Eu provavelmente já havia ligado mais de trinta vezes para o maldito número. Eu sabia que estava ao lado de seu celular, ele jamais desgrudava dele. Pode parecer perseguição, mas tanto tempo de convívio me fez aprender seus hábitos. Enquanto ele provavelmente não sabia nem ao menos meu prato de comida favorito. É, as coisas estavam ruins desse jeito. Eu sabia que ele estava fugindo de minhas ligações.
- , é a . - Disse, pela primeira vez, deixando um recado em sua caixa postal. - Você não precisa ficar fugindo, eu sei o que está acontecendo. Está acabado, vamos seguir em frente. - Respirei fundo, tentando conter as lágrimas. - Ligue-me, nós precisamos conversar. - Fim do recado.
Meia hora e nada de um mísero retorno. Eu estava parada, na frente de um orelhão olhando freneticamente para meu celular - agora sem crédito. Olá, orelhão, cartão telefônico.
Disquei os números da casa de dessa vez, esperando que ele resolvesse me atender.
- , é a de novo. - Eu suspirei. - Olha, eu não quero que você fique tentando me proteger. Eu sou adulta, acho que sou madura o bastante para entender quando algo tem seu fim. - Continuei. - Vai ser difícil para mim, vai doer um pouco, mas as coisas vão melhorar e você não precisa sentir culpa por isso. Nós dois temos parcela da culpa. - E então o tempo para meu querido recado chegou ao fim. Vamos lá, outra ligação.
- Oi, é a . Parece que o tempo para o outro recado esgotou. - Disse e fiquei pensando em quais seriam minhas próximas palavras. - Sabe, vai ficar tudo bem. Nós iremos a lugares diferentes, conheceremos novas pessoas e o mundo vai continuar girando, eu me manterei de pé. Eu só quero levar desse relacionamento as coisas boas, quando nós terminarmos. E, pelo que parece, estamos colados ao final agora. - Fim do meu tempo.
Liguei novamente, dessa vez sem me identificar.
- Olha, eu realmente preciso te encontrar. - Comecei. - Eu já fui até sua casa, mas você finge que não existe e também não atende minhas ligações. - Dei uma pausa e depois lembrei que meu tempo era curto. - Eu vou te esperar no estacionamento dos fundos do shopping Liverpool Plaza, às oito horas. Por favor, apareça. - E então eu finalmente desliguei, rendendo-me ao choro, preso por tanto tempo em minha garganta.
Peguei o primeiro táxi que vi passando na rua e pedi que me levasse até em casa. Eu estava exausta, havia passado a noite andando sem rumo, apenas pensando. Estava morrendo de frio, de sono, estava com fome e com uma dor forte no peito.
Eu sabia que tudo melhoraria depois que eu finalmente tivesse minha conversa decisiva. Eu sabia o que seria decidido e, ainda assim, parecia melhor do que continuar com e ficar no escuro sobre seus sentimentos.
Minha cama nunca havia parecido tão confortável como naquele momento. Eu apenas me joguei sobre ela, entrando em um profundo sono sem sonhos. Se eu pudesse escolher meus sonhos, eu sonharia com ele e tenho certeza que, se pudesse escolher os dele, eu passaria tão longe quanto se é possível.
Acordei por volta das seis e meia e entrei no banho, tentando me livrar de todos os vestígios de cansaço que ainda existiam em mim. Fiz uma rápida refeição depois de me arrumar, saí de casa, dessa vez com meu carro, e dirigi calmamente até o shopping.
Ao invés de ficar esperando no estacionamento, entrei no shopping e fui a uma banquinha que vendia crédito para celular. Comprei e acionei rapidamente e voltei para o estacionamento, constatando que não estava lá.
Liguei para ele e, pela primeira vez em muito tempo, ele resolveu atender.
- Você vai vir? - Perguntei.
- Estou entrando no estacionamento, um minuto. - Ele disse e desligou. A voz inflexível, porém tentando mantê-la doce para não me magoar. Isso era tão ele. Colocar as pessoas em primeiro lugar, sempre tentando mantê-las longe do sofrimento. Ele era uma ótima pessoa, porém as coisas não funcionaram para nós.
Vi-o estacionando seu carro a cinco vagas de onde eu me encontrava. Saiu do carro e veio até mim, parecendo ligeiramente envergonhado.
- Acho que te devo desculpas por toda a minha infantilidade de hoje. - Ele disse, ainda sem olhar em meus olhos.
- Eu provavelmente teria feito a mesma coisa se estivesse em seu lugar. Está tudo bem. - Respondi, porque era sinceramente verdade.
- , eu não quero brigar. - Ele disse, olhando em meus olhos.
- Nós não vamos brigar, . - Tentei um sorriso. - Eu só queria te dizer umas coisas, para você não se sentir culpado.
- A culpa é minha, você não precisa tirá-la de mim. - Ele respondeu e eu apenas fiz um 'shh' com a boca para que ele me escutasse.
- , esse fim vai ser bom para nós dois. Eu quero que você seja feliz. - Comecei e ele ficou apenas prestando atenção em minhas palavras. - As pessoas tornam mais difícil ainda dizer adeus, mais difícil do que é. Porque, convenhamos, é complicado e doloroso. Então elas traem, elas enganam e eu agradeço a você por não ter feito isso comigo. Você foi honesto em suas atitudes me mostrando que as coisas já não eram mais as mesmas e eu, sinceramente, concordo com você. - Suspirei. - Nós já tentamos ser apenas amigos e não funcionou, mas parece que um casal é demais para nós, então eu acho melhor nós nos afastarmos. Vamos admitir por um momento que isso simplesmente não está dando certo como um dia já deu.
- Eu apoio você, . - Ele disse, segurando minhas mãos. - Mas, e quanto a você? Você está sofrendo e a culpa é minha.
- A culpa não é sua. Eu apenas te amo de um jeito diferente, de um jeito que eu não queria amar. Eu te amo para sempre e, sinceramente, você não deve se sentir culpado por isso. Isso é unicamente meu e não me faz mal do jeito que você pensa. - Bufei e tentei conter as lágrimas que queriam escapar a qualquer custo de meus olhos. - Aquece meu coração quando nada está certo, te amar pode me fazer mal, às vezes, mas me causa sensações únicas bem maiores, que compensam a dor. Não se sinta culpado.
- Eu só queria ter a certeza de que você vai ficar bem. - Ele disse. - Eu me preocupo tanto com você, pequena.
- Eu sei, e isso basta. - Eu disse, já deixando as lágrimas rolarem. - Eu vou perder minha cabeça por um tempo, mas eu ficarei bem. O tempo cura as feridas e isso vai acontecer comigo também. O meu coração está quebrado, mas um novo se construirá no lugar e eu preencherei seu espaço. Você vai ver.
Então ele segurou minhas mãos novamente.
- Eu queria ser esperto o bastante para jamais te largar, mas as coisas simplesmente não funcionam apenas pela vontade. - Ele disse, olhando em meus olhos. - Eu queria te amar do jeito que você me ama, mas parece que isso não vai acontecer agora. - Ele suspirou e apertou minhas mãos. Meu choro já havia tomado o lugar. - Espero que você seja muito feliz, porque você mais do que qualquer um merece. Que você se apaixone perdidamente por alguém que te mereça e que te ame do mesmo jeito.
- Eu espero que depois de você um dia isso ainda aconteça, . - Eu disse, ele sorriu triste.
- Obrigado por toda a felicidade que você me proporcionou, . - Ele me abraçou e deu um beijo carinhoso em minha testa e saiu andando em direção a seu carro.
Ele era tão bom, que eu não conseguia sentir nem ao menos raiva. Ele era tão honesto, tão amigo, tão... ele. Era o tipo de cara que a gente sentiria orgulho de amar, mesmo não sendo recíproco.
- Obrigada, , eu já fui a pessoa mais feliz do mundo por sua causa. - Disse para mim mesma, entrando em meu carro e saindo do estacionamento do shopping, com as lágrimas ainda escorrendo por meu rosto.
Eu quis ter aquela conversa porque eu sabia que ele não podia ficar, e eu não queria ficar esperando por minha própria queda. Nós tivemos nosso tempo juntos e eu não ficaria esperando pela ligação final.
Liguei o rádio e, ironicamente, o que tocava se encaixava perfeitamente no momento. Cantarolei junto da música, despejando ao vento minhas lembranças finais. - Turn it up, turn it up for the people that say, we're moving on and we'll be okay.
Fim.
N/A: Hello babes :B Eu queria agradecer quem leu essa fic, eu escrevi primeiro pro meu tumblr e depois tive a magnífica idéia de mandar para cá. A fic é inspirada na música Turn It Up da Pixie Lott, quem não conhece ouça, a música é demais! Gostaram? Odiaram? Comentem por favor, críticas, elogios, eu leio tudo!
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Beijinhos
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