O que fazer em momento de desespero? Ouvir minha mãe, nesse momento, não é uma boa coisa....
Melhor amiga? Em algum lugar de Londres, provavelmente, ao redor de vários garotos e garotas que veem apenas o próprio umbigo.
Namorado? Há de aparecer um dia...
Mas o que fazer com todos esses problemas? O fato de terem me incriminado em um caso que está longe de chegar em mim, minha melhor amiga estar seguindo o caminho das pessoas mais fúteis do planeta - eu acho -, ou o fato de não ter namorado desde os meus 10 anos, quando meu melhor amigo fez eu me apaixonar por ele e depois ter ido embora, em um dia frio de maio, com a família e cachorros - ele tinha dois -, deixando tudo para trás: nossa amizade, brinquedos, sonhos e beijos infantis, sem idéia do que significavam. Ele era 2 anos mais velho que eu. Hoje tenho 17. Então, tem seus 19. Em alguma universidade de biologia - uma de suas paixões -, com garotas bonitas, tirando notas baixas, jogando no time de futebol profissional. Partiu após meu pai falecer. Quando eu tinha 12 anos, ele, 14.
Já meu pai está ocupando um lugar no imenso céu azul, onde as nuvens se misturam, formando uma massa de branco, quebrando o azul.
Sinto falta dele. Tanto do meu pai, quanto de . Os dois me entendiam, sabiam o que eu queria dizer com palavras atropeladas, entendiam um olhar, um sorriso quebrado.
- O jantar já está pronto- ouvi minha mãe dizer, fracamente, por trás da porta. Suspirei, sabendo que mais sermões viriam à tona. Tomei um comprimido. Me olhei no espelho. Saí do quarto.
Desci as escadas, com passos fortes e trêmulos. Nunca havia discutido com minha mãe desse jeito.
- Aqui está - ela disse, mostrando o jantar posto na mesa. Saiu da cozinha sem dizer uma palavra. Ouvi seus passos subirem a escada. Sentei-me, juntei minha mãos e fechei meus olhos.
- Deus, por favor, escuta-me. Nunca estive tão desesperada, à procura de amparo, de acolhimento. Me sinto tão sozinha, mais do que uma gaivota a voar no céu alaranjado do pôr-do-sol. Me ajuda. Me dá algo que motive minha existência aqui na Terra. Gostaria de viver feliz, com algo que me sustentasse ao cair, ou tropeçar... Amém. - Depois de poucas palavras para o Senhor, voltei minha mente à comida. Mas estava sem fome. Peguei os talheres e fui colocando pequenas porções em minha boca.
Minha vida era perfeita quando eu tinha e meu pai. Os dois se davam muito bem. Me lembro de ver Martin (meu pai) brincar comigo e com meu amigo no jardim. Éramos todos crianças. A idade não intervinha em nossa diversão.
Não sei ao certo o que levou o meu pai a partir dessa vida. Minha mãe disse que foi um infarto, mas aos 48 anos? Achei que sim, mas Martin nunca havia demonstrado estar doente, ou com inimigos que lhe desejassem algum mal.
Ouvi a campainha tocar. Já sabia quem era.
Me levantei e fui atender.
- Olá, ! Sua mãe está? Irei levá-la ao Piatti hoje - Jorge disse e, sem nem sequer pedir com licença, já foi entrando. Mal educado.
- Olá, Jorge. Ela subiu. Não sei se vai desc... Ah! Olha ela ai. - E Elizabeth (minha mãe) veio descendo deslumbrante a escada.
- Olá, querido! - Então o agarrou pelo pescoço na minha frente, dando um beijo nojento. - , vou jantar no Piatti com Jorge. Não tenho hora para voltar. Fique em casa, não atenda a porta para estranhos, e já sabe o resto. Tchau - disse, fechando a porta, me deixando sozinha, com o silêncio da minha casa.
Lavei a louça, peguei o livro O Perfume - A história de um Assassino e me pus a ler sobre o cara obsecado por mulheres e seus insaciáveis aromas. Quando estava o maior silêncio, e estava imune a qualquer reação fora de alcance, a campainha tocou. Dei um pequeno pulo de susto.
Coloquei o livro de lado e me levantei, confusa. Não esperava ninguém a essa hora.
- Você é a senhorita... ? - O rapaz baixinho, gordo e barbudo me perguntou. Se estivéssimos em época de Natal, juraria que era algum tipo de piada, colocando um duende segurando uma caixa verde, embrulhada.
Não havia nada de interessante no embrulho. Nada que me despertasse o interesse de saber o que havia por trás de tudo.
- Sou eu sim. Mas eu não pedi nada. Acho que você deve ter confundido o meu nome com outra pessoa. - E quando ia fechando a porta, ele colocou o pé minúsculo entre a mesma e o batente, impedindo que eu a fechasse.
- Não não. O responsável pela entrega disse que era você mesmo. Então estou apenas fazendo meu trabalho. - Ele esticou as pequenas mãos com a caixa. A peguei, agradeci e ele se foi. Fiquei-o observando ir. Era engraçado o modo como andava.
- Mas... quem será? - Me sentei no sofá, coloquei a caixa sobre meu colo e fui tirando todo o embrulho. No final, uma caixa branca.
Abri a mesma e meu queixo parou no chão. Há quanto tempo não vejo isso? Quantas vezes me peguei pensando nos momentos em que a usávamos... Era uma luva de baseball. Mas não sabia o motivo de aparecer tão de repente. Então lembrei que, em minha infância maravilhosa, jogava baseball com e com o papai.
Passei a mão sobre ela, e todas as vezes em que coloquei minha mão dentro dela vieram na minha cabeça. Sorri involuntariamente, tão feliz que minha alegria ficou sem descrição. Toquei minhas bochechas e senti algumas lágrimas rolarem pelas mesmas, caindo sobre a luva.
A peguei e coloquei na minha mão. Dessa vez, coube perfeitamente. Quando era menor, ficava solta, e muitas vezes eu tinha que colocar alguma coisa para preencher o espaço que meus dedos não alcançavam. Nunca tive a oportunidade de ter uma luva de baseball, ou um taco. Minha mãe nunca deixara eu ter. Dizia que já era demais eu estar jogando. Meninas tinham que se maquiar e tal.
Olhei para a caixa novamente, e havia um bilhete ao fundo.
Fiquei com medo do que poderia ser. Tirei a luva e coloquei do meu lado. Peguei o papel e o abri. Havia uma letra perfeitamente desenhada nela, parecendo letra de computador, onde estava escrito "Desculpe" e ponto. Nada mais. Virei o papel, a procura de algum número, algum endereço, mas nada. Aquilo deixou um vazio e várias perguntas dentro de mim. Quem será a pessoa por trás disso? Por que me mandar isso agora? O que teria a ver isso?
Fiquei a noite toda com ela, apenas pensando, relembrando os bons tempos.
Dois - Aquele sorriso
- Senhorita , você jura falar somente a verdade, apenas a verdade, diante de Deus e todo o júri?
- Eu juro.
- Pode se sentar. A corte irá começar.
Todos estavam ali para que meu destino fosse feito. Que a tortura começasse.
O advogado da escola se levantou, andando em minha direção.
- Olá, .
- Olá... pessoa - disse, irônica e sem um pingo de vontade de estar ali.
- O que estava fazendo àquela hora da noite, no dia 24 de maio de 2010, em frente ao Colégio Ruppert Jummer?
- Estava voltando de um passei ao parque.
- Àquela hora da noite?
- Minha mente não sabe que horas são.
- E por que a livre espontânea vontade de querer sair à noite, exatamente no momento em que o colégio pegava fogo?
- Eu não sabia que o colégio estava pegando fogo! Havia acabado de brigar com a minha mãe, não estava a fim de ficar em casa ouvindo as reclamações dela, então fui passear. Minha casa fica perto da escola, então, quando passei por lá, estava tudo calmo, mas, quando voltei, janelas já haviam sido quebradas por causa do fogo. Estava sem celular, e fui bater na casa da família mais próxima, mas quando ia fazer isso, a polícia, junto aos bombeiros, já estava chegando. Então fizeram algumas perguntas para mim. Depois disso, o nosso advogado chegou à nossa casa, dizendo que teria que apresentar minha história para o tribunal. Então, aqui estou, sendo entrevistada por um palhaço. Você - apontei para o cara que me fez jurar dizer a verdade - pediu para dizer a verdade. Estou dizendo. Ele - apontei para o advogado da escola - é um palhaço. - Sorri ironicamente. Ele sempre está na escola, resolvendo isso e aquilo. Já me perturbou demais também.
Ouvi a juíza soltar uma risada. E minha mãe, na mesa de defesa, estava de olhos arregalados.
Depois, algumas pessoas foram entrevistadas, e, no final, haveria outro jugamento, no final do mês.
Antes de voltarmos para casa, paramos em uma Starbucks e compramos um cappuccino. Jorge tentava de vários modos me colocar para cima, mas ninguém iria conseguia me fazer sorrir estando assim.
- Vamos, , sei que está chateada, mas acho que você conseguiu convencer a juíza.
- Se realmente tivesse convencido, não teríamos mais uma tortura dessa no final do mês - respondi, seca, sem alma ou compaixão. Quem quer que tenha feito esse incêndio acontecer, iria lidar com as consequências.
- ! - minha mãe disse. - Nunca te vi tão afiada antes. - Acabou dando uma tapinha no meu braço.
- É... Você me amolou. Parabéns! - Me levantei, não querendo ficar mais com minha mãe e seu namorado irritante.
Fiquei esperando encostada no carro, até os dois se levantarem e resolverem ir para casa. Isso durou em média uns 3 minutos.
- Até que enfim! Pensei que iriam ficar lá sempre - disse. Sei que foi extravagante um pouco.
Sem esperar uma resposta sobre a minha crítica, entrei no carro. Os dois fizeram o mesmo em seguida.
Durante todo o caminho, o único som que se ouvia era do rádio ligado na Introducing 132, onde tocava a Just like Heaven do The Cure, o que, em comparação à minha vida, é um ironia completa. Se minha vida fosse metade do que a música descreve sobre a tal garota e blá blá blá, eu estaria feita.
Chegamos em casa, saí do carro, subi as escadas e fui para meu quarto, recompor as horas de sono que foram interrompidas por causa do tribunal.
Acordei quase na hora do almoço, disse para minha mãe que iria dar uma volta. Ela achou estranho, porque eu não costumava sair quando nevava. E hoje estava 6 graus acima de zero. De matar, hein? Mas saí mesmo assim. Estava com bom impressão do dia. Não havia sol, não havia o céu azul. Aqui em Dublin, tudo era muito difícil por causa do clima. É bem rara as vezes que vamos à praia. Ao sair de casa, ia levando o tombo por causa do piso escorregadio. Praticamente todas as casas tinham um boneco de neve deformado. As crianças corriam de um lado para o outro, com bolas de neve na mão, tentando alcançar a outra para jogar a bola em suas costas, ou na cabeça. Desci as escadas, com o sustento do corrimão, mesmo estando muito gelado, mesmo eu estando com as luvas. Fui andando vagarosamente pela rua, até uma bola de neve acertar minha cabeça. Me virei pronta para acertar o desgraçado que fizera o favor de encher uma parte do meu cabelo e da minha toca de neve. Mas, ao me virar, não acreditei no que via. Quase não o reconheci, se não fosse pelo sorriso. Como poderia esquecer aquele sorriso?
Três - O reencontro
- Olá, ! Você se lembra de mim? - Ele sorriu, deixando mais claro quem era. Não acreditava no que via. O que teria acontecido com ele? Estava perfeito. Seus olhos continuavam e estonteantes. Seu nariz meio vermelho me fez relembrar quando o vi gripado, deitado na cama. Mas, agora, não era a gripe que o deixava assim, era o frio.
- Como poderia me esquecer do meu melhor amigo? - disse, abrindo um grande sorriso.
- Estava com saudade! - ele disse, se aproximando de mim. Suas mãos pegaram meus ombros, trazendo-me para mais perto dele. Então seus braços me envolveram. Eu o abracei também. Com toda a força que tinha. Senti seu coração bater tão rápido, mesmo por trás de todas suas vestes, mas me aquecia como nunca, jamais, sentira antes.
- Olha como você está! - ele disse, se afastando, me segurando pelos ombros. - Está ótima!
- Obrigada! Você não está nada mal também! - disse, abrindo um sorriso. Ele também o fez. Ficamos nos olhando por um tempo, até ele interromper o silêncio estabelecido entre nós.
- Então, como vão os estudos? - Me coloquei do lado dele, para podermos andar.
- Vão bem. Segundo ano não é nada fácil - disse.
- Pois é.
- Mas e a faculdade?
- Não estou fazendo faculdade. - Aquela resposta me abalou com tanta força que parei de andar.
- Não está fazendo biologia? Por quê? - perguntei, abismada. Ele se virou, torcendo os lábios para o canto direito do rosto, deixando-o com um cara fofa.
- Bem, não passei no teste. E... meus planos mudaram...
- Mas biologia era o seu sonho! - disse.
- Sei sei. Mas estou com outros planos agora, estou seguindo outra coisa.
- O que está seguindo?
- Bem, conheci uns caras e começamos a fazer uma banda. Se lembra de quando eu tocava ? Mesmo não sabendo muito, mas eu gostava - ele disse, dando um sorriso torto. Fiquei parada, apenas apreciando suas feições.
Seus braços finos foram trocados por braços fortes e ombros musculosos, não muito, mas o suficiente para chamar a minha atenção; Seu sorriso estava sem o aparelho, mas estava com os mesmos ângulos; Suas mãos estavam grandes, e mal se via suas unhas, seu grande costume de roê-las continuava; Estava alto, magro, musculoso...; Seus cabelos estavam mais bagunçados, deixara de ser arrumadinho. Tinha um corte desfiado, bastante sedutor.
- Lembro sim. Boa sorte em seus novos planos.
- Obrigada. Como vai a sua mãe? - ele perguntou. Arqueei uma sobrancelha.
- Chata. Como sempre. - Rimos. - Ela está bem. E seus pais?
- Bem também. - Sorri. A mãe do nunca fora com a minha cara. Sempre dizia que eu era má influência para ele, mesmo sendo dois anos mais nova.
Continuamos a andar, mesmo sem falar nada.
- Então... você está com 17 anos... já tem... - ele perguntou, virando um pouco o rosto, me olhando pelo canto dos olhos. Fiquei um tempo tentando raciocinar o que ele estava querendo dizer.
- Não! Quer dizer... nunca tive. Quer dizer... o que a gente tinha era uma brincadeira... nunca tive nada sério com ninguém! - Me enrolei toda.
Um sorriso abriu-se em seus lábios.
- Tudo bem - ele disse. Bem, se ele tinha feito uma pergunta dessas para mim... acho justo fazer o mesmo.
- E...você? - perguntei, meio sem graça. Ele levantou o rosto, puxou ar entre os dentes e me olhou.
- Bem... - ele ia dizendo, até eu perceber duas mãos invadirem meu campo de visão (que, no momento, era ele) e aparecer um loira, magra, com um casaco rosa felpudo nas bordas, com óculos escuros e com a boca brilhante de gloss. Fiquei a vendo.
- ! Estava te procurando! - ela disse, dando uma batidinha no queixo dele com o indicador.
- Ãh... , essa é a Nichole. Minha namorada. - Seus lábios se contraíram ao dizer aquelas palavras. Abri um pouco a boca, não acreditando no que acabara de ouvir. Isso me atingiu bem mais forte do que uma pedra de uma tonelada sobre um cachorro chiuaua, com uma distância de 100 metros. Fiquei mexendo os lábios a procura de dizer alguma coisa.
- Oi... Prazer em te conhecer! - Ela estendeu a mão em minha direção. Fiquei olhando-a. Peguei a mesma.
- O prazer é meu - disse, sem mesmo ter notado. - Bem, acho que escutei minha mãe me chamando para almoçar... Querem entrar?
- Não não, obrigada. Eu só vim porque a minha sogra está chamando o bebê aqui para almoçar também. - A tal Nichole puxou o rosto do e lhe deu um beijo na bochecha. Abaixei o rosto. Dei um tchau com a mão e o observei mais uma vez antes de entrar em casa. Ele estava me olhando, com um olhar sem expressão.
Entrei em casa e subi para o quarto com um peso enorme no meu coração. E me pus a chorar. Não sei por quê. Pelo fato de ter revisto o meu melhor amigo depois de 5 anos, pelo fato de meu melhor amigo estar namorando a Barbie Fashion sei lá o quê, ou por ter descoberto algo pavoroso, desesperador (bem mais do que meus problemas), agoniante e até inseguro: estou apaixonada pelo meu melhor amigo.
Quatro - Um convite
Após ter descido do meu quarto para almoçar, subi para o mesmo e passei o resto do dia inteiro lá. Na verdade, estava com medo e ansiedade de ir para a rua. Quem sabe o que me espera lá. O que aconteceu horas atrás é uma prova perfeita disso. Meu coração dispara ao lembrar de como ele está agora. Tão bonito. Tão seguro do que quer. Fico feliz por ele está construindo um futuro, dando passos largos. Eu estou empacada no mesmo lugar. Não saio, só ando para trás, fazendo da minha vinda um inferno.
- ! Alguém no telefone quer falar com você! - minha mãe gritou por trás da porta. Peguei meu telefone.
- Alô?
- ?! - uma voz masculina, absurdamente sedutora, disse meu nome, quase como uma pergunta e tom de alegria.
- ? - perguntei, estática, pela milésima vez no dia.
- Desculpa estar te ligando a esta hora da noite, sendo que nós mal nos falamos, e, após 5 anos, acho que falar com minha melhor amiga seria ótimo. - Engoli seco. Como ele consegue fazer esse efeito em mim?
- Tudo bem... O que você quer conversar? - perguntei, me aconchegando mais na cama.
- Bem, amanhã eu vou para as colinas, esquiar. Então estava pensando se você gostaria de ir comigo? - ele perguntou. Senti um tom de insegurança em sua voz. Talvez por causa da minha resposta. Ou por outra coisa.
- Não sei, ... E Nichole? Ela não vai ficar chateada? Sei lá...
- Eu falei com ela... Ela não gosta de ski. Diz que as pessoas caem demais e se arranham no gelo e tal. - Arranham no gelo? É uma expressão estranha, mas pode acontecer.
- Então... Ela não vai? - Coloquei um sorriso no rosto.
- Não. Assim vamos ter tempo de colocar nossas conversas em dia. - Senti minhas bochechas arderem ao ouvir aquelas palavras.
- Tudo bem.
- Ótimo! Passo na sua casa às 9:00 horas. Boa noite, ! - ele disse com uma voz suave, profunda, como a de um anjo.
- Boa noite, ! - disse, desligando o telefone.
Me lembro de ter pregado os olhos e, quando menos esperava, o despertador começou a tocar.
Dormi à noite tranquilamente, mesmo depois de ter conversado com .
Me levantei, me arrumei e desci para avisar a minha mãe que iria esquiar com o .
- Mãe, vou esquiar com o , se lembra? Meu amigo de infância? - disse, entrando na cozinha e devorando o prato à minha frente.
- Tudo bem, mas não chegue tarde. Por favor.
- Não podemos esquiar até Às 22:00 da noite, mãe. Relaxe - disse.
- Tudo bem. Qualquer coisa, me ligue. - Me levantei, após ter colocado tudo na boca.
Fiz positivo com o polegar e subi para o quarto, para terminar de me arrumar. Escovei os dentes, penteei meus cabelos e passei um pouco de gloss - não da forma exagerada que a Nichole passa - e fiquei esperando na sala.
Todos os sons ao meu redor aumentavam à medida que a minha ansiedade também aumentava. Até que tudo parou quando a campainha tocou.
Dei um pulo, ajeitei-me pela última vez e abri a porta. Ele estava magnífico.
- Oi - disse, sem graça. Ele sorriu, piscando algumas vezes.
- Oi. Olá, Sra. ! - Ele acenou para minha mãe por cima dos meus ombros. Quando seu braço passou por cima dos meus ombros, seu cheiro ficou tão intenso que fechei os olhos para memorizá-lo em minha mente. - Você está bem? - ele perguntou. Abri os olhos e o encontrei com uma cara confusa. Arregalei um pouco os olhos, fechando a porta atrás de mim.
- Estou bem. Vamos? - perguntei. E, como sempre, ia caindo. Fechei os olhos e abri um pouco a boca, esperando a dor em minhas costas, até sentir dois braços me segurarem.
- Calma! Não vamos querer ver você toda machucada, não é? - ele disse, sorrindo para mim. Nossos olhos se encontraram. Me levantei, quebrando nosso contato visual.
Fomos andando em direção ao carro dele. Uma picape Chevrolet 2010, preta, enorme. Entrei nela e senti o cheiro de carro novo. Os bancos de couro estavam frios por causa da temperatura em geral.
Ele entrou no carro e deu partida, seguindo para o lado Oeste de Dublin, onde se encontram umas cordilheiras. Não muito grandes, mas o suficiente para a prática de esportes radicais, como ski. Chegamos lá após conversas vagas e 15 minutos – pelo que pude contar.
Pegamos nossos matérias e fomos subindo pelo elevador panorâmico, que dá para ver toda a cidade de Dublin. A vista é perfeita, mesmo estando nublado.
Fomos descendo a colina. Vi levar um queda feia, então não aquentei a risada. Depois, subimos mais umas 3 vezes, até que minha vez de cair aconteceu. O problema foi que eu caí de cara, e eu escutei meu pescoço estralar. Fiquei morrendo de medo que pudesse ser alguma coisa perigosa, mas nada aconteceu.
- Você está bem? - perguntou, se ajoelhando ao meu lado, pegando minha cabeça e tirando toda neve que pode.
- Estou bem - disse. Abri os olhos e pude vê-lo bem perto. Olhei sua boca, meio avermelhada. E como no passe de mágica, senti seus lábios nos meus. Fiquei estática no momento, mas não resisti e me entreguei ao beijo. Seus lábios eram tão macios. Sua mão em minha nuca me segurava. Quando nos separamos, fiquei olhando-o. Estava sem expressão. Ao máximo que pude chegar foi que ele estava confuso.
- É melhor irmos... - disse, me levantando. Estiquei a mão em sua direção. Ele a segurou e descemos mais um vez, agora definitivamente.
O caminho, desta vez, foi silencioso. Ele fazia algumas perguntas e eu respondia com poucas palavras. O que pareceu foi que, mesmo sem trânsito, o caminho da volta ficou mais longo. Mesmo assim, chegamos à minha casa.
- Obrigada pelo dia. Foi ótimo. Ainda bem que cheguei a tempo do almoço. Quer entrar? – perguntei, mas estava torcendo para que ele recusasse. Só perguntei por educação mesmo.
- Não, obrigado. Qualquer coisa, eu te ligo. Tchau - ele disse. Acenei com a mão e desci do carro.
- Até mais.
- Até! - Então ele se foi. Fiquei o observando desaparecer pela neblina grossa. Fui andando para casa.
- Ainda bem que você chegou na hora do almoço! - minha mãe disse.
- Tá tá... - Fui andando em direção da mesa, onde o almoço já estava posto. Fizemos nossa refeição e, como sempre, subi para o meu quarto. Mas, dessa vez, eu não fui ler ou mexer no computador. Me sentei na cama, com as pernas esticadas, e levei minha mãos aos lábios, tocando-o apenas com os dedos. Fechei os olhos e senti o gosto de seus lábios, a forma ágil como eles se moviam. Suas mãos me envolvendo.
Mas... ele está namorando. Ele está namorando! Eu não podia ter feito isso. Ele é... comprometido. Talvez eu pudesse passar na casa dele - ele havia me dito que está na ex-casa dele - e me desculpar. À noite.
Cinco - O que fazer?
Me vesti mais ou menos bem. O suficiente para aparecer na casa do .
- Mãe, vou dar uma volta. Talvez eu jante fora.
- O.K. - escutei ela dizer quando já havia fechado a porta.
Fui fazendo o percurso que fiz durante muito tempo, mas que a 5 anos nunca me atrevera a fazer.
Cheguei lá e encontrei as luzes acesas. Subi a pequena escadaria e toquei na campainha.
A Nichole atendeu. Ela estava deslumbrante. Usava um vestido preto, com um sobre-tudo, preto também, de pelo. Uma maquiagem leve, mas os lábios sempre preenchido de muito gloss.
- O que você quer? - ela perguntou, grosseiramente. Uma de suas mãos segurou a porta, enquanto a outra estava perfeitamente posicionada no quadril, o anelar com um anel de diamante. Fiquei olhando o anel por um tempo.
- O está?
- Está, mas está ocupado. Olha, vou deixar uma coisa bem clara para você. O é muita areia para o seu caminhãozinho. Então, se você der meia volta e voltar para a sua casa inútil, estará fazendo um favor a ele. O.K.? - Engoli seco. Estava tentando juntar todas aquelas palavras. Senti meus olhos se encherem de lágrimas.
- Se puder, avise a ele que eu apareci - disse, com a voz meio cortada. Então ele apareceu ao lado dela, olhando-a.
- Está falan... ? - ele perguntou, me olhando. Uma lágrima desceu. Passei a mão no rosto, limpando-a. Dei meia volta e fui andando de volta para casa. - !
Escutei ele gritar atrás de mim. Mas continuei andando, fazendo lágrimas se formarem em meu rosto e um nó na garganta. Senti uma mão pegar meu braço e me virei bruscamente.
- Sabe... Eu pensei que você era o mesmo! Mas não é! - disse, furiosa.
- Eu não tenho mais 12 anos! Eu preciso seguir em frente! Tenho que fazer minha vida! Não posso mais fazer besteiras!
- E o que foi aquilo hoje de manhã? Você volta para Dublin, me beija e de repente está noivo dela? - Apontei para a casa dele. Mais lágrimas saiam do meu rosto.
- O que você queria? Eu tenho que viver a minha vida! Quero formar uma família, e acho a Nichole muito legal. E... tá, eu te beijei, mas e depois? O que rola?
- Me diga você! Afinal, foi você que me beijou!
- Foi um erro. Algo que ficou para trás.
- Igual nossa amizade. Adeus, ! - disse, me virando e correndo pela rua. Deixando-o para trás. Enquanto corria, minhas lágrimas caiam, fazendo-as se espalharem por toda a extremidade das minhas bochechas.
Cheguei em casa, entrei no quarto e chorei. Bem mais que nunca. Não mais do que quando o meu pai fora embora, mas chorei.
Seis - Segundo jugamento
27 de Dezembro
Já havia passado o Natal. E já haviam se passado 2 semanas, e eu não falei com ele. O vi em alguns lugares. Como na patinação do gelo, com Nichole, no shopping, com várias sacolas de marcas femininas, e Nichole à sua frente.
E hoje era o dia em que a tortura iria começar. Pela terceira vez.
Fizemos aquele lance do juramento e blá blá blá. Mas, dessa vez, não era o idiota do advogado da escola que estava fazendo as perguntas, era outra pessoa, não sei quem.
Depois que as perguntas já tinham acabado, eu me sentei onde estava, na mesa do defesa, ou algo assim.
- Pode entrar a próxima vítima.
E, para minha surpresa, entrou. Olhou para mim e não fez nada, se sentou na cadeira e ficou lá. Fizeram o lance do juramento, e, então, o meu advogado começou a fazer as perguntas para ele.
- O que fazia atrás da escola àquela hora?
- Estava com os meus amigos, comemorando a vitória do jogo dos Lakers.
- E o que faziam?
- Estávamos bebendo.
- Só bebendo?
- Haviam dois maiores de 21 anos que estavam fumando. E o mais velho jogou o cigarro, mas não apagou tudo. Então começou a pegar fogo do lado direito da escola, e ficamos com muito medo. Sem saber o que fazer. Saímos correndo do local. Todos haviam bebido, mas eu estava consciente e levei todo mundo para minha casa. Então meus pais e eu fomos morar nos arredores da cidade. Não sei onde meus amigos estão agora.
- Meritíssima, o garoto deixou bem claro que foi um incidente.
- Acho que sim. Então, a escola sofreu poucos danos, apenas a sala de computação foi destruída. Por ser uma escola do governo, iremos cobrir os custos possíveis. Sessão encerrada.
Coloquei minha cabeça sobre as mãos, agradecendo por ter acabado.
Senti alguém colocar a mão no meu ombro. Me levantei, meio assutada. Então me deparei com os pais de .
- . Como você cresceu! Bem, não estávamos aqui quando seu pai faleceu então nós sentimos muito. Ele era uma ótima pessoa - a Sr. disse. Ela me puxou para um abraço. - E, aproveitando o momento, gostaria de pedir desculpas pelo meu comportamento quando você era pequena. Meu filho gostava muito de você. E ainda gosta. Então acho que foi medo de perdê-lo para você.
- Obrigada pelas lembranças ao meu pai. E agradeço por se reconciliar comigo. Foi nobre da sua parte. Obrigada mesmo.
- De nada, minha flor. Apareça quando quiser em nossa casa.
- Obrigada. - Olhei para ela e para o Sr. .
Eles se afastaram, deixando-me com minha mãe.
- Oh filha, ainda bem que acabou... - Ela me abraçou. Senti as mãos do Jorge em meu ombro.
- , todos estávamos bem tensos por causa do que aconteceu, então que tal se nós recomeçássemos nossa história, como padastro e... filha.
- Tudo bem... Contanto que não fique com aquele lance de "Quem é o meu próximo genro?" ou algo do tipo.
- Combinado. - O abracei. - Hey, querida, vamos falar com o pessoal ali - ele disse para minha mãe. Os dois saíram, me deixando sozinha.
Saí do tribunal após ter falado com a juíza e com o meu advogado. Mas não tinha reparado quando saiu. Desci as grandes escadas do tribunal e fui andando sobre o solo limpo.
- ! - escutei alguém me chamar. Me virei e me deparei com . - Eu não me mudei para outra cidade, eu estava do outro lado da cidade. Só depois do incêndio é que me mudei.
- Eu sei!
- Eu... contei para a Nichole que tinha te beijado. E ela jogou isso em mim. - Ele mostrou o anel de diamante. - E fico muito agradecido por ela ter feito isso, porque, assim, eu vou poder ficar com a garota que amo desde... sempre. - Um sorriso lindo se fez eu seus lábios. Sorri, não acreditando no que acabara de ouvir. - Me desculpa. Por todas aquelas barbaridades que eu disse. Estava confuso.
- Eu também - disse, dando passos pequenos em sua direção. - Eu sinto muito.
Ficamos nos olhando por um breve tempo.
- Mas, sabe, eu fiquei pensando naquele beijo - ele interrompeu o silêncio. Olhando para mim com um sorriso torto no rosto, ele veio se aproximando, fui andando também.
- Eu também... - Ele pegou as minhas mãos, entrelaçando nossos dedos. Uma de suas mãos colocou uma mecha do meu cabelo atrás da orelha e segurou meu rosto. E então,como num passe de mágica, ele me beijou, da melhor forma que um menina sonharia em ser beijada.
- Sabe, antes de você aparecer, eu me sentia transparente. Ninguém ligava muito para mim. E, quando você disse aquelas coisa para mim, pensei que não gostava de mim, então joguei fora as chances de ficar com você.
- Gosto de você. Muito. Quero ficar com você, independentemente do que venha amanhã, pois o passado é uma relíquia, o futuro é uma dádiva, mas o presente é maravilhoso, e quero passá-lo, e o futuro, com você - ele sussurrou. Então voltei a beijá-lo.
- Sabe, adorei a surpresa que você fez.
- Que surpresa?
- De ter me dado uma luva de baseball. Eu sempre tinha vontade de ter uma.
- Mas eu não te dei nenhuma luva... - Franzi o cenho, confusa. Mas então um feixe de luz atravessou as nuvens cinzentas, batendo em mim. E então a resposta caiu em minha cabeça, como uma maçã. Abracei o , tão feliz que não há descrição.
Aquele presente não veio de ninguém ao meu redor. Só aquele que me observa no céu, com a ajuda Daquele que fez tudo isso acontecer.
- Obrigada, pai... - sussurrei.
Nota da Autora - 2 de Fevereiro de 2011
Olá pessoas! Feliz ano novo! Tudo de ótimo para todas!
Então, essa é a minha primeira short fic. E eu a amei! Bem, fiz ela como presente de aniversário para minha melhor amiga, Camila! Ela merece mais que isso claro, mas, por enquanto, é o que eu posso dar. Mila, que todos os seus sonhos possam se realizar! E você sabe que eu te odeio neh? auhauahauhauahuah XD Te amo muito flor do meu jardim! Que Deus possa nos dar muito mais anos juntas!
A fic não tem nada a ver com a vida de Camila. Eu apenas queria algo emocionante e apaixonante para vocês lerem ^^
Espero que tenham gostado! Não se esqueçam de comentar! No final da fic, vou colocar o link das minhas outras fics, para vocês lerem. Um beijão para todas vocês! Um beijão Mila (L)