A escuridão tomou conta da cidade. Agora a Lua substituía graciosamente o Sol.
Abri a janela da sala e senti uma brisa fria tomar conta da sala.
Procurei assiduamente por uma de minhas velas aromáticas, até encontrar, a última, no fundo do armário. Acendi e sentei-me no sofá: finalmente poderia descansar sem nenhuma neura.
Liguei a TV e, aleatoriamente, escolhi um daqueles canais onde passam filmes o dia todo.
- Massacre de Halloween. - li alto, e acabei rindo de tamanha bobagem que iria assistir.
O Halloween nunca foi um dia atraente para mim. Pessoas vestidas como seres que elas costumam temer, pra quê?
A música de suspense começou a tocar de fundo, deixando claro o que aconteceria no filme. E então, no mesmo instante, o som ensurdecedor da campainha invadiu meus tímpanos.
Fui com preguiça em direção à porta e ao abrir, deparei-me com um bando de garotinhos com fantasias toscas.
- Gostosuras ou travessuras? – eles perguntaram em coro.
Sorri maleficamente e neguei o pedido, batendo a porta na cara deles.
Os garotos da vizinhança não ousariam atingir minha casa com papel higiênico ou tinta, eles realmente me temiam. Será que tenho cara de gótica ou sei lá?
Abri a geladeira e peguei minha abóbora de doces, um pote de plástico com balas e chocolate.
Voltei ao conforto do sofá e me enfiei por entre as almofadas.
Fixei meus olhos no filme e tentei entender alguma coisa. Era muito difícil, com tanto sangue e nudez numa só cena.
***
A campainha voltou a tocar, o relógio marcava 00:00.
Olhei a minha volta e suspirei irritada. Por um instante, hesitei em não abrir a porta, mas a pessoa por detrás dela era realmente insistente.
Levantei-me outra vez do sofá e abri a porta sem nenhum ânimo. Assustei-me ao deparar com um cara e seus 1,80 de altura.
- As crianças da vizinhança cresceram rápido... - zombei baixo.
- Gostosuras ou travessuras? - sua voz me fez sentir arrepios, enquanto ele estampava um sorriso malicioso no rosto.
- Não tenho doce em casa, sou diabética. - foi a única desculpa que me veio a cabeça.
Nos encaramos em silêncio por alguns segundos, quando decidi fechar a porta, mas cara dos olhos azuis me impediu:
- Eu não vou sair de mãos abanando. - ele mordiscava o canto da boca.
- Pois vai! – tentei fechar a porta outra vez, em mais uma tentativa falha.
O rapaz de pele pálida adentrou minha casa e puxou-me pela blusa até que eu me rendesse. Sorriu de canto e deixou seus lábios a poucos centímetros dos meus.
Por mais que parecesse loucura, não quis impedi-lo ou sequer gritar. Não me parecia tão ruim, afinal, pela primeira vez, eu comemoraria o Halloween de forma divertida.
- Não vai me dizer seu nome? – questionei-lhe.
- Andrew. - ele olhou fixamente em meus olhos e me apertou com a mão que enlaçava minha cintura.
Ao acariciar meu rosto, a pele gélida de Andrew tornou-se meu único desejo.
O estranho perfeito jogou-me violentamente sobre o sofá e na tentativa de me despir, ele acabou rasgando minha blusa.
Andrew tirou sua camiseta e jogou-a em um canto qualquer da sala. Encostou seu nariz no meu e sorriu.
Finalmente seu gosto invadiu minha boca. E ele foi descendo para o meu pescoço, busto...
Quando me dei conta, já estava despida sobre a cama, sucumbindo-me aos seus toques.
Parecia loucura, era loucura. Uma loucura mais que prazerosa...
***
Agora estávamos abraçados no meio da cama, com um lençol branco cobrindo nossos corpos nus.
- Quão além você pode ir? - perguntei envergonhada. - Quer dizer, você nem suou!
Andrew sorriu e desviou o olhar.
- Vai sumir amanhã e me deixar sozinha, pensando em você... Clichê, não? - sorri, procurando seu olhar distante.
- Chame por mim que eu virei... – ele disse friamente.
- Mas eu não sei nada sobre você! – agora estávamos olho a olho.
- Jd. Esperança, nº411,66. – ele falou rapidamente. - Tudo o que precisa saber...
- É um apartamento?
Andrew não respondeu. Apenas me aproximou de seu peito e me abraçou com força.
Acabei dormindo, pouco tempo depois.
***
O reflexo do Sol na janela fez com que eu abrisse os olhos.
Ao me virar na cama, notei que Andrew não estava ali.
A casa estava arrumada e negava tudo que havia acontecido na noite anterior.
Cheguei a pensar que estava ficando louca e que tudo tinha sido apenas um sonho. Mas não, não era possível.
Por dias, aquele rapaz que procurava por diversão, era tudo que eu pensava, tudo que eu queria.
Então me lembrei do endereço. Se aquilo era tudo que eu sabia dele, era o que eu iria usar para encontrá-lo.
Dirigi com pressa até o endereço do qual eu me lembrava vagamente. Assustei-me ao me deparar com o que Andrew chamava de lar: o cemitério.
Não sabia se ria, ou se sentia medo. Talvez fosse só uma brincadeira tosca de Halloween. Resolvi entrar.
Fiquei alguns minutos parada ali, em frente a aquele lugar, admirando tumbas e rezando mentalmente por todas aquelas almas.
- 66. - sussurrei para mim mesma.
Um filme de terror passou pela minha cabeça e por mais que parecesse besteira, resolvi ficar e procurar por uma tumba com este número. Já que eu estava ali, por que não?
Senti vergonha de mim mesma. Estava num cemitério por causa de um garoto? Sou a melhor em me contrariar, hein?
Corri por todas as fileiras de tumbas do cemitério. E quando me dei por vencida, lá estava ela, diante dos meus olhos: 66.
Era bem simples, baixa. A única sem flores dali.
Se aquela era a tumba de Andrew, ele era um cara bem solitário... Ou apenas era ali que ele, um gótico qualquer, se divertia nas madrugadas.
Olha só, eu tentando desvendar o passado de alguém... Num cemitério com tantas tumbas, alguma tinha que ser a de número 66, oras...
Só então percebi que o túmulo tinha foto. Abaixei-me e com cuidado dei uma leve batida na foto.
Levantei-me, ainda ser olhar para a imagem, e finalmente a fitei.
- Andrew...? - minha voz mal saía.
O garoto com quem havia dormido estava morto, enterrado !
Eu estava, definitivamente, em choque. Queria apenas ir embora para o mais longe dali.
Virei meu corpo lentamente para trás e pude ouvir novamente a voz masculina que na noite anterior me causara arrepios:
- Procurando por mim? - era Andrew, estampando um sorriso vitorioso no rosto.
Ele se aproximou de meu corpo, agora paralisado, em passos curtos e sussurrou em meu ouvido:
- Gostosuras ou travessuras?
FIM...?
N/A: Gostei de escrever essa fic, ela é bem simples mas gostosa de ler. Minha parte favorita é essa do final, fiquei imaginando o Andy Biersack aparecendo, sabe? HAHAHA’ Acho que devem estar se perguntando sobre o que vai acontecer depois nessa cena, pra isso que serve a parte 2! #FiquemCuriosas U.U
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