
- No próximo voo que você tiver.
Ela virou seu corpanzil para o computador, fazendo uma bola de chiclete.
- O próximo voo que eu tenho sai daqui a oito horas e dezessete minutos.
null deixou o queixo cair, finalmente deixando-se abater pelo desespero que tentava lhe derrubar havia horas. Encarou a mulher, atônito, e viu seu nome na plaquinha prateada em seu peito.
- Senhora Kristen, por favor, sou apenas uma pessoa, não é possível que...
- SENHORITA Woodsten seria mais apropriado, garoto - ela disse com desprezo. null assentiu com as mãos trêmulas.
- Senhorita Woodsten, por favor, eu preciso da sua ajuda! Eu preciso chegar o quanto antes na Riviera para...
- Alguém morreu? - ela perguntou, interrompendo-o e o encarando por cima dos óculos de armação negra e grosseira.
null negou.
- Eu preciso... Eu preciso me desculpar com a minha namorada - ele despejou. - Nós brigamos, e ela estava em Londres noite passada, mas viajou pra lá na madrugada, e eu preciso trazê-la de volta.
Kristen o encarou com mais interesse, e pareceu analisar a cara de afoito de null. Em seguida, caiu na risada, rodando levemente a cadeira. null arqueou a sobrancelha.
- O que foi? - perguntou, impaciente.
- Ah garoto, fala sério! - ela disse em um tom informal. - Você realmente está indo pra França ATRÁS DE UMA GAROTA? - Woodsten gritou, ainda rindo.
null deixou que sua confusão beirasse a raiva.
- Qual o problema? - perguntou, um pouco alterado, e a mulher segurou o riso.
- Aonde você pensa que está? - ela não esperou resposta, mas continuou rindo. - Acha que isso aqui é Hollywood? - Kristen gargalhou. - Vou te apresentar a uma invenção tecnológica muito usada nos dias de hoje, chamada CELULAR - a mulher jogou seu aparelho velho no balcão, e null chacoalhou a cabeça.
- Eu não posso fazer isso por telefone! - disse, mas estava quase rindo daquela mulher.
- Vocês jovens são desesperados demais - ela riu. - A menina FOGE depois de uma briga, e agora você... - Kristen desatou a rir, fazendo null rir junto.
Aquilo era realmente patético.
Eles eram extremamente dignos de pena.
- Eu preciso - ele parou de rir, a encarando com seriedade. - Por favor, eu preciso vê-la. Não sei o que vou fazer da minha vida sem ela.
A mulher deu-lhe um sorrisinho, digitando algo no computador.
- Você sabe que um dia ela vai ficar gorda, não sabe? - disse e null riu.
- Talvez - ele deu de ombros. - Mas se ela ainda for minha garota, eu tenho certeza que estaremos felizes. Gordos ou não.
Kristen riu, chacoalhando a cabeça.
- Tenho um assento em um voo que sai daqui a vinte minutos - ela sorriu.
null sorriu de volta, radiante, e debruçou no balcão, abraçando-a. A mulher gargalhou, o empurrando.
- Pelo amor de Deus, garoto, não me faça mudar de ideia - ela disse, fazendo-o rir. - Quando voltarem, traga-a aqui pra eu vê-la. Essa menina tem que valer muito a pena.
- Ela vale - null sorriu. - Eu estou apaixonado.
Kristen gargalhou.
- Ah, não diga! - ela estapeou a própria cabeça e null riu. - Aqui, sua passagem. Boa sorte, e corra, porque já anunciaram o voo.
- OBRIGADO, KRISTEN! - ele gritou, já correndo dali.
Kristen riu, chacoalhando a cabeça, depois suspirou, olhando o garoto quase tropeçar em algumas pessoas.
- Ah, o amor... - ela riu, colocando os fones de ouvido e voltando à sua rotina.

null afivelou seu cinto, respirando profundamente pela primeira vez nas últimas horas. Lembrou-se do pânico que null tinha de altura, e pensou que ela realmente devia estar muito puta para submeter-se a um vôo assim do nada. Isso fez seu coração acelerar.
Será que depois de tudo isso, ela seria capaz de não voltar com ele?
Será que quando ele chegasse, ela se surpreenderia? Será que ela acharia aquilo tão lindo que o beijaria?
Segurou com força nos braços da cadeira, e pensou que álcool poderia cair bem naquele momento. Tantas emoções se colidiam dentro dele, que mal conseguia pensar. Segurou a aeromoça que passava ao seu lado pelo braço, e ela pareceu assustar-se com sua mão gelada.
- Você pode me trazer uma cerveja? - perguntou, respirando fundo.
A garota assentiu, e voltou algum tempo depois com o líquido. null virou tudo rapidamente, assustando a senhora que viajava ao seu lado.
Estava a duas horas de vê-la de novo, e isso era muito tempo.
Muito tempo para passar pensando no que faria. Muito tempo para se lembrar de cada momento, cada discussão idiota, cada risada, cada beijo e cada noite juntos. Para se lembrar de seu toque, sua pele, seu sorriso, seu sarcasmo e seu jeito doce, que fazia questão de esconder. Segurou o iPod e resolveu que música poderia cair bem naquela hora. Quando a introdução de Hot’n’Cold começou, sorriu idiotamente, sentindo os olhos arderem.
Duas horas sem ela... E com ela em todas as partes.

null respirou fundo, encarando pela primeira vez o quarto que foi de null durante todo o verão. Sua tia estava no banho e ela teve que acompanhar os funcionários da vidraçaria, que tinham ido retirar o espelho esmurrado. Aquilo lhe fez revirar o estômago, e a tão normal vontade de chorar, que lhe acompanhara durante todos esses dias, pareceu aparecer de novo. O quarto fora limpo, os lençóis trocados, as janelas abertas, e ainda assim, ela podia sentir o cheiro dele ali. Sabia que era psicológico, mas ainda assim, era uma dor tão grande que mal podia calcular.
Ele faria qualquer coisa por ela, ele tinha dito isso na noite anterior.
Mas ela não teve coragem de avisá-lo de suas pretensões para o dia seguinte.
E até agora ele não havia ligado, e ela se sentia uma perfeita idiota. Ele era um puta de um babaca, pensara. Ele não a merecia. No entanto, seu coração idiota ficava se lembrando dele o tempo inteiro e confundindo sua razão.
Correu para fora do quarto, batendo a porta com força, derrubando algumas lágrimas.
- Eu não quero mais saber de você, null - disse sozinha, e sua voz, ainda que baixa, pareceu muito alta no corredor silencioso.
- Falou alguma coisa, anjinho? - sua tia saiu do banheiro, e ela deu um pulo, fazendo Janice rir.
- Que susto! - tentou sorrir, e a tia aproximou-se, limpando o rosto da sobrinha.
- Pare de se torturar com esse garoto, null - ela disse maternalmente, e null sorriu.
- Bem que eu queria, tia. Mas aquele bosta não sai da minha cabeça - respondeu, fazendo a mulher gargalhar.
- Eu sei a solução pra isso. Tire esse pijama e me encontre lá embaixo em dez minutos. Vamos fazer compras! - sua tia sorriu largamente.
null assentiu, sem muita vontade. Comprar sapatos lhe parecera a saída perfeita para afogar os problemas por algum tempo. Provavelmente sua tia bancaria essa ida ao shopping, e ela abusaria até sentir-se culpada. Era o que fazia. Iria trocar null null, o loser estúpido do colégio, por pares de Jacobs e Louboutin, que eram muito mais chiques e nunca, jamais, desconfiariam dela.
Sentiu os joelhos tremerem, mas depois obrigou-se a voltar para seu quarto - o quarto que tinha sido de null, já que também seu quarto lhe parecera inóspito - e colocou um short jeans e uma camiseta dos Beatles. Calçou um par de sapatilhas vermelhas e pegou um óculos oversized, que esconderia aquela sua cara de doente. Pegou a bolsa, e acabou checando o celular novamente - nenhum sinal de null. Sentiu-se estúpida, deixando o mesmo na cama, e correu para o andar debaixo.
E que ele explodisse.
Ela ainda tinha o shopping.

null jogou as sacolas na cama e respirou fundo.
Estava satisfeita consigo mesma depois de quatro horas batendo perna pelas ruas badaladas e comprando tudo o que há de caro naquela cidade. Desceu as escadas e foi até a cozinha, pegando uma caneca com chá, depois voltou para o andar de cima. Encarar o telefone era estupidez, ela sabia disso. Não pode deixar de fazê-lo, e ao constatar que realmente nada mudara, sentiu uma típica vontade de rachar aquela caneca nos ares, mas já tinha dado trabalho demais para sua tia naquele dia. Caminhou até a varanda e olhou o horizonte.
As ondas quebravam furiosamente na praia, as pequenas luzes da orla estavam acesas, o que a lembrou de todas as noites no quiosque, bebendo mais do que o pretendido e rindo de tudo. Lembrou também de mãos grandes apertando sua cintura, de um perfume que ela não conseguia esquecer e daquele sorriso que quase a matara.
- Merda - disse baixo, e respirou fundo.
Resolveu sair dali o quanto antes, e quando girou os calcanhares para caminhar até a porta de vidro, seu coração parou de bater por alguns segundos - depois acelerou tanto que ela conseguia escutá-lo em seus ouvidos.
- Oi - ele disse simplesmente, e null derrubou a caneca lá embaixo, ouvindo o barulho oco da mesma contra a grama.
Danny estava na varanda ao lado, aquela que sempre fora sua, durante todo o verão.
- O que... O que você...? - ela gaguejou, com as mãos tremendo.
“Porra, null, comporte-se!”, pensou, mas duvidou muito que suas pernas obedeceriam àquela ordem. null olhou para baixo, na direção da caneca, e ela fez o mesmo, contando até duzentos e cinquenta pra tentar não desmaiar.
- AI, MEU DEUS - null gritou. - Eu matei um passarinho! - disse, afoita, e null gargalhou.
Aquela risada que ela tanto amava e tanto sentiu falta.
null colocou as mãos no bolso, claramente nervoso. Ele estava tentando manter-se inteiro, mas depois de um dia tão tenso, estar ali, a uma varanda de distância, pareceu tudo o que ele sempre quis na vida. Teve que se segurar para não correr até ela e agarrá-la.
- O que tinha na caneca? - ele perguntou, vendo o passarinho se arrastar. null fez cara de dor.
- Chá.
null riu.
- Quente? - a menina assentiu com a cabeça. - Ah, então você não o matou... Você pode apenas tê-lo cozido ou defumado - disse com uma voz estranha, e a menina sorriu olhando para o chão.
Ele viu aquilo.
- O que você está fazendo aqui, null? - ela perguntou, olhando em sua direção pela primeira vez. null sentiu que aquele era o momento. Se não falasse agora, não falaria nunca mais, e ele precisava parar de tremer e soar como um homem de verdade.
Soar como um cara que faria null sorrir, e querer dar uma chance.
Mas sabia que era um bundão e que estava quase morrendo. Ele a olhou nos olhos com firmeza.
- Eu vim buscar você - disse, e para sua própria surpresa, sua voz soou melhor do que o esperado.
- Veio o quê? - null estava incrédula. null apoiou na lateral da varanda, e ao ver a menina recuar, resolveu ficar parado.
- null, por favor, só me escuta até o final, depois você fala qualquer coisa.
- null, eu...
- Por favor! - pediu, e a menina pode ver o quão desesperado ele estava.
Ela apenas assentiu, segurando com força no beiral da varanda.
- Eu sei que eu fui um idiota! Então eu comecei a pensar em vários jeitos pra te reconquistar, que incluíam mesas e a escola inteira, só que você... Você não tava lá hoje - null pareceu ressentido, mas logo recuperou o olhar, e a encarou. - Eu sei que eu posso ter estragado tudo, mas eu atravessei uma fronteira pra vir atrás de você, e eu não vou deixar você desistir da gente! Você vai voltar pra Londres comigo, e a gente vai se acertar, porque...
- null...
- null, deixa eu terminar! - ele rolou os olhos. - Porque eu tenho um milhão de motivos pelos quais você deve voltar comigo e entender que fugir não foi a melhor coisa, e eu sei que você gosta de motivos. Você veio logo pro único lugar que só lembra a gente, e ainda quer se fazer acreditar que não liga? - ele suspirou. - Eu não posso deixar isso pra depois, null. Eu não consigo deixar nós dois pra depois. E quando você voltar pode ser tarde demais, eu...
- null!
- O que é? - ele rosnou, perdendo a concentração.
- Você... - null arqueou uma sobrancelha, e null a olhou um pouco confuso. - Você sabe que eu vim passar só duas semanas na França, não sabe?
A boca de null abriu, mas ele não conseguiu emitir nenhum som. Parecia que um buraco negro gigantesco tivera sido aberto embaixo de seus pés, o sugando com força para um local onde pagar esse tipo de mico era normal. Seu rosto corou ferozmente.
- Como é que é? - ele conseguiu dizer depois de alguns segundos, e ouviu null rir.
A princípio, ela apenas sorriu, mas depois que seus olhares se encontraram, ela começou a rir com tanta vontade que null acabou sorrindo, e teria rido, se não estivesse morto de vergonha.
- Eu não acredito nisso! - null disse entre risos, e ele riu um pouco. - Você é muito perdido, null. Ninguém merece - ela o encarou. - O marido da tia Janice teve que viajar a trabalho, e ela está grávida, gravidez de risco, e é por isso que eu estou aqui. Pra ajudar caso ela precise de alguma coisa.
null ficou em silêncio, depois disparou a falar.
- Então era isso que a null... E que o null... Era isso que eles queriam me falar! - null deu um tapa na própria cabeça, envergonhado. – Ai, caralho, eu sou muito patético mesmo - ele riu. - Puta que pariu! Pode rir da minha cara, vai...
null sorriu, encarando o garoto.
- Eu achei que isso foi meio... Fofo - a garota disse quase num sussurro, o que fez null levantar o olhar, sentindo algo aquecer em seu peito.
- Ok, eu já estou aqui, a gente pode apagar essa cena anterior e eu posso dizer tudo o que eu quero dizer? - null perguntou de um jeito tão fofo que fez a menina sorrir sem querer.
- Fala, null - ela disse, rolando os olhos teatralmente.
Os dois sabiam disso.
null percebeu que suas mãos estavam suando. Imaginara aquele momento de uma forma tão diferente, devido à fuga, que agora estava realmente perdido, como null tinha dito.
- Você não sabe como doeu em mim pensar que eu tinha te perdido de verdade - ouviu sua própria voz dizer, enquanto null brincava nervosamente com suas pulseiras.
- Mas você me perdeu de verdade - ela o encarou, mas aquele golpe já não doía mais. null não estava ali para se deixar abater por orgulho.
E foda-se qualquer tipo de orgulho.
- Eu sei - ele sorriu, triste. - Mas eu estou aqui pra tentar te reconquistar.
Ao perceber que null não falaria nada, ele respirou fundo.
Aqueles poucos metros entre as duas varandas estavam o matando, mas achou melhor não fazer nada precipitado. Cada palavra, cada gesto tinha que ser calculado, ou ele colocaria tudo a perder.
- Eu amo você - ok, era um bom começo. Sua voz saiu meio estrangulada, mas os olhos de null focaram no dele bem mais interessados. - Eu preciso que você me perdoe. Eu sei que eu fiz tudo errado, mas null, eu juro que foi tentando acertar. Eu meti os pés pelas mãos, mas nunca quis magoar você - ele suspirou. - Esse tempo longe foi uma merda. Eu... Eu preciso de você. Só de você.
null mordeu o lábio.
- Por quê?
Perguntou por fim, e null riu baixinho, chacoalhando a cabeça.
Sabia que ela faria isso.
- Porque depois que eu estive com você, nenhuma garota parece boa o suficiente. Porque nenhuma delas tem seu sorriso, e nenhuma delas fala meu nome do jeito que você fala. Porque você é tão linda que eu não consigo pensar em sequer olhar pro lado. E eu não tenho vergonha de dizer isso - ele sorriu, a olhando nos olhos. - Porque minha vida mudou quando nos encontramos naquele aeroporto, antes de vir pra cá, um mês atrás. Foi lá que eu soube que você era diferente, e eu não sabia explicar, mas hoje eu sei que já estava obcecado - a garota sorriu, olhando as próprias mãos. - Porque minha vida mudou quando nós brigamos aqui, nessa sacada, quando eu tentei te beijar e você negou, e depois quando nós nos beijamos fora daquela balada. Mudou quando você dançou Hot’n’Cold pra mim, quando dormimos juntos pela primeira vez, quando seu irmão esmurrou minha cara. Quando você achou a carta da aula de literatura. Mudou todas as vezes que eu achava que a vida era uma merda, ou estava bravo por alguma razão, e eu olhava pro lado, e sem saber de nada, você sorria pra mim. Ou quando nós tínhamos as brigas mais idiotas e acabávamos resolvendo-as na cama - null mordeu o lábio e sorriu, vendo que uma lágrima solitária correu pelo rosto de null. - E meu mundo desabou quando eu achei que tudo o que eu sempre quis tinha sido tirado das minhas mãos, e que tudo tinha acabado.
null levantou o rosto, e os dois se entreolharam, em alguns segundos de silêncio. - Eu entrei em um avião por você. Eu iria mais longe se você dissesse que era isso que eu precisava fazer para poder encostar em você de novo, pra te beijar e pra esquecer essa merda de vida que eu estou tendo. - null sentiu os olhos arderem. - Eu não consigo mais me lembrar de antes, de como era sem você. E eu não posso esquecer tudo isso, quando tudo que eu quero é pular essa porra de varanda e fazer você ser minha. E eu vou continuar falando tudo o que eu penso sobre nós dois, até que você me mande calar a boca.
null sorriu, e depois o olhou nos olhos pela primeira vez.
- Cala a boca - disse, fazendo null sorrir um pouco, talvez contente por ter ouvido sua voz após aquele longo monólogo.
null não conseguia sentir as pernas.
Borboletas no estômago? Besteira! Elas já tinham acampado e dominado seu corpo inteiro. O que diabos era aquilo?
- Fala alguma coisa, por favor - null disse com as mãos nos bolsos e ela sorriu.
- Isso foi... - null não conseguia achar as palavras certas. - Desnecessário.
O rosto de null se transformou, e null sorriu.
- Você tinha me ganhado no momento que apareceu nessa varanda, null - ela sorriu largamente, e ele a acompanhou, com o alívio estampado no rosto. - Eu sei que eu posso estar sendo imbecil de dar meu coração a quem já o quebrou de tal forma que eu não imaginava que tinha conserto - ela chacoalhou a cabeça. - Mas acho que o único que podia consertar essa merda que minha vida virou, era você.
null sorriu de canto, tímida, e colocou uma perna pra fora da varanda.
- null! O que você tá fazendo? - o garoto pulou no parapeito, desesperado. - Volta lá pra dentro, eu tô...
- Cala a boca, null - ela disse, rindo.
Fixou os dois pés no parapeito estreito, depois respirou fundo, uma única vez. Caminhou rapidamente até perto de null, que já tinha andado metade do caminho. Ele estendeu a mão para a garota, que a segurou com firmeza.
- Você... - null sorriu, abobado. - Você tem medo! Como que você...?
- Shhh... - null fez sinal de silêncio nos lábios do garoto, que sentiu o corpo inteiro arrepiar. - Eu tenho medo. Morro de pânico. Mas eu estou com você - ela sorriu. - Então eu simplesmente o medo passa. Minha sanidade deixa meu corpo e eu começo a agir como uma idiota apaixonada.
O garoto sorriu largamente, a segurando pela cintura.
Eles encostaram as testas, e null respirou fundo.
- Eu... Eu senti tanto a sua falta - ela murmurou, e null a segurou pelo queixo, apertando o braço que estava ao seu redor.
- Eu não existi nesses últimos dias - ele disse, e era verdade.
null o abraçou com tanta força que o mundo pareceu parar de girar. Não precisava de mais nada. null sentiu uma lágrima quente da garota em seu pescoço, e fez com que ela a olhasse, limpando seu rosto delicadamente.
- Eu nunca mais vou magoar você. Eu nunca...
- Eu te amo - null o interrompeu, e o garoto lhe lançou um sorriso tão lindo que desbancara todos os que ela tinha eleito como preferidos de null null.
- Eu também amo você - ele sussurrou.
Os dois sorriram, e então null distribuiu alguns beijos no pescoço da menina, dando-lhe um selinho no final. Roçaram os narizes, apenas sentindo as respirações quentes um do outro, os corações que batiam tão alto que pareciam colidir. null puxou o lábio de null com os dentes devagar, e ela sorriu, fechando os olhos quando sua língua tocou a sua, e sua mão apertou sua cintura. null embrenhou seus dedos nos cabelos de null, e o beijo, cheio de saudade e delicado, tornou-se um pouco mais voraz do que o local permitia. Eles não se importavam. Quando estavam sem fôlego e respirando um pouco alto demais, null desfez o beijo, dando alguns selinhos no garoto.
Demoraram para abrir os olhos.
Encararam-se em silêncio, as testas encostadas e as respirações falhas. null tirou a pequena pulseira bolso, e sem dizer nada, a colocou no pulso da menina, que sorriu largamente e o beijou. Quando terminaram, null a segurou pela cintura e riu, maroto.
- Eu não disse que você seria minha? - null riu ao receber um tapa. - Outch!
- Fica quietinho, vai... - null murmurou, o beijando novamente.
null sorriu no final do beijo, e a encarou.
- O que foi? - null riu.
- Estou pensando em uma frase de impacto para o momento - disse e a garota gargalhou. - Já sei! - ele sorriu, abobado. - E então eles viveram felizes para sempre.
Disse, fazendo a garota rir enquanto se beijavam.
Para sempre.

FIM


null gargalhou, soltando o beijo.
- O que é? - null perguntou e ela chacoalhou a cabeça. - Fala, null!
- “E então eles viveram felizes para sempre”? - ela riu. - Que porcaria é essa, null? Isso aqui não é final de conto de fadas! − disse, rindo, e null se afastou um pouco, a encarando.
- Por que diabos você sempre estraga todo o romance?
null abriu a boca, indignada.
- Eu estrago o romance? - ela riu, sarcástica. - Eu estou aqui no parapeito correndo risco de vida por sua causa, e eu estrago o romance?
- Há! - null riu. - O máximo que aconteceria aqui era você quebrar uma perna! E falando em romance, FUI EU quem pegou um avião e correu atrás, não?
- Insensível! - ela murmurou, nervosa.
- Mimada!
- Idiota!
- Fresca!
- Insuportável!
- CALA A BOCA! - os dois gritaram ao mesmo tempo, depois caíram na gargalhada.
null segurou null pela cintura novamente, e ela sorriu.
- Ok, dessa vez vamos fazer direitinho como um casal fofo, ok? - null disse como se null tivesse cinco anos, e ele rolou os olhos, rindo.
A puxou com força a beijou de uma vez só, sem se preocupar com permissão ou qualquer coisa do tipo. Suas línguas adoraram o reencontro, brincando e lutando como sempre. Elas se pertenciam. null mordeu o lábio de null, e os dois sorriram, ao abrirem os olhos.
- Eu amo você, seu babaca!
null sorriu, radiante.
- Eu amo você - ele aproximou a boca de seu ouvido, e null mordeu o lábio, já sorrindo por antecipação. - Docinho.

agora sim, de verdade...

FIM

(Porque algumas coisas nunca mudam).

N/A: Oi, docinhos! :') Acho que esse é um momento muito emotivo para mim, espero que vocês compartilhem meus sorrisos e lágrimas e leiam até o final (mesmo sendo imenso), afinal, tem a surpresinha *hihu*. Eu não sei se esse era o fim que vocês esperavam de Summertime (ou os fins haha), mas espero de coração que ele tenha agradado a maioria. Eu gostei muito de escrevê-lo, apesar dos meus surtos, e espero que tenha feito vocês sorrirem ou chorarem, ou as duas coisas. Afinal, como eu já disse mil vezes, essa fic não é minha. Summertime só existe por causa de vocês, leitoras lindas, e é por isso que é importante demais pra mim que vocês gostem! Antes que voltemos a essa pergunta: Infelizmente, Summertime não tem planos de ter segunda parte (nada de Wintertime, Falltime ou Springtime, como vocês disseram haha :P). O motivo? Eu acho legal parar agora, que vocês amam a história, do que estender para algo que ficaria um pouco sem nexo e não tão legal assim. Vocês entendem, não é? Aliás... Nem preciso pedir pra comentar, né? Acho que por ser o final, eu gostaria de ter a marquinha de todas ali na box, pra guardar pra sempre :') Mas já volto a falar de vocês (deixo as mais importantes para o fim, beijos <3). Quero agradecer *tirando a lista do bolso e segurando meu Oscar -n* só pra começar, às minhas betas mais lindas do mundo. Rafinha Julich, super diva, que aceitou essa fic lá no começo, betando meus capítulos intermináveis e sempre sendo paciente comigo. Um beijo, querida. Você é demais! A Massinha - Marii², por ter me acolhido quando a Rafa saiu do site, e por ser uma amiga tão linda, fofa e maluca como você é. Para sempre minha gêmea ariana e diva carioca <3 Ainda nos encontraremos pessoalmente pra dominar o mundo, dear. Conosco ninguém pode! haha Amo você, de verdade, e obrigada por absolutamente tudo. Agradecer a minha Ju*hidethesecret*dd Bru Dugrey, por me aguentar no gtalk, por opinar no que escrevo, ler minhas besteiras (e rir delas!), e por ser essa amiga indispensável de todos os momentos (e por me salvar sempre que eu preciso)! Já nem me lembro mais de como era antes de você, honey B.. Te amo muito e sei que nossa amizade é pra sempre (yeah, vai ter que me aguentar! LOL) <3 Não posso deixar de citar as minhas criaturas lindas e preferidas, Tutti e Ju, por me xingarem todas as vezes que eu xingava Summertime e surtarem sempre com a fic. Mas acima de tudo, por serem minhas loucas amadas 24h por dia, para quem eu posso surtar com motivos idiotas, rir e fazer planos. Tudo vai dar certo, girls, eu tenho certeza. E nós estaremos juntas. Amo vocês demais, minhas "bitches" haha. Muitas energias gracinhas para o universo (internas... hahaha)! Um beijo para a dona Li Rocha, que chegou faz pouco tempo mas já me diverte horrores, e sempre apoiou e divulgou essa história. Já tem lugar aqui <3, queridona (mesmo chamando meu bofe de feio, é). Por fim, um beijo para a Paty, Naty e Lah, minhas irmãzinhas lindas que emprestaram seus nomes e maluquices para as amigas da fic. A Lah nem sabe de Summertime, mas ok HAHAHA O que importa é que família é família e eu amo vocês. Ah, e ao McFly por serem meus musos inspiradores - HAHAHAHA sempre são. Mas por último (e super MAIS importante) à vocês, minhas leitoras sempre divas: Eu simplesmente não tenho palavras para agradecer cada tweet, scrap, pergunta, comentário e sinais de fumaça (?) que vocês me mandam. Talvez vocês achem besteira, mas significa muito pra mim. Vocês me deram vontade pra continuar quando eu pensei em deixar ST de lado (sim, eu pensei), e cada coisa fofa que vocês me diziam me fez mudar de ideia. Vocês, que me deram a fiction do mês, autora do mês :') Eu nem sei o que falar. Só sei que qualquer agradecimento pelo carinho seria pouco e besta, então eu resolvi fazer uma surpresinha pra vocês. Vocês podem fazer o download clicando aqui e aqui também rs. O primeiro arquivo é meio grande, mas por favor baixem (e depois me contem o que acharam). Não é nada demais, é só pra tentar minimamente deixar isso marcado pra vocês do jeito que está sendo pra mim :) E eu amo cada uma de vocês - Mesmo sem poder colocar nome por nome aqui. Espero que a gente continue batendo altos papos no twitter, e que algumas de vocês continuem se tornando amigas minhas. E que continuem surtando, não mais com o docinho, mas nas minhas outras fics, que estão listadas logo abaixo. Conto com vocês, gatinhas! Ah, como vou sentir saudade disso aqui *cry* Obrigada por tudo, vocês sim, sem sombra de dúvidas, são divas. Um beijo daquela que não quer ter que dar tchau pra Summertime (mas sabe que a n/a está uma bíblia e vai calar a boca); e que ama vocês: Cah <3
Contato:
twitter // tumblr // formspring

Outras fics da Autora:
~ Take me Away [McFly - Andamento]
~ Beautiful, Dirty, Rich! [Restritas - Andamento]
~ Home is Where the Heart is [McFly - Hiatus]
~ Amor em Jogo [Vencedora do Challenge #005 - Futebol]
~ Never gonna be Alone [Conto de Natal - Finalizado ] :)

Nota da beta intrusa diva ariana bést da Camila Mari²: COMO EU TÔ ORGULHOSA!
Muito orgulhosa mesmo. Acompanhar Summertime desde o início como leitora, depois como leitora VIP (haha) e depois como beta foi uma evolução para mim (?), ao mesmo tempo que a fic evoluía. Para que a fic evoluísse, é claro que a Cah linda também evoluiu, então eu tenho a obrigação de parabenizar a fic e a autora, porque THEY ROCK!
Perfeita, perfeita! (L) E nem vou comentar sobre a varanda, porque a Cah já sabe que eu tenho um crush nessa varanda, haha. E tive um crush nos finais. E tive um crush no capítulo. E na fic. E e e e e e ... Como vou sentir falta! ):
Para a despedida, é melhor que todas essas leitoras divas comentem, não é mesmo? E qualquer erro, só enviar um e-mail para marii.hurtado@gmail.com, alright?
Um último “obrigada” e um último “beijos” aqui em ST,
Marii-Marii

Capítulos 1 a 10


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