- Vá embora! – ela ria e me empurrava porta afora.
- Não esquece de me ligar!
- Não vou esquecer! – me desvencilhei de seus braços e roubei-lhe mais um selinho, antes de sorrir e dizer:
- Vai dar tudo certo, você vai ver.
- Eu sei que vai, você está aqui. – null sorriu ainda mais e meus lábios imitaram os dela. Roubei mais um selinho e saí tão feliz, que poderia começar a gritar e pular no meio da rua.
Andava pelas ruas com o cérebro a mil. Daqui a algumas horas null falaria com Gregory e pediria o divórcio, para que então pudéssemos ir a Londres e nos casarmos. Minutos depois eu estava de volta ao hotel, com os dedos tamborilando na perna enquanto ficava sem saber o que fazer durante aquela espera torturante.
Só naquele momento eu me lembrei de que ainda não tinha ligado para null ou null. Eles eram melhores amigos meus e de null, tinham crescido com a gente. Pouco tempo depois que fui para Londres, os dois foram também, mas eu sempre estive ocupado demais com a faculdade, então nos víamos poucas vezes.
Liguei para o celular do null, que agora dividia um apartamento com null, perto de onde eu morava. Depois de esperar, enquanto eles brigavam pela disputa da guarda do celular, null teve a brilhante ideia de colocar no viva-voz, só assim eu pude falar. Eles apenas escutaram, enquanto eu contava tudo, desde a minha chegada, minhas descobertas, até agora, que eu estava uma pilha de nervos, esperando a ligação da null. Nenhum dos dois sabia sobre o que tinha acontecido com null. Eles tinham viajado antes de ela se casar, e não conseguiam acreditar no que eu lhes contava. Algumas gracinhas depois, eu desliguei o telefone, rindo da idiotice daqueles dois. Só eles conseguiam me fazer rir, numa situação dessas.
Deitei-me novamente na cama, de barriga pra cima, e esperei. Esperei... Horas depois, pelo que me parecia, meu celular começou a vibrar e eu atendi rapidamente, vendo o nome ‘null’ no visor.
- E aí, null, como foi? – gelei quando a voz que ouvi definitivamente não pertencia à ela.
- Foi ótimo, . Quer dizer que você está de volta e quer levar minha mulher embora? Que coisa feia, querendo roubar a mulher dos outros...
- Ross. – apenas um fio saiu de minha voz, enquanto eu tentava me acalmar.
- Sim. Passou mesmo pela sua cabeça que, depois de todo esse tempo, você simplesmente viria aqui e a levaria embora? Depois de eu finalmente tê-la longe de você?
- Mas... foi apenas um acordo.
- Eu sei. Não saiu da maneira como eu desejava. Mas se ela não estiver comigo, não estará com ninguém. – Sua voz saia leve e despreocupada, como se estivesse conversando sobre o tempo com um vizinho.
- Escute aqui, Gregory, eu não quero arranjar problemas, é só você assinar o papel de divórcio. Você não pode mantê-la presa em casa.
- Não posso? Você acha que eu não posso? – ele parecia estar rindo de mim, e a raiva começava a se espalhar pelo meu peito.
- Pára de ser idiota, Gregory! – ouvi a voz de null no fundo gritar, e um som cortante, abafado, como se ele a tivesse empurrado, em seguida. Novamente, ouvi a voz de Gregory, embora não estivesse sendo dirigida a mim.
– Cale a boca e não se meta!
Sem dizer nada, apenas desliguei o celular e saí correndo em direção à casa deles. Para encurtar a viagem, peguei um táxi e, em menos de cinco minutos, eu já estava saindo em disparada porta adentro, encontrando Gregory segurando null violentamente pelos braços, dizendo coisas que eu não conseguia entender. Fui até ele e o virei em minha direção, acertando um soco em sua mandíbula. Cambaleando alguns metros, Gregory se apoiou no sofá e olhou pra mim com os olhos arregalados. Sua expressão mudou para o que beirava o ódio e ele avançou contra mim, fazendo com que eu batesse minhas costas na parede. Vários socos foram dados em meu estômago, enquanto eu me curvava de dor, escutando vagamente os gritos de null ao fundo. Quando ele já estava começando a se cansar, juntei forças e o empurrei, jogando-o longe. Andei até null, que estava encolhida em um canto da sala com as lágrimas cobrindo seu rosto.
Não teria percebido a aproximação de Gregory se um outro grito, mais fino, não tivesse me chamado a atenção.
- Não, não bate nele! – o pequeno null correu até mim e se agarrou às minhas pernas, como se quisesse me proteger, ficando de frente para um Ross pasmo. – Por favor! Por favor!
- Saia daí, garoto! – gritou Gregory, fazendo null gritar ainda mais alto e agarrar meus jeans com mais força.
- Não!
- P-por que você está fazendo isso?
- Não bate nele, Greg.
Olhei para baixo, vendo aquela coisa tão pequena e tão corajosa, confuso por ele tê-lo chamado de Greg, e não de pai. Seria o comum para uma criança da idade dele. Olhei para null, que olhava para o filho com adoração. Ela levantou o olhar até encontrar o meu e sorriu.
O homem à minha frente parecia completamente desnorteado. Ele sentou-se no sofá e escondeu o rosto nas mãos, passando-as pelo cabelo, nervosamente.
- Saiam daqui. Todos vocês. Eu assino a merda do divórcio, só... – sua voz estava trépida e nenhum olhar foi enviado em nossa direção. Gregory levantou-se e, em largos passos, saiu de casa.
Um silêncio assustador tomou conta do aposento por alguns segundos, até que eu comecei a rir, rir de alívio, de alegria, e, ao mesmo tempo, de nervoso, com a tensão de tudo aquilo.
- Dá para parar de rir? Eu ainda tô tremendo aqui. – falou null, embora sua voz estivesse divertida.
Gargalhei e fui até ela, abraçando-a forte. Olhei para trás e vi que null nos olhava com uma expressão curiosa.
- A gente precisa conversar com ele. – falei para null.
- Eu sei. Nós vamos, só vou arrumar uma mala para mim e ele, depois eu busco o resto.
- Eu acho que o quarto do hotel onde eu estou hospedado dá para nós três, qualquer coisa eu alugo outro, pelo menos por esses dias.
- Não. A gente vai para casa da null e da null. Lembra delas? – falou null, com um sorriso no rosto.
- Claro que eu lembro. Você passou a gostar de tequila por causa da null, mesmo eu tendo dito para ela que não era para te embebedar naquela festa e a null sempre me ameaçava de morte se eu chegasse a te magoar. Mas ela gostava de mim, que eu sei.
Ela riu e foi até null, o pegando no colo e beijando seu rosto.
- Mamãe, o que tá acontecendo? – ele perguntou, olhando de mim para null.
- Nós vamos te explicar tudo, meu filho, mas primeiro, vamos para a casa das tias null e null.
- Eba! – falou ele, sorrindo.
- null, nem acredito que é você! – null me abraçou, sorrindo largamente.
- Ingrato, esqueceu as amigas – falou null, rindo e me dando um soquinho no ombro.
Elas nos guiaram pela casa pequena, até a sala, onde sentamo-nos no sofá.
- Por que você não me contou que ele tinha vindo? – perguntou null para null.
- Por que você não veio direto pra cá? – perguntou null pra mim.
null olhou pra null, indicando-o com a cabeça para null. Ela entendeu o sinal e rapidamente se levantou.
- Vem lindinho, tem aquele iogurte que você gosta. – falou null, lançando um olhar significativo para nós, antes de levar null pra cozinha.
- E aí, como vai ser agora? – perguntou null.
- Nós vamos nos casar. – falou null, antes que eu pudesse abrir a boca. Olhei pra ela e senti aquela quentura gostosa no peito, sentindo-o inchar de orgulho. Peguei sua mão e beijei-lhe o dorso, vendo null voltar da cozinha com um pote de iogurte nas mãos e o rosto todo lambuzado.
- null, senta aqui com a gente. – o sentei entre mim e null e a olhei, em busca de apoio para começar a falar. Sua mão apertou a minha mais forte, me encorajando.
Continua...
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