Take off
Escrito por Th-Alice Star| | Betado por Brille.
(Beginning)
[n/a: Player: coloquem wish you were here, da Avril Lavigne, para entrar em execução]
’s P.O.V.:
Lá estava eu, sentada no cemitério, desacreditada de meu existir. Talvez eu fosse somente um robô sem um passado que valesse a pena, uma vez que os efeitos da morte transformaram-me em uma garota frustrada. Eu não aguentava olhar para o corpo gélido que descansava no caixão, então me isolei de todos. Eles não entendiam minhas lágrimas e pensavam que eu era uma fingida, uma vez que não existiam registros em suas memórias de que o falecido e eu fossemos tão íntimos. Na verdade eu nunca havia percebido o quanto ele era importante para mim, ou concluído que algumas coisas não devemos e outras não conseguimos evitar. Eu certamente não estaria me sentindo tão vazia se tivesse dito tudo que sentia no momento e não ter apostado na certeza de um amanhã.
O mundo fez com que eu virasse uma menina com excesso de autoconfiança. Pensei que eu pudesse controlar tudo o que eu quisesse: as pessoas, o amor, a morte... Mas a vida me ensinou que não devemos interferir no destino.
Lembro-me de quando conheci . Estávamos em um parque de diversões e eu precisava de alguém para entrar comigo na “Garganta do Diabo”. Agarrei o braço do primeiro garoto da fila e o puxei até o primeiro banco da frente.
— Você furou a fila... - ele disse um pouco assustado.
— Não me diga! - virei os olhos e fechei o ferro de proteção.
— Não é muito educada. Garota esquisita... - levantou o ferro, fazendo menção em sair do carrinho.
— Não tem medo do perigo, idiota? - segurei-o pelo braço.
— Para de me perseguir! - ele gritou.
— Está com medo de mim? - pisquei — Isso é tão sexy! - gargalhei.
— Você é louca... - ele riu quando percebeu que não chegaria a lugar algum medindo forças comigo.
— Junte-se a mim! - travei meus dedos na calça dele e o puxei para que ele se sentasse ao meu lado. Puxei seu rosto e o beijei, veementemente, na boca — É só pra entrar no clima de altos batimentos cardíacos... - mordisquei seu lábio inferior e abaixei o ferro. Em alguns segundos, o brinquedo começou a andar pelos trilhos. Era pura adrenalina, mas o garoto não estava nem um pouco no clima — Abra os olhos, seu frouxo! - gritei e agarrei a mão dele para que ele pudesse se acalmar, mas o garoto somente abriu os olhos quando percebeu que já não havia mais movimento. Na verdade eu deduzi isso, uma vez que eu saí rapidamente do carrinho e antes disso eu nem olhei novamente para o medroso.
Parei em uma barraquinha de drinks e comecei a entrar no clima de uma idiota música eletrônica, o que já devia ser o efeito de alguns goles, visto que eu definitivamente odiava esse tipo de música na qual todos os “tuntz tuntz tuntz” são essencialmente semelhantes.
— ... - o garoto reapareceu em minha frente, com as mãos estendidas, apresentando-se formalmente.
— ... - segurei a mão dele — Mas pode me chamar de !
— E onde está o sentido? - ele arqueou a sobrancelha esquerda e elevou a direita.
— Se tivesse sentido não seria eu... - pisquei.
— Por que você não me esperou? - inquiriu timidamente, mas eu não aliviaria na resposta.
— Porque você é só um estranho que foi em um brinquedo comigo... - expliquei tentando fazer a resposta parecer ser a mais óbvia possível — Aliás... Você é um péssimo parceiro para momentos radicais!
— Um estranho que você beijou... - completou.
— Relaxa, ... Foi só um beijo! - dei meu copo para ele.
— O que é isso? - encarou a bebida.
— Vodka... - bebi um gole direto de minha garrafa — Bebe! Faz bem pra tudo! - aconselhei, mas ele devolveu o copo para mim.
Dei de ombros e saí andando.
— Aonde você vai? - ele questionou.
— Você é travado demais para andar comigo, neném... - dei alguns passos, mas voltei para despedir-me decentemente de . Puxei-o pelo queixo, beijei-o mais uma vez, e só então eu me afastei dele.
Ele suspirou ao retomar os sentidos e chamou por mim.
— ... - invocou fraco. Virei os olhos e o encarei — Desculpa se eu fui um péssimo parceiro, mas eu adorei que tenha sido você a minha companhia. Eu desistiria se você não estivesse ao meu lado... - acenou como se temesse não me ver mais — Eu só queria que você soubesse disso... - sorriu.
— Ah que meigo! - reaproximei-me — E um pouco fraco e decepcionante também... - fiz careta — Confesso que eu esperava um pouco mais de você... - demonstrei a dimensão entre o indicador e o polegar, enquanto fechava o olho direito e mordia o lábio inferior.
riu, correu até um vendedor de balões e comprou um em formato de coração. Andou até a mim, deu-me o barbante e puxou-me para um beijo. Ele apertou seu corpo no meu, fazendo-me sentir sensações que compensaram o fato de um terço da minha bebida ter entornado no chão.
— Atingi suas expectativas? - indagou.
— É claro que não! Elas vão muito além... - ri — Vai encarar ou tem medo?
— Eu só tenho medo de altura... - revelou.
Soltei-me dele, bebi mais um pouco e ri ao ter uma maquiavélica ideia.
— Confia em mim? - dei alguns passos para trás, sorrindo maliciosamente e o chamando com a mão direita.
— Não! - ele balançou negativamente a cabeça.
Virei os olhos e dei de ombros.
— Vem! - fui até ele e o puxei.
— Tenho alternativas? - questionou.
— Definitivamente não! - e corri em direção à saída.
Percorremos uns três enormes quarteirões. Já no primeiro me alcançou e tentou fazer com que eu lhe falasse para onde estávamos indo, mas ele somente ficou sabendo disso quando finalmente chegamos frente ao prédio em que eu morava.
— Moro no sétimo andar... - apontei e entreguei meu balão para que ele o segurasse.
— Eu não... - tentou falar, mas eu tampei seus lábios com o meu indicador direito.
— Eu não te convidei! - dei de ombros e entrei para ir até o estacionamento para pegar nossa condução — Espera quietinho aí... - gritei lá de dentro.
Em alguns minutos, saí com meu carro.
— Você vai dirigindo, ... - saí do banco de direção e o fiz sentar-se nele — Vodka não é bom para exatamente tudo... - ri.
colocou o cinto e eu abri o vidro para segurar o meu balão do lado de fora do carro.
— Você é louca! - ele deu partida.
— E você adora isso... – falei mexendo no GPS — É só seguir...
— Você é misteriosa... - ele deu uma olhada rápida para mim.
— Decifra-me! - mandei um beijo e soltei uma involuntária gargalhada ao notar a expressão de — Mas agora somente dirija! - virei o rosto dele, fazendo-o prestar atenção na estrada.
Por fim chegamos a uma velha e grande casa que ficava próxima a uma linda cachoeira e então descemos do veículo.
— Tira a sua roupa... - sugeri tirando minha camiseta e meu short jeans.
— Hã!? - arregalou os olhos ao me ver somente de peças íntimas.
— Está tudo coberto, seu bobalhão! - prendi meus cabelos — Tira a camisa e a calça e me segue... - comecei a andar.
— Espera por mim... - ele despiu-se e correu até a mim, envergonhado — ...? - ele olhou para os lados.
— AQUI! - gritei do alto de uma gigantesca pedra, perto da queda da cachoeira.
— ! - ele desesperou-se — Desça daí! É muito perigoso...
— Não. Você é quem vai subir! Supere os seus medos, ! - sentei-me na pedra — Não saio daqui enquanto você não vier...
— Não! - protestou — Você sabe que eu tenho medo! - ele tentou argumentar.
— Atinja as minhas expectativas... - mandei um beijo — Ou quer ser um frouxo para sempre? - levantei-me e fingi escorregar, soltando um agudo e teatral grito.
— ? - ele chamou — ! - ele gritou, entrando em desespero. Meu teatro foi bom o bastante para enganá-lo. respirou fundo, tentando manter a calma, e começou a escalar o morro montanhoso que levava até a pedra. Assim que ele chegou ao topo, encontrou-me deitada de pernas cruzadas e mãos atrás da cabeça, tranquila.
— Gatinho da montanha, você conseguiu! - sorri vitoriosa.
Ele olhou para os lados e vibrou ao perceber que o horizonte não o incomodava.
— Por você... - reverenciou — Mas agora eu te mato! - brincou.
— Du-vi-do! - gargalhei, sentei-me e o abracei.
— Pelo menos atingi suas expectativas? - ele se sentou ao meu lado.
— Ainda não! - mordi meu lábio inferior, quase rindo — Duvido que você pule... - sussurrei em seu ouvido.
— Ah não! - irritou-se — Está exagerando!
Levantei-me e mergulhei.
— Vem! - convidei, já estava imersa na cristalina água.
— , você me odeia? - olhou para baixo, fazendo careta.
— Venha aqui e eu te responderei... - gritei e dei um mergulho. Quando subi para a superfície, já estava lá.
— Você me odeia? - aproximou-se e segurou-me pelos cabelos.
— Nem um pouco... - fechei meus olhos — Pode beijar a noiva, digo, a ex-estranha, gatinho corajoso! - sorri, logo recebendo um ávido beijo.
abraçou-me e encarou meus olhos.
— Obrigado por ter me transformado tanto em somente algumas horas... - deu-me um selinho — A frase “não se deve conversar com estranhos” nunca me pareceu ser tão idiota! - gargalhou.
— Você não é mais criança! - joguei água nele.
— Mas é sério... Obrigado por ter me puxado, do nada, e ter se sentado ao meu lado. Agora somos...
— Amigos... - completei antes que ele exagerasse, afinal, mal nos conhecíamos.
— Mas nós poderíamos... - brincou com os dedos.
— Eu já gosto de outra pessoa... - abaixei a cabeça — Desculpa se eu te confundi, mas eu já tinha dito que um beijo é apenas... um beijo! - joguei minha cabeça para trás, molhando o comprimento de meus cabelos.
— Ah sim... - afastou-se — Podemos ir agora? - sorriu sem vontade.
— Claro... - saí da água e fui para perto do carro. Pegamos nossas roupas e nos vestimos sem muita demora — , você viu meu balão? - perguntei manhosa.
— N-não... - olhou no interior do veículo — Não estava aqui?
— Ah! Eu sempre perco! - ri, apesar de me sentir um pouco frustrada — Eu nunca cheguei com um daqueles em casa... Sempre perco no caminho! - fiz bico.
— Prometo que depois eu compro outro para você, ok, ? - beijou minha bochecha — Ou se você preferir eu posso tirar meu coração agora para dá-lo pra você... - brincou.
— Que coisa brega, ! - ri e adentrei o carro para voltarmos para meu bairro — Além de ser nojento se tratado de modo literal! - fiz careta.
dirigiu até meu prédio e deixou-me segura em meu apartamento. A essa altura do campeonato, a vodka já tinha feito um grande estrago e fez com que eu passasse mal quase todo o resto na noite. Eu tomei um banho rápido e, quando saí do banheiro, encontrei mexendo em minha cafeteira.
— A vodka é boa pra tudo, ? - ele riu, zombando da minha cara de zumbi desidratado.
— Você venceu, não é boa pra nada! - aproximei-me — Eu não devia ter bebido... - fiz careta.
— Vou fazer um café bem forte para você... - sorriu, puxou-me para mais perto dele e cheirou meu pescoço — Você cheira a rock’n roll... Rosas e cassis! - ele segurou-me, soergueu meu corpo, fez-me sentar na pia e beijou-me de um modo original e intenso.
— Pensando bem, a vodka foi boa para me fazer passar mal e receber seus cuidados... - ri. O calor do momento fez com que eu tivesse a nítida sensação de que aquele beijo era o melhor que eu já havia experimentado.
embrenhou os dedos em meus cabelos, colocou sua mão direita em minha coxa e mordiscou meu lábio inferior. O momento estava perigosamente delicioso então, quando ele começou a beijar meu pescoço, meu corpo começou a cair sobre a pia e a estremecer involuntariamente.
— Break! - um barulho ecoou, assustando-nos e fazendo com que caíssemos na gargalhada.
— Minha cafeteira! - lamentei, bati levemente em e mordi seu ombro — Você me deve uns 1000 cafés! - avisei.
— Faço questão de pagar... - ele desceu-me da pia.
Bocejei um pouco sonolenta. puxou-me até a porta para despedir-se de mim e encarou-me com carinho nos olhos. Era um garoto plácido.
— Tchau, ... - ele alojou suas mãos nos bolsos.
— Quer dormir aqui? - fechei os olhos com medo de aquilo soar mal — Não vou te molestar! - ri e o abracei por impulso — Está tarde... - tentei suscitar.
— Seu namorado não vai ficar bravo? - questionou em tom irônico.
— Eu não disse que tinha namorado e sim que gostava de alguém... Mas se eu tivesse namorado, com certeza não teria te beijado... - bati levemente o dedo no queixo de — Eu não sou uma vadia, neném...
— Mas por que você não tenta o esquecer? - ele acariciou minha face.
— Eu vou superar! - joguei uma piscadela — E aí... vai querer ficar? - abri entrada.
analisou-me por inteira e logo desviou os olhos, parecia estar perturbado.
— É melhor eu ir embora... - ele deu de ombros.
— Então boa noite... - sorri para o garoto, que então foi afastando-se aos poucos e eu então fechei a porta assim que ele desapareceu no corredor.
Abracei-me ao sentir o vento que denunciava que o outono estava quase chegando, afinal era fim de maio e - obviamente - fim do verão nos EUA.
Deitei-me e posso dizer que dormi alegre ao relembrar que tinha iniciado uma nova amizade; mas eu não sabia que poderia ter cometido um erro que já traçava o maldito fim.
Pena que eu ainda não sabia de quase nada e a única coisa para qual eu dava importância no momento era que o cheiro de havia ficado grudado em mim.
(...)
Passaram-se então dois anos desde o memorável dia em que e eu nos conhecemos e o que mudou foi que eu amadureci um pouco. Cessei de gostar - um pouco tardiamente - de quem não gostava de mim, parei de beijar por beijar e deixei de ser a parte mais destemida.
Confesso que eu pensei que nunca mais veria depois daquele dia e poderia até jurar que ele havia ficado assustado com o meu jeito excessivamente espontâneo, mas me enganei, já que depois daquilo e eu nunca mais nos separamos. Todos os dias, bem cedinho, ele aparecia em meu apartamento. Parecia ter levado a sério sua dívida, uma vez que sempre trazia consigo dois grandes copos de café e ainda rosquinhas como brinde.
Com o passar da convivência, admito ter prestado cada vez mais atenção no carinho que ele tinha por mim e também em sua beleza.
— Bom dia! - pulou em minha cama e abraçou-me carinhosamente.
— Estou com sono! - protestei e cobri minha cabeça com o lençol — Lembre-me mais tarde de quebrar a sua chave... - murmurei.
— ... - puxou-me — Sabe qual dia é hoje? - inquiriu.
Sentei-me, emburrada e com os olhos quase fechando.
— O dia em que você tem de chegar mais tarde para não me encontrar mal-humorada e descabelada? - caí para o lado, sendo soerguida pelos braços de .
— Bem... Há dois anos você me puxou em um parque, bebeu demais, fez com que eu corresse quarteirões, levou-me a uma cachoeira, ajudou-me a vencer o meu medo de altura... Me beijou... - riu.
Abri meus olhos o máximo que consegui. Eu precisava entender o sorriso de , além de seu olhar misterioso.
— Eu era uma doida! - virei os olhos, rindo de mim mesma ao lembrar-me do que ele havia citado.
— Parece que você se arrependeu... - olhou para baixo — Nunca mais me beijou novamente...
— Você levava meus beijos muito a sério, sendo que nem eu me levava a sério, além de eu mal te conhecer... - segurei a mão dele — Mas quando viramos oficialmente amigos eu entendi que não poderia criar falsas expectativas em um cara como você.
— Então se você um dia voltar a me beijar é porque me ama? - aproximou seu rosto do meu.
— Cadê o meu café? - levantei-me prontamente, nervosa, trocando de assunto. Eu ainda estava muito confusa para saber o que dizer sobre aquilo, mas desviar do assunto não significava finalizá-lo, e sim adiá-lo.
— Com creme! - foi até a mesa e pegou dois copos. Era para eu ter pegado, mas o café era a última coisa que realmente prendia a minha atenção naquele momento.
Fiz minha higienização matinal, troquei-me de roupas e - assim que tomei meu café com creme - fui arrastada por até a rua.
— Eu quero que você conheça a minha família... - fez olhar piedoso — Você é essencial para mim...
— Não adianta insistir. Quantas vezes eu já disse que não? - bufei.
— Eles dizem que é uma amiga imaginária e um pretexto para eu tomar dois cafés, sendo que... - cortou sua própria fala e abriu o carro — Também disseram que, se você existe, não gosta de mim. Você nunca disse que gosta! - fez bico. Era um fofo mimado, manhoso e birrento.
— E eu nunca disse que não gosto! - o abracei — Lembra? Eu não te odeio! - gargalhei, mas não estava achando graça alguma. Ele soltou-se de mim, beijou minha testa e entrou em seu carro.
— DANIEL! - gritei, mas o carro já estava longe — Eu te... Amo! - falei baixinho e sentei-me no chão.
Uma fina chuva começou a cair do céu, o que acabou com minha tarde. Assisti um pouco de tevê, escutei um pouco de rock, arrumei algo para comer e decidi procurar quando encarei seu copo de café. Dei-me conta de que seu copo quase sempre permanecia cheio, às vezes até intocável, o que me fez deduzir que sequer gostava de café... Talvez ele gostasse mesmo fosse de mim.
Coloquei um vestido preto e fiz careta ao olhar-me no espelho; depois troquei o traje por uma calça jeans, uma camiseta meio gótica e um colete; posteriormente mudei tudo e vesti uma camiseta meia-estação e um short xadrez; e por fim voltei para o segundo look, com exceção do colete. Essa troca toda me deu a certeza do quanto, sem saber, eu estava apaixonada e influenciada por quem amava. odiava aquele vestido, talvez por ser muito curto, e adorava a camiseta meio gótica. Nela havia uma estampa de uma menina chorando e brincava sempre dizendo que ela tinha perdido seu balão em formato de coração.
— ? - falei assim que alguém atendeu o celular — Você pode bus...
— Eu estou na frente do seu prédio... - cortou minha fala.
— Então so... - abri a janela e acenei assim que visualizei seu sorriso — Sobe aqui... - pedi.
— Desce você... - ele desligou o celular e encostou-se ao seu próprio carro, segurando um balão em formato de coração.
Olhei-me mais uma vez, feito uma idiota, no espelho, e desci para encontrar-me com ele.
— , eu... - tentei dizer que iria conhecer sua família, que eu o amava e que agora sim poderia voltar a beijá-lo sem peso na consciência já que ele não era mais um cara e sim o cara; mas ele tampou meus lábios com os dedos indicador e médio de sua mão direita e encarou-me fixamente.
— Quer namorar comigo? - ele entregou o balão a mim.
— Eu... - ri nervosa.
— Eu quero respon... - o balão se soltou de minha mão — Merda! - gritei ao ver o balão ir embora.
— Você sempre perde! - ele se lembrou da outra vez — Eu prometi que te daria outro e cumpri... - apontou — Ficou embaixo da sua janela, ! Acho que dá para eu pegar... - correu para entrar no prédio.
Corri atrás dele e o segurei.
— Não! - ordenei — Você não precisa fazer isso, ... - joguei-o contra a parede, impedindo-o de sair de perto de mim. Ele puxou meu corpo para mais perto do seu e beijou minha boca. Não foi um beijo, foi o beijo. O mais verdadeiro e bem intencionado. Encarei-o assim que abri lentamente meus olhos, me olhava admirado. Ele estava sério, creio que tentava desvendar se eu o amava... Ou não.
Permanecemos calados. Ele por querer me dar espaço, ainda não queria cobrar a resposta. E eu estava calada porque ele havia mexido muito comigo e, de repente, puramente seu olhar e seu toque faziam meu corpo se atemorizar. Era uma nova sensação...
Enquanto eu fechava a porta, subiu na janela.
— Tinha que ser tão alto? - ele brincou, olhando do alto de sétimo andar.
Virei-me prontamente, verdadeiramente desesperada e também com raiva dele, que não deveria ter subido.
— Deixa o balão! - gritei e fui até a janela. Quase desmaiei quando vi que estava pendurado tentando puxar a cordinha que estava abaixo de uma parte de concreto.
— Dentro dele tem um anel! - ele olha para mim.
— Foda-se o anel! - estendi minha mão — Volta para cá!
— Eu não estou com medo. Fica calma! Você me ajudou a superar o medo de altura, lembra? - soltou uma mão para pegar o balão e acabou escorregando, uma vez que a chuva havia molhado tudo.
— Maldito dia! - chorei trêmula.
gritou, segurando-se por apenas uma mão.
— Agarre minha mão! - desci o máximo que consegui e peguei a mão dele. era muito mais pesado do que eu, então meu corpo estava descendo ao invés do dele subir.
— Eu te amo, ... - as lágrimas fizeram os olhos dele mais brilhantes, mas eu sentia que eles sofriam ao querer dizer adeus e eu temia não ver aquele olhar novamente.
— Cala a boca! - falei ao perceber a despedida. Apertei minha mão na de , mas ele começou a escorregar por entre meus dedos e então quase caí quando... o peso do corpo dele... desprendeu-se de mim — Não! - olhei para baixo e virei o rosto ao enxergar o corpo de estirado no chão.
Virei-me e - pegando forças não sei de onde - corri até onde o corpo de estava.
— Você não pode morrer desse jeito! - balancei o corpo dele. A cabeça estava sangrando e os olhos fechados. Deitei-me ao lado de , sem forças para dar sustentação ao meu corpo, e segurei sua mão — Eu te amo, ... - revelei baixinho, emitindo sons com dificuldade, como se minha garganta tivesse sido lacrada — Eu aceito ser sua namorada... - respondi tardiamente.
Em pouco tempo havia muita gente ao nosso redor. Levaram o corpo e tiveram que me aplicar calmantes para que eu finalmente saísse do chão e desgrudasse do corpo. Eu não conseguia parar de chorar, visto que era como se eu tivesse o matado, afinal, ele caiu de minhas mãos.
Ou talvez eu já houvesse o matado quando não evitei algumas coisas. Seria melhor se nunca tivesse perdido o medo de altura, ou se eu tivesse o impedido de ir atrás do maldito balão. Algumas coisas nós temos que aceitar ou deixar ir. Até temos que exorcizar alguns de nossos medos, mas não todos. O medo algumas vezes pode ser a precaução que nos impõe limites. Eu preferia ter o frouxo, medroso e fraco aqui... A melhor opção seria o vivo e não o corajoso.
Depois de ser interrogada pela polícia, deixaram-me ver o corpo no necrotério. Eu ainda não acreditava no que tinha acontecido. Os pais de me olhavam como se eu tivesse o empurrado de meu apartamento e a culpa deles não confiarem em mim era toda minha, já que eu sempre me recusei a ir conhecê-los. Nunca atendi a esse pedido tão simples e doía em minha alma ter sido tão egoísta com quem fez de tudo, até o fim, para me agradar. Fui “má” com quem, há todo momento, só demonstrou em amar.
Ficou em mim, marcada na minha biografia, uma grande lição. Aprendi que, por mais que possa parecer ser brega, devemos dar demonstrações de afeto. demonstrava isso em cada sorriso, olhar e ato. Nossa história não merecia ter acabado em dor. Ele voou para longe, meu anjo se foi sem sequer saber que superou todas as minhas expectativas e era doloroso não ter a certeza do que acontece quando desintegramos. Eu o veria novamente? Eu ainda teria a chance de dizer o quanto ele era essencial?
Bem... Depois daquilo passei a comprar dois cafés todos os dias e fingia que os deixava em minha porta. Quando eu percebia a farsa, quando a miragem sumia, eu começava a gritar. Poderiam me chamar de louca, eu não ligava. Eu era a garotinha da estampa da camiseta, a pequena que chorava por ter perdido seu balão, e mais do que isso, lamentava por ter perdido seu próprio coração.
Vê-lo partir foi mais difícil do que imaginei, já que aquele que nunca me escutou dizer “eu te amo” foi sem dúvidas o único homem que realmente amei.
(Unkind end)
N.A.: Oi pessoal... Acalmem-se, não me matem! Sei que ninguém gosta de quando um personagem morre, mas a história veio assim à minha mente. Espero que tenham gostado, apesar do clima literalmente fúnebre. Espero merecer alguns comentários para saber se vocês gostaram. Um beijão e, qualquer coisa que queiram saber, eu estou sempre no meu blog:Th-Alice Fiquem com Deus. Beijão. Fui! *---*