Welcome Home 2
História por Lary P. Oliveira | Revisão por Carol Mello

Não podia perder a cabeça, tinha que esperar o momento certo, aí sim eu iria colocá-la contra a parede. Eu preferia não acreditar no que tinha visto e ouvido há algumas horas. Aquele traste do Ross com a mulher pela qual eu passei os últimos quatro anos estudando, me dedicando, pra que pudesse voltar e dá-la uma vida digna...
Ela ia escutar poucas e boas, isso ia. Não deixaria que ela me fizesse de trouxa, não depois de ter cumprido minha promessa e ela não, tendo ficado com outro poucos meses depois de eu ter partido.
Após uma noite em claro, resolvi levantar e pensar no meu próximo passo. Depois de fazer minha higiene matinal, coloquei uma roupa qualquer e saí do quarto de hotel, que já estava me deixando claustrofóbico.
Minha cabeça estava tão cheia que passei direto pelo salão onde o café da manhã estava começando a ser servido e saí, sendo golpeado pelo ar frio.
Comecei a andar, meu peito batendo mais rápido a cada curva que meus pés faziam. Ao longe, avistei a cerca azul e respirei fundo, tomando minha decisão. Caminhei firme até lá, mas devagar, ao passo que Gregory acabava de sair de casa, sendo acompanhado por ela. Ele virou e a segurou pela cintura, puxando-a pra si e selando seus lábios nos dela, que continuou imóvel, com os punhos fechados. Ignorei o embrulho em meu estômago e parei, esperando que ele fosse embora. Gregory largou uma de cara emburrada e seguiu na direção de uma velha caminhonete que estava no meio fio. Depois que o carro sumiu de vista, voltei a me aproximar da casa, embora já tivesse voltado pra dentro.
Parei e me apoiei na cerca. As janelas estavam abertas, revelando uma casa clara e aconchegante, obviamente tendo sido decorada por , já que o Gregory que eu conhecia tinha a sensibilidade de uma colher de chá e eu duvido que isso tenha mudado. Continuei ali por um tempo, ora observando a vizinhança, ora vendo se aparecia pelo menos na janela. Até que ela finalmente apareceu.
- Vai ficar aí plantado o dia todo? – perguntou, se escorando no batente da janela.
- Vai ficar me ignorando o dia todo? – rebati.
Ela bufou e por um segundo desapareceu da janela, até que a porta se abriu e ela andou até as escadas, se sentando em um dos degraus.
- O que você quer? – sua expressão era séria, eu tentava ver além disso, mas se ela estava escondendo, estava fazendo isso muito bem.
- Você não acha que a gente precisa conversar?
- Olha só, , eu só não quero arranjar problemas.
- Problemas? – reclamei indignado, minha voz subindo algumas oitavas. Respirei fundo antes de continuar. – , você não pode me negar isso, eu... Nós... Eu preciso de pelo menos de uma explicação!
não respondeu, mas seu olhar foi de sério e controlado pra uma tristeza quase palpável, fazendo com que meu coração se apertasse.
- Eu achei que... Que tendo parado de responder suas cartas, você iria me esquecer e não voltaria. – ela fingiu um sorriso, que logo se desmanchou. – Entra, o ainda não acordou. – falou ela, se levantando e indicando a casa com a cabeça.
- ? – perguntei, enquanto a seguia pra dentro.
- Uhum. Meu filho. – ela não olhou nos meus olhos. – Pode sentar.
Andei até o centro da pequena sala e sentei no sofá fofo, observando-a se sentar na poltrona a alguns passos do sofá.
- Então... Pode começar. – falei.
- Começar o que?
- A se explicar.
- A me explicar? – parecia ofendida. – Eu não tenho que me explicar.
- Não? Então você acha que mesmo depois de tudo que eu fiz, pensando em você, pensando em nós, depois de passar anos sem receber uma noticia sua, nem pra saber se você tava viva, eu mereço voltar e encontrar você além de casada, com um filho de um idiota?
À medida que eu ia falando seus olhos iam se enchendo de lágrimas, mas eu não estava disposto a sentir pena.
- Responde, , você pensou em mim enquanto casava com ele? Ou se despediu de mim já pensando em casar com outro? – quando percebi já havia levantado e estava de pé diante dela, que tinha se encolhido e se recusava a me olhar.
- Você não pode falar essas coisas... – sussurrou .
- Não posso? Por que não, me dê um único motivo!
- Você não sabe do que tá falando. – sua voz permanecia quase um sussurro e algumas lágrimas haviam escapado, escorrendo pelas suas bochechas.
- Então me explica! Me explica o que é isso, me diz que é tudo mentira e que você não quebrou a nossa promessa. – agora a minha voz que havia virado um sussurro enquanto eu me agachava à sua frente e a olhava nos olhos, enxugando suas lágrimas com o polegar.
- Eu não posso...
- Mas que merda! Mas eu preciso saber! – num descontrole dei um soco no braço da poltrona em que ela estava, fazendo-a dar um pulo de susto.
- Para de gritar, meu filho ta dormindo. – ela quase implorava, ainda encolhida do susto.
- Um outro ponto. – falei, novamente de pé. – Sinceramente, se eu fosse o Ross teria pedido um exame. Ele não parece nenhum pouco o pai daquele menino.
ficou pálida de respondeu com a voz trêmula:
- M-mas ele é.
Semicerrei os olhos, vendo-a engolir em seco.
- Então é isso. Além de ter acabado com tudo que eu sonhei pra nós, acabado com tudo que eu esperava, ainda vai mentir pra mim?
- Eu não to mentindo.
Passei a mão pelos cabelos, nervoso, andando de um lado pro outro, sem conseguir acreditar no que estava acontecendo. Alguma coisa me dizia que ela ainda estava mentindo, aquele menino não era filho do Gregory coisa nenhuma, eles não tinham nada a ver um com o outro. Eu tinha quase certeza de que ele era meu. E eu tinha que saber a verdade.
- Quer saber? Se eu soubesse que você estava querendo tanto ficar com ele teria ido embora mais rápido.
- Para, , por favor. – ela enterrou o rosto nas mãos e agora eu só podia ver seus ombros balançando, até que ela levantou novamente a cabeça e me encarou. – Quer saber? Agora quem cansou fui eu. Você não sabe de nada e só fica me acusando. – ela levantou e andou até mim, apontando o dedo na minha direção. – Quando você recebeu aquela carta, uma parte de mim morreu porque sabia que você teria que ir, mas a outra parte ficou mais feliz do que tudo, porque você ia realizar o seu sonho e eu não tinha o direito de te impedir. – Respirando fundo, fez uma pausa, onde mais algumas lágrimas caíram de seus olhos. – Você não sabe o inferno que eu passei. Eu sentia tanto a sua falta que... Quando eu descobri... – seu olhar se tornou vago, como se estivesse revivendo as lembranças em sua cabeça.
- Quando descobriu...? – a incentivei, tirando-a de seus devaneios. fungou e continuou.
- O Gregory sempre tentou alguma coisa comigo, mas eu sempre neguei, nunca passou pela minha cabeça ter nada com ele, até porque tudo que eu queria eu já tinha. Mas quando me vi sozinha e com um exame de gravidez na mão... O que eu devia ter feito, ? O que você teria feito no meu lugar?
Seus olhos transbordavam sinceridade e por longos segundos eu apenas a olhei, sem saber o que falar.
- Ele é meu, não é? – perguntei bobamente.
- E não é obvio? Eu só escolhi o Gregory porque eu sabia na época que os pais dele só iam liberar a herança de uma tia dele quando ele se casasse. Então eu achei que seria um bom contrato. Eu casaria com ele e ele receberia a herança, ele casaria comigo e não encostaria um dedo em mim, apenas me deixaria ter meu filho em paz. Eu nunca te traí, . Cada segundo que nós passamos longe um do outro eu te amei. Cada vez mais.
Eu a olhava pasmo, tudo fazendo sentido pra mim, agora. Em apenas alguns passos largos cheguei até ela e enlacei sua cintura com um braço, puxando-a pra mim e com a outra segurei em sua nuca, fazendo nossos lábios colidirem. Um som choroso saiu de sua garganta e seus braços envolveram meu pescoço, me levando ainda pra mais perto dela.
Meu coração batia furiosamente enquanto eu a apertava em meus braços, tentando acabar com toda aquela saudade insana que eu havia sentido todos esses anos.
- Eu nem acredito que você ta aqui. – falei quando finalmente nos separamos, mesmo que apenas alguns centímetros, em busca de ar.
- Eu nunca saí daqui, . Só não estava presente fisicamente, mas eu estive com você em todos os momentos. – Seus olhos castanhos brilhavam e eu não me lembrava de ter me sentido mais feliz. Dei um longo selinho nela antes de recomeçar a falar.
- E além de te ter de volta, eu sou pai – falei, sentindo aquela realidade se entranhar por todo meu corpo. – Eu sou... Pai.
riu e acariciou meu rosto com o polegar.
- É. Você é pai. Quer conhecer seu filho? – engoli em seco e acenei, dizendo que sim com a cabeça.
Subimos uma escada que dava para um corredor curto. Entramos na primeira porta à direita, em um quarto todo azul, com papel de parede de estrelas. Havia uma cama no canto do quarto, onde o menino loiro dormia tranquilamente, alheio a qualquer coisa que estivesse ocorrendo à sua volta. Enquanto subíamos, ia contando que ele faria quatro anos em três meses. Fui até a beira da cama e me agachei, ficando próximo de seu rosto. Senti se agachar ao meu lado, mas não a olhei, continuei observando o garotinho dormir. Afaguei seus cabelos levemente, com medo de que ele acordasse e quanto mais eu o olhava mais via como ele era parecido comigo, nos mínimos detalhes. Meu peito se encheu com um orgulho que eu nunca havia sentido antes. Me virei, ficando de frente pra , que me olhava sorrindo.
- Vamos embora daqui. Hoje. – Eu levantei, a deixando de pé também e voltei a me agachar, agora de joelhos, ainda olhando em seus olhos. – , você quer se casar comigo?
Tirei um dos anéis que tinha nos dedos e estendi na direção dela, que riu.
- Um anel de latão, ? Depois de todo esse tempo eu esperava diamantes.
- Eu fui pra faculdade, não ganhei na loteria, amor. – ela riu e estendeu a mão na minha direção.
- É claro que eu aceito.
Coloquei o anel improvisado em seu dedo e levantei, abraçando-a com toda força que podia, sentindo aquele momento.

Fim.

comments powered by Disqus