I dreamed I was missing.
You were so scared,
But no one would listen
'Cause no one else care.
After my dreaming,
I woke with this fear.
What am I leaving,
When I'm done here?
So if you're asking me,
I want you to know:
When my time comes
Forget the wrong that I've done,
Help me leave behind some
Reasons to be missed.
And, don't resent me,
And when you're feeling empty
Keep me in your memory,
Leave out all the rest
Don't be afraid
Of taking my beating.
I've shared what I'd made.
I'm strong on the surface,
Not all the way through.
I've never been perfect,
But neither have you.
When my time comes
Forget the wrong that I've done,
Help me leave behind some
Reasons to be missed.
Don't resent me,
And when you're feeling empty
Keep me in your memory,
Leave out all the rest
Forgetting,
All the hurt inside
You've learned to hide so well.
Pretending,
Someone else can come
And save me from myself.
I can't be who you are.
When my time comes
Forget the wrong that I've done,
Help me leave behind some
Reasons to be missed.
Don't resent me,
And when you're feeling empty
Keep me in your memory,
Leave out all the rest
Sou diferente das pessoas. Enquanto elas fogem do perigo, eu fujo da segurança. Por causa disso estou aqui, entre a vida e a morte.
Em resumo, entrei na polícia. Scotland Yard, uma das agências policiais mais conhecidas e aclamadas do mundo. Uma missão como todas as outras, capturar o bandido. Somente uma pequena diferença, eles que me capturaram. Agora estou com uma arma apontada para a minha cabeça pronta para ser disparada.
Flashes começaram a passar em minha cabeça. A minha infância, com meus pais e meus muitos irmãos nos divertindo. A adolescência com as zoações e as brincadeiras entre amigos. A maior idade, quando resolvi entrar na polícia. Minhas dificuldades, minhas soluções de crimes, minhas capturas de bandidos, tudo voltando a minha lembrança. ... Os momentos que passamos juntos. Os encontros, os jantares românticos, os beijos escondidos em minha sala, nossas noites juntos.
Só quando estamos a um fio da morte, lembramo-nos de como a vida é importante e como ela tem que ser bem vivida. Sobre a minha, estou feliz por tudo o que aconteceu nela, mesmo não sendo uma vida que os pais desejam aos seus filhos. Muito menos quando se está morrendo com apenas 28 anos. Mas, na verdade, não me arrependo de estar aqui agora. Fiz minha parte, cumpri meu objetivo, fiz o que queria. Apesar de temer por ...
E como um corte em seus pensamentos, a arma foi disparada. E, como ultima lembrança, ficaram seus pais, seus amigos, seu trabalho, , sua maravilhosa vida.
Capítulo 1
Talking to the moon – Bruno Mars
I know you're somewhere out there
Somewhere far away
I want you back
I want you back
Eu nem havia visto o corpo, mas sendo quem era a vítima, era horripilante comparecer à cena do crime. A fita isolante amarela, um objeto simbólico da policia para demarcar e isolar o local em que se sucedeu um delito, 99 por cento das vezes um local onde se praticou o homicídio ou a desova de um corpo.
Um balcão grande e desguarnecido de imóveis, com um grande espaço vazio.
Suspirei. Uma das primeiras regras que sempre aprendemos quando entramos na polícia, e que aprendi com , é nunca envolver-se emocionalmente no crime. Entretanto, envolver-se naquele crime era inevitável. Era impossível segurar o choro, imagine não pensar nela a toda hora. E eu nem sequer havia visto o corpo!
Saí do depósito com a desculpa de falar com as testemunhas, não aguentando simplesmente pensar em ver o corpo imáculo e sem vida de . Eu e estávamos envolvidos, estávamos saindo há uns dez meses, e eu estava completamente apaixonado por ela. Eu havia gostado dela desde o primeiro dia que a vi, há seis anos, com os cabelos negros caindo aos ombros e o colete da Scotland Yard por cima de uma fina blusa de algodão lilás, onde ela apresentou-se como supervisora de uma das equipes de criminalistas.
Comecei a realmente me interessar por ela nas primeiras semanas, quando ela não me tratava como um novato, mas como um membro da equipe, um parceiro. Embora tivesse muito mais experiência que eu, nunca me tratou de forma desigual ou superior. Era rígida quando era preciso, porém fazia questão de sempre me ensinar tudo que sabia, era gentil, carinhosa, divertida e linda.
Assim foi por dois anos, quando eu finalmente concluí o processo de aprendizado e passei para outra equipe, num horário oposto a equipe dela, o que me fez perder o contato e até esquecer a pessoa admirável que era. Num belo dia, não mais que quatorze meses atrás, trocaram-me de equipe. Eu retornei à equipe dela, agora como um agente perito formado.
Nos primeiros meses eu só conservava com ela sobre os casos e assuntos rotineiros da vida. Nada demais. Eu demorei algumas semanas para finalmente chegar nela e falar tudo que eu estou falando aqui. O quanto a admirava, tanto na vida profissional quanto na pessoal, a pessoa determinada, meiga, gentil, inteligente, esperta e bonita que era. O quanto desejava sair com ela.
Ela sempre me pediu para não comentar com ninguém do trabalho. Nós éramos discretos e não falávamos sobre isso no ambiente profissional. Era um namoro escondido, com a desculpa de não estragar nossas relações profissionais, nosso empenho no trabalho, e até para não chegar aos ouvidos do diretor da Scotland Yard, que iria fazer questão de trocar algum dos dois da equipe. Concordei prontamente e nós saímos por uns onze meses.
Ainda sim, eu estava escalado para o caso. Ninguém sequer desconfiava de nós dois e, na falta de outra pessoa para comandar aquele caso – o que eu achava inadmissível, pois o assassinato de uma policial devia requerer um excesso de policiais no caso – eu fui escolhido para comandar o caso da minha colega assassinada.
Saí do balcão e me deparei com uma cerca de policiais à porta. Olhei em volta, reparando na rua onde estava. Com muitas árvores e com casas a quilômetros, o deposito era completamente isolado. Ou seja, não havia nenhuma testemunha. Eu estava tão complexado que nem havia pensado nessa hipótese.
A rua, deserta e completamente silenciosa quando entrei a primeira vez no balcão, se encontrava com alguns curiosos e as primeiras equipes da imprensa chegando. Merda! Vociferei. Não satisfeitos em me colocar na investigação do assassinato de minha namorada, eles vão me jogar nas costas aqueles leões ferozes e famintos em busca de carne fresca, também chamados de repórteres.
Voltei ao depósito, encontrando Dr. Lewis, o legista de cabelos brancos, conversando com o diretor da Scotland Yard, Mr.Freud.
- Mr. Freud – entrei na conversa. Eu só o havia visto cinco vezes, nas inspeções da polícia e em um caso de assassinato de um empresário de valor e reconhecimento na Inglaterra. Ele só aparecia em casos de extrema importância. Cabelos pretos, o que arrisco serem tingidos, e um bigode antiquado, usado na época da primeira Guerra Mundial. (N/a: Uma pequena homenagem ao meu maior ídolo da ficção e em que me baseio não só em escrever, mas em toda minha vida: Mr. Hercule Poirot, o lendário detetive belga dos romances de Agatha Christine, que tem essas características).
- Dr. – cumprimentou-me. - Dr. Lewis estava me falando do corpo, do tiro que matou nossa colega. Temos que resolver esse caso o mais rápido possível, a imprensa vai nos atormentar – explicou. – Vou falar com uns agentes, até mais – despediu-se. Suspirei. Não era só um caso, não era só um assassinato. Era mais do que minha colega. Era minha namorada. A minha garota.
- Como foi sua conversa com as testemunhas? – inquiriu Dr.Lewis, olhando-me maroto.
- Você sabe que não havia nenhuma testemunha, David! – falei. – Por que você não me impediu? Por que você me deixou sair para falar com testemunhas que nem existiam?
- – exclamou, botando as mãos em meus ombros, em sinal de consolo. – Você estava transtornado, nem respondeu o que lhe perguntei no carro. Era bom arejar. Ela era muito mais do que uma parceira para você. Eu ainda não tenho certeza, nem provas, mas vocês tinham algo. E anote, anote – repetiu com veemência – eu ainda vou descobrir.
- Boa sorte – exclamei. É, talvez o meu namoro escondido não fosse tão escondido assim. Balancei a cabeça para retornar a tragédia que nos levava ali. – Anote você também: Eu vou descobrir quem foi o desgraçado que matou . – falei, decidido. – E o corpo, onde está?
- Você tem certeza que está preparado para vê-la? - perguntou David.
- Doutor, eu trabalho com isso, estou acostumado – menti com desdenho. Ele bufou e me pediu para segui-lo.
Eu sabia que seria difícil vê-la sem vida, inerte no chão. Eu sabia que seria difícil controlar as lágrimas ao ver o corpo de , que tanta vezes foi meu, estirado, desfalecido. Ao ver a mulher por quem me apaixonei, beijei, abracei e tive momentos maravilhosos, morta. Mas tudo que eu imaginei e tentei me preparar não adiantou de nada. Quando eu finalmente cheguei ao local do corpo os sentimentos me invadiram. Tristeza, ódio, raiva, dor, todos os piores sentimentos dominaram meu ser de forma arrebatadora. E o que eu pensei que fosse péssimo, tinha sido milhares de vezes pior.
My immortal – Evanescence
I'm so tired of being here
Suppressed by all my childish fears
And if you have to leave
I wish that you would just leave
'Cause your presence still lingers here
And it won't leave me alone
These wounds won't seem to heal
This pain is just too real
There's just too much that time cannot erase
When you cried I'd wipe away all of your tears
When you'd scream I'd fight away all of your fears
And I held your hand through all of these years
But you still have all of me
You used to captivate me
By your resonating light
Now I'm bound by the life you've left behind
Your face it haunts my once pleasant dreams
Your voice it chased away all the sanity in me
These wounds won't seem to heal
This pain is just too real
There's just too much that time cannot erase
When you cried I'd wipe away all of your tears
When you'd scream I'd fight away all of your fears
And I held your hand through all of these years
But you still have all of me
Capítulo 2
Há tantos vestígios, impressões digitais, pegadas, marcas, fluidos corporais, armas, documentos, pistas numa cena de crime, que podemos encher um caminhão. Na maioria dos casos, os assassinos não ligam muito em encobrir evidencias, não se importam com isso. Por um lado, isso é bom, traz a policia vestígios do crime. Mas tem um lado ruim: De todas essas pistas encontradas, menos de 5% apontam um criminoso em especial, e isso sim chamamos de descuido.
Naquela cena não havia essa preocupação. Eles eram inteligentes, argilosos e muito bem equipados. Usaram luvas, pois nada naquele depósito encontrava-se com digitais. Fizeram questão também de deixar algumas armas numa parte inferior do balcão. Calibre 42, 16, 24, armas pesadas que, com certeza, deixaram ali por luxúria. Eles tinham tempo de fugir, ninguém sabia que estava acontecendo uma matilha ali, logo se presume – supomos por questão de não haver evidências e, consequentemente, não poder ser comprovado cientificamente – que eles deixaram ali de propósito. Algo do tipo: Nós não temos medo de você, polícia de merda!
Eles não mataram só uma policial por vingança. Não. Eles queriam muito mais que isso. Aquilo era um jogo. E eles não estavam de brincadeira.
Depois do nervosismo de ver o corpo, que me fez derramar lágrimas e sair dali rapidamente para me certificar das evidências, fiz uma pausa no trabalho, assim que meu frasco de Nescau foi entregue a mim. Apoiei-me na van da polícia que se encontrava em frente ao depósito, descansando meu corpo ali. Não parecia, mas só aquela brincadeirinha de procurar evidências, identificá-las e comunicar ao diretor as novidades no caso, tinha durado 9 horas. Somando-se ao fato que no começo da jornada era quatro horas da manhã e agora passavam das seis da tarde, e eu já estava trabalhando desde uma hora da tarde do dia anterior, eu estava um bagaço. Eu estava acostumado a isso, mas já estava trabalhando a 29 horas seguidas, sem comer desde as duas da manhã.
- Doutor – um policial chamou minha atenção. – Dr. Lewis está te esperando para informar sobre o corpo. – informou.
- Obrigado. – exclamei e ele saiu dali.
Levantei-me, seguindo para o caminhão. Em situações importantes, onde o corpo não podia ser movido para a sala de autópsia, era usado um caminhão com um espaço estritamente gelado, que resguardava o corpo e não deixava as evidências correrem pelo ar. Além de, claro, haver todos os instrumentos encontrados em uma sala de autópsia, imitando ao máximo a mesma. O trabalho do legista não era pecado de nenhuma forma.
Às vezes reflito: Tudo fica mais fácil com toda essa tecnologia, não? Localização em vinte segundos, DNA, reconstituição, e tudo mais que a inovação permite. Imaginem então há uns trinta anos atrás, que não havia a tecnologia dos DNAs?
- David, me chamou? – inquiri ao legista logo que subi no caminhão, jogando meu frasco de Nescau no lixo ali de fora e apertando meus braços contra meu corpo. O único problema dali era o frio incrível.
David, que estava mexendo no corpo, instintivamente olhou para mim. Eu evitei olhar o corpo, focando-me no rosto do velho.
- Sim. Eu sei que você está virado, mas temos que ser mais rápidos. A imprensa já está ligando para Mr. Freud e ele não está nada satisfeito.
- Eu sei David, mas é difícil. – fundamentei. – Enfim, o que me diz sobre o corpo? – perguntei, me ajoelhando ao lado de Lewis.
Olhei para ela. O rosto tão sereno. Suspirei e me concentrei. Sem sentimentalismos agora, o que se tem que fazer agora não é lamentar. É hora de fazer justiça. Essa foi a frase que repeti em minha cabeça milhares de vezes para me controlar.
- Bom, - começou Lewis, também suspirando – temos um ferimento fatal à bala, na cabeça. Vermelhidão na região dos lábios, o que sugere que tenham colocado fita isolante na boca – foi me informando, á medida que me mostrava.- Por fim, temos cortes pequenos no pulso, além de arranhões e também uma vermelhidão...
- Pulsos amarrados por corda grossa e áspera – continuei, o interrompendo e finalizando a frase. – Mais alguma coisa?
- Ainda vou analisar as roupas. Procurar diante de toda a sujeira se há alguma pista que sugira os criminosos, porém sabemos que é bem improvável. – explicou e eu me levantei, preparando para sair do automóvel/sala. – Além de, claro, fazer o exame interno.
- David? – regressei, quando ele voltou a mexer em sua pasta.
- Fale – permitiu, com os materiais de limpeza e coleta a mão.
- Ela sofreu muito? – interroguei.
- Ai, meu amigo. – lamentou pela colega. - O tiro em si não a fez sofrer. Ele atingiu as artérias da cabeça e a fez perder a vida na hora. Mas , você sabe. - Suspirou mais uma vez. - Eles eram bandidos, ela era uma policial. Possivelmente eles a torturaram.
- Ela... - iniciei, com dificuldade para concluir minha pergunta - Ela foi... Abusada sexualmente?
- , eu sei que isso é importante para você. Eu sei que vocês tinham algo, já lhe falei – assegurou. – Eu só recebi a concessão de abrir o corpo agora. A primeira coisa que farei, depois de tirar-lhe as roupas e mandar para a análise, é tirar uma amostra do liquido vaginal e analisar.
Tremi, pensando o quão estranho devia ser alguma outra pessoa vê-la nua. Ela era minha. Mesmo que seu corpo, agora na maca, já estive sem vida. O corpo dela era meu, ela era minha. Me pertencia.
- Vou ficar aqui então – afirmei, fazendo menção de sentar num dos bancos do caminhão.
- É melhor não. O resultado demora, só sai daqui a dezoito horas (N/a: O tempo de duração foi inventado por mim baseado na demora em se sair o DNA). – Vá para casa, durma um pouco e volte descansado – sugeriu. – Eu mesmo faço a analise, ninguém saberá o resultado antes de você – certificou-se.
- Obrigada David, mais eu queria mesmo acompanhar. Pelo menos o começo, depois vou para casa – aleguei.
- E você acha que gostaria que você a visse nua? – perguntou Lewis, em tom desafiador. Ah, esperto!
- Eu sou o chefe desse caso, tenho direito de acompanhar os exames em minha vitima – declarei. – Estou fazendo o melhor para ela, ela sabe disso.
- Enrolou-me, mas a pergunta em si não foi respondida – zombou David.
- Nem vai ser, Doutor – respondi grosso. - Comece logo o trabalho.
O doutor retomou o trabalho, pouco ofendido por minhas brutas palavras. Eu estava nervoso, ninguém podia descobrir. Não é bom você pegar o caso do assassinato da sua namorada, mas pior seria se qualquer um fosse escalado. Imagina se ele estive sentado aqui no meu lugar nesse momento, há minutos de a ver nua? Me arrepio só de cogitar essa ideia.
Lewis tirou a calça jeans de , o colete da Scotland Yard e o blusão branco de lã. A deixou na maca só de calcinha e sutiã e foi para o canto direito com as roupas, passando algodão em toda as vestimentas.
Levantei-me, me aproximando da maca. Vê-la de trajes íntimos não era novidade para mim, mas ela estava morta. Reconheci a lingerie como uma que comprei com ela quando saímos em compras pelo centro de Londres numa de nossas folgas. As lembranças de nossos momentos voltaram com toda força a minha cabeça. As lágrimas encheram meus olhos e transbordaram em meu rosto no mesmo segundo. Por impulso eu ergui meu braço direito na direção do rosto de . Gestos delicados, vagarosos, sombrios.
- Não toque nela! – esbravejou David, fazendo-me perceber o erro que quase cometi e acordando-me daquela fantasia. – Você está sem luvas, pode contaminar uma evidência.
- Desculpe David, foi automático – justifiquei-me, abaixando o braço rapidamente junto ao meu quadril. – Eu só queria tocá-la. É tão difícil vê-la aqui. Acredite Lewis, acredite, eu estava refletindo sobre a ideia de pedi-la em casamento! – revelei sórdido.
- Eu sabia, não? Sabia que estavam apaixonados. Era só observar como se admiravam – analisou, fazendo com que minhas lembranças retornassem e meu choro crescesse. – Perdoe amigo – desculpou-se, percebendo o que havia feito. Veio até minha direção e meu deu o melhor abraço que podia no momento. Apesar de levantar as mãos por causa das luvas sujas e não me apertar, aquele abraço foi caloroso, intimo, saudável. E, mesmo que por alguns segundos, me fez ponderar sobre tudo aquilo.
- Obrigado, David – agradeci, logo que se afastou. - É melhor eu ir. – soltei. – Vejo você mais tarde David. - E, recebendo o assentimento de Lewis, saltei do caminhão e segui para fora do balcão.
- Doutor!
- !
- Sr. !
Ah não! Eu conhecia esses gritos. O barulho dos cliques, o burburinho, a confusão instalada. Os leões ferozes e famintos, como eu gostava de denominá-los. Como se já não bastasse tudo o que estava acontecendo comigo, os repórteres apareceram. E agora eu responderia a cada um deles.
Parei no centro isolado pela fita amarela e chamei atenção de todos eles, o que não foi difícil, considerando que todos queriam me fazer perguntas.
- Tem direito a cinco perguntas – esclareci grosseiro. Se eu tinha acabado de ser grosso com meu amigo de anos, por que não seria grosseiro com aqueles leões?
- Como foi que ocorreu esse assassinato? – uma primeira inquiriu, não deixando nem eu terminar de falar.
- Ela foi executada – forcei o uso desse verbo. Como se fosse uma vitima qualquer, pensei. – Com um tiro na cabeça. É tudo que sabemos no momento.
- Já se sabe os possíveis assassinos? – perguntou um coroa.
- Há muito sigilo quanto a isso, mas já temos sim suspeitos.
- A vítima é mesmo a policial formada ?
- Sim – suspirei. Era difícil lembrar, mesmo não tendo esquecido nem um minuto.
- Qual era sua relação com a vítima?
- Ela era – quando eu digo que a imprensa era leões não estava exagerando. Eles fazem as piores perguntas, parece que sentem, não sei – minha parceira. Policial da minha equipe.
- A polícia já se informou do motivo dessa morte? Seria vingança? – a ultima pergunta foi proferida.
- Ainda estamos em processo de desenvolvimento, mas já temos conjuntura sobre isso. Acredita-se que o motivo tenha sido vingança, entretanto não descartamos nenhuma possibilidade – concluí, pronto para me despedir – Obrigado. Qualquer novidade serão informados. – fechei.
Ignorando os outros chamados dos repórteres e seguindo para o carro oficial da polícia. Como se eu fosse importante, entrei no banco de passageiros e ordenei ao motorista que me levasse até meu apartamento.
Wake me up when September ends – Green Day
Here comes the rain again
Falling from the stars
Drenched in my pain again
Becoming who we are
As my memory rests
But never forgets what I lost
Wake me up when September ends
Summer has come and passed
The innocent can never last
Wake me up when September ends
Capítulo 3
A água gelada caía em meu corpo, limpando-me. Há sete horas, quando cheguei em casa, caí na cama e dormi, daquele jeito mesmo, com o cinto preto apertando minha cintura, a blusa azul meio dobrada e amassada, as meias e a calça completando. Pelo menos eu havia me lembrado de tirar o mocassim preto.
Acordando cinco minutos atrás, extraí as roupas dormidas e as separei no saco da lavanderia. Antes de voltar ao trabalho passaria naquele estabelecimento. Em seguida entrei no box, acabando com o jejum de banho que durava mais de um dia e meio.
No banho nós não temos exatamente nada pra fazer, né? Quer dizer, claro, se ensaboar, limpar a sujeira, mas digo no sentido de não ter nada para pensar especificamente. Você relembra os acontecimentos do dia, canta uma música, sonha acordada (N/a: Eu fico pensando no que escrever xD)... E eu estava pensando nela. Em nossos momentos juntos...
Desliguei o chuveiro e me enxuguei com a toalha, não querendo voltar meus pensamentos a ela novamente. Não agora. Nesse momento meu foco é descobrir quem foram os assassinos de . É para isso que eu estava lá me vestindo, pegando meu colete, meu disposto e minha arma e esquecendo, momentaneamente, minhas lembranças com minha namorada.
- , linha dois para você – informou Sarah, secretária das equipes da polícia, assim que eu entrei no escritório. Tinha resolvido passar no prédio da Scotland Yard antes de voltar ao balcão, assim poderia rever alguns casos em que trabalhou. Embora já houvesse muitos agentes de menor escalão lendo todos os casos e localizações dos condenados, eu queria ajudar nessa parte. Às vezes comentava comigo a personalidade e as atitudes de alguns condenados, isso podia auxiliar na procura.
- Obrigado, Sarah – agradeci, pegando o telefone na mesa. – Detetive – exclamei ao telefone.
- Doutor, Mr. Freud deseja falar com o senhor – uma senhora de voz fina avisou ao telefone.
- Obrigada, pode passar para ele – consenti, logo escutando a típica gravação: Scotland Yard, a policia Londrina, famosa por sua competência contra o crime. Um histórico de vitória. Os melhores profissionais, visando proteger nossas ruas. Uma famosa insti...
- Freud – finalmente respondeu, interrompendo a chata gravação.
- , senhor. Passaram-me o recado que o senhor queria falar comigo – expliquei.
- Sim, . – Suspirou antes de começar. – Precisamos terminar esse caso até segunda-feira – informou.
Como assim “esse caso”? Isso é muito mais que um crime! Continuei, engolindo minhas indignações e focando na segunda problemática da frase. Só chefes para discorrerem em uma só oração duas grandes merdas!
- O quê? – inquiri surpreso. – Senhor, é impossível terminar um caso desse porte em cinco dias. Há dezenas de criminosos suspeitos, ainda estamos apurando a situação de cada um, não...
- Eu sei, eu sei – cortou-me. – E tudo isso não me interessa – admitiu, grosseiramente. - A imprensa está de olho e o governador me liga a cada duas horas para saber de novidades. E sabe o que eu falo para ele? Sempre a mesma coisa, meus agentes estão trabalhando nisso.
- Mas nós estamos! – brandeei, contrariado.
- Pois bem, eu também estou. O problema é se passar do prazo. Aí nem eu nem nenhum de meus agentes, incluindo você, trabalharemos mais! E sabe por quê? – perguntou, prosseguindo logo em seguida. – Porque todos estarão no olho da rua! – esbravejou impetuosamente, desligando o telefone em seguida.
Escutando os “tus” em meu ouvido, bati o telefone no gancho com força. Bufei. Essa merda de burocracia só fodia com tudo. A mídia começa a divulgar as noticias e a cobrar novidades. Todas as reinvindicações iam para o governo, além de falarem mal do mesmo. Aí eles ficam putos e importunam o diretor da polícia, que, consequentemente, começa a reivindicar informações para os agentes escalados no caso, com toda a pressão do Estado sobre ele. Para quem sobra? Sim, eu!
Levantei-me da cadeira enérgico e saí da minha sala, virando à direita e avistando, ao fundo do corredor, uma porta com a placa Sala de Arquivos (N/a: Preciso falar que me baseei em Psicose? Recomendo!).
Adentrando na sala com passos largos deparei-me com uma multidão. Normalmente aquela sala permanecia vazia, com duas ou três visitas por dia. Toda via, hoje ela estava lotada.
Aquela sala era usada para guardar os arquivos de todos os casos da Scotland Yard desde que a sede da polícia passou para lá, em 1967. Eram grandes armários com centenas de gavetas cada, ordenados por ordem alfabética, com a letra A na primeira gaveta de cima do canto esquerdo e a letra Z, que se encontrava na última gaveta do lado direito da sala. Os corredores entre os armários estavam cheios de pessoas sentadas, lendo pastas de documentos.
Eu gostava daquele pessoal. Todos se empenhavam ao máximo para ajudar no caso. Quando eu abri a porta, por incrível que pareça, ninguém sequer levantou a cabeça. Não olharam em direção a porta, não levantaram a cabeça, não olharam para mim, não moveram um só músculo. Pareciam bonequinhos, eles nem ao menos piscavam!
- Olá – comecei, me sentindo meio deslocado. Esperei alguém responder o aceno, mas o vácuo me atingiu. Mesmo com dezenas de pessoas ali, eu me sentia estranhamente sozinho, como se estivesse falando comigo mesmo. – Como estamos indo? – continuei, com esperança de não ser mais ignorado. Logo a esperança se desfez, quando percebi que só minha voz reinava ali. Sem ela, encontrava-se um silencio sepulcral.
- Estamos na letra J – assustou-me uma voz e eu logo segui a mesma. Um rapaz moreno revelou. Eles eram rápidos, já estavam na décima letra do alfabeto em um pouco mais de 24 horas. Eram pelo menos mil arquivos em cada letra, com dezenas de páginas de pistas, evidências, informações, curiosidades e a decisão do caso nos tribunais! – Separamos os possíveis suspeitos naquele carrinho – continuou a informar o jovem, apontando para o carrinho no canto esquerdo da sala com poucos arquivos uns em cima dos outros, sem nem ao menos levantar os olhos das folhas do arquivo. – O resto que não se engloba na lista que o senhor nos deu, nós voltamos a guardar no local.
A lista nada mais era do que informações que encaixariam ou não dos criminosos como suspeitos do assassinato. Eles deveriam analisar primeiramente se o caso teve participação de e depois se os assassinos ainda estavam presos. A partir daí, eles separavam os arquivos que podiam contar algo interessante, dos outros que eram irrelevantes.
- Ok, também vou trabalhar – informei, mais para mim mesmo do que para o resto das pessoas, concentradas demais, e fui em direção a uma das gavetas abertas em que se reluzia a letra L.
Nossa, não imaginava que aquilo fosse tão legal! Sim, sim. Ler sobre como os agentes prosseguiam, cada pista que descobriam, o depoimento do assassino, as declarações do juiz, tudo como se estivesse plenamente presente em todas essas cenas, só como um espectador qualquer.
Alienei-me do mundo, só retornando a realidade quando uma música começou a soar, invadindo o imenso silêncio. Novamente, as pessoas não moveram um só pelo do braço.
Depois de várias tentativas de ignorar o chamado e me concentrar na leitura, desisti, descobrindo que era meu próprio aparelho policial que tocava.
- na linha.
- , sou eu – Sarah exclamou. Nós tínhamos uma grande intimidade. Ela já vinha sendo minha secretária há alguns anos, e nós éramos grandes amigos. Até já havíamos passado disso uma vez, ok, talvez mais de uma vez, mas nossa amizade era mais forte do que simples sexo casual. – O agente Warnes ligou para cá falando que estão precisando de você na cena do crime para assinar uns papéis.
- Sah, há quanto tempo estou aqui? – perguntei, desconhecendo quanto tempo havia me afundado na leitura.
- Hm... Deixe-me ver – exclamou, mexendo-se na cadeira, pelo que pude distinguir dos ruídos. – São onze horas da manhã, considerando que você está aí desde as seis, são – pequena parada. Ela nunca foi muito boa de matemática e eu nem a interrompi, pela preguiça de pensar em fazer contas. Eu repudiava números, com exceção da hora do assassinato e os números de digitais possivelmente presentes em uma cena de crime. – cinco horas.
- Nossa, já? – perguntei retoricamente, não acreditando. Olhei a minha volta. As mesmas pessoas continuavam lá. Algumas até levantavam e iam beber uma água, ir ao banheiro, ou até se banhar de café para manter os olhos bem abertos. Mas minutos depois já estavam de volta, sentados mais uma vez no chão frio com arquivos apoiados no colo. Coitados. – Não tem como trocar essas pessoas que estão aqui? Eles já estão a mais de cinco horas lendo – argumentei.
- Falarei com o supervisor. Ele deu ordem expressas aos agentes novatos para que não saíssem até terminar todos os casos – esclareceu-me. – Agora pára de dar uma de herói e vá fazer seu trabalho – brincou ela.
- Sim, senhora! – zombei, ela odiava ser chamada de senhora. Senhorita, por favor, não sou casada, argumentava ela. Ela bufou. – Vou ligar para lá, ver se consigo chegar só depois do almoço. Estou morrendo de fome! Até mais, Sarah!
- Até – exclamou ela, desligando o telefone em seguida. Eu só procurei o nome agente Warnes na agenda, ligando para o mesmo em seguida. Esperando o atendimento do mesmo, entreguei o caso que estava lendo para um agente qualquer e saí da sala, para não atrapalhar ainda mais todos ali.
- Agente Warnes falando – atendeu ele, quando eu já estava entrando em minha sala.
- – apresentei-me, jogando-me na poltrona.– Queria saber para que precisam de mim aí.
- Tem alguns papéis para liberação de pistas e vestígios para a análise do governo – informou-me.
- Por que não levar à sede da Scotland Yard? – inquiri.
- O governo quer acompanhar todo o caso. Na verdade há agentes ingleses por todo o depósito acompanhando o trabalho de todos.
- Merda de burocracia! Merda de governo! Merda do caralho! – vociferei, xingando todo mundo ligado ao governo daquela merda daquele país. Warner ficou mudo, meio atônito pela minha reação. Eu continuei ainda atormentado. – Por que eles não assinam essa porra então? Caralho, não deixam mais ninguém trabalhar! – esbravejei indignado.
- Você é o chefe do caso, é necessário sua assinatura – explicou o que eu já sabia.
- Eu sei, eu sei – informei, acalmando-me. – Mas precisa ser com tanta urgência? Estou aqui na sede lendo arquivos desde as cinco da manhã.
- Vou falar aqui com o representante do governo – exclamou, saindo da linha. Pude escutar ruídos no telefone, enquanto esperava a volta do agente. Como distração, peguei minha caneta e fiquei desenhando traços sem nexos num bloquinho em cima da mesa.
- Doutor – ele voltou a falar no telefone, chamando minha atenção. – O agente disse que o senhor pode sair para almoçar, desde que retorne para cá antes das duas.
- Ok, pode deixar. Obrigado – agradeci, desligando o celular em seguida.
Apertei a tela do computador e mandei um recado para Sarah. Recebendo uma afirmação em resposta ao pedido, saímos para almoçar e esquecer um pouco das obrigações.
Don’t cry – Guns N’ Roses Talk to me softly
There's something in your eyes
Don't hang your head in sorrow
And please don't cry
I know how you feel inside
I've been there before
Something changing inside you
And don't you know
Don't you cry tonight
I still love you baby
Don't you cry tonight
Don't you cry all tonight
There's a heaven above you baby
And don't you cry all tonight
Give me a whisper
And give me a sign
Give me a kiss before
You tell me goodbye
Don't you take it so hard now
And please don't take it so bad
I'll still be thinking of you
And the times we had baby
Don't you cry tonight
Don't you cry tonight
Don't you cry tonight
There's a heaven above you baby
And don't you cry tonight
And please remember
That I never lied
And please remember
How I felt inside now honey
You gotta make it your own way
But you'll be alright now sugar
You'll feel better tomorrow
Come the morning light now baby
Don't you cry tonight
Don't you cry tonight
Don't you cry tonight
There's a heaven above you baby
Entrar ali de novo me fez recordar dos acontecimentos do dia anterior. Todas as lembranças retornaram. flutuou em minha cabeça. Quando vi o corpo dela sem vida, o quase erro no caminhão da autópsia e nossos momentos juntos. Tudo voltava com uma força avassaladora, fazendo querer me debulhar em lágrimas em frente a todos aqueles agentes do governo filhos da puta.
Mas não vamos falar deles agora, não. Vamos dar preferência a coisas boas primeiro. O almoço com Sarah foi ótimo. Em um restaurante de massas, onde você criava seu próprio almoço. Eu me servi de ravióli de frango e ricota com macarrão e presunto, uma mistura de centenas de calorias que ficou estupenda! Sarah pediu uma lasanha de bacalhau. E, se vocês acharam que nós já havíamos nos empanturrados de comida, estão enganados! Ainda comemos crepes de arroz doce com leite condensado e de creme de laranja. Simplesmente uma delícia!
Essa era uma das coisas que eu gostava de Sarah. Ela não era daquelas que só come verduras e legumes e morre se engordar uma grama. Ainda assim, era esbelta. Corpo violão e nem uma gordurinha fora do lugar naqueles 165 cm de altura. Não que não fosse maravilhosa. Não havia comparação!
Com 170 cm, seus seios, coxas e bundas tinham as medidas certas. A barriga era seca. Mesmo assim, ela não dispensava uma boa massa ou uma torta e só continha uma matricula com seu nome na academia por mero esmero. Ela não gostava de máquinas de exercícios e de ninguém a falando o que fazer. Determinada, às vezes ela sentia vontade de correr ou nadar, aí ela simplesmente saía para fazer os exercícios, sozinha. Ai de alguém que se intrometesse nos exercícios dela.
, , , por que você não saía de minha cabeça?
E, logo depois de toda a comilança, recordei que teria que chegar ao balcão antes das duas da tarde. Despedi-me da minha amiga e peguei o carro oficial da polícia. Agora, aqui estou eu.
- Doutor, até que enfim o senhor chegou, estavam te procurando – exclamou um policial, logo na porta do depósito. Agradeci com um aceno e procurei qualquer um que conhecia ali.
- ! – chamaram-me pelas costas. Virei-me. Era Warnes, o agente alto e gordo e, ao seu lado, como contraste, um cara baixinho e magrinho. Com um uniforme diferente dos agentes da Scotland Yard, que usavam um colete preto com a designa da instituição, e também diferente ao dos policias, com aquelas fardas pretas.
- Warner – exclamei, me aproximando dos dois. – Suponho que seja o representante do governo – presumi ao acompanhante de Warner.
- Sim, sou. Prazer, Ruldfor – apresentou-se. Eu só assenti com a cabeça.
- O que tem para eu assinar? – perguntei aos dois.
- Estão naquela sala – Warner apontou para minhas costas, e eu não me preocupei em virar. – Os agentes quiseram se acomodar ali.
- Do governo? – ignorando o próprio oficial do governo que havia ao nosso lado, perguntei ao Warner se era os agentes do governo que ocuparam a sala.
- Sim, senhor – comentou.
- Típico – critiquei desdenhoso. – Sempre querendo demarcar espaço.
E, jogando a bomba, segui até a sala infestada de vespas africanas. Já perceberam, né? Eu uso metáforas de animais para descrever quem eu não vou com a cara.
Eu não entendo. Por que eles fazem questão que eu assine? Eu não tenho outra opção a assinar aquilo mesmo, qualquer um poderia assinar. Burocracia, sempre a merda da burocracia!
Depois de assinar várias papeladas e ignorar os sermões que ganhei de oficiais do governo, como se eles tivessem um cargo maior que eu, saí dali e segui para o caminhão do legista.
Eu já havia perdido a noção do tempo ali, mas acho que o exame já devia estar pronto. Tremi só por pensar naquilo.
- David, voltei – avisei, enquanto subia no caminhão e fechava a porta do mesmo. Privacidade, tudo que eu queria no momento.
- Descansado, amigo? Melhor? – indagou o legista.
- Descansado sim, melhor não – elucidei.
- Eu acredito o quanto está sendo difícil para você. Perder a namorada brutalmente e ainda ter que cuidar do crime... – a frase ecoou pelo ar.
- Namorada, David? Não viaje – me escutei falando. Era um ato de defesa. Ninguém poderia saber de nós dois. Ninguém poderia me impedir de prender aqueles desgraçados que mataram minha garota.
- , você já admitiu ontem – Lewis esclareceu. – Eu sabia, não tinha te dito? Pode falar para mim – aconselhou-me.
- Ai, David! – exclamei, com as lagrimas já ocupando meus olhos. – Ninguém pode saber, eu vou acabar com os assassinos, ninguém pode me impedir! – delatei exaltado, enquanto as lágrimas começavam a escorrer. Escapavam dos olhos, caíam pela bochecha, desciam até o queixo e chegavam a alcançar meu pescoço.
- Eu sou seu amigo. Eu era amigo de . Eu nunca vou fazer algo pra prejudicar você! Eu não vou contar a ninguém – iluminou ele. Em seguida rodeou seus braços em minhas costas e me abraçou. Eu me aconcheguei em seus ombros e relaxei, deixando as lágrimas caírem livremente.
Question Existing – Rihanna
I'm just like you
Do the mistakes I make me a fool
Or a human with flaws
Admit that I'm lost
Round of applause
Take the abuse
Sometimes it feels like they want me to lose
It's entertainment
Is That An Excuse? (No)
But the question that lingers whether win or lose
Who am I living for? (Oh)
Is this my limit?
Can I endure some more?
Chances I'm giving.
Question existing
Who am I living for? Ooohh
Is this my limit
Can I endure some more?
Chances I'm giving.
Question existing.
- David – chamei ele. Depois de chorar em seus braços por cinco minutos, me recuperei. Agora estava sentado no banco do caminhão enquanto Lewis mexia em alguma coisa que eu preferia não estar a par. O corpo de estava em um daqueles depósitos de corpos. Ele virou-se para mim, esperando eu prosseguir. Assim eu fiz. - O exame, David. O exame de estupro...
Neste momento, quando eu já ia continuar o discurso, uma batida na porta nos interrompeu. Entre, foi o que Lewis disse. Abertas as portas, distinguimos o supervisor da Scotland Yard e um homem desconhecido com o uniforme da mesma instituição.
- Agente Smith – falou David com o supervisor.
- Lewis, – exclamou ele de volta. Consentimos de volta. Ele era bem mais acessível do que o diretor. Um coroa de não mais de 56 anos, loiro e alto. Divertido, sempre nos tratava muito bem. – Esse aqui é , agente que irá ser seu parceiro nesse caso a partir de hoje – esclareceu a mim, apresentando o agente ao seu lado. também tinha cabelos claros, mas era baixo.
- Do governo? – perguntei ao Smith, com indiferença ao braço estendido do meu mais novo parceiro. Ele estava com o colete da Scotland Yard, no entanto eles não colocariam algum agente que eu não conhecesse como meu companheiro. Afinal, por que acrescentar mais um membro na equipe? Aquele caso era meu.
- Não. Ele é da Scotland Yard – afirmou. – Bom, está entregue, – disse ao agente. Voltando-se para mim, ele se despediu, não sem antes proferir: - Inteire-o do caso, . E olhe o prazo! – advertiu ele, antes de acenar um pequeno tchau com as mãos para Dr. Lewis e sair.
- ... – comecei. – Agente novato?
- Sim – respondeu simplesmente.
- Por que te colocariam na minha equipe, como meu parceiro, em um caso de homicídio de uma policial? – indaguei retoricamente, meio que ignorando a presença dele ali e simplesmente pensando alto.
- Na verdade, - começou ele, interrompendo meus pensamentos. Eu já estava viajando, cogitando possibilidades de ele ser um agente de uma empresa secreta no estilo CIA londrina, ou um infiltrado do grupo de bandidos que assassinaram . – é por causa de meu tio.
- Ah, seu tio é da Scotland Yard? Por acaso eu conheço? – perguntei.
- Sim, com certeza você conhece – ele comentou com um sorriso malandro. - Mr. Freud – revelou.
- O diretor? – indaguei, sem reação. Recebi um assentimento do . – Hm... ok.
- Você pode achar que eu só estou aqui porque meu tio me obrigou, mas...
- Eu tenho certeza disso – interrompi grosseiro. Suspirei. – Vou te mostrar tudo que temos até agora. Vamos – ordenei, pulando do caminhão. foi em meu encalço. – David - chamei ele, que tinha voltado a trabalhar desde a saída do supervisor Smith. Ele volveu-se, olhando para mim. – Eu vou voltar aqui, Lewis. Eu preciso saber – declarei com seriedade, saindo dali sem esperar resposta.
Capítulo 4
Sobrinhos otários só serviam para foder com a vida dos outros. Aquele sobrinho que acabou de completar 20 anos e que está fazendo faculdade particular de direito só para ter um diploma de advogado. Um filhinho de papai daqueles não precisaria trabalhar nunca.
Não, mentira. Eles iriam trabalhar como funcionários juniors nas empresas de seus pais ou tios só entregando papeis e jogando charme para as secretárias. Mais tarde, quando os parentes se aposentassem, eles tomariam os lugares dos familiares, e se vocês acham que aí sim eles começariam a trabalhar estão equivocados. Quando chegassem a essa fase, eles iriam só assinar papéis. Ah, talvez ter um caso com a secretária enquanto ilude a mulher que cuida dos filhos em casa. Difícil vida, não?
Não que eu me importe com esses playboys riquinhos, o problema é quando isso me afeta. Porra, o caso era meu. Eu, só eu, vou pegar aqueles assassinos, e garanto, eles vão se arrepender de terem tocado na . Aí aparece um riquinho metido a besta, sobrinho do chefão da Scotland Yard. O que eu posso fazer? Aceitá-lo, porque senão o único prejudicado ia ser eu.
Ele não sabia nada sobre a polícia, nem assassinatos, cenas de crimes ou qualquer coisa assim. Ele pelo menos podia ter vergonha na cara, né? Porventura perder umas horas de seu maravilhoso e produtivo dia assistindo séries policiais. Tudo bem que as coisas não eram exatamente fáceis, igualmente elas exprimem e com muito menos drama, aventura e romance, mas elas se esforçavam a passar para as pessoas a rotina policial de forma semelhante.
Mas, apesar de tudo, ele teimava em dizer que queria ser policial e está inspiradíssimo a aprender tudo que fosse necessário.
- Ok, ok – cessei a fala dele, estupefato. – Eu já entendi que você quer ser policial quando crescer – menosprezei. Ele bufou. – Mas vamos ao que realmente interessa. Entendeu o que fazemos numa cena de crime? – interroguei.
- Primeiro nos certificamos que o local do crime está preservado e se ninguém mexeu em algo antes de nossa chegada. Faz um exame visual e anotações. Documenta toda a cena, tira fotografias, faz esboços, gravações. Depois recolhemos todas as provas possíveis, as registrando e embalando.
- O que não devemos fazer?
- Alterar a cena do crime. Sempre devemos usar luvas.
- Isso – concordei. – Acho eu já passei o básico para você. Agora vá se inteirar no caso. Procure o Caleb ou a Janette, que são da minha equipe e podem lhe ajudar.
- Não era para você fazer isso? – indagou ele, desconfiado.
- Você pode ser o sobrinho do chefe, mas eu ainda ordeno o que você vai fazer por aqui – esnobei, saindo da frente de e retornando ao caminhão de legista.
Aquele tormento não fugia da minha cabeça. Mesmo com toda a apreensão, o cansaço, o peso nas minhas costas, aquele resultado assombrava minha cabeça. Eu necessitava ter conhecimento do resultado. Eu precisava saber se aqueles desgraçados filhos da puta haviam feito algo com . Eu precisava saber se seu corpo, que tantas vezes foi meu, havia sido roubado e invadido por um qualquer. E seria agora.
Encontrando o caminhão com as portas fechadas, bati na porta. Logo, uma fresta da porta se abriu e Brow, outro legista da Scotland Yard, apareceu nesse vão.
- Olá Brown, David está por aí? – perguntei a ele.
- Não, . Ele foi para casa descansar um pouco – esclareceu-me. Eu desanimei. Talvez não fosse agora o momento de eu saber.
- Ah, isso foi há muito tempo? – indaguei. Eu havia perdido quase três horas explicando tudo para o sobrinho do Mr.Freud. – Queria saber se havia alguma novidade no caso – menti.
- Tem mais ou menos duas horas. Ele já estava trabalhando desde ontem direto – explicou ele, e eu assenti com a cabeça, em confirmação. Esqueci-me que David havia sido chamado com urgência para esse caso, porque ele era o melhor e mais experiente dos legistas, perdendo metade de sua folga. E desde as quatro horas da manhã de ontem ele estava trabalhando. Esqueci que ele também era humano e precisava de uma boa noite de sono. – Engraçado – comentou Brow, segundos depois.
- O quê? – interroguei, confuso.
- Ele disse que você passaria aqui e ficaria totalmente desapontado por ele não estar aqui.
- E daí?
- E daí que você estava super eufórico e quando soube que ele não estava sua cara ficou totalmente decepcionada.
- Oras, eu queria saber novidades do caso. Aliás, eu preciso saber. Estão me apertando para desvendar tudo num estalar de dedos.
- Entendo – murmurou convencido.
- Ótimo. Obrigado – agradeci.
Suspirei. Não seria hoje que eu saberia se a minha garota foi abusada sexualmente. Só em pensar nela na mão daqueles bandidos, obrigando-a a tirar a roupa... (N/a: Lembrei do Tropa de Elite 2. Sério, aquela cena me fez tremer nas bases). Eles não fizeram isso! Não, afinal, ela era uma policial, né? Não que ela não fosse gostosa e linda, mas tiras eram odiados por bandidos. Eu realmente orava por isso.
Privado de revelações que me incomodavam muitíssimo, fui encontrar minha equipe. Talvez eles tivessem novidade, afinal, hoje era quinta feira. Sete horas da noite de quinta. Menos de cinco dias para finalizar o caso.
- Dr. , encontramos um suspeito em potencial – delatou uma voz feminina, assim que atendi o aparelho policial que tocava. Devia ser um dos agentes novatos que examinavam aqueles milhares de arquivos.
- Por que atenção especial a esse? – interroguei, já acenando um sinal de até mais a minha equipe, com quem debatia sobre o caso minutos antes.
- Eles são uma quadrilha fortemente armada e com grande poder. A agente encarcerou o líder deles, mas ele fugiu do presídio de helicóptero e não foi mais encontrado pela polícia – começou a esclarecer a agente. Eu só andava em passos largos pelo balcão até a saída, ignorando os chamados.
- De helicóptero? – interrompi, surpreso. Ela afirmou um sim em resposta. Não acredito que com tanta tecnologia empregada nas prisões da Inglaterra e do mundo ainda haja modo de pôr-se em fuga, ainda mais de helicóptero, o que soa até ridículo e irônico. – Nossa. Continue, por favor.
- Enfim, denúncias foram feitas que a quadrilha está na cidade. E, convenhamos, eles não devem ter ficado nada felizes com a prisão do chefão – ela finalizou, enquanto eu fechava a porta do carro e mandava seguir para a sede da Scotland Yard.
- É muito provável. Já terminaram? – perguntei em relação à análise dos arquivos.
- Na verdade, sim. Nós resolvemos abandonar a ordem alfabética e procurar aleatoriamente. Descartarmos milhares logo pela data na capa, que correspondia ser anterior a chegada de aqui, e depois aos nomes dos agentes e policias que participaram na primeira folha. Ficou mais rápido – declarou. – Esses foram os suspeitos mais importantes, o resto descartamos por estarem presos, confirmados em outros lugares do mundo a mais de um mês, ou até mesmo mortos. E, claro, os que não participavam de quadrilhas.
- Ótimo. Já estou quase chegando aí. Agradeça a todos pelo rápido trabalho – sussurrei. – Me espere na minha sala com o arquivo do criminoso em mãos.
- Ok. Obrigado senhor, estarei à espera – murmurou em resposta. Encerrei a chamada, guardando o celular no bolso e observando a paisagem de Londres na janela.
Para variar, o tempo estava chuvoso. Minha camisa branca esteja repleta de pingos de chuva, mas eu nasci naquela cidade chuvosa e já estava bem acostumado com aquilo. O sol abria e, de repente, cinco minutos depois, o tempo fechava, o vento batia e os primeiros chuviscos caíam.
Com o céu e a rua repletos de água, além da hora tardia para as pessoas normais - já passavam de três da manhã –, as avenidas de Londres se encontravam desertas. Alguns aventureiros passavam uma vez ou outra pela janela e despertavam minha atenção, com guardas chuvas nas mãos ou capa de chuvas.
Avistei a sede da Scotland Yard com todas as luzes acesas, iluminando o resto da rua que se encontrava inteiramente escura. Ajeitei-me no banco de carona do carro, preparando-me para desembarcar.
O motorista entrou na garagem da sede e me deixou na entrada para o elevador. Agradeci a ele e saltei do carro, adentrando ao elevador em seguida.
- Sarah! – exclamei, logo que saí do elevador no décimo quarto andar.
- . Como vai? – perguntou-me. Eu não havia contado nada a ela sobre , pelo pedido da mesma, mas ela sabia. Quer dizer, eu sempre a procurava para tirar minha seca e nós sempre saímos, conversávamos. De repente, três meses atrás, eu não saí mais com ela, já que gastava todo meu tempo livre com , e não a ligava mais para nos divertimos juntos. Ela já havia me indagado várias vezes quem era a namorada que havia fisgado meu coração e eu sempre desviava o assunto. Ela sabia que eu estava amando, só não sabia que a mulher estava mais próxima do que imaginava.
- Ocupado – respondi simplesmente. Ela abriu a boca para proferir algo, mas eu a cortei:
- Eu sei, na minha sala.
- Chato! – esbravejou que nem criança.
- Também te amo – brinquei em resposta, seguindo para meu escritório.
Uma bonita mulher, jovem, de cabelos pretos, presos em um coque, estava sentada na poltrona da minha sala. O corpo ereto e as pernas juntas e reclinadas para o lado esquerdo imediatamente se desfizeram quando eu entrei na visão da moça.
- Doutor , é um prazer conhecer o senhor. Reina Blanc – sua voz soou, estendendo a mão para mim. A observei. Baixa, magra, olhos claros, rosto delicado. Uma calça jeans rasgada e um colete da Scotland Yard recobrindo a blusa de manga comprida azul.
- O prazer é meu, Reina – murmurei em resposta, estirando também o braço e apertando a mão da moça. Macia, analisei. Ela abriu um sorriso de orelha em orelha, exibindo os seus dentes branquinhos e alinhados. O sorriso mais lindo que já vi, sem sombra de dúvida. A arcada dela era perfeita. – Sente-se, fique à vontade.
- Obrigada – agradeceu ela, enquanto voltava a sentar na poltrona branca e se acomodar na mesma. Em seguida, pegou uma pasta e a apoiou na mesa ao lado do computador. – Aqui está o arquivo do caso – informou. – Como eu sei que o senhor está muito atarefado e não tem tempo para ler dezenas de paginas, - explicou, abrindo de novo o lindo sorriso, o que me fez sorrir também – vou inteirá-lo do crime de maneira breve. – Eu assenti em consentimento e ela continuou: - A gangue, denominada por eles mesmos de terroristas londrinos, - ela fez uma parada para acrescentar nem para criarem um nome decente e recebeu um concordo e risinhos da minha parte. Prosseguiu : - há quatro anos assaltou um banco e rendeu todos os clientes presentes. A polícia chegou em segundos e o líder, que estava saqueando o dinheiro no cofre do banco ao fundo da agencia e não ouviu os ruídos das sirenes policiais, foi pego. Pela agente , inclusive, que também o interrogou e “induziu” – ela fez aspas com a mão – o juiz a condená-lo. Meses depois de preso ele fugiu por meio de um helicóptero, como já havia contado.
- Ridículo – esbravejei, atormentado pela ideia de fugir por meio de um helicóptero.
- Pois é. Enfim, a quadrilha está solta até hoje e denúncias anônimas disseram que eles se encontram na cidade, aos redores do East End.
- É, bem possível que seja vingança. Mais do que isso, um jogo. Mostraram o que podem fazer com quem fez algo ruim contra eles.
- Sim, sim. Tem razão – ela concordou, assentindo com a cabeça e abrindo de novo aquele sorriso, agora de forma pensativa e desafiadora.
- Acharam mais algum suspeito importante? – indaguei.
- Não. Há alguns soltos que foram desmascarados por ela, mas não pertencem a quadrilhas, ou têm residência fixa e trabalho assinado. Descartando assim a possibilidade de continuarem na vida criminal – justificou ela.
- Ah, isso é muito bom. Agora só temos que pegar algum dos integrantes da quadrilha – finalizei o raciocínio. – Parabéns, você e sua equipe foram maravilhosos!
- Ah, obrigada, mas eles não são minha equipe. Eles são agentes que entraram na Scotland Yard esse ano, assim como eu, e foram ordenados a trabalhar dessa forma – esclareceu.
- Mesmo assim, vocês foram ágeis, críticos, versáteis, e mais uma série de adjetivos que não me recordo – brinquei, o que fez Reina rir. Como consequência daquele riso lindo eu abri um sorriso também. – Principalmente você. - Ela continuou a sorrir e eu também. – Vou pedir para te promoverem. Vou pedir para você entrar na minha equipe – admiti.
- Ah, seria ótimo, mas acho que tenho que honrar com tudo que conseguir aqui na Scotland Yard e ainda falta um bocado para eu deixar de ser novata – confessou ela, tristonha.
- Humilde, mais um adjetivo para sua lista.
- Voce é um amor, , mesmo. Obrigada! – ela exclamou, maravilhada.
- Obrigada a você – agradeci. - Me chame de somente – solicitei.
- Sim Poy... – se embolou ela, me fazendo rir. – Obrigada por tudo. Vou comunicar a todos para procurarem a quadrilha.
- Ok. Tchau Reina, foi um prazer – declarei, enquanto ela levantava e assentia com a cabeça.
- Tchau – murmurou, antes de sair pela porta com meu olhar sobre seus passos. Ok, talvez não somente em seus pés.
Suspirei e sorri sozinho. A vida continua, não? E já que não se tinha vida social, que começasse no trabalho. Será que era cruel demais? Afinal, eu estava trabalhando no caso de assassinato da minha namorada ainda. Por uns minutos, durante a conversa com Reina, eu me esqueci do meu coração totalmente despedaço e de meu relacionamento com . Eu não sabia o que tinha sido aquilo afinal.
Smile – Bruna Fernandes
Eu sei, esses dias não são os melhores
Sei que sua vontade é deitar na cama
Derramar-se em lagrimas e nunca mais levantar
Mas, como dizem, a vida continua né?
Então abra um sorriso no seu rosto
As pessoas que você ama se vão
Mas você ainda continua viva
E com muitas pessoas que a amam em seu redor
Então sorria
As pessoas se vão
E, sem querer, levam junto uma parte do seu coração
E nós sabemos que isso vai acontecer
Com todo mundo
Mas isso torna as coisas mais fácies? Não.
Mas como dizem, a vida continua né?
Então abra um sorriso no rosto
As pessoas que você ama se vão
Mas você ainda continua viva
E com muitas pessoas que a amam em seu redor
Então sorria
Sua vida parou
Seu coração se despedaçou
Você não vê como se levantar
Então aparece varias pessoas
Querendo te ajudar
Pessoas que você amava
Partiram para um lugar melhor
Mas ainda há muitas que a amam
Que continuam nesse mundo
Elas vão te auxiliar
Vão te levantar
Vão fazer você sorrir, rir e lutar
Novamente
Afinal, é como dizem, a vida continua né?
Então abra um sorriso no rosto
As pessoas que você ama se vão
Mas você ainda continua viva
E com muitas pessoas que a amam em seu redor
Então sorria
Capítulo 5
Who are you? – The who
Well who are you? (Who are you? Who, who, who, who?).
Come on, tell me who are you? (Who are you? Who, who, who, who?)
Oh, i really wanna know (Who are you? Who, who, who, who?)
Tell me, tell me who are you? (Who are you? Who, who, who, who?)
Come on, come on, who? (Who are you? Who, who, who, who?)
Oh, who are you? (Who are you? Who, who, who, who?)
Who are you? (Who are you? Who, who, who, who?)
Oh, tell me who are you?
I really wanna know (2x)
Come on, tell me who are you
You! (2x)
- Você descartou o direito ao advogado, não? – perguntei, sentando na cadeira da sala de interrogatório. Ele assentiu. – Tem o direito de permanecer calado também.
- Pode começar logo com isso? – indagou o criminoso, mexendo-se na cadeira. – Já estou aqui há muito tempo.
- Eu começo quando EU quiser – esclareci a ele com ar superior. – A cadeira está desconfortável? - perguntei, logo continuando: - Porque a minha está muito confortável e macia. – Ele deu de ombros. - O que estava fazendo na última terça feira, dia 14? – interroguei.
- Hm... – Ele parou, pensando. Olhares para direita refletiam lembranças, olhares para esquerda admitiam a criação de um álibi no momento. Ele não tirou os olhos do meu rosto - Acho que estava em Boston, observando umas lavouras.
- E tem alguém que possa comprovar isso? – interroguei, não estendendo o assunto. Ele negou. – Ótimo. - pausa de dez segundos - Sabe, eu podia mandar você para a cadeia elétrica agora mesmo – prossegui em tom e olhar desafiador ao homem sentado no outro lado da mesa, depois de muito analisa-lo. Decidi levantar e caminhar pela sala.
- Sinto lhe informar que a nossa maravilhosa – ironia – polícia não usa mais cadeira elétrica – retrucou desdenhoso, apoiando o braço direito na mesa.
- Para você ver o poder que eu tenho – acrescentei sem abalos, o que fez o homem de 1 metro e 90 de altura e braços enormes e tatuados erguer as sobrancelhas com menosprezo. – Posso tirar a cadeira elétrica do porão agora mesmo e convidar todos a olharem você morrer.
- Duvido. – Se manteve firme, olhando em meus olhos.
- Ah, e em vez de molhar as esponjas com água – continuei, ignorando a ultima fala dele. – Deixá-la seca, para você sofrer tudo que merece.
- Duvido – repetiu com a mesma solidez, o que me fez suspirar.
- Encontramos digitais nas armas que estavam no local do crime – chegando bem próximo dele e o encarando de lado, soltei a mentira, afinal, os criminosos haviam usado luvas. Era uma técnica da polícia, deixar o suspeito nervoso. – E assim, vamos descobrir quem estava lá. – Ele deu de ombros novamente.
Sexta-feira, às 16 horas. Com vinte e oito minutos acrescentados, temos a hora exata que um integrante, denominado Adas, da quadrilha terroristas londrinos foi preso num armazém.
- Terroristas londrinos, que nome horrível o de vocês – mudei o assunto. Ele bufou. – Vocês não podem nem ser considerados assassinos, quanto mais terroristas – repudiei.
- Ah, não é o que a polícia acredita – replicou ele. – Afinal, você mesmo quer que eu assuma o homicídio de uma policial, não é mesmo?
Um interrogatório, era como aquilo se chamava. Uma sala com uma cadeira para o interrogador, uma cadeira para o segundo detetive, que eu dispensei, e uma cadeira desconfortável para o suspeito; além de uma mesa. Um investigador frente a frente com um suspeito. Na porta, para a segurança, normalmente ficava um policial, mas eu também o dispensei. E, tipicamente, uma parede falsa na sala. Um espelho que escondia uma sala ao lado, onde se encontrava policiais que observavam o dialogo entre policiais e suspeito de crime.
Todos os acusados pouco menos ignorantes sabiam que estavam sendo examinados, e essa era outra tática da polícia. O criminoso se sente observado e fica mais ansioso. Além de que protegia esses observadores, permitindo que eles continuassem anônimos à vista do criminoso, evitando retaliações. O único desprotegido era o investigador, como , que morreu por estar às vistas dos criminosos. Poderia se dar um jeito nisso também, não? Ou pelo menos manter os criminosos na cadeia e os helicópteros a metros de distancia das penitenciarias, né? Ou seria pedir muito?
- É, mas você não mataria nem uma mosca – argumentei. - Eu sei que você não a matou. No fundo, você é um homem bom. Acabou caindo em um lado ruim, mas não teria essa coragem toda, não?
Sorri ao imaginar a expressão dos observadores daquele interrogatório. Mr. Freud ficara assíduo com a notícia, e saiu correndo de uma reunião direto para a sala de interrogatório da Scotland Yard, e, agora, devia estar com um olhar de observador onipotente, só analisando os meios que eu usava para a conversa fluir de maneira positiva à polícia. A forma que adotei, a partir do momento em que examinei o criminoso, foi que o manipularia, o acovardaria, o subordinaria, o trataria como um zero a esquerda. Não que ele fosse diferente.
Outra pessoa que estava presente atrás das cortinas era Reina. Numa pequena conversa que tive com ela, a mesma me confidenciou que nunca havia visto um interrogatório, apesar de ser fascinada pelo mesmo. Assim, na primeira oportunidade que surgiu, a convidei a observar pela chave de fechadura, como gostava de chamar a sala onde podia se ver tudo sem revelar sua identidade. Ela estaria com uma expressão extasiada no rosto, um sorriso de perplexidade e felicidade totalmente aberto. Aquele sorriso perfeito.
- Se você acha, melhor para mim – refletiu Adas. – Evita prisões.
- Está equivocado. Não vai evitar essa prisão, não – declarei. Ele voltou a dar ombros, me encarando a todo o momento. - Então você admite que estava no armazém limpando e arrumando armas e munições? – desviei o assunto mais uma vez.
- Eu nunca neguei – murmurou ele em resposta. Eu sentei de volta na cadeira.
- Assim como não nega que matou ou participou como cúmplice da morte da policial formada ? – interroguei.
- Não sei nem quem é – respondeu o bandido.
- Vou relembrar para você então: A policial que você matou, ou outro bandido da sua quadrilha, com um tiro na cabeça. A mesma que prendeu há alguns anos atrás o líder do seu grupo. Posso até imaginar a cena: vocês roubam qualquer lugar e chamam atenção da polícia, sequestram durante o processo, a levam para um balcão abandonado e torturam-na um pouquinho. – minha voz falhou ao dizer aquilo – E depois, matam-na com um tiro na cabeça.
- Ah, a que colocou o Cebola atrás das grades? – perguntou, ignorando toda a minha panorama do crime. – Ele nem é mais nosso líder.
- E quem é o novo líder premiado?
- Não interessa. – Bufei.
- Vamos fazer um trato, afinal, nós temos interesses mútuos – comecei. – Você quer ser solto, eu quero saber quem da sua gangue matou a policial. Ou foi você mesmo? Vamos, confesse logo e negociamos sua pena.
- Voce acha que eu sou idiota? – disse Adas, me analisando. – Se, e eu disse se, eu tivesse matado ou soubesse quem matou sua querida coleguinha – falou com desprezo – eu não falaria.
- Pena de morte então? – inquiri, ignorando o fato do Reino Unido não adotar esse método de punição.
- Eu não matei aquela puta. – E eu me segurei para não levantar dali e dar um bom soco na cara daquele desgraçado. É, no final ele até me agradeceria por dar um jeito naquele rosto horrível. – E vocês não têm nenhuma prova contra mim.
- E as digitais? E o flagrante? – inquiri.
- Não há digitais minhas em não sei aonde. E o flagrante, no máximo, me dá uns aninhos na cadeia.
- Será? Porque se eu mexer uns pauzinhos consigo pena perpétua só de estar com posse ilegal de armas de calibres pesados e, sendo assim, uma ameaça a vida pública – ameacei.
- Ótimo. Faça isso então – respondeu ele, numa postura desleixada e indestrutível. Ele não era nem um pouco influenciável.
- Vamos, eu não vejo a hora de sair daqui, admita logo tudo.
- Ah, agora o senhor quer sair daqui? – perguntou retoricamente. – Eu também queria há muitos minutos atrás e é como o senhor mesmo disse, “eu começo quando eu quiser” – imitou minha voz. – E também termina quando você quiser.
- Verdade – concordei. Abri uma gaveta da mesa com a chave que peguei no bolso. Tirei de lá uma caneta azul e um papel em branco – Então comece a ditar os nomes dos seus amigos – ordenei, me referindo aos integrantes da quadrilha. – Ou prefere escrever? – ainda indaguei, erguendo o olhar que estava na folha sorrateiramente para ele.
- Pode guardar, eu não vou falar nada. – Suspirei. Chega! Pensei. Já estava a mais de três horas naquela sala sem conseguir arrancar nada daquele sujeito. – Nem escrever.
As palavras a seguir foram soltas num embate. Eu levantei da minha cadeira e apertei o botão embaixo da mesa, que permitia que a conversa se tornasse pessoal, entre o investigador e o suspeito, e cortasse a transmissão para os espectadores.
- Eu vou prender você e toda sua quadrilha pela morte de . E o filho da puta infeliz do seu amiguinho que deu o tiro nela, ou fez algo mais que não quero nem pensar, vai sofrer muito em minhas mãos! Tal quanto meu nome é ! – esbravejei, me dirigindo até a porta e a batendo rijamente.
Dirigir-me ao hall depois de toda aquela tensão foi bom. O Nescau sempre me acalmava. Eu nunca gostei de café, então sempre que eu estava muito atormentado e nervoso durante o trabalho eu ia até a cantina e fazia minha bebida quente preferida, Nescau, que me tranquilizava. Revigorante, gostoso, quentinho, delicioso.
O interrogatório havia sido um fracasso. Imbatível, o suspeito não caiu em nenhumas das táticas da polícia, e olha que eu usufruí todas que aprendi. Eu o confrontei, supus, o rebaixei, fingir estar ao lado dele, mas de nada adiantou, ele não caiu em minhas armadilhas, e não falou absolutamente nada que interessasse a polícia. Talvez tenha dito que o líder mudou, mas não sabendo a identidade do mesmo não faz muita diferença. E, sobre o caso da em si, ele fingiu não conhecê-la, a xingou, e negou tudo, sempre me enfrentando e me confrontando.
Argh, eu odiava falhar em um julgamento. Mas esse foi diferente. Normalmente os fracassos vinham porque os suspeitos ficavam em silencio e com um advogado ao lado. Nesse, ele respondeu todas as minhas perguntas e recusou advogado. E, mesmo assim, não deixou escapar nada importante. Isso me fazia sentir um fracasso.
- ! – exclamou uma voz, quando eu preparava o quarto copo de achocolato. Virei-me e me deparei com Reina aproximando-se com passos largos e acelerados. – Estou tão feliz! – continuou ela, acabando com a distância entre nós e me abraçando.
- Só se for você – murmurei em resposta, rude. Eu era assim com as pessoas. Descontava nelas todo meu estresse e minha tristeza e as tratava mal.
- Grosso! – esbravejou ela, soltando-me, sem alteração no humor. A observei, e pude reparar o lindo sorriso estampado no rosto. – Mas mesmo assim, eu te amo – brincou ela.
- Sério? Eu pensei que teria que gastar muita grana com encontros e presentes para ganhar um eu te amo, mas você me poupou consumir todo o meu pouco salário – zombei.
- Ah, sem graça! – Ela deu língua. – Eu amo o seu trabalho, não você. Mas... – Ela continuou, me impedindo de intervir. – Eu adorei o interrogatório – revelou.
- É? Eu não.
- Poxa, não fique assim. Você foi ótimo – admitiu ela, passando a mão em meu rosto, contornando minhas bochechas e queixo com a mão.
- Eu não consegui tirar nada daquele sujeito – falei baixinho. Ela havia removido a capa dura que uso com todos.
- Não fique assim – exclamou ela, tirando a mão do meu rosto, o que me fez quase relutar. A mão dela era macia, gostosa, delicada, e fazia um carinho muito bom. Felizmente, logo ela pegou minha mão direita e começou a fazer movimentos circulares na palma da minha mão. – Você fez o melhor que podia. Usou tudo que sabia, e muito bem. Você foi demais!
- Obrigado – agradeci, abrindo um sorriso. Para minha sorte, ela também abriu aquele sorriso maravilhoso e me abraçou. Eu também envolvi meus braços em suas pequenas costas e me deliciei sentindo o cheiro do perfume de flores que usava.
I spit out like a sewer hole
Yet still receive your kiss
How can I measure up to anyone now
After such a love as this?
Capítulo 6
Saí da cantina assim que Reina recebeu um chamado do supervisor para comparecer à sala dele. Nós conversamos sobre o interrogatório, debatemos sobre as respostas de Adas, sobre o caso, mas não tiramos nenhuma vitória do interrogatório. Depois ficamos conversando sobre as rotinas da vida, o trabalho puxado, as noites sem dormir, o estudo intensivo e o quanto tudo aquilo valia a pena quando nós gostávamos do que trabalhávamos. Ela, tanto quanto eu, adorava tudo ali. Era visível em seus olhos o brilho de somente dialogar sobre o assunto.
Percorrendo o caminho de volta a minha sala observei muitas pessoas concentradas no trabalho. Para ser da Scotland Yard, só assim mesmo. Tinha que gostar muito do que se fazia.
- Doutor , o senhor chegou. – Deparei-me com o rapaz logo que entrei na minha sala. – O senhor sumiu depois do interrogatório.
- O que está fazendo aqui, ? – inquiri, ignorando as frases anteriores do moço.
- Estou só seguindo o líder de minha equipe – murmurou o loiro.
- Ok. – Suspirei, antes de me sentar. Não podia negar, apesar de chato ele era esperto. – Estava observando o interrogatório? – indaguei e ele assentiu. – Então me diga o que concluiu – pedi.
- Eu tenho por mim que essa tal quadrilha, terroristas londrinos, não matou a agente . – Engoli seco. Ainda era difícil escutar de outros que havia partido. Calma, ele achava que aqueles assassinos eram inocentes? - Mas acho que não é a melhor hora para impô-las. Até porque você não irá acreditar em mim.
- Tá, tá, tanto faz. Não estou com paciência para ouvir os seus devaneios inúteis – cortei grosso. – De todos os casos que já trabalhou, a única quadrilha que ainda se encontrava formada é essa – justifiquei. – Temos motivo, temos armas do crime correspondentes a armas que eles têm, temos tudo que os qualifique como os assassinos e cúmplices do crime.
- Ok, senhor. Mas como descobriremos quem foi que matou? Você sabe que os integrantes da quadrilha não entregam os outros. X9 é o primeiro a morrer.
- Aonde aprendeu isso? – perguntei. Aquilo não era falado na polícia.
- Ah, facebook. – What?!
- Face quem? – indaguei, desconhecendo o que ele havia falado.
- É uma rede social. Você não frequenta meios sociais na internet, não?
- Er... Eu tenho e-mail, serve? – perguntei, recebendo risinhos como resposta.
- Depende – respondeu simplesmente .
- Hm... Ok – murmurei, ainda confuso. As únicas tecnologias que conhecia e usava eram ligadas a investigações policiais. – Mas você tem mesmo razão, eles normalmente não falam. Entretanto, se eu oferecer uma recompensa... – deixei a frase no ar.
- É, pode ser que você consiga – admitiu ele por fim. – Bom, eu vou para casa descansar. Já são nove horas da manhã.
- Daqui a pouco você acostuma em não dormir todos os dias, novato. Até lá, desfrute de sua parentada com o diretor – declarei e ele só fez uma careta antes de sair.
You were my conscious
So silent, now you're like water
And we started drowning
Not like we'd sink any farther
But I let my heart go
It's somewhere down at the bottom
But I'll get a new one
And come back for the hope that you've stolen
I'll stop the whole world
I'll stop the whole world
From turning into a monster
And eating us alive
Don't you ever wonder how we've survived?
Well now that you're gone
The world is ours
I'm only human
I've got a skeleton in me
But I'm not the villain
Despite what you're always preaching
Call me a traitor
I'm just collecting your victims
And they're getting stronger
I hear them calling (Calling)
They're calling
I'll stop the whole world
I'll stop the whole world
From turning into a monster
And eating us alive
Don't you ever wonder how we've survived?
Well now that you're gone
The world is ours
Estar ali de novo era estranho. Ao mesmo tempo em que eu queria voltar logo para lá e saber a verdade, eu queria adiar cada vez mais a mesma verdade, por medo. Confuso.
Depois de conversar com o diretor, receber mais uma dura dele além de ser relembrado do prazo super apertado - que agora não passava de dois dias - eu fugi do escritório da Scotland Yard e segui para o balcão, que um dia foi abandonado. Agora ele estava lotado de policiais, peritos, agentes, e governo. Foram os últimos que me irritaram logo que cheguei:
- , quais são as informações sobre a autopsia? – indagou Ruldfor, o representante do governo, assim que entrei no escritório improvisado para informar minha chegada.
- Eu estive muito ocupado esses dias. Prendemos um dos integrantes da quadrilha e eu o interroguei, por isso não pude ainda saber os resultados do exame interno.
- Você é faz-tudo aqui? – inquiriu. - Líder do caso, perito, agente, policial, investigador... – esnobou ele.
- É o jeito que se toma quando o governo não libera verba suficiente – murmurei em resposta.
E, assim, ele suspirou qualquer coisa e saiu andando. Ridículo. Prossegui minha caminhada até o caminhão de legista. Seria hoje e não passaria disso.
- Lewis, o exame – solicitei, assim que entrei no caminhão sem pedir permissão.
- Acalme-se, – ele exclamou. – Façamos igual Jack, o estripador, vamos por parte; Aliás, você sabe que esse é considerado um dos casos mais misteriosos do mundo? Não se sabe até a atualidade quem foi o serial killer que assombrou nossa querida cidade ao final do século XIX e matou ao menos cinco prostitutas de forma brutal. Houve muitos suspeitos, inclusive o neto da rainha Vitoria, mas ninguém foi acusado. Eram casos alucinantes, os corpos eram totalmente cortados e as gargantas dilaceradas, por isso a expressão “vamos por parte”. Outra marca dele era deixar suas vitimas...
- David, por favor – interrompi o legista. – Você sabe que eu adoro ouvir suas historias, ainda mais de um seria killer tão famoso e enigmático, mas eu realmente preciso saber.
- Ok, ok. Primeiro vamos ver o corpo, quero mostrar para você uma coisa que reparei – avisou ele. – Você está preparado para ver?
- Sim, sim. Mostre-me – murmurei. – Me trate como um agente qualquer, por favor – pedi e ele só assentiu.
Ele foi até um das gavetas e a puxou. Com minha ajuda, retiramos o corpo dali e o colocamos na mesa de autopsia. Eu tentei só fazer o trabalho de força e não olhar para o corpo de . Lewis desceu o lençol branco que cobria o corpo até seu colo. Podia-se ver o corte profundo e a costura por cima, que começava nos ombros, em forma de Y, marcas do exame interno feito por Lewis.
- Como você pode ver, há manchas na pele dela, que até então estavam cobertas pela roupa – ele começou, apontando para o colo e as marcas roxas que havia ali. Aquele colo que eu beijei e mordi tantas vezes. – Sugerem que algum objeto, provavelmente uma arma, foi pressionado contra esses locais. – Fechei os olhos – Também há marcas dessa na barriga – continuou ele, abaixado ainda mais o lençol para que pudéssemos ver a barriga seca de . Seus seios com aquele tamanho maravilhoso, que mordi, beijei e suguei durante a vida, ficaram à mostra. Mais abaixo avistei outras marcas roxas, semelhantes às anteriores.
- Só isso? – forcei, segurando para as lagrimas não caírem.
- Sim. – Ele voltou a cobri-la totalmente. – Tenho a hora da morte também. Com base no estomago, a hora da morte está entre 13 e 17 horas antes de encontrarmos o corpo. Então, ela foi assassinada entre 15 horas a 19 horas de terça-feira.
- E a bala?
- Está aqui – falou ele, indo até o canto do caminhão e pegando o saquinho com a bala. – Pistola.
- Pistola? Com tantas armas pesadas encontradas aqui eles deram um tiro de pistola? – desacreditei.
- Sim. Veja a entrada da bala – apontou para a cabeça de . Eu evitava olhar em seu rosto. Era mais fácil para pensar não ser ela ali naquela maca. Olhei, engolindo em seco, com os olhos tomados de água – É pequena. E o projetil não saiu. Pela direção da entrada, supomos que atiraram com alguns graus a mais de altura. – Desviei o olhar. Ele continuou: - O tiro foi dado por uma pessoa em pé, enquanto estava sentada. Ou, ajoelhado enquanto ela estivesse deitada.
Imaginei a cena. sentada numa cadeira, amarrada com os braços e pernas para trás. Os bandidos a ameaçando e finalmente dando-lhe o tiro na cabeça, um rapaz de pé a alguns metros de distancia. As lagrimas inundaram meus olhos e começaram, lentamente, a passear por todo o meu rosto.
- E o exame? – indaguei.
- Ô meu amigo – exclamou Lewis, largando o envelope da bala ao lado e vindo em minha direção.
Agora sim, ele pode me envolver totalmente em seus braços e me acomodar em seus ombros enquanto eu simplesmente me debulhava em lágrimas relembrando de . A minha garota.
I miss you – Blink 182
Hello dear,
The angel from my nightmare
The shadow in the background of the morgue
The unsuspecting victim of darkness in the valley
We can live like Jack and Sally if we want
Where you can always find me
And we'll have Halloween on Christmas
And in the night we'll wish this never ends
We'll wish this never ends
I miss you, miss you
I miss you, miss you
Where are you and I'm so sorry
I cannot sleep I cannot dream tonight
I need somebody and always
This sick strange darkness
Comes creeping on so haunting every time
And as I started I counted
The webs from all the spiders
Catching things and eating their insides
Like indecision to call you
And hear your voice of treason
Will you come home and stop this pain tonight
Stop this pain tonight
Capítulo 7
No surprises – Radiohead
A heart that's full up like a landfill
A job that slowly kills you
Bruises that won't heal
You look so tired and unhappy
Bring down the government
They don't, they don't speak for us
I'll take a quiet life
A handshake of carbon monoxide
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
No alarms and no surprises
Silent silence
- David, por favor, não me enrole mais – supliquei no ouvido dele, ainda em seus braços.
- , eu fico preocupado com você. Imagino o quanto esteja sofrendo por ter que trabalhar no caso de sua namorada – exclamou ele, enquanto nós nos afastávamos.
- Mas eu quero saber. Preciso – o cortei.
- Eu sei, por isso eu não vou mais adiar a resposta. Você saberá a verdade agora – explicou Lewis, indo até uma das gavetas no canto do caminhão. Pegou um envelope branco e me entregou. – Aqui está. Eu me comprometi que você seria o primeiro a conhecer o resultado e assim será. Independente de qualquer a resposta, quero que saiba que eu estou aqui para te dar todo o apoio possível.
- Obrigado David – agradeci, tomando num impulso o exame das mãos dele, para que o medo não me invadisse de vez.
Não que eu não estivesse com medo. Era difícil descrever a combustão de sentimentos que usurpavam meu ser. Eu havia por dias ansiado ter aquele exame em mãos, independente do resultado, mas, agora, eu não queria abri-lo. O medo da resposta havia me invadido.
Minhas mãos tremiam e meu sistema nervoso não permitia que meus dedos se deslocassem para abrir a lacra. Sabe àquelas horas em que você quer fazer algo, porém seu sistema nervoso, geralmente por pavor, o trava? Era isso que estava acontecendo.
Respirei profundamente, tentando eliminar todo aquele temor, aquele sentimento de inquietação diante de um perigo, e relaxar-me. Em vão na primeira das tentativas, pus-me a inspirar e expirar o ar dos pulmões repetidas vezes.
Depois de alguns calmos minutos eu me suavizei e voltei a dominar meu controle. Me sentindo previamente preparado para a revelação deslacrei o envelope. Suspirei, seria agora.
Tirei a folha com escritos do envelope e a observei. Ignorando os termos científicos e as várias linhas de conclusão que havia ali por meu nervosismo fui até o meio da folha e, em negrito, vi o resultado final: Positivo. Positivo para estupro.
Meu cérebro tardou a assimilar aquilo. Positivo. Positivo. Positivo. O resultado assombrava e repetia-se em minha cabeça e eu, por segundos, fique sem reação alguma. Engoli em seco e deixei as lágrimas escorrerem livremente.
David, percebendo minha reação, presumiu o resultado e veio até mim, pronto para oferecer-me novamente os braços. Mas eu recusei, balançando a cabeça negativamente e pulando do caminhão com o papel prensado sobre meu peito.
, , o quanto você sofreu?
California King Bed – Rihanna (modificada _ King para queen)
Chest to chest
Nose to nose
Palm to palm
We were always just that close
Wrist to wrist
Toe to toe
Lips that felt just like the inside of a rose
So how come when I reach out my fingers
It feels like more than distance between us
In this California queen bed
We're ten thousand miles apart
I bet California wishing on these stars for your heart for me
My California queen
Eye to eye
Cheek to cheek
Side by side
You were sleeping next to me
Arm to arm
Dusk to dawn
With the curtains drawn
And a little last night on these sheets
So how come when I reach out my fingers
It seems like more than distance between us
In this California queen bed
We're ten thousand miles apart
I bet California wishing on these stars for your heart for me
My California queen
Just when I felt like giving upon us
You turned around and gave me one last touch
That made everything feel better
And even then my eyes got better
So confused wanna ask you if you love me
But I don’t wanna seem so weak
Maybe I’ve been California dreamer
In this California queen bed
We're ten thousand miles apart
I bet California wishing on these stars for your heart for me
My California queen
Flashback ON – 9 meses
O som estridente propagava-se pela casa e eu me vi obrigado a acordar. Era um dos dias de folga em conjunto e nós havíamos dormido juntos na minha casa. Acordado pelo som alto de rock que emanava do amplificador do IPod, eu tentei tampar os ouvidos com o travesseiro. Todavia, os esforços para ignorar a música alta e voltar a dormir foram em vão. Desistindo, eu me vi forçado a levantar.
- , por que você tem que ligar essa música alta tão cedo? – indaguei mal-humorado, entrando na sala e a vendo sacolejar o corpo de maneira desleixada.
- Bom dia, amor! – exclamou ela, nem um pouco abalada pelo meu súbito –ou normal– mal humor. Se aproximou de mim ainda dançando e deu um selinho em minha boca. – Você sabe que eu adoro colocar música alta e dançar quando acordo. Relaxa. – eu sabia. Era uma mania dela. – Além disso, - ela continuou – já são 3 horas da tarde. - Era isso que dava dormir dia sim dia não e trocar o dia pela noite. Você se confundia e perdia a noção dos horários.
Apesar de ter sido despertado à força, vê-la dançar era muito bom. Ela mexia os braços no alto, fazia curvas invisíveis no ar com o corpo e mexia os pés no ritmo e em passos sincronizados.
A música que tocava era um rock punk agitado, entretanto ela logo acabou e substituindo-a começou a tocar uma musica mais lenta. se manifestou:
- , vem dançar comigo? – pediu, fazendo a carinha do gato de botas, aquela irresistível. Eu me mantive firme. – Por favor, zinho – ela suplicou mais uma vez, com a voz afetada. Eu suspirei, desistindo de me manter ali. Era impossível não ceder aos encantos de .
A abracei pela cintura enquanto ela despejava seus braços em meus ombros e unia nossos rostos. Seu nariz roçava em minha barba mal feita, uma sensação que ela adorava. Eu encostei minha testa em seu cabelo e senti seu perfume doce do dia anterior, que ainda emanava de seus poros.
Eye to eye
Cheek to cheek
Side by side
You were sleeping next to me
Arm to arm
Dusk to dawn
With the curtains drawn
And a little last night on these sheets
Encostávamos nossas partes de corpo de acordo com a música, nos mexendo calmamente para um lado e outro, no ritmo da canção.
- My California Queen – modifiquei no término do refrão, falando no ouvido de . A letra original era My California King, mas minha versão adaptada ficou muito boa. Ela abriu um sorriso enorme no rosto.
Nós só continuamos a nos balançar de um lado para o outro, com nossos corpos grudados. Os sorrisos estampados em nossos rostos. Era ótimo simplesmente ficar assim com ela.
- Essa música é linda, não? – perguntou . Eu assenti. A letra, apesar de um pouco triste, era bem bonita. – É bem casal apaixonado.
- Como nós – acrescentei.
- Sim – concordou ela. – Que tal ser a nossa música? – inquiriu.
- Como assim? – retruquei, não entendendo. Casais precisavam de músicas?
- Ah, é só para nós termos uma música – justificou ela. – Eu sempre vi filmes em que uma música bem bonita e romântica começava a tocar e a mulher falava: É a nossa música, amor! E eles iam dançar e se beijar – adicionou ela, me fazendo soltar risadas. Mesmo sendo uma policial veterana, uma pessoa responsável e altamente adulta, ela amava filmes e livros de romance juvenis.
- Mas nós não precisamos de uma música para dançarmos e beijarmo-nos – argumentei, com um sorriso safado estampado na face.
- Eu sei, mas eu quero. Vai, por favor, zinho! – mendigou ela. Sempre que ela suplicava algo, falava meu apelido ridículo que havia aprendido com minha irmã. Na época de criança minha irmã sempre me chamava assim e eu odiava, mas, quando o apelido saía da boca de era quase um elogio. E o que eu não fazia por aquela menina linda?
- Ok, nossa música, my California Queen – cedi e recebi um belo beijo em resposta.
Flashback OFF – 9 meses
O que fizeram com você, amor? O quanto você sofreu? Por que fizeram isso com você? Eu queria estar lá para sentir tudo que sentiu, para sofrer tudo que você sofreu. Por que tudo tinha que ser desse jeito? Você saiu da sua casa às escondidas sem me dar o prazer de ser acordado por seus beijos e sua presença em meu dia de folga. Deixou um bilhete avisando que iria para a Scotland Yard e voltaria à noite. Mas não voltou. Não com vida.
E agora, depois de conseguir ao menos afastar um pouco das lembranças e saudade de você, eu recebo o resultado do exame. Você foi estuprada. Seu corpo foi invadido por um caralho de um assassino que nem ao menos merecia pisar no mesmo chão que você. Forte e orgulhosa, você deve ter mostrado que não estava sofrendo com aquilo, mas por dentro você devia estar totalmente desnorteada, desamparada, simplesmente horrível.
Imagino que você tenha segurado ao máximo as lágrimas para não demonstrar fraqueza. Imagino o quão deve ter se sentido suja. Mas a culpa não é sua. Não.
Como tiveram coragem de invadi-la? Você era minha. Seu corpo era meu. Mas, apesar disso, eu preferiria mil vezes que você nunca mais olhasse em minha cara ou redigisse a palavra a mim, desde que ganhasse sua vida de volta. Ou, pelo menos, desde que você fosse para o céu pura, sem seu corpo invadido de forma brutal e horripilante.
E, pra todos que digam que imaginam o que ela sentiu naquele momento, vocês só acham que imaginam. Acham. Nem você nem eu sabemos o quão horrível a pessoa se sente. Somente as vítimas sabem o que passaram. Só a vítima sabe o quão horrível é tudo aquilo.
Capítulo 8
Achar-se ali novamente era no mínimo masoquista. É claro que eu não só imaginei voltar ali como queria voltar muitas vezes naquele local e ser recebido da forma que fui recebido na segunda. O problema era mais adiante. A forma que ela havia saído dali. Sem se despedir, sem me acordar, sem voltar.
E esse não era o maior problema. Entrar no apartamento de , do qual eu tinha a chave, não só me lembrava de nosso ultimo encontro, nossa última noite, mas de tudo que passamos. Olhar a casa dela, os objetos organizados, os livros juvenis, a coleção de filmes antigos, sua xícara do Bob Esponja ainda suja na cozinha, sua lingerie capciosa de renda, usada em nossa última noite, ainda na lavadora de roupas; tudo me lembrando dela, de suas manias, de seu jeito, de nosso relacionamento.
Apoiei-me no sofá, já com lágrimas escorrendo pelas memórias. Deitei-me no mesmo, jogando as pernas para cima, firmando-as no topo do sofá e largando a cabeça para baixo. Minha mãe sempre me repelia quando eu ficava nessa posição, pois o sangue se concentra todo na cabeça exercendo uma grande pressão, mas eu sempre a desobedecia. Eu adorava ficar daquele modo. Não diferente de hoje, me fazia refletir sobre a vida.
Nothing compare U 2 – Prince
It's been seven hours + fifteen days
Since u took your love away
I go out every night + sleep all day
Since u took your love away
Since u been gone I can do whatever I want
I can see whomever I choose
I can eat my dinner in a fancy restaurant
But nothing
I said nothing can take away these blues,
'Cause nothing compares
Nothing compares 2 u
It's been so lonely without u here
Like a bird without a song
Nothing can stop these lonely tears from falling
Tell me baby where did I go wrong
I could put my arms around every boy I see
But they'd only remind me of you
I went to the doctor guess what he told me
Guess what he told me
He said girl u better have fun
No matter what u do
But he's a fool
'Cause nothing compares
Nothing compares 2 u
Flashback ON – 8 meses
- Amor, eu preciso ir trabalhar – arrastei as palavras, lutando para me manter focado naquela função e não desistir de tudo e puxar para mais perto de meu corpo.
- Eu não estou te impedindo – zombou ela, erguendo as mãos para o alto em sinal de inocência.
- Você me deixa exausto – reclamei, olhando em seus olhos enquanto me encarava. – Mas ainda sim – relutei, estudando seu corpo nu coberto pelo edredom florido da cama de casal de – preciso estar na Scotland Yard daqui a pouco – argumentei.
- Ótimo – sua voz soou e eu pude sentir um pouco de magoa na mesma. – Então vou para casa descansar – incitou ela, empurrando o edredom que a cobria para baixo até os pés e levantando da cama, virando-se para mim para procurar suas roupas.
Não, isso era provocação. Seu corpo, que horas atrás havia sido unido ao meu por algumas vezes, em minha frente. Suas curvas, seus seios cheios e deliciosos, sua barriga durinha, suas coxas e nádegas volumosas e gostosas. Eu já sentia o sangue fluindo para meu pênis e o volume crescendo. Era tudo tão excitante.
Ergui um pouco do meu corpo, segurando sua cintura com as duas mãos e as pressionando. E ela protestou em resposta, se mantendo forte, coisa que eu já havia abandonado há muito tempo. Dane-se o trabalho, dane-se a Scotland Yard, danem-se os bandidos dessa porra do Reino Unido; eu tinha que penetrar em agora, tinha que sucumbir nossos desejos. E eu sabia que queria a mesma coisa, me provocando e fazendo aquele joguinho todo.
– Me deixa procurar minhas roupas – queixou-se ela, porém não moveu um só musculo como reprovação ou vontade de sair dali. Ela só desviou o olhar, simulando o empenho na busca de suas roupas. Essas haviam se perdido pela casa ontem no calor do momento.
- Você não vai precisar das roupas para isso – decretei, antes de finalmente puxá-la com força contra mim. Nossos corpos se chocaram e ela soltou uma reclamação, que logo foi abafada pelos gemidos seguintes da mesma.
- Ai – reclamei pelo braço dolorido, logo que despertei daquela soneca.
Meus pensamentos haviam flutuado e meu corpo havia relaxado. Com isso, logo minhas pernas despencaram para o lado direito e consequentemente instalaram-se sob meu braço, o imprensando. Conclusão, acordei daquele pequeno descuido com o braço doendo.
Mas essa dor não era nada, ela passaria em algumas horas ou dias. Todavia, a dor da perda era muito maior. Só de cogitar a possibilidade de não ver nunca mais, meu coração batia mais forte no peito, meus membros tremiam e ameaçavam vacilar, a garganta engolia em seco, e os olhos ficavam rasos d’água. Era aterrorizante.
Por isso eu preferia não pensar muito sobre isso. Saí do apartamento com os pensamentos inclinados para outro meio. Vingança.
E não precisa me advertir quanto a este sentimento. Ele é ruim, ele é insensato, imprudente, todos os sentimentos perversos que vierem a sua cabeça, entretanto, não mudará em nada minha decisão. Como na antiguidade, de acordo com o código de Hamurabi, dos povos mesopotâmicos, seria olho por olho, dente por dente.
Ok, eu não iria estuprá-lo, porque ele era sujo demais para simplesmente ser tocado, mas eu iria matá-lo com um tiro na cabeça, depois de sofrer tanto mais do que sofreu. Disso você pode ter certeza.
Guerra. Era isso que eles queriam, guerra? Então é isso que eles teriam.
This is war – 30 second to mars
A warning to the people
The good and the evil
This is war
To the soldier, the civillian
The martyr, the victim
This is war
It's the moment of truth and the moment to lie
The moment to live and the moment to die
The moment to fight, the moment to fight, to fight, to fight, to fight
To the right, to the left
We will fight to the death
To the Edge of the Earth
It's a brave new world from the last to the first
A warning to the prophet
To the liar, to the honest
This is war
To the leader, the pariah, the victim, the Messiah
This Is War
It's the moment of truth and the moment to lie
The moment to live and the moment to die
The moment to fight, the moment to fight, to fight, to fight, to fight
To the right, to the left
We will fight to the death
To the Edge of the Earth
It's a brave new world from the last to the first
I do believe in the light,
Raise your hands up to the sky
The fight is done, war is won,
Lift your hands toward the sun
Toward the sun, toward the sun, the war is won
Fight fight fight fight fight!
To the right, to the left
We will fight to the death
To the Edge of the Earth
It's a brave new world from the last to the first
A brave new world
The war is won
The war is won
A brave new world
I believe in nothing, not the end and not the start
I believe in nothing, not the earth and not the stars
I believe in nothing, not the day and not the dark
I believe in nothing, but the beating of our hearts
I believe in nothing, one hundred suns until we part
I believe in nothing, not in satan, not in god
I believe in nothing, not in peace and not in war
I believe in nothing, but the truth of who we are
Capítulo 9
Entrei no escritório embalado pela raiva que fluía em minha cabeça. Desprezei os cumprimentos feitos a mim e entrei em minha sala. Digitei os números de e ele apresentou-se ali em menos de sessenta segundos depois.
- , nós vamos prender o resto daquela quadrilha hoje. Eu quero todos presos e quem executou na minha mão – determinei, não esperando ele sentar.
- Embora eu não concorde com sua opinião sobre a quadrilha terroristas londrinos, você tem razão. Temos que prender ainda hoje os facínoras – concordou. – Estava conversando com meu tio há poucos minutos e ele mais uma vez me incumbiu de apertar você para o prazo. É amanhã.
- Eu sei. Merda! Merda, merda, merda, merda – invoquei exacerbado. – Se as bostas dos policiais não consegue encontrar aqueles bandidinhos de merda, eu vou procurá-los – sentenciei.
- , eu não acho prudente o senhor procurar. Temos ainda muitas coisas para resolver aqui, há muitos...
- Não me importa. Estou saindo – exclamei, antes de pegar meu celular na mesa e sair num rompante.
Vaguei a rua por não sei quanto tempo. Nos primeiros minutos eu saí da sede da Scotland Yard, dispensei um carro e caminhei rapidamente pelas ruas londrinas. Algum tempo depois eu percebi que estava andando sem rumo. Caminhando pelas ruas sem saber para onde ir e onde procurar. Tudo no escuro.
Meu estomago reclamou e me trouxe lembranças da minha última refeição, coisa japonesa entregue na sede, que já havia sido posta para baixo a mais de quatro horas. Avistei uma Starbucks logo à frente e segui até aquele antro de perdição.
Fiz a solicitação no caixa e sentei em uma das mesas afastadas, aguardando meu Nescau e muffins de doce de leite, mesmo pedido sempre que ia ao Starbucks.
Flashback ON– 7 meses
Constantes eram as novas visitas ao Starbucks. Pelo menos uma vez por semana, em nossos dias de folga ou quando nossos horários coincidiam pela manhã, nós seguíamos para a Starbucks mais próxima e pedíamos os mesmos pedidos. A atendente, uma moça loira simpática que já nos conhecia e sempre nos cumprimentava, nos servia rapidamente.
- Hm... Delícia – exclamou enquanto bebericava seu primeiro gole do café forte da lanchonete e sentava-se a mesa de madeira.
- Tem certeza que você não quer comer nada, amor? – perguntei, sentando a sua frente e estendendo-lhe um muffin. - Sabe-se lá que horas você vai poder comer novamente trabalhando – argumentei, lembrando a ele que nós passávamos horas e horas sem comer nada enquanto estávamos de serviço na Scotland Yard.
- Eu não quero não, . Já falei – aborreceu-se ela. Ela não gostava que as pessoas insistissem várias vezes numa mesma coisa. Ela já havia respondido uma vez, e isso para ela era suficiente. – Esse café já me deixa satisfeita por horas.
- Desculpe, só estava preocupado com você – exclamei, um pouco magoado. Eu sempre fui duro, com uma armadura no peito que impossibilitava que qualquer um entrasse, mas com era diferente. Ela havia me conquistado. E, quando via aborrecida, chateada comigo, eu ficava triste também, por vê-la daquele jeito. Por quê? Eu acho que amor é a única explicação. – Me perdoa? – supliquei-lhe.
- Claro, amor – confirmou ela, debruçando-se sobre a mesa e passando a mão por meu rosto. – Não foi nada, bobo. – e despejou um selinho em minha boca. – Te amo.
- Te amo mais – falei, dando-lhe um selinho.
-Não, eu te amo mais – respondeu ela.
- Linda.
- Lindo.
- Te amo.
- Te amo.
Eu sorri em resposta, acabando com aquele joguinho, e ela também abriu um lindo sorriso. Grudei nossos lábios novamente, agora de forma mais lenta. Ela colocou as mãos em minha nuca e eu emaranhei meus dedos em seus cabelos, pedindo passagem para minha língua. Ela permitiu, e nossas línguas começaram a se movimentar de forma perfeita e lenta, apreciando cada segundo do beijo.
Flashback OFF– 7 meses
Dead Memories – Slipknot
Sitting in the dark, I can't forget
Even now, I realize the time I'll never get
Another story of the Bitter Pills of Fate
I can't go back again
I can't go back again
But you asked me to love you and I did
Traded my emotions for a contract to commit
And when I got away, I only got so far
The other me is dead
I hear his voice inside my head
We were never alive, and we won't be born again
I'll never survive with dead memories in my heart
Dead memories in my heart
Dead memories in my arms
You told me to love you and I did
Tied my soul into a knot and got me to submit
So when I got away, I only kept my scars
The other me is gone
Now I don't know where I belong
We were never alive, and we won't be born again
I'll never survive with dead memories in my heart
Dead memories in my heart
Dead memories in my heart
Dead memories in my heart
Dead Visions in your name
Dead Fingers in my veins
Dead Memories in my heart
Dead memories in my heart
Dead memories in my heart
Pensar era a última coisa que eu queria no momento. , morte, bandido, estupro... Ficavam rondando minha cabeça, mas eu me concentrei em esquecer previamente aquilo tudo e me focar na vingança.
Eu não sabia como encontrá-los e qual seria minha reação ao ver a cara do assassino de , mas tudo que eu mais queria era ver aquele rosto. Agarrar minha arma na cintura e fazer um buraco bem no meio da testa da criatura, assim como da mesma forma que ele fez com . Eu só não sabia que seria tão fácil encontrá-los.
Logo que saí do Starbucks, caminhando pelas ruas de Londres distraído, senti mãos em meus braços me puxando para dentro de um beco. E antes que eu gritasse por socorro, senti algo em meu rosto. E, em seguida, tudo se apagou.
Capítulo 10
The current – Gavin Rossdale
Goin' down.
Goin' down.
Down where my breath is the only sound.
Goin' down.
Goin' down.
Goin' down.
Don't look for me now, I'm not around, all day long I'm underground.
I've been thinkin' about the future.
I've been waitin' for the day.
Let the current carry me, far away.
Let the current carry me away.
Current flows, I don't know where it goes.
I don't care, I just get it there.
Took this job, 'cus I needed one.
'bout seven years, since I've seen the sun, all day long, I'm underground.
I've been thinkin' about the future.
I've been waitin' for the day.
Let the current carry me, far away.
Let the current carry me away.
I've been thinkin' about the future.
I hope someday, I'll get away.
But the current keeps bringin' me, back around.
Seems the only place for me is, underground.
So tomorrow when the sun comes up, I'll be goin' down.
Goin' down.
Goin' down.
Acordei transtornado. Ainda com os olhos fechados mexi-me um pouco, e percebi estar sentado em algo rígido e desconfortável. Minhas mãos estavam presas fortemente por algo e se encontravam atrás do meu corpo.
Relembrei o acontecido. Estava vagando pela avenida quando, de repente, dois homens apareceram na minha frente. Um me segurou pelos braços, prendendo meus movimentos, e outro colocou qualquer droga ou sonífero em meu rosto, o que fez minha visão se turvar, transmitindo todas as imagens de forma embaçada. Alguns instantes depois, meio dopado pelo alucinógeno e com a movimentação e visão comprometidas, as coisas ficaram pretas. E, a partir daí, não me recordo de nada, só de acordar agora e ver que estava amarrado.
Abri os olhos e pela primeira vez observei o local em que estava. Um grande espaço amplo e vazio. Uma escada velha de alumínio enferrujada a direita e muitas caixas de papelão encostadas nas paredes do galpão. Quer dizer, aquilo parecia um galpão. O teto característico, com lonas, a grande altura que o mesmo se encontrava, o amplo espaço.
Reparei em mim mesmo. Eu estava sentado numa cadeira de madeira, amarrado pelos tornozelos e pulsos na mesma por cordas grossas de náilon. Um entrelaço de nós entre meu corpo e o assento que o segurava que dificultava minha soltura dali. Senti falta de um incomodo no quadril e percebi estar desprovido da arma que sempre ocultava ali, no cós da calça. Comecei a me remexer, tentando soltar-me dali, mexendo compulsivamente de um lado para o outro.
Mas, apesar de meus esforços, tudo que consegui foi ir de encontro ao chão. Desprovido das mãos para apoio, bati com o rosto direto no pavimento duro e frio, fechando os olhos involuntariamente. Senti o impacto e a dor logo depois. Fiz uma careta e, passando a língua pela boca, senti gosto de sangue.
- Ah, você acordou! – assustou-me uma voz. Forcei para mudar de posição e virar minha cabeça para onde a voz proclamava. Tarefa árdua essa, já que meu rosto estava pressionado contra o chão. – Já se rebelou é, policialzinho de merda? – Ri em resposta no mesmo instante em que obtive sucesso no meu objetivo e consegui avistar o dono da voz.
Ignorando a dor em todo o corpo, me concentrei em observar o sequestrador, enquanto o mesmo descia as escadas lentamente, marcando cada passo que avançava. Alto, magro, com tatuagens por todos os braços, recobertas pelo excesso de pelo que havia ali. Uma barba mal feita se sobressaía em seu rosto repleto de cicatrizes. Algumas se destacavam das outras, por serem de vasto tamanho e profundidade ou por darem a impressão de terem sido costuradas há poucos minutos atrás, com sangue e pontos totalmente aparentes, ou simplesmente estarem abertas ao relento e às infecções.
- Quer que eu te levante daí? – continuou a voz grossa. Um sorriso doentio brotou nos lábios do orador. Os olhos brilhavam e eu tive a pequena impressão de que a satisfação e a violência saltavam dali. Logo o mesmo pôs-se a responder – Vou te deixar um pouquinho aí. Ninguém mandou ser rebelde, agora terá que aguentar.
- Quem é você e o quer de mim? – inquiri trêmulo, ignorando todo o pronunciamento sobre minha personalidade teoricamente rebeldia.
- Tenho que resolver uns carregamentos de drogas agora – expôs o fato de ser traficante de drogas sem rodeios, explicitamente. Nada bom – Daqui a algumas horas volto para conversarmos. Divirta-se – finalizou ele, sorrindo morbidamente.
Soltou uma risada, desdenhando de minha posição nada confortável, e andou para o lado oposto em que estava caído. Mesmo forçando-me para virar ao máximo meu rosto para o caminho em que o bandido fazia, não consegui acompanhar mais que alguns passos do homem tatuado pelo grande balcão.
Suspirei. Tudo que eu sabia no momento era que a saída daquele lugar era às minhas costas, porém eu nem ao menos a alcançava com os olhos. Tudo que eu via era escuridão. Para piorar a situação eu nem sabia onde estava. Não sabia se ainda estava em Londres, ou se haviam me levado a outro distrito. Não sabia nem que horas ou em que dia do mês ou da semana nós estávamos! A única coisa que eu sabia no momento, era que meu estomago protestava de fome. Até mesmo meu organismo, que estava acostumado a ficar horas sem comer, já estava reclamando por falta de alimento!
Para completar minha lista de problemas, a posição que eu me encontrava era horrível. Minha boca estava latejando de dor, enquanto o sangue escorria dela e enodoava o chão abaixo de mim. Meu ombro também começava a pulsar, protestando contra o peso de meu corpo e de parte da cadeira sobre ele. Ah, a cadeira. Essa, de madeira legitima, incluindo o peso, pressionava minhas costas, machucando-as.
Tentava me desvencilhar da dor, afinal, nós aprendíamos nas aulas de psicologia da faculdade que a dor era uma resposta ao corpo de que alguma coisa estava errada, fora do lugar. Até aí tudo bem, não é como se eu pensasse que estar desse jeito fosse certo ou normal. Contudo, aprendíamos também que a dor era psicológica, ou seja, era programada por nossa cabeça que, por sinal, nos enganava.
Conclusão, tudo que eu precisava fazer era não me deixar fantasiar por minha cabeça. Dor era uma palavra que não podia ser pensava agora. Estou bem, estou bem, era o que eu repetia sozinho naquela imensidão.
Não sei quanto tempo já estava ali. Talvez já tivesse passado algumas horas, com as mesmas coisas acontecendo: Dois ou três mililitros pingavam na poça de sangue a cada cinco minutos. As costas se encolhiam ao máximo involuntariamente pela pressão que a cadeira exercia, que a cada segundo parecia ainda mais pesada. Podia sentir os roxos dos ombros se formando e evoluindo de tamanho enquanto os instantes corriam.
Talvez, no entanto, o tempo não tenha passado tão rápido. Porventura, só houvesse passado poucos minutos. Eu já havia perdido o senso. Sentia minha respiração cada vez mais devagar e forçava para conseguir puxar ar o suficiente. Por vezes, minha visão ficava turva e tudo se tornava borrões.
A dor era constante também. Eu até havia tentando esquece-la, mas tudo eu consegui foi me sujar com meu próprio sangue, atirando meu rosto na poça de sangue por pura frustração.
Bufei. Será que aquele porra daquele bandido de merda não podia chegar logo? Afinal, o que aquele cara inundado de cicatrizes na face queria comigo?
A confusão crescia em minha cabeça. Porque havia me sequestrado por fim? Minha mente trabalhou em descobrir alguma hipótese relevante, todavia a única conjetura que surgiu foi um sequestro em busca de uma bela quantia de dinheiro como resgate. Mas o bandido teria tanto azar em sequestrar um policial?
E, nesse instante, ele com certeza já sabia que eu era membro da polícia. Minha arma já havia sido retirada do bolso e minha carteira, onde se encontrava o distintivo, também já devia ter sido recolhida ou, pelo menos, examinada. Tudo se encaixava então. O porquê de me guardar aqui por tanto tempo sem pedir nada em troca... Refleti.
Entretanto, apesar de tudo se encaixar, algo me dizia que não era aquilo que aconteceu. Não foi somente um acidente. Tinha alguma coisa haver com . Eu sentia...
Flashback ON– 6 meses
- Ai, que saudades suas! – revelei a , dando-lhe um selinho. Ela estava na sala dela, alternando-se entre o computador e o maço de papéis distribuídos pela mesa.
- Meu amor, quanto tempo! – respondeu-me no mesmo tom, e agora fora a hora dela me dar um selinho. – Estou aqui num mar de papéis, tentando ler tudo do caso. – Fez uma careta.
Eu contornei a sala e sentei-me na cadeira em frente à mesa e a ela, me acomodando ali.
- Quer me contar do caso?
- Há dois dias encontramos um corpo do lado oeste da cidade com indícios de estupro. Toda cortada e machucada, realmente horrível. – Fixou seu olhar no meu, apontando-me os papéis. - Esses papéis são de um caso de três anos atrás que outra equipe da Scotland Yard investigou. Tratava-se de uma mulher também encontrada por aqueles lados, que fora estuprada, violentada e torturada. Os dois casos apresentam características parecidas e um suspeito em comum. Bom, no primeiro caso, ninguém foi preso, porque não acharam provas suficientes para condenar o homem. – Olhou o documento. - Adam Endean – leu o nome do acusado. – Agora, nós podemos o criminar pelos dois crimes. – Ela deu ombros, como se fosse normal.
Na verdade, era. Para nós, policiais, casos que se entrelaçam, suspeitos impunes, tortura, violência, abuso, eram normais. Nós víamos aquilo todo dia, toda hora! Com isso, entretanto, não queremos dizer que não nos assustávamos com cada caso, sofríamos vendo aqueles corpos e tremíamos em pensar no que a vítima passou. Uma palavra: costume. A gente só havia se acostumado com tudo aquilo.
E isso, sinceramente, não sei se é bom. Não sofrendo tanto, nos tornamos frios. Afinal, às vezes, não é bom sofrer? Deixar que as lágrimas caiam dos olhos e escorreguem por entre as linhas do rosto? Eu já havia passado por isso. Minha mãe morreu. Minha mãe de sessenta e sete anos, que cuidou de mim durante toda minha vida. Desde os nove meses na barriga, as noites perdidas quando eu era bebê, rebeldias da adolescência, até quando ela adoeceu de câncer. Lutou por anos e anos, cirurgias a cirurgias, radioterapia a radioterapia. E então, no dia que ela finalmente se entregou nos braços de Deus – eu nunca acreditei em um Deus, mas ela era uma crente nata e assim sempre falava -, eu não consegui chorar, não consegui demonstrar toda a tristeza que estava dentro de mim.
“Ah, mas você não estava sofrendo?” Sim, eu estava! Mas quando se é da polícia você aprende a esconder bem lá no fundo de seu peito todo o sofrimento, de qualquer coisa. Na verdade, você aprende a esconder seus sentimentos em geral, tristeza, dor, alegria, felicidade, tudo. Tudo mesmo. Era difícil se expor, se expressar até mesmo para uma policial, mesmo sendo ela sua namorada de meses.
- Deve ser horrível – exclamei. Ela compreendeu que eu estava falando do estupro.
- É realmente tenebroso – concordou ela. – Eu já vi casos em que as mulheres se culpavam por terem sido estupradas. – Executou um sinal de negação com a cabeça. – É um trauma horrível. Acredite, comparam-se aos traumas causados em soldados em guerras. A tentativa de suicídio é enorme – comentou, dividindo todo seu conhecimento de causa.
- Muito triste – analisei cabisbaixo.
Ficamos alguns minutos em silêncio, eu pensando em como deveriam estar vivendo vítimas de estupro e aproveitando para ler o documento do caso.
- Vamos sair hoje? - perguntei, batendo com os braços na mesa. O ambiente havia ficado bastante pesado.
- Se eu terminar de ler tudo isso, claro. – Ela olhou para mim com um sorriso, mas logo voltou a observar o documento em suas mãos. – Passo na sua sala mais tarde.
- Ok – murmurei somente, esticando-me na cadeira para lhe dar um selinho. – Te amo – soltei, antes de levantar e seguir para minha sala.
- Também te amo, meu amor – ainda pude ouvir a declaração de enquanto andava pelo corredor.
Flashback OFF - 6 meses
Capítulo 11
POV ON
Digitava as últimas palavras do parágrafo: para morrer, basta estar vivo, quando senti um aperto no coração. O que estava acontecendo comigo? Eu nunca me sentia assim ao escrever, como se tivesse dentro de minha própria historia. Por que agora? Por que eu não queria deixar meu personagem morrer? O próprio que eu pensei em “matar” desde o começo? Não fazia sentido.
O que faltava ali afinal? Aquele paragrafo não podia acabar assim. Não, não. É para isso que serve os amigos, para sofrer junto com você, para chorar por você, para te proteger. Isso, isso. Continue, pensei enquanto os dedos moviam-se para as teclas involuntariamente. Os amigos sentem. Os amigos de verdade sabem, simplesmente sabem, quando o amigo precisa de ajuda. Eles só sentem.
Estremeci. Reli o trecho que apareceu no notebook. Eu, eu havia escrito aquilo? Eu? ... Mas eu não me lembrava! Suspirei, mexendo a cabeça em negação. Levei minha mão até a tecla de apagar, não era aquilo que eu queria em meu texto. Não, eu não queria falar sobre amizades, não era o propósito do meu livro.
Parei onde estava. Minha mente finalmente esclareceu-me. Isso era um sinal! Um sinal que algum amigo meu estava em perigo. Mas quem? E, de repente, me veio à mente. Não, não podia ser ele! Levantei de ímpeto da cadeira e saí da sala que titio havia reservado a mim, correndo até Sarah.
- Sarah, Sarah! – chamei-a, não esperando chegar ao balcão que a mesma ficava. Ela estava no telefone e soltou um “um minuto” baixinho para mim, pedindo o mesmo com a mão. Mas eu não tinha tempo, qualquer segundo que passava era vital. Bufei, olhando o relógio e me apoiando na mesa da moça bonita. Já eram três da manhã de segunda. Ele estava sumido há quase vinte quatro horas, não dava mais para alargar a espera. – SARAH! – brandeei tão alto que recebi dela olhos arregalados que esbanjavam desaprovação. Ótimo começo de conversa com a garota que você gosta , pensei. Mexi a cabeça para afastar esses pensamentos nada apropriados e voltei-me para a importante em questão: – O , Sarah, onde ele está? - continuei com a voz elevada e ela parou de me ignorar.
-Ele saiu há muito tempo bem apressado e não voltou. – Ela deu de ombros – Hoje é o prazo de entrega, ele deve estar procurando a todo o custo aqueles bandidos.
- Não Sarah, não! Ele está em perigo! – exaltei.
- Como você sabe? – perguntou ela, desacreditando na minha revelação.
- Eu... – adiei, com vergonha de minha resposta – só sinto. – Ela bufou.
- Ah, é sexto sentido, né? – perguntou retoricamente. – Aquele que só mulherzinhas têm – desmoralizou-me.
- Merda, eu não estou brincando! - exclamei contrariado. – Faça o favor de ligar para o celular dele, por favor.
- Para você parar com essas besteiras, com prazer. Além de que é seu tio que paga minhas contas, né – acrescentou um fato desnecessário. Pegou o telefone, que já havia ido para o gancho desde o início da conversa, e discou os números conhecidos por ela. Passaram algumas segundos até que ela chocou o telefone contra a base do mesmo. – Ele não atende.
- Viu, eu te disse! – argumentei convencido.
- Ele deve estar ocupado, só isso. – Ergueu as sobrancelhas em sinal de desprezo.
- Ok, o que você acha não me importa – respondi rude, coisa que aprendi com , e o que fez ela me olhar assustada. – Só preciso que você faça seu trabalho. Chame o grupo de policiais em plantão para me acompanharem – ordenei.
- Mas – começou ela, com uma voz falhando. – Se ele tiver mesmo correndo perigo – engoliu em seco – como vai fazer para encontrá-lo?
- Sinceramente – bufei – não tenho a menor ideia. – E dito isso saí correndo dali.
POV OFF
Know your enemy – Green Day
Do you know the enemy?
Do you know your enemy?
Well, gotta know the enemy (Right?)
Do you know the enemy?
Do you know your enemy?
Well, gotta know the enemy (Right?)
Do you know the enemy?
Do you know your enemy?
Well, gotta know the enemy (Right?)
Violence is an energy
Against the enemy
Well, violence is an energy (Right?)
Bringing on the fury
The choir infantry
Revolt against the honor to obey
Overthrow the effigy
The vast majority
Well, burning down the foreman of control
Silence is the enemy
Against your urgency
So rally up the demons of your soul
Do you know the enemy?
Do you know your enemy?
Well, gotta know the enemy (Right?)
Do you know the enemy?
Do you know your enemy?
Well, gotta know the enemy (Right?)
The insurgency will rise
When the bloods been sacrificed
Don't be blinded by the lies
In your eyes
Well, violence is an energy
Well, from here to eternity
Well, violence is an energy
Well, silence is the enemy
So gimme, gimme revolution!
Do you know the enemy?
Do you know your enemy?
Well, gotta know the enemy (Right?)
Do you know the enemy?
Do you know your enemy?
Well, gotta know the enemy (Right?)
Do you know the enemy?
Do you know your enemy?
Well, gotta know the enemy (Right?)
Overthrow the effigy
The vast majority
Well, burning down the foreman of control
Silence is the enemy
Against your urgency
So rally up the demons of your soul
Fui acordado por estrondos que escoravam nas paredes do depósito. Logo, um clarão se fez, como percebi pelas frestas do local. Meu estômago ruiu por clemência e tudo que eu pude fazer foi lamentar. Não saiba quanto tempo já estava naquela posição incomoda esperando pelo bandido, e pelo menos nas ultimas horas, eu acordava e caía no sono a toda hora, pela fraqueza que estava meu corpo. A câimbra também dominava meus braços e pernas. Não obstante, eu reparei que havia mais claridade no local e que, provavelmente, já havia amanhecido. O bandido já devia estar voltando.
O sangue havia parado de gotejar, ainda que algumas gotas escapassem, mas a quantidade que havia ali já era mais do que o bastante para qualquer coisa que eu tenha machucado na boca. Uns duzentos mililitros, porventura mais, ou menos, a questão é que minha cabeça estava confusa e ver uma poça de sangue fazia com que a mesma deixasse minha visão turva e embaçada.
A dor era o maior problema naquela ocasião. Porque, apesar da fome e da garganta seca que me apossavam serem realmente ruins, podiam ser esquecidas temporariamente; entretanto a dor te impossibilita de tentar se mexer e não a deixa esquecer. E a fraqueza só piorava as coisas ali.
Os ruídos ficaram mais estridentes, martelando nas paredes do galpão incessante e controladamente. Chuva. Tempestade. Típico de Londres. Voltei minha cabeça para o chão, usando a mesma como arma para socar o chão. Por que aquela porra daquele bandido não chegava logo?
Ouvi ruídos e, por seguinte, som de passos. Aos poucos, furtivo e gradualmente, esses passos ficaram mais potentes e audíveis. A voz logo se proclamou:
- Voltei – exclamou sorrateiramente. Finalmente o bandido apareceu em minha visão. Ao menos os pés, com o tênis de marca protegendo os mesmos, e a bainha da calça jeans de lavagem clara, ensopada pela chuva torrencial que caía lá fora, confirmando minhas conjeturas. Eu até gostaria de enxergar mais do que somente os pés do tatuado, contudo diante da fraqueza que me usurpava, era cabalmente impossível erguer meu olhar. Movimentar minha cabeça, então, era algo que só de pensar já me enchia de cansaço.
Nas primeiras horas, eu até estava bem, entretanto, agora, câimbras nos pés, nos lábios, nas canelas, nos antebraços e nos dedos da mão deixavam meu corpo paralisado e a falta de firmeza e resistência, por não comer e, principalmente, não beber água, arrebatavam-me, enérgicos.
Gotas borrifavam o chão segundo a segundo, caindo do corpo do sequestrador, e, algumas, respingavam das roupas do mesmo e caíam em meu rosto e cabelos.
O tatuador havia se calado depois do pequeno pronunciamento para só observar minha posição de horas e meu estado calamitoso.
- Não sei se te levanto daí – comentou ele, e eu supus firmemente que havia se formado um sorriso gozado naquele rosto. Babaca! Se ele achava que conseguiria uma imploração minha, não seria atendido. Eu era um policial afinal, não pediria arrego em nenhuma situação, mesmo que ocasionasse minha morte. Eu usaria as táticas da polícia se, claro, no momento algo além de uma lufada de ar houvesse saído da minha boca. – Não consegue falar é? Cadê aquele policial durão, hein? – Mesmo sem tê-lo em vista, eu pude sentir o cheiro de deboche saindo de sua boca a cada pergunta retorica que o mesmo fazia. – Fome, sede? – continuou me interrogando, mesmo sabendo que iria ser ignorado. Esperou alguns segundos, estático a minha frente, até que sua suspeita se confirmou e, como resposta, ele bufou. Em seguida, saiu dali em passos rentes em direção à escada, sendo acompanhado por meus olhos.
Igualmente bufei. Seria assim então? Largou-me por horas preso daquele jeito por capricho e agora simplesmente não estava a fim de me erguer do chão? Seria assim? Suspirei, tentando mexer um pouco meus ombros. Em vão, a cadeira ainda exercia poderoso poder em minhas costas. Fechei os olhos, induzindo-me a esquecer momentaneamente a dor e me preparando para aguentar mais algumas horas naquela posição importuna. Desejei apagar naquele instante, coisa que havia se repetindo por muitas horas aquele dia. Pelo menos eu não sentia a dor enquanto dormia.
E, então, escutei passos na escada. Esperei apreensivo para que os pés aparecessem em minha visão. Sem demora os pés apareceram. Eram os tênis de marca novamente. O dono dos tênis se abaixou, me permitindo analisá-lo. Como todo bom observador, eu descreveria perfeitamente suas calças e seu casaco se, logo depois, eu não sentisse o cano frio e rígido de uma arma calibre 12 encostada a minha testa.
Capítulo 12
Flashback ON– 5 meses
Only Girl (in the world) – Rihanna
I want you to love me, like I'm a hot pie
Keep thinkin' of me, doin' what you like
So boy forget about the world cuz it's gon' be me and you tonight
I wanna make your bed for ya, then imma make you swallow your pride
Want you to make me feel like I'm the only girl in the world
Like I'm the only one that you'll ever love
Like I'm the only one who knows your heart
Only girl in the world...
Like I'm the only one that's in command
Cuz I'm the only one who understands how to make you feel like a man
Want you to make me feel like I'm the only girl in the world
Like I'm the only one that you'll ever love
Like I'm the only one who knows your heart
Only one...
Want you to take me like a thief in the night
Hold me like a pillow, make me feel right
Baby I'll tell you all my secrets that I'm keepin', you can come inside
And when you enter, you ain't leavin', be my prisoner for the night
Want you to make me feel like I'm the only girl in the world
Like I'm the only one that you'll ever love
Like I'm the only one who knows your heart
Only girl in the world...
Like I'm the only one that's in command
Cuz I'm the only one who understands
Like I'm the only one who knows your heart
Only one...
Take me for a ride
Oh baby, take me high
Let me make you first
Oh make it last all night
Take me for a ride
Oh baby, take me high
Let me make you first
Make it last all night
Want you to make me feel like I'm the only girl in the world
Like I'm the only one that you'll ever love
Like I'm the only one who knows your heart
Only girl in the world...
Like I'm the only one that's in command
Cuz I'm the only one who understands how to make you feel like a man
Only girl in the world...
Girl in the world...
Only girl in the world...
Girl in the world...
Era incrível estar com ela ali no momento. Eu me mexia, providenciava uma ida ao quarto, mas não acreditava realmente que estivesse entrando com ela na minha casa em meio a beijos quentes.
puxava os fios de meus cabelos com força, enquanto eu apertava a bunda dela e mordia toda a região do pescoço, do rosto e dos ombros. Ela pulou em cima de mim, sustentando as pernas no meu quadril com minha ajuda.
Voltei a beijá-la na boca, andando cegamente até meu quarto. começou a desabotoar os botões de minha camisa social e eu a joguei bruscamente na cama. Consequentemente, como ela estava agarrada a minha blusa na tentativa de tirá-la, me puxou junto na sua queda, descosturando os botões de minha blusa.
- Ah, minha blusa preferida - exclamei, fingindo desapontamento. Posicionei-me ajoelhado em cima dela e mordisquei o pescoço da mesma.
- Se quiser, - sua voz foi cortada por um pequeno gemido – podemos parar agora para eu conser... – eu a fiz parar, beijando-lhe a boca novamente e puxando a camiseta dela para cima.
Com o incentivo, ela quebrou um pouco o beijo para retirar a blusa que vestia pelo pescoço e a jogou em qualquer lugar. Eu tentei retomar o beijo, mas ela virou o rosto pro lado, de forma suave, fixando o olhar no cinto da minha calça. Eu abaixei minha cabeça, mordendo a barriga dela rapidamente e me concentrando naqueles belíssimos e grandes peitos. Ainda estava com sutiã, mas com o fecho na frente, eu o tirei sem dificuldade.
concentrava-se em abrir meu cinto. Com as mãos ágeis ela logo o retirou e, em seguida, abriu o botão da calça e a puxou para baixo, tentando tirá-la. Eu bem que queria ajudá-la, entretanto, eu estava muito concentrado em morder e sugar os seios excitados dela. Eram tão bons, macios.
Ela desistiu de tirar minha calça, apertando minhas costas e não segurando os gemidos pelos meus movimentos. Farto com seus seios, tirei minha calça e a joguei no chão. Passei meu membro ereto por sua intimidade levemente, provocando gemidos das duas partes. Agora estávamos par a par.
Deslizei meus dedos por toda a silhueta de e parei na altura do quadril, brincando com o elástico da calcinha. A puxei para baixo e a joguei longe. Sorri para ela, beijando-lhe o pescoço e introduzindo um dedo no sexo de .
Enquanto eu ia mexendo lentamente o dedo e introduzindo lentamente um a um, beijava-lhe a boca para reprimir seus gritos. Num dado momento, quando eu estava movendo os dedos rapidamente e a fazendo suspirar, ela mordeu meu lábio.
- Ai, sua selvagem – acusei com um sorriso. Ela sorriu junto.
Essa foi a deixa para avançar ainda mais os movimentos até ela pedir para parar. E gozar, claro. Depois, retirei minha cueca e ela sorriu com a imagem.
- Deixa eu te dar prazer agora – exclamou ela, me empurrando na cama.
Eu só me deixei cair na cama de barriga para cima, observando os movimentos da mulher nua se posicionando em cima de mim, colocando uma perna em cada lado. Sorriu e alisou meu membro.
Abaixou-se e passou propositalmente seu órgão na minha ereção, me fazendo urrar de desejo. Enfiou meu membro enrijecido na boca o máximo possível e movimentou-se. Eu puxava seus cabelos e a auxiliava nos movimentos. Segurei-me para controlar os ruídos que saíam de minha boca. Logo, o líquido branco saiu.
A joguei na cama com delicadeza, assumindo novamente o controle da situação. Separei-lhe as pernas e me preparei para adentrar em seu corpo. Me apoiando na cama e beijando cada traço do rosto de , fui penetrando minha ereção lentamente em seu sexo molhado enquanto beijava-lhe todo o corpo. Escutava os gemidos de cada vez que eu investia mais.
- Arrr... Arrr... Mais, mais! – pedia. – , , arrr!
Vê-la gemendo o meu nome era a melhor sensação do mundo. Não, talvez a segunda. Penetrar no corpo dela e nos tornar um só era a melhor sensação do mundo.
Saciados, saí de seu corpo e deitei ao seu lado, a apertando contra o meu peito.
- Te amo – ela exclamou em meu ouvido antes de cair no sono.
Flashback Off– 5 meses
Capítulo 13
A Day Without me
A Day Without me
Started a landslide in my ego
Looked from the outside to the world I left behind.
I'm dreaming, you're awake
If I was sleeping, what's at stake?
A day without me.
Whatever the feelings, I keep feeling
What are the feelings you left behind?
A day without me.
Started a landslide in my ego
Looked from the outside to the world I left behind.
In the world I left behind
Wipe their eyes and then let go
In the world I left behind
Shed a tear and let love go.
Eu tremi pelo contato daquele objeto frio em meu corpo. Acabava assim? Eu tinha receios que ele iria me matar, obviamente, mas acreditava que antes “conversasse” um pouco, ou ao menos explicasse o porquê de eu estar morrendo.
- Acalme-se – manifestou-se ele, interrompendo meus devaneios. – Eu não vou te matar. Não agora. – Riu debochado. – Eu vou te levantar daí, só que pra isso preciso eu você fique quietinho. Se não, eu atiro – avisou. Fraco demais para falar “não é como se eu pudesse me mexer com os braços e pernas amarradas e uma fraqueza tremenda” e simplesmente mexi a cabeça lentamente, como se assentisse.
Satisfeito, ele foi para minhas costas e começou a erguer meu corpo, segurando um dos meus braços e puxando-o para cima, ainda com a arma apontada para mim, porém de forma desajeitada. Eu sabia que aquilo não daria certo e diferente não se fez. Ele até era forte, entretanto boa parte de meu peso compunha-se de músculos e não era nada fácil me erguer, ainda mais com uma cadeira à minhas costas e a impossibilidade de locomoção. Ele perdeu o equilibro com tantas coisas para segurar com apenas duas mãos e acabou me deixando cair os 20° graus que havia conseguido elevar.
Eu só senti o impacto e fechei os olhos involuntariamente. Por sorte, não foi tão dolorido como da ultima vez. Não sei se porque eu já sentia tanta dor que mais uma não fazia diferença, ou se realmente havia machucado menos dessa vez.
- Desamarre-me e ficará mais fácil – assustei-me com meu sussurro fraco. Eu já havia tentado falar muitas vezes, mas o som perdia-se no meio do movimento e não chegava até meus lábios. Dessa vez, eu tive êxito. Tentei continuar: - Você me mantém a mira da arma enquanto eu me levanto sozinho. – Abri um mero sorriso ao ver eu havia dito mais uma frase. – Só desamarre as cordas.
- Ok. – Suspirou ele, derrotado. Não havia outra maneira de me tirar dali. Só ele, não me conseguiria por sentado novamente. – Mas se você tentar alguma coisa eu meto bala, tá me entendo? – informou.
Logo em seguida, ainda com a arma encostada em mim, ele afrouxou a corda dos meus punhos e desfez o nó. Com a corda que amarrava meu pé ele fez os mesmos movimentos. Depois, como pude observar pelos pés do tatuado, ele se pôs a minha frente, com uma distância de cinquenta, sessenta centímetros.
Girei meus pulsos e joguei a cadeira de lado com um impulso para o lado direito. Mexi meus braços, retornando os movimentos. Ergui meu tronco e dobrei minhas pernas, esperando as câimbras passaram. Ergui-me instantes depois e segurei-me para não cair por causa da falta de movimentos.
- Ande, pegue a cadeira e sente – ordenou ele, sendo obedecido por mim prontamente. – Eu tenho algo pra você comer.
O analisei. O rosto marcado, as tatuagens vibrantes e chamativas. A calça larga e caída e uma jaqueta impedindo de sentir o frio que as paredes deixavam ultrapassar. Ele havia trocado de roupa.
Ele deu alguns passos para trás sem virar de costas, ainda com a mira da arma apontada para mim, me observando fixamente. Tomou com a mão livre algo não identificável por mim, que se encontrava em cima de uma das caixas de papelão que inundavam o local e arremessou o objeto em minha direção.
O mesmo decaiu a uns poucos centímetros de distância da cadeira e eu me permiti, lentamente, agachar no chão para pegar esse objeto. Arrastei-me, engatinhando até meu objetivo, tudo para que o bandido visse que controlava a situação. Ou pelo menos acreditasse nisso.
Regressei a sentar na cadeira, depois de refazer todo o caminho que havia feito na ida, com o objeto a mão. Um pão francês enrolado no papel alumínio. O bandido caminhou novamente para perto de mim, se sentindo seguro o suficiente para isso, e entregou-me um copo branco de plástico repleto de líquido. Senti o cheiro do leite emanar e minhas narinas reagirem por isso.
- Aproveite sua última refeição – exclamou o tatuado, com um sorriso desdenhoso nos lábios. Em seguida, ele chegou um pouco para trás e jogou-se no chão, sentando-se no mesmo e abrindo as pernas.
Eu examinei o que continha em minhas mãos. Um pão francês puro e dormido e um leite que até parecia gostoso, apesar de bem fresco para um dia frio e úmido como hoje.
Claro que eu cogitei a possibilidade daquilo estar envenenado e eu poder morrer daquele jeito, todavia o mais provável era que ele me matasse com aquela arma que não deixava de apontar para mim e não um veneno misturado na comida. Seria algo tão... Sem graça.
Além disso, minhas possibilidades não eram muitas. A chance de eu morrer ali era muito grande e pela fraqueza que eu me encontrava, com dor em vários lugares e o sumiço total da força, não faria muita diferença eu morrer envenenado ou morrer por fraqueza. Morreria de qualquer jeito, não?
E se a comida não tivesse envenenada? Também existia essa possibilidade. Suspirei. Eu estava com uma fome de porra! Peguei o pão e arranquei um pedaço dele com os dentes. Foda-se.
Eu acabei com o lanche em poucos segundos. Com mordidas grandes eu empanturrava minha boca com aquele pão duro. O leite, mesmo gelado, desceu rapidamente provocando-me um arrepio.
Isso me fazia pensar as besteiras de gostar ou não de uma comida. Ou, também, do quão ignorante estamos sendo quando falamos algo como: “estou com fome”. Explicando meus pensamentos, primeiro, não gostar de jiló ou de quiabo, ou de qualquer outra comida, é besteira. Quando vocês sentirem fome, mas a verdadeira fome e não simplesmente vontade de comer, vocês não estarão aí se só tem um legume que você não gosta. Você não vai nem sentir o gosto. Vai comer, achar delicioso e pedir por mais. Acredite.
Ignorantes estamos sendo quando falamos que estamos com fome. Porque vocês não sabem o que é realmente sentir fome. Não é simplesmente ter vontade de comer, mas é precisar comer. Precisar comer para ficar em pé ou mante-se acordado.
Nas últimas horas, eu tinha entendido o que é sentir fome. Necessitar mastigar qualquer coisa, não poder e ficar horas nessa situação. O pão duro havia sido o pão mais gostoso que eu já havia comido e o leite o mais refrescante liquido bebido por mim. São detalhes que não pensamos até passarmos por eles. E, sinceramente, eu espero que vocês nunca precisem pensar nesses detalhes.
A refeição já havia chegado ao estômago e a digestão estava sendo feita, entretanto, eu continuava na mesma posição. O tronco reto encostado nas costas da cadeira, os pés fixados no chão, os braços sobre as pernas e as mãos no joelho. Essa era uma posição que passava segurança para o bandido.
Por falar nele, o mesmo continuava parado ali, sentado na mesma posição, e apontando a arma relaxadamente pra mim, com o cotovelo apoiado na perna. Qualquer mexida por mim feita era motivo de preocupação para ele e o fazia recompor a postura e a mira da pistola.
Acho que vocês entendiam que mesmo desamarrado eu estava sobre a mira de uma arma e não havia possibilidade de escape. A questão era que um impasse havia surgido. Desamarrando a corda como foi feito, como o tatuado iria amarrá-la novamente?
Ele sabia que se relaxasse a guarda, como todo bom policial, eu inverteria a situação. Para me amarrar ele teria que ir até minhas costas e, mesmo que conseguisse ainda segurar a arma, a mesma ficaria quase solta em sua mão na hora do nó da corda e tirá-la dali com um simples golpe de cotovelo no abdômen do sequestrador era fácil e não permitiria reação do mesmo.
Obviamente, o tatuado não era tão burro a esse ponto e resolveu pedir ajuda externa. Sacou o celular do bolso e discou alguns números. Colocou o aparelho na orelha e falou algumas palavras baixas.
Não pude escutar muito bem, mas as poucas palavras por mim ouvidas me fizeram firmar a hipótese de suplica a algum outro bandido para que conseguisse o feito de me amarrar novamente.
E então, aqui estava nós esperando o tal ajudante chegar, olhando um para o outro, a tensão quase sendo vista por nossos olhos. Nós não havíamos trocados mais palavras, muito menos sobre essa situação, todavia, os dois sabiam que os dois sabiam dos fatos. Confuso? Talvez.
Eu ri internamente. Ah bandido de merda, pensei, Me amarrar drogado e desmaiado é fácil, quero ver ter coragem para me prender acordado, babaca!
O ajudante não demorou muito. Ao menos pra mim, que havia ficado horas e horas amarrado no chão todo dolorido e literalmente com um baita peso nas costas, aquilo era um hotel cinco estrelas. Ok, porventura somente quatro estrelas. Comida, liberdade parcial, se eu pudesse tomar um remédio para deixar de sentir tanta dor ficaria perfeito.
Estava tão bom sentir meus membros novamente e relaxar as costas na cadeira que julguei a chegada do rapaz de moicano rápida demais. Afinal, ele ali significava o fim da “liberdade”, o amarro amargo das cordas apertando meus pulsos e tornozelos sofridos novamente. E, consequentemente quando atada minhas mãos atrás da cadeira, as costas iriam ser forçadas para trás e iriam ser mais uma vez prejudicadas.
Instantes depois não se fez diferente. Depois de trocarem algumas palavras imperceptíveis a meus ouvidos o rapaz pegou a arma do tatuado com a mão direita e fazendo uma manobra com o pé ele pegou outra pistola com a mão esquerda. E nem me perguntem como ele conseguiu tomar com a mão aquele objeto.
- Espero que você fique bem quietinho enquanto eu te amarro – quebrou o silêncio que emanava daquele depósito há muitos minutos. – Se não, já sabe, o meu amigo mete bala em você – o tatuado avisou. – E nem adianta tentar nenhum de seus truques. Ele mata você de qualquer maneira – reforçou. Eu concordei, somente assentindo, com preguiça de usar minha voz para aquela merda toda. Não é como se eu fosse reagir e morrer com trinta tiros. É burrice.
Ele foi para minhas costas, pegou as cordas no chão ao meu lado e prendeu-me nas cadeiras, pelo pulso e logo em seguida pelos tornozelos. Eu estava preso novamente.
O tatuado voltou-se para minha frente e pegou a arma dele na mão do amigo, logo apontando a mesma para a mim, relaxadamente. O moicano, por sua vez, guardou a arma no bolso da calça e sacou um maço de cigarros de lá. Oferecendo para o amigo, que aceitou, ele acendeu os dois cigarros com o isqueiro e saiu de lá com passos apressados pela escada.
Diferente do que eu havia imaginado, segundos depois ele desceu as escadas e voltou ao local em que eu e o tatuado encontrávamos, agora com uma cadeira em uma das mãos. Arremessou a mesma a alguns centímetros de mim e simplesmente saiu do deposito, onde horas antes o tatuado havia saído e me deixado às moscas.
- Está na hora de nós conversarmos – exclamou o tatuado, sentando-se na cadeira depositada ali instante antes. Suspirei. Chegara a hora.
Flashback On– 8 meses
estava pronta para mais um interrogatório. Esse caso era horrível! A mãe era suspeita de bater na própria filha até deixá-la desacordada.
Suspirando, ela mexeu nos cabelos e me deu um selinho. Segundos depois, entrou na sala de interrogatório e se concentrou em observar a mulher suspeita, Gina Wern.
Preparada, ela andou até a cadeira, sentou-se e começou o interrogatório*.
- Você se considera uma boa mãe? – inquiriu , a olhando com um sorrisinho nos lábios.
- Sim, quer dizer, eu dou o melhor de mim, mas tenho falhas – exclamou, dando de ombros.
- Quais são essas falhas? – perguntou curiosa a interrogadora.
- Ah, não sei. Olha, eu deixo passar algumas coisas. Às vezes não estou presente e, hm, ela acaba se machucando. – Apoiou os braços na mesa. Seu aspecto era de cansada.
- Machucando-se? Como Louise se machuca?
- Ela é uma criança com muita energia, sempre bate nos móveis, essas coisas. – Balançou as mãos.
- Voce sabe que podemos saber quando e como essas lesões foram causadas, né? – perguntou , a olhando. A mesma engoliu em seco, assentindo com a cabeça.
- Agora eu sei – foi o que respondeu.
- Por que estão te acusando? Há algum motivo para você ser a principal suspeita de ter causado esses machucados?
- Não sei, as pessoas são ruins. Têm má fé. Eu só estava na minha casa junto a minha filha, só isso. – Abaixou a cabeça, analisando as unhas roídas da mão.
- E as outras pessoas que estavam em casa? Seu marido, seu filho... Tem alguma chance deles terem machucado Louise?
- Não, já lhe disse, ela era uma garota serelepe, subia nos moveis, corria pela casa. Ela mesma deve ter se machucado. – Deu de ombros.
- Será que você não a machucou? Não sei, ela estava levada, não a estava obedecendo, e sem querer você acabou a machucando? – supôs a investigadora.
- Você não está acreditando em mim? – perguntou Gina, aborrecida. – Eu já lhe disse a verdade! – acrescentou, irritada.
- Sra. Wern, entenda, se não houver nada esclarecido todos vão pensar o pior! – jogou.
- Que se lixam os outros, eu não matei minha filha! – avisou, indignada.
- Matar? Alguém disse matar? Eu perguntei se a senhora havia batido nela...
- Oh, meu Deus, então ela está viva? Como ela está? – começou a perguntar desesperadamente a mulher. Gina suava frio. – Por que você não me responde se ela está bem? O que aconteceu, diga-me! – Levantou-se da cadeira de supetão.
se assustou com os gritos exagerados, o desespero e aquele súbito ataque. O guarda logo estava ao seu lado, segurando a mulher e a mandando sentar-se na cadeira novamente.
- Se controle senhora, por favor – pediu . – Sua filha está em coma no hospital. Em coma. A senhora tem que nos ajudar a encontrar quem fez isso com ela.
- EU NÃO SEI. NÃO SEI – gritou, a cara vermelha de raiva. – Mas que merda.
- Fale logo, ande! Os legistas disseram que Louise não pode ter feito aquilo sozinha, há alguém e eu sei que é você! – a interrogadora bateu com as mãos na mesa.
- EU NÃO FIZ NADA! – Wern agora segurava os fios de cabelos e os puxava para cima dolorosamente.
- Tudo bem, olha, se você fez... Sabe, eu entendo. – fez uma careta. – Um momento de fúria. Vamos, diga logo que foi você, assim será melhor!
- Eu não fiz nada, não fiz nada, nada – murmurou ela entre soluços e lágrimas de choro.
Nesse momento, o guarda pediu licença interrompendo o interrogatório e soltando algumas coisas no ouvido de . A última suspirou, balançando a cabeça negativamente e fechando os olhos. Respirou fundo antes de falar:
- Louise não resistiu. Ela faleceu. – Olhou pesarosa.
- Não, não. – A mulher se levantou com lágrimas caindo. – Eu matei minha filha, minha filhinha querida... – Balançou-se para frente e para trás enquanto confessava o crime. – Eu não queria...
*Baseado em um interrogatório que aconteceu em Detroit, Estados Unidos, em 2003.
Flashback Off– 8 meses
Capítulo 14
POV ON
Sidewinder – Avenged Sevenfold
I slide through the wasteland that's my world
My hunger takes your life, preyed on to keep me alive, yeah
Mercy's all that you need, mercy's empty in me
Can't you feel the poison rising (out of the morning and clear through the night)
You can feel my strength destroy you (straight to the heart from the venomous bite)
That's right I shed my skin tonight but my fangs are hard to hide
And you know that you're going to die, yeah
Mercy's all that you need, mercy's empty to me
Can't you feel the poison rising (out of the morning and clear through the night)
You can feel my strength destroy you (straight to the heart from the venomous bite)
That's right I shed my skin tonight but my fangs are hard to hide
And you know that you're going to die, yeah
Mercy's all that you need, mercy's empty to me
Can't you feel the poison rising (out of the morning and clear through the night)
You can feel my strength destroy you (straight to the heart from the venomous bite)
I can't regret, can't escape decisions made for me, no control
Fire that buns and never dies, wrapped around I'll bury my fangs inside
Making my way through the night you're still in my sight
You're runnin' away cuz ya know you can't hide
My instincts are cold blooded hate; to you I'm the bearer of fate
Wrong place and now the wrong time, now terror is all that you'll find
Can't you feel the poison rising straight to the heart from the venomous bite
Can't you feel the poison rising (out of the morning and clear through the night)
You can feel my strength destroy you (straight to the heart from the venomous bite)
I can't regret, can't escape decisions made for me, no control
Fire that buns and never dies, wrapped around I'll bury my fangs inside
Eu já estava percorrendo as avenidas de Londres há algumas horas. Saí do escritório, convoquei uma grande equipe de policiais e os dividi em cinco grupos, para diminuir o tempo que gastaríamos percorrendo cada distrito.
Claro que não era suficiente. Nossa capital é composta por mais de trinta distritos e eu nem ao menos podia descartar algum deles! Era um trabalho árduo. Mais do que árduo, era praticamente impossível! Era como estar andando em círculos.
Eu não sabia para onde ir e onde procurar. Nós passávamos em ruas, analisávamos becos e se estranhássemos algum local nós ligávamos para sede e perguntávamos tudo sobre aquele lugar. Basicamente, era isso que estávamos fazendo há várias horas, não obtendo nada importante.
Suspirei. Enquanto perdíamos tempo com algo que não fazia sentindo e não tinha êxito, estava correndo perigo, podendo estar entre a vida e a morte. Ou, simplesmente, já estar morto. Não, não.
- Senhor, nós vamos mesmo continuar fazendo isso? – perguntou-me um policial enquanto nos dirigíamos para a próxima rua. Eu demorei a perceber que a pergunta havia se dirigido a mim. Normalmente eu é que chamava os outros de senhor e não ao contrário.
- Você tem uma porra de uma ideia melhor? – inquiri, olhando desafiadoramente para ele. – Então continue fazendo a merda do seu trabalho – continuei áspero, sem deixa-lo responder.
- Desculpe chefe, eu só pensei que o que estamos fazendo não é uma boa forma de achar o policial desaparecido – desculpou-se o agente, explicando suas intenções.
- Você tem uma ideia melhor? – repeti a pergunta. Não sei, vai que ele realmente tinha uma ideia? Ele negou. – Então pare de pensar e faça o seu trabalho – ordenei rude, graças à convivência com . – Você sabe ao menos trabalhar, né? Porque pensar eu já vi que não sabe – acrescentei grosso.
ficaria feliz em me ver ríspido e descortês daquele jeito. Não? Era o aluno aprendendo com o mestre, né? Não sei, eu realmente não sei o que pensaria sobre aquilo. Ou falaria.
O policial assentiu, um pouco aborrecido, e virou o rosto para a janela do carro, analisando novamente as ruas de Londres.
De repente uma musica começou a tocar. Eu estava tão distraído pensando em , em Sarah e mesmo em , que havia conhecido infelizmente só depois de morta, e na possibilidade do desaparecimento de estar ligado ao assassinato dela, que demorei a perceber que a música que tocava era Paradise do Coldplay, toque do meu celular.
- . – Saquei o celular do bolso da calça. Bufei internamente. Até o modo como atender as chamadas, falando o nome e o sobrenome, era de . Como ele fazia essas coisas? Bruxaria.
- , alooo. – Sarah cantarolou, acordando-me dos meus devaneios. A voz dela era tão encantadora que me fez sorrir do outro lado do visor.
- Oi Sah – respondi, me permitindo esquecer um pouco os problemas e falar direito com pelo menos alguém naquele dia. – Me diz que ele ligou, Sarah – supliquei-lhe, em falsa esperança. No fundo, eu não acreditava que estivesse bem a ponto de ligar para Scotland Yard, eu sabia que ele estava correndo risco, todavia, é como o ditado diz e o que mais acreditava naquele momento, a esperança é a última que morre. Ela suspirou, derrotada.
- Ai, , estou aflita olhando para o telefone. Não sei, eu acredito que de tanto encara-lo ele irá tocar. Besta eu – xingou-se.
- Não, Sarah, é normal. Você está nervosa, ele é muito seu amigo. – É, eu havia percebido isso desde que entrei ali. No primeiro momento, desconfiei que eles fossem mais do que amigos, porém depois eu percebi que o que os unia era só um grande laço de amizade e companheirismo. Ela devia estar completamente impaciente. – Mas me diga, alguma novidade? Por que me ligou?
- Estou mesmo nervosa, acabando com minhas unhas – comentou ela. – Ai, Deus, meu amigo está com risco de morrer e eu estou preocupada com as unhas, que babaca eu sou! – começou a surtar, esquecendo que eu estava ao telefone, o que me fez gritar um calma! para tranquiliza-la. – Eh... Hm... Para que eu liguei mesmo? – ela se perguntou, me fazendo rir do ser avoado que era. – Ah, sim, só para perguntar se havia alguma novidade do caso.
- Por aqui ainda não encontramos nada demais. Nada que nos ligue a . – Ela suspirou. – Olhe Sah, - comecei – você está muito nervosa, vá tomar um chá, um chocolate quente, algo na cantina para se apaziguar. – A cantina era revigorante, mesmo. Melhorava o dia de qualquer um, independente de qual fosse ele. E quando ela fez menção de argumentar, eu a interrompi: - Eu sei, o telefonema. Peça para alguém ficar olhando, não sei, mas vá se distrair, se acalmar, por favor, Sarah.
- Ok, . Eu vou. Mas qualquer coisa me ligue, ok? Beijos e boa sorte.
- Para todos nós – respondi, antes de desligar o telefone. – Pare aqui – determinei ao policial que dirigia. – Vamos fazer uma ronda por esse local.
Sarah estava nervosa. Por , que corria perigo de vida em algum lugar com pessoas ruins que queriam seu mal. História para criança, mas, ainda sim, a verdade. Pelo menos, foi nisso que havia insistido incessantemente com bases em não sei quais teorias. Nenhuma, na real. Era só aquelas porras de sentir. Mas, de alguma forma, de algum jeito e sem saber por que, ela confiava nele.
Ela seguiu para a cantina pesarosa, deixando de lado o telefone com fio da Scotland Yard. Ela até havia tentado encontrar alguém ali, mas a maioria estava na rua, até os novatos, procurando o policial sequestrado. Os que estavam ali, estavam bastante ocupados com arquivos e telefonemas realmente importantes com o governo, para observar um telefone que poderia vir a tocar. Aliás, ela havia esperado durante muitas horas algum telefonema importante e nada de acontecer. Não seria em poucos minutos que ela se ausentaria, seria?
Aflita com essa possibilidade e com raiva pelos telefones da Scotland Yard não serem iguais aos computadores ela andou rapidamente até a cantina, pensando mesmo em como eles podiam ser inovadores, pequenos e moveis iguais aos computadores portáteis. MÓVEIS. Nem era tão difícil um telefone móvel, né? Quer dizer, quando ela deixasse de morar com os pais, ela compraria um telefone sem fio. Sem fio. Nem era tão caro, Argh.
Ela chegou à cantina e foi direto a maquina de café. Um ótimo e refrescante café quentinho para seu corpo gelado. Isso a fazia lembrar-se de . Eles tinham brigas quando iam juntos ao Starbucks porque ele não gostava de café. Hello, como você vai a Starbucks e toma Nescau? Sarah nunca entendeu e isso gerava briguinhas divertidas e bobas.
Sarah sorriu pelas lembranças, mas ficou ainda mais nervosa por reforçar em sua cabeça. Droga, murmurou ela baixinho quando deixou derrubar boa quantidade de café na máquina porque sua mão que segurava o copo estava tremendo demais para mantê-lo seguro e fixo em um local. Ela bufou, levantando a mão esquerda e segurando o copinho de café com as duas mãos, e tentou novamente.
Poucas gotas não encontraram o copo dessa vez e ela quase grunhiu de animação. Jogou o café pela goela rapidamente e foi em direção a maquina para repetir a dose. Ih, que difícil dose foi essa. Bruce, um novato, teve que ajuda-la a encher o copinho com café puro. Também a obrigou a sentar e a respirar, para se acalmar.
Sah não sabia e nem acreditava nessas coisas, entretanto, era fato que a Lei de Murphy conspirou contra ela. Em meio a toda essa confusão e a ajuda de Bruce, ela perdeu muito tempo na cantina. Tempo esse que custou várias ligações para o telefone de Sarah. Ele tocou, tocou, tocou, tocou. E quando finalizava, segundos depois voltava à mesma sentença. Tocar, tocar, tocar, tocar.
Infelizmente, ou simplesmente destino, ninguém se encontrava perto o suficiente do telefone para escutar seus ruídos incessantes e estridentes. Do outro lado, se encontrava um velho senhor de bigode antiquado que delegava uma posição influente na polícia londrina. Sentado a sua poltrona e com as mãos pequenas e suadas ao telefone, ele esperava alguma sã alma viva para atender aquela merda. Ele tinha uma informação contundente. Uma informação que mudaria os rumos de tudo e de todos.
POV Narrador-Observador Off
Capítulo 15
Enquanto o ajudante do sequestrador ia embora pela porta que minutos antes ele mesmo havia entrado, eu me permiti seguir seus passos com o olhar, aproveitando que no momento eu estava sentado confortavelmente e podendo ver as coisas que se situavam a mais de 15° graus do chão. É, eu sofri bastante passando horas deitado daquele jeito, mas agora tinha acabado. Ainda amarrado, mas agora sentado na cadeira como quando acordei, a única evidência que havia de horas antes era a poça de sangue no chão. Ah, e claro, as várias marcas roxas que deviam estar formadas por todo meu corpo.
Pude reparar, pela primeira vez, a parte do galpão que ficava à minhas costas. Nada de anormal e muito parecido com o que estava acostumado a ver por ali. Um grande vazio e muitas caixas de papelão empilhadas umas nas outras no canto.
O teto estava cheio de lâmpadas, quando olhei para a cima, mas a maioria delas estavam desligadas. Na verdade, deveria haver somente uma ou duas perto do tatuado acesas. O resto deviam estar queimadas. Podia-se ouvir o barulho dos pingos de chuva batendo nas paredes e no teto. De tempos em tempos um vento invadia o local e me fazia tremer. Estava bem fresco. Pelas frestas do local, pude ver o dia caindo.
- Eu adoro o entardecer – começou o tatuado, observando para onde meus olhares iam. – Me faz sentir bem – confidenciou-me o bandido, sorrindo gentilmente. Com aquela cara até parecia uma pessoa sã. Ok, não exagere, ! – Bom, acho justo nos apresentarmos, não? – inquiriu –me, batendo as mãos nas pernas e esfregando as mesmas em seguida. – Me chamo Felix.
- Hm – eu demorei a responder. Ele com certeza sabia meu nome, primeiro porque ele não sequestraria qualquer um e segundo porque ele já havia visto minha carteira, entretanto eu resolvi não contraria-lo e simplesmente responder a pergunta dele. – .
- Estava aqui pensando – iniciou – todo mundo diz que a Scotland Yard é a melhor policia do mundo, que são fodas. Alguns dizem que são melhores que a CIA. CIA. Se você fosse da CIA eles estariam te procurando até o cu do mundo e te encontrariam em alguns minutos. Talvez se você estivesse sido sequestrado e levado para outra galáxia eles demorariam umas horas. Mas como você não é de lá, continua aqui, não? Eles nem devem estar te procurando.
Procurar. Isso me fazia pensar. Será que eles sentiriam minha falta? Certamente que sim, não? Porventura devem ter demorado a pensar na possibilidade de eu ser sequestrado, porque era normal eu sumir nas ruas para solucionar um caso, mas ainda sim eu sempre atendia o telefone e ligava para lá querendo informações e passando novidades. No momento, eu nem sabia onde meu celular se encontrava.
As críticas do tatuado a Scotland Yard eram ridículas. As vanglorias que fazia a CIA eram babacas. As comparações das duas agências eram idiotas. Não que eu fosse falar isso para o tatuado. A Scotland Yard era a policia londrina que resolvia os casos com seriedade, inteligência e rapidez, evitando ao máximo mortes, ou seja, de forma brilhante. CIA é uma agência secreta que não se preocupa em sair matando quem quer que seja – desde que não seja ninguém rotulado importante – para concluir seus objetivos de maneira suja, mesquinha e muitas vezes fora da lei. Eles não se importam com ela – a lei – e ditam as próprias regras.
Se eu fosse da CIA, uma hipótese teórica porque eu me recuso a participar de algo como a CIA, e fosse sequestrado, eles matariam meio mundo para só depois recordar que eles implantam chips em cada carro, celular, colete e cada merda de equipamento usado pelos agentes. Chips, mais chips e mais chips.
Chips, era isso. Sorri. Eu já sabia como sair dali.
Light at the end of the tunel
When i felt the cold coming up
I went "oh my god, i'm dying"
And the next thing i know
I was out of my body
And i had no pain
I was aware that the room was light
Seemed to be filling with a very white light
I noticed a tunnel opening up
A very dark tunnel
With rings in it
And a very white
Tiny white second light at the very end
That we were moving down toward
The tunnel was very interesting because
It was full of rings
Like a child's play tube out in the backyard
We made it through the tunnel
We got to the white light
The little hole had opened up
And we got to the white light
And my life was shown very quickly
Like an old fashioned movie
That you see on those tapes
Flickering at me
And everything from when i was very very young
That i thought, did, said
Everything i should have done
Everything i didn't do
I was so aware that the few good things i had done
They were so few
And i said "no, no"
I said, "i wanna go back
I wanna go back
I wanna go back!"
Foi difícil livrar-se de Bruce. Bruce era um novato, gay, e bastante protetor. Ver Sarah desestruturada naquela cantina não conseguindo nem encher um copinho de café havia quebrado seu coração. Mesmo não sendo amigos, ele a ajudou a encher seu café e a obrigou a sentar no banco que ali havia, tomar seu café calmamente e contar-lhe porque estava tão nervosa. Sabia que era por causa do desaparecimento de um tal agente importante e a pergunta se os dois eram algo mais que colegas de trabalho martelava em sua cabeça. Ele também é fofoqueiro.
Assim, Sarah teve que lhe contar toda a historia. A amizade de anos deles, as histórias engraçadas, incluindo as do Starbucks, e no que estava trabalhando antes de ser pego. Mesmo obrigada, foi bom para ela desembuchar essas coisas, se abrir, liberar toda a tensão que estava.
Só que isso demorou mais do que ela esperava. Muitos minutos. Despedindo-se de Bruce e deixando uma conversa pendente para mais tarde, ela correu de volta para sua baia. No meio do caminho ela escutou o telefone. O seu telefone. Acelerou o passo, quase batendo no vaso de plantas que havia no meio do corredor. Nem esperou sentar para pegar o telefone.
- Scotland Yard. – Jogou na cadeira, passando a mão na testa suada e mexendo no telefone.
- Porque ninguém atendia esse telefone? – era Mr.Freud, irritado.
- Eu fui, er, resolver uns problemas em outro andar – mentiu. - Todos estão muito ocupados.
- Enquanto você ia... resolver problemas – frisou – Eu achei a solução do caso – revelou.
- Como? – assustou-se Sarah, meio inebriada. Ela estava reparando nas unhas, em como havia estragado seu progresso de anos em apenas minutos e as atacado ferozmente. Ela esperava horas e horas de bronca do diretor, mas o que escutou foi o que ela nunca esperava.
- Eu sei como encontrar o agente – repetiu Mr. Freud, calmamente. Sah arregalou os olhos.
- É? – foi a única coisa que Sarah conseguiu falar.
- Uma palavra. Rastreador.
Como eu não havia pensado nisso antes? Mas é claro! Será que eles já haviam se recordado disso? Acredito que não, mas tentar não iria custar nada.
Fechei os olhos, recordando-me do e-mail que havíamos recebido somente há três semanas. Eu só precisava acioná-lo. Ele estava no ombro esquerdo, escondido entre as placas do colete. Virei o rosto, tentando encostar meu queixo no lado do colete, tentando encontrá-lo.
Tentei por várias vezes discretamente e parei por alguns minutos quando o tatuado olhava desconfiado. Então, ele continuava a falar de besteiras, como o quanto idolatrava a CIA, o quanto detestava a Scotland Yard e eu passava a impressão de que algo em meus ombros me incomodava. Acho que exatamente por não estar ligando se eu estava incomodado com algo, o sequestrador não se importou com as minhas várias mexidas no ombro. E, consequentemente, não reparou em uma singela luz vermelha que piscou quando eu obtive êxito em meu objetivo.
- Eu desisto – afirmei, erguendo as mãos para cima. – Nós estamos perdendo a merda do nosso tempo fazendo porra nenhuma – emiti uma negação com a cabeça. - Caralho, que raiva! – vociferei, batendo fortemente com as mãos no capô do carro. – Merda, merda, merda! – brandeei irritado.
Balancei a cabeça negativamente novamente. Eu me sentia incapaz, privado de ajudar meu amigo. Mas que merda! Sabe quando você sabe que precisa fazer alguma coisa mas não sabe o que ou como? Era mais ou menos o que eu estava sentindo.
Eu compreendia que ie estava correndo perigo e que eu teria que achá-lo para que não fosse morto. Mas onde procurar? Eu não tinha a mínima ideia. Eu não sabia como havia sido sequestrado, por que, por quem, ou para onde tinham o levado. Esse sentimento de incapacidade é horrível!
Para-para-Paradise
Para-para-Paradise
Hey, eu conhecia aquela música. Era meu celular. Peguei-o rapidamente no bolso e vi no visor o número de Sarah. Seria, de qualquer forma, um dos únicos que eu atenderia no momento. E assim fiz. Porém, pela minha demora, não foi possível achá-la na linha.
Nervoso, fui até as últimas chamadas e chamei o último número. Enquanto esperava a chamada completar, pensei em quão irônica era a música escolhida por mim como toque de celular. Paraíso? Estava muito longe de ser paraíso. Estava mais pra inferno, na verdade. Eu trataria de mudar aquele toque assim que desligasse com Sah.
Ela só devia estar ligando pela vigésima terceira vez aquele dia – ou talvez mais, já havia perdido a conta – perguntando se tínhamos novidades. Não que eu não quisesse escutar sua voz angelical flutuar sobre o telefone, mas em alguns momentos eu estava tão pilhado, tão decepcionado, que atender a telefonemas desesperados ou inúteis era tudo que eu menos queria no momento.
- , que bom que você atendeu! – uma voz ao telefone soou, interrompendo meus devaneios. Eu estava tão afundado em meus pensamentos que nem ao menos havia percebido que a linha já havia chamado. – Eu já sei como encontrar !
- Como, como assim? – gaguejei. – Explica, Sah! – pedi, incomodado pelo silêncio do outro lado da linha.
- Calma, – manifestou-se - Tem chips. Todos os coletes e armas têm chips dentro deles.
- E por que você não me falou? – perguntei irritado. Eu havia perdido horas e horas na rua sem fazer porra nenhuma quando já podia estar em casa, descansado, com meu amigo e chefe também em casa se recuperando do susto e agora eu descubro que tinha a porra de milhares de chips. Que falta de comunicação do caralho!
- Eu não sabia, mas que merda! – vociferou ela, também irada. Isso , irrite a mulher da sua vida mesmo. – É um sistema novo, não tem nem um mês, seu tio – e ela destacou muito bem o parentesco - ainda nem fez uma palestra pra maiores explicações. Eu, por exemplo, nem sabia da existência desses chips. Só os agentes receberam um e-mail sobre isso.
- Ok, Sarah. Desculpe-me. E como eu faço para achá-lo?
- Preciso que você volte à sede. Nos encontramos no comando central. Lá teremos todas as informações – falou ela, formalmente, desligando o telefone sem se despedir.
É, talvez o toque do meu celular começasse a fazer algum sentido...
POV OFF
Paradise – Coldplay
When she was just a girl
She expected the world
But it flew away from her reach
So she ran away in her sleep
And dreamed of para-para-paradise
Para-para-paradise
Para-para-paradise
Every time she closed her eyes
Ooohh
When she was just a girl
She expected the world
But it flew away from her reach
And bullets catch in her teeth
Life goes on
It gets so heavy
The wheel breaks the butterfly
Every tear, a waterfall
In the night, the stormy night
She closed her eyes
In the night
The stormy night
Away she flied
And dreamed of para-para-paradise
Para-para-paradise
Para-para-paradise
Whoa-oh-oh oh-oooh oh-oh-oh
She dreamed of para-para-paradise
Para-para-paradise
Para-para-paradise
Whoa-oh-oh oh-oooh oh-oh-oh
La-la-la-la-la
Still lying underneath the stormy skies
She said oh-oh-oh-oh-oh-oh
I know the sun's set to rise
This could be para-para-paradise
Para-para-paradise
This could be para-para-paradise
Whoa-oh-oh oh-oooh oh-oh-oh
This could be para-para-paradise
Para-para-paradise
This could be para-para-paradise
Whoa-oh-oh oh-oooh oh-oh-oh
Ooohh
This could be para-para-paradise
Para-para-paradise
This could be para-para-paradise
Whoa-oh-oh oh-oooh oh-oh-oh
- Chega de falar sobre Scotland Yard ou CIA – exclamou o tatuado, o que me fez quase pular de alegria. Porventura, se eu não tivesse amarrado eu pulasse mesmo. A conversa dele e suas opiniões eram tão irritantes, que eu quase pedi para me dar um tiro na cabeça logo e me matar para não precisar ficar escutando toda aquele merda. Não, claro que não. – Vamos falar sobre você, sobre você estar aqui... – deixou a frase no ar.
- Por que você me sequestrou? – interroguei ao bandido. Embora já houvéssemos nos “apresentado”, eu não achava que cabia usar nomes. Felix, seria tão estranho chamá-lo de Felix. Bandido, sequestrador, tatuado, isso sim os caracterizavam.
- Eu já lhe disse que vou abrir o jogo, mas eu comando aqui. Eu falo o que eu quiser quando eu quiser, entendeu? – Assenti com uma careta. – Ótimo.
Um trovão ecoou por entre as paredes do galpão. Porra, Londres nunca se cansava de chover, não? Era chuva a toda hora e em todo o lugar. O dia já estava escuro, aquele preto característico e as estrelas por entre os pingos de chuva.
- Primeiro, eu queria dizer que eu matei sua coleguinha policial – confidenciou-me, o que me fez arregalar os olhos. Claro que eu sentia que tinha algo a ver com , mas parecia algo tão irreal. A confissão saindo de sua boca tão facilmente. Ah, como eu queria um gravador para incriminar esse filho da puta!
- Voce... Você matou ? – inquiri assim que me recuperei do susto. Queria tanto poder gravar aquela conversa, poder colocá-lo de alguma forma na prisão, mesmo que morto.
- Ah, esse era o nome dela? Era muita gostosa. Gozei muito com ela! – disse o bandido, me causando um excesso de raiva. Mexi-me na cadeira incontrolavelmente, mas os braços e pernas estavam presos fortemente.
Minha vontade era dar-lhe milhões de socos por todo o corpo dele e lhe matar com minhas próprias mãos. A cena de minhas mãos em seu pescoço cada vez mais incolor flutuava em minha mente. O corpo todo cortado, parte por parte, desde os olhos, nariz, orelhas e cada dedo da mão e do pé, jogado as traças.
Era um pensamento horrível, eu reconhecia, mas ele havia matado minha namorada! A mulher que eu amava, por quem eu daria a vida, que eu queria construir uma família, que eu queria andar de mãos dadas pelo parque quando velhinhos. Ele a havia destruído, havia destruído todos os meus sonhos, toda a minha vida!
Não satisfeito ele ainda a violentou da forma mais bruta possível, no qual tenho certeza que ela sofreu muito! E, agora, ele ainda vem me dizer que gozou com ela? Minha vontade era acabar com ele naquele instante, do jeito mais cruel que existia.
- Seu filho da puta, desgraçado. Vou te matar! – exclamei, segurando minhas lágrimas para que elas não escorregassem por entre as linhas do meu rosto.
- NÃO FALE MAL da minha mãe! – retrucou ele, batendo com a arma na minha barriga e me fazendo encolher o corpo e gemer de dor. – E só quero ver você me matar! – falou com superioridade. – Eu posso ser bandido, assassino, mas mentiroso eu não sou não – refletiu, mexendo a cabeça. - Ok, às vezes sim. – Eu voltei a ficar ereto na cadeira, assim que a dor diminuiu um pouco. Pelo comentário, ele riu sozinho, aquele riso típico de bandido. A boca carrancuda fazendo ruídos exagerados e expondo dentes podres e amarelados. – Mas nesse caso eu não estou mentindo – continuou. - Ela tinha uns peitos maravilhosos, era gostosa pra caralho, e muito boa na cama – confidenciou. Eu tremi e me arrepiei em pensar naquelas mãos podres a tocando. Rangi os dentes, como um cachorro furioso pronto para atacar. E a imagem de cortá-lo pedacinho por pedacinho vivo, sentindo toda a dor, não parava de passar por minha cabeça. O desejo só aumentava e aumentava. - Não que você não saiba disso.
- Que? – foi a única coisa que eu consegui soltar. O que ele queria dizer com aquilo?
- Ela era sua namorada – replicou ele. Como ele sabia de nossa relação? Nós escondíamos muito bem, não contávamos para ninguém, tomávamos todos os cuidados. – Sabe, eu tive até pena de matá-la. Eu podia prendê-la e a manter como minha escrava sexual, mas acima de toda a boazuda que era, era um tira e tira não tem perdão não. – A ânsia de vomito chegou. Eu simplesmente queria matar aquele desgraçado. Raiva! Ele me fez sentir tanta repulsa, tanta revolta que, involuntariamente, meus movimentos aumentaram bruscamente. Ele apenas observava minhas tentativas infrutíferas de escapar dali com um sorriso superior no rosto. Por fim, cedi, cansado, e decidi fazê-lo continuar com a confissão. Se eu ia morrer, que morresse por bons motivos.
- Por que você a matou? – soltei com dificuldade, a voz falhando. Eu tinha que me concentrar em ser profissional, me convergir no policial estrela que eu era. Nada de sentimentalismo, nada de demonstrar para o bandido, ao menos.
- Ela era sua namorada, já falei. Não sei se você se recorda, mas você prendeu vários amigos meus. Lembra-se do caso: assassinos de West End? Pois é – esclareceu-me. Então ela morreu porque eu prendi amigos do sequestrador? Ela tomou minhas dores, ela perdeu sua vida por um caso meu?
- Isso era uma vingança a mim? – inquiri assustado. Eu até poderia prever que meu sequestro tinha alguma coisa a ver com a morte de , mas nunca, nunca mesmo, imaginaria que ela havia falecido por minha culpa.
- Sim. Fazer você sofrer pela morte da namoradinha querida e depois morrer! - Uma onda de sentimentos, de raiva, revolta, tristeza, rancor, culpa e saudade me invadiu, me dando forças para lutar mais uma vez contra aquelas cordas. Eu precisava sair dali, eu precisava vingar a morte da minha . Eu precisava acabar com a vida dele, do mesmo jeito que ele acabaria com a minha assim que tivesse a oportunidade certa. Como tinha agora, é.
- Seu infeliz! Por que não me matou logo? Por que matá-la? – perguntei, sentindo meus olhos úmidos. Em pouco tempo eu estaria me derramando em lágrimas.
- Nossa, você é lerdo hein. Já disse, pra você sofrer, porra. Morrer é muito simples. – Deu de ombros, como se fosse algo normal, algo inútil de se explicar ou responder.
- E... – gaguejei, sem falta de coragem para prosseguir. Era difícil soltar aquelas poucas palavras. Duas lágrimas escaparam. – Por que você violentou ?
- Ah, eu não a violentei. Ela gemia toda hora. Ela pedia por aquilo. Pedia por mais. – Soltou com um sorriso safado nos lábios. Arrebentar aquelas cordas, levantar da cadeira, subir em cima do pescoço dele e matá-lo demoradamente.
- DUVIDO – esbravejei, possesso. – MENTIROSO! – Eu já não conseguia me controlar, minhas mãos tremiam, o suor escorria pelo meu corpo inteiro e deixava meus cabelos e roupa colados a ele. Se eu tivesse como me soltar...
- Eu já disss, policialzinho de merda, que eu NÃO MINTO. Ok, - ele riu – talvez eu a tenha obrigado a gemer e a pedir por mais, mas isso é só um detalhe, não? Hahahaha. – Riu descontroladamente. – Mas respondendo a sua pergunta, o porquê, primeiro porque ela era gostosa pra caralho e segundo pra você sofrer.
- Seu desgraçado, SEU FILHO DA PUTA DO CARALHO! – gritei exacerbado, me mexendo na cadeira e tentando me soltar incontroladamente. Mexendo-me e mexendo-me.
- NADA DE XINGAR MINHA MÃE, SEU PUTO! – reclamou, realmente muito irritado, bradando ferozmente. – Vai aprender da pior forma! – informou, antes de apontar a arma para minha perna e disparar a bala.
- Ahhh – gemi de dor assim que a bala atingiu minha panturrilha. Olhei para minha perna, vendo o sangue escorrer e manchar minha calça.
- Você demorou - Sarah reclamou, enquanto via entrar na sala de comando central.
Essa sala nada mais era que o lugar onde eram feitas todas as vídeo-ligações com pessoas importantes, como presidente e governadores. Também servia, e era por isso que os dois jovens estavam ali, para rastrear todos os chips implantados há pouco. Ampla, com várias TVs espalhadas pelas paredes, alguns computadores com Nerds da computação teclando nos mesmos e fileiras de cadeiras para acomodação dos agentes.
- Estava longe daqui – justificou , vendo Sarah levantar da cadeira onde estava sentada e cumprimentá-lo com um beijo singelo e tímido no rosto.
Eles não tinham toda essa intimidade, nunca haviam se cumprimentado com beijos, mas a preocupação mutua com o os unira. Não era como se pudessem explicar o quanto haviam se aproximado só por telefonemas e palavras ditas de apoio, entretanto, eles nem queriam saber no momento. Sem palavras, só gestos, afagou o cabelo loiro de Sarah que estava preso em um coque desajeitado enquanto depositava um beijo delicado nas bochechas da mesma.
- Não percamos temos, vamos ver se conseguimos rastrear. – Soltou-se dela, se aproximando de um daqueles agentes sentados em frente aos computadores. Tinham de se preocupar com .
- Eu já pedi para eles o procurarem. Já identificaram o código do chip de e já conseguiram descobrir que o rastreador está ativo – contou com um sorriso.
- Isso é ótimo – afirmou sorridente, . – Já sabemos onde ele está?
- Então – começou Sarah, um tanto embaraçada. – Aí está o problema. O programa é novo e devagar. Numa área de busca englobando a cidade de Londres demora-se uma hora, em média. No entanto, resolvemos procurar por toda a Inglaterra – explicou. - Sabemos que pelo aeroporto ele não pode escapar, mais as estradas ainda estão livres. É possível que eles não estejam mais em Londres. Abrangendo a área de busca, o tempo de espera passa para três horas. – Fez uma careta.
- E quanto tempo falta? – perguntou depois de assentir.
- Um pouco mais de duas horas – murmurou quase inaudível, com a cabeça baixa.
- Mas que MERDA! – vociferou. – E eu fico aqui sem fazer nada enquanto morre?
- Eu sinto muito , você sabe que eu quero encontrá-lo bem tanto quanto você – resmungou Sarah.
- Por favor – pediu , tocando nas costas de um dos rapazes que mexia no computador, teclando dez teclas a cada segundo. – Faça isso ficar mais rápido.
- Não é possível senhor, essa é a velocidade máxima que a máquina trabalha – o rapaz tentou argumentar.
- MAS QUE PORRA! VOCÊ GANHA DINHEIRO PARA ISSO! PUTA QUE PARIU! – xingou indignado.
Andou pela sala de um lado para outro alternando-se em mexer nos cabelos, passar a mão pelo rosto e roer as unhas. O silencio se instalou. Sarah, preocupada, acompanhava seus gestos com o olhar. Assim ficou-se por alguns minutos.
– Há alguma área em eminência? – inquiriu aos agentes, quebrando o silêncio.
- Na verdade, sim – uma mulher baixinha se pronunciou.
- E por que merda vocês não disseram isso antes? – perguntou rude.
Todos os agentes, sem exceção, abaixaram a cabeça por alguns segundos. Sarah reparou naquilo com curiosidade. Quando vira à primeira vez pensara o mesmo que e todos os outros, estava ali por ser tio do chefe. Entretanto, agora, ele mostrava que se empenhava e tinha talento para a polícia afinal. Assim como o tio e o , com algumas palavras rudes ele sabia domar os agentes.
- É uma área bastante grande – alegou a mulher que havia falado instantes antes. – A busca está mais concentrada no Sul de Londres, mas há uma grande parte do centro incluída, como East End.
- Hm... Ok – respondeu somente, esquecendo-se de agradecer. Dirigiu-se a Sarah, andando até onde ela estava acomodada. – Eu vou seguir para lá, Sarah. Vou andar por toda essa área – informou. - Assim que acharem a localização concreta me ligue, passe uma mensagem, chame um rádio ou mande um sinal de fumaça. Qualquer coisa, desde que me avise imediatamente – ordenou, já caminhando até a saída da sala. – Ah, – lembrou-se, virando para a mulher – mande um reforço também para o local – completou, abrindo a porta. – Tchau – exclamou sem nem olhar para trás.
Sarah sorriu. Cada vez via-se mais fascinada com . Ele era tão gentil e ao mesmo tempo rude e mesmo assim fofo. Confuso sim, mas, afinal, era o próprio confuso em forma de gente. Levantou-se, gritando ordens aos agentes aprumados nos computadores. Seria legal comandar um pouquinho as coisas por ali.
- Desgraçado – reclamei assim que a voz saiu de minha boca. – Desgraçado – repeti.
- Eu falei para não falar mal da minha mãe – informou, dando de ombros.
Eu tentei puxar minha perna, porém as cordas amarradas em meu tornozelo me lembraram de que aquilo não era possível. Sabia que tinha que pressionar o local baleado. Sabia também que aquilo não era possível amarrado daquele jeito. Sabia, por fim, que se o sangue continuasse a jorrar daquela forma por muitos minutos eu perderia a perna.
Não que aquilo realmente me assustasse. Um bandido me jurando de morte me assusta bastante para me preocupar com a minha perna. A dor, no entanto, não me deixava esquecer. Aliás, dor era o que não faltava. Era difícil citar um local do corpo que não estivesse proclamando de dor. A questão era que não sabia nem se sairia vivo dali.
- Chega, chega por agora. – O tatuado bateu nas coxas soltando uma exclamação: - Voltamos a conversar mais tarde. - E seguiu escadas acima.
Eu observei o abrigo de meus últimos dias tentando esquecer a dor que vinha de minha perna. Pensei na Scotland Yard, em Sarah, , será que estariam procurando por mim? Eu havia ligado o chip e facilitado em muito minha localização, mas será que eles haviam recordado desse detalhe?
E então pensei em . Na mão daquele bandido em minha namorada. Engoli em seco quando uma cena tomou minha cabeça. estava amarrada nos braços e nas pernas assim como eu, no entanto, encontrava-se deitada no chão frio daquele mesmo galpão. Ao lado, uma das muretas que sustentavam aquele depósito a prendia e a impossibilitava de lá sair.
Vislumbrei Felix com uma arma em mãos e um sorriso mordaz no rosto.
- Olá querida – exclamou o bandido a ela, abaixando na altura da garota e passando a mão áspera e fria por todo o rosto da mulher.
Primeiro dedilhou os dedos pela testa e pela região dos olhos. Depois, desceu para o nariz e as bochechas pálidas. Pela boca semiaberta ele demorou alguns segundos, acariciando-lhe toda.
Percebi, então, que estava tonta e dopada. Era obvio que diante de todo aquele estranho carinho ela ficasse histérica e se remexesse, mas diante de alguma droga que deram a ela, a mesma só conseguia acompanhar os movimentos do tatuado, imóvel.
O sequestrador não parou de abusar-lhe. Ele se encaixou nela na altura da cintura, deixando uma perna de cada lado e se acomodando em cima de , mesmo sem toca-la. Fugindo do rosto, ele aproveitou que os braços da mulher estavam para cima amarrados na mureta, e passou as mãos sujas por toda parte de trás do braço da policial e as axilas lentamente.
Encolheu-se, então, aproximando-se ainda mais do corpo de . Encostou seu nariz quebrado no pescoço da mulher e inspirou-lhe o perfume ali presente. Pude sentir o perfume cítrico que usava em contraste com seu cheiro doce. Arrepiei-me.
Com um sorriso de satisfação no rosto, ele arrastou-se um pouco para trás, sem mudar de posição, parando um pouco abaixo do quadril de . Levou as mãos até a bainha da blusa da mulher e puxou a roupa com rapidez para cima até o colo. Assim, a barriga e os seios ficaram a mostra.
Ele mergulhou o rosto pelo tórax e abdômen da mulher, cheirando e sorrindo a cada pedaço. Passou as mãos pelos seios da mulher, os acariciando sem pudor.
De repente, o tatuado mordeu a barriga de , um pouco acima do umbigo. E logo mordeu outros lugares ali perto. Pude ver o contorço que a moça fazia em resposta e o pequeno grito de desespero que soltava. Eu precisava tira-la dali, não podia deixa-lo fazer isso!
E então eu senti um chute na panturrilha baleada. Reprimi um gemido, abrindo os olhos. Sem perceber, eu me mexia incontrolavelmente na cadeira gritando consolos a .
- Sua namorada já está morta, seu babaca – Felix proferiu.
Eu assenti, abaixando a cabeça. O pensamento fora somente um devaneio. Tomou proporções grandes, mas não era mais do que por alguns minutos pensar que aquilo tudo estava acontecendo naquele momento, que tudo havia sido diferente. Eu sabia, sabia que estava morta. Havia visto o corpo, a autopsia, a bala e ouvido a confissão. O que precisava mais para minha cabeça aceitar aquele fardo? Eu precisava dela. Era só isso. Só isso que eu necessitava. Ela ao meu lado.
Sarah estava aflita. Não pensara horas antes que poderia ficar ainda pior, mas agora via que o ataque de antes não fora nada comparo ao atual. Ela estava muito nervosa. Na sala de comando, só se escutava os tec, tec dos dedos das pessoas nas teclas dos computadores. O que chamava atenção, no entanto, era o silêncio da garota loira.
Andando de um lado para o outro, Sarah roída suas belas unhas pintadas de amarelo e bagunçava no cabelo com as mãos, angustiada e agitada. Minutos atrás ainda ouvia-se os bufos dela e o barulho do salto preto que usava, mas ela mesma havia decidido aboli-los, recusando-se a bufar e jogando os sapatos num quanto qualquer da sala. Não aguentava mais todo aquele barulho. Estava desesperada.
- Nada ainda? – suas perguntas sempre parecidas era o máximo que permitia de barulho. As respostas sempre eram negativas.
Não conseguia parar de pensar em . Onde estaria ele? O que estava sofrendo? Quem o sequestrara? Ele ainda estava... Vivo? As perguntas ecoavam em sua cabeça repetidamente e a falta de respostas para elas só a deixa mais angustiada e aflita.
, por quê? Logo você? Assumira uma pose pessimista. Lembrou-se dos momentos dos dois. O quanto ele era grosso com ela no começo da vida profissional da Scotland Yard, o quanto ela não se importava das atitudes rudes do rapaz. E, depois, quando ele a chamou para sair e eles transaram na casa dela. Não fora nada sentimental, nem espiritual, só carnal. Duas pessoas que se dedicavam imensamente ao trabalho, bastante estressadas, precisando de uma noite selvagem de sexo.
Não só uma noite. Foram mais. Dava-se para contar nos dedos, usando as duas mãos, mas Sarah não se importava com isso. Era só sexo, diversão entre amigos. Por isso percebeu que estava namorando nos últimos meses. Ele não havia mais a procurado para, hm, vocês sabem e às vezes ela o pegava distraído com seus devaneios com um sorriso nos lábios. Sabia que o amigo estava apaixonado.
Onde estava essa mulher agora? Sarah não a conhecia, mas acreditava que ela tivesse procurando o namorado. Ele estava sumido há dias. Dias. Será que ele havia contado para a namorada que era da Scotland Yard? Sim, sim, não é nada como a CIA, que você tem que esconder sua função. Mas então, por que ela não ligava para a sede? Por que não batia a porta da polícia londrina pedindo informações? Será que ela realmente gostava de ?
Para surpresa dela, sua memória fora desviada para . Oh, . Pegou-se recordando uma cena de horas atrás, quando mirava o rapaz impassível dando ordens aos Nerds da computação. Naquele momento, permitiu-lhe sorrir, assistindo mostrar que tinha vocação para a polícia.
É, havia errado com . Não acreditava no rapaz só por ser sobrinho do chefe. Ele queria trabalhar de verdade na polícia, era sua vida. E se Sarah ainda tinha alguma dúvida quanto a isso, vê-lo assumir funções e dar ordens tirara-lhe todas as suas incertezas.
Ele ficara lindo daquele jeito, pensou ela. Seu rosto contraído numa careta rude passava-lhe mais maturidade e os vincos em sua testa lhe mostravam que já era um homem. Sua boa macia encostando-se à bochecha da mulher suavemente...
Sarah acordou, batendo em sua própria testa como forma de repreensão. ? Por que estava pensando nele? Voltou-se a e a sala de comando. O motivo de estar ali. E um pouco da calma que havia voltado, sumiu no mesmo instante. Todo o nervosismo voltou com mais força. Ela estava à beira de um ataque de nervos. Precisava de café.
Ajeitou o cabelo, prendendo os fios rebeldes e bagunçados num coque ruim, e pegou os sapatos de volta, os encaixando nos pés. Caminhou até a porta da sala, pronta para ir até a cantina e se esbanjar de café. Mas, então, ela escutou uma frase que a fez parar:
- Encontrei o paradeiro do agente .
POV Narrador-Observador Off
Breakout – Cash Cash (n/a: desculpa se parece meio lésbico)
Let's go
Follow me outside
And I know it won't be long till
I'm holding your hips tight I know you want to
Leave them all behind
So let's catch a cab down town now
And light the fire up and make it right
Cause there's nobody home tonight
[Chorus]
Breakout and take it to the floor
So I can take you on and give you all the things
All the things we're not supposed to do
Breakout and take it to the floor
We'll finally be alone just take me home with you tonight
Just you and I
And sing Oh Oh, and sing Oh Oh, all night
There's no one home hit the lights
Breakout and take it to the floor
So I can take you on and give you all the things
All the things we're not supposed to do
Breakout and take it to the floor
We'll finally be alone just take me home with you tonight
Eu estava perdido em meus pensamentos. Em ... Mas a voz do bandido chamou-me atenção:
- E logo, você estará morto também – acrescentou.
É, não que eu ainda não soubesse daquilo, já tinha até me acostumado com a ideia. Claro que eu não queria morrer, mas já estava aceitando o fato de ser morto ali. A notícia que havia morrido por minha culpa, somente minha culpa, fazia me sentir melhor. Melhor para morrer. Se ela havia morrido daquela forma, sofrido tanto injustamente, por que eu não podia morrer? Era quase como dar a minha vida a ela.
Como policial e ateu, eu nunca crés nos dois lados da vida. Ou morte. Céu e inferno. Nem em ser um cidadão aplicado, gentil e totalmente direito para subir aos céus ou uma pessoa cruel e pecadora queimar no fogo do inferno. Entretanto, agora, essas questões passavam na minha cabeça. Será que aquilo realmente existia? Verdadeiramente? havia ido para o céu, certamente, era uma pessoa maravilhosa e doce, mas e eu? Eu iria para o céu? Eu já havia feito tantas coisas erradas!
- Quando eu morrerei? – inquiri ao sequestrador, o olhando nos olhos.
- Agora – e dito isso apontou a arma para a minha cabeça.
Flashback On– 6 anos
Eu já estava irritado com tamanha demora. Será que era tão difícil se tornar um agente da Scotland assim como está difícil alguém me atender ali naquele prédio? Recepcionistas já havia falado comigo, mas tudo que exclamavam era para que eu esperasse um pouco, sentasse, para esperar o supervisor.
Também ofereceram café e água, mas eu recusei. Odiava café e sede era tudo que eu não tinha no momento. O nervosismo e ansiedade era tamanha que eu não sentia mais sono, fome ou sede. Só esperava.
Reparei numa mulher de cabelos negros volumosos sobre os ombros saindo de uma sala e andando em direção à recepção. Com um colete da Scotland Yard no tronco cobrindo uma blusa de algodão lilás, ela abriu um pequeno sorriso simpático para mim e se direcionou a recepcionista. Ela era incrivelmente bonita.
- Olá Annie, faça um favor para mim? – perguntou, já se adiantando. – Entregue esses relatórios para Mr. Freud, por favor? – completou com um sorriso, ajeitando delicadamente os papéis na bancada.
A mulher ruiva assentiu também sorrindo e se levantou, pegando o mar de papel colocado pela morena na bancada. De relance, ela olhou para mim e me olhou um pouco admirada.
- Ah, esse rapaz, - apontou para mim, lembrando-se de que eu estava naquele ambiente – é o novato. Está treinando para ser agente. – e seguiu para o elevador.
- Olá, tudo bem com o senhor? – A moça se aproximou de mim ainda esbanjando um sorriso.
- Sim – respondi, levantando do sofá onde estava sentado. – Sou . É um prazer.
- . – Apertou minha mão com sua mão delicada, macia e quente. – Supervisora dos criminalistas.
Qual não foi minha supressa ao saber que o supervisor que eu esperava na verdade era uma mulher? Não que eu fosse machista, mas acreditava fielmente que a polícia era machista. Sendo visivelmente tradicional, seguiria os costumes tradicionais. Uma mulher era algo que não esperava num alto cargo. Ainda mais uma mulher tão linda e encantadora como aquela.
- Vou te mostrar como as coisas funcionam por aqui – robusteceu uma postura séria. – Me acompanhe, por favor.
Caminhou até outra sala. Seus saltos fechados batendo e fazendo barulho a cada passada. A observei por completo, de cima a baixo. Os cabelos lindos, caindo por entre os ombros e dando um esperado movimento. Apesar do colete, podia-se perceber as curvas bem feitas que a mulher, denominada , tinha em seu corpo. A cintura fina, o quadril mais alongado. Pela saia que ela vestia, aproveitando um dia londrino com sol e menos frio, enxergava-se as pernas torneadas da mulher. Realmente muito gostosa.
- Ei, desistiu? – brincou ela já na porta da sala, encarando-me ainda sentado. O que? Eu havia me encantado com sua beleza. Parado no tempo para observá-la.
Eu me ergui prontamente batendo as mãos nas partes laterais das coxas e ajeitando minha camisa de botões que já se encontrava um pouco amassada. Suspirei antes de refazer os passos de e sentar-se com ela por horas.
Flashback Off– 6 anos
Heaven & Hell
I want to make myself complete
I want to hold it in my arms
I want this blow to scar your eyes
I want this pain to go away
I want to shake this thinking here
I wish there was a heaven
Born to live, live to die
Yeah, we're livin'
Give to try, try to give
Like this is heaven...and hell
You want to write my name in blood
You want to carve it in my arm
You want to make yourself a dream
You want this world under your thumb
You want to make me shout and scream
We know there ain't no heaven
Born to live, live to die
Yeah, we're livin'
Give to try, try to give
Like this is heaven
Born to live, live to die
Yeah, we're livin'
Give to try, try to give
Like this is heaven...and hell
And we all know it well...
Born to live, live to die
Yeah, we're livin'
Give to try, try to give
Like this is heaven
Born to live, live to die
Yeah, we're livin'
Give to try, try to give
Like this is heaven...and hell
- Mais rápido, porra, ande logo! – vociferava para o policial. - Caralho, foda-se a merda do sinal vermelho, mande para a puta que pariu e mete sebo nas canelas! – acrescentei, assim que o filho de uma profissional do sexo ameaçou parar no sinal vermelho. Nossa, eu acho que nunca havia falado um parágrafo com tantos palavrões!
Estávamos nas ruas de Londres, agora com a localização exata de . Seguindo para lá, com vários agentes e várias viaturas e um agente em especial terrivelmente nervoso, furioso e com a boca suja. Ah, ainda não sabem que é? Uma última dica, ele é sobrinho do diretor! Sim, eu!
Sarah finalmente havia me ligado proferindo as tão sagradas palavras, dos quais esperava há dias. E então, passou-me o endereço pelo GPS do carro enquanto seguíamos até loucos por lá.
Iriamos encontrar . Vivo ou morto... Vivo. Íamos o encontrar bem, vivo e tudo daria certo. Eu sorri, mas não consegui espantar os ruins devaneios de minha cabeça. Quem o teria sequestrado? Por quê? E o que tinham feito com ele? Eram perguntas que sempre retornavam. Era difícil de admitir, mas eu estava com medo. Não com medo de sair vivo daquela missão, mas de como encontrar . Tinha medo de como o encontraria. Em que situação. Engoli em seco, era melhor não pensar nisso.
- Senhor Will, estamos chegando. – O policial motorista avisou. – É aquele depósito ali na frente.
Ergui a cabeça, decidido. Entraríamos ali com toda a força, independente de o que ou quem tivesse lá. Montei uma pequena ação para adentrar ao depósito, fazendo um cerco com todos os agentes por todo o terreno.
- Preparados? – perguntei pelo rádio, escutando alguns respondendo afirmamente.
Com todos apontando as armas para o armazém e numa posição para entrar eu respirei fundo e gritei no aparelho para que escutassem. “AGORA” e mencionado isso, os policiais chutaram as portas do lugar, fazendo um estrondo eminente.
I wanna have the same last dream again,
the one where I wake up and I'm alive.
Just as the four walls close me within,
my eyes are opened up with pure sunlight.
I'm the first to know,
my dearest friends,
even if your hope has burned with time,
anything that's dead shall be re-grown,
and your vicious pain, your warning sign,
you will be fine.
Hey, oh, here I am,
and here we go, life's waiting to begin.
Any type of love - it will be shown,
like every single tree reach for the sky.
If you're gonna fall,
I'll let you know,
that I will pick you up
like you for I,
I felt this thing,
I can't replace.
Where everyone was working for this goal.
Where all the children left without a trace,
only to come back, as pure as gold,
To recite this all.
Hey, oh, here I am,
and here we go, life's waiting to begin.
Tonight,
hey, oh, here I am,
and here we go, life's waiting to begin.
Tonight,
hey, oh, here I am,
and here we go, life's waiting to begin.
I cannot live, I can't breathe
unless you do this with me
I cannot live, I can't breathe
unless you do this with me
I cannot live, I can't breathe
unless you do this with me
I cannot live, I can't breathe
unless you do this with me
I cannot live, I can't breathe
unless you do this with me
I cannot live, I can't breathe
unless you do this with me
Hey, oh, here I am (do this with me),
and here we go, life's waiting to begin (do this with me).
Hey, oh, here I am (do this with me).
And here we go, life's waiting to begin,
life's waiting to begin.
Engoli em seco, fechando os olhos. Respirei fundo. Seria agora. Agora eu morreria. Um famoso filme passou-se em minha mente. O filme da minha vida, trilhado por meus passos e dirigido por minha cabeça.
Vi-me no berço ainda da maternidade, com meu pai e minha mãe me assistindo e brincando comigo. Eu soltava ruídos e mexia-me enquanto mirava o abrangente sorriso dos meus progenitores. Logo, uma festa de aniversário apareceu, eu fazendo o primeiro ano de vida, rindo e batendo palminha com todos ali presentes. Ri ao observar meu andar engraçado.
Então eu me vi com cinco anos, chorando pela morte de meu pai. Eu não entendia muito o que estava acontecendo, mas de alguma forma sabia que nunca mais o veria. Aos nove brincando na rua com meus amigos de policia e ladrão. Eu sempre fazia questão de ser o policial.
Quando eu beijei a primeira garota, com doze anos. A primeira vez que eu namorei, com quinze, e quando eu perdi a virgindade. Eram garotas lindas, mas nada se comparava a . Ela era diferente de todas as outras...
Aos 18 anos me alistei no exército e anos depois decidi seguir carreira policial. E entrei. E vi . E me apaixonei no mesmo instante.
Nossos momentos juntos. A primeira vez em que eu a chamei para sair, a primeira vez em que nos beijamos, em que transamos, quando a pedi em namoro. Tudo era tão lindo.
Eu havia ficado hipnotizado com aquela mulher desde o primeiro dia que a havia visto. Sua imponência e bravura em contraste com a meiguice e gentileza. E, claro, com sua beleza. Dos pés ao último fio de cabelo, ela era extraordinária. Seu corpo cheio de curvas fazia-me pensar naquela mulher sem toda aquela roupa que lhe cobria. Tê-la nua em minha cama.
E então, cinco anos e alguns meses depois, aquele desejo fora realizado. Só não foi o melhor dia da minha vida porque houveram novas doses, repetidas vezes, dias e dias depois.
Uma lágrima caiu do meu rosto ao me lembrar de . De seus gestos, atitudes, juras de amor, caretas, gritos, risos... Eu a amava. Sempre pensara que era muito difícil falar essas palavras mágicas – eu te amo – para alguém verdadeiramente, mas com foi tudo tão intenso, tão mágico, que saiu fácil de minha boca. Não, da minha boca não, do meu coração.
Ela era tudo que eu sempre quis, mesmo não sabendo antes de conhecê-la o que queria como mulher. Ela era tudo. Minha vida. E agora ela estava longe.
Se eu por acaso sobrevivesse, o que na atual situação era improvável, não sabia se um dia eu superaria a morte de . “O tempo cura tudo” Mesmo? Porque se ele é o remédio para tudo, eu irei comprar caixas e caixas esperando o efeito.
Abri os olhos, recordando por fim da minha amizade com Sarah. Sempre foi tão bom. Nós saíamos, nos divertíamos, bebíamos, dançávamos e se estivéssemos afim de transar, era simples, a gente transava. Era uma verdadeira amiga. Ih, já estou até falando no passado!
Ah, por que me esquecer de ? Apesar de conhecê-lo há poucos dias via nele uma ótima pessoa e, também, um brilhante futuro policial. Claro que nunca confidenciaria isso a ele, até porque é muito bom implicar com alguém como ele.
Suspirei. Isso acontecia segundos antes de se morrer? Quer dizer, você se animar todo no pensamento, tentar ser piadista, soltar frases brincalhonas e fazer coisas divertidas e engraçadas?
Eu sentiria falta deles.
- Suas últimas palavras? – perguntou o bandido, pressionando a arma contra a minha cabeça.
Respirei fundo. Seria agora.
- Queria dizer duas coisas. – Ele consentiu, me fazendo continuar. – Primeiro, eu vou sentir falta da chuva que sempre cai em Londres.
Eu escutei alguns ruídos ao longe e observei o tatuado fazendo uma cara de tédio.
- Ande, não tenho a vida toda – bradou.
- Segundo, - continuei, encarando o sorriso maléfico no rosto do bandido.
E então, escutei um som oco, como um tiro. Logo vi Félix cair, se ajoelhando aos meus pés e gemendo de dor. Olhei para o local de onde o tiro havia partido, encontrando uma equipe de policiais. Pude reconhecer , ditando ordens e comandando o grupo. Sorri. Os chips funcionaram. Eles haviam me encontrado.
- Segundo, - continuei minha fala, como se nada tivesse acontecido - eu sempre soube que no final você se ajoelharia aos meus pés, seu grandessíssimo filho da puta! – Ri sozinho em seguida.
Com as mãos e pernas, uma delas baleada, segurado por alguns policiais, o bandido não pode fazer mais do que me lançar um olhar mortal. Sua arma já estava no outro lado do balcão e os agentes invadiam tudo para tomar conta da área.
Outros agentes vieram até mim e me desamarraram. Dolorido, me mexi, movimentando meus braços e pernas.
- Doutor , espere os paramédicos – solicitou um policial, vendo o meu ferimento na panturrilha.
Assenti, o vendo se retirar. Observei minha perna baleada. A ferida não estava nada boa, sangrando bastante e doendo um bocado também. Desviei meu olhar para o bandido novamente, o vendo ser algemado.
- , que bom que está vivo! – escutei a voz de , que bateu gentilmente em meu ombro.
- Para você é agente , novato. E que merda comeram para colocar você como chefe dessa operação? – inquiri rude, o vendo fazer uma careta. Era bom brincar com aquele moleque. – Nepotismo do caralho! – completei rindo.
Apoiei-me no braço de Will, segurando-o com força e pegando impulso para levantar da cadeira. Manquei um pouco até me estabilizar no chão com somente um pé e me firmei no ombro do rapaz ao meu lado.
- Não era para se levantar, senta... – começou ele, reclamando de minha atitude. No entanto, ele parou de proferir qualquer palavra quando viu o meu gesto seguinte, tão surpreso estava. O que? Pensam que eu não posso também ser gay e sensível às vezes? Eu lhe puxei para um abraço apertado, sussurrando um agradecimento baixo em seu ouvido.
- Não se acostume – avisei, dando-lhe um pedala na nuca.
Os paramédicos não demoraram mais que dois minutos para chegar, transportando uma maca no qual fui obrigado a sentar. Eles queriam me fazer deitar a todo custo, mas depois de muita insistência eu consegui convencê-los de que esticar a perna baleada ali para descansá-la já era suficiente.
Observei que os policiais levantavam o bandido do chão, já algemado, e os carregavam em tropeços para fora do balcão. Era minha hora de agir.
- PARE – gritei, fazendo todos os paramédicos que me carregavam pararem subitamente. – Ei, vocês também – apontei para os agentes que levavam o tatuado, que pararam a minha ordem. Todos me olhavam curiosos. – , me empresta a sua arma – pedi.
Por incrível que pareça ele não resistiu a me entregar o armamento, nem ao menos perguntou o porquê, simplesmente se aproximou de mim e me estendeu a pistola.
- Faça bom proveito – ainda ditou, saindo da minha vista em seguida.
Encarei todos ali presentes. Uns surpresos, outros curiosos e outros, que provavelmente já conheciam minha índole, com um pequeno sorriso no rosto. Uma expressão, todavia, se destacava por ser única. De quem mais seria a não ser do mais novo preso da Inglaterra? Seu semblante emanava medo. E isso me fez sorrir. E isso, com certeza, me incentivou ainda mais em continuar o que eu já iria fazer.
Apontei a arma para a mira, pronto para aplicar todo o meu treino com tiro a alvo. Quando a falta de coragem ameaçou chegar, eu me lembrei dos dias sofríveis que ali passei, em tudo que aquele bandido fez questão de me jogar na cara, e em . No quanto sofreu, de suas mãos nela, dele entrando em seu corpo sem o menor pudor... Disparei. Uma. Duas. Três. Quatro. Cinco. Vezes seguidas. Uns gritos tomaram conta do local e assim que este acabou, ouviu-se um baque surdo no chão.
Ninguém por minutos teve reação. Até que alguém gritou: “Ele precisa de ajuda” e vários paramédicos correram para lá. Eu estava tão tranquilo, como se eu não acabasse de disparar vários tiros contra um cara, que eu quase me assustei comigo mesmo. Quase.
Talvez você nunca entenda porque eu fiz isso. Só quem já sofreu ao menos um pouco do que eu estava sofrendo saberia entender. Eu espero que você nunca entenda, se assim for melhor. Só não me julgue. Tente perder a mulher da sua vida, saber que ela foi estuprada e sofreu muito antes de morrer, e depois ser sequestrado, e também sofrer bastante na mão do mesmo bandido. Se você não tiver vontade, mas nem um pouco, de mata-lo, aí você é Deus. Sério.
E eu sei, ter vontade de matar todo mundo já teve ou vai ter ao menos uma vez na vida; o que diferencia os bons dos ruins é se você deixa essa vontade tomar conta de você a ponto de fazê-lo cometer um crime.
Então eu me torno ruim? Só por matar um cara que me fez muito mal? Falar simplesmente é muito fácil.
- Quero que você acompanhe o bandido. Quero saber o que vão fazer com ele. – ordenei a , assim que o chamei com o dedo.
Ele somente assentiu, seguindo para lá, e os paramédicos que ainda me seguraram, me levaram até fora do balcão, para receber os primeiros socorros na ambulância.
Mirei o céu escuro de Londres. Não estava chovendo e o azul escuro era preenchido por pontinhos brancos brilhantes, as estrelas. Respirei ar puro. Ok, talvez o ar da capital não fosse um dos mais puros do mundo, mas com certeza era diferente do ar impregnado num depósito.
Descendo o olhar, pude ver a quantidade absurda de carros de polícia. Talvez uns treze, quatorze, inundavam toda a área. Vislumbrei primeiramente Reina, que abriu um sorriso enorme e lindo ao me ver. Ao seu lado estava Sarah, que roía as unhas e olhava para o chão nervosa, não me vendo. Reina a cotovelou, chamando-lhe atenção e a fazendo olhar para cima. E me ver.
- ! – gritou entusiasmada, vindo correndo ao meu encontro com um sorriso no rosto. – Fiquei com tanto medo – e me abraçou apertado.
- Sarah, senti sua falta. – Fiz carinho nas suas costas.
- Precisamos atendê-lo agora – o paramédico chamou atenção.
Sarah, contrariada, me soltou e voltou ao seu antigo lugar. Chegando à ambulância, eles injetaram soro na minha veia e começaram a lavar o ferimento.
Pude ouvir alguns gritos e logo pude ver, com um pouco de dificuldade, o bandido passando numa maca para a outra ambulância, que se encontrava ao lado do que a eu estava.
Então me concentrei em observar o que os enfermeiros estavam fazendo na minha panturrilha. Higienizaram o local e enrolavam com uma gaze, fazendo um pequeno curativo. Por fim passaram uma espécie de uma fita elástica por entre a perna na altura do ferimento, para pressiona-lo e não deixar que sangrasse tanto.
- O levaremos para o hospital daqui a pouco. Já tínhamos uma vaga para o senhor no hospital mais próximo, mas o sequestrador apresentou um caso mais urgente, então o levaram para lá. Estamos procurando vaga em outro hospital – explicou.
- Tudo bem – assenti. – O senhor pode deixar algumas pessoas entrarem aqui? Ainda sou um policial e era chefe desse caso.
- Sim, desde que sejam poucos. – Concordei. – Os nomes deles?
- Sarah, e Reina.
Minutos depois os três subiram a ambulância, sentando no banco nas laterais da mesma. Olhei para e lhe pedi as informações:
- Você deixou um belo estrago. Dois tiros no abdômen, dois na coxa –incluindo o meu tiro-, um no ombro e um no pulmão, aparentemente. Ele foi levado para o hospital inconsciente.
Terminou de falar, passando o olhar para Sarah e lhe dando um abraço. Ei, eu fico alguns dias fora e me perco totalmente nas relações amorosas? Desde quando eles tinham tanta intimidade?
Olhei para Reina. Ela me deu um sorriso e fez carinho no meu braço com as mãos.
- Tudo bem com você? Eu fiquei preocupada – perguntou ela baixinho, algum tempo depois, afagando meus cabelos.
- Sim. – Abri um pequeno sorriso. – Obrigado – agradeci.
- , você deve estar morrendo de fome, quer um café? – perguntou .
- Ele não gosta de café! – exclamaram Reina e Sarah em uníssono. Sah continuou, agora para Reina: - Como você sabe disso?
Eu também queria saber como. Sarah sabia por nossos encontros no hall da Scotland Yard e nossos cafés no Starbucks, mas Reina? Nós nunca havíamos saído nem nada para ela saber.
- Er, bom, eu notei quando encontrei o na cantina, depois daquele interrogatório dias atrás – ela revelou envergonhada.
- Hm... Ok. Eu e Sarah vamos buscar uns cafés e um Nescau para a senhoria que não gosta de café – brincou , levantando um tapa na cabeça de mim. – Até. – eu fiz uma cara emburrada, como uma criança mimada, mas ele a ignorou.
E com isso eles desceram da ambulância, ficando só eu e Reina. Eu me mexi desconfortavelmente na maca. Eles haviam me obrigado a deitar durante os primeiros socorros, mas agora eu queria sentar. Sentia-me impotente ali naquela posição, ainda mais com alguém me observando. Ainda mais com uma mulher me observando, devo acrescentar.
- Me ajude a me sentar, Reina? – pedi e ela se prontificou a ajudar, puxando-me para cima pela cintura. Depois de alguns minutos de esforço, finalmente eu consegui sentar.
- Eu fiquei com muito medo, – ela passou a mão pelo meu rosto, se aproximando de mim. – De você... Morrer. – Fechou os olhos, balançando a cabeça negativamente.
- Oh, Reina, não fica assim – passei as costas da mão pela bochecha dela. – Eu estou aqui. Olhe para mim – pedi e ela abriu os olhos. – Eu estou aqui.
Ela sorriu, deslizando sua mão dos fios do meu cabelo até a linha do meu pescoço. Em seguida suspirou e aproximou seu rosto do meu. Eu também sorri, segurando os cabelos dela. Seus olhos fecharam e assim que eu fechei os olhos, senti sua boca na minha. Primeiro foi só nossos lábios se encostando, mas depois nossas línguas se debatiam com força. Ela puxava meu cabelo enquanto eu bagunçava também seus fios e segurava forte sua cintura, puxando-a para mais perto.
Flashback On– 10 meses
O segundo encontro estava terminando ali, e tinha sido maravilhoso. Depois de um belo jantar num restaurante que eu adorava, nós andamos até o Big Ben.
- , qual o nome desse relógio? – me perguntou.
- Big Ben, oras – respondi, dando de ombros.
- Errou. – Sorriu marota. – Somente o sino da torre é chamado de Big Ben, o relógio se chama Tower Clock – esclareceu. - Bobinho! – acrescentou, dando-me um peteleco no nariz.
E finalmente estávamos no táxi voltando para casa. Não demorou a chegar a casa dela, e nós saltamos. Ela andou até a portaria do prédio lentamente e eu fui em seu encalço. No portão, ela virou-se para mim.
- Foi muito bom sair de novo com você, . – Sorriu, mexendo no chaveiro que tinha em mãos, procurando uma chave.
- Foi uma ótima noite , que tal marcarmos outras vezes? – inquiri com vergonha, encarando seu olhar.
- Claro, será maravilhoso! – exclamou alegre. – Bom, então eu já vou. Foi, er, um prazer – disse, se aproximando de mim. Cumprimentamo-nos com dois beijos na bochecha e um abraço tímido. – Tchau! – Acenou, virando-se, pronta para entrar no prédio.
Eu também me virei, voltando a passos lentos para a rua. Com um súbito de coragem eu gritei por ela:
- Sim? – perguntou ela, olhando para mim.
Andei de volta para perto daquela mulher, adiando ao máximo minha chegada. Mas ela chegou. E quando chegou, eu a olhei com um sorriso. Avancei um passo e mais um, a milímetros de colar nossos corpos. Ela sorriu e, assim, eu segurei sua cintura e seus cabelos, aproximando nossas bocas.
Ela colocou os dois braços em volta do meu pescoço e fechou os olhos, esperando o beijo. Colei nossos lábios, sentindo o gosto de sua boca melada de gloss de cereja. A sensação era incrível. Sentindo o formigamento da minha língua, a passei nos lábios daquela mulher. Ansioso, pedi passagem e ela prontamente autorizou. Lentamente, para guardar aquele momento em minha memória, nossas línguas deslizavam por nossas bocas, brincando entre si, numa magia inimaginável.
Não era como borboletas no estômago, era como leões famintos em sua cabeça. Você sempre queria mais e mais e mais. Assim eu resisti em partir aquele beijo. Fora necessário, precisávamos de ar, mas logo depois de sorrirmos um para o outro e respirarmos, voltamos novamente aquele momento mágico, com os cabelos mais bagunçados e os corpos mais colados.
Flashback Off– 10 meses
Wish you were here – Avril Lavigne
Wish you were here
I can be tough
I can be strong
But with you It's not like that at all
There's a girl
That gives a shit
Behind this wall
You just walk through it
And I remember
All those crazy things you said
You left them running through my head
You're always there
You're everywhere
But right now I wish you were here
All those crazy things we did
Didn't think about it
Just went with it
You're always there
You're everywhere
But right now I wish you were here
Damn, Damn, Damn
What I'd do to have you
Here, here, here
I wish you were here
Damn, Damn, Damn
What I'd do to have you
Near, near, near
I wish you were here
I love the way you are
It's who I am
Don't have to try hard
We always say
Say it like it is
And the truth
Is that a really miss
All those crazy things you said
You left them running through my head
You're always there
You're everywhere
But right now I wish you were here
All those crazy things we did
Didn't think about
Just went with it
You're always there
You're everywhere
But right now I wish you were here
Damn, Damn, Damn
What I'd do to have you
Here, here, here
I wish you were here
Damn, Damn, Damn
What I'd do to have you
Near, near, near
I wish you were here
No I don't wanna let go
I just wanna let you know
That I never want to let go, oh, oh
No I don't wanna let go
I just wanna let you know
That I never want to let go, let go,
Let go,let go,let go,let go,let go!!
Damn, Damn, Damn
What I'd do to have you
Here, here, here
I wish you were here
Damn, Damn, Damn
What I'd do to have you
Near, near, near
I wish you were here
Damn, Damn, Damn
What I'd do to have you
Here, here, here
I wish you were here
Damn, Damn, Damn
What I'd do to have you
Near, near, near
I wish you were here
- Sarah, por que está com esse sorriso no rosto? – perguntei, aproveitando que ainda não havia acordado.
- Oras, está bem, vivo, tudo voltou ao normal. – Ela sorriu na poltrona ao meu lado.
Ela estava tão linda. Sorridente, feliz, um brilho emanava do seu olhar. Peguei sua mão e fiz carinho nela. Ela encostou sua cabeça em meu ombro, relaxando ali.
- , obrigada por ficar ao meu lado nesse momento difícil. – Levantou a cabeça para me encarar.
- Foi um prazer. – Sorriu para ela. – Quer sair comigo um dia desses? – perguntei numa inesperada ousadia, mirando seus olhos.
- É tudo que eu mais quero, . – Depositou um singelo beijo no canto da minha boca, logo apoiando a cabeça em meu ombro novamente.
O médico não demorou a chegar ao quarto onde estava. Checou a pressão, os batimentos cardíacos, o soro, e o curativo antes de falar conosco.
- Vocês são parentes dele?
- Amigos – Sarah respondeu simplesmente.
- Bom, ele ainda está no efeito da anestesia, mas logo acordará. Ele respondeu bem à cirurgia de retirada da bala e em poucas horas já estará de alta – explicou.
- Depois é vida normal? – inquiri.
- Depende do que você considera uma vida normal. Como ele é um policial, bem, terá que por alguns dias ficar de repouso. No entanto, não há uma consequência grave.
Escutamos uns ruídos e assistimos acordar. Mexeu-se um pouco na cama e abriu os olhos, um pouco confuso.
- , como está? – Sarah perguntou, levantando da cadeira e indo para perto do amigo.
- Er, bem, Sah. Quando eu vou sair daqui? – Olhou diretamente para o médico.
- Com sorte, daqui a poucas horas. Bom, virei mais tarde para te examinar. – Andou até a porta e saiu pela mesma.
- , como está o caso? – interrogou .
- O depósito era abandonado e agora está na mão do governo. Analisamos aquela área e encontramos DNA de um desconhecido.
- Deve ser o comparsa dele. Ele teve um ajudante – explicou ele.
- Procuraremos por ele. - Ele assentiu. Continuei: - Ele está morto. – E então ele sorriu, feliz por ter acertado ao disparar cinco tiros naquele bandido.
- Eu nunca erro – avisou presunçoso. – Agora, vocês dois, me ajudem a sentar nessa merda de cama aqui!
Should I? Could I?
Have said the wrong things right a thousand times
If I could just rewind, I see it in my mind
If I could turn back time, you'd still be mine
You cried, I died
I should've shut my mouth, things headed south
As the words slipped off my tongue, they sounded dumb
If this old heart could talk, it'd say you're the one
I'm wasting time when I think about it
I should've drove all night,
I would've run all the lights
I was misunderstood
I stumbled like my words,
Did the best I could
Damn! Misunderstood.
Could I? Should I?
Apologize for sleeping on the couch that night
Staying out too late with all my friends
You found me passed out in the yard again
You cried, I tried
To stretch the truth, but didn't lie
It's not so bad when you think about it
I should've drove all night,
I would've run all the lights
I was misunderstood
I stumbled like my words,
Did the best I could
I'm hanging outside your door
I've been here before, misunderstood
I stumbled like my words,
Did the best I could
Damn! Misunderstood
Intentions good!
It's you and I, just think about it...
I should've drove all night,
I would've run all the lights
I was misunderstood
I stumbled like my words,
Did the best I could
I'm hanging outside your door
I've been here before, misunderstood
I stumbled like my words,
Did the best I could
Damn! Misunderstood
Intentions good!
O médico me examinou horas depois e me deu alta, assim que constatou que eu estava bem. Para minha alta, estava lá Mr. Freud, ditando palavras de consolo e puxando o saco. Pura falsidade.
Chegando à porta do hospital com a cadeira de rodas, – me obrigaram a ir nela, senão eu não poderia sair do hospital – avistei dezenas de jornalistas com câmeras e microfones na mão loucos para falar comigo. Os leões ferozes e famintos.
Encarei os dois enfermeiros que me conduziam até a saída. Eles estavam meio assustados e abobalhados, sem saber o que fazer. É, eles nunca haviam trabalho com alguém, hm, minimamente conhecido então? Aquele hospital recebia a elite londrina!
Balancei a cabeça, não me importando com isso. Mirei e Sarah, que estavam um do lado do outro e fiz uma careta. Como odiava aquilo tudo! Eu só queria ir para casa e descansar. Mais nada.
- Alô – Sarah atendeu ao celular quem eu nem ao menos ouvir tocar. – Oh, sim, só um minuto – exclamou, estendendo o telefone a mim em seguida.
- Quem é? – perguntei. Não tinha uma hora pior para ligar não, né?
- Reina. Ela disse que sabe como te tirar daqui – e deu de ombros. Fiz uma cara surpresa.
- Oi Blanc.
- , não seja frio, me chame de Reina – pediu.
- Por que eu faria isso?
- Nós nos beijamos, ! – acusou ela indignada, aumentando a voz minimamente.
- E você nem está aqui – as palavras saíram antes que eu pudesse analisa-las. Eu estava carente. Sim, eu não podia negar.
- , eu estou! Eu sabia que a impressa viria em peso, então tratei de chamar um carro e vir para os fundos do hospital te esperar – justificou. Eu me permiti abrir um pequeno sorriso de lado.
-Ok. Estarei aí. – E desliguei o celular, devolvendo-o a Sarah. – Tem um banheiro por aqui? – inquiri aos enfermeiros.
- Ah, sim, claro, eu o levarei até lá – o enfermeiro mais alto disse, já segurando minha cadeira de rodas.
- Me esperem, eu já volto – menti.
O enfermeiro me levou até o banheiro. Perguntou se eu queria ajuda, mas eu o olhei tão furioso que ele abaixou a cabeça e se apoiou na parede oposta para esperar.
- Ei – o chamei antes de entrar no banheiro.
- Diga – falou ele, dando um passo a frente.
- Vá até aquele pessoal que estava comigo e diga para eles falarem com a impressa.
- E o senhor? Vai ao banheiro sozinho? E para voltar para lá? Vai saber o caminho? – disparou perguntas.
- Eu me viro, não se preocupe. Só vá até eles e faça isso – ordenei duro.
Ele assentiu prontamente e se virou para caminhar até a saída principal novamente, onde todos estariam. Sorri.
Levantei-me da cadeira e tremi ao apoiar minha perna machucada no chão. Fiz uma careta quando senti uma fisgada na panturrilha. Sustentei-me no chão e larguei a cadeira de rodas de lado. Cadeiras de rodas eram tão ruins. Fazia-nos sentir incapaz.
Mancando, saí da área dos toaletes e avistei uma recepção e uma sala de espera próximos. Eu não sabia onde era a segunda saída do hospital e precisava perguntar, me passando como uma pessoa qualquer e não um paciente.
Eu já estava sem a roupa característica do hospital, aquela espécie de avental ridículo, e estava com uma calça jeans e uma blusa azul de manga comprida trazida por e Sarah. Ainda sim, mancando daquele jeito, elas desconfiariam. Eu precisava andar normalmente de novo.
Posicionei-me e firmei meus pés no chão para caminhar. Enquanto dava passos, a perna recentemente saída de uma cirurgia reclamava, fisgando e me fazendo segurar a dor. Mas, enfim, eu consegui chegar à recepção:
- Com licença – chamei as três mulheres da recepção, esperando que ao menos uma me desse atenção.
Fora difícil alguma das moças com uniforme azul e o insígnia do hospital prestar a mínima atenção em mim. Elas falavam ao telefone, enquanto mexiam nuns papéis e digitavam alguma coisa no computador. Ao mesmo tempo.
- Sim? – perguntou uma delas sem nem olhar para mim.
- Eu queria saber onde fica a saída dos fundos – pedi.
- Por que a dos fundos? – perguntou ela curiosa, pela primeira vez me olhando, mesmo que num vislumbre.
- A impressa está na saída principal, está impossível sair por ali – fundamentei.
- Ok. Siga até o final desse corredor e vire à esquerda. Vai encontrar uma porta ao fundo. – E me deu um sorrisinho final, voltando a sua atenção ao telefone.
- Obrigado. – Ela assentiu.
Segui para o caminho por ela indicado, ainda forçando minha perna a andar normalmente. Finalmente encontrei a porta que a recepcionista havia indicado e saí por ali, logo avistando um táxi e uma Reina acenando euforicamente com as mãos.
- ! – Saiu do carro para me auxiliar.
Deu-me um singelo beijo na bochecha e colocou seus braços pela minha cintura. Apoiei meu braço em seus ombros e segui até o carro sem forçar ainda mais a perna.
Sentei-me no banco de trás e assisti Reina sentando ao meu lado. Ditei meu endereço para o motorista e ele rugiu os motores.
- Como está a perna? – perguntou ela.
- Está doendo, mas está melhor sim.
- Pode coloca-la aqui em cima do banco , não me importo. – Ela sorriu.
Ah, como eu senti falta daquele sorriso perfeito. Aqueles dentes brancos e certinhos juntos aquela boca que eu já havia experimentado formando um semicírculo lindo. O mais lindo que havia visto na vida.
- Não precisa – respondi sorrindo. Não havia como não sorrir ao observá-la daquela forma.
- Eu senti sua falta – confidenciou-me, passando a mão pelo meu braço carinhosamente.
- Eu também. – Encostei meus dedos em sua bochecha, as alisando. Sorri com ela antes de diminuirmos a distância e encostarmos nossas bocas. Beijamo-nos calorosamente.
- Obrigada por me ajudar a fugir de todos – agradeci com minha testa colada na dela.
- Tudo bem. – Ela me deu um selinho. – Foi ótimo te ajudar. – E dessa vez foi eu que a beijei.
Flashback On– 4 meses
- Tem certeza? – perguntou indecisa.
- Claro! – exclamei. – Amor, eles estão nos prendendo nesse caso há dias só porque a vítima era um empresário famoso. Há quanto tempo você não dorme?
- Umas 35 horas. – Ela deu de ombros.
- Pois é. – Sorri. – Vamos logo! – disse animado.
Peguei sua mão, pronto para fugir daquele caso, daquele local, da Scotland Yard por algum tempo. Ao menos algumas horas. Saímos à porta, aproveitando que o porteiro estava entretido no celular e o segurança havia sumido.
Corremos por entre as ruas de Londres por muitos minutos. Não precisávamos, mas a adrenalina havia tomado conta de nossas veias. Nós corríamos o máximo possível de mão dadas, desviando dos postes, carros e pessoas que nos olhavam assustadas.
Paramos finalmente, cansados. Nós não parávamos de rir e agora nosso diafragma doía. Olhamos um para o outro e sorrimos. Era muito bom se sentir daquele jeito.
Voltamos a caminhar por Londres, agora com passos mais lentos. Sem rumo, nós passamos por várias ruas e avenidas.
- Que frio – reclamou ela baixinho, assim que o vento bateu contra nossos corpos.
- Está com frio, meu amor? – perguntei retoricamente, já retirando minha jaqueta e a ajeitando nos estreitos ombros de .
- Esqueci meu casaco com toda a correria. – Ela fez uma careta. – Obrigada, amor – agradeceu por fim, se encolhendo e segurando o casaco.
- De nada, linda. – Sorri para ela, lhe abraçando também pelos ombros e a encaixando embaixo do meu braço. – Está com fome? – inquiri ao avistar um restaurante que gostava logo à frente.
Foi a primeira vez em minutos que me vi localizado, porque desde o momento em que havia fugido eu não sabia onde estava. Até reconhecer o restaurante em que já havia ido com minha mãe há muitos anos atrás.
- Morrendo! – ela informou, soltando uma risada em seguida.
Entramos no restaurante e fomos colocados em uma mesa e atendidos tão logo. Não mais que trinta minutos depois, nosso pedido chegou à mesa. Servimo-nos e começamos a comer, usando um vinho doce de acompanhamento.
- Está uma delícia – comentou sobre a comida.
- A comida daqui é muito boa – concordei. – Gostou do nosso passeio? – mudei de assunto.
- Foi ótimo mudar um pouco os ares. – Bebericou o vinho. – Temos que fugir assim mais vezes. – Riu.
- Com certeza – concordei, também rindo. – Sabe que eu te amo, né amor? – perguntei, largando o garfo e faca por um instante e lhe tocando a mão.
Ela olhou diretamente para os meus olhos e sorriu. Um sorriso doce, meigo e feliz. Deixou que sua mão fosse acariciada por um breve instante, só observando. Finalmente, respondeu, me mirando novamente:
- Não sei não, você pode repetir? – Abriu um sorriso brincalhão.
Flashback Off– 4 meses
Vincent (Starry, Starry Night) – Josh Groban
Starry, starry night
Paint your palette blue and grey
Look out on a summer's day
With eyes that know the darkness in my soul
Shadows on the hills
Sketch the trees and daffodils
Catch the breeze and the winter chills
In colours on the snowy linen land
Now I understand
What you tried to say to me
And how you suffered for your sanity
And how you tried to set them free
They would not listen
They did not know how
Perhaps they'll listen now
Starry, starry night
Flaming flowers that brightly blaze
Swirling clouds and violet haze
Reflect in Vincent's eyes of china blue
Colours changing hue
Morning fields of amber grain
Weathered faces lined in pain
Are soothed beneath the artists' loving hand
Now I understand
What you tried to say to me
And how you suffered for your sanity
And how you tried to set them free
They would not listen
They did not know how
Perhaps they'll listen now
For they could not love you
But still your love was true
And when no hope was left inside
On that starry, starry night
You took your life as lovers often do
But I could have told you Vincent
This world was never meant for one as beautiful as you
Like the strangers that you've met
The ragged men in ragged clothes
The silver thorn of bloody rose
Lie crushed and broken on the virgin snow
Now I think I know
What you tried to say to me
And how you suffered for your sanity
And how you tried to set them free
They would not listen
They're not listening still
Perhaps they never will...
You are not alone – Michael Jackson (N/a: Eterno! MJ <3)
Another day has gone
I'm still all alone
How could this be?
You're not here with me
You never said good-bye
Someone tell me why
Did you have to go?
And leave my world so cold?
Every day I sit and ask myself
How did love slip away?
Something whispers
In my ear and says:
That you are not alone
I am here with you
Though you're far away
I am here to stay
You are not alone
I am here with you
Though we're far apart
You're always in my heart
You are not alone
Alone, alone
Why?
Alone
Just the other night
I thought I heard you cry
Asking me to come
And hold you in my arms
I can hear your prayers
Your burdens I will bear
But first I need your hand
Then forever can begin
Every day I sit and ask myself
How did love slip away?
Something whispers
In my ear and says:
- , perá lá, eu não sou idiota! – indignou-se Sarah. – Eu sei que você está namorando! – revelou novamente, se jogando na poltrona perto da cama. – Ou, sei lá, estava ao menos.
É. Eu estava. Estava no meu quarto dois dias depois da minha alta do hospital com Sarah me enchendo a cabeça e atazanando meus ouvidos.
Depois de minha fugida com Reina, meu celular não parou de chamar nas próximas seis horas. Nos primeiros minutos eu simplesmente ignorava o toque, mas depois eu me vi obrigado a colocar o celular no silencioso.
A questão era que eu estava ocupado demais com Reina para dar satisfações para meus amigos. Eu já sabia que levaria uma bronca e logo depois um sermão e não estava mesmo a fim de escutar aquilo vindo de Sarah e . Tudo bem que eles tinham um pouco de intimidade comigo, mas eu continuava sendo chefe deles. Não diretamente, mas ainda sim em um nível hierárquico eu ocupava melhor posição que os dois juntos. É, talvez não. Havia me esquecido que era sobrinho do poderoso chefão.
Eu fiz questão de pagar o táxi, mas Reina me lembrou que eu estava completamente sem dinheiro. Sorrindo, ela deu o dinheiro ao motorista e me auxiliou para sair do carro. Entrando no prédio, nós tivemos socorro do porteiro até o elevador e do elevador até a cama de casa, as paredes e móveis nos ajudaram.
Já na cama, ela ajeitou os travesseiros e despejou umas almofadas em baixo da minha perna em recuperação enquanto eu jurava que iria lhe pagar a tarifa do táxi.
- Ah , deixe de ser tão duro ao menos por alguns minutos! – pediu ela, sorrindo.
O que eu faria a não ser sorrir junto? Puxei delicadamente um de seus braços para mais perto de mim. Assim que minhas mãos alcançaram sua cintura eu fiz a mesma coisa, puxei-a contra mim. Ela riu, deixando-se cair ao meu lado da cama e se aninhando por lá.
Estendi meus braços para que ela se aninhasse em meu peito e em meu ombro. Foi o que ela fez. A observei e retirei o cabelo que lhe caía em seu rosto, a vendo sorrir como resposta. Ah, aquele sorriso maravilhoso!
- Você está dodói. Eu deveria estar cuidando de você – afirmou ela.
- Quando eu ficava dodói quando criança, minha mãe dizia que beijo sarava. – Sorri maroto.
- Você quer beijo para sarar? – inquiriu ela, sorrindo maliciosa e se apoiando com os cotovelos na cama, me olhando diretamente.
Eu assenti. Nossa distância era de poucos centímetros. Sorrindo, ela se aproximou ainda mais. Coloquei a mão em seus cabelos e outra em sua cintura, e ela sorriu ainda mais com o gesto. Com cuidado para não me machucar, não aumentar nem diminuir a distância e não quebrar o clima, ela passou uma das pernas por cima com meu corpo, seguido pelo braço do mesmo lado, se posicionando em cima de mim. E aí foi eu que acabei com aquela distância, trazendo sua cabeça para mais perto da minha e dando-lhe um beijo.
Ela passou a noite na minha casa, mas não foi para fazer o que vocês estão pensando. Não conversamos sobre sexo, mas assim que nossas carícias ficaram mais quentes, ela parou dizendo que era para eu descansar a perna. E em seguida perguntar se eu queria remédio para a dor.
Quando o dia estava quase virando, ela disse que dormiria ali para qualquer eventualidade e qualquer coisa que eu precisasse. Só depois do almoço do outro dia ela foi embora, com minha insistência, e disse que precisava dormir, comer, tomar banho e trabalhar. A vida continuava afinal, né?
Eu havia ligado para Sarah antes de dormir na noite anterior e lhe explicado toda a situação. Havia poupado uma repreensão da parte dela, chantageando-a que desligaria o telefone se ouvisse algum resmungo.
Naquele dia, no entanto, eu não podia fugir de suas reclamações. E não havia fugido mesmo. Fiquei ao menos quarenta minutos escutando ela queixar-se por meu comportamento e atitude. Só não havia lhe mandado se foder porque estava com medo de interrompê-la. Já viram a ira de uma mulher?
também estava lá e escutava Sah estritamente calado. Até agora. Terminado seus protestos, Sarah pediu para comprar um lanche para todos e ele foi sem soltar um pio. Eu falaria para minha amiga que estava em sua mão, apaixonado, se ela não começasse com o assunto “namorada do ”.
- Sarah, eu não estava namorando antes desse caso – menti. – Agora, bem, eu não sei – dei de ombros.
- , pare de mentir – gritou ela, me fazendo esbugalhar os olhos. – Nós saíamos e de repente, há mais ou menos um ano, você parou de me procurar para essas coisas... – disse envergonhada – você sabe. Nós saímos menos a partir de então...
- Sarah – interrompi, mas ela me suspendeu também logo depois:
- , entenda, eu não estou com ciúmes nem com saudades – explicou. – Olha, nós não tínhamos nada, só somos amigos, eu sei disso! Mas eu percebi sua mudança e isso, , só se justifica com mulher!
- Eu saí com umas mulheres – engoli em seco – só isso. Nada sério. – desviei o olhar.
- Você teria me dito, . Aliás, eu me surpreendi por você não ter me contado que estava namorando! Você sempre as apresentou para mim!
- Sah...
- Para você não contar... – parou ela para pensar – Você só não me contaria se não pudesse. – concertou - Mas o que mais me espanta é o fato dela não ter te procurado enquanto estava sequestrado. Só tinha duas respostas quanto a isso, ela não saber sua profissão e não saber onde você trabalhava, ou ela não gostar realmente de você. Então eu procurei algum telefone estranho e relativamente novo em seu escritório e não encontrei nada...
- Sarah, eu pensei que o detetive da história fosse eu! – exclamei, segurando o riso.
- Aí eu pensei o porquê de ser tão em segredo esse namoro. – ela ignorou meu comentário engraçado – E o porquê dela não te procurar. Eu não acho que ela não gostasse de você, você as conquista – ela deu de ombros, como se tivesse falando que dois mais dois eram quatro. Ou três, depende do ponto de vista. – Então ela não te procuraria por quê? Só se ela tivesse morta. – Tremi, principalmente pela leveza dela em falar isso.
- Sarah, pare de falar tantas besteiras, por favor – pedi, temendo que ela continuasse suas linhas de pensamento.
- Entenda – soltou uma risada seca – Quando se trabalha na Scotland Yard, você supõe que todos morreram. Se sua mãe sai para as compras dizendo que volta para o almoço e se atrasa meia hora, você acha que ela foi atropelada. Ou talvez assaltada – deu de ombros novamente. – Mas aí eu pensei... Não poderia né? Seria tudo tão ao mesmo tempo? Aquilo não acontecia nem nos filmes! Você saberia, né ...? Ou não... Quer dizer, eu perceberia se você tivesse diferente, né?... – ela continuou a pensar. – OH MEU DEUS! – e tampou a boca com as palmas das mãos.
Abaixei a cabeça, balançando a mesma negativamente. Ela não poderia ter descoberto. Ou poderia? “Por favor, que ela esteja errada, por favor, que ela esteja errada, por favor, que ela esteja errada!” Eu repetia mentalmente.
- Vo... você... – gaguejou ela – namora...va – engoliu em seco – a... a !
Respirei fundo e fechei os olhos. É, ela havia acertado e descoberto tudo que havia encobrido durante meses. A olhei e seus olhos mostravam um misto de admiração e dó.
- Eu sempre achei que você era gamado naquela mulher, mas nunca achei que ela te daria bola – comentou ela. Pigarreei. – E agora ela está morta. Oh, , eu sinto tanto! – bradou ela, correndo até mim e me dando um caloroso abraço.
Ela me apertava tanto que eu, que havia sobrevivido a um sequestro de dias, achava que iria morrer sufocado ali pelos braços finos de minha própria amiga.
- Como você está? – ela perguntou depois de minutos. – Quer dizer, não fisicamente, mas psicologicamente... Por .
- Eu estive muito mal – suspirei. – Não quis contar para ninguém e sofri bastante sozinho, embora David tenha me ajudado muito.
- David? – interrompeu-me. – David, o legista? – Assenti. – Eu sou sua melhor amiga , você devia ter me contado, não para ele!
- Veja bem Sarah, eu não contei a ele, ele descobriu – argumentei. – Igual a você.
- Eu sinto muito, mesmo. Vocês se amavam?
- Sim, muito. – Uma lágrima caiu do meu olho. – Eu estava pensando em lhe pedir em casamento – revelei.
- – me abraçou, chorando em meus braços – – repetiu.
A abracei, encostando minha cabeça em seu ombro e a coloquei em meus braços. Só pude escutar seu choro, enquanto fazia carinho em sua cabeça. Quem devia estar chorando ali era eu, mas era melhor assim. Eu odiava demonstrar sentimento.
- Ei, o que está acontecendo aqui? – uma voz enciumada assustou-nos.
Era na porta, trazendo três saquinhos nas mãos. Ele nos olhou, intimidado pelo momento terno que acontecia ali. Eu e Sarah continuávamos abraçados e chorando copiosamente. Ela, porque eu só permiti que poucas lágrimas caíssem.
- Ei, eu quem digo ei, que voz carregada de ciúme é essa? – perguntei a ele. – O que está acontecendo entre vocês? – olhei para os dois.
Eles também se encaram com sorrisos cúmplices no rosto. estava quase roxo de vergonha. Ele se aproximou, despejou os saquinhos na mesa e sentou-se numa poltrona próxima.
- Ande, nada de esconder de mim, me contem o que está havendo! – repliquei.
- Nós, hm, estamos saindo – confidenciou Sarah, já livre de meus braços. – Quer dizer, tecnicamente ainda não saímos, mas vamos sair amanhã. – Sorriu para , envergonhada.
- Hm, legal, vocês formam um bonito casal – me vi falando. Sarah me mirou, surpresa com minha reação. – Eu estou me tornando uma pessoa melhor depois de tudo isso, ok? – argumentei, eles riram.
- Vamos comer? – perguntou .
- Sim, mas antes o vai te explicar porque estávamos abraçados – Sah avisou.
- Por quê? – inquiriu ele.
- Eu estava namorando a agente .
- A que morreu? – ele me olhou assustado.
- Essa mesmo – completei.
- Eu sinto muito – falou baixinho.
- É o que todo mundo diz. – Dei de ombros, mantendo-me forte.
(…) You are not alone – Michael Jackson
But you are not alone
I am here with you
Though you're far away
I am here to stay
You are not alone
I am here with you
Though we're far apart
You're always in my heart
You are not alone
Oh, whisper three words
And I'll come running, fly
And girl you know
That I'll be there, I'll be there
But you are not alone
I am here with you
Though you're far away
I am here to stay
You are not alone
I am here with you
Though we're far apart
You're always in my heart
But you are not alone
(You are not alone)
I am here with you
(I am here with you)
Though you're far away
(Though you're far away, you are near)
I am here to stay
You are not alone
(You are always in my heart)
I am here with you
Though we're far apart
You're always in my heart
Eu roía minhas unhas copiosamente enquanto esperava pela chegada de Sarah. Nós havíamos marcado as oito, mas eu estava tão ansioso que cheguei vinte minutos antes.
Eu ofereci carona, disse que passava em sua casa, mas ela insistiu que não precisava. Também ofereci um cinema e um jantar à luz de velas como primeiro encontro, mas ela negou veemente.
- Eu quero uma coisa diferente – disse ela. – Todos os meus relacionamentos começaram desse jeito e não deram certo. – pendeu a cabeça para o lado. – Se começarmos diferente, nós seremos diferentes. – piscou para mim.
Eu havia gostado da teoria dela. O que fazia um relacionamento dar certo dependia do lugar onde seria o primeiro encontro. Se suas antigas relações começaram com um passeio na London Eye, que tal radicalizar um pouquinho no próximo encontro e conhecer o palácio real? Não que essa visita fosse radical.
Concordamos em sair mesmo com ainda em recuperação porque acreditamos que precisamos continuar. E, depois da revelação de , eu, Sarah e principalmente devíamos seguir em frente. E se era para ser, que fosse com Reina!
A situação é difícil. Um amigo foi quase assassinado, a namorada dele foi realmente assassinada, entretanto, nós vamos ficar presos a isso até o resto de nossas vidas? É claro que ficamos pesarosos, preocupados e muito tristes com o momento, mas parar tudo por isso é demais.
Era uma coisa em que concordávamos, eu e Sarah. Outra coisa foi um encontro numa pista de boliche. Nada mais divertido, né? E agora eu a estava esperando, acabando com as minhas já acabadas unhas e suando de nervoso.
Olhei para a entrada mais uma vez, mas não a encontrei com o olhar. No instante que eu ia virar o rosto, no entanto, eu a vislumbrei. Seu cabelo caído pelos ombros, seu olhar brilhante e seu sorriso simpático.
Acenei assim que constatei ser ela mesma, uma mulher com o olhar perdido por entre as pessoas. Ela abriu o sorriso assim que me viu e andou com passos lentos em minha direção. Vestia uma calça jeans apertada e uma blusa de renda branca que decotava seu colo. Uma bota com salto cobria seu pés e ela tinha um casaco de algodão amarrado nos ombros. Nada mais casual.
- Você está linda – elogiei, cumprimentando-a com dois beijos na bochecha. Pegando sua mão, percebi o quanto ela tremia. Pelo menos ela não era a única nervosa ali.
- Eu queria usar um vestido, me produzir mais, mas sendo numa pista de boliche – a frase pendeu no ar. Eu entrelacei nossas mãos para que andássemos até o balcão.
- Que nada, você está linda assim – repeti. – Olhe para mim, estou tão casual quanto! – exclamei.
Estava mesmo. Uma calça jeans, uma blusa vermelha de manga comprida e um tênis branco nos pés. Ela sorriu para mim, concordando. Chegamos ao balcão:
- Quero uma pista – pedi, entregando o pagamento referente ao aluguel das pistas e do calçado que emitia a placa ao lado.
- Ok. – o atendente conferiu o dinheiro e o guardou. – Tamanho do calçado?
Estávamos jogando há sessenta minutos, era hora de abandonarmos a pista.
- Oh, ganhei de você! – ela apontou para mim, rindo.
- Eu deixei você vencer, boba! – contra-ataquei, falando em seu ouvido.
- Mentira. – Ela riu. – Você que é ruim. Assuma. – agora eu ri junto.
Ela me olhou. Seu rosto emanava felicidade. E aí eu decidi. Todo o medo sumiu. Eu só peguei sua cintura delicadamente e a puxei para mais perto de mim. Eu precisava de seu corpo junto ao meu.
Ela veio sem protestar, ponderando sua mão pelo meu abdômen. A outra foi para o meu braço. Eu coloquei uma de minhas mãos em seu pescoço e acabei com a distância que nos consumia.
Lacei nossos lábios, aproveitando aquele momento. Senti o gosto de sua boca na minha e pedi passagem. Minha língua entrou em sua boca e junto com a sua fizeram movimentos calmos, ternos e suplicantes. Havia se encaixado tão bem que não queríamos nos desgrudar e acabar com aquele maravilhoso beijo.
Cortei-o por ar, assistindo Sarah protestar. Ela puxou meu rosto contra o dela e eu sorri ao ver aquilo. Distribui vários selinhos em sua boca. Por fim, sussurrei contra a sua pele baixinho, sabendo que ela escutaria:
- Para ficar assim com você, eu faço questão de perder todas as vezes.
Just a Kiss – Lady Antebellum
Lying here with you so close to me
It's hard to fight these feelings
when it feels so hard to breathe
Caught up in this moment
Caught up in your smile
I've never opened up to anyone
It's so hard to hold back
when I'm holdin' you in my arms
But we don't need to rush this
Let's just take it slow
Just a kiss on your lips in the moonlight
Just a touch of the fire burning so bright
No, I don't wanna mess this thing up
I don't want push too far
Just a shot in the dark that you just might
be the one I've been waiting for my whole life
So baby I'm alright
With just a kiss goodnight
I know that if we give this a little time
It'll only bring us closer to the love we wanna find
It's never felt so real
No, it's never felt so right
Just a kiss on your lips in the moonlight
Just a touch of the fire burning so bright
No, I don't want to mess this thing up
I don't want push too far
Just a shot in the dark that you just might
be the one I've been waiting for my whole life
So baby I'm alright
With just a kiss goodnight
No, I don't want to say goodnight
I know it's time to leave
But you'll be in my dreams
Tonight
Tonight
Tonight
Just a kiss on your lips in the moonlight
Just a touch of the fire burning so bright
No, I don't want to mess this thing up
I don't want push too far
Just a shot in the dark that you just might
be the one I've been waiting for my whole life
So baby I'm alright
Whoa whoa...
Let's do this right
With just a kiss goodnight
With a kiss goodnight
Kiss goodnight
Depois da minha frase de efeito, ela me agarrou. Simples e muito maravilhosamente no meio da pista de boliche. Tinha que treinar mais daquelas frases, né?
Ficamos nos beijando por alguns minutos ali, até que um funcionário tossiu em nossa frente para nos chamar atenção. E quebrar o clima todo. Ele argumentou, dizendo que precisávamos liberar a pista, pois nosso tempo havia finalizado.
Sendo expulsos, só nos restou calçar nossos calçados. Mas não foi isso que a gente fez. Nós resolvemos abdicar dos sapatos e andar por Londres descalços. E, agora, lá estávamos sendo olhados pelas pessoas enquanto andamos com nossos calçados na mão, balançando-os para lá e para cá.
O povo londrino era tão certo. Tão rígido. Qual era o problema afinal de andar descalço? Pisar no chão duro, sujar o pé e, quem sabe, sentir a natureza? Ok, nem tanto assim.
Não deixava de ser uma coisa legal, diferente. E boa. Nós andávamos de mãos dadas conversando sobre histórias engraçadas e ríamos até chorarmos.
- E então eu pulei. Só depois de cair na piscina que eu fui reparar que a profundidade dela era de cinco metros. Eu nadava, nadava, nadava e não via a luz do fim do túnel. Ou o ar no fim da água. – Nós rimos. – Ei, eu quase morri, ok? – fingiu estar chateada, batendo levemente no meu antebraço.
- Tudo bem – segurei o riso – Eu estou feliz por você está viva e aqui comigo. – Sorri, me virando para ela e segurando suas duas mãos.
- Hm... Já querendo me beijar novamente? – perguntou ela com coragem, olhando-me marota.
- Sempre. – Sorri, aproximando-me.
- Sua sorte – ela informou, batendo com o dedo no meu ombro. Parou por uns segundos, só me analisando -... É que eu estou com saudade da sua boca grudada a minha.
Eu só matei a saudades daquela mulher linda a minha frente.
Sitting on an angry chair
Angry walls that steal the air
Stomach hurts and I don't care
What do I see across the way, hey
See myself molded in clay, oh
Stares at me, yeah I'm afraid, hey
Changing the shape of his face, aw yeah
Candles red I have a pair
Shadows dancing everywhere
Burning on the angry chair
Little boy made a mistake, hey
Pink cloud has now turned to gray, oh
All that I want is to play, hey
Get on your knees, time to pray, boy
I don't mind, yeah
I don't mind, I-I-I
Lost my mind, yeah
But I don't mind, I-I-I
Can't find it anywhere
I don't mind
Corporate prison, we stay, hey
I'm a dull boy, work all day, oh
So I'm strung out anyway, hey
Loneliness is not a phase
Field of pain is where I graze
Serenity is far away
Saw my reflection and cried, hey
So little hope that I died, oh
Feed me your lies, open wide, hey
Weight of my heart, not the size, oh
I don't mind, yeah
I don't mind, I-I-I
Lost my mind, yeah
But I don't mind, I-I-I
Can't find it anywhere
I don't mind, I-I-I
Pink cloud has now turned to gray
All that I want is to play
Get on your knees time to pray, boy
Como era ridículo eu estar ali. Eu, mais que qualquer cidadão comum, devia acreditar e seguir fielmente as leis e a justiça. Todavia, agora, as dúvidas ecoavam em minha mente. Justiça? O que ela é afinal?
Foi por isso que eu matei Félix. Claro, a ira, a vingança, a raiva, a dor tomou conta do meu ser, mas havia mais do que somente isso. Havia justiça. Afinal, era justo um cara que cometeu dois sequestros, dois cárceres privados, uma tentativa de assassinato, uma violência sexual e um assassinato em menos de uma semana ser preso?
Não, não é. Porque se ele fosse preso, por mais que levasse prisão perpétua, ele teria abrigo e comida. De graça, para toda a vida sem nada em troca, ele teria um lugar para dormir e três refeições por dia – coisas que muitas outras pessoas exemplares não dispõem. Isso é justo?
Para mim não. Justo é ele perder a vida. É ele sentir um pouco do que os outros sentiram. E se assim eu me tornei um assassino, lamento. Não posso dizer em um só momento que me arrependo de ter me tornado um assassino. Ou esse monstro, como alguém pode pensar.
Na verdade, não me importa. E digo, eu faria e repetiria os cinco tiros que eu dei naquele assassino a qualquer dia e a qualquer hora. Experimente estar à frente do bandido que matou sua namorada, a estuprou e te fez sofrer bastante. Ninguém pode me julgar. Nem mesmo o tão poderoso poder judiciário. E é por isso que eu achava tudo aquilo extremamente errado.
- Estamos aqui para julgar o policial por assassinato – o juiz começou. – Por favor, promotores, apresentem os fatos.
Sim, eu estava sendo julgado. Julgado por fazer o certo.
Aquilo não era bem um julgamento. Nada como os que aparecem na televisão e nos filmes. Era só o juiz a minha frente, com dos promotores ao seu lado e duas testemunhas, e um paramédico presente na hora dos fatos. Não havia advogados de acusação, tão menos, mas eu havia de ser julgado mesmo assim. É como a Lei de Newton, para cada ação tem-se uma reação. Mesmo que ela seja totalmente errônea.
- Na madrugada de domingo, o policial foi dado por desaparecido. Mais tarde, constataram que ele havia sido sequestrado e estava sendo mantido em cárcere... – o promotor começou a explicar toda a situação.
Suspirei internamente, fechando os olhos e massageando a têmpora discretamente. Merda de juiz, merda de justiça, merda de promotor, merda de bandido! Eu só queria minha cama e dormir eternamente nela.
Quem sabe a presença de Reina me animasse um pouco? Já havia passado quase duas semanas depois do acidente e eu já estava quase completamente recuperado. De vez em quando a perna ainda fisgava e reclamava, mas eu já conseguia andar normalmente e a dor era quase nula.
Reina havia me visitado em casa quase todos os dias. Eu estava de licença por acidente de trabalho, mas Reina ainda precisava trabalhar, então ia para minha casa depois do expediente, trazendo comida de fora. Por vezes, depois de conversarmos futilidades e comermos, ela adormecia ali. Em outras, eu a puxava logo para um beijo.
Eu estava muito carente. E sozinho. Esse julgamento foi o pressuposto para minha primeira saída de casa depois do meu resgaste e minha alta no hospital. E mesmo assim, fora por causa da intimação que recebi. Sabia que não podia brincar com aquelas coisas.
Sarah, e Reina faziam questão de me acompanhar. Até brincaram, usando a desculpa de que eu estava tanto tempo preso em casa que me esquecera do trajeto até o tribunal de justiça. Mas, por fim, só me acompanhou.
Minha relação com Reina era estranha. Não havia nada sério, nenhum compromisso propriamente dito, porém ela nutria um sentimento por mim. Era perceptível, e o fato dela me auxiliar nos dias de recuperação era muito bem visto por mim, mas eu estava confuso com meus sentimentos. É claro que às vezes eu a queria nos meus braços e beijar-lhe a boca até lhe deixar sem ar. Ou simplesmente para parar de ouvir o blábláblá dela e calá-la.
Eu não sabia o que sentia. E, sinceramente, eu não conseguia esquecer . Não era tanto quanto antes, mas eu ainda me pegava em muitos momentos do dia lembrando-se dela. Olhando para o teto e recordando nossos momentos. Ou até mesmo quando eu beijava Reina e imaginava ali em seu lugar.
Não era como nos filmes que você via a pessoa ali, seus olhos, seus cabelos, seu nariz e sua boca. Não, você não tocava a pessoa nem nada, mas sentia. Sentia e lembrava nossos momentos. E eu queria. Queria mais que tudo que fosse ela ali. Que tudo fosse um sonho.
Lembranças são péssimas. Aliás, ter memória é péssimo. E quem disse que recordar é viveré completamente maluco. Sério, ele devia estar bem fumado para filosofar uma merda dessas.
Recordar é NÃO viver. Porque se eu não recordasse cada coisa que tinha passado, eu podia continuar a viver. E como eu me lembro, eu não vivo. Eu apenas sobrevivo.
Longe dela, eu sou só lembranças de mim.
O julgamento foi um saco, mas finalmente havia acabado. Eu me levantei e cumprimentei meu amigo, aliviado pela sentença.
- Eu sabia que você sairia livre. – comentei, dando-lhe um abraço.
- Livre? – perguntou ele, surpreso. – Eu fiquei preso naquela sala ouvindo ladainhas por três horas, já recebi o que merecia, não? – brincou ele, fingindo-se sério.
- Não reclame , foi justo.
- Tudo menos justo , nada de justiça, por favor – pediu ele.
- Ok, não está mais aqui quem falou – levantei as mãos como rendição – Vamos para casa agora? – ele assentiu e nós seguimos para o meu carro.
No julgamento, foram esclarecidos todos os crimes que o bandido e vítima havia praticado e que , sendo um refém do próprio bandido, agiu por impulso e sem controle das emoções. Tinha um bom histórico e os tiros dados por ele contra Félix foram julgados como de legitima defesa, embora o bandido já estivesse na mão dos policiais, argumentando o quanto ele sofreu.
Ele fora inocentado, tendo que pagar somente uma multa de alguns milhares e continuar com a ficha limpa. Eu acho que o juiz e os promotores o ajudaram bastante, mas isso foi merecido. Ele, com linhas tortas, fez o certo. Ou talvez as linhas estivessem retas, mas ao contrário.
Felizmente, ninguém descobrira o envolvimento de e , porque com certeza isso apontaria um crime passional, por amá-la e querer vingança. Dependendo de mim, aquele segredo duraria para sempre. Ninguém nunca saberia.
Reina e Sarah estavam nos esperando na casa de . Não que elas não quisessem estar aqui quando nós saíssemos, mas eu as convenci de que demorava. Elas aceitaram não vir, desde que nos recebessem na casa de alguém.
Eu e Sarah namorávamos há uma semana. No nosso segundo encontro, no cinema, eu a pedi em namoro. E estávamos bem até hoje. E por muitos e muitos anos, assim espero.
e Reina não. Não tinham um compromisso propriamente dito. No entanto, eles faziam tudo que um casal faria. Eu acho, também não sei a intimidade dos dois. O que impedia os dois afinal? Oh, sim, nada nem ninguém. Vivo.
- , tem uma festa hoje de um amigo meu, está afim de ir? - perguntei assim que parei no sinal vermelho. – Leve a Reina – dei de ombros.
- Não, obrigado – ele desviou o olhar, mirando a janela.
- , você precisa viver! Precisa sair! E se a Reina está te fazendo bem, está te ajudando, ela merece um espaço decente em sua vida. – o sinal abriu e eu acelerei.
- Ela tem. – respondeu simplesmente.
- Não, ela não tem – o encarei. – Vocês não são nada, e ela se importa tanto contigo!
- Eu não estou afim de sair – ele torceu os dedos. – E eu não consigo esquecê-la. – acrescentou baixinho, olhando para a chuva que começava a cair e marcava a janela. Eu sabia de quem ele estava falando e não era de Reina.
- Eu sei como é difícil. – Ele me olhou com as sobrancelhas erguidas. – Ok, eu não sei como é, mas imagino. Entendo, ao menos. Olha, você precisa continuar.
- É fácil falar. – soltou.
- Você precisa querer. – ele desviou o olhar novamente.
Eu respeito o sofrimento, a dor, mas tudo tem um fim, um limite. Parar tudo, sua vida, por qualquer coisa, é depressão e isso eu não deixaria nem conhecer.
- Vou te contar uma historia: Minha avó morreu e na hora do almoço minha tia me levou para almoçar, saindo assim do velório. Na hora de comer eu liguei o rádio para escutar música.
“Garoto, que desrespeito! Sua vó morreu e você escutando música!”
“Eu nunca entendi. Eu era só uma criança. Claro que eu estava triste pela minha vó, por nunca mais poder vê-la, no entanto, qual era a ligação com a música? Estava escrito em algum lugar que eu não poderia escutar melodias tristes e alegres porque estava de luto? Era norma para mortes?
“O que quero dizer com isso é que você não está fadado a viver por aquilo todos os dias, vinte quatro horas por dia. Mesmo que ela fosse sua vida, ela se foi! É difícil, mas não se pode fazer nada. Não é porque você está seguindo em frente, com outra mulher, que você a está traindo. Não é porque você está saindo e se divertindo com amigos que você vai esquecê-la um só momento em sua vida. Entenda isso , você deve e precisa continuar!”
- Lição de moral agora, ? Mas que merda! – vociferou.
- Não venha com grosserias agora,! – aumentei um pouco a voz. – Eu não me abalo mais com isso, amadureci muito nessas semanas e tenho que te dizer, te ajudar! É minha função como amigo. – Ele fez uma careta. – Nem vem, eu sei que você gosta da minha amizade.
- Não quando você vem com essas histórias e conselhos. Odeio essas coisas. – respondeu rude.
- Você odeia qualquer coisa que contradiz você! Que diga que você está errado! – bradei. – Você precisa descer do topo do Everest onde você vive e manda em todo mundo e admitir que é gente como qualquer um! Que acerta e erra, e que agora está errado! – gritei.
- Errado? – ele olhou em meus olhos e eu pude ver que uma lágrima caía. – Por quê? Por eu amar uma mulher a ponto de sofrer por ela? Por eu deixar de fazer coisas de luto pela morte dela? Por eu matar o cara que a estuprou e a matou? Então vou continuar sendo um errado e um assassino! Eu vou sair dessa porra de polícia, pronto. – afirmou.
- Como? – indaguei assustado. Meus olhos saltaram. – Você não vai fazer isso. – neguei. – E sabe por quê? Porque você ama o seu trabalho, assim como amava . E embora ela tenha ido, o resto ficou, o seu trabalho ficou, seus amigos ficaram, não abra mão disso tudo – exclamei terno.
- Eu sinto tanto a falta dela... – ele abaixou a cabeça, deixando as lágrimas caírem por fim.
- Eu entendo e, sinceramente, aprecio muito. Mas você tem que continuar, tenho certeza de que ela está te vendo aqui e está triste por te ver assim tristonho.
- , eu não acredito nessas coisas.
- Tudo bem não acreditar, mas me diga, você a procuraria por cada planeta desse universo?
- Por cada estrela.
- Por amor, certo? – ele assentiu. – Ela não te amava tanto quanto você a amava? – ele concordou novamente. – Então eu sei que ela te procuraria também por cada viela existente no mundo. E, sendo ela onde estiver –e onde você acreditar que ela esteja-, ela está te vendo. Ou tenta. E isso quer dizer que tem uma mínima possibilidade dela te ver assim. Parado, cabisbaixo, sofrendo. Ela gostaria de te ver assim? – ele suspirou.
- As coisas podiam ser mais fácies, sabe? – comentou ele, limpando as lágrimas do rosto. – E nem venha me dizer que assim não teria graça. Eu não acredito que precise de graça no mundo.
Eu segurei o riso. Ao menos ele conseguia fazer piadas num momento tão difícil, para descontrair. Nada estava perdido. Agora muito menos.
- O que você acha que eu devo fazer? – ele inquiriu a mim, mas recomposto e sem lágrimas no rosto.
- Se vestir para a festa – disse, parando o carro. Nós havíamos chegado ao prédio de . – E sobre a Reina, bom, era bom você se decidir. Quer ou não um relacionamento sério com ela? Esse será o primeiro passo para seguir a vida.
POV OFF
Maybe Someday – Bon Jovi
And I would give up tomorrow
And die for one yesterday
I'd lie, beg, steal and borrow
To hear you whisper my name
Tonight there ain'tno miracles
Washing up on this beach
The angels left here long ago
But I still believe that
Maybe someday
I will hold your hand
Maybe someway
We'll trace our footsteps in the sand
And just walk away… maybe someday
Now I don't know how a heart beats
But I sure know how one breaks
Remember how I used to hold you
To share every breath that you'd take
How can I forget
You're every tear that I cry
I know you're coming back
You never kissed me goodbye
Maybe someday
I will hold your hand
Maybe someway
We'll trace our footsteps in the sand
And just walk away… maybe someday
They say that nothing lasts forever
But we know our two hearts beat together
And though you're far away every night I pray
Maybe someday…
Someday…
Maybe someday
I will understand
Baby someway
We'll trace our footsteps in the sand
And just walk away… maybe someday
Pensei em convidá-la para um jantar romântico com um caro e antigo vinho enquanto apreciávamos a vista de Londres inteira por um restaurante. Na verdade, Sarah havia me dado essa ideia, mas eu a abandonei segundos depois. Não é do meu feitio uma coisa dessas, e se ela gosta de mim tem que me aceitar do jeito que sou, né?
Sarah, no entanto, havia me obrigado a comprar uma aliança de namoro numa joalheria. Joalheria. Tem noção do quão caro havia sido o par revestido com ouro? Outra exigência de Sarah, porque eu não tinha uma namorada (ou futura, sei lá) que se importava com tudo isso, mas tinha uma melhor amiga que cumpria esse papel divinamente. E, às vezes, fazia hora extra.
Com anéis em mão, decidi chama-la para minha casa. Eu sei, o certo era eu ir até a casa dela, mas eu ainda estava me recuperando da cirurgia, embora fizesse quase três semanas, e isso era uma grandessíssima desculpa que funcionou.
Coloquei uma pipoca para estourar no micro-ondas e tirei duas garrafas de cerveja do congelador. Ah, qual é, vocês não esperavam salmão e vinho, né?
Logo a campainha tocou e limpei minhas mãos suadas na calça jeans. Abri a porta em seguida e vi Reina com um vestido azul tomara-que-caia e um salto alto. O cabelo enrolado de qualquer jeito num coque, o que a deixava extremamente sexy. A cumprimentei com um selinho.
- Entre – abri passagem para ela adentrar a casa, e assim ela o fez. – Tenho cerveja e pipoca, topa? – ela despejou a bolsa na bancada da cozinha e se jogou no sofá antes de responder.
- É minha combinação preferida de comida!
- Reina, quero te fazer um pedido. – disse, enquanto comíamos, bebíamos e assistíamos um seriado na televisão. Ela me olhou curiosa. – Você quer namorar comigo? – perguntei, estendendo-lhe a caixa do anel antes em meu bolso.
- Oh, meu Deus, , que lindo! É claro que eu aceito! – e me abraçou.
Beijamo-nos calorosamente por alguns minutos e, em seguida, eu encaixei seu anel em seu dedo anular.
- Obrigada – e me deu um selinho. – Esse anel é lindo, você quem comprou?
- Sarah me ajudou. – dei de ombros.
- Ah, claro, é bem a cara de Sarah. – sorriu. – É lindo, adorei. – passou a mão em minha bochecha. – Principalmente o pedido e o balde de pipoca. – sorrimos um ao outro.
Nos abraçamos e Reina se aconchegou em meu peito, enquanto eu fazia carinho em seu cabelo. Prestamos atenção na programação da TV por minutos, às vezes nos beijando.
- – Reina me chamou. - Hm... Você pode me emprestar sua escova de dente? - Arregalei os olhos. Mal havia pedindo-lhe em namoro e ela já queria dividir a escova de dente, algo tão pessoal? Medo. Meu espanto foi tanto que ela rapidamente se concertou: - Ai, bobo, não é isso que você está pensando – me deu um pequeno empurrão. – Que constrangedor falar isso! Sabe, pedaço de pipoca preso no dente...
E desatamos a rir.
Capítulo 22 (n/a: capítulo em homenagem ao meu padrinho, meu eterno anjo da guarda, de quem sinto mais falta a cada dia que abro os olhos. Eu te amo para todo o sempre <3).
Flashback On– 2 meses
- Amor – ela segurou meu braço, me impedindo de sair da sala.
- Fale, linda – passei as costas da minha mão em uma de suas bochechas.
- Se eu morrer, - a interrompi:
- Esse papo de novo não, ...
- Mas , eu estou sentindo que está chegando... – me olhou transtornada.
- Não fale besteiras! – peguei suas duas mãos - Você é muito jovem, ainda tem muita vida pela frente! Ainda vamos andar de mãos dadas na praça com cabelos brancos olhando nossos netos brincarem.
- , isso é lindo – sorriu. – No entanto, se eu for antes, jovem, arranje outra mulher, case, tenha filhos, seja feliz!
- Você é e será minha única mulher, só terei filhos teus e só serei feliz com você! Pare de dizer essas coisas ruins...
- Obrigada, meu anjo, você é meu único homem também, só você me faz feliz, você é toda a razão de minha preocupação...
- , não precisa de toda essa preocupação!
- Eu sei que você não é religioso, mas eu sou. Você sabe. Eu creio que as pessoas que se vão não são as que queremos, mas as que estão prontas. E se a própria já aceitou, por que os aqui deixados não podem aceitar?
- Não é simples assim.
- Eu sei. E é pra isso que a religião serve. Como um refúgio nas horas difíceis. Entenda, não estou te empurrando para uma religião, não sou dessas coisas, só estou explicando o porquê da minha falta de medo de morrer. Se tiver que ser, será.
- Será, num dia bem distante, talvez com 128 anos. Ou mais – ri.
- Claro, amor, claro... – ela riu junto, desistindo de toda aquela conversa pesada. - Só pra constar, eu te amo.
- Eu te amo mais – e lhe dei um beijo entusiasmado.
It Will Rain – Bruno Mars
If you ever leave me, baby,
Leave some morphine at my door
'Cause it would take a whole lot of medication
To realize what we used to have,
We don't have it anymore.
There's no religion that could save me
No matter how long my knees are on the floor
Oh so keep in mind all the sacrifices I'm makin'
To keep you by my side
And keep you from walkin' out the door.
'Cause there'll be no sunlight
If I lose you, baby
There'll be no clear skies
If I lose you, baby
Just like the clouds, my eyes will do the same
If you walk away
Everyday, it will rain, rain, rain
I'll never be your mother's favorite
Your daddy can't even look me in the eye
Oooh if I was in their shoes, I'd be doing the same thing
Sayin' there goes my little girl
Walkin' with that troublesome guy
But they're just afraid of something they can't understand
Oooh but little darlin' watch me change their minds
Yea for you I'll try I'll try I'll try I'll try
I'll pick up these broken pieces 'til I'm bleeding
If that'll make you mine
'Cause there'll be no sunlight
If I lose you, baby
There'll be no clear skies
If I lose you, baby
Just like the clouds, my eyes will do the same
If you walk away
Everyday it will rain, rain, rain
Oh don't just say goodbye
Don't just say goodbye
I'll pick up these broken pieces 'til I'm bleeding
If that'll make it right
'Cause there'll be no sunlight
If I lose you, baby
There'll be no clear skies
If I lose you, baby
And just like the clouds, my eyes will do the same
If you walk away
Everyday it will rain, rain, rain
Flashback Off– 2 meses
Oh, meu Deus, se eu soubesse! Se eu soubesse que aquilo era um pressentimento eu teria feito de tudo para ela viver. Não sei, talvez trancá-la em sua casa por um mês inteiro e impedi-la de fazer qualquer coisa perigosa, inclusive trabalhar. Ela ficaria muito puta comigo, mas eu a salvaria...
Ou não. Ou, como alguns acreditam, fosse destino. E se não fosse para morrer baleada, da forma como foi, ela morresse atropelada, ou enquanto colocava água para ferver. No entanto, se eu soubesse, se eu soubesse que todo aquele papo tinha um fundo de verdade, eu teria feito de tudo para mantê-la aqui. E, se mesmo assim não conseguisse, a teria abraçado milhares de vezes, a beijado calorosamente por outras dezenas de milhares. Diria que a amava cada segundo, desde que abrisse os olhos até nos meus sonhos. Não a deixaria desgrudar de mim um só segundo, sentiria o cheiro de condicionador no seu cabelo macio e o perfume de sua pele.
Mas nada era como a gente queria. E, por isso, eu estou andando pelo cemitério hoje. Chegara o dia. O dia do seu enterro, cinco semanas depois de sua morte. Seria uma coisa bem simples, com o caixão fechado e sem velório. Um simples enterro, no significado da palavra.
Sarah e me acompanhavam. Reina também se ofereceu a ir, mas eu recusei, falando que era desnecessário. A verdade era que eu não queria reprimir meus sentimentos. Não hoje. Durante toda a minha vida eu me fechei, guardei tudo dentro de mim, mas hoje eu colocaria tudo para fora, me expondo. Eu precisava.
E por isso Reina não podia vir. Ela não sabia de meu relacionamento com e, por mim, ela nunca saberia. Eu necessitava de um momento sozinho, um momento com .
Havia poucas pessoas presentes. Lucinda e Patrick, pais de , escorados no caixão e chorando copiosamente. Geórgia, irmã da falecida, sendo abraçada por Leonard, seu irmão. Alguns parentes distantes e uns colegas de trabalho. Todos esperando o cortejo começar.
Os familiares mais próximos de me conheciam como namorado dela, então eu fiz questão de falar com todos, os abraçando e despejando todos meus sentimentos. Eu estava ali para isso, afinal. Mas, depois, eu me afastei, acompanhando meus amigos Sarah e durante a caminhada até o jazido familiar.
O enterro foi rápido. Rezaram por uns momentos e eu só me calei, observando o momento. Eu respeitava a religião e a crença de todos. Depois de algumas flores jogadas, fechou-se o jazido e as pessoas começaram a se despedir e prestar condolências a família.
No final, só restaram Lucinda, Patrick, Leonard, Geórgia, Sarah, e eu. Dei um sorriso triste para Geórgia, daqueles forçados, e ela veio até mim.
- Queria dizer que estou alegre em te ver novamente, mas diante da situação é impossível – começou ela.
A verdade era que ela morava na Noruega junto com seu marido e seu filho, portanto só havíamos nos encontrado no natal do ano passado. Seus cabelos curtos voavam pelo vento repentino da recém noite caída. Seu olhar vazio mostrava tudo que estava sentindo. Era triste revê-la daquela forma.
- Como andam seu marido e seu filho? – inquiri.
- Estão bem. – forçou um sorriso. – Com a escola e o trabalho, ficara impossível que viessem.
- Entendo. Quantos anos mesmo Christian tem?
- Ele está com seis anos.
- Praticamente um homem – brinquei. – Como ele reagiu? – perguntei somente, não precisando fazer uma continuação.
- Eu não consegui contar para ele, ainda – fez uma careta. – Está sendo muito difícil, ! – seus olhos se encheram de lágrimas, e logo elas invadiram seu rosto.
A abracei fortemente, fazendo carinho nas costas dela. Eu nunca sabia o que falar nessa hora, ainda mais quando se está sentindo tanto a perda quanto a outra pessoa. Fechei os olhos, lembrando-me de , e algumas lágrimas caíram do meu olho.
Afastamo-nos lentamente e eu limpei suas lágrimas enquanto sussurrava: “tudo vai ficar bem, tudo vai ficar bem”, embora eu mesmo tivesse dúvida disso.
Lucinda se aproximou de mim e se jogou em meus braços, soluçando de tanto chorar. Eu mordi meus lábios, tentando controlar minhas lágrimas, mas fora impossível.
- Minha menininha, minha menininha... – murmurava. – Por que, por quê? Ela era tão jovem, tinha tanta vida pela frente... , por que ela se foi? – e passou a mão em meu rosto ternamente. – Ela te amava tanto, sempre dizia, eu via o quão feliz ela estava, sempre com um sorriso no rosto... POR QUÊ? – gritou, e chorou ainda mais.
Patrick veio até nós, meneou a cabeça e bateu em minhas costas. Depois, pegou a mulher de meus braços, a segurando pela cintura e a levando para longe dali, para se acalmar. Geórgia deu um tchauzinho com as mãos e correu para o lado da mãe, deixando que a senhora se apoiasse nela. Leonard ainda veio até mim, me deu um abraço e recitou um obrigado antes de seguir os pais.
- Você tinha a admiração de seus sogros e cunhados – Sarah comentou. Ri seco.
- Agora de nada adianta isso. – dei de ombros.
- Claro que adianta, vocês vão se ajudar, vão dar forças um para outro. – sorriu, triste. – Só não se esqueça que teus amigos também estão aqui, nas horas boas e ruins.
- Obrigado. Vocês são meus verdadeiros amigos. – e os abracei.
Depois da cena, que durou alguns segundos, me afastei deles, encostando-me no jazido. Limpei algumas folhas secas que ali estavam por causa do vento e mexi nas flores que coloriam aquele ambiente pesado.
- , vamos para o carro te esperar. Demore o tempo que quiser. – avisou, fazendo carinho em meu ombro. – Fique bem.
- Isso – concordou Sarah, me dando um beijo rápido na bochecha em seguida. – Até. – somente concordei com a cabeça.
Enfim só. Enfim sós, devo dizer. Somente eu e . Mexi novamente nas flores ali postas e na pedra bem esculpida. Normalmente, quando as pessoas iam a cemitérios, elas rezavam pela alma do morto, mas e eu? Eu, que não tinha religião; eu, que não tinha nem uma base formada sobre o que acontece depois da morte, tirando o fato que todos viram pó; o que eu faria naquela hora? Será que estaria ali? Eu sabia que seu corpo estava embaixo da terra, definhando; Seu espirito, bem, eu nem acreditava muito naquilo. Eu só queria que ela tivesse ali, não o corpo ou alma, mas ela: a pessoa maravilhosa que conheci, que passei momentos maravilhosos, que amava... Esse ser.
Eu esperava que ela estivesse ali, porque eu precisava falar com ela. Confidenciar-lhe coisas. Contar o quanto estava sentindo sem ela ao meu lado ou o que eu fizera com o cara que havia lhe matado. Será que ela já sabia de tudo? Porque eu lhe contaria tudo novamente, se ela quisesse ouvir.
- Olá, – exclamei, passando a mão pelo seu nome todo esculpido na pedra, e as datas de nascimento e morte. – Como você está? Sabe, eu estou sentindo sua falta, mesmo... – lágrimas caíam de meus olhos - Pode parecer que não, às vezes, mas eu sofro a cada segundo... Sarah está me ajudando mais que nunca, também, fico triste por você não poder tê-lo conhecido... – as lágrimas caíam no jazido e molhavam o granito. Eu não queria limpa-las, impedi-las - Reina também está me dando força nesse momento... – fechei os olhos - Há dois meses, você me disse para eu procurar outra mulher e ter filhos com ela. – um trovão ecoou, e a chuva fina começou a sair - Naquele momento eu achei aquela ideia absurda, porque eu teria você pra sempre, mas agora você está longe de mim... Mas ainda não concordo totalmente com a ideia. Quer dizer, eu não quero ficar sozinho para o resto da vida, sei que tenho que continuar, ser feliz, mas como? Como? – a chuva apertou, e eu de olhos fechados permiti que ela me molhasse por inteiro - Não consigo sentir por mulher nenhuma o que sinto por você... Não por Reina, por enquanto, e no momento nem quero sentir... Acho que ainda não estou preparado para ficar longe de você. E, é por isso que eu vou vir aqui toda a semana, por um ano, só para conversar com você. E veremos como a vida seguirá. Para mim e para você. Eu prometo. Te amo.
Can’t have you blues – Alice in Chains
I can't have you blues
I got the I can't have you, I can't have you blues
I can't have you, I can't have you blues
I can't have you, I can't have you...
Nothings the same, need my fix of you
A crack in the mirror, pictures split in two
I can't believe you slipped away
I been drinking too much cause I'm trying to forget your face
And if I always try to do, all the things you want me to
I've been letting myself down to an early grave
And if I always try to do, all the things you want me to
I've been letting myself down to an early grave
Nothing stays the same, in this game
I can't have you, I can't have you blues
I can't have you, I can't have you...
Nothings the same, need my fix of you
A crack in the mirror, pictures blank too
I can't believe you slipped away
I been drinking too much cause I'm trying to forget your face
And if I always try to do, all the things you want me to
I've been letting myself down to an early grave
Nothing stays the same, in this game
I can't have you, I can't have you blues
I can't have you, I can't have you blues
I can't have you, I can't have you blues
I can't have you, I can't have you blues"
Capítulo 23
E um ano se passou…
'Til We Die – Slipknot
My friends are all hurting
From moments and regrets
And charity laced with a lie
And still we keep hoping
To fix all the defects
And strengthen this seminal ties
We go on together for better or worse
Our history is too real to hate
Now and forever, we stay until morning
And promise to fight for our fates
'Til we die
'Til we die
The start of the journey is every bit worth it
I can let you down anymore
The sky is still clearing, we're never afraid
And the consequences opens the door
I never stopped trying, I've never stopped feeling
Like family is much more than blood
Don't go on without me
The piece that I represent compliments
Each and everyone
'Til we die
'Til we die
We won't be forgotten
We'll never give in
This war we've achieved has allowed us to win
'Til we die
'Til we die
My last true confession will open your eyes
I've never known trust like the 9
Let it be spoken, let it be screamed
They'll never ever take us alive
'Til we die
'Til we die
We won't be forgotten
We'll never give in
This war we've achieved has allowed us to win
Carry on
Carry on
We'll never be broken, we won't be denied
Our war is the pressure, we need to unite
We'll never be broken, we won't be denied
Our war is the pressure, we need to unite
'Til we die
'Til we die
We won't be forgotten, we'll never give in
This war we've achieved has allowed us to win
Carry on
Carry on
We'll never be broken, we won't be denied
Our war is the pressure, we need to unite
'Til we die
'Til we die
'Til we die
'Til we die
We won't be forgotten, we'll never give in
This war we've achieved has allowed us to win
'Til we die
'Til we die
We'll never be broken, we won't be denied
Our war is the pressure, we need to unite
Um ano. Um ano sem a companhia dela. Um ano sentindo falta de seus beijos, abraços, carícias. Um ano, 12 meses, 53 semanas, 365 dias e, finalmente, o aniversário. De morte. De .
Aliás, me faz pensar, por que usar a palavra aniversário para caracterizar o tempo de morte? Aniversário nos remete a algo bom, que deve ser comemorado... Mas morte? Morte nunca deve ser vista como uma coisa boa! E nem venha me dizer que a pessoa foi para um lugar melhor que nós, que está junto a Deus e todas essas coisas que a religião nos impõe.
Entendo sim que nós nascemos para morrer e que essa é nossa única certeza na vida, entretanto, isso não quer dizer que devemos aceitar e conviver com a morte – ainda mais nas circunstâncias – assim como não temos que aceitar a forma de governo em nosso país!
Afinal, era um ano de morte de . Um ano sem minha amada.
Flashback On– 1 ano e 3 meses
“Pousaremos em território londrino em poucos minutos. Coloquem os cintos e se preparem. Bem-vindos a Londres”.
Finalmente o avião aterrissou em Londres, depois de dez horas de voo até a capital dos Estados Unidos. Ou talvez tivesse demorado mais de dez, ou menos, não gostava de saber quantas horas ficava no avião, nem mesmo a previsão.
O que importava era que eu estava de volta depois de três semanas. De volta a minha cidade, com os carros parando quando coloco o pé na rua e com chuva quase todo dia. Como sentira falta disso. E de . Oh, sim, irrefutavelmente, de . De seu cheiro, seu gosto, sua pele, seu rosto, seu corpo, suas formas, seus jeitos, seu sorriso. De tudo.
O que o trabalho não faz com a gente, hein? Eu bem que não queria viajar para a terra do tio Sam, por dois principais motivos: um, eu nunca gostei de lá, do povinho metido e esnobe; dois, eu queria ficar grudado em meu amor enquanto os dias eram bastante frios e só aproveitar a vida ao seu lado; Mas, a Scotland Yard ordena, eu cumpro, afinal, manda quem pode obedece quem tem juízo. E isso eu tenho de sobra.
Então eu entrei no avião e fui pra lá. Resolvi a burocracia que era meu dever – o que durou vinte dias – e finalmente voltei para casa. Morto de saudades.
Peguei minhas malas e segui para o saguão, encontrando em pé, ansiosa, com um sorriso no rosto. Quando me viu acenou com a mão e correu até mim. Eu soltei minhas malas no chão e esperei que o corpo de se chocasse com o meu.
E assim se fez. Ela pulou em meu colo e me abraçou, beijando-me desesperadamente. Tão desesperada como mulheres comendo chocolate na TPM. Parecia que não me via há anos.
- Uau, acho que vou ficar uns dias fora todo mês, só pra ser recebido assim! – exclamei divertido, lhe colocando no chão e lhe abraçando.
- Bobo! – e me deu um tapa fraco no braço. – Eu senti muito a sua falta! – e me deu um selinho.
- Eu só fiquei fora três semanas – murmurei, colocando uma mecha de seu cabelo para trás.
- Eu sei, as mais demoradas e as piores semanas da minha vida. – ela fez um bico.
- E antes de você me conhecer? Você passou mais de vinte anos sem mim!
- Exatamente, eu ainda não te conhecia. Eu achava que era feliz, até ver o que é ser feliz de verdade, com você ao meu lado. – ela sorriu, apoiando a cabeça em meu peito e me encarando.
- Meus dias eram falsamente alegres e minhas noites eram falsamente prazerosas antes de você. Era tudo preto e branco, mas eu não conhecia as cores, então eu pensava estar tudo bem. Quando te conheci, tudo passou a ser colorido, brilhante. Verdadeiro, como antes não era. E eu me arrependi de não ter te achado antes. Eu te amo, você é o amor da minha vida. – ela me deu um selinho e depois encostou nossos narizes.
- Foi lindo, .- sorriu. – Saiba que você me completou, como a metade de uma laranja. Hoje eu posso reconhecer que sou verdadeiramente feliz e isso se deve exclusivamente a você. Cada momento com você é único e é o melhor da minha vida. Eu te amo. Para sempre.
- Eternamente. – e a beijei calmamente, aproveitando o gosto de sua boca e todos os sentimentos ali envolvidos, que borbulhavam no momento.
A cerimônia de casamento de e Sarah tinha sido linda. Ah, ainda não tinha comentado? Eles se casaram hoje mais cedo na praia e agora ficarão juntos para sempre.
Sarah estava linda, com um vestido curto branco todo rendado. E estava muito nervoso. Olhava para a mulher e só conseguia sorrir bobo. E chorar, enquanto Sarah ria pela reação do marido e fazia carinho em seu rosto.
É o amor, né? Assim seria meu casamento com também. Quer dizer, eu não choraria, mas seria lindo. Porque eles fizeram a cerimônia um dia depois do um ano de morte da ? Porque, há um ano, eles se conheceram e quiserem ter essa data marcada sempre.
Talvez a morte de não tenha sido de toda ruim. Ela conseguiu fazer um casamento, porque as circunstâncias de seu assassinato resultaram na união de duas pessoas que se amavam.
Nobody Does It Better – Radiohead
Nobody does it better
Makes me feel sad for the rest
Nobody does it half as good as you
Baby you're the best
I wasn't looking
but somehow you found me
I tried to hide from your lovelight
but like heaven above me
the spy who loved me
is keeping all my secrets safe tonight
And nobody does it better
Though sometimes I wish someone would
Nobody does it quite the way you do
Why d'you have to be so good?
The way that you hold me
whenever you hold me
There's some kind of magic inside you
that keeps me from runnning
but just keep it coming
how'd you learn to do the things you do
And nobody does it better
makes me feel sad for the rest
nobody does it half as good as you
baby baby darling
you're the best
baby you're the best
Não me pergunte se estou feliz. Posso dizer que vivo levando a vida, somente, e me arriscaria até a acrescentar um bem, caso me perguntassem como vou. A questão é que meus amigos não me perguntam isso, pois acham que ouvirão as mesmas respostas sofridas que escutaram ao longo desse ano. Estão errados. Eu mudei.
Mudei quando se completou um ano, pois não há data melhor para uma mudança que um acontecimento, bom ou ruim, que já marcou o dia anteriormente, como quando um homem pede uma mulher em namoro nos Dias dos Namorados; ou como, quando finalmente, a pessoa supera a morte da outra quando está completa 365 dias.
Oh, sim, me descrevi nas duas situações listadas acima.
Flashback On– 1 ano e 10 meses
Estávamos na praia, sentados na areia observando o movimento das ondas. havia apoiado a cabeça em meu peito e eu fazia carinho em seus cabelos. Era uma noite linda, com a praia toda deserta. Era o momento certo. E o dia também, já que estávamos no dia dos namorados.
- . – a chamei.
- Oi – respondeu ela, sem desviar o olhar do mar.
- Olhe pra mim. – pedi e ela logo obedeceu – Não sei como fazer isso direito – sorri de nervoso.
- Isso o que, ? Só fale - e riu. – Seu bobo – e deu um peteleco no meu nariz. Rapidamente, aproveitando seu movimento, eu mordi seu dedo e ela riu. – Seu selvagem.
- .
- Fale, querido.
- Você está fazendo minha vida ficar melhor esses dias. Eu quero você perto de mim para sempre. Namora comigo?
- É claro que sim, ! – me beijou em seguida. Agora eu teria a quem presentear.
Flashback Off
Como, agora, me senti completo? Ela, afinal, está longe de mim. Fisicamente. Mas tudo bem, eu a sinto ao meu lado desde que levanto de meu sono desregrado até em meus próprios sonhos. Eu sei que ela me acompanha, que me protege e que, acima e independente de tudo, me quer feliz.
A algum tempo atrás, eu pensava fielmente que só com ela eu podia ser totalmente feliz, mas o remédio da dor me mostrou que não é bem assim. Quando eu falo em remédio, não quero dizer que concordo com a famosa frase “o tempo é o remédio”. Longe disso, eu a corrigiria: Os amigos são o remédio de toda a dor e sofrimento que você passará.
Podem ser irmãos de sangue ou de coração, mas se eles são verdadeiros, eles ditarão palavras de apoio – não os clichês que qualquer um fala, mas as mais elaboradas que só esses amigos, conhecendo-os bem, poderão profetizar sabiamente. Perderão dias e noites contigo e entenderão que todos têm momentos de sofrer e agora é o seu. Tentarão te animar porque não gostam de te ver triste, mas quando eles chegam em casa, choram por você. E pedem, irracionalmente, que fosse ele em seu lugar.
Devo isso a Sarah, e Reina – mesmo que o namoro não tenha dado certo – por me ajudarem a levantar do poço fundo em que caí. Eu rastejei e ralei meus joelhos e cotovelos, mas consegui encontrar a luz. Brilhosa, que chega a me cegar.
Foi essa a contribuição, todas essas palavras, que pude dar a para seu livro, passando minha experiência de sofrimento e superação. Ele resolveu abolir sua proposta anterior sobre o tema do livro e reescrevê-lo falando sobre amizades e contando minha vida brevemente.
Eu sei que toda essa demonstração de sentimento ficou muito gay, mas já que é para o combina, né? Eu ainda aproveito para sacaneá-lo às vezes.
Apesar das brincadeiras, eu mudei. Tudo isso, afinal, fez com que eu me tornasse melhor. Não quero que você precise de todo esse baque que eu levei para melhorar. Espero que faça isso por livre vontade. Ou, melhor ainda, melhore por mim e por minha história. Promete?
Nesse momento eu reflito sobre a vida enquanto vislumbro o céu azul escuro da madrugada. Para outros, pode ser considerado cinza, mas eu voltei a ver as cores a pouco, então prefiro enxergá-lo como azul.
Nesses dias tem chovido e o tempo anda feio, por isso só há uma estrela no céu. Brilhando por todas as outras que desaparecem a minha vista. Cada vez mais próxima a mim. Eu tenho certeza. É ela.
Exato Momento - Zé Ricardo
O amor precisa da sorte
De um trato certo com o tempo
Pra que o momento do encontro seja pra dois o exato momento
O amor precisa de sol
E do barulho da chuva
De beijos desesperados
De sonhos trocados da ausência de culpa
Talvez o amor só seja assim pra mim
E pra você não seja nada disso
Mas eu prometo tentar aprender a te amar do jeito que for preciso
Talvez o amor só seja assim pra mim
E pra você não seja nada disso
Mas eu prometo tentar aprender a te amar do jeito que for preciso
Do jeito que for preciso, do jeito que for preciso, do jeito que for preciso, do jeito que for preciso...
Mas se o amor quiser mudar as leis do que é certo
Ele faz que o improvável aconteça
Quando o amor vier não tema, tenha fé
Ele encherá seu olhar de esplendor e beleza
Talvez o amor só seja assim pra mim
E pra você não seja nada disso
Mas eu prometo tentar aprender a te amar do jeito que for preciso
Do jeito que for preciso, do jeito que for preciso, do jeito que for preciso, do jeito que for preciso...
Epílogo
Bring Me To Life – Evanescence
Amy Lee:
How can you see into my eyes like open doors
Leading you down into my core
Where I've become so numb without a soul
My spirit sleeping somewhere cold
Until you find it there and lead it back home
Paul McCoy,: (Wake me up)
Amy Lee: Wake me up inside
Paul McCoy,: (I can't wake up)
Amy Lee: Wake me up inside
Paul McCoy,: (Save me)
Amy Lee: Call my name and save me from the dark
Paul McCoy,: (Wake me up)
Amy Lee: Bid my blood to run
Paul McCoy,: (I can't wake up)
Amy Lee: Before I come undone
Paul McCoy,: (Save me)
Amy Lee: Save me from the nothing I've become
Amy Lee:
Now that I know what I'm without
You can't just leave me
Breathe into me and make me real
Bring me to life
Paul McCoy,: (Wake me up)
Amy Lee: Wake me up inside
Paul McCoy,: (I can't wake up)
Amy Lee: Wake me up inside
Paul McCoy,: (Save me)
Amy Lee: Call my name and save me from the dark
Paul McCoy,: (Wake me up)
Amy Lee: Bid my blood to run
Paul McCoy,: (I can't wake up)
Amy Lee: Before I come undone
Paul McCoy,: (Save me)
Amy Lee: Save me from the nothing I've become
Amy Lee: Bring me to life
Paul McCoy,: I've been living a lie. There's nothing inside
Amy Lee: Bring me to life
Amy Lee:
Frozen inside without your touch without your love
Darling only you are the life among the dead
Paul McCoy,:
All of this time I can't believe I couldn't see
Kept in the dark but you were there in front of me
Amy Lee:
I've been sleeping a thousand years it seems
Got to open my eyes to everything
Paul McCoy,:
Without a thought without a voice without a soul
Amy Lee: Don't let me die here
Paul McCoy,: There must be something more
Amy Lee: Bring me to life
Paul McCoy,: (Wake me up)
Amy Lee: Wake me up inside
Paul McCoy,: (I can't wake up)
Amy Lee: Wake me up inside
Paul McCoy,: (Save me)
Amy Lee: Call my name and save me from the dark
Paul McCoy,: (Wake me up)
Amy Lee: Bid my blood to run
Paul McCoy,: (I can't wake up)
Amy Lee: Before I come undone
Paul McCoy,: (Save me)
Amy Lee: Save me from the nothing I've become
Amy Lee: Bring me to life
Paul McCoy,: I've been living a lie. There's nothing inside
Amy Lee: Bring me to life
Eu não sabia onde estava. Entretanto, não se parecia com Londres. O céu límpido azul sem nenhuma falha ou borrão nunca seria visto em uma cidade banhada por poluição. Grandes árvores e flores preenchiam o lugar de verde. Ao fundo um belo lago com a água tão transparente que se podia ver os peixes nadando ao fundo.
Não era nenhum lugar que eu já tivesse visitado, disso eu tinha certeza. Nada era tão bonito como aquilo. Mais do que isso, eu achava que não estava na Terra, talvez, nem em nosso universo. Tudo ali era bem diferente.
O ar vivia em harmonia. A água estava em abundância. E a temperatura estava agradável, apesar de eu não poder classifica-la como quente ou frio. Sem automóveis, prédios, avenidas, celulares, documentos.
Não conseguia me ver, mas sentia que estava descoberto, nu. E isso era mais uma característica desse lugar misterioso. Não era como na Terra, em que a nudez era algo pessoal, vulgar, sempre ligado ao sexo. Era algo mais puro.
Também não pareciam os paraísos que já havia visto nos filmes e cartões postais. Era tudo tão novo, desigual ao nosso planeta. Era tudo tão sereno, bonito demais, perfeito demais para ser estragado por pessoas.
Dando uma de religioso, o que claramente não era, podia ser o lugar em que Adão e Eva viviam antes de surgirem os pecados. Era um paraíso, não? Era o que diria. Talvez fosse mesmo.
... ... ...
Quando pensei nela, e em seu nome, as palavras saíram da minha boca como se eu estivesse a chamando. Assustado com a descoberta, sinto algo atrás de mim.
- Me chamou, querido? – sua voz me fez tomar um segundo susto em menos de um minuto. Me virei para sua direção. – Você demorou – e sorriu.
- Demorei? – repeti a pergunta, confuso. - Aliás, como você sabia que eu estava pensando em você? O que você faz aqui? O que eu faço aqui e onde estou? – disparei uma série de perguntas que não tinham respostas para mim no momento.
-Acalme-se, amor, responderei uma de cada vez. – sorriu mais uma vez, se aproximando de mim e fazendo carinho em meu antebraço. – Na verdade, só há duas respostas para todas essas perguntas. A primeira delas é que, aqui, quando pensamos fortemente em uma pessoa que já temos uma ligação, ela consegue nos escutar. – explicou. – Veja.
Ainda falou ela e logo escutei sua deliciosa voz em meus ouvidos chamando meu nome repetidas vezes. “, , ” Sorri.
- Incrível.
- É só mais uma das vantagens daqui. – contornou sua mão por toda a extensão do meu braço. – Para o resto das perguntas a resposta é “não importa”. Não importa nem como, nem porque, nem onde, nem quando. Só importa que estamos juntos agora.
- Sem chance de eu saber o que é isso? – fui teimoso só mais uma vez em minha vida. – Sonho, ressurreição, distúrbios paranoicos? – testei algumas hipóteses que vieram a minha cabeça no momento.
- Sem chance – limitou-se ela a responder, simplesmente.
- Ok, posso conviver com isso. Se você ficar ao meu lado, já está ótimo para mim.
- Fico feliz – deslizou a mão para o meu pescoço.
- Eu também – finalmente, recuperado da surpresa do ambiente novo e dela perto de mim novamente, encostei minhas mãos em sua cintura. – Posso perguntar uma só coisinha?
- Você acabou de perguntar – exclamou, divertida.
- Não caio nessa, hein – ela me encarou com uma cara que contradizia minhas últimas palavras - Ok, só uma vez. – e ri.
- Pode dizer, amor – ela sorriu, esperando a pergunta.
Fiz carinho em seu rosto, contornando as linhas de suas bochechas, nariz e queixo, gastando uns segundos para enfim proferir minha pergunta.
- Se eu te prender e apertar assim – comprimi o corpo dela contra meu corpo, juntando nossos corpos ao máximo. Nossas bocas estavam praticamente juntas e eu desviava o mínimo possível dali para continuar a falar. – Você nunca mais sairá de perto de mim?
- Agora, amor – deu-me um selinho e, com dificuldade, porque eu não a deixava se desgrudar de mim, continuou – nada nem ninguém nos separará mais.
Eu abri um grande sorriso em resposta e dei-lhe milhares de beijos desesperados. Enquanto ela ria pela minha reação animada, eu segurei em sua cintura e tirei seus pés do chão, rodando-a 360° graus em torno do meu eixo. Ao final da pequena demonstração de amor, olhei-a nos olhos e passei uma das mãos que estava em sua cintura para seu queixo, segurando-o levemente.
- Eu disse que seríamos felizes para sempre, não?
The One That Got Away – Katy Perry
Summer after high school when
we first met
We'd make out in your Mustang
to Radiohead
And on my 18th birthday
We got matching tattoos
Used to steal your parents' liquor and
climb to the roof
Talk about our future like we had
a clue
Never planned that one day
I'd be losing you
In another life, I would be your girl
We'd keep all our promises, be us
against the world
In another life, I would make you stay
So I don't have to say you were
The one that got away
The one that got away
I was June and you were my
Johnny Cash
Never one without the other,
we made a pact
Sometimes when I miss you
I put those records on
Someone said you had your
tattoo removed
Saw you downtown, singing the blues
It's time to face the music
I'm no longer your muse
In another life, I would be your girl
We'd keep all our promises, be us
against the world
In another life, I would make you stay
So I don't have to say you were the
one that got away
The one that got away
The one
The one
The one
The one that got away
All this money can't buy me
a time machine, no
Can't replace you with a
million rings, no
I should have told you what you
meant to me, whoa
'Cause now I pay the price
In another life, I would be your girl
We'd keep all our promises, be us
against the world
In another life, I would make you stay
So I don't have to say you were the
one that got away
The one that got away
The one (the one)
The one (the one)
The one (the one)
In another life, I would make you stay
So I don't have to say you were the
one that got away
The one that got away
Estávamos passeando pelo lugar que, como mesma disse, não me importava saber qual. Observávamos toda sua beleza, nos divertíamos com os bichos no meio das árvores e beijávamos para matar a saudade de muito tempo – embora não saiba certamente – a toda hora.
Agora estávamos sentados na beira do lago que avistei no começo de minha chegada aqui. Nossos pés e panturrilhas eram balançados levemente, fazendo com que a água se movimentasse. Peguei um pouco de água com as mãos e a coloquei na boca, bebendo-a. Embora diferente da água da Terra, também não tinha gosto, mas parecia muito mais saudável.
Em seguida, abracei . Segurei seus cabelos e fiz um cafuné. Belisquei sua cintura e lhe roubei um beijo. Ela riu e me puxou para um beijo mais profundo. Pousei minhas mãos em suas costas e ela segurou meu braço, enquanto nossas línguas se debatiam em nossas bocas.
Por fim, depois do beijo, a abracei pela cintura e ela pousou sua cabeça em meu peito.
- , estava pensando. – ela quebrou o silêncio que se fixava há muito tempo.
- Em que, amor? – inquiri sem me mexer nem um centímetro.
- Na frase que você disse mais cedo. Eu pensei em uma resposta. – revelou. Eu somente concordei com a cabeça, esperando a continuação. A frase era a que eu lhe perguntava, retoricamente, que eu já dizia que seríamos felizes para sempre. – Eu acho que não.
- O que? – foram as únicas palavras que saíram de minha boca, diante da surpresa. Ela... ela não queria ficar para sempre comigo?
- Acho que não ficaremos felizes para sempre. – ela levantou a cabeça e encarou meus olhos. - Depois de tudo que passamos, e depois de tanto tempo sem ficar assim com você, para sempre é pouco para nós, não é suficiente! – explicou, me fazendo suspirar aliviado. Ainda ri, soltando o nervosismo, antes de responder:
- Ok, também acho insuficiente. Que tal, então, começarmos pela eternidade? – ela assentiu sorrindo e juntou seus lábios no meu.
Eu segurei seu pescoço, aprofundando mais uma vez o beijo. No final, a vislumbrei e recomecei a falar:
– Longe de você eu sou só lembranças de mim. Você me faz feliz, você me faz viver, seja onde for. Eu preciso de você ao meu lado pela eternidade, casa comigo? - E sorri quando ela me disse sim.
Marry Me – Train
Forever can never be long enough for me
Feel like I've had long enough with you
Forget the world now we won't let them see
But there's one thing left to do
Now that the weight has lifted
Love has surely shifted my way
Marry Me
Today and every day
Marry Me
If I ever get the nerve to say
Hello in this cafe
Say you will
Mm-hmm
Say you will
Mm-hmm
Together can never be close enough for me
Feel like I am close enough to you
You wear white and I'll wear out the words I love you
And you're beautiful
Now that the wait is over
And love and has finally shown her my way
Marry me
Today and every day
Marry me
If I ever get the nerve to say hello in this cafe
Say you will
Mm-hmm
Say you will
Mm-hmm
Promise me
You'll always be
Happy by my side
I promise to
Sing to you
When all the music dies
And marry me
Today and everyday
Marry me
If I ever get the nerve to say hello in this cafe
Say you will
Mm-hmm
Say you will
Marry me
Mm-hmm
FIM
Nota da autora:
Eu fiquei anos pra escrever esse epílogo. Não, anos não, mas certamente um pouco mais de um. E eu simplesmente o perdi. O que, sinceramente, deu-me vontade de me atirar da ponte --' E então eu pensei: se eu demorei tanto pra fazer algo que sempre foi muito fácil pra mim e então eu perdi, é porque eu não tem que gastar horas o produzindo. Não! Eu vou escrever no ímpeto, no corpo do e-mail antes de mandar pra Andy, a querida linda beta, a quem antecipadamente agradeço. E, bem, eu estou fazendo isso.
Eu não sei se vocês gostaram dessa reviravolta bem no fim da fic. Na verdade, a grosso modo, eu acho que deve ter muita gente achando uma completa loucura. Quer dizer, o que foi isso? Alucinação, sonho, verdade???! Não sei! Não sei mesmo, eu não pensei e não quero pensar. E eu acho que Machado de Assis responderia a mesma coisa se perguntassem a ele se Capitu traiu Bentinho. É uma simples questão, tanto na fic quanto em Dom Casmurro: não importa! Não importa porque essas duas perguntas, na verdade, não são extremamente importantes, não são realmente o que interessa. E é a desculpa que eu vos dou.
Ademais, eu encerro hoje uma fic que tirou de mim dois anos. Um escrevendo, dois publicando. E foi a minha primeira long. É o meu lindo primogênito, de tantos outros mais. E talvez não seja a mais interessante, ou, vamos lá, agradável história para se ler. Mas, ainda sim, permita-me dizer, eu a acho sensacional! E porque é minha! Cada frase que tem aqui fui eu que fiz, cada capítulo, cada ideia e isso é indescritível!
E, a parte mais importante de tudo, tão clichê, mas tão verdadeira: vocês, leitores, constroem isso. E TSOL é a prova viva disso, pois os flashbacks aconteceram porque a linda da Thaaci pedia! Então, tudo que eu tenho a falar para vocês, cada pessoa que leu uma linha disso aqui e, melhor ainda, que comentou e que está lendo isso agora, é OBRIGADA! Obrigada por ler, por gostar (ou não), por perder o tão precioso tempo da sua corrida vida comigo, com minha pequena historinha. A Danie, em especial, que é uma fofura e que indica sempre TSOL <3 a Thaaci, claro, que mesmo que tenha sumido mudou totalmente o curso da fic! A Andy, CLARO, beta maravilhosa que aceita todas as minhas loucuras, beta todas as minhas coisas e ainda me aguenta! <3 A Je, a Ju, a Reyka e a todas as outras que choraram, morreram de raiva da Reina (gente, eu conheci uma Reina outro dia! HAHA) ou pediram por mais! Cada uma, mesmo que eu não tenha citado o nome, por favor, sinta-se inclusa porque, sim, você fez diferença. E foi especial para mim e para a fic. E eu quero muito te abraçar! <3 HAHAHAHA
É isso. Muito obrigada, mesmo.
Abaixo, algumas lindas frases que eu acho que tem tudo a ver com Two Sides of The Law:
"Os que escrevem com clareza têm leitores, os que escrevem de maneira obscura têm comentaristas." (Albert Camus)
"Há dois modos de escrever. Um, é escrever com a ideia de não desagradar ou chocar ninguém (...) Outro modo é dizer desassombradamente o que pensa, dê onde der, haja o que houver - cadeia, forca, exílio." (Monteiro Lobato)
"Devemos escrever para nós mesmos, é assim que poderemos chegar aos outros." (Eugène Ionesco)
"Escrever é sempre esconder algo de modo que mais tarde seja descoberto." (Italo Calvino)
"Escrever é fácil: você começa com uma letra maiúscula e termina com um ponto final. No meio você coloca as ideias." (Pablo Neruda)
"Escrever é procurar entender, é procurar reproduzir o irreproduzível, é sentir até o último fim o sentimento que permaneceria apenas vago e sufocador. Escrever é também abençoar uma vida que não foi abençoada." (Clarice Lispector)
Um beijo no coração <3
É o fim.
{Minhas outras fics: Factory Girl, Quebrando Meus principios; Immortal; Uma Linda Mulher; Primavera; The Angel from my nightmare; Um Natal dos Pecados e outras...}
{Meu grupo no Facebook: https://www.facebook.com/groups/392061090888737/
Leia também:
The Angel From My Nightmare - http://www.fanficobsession.com.br/fanfics/t/theangelfrommynightmare.html
Uma Linda Mulher - http://www.fanficobsession.com.br/fanfics/u/umalindamulher.html
Factory Girl - http://www.fanficobsession.com.br/fanfics/f/factorygirl.html
N/B: Brunaa, sua linda! <3 Estou muito feliz por ter acompanhado essa história com você por esses longos dois anos.
Essa foi uma das primeiras fics que betei do FFOBS, então é triste ver que o fim chegou ;; Mas é ótimo saber que eles acabaram ficando juntos, como o casal lindo que sempre foram. Beijoos.
Nota da Beta: Caso encontre algum erro nessa fanfic, entre em contato comigo por email.