- , vamos sair! – exclamou , puxando meu pulso levemente e conseguindo me erguer da cama. Eu neguei. – Eu vou te arrastar – avisou ela.
- Isso é injusto, – informei. Eu era muito leve. As pessoas conseguiam me arrastar simplesmente com um braço ou me carregar no colo em um só ombro. Eu sofria com isso.
- Hm – murmurou ela, se jogando na minha cama e sentando-se ao meu lado. – Já tem muito tempo, . Você precisa seguir sua vida – ela mudou o tom.
- Eu não quero falar sobre isso - resmunguei. Odiava quando as pessoas mudavam de assunto do nada e sempre empurravam para o mesmo: você tem que sair, sua vida continua, já passou muito tempo. Mais que droga! Eu acho que quem decide se está na hora de fazer essas coisas sou eu, só eu, não?
- Já faz oito meses. E há oito meses você não sai de casa – lembrou . – A quantas festas você foi nesse meio tempo? – inquiriu-me.
- Hm... Deixe-me ver. – pausei-me para pensar. – A da minha prima, a do meu tio e a da minha irmã. Ah, claro, a sua também, apesar de não ter aceitado que você tenha feito festa apenas três meses depois do acontecimento.
- Voce só foi nessas quatro porque foi obrigada – soltou. - E acontecimento? Você tem que deixar de falar assim. Morte, foi isso que aconteceu. – Abaixei a cabeça. – Pode ser difícil para você, porém ainda sim você precisa aceitar que morreu e que ele não vai voltar! – Eu consenti, enquanto batia os pés na madeira da cama. Lágrimas escorriam. Soluços ecoaram. – Perdão – desculpou-se minha amiga quando percebeu meu choro.
- Tudo bem – falei instantes depois . Levantei a cabeça. – Está na hora de seguir em frente. Ou, pelo menos, tentar.
E dito isso, nós fomos nos vestir. roubou um vestido meu rosa que ela amava e eu separei um preto que gostava antes de irmos tomar banho. Depois de devidamente maquiadas, perfumadas, limpinhas e com o cabelo arrumadinho, nós fomos nos vestir.
encaixou-se perfeitamente no vestido, como sempre, e ficou linda nele. Eu, no entanto, tive uma decepção quando vesti o vestido preto justo, ele estava grande! Eu já era bem magrinha, como já havia dito anteriormente, e durante os últimos oito meses eu havia comido bem mal e feito bastante exercício. Era uma mania minha, pegar o IPOD e correr para a sala de ginastica do prédio quando começava a chorar.
- Eu não vou a essa festa aí. – Eu nem ao menos sabia aonde nós íamos, todavia, bom, agora não tinha importância.
- O que? Não. Você vai – afirmou minha amiga. Assim, ela pegou a linha e a agulha e costurou o vestido, diminuindo e ajustando sorretareamente a área do busto e da cintura, que se encontravam folgados. Ficara uma emenda, mas ainda sim dava para o gasto.
Seguimos para a festa. No meio do caminho descobri ser a comemoração do aniversário de uma garota da escola. até me falou o nome dela, mas eu havia me esquecido no instante seguinte. Adentramos a festa e cumprimentamos a aniversariante, uma loira alta com um vestido curto prateado de lantejoulas, Lisa, esse era o nome dela. Em seguida, fomos falar com alguns conhecidos.
me chamou para dançar, mas eu preferi ficar quieta. Sentei em uma poltrona e me servi com um refrigerante que o garçom ofereceu. Eu nunca fui de beber muito, mas desde o acidente eu não ingeria uma gota de bebida alcóolica. Fora uma promessa que eu fiz.
Alias, já está mais do que na hora de eu contar o que aconteceu, afinal, eu não conseguia esquecer. Havia me levantado da cama, me produzindo toda e vindo até essa festa, mas mais do que isso eu não conseguia. Dançar e fingir me divertir? Não quando aquilo não saia de meus pensamentos. Quando ele não saia de minha cabeça. Eu havia tentado, mas continuar minha vida sem ele era muito mais difícil do que eu imaginava.
era meu namorado há nove meses e nós nos amávamos. Clichê, eu sei. E então, em uma noite que ele saía com os amigos e eu fazia uma reunião em minha casa com as amigas, tudo ocorreu. Um amigo dele dirigia o carro, bêbado. Na verdade todos ali estavam bem altos e saíram ao volante.
O carro bateu em uma árvore. A parte mais atingida foi a lateral direita, principalmente o passageiro. E era lá que estava. Um ficou em coma por um mês e acordou, outro ficou internado por dezessete dias com um braço fraturado como contusão mais grave. O motorista ficou somente com alguns arranhões e um corte mais profundo na cabeça. ficou imprensado entre as ferragens do carro. Morreu. Perdeu a vida. E junto, se foi a minha.
Abaixei a cabeça quando as lágrimas que enchiam meus olhos ameaçaram cair. Passei o dedo levemente embaixo do olho, para não borrar a maquiagem. Levantei o rosto e tive uma surpresa.
Balancei a cabeça, não acreditando no que via. Aquilo era uma alucinação. Pisquei várias vezes, tentando me desvencilhar daquela imagem irreal. Não, não podia estar ali! Aquilo era uma imagem que minha mente havia feito, só isso. Mas a miragem não se desfez. E então a mesma fez um movimento, me chamando com as mãos para segui-lo. Eu não sabia se era certo ou não, mas eu senti que tinha que segui-lo. E assim fiz.
Andei em passos rasos pelo salão da festa, acompanhando o caminho que fazia. Eu saí do espaço fechado da festa e encontrei um jardim cheio de flores vivas e coloridas. Um lugar lindo. Encontrei no canto, sentado em um banco, olhando-me fixamente com um sorriso. Caminhei até ele devagar. Eu não sabia o que era tudo aquilo!
Sentei-me ao seu lado, sustentando uma distância segura. O encarei, tentando desvendar aquele empecilho da ciência. Sim, era . Sorri. Aqueles mesmos olhos brilhantes, aquele nariz arrebitado, aquela boca que fazia uma bela carranca quando magoado, aqueles cabelos sempre bagunçados. Um tanto mais branco, pálido, entretanto ainda sim era meu namorado morto oito meses atrás.
E essa lembrança fez meu sorriso desmanchar-se. O que era aquilo afinal? Eu apoiei minhas mãos no banco e empurrei-me para trás, afastando-me o máximo possível dele. Já ia me erguer do assento e correr o mais distante dali, mas senti mãos segurarem meu braço, rápido demais. Então ele era real, não era só imaginação. Ele não desmanchava quando era tocado. Era rápido demais também. E isso era ainda mais estranho! estava morto. Não? Sim, eu havia ido ao enterro, havia visto o corpo inerte no caixão, havia visto sendo enterrado, a terra e a areia se misturando e o afundando a sete palmos do chão. Aquilo não era possível!
- , fica – pediu a voz. A mesma voz de . – Por favor, amor. – E então, eu que estava erguida para ir embora, sentei-me ao lado de de novo. Aquela voz, tantos amor já haviam saído dali... Era inesquecível, encantadora, era única.
- , é você? Mas você morreu e eu te vi no caixão, e como é possível, quer dizer... – pus-me a falar rapidamente.
- Calma – pediu ele. – Eu vou contar. Só preciso que acredite em mim. – Eu assenti. – Eu sou um fantasma. – Olhei para ele sem acreditar, e quando ele reconfirmou com a cabeça eu não pude evitar soltar um riso de nervoso.
- Desculpe – desculpei-me assim que consegui parar de rir. – Você não está falando sério, está?
- Olha, , eu sei que é difícil de acreditar, mas você precisa entender. Eu morri, e você sabe disso. Entretanto, eu voltei, voltei porque você está sofrendo todo esse tempo.
- Você voltou? – o interrompi, inebriada pelas palavras.
- Sim. Pois bem, eu não posso voltar simplesmente como se nunca tivesse morrido, afinal, eu morri, e isso é um fato. Então eu virei um fantasma.
- Hm... E sendo um fantasma, como funciona?
- Eu não preciso comer, só apareço para as pessoas que eu quiser quando eu tiver afim.
- Senti sua falta – rompi as explicações. Não importava as condições e os empecilhos que havia, ele estava comigo novamente e aquilo já era mais do que suficiente!
- Também senti. – Olhou em meus olhos. – Você não sabe o quanto eu sofri vendo você aqui tão cabisbaixa e não podendo fazer nada. Senti falta do seu sorriso lindo, das covinhas fofas que se formam em suas bochechas quando você fica envergonhada, como agora, do jeito que você franzi a testa quando está raivosa; eu podia ficar falando horas e horas sobre essas coisas.
Eu sorri e abaixei a cabeça para pensar. Era mesmo. O meu . O que se fixava em detalhes, o que me fazia sentir vergonha pelos elogios, o que me fazia feliz. E se ele fosse um fantasma, qual era o problema? Ficar sem ele era muito pior. Eu sorri, aproximando nossos corpos e unindo-os em um abraço apertado. Ele retribuiu, encostando o nariz em meus cabelos e a boca em minha testa num singelo beijo. Eu afundei meu rosto em seu pescoço. Ele estava um pouco gelado, mas ainda sim era tão aconchegante e bom para se abraçar como oito meses antes.
- As pessoas que olharam para esse abraço agora viram você abraçando ninguém, o nada, afinal, eu sou invisível para elas – explicou ele, falando em meu ouvido. – Você vai ser dada como louca.
- E você acha que eu me importo? – minha pergunta foi abafada, porque eu não queria deixar novamente espaço entre nós. Eu continuei lá, agarrada a ele. – Eu estou com você, isso que interessa. – Sorri.
Ele juntou nossas bocas e eu senti o que há oito meses não sentia, as borboletas saltitantes e felizes no estômago. Os movimentos, o encaixe, nossas línguas dançando, era tudo tão perfeito. Eu me sentia completa novamente.
- Te amo – ele sussurrou assim que paramos o beijo. Ficamos com a testa encostada uma na outra e os dedos das mãos cruzados.
- Te amo pra sempre. Por toda sua fantasmisse. – Rimos antes de nos beijarmos novamente.
N/A: E aí povo? Eu escrevi essa short pensando “Bruna, você só escreve coisas de gente morrendo e sofrendo, tente ser normal pelo menos um instante!” Claro que tinha que ter morte, como sempre, mas ficou bonitinho, vai? E até feliz kkk.
Colocar um título nisso foi difícil. Não, eu nem diria difícil, mas bem estranho foi. Eu escrevi e deixei no PC sem um titulo decente. E títulos para mim, mesmo que eu não tenha criatividade para inventa-los, são essenciais; é o que faz você ler, ou não, então tem que ser algo marcante. Bler, eu não havia pensado em nada mais do que fantasma :s
E então eu estava relendo minha fic (Two Sides of The Law, McFly Andamento) em que eu uso essa musica. Ah, vocês conhecem a musica que eu usei na nota, né? I miss you, do Blink 182. Eu amo essa letra, mais do que a musica até. E o titulo, The angel from my nightmare, é logo a segunda frase da música. Eu simplesmente AMO essa frase, ela é tão perfeita. Em português é bonita, mas em inglês tem poder, tem magia! Sério, eu colocaria o nome do meu filho disso, se o pai dele não me matasse por isso. Hahahaha.
Fui ler a letra novamente e vejo que tem TUDO a ver com que eu escrevi. Eu diria que a short foi escrita baseada na música, mas como fui eu quem escreveu e sei que nem cogitei a possibilidade, eu afirmo e repito que o Blink roubou minha ideia e transformou em música. #fato.
Brincadeiras a parte, eu adorei mesmo. Sei lá, nem tanto a fic, mas a música com a historia ficou demais. E, olhem, é difícil eu gostar do que faço hein kkk. Obrigado por tudo gente, beijão. Deixe-me feliz, comente!
Qualquer erro encontrado nessa fanfic é meu, então me avise por email. Obrigada.