Fiction por Thaís Fernandes | Betagem por Isabela H.
O meu celular tocou mais umas três vezes, antes que eu pudesse atender. Durante todo o dia, havia ignorado aquela ligação; não tinha o costume de atender números privados. Mas a pessoa insistia tanto, ligando-me a cada hora, que foi impossível conter a minha curiosidade. Eu estava pronta para ser grossa com o ser irritantemente insistente que parecia não ter um pingo de educação. Mas quando ouvi a voz do outro lado da linha, no entanto, senti todo o meu corpo gelar e a frase ensaiada que havia formulado em minha mente morreu antes de chegar à minha boca.
— ? – ele perguntou, mas eu não consegui responder. – Sou eu... .
Óbvio que eu sabia quem era. Eu reconheceria aquela voz mesmo que se passassem cem anos. Agradeci por estar sentada, pois certamente teria caído se estivesse em pé. Oh, meu Deus! Há quanto tempo eu não ouvia a sua voz?
Percebi que há quase dois anos não falava com . A última vez foi quando...
— ? – ele chamou novamente, não obtendo qualquer resposta. – Eu... Eu acordei você?
Subitamente, olhei para o relógio em cima da mesinha de cabeceira, constatando que já passava das 3 da manhã. Mas, oh, ele sabia que não havia me acordado. , mais que qualquer outra pessoa, sabia do meu problema com a insônia. Mas, nessa noite, especificamente, a insônia não era totalmente o motivo por eu estar acordada até essa hora.
— Você não vai falar comigo? – notei, pelo tom da sua voz, que havia bebido. Mas é claro que sim. Ele não conseguiria me ligar se não estivesse um pouco fora de si. – Desculpe-me por imaginar o contrário. Eu só...
— Perdão. – interrompi. – Eu fiquei um pouco surpresa... Eu não esperava.
— É, eu sei. – o ouvi suspirar do outro lado da linha e senti minha respiração falhar ao tentar engolir o nó que estava formado em minha garganta. – Eu precisava... , eu precisava ouvir a sua voz.
— Como... Como conseguiu meu número?
— . – eu suspirei. - Já o tenho há algum tempo, mas só hoje tive coragem de ligar. Eu tentei mais cedo, mas você não atendia.
— Não costumo atender número privado. – você sabe disso., pensei em dizer. Mas mordi a língua antes de continuar.
— Eu sei... - ele admitiu. – Mas também sabia que você não atenderia o meu número.
A resposta que eu ia dar morreu em minha boca ao ouvir um soluço do outro lado da linha.
— ? – chamei, preocupada. Ele não podia estar chorando. Podia? – !?
— Oh... Chama de novo. – ele pediu, com a voz levemente rouca.
— O que...
— . – ele disse, interpretando a minha pergunta. – Soa tão melhor na sua voz. – só Deus sabe o quanto aquelas palavras surtiram efeito em meu coração. Coração este que já estava quase cicatrizado. Quase. – , eu sinto tanto a sua falta... Por favor...
— Por favor, digo eu, . – novamente o nó formado em minha garganta foi engolido. – Por favor, não faz isso. Não faz isso comigo... Não faz.
— ... Me perdoa! – ouvi um alto soluço e constatei que, sim, ele estava chorando. Levei a mão à minha boca, impedindo meu próprio soluço de escapar por meus lábios. – Eu sei... Eu sei que o que fiz foi monstruoso, mas, por favor, me perdoa.
— Já faz tanto tempo. – consegui dizer, mas com a voz totalmente trêmula. – Tem quase dois anos, . Por que insistir nisso agora? Por que fazer isso comigo?
— Naquela noite... – ele começou. – Naquela maldita noite, eu havia bebido demais, ... Eu estava irritado com você.
— E, por isso, você resolveu ir para a cama com uma das minhas melhores amigas? – soltei um sorriso fraco. - Mas eu não podia esperar menos que isso... Afinal, você é . - minha voz saiu mais carregada de mágoa do que havia previsto. – , se você ligou para falar sobre isso... Sinto dizer, mas já é um assunto que eu enterrei. Se for o meu perdão que você quer, pois bem, você o tem. Agora, por favor, me deixe...
— Eu amo você.
Não era como se ele estivesse falando a coisa mais simples do mundo para se ouvir. Eu tive que conter um gemido de dor quando aquelas três palavras quase rasgaram meu coração novamente. Levantei-me abruptamente da cama e fui até a varanda do meu quarto. Precisava urgentemente de ar. A madrugada estava fria, mas eu duvidava que estivesse mais fria que o meu corpo naquele momento. As palavras que proferiu, depois de tanto tempo, ainda tinham o poder de gelar todo o meu corpo.
Ele esperou, pacientemente, do outro lado da linha; ele sabia que para eu assimilar o que havia acabado de ouvir, seria um pouco mais complicado. sabia, exatamente, o que aquilo iria me causar. Senti uma gota gelada bater contra meu braço e mais outra e outra. Por um momento, pensei que o tempo frio em Paris era devido à chuva; assustei-me ao perceber que as gotas que caíam em meu braço não vinham do céu. Vinham de um lugar muito mais perto... Eu estava chorando.
Copiosamente, eu estava chorando enquanto tentava engolir os soluços que subiam, querendo romper minha boca. Levei a mão livre até a face para secar as lágrimas e, por reflexo, encarei o objeto brilhante em meu dedo. Ouvi suspirar pesadamente do outro lado, percebendo o quanto o seu nervosismo crescia a cada segundo. Tentei me controlar para dar continuidade àquilo... Ou melhor, para dar um fim definitivo àquilo.
— Você não deveria ter dito isso. – eu disse, por fim. – Não precisava ter sido tão cruel.
— Não quis ser cruel, . Muito longe disso. – eu encostei no parapeito, esperando que ele continuasse. – Eu errei. Errei em ter te traído e errei por não ter ido atrás de você e te feito entender que eu te amava... Que eu te amo. Mas eu quero consertar isso... Eu quero que você entenda...
— , acorda! – segurei-me para não gritar. Não era uma boa ideia, no momento. – Você quer consertar algo que não tem mais conserto? Você quer tentar corrigir um erro de anos atrás... Agora? Por que você ligou? Por que não deixou as coisas como estavam?
— Você sabe que dia é amanhã? – ele perguntou, fazendo-me parar para pensar.
E, só então, eu me dei conta... 13 de junho;
Oh, sim.
Eu consegui esquecer aquela data... Acho que acabei bloqueando-a depois daquela fatídica noite. Mas, ao lembrar-me da importância dela, o sentimento de nostalgia me invadiu completamente.
— Eu queria ter consertado as coisas antes, ... Deus sabe o quanto eu queria. Mas você sumiu. Até algum tempo atrás, eu não tinha nem o número do seu telefone. – ouvi um barulho de algo quebrando.
— Está tudo bem? – perguntei, mais interessada do que deveria.
— Sim... Não se preocupe. – ele suspirou, como se estivesse cansado. – Posso fazer uma pergunta?
— Na verdade, eu preciso desligar. – disse, tentando encerrar de uma vez com aquilo. – Aqui já está bastante tarde e...
— Você ainda me ama?
Ok! Aquilo, de longe, não era o que eu estava esperando. E, por um momento, pensei em responder a verdade. Mas, graças a Deus, algo me impediu. Ou alguém, para ser mais exata.
— Querida? – a voz rouca do meu marido soou de dentro do quarto; ouvi prender a respiração. Era obvio que ele não sabia sobre . Era tão recente... – Onde você está?
— Na varanda, querido. – respondi, com o tom mais amável e tranquilo que consegui; voltei minha atenção para o aparelho em minha mão. Sabia que logo viria ao meu encontro e não queria ter que explicar com quem eu estava falando àquela hora da madrugada. – , eu sinto muito... É tarde demais.
— Eu... Eu... Não sabia. – ele demorou-se em dizer. – Certo. Desculpe-me, .
— Adeus.
Antes que ele tivesse a maravilhosa ideia de dizer mais alguma coisa, desliguei o celular, colocando-o em cima da mesa da varada no exato momento em que aparecia na porta, sorrindo para mim. Eu tentei esboçar o meu melhor sorriso para ele, mas acredito que só consegui formar uma fina linha com minha boca. Se ele percebeu, fingiu que não.
— O que faz aqui fora, nesse frio congelante? – ele me abraçou pela cintura, depositando um beijo carinhoso em meus lábios.
— Não consigo dormir... – respondi, abraçando-me a ele. Esquentando-me com o calor de seu corpo. – Você sabe... A insônia é minha companhia constante.
— Devo ter ciúmes dela? – ele brincou, removendo a franja que caiu em meus olhos. – Sabe como é... Não quero ter que perder você. – eu sorri.
— Você não me perderá, querido. – mirei seus olhos, passando uma mão por seu rosto. – Me tens para sempre, ... Será que você pode suportar isso? Imaginas viver com alguém como eu para sempre?
— Você está brincando? – ele sorriu, abraçando-me com mais força. – Acho que não consigo sobreviver um dia sem você ao meu lado, .
— Eu te amo.
Eu não menti.
Eu realmente amo . É um amor diferente do que eu sinto por . Completamente diferente, se assim posso dizer. foi o meu primeiro em tudo. O meu primeiro amor, o meu primeiro homem, a minha primeira grande decepção. Ele havia marcado a minha vida de todas as maneiras possíveis e isso eu jamais conseguiria esquecer.
foi o meu alicerce. Foi quem me resgatou quando eu estava próxima a afundar num mar de sofrimento. Quando eu estava quase desistindo de sair daquele poço de dor no qual me encontrava. foi quem me reergueu. Foi quem me puxou para cima e me fez continuar a viver. Foi ele quem cuidou de cada ferida deixada por .
Era impossível não amá-lo.
Era impossível não querer que ele fosse feliz.
Eu não menti quando disse que o amava. Não, eu verdadeiramente o amava.
seria para sempre o amor da minha vida. Mas já era tarde demais para tentar vivê-lo. Revivê-lo.
FIM
Nota da Autora: Gente, eu sou péssima com isso, rs. Mas então, eu sei que o final não era o que todo mundo esperava. Só que acho que alguém aqui já viveu um grande amor, mas que por algum motivo não vingou... Não teve continuidade. Não que o sentimento tenha acabado, mas talvez a confiança. Enfim... Essa fiction é pra mostrar que nem sempre o final do conto de fadas é o "felizes para sempre" do casal protagonista. Então, é isso... Quero agradecer MUITÍSSIMO a minha beta Isabela Almeida, por ser tão linda, atenciosa e paciente HAHAHAHAH Sério, obrigada MESMO!
Caso tenha algum erro nessa fanfic, não use a caixinha de comentários, entre em contato comigo pelo twitter ou pelo e-mail. Obrigada. Xx