Esta história se inicia com uma volta ao passado em uma tarde qualquer, de um fim de semana ensolarado, numa bela praça de Londres, onde crianças brincavam com seus pais, idosos disputavam partidas de dominó e jovens casais apaixonados namoravam.
Mas nossa historia não é sobre estes personagens, e sim sobre alguém especial, mas que não estava achando assim tão legal aquela tarde na praça.
Enquanto ajeitava alguns fios de cabelo que o vento insistia em bagunçar e que não foram presos pelo delicado rabo de cavalo, pensava que mais uma vez havia levado um bolo de seu namorado, ele havia combinado de encontrá-la fazia 2 horas e até aquele momento nenhum telefonema para dar explicações. Levar bolos do seu dito namorado era comum para ela, muitas vezes marcavam de ir a um cinema e depois de horas de espera ele ligava, dizendo que havia encontrado uns amigos e que foram jogar bola ou algo parecido. Na faculdade, apesar de serem da mesma sala, nunca estavam juntos, sempre a apresentava como uma amiga, e sempre tinha como resposta dele de que era cedo demais apara assumir um namoro em público.
Parecia uma grande contradição, uma garota guerreira como ela era, de uma família pobre do interior, vindo sozinha para a capital para poder estudar, havia conseguido uma bolsa em uma das melhores universidades do estado, trabalhava como estagiária, pudesse ser tão boba nas questões do amor, mas se tratando de amor quem pode entender?
Esta tarde parecia ser mais uma das muitas que se antecederam, havia levado outro bolo e discretamente pelos cantos de seus belos olhos castanhos iam surgindo pequenas lágrimas, mas o destino tinha outros planos. Ela foi surpreendida por uma forte rajada de vento que trouxe consigo uma pequena foto de um jovem casal, um rapaz com uma jovem nos braços, ambos sorrindo e atrás uma dedicatória:
- PARA O NOSSO AMOR QUE SE TORNA MAIS FORTE A CADA BARREIRA VENCIDA, TE AMO PARA SEMPRE.
E embaixo um nome: Isabel, e logo abaixo do nome em letras miúdas com uma observação quase que ilegível, mas da mesma caligrafia da dedicatória estava escrito: SEJA FELIZ, MEU AMOR, NÃO IMPORTA COM QUEM, O DESTINO SEMPRE NOS RESERVA BOAS SURPRESAS.
Parecia que alguém havia jogado aquela foto, com a dedicatória de Isabel atrás. A foto era um pouco antiga, estava meio amassada como se alguém tivesse guardado no bolso por muito tempo, o casal da foto era jovem, talvez a mesma idade de , uns 18 anos.
Porém a jovem mal teve tempo de admirar a foto e alguém arrancou-a bruscamente do seu braço.
- Isto é meu! - Falou o rapaz que apesar de muito bonito vestia roupas amassadas e simples, dando a impressão de ser muito humilde, tinha uma aparência cansada, como a de alguém que não dorme há dias.
- Desculpe-me, o vento a trouxe até minhas mãos.
- Você não devia sair por aí pegando as coisas que pertencem as outras pessoas!
Até o momento, mesmo sendo surpreendida por um estranho, ela estava tentando ser a mais educada possível, era da sua natureza ser doce e meiga com todos, mas aquela frase a tirou do sério, algo que era muito raro de acontecer.
- Espera aí, eu não peguei merda nenhuma de ninguém, não sou ladra, eu não tenho culpa se você não cuida de suas coisas, e o que eu vou querer com este pedaço de papel velho?! – disse ela totalmente ofendida.
Foi então que , o rapaz que havia tirado a foto bruscamente de suas mãos e era o garoto da foto, percebeu que mais uma vez havia sido rude com alguém.
- Olha, me desculpe, eu não quis ofender, esta foto é muito importante para mim.
Ela então viu nos olhos verdes e tristes do rapaz que realmente estava arrependido de ter sido grosso com ela, então resolveu se acalmar.
- Tudo bem, sem problemas. – e deu um leve sorriso, tentando ser amigável.
Ele então, mesmo sem sorrir, foi educado e respondeu simplesmente.
- Obrigado.
- Ela é sua namorada? - Perguntou meio envergonhada.
- Esposa, na verdade - disse , surpreendendo-se com o tom de calmaria com o qual respondeu a pergunta, muitas vezes foi interrogado sobre a mesma coisa, porém respondia em tom de grosseria.
- Ela é muito bonita, deve ser muito simpática.
- Era... - deu uma pausa no assunto - Ela... Morreu há 7 anos.
- Oh, me desculpe por perguntar, não quis me intrometer. - neste momento ela ficou toda envergonhada e, se não fosse pelo tom moreno de sua pele, apareceria mais ainda o seu rosto corando.
Mas ele continuou não dando atenção ao pedido de desculpas da moça, como se entrasse num transe relembrando algo.
- Essa foto foi tirada uma semana antes de tudo acontecer. Ela estava grávida de 3 meses, havíamos acabado de nos casar, estávamos indo passar as férias na fazenda dos pais dela, eu estava com sono, mas não queria parar, se eu tivesse parado para descansar... - e baixou os olhos como que para chorar.
Então , mesmo meio receosa, colocou a mão em seus ombros e achou melhor não dizer nada, ele retribuiu colocando sua mão em cima das dela, e ficaram assim os dois por um longo tempo, até que de repente se levantou e disse:
- Tenho que ir, já falei demais por hoje!
Ela achou que era por algo que tinha dito ou feito, mas na verdade o problema era que ele ainda se sentia culpado pela morte da esposa Isabel, ele era jovem, estava terminando a faculdade, tinha apenas 22 anos, e Isabel tinha 20, havia acabado de entrar no curso de desing de moda, as duas famílias eram amigas, porém nunca foram muito próximos até aquele momento . Eles eram os opostos em muita coisa, porém depois que cresceram foi “amor a segunda vista”.
Logo depois ela descobriu que estava grávida e os dois resolveram se casar, o que foi uma boa notícia para as duas famílias, já que agora se uniriam as duas mais tradicionais da cidade.
foi em direção a sua casa, que ficava a apenas algumas quadras dali, num luxuoso condomínio, onde ele havia planejado passar o resto da vida com Isabel, mas o destino não quis. Por isso ele ia frequentemente naquela praça, foi lá que ela anunciou a gravidez, ele a pediu em casamento, eram muitas lembranças que ele fazia questão de não esquecer.
foi para casa, teria que pegar um metrô para chegar ate lá, mas adorava aquela praça, o esforço compensava. Dividia um apartamento com uma amiga, uma área mais simples da cidade e se não se apressasse estaria atrasada.
A semana passou muito rápido para ela, nos estudos tudo estava bem, o namoro com Carlos estava na mesma, o playboyzinho popular da faculdade dizia que era apenas amigo da bolsista, bonita e cobiçada pelos garotos. Mas ela não conseguiu esquecer o estranho da foto.
E alguma coisa como uma intuição dizia para ela ir para aquela praça, mas antes ela resolveu ir a um café que ficava próximo, nunca havia entrado lá, mas sempre achou muito bonito. Entrou, sentou-se numa mesa ao lado da janela e, para sua surpresa, quem estava na mesa em frente era o “desconhecido” que ela havia encontrado na praça. Com as roupas do mesmo “estilo” amassado que ela havia encontrado antes.
, que estava distraído como sempre, não percebeu a sua entrada, mas logo a reconheceu e esboçou um sorriso, meio tímido, mas o primeiro sorriso espontâneo em quase 5 anos. E convidou-a para se sentar junto com ele.
- Olá - disse ele, num tom mais agradável do que o da última vez.
- Oh! Olá, tudo bem com você?
- Normal, fim de semana chato como sempre, mas tudo normal.
- Eu nunca acho os fins de semana chatos, são meus únicos dias de descanso.
Ele, então, deu outro leve sorriso, estava surpreso por conversar com alguém que mal conhecia, mas a sensação era a de que já a conhecia há anos.
- Pensando por este lado, os finais de semana são bons.
Ela, então, deu aquele sorriso encantador que só ela tinha. Foi então que ele reparou como era bonito o seu sorriso.
Depois prosseguiu:
- Você disse que os fins de semana são seus únicos dias de folga, desculpe perguntar, mas você faz o que mesmo?
- Há, eu faço faculdade de direito e trabalho em um escritório, próximo ao centro da cidade.
- Uma futura advogada...
- E você, se eu puder perguntar?
Ele ficou meio hesitante, esta pergunta lembrava o seu tempo de faculdade e consequentemente a Isabel, coisa que nos minutos que se passaram com ela, ele não fez.
- Sou formado em direito, mas trabalho nas empresas do meu pai.
- Mais um advogado.
E os dois ficaram assim conversando sobre coisas supérfluas, sem perceber que já havia anoitecido.
E como na historia da Cinderela, a donzela teve que sair antes das doze badaladas, mas no seu caso, antes que perdesse o ônibus. Quando ela olhou para o relógio e viu as horas se apressou:
- Me desculpe, tenho que ir , se não perco meu ônibus, eu moro um pouco longe.
- Tudo bem, mas você não me disse o seu nome... - Gritou ele para a moça que saia correndo, porém não obteve resposta.
Ele também resolveu ir para casa e incrivelmente tinha gostado daquela tarde simples.
Foi então que , chegando em casa e indo se deitar, tirou a foto que sempre o acompanhava do bolso, e aí notou as pequenas letras:
SEJA FELIZ, MEU AMOR, NÃO IMPORTA COM QUEM SEJA. O DESTINO SEMPRE NOS RESERVA BOAS SURPRESAS.
Ele ficou pensativo e encarou aquilo como um sinal, nunca em tantos anos havia pensado no sentido daquelas palavras.
No dia seguinte acordou cedo, foi para o trabalho como de costume, só que desta vez não estava com a aparência morta, cansada, estava com a barba feita, realmente se sentindo vivo. Todos se surpreenderam, mas a sua ansiedade para que chegasse a hora do almoço era visível, todos estranharam o seu ar de felicidade e o seu bom humor.
Saindo da faculdade, tinha planos de almoçar em casa, já que naquele dia estava de folga, foi então que na saída da faculdade reparou em um carro preto, de marca importada, parado em frente e encostado na porta estava a sua espera. Quando ele viu seu ar de admiração só disse:
- Você não me falou qual era o seu nome.
- É, é... . Mas como você descobriu que eu estudo aqui?? - disse ela impressionada.
- Intuição, você me disse que trabalhava perto do centro e esta é a universidade mais perto do centro. E também porque eu já estudei aqui.
- Bom palpite - disse ela meio sem jeito, mas feliz com a visita.
- Eu vim perguntar, , se você gostaria de almoçar comigo hoje, você foi tão gentil comigo que eu acho que deveria retribuir.
Ela pensou por uns instantes, queria aceitar, mas “e o Carlos?”, pensou consigo.
Mas depois pensou que seria só um almoço e ele devia estar ocupado com os amigos, ou as amigas que ele fazia questão de desfilar.
- Mas é claro.
E assim seguiram para o primeiro dos muitos almoços que teriam juntos.
O restaurante escolhido foi um café em Londres, super acolhedor, que, apesar de ainda não terem se conhecido, era super frequentado pelos dois.
- Não sei como você adivinhou, mas eu adoro almoçar aqui. - Disse ela sorrindo.
- É meu lugar preferido também, Isabel nunca gostou daqui, ela achava muito simples, preferia lugares mais refinados.
E foi nesse café que aconteceu o primeiro beijo dos dois, aquele em que tiveram a certeza que todo o tempo estavam esperando um pelo outro.
Depois daquele almoço ela resolveu terminar o “namoro”, ou seja lá o que tivesse com Carlos, sabia que merecia mais.
Logo começaram a namorar, depois se casaram, tiveram filhos, ele a apresentou a sua família, que apesar de ser uma família rica e tradicional aceitou a moça, já que havia sido ela que tirou da terrível depressão chamada Isabel.
Brigas tiveram várias, reconciliações mais ainda, mas o que realmente importou foi o amor que os uniu.
FIM
Nota da Beta: Hey, pessoa! Só pra avisar que se você encontrar qualquer erro na fic pode entrar em contato comigo por e-mail. E não custa nada deixar um comentário pra fazer uma autora feliz, porque ela merece.
Letii