Uma Última Vez
Fic by: Milla Balzary | Beta:


- Eu quero beijar o uma última vez. – disse baixinho. Assim que ouvi as palavras saindo da minha boca, me arrependi. – NÃO! – gritei quando percebi o que havia pedido. – Não, não é isso. Eu quero esquecê-lo para sempre, nunca mais quero sentir falta dele! – corrigi, mas já era tarde demais. O relógio já marcava meia noite e um.
- Droga. – murmurei, olhando para o visor que há pouco marcava meia noite em ponto. Havia perdido 00:00 fazendo um pedido que, na verdade, não queria. Ou, pelo menos, não devia querer.
Meu nome é . , na verdade, é assim que gosto de ser chamada. Sou meio fascinada por coisas subjetivas, sabe como é. Astrologia, signos, intuição. Horas iguais não são uma exceção a isso. Minha melhor amiga, , me apresentou a teoria das horas iguais, seus significados, e confesso que, no início, não havia dado atenção, mas, de tanto ela falar, acabei pegando a mania e... Bem, lá estava eu, sentada na minha varanda e olhando para o céu estrelado, quando olhei para meu relógio de pulso. Ele marcava meia noite, e isso significa: faça um pedido. Então, eu fiz aquela burrada.
Veja bem, não é que eu acredite cegamente em horas iguais nem nada do tipo, mas eu gosto de vê-las e saber o que cada uma significa. E aquela era a primeira vez que eu via 00:00 e desperdiçara meu pedido daquele jeito... Não era certo.
Suspirei. Já estava feito, não dava para voltar no tempo. Resolvi ir dormir, pois no dia seguinte teria de ir ao colégio pegar meu boletim (sem comentários sobre minhas notas de ) e pular na piscina junto com o resto dos meus colegas, seguindo a tradição do terceiro ano.

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Acordei 10 horas. Havia tido um sonho estranho, mas não conseguia me lembrar como era. Só lembrava de quem estava nele: , ... e . Revirei os olhos ao pensar no último.
Tomei banho e depois me arrumei para sair de casa. Coloquei meu uniforme, como de costume, e de repente caiu a ficha. Aquela era a última vez que eu usaria aquela blusa. Dei um longo suspiro. Tudo bem que o colégio não era lá grande coisa. Apesar de ter ótimos professores, no geral, era extremamente desorganizado e eu não sentiria falta de grande parte dos funcionários. Mas, mesmo assim... Quer dizer, era meu último ano de colégio, afinal. Eu fiz meus melhores amigos naquele lugar. Não é fácil deixar para trás algo que te motivou a ir para frente.
Sacudi a cabeça, tirando esses pensamentos. Ainda haveria a colação de grau, a festa de formatura... Não era um adeus, não era hora de despedidas. Olhei pela janela. Estava chuviscando e eu conseguia ver as folhas das árvores mais próximas balançando, sinal que ventava. Peguei meu casaco, me despedi de meu pai e saí de casa.

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Cerca de 40 minutos depois, cheguei ao colégio. Entrei no pátio e, passando pelo refeitório, vi meus dois melhores amigos conversando. Dirigi-me a eles.
- Ah, putinha, onde você estava? – perguntou, revirando os olhos. – Isso são horas?
- Chupa meu pau, . – respondi, dando-lhe o dedo do meio. – Ao contrário de vocês, eu sou pobre e tenho que passar pelo inferno que é Madureira, para chegar aqui.
(N/A: Madureira é um bairro do Rio de Janeiro que tem um trânsito infernal. Não queira conhecer.)
- Ah, é que a gente esquece que você mora mal, digo, longe. – disse , rindo.
- Te foder, piranha. – falei, dando um tapinha no braço de . Essa é nossa relação. Quanto mais xingamentos... mais amor. – E aí, já pegaram o boletim?
- Já, sim. – respondeu. – Passamos, graças a Deus!
- Amém! – disse rindo. – Vou pegar o meu e já volto pro Jump Day. De duas uma: ou a gente pula na piscina pra comemorar, ou então pra se afogar mesmo! – eles riram.
- Olha, você tem que pegar o boletim lá na coordenação com a Lady Priscilla. – disse , usando o apelido que deu para nossa auxiliar de coordenação. – Ou então com o Viscoso Hitler, se ele já tiver batido nela. – rimos alto. havia criado uma história usando nossos professores, coordenadores e diretores, e nela nosso coordenador batia na pobre auxiliar.
Saí do refeitório ainda rindo, mas logo o sorriso se desfez. Fiquei pensando no quanto sentiria saudade dessas conversas ano que vem. Ano que vem, que cada um iria para um lado, para uma faculdade. Cada um criaria seu próprio caminho e nenhum de nós queria fazer a mesma coisa. Eu não queria pensar nisso, não queria ficar triste por antecipação, mas era inevitável. Aquele era meu último dia no colégio com meus melhores amigos, e provavelmente o último dia em que eu veria... uma certa pessoa.
Cheguei à coordenação e Lady Priscilla (risadas mentais) perguntou meu nome, de mau humor. Viscoso Hitler já deve ter batido nela, pensei, dando uma risadinha. Disse-lhe meu nome e, alguns minutos depois, estava com meu boletim em mãos.
- Só vou olhar quando chegar em casa. – disse a mim mesma. Dois minutos depois, já estava olhando. , ... ah, achei! Encontrei a nota da prova final: 4. Tudo bem, não é uma nota boa, mas era mais do que eu precisava para passar. Vi o carimbo escrito “APROVADO” no canto de meu boletim e sorri para mim mesma.
- É isso. – disse, com um sorriso torto. – Terminei o ensino médio. Acabou.
Voltei ao refeitório e comemorei com meus melhores amigos. Aos poucos mais pessoas iam chegando, todos conversando e disfarçando para que nenhum funcionário desconfiasse do Jump Day. De vez em quando eu olhava ao meu redor à procura de , mas não o encontrava de jeito nenhum.
- Ele chegou agora, . – disse , que estivera me observando.
- Quem? – perguntei, fingindo-me de desentendida.
- Você sabe. – ela revirou os olhos. – .
- O que tem o ? – perguntou , nada discreto, como sempre.
- CALA A BOCA! – e eu berramos ao mesmo tempo.
- Por quê? O que eu... Aaaaah! – fez , finalmente entendendo, assim que chegou perto. – Entendi!
Fuzilei-o com o olhar. Fique calado, , pensei, e acho que ele entendeu o recado, pois não falou mais nada a respeito.
- Bom dia! – disse , animado. Cumprimentou todos e, por último, falou comigo. – Bom dia, ! – disse, dando-me dois beijos na bochecha.
- Boa tarde, já são 12:40. – corrigi-o. Ele revirou os olhos.
- Eu ainda não almocei, então ainda é bom dia.
- Pessoal, vamos lá, é agora! – disse Fernanda, uma garota popular e engraçada à sua maneira. – Vamos pular, comemorar com os amiguinhos, é pra gente se amar! – disse, com a voz enjoada de sempre. Todos riram.
Todos os alunos de terceiro ano e pré-vestibular dirigiram-se à piscina. Eram cerca de 150 alunos e, quando os inspetores se deram conta do que iríamos fazer, já estávamos todos na borda da piscina.
- Vamos lá, gente, é agora! – disse Fernanda. – A gente vai contar até três e, no três, vamos gritar “TERMINAMOS!”. Está bem?
Todos concordaram e, dando uma olhada ao redor, todos gritaram:
- Uuuuum, doooooois, trêêêês... TERMINAMOS! – e os 150 alunos pularam na piscina.

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- Vocês viram só a cara da Tereza? – perguntou , morrendo de rir.
Estávamos numa rua sem saída perto do colégio. Logo depois de pularmos na piscina, todos saíram correndo e foram embora, pois aí estava a graça. Alguns alunos mais corajosos – entre eles – saíram xingando alguns funcionários que há muito tempo mereciam ouvir um “vai tomar no cu”. E foi o que ouviram, pelo menos da . Agora, cada aluno estava em seu grupinho, e o grupo com quem nós andávamos estava ali, todos sentados, rindo e relembrando das cenas. Estava chovendo – realmente CHOVENDO -, mas como já estávamos todos molhados, ficamos conversando na chuva mesmo. Resfriado pra quê, né.
- Todos vocês vão levar advertência e ficarão um dia sem vir para a escola! – imitou André, com a voz afetada, e todos riram.
- Tipo, NÓS ESTAMOS DE FÉRIAS! – gritou . – Nós NÃO VAMOS MAIS para o colégio, de qualquer jeito. – completou, revirando os olhos.
Estávamos comendo, só para variar. É isso que se faz em comemorações, certo? Whatever. Agora, havia poucas pessoas ali. Umas 7 pessoas já haviam ido embora, não quiseram ficar na chuva comemorando. Então restaram somente eu, , , e mais 4 amigos.
- Passa o Hashasha, . – falei, esticando a mão em sua direção. e começaram a rir, e o resto nos olhou sem entender.
- Hashasha? – perguntou , erguendo uma sobrancelha.
- É, é esse chocolate aqui. – Respondeu , erguendo uma barra de Hershey’s. – A não sabia falar isso, então ela chamou de Hashasha e o nome acabou pegando. – completou rindo e, em seguida, me passou o chocolate.
revirou os olhos para mim.
- Deixa de ser retardada, garota. – disse ele, dando uma risadinha que me irritou.
- Vá se foder, . – disse, séria.
IIIIIIIIIIIIIH fizeram os outros, provocando.
- Hey, gente. – cortou , evitando conflitos. Por enquanto. – O que vocês acham da gente brincar de Eu Nunca?
- Sem bebida? – perguntou André, decepcionado.
- Acredite, a verdade já é bem vergonhosa sem que nós estejamos bêbados. – eu disse, afirmando com a cabeça. – Vamos usar só os dedos.
- Usar os dedos pra quê? – perguntou como se eu tivesse falado alguma besteira.
- Pra enfiar no cu, ! – eu disse, irritada. – Porra, nunca brincou de Eu Nunca, não? Tu levanta os dez dedos da mão e, se você já tiver feito o que a pessoa falou, você abaixa um dedo. É difícil de entender?
- Mas quanta ignorância, garota! Por isso que você não tem um namorado. – ele revidou e eu senti meu rosto corar, mas limitei-me a revirar os olhos.
- Sem DR aqui, gente. – disse , tentando amenizar as coisas. – Vamos lá, quem começa?
- Eu! – disse , animado. – O foda dessa brincadeira é que somos um bando de virgens que nunca fizeram nada demais. – eu e nos entreolhamos, abafando uma risada. – Bom... Eu nunca coloquei a mão num pau.
- Tu não mija, não, ? – perguntei, rindo.
- Ah, você entendeu. – disse ele, revirando os olhos, enquanto os outros riam. – Eu nunca coloquei a mão num pau que não fosse o meu.
e eu abaixamos um dedo. Os outros nos olharam com aquela cara de “huuuuum, safadinhas! “. me olhou com uma cara estranha e eu não entendi o porquê. só ria, falou aquilo de propósito, pois sabia que eu e já havíamos feito aquilo.
- Agora sou eu. – disse . – Eu nunca fiquei com um garoto de olhos claros.
Revirei os olhos, suspirando. Olhei de relance para , que tinha olhos azuis, e, por fim, abaixei mais um dedo.
- Ih, já vi que a vai ser a primeira a sair do jogo! – disse André, provocando. Mostrei-lhe meu dedo do meio, fazendo-o rir.
- Minha vez! – disse , e eu sabia que ela ia entrar na onda do e falar algo para mim. Não me enganei. – Eu nunca gostei de ninguém dessa rodinha como mais que amigo. – e me lançou um sorriso debochado. Eu até teria brincado e falado “então você me enganou esse tempo todo? “, se a situação fosse outra. De repente, me arrependi de ter entrado na brincadeira. Abaixei um dedo, mas, felizmente, não fui a única. e Felipe também abaixaram, e eu sabia que eles gostavam um do outro.
- De quem você já gostou? – perguntou-me Felipe.
- Do... . – demorei um pouco para responder, tentando organizar meus pensamentos. – Eu gostava do ano passado. – completei, um pouco mais convincente. E não estava mentindo, eu, de fato, já havia gostado dele, mas é óbvio que não foi nele que eu pensei quando falou aquilo. Mas ninguém precisava saber.
- Agora sou eu! – disse, querendo me vingar de todo mundo. – Eu nunca fiquei com mais de 15 pessoas.
, , André, , Felipe e abaixaram um dedo. Os únicos que não haviam ficado com mais de 15 pessoas eram eu e Rodrigo, que namorava há muito tempo. Logo me senti mal, ainda mais quando deu uma risadinha que meio que dizia “15? 15 pessoas eu já fiquei em uma noite! “
- Eu nunca fiquei com ninguém dessa rodinha! – disse André, e os únicos que abaixaram os dedos foram e – adivinha? – eu.
Todos – menos e – olhavam-nos com cara de espanto.
- Vocês já... ? Quando? Como? Por que ninguém nunca... ? – balbuciou Rodrigo, incrédulo. Dei um suspiro audível.
- Ué, eles já ficaram, qual é o problema? – perguntou , tentando me poupar das perguntas.
- Quando? – perguntou André, interessado.
- Julho. – respondemos juntos. – Foi só uma vez, não sei por que vocês ficaram tão chocados. – completei, cansada.
- Eu sempre desconfiei. – disse , olhando-nos com o canto do olho. – E por que vocês se separaram?
- Nós não nos separamos, . – respondeu. – Para isso, nós teríamos que, um dia, ter ficado juntos.
Ok, eu sabia que o que ele estava falando era a verdade. Nós realmente nunca havíamos ficado juntos. Sabe como é, JUNTOS. Mas, mesmo assim, ouvir aquelas palavras doeu, e de repente eu desejei com todas as forças estar sozinha. Senti meus olhos arderem e sabia o que viria em seguida. Aqui não, por favor, aqui não!, pensei.
- Exatamente, gente. – disse, com toda a dignidade que consegui reunir. Olhei de relance para o relógio, para completar minha atuação. – Nossa, já está tarde para mim; sabe como é, eu sou pobre e moro longe. Vou nessa, gente, beijos. – disse vagamente e, sem me despedir de cada um deles, levantei e saí a passos rápidos. Ouvi falando “já vai?”, falando “Piranha, fica mais um pouco!” e o resto do pessoal falando “tchau, ”, mas nem me atrevi a olhar para trás. Não ouvira a voz de . Simplesmente andei o mais rápido que podia, sem correr, e, assim que virei a esquina, uma lágrima escorreu pela minha bochecha.
- Babaca. – murmurei, limpando o rosto. Andei por uns 10 minutos – sem conseguir parar de chorar – até chegar ao ponto de ônibus. Sabia que ficaria lá por um bom tempo, pois aquele ônibus era demorado. Olhei para o relógio, agora realmente vendo.
Eram 16:16.
- Ah, ótimo, era disso que eu precisava agora! – resmunguei, tentando me lembrar do significado de 16:16. – Foda-se também, não me importa o que significa, isso é besteira.
Olhei para a rua e vi que o meu ônibus se aproximava. Fiz sinal e o corno filho de uma puta mal parida não parou para mim. Xinguei baixinho. Não dava para a situação piorar.
A chuva ficou mais forte.
Suspirei alto e me sentei numa pedra que havia ao lado do ponto. Eu já estava toda molhada por causa da piscina, ficar na chuva ou não, não faria diferença. Encostei minha cabeça num muro atrás de mim e fechei os olhos.

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FLASHBACK ON



Eu havia acabado de voltar a falar com o , depois de quase um mês brigados. Estávamos na festa da , e perturbou tanto, que voltamos a nos falar. Já estávamos rindo do que acontecera naquela semana, quando começou a tocar S&M da Rihanna.
- Nós temos que dançar essa música! – gritou , puxando . – Vem, , vem dançar com a gente!
- Não quero não, gente, vão lá. – eu disse, desanimada. Não estava no espírito da coisa, apesar de já ter bebido uns copos de Ice.
- Anda, , vem! – disse , insistente.
- Não quero, tchuco, sério. Divirtam-se, mas eu fico aqui.
Então eles foram – não antes de revirarem os olhos para mim – e eu fiquei sozinha, sentada num canto escuro, tomando mais um pouco da minha bebida.
- Ei, vamos dançar. – disse uma voz perto do meu ouvido e eu me assustei, mesmo conhecendo aquela voz tão bem.
- Que susto, ! – disse, virando-me para olhá-lo. Estava lindo, como sempre. Calça jeans, camisa pólo, seu cabelo loiro desleixadamente arrumado em um moicano. Mas é claro que nada daquilo me deixava tão perdida como seus olhos. Aqueles olhos azuis me deixavam extremamente sem graça, mas ao mesmo tempo era impossível desviar meu olhar deles. Parecia que eles eram capazes de ler todos os meus pensamentos, e isso piorava toda a situação.
- Poxa, sou tão feio assim? – ele perguntou, fazendo carinha triste. Eu ri.
- Você é lindo, para de besteira. – eu disse, cumprimentando-o com dois beijos na bochecha. O cheiro dele era maravilhoso. Era um cheiro adocicado, tão forte que chegava a ser enjoativo, mas mesmo assim era muito bom. Eu adorava quando o cheiro dele ficava na minha roupa.
- Mentirosa. – ele disse rindo. – Vamos dançar?
- Não quero, nenis. – respondi, ainda meio tonta graças ao seu perfume.
- Por favor, . Dança comigo. – ele pediu olhando nos meus olhos.
E eu aceitei.
Levantei, fomos para a pista de dança e começamos a dançar. Ele colocou suas mãos na minha cintura e eu passei meus braços pelo seu pescoço. Nossos corpos ficaram grudados automaticamente. Não era uma música lenta, não era romântica, mas mesmo assim dançamos completamente colados. Ele devia ser uns 15 cm mais alto que eu, então meu rosto ficou aninhado em seu peito, perto do seu pescoço; eu sentia seu perfume mais forte do que nunca. Ficamos conversando enquanto dançávamos.
- Por que você tá assim, desanimada? – ele perguntou no meu ouvido, fazendo-me tremer um pouco. – Por que não queria dançar?
- Não estou desanimada. – menti. – Eu não sei dançar. – respondi a segunda pergunta com sinceridade.
- Eu te ensino. – ele disse, me puxando mais para perto.
Ficamos assim uns segundos, e então ele afastou o rosto para olhar nos meus olhos. Ficamos assim por um tempo, só nos olhando, com as testas grudadas; nossos narizes quase se tocavam. Então, a música parou.
- Viu, não foi tão difícil. – ele disse, sorrindo.
Então deu um passo para trás e, largando minha cintura, foi embora.

FLASHBACK OFF


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Ouvi uma buzina e abri os olhos, assustada. Dois carros quase haviam batido na rua transversal a que eu estava. Olhei para a minha rua: estava deserta. Nem sinal do maldito ônibus. A chuva estava mais forte do que nunca. Sentia meu rosto molhado e já não sabia se eram lágrimas ou gotas de chuva. Fechei os olhos novamente.
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FLASHBACK ON



Estava chovendo um pouco. Devia ser umas 19 horas e eu estava esperando minha condução. e Igor estavam me fazendo companhia e eu sabia que, se eles quisessem, já estariam em casa há muito tempo.
- , eu vou ter que ir agora, mesmo. – disse Igor como quem se desculpa.
- Não me chame de , Igor. – disse, revirando os olhos. – Só me chama de .
- Ok, desculpa, ! Mas é um nome tão lindo! – ele disse, e, virando-se para o , perguntou: - Cara, você vai pegar carona comigo ou vai ficar fazendo companhia pra ?
olhou para mim por uns segundos, e então respondeu:
- Pode ir, eu vou esperar a condução dela chegar.
Igor foi embora e logo depois meu celular tocou. Quando desliguei, virei-me para e disse:
- Minha condução pediu pra eu descer a rua, porque está tudo parado por lá, então eu iria economizar tempo. Se quiser ir embora, vai, nenis, tá chovendo demais.
- Claro que não, eu vou com você. – ele respondeu com firmeza e eu reprimi um sorriso.
Descemos a rua e vimos que realmente estava tudo engarrafado. Nenhum sinal da condução; ainda não conseguira chegar ali.
- Isso que dá morar na favela! – ele disse, brincando.
- Garoto, quer falar do quê? Olha bem pra onde você mora! – dei-lhe um tapa de leve no braço, rindo. Ele segurou meu braço e me deixou de frente para ele. Havia um pequeno espaço entre nós, mas eu sabia o que iria acontecer pelo jeito como ele me olhava. Ele estava sorrindo, mas não disse mais nada. A distância foi ficando cada vez menor e, por fim, ele meu puxou pela cintura e me beijou.
Continuamos nos beijando por alguns minutos, até que eu ouvi uma buzina conhecida. Abri os olhos e, olhando a rua, reconheci minha condução. Ele me deu um selinho e eu já estava dando alguns passos para a rua quando, de repente, me virei.
- , promete que a nossa amizade não vai mudar por causa disso? – perguntei olhando nos seus olhos.
- Prometo. – ele respondeu, e eu podia ver que aqueles olhos azuis não estavam mentindo.


FLASHBACK OFF


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- Ele mentiu. – obriguei-me a falar em voz alta, embora somente eu pudesse ouvir. – As coisas mudaram entre nós. E eu sinto falta do que eu conheci. – completei, sentindo uma gota quente escorrendo pelo meu rosto, e eu sabia que não era água da chuva.
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FLASHBACK ON


Fazia 3 meses que eles não se falavam. Na verdade, até se falavam, mas não iam muito além do ‘Bom dia’. Era um sábado, e ia dar uma festa à fantasia. Ela estava esperando por esse dia há um bom tempo, pois ia levar um amigo com quem ficava e ia se vingar por algumas coisas que descobriu que havia falado a seu respeito. Porém, na semana da festa, acabou brigando com esse amigo, e resolveu ir sozinha, só com seus melhores amigos.
A festa foi muito boa. Ela bebeu, dançou e acabou ficando com um amigo de , que por um acaso ela conhecia. No final da festa, já havia ido embora; estava ocupada se pegando com seu namorado; alguns outros amigos estavam bêbados, vomitando e falando besteira; e começara a limpar o salão.
- Gostou da festa? – ele me perguntou enquanto recolhia uns copos jogados no chão.
- Bastante. Você vai fazer outra mês que vem, não vai? – perguntei, pois realmente havia adorado a festa. Percebi que a raiva que eu sentira por ele durante os últimos 3 meses se fora.
- Não sei... – ele respondeu, pensativo. – É, talvez.
- Faz sim! – disse, encorajando-o. -Uma festa de despedida, poxa. Acho justo.
- Vou ver na minha agenda. – disse ele com ar de ocupado. Eu ri.
- Quer ajuda? – perguntei ainda rindo.
- Não precisa, obrigado. Ainda vou ter muita coisa pra fazer por aqui, ainda mais com esses bêbados do jeito que estão. – ele respondeu, olhando para trás e vendo nossos amigos rindo escandalosamente.
- O pessoal não sabe beber. – disse, suspirando. – Aliás, você não parece estar bêbado.
- Não estou. – ele disse levantando uma sobrancelha.
- Sei. – respondi, duvidando. – Me mandaram um papo que você sempre fica doido nas suas festas, de cair no chão.
- É, já me falaram isso também, mas eu não lembro. – ele disse e os dois riram. – Dessa vez eu achei mais interessante ver os outros ficarem bêbados. Por isso que eu batizei todos os refrigerantes.
- Você o quê? – perguntei, incrédula. – Filho de uma puta, eu bebia refrigerante quando não queria exagerar na bebida!
- Você não parece estar bêbada. – ele disse, me avaliando.
- Não estou. – respondi, achando graça na repetição do diálogo.
- Então, pelo menos você sabe beber, né. – ele disse dando ênfase no ‘você’.
Ficamos conversando mais alguns minutos, rindo das coisas que nossos amigos faziam, discutindo sobre como seria a próxima festa.
Por um momento – apenas por um momento – era como se eu tivesse meu amigo de volta.

FLASHBACK OFF



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- O que você tá fazendo na chuva, garota? – eu ouvi uma voz falando, então abri os olhos.
Era .
Sem perceber, eu acabei adormecendo na chuva durante meu momento nostálgico. Olhei para cima.
- Eu acabei dormindo. – respondi, piscando. Sentia meus olhos inchados e sabia que eles estavam vermelhos.
- Você andou chorando? – ele me perguntou e eu fechei os olhos, sem responder. Ouvi um barulho próximo e, quando abri os olhos novamente, ele estava ao meu lado.
- Nós não somos mais amigos, não precisa fingir que se importa. – respondi com amargura.
- Ah, começou o drama de novo. – ele disse, revirando os olhos, mas sorrindo. Ele sempre me chamava de dramática. Olhei para ele de forma rabugenta e ele parou de rir.
- Você tá falando sério, não é? – ele disse, mais como uma afirmação que como uma pergunta. Apenas afirmei com a cabeça.
- Por que você diz que não somos mais amigos? – perguntou, olhando para mim.
- Porque não somos, . Porque você parou de falar comigo como falava antes, porque parou de me dar a atenção que me dava antes. E eu falei com você sobre isso, eu corri atrás... e você nem se importou. Você não deu valor à nossa amizade, então eu concluí que você não se importava. Aliás, continua sem se importar. – eu disse tudo num jorro. Estava com aquilo entalado há muito tempo e precisava descarregar tudo. E também queria fazê-lo se sentir um pouco culpado, por isso completei: - Pra você, tudo o que eu falava era drama. Não era drama, era carinho, era amizade. Eu considerava você de verdade, mas pra você não era importante.
Ele ficou uns minutos em silêncio e eu sabia que ele estava refletindo sobre o que eu acabara de falar, e escolhendo as palavras certas para responder.
- Eu sinto muito. – ele disse, por fim.
- É só isso que você tem a dizer? – perguntei, irritada.
- Eu tenho muitas coisas pra dizer, . – ele disse e eu fiquei arrepiada, como sempre acontece quando ele fala o meu nome. – Mas eu sei que não adianta dizer agora. Eu sei que nada do que eu possa dizer vai mudar o passado.
- Pode não mudar o passado, mas pode mudar o futuro. – respondi por impulso, sem saber se era exatamente aquilo que eu queria dizer. – Não garanto que vai mudar alguma coisa, mas eu realmente quero ouvir o que você tem a dizer.
- Eu quero a sua amizade de volta, . – ele disse, por fim. – Eu sei que não mereço, sei que fui um babaca e que não te dei atenção porque estava ocupado socializando com o resto do colégio, mas eu realmente quero voltar a ser seu amigo. Quero voltar a te abraçar e sentir o seu abraço de volta, quero conversar contigo como a gente fazia antigamente. Não fui atrás de você porque você não estava mais falando comigo, então achei que você não me queria por perto. Agora eu vejo que... que foi porque eu te magoei primeiro. – ele continuou e, quando me virei para ele, vi uma lágrima escorrer pelo seu olho esquerdo. – Eu sinto a sua falta, , e espero que um dia você me perdoe.
Olhei para ele, mas já não conseguia enxergá-lo. Minha vista ficou embaçada e eu comecei a chorar. Ele limpou minhas lágrimas – o que foi um pouco inútil, já que estava chovendo – e eu o abracei pela primeira vez em 3 meses.
Ficamos uns 10 minutos abraçados e em silêncio. Finalmente, afastei meu rosto e disse:
- Está bem, eu te perdôo, mas preste bastante atenção no que faz. Perdoar não é esquecer, que fique bem claro. – e achei melhor completar: - Faça isso comigo mais uma vez e eu aperto suas bolas e ainda arranco esse seu pseudo-pau.
Ele riu e eu fiquei feliz em ouvir aquela risada de novo. Levantamos, porque agora eu realmente ia ficar atenta para ver se o ônibus passava, e então ele me puxou com força pela cintura, me girou e me deixou cara a cara com ele.
- Eu não sei quando nós vamos nos ver de novo, . – ele disse, e eu sabia que era verdade. – Esse foi nosso último dia no colégio, e nós moramos longe. – ele deixou a frase vagando no ar e, puxando-me para mais perto de seu corpo, me deu um beijo que há meses eu queria de volta. Passei meus braços por seu pescoço, puxando-o mais para mim, e senti seu perfume invadir minha narina. Eu sabia que aquele cheiro ia ficar na minha roupa, apesar da chuva. E então, de repente, me lembrei o que significava 16:16. “Quer loucamente um beijo seu, em segredo “. Sorri no meio do beijo.
- Eu senti falta disso, sabia? – ele sussurrou no meu ouvido.
- Mentiroso. – sussurrei de volta, fazendo-o rir.
Ficamos nos beijando embaixo da chuva por mais alguns minutos, quando finalmente meu ônibus chegou. Despedi-me dele com um selinho e ele sussurrou no meu ouvido:
- Obrigado por me perdoar. – e sorriu.
Subi no ônibus, feliz, e o motorista achou graça da situação – uma garota de 17 anos, completamente enxarcada, despedindo-se do que ele achava que era seu namorado. Paguei minha passagem e me sentei num dos últimos bancos, na janela. Olhei para o lado de fora e vi que olhava para mim. Sorri de volta e ele acenou. O ônibus começou a andar e eu encostei minha cabeça no vidro, fechando os olhos e sorrindo pelo que acabara de acontecer. Abri-os de repente e olhei para o relógio: eram 18:19. Bom, nem sempre vejo todas as horas iguais, não é mesmo? E elas não são tão importantes assim. Mas, de uma coisa eu tenho certeza: quando a gente acredita em algo, tudo pode se tornar realidade, até um pedido feito à meia noite.
E eu realmente beijei uma última vez.


Fim.





N/A: Bom, foi a minha primeira fiction, e é bem curta, eu sei, rs. Mas eu fiz com todo o coração, e boa parte da história realmente aconteceu. De alguma maneira eu precisava colocar todos os momentos que eu lembrava em palavras, então pensei em fazer uma fic. Claro que tem uma boa parte que eu imaginei, principalmente o final, que eu realmente preferia que tivesse acontecido, mas... Enfim, sem depressão. O primeiro e o último flashback realmente aconteceram daquela maneira, e o segundo eu dei uma adaptada. E, bom, é isso, espero que tenham gostado, de verdade. >< E meu nome não é Milla Balzary, mas será o nome da minha filha *-*

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