Como a vida é sarcasticamente perfeita! Sempre me pego falando esta frase. Num dia você é uma estagiária de Economia numa grande empresa de música inglesa, e no outro, você é simplesmente uma garota comum, com seus 22 anos, que como qualquer outra se apaixona das formas mais improváveis e pelas pessoas mais impossíveis que existem. Me chamo , e eu sou essa garota e a pessoa impossível em questão é meu professor de Tango, o Sr. . Um rapaz de 27 anos, de olhos perfeitamente , corpo esbelto, curtos cabelos , dono de uma voz maravilhosamente doce e de um jeito extremamente firme. Aparentemente ele não está fora do meu alcance, contudo basta olhar mais um pouco pra perceber o porquê. Ela. Exatamente! Vilani, a parceira de dança e noiva do há dois anos. Ela não era necessariamente uma pessoa simpática com as alunas do noivo, e nem se mostrava totalmente leal, mas se ele a escolhera para viver ao seu lado, a única coisa que eu posso fazer é lamentar... E lamentar muito ao assistir, sentada num canto do salão, os dois trocarem olhares e beijos apaixonados antes da aula iniciar. Ahh como eu queria estar no lugar dela... Quem me dera ter essa sorte, quem me dera!
***
- Olá, pessoal! Vamos começar? – chamou-nos, fechando a porta atrás de si. Nos levantamos e cada um colocou-se ao lado de seu parceiro, restando apenas uma pessoa sozinha... EU! Olhei para os lados, visivelmente constrangida e ele riu se aproximando de mim.
- Você será minha parceira hoje, ! Tudo bem? – a imensidão azul dos seus olhos hipnotizou-me e eu fiquei em silencio por sei lá quanto tempo, voltando a mim somente quando ouvi meu nome ser chamado novamente pela sua voz doce.
- Aham! – respondi com um tom totalmente bobo. Argh como eu sou idiota, fiz papel de lesada na frente dele, falando com ele! Parabéns, , mais uma bola fora. puxou-me pela mão para o centro do salão, e começou a ministrar a aula. Ele passou seu braço ao redor da minha cintura e puxou meu corpo para perto do seu. Nem preciso dizer que estremeci ao sentir o calor do seu corpo junto a seu perfume. Controlei meus sentimentos e passei meu braço esquerdo ao redor de seu pescoço, segurando de forma delicada sua cabeça com a minha mão. curvou meu corpo para baixo, repousando sua cabeça sobre o meu colo, e congelamos por poucos segundos esperando que a música se iniciasse. Dançar ao lado do desabrochava toda a sensualidade escondida em mim, ao lado dele eu me sentia mulher, adulta... Ouso até a dizer, poderosa. Nos movíamos com leveza pelo salão sendo seguidos atentamente pelos alunos com seus pares. Suas expressões faciais me encantavam a cada passo da nossa dança: seu olhar tão intenso, tão azul, me inquietava; sentir o toque quente de suas mãos sobre as minhas costas desnudas me arrepiava por completo, e sua respiração ofegante ao tocar meu pescoço me confundia os sentidos. Deus, como não amar este homem? Rodopiamos pelo salão mais alguns minutos e então a música parou. separou seu corpo do meu, e repetiu a canção ensinando passo a passo para aqueles que ainda estavam inseguros. Afastei-me do salão em direção as barras de apoio no fundo, encostando-me a elas em seguida. Observei ao longe ele guiar os passos de alguns casais de alunos, enquanto bebia minha água. Ele era tão gentil, tão simpático com seus alunos, merecia alguém mais legal do que a , ela era linda, com seus longos cabelos alaranjados e seus olhos cor de mel, mas seu jeito fútil estragava qualquer beleza que emanasse dela. Alguns minutos se passaram e a aula de hoje finalizara, arrumei minhas coisas dentro da bolsa e andava em direção à porta quando senti meu braço ser puxado por alguém.
- ! – chamou-me, soltando delicadamente o meu braço. Sorri em resposta ao doce sorriso que me ofereceu e então ele continuou. – Você foi muito bem hoje. Acho que está quase pronta pra dançar em competições!
- Ah, obrigada! Eu tenho um ótimo professor, então fica fácil crescer como dançarina! – brinquei e nós rimos juntos, respirando um pouco cansados no fim.
- Você tem algum compromisso hoje à noite? – Oi! Eu ouvi direito? Ele perguntou se eu tenho algo pra fazer hoje à noite... Será que ele quer me chamar pra sair? Mas... e a ? Demorei uns segundos processando dentro da minha cabeça o que aquela pergunta poderia significar, mas preferi apenas responder a simples verdade: Eu quase nunca tenho algo pra fazer a noite. Estou sempre em casa, depois das sete horas que é quando acaba a aula de dança, geralmente organizo alguma coisa do trabalho, mas hoje estou TOTALMENTE livre.
- Hum... acho que não! Ao menos não recordo de nada – tentei parecer menos disponível; dizem que isso aumenta a vontade da pessoa em querer sua presença. – Por quê?
- Ahh é que eu e a vamos participar de uma competição de Tango Argentino hoje na Surya, pra ajudar uma instituição de crianças com câncer e eu gostaria muito que você fosse assistir. – Ah entendi! Ele me chamou pra assistir o ‘maravilhoso’ casal de dançarinos ganhar mais uma competição de dança, e depois eu voltar pra casa sozinha enquanto ele sai junto da sua amada noiva pra comemorar a vitória. Programão hein?!! Eu poderia dizer não, eu deveria dizer não, mas aqueles olhos... ah, aqueles lindos olhos me encarando de um jeito tão doce, tão menino... Eu não pude resistir. Honestamente não pude!
- Ah claro, ! Vai ser ótimo. Vou estar lá na primeira fila torcendo por você! – falei tentando parecer animada o suficiente. Não que fosse ruim vê-lo dançar, mas vê-lo com ela, sim, era horrível.
- Então nos vemos daqui a pouco, ok?!! – acenei que sim com a cabeça e ele saiu em direção a sua mochila preta no final do salão, saindo junto de mim logo após.
***
Lá estava eu, sentada na primeira fileira improvisada, próximo ao salão onde logo mais os 20 casais de dançarinos se apresentariam. Eu trajava uma calça jeans escura e uma blusa branca lisa, coberta por um grosso casaco de lã vermelho junto às minhas inseparáveis botas pretas. Nada sensual, nem elegante, devo dizer, mas eu não estava ali pra competir com ninguém mesmo, então não precisa me enfeitar toda só pra ver a minha maior rival sair vitoriosa ao lado do cara que eu amo. Esperei por mais alguns minutos até que o avistei se aproximar de mim, com um papel colado na altura do peito esquerdo escrito o número 77. Sorri involuntariamente e levantei-me para abraçá-lo. Ele beijou minha face e eu praticamente derreti com seu gesto.
- Que bom que você veio, . Quero muito que você se acostume com todo esse universo. Vou te preparar pra competir no próximo ano! – disse ele tão gentil como sempre e eu, surpresa com a notícia, abracei-o novamente com muito mais força que antes. se aproximou de nós e abriu um sorriso extremamente falso para mim e levou-o em direção ao centro do salão. Gritei um “boa sorte” antes dele se posicionar e começar sua apresentação. Sentei-me e então ouvi o dedilhar das primeiras notas da canção enquanto ele se abraçava a , com o rosto em seu pescoço.
A smoky room, a small caffeM/b>
(Um salão esfumaçado, num pequeno café) They come to hear you play
(Eles vêm para ouvir você tocar) And drink and dance the night away
(E beber e dançar a noite toda) I sit out in the crowd
(Eu me sento no meio da multidão)
And close my eyes
(E fecho os olhos) Dream you're mine
(Sonho que você é meu) But you don't know
(Mas você não sabe) You don't even know that I am there
(Você nem sabe que eu estou aqui)
Observá-lo se mover tão sedutoramente, abraçando com o braço direito a cintura da sua parceira, olhando-a tão firmemente nos olhos, sorrindo discreta e lindamente, piorou ainda mais o efeito que a letra daquela canção causava em mim. Eu sempre amei o , desde a primeira conversa, desde o primeiro olhar, deste a primeira dança... Pena que ele não tenha me notado antes da aparecer na sua vida. Pena que eu nunca tive coragem suficiente para contar-lhe tudo o que sinto!
Steal my heart with every note you play
(Rouba meu coração com cada nota que você toca) I pray you'll look my way
(Eu oro pra você me notar) And hold me to your heart someday
(E me ter no seu coração algum dia) I hope to be the one that you caress with tenderness
(Eu queria ser a pessoa que você acaricia com suavidade) And you don't know
(Mas você não sabe) You don't even know that I exist
(Você nem sabe que eu existo)
Imaginei-me por alguns segundos no lugar de , com meu corpo próximo ao dele, dançando ao seu lado, tocando seus braços, sendo a única que importava para . Fechei meus olhos reprimindo as lágrimas que teimavam em desabar de meus olhos ao notar que, não importava quantas danças eu ainda dividisse com ele, nenhuma delas seria assim, em nenhuma delas ele me olharia dessa forma tão apaixonada, tão intensa. Suspirei fundo, voltando minha atenção para os dançarinos, que estavam quase acabando a sua performance coletiva, para que minutos depois retornassem para se apresentarem individualmente. segurou no alto e depois desceu-a rápido, segurando seu corpo pela cintura, finalizando assim seu número. Muitas palmas foram ouvidas e os dois logo deixaram o salão sorridentes em direção aos camarins onde fariam a troca de roupas para a segunda dança. virou para mim e sorriu acenando com a mão, antes de desaparecer da minha visão. Tentei sorrir verdadeiramente, mas a dor que sentia em meu peito era muito maior do que a minha alegria por vê-lo dançar tão bem, naquele momento o que passava pela minha cabeça era apenas uma coisa: Eu amava o , e ele tinha que saber disso! Eu não poderia adiar mais em contar-lhe esta verdade, não seria justo comigo passar a vida inteira chorando e sofrendo por alguém que nem ao menos sabe que eu sonho com ele todos os dias, que eu continuei e me dediquei às aulas de dança apenas para ser o motivo do sorriso maravilhoso que ele tem, de que tudo o que eu mais queria era ser sua... Decide tomar uma atitude, e seria agora! Sai em dispara no caminho que levava aos camarins dos dançarinos e em poucos minutos encontrei a porta que dizia Mr. & Mrs. Vilani. Abri a porta e nenhum deles estava lá, peguei um pedaço de papel e uma caneta que estavam jogados na penteadeira e comecei a escrever tudo o que escondi por muito tempo. Assim que terminei, eu coloquei o papel dentro das coisas de , deixei o camarim e parti em direção a minha casa. Não queria estar ali para ver qual a sua reação, eu já sabia qual seria, ele nunca me amou, e nem imagina que eu o amei durante estes pouco mais de 180 dias em que convivemos. Eu não suportaria vê-lo me rejeitar, não aguentaria conviver com ele, amando-o cada vez mais e vendo não se importar. Deixei o salão com lágrimas nos olhos e passei pelo estúdio onde ele lecionava para trancar a minha matrícula nas aulas. Eu não voltaria mais a vê-lo, não seria mais sua aluna, só assim eu poderia esquecê-lo e tentar ser feliz!
***
´s POV
A última dança tinha sido perfeita! é uma dançarina sem igual e acredito que os jurados gostaram muito do nosso desempenho. Virei-me em direção a plateia e lá estava ela... sorria fraco, com seus cabelos avermelhados caindo sobre os ombros cobertos pelo casaco vermelho, acenei para que ela, que retribuiu e logo fui puxado por em direção aos camarins, perdendo-a de vista.
- , eu vou beber uma água e falar com algumas amigas antes de voltarmos, temos uns dez minutos de intervalo, prometo que não demoro, tá?! – disse Ali, beijando a minha face, antes de sair correndo na direção de uma grande mesa branca, onde estavam algumas garrafinhas de água e várias bandejas cheias de frutas. Voltei para o salão a fim de encontrar para conversar um pouco, já que eu a convidei era meu dever não deixá-la sozinha. Não que eu ache ruim conversar com ela, nossos diálogos sempre foram muito divertidos. Ela é uma pessoa muito doce, gentil e extremamente bela, ainda não entendo porque nunca a vi com alguém! Procurei por todos os lugares e nada dela, decidi voltar para o camarim, logo começariam as apresentações e nós éramos o quinto casal. Passei pela mesa branca e peguei uma maçã enquanto procurava por , mas também não a encontrei. Cheguei a porta do camarim e ouvi risadas em seu interior, reconheci a voz de , que ria junto com um voz masculina muito parecida com a de seu amigo de colégio Max McGuiness. Encostei-me a porta entreaberta e então pude ver claramente o que acontecia ali...
- Cadê o teu noivo bocó hein, Ali? – perguntou Max num tom de total deboche. deu-lhe um pequeno tapa no ombro e ainda rindo respondeu
- Sei lá! Deve estar fazendo sala para uma tal de , uma aluna que falta babar na frente dele. Uma oferecida que vive tentando roubar o que é meu. – respondeu ela, olhando para suas unhas, recebendo um longo beijo do cara. Ela estava sentada em seu colo, e ele mexia em seus cabelos alaranjados, da mesma forma que eu sempre fazia.
- Quando você vai largar esse idiota, Ali? Você sabe como é difícil não ter você comigo todos os dias. Fingir que nós não temos nada, e que eu não te desejo mais a cada segundo é uma tarefa quase impossível – falou ele, olhando nos olhos enquanto acariciava seu rosto. – Larga o e fica comigo... só comigo! Esquece essa droga de prêmio de dança e vem ser minha pra sempre... – disse ele, num tom até apaixonado pra um canalha como ele.
- Você sabe que eu não posso, Max. Esse prêmio é a realização da minha vida, a porta aberta para todas as melhores oportunidades que eu já tive. E eu preciso do pra ganhar, ele é o melhor dançarino que eu conheço... Só com ele eu posso vencer! – , ficara de pé enquanto explicava ao “namoradinho” o porquê de ter mantido essa farsa que eu chamava de noivado todo esse tempo. Ela só precisava do meu talento, da minha dança, do que podia oferecer para ELA ganhar. – Eu te amo, Max... Confia em mim! Hoje isso acaba. Assim que eu receber aquele troféu eu largo o e fico com você, só com você! Para sempre... – falou, segurando delicadamente o rosto do homem, que a beijou intensamente. Ver toda aquela cena me encheu de nojo e uma raiva imensa tomou conta do meu corpo, tudo em que eu pensava era em destruí-la, machucá-la da mesma forma que ela fizera comigo. Entrei como um furação, empurrando com força a porta, que bateu forte contra a parede.
- – olhou-me assustada e largou o corpo de Max, correndo em minha direção. Empurrei-a para o lado e andei em silencio em direção a minha mala guardando a roupa que usaria na próxima dança de qualquer jeito dentro da mochila, fechando em seguida e andando em direção a porta.
- ... aonde você vai? Ainda temos uma dança esqueceu!! – disse , como seu eu não tivesse visto nem ouvido nada do que acabara de acontecer. Permaneci em silêncio, apenas caminhando em direção a saída.
- Você não pode fazer isso comigo, , volta aqui. , você não tem o direito de me abandon...
- CALA ESSA BOCA! – gritei raivoso, virando-me em direção a ela, que deu dois passos para trás, extremamente assustada. – Você não tem direito nenhum, , você é uma traidora egoísta. Você me enganou todo esse tempo, subiu as minhas custas, me usou, disse que me amava, me traia com esse aí e tudo isso pra conseguir uma porcaria de um prêmio. – esbravejei, apontando o dedo para ela, que se encolhera atrás de Max. Ele me olhava sério, ora parecia quer dizer algo, mas todos os argumentos lhe faltavam, esse sabia que o que eles fizeram fora desonesto, desumano, imerecido de perdão.
- Eu amava você, , de verdade. Se você tivesse sido verdadeira comigo desde o início, se tivesse pedido a minha ajuda pra dançar, sem precisar fingir que gostava de mim, eu teria ido com o maior prazer e hoje você estaria ganhando o prêmio que sempre desejou. Mas depois de tudo o que eu acabei de ouvir e ver, a única coisa que quero é te ver bem longe de mim. Eu tenho nojo de você, ! Nojo! E tenho raiva de mim, por não ter percebido o quanto você era mentirosa, falsa. E quanto a você, Max – disse olhando para ele, que permaneceu calado – Eu só posso dizer que tenho pena! Você realmente gosta dessa mulher, mas vai acabar como eu... rejeitado, trocado por alguém que ofereça mais a ela do que você. – arranquei a aliança de meu dedo e joguei-a no lixeiro ao lado da porta.
- Felicidades aos dois! Sejam muito felizes nessa mentira que você inventou, ... – falei saindo do camarim – E mais... você não é mais minha parceira de dança no estúdio. Pode passar lá na segunda para pegar as suas coisas! – sai andando em direção ao estacionamento, chegando logo ao meu carro e partindo para o estúdio. Precisava pensar, precisava me livrar dessa raiva que me dominava, do amor que eu ainda tenho por ela. Tinha que ser forte, tinha que ser firme, tinha que voltar a ser o de antes, que nunca se deixou abalar. Entrei no estúdio em penumbra, joguei minha mochila em qualquer canto e, literalmente, desabei. As lágrimas rolaram por meu rosto, a dor em meu peito se tornou mais forte, a raiva e a decepção se intensificaram e eu não consegui levantar. Não sei quanto tempo passei deitado naquele chão frio, só me lembro de levantar-me junto com os raios do sol e fechar o estúdio naquela triste manhã de domingo.
´s POV OFF
Meses passaram e tudo continuava igual. Eu deixara as aulas de dança, não tive mais notícias de nem de , seguindo em frente com o meu trabalho, mas mesmo tentando de todas as formas esquecê-lo, o que eu sentia só aumentava a cada dia. Dias eu passei chorando escondido pela falta que ele me fazia, mas eu tinha que ser forte, não podia ceder a minha vontade de vê-lo, ele não me ama e eu tenho que aceitar isso. Estava sentada num Starbucks próximo ao meu apartamento, esperando meu pedido. Hoje era o dia do meu aniversário e eu comemoraria sozinha comendo meu amado muffin de morango e meu chocolate quente. O leve frio do começo da primavera impedia poucas pessoas de saírem de casa e por essa razão o restaurante estava cheio naquele dia. Sentei-me numa mesa próxima do pequeno palco no centro do restaurante, apreciando a doce voz de uma moça loira com seu violão. Respirei fundo ao avistar casais dançando a romântica canção que ela cantava e fechei meus olhos, reprimindo o verter de algumas lágrimas.
- Linda música! – abri meus olhos instantaneamente ao reconhecer aquela voz. Virei minha face olhá-lo e meu coração disparou ao enxergar aqueles lindos olhos e o sorriso perfeito na face do , enquanto tocava meu ombro com sua mão esquerda.
- ! – falei calma, tentando não gaguejar. – É sim, uma música realmente perfeita. – falei, sorrindo levemente apontando para a cadeira a minha frente, para que ele sentasse.
- Quanto tempo eu não te vejo, . Como você está? – perguntou ele, sentando-se a minha frente, sem tirar o olhar de mim. Encabulada com o peso de seu olhar sobre mim, corei um pouco e respirei fundo antes de responder-lhe.
- Estou bem! Levando a vida como posso. Muito trabalho, pouca diversão... Ossos do ofício. – falei dando de ombros e ele riu um pouco. Perdi-me momentaneamente no seu olhar e permanecemos em silêncio nos olhando. Tentei pensar em algum assunto que nos tirasse daquele incômodo, mas nada me vinha à mente. O que deseja naquele instante era que ele dissesse que seria meu... apenas meu!
- ... – começou, meio sem jeito, e eu rapidamente desviei meu olhar da mesa para o seu rosto. Ele respirou um pouco antes de voltar a falar, tirando algo do bolso de seu casaco. – Eu encontrei isso dentro das minhas coisas dias depois do concurso de dança. – empurrou o pequeno papel rabiscado com a minha letra, o mesmo papel em que eu escrevera tudo o que tenho guardado todo este tempo. Fechei os olhos, totalmente envergonhada, não sabia o que dizer, não teria coragem de explicar...
- , eu... – comecei, mas ele não me deixou terminar. Tocou meu lábio com o dedo e começou a ler as linhas escritas naquele papel.
...
Não faço ideia de como começar isso! Primeiro, quero dizer que sua dança de hoje foi maravilhosa, esse prêmio com certeza é seu. Mas, não é isso que eu quero escrever aqui. Eu tentei todos estes dias, esquecer, me afastar, respeitar a realidade dos fatos, mas por mais que eu me esforce eu continuo a te amar da mesma forma que eu amava quando entrei naquele estúdio para a minha primeira aula de dança. Você sempre foi gentil, tão atencioso, tão compreensivo comigo e isso só aumentou o amor que eu sinto por você. Cada vez em que dançamos juntos, eu me sentia inteira, ao seu lado eu estava completa... Mas eu não podia tê-lo só para mim, você tem a e eu não posso mudar isso. Mas também não posso conviver com as imagens de vocês juntos todos os dias em minha mente. Por isso eu estou largando as aulas de dança. Eu te amo demais, mas também preciso cuidar de mim, e estar perto de você, amando você e não te ter me machuca demais. Perdão por não estar dizendo isso olhando em seus olhos, mas eu não conseguiria olhá-lo e depois deixá-lo. Desejo que sejas muito feliz com a e que ela seja merecedora do amor que eu sempre desejei ser meu. Te amo mais do que eu posso contar...
Ele finalizou a carta e meu rosto estava totalmente vermelho. As lágrimas que eu tanto lutei para reprimir rolaram facilmente pelo meu rosto. Meus olhos estavam fechados, minha cabeça estava abaixada; não conseguia olhar para ele, não tinha coragem. Respirei fundo várias vezes, tentando acalmar meu coração e enxuguei os resquícios das lágrimas que rolaram. Levantei meu olhar na direção do , que me olhava terno, apenas esperando que eu dissesse algo, como uma explicação para tudo aquilo.
- , eu não sei o que te dizer! Não sei como explicar tudo isso. Não planejei me apaixonar por você, mas aconteceu e eu não pude evitar. Tive que me afastar de você pra tentar te esquecer e ser feliz com outra pessoa, ou até mesmo sozinha. Não tinha o direito de bagunçar a sua vida, por um sentimento que eu nem ao menos sabia se você tinha por mim também. – Ele me ouvia atento, girando o papel entre seus dedos.
- ... Você ainda me ama? – perguntou ele, depois de mais um longo momento de silêncio. Olhei-o confusa, e por mais que eu devesse dizer não, eu disse sim. Um sim tão doloroso e ao mesmo tempo aliviante. Agora ele ouvira de mim a confirmação para o que estava escrito no papel em suas mãos.
- Isso era tudo o que eu queria saber! – levantou-se da cadeira e andou até chegar ao meu lado e estendeu-me a mão direita.
- Dança comigo mais essa vez? – perguntou, e eu ainda mais confusa do que antes, aceitei, segurando sua mão para levantar. Andamos silenciosos em direção ao centro do salão, exatamente no momento em que a garota iniciava a canção Somewhere Only We Know. Nos posicionamos no salão e começamos discretamente a nos mexer no ritmo das notas do violão.
- Eu deixei a ! – falou minutos depois que começamos a dançar. Pausei a dança e olhei-o tão ou mais confusa do que quando nos levantamos da mesa. – Eu descobri que ela nunca me amou. Ela só meu usou para conseguir oportunidades melhores no mundo da dança.
- Mas que vaca... – falei baixinho, mais para mim do que para ele, mas ainda assim ele ouviu e riu um pouco. – Quando você soube disso? – perguntei curiosa e raivosa ao mesmo tempo. Como ela pôde?
- No dia do concurso no Surya. Eu encontrei ela e o Max no camarim aos beijos e ela acabei ouvindo a conversa deles. Ela sempre esteve comigo e com ele ao mesmo tempo... Fui um idiota!
- Ei, não diga isso! – falei, segurando em seu braço. – O erro aqui é da e apenas dela. Ela te enganou por egoísmo, você só se apaixonou por uma pessoa, você nunca esteve errado. – falei sorrindo ternamente, e ele tirou minha mão de seu braço, unido-a a sua logo depois.
- Estive sim, ... Estive errado todo esse tempo por não perceber que a pessoa certa estava bem do meu lado e eu iludido com alguém que nunca me quis de verdade. Você sempre esteve comigo, sempre me apoiou, sempre se preocupou comigo e sempre cuidou de mim, e eu cego, nunca notei isso. – ele falou, tocando meu rosto delicadamente. Fechei meus olhos ao sentir seu toque, ainda não estava acreditando que aquilo estava mesmo acontecendo.
- Eu percebi o quanto você é especial e importante na minha vida. Todos estes meses em que eu não tive nenhuma noticia sua, senti-me tão vazio... Sem você as aulas começaram perder o sentido, minhas tardes e noites se tornaram tristes e solitárias. Senti falta do seu sorriso, da sua voz, do seu toque carinhoso... de você inteira. Depois que li aquela carta, eu abri os meus olhos. Eu enxerguei você de um modo diferente e me vi ao seu lado, sendo o homem mais feliz da face da terra. – lágrimas, muitas lágrimas de pura felicidade verteram em meu rosto e meu sorriso se alargava a cada palavra que pronunciava. Não podia acreditar que ele estava ali me dizendo tudo aquilo, não acreditava que ele também me amava.
- Eu te amo, . Demorei tempo demais pra perceber isso, mas eu entrei aqui nesse restaurante, assim que te avistei sentada naquela mesa, decidido a conquistá-la de novo de fosse preciso. – ela enxugou uma das muitas gotas que estavam em minha face e sorriu da forma mais linda que eu já avistei. – Sei que pode ser tarde, mas você disse que ainda me ama, então eu estou disposto a compensar todo o tempo que você esperou, se você ainda me quiser ao seu lado. – acenei afirmativamente com a cabeça e joguei em seus braços, como uma criança, e ele segurou-me pela cintura, tirando-me do chão por poucos segundos.
- Eu te amo, ! – falei assim que toquei meus pés no chão. – Sempre amei e sempre amarei. Ter você ao meu lado é tudo o que eu mais quero! – falei e ele beijou minha boca cheio de amor. Finalmente sentir o toque dos seus lábios foi a melhor sensação que já provei. Ele segurou firmemente e minha cintura e intensificou o beijo, separando nossos corpos segundos depois.
- Esse foi o melhor presente que eu já recebi na minha vida. Te amo, te amo, te amo e te amo! – falei, beijando seu rosto, fazendo rir do meu modo infantil.
- Eu também te amo muito. Mas ainda não acabou... Quero te fazer uma proposta. – olhei-o, mais uma vez nesta noite, surpresa e confusa. Ele sorriu e beijou-me antes de dizer. – Quero que você volte para as aulas de dança. Preciso de uma parceira de dança e não vejo ninguém melhor do que a minha aluna mais aplicada e agora minha namorada linda. – fez uma carinha mais do que fofa de menino e eu não pude dizer não. Aceitei e nos beijamos mais uma vez dançando ao ritmo da música e sorrindo como dois garotos loucamente apaixonados e extremamente felizes.
The End
N/a: Hey, hey, hey... minhas dançarinas lindas como estão?! Bem, gostaria de agradecer a todas que tiraram um tempinho do seu dia pra ler este presente mais que especial (tomara que tenham achado) meu para uma amiga maravilhosa, com quem eu divido boa parte dos meus dias... Minha linda Rafaela; que Deus te abençoe muito e que sejas muito feliz ^^ Bem, espero que tenham gostado da fic e desejo a vocês muito mais danças ao lado do seu amor... Beijões e comentem, por favor; adoro ler!!!!