"Can I have my cake? Can I have you too? Would you follow me? Can I ask you to?"
- John Mayer, Breakaway
's POV
“Amanhã teremos tempo nublado na maior parte do dia, embora...”
Flip.
“... os menores preços que você já viu...”
Flip.
“...No he can't read my poker face...”
Flip.
“Vive num abacaxi e mora no mar? Bob Esponja Calça Quadrada!”
Flip.
- Será que dá pra parar de mudar de canal?! – eu exclamei finalmente, fechando a
revista na qual eu tentava inutilmente me concentrar.
Ele voltou os olhos infinitamente em minha direção, me lançando um
sorrisinho sarcástico antes de lentamente erguer o controle remoto outra vez.
Flip. Flip. Flip. Flip. Flip. Flip.
Eu contei dez segundos de trás para frente, fechando os olhos e tentando conter
meu surto de raiva. Era um truque que eu havia lido em um dos milhares de livros
de auto-ajuda que eu comprei para me ajudar a sobreviver os meses de espera até
a chegada da carta de Yale. Não conseguiram me fazer superar minha ansiedade,
mas nos últimos tempos andavam se revelando bem úteis ao me ajudarem a controlar
o impulso de assassinar com o facão da cozinha.
Ele ainda me encarava quando voltei a abrir os olhos, a provocação escrita em
cada linha de sua expressão. Lancei a ele um olhar feio que o fez apenas alargar
o sorriso antes de voltar a atenção para a TV a sua frente, se ajeitando no sofá
e voltando a zapear os canais.
Eu apertei com força o braço da poltrona na qual eu estava, desejando que o
inocente material estofado fosse o pescoço de . Lá estava ele, largado no
meu sofá, um braço descuidadamente apoiado atrás de sua cabeça, as pernas
abertas e os jeans caindo perigosamente baixos em seu quadril. Ele era tão cheio
de si, tão irritante, tão idiota, tão... Gostoso, sexy, deliciosamente
cafajeste...
Oh, sim. Eu tenho uma queda gigante pelo imbecil filho da mulher do meu pai.
“Filho da mulher do meu pai”. Estranho, eu sei. Mas eu prefiro isso à “filho da
minha madrasta”. Ou pior, “meio-irmão”. Argh! não é nem nunca vai ser
nada sequer perto de um irmão pra mim. Ele é só o cara que eu quero ver morto
cinqüenta por cento do tempo.
E na minha cama nos outros cinqüenta.
Não, esse não é um caso de simples atração pela pessoa que você detesta. Porque
se eu for totalmente sincera, terei que admitir que não odeio tanto assim.
Na verdade, eu gosto dele. Mas odeio a necessidade que ele parece ter de tornar
minha vida um inferno. Não só com as constantes implicâncias, armações e etc...
Mesmo sem isso, ele complica minha vida simplesmente existindo. Existindo com
seus olhos , voz sexy, corpo perfeito... Me fazendo desejar o único cara no
mundo que eu não devia querer de jeito nenhum. Porque além de aparentemente me
detestar, a criatura mora comigo, é parte da minha família há um ano. Na
verdade, exatamente um ano, já que hoje é o primeiro aniversário de casamento
dos nossos pais.
É por isso que eu estou aqui agora, na verdade. Servindo de babá do
enquanto meu pai e a mãe dele passam o dia velejando. está proibido de
sair de casa para qualquer lugar além da escola depois de ter sido flagrado
pichando “DIRETORA REYNOLDS É SAPATÃO” no lado de fora do prédio da diretoria
algumas noites atrás. Tudo porque a diretora se recusou a deixar a banda dele
tocar no baile de formatura.
Como nem meu pai nem minha madrasta são inocentes o suficiente para acreditar
que simplesmente se comportaria, e como os dois só voltam mais tarde para
sair e jantar conosco... Eu fiquei encarregada de ficar de olho na peste, já que
meu pai simplesmente assumiu que eu não teria nada mais para fazer nesse final
de semana. Bom, eu não tinha mesmo, mas isso não vinha ao caso. Ter um bom
motivo para grudar meus olhos em por horas não melhorava em nada minha
situação, além de que ficar sozinha em casa com ele era algo que sempre me
deixava... Nervosa. Não acontecia muito, principalmente com nós dois sendo
forçados a ficarmos tão próximos, mas quando acontecia, era algo que me deixava
inquieta. Eu tinha medo que meus hormônios vencessem por saberem que não havia
ninguém na casa para me tirar de cima de caso eu o atacasse.
Eu suspirei, irritada, voltando a abrir minha revista. Se quando eu conheci
eu já soubesse quem ele era, talvez nada disso estivesse acontecendo.
Talvez se eu soubesse que ele era o filho de Margaret e a criatura mais
irritante do planeta antes de vê-lo pela primeira vez, talvez eu estivesse mais
preparada. Mas com a sorte que eu tenho, eu não sabia de nada disso. Então
quando o vi encostado àquela árvore, usando o smoking que o deixava ainda mais
sexy, não o classifiquei imediatamente como “meio-irmão”. Foi algo mais como
“coisa mais perfeita que eu já havia visto”.
Fazia exatamente um ano. Como ainda morava na Inglaterra na época, eu só o
conheci no dia do casamento. Meu pai conheceu a mãe dele em uma viagem para a
Europa, e foi amor à primeira vista. Ambos eram viúvos, ambos ainda eram jovens
e atraentes... Não demorou muito para Margaret se mudar para Seattle, deixando o
filho com os avós até o ano letivo acabar. Eu nunca havia tido curiosidade de
pedir para ver uma foto de , e ninguém nunca pensou em me mostrar. Assim
quando, ao seguir para o lago de forma a olhar os peixes, eu o vi a poucos
metros de distância, tudo o que eu pude pensar era o quanto eu queria que aquele
Deus grego reparasse em mim. Eu havia fugido da confusão que estava aquele
rancho enquanto o casamento não começava, e lá estava ele, encostado em uma
árvore, fumando e observando a paisagem. Eu devo ter olhado tanto para ele que
em algum momento ele sentiu meu olhar, voltando àqueles olhos na minha
direção pela primeira vez. Naquele momento eu soube que estava perdida. O olhar
dele me sugava, me prendia, me fazia esquecer do resto do mundo, e todos os
outros clichês nos quais você puder pensar. Naquele momento eu entendi da onde
vinham aqueles clichês.
Os lábios perfeitos de haviam se curvado em um meio sorriso e seus olhos
deslizaram por meu corpo de cima a baixo. Eu me forcei a não abaixar o olhar
como uma garotinha envergonhada, e o sorriso dele pareceu se alargar com isso.
Quando jogou o cigarro no chão, o esmagou com o sapato e começou a vir na
minha direção, porém, eu ouvi a voz de me chamando, e em seguida vi a
criatura correndo em minha direção, os olhos avermelhados pelas lágrimas
enquanto balbuciava coisas como “o está dando em cima de uma loira
siliconada!”. Eu lancei um sorriso de desculpas ao garoto que parara de se
aproximar e ele sorriu de volta, assentindo com a cabeça e se afastando.
Com a confusão pré-casamento, eu não tive outra oportunidade de tentar falar com
ele. Os parentes do meu pai que eu não via desde criança cismavam em me parar
para dizer como eu tinha os olhos do meu avô, a boca da minha tia, e outras
idiotices que me faziam me sentir o próprio monstro do Frankstein. Apenas
consegui trocar mais alguns olhares com , e já odiava por ter nos
interrompido mais cedo quando a voz do meu pai declarou as palavras que
serviriam como uma pá de cal sobre minhas esperanças.
Querida, venha conhecer o .
Ele pareceu tão chocado quanto eu, mas disfarçou o desconforto e as
apresentações foram feitas.
Eu tentei esconder minha decepção durante o casamento e a posterior festa, mas
havia sido difícil, principalmente por ter, por uma extrema infelicidade
do destino, conhecido e se juntado ao idiota na caça a mulheres
solteiras.
No dia seguinte voltou para a Inglaterra, e eu só voltei a vê-lo quando ele
se mudou de vez para minha casa. Os olhares sugestivos já eram passado, e só o
que eu passei a obter dele eram provocações e ofensas, como se o interesse que
ele demonstrara em mim de início houvesse dado lugar a puro ódio.
Nenhum de nós nunca mais mencionou o dia do casamento.
Eu respirei fundo, tentando novamente me concentrar na revista em meu colo. Já
fazia um ano. Já era para eu ter superado minha quedinha ridícula. Em algumas
horas meu pai e Margaret voltariam para casa, e nós quatro iríamos jantar fora
para comemorar o aniversário de nossa “família”. E eu teria que me sentar
durante toda a noite fingindo estar feliz com isso, fingindo ser a filhinha
perfeita que não sente um desejo insano pelo meio-irmão filho da puta.
E lá vou eu xingar a coitada da Margaret.
Eu passei a folhear a revista com uma concentração irritada. Eu tinha que parar
de pensar em , e parar de pensar no dia de hoje como o aniversário de um
ano dele na minha vida. Era o aniversário dos nossos pais, isso sim. Não podia
me deixar esquecer disso.
Me perguntei se devia ter preparado algum presente para os dois. São só os
envolvidos que trocam presentes no aniversário de casamento ou o resto da
família deve dar alguma coisa também? Eu não tinha nenhuma experiência com esse
tipo de coisa, já que não cheguei a conhecer minha mãe direito.
Meus olhos pararam na foto de um bolo que acompanhava o que parecia ser uma
receita. Huh. Talvez eu devesse fazer um bolo para eles ou algo assim...
Minha linha de pensamento foi interrompida pelo som da TV sendo bizarramente
aumentado.
- QUAL É O SEU PROBLEMA?! – eu gritei para , tentando me fazer ouvir apesar
do barulho.
- VOCÊ PAROU DE OLHAR FEIO PARA MIM. – ele explicou, rindo – COMECEI A ME SENTIR
DEIXADO DE LADO.
Só matando esse desgraçado mesmo.
- ABAIXA ISSO! – eu mandei, sentindo meus ouvidos doerem.
- O QUÊ? – ele perguntou, o sorrisinho sarcástico de volta aos lábios – FALA
MAIS ALTO, , A TV NÃO TÁ ME DEIXANDO TE OUVIR.
Chega.
Largando a revista na mesinha à minha frente, eu marchei até o aparelho de som,
o ligando e colocando no último volume. A voz de Joan Jett começou a berrar “Hit
Me With Your Best Shot” através das caixas de som. Eu nem lembrava que havia
esquecido meu CD ali.
e eu cobrimos os ouvidos praticamente ao mesmo tempo, os sons da TV e da
música combinados sendo demais para o tímpano de qualquer um. me olhou feio
e sinalizou com a cabeça para o aparelho de som, ao que eu respondi com o mesmo
olhar, sinalizando de volta para a TV e o encarando com teimosia. Não ia abaixar
antes dele. Não mesmo.
Mais alguns segundos e suspirou, revirando os olhos e desligando a TV. Eu
imediatamente desliguei o som, respirando aliviada. Nunca havia escutado som
mais maravilhoso que o do silêncio.
- O que há de errado com você? – perguntou , e eu precisava admitir que o
som da voz dele era ainda mais maravilhoso e...
Ei! O que ele disse?!
- O que há de errado comigo? – eu perguntei, incrédula – Foi você quem começou!
- Era uma brincadeira! Sabe o que é isso? – ele perguntou, rindo sem humor em
seguida – Ah é. Claro que não sabe. Esqueci que estava falando com a Miss Sem
Graça.
- O que eu posso fazer se minha idéia de graça é bem diferente da sua? – eu
retruquei – Sabe, nem todos somos macacos de zoológico que se animam com
qualquer coisa. A noção pode ser nova para você, mas tem gente no mundo que tem
cérebro e não acha graça de qualquer idiotice.
- E a noção pode ser nova para você, mas tem gente no mundo que tem senso de
humor! – ele rebateu, cruzando os braços.
- Tentar furar os tímpanos de alguém não é humor, . É agressão. – eu
insisti.
- Oh, céus, sai dessa! – ele praticamente grunhiu – Por que você tem que levar
tudo tão a sério o tempo todo? Se você relaxasse um pouco, poderia até aprender
a se divertir. Já ouviu falar disso, Senhorita Eu-vou-para-Yale? Diversão?
- O fato de eu ter um objetivo e me dedicar a ele não me impede de me divertir.
– eu disse, em tom meio autodefensivo. Aquela acusação tocava em um ponto que eu
não queria discutir no momento. Remetia a algo dentro de mim que eu não havia
admitido nem para mim mesma ainda.
- Nem vem com essa. Você nunca faz nada de errado, . Nunca se liberta um
pouco.
- Oh. Então só porque eu bebo conscientemente e não me envolvo em escândalos
sexuais, eu não sei me divertir? – eu perguntei, irritada.
- Ora, vamos lá! Todo mundo precisa fazer merda de vez em quando, ir a extremos
pra lembrar que está vivo! – ele disse, ainda sentado no sofá, cruzando os
braços e me encarando como se preparando a si mesmo para o que diria em seguida.
– Não dá pra ser feliz sendo uma vadia frígida vinte e quatro horas por dia.
Por um momento, só o que eu pude fazer foi encará-lo, chocada.
- Repete isso. – eu desafiei finalmente, sentindo o veneno escorrer das minhas
palavras, pronunciadas em meu tom mais perigoso. Oh, ele não podia ter dito o
que eu achava que havia dito. Não é possível que ele tenha me chamado de...
- Vadia. Frígida. – ele repetiu, com calma.
Eu tentei contar os dez segundos de trás para frente. Mas quando cheguei ao
“cinco”, já havia atacado o infeliz.
Não sei o que me deu, mesmo. Geralmente eu sou contra violência física. Mas
dessa vez havia me empurrado longe demais. Quando eu dei por mim, meus
punhos já tentavam acertar qualquer parte possível do corpo do infeliz.
Foi uma má idéia, na verdade. era bem mais forte, de forma que eu ainda
não havia conseguido acertar sequer um soco quando ele segurou meus braços, os
prendendo um de cada lado da minha cabeça contra o encosto do sofá.
- ME LARGA! – eu berrei, irritada, tentando me soltar.
- Largo se você parar de agir como uma lunática. – ele disse, visivelmente
assustado com a minha reação, enquanto ainda lutava para me segurar. Eu costumo
ser uma garota controlada, sério. Mas o que ele disse tocava direto em uma
ferida que eu tentava com muito empenho esconder.
- ENTÃO RETIRA O QUE DISSE! – eu exigi, ciente de que meu rosto devia estar
vermelho.
- Ok, eu retiro, eu retiro. – disse ele, me soltando e se afastando um pouco no
sofá, com as mãos erguidas em sinal de rendição.
- Melhor assim. – eu disse, mais calma, ainda respirando forte e massageando
meus pulsos levemente doloridos enquanto tentava recuperar o controle sobre mim
mesma.
- O que deu em você? – ele perguntou, e a genuína preocupação misturada à
irritação em seu olhar me surpreendeu.
- Desculpa. – eu disse, respirando fundo – Só não gostei do que você disse.
Machucou, ok?
- Então sou eu quem pede desculpas. – o tom de tinha um toque de vergonha,
e eu me vi cada vez mais confusa. Eu e ele sempre brigávamos, isso não devia ser
novidade. O que havia mudado?
Talvez o fato de eu ter encarnado o Hulk há um minuto atrás.
- Tá tudo bem. – eu disse, evitando encará-lo.
- Não, sério. Eu não sabia que você ia levar a nível tão pessoal. – eu tive que
erguer o olhar até o dele depois dessa, uma sobrancelha levantada. Como ele
esperava que eu “levasse” aquilo? – Quero dizer... Não sabia que você ia ficar
tão ofendida. Não é a primeira vez que a gente discute... Mas desculpa. Por te
chamar de vadia frígida, de lunática e de cretina psicótica.
- Você não me chamou de cretina psicótica. – eu disse, confusa, apenas para
querer me bater em seguida ao ver o sorrisinho provocante nos lábios do infeliz.
- Acho que acabei de chamar, então.
Em outras circunstâncias, eu teria ficado irritada. Teria rebatido a ofensa na
mesma hora. Mas eu devo ter gastado toda a minha raiva no ataque de antes,
porque minha reação foi apenas rir da ousadia daquele desgraçado.
- Eu devia matar você. – eu disse, entre risos.
- Você não me mataria, querida. – respondeu , em tom leve – Eu sou
divertido demais de se ter por perto.
Ok, hora de cortar o ego dele um pouco.
- Você não é divertido, . É convencido, irritante, nojento, idiota...
- Oh, pára. – ele me interrompeu, em um tom falsamente envergonhado – Assim você
me deixa comovido.
- Tá vendo? É disso que eu tô falando. – eu disse, revirando os olhos – Você
sempre tem que ter uma resposta espertinha para tudo.
- E você não? – ele me perguntou, cruzando os braços.
- Bom, não sou eu quem começa. – eu respondi.
- Oh, essa é a típica resposta madura. – ele rebateu, rindo sem humor.
- Isso vindo do cara que colocou a TV no máximo só pra me irritar.
- Isso vinda da garota que fez a mesma coisa com o aparelho de som porque não
consegue agüentar uma piada. – ele não desistia.
- E a gente volta para a discussão inicial! – eu exclamei, frustrada – Entende o
que eu tô dizendo? Você é irritante, . Demais. E se continuar assim as
pessoas não vão querer estar perto de você nem no seu velório! Seu enterro vai
ser mais vazio que carteira de pobre.
- Oh, sério? Assim você me machuca. Achei que ao menos você fosse querer ir,
para ter certeza que eu morri mesmo.
- Não vai dar. Quando você morrer eu vou estar ocupada demais fugindo da polícia
por ter te botado na cova. – eu retruquei, sorrindo.
- Eu... Não tenho uma boa resposta pra isso. – ele admitiu, sorrindo divertido.
- Não? – eu fingi surpresa – Eu deixei o grande sem palavras? Oh meu
Deus! Avisem aos jornais!
- Engraçadinha. – ele resmungou.
- Muito. Tá vendo? Eu sei fazer piadas. Sei me divertir. – eu disse, em tom
vitorioso.
- Em primeiro lugar, espero que você esteja ciente de que é você quem tá
revivendo o assunto. E em segundo... Eu mantenho minha posição. Você é comportadinha demais.
- E eu tenho escolha? – eu perguntei, irritada – Me desculpa se ao contrário de
você eu pretendo ser alguém na vida!
O arrependimento pelas palavras veio assim que elas saíram de meus lábios. Quem
parecia machucado agora era .
Aquilo não era justo com ele, na verdade. Não era como se não quisesse
trabalhar ou algo assim. Mas ele e a mãe andavam discutindo praticamente todos
os dias porque, bom... Ele não havia tentado nenhuma faculdade.
Não era por falta de capacidade. Apesar do mau comportamento de vez em quando,
era um bom aluno, tinha boas notas... Podia conseguir uma boa faculdade se
tentasse. Talvez não uma Ivy League, mas provavelmente Northwestern ou
Georgetown. O problema era que ele não queria. Não agora. tinha planos de,
assim que a escola acabar, passar um ano na estrada com a banda, fazendo shows
por onde passasse. A paixão dele sempre foi a música, e eu não o culpava por
querer ter ao menos um gostinho da vida de rockstar. Os meninos tinham planos
diferentes para depois desse ano, o que significava que a banda não ia poder
continuar por mais muito tempo. Era provavelmente a última chance deles de serem
uma banda de verdade.
- Desculpa... – eu disse, com a voz fraca.
- Não. – disse, simplesmente, se levantando do sofá tão rápido que me
assustou – Você pensa como a minha mãe, não pensa? Que só o que eu quero é ser
um vagabundo?
- , não...
- Bom, vocês estão erradas! – ele continuou, como se não me escutasse – Só
porque eu não sigo o caminho convencional, não significa que eu valha menos por
isso! Eu só quero viver um pouco, só isso! Mas claro, você não entenderia isso.
Eu entendia. Entendia melhor do que ele pensava, mas isso não vinha ao caso.
- Eu te pedi desculpas. Falei sem pensar. Mas não vou admitir que você comece a
me ofender de novo. – eu avisei, séria, me levantando e ficando de frente para
ele.
- Por que? A garotinha de ouro não agüenta ouvir verdades? Bom, eu não me
importo. Aqui vai uma pra você: não pense que pode me julgar só porque acha que
viver fora dos padrões é algum tipo de pecado! “Oh, ele tem um sonho! Que
crime!” – estava em pé, poucos metros à minha frente, que permanecia perto
do sofá, o encarando agora um pouco assustada. Ele estava irritado. De verdade –
Não tente julgar o mundo inteiro por você, . Algumas pessoas esperam obter
alguma satisfação na vida. – os lábios dele então se curvaram no sorriso mais
cruel que eu já havia visto, e eu devia ter me preparado para o que veio a
seguir – Ao contrário de você, cuja única satisfação na vida é obtida pelos
próprios dedos.
- O quê? – eu perguntei, assustada.
- Estou falando das noites solitárias no escuro do seu quarto, quando você se
toca achando que ninguém sabe disso.
Foi como um soco no estômago.
Ele sabia? Como ele sabia?!
Eu finalmente entendi a tal sensação de querer que o chão se abra e te engula de
tanta vergonha que você sente. Sempre pensei que a expressão fosse meio
exagerada. Mas não, não era.
O fato de saber daquilo estava me fazendo querer morrer. Sempre pensei que
era discreta o suficiente, silenciosa o suficiente... Mas o que ele dissera não
era nenhuma mentira. Eu realmente... “Me tocava”. E me envergonhava um pouco
disso. Mas uma garota tem necessidades, principalmente quando não tem um
namorado há mais de um ano e o meio-irmão incrivelmente gostoso dorme há uma
porta de distância. Há algo extremamente erótico em ceder à tentação sabendo que
o objeto de suas fantasias está separado de você por apenas uma parede. E que se
aquela parede não existisse, estariam no mesmo quarto... Era o tipo de
pensamento que fazia meus hormônios enlouquecerem, mesmo agora. Oh, eu estava
sim envergonhada, mortificada. Mas ao mesmo tempo, uma parte de mim estava se
excitando com o pensamento. Ele sabia. Sabia o que eu fazia durante as noites
enquanto pensava nele. A onda de desejo que eu senti então apenas piorou minha
vergonha.
Céus, eu sou depravada.
- Você sabe? – eu perguntei, antes que pudesse me deter, e odiando a mim mesma
em seguida. Não, , ele não sabe. O que ele disse não passou de um truque da
sua imaginação.
Pelo visto, além de depravada eu sou bem burra também.
- Sei o quê? – ele perguntou, sorrindo sarcástico, visivelmente adorando minha
pergunta idiota – Que toda noite você se deita na sua cama, morde o seu
travesseiro, levanta sua camisolinha azul e escorrega sua mão para dentro
daquela calcinha minúscula?
- Você viu? – eu reformulei minha pergunta, me sentindo ainda mais mortificada.
Uma coisa era pensar que ele sabia por ter me escutado. Outra bem diferente era
saber que ele havia me visto. Mas como, se eu sempre me certificava de que a
porta estava fechada?
- Não me olha assim. – ele respondeu, o sorriso murchando frente ao meu olhar
apavorado. Ele desviou os olhos, encarando fixamente o chão, sua postura mudando
para a de alguém constrangido. Quando ele voltou a falar, seu tom dedurava seu
nervosismo – Você não pode me culpar, ok? Eu sou homem, porra. Com uma garota
gostosa se masturbando no quarto ao lado, o que você queria que eu fizesse? Eu
tinha que escutar seus gemidinhos abafados toda noite sem poder fazer nada
quanto a isso. E céus, aqueles sons... Você insiste em fazer esses barulhinhos
deliciosos e eu tinha que ficar só imaginando. Já não dormia direito há semanas
quando finalmente não agüentei mais. Eu precisava... Ver... Eu fui até o seu
quarto, abri um pouco a porta, mas você estava entretida demais para reparar. E
depois disso eu não consegui mais parar. Não importa o quanto eu tente me
controlar, toda noite eu abro uma fresta da sua porta e fico ali, me torturando.
- Você me acha gostosa? – eu perguntei, me sentindo idiota por ter me
concentrado naquela parte específica. Mas eu não tinha outra escolha. Seu eu
parasse para analisar o resto do discurso dele, sabia que nada me impediria de
derreter em uma poça de hormônios em fúria.
- Tá vendo? É isso que me mata! – ele exclamou, irritado – Porque você realmente
não faz idéia! Fica desfilando por aí com jeans apertados, sem ter a mínima
noção do que faz com garotos, com homens! Do que faz comigo!
- Do que... Do que você está falando? – eu perguntei, com a voz fraca.
- Eu tô falando de você, ! Com o seu cabelo, seu olhar, seu sorriso, suas
curvas... – eu corei, e ele suspirou – Com esse jeito que você tem de corar com
absolutamente tudo! Você é uma droga de sonho erótico tornado real e nem
desconfia disso!
- Mas... – eu fechei os olhos e respirei fundo – Você nem gosta de mim. Me
odeia, na verdade.
- Oh, inferno! – ele disse, revirando os olhos de forma impaciente – Eu não te
odeio, sua idiota! Eu sou louco por você!
Eu definitivamente devo estar sonhando.
Talvez quando eu ataquei há alguns minutos atrás, tenha escorregado e
batido com a cabeça. Era a única explicação plausível.
Nós permanecemos parados por alguns segundos, nos encarando. Eu mal podia
respirar, enquanto ofegava como se tivesse corrido uma maratona.
- Totalmente. Louco. Por você. – ele admitiu novamente, dessa vez com mais calma
– Eu te quero tanto que chega a doer, . E isso está acabando comigo. Agora
eu ainda por cima tenho que te ver toda noite... Ver a expressão no seu rosto, o
jeito como os seus seios se movem... Eu fico ali, parado, desejando poder ser os
seus dedos. Desejando poder escancarar aquela porta e me juntar a você. Te
mostrar o que é ter um homem de verdade na sua cama... Ser o causador dos seus
gemidos. Você não faz idéia de quantas vezes eu tive que me segurar para não
fazer exatamente isso. – ele parecia estar tremendo um pouco, enquanto seus
olhos me queimavam. Havia fogo naquele olhar, fogo que incendiava cada
centímetro do meu corpo – Para não me render e te agarrar sem ao menos te dar
tempo para pensar. Para não invadir seu corpo quente... Não sentir seus músculos
me apertando, seus olhos fixos nos meus enquanto eu te rasgo inteira.
Eu pensei que minhas pernas fossem ceder, mas por algum milagre, consegui manter
meu corpo em pé. As palavras explícitas de estavam tendo um efeito
irresistível sobre meu corpo. Não achava possível já ter estado tão excitada
quanto estava agora.
- Mas então... – eu consegui dizer, a voz trêmula – Por que você sempre me trata
tão mal?
- Você acha que eu quero que nossos pais saibam que eu fico duro toda vez que
você entra na sala? – ele perguntou, e meus olhos deslizaram para o volume agora
aparente em suas calças – Desde aquela droga de casamento, . Há exatamente
um ano atrás. Poucas coisas na minha vida foram mais decepcionantes do que saber
que você era a filha do meu padrasto. Eu achei que quando voltasse para a
Inglaterra, eu esqueceria aquela atração. E funcionou, até eu ter que voltar
para essa droga de país! – ele levou as mãos à cabeça abaixada – Ter que te ver
todo dia... Andando para lá e para cá, jogando na minha cara o que eu não posso
ter! Por que logo você tinha que ser minha meia-irmã? Por que logo você tinha
que ser a única garota no mundo que eu não posso ter? Que eu não devia nem
querer ter? – os olhos de se ergueram até os meus de novo – Eu pensei que
se... Se eu fosse um babaca com você, se eu te fizesse me odiar... Você não me
deixaria perder o controle.
- Eu nunca odiei você. – eu admiti, em voz baixa.
- Eu sei bem disso. – ele respondeu, rindo sem humor – Porque pra piorar minha
situação, você me quer tanto quanto eu te quero. – perante minha expressão
surpresa, ele continuou – O quê? Você acha que eu não sei? Acha que eu não
percebo seus olhos me seguindo o tempo todo? Você chegou a deixar meu nome
escapar dos seus lábios uma noite. – ele disse, respirando fundo – E isso só
piora tudo. Porque eu sei que se as circunstâncias fossem diferentes, nenhum de
nós estaria sendo forçado a sofrer durante esse tempo todo. É desesperador,
sabe? Ter consciência de que você me quer e não poder fazer nada quanto a isso.
Pior que isso, ter que me esforçar para te fazer me odiar, como um covarde.
Tentando fazer você ser forte por nós dois, e não me dar espaço para fazer o que
eu quero.
- E o que você quer fazer? – eu perguntei, o um tom baixo e rouco que eu não
conseguia reconhecer.
Os olhos de pareceram escurecer enquanto ele me olhava como se fosse um
tigre esfomeado cercando um coelhinho inocente. Oh, merda. O que havia dado em
mim? Porque eu tinha que perguntar aquilo?
Em poucos passos ele estava logo à minha frente, o corpo quase encostado ao meu.
segurou meu queixo, o erguendo de forma a me forçar a encará-lo.
- Eu quero te pegar como ninguém nunca fez antes, . – ele disse, me
fazendo tremer inteira – Tão gostoso que você vai ter vontade de desmaiar. Te
fazer gozar até você ficar cansada demais para se mover. E então eu vou te
colocar em todos os tipos de posições deliciosamente safadas e continuar te
comendo. – eu pude sentir minhas pupilas dilatando enquanto minha respiração
acelerava. Ele não desviava os olhos dos meus por sequer um segundo, e estava
ficando difícil convencer minhas pernas a continuar suportando meu corpo – Eu
quero te ouvir gritando meu nome de novo e de novo enquanto eu te faço tremer e
implorar para te deixar gozar. E quando você achar que não pode mais agüentar,
eu apenas vou fazer tudo de novo.
Ele esperou um momento, como se aguardasse uma resposta. É, óbvio. Como se eu
fosse capaz de formar alguma frase coerente.
- Você não vai mandar eu me afastar? – ele perguntou, em um tom de quase
súplica. Ah, claro. Ele havia tentado ser o mais gráfico e ofensivo possível em
sua descrição de seus planos porque queria me assustar. Me mostrar exatamente a
profundidade de seu desejo e me fazer fugir. Como ele mesmo havia dito, queria
que eu fosse forte por nós dois e o impedisse. Mas ele era muito inocente se
pensava que eu tinha tamanho autocontrole.
- Não. – eu respondi, incapaz de fazer qualquer coisa para tirá-lo de perto de
mim.
- Droga, . – ele disse, em um mero sussurro, me fazendo ter que conter um
gemido. Ele nunca me havia me chamado pelo apelido – Você sabe que eu vou te
beijar, não sabe?
- Sei. – eu respondi, encarando aqueles olhos profundos com uma coragem que no
fundo eu não sentia.
Eu esperei que ele me agarrasse então. Esperei que seus lábios atacassem os meus
e me tirassem da tortura na qual eu estava há um ano. Dessem-me o beijo com o
qual eu sonhava há 365 dias, 2 horas e 10 minutos, se o relógio de parede
estivesse correto. Meus olhos se fecharam e eu esperei.
Apenas para me decepcionar ao sentir os lábios de em minha testa.
Eu abri os olhos o encarando confusa e já me preparando para dizer algo. O quê
eu não sabia, mas tinha total intenção de protestar. Não era justo comigo. Ele
não podia me dizer as coisas que disse apenas para beijar minha testa logo
depois. Como um irmão mais velho faz com a irmãzinha pirralha. Aquilo era
crueldade, e eu já estava prestes a dizer isso a ele quando senti seu dedo se
encostando aos meus lábios.
- Shh... – ele disse, ainda me olhando do mesmo jeito intenso que estava fazendo
meu coração acelerar. inclinou a cabeça novamente, agora me beijando entre
as sobrancelhas, e eu fechei meus olhos de novo.
Seus lábios então roçaram em cada uma das minhas pálpebras, com uma
tranqüilidade que estava me matando. Como ele podia ser tão calmo? Depois de
tudo o que ele disse, como ainda conseguia ser tão... Gentil?
Simplesmente porque no fundo ele não estava sendo. só estava prolongando o
momento, me fazendo esperar... Me fazendo querer mais. O toque suave dos lábios
macios dele, agora sobre minha bochecha, ia me deixando cada vez mais nervosa,
enquanto o desgraçado parecia saborear o momento.
365 dias, 2 horas, 10 minutos e 32 segundos.
Ele beijou minha outra bochecha, em seguida deslizando os lábios para o canto
dos meus, os afastando antes que eu pudesse virar meu rosto e beijá-lo onde eu
queria. Grunhi, frustrada, ainda sem abrir os olhos, e riu baixo antes de
beijar o outro canto da minha boca.
Ele desceu brevemente para meu queixo antes de subir novamente. Eu sentia sua
respiração em meu rosto e sabia que ele estava há menos de um centímetro de
distância.
Um segundo depois e não existia mais distância.
No começo eu não conseguia me mover. Os lábios dele haviam capturado os meus em
um beijo calmo, exploratório. Como se tivesse medo de que, se não agisse
com cautela, eu sairia correndo. Isso depois de praticamente me implorar para
que eu não o deixasse me beijar.
Mas quando ele sugou meu lábio inferior delicadamente, o mordiscando em seguida,
eu perdi o controle.
Minhas mãos encontraram os cabelos dele e eu o puxei, com força, lançando meus
lábios contra os dele com uma fúria que eu não sabia existir dentro de mim. Pude
ouvir a exclamação surpresa e abafada de , mas ele não protestou. Muito
pelo contrário.
Suas mãos não perderam tempo antes de agarrar minha cintura, me puxando de
encontro a si de súbito, fazendo com que dessa vez fosse eu quem exclamava
surpresa contra seus lábios. Minhas mãos se firmaram com mais força em seus
cabelos, meu corpo precisando de suporte já que o mundo girava ao meu redor.
Línguas não demoraram a entrar na batalha por controle, acariciando,
experimentando. Eu não podia combater os gemidos que reverberavam por minha
garganta a cada movimento dele, e isso apenas parecia incentivá-lo mais. Céus,
ele sabia beijar. Melhor ainda, sabia me beijar. Eu nunca havia acreditado no
tal “beijo perfeito”, mas estava mudando meus conceitos. Ele sabia
exatamente onde tocar, quanta pressão aplicar para me deixar trêmula. Meu corpo
era uma fogueira, meu coração uma bateria e meus pensamentos uma massa confusa
de desejo e desespero.
Eu era incapaz de afirmar com certeza quanto tempo se passou até que a irritante
necessidade de ar voltou a se fazer presente. Ele quebrou o contato de nossos
lábios e minhas mãos escorregaram para a frente de sua camisa, segurando o
material com força em meus punhos enquanto eu lutava para acalmar minha
respiração, meus olhos ainda fechados e minha cabeça um pouco abaixada. Senti a
testa de se encostar ao topo da minha cabeça, sua respiração tão louca
quanto a minha.
Eu ergui minha cabeça quando finalmente recuperei o controle sobre meu próprio
corpo. colocou uma mexa do meu cabelo atrás da minha orelha antes de
quebrar o silêncio.
- E agora? – ele perguntou, em tom suave, e eu entendi que essa era a minha
deixa. E agora? estava me dando um ultimato. Ou eu fugia ou eu o deixava
continuar. Julgando pela outra mão dele, que agora acariciava meu quadril, eu
sabia que ele não queria mais que eu o impedisse. Não, eu já deixara as coisas
irem longe demais. não queria mais que eu fosse forte. Queria que eu me
rendesse.
E foi então que o medo, sentimento que sempre me impediu de fazer o que eu
queria, me dominou. Se eu continuasse ali, minha relação com mudaria para
sempre. Mas a quem eu estou tentando enganar? Já havia mudado. Continuar ali só
tornaria tudo mais definitivo. Se eu deixasse as coisas evoluírem, não
poderíamos voltar atrás e fingir que nada disso aconteceu.
Meus olhos encontraram a mesinha em frente a poltrona que eu havia ocupado
minutos antes. Ao lado da revista que eu ali abandonara, estava um
porta-retrato. Eu, , a mãe dele e meu pai. A típica foto de família. Porque
querendo ou não, era isso que, para o mundo, era em relação a mim.
Família. Meu meio-irmão. O que estávamos fazendo era algo que chocaria muita
gente.
Que chocaria nossos pais...
Eu estava há um passo de conseguir o que eu queria há um ano. E estava pronta
para dar para trás.
- O que você vai fazer agora, ? – ele perguntou novamente, de forma sedutora.
Seu tom de voz me instigava a me jogar naquele último salto... Me garantia que
ele estaria lá para me pegar quando eu caísse. Mas o receio já me dominara, de
forma que a minha resposta o surpreendeu como nada mais poderia.
- Um bolo! – eu exclamei a primeira idiotice que passou por minha mente,
aproveitando a confusão dele para me afastar em direção à mesinha.
- Você... Ahn... O quê? – ele perguntou, me encarando como se eu tivesse duas
cabeças. Aquela provavelmente era a última coisa no mundo que ele esperava ouvir
e eu não podia culpá-lo por achar que eu era retardada. Eu provavelmente era
mesmo. Não fazia idéia do porquê havia falado aquilo. O pânico tomara conta de
mim e eu só havia pensado em fugir. Fugir do que eu queria por medo. Havia feito
isso minha vida inteira, por que mudaria agora?
- Bolo. – eu respondi, pegando a revista que ainda estava aberta na receita e
gesticulando com ela – Pro aniversário. Dos nossos pais. Bolo... É. – eu
balbuciei, em seguida disparando para a cozinha.
Era como se eu não dominasse mais minhas próprias ações. Meu corpo de repente
entrara em piloto automático e eu me vi revirando a cozinha em busca de
ingredientes. Quando eu achei aquela receita, havia pensado na possibilidade só
por pensar mesmo. Como quando a gente passa por uma vitrine e vê um sapato
bonito, mas não maravilhoso, e pensa em comprá-lo mesmo sabendo que não vai
fazer isso. Só... Pensa. Mas pelo visto a idéia do bolo havia ficado em meu
subconsciente, reaparecendo quando eu precisava de uma distração. E agora toda
minha atenção estava voltada para aquele bolo, e eu não sabia nem porquê. Acho
que eu só precisava fazer alguma coisa. Qualquer coisa.
Eu olhei rapidamente para a receita. Parecia um bolo comum de chocolate, feito
com aquelas massas que vendem prontas. Só depois de assado é que a receita
ficava diferente, graças à cobertura. Por sorte, nós tínhamos massa de bolo em
um dos armários da cozinha, assim como todos os outros ingredientes. Eu deixei a
revista sobre a mesa da cozinha e parti em busca de panelas e tigelas para
misturar os ingredientes. Colocando tudo sobre a mesa, eu me pus a checar os
primeiros passos da receita.
- Você ao menos sabe fazer um bolo? – a voz de , ridiculamente próxima do
meu ouvido, me sobressaltou. Eu estava tentando tanto me concentrar no tal bolo
que nem ao menos o escutei entrando na cozinha.
Graças a minha reação de susto, me vi pressionada contra o peito dele, a
evidência de seu desejo despertado por nossa escapada momentos antes agora
firmemente pressionada contra mim por trás. O momento de contato foi elétrico, e
eu me vi paralisada, presa ali por uma força invisível. Meu coração batia forte,
minhas pernas tremiam e aquele calor ao sul do meu corpo se renovou. Minha
respiração voltou a acelerar enquanto eu me via sendo puxada de volta para
aquilo... Aquele imã entre eu e , aquela força de tal magnitude que eu não
era capaz de nem ao menos começar a compreender.
Ele não parecia nervoso. Na verdade, sua voz estava calma, e eu pensei novamente
na comparação com o tigre e o coelhinho. O tigre não perdia o controle porque
sabia que o coelho estava encurralado, e não importa o quanto tentasse, não
conseguiria fugir. sabia que, mais cedo ou mais tarde, eu acabaria me
entregando.
As mãos dele descendo sensualmente por meus braços me despertaram de minha
imobilidade e, com mais dificuldade do que eu gostaria, consegui me forçar a me
afastar, dando um passo para frente e apoiando minhas mãos na mesa. Ele
continuava atrás de mim, longe o suficiente para não estarmos nos tocando, mas
perto o suficiente para eu sentir sua presença.
- Sabe ou não sabe? – ele perguntou novamente, olhando por cima do meu ombro
para os ingredientes na mesa.
- Claro que sei. – eu respondi, minha voz bem menos firme do que eu gostaria.
Fazendo um esforço para parecer normal, e não nervosa, eu continuei – Eu tenho a
receita. Qualquer idiota consegue fazer um bolo seguindo uma receita.
esticou o braço e pegou a revista antes que eu pudesse impedi-lo. Eu virei
o rosto para trás, dando de cara com o sorriso mais safado do planeta.
tinha seus olhos grudados na receita, e parecia estar gostando imensamente do
que lia.
- Eu adoraria te ajudar a testar essa suposição, querida. – disse ele,
aproximando os lábios do meu ouvido.
- Do que você está falando? – eu perguntei, confusa.
- Leia o nome, . – disse , em seguida me entregando a revista.
- O nome? – eu perguntei, com as sobrancelhas franzidas. Voltando meu olhar para
a revista em minhas mãos, eu li em voz alta – Better Than... OH MEU DEUS! – eu
exclamei, largando a revista na mesa como se ela pegasse fogo. Pude ouvir
rindo atrás de mim enquanto as letras em negrito do título da receita ainda
pareciam me encarar, caçoando da minha idiotice.
Better Than Sex Cake1. “Bolo Melhor Que Sexo”.
Oh, eu estava definitivamente ferrada.
Consegui desviar meus olhos da revista traidora e, com mãos trêmulas, peguei a
tigela e comecei a organizar meus ingredientes, fingindo não perceber mais a
presença dele naquela cozinha. O que mais eu podia fazer? Eu não podia mais
encará-lo, e sair dali deixaria a situação ainda mais estranha. Só o que eu
podia fazer era continuar meu bolo fingindo que nada estava acontecendo e
rezando para ele deixar o assunto passar.
- Então você vai fazer o bolo? – ele perguntou.
É. Sabia que não podia contar com ele para facilitar as coisas.
Ele não falou as palavras, mas eu ouvi a pergunta mesmo assim. A verdadeira
pergunta, eu quero dizer. Meu desejo por ele não era segredo, e os
acontecimentos daquela tarde deixavam tudo ainda mais claro. Então a verdadeira
questão não era se eu faria ou não o bolo. estava perguntando, de forma
sutil, porém ao mesmo tempo nem tanto, se eu me entregaria àquele desejo. Eu
esqueceria todas as complicações e me renderia àquela atração que já durava um
ano? Eu faria aquele bolo e provaria com ele que aquele título presunçoso era
uma grande mentira?
A resposta era óbvia.
- Vai fazer o bolo, ? – ele perguntou novamente. O uso do meu apelido outra
vez me causou um novo arrepio, assim como o fato de ele ter se aproximado
novamente. Suas mãos estavam em minha cintura, sua ereção novamente pressionada
contra mim e seus lábios agora roçavam meu pescoço, arrepiando todos os pelos do
meu corpo. Ele parou o ataque quando finalmente chegou próximo à minha orelha,
depositando um beijo suave embaixo da mesma antes de afastar os lábios para
permitir que sua língua traçasse a curva dela – Vai ou não?
Eu fechei os olhos, me entregando a sensação, enquanto ele encostava o nariz em
meu pescoço de forma carinhosa e sensual. Eu respirei fundo antes de pronunciar
a palavra que mudaria tudo.
- Vou. – eu disse, sabendo que agora não teria como voltar atrás.
Mas assim que eu respondi, ele me largou.
Eu me virei, confusa e irritada. Lá estava , sentado sobre uma bancada, as
pernas balançando alegremente e um sorriso satisfeito firmemente plantado no
rosto irritantemente lindo.
- O que você pensa que está fazendo? – eu perguntei, odiando a necessidade óbvia
no meu tom de voz. Oh, ele não ia fazer isso comigo. Não ia me fazer chegar a
esse ponto só para dar pra trás.
O filho da puta riu do meu óbvio desespero e gesticulou para os ingredientes
sobre a mesa.
- O bolo é seu, . – ele disse, seu sorriso se alargando por eu não
conseguir conter minha expressão frustrada – Eu só vou supervisionar.
- Supervisionar? – eu perguntei, erguendo uma sobrancelha.
- Isso mesmo. – ele respondeu, fingindo inocência – Conheço suas habilidades
culinárias. Você queima até água. E além disso... – ele fez uma pausa, me
olhando de cima a baixo e me fazendo me sentir nua – Alguém tem que estar por
perto para lamber a tigela.
Ok, aquela tinha que ser a pior insinuação sexual que eu já havia escutado. Mas
então por que a imagem de lambendo o resto da massa de bolo da tigela fez
meus dedos dos pés se curvarem? Simples. Porque era muito fácil imaginar o que
mais aquela língua podia fazer... A imagem mental de lambendo massa de
bolo no meu corpo me fez ter que pressionar uma perna contra a outra com força.
Grunhindo, eu dei as costas para ele, o ouvindo rir novamente. Oh, ele estava se
divertindo hoje. Mas vamos ver por mais quanto tempo ele vai rir. Mais cedo ou
mais tarde, eu o faria engolir aquele riso. Assim que a tal “supervisão”
acabasse, eu me certificaria de fazê-lo gritar.
E eu não acredito que acabei de pensar isso.
Mas pensei. E esse pensamento permitiu que a minha falsa indiferença acabasse
enquanto a ficha finalmente caía. Eu tinha simplesmente aceitado fazer sexo com
. Ok, nem eu nem ele havíamos dito as palavras, mas o que o fato de eu
estar fazendo aquele bolo implicava era óbvio. Não tinha mais como voltar atrás.
Tentando espantar esses pensamentos, eu liguei o forno para pré aquecê-lo e
comecei a misturar os ingredientes. Ainda sentado na bancada, cantarolava
algo que me lembrava extremamente “Pretty Vacant”, dos Sex Pistols. Eu sorri.
Sempre gostei da voz de . Havia algo naquele som que sempre fazia minhas
pernas tremerem. Enquanto eu observava a mistura na tigela, não podia deixar de
imaginar aquela voz deliciosa sussurrando obscenidades no meu ouvido.
Eu me virei para seguir até a geladeira e pegar ovos e leite. Assim que fiz
isso, porém, meus olhos encontraram os de e eu me vi paralisada. Não só
pelo desejo contido ali, e sim pela adoração que brilhava naqueles olhos .
disfarçou rápido, mas eu sabia o que eu vi. Com o coração disparado, eu
fui até a geladeira e peguei os ingredientes, voltando em seguida para a mesa,
sentindo meus joelhos ameaçando fraquejar.
Quebrei os ovos e os acrescentei à mistura, e quando eu já media a quantidade
certa de leite para adicionar, ouvi pulando da bancada.
Eu despejei o leite na tigela, sentindo se aproximar de mim por trás
novamente. O ar a nossa volta parecia carregado, quente... Quando ele finalmente
colocou as mãos em minha cintura, eu arfei, precisando me apoiar na mesa à minha
frente com as duas mãos. Ele riu baixo e lentamente desceu uma mão até a barra
da minha saia, enquanto a outra segurava minha barriga e me puxava mais para
ele.
- Melhor começar a misturar, pequena. – ele disse, escorregando os dedos por
debaixo da minha saia – Você não quer desperdiçar o bolo, quer?
Ele começou a acariciar minha coxa em pequenos círculos e, com as mãos trêmulas,
eu peguei a colher, a levando até a tigela. Eu tentei mexer, mas com a
tremedeira, a colher não parava de bater com força contra a tigela de vidro.
Suspirando com falsa impaciência, , para meu desespero, segurou meu pulso
com a mão que antes acariciava minha coxa e começou a guiar meus movimentos com
a colher.
- Assim, tá vendo? – ele explicou, mexendo a colher com a mão por cima da minha
enquanto beijava meu ombro – Eu vou largar a sua mão, mas você precisa continuar
mexendo. Se parar, eu vou ter que punir você... – ele disse, em tom divertido,
pressionando meu corpo com mais força contra o dele para deixar claro exatamente
qual tipo de punição tinha em mente – Entendido?
Eu balancei a cabeça, sem confiar em minha própria voz, e largou minha
mão, colocando a dele em minha cintura. Com uma mão firmemente apoiada na mesa,
eu continuei a mexer a outra, trêmula, tentando ao máximo mexer a mistura
direito. Não que a punição de não fosse tentadora, mas eu não daria o
braço a torcer. O desgraçado estava me provocando, e como eu não podia resistir
a entrar no joguinho dele, podia ao menos jogar pra valer.
A mão dele voltou a descer por minha saia, começando a levantá-la. Ao sentir o
primeiro toque de seus dedos contra minha coxa, eu quase larguei a colher, mas
me recuperei a tempo. , atrás de mim, riu satisfeito.
- Essa foi quase. – ele murmurou contra o meu ouvido – O que eu te disse sobre
parar? – ele me perguntou, enquanto seus dedos se aproximavam da minha calcinha
– Acho que você gostou da idéia de punição... Talvez eu devesse mudar de
idéia... – ele mordiscou o lóbulo da minha orelha, e eu segurei a colher com
mais força – Talvez eu devesse parar. – dizendo isso, afastou o rosto e
seus dedos pararam o progresso que faziam.
- Não! – eu exclamei, odiando meu tom desesperado.
- Então continue a misturar. – ele disse, aproximando novamente os lábios da
minha orelha e voltando a subir a mão, agora atingindo minha calcinha. Com um
dedo, ele passou a acariciar o material ensopado entre minhas pernas. Eu gemi,
precisando me apoiar com mais força na mesa – Olha só pra você... – ele disse,
em um falso tom decepcionado – Ficando toda molhada enquanto seu meio-irmão se
aproveita de você na mesa da cozinha... – juntando outro dedo ao que já
explorava, ele começou a esfregar com mais força – Você definitivamente não é a
santinha que seu pai pensa.
Sem mais aviso, afastou um pouco minha calcinha e deslizou os dedos para
dentro de mim. Eu deixei a colher cair, e era difícil acreditar que o gemido que
reverberou pela cozinha havia partido de mim. Era um som desesperado,
necessitado, que eu nunca havia escutado antes.
- Gosta disso? – ele perguntou, visivelmente orgulhoso de si mesmo. Meu corpo
tremia e, se não fosse por me segurando, eu sabia que não conseguiria
permanecer em pé – São esses dedos que você imagina te tocando de noite? – ele
perguntou, enquanto com a mão livre segurava uma de minhas mãos e me forçava a
pegar novamente a colher, voltando a mexer a massa – Foram só os seus dedinhos
que te tocaram desde que você me conheceu, não foram? – ele perguntou, e o tom
ciumento na voz dele me fez assentir veementemente, sem vergonha nenhuma de
admitir a verdade – Ótimo... É em mim que você pensa durante a noite, não é?
Imagina minha voz sussurrando no seu ouvido enquanto você se toca? – ele
perguntou, movendo seus dedos para dentro e fora de mim devagar – É o meu rosto
que você vê quando grita seu orgasmo contra o travesseiro?
- É... – eu disse, me sentindo tonta.
- Boa menina... – ele sussurrou, largando minha mão momentaneamente para afastar
meu cabelo, liberando minha nuca para seus beijos. As mãos dele em seguida
voltaram para a tigela.
Ele continuou me ajudando a misturar a massa enquanto me torturava. Toda vez que
sentia que eu estava próxima a um orgasmo, parava, me fazendo quase chorar
de frustração, apenas voltando a mover os dedos quando meu corpo se acalmava.
Ele parecia estar gostando imensamente de me deixar maluca.
Em uma dessas paradas, ele afastou de vez os dedos e largou minha mão com a
colher. Quando eu virei a cabeça para encará-lo, desesperada, ele apenas sorriu
e beijou minha testa.
- Tá na hora de colocar a mistura no forno, pequena. – ele respondeu – Não se
preocupe, eu vou deixar você gozar, prometo... Acredite, vai ser muito melhor
depois. – ele garantiu, se afastando um pouco e apontando com a cabeça para a
tigela – Despeja a mistura na panela e põe no forno, depois volta aqui, porque
eu ainda não terminei com você.
Lançando a ele um olhar assassino, eu fiz o que ele pediu. Céus, eu queria fazer
aquele cafajeste engolir aquele ego todo. realmente se achava a oitava
maravilha do mundo, e eu queria ter forças para simplesmente deixar aquela
cozinha. Mas não podia. Ele era um idiota, mas era extremamente gostoso e eu
estava extremamente excitada. Duvido que alguma garota agisse diferente no meu
lugar. E eu ainda não havia desistido de dar o troco em .
Após colocar a panela no fogo, eu segui de volta para a mesa. Ainda precisava
fazer a cobertura de caramelo e leite condensado, segundo a receita.
Eu coloquei os dois ingredientes em outra tigela e comecei a misturá-los,
enquanto sentia se aproximar novamente de mim por trás. Ele esticou uma
mão – a limpa, para meu alívio – e mergulhou um dedo na tigela, trazendo-o em
seguida para minha boca. Sorrindo, eu envolvi seu dedo com meus lábios, o
limpando devagar com a minha língua. Não pude deixar de rir ao escutar o gemido
rouco do garoto atrás de mim.
- Vai rindo, vai... – disse ele, em tom de provocação enquanto afastava o dedo.
As mãos dele começaram a subir pelo meu corpo, partindo de cada lado da minha
cintura e seguindo com toques firmes em direção aos meus seios. Quando
finalmente atingiu a área, seus dedos deslizaram até a abertura em minha
blusinha de alça, abrindo o primeiro botão – Sempre quis fazer isso... – ele
disse, o tom agora não tão provocante quanto trêmulo.
- O quê? – eu perguntei, tentando me concentrar na mistura.
- Tirar suas roupas. – ele admitiu em um sussurro, enquanto continuava a abrir
os botões.
Ao sentir as mãos dele, tão trêmulas quanto as minhas, ao mesmo tempo que
escutava sua voz agora tão vulnerável, eu finalmente entendi algo. Toda a
confiança natural de , todas as coisas eróticas e intimidantes que ele me
dissera haviam me feito esquecer um pouco o que estava por trás de tudo isso.
Desejo. me queria. As provocações dele haviam me manipulado o suficiente
para me render. Para deixar ele no comando e ser a garotinha submissa. Mas eu
havia esquecido que o mesmo poder que ele exercia sobre mim, eu exercia sobre
ele.
Senti um sorriso cruel repuxando os cantos dos meus lábios. Oh, estava se
divertindo em me torturar, mas esquecia que eu podia fazer o mesmo com ele. Era
hora de fazê-lo parar de rir às minhas custas. Era hora do coelhinho mostrar pro
tigre quem realmente mandava nessa droga.
- E como você se sente agora? – eu perguntei, recuperando o controle sobre minha
tremedeira com a idéia da doce vingança que estava por vir.
- Ahn? – ele perguntou, como se não estivesse me ouvindo. Provavelmente não
estava mesmo, não com toda sua atenção. O garoto parecia focado demais em abrir
aqueles botões.
Eu inclinei minha cabeça para trás, a encostando em seu ombro, e aproximei meus
lábios de sua orelha.
- Como você se sente tirando minhas roupas? – eu sussurrei, colocando minha mão
livre sobre uma das dele, que cuidava dos últimos botões – Como é saber que
agora você pode? Você tem sonhado com isso, não tem? – meus lábios começaram a
acariciar a pele logo abaixo de sua relha, nos intervalos entre minhas frases –
Quando você está sozinho no seu quarto, ouvindo o que eu faço... Você se imagina
fazendo isso, não imagina? Se imagina me tocando, suas mãos me desnudando aos
poucos... – eu podia ver os olhos de fechados, e sua respiração já estava
descontrolada. Minha blusa já estava totalmente aberta, de forma que eu
lentamente comecei a deslizar a mão dele para minha pele exposta – Aposto que
você pensa na textura da minha pele... O quanto é macia... Quente... Ela é como
você imaginava? – eu perguntei, finalmente posicionando a mão dele contra minha
barriga. Ele grunhiu, um som desesperado que me arrepiou por inteira, enquanto
eu continha um gemido.
- Melhor. – ele respondeu, ainda de olhos fechados como se em um transe, sua
outra mão também agarrando meu corpo agora descoberto.
- Então como você se sente? – eu perguntei novamente, minha voz agora muito
menos controlada – Sabendo.. Oh... Sabendo que não é mais só fantasia? –
respirando fundo, eu levei minha mão livre até a nuca dele e disse, com toda a
coragem que eu tinha – Como é saber que eu vou deixar você fazer o que quiser
com o corpo que você vem morrendo de vontade de ter há um ano? Como é ter aquilo
com o qual você tem estado obcecado desde que me conheceu? – deixando minha voz
cair para um tom ainda mais baixo, eu concluí – Como é saber que eu finalmente
vou ser sua?
Quando finalmente abriu os olhos, eu soube que tinha ido longe demais.
O olhar dele não era apenas desejoso... Era descontrolado. Antes que eu pudesse
reagir, me vi sendo pressionada contra a mesa, o corpo de ainda colado no
meu por trás e suas mãos acariciando meu corpo sem nem um pouco da suavidade de
antes.
- Você quer saber? – ele perguntou, com raiva – Quer saber como era ter que te
ver dia após dia pensando que nunca teria a chance de te tocar? Quer saber o
quanto era difícil? E não só porque você é minha irmãzinha... – ele continuou,
em tom sarcástico. A voz de não passava de um sussurro perigoso em meu
ouvido – Não, além disso você sempre foi boa demais pra mim... Tinha que ouvir
meus amigos me dizendo que você nunca perderia tempo comigo... Que uma garota
com um futuro como o seu nunca ficaria com um aspirante a músico como eu... –
uma mão de subiu então pelo meu corpo, abaixando um lado do meu sutiã
bruscamente – Que você estava fora do meu alcance... Mas você não me parece
intocável agora. – ele riu baixinho em meu ouvido antes de agarrar meu seio com
força. Eu me apoiava na mesa com as duas mãos, totalmente arfante e deixando os
nós dos meus dedos brancos graças à força que eu aplicava para me manter em pé,
já que meus joelhos ameaçavam ceder a qualquer momento – Ainda é boa demais pra
dormir comigo, ?
- Eu nunca... – consegui dizer, entre gemidos, enquanto os dedos de
esfregavam e beliscavam de leve meu mamilo – Pensei... Isso...
- Mas eu pensei. – ele disse, ainda com raiva. Raiva de mim, raiva dele mesmo,
raiva do que sentia – E o mundo pensa também. Então você quer saber como é
mandar todo mundo à merda e pegar o que eu quero? – ele perguntou, me largando
momentaneamente. Eu não tinha forças nem para virar a cabeça para trás, mas
ouvi, com um surto de ansiedade, o som de plástico sendo rasgado e zíper sendo
aberto, e em seguida pude avistar com minha visão periférica um pacotinho
prateado no chão. Camisinha.
Aquele pensamento fez tudo parecer mais real, e eu apenas tremi de ansiedade. Eu
não ia mais fugir. Meu desejo por estava começando a doer, e não dava para
voltar atrás agora. Só podia me preparar para o que eu sabia que seria o ato
mais intenso que eu experimentaria em toda minha vida.
- Você não respondeu minha pergunta. – ele voltou a dizer, se posicionando
novamente atrás de mim e levando uma mão até minha coxa, segurando a barra da
minha saia. Levei alguns segundos para me lembrar exatamente qual havia sido a
pergunta dele.
- Quero... – eu respondi, sabendo que isso só o irritaria mais.
- Quer saber com é ter você toda entregue pra mim? – ele provocou pela milésima
vez naquela tarde, levantando minha saia e ajeitando meu quadril. Eu me apoiei
com mais força na mesa – Eu não vou te dizer. – continuou, em seguida
descendo minha calcinha até a altura dos joelhos em um movimento rápido – Vou
mostrar.
A súbita invasão de me fez exclamar, surpresa. Eu estava tão pronta para
ele que em apenas um movimento firme ele estava totalmente dentro de mim. O
desgraçado mal me deu tempo para me acostumar com a sensação antes de deslizar
quase totalmente para fora e em seguida para dentro de novo, me fazendo soluçar
com o puro prazer da sensação. Nossos corpos se encaixavam tão perfeitamente que
dava vontade de chorar. Eu me mantive por alguns momentos parada, simplesmente
me deliciando com os movimentos fortes de e sua voz murmurando em uma
espécie de surpresa reverente palavras como “apertada”, “quente”, “perfeita”,
entre outras, que me faziam corar não só de satisfação. Lentamente, porém,
comecei a tentar mover meu quadril. desacelerou os movimentos, me ajudando
a me acostumar.
- Isso... – ele murmurou, me encorajando a experimentar – Nunca fez assim antes?
- Não... – eu admiti, me adaptando ao ritmo agora calmo dos quadris dele. Eu não
tinha muita experiência na área sexual, nunca tendo ido muito além do básico com
meu ex-namorado.
- Por que? Ser pega por trás é uma posição muito safada pra minha anjinha? – ele
provocou, rindo baixinho e insistindo com os movimentos lentos.
- Não começa. – eu avisei, irritada. Tentei parar de me mover, mas apesar da
provocação, estava bom demais pra acabar agora.
- Admita, ... Você sempre foi uma garotinha comportada. – disse ,
ajeitando nossa posição para poder inclinar o rosto até perto do meu – Mas o que
ninguém sabe é que no fundo você sempre quis um pouco de depravação.
- Cala a boca... – eu mandei, com dificuldade. havia mudado os movimentos
de novo, e embora ainda lentos, estavam bem mais firmes, tornando difícil
raciocinar.
- Diz que eu tô errado... – ele desafiou, mordiscando meu pescoço enquanto
deslizava para fora de mim, apenas para voltar com força no momento seguinte, me
fazendo perder o ar – Diz que o fato de estar deixando seu meio-irmão te comer
por trás no meio da cozinha do seu pai não está te deixando com mais tesão
ainda? – ele fez o mesmo movimento de antes, começando um lento padrão – Diz que
você não fica imaginando o que as pessoas diriam se soubessem o que eu estou
fazendo com você, e o quanto você está gostando.
- Você não presta. – eu disse, virando meu rosto para ele com um pouco de raiva
acompanhada da bizarra excitação que esse sentimento estava me trazendo.
- Você gosta. – ele respondeu, sorrindo e inclinando a cabeça para esfregar o
nariz de leve em meu pescoço, em um gesto carinhoso tão súbito que derreteu
minha raiva. Aquilo não era certo. Ele não podia ficar fofo de uma hora pra
outra e tornar impossível ficar irritada com ele.
A velocidade de aumentou novamente, impossibilitando que um de nós
conseguisse pronunciar algo além de exclamações monossilábicas. Eu me senti me
aproximando do clímax novamente e, experimentando aquela horrível sensação de
dejá vu, senti parar e se afastar.
Dessa vez eu realmente quase chorei de frustração. Haviam lágrimas em meus olhos
quando as mãos de me viraram de frente para ele e seguraram meu rosto
enquanto ele me beijava.
- Você... Prometeu. – eu disse, quando ele afastou os lábios.
- Shh, eu sei... Mas eu quero poder olhar seu rosto quando você gozar pra mim...
Venho sonhando com a sua expressão há um ano. – ele disse, me beijando novamente
– E essas roupas entre nós estão me incomodando. Livre-se delas e eu prometo que
dessa vez não vou parar.
Ele se afastou e eu me apressei em tirar minha blusa desabotoada, meu sutiã e
minha saia. Quando eu finalmente voltei meu olhar para , vi que ao invés de
fazer o mesmo, ele havia congelado suas ações há uns dois metros de mim,
provavelmente enquanto me observava me despindo. Eu corei sob o olhar dele, que
parecia tentar gravar cada curva do meu corpo na memória, e me sentei sobre o
tampo da mesa atrás de mim, esquecendo totalmente o quão frágil aquele móvel
era, enquanto o esperava.
- Sabe, não foi à toa que eu te chamei de anjinha. – ele finalmente disse, vindo
até mim ainda totalmente vestido – Não é só o comportamento... Você é linda. – o
tom na voz de era maravilhado, e eu senti minhas bochechas se avermelharem
mais. Sorrindo, ele levou uma mão até meu rosto – Não dá pra entender como um
anjo como você está deixando um perdedor como eu te tocar.
- Talvez porque você esteja me corrompendo. – eu disse, retribuindo o sorriso
dele enquanto ficava entre minhas pernas. Segurando a nuca dele, inclinei
sua cabeça para me beijar novamente enquanto eu puxava sua camisa para cima. Ele
me ajudou a tirar, em seguida abaixando de vez os jeans abertos e os chutando
para libertar suas pernas.
- Eu vou pro inferno e tô te arrastando junto, não é? – ele perguntou, enquanto
se posicionava para me penetrar novamente.
- Talvez. – eu respondi, descendo uma trilha de beijos pela coluna do pescoço
dele – Mas antes disso a gente vai pro céu.
Olhando nos meus olhos, ele moveu os quadris para frente, nos encaixando de
novo. Os olhos de se fecharam automaticamente enquanto ele ecoava meu
gemido.
- Droga... – ele disse, me olhando por baixo de pálpebras pesadas – Você vai me
matar, sabia?
- Não quero te matar. – eu respondi, meio em transe – Acabei de te encontrar.
Quando ele recomeçou a se mover, eu tive certeza de que aquela era a verdade.
Era como se só agora eu tivesse realmente encontrado . Como se o ano
anterior não existisse.
- Oh, pequena... – ele murmurou, aos poucos incrementando a velocidade de seus
movimentos – A gente vai ter muito pra conversar.
- Conversa... Depois. – eu murmurei, me sentindo uma mulher das cavernas pelo
jeito de falar – Mais disso... Agora.
sorriu e continuou a acelerar os movimentos. Uma das mãos dele deslizou
por minha barriga e ventre até chegar ao meu clitóris, que ele estimulou com o
polegar. Eu grunhi com a nova onda de prazer e meus músculos internos se
apertaram à volta dele involuntariamente.
- OH! – ele exclamou alto, seus olhos revirando enquanto eu o apertava. Quando
recuperei o controle sobre aqueles músculos, o apertei novamente, com mais
força, quase enlouquecendo com o som totalmente erótico que escapou dos lábios
dele.
- Você tá pedindo. – ele disse, com a voz meio estrangulada, em seguida apoiando
as mãos com mais firmeza na mesa sobre a qual eu estava e aumentando suas
investidas para um ritmo quase selvagem.
Pratos e ingredientes caiam da mesa que agora balançava exageradamente, e eu
pude ouvir o som do leite e da minha cobertura derramando, ovos quebrando, o
resto da massa de bolo caindo e se espalhando pelo chão. Eu não poderia me
importar menos. Eu estava literalmente vendo estrelas, e minha visão se tornara
tão turva que eu já não me atrevia a reabrir os olhos. estava atingindo
pontos do meu corpo que eu nem sabia que existiam, me impossibilitando de ter
qualquer pensamento racional. Mas quando eu ouvi a mesa rangendo de forma mais
perigosa, algo dentro de mim despertou e me deu forças para falar.
- ... – eu murmurei, com dificuldade. Ele ergueu a cabeça, antes encostada
sobre meu ombro, e me encarou, com a mesma expressão precariamente concentrada
que eu sabia estar em meu rosto também. Os movimentos dele não pararam, tornando
difícil continuar – A mesa... Vai quebrar...
pareceu levar um longo momento para entender o que eu dizia, mas assim que
o fez, assentiu.
- Se segura em mim. – ele disse, e quando apertei meus braços e pernas ao redor
do corpo dele, me levantou, me carregando até uma parede e batendo as
minhas costas contra a mesma, fazendo com que dois quadros pendurados nela
caíssem e se quebrasse a nossos pés. pareceu ignorar isso totalmente,
apenas me penetrando de novo em uma estocada que me empurrou com mais força
contra a parede, provocando uma brusca onda de dor e prazer que me deixou sem
ar. Eu nunca pensei que gostaria daquilo, mas as investidas fortes de me
faziam gritar de pura necessidade e o apertá-lo internamente com mais força,
tentando mantê-lo dentro de mim mesmo quando ele se afastava antes de voltar,
gemendo e grunhindo tão alto quanto eu. Meus dedos agarraram seus ombros, unhas
penetrando em sua pele na busca por algo no qual me apoiar.
desceu os lábios para meu seio, chupando, mordiscando, me fazendo arquear
minhas costas e pressionar meu corpo mais contra o dele. A sutil mudança de
posição o fez atingir um ponto sensível dentro de mim com mais força, e o nome
dele escapou de meus lábios como uma súplica desesperada. Ele desviou a atenção
para meu outro seio enquanto voltava a escorregar uma mão para entre nossos
corpo, acariciando meu clitóris novamente. Eu senti outra vez meu orgasmo se
aproximando, e por um louco momento tive medo. Aquele prazer havia me sido
negado por tanto tempo que eu tinha a forte desconfiança de que, quando
finalmente deixasse vir, acabaria desmaiando. Provavelmente notando meu
nervosismo, aproximou os lábios de minha orelha, murmurando com voz baixa
e sensual contra ela.
- Vamos lá, pequena... – ele disse, aquele tom reverente de volta – Pode relaxar
agora... Eu tô aqui com você... Por favor, ...
Com o pedido dele, meu orgasmo me atingiu como um avalanche, forçando um grito
primitivo a passar por minha garganta. Foi necessário usar toda minha força de
vontade para não desmaiar enquanto onda após onda de prazer ridiculamente
intenso me dominava, fazendo minha visão escurecer até que só o que eu podia ver
com clareza eram os olhos que olhavam dentro de minha alma enquanto o dono
deles não parava seus movimentos, intensificando ainda mais as sensações. Alguma
parte do meu cérebro percebeu que lágrimas agora escorriam livres por meu rosto,
me fazendo fechar os olhos com repentina vergonha.
Vergonha essa que só aumentou, somada a um leve sentimento de decepção, quando
eu percebi que não havia gozado comigo. Mas esses sentimentos tiveram vida
curta quando eu senti seus movimentos, que haviam parado momentaneamente,
recomeçarem, agora mais gentis em preocupação com a minha passagem muito mais
sensível. Seu dedo voltou a me acariciar, em uma intensidade que beirava a dor.
- Abre os olhos, . – ele praticamente implorou, a voz rouca e precariamente
controlada.
Eu os abri, só para dar de cara com a expressão mais excitante do planeta.
havia fechado os olhos assim que eu abri os meus, como se olhar para mim
fosse mais do que o autocontrole dele pudesse agüentar. Seu maxilar estava
travado com força, e sua respiração escapava em suspiros descontrolados.
Passaram-se alguns segundos até ele reabrir os olhos, me encarando com um misto
de tortura e satisfação. Saber que ele havia se segurado de propósito, apenas
para prolongar o meu prazer, me dando tanto quanto eu pudesse agüentar,
reacendeu meu desejo com uma velocidade que eu não pensava ser possível. Era o
jeito dele de me compensar por ter me feito sofrer esperando tanto.
- Dessa vez nós vamos juntos... Ok? – ele disse, e eu assenti com a cabeça,
incapaz de falar.
Os movimentos dele aceleraram apenas um pouco, mas era o suficiente para meu
corpo ainda extremamente sensível se aproximar rapidamente de outro orgasmo. Eu
sentia seu peito roçando contra o meu a cada investida, sua respiração
provocando a pele do meu pescoço e sua voz murmurando palavras sensuais e
carinhosas em meu ouvido, e em poucos momentos me vi chegando ao ápice
novamente, dessa vez não sozinha. me seguiu, abafando seu grito aliviado
em meu pescoço.
Enquanto os movimentos dele diminuíam e minhas convulsões passavam, me vi sendo
arrastada para a leve inconsciência contra a qual eu antes lutara, e me deixei
cair contra o peito de . Senti ele me carregando de volta para a mesa
quando se recuperou, depois de algum tempo. Eu não estava totalmente acordada,
mas sabia que ele se sentara em uma das cadeiras, comigo ainda em seu colo.
Eu entrei e saí daquele sono leve por algum tempo, sem ter certeza de exatamente
quanto, antes de finalmente erguer minha cabeça e encarar . Ele sustentou
meu olhar, enquanto procurávamos por algo um no outro. Eu não sabia exatamente o
que havia lido nos olhos de , mas foi alguma coisa ao mesmo tempo
assustadora e emocionante.
Quando abriu a boca para dizer algo, o timer do fogão tocou.
Nós trocamos um olhar arregalado antes de, ao mesmo tempo, começarmos a rir.
- É melhor eu cuidar disso. – eu disse, saindo do colo dele com óbvia
relutância.
Com as pernas trêmulas e me sentindo dolorida, eu fui até o fogão, checando o
bolo e vendo que ele estava pronto. Eu tirei a tigela do fogo, a colocando sobre
a bancada para esfriar antes de desligar o fogão e voltar até a mesa, me
sentando na cadeira ao lado da de . Ele esticou a mão para pegar a minha,
entrelaçando nossos dedos.
- Você é incrível, pequena. – ele disse, e eu ergui meu olhar para o rosto dele,
metade de mim esperando encontrar sarcasmo naqueles olhos que eu tanto
adorava. Mas ao contrário, só o que eu vi foi a mesma completa satisfação que eu
sentia.
- Você também não é nada mal. – eu disse, e nós dois rimos de leve.
Não falamos nada depois disso, e o silêncio pesado nos envolveu, carregado com
as coisas ainda não esclarecidas entre nós. Eu fechei meus olhos e inclinei
minha cabeça para cima, achando a intensidade do olhar de algo forte
demais para suportar. Eu ainda sentia aqueles olhos me estudando, e de repente
senti um arrepio apavorado tomar conta de mim.
O que eu havia feito?
Memórias começaram a me assaltar de uma só vez. Imagens de todas as ofensas que
já me fizera, de todas as provocações... Lembranças de momentos
“familiares”, fotos que tiramos juntos, jantares dos quais participamos com
nossos pais... As memórias se encaixavam como uma grande montagem de todos os
motivos pelos quais eu não devia ter deixado isso acontecer. Eu havia passado um
ano tendo certeza absoluta de que aquele garoto me odiava... Agora eu sabia que
ele me desejava, mas era verdade que o que sentia por mim não era também ódio?
Algumas das palavras grossas, extremamente gráficas de voltaram à minha
mente, e eu senti vergonha. Agora que o desejo não dominava mais minha mente,
podia lembrar de todas as sacanagens que havia me dito, e me senti suja.
Se ele me odiava, havia apenas me usado... Será que agora ele pensava que eu era
uma puta? Eu havia deixado ele falar aquelas coisas pra mim, fazer aquelas
coisas comigo... Mas eu o queria, o desejava e gostava de verdade dele, de forma
que pra mim não pareceu errado. Mas e se pra ele fosse diferente? E se o que
aconteceu significasse para ele só o prazer de ter a única garota no mundo que
não podia ter?
Eu puxei minha mão, a tirando do contato com a dele, e abracei meu próprio
corpo, ficando extremamente ciente do quão nua eu estava – física e
emocionalmente. Eu queria sair correndo dali, mas meu corpo não me obedecia.
Doía ficar ali, mas doeria também ir embora.
Para meu horror, eu senti lágrimas começarem a se formar. Se aquilo era só sexo
para , o pior não era ter dado a ele meu corpo.
Não, o que doía é que, de alguma forma, eu havia começado a entregar meu
coração.
Senti ele se mover ao meu lado, as mãos tocando meu rosto e limpando as
lágrimas. O toque de acabou com a minha imobilidade, e eu me levantei,
começando a catar minhas roupas.
- .
Meu apelido. Dito de forma simples, sem nenhuma indagação, sem se gabar...
Apenas meu apelido. Eu parei, me virando em direção a ele e me surpreendendo.
não parecia preocupado. Ele parecia apavorado.
- O que... – ele disse, ainda aparentando medo e me confundindo – O que há de
errado, pequena?
- Não me chama assim! – eu exclamei, o medo de ter sido usada me dominando
totalmente – Não finja que se importa! Só comece a se gabar de uma vez!
Por um momento ele não disse nada, a confusão estampada em seu rosto.
- Ajudaria se você me explicasse o porquê exatamente eu devia estar me gabando.
– ele disse, em tom calmo.
- Não brinca comigo, por favor. – eu pedi, minha voz fraca, e me encarou,
agora sim preocupado – Você teve o que quis, não teve? Pode parar de obcecar
agora. se rendeu a você. Pode ir se gabar pros amigos! – eu
concluí, seguindo para a porta.
- , não! – ele disse, e eu parei, me voltando novamente para ele. O que eu vi
em seus olhos me fez congelar ao entender o que o “não” dele significava.
Não me deixe.
- Por que? – eu perguntei, simplesmente.
- “Por que” o quê? – perguntou, vindo até mim – Por que isso aconteceu? –
ele apontou para o lixo no qual nós havíamos transformado a cozinha – Você sabe
porquê. E não, num foi só por uma droga de obsessão, ou pra me gabar para
alguém... Céus, eu realmente te fiz acreditar que te odiava nesse último ano,
não é? – a pergunta foi feita com arrependimento claro em seus olhos. Eu apenas
permaneci calada, esperando ele continuar – Eu não te culpo por achar que eu sou
um cafajeste. Fui eu quem te ensinou a pensar assim. Mas se eu puder te pedir
que me ouça, você fará isso? Eu só quero cinco minutos. Só cinco minutos antes
de você sair dessa cozinha. Se você não aceitar o que eu vou te dizer, eu te
deixo ir embora e nunca mais te perturbo.
Eu assenti, um pouco curiosa, e ele estendeu a mão para mim. Eu a peguei,
desconfiada, e deixei que ele me guiasse de volta para mesa, em seguida me
sentando novamente ao lado dele.
- Tudo que eu te disse hoje é verdade. – ele começou, cauteloso – Mas não é
tudo. O que aconteceu nessa cozinha não foi tesão acumulado. – minha sobrancelha
se ergueu em descrença, e ele suspirou – Ok, não foi só tesão acumulado. Tudo o
que eu te disse é verdade, eu quero você desde que te conheço. E no começo era
sim só isso. No começo eu realmente só queria te pegar. – ele admitiu, sem me
encarar – Mas quando eu voltei da Inglaterra e me mudei pra cá... Além de ter
que conviver com a tentação que é você vinte e quatro horas por dia, além de
ficar pelos cantos querendo te tocar... Além disso, eu passei a enxergar você.
Não só seu corpo, mas você. Eu passei a maior parte desse ano te observando
quando você estava distraída, , e dessa forma comecei a aprender algumas
coisas... – ele fez uma breve pausa, respirando fundo – Como o fato de que você
é uma das únicas adolescentes do planeta que passa mais tempo lendo do que vendo
TV. Não só revistas, mas livros... Livros sérios, livros que às vezes eu não
entendo nem mesmo o título. – ele disse, e eu ri – Mas ao mesmo tempo, quando
você realmente pára pra ver TV, coloca em desenhos quando acha que ninguém está
reparando, o que é totalmente contraditório, mas é tão você que nem chega a ser
estranho... Eu aprendi que algumas músicas tristes te fazem sorrir enquanto
muitas alegrinhas demais acabam com seu humor. Não porque você não gosta de
músicas felizes, mas a letra de algumas te faz fazer uma comparação com a sua
própria vida e você se sente mal... Porque eu sei que tem algo que você esconde
e que anda te fazendo sofrer... E eu desconfio que tenha haver com o seu pai,
mas você não precisa me dizer se não quiser. Mas ao mesmo tempo em que você
parece ter problemas com ele, você sempre se esforça pra cuidar do seu pai, e
isso é demais, porque mostra o quanto você se preocupa com quem você gosta, não
importando o que aconteça... – ele sorriu pra mim, afastando uma mexa de cabelo
do meu rosto, olhando para o próprio colo em seguida – E quando você lê ou vê
alguma notícia ruim, sobre fome, desastres ou destruição da natureza, você
estende essa preocupação pro resto do mundo e fica com um olhar distante, como
se pensando no que você poderia fazer para mudar isso... E se sentindo culpada
por não poder fazer nada, como se todos os problemas do mundo fossem culpa sua.
– ele ergueu o olhar até o meu novamente, e eu me forcei a olhar de volta,
sentindo meus olhos nublando com mais lágrimas. Nunca pensei que prestasse
tanta atenção – Como eu disse, eu comecei a ver você, . E aos poucos foi
deixando de ser só desejo. Eu comecei a... Gostar... De você. E eu tenho a
sensação que você gosta de mim também. Mas quando você começou a chorar agora a
pouco, eu achei que...
- Que era o fim? – eu perguntei, com a voz fraca, entendendo finalmente o medo
dele de antes. Era o mesmo que o meu, afinal. Medo de o que aconteceu não ter
significado nada.
- É. – ele disse, simplesmente.
Eu não sabia o que mais dizer. Aquele era o tipo de coisa que eu nunca esperava
ouvir de , de forma que de início, fiquei sem palavras.
- Por que você me disse tudo isso? – eu precisei perguntar, depois de um tempo.
- Porque eu quero que você entenda que tudo depende de você agora. – ele disse,
me olhando sério – Você pode sair daqui e fingir que isso nunca aconteceu. Ou...
– ele pegou minha mão novamente – A gente pode... Sei lá... Tentar fazer isso
funcionar.
- Você quer dizer... Ficarmos juntos? – eu perguntei, sem saber se me apavorava
ou começava a fazer uma dancinha feliz.
- Isso. – ele respondeu, me olhando com expectativa.
Eu respirei fundo antes de continuar.
- Você ao menos sabe fazer isso? – eu perguntei. Eu me sentia mal por ter que
perguntar, mas precisava da resposta.
não pareceu ofendido com a minha pergunta, mas também não parecia ter
gostado dela.
- Como assim? – ele perguntou.
- Bom... Você sempre me pareceu meio...
- Galinha? – ele perguntou, levantando uma sobrancelha. Eu assenti, sorrindo
como quem pede desculpas, e ele revirou os olhos – E você chegou a essa
conclusão depois de nossa longa convivência de um ano? – o tom dele pingava
sarcasmo.
- Você me conhece há um ano e tem várias conclusões sobre mim. – eu disse, em
tom defensivo.
- É diferente, eu presto atenção. E não te julgo só pelo que aparenta ser
verdade. – ele argumentou – Eu confesso que andei saindo com muitas garotas,
sim. Mas não porque eu tenho alergia a compromisso ou algo assim. É só que...
Bom, eu sou um cara. Todo homem quando tá solteiro e não é totalmente deformado
acaba pegando um monte de mulher por aí, é meio inevitável. Se põe no meu lugar.
Você é um cara solteiro, não pode ficar com a garota que você quer e tem um
bando de mulher atrás de você. O que você faria?
Eu tentei engolir a onda de ciúme doentio que se apossou de mim ao imaginar
solto por aí e à mercê das devoradoras de homens dessa cidade, e precisei
admitir que não podia culpá-lo.
- Eu precisava me distrair de alguma forma. – ele continuou – Ficar sozinho e
tendo que te ver todos os dias me deixaria maluco. E, sério, nem foram tantas
garotas assim. Eu não tenho nenhum problema com monogamia. Pra sua informação,
já tive uma namorada e só terminou porque ela me largou. Pra ficar com outro
cara, e não por algo que eu tenha feito.
- E você ainda pensa nela? – eu perguntei, antes que pudesse me controlar.
riu.
- Ciúmes? – ele perguntou, me lançando aquele sorrisinho insuportável. Eu só
revirei os olhos – Relaxa, já faz um tempo, eu superei. Foi bem antes de te
conhecer.
- Mas e se a gente ficar junto e você resolver que era mais feliz galinhando? –
eu perguntei, um pouco emburrada.
- Ô criatura difícil, meu Deus. – disse , olhando pro teto antes de voltar
o olhar novamente pra mim – , eu já supri minha cota de poligamia. Sério. Se
você quiser ficar comigo, eu não vou querer mais ninguém. Achei que já tinha
deixado claro que é de você que eu gosto. Eu quero você comigo, e não só por uma
tarde. Isso é claro o suficiente pra você? – ele perguntou, parecendo
exasperado.
- É. – eu disse, sorrindo. Porém meu sorriso murchou no momento seguinte – Mas
eu ainda vou ter ir pra Yale em breve.
- Você já reparou que você só fala “preciso ir pra Yale”, “tenho que ir pra
Yale”... Você nunca disse “eu QUERO ir pra Yale”.
- Isso é porque eu não tenho certeza. – eu admiti, sentindo as palavras que eu
andava sufocando há dias finalmente se libertarem. não disse nada, apenas
me olhou como se aguardando que eu dissesse mais. Suspirando, eu continuei –
Você estava certo, sabe? Quando disse que eu nunca me divirto... Quando disse
que eu tenho algum problema com o meu pai... Na verdade você estava certo sobre
muitas coisas.
- Você logo vai descobrir que eu sempre estou certo. – ele me interrompeu,
sorrindo. Diante do meu olhar feio, ele abaixou a cabeça e deixou o lábio
inferior formar um meio biquinho, enquanto tentava conter um sorriso – Ok,
desculpa, pode continuar.
Eu ri, e não pude resistir a inclinar o rosto e beijá-lo. Ele sorriu e me
abraçou, me fazendo encostar a cabeça em seu ombro enquanto eu terminava minha
história.
- Meus avós paternos se conheceram em Yale. Eles sempre quiseram que meu pai
fosse pra lá, mas ele não conseguiu entrar. Ele se contentou com a Universidade
de Seattle, mas no fundo nunca se perdoou por não ter conseguido. Tinha se
tornado o sonho dele também, sabe? – eu disse, começando a brincar com meus
dedos no peitoral de . Parte de mim estava ciente de que ambos
continuávamos sem roupa, mas a maior parte não se importava – A frustração só
piorou depois que os pais dele morreram em um acidente dois anos depois de o meu
pai começar a faculdade. É por isso que desde que eu me entendo por gente ele
fala de Yale, me incentiva a ir pra lá... Sabe, eu mal conheci minha mãe, e meu
pai sofreu muito pra me criar. Por isso eu sou tão ligada a ele, e saber que ele
queria tanto algo assim colocou a idéia na minha cabeça. A gente faz planos
sobre isso desde que eu era criança... E assim passar pra Yale se tornou meio
que o meu objetivo de vida. Eu tive crises de ansiedade esperando o resultado
sair... Mas quando aquela carta chegou, e eu vi que estava aprovada, não me
senti feliz. Nem triste. Eu não senti nada. – eu expliquei, me aconchegando mais
contra o corpo de – Foi como o fim de um filme, sabe? Durante minha vida
toda eu tive um objetivo, e agora que o havia alcançado, parecia o fim. Não
sabia o que fazer depois desse ponto. Nunca pensei direito no que eu faria
depois de entrar pra Yale. Eu nem procurei conhecer outras faculdades, nem
pensei no que queria fazer da vida... E aí eu comecei a perceber quanta coisa eu
tinha perdido. Eu estive tão obcecada com estudar, tão dedicada às minhas mil
atividades extracurriculares que não saí com meus amigos tanto quanto deveria
ter saído... Não fiz tanta besteira quanto devia ter feito.
- Por isso você ficou tão descontrolada quando eu joguei isso na sua cara hoje
mais cedo? – ele perguntou parecendo culpado, e eu assenti – Eu sou uma mula
mesmo. Desculpa.
- Você já pediu, do seu jeito estranho. – eu disse, rindo – Tá tudo bem... É só
que agora eu sou maior de idade, tô indo pra uma faculdade que eu nem sei se
quero de verdade e sinto como se tivesse perdido a chance de ser adolescente,
entende? De cometer erros e aprender com eles. Meus namoros nunca duravam porque
eu não me deixava envolver, não arriscava... E agora eu tô assustada. Eu não sei
o que quero fazer, e tenho medo de me arrepender se deixar as coisas continuarem
acontecendo desse jeito...
- Que jeito? – perguntou, acariciando meu cabelo.
- Desse jeito... Primeiro a escola, depois ir direto pra faculdade, e então
começar a carreira... Não tem pausa. Não tem nenhum período na nossa vida entre
as responsabilidades. E eu tenho medo de acordar um dia com sessenta anos e
descobrir que eu nunca vivi minha vida. Nunca tive um tempo só pra viver, sem
preocupações. Entende o que eu quero dizer?
- Entendo. Por isso eu e os caras vamos viajar no fim do ano... –
respondeu, fazendo uma pausa como se escolhesse as palavras – E você... Se
quiser, claro... Podia vir com a gente.
De início eu achei que ele não falava sério. Mas ao levantar um pouco a cabeça e
vislumbrar sua expressão nervosa, eu entendi que ele não estava brincando.
- Ir com vocês? – eu perguntei, chocada.
- É. – ele respondeu – Com um currículo como o seu, não vai ser um problema
trancar sua vaga em Yale por um ano. Você podia gastar esse tempo acompanhando a
banda... Pensando no que você quer fazer mesmo da vida... E passando mais tempo
comigo. – disse a última parte sorrindo, me fazendo sorrir junto.
- E os caras da banda não se importariam de me ter por perto? – eu perguntei, em
tom de brincadeira, mas começando a realmente considerar a idéia. Era algo
irresponsável, impulsivo... Exatamente tudo que eu sempre quis fazer.
- Bom, em primeiro lugar acho que eles ficariam aliviados de não precisarem mais
ter que lidar com minhas lamentações sobre você toda vez que eu bebo demais. –
ele disse, e eu ri, imaginando a cena – Em segundo... A gente tem espaço. O
arrumou um trailer grande pra gente. Não é nenhum palácio, está longe de
ser totalmente confortável, mas nós pretendemos dormir em hotéis sempre que der.
E quando não der, é só você dividir uma cama de solteiro apertada comigo que a
gente economiza espaço... – disse ele, com o meio bico de novo. Depois de ver
que tinha funcionado da primeira vez, eu tinha certeza de que ele passaria a
usá-lo como arma constantemente.
- Não é disso que eu tô falando. – eu disse, depois de largar o lábio inferior
que eu não resisti em mordiscar – Ter uma garota por perto pode acabar afastando
as groupies... E estragando os momentos de diversão entre amigos. Achei que
parte do motivo de vocês viajarem fosse curtir a amizade de vocês.
- Nós podemos fazer isso com garotas por perto. Sexo, drogas e Rock ‘n Roll não
é o grande objetivo dessa viagem. Bom, o rock é, claro, e o sexo é sempre bem
vindo, mas sair por aí pegando groupies não é nosso objetivo. Ou pelo menos não
o único objetivo e não o meu objetivo. E fique tranqüila, você não vai espantar
as garotas. Eu já vi o com uma menina em cada braço e ele ainda assim
atraía mais, então acredite, você não vai estragar a viagem de ninguém.
- Nem a sua? – eu perguntei, a droga da insegurança voltando com tudo.
- Eu já disse que quero você. – ele disse, e eu admirei a paciência que ele
estava tendo comigo – Eu te adoro, você é linda, e a química entre a gente é
algo que eu nunca senti com mulher nenhuma. Eu quero ter mais tempo com você,
quero te conhecer ainda mais... E, além disso, só de pensar em te deixar pra
trás está me dando essa sensação ruim por dentro.
- Tem certeza que os caras não vão se incomodar de me ter por perto? – eu
perguntei, já quase convencida.
- Tenho. Acho que você nem vai ser a única garota, já que o está querendo
levar a ... A gente até gostou da idéia, porque um ano só com testosterona
naquele trailer pode acabar deixando as coisas meio gays... Vocês seriam uma boa
dose de estrogênio pra equilibrar as coisas.
- E o meu pai? – eu perguntei, jogando meu último argumento sólido.
- Seu pai vai entender. Ele pode querer que você vá pra Yale, mas também quer
que você seja feliz. Ele vai entender se você precisar de um tempo pra pensar, e
vai entender se você mudar de idéia quanto a faculdade. Ele me deu apoio quando
eu expliquei meus motivos, foi a minha mãe que implicou com a idéia. Seu pai vai
aceitar, e se não aceitar, você já tem idade o suficiente para tomar suas
próprias decisões. – ele disse, beijando o topo da minha cabeça – Mais algum
impedimento? – ele perguntou, rindo.
- Vários. E se depois desse ano eu decidir que quero mesmo ir pra Yale? O que
acontece com a gente?
- Não sei, minha linda. Mas se nada melhor aparecer, eu pretendo ir pra
faculdade... Eu fui bem nos SAT2, e se eu pedir tenho certeza que alguns dos
meus professores podem mandar cartas de recomendação por mim ano que vem... Eu
podia tentar uma vaga em Yale.
- Você sabe que não é tão fácil. E se você tentar e não passar? E se vocês
receberem uma proposta de contrato irrecusável com alguma gravadora e eu mesmo
assim decidir que quero ir pra Yale? E se...
- ! – ele me interrompeu, rindo – Você já percebeu quantos “e se” você disse?
Esquece isso. Não vale a pena deixar de viver o presente pra ficar pensando só
no futuro. Foi o que você fez a vida inteira, não foi? Então. Por tudo que eu
sei, amanhã um meteoro pode se chocar contra a terra e acabar com a humanidade.
Pela primeira vez na sua vida, tenta viver o agora. Eu não sei o que vai
acontecer no final do ano que vem. Mas a gente atravessa essa ponte quando
chegar nela, ok? Nós vamos dar um jeito, confia em mim.
- Eu confio. – eu disse, relaxando. Já havia me preocupado demais durante esses
anos todos. Estava na hora de deixar a vida me surpreender.
- Então... Já esclareci todas as dúvidas? Você vai com a gente? – ele perguntou,
sorrindo esperançoso. Eu assenti – E posso te considerar minha namorada?
- Oh, isso não. – eu disse, me controlando para não rir da cara de choque dele –
Não vai acontecer. Eu já te tirei do meu sistema, sabe? – eu disse, sorrindo
sacana – Nada mais de querer . Não, agora eu tô curada... Agora só
quero caras chatos e não tão sexys. Não você. Não mesmo...
Ele levantou uma sobrancelha, deixando claro que sabia que eu estava brincando.
Se inclinando na minha direção, ele me beijou, longa e sensualmente, me deixando
um pouco tonta.
- Terminou? – ele perguntou ao me largar, sorrindo.
- Aham. – eu disse, retribuindo o sorriso e levantando da minha cadeira de forma
a sentar de lado no colo dele. Fazendo isso, eu pude reparar na confusão que nós
havíamos feito na cozinha.
- Sua mãe e meu pai teriam um ataque se vissem o que a gente fez com esse lugar.
– eu disse, rindo.
- Falta tempo até eles chegarem, a gente arruma. Se eles soubessem o que
aconteceu aqui, a bagunça seria a última das preocupações. – respondeu .
- Eles vão enlouquecer quando descobrirem sobre nós dois, não vão? – eu
perguntei, suspirando.
- Vão. Por isso eu acho melhor a gente só contar quando estivermos bem longe. Já
vai ter atrito o suficiente nessa casa por causa da viagem. – disse ,
franzindo as sobrancelhas – Mas não se preocupe. Eles não vão gostar, mas vão
ter que entender. Nós não somos irmãos, e em pouco tempo nem vamos mais morar
nessa casa. É só a gente esperar um pouco pra evitar drama desnecessário. –
disse , em seguida sorrindo – O pior é que além de tudo a gente roubou o
aniversário deles.
Nós dois rimos, e o assunto tenso estava oficialmente superado.
- Bom, se você tentar não ser tão sexy, eu posso conseguir fingir que não há
nada entre nós por um tempo. – eu disse, me inclinando para beijá-lo. Eu não
conseguia mais parar. Estava definitivamente viciada.
- O que você quer que eu faça se eu não posso parecer sexy? Ande com um saco de
papel no rosto? – ele perguntou, e eu revirei os olhos.
- Me explica como exatamente seu ego cabe nessa casa? – eu perguntei, rindo.
- Ele escapa um pouco pelas frestas debaixo das portas... AI! – ele exclamou,
depois que eu dei um tapinha em seu peito.
- Você é tão convencido que chega a dar nojo, sabia? – eu disse, o beijando
novamente e começando a me levantar do colo dele.
- Você gosta de mim assim mesmo. – disse ele, dando de ombros – E onde a
senhorita pensa que vai?
- Meu pai e sua mãe chegam em duas horas, é melhor a gente começar a trabalhar.
Eu ainda preciso recomeçar a cobertura do bolo. – eu expliquei, pegando a camisa
de no chão e a vestindo antes de pegar a cobertura de caramelo e
outra lata de leite condensado.
- A cobertura? E quem vai limpar a cozinha? – ele perguntou, desconfiado.
Eu lancei a ele meu melhor olhar de gatinho do Shrek.
- Oh, não. – ele disse, balançando a cabeça.
- Por favor... – eu pedi, piscando os olhos inocentemente.
- Não, . – ele insistiu, cruzando os braços.
- Por mim... Eu ia ficar tão feliz... – eu continuei.
- Não... – ele repetiu, porém com muito menos firmeza.
- Eu ia ficar tão... Grata... – eu disse, abaixando a cabeça me fingindo de
triste, enquanto dobrava um joelho um pouco, encostando a ponta do pé no chão e
mexendo o corpo devagar de um lado para o outro com as mãos para trás.
- Grata... Quanto? – ele perguntou, olhando minhas pernas.
- Você não vai saber se não arrumar a bagunça pra mim... – eu respondi,
sorrindo.
- Argh, tá bom! – ele disse, revirando os olhos e pegando sua calça no chão, a
vestindo – Mas só porque você fica sexy com a minha camisa.
Eu sorri e me voltei para os ingredientes na bancada à minha frente, porém me
virei de novo ao perceber algo com minha visão periférica. discretamente
havia recolhido minha calcinha, largada no chão, e a colocara no bolso.
Eu clareei a garganta, chamando a atenção dele.
- Com licença, acho que você tem algo que me pertence nas suas calças. – eu
disse, cruzando os braços.
- Já tá possessiva assim? – ele perguntou, sorrindo safado – Daqui a pouco vai
querer tatuar seu nome no meu...
- Eu quis dizer no seu bolso. – eu interrompi, antes que ele continuasse a falar
merda.
- Oh, isso... – ele disse, fazendo o meio bico de novo enquanto eu me aproximava
– Eu preciso de algo para me consolar durante as noites que nossos pais
estiverem em casa...
- Bem... – eu comecei a dizer, parando na frente dele e tirando a minha calcinha
de seu bolso – Se você me prometer que fica bem quietinho... E se for bonzinho o
suficiente para ir até o meu quarto buscar isso – eu balancei de leve a calcinha
– de noite sem ninguém perceber... Eu posso pensar em outras maneiras de te...
Consolar.
Eu nem acreditava que havia dito aquilo. Céus, desde quando eu sou pervertida
desse jeito? Nossos pais estariam em casa!
Definitivamente, estava me corrompendo.
Depois da surpresa inicial, os lábios dele se curvaram em um sorriso sedutor e
ele fez menção de abraçar minha cintura. Eu dei um tapinha em uma de suas mãos
antes que ele conseguisse me tocar.
- Depois. Agora limpeza. – eu disse, apontando para bagunça com pose
autoritária. Ele me olhou feio mais fez o que eu mandei, resmungando o tempo
inteiro enquanto eu voltava para minha cobertura de leite condensado e caramelo,
totalmente feliz.
Eu disse que ia fazer ele engolir aquele riso...
~*~*~*~*~*~*~*~*~*~
Cerca de duas horas depois, eu estava na sala, sentada em frente ao bolo de
chocolate do qual eu não havia resistido a tirar um pedaço. Era ótimo, mas
estava longe de ser melhor que sexo.
- ! – a voz de me chamou, e em seguida eu o ouvi descendo as escadas –
Me ajuda a dar um nó nessa gravata?
Ele estava uma verdadeira visão, assim como da primeira vez que eu o havia
visto. Como íamos há um restaurante mais refinado, a mãe de insistira que
ele usasse o smoking. Eu senti uma onda gigante de gratidão por Margaret.
usando black tie era de tirar o fôlego.
- Você tá linda. – ele disse, me olhando com admiração antes de me beijar. Eu
corei, me parabenizando internamente pela escolha da roupa. Era meu melhor
vestido, cor de vinho em formato tubinho, nem muito longo e nem muito curto.
- Você também, mas provavelmente você já sabe disso. – eu respondi, fazendo
rir.
Eu pedi que ele segurasse meu pedaço de bolo enquanto dava o nó da gravata
borboleta. Anos morando sozinha com o meu pai haviam me ensinado a fazer todo
tipo de nó de gravata.
- Obrigado. – ele disse, com a voz abafada por estar com a boca cheia do meu
bolo. Já quase não restava nada do pedaço que eu o entregara para segurar.
Eu já devia saber que entregar minha comida para o e esperar tê-la de volta
era inocência demais.
- Se veste como um gentleman, se comporta como um porquinho. – eu disse, rindo,
e ele olhou feio para mim – O quê? É verdade. – eu dei de ombros, pegando um
guardanapo ao lado do bolo que eu colocara sobre a mesa na parte da sala que
constituía a sala de jantar e limpando o chocolate que se espalhara pelos cantos
da boca dele. Como eu disse, um porco.
- Desde quando você é minha mãe? – ele perguntou, protestando contra minhas
tentativas de limpá-lo.
- Desde que você voltou a comer como um recém-nascido. – eu respondi, parando de
esfregar o guardanapo quando fiquei satisfeita com o resultado.
Observando enfiar o resto do meu pedaço de bolo na boca, eu peguei minha
bolsa, também em cima da mesa, e a revirei até achar o colar que eu enfiara ali
quando desci de meu quarto minutos antes, já que como o fecho era complicado, eu
ia precisar de para colocá-lo.
- Fecha pra mim? – eu pedi, colocando o colar em volta do meu pescoço e me
virando de costas para . Ele assentiu com a cabeça, ainda de boca cheia, e
fechou o colar.
- Como estou? – eu perguntei, virando pra ele novamente.
- Linda. – ele me respondeu, sorrindo sincero e em seguida se voltando para o
bolo – Posso pegar outro pedaço?
- Gostou, é? – eu perguntei, rindo enquanto me voltava para o espelho de parede,
querendo conferir o efeito do colar combinado ao vestido.
- Aham. – respondeu – Mas acho que mesmo assim a gente respondeu a
questão. Definitivamente não é melhor que...
- PAI! MARGARET! – eu exclamei, de forma a impedir que concluísse aquela
frase. Havia acabado de me voltar para o espelho e visto o reflexo dos dois nos
olhando boquiabertos.
A porta da rua ficava bem longe da área de jantar, de forma que não havíamos
ouvido os dois entrando. Meu pai e Margaret nos encaravam como se houvéssemos
saído de outro planeta, e era fácil entender o porquê. Quando eles saíram de
casa, nós estávamos há um passo de arrancar a cabeça um do outro. Os dois
provavelmente esperavam encontrar o lugar totalmente destruído, e um de nós
inconsciente com um galo gigante na testa, no mínimo. Talvez já estivessem se
preparando para ligar para o hospital quando atravessaram a porta para entrar em
casa. Mas, ao invés de terror e destruição, se deparar com o clima totalmente
doméstico entre eu e , a tensão que normalmente nos envolvia totalmente
superada, devia ser bem assustador.
Eu e trocamos um olhar, ambos sorrindo nervosos. Será que eles estavam ali
desde o beijo? Não, improvável. Não teríamos passado tanto tempo sem perceber a
presença deles, e os berros ultrajados dos dois teriam sido inevitáveis. Mas
mesmo assim, será que eles haviam percebido algum clima?
Eles continuavam nos olhando abismados. Margaret parecia não nos reconhecer e
meu pai parecia estar esperando que o Ashton Kutcher aparecesse e anunciasse que
ele estava no Punked. Eu não os culpava. Mesmo se eles realmente não tivessem
percebido nada demais, acreditar que eu e estávamos sendo amigáveis um com
o outro era como acreditar que uma víbora venenosa podia ser amiga de um ratinho
suculento.
- Eles não estão gritando. – disse Margaret para meu pai, em tom incrédulo.
Senti uma onda de culpa me dominar. O meu péssimo relacionamento com devia
ser algo que realmente preocupava os dois, se ambos pareciam tão chocados com o
simples fato de estarmos há mais de trinta segundos no mesmo aposento sem berrar
um com o outro.
- Nem se ofendendo. – acrescentou meu pai, como se em um transe – É... Um
milagre.
Nenhum dos dois se referiu a nós, de forma que eu e apenas continuamos com
os sorrisos falsos, na tentativa idiota de fingir que não havia nada de errado.
Porém quando nem meu pai nem Margaret disseram mais nada, o silêncio começou a
ficar estranho. Se deixássemos aquilo continuar, em breve provavelmente
começariam as perguntas. Quando o choque passasse, nossos pais iriam querer
saber que espécie de milagre havia acontecido naquela casa, e como exatamente
nós fizemos as pazes. Se isso acontecesse, provavelmente acabaríamos deixando
escapar alguma coisa. era um péssimo mentiroso e eu sempre gaguejava
quando precisava inventar uma mentira de súbito. Não, eu precisava de um pouco
mais de tempo para pensar numa história convincente.
Foi por isso que, alargando meu sorriso nervoso e pegando a bandeja sobre a
mesa, eu disse a única coisa que parecia segura no momento.
- Oi, gente. Alguém quer bolo?
Fim.
1 - A receita existe
mesmo. Pra quem quiser tá aqui o link.
2 - SAT - Scholastic Aptitude Test. É um exame educacional padronizado nos EUA,
que serve como um dos critérios de admissão nas universidades. Um pouco como o
nosso ENEM, mas sem os escândalos anuais. Aproveito pra dizer também que tudo o
que eu sei sobre admissão em Yale aprendi graças ao San Google. Então peço
desculpas por possíveis inconsistências.
Nota da autora:
Eu nunca sei direito o que escrever em notas.
O estranho é que mesmo assim minhas N/as tendem a ficar gigantes .-. Mas eu
prometo que vou tentar ser breve.
Em primeiro lugar, não dá nem pra dizer o quanto estou me sentindo honrada de fazer parte desse Especial de
Aniversário! Fiquei MUITO feliz de poder participar desse momento tão importante
pro site!
Essa fic demorou milênios para começar a ser escrita, mas quando meu bloqueio
temporário passou, escrevi ela inteira quase de uma vez só. No começo teria
outro nome, outra história e seria um drama. Mas é aniversário do FFOBS, então
eu mudei de idéia. Aniversários são ocasiões felizes, então achei que a data
merecia algo mais leve, que não pesasse muito na cabeça de ninguém. De drama já
basta Bite Me xD
No começo também não ia ser restrita... Mas, não sei o que acontece, essa droga
de favorito insiste em arrancar as roupas em tudo que eu escrevo u.u lol Sério,
a culpa não é minha. É ele que não consegue se manter vestido.
Bom, é isso. Apesar das minhas dúvidas quanto ao resultado final (estou morrendo
de medo de ter exagerado), eu me diverti
muito escrevendo The Cake =] Até me deu idéia de escrever uma outra
short, também com meio-irmãos, mas com personagens totalmente diferentes... E
sem tanto desperdício de comida. Coisa feia, né? Não façam isso em casa (na casa
dos outros pode... Brincadeira xD).
Ok, agora é sério, chega de enrolação! Beijos, pessoal, e PARABÉNS PELO PRIMEIRO
ANINHO, FFOBS! *-*