Thank you for the Memories.
And if you can’t stop the memories, just let them come and remember.

Autora: Marina Iero
Beta-Reader: Brille


(n/a: Antes que vocês comecem a ler e, talvez, se sintam confusos: a fic é escrita em flashes da vida do principal, do narrador. Há pontos em que ele narra o momento presente, esses momentos estarão escritos em itálico, então, fica avisado, assim ninguém fica confuso, porque eu ficaria, haha. Boa leitura!)

Cap. 1
- Você já está aí! – exclamou lá de cima, ouvi ela descendo a escada e rindo. Eu estava esperando minha namorada na sala de visitas dela há mais de meia hora, junto com seus pais. A mãe dela me servia mais e mais biscoitos, mesmo sabendo que eu estava saindo para jantar, e o pai dela conversava comigo sobre futebol, mesmo sabendo que eu nada entendia sobre o assunto.
Minha namorada entrou na sala sorridente. Encarei-a boquiaberto, descendo meus olhos da cabeça aos pés, ela estava incrível. Ouça a mim: quando sua namorada atrasa mais de meia hora para um encontro, não reclame, pois pode ter certeza, em noventa por cento dos casos, ela estará fabulosa.
corou e sorriu tímida, depois desviou o olhar de meu rosto e olhou para o pai, que a encarava com uma sobrancelha arqueada.
- Papai, nós já vamos. – ela disse e lhe deu um beijo na bochecha. – Tchau, mamãe! – ela deu um abraço na mãe, que estava sorrindo de orelha a orelha. Despedi-me dos pais dela e a segui até a porta. Quando estava quase fechando a porta ouvi os pais dela comentarem:
- Ela está incrível, nossa filha é tão linda! – a mãe disse
- Sim, que bom que achou um homem que saiba respeitar tudo isso e a trate realmente bem. Enfim essa menina tomou juízo, pelo menos ela... – o pai disse. Sorrindo fechei a porta.
falou no caminho inteiro até o restaurante. Não reclamei, porque eu amo ouvi-la falar. E também porque ela é minha namorada, eu sei que mulheres falam muito. Entramos no restaurante e abriu a boca em um perfeito “O”.
- Aqui deve custar milhões! - ela exclamou, me olhando com uma mescla de perplexidade e prazer. Apenas sorri, guiando minha menina para uma mesa no fim do salão.
O garçom veio até nós e eu apenas assenti para ele, que virou as costas e saiu.
- Eu nem disse o que eu quero comer! – exclamou alto, fazendo alguns ricos olharem feio para a nossa mesa. Ri e fiz um “Shhh”. ficou vermelha de vergonha e virou a cabeça para olhar pela janela.
- Não precisa se esconder! – eu disse. Ela voltou a olhar para mim sorrindo e disse baixinho:
- Desculpa, é que eu não sei me comportar como rica, já que não sou e nunca fui uma. – ela fez um sinal de desculpas com as mãos e eu ri. Era verdade, era de classe media baixa, assim como todos os seus amigos e um irmão mais velho “deserdado” que, bem... Era uma longa história, que odiava.
- Isso não tem o menor sentido, pequena! Não precisa ser rico para saber se comportar, você não fez nada de “descomportada”. – ri. Ela me olhou feio e disse:
- Lógico que tem! Eu não quero que esses anciãos ricos fiquem olhando feio pra mim, então vou ficar olhando pela janela até a comida chegar... Se é que vem alguma, já que eu não pedi nada!
- Anciãos ricos? – perguntei rindo alto. Os anciãos ricos olharam de volta para nossa mesa, com a cara mais feia ainda.
- Shhh, , cala a boca! – ela me deu um soco no braço, segurando o riso
O garçom chegou com os pratos (que eu já havia deixado avisado quais seriam, por isso que não precisamos pedir) e serviu.
- Strogonoff! – sorriu – Como ele sabia que eu queria isso?
- Quem sabe ele é seu namorado há, exatamente – olhei no relógio – dois anos e vinte e três minutos. Assim ele já sabe qual é seu prato preferido. – disse, arqueando a sobrancelha. riu e se aproximou do meu rosto, me dando um selinho demorado.
- Feliz dois anos. – ela sussurrou
- E vinte e quatro minutos. – completei, olhando-a nos olhos. Ela sorriu de novo, me dando outro selinho em seguida. Ouvimos um barulho de pessoas se levantando e olhamos para o lado. Os anciãos ricos estavam se levantando e pegando suas coisas, lançaram um olhar bem feio e nada discreto a nós e saíram batendo os pés. olhou para a mesa, onde os pratos ainda estavam cheios, e depois me olhou aflita.
- Talvez devêssemos pedir para os anciãos voltarem? – ela perguntou baixinho. Dei de ombros.
- Os incomodados que se mudem, já ouviu isso? – ela assentiu sorrindo, segurei seu queixo lhe dando um selinho e continuei:
- Então, deixa eles irem embora, estamos melhor sem eles. Vamos comer? – riu baixinho e assentiu.



- , se você não se importar, eu queria comer a sobremesa lá no meu apartamento... – disse depois que o garçom levou nossos pratos. sorriu:
- Eu não me importo nem um pouco.
- Ótimo! Então, avise seus pais que talvez você passe a noite lá em casa, está bem? – me olhou divertida, mas mesmo assim assentiu e pegou o celular, discando o número da sua casa e levando o aparelho à orelha. Paguei a conta e saímos do restaurante.
- E aí, eles deixaram? – perguntei, abrindo a porta do passageiro para ela, depois sentando no do motorista.
- Ah, minha mãe que atendeu... Ela disse que tudo bem, mas que meu pai não ia aceitar tão bem. Sorte que ele já estava dormindo! – ela sorriu.
- Ótimo, assim eu posso fazer tudo o que planejei. – disse e ela me olhou ainda mais divertida.
- E o que você está planejando? – percebi certa malícia na voz dela. Mesmo querendo minha namorada a todo o momento, teria que me comportar aquela noite. No momento em que ela colocasse o pé dentro do meu apartamento eu teria um objetivo, teria que segui-lo.
- Nada do que você está pensando. – disse e ela fez um muxoxo de desaprovação – Bom, talvez... Se sobrar tempo... – disse e ela riu baixo
- Você parece a mulher da relação. Já reparou isso, ? – franzi o cenho e disse:
- Às vezes eu reparo nisso. – ela riu.
Guiei minha namorada até o hall do meu apartamento, peguei a chave e o abri. Ela entrou e sorriu para mim. Agora ou nunca, .
- Cadê a sobremesa? – ela perguntou
- Ahh... – franzi a testa, perdido. Estava tão concentrado no que tinha que fazer que havia me esquecido do bolo que minha melhor amiga fez para comemorar meus dois anos de namoro. O que, segundo ela, era muito tempo para mim.
- Eu quero! – riu da minha cara de perdido.
- Vem cá, vai. – ela me seguiu até a cozinha, onde um bolo gigante estava em cima da bancada. Era coberto por chantilly e tinha escrito: “2 anos de na sua vida.” riu com o que estava escrito e perguntou:
- É da Bia? – assenti indo até o armário e pegando dois pratos, dois garfos e uma faca.
- Quer que eu corte? – ela perguntou
- Eu adoraria. – dei a faca pra ela, que sorriu e cortou o bolo de baixo para cima de olhos fechados. – Pra que isso? – perguntei quando ela abriu os olhos. fez uma cara feia e disse:
- Eu fiz um pedido.
- Mas o bolo nem era seu! – ri – Como pode fazer pedido cortando o bolo dos outros? – deu de ombros
- Nunca se realizam quando eu corto os meus bolos, talvez se realizem quando eu corto o dos outros. – ela colocou um pedaço num prato e me deu, depois cortou outro para ela.
- Tá bom. – eu disse com a boca cheia e suja de chantilly. riu da minha cara e se aproximou de mim. Ficando na ponta do pé, me deu um selinho.
- Tô com a boca suja de chantilly. – eu disse engolindo.
- Eu percebi. – ela disse lambendo os lábios e depois fez uma careta.
- Que foi? – perguntei assustado com o sabor que ela devia ter sentido naquele chantilly.
- Eu não gosto de chantilly! – ela exclamou, separando o chantilly do seu pedaço de bolo
- QUÊ? – ri alto – Você é a única pessoa do mundo que não gosta de chantilly! – ela deu de ombros – Fala sério, .
- Tô falando! Eu não gosto! – ela disse alto
- Mimada. – murmurei, abaixando os olhos para o meu pedaço de bolo. De repente uma coisa branca tampou minha visão e riu alto.
- Não! Chantilly no olho não vale! – exclamei limpando os olhos. ria alto, de olhos fechados. Passei a mão no bolo mesmo e depois no cabelo dela. Ela soltou um grito esganiçado.
- Meu cabelo! – ela passou a mão no cabelo freneticamente tentando tirar o chantilly, eu ria alto.
- Toma! – ela pegou um punhado de chantilly e passou na minha cara, eu continuei rindo e ela riu junto.
Quando percebemos o bolo todo estava dividido entre nossas roupas, cabelos e rostos. Nossas barrigas e bochechas doíam de tanto rir.
me puxou pelo colarinho e me deu um selinho longo. Abracei-a e aprofundei o beijo, que tinha gosto doce, literalmente. Mesmo que eu soubesse que teríamos que pegar ar alguma hora, eu diria que poderíamos ficar nos beijando para sempre. fazia carícias em meu cabelo e bochechas e eu variava entre fazer carinho em seu rosto, pescoço (ela tinha arrepios no pescoço e nas costas) e apertar suas coxas, fazendo-a soltar um gemido abafado e sorrir entre o beijo. Poderia ficar ali para sempre, mas de repente lembrei-me do meu objetivo para a noite e como as coisas estavam totalmente desencaminhadas, exatamente como eu não queria que acontecesse.
Quebrei o beijo e me olhou indignada. Sorri para ela, tirando o chantilly da sua testa e lhe dando um beijo ali.
- Tenho um objetivo essa noite, lembra?
revirou os olhos e disse:
- Sim, lembro. – sorri e saí da cozinha indo até meu quarto. No caminho tinha um espelho, onde pude ver como eu estava melado. Peguei o que queria na gaveta do criado-mudo e voltei para a cozinha. permanecia parada no mesmo lugar e sorriu assim que entrei.
- Então? – ela cruzou os braços e me olhou de sobrancelha arqueada. Mantive as mãos para trás, escondendo a pequena caixa de veludo vermelho.
- Ah, você deixa as coisas mais difíceis se ficar me encarando assim. – riu e relaxou as feições – Melhor assim... – respirei fundo e olhei de novo para ela.
era a melhor mulher que eu já havia conhecido em toda a minha vida. Eu costumava ser daqueles “pegadores” até conhecer ela, podem ter certeza de que eu me lembro exatamente da primeira vez que nós ficamos: na balada. Sim, por incrível que pareça. Depois que eu fiquei com ela não consegui parar de pensar naquele beijo, naqueles carinhos, naquela risada. Tive que procurar por ela, sorte que é amiga de também. A partir daí vocês podem imaginar, certo?
- Na verdade eu imagino esse momento há um ano e meio. Na minha cabeça estaríamos em um parque, ou em uma praia vendo o por do Sol, não na minha cozinha, sujos de chantilly, mas eu simplesmente não posso agüentar nem mais um dia. – comecei. sorriu de lado, seus olhos brilhavam. É claro que ela já imaginava o que viria a seguir, mas mesmo assim eu queria deixá-la surpresa e emocionada. Peguei a mão direita dela com a minha esquerda, minha mão direita continuava nas costas segurando a caixa vermelha. – , você é a melhor mulher que eu já tive o prazer de conhecer, de milhares. – ela revirou os olhos rindo – Estou falando sério! Nunca conheci ninguém que fosse tão gentil, tão engraçada, tão linda, tão divertida. Resumindo, nunca conheci nenhuma outra que chegasse aos pés desta mulher que está na minha frente agora. E é exatamente por isso que eu estou aqui, falando essas coisas que daqui alguns minutos vou pensar: “devia ter guardado esses sentimentos para mim”. Quero que você saiba exatamente o que sinto por você, o que você significa para mim, antes de fazer isso. – coloquei a caixa vermelha aberta sobre sua mão. O anel de noivado brilhou. Era pequeno, toda a volta de prata e tinha um diamante em cima – , você aceita casar comigo? – sorriu de orelha a orelha olhando para o diamante. Depois olhou para mim, havia lágrimas acumuladas em seus olhos, mas ela sorria mostrando os dentes brancos e perfeitos. Ela fechou a mão em volta da caixa e se jogou no meu pescoço, me dando um selinho demorado. Puxei-a mais para cima, sem quebrar o beijo que tinha se aprofundado. chorava silenciosamente entre o beijo, logo senti o gosto salgado de suas lágrimas, mas mesmo assim não quebramos o beijo. Eu achei que aquilo significava um “Sim, eu caso com você”, só que muito melhor, é claro. Só quando nossos pulmões imploravam por ar é que afastamos nossos lábios, mas permanecemos com as testas coladas. Olhei nos olhos dela, estavam fechados apertados, lágrimas ainda rolavam em seu rosto. Afaguei o cabelo dela de leve e passei meu nariz no dela. soltou o ar e abriu os olhos, me encarando.
- Eu acho que você já sabe a resposta. – ela disse baixinho
- Estou em dúvida. Acho que você disse “Sim” pelo beijo e “Não” pelas lágrimas. – ela riu baixinho, fechando os olhos novamente
- Estou chorando porque eu aceito.
- Não precisa aceitar se não quiser. – ela abriu os olhos e depois os revirou, como sempre fazia. Ri baixo. Eu era capaz de prever cada movimento que ela iria fazer, mas mesmo assim eu tinha certeza de que ia gostar de cada coisa que ela fizesse. Eu gostava que ela fosse previsível, era mais fácil de surpreendê-la ou de deixá-la com vergonha. passou o nariz no meu, assim como eu havia feito com ela.
- Eu aceito ser sua esposa e ficar com você para sempre. – algumas lágrimas voltaram a brotar em seus olhos. Sorri.
- Então para de chorar. – ela soluçou baixinho
- Não dá.
- Por que não? – limpei as lágrimas em seu rosto com meu polegar.
- Porque parece surreal que, depois do que aconteceu comigo quando eu era mais jovem, eu fosse encontrar alguém como você. Quando... Quando meu irmão abusou de mim pela primeira vez, parece que ele havia arrancado algo de mim: meu coração. Nunca fui capaz de amar nenhum menino a partir daí, por isso parece surreal. – olhei para ela confuso
- Ainda não entendi. – disse sincero
- É surreal para mim que pensava não poder nunca mais amar ninguém. É surreal que eu te ame com todas as minhas forças. Você... – ela soluçou, mais lágrimas rolaram por sua face – você me trouxe de volta algo que pensei ter perdido há muito tempo: a capacidade de amar.
Não tive capacidade de falar nada, apenas beijei-a como se nunca mais fossemos nos beijar na vida. Com todo o amor que pude demonstrar em cada toque.
Eu sabia que havia sofrido muito no passado, já que seu irmão começou a abusar dela quando ela tinha treze anos e ela nunca pôde contar nada a ninguém. Ele era três anos mais velho que ela e tinha namorada, mas sempre viu na irmã mais nova o que não via na namorada: possibilidade de controlar a situação. Quando o irmão dela saiu da casa dos pais os abusos pararam por um tempo, até ele voltar. Ele estava viciado em drogas, metido com traficantes. No dia em que ele havia voltado já tinha dezesseis anos, ela estava sozinha em casa e tentou fechar a porta na cara dele, mas ele foi mais forte. Ela sentiu medo do que vinha pela frente, percebeu que ele estava diferente, que provavelmente estava há um tempo sem consumir suas drogas, estava ali para conseguir dinheiro. Ele fez com ela exatamente o que ela imaginava: saciou seu desejo sexual, abusando dela como costumava fazer anos antes. Quando os pais dela descobriram que o filho estava viciado, expulsaram-no de casa, mas nunca contou a eles o que o irmão mais velho fazia com ela. Alias, nunca contou a ninguém, a não ser a mim, essa história.
- Eu te amo – sussurrei de olhos fechados, quebrando o beijo. Ela me deu um selinho e disse:
- Eu também. – e assim voltamos a nos beijar, as únicas palavras que havia em minha mente eram: noiva e .



- Caralho, caralho! – eu batia no volante – Por que você foi até lá, ? Por que, por quê? – perguntei indignado. Minha esposa fez um barulho qualquer no banco de trás, me fazendo olhar para ela. Ela estava deitada, como eu a coloquei, seus olhos semi-abertos e o braço esticado, sua mão entrelaçada na minha mão direita, que eu mantinha para trás. Havia sangue por todo o banco e por toda a roupa dela. Há algum tempo eu teria dado uma lição de como manter o carro limpo, mas agora não era o caso. Eu precisava chegar ao hospital e rápido.
- ! Olha para mim, olha para mim! Não fecha os olhos, continua olhando pra mim! – eu gritei desesperado, percebendo que ela fechava os olhos lentamente. abriu os olhos e sorriu fraco.
Por que justo agora eu tinha que pegar esse trânsito? Já reparou que tudo de ruim acontece com você em um dia só? Mas não ia acontecer nada de ruim, não ia. Eu não ia deixar.
Precisava levar minha menina, minha mulher, minha pequena para o hospital e eu ia, não importa por quem eu tivesse que passar por cima.



Cap. 2
Acordei com o barulho inconfundível de um celular vibrando. abriu os olhos lentamente assim que uma música começou a tocar no celular dela. Pegou o aparelho e atendeu:
- Hm. – bocejou. Puxei sua mão e ela sorriu, me dando um selinho. – Você me acordou.
- Quem é? – perguntei me sentando de frente a ela. Ela sentou no meu colo e colocou no viva-voz. Era sua melhor amiga, .
- Então, eu liguei lá na sua casa e sua mãe disse que você tava na casa do , danadinha! – riu do outro lado da linha. Abri a boca para falar algo, mas colocou o indicador em meus lábios, em sinal para que eu não falasse nada.
- É, eu estou na casa dele. – ela disse sorrindo e olhando para mim.
- Por quê? Pensei que a gente fosse almoçar juntas! – disse indignada.
- Não vai dar não. – disse fingindo desânimo, mas seu rosto mostrava-se realmente animado.
- Ah, posso saber o que é mais importante do que um almoço com sua melhor amiga? – falou brava.
- Um almoço com meu noivo. – respondeu corando e desviando o olhar de mim.
- O QUÊ? – gritou do outro lado da linha e riu.
- EU TÔ NOIVA! – gritou também.
- NÃO ACREDITO!
- É SÉRIO! – as duas começaram a soltar gritinhos “femininos”, se me permitem dizer, e depois riram.
- Cara, me conta como foi! – disse ainda rindo.
- Nah, depois eu falo, o tá aqui do lado. – ela me lançou um olhar rápido. Mordi sua orelha de leve, depois comecei a distribuir beijos por seu pescoço. Ela se encolheu.
- Ok, depois você vai me contar tudo! – as duas riram e desligou.
- Amém, vai me dar atenção. – disse rabugento. sorriu e se sentou de frente para mim, ainda no meu colo, com as pernas em volta da minha cintura.
- Que ciúmes, ein. – ela fez um beicinho com o lábio inferior e depois me deu um selinho rápido, se levantando.
- Ei, aonde você vai? – perguntei, olhando triste para ela.
- Por o dia para andar. – ela respondeu sorrindo.
- , vem cá. – ela me olhou de sobrancelhas arqueadas, um sorriso maroto no rosto. Sorri malicioso de volta.
Ela veio até a cama e ajoelhou na minha frente, tocando meus lábios com os seus e sussurrando:
- O que você quer? – depois mordeu meu lábio inferior e o puxou entre seus dentes. Soltei um grunhido e ela riu, sem soltar meu lábio.
Puxei-a para o meu colo e ela riu mais uma vez, soltando o meu lábio. Depois me olhou inocente, como sempre fazia quando sabia que eu queria sexo. Ela fingia que não havia malícia em nenhum de seus toques provocantes, fingia não sentir absolutamente nada quando eu a tocava com segundas intenções. Ela sabia que fingindo não saber nada só me deixaria mais louco, e ela provocava, é claro.
passou as pernas em volta da minha cintura e jogou a cabeça para trás, tirando o cabelo do rosto, depois voltou a olhar para mim, com seu sorriso ingênuo. Sentia-me o vilão da história.
- Você sabe o que eu quero, . – disse baixinho, passando meu nariz pela sua bochecha direita e nariz. – Ainda não fizemos sexo nenhuma vez desde que te pedi em casamento. – disse sério, olhando-a. Ela sorriu e disse:
- Ontem você disse que só faria se tivesse tempo. – dei de ombros.
- Você demorou horas em baixo do chuveiro. – ela fez uma careta.
- Demorou pra tirar o bolo do cabelo. – sorri de lado.
- Por falar em bolo, você vai me falar o que pediu quando cortou o meu bolo de baixo para cima? - riu baixo.
- Não posso falar, dá azar! – ela exclamou. Revirei os olhos e disse:
- Isso não tem nada a ver, não vai acontecer só por causa de um bolo. – ela mordeu o lábio, reprimindo um sorriso. – O que é esse sorrisinho?
- O meu de ontem se realizou. – ela disse sincera.
- Então você pode me falar.
- Dá azar no decorrer do pedido... – ela disse pensativa.
- Ah, ! Por favor! – eu ri e ela me acompanhou.
- Ok, vou falar. – ela me empurrou para trás, para que eu me deitasse; ela se deitou em cima de mim. – Eu pedi pra casar com o homem mais maravilhoso do planeta. Acho que vai se realizar, o que você acha? – ela passou o indicador pelos meus lábios, examinando o meu rosto e depois sorrindo.
- Eu acho que vai. – disse sincero e ela sorriu ainda mais, me dando um selinho em seguida. Abracei-a e ela mesma aprofundou o beijo, distribuindo carinhos pelo meu rosto. Levantei a blusa dela e passei minha mão por suas costas lisas, fazendo ela se arrepiar e tentar se encolher, soltando gemidos baixos sem quebrar o beijo.
afastou nossas bocas para respirar e aproveitei para distribuir beijos por seu pescoço, ela se encolheu.
- Páaara. – gemeu e eu ri baixo, parando de torturar minha menina e olhando para o rosto dela. Os olhos estavam fechados apertados; ela mordia o lábio inferior, um sorriso tímido projetado no superior.
Dei-lhe um selinho e ela agarrou as laterais da minha blusa, como se fosse lhe dar força caso eu começasse a lhe torturar de novo. Em poucos segundos ela tinha tirado minha blusa e eu estava sobre ela. Beijávamo-nos intensamente, como deveria ser. Não quero parecer um cara gay nem nada, mas iríamos fazer amor, de verdade.
arranhava minhas costas com suas unhas de gato. Eu estava apenas de boxer e ela ainda vestida inteira.
- Temos um desfalque aqui. – disse baixo. sorriu.
- É mesmo? – ela disse com a voz o mais ingênua possível, mas por trás da máscara de boa menina pude perceber a malícia e a luxuria na sua voz.
- É, é mesmo. – eu disse, tirando sua blusa e jogando-a para o outro lado. Ela riu e desabotoou a calça, facilitando meu trabalho, já que sabia que eu tinha certo problema com botões. Tirei a calça dela também, deixando-a apenas de lingerie.
- Agora está certo. – eu disse, sentando-a em meu colo.
passou as penas ao meu redor e riu, distribuindo beijinhos no meu ombro. Aproveitei que ela estava entretida com isso e tentei desabotoar seu sutiã - tentei. Meu problema com botões não permitiu. riu baixinho e desceu as alças, afrouxando a peça íntima. Não sei como, deve ter sido um momento ninja único na minha vida, que não se repetiria nunca, consegui desabotoar a droga do sutiã.
voltou os beijos para minha boca, brincando com o elástico da minha boxer enquanto me beijava calma e inocentemente, como se ela estivesse totalmente vestida, em uma situação normal. Eu já podia sentir meu membro pulsar enlouquecidamente, principalmente quando ela começou a brincar com o elástico da boxer na parte da frente. Soltei um gemido abafado. Abafado. Devia ser como o amigo estava se sentindo naquele momento, preso naquela boxer.
Quebrei o beijo e joguei a cabeça para trás, minha respiração estava ofegante e descompassada. passou a mão pelo meu peito e pela minha barriga, depois voltou a brincar com o elástico da boxer, tocando meu membro “sem querer”.
- . – gemi, tirando suas mãos do elástico da boxer. me olhou fazendo um bico, como uma criança que acaba de perder o brinquedo. Puxei-a para mais um beijo e, para minha surpresa, ela puxou minha boxer para baixo, libertando meu amigo. Meu membro pulsava e eu sentia, que precisava cada vez mais dela. Puxei-a junto comigo até a ponta da cama, quebrando o beijo para procurar uma camisinha na gaveta do criado-mudo. distribuía beijos pelo meu pescoço e ombro, dando mordidinhas na minha orelha quando chegava nela. Achei uma camisinha, mas de tão excitado que eu estava não consegui abrir. viu minha dificuldade e riu baixinho, pegando o pacote da minha mão e abrindo com a boca, um ar divertido nos olhos. Ela tirou a camisinha dali e colocou em meu membro ereto e a única coisa que pude fazer foi ficar olhando para ela. Senti-me patético, como uma menininha que estava perdendo a virgindade. fazia eu me sentir assim: uma menininha transando pela primeira vez.
Ela voltou a me beijar, me puxando para deitar sobre ela. Tirei a única peça de roupa que estava entre nós dois: sua calcinha, e a joguei para um lugar qualquer.
Percebi que ela aumentara a intensidade dos beijos, me arranhando mais nas costas e pescoço. Eu não queria fazer nada sem que ela não estivesse pronta, mas meu membro pulsava quase que dolorosamente perto da intimidade dela. Quebrei o beijo, puxando-a de volta para o meu colo. Ela, novamente, passou as pernas em volta da minha cintura; mantinha os olhos fechados, alguns fios de cabelo grudados no suor do rosto e nos lábios um sorriso simples, que não passava falsa inocência nem malícia, apenas felicidade.
escondeu o rosto na curva do meu pescoço, percebi que ela estava arrepiada. Ela levantou um pouco, melhor se posicionando, e depois suspirou, ficando imóvel. Entendi o recado como farol verde e a penetrei lentamente. Ela soltou um gemido longo, que se misturou com o meu assim que meu membro adentrou por inteiro.
fincou suas unhas nas minhas costas com mais força, sua respiração era tão ofegante quanto a minha, depois levantou o rosto e me beijou enquanto eu investia em estocadas ora lentas ora rápidas.
Ela apertava as unhas nos meus braços cada vez mais forte, soltando gemidos e grunhidos. Seus olhos permaneciam fechados, tão apertados que deviam estar doendo. Deitei sobre ela, mas ela manteve as pernas a minha volta. Penetrei-a mais uma vez lentamente, ela apertou as unhas ainda com mais força nos meus braços.
- . – ela gemeu. Percebi que ela estava chegando ao orgasmo, mas que ela sentia medo. Queria que chegássemos juntos.
Retirei meu membro de sua intimidade e me posicionei para uma última investida. Parecia que meu amigo implorava para voltar para dentro da intimidade de .
Penetrei-a novamente, dessa vez com mais velocidade do que antes e soltou um gemido alto, chegando ao orgasmo e fincando o resto de unha no meu braço. Senti seu líquido em meu membro, me levando ao orgasmo também. Soltei um gemido-grunhido tão alto quanto o dela, mas o meu pareceu mais um grunhido de guerra de um homem das cavernas.
abriu os olhos lentamente e sorriu. Retirei meu membro de dentro dela e desabei do seu lado, nossos peitos subiam e desciam com a respiração totalmente ofegante e descompassada. se deitou em cima de mim e sorriu, me dando um selinho e depois deitando a cabeça no meu peito. Ficamos em silêncio por algum tempo, eu acariciava minha menina nas costas e afagava seu cabelo, ela passava o dedo pelo meu peito, desenhando traços, distraída.
- O seu coração tá acelerado. – ela disse baixinho, levantando a cabeça e me olhando nos olhos. Sorri.
- Isso é o que você causa em mim. – ela sorriu e me deu um selinho.
- Isso o quê? O coração acelerado ou o fato de que você não consegue fazer as coisas direito quando está comigo? – ela disse com uma voz convencida.
- Como assim? – perguntei com o cenho franzido
- Você é muito lento, . – ela disse me dando um selinho em seguida e rindo.
- O fato de eu não conseguir desabotoar um sutiã ou abrir uma camisinha não me torna necessariamente lento em tudo.
- Não, não mesmo. – ela disse séria.
- Acha que terei que começar a praticar? – perguntei e ela sorriu.
- Não.
- Não mesmo?
- Não, eu gosto que você seja lento.
- Ah, é? E por quê? – perguntei desconfiado.
- Porque significa, para mim, que você não consegue se concentrar em outras coisas quando está comigo, só consegue se concentrar em mim. – ela disse com um sorriso tímido. Passei meu polegar pelas suas bochechas, sentindo sua pele macia. Sorri. - Acho que você leu meus pensamentos. É exatamente como eu me sinto. – disse sincero. riu baixinho.
- Eu também me sinto assim. – ela disse bem baixo, mas mesmo assim eu ouvi e não pude deixar de sorrir.
- Acho que estamos quites então.
- Acho que sim. – ela disse me olhando.
- Eu te amo. – eu falei e ela sorriu.
- Eu também.


- Eu disse pra você ficar em casa! Eu disse pra você, o cara é perigoso! Mas você como sempre foi teimosa! – meti a mão na buzina – CARALHO, SAIAM DA FRENTE!
tossiu no banco de trás. Eu não conseguia olhar para trás, não suportava ver minha esposa, a mulher que eu amava ali, sangrando.
- Não vai chegar ao hospital a tempo. – ela disse com a voz fraca
- Não diz isso! – eu esbravejei
- ... – ela chamou
- Eu.
- Nossa filha. – olhei para trás. estava com a mão na barriga.
- O que tem ela? – perguntei aflito. Não, não podia acontecer nada à nossa menininha, não podia. Nem à .
- Acho que vai nascer.
- Mas ainda está no oitavo mês de gravidez!
- ! – ela disse em um tom um pouco mais alto – Estourou, a bolsa estourou!
Eu não sabia como ela podia ter tanta certeza. Na verdade, eu não sabia como as mulheres podiam ter tanta certeza das coisas e estarem sempre certas.
- O que eu faço? – soei mais desesperado que ela. Por um momento nós dois esquecemos de todo o sangue, da dor que devia estar sentindo com aquele tiro alojado perto das costelas.
- Encosta! Entra em uma rua deserta!
- Não posso, ! E você? E o tiro?
- Não importa, eu vou ficar bem! Só tira ela de mim, tira, ! – ela começou a chorar.
- Não chora! – desviei o carro, levando uma série de buzinadas.
- Está doendo, , dói! – ela chorava mais alto. Eu não sabia o que fazer, simplesmente não sabia. Fazia cinco anos que eu a conhecia e essa devia ser a terceira vez que eu a via chorando.
Parei o carro em uma rua sem saída, saí do banco do motorista e abri a porta de trás. O que eu iria afazer agora? Eu nunca tinha feito um parto e nunca tinha assistido a um.
Tinha que fazer alguma coisa, era minha filha que estava nascendo e minha mulher que estava ali, quase morrendo.


Cap. 3
- Não vai doer. – disse séria. – Eles gostam de você.
- Mas você disse que ele vai ficar com ciúmes! E se ele não deixar? Quer dizer... Talvez ele queira que você fique em casa, já que seu irmão... – revirou os olhos
- Meu irmão fugiu, ele os decepcionou. Eu não. Eles te adoram, . Meus pais só querem me ver feliz, é isso.
- Mas...
- Shhh! – ela colocou o indicador no meu lábio e sussurrou – Vou estar com você, não tem com que se preocupar.
Tenho que admitir que eu não tive palavras para discordar ou contestar. Era a verdade, iria estar comigo, para sempre.
- Tá. Vamos, então? – eu perguntei bagunçando o cabelo com a mão esquerda. assentiu e saímos do carro.
A casa dela continuava com a mesma aparência que sempre teve: paredes amarelas, janelas brancas com roseiras e uma porta com um sino que deveria servir de campainha - eu nunca o usava. Mas para mim, naquele dia, parecia meio assustadora. abriu a porta e nós entramos. A casa estava silenciosa, exceto pelo barulho de talheres batendo na louça. Segui até a cozinha, onde seu pai lia jornal e sua mãe lavava a louça.
- Mamãe! Papai! – ela sorriu e deu um beijo na bochecha de cada um. era a única mulher de vinte e seis anos que ainda chamava o pai de “papai” e a mãe de “mamãe”.
- Filha. . – o pai dela me deu um aperto de mão.
- e eu temos algo a falar para os dois. – ela disse, me lançando um olhar de “não desista agora”. A caixinha vermelha com o diamante pareceu pesar no meu bolso. Pigarreei.
- Ah, é... – os três olharam para mim. Abri a boca, mas não consegui produzir som nenhum. percebeu isso e sorriu. Voltando a olhar para os pais, disse:
- Vamos lá pra sala?
- Claro, biscoitos... – a mãe dela disse, olhando para o fogão. Provavelmente não havia biscoitos prontos, pois ela não sabia que eu iria até lá.
- Hoje não precisa, mamãe. – sorriu e a mãe dela assentiu, tirando o avental. O pai deixou o jornal em cima da mesa e nos acompanhou até a sala.
Os pais dela se sentaram no sofá, os dois olhavam para mim com curiosidade. parou do meu lado e me deu a mão sorrindo. Era agora ou nunca. Enquanto eu encarava os dois uma coisa passou pela minha cabeça: eu não tinha preparado um discurso do tipo “quero pedir a mão da sua filha em casamento”. O que eu ia falar?
- Papai, mamãe... Eu e estamos pensando...
- Em nos casar. – disse. apertou minha mão discretamente e sorriu. A mãe dela ficou boquiaberta e o pai nos encarou totalmente sem expressão.
- Já faz umas semanas que me pediu em casamento, desculpa falar pra vocês só agora.
- E você aceitou? – o pai dela disse. riu baixinho e respondeu:
- É claro! – depois olhou para mim e sussurrou:
- O anel. – Peguei a caixa vermelha no meu bolso e abri. O diamante brilhou ali dentro e sorriu. Coloquei em seu dedo e ela virou para os pais mostrando o anel. A mãe dela levantou do sofá e abraçou , eu podia ver lagrimas nos olhos dela. Sorri de lado e olhei para o pai de , que havia se levantado e estava parado na minha frente.
- Eu sei que hoje em dia não se pede mais autorização ao pai. – ele disse. Engoli em seco; será que ele esperava que eu realmente perguntasse: “concede a mão da sua filha em casamento?”? Mas ele continuou:
- Eu não me importo, não ia impedir minha filha de ser feliz, acho que ela merece. Você é um bom rapaz, , e ela gosta muito de você. Eu e minha esposa também, lembre-se sempre disso. – ele apertou minha mão.
- Obrigado, Sr. . – o homem sorriu bondoso e foi abraçar a filha
Depois de meia hora já estávamos todos sentados na sala, a mãe de havia preparado um suco de laranja e biscoitos; nós jogávamos Banco Imobiliário.
- , você está roubando! – reclamou quando foi obrigada a passar mais uma rodada sem jogar
- Não estou não! – eu ri – Você acha que eu estou enfeitiçando os dados ou algo do tipo?
- Acho. – ela pegou o copo de suco e deu um gole
- Sim, sou um índio macumbeiro, tá vendo meu cocar? – disse baixinho, mas ouviu e engasgou com o suco, rindo.
A mãe dela me olhou assustada, mas o pai (que também ouvira o que eu havia falado) apenas sorriu. Comecei a rir e a dar tapas fracos nas costas de , lágrimas se formavam nos seus olhos e demorou uns cinco minutos para que ela voltasse ao normal.
- Isso me lembra de uma vez que tinha sete anos e se engasgou com um pirulito. – a mãe dela disse. Eu olhei interessado para ela, essa era uma história que eu não conhecia. deu um tapa na testa e sacudiu a cabeça.
- Mamãe, não começa com essas histórias do passado.
- Ah, querida, seu namorado vai adorar!
- Não vai, não!
- Na verdade, Sra. , eu adoraria. – eu disse sorrindo.
fez uma cara feia e a mãe dela começou a falar.
- Ela tinha sete anos e estava chupando um daqueles pirulitos grandes de bola, sabe? – assenti – Então, ela e o irmão estavam competindo para ver quem terminava o pirulito primeiro, quando o pirulito soltou do palito e ficou preso na garganta dela. – a mãe dela fez uma pausa e olhou para o marido, que riu.
- Parecia que ela tinha um tumor na garganta, dava pra ver o pirulito. – ele disse
- Ah, agora é engraçado, mas na hora ficamos desesperados! O irmão dela veio correndo chamar a gente, ela estava jogada no chão sem conseguir respirar, roxa. Tentamos fazer de tudo pra tirar o pirulito de lá, pensamos que íamos perder ela. – ela olhou para – Até que Eric teve uma idéia, era bem infantil, afinal ele tinha dez anos na época. Viramos ela de cabeça para baixo e começamos a sacudi-la.
- Como uma toalha de mesa. – comentou rabugenta
- Quando o pirulito enfim saiu da garganta dela, todos nós devíamos estar brancos de preocupação, principalmente Eric, que foi até ela e ficou olhando-a até que ela dissesse algo. A primeira coisa que ela disse foi: “Eu ganhei, engoli o pirulito primeiro.” Eric ficou mais branco ainda. – a mãe dela riu. apenas sorriu. Eu sabia por que ela não gostava de relembrar os bons momentos com o irmão, doíam. Faziam-na lembrar de tudo o que seu irmão, seu melhor amigo, havia feito com ela depois.
A tarde passou com histórias da infância de , sempre que ela percebia que a mãe ia falar da adolescência dela e do irmão, de como eles pareciam afastados comparado à amizade que tinham quando crianças, mudava de assunto.
- Bom, acho que eu vou fazer a janta. – a mãe dela disse depois de um tempo.
- E eu vou assistir o jornal. – o pai dela disse, ligando a tevê. me puxou para subir com ela até o quarto.
- Você nunca havia me contado essas histórias! – eu disse enquanto ela fechava a porta.
- Passado. – ela disse séria
- Seu passado, fez parte da sua vida. – me olhou triste
- Você sabe que eu não gosto de me lembrar de nada do passado.
- Não precisa lembrar-se do que não quer, pode lembrar só das coisas boas. – eu disse sentando na cama ao lado dela. sacudiu a cabeça:
- , eu tive bons momentos com meu irmão também. – ela me olhou nos olhos. Sempre evitávamos falar nisso, eu nunca tocava no assunto porque sabia que a machucava e ela sempre desviava o assunto quando se tratava disso. Era estranho ela estar falando agora.
- Desculpa. – eu disse sincero, ainda encarando-a. sorriu e me deu um selinho.
- Não precisa se desculpar. Um dia eu tenho que tirar isso de dentro de mim, acho que hoje é um bom momento. – apenas continuei quieto, olhando levantar da cama e pegar um álbum de fotografias rosa em uma prateleira. voltou para a cama e abriu o álbum em uma pagina onde três meninas de seis ou sete anos riam e um menino de nove ou dez fazia careta. – Essa do meio sou eu, eu tinha seis anos. – ela apontou para a menor das meninas, a do meio, que vestia um vestidinho rosa e sorria feliz para a câmera. Desde pequena tinha aquele sorriso que eu tanto amava, era incrível. – Essa aqui é a , tinha sete anos – ela apontou para a menina mais alta que estava com uma blusa azul e uma calça jeans. Tinha cabelos pretos e ria distraída – Essa é a , tinha sete anos também. – ela apontou para a última menina que estava de shorts e camisa branca, seus cabelos eram longos e morenos, ela também ria distraída. era a única que estava sorrindo para a câmera intencionalmente. – Esse é meu irmão, nove anos. – ela apontou para o menino. Ele era mais alto que as três meninas, vestia um bermudão e sua camiseta estava suja de lama, embaixo de seu pé estava uma bola. Ele olhava feio para a câmera e mostrava a língua. Os dentes de cima também eram visíveis, faltavam-lhe dois.
Olhei para , ela sorria olhando a foto, e fiz o comentário mais estúpido que alguém poderia ter feito:
- Não sabia que você e a se conheciam há tanto tempo. – riu baixinho
- Sim, nós nos conhecemos. Acho que , e eu nos conhecemos desde os quatro ou cinco anos, não lembro direito... – ela suspirou e virou um bocado de folhas. Parou em uma foto dela e da família de frente a uma árvore de Natal. ficou olhando para aquela foto por alguns minutos, depois disse:
- Foi no ano que tudo começou. – ela puxou o álbum mais para perto e eu pude ver as expressões de cada membro da família. e estavam ali também, uma de cada lado de . As duas sorriam largo, mas limitava-se apenas a um sorriso de lado, bem desanimado. Atrás dela, com a mão no seu ombro, estava Eric, com um sorriso largo. Ele já tinha barba e estava bem diferente do garoto sujo de lama que fazia caretas para a câmera. Ao lado da árvore estavam os pais de , abraçados. Ao lado deles havia mais um monte de pessoas que eu não sabia quem eram. desviou o olhar da foto e olhou para mim:
- Eric sempre foi meu melhor amigo, mas chegou a um ponto dele ser realmente possessivo. Ele tinha ciúmes de cada garoto que eu conversava. Cada festa que eu ia, ele ia também. Uma vez ele me viu beijando um garoto e quando chegamos em casa eu apanhei dele, tinha treze anos. Nunca contei para os meus pais que ele me batia e, percebendo isso, ele partiu para o próximo nível. Um dia em fevereiro meus pais saíram para jantar, disseram que voltariam tarde e deixaram tudo nas mãos de Eric. Eu estava no meu quarto ouvindo musica quando tudo apagou, acho que ele cortou a luz; eu gritei por ele. Então ele entrou no meu quarto e disse: “Tá tudo bem, é só a luz. Eu prefiro no escuro.” Eu não entendi o que ele quis dizer, não desconfiei de nada. Ele me guiou até a cama, me fazendo sentar. Depois começou a fazer carinho em mim e eu achei estranho, mas não disse nada. – ela parou e olhou para a foto de novo. – Quando ele levantou da cama e trancou a porta eu fiquei com medo, medo dele me bater. Nunca imaginei que ele faria aquilo comigo, foi muito pior. – sacudiu a cabeça e voltou a olhar para mim – Tão horrível... Ele era meu irmão, meu melhor amigo. – empurrou o álbum para mim e se deitou de barriga para cima. – Eu nunca pude ter um namorado depois disso. Nunca pude e nunca consegui. Nunca contei para e sobre isso também, mas tenho certeza que elas sabem, são minhas melhores amigas. Você é o único a quem eu realmente contei isso. – ela me olhou mordendo o lábio inferior – Até o dia que meu irmão me abusou pela primeira vez, meu sonho era ter minha primeira vez com o homem da minha vida. Meu irmão me tirou esse sonho, ele tirou esse direito de você.
- Quer dizer... – comecei
- Sim, . Você foi o único homem que eu já amei, o único que eu quis me entregar por completa. – ela sorriu de lado. Debrucei-me sobre ela e lhe dei um selinho, ela aprofundou o beijo, me puxando para cima dela. Passei minha mão por dentro da sua blusa e ela tirou meu casaco.
- Jantar. – a mãe dela anunciou no andar de baixo e quebrou o beijo. Olhou para mim e sorriu:
- Na casa dos meus pais não é um lugar seguro, acredite.
- Mas... – reclamei, apenas riu baixo e disse:
- Precisamos manter a cabeça no lugar enquanto estivermos aqui, .
- Mas vamos nos casar! – reclamei. mordeu o lábio e disse:
- Eu sei disso, mas meu pai finge pensar que nos nunca fizemos sexo e que guardamos a oportunidade para a lua-de-mel. – ela se levantou e abriu a porta – Vamos?
- Mas na lua-de-mel os noivos estão cansados, por causa da festa e tudo... – eu disse rabugento, levantando da cama e indo até a porta
- Você não vai estar. – ela disse convencida.
- Quem disse? – abracei-a e fiz uma cara “ameaçadora”
- Eu te conheço, . – ela me deu um beijo no nariz e se soltou do abraço, virando e descendo as escadas.
Sim, ela me conhecia.


tentou se sentar, mas apoiei-a de volta no banco.
- Fica aí! – peguei o celular e liguei para o hospital – Alô? Preciso de uma ambulância na Rua Europa, rápido!
- Senhor, se acalme, precisamos saber o que está ocorrendo para que possamos mandar...
- Minha mulher está tendo o bebê! – disse com raiva. Quem aquela atendente pensava que era pra me mandar ficar calmo?
- A ambulância chega em 20 minutos.
- É muito tempo! – me olhou assustada
- Desculpa, senhor, mas a cidade está um caos, não há como chegarmos mais rápido. – calma, , respira. Um, dois, um dois.
- Como eu faço um parto? – perguntei o mais calmo possível. A atendente demorou um pouco para responder
- Vou chamar um médico, senhor. – ela colocou o telefonema na espera. Sempre gostei desses telefones que tinham músicas quando ficavam na espera, mas naquele momento senti uma raiva gigantesca daquela música.
- . – chamou – Tá doendo!
Eu olhei para ela, seu rosto estava borrado de lágrimas, sua roupa estava cheia de suor e sangue e ela apertava a barriga como se pudesse fazer a dor parar com aquilo.
- Calma, , a ambulância já tá chegando e...
- Não, ela não vai chegar a tempo! – berrou – Tira nossa filha daqui, , ela vai morrer, tira ela, tira, tira, tira – voltou a chorar desesperada. Comecei a pedir ajuda mentalmente para algum ser divino ou sobrenatural me ajudar, mas tudo parecia difícil demais até para uma divindade.
- O que eu faço? – pedi desesperado
- tirou a calça – Eu vou te ajudar, tenta pegar a cabeça dela, está bem? Eu vou empurrar.
- Pode fazer isso? – perguntei perplexo. Eu nunca ia conseguir conhecer todos os poderes femininos, nem se passasse uma eternidade com .
- Acho que sim. – ela me olhou. Seu olhar era indecifrável e eu senti medo por isso – , temos que fazer isso, ela pode morrer. Estamos juntos, lembra? – mais lágrimas desceram por sua face. Assenti.
- Para sempre. – respirei fundo e tirei o casaco. Eu ia fazer um parto.





Cap. 4
- Vai ter que entrar agora, . – disse, me olhando feio
- Mas...
- Mais nada! Você sabe que ela vai entrar depois, com o pai, você não pode vê-la antes que estejam dentro da igreja. – ela disse impaciente
- Estamos na porta da igreja! Que diferença faz? Eu tive que ficar um dia inteiro sem ver minha noiva, só por causa de um costume idiota que o noivo não pode ver o vestido da noiva antes de estarem na igreja, blá, blá, blá. – disse rabugento. sorriu e me virou para a porta.
- Quanto mais rápido entrar, mais rápido vai vê-la.
Sem contra-argumento, me dirigi até a porta da igreja. Era de magno escuro, devia ter uns dois metros e meio de altura.
- Quando eu entro? – perguntei para
- Quando estiver pronto. – ela respondeu com simplicidade.
Respirei fundo e apoiei minhas mãos na porta, a fim de empurrá-las para uma entrada pique “Senhor Incrível”.
- ! – exclamou atrás de mim e eu me virei. subia as escadas da igreja nos olhando assustada.
- Você ainda não entrou? , FICA AÍ NO CARRO, NÃO SAI NÃO! – gritou. Imaginei se as pessoas dentro da igreja poderiam ter ouvido, pedi que não. – Entra logo, seu mané! – me deu um tapa na bunda e eu me virei para a porta. Empurrei.
Nunca na minha vida tinha visto uma igreja tão bonita e tão bem decorada. Tudo bem que eu nunca havia me casado antes, mas tudo parecia surreal. Eu caminhei pelo tapete vermelho no corredor central (lembrei-me de meu pai falando para mim quando eu era pequeno: é falta de respeito andar no corredor central, a não ser que a celebração seja sua). Era minha, era minha celebração, era o meu casamento. Não sei quanto tempo demorou para chegar até o altar, mas me pareceram horas; perdi a conta para quantas pessoas eu sorri, perdi a conta de quantas pessoas me olhavam com os olhos cheios de lágrimas, algumas eu nem conhecia.
Quando enfim me aproximei do altar, pude ver a família de lá em cima, aqueles que seriam seus padrinhos e suas madrinhas. A mãe dela vestia um vestido de festa vermelho e estava realmente elegante.
Do outro lado, minha família sorria para mim. Aqueles que eu havia escolhido para padrinhos e aquelas que seriam madrinhas, primos, primas, alguns tios e tias. Na ponta da fila estavam, lado a lado, meu pai e minha mãe. Estavam de braços dados, minha mãe chorava. Olhei mais uma vez para os braços dos dois, era estranho. Meus pais estavam separados desde que eu tinha dezesseis anos e, desde então, eram muito raras as demonstrações de afeto entre os dois. Mas ali tudo era possível, afinal, eu, , estava me casando.
Na fila de padrinhos de , assim como na minha, havia um espaço entre dois padrinhos: eram os lugares de e , as duas iriam entrar com , cada uma com uma aliança, como damas-de-honra. havia me dito que ela e as amigas haviam combinado de entrar na igreja juntas, terem as três o casamento juntas, desde pequenas que elas queriam isso. Como nenhumas das duas iria casar, aparentemente não havia como cumprir o combinado, mas deu um jeito.
Parei na frente da minha família, cruzei as mãos nas costas e olhei para a porta. Cada minuto parecia longo demais para aguentar, eu queria ver . É claro que esperei por esse dia por muito tempo, mas naquele momento o que eu mais queria era que o padre enfim dissesse: “Eu os declaro marido e mulher” e eu pudesse sair dali com como minha esposa. Respirei fundo três vezes, parecia meio hipnotizado, não conseguia reparar nos detalhes e nem nas pessoas, meus olhos pareciam não querer ver nada. Apesar de ela não estar ali ainda, eu podia afirmar que só tinha olhos para .
Olhei para os lados, havia muitos rostos virados para mim, mas eu estava tão desconcentrado que não pude ao menos sentir vergonha. Olhei de volta para o altar, o padre já havia entrado e abria uma grande Bíblia. Não sei direito se há um capitulo na Bíblia que seja só de casamentos, ou se é um livro só de casamentos... De repente a Marcha Nupcial soou, todas as cabeças se viraram para a porta. Virei-me também, mas ainda estava fechada. Passados os primeiros trinta segundos da música, enfim a porta se mexeu e ela entrou.
Maravilhosa. Linda. Perfeita. Radiante.
Não sei se algum dia terei palavras suficientes para descrever naquele momento. Ela andava pelo corredor pisando suavemente, sorrindo de orelha a orelha. Seu pai estava de braço dado com ela, ela do lado esquerdo e ele do direito. O pai vestia um terno tão bem arrumado que demorei a me acostumar com a visão, ele sempre estava de pijama e chinelos.
O vestido de era um tomara-que-caia (vestido), seus cabelos caiam pelo ombro perfeitamente. Seu véu era longo e arrastava pelo chão com certa leveza. e entravam logo atrás dela e do pai, cada uma levando uma caixa. Eu sabia que eram as caixas das alianças, juntas formavam um coração. pareceu demorar horas até enfim terminar de caminhar o corredor inteiro e parar na frente do altar. O pai dela colocou a mão dela na minha e sorriu; não me olhou. e entregaram as alianças para o padre, que se arrumou para iniciar o casamento.
virou para mim e sorriu. Havia lágrimas em seus olhos, sorri de lado e lhe dei um beijo na testa. Juntos ajoelhamos em frente ao padre, que começou a celebração. Tentei manter meus pensamentos focalizados no que ele falava, mas parecia quase impossível não virar para o lado para ver . Controlei-me o máximo possível, olhava-a pelo canto do olho. Ela prestava atenção em cada palavra que o padre dizia e sorria largo. As lágrimas ainda cintilavam em seus olhos, mas nenhuma lhe escapou. Não sei quanto tempo demorou, minha mente parecia fora do meu corpo, mas enfim o padre pediu para que nos levantássemos e disse:
- Você, , aceita como sua legítima esposa, prometendo amá-la e respeitá-la, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza, até que a morte os separe? – sorriu para mim
- Sim.
- Você, , aceita como seu legítimo esposo, prometendo amá-lo e respeitá-lo, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza até que a morte os separe? – franziu as sobrancelhas e abriu a boca, hesitando.
- Eu aceito. – ela disse, sua voz estava fraca. Piscou e algumas lágrimas enfim correram-lhe a face, ligeiras. Senti um nó na garganta, aquela era a primeira vez que eu via chorar.
- As alianças. – o padre pegou a primeira aliança e me entregou. Eu sabia que ele ia soprar as palavras para mim, mas de algum jeito eu parecia já sabê-las de cor.
Coloquei a aliança na ponta de seu dedo anelar esquerdo.
- Eu, , aceito você, , como minha legítima esposa, - deslizei um pouco o anel à medida que falava - prometendo ser fiel, na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-te e respeitando-te – deslizei quase todo o resto- por todos os dias da minha vida. – terminei de colocar a aliança e beijei o dedo dela e a aliança.
Os olhos de estavam turvos com as lágrimas, pensei que ela não conseguiria falar nada, mas ela pegou a aliança e respirou fundo, colocando-a na ponta do meu dedo, assim como eu fiz com ela.
- Eu, , aceito você, , como meu legítimo esposo, prometendo ser fiel, na riqueza e na pobreza, na alegria e na tristeza, na saúde e na doença, amando-te e respeitando-te por todos os dias da minha vida. – ela terminou de deslizar a aliança para o meu dedo e a apertou. – Para sempre. – ela sussurrou e sorriu. Os olhos voltaram a encherem-se de lágrimas, algumas escaparam-lhe.
- Então eu os declaro marido e mulher. O noivo pode beijar a noiva. – o padre disse. sorriu ainda mais, me aproximei dela e lhe dei um selinho. Pude sentir o gosto salgado de lágrimas entre nossos lábios, mas não era só ela, eu também estava chorando.
Enfim era minha esposa, enfim eu poderia acordar todos os dias e vê-la ao meu lado, enfim eu poderia chamá-la de esposa, enfim poderia beijá-la e ter mais certeza do que nunca de que pertencíamos um ao outro.
Para sempre.



- , não posso mexer em você com a mão suja! – senti-me realmente estúpido por estar falando aquilo naquele momento, mas era verdade.
- Pega a caixa de luvas na minha mochila, no porta-malas. Lá também tem álcool. – ela disse de olhos fechados. Corri até o porta-malas e peguei a mochila. era veterinária, antes que você pense: “ela estava se prevenindo, caso tivesse que dar a luz no carro”. Não.
Limpei minhas mãos com álcool e coloquei as luvas. Eu me sentia totalmente inútil, esperando que minha mulher me desse as instruções de como fazer um parto enquanto era ela mesma que estava parindo.
virou-se de lado.
- O que eu faço? – eu disse desesperado. respirou fundo duas vezes e disse:
- Não precisa fazer nada por enquanto, até a cabeça começar a sair é meu trabalho. Depois você puxa, com calma e delicadeza. – ela disse. Seu rosto se contraiu em uma careta e ela soltou um grito horrível, que rachou meu coração. Era um grito de dor.
Mais um.
Outro.
E mais um até que eu vi, o que deveria ser a cabeça da nossa filha.
- ! – gritou. Olhei para ela um pouco assustado, eu havia me esquecido do que eu estava fazendo ali.
Segurei a cabeça do bebê, que foi saindo lentamente. ainda fazia careta de dor, entendi com isso que não estava fazendo meu trabalho direito. Puxei um pouco mais forte e aos poucos o corpo da nossa filha foi aparecendo. Era minúscula.
Se quando eu tinha dezessete anos me perguntassem se eu me imaginava casado, eu responderia que com certeza não. Muito menos pai. Mas uma coisa que, nem depois de casar e nem depois da minha mulher engravidar, eu cheguei a imaginar, foi que eu faria o parto da nossa filha.
Por fim os pés apareceram e abriu os olhos. Ainda tinha uma expressão de dor no rosto, mas era mesclada com felicidade. Ela olhava para a nossa filha com os olhos brilhando.
- , - puxou a mochila para perto dela e pegou uma gaze – tem que limpar o nariz e a boca, vai. Limpei como ela disse. Depois de alguns segundos, a pequena começou a chorar. riu.
Olhei para ela, mais lágrimas desciam por seu rosto, mas agora eram de felicidade. Entreguei nossa filha para ela, que olhou para a pequena como se fosse um tesouro. E realmente era, agora era o nosso tesouro.
- , e o cordão? – perguntei, olhando para o cordão umbilical.
me mandou pegar a tesoura, limpar com álcool e cortar o cordão. Senti-me um prefeito, cortando uma fita de inauguração.
Nossa filha havia nascido.


Cap. 5
me puxava de um lado para o outro, entre as mesas e as pessoas que dançavam. A festa já passava da uma da manha, mas parecia que o número de pessoas não havia diminuído nada.
O que mais ouvíamos era: “Felicidades!” ou “Muito sucesso para os dois, vocês merecem.”.
parou em frente à mesa de doces e olhou para eles, depois para o bolo.
- Hum, quando a gente vai poder comer? – ela me olhou como uma criança pidona. Abracei-a.
- Você parece uma criança pedindo permissão para o pai. Tudo isso é seu, pode comer quando quiser. – encostei minha testa na dela. sorriu e pegou um brigadeiro, colocando-o entre os dentes, deixando metade para fora. Ela fez um grunhido e sacudiu a cabeça.
- Quer que eu morda também? – perguntei. Ela revirou os olhos e assentiu. Mordi o brigadeiro e o lábio dela junto, propositalmente.
- Ei! – ela reclamou depois que eu soltei o lábio.
- Desculpa, foi sem querer! – eu disse rindo. me deu um beijo no canto da boca, depois começou a contorná-la com beijos, enquanto fazia carinho nas minhas bochechas com o polegar. De repente ela parou.
- O que foi? Eu tava gostando. – reclamei.
sorriu e pegou minha mão, me puxando de volta para a festa, mais precisamente para a pista de dança.
- Essa é a última música agitada, depois vem as calmas. Você prometeu dançar. – assenti rabugento.
olhou para a pista de dança, analisando as pessoas. Uma mulher alta passou e nos entregou várias pulseiras neon.
- , eu amo pulseiras neon. – disse rindo, fazendo uma coroa com as pulseiras. Prendi uma pulseira na outra e pendurei na orelha, riu.
- Senhoras e Senhores, agora teremos uma seleção de músicas mais calmas, para aqueles mais apaixonados poderem dançar. Fiquem à vontade. – sorriu e me puxou pela mão, fomos o primeiro casal a entrar na pista de dança e fomos aplaudidos. riu.
A seleção começou com uma valsa. No começo apenas eu e estávamos na pista, mas logo casais mais velhos começaram a dançar também. Olhei para e sorri, ela sorriu de volta.
- Nós nunca dançamos valsa juntos. – disse baixinho, aproximando o rosto do meu.
Era verdade, nunca havíamos dançado valsa juntos. Quem nos visse poderia dizer que havíamos praticado, mas nunca passou pela nossa cabeça que um dia teríamos que dançar valsa como os noivos da festa. Não fez diferença, já que eu e ela nos movíamos com perfeita harmonia em cada passo.
- Estamos bem treinados, não? – perguntei aproximando meu rosto do dela. riu.
- Sim. – ela me deu um selinho longo. Eu queria aprofundar o beijo, mas sentia vários olhares virados para nós.
Quando a valsa acabou, dançamos mais uma e mais uma e mais outra. Não sei como estava aguentando naquele salto, mas preferi não compreender: mulheres são ninjas.
- . – sussurrou.
- Eu.
- Faça a próxima música valer mais a pena que todas, está bem? – ela me olhou nos olhos. Assenti, sorriu e apoiou a cabeça no meu peito. Mesmo com o salto era mais baixa que eu.
A música foi chegando perto do final, percebi a pista de dança mais fazia. Quando os primeiros acordes da outra musica soaram, eu pude reconhecer qual era: She Will be Loved, do Maroon 5.
Nunca fui muito fã dos caras, eu era daquele que não amava, mas não odiava, mas conhecia a letra daquela música e sabia porque poderia significar tanto para ela.
suspirou e virou para mim, me olhando nos olhos. Puxei-a para mais perto, minha boca ficava na altura de seu ouvido se eu a abraçasse.
- I drove for miles and miles and wound up at you door, I’ve had you so many times but somehow, I want more. – sussurrei em seu ouvido junto com a música. – I don’t mind spending everyday out on your corner, in the pouring rain. Look for the girl with the broken smile, ask her if she wants to stay awhile, and she will be loved. And she will be loved. – pude sentir sorrindo.
- Tap on my window, knock on my door – ela sussurrou.
- I want to make tou feel beautiful – completei.
- I know I tend to get so insecure cantou baixinho e levantou a cabeça.
- It doesn’t matter anymore – segurei o queixo dela e lhe dei um selinho. Encostei minha testa na dela, nos encarávamos profundamente, como se o primeiro que desviasse o olhar pudesse acabar com aquele momento.
- It’s not always rainbows and butterflies, it’s compromisse that moves us along. My heart is full and my door’s always open, you can come anytime you want. sussurrou novamente. Paramos de cantar e ouvimos o refrão, ainda sem desviar nossos olhares. Nossos corpos dançavam juntos, sincronizados. Não havia uma regra, nem um planejamento, tudo aquilo estava acontecendo por acontecer, era sentimento.
- I know where you hide, – voltei a sussurrar – alone in your car. Know all of the things that make you who you are, I know that goodbye means nothing at all. Comes back and begs me to catch her every time she falls. - Tap on my window, knock on my door – ela sussurrou, fechando os olhos.
- I want to make you feel beautiful. – beijei a ponta do seu nariz - I don’t mind spending everyday out on your corner, in the pouring rain. Look for the girl with the broken smile, ask her if she wants to stay awhile, and she will be loved. And she will be loved.
- Please, don’t try so hard to say goodbye. – ela terminou a música, abrindo os olhos e sorrindo. Aquele sorriso tão simples e tão sincero, aquele sorriso que eu tanto amava, o verdadeiro sorriso de felicidade.
Beijei-a. Ela correspondeu ao beijo, não nos importamos se éramos os noivos, se havia gente olhando para nós, não nos importamos em manter a máscara de “casal comportado”. Aquilo não era safadeza e isso eu podia afirmar com toda a certeza. Na minha “vida de pegador” eu era safado, agora essa palavra nem existia mais no meu vocabulário.
Não, aquilo era mais que qualquer coisa que eu já senti, mais que qualquer paixonite, o que eu sentia por era amor, de verdade.
O beijo foi diminuindo aos poucos, até se transformar em selinhos. Com a boca grudada na minha, sussurrou:
- Eu te amo.
- Eu te amo. – respondi, sentindo que precisava dizer aquilo. Um simples “Eu também” não expressaria, naquele momento, o quando eu sentia por aquela mulher, que agora era minha esposa.
Eu e saímos da pista de dança, dando tchau para alguns convidados que tinham família, filhos pequenos (que estavam pendurados nos ombros dos pais, dormindo) e já estavam indo embora. Até que, enfim, e vieram até nós:
- Vocês podem cortar o bolo agora. – disse
- Obrigada pela autorização, mãe. – disse , sorrindo. deu de língua
- Tem uma hora certa para cortar o bolo? Tipo, a hora que todos os pais e seus filhos pequenos vão embora? – eu perguntei. As duas fingiram não ouvir, riu.
- Vamos! – ela exclamou, me puxando para a mesa.
De repente estavam todos lá, olhando para nós e para o bolo. deve ter planejado essa hora, porque uma música que não tinha nada a ver com bolos começou a tocar.
Eu me remexo muito, eu me remexo muito.
riu e olhou para mim. Eu devia estar com uma cara totalmente estranha, porque ela me deu um beijo no queixo e sussurrou:
- É só pra descontrair. – Sorri de lado, reparando nas pessoas em volta de nós. Muitas riam, outras remexiam o quadril. Avistei minha mãe e minha tia dançando, uma batendo o quadril na outra, e pedi para um dos câmeras filmar aquilo, valeria muito num futuro próximo.
Eu estava do lado de e a abraçava por trás. Ela pegou um talher que lhe entregaram para cortar o bolo e o posicionou na parte de baixo, olhando para mim marota. Revirei os olhos rindo e segurei na mão dela, minha outra mão segurava sua cintura.
- Não se esquece do pedido. – ela sussurrou. Sorri.
Ela fez um sinal de três com os dedos para os convidados e eles fizeram uma contagem regressiva. Três. Dois. Um. Eu e cortamos o bolo, de baixo para cima, de olhos fechados e fazendo um pedido cada um. Não sei o que ela havia pedido, mas o que eu pedi tinha certeza de que ia se realizar, aliás, já estava se realizando. Pedi para ter os melhores anos da minha vida com a mulher que eu amo. virou para mim e me deu um selinho, rindo. Saímos de perto da mesa dos doces, algum garçom começou a cortar o bolo e distribuir pedaços.
- Vem cá! – me puxou para o tablado do DJ. Ela pegou o microfone e deu duas batidas, que foram reproduzidas nas caixas de som. Sorriu.
- O que vai fazer? – perguntei com as sobrancelhas arqueadas
- Vai ver. – ela disse, me dando um selinho e puxando o buquê para o peito. – Senhoras, moças e meninas. – ela falou no microfone. Várias pessoas se viraram para ela, sorriu e continuou:
- Vou jogar o buquê agora, então aquelas que estão interessadas em se casar, queiram vir à pista de dança.
Várias mulheres vieram para a pista de dança. Algumas senhoras, outras menininhas, mas a maioria eram moças entre vinte e trinta anos. Avistei e , uma ao lado da outra, ali, bem no meio.
Olhei para a mesa de doces, onde os namorados das duas olhavam para o buquê, aflitos. Ri.
- Olha para os namorados das meninas, acho que não querem casar. – sussurrei no ouvido de , ela riu.
- Acho que eles só não querem ser pressionados por um buquê, é isso. – ela virou de costas para a pista de dança, segurando o buquê com as duas mãos na frente do corpo. Ela jogou os braços para trás, todas as mulheres pularam, mas não soltou o buquê. Ela olhou para as mulheres e riu. Fez isso mais uma fez, na terceira ela levou o buquê lá em baixo e depois jogou os braços para trás, soltando-o e virando rápido.
Parecia cena e filme. O buquê caindo em câmera lenta, todas as mulheres pulando, também em câmera lenta, o buquê passava por várias mãos estendidas, alguns mulheres caiam, uma em cima da outra, até que duas mãos se erguem no ar e pegam o buquê, juntas. e .
Olhei para , ela estava boquiaberta. Pulei do tablado e peguei minha mulher, fomos até as duas que se abraçavam.
- Nós pegamos, nós pegamos! – abraçou , sorriu para mim e mostrou o buquê.
- Eu ajudei a escolher as flores, não imaginava que fosse tão grata para jogar na minha mão. – ela disse
- Eu não joguei! – exclamou rindo
- Isso é muita coincidência. – disse sorrindo
- Eu tava de costas, ! – riu. deu de ombros abraçando a amiga.
- Vamos falar para eles! – apontou para seu namorado e o da .
- Eles apostaram que se nós déssemos sorte e pegássemos o buquê, nos pediriam em casamento na frente de todos. – disse rindo, puxando .
se virou para mim sorrindo.
- Eu devia ter feito isso com você. – ela comentou me dando a mão.
- Não foi necessário. – eu disse simplesmente.
- Não, não mesmo. – ela me deu um selinho – Vamos, temos ainda umas duas horas de festa até que todos tenham ido embora. – ela me puxou, mas eu fiquei parado. me olhou em dúvida, puxei-a de volta e segurei sei queixo, deixando sua boca a milímetros da minha.
- Podemos ir embora antes. – sorriu de lado.
- É mesmo?
- É, só precisamos avisar nossos pais e amigos mais próximos. – dei um selinho nela e a guiei até a mesa onde meus pais e os pais dela conversavam.
- Vamos sair da festa mais cedo, sabe como é... Chato ser o último a ir embora de uma festa. – eu disse, riu.
Ninguém fez objeção nenhuma. É claro que não, acho que qualquer pessoa com um pingo de bom senso saberia que eu queria curtir minha lua-de-mel com a minha esposa em paz. E acordado, de preferência.
Meus pais conseguiram alugar a tão sonhada limusine para e foi nela que ela foi para a igreja, nela que nós fomos para festa e nela que estávamos indo para a lua de mel.
O motorista abriu a porta para nós, entrou primeiro, ajudei-a com o vestido, depois eu entrei e ele fechou a porta. Ali, em um canto, havia duas malas (provavelmente preparadas por ), para podermos passar a lua-de-mel.
Ah, o lugar que iríamos ficar: não fazia a menor ideia onde era, eu havia escolhido e feito as reservas sem contar nada para ela, esperava que fosse surpresa... A não ser que tivesse aberto a boca...
- Onde que é essa lua-de-mel tão misteriosa? – perguntou divertida. Me aproximei dela.
- Segredo. – fez bico e eu mordi seu lábio de leve. Dei-lhe um beijo no canto da boca e fui descendo os beijos até o pescoço, ela se encolheu.
- Sexo na limusine? – ela perguntou com a voz fraca – , estamos indo para nossa lua-de-mel, estamos casados.
- Quantas vezes você vai ter oportunidade de fazer sexo na limusine? – perguntei. pensou e disse:
- Só essa. – sorri de lado.
- Viu?
- Quantas vezes você vai ter oportunidade de fazer sexo na sua lua-de-mel? – ela perguntou séria.
- Todas as vezes que eu casar. – eu disse rindo. me deu um pedala de leve, mordendo o lábio inferior para segurar o riso.
- Vou fingir que não te ouvi. – ela disse.
- Ah não – abracei-a por trás e coloquei seu cabelo para frente. Ela gemeu, prevendo o que vinha pela frente. – Vamos brincar um pouco, esposa.
- Sem tortura, esposo. – ela disse baixinho. Mesmo estando de costas para mim, eu tinha certeza de que ela estava mordendo o lábio inferior e estava de olhos fechados.
Beijei seu pescoço e sua nuca, descendo os beijos pelas costas dela, que estava nua. gemeu baixinho
- , pára. – ela disse em um sussurro. Ri perto da sua orelha e ela se encolheu mais ainda.
Torturei-a com beijos até ela estar tão encolhida que logo se enfiaria no banco da limusine. Soltei-a. Ela demorou um tempo para virar para trás.
Respirou fundo e sentou de frente para mim. olhou para o meu colo, eu sabia que ela queria se sentar lá, como sempre fazia quando estávamos sozinhos. Ela dizia que era uma forma de manter ela segura, que quando ela era pequena vivia no colo da mãe, mas quando era adolescente nunca teve um colo para lhe acolher, por isso estava tão desprotegida. Literalmente.
- O vestido te atrapalha agora, né? – perguntei. assentiu – Não se preocupe, logo, logo você vai se livrar dele. – Ela sorriu de lado.
- Logo quando? – olhei pela janela, mais dois metros e a limusine parou.
- Logo agora. – dei minha mão para ela segurar e saímos da limusine. colocou as mãos na boca ao ver o hotel. Sorri de lado e virei de frente para ela.
- Falta uma coisa que sempre quis fazer com minha esposa, caso um dia eu me casasse. – levantou a sobrancelha esquerda.
- O quê? – me aproximei de e passei meus braços por ela, pegando-a no colo, deitada nos meus braços.
- ! – ela riu, agarrando meu pescoço.
- Que foi? – entrei no hotel.
- Não precisa disso! – ela disse, fingindo estar brava. Apenas sorri.
- Você é minha esposa agora, quero te dar tudo o que você tem direito. – ela me olhou nos olhos e sorriu, passando o polegar pelo meu rosto e me puxando para um selinho.
- Você é fantástico. – ela disse com os lábios colados nos meus.
- Você é minha vida. – sorriu e suspirou, fechando os olhos e relaxando.
Eu iria guiá-la a partir de agora e ela me guiaria também, estávamos juntos.

Por um momento esquecemo-nos do mundo lá fora, toda nossa atenção estava naquela pequena menininha nos braços de . Nossa filha.
- Você salvou a vida dela. – olhou para mim.
- Você fez a maior parte. – eu disse sincero. sorriu.
- Não teria conseguido sem você aqui. – peguei na mão dela.
- É isso que fazemos há cinco anos, não é? Ajudamo-nos e ficamos juntos, pra tudo. – assenti.
- Na alegria e na tristeza, na saúde e na doença. Até que a morte nos separe. – ela disse. Seus olhos, novamente, estavam indecifráveis. Por um minuto lembrei-me do tiro alojado na sua costela.
Não. Ela está bem, , ela está bem e vai ficar bem. Logo você, sua esposa e sua filha vão para casa, felizes.
- A morte não separa as pessoas para sempre. – eu disse, me lembrando de quando completou a frase do casamento, enquanto colocava minha aliança. Quando ela sussurrou “Para sempre.”. Para sempre.
- Não. – ela disse séria – Só por um tempo, afinal, aqueles que se amam de verdade ficam juntos no final. – ela parou e olhou para nossa filha, depois voltou a olhar para mim – Para sempre.
Beijei a testa da minha esposa.
- Eu prometo ficar com você pra sempre. – eu disse. sorriu.
- E eu prometo ficar com vocês para sempre, mesmo que haja algo no meio, algo que tente impedir. Eu vou estar com vocês, para sempre.




Cap. 6
- Só pode estar brincando... – murmurou. – Olha só pra isso, !
Havíamos acabado de entrar no quarto do hotel, continuava no meu colo e olhava boquiaberta para a suíte. Coloquei-a no chão e ela permaneceu parada, encarando o quarto.
Não era grande, porém era muito aconchegante. As paredes eram em um tom de bege claro, luzes incandescentes deixavam o ambiente mais calmo e romântico. A cama era king size, a colcha era bege com detalhes marrom, assim como os travesseiros: havia seis, dois brancos, dois beges e dois marrons. O chão era coberto por um carpete claro e as paredes tinham alguns quadros (quarto).
andou em direção a extremidade do quarto, onde uma cortina longa cobria uma porta de vidro, que dava para a varanda. Ela virou para mim e sorriu, me chamando com o indicador.
Na varanda havia uma mesinha com duas cadeiras. Mesmo de noite, o mar era visível.
- Consegue ouvir? – sussurrou
- Sim. – respondi, acompanhando o barulho das ondas batendo nas pedras. – E consigo sentir. – disse, me referindo ao cheiro de oceano.
- Cheiro de mar. – respirou fundo e depois suspirou, virando de frente para mim e me dando um selinho
- Vamos ver o banheiro? – perguntei, abraçando-a. Ela assentiu e entramos de volta no quarto de mãos dadas.
O banheiro era grande. As cores das paredes, assim como as luzes, eram iguais as do quarto, deixando o ambiente aconchegante no requisito banheiro. Havia enfeites e decorações que deixavam o lugar mais agradável. Em uma parede havia uma pia longa e na frente uma banheira, também grande (banheiro). olhou para a banheira e depois para mim, sorri malicioso.
- Não sabia que você ia escolher tão bem o lugar. – ela disse, passando a mão pela beirada da banheira.
- Eu faço tudo muito bem quando é pra você. – sorriu.
- E agora, o que você quer fazer? – ela perguntou, cruzando os braços e mordendo o lábio inferior
- Acho que a gente podia dormir, eu tô com sono. – disse sério. sorriu de lado.
- Ok. – ela foi para o quarto. Não pensei que ela poderia ter levado a sério. Segui-a.
- ... – entrei no quarto. Ela estava de costas para mim, olhando o mar. Um pedaço do zíper do vestido, nas suas costas, estava abaixado.
- Pode me ajudar? – ela perguntou, apontando para o vestido.
- Ahn, claro. – ela veio até mim e virou de costas, puxando o cabelo para frente. Tentei descer o zíper, mas parecia emperrado – Emperrou.
- Eu sei. – ela riu – É por isso que estou pedindo sua ajuda! – ela tentou descer o vestido com as mãos.
- Não, espera! Você vai estragar, , deixa que eu faço. – me aproximei mais dela e puxei de novo o zíper, ele desemperrou. Desci o zíper até o final e o vestido caiu aos pés de .
Ela virou o rosto para trás e sorriu. Estava com as costas e seios nus, as únicas peças que tinha em seu corpo eram a calcinha, os saltos, os brincos e a coroa de neon. Sim, ela ainda estava com a coroa de neon.
Beijei seu ombro direito, passando meus dedos de leve pelas suas costas. Ela se encolheu. Continuei distribuindo beijos pelo seu ombro e seu pescoço, depois pela lateral da sua mandíbula e mordisquei sua orelha.
- Acho que eu não estou mais com sono. – sussurrei em seu ouvido. Ela riu baixo e se virou de frente para mim. me deu um selinho, logo aprofundando o beijo.
Uma das suas mãos estava no meu pescoço, a outra enroscada no meu cabelo, bagunçando-o e afagando-o. Minhas mãos variavam passeando pelo seu corpo. Puxei-a mais para perto, e mais. Logo estávamos tão colados que não deveria existir nem um centímetro separando nossos corpos.
Deitei na cama e tirei o terno. se ajoelhou na cama e olhou para a fileira de botões da minha blusa social, sorrindo. Ela pegou minha gravata e puxou, me fazendo ajoelhar na cama também, de frente para ela. Ela começou a desabotoar botão por botão, lentamente. Olhava fixamente para cada botão, como se estivesse vestindo seu filho para ir para a escola.
Ela puxou a camisa para fora da calça e desabotoou o resto dos botões, depois olhou para o botão da minha calça e olhou de volta para mim, sorrindo. Tirei a camisa e afrouxei a gravata. desabotoou o botão da minha calça, que caiu até os joelhos. Eu estava de boxer preta.
me puxou pela gravata de novo e voltou a me beijar. Puxei-a para mais perto de mim, mas estávamos perto de mais da ponta da cama; antes que nós dois caíssemos, eu fiquei de pé. Minha calça caiu até os pés. quebrou o beijo e levantou da cama, ficando de pé na minha frente, então tirou o salto e ficou na ponta do pé, me dando um beijo no queixo.
Puxei-a pela cintura e lhe dei um selinho. Ela deitou na cama de barriga para cima e sorriu. Tirei meus sapatos sociais e minhas meias, largando em qualquer lugar. sentou na cama e eu sentei-me na frente dela, que em seguida segurou meu rosto, me dando um selinho longo. Puxei para o meu colo, aprofundando o beijo. Ela passou as pernas em volta da minha cintura, como sempre fazia.
Uma das minhas mãos estava em suas costas, a outra apertava sua coxa. Uma das mãos dela afagava meus cabelos, a outra ela passava pelo meu abdômen e peito. Quebrei o beijo para que pudéssemos respirar, começou a beijar do meu ombro à minha orelha, dando mordidas nela. Ela se afastou sorrindo e voltou a me beijar, me puxando cada vez mais para perto. Nossos corpos imploravam um pelo outro, precisávamos sentir um ao outro, cada vez mais, cada segundo mais.
E agora pertencíamos um ao outro, para sempre.
Quebrei o beijo e comecei a distribuir beijos, descendo pelo seu pescoço. Ela jogou a cabeça para trás e fincou as unhas nas minhas costas. Desci os beijos até o busto, depois para os seios, deitando-a na cama e ficando por cima dela. Beijei toda a extensão da sua barriga, até chegar ao elástico de sua calcinha. apertou os dedos nos meus braços com mais força. Sorri, voltando meus beijos até sua boca. me puxou mais para perto, mudando nossas posições. Ela se deitou em cima de mim, apoiando um dos cotovelos na cama, a outra mão espalmada no meu peito. Apertei sua coxa e ela gemeu baixinho. Senti algo molhado embaixo de mim.
parou de me beijar e abriu os olhos, olhando para o cotovelo que estava na cama. Ela riu. havia estourado as pulseiras de neon (que ainda estava na sua cabeça antes de deitarmos) quando apoiou o cotovelo. Parte da cama e de nossos corpos estavam neon. passou o dedo no líquido e depois contornou as sobrancelhas, sorrindo.
- Posso? – ela sussurrou, mostrando o dedo brilhante. Sorri de lado e contornou meu rosto inteiro com aquilo, fazendo o mesmo nela em seguida. Ela se levantou da cama e foi andando em direção à porta, apertou o interruptor e a luz apagou. Levantei da cama e andei até ela.
- Podemos nos enxergar e nos esconder agora. – ela sussurrou, tampando o rosto com as mãos.
- Sim. - apoiei minhas mãos na parede, uma de cada lado de sua cabeça, e dei um beijo nas mãos dela, que ainda cobriam o rosto. Ela desceu as mãos e sorriu, me dando um selinho. - Malditas pulseiras, acabaram com o clima. – resmunguei. riu baixo, me dando um beijo no pescoço.
- A gente pode fazer o clima de novo. – ela sussurrou, com o rosto no meu pescoço. Estava na ponta do pé e apoiava as mãos nos meus ombros.
encostou os lábios no meu pescoço de novo e me deu um chupão, depois uma mordida, deixando o lugar dolorido.
- Você vai ver. – eu disse. Ela riu baixo e desceu as mãos pelo meu peito e pelo meu abdômen, parando no elástico da boxer. Ela o puxou e o soltou de leve.
- Sério? Então me mostra. – ela disse com a voz cheia de malícia. Ouvir a voz de daquela maneira fez meus instintos masculinos explodirem. , aquela que eu conhecia há dois anos, que toda vez que estávamos prestes a transar sempre usava um tom de inocência e ingenuidade, agora estava falando com malícia.
Beijei-a com uma ferocidade anormal, levantando-a do chão com minhas mãos, que estavam em sua bunda. Ela gemeu de leve, pegando minhas mãos e colocando no elástico da sua calcinha. Abaixei a peça íntima e levantei . A calcinha caiu no chão e passou as pernas pela minha cintura, prensei-a na parede.
Ela levou as mãos até a minha boxer e brincou normalmente com o elástico. Eu já podia sentir meu membro pulsar mais do qualquer momento naquela noite. percebeu isso e abaixou minha boxer na parte de trás, devagar.
- . – sussurrei, ela riu baixo e passou as mãos para a parte da frente, abaixando lentamente. Gemi quando ela tocou meu membro. Eu queria , mais do que nunca. Éramos casados agora, podíamos e devíamos ter um ao outro.
Enfim ela abaixou minha boxer o suficiente para libertar meu amigo, e voltei a beijá-la. Quando senti que não podia mais aguentar, quebrei o beijo. percebeu que eu iria penetrá-la e disse, com a voz rouca:
- Camisinha. – me xinguei na minha mente por ter esquecido disso. Desgrudei da parede, carregando , e andei às cegas até onde eu achava que tinha deixado a mala da última vez. Pelo menos eu tinha deixado à mão, foi fácil de localizá-la.
Voltei até a parede, prensando ali e abrindo a camisinha. Dessa vez eu mesmo vesti meu membro. voltou a me beijar, me puxando mais para ela.
Então, de repente, fez algo que eu nunca pensei que aconteceria. Ela desceu as mãos até meu membro, guiando-o até sua intimidade. Ela apenas passou-o ali, me impedindo de penetrá-la. Senti cada músculo do meu corpo protestando, gemi alto.
Ela agarrou meus ombros, me puxando para mais perto dela. Não consegui ter mais forças para evitar, penetrando-a com mais força do que pretendia. gemeu alto, apertando meus ombros. Retirei meu membro, que logo protestou. Penetrei-a novamente, dessa vez com menos força e com mais lentidão, eu sabia que ela ficava louca quando eu fazia isso.
- . – penetrei-a uma terceira vez, tão lento que pareceu surreal. – . – ela gemia.
começou a fazer movimentos circulares com o quadril, tentando agilizar a entrada de meu membro. Quanto ela começou com os movimentos, um gemido grotesco irrompeu da minha garganta. me puxava mais e mais, mas eu acreditava não existir mais nenhum espaço entre nós.
Comecei a dar estocadas rápidas, eu e gemíamos um o nome do outro e eu sentia que estávamos quase chegando ao nosso ponto mais alto de prazer, juntos. continuou com os movimentos circulares, que aumentavam de velocidade junto com as minhas investidas. Quando senti meu orgasmo se aproximando, retirei meu membro por inteiro e depois a penetrei lentamente. Ela soltou um gemido alto, que se misturou com o meu assim que nós dois atingimos o ápice, juntos.
me abraçou, eu a descolei da parede e a levei até a cama, que brilhava com a luz neon das pulseiras. deitou em cima de mim, ofegante. Passei minha mão pelos seus cabelos e costas.
Passados alguns minutos em silêncio, ela levantou a cabeça e me deu um selinho.
- Estou cansada. – ela sussurrou.
- Eu também. – respondi, passando o polegar pelo seu rosto. Ela virou o rosto para a outra metade da cama, coberta por luz neon, e voltou a olhar para mim.
- O que vamos fazer? – ela perguntou baixinho. Sorri de lado.
- Eu já sei, senta. – se sentou na cama e eu me levantei, puxando-a pela mão.
Tirei o edredom de cima da cama, revelando os lençóis brancos.
- Prontinho. – eu disse, puxando o lençol e me deitando. deitou do meu lado. Abracei-a e ela puxou o lençol para cima de nós. Passamos um tempo em silêncio, o cansaço estava quase me vencendo e minhas pálpebras quase fechando quando sussurrou:
- Eu amo você, . – sorri. Mesmo se eu ouvisse aquelas palavras saídas da boca dela todos os dias, sempre iria sentir uma felicidade inexplicável, um calor que aquecia meu coração. Era ter certeza de que ela estava ali comigo, pra tudo.
- Eu amo você mais que tudo, . – ela não disse nada, apenas espalmou a mão em cima do meu peito direito, depois colocou o ouvido ali, ouvindo meu coração.
Depois de alguns minutos adormecemos.


Acordei com uma batida na porta. Levantei rápido, pegando o roupão e abrindo uma fresta da porta.
- Senhor ? O café da manhã servido no quarto chega em quarenta minutos. – uma mulher com uma roupa vermelha com a logo do hotel me informou. Assenti, agradecendo pela informação, e andei de volta para a cama. dormia profundamente, sua respiração estava calma e em seu rosto havia um sorriso. Deitei ao lado dela e beijei seu nariz, depois lhe dei um selinho, ela nem se mexeu. Afastei seus cabelos do pescoço e passei meu nariz por ali, depois distribuí beijos. Ela se mexeu e depois abriu os olhos lentamente.
- Bom dia – ela disse rouca
- Bom dia. – respondi. levantou a cabeça e perguntou:
- Que horas são? – dei de ombros.
- Vou tomar um banho, o café da manhã é daqui a quarenta minutos. – assentiu, fechando os olhos novamente. Dei um beijo na sua testa e andei até a mala, pegando qualquer roupa, e entrei no banheiro e encostei a porta. Liguei a água da banheira e tirei o roupão. Respirei fundo. De repente senti um apertão na bunda e virei. riu. Ela vestia uma camisola preta e me olhava animada.
- Ei! – reclamei, como uma criança. passou por mim e desligou a água da banheira.
- Já está cheia. – ela disse e começou a analisar os potinhos de sal de banho, pegando um. – Esse daqui é bom. – ela virou pra mim e sorriu. Fui até a bandeja com potinhos e peguei qualquer um.
- Prefiro esse. – tirou o frasco da minha mão e colocou na bandeja, virando devagar o conteúdo do frasco dela na água quente da banheira. Ela tampou e olhou pra mim.
- Eu prefiro esse. – fiz cara feia e ela riu. Entrei na banheira e tirou sua camisola, entrando também. - Eu vou tomar banho agora. – disse baixo, fazendo bico. mordeu meu bico e disse:
- Não consigo tomar banho em quarenta minutos. – depois bateu a mão na água, fazendo minha cara se encher de sabão. Sacudi a cabeça.
- Você vai ver. – ameacei, riu
- O que você vai fazer? – me virei de costas pra ela e peguei todos os potes de sal de banho, virando o conteúdo inteiro de cada um. me olhou perplexa.
- Sabe o que vai acontecer agora? – ela perguntou.
- Eu sei. – comecei a mexer a água, depois de quatro mexidas já havia tanta espuma que eu não conseguia ver , mas podia a ouvir rindo. De repente, senti-a apertando meu peito e olhei para o lado. Ela estava coberta de espuma, no cabelo e em tudo. Ela soprou espuma na minha cara. Joguei-me em cima dela, que afundou na banheira. Quando voltou, estava completamente molhada.
Não sei quanto tempo passamos brincando que nem duas crianças, mas algo enfim nos parou. Uma batida na porta. Quase toda a espuma já tinha saído e a água estava gelada. me olhou assustada, mas eu sabia o que era. Pulei para fora da banheira e vesti um roupão limpo que tinha pendurado por ali.
- O café da manhã, senhor . – a mesma moça que havia falado comigo mais cedo apontou para uma bandeja em cima de um carrinho. Peguei a bandeja e agradeci a moça, fechando a porta com o pé. Deixei a comida perto do frigobar, eu sabia que ali tinha de tudo o que mais gostava de comer no café da manhã.
Voltei para o banheiro, já havia saído da banheira e estava vestindo um roupão um pouco menor que o meu. Ela estava em frente ao espelho, penteando os cabelos.
- Quem era? – ela virou para mim.
- Café da manhã. – respondi lhe dando um selinho. deixou o pente em cima da pia e me abraçou:
- Já é para descermos?
- Na verdade... – puxei-a pela mão até o quarto – Não. – peguei a bandeja e levei até a mesa da sacada.
me puxou até a ponta da varanda e olhou para o mar. Depois se virou e me deu um selinho.
- Já disse que você é fantástico? – ela perguntou
- Hoje não. – eu respondi com simplicidade. riu baixo e me beijou.
- Você é fantástico. – ela disse como os lábios colados nos meus e com os olhos fechados.
- Você também é, esposa. – ela sorriu. Meu estômago roncou alto, riu.
- Vamos comer? – ela perguntou, desgrudando os lábios dos meus.
- Claro. – puxei a cadeira para que ela se sentasse. sorriu de lado com uma expressão divertida.
- Obrigada, meu bom marido. – ela disse, pegando o guardanapo de pano e colocando no colo, com o dedo mínimo levantado.
- Ora, disponha, minha tão bela e amada esposa. – eu disse me sentando e colocando café na minha xícara. riu e olhou para o conteúdo da bandeja.
- Muffin! – ela pegou um muffin grande de chocolate – Como ela sabia que eu gostava de muffin? – perguntou, lambendo os dedos. Sorri de lado.
- Quem sabe ela é sua namorada há mais dois anos e agora é sua ‘marida’ também. – eu disse, me lembrando de quando eu havia dito quase a mesma coisa para ela no restaurante, meses antes.
me olhou sorrindo fraco.
- O que foi? – perguntei
- Estou me lembrando de quando você me disse quase a mesma coisa.
- No restaurante – completei. Ela assentiu.
- Parece que foi ontem e já faz meses.
- Isso não é bom? Quer dizer, foi naquele dia que eu te pedi em casamento, hoje é nosso primeiro dia de casados. – sorriu de lado.
- Eu tenho medo que amanhã seja o último, que o tempo passe tão rápido que...
- Shhh. – segurei sua mão. me olhou triste – Ninguém sabe o futuro, mas prometemos estar um com o outro para sempre e para tudo. Vamos cumprir isso.
- E se algo acontecer? – ela perguntou em voz baixa, desviando o olhar.
- Então vamos viver como se hoje fosse nosso último dia juntos. Vamos viver cada dia o melhor que pudermos. – eu respondi. voltou a me encarar e sorriu.
- Para sempre. – ela sussurrou
- Sempre, sempre, sempre. – sussurrei de volta, colando nossos lábios.

suspirou baixo, depois de alguns minutos de silêncio. Desviei o olhar da nossa filha, que agora dormia no meu colo enrolada no meu casaco, e voltei a olhar para minha esposa. Ela se sentou.
- , devia ficar deitada... – sorriu de lado e sacudiu a cabeça. Ela me olhou nos olhos, percebi que os seus brilhavam com lágrimas.
- Senta aqui. – ela sussurrou. Sentei-me ao lado dela. me deu a mão e deitou a cabeça no meu ombro, fazendo carinho em nossa filha com a outra mão. Ela ficou em silêncio por um tempo, depois levantou a cabeça e, olhando nos meus olhos, disse:
- Eu estou morrendo. – não disse nada. Eu não era cego, podia ver sangue dela por todo o lado. Sangue que ela perdera por causa do tiro e sangue que ela perdera no parto.
- Não. – murmurei. sorriu de lado.
- , você sabe que sim. – ela disse. Aquelas palavras me atingiram de uma forma que eu não esperava, abrindo meus olhos. Eu estava tão fascinado com o nascimento de nossa filha que meus olhos e minha mente se negavam a enxergar a verdade.
estava fraca e, agora, eu podia perceber isso. Ela estava mais branca que o normal, respirava de um jeito curto, sua mão não tinha o mesmo calor nem a mesma força de sempre.
- ... - comecei. Então, era isso. Minha mulher morrendo na minha frente e eu simplesmente não podia fazer nada, nada. Por quê?
- Você sabia que eu estava correndo um risco quando me viu com o tiro, era eu ou a nossa filha. – ela disse, sua voz não passava de um sussurro fraco.
- ...
- Promete que vai ser forte e vai cuidar da nossa filha? – eu abri a boca, mas não pude dizer nada, apenas assenti. Eu não queria aceitar aquilo, não era possível, mas algo me dizia que era pra ser assim desde... Desde sempre. sorriu.
- , eu sempre soube que ia morrer nova, não sei como. – ela disse, uma lágrima rolou sua face - Só me sinto triste que eu não possa estar junto com você para cuidar da nossa menina.
- , você não pode me deixar agora, não pode. – eu estava chorando. limpou minhas lágrimas com o polegar.
- Você é fantástico, maravilhoso. Eu não poderia ter desejado um homem melhor do que você. E eu te amo, mais que tudo. Você acha mesmo que eu vou te abandonar? – ela sorriu – Para sempre, lembra? A morte não separa aqueles que merecem ficar juntos, aqueles que se amam.
- Não. – eu disse. Pela primeira vez na minha vida eu era controlado pelas lágrimas, e não elas por mim.


Cap. 7
- Eu prefiro esse – apontei para o tapete menor – Acho mais bonito.
olhou de novo para o tapete grande, antes de dar de ombros e dizer:
- Ok, vamos levar o pequeno – o vendedor sorriu e começou a enrolar o tapete.
- Decorar a casa é muito chato! – reclamei. sorriu.
- Quando pediu o apartamento para seus pais, já deveria ter pedido decorado. – ela disse, passando a mão distraidamente por um tapete.
- Sério?
- Não. – ela respondeu séria. Já fazia quase um ano que estávamos casados e até então não parava de repetir: “Não devia ter pedido um apartamento, eles já nos deram a festa de casamento.”
Tá, eu havia pedido mesmo, mas e daí, eles são meus pais, droga.
- O que você vai dizer dessa vez? – perguntei, segurando sua mão para que ela parasse de mexer no tapete e olhasse para mim.
- Não devia ter pedido um apartamento, eles...
- Já nos deram a festa de casamento. Eu sei. Mas, , já moramos lá há quase um ano, não dá pra devolver o presente – disse sorrindo. sorriu de lado.
- Tá bem, tá bem. Eu não falo mais disso – agradeci com os braços – por essa semana. – ela completou, rindo da minha cara de decepção.
- Senhora, já embrulhei o tapete - o vendedor trouxe o tapete embrulhado.
- Ah, obrigada. – olhou para ele sorrindo. Peguei o tapete e foi até o caixa pagar, voltando sorridente.
Enfiei o tapete no porta-malas de nosso carro, que já estava cheio de coisas para a nossa casa. Fazer uma mudança demora.
- Pronto? – perguntou, assim que bati a tampa do porta-malas.
- Acho que sim. – falei. sorriu e entrou no carro.
- Cansei de ouvir esse seu CD, , posso por um meu? – ela perguntou. Fiz uma careta e grunhi, sorriu.
- Vou fingir que isso foi um sim. – ela se abaixou, remexendo o porta-luvas. Dei uma arrancada com o carro, fazendo bater a cabeça no painel.
- Ouch. – ela levantou com a mão na cabeça e uma cara zangada.
- Desculpa – ri, me mostrou a língua e voltou a abaixar. – Vai logo, senão a gente chega em casa e não ouvimos CD nenhum.
- Pronto. – ela subiu segurando um CD de capa branca. – Red Hot. – ela anunciou, colocando o CD.
- Menos mal... Qual CD? – perguntei. me ignorou e pulou para a faixa três, aumentando o volume. Reconheci os primeiros acordes, que soaram suaves antes de começar a gritar.
- I am a man cut from the know, rarely do friends, come and then go. – fiz uma careta, tampando meus ouvidos assim que paramos em um semáforo.
- Socorro. – sussurrei. riu e parou de cantar, apenas balançando as pernas conforme a música.
- Eu amo essa música. – ela disse de repente. Olhei para ela e levantei as sobrancelhas. continuou:
- Eu costumava cantar essa música com a minha mãe, quando os homens da casa saíam para... fazer trabalhos de homens. – ela disse pensativa. Sorri de lado.
- Por que está sorrindo? – ela perguntou, percebendo que eu olhava para ela e sorria.
- Nada. – respondi sacudindo a cabeça, mas ainda sorrindo.
- Ninguém sorri por nada. – ela disse, percebi que suas bochechas coraram um pouco. Continuei olhando para ela e sorrindo.
- , pára! – ela disse, cobrindo o rosto com as mãos. Ri. – O farol abriu, seu bobão. – ela apontou para frente.
O resto do caminho foi silencioso, apenas preenchido pela música saída do rádio.
Entramos no apartamento carregados de vasos, enfeites, quadros e o tapete.
- Ok, vamos arrumar isso agora? - perguntei. assentiu.
- Sim, acho melhor. – ela andou até o quarto. Fui atrás dela.
Nosso apartamento era pequeno, certo para duas pessoas. Era meu xodó, mesmo que tivesse vindo do dinheiro dos meus pais. O jeito que eu e o decoramos fazia qualquer um que entrasse ali elogiá-lo. Era aconchegante e confortável.
tirou a sapatilha e a blusa. Suspirei alto, andando até o armário e pegando uma bermuda qualquer. veio ate mim, me dando um tapa na bunda.
- Sai da frente. – ela disse
- Não. – eu respondi sem virar para trás. jogou os braços em volta do meu pescoço e puxou para trás, me enforcando.
- Tá bem, eu saio da frente. – eu disse. riu baixo do meu ouvido e afrouxou o aperto. Virei-me de frente para ela e a abracei pela cintura. Ela me deu um beijo no nariz.
- Temos mesmo que arrumar? – eu perguntei manhoso. sorriu de lado.
- Sim, vamos fazer logo, assim ficamos livres. – ela se soltou e vestiu a blusa de alcinha, prendendo o cabelo em um coque frouxo e saindo do quarto, me lançando um olhar divertido.
Vesti a bermuda de qualquer jeito e fui para a sala. encarava as compras com um ar de dúvida.
- , onde vamos colocar esse vaso? – ela apontou para o vaso. Dei de ombros.
- Você que quis comprar, achei que soubesse onde ia colocar. – sorriu.
- Eu não sei! – ela riu. – Ok, então vamos arrumar o que sabemos onde colocar... – ela desembrulhou o tapete.
- Tá, quanto mais rápido acabar, melhor. – riu baixo e puxou o tapete, me entregando uma ponta. Levamos juntos até o lugar que ele ficaria e assim começamos a arrumar as compras.
tirava caixas de dentro de armários e começava a desembrulhá-las, guardando os objetos que trouxemos da mudança em seus respectivos lugares.
Ela tirou o último porta-retratos de dentro de uma caixa, colocando-o na estante da TV. Tinha uma foto nossa, bem do começo de nosso namoro.
- Nossa mudança está oficialmente acabada! – ela exclamou, desmontando a caixa de papelão.
- Jura?
- Sim! – ela disse alto e eu bati palmas.
- Isso merece uma comemoração. – ela sorriu de lado.
- E o que vai ser?
- Bom, acho que eu vou passar na locadora, alugar uns filmes de romance beeeem melosos. Depois eu passo no mercado, compro potes de Nutella e sorvetes, talvez algumas barras de chocolate... – sorriu largo como uma criança.
- Posso escolher os filmes? – ela fez um beiço.
- Pode.
- Eu quero O brilho Eterno...
- De uma mente sem lembranças. – completei. sorriu – Já vimos esse filme quantas vezes? – ela deu de ombros.
- Mais de dez. E quero mais uma. – ela mordeu o lábio.
- Qual? – perguntei, prevendo que ela falaria Titanic.
- Titanic. – ela respondeu, como eu previa.
- Ah, ... Titanic? A gente viu ele mês passado, esse filme tem horas! – fez um beiço. – Você já escolheu um, deixa eu escolher o outro. Ok?
- Tá bom! Mas não vai pegar um filme de terror, ein? – sorri de lado, me aproximando dela e segurando seu queixo.
- Eu disse que ia pegar filmes de romance bem melosos. – sorriu.
- Quero só ver qual vai ser. – ela disse, revirando os olhos
- Você vai se surpreender. – dei-lhe um selinho e soltei seu queixo, indo até o quarto e pegando minha carteira.
- Volta logo! – disse alto, me dando um tapa na bunda quando passei por ela.
- Ok, ok! – ri, fechando a porta atrás de mim.
Eram cinco da tarde, o Sol já estava se pondo e na rua o movimento estava diminuindo. Pessoas fechando as lojas, voltando para casa, buzinando.
Caminhei até a locadora, a moça desviou o olhar da televisão (onde passava A Nova Cinderela) e sorriu para mim. Sorri de volta e andei entre as fileiras de filmes, me perguntando quantas vezes ela já havia visto “A Nova Cinderela”. Eu já havia visto mais de três vezes e era homem.
Parei em frente aos filmes de romance, passando meus olhos rapidamente pelas capas. Peguei o filme que tinha pedido, colocando em baixo do braço. Passei meu dedo pelas capas, acompanhando as letras e parando na letra D. A capa azul era predominante, peguei o primeiro da fileira e andei até o balcão. A moça me olhou sorrindo de novo, levantando da cadeira.
- Número de cadastro? – ela perguntou.
- Não sei o número... Pode ser o nome? – sorri. Ela assentiu – .
- ... Número 547, não esquece. – assenti, memorizando o número inutilmente. Eu sabia que ia esquecer em dois minutos, como sempre acontecia. – São só esses dois mesmo?
- Sim. – a vendedora olhou para mim com um sorriso diferente.
- Gosto de homens que assistem romances. – Ok, isso foi uma cantada?
- Ah, erm... – sorri sem graça, ela riu baixo e me entregou os filmes.
- Boa sorte na sua noite com a . – franzi as sobrancelhas.
- Conhece ela? – a vendedora riu, com certeza percebeu que eu havia pensado que ela tinha me cantado.
- Está escrito no seu cadastro. Estado civil: casado. Esposa: . – ela olhou par mim.
- É, é verdade.
- Ela deve ser muito boa, para fazer um homem alugar dois filmes de amor. – a moça disse sincera.
- Ela é. Ela é muito mais que boa. – franzi as sobrancelhas – Ela é muito mais que qualquer palavra poderia dizer. – a moça ficou me olhando sorrindo por um tempo, depois suspirou. – Bom, eu tenho que ir...
Ela assentiu sorrindo.
- Boa sorte. – disse.
- Obrigado, erm...
- Meredith.
- Obrigado, Meredith. – ela sorriu, assentindo.
Saí da locadora apressado, atravessando a rua. As portas do mercado estavam semi-abertas, sinal de que estava quase fechando.
Entrei rápido, antes que algum segurança me parasse. Peguei dois potes de Nutella, um de sorvete, três barras do chocolate preferido da (branco com cookies) e uma garrafa de Coca.
Ela iria me dizer que eu estava tentando engordá-la, mas, há muito tempo, descobri como fazê-la comer à vontade do que gosta, sem se preocupar se está ficando “gorda”. Eu sempre comia de tudo que ela comia e prometia que no dia seguinte eu iria com ela andar no parque. Nunca havia esse dia seguinte, pois ambos sentiam muita preguiça.
- Dinheiro ou cartão? – a menina do caixa perguntou.
- Dinheiro. – ela passou os produtos e eu os embrulhei, pagando a conta e saindo do mercado.
Andei rápido até em casa, queria chegar logo e ver o que iria falar do filme que eu havia escolhido.
Abri a porta de casa, largando os filmes e as compras no sofá, andei até o quarto e joguei a carteira em cima da cama.
- ?
- Aqui dentro! – ela respondeu de dentro do banheiro. Abri a porta e fui atacado com o vapor. Aquele lugar deveria estar uma sauna.
Quando enfim conseguia enxergar, entrei no banheiro. estava na frente do espelho, penteando os cabelos molhados, vestindo apenas uma camiseta minha dos Beatles, que parecia um vestido nela.
- Eu conheço essa camisa. – eu disse. riu e virou para mim, me dando um selinho.
- Eu também. Peguei emprestado, não vai fazer falta, vai? – ela me olhou de um jeito fofo que só ela sabia. Ri.
- Não, por hoje não vai fazer falta. – Ela bateu palmas – Você acha bonito ficar por aí apenas de camiseta dos Beatles? – perguntei de um jeito autoritário. sorriu de lado, dando de ombros.
- Eu acho, mesmo porque eu não estou apenas de camiseta. – levantou a camiseta, ela usava uma daquelas calcinhas-shorts que eu tanto amo. Eu amo que ela use, eu não compraria para usar, não, obrigado. Estou muito bem com as minhas boxers.
- Desculpa, desculpa. – abracei-a. Ela riu e me dei um beijo no queixo. – , eu vou tomar banho, se importa?
- Nah, pode tomar. Eu vou ligar pra e pra . – ela jogou a escova em cima da pia e saiu, deixando a porta aberta.
- A porta! – disse alto.
- Deixa assim, tá muito quente aí dentro. – ela respondeu do quarto. Andei até a porta e espiei. estava deitada na cama, mexendo no celular.
- Você toma banho toda linda de porta fechada, deixa a maior fumaça pra mim e eu tenho que tomar banho de porta aberta? – reclamei. olhou para mim sorrindo.
- Não é fumaça, é vapor.
- ! – reclamei, ela riu.
- Fecha então, ! – ela disse se sentando – Fecha a porta.
- Não quero mais! – entrei no banheiro batendo os pés como uma patricinha. riu alto, me fazendo rir também.
- Se vira aí, vou ligar pras meninas! – ela gritou, dizendo alô logo em seguida.
Tirei a roupa e entrei no box, a água quente caiu nas minhas costas me dando uma sensação de relaxamento. Tudo que eu precisava depois de um dia de arrumação e antes de uma noite de filmes melosos.
falava rápido e ria a cada três palavras, dificultando a compreensão. Acho que esse é um sistema de código feminino, assim os homens não entendem o que é dito.
Desliguei o chuveiro, saindo do box e pegando a toalha. Sequei minhas costas, depois amarrei a toalha na cintura e virei para o espelho. Baguncei o cabelo molhado com as mãos e me virei, mas antes de sair do banheiro, reparei uma coisa: silencioso de mais.
havia desligado o telefone. Andei até o quarto e ela não estava ali. Larguei a toalha em cima da cama e fui até o armário, pegando uma boxer e vestindo-a.
- ! – entrou ofegante no quarto. Virei-me assustado e ela estava parada na porta, com a caixa do filme que eu havia escolhido na mão. – Não acredito que você escolheu esse filme!
- Isso é bom ou é ruim? – perguntei. Ela riu e veio até mim, me dando um selinho longo
- É ótimo! Você é ótimo. – ela disse.
- Nah, só um pouco. – Disse, fingindo lustrar minhas unhas. riu.
- Vamos logo, vamos assistir! – ela puxou minha mão como uma criança que pede para o pai assistir algum desenho. Ri e acompanhei-a até a sala.
- Coloco qual? – perguntei, levantando os dois DVDs. Ela deu de ombros e foi até a cozinha, voltando com duas colheres.
- Qual você colocou? – ela perguntou
- O meu. – respondi. – , onde estão os edredons? – perguntei
- Lá no quarto. – ela sentou no sofá, pegando o controle do DVD
Fui até o quarto e voltei com dois edredons, jogando um em . Sentei-me ao lado dela no sofá e me cobri.
Alguns trailers começaram a passar e começou a apertar os botões do controle em ordem aleatória. Nada aconteceu e ela começou a aumentar a força dos apertos.
- , vem cá. – chamei rindo. – Você vai destruir o controle, vem cá. – Ela fez bico e jogou o controle no meu colo. – Vem aqui, ! Eu quero você aqui no meu colo, não o controle! – ela riu e se deitou junto comigo.
- Não é minha culpa se esse controle não funciona! – ela reclamou.
- Tem que usar com jeitinho. – eu disse, apertando um único botão e passando os trailers de uma vez. bufou.
- Eu amo esse filme. – eu disse com a voz fina, imitando .
- Eu amo esse filme. – disse baixinho, com o rosto escondido no meu pescoço, sua voz naturalmente fina batendo suavemente em meus ouvidos. Ela suspirou e levantou o rosto, sorrindo.
Na tela, a introdução do filme aparecia. acompanhou a melodia, tamborilando os dedos no meu braço. Enfim o filme começou de verdade, Diário de uma Paixão.
Depois de meia hora de filme, puxei a sacola do mercado e abri um pote de Nutella, eu e começamos a comer automaticamente, sem tirar os olhos da tela.
Eu percebia que se arrepiava em cada parte fofa ou emocionante do filme, principalmente na parte do beijo na chuva. Mas uma coisa que eu sabia que nunca acontecia era ela chorar. Por mais lindo que o filme fosse, ela tinha uma força sobrenatural de não chorar.
Tenho que admitir que senti vontade de chorar no final daquele filme, me imaginei bem velhinho ao lado de . Ele contando a história do romance dos dois para ela, que havia perdido a memória. Eu faria a mesma coisa se se esquecesse de tudo, faria tudo aquilo quantas vezes fosse preciso. levantou a cabeça do meu peito.
- Agora o meu. – Engoli o nó na garganta e rezei para que meus olhos não estivessem lacrimejados. Eu era o homem da casa, não ia chorar.
- Ok. – levantou e trocou os DVDs, voltando a deitar na mesma posição de antes. Ela me olhou sorrindo. – Vem cá. – segurei seu queixo. Em baixo do seu lábio havia Nutella, e em seu nariz também. Passei o dedo tirando o doce dali e sorrindo de lado. mordeu o lábio, sorrindo pelos cantos da boca.
Assistimos ao segundo filme tão concentrados quanto no primeiro. Comemos o resto das coisas - o sorvete estava totalmente derretido - sem tirar os olhos da TV.
Quando enfim o filme terminou, bocejou.
- Que horas são? – ela levantou a cabeça.
- Não sei... Uma ou duas... – bocejou de novo.
- Vamos dormir aqui? – ela perguntou manhosa.
- Aqui? Mas é desconfortável! – fez bico.
- Eu tô confortável.
- Você está deitada em um homem com músculos que servem de cama, eu estou deitado todo curvado aqui. – disse sorrindo.
- Quer deitar em um homem musculoso? – ela perguntou simplesmente.
- Eu não! – disse alto, fazendo-a rir. Levantei-me, forçando a se sentar também. – Vamos? – perguntei, pronto para me levantar do sofá.
- Ai, você é um saco! – ela saiu do meu colo e cruzou os braços, emburrada.
- Vamos, ! Não vai fazer manha agora, né? – perguntei, ela me olhou fingindo estar zangada.
- Vou. – disse. Eu dei de ombros e saí andando – ! – ela me chamou manhosa. Voltei para a frente dela de novo.
- Quê? – sorri de lado. sorriu fraco e esticou os braços, como uma criança pedindo colo. Puxei minha esposa para o meu colo, apoiando-a no meu ombro, de cabeça para baixo nas minhas costas.
- ! – ela riu. Levei-a até o quarto, colocando-a na cama de barriga para cima.
- Vamos dormir aqui agora? – perguntei baixinho.
- Não. – ela respondeu mais baixo ainda, olhando para o meu pescoço e não para os meus olhos.
Subi minha mão até a sua barriga.
- Tem certeza? – perguntei, ainda falando baixo. sorriu e olhou nos meus olhos.
- Não faz cócegas. – ela pediu baixinho.
- Tsc-tsc. – comecei a fazer cócegas nela.
se encolhia e se contorcia, rindo alto; imaginei se os vizinhos se sentiriam incomodados. Quando percebi que ela não aguentaria mais três minutos viva, parei de fazer cócegas. Ela ficou um tempo cobrindo o rosto com as mãos, depois limpou as lágrimas de riso e me olhou sorrindo.
- Acho que vou querer dormir aqui, estou cansada de mais pra ir até a sala agora. – sorri.
- Ótimo.
Joguei-me do lado dela e respirei fundo. Ficamos alguns minutos em silêncio, até bocejar e virar de lado.
- . – ela chamou baixo. Olhei para ela, seu olhar estava penetrante.
- Eu. – sussurrei de volta. se aproximou e passou o polegar pela minha bochecha, olhando para a minha boca, e disse:
- Eu nunca te apagaria da minha mente. – depois olhou em meus olhos. Fiquei um tempo a encarando, depois disse:
- Eu nunca faria isso com você. E mesmo que, por algum motivo, você me apagasse da sua memória, eu te contaria nossa história toda vez. Mesmo se você se lembrasse dela por apenas alguns minutos, eu ia saber que tudo valeu à pena. – sorriu.
- Eu nunca vou me esquecer da nossa história, nunca. Por nada. – ela me deu um selinho, deixando o rosto escondido no meu pescoço. Abracei-a pelo lado e assim adormecemos.


estava morrendo. Na minha frente.
O que eu estava fazendo? Nada.
Nada não, eu estava contando para ela minhas lembranças. As mais importantes, dos dias mais felizes ao lado dela. E ela ria.
Mesmo morrendo, ela ria. Nunca vou cansar de dizer: essa mulher é maravilhosa. Contar minhas lembranças a ela parecia fazê-la esquecer um pouco a dor.
Ficamos alguns minutos em silêncio, até dizer:
- Como vai ser o nome dela? – sacudi a cabeça.
- Pode escolher. – me olhou sorrindo.
- Lucy. – ela disse, voltando a olhar para nossa filha.
- Lucy . – eu disse. me olhou sorrindo.
- Lucy . – repetiu baixo, me dando um selinho – Nossa filha.


Cap. 8

- , acorda. – me cutucou – Acorda.
Abri os olhos e estava com o rosto próximo ao meu, sorrindo. Assim que viu que acordei, ela me encheu de selinhos.
- Bom dia! – ela disse entre um selinho e outro.
- Bom dia... – murmurei – Por que tanta animação? – parou de me dar selinhos e sorriu enquanto eu bocejava.
- Vou te dar alguns minutos para que o seu cérebro masculino volte a funcionar. – ela pousou o dedo indicador no meio da minha testa, depois levantou da cama e entrou no banheiro. Resmunguei alto, coçando os olhos. Eram sete e meia da manhã, segunda feira, dia de trabalho. Fui até o banheiro arrastando os pés, me olhou sorrindo de lado.
- E então? – ela disse marota.
- Hoje é segunda... – bocejei. Ela franziu as sobrancelhas, mas ainda sorria.
- Errado. – virou e saiu do banheiro.
Errado? Não, era segunda mesmo... Eu queria que fosse um domingo, assim eu poderia voltar para a cama e voltar a sonhar com... Com o que é que eu estava sonhando mesmo? Ah é, estava sonhando com o meu casamento...
Espera aí!
- ! – saí do banheiro bruscamente, me olhou assustada. Ela estava sentada na cama, fechando sua blusa cheia de botões. Péssima blusa.
- Eu! – ela me olhou de um jeito divertido, rindo. Subi na cama e me ajoelhei de frente para . Ela ficou me encarando com um sorriso maroto, enquanto eu olhava pra ela de sobrancelhas franzidas.
- Eu sou um péssimo marido. - disse, por fim. franziu as sobrancelhas e mordeu o lábio inferior.
Aproximei-me dela e segurei seu rosto, lhe dando um selinho e logo aprofundando o beijo. Nossas línguas brincaram por um momento doce e sincero, até quebrar o beijo.
- Você é um ótimo marido. – ela sussurrou. – Se não eu não estaria casada com você há dois anos. – ela sorriu.
- Feliz dois anos de casamento. – sussurrei. Como eu podia ter me esquecido? Talvez estivesse certa, meu cérebro masculino não funciona de manhã.
- Bodas de quê? – ela perguntou baixinho.
- Papelão? – riu baixo, me dando um selinho.
- Bodas de trabalho. Hoje temos que trabalhar e vamos chegar atrasados. – ela disse se afastando.
- Você vai. Eu não entro às oito, entro ao meio dia. – fez uma careta e entrou no banheiro, ligando o chuveiro.
- Que horas são? – ela perguntou lá dentro - Sete e dez. – respondi. bufou alto, me fazendo rir.
Passada meia hora estávamos entrando no carro. Toda manhã eu levava para o trabalho dela, que começava às oito. Ela era veterinária. Eu só entrava ao meio dia, então voltava para casa depois de levá-la ao trabalho e depois de almoçar eu ia trabalhar. Eu era produtor musical e, modéstia parte, todas as bandas que caíam em minhas mãos faziam sucesso. Já havia pensado em criar minha própria banda, mas... Não. Besteira.
Liguei o carro e ligou o rádio em uma rádio pop qualquer.
- Que horas você vai chegar em casa hoje? – perguntei. Ela deu de ombros.
- Saio do trabalho às cinco, acho que vou dar uma caminhada, andar até a casa da pra dar um oi... Devo chegar em casa às seis. Você? – franzi as sobrancelhas.
- Depende... – fez um beiço.
- Se você quiser que eu chegue cedo, eu não passo na casa da . – sorri de lado.
- Eu te ligo, tá legal? – assentiu sorrindo. Estacionei o carro na frente da clínica. – Te vejo à noite, então?
- Sim. – ela me deu um selinho. Antes que ela afastasse o rosto, a puxei para um beijo de verdade. Quebrei o beijo para que respirássemos.
- Não devíamos trabalhar no nosso aniversário de casamento. – resmunguei. riu baixo.
- Não se preocupe, temos a noite inteira. – ela sorriu de lado, me dando outro selinho, e saiu do carro. – Eu te amo. – ela sussurrou colocando a cabeça dentro do carro, pela janela.
- Eu também te amo. – eu disse e ela sorriu, se virando e se afastando.
Respirei fundo antes de dar a partida no carro. O que eu ia dar para ? Sim, por incrível que pareça, eu não tinha pensado em nada, e me sentia péssimo por isso. No caminho de volta para casa eu tentei pensar em algo que ela fosse realmente gostar. Quando fizemos um ano de casados eu havia levado para uma praia, já que o nosso aniversário havia caído em um domingo. Mas era segunda feira e eu teria que ser bem mais criativo.
Joguei-me no sofá e liguei a TV assim que cheguei em casa. Fiquei alguns minutos olhando para a tela da televisão com cara de nada. Por que é que eu estava assistindo aquilo? Era um programa de babás e eu nem tinha filhos! Desliguei a TV e joguei o controle em qualquer lugar.
Andei até meu quarto e deitei na cama de barriga para cima. Em um dia normal eu voltaria a dormir, colocando o despertador para tocar às onze e meia, mas naquele dia eu tinha algo com o que me preocupar.
Precisava pensar em algo para dar à , algo bom.
Comecei a lembrar de algo que ela já tivesse pedido pra mim, ou mencionado que queria. Nada. Nada veio a minha cabeça. Talvez porque ela nunca havia pedido nada de fato...
Trim-trim. Acordei sobressaltado, com meu celular tocando.
- Alô? – respondi, reprimindo um bocejo.
- ! Onde você tá? – a voz de soou do outro lado da linha.
- Em casa, duh. – respondi, bocejando.
- Você não vai vir trabalhar não? – ela perguntou.
- Vou, mas vou almoçar... – bufou alto – Que foi?
- Almoçar? Já são uma e meia! – dei um pulo da cama.
- UMA E MEIA?
- Em que mundo vocês estava, ? – ela perguntou. Enquanto eu equilibrava o celular entre minha orelha e meu ombro, também calçava os sapatos. Não acredito que eu havia pegado no sono sem deixar o despertador ligado.
- Eu peguei no sono. – confessei – Eu tava tentando pensar em algo legal pra fazer pra , mas não consegui pensar em nada.
- Porque você é homem. – ela disse entre risos.
- Isso não é verdade! – exclamei, andando até o banheiro para pentear o cabelo – Eu posso pensar em algo muito legal pra ela, se eu quiser.
- Ok, alguma ideia? – bati a porta do banheiro e andei apressado até a cozinha, pegando um pacote de salgadinhos e uma caixinha de chicletes de menta.
- Para ser sincero, nada. Nem uma vaga idéia do que fazer. Alguma sugestão? – perguntei.
- Hm... Não. Nada. – grunhi. Já estava trancando a porta de casa e entrando no elevador. Abri o salgadinho e enfiei um punhado na boca. – Fica calmo, você vai achar algo.
- Não sei não. – respirei fundo – Eu queria que ela já tivesse deixado escapar pelo menos um “eu quero esse sapato, ou essa bolsa”, mas não, nunca. Por quê? – perguntei fazendo uma voz de indignação. riu.
- Talvez porque ela nunca precisou fazer isso, você sempre deu pra ela tudo que ela queria. Vai ter que ir mais fundo nesse seu cérebro de rato pra achar alguma coisa realmente legal. E olha que vocês estão casados há dois anos só! Imagina quando fizerem cinquenta anos de casados! – ela riu. Entrei no carro e dei a partida, saindo da garagem do prédio.
- Não tem graça! Eu tô desesperado. – riu mais alto.
- Você desesperado é engraçado! – bufei alto. Por sorte eu estava pegando todos os sinais abertos. Pedi mentalmente para que os caras da banda não me matassem quando eu chegasse ao estúdio. Amassei o pacote vazio de salgadinho e virei uns quatro chicletes de menta na boca, pra dar um bom hálito.
- Se eu perguntar pra ela fica feio? Em sua opinião feminina, o que você acha?
- Não sei não, . Eu não gostaria, mas eu não sou a . Eu acho que ela não se importaria. – disse sincera.
- É, se eu não pensar em nada até o fim do dia vou ter que fazer isso mesmo, eu acho. – estacionei o carro na minha vaga de sempre na frente do estúdio.
- Faz o que você achar melhor, mas agora vem trabalhar. – ela disse. Entrei no estúdio e depois no elevador.
- Ainda tô de pijama. – eu disse sério.
- , você vai morrer quando colocar os pés nesse piso. – saí do elevador e vi de costas.
- Que medo. – disse o mais sincero possível. virou para trás e fez uma cara zangada, desligando o celular.
- Eu devia descontar isso do seu salário! – ela apontou para mim, brava. Dei de ombros.
- Eu sou meu próprio chefe. – revirou os olhos.
- Tem que ter compromisso com a banda, sem falar no respeito com sua secretária, ou seja, eu. – sorri de lado e continuei andando em direção à sala de gravação. veio atrás de mim resmungando.
- Só foi por hoje, tá legal? Amanhã eu não me atraso. Além do mais, o CD já ta quase pronto, só falta ajustar o vocal e as guitarras.
- Tá, tá, tá. – ela abriu a porta da sala de gravação. Os caras olharam para mim com cara de nada. Sorri.
Não preciso nem dizer que levei vários tapas na cabeça e socos nos braços, fora os xingamentos e o uso da frase: “Fica namorando até tantas e esquece do trabalho”, mas no geral até que eles pegaram leve comigo.
Passaram-se duas horas de trabalho até que bateu na porta.
- Precisam de algo? – os caras sacudiram a cabeça. sorriu. – Ok.
- , eu preciso. – disse e ela me olhou feio.
- Sempre tem um pra estragar meu descanso, fala. – sorri.
- Liga para a Jéssica...
- Quem? – ela me interrompeu.
- Secretária da . – assentiu – Então, liga pra ela e pede pra ela tentar enrolar a na hora de ir embora.
- Como assim? – franziu as sobrancelhas.
- Quando a estiver indo embora, a Jéssica tem que ficar jogando conversa fora pra não deixar a ir. Eu vou buscar ela hoje, mas acredito chegar uns 15 minutos depois do horário que ela sai. Entendeu o recado? Quer que eu desenhe? – deu de língua.
- Eu entendi, otário. – então saiu, fechando a porta.
Voltamos ao trabalho. Como eu havia dito, o CD já estava quase pronto. Precisamos apenas ajustar o vocal com as guitarras, depois resolver a ordem das músicas, o que foi resolvido em poucos minutos. Eram quatro e cinquenta quando me despedi dos caras e rumei até o elevador.
- ! – me chamou – Jéssica ligou faz cinco minutos, disse que já estava arrumando as coisas pra ir embora e pediu pra que você se apressasse, ela não sabe se vai conseguir manter presa lá por muito tempo.
- Ah, ok. Obrigado, . – agradeci sincero, entrando no elevador. sorriu e acenou com a cabeça.
Entrei no meu carro rápido e dei a partida. A sorte de não pegar nenhum farol fechado não se repetiu, peguei vários fechados. Cheguei em frente à clínica de bem a tempo. Ela estava saindo de lá, sorrindo. Jéssica apareceu atrás com uma cara aflita, mas logo que viu meu carro sorriu, entrando novamente. olhou para o carro e sorriu de lado, se aproximando e entrando.
- Você pediu pra Jéssica ficar me enrolando. – ela disse sorrindo.
- Foi. – eu sorri de lado. me deu um selinho.
- Eu imaginei.
- Ah, fica difícil fazer uma surpresa pra você assim. – eu disse emburrado, fazendo-a rir baixo.
- Desculpa? – ela perguntou.
- Desculpo, só porque você é minha esposa, senão eu não desculparia. – sorriu – O que você acha da gente ir passear no parque? – eu disse, desviando o olhar. Não sei se eu ficaria feliz se meu marido dissesse: “vamos passear no parque para comemorar nossos dois anos de casados”. Sinceramente, isso era ridículo.
- Eu acho uma ótima ideia. – exclamou feliz. Olhei para ela, procurando alguma expressão de aborrecimento ou desapontamento, mas ela estava radiante e feliz, como sempre.
Sorri sincero e dei a partida no carro, dirigindo até o parque, que não era tão longe.
Logo que saímos do carro, segurou a minha mão. Andamos até um banco próximo de um parquinho, onde várias crianças brincavam. olhava para as crianças sorrindo. Respirei fundo pensando no que dizer para a sobre não ter ideia de como presenteá-la pelos dois anos de casados. Abri a boca, mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa, uma menininha de uns três ou quatro anos veio em nossa direção, chorando.
A menininha correu até , se jogando no colo dela e chorando ainda mais alto. Era loira e tinha os olhos azuis, vestia um vestidinho rosa que a fazia parecer uma princesa. passou a mão na cabeça da menina, puxando-a delicadamente para o seu colo.
- Ei, shh, o que aconteceu, pequenina? – perguntou baixinho. A garota soluçou mais algumas vezes antes de parar de chorar, coçando os olhos com as mãos miúdas.
- Minha mamãe, eu peldi. – ela disse chorosa. olhou para mim e eu sacudi a cabeça.
- Fica calma, tá legal? A gente vai achar sua mamãe. – a menina assentiu. sorriu. – Quer tomar um sorvete? – a menina sorriu largo.
- Sim. – disse animada. riu e se levantou, com a menina no seu colo.
- Vem, . – ela me chamou. Levantei e acompanhei minha esposa até a barraca de sorvetes.
comprou um sorvete de morango, assim como a menininha lhe pediu.
- Como é seu nome, pequenina? – perguntou, colocando a menina no chão e se abaixando na frente dela.
- Lilly. – ela disse, se lambuzando com o sorvete. olhou para mim sorrindo de um jeito estranho, um jeito fofo e... Maternal.
- Lilly, que nome lindo. – a menina sorriu e continuou:
- E como é sua mamãe?
- Ela é palecida com você. – mordeu o lábio.
- Como ela se chama?
- Emma. – a menina disse, olhando para mim – Quem é esse? – ela apontou para mim.
- Esse é o , Lilly. Ele é meu marido. – disse, olhando para mim e sorrindo.
- Minha mãe não tem malido. – ela disse. – Eu não tenho papai. Minha mãe disse que ele foi plo céu, vilou um anjinho.
ficou alguns segundos em silêncio, depois disse:
- Ele está olhando por você agora mesmo. – a menina sorriu.
Respirei fundo, olhando para o lado. Uma moça jovem, alta e com os cabelos longos olhava desesperada para os lados. Como era parecida com !
- Lilly – chamei. A menina olhou para mim com as sobrancelhas franzidas. – Aquela é sua mãe? – apontei para a moça. Lilly sorriu largo, assentindo.
- Mamãe! – ela gritou e a moça olhou para os lados, antes de olhar na nossa direção. Ela sorriu e colocou a mão sobre o coração, vindo em nossa direção.
- Lilly, aí está você! Fiquei tão preocupada! – ela olhou para mim e para – Obrigada.
- Não foi nada. – sorriu, se levantando.
- Mamãe. – Lilly puxou a mão da mãe, que olhou para baixo – Foi o papai, ele que mandou esses dois anjinhos pra cuidalem de mim quando eu me peldi. – a mãe sorriu, pegando Lilly no colo.
- Sim, minha linda. – Lilly sorriu e olhou para nós. Emma respirou fundo e disse:
- Obrigada de verdade. Fiquei tão preocupada! Lilly é a única pessoa que eu tenho. O pai dela morreu dois meses depois dela nascer, assassinado. – Emma olhou para a filha – É difícil sem ele, mas eu prometi que ia seguir em frente e cuidar de Lilly, não posso falhar.
- Eu sinto muito. – disse baixinho. Emma sorriu de lado.
- Obrigada novamente. Diga tchau para os anjinhos, Lilly. – Lilly sorriu largo.
- Tchau! – fez tchauzinhos com as mãos para nós. Emma acenou com a cabeça e as duas se afastaram.
olhou para mim sorrindo e me abraçou. Afaguei seus cabelos e tomei coragem, dizendo:
- , me perdoa, mas não pensei em nada pra comemorar nossos dois anos. Nada fora do comum. Espero que você não se ofenda seu eu perguntar, o que você quer fazer? Aonde quer ir? – desgrudou de mim e sorriu.
- Eu quero ter um filho. – fiquei alguns segundos encarando-a sem expressão nenhuma, depois disse ironicamente:
- Podemos fazer aqui e agora! – riu.
- , eu tô falando sério! Eu quero um filho, ou uma filha.
- Mas isso demora nove meses para acontecer. – eu disse sincero. franziu as sobrancelhas e disse:
- Então, para comemorar nossos dois anos, eu quero ir a um médico, ver se eu posso, se nós podemos ter um filho. – Droga! Sem escapatória, , ela te encurralou.
- Agora? – perguntei baixo. assentiu, mexendo na bolsa, e então tirou o celular. Digitou alguns números e colocou na orelha.
- Alô? Eu queria saber se tem como marcar hora com o Doutor Pierre. Às sete? Tudo bem, pode marcar... É . Sim, sim. Obrigada! – ela desligou o celular e sorriu.
- Tem certeza? – eu perguntei. assentiu:
- Você não quer? – pensei por um momento. Não é que eu não quisesse, era mais porque eu sabia que teria meio que ciúmes do bebê. Eu queria para mim o tempo todo e pensar em dividi-la com um bebê fofo e cheiroso era... Infantil.
- Eu quero. – disse sincero. sorriu, me dando um selinho.
- Então vamos para casa nos arrumar. – ela me puxou pela mão até o carro.
Chegamos em casa, tomamos um banho rápido e logo saímos. Na clínica não tivemos que esperar quase nada e o médico não teve que examinar nada em , ainda bem, se me permitem dizer.
Quando eu pensei que tudo estava quase acabando e ele iria falar: poder fazer amor hoje à noite mesmo e amanhã estará grávida, o médico disse:
- Vocês terão que ficar vinte dias sem ter relações sexuais.
- O QUê? – eu perguntei alto. me olhou reprimindo o riso.
- Cala a boca, . – depois virou para o médico:
- Continue, doutor.
- Como eu ia dizer, , é necessário que tenham esse tempo de “descanso”, se me permitem dizer. É para uma gravidez mais saudável. Quando completarem esses vinte dias, podem ter a relação sem mesmo me consultar. Acredito eu, de acordo com os dados menstruais que você me passou, que você estará em sua fase fértil. – sorriu. Eu não disse nada pelo resto da consulta, saí de lá emburrado.
- , para de fazer essa cara de menininho mimado. – riu quando chegamos em casa. Dei de ombros.
- Bem que a gente podia ter ido ao médico amanhã, né? Passar os dois anos assim, no seco, é covardia. Eu e meu amigo tínhamos planos para hoje à noite. – riu, se aproximando de mim e me abraçando pela cintura.
- Eu te amo demais, demais e demais. – ela disse, me dando um selinho.
- Eu também te amo. – disse sincero.
- Então, faz isso. Por mim? – ela perguntou manhosa. Revirei os olhos.
- É, o que eu não faço por você, ein? – riu, me enchendo de beijos.
- Você consegue, eu sei que sim. – ela disse sincera. Respirei fundo.
- Por enquanto sim, mas quando estivermos no décimo quinto dia, por aí, não garanto nada. – sorriu de lado.
- Você sabe controlar o seu corpo. – apertei sua bunda.
- Se você não me provocar, eu acredito que sim... – sorriu largo.
- Eu não faço isso. – ela disse. Respirei fundo novamente. Não, de fato ela não fazia, mas só o fato de encostar em mim era motivo para todos os meus músculos e hormônios protestarem, pedindo mais.
- Você não faz, mas são vinte dias inteiros. – eu disse choroso. riu baixo e me deu um selinho.
- Vamos fazer isso juntos, está bem? – assenti.
- Sim, juntos. – sorriu e me beijou, com certo cuidado anormal, como se eu pudesse explodir e agarrá-la ali, naquele momento. Puxei-a mais para perto e aprofundei mais o beijo, e ela correspondeu.
Mesmo que eu estivesse reclamando, havia uma imagem na minha mente que superava o fato do jejum sexual, o fato de ter mais alguém na nossa família. E essa imagem era de mim, e nosso filho abraçados, felizes.

estava com a cabeça em meu colo, Lucy sobre sua barriga. Eu segurava a mão de minha esposa, como se aquilo fosse manter ela mais tempo comigo.
- – ela chamou baixinho. Olhei para ela. estava de olhos quase fechados, havia um vestígio de dor na sua expressão, mas muita felicidade também. Ela respirou fundo e abriu um pouco os olhos. – Me promete uma coisa?
- Qualquer coisa, . Você sabe que eu faço tudo o que você me pedir. – sorriu.
- Promete que você vai cuidar de Lucy como se sua vida dependesse disso? – abri a boca, mas continuou:
- Promete que vai tentar encontrar um caminho de volta na sua vida? Não vai ficar preso a mim e às lembranças? – sacudi a cabeça, as lágrimas voltando.
- Eu não posso, não sem você, . – sorriu fraco.
- Eu sei que pode. Eu confio em você. – ela fechou um pouco os olhos.
- , fica aqui, meu amor. Não feche os olhos, não me deixe... Por favor. – disse entre as lágrimas. abriu um pouco os olhos e disse, sua voz era um sussurro fraco:
- Último beijo. – último. Aquela palavra chicoteou meu coração de uma forma inexplicável. Eu sempre me imaginei com pelo resto da eternidade, por toda a vida. A palavra “último” era forte de mais para mim.
Abaixei minha cabeça, encostando meus lábios nos dela. Ela tocou minha face com as pontas dos dedos gelados e fez uma carícia. Permanecemos com os lábios colados por segundos, o gosto salgado das minhas lágrimas entre nossas bocas. Cada um sentindo o que era mais presente em tudo o que passamos juntos: o amor um pelo outro. sussurrou com os lábios colados no meu:
- Não chore, meu amor, eu vou estar sempre aqui. Eu te amo. – e acariciou minha bochecha.
- Eu te amo. – foi o que consegui dizer, antes de sentir sorrir, a mão que estava em minha face cair e ela ficar imóvel e gélida.
Fiquei alguns minutos com os lábios encostados no dela, as lágrimas não descansavam, caíam sem parar. , aquela que eu tanto amava, a mulher mais maravilhosa da face da terra, aquela que eu havia dedicado todo meu amor...
Por que tudo parecia tão injusto? Por que tudo parecia tão... Feio, sem cor? se fora, para sempre. Minha mente não queria acreditar naquilo, parecia tão surreal. Sempre acreditamos que pertenceríamos um ao outro, para sempre. Por que não foi assim? Por que a vida não pode seguir um script? Por que sempre há algo errado?
se fora. Para sempre.
E, naquele momento, a única coisa que eu queria fazer era me juntar à ela, mas não podia. Eu havia prometido.
Lucy.
Nossa filha. Ia cuidar dela como se minha vida dependesse daquilo, é claro.
morreu para salvar a vida de Lucy, eu ia honrar seu trabalho.
Não ia mais falhar. Nunca mais.
Nunca.


Cap. 9
Parte I

Vinte dias. Fazia exatos vinte dias que eu e meu amigo não tínhamos nem uma vaga idéia do que era prazer.
- ? – chamei manhoso. se remexeu do meu lado na cama, mas não respondeu. Respirei fundo e me levantei, andando até a porta. Ali atrás eu havia colado um calendário e marcava, incansavelmente, cada dia que se passava desde que o médico declarou que devíamos fazer jejum sexual. Isso poderia fazer o tempo passar mais devagar, quem sabe... Mas deixava alegre, contando os dias até que pudesse, enfim, ter a possibilidade de ser mãe.
Ouvi um bocejo fraco e me virei para a cama. estava sentada e sorria para mim.
- Bom dia! – ela disse.
- Hey, bom dia! – eu disse, voltando para a cama. me puxou para um selinho, acariciando minhas bochechas com os polegares.
- Vigésimo dia. – eu disse, separando nossos lábios. riu.
- Você já riscou o dia no seu calendário? – ela perguntou baixinho.
- Eu não consigo mais aguentar, ! – eu disse choroso. sorriu de lado – Não sorri desse jeito! Diz que você também não consegue mais aguentar? Eu me sinto um perdedor me sentindo assim sozinho...
- Assim como? – ela riu baixinho.
- Meio... – eu hesitei, desviando o olhar, depois voltei a encará-la – Meio sedento. – sorriu largo, passando a mão no meu cabelo, como se eu fosse um menininho.
- Não se sinta sozinho, meu amor. – sorri. Era bom saber que eu não era o único que parecia maníaco por um pouco de sexo.
- Agora é a hora que nos beijamos e fazemos sexo “enlouquecidamente”? – perguntei. riu alto.
- Não! – ela se levantou, puxei-a pela cintura.
- ! – reclamei, ela riu, se virando de frente para mim e me beijando.
No início foi um beijo doce, mas depois começou a aumentar de intensidade. Nossas línguas brincavam e se entrelaçavam de um modo que senti muita falta. Sem nenhum medo, sem nenhuma “barreira”, como se enfim estivéssemos livres para fazer o que deveria ser feito, como um casal de verdade.
quebrou o beijo, sem afastar o rosto do meu, e respirou fundo. Ela estava ajoelhada na minha frente, sua camisola preta de tecido fino caía perfeitamente em seu corpo, mostrando o volume dos seios.
Comecei a distribuir beijos por seu pescoço, ela sorriu de lado e colocou os braços em volta do meu pescoço, entrelaçando os dedos no meu cabelo. voltou a me beijar, me empurrando para trás delicadamente e ficando sobre mim, sem deitar. Ela passou a mão pela minha barriga, dando arranhões de leve, sem quebrar o beijo.
Separei nossos lábios para respirar. desceu as unhas pela minha barriga, parando no elástico da minha boxer, e deu uma mordida de leve no meu lábio inferior.
- . – gemi. Ela riu baixinho, apenas me provocando mais, depois me deu um selinho e sussurrou, sem desencostar os lábios dos meus:
- Nosso jejum acabou, meu amor. – depois respirou fundo, puxando minha mão para a sua cintura. Mesmo que eu já soubesse daquilo, era tão bom ouvir da boca dela. Voltei a beijar .
Apertei seu quadril, ela soltou um gemido baixo entre o beijo. Puxei sua camisola para cima. quebrou o beijo e tirou o resto, jogando em um canto qualquer. Depois puxou o cabelo para trás e fez um coque com o próprio cabelo.
Fiquei olhando para ela. Por breves segundos, fiquei admirando-a. Fazia vinte dias que eu não a via, se me entendem. Parecia tão mais linda quanto antes.
sorriu de lado, mirando minha boxer, depois voltou a me beijar, me puxando para sentar. Ela sentou no meu colo e acariciou minhas bochechas, depois brincou com o meu cabelo. Eu ora brincava com o elástico da calcinha dela, ora acariciava suas costas.
Quebrei o beijo, começou a distribuir beijos pelo meu pescoço, depois começou a dar chupões. Meu membro já pulsava com a ereção, parecia insanidade o fato de apenas dois panos nos separarem. E parecia que sentia isso também, pois ela colocou as mãos no elástico da minha boxer e começou a puxá-lo pra baixo. Depois, foi a minha vez de puxar sua calcinha para baixo também, fazendo-a se arrepiar. Era incrível como conseguia me deixar mais apaixonado a cada simples ato. Mesmo com quase cinco anos que estávamos juntos, ela ainda sentia um arrepio quando estava comigo na cama. Era tão... Fofo?
Deitei em baixo de mim, era a minha vez de brincar com o seu pescoço. Dei mordidinhas e chupões ali, sua pele estava gelada. Ela respirou fundo, me puxando mais para perto, acabando com qualquer espaço entre nós. Passou as pernas em volta da minha cintura, sem quebrar o beijo, que ficava cada vez mais intenso. Parecia que algo explodiria ali.
Fui abrindo suas pernas aos poucos, me posicionando para penetrá-la. Percebi que ela hesitou por segundos.
- Tem certeza? – sussurrei em seu ouvido. – Ainda dá tempo de pegar a camisinha.
sacudiu a cabeça.
- Eu quero. – respondeu mais baixo ainda. Seu rosto estava a centímetros do meu, mas ela não me encarava.
Passei meu nariz pelo seu, abrindo mais um pouco suas pernas e enfim ficando na posição. abraçou o meu pescoço com força.
- Linda, linda e minha. – eu sussurrei, penetrando-a.
Penetrei-a lentamente, ela aumentou a intensidade do abraço. Quando meu membro adentrou por inteiro, me olhou e sorriu, me beijando. Beijamo-nos com tanta intensidade que parecia que sufocaríamos um ao outro. Quando enfim desgrudamos nossos lábios, sussurrou:
- Eu te amo.
- Eu também. – sussurrei de volta, beijando o topo da sua testa.

Arrastei meus pés até a cozinha, me jogando no banco na frente da bancada. olhou para mim e sorriu de lado.
- Devia ter ido dormir mais cedo. – ela disse. Dei de ombros.
- Você viu a quantidade de mosquitos que tinha no quarto ontem? Eu não ia dormir com eles olhando pra mim! – riu. Bufei e andei até a fruteira, pegando uma banana. Pera aí!
- ! – apontei para a fruteira. olhou para mim confusa, com um ar de riso.
- Ó, bananas. – ela disse. Olhei feio pra ela e saí da cozinha sem falar nada, e fui até o quarto.
Quando voltei para a cozinha, me olhou ainda mais confusa e com uma cara de riso maior. Mostrei para ela a raquete elétrica.
Sim, agora tudo se esclarece. Eu, , o homem da casa, tenho nojo, me sinto realmente incomodado com moscas, mosquitos e etc. Muito incomodado. Noite passada eu havia passado quase uma hora tentando matar com a raquete elétrica três mosquitos que tinham entrado no quarto. Matei dois. O outro me aguarda, não ia escapar.
- Não, ! – tentou tirar a raquete da minha mão, mas eu estava decidido. Pronto para matar.
- Vou matar todos esses bichos da banana, nada pode me impedir, . – andei até a fruteira, pendurada em meu braço, rindo.
- Não faz isso com elas, são só pobres e indefesas Drosophys. – olhei para ela com cara de nada. riu.
- São o quê? – perguntei, esquecendo um pouco dos mosquitos e encarando minha esposa.
- Drosophy Melanogaster! – ela exclamou rindo.
- O que é isso, ? – eu ri.
- É o mosquito da banana! Chama Drosophy Melanogaster!
- Pra que você sabe disso? – deu de ombros.
- Sou veterinária, tem coisas que eu preciso saber. – sorri de lado.
- Doutora , pode examinar minha Drosofica? Ela anda meio caída, sabe? Não quer comer, não quer passear, faz cocô fora do jornal... – fingi puxar uma coleira. riu.
- Não é Drosofica! É... – ela colocou as mãos na cabeça e fez uma careta. – Ouch.
- ? Você tá bem? – me aproximei dela. Ela sacudiu a cabeça. – O que foi? – perguntei aflito. ficou um tempo com as mãos na cabeça, de olhos fechados, depois abaixou as mãos, respirou fundo e sorriu.
- Nada, já passou. Pontada, sabe? Pontada de dor de cabeça... – assenti.
- Não quer tomar um remédio? – sacudiu a cabeça sorrindo.
- Não, tá tudo bem, . De verdade... Deve ser por que... – ela franziu as sobrancelhas.
- Por quê? – olhou para mim, de olhos arregalados.
- Vem cá. – ela me puxou pela mão até o quarto. Fui atrás dela sem entender nada. Permaneci parado na porta enquanto ela remexia no armário, puxando a bolsa e lá dentro remexendo de novo.
- , quer me falar o que... – antes que eu terminasse a frase, ela puxou uma folha de dentro da bolsa e levantou. – Parece que você ta levantando uma espada, ou parece a Estátua da Liberdade... – ri. sorriu com deboche.
- Isso é minha tabela menstrual. – ela abriu a folha e olhou atentamente para os números, depois me mostrou.
- Um, dois, três, Março, Abril... – eu li, tentando achar algum sentido naquela tabela.
- Não, , olha aqui – ela apontou para os números riscados. Eram quatro seguidos de cima para baixo. Na coluna ao lado haviam outros quatro, exatamente na mesma direção. E assim na outra coluna. Na quarta, porém, não havia nada riscado.
- Porque não tá riscado? – perguntei, me sentindo realmente bobo.
- Essa coluna é desse mês... Hoje é dia 15, ou seja, está três dias atrasado. Era pra ter começado a riscar desde aqui, desde o dia 12... – ela mordeu o lábio. Continuei olhando para ela, sem entender. – Você não entendeu, né? – ela perguntou, rindo baixo.
- Não. – disse sincero. sorriu.
- Minha menstruação atrasou três dias. Isso nunca acontece comigo, sou extremamente regulada. Desde sempre.
- Isso quer dizer que... – comecei. sorriu largo, assentindo.
- Acho que sim! – Sorri, abraçando-a.
- Isso é incrível! – eu disse animado.
- Sim! Mas calma, vamos falar com o médico antes... – assenti.
- Quando? – sacudiu a cabeça.
- Não sei.
- Agora? – Perguntei animado, levantando da cama e puxando-a junto.
- Agora? – Ela riu. – Por que não?
Vestimo-nos e saímos de casa, sem ao menos ligar para o médico. Sorte que ele estava livre e nos atendeu na hora. O doutor mandou fazer um exame de sangue, não entendi direito o porquê, mas não disse nada, a felicidade e a ansiedade pelo resultado daquele exame pareciam querer transbordar de mim.
- O resultado sai amanhã de manhã. – A enfermeira falou.
- Mas amanhã é domingo... – eu disse, imaginando que saco deveria ser trabalhar com exames de sangue de domingo de manhã. A enfermeira sorriu.
- Não se preocupe, amanhã de manhã estará aqui.
O sábado pareceu demorar décadas para passar. ora ou outra reclamava das pontadas na cabeça ou pontadas na barriga.
Fomos dormir às nove horas, tamanha a ansiedade para que a manhã seguinte chegasse. Peguei no sono realmente rápido.
- , acorda! – me sacudiu.
- Bom dia pra você também – resmunguei – Que horas são?
- Oito! – ela disse animada. Bufei.
- Oito da manhã são horas de se acordar em um domingo?
- Ligaram da clínica, o exame chegou! – Ela disse alto. Isso teve o efeito de litros de café no meu corpo, eu praticamente pulei da cama. já estava vestida para sair.
- Sério? E aí? – sacudiu a cabeça.
- Temos que ir buscar. – Corri até o armário sem falar nada, vesti uma roupa qualquer e escovei os dentes. Em dez minutos estávamos saindo de casa.
- Bom dia. – A atendente da clínica sorriu.
- Viemos buscar um exame. – disse, a atendente assentiu.
- Nome completo.
- . – a atendente digitou em seu computador.
- Ah, exame de sangue para verificar a gravidez... O BHCG...
- Sim. – disse sorrindo. A atendente sorriu largo, levantando da cadeira e indo até uma estante cheia de exames. Ficou ali procurando por um tempo, até puxar uma pastinha de papel pequena.
- Aqui está, . Boa sorte. – ela sorriu, entregando a pasta para .
- Obrigada. – Minha esposa disse sincera, me dando a mão, e saímos da clínica. Do lado de fora havia um longo caminho de pedras, com um jardim em volta, até que chegássemos à rua. andava respirando fundo.
- Ei, vamos abrir. – Eu parei na metade do caminho. me olhou meio insegura.
- Estou com medo do resultado. – Ela disse baixo.
- Fica calma. Você nunca vai ter uma boa notícia se não se arriscar. – Spertei sua mão na minha. – Eu tô aqui com você, , pra tudo.
Ela sorriu e respirou fundo, abrindo o envelope. Estiquei o pescoço para ver, mas antes que eu pudesse ler alguma coisa, deixou o papel cair. Olhei para ela preocupado, havia lágrimas em seus olhos, mas um sorriso imenso em sua boca. Ela abraçou o meu pescoço e começou a chorar e rir ao mesmo tempo.
- Eu te amo, eu te amo, eu te amo. – Ela disse me dando vários selinhos. Ri alto.
- Você nem me deixou ler o papel! – Reclamei. sorriu de lado.
- Não precisa, você vai ser papai. – Ela voltou a chorar.
Abracei forte, tirando-a do chão. Lá na clínica, podia ver a atendente na janela, limpando os olhos e sorrindo. Sorri para ela e senti algumas lágrimas desprenderem de meus olhos.
Eu ia ser pai.

n/a: Olá! Estou fazendo essa n/a para agradecer à quem comenta e explicar o que é BHCG. Bom, HCG é o hormônio da gravidez e Beta é uma fração deste hormônio. Então, Beta HCG seria a fração hormonal que aparece em testes de gravidez, é também o nome dado ao teste de detecção de gravidez BHCG, que é feito por meio do sangue ou da urina da mulher. Haha, agora que eu expliquei eu gostaria de agradecer à quem lê a fic e à quem comenta e desejar um ótimo fim de ano e um maravilhoso começo de 2012!

n/b: Se encontrar algum erro, mande um e-mail para drainnotes@live.com ou avise pelo twitter.


comments powered by Disqus