Tropeçar Ao Acaso II



1. Seguindo nossos caminhos.


Outra liçãozinha pra você: Quando você dá uma de cupido, não existe ninguém pra te adverter; mas os cupidos sempre se apaixonam pelos seus alvos.

Fazia um ano e meio desde aquele show. O show que marcou a minha vida.
Desde aquele show, as coisas mudaram drásticamente. pediu em casamento, isso era fato. aceitou, óbvio, outro fato.
Mas até hoje eles não se casaram. Por que? Bem, digamos que o é um pouco problemático demais...

Flashback On.

- Eu não acredito, ! - berrou . - Por que diabos você me pediu em casamento se só quer casar daqui a cinquenta anos?
- Não exagera, amor. - dizia , dando um dos seus sorrisos amarelos. - Cinquenta anos é exagero, mas uns vinte seria bem conveniente...
- Como foi que eu me apaixonei pelo idiota mais... idiota do mundo? - perguntou , se sentando no sofá e apoiando as mãos na cabeça.
a olhou por um segundo e suspirou, se sentando ao lado dela. Ele passou o braço pelos ombros dela, segurando o rosto dela para que ela o olhasse nos olhos.
- Escuta, amor - começou ele. - acho que a gente não precisa casar pra ser feliz. A vida não é boa assim? Pra que mudar?
- , por que você me pediu em casamento, então? Pra me iludir, brincar comigo? - sussurrou , decepcionada.
- Claro que não, amor. - ele disse, parecendo chocado. Logo, ficou sereno e sorriu para ela. - Eu queria ter certeza de que você era minha, só minha. Eu não suporto a idéia de te dividir, muito menos de te perder.
Ela olhou para ele por um longo momento. Depois, suspirou forte.
- O que mais eu posso fazer? Eu me apaixonei por você, eu sempre vou te querer, como amigo, namorado, marido... Deixa isso pra lá.
Ele sorriu para ela.
- Eu te amo por ser perfeita pra mim. - sorriu e o beijou. A briga havia encerrado. Temporariamente.

Flashback Off.


Desde então, eles passaram a morar juntos num apartamento no mesmo prédio dos outros meninos. Mas como sempre, eu nunca sabia quem morava com quem, ao certo.
passou por uma prova de fogo. O casamento da prima do na Austrália. E adivinha? Ela foi uma das damas de honra. Mas no dia, a pata estragou tudo. Rasgou o vestido, engasgou quando a noiva foi falar sim e quase morreu sufocada. Resultado: ela foi o centro das atenções, deixando a noiva constrangida e a sua sogra irada.

Flashback On.

- EU SABIA QUE ESSE MENINO SÓ PODIA NAMORAR UMA TAPADA! LERDA! - berrou a velha da mãe do .
saiu do casamento assim que a cerimônia acabou, abalada pelas palavras da sogra.
Não que ela acreditasse que o só pudesse conseguir idiotas, mas ela tinha certeza que ele escolhera uma bem grande.
Ela se escondeu atrás da igreja, já que todas as atenções AGORA estavam centradas na saída dos noivos, e ficou lá, sentada num cantinho gramado. a encontrou chorando.
- , eu realmente não acredito que você acreditou no que aquela louca disse! - ele exclamou, ao vê-la. Ela ergueu a cabeça e quando o viu, soltou um soluço alto. -
Oh, minha princesa, pára de chorar! - ele disse, se sentando ao lado da , enxugando uma lágrima dela. - Sabe que ninguém seria mais perfeita do que você pra mim.
- Eu estraguei tudo, ! - ela sussurrou, a voz estrangulada. - Sua mãe tá certa. Não no ponto de que você só consegue uma tapada, mas você ESTÁ com uma tapada! - ela soluçou. Ele suspirou e segurou o rosto dela pelas mãos.
- Escute. Eu poderia ter quem eu quisesse. Desde uma londrina qualquer a Angelina Jolie. Tá, talvez não a Angeline... - ele murmurou, parecendo confuso. soltou uma risadinha. - Mas eu escolhi ter você. Sabe por que? Porque a minha mãe sempre esteve certa quando dizia que eu era um imbecil. E só você consegue me amar do jeito que eu sou. O que mais eu vou querer da vida? - ele perguntou. deu um sorrisinho tímido.
- Sinto falta dos nossos amigos... - ela sussurrou.
- Eu também. Isso aqui não é pra mim. - ele disse, parecendo triste. De repente, ele abriu um sorriso de excitação. - Vem, tá pronta pra fazer uma loucura? Vamos pra casa agora!
sorriu, meio estupefada, mas concordou. Ela o olhou e plantou um selinho no canto da boca dele.- Eu te amo.
- Não mais que eu amo você. - ele respondeu, revirando os olhos. - Acho que tô virando gay...
E em meio de gargalhadas, eles fugiram daquele lugar.

Flashback Off.


Quando eles chegaram em Londres, nós já o esperávamos. Por algum motivo indecifrável, o sempre soube que a mãe do iria acabar não gostando daquilo. Depois nós descobrimos que a velha deixou uma ameaça bem mal educada na secretária eletrônica dele.
e foram bem apressadinhos ao sairem de casa, mas como vocês sabem, eles não aguentaram e voltaram para o lar. Mas as coisas se complicaram quando uma prima gostosona do resolveu ir visitá-lo. Os problemas foram para todos os lados, mas a vadia atacava o , fazendo a situação mais dificil para .

Flashback On.

- , você sabe muito bem do que eu tô falando. - murmurou , mantendo a calma. - Eu não veria coisas aonde não existe. Ela tá dando em cima de você.
- Que isso, linda! - ele contrariou. - Não fale bobagens!
- Você realmente acha que isso é bobagem? Que nadar com uma calcinha fio dental na piscina da sua cobertura na sua frente realmente é bobagem? Que dar um beijo de boa noite no canto da sua boca é bobagem? Que querer ir dormir no seu quarto É BOBAGEM? - ela perguntou, se exaltando. revirou os olhos.
- Está sendo imatura, .
- Claro, eu estou sendo imatura. - ela sussurrou. Então suspirou e pegou a sua bolsa. - Estou indo dormir em casa. Boa noite, .
- Não vai dormir comigo hoje? - parecia surpreso. suspirou de novo. -
Eu não sou obrigada a ficar vendo sua prima dar em cima de você, . Eu posso ser racional e calculista e isso pode aparentar que eu sou calma. Mas eu sou a sua namorada. Eu sinto ciumes como qualquer outra pessoa sentiria. Mas isso é imaturidade demais da minha parte, não é? Até amanhã.
Quando ela se virou para ir embora, correu até ela e a virou, segurando-a pelos ombros.
- , olha bem pra mim. Minha prima é gata, não vou negar. - revirou os olhos. - Mas o que ela tem na cabeça? Só sabe falar de roupas e maquiagens e mais nada. Eu não vou negar também, ela tá dando em cima de mim. - ele suspirou. - Mas eu já a vetei, eu não quero alguém sem cérebro comigo. Eu tenho a pessoa mais inteligente e perfeita que eu já conheci do meu lado, por que eu iria estragar isso? Eu posso ser burro e um pouco louro, - ele murmurou, sorrindo - mas eu acho que não sou tão burro ao ponto de te arriscar. Até porque, se eu fosse burro demais, acho que você nem iria me querer, minha inteligente linda! - ele brincou.
Por fim, acabou sorrindo, vencida.
- Eu odeio quando você faz eu me derreter desse modo.
- É o meu charme, o que eu posso fazer? - disse , convencido. gargalhou. - Sorte minha ter você.
- Eu te amo. - ela sussurrou, antes de beijá-lo.

Flashback Off.


Bem, na verdade, aquilo não acabou ali. Só acabou quando deu um ataque com a prima de , depois da vadia tê-lo agarrado dentro da piscina. Agarrado não, ela praticamente sugou a força vital do . Foi a primeira vez que eu vi agredir alguém. Lindo tapa na cara.
Mas as coisas não foram perfeitas pra mim. A minha música fez sucesso e eu fiquei radiante. Mas na noite que me levou para jantar, as coisas não foram como eu esperava.

Flashback On.

- Então, , eu queria falar com você.. não sei como começar. - ele disse, com dificuldade. Eu sorri para ele.
- Pode falar amor. - o tranquilizei. - Sabe que vou entender. -
É complicado... - ele murmurou para sí mesmo, a cabeça beixa. Mas então suspirou forte e me olhou. Seus olhos carregavam certo pesar. - Eu não vou enrolar, eu tenho que falar. , a minha ex namorada me ligou.
Eu o olhei. Muitas ex namoradas ligavam para ele, mas eu sabia de qual ex ele estava falando. Eu só não sabia porque aquilo era tão grave.
- Ela me ligou e pediu para me encontrar... - ele continuou. - E eu fui.
E de repente, tudo parecia fazer sentido. Eu suspirei, com medo do enredo daquela história.
- Você foi encontrá-la. - isso não era uma pergunta. Ele assentiu devagar. Eu abaixei a minha cabeça, decepcionada. A história do com aquela menina era bem antiga, eu tinha certeza de que ela ainda mexia com ele.
- , desculpa! - de repente, ele falava rapidamente. - Eu não queria, mas você sabe, eu, eu... Droga! Ela me beijou e...
- Não precisa dizer mais nada, . Que vocês sejam felizes.
Eu me levantei, peguei a minha bolsa e saí do restaurante. Chovia aquela noite e depois de dez passos, os meus cabelos já estavam colados no meu pescoço. Eu ouvi me chamar, mas eu não parei para ouví-lo. Ele já havia a perdoado. Possivelmente eles estavam juntos de novo.
me alcançou e segurou os meus ombros.
- Escute, , eu te amo! De verdade! Mas, mas ela... -
Ela faz parte da sua história. Eu entendo. Se cuide, . - eu sussurrei olhando para a minha bolsa, aonde havia uma música que eu havia escrito para ele. Eu não a levei ao correio, como pretendia fazer. Queria que fosse uma surpresa. Mas agora já não era mais necessário. Ele não precisava saber como eu me sentia.
E então ele me deixou ir e eu fui andando para casa, naquela chuva forte. Minhas lágrimas se misturaram as gotas de chuva. Eu estava chegando em casa quando, adivinhem, eu tropecei. Caí numa poça e não tive força para me levantar. Fiquei alí, chorando durante um tempo, completamente encharcada. Então uma buzina e uma voz que eu tanto conhecia.
- Meu Deus, , nós a procuramos por toda parte! - exlamou . - Venha, vamos para casa.
- N-não! E-eu qu-ero ir pra c-asa! - solucei. Todas as três meninas entenderam o que eu quis dizer. Eu queria ir embora de Londres.

Flashback Off.


Eu voltei para o Brasil, mais expecificamente para o Rio de Janeiro naquele mesmo mês. tentou se desculpar de novo e de novo, mas não havia nada do que desculpar. Ele não mandava no seu coração. E nem eu no meu.
Os três primeiros meses foram quase insuportáveis. Eu não quis voltar a morar com os meus pais, então aluguei um apartamento pequeno para mim. A cada dia que passava, eu sentia mais e mais falta daquela bagunça que era a minha vida em Londres. Eu sentia falta de acordar com o me perturbando para fazer a vitamina dele, falta de ter que me trancar no quarto para não ouvir o ensaio atrapalhado deles e de sempre ir dormir de madrugada quando fazíamos festa do pijamas só para meninas.
De qualquer jeito, os meninos sempre arranjavam um jeito de nos espionar e a noite acabava numa grande bagunça.
Era aquilo que eu queria para mim. Mas nem tudo que se quer, a gente pode ter.
Depois de terceiro mês, eu passei a me recuperar. Eu ainda sentia falta de todos eles, mas as coisas foram melhorando. terminou novamente com a namorada - ela estava o traindo outra vez. Não fiquei feliz com aquilo.
Eu resolvi prestar vertibular, mas eu não passei, eu não tinha cabeça pra estudar. Então eu resolvi fazer um cursinho qualquer, só pra me ocupar. Escolhi fotografia.
Conheci uma menina no curso, logo ficamos amigas. Jessica era doce e animada, foi um grande passo para a minha retomada de vida. Depois de alguns meses, nós ficamos inseparáveis. Leia-se: eu não esqueci das minha amigas, jamais. Nos falavámos quase todos os dias. Mas eu precisei de alguém comigo. E encontrei Jessica.
Nós seguimos os nossos caminhos. E eles nos trouxeram até aqui.


2. Mera coincidência.


Eu estava atrasadíssima. O curso de fotografia estava na reta final. Corri, peguei um ônibus e cheguei em cima da hora lá. Jessica soltou a respiração aliviada, quando me viu.
- Meus Deus, , você quer se ferrar, não é? Quase se atrasa!
- Tá, tá, mas vamos logo, a gente não pode perder essa aula, né?
Jessica revirou os olhos, mas me seguiu. Quando a aula acabou, nós paramos numa lanchonete. Os olhos de Jessica brilhavam e eu estreitei os meus olhos.
- Pode ir falando. - eu sorri. - O que foi agora?
- O que? Nada! - ela tentou disfarçar. - Eu hein!
- Anda, Jess, você tá com os olhos brilhando porque? - eu quis saber. Ela sorriu amarelo.
- É tão óbvio assim? - Eu assenti. E então ela suspirou, sorrindo.
- Tá bom, você venceu. Eu tenho um segredo pra lhe contar. Na verdade, é um favor que eu queria pedir.
- Desembucha, garota! - eu remunguei, rindo.
- Ok, ok. Então, dois meses atrás eu tentei ligar pra minha mãe que foi passar férias em Londres. - eu me encolhi. - Mas eu diquei errado e caiu na casa de um cara. Eu pedi desculpa pelo engano, mas a gente começou a conversar e pronto, desde aquele dia nós sempre nos falamos.
Eu estava boquiaberta com a coincidência.
- Você não me contou isso? Sua vaca! - eu gargalhei, lhe dando um tapa.
- Ah, sei lá, isso parece ridículo! Mas, amiga, eu tô apaixonada!
Por um segundo, eu me vi ali. Na primeira vez que eu escutei as músicas do McFly, falando para a que tava apaixonada pelo cara mais lindo que eu já havia vista na vida. Sorri, inconcientemente.
- Tá, e aonde entra a parte do favor? - eu perguntei. Ela sorriu maliciosa.
- Ah, você tem jeito com os londrinos que eu sei! Eu queria... que você desse uma de cupido! - ela disse, sorrindo amarelo.
- Ah não! Tá brincando? - perguntei, incrédula. - Cupido? Me rebaixaram, cara! Estou magoada! - eu brinquei.
Ela gargalhou, me abraçando por cima da mesa. Sabia que eu já havia concordado.
- Ah, brigada, brigada, brigada! Você é a melhor, eu fico devendo você pra sempre!
- Eu vou cobrar, hein! - eu disse, rindo.

O papo se estendeu por alguns outros minutos. Ela começou a me contar como ele era, a voz, tudo o que eu precisava - e que não precisava - saber. Por fim, nós resolvemos ir embora.
- Então tá combinado. Eu vou ligar pra ele hoje dizendo que tem uma amiga minha querendo saber quem ele é. Aí te ligo e você liga pra ele, tá? - ela disse, animada.
- Tudo bem. Mas peraí, você só não me disse a coisa menosimportante. - eu falei, sarcástica. Ela me olhou confusa e eu revirei os olhos. - Qual é o nome dele, né?
- AAAAAH, O NOME! - ela exclamou, escandalosa. Eu ri. - Ele não me disse o nome, não o primeiro, pelo menos.
- Anda, Jess, qual é o nome? - eu perguntei, impaciente.
- Tá, tá. - ela disse, emburrada. - O nome é .
Um frio subiu da minha cabeça até o meu peito e então ele se apertou. O segundo nome do . Mas quantos Fulanos existiam em Londres? Claro que era mera coincidência.

- Tu.. Tudo bem, pode me ligar a qualquer hora. - eu falei, ainda anestesiada. Ela sorriu e me abraçou de novo.
- Obrigada, . Você é demais! - e então ela se afastou. Eu peguei o ônibus outra vez, pensativa. Como uma boa amiga, eu deveria alertar a Jessica de que aquela história não iria dar muito certo. Mas havia alguma coisa dentro de mim que não me deixava não tentar. Uma coisa que eu fazia questão de esconder, esconder de mim mesma de que eu não iria deixar de tentar não pela Jess, mas por mim. Uma coisa que gostava de brincar comigo, uma coisa que eu sentia agindo contra - ou será que é a favor? - a mim. Uma coisa chamada destino.


3. Londres.


Eu cheguei em casa exausta de tanta correria. Fui até a secretária eletrônica ver se eu tinha recados. Eu estava certa.

" Senhorita , pode pegando essa bosta de telefone agora e ligando pra cá. A não sabe fazer a minha vitamina e eu vou chorar! Nós sentimos sua falta e não te perdoamos por nos deixar por causa daquele bundão. Nos ligue em cinco segundos ou eu vou encher a sua secretária de recados. Beijos do . Ah, porque eu tô falando o meu nome, você é minha fã e conhece a minha voz marcante, HAHAHA! "

Eu ainda tinha mais uns noventa recados idiotas do porque ele não parou de me perturbar, até que eu peguei o telefone e resolvi ligar.
- Funerária Só Falta Você, boa tarde?
- Muito engraçadinho, senhor . - eu resmunguei, rindo.
- ? ? GENTE, VEM CÁ NO TELEFONE! - ele berrou no meu ouvido. - Ah, pirralha, que saudade!
- Também sinto saudade de você, bebê! Faz tanto tempo que a gente não se fala! O que, um dia? - eu respondi, brincando.
- Quem é? - perguntou
- É a . Peraí, eu vou colocar no viva-voz... Ér, se prepara pra ouvir uma lingua alienígena, .
Quando ele colocou no viva-voz, todos eles começaram a falar no mesmo tempo, eu não conseguia entender nada. Quando eles pararam, só o falava.
- ... e eu acordei no meio da madrugada e não tinha vitamina e então eu acordei a , mas ela não sabia fazer e eu liguei pra você e sim, estava de madrugada, mas eu queria vitamina e eu vou começar a chorar se...
- CALA A BOCA, CRIATURA! - berraram todos ao mesmo tempo, me fazendo gargalhar. Aquela era a minha bagunça preferida.
- , meu Deus, dá pra se acalmar? É só você colocar quatro bananas descascadas no liquidificador com um pouco de leite, leite em pó e leite condensado. Não esquece de ir colocando o açucar devagar, pra não ficar doce demais.
Fez-se um silêncio do outro lado da linha. Eu até podia ouvir o fazer cri-cri.
- É só isso? - perguntou o , pasmo.
- Sim. - respondi sorridente.
E então o começou a gargalhar, rir muito. Depois respirou fundo, se concentrando.
- Eu sou tão burrinho! - ele falou, ainda rindo.
- Descobriu isso sozinho, amor? - perguntei sarcástica. Ele parou de rir e os outros começaram.
- Isso não teve graça, senhorita Sarcasmo. - ele falou emburrado.
- Desculpa, - falei rindo. - Mas e aí, como vocês estão?
- Estamos bem, amiga, só morrendo de saudade de você. Você não nos procura, nos trocou por essa Jessica aí. - disse . Eita drama!
- Oh, que calúnia, ! Mentir é feio, sabia? - eu brinquei.
- Não tô mentindo. - ela disse, calma. Eu ainda podia imaginá-la dando os ombros.
- Tá, fica quieta, . Conta pra gente, amiga, você já terminou o seu curso? - disse , animada.
- Oi pra você também, ! - eu brinquei. - Mas não, eu termino daqui a quatro meses.
- AAAAH, TÁ TÃO LONGE! - berrou . - Você Podia tirar umas férias e passar uns dias aqui! Aproveita e a gente te dá o seu presente de aniversário.
- Presente de aniversário? - perguntei, confusa. - Mas é só daqui a cinco meses!
- É, mas a gente já comprou! - disse . - Sou eficiente, docinho.
Todos rimos.
- Tá, mas eu não vou pra Londres. - eu disse. Uma onda de lamentos surgiu. - Ah, nem comecem, eu não vou.
- Qual é, ? Você ainda não superou essa história do ? - perguntou . - AI, não me belisca, !
- Um poço de delicadeza...! - resmungou . Eu suspirei.
- Olha, eu só não posso ir, tá? Eu... tenho um compromisso aqui.
- Compromisso? Que compormisso, ? - me perguntou e eu o imaginei com os olhos estreitos. Desde aquele tempo em Londres, o se aproximou muito de mim. Parecia uma criança dependente dos pais. E isso também o permitiu sentir ciúmes.
- Não existe nenhum garoto na história, . - eu falei. - Eu só vou ajudar a Jess...
- De novo a Jessica! - resmungou . Eu ainda ouvi as meninas concordando com ela.

Suspirei. Elas ainda não entendiam o quanto a Jessica me ajudou - e ajudava - no lance do .
- Tá, deixa isso pra lá. - eu disse. - Ér... e o ? - perguntei, hesitante.
- Ele tá legal. Só tá meio pra baixo porque não tá conseguindo compôr. - disse .
Eu olhei para o papel pendurado na parede, envolto numa moldura, que eu guardava havia um ano e meio. A minha única composição. Pensei em ajudá-lo. Mas não, aquela música não.
- Hm... Fala pra ele não se preocupar, eu sei que ele vai conseguir compôr alguma coisa. Ele sempre consegue. - eu falei, a voz abafada. - Tá, chega de papo por hoje. - eu resmunguei. - Amo vocês.
- Também te amamos, . - disse .
- Eu te amo mais que esses trastes! - falou , e eu sorri, indo desligar o telefone. Mas antes, ainda deu pra ouvir o sussurrar.
- Ainda acho uma boa idéia mandar uma passagem para ela de novo.
Eu ia reclamar, mas eles desligaram. Suspirei e fui até a cozinha. Puxei uma jarra de suco da geladeira e coloquei num copo. Eu não podia ir a Londres, mas eu queria. Querer e poder, duas coisas distintas.

Então eu liguei a tevê e fiquei no quarto, sem nada pra fazer, só assistindo um programa qualquer de fofoca. E então o telefone tocou de novo. Suspirei, será que o havia errado na receita? Garoto lerdo!
- Que é, ? - perguntei, entediada.
- Quem é , hã, hã? - perguntou a voz tão conhecida de Jessica. Bem, a verdade era: ela não sabia da minha história com os meninos do McFly. Ninguém nunca soube. Era um segredo meu e deles, eu queria que fosse só nosso. Não os compartilharia com ninguém. Nem mesmo com a Jess.
- Ah, é um primo meu que tá me perturbando no telefone. - eu menti. - Mas o que faz a sua ilustre voz interromper a minha seção de fofocas na tevê?
- Primo, sei... - ela disse, desconfiada. - Ah, é, sim. Então, liguei para te falar que eu já liguei pro , ok? Falei de você pra ele, na verdade, enchi a sua bola. - eu gargalhei. - Mas vê se não seduz ele, ok? É pra me ajudar!
- Tá achando que eu sou o que? Uma quenga? - perguntei, brincando.
- Exatamente! - ela respondeu, rindo. - Enfim, liga pra ele agora. E não esquece de realçar os meus olhos.
- Ele vai pensar que somos lésbicas! - eu falei, rindo. Ela gargalhou também.
- Ok, eu vou desligar. Beijo, piriguete!
E desligou, sem nem dá tempo de me despedir. Bufei e desliguei também, indo pegar a minha agenda com o número do tal . Disquei e esperei. Chamou uma vez. Chamou a segunda. E então ele atendeu.
- Pelo número, você deve ser a .
Meu coração acelerou. Ele tinha a voz incrivelmente parecida com a do... Não, eu estava louca. Só podia ser.

>4. O primeiro contato.


- E pelo jeito você é um mágico. Acertei? - perguntei, descontraída. Ele deu uma risada. Meu coração saltou.
- É mais ou menos. - respondeu. - Eu sou o .
- Como se eu já não soubesse, sinceramente não aguento mais escutar o seu nome! - menti. Ela nunca havia falado o nome dele.
- Duvido que a Jess não me aumente demais. - ele disse, parecendo entediado. Ergui uma sobrancelha.
- Na verdade não. Voz sexy e sedutora, brincalhão e modesto. Ela te descreveu bem. - eu brinquei. Mas ele não.
- Voz sexy e sedutora? Você acha, é? - ele quis saber, um pouco sério. Por um segundo, eu me permiti imaginar o me falando isso, tentando ser sério e segurando uma risada.
- Ei, o foco não é o que eu acho, mas sim o que a Jess acha, correto? - eu resmunguei, constrangida. Ele gargalhou.
- Estou brincando, senhorita focada. Bem, vamos lá. Pode me perguntar o que quiser! - ele falou, alegre. Eu relaxei um pouco.
- Hm, vejamos. - eu fingi pensar. - Essa história de você ter conhecido a Jess por causa de um engano foi verdade?
Ele parou para pensar. Depois riu um pouquinho.
- É, foi. Estranho não?
- Vindo da Jess, eu acho bem normal. - brinquei.
- Bem, minha vez de perguntar. - ele falou. E então um dejá vù, uma lembrança borrada riscou a minha mente. Um ano e meio atrás, eu e Tom debaixo de um palco sem sono o suficiente para dormir e uma brincadeira.
- Um joguinho de perguntas e respostas particular? - eu perguntei, minha voz falhando. Ele ficou sério de repente.
- Sim. Mais uma vez. - ele sussurou. Eu não entendi o que ele quis dizer com isso. - Então, já sei o que perguntar. A Jess tava falando a verdade quando disse que tem uma tatuagem na sola do pé?
Eu gargalhei. Daonde essa louca tirou isso? Antes de segurar a minha lingua, eu já havia aberto a boca.
- Óbvio que não! - eu gargalhei. - Não acredito que ela disse isso pra você!
- Mentirosa... - ele sussurrou tentando ficar zangado, mas depois riu comigo. Eu respirei fundo, vendo a burrada que eu havia feito.
- Vamos lá. - eu falei, rapidamente. - Como começou o papo de vocês?
- Jura que me ligou pra ficar falando da Jess? - ele perguntou. Eu corei.
- Não devia te contar isso, mas foi pra isso que ela me pediu pra te ligar. Claro, pra falar sobre ela! - e então, ficamos em silêncio.

Com aquelas palavras saindo da minha boca, eu percebi pela primeira vez o quão fútil era o motivo que eu havia ligado para aquele estranho. A Jess não era capaz de impressioná-lo sendo ela mesma? Precisava mesmo disso?
Numa loucura de momento, eu decidi que não queria mesmo falar sobre ela.
- Escute, . Acho que não precisamos falar SEMPRE dela, né? Faça o seguinte, caso ela pergunte, diga que eu realcei os olhos dela, ok? - eu o ouvi gargalhar do outro lado.
- Ok, ok! - ele respirou fundo. - Me fale sobre você. O que faz da vida?
- Nada, meus pais são bonzinhos e pagam as minhas contas. - eu sorri. - Faço um curso de fotografia com a Jess. E você?
- Bem, eu faço o que eu gosto, ou seja, muitas coisas! - ele riu e eu também. - Normalmente eu escrevo.
- Jura? - perguntei, animada. - Eu também, eu amo escrever! Eu também gosto muito de ler. Tô acabando de ler a saga Twilight, conhece?
Ele começou a rir.
- Você tem que ler culturas! Twilight é cultura aonde? - ele falou, convencido. Me fingi de ofendida.
- Claro que é, aprendi o que é Debussy lendo Twilight, tá?! - exclamei. - Vai mentir que você nunca leu nenhum dos livros da saga?
E então ele ficou sério e a sua voz assumiu um tom de mistério.
- Vou lhe contar um segredo. Jura solenemente jamais comentá-lo com ninguém? - ele sussurrou. Grudei o telefone mais no ouvido. - Jura?
- Juro! - murmurei. - O que é?
- Estou acabando de ler Breaking Dawn pelo computador! - ele disse, como se aquilo fosse o maior crime de todos. Eu fiquei em silêncio durante alguns segundo e de repente, me irrompi em risadas.
- HAHAHA! Você... você só pode estar brincando! - eu disse, com dificuldade. - Eu sabia! HAHAHAHA!
- Pare de rir, te digo que sou um criminoso e você ri da minha cara? - ele falou, se fingindo de ofendido. Eu respirei muito fundo, me concentrando.
- Pirataria é crime, eu esqueci! - respirei de novo. - Posso mandar lhe prender, né?
- É, mas você prometeu segredo total, não pode quebrar um juramento! - ele disse, com veêmencia.
- Você está certo, seu segredo está bem guardado! - ele riu um pouco. E então alguém falou atrás dele.

- Ei, idiota, desligue esse telefone e vem tomar a vitamina que o papai aqui fez! Tá melhor do que a da minha babá, mas só porque eu sou demais! Anda logo!
Eu dei uma travada. Outro dejá vù. A sensação de já ter ouvido aquela voz antes.
- Ér, me desculpe, , eu vou ter que desligar. - ele disse, parecendo sem graça. - Vai me ligar de novo?
Havia um risco de esperança na voz dele e eu não pude deixar de sorrir.
- Ligo se você prometer me ligar também.
- Prometo! Até logo.
- Tchau, !.
E então eu desliguei o telefone. Por um segundo, eu pude me sentir mais leve, não sabia porque. Dois segundos depois o telefone tocou.
- AAAAAAAH, VOCÊ É A MELHOR! - berrou Jess no meu ouvido. - Brigada, brigada, brigada! O me ligou, disse que você falou um monte de coisas boas ao meu respeito! Eu te amo!
E então a leveza se expairou pelo ar. Logo a Jessica, que havia me ajudado tanto quando eu precisei. Aquilo não era certo. Não com ela.
- Não há de quê. Também te amo.
E então eu desliguei o telefone, um pouco deprimida. Me deitei no sofá novamente e fiquei olhando a tevê, sem ver nada na verdade.


5. Invisível.


O dia terminou logo. A noite, eu fui visitar os meus pais, mas logo voltei para casa. E então eu fui dormir cedo, já que no dia seguinte nós teríamos que fazer uma excursão com o pessoal do curso. Era como uma das provas, iríamos para Angra dos Reis, fotografar.
Jess passou na minha casa.
- Anda, , você é muito lerda! - resmungou ela.
- Lerda não, minha amiga, eu sou é prevenida. Vejamos - eu comecei a contar os dedos. - Biquini?
- Confere. - respondeu Jess.
- Roupa para voltar?
- Confere. - repetiu Jess.
- Necessáire?
- Confere.
- Dinheiro?
- Confere.
- E claro, a minha câmera.
- E claro, confere. - disse Jess, sorrindo. - Podemos ir?
- É, acho que sim. - falei pensativa.
- Então vamos, criatura, a gente tá HIPER atrasada!
E então nós saímos correndo de casa, pegamos um táxi e encontramos o pessoal do curso. Depois se passou algum tempo no ônibus de viagem para, finalmente, chegarmos na lancha.
- Jessica, eu não sei não, hein. Eu fico enjoada em lanchas!
- Ah, que nada, vai ser legal. Vem, vamos logo.
Nós subidos na lancha e começamos a navegar. Jess já tirava fotos de tudo. Eu comecei a ter vertigens.
- Eu sabia que isso ia acontecer. Droga! - murmurei, sozinha. O telefone de Jess tocou.
- Alô? Hei, , como vai? Eu tô legal. Aham, eu não tô em casa, estamos numa excursão do curso. É estamos, eu e a . Ah, ela tá é passando mal, estômago fraco. Falar com ela? Peraí.
Jess se virou para mim, meio sem graça e me passou o telefone.
- Toma, o quer falar com você.

Eu peguei o telefone devagar e me sentei numa poltrona branca, fechando os olhos, me sentindo péssima.
- Alô.
- Oi . Tudo bem?
- Ah, não, nada bem. Eu tô verde!
- Verde? - ele exclamou, rindo. - Verde igual ao Huck?
- É, seu lesado, verde igual ao Huck. - eu respondi, sorrindo de olhos fechados.
- Vou te contar outro segredo, posso?
- Uhum... - murmurei, cada vez pior.
- Eu também não fico legal em barcos. E existem dois jeitos de melhorar. Ou você vomita - eu gemi, enojada. - ou você coloca sal debaixo da lingua. Sempre melhora.
- Sal, cadê sal? - eu perguntei em voz alta. riu do outro lado da linha. - Gente, alguém me dá sal? - eu resmunguei.
Ninguém parecia me escutar, então eu me levantei, tonta.
- , peraí que eu vou atrás de um pouco de sal. Fala com a Jess.
Eu passei o telefone para a minha amiga e comecei a perguntar aos meus colegas se alguém tinha sal por ali. Jess ria no telefone enquanto eu ficava mais verde a cada segundo. E quando eu fui chegando até a parte lateral da lancha, aonde ficava o capitão, eu tropecei numas cordas que haviam por ali. Resultado? Eu me desequilibrei e caí dentro do mar.
- Socorro! - eu tentei berrar, sem desespero. Eu sabia nadar o mínimo para não me afogar, mas a lancha foi se afastando. Parecia que ninguém tinha percebido em mim. Eu vi a corda que eu havia tropeçado no mar e a segurei firme, tentando chegar até a lancha. Mas quando eu fiz isso, eu puxei a corda, que se enrolou no pé de um cara lá e ele caiu no mar também. No mesmo momento eu corei porque, finalmente, as pessoas pareciam ter me enxergado.
Quando eles me puxaram novamente para o barco, Jess ainda estava no telefone.
- É, e aí... OH MEU DEUS! , mas que droga! , eu te ligo depois, beijo!
Ela desligou o telefone e correu até a mim, me envolvendo numa toalha.
- Como foi que você caiu e ninguém viu? - ela quis saber, incrédula. Eu não soube porque, mas o mau humor me atingiu.
- Será porque a única pessoa que se lembrava que eu estava nesse barco estava rindo com um estranho no telefone? - resmunguei. Jess se encolheu.
- Desculpa, eu, eu...
Eu supirei.
- Não, desculpa você, amiga. Eu só estou enjoada e irritada, não é sua culpa. Só preciso de água e...
Quando eu ia completar com um " solo firme " o capitão reapareceu.
- Chegamos.

Eu respirei aliviada.
- Parece que tivemos homens ao mar hoje, não é? Como ninguém viu isso? - ele quis saber também. Eu revirei os olhos.
- Sou invisível. - resmunguei. O menino que também havia caído no mar estava do meu lado. Ele pareceu me ouvir.
- Não tanto. - ele respondeu, sorrindo. E foi a primeira vez que eu prestei atenção nele. - Eu te vi cair e eu fui pegar a corda para te pescar. Mas você me pescou primeiro.
Eu rapidamente corei, fazendo o menino gargalhar.
- Desculpe. - murmurei.
- Não precisa se desculpar, estamos bem, né?
Eu sorri fraco e saí do barco. Jess veio atrás de mim e o menino também.
- Não me apresentei, meu nome é Pedro.
- Oi. - eu disse, sorrindo. - Eu sou a e ela é a Jessica.
Pedro tirou a camiseta molhada. Meu queixo - seguido pelo de Jess - caiu. Foi quando eu me dei conta. Ele era lindo. Tinha os cabelos caindo sobre os olhos, uma cor diferente de todas as que eu já havia visto. Ele era ruivo, os cabelos num tom vermelho alaranjado. Os dentes eram brancos e perfeitos, o fazendo ter um sorriso lindo. O corpo era totalmente escultural, a barriga totalmente dividida em quadradinhos e os braços eram fortes, com sardas pelos ombros. Mas o mais bonito daquele conjunto perfeito eram os olhos, num azul de dar inveja a muitos oceanos. O rosto branco com sardas e os cabelos vermelhos ficaram perfeitos em contraste com o azul de seus olhos. Ele era lindo.
- Bem, eu tô sozinho. Se incomodam se eu ficar com vocês?
Jessica - que tinha a mesma cara abobalhada que eu - gaguejou.
- Não, p-pode ficar com a ge-ente.
Ele sorriu. Era a primeira vez desde que terminou comigo que eu falava e percebia num cara. Quero dizer, a segunda, já que o primeiro havia sido . Mas algo me dizia que ele não contava.


6. A tarde perfeita.


Nós passamos a primeira parte do dia tirando fotos em terra mesmo. Depois resolvemos ir almoçar - eu, Jessica e Pedro. E então nós achamos um porto esquecido por lá, aonde havia um deck que estrava no mar. Havia três horas que eu estava sentada ali, esperando pela foto perfeita.
- Vamos, , a gente perdeu tempo demais aqui. - resmungou Jessica.
- Não, eu tenho certeza de que a gente vai conseguir a foto perfeita.
- Mas a gente já tá aqui, parados há três horas! - rebateu Jessica. Eu revirei os olhos.
- Olha, porque vocês dois não vão nadar, tirar fotos marinhas? - sugeri. - Deixem as coisas de vocês aqui, eu vigio.
Pedro e Jess se entreolharam.
- Acho uma boa idéia. - disse Pedro, tirando a blusa. - Voltamos em uma hora, ok?
- Tudo bem. - sorri abobada.
- Até logo, . - disse Jess, deixando a sua bolsa do meu lado.

Eu continuei sentada, com a câmera posicionada. Eu queria uma foto de uma onda quebrando ou de um peixe pulando. Mas eu teria que ser rápida. Mas é claro, eu tinha certeza de que conseguiria.
Quinze minutos se passaram e nada. Eu estava ficando entediada quando o celular da Jess tocou.
Peguei o aparelho e atendi.
- Alô?
- Hm... Jess? - perguntou a voz, em dúvida. Eu logo soube quem era e sorri.
- Claro, sou eu ! - eu enganei. - Tudo bem?
Mas eu me surpreendi com a risada do outro lado da linha.
- Olha quem acredita que vai me enganar. Como vai, senhorita Verde?
Eu gargalhei.
- Como é que você conseguiu saber que era eu? - eu quis saber.
- Ah, você é boboca, ela é mais... sei lá! - ele riu. - Mas diz, tá se sentindo melhor?
- Depois de ter me afogado e afogado o Pedro junto? É, acho que sim, doutor! - falei, sarcástica. Ele pareceu assustado.
- Você se afogou? Como?
Eu expliquei a história toda para ele, e a cada palavra que eu dizia, ele ria mais e mais.
- ... e por fim, o Pedro se apresentou e nós ficamos amigos.
- Pedro é um nome incomum. - ele disse, pensativo.
- Nem é. - eu respondi. - Vocês o conhecem como Peter. - expliquei. - Ele tá nadando com a Jessica.
- Hm, nadando com a Jess? - ele perguntou, malicioso.
- Nada de pensar besteiras, ! - eu falei, rindo. - Somos AMIGOS! Tá certo que ser amigo daquele pedaço de muito mal caminho é meio complicado, mas de qualquer jeito, somos amigos. - eu murmurei.
- Pedaço de muito mal caminho? Ele é bonito? - ele perguntou, interessado.
- Não, EU sou bonita, ele é LINDO. - eu ri. Ele pareceu emburrado.
- Eu também sou lindo, tá? E sou talentoso também. - ele disse convencido.
- Tenho certeza que sim. - eu sorri.
- Mas diz aí, porque você não quis ir com eles? - perguntou.
- Ah, eu tô há três horas e dezoito minutos esperando uma onda perfeita para uma foto. - eu revirei os olhos. - O Pedro e a Jess perderam a paciencia, mas eu tenho certeza de que essa foto vai sair perfeita. Aliás... peraí !
Eu larguei o celular do meu lado e posicionei a câmera. Dei zoom e cliquei. Alí estava a minha foto perfeita.
O pôr do Sol fez contraste com o mar cristalino. O céu alaranjado, o Sol se pondo, a onda verdinha quebrando e - por incrivel que pareça - um peixe pulou. A foto ficou simplesmente única.
Eu sorri, totalmente satisfeita e peguei o celular outra vez.
- Você acabou de ser promovido! - eu falei, rindo. - Agora é o meu amuleto da sorte! Meu pé de coelho!
- Eu sou? - ele perguntou, dando a imprensão de que estava sorrindo.
- É, eu consegui tirar a foto que eu queria! Vou ter que te mandar uma cópia!
- Ah, eu vou cobrar!
Nós conversamos durante toda a hora que eu estive sozinha. Então eu vi Pedro e Jess se aproximarem.
- Então doutor, a pessoa a qual você ligou está chegando. Consegui fazer você passar o seu tempo? - brinquei. Mas ele me respondeu sério.
- Na verdade, eu liguei para falar com você.
Eu corei.
- Ér, bem.. a gente se fala depois? - eu perguntei, envergonhada. Ele riu.
- Claro, claro, me liga quando chegar em casa. Se você quiser, é claro. - dessa vez, ele que estava envergonhado e eu que ri.
- Tudo bem. Até logo.

Eu desliguei o telefone no segundo em Jess chegou junto com Pedro.
- Ei, gatinha, o que fazia com o meu celular? - ela perguntou, sorrindo.
- Ér... o ligou. - eu falei. O sorriso dela cresceu milhões de centímetros.
- Mentira? E o que ele queria? - ela quis saber.
Naquele momento, eu senti um aperto no coração. Não queria iludir a minha amiga, mas o que eu iria fazer? Magoá-la, dizendo que ele ligou para saber de mim? Eu acho que não.
Eu suspirei forte.
- Ele estava querendo saber de você. - eu murmurei. Os olhos dela brilharam.
- E o que você falou? - perguntou, ansiosa. Eu olhei para Pedro, que ria da situação.
- Que você estava nadando. Só. - respondi.
- AAAI, EU TE AMO! - ela berrou me abraçando, toda molhada, entendendo que o só que eu falei era de " sozinha " e não de " só isso " . Eu ri, tentando me afastar dela.
- Me solta, Jess, me solta, eu tô sequinha! - resmunguei, entre risos. Ela me soltou, sorrindo.
- E aí? Conseguiu a sua foto perfeita? - ela quis saber.
- Sim. A foto e a tarde. - eu respondi, enigmátia.
Logo nós três estávamos voltando para a lancha, para irmos para a casa. Mas dessa vez eu levava sal, bastante sal.


7. A foto.

Cheguei em casa praticamente morta, mas eu estava impaciente. Corri para o meu computador e passei as fotos de uma vêz. Logo depois, eu imprimi uma foto da que eu tirei depois de três horas. Suspirei e peguei o telefone.
- Alô, Jess? - perguntei.
- Oi, . Tudo bem?
- Tudo. Escuta, o te ligou? - eu quis saber. Jessica me interpretou mal.
- Não, por que? Ele disse que ia ligar, cupido? - ela perguntou, animada.
- Ér, hm. Não. Mas eu vou ligar para ele, peço que te ligue, tá? - eu disfarcei. Ela não caiu.
- Não precisa ligar só pra pedir que ele me ligue.
- Não, não tem problema, eu ligo. - eu falei, rapidamente. Eu a escutei suspirar.
- Sabe que ele é especial, não sabe?
Um bolo estranho surgiu na minha garganta. Sim. Eu já sabia que ele era especial. Especial para ela. Especial para mim.
- Te ligo depois. - eu murmurei. - Boa noite.
Depois de ter desligado o telefone, eu respirei fundo. Aquilo estava me chateando. Porque eu não estava visada em ajudar a Jess e sim em ser amiga do . Ele não precisava de uma amiga idiota, para isso ele tinha a Jess. Ele precisava de um cupido.

Então eu comecei a escrever atrás da foto que ainda estava nas minhas mãos. Eu iria mandá-la, como prometido.
O telefone tocou assim que eu acabei de escrever e eu atendi, ansiosa. Isso estava ficando ridículo.
- A-alô? Au! - eu ofeguei, fazendo uma careta. Havia batido a testa na janela aberta acima do telefone.
- Aonde você está roxa dessa vez? - perguntou uma voz presunçosa e divertida já bem conhecida. Eu revirei os olhos, sorrindo e esfregando a testa com força.
- Não ria de mim! - eu resmunguei. Foi quando percebi que eu mesma estava rindo. - Bati minha testa na janela. Esqueci aberta.
- Tome mais cuidade, senhorita Huck.
- Dá pra parar de zoar de mim, ? - eu falei, fingindo estar brava.
- Não dá, você dá motivos! - ele riu, se fingindo de santo.
- Tudo bem, eu terei que ligar para o Pedro pra pedir que ele venha me fazer companhia. - eu ameacei, dando os ombros. - Tenho certeza de que ele não irá me zoar.
Consegui ouví-lo bufar.
- Não aceito que me troque, criatura verde! Ele te conhece a um dia e eu... a dois, ok? - ele brincou. Eu ri.
- Tudo bem, eu te desculpo. - eu zoei.
- Quem pediu desculpas, hã? - disse ele, me fazendo gargalhar. - Mas me diga, o que você estava fazendo?
Fiquei um pouco triste ao me lembrar do que fazia.
- Estava escrevendo para você. Tem que me dá o seu endereço. - falei.
- Escrevendo para mim? Aonde? - ele perguntou, confuso.
- Na foto que eu disse que lhe mandaria. - eu dei os ombros.
- AAAAH, LEMBREI! - ele exclamou. - O que você escreveu?
- Não, não! - respondi, rindo. - Só saberá quando chegar aí.
- Você não sabe o quanto eu odeio ficar ansioso. - ele sussurrou. Eu revirei os olhos. Era incrivel a semelhança de com .
- Mas terá que ficar! - eu falei, decidida. - , eu tenho que ir dormir. Amanhã eu ainda tenho curso, na parte da tarde.
- Aonde já se viu um curso de fotografia ser todos os dias? - ele perguntou, impaciente.
- Eu... precisava me ocupar. - eu disse. - Enfim, boa noite, .
- Boa noite. Ér... - ele pareceu sem graça. - Até amanhã? - eu gargalhei.
- Tá viciado em mim! - eu disse, rindo. - Prometo te ligar amanhã se prometer ligar hoje para a Jess. Ela gosta de falar com você.
- Isso é jogo sujo. - ele sussurrou somente para ele, mas eu ouvi. - Tudo bem, prometido. Me ligue a hora que quiser. Até logo.

Eu desliguei o telefone. Suspirei e olhei a foto na minha mão. Reli o que havia escrito.

Tá aí, a foto perfeita que eu tanto falei. Você realmente é o meu pé de coelho, você que me deu sorte!
É estranho como eu tenho facilidade de conversar com você, fazia um ano e meio que ninguém tinha papos constantes comigo desse jeito. Não sei, é ridículo, mas de alguma forma, eu acho que a gente tá ligado. Me interne.
Enfim, acho que eu não estou fazendo um bom trabalho em relação a Jessica. Era para eu ser um cupido, ajudá-los a se aproximarem, mas só o que eu consegui até agora foi NOS aproximar. Não que isso seja ruim, para mim está sendo ótimo, mas não é o certo. Eu deveria falar sobre ela, se lembra?
Saiba que eu posso não estar sendo uma boa amiga para ela, mas ela é uma ótima amiga para mim. Ela já está comigo há quinze meses. Nunca me deixou na mão. Espero não deixá-la também.
Preste atenção nela - você pode estar perdendo muito se não enxergá-la.
Eu já te adoro. Isso foi inevitável.

.


Guardei a foto num envelope. Foi quando me lembrei de que esqueci de pedir o endereço ao . Amanhã eu teria que ligar para ele de qualquer jeito. Eu podia dar um jeito naquilo.
Eu estava no banho quando ouvi um bip: a secretária eletrônica.

" NÃO ACREDITO QUE VOCÊ REALMENTE LIGOU PARA ELE! Você é a melhor, já sabe disso, né? Boa noite, minha melhor amiga. "

Eu suspirei. Mas que droga!
Então outro bip.

" Desculpe ligar tão tarde, mas o não largava o telefone. Não quero me gabar, , mas a minha vitamina ficou melhor do que a sua. Boa noite, o te ama muito! "

Eu sorri, mas logo fiquei pensativa. Não sabia porque, mas sentia que havia algo me escapando. Algo muito óbvio. Eu só não conseguia enxergar o que era.


8. O primeiro encontro.


Uma semana se passou. Michael me ligou durante quase todas as noites. Ele ligou todas as noite para Jess. Bom.
No meio da semana, Pedro me chamou para sair. Eu quis negar, mas não consegui. Ele era gentil - e bonito - demais para que se fosse negado um pedido.
Essa noite nós nos encontraríamos.
- Dá pra sussegar, ? Eu tô tentando prender o teu cabelo! - reclamava Jess. Ela estava na sua casa a mais de meia hora puxando o meu cabelo de um lado para o outro e eu já estava irritada com aquilo.
- Mas que droga, já chega! - exclamei. - Solta o meu cabelo, eu resolvo isso.
- Duvido! - desafiou Jess. - Seu cabelo de tão liso, chega a ser problemático!
Bufei para ela e comecei a ajeitar eu mesma o meu cabelo. Dois segundos depois, eu estava com um rabo-de-cavalo no auto da cabeça perfeito, com mechas da franja caindo dos dois lados do meu rosto. Jess revirou os olhos.
- Sem graça demais. - desaprovou.
- Que seja, vai ficar assim. - eu resmunguei. Uma buzina soou e eu catei a minha bolsa do sofá.
- Boa sorte, amiga, boa sorte! - dizia Jess, dando pulinhos alegres. - Tá um arraso!
- Obrigada, eu te amo. - eu disse, mandando um beijo no ar para ela. Saí de casa. Lá estava ele, aquele ruivo maravilhoso, com um sorriso perfeito nos lábios, me esperando encontado a um carro esporte preto. Sorri e me aproximei.
- Boa noite, pescadora. - ele disse, sorrindo.
- Boa noite, senhor pescado. - eu brinquei. Ele riu e nós entramos no carro. Seguimos até um restaurante calmo, mas bem conhecido na cidade. A luz era ambiente, deixando o lugar confortável e aconchegando. Nos sentamos e fizemos nossos pedidos. Depois ficamos conversando coisas banais. Eu não me sentia totalmente a vontade, parecia um segundo primeiro encontro. Eu havia desacostumado.
Nós comemos num clima leve, só conversando. Pedro se mostrou um brincalhão, o que me fez lembrar da ameaça que eu havia feito a . Parecia que eu estava enganada.
Onze e meia, eu resolvi que era hora de ir embora. Pedro pagou a conta e nós fomos pegar o carro. Depois de quinze minutos de trajeto, Pedro parou o carro. Olhei a rua. Não era a minha. Pouco iluminada e deserta. Não mesmo.

- Pedro, acho que erramos o caminho. - eu murmurei.
Ele me olhou. E então sorriu maliciosamente. Eu enrijeci.
- Estava pensando se... você realmente queria ir para casa agora. - disse ele, a voz suave, alisando a minha perna. Corei na hora.
- Pedro, por favor, vamos para...
Ele me interrompeu. Num segundo estávamos um em cada banco e no outro, Pedro estava em cima de mim, beijando e mordendo o meu pescoço, enquanto tentava alisar a minha barriga por baixo da blusa. Ofeguei.
- Pedro, por fa... PÁRA! - eu berrei, ao sentí-lo morder um pouco mais forte o meu pescoço. Me concentrei em fazer alguma coisa útil. Respirei fundo e juntei toda a minha força. Então empurrei o meu joelho em direção ao meio das pernas dele. Ele ofegou por um segundo, antes de rolar para o outro banco, os olhos fora de órbita. Eu abri a porta e corri dali, o deixando sozinho. Encontrei um café aberto e entrei, tremendo. Liguei para um táxi - prioridade - e pedi um café. Olhei para as minhas mãos, ainda tremendo. Não pensei duas vezes. Peguei o telefone e disquei o número que eu já havia decorado.
- Alô? - respondeu uma voz sonolenta. - ?
- ? - eu chamei. Acho que ele percebeu na minha voz, aguda, nervosa e temerosa, porque quando voltou a falar, a sua voz era preocupada.
- O que houve?

- ISSO, ISSO, ISSO É TENTATIVA DE ESTUPRO! - ainda berrava. Meia hora havia se passado desde que eu havia ligado para ele. O táxi havia chegado e eu já estava a caminho de casa. Mas não parou de gritar um só minuto. Ele parecia irado. Até eu estava mais calma do que ele!
- , por favor, eu tô bem... - eu tentei falar.
- , você tá bem, ótimo! - ele disse, ainda nervoso. - Mas e se não tivesse? E se você não fosse inteligente e sangue frio? Ele, ele poderia ter... ter forçado alguma coisa, te machucado! QUEM ELE PENSA QUE É?
Eu suspirei. Outra sessão de xingamentos. Dessa vez, menos longa, já que eu tive que o interromper para pagar o táxi. Entrei em casa e me joguei no sofá, de olhos fechados. Me permiti sentir o nervoso agora, já que estava segura. Uma bola de beisebol se alojou na minha garganta.
- Não quero nem pensar no que poderia ter acontecido. - murmurei. Ouvi suspirar.
- Muito menos eu. Eu juro que pegaria um avião agora só pra quebrar a cara desse imbecil. - ele disse, entredentes. Eu sorri.
- Obrigada, . O seu acesso de raiva não me permitiu entrar em pânico.
Ele gargalhou, nervosamente.
- Não me agradeça, se eu morasse aí, eu juro que estaria caçando aquele animal. - ele suspirou. - Tome cuidado, amor. Não sabe como eu estou preocupado agora.
Eu corei imediatamente. Sorri mais largamente, todos os sinais de nervosismo sumindo.
- Me perdoe, doutor, prometo me comportar. - eu brinquei.
- Acho bom, nunca tive uma paciente tão difícil como você! - ele disse, entrando na brincadeira. - Vá descansar. Boa noite, senhorita Huck.
- Boa noite, doutor. - eu sussurrei.
- Hm, ? - ele chamou, sem graça. - Se cuide.
Sorri carinhosamente.
- Você também.

Aquela foi a primeira noite que eu sonhei com o . Foi estranho, eu sonhei com o , mas eu sabia que era o . Eu devia estar ficando louca.

Me lembro de uma coisa que havia lido uma vez. Há coisas que não se pode fazer junto sem se tornar amigo da pessoa. E com certeza, uma delas é ligar para um desconhecido a meia noite pra contar de um quase-estupro que você sofreu.
Naquele momento não havia mais volta, não havia mais como reverter a situação. era o meu amigo. Mas do que isso. era o meu porto seguro.


Quatro meses se passaram. Nada mudou. Não havia uma noite que eu não falasse com o . E isso começou a me atormentar.
Pedro me pediu desculpas no dia seguinte de toda a confusão. Eu não pude não perdoá-lo. E não foi pelo incrivel poder de persuasão que aquele ruivo tinha. Foi porque ele estava sendo sincero. Me pediu desculpas e disse que nunca, jamais voltaria a olhar para mim se eu não quisesse. Bem, é claro que eu quis que ele voltasse a me olhar. Mesmo como amiga, aqueles olhos azuis eram lindos demais para serem ignorados.
Jess se aproximou de Pedro de um modo incrivel. Havia dois meses que eu havia percebido no brilho nos olhos de Pedro quando a via. Mas eu não me fiz de desentendida. Conversei com ele e ele me prometeu que não era maldade. Era algo mais, algo que veio com o tempo, com os pequenos gestos, as palavras e os sorrisos. Era amor.
Mas não era correspondido. Jessica insistia naquela história de estar apaixonada pelo . E era estranho, aquilo vinha me incomodando mais e mais. Eu não podia fazer nada.
Mas Pedro não perdia as esperanças. E de algum jeito eu também não. As esperanças de que, um dia, a Jess esquecesse do .
Ah, eu esqueci de dizer. Eu jamais peguei o endereço do .


9. Sedex.


Eu acordei num pulo, com o celular tocando. Tateei a minha mesinha de cabeceira atrás do aparelho, até que o escutei cair no chão. Revirei os olhos, totalmente irada por quem havia me ligado áquela hora. Peguei o celular e atendi.
- Alô? Alô?
Ninguém falava nada. Eu me irritei.
- Veja bem, seu idiota, você liga pra alguém as não sei que horas pra ficar calado? Porque não vai se...
Foi quando eu vi que gritava com o celular. E foi quando percebi também que não havia ninguém me ligando, que era apenas o lembrete. Eu o olhei, confusa, e comecei a gargalhar, rolando na cama.
- Eu tô ficando louca! - ofeguei.
Olhei novamente para o aparelho para saber o que diabos ele estava me lembrando. Aniversário do .
Olhei a hora. Dez da manhã. Sorri maliciosamente. Sedex dez - uma certeza que nunca me deixava na mão.

Imaginei a cara do quando abrisse o presente que eu havia mandado. Ri comigo mesma, me levantando para ir tomar banho.
Dois segundos antes de eu ligar o chuveiro, o telefone tocou. Eu me enrolei numa toalha rapidamente e corri para o quarto, atendendo o telefone na extensão.
- Quem me incomoda as... dez e nove da manhã? - eu perguntei, sorrindo. Tinha um palpite.
- AAAAAAH, EU TE AMO! - berrou o , no meu ouvido. - Eu te amo e amo todos os meus presentes!
Eu comecei a gargalhar, sem conseguir parar por alguns minutos. Quando finalmente me controlei, o voltou a falar.
- Amei o meu macaco de pelúcia azul (n/a: Caroline, isso te lembra algo? :D), amei o cd de fotos nossas, amei a receita das suas vitaminas! Ah, eu amei tudo! - ele acrescentou. Eu comecei a rir de novo. - E os outros amaram as cartas que você mandou. Tá no viva-voz, é que o pessoal queria te dá um...
- Oi! - disseram todos juntos. Eu ri.
- ?
- Oi amiga! - falou a voz animada da minha amiga.
- , ? - chamei.
- Oi! - disseram as duas, juntas.
- , ? - chamei.
- Morremos! - responderam os dois e eu comecei a rir. E então suspirei.
- ? - eu chamei, finalmente.
Só ouvi o silêncio.
- Ele não tá aqui, tá trancado no quarto, tentando compôr ainda. - disse , e eu o imaginei revirando os olhos.
- Ele é neurótico! - acrescentou , enquanto eu o imaginava assentindo, concordando com o .
- E ele disse que não tinha tanta certeza no que você pediu que dissesse a ele. - continuou . - Disse que você é suspeita, já que você acredita nele mais do que ele merece. Além da gente saber que ele é o seu fave.
Eu não consegui continuar com aquela máscara que dizia que tudo estava bem entre nós dois e que era possivel sermos amigos. As lágrimas vieram aos meus olhos numa velocidade incrivel. Eu as sequei antes delas caírem.
- Eu não tenho mais fave. - eu sussurrei. Ouvi bufar.
- Até parece! - resmungou.
- É sério, eu gosto de todos os quatro do mesmo jeito agora. Imagina se eu chego para a e digo que você é o meu fave, ? - eu falei, desviando da situação. riu.
- Te corto a cabeça, o meu noivo já tem fãs demais pra você querer que a lista aumente!
- Tá vendo? - eu falei, rindo. - Tenho que gostar de todos igualmente!
Eu os ouvi concordarem.
- Bem, gente, eu vou desligar porque eu estava entrando no banho pra ir pro curso, sabe? - eu falei, sarcástica.
- O não aprende a não ser inconveniente. - disse , e eu a imaginei revirando os olhos.
- Olha quem diz, , não fui eu que me peguei no maior amasso com a por não bater na porta, né? - disse o menino, se defendendo. Eu ri de novo, ouvindo a discussão começar outra vez.
- Tá, tá, eu tô indo, beijo, amo você todos!
- A gente também te ama. - Responderam eles, voltando a discutir.
- E ... - eu chamei, antes de desligar. - Feliz aniversário. Eu te amo, pimpolho.
- Obrigado, pimpolha, também te amo. - ele disse. - É isso mesmo, , incoveniente é a...

Por fim, eu desliguei o telefone.
Pulei dentro do chuveiro, despida. Deixei a água quente tocar o meu rosto e descer pelo meu corpo. Esperava que a água tirasse de mim aquela sensação estrangulada. Percebi que não era aquela água que me ajudaria.
Quando eu, por fim, deixei as lágrimas presas saírem, ficou mais fácil de respirar. Não sentia mais que uma mão gigante estava estrangulando o meu peito. Mas isso não deixou que a situação parecesse melhor. Eu não conseguia deixa o meu passado para trás, assim como o não conseguiu deixar o dele. As lágrimas quentes me lembraram daquela chuva fria, um ano e meio atrás. Me lembraram das palavras frias, um ano e meio atrás. Me lembraram do meu coração, frio há um ano e meio.
Parecia exatamente com o sedex dez que eu havia mandado para o , nunca era dúvida, sempre era certeza. A diferença era que eu não precisava de dez horas para sentir o sentimento que eu tentava esquecer me invadir. Era como um sedex zero - ouviu o nome dele e zero segundos depois, me sentia mal.
Desliguei o chuveiro e me sequei. Vi a roupa que eu havia separado para ir pro curso. Não. Não tinha cabeça pra ouvir a Jess falar que eu era a melhor amiga dela, quando na verdade eu era a pior. Não queria encarar as piadinhas do Pedro, nem um professor ensinando como manter o foco da foto. Não. Eu não tinha paciencia para nada.
Mas, atenção, leia-se: nada é diferente de telefonar.

Eu me joguei na minha cama de toalha e tudo, o cabelo ainda molhado e despenteado. Peguei o telefone e disquei os números. Chamou duas vezes até a voz estranhamente tão conhecida e reconfortante atender.
- Alô?
- , você pode conversar? - eu perguntei inutilmente, fungando.
- Claro. Tá tudo bem?


10. Caindo a ficha.


- Bem, deixa eu ver se entendi. - murmurou , que tinha um tom de alguma coisa escondida na voz. Eu não conseguia indentificar o que. - Você tá mesmo chorando por um idiota que teve a coragem de te magoar?
- Você não entende... - eu suspirei. - Ele não fez por querer, eu tenho certeza. Ele não mandou no coração. Assim como eu não mando no meu. - sussurrei a ultima parte. Ele suspirou.
- , sei exatamente o que você quer dizer. Eu já machuquei uma pessoa por um deslize. - ele disse, a voz com uma ponta de dor. - Eu gostava dela. Troquei o certo pelo duvidoso e me machuquei, talvez mais do que a machuquei. Precisei perder pra perceber que eu a amava. Mas acabou. Eu não posso fazer nada. E se você fosse ela, eu tentaria me matar só por estar te fazendo chorar. Mas o cara que te magoou não deve ser lindo e talentoso como eu. - eu ri baixinho. - Ele não merece uma única lágrima sua que seja. Então sussega e pára de chorar.
Eu suspirei. Passei uns segundos em silêncio, absolvendo as palavras dele.
- ? Posso te perguntar uma coisa? - falei, baixinho.
- Manda aí. - ele disse, a voz ficando um pouco mais alegre ao perceber que eu não estava mais chorando.
- Porque você não correu atrás de quem perdeu? - eu quis saber. Ele deu um longo suspiro.
- Já faz um tempo. As coisas mudaram, ela não me procura mais, eu não a procuro. Quantas noites eu passei olhando para o telefone, esperando que ele tocasse ou a coragem chegar para ligar para ela... Mas eu já a magoei demais, seria justo ligar e fazê-la relembrar de tudo? E se ela estiver feliz? Eu tenho o direito de tentar reconquistá-la, mesmo depois de tudo? Hoje em dia eu aprendi que a gente não pode olhar só para sí. Se eu ligar, nem que seja só pra ouvir a voz dela, posso fazer feridas cicatrizadas se abrirem. E eu tenho coragem de ficar longe dela, mas não de machucá-la outra vez.

Eu esperei mais uns segundos, em silêncio. A atitude dele era tão nobre! Não conseguia ver uma menina que não seria capaz de perdoá-lo.
- Você deve amá-la tanto quanto eu amo o... - eu parei de falar. O nome dele, o Sedex zero. Não.
- O...? - cobrou.
- Ninguém. O nome dele ainda é a lembrança mais forte que eu tenho. Dói. - eu sussurrei, a voz estrangulada outra vez.
- Ah, não chore de novo, ! - ele pediu. - Por favor, não chore.
Eu funguei, sorrindo de lado.
- Não vou chorar. Obrigada. - eu sussurrei.
- Não me peça obrigada. Você não sabe o quanto eu fiquei feliz em ser acordado por você! - ele disse. Meus olhos se arregalaram de choque e o meu rosto esquentou no mesmo segundo.
- Só pode estar brincando! - eu disse. - Desculpa! Ah, droga, me desculpa, eu não, eu, eu... - eu gaguejei, nervosa.
Ele riu.
- Dá pra parar? Olha a hora, eu tinha que acordar mesmo! - ele resmungou, ainda que rindo.
- Não acredito que te acordei pra ouvir os meus problemas! - eu gemi. emudesceu.
- Vou te perguntar uma coisa, me responde com sinceridade? - quis saber.
- Tudo bem. - respondi. Ele suspirou.
- Você não tinha que estar no curso? - eu fiquei sem graça.
- Ér... bem, sim.
- Isso significa que você veria a Jess. - Não era uma pergunta. - Caso você estivesse no curso, contaria essas coisas a ela?
Parei para pensar. A resposta era definitivamente não. Porque? Bem, primeiro - eu não queria que ninguém soubesse dos meninos. Segundo - eu não contaria e eu não tinha um porquê para aquilo.
- Não. - sussurrei, envergonhada. - Não contaria.
- Foi o que eu pensei. - disse , pensativo. - Então obrigado por me acordar. Você não a procurou, procurou a mim, um desconhecido. Estou feliz por confiar em mim.
Eu corei literalmente. Sorri um pouco, ainda envergonhada demais.
- Não agradeça, se eu confio em você, é porque merece.
Ele gargalhou.
- Enfim, eu tenho que tomar banho. Eu vou ensaiar. - disse , distraidamente.
- Ensaiar? - eu perguntei, surpresa. - O que?
- Ah, é, bem, é que, hãn... - começou a se enrolar.
- Ei, , não se preocupe, se não quiser falar, tudo bem...

Eu simplesmente parei com aquelas palavras. Parecia ontem que eu dizia a mesma coisa para o Tom. Eu estremeci com o dejá vù. Respirei fundo, me concentrando na conversa.
- Não, tá tudo bem. - respondeu , novamente com algo na voz que eu não reconheci. - Eu tenho uma banda.
- Jura? - eu falei, tentando parecer ligada na conversa. Minha cabeça voava. Pequenas coisas entraram na minha mente sem eu tê-las chamado. Fragmentos de Tom falando, de quando ele ria e de quando nós brigávamos. Fragmentos de toques, beijos, caricías. Fragmentos de olhares, palavras, sons. Fragmentos de Tom.
- ... e então temos uma banda. - terminou de contar sobre a sua banda. Eu não ouvi nada, não ouvia agora.
- Eu tenho que desligar. - falei, mais desligada do que nunca. - Tchau, .

Eu desliguei o aparelho e me joguei na cama de vez. Suspirei e tentei manter a cabeça no lugar...
" Tem alguma coisa me fugindo.. Tem alguma coisa me fugindo... " eu pensava. " Alguma coisa como... "

" - Eu tenho que desligar. Tchau, . "

Dei um pulo tão grande na cama que eu fui capaz de sentir por segundos a força da gravidade, enquanto eu voltava para a cama. E então eu estava de pé. Não. Não. Aquilo não era possivel. Não podia ser possivel.
Tudo entrou na minha cabeça em ordem. Tudo ficou claro. Não!
Mas antes que eu pudesse pensar naquilo mais detalhadamente, a secretária eletronica chamou.

" VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR! MEU DEUS, EU SOU A PESSOA MAIS SORTUDA DO MUNDO! O , o ! Ele, ele, aaaaaaaah! Ele tá vindo pro Brasil, pro Rio! Dá pra acreditar, ? Ele quer me conhecer pessoalmente, me disse que tem uma coisa importante pra me falar! Você vai comigo, isso não é um pedido! Eu te amo, até esqueci da bronca que eu ia te dar por faltar o curso e... "

A secretária eletrônica desligou - Jessica havia falado tempo demais (n/a: Carolina, me baseei em você, HAHAHA). Eu fiquei branca e fria na mesma hora. Respirei fundo, pra controlar o ritmo do meu batimento cardíaco, mas estava ficando difícil.
Não. O destino não podia brincar comigo tanto assim.


11. Flashbacks.


Passei alguns minutos deitada na minha cama, como uma parasita. Não tinha força pra agir.
Flashbacks passaram pela minha cabeça numa ordem desconhecida. Não!


- AAAAAH, O NOME! - ela exclamou, escandalosa. Eu ri. - Ele não me disse o nome, não o primeiro, pelo menos.
- Anda, Jess, qual é o nome? - eu perguntei, impaciente.
- Tá, tá. - ela disse, emburrada. - O nome é .


O nome do meio...

- Pelo número, você deve ser a .
Meu coração acelerou. Ele tinha a voz incrivelmente parecida com a do... Não, eu estava louca. Só podia ser.


A voz...

Um joguinho de perguntas e respostas particular? - eu perguntei, minha voz falhando. Ele ficou sério de repente.
- Sim. Mais uma vez. - ele sussurou. Eu não entendi o que ele quis dizer com isso.


Mais uma vez...

- Ei, idiota, desligue esse telefone e vem tomar a vitamina que o papai aqui fez! Tá melhor do que a da minha babá, mas só porque eu sou demais! Anda logo!
Eu dei uma travada. Outro dejá vù. A sensação de já ter ouvido aquela voz antes.


Eu conhecia aquela voz! Agora eu via... Era a voz do...

" Desculpe ligar tão tarde, mas o não largava o telefone. Não quero me gabar, , mas a minha vitamina ficou melhor do que a sua. Boa noite, o te ama muito! "

... !

- Você não sabe o quanto eu odeio ficar ansioso. - ele sussurrou. Eu revirei os olhos. Era incrivel a semelhança de com o .

As coincidências...

- Eu também sou lindo, tá? E sou talentoso também. - ele disse convencido.

E os convencimentos...

Tudo se dirigia a só um lugar. A só um erro...

- , sei exatamente o que você quer dizer. Eu já machuquei uma pessoa por um deslize. - ele disse, a voz com uma ponta de dor. - Eu gostava dela. Troquei o certo pelo duvidoso e me machuquei, talvez mais do que a machuquei. Precisei perder pra perceber que eu a amava. Mas acabou. Eu não posso fazer nada. E se você fosse ela, eu tentaria me matar só por estar te fazendo chorar. Mas o cara que te magoou não deve ser lindo e talentoso como eu. - eu ri baixinho. - Ele não merece uma única lágrima sua que seja. Então sussega e pára de chorar.

A dois erros!

- Eu tenho que desligar. Tchau, .

Não!
Eu me levantei num salto e corri para a sala, mas eu acabei tropeçando no tapete. Caí no chão por cima do braço direito, mas ignorei a dor. Peguei o meu celular e vi nas ultimas chamadas. Eu conhecia aquele número...
Peguei a agenda e achei o número do . Depois, com a mão trêmula, achei o nome do . Não era possivel... NÃO!
O número era o mesmo. O número do , que eu havia utilizado por meses era o mesmo número do , que eu havia feito questão de esquecer. Não era possivel.
Eu disquei o número do rapidamente. Na primeira chamada, ele atendeu.
- Oi amor! - ele falou. Eu tremia.
- , você conhece a banda McFly? - eu perguntei, nervosamente.
- Bem, eu... é claro. Porque? - ele perguntou, desconfiado.
- Você conhece a música The End? - eu quis saber, minha voz aguda de tanto nervoso. Ele demorou alguns segundos para responder.
- Sim, eu conheço. - ele falou, a voz razoavelmente fria. Eu respirei fundo, esperando para dar o golpe final.
- Você pode tocá-la para mim? - eu pedi. Mas uma vez ele demorou. Parecia estar pensando ou então numa briga consigo mesmo. Por fim, ele suspirou fortemente.
- Peraí...
Uns dois minutos depois, ele voltou.
- Posso? - ele perguntou.
- Sim. - respondi com a voz estrangulada.
Então ele soltou o ar fortemente e começou.

Kicking off is the hardest part
[Retroceder é a parte mais difícil]
Nothing's certain at the start
[Nada é certo no início]
Letting go, so something can begin
[Deixando acontecer, então alguma coisa pode começar]
Figure out how to get a life
[Descobrindo como ter uma vida]
Leave tomorrow, live tonight
[Ir embora amanhã, viver esta noite]
Gotta throw, throw your heart right in
[Tenho que lançar, lançar seu coração]
'Cause we all fall down
[Porque todos nós caímos]


A essa hora eu já chorava. Agora não havia mais dúvidas. !
parou de cantar, me ouvindo soluçar no telefone. A voz dele continuava contida, mas eu podia sentir a emoção forte nela.
- Ei, , tá tudo bem? - ele perguntou.
- T-tá, tá tud-do bem! - eu solucei. - Dep-pois a gen-nte se fa-ala, tá?
Eu não esperei nem ele responder, fechei o celular com força. Me sentei no sofá e fiquei lá, abraçando os joelhos. Por horas só o que eu consegui ver foram lágrimas e mais mais lágrimas. Eu não conseguia agir, eu não conseguia pensar, eu só queria chorar. Queria que uma concha me fechasse dentro dela e me escondesse debaixo de milhões de litros de água salgada, milhões de lágrimas.
A noite chegou e eu ainda estava encolhida no sofá da minha sala. Meu estômago protestava, implorando por comida, mas eu já não tinha força.
A secretária eletrônica tocou.

" Amiga, amiga, amiga! Ai meu Deus, não consigo falar! , vem cá! "

A secretária desligou e logo ligou outra vez.

" Não liga pra , ela tá feliz demais! Bem, escute! Daqui a dois dias, adivinha? A GENTE CHEGA NO BRASIL! Não é perfeito? Os meninos vão de turnê, a gente resolveu ir junto pra te ver! Então não se esqueça de nos pegar no aeroporto, ok? Nos falamos até lá. Te amamos! "

Eu continuei parada, só o meu coração que acelerou. Tudo agora era transparente. Como eu pude ter sido tão cega?
Me levantei como uma morta-viva e fui até a cozinha. Enchi um copo de Coca-Cola e coloquei um Hocket Pocket no microondas. Minha cabeça girava de fome e mesmo assim, eu não ligava. Eu só comeria por saber que desmaiaria se continuasse em jejum. E eu não podia desmaiar. Não agora que eu precisava preparar o meu psicológico. Não agora que eu sabia que aquela história estava perto do fim.
Eu comi só com o corpo, a mente ainda estava naquela tarde, naquela música, naquela voz. Quando terminei, lavei a louça. Assim que terminei, me toquei do que eu precisava. Um banho frio.
Eu segui para o chuveiro, mas no caminho, a secretária eletrônica chamou. Eu não queria saber o que era, mas aquela voz me fez correr para a sala.

" Eu sempre soube, . "

Meu coração descompassou outra vez, dessa vez tão forte que me fez ofegar. Eu corri para o chuveiro e liguei a água gelada. Encostei as minhas costas na parede fria e escorreguei até o chão. Deixei a água fria me molhar por inteira, enquanto eu continuava abraçada aos joelhos, chorando. Um sonho ou um pesadelo? A voz de Jess veio mentalmente me responder. Um pesadelo.


12. Visitas inesperadas.


Eu já não fazia noção de quanto tempo eu estava debaixo do chuveiro. Não fazia porque eu acabei adormecendo. Agora uma iluminação entrava pelo chuveiro, então não deveria ser mais noite. Eu não fazia noção do porque de não sair daquele banho que agora era congelante e ir para debaixo do meu cobertor. Eu não fazia noção do porque de mais nada. Eu só queria sumir.

Mas nada acontecia como eu queria. Nunca nada jamais aconteceu como eu quis. Porque eu queria não ter me apaixonado pelo cara que a minha amiga estava apaixonada. Eu queria não ter saido com o Pedro aquela noite. Eu queria não ver o tão cedo. Eu queria somente não ter certeza. Mas nada acontecia como eu queria.
Era por isso que a campainha tocou. Ela me despertou dos meus desvaneios pela primeira vez naquela noite toda e eu me levantei, com muito esforço. Parecia que eu não tinha ossos, todo o meu corpo doia e reclamava, pedindo um pouco de calor depois de tanto frio. Eu desliguei o chuveiro não sabendo como iria pagar a conta de água. Mas quem se importava? Eu não.
Peguei o meu roupão e vesti. A campainha tocou mais uma vez e eu suspirei, indo de vez atender a porta. Passei pelo espelho do meu quarto e dei uma boa olhada em mim mesma. Olheiras enormes, parecia até dois socos nos olhos. Os cabelos enxarcados e embaraçados. A pele enrugada de tanta água. Eu nunca estive pior.

Quem seria as... olhei o relógio. As nove da manhã? É, eu perdi mesmo a noção do tempo.
Abri a porta sem nem pensar. E então, eu não podia me mexer.
- SURPRESA!
Todo o meu corpo continuava frio. Menos os meus olhos, que agora ardiam com as lágrimas.

Na minha porta agora estavam , , , , e . Era impossivel acreditar que eu via aquilo. As lágrimas explodiram de vez.
A expressão deles ao me verem naquele estado passou de animada para tensa. se aproximou de mim com a expressão cuidadosa. Pôs a mão nos meus cabelos e sorriu.
- Oi amiga...
Eu a olhei, ainda incrédula demais para agir. E então parecia que todos os meus membros haviam retomado os movimentos. Eu joguei os meus braços envolta do corpo da e comecei a rir igual a uma louca.
- Eu... eu não acredito! Não acredito que vocês estão aqui! - eu disse, pela primeira vez em horas me sentindo normal. Quando eu me dei conta, todos estávamos num abraço coletivo. Minhas lágrimas deram lugar a sorrisos. Sorrisos que eu não me lembrava de senti-los fazia muito tempo. Sorrisos de dois anos atrás.

Depois de todos os abraços e gritinhos histéricos, nós todos fomos nos sentar no sofá. Eu ria e gargalhava com cada palavra dita.
- ... ai ele quase perdeu a mala! - dizia .
- Não, o mais engaçado foi que o não tava nem aí pra mala, era que aquele macaco fedido e...
- O Júnior, amor, nosso filho tem nome! - reclamou. Eu ri.
- Tá, o Júnior tava na mala e ele ficou dando voltas e mais voltas no aeroporto berrando o nome dele!
- Hilário! - riu .
- Mas perai... - eu disse, confusa. - Vocês não disseram que só chegariam amanhã?
- Não entendeu ainda? - perguntou. - Depois eu que sou burro.
Eu dei um pedala nele, o fazendo rir.
- Oh, jeguezinha, era uma surpresa! Chegamos ontem mesmo. Hoje nós passamos na casa dos seus pais e eles nos deram o endereço! - ele respondeu, com ar de triunfo.
- E como vocês sairam do aeroporto? Imagino quantas fãs não deveriam estar lá... - eu disse, pensativa.
- A gente se disfarçou. - disse, a voz com desgosto. Eu levantei um sobrancelha. - E adivinha de quem era o plano?
- Hum, deixa eu adivinhar... ? - eu disse, sarcástica. Ele sorriu largamente.
- Tão vendo? Até a sabe admitir que um plano tão genial só pode ter vindo de mim!
Eu gargalhei com os outros.
- E deu certo? - eu quis saber.
- Bem, mais ou menos. - disse . - Ainda bem que o estava procurando pela mala dentro da área reservada pra passageiros, senão...
Harry passou a mão esticada no pescoço, como se disse que eles estariam mortos. Eu ri baixinho.
- Um bom plano... Mas parece que a não gostou muito.
Eu olhei para a minha amiga e ela estava com os braços cruzados e emburrada.
- Ah, isso? - disse . - É que haviam duas roupas de mulheres e quatro de homens. Você já pode imaginar quem ficou de homem, né?
Eu gargalhei alto e me fuzilou com os olhos. Respirei fundo, segurando o riso.

- Bem, , a gente sente muito, mas temos que ir embora. Coletiva de imprensa. - disse . e reviraram os olhos. Eu suspirei.
Então tive uma idéia.
- Olha só, vamos fazer um trato? Deixem as meninas aqui. Quando a coletiva acabar, nós saímos para almoçar, que tal? - eu disse, animada.
- Pode ser. Meninas? - perguntou. Elas sorriram e assentiram.
- Não sei porque você ainda pergunta. - resmungou . Eu sorri ainda mais.
- Ótimo. Tchau bebês, até daqui a pouco!
Os meninos se despediram de suas namoradas - e noiva, como fazia questão de ressaltar - e foram embora. Assim que eu fechei a porta, olhei para as meninas com os olhos estreitos. E de repente, eu pulei em cima delas, gritando de felicidade. Era bom demais para ser verdade.


13. Uma manhã só de meninas.


Duas horas haviam se passado. Nós quatro agora estávamos sentadas no meio da sala com um pote de sorvete napolitanos no meio do nosso circulo.
Havíamos falado de tudo, desde a mãe do até a entrevista que os meninos deveriam estar fazendo. Mas agora nós estávamos em silêncio, aproveitando o sorte. Um silêncio confortável. Que não durou muito tempo.

- Vamos, . - disse . - Pode ir falando qual é o problema.
Eu a olhei assuntada, com a colher ainda na boca.
- Problema? - quis saber.
- Não se finja de desentendida, . - ela resmungou. - Nós vimos como você estava quando chegamos.
As outras meninas assentiram.
- Ah. - eu fiz. - Isso.
- Isso? , acho que você precisa de óculos para enxergar o que a gente viu. - disse .
- Eu vi. - eu disse. - Sei do que vocês estão falando. Tô um monstro, né? - falei, sorrindo amargamente.
- O importante não é isso, e sim o que te deixou assim. Pode contar com a gente, amiga. - sorriu.
Ao me dar conta de onde eu estava, com quem eu estava e o que estava acontecendo, eu não consegui me segurar. Comecei a chorar outra vez. Dessa vez, pelo menos, eu tinha com quem contar.
- Vocês não sabem o quanto eu me senti sozinha sem vocês! - eu funguei. Agora eu percebia. Jess foi a pessoa mais importante pra mim. Antes de tudo acontecer. Agora ela não podia fazer nada para me ajudar.
Elas me abraçaram.
- Calma, amor. Pode nos falar com calma... - sussurrou. Eu funguei e me preparei para falar aquilo que eu não pude falar com ninguém durante dois anos.

- VOCÊ-SÓ-PODE-ESTAR-BRINCANDO! - berrou . - NÃO É POSSIVEL!
- Tanto é que aconteceu. - eu disse, respirando fundo.
- Não, peraí, então quer dizer que tem quase seis meses que você vem falando com esse tal de que na verdade é o ? Oh meu Deus! - fez .
Ela estava tão pasma quanto Mari. A única que estava pensativa era a .
- Gente, vocês entenderam o que eu quis dizer? Droga, eu me apaixonei pelo cara que a minha amiga também é apaixonada! E isso já é ruim demais assim. Agora imagina quando você se apaixona pelo cara que a sua amiga também é apaixonada e descobre que ele é o amor da sua vida que você nunca conseguiu esquecer? É, é impossivel! - eu disse, nervosamente.
De repente, estava na minha frente, os olhos brilhando.
- , você sabe tanto quanto essas duas que eu sou muito racional. Pra mim, aquele ditado de " ver para crer " é perfeito! Mas eu não posso ignorar isso. Você não percebe? - ela disse como se visse uma coisa muito óbvia. - Isso é muito destino pra gente ignorar! Primeiro o modo como a gente conseguiu conhecer os meninos pessoalmente. Você que tropeçou! Depois tudo isso, desde a volta dele com a ex até o término. - eu me encolhi. - E então isso do engano da sua amiga... , é impossivel ser só coincidência!
Eu parei um segundo pra pensar no que ela dizia.

- Você tá querendo dizer que isso tudo teve uma motivação? - eu perguntei, desconfiada.
Mas é claro! Sei lá o motivo, mas teve! Talvez você precisasse vir embora pra fazer a Jessica e esse tal de Pedro se conheceram. Talvez você precisava vir embora pra aprender a fotografar, talvez isso te fará diferença no futuro. Talvez... - ela sorriu consigo mesma. - Talvez o só precisasse te perder pra entender que ele precisa de você!
Eu não conseguia engolir aquilo. O , precisando de mim?
- Não diga bobagens, . - eu murmurei. Ela revirou os olhos e se virou para as outras duas meninas, que estavam quietas só escutando.
- , diz pra ela o que você ouviu naquela noite que foi pegar água de madrugada. O que você ouviu do quarto do . - disse , a voz decidida.
- Bem, ele tava se remexendo todo na cama, dizendo algumas coisas como " Eu te protejo, esse Pedro nunca vai tocar em você! Não chora, por favor! ". Eu achei estranho e sem sentido, mas hoje em dia eu entendo... - sorriu. Eu corei.
- , e o que foi que o estava conversando com você, quando nós fomos ao shopping e vocês quiseram ficar em casa? - cobrou.
- Ah, eu não podia tá falando, mas... bem, ele disse que não conseguia mais compôr por sua causa. - deu os ombros.
- POR MINHA CAUSA? - eu gritei. - TÁ LOUCA?
- Não, ué, ele disse que não conseguia mais compôr desde a sua música. Que sentia que era um bloqueio, que ele achava que só iria conseguir compôr de novo alguma coisa que fosse completamente forte e sincero como foi a sua música.
Eu fiquei pasma.
- Tá vendo? Acorda, , aquele babaca nunca conseguiu te esquecer! Te perdeu por burrice! E então... - sorriu. - UAU! O destino vem e dá outra chance pra ele. Até essa viagem foi de ultima hora! Tá tudo a favor de vocês!
Eu pensei naquilo por um minuto. Logo, um pensamente me fez perder todo o gás.
- Ele disse que vai encontrar com a Jess. Que tem uma coisa importante pra falar com ela. Talvez eu tenha feito um bom papel de cupido. - eu murmurei. deu os ombros.
- Você não sabe o que ele quer dizer.
Eu fiquei sentada mais alguns segundos e então levantei e peguei o celular. Disquei e coloquei no viva-voz. Chamou duas vezes.

- Oi, cupido! - disse Jess, sorrindente. revirou os olhos.
- Ah, oi Jess. Desculpa não ter te ligado ontem, eu tava ocupada.
- Tudo bem! Ouviu o meu recado? - ela perguntou, ansiosa. Eu suspirei.
- Sim, eu ouvi. Que demais, né?
- Nem me fala, eu tô uma pilha. O me ligou e marcou pra amanhã. Você vai!
Jessica parecia estar tão feliz. Agora eu via que eu não fui uma amiga ruim. Não, muito pior. Eu fui a melhor das inimigas.
- Jess, eu não sei... Umas amigas minhas lá de Londres também estão aqui, sei lá e...
- Ah, , qual é? Por favor! Eu não vou saber o que falar na frente dele.
Eu olhei para as meninas, como se pedisse socorro. Tapei o vocal do telefone.
- O que eu faço? - sussurrei. já ia abrir a boca quando tapou a boca dela.
- Prometeu, agora cumpre, amiga. - disse . Ela parecia calma demais pro meu gosto.
Eu suspirei fortemente e liberei o vocal.
- Tudo bem. Que horas? - eu perguntei, desanimada.
- As cinco da tarde. Aparece aqui mais cedo?
- Tá, uma duas eu tô aí, tudo bem?
- Ótimo! - disse Jess, mais animada do que nunca. - Não acredito que eu vou conhecê-lo!
- Nem eu. - eu murmurei, meus olhos úmidos.
- Tchau, amiga, eu te amo.
- Eu também.

Eu desliguei o telefone bem no momento que a campainha tocou. Passei a mão pelos olhos e sorri.
- Abram a porta e me esperem, eu vou trocar de roupa.
Corri pro quarto, peguei um shortinho jeans, uma bata lilás, minhas rasteirinhas brancas e prendi o meu cabelo. Já estava ficando enjoada de tanto usar rabo-de-cavalo, mas o meu cabelo estava uma droga e ele iria assim mesmo. Peguei os meus óculos escuros e a minha bolsa.
Quando cheguei na sala, os meninos já estavam quebrando a minha casa. Sorri, feliz outra vez.
- Pra onde vamos, crianças? - eu perguntei. Eles me olharam.
- Ué, você que mora aqui! Nos guie! - disse. Olhei para as meninas que estavam com um sorriso malicioso no rosto. Logo adivinhei o pensamento delas.
- Nosso restaurante preferido? - peguntei.
- SIM! - exclamaram as três, me fazer rir.
Nós saímos de casa e fomos em dois carros. Nos meu, aonde eu estava dirigindo, foram os meninos e no outro, as meninas. No meio do trajeto, eu perguntei com a voz envergonhada.
- Hum, ér, e o ?
- Ah, ele é muito mole, disse que tava cansado da viagem. - revirou os olhos.
Eu não falei mais nada durante o trajeto.


14. Preparada para o não.


O dia terminou e todos os meus amigos foram para o hotel. Nós saímos do restaurante depois do almoço e eu os levei a alguns pontos turísticos. Foi um dos dias mais felizes desde que eu havia vindo de Londres. Agora eu percebia. Minha vida se resumia neles e só neles.
Quando cheguei em casa, joguei a minha bolsa no sofá e fui para a cozinha, faminta. Quando eu estava pegando o queijo e o presunto para fazer um misto quente, eu espirrei. Percebi que estava ficando gripada. Maldito banho frio!
Procurei meus remédios e os tomei de uma vez. Amanhã seria um dia daqueles. Eu tinha que estar bem disposta.
Voltei para a cozinha, comi e fui para o meu quarto. Liguei a televisão. Totalmente errado.

Era um programa de fofocas, e a fofoca da vez era o .

" Fontes confiáveis fotografaram o cantor internacional , integrante da famosa banda McFly no telefone tentando dizer tchau em português. Dizem por aí que ele está conversando com uma brasileira a alguns meses. Os outros integrantes da banda, , e estão namorando com três brasileiras há dois anos. Isso afirma as nossas dúvidas. Sim, os meninos do McFly gostam das brasileiras. Dizem que o não está namorando. Então fiquem ligadas, meninas, tudo pode acontecer! "

Eu revirei os olhos e desliguei a televisão, irritada. Me virei, apaguei a luz e resolvi dormir. Não consegui tão cedo.

No dia seguinte, eu acordei na mesma hora que no dia anterior, as nove da manhã. Lá fora o tempo estava nublado. Eu suspirei. Era hoje.
Me levantei, tomei um banho - dessa vez quente - e passei a manhã lendo um livro qualquer. A cada palavra que os meus olhos indentificavam, o significado se perdia no meu cérebro. Eu só via as palavras, não conseguia entendê-las. Suspirei e olhei o relógio. Meio dia e meio. O nervorsismo tomou conta do meu corpo e eu agarrei o telefone. Mas não. Eu não iria ligar para ele.
Soltei o telefone. Minhas entranhas estavam se contorcendo num balé agitado. O que eu faria agora? Estava perdida, totalmente perdida.
Me levantei e me arrumei. Escolhi uma calça jeans escura, uma bata preta, um casaquinho bege e os meus tênis pretos. Peguei os meus óculos escuros e a minha bolsa. Eu não podia ficar nem mais um segundo sozinha. Fui para a casa da Jess.

E eu não sei se foi a melhor coisa a se fazer.
- Ainda bem que você chegou cedo, amiga! - disse ela, incapaz de controlar a agitação. - Já almoçou?
- Não. - eu respondi.
- Ótimo, pega macarrão lá na cozinha.
Eu fui até lá e coloquei um pouco do macarrão para mim. Nos sentamos na mesa da sala e começamos a comer em silêncio. Mas eu fiquei confusa.
- Porque é tão bom que eu tenha chegado cedo, Jess? - perguntei desconfiada. Ela sorriu.
- Bom, primeiro porque eu não tô aguentando ficar sozinha...
- Eu também não. - sussurrei, olhando pro meu prato.
- ... e porque o adiantou o encontro para as três e meia. - ela terminou, provavelmente não tinha me ouvido.
De repente o que ela disse se alojou no meu cérebro.
- O QUE? - eu berrei, engasgando com o macarrão. Jess correu pra perto de mim e começou a dar tapas nas minhas costas, enquanto meus olhos ficaram úmidos e os meus pulmões, sem ar. Lá se vai todo o tempo que eu ainda tinha pra me preparar!
- É, pras três e meia, amiga. Acho que ele tem pressa de me conhecer. Você sabia que ele tentou me dar tchau ontem em português? - ela disse, toda sorrisos. Algum monstro se mexeu na minha barriga. Aquilo não podia continuar daquele jeito.
- Jess... - eu disse devagar, recuperando o fôlego. - Você tá preparada pra receber um não? - eu disse. Ela me olhou com os olhos estreitos.
- Porque? Você sabe de alguma coisa que eu deveria saber?
- Eu, ér... - eu enrolei.
A verdade era que o - como era estranho pensar nele daquele jeito! - já havia deixado claro para mim a muito tempo que não queria nada mais do que a amizade da Jess. Nós dois nunca tivemos coragem de contar isso a ela. Mas agora ela teria que saber de um jeito ou de outro. Bem, deixa esse pepino para o .
- Não. Não sei de nada.
Ela relaxou.
- Hum... Mas respondendo a sua pergunta. - disse ela, voltando ao assunto principal. - Sim, eu estou pronta. Não que eu achei que eu vá levar um não, mas eu quero estar preparada. Sabe, o Pedro me beijou anteontem...

Eu arregalei os olhos, quase engasgando de novo.
- Mentira? - falei, surpresa. Tá certo que eu já sabia dos sentimentos dele, mas estava surpresa mesmo assim.
- É... e foi legal, sabe? Ele disse que gosta de mim, que queria namorar comigo e tudo. Eu pedi um tempo pra pensar. Não vou trocar o certo pelo duvidoso, né? Vai que o é feio e velho? - ela riu e eu também.
- Isso é putaria, Jessica! - eu brandei. Ela sorriu pacificamente.
- Não é isso, é só que... sabe, eu me aproximei tanto do Pedro e nunca parei pra enxergar as coisas desse jeito. Eu quero ter a oportunidade de pensar pra não me arrepender depois. E o ... Bem, eu não posso negar, ele é muito mais próximo de você do que de mim. Ele se distanciou tanto.. Vamos ver né?
- É.. Vamos ver. - eu murmurei. Nós acabamos de comer e Jessica foi se aprontar. Sem brincadeira, ela demorou as duas horas que nós tinhamos pra se arrumar. Isso porque só faltava ela! Eu esperei sem me entender. Uma parte de mim pedia para ela correr e que nós voássemos para o Maracanã - aonde ele havia marcado. Outra implorava que ela fosse devagar e que não tivesse pressa.
De qualquer jeito, já não dava mais para fugir. Pegamos o meu carro e nos encaminhamos para o Maracanã. Minha respiração estava falhando e os meus dedos, dormentes. Não dava mais para fugir.


15. Dejá vù.


Nós estacionamos o carro e fomos andando até a entrada de trás do Maracanã. Achei um lugar super estranho para aquela ocasião. Mas quando eu me dei conta do que havia lá dentro, mudei de idéia.
- Você é a Jessica? - Perguntou um homem alto, negro e forte - muito forte - vestido de um terno elegante.
- Sim. - Jess respondeu com os olhos arregalados de confusão.
- Identidade, por favor. - ele pediu. Jess mostrou a identidade para ele, que sorriu.
- Venha comigo, o senhor Fletcher está esperando por você.
Jess me olhou e sorriu como se gostasse do sobrenome do . Eu senti que poderia vomitar a qualquer momento. Sistema norvoso idiota!
Nós o seguimos, subindo por uma escada enorme já dentro do estádio. O palco enorme montado para o show extra do McFly tomava bastante espaço naquele lugar. Eu estava impressionada com a estrutura daquele show. Iria ser enorme!
Olhei da escada lá para frente. A área VIP. Aquilo fez com que o meu estômago brincasse de pular corda. Lembranças vieram a tona.

Flashback On

- Estou indo atrás dos meus sonhos, vocês vêm? - perguntei.
- Hã? Do que você tá falando, ? - perguntou .
- Vou subir no palco. Vocês vêm? - repeti.
- Pirou, foi? A gente não pode fazer isso! - falou .
- Ah, qual é, é a ultima música, o que a gente vai tá perdendo? Vamos! - falei, já me levantando, ouvindo os meninos finalizarem a música. me segurou pelo braço.
- Você não pode ir lá, , é errado!
- Errado é eu ver o meu sonho ir embora. Você não entende... - comecei.
- Claro que entendo, você acha mesmo que só você se apaixonou, ? Não, eu, a , a , todas acabamos nos apaixonando. Por eles. Pelos impossiveis. Mas a gente não pode fazer isso. É errado! - falou . Eu olhei para as minhas amigas. Agora eu via. Eu não era anormal. E se fosse, nós quatro éramos. Porque elas eram iguais a mim. Iludidas e apaixonadas. Eu sorri para elas e olhei para , me soltando dela delicadamente.
- Não me pare agora! Vem comigo!

Flashback Off.


Aonde tudo começou. Aonde todos os meus sonhos sairam do inconciente. Aonde o mundo ainda era perfeito e descomplicado. Aonde tudo virou realidade.
Meu coração começou a socar o meu peito com a tensão. Eu estava no mesmo lugar que o . Eu estava muito próxima de tudo aquilo que me atormentou em dois anos perdidos.
O homem escuro acabou de subir todas as escadas da arquibancada da área branca e nos encaminhou para um dos camarotes. Na porta havia um quadro branco com o logotipo do McFly pendurado. Minhas pernas tremeram e eu senti toda a cor do meu rosto sumir. Minha cabeça latejou e eu segurei o braço da Jess antes que ela pudesse entrar na sala.
- Jess, eu vou no banheiro rapidinho. - eu falei, com dificuldade.
- Você tá bem, amiga? - ela perguntou. Eu assenti.
- Já volto. - eu disse, antes de virar as costas e praticamente correr para o banheiro. Olhei para aquele lugar e respirei fundo. As lágrimas vieram aos meus olhos, assim como as palavras saltaram da minha boca como um dejá vù.

- Oh, you just got be happy But sometimes that's hard, so just remeber to smile, smile, smile and that's a good enough start.

Eu respirei fundo e fechei os olhos. Certo, era preciso. Ela era a minha amiga. Eu tinha que aguentar por ela.
Então sequei o rosto e saí do banheiro, em direção a sala que a Jess havia entrado. A porta estava entreaberta e os meus olhos, arregalados de tensão. Eu respirei fundo e me aproximei. Mas ao colocar a mão na porta para entrar, uma imagem me parou. Pela primeira vez em tanto tempo, pela primeira vez desde aquela despedida em Londres eu via quem eu nunca desejei que se afastasse de mim. estava na minha frente abraçado a Jess e sorria, como se estivesse feliz, como se nunca houvesse deixado de estar. Uma flecha atravessou o meu peito e eu não soube dizer se estava feliz ou triste.


16. Tropeçar ao acaso?


Eu vi os meus olhos se embaçarem aos poucos, enquanto eu via sussurrar coisas no ouvido de Jess. Vi os meus ossos, tanto como cada célula que existia em mim, reclamarem de dor. Uma dor daquelas que médico nenhum saberia diagnosticar mas que, mesmo assim, fazia cada centímetro da nossa existencia doer. Doía mais do que qualquer coisa no mundo.
Jess e . Os nomes dos dois numa frase tão simples fez o meu batimento cardíaco atrasar uma batida. O amor da minha vida e a minha amiga. Não.

Num ataque de pânico eu virei de costas e puxei a porta. Ela fez um barulhão e eu saí correndo dali. Fiz a besteira de olhar para trás. colocava a cabeça do lado de fora para saber quem fez aquele barulho. Quando me viu, correu atrás de mim.
- , espera!
Olhei para trás novamente e dessa vez, vi Jess um pouco atrasada correndo atrás de nós dois.
Eu virei para frente e balancei a cabeça, numa tentativa idiota de tirar as lágrimas dos meus olhos. Mas o que eu consegui fazer foi entrar num corredor razoavelmente escuro e logo em seguida sentir que não tinha mais forças. Era muitas lembranças, lágrimas, dores e coisas para continuar correndo.
Mas antes que eu decidisse se iria ou não desistir de fugir, eu duvido que adivinhem o que aconteceu!
Eu tropecei. Nos meus próprios pés!

Enquanto eu caia, eu ouvi aquela voz tão familiar e constante na minha vida me chamar. Eu não tive força para me levantar, só consegui me sentar no chão. Eu chorei, chorei como se quisesse encher o oceano de lágrimas para a tal concha me engolir. Alguns segundos depois, chegou perto de mim e se jogou no chão, próximo a mim. Eu mantive os meus olhos abaixados, o medo me matando por dentro. Jess chegou logo depois, ofegando.
- O que te deu, ? - ela quis saber. Como ninguém respondeu, ela ignorou a própria pergunta.
- Tudo bem. , esse é o...
Ela não pôde terminar. Eu ergui a cabeça na hora que a Jessica ia dizer o nome. O Sedex zero.
Quando olhei para os olhos dele tudo explodiu em mim. Eu explodi de alegria por ter aqueles olhos perfeitos e maravilhosos olhando diretamente nos meus olhos. Eu explodi de tristeza ao perceber que estava chorando, tanto quanto ou mais do que eu. E eu explodi mais ainda em esperança quando me abraçou pelo pescoço. Eu não conseguia raciocinar direito.
Naquele momento, nós dois soluçamos durante um tempo. Eu o abracei com toda a força que eu tinha, como se a minha vida dependesse daquilo. Era como se quiséssimos passar de um para o outro tudo o que nós sofremos durante aquele tempo. Era como se nós não conseguíssemos mais mentir e dizer que estava tudo bem. E aquela mania de pensar em e separadamente na mesma hora acabou. sempre seria , sempre seria o meu melhor amigo, sempre seria o amor da minha vida. E eu não podia fazer nada a respeito disso.
Quando nos acalmamos, se separou delicadamente de mim e me olhou nos olhos. Tudo o que ele queria dizer, foi dito ali. A dor, a alegria, o arrependimento, tudo, tudo foi dito ali. Eu sorri para ele e ele, por sua voz, me deu o seu sorriso torto, o meu sorriso preferido. Fechei os olhos e tateei o rosto dele, decorando cada sensação de cada toque, pra nunca mais esquecer. O senti suspirar forte e abri os olhos. Ele abriu logo em seguida.

- Você nunca vai conseguir saber o quanto eu esperei por isso. - ele sussurrou. Minhas lágrimas rolaram calmas.
E então uma lembrança de um abraço minutos atrás me trouxe outra vez para a realidade.
- , eu... Eu não posso deixar você ficar com a Jess! Eu não posso, não posso te perder de novo! É muito egoísmo meu, ela é a minha amiga mas eu não, eu não consigo suportar! Eu não vou ter como seguir em frente sabendo que deixei você fugir de mim! Eu prometi que te reconquistaria se você se apaixonasse, se lembra? Eu juro que vou conseguir, só me deixa tentar, eu não posso te perder... - eu disse, agora já chorando com força. - Não posso te perder de novo. - sussurrei.
Então secou o meu rosto com a ponta dos dedos.
- Você sabia que foi a melhor cupido que eu já conheci? - ele disse. Eu ofeguei por um segundo e voltei a soluçar outra vez. Mas ele sorriu ternamente. - Você conseguiu fazer eu me apaixonar de novo, coisa que eu achei que fosse impossivel. Me apaixonar pela mesma pessoa. Me reconquistar. Cumpriu a sua promessa.
Eu olhei dentro dos olhos dele e o abracei outra vez, tão forte como da primeira vez.
- Eu te amo. Independente de qualquer coisa, eu sempre vou te amar! - eu sussurrei.
Ele se afastou um pouco de mim e segurou o meu rosto. Olhou nos meus olhos e todo o meu corpo se aqueceu.
- Olha pra mim, amor. Eu nunca deixei de te amar. - ele sussurrou. - Tudo o que eu fiz foi a maior idiotice de toda a minha vida, eu nunca vou me perdoar por te manter dois anos longe de mim. - uma lágrima solitária rolou dos olhos de . Eu a sequei rapidamente. - Não houve um única noite em que eu não pensasse em você. E quando eu me dei conta de quem estava falando comigo durante tanto tempo... eu não tive coragem de te revelar. Porque eu tinha medo, medo de você estar como eu queria que estivesse, feliz sem mim. Eu sou a pessoa mais covarde do mundo, eu não consegui te deixar viver sem mim...
voltou a chorar e eu o abracei outra vez.
- Não, , por favor, não chora! - eu disse, com a voz estrangulada. - Olha pra mim.
Eu segurei o rosto dele, o forçando a me olhar.
- Eu te amo. Já chega, todo o resto não me importa. Eu te amo e o passado já não importa. Eu te amo e as mentiras já não importam. Eu só preciso saber que você existe pra conseguir viver. Você não precisa se desculpar, não precisa me amar. Eu só preciso lembrar dos teus olhos... tudo vai ficar bem comigo. - eu sussurrei, a cabeça baixa.

Eu não sabia o que iria acontecer a partir dali. Eu só sabia que não iria fingir que tudo estava bem, como sempre fiz. Se ele quisesse ir embora, se ele quisesse voltar novamente para a ex, eu não queria saber. Eu não ia fingir que tudo estava bem e não iria fugir da lembrança do . Eu iria enfrentar os meus problemas de frente e tentar esquecê-lo. Porque as coisas já não eram as mesmas. E eu cresci.
Com esse pensamento de que tudo estava acabado, eu fui surpreendida com levantando o meu rosto e me olhando, chocado.
- Você realmente acredita que eu vou te deixar ir embora da minha vida? Você realmente acha que eu vou conseguir viver sem você?
Eu abri a boca pra falar alguma coisa, mas eu não encontrava a minha voz.
- Eu, eu, ér..
- Eu não quero nunca mais te perder. - ele sussurrou. - Eu te amo mais que tudo nesse mundo. Volta pra mim?


17. A minha composição.


Outra vez, um beijo resolveu tudo. O meu corpo emanava alegria, cada poro meu respirava felicidade. Eu o beijei como se aquele fosse o ultimo dia do mundo, como se não houvesse nada após aquele beijo. As lágrimas rolavam do meu rosto e se misturaram com um única lágrima de .
Mas Jessica veio a minha mente e eu interrompi o beijo com selinhos.
- E a Jess? - eu perguntei, olhando para os lados. Ela não estava ali. E eu tinha a imprensão de que não estava a muito tempo.
- Eu expliquei tudo pra ela. Disse que nunca tive a intenção de te esquecer e que queria ter a amizade dela. Você sabe, quem deu uma de cupido nessa história toda foi ela.
Eu sorri e ele se levantou. Logo depois me deu a mão e me ajudou a me levantar também. Ele me olhou nos olhos.
- E eu então eu me dei conta de que me apaixonei pela pessoa certa...
A lembrança riscou a minha mente e eu sorri.

Flashback On.

- Tá preparada pra isso? Digo, eu posso ficar longe por muito tempo... - ele falou. Eu interrompi.
- Eu vou esperar.
- ...e pode aparecer boatos nada bons sobre mim... - ele continuou.
- Eu não vou acreditar. - eu falei, com convicção.
- ... e eu posso me encantar por uma brasileira... - ele disse, sorrindo.
- Eu te reconquisto. - falei, séria. Ele parou para me olhar e tocou o meu rosto, sorrindo.
- E então eu vou me dar conta de que me apaixonei pela pessoa certa. Eu te amo. - Ele finalizou.

Flashback Off.


- Não abro mais a minha boca! - eu ri e ele também.
- E então? Namorada? - ele perguntou divertido. Eu sorri.
- Pra sempre.
me abraçou pela cintura e me beijou. Tudo poderia sumir ali que eu estaria feliz.

- FINALMENTE, SEU BOIOLA! - berrou . - Já tava desconfiando que você tava virando gay de verdade!
Todos nós rimos.
- Cala a boca, idiota. - grunhiu . - Eu não sou um mulherengo imbecil, eu estava esperando a mulher da minha vida. Se ela não voltasse... Bem, aí a gente poderia conversar, .
piscou para o e ele fez uma careta.
- Saí pra lá, , Deus me livre! Eu amo muito a minha noiva, tá?
Eu olhei para aquela cena. Estávamos todos sentados na sala do meu apartamento em casais. Uma felicidade fora do normal nos rodeava. estava sentado do meu lado no sofá e beijou o meu ombro.
- Você tá me devendo uma foto. - ele cobrou. Eu sorri.
- Tô te devendo mais do que isso.
Eu me levantei do sofá e cruzou os braços, se fingindo de bravo, provocando risos em todos. Eu fui até a parede da sala e retirei um papel de uma moldura. Me sentei novamente e passei o papel para . Ele leu em silêncio. Depois começou a cantarolar.

The Way You Make Me Feel.

* I think yerterday
[Eu penso no passado]
And all the times I spent being lonely,
[E todo tempo que eu passei estando sozinho,]
I watched the young be young
[Eu observei os jovens sendo jovens]
While all the singers song
[Enquanto todos os cantores cantavam]
About the way I felt.
[Sobre o jeito que eu me sentia.]

The days are here again,
[Os dias estão aqui de novo,]
When all the lights go down
[Quando todas as luzes se apagam]
What do they show me?
[O que elas me mostram?]
The rules are all the same,
[As regras são sempre as mesmas,]
It's just a different game
[É apenas um jogo diferente]
To tell you how I feel.
[Para te dizer como eu me sinto.]

Although it seems so rare,
[Embora pareça tão raro,]
I was always there.
[Eu sempre estive lá.]


parou de cantarolar para me olhar. Um olhar forte, cheio de culpa e admiração.

I can't stop digging the way you make me feel.
[Eu não consigo parar de gostar do jeito que você faz eu me sentir.]
I can't stop digging the way...
[Eu não consigo parar de gostar do jeito...]
I can't stop digging the way you make me feel.
[Eu não consigo parar de gostar do jeito que você faz eu me sentir.]

I took a little time]
[Levei um pouco de tempo]
Scripting all the things that I tell you.
[Escrevendo todas as coisas que eu te falo.]
I'll send them through the mail
[Eu vou te enviar pelo correio]
And if all goes well,
[E se tudo der certo,]
It'd be a day or two.
[Levará um ou dois dias.]

I spent some extra nights
[Eu passei algumas noites extras]
Trying to forget the things that I've show you.
[Tentando esquecer as coisas que te mostrei.]
By now the smoke is cleared.
[Por hora, a fumaça baixou.]
And all along I feared
[E por todo tempo eu temi]
It would turn out this way.
[Que isso ficasse desse jeito.]

Though it night be worong,
[Pensei que talvez estivesse errado,]
My light is always on.
[Minha luz está sempre acesa.]


me olhou e sorriu. Eu tinha certeza de que ele estava lembrando do maldito celular que nos fez brigar pela primeira vez. Ele sorria como se não houvesse mágoa. Eu sorri de volta.
I can't stop digging the way you make me feel.
[Eu não consigo parar de gostar do jeito que você faz eu me sentir.]
I can't stop digging the way...
[Eu não consigo parar de gostar do jeito...]
I can't stop digging the way you make me feel.
[Eu não consigo parar de gostar do jeito que você faz eu me sentir.]

Look at as now,
[Olhe para nós agora,]
Ash me, how did this get so.
[Pergunte-me como isso ficou assim.]
I'll show you how
[Eu vou te mostrar como]
Got my shoes on the ground,
[Botei meus pés no chão,]
But I'm taking em' off (taking em' off)
[Mas vou levantá-los (vou levantá-los)]
And I'm ready to walk, yeah.
[E estou pronto para andar, yeah.]

I can't stop digging the way you make me feel.
[Eu não consigo parar de gostar do jeito que você faz eu me sentir.]
I can't stop digging the way...
[Eu não consigo parar de gostar do jeito...]
I can't stop digging the way you make me feel.
[Eu não consigo parar de gostar do jeito que você faz eu me sentir.]
I can't stop digging the way you make me feel.
[Eu não consigo parar de gostar do jeito que você faz eu me sentir.] (n/a: * Essa música não é minha, eu não sou uma gênia igual ao Tom :] é do McFly mesmo :B)


- O que é isso? - perguntou. suspirou e eu que respondi.
- Uma composição. Minha.
Todos sorriram, parecendo impressionados, mas continuou com o semblante sério.
- Você escreveu a data. - ele disse.
- Sim. - eu respondi, dando os ombros. me olhou, tenso.
- Vem cá.
Ele se levantou e me puxou pela mão até a pequena varanda do meu apartamento. Eu me encostei no párapeito e me abraçou por trás.
- Me lembro daquela data. - ele murmurou, depois de alguns segundos em silêncio. Eu me virei e fiquei de frente para , entre ele e o párapeito. O olhei, sorrindo.
- Não deveria se lembrar. - eu falei.
- Como eu vou esquecer, ? Me explica? Eu nunca vou esquecer daquela maldita noite em que eu estraguei a minha vida. Como eu vou esquecer se eu sonhei com você chorando na chuva todas as noites? Eu nunca vou esquecer.
Eu olhava pra ele, que agora mirava o chão. A voz dele era atormentada, uma pontada de dor nela. Franzi o cenho, procurando as palavras certas. Eu sabia que seria dificil para ele. Mas eu tentaria, até o resto dos meus dias, fazê-lo esquecer daquilo.
- , olha pra mim. Eu nunca vou esquecer daquela noite. Nunca vou esquecer e não é por nenhuma dor ou lágrima que eu tenha derramado. Eu nunca vou esquecê-la por te ver tão triste ao lembrar dela. E eu poderia me amaldiçoar todos os dias por ter te assombrado nos seus sonhos.
Ele abriu a boca pra protestar, mas eu o beijei antes. Foi somente um selinho, trancando tudo o que ele tinha pra dizer. Então o olhei de novo.
- Mas eu vou concentrar a minha vida inteira em te fazer feliz e te dar motivos pra nunca se lembrar daquela noite. - eu continuei. Ele gemeu.
- Você já percebeu no que ia fazer? Você ia me dar a composição que eu não consigo escrever! E eu terminei com você por causa daquela vadia! Você tem algum tipo de noção do quanto eu tô em sentindo culpado agora?
Eu revirei os olhos, fingindo impaciência.
- Não quero que se sinta culpado, você tá prestando atenção no que eu venho tentando te dizer? - perguntei. - O passado já não importa. As pessoas que são prisioneiras do passado cometem os mesmos erros no futuro. E eu não quero mais saber do antes. Eu quero viver o agora, pensar no depois. O resto, o tempo apaga.
Ele me olhou durante alguns segundos. E depois, com algum esforço, sorriu aquele sorriso torto perfeito.
- Você é perfeita, sabia? - ele disse. Eu ri.
- Hum, eu não acredito nisso! - eu brinquei.
- Então eu vou te dar motivos para acreditar. - ele sussurrou no meu ouvido. - Eu te amo. Por você ser capaz de me aceitar de volta. Eu te amo por você ser a melhor cupido que eu conheço. Eu te amo por você ser minha.
- Bem, agora eu começo a acreditar. - sussurrei de volta. - Mas eu te amo por você ser perfeito.

me olhou mais uma vez, sorrindo. As palavras eram medíocres e idiotas perto de tudo que nós queríamos dizer. Os beijos eram mais completos. Por isso eu não perdi tempo tentanto dizer o quanto eu o amava. Eu demonstrei.


18. Epílogo: Um final feliz.


O frio do lado de fora do salão foi substituído pelo gostoso calor do aquecedor. Eu ainda precisava reacostumar. Londres era bem direfente do Rio; era impossivel ter 40º C de calor ali.
Eu olhei a decoração e ela estava maravilhosa. Chequei tudo outra vez, eu queria que tudo fosse perfeito.
Quando eu tive certeza de que tudo estava nos seus devidos lugares, de que todos os empregados estavam cientes do que tinham que fazer, eu corri para caçar um táxi. Tinha certeza que iria me atrasar.
Em casa, eu corri para o chuveiro - tomando muito cuidado para não estragar o meu cabelo que NÃO estava preso num rabo-de-cavalo e nem estava liso. Em menos de quinze minutos, eu estava tentando entrar no vestido longo de cor lilás. Uma briga particular, se querem saber.
Depois de algum esforço, eu corri para me maquiar, numa tentativa louca de fazer o melhor. Depois de quarenta minutos eu estava pronta. Olhei o relógio, me sobressaltando. Droga, super atraso.
Eu peguei a minha bolsa de mão e já ia sair de casa quando o telefone tocou. Voltei para atender.
- Alô? - ofeguei.
- VOCÊ AINDA ESTÁ EM CASA? - berrou, apavorada.
- Calma, amiga, calma, eu tô chegando, me espera, beijo!
Eu desliguei sem nem dar chance a de pirar. Corri pelo apartamento, fechei a porta e peguei o elevador. Suspirei fortemente. Tudo estava bem.
Quando saí do prédio, estava encostado no carro conversível preto. Não pude me conter, parei um segundo para poder me dar o direito de ficar deslumbrada. Ele estava perfeito. Ele era perfeito.
- Amor, você quer se atrasar ainda mais? - ele perguntou, nervoso. Eu balancei a cabeça, os meus cachos bem definidos balançando junto.
Corri para dentro do carro.
- Não gosto dessa história de você estar me vendo antes do casamento. - resmunguei, assim que deu a partida.
- Ah, qual é, amor, você nem é a noiva! - ele riu. Eu revirei os olhos.
- Mesmo assim, eu sou superticiosa. - dei os ombros. Ele engoliu um riso.
Nós ficamos em silêcio durante alguns minutos. E então ele me olhou sorrindo.
- Você está linda.
- Obrigada, amor. - eu respondi, corando.
Depois de quinze minutos de trajeto, nós estávamos na pequena capelinha do centro de Londres. Fotógrafos e mais fotógrafos registraram a nossa chegada. Eu ainda tive tempo de perceber na câmera super turbinada de um deles. Era igual ao meu presente de aniversário.

Logo que nós estávamos na proteção dos seguranças, eu tive a chance de respirar. estava prestes a explodir.
- GRAÇAS A DEUS! - ela berrou. Eu sorri largamente.
- Graças a Deus nada. Quem mandou me chamar pra ser madrinha, eu tinha que checar tudo!
- Tá, tá, agora entrem, estamos atrasados quase duas horas! - ela disse, histérica.
- Amiga? - eu chamei. - Você tá linda.
Ela sorriu e me abraçou. O seu coração estava acelerado.
e entraram primeiros, assim que a música tocou. Bem, se querem saber, não era uma marcha nupcial. Na certa era alguma música dos Beatles, já que eu não conhecia. Conhecendo o como eu conhecia, eu não duvidava nada. Logo depois, e entraram também e então foi a minha vez e a de .
Ele ergueu o braço para mim teatralmente e eu aceitei. Nós estávamos entrando a passos lentos, conforme a música. No meio do trajeto, apertou a minha mão e sussurrou no meu ouvido.
- Vou te segurar bem forte, para você não tropeçar. - ele brincou. Eu dei a lingua para ele.
- Me deixe tropeçar! Isso nunca deu errado, deu? - eu sussurrei de volta. Ele sorriu daquela forma que fazia o meu coração dançar e respondeu a minha pergunta.
- Não. Nunca. É impossivel alguma coisa vinda de você dar errado.
- Bobo. - eu sussurrei, sorrindo. Ele me deu um selinho e as pessoas fizeram alguns " Ah! ". Eu olhei para trás, pronta pra pedir desculpas a por ter roubado a sua cena, mas eu percebi que os " Ah! " e " Oh! " não eram para mim e para . Eram para a noiva.
Mas antes dela, vinha um sobrinho de puxando um carrinho branco. Dentro desse carrinho estava o Júnior. As pessoas não se aguentaram e riram, juntamente comigo. Noivo retardado.
Ao decorrer da cerimônia, eu via pessoas e mais pessoas chorando litros. Eu sorria e até achava engraçado, mas eu não pude deixar de me emocionar também quando o padre perguntou ao se ele aceitava se casar com a . Ele olhou para ela sorrindo e segurou a mão dela, enquanto deslizava a aliança no dedo dela. Depois começou a cantar baixinho. - Another year over [Outro ano acabou] And we're still together. [E nós ainda estamos juntos.] It's not always easy [Nem sempre é fácil] But I'm here forever. [Mas eu estou aqui para sempre.]
Bom, muitas pessoas choraram. Mas ninguém chorou mais do que a própria . De repente parecia que nós quatro acreditamos mais ainda no que já era óbvio - nós tiramos a sorte grande.

Quando a cerimônia acabou, a festa estava rolando e os noivos tinha cumprimentado a todos os convidados, nós dez - sim, Jessica e Pedro também - nos reunimos numa mesa. praticamente desmontou na cadeira.
- Ai, eu não aguento mais! - ela disse. sorriu e alisou o cabelo dela.
- Porque você não sai a francesa, amiga? - perguntou.
- Eu faria isso. - disse Jess, parecendo feliz. As coisas aconteceram bem simples: eu conversei com a Jess e expliquei tudo a ela, que entendeu numa boa e eu tive que segurar o para ele não arrebentar o Pedro. Mas agora estava tudo bem. Nosso grupo a adotou e Pedro veio como a mala dela. Eles vieram passar um tempo conosco para o casamento. Jessica estava esperançosa com a possibilidade de o clima nupcial atingir Pedro e ele pedí-la em casamento. Já Pedro, estava apavorado com essa idéia. Mas eles estavam apaixonados, e era o que importava.
- Vamos, amor? - miou. arregalou os olhos.
- Não, peraí. Ei, caras, vamos logo com isso.
Os meninos - inclusive Pedro - se levantaram e saíram das mesas. Nós ficamos as cinco com caras de idiotas.
- O que eles foram fazer? - perguntou.
- Também queria saber. - disse Jess. Eu fiquei prestando atenção neles, mas logo os perdi de vista. Só consegui ver Pedro, segurando a sua câmera.
De repente, eles reapareceram aonde antes havia uma banda desconhecida - mas boa - tocando. Eu franzi o cenho.
- Boa noite, pessoal, esperamos que vocês estejam curtindo. - disse.
- E bem, se não estiverem também, deêm o fora! - brincou . corou imediatamente. Eu previ que o ainda escutaria aquela noite e ri.
- Nós temos uma surpresa e é para as nossas meninas. - disse, sorrindo.
- Uma música, escrita pela minha namorada super genial. - brincou. - E ela se chama The Way You Make Me Feel.
Ao ouvir o nome da minha música, eu arregalei os olhos. Não consegui acreditar naquilo.

Mas então a ficha caiu. As tardes que o tirou de folga e não passava comigo. Ele estava dando ajustes a minha música! Sorri instantaneamente.
A música ficou linda. Simplesmente perfeita. Coisa que era de se esperar, afinal estamos falando do McFly.
Quando eles terminaram de cantar, voltaram todo sorrisos para a nossa mesa. Pedro chegou também.
- Registrei tudo, pessoal! É um vídeo único no mundo! - ele riu, abraçando Jess pelos ombros.
- , isso foi... Perfeito! - disse, antes de beijá-lo. e se sentaram ao lado de suas namoradas, que também os beijaram. Eu vi se sentar do meu lado e sorri.
- Eu não acredito que você tocou a minha música! - eu falei. Ele sorriu largamente.
- Gostou? Procurei por um ritmo que se parecesse com você.
- Você acertou, é claro! - eu disse, sorrindo. Então, como num toque, eu percebi que ninguém no mundo era tão sortuda quanto eu. Porque eu tinha ao meu lado o homem mais perfeito de todos. Aquele que te acorda de manhã com um café na cama, aquele que te liga só pra saber se você tá bem, aquele que te dá o sorriso torto mais lindo do mundo em troca de nada. Eu era mesmo uma sortuda.
Eu beijei a ponta do nariz do e ele sorriu mais ainda.
- Eu te amo. - eu sussurrei.
- Eu te amo. - ele sussurrou de volta.
Tudo estava bem. Com tudo sempre estaria bem.


Peraí, eu imagino que vocês devem estar se perguntando o que aconteceu depois. Bem, todos nós, todos os dez mesmo, tentamos sair a francesa. Deu certo? Não! E sabem porque?
HAHAHA! Dessa vez vocês erraram, eu não tropecei. Mas o sim. E todos da festa nos viram saindo. Mas eles não dificultaram as coisas.
e pegaram o carro deles e foram para um hotel super chique. No dia seguinte eles pegariam o avião e iriam para Cancun. Senhora lua de mel, hein?
E o resto de nós voltamos para o nosso apartamento. Pedro e Jess ficaram com o apartamento dos meninos só para eles, já que os garotos foram dormir na nossa casa. Bem, dormir não, né? Nós ficamos a noite inteira acordados. Fazendo o que? Acredite se quiser, mas comendo pipoca e vendo uma série de filmes. Os principais? Sorte No Amor e De Volta Para O Futuro. Agora diz quem aguenta? Eu respondo: NÓS! Porque quando se ama, se ama. Não há distancia e nem nada que mude isso.
Ah, e sabe aquela foto? Eu rasguei e dei outra para o . Nada de .

Eu continuo tropeçando. E não tenho a menor intenção de parar.

THE END





Nota da Autora: Gente, olha eu de novo aí! HAHAHA!
Eu só quero dizer que foi um prazer enorme escrever essa história. Eu juro, escrevi em uma semana!
Agradecimentos? Bem, novamente, eu agradeço a minha beta. Van, obrigada, amor!
Caroline! Ah, cara, só você pra me aguentar dentro de uma biblioteca dando piti porque você sonhou com o Danny por causa da minha fic! HSIUAHSUIHAUIHSUIAHI' Eu te amo, obrigada por sempre me encorajar a escrever mais e mais! Mas setok, se continuar com essa história de que o Tom é o seu simbolo sexual, eu te parto a cara! :X HSIUAHUISAHSUIAUI <3
Carolina, sua irresponsável, eu te amo, sim? Desculpa falar sobre fics olha pra Carol, é inconciente. HSIAUHUISAUIHSUIAUIS' Mas eu continuo te amando do mesmo jeito, amiga, u.u Obrigada por me ajudar com a música. (L)
Bebelinha, volta pra mim, não aguento mais ficar longe de você! ): SOIAJOISAJOIJSOIAJOIS eu te amo, nova paty! x3
Gaby, que nunca vai ler isso aqui mesmo, mas eu te amo, sempre sempre t2'
E obrigada a você que acompanhou Tropeçar ao Acaso I e II. Isso aqui seria apenas uma história qualquer sem você. Obrigada de coração. A gente se esbarra? Melhor, a gente se tropeça! ;D

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