Wake Me Up When September Ends Autora:Marina Beta-Reader:Amy Moore
"Eu tinha dezessete anos no começo, mas não foi aí que a história toda começou. Diferente da maioria das pessoas normais, eu não gostava do verão. Não só pelo fato do sol sempre queimar meu couro cabeludo (já que eu tinha cabelo até demais), nem pelo fato de não poder praticar atividades físicas sem suar litros. Na verdade, nada disso me fazia odiar o verão tanto quanto o próprio verão. Vou explicar.
Eu tinha dez anos quando perdi uma das melhores pessoas desse mundo, um dos meus melhores amigos. Era o último mês do verão no meu país, comecinho de setembro. Era um final de semana quente em que eu e minha família iríamos para a praia. Eu era o sexto irmão, o mais novo. É claro que meus pais ouviam tudo o que eu falava, então lá estávamos nós indo para a praia, a meu pedido. Não sei como tudo aconteceu, afinal, eu era muito novo, mas foi tudo muito rápido. Tudo terminou muito rápido. Numa hora estávamos todos reunidos, felizes e aproveitando o verão, outrora estávamos em um hospital. Minha mãe chorava, inconformada, meus irmãos mais velhos a acolhiam. Eu apenas observava tudo de um canto, sem entender exatamente o que aconteceu.
Minha mãe me mandou para a casa de meu amigo Mike, dizendo que voltava logo, mas um dia inteiro passou e nada. Eu queria minha mãe, queria meu pai, queria a praia. Por que estavam me prendendo na casa de Mike? Ela voltou depois de um dia e meio, dizendo que veio me buscar para "dar adeus". Não entendi direito, mas a acompanhei, pensando que fosse algo a ver com o cachorro da nossa família, que ela tanto odiava.
Quem me dera estivesse certo. Com dez anos eu não entendia o que era "câncer", mas logo entendi que não era algo bom. Não, fosse quem fosse esse tal câncer, à partir daquele momento era meu inimigo. Era por culpa dele que eu estava vendo essa cena. Minha mãe debruçada em um caixão, chorando sobre o corpo de meu pai, que o câncer matou. Não aguentei ver aquilo, simplesmente não aguentei.
Então corri. Corri até minhas pernas fraquejarem, mas continuei correndo. Só parei quando cheguei a minha casa, onde subi as escadas correndo e me tranquei no quarto. Hoje eu me arrependo de ter feito isso, de ter preocupado minha mãe desse jeito. Ela saiu do velório do meu pai e me seguiu até em casa, desesperada. Começou a bater na porta e me disse para sair de lá, sem parar de chorar nem ao menos disfarçar o choro, respondi simplesmente: "me acorde quando setembro acabar".
É aí que chego ao começo do meio da historia. Eu tinha dezessete anos quando começou, à propósito, meu nome é Billie. Era começo de setembro. Eu estava na praia com meus amigos. Eles jogavam vôlei e eu estava em baixo do guarda-sol, protegendo minha cabeça, antes que ela fritasse. Foi quando ela veio até mim, sorrindo. Seus cabelos pretos amarrados em um coque frouxo, seus olhos cor de mel semicerrados por causa do sol. A primeira coisa que ela me disse foi: "você pode me ajudar?"
Não acredito muito em destino, mas tenho certeza que naquele dia ele funcionou. Se eu tivesse ficado na minha casa, ao invés de ir ver meus amigos jogarem, bom, não teria conhecido ela. Passava a temporada na Califórnia, eu fui seu guia, já que ela não conhecia nada (era de NY). Passamos setembro juntos, como amigos, mas hora ou outra eu era pego de surpresa, pensando nela. Mesmo sendo três anos mais velha do que eu, ela tinha feições de quinze anos. Hora ou outra eu pensava no rosto dela, nos olhos dela.
Setembro passou tão rápido e no último dia de verão, ela virou para mim, pegou meu braço e escreveu um endereço, depois disse: "Me escreve." E entrou no trem. Passei quase um mês com aquele endereço escrito em uma folha em cima da minha mesa. Até que um dia tomei coragem e escrevi. Trocamos cartas por um ano e meio, até ela ir morar na Califórnia. Foi aí que eu comecei a odiar menos o verão, afinal, tinha conhecido ela no verão.
Depois de mais meio ano de amizade, um dia quando assistíamos Titanic, virei para ela no meio do filme e a pedi em namoro.
Foram mais dois anos passados. Namoramos, estudamos, mas eu sempre seguia meu sonho de ter uma banda. Ela sempre me ajudava. Até que um dia consegui um contrato, no outro minha banda estourou, no outro eu era famoso. A fama pode acabar com alguns, mas não comigo. Eu fazia o que queria fazer, na hora que queria. Não dava satisfações à imprensa, não deixava que invadissem a minha privacidade. Fui me tornando "poderoso", mas principalmente corajoso. Até que um dia, no meio de um show em que ela estava nos bastidores, chamei-a no palco e pedi sua mão em casamento.
Eu já tinha vinte e quatro anos. Sete anos haviam passado tão rápido quanto sete dias. Depois de um ano de casados tivemos nosso primeiro filho, e depois de três anos, nosso segundo.
Se voltassem no tempo, no dia que a conheci, e me perguntassem se eu imaginaria meu futuro assim, eu responderia não. Nunca imaginei que fosse conhecer o amor da minha vida em um verão. Em setembro. Eu e ela já estávamos casados havia seis anos quando enfim contei o verdadeiro motivo pelo meu ódio ao verão. Diferente de como eu disse no começo, no final eu disse pra ela: "Mas agora eu gosto do verão". Ela me perguntou o porquê e eu respondi: "Foi no verão que nos conhecemos." Foi bom que ela soubesse que um dia eu voltei a gostar do verão, já que agora não posso dizer o mesmo.
Depois de um mês descobrimos que ela estava com câncer. O bendito câncer, de novo. O médico disse que não podia fazer nada, já que o câncer havia se espalhado por todo o corpo, mas recomendou que aproveitássemos os próximos três meses mais do que qualquer outro mês em nossas vidas. Nos primeiros dias, não fizemos isso. Eu e ela tivemos nossas primeiras discussões, eu falava para ela tentar se cuidar e ela dizia que não havia mais jeito.
— Você ouviu o que o médico disse, Billie, não tem mais jeito. Será que você pode deixar isso para lá? Eu quero aproveitar os últimos meses da minha vida ao lado do meu amor e dos meus filhos. Por favor – ela me disse um dia, com lágrimas nos olhos. Foi aí que eu acordei, percebi o que estava fazendo, o erro que estava cometendo.
Foram os melhores três meses da minha vida. Nada, nem todo o dinheiro desse mundo, poderia pagar os últimos meses que passei ao lado da minha amada. Realizamos desejos que tínhamos quando crianças, adolescentes e desejos de adultos. Viajamos para cada canto do mundo, dei a ela cada tipo de flor que eu conhecia. Não houve um dia sequer que fossemos dormir sem sorrir. Por três meses eu esqueci o que nos aguardava: o meu maior medo.
Um dia ela resolveu voltar para casa, mas seu último desejo foi que fôssemos a praia que nos conhecemos. Deixamos os meninos com Mike e fomos até a praia onde tudo começou. Sentados na areia, lado a lado, as mãos entrelaçadas. Assistíamos ao por do sol. A cabeça dela estava apoiada no meu ombro. Seu pé descalço brincava com o meu. Quando o sol estava quase sumindo no horizonte, ela sussurrou:
— Billie? – Levantando a cabeça, ela olhou para mim. Lágrimas rolavam por sua face, mas ela mantinha um sorriso na boca. – Obrigada por tudo. Você é um homem maravilhoso. Todos os dias eu me pergunto se eu merecia você de verdade. – Ela respirou fundo e limpou algumas lágrimas. – Obrigada pelos filhos lindos que você me deu. Espero que você cuide deles muito bem, pois eu sei que é capaz. Obrigada por cada instante que me fez rir; obrigada por sempre se carinhoso comigo. – Mais lágrimas saiam dos seus olhos e dos meus também. – Obrigada por eu ser a única que pôde mexer nos seus cabelos rebeldes. – Ela riu entre as lágrimas. – Eu sempre sonhei com o príncipe encantado, mas posso dizer com todas as palavras que achei muito mais do que um. Você é meu mundo, e sabe disso. Obrigada por esses anos maravilhosos. Nunca imaginei que alguém suportasse tanto tempo ao meu lado, mas você conseguiu. Obrigada por esses três meses; foram os melhores da minha vida. – Ela secou mais lágrimas e respirou fundo. – Mesmo depois que eu morra vou estar com você, nos momentos de dor e de alegria, sempre que você olhar para o céu, é lá que eu vou estar, cuidando do meu maior tesouro. Não sinta vergonha de falar comigo. Estarei te ouvindo. Vou sempre te ouvir. – Ela parou de falar. As palavras não saíam de sua boca, mas as lágrimas caíam rápido. Arrependo-me de não ter dito nada mais comovente, mas acho que foi o melhor, quando abri a boca simplesmente disse: "Eu te amo", ela sorriu e sussurrou: "Eu também", selando nossos lábios, enquanto o sol desaparecia no horizonte.
Ela morreu no dia seguinte, como previra. Desde então, foram anos difíceis, mas eu havia feito uma promessa e eu tinha uma responsabilidade. Cuidar dos meus filhos, dos nossos filhos. Quando tudo parecia impossível, eu olhava para o céu e a resposta parecia estar lá. Todo ano eu ia até a praia onde tudo começou para jogar flores na água; cada ano uma flor diferente.
Meus amigos tentavam empurrar mulheres para mim, mas eu sempre negava. Eu não havia me divorciado dela e esperava, com todas as minhas forças, voltar a ser seu marido um dia. Talvez quando eu me juntasse a ela. Se dependesse de mim e do meu trabalho com a criação dos meninos, acho que sim. Eles cresceram responsáveis, educados, inteligentes e fiéis. Eram meus melhores amigos e eu era o deles, mas o tempo passou e eles cresceram. Cada um tomou seu caminho, indo para a universidade, encontrando suas mulheres e eu me sentia mais uma vez sozinho. Mas mesmo depois de tanto tempo, nos piores momentos, naqueles que eu me sentia mais sozinho, triste e angustiado, eu olhava para o céu e sentia como se ela estivesse ali ao meu lado, bagunçando o meu cabelo e me chamando de cabeçudo.
A morte faz parte da vida. Temos que encarar. Perdemos pessoas que amamos, alguns se esquecem delas, outros, como eu, nunca esquecem e acreditam que essas pessoas que amamos estão em algum lugar cuidando de nós. Já faz vinte anos desde que ela partiu. Eu ainda choro, mas diferente dos primeiros anos, agora eu sei lidar com isso. Nos três primeiros anos era difícil até olhar para o céu, quanto mais visitá-la. Mas depois de vinte anos, aqui estou eu. Sentado na frente de onde ela descansa, colocando um buquê com todos os tipos de flores sob a memória dela.
– Eu sei que você está aqui. Eu nunca vou te abandonar. Não se preocupe, Mike e Tré nunca entenderão que o que eu sinto por você vai além dessa dimensão. – Sorri, ainda olhando para o buquê que estava sob o túmulo. – No seu último dia na terra, você me agradeceu. Eu nunca te agradeci e isso me envergonha. Espero que aceite esses agradecimentos, após vinte anos. Obrigado por ser a melhor pessoa que eu já conheci, obrigado por ter me dado filhos maravilhosos, obrigado por me mostrar o certo e o errado, obrigado por me fazer um dia ter voltado a gostar do verão. Obrigado por estar sempre ao meu lado, por me fazer sentir mais seguro. Você me dá forçar e, seja lá onde esteja, espero que um dia me aceite de volta. – Respirei fundo e olhei em volta. O cemitério estava vazio, a não ser por uma mulher que rezava quatro túmulos para a esquerda. – Todo ano quando setembro chega eu tenho vontade de apagar, fazer com que ele passe e eu não o viva. Você sabe como é difícil... Continuar sem você é e sempre foi difícil, mas obrigado por nunca me permitir desistir. Você é o amor da minha vida, sempre será. – Levantei olhando para o túmulo onde se lia o nome Adrienne Nesser Armstrong, e logo em baixo o epitáfio: "Ótima mãe e esposa. Tornou o verão algo bom." Respirei fundo e disse:
— Obrigado por nunca me deixar perder nenhum setembro da minha vida. – Limpei algumas lágrimas que insistiam em cair e me afastei do túmulo devagar. Uma brisa quente com cheiro de chuva bateu na minha face, o sol ia se pondo.
Depois de alguns minutos, a chuva começou. Eu ainda rumava para casa, sem guarda-chuvas, então olhei para cima, onde as estrelas brilhavam mais do que nunca por entre as nuvens. Fechei os olhos e a última coisa que me lembro foi de ouvir Adrienne me chamar."
FIM.
Nota da Autora: aw gente, minha primeira Short, não peguem pesado cmg ok? Eu amo essa short, sempre me faz chorar. Enfim, obrigada por lerem e sei lá, comentem ai... Quero agradecer também às minhas amigas: Bruna e Beatriz, que são minhas leitoras número um e agradecer à minha beta, Amy, que é super fofa. *-*
É isso, gostou comente, não gostou, comente também. Beijos pra vocês.
xoxo