- Então, você vem mesmo? – perguntei sem acreditar.
- Vou, meu amor. Embarco daqui à duas horas. – ela respondeu do outro lado da linha.
- Estou morrendo de saudades, pequena.
- Eu também. Saudades de você cantando pra mim...
- O Zukie também está com saudade... – disse, brincando com meu parceirinho no meu colo.
- Faz um cafuné nele por mim... Agora eu tenho que ir amor, se não me atraso. Te amo.
- Também te amo, pequena. Estou te esperando. – dizendo isso, desliguei o telefone.
Dude, nem acredito! A vem! Tá ouvindo, Zukie? Mamãe vem! Tá, eu fui gay agora, mas dane-se! Estou contente! E o Zukie também deve estar, apesar de nem se mexer...
Estou morto de saudades daquela pequena. Tem dois anos que ela começou a trabalhar e nós só nos vemos nas férias dela, quando ela pode vir a Londres. Desde a última vez que ela veio, estou pensando em... Passar nossa relação para outro nível, afinal eu a conheço há 10 anos!
Não, eu não estou enrolando a há 10 anos. Só há 6... Eu a conheço desde os onze anos de idade, mas começamos a namorar quando eu entrei no Mcfly, com 15 anos. E ela me deu uma super força, durante todo o tempo que ficou aqui. Na banda e... Erm... Antes, quando meu pai... Bem...
Ela é brasileira. E voltou para sua terra natal faz quatro anos, pois a mãe dela fez as pazes com o marido, que ainda morava no Brasil, e ela resolveu voltar para casa, e como a ainda era menor, teve de ir com ela.
Nos dois primeiros anos ela vinha pra cá direto, eu sempre dava um jeito de curtir ao lado dela, apesar da banda. Mas, como eu disse, ela começou a trabalhar e agora só pode vir nas benditas férias!
Já disse pra ela parar de trabalhar, que eu a sustentava... Ela ficou um mês sem falar comigo depois disso, não me ligava, nem me atendia. A é independente demais para aceitar isso. Mas, se tudo der certo, e ela aceitar o meu pedido, tudo vai mudar... Nunca pensei que o amor que eu sinto por ela fosse tão grande a ponto de superar a distância... Ele aumenta a cada dia! E eu sei que o mesmo acontece com ela. A se desdobra pra conseguir vir. Ela é orgulhosa e não me deixa pagar a passagem, e acaba vindo em empresas mais simples, que ela consiga pagar.
Eu acho que a é a única pessoa no mundo que entende realmente o que o Zukie representa pra mim. Ela tem uma paixão platônica por ele, também não é pra menos, graças a ele nós nos conhecemos...
É, é isso mesmo.
Flashback
Dougie entrou no pet shop com um sorriso de orelha a orelha.
- Que fique bem claro, Dougie, que quem vai cuidar desse lagarto é você! – Sam disse, segurando a mão do filho.
- Tá, mãe, tá. A senhora já disse isso, e eu já disse que vou cuidar!
- Tudo bem. Não diga que eu não avisei.
Mãe e filho se aproximaram do balcão. Dougie começou a tocar a campainha que havia lá insistentemente, até que apareceu uma mulher. Ele parou com a campainha ao receber um olhar de censura dela.
- Desculpe... – sussurrou.
A mulher sorriu e assentiu com a cabeça.
- Bom dia. – Sam se pronunciou – Estamos aqui para comprar aquele lagarto da vitrine... Esse menino está há uma semana me atormentando querendo ele, e acho que só vai sossegar quando ganhá-lo.
- Ah, eu lembro de você, querido. Ele vem aqui todo dia e fica brincando com o lagarto lá da calçada... – Dougie sorriu – Bem, acho que minha filha vai ficar um pouco triste... Ela gosta muito do bichinho... Mas fazer o que? Você vai cuidar bem dele?
- Vou, vou sim. E, eu posso trazê-lo aqui, pra sua filha matar as saudades.
- Oh, você é uma graça! Mas recomendo que traga mesmo, não pela , e sim para o nosso veterinário acompanhá-lo.
- Ele vai trazer. – Sam olhou para o filho – Não vai?
- Já disse que sim!
A mulher sorriu.
- ! – gritou – Vem cá, filha!
Uma menina, aparentemente da mesma idade que Dougie, apareceu. O garoto, apesar de ainda pequeno, ficando babando por ela. , por sua vez, olhou para os dois clientes e deu um sorriso tímido.
- Sim, mãe. – disse, se voltando para ela.
- Querida, essa moça e esse garoto vieram aqui pra comprar o...
- O lagarto, não é? – sorriu para Dougie, que estava paralisado – Lembro de você. Você não me via, mas eu te via brincando com ele...
Dougie deu um meio sorriso.
- Então, filha, te chamei pra ir lá pegar ele pra mim... Aproveita e leva o...?
- Dougie. – o menino respondeu.
- O Dougie com você, pra ele ir se acostumando com o mais novo dono dele.
- Aceita, Dougie? – ela saiu de trás do balcão.
- Cl-Claro.
se encaminhou para a vitrine, sendo seguida pelo garoto. Abriu a gaiola e tirou o réptil de lá. O segurou no colo e abaixou a cabeça.
- Cuida bem dele, tá? – sussurrou, uma lágrima escorreu pelo seu rosto.
- Hey! – ele se aproximou dela e secou a lágrima – Não fica triste, eu trago ele aqui para ver você.
- Traz mesmo? – ela levantou o rosto.
- Prometo.
Ela sorriu e entregou o bicho para Dougie.
- Já sabe o nome? – a menina perguntou, enquanto eles voltavam para o balcão.
- Hum... – o menino olhou para o lagarto – Zukie.
- Nome legal. – ela sorriu e recebeu outro sorriso.
- Contente agora, Dougie? – Sam olhou para o filho e sorriu.
- Muito. – ele respondeu, brincando com Zukie.
- Bem, Dougie, ele vai precisar de alguns cuidados... Traga ele aqui regularmente para passar no veterinário, ok?
O menino assentiu com a cabeça.
- Leva o nosso cartão, – entregou o cartão do pet shop para Dougie – Caso precise...
Ele sorriu e pegou o cartão.
- Então é isso. Até logo. – Sam.
- Até logo, Dougie. – a menina sorriu.
- Até logo, ... – disse, envergonhado.
- . – ela disse, estendendo a mão.
- . – ele repetiu, apertando a mão da menina.
Fim do Flashback
Eu tinha só onze anos... Ela também, mas dude... Acho que foi paixão à primeira vista. Ok, ok... Eu estou realmente gay hoje...
Comecei a freqüentar o pet shop... Até mais do que o necessário, se quer saber... E eu sempre usava o Zukie como desculpa para puxar assunto com a .
Um dia, durante uma de nossas conversas, descobri que ela era brasileira, e que tinha vindo para Londres porque os pais se separaram e a mãe resolveu tentar a sorte na "Terra da Rainha", como ela mesma disse.
Nós nos tornamos melhores amigos. Ela começou a estudar no mesmo colégio que eu. Ela sabia que eu gostava dela, e eu sabia que ela gostava de mim, mas eu não tinha coragem "chegar" nela. Ambos tínhamos medo de estragar a amizade.
Eu a vi crescer... Vi aquela garota com rosto de boneca se tornar uma garota hot, e ao mesmo tempo em que isso acontecia, bem, eu também cresci e... Não conseguia mais vê-la só como amiga. Nós começamos a ficar de vez em quando, mas para todos os efeitos, ainda éramos só amigos. Ela ficava com outros, eu ficava com outras.
Porém, surgiu sentimento na história... Surgiu amor. Eu nunca vou me esquecer do dia em que nós começamos a namorar, foi um dos dias mais marcantes da minha vida.
Flashback
estava na calçada, roendo as unhas de nervosismo.
Viu Dougie sair do estúdio, a cabeça baixa. Correu até ele. O garoto, por sua vez, levantou o rosto.
- Dougie, por que você tá com essa cara? Não vai me dizer que... – se interrompeu e olhou nos olhos dele.
- eu... Eu... Passei! – abriu um sorriso.
- Aaaaaaaaah! – a menina pulou no colo dele, o abraçando – Quer dizer que...
- Eu to na banda, pequena! – ele retribuiu o abraço.
- Ah, Dougie! Tô tão orgulhosa de você, little! – a menina começou a chorar – Depois de tanto esforço, ninguém merecia mais do que você!
- Obrigado, , obrigado por tudo! Obrigado por estar ao meu lado! – ele afundou o rosto no pescoço da menina, ainda em seu colo.
- Você sabe que eu sou sua amiga, sabe que eu te amo, e que sempre vou estar ao seu lado! Ouviu? – olhou nos olhos dele – Sempre!
- , eu... – ele fez ela descer do seu colo e se ajoelhou em sua frente.
- Dougie, levanta! – ela riu.
- Shiu, deixa eu falar! – ele brincou, segurando a mão dela – Eu sei, você sabe... Que nós não somos só amigos...
- Dougie...
- Deixa eu terminar! – ele brincou, fingindo estar bravo. – Eu vou começar uma nova fase da minha vida que eu espero curtir muito. Mas eu só vou conseguir, seu eu tiver você do meu lado. Não apenas como amiga, a garota que cresceu comigo, mas sim como... Minha namorada. Aceita?
- Eu... Eu não sei o que dizer... – a menina olhava nos olhos dele, emocionada.
- Erm... Acho que ‘sim’ era uma boa opção... – ele brincou, levantando.
- Sim, sim, sim! Mil vezes sim! – ela o abraçou – Meu baixista favorito!
- Minha musa inspiradora. – brincou, se aproximando e beijando a menina.
- Só tem uma coisa... – ela disse, após o beijo.
- Hã?
- Espero que quando você ficar famoso, não esqueça da garotinha aqui, para pegar aquelas famosas hots.
- Nunca! Ouviu? – ele segurou o rosto da menina entre as mãos – Eu sei muito bem o que eu quero, e está em minhas mãos agora.
Ela sorriu e começou a lhe dar vários selinhos.
- Te amo, te amo, te amo...
Fim do Flashback
E desde aquele dia, a é minha namorada. Seis anos, dude! Seis anos! Durantes os dois anos seguintes, em que ela ainda ficou em Londres, me deu toda a força na banda.
Cuidava de mim quando eu ficava cansado, ia a todos os shows, tomava conta do Zukie quando eu não podia... Enfim, foi meu anjo da guarda! Dougie, pára de ser gay!
Então, quando o sucesso de verdade estava começando, e as fãs começaram a brotar do chão, minha sogra resolveu fazer as pazes com o marido e voltar para o Brasil, levando minha namorada junto.
E o Dougie aqui ficou como? Morrendo de saudades, né. Definitivamente, nunca fui e nunca serei bom em despedidas.
Flashback
Os dois entraram de mãos dadas no aeroporto. Dougie carregava a mala da menina. Chegaram a área de embarque, a partir de onde teria de seguir sozinha. O garoto colocou a bagagem no chão e segurou as mãos da namorada.
As lágrimas escorriam dos olhos de ambos.
- É... Acho que é isso, né... – ele abaixou a cabeça.
- Dougie... Promete que... Promete que vai me esperar, que vai continuar me amando? Promete, por fa...
Dougie a beijou. Beijou com todo o amor que podia, e recebeu o mesmo em resposta.
- Eu te amo, pequena. E nada nesse mundo muda isso, ok? Eu sempre vou estar aqui para você!
- Eu te amo, Dougie. Mais que tudo! E vou fazer o que puder pra vir te ver sempre!
- Vê se liga, escreve, o que for. Vou fazer o mesmo.
- Pode deixar. Se cuida, cuida do Zukie. Vou estar torcendo pela banda lá no Brasil.
- Eu te mando o que a gente lançar.
A menina assentiu com a cabeça.
- Agora eu tenho que ir...
- Se cuida, e cuida do meu coração, que vai contigo.
- Eu vou. E você cuide do meu. Seja um bom dono.
Ele deu um meio sorriso.
- , vamos! – a mãe da garota chamou, mais a frente.
- Já vou! – respondeu – Te amo.
- Te amo. – o garoto se aproximou dos lábios dela – E é isso que importa.
Ela assentiu com a cabeça e eles se beijaram.
Fim do Flashback
Para ser sincero, eu estava com medo. Medo da distância, medo de que ela conhecesse alguém... Medo de que tudo que sentíamos um pelo o outro se perdesse no oceano. Eu sentia falta de alguém ao meu lado. Fiquei com medo de a solidão me fazer traí-la, mas eu concluí que o amor era maior. E que eu não sentia falta de alguém comigo. Eu sentia falta DELA. E de mais ninguém.
Com o tempo, me acostumei a ficar distante. Nos falávamos praticamente todo dia, e eu percebi que ela passou pelo mesmo problema que eu... E chegou à mesma conclusão. As cartas que ela mandava, a voz cheia de amor quando falava comigo...
Matamos um pouco da saudade quando ela consegue vir, mas quando se passa meses sem poder abraçar, beijar, sentir o perfume de quem se ama, não dá pra compensar isso em algumas semanas. Sempre que ela volta para o Brasil, eu fico super para baixo...
E é por esses vários motivos, que quero que ela fique aqui. Nosso amor já passou pela prova de fogo e... Resistiu. Ileso. E só uma maneira de ela poder e aceitar ficar. E eu já treinei o Zukie pra me ajudar nisso.
***
- Dougie, acorda!
- Hã? – acordei sendo chacoalhado por alguém que ainda não reconhecera. Abri os olhos e me deparei com meus três queridos amigos em frente ao sofá da minha sala, aonde eu ANTES estava dormindo. E o inútil que me acordou foi o Danny.
- Sabia que é muito mal-educado acordar as pessoas assim, Sr. Daniel? – disse, terminando de acordar.
- Não quando a criatura não acorda nem com uma orquestra tocando, e precisa ir para uma reunião! – Danny me respondeu, se jogando na minha poltrona. Folgado!
- Reunião? – perguntei. Não me lembro de nenhuma reunião...
- A gente tentou te ligar, mas, primeiro deu ocupado, e depois ninguém atendia. – Harry me explicou.
- Ah, é que eu tava falando com a , e devo ter dormido aqui, esperando ela ligar de novo...
- Que possessivo você! Por que esperava ela ligar de novo? – Tom me zombou.
- Ah, é porque ela tá vindo, e podia me ligar pra... Ah, sei lá! – eu não sabia explicar.
- Tá, tá. Sabemos como você fica besta quando o assunto é a . – lancei um olhar mortal ao Danny. Além de me acordar, me chama de besta? Que abuso!
- Hey, quer dizer que a mamãe do Zukie vem? – Harry disse, brincando com o Zukie, que estava no sofá. Viu? Eu não sou o único que está em um dia gay.
- Vem. Deve chegar em algumas horas... – respondi, pegando o Zukie para levá-lo para o lugar dele. Dude, como eu não o esmaguei no sofá?
- E você pretende fazer aquilo? – Tommy perguntou. Sim, eu contei meus planos pra esses seres
- Pretendo.
- Tomara que ela aceite... Você fica menos chato quando a está por perto. – ok, o Jones tirou mais um dia pra me encher. Mas eu não ligo, tô de bom humor hoje.
- Normalmente, Dan, eu te daria uma resposta muito feia, contudo, hoje estou de bem com a vida, e nada vai mudar isso, ok?
- Sorte sua que está, Doug. Porque a reunião de hoje promete ser um porre. Lava esse rosto pra gente ir, se não nos atrasaremos. – Harry me informou do meu empolgante compromisso.
- Ok. – respondi, indo para o banheiro.
***
É... O Harry não estava brincando quando disse que a reunião ia ser um porre. Está sendo mesmo. Horas de blá blá blá burocrático na cabeça. Ufa! A gente só quer fazer música e ponto! Como as pessoas complicam as coisas!
- E agora, a mais pedida do dia, que foi lançada há uma semana e já chegou ao topo. Com vocês... A mais nova da Mcfly! – o locutor da rádio interrompeu o discurso inicial do mais novo assunto em pauta.
Dude! Nossa música nova chegou ao primeiro lugar de uma das rádios mais ouvidas em uma semana! Eu sei, eu sei. Nós somos foda!
Agora a sala está em festa! Todo mundo se abraçando, se cumprimentando... Sabe, vale a pena todo o esforço para ter momentos assim.
- Interrompemos nossa programação para uma triste notícia... – a voz do locutor voltou, interrompendo a nossa música.
- Ih, interromperam nossa música! – Tommy pensou o mesmo que eu.
- Um avião da empresa Votur, que trazia passageiros da cidade brasileira da cidade de , teve problemas na aterrissagem e acabou batendo no prédio do aeroporto. Os bombeiros tentam conter o incêndio, há muitas vítimas. Entre elas, mortos e feridos. Voltamos logo com mais informações. – espera! Não, ele não pode ter dito Votur! É a empresa em que a costuma viajar! , Brasil... Não, não, não!
- Doug, Votur não é a empresa da ? – Harry me fitou, preocupado.
- É-é... Eu acho que... Que foi a o avião dela!
- Dougie volta! Espera! – ouvi Danny gritar mas eu já estava correndo em direção à saída do prédio.
***
- Alô? – meu celular tocou enquanto eu estava preso no trânsito, dentro de um táxi, aflito.
- Dougie? – reconheci a voz desesperada que me respondeu.
- Sra. ? – mas afirmei do que perguntei.
- Eu mesma, querido. Você... Você sabe do... – ela chorava demais.
- Sei. Estou indo para o aeroporto agora. Há alguma chance de não ser o avião dela? – diga que sim, diga que sim...
-... Não. É o dela, tenho certeza. Infelizmente... – ela chorou ainda mais.
- Calma, calma. – eu tentava passar confiança, mas na verdade, estava desmoronando por dentro – Eu vou pra lá. Eu vou achar a e tudo vai ficar bem, ok? Eu prometo. – prometi à ela e a mim.
- Por favor, Dougie. Por favor, não deixe nada de ruim acontecer à minha filha... – ela implorou.
- Vou fazer o possível e o impossível.
- Eu e o pai dela vamos para aí agora. Vou tentar manter contato, ok?
- Não! É muito arriscado vir agora! Está tudo um caos! – disse-lhe preocupado.
- Eu vou, não interessa! Eu quero estar ao lado dela caso... O pior aconteça. – ela se desmanchou do outro lado da linha. Aquelas palavras me acertaram em cheio.
- Tudo bem. – me controlava para não ceder – Nos falamos depois.
- Certo. – ela desligou o telefone e eu também.
"O pior aconteça." Eu não posso ficar aqui parado enquanto... Enquanto ela precisa de mim!
- Não dá para ir mais rápido? – perguntei ao motorista.
- Desculpe, senhor. Mas com essa confusão, a cidade parou. Não dá para andar de carro...
- Ótimo. Eu vou à pé! – abri a porta do carro e saí correndo, em meio aos carros parados, em direção ao aeroporto. A fala da Sra. não saía da minha cabeça: "Eu quero estar ao lado dela caso... O pior aconteça."
***
A parte abaixo havia sido retirada do site acidentalmente, mas agora está de volta. Desculpem por isso, é uma parte importante da história.
Há alguns metros do aeroporto já pude perceber a tremenda confusão que havia por lá. Carros de bombeiros, ambulâncias, médicos, curiosos, familiares de vítimas, repórteres, policiais tentando por ordem na situação.
O fogo já estava quase contido pelos bombeiros. Era possível ver pessoas feridas e mortas sendo retiradas em macas do que restava do prédio.
Ao ver aquilo me desesperei ainda mais. Imaginar que minha namorada está em meio aquele inferno me fazia ficar sem ar.
Tentei me aproximar mais do prédio, pedir informação, qualquer coisa, mas os policiais não permitiam, faziam uma barreira para que as pessoas se afastassem.
- Por favor, policial! – implorei. – Minha namorada está aí! Eu preciso passar!
- Desculpe, garoto, mas ninguém passa! Os médicos e os bombeiros estão trabalhando! Nada de pessoas atrapalhando!
- Mas eu não vou atrapalhar! Só quero encontrar mi... – apontei para a saída do prédio e vi... Vi algo que fez meu chão sumir.
Um paramédico estava correndo e empurrando uma maca, saindo do prédio. E nessa maca estava deitada... A . Ela, sempre tão cheia de vida, estava ali, desacordada. Meu coração parou. Minha cabeça latejava, implorando silenciosamente para que ela ainda estivesse viva.
- ! – berrei, desesperado, tentando passar pelo policial.
O paramédico viu a cena e se virou para mim.
- Você a conhece? – me perguntou.
- É minha namorada! – respondi.
- Deixa o garoto passar. – ele ordenou ao policial, que me permitiu chegar até a maca.
- ! – me aproximei e acariciei o rosto machucado dela. – Ela... Ela está bem?
- Está viva, se isso te conforta. – me senti aliviado e tenso em seguida. O tom do médico não foi nada otimista.
Eu o ajudei a carregar a maca até a ambulância. Colocamos lá dentro e eu entrei.
- Não temos pessoal disponível para acompanhar ninguém até o hospital. Estamos completamente ocupados. Mas não se preocupe, chegando lá ela será atendida. – ele me disse, fechando a porta da ambulância.
- Obrigado. – eu disse e ele assentiu com a cabeça.
Um barulho de motor e senti que estávamos em movimento. Olhei para a ali, vulnerável, machucada, correndo risco de... Não me atrevo a pensar nisso.
Sabe aquilo de bom humor, estar de bem com a vida e nada mudar isso? Esquece tudo.
Segurei sua mão e acariciei seu rosto.
- Vai dar tudo certo, pequena. – sussurrei, tentando me convencer.
***
Estava brincando com o cabelo da e relembrando sua voz feliz ao telefone, quando a ambulância parou. Não tive tempo de pensar em nada e já tinha um enfermeiro abrindo a porta e retirando a maca.
- Faça o registro dela, nós assumimos a partir daqui. – o homem, que já levava a para dentro do hospital, me disse.
Eu assenti com a cabeça. Não quero ficar longe dela, mas acho que não posso fazer nada agora, além de esperar.
Me encaminhava para o hospital, cabeça baixa, tentando assimilar tudo, quando uma repórter me parou. Ótimo, tudo o que eu precisava.
- Dougie Poynter, o que faz aqui? Conhece alguma vítima? – ela me perguntou, apontando seu gravador em minha direção em seguida, esperando resposta.
Ser famoso nessas horas não é muito legal. Não sei como consegui escapar daquele mutirão de repórteres no aeroporto. Mas é óbvio que não escaparia do que está em torno do hospital.
Outros também apontaram seus gravadores em minha direção.
- Dougie? – a mulher repetiu, após minha imobilidade.
Eu definitivamente não estou com um humor adequado para entrevistas. Olhei para todas aquelas pessoas e resolvi não falar nada. Voltei-me em direção ao hospital e entrei, deixando todos eles do lado de fora, sendo barrados pelos seguranças.
Ia em direção ao balcão, fazer o registro da , quando senti algo vibrar em meu bolso e ouvi o toque do meu celular em seguida. Olhei no visor: Tommy.
- Hey. – atendi.
- Dougie! Onde você está, dude? Saiu correndo como um louco! Todo mundo está preocupado contigo por aqui! – ele despejou as palavras.
- Eu estou no hospital. Está tudo bem... Comigo. Na medida do possível. – respondi, me sentando em uma cadeira próxima.
- Então... Ela estava no avião?
Minha garganta tampou. Não consegui mais segurar as lágrimas. Desmoronei.
- Como ela está? – Tom interpretou meu silêncio como um ‘sim’.
- Viva, pelo menos. Um enfermeiro entrou com ela e me mandou fazer o registro. Acho que a única coisa que posso fazer agora é... Esperar. – minha voz saiu embargada.
- Vai ficar tudo bem, Doug. Você precisa ser forte, precisa ter esperança! – ele tentou me confortar.
- Ela está tão machucada, Tommy... E... Eu não posso fazer nada! Nada! Minha namorada corre risco de morte e eu não posso fazer nada! Isso é injusto! – me descontrolei.
- Calma dude, calma. Você pode ficar ao lado dela, pode torcer por ela! Olha, eu e os garotos vamos para aí ficar contigo, ok?
- Valeu, Tommy. Estou precisando mesmo de vocês agora... Só tomem cuidado, tem um mutirão de repórteres em frente ao hospital. – disse, minha voz saiu mais calma.
- Nós vamos tomar. Fica bem, estamos indo. – ele desligou.
Desliguei o celular e apoiei a cabeça no joelho. A imagem do rosto da quando a pedi em namoro veio a minha cabeça. E logo em seguida, a imagem machucada e desacordada dela. Uma lágrima escorreu pelo meu rosto.
Chega! Não posso ficar aqui chorando. Isso não vai resolver nada!
Enxuguei a lágrima, me levantei e caminhei até o balcão de atendimento.
- Posso ajudar? – a recepcionista perguntou quando eu me aproximei.
- Sim. A minha namorada é uma das vítimas do acidente de avião e um enfermeiro mandou que eu fizesse o registro...
- Ah, sim. É só me passar os dados dela. – ela me respondeu, mexendo no computador.
***
Terminei de fazer o registro e me sentei novamente. Abri a carteira e peguei uma foto minha e da no backstage de um show da McFLY, que ela assistiu da última vez em que veio, nas suas últimas férias. Eu amo essa foto. A está tão linda e tão... Feliz. No canto ela escreveu: ‘Eu te amo’, em português.
Abaixei a cabeça. Não pode terminar assim, não pode!
- Doug! – reconheci a voz do Harry e levantei o rosto.
Vi os três vindo em minha direção. Me levantei.
Danny foi o primeiro a me abraçar.
- A gente está contigo, dude! Para qualquer coisa! – ele me disse.
Sabe a parte de inútil e folgado? Esquece. Ele é meu AMIGO, independente de tudo.
- Valeu, Dan! – eu não tinha palavras.
Ele assentiu com a cabeça e se afastou. Foi a vez de Harry.
- Vai dar tudo certo, ok? É só você acreditar!
- É o que eu estou tentando... – sussurrei.
Ele bagunçou meu cabelo e me soltou. Tom veio e passou o braço em volta do meu ombro.
- Acho que eles já disseram tudo.
Dei um meio sorriso.
- Como ela está? – ele perguntou, ainda com o braço em meu ombro.
- Não sei... O enfermeiro entrou com ela assim que nós chegamos e... Até agora nada.
- Mas como ela estava quando ele a levou? Assim, aparentemente? – Danny.
- Ela... Ela estava desacordada e... E tão machucada... Tão... Frágil... E a voz do médico que a socorreu não era das mais otimistas... – as lágrimas voltaram a me ameaçar.
- Calma, dude! Olha, eu sei que o hospital está uma baderna, - Harry disse. É verdade... Eu estou tão fora do mundo que não reparei; médicos correndo para todos os lados, vítimas, parentes... Todos andando de um lado para o outro – mas temos que procurar alguém para nos informar!
- É, o Harry está certo. – Tommy.
Assenti com a cabeça. Saímos andando pelos corredores. Danny estava tentando me animar, contando como eles fizeram para passar pelos repórteres.
- Eu falei para nós nos disfarçarmos de médicos, como no clipe de ‘Please, please’, mas ninguém me ouviu...
Dude, eu não sei o que eu faria se não tivesse esses três para me fazerem rir até nas piores situações.
- Sabe, às vezes ser famoso não é muito legal, não é, Dougie? – Harry me disse. Acho que ele lê meus pensamentos às vezes...
- Definitivamente. – respondi. – Mas, afinal, como vocês passaram?
- Ah, a gente... – Danny se virou para nós de repente, trombando com um médico que saía de um quarto.
- Desculpe... – todos dissemos.
- Não foi nada. – o homem disse, se virando de costas e começando a andar.
Tom me deu uma cotovelada e apontou para o médico. O que... Ah, entendi!
- Por favor! – disse, indo em direção a ele.
- Sim. – ele se virou para mim.
- É que eu estou procurando pela minha namorada, ela é uma das vítimas do acidente de avião. Um enfermeiro entrou com ela e desde aí não tive mais notícias.
- Ah, sim... Eu sei quem é... – ele disse, com a voz cautelosa. Mau sinal.
Espera. Como ele sabe sem eu nem descrever a para ele nem nada?
- Eu sabia que conhecia a moça quando a atendi... – eu fiz cara de ‘Hã?’ e ele percebeu. – Minha filha gosta da banda, – ele apontou para nós – principalmente de você, Dougie, e tem ciúmes da sua namorada. Eu a levei a um show uma vez e a vimos no backstage com vocês... Minha filha queria aprontar alguma, mas não deixei...
Percebi que ele queria me distrair e isso significava que as notícias não eram das melhores.
- Entendo... Mas... Como... Como ela está? – perguntei, aflito.
Ele olhou de mim para os garotos e voltou a me olhar.
- Venham comigo. – ele disse, se virando de costas e começando a caminhar.
Uma luz vermelha está piscando na minha cabeça. A expressão, o tom dele... Algo não está bem... Algo não está nada bem.
- Respira, dude. – Tom me disse, bagunçando meu cabelo.
Apenas assenti com a cabeça e começamos a seguir o médico.
Ele parou em frente à porta de um quarto.
- Pronto? – me perguntou.
Confirmei e ele abriu a porta. Entramos.
E lá está ela. Inconsciente, machucada... Me aproximei da cama. Segurei sua mão e percebi que tinha algo preso nela. Acariciei seu rosto, onde havia um tubo de respiração. Percebi que havia um dreno em sua cabeça e isso me arrepiou.
Parece que tem algo esmagando o meu coração. Algo me sufocando, me... Matando.
Abaixei a cabeça e comecei a chorar.
- Qual o estado dela? – ouvi Harry perguntar e levantei o rosto.
- Bem... – o médico e os três se aproximaram da cama. – Além desses machucados externos... Ela bateu com a cabeça e... Teve traumatismo craniano. Ela... Está em coma.
Senti algo tampar minha garganta. Abaixei a cabeça e a bati no ferro lateral da cama. Senti a mão do Danny nas minhas costas. Coma? Não, não pode ser.
- Quanto tempo ela... Ela vai ficar assim? – consegui perguntar, após levantar o rosto.
Ele olhou para os garotos, como se perguntasse se podia falar. Eles, por sua vez, olharam para mim.
- Seja o que for, pode falar... Eu preciso saber.
O médico assentiu com a cabeça.
- Eu vou ser muito sincero... O traumatismo foi grave, foi preciso colocar esse dreno para retirar o sangue coagulado... Quando isso ocorre e a pessoas entra em coma, a atividade cerebral dela tende a diminuir e... Ela tende a... A não acordar mais.
Uma facada atravessou meu peito.
- Você quer dizer que... – ouvi Tom falar.
- Só um milagre pode salvá-la agora.
O mundo começou a girar em torno de mim e de repente ficou tudo escuro.
***
Um cheiro forte de álcool entrou pelo meu nariz. Abri os olhos lentamente e vi que estava sentado em uma poltrona. Ao meu lado estavam Danny, Tom e Harry. Vi o médico fechar um vidro.
- O que houve? – perguntei. Minha cabeça está latejando.
- Você desmaiou. – Tommy me informou.
Vi deitada na cama ao meu lado e lembrei-me de tudo. Meu coração está doendo, como se alguém batesse um prego nele. Então... Ele disse que só um milagre pode trazer minha pequena de volta para mim? Não pode ser... Deve haver algo que eu possa fazer... Tem de haver!
- Eu... Eu não posso fazer nada? – minha voz quase não saiu. Fui para a lateral da cama.
- Olha, rapaz... – o médico se aproximou e colocou a mão no meu ombro – eu sei que é difícil aceitar o que está acontecendo, e mais difícil ainda se sentir de mãos atadas, mas... A única coisa que você pode fazer pela sua namorada agora é cuidar de si mesmo e ficar ao lado dela.
Segurei a mão da , enquanto absorvia as palavras. Senti meus olhos encherem de lágrimas. Fiz um cafuné nela, meio receoso por causa do dreno.
- Eu vou ficar ao seu lado, esperando por um milagre. E nada vai me fazer perder a esperança. Nada. – sussurrei e beijei sua testa.
- Isso mesmo, dude. – Harry se aproximou e bateu em minhas costas.
- E nós estamos com você. – Tommy disse.
Apesar de eles tentarem me confortar, percebi a tristeza em seus olhos. Danny deve ter chorado, pois os seus estão vermelhos. Os três gostam muito da . E ela, deles. Eu sei que eles sentem falta dela, são muito amigos.
Ela não pode nos deixar assim... Não pode!
- Olha, eu tenho outros pacientes, tenho que ir. Qualquer coisa, me procurem. Meu nome é Philipe. – o médico disse, saindo.
- Obrigado. – eu disse. Ele assentiu com a cabeça e saiu.
Minha barriga roncou. Dude, não comi nada o dia inteiro!
- Dougie, é melhor você comer alguma coisa. – Danny deve ter escutado a manifestação do meu corpo. - Nós vamos contigo até a lanchonete do hospital.
- É. A gente come alguma coisa e depois pensa no que fazer, com calma, ok? – Harry.
Assenti com a cabeça. É difícil sair e deixá-la aqui, mas eu tenho que estar bem para cuidar dela.
Saímos do quarto e fomos em direção à lanchonete. Estão todos tão preocupados que nem nos notam. Ainda bem.
Pedimos no balcão e nos sentamos em uma mesa.
- E os pais dela? – Tommy perguntou.
- Estão vindo para cá. Mas o orgulho deles não vai me impedir de pagar o tratamento dela, no melhor hospital. Quero que receba toda a atenção, que tenha um quarto só para ela... O que não é possível aqui.
- Realmente. É um pronto-socorro e, com esse acidente, está uma confusão... – Danny.
Concordei com a cabeça.
- Vai ser delicado transferir ela nesse estado, mas... – Harry foi interrompido pelo barulho do meu celular tocando.
- Um segundo, Hazz. – eu disse e ele assentiu com a cabeça.
Peguei o telefone no bolso e olhei o visor: Dona Sam.
- Minha mãe. – sussurrei a eles.
- Será que ela sabe? – Tom indagou.
Dei de ombros.
- Alô. – atendi.
- Filho... Filho, é verdade? – a voz dela estava angustiada.
-... É mãe.
Ouvi minha irmã começar a chorar ao fundo.
- Jazzie, calma... – minha mãe sussurrou a ela, com a voz embargada. – Onde você está? – me perguntou.
- No pronto-socorro, com os garotos. Mas vou pedir a transferência dela para um hospital melhor.
- Como... Como ela está?
Respirei fundo.
- Nada... Nada bem. Ela teve traumatismo e... Está em coma...
- E... E o médico disse quanto tempo ela pode ficar assim? – minha mãe já chorava.
Tudo voltou à minha cabeça. O médico dizendo que... Não agüentei e comecei a chorar.
- Dougie? Dougie, o que foi? – ela se preocupou com o meu silêncio.
Não conseguia falar. O Harry pegou o celular da minha mão e se afastou, falando com a minha mãe por mim.
- Dougie... Dougie, calma! – Danny tentou me confortar, mas começou a chorar também.
- Ela vai sair dessa, dude! É só a gente acreditar! – Tommy, que tinha os olhos vermelhos.
- É difícil, Tom... É muito difícil vê-la daquele jeito, sabendo que a qualquer instante ela pode ir embora e... Eu não posso fazer nada! – as lágrimas escorriam dos meus olhos.
Tom me puxou para um abraço. Danny se juntou. Harry voltou e também participou.
- Valeu, dudes. Valeu pelo apoio! – foi a melhor coisa que eu consegui dizer.
- Ela também é nossa amiga! – Harry.
Assenti com a cabeça.
- Er... Com licença... – a garçonete se aproximou da mesa com os nossos pedidos.
- Ah... Obrigado... – disse, enquanto ela nos servia.
- Se quiserem mais alguma coisa... É só chamar. – ela disse, se afastando.
Nós assentimos. Dude, que fome!
- Você não deve ter comido nada hoje, não é, Doug? – Danny disse, enquanto nós nos ajeitávamos direito nas cadeiras.
- Nem tive tempo... Meu estômago está roncando. – nunca um sanduíche foi tão bom!
- Doug, eu estou aqui pensando... Como a tia Sam ficou sabendo que a estava no avião? Você não falou com ela! – Tom.
Está aí, boa pergunta. Eu não falei com mais ninguém... Olhei para o Harry, que deu de ombros. Acho que ele também não perguntou para ela.
-... E temos agora mais notícias. Está confirmado que a namorada de Dougie Poynter, o baixista da aclamada McFLY, é mesmo uma das vítimas do acidente de avião. Parece que ela está em coma e... – ouvimos isso vindo do rádio no balcão. Está explicado.
- Como... Como eles conseguem? – Harry nos perguntou, pasmo.
Dei de ombros. A coisa que menos me importa no momento é a mídia.
***
- Vocês cuidam do Zukie para mim? – perguntei aos garotos, quando chegamos em frente ao quarto.
- Claro, dude. Você vai ficar bem aqui sozinho? – Tom me perguntou, passando o braço em torno do meu ombro novamente. Como ele ama fazer isso!
- Vou, Tom. Pode deixar. Vocês ouviram a recepcionista, a só vai poder ser transferida amanhã cedo, então eu vou passar a noite aqui com ela. Apenas um acompanhante.
- Ah, você é acompanhante da , eu sou o seu, o Harry é o meu e o Tom é o do Harry! Viu? Um para cada um! – só o Danny mesmo.
- Cala a boca, Jones! – Harry deu um pedala nele e nós rimos. – Nós passamos na tua casa e cuidamos do Zukie, fica tranqüilo.
Assenti.
- Hey, e a reunião? – eu saí feito um louco.
- Relaxa, little. Esquece o resto agora, ok? – Fletcher bagunçou meu cabelo e apontou a porta do quarto. – Cuida dela.
- Vou fazer tudo o que eu puder. Eu sei que não é muito, mas...
- Shut up. Você vai estar com ela. E é só isso que ela precisa da sua parte agora. Certo? – Harry.
- E nós sabemos que o melhor remédio para a é você. – Danny.
E ela é minha vida. Minha pequena.
- Está bem, eu entendi o que vocês querem dizer... Agora vão, que vocês devem estar cansados e querendo dormir.
- Para falar a verdade, eu estou sim... – Tommy se espreguiçou.
- É por isso que eu vou dirigir. Come on. – Harry pegou a chave do bolso dele. – Fica bem, Doug.
- Vou ficar.
Ele assentiu e os três sumiram pelo corredor.
Vamos lá... Abri a porta do quarto e entrei. Tudo tão silencioso... O único som que escuto é o ‘bip, bip’ do aparelho que registra os batimentos da .
Acho que vou ter que me ajeitar nessa poltrona mesmo... Então vou deixá-la mais perto da cama. Até que ela é confortável.
É tão estranho. Apesar de o rosto dela estar machucado, ela estar desacordada... Minhas lembranças não lhe faziam justiça... A é mais linda do que eu me recordava e... Não sei se é impressão minha, mas parece que ela está sorrindo.
Essa sempre foi uma característica dela... O mundo podia estar acabando, mas você sempre encontrava um vestígio de sorriso em seu rosto. A ama a vida. E é por isso que a dela não vai acabar assim... Nós planejamos tanta coisa... Um futuro juntos. E se não acontecer para ela, acho que para mim também não vai.
Agora, segurando a mão dela e a vendo desse jeito... Me lembro da última tarde em que estávamos juntos, na sua última viagem para cá.
Flashback
dobrava suas roupas e as ajeitava na mala. Quando se virou para pegar mais algumas peças no guarda-roupa, viu Dougie, apenas de toalha, encostado no portal do quarto.
- Oi, meu amor. – ela disse, indo até ele e lhe dando um selinho. – Desde quando você está aí?
- Algum tempo... – ele brincou com o cabelo dela e olhou, por sobre o ombro da garota, a mala em cima da cama. – Você tem mesmo que ir?
- Dougie, a gente já conversou sobre isso! – ela fez menção de se afastar, mas ele a segurou pela cintura.
- Ok, desculpe. Não quero discutir. São nossas últimas horas juntos e quero aproveitar de um jeito bem melhor... – ele lançou um olhar malicioso à namorada e beijou seu pescoço.
- Do... Dougie, eu tenho que arrumar minhas malas... – ela disse, derretida pela carícia.
- Vai me dizer que não quer? – o garoto continuou a beijando, agora subindo para a orelha da garota e mordendo-lhe o lóbulo.
- Eu quero, mas... – ela perdia as palavras quando ele fazia isso.
- Mas...? – ele começou a levantar a blusa dela, quando voltou ao mundo e o afastou.
- Mas eu tenho muita coisa para arrumar e sua mãe e sua irmã estão em casa! – ela se soltou dele e voltou para o guarda-roupa.
- Como se elas não estivessem em outras vezes... – ele se jogou na própria cama e deitou se apoiando nos cotovelos.
- Dougie! Você n... – ela se virou para repreender o namorado, mas quando o viu deitado daquele jeito, de toalha, ficou paralisada observando-o.
O garoto percebeu e começou a passar a mão pelo tórax desnudo, provocando ainda mais a menina.
Ela mordeu o lábio. Ele a chamou com o dedo indicador. negou com a cabeça e se voltou novamente para as roupas, fazendo Dougie rir.
- Tudo bem. Vamos ver até quando você vai resistir... – ele disse, indo fuçar na mala sobre a cama.
- Você se julga irresistível, não é, Poynter? – ela brincou, sorrindo sem olhá-lo.
- Digamos que eu sei o efeito que tenho sobre você... E o efeito que você tem sobre mim... Só isso. – Dougie disse, enquanto vasculhava as coisas da menina e, conseqüentemente, bagunçava tudo.
- Certo. Nisso eu vou ter que concordar com... – se virou e viu que ele desarrumara a mala que ela passara horas organizando. – Dougie Lee Poynter! Você bagunçou tudo! – ela quase berrou.
Poynter olhou para a bagunça que havia feito e em seguida sorriu maroto para a garota enfurecida em sua frente, dizendo:
- Quem sabe assim você não dá mais atenção para mim do que para sua mala?
A resposta dele foi um travesseiro que o acertou em cheio, fazendo com que caísse para trás. começou a rir horrores da cena e da cara de Dougie, involuntariamente fechando os olhos, quando sentiu algo a acertando. Levantou suas pálpebras e percebeu que o garoto arremessara outro travesseiro nela em resposta.
Olhou-o, indignada.
- Você que provocou, pequena. – ele deu de ombros.
- Ah, é? – ela se aproximou bem dele, que ficara ajoelhado na cama para acertá-la com o travesseiro.
- É... – os pêlos da nuca dele se arrepiaram pela proximidade da garota.
- Então vou provocar mais... – ela se aproximou da boca dele, fazendo com que o garoto fechasse os olhos.
Mas ao invés der sentir os lábios da namorada, o que sentiu foi um travesseiro batendo em seu rosto. Abriu os olhos e viu uma com um sorriso sapeca e a ‘arma do crime’ em mãos.
- Ops! – ela brincou.
- Você definitivamente mexeu com a pessoa errada! – ele pegou um travesseiro e se levantou, dando início a uma guerra.
Eles riam, enquanto se batiam com os travesseiros e trocavam ‘ameaças’ do tipo “Eu vou acabar com você”, “Você vai sentir o peso do meu travesseiro” e diversas outras.
acertou Dougie em cheio, que revidou, mas a menina abaixou bem na hora, o fazendo acertar Jazzie, que acabara de entrar no quarto. rolou no chão de tanto rir. Dougie ficou imóvel, com o travesseiro na mão, assim como a irmã.
- Bem... Eu subi para ver o que está acontecendo e... Acho que descobri. – ela disse, sorrindo ao ver os dois felizes. Sempre incentivou a relação e sabia como ficavam mal quando tinham de se separar.
- Desculpa, Jazz. A intenção era acertar a mocinha aqui... – ele olhou ‘bravo’ para , que estava sentada no chão e rindo um pouco menos. – Mas não posso negar que a sua cara foi engraçada.
- Ah, é? Você vai ver o que é engraçado agora! – Jazzie tomou o travesseiro do irmão e começou a bater nele.
se levantou e começou a ajudar a cunhada. Dougie não tinha como se defender das duas ao mesmo tempo, então gritou:
- Eu me rendo! Eu me rendo!
- Se rende? – as duas perguntaram ao mesmo tempo, parando o ‘bombardeio’.
- Sim. Dois contra um não dá! – ele disse, se recompondo.
- Ótimo. Vencemos, linda! – Jazzie disse, arremessando o travesseiro no irmão e erguendo a mão no ar.
- Vencemos, flor! – bateu na mão dela.
- Jazzie, some do meu quarto, ok? Eu ia vencer a se você não tivesse aparecido! – Dougie disse, fingindo estar bravo e se jogando na cama.
- Não ia não! – Claudia o olhou, provocativa.
- Bem, o que importa é que você não é páreo para nós, certo, ? – Jazzie fez uma pose estilo ‘Panteras’.
- Certo, Jazz. – a imitou.
Dougie riu e sussurrou:
- Eu mereço...
- Agora eu e a mamãe vamos sair e a casa vai ficar vazia... Se é que me entendem. – a garota piscou para o casal, fazendo corar e Dougie rir.
- Você não tem mais desculpa agora, pequena... – o garoto brincou.
- Dougie! – ela deu um tapa no namorado.
- Relaxa, . Eu sei que meu irmão é um pedaço de mau-caminho... – Jazzie brincou, lançando um olhar malicioso ao garoto apenas de toalha na cama.
Ele olhou para si mesmo e riu, lançando um olhar de “É, eu sei” para a irmã.
- Ok. Estou indo. – ela disse, rindo e começando a sair.
- Jazz! – disse e ela pôs a cabeça para dentro do quarto. – Obrigada por ter sido atingida no meu lugar...
- Às ordens, Darling!
Os três riram e Jazzie saiu, fechando a porta.
se virou para Dougie, encostada à porta. O chamou com o dedo. Ele negou e indicou o lugar vago ao seu lado na cama. Ela riu e negou também, voltando para o guarda-roupa. Ambos adoravam aquele ‘jogo’.
- Ok. – Dougie disse e se deitou de bruços, fechando os olhos.
Alguns segundos depois, sentiu um peso sobre seu corpo e suas costas sendo beijadas. Sorriu ainda sem abrir os olhos.
- Admite, eu te venci. – disse, aproveitando as carícias da namorada.
- E eu te venci. – ela respondeu, mordendo a orelha dele.
O garoto não agüentou mais não tocá-la e se virou, ficando de frente e logo depois por cima dela.
- Um a um. – ele disse, as mãos procurando a barra da blusa da menina, enquanto beijava sua boca.
- Um a um. – repetiu, após o beijo. Sua boca logo desceu para a tatuagem dele, pela qual ela tinha uma tara enorme, enquanto suas mãos mal-intencionadas encontraram a toalha de Dougie.
Fim do Flashback
Aquela foi a última vez em que a tive em meus braços. Completamente entregue a mim e eu a ela. Só com a eu me sinto de um jeito que... Não dá para explicar. É, eu tenho que concordar com o Dan... Fico bobo quando o assunto é essa pequena. Ela me deixa assim.
Mas não foi só pelo que rolou pela última vez naquela tarde que me recordo dela... Aquilo que a fez foi tão estranho... Parece até que ela...
Flashback
tinha a cabeça no peito de Dougie, que brincava com o cabelo dela. Ambos estavam de olhos fechados, querendo guardar cada detalhe daqueles momentos para lhe darem forças durante os tempos de distância.
De repente, a garota se deitou sobre Poynter, fazendo o garoto abrir os olhos e lhe lançar sorriso e olhar malicioso.
- Você não cansa não? – brincou.
A menina sorriu. Sentiria falta das besteiras do namorado. Começou a passar a mão entre os cabelos dele, enquanto encarava aqueles olhos azuis hipnotizantes a sua frente.
Deu-lhe um selinho prolongado e logo depois começou a cantar, surpreendendo-o:
- When my time come forget the wrong that I’ve done
(Quando minha hora chegar esqueça os erros que cometi)
Help me leave behind some reasons to be missed
(Ajude-me a deixar para trás algumas razões que deixem saudades)
Don’t resent me, when you’re feeling empty
(Não fique ressentido comigo, quando se sentir vazio)
Keep me in your memory, leave out all the rest
(Guarde-me em sua memória, deixe de fora todo o resto)
Leave out all the rest
(Deixe de fora todo o resto)
Uma lágrima escorreu dos olhos de ambos.
- Por que... – ele começou a perguntar, mas ela colocou o indicador sobre os seus lábios.
- Um sonho... Que eu tive noite passada. Promete que vai ser forte quando... ‘Ela’ chegar?
- , eu não posso... – outra lágrima.
- Eu preciso que você prometa... Por favor, promete. – ela disse o encarando, olhos marejados.
- Eu... Eu prometo.
Eles se beijaram. Beijo salgado graças às lágrimas de ambos.
Fim do Flashback
Será que... Será que chegou?
Será que eu estou faltando com a minha palavra, pequena?
Não, não pode ser... Não assim.
Fim da parte que havia sido retirada.
***
Ela está tão linda... Toda de branco, parece um anjo. Mas, está chorando... Por que você está chorando, minha pequena?
Eu tento chegar até ela, e ela até mim. Porém, algo a impede, a arrasta para longe. Alguns centímetros mais e nossas mãos se tocam... Algo a puxa de vez. Algo a leva de mim e eu sinto que não a terei... Nunca mais.
- NÃO!
Gritei, olhando para os lados. Vi minha mão segurando a de , desacordada ao meu lado.
Foi tudo um sonho. Ou melhor, um pesadelo. Ela ainda está aqui.
Me levantei da poltrona e, ainda segurando a mão dela, brinquei com seu cabelo e lhe dei um beijo na testa.
- Bom dia, pequena. – sussurrei.
Algo vibrou em meu bolso. Peguei meu celular e olhei no visor: Casa. Ué!
- Alô? – atendi.
- Hey, Dougie. – reconheci a voz de Danny ao telefone.
- Fala Dan.
- E aí, dormiu bem?
- Você acha mesmo que é possível dormir bem em um hospital? – respondi, me lembrando de meu pesadelo.
- É... Realmente. Mas e aí? Como ela está?
- Ah, dude... – acariciei seu rosto desacordado. – Na mesma...
- Hum... Olha, eu te liguei para... – ele respirou fundo. Está nervoso. Deus, o que será dessa vez?
- Para...? – o encorajei.
- Bem... Ontem nós passamos aqui, e, tipo... O... O Zukie, sabe? Ele estava... Sei lá, verde.
Eu não consegui não rir.
- Dan, caso você nunca tenha reparado... O Zukie É verde.
- Mas não era o verde habitual dele, dude. Era um verde pálido, estranho... E ele estava meio... Down. Quieto, entende? Nós brincamos com ele e ele não retornou, como costuma fazer...
- Espera aí! - eu interrompi, quase apavorado. – Você quer dizer que...
- Eu acho que o Zukie está doente, baby. Eu não sei, ele nem tocou na comida que colocamos ontem. E agora ele está deitado, imóvel.
Ótimo. Per-fei-to. Como se já não bastasse minha namorada estar em coma, agora o meu lagarto, meu... ‘Filho’ está doente! Que desgraça mais pode acontecer? Acho que alguém lá em cima não vai com a minha cara, só pode!
- Dan, valeu por terem cuidado dele... Olha... Acho que a vai ser transferida logo, e os pais dela devem estar para chegar, então... Quando eu tiver certeza de que ela vai estar em boas mãos, eu vou dar uma escapa para ir cuidar do Zukie.
- Ok, dude. Você sabe que pode contar com a gente.
- Eu sei. Thank you, Love.
- Imagina. Bye.
- Bye. – desligamos.
- , será que você pode me ouvir? – comecei a falar em voz alta, lhe fazendo um cafuné. - Eu não sei se pode, mas... Em todo o caso... Sabe, o Zukie? Sim, o nosso filho? Ele... Ele não está muito legal. E... Eu não sei mais o que fazer... Parece que eu estou correndo o risco de perder duas das coisas que eu mais amo na vida! – ah, lágrimas teimosas!
- Isso é bom para ela. – reconheci uma voz masculina e olhei para a porta. Dr. Philipe. – Alguns médicos, e eu sou um deles, acreditam que as pessoas em coma têm consciência do que acontece à sua volta. E se ela souber que você está por perto, isso pode ajudar.
Assenti com a cabeça e ele se aproximou de mim.
- Sabe... Eu conversei com meu colega, o que encaminhou sua namorada ao hospital. Ele me disse que, segundo o bombeiro que a salvou, quando a retiraram... Ela sussurrava fracamente... – ele respirou fundo e olhou para mim.
- O que... O que ela dizia? – perguntei. Estou com medo da resposta.
- Ela dizia... “Meu filho... Salvem meu filho.”
Espere aí! Isso não faz sentido! A menos que...
- A... A ESTAVA GRÁVIDA? – eu o fitei, atônito, enquanto ele abaixou a cabeça.
- Quando a atendemos, ele já estava morto. Como você não perguntou, concluí que não sabia...
Meus olhos não param de despejar lágrimas. Demorou algum tempo para conseguir falar novamente.
- Ela... Estava de quantos meses? – perguntei, enfim.
- Quatro, mais ou menos.
Exatamente o tempo que faz que a esteve aqui. Não que eu não tenha certeza que o filho era meu, confio nela até mais do que em mim mesmo.
- Nós – o médico recomeçou, pegando algo no bolso do seu casaco – achamos isso no bolso do moletom que ela usava.
Ele me entregou dois sapatinhos de bebê, em que se dividia a palavra ‘PAPAI’. Uma faca foi cravada em meu peito.
- Eu... Sinto muito. – Philipe colocou a mão em meu ombro.
- Obrigado. – o que eu ia dizer?
Calcei os sapatinhos em meus dedos e os balancei. Um filho. Eu ia ter um filho com a . Tudo o que eu sempre quis na vida... E estive tão perto de ter... Tão perto.
Alguém bateu uma vez na porta e a abriu. Nos voltamos para lá. Uma enfermeira.
- Tudo pronto para a transferência. – ela disse e saiu, depois de o doutor assentir.
- Olha, vá a lanchonete, coma alguma coisa. Pode deixar que eu cuido de tudo.
- Eu nem sei como agradecer por tudo o que o senhor está fazendo por mim e pela , doutor.
- Imagina. Nada do que fiz é mais do que minha obrigação. E minha maior recompensa virá se tudo der certo no final. – ele me deu um tapinha nas costas. Assenti. – Agora vai lá.
Dei um beijo na testa da e saí do quarto. Os sapatinhos ainda em meus dedos. Senti meu celular vibrar e olhei no visor o número do aparelho da Jazzie.
- Hey. – atendi.
- Oi maninho. Como estão as coisas por aí?
- Estão arrumando ela para a transferência.
- Ah. Ótimo. Os pais dela chegaram e foram lá para casa. Agora estão indo comigo e com a mamãe para o hospital, esperar por vocês.
- E como eles estão?
- O tio não fala, só responde quando falamos com ele. A tia só chora. A mamãe também está mal, mas está tentando acalmá-los.
- E você, gatinha? – a voz dela está embargada. É uma barra para todos nós, e para Jazzie não é nada diferente. Além de ela ser muito sensível, a é sua melhor amiga.
- Ah. Na medida do possível...
- Jazz... Você sabia da...? – como eu disse, elas são melhores amigas.
- Depois a gente fala disso, ok?
-... Ok.
- Até daqui a pouco, gatinho.
- Até. – desliguei.
Ela sabia. Todos deviam saber, menos eu. Por quê? POR QUÊ?
***
Passei todo o percurso Pronto-Socorro/Hospital imaginando como seria receber a notícia da gravidez da de outra maneira.
Quando a ambulância parou, alguns enfermeiros tiraram a maca e eu os segui, um pouco mais atrás, enquanto eles a encaminhavam para dentro e eu observava as coisas da , que eles salvaram com ela, e me entregaram no Pronto-Socorro.
Suas roupas, entre elas uma blusa da Hurley minha que ela roubou há um tempo, e sua aliança de compromisso.
Brincava com a dela e com a minha, quando percebi que já estava na recepção do hospital. Olhei para o sofá e vi meus sogros, minha mãe e minha irmã lá.
A primeira que me abraçou foi a mãe da .
- Ah, querido. Por quê? Por quê? – ela sussurrou.
- Eu também queria saber... – segurei as lágrimas.
Ela se afastou e acariciou meu rosto.
O Sr. apenas bateu em minhas costas e se afastou.
Minha mãe me abraçou tão forte, que quase não consigo respirar.
- Eu conversei com o Dr. Sulivan, ele disse que vai cuidar dela. – ela me disse, ainda me apertando, e eu assenti.
Dr. Sulivan. O médico que sempre cuida das pessoas da minha família. Sinceramente, não vou muito com a cara dele, não sei por quê.
- Você está se cuidando?
- Estou, mãe. Estou. – respondi e ela assentiu, me soltando.
Jazzie se aproximou e segurou minha mão.
- A gente precisa conversar. – disse e me puxou em direção à lanchonete.
Me virei e olhei para os outros. Minha mãe assentiu e eu segui minha irmã.
Ela se sentou em uma das mesas e me indicou a cadeira ao seu lado. Sentei.
- Sabe... – Jazzie começou, prestando atenção em um guardanapo com o qual brincava. – Ela estava tão feliz. Faz mais ou menos um mês que a me ligou, toda animada... Me lembro como se fosse ontem...
Flashback
- Hello!
- Jazz?
- Acho que sim... Quem fala?
- Já esqueceu minha voz, vadia?
- ! É você, baranga?
- Em carne e osso, amor.
- O Dougie não está por aqui, não... – Jazzie brincou, se jogando no sofá.
- Ah, sua boba. Eu liguei para falar contigo mesmo.
- Até que enfim você se lembrou da sua melhor amiga.
- Eu nunca me esqueço de você, ok?
- Sei, sei. Só lembra mais do seu namorado...
- Á propósito, é sobre ele mesmo que quero falar...
- Está vendo?
riu do outro lado da linha.
- Estou brincando, baranga. Pode falar.
- Então... Lembra que eu te falei que estava sentindo uns enjôos, umas tonturas...?
- Lembro. E eu prometi que não contaria para o Doug, desde que você prometesse que ia ao médico.
- E eu cumpri minha parte do trato. Fiz alguns exames e estou com os resultados em mãos.
- E então? O que deu?
- Bem... Eu acho que... Eu acho que você vai ser titia, vadia.
- Calma, espera aí. Você quer dizer que...
- Estou grávida.
- Ah! – Jazzie começou a gritar e a pular no sofá, fazendo rir. – Meu irmão vai surtar quando souber disso!
- É, eu sei. E é por isso que eu quero contar pessoalmente. Quero ver a cara dele.
- Ok. Ok. Não vou contar nada. Você vem quando?
- Vou adiantar minhas férias para o começo do mês que vem...
- Você já sabe o sexo?
- Jazz, paixão. O bebê tem por volta de 3 meses, não dá para saber ainda!
- Ah, boba. Mas e seus pais? O que falaram?
- Minha mãe está comemorando até agora. E meu pai... Já começou a planejar o time para o qual a criança vai torcer, a escola em que vai estudar...
- Mas você sabe que ele e o Doug vão ter problemas em relação a isso, não sabe?
- Espero que eles, ao menos, esperem o nascimento do bebê.
Jazzie riu.
Fim do Flashback
- E foi isso... – ela terminou.
Abaixei a cabeça, enquanto Jazz me fazia um cafuné.
- Eu sempre quis um filho dela...
- Calma, gatinho. – ela me puxou para um abraço. – A vai se recuperar e vocês vão fabricar vários sobrinhos para mim.
Dei um pequeno sorriso. Ela me soltou e lhe dei um beijo na testa.
- Agora vamos, gatinha. Tenho que ter certeza de que está tudo certo por aqui, para ir ver o que está acontecendo com o Zukie...
- O que tem ele?
- Ah, os garotos foram dar uma olhada nele ontem e disseram que... Ele está diferente. Acho que o Zukie está doente, maninha... – disse, enquanto nós nos levantávamos.
- Pode deixar que eu cuido da nossa pequena. – a Jazzie brincou, me abraçando de lado.
- Eu sei que sim. – sorri e lhe fiz um cafuné.
***
A Jazzie me conduziu até o quarto da . Entramos e percebi que ela não está aqui. Estão apenas meus sogros, arrumando algumas flores em volta da cama.
- Cadê a ? – eu e Jazzie perguntamos ao mesmo tempo.
- Eles a levaram para analisar melhor o estado dela. – o Sr. respondeu.
Assenti.
- E a mamãe? – Jazz adivinhou minha próxima pergunta.
- O tal Dr. Sulivan pediu para conversar com ela na sala dele. – dessa vez foi minha sogra que respondeu.
- Eu vou até lá, quero ver o que ele tem a dizer... – disse, saindo. Ah! – Jazzie? – voltei.
- Sim. – ela me olhou.
- Liga para os dudes para mim e avisa que a está aqui no hospital, por favor? – eles devem estar resolvendo assuntos da banda, mas, mesmo assim, acho que gostariam de saber.
- Deixa comigo. – bateu continência, sorrindo.
Mandei-lhe um beijo de agradecimento, sorrindo, e comecei a andar pelo corredor, em direção à sala.
Ela queria me contar pessoalmente, dude... E eu ia aproveitar para fazer meu pedido... Ia ser perfeito! Tudo o que eu sempre quis... E eu sei que ela também. Maldito avião! Maldito acidente! Maldito destino! Maldi...
- Olha, Sam, vou ser franco... – interrompi minhas maldições ao reconhecer a voz do Dr. Sulivan vindo de uma sala entreaberta. Me aproximei da porta para escutar a conversa. Não gostei do tom dele. – Eu estava examinando o estado da sua nora.
- E então? O que você acha? – minha mãe perguntou, se sentando.
- Bem... O trauma na cabeça, apesar de já termos retirado o dreno, foi muito grave. E o fato de ela ter perdido um bebê, também a deixou mais frágil. Não sei se você já ouviu falar sobre isso, mas quando a pessoa entra em coma após um traumatismo, principalmente da maneira que ocorreu com sua nora, a atividade cerebral dela tende a diminuir lentamente e... Ela tende a não despertar mais.
Minha mãe começou a chorar. As mesmas palavras do Dr. Philipe, mas um pouco distorcidas. Mesmo assim, não deixando de machucar.
- Ouvi, ouvi sim. Disseram isso ao meu filho no Pronto-Socorro. – ela respondeu e ele assentiu com a cabeça.
- Eu acho que, diante disso, e do fato de que o tratamento dela custará uma fortuna, você e o Dougie têm de avaliar se vale mesmo à pena continuar com isso, ou – ele não está falando isso, ele não está falando isso! – é melhor acabar logo, antes que vocês sofram mais. – ELE NÃO FALOU ISSO!
- EU ENTENDI BEM? – entrei de supetão na sala e os dois me olharam assustados. – Você está sugerindo que mandemos desligar os aparelhos que mantêm a viva?
- Sim. Estou. Acho que seria o melhor para todos! – está explicado o motivo de eu não ir com a cara dele agora?
- Você não tem que achar nada! – me aproximei, o encarando. – Não me importa o quanto vai custar, o tempo que vai levar! Enquanto houver esperança, eu vou me agarrar à ela para ter minha namorada de volta! O que está em questão não é apertar alguns botões, mas a vida dela! E a minha também!
- Você tem que pensar com a cabeça agora, garoto, e não com o coração. – ele me fitou. Argh! Que vontade de socar esse homem!
- Me desculpe, mas quando o assunto é a , eu só penso com o coração! – disse, indo em direção à porta. – Ela vai receber o melhor tratamento possível. E se não for aqui, acharei outro lugar! – saí, batendo a porta.
Quem esse cara pensa que é? O que ele pode falar sobre coração? Ele nem deve ter um! Belo médico!
A raiva é tão grande, que senti lágrimas escorrerem pelo meu rosto.
- Ai! – trombei com alguém e levantei o rosto. Jazzie. – O que foi, gatinho? Por que você está chorando? – ela me abraçou.
Expliquei à ela a história. Senti uma lágrima dela pingar em meu ombro.
- Você não vai fazer isso, vai? – ela olhou nos meus olhos, suplicante.
- É óbvio que não, Jazzie! Que pergunta! – revirei os olhos. Como ela pode pensar isso? – Se for preciso, mudamos a de hospital.
Jazz assentiu e enxugou as lágrimas. Segurou minha mão.
- Vem. Ela já está no quarto. – assenti e ela me puxou. – Ah, liguei para os garotos e eles disseram que, assim que tiverem um tempinho, dão uma passada aqui.
- Devem estar resolvendo assuntos da banda.
Ela concordou com a cabeça.
Entramos no quarto. A Sra. está fazendo um cafuné na filha e meu sogro está fitando a janela, calado.
- Gatinho, vai para casa, toma um banho e vê o que o Zukie tem. Nós cuidamos dela. – Jazzie sussurrou para mim.
- Eu não sei se é seguro, depois do que aquele louco disse. – mantive a conversa no mesmo nível.
- Ela está em boas mãos. – ela indicou os pais da com a cabeça.
- Tudo bem. Mas não os deixe falar com o Dr. Sulivan, a idéia dele não pode nem passar por suas cabeças.
Ela assentiu.
- Eu tenho um problema para resolver, urgente. – aumentei a voz e eles olharam para mim. – Vou estar com o celular, me liguem se precisarem de mim ou se algo acontecer.
- Vai tranqüilo, querido. – nem preciso dizer quem foi, não é?
Assenti, dei um beijo na testa da . É bem melhor sem aquele dreno. Saí.
No corredor, cruzei com minha mãe. Ela olhou para mim e acenou com a cabeça. Dei um meio sorriso e um tchau com a mão, seguindo em direção à saída do hospital.
Chegando à saída do hospital, percebi um aglomerado de garotas, atrás de uma corrente de seguranças. Hã?
- Hey, senhor. – olhei para a porta e vi que um segurança me chamava.
- Sim?
- Essas garotas chegaram aqui, dizendo que não queriam confusão. Queriam apenas falar com o senhor. Dissemos que tudo bem, se elas aceitassem que fosse feita uma barreira.
Será que é o que eu estou pensando?
- Obrigado. – disse, indo em direção às garotas e percebendo que algumas estão com cartazes, em que se pode ler: “Dougie, estamos com você!”; “Força”; “Vai dar tudo certo!”. Meus olhos se encheram de lágrimas.
- Dougie! – uma garota, que parecia ser a porta-voz do grupo, me chamou e eu me aproximei delas. – A gente soube do que aconteceu e viemos aqui para te mostrar que você não está sozinho, que seus fãs te amam e que estamos todos torcendo para a sair dessa!
- Life is getting harder day by day and I don't know what to do, what to say, yeah. And my mind is growing weak every step I take. So uncontrolable now they think I'm fake, yeah. – elas começaram a cantar ‘Not Alone’ em coro e eu simplesmente não me conti.
As lágrimas caíram. Saber que existem pessoas que te amam, que trocem por você e pela sua felicidade, é uma sensação inexplicável. Realmente, eu tenho o melhor trabalho do mundo.
- Bem... Eu não tenho palavras... – comecei e elas se calaram para me ouvir. – Vocês nem imaginam o que isso representa para mim. Muito, muito obrigado. Eu acho que nada que eu fizer, vai ser o suficiente para agradecer, mas... Eu amo vocês. – consegui dizer, apesar de estar chorando. Algumas delas também choravam.
- 'Cause I'm not alone, no no no... But I'm not alone, no no no… Not alone. – voltaram a cantar e eu sussurrava a letra com um fraco sorriso no canto dos lábios.
- Repórteres! – uma delas interrompeu, apontando na direção em que um mutirão armado de câmeras e gravadores se aproximava.
Lancei um beijo para elas com a mão e corri para um táxi. Falei o endereço e fechei os olhos, encostando a cabeça no banco.
Nota mental: McFLY tem os melhores fãs do mundo. [n/a: modéstia à parte, né amores HUASHAUSHAUSH]
***
Eu, definitivamente, não estou entendendo mais droga nenhuma!
Vou explicar. Cheguei em casa e quase não acreditei quando vi o Zukie. Não era o meu Zukie, sabe? Estava sem vida, comida intacta, pálido... Mais do que depressa, o levei ao veterinário. Depois de examiná-lo, o doutor me disse que o Zukie não tem nada! Agora, me diz... Ele está assim gratuitamente? O veterinário me disse para acrescentar algo na comida, para estimular o apetite, e nada mais.
Quando cheguei em casa, resolvi levar o Zukie para ficar na minha mãe. Afinal, comigo ‘morando’ no hospital agora, ele vai ser mais bem cuidado lá. Liguei para minha mãe e ela disse que cuida dele para mim, quando voltar para casa.
Deixei-o lá e agora estou no hospital, a caminho do quarto da . Apesar dessa confusão toda, consegui ter uma idéia.
- Olá. – disse, batendo na porta e entrando.
- Hey... – Jazzie, a única no quarto, se virou para mim e focalizou o que eu trazia em mãos. – Não acredito! – disse, sorrindo. – Vai fazer muito bem para ela! – fez um cafuné na .
- Espero que sim. – me aproximei e beijei a testa das duas. – E os outros?
- Mamãe falou que ia deixar os pais da no hotel deles, depois ia para casa. Precisavam descansar.
Assenti.
- Você também precisa. – disse lhe fazendo um cafuné. – Eu fico com ela agora.
- Eu vou. Ah, os garotos estiveram aí, logo depois que as meninas da manifestação foram embora. – ela sorriu.
- Você viu? – perguntei, sorrindo tímido.
Ela confirmou com a cabeça.
- Os garotos disseram para você não se preocupar, que eles cuidam de tudo por agora e que a McFLY está de ‘férias’. – sorri e ela também. – Eles queriam ficar para te esperar, mas não puderam.
- Eu entendo... – ela levantou e me deu um beijo na testa.
- Eu vou descansar um pouco, está bem? – assenti. – Fica bem.
- Vamos ficar, gatinha. – apontei para mim, para e para o violão em minhas mãos.
Ela sorriu. Deu um beijo na testa da e saiu.
Me aproximei mais da cama e fiz um cafuné nela.
- Eu espero que essa música te faça bem... Afinal, é nossa música, não é? – sussurrei em seu ouvido.
Apesar de não ter participado efetivamente da composição dessa música, logo que Danny e Tom me mostraram eu vi que eles tinham conseguido passar uma pequena parcela dos meus sentimentos para o papel. Eu não fiz, mas é o máximo da representação que as palavras podem dar do meu amor pela . Talvez eles tenham lido meu coração.
Comecei a dedilhar.
- The world would be a lonely place O mundo seria um lugar solitário Without the one that puts a smile on your face Sem aquela que põe um sorriso no seu rosto So hold me ‘til the sun burns out Então me abrace até o sol se apagar I won't be lonely when I'm down Eu não estarei solitário quando estiver para baixo
‘Cause I've got you to make me feel stronger Porque eu tenho você para me fazer me sentir mais forte When the days are rough and an hour feels much longer Quando os dias são duros e uma hora parece muito mais longa I never doubted you at all Eu nunca duvidei de você de forma alguma The stars collide, will you stand by and watch them fall? [by and watch them fall] As estrelas colidem, você esperará para vê-las cair? So hold me ‘til the sky is clear Então, abrace-me até o céu ficar limpo And whisper words of love right into my ear E sussurre palavras de amor bem no meu ouvido
‘Cause I've got you to make me feel stronger Porque eu tenho você para me fazer me sentir mais forte When the days are rough and an hour seems much longer Quando os dias são duros e uma hora parece muito mais longa Yeah when I got you Sim, quando eu tenho você Oh! to make me feel better Para me fazer me sentir melhor When the nights are long they'll be easier together Quando as noites são longas, elas serão mais fáceis juntos
Looking in your eyes Olhando em seus olhos Hoping they won't cry Esperando que eles não chorem And even if you do E mesmo se você chorar I'll be in bed so close to you Eu vou estar na cama tão perto de você Hold you through the night Para te abraçar pela noite And you'll be unaware E você vai estar inconsciente But if you need me I'll be there Mas se precisar de mim, eu estarei lá
Yeah I got you Eu tenho você Oh to make me feel stronger Para me fazer me sentir mais forte When the days are rough and an hour seems much longer Quando os dias são duros e uma hora parece muito mais longa Yeah when I got you to make me feel better E eu tenho você Para me fazer me sentir melhor When the nights are long they'll be easier together Quando as noites são longas elas serão mais fáceis juntos Oh when I got you Quando eu tenho você
Não aguentei e comecei a chorar. Segurei a mão da , alisando-a levemente.
- É tudo tão difícil, tão sem graça e tão sem sentido sem você comigo... Não é muito animador abrir meus olhos, sabendo que não encontrei o brilho dos seus e nem a paz do seu sorriso. Meu coração não tem muita força para bater agora que não tem o seu batendo em compasso a ele. Respirar se tornou tão banal sem poder misturar minha respiração à sua... E cada promessa de que isso duraria para sempre? Não podem ser quebradas, você não quebra promessas. Não me quebre juntamente com elas... Volta para mim, meu anjo. Eu preciso estar ao seu lado para com continuar a viver... Senão acho que não terei mais porque fazê-lo. – sussurrei com a voz embargada.
Notei um movimento na mão que eu segurava e... Quando olhei, estava movimentando seu dedo. Um sorriso se misturou as minhas lágrimas. Isso é um ótimo sinal! Eu sabia que você não iria faltar com a sua palavra, meu anjo... Eu sabia.
***
A vida é uma coisa extremamente irônica. Enquanto a felicidade me invade por conta da contínua melhora de depois de eu ter cantado para ela, a tristeza disputa espaço quando vejo Zukie pior a cada dia. E o veterinário continua dizendo que ele não tem nada! É tão ruim o medo da perda...
É estranho... Parece que à medida que o Zukie piora, a melhora.
Consegui comer algo, apesar de não ter tido a mínima fome ultimamente. Minha mãe me liga a cada cinco minutos me mandando comer, mas eu sei que é para o meu bem. A ansiedade que me dá de não estar perto da me fez terminar com meu lanche rapidamente para poder voltar ao quarto.
- Eu não entendo... – ouvi o Dr. Richard, sim, eu não quis mais que o Dr. Sulivan cuidasse da , dizer de dentro do quarto e me encostei à porta para ouvir. Ele conversava com meus sogros.
- O que houve, doutor? – uma voz feminina perguntou.
- A estava melhorando lentamente, já podíamos voltar a ter esperanças de que ela se recuperasse, mas...
- Mas...? – meu sogro interrompeu, aflito.
- Ela teve um ‘recaída’. Piorou repentinamente, sem uma justificativa aparente! Eu temo que o estado dela esteja pior do que antes! Isso não faz sentido! – a mínima felicidade que existia em mim pareceu evaporar... Não pode ser! Ela estava melhor! O Dr. Richard chegou a dizer que ela podia despertar a qualquer momento! E agora isso?
Entrei no quarto em um impulso, vendo minha sogra abraçada ao marido, chorando.
Todos se voltaram pra mim.
- Eu... Sinto muito... – o médico disse. Bateu em minhas costas e saiu.
A angústia congestionou minha garganta, me impedindo de falar qualquer coisa. Por que a vida é tão maléfica comigo? Me dá esperanças e depois as arranca sem piedade de mim? Que raios eu fiz para merecer isso? Será que é pedir muito apenas ter a de volta ao meu lado? Está parecendo que sim!
Mas não, eu não posso fraquejar. Eu a terei de volta, de qualquer jeito.
Me aproximei da cama e segurei a mão de , acariciando seu rosto e vendo uma lágrima minha reluzir nele. Eu não estou mais conseguindo sem você, pequena.
O silêncio agonizante que havia se instalado no quarto foi quebrado pelo barulho do meu celular.
- Alô? – atendi sem olhar quem era.
- Filho? – minha mãe estava chorando.
- Mãe? O que houve? – perguntei, preocupado. Será que ela sabe que a piorou? Não há como!
- Filho, você pode vir aqui agora?
- Mãe... A... A piorou e eu não quero sair de perto dela...
- Ah, não! Ela piorou? Meu Deus, tudo está dando errado!
- Do que a senhora está falando, mãe?
- Dougie, você tem que vir aqui agora. É urgente. – ela estava com uma voz aflita demais.
- Tudo bem. Eu dou um jeito... Até logo. – desliguei e olhei para meus sogros. – Aconteceu alguma coisa, eu... Eu preciso ir à casa da minha mãe. Não vou demorar...
- Certo, filho. A gente fica com ela. – meu sogro respondeu, já que a esposa não consegue falar.
Assenti e me curvei para beijar a testa de , aproveitando para sussurrar:
- Eu não vou demorar, meu amor.
Olhei seu rosto uma última vez, sentindo a angústia aumentar em meu peito por deixá-la sozinha naquele momento. Mas minha mãe não me tiraria daqui se não julgasse realmente necessário, não é mesmo? Suspirei e saí do quarto.
- Ai! – trombei com Jazzie na porta, a qual estava com os olhos marejados.
- Gatinho, é verdade o que o Dr. Richard me falou?
Apenas abaixei a cabeça e ela me abraçou.
- Eu não entendo! – sussurrou.
- Eu também não... – não consegui segurar uma lágrima enquanto lhe fazia cafuné.
Ficamos algum tempo abraçados, enquanto eu reconfortava Jazzie e era reconfortado por seu abraço. Essa piora no estado da veio para tentar acabar com o resto de sanidade que ainda guardo, o medo está me deixando perdido.
- Hey, a mamãe...
- Quer falar comigo, não é? Estou indo para lá.
- Seja forte. – ela me deu um beijo na testa e entrou no quarto.
Bem, se eu estava preocupado, agora eu fiquei apavorado.
***
- Mãe? – entrei na casa e chamei por ela.
- No seu antigo quarto, querido. – ouvi-a gritar do andar de cima, a voz ainda embargada.
Subi as escadas e entrei no quarto, vi minha mãe sentada na cama, de costas para mim.
- Mãe? – ela se virou para mim. Os olhos tristes, porém secos.
Ela indicou o lugar ao seu lado na cama e eu sentei. Ela me puxou, me deitando em seu colo e começou a me fazer um cafuné.
- Eu... Hum, não sei como vou te dar essa notícia... Parece que tudo de ruim resolveu acontecer em sua vida e eu não consigo entender o porquê! Você não merece sofrer, meu querido, você merece toda a felicidade do mundo... – senti uma lágrima sua cair em meu rosto e não pude conter as minhas. Ali, no colo de minha mãe, senti-me pelo menos um pouco melhor pelo seu carinho, entretanto, suas palavras me deixaram temeroso... Qual notícia ela quer me dar?
Levantei do calor de seus braços para olhá-la nos olhos.
- Obrigado, mãe... Obrigado por ser a melhor mãe do mundo, obrigado por estar ao meu lado em todos os momentos difíceis da minha vida, principalmente nesse. – ela deu um sorriso fraco e passou o polegar por minha bochecha.
- Você sabe que você e sua irmã são minha vida. – ela disse e eu assenti, tencionando abraçá-la, quando sem querer passei os olhos de relance sobre a cômoda do quarto e... Algo está faltando ali. Algo muito importante está faltando ali.
- Cadê... Cadê o Zukie? – minha voz era um sussurro, enquanto eu encarava minha mãe, quase implorando por respostas.
- Querido, ele... Ele... – ela abaixou a cabeça após um suspiro pesaroso.
- Ele o que, mãe? – as lágrimas escorriam livres por meu rosto quando eu percebi o que estava acontecendo... Não, não pode ser.
Ela permaneceu em silêncio, parecendo ter medo de falar, as lágrimas voltando ao seu rosto. Isso só me fez ter certeza, mas eu precisava ouvir para acreditar realmente.
- Mãe, fala alguma coisa, pelo amor de Deus! Não agüento mais essa angústia!
Ela levantou o rosto lentamente e olhou em meus olhos já vermelhos.
- O Zukie... O Zukie morreu, filho.
Desabei de vez em lágrimas, sendo amparado pelos braços de minha mãe. Zukie não era apenas um lagarto, um animal de estimação... Zukie era parte da família, ele estava comigo por cerca de dez anos, ou mais, ou menos... O tempo nem importa tanto, importa o que ele significava para mim. Às vezes ele parecia tão humano, parecia sentir quando eu estava mal e ficava mais brincalhão, como se quisesse me animar... E quando nem isso adiantava, aquietava-se, se solidarizando com minha tristeza. Zukie, um lagarto, um amigo, quase humano, mas sem a maldade que nossa espécie pode possuir. Eu e brincávamos que ele era imortal... Agora vejo que estávamos errados.
- Mãe... Mãe é brincadeira, não é? Por favor, me diz que a senhora está brincando! – minha voz saiu quase indecifrável enquanto eu abraçava minha mãe com toda a força.
- Eu queria, filho... Deus sabe como eu queria... – ela suspirou. – Logo depois que nós nos falamos, quando você estava na cantina do hospital, eu subi para ver como ele estava e... Ele estava morto.
Eu apenas não sei o que dizer, o que fazer... Como vai ser minha vida sem ele? Eu me acostumei a tê-lo sempre comigo quando estava em casa, aquele que era meu consolo em noites solitárias, aquele que me consolava e me lembrava de momentos com a quando eu sentia saudades... Um grande amigo que se foi.
Viajei no tempo, me lembrando de quando o ganhei de minha mãe, os diversos momentos divertidos que tive por sua causa... Ele sempre estará comigo em minhas lembranças.
- Onde... Onde a senhora o colocou? – consegui perguntar após um tempo que não sei definir.
- Em... – meu celular tocou. – Atende, pode ser importante.
Assenti e peguei o celular. Jazzie.
- Alô?
- Dougie? – sua voz estava embargada e quase não entendi meu nome.
- Jazz, o que houve? – Jazzie estava no hospital com a , Jazzie está chorando... O desespero queria tomar conta de mim.
- Doug... A , Doug... – ela chorava demais e mal conseguia falar.
- O que tem ela, Jazzie? – quase gritei ao pensar na possibilidade de...
- A ... – e a ligação caiu.
- Jazzie? Jazzie, você está aí? – falei desesperado para ninguém. Recebi um ‘tu, tu, tu’ em resposta.
- O que foi, filho? – minha mãe me encarou, preocupada.
- Aconteceu alguma coisa com a , mãe! A Jazz estava chorando muito e... E a ligação caiu! Será que...? – não me atrevo a terminar.
- Vem, vamos para lá. – minha mãe me puxou pelo braço e em segundos estávamos em meu carro, claro que ela tomou o volante, eu não estava em condições para isso.
Um nó se instalou em minha garganta e eu evitava pensar, a simples possibilidade de que estivesse... Já fazia o ar chegar aos meus pulmões de forma quase dolorosa, enquanto meu coração batia extremamente rápido, devido à angústia que percorria meu corpo. Eu já perdi o Zukie hoje, uma grande parte de mim... Sem a comigo para me ajudar a superar essa e continuar me dando motivos para viver... Meu coração irá parar de bater rápido para... Não bater mais.
***
Minha mãe mal estacionou o carro e eu desci correndo, sem dar ouvidos aos seus gritos para que eu esperasse. Entrei feito foguete pelo hospital e vi um rosto conhecido.
- Eu disse que era melhor ter acabado logo com isso... – Dr. Sulivan conversava com um médico qualquer.
Não, não, NÃO!
Não agüentaria esperar pelo elevador, então subi correndo pelas escadas até o andar do quarto da .
Cheguei e voei pelo corredor, abri a porta com tudo e...
O quarto está... O quarto está vazio! A cama arrumada e... Nada de !
Não, ela não pode ter me deixado, não pode!
Me aproximei da cama com a visão embaçada pelas lágrimas, debruçando meu corpo sobre o colchão e cheirei o lençol, em busca de seu perfume, mas... Nada. Haviam trocado a roupa de cama, o cheiro de minha pequena não estava mais ali. Eu precisava daquele cheiro, eu precisava dele para respirar, era minha droga, meu remédio... Ela é minha cura.
As flores e as fotos que todos levamos para a ainda estavam no criado-mudo ao lado da cama e peguei um porta-retrato em mãos.
Eu não tinha a sensação de ter o coração despedaçado, arrancado ou nada parecido. Apenas parecia que eu não tinha mais coração... E aquela sensação de vazio era insuportável. Olhando para a foto em minhas mãos, em que e eu estamos juntos, eu tenho a certeza de que meu lugar é ao seu lado e eu farei o que for preciso para isso.
Eu amo muitas pessoas em minha vida, mas ela é aquela sem a qual nada faz sentido, o mundo fica preto e branco e nada mais importa. Ela é minha vida... se foi. Não me resta escolha.
Levantei, sequei uma lágrima inutilmente – várias outras já desciam por meu rosto -, apertei o porta-retrato contra o corpo e saí do quarto o mais rápido que pude, torcendo para que o corredor estivesse vazio. Eu não podia deixar que ninguém me visse, eu tinha que ir embora antes que me impedissem de realizar meu desejo. Quem me conhece sabe o que sou capaz de fazer por e deve ter uma pequena idéia da maneira como me sinto agora.
Desci pela escada de emergência, sabendo que seria menos provável ser visto, e passei correndo pelo saguão, sem ligar para os funcionários que ali estavam. Nenhum deles poderia me parar naquele momento. Cheguei ao estacionamento e entrei em meu carro, dei a partida e sabia exatamente para onde queria ir.
[n/a: Coloquem para tocar “Simple Together – Alanis Morissette”.]
Eu não sabia a qual velocidade conduzia o carro, mas as imagens da cidade eram só borrões que eu via através do vidro. Seria por causa das lágrimas? Seria pela minha falta de atenção na estrada? Talvez.
Liguei o rádio, não sei exatamente o porquê. Eu olhava para a foto que estava no banco do passageiro, a foto da pessoa que mais amo na vida. Pouco me importava que eu podia bater o carro.
You've been my golden best friend Você foi meu melhor amigo, um amigo de ouro. And now with post - demise at hand Mas agora com a carta de morte na mão, I can't go to you for consolation Não posso ir até você para me consolar, Cause we're off limits during this transition Porque estamos fora de alcance durante essa fase
A voz de Alanis Morissette cantando aquela letra, que parecia ter sido feita para o meu momento, só fez com que mais lágrimas molhassem meu rosto.
Antes de ser meu amor, antes de ser minha namorada, era minha melhor amiga. Há dez anos. Durante esses dez anos era sempre o abraço dela o meu melhor conforto quando eu estava triste, quando parecia que a dor tomaria conta de mim, era sempre sua voz e seu calor que me faziam querer lutar. E agora que me deixou, eu não posso ao menos ir até ela para me consolar. Estamos fora do alcance um do outro, mas por pouco tempo, pequena.
This grief overwhelms me Este sofrimento me surpreende It burns in my stomach E queima meu estômago And I can't stop bumping into things E não consigo parar de dar de cara com certas coisas.
Eu sentia uma espécie de enjôo causado pela simples idéia de ver o corpo de pálido e sem vida... Seu corpo... Morto. Dá-me uma leve tontura imaginar que eu jamais vou ouvir o som de sua risada novamente, ou ver o brilho de seus olhos... Esse sofrimento parece atingir cada célula de meu corpo.
Olhei para o volante e para a minha mão que o segurava. Em meu dedo anelar repousa minha aliança de compromisso. Me lembro de quando eu a coloquei pela primeira vez, eu e tínhamos ido à London Eye e lhe fiz a surpresa. Lembro-me exatamente de seu rosto sereno enquanto ela dormia no banco do passageiro do meu carro na volta do passeio. No banco desse carro. Olhei para o lado e parecia que ela estava lá, com o vestígio do sorriso que eu tanto amava em seus lábios.
Desviei o olhar, sentindo que aquela ilusão me machucava ainda mais, e olhei para o espelhinho do carro, de onde um chaveiro verde e amarelo pende. Lembrança que trouxe do Brasil em uma de suas viagens para cá. A camiseta que visto foi um presente seu de Dia dos Namorados, todos os momentos que passamos nesse carro...
Eu não consigo parar de dar cara com as coisas que me lembram , simplesmente pelo fato de que tudo em minha vida tem uma marca dela.
I thought we'd be simple together Eu pensei que seríamos simples juntos I thought we'd be happy together Eu pensei que seríamos felizes juntos Thought we'd be limitless together Pensei que seríamos sem limites juntos I thought we'd be precious together Eu pensei que seríamos preciosos juntos But I was sadly mistaken Mas infelizmente eu estava enganada
E eu sempre fantasiava a mim e a velhinhos, juntos, com filhos e muitos netos, depois de uma vida feliz inteira juntos, partilhando cada momento dela. Eu pensei que iria estar com ela para sempre, eu pensei que nada seria impossível para nós dois, eu pensei que seríamos o casal mais completo do mundo.
Mas, infelizmente, eu estava enganado.
You've been my soulmate and than some Você foi minha alma gêmea e tudo o mais I remembered you the moment I met you Eu lembro do momento em que conheci você With you I knew God's face was handsome Com você eu descobri que a face de Deus era bela With you I saw fun and expansion Com você eu vi diversão e desenvolvimento
Eu já podia avistar a ponte, sentindo-me debilmente melhor. Não demoraria muito para estarmos juntos novamente.
Lembro da primeira vez em que a vi... Eu tinha apenas onze anos, mas já tive a certeza de que era a pessoa mais linda que já existira e que ninguém nunca iria mudar isso. Ao menos para mim.
Ela foi um presente de Deus, minha alma gêmea... A pessoa que mais me entendeu em toda a minha vida, a que mais me completou e me fez feliz. Por eu quis ser uma pessoa melhor.
This loss is numbing me Essa perda está me entorpecendo It pierces my chest Ela atravessa meu peito, And I can't stop dropping everything E eu não consigo parar de desistir de tudo
Parei o carro e desci, levando o porta-retrato comigo. Parecia que a cada passo que eu dava em direção ao centro da ponte, era uma coisa que eu deixava para trás, algo do qual eu desistia. Eu não consigo parar de desistir de tudo agora que eu não a tenho mais.
Meus pensamentos estão entorpecidos, eu só quero acabar logo com isso e parar com a dor que me corrói.
I thought we'd be sexy together Eu pensei que seríamos atraentes juntos Thought we'd be evolving together Pensei que nos desenvolveríamos juntos I thought we'd have children together Eu pensei que teríamos crianças juntos I thought we'd be family together Eu pensei que seríamos uma família juntos But I was sadly mistaken Mas infelizmente eu estava enganada
O sol está se pondo e ninguém está passando por aqui, agradeço por isso. Aproximei-me da beirada, tendo a linda vista do rio Tâmisa e da London Eye. London Eye... O lugar onde passei um dos meus últimos momentos com , onde trocamos nossas alianças... Quantos pores-do-sol eu não compartilhei com ela nessa mesma ponte? Parávamos no meio do nosso caminho apenas para ver a beleza do sol sumindo no horizonte e deixando um incrível reflexo no rio. Mas agora... Sem ela aqui, até o espetáculo mais lindo da natureza se torna negro para mim.
If I had a bill for all the philosophies I shared Se eu tivesse uma conta para todas as filosofias que eu compartilhei, If I had a penny for all the possibilities I presented Se eu tivesse um centavo por todas as possibilidades que eu concedi, If I had a dime for every hand thrown up in the air Se eu tivesse uma moeda para cada mão estendida para o alto, My wealth would render this no less severe Minha riqueza poderia reverter isso facilmente
Todo o meu dinheiro, todo o meu sucesso, do que adianta agora? McFLY sempre foi algo extremamente importante em minha vida, mas nada mais fará sentido sem que eu tenha a me apoiando, sem que eu a faça sorrir. Se eu pudesse, eu trocava tudo que eu tenho apenas para sentir seus lábios uma última vez.
I thought we'd be genius together Eu pensei que seríamos talentosos juntos I thought we'd be healing together Eu pensei que nos curaríamos juntos I thought we'd be growing together Eu pensei que cresceríamos juntos Thought we'd be adventurous together Pensei que seríamos aventureiros juntos But I was sadly mistaken
Mas infelizmente eu estava enganada
Olhei a foto em minhas mãos e sorri. Eu tenho certeza de que ela é tudo o que eu quero na vida, portanto, estou certo de minha decisão. E é melhor que eu realize logo, antes que alguém possa chegar e me impedir.
Thought we'd be exploring together Pensei que exploraríamos juntos Thought we'd be inspired together Pensei que inspiríamos juntos I thought we'd be flying together Eu pensei que voaríamos juntos Thought we'd be on fire together Pensei que pegaríamos fogo juntos But I was sadly mistaken Mas infelizmente eu estava enganada.
Olhei para o porta-retrato uma última vez e me segurei em uma pilastra de ferro para subir na grade da ponte. Feito isso, respirei fundo olhando para o horizonte e posso jurar que vi o rosto de sorrindo para mim. Eu iria encontrá-la.
Fechei meus olhos - sentindo lágrimas escorrerem desses -, pronto para saltar e deixar que a água invadisse meus pulmões até que eu não pudesse mais respirar... Foi então que eu ouvi.
- DOUGIE! – minhas alucinações estavam se tornando ainda mais reais, eu podia até mesmo ouvir sua voz! Mas seu tom era desesperado e isso me deixou um pouco tenso... Eu queria lembrar de sua voz alegre.
Mesmo assim, fechei meus olhos e desenhei um sorriso no canto de meus lábios. Como era bom pensar que ela estava ali novamente...
- DOUGIE, NÃO FAZ ISSO! EU ESTOU AQUI! – hã?
Franzi as sobrancelhas, sem entender o porquê de estar ‘escutando’ aquilo. Abri os olhos e virei o rosto para ver se via algo... Nada.
Virei o rosto para o outro lado e... Parecia tão real. Sua expressão tão temerosa, o cansaço evidente em seus traços enquanto ela parecia correr até mim. Por que raios eu estava vendo-a assim? Eu queria vê-la sorrir!
- Dougie, por favor... – ela parecia se aproximar ainda mais, com demasiado esforço, e já não tinha mais forças para gritar.
- DOUGIE, NÃO PULA! – ouvi outra voz feminina, mas não era a de . Olhei para o começo da ponte e Jazzie estava lá, carregando a mesma expressão desesperada de Claudia.
Certo, eu já não entendia mais nada! A alucinação de estava se misturando a realidade de ver Jazzie... Ou eu estaria imaginando minha irmã ali também?
- Dougie, eu não... Eu não morri... – sua respiração era ofegante e ela se deixou cair ao chão. Completamente perdido, desci da grade e caminhei até o que supostamente era seu corpo.
- ? – sussurrei, enquanto, com receio, estendia a mão para tentar tocá-la.
Ela sorriu fracamente para mim e segurou em minha mão... Espera! Não podemos sentir o toque de uma miragem... Podemos?
Sua mão fez com que a minha tocasse seu rosto e eu sentia lágrimas se formarem em meus olhos.
- Sou eu, meu amor. Eu não morri, não sou uma miragem, um espírito ou coisa assim. – ela começou a chorar primeiro e eu não sabia se chorava ou sorria. – Sente. – sua mão conduziu a minha para seu peito, onde pude sentir seu coração bater. Uma onda de alívio, de felicidade e de vida me atingiu... Minha pequena estava ali, na minha frente... Viva.
- ! – deixei que as lágrimas trilhassem meu rosto e a abracei o mais forte que pude, não querendo soltá-la, com medo de que ela pudesse... Desaparecer. – Eu estava enlouquecendo sem o seu perfume, eu não agüentava mais não sentir o seu toque e... Nem a melhor melodia do mundo é mais perfeita aos meus ouvidos do que a sua voz. – eu não sabia se ela podia me entender, o choro tornava minha voz confusa.
- Quando o avião estava caindo eu só conseguia pensar em você... Eu só pedia a Deus que pudesse ver seu rosto ao menos uma última vez. O pior não era o medo da morte, o pior era o medo de te deixar. – seu rosto estava enterrado na curva de meu pescoço, mas eu podia entendê-la. – Por que você saiu correndo do hospital, Dougie? Por que não falou com alguém antes? Quando eu soube que você achava que eu tinha morrido, eu tinha certeza do que você tentaria fazer... E só de pensar que eu poderia mesmo ter te perdido, eu... – é claro que ela sabia o que eu queria fazer. Ninguém no mundo me conhecia melhor.
Eu afastei seu rosto delicadamente e acariciei sua bochecha, encarando seus olhos cansados, tristes... Mas também seu olhar feliz, seu olhar apaixonado... O meu olhar.
- Você tem alguma idéia de como eu me senti quando eu achei que tinha te perdido? Era uma dor tão grande, tão insuportável, que eu só queria parar de senti-la... E a única maneira era parando de sentir tudo. Tudo que eu olhava me trazia uma lembrança sua, você sabe que a minha vida somos nós. Então quando eu achei que você estava... – eu senti um nó na garganta. Eu já sabia que ela estava bem, estava de volta aos meus braços, mas ainda era difícil pronunciar aquela palavra.
- Morta... – sussurrou e eu assenti levemente, respirando fundo.
- E a única maneira que eu conhecia de tentar estar contigo de novo era dando fim a minha vida também... E como eu sabia que tentariam me impedir e deixariam alguém sempre me ‘vigiando’, tratei de fugir logo antes que não conseguisse mais. – concluí e assentiu levemente. Ela ainda estava cansada de todo o esforço que fizera recém acordada de um coma, correndo até mim. – Você não podia ter corrido, você acabou de sair de um coma, meu amor... – suspirei e fechou os olhos, acariciando minha mão que ainda repousava em seu rosto.
- Eu correria uma maratona quando levantei daquela cama se fosse para te ter vivo e em meus braços de novo, Dougie. – seus olhos ainda fechados não podiam ver o sorriso fraco que eu esbocei. - A Jazzie era a única com um carro por lá e eu pedi para que ela me trouxesse o mais próximo da ponte o possível sem que você ouvisse algum barulho. Nós tínhamos medo da sua reação se achasse que alguém estava se aproximando... – sua voz falhava em algumas sílabas, demonstrando o quão doloroso era lembrar-se de seu desespero naqueles momentos. Tolo, eu fiz minha pequena sofrer por causa da minha precipitação. Mas eu estava fora de mim a partir do segundo em que achei que a tinha perdido. – Jazz parou o carro há alguns metros do começo da ponte e eu corri até você. – ela abriu os olhos e tinha um sorriso discreto e meigo nos lábios. – Eu já esperava que você pensaria que estava alucinando... Você pensou, não pensou?
- Pensei. – confessei, mordendo o lábio inferior. – Eu já tinha visto sua imagem no banco do carro, no horizonte quando eu subi na grade, então eu... Achei que era coisa da minha cabeça de novo. Mas quando eu ouvi sua voz desesperada, quando eu ouvi a voz da Jazzie também... Comecei a crer que podia ser real. E quando eu senti seu toque... Eu tive a certeza de que você estava viva.
- O que te fez ter a certeza de que eu estava morta? O choro da Jazzie no telefone? Sua mãe ficou tão aliviada ao me ver e tão desesperada quando os funcionários disseram que te viram sair correndo... – sua voz ao pouco ganhava mais firmeza e eu abaixei o rosto.
- Não só a Jazzie no telefone... Quando eu cheguei ao hospital, eu ouvi o Dr. Sulivan, o médico que estava cuidando de você antes, dizendo algo como ‘Eu disse que era melhor ter acabado com isso de uma vez...’. E como ele queria que nós... Desligássemos seus aparelhos, eu achei que... – eu pude notar certo espanto nos olhos de quando mencionei as intenções daquele que se dizia médico. – O Dr. Richard tinha me falado que você estava pior, seu quarto estava vazio... – eu sussurrava as palavras, enquanto um flashback de toda aquela agonia passava em minha cabeça.
Flashback
’s p.o.v
Jazzie me abraçava de lado, com os olhos vermelhos pelo choro, enquanto ainda estávamos sentadas em frente à mesa do Dr. Richard, meus pais haviam ido à cantina. Minha mãe não comia há um dia e eu insisti que eles fossem se alimentar. O abraço de Jazz me reconfortava, mas era o abraço de outra pessoa que eu precisava para me dar certeza de que eu realmente estava viva... Onde Dougie estaria?
- Eu simplesmente não acho uma explicação médica plausível para a repentina piora e para a ainda mais repentina melhora da Claudia. É... incrível. – o doutor falava sobre o meu caso. Eu sei que eu deveria prestar atenção, eu sei... Mas era quase impossível sem saber o porquê de Dougie não estar ali comigo.
- DR. RICHARD, O QUE ACONTECEU COM A... – Sam entrou desesperada na sala e quando me viu formou uma expressão de extremo alívio. – ! – ela correu até mim e eu me levantei para abraçá-la. Era ótimo ver minha sogra de volta, Sam era como uma segunda mãe para mim.
- Sam! – eu a abraçava apertado, como já fizera com meus pais e Jazzie.
- Ah, querida, eu estava tão preocupada! A ligação da Jazzie me fez pensar que você... – ela se afastou para me olhar e eu congelei. Seja lá o que for que a Sam pensou, o Dougie também pensou e... – Posso saber por que você não me ligou de novo, Jazzie? – ela lançou um olhar de censura para a filha, mas eu estava preocupada demais para ao menos me mexer e ver a expressão de Jazz.
- A bateria do meu celular acabou e eu ia ligar de outro lugar, mas o Dr. Richard pediu para falar com a gente... Eu sabia que você e o Doug iam vir para cá, então tudo se esclareceria. – apenas ouvi sua voz e vi Sam assentir.
- Falando em Dougie, onde ele está? – ela perguntou e meus olhos arregalaram. Se Sam não estava com o Dougie... Onde ele estava?
- Ele não está com você? – perguntei com dificuldade, um nó se formava em minha garganta.
- Nã-não... – Sam falou fraco, parecendo estar se controlando para não se desesperar. – Nós viemos juntos para o hospital, mas ele subiu correndo... Eu pensei que ele já tivesse encontrado vocês e...
- Nós não... Não o vimos... – engoli a seco ao dizer isso.
- Ah, não! Não, não! – Sam não se controlou. – Ele está achando que você morreu, ! Assim como eu também estava! Ele deve ter ido para o seu quarto, o encontrado vazio e... Só Deus sabe o que ele está pensando em fazer agora! – eu senti meu estômago embrulhar ao escutar aquilo. Eu conhecia Dougie bem demais, eu sabia o que ele iria querer fazer se achasse que eu estava... morta.
- Eu vou ligar para a recepção e perguntar se alguém o viu saindo do hospital. Vou mandar todos procurarem por ele. – Dr. Richard pegou o telefone em sua mesa e começou a discar, enquanto eu não conseguia controlar as lágrimas que escorriam de meu rosto. Eu só conseguia implorar mentalmente para que Deus não deixasse que Dougie... doía até mesmo pensar.
Jazzie me abraçou e sussurrava algo como um ‘Calma, ele vai estar no hospital ainda e vamos encontrá-lo!’. Mas eu não tinha tanta certeza disso...
- Os seguranças viram o Dougie sair correndo do hospital... – Dr. Richard disse com receio ao desligar o telefone e eu senti o desespero tomar conta de mim de vez.
- Ele vai tentar se matar! Ele vai! – berrei, chorando descontroladamente, assim como Jazzie e Samantha. – A ponte do rio Tâmisa... Que dá vista para a London Eye... – a idéia de Dougie começava a ficar clara em minha mente. – Jazz, você tem que me levar para lá AGORA! – segurei minha cunhada pelos ombros e ela me encarava meio em dúvida.
- Você tem certeza de que ele vai estar lá, ? Nós não podemos nos enganar e...
- Eu tenho, eu tenho sim! Vamos, não podemos perder tempo! – comecei a puxar Jazzie pela mão para fora da sala.
- Claudia, você acabou de sair de um coma, você não pode... – Dr. Richard começou, mas eu o interrompi, já na porta.
- Desculpe, doutor, mas é a vida do Dougie em jogo.
- Salve o meu filho, ! Por favor, eu te imploro! – Sam pediu com a voz extremamente embargada e Jazzie que passou a puxar minha mão.
- Nós temos que impedir meu irmão de fazer alguma besteira! – começamos a correr pelo corredor, indo de escadas mesmo, seria mais rápido.
Eu sentia que meu corpo não agüentava correr direito, minhas pernas pediam para parar e o ar chegava com dificuldade ao meu pulmão. Mas nada mais importava naquele momento, apenas o Dougie.
Chegamos ao estacionamento e Jazzie ligou o motor antes mesmo que eu fechasse a porta direito.
- Coloca o cinto, eu vou dirigir o mais rápido possível. – ela alertou e eu assenti, prendendo o cinto enquanto ela já arrancava com o carro. Jazzie era quase tão boa motorista quanto o irmão, eu confiava em suas mãos no volante.
- Pára antes da ponte, de um jeito que ele não possa ouvir algum barulho... Eu não sei o que ele vai fazer se notar a aproximação de alguém. – disse e ela assentiu, sem tirar os olhos da estrada. Em uma velocidade normal, a ponte ficava há uns quinze minutos do hospital, pelo que eu me lembrava de Londres. Mas do jeito que Jazzie dirigia, levaríamos menos de dez.
Quem se importa com limite de velocidade quando a razão da sua vida está querendo se matar? Foda-se o resto, eu apenas quero Dougie em meus braços sã e salvo.
- Me diz que vai dar tudo certo? – sussurrei para Jazzie, fechando os olhos e mentalizando a imagem de Dougie.
- Vai dar tudo certo. – por mais incrível que pareça, a voz dela estava firme, ela me passou segurança de que conseguiríamos. Aliás, não tão incrível assim, porque Jazzie sempre soube como me tranqüilizar. Anos de amizade, ela sabia como fazê-lo.
Abri os olhos e ela se virou para mim, tentando sorrir, e eu fiz o mesmo. Mas era impossível naquelas circunstâncias.
- Vou parar aqui, é o máximo. Você vai ter que correr e... – ela mal encostou e eu já tirara o cinto e abria a porta.
- Me deseja sorte! – bati a porta antes que Jazzie falasse algo e comecei a correr o mais rápido que eu podia.
Cada segundo que passava podia ser decisivo, e isso me fazia querer correr mais do que eu podia, mais do que eu agüentava. Eu temia que pudesse desmaiar antes de chegar até a ponte, mas eu tinha que tirar forças de algum lugar. E a fonte dela seria o meu amor por Dougie.
Eram cerca de cinqüenta metros até a ponte, e logo eu pude avistar seu carro parado no meio da faixa. Virei a cabeça lentamente, podendo ver seu corpo na grade da ponte. Meu coração começou a bater ainda mais forte e eu acelerei o máximo que meu estado físico permitia.
- DOUGIE! – gritei, quando cheguei ao começo da ponte.
End ’s p.o.v
Fim do Flashback
- Quando eu te vi prestes a se jogar daquela ponte eu senti como se o meu coração fosse esmagado e todo o ar sumisse... Eu... Nunca senti tanto medo na minha vida. – sussurrou, me abraçando apertado, e senti suas lágrimas pingarem em minha camisa.
- Mas o que importa é que eu não pulei, você não me deixou e... Estamos aqui agora. Juntos, como deve ser sempre. Vamos esquecer tudo de ruim que aconteceu e pensar só no nosso futuro, certo? – a afastei um pouco de meu peito e fiz com que olhasse em meus olhos. – Certo, pequena?
Ela sorriu e fechou os olhos, colando sua testa à minha, me fazendo descer minhas pálpebras lentamente e apenas sentir sua presença, que é o que eu mais preciso na vida.
- Como me fez falta te ouvir me chamar de ‘pequena’... Eu não quero mais morar no Brasil, longe de você, Dougie. Está fora de cogitação ficar um segundo sem você ao meu lado depois do medo que eu passei de te perder. – eu não podia sorrir mais ao ouvir aquilo, era exatamente como eu me sentia.
- Então vem morar comigo... Vem viver a vida ao meu lado, era para ter sido sempre assim. – abri os olhos para ver sua expressão e ela sorria.
- Nunca mais vou te deixar em paz. – ela brincou, acariciando minha bochecha.
- Minha paz é você, Claudia . – disse, segurando a mão dela que repousava em meu rosto e aproximando nossos lábios.
- Você é minha vida, Dougie Poynter. – ela respondeu e eu pude encontrar em seu olhar a sinceridade, a meiguice e o amor de que tanto senti falta.
Aquela sensação de coisa certa, aquela sensação de estar completo, me invadiu assim que toquei seus lábios com os meus mais uma vez. Sinceramente? Não sei como agüentei ficar sem isso por tanto tempo.
Pedi passagem e ela concedeu rapidamente, deixando que nossas línguas matassem a saudade quase insuportável que sentiam uma da outra. A sincronia, a harmonia, o gosto... Era mais do que certo, era perfeito. Eu e ela, dois corpos e uma só alma.
Puxei-a para mais perto pela cintura, local que eu acariciava, enquanto afundava os dedos em meu cabelo e os massageava de uma maneira que só ela sabia, eu poderia ficar para sempre assim. E o beijo se intensificava...
O ar em meus pulmões era quase nulo, mas quem se importava? Eu a tinha em meus braços novamente, não queria soltá-la nunca mais. Senti um pequeno gosto salgado invadir minha boca e deduzi que estava chorando. Sorri fraco, tirando uma mão de sua cintura e dirigindo-a para seu rosto, a fim de secá-lo.
- CASAL! Vocês estão em um lugar público, vamos! – ouvi minha irmã gritar e eu e quebramos o beijo a contragosto, tanto que eu puxei seu lábio inferior até onde pude. Olhei para seu rosto e suas bochechas estavam levemente rosadas.
- Vamos, não é no meio de uma ponte, ajoelhados no asfalto, que eu quero matar minha saudade de você. E você precisa descansar depois de todo esse esforço. – me levantei e estendi a mão para que levantasse, ela assentiu.
- Eu quero ficar abraçada com você por horas e horas e mais horas, só sentindo seu calor e seu perfume. – sussurrou, abraçando-me de lado quando nós dois já estávamos de pé.
- Faço minhas as suas palavras. – respondi abraçando a sua cintura e começamos a caminhar até Jazzie, que estava no mesmo lugar de antes, mas agora com um sorriso imenso nos lábios. Eu não via seu carro, ele devia estar parado alguns metros antes do início da ponte.
Quando nos aproximamos, minha irmã começou a chorar e eu recomecei. soltou-me e eu andei rápido até encontrar os braços de Jazz, abraçando-a forte e afundando meu rosto em seu ombro, enquanto sentia que ela dava pequenos tapas em minhas costas.
- Eu te odeio, Dougie! Você tem noção de como eu tive medo de que você fizesse alguma besteira? Eu não vivo sem você, seu maluco! – sua voz era confusa de entender devido ao seu choro, mas eu não pude evitar um riso fraco pela forma como ela falara.
- Eu também te amo muito, pirralha! – brinquei e ela sorriu, soltando o abraço e me olhando, enxugando as lágrimas. – Desculpe pela preocupação e obrigado por ser a melhor irmã que eu poderia ter, Jazz. – disse sincero e ela me abraçou novamente.
- Você é que é o melhor irmão do mundo, grande Poynter. – ela brincou e eu sorri.
- Estamos quites então, pequena Poynter. – nos soltamos e que a abraçou.
- Eu te disse que ia dar tudo certo, não disse? – Jazzie disse e assentiu.
Elas também se soltaram e Claudia me abraçou de lado novamente, enquanto nós três enxugávamos as lágrimas.
- É bom nós irmos ao hospital acalmar o coração da Dona Samantha. Meu carro está há uns cinqüenta metros daqui. – minha irmã apontou e eu pude ver seu carro. Respirei fundo, minha mãe devia estar desesperada.
Caminhamos em silêncio até o carro. Jazzie entrou no banco da frente e eu e sentamos no banco de trás.
- Certo, vou mesmo bancar a motorista dos dois? Nem ligo mesmo. – Jazzie resmungou enquanto dava a partida e nós rimos, enquanto encostava sua cabeça em meu peito e eu passava meu braço por sua cintura.
- Dougie... – sua voz suave sussurrou meu nome e eu passei a brincar com seus cabelos.
- Diga, meu anjo. – respondi.
- Por que você não estava no hospital quando eu acordei? – ela perguntou e eu cortei a respiração. Como eu iria contar a ela que Zukie morreu?
Olhei para o espelhinho do carro e Jazzie me olhou por lá, seu olhar passava uma mensagem do tipo ‘Coragem, você vai ter que dizer.’ Mordi o lábio, ela assentiu para mim e voltei a olhar para .
- Porque... Minha mãe tinha me ligado e pediu que eu fosse com urgência para a casa dela... – minha voz era baixa, como se ao aumentar o tom eu pudesse fazer sofrer antes do tempo.
- E... O que aconteceu de tão grave? – ela levantou o rosto e me encarou, preocupada.
Suspirei, acariciando sua bochecha, e eu sabia que Claudia entendia que algo muito ruim havia acontecido. Ela lia meus olhos, ela sabia a minha dificuldade em contar-lhe coisas tristes.
- Fala logo de uma vez, Dougie... – ela sussurrou e eu assenti.
- Logo quando houve o seu acidente, o Zukie ficou meio doente e... O veterinário não conseguia diagnosticar nenhuma doença, ele estava mal e não sabíamos o motivo... – eu escolhia as palavras, mas seus olhos já estavam marejados. – Era estranho... Quando você estava melhorando, ele parecia piorar e... Minha mãe pediu que eu fosse à casa dela porque estava cuidando dele e... Queria me contar de sua... Morte. – a última parte saiu quase inaudível, mas se desmanchou em lágrimas e me abraçou fortemente.
- O Zukie... O Zukie é imortal, Dougie! Não lembra? Imortais não morrem... – ela sussurrava com o rosto afundado em meu pescoço, enquanto eu lhe fazia um cafuné e não podia evitar chorar também.
- Parece que ele abriu mão da imortalidade para te salvar, pequena... – lembrei-me da crença de minha avó de que animais de estimação morriam no lugar de pessoas especiais. Eu cresci ouvindo isso e acho que agora tive a minha prova.
ergueu o rosto e me olhou, enxugando uma lágrima.
- A lenda que sua avó contava... – me olhou quase admirada e eu assenti.
- Um animal de estimação morre no lugar de alguém especial. – Jazzie disse baixo do banco da frente, mas eu consegui ouvir. Olhei pelo espelhinho do carro e ela sorria.
- Eu realmente acredito nisso agora. – eu acariciei a bochecha de e ela fechou os olhos, colocando sua mão sobre a minha.
- Eu sempre soube que ele era o nosso anjo, o que nos uniu e que se foi para que permanecêssemos assim... – ela disse e eu confirmei, sorrindo fraco. Ela abriu os olhos e olhou para a barriga, acariciando-a. Senti um aperto no peito. – Mas eu ainda preferiria que ele morresse para salvar o nosso filho, Dougie... A criança que nós tanto queríamos.
- Hey! – ergui seu rosto com a ponta dos dedos e seus olhos ainda despejavam muitas lágrimas. – O que foi era para acontecer, meu amor. Eu não saberia viver sem você, quem cuidaria do nosso filho? Agora você está sã e salva aqui e podemos ter um time de futebol inteiro. – ela sorriu de lado.
- Isso, tratem de fabricar muitos sobrinhos para mim. – Jazzie brincou no banco da frente e nós rimos fraco.
voltou a se aconchegar em meu peito e eu lhe fiz um cafuné, sentindo uma pequena angústia ao imaginar como ela ficaria no enterro de nosso filho. Claudia tinha o direito de enterrá-lo, tanto que eu dei um jeito de adiar, pois eu tinha certeza de que ela acordaria. Mas será que era correto fazê-la passar por isso?
***
Eu senti a dor duas vezes. A dor de ver aquele pequenino caixão sendo soterrado, aquela pequena parte de mim que nem chegou a conhecer o mundo. Aquele seria um dos piores dias da minha vida, sem dúvidas.
Somado a isso, ver a expressão completa de dor, de angústia e inconformidade no rosto de me machucava muito. Por que as coisas tinham que ter sido daquela forma?
Passamos o enterro inteiro abraçados, permanecendo no cemitério depois que as poucas pessoas que estavam lá haviam ido embora. O sol já estava se pondo e não tirava os olhos do túmulo, que estava coberto por rosas brancas.
- Pequena... – sussurrei em seu ouvido, já que eu a abraçava pelas costas. Recebi um pequeno murmúrio como resposta e prossegui. – Olha para o pôr-do-sol.
Ela atendeu meu pedido e ergueu o rosto. Apoiei meio queixo em seu ombro.
- O sol se põe todo dia e volta no outro. Nós estamos passando por um momento difícil, mas que tal deixarmos que o sol o apague hoje e traga melhores amanhã? Nós estamos juntos, isso que importa. Essa pequena parte de nós vai estar no céu, olhando por nós. Nosso pequeno anjo, pode ter certeza. – eu não via seu rosto, mas eu sabia que estava sorrindo.
Ela se virou para mim e envolveu meu pescoço, sussurrando em meu ouvido:
- ‘Cause I’ve got you to make me feel stronger... – sorri e a apertei em meus braços.
- But if you need me I'll be there… - não importava a ordem da música, qualquer das frases que a compunham era nossa.
Naquele mesmo dia ainda enterramos o Zukie, no jardim da casa de minha mãe. Era melhor passar por todos os momentos difíceis de uma vez só, não é mesmo?
Foram muito raros os momentos em que eu e não estivemos abraçados durante tudo isso. Ela dormiu na minha casa nos três dias após ter acordado, o quarto dia definitivamente não seria diferente e passamos a noite inteira abraçados, ambos sem conseguir dormir. Mas pelo menos eu tinha seu calor e seu perfume para amenizar todo aquele sofrimento.
- Dougie... - ela sussurrou, já deviam ser uma quatro horas da madrugada e sua voz finalmente estava sonolenta.
- Eu, meu amor.
- Meus pais... Estão querendo voltar para o Brasil daqui a sete dias e... – ela não terminou a frase logo, o sono a consumia aos poucos. Talvez tivesse sido intencional de sua parte tocar nesse assunto quando já estava adormecendo. -... Eu acho que... eles vão querer... me levar e... – o silêncio se prolongou e quando olhei seu rosto, estava adormecida.
- Não vou deixar você ficar longe de mim de novo, pequena... Não vou. – beijei sua testa e a acolhi mais em meus braços, local de onde ela nunca mais sairia no que dependesse de mim.
havia prometido morar comigo em Londres, era o que ambos queríamos. Mas eu sabia que seus pais não aprovariam que ela largasse tudo no Brasil daquela maneira, sem uma... Garantia. E eu não queria que ela tivesse que enfrentá-los.
Estava na hora de colocar meu plano em prática.
***
Minhas mãos estavam suando tanto que eu me sentia ridículo. Eu tinha plena certeza do que queria, por que todo aquele nervosismo? Talvez pelo fato de que... Não sabia se receberia um ‘sim’?
Certo, Dougie. Concentre-se, a te ama, vocês estão juntos há seis anos, ela aceitou morar com você... Por que negaria se casar?
- Dougie, vou descer. – ouvi sua voz do alto da escada e prendi a respiração. Aquela bendita camisa social que eu usava parecia apertar ainda mais o meu pescoço.
- Tudo... Bem. – será que ela tinha escutado a minha voz tão falha?
Sua sandália de salto fazia barulho ao descer os degraus e parecia que as batidas do meu coração estavam em sincronia aos seus passos.
Menos, Poynter.
Aos poucos, seu corpo começou a ser visível. Primeiro os pés, os tornozelos, as pernas – mostrando que seu vestido ia até metade da coxa –, a barriga, seu busto e, finalmente, seu rosto, que ostentava aquele sorriso meigo que eu tanto amo. Seus olhos brilhavam e transmitiam certa timidez. Eu adorava deixá-la sem graça ao olhá-la mesmo após tantos anos.
parou no final da escada e eu caminhei até ela, estendendo-lhe a mão e lhe dando um selinho.
- Você está... Perfeita. – eu disse e era a mais pura verdade. Seu vestido lilás valorizava na medida certa os seus seios com o decote, definia sua cintura, deixava suas costas tentadoramente nuas e grande parte das pernas que eu tanto admirava a mostra. Eu já não queria sair, queria ficar a sós com em casa.
- Digo o mesmo sobre você. – ela abriu alguns botões de minha camisa e me deixou mais confortável. Sorri em agradecimento, a fazendo rir fraco. – Você fica... tentador de camisa social, ainda mais se a deixar aberta assim. – ah, então não era com o meu conforto que ela estava preocupada?
- Achei que você tinha aberto a camisa para me deixar mais a vontade. – fiz bico e riu, me dando um selinho em seguida. – E... É melhor eu não falar nada sobre o seu vestido. – mordi o lábio inferior olhando-a e suas bochechas ficaram levemente rosadas. Como eu amava a sua meiguice.
- Certo, será que agora você pode me explicar o porquê de toda essa formalidade hoje? – ela perguntou enquanto eu me encaminhava para a mesinha ao lado do sofá para pegar as chaves do carro e meu celular.
- Hum, na verdade não. – não pude evitar rir de sua cara de criancinha decepcionada enquanto eu entrelaçava minha mão à sua. – Mas você vai descobrir daqui há pouco, não se preocupe. – abri a porta e indiquei que ela passasse primeiro, em seguida saí e tranquei a casa, voltando a entrelaçar nossas mãos e caminhando em direção ao carro com ao meu lado com a mesma expressão.
- Eu sou muito curiosa, isso não é legal. – resmungou e eu ri.
- Por isso é um sacrifício fazer surpresas para você. – respondi, abrindo a porta do carro para ela.
Dei a volta e entrei no banco do motorista. já havia colocado o cinto de segurança e agora sorria travessamente.
- Na maioria das vezes eu te atormento até você contar. Quando eu não consigo, eu faço isso com a Jazzie ou com os meninos. – ela disse com a cara mais sapeca o possível e eu ri, ligando o carro.
- Mas não funcionaria dessa vez. Ameacei os quatro de morte caso eles pensassem em abrir a boca. – sua cara de indignação foi impagável.
- Então quer dizer que todo mundo está sabendo e eu não? – perguntou e eu confirmei. – Certo, estou revoltada agora. Não fale comigo até chegarmos ao misterioso lugar, Dougie Poynter. – cinco, quatro, três, dois, um... zero. – Ok, eu estou brincando. – eu sorri. Eu a conhecia bem demais.
- Eu sabia. – ergui a sobrancelha convencidamente e ouvi um resmungou seu que eu não entendi. Coloquei a mão sobre a sua perna, a palma virada para cima. olhou alguns segundos para ela antes de segurá-la forte e entrelaçar nossos dedos. – Eu espero que a ansiedade valha à pena... Que você goste. – sussurrei.
- Dougie, não existe ‘não gostar’ no meu vocabulário quando você está aprontando alguma. – ela disse e eu não podia me sentir mais... Tranqüilo com aquelas palavras.
- Espero que não passe a existir depois de hoje. – brinquei e riu.
O resto do caminho foi silencioso, ela costumava ficar calada quando estava ansiosa. Se não tivesse conseguido parar a mania de roer as unhas, elas estariam na carne viva agora. Aposto.
Parei em frente ao restaurante e os olhos de brilharam.
- Dougie... É o restaurante em que viemos comemorar sua entrada na banda e o começo do nosso namoro... – ela sussurrou e eu sorri, assentindo. – Mas... Er, ele não está fechado? – sua expressão era um tanto quanto confusa.
- Exatamente. – ela me olhou como se perguntasse se eu enlouquecera e eu apenas sorri, pegando meu celular.
observava atentamente os meus movimentos, seus olhos ainda buscavam alguma resposta nos meus. Disquei para o celular de Harry e coloquei o aparelho no ouvido.
- Doug? – ouvi sua voz e parecia que ele estava rindo anteriormente.
- Chegamos. – avisei.
- Já estamos prontos.
- Obrigado, dude. – eu disse.
- Deixe os agradecimentos para depois, Poynter. Anda logo, eu quero ver a cara da . – ele resmungou e eu ri.
- Também te amo. – brinquei e desliguei o celular.
- Droga, Dougie! Vamos logo, eu vou ter uma síncope aqui. – reclamou e sorri enquanto soltava o cinto de segurança. O dela já estava solto havia séculos.
- Sempre exagerada... – comentei e saí do carro.
Quando pensei em ir abrir a porta para , ela já estava ao meu lado e eu arregalei os olhos.
- Incrível como as pessoas podem ficar rápidas quando estão curiosas. – ela entrelaçou nossas mãos e quase corria para a porta do restaurante, sem ao menos responder. Eu estava me divertindo muito com sua ansiedade, até me fazia esquecer meu nervosismo.
Antes que pudesse encostar na maçaneta, eu a virei para mim e ela sorriu.
- Eu... Hum... Ah, vamos logo. – eu queria dizer que esperava que ela gostasse, que eu tinha pensado em cada mínimo detalhe, que eu queria que aquele momento fosse inesquecível. Mas a droga das palavras certas não saíam de minha boca. Eu esperava que ela entendesse por meus olhos.
acariciou meu rosto delicadamente, olhando em meus olhos, e me deu um selinho em seguida.
- Eu te amo, Dougie. – ela sussurrou e eu sorri abertamente.
- Sempre, para sempre e mais do que tudo. – respondi e foi sua vez de sorrir.
Abri a porta do restaurante – que os meninos haviam deixado destrancada para mim -, lentamente, fazendo a escuridão se tornar visível. Se é que isso faz sentido.
O salão estava completamente apagado, era impossível se ver um palmo diante o rosto.
- Dougie, isso... estava nos planos? – antes que eu pudesse responder algo, ‘The heart never lies’ se fez ouvir e uma luz se acendeu no pequeno palco que havia ali.
Tom estava tocando o baixo, já que eu não podia estar lá em cima e ele já se virava muito bem em algumas músicas; Dan estava na guitarra, Harry na bateria, como normalmente. Todos sorriam para nós enquanto Fletcher dava voz à música que eu escolhera para aquele momento.
Some people laugh Algumas pessoas riem Some people cry Algumas pessoas choram Some people live Algumas pessoas vivem Some people die Algumas pessoas morrem
Olhei para o rosto de e ele reluzia devido algumas lágrimas que já haviam começado a pingar, mas seu sorriso permanecia e era isso que eu mais precisava ver. Abracei-a de lado e sussurrava a música enquanto os garotos comandavam lá em cima.
Some people run Algumas pessoas correm Right into the fire Na direção do fogo Some people hide Algumas pessoas escondem Their every desire Todos os seus desejos
As lágrimas agora já trilhavam seu rosto continuamente, enquanto ela apertava minha cintura no abraço e encostava sua cabeça em meu peito. Seus olhos não saíam do palco. Apalpei a caixinha que estava no bolso de minha calça e mais do que nunca tive a certeza de que tudo daria certo.
But we are the lovers Mas nós somos amantes If you don't believe me E se você não acreditar em mim Then just look into my eyes Apenas olhe nos meus olhos 'cause the heart never lies Porque o coração nunca mente
Seus olhos desviaram do palco para olhar para os meus e eu podia ver alegria e amor neles. Ela acariciou meu rosto, enquanto eu secava uma lágrima sua.
- Você é meu tudo, Dougie Lee Poynter. – ela sussurrou e coloquei seu cabelo atrás da orelha.
- Você é o meu tudo, . – devolvi e ela sorriu, me dando um selinho e voltando a olhar para o palco quando a voz de Danny se fez ouvir.
Some people fight Algumas pessoas lutam Some people fall Algumas pessoas caem Others pretend Outras fingem They don't care at all Elas não se importam de verdade
If you want to fight Se você quiser lutar I'll stand right beside you Estarei logo ao seu lado The day that you fall E no dia que você cair I'll be right behind you Eu estarei logo atrás de você
To pick up the pieces Para juntar os pedaços If you don't believe me E se não acreditar em mim Just look into my eyes Apenas olhe nos meus olhos 'cause the heart never lies Porque o coração nunca mente
whoa
Another year over Outro ano se foi And we're still together E nós continuamos juntos It's not always easy Não é sempre fácil But I'm here forever Mas eu estarei aqui para sempre
We are the lovers Nós somos amantes I know you believe me Eu sei que você acredita em mim When you look into my eyes Quando você olha nos meus olhos Because the heart never lies Porque o coração nunca mente 'cause the heart never lies Porque o coração nunca mente Because the heart never lies Porque o coração nunca mente
Nós passamos o resto da música abraçados da mesma maneira, um sussurrando os versos ao outro. Música, quer melhor forma de expressão? Por mais que nada possa representar a forma como eu amo essa garota, músicas muitas vezes conseguem mostrar uma parcela até considerável do meu sentimento.
Quando os três no palco tocaram as últimas notas, se agarrou de imediato ao meu pescoço, me dando um daqueles abraços que eu tanto gostava.
- Eu te amo... – ela sussurrou com a voz abafada, já que seu rosto estava afundado em minha pele.
- Será que esse amor é capaz de agüentar um cara meloso, chato e sem graça como eu, todos os dias, para sempre? – sussurrei também e ouvi seu riso fraco.
- Dougie, mesmo que você fosse tudo isso, nada nesse mundo me faria deixar de te amar. – ela levantou o rosto e me olhou nos olhos, sorrindo.
- E se esse mesmo cara meloso, chato e sem graça a pedisse em casamento, você aceitaria? – perguntei e vi a surpresa em seus olhos, misturada com a alegria e uma dose de... Incredulidade? Talvez. Mas será que ela nem por um segundo suspeitou das minhas intenções ao arrumar ‘tudo isso’?
- Se o pedido é do cara meloso e chato, eu não aceito não. – sua voz transmitia seriedade e os meninos, que assistiam a tudo do palco com sorrisos idiotas no rosto, começaram a rir. Por que raios eles estavam rindo? Ela tinha negado meu pedido! – Mas se o pedido vier do homem da minha vida, vier da pessoa que eu mais amo em todo o mundo, eu não penso duas vezes antes de dizer que sim! Mil vezes sim!
Demorou alguns segundos até que caísse a minha ficha. Então, eu entendi que os meninos deviam estar rindo de uma provável cara de decepção que eu fiz quando supostamente negou meu pedido. Ok, estou passando tempo demais com o Danny e a lerdeza dele é contagiosa.
- Você não devia brincar assim comigo! – sussurrei enquanto tomava em meus braços e a erguia no ar, abraçando-a com toda a felicidade que irradiava de mim. Ouvi seu riso fraco.
- Não acredito que você realmente achou que eu estava falando sério. – ela disse quando eu a coloquei de volta ao chão e eu fiz careta.
- É culpa da convivência com o Dan. – eu brinquei e ela gargalhou.
- EU OUVI ISSO, POYNTER! – Danny protestou ainda no palco e eu sorri travessamente para ele. – Somente em respeito ao momento romântico do casal que eu não desço aí e bato em você.
Nós rimos, enquanto Tom apontava para mim e para seu bolso em seguida. Demorei apenas alguns segundos para entender o recado, piscando para ele em agradecimento, fazendo o sorrir.
Tirei a caixinha do meu bolso e quando voltou a olhar para mim, eu já estava ajoelhado à sua frente.
Ela me olhou surpresa e eu abri a caixa, revelando o anel que estava contido nesta.
- Dougie, é... Ele é lindo. – seu rosto expressava admiração e eu podia jurar que choraria.
- O brilho dele me lembrou o brilho dos seus olhos, então soube que era ideal. – ela abriu um dos maiores sorrisos que eu já vi e uma lágrima trilhou seu rosto.
- Um... Um anel de diamante, Dougie... Deve ter sido um absurdo de caro, você não devia gastar tanto comigo e... – ela olhava admirada, mas ao mesmo tempo receosa, para o anel de prata com um pingente de diamante em forma de coração bem no centro. – Você sabe que eu não ligo para isso, você poderia me dar um anel de garrafa PET e eu iria amar. Seria um presente seu.
Sorri para ela, que continuava meio receosa.
- Você gostou? – perguntei.
- É claro que eu amei, ele é lindo, mas...
- Se você gostou, é o que importa. – interrompi e o seu sorriso passava a dominar o rosto. – Não estou ligando para dinheiro, eu sei que você não curte essa coisa de jóias, mas tem um motivo para eu ter escolhido um diamante.
- E qual foi? – ela perguntou com um tom divertido.
- O diamante é a pedra mais resistente do mundo. Resistente na mesma proporção do meu amor por você, resistente como a nossa relação. Ele representa a fidelidade, que é um dos aspectos mais importantes em um relacionamento a distância como o nosso já foi. É o símbolo da pureza e eu não consigo encontrar algo que eu ache mais puro no mundo do que o seu sorriso e o brilho dos seus olhos. – ela chorava mais e seus lábios desenhavam um arco perfeito, emocionado. Retirei o anel da caixa e comecei a colocar em seu dedo. – Guarde esse dia... Ou noite, como queira... – riu fraco. – Guarde esse momento como uma promessa, como um novo início, uma nova fase. Lembre-se sempre da sinceridade com que estou lhe dizendo que quero que seja minha mulher para sempre, pois vou te dizer isso todos os dias, de toda e qualquer forma, e nunca será com menos convicção. Você é tudo o que eu quero, tudo o que eu preciso... O meu propósito, meu tudo. – as lágrimas eram incontáveis a cair e ela se ajoelhou para me abraçar, tão forte, tão intensa... Tão minha.
colocou minha mão em seu coração e eu o sentia bater absurdamente rápido.
- É somente por você que ele faz isso. É por você que eu respiro, é por você que eu vivo. Eu não posso encontrar uma palavra para designar a imensidão do seu efeito em mim, a imensidão do meu amor por cada mínimo detalhe seu. Te ter ao meu lado para sempre é tudo o que eu mais quero, o que eu mais preciso. Acordar todo o dia e ver sua expressão sonolenta, mas sempre feliz. Na volta das suas turnês passar a noite inteira abraçada contigo ouvindo cada detalhe. Envelhecer ao seu lado, ter filhos, netos, bisnetos e ensinar a eles o que é o amor. Amor, aquilo que eu sinto por você, que me faz viver, e nunca vou deixar de sentir. – olhava no fundo de sua íris e agora minhas lágrimas caíam em compasso às dela. Eu não podia imaginar que aquele momento seria tão perfeito, eu já sabia que iria ficar ridiculamente emocionado se ouvisse um ‘sim’, mas não imaginava que seria tanto,
- Beija, beija, beija! - os meninos brincaram do palco e eu e rimos, antes de eu tomar seu rosto em minhas mãos e roçar nossos narizes.
Vi seus olhos sorrirem para mim antes de fechar os meus no momento em que nossos lábios se tocaram.
Como isso poderia ficar melhor?
Quando nos soltamos, não havia mais ninguém lá. Eu sabia que os meninos haviam saído do salão para nos deixar a sós um pouco e também para avisar aos convidados do posterior jantar que eu havia planejado que eles já poderiam vir. Tudo bem, vou admitir que algo em mim me dava a certeza de que diria sim.
- Agora virá a comemoração. – eu sussurrei e ela me olhou maliciosamente. Gargalhei. – Não, sua tarada. Convidei nossa família e alguns amigos mais próximos para um jantar.
- Aqui? Agora? – ela arregalou os olhos e eu ri, afirmando. – Todo mundo sabia, menos eu? – afirmei novamente. – Me sinto excluída. – ela fez bico e eu ri, dando-lhe vários selinhos seguidos.
- Quantos beijos você quer ganhar para compensar isso? – brinquei e ela riu, prendendo meu lábio inferior entre os dentes e puxando em seguida.
- Na verdade, você nem precisava compensar e já compensou. Entretanto, beijo seu não se nega jamais, então, trate de me dar vários! – ela me deu um selinho segurando meu rosto e eu ri fraco, analisando o seu por alguns segundos. - O que foi? – perguntou com a sobrancelha erguida ao reparar que eu estava encarando-a provavelmente com cara de idiota.
- Estava me perguntando como alguém pode ser tão lindo. – acariciei sua bochecha com o polegar e a notei ruborizar. E eu não queria que ela parasse de ter aquela reação nunca, eu achava simplesmente fascinante.
- Eu me faço a mesma pergunta desde que eu conheci você. – ela sussurrou olhando em meus olhos e eu sorri.
- Te amo. – me aproximei lentamente de seus lábios e os beijei.
Me diga, como isso poderia ficar melhor?
End.
nota da autora: Pessoas lindas do meu coração! Antes de tudo, eu tenho que falar com vocês sobre um erro que ocorreu com a fic. Na atualização passada, uma parte quase do começo acabou sumindo. Não me perguntem como. Eu conversei com a minha beta e ela recolocou o que estava faltando, como muitas de vocês leram a fic pela primeira vez na última att, não vão ter visto este trecho. Para ir para a parte que saiu, apenas clique aqui . Desculpem por isso, garotas... É uma parte importante da história, seria bom que vocês lessem.
Bem, não tenho muito o que dizer nessa n/a. Só muito obrigada pelos comentários da última att e espero que tenham gostado dessa *-* É a penúltima .-. Já sinto falta de WFW mfmf By the way, quem mais achou que o FFOBS está LINDO DE MORRER? *-* Amei o novo site e desejo que ele tenha ainda mais sucesso, toda a sorte para a equipe! E ah, logo uma fic restrita minha vai entrar no site u.u É minha primeira, espero que não fique mt ruim. Enfim, até o última parte de WFW e comentem para dizer o que acharam *-* Beeijos amores ;*
nota da beta: Heey, gente! Estou aqui apenas para dar um ooi, e pra dizer que se tem qualquer erro que vocês tenham percebido nessa fic, podem me avisar por aqui, e eu estarei disposta à corrigir o mais depressa possível.
Enjoy, everyone !
XOXO', Paah Souza.