We Say Summer Autora: Rooxy (Roo C.) Beta: Nelloba Jones
Capítulo 1
- Escuta o que eu tô dizendo, essa viagem vai ser...
- Um saco. - cortei , sem paciência pra empolgação toda dela.
- Aíí, Deus te livre dessa cara de desânimo, garota! Uma semana inteira com nossos melhores amigos na praia! Um hotel perfeito pra gente ficar e tudo o que você faz é reclamar mais e mais! Saí dessa, !
- , desde quando você é religiosa? E, bem, eu não amo todos os nossos colegas de sala, sacas? Uma semana inteira tendo que aguentar...
- Ah, claro. O . - vez dela de me cortar bonito. Ô falta de respeito. - Eu sinceramente acho que você não vai precisar se preocupar com ele, vão ter muitas outras garotas na praia pra ele encher. - riu alto e eu bufei, ainda revoltada.
O que era de se esperar, já que eu havia fechado o pacote da viagem ciente de que não ia.
E por alguma crueldade do destino, os pais dele resolveram mudar de idéia. Mesmo ele não tendo dito exatamente isso.
Flashback
- Hey, !
Eu ria descontroladamente com , ela havia acabado de falar sobre a possibilidade do nosso quarto de praia ficar vazio o tempo todo, porque nós estaríamos na praia, num bar qualquer ou no quarto de outros. Mas não pensem besteira, ela só fala. E eu só dou risada. Apesar dos cabelos perfeitos, a pela branca como neve e os olhos cor de mel, era uma garota de família, para a infelicidade dos idiotas do nosso colégio.
Me virei lentamente, secando uma lágrima que se formara no meu olho direito de tanto rir das caras e bocas de . Meu sorriso se desmanchou automaticamente e minha voz atingiu aquele tom áspero tão incomum que eu só usava com ele.
- O que você quer, ?
Ele apoiou um braço na árvore onde eu estava encostada, com aquele maldito sorriso enviessado.
- Você nem sabe quem vai pra praia com vocês...
- Sei sim. - ô mania de cortar todo mundo. - Todo mundo menos você, o que me deixa extremamente feliz. - sorri.
- Ahn, não diz isso! Assim você parte o meu coração, boneca.
- Olha aqui, , eu sei que você é um inútil e não tem nada pra fazer, mas por favor, será que não poderia nos deixar em paz? – notei um olhar furtivo do comparsa dele, , em direção da minha adorável amiga.
Ah vai sonhando, .
Qual é, ele é tão... Idiota quanto o próprio , a merece coisa melhor.
Mesmo ele sendo gato. Isso não faz dele um cara legal que não pega todas as garotas, mesmo sem sentimento algum.
- Acontece que, bem, houve uma pequena mudança de planos, querida, e eu queria que você fosse a primeira a saber, depois do , claro. – ele sorriu para seu amigo, e deve ter notado o segundo olhar furtivo dele a , o que fez a intensidade do sorriso dele diminuir. – Pensando em você e em como essa viagem seria chata sem mim... Eu decidi ir também.
Filho de uma égua da porra!
- C-como assim? Você não... Não ia! O que... Por que?? Ah não, droga!
- Também te amo, gata. A gente se vê na areia então. – ele piscou pra mim já se afastando, e eu senti uma sincera vontade de vomitar.
- Só se for pra enterrar você nela... – retruquei sem muita emoção. Meu mundo havia desmoronado ali.
Uma semana com aquela praga no meu pé, e sem a minha casa para eu poder me esconder. Espero mesmo que ele se distraia com TODAS as garotas da praia, e bem LONGE de mim.
End Flashback
- Tenho certeza que ele vai achar um intervalo pra acabar com a minha felicidade. – concluí. Isso é a cara dele.
- Que felicidade?! Nunca te vi tão brava amiga, cruz credo! Me deixa ver sua mala, vai, aposto que você nem deve ter pensado pra escolher as roupas!
***
- Caraca dude, mal posso esperar pra ver a vista da praia!
- A vista, né? Tá babando no meu tapete .
- Ah qual é , pensa só, todas aquelas gatinhas bronzeadas de biquíni...
- E a , claro.
- O que?! Pff, essa aí nem ferrando, eu ainda tenho amor a vida! E ela me odeia, você sabe...
- E sem motivo, né? - observou a expressão completamente muda de . Não era mais aquele moleque atrevido e galinha. Estranho.
respirou fundo, dando de ombros.
- Hmm... - Bom, na verdade tinha motivo sim. Idiota, mas ainda assim um motivo. Eles haviam sido grandes amigos na infância e cresceram juntos.
Ela se distanciou dele quando este caiu em seus braços mais bêbado do que nunca e falando mil besteiras sem sentido. As palavras dela ainda ecoavam em sua cabeça.
"Você não é mais o que eu conheço, é só mais um idiota como todos os outros. Cansei de bancar sua babá, !"
- É, já vi que tem motivo sim. Você nunca me falou disso, cara.
- Foi antes de entrar pra essa escola. - ele falou, ainda perdido nos pensamentos.
- Ahn? Vocês já se conheciam de outra escola?!
- É. - ele sorriu besta. - Ela se mudou de escola e eu fui atrás. Acho que nunca a vi tão brava... - e sem conseguir se conter, riu.
- Mas o que a conteceu pra ela te odiar tanto, hein? - perguntou divertido.
- Não foi nada demais. - parou de rir. - Ela é só uma filhinha de papai fresca mesmo!
Os dois riram alto demais e a irmã de xingou.
- Melhor irmos dormir, o ônibus sai cedo amanhã... Oito horas, não é?
- Nem me lembra disso dude...
- Eu só quero ver como a minha mãe vai fazer pra te acordar!
***
- AAE, computador ligado!
- Hahaha, pode usar se quiser, amor.
- Valeu !
estava checando seu hotmail quando uma janelinha de conversa se abriu. Ela estava com o status de "Ocupado", então podia muito bem apenas ingnorar o msn.
Não que ela o tenha feito.
(8 diz: é amanhãã! ' ; diz: não, sério? (8 diz: aham, não sabia?? ' ; diz: haha, claro que eu sabia, muito engraçado . Diz logo o que quer. (8 diz: Tudo gata :D (8 diz: OK, BRINCADEIRINHA, não me bloqueia! não tinha mais ninguém no msn... ' ; diz: aaah, que honra ser sua última opção *-* (8 diz: Hey, eu nunca te fiz nada, fiz? ' ; diz: Nope. Mas... (8 diz: Ah, certo, então isso tudo é mesmo por que eu sou amigo do e você da e eles se odeiam? ' ; diz: Hmmm... É. (8 diz: Não acha que isso é só problema deles? ' ; diz: Eu sou a melhor amiga dela, , e ela a minha, ok? (8 diz: e o que que eu tenho haver com isso? :D ' ; diz: hmm, certo, vou te dar uma chance, . (8 diz: AEAE; mas assim... A realmente odeia o , né? Acho estranho por que ele não parece odiar ela. Só quando ela tá perto. ' ; diz: Ahh, não perca o seu tempo com eles. Cada um sabe o que sente, e esses dois se desentenderam uma vez e aí deu no que deu. Agora eu tenho que ir ! Boa noite. (8 diz: Até amanhã, .
***
- Com quem você tava falando? – perguntou jogado no colchão no chão do quarto de .
- Ninguém! Não tem ninguém no MSN, todo mundo deve ter ido dormir já...
- Então você tava digitando rápido de idiota, ? – ele perguntou sarcástico.
- Não, erm, eu... Tinha só a on, aí eu resolvi ver se ele tava animada e tal...
- HAHAHA, a ? Quer dizer que vai ficar na sombra nessa viagem? Legal, mais gatinhas para !
- Não viaja seu galinha retardado.
- Pô, além da vai querer outras, cara? Que egoísmo, quer dizer, é a ... Tem certas garotas que são suficientes, sabe? Com essas ficar com só uma não tem problema...
- Que nem a , né?
- Ahn, quê?! Não! Não...
- Pára com isso dude, e dorme.
- Mas...
- Não enche.
- Ah, só porque tava divertido te irritar!
Capítulo 2
- Tchau mãe, tchau pai! – se despediu uma última vez dos pais, todos os alunos já estavam reunidos numa fila ao lado do ônibus.
- Olha só, querida, aquele não é o seu amigo... ?
Yep, por alguns segundos ela conseguiu ver ele ali, seu amigo . Ele vinha correndo com e carregando as malas nas costas. O cabelo todo arrepiado pelo vento, como costumava ser antes dele começar a se cegar com a franja.
Tá, não chegava a cegar, mas ainda assim era uma franja.
Eles vinham correndo e rindo do lado oposto da rua, onde se viam os pais de .
Então eles alcançaram o ônibus, jogando suas malas junto com as outras dentro do ônibus. E no instante seguinte, já estava com aquele olhar insuportável. Agora ele era só o aos olhos dela.
- Não, não é não. – respondeu calmamente, esperando que sua resposta bastasse para encerrar o assunto ali mesmo.
- Não?! Mas se parece tanto com ele, filha! Como ele cresceu, Deus... O que aconteceu? Nunca mais ele apareceu lá em casa...
Na verdade ele fora algumas vezes “lá em casa”, e foi expulso antes de cruzar a porta de entrada.
notou como ficou desconfortável com o assunto.
- Mãe, aquele que a senhora conhece não existe mais, ok? Agora ele é só um babaca sem noção e ponto final. Amo vocês. – e dito isso ela disparou em direção ao ônibus.
apressou-se para segui-la, mas ainda assim conseguiu ouvir a exclamação surpresa da mãe de .
- Senhor, o que aconteceu?
***
- Todos presentes? – o motorista perguntou para o monitor que estava com a lista dos alunos.
- Sim, as duas que faltavam acabaram de chegar! – o monitor tinha olhos verdes e cabelo castanho. Aparentava ser no máximo três anos mais velho.
- Vamos subir então! – o motorista disse todo animado e entrou no ônibus em seguida.
Entramos em fila no ônibus, eu e por último, infelizmente.
- Olha, tem dois lugares lá no fundo! – indiquei com a cabeça logo que entramos, concordou com a cabeça.
Aí a coisa mais bizarra de todas aconteceu. saiu de sua poltrona ao lado de e sentou-se em uma das poltronas que eu havia indicado.
Eram os últimos lugares do ônibus. Um do lado de e outro ao lado de .
Suspirei, cansada. – Eu não disse? – perguntei para , tentando relaxar pra não sair espuma de raiva da boca.
Ele já ia começar a estragar a minha semana feliz no ônibus antes de chegarmos à praia.
- , o que foi isso? – perguntou para o logo que alcançamos sua poltrona. – O foi guardar o lugar pra gente?
- Nope. – respondeu sorrindo o que eu já sabia. Tão inocente minha amiga, aiai. – Ele disse que não queria atrapalhar a gente e saiu pra você poder sentar aqui, . – ele sorriu até ver a cara de pânico dela e a minha de poucos amigos. – Hm... Senta comigo, ?
Eu bufei desacreditada e ela sentou.
Ei, bufar desacreditada não é o mesmo que dizer “Vai em frente, senta com ele e me abandona!”
- Ah ótimo, vou sentar no chão então. – e eu ia sentar mesmo. Se não tivesse me segurado.
- , o que custa? São só algumas horas de viagem... Você senta lá, coloca os fones do iPod no ouvido e ignora o ! Por favor... Você já faz isso diariamente.
“Não sentada do lado dele!”, foi o que eu pensei. Tive vontade de perguntar se ela ia ficar ouvindo música e ignorando o a viagem inteira, mas o ‘por favor’ dela me fez engolir tudo isso.
- Ok, tudo bem. – falei sem emoção e voltei a traçar meu caminho pro inferno até o banco que me era predestinado.
Aquela era pra ser a nossa viagem, onde ficaríamos juntas e nos divertiríamos horrores. Mas ela tinha que resolver ser amiguinha de justo agora. “Amiguinha”, aham, não dou nem dois dias pra eles estarem se pegando.
Se eu fosse analisar de fora, é, eles realmente faziam um casal bonito. Mas ele não deixava de ser um galinha nato, quanto tempo demoraria pra machucar ela?
E quando ele a machucar, HÁ.
Bah, é claro que eu vou estar ali pra pegar ela do chão, por mais raiva que eu sinta, e sem dizer um único “Eu sabia.” ou coisa do tipo. Sem contar o belo chute nas bolas que ele vai levar.
Parei de planejar os golpes mortais que ia usar em logo que ele partisse o coração da minha melhor amiga quando dei de cara com o braço de tampando a passagem que me possibilitaria de sentar na única poltrona vazia do ônibus, ao lado esquerdo dele.
- Não vai pedir, ? – sabe aquele sorriso que te dá vontade de meter um soco nos lindos dentes branquinhos de quem sorri? Pois é.
- Vai te foder, . – fui clara e objetiva, já sentindo o veneno correr solto na minha boca.
- Ih, já tá assim tão calorosa?
Respirei fundo e pensei no “Por favor?” de .
- Deixa pra lá, prefiro sentar no chão mesmo.
Ele riu, mas quando viu que eu falava sério e já dava as costas me puxou de volta.
- Eu tava brincando, não precisa sentar no chão. – ele fez uma careta não identificável.
Dor? Ou ele tava só me chamando de estranha com o olhar?
Antes estranha do que igual a ele.
- Seria melhor sentar no chão. – me sentei já olhando pra janela, vendo pelo reflexo a careta se redefinir mais para dor.
Quem disse que palavras duras não machucam?
Mas tudo bem, por que é só o idiota do .
- A gente podia ter uma trégua, não?
- Se trégua significa ignorar o fato que você é o maior imbecil do mundo, não, obrigado, me esquece. – sorri ainda olhando pra janela.
Ele riu não sei por que, talvez palavras duras também façam cócegas, quem sabe?
- É, tem razão, é bem mais divertido assim!
***
- Hey, eles ainda estão vivos lá atrás? – perguntou ao se lembrar da amiga depois que a havia feito rir pela milionésima vez.
Ela não lembrava de rir tanto assim com qualquer pessoa que não fosse .
- Ah, aham. A tá encarando a janela e o fica revezando o olhar entre as mão e o rosto dela. – riu voltando a olhar para .
- Hm, pelo menos eles ainda estão vivos, e sem nenhum arranhão, o que é um grande avanço. – os dois riram juntos e voltaram ao seu jogo de Uno.
Capítulo 3
- Posso ouvir também?
Meus olhos estavam fechados. Minha cabeça apoiada do banco. O volume do iPod estava tremendamente alto. Sim, eu ia ignorá-lo.
Como se isso fosse bastar para fazer desistir.
Ele puxou o meu fone direito e eu deixei escapar:
- Não.
riu.
- Você conseguiu me ouvir com a música tão alta assim?
Depois dessa eu coloquei o volume do iPod no máximo.
- Ual, Muse? – ele insistiu no erro.
Eu ia acabar metendo um soco na fuça bonitinha dele.
Mudei para os CDs do Nirvana.
deve ter percebido que eu não estava pra ficar de papo com ele, porque finalmente se calou, com o meu fone direito no ouvido esquerdo.
Eu percebi que ele não ia largar o fone tão cedo.
- Tó, coloca esse. – dei o fone esquerdo pra ele, puxando o direito de volta, assim nenhum fone ia ficar caindo. Ele deu a impressão de que ia fazer um de seus comentários engraçadinhos e eu já podei. – Isso não foi uma deixa pra você falar.
Voltei minha cabeça pra janela, realmente eu não gostava de ficar com os fones trocados. Minha cabeça já doía com o som pesado no último volume do Nirvana, não era bem o que eu precisava no momento.
Passei para o próximo CD e com satisfação ouvi a voz que me acalma sempre. Eu não sou louca nem viciada nessa banda, mas em momentos como esses eles são os meus heróis.
- Ual, ! – exclamou empolgado sem conseguir se conter.
Não, sério? Rolei os olhos, tava tão bom ele quietinho na dele.
- Você gosta? – ele tentou mais uma vez.
- Não, eu tenho no iPod de idiota.
se mexeu desconfortável. Qual o problema dele? Por que ele simplesmente não taca o fone em mim, me xinga com carinho e vai se juntar aos amigos idiotas dele?
- Eu amo .
Claro, como eu fui esquecer? Ele realmente amava a porra da banda do .
Ri, e isso deve tê-lo feito pensar que tinha conseguido me fazer rir. Engano seu, baby, eu ri dos meus próprios pensamentos. HA.
- Casa com ele, ! Opa, esquece, ele já é casado... Mas você ainda pode ser o amante! – pisquei.
E aí pra minha surpresa ele riu.
- Hahaha, muito engraçado, mocinha! – me atacou com cócegas sem pensar no que fazia.
Se tem uma coisa que me derruba, essa coisa é cóceguinhas. Na maldita barriga, principalmente. Ele sabia disso.
- AHAHAHA, , pára! – eu já chorava de rir quando deixei o apelido dele escapar. Gelei. Não o chamava pelo apelido há anos. – Deixa de ser retardado garoto, tira suas mãos nojentas de mim. – tirei as mãos dele com brutalidade e o vi contorcer o rosto de novo.
Mudei para Lily Allen, culpando pela minha recaída. Sim, eu fiquei calminha por causa do cara, e aí...
Ele tirou o fone do ouvido e jogou no meu colo, distanciando o olhar para a farra que acontecia mais a frente no ônibus.
E pela primeira vez o silêncio entre nós me incomodou.
Mas só um pouquinho.
***
- OUW GAROTA, ACORDA PRA VIDA! – berrou no meu ouvido.
Levei minha mão para tampar meu ouvido automaticamente. Dei por falta de alguma coisa quando o tampei...
Eu nem tinha sentido o fone cair. Sim, eu tirei a maior sonequinha marota.
- PUTAQUEOPARIU, QUE SUSTO, SEU IDIOTA! – fiz careta de dor, ele realmente havia berrado com todo o pulmão no meu pobre ouvidinho.
- Oh, desculpa aí, eu pensei que seu ouvido fosse super resistente, já que você dormiu ao som de Linkin Park. – ele frisou cinicamente o nome da banda, como se dormir com Chester Bennigton fosse impossível.
- Caralho, , depois dessa eu fico sem a audição do ouvido direito... – continuei massageando meu ouvido enquanto sentia uma lágrima se formar em cada olho meu.
Caralho de novo.
Virei-me pra janela pra ele não ver.
- Dúvido... Hm, tá tudo b...
- Ótimo, tá tudo perfeito, agora me deixa em paz, porra. – enxuguei a lágrima que caiu, ele pareceu desconfiar.
- Te acordei porque nós já chegamos e tá todo mundo descendo...
- Quanta bondade! Bom, eu estou acordada agora, você pode ir!
- Hah, eu teria ido, mas eu fiquei uns bons cinco minutos tentando te acordar, olhe ao seu redor, querida, trancaram a gente aqui dentro.
- O que?!! E você não fez nada? Não berrou que ainda tinha gente?!
- Eu nem percebi, ok?!
- Inútil.
- Ingrata. Da próxima vez te largo aqui sozinha!
- Seria melhor do que ficar aqui trancada com você!
- Puta que pariu, garota, tudo que eu faço tá errado pra você!
- ... Deixa eu ligar pra , vai, ela nos tira dessa. – respirei fundo e peguei minha bolsinha pra achar o celular.
***
- ...
- O que?
Eles se juntavam aos outros na recepção do hotel em que iam ficar hospedados.
- Você viu o e a saindo do ônibus?
- Não, mas, bem, eles estavam atrás da gente!
- Hm... Não to vendo eles por aqui...
- Será que...
- Não, imagina.
- Mas e se eles ficaram trancados no ônibus?
- Ah, eu pensei que você ia sugerir que os dois tinham fugido juntos ou algo do tipo...
riu e só parou quando conseguiu se lembrar da possibilidade de sua melhor amiga estar trancada num ônibus com o cara que ela mais odeia na face da Terra.
- Vem, vamos lá ver!
- Hey, mas assim a gente não vai pegar um quarto... - tentou avisar, mas já o puxava para longe, decidida.
***
- Puta que pariu!
- Já é a terceira vez que um de nós diz essa palavra bonita em menos de cinco minutos, notou?
- Meu celular!
- O que?
- Não tá aqui!
- Legal.
- Não, não é nada legal! E o seu, cadê?
- Hmm... Na minha mala, por quê?
- Puta que pariu!
- Quarta vez agora.
- Quer parar de fazer graçinha, ?! Eu só não entendo o por que você tá tão tranqüilo!
- E por que eu não estaria?
- POR QUE NÓS ESTAMOS PRESOS NUM ÔNIBUS, ESQUECIDOS PELO RESTO DO MUNDO, E SEM UM CELULAR NÃO TEM CHANCE ALGUMA DELES SE LEMBRAREM DA NOSSA MERA EXISTÊNCIA INSIGNIFICANTE PRA FELICIDADE DELES...
riu descontrolado, me fazendo parar para encará-lo brava.
- Pensa assim, , quando eles fizerem a lista de chama pra dividir os quartos vão ter que notar a nossa falta, não precisa se estressar toda!
? Quem deixou ele me chamar assim? Merda de viagem.
- É. Tá. Mas se nós tivéssemos um celular seria tudo mais rápido!
- Ah, e pra que isso, boba? Aí perderia toda a magia de ficar aqui preso com você...
- Magia? Você anda se drogando, ? – olhei pra ele como se ele tivesse uma doença contaminosa grave.
(n/a: sempre quis perguntar isso pra um deles, estou me realizando aqui, e você? Hahaha.)
- Não. – ele parou pra pensar, sério. – Mas eu acho que você me deixa meio drogado. – ele continuou sério e pensativo, sem me encarar.
O que? O que foi isso? Por que minhas bochechas ficaram quentes do nada? QUEM AS DEIXOU CORAR?!
- Pára de falar besteira, pelo amor, garoto...
- Não é besteira, ... – ele veio se aproximando lentamente de mim.
Eu grudei na janela, estava sem saída.
Mil orações se passaram pela minha cabeça naquela hora.
E olha que eu sou praticamente ateu. Leia-se: sem religião, quase não acredito em Deus.
Pelo menos não o Deus que as igrejas pregam por aí.
- , o que você pensa que...
- Tem uma coisinha no seu cabelo, não se mexe!
- Aicarambaoquequeé?
- Não se mexe!
Ele passou a mão pelo meu cabelo enquanto eu fiquei imóvel e de olhos fechados de tanto medo. Sabiamente notei que a mão dele alisou meu cabelo mais uma vez. O quê que tinha no meu cabelo pra grudar e não querer sair? Cola?! Abri os olhos pra questionar e o encontrei a milímetros de mim.
PUTAQUEOPARIU!
E com essa ficam cinco no total, hahaha. Será que conta por pensamento?
***
- Tá silêncio...
- Será que a já matou o ?
- Muito engraçado, . Ela vai é me matar por ter esquecido ela!
- Hmm, ‘péra, eu vou bater na janela e se eles estiverem ai dentro vão ter que ouvir!
- Isso! Brilhante!
- Brilhante?
- Vai logo e não enche!
***
O ar escapou e meu cérebro ficou com falta de oxigênio, e isso explica a minha imobilidade perante a situação inesperada.
Em qualquer outra condição eu já teria o mandado longe com um belo empurrão.
Vai , aproveita mesmo, porque esse vai ser o seu primeiro e último, garoto.
Nem que eu tenha que me mudar pro Alabama depois dessa.
- ?! ??
Peguei a maior quantidade possível de oxigênio em uma respiração só, e coloquei as duas mãos no peito de , me afastando o máximo possível pra trás.
Ele ficou me olhando por alguns segundos antes de andar até a janela.
- E aí, ! – o idiota sorriu e ficou acenando.
Saí rapidamente do beco onde estava e fui andando até a porta do ônibus, sentindo as maçãs do rosto queimarem.
Aliás, por que maçãs e não... Morangos? Sei lá.
Mas uma coisa eu sabia. Aquilo não ia sair dali, não contaria nem para .
Não pergunte porquê, mas eu sabia.
- PUTZ, vocês ficaram ai mesmo?!
- Nós vamos chamar o motorista, ! Já voltamos!
- Ah, caramba, eles vieram sem o motorista?
- Dois lerdos. – concordou, vindo em minha direção de novo.
Minhas pernas começaram a tremer descontroladamente e eu as amaldiçoei por isso. Até lembrar que as pernas eram minhas e enfim.
- Falou o senhor agilidade agora, hein! – fiquei de costas pra ele e ele parou alguns melhor longe de mim.
Silêncio.
- ?
Meu coração pulou e eu quase o amaldiçoei também. Só não amaldiçoei porque, bem, é meu coração, dã.
- Quê?!
E com o maior sorriso sapeca de todos ele perguntou:
- Quer jogar jo-ken-po?
Não consegui evitar gargalhar.
Caso você não saiba, esse momento foi um belo exemplo do meu amigo de infância.
Capítulo 4
- Todo mundo já subiu pros quartos? – perguntou logo que nós quatro entramos no hotel.
A risada do motorista ao ver que alguém havia realmente ficado preso no ônibus ainda ecoava em minha cabeça.
- Ah droga, como a gente descobre em que quarto ficou agora? – eles se entreolharam.
Cada um carregava pelo menos uma mala bem considerável.
- Tão a fim de ir pra praia com as malas? – perguntei sorridente e eles riram. – Que é? Eu tava falando sério...
- Hey, vocês! – me virei e vi o monitor dos olhos verdes vindo em nossa direção. – Vocês são da Bronx High School?
- Yep! – respondeu, também admirando nosso querido monitor.
- Ah, sabia. – ele exibiu seu lindo sorriso de dentes perfeitos e pegou uma lista do bolso. – Aqui, qual o nome de vocês?
- e ! – respondeu mais rápido. Trocamos olhares sapecas.
pigarreou atrás de nós.
- e , e ...
pigarreou dessa vez.
- Não tá aí? – se colocou ao lado do monitor pra olhar também.
- Tá sim! Vocês ficaram no quarto 56, isso é no quinto andar!
- Valeu... Qual o seu nome mesmo? – perguntei inocentemente e sabia que devia estar se mordendo pra não morrer de rir e me chamar de vadia.
- Brian, pode me chamar de Brian. – ele sorriu de novo e eu gamei, como faz?
- Muito obrigada, Brian! – falou toda melosa e nós pegamos nossas malas pra depois irmos rebolando até o elevador.
HAHAHA, rebolando!
Ao passar por e vi estampado na cara deles a pergunta de ouro: “What the hell?!”
Chegamos do elevador e rimos, finalmente.
Comecei a batucar o botão do elevador, impaciente, e aí ele abriu.
- Hey, nos esperem!
segurou o elevador e eu fiz careta. Que esperar o quê!
- Em que andar vocês ficaram? – ela perguntou.
- No mesmo que vocês!
- Ual, mesmo?! – ela fez uma carinha feliz de surpresa e eu xinguei baixinho. – Em qual quarto?
Eles trocaram um sorriso extremamente maroto e respondeu:
- No de vocês.
Nosso queixo caiu cinco centímetros, no mínimo.
- Vocês tão zuando, né? – perguntei besta. Como eles podiam deixar garotos e garotas no mesmo quarto?!
- Não. – riu alto.
- Era o único quarto sobrando. – deu de ombros. – Mas vocês tinham que ver a cara do Brian! HAHAHAHAHA.
***
- Certo. Duas camas de casal. – abriu a porta e ficou encarando o quarto pensativo.
- Uma é minha e da ! – passei por ele e taquei minha mala em cima da cama à direita, que ficava perto de uma porta.
Porta que devia ser do banheiro. Nasci estrategista, baby.
Já comecei a procurar minhas coisas na mala, o sol lá fora era incrível.
apontou pra outra cama olhando para com uma cara estranha.
- Quanta bondade sua, ! Eu fico com a cama e você com o chão então! – e foi sorrindo até a outra cama, se jogando em cima dela.
- OUW! Nem vem! Que tal... Se a gente revezar? Um dia você fica com a cama e no outro eu...
- EHUIHUAHIUHEIUHUAIHOAIUHEOA – deu a risada mais estranha de todas, jogando o pescoço para trás enquanto ria. Ela tinha mania de fazer isso, uma gracinha. – Que boiolice!! HUIHAIUSHOIUAHSOASA, tudo isso pra não dormir na mesma cama? HUEHIHOHIAUHIUEHOAUHOIUEHAOA, vocês são dois idiotas mesmo!
e fecharam a cara.
- Eu posso agüentar dormir com você.
- É, eu também posso. – concordou e logo em seguida acrescentou. - Mas... Nada de ficar me abraçando durante a noite!
Nós quatro rimos enquanto batia em , e eu corri para o banheiro pra me trocar primeiro.
- Hey, me espera! – berrou correndo atrás de mim com suas coisas nas mãos. – Vocês se troquem aí, e rápido!
Eles fizeram pose de continência. – Senhora, sim senhora!
entrou no banheiro e eu fechei a porta. Ficamos nos encarando.
- Dois idiotas. – falei, sem emoção.
E ela riu.
- O é legal, não é? – perguntou inocentemente depois de um tempo, eu acabei me enroscando com o shorts branco de tactel.
- Oi??
- O ... Ele foi super legal comigo. E você e o , bom... Vocês ficaram um tempão juntos e estão vivos E inteiros!
Dei meu melhor olhar cético para ela.
- Sabe quem eu achei legal? O Brian. – sorri safada, sei bem como mudar de assunto quando me convém.
- AHAHAHA, eu notei! – e aí nós começamos a falar do monitor sexy.
É, é bem fácil de mudar o assunto com a , sem constrangimentos.
E no momento se tinha uma coisa que eu queria esquecer, essa coisa era o momento no ônibus sozinha com o .
***
- HEY, NÓS JÁ ESTAMOS PRONTOS! – eles bateram na porta do banheiro e abriu, com a cara fechada.
- E precisa arrombar a porta enquanto nos deixam surdas?
- Ehehe, não... – coçou a nuca, sem graça.
- Claro! – e respondeu como se fosse óbvio, dando um tapa em depois. – Vocês tão enrolando aí há um tempão, pô!
Dei um passo para entrar no campo de vista deles.
- É o que acontece quando sua mãe te dá um biquíni e você não sabe nem colocá-lo! – eu segurava a parte de cima no lugar, nem conseguira entender como fechar a parte de trás.
- AHH! – fez cara de compreensão. – Conheço esse tipo de biquíni.
Ele veio até mim e me fez ficar de costa. Todos ficaram em silêncio enquanto passava a fita do biquíni pelos encaixes certos. Senti-o dar o laço final e depois sua mão escorregou pelas minhas costas.
- Ahn, muito obrigada, ! – me virei pra ele e sorri, sentindo aquele desespero se espalhar pelo meu corpo de novo.
- Imagina! – ele sorriu com todos os dentes como se não tivesse feito nada demais.
- Mas, UAL, como você aprendeu a... Amarrar essa coisa?! – perguntou abestalhada.
Era de se esperar que ele soubesse desamarrar uma coisa dessas. Talvez se você sabe desamarrar acaba sabendo amarrar também, haha.
- Ah, bom, minha irmã comprou uma “coisa” dessa esses dias e eu tive que ir até a loja pra perguntar como amarrava pra ela. Acabei aprendendo. – ele deu de ombros e eu tive vontade de perguntar se ele também alisava as costas da irmã dele depois de amarrar o biquíni. – Mas nunca pensei que esse fosse o tipo de biquíni que veria em você um dia, . – ele exibiu um sorriso levemente tarado que me fez sair do banheiro rapidinho, passando por ele e agradecendo por estar com um shorts.
- Já disse que não fui eu quem comprou, foi a minha mãe! E pode tratar de aprender a amarrar esse biquíni, !
- Pra quê?! O já sabe! – ela fez uma careta preguiçosa e eu dei a língua pra ela.
- Ou você aprende ou nós temos que achar uma loja de biquínis urgentemente!
- Qual é, ? Eu não vou cobrar pra amarrar seu biquíni. – falou, saindo do banheiro também. Ele estava só de bermuda e chinelo.
E eu pensando que a distância acabaria com aquelas malditas sensações estranhas só de estar perto dele. Os sintomas eram os mesmos da época em que nós éramos inseparáveis. Repentina falta de ar, pernas bambas de vez em quando, sorrisos bestas por motivo nenhum, o frio na barriga, os arrepios infinitos...
Isso não podia continuar. Maldita viagem de fim de ano.
Capítulo 5
- Aaaahh, agora sim! – falou abrindo os braços para a brisa que vinha do mar. Eu entendi o verdadeiro significado da fala dele ao ver todas aquelas garotas de biquíni. Seria muito estranho se ele estivesse falando aquilo pensando nos caras jogando vôlei ali perto. Foi o que eu vi antes de tudo.
Ah como sou tarada por vôlei, mil dicas. Por vôlei, né? HAHA.
Já era uma tarada por músculos assumida, o que a levava a assistir aos jogos de vôlei da escola comigo. Não era bem o esporte predileto dela, talvez os jogadores prediletos, talvez.
- Olha a galera alii! – apontou para um grupinho distante, bem à esquerda de onde estávamos.
- Vamos lá! – e eu puxei todos para nos juntarmos a “galera”.
Estendemos nossas esteiras enquanto os garotos apreciavam a paisagem.
Aham. Tirei meu short antes de me sentar.
Talvez eles nem tivessem notado ainda onde estávamos. Vou descrever pra você. Aquilo era praticamente uma praia particular. O mar era cristalino de água simplesmente transparente. Atrás de nós apenas montanhas, o hotel ficava à cinco minutos dali, era o hotel mais perto da região. Nas montanhas havia realmente algumas propriedades particulares, e só. Aquilo era o paraíso, só que bem melhor.
A cidade ficava à quinze minutos a pé do hotel, de acordo com os papéis na recepção. Eu fizera uma pequena coleção deles, já que pretendia achar um shopping ou uma loja de biquínis por ali.
O shopping era vinte e cinco minutos de caminhada, ou seja, adeus companhia sedentária da . Se bem que talvez compras fossem suficientemente convidativas para fazer mudar de idéia e ir comigo...
- Vocês não vão passar protetor solar? – perguntou realmente observador ao notar que nós já estávamos sentadas nas esteiras.
- Já passamos, no banheiro. – respondi, não era óbvio? Quer dizer, nós duas realmente demoramos no banheiro.
- Ah, tá explicada a demora das madames... – observou sabiamente.
- Legal, eu não passei. Passa nas minhas costas, por favor, ? – se sentou na minha frente depois de jogar o seu protetor solar em mim.
- Err, não? – devolvi o protetor pra ele, ele não pegou.
- Por quê?! Há, você prefere que eu peça praquela gatinha de biquíni rosa ali na frente? – ele sorriu de lado.
- Taaanto faz! – respondi indiferente, como se eu ligasse.
- Mesmo? – ele fez um biquinho de choro. – Mas eu pedi pra você... Por favor?
- Não!
- Ah, ... Por favor? Por favor? Por favor? Por favor? – ele se virou pra me atacar com cócegas.
Ah não! Cócegas, não!
- OKAY OKAY, eu passo! Idiota. – o fiz voltar a ficar de costas pra mim e ri sem conseguir evitar. Ele também ria.
e nos encaravam com caras de retardados.
- O que foi... - começou a perguntar.
- Deixa quieto, eu hein... - e cortou, ainda nos encarando com aquela cara estranha.
se aproximou bem do meu ouvido.
- Depois eu quero saber o que aconteceu naquele ônibus, mocinha!
Ah não 2, pensei que tinha escapado dessa... Mas não aconteceu nada no ônibus. Nada mesmo!
Dei de ombros com uma cara bem inocente pra ela, desentendida.
lançou um último olhar de “Te pego na saída.” e se levantou pra ajudar com o protetor.
Pensei em escrever “Loser!” com o protetor solar e deixar assim pra se queimar todo e ficar realmente escrito "Loser!", mas depois de escrever e rir sozinha, desisti da idéia. Ele não merecia tanto. Espalhei o protetor direitinho e sorri satisfeita quando notei que ele tinha se arrepiado. Minha vingança particular, haha.
- Pronto! – avisei, entregando o tubo de protetor a ele.
pegou e se jogou pra trás, leia-se: em cima de mim.
- Aaah, isso foi bom, ual, foi ótimo, !
- Ahn?
- Já pensou em virar minha massagista particular?
Bati nele, o expulsando da minha esteira. saiu rindo, e continuou rindo até onde seja lá que ele tenha ido. Ele saiu do meu alcance de visão, então eu deitei e colocando o fone do iPod no ouvido, comecei a tomar o merecido solzinho que minha pele pedia há meses.
Deu tempo de ouvir uma única música, "When It Rains" do Paramore.
Outra começou a tocar quando uma coisa de superfície bem gelada foi depositada em minha barriguinha sensível.
Precisa dizer que eu me levantei num pulo?
Agora se deliciem com a minha cara de susto. É, rolava de rir ao meu lado, e a garrafa de coca-cola estava na areia.
- O que raios...?!
- Ué, eu achei que você ia querer beber alguma coisa, - ele explicou, se sentando e se recompondo do momento "rolando de rir da minha cara". - aí eu fui comprar. Ou você pensou que eu ia dar uma volta pela praia sozinho?
- E me deixando em paz aqui? É, por um minuto eu tive essa ilusão...
- Já sei o que vou te dar de aniversário.
Encarei-o incrédula.
- Ah é? O quê?
- Uma camiseta!
- Noooossa, que original, me surpreendeu. - felei cética. Convenhamos.
- Claro, senhorita apressadinha, você não me deixou terminar!
- Oh, mil perdões, senhor. Por favor, termine de me contar sua brilhante idéia!
Ele me encarou e depois disse:
- Nã-na-ni-na-não! É surpresa!
- AAAH, seu idiota insuportável!! - ataquei-o com cócegas e ele rolou na areia de novo.
- E você ainda não sabe o que vai estar escrito na camisa?! - ele deixou escapar enquanto chorava de rir.
- AAAH, vai ter coisa escrita?
- É claro. Eu AMO ! HAHAHAHAHAHAHA!
- Imbecil! - desisti das cócegas e ri um pouco. - Você tá todo sujo de areia, !
- Ih... Temos que tirar isso então...
- Temos? AH NÃO, não mesmo! Hahaha!
- Vem, ! - ele se levantou e me puxou junto.
- Nãão, que saco, vai sozinho!
- Pô, eu tô aqui na maior paz te pedindo companhia... - ele fez sua melhor cara de cachorro pidão e eu quase cedi.
Tinha que ficar me lembrando que aquele garoto não era mais meu amigo , infelizmente.
Senti aquela dorzinha no coração. Aquela mesma que eu senti nos primeiros dias sem ele.
- Não quero e ponto final, , vai dar uma social, vai, já tem um monte de biscate impaciente com o desperdício que tá sendo você aqui comigo. - sorri cínica.
- É isso que você pensa de mim? - ele perguntou, triste.
- É isso que você virou. - respondi dura, mas talvez com a mesma tristeza dele por dentro.
- Ok, então, desculpa ter te atrapalhado tanto. Se cuida. - e então se levantou em direção ao mar e eu me joguei pra trás na esteira.
e haviam sumido.
Retorci-me na esteira para poder acompanhar com o olhar. Eu devia ter ido? Ele havia mudado? Talvez percebido que a vida era mais que festas pra vomitar de tanto beber? E como eu descobriria isso em um dia? Ele não quer demais, não? Voltei os fones do iPod no ouvido.
A outra música que começou a tocar depois de "When It Rains" foi "Stuck On You", também do Paramore. Bufei repentinamente revoltada. Culpa da música? Maldito Shuffle do iPod que conspira contra a minha pessoa.
As pessoas têm que aprender a dar tempo ao tempo, e eu não ia me machucar de novo pelo mesmo motivo.
Uma vez já foi burrada, duas seria retardo mental.
***
- ? !!!
- OOOOOOOOOOOOOI! - me levantei tirando os fones do ouvido e dando de cara com vários garotos da minha sala.
- HAHAHA, quer entrar no mar com a gente? Você tá aí esturricando há horas...
- Hmm, tá, pode ser Joe. Você viu a ? - perguntei já me levantando, com a ajuda de Billy.
Billy tinha olhos mel e cabelo loiro. Ele já estava com a bochecha rosada de tanto sol.
Na verdade todos eles estavam. Até eu devia estar.
- Ela já tá lá no mar há horas com o !
- Ah, que preguiçinha que deu de andar. - olhei o mar tão distante e senti minhas pernas vacilarem.
- AAAHH não, vem não! - Billy ficou de costas pra mim. - Sobe ae, !
- O quê?!
- Sobe logo! - eles riram e eu subi, ué.
- Cuidado, Billiezinho, ok?
- HAHA, pode deixar, madame!
Olhei para os lados enquanto Billy me carregava. Podia ouvi-lo em meus pensamentos, sorrindo enviesado e dizendo "Ahh, então era isso que eu devia ter feito pra convencer você, ?". Mas não estava em lugar nenhum.
Mordi a língua, não ia perguntar pra ninguém, o paradeiro dele era problema único e exclusivo dele.
- AEAE; GUERRA DE ÁGUA!
Nem vi acontecer, mas num segundo Billie estava me colocando na água e no segundo seguinte fui atacada por água de todas as direções possíveis. Ri e pulei no primeiro pescoço que vi; não era . Resolvi parar de pensar nele enquanto dava minha pequena vingança nos meus queridos colegas de classe retardados que eu tanto amava.
***
- Aonde você tá indo, ?! - berrou pra mim, a uns metros de distância, ainda no mar, onde tacava água nela, rindo.
- Tô a fim de um banho quentinho, amor!
- Mas já?!
- São quase seis da noite, chérrie.
- Okay então, vai, me abandona aqui.
- Já vi que você tá bem abandonada, mocinha. - encarei-a e corou. só riu.
- A gente vai comer pizza numa pizzaria perto do Hotel, ! - Joe berrou do lado oposto. - Lá pra umas sete horas, quero todo mundo no saguão do hotel!
Fiz joinha para Joe e me despedi do resto com um breve "Até mais!".
Recolhi minhas coisas e fui em direção ao hotel, de short branco e havaianas, com o óculos de sol e de tiara no cabelo.
- Hey, Brian! - vi nosso monitor na entrada do hotel, com bermuda e tudo, ele devia ter ido pra praia também.
- ! - ele sorriu, acenando pra mim. Ual, ele se lembra, ual 2.
- Tô indo tomar um banho. - sorri. - Parece que a galera quer comer pizza agora à noite...
- Hmm, você tá indo pro quarto? - ele pareceu meio desconfortável.
- Aham, por quê?
- Hmm, nada, nada. Bom banho! - ele sorriu e eu também, seguindo em frente depois, e logo esquecendo a ceninha toda.
Entrei no elevador por pura preguiça de subir cinco andares de escada.
Arrastei-me pelo corredor, ficar horas no mar pode ser bem cansativo, e sabe do que eu tinha me alimentado até o momento?
Bananas. Como a sempre diz, se não fossem elas nós já estaríamos mortas de fome há muito tempo mesmo. Não que eu seja fã de bananas, mas na hora da fome...
Encontrei a porta do quarto entreaberta. Dei de ombros e entrei.
Capítulo 6
Fiquei ali na porta mesmo, parada, estática, extremamente surpresa com a cena que me aguardava.
Fechei a boca rapidamente, mas minhas pernas não se mexeram nem um milímetro enquanto eu berrava mentalmente para elas me levarem pra bem longe dali.
Num pensamento idiota lembrei da cara de receio de Brian. É, ele bem que podia ter me avisado.
- Não acredito. - deixei escapar, minha voz mais firme do que o esperado. Talvez toda a firmeza do meu ser estivesse se concentrando na minha garganta pra eu não parecer uma extrema idiota ali, encarando uma Barbie Malibu versão ruiva de biquíni em cima de na cama dele e de .
se levantou e a garota se apoiou para não cair, sem parar de beijar o pescoço dele e nem ligando pro ser feminino (leia-se: eu) ali na porta.
Ele ficou com uma cara estranha de choque ao mesmo tempo em que fazia a garota largá-lo.
Bufei desacreditada e finalmente senti minhas pernas de novo. Virei imediatamente, pronta pra desistir do banho.
Não que a possibilidade de entrar e tomar banho naturalmente tenha passado em branco pela minha mente, eu apenas desisti dela quando vi que a minha cama e da estava bagunçada também.
- ! - ouvi ele gritar. Ignorei. E ainda ouvi um pouco mais. - Desculpa, eu tenho que ir atrás... Ela também tá nesse quarto e...
- Eu sei, gato, pode dar confusão pra você, tudo bem. - ouvi a voz nojenta da Barbie e senti vontade de vomitar.
Ainda bem que havia vindo com o elevador, pois ele estava ali me esperando quando eu passei pensando em ir de escada mesmo.
Arght, no nosso quarto? Iught.
- Espera! - a porta do elevador já fechava quando a mão de surgiu, fazendo a porta se abrir novamente, ele entrou no elevador, de bermuda, descalço. passou a mão pelos cabelos, afastando-os do seu rosto corado.
Encarei-o com nojo, não ia conseguir guardar aquilo pra mim.
- No nosso quarto?!
- , eu...
- Ah, dá um tempo! Que você levasse a Barbie pra um motel, sei lá, mas no quarto que você divide com mais três pessoas? E entre elas, duas garotas!!
- Desculpa, eu... Barbie? - ele deixou uma risadinha escapar.
- Nem vem, , isso foi inacreditável, e eu pensando que talvez você tivesse mudado, arght...
Ele sorriu não sei por quê.
- Sério? Mudado como? - ele se aproximou e eu notei sabiamente que não havia apertado o andar que eu queria ir.
apertou o botão do terraço antes de eu conseguir fazer qualquer coisa.
- O quê...?! Ah, sei lá, eu pensei que você tivesse voltado a ser meu e...
- Seu ?
- É, meu amigo ! Mas, ah, doce ilusão. Vai deixar a Barbie Malibu ruiva esperando? - sorri cética.
Ele riu alto.
- Eu ainda sou o mesmo. - e dito isso ele colocou as mãos em minha nuca, me puxando para selar meus lábios aos dele.
Como os olhos deles estavam fechados, perdeu a linda visão dos meus olhos arregalados.
Rapidamente me soltei dele, nada carinhosa, com as mãos em seu tórax. Estávamos no oitavo andar, eu rapidamente pressionei o botão do nono andar e deixei uma risada amarga escapar.
- Não, você não é o mesmo, . Por que eu me recuso a acreditar que aquele meu amigo meigo e atrapalhado faria uma coisa dessas? Como estar quase transando com uma garota num quarto conjunto e beijar outra em seguida...
Uma lágrima rolou e eu me escondi, de costas pra ele.
- Eu, , isso agora... Era tudo que eu queria, você não entende?
A porta se abriu e eu vi o desespero no olhar dele.
- O quê, virar um galinha insuportável idiota? - suspirei triste. - Eu gostava do garotinho atrapalhado que mal conseguia acertar a bola de futebol nas aulas de educação física... - sorri fraco e a porta de fechou.
Pode ter sido só impressão minha, mas eu penso ter visto uma lágrima cair daqueles belos olhos .
Fiquei no bar do hotel até ver a Barbie Malibu passar voando pelo saguão, aparentemente nervosa com alguma coisa.
Brinquei com o palitinho que vinha no copo de Martini, ainda cheio. Não gosto muito de bebidas, devo assumir, as únicas que me atraem são as chamadas "batidas".
Hayden, ou só Hay mesmo, me viu do saguão e berrou meu nome pra praia inteira ouvir.
Ela era minha dupla garantida nas aulas de vôlei, nós éramos realmente boas juntas. Que aleatório esse comentário.
- Ow, não tomou banho ainda?! Vem com a gente! Uhul! - sabe a tal bateria duracel? A Hay dá de 100 a zero nela. Hahaha.
Se eu tive escolha? Claro que não, me deixei arrastar por ela, assim tirava aqueles últimos minutos da cabeça e me divertia um pouco.
***
- Aweee, tá todo mundo pronto?! – Joe balançou as mãos no alto, pra chamar nossa atenção.
ainda não estava no saguão. Nem e muito menos .
- Relaxa, vocês podem ir indo, eu fico aqui e aviso aos outros o lugar aonde vocês foram. – Brian disse, sorrindo.
Senti algumas garotas se derretendo. Ah, o que uns anos a mais não fazem...
- Mas você vai ficar aqui sozinho? – Kim perguntou.
OFERECIDA, HAHAHAHAHAHA.
Ele sorriu pra mim e respondeu: - Não tem problema, imagina.
Eu realmente peguei a indireta, mas ‘cê tá ligada que se eu ficasse lá ia ficar esperando justamente quem eu menos queria encarar? Desculpa, Brian.
Fingi-me de desentendida e segui o fluxo, de braços dados com Hay. Ela havia me emprestado uma blusa e uma saia pra eu não ter que passar no meu quarto. Às vezes ela acertava em cheio, mesmo sem saber de nada.
Fomos rindo e cantando escandalosamente pela rua, a pizzaria era à cinco minutos do hotel.
chegou como se fosse arrancar minhas tripas fora.
Eu ignorei e continuei a rir das piadinhas de Mike, entupindo minha boca de batata frita logo em seguida, assim poderia só dar de ombros quando me enchesse de perguntas.
É, tenho as minhas técnicas.
Eu contei por que simpatizo tanto com Hayden?
Além do fator vôlei, claro.
Ela é canadense. Imagina o formigueiro que aquela escola virou quando a notícia vazou. Era fofoca pra cá e pra lá. “Tem uma canadense na escola!!”
Pois é, no primeiro dia de aula Hayden já era a garota mais cobiçada de toda a Bronx.
Todas as garotas queriam ser amigas dela.
Todos os garotos queriam pegar ela.
Flashback
- , eu vou ali à sala do grêmio rapidinho, ok?
- Beleza, , relaxa. E diz pro Jack que ele tá me devendo dois pirulitos, eu não esqueci!
- Haha, ok!
Guardei meu livro de português e peguei o de química.
Argh. A pior matéria possível seria minha terceira aula logo no primeiro dia de aula.
- Sessenta e quatro... Sessenta e quatro... Sessenta... Achei!
Olhei para os lados, assustada. Vi uma cabeleira vermelha logo abaixo, tentando abrir seu armário.
- Quer ajuda? – ofereci num momento de caridade do dia.
- Ah, por favor... – os olhos verdes dela gravaram cada movimento meu.
Sorri de lado e abri o armário.
- Tá aí, é só abrir com jeito. E bem vinda à Bronx High School. – me levantei e fechei meu próprio armário.
Encontrei-a em pé, me encarando confusa.
- Algum problema? – arrisquei.
- Você não vai... Me encher de perguntas sobre o Canadá?
- Hmm, não.
- E nem sobre os garotos canadenses?
- Err, não. – ri.
- Nem sobre o meu motivo pra estar aqui e não lá? – só faltava a garota pular de alegria.
Sim, eu sabia que ela era a garota canadense, e que ela merecia uma folga.
- Nope, não mesmo. Quer dizer, tem muita gente que já deve ter feito isso, né? – dei a língua piscando.
- AAAHH, AMEI VOCÊ! – ela pulou no meu pescoço e riu. – Prazer, Hayden, te amo.
Ri alto, desconcertada.
- Prazer, Hayden, pode me chamar de !
- Me chama de Hay então! Química?
- Infelizmente.
- Legal, me mostra aonde é a sala? É a minha próxima aula e eu não faço idéia do lugar em que se encontra a bendita sala...
- É a minha próxima aula também...
- AAH, então é por isso que você tá com o livro de química! AAAAHH...
End Flashback
Mas o que me fez realmente gostar dela foram os vários “Não.” que Hay distribuiu pela escola, dando fora em todos aqueles idiotas que se acham gostosões do colégio.
E logo ela estava com Mike; que é totalmente o cara pra ela. Eles combinam tanto!
Seja por esse fator, Mike ou qualquer outro, uma garota que diz não na cara de , merece meu respeito.
Ah qual é, já me imaginou amiguinha de uma baba ovo do ? MÁ NEM ROLA, dude.
Por isso minha melhor amiga é a , e a outra é a Hay. (n/a: desculpa fazer a Hay fixa, ela é uma mistura de Hayley Williams {aha! Hayley-Hayden... HSIAUHOSA pegou né?} com minha besha loira, Izzy luv ya’. Na verdade tem muitas características de amigas minhas HAHAHA).
Quando Hay fez altas caretas pra mim, notei que tentava se sentar ao meu lado. É, ela sabia das nossas desavenças, mas só dessas desavenças e não dos motivos delas.
De qualquer jeito, acabou com as tentativas de , passando praticamente no colo de três pra chegar até mim como um furacão.
Ela me encarou e eu apontei pra minha boca aberta e cheia de batatas fritas.
- Eca, garota, fecha essa boca nojenta! – ela riu e se voltou para o prato de batatas também.
Talvez ela soubesse que o meu sumiço era por parte culpa de .
E talvez ela soubesse que o meu sumiço era total culpa dele. E nesse caso, BIINGO, !
Capítulo 7
- , posso saber por que do silêncio do ? – Hay perguntou sussurrando em meu ouvido alguns minutos após a chegada do resto do grupo. Dei de ombros. – Claro, por que você saberia, né? Nem é pra você que ele não pára de olhar...
Fiz minha melhor cara de desentendida. Pouco me importava se ele estava me olhando ou não.
- Vou pegar uma batida e já volto. – avisei e lá fui eu de colo em colo pra sair da mesa.
Brian estava na ponta.
- Nada alcoólico, ouviu?
- Haha, tenho mais de 16 já, sabia? – dei a língua pra ele e saí.
Aquele lugar era uma pizzaria na frente, com mesas e tudo. Entrando havia o forno e do lado um corredor que levava ao bar e a pista de dança.
Era cedo demais, a pista estava vazia ainda, nem DJ tinha ali.
Sentei-me num banquinho em frente ao balcão do bar e esperei alguém aparecer pra me atender.
Já estava contando os copos no bar quando duas mãos pousaram em minha cintura, uma de cada lado, e uma boca falou perto do meu ouvido esquerdo:
- Dança comigo?
- Ahn?! – me virei de dei de cara com , que estendeu uma mão pra mim.
- Essa música, dança comigo. A pista tá vazia e a galera tá toda lá na frente, ninguém vai ficar sabendo.
- Como se isso importasse. Não vou dançar com você. – tentei ouvir melhor a música, ela não me era estranha. Mas dali foi impossível reconhecê-la.
- Ah qual é, pelos velhos tempos. – ele forçou um sorriso maroto sem brilho.
Aquilo doeu um pouquinho pra mim, por dentro.
- Certo. Com uma condição. – exigi.
- Qualquer coisa! – ele topou me puxando do banquinho, sorrindo mais sincero dessa vez.
Bah, é só ele fazer cara de coitado que eu cedo?
- Ahn, ok então... Eu danço, mas em silêncio, sem uma única troca de palavras.
Ele sorriu e me girou, piscando em vez de dizer “Tudo bem”. É, ele pegou a idéia.
Deixei me levar até o meio da pista. Lá ele colocou minhas mãos em seus ombros e suas mãos em minha cintura.
abriu a boca para falar e parou pensativo, fechando-a logo em seguida e me fazendo rir. Realmente deve ser difícil para um tagarela como ele se calar.
Minha risada o fez sorrir e juntar nossos corpos. Isso me fez abrir a boca pra reclamar, e aí me encarou de lado, divertido.
Ok, a regra é minha. Se deu bem nessa, .
Apoiei minha cabeça no ombro dele enquanto continuávamos com aquela dancinha quase parada, um passinho pra cá e outro pra lá... Até parecia valsa, só que bem menos complicada. Finalmente reconheci a música. Speecheless, The Veronicas.
encostou sua cabeça na minha, respirando fundo.
Ele realmente devia estar com alguma coisa entalada na garganta, louca pra sair. O fato de ele estar obedecendo nosso trato me reconfortou.
Aparentemente, ele não pretendia me chatear mais.
- Cuz you leave me speechless when you talk to me, you leave me breathless the way you look at me…
Outra brecha na minha regra; ele não estava falando, só estava cantando junto com a música. E com uma voz um tanto quanto aceitável...
E desde quando conhece The Veronicas?!
A frase acabou mexendo comigo, bufei e me afastei dele. Por que ele sempre tinha que estragar tudo?
me puxou de volta e dessa vez eu o empurrei para longe.
Ou pelo menos tentei.
- Eu sempre quis você! – ele deixou escapar, desesperado.
Ri, desacreditada.
- Ah, é?! E por que ficava com dez garotas na mesma festa que eu?! – até parece, tenho cara de anta mesmo.
- Faltou coragem. – ele deu um sorriso amarelo e eu quase acreditei.
- E todas as outras que você ficou, você também gostava delas, ?
- Eu sempre quis você.
- Ah, OMG, , não piora as coisas! Agora você tá dizendo que nunca ficou com uma garota por gostar dela, e isso te faz um... um cafajeste idiota!
- Eu me sinto assim. – ele deu de ombros. – Nunca senti por nenhuma delas metade do que eu sinto por você. Sabe como eu convenci meus pais a pagarem a viagem? – ele deu dois passos para frente e eu dois para trás.
- Não quero saber.
Dei as costas para e saí a passos largos dali, só esperando sair do restaurante para finalmente desatar a correr para o mais longe possível.
Passei reto pelo hotel e só diminui o passo ao sentir a areia nos meus pés. Tirei o chinelo e finalmente as lágrimas pesadas caíram pelo meu rosto, onde só a lua presenciava minha tristeza, em companhia com o mar.
Não conseguia acreditar em , e isso era o que doía mais. Era o mesmo olhar sincero de antes que ele tinha nos olhos, mas agora esse olhar não me passava a mesma confiança que costumava passar; era só um olhar qualquer. Se ele tivesse dito isso antes, eu teria acreditado sem questionar uma única vez, mas nós éramos só bons amigos, mesmo.
Senti uma mão pousar no meu ombro direito e eu mordi meu lábio, de cabeça baixa e deixando as lágrimas rolarem.
Por que chorar tanto? Eu não entedia o motivo, só deixava as lágrimas finalmente rolarem, como elas queriam a um bom tempo... Se engana aquele que diz ser forte por nunca chorar. A verdadeira coragem é chorar, assumir que você não está tão bem quanto queria estar e não ligar para o que os outros vão pensar. Mas no final parece que um peso enorme foi tirado dos seus ombros, e foi assim que eu me senti quando as lágrimas secaram, leve.
Num impulso me virei e selei meus lábios aos dele. pareceu confuso, mas logo aprofundou o beijo.
Meu coração começou a bater como se fosse parar de tanto medo. Mas então eu não senti nada.
Sorri triunfante interiormente e cortei o beijo.
Nada. Eu não senti absolutamente nada com aquele beijo, então não sinto nada por ! Abri os olhos, sorrindo.
E gelei ao ver o sorriso que recebi de volta. A boca, o nariz, os olhos... Não era .
Brian segurou minha mão mais forte.
A silhueta de estava da praia, imóvel.
Minha cabeça repentinamente pareceu prestes a estourar.
Puta merda.
- Err, desculpa, eu... – forcei alguma coisa, mesmo sentindo que meu pensamento estava longe demais para eu conseguir dizer qualquer coisa com nexo.
Vi dar as costas e sair dali. Seus punhos visivelmente fechados. Senti tudo a minha volta girar, possível causa: falta de ar.
O mundo que parecera tão perfeito naqueles segundos de olhos fechados agora estava de pernas para o ar.
- Eu a vi saindo daquele jeito e como monitor tive que vir atrás de você em vez daquele, er, seu amigo dos olhos . – Brian começou a se explicar, ótimo, agora ele ia me dar um fora e eu ia me poupar de ter que dar o fora nele. Mas por que ele fica com esse sorriso idiota se vai me dispensar?? – Só queria saber se você estava bem. Você está?
Claro que não, puta que pariu [986796879].
- Sim, eu, claro... – meu olhar estava longe, acompanhando até ele sumir. Eu tinha que correr, alcançar ele e... Não. E não ia atrás de . É. Foca aqui no Brian, ! - Me desculpa, eu...
- Tá tudo bem. – e dizendo isso Brian selou minha boca e sorriu. – Eu posso ser despedido, mas tudo bem!
Ele riu como se alguma coisa fosse divertida por ali.
- Não, você não entendeu. Eu pensei que fosse outra pessoa! Eu... Me desculpa. – e novamente eu corri, querendo me tacar do último andar do prédio, ou simplesmente me jogar na cama macia no terceiro andar.
Fui direto para o elevador sem nem olhar para os lados após colocar meus chinelos no lugar. Entrar descalça no hotel? Nem vestida de ouro! Apertei o botão do terceiro andar.
- Diz que você pensou que era eu, por favor .
Um arrepio percorreu todo o meu corpo ao ouvir a voz dele. havia parado o elevador com a mão e me encarava sério da porta. Ele entrou. Concentrei minha atenção no painel de botões do elevador, nunca havia reparado como eles eram brilhantes e... Eu não ia responder olhando nos olhos dele. O elevador começou a fechar suas portas novamente.
- Eu... Eu... Claro que não. – as palavras pareciam rasgar minha garganta, mas eu não podia dizer a verdade. – Eu sabia que era o Brian, nós estávamos tendo um rolo, m-mas eu terminei tudo porque ele não p-pode perder o emprego...
socou a parede do elevador (que era estofada, mas ainda assim uma parede de elevador) e eu me virei, assustada.
Nunca consigo convencer ninguém com mentiras! Ele acreditou mesmo?
- Aquele filho de uma... – começou a andar de um lado para o outro no elevador.
- Não, ! – o cortei rapidamente, ele não podia contar do Brian para ninguém. – Ele não fez nada, fui eu quem começou o rolo e...
- Ahn?! Do que você tá faland... Ah, sim, da sua historinha. Não me enganou, . Era pra ser eu ali. – ele fechou os punhos mais uma vez. – Mas aquele merdinha tinha que me barrar e ir atrás de você... Claro que eu não ia ficar lá sentado esperando, eu tinha que ir atrás de você! Quem ele pensa que é...
- , - tentei mais uma vez, já começando a tremer. – ele veio porque nós estávamos fican...
- Corta essa, . – ele deu um sorriso bem rápido. – Você pensou que fosse eu, era o óbvio, não era? E realmente teria sido eu... – ele engoliu um seco e continuou com dificuldade, como se as palavras doessem tanto para ele quanto para mim. – Você pode não assumir pra mim, tudo bem, você sabe... Apesar de que seria melhor se você assumisse.
- Seria? – perguntei, sem emoção alguma e sentindo a boca seca.
- Eu não vou desistir de você, não dessa vez. – seu olhar era intenso e parecia mergulhar fundo dentro de mim. Desviei meu olhar para o painel novamente.
Como eu poderia acreditar? E que história era essa de não dessa vez?
Se eu me recordo bem, da última vez ele só fugiu.
- Já desisti de você faz tempo, .
Ele deixou o ar escapar enquanto falava. – Você nunca tentou nada!
- Eu tentei ser sua melhor amiga!!! E isso era tudo pra mim!
- E que nunca foi o suficiente pra mim, então já tá na hora de eu tomar uma atitude, certo? – ele abriu a porta do elevador para mim. – Não vou ficar no seu caminho, mas se você precisar, vou estar logo atrás de você.
O resto da noite foi silencioso, nós entramos no quarto, nos arrumamos para dormir e nos deitamos em silêncio, cada um em sua cama.
E pela primeira vez, o silêncio chegou a machucar meus ouvidos. Eu já rolava pela qüinquagésima vez na cama quando deixei escapar:
- Eu pensei que fosse você. E fiquei feliz quando não senti nada no beijo, assim eu não me machucaria mais...
Só ouvi meu coração bater pesadamente enquanto esperava uma resposta de e ao mesmo tempo rezava para que ele já estivesse dormindo.
se mexeu na cama e o único som vindo dele continuava sendo o de sua respiração. Eu deixei o ar escapar, fechando os olhos e finalmente conseguindo dormir.
Capítulo 8
Entendam literalmente a parte em que ele disse que não ia ficar no meu caminho, e que ia estar logo atrás de mim. Foi assim a manhã inteira, não parava de me lançar olhares maléficos até a levar para uma volta. Acho que eles já se pegaram, e se ainda não rolou, não passa de hoje. Quer dizer, ele tá até abraçando a cintura dela e tals... Oh merda, meus próprios amigos não param de me encarar com olhares curiosos, o quê? Tão achando que eu dormi com ele? Vão cuidar da vida de vocês, trouxas!
Ganhei um guarda costas pessoal, riam.
Se bem que um guarda costas assim não é nada mau... OH GOSH, não acredito que pensei nisso. Não, não, NÃO. Ele é feio, bobo e idiota.
E eu total pareci uma criançinha de cinco anos de idade agora. Ah, bons tempos.
- Hey, garota! Manda a bola?
Uma bola de vôlei veio parar no meu pé. Os mesmos garotos de ontem jogavam no mesmo lugar que ontem. Dei de ombros, por que não? Eu já tava cansada de ficar ali tomando sol mesmo. E o silêncio de realmente me incomodava, era como se ele estivesse tramando alguma, só que na verdade ele estava só... Cuidando de mim sem me atrapalhar, acho.
Teoria furada a dele, mãs...
Joguei a bola pro alto e dei um belo saque, sentindo a adrenalina correr solta. Mandei a bola direto para o cara que havia berrado, pedindo-a de volta.
Não consegui distinguir quem disse o quê, mas vários comentários se seguiram momentaneamente a minha fantástica faceta.
- Ual, que jogada!
- DEMAIS!
- Beela pontaria!
- Quer jogar também?
É, por que não?
***
O time em que eu estava parecia ganhar, mas nada era certo: ninguém estava contando os pontos. Bem que podia ter contado (sim, ele veio atrás de mim, hahaha), mas ele estava ocupado demais sentado assistindo. E como ele não havia aberto a boca ainda, os caras devem ter ficado sem graça pra pedir pra ele. E de qualquer jeito, era só um jogo pra gente se divertir. Mesmo com as jogadas dignas de campeonato estadual.
Corrijo, ele ficou quietinho até Alex cortar na minha direção.
É óbvio que eu peguei a bola. E com manchete. Doeu um pouquinho sim, mas nada realmente significativo.
invadiu a quadra e avançou em direção ao outro time.
- Seu idiota, te vi mirando nela! Só por que é garota você mira nela pensando que ela é mais fraquinha, só pra fazer ponto?! Você podia tê-la machucado sério, imbecil!
Eu segurei a mão de , quando ele passou por mim, ele deu mais dois passos em direção ao Alex, e eu o segurei.
- , é só um jogo! Olha, nem machucou!! – sorri, mostrando meus braços a ele.
Que nem se virou para olhar.
- Não se mete, ! – é, ele me ignorou. – Seu ridículo, é assim que você ganha?!
Fechei a cara, quem ele pensa que é pra me ignorar assim? E que ataquezinho besta é esse? É assim, sim, que se ganha no vôlei, além de condicionamento físico e muito treino, tem que ter, sim, estratégia. Mesmo que a de Alex tenha sido furada, porque eu não fujo da bola nem que ela venha matando. Idiota eu, né? Sempre me esfolo toda nas aulas de educação física, é.
- Hey, dude, eu não fiz nada disso, é só um jogo... – Alex falou com uma expressão confusa no rosto enquanto todos estavam estáticos, sem saber como agir.
Com essas palavras de Alex, ficou claro que ia arrebentar ele.
O porquê, eu sei lá, mas senti a mão de fechar e vi as veias do pescoço dele saltando.
Coloquei-me rapidamente na frente de , colocando uma mão em seu peito e segurando-o no lugar.
- , dá um jeito no seu namoradinho aí, a gente não quer arranjar nenhuma briga! – Matthew, do meu time, pediu.
Dessa eu ri interiormente, sem demonstrar nada por fora. Afinal, naquele momento eu só queria arrastar pra bem longe dali. Bem longe mesmo, principalmente depois de ver o quão vermelho de raiva o rosto dele estava.
- Hey, , eu to bem, não tá vendo? O Alex não queria me machucar, amor, e não machucou, okay?
- Mas... – AE, GAROTA! Ele finalmente olhou pra ti, uhul.
A veia no pescoço de parou de pulsar e a intensa cor vermelha no rosto dele foi diminuindo.
- Por que a gente não toma um sorvete? Tá muito calor, que tal? – sorri sinceramente para ele, demonstrando um lado que eu mal sabia que tinha.
Aquele que as mulheres usam pra conseguir tudo que querem? É.
Me senti a última trakinas do pacote agora, hein. Dancinha da vitória pra mim, yeah.
continuou me encarando sem palavras, com aquele mesmo olhar que parecia mergulhar nos meus olhos. Ou eu nos dele, enfim. Segurei a mão dele mais forte.
- Desculpem a pequena confusão, garotos! E obrigada por terem me deixado jogar! – acenei já saindo da “quadra” com .
Sim, puxando . Mas ele não se mostrou resistente, apenas foi comigo.
- Imagina, ! E se quiser jogar de novo... Só da um jeito no esquentadinho aí. – Alex sacaneou e virou a cabeça para lançar um olhar de ódio básico para ele.
- Haha, vem, ...
Fomos em silêncio até o sorveteiro mais próximo. Fala sério, eu tendo que bancar a baba dele, se eu não tivesse interferido ele estaria ferrado. Bufei.
- Vai querer um sorvete pra namorada, meu jovem? – o carinha do carrinho de sorvete perguntou a e eu rolei os olhos.
Nossas mãos ainda estavam entrelaçadas, então eu perdoei, já que não sabia se já era seguro soltá-lo. Aham.
“Eu não sou namorado dela, só to bancando uma de guarda costas, cara!”, era isso que ele tinha que responder.
Mas só riu e pediu um picolé de limão para mim e um de uva para ele.
O tempo passa, mas muitas coisas não mudam.
Como ele ainda se lembrava do meu picolé favorito?
Tá, eu também lembro o picolé favorito dele, afinal, para nós dois era picolé até debaixo de neve. Nós tínhamos desconto especial na sorveteria perto da antiga escola.
- Okay. – ele entregou o picolé de limão para mim, já aberto, e começou a andar, me puxando junto, bem devagar. – Essa foi a segunda vez que nos chamaram de namorados e você ainda não se manifestou! – ele falou divertido enquanto degustava do próprio picolé. – Tá se acostumando com a idéia, é?
O encarei com a minha melhor cara de emoticon (leia-se: -.-).
- Não, eu só explodo depois da terceira vez, mesmo. E não é à toa que tão dizendo isso, né, você fica aí dando uma de guarda costas atrás de mim!!
- Você me chamou de amor. – ele sorria de orelha a orelha.
Chamei, é? Hm, não lembro. Deve ter sido o desespero.
- Ah tá, e você foi ridículo lá, ! O garoto não fez nada demais... – fechou a cara novamente e eu desisti automaticamente de continuar com aquele assunto que não ia levar a lugar algum. – Ah tá, ok, não vamos mais falar disso!
Fiquei de costas pra ele, soltando nossas mãos e encarando o mar enquanto chupava meu picolé de limão.
Logo senti abraçar minha cintura e apoiar o pescoço no meu ombro.
E dessa vez era mesmo o .
- Você ficou tão desesperada lá que até me chamou de amor... – ele riu baixinho.
Porra, abusou agora, dude.
Virei-me para bater nele e gargalhou pra valer enquanto corria de mim. Acabamos no mar, rindo e tacando água um no outro.
Essa criança idiota que eu costumava chamar de melhor amigo, viu.
Será mesmo que eu posso voltar a confiar nele?
Capítulo 9
- LUAU NA PRAAAAIA, GALEEERA!
O berro que veio do corredor quase me matou do coração, e foi seguido de um estrondo vindo do banheiro com um berro de . Já eram quase sete da noite, e eu estávamos no quarto do hotel. Ele tomava banho enquanto eu procurava alguma coisa na TV. Acabei me decidindo pela MTV mesmo, afinal os clipes eram bem legais de se analisar. Tirando os dos rappers ridículos, claro. Ainda assim eu podia rir da cara idiota deles.
Bateram na nossa porta e eu levantei do sofá para abrir e ver o que queriam. saiu do banheiro acariciando a cabeça, de bermuda e cabelo molhado. A tattoo à mostra.
- LUAU NA PR... Ah, são vocês!! Oi, . - Joe sorriu pra mim logo que eu abri a porta, ele me abraçou e acenou para . - ! Ninguém sabia onde vocês estavam!
Joe lançou um olhar pensativo suspeito.
- Vocês que sumiram! A gente ficou na praia o tempo todo. Você viu a por aí?
- A ? Com o , lá no luau já! Eles tão juntos?
- Não sei! Mas parece...
- Tão sim. – finalmente falou alguma coisa.
Eu fiquei boquiaberta. Como assim ele responde com tanta certeza? Como ele sabe disso e eu não? Como a não me conta uma coisa dessas?! Joe riu, concordando.
- É, parece mesmo. Bom, deixa eu continuar meu trabalho, talvez ainda tenha mais gente pelos quartos. Apareçam no luau!
- Nós vamos. – respondeu certíssimo do que dizia, mesmo sem perguntar a minha opinião.
Ok, eu também queria ir. Quer dizer, já tinha ficado tempo demais sozinha com ele.
- Como assim eles estão juntos?! E eu não fico sabendo de nada!!
riu e fechou a porta por mim. Afinal eu estava chocada e havia esquecido de fechar a porta quando Joe saiu.
- É, o não é fácil, não! HUAHUAHUAHUAHUA. Que foi? Por que tá me encarando assim? – ele parou de rir pra fazer bico.
- Olha aqui, se o seu amiguinho machucar a , eu juro, mas juro por quem você quiser que eu arrebento a cara dele!
- Eita. O quê que eu tenho haver com isso? – : O_O.
- Só passe a informação adiante, ok? Tenho que achar um blusão, deve estar bem frio lá fora.
Revirei minha mala inteira, e tudo que eu achei foi aquela blusinha de frio que não ia resolver muito o meu problema.
- Hey, pega essa!
jogou um blusão Hurley na minha direção e eu peguei, desentendida.
- Pra quê?!
- Pra você usar, ué. Eu empresto. – ele sorriu e acrescentou. – Com essa blusinha aí, não vai adiantar nada. – deu de ombros.
- Hm, ok. Er... Valeu. – mal peguei aquele blusão e o cheiro de invadiu minha respiração sem pedir permissão alguma. Aquele perfume natural que cada um tem... Sorri sozinha lembrando que não havia mudado nada do perfume que eu lembrava, só parecia melhor.
- Vai ficar aí sorrindo sozinha ou vai pro luau comigo, ahn? – sorria mais idiotamente que o normal.
E eu pensando que isso era impossível.
- Eu só tava arrumando o blusão, ! – passei por ele sentindo minhas bochechas corando enquanto ele ria, fechando a porta.
Fomos em silêncio, com uma conversa breve aqui e outra ali, sobre coisas como o espelho ou o carpete do elevador, as árvores no caminho para a praia e até sobre as estrelas no céu.
- , olha só a estrela que dá pra ver daqui! – paramos já na areia e vendo o barzinho aonde devia ser o luau que Joe falara. passou o braço envolta de mim e aproximou seu rosto, quase colando-o no meu. Ele apontou para uma estrela no meio do céu; ela era a única ali, não havia nenhuma outra por perto, só alguns metros distantes.
- É a...
- Sua, é. – ele sorriu olhando pra mim e eu desviei o olhar para a estrela tão brilhante para qual ele apontava.
havia me contado sobre essa estrela há muito tempo atrás. Lembro de ter mencionado aqui que nós fomos amigos de infância. Bem, eu não lembro da minha infância sem ele, pra ser mais exata. Morávamos na mesma rua, mas todas as férias ia para a casa de seus avós no interior. Eu sentia uma falta terrível dele, e ficava esperando a noite para me ligar e me contar sobre o seu dia.
Lá pelos oito anos de idade eu acabei viajando também, para a Irlanda, com meus tios e primos. Na primeira oportunidade que tive liguei para , que não sabia o número da casa em que eu ia ficar. Ele pareceu tão feliz ao ouvir minha voz e... Nesse dia ele me contou que havia dado o meu nome para uma estrela que só se via no céu de lá, uma estrela que não existia em Londres. Ele disse que assim poderia estar comigo e conversar comigo a noite. Foi tão bonitinho, afinal, ele tinha só oito anos, e eu também.
- Puxa, ela é lind...
- HEY, ! – uma loira conhecida veio correndo na direção de .
Eu automaticamente me afastei dele e bufou revirando os olhos e enfiando as mãos nos bolsos do seu blusão.
- Eu vou indo lá, okay? – sorri e ele franziu a testa.
- Por quê? Eu-oi, Jill. – ele pareceu entediado ao dizer ‘oi’ para a garota loira que agora abraçava ele. Devo contar pra ele que todo mundo tem sentimentos e que desse jeito ele fere os da loirinha?
Ri pra mim mesma e comecei a andar em direção ao barzinho. Havia uma fogueira por perto, com uma roda de pessoas em volta, e Jack tocava violão num dos cantos. Sentei-me entre Billy e Joe (n/a: OMG, quem pegar esse trocadilho ganha... sei lá o que ganha! HSUIAHOISUAOHSA destaque no próximo n/a de final do capítulo, qtal? Sou idiota mesmo, bjsmil // n/i: Eu peguei esse trocadilho, bjsmil. P.S.: Nota da Isa... ou da intrometida mesmo.). Joe se levantou depois de um tempo e muitas brincadeiras, indo sentar com Kim, e eu pude afirmar que senti um clima.
e estavam no bar, rindo e bebendo. Aquilo no copo dela devia ser no máximo suco natural, agora o copo de parecia ser bem alcoólico.
Respirei calmamente e voltei a olhar para a fogueira, com a vista do mar de fundo.
Eu respirava perto do capuz de sem perceber, aquele perfume me fazia tão bem... Alguém sentou ao meu lado e eu me virei para encontrar o dono do blusão que eu usava.
sorria de orelha a orelha, me olhando nos olhos.
Fui levada a pensar na ruiva, e pela primeira vez em anos, eu senti aquela pontadinha de ciúmes.
- Gostou da blusa? – ele perguntou com o mesmo sorriso.
MãsqueAHN?
- Err, sim, er...
- E pelo jeito gostou do cheiro dela também. – ele sorriu maroto e aí eu entendi o sorriso de orelha a orelha dele.
Mas não esqueci da ruiva.
- E você, se deu bem com a loirinha ali? – me virei para procurá-la, mas foi em vão. – Você demorou bastante pra vir pra cá...
- O quê? Haha, aquela é a prima do Mark, se eu ficar com ela, o Mark me mata! – riu civilizadamente pra não atrair muita atenção, Billie ainda tocava seu violão. – Não que ela não tenha tentado, mas... Eu decidi não ficar mais só por ficar.
- Ah... É? – encarei-o de lado, curiosa. – Duvido. – desafiei, com um sorrisinho.
- Tenho bastante tempo pra te provar isso. – ele sorriu de volta e eu senti meu estômago dar voltas. – O que acha de sentir o perfume do blusão diretamente do dono agora, hein?
Droga, eu havia novamente fungado naquele blusão maldito! É inconsciente, eu juro!
- Hahahaha.
***
O tempo passou e logo eu estava mesmo com a cabeça apoiada no ombro de , praticamente dormindo de tão cansada, e com a cara enterrada no pescoço dele.
- Acho que você precisa dormir... – sussurrou baixinho, mexendo com o “meu” blusão. Ele abraçava minha cintura com os dois braços, a fogueira não aquecia mais nada e o vento estava cada vez mais cruel.
- Hmmm. – me limitei a murmurar.
cutucou minha barriga. Maldito ponto fraco.
Encolhi-me, resmungando.
- Nós vamos subir, mais um pouco e a bela adormecida aqui inunda meu blusão com baba. Boa noite, galera! – se levantou me puxando junto. Eu o encarei mal humorada, mal conseguia ficar em pé.
- Pra você também, zão! – os garotos zoaram e se eu estivesse numa condição melhor, teria mandado o dedo pra eles e ido sozinha pro hotel.
Claro que eu não estava nessas condições, como você deve ter percebido.
mandou o dedo por mim e riu incrédulo. Não sei de quê.
- Vou ter que te carregar no colo, é?
- Hmm, não.
- Então anda mais rápido.
- Hmm, não mesmo.
- !
- Que é, ?! – ele só ria mais, o que começou a me incomodar. – Tá rindo de quê?? – acabei cedendo e perguntando de vez antes que enlouquecesse.
- De você. – o fulminei com o olhar, não estava no humor para aquelas respostinhas, definitivamente. – E dos babuínos babões que nós temos como colegas de classe! (n/a: alguém me diz que plágio é crime? Eu aqui plageando J.K. Rowling na maior cara de pau... Harry Potter it's forever baby <3 vou parar de estragar a história com esse n/a's ridículos, bjos&qjos)
- Oh, tá. Você é muito diferente deles, né. – rolei os olhos e resmungou.
- Não é isso. É só que você não percebe... A cara que todos eles fizeram quando... idiotas.
- Ahn? , tá bem de noite e você não tá colaborando, fala direeeeito...
Ele respirou fundo enquanto atravessávamos a avenida.
- Tava escrito na testa da maioria daqueles nossos coleguinhas, o jeito como eles olhavam... , estavam todos querendo ir no meu lugar com você para o hotel.
Ele mal terminou de falar e eu já ria alto atraindo alguns olhares.
- Quê? – ele perguntou sem entender.
- Não viaja, , que paranóia!
- É sério, . Quando foi que você passou a ser objeto de desejo masculino? E eu perdi isso...
Bati no estômago dele por isso.
- Qual é, , como você me deixou perder isso? Eu sabia que tava demorando demais pra eu não ser mais o único a... – ele deixou a frase morrer e limpou a garganta, incomodado.
Olhei para cima e notei que ele havia corado. Muito engraçado. Quando foi que virou tão bom ator? Desse jeito ele ia acabar me convencendo de que ainda era o mesmo garoto que eu conheci na infância. E de que ainda por cima ele realmente gosta de mim.
Não, não ia convencer assim tão fácil, não.
- ?
- Sim?
- Eu... Sinto muito.
- Você não fez nada, .
- Só me desculpa.
- Mesmo sem saber o por quê?
- É.
- Tá bem, eu desculpo. – ele sorriu. – Sempre. – o sorriso dele ficou maior ainda.
Senti aquela tristeza aumentar mais ainda. E pedia perdão por não conseguir acreditar nele. O que eu costumava fazer sem pensar duas vezes na velha e boa infância. Era estranho ficar com ele e não poder agir sem ter que pensar duas vezes. É bem mais fácil ignorá-lo e ser chata com ele, pelo menos estava funcionando até aquela viagem. Agora eu não sentia mais vontade de ser má, e o índice de sarcasmo diminuía a cada segundo. Aonde isso ia dar?
Suspirei pesadamente enquanto entrávamos no hotel, seguindo para o elevador.
- Boa noite, . – ele beijou minha testa e foi para sua cama.
Já havíamos colocado o pijama e nos arrumado para dormir.
- Boa noite, . – me permiti sorrir idiotamente no escuro, já que assim ele não veria mesmo.
Independentemente de eu confiar nele como antes ou não, aquele sentimento jamais havia saído dali, e era exatamente o tipo de sentimento que me fazia sentir completamente boba perto dele quando eu não ocupava cada célula do meu ser com o sentimento de ódio. E eu que pensava que era só coisa de idade. Bom, talvez ainda fosse. De qualquer jeito, mesmo depois de anos me preocupando em odiá-lo, talvez eu ainda gostasse de .
Capítulo 10
Me estiquei na cama de barriga para cima, sem coragem de abrir os olhos só de sentir o sol que vinha no meu rosto diretamente da janela sem cortina em frente a cama de e . Esses dois deviam estar sofrendo com tanta luz, já que havia mais uma janela ao lado da cama.
O edredom que estava no pé da cama foi finalmente jogado para o chão pelos meus pés e eu finalmente notei que aquela cama estava um pouco espaçosa demais.
Abri os olhos num impulso e logo em segui os fechei fazendo careta. Porra de claridade.
Um risinho divertido veio da cozinha, que era separada do quarto por um balcão. Três pessoas dentro dela e ninguém saía do lugar. Me ajeitei rapidamente na cama e abri os olhos mais uma vez, tentando tampar a luz vinda das janelas com a mão direita.
ria na cozinha, com seu cabelo verdadeiramente bagunçado, sem camisa e com cara de sono. Mordi o lábio inconscientemente.
- Que é? – minha voz soou mais rouca que o normal, provavelmente graças ao fato “oi, acabei de acordar, beleza na calabresa?”.
- Bom dia, raio de luz! – ele parou de rir, mas continuou com o sorrisinho cínico no canto da boca.
Rolei os olhos. Raio de luz, tá, a sua avó.
- Cadê a ?
- Você não vai me desejar bom dia?
É, o cara sabe ser chato quando quer.
- Bom dia, . – falei um tanto sem emoção enquanto ele sentava no pé da cama.
- Obrigado. Hmm, como explicar? Bem, eu estava dormindo tranquilamente quando bem no meio da madrugada fui chutado da cama por uma alegremente bêbada e um extremamente risonho. – ele apontou para sua cama e riu enquanto eu pasmava.
e estavam dormindo juntos, ambos babando. E ele a abraçava.
- E-e-e-e-eles...
- Tavam com o fogo todo!
Fiquei séria e encarei , parando com a história de gagueira.
- E você não fez nada?
- O que você queria que eu tivesse feito?! Me deitar entre o casal, é?
- Ah, eu não creio nisso!
- Como assim? Qual é , já tava na cara que os dois iam ficar...
- É, é! Mas a não é do tipo que dorme com um cara depois de uns beijos!
- Talvez por que ela nunca tenha realmente gostado do cara...
- Eles estavam bêbados!! – bufei e joguei a cabeça para trás, tentando digerir a informação. Agora já era tarde demais pra se estressar. – Eles pelos menos... usaram... um... – tentei gesticular, mas o tapado do não entendeu minhas tentativas frustradas de mímica.
- Um o que?!
- Preservativo! – incrível como ele consegue me tirar do sério com tanta facilidade. Eu costumava ser mais tolerante com essas coisas, acho que é a idade...
piscou uma vez e depois ele começou a rir. E continuou rindo, tanto que devia estar doendo.
Não entendi. Por acaso ele pensa que camisinha é para otários? Mas que louco, isso é coisa séria! MEU DEUS, PÁRA TUDO! A FEZ... err, aquilo... SEM CAMISINHA!! PUTAQUEPA...
- O que você pensa que eles fizeram, ? – cortou meus xingamentos mentais, vermelho de tanto rir. Isso me desconcertou. É, mais ainda.
- Ué, bom, o que você disse! – respondi corando e agitando as mãos.
- Então eu disse que eles dormiram? Por que, , eles deitaram, se beijaram mais um pouco e caíram no sono nessa mesma posição inocente que você viu agora.
- Só... isso?
- É. – ele riu sem escancarar a boca, sorrindo de lado.
- UFA, QUE ALÍVIO!!
- Shh, você vai acordar os dois!
- É BOM ELES ACORDAREM MESMO, QUE HISTÓRIA É ESSA DE FICAR CHAPAD...
voou em cima de mim para tampar a minha boca com as duas mãos, praticamente cobrindo meu rosto inteiro. Franzi meu cenho para ele, que ria todo divertido.
- Acho que quando eles acordarem vai ter surpresa...
Ergui uma sobrancelha e ele tirou as mãos da minha boca.
- Como assim, surpresa?
- Não grita.
- Tá, tá.
- Eles estavam se chamando de mil coisinhas melosas e carinhosas... Talvez tenha sido só efeito do álcool, mas no meio dessas coisas...
- O que?! – perguntei em crise quando percebi que não ia terminar a frase.
- Não vou dizer nada, é só uma suposição. Se for o que eu penso você descobre assim que a acordar.
Deixei minha expressão facial mudar para indignação.
- Você sabe de alguma coisa que eu não sei?
Ele suspirou entediado e levantou da cama.
- Eu sei que por mais que o negue, ele sempre teve uma quedinha-abismo pela . Agora que eles estão juntos...
Meu queixo caiu. começou a andar em direção a cozinha.
- Você acha que... – me estiquei pra sair da cama.
- É só uma suposição. – ele falou sem parar de andar, já entrando na cozinha.
- O e a ... – o segui. Meu bom Deus, que costas são essas, ...
- Não posso afirmar nada.
- Ele a pediu em...
- Talvez.
- Pára de me cortar!!
- Café da manhã? – abriu os braços para a mesinha da cozinha, todo sorriso.
A mesinha de duas cadeiras estava abarrotada de comida. Pães, manteiga, requeijão, leite, suco, frios...
- Vieram trazer o café da manhã aqui?!
- Só os pães. – ele e esse sorriso Colgate Total 12.
- E você arrumou a mesa? – o encarei em dúvida, com a mão no queixo pra fechar a pose pensativa.
- Sim! – ele estufou o peito orgulhoso. E eu ri, claro. – Hey, tá duvidando?!
deu dois passos perigosos na minha direção.
- Não! – me apressei em dizer, evitando ao máximo qualquer tipo de contato com o corpinho sarado dele. Er, quer dizer, raquítico. Hm, esquece. – Vou lavar o rosto no... banheiro, aí a gente come, okay?
- Pff – ele riu baixinho. – Quem disse que eu vou te esperar pra comer?
- Ha! – minha vez de fazer o sorriso maroto dominar meu rosto. – E você já não estava esperando?
Vi ficar sem reação e então fechei a porta do banheiro mordendo a língua pra segurar a risada. Ele ficou sem graça! E provavelmente daria alguma resposta desagradável e mal pensada se eu continuasse o encarando, então para o bem-estar da viagem, o melhor foi fechar a porta mesmo.
Epa.
Desde quando eu voltei a fazer isso?
Respirei fundo e abri a torneira deixando a água molhar as palmas de minhas mãos livremente.
***
Abri a porta do banheiro e vi a cozinha vazia.
- ?
Dei um passo em direção à mesa intocada do café da manhã. Nada.
- ? – tentei mais uma vez, sem sucesso.
Saí da cozinha e encontrei tudo exatamente igual ao que me lembrava. e numa cama, a outra cama bagunçada e o edredom jogado no chão... Demorei um pouco mais no par de chinelos azuis que estavam no chão ao lado da cama. Hmmm... Grandes demais para serem meus.
Uma voz aguda vinda da porta chamou minha atenção. Me aproximei sorrateiramente. (n/a: meu nome é Bond, James Bond! haha)
- Ah vai , vem com a gente!
- Vai ser divertido! – algumas palminhas seguiram esse comentário.
- Não dá garotas. – ele riu. Tudo bem, eu estaria rindo também, se não fosse muito profissional. Haha, ok. – Tem os meus amigos, uns ainda estão dormindo...
- Deixa eles ai!
- Acorda todo mundo!
Dei um passo para o lado para evitar ser acertada pela porta quando esta se escancarou.
- Bom dia, Rach... Tracy. – sorri entrando no campo de visão delas. – Ir aonde, ?
Ele estava encostado no batente da porta, ainda sem camisa e descalço. Me aproximei apoiando as mãos em seus ombros e sorri quando notei que ele se arrepiara.
- Ahn, é, passeio de escuna, . Pelas ilhas aqui perto. – ele respondeu com a cabeça levemente virada para mim, sem conseguir esconder as bochechas coradas.
- Nossa, que demais! Mas o e a ainda tão dormindo...
- Ah, que pena. Tudo bem, fica pra próxima! Tchau , tchau ! – Tracy rapidamente começou a andar puxando Rach junto.
A cara delas nessa hora foi impagável. Estava escrito “Que droga!” na testa das duas. Mas o olhar de Rach tinha algo mais.
- Tchau. – respondeu ao mesmo tempo que eu.
O olhar de Rach tinha um q de “Isso não acaba aqui.”
HAHAHAHA pode vir com tudo, gatinha.
Capítulo 11
- Nossa, que garota chata!
- Nossa, a Tracy nem é tão ruim assim, coitadinha ! – andei até a cama e me sentei inocentemente.
- Eu não estava me referindo a Tracy. – ele rolou os olhos e depois sorriu. – Mas foi bom elas passarem aqui...
- Por quê? Saudade de ser paparicado? – ri.
- Não, eu gosto muito mais de você me maltratando. – ui. – Mas foi uma gracinha te ver com ciúmes, pra variar. – ele sorriu do jeito mais filho-da-mãe possível, só pra me provocar.
- O que?!
- É, tem razão, você disfarça muito bem, mas eu te conheço pra saber que uma pontadinha de ciúmes você sentiu. Obrigado por me livrar dessa, de qualquer jeito.
- E-eu... Eu não agi por ciúmes! Eu... – opa, estoque de desculpas igual à ZERO, baby. – Eu só quis ser leg...
- Obrigado, . – ele repetiu com um sorrisinho no canto da boca impossível de não se notar.
- Tá, tá. Sabe o que eu tava pensando?
- Que eu tenho ombros definidos e fico extremamente sexy sem camisa?
É, isso também, .
Soltei um palavrão enquanto ria controladamente e tacava um travesseiro direto na cara dele.
- Não. – menti, mas só um pouquinho, fazendo a palavra soar bem claramente. – Na verdade eu estava me perguntando como você conseguiu dormir nesse mini-sofá...
- Quem disse que dormi no sofá?
Err.
- Aonde você dormiu então?!
- Ué, no chão que não foi. – continue , por favor. – Eu dormi na cama com você, .
Meu queixo ameaçou cair, então eu o segurei no lugar, “charmosamente”.
- Ah...
- Mas eu não dormi muito, eles chegaram bem tarde e eu dormi menos de duas horas, devo ter perdido o sono... E não xinga, você me deixou deitar!
Eu não ia xingar, seria infantil demais. Como se normalmente eu ligasse pra isso. E ultimamente as coisas andam meio anormais, então... A parte que me comoveu foi aquele em que eu não me lembro de ter acordado no meio da noite. Muito menos de ter falado com alguém.
- Deixei?
- Aham, meio sonâmbula, mas deixou! – ele sorriu e corou levemente em seguida. – Eu sei que vai soar bem clichê a cafona, mas você é linda até dormindo.
Minha ver de corar.
- Okay, chega disso . Tô com fome, vamos comer aí a gente deixa um bilhete pros dorminhocos e vai pra praia! – pulei da cama e fui pra cozinha sem nem olhar para ele, já que o fato de sentir minhas bochechas pegando fogo me deixava mais envergonhada ainda. Uma merda quando seu próprio corpo te entrega e acaba com todo o disfarce.
- E quando eles acordarem a gente vai fazer o tal passeio de escuna! – veio atrás.
- OOOBA!! – me dei o direito de ser uma criança feliz, um passeio de escuna num lugar como aquele devia ser fantástica.
Ele riu, provavelmente do meu momento retardado.
- Não consigo me arrepender de insistir em você, sabia? Devia ter feito isso antes... – dessa vez a voz de veio extremamente perto do meu ouvido, e eu pude sentir uma de suas mãos pousando em minha cintura.
Nessa minha respiração falhou.
- V-você só vai se arrepender o dia que pisar feio na bola, de novo... – tentei desesperadamente raciocinar por mais que nada em mim colaborasse.
- Eu não vou te colocar pra baixo de novo. Nunca mais, .
Uma lágrima fujona rolou livre pelo meu rosto enquanto me virava para si. Eu queria acreditar. Solucei baixinho e ele limpou o caminho úmido que a lágrima havia deixado com o polegar. Suspirei pesadamente encarando meus pés, ciente de que ele me encarava pacientemente enquanto todas aquelas memórias inundavam minha mente.
Flashback
- ... Sabe o que meu pai disse hoje?
- Hm?
Era um daqueles momentos de silêncio confortável no parque da cidade que nós costumávamos ter toda tarde. Depois de correr, pular e usar todos os brinquedos do parquinho da forma correta e da incorreta também (qual é, fomos crianças de verdade, e não anjinhos religiosos.) nós nos sentávamos a beira do lago e ficávamos ali até enjoar, jogando papo fora.
Devíamos ter mais ou menos 12 nessa época. E não perdíamos o costume de agir como crianças, mesmo a sociedade lutando contra essa nossa vontade. Não existia nada que alguém de fora pudesse dizer para nos separar, minhas colegas de classe que o digam.
- Ele disse que a gente passa tempo demais juntos, e que ele morre de ciúmes de você. – falei sorrindo e ele riu alto.
- E o que você disse? – ele perguntou ainda risonho quando finalmente conseguiu parar de gargalhar.
- Que nós éramos bons amigos, oras!
- E o seu pai...
- Disse que nunca me vê com meus outros amigos...
- Isso é por que eu sou o mais legal!
Viram, convencido desde sempre. Culpa minha, argh.
- Eu disse pra ele que você é meu melhor amigo e ele ficou de mimimi pra cá e prá lá, falando que eu devia ter amizades assim com garotas!
fez um careta hilária de nojo e eu dei um tapa nele, afinal eu sou uma garota e supostamente ele devia gostar da minha amizade.
- Você é diferente! – ele gritou em defesa antes que apanhasse mais, acariciando o lugar aonde eu havia acertado o tapa.
Que clássico, os amiguinhos de infância crescem e a garota vira popular enquanto o garoto entra pro grupinho de “Losers”. Mas nesse caso não havia grupinho para , ele simplesmente só falava comigo. Arriscava uma troca de xingamentos aos professores com alguma outra criança e depois vinha correndo atrás de mim.
Não vou dizer que não gostava. De todas aquelas crianças, era definitivamente diferente, com ele era tudo mais natural, e nós conversávamos sobre qualquer coisa sem problema algum, e se o momento pedia silêncio, em silêncio nós ficávamos, sem aquela coisa chata de inventar qualquer assunto besta pra não ficar constrangedor.
- Ah, valeu hein! – fiz uma pose afetada e ele riu.
- Diz pro seu pai que nós somos namorados! Melhor, eu vou pedir sua mão em namoro pra ele!
Dei outro tapa na cabeça dele.
- As aulas de história andam te fazendo mal, garoto? Não basta eu ter que agüentar minha família inteira dizendo que nós somos namoradinhos não? Eles me enchem tanto, ! Você sabe disso...
- Vira e diz que nós somos mesmo, ué! Eu não ligo. – é, groupies do da Bronx High School, eu fui a primeira a ver o famoso sorriso charmoso de pura malícia dançando nos lábios de . Se bem que na época esse mesmo sorriso era bem menos malicioso.
- Hm... – deitei na grama pensativa. Realmente seria legal ver a cara de tacho que meus familiares iriam fazer. – Até que não é má idéia...
Do nada a cabeça de surgiu no meu campo de visão. Tomei o maior susto da minha vida e ele riu mais uma vez, passando a mão pelo meu rosto para tirar os fios de cabelo espalhados por ele.
se aproximou após um longo minuto de silêncio e selou seus lábios aos meus.
Esse foi o nosso primeiro beijo de verdade. O meu primeiro beijo. O primeiro beijo dele. O último beijo nosso.
End Flashback
Foi estranho, era meu melhor amigo!
Mas foi bom! Afinal, ele era meu melhor amigo. Por que não ele? Bom demais pra ser verdade? Nós éramos só crianças! Tudo bem que aos 12 anos muita gente já perdeu até a virgindade, mas nós dois aproveitamos ao máximo nossa infância, de verdade, e não pensávamos nesse tipo de coisa. E fato que o normal não é perder a virgindade aos 12. Claro que as aulas de ciências fizeram o favor de tirar nossa completa inocência sobre a história dos bebês serem trazidos por pássaros para as famílias e tals, mas isso não mudou muita coisa. Nós éramos dois pirralhinhos que riam toda vez que alguém falava de beijo e sexo. Piadinha particular e tals.
Eu mal consigo me lembrar da sensação, mas quando se afastou eu lembro perfeitamente de ter demorado tanto para abrir os olhos que quando eu finalmente o fiz não havia mais ninguém por perto, só o vulto de correndo para longe.
Flashback
- Ah, pode parar com isso, agora você vai me ouvir, ! – puxei-o de volta pela camisa. Ele ia mais uma vez correr de mim, como fazia a uma semana inteira desde o “incidente” no parque.
Uma semana dessa babaquice foi o suficiente para me fazer pirar, mais um dia seria fatal.
abriu a boca e fechou-a várias vezes. Eu o empurrei para dentro do armário de limpeza e entrei em seguida, fechando a porta atrás de mim.
Essa foi provavelmente a primeira vez que sentiu meu olhar de ódio fuzilando a cabecinha linda dele.
- O que você acha que tá fazendo, hein orelhudo?! Olha, não quero saber o porquê dessa sua decisão absurda de fugir de mim, não importa, mas pensa comigo: você vai mesmo jogar anos de amizade no lixo assim? Por qualquer motivo ridículo?
Só faltou eu espumar.
abaixou a cabeça e ficou encarando os pés.
- Me desculpa. – ele pediu baixinho.
- Ah , vamos lá, eu não te odeio! Não te fiz nada... Por que você tá fugindo de mim? É... é por causa do dia no parque? – perguntei insegura.
Qual era o problema? Eu... eu até havia gostado.
- Eu... e-eu não devia ter te beijado, não devia ter te forçado a nada, , me desculpa? Mal consigo olhar nos seus olhos agora...
Aquilo machucou por dentro, não entendi o porquê, mas foi como se tivesse dado um soco na boca do meu estomago.
- , não tem pelo que se desculpar... – inconscientemente acabei mirando meus pés também.
Ouvi ele fungar e em seguida a porta se abriu. Olhei assustada, mas era só saindo, correndo para longe de mim novamente.
Aquele dia foi o primeiro em que eu me sentei e deixei as lágrimas rolarem livremente por um garoto.
End Flashback
A mão de se encaixou em minha nuca e o polegar dele passou a acariciar minha bochecha.
Ele estaria pensando nas mesmas memórias que eu? Ou talvez em outras mais alegres e despreocupadas?
Um beijo foi depositado no topo da minha cabeça e dessa vez não foi uma única lágrima que rolou pelo meu rosto.
Droga, não acredito que vou chorar mais uma vez. E pelo mesmo garoto. Sempre pelo mesmo garoto.
Flashback
- Hey, tá, você se arrependeu, mas não deixa de ser meu amigo, por favor. Feliz aniversário, . – estendi meu humilde presente para ele, que se resumia a um CD do The Who embalado num papel de presente do Toy Story.
aceitou a caixinha, surpreso.
- É seu aniversário, ?!
- E você nem avisa, seu desnaturado?!
Os mais novos amigos de o cercaram enquanto eu acabei me afastando com um sorriso amarelo. Ele estudava naquela escola há anos e ninguém se lembrava do aniversário dele? Qual era a dificuldade? “Belos novos amigos, .”
Mas antes que eu desistisse de vez, coisa que eu ainda não ia fazer, pulou na minha frente e me abraçou forte como nunca.
- Obrigado, , era esse CD que...
- Faltava. Eu sei. – sorri largamente e ele riu.
End Flashback
- Foi minha culpa, eu era muito imaturo, .
Flashback
- Tá, eu entendi sabe, nós somos só amigos! – Treze anos, prestes a chegar aos quatorze, hormônios malditos.
- Não é isso que você pensou, !
- , tá me achando com cara de cega? Olha, eu não to nem aí pra você com essa Cherry. Nós somos só amigos, né? O que importa é não perder a amizade, eu te entendo. – saí andando apressadamente para fora da casa de Leon, aonde aconteceu nossa primeira festa sem pais das nossas vidas.
Another Flashback
O meu erro foi pensar que eu devia lutar pela nossa amizade. Pff, que besteira. Só sofri com tudo o que aconteceu e acabei ficando amarga e desconfiada assim. Isso explica o porquê eu não consigo acreditar nele, mesmo ele parecendo tão doce e verdadeiro...
A gota d’água foi numa festa em que encontrei bêbado com duas garotas num quarto. Nós mal tínhamos quinze anos!
- ! Vem, se junta com a gente aqui! – ele falou rindo e as duas vadias riram também. Mas elas provavelmente riram de outra coisa: a minha cara de susto.
Meus olhos se encheram de lágrimas e eu os sequei.
Dei as costas e sai andando.
- ?!
Me virei e encarei só de boxers na porta do quarto.
- Agora sim, , você conseguiu. Você não é mais o que eu conheço, é só mais um idiota como todos os outros. Cansei de bancar sua babá, ! Eu te odeio, me esquece.
E saí, deixando-o ali com os olhos arregalados e me proibi de chorar novamente por um garoto.
End Flashbacks
Promessa que só nessa viagem havia sido quebrada duas vezes. Eu estava chorando de novo por um garoto. Pelo mesmo garoto, só pra variar. Incrível, espetacular, parabéns , palmas pra você.
- , eu...
Capítulo 12
- Shh... – ele colocou o indicador nos meus lábios e sem querer meu olhar alcançou o dele, assustado. – Com... fome?
A respiração dele bateu em minha boca, mais próxima que antes. Semicerrei os olhos, consciente de que ficava cada vez mais próximo. Mesmo com a visão embaçada por duas lágrimas que haviam resolvido empoçar ali nos meus olhos eu pude ver o rosto de se inclinar para o meu.
Involuntariamente o ar parou de ser puxado para o meu pulmão, o coração passou a bater desenfreadamente e com alguns solavancos que davam a impressão de que a coisa ia parar de funcionar a qualquer instante.
Não ousei me mover, não sei se conseguiria.
- ...
- Eu posso ser eu mesmo com você, . Só com você, por que por você... Eu sou capaz de qualquer coisa, e não tem nada que me impeça de fazê-lo agora, linda.
As duas lágrimas teimosas resolveram cair olho abaixo e eu levantei o rosto para , precisando sentir o toque de seus lábios para acreditar naquilo tudo de uma vez. Ele não estava mentindo, ele não queria me enganar, e principalmente: dessa vez ele não fugiria de mim depois.
A outra mão dele se encaixou em minha nuca e eu coloquei as minhas mãos em seu tórax, podendo sentir o batimento cardíaco demasiadamente rápido dele. Sorri cada vez mais tranqüila e finalmente os lábios dele encontraram os meus, macios e quentes.
Ele não precisou morder ou passar a língua pelos meus lábios para eu os abrir, simplesmente abrimos a boca ao mesmo tempo, talvez para honrar os velhos tempos, quando eu pensava em espirrar e ele já estendia o lencinho. Péssima comparação. Nossas línguas se tocaram e passaram a brincar uma com a outra. Não tem como negar, foi de longe o melhor beijo de toda minha vida. Não que eu tivesse beijado muitas pessoas, mas namorar por seis meses rende alguns beijos.
Não que isso importe exatamente agora.
Foi completamente novo. Minhas mãos encontraram os cabelos de , as mãos dele passeavam pelas minhas costas. Cortamos o beijo ao mesmo tempo e ficamos em silêncio por alguns segundos, apenas nos encarando. Sorri, já que mal respirava, e isso foi suficiente para os olhinhos dele se encherem de vida e seus lábios se alargarem no sorriso mais lindo que eu já havia vista naquele rosto. Ele voltou a me beijar, dessa vez me encostando a parede e com as mãos em minha cintura. Ri sem conseguir controlar, a euforia dele chegou a ser hilária.
- OUTCH!! – um estrondo foi seguido por um grito e cortou o beijo se virando assustado para a entrada da cozinha.
- ! SAI DE CIMA DE MIM, AAAAAII!
- , ME DESCULPA, EU... HAUHAUHUAHUAHUHAUHAUA!!
me puxou pela mão até a porta da cozinha, e juntos nós encaramos aquela cena extremamente engraçada no chão ao lado da cama dos garotos. chorava de dor e de tanto rir, saiu de cima dela e se levantou meio zonzo.
- Caraca, que tombo. – ele comentou, puxando do chão.
- Retardado! – ela deu um tapinha nele e o beijou em seguida.
- Iuught! – fiz coro à só para zoar o casal.
- !
- !
- Minha cabeeeeça... – se jogou pra trás na cama e foi por cima, enchendo ele de cócegas.
- Sem querer atrapalhar, nós vamos tomar um delicioso café da manhã e vocês podem ficar aí se pegando, beijos me liguem. – me puxou pra dentro da cozinha pela mão, selou os lábios aos meus, sorriu e puxou a cadeira para eu me sentar.
Eu só consegui sorrir, de verdade.
- Coloca um biquíni por baixo. – alertei ao perceber as roupas que ela separava para ir se trocar no banheiro.
- Mas o falou que a gente não vai pra praia!
- Hey, não precisa se revoltar. – ri, feliz demais pra conseguir esconder. Meus músculos faciais me entregavam, me encarou curiosa. – A gente não vai ficar na praia. Mas eu aconselho você a colocar um biquíni por baixo...
- Aonde vocês vão levar a gente afinal?! – ela continuou com a pose de revoltada, mas também não conseguiu esconder a empolgação com a surpresa que estávamos preparando.
Não que eu tivesse combinado com de fazer uma surpresa para e com o passeio de escuna, só acabou acontecendo de nós resolvermos sacanear os dois ao mesmo tempo.
- Certo. É bom essa surpresa ser boa. Odeio surpresas, você sabe disso, dude! – reclamou para , que sorria debochado.
- Isso é por que você é muito impaciente e curioso, .
- Falou gata, valeu pelos elogios, não faz assim que eu fico encabulada. – piscou várias vezes enquanto cobria o rosto com as duas mãos e eu mandei travesseiro direto na cara dele.
- Já vai trair minha amiga é, ?? Com o fedido do ainda?!
e riram enquanto repetia o “fedido” incrédulo.
- É. – ri alto fazendo coro a e .
- Agora você vai ver só. – se jogou na cama aonde eu estava e me atacou direto na cintura.
Com o que? Adivinha.
Cócegas.
COVARDIA!
- Não! Não, não, não, !! Pára, porra! Saí, saí! Eu... HUAHUHAHAHUAHDESGRAÇADOUAHUAHUHAUHUA!
“Desgraçadouahuahuha”, me imitou no sofá, se contorcendo de rir sem ninguém realmente atacando ela, já que apenas chorava de rir ao lado, se apoiando numa cadeira.
Mandei o dedo pra ela e mordi a bochecha de com tanta força que certeza, meus dentinhos iam ficar marcados ali por um bom tempo.
- AAAAII! AI, AI, AI, ! – ele se tacou pro lado vazio da cama, cobrindo o rosto com as mãos.
- Pff. – tentei não rir, mas foi difícil. – Vai se trocar logo, ! – mandei imponente, e como sempre só resmungou como quem dizia “Até parece que você manda em mim, xoxo.” enquanto pegava suas coisas e ia pro banheiro, de fato me obedecendo pela primeira vez na vida.
- Hmm, eu, err... Vou ver a correspondência. – sorriu, como se tivesse dado a melhor desculpa do mundo, e saiu pela porta do quarto, me deixando sozinha com .
Com choramingando.
- Bem feito. Você sabe que eu odeio cócegas. – fiz birra, como se precisasse me desculpar por alguma coisa!
- PRECISAVA QUASE ARRANCAR MINHA BOCHECHA??! – ele respondeu gritando, tirando as mãos do rosto e revelando o quão bravo estava, como eu nunca havia visto.
Fiquei em choque.
- Hm, m-ma... D... E-eu.. .
E não é que o filho da mãe caiu na gargalhada? Veado.
- Você tinha que ver sua cara!
- Puto. – levantei da cama sentindo meu rosto pegar fogo. Merda, ele tinha me pego, e ainda naquele momentinho ridículo de “Ele ficou bravo e vai cortar relações comiigo mamãe.”
- Ô chuchuzinho da minha horta, vem cá vem, você pode me morder inteiro, eu deixo!
- Seu... – sorri atravessado, uma merda não conseguir mais ficar brava com ele.
Eu disse, era tudo mais fácil. É tudo mais fácil quando você pode mandar o dedo do meio e sair andando feliz.
- . – ele me chamou autoritário. Fechei os olhos e senti meu corpo sendo prensado pelo dele na parede fria. Se ele ia falar alguma coisa, então esqueceu. Senti o olhar dele em mim, a respiração dele batendo no meu rosto, as mãos descendo pelos meus braços... E então seus lábios relaram nos meus, me fazendo suspirar inconscientemente, puxando o ar como se eu tivesse me esquecido de respirar durante tempo demais.
- ! – berrou de dentro do banheiro e foi como se meu coração fosse sair pela boca, tamanho o susto que eu levei.
sorriu amarelo e me soltou.
- Vai lá. – ele beijou minha bochecha, acertando propositalmente o canto da minha boca. – Eu vou atrás do , não quero ouvir a falando dele. – fez uma careta nessa hora. – Estaremos lá embaixo esperando vocês.
Ah, que coisa de casais felizes. Ai deus, olha no que você me enfiou, .
- Não conte nada pro !
- Eu não vou! – ele prometeu fazendo joinha e dando as costas.
Fiquei olhando ele de costas indo para a porta, e não me censurem. Fala sério, aquelas costas branquinhas... Que droga! Que droga, que droga, que droga! Não tem coisa pior que gostar de verdade de um garoto que mil outras garotinhas gostam! Elas não gostam de verdade, eu gosto! E por que nessa eu tenho que sofrer? Eu sei que gosto dele, de verdade! Que outra masoquista faria o que eu fiz?
Nenhuma!
Então eu não podia simplesmente estar me iludindo, eu devia mesmo gostar dele, desde aquela época das trancinhas e das Barbies. E ele gosta de mim, ele gosta de mim de verdade e percebeu isso, certo? O beijo na cozinha só fez tudo parecer mais certo, como se ele encaixasse todas as peças do quebra-cabeça. E as malditas vadias que vão ficar babando em cima dele mesmo se ele colocar uma aliança gigante e berrar pra todo mundo ouvir que nós estamos juntos? Vadias! Mas... Não, eu não ligaria pra elas se nós estivéssemos juntos.
sorriu e acenou pra mim antes de fechar a porta do quarto.
- Pronto? Já se despediu do ódio amoroso da sua vida e pode me ajudar aqui dentro? Hoje é o meu biquíni que tá de brincadeira...
- O que?! . – respirei fundo. – Vai. Plantar. Bananeira.
Ela riu e me puxou pra dentro do banheiro.
Obrigada , pela praga básica que você jogou. Ajudei a colocar o biquíni, ajudei a espalhar o protetor nas costas dela (e percebi que só era legal passar nas costas de , hehehe), prendi o cabelo dela num coque lindo e com fios soltos... TUDO isso sem ela sequer MENCIONAR o .
Mas, haha, é claro que ela ia acabar falando dele.
- . – ela mordeu o lábio mal conseguindo esconder a felicidade. Encarei os olhos brilhantes dela. – O e eu... Eu não sei se você percebeu, mas...
- Vocês tão se pegando. É, eu percebi.
Ela sorriu sem graça e eu acabei sorrindo pra ela desencanar de vez com esse receio todo de me falar sobre ele.
Qual é, quem sou eu pra julgar ela nesse exato momento?
A maior contradição ambulante, certo? Certo.
- Então... Ontem, ele... AAII, , ele me pediu em namoro! A gente tava passeando na praia, sabe, depois de sair do bar lá costa... A lua cheia no céu, as ondas tão suaves, a brisa gelada... Ele me emprestou o blusão dele, e quando eu enfiei a mão no bolso tinha um papel... Eu peguei, insegura, e olhei naqueles olhos antes de abrir, sorriu e... AAAAAAAHH não tinha muita coisa escrita, mas o que tinha escrito já foi o suficiente! , ele disse que me olhava todo dia na escola, e que se perguntava quanto tempo teria que esperar para eu ser dele como ele era meu! Foi a coisa mais linda que um garoto já disse pra mim, e se ele diz isso pra todas quero saber por que nunca mencionaram isso nas fofocas! Eu sinceramente acho que ele tá sendo verdadeiro e... Não ri, eu to desesperada!
Só você, cara amiga, só você.
- , ele te ama! – não consegui parar de rir. – O nunca foi de muitas declarações pras peguetes dele... Eu nem sabia que ele tinha capacidade de dizer coisas tão bonitas...
- Então ouve essa! No final ainda tinha escrito um pedaço de uma música que você odeeeeeeeeeeeeeeia!
- Quaaaaaaal? Ele não escreveu um pedaço de “Toxic” no final, né? – ri com a idéia de cantando Britney Spears escondido no quarto.
pigarreou. Ai meu deus, ela vai cantar! Não ria , não ria.
- Hooold you in my arms, I just wanted to hooold you in my aarms! My life, you electrify my life...
- MERDA, ELE CANTOU MUSE PRA VOCÊ, SUA BASTARDA??! – tomei ar. – Casa com esse , é sério. E eu exijo ser madrinha, e exijo que você entre com “Starlight” tocando na igreja! Oh meu deus, essa vai ser a música de vocês, e todos os seus filhinhos vão saber a música de cor e ser fãs de Muse desde cedo e...
- TÁ BOM , DEU! – ela berrou, mas foi só por que eu tinha me excedido na empolgação mesmo. Merda, quer o que, essa música é perfeita e eu sou completamente viciada nela! ria apoiada na pia, toda coradinha. – Nós estamos oficialmente namorando!
- Ual, ual, ual, subindo no meu conceito, ual!
- E reconquistando seu coraçãozinho congelado, viu, eu disse que essa viagem ia ser O MÁXIMO!
- Como você é pentelha! O só é insistente, e, bem...
- Ele te beijou e você deixou, não foi?
- O que?!
- E você queria. Tá escrito na testa dos dois, HUAHUAHUAHA!
- , não é nada dis... AH OKAY, TÁ LEGAL, eu assumo! Quer saber... Tá a fim de ouvir uma história longa?
- Não. Acredito. – fez um pausa dramática com direito a boca aberta. – Depois de todos esses anos você vai FINALMENTE me contar TUDO?
Fechei os olhos e respirei fundo.
- Sim.
sentou no banquinho que tinha ao lado da porta do banheiro e me encarou.
- Estou à ouvidos. Vai com tudo, amiga, desabafa.
E sorrindo para o sorriso cheio de carinho de eu comecei a contar a trágica história da minha vida. Que podia não ser tão trágica assim.
- Santo Deus, aleluia! – e exclamaram ao mesmo tempo quando nós duas saímos do elevador, prontas para um dia inteiro fora de casa.
foi direto para os braços de , que a pegou sorrindo e beijando o topo de sua cabeça.
Ouun.
“Eu te disse!”, sibilou para mim, com pose de sabido.
Dei a língua fazendo careta. Ele não sabia da metade!
Ou sabia?
Ainda vou descobrir em que hora do dia esses dois se comunicam, se o tá sempre com a e o sempre comigo e o primeiro momento deles à sós acabou de acontecer enquanto eu e conversávamos no banheiro do quarto do hotel.
- Prontos para a surpresaaa? – perguntei sem conseguir agüentar mais.
- SIIIM! – e responderam enquanto levantavam os braços empolgados.
Tenho que admitir, depois de contar tudo pra aquela sensação de leveza tomou conta de todo o meu corpo de uma vez.
- Então vamos! – envolveu minha mão com a sua, me puxando, e puxou logo atrás. Ouvi risinhos, mas não me importei.
Ah qual é, olha bem pro GATINHO que tá SEGURANDO MINHA MÃO num momento totalmente fofo! QUEM sou eu pra reclamar SENDO QUE nós estamos resolvidos? É.
Não que eu ainda não esteja sem receio algum. Ah qual é – parte 2, O Retorno: mancou legal comigo, não concordam?
Não? Tchau, beijos.
Sim? Obrigada, te amo.
Mas fato, era consideravelmente bom poder assumir pra mim mesma que ele é um GATINHO muito GOSTOSINHO e –calei. Enfim, estou feliz por ele estar segurando minha mão, não vomitem.
Nós havíamos acabado de sair do hotel quando uma voz masculina carregada de sedução chamou pelo MEU nome.
Noffa, me achei agora.
- ?
Encontrei Brian quando me virei na direção da voz. Ele bagunçava o cabelo com a mão, fofo.
- Sim? – sorri, normalmente.
Ah, ele é um fofo, não precisa de mim! Aposto que ele consegue qualquer garota fácil fácil!!
- Eu... hm. Posso falar com você mais tarde? – ele pareceu extremamente desconfortável pela presença dos meus outros três coleguinhas de quarto.
Hoho, que coisa mais Verão no Acampamento para Crianças Felizes.
Ná.
- Claro. – continuei sorrindo. – Até mais, Brian! – acrescentei, vendo que o assunto ia morrer ali mesmo.
Eca, que constrangedor.
- Hmm, o que foi iiisso? – piou, pra me provocar.
- É, o que foi iiisso? – fez coro a ela. Que morram os dois.
Tô de briiimks, galeree.
- Eu sei lá! Deixem de besteira. – olhei de canto para e vi que ele estava com os olhos semi-cerrados.
Apertei a mão dele e sorri quando olhou para mim, fazendo-o sorrir também.
- E aí, vocês não podiam dar nenhuma dica, não? – tentou mais uma vez. Vou te contar, esse não desiste!
- NÃO! – respondemos juntos e rachamos de rir enquanto e bufavam impacientes.
- UOOOOOOW, DE QUEM FOI ESSA IDÉIA BRILHANTE??!
- UOOOOOOW, será que você pode ser um pouco mais indiscreta, ?!
Ela me deu um tapa na cabeça e pulou nas costas de , feliz.
Os dois haviam se empolgado com o passeio de escuna mais do que eu e juntos vezes três.
- São quantas pessoas?
- Quatro. – respondeu, pagando por mim e por ele.
Machista, cof cof.
pagou por ele e por . Não é o maior cavalheiro?
HAHAHA, ok parei. Os dois são uns fofinhos, pronto.
- Vamos entrar, cambada! – empurrou todo mundo pro barco, rindo e arrancando risadas nossas.
Capítulo 13 - POV
(n/a: bota play no youtube, baby!)
Eu estava ouvindo uma música no iPod de antes das garotas chegarem a recepção do hotel. Na hora cantarolei distraído, agora as frases ecoavam em minha cabeça, fazendo muito mais sentido do que antes.
Sews this up with threads of reason and regret,
(Costure isso com linhas de razão e arrependimento) So I will not forget. I will not forget,
(Assim não irei esquecer. Não esquecerei) How this felt one year six months ago.
(Como isto parece um ano e seis meses) I know I cannot forget. I cannot forget.
(Eu sei que não posso esquecer. Não posso esquecer)
- Saca só essa vista. – comentou distraída, e meu olhar alcançou o que ela olhava.
Ri encantado com a mania dela de sempre achar algum canto digno de uma pintura famosa. Passei o braço envolta de sua cintura, abraçando-a, e deitou a cabeça serenamente em meu ombro.
I'm falling into memories of you and things we used to do
(Estou caindo em lembranças de você e das coisas que nós costumávamos fazer) Follow me there
(Me siga até lá) A beautiful somewhere
(Um lugar lindo) A place that I can share with you
(Um lugar que eu possa dividir com você)
É claro, mesmo que tenha demorado um pouco eu nunca deixaria essa música passar sem me recordar do porque ela mexia tanto com alguma coisa em mim. A última vez que eu tentei me desculpar com antes de começar a provocá-la gerando briguinhas inúteis...
Sua mãe me deixou entrar em casa e eu encontrei a porta de seu quarto aberta. A capa do CD Ocean Avenue estava em cima do criado mudo, ao lado do rádio dela. E estava encostada no parapeito da janela, encarando o horizonte, distante.
As palavras se enrolaram em minha língua e me expulsou de seu quarto sem sair do lugar. Sem sequer olhar para mim mais do que dois segundos. Insisti no erro e ela andou nervosa até o rádio, mudando para a penúltima faixa do CD. One Year, Six Months. Ela deixou o som no último volume, eu entrei.
Cuspi as palavras, pedindo desculpa e dando desculpas ridículas para meu comportamento ridículo na festa. Nas festas. Na escola, em todos os lugares. fungou com raiva, mas nenhuma lágrima saiu de seus olhos. Continuei com algumas besteiras tentando me explicar até que ela não agüentou mais e começou a cantar com a música, quase mais alto que a música, e dessa vez me colocando para fora do quarto e batendo a porta na minha cara pela última vez.
I can tell that you don't know me anymore
(Posso dizer que você não me conhece mais) It's easy to forget, sometimes we just forget
(É fácil esquecer, as vezes nós simplesmente esquecemos) And being on this road is anything but sure
(E estar nessa estrada é qualquer coisa menos certeza) Maybe we'll forget, I hope we don't forget
(Talvez eu esquecerei, espero que a gente não se esqueça)
olhou de lado, desconfiado, mas eu sorri de volta apenas, deitando meu rosto no topo da cabeça dela, sentindo aquela mistura fraca de condicionador e perfume que tanto me agradava.
I'm falling into memories of you and things we used to do
(Estou caindo em lembranças de você e das coisas que nós costumávamos fazer) Follow me there
(Me siga até lá) A beautiful somewhere
(Um lugar lindo) A place that I can share with you
(Um lugar que eu possa dividir com você)
Estava tudo, ou quase tudo, do jeito que eu queria. O único motivo daquela viagem para mim era esse, era ela. Que desastre seria se ela tivesse saído pegando o primeiro cara que passasse na rua, mas aparentemente o mundo conspirava para eu conseguir recuperar todos aqueles anos perdidos, afinal, 1- havia dispensado o monitor besta que tava praticamente beijando seus pés e tals. 2- Convencer meu pai a pagar uma viagem dessas com as minhas notas na escola... Obrigado mesmo mamãe, sem você isso não teria sido possível. Sou um cara de sorte e dessa vez não vou deixar essa sorte escapar as minhas mãos.
So many nights, legs tangled tight
(Tantas noites, pernas bem misturadas) Wrap me up in a dream with you
(Me envolva nos sonhos com você) Close up these eyes, try not to cry
(Feche esses olhos, tente não chorar) All that I've got to pull me through is memories of you
(Tudo que tenho puxado são de lembranças de você) Memories of you, memories of you, memories of you
(Lembranças de você, lembranças de você, lembranças de você)
começou a brincar com a barra da minha camisa, me fazendo rir baixinho. olhou para nós curiosa, de mãos dadas com . O instrutor da escuna passava algumas recomendações básicas para o passeio, e pelo jeito nenhum de nós quatro estavam prestando a mínima atenção naquilo tudo.
Num momento de extrema caridade, eu resolvi prestar atenção no que o carinha vestido de marinheiro dizia.
Quanto será que ele ganha pra ter que se vestir assim?
I'm falling into memories of you and things we used to do
(Estou caindo em lembranças de você e das coisas que nós costumávamos fazer) Follow me there
(Me siga até lá) A beautiful somewhere
(Um lugar lindo) A place that I can share with you
(Um lugar que eu possa dividir com você) Falling into memories of you and things we used to do
(Um lugar que eu possa dividir com você)
***
- Quem quer chegar na ilha nadando?!
Todos olhamos para a ilha que o monitor apontou, e antes que eu me recuperasse do choque que a beleza do lugar provocara em todos, já tirava a blusa com um sorriso brincalhão nos lábios.
O monitor riu em aprovação. Tô de olho em você, meu chapa! O que monitores tem com ela?! Argh.
- Ei! – chamei, indignado. estava quase mergulhando no mar sem nem perguntar se eu queria ir junto.
riu toda marota, e piscou dizendo:
- Quem chegar por último é mulher do padre!
E ela mergulhou, deixando o barco inteiro entre risos. Corei inconscientemente, mas logo minha camisa havia se juntado a blusa dela no chão e eu já pulava para fora do barco, rindo.
Rindo até cair na água GELADA. Mal tive tempo de reclamar, já nadava pra longe. Comecei a nadar e ouvi alguns outros pulos com berros e gargalhadas, e ah, ok, agora virou uma competição. Tentei nadar o mais rápido possível, mas já estava muito na frente, quase na praia.
Qual é, eu tenho uma banda, não sou nadador profissional nem nada. Ela que não tem nada pra fazer da vida e fica nas aulas de vôlei e natação do colégio... Tá, eu faço futebol e tem a academia lá de casa, é... Que foi, tem que ter um motivo pra ela nadar tão rápido assim! Ah ok, ela pulou primeiro!
Vou guardar isso pra mim, vai dar em briga se eu reclamar...
ficou em pé e acenou em direção ao barco como uma Miss, agradecendo aos aplausos. Parei de nadar, já conseguindo sentir o chão de areia, enquanto aquela alegria estranha enchia meu peito. Fazia um bom tempo que eu não a via assim, tão feliz e natural, como naquele momento. Cada célula do meu corpo transbordava amor por aquela criaturinha linda, e uma vontade louca de pegar ela no colo e guardar num cristal inquebrável aonde eu a manteria sempre segura e feliz assim se apoderou de todo meu ser.
Cortando o momento completamente vergonhoso, okay, era até divertido o “ódio” entre a gente, tirando o fato que o dela era de verdade e acabava me machucando algumas (todas as) vezes. Sem contar que era extremamente sexy, mas nada se comparava a vê-la assim. O verão estava a fazendo bem.
Talvez eu estivesse a fazendo bem.
O olhar dela por fim se fixou no meu, e eu tentei disfarçar o sorriso enquanto meus pés me levavam até ela por vontade própria, já que tudo que eu consegui pensar era nela, nela e nela. Os olhos dela se perderam nos meus ombros e ficou mais difícil de segurar o sorriso. Vou ser honesto, pelo menos em pensamento; sou um franguinho. É, isso aí. Não, não que eu seja totalmente raquítico, mas se você me colocar do lado de um jogador de rugby, aí... O fato é que eu sou normal, e mesmo assim ela me olha desse jeito, e eu queria saber o que se passa na cabecinha complexa da minha garota nessas horas.
Aposto que eu ia gostar de descobrir...
Abracei a cintura dela, colando nossos corpos gelados e quentes ao mesmo tempo. As mãos dela alcançaram o meu peito ao mesmo tempo em que seus olhos voltaram para os meus, fazendo aquela sensação gostosa dominar cada vez mais meu estômago.
- Mas que padre sortudo. – ela teceu o comentário tão séria que qualquer outra pessoa não teria pego o tom de brincadeira em sua voz.
Uma risada incontrolável se desprendeu da minha garganta pela naturalidade do comentário dela.
Entendem, só ela pra fazer esse tipo de coisa, tão aleatória... Minha garota!
Como nos velhos tempos.
E eu tive medo dela mudar por causa daquele beijo. Quem surtou fui eu. Ela sempre esteve ali, pronta pra ser só minha... Mas isso não é hora pra ficar me lamentando de novo pelo passado.
- Eu não fui o último a chegar. – indiquei as pessoas que passavam rindo por nós, entre essas pessoas e , que corriam como dois loucos desvairados até a praia.
- Ah... – o olhar dela se perdeu no mar atrás de mim enquanto suas mãos subiam para meus ombros. – Sorte a minha, então?
Ela me atingiu com um sorriso inesperado. Esse lado dela que eu não conhecia. Esse lado que me deixa completamente louco e capaz de dizer tudo de uma vez sem pensar antes, como...
- Eu te...
Mas foi mais rápida, colando os lábios nos meus e passando os braços em volta do meu pescoço. Ela mordeu meu lábio e arranhou minha nuca, me arrepiando inteiro. Quando foi que ela aprendeu a fazer essas coisas? Com QUEM ela aprendeu essas coisas?? Ok, eu não quero saber.
Enquanto ela aprofundava o beijo, senti seu corpo impulsionar contra o meu e no instante seguinte ela estava com as pernas abraçando minha cintura.
Colapsei.
Minhas mãos foram automaticamente segurá-la no lugar, para não cair, mas meu cérebro bloqueou o ato, porque afinal, aonde eu ia colocar as mãos?
não segurou a risada entre o beijo.
- Eu vou cair, . – ela sussurrou no meu ouvido.
Eu ri, nervoso.
- Não é uma situação muito agradável na frente de toda essa gente, sabe...
Gay.
- Gay. – riu baixinho, ainda no meu ouvido.
Viu?
- Nada que não seja ótimo entre quatro paredes, mas não é assim que eu quero te tratar na frente dos outros... Você é especial.
Gay.
- Não posso fazer nada se meu corpo pede pelo seu, bobinho.
Ela ficou extremamente corada apesar da normalidade com que preferio delicadamente a frase; eu dei vários selinhos seguidos na boca macia dela, segurando-a nas costas.
desceu do meu colo e nós ficamos nos olhando em silêncio. Aquela coragem absurdamente louca me atingiu de novo.
- , eu... Eu t...
- EI VOCÊS DOIS, VENHAM LOGO!!
Nota mental: quebrar a cara do assim que possível. Mas só o suficiente pra machucar bastante, a não vai gostar de ter a cara do namorado desfigurada, ouvi dizer que ela faz Karatê. Ou Judô? Sei lá. Mas arriscado provocar demais a garota, hein.
sorriu docemente e envolveu minha mão com a sua, me puxando para fora do mar calmamente.
***
As ilhas eram mais do que pedaços de terra no meio de muita água. Além de muita água e um bocado de areia e terra havia também árvores e até mesmo um lago. O barco mal nos deixava ficar nas ilhas por mais de quinze minutos, talvez porque a mais linda de todas aquelas ilhotas fora deixada por último.
O horário do almoço já havia passado há algumas horas, mas ninguém parecia realmente se importar com esse detalhe.
e estavam deitadas numa toalha por cima da areia. As duas conversavam calmas, olhando para o céu azul e dando breves risadas aqui e ali.
não conseguia formar uma frase completa sem rir, ele parecia não acreditar em como fora fácil reconquistar .
Fácil pra ele, que viu de fora, só se for. Só eu sei como cada olhar e palavra de ódio dela me machucaram por dentro. Não que tentar agir como se nada tivesse acontecido tenha sido uma idéia inteligente, como a experiência do ônibus deixou bem clara, mas... Quanto tempo eu demorei pra chegar nessa paz de agora mesmo?
Muito, caro amigo . Muito tempo mesmo.
Então notei que vinha em nossa direção (ou na de , que seja) e achei muito astuto da minha parte sair rapidinho dali. E mesmo de costas pude sentir os olhares deles em minhas costas.
- O que? – me virei para encará-los e eles indicaram qualquer coisa com a cabeça, já abraçados.
Fui levado a olhar . Ela estava no mesmo lugar, imóvel. Encarei o casal novamente, cético, e os dois riram, me mandando ir logo até ela.
Desisti dos dois e quando vi já caminhava calmamente até . Ela inclinou a cabeça na minha direção e sorriu como se não conseguisse evitar. Meus pés diminuíram logo a distância entre nós, como se fosse tempo demais sem sentir o toque dela. E como se as mãos dela soubessem, elas se enroscaram na minha nuca assim que fiquei de quatro em cima de , com um sorriso discreto brincando nos meus lábios.
- E aí, o te encheu muito?
Tão vendo, como ela consegue iniciar uma conversa dessas numa hora dessas?!
- Um pouco. – fui sincero. – Ele ficou chocado com a rapidez que eu tive pra te conquistar...
escancarou a boca, chocada. Emendei antes que ela ficasse brava.
- Claro que ele não sabe do tempo que eu tive que esperar pra te reconquistar, não é. – não evitei o sorriso, e assisti com satisfação a expressão de se acalmar aos poucos.
- É o que todo mundo vai pensar, não é.
- Tem algum problema pra você? Porque nós não precisamos contar pra todo mundo, se você quis... – ela colocou o dedo indicador na minha boca, rindo.
- O que adianta não assumir pra todo mundo se nós não conseguimos disfarçar nem um pouco isso?
- Tem razão. – ri também, relembrando algumas horas antes, quando ela me beijou no meio da praia sem se importar com qualquer coisa que não fosse nós dois. – E a , te encheu muito?
- Oh... – ela desviou o olhar do meu, ficando levemente corada. – Ela já sabia.
- Como?!
se mexeu desconfortavelmente embaixo de mim.
- Eu tentei escapar do assunto, mas... Ah ela já sabia, adivinhou! Ela me conhece bem demais e, bom, eu acabei contando tudo pra ela, de uma vez! Desculpa, .
Acariciei a bochecha dela com o polegar, sorrindo.
- E porque eu reclamaria do fato que você conseguiu assumir que não vive sem mim pra alguém?
Ela bateu com força no meu braço, corando mais ainda.
- Bobão!!
- Por você. – e então colei minha boca a dela, esperando ver os olhos de se fecharem calmamente para fechar os meus também e tentar passar tudo o que eu sentia por ela naquele exato instante através de um simples beijo.
Capítulo 14
Não existe palavra melhor para descrever aquele dia do que surreal. Se surrealismo não está em alta, devia estar. Porque como nunca eu estava me sentindo naquele estado de felicidade incomparável. No nirvana? Não sei, mas se isso significa estar nas nuvens, sim, no nirvana.
Nós voltamos para o hotel exaustos e famintos. Eu queria mesmo era atacar a primeira barraquinha com coisas comestíveis do caminho, mas insistiu em tomar banho antes. Algo do tipo “sal no cabelo resseca” e essas chatices. Eu só deixei claro que se desmaiasse de fome a culpa seria dela e só dela. Mas nem com pressão psicológica ela pareceu mudar de idéia.
Bom, isso porque não é ela quem precisa se alimentar de quatro em quatro horas!
- To com foooooomeee... – fiz careta acariciando minha barriga e recebi mais um olhar desagradável de .
- Oun bebê, não faz essa carinha! – me abraçou de lado com uma verdadeira careta de dor.
PÁÁÁRA TUUUDO! Ele tá com essa cara porque eu to reclamando de fome??
Obrigada senhor, pelo menos um amigo de verdade eu tenho!
Dei língua pra , que riu desacreditada.
- Desculpa , é que eu to com fominha...
- Eu também. – ele entortou o canto da boca pra baixo, com medo de .
- E eu. – se entregou, pedindo desculpas para no olhar.
Momento de tensão.
- Não acredito nisso!! Vocês são impossíveis, querem saber? Desçam, e comam sem mim! – ela desceu primeiro do elevador assim que a porta se abriu.
Nos entreolhamos.
- ... – saiu atrás dela manhoso, que já estava dentro do nosso quarto.
- Querida, não é bem assim... – eu fui atrás, puxando .
Pela mão.
- Você tem que estar junto... – deu um reforço que eu achei bem válido.
Ela tinha que se sentir amada e querida. Tinha? Ah qual é, não costuma ser desses doces!
- EU NÃO VOU DESCER PRA COMER A PORRA DE UMA COMIDA SEM TOMAR BANHO ANTES!! – ela berrou se virando nervosa para nós.
Eu dei um passo para trás e me imitou receoso.
É, ninguém gosta muito de ser acertado por um vaso de vidro, e no momento a cara de era exatamente a de uma arremessadora de vasos de vidro. Mas, para minha surpresa, deu um passo a frente, sacudindo os braços de um jeito engraçado.
- ENTÃO A GENTE PEDE A PORRA DE UMA PIZZA E COME AQUI EM CIMA!! – ele berrou no mesmo tom que , mas com muito mais humor na voz.
Pausa dramática.
Olhei para , que olhou para mim. Olhamos para , que ergueu uma sobrancelha para nós.
E em seguida rachamos de rir.
foi até e bateu de leve no tórax dele enquanto a abraçava, rindo também.
- Fofinha, a gente não te abandonaria por comida. – ele apertou a bochecha mais que corada dela, risonho. – Nem por pizza. – ele acrescentou com um ar dramático.
- Fale por você, dude. – disse ao meu lado, e recebeu um tapa meu pelo comentário impróprio. – Que foi?!
- Você tem que aprender a ficar quieto nos momentos românticos dos outros, !
- Hm, me ensina então, ?
Ri e tentei acertar outro tapa em seu ombro, mas foi mais rápido (bem mais rápido, diga-se de passagem) e segurou meu pulso, me puxando para si.
- !
- Você eu não trocaria nem por todas as pizzas do mundo. – ele sorriu de lado daquele jeito, me deixando sem reação. E de boca aberta ainda. Adivinhem?
se aproximou com o sorriso ladino e logo senti sua língua na minha, fazendo todas aquelas ondas elétricas passarem por meu corpo inteiro. Suspirei enquanto levava a minha outra mão até sua nuca, entrelaçando meus dedos aos seus cabelos, que começavam a pedir por um corte, mas ainda assim, lindos. soltou meu pulso e abraçou minha cintura com os dois braços, praticamente fundindo meu corpo ao dele de tanta força que usou no abraço. O braço que ele antes segurava ficou imobilizado entre nossos corpos, então apenas espalmei a mão em seu tórax, arranhando de leve seu peito e vendo os pelos de se eriçarem enquanto ele ria de leve contra meus lábios. Arranhei sua nuca também, me segurando para não rir pelos diversos efeitos que aqueles simples arranhões causavam em , e ele apertou minha cintura mais forte, desgrudando os lábios dos meus e descendo para meu pescoço.
Soltei um muxoxo em desaprovação, mas isso foi antes dele beijar meu pescoço de um jeito que com certeza ia ficar marcado pelo resto do ano. Como as pessoas chamavam aquilo mesmo? Ah sim, chupão. E que chupão. Acabei rindo sem conseguir controlar aonde meus pensamentos haviam me levado. Senti sorrir, ainda no meu pescoço, e ele distribuiu vários beijinhos pelo meu pescoço, com o mesmo sorriso nos lábios. Então ele chegou em minha orelha.
- Caham, caham.
De primeira não se importou, mas foi o suficiente para eu me lembrar que nós não estávamos sozinhos, e também estavam ali! Com a mão espalmada no peito de tentei afastá-lo, mas ele se recusou, concentrado demais em morder minha orelha.
- Vão tomar banho, vocês dois! – ele mordeu uma última vez meu lóbulo direito enquanto eu tentava afastar aquele calor todo que havia vindo do nada.
- Mas, dude, e a piz...
- EU PEÇO A PIZZA, VÃO LOGO! – berrou treslouco.
começou a rir, mas tampou a própria boca, e provavelmente a de também.
- Ok, ok, estamos indo!
Mas eu não consegui segurar o riso.
- O que? – ele perguntou ainda um tanto alterado no meu ouvido.
Ri pra valer e senti que ele havia relaxado de vez, rindo de leve também.
Olhei em seus olhos claros e dei um selinho apressado, mordendo seu lábio depois e descendo para seu pescoço exatamente como havia feito comigo. Ele apertou as mãos em minha cintura conforme eu descia seu pescoço distribuindo beijos e mordidas, fato que não só o pescoço, mas o inteiro era bom demais, então fiquei extremamente indecisa sobre onde ia deixar o chupão. Acabei me decidindo pela região abaixo da orelha e chupei o suficiente para ficar uma marca, pelo menos eu acho que dá pra ficar uma marca. A verdade é que ao mesmo tempo em que eu queria deixar um chupão nele como ele havia deixado em mim, eu tinha medo de machucá-lo, afinal o experiente com esse tipo de coisa aqui é ele, não eu. E nessa hora vocês se perguntam que tipo de namorado eu tive que ficou seis meses comigo e nunca me deu um chupão. Mas a resposta é simples; um namorado que não era . Acabei fincando minhas unhas em sua nuca sem perceber e não conseguiu controlar, acabou deixando um gemido escapar. E aha, ponto meu! Tentei me afastar e novamente ele me manteve no lugar, buscando ferosmente por meus lábios. Deixei-o me beijar por um tempo, porque na verdade eu mesma não queria que ele parasse, mas quando a mão de chegou ao fecho do meu biquíni cortei o beijo, com um sorriso debochado que recebeu uma expressão de dúvida merecida de .
- Se você queria isso, devia ter expulsado e , e não mandado os dois pro banheiro. – ri pra valer e entortou a boca contrariado.
- E você não devia ter me dado linha...
- O que eu podia ter feito? Também não sou de ferro, ok! – finalmente consegui me soltar dele e corri pra me jogar no sofá de dois lugares, o único dentro do quarto inteiro.
Ok, falei como se o quarto fosse enorme agora.
Ele veio atrás de mim lentamente, com a mão sobre o chupão que eu havia deixado. Uma curiosidade enorme surgiu em mim, será que tinha ficado?
- Você deixou um chupão bem mais forte que o meu, não vale! – ele sorriu ladino.
- Nada a ver!
- É sério!
- Deixa eu ver!
Ele tirou a mão de cima do chupão e eu sorri satisfeita; tinha ficado uma bela marca! rolou os olhos e se sentou na beirada do sofá.
- Foi seu primeiro? – ele sorriu de lado, completamente charmoso com aquela cara de safado. Suspirei em pensamento.
- O que? – me fiz de desentendida, ele riu.
- Você nunca tinha deixado um chupão em alguém, certo? Nem naquele... Richard? Bichard? Gisha...
- Richard. – corrigi, percebendo que era minha vez de rolar os olhos. – Rich. – provoquei.
- Que seja. – ele cortou um tanto ácido. – Um veado mesmo pra nem querer um chupão seu... Ou você que não queria dar um chupão nele?
Chupão, chupão, chupão... além de ser uma palavra de baixo calão ainda tinha um efeito estanho em mim. Algo como... Vergonha?
- Corta essa, .
- Hah, sabia! – ele se jogou em cima de mim, apoiando cada cotovelo de um lado de minha cabeça e sorrindo.
- Sabia o que, seu louco?! – não consegui desviar do olhar dele, tinha tanta... segurança.
- Que você nunca gostou mesmo dele, por isso enrolou o cara por meses até ele não agüentar mais e aí o dispensou. Que menina má, , tsc tsc.
- Credo, ! Assim parece que eu usei ele!
- E não foi? – ele ergueu uma sobrancelha, sabido.
- Não! Não... eu... gostava do Rich!
- Certo. – ele rolou os olhos debochado. – Que nem eu gostava de todas as garotas que beijei?
- Não ouse comparar o Richard com as suas biscates! Eu realmente gostei dele, e bastante, mais do que muitos garotos que eu conheci depois de... você. Infelizmente não foi o suficiente pra aceitar levar a relação para um próximo nível, mesmo depois de meses. Então eu me desculpei e... Bem, ele não me odeia.
- Nem as garotas que eu beijei. – ele riu no mesmo jeito de deboche.
- , vai foder ok. – virei o rosto para longe dos olhos dele, revoltada. Como ele consegue acabar com a paz entre nós tão rápido?!
Entende, só ele faz isso comigo! Tão adorável num instante, altamente desejoso no outro e... um filho da mãe no seguinte.
- Oun amor, não fica brava comigo... – ele depositou vários beijos em meu pescoço. – Eu só disse o que penso, e... pra tirar algumas dúvidas.
- Como? – voltei meu olhar para ele, que riu vitorioso.
- Em um dia eu consegui isso aqui, - ele apontou para o chupão em seu pescoço. – e consegui deixar isso aí, - dessa vez ele passou o polegar pelo chupão que havia deixado no meu pescoço. – e foi em bem menos que seis meses, concorda? – entendi aonde ele queria chegar e corei instantaneamente. De vergonha, de ódio, de pura raiva própria. – Então, isso significa que...
- Convencido!! Pelo amor de Deus garoto, não suporto isso! Não posso dizer nem fazer nada que você já se enche de si e... AHH!
Ele me atacou com cócegas, aparentemente ignorando minha ira como se ela não fosse relevante para o momento.
- !
- !
- ! – um berro abafado de veio do banheiro, seguido de silêncio. – Vai amor, grita você também.
- HAUHAUHUAHUA, ! – dessa vez o grito foi de , e nem abafada a risada dela conseguia ser menos escandalosa.
- PANACAS! – berrei para eles poderem ouvir.
- A GENTE TE AMA TAMBÉM, ! Mas só um pouco... – risadas seguiram o comentário e eu me perguntei o que aqueles dois não estariam fazendo naquele banheiro.
A não me escapa depois.
- ? – chamou e eu voltei a olhá-lo, me esquecendo de que estava brava com ele e sua humildade. Os olhos de faiscaram e sua expressão facial voltara a ser doce e inocente como eu me recordava de outras primaveras. – Sabe, eu... Não existe ninguém como você. De todas as garotas, nenhuma delas... Você... Você é como uma estrela, tão... Inalcançável. Sempre me senti privilegiado por te ter por perto como ninguém mais teve, por te conhecer como ninguém mais conhece, e me odiei todos esses anos por ter te perdido e decepcionado... Você é única pra mim, e sempre vai ser minha pequena. , eu...
- JÁÁÁÁ PEEDIIU A PIIIZZAAAAA, ???
Nota mental: fatiar assim que possível. De preferência assim que ele estiver longe da . Na verdade, melhor mandar ela colocar alguma coisa na cabeça do namorado, ele só sabe ATRAPALHAR essas falas LINDAS do ! São raras as ocasiões e ele ainda tem que estragar toda vez!! O que será que ele ia dizer? AAI QUEM LIGA, ele disse tanta coisa linda uma atrás da outra...
bufou largando-se em cima de mim. TODO o seu peso em cima de mim.
- !
- Ok, ok... – ele se levantou e se arrastou até o telefone do quarto.
Sentei ajeitando meu cabelo, que estava uma zona por sinal, e sorri vendo as costas lisas de dando sopa ali, no meio do quarto. Ele falava tão bonitinho no telefone, não consegui evitar as lembranças - aquela cena me levou anos antes, quando ele ligava assim pra mim. Claro que ele não disse “Boa noite, garota estrela.” pra atendente da pizzaria, e nem desligou com um “Te amo, pequena, até amanhã.” Sorri mais idiotamente ainda, e caminhei lentamente até alcançá-lo. “Você é como uma estrela, tão... Inalcançável. Sempre me senti privilegiado por te ter por perto como ninguém mais teve.”
Abracei por trás e ele pousou a mão livre sobre meus braços, acariciando-os enquanto terminava de pedir as tão desejadas pizzas. Continuei sorrindo sozinha, eu mal me lembrava da fome mais.
Capítulo 15
- Banheiro livre! – a voz de seguiu o som seco da porta se abrindo. Tombei minha cabeça para a direita e vi secar seu cabelo com a toalha e estava logo atrás dele.
- Vocês não desgrudam mais não? Eca!
riu perto do meu ouvido e minhas mãos se espalmaram em suas costas, segurando-o ali. Fiz uma cara possessiva para e dei língua.
Nós estávamos do lado da janela, de onde víamos a praia no horizonte, me abraçava e apenas a parte de cima do meu corpo encostava-se à parede. Era tão bom ficar assim, só abraçada a ele...
- A pizza? – perguntou acariciando a barriga.
E convenhamos, nada burra minha amiguinha também, né.
- Já pedi, . – falou num tom entediado e um tanto quando angustiado, se afastando de mim.
O encarei confusa, mas ele sorriu serenamente entrelaçando sua mão a minha.
- Banho?
- Ah! Sim, claro...
Demorei um pouco mais que para pegar minhas roupas e quando entrei no banheiro ele já estava dentro do box.
- Quer ir primeiro? – ele perguntou e eu neguei com um sorriso nervoso.
Por que raios eu estava tremendo?
Ele ligou o chuveiro e fechou o box translúcido e sua pessoa foi substituída por um borrão branco de bermuda azul. Mal dava para reconhecê-lo, mas ainda assim dava pra ver alguma coisa. Desviei o olhar corando de leve. Deixei minhas coisas ao lado das dele na bancada e liguei a torneira da pia, lavando meu rosto com certa urgência. Foi só o vapor do chuveiro ou o ambiente ficou mais quente? Sequei as mãos e soltei o cabelo; penteei e prendi novamente. O som do chuveiro começou a me irritar. Que idéia era aquela de entrar junto no banheiro de qualquer jeito?! Batuquei a bancada com os dedos e um vulto rápido passou pelo espelho, me assustando; mas foi só a bermuda azul de , que foi jogada com toda a delicadeza por cima do box, fazendo um belo barulho no final.
- Ops. – riu e sua risada ecoou amplificada pela acústica do banheiro.
Notei que eu encarava seu vulto, que agora era muita pela branca com uma sunga escura bem distinguível do resto do corpo. Me virei de volta para o espelho corando violentamente. Inspira, expira, inspira...
- ? – a cabeça de surgiu do lado de fora do box e eu notei que ele havia aberto a portinha translúcida.
- Hm?
Fui incapaz de pronunciar qualquer outra coisa enquanto continuava repetindo “inspira, expira” mentalmente. Como um mantra. É, um mantra! Inspira, expira, inspira...
O reflexo de no espelho me chamou para mais perto com o dedo, com uma expressão muito fofa e extremamente inocente. Respondi com um simples olhar cético bem treinado.
- Vem cá. – ele pediu em voz alta, dessa vez com direito a biquinho. – Por favor?
- Não! – ri, me virando para encará-lo. – ... – rolei os olhos tentando ignorar tanta fofura.
- Mas eu não consigo esfregar as minhas costas... e elas estão cheias de sal e protetor...
- Boa desculpa.
- , por favor!
- ... Só isso?
- Aham, aham! – ele respondeu infantilmente com um brilho no olhar, me deixando com uma vontade maternal de morder suas bochechas lindinhas.
Hm, que? Abstrai.
- Tá bem, fica de costas...
O sorriso dele se alargou e sumiu obedientemente quando ele ficou de costas.
- A esponja! – ele passou uma esponja cheia de sabão pra mim com um sorriso de lado.
Passei a esponja pelas costas inteiras dele, de cima a baixo, três vezes.
- Porque exatamente você coloca uma sunga se na praia você fica de bermuda?
- O que você queria que eu usasse por baixo? – ele falou sem malícia, mas logo percebeu o que dissera e passou a rir alto.
- Ai, idiota! – passei espuma na bochecha dele de brincadeira e sacudiu o cabelo, jogando água em mim. – !! – ele riu mais alto ainda e encheu a mão de água, jogando tudo direto em mim. – , pára!! Você tá molhando o banheiro! – sacudi a esponja na direção dele, fazendo várias bolhas de sabão no caminho.
- Então entra que não molha, oras!
E antes que eu conseguisse processar suas palavras e pensar num xingamento apropriado ele já havia me puxado para dentro do box e fechado a porta.
- , seu...
Ele me colocou bem embaixo da ducha, me molhando inteira de uma vez só enquanto ria extremamente divertido.
- Ainda quer ficar lá fora? – ele perguntou irônico e recebeu uma merecida esponjada na cara.
Minha vez de rir enquanto ele me atacava esfregando o rosto cheio de espuma do meu. Minhas costas encontraram a parede fria ao mesmo tempo que a boca quente de encontrava a minha, causando um choque térmico instantâneo por todo meu corpo.
se afastou com um sorriso e uma embalagem de condicionador apareceu bem em frente aos meus olhos.
- Paaassa no meu cabelo pra miiim?
Ri e apertei sua bochecha com vontade de arrancá-las fora, e aceitei o condicionador.
- Aproveitador!
continuou rindo enquanto eu jogava um pouco de condicionador em seu cabelo com um biquinho forjado e fajuto. As mãos dele haviam se repousado em minha cintura, apertando-a levemente como se ele tivesse medo de que eu fosse sair correndo dali. Como se eu fosse fugir dele. Esse pensamento me fez sorrir sozinha.
- Tá sorrindo por quê? – ele perguntou corando de leve e mordiscando o lábio inferior rapidamente em seguida, com o cenho quase imperceptivelmente franzido.
Dei de ombros, colocando o condicionador de lado.
- Deu vontade. – respondi fincando os dedos em seu cabelo e selando seus lábios, acabando com a distância entre nossos corpos.
Esse banho vai demorar um bocado se continuar assim. Me pergunto se o de e foi muito diferente...
espalmou as mãos em minhas costas me fazendo voltar ao momento, tentando diminuir a distância entre nós que já não existia enquanto eu tentava espalhar o condicionador em seu cabelo.
Uma tarefa um tanto árdua quando o dono do cabelo em questão está bem ocupado tentando me distrair. Não consegui evitar a risada. sorriu junto, piscando para mim e voltando a mordiscar meu lábio em seguida para depois me beijar de vez e com vontade.
Passar condicionador no cabelo do garoto que está te beijando é realmente uma coisa engraçada a se fazer. Mas nem por isso ruim.
Muito pelo contrário. Hehe.
Deslizei minhas mãos por seu pescoço até seu tórax e empurrei para debaixo do chuveiro. Ele foi pego de surpresa, mas não o suficiente para deixar de me puxar junto e agitar seu cabelo jogando água em meu rosto, vingativo.
- !
Ele riu me fazendo rir junto.
- Esse é o melhor jeito de lavar o cabelo do mundo! Não sei como vivi sem isso até hoje!
Ri com mais vontade parando evitar o chuveiro e encostando a cabeça entre o pescoço e o ombro direito de .
- Bobinho... Vai querer fazer isso com todas agora, é? – mordi com força meu lábio inferior, sentindo a pontada venenosa de ciúmes que escapara de minha boca.
riu de leve negando com a cabeça. Afastei meu rosto de seu pescoço para encará-lo a tempo de vê-lo rolar os olhos com um sorriso.
- Você é a única para mim. A minha única.
Ele sorriu de lado, sabendo que eu reconheceria a música. Only One, do Yellowcard. “My only one.”, ele sussurrou com o mesmo sorrisinho.
Deus, ele sabe como me tirar do sério. Foda-se que não é Muse, é Yellowcard!
Finquei meus dedos em seu cabelo automaticamente ficando na ponta do pé para beijá-lo com outra violência. Eu o quero só para mim, eu já sou completamente só dele.
correspondeu abraçando com força minha cintura e me deixando milímetros fora do chão. Ele se encostou à parede antes de cortar o beijo, me voltando no chão respirando pesadamente antes de abrir os olhos.
O encarava em dúvida, considerando ataque cardíaco ou cãibra pelo esforço de segurar uma baleia como eu no ar.
Ainda bem que não pode ler meus pensamentos, porque nesse exato momento ela arrombaria a porta do banheiro para me bater. Só porque eu me acho obesa. Eu nem fico falando isso pra todo mundo e mesmo assim ela se estressa quando...
- Como eu consegui demorar... – fez uma rápida careta de dor. – Tanto... Pra perceber... – ele se reaproximou, ficando novamente embaixo da ducha de água comigo e selando meus lábios docemente. – Que você é perfeita... – nessa eu sorri, quase respondendo “Isso eu sei.”, mas foi mais rápido, escorregando para meu ouvido e sussurrando quase que inaudívelmente. – Pra mim?
O ar escapou todo do meu pulmão enquanto meu coração passava de 1 à 5 batimentos por segundo e todo o sangue do meu corpo ia para meu rosto, gerando um calor quase que apalpável.
Vi sorrir de lado mais uma vez enquanto se afastava para me olhar de frente novamente, me penetrando com seus olhos ao mesmo tempo em que sua mão se encaixava em minha nuca. Ele me trouxe mais para perto e selou repetidas vezes nossos lábios. Algumas mais demoradas e outras breves demais, sem fechar os olhos por completo. Os meus foram se fechando aos poucos até que sua língua quente encontrou a minha, leve, sem pressa, como se aproveitasse cada milésimo daquele beijo. Foi como se meus pés não tocassem mais o chão, eu não sentia mais nada além dele. Não havia motivos para sentir mais nada, porque ele era tudo. Tudo o que eu tinha, tudo que voltou para mim.
O resto de se afastou lentamente, e seus olhos se reabriram juntos com os meus. Nos encaramos no mesmo silêncio que era quebrado apenas pelo som do chuveiro, porém agora este parecia muito mais distante do que estava na realidade... piscou e eu o imitei quase que no mesmo instante.
Minha mão que estava na mesma mão dele que acariciava minha nuca caiu sobre seu antebraço e meu olhar caiu sobre o contraste de nossas peles. Senti o olhar dele em mim, mas isso nunca havia me intimidado antes, e não seria agora que começaria. Pelo contrário, o olhar dele sempre me deixava confiante. Subi até encontrar os cristais que eram seus olhos e abriu a boca pausadamente.
- , eu...
- A PIZZA CHEGOU E TÁ ESFRIANDOOO, A GENTE VAI COMER TUDO!! – socou a porta do banheiro enquanto eu quase tinha uma parada cardíaca do susto que ele me deu.
Quem ensinou esse garoto a ser tão PIPOCA?? Mas que empata-foda, meu Deus.
havia fechado os olhos num misto de dor e frustração. Ergui minha mão para acariciar sua bochecha e ele sorriu se afastando.
- Termina o seu banho, vou tacar janela abaixo e já volto. – ele piscou e se reaproximou rapidamente para um último selinho antes de sair do box e puxar sua toalha.
- Não seja tão violento, pode ser perigosa!
- Ouh, pelo menos me deixe imaginar algum fim bem sangrento pra ele. – a voz de veio cheia de ironia, mas pude sentir a ponta de verdade daquelas palavras.
Mordi o lábio pensando na frustração dele. O que tinha a falar? Além de ser difícil parecia ser algo especial, que exigia todo um momento memorável e caprichado... Caso contrário ele diria mesmo após a interrupção de .
Pensei em todas as vezes em que ele fora interrompido por só hoje e uma coisa estranha fez meu estomago dar voltas. Talvez eu soubesse o que ele queria tanto dizer para mim. Estava em cada toque e suspiro. Uma chama impagável se acendeu em meu coração e iluminou minha mente confusa e contraditória. Talvez eu soubesse o que ele queria tanto dizer, porque eu também estava sentindo isso. Não sabia como chamar nem porque estava despertando tantos sentimentos em mim, mas de fato sabia por que estava ali.
O momento de lucidez me embriagou ao ponto de precisar de um bocado de água gelada para despertar. Se eu fiz e faço tudo isso, desde sorrir até chorar, de fugir e de enfrentar, de seguir e de se contradizer, é porque amo mais do que devia alguém com sobrenome .
Eu amo .
Escorreguei no piso molhado e cai de jeito direto de bunda no chão. A risada alcançou minha garganta impetuosa e eu me vi rindo sozinha no chão de um banheiro qualquer. Minha segunda vontade foi correr para o colo de e beijá-lo de felicidade. Achar alguém que faz parte de você como ele faz de mim nessa idade não é algo comum de desperdiçável.
- O que aconteceu?! – abriu o box enfiando seu rosto preocupado dentro para conferir o estrago de minha queda.
Ri mais alto enquanto ele me encarava em dúvida. não é algo que eu vá conseguir superar algum dia em minha vida.
Ele é único, e se não for com ele nada mais faz sentido.
Estranho ter um ataque de risos após descobrir algo desse tipo, mas acho que o comum esperado se tornou algo sem graça, então apenas me levantei rindo e passei os braços molhados em volta do pescoço seco de , para beijá-lo e fazê-lo rir junto comigo.
E mesmo sem saber o verdadeiro motivo talvez bem lá no fundo ele tenha entendido tudo.
Capítulo 16
As caixas de pizza estavam sobre a cama, onde e comiam abraçados em um canto, assistindo TV. Meus olhos foram direto para , que secava o cabelo com sua toalha vermelha, sentado no lado oposto a e , só de bermuda.
E como fica a minha sanidade mental se ele não consegue se vestir propriamente uma única vez na vida? Veja só o , , ele está de camisa. Uma bela camisa, aliás. Por que você tem que fazer isso com meu pobre coração?
Ai que péssimo ficar com esse tipo de pensamento toda hora também! Depois daquele primeiro beijo eles simplesmente brotam na minha mente nos momentos mais absurdos!
E foi nessa linha de pensamento – em que eu amaldiçoava a vida e todos os seus carmas – que eu guardei na mala o que tinha de guardar e pendurei minha toalha no varal do lado de fora da janela. A vista do mar dali estava incrível.
Virei repentinamente e peguei me observando com o sorriso mais idiota e bobão de todos. Acabei corando, bem mais que ele.
- Pizza? – ofereceu com um sorriso. – Tem de calabresa, atum, queijo...
- Ual. Qual ta mais gostosa? – perguntei sem saber ao certo porque, já que com a fome atual eu provavelmente comeria um pedaço de cada tipo e uns a mais.
- Não sei, não comi ainda... – ele respondeu um pouco sem graça enquanto e controlavam o riso. – Eu acabei me distraindo com o filme e...
- Ele tava te esperando! – esticou a mão para apertar a bochecha de , mas ele fugiu, cada vez mais sem graça.
- Ah... Bobo, fez isso porque?! Você ta verde de fome!
- Não to não! Mesmo, foi tranqui...
Enfiei um pedaço de pizza de atum na boca dele, que mordeu e mastigou com um olhar baixo.
Mordi o lado oposto da pizza e o fiz segura-la enquanto me ajeitava entre suas pernas no colchão. Deitei-me em seu peito e beijei seu queixo.
- Obrigada por me esperar. – sussurrei só pra ele ouvir enquanto Trinity e Neo colaboravam comigo na cena mais barulhenta do primeiro volume de Matrix. Aquela do saguão do prédio que o Morpheus ta preso e eles vão salvar ele com as mil armas e...
Ei, eu gosto desse filme!
- Não foi nada, pequena. – ele sorriu e beijou o canto da minha boca, oferecendo outra mordida na pizza em seguida.
E nós ficamos nessa cena de cama, pizza e tv o resto da tarde, sem conseguir unir forças para acabar com o clima gostoso que estava ali.
***
- O que você ta tentando imitar, ? Uma lula gigante?! – imitei os movimentos bizarros que fazia em cima do sofá, cansada de tentar entender qualquer coisa que viesse daquele jogo de mímica que começara quando a tv foi deixada de lado como trilha sonora, no canal de clipes da Mtv, num volume baixo.
Baixo porque ouvir música e tentar adivinhar a mímica absurda dos outros ao mesmo tempo nunca foi o meu forte. Nem o de . E nem o de , então acabou se revoltando e abaixando o volume numa música super dançante do Franz Ferdinand. Maldade, sninf sninf.
- Não, , um jacaré!
As risadas estridentes de e – que já estavam altas graças a minha pergunta cínica a – ficaram mais altas ainda com a resposta que recebi. O que esses dois colocaram em suas bebidas? Era só coca-cola aquilo, não?
- Ta me zoando, ? – perguntei um tanto assustada, aquilo simplesmente não era um jacaré!
Ele me encarou sério por alguns segundos.
- Tô.
Nos fuzilamos com o olhar por um tempo antes de desistirmos e nos juntarmos a e no momento autista. Acabamos todos no chão com lágrimas nos olhos de tanto rirmos.
- CHEEGA! – ficou em pé, séria.
Todos paramos de rir e a encaramos instantaneamente. Para a Cabeçuda voltar a rir. a acompanhou no mesmo segundo e também, mas minhas bochechas já reclamavam de dor, então eu me levantei e liguei a TV.
- Parem com isso logo. – resmunguei.
atacou com cócegas. me deu um olhar mal intencionado.
- Oi, . – ele se arrastou até o meu lado na cama.
- Nem pense nisso, . – falei sem tirar os olhos da TV.
Mesmo o cara ao meu lado sendo bem mais atrativo, não é sempre que se liga na MTV e está passando um clipe do Michael Jackson.
- Por que? – perguntou como se não soubesse que eu odeio cócegas. Aliás, alguém gosta disso? Enfim. – Eu ‘tô aqui e você ‘tá aí e essa sua blusa de alça deixa o seu pescoço realmente exposto e esse mini-shorts faz das suas cochas belos ímãs para as minhas mãos...
O olhar dele subiu das minhas pernas para os meus olhos, que a essa altura já haviam desistido de olhar para a TV por vontade própria.
- ‘Tá... Passando... Black Or White...
Ainda acho resistência nessas horas. Não sei aonde.
Ele se aproximou do meu rosto, fazendo sua boca relar de leve em meu ouvido e cantando um trecho da música junto com o Michael da TV.
- I said if you're thinkin' of being my baby it don't matter if you're black or white...
Perdão Michael, mas em uma batalha de vozes a voz de ganha fácil da sua. Ainda mais assim, no pé do meu ouvido. Não, não ganha não. AH, ganha sim... Ok, colapsei agora.
Fechei os olhos e esperei, deixando-o demorar o quanto tempo quisesse para me beijar. O que na verdade demorou bem pouco, porque logo em seguida seus lábios já se juntaram aos meus, doces e carinhosos.
Senti a mão dele se encaixar em meu pescoço e seus dedos se fincaram em meus cabelos. Era impossível não se entregar, assim fica mais difícil ainda não ser completamente dele.
Não que eu esteja me preocupando com isso a essa altura do campeonato, claro.
- Opa, Joe! – falou um pouco alto demais e meus olhos se abriram no susto.
Pra ver, antes de tudo, o rosto de . Seus olhos quase totalmente fechados, a proximidade de seu rosto ao meu... Me senti levemente tonta, e sorri voltando a fechar os olhos, como sempre ele me fazendo esquecer de tudo. Porém cortou o beijo, e eu mordi seu lábio em uma fraca tentativa de impedi-lo.
- Eu, vocês acham que eu virei o que, babá de vocês?! – a carinha risonha de Joe surgiu na minha visão.
- Só nos melhores sonhos, gatinho. – fez uma voz afetada.
- E ae , ...
- Hey. – repsondeu com um sorriso.
- O que vocês estão esperando?
- Hmm, nada não.
- Como assim nada?! – Joe franziu o cenho e mais pessoas passaram atrás dele no corredor. – Certo, vocês não estão sabendo, claro... – ele respirou fundo, fechando e abrindo lentamente os olhos em seguida, conseguindo a atenção geral do quarto, até mesmo a minha atenção. Palmas, Joe! – TÁ TODO MUNDO INDO A PISTA DE PATINAÇÃO NO CENTRO, FAZ PARTE DA VIAGEM!
Não resisti e ri da emoção assustadora de Joe enquanto se levantava do chão, dando pulinhos felizes.
- Agora? – -Gênio perguntou.
- Imediatamente. Nós vamos com o ônibus mesmo, por isso todo mundo tem que descer rápido pra gente sair rápido e chegar rápido e , quer parar de gargalhar por favor?
- HAHAHA não HAHAH dá... aah Joe! HAHAHA - me joguei na cama sem entender a falta de controle que eu tinha com gargalhadas e começando a sentir algum ponto indistinto da minha barriga doer. - É involuntáário!
- Tá. Olha, eu tô indo, e vocês... Se arrumem e desçam logo!
- Pra quem não quer ser a babá... - comentou maldosa, arrancando mais gargalhadas minhas.
Pronto, tudo que eles haviam rido EU estava rindo agora. Isso que chamam de retardo mental. Tsc.
- Estamos quase prontos! – avisou e quanto olhei para a porta Joe não estava mais lá.
O colchão se mexeu e notifiquei que havia se levantado. E ele simplesmente disse:
- Hm, já volto.
Fiz minha melhor expressão - a que ainda me renderia um Oscar - de extremamente confusa, e ele fez uma cara completamente desconhecida, a de nervosismo.
O que, , o cara mais confiante do mundo, nervoso?
Certo, não vejo isso desde a terceira série? Ou foi no prézinho mesmo, naquele dia do "Base 4" na educação física em que...
- Aonde você vai? - franzi levemente as sobrancelhas, no piloto automático, acentuando a clássica expressão confusa que eu sabia fazer melhor que qualquer um.
- Resolver um... assunto. Não demoro!
- !! - gritei antes que ele saísse do quarto. Ele parou na porta e olhou um pouco tenso pra mim. (n/a: TEEEENÇO! -q) - Coloca essa blusa.
Joguei a blusa mais próxima de mim direto pra ele, que sorriu brevemente e sumiu logo em seguida.
Ok, qualquer dúvida de que ele foi atrás do Joe? Não, né? Ótimo, então podemos passar para o próximo estágio; Por que E o que raios ele quer falar com o Joe?!
Concentrei toda a minha vasta inteligência nas possibilidades que levariam a falar com Joe. Não demorei muito para chegar na única plausível.
Ele foi pedir para o Joe não contar a ninguém sobre nós. Afinal, ele vira com os próprios olhos nós dois no maior beijo de cinema, era questão de tempo para toda a turma descobrir também.
O que me trás a seguinte questão; não quer que os outros saibam? Ou, quem sabe, talvez, mas expecificamente, As outrAs?
Ele quer esconder de todo mundo?
Ele não quer que nos vejam juntos?
Eu sou tão feia assim?
- !
Ouvi a voz de me chamar. Pisquei.
- Quê?
Acorda e coloca um tênis nesse pé! - ela passou na minha frente pulando num pé só enquanto tentava colocar seu Puma lilás no outro.
Em movimento. Ta, ela não é assim tão ágil.
- Vou de chinelo mesmo.
- Cala a boca! – ela xingou me assustando a tempo de eu olhar e ver ela cair bonito direto no sofá. Eu disse que ela não era assim tão ágil. – E coloca isso aqui!
Meu par favorito de sandálias veio voando na minha direção. Eram “Melissas” originais que meu pai havia trazido da Suíça quando foi lá a trabalho, já que em Londres não haviam lojas dessa marca. Sandálias parecidas, mas não eram Melissas. Não eram nem com estampas tão lindas. Que seja. Eu deitei na cama bem a tempo de desviar delas e me livrei de ficar com um belo roxo na cara.
- Quanta delicadeza, obrigada mesmo, viu.
- Não há de quê!
Era para eu estar surtando aqui, certo? Eu devia estar em pânico porque todos os nossos colegas vão ficar nos encarando e cochichando. Como o conquistou a Difícil , como ela era uma víbora com ele, como ela está se derretendo toda por ele...
Só de pensar meu sangue esquentou.
Fechei os olhos desistindo de encarar o teto, que era branco sem fascínio algum, e iniciei uma respiração calma e pausada, tentando relaxar novamente.
Agora, por que ele não quer que os outros saibam? Que hora pra descobrir que eu sou tão feia que ele nem suportaria deixar as pessoas sabendo quem andava beijando... Ok, essa é uma das horas que arrancaria minhas tripas se ouvisse meus pensamentos. Mas eu não entendo, quer dizer, eu consigo agüentar todo mundo olhando e cochichando, consigo mesmo! O que pode ser tão ruim que ele não consiga agüentar?
Opa, espera aí. “Idéias a mil”, como diria meu Jimmy Neutron interior.
Sentei novamente encarando a tela preta da TV com meus olhos arregalados. Aos poucos os batimentos do meu coração voltaram ao normal e eu engoli a saliva, fechando a boca e balançando a cabeça negativamente.
Era isso.
não havia ido atrás de Joe por motivos próprios, ele tinha ido por minha causa. Sorri me dando um tapinha na testa. Ele foi atrás de Joe porque quis me poupar do constrangimento que seria entrar no ônibus com todos cochichando e olhando. Ele só pensou em mim. Ele quer que eu escolha o momento certo.
Ele é o garoto mais perfeito do mundo!
Hah, e essa conclusão fantástica veio da garota que mais o odiou e que melhor conhece suas imperfeições, detalhe.
Capítulo 17 – POV
Vesti a camisa verde que havia jogado e apressei o passo no corredor, avistando Joe perto dos elevadores.
- Espera, Joe!
- Ah, olha, melhor a gente ir de escada, os elevadores devem estar congestionados porque todo mundo tá descendo agora...
- Bem pensado, Maggie!
- Hey, Joe!
Merda, se ele não me ouvir vai descer antes de eu conseguir passar por toda essa gente...
- Oi !
- Hm, oi. - nem olhei pra quem havia falado, e mal sorri também. Prioridades acima de tudo. - JOE CARALHO!
Opa, essa ele ouviu.
Aliás, o corredor inteiro ouviu.
Ajeitei minha camisa, finalmente conseguindo passagem livre para alcançar Joe.
- Nossa, . - ele me encarou mais um pouco antes de começar a rir.
- Eu preciso falar com você.
Não, sério? Nem deu pra perceber pelo berro desesperado, viu.
- Hah, eu pensei que isso fosse acontecer mesmo. Por isso fiquei de boca fechada por mais que meu cérebro tenha entrado em colapso necessitando compartilhar informações com outro cérebro para tentar entender melhor o que eu vi dentro daquele quarto. Entra aqui, é o quarto do Billie, ele já desceu.
Entrei no quarto que Joe indicou e ele deu a ordem para a galera continuar a descer. Querendo ou não ele tem um belo espírito de babá.
- Então... - Joe fechou a porta, diminuindo o barulho das conversas que haviam voltado a todo vapor no corredor. - Eu sozinho já eliminei “verdade ou desafio” e agora estou eliminando “teor alcóolico”, porque você parece bem sóbrio.
Baguncei meu cabelo com a mão, eu não tinha pensado no que dizer, muito menos bolado como dizer para Joe antes de sair correndo do quarto, pensar que ele podia contar pra todo mundo foi o limite de trabalho que meus neurônios aceitaram.
- Eu gosto dela. - falei simplesmente, deixando minha mão cair e encarando Joe preocupado.
- Sabia. - ele sorriu de volta, sacudindo seu cabelo impecável do tipo “orgulho-da-mamãe”.
Simples assim.
- ... C-como?!
- Ah, qual é, tava na cara né . - Joe rolou os olhos incrédulo, e bufou ao ver minha expressão ainda confusa. - Existem dois tipos de ódio. O que faz juz a palavra e aquele que é só fachada. O seu ódio por ela nunca foi ódio em si, era mais uma constante provocação, um jeito de ganhar um pouco da atenção dela, para ser notado quando o que ela mais fazia era te ignorar... Agora, o que eu também percebi foi que o ódio dela não era bem como o seu... Não parecia gratuito, também. E no dia em que eu notei isso eu lembro de ter pensado “Uh, coitado dele... Ninguém merece ser odiado assim por quem se gosta...”, e olha só, não é que você acabou se dando bem?! - Joe riu enquanto eu tentava me sentir menos patético.
- Eu dei motivos para ela me odiar, mas ela nunca fez nada pra mim. - dei de ombros, um tanto encabulado.
Não precisava discutir isso com ele. Tudo resolvido? Posso sumir agora?
que é amiga dele, ela devia ter vindo.
- O que, vai dizer que estragar a apresentação da sua banda não foi nada pra você?
Banda? Qual é, nós éramos três garotos com instrumentos querendo curtir no festival da escola, e só. Nâo éramos um banda. Não ainda, pelo menos. Banda...
- Bom, isso foi um bocado, sim. - entortei a boca desgostoso, me recordando bem da ocasião em questão. - Mas isso foi só birra dela, por causa da música que a gente ia tocar, praticamente nada perto das cosias que eu fiz... E nós tocamos mesmo assim e ganhamos o festival!
- Com uma versão acústica e sem amplificadores. É, foi um feito e tanto.
Joe sorriu debochado, meio que se divertindo.
O que, ele quer que eu fique bravo, é?
- Sim... A questão é, nós estamos bem agora...
- E eu percebi cara, parabéns. - ele interrompeu, recobrando a postura.
- ... E como isso é recente, eu sei que ela quer assumir e tals, mas a chance não apareceu ainda e se todo mundo descobrir e ficar fofocando, eu... Eu não quero que ela pire nem nada.
- Esse é o seu medo?
- Total.
- E por isso você veio atrás de mim?
- Exato.
Carinha esperto, ele, não? Agora sim.
- Hm, sabe, isso é a cara dela; pirar. Por mais que ela não pretenda ou queira... É inconsciente.
- Por isso eu vim.
- Seus motivos são nobres, caro . Se é para o bem da pequena, você pode contar comigo. - ele estendeu a mão e eu a aceitei rapidamente, como se fechássemos um acordo com esse simples gesto. Ainda bem que ele não cuspiu na mão antes ou essas coisas do gênero. Não que eu tenha sido uma criança nojenta nem nada, okay. - Cuide bem dela e não faça nenhuma besteira que me obrigue a te socar por ela depois.
Minha vez de rir.
- Ela nunca foi bem do tipo que precisa de alguém pra bater por ela.
Joe concordou gargalhando e abrindo a porta do quarto novamente.
- Principalmente pra bater em você!
HAHAHA, esse cara tá me provocando, ah tá!
- Certo... Obrigado de qualquer jeito, Joe.
- Não há de quê, .
Ele deu um tapinha no meu ombro e fechou a porta. E aí nos separamos. Ele foi escadaria abaixo e eu fiz o caminho de volta ao quarto.
Respirei fundo várias vezes enquanto caminhava lentamente.
- vem logo!
gritou da porta e estava ao seu lado, encostado na parede e olhando para a parede oposta, perdido em seus próprios pensamentos.
Ou na falta deles, enfim.
- , entre e coloque um tênis agora mesmo!
- Sim senhora mamãe !! - ri sem conseguir evitar.
Entrei ainda rindo e trombei com .
- Ooopa! - ela se desequilibrou e riu antes de ver em quem havia esbarrado. E ela ficou repentinamente séria quando viu que esse alguém havia sido eu.
“Ooopa!” mesmo.
Selei os lábios dela rapidamente e ela deu um passo para trás, e depois balançou a cabeça negativamente.
- Olha, eu sei que isso é ridículo e que eu devia confiar cegamente em você, mas isso é demais, eu não consigo! Preciso saber o que você foi fazer. - Os olhos dela se fixaram nos meus tão intensos que senti uma breve tontura.
Ah, isso.
- Seu cabelo está lindo. - comentei a primeira coisa que veio a minha cabeça, aleatoriamente, ao olhar novamente para o rosto dela.
- O que? - suas bochechas coraram, dando o efeito avermelhado que eu queria, e causando a reação automática que eu sabia de cor, ela passou a mão direita pelo rosto como se tentasse disfarçar a queimação em suas bochechas. - Não, não muda de assunto!
Oh gosh, eu tenho que aprender a me controlar, mas é que ela fica simplesmente lindinha assim nervosinha...
- Eu fui falar com o seu amigo Joe.
- Para? - a aflição de me deixou com uam vontade irracional de abraçá-la.
- Pedir pra ele não espalhar pra todo mundo o que viu dentro desse quarto.
- Por que?
Ok, eu vou mordê-la se isso continuar, logo logo. Vai colocar um tênis, !
- Eu só fiz isso por você, . Assim niguém vai estar cochichando e olhando pra nós qaundo descermos e... Eu pensei que você fosse acabar surtando, e isso não seria legal pra viagem, e você pode escolher a melhor hora pra isso, pra todo mundo descobrir, se você quiser, quando você quiser...
Ela cortou minha explicação sem fim pulando com tudo em cima de mim e me obrigando a deitar no sofá enquanto ria escandalosamente e ficava por cima.
- Eu sabia! SABIA! - riu mais um pouco e deus olhos brilhavam pra mim, com aquela alegria quase infantil. - , você não existe!
Ergui uma sabrancelha para ela.
- e , se vocês não saírem desse quarto AGORA...
- Existo sim, olha, você tá me tocando. E me sentindo! - respondi contrariado e mordeu o lábio corada. - Poxa, será que eu estou tão ruim assim pra minha prória garota duvidar da minha existência?
- !
- Preciso melhorar... Mas não se aflinja, meu amor, eu vou te provar tudo que você quiser. - selei nossas bocas e mordeu meu lábio inferior, aprofundando o beijo em seguida enquanto eu tentava não rir no meio do beijo.
- !
saiu rapidamente de cima de mim e sua gargalhada encheu o quarto, me obrigando a rir junto enquanto a puxava pela blusa para fora do quarto.
- Eita , você precisa fazer uma massagem nessa sua namorada, ela tá muito estressadinha! - brincou ainda risonha.
- Você, cuida do seu amigo que tá rindo que nem um idiota ali. - falou autoritária para .
- Ei! Não fala assim do bebê! - fez um biquinho lindo e eu ri mais ainda, levantando do sofá. - Só eu tenho esse direito.
Ah, claro, tava tudo lindo demais pra ser verdade.
Pelo menos isso fez rir, e relaxar um pouco também.
Coloquei o tênis nike de qualquer jeito e saí do quarto. fechou a porta e nós fomos atrás das garotas.
- Aí a gente pode aprender a dançar patinando e...
- , você não tem TODO esse equilíbrio.
- Sush , vão ter instrutores lá, eu vi no folhetim!
- Ótimo, mais monitores. - bufei pensando em voz alta e recebi olhares confusos. - Não é nada. - Gesticulei com a mão e deu de ombros, voltando a sua narrativa sobre o rinque de patinação e seus planos malucos.
O elevador chegou rápido e vazio. Talvez mós estejamos atrasados, mas isso é só uma hipótese.
Brian nem conferiu nossos nomes. Ele entrou no ônibus e berrou para avisar que os últimos alunos haviam chegado, se sentando em sua poltrona logo em seguida. O motorista veio do fundo do ônibus, explicando o berro de Brian, e entramos em seguida.
- , ! Aqui, aqui! - Hayden acenou animadamente do meio do ônibus, fazendo sorrir divertida.
Ela olhou para mim disfarçadamente antes de se sentar. ficou na poltrona de trás com outra garota. Um pouco mais para o fundo do ônibus haviam duas poltronas vazias. concordou com um aceno e fomos até elas.
- Então... - o ônibus começou a andar, fiquei com a poltrona da janela.
Observar a paisagem podia ser algo interessante também, mas particularmente eu ainda prefiro as pessoas. É, gosto de observar as pessoas. Não todas elas, algumas. Raras. Diferentes. Por exemplo... . Adoro observá-la, todas as horas. O modo como ela passa concentrada pelo pátio da escola em horário de aula, sem ver as pessoas cabulando as aulas a sua volta, ou como a expressão séria se derrete em um sorriso enorme quando alguma amiga berra seu nome... Tudo. Cada ato dela é digno de observação, simplesmente não me canso.
Mas ela não precisa saber disso. Quero dizer, verbalmente, eu não preciso dizer.
Porque, sinceramente, ela já deve ter completa ciência disso.
Um minuto de silêncio se seguiu a minha última pronunciação.
- Cara, isso é tão estranho! - desabafei repentinamente.
- O que? - saiu do transe finalmente se virando pra mim, um tanto preocupado.
- Antes... disso, nós conversávamos sobre qualquer coisa, várias coisas, o tempo todo, passávamos a tarde em casa, tocando violão, íamos pra balada e curtiamos a noite... Como vai ser agora? Você sempre com essa cara de cachorro sem dono longe da , eu mal consigo ficar sentado aqui sem pensar... nela.
- Na ? - arregalou os olhos pra mim.
- Não, idiota! Na ...
- , você quer discutir nossa relação assim, na frente de todos? - fez uns gestos afetados e não consegui evitar a careta. - É... tem razão. - ele sorriu idiotamente, e não é que o sorriso acabou lhe caindo muito bem? Heh. - Mas eu... Ela é... A certa, certeza. Posso abrir mão dessas coisas... Por coisas novas, com ela.
- Abrir mão dos amigos?!
- Não, nunca! Nem da banda!
- Bom mesmo... Mas , tem coisas que simplesmente a gente não adivinha, não tem como. Como você pode ter tanta certeza de que é ela? - perguntei debochado, porém extremamente curioso.
Eu perguntei para saber se ele tinha a resposta que eu mesmo não consigo elaborar. Porque ela? Bom, essa é fácil. Mas tantas vezes a gente se engana... Por que essa sensação de que não pode ser engano?
- Eu... Simplesmente sei. - deu de ombros.
Simples assim. E a simplicidade de sua resposta me fez pensar que e não deviam ser muito diferentes de e eu, afinal.
- É, eu quero vocês de padrinho e madrinha no nosso casamento. - dei tapinhas no ombro de com um sorriso brincalhão. - Mesmo que vocês não estejam casados ainda, tudo bem.
- Hah, tenho certeza que vocês vão ser padrinhos dos nossos filhos bem antes disso! - entrou na brincadeira, rindo e voltando os olhos para mais a frente.
Eu não teria tanta certeza assim, .
Procurei com o olhar e encontrei-a fazendo tranças nos cabelos de Hayden, para variar. O que ela tem com fazer tranças eu não sei, mas me permiti um sorriso tão besta quanto o de ao tentar imaginá-la arrumando assim os cabelos de nossa filha.
E é nessa hora que eu coro sozinho por pensar em tais coisas enquanto nem em namoro em consegui pedi-la ainda.
Viva um dia de cada vez, .
Capítulo 18
Não olhe para trás, não procure por ele, concentre-se na trança !
- Onde vocês estavam pela manhã? Procurei por todos os cantos e nem sinal de vocês quatro...
- Nós demos uma volta de escuna! - contou empolgada. - E eu estou namorando!
- O quêê?? Não briinca!!
Terminei com o cabelo de Hay e ela sorriu brevemente para mim, voltando a atenção para a narração de no banco de trás. Está mais do que escrito na testa de o quanto ela está apaixonada por . Sentei-me corretamente, concentrada em olhar somente para o logo da empresa do ônibus no banco da frente.
Algo extremamente fascinante, é claro.
- E aí, gaata, você aqui?!
- Haha, oi, Steve! - acabei sorrindo para a figura cômica de Steve, não que ele fosse feio de um jeito engraçado, e muito menos tivesse cara de palhaço, na verdade, rir ao ver Steve era completamente involuntário, a natureza dele é a mesma de Fred e Jorge Weasley, se você me entende.
- Finalmente, mal te vi nessa viagem... - ele fez uma careta brava como se me repreendesse.
- Ocupado demais pras barangas, como sempre, né, Stevey... - me fiz de ofendida e ele sorriu ladino.
- Como se você fosse uma. - ele criticou meu cinismo com uma rolada de olhos impacientes.
- Ahn, certo.
Dei a língua para ele, numa careta no mínimo engraçadinha, que fez Steve soltar uma risadinha e dar um tapa em minha testa antes de sentar-se corretamente em seu banco após o monitor pedir pela terceira ou quarta vez.
Digamos que esse não estava sendo um grande dia para Brian.
Puxei meu iPod do bolso traseiro da calça jeans, desenrolando o fio dos fones.
- Esse rinque é no centro daqui ou é do outro lado da cidade?! - bufei impaciente e deixei no modo shuffle para que qualquer coisa tocar.
É uma sensação bizarra não saber o que se quer ouvir.
Digo, odeio quando isso acontece comigo.
E no momento, eu não estava inspirada para ouvir nenhuma das bandas que estavam no meu singelo iPod de míseros 16 gigas.
- Nós já estaríamos lá se certas pessoas não tivessem demorado tanto para descer...
- Até parece... - rolei os olhos para e voltei a deitar a cabeça no banco, fechando os olhos ao som da diva Gwen Stefanie na antiga banda No Doubt.
Uma palavra: nostálgico.
Tão rápido quanto fechei os olhos, me cutucaram e os abri novamente. E No Doubt virou Kaiser Chiefs num passe de mágica.
Okaay, talvez eu tenha tirado uma sonequinha.
- Quem anda te dando essa canseira, hein, ?
Dei um tapinha em Hay e arrumei meu cabelo para enfrentar a fila no corredor. Fila que, instantaneamente, abriu um buraco perfeito para eu me encaixar. Levantei num pulo.
- Vem, Hayden! Ou você não sai desse ônibus hoje...
Hay deu uma última olhada para a fila atrás de mim antes de pular para a minha frente. Eu ri sem entender o receio dela. E ao som de Three Days Grace, fui de passo em passo até finalmente conseguir sair do ônibus.
E só para honrar a minha imagem, tropecei no meu próprio pé. Que clássico.
- Woow! - abri os braços para me equilibrar e alguém me segurou.
- Opa. - ele riu no meu ouvido e eu congelei.
Legal, agora você está fantasiando ele, muito bom . Hay encarava a pessoa atrás de mim ainda em choque. Me virei e pisquei, ótimo, não era minha imaginação, realmente surgiu para me segurar.
Como?
Boa pergunta. Fato que ele não é nenhum vampiro, convivi tempo demais com ele para não ter percebido algo do tipo, sem contar que a pele dele não parecia uma pia de banheiro como a Meyer lá descreve os vampiros dela. Porém, ele pode muito bem ser um bruxo e saber aparatar, claro que as pessoas teriam notado e...
Ou não.
OH, MEU DEUS, ELE É UM BRUXO!
- Vem, , vamos entrando... - Hay me puxou e eu pisquei algumas vezes.
Hora de agradecer pela não conseguir ler meus pensamentos, porque essa brisa teria me rendido alguns socos dela.
me encarava com uma expressão vazia enquanto Hayden me puxava. Notei que e haviam descido após ele, então esquece o lance sobre aparatar, estava atrás de mim o tempo todo.
- O-obrigada. - forcei uma reação.
Hayden me puxou com mais força depois dessa.
desviou o olhar para o chão de um jeito totalmente apertável.
me fuzilou com o olhar.
É, fiz besteira.
Mas que culpa tenho eu se ele chega do nada e... e... e me pega de surpresa e... e.. e eu surto?! Ele tem que parar com isso, ah!
Entramos no rinque de patinação e a música alta era do tipo clássico anos 60, 70, 80. As luzes eram todas coloridas, e o bom e velho branco? Não mesmo, pelo menos não aqui. Cinco pessoas patinavam pela enorme pista, provavelmente funcionários do lugar, já que o lugar havia sido reservado só pela nossa escola.
Hayden voltou a me puxar, direto para a área antes da pista onde devíamos colocar o patins e deixar os tênis.
- Certo, o que tá acontecendo?
- Ahn? - perguntei desentendida, me desfazendo das melissas.
- encostou em você, ou melhor, te segurou, e você não disse nada! Aliás, ficou com cara de... besta! E agradeceu! Vocês quatro sumiram de manhã e está namorando com , então...
Hay me encarou como se esperasse uma reação. E eu reagi, porém, não do jeito que ela esperava, terminando de encaixar os patins.
- O quê?! Vocês estão... estão... – novamente, eu não reagi, esperando ela concluir sua linha de pensamento. - namorando?! VOCÊS?!
- Não. - respondi pensativa e ela respirou aliviada. - Não ainda.
O queixo de Hay caiu escandalosamente enquanto eu dava meu nome a um funcionário que colocou uma pulseirinha de identificação no meu pulso esquerdo.
- O quêê?? - Hayden conseguiu pronunciar alguma coisa, fazendo-me rir.
Entrei na pista que brilhava com luzes laranjas, verdes e roxas. Acelerei sem medo de ser feliz, sentindo uma brisa gostosa vinda das portas abertas.
Nem parei para pensar aonde meus pés me levavam, e quando abri os olhos, vi apenas a encostado na beirada da pista, do lado de fora. Sorri divertida e apressei o passo, não havia nada mais certo do que o que eu estava prestes a fazer.
Ou pelo menos eu jamais havia feito algo mais certo em toda a minha vida.
Parei em cima da barra.
Estiquei-me para alcançar os olhos de e tampei-os com minhas duas mãos, tentando não rir. Ele estava de costas.
- Wow! - colocou as mãos sobre as minhas e eu continuei segurando a risada. - ? - ele questionou, ansioso.
- Hum, que pena, com tanta incerteza assim, acho que não vou poder te dar o brinde...
- ! - ele se virou e eu encaixei as mãos em sua nuca, puxando-o levemente para baixo e unindo nossas bocas.
Pronto, era isso, que todos fiquem sabendo logo, eu não aguento nem mais um segundo fingindo que cada célula minha não se importa com ele. Danem-se todos vocês, eu amo !
Certo, ainda bem que isso ficou só em pensamento.
- Vem logo pra pista. - fiz um biquinho carente e riu, rolando os olhos.
- Se você me soltar...
Selei seus lábios e soltei seu pescoço.
- Já demorou demais. - e com um empurrão na barra, afastei-me patinando de costas mesmo.
Mas, calma, eu também não sou todo esse poço de agilidade. Me virei e não caí nem esbarrei em ninguém, agradecendo o momento de sorte e impressionando aos funcionários do lugar.
Abafa que um deles é ruivo e sorriu para mim, acho que acabei de entender os resmungos de sobre monitores em geral. Outra ruiva aproximou-se de mim, mais conhecida como Hay, dona de um olhar laser medonho.
- Me diz que eu estou vendo coisas! Que você foi abduzida ou... ou... que fizeram uma lavagem cerebral...
- Não, Hay, não é nada disso.
- M-mas...
- É complicado, eu sei, mas... - olhei de canto para e caminhando abraçados e ao lado deles, com as mãos nos bolsos da bermuda, corado. - Eu gosto dele, pra valer.
Por um instante os olhos de Hay pareceram saltar da órbita.
- C-como?!
- Descobri que meu velho amigo não estava completamente morto nele. - dei de ombros. - Ele... Ele provou-me isso.
- E provou muitas outras coisas também, né? - Hay sorriu marota e aí, sim, levou um tapa no ombro.
- Hay! - ri incrédula.
- Agora vai, me mostra como você fez pra andar de costas... - ela tentou e acabou se desequilibrando.
- Hah, desculpa querida, isso é apenas para profissionais! - exibi-me um pouco, recebendo um tapinha dela.
- Certo, duvido que você consiga fazer de novo, querida! - Hay desafiou.
- Okay. - fiquei de frente para ela e me impulsionei para trás com um pouco de dificuldade.
Investi mais um pouco e dessa vez deu certo, porém, por pouco tempo. Desequilibrei-me e, novamente, duas mãos me seguraram. Aparatação? Vampiro? Super herói? Não? Ah, ok.
- Caramba, dá pra você tentar se manter em pé? Que necessidade de se machucar!
- Ei, essa sou eu. – sorri, virando-me para olhar nos lindos olhos dele.
- É, eu já tinha praticamente me esquecido.
- Segunda vez hoje, assim você vai virar meu herói. - suspirei sarcástica e ele riu junto.
- Aposto que o papai não vai gostar muito disso.
Fiz uma careta leve. - Hum, não. Mas ele é um pentelho, de qualquer jeito. Pior que você.
- Uau. - arregalou os olhos fingindo surpresa e eu ri, finalmente.
passou por mim com os braços erguidos.
- WOOOHOO!
- Oh, gosh... Ela é mesmo assim? Sempre? - parou ao lado de com uma expressão preocupada.
- Relaxa, , ela ainda não tentou nenhuma pirueta. - sorri abertamente e disfarçou a risada enquanto arregalava os olhos.
- Como?
- Piruetas. - repeti, mas dessa vez não aguentei e ri.
rolou os olhos e patinou atrás de .
- Então, onde nós estávamos? - me puxou para si lentamente com um sorriso.
- Aqui. - dei de ombros, indiferente.
- Aham.
E já com o rosto a poucos centímetros do meu, ele fechou os olhos lentamente, mantendo o olhar em minha boca enquanto eu observava seus traços tão suaves no momento. Sua boca uniu-se a minha e logo minhas mãos acariciavam sua nuca. Pacificamente.
Um beijo tranquilo com um fim macio e um sorriso idiota nos lábios de cada um. Os olhos de brilhavam e, provavelmente, os meus também, só que mais ternos. Eu sabia o que sentia.
- Vamos? - o puxei pela mão e soltei em seguida.
- Ah... - ele exclamou.
- Que é?
- Você soltou minha mão! - fez cara de criança mimada.
- E você não sabe andar sozinho? - debochei.
- Não! - ele falou estufando o peito. - E você não sabe andar de mãos dadas? - ele ergueu uma sobrancelha, como se me provocasse.
Pensei um pouco.
- Nunca andei de mãos dadas com ninguém de patins...
Verdade. Aprendi a andar sozinha, então nunca precisei...
sorriu de orelha a orelha e pegou impulso para me alcançar. Sua mão direita envolveu a minha esquerda com facilidade e ele me puxou para andar ao seu lado, cada vez mais parecido com uma criança. Com a criança que ele havia sido um dia. Ri e afastei esse pensamento da cabeça, concentrando-me em pensar apenas no momento e em como aquilo tudo era bom.
Cada sensação nova enchendo meu peito e todas as velhas sensações boas presentes e melhores.
Não há ninguém no mundo que possa substituí-lo.
- Tá rindo sozinha, autista? - ele riu da minha risada, olhando para mim.
- Olha pra frente, ! - avisei um pouco histérica e ele se assustou.
Mas não havia com o que se preocupar.
Ri mais alto.
- Ah, então é assim? - ele se virou e parou, empurrando-me para a barra lateral da pista.
Fui prensada entre a barra e o corpo dele.
- Sai fora, ! Desencosta esse seu corpo nojento de mim! - segurei a risada tentando imitar o rancor que minha voz costumava ter ao se referir a ele, entrando na brincadeira.
- Como se eu quisesse encostar em você assim! - debochou com malícia no olhar.
- Então por que você tá me prensando, anh? - provoquei, esquecendo a parte em que deveria parecer com raiva. E nojo.
Ele suspirou pesadamente.
- Porque eu sou um idiota. - e então seus lábios juntaram-se aos meus para um beijo mais violento e sedento. o cortou brevemente sem se afastar. - Era. - ele corrigiu e voltou a me beijar.
Correspondi sorrindo entre o beijo e puxando-o para mais perto, arranhando sua nuca. Cortei o beijo com algumas mordidas antes que nós dois acabássemos no chão da pista.
Não precisei dizer nada, sorriu e concordou, envolvendo novamente minha mão esquerda e me puxando para voltar a patinar ao seu lado.
Fechei os olhos e senti o vento gelado do ar condicionado bater em meu rosto em contraste à mão quente que envolvia a minha. Sorri.
Capítulo 19
Agora a pista estava lotada.
Lotada de gente caindo - mas sem desistir de tentar novamente, rindo. Lotada de gente dando voltas e voltas, incansavelmente. Lotada de casais. Lotada de pessoas rindo e fazendo gracinhas. Lotada de gente dançando.
I'll tell you 'bout magic and it'll free your soul,
but it's like tryin' to tell a stranger about rock'n'roll!
- Whoa! - cantou com a plenos pulmões.
Hay jogava os cabelos pros lados até ficar tonta e vacilar. a segurou.
Ele recebeu um olhar analítico que, por fim, virou um sorriso e um agradecimento. fez uma breve reverência e riu, patinando em seguida até , que estava de costas para ele. Cantou em seu ouvido.
- If you believe in magic, don't bother to choose if it's a jug band music or rhytem and blues! - virou-se sorrindo e aproximou-se de seu ouvido novamente, com as mãos na cintura dela. - Just go and listen and it'll start with a smile, it won't wipe off your face no matter how hard you try!
Ela o abraçou o mais forte que conseguiu e ele correspondeu. E os dois ficaram assim até a próxima música começar, porque se afastou com a boca aberta e os olhos brilhando do jeito que fazia sorrir.
No segundo seguinte eles patinavam dançando uma música dos Beatles, que, apesar de não ter sido feita por eles, era um clássico deles, Twist And Shout.
***
- Vocês estavam arrasando na pista!
- Steve, não. Eu estava arrasando na pista, o imbecil do só estava rindo de mim. - deu um tapa quase que carinhoso na testa de , que a abraçava de lado.
- Own, lindinha, eu tava rindo com você e não de você. E estava dançando também, ok.
- Sei. - ela respondeu com um biquinho e foi beijada com certa ferocidade, o que a fez arregalar os olhos.
Os outros riram e continuaram andando.
- !
- !
Ela o fuzilou com o olhar, e ele acabou cedendo com uma de suas deliciosas gargalhada.
- Desculpa, linda, é que eu não consigo controlar isso... É tão bom poder te beijar na frente dos outros e assumir que estamos juntos e...
- Ai, , essa coisa de linda pra cá, lindinha pra lá... Que mania chata!
Houve uma pausa com um certo tom de drama. a olhava sério.
- Qual o seu problema?! Eu aqui no maior clima romântico, quase dizendo mil coisas lindas e você resolve reclamar porque eu te acho linda? É, você é linda, muito linda, minha linda, entendeu??
As palavras se perderam na boca de e ela corou violentamente.
- Mas... É só que... É só... Que é... Estranho...
Ele nem a deixou concluir o pensamento.
Também, ele a conhecia bem o suficiente para saber que ela não concluiria coisa alguma envergonhada daquele jeito.
- Estranho?! Por que estranho?
- Ahn, é... bem... diferente. É tudo novo e...
- Sim, e não estamos acostumados com isso. Porém não é estranho, . É maravilhoso.
A seriedade no rosto de só a deixo mais sem ar. Ele sorriu serenamente, encostando sua testa na dela.
Os olhos de se fecharam tranquilamente e um sorriso passou a brincar em seus lábios.
- Você tem razão, . - ela abriu os olhos de uma vez e eles reluziram como rubis. - É maravilhoso.
Ele riu, seu rosto disfarçadamente avermelhado.
- Mas é claro que eu tenho razão, eu sou homem!
se afastou abruptamente, a expressão transformada em incredulidade. riu sua melhor risada e a abraçou novamente. E mesmo um tanto relutante, acabou rindo também.
- Seu babaca.
- Outch! Assim você fere meus sentimentos, amor!
De novo, ela parou ao som do eco que aquela última palavra causou. ria e por mais que ele estivesse brincando...
- Vocês ainda querem beber água ou mudaram de ideia? - Hayden abraçou de lado enquanto a turma passava atrás deles, voltando para dentro da pista de patinação.
É verdade, a água.
- Oh, sim...
- A água! - o rosto de se encheu de uma determinação repentina.
- Tá bem... - Hay riu. - E voltem logo, é bem mais engraçado com vocês lá! - ela acrescentou, já de braço dado com Joe, entrando na pista.
puxou para si, apoiando a cabeça no ombro dela.
- Tá se espreguiçando, querido?
Algum osso dele estalou. gargalhou.
- Ela é legal, não é?
- A Hayden? Um doce mesmo. Uma ótima amiga. - sorriu, mas algo deixava seu sorriso gelado.
continuava olhando na direção de Hay.
- Hm... Eu nem sabia que ela era assim, sempre pareceu me odiar.
- Oh, é claro. - riu, adquirindo, sem perceber, um tom um tanto cínico. - Você tá na lista dos babacas que pediram pra ficar com ela na primeira semana de aula da garota!
Ele se afastou e olhou nos olhos.
- Senti uma pontada de amargura nessa frase aí, . - declarou, como se tivesse decifrado o olhar dela. Ela abriu a boca para responder, porém ele continuou a falar. - Passado, lembra?
Um sorriso verdadeiro alargou-se nos lábios dele, e sentiu-se um tanto quanto hipnotizada por alguns segundos.
- Sim, claro. Eu só...
- Tudo bem, eu sei. - sorriu mais e desviou o olhar. - Agora água!
A mão esquerda dele envolveu a direita dela, e a conduziu aos bebedouros.
O silêncio foi mútuo e levemente desconfortável. Ele queria fazer qualquer palhaçada para distraí-la, tirando as possíveis lembranças de seu pensamento, porém decidiu que tinha todo o direito de pensar bem sobre o que fazia. E no que ele já havia feito com ela.
O que ele já a tinha feito sofrer, sim.
Ele estava longe de ser perfeito, mais longe ainda de ser o melhor para ela. Ela podia perceber isso, era mais do que seu direito.
Do mesmo jeito que era direito dele lutar por ela. E isso já estava mais do que decidido. Talvez não fosse o melhor para ela, mas faria tudo que estivesse ao seu alcance, e além dele, para ser.
E talvez, quem sabe, isso o tornasse o melhor para .
Mal sabia ele que não havia nada a temer.
A única coisa que passava pela cabeça da garota era como ela estava feliz, feliz como não era há anos. Como se tudo que ela havia feito no período sem fosse incompleto. Até os momentos mais felizes.
Agora ela via o quanto tudo aquilo não havia sido certo.
Porém, necessário.
Sem esse afastamento, talvez ela não soubesse o que tinha ao lado no exato instante.
Sem ter passado por tudo que passara, talvez ela não valorizasse, talvez nem visse que ao seu lado não estava somente o seu melhor amigo, ou o "ficante". Ao seu lado estava aquilo que todos procuram por anos, por vidas, às vezes sem encontrar.
Amor.
E ela o havia encontrado aos 17 anos de vida.
- Opa! Desculpa aí! - um garoto cruzou o caminho de , apressado.
Atrás dele vieram mais três.
- Mals aí, cara!
- Valeeu!
olhou para , que ergueu uma sobrancelha, fazendo-o rir.
- Mademoiselle primeiro?
- Mui bien, monsieur. - ela tomou a frente e bebeu um pouco de água.
A música parou repentinamente, no meio de uma daquelas baladas Disco. bebia água e mal se importou com o fato. , porém, foi levada a olhar automaticamente para a sala do DJ, que ficava no andar superior.
Pelos vidros ela pode reconhecer os quatro garotos que haviam esbarrado em .
- Wow, desculpa a interrupção, galera! É que nós temos uma novidade pra vocês. - O mesmo garoto que esbarrara em primeiro falava da cabine do DJ. - Nós somos a banda We Say Summer, esse é o nosso mais novo som!
Assim que o garoto acabou de falar uma música começou a tocar por toda a pista. Agitadíssima, ela foi bem recebida por todos na pista.
ficou apenas observando, com um sorriso sereno.
As cores refletiam em seus olhos, observou. Ele próprio gostava apenas de azul, verde... Um vermelho às vezes. Porém ficava muito bem com qualquer cor, ele constatou após vê-la roxa pelos efeitos das luzes. Não conseguiu evitar o riso e inclinou a cabeça em sua direção.
- Que foi?
- Nada, linda. Quer dançar?
observou a mão que estava estendida em sua direção. Sorriu e aceitou a proposta. Mas ao invés de levá-la de volta para a pista, a conduziu para fora do lugar.
- ? - ela questionou, um pouco confusa. Mas a verdade é que ela iria onde ele a levasse, sem questioná-lo uma única vez. Ele sabia disso.
Virou-se para e fez uma reverência, antes de puxá-la para perto e começar uma dança lenta e calma.
Ela respirava em seu pescoço, o fraco perfume se misturando com o condicionador dos cabelos macios de . Como tantas outras vezes, sentiu como se pudesse ficar ali pra sempre. A mão do garoto segurava sua cintura firmemente, como se quisesse que ela ficasse ali pra sempre. passou os braços em volta do pescoço de e afastou o rosto de seu pescoço para poder olhá-lo nos olhos.
- Que música estamos dançando? - perguntou com o sorriso mais doce a brincar em seus lábios. viu seu olhar refletido no dela.
Jamais alguém o olhara com tanta ternura. E ele tinha certeza que seu olhar para ela não era muito diferente.
- So far away from you, my darling. I feel weary down to my bones. I'm coming home for your good loving, and I'll never ever leave you alone... - cantou ao pé do ouvido de , baixinho, suavemente, com o rosto encostando no dela, sentindo o calor de seu rosto e a respiração dela falhar em seu pescoço. - I will love you deep as the ocean, I will love 'til the sun don't shine. I won't rest 'til you're beside me. I will love you 'til the end of time.
Ele soprou a última frase e sentiu o corpo de fraquejar em seus braços.
Ela sentiu algo parecido com uma vertigem.
Não sabia se havia entendido direito, mas ele havia dito...
- Que foi, amor?
sentiu a visão embaçar, mas logo em seguida viu-se rindo. O que era muito melhor do que chorar que nem uma criancinha, porém nem de longe parecia a reação certa para o momento.
parecia confuso.
Ela sorriu e o puxou para um beijo, daqueles beijos que significam mil coisas. E então ele entendeu. E por mais que gestos demonstrassem muito mais que palavras, dizer aquilo em voz alta era selar um compromisso. Era assumir para todas as pessoas importantes; ele próprio e a garota na sua frente.
A garota pra que ele prometera o seu coração.
E ela estava prestes a acabar com suas dúvidas.
levou os lábios até o ouvido deles e ouviu-se suspirando baixinho. Esses efeitos que ela tinha nele, a qualquer ato simples e inocente... Era uma sensação surreal.
E então ela soprou as três palavras mais doces que ele ouvira na vida, e que nenhuma outra pessoa diria como ela, e muito menos faria seu coração inflar e amolecer ao mesmo tempo.
- Eu te amo.
sentiu um sorriso surgir em sua boca enquanto todos aqueles sentimentos explodiam em seu peito. Ele abraçou forte a cintura da garota e a ergueu no ar. Girou-a enquanto assistia rir e gritar ao mesmo tempo, corada e radiante como ele mesmo devia estar.
- Mesmo?!
- Mesmo!
voltou a colocar no chão, deslizou as mãos em seu pescoço e emaranhou os dedos em seu cabelo.
- Você tá falando sério, ?
Ela respondeu olhando diretamente nos olhos dele, encantada.
- Como eu jamais falei antes na vida. Eu te amo. - ela repetiu.
E foi beijada fervorosamente em resposta.
- EU te amo! - encostou nariz com nariz, vendo de perto todo aquele amor que ele precisava nos olhos de . Tudo que ele precisava. Estava ali o tempo todo, e agora ele a tinha. Fechou os olhos numa tentativa de controlar a felicidade e os abriu num relâmpago, como se tivesse lembrado de algo.
- Namora comigo? , você aceita ser minha namorada? Só minha? Pra sempre?
riu baixinho, inclinando a cabeça para baixo, sem perceber. Era engraçado prometer algo que já era mais certo do que o sol e a lua. Agora ela sabia, não importava o momento, ela sempre fora dele. Antes mesmo de conhecê-lo. a levantou delicadamente, sem querer perder uma única reação da garota.
- Somente sua, pra sempre.
E nenhuma frase dita antes pareceu tão certa e verdadeira. E com apenas as estrelas de testemunha, selou seus lábios como encerramento daquela promessa. seria dele pra sempre.
- Calma aí, Johnny! Não precisa empurrar a gente, não!
As risadas vindas da entrada do rinque de patinação me fizeram desviar o olhar de . Ele pareceu me acompanhar. Os garotos da tal banda “We Say Summer” saiam sendo escoltados por um segurança que parecia os empurrar... Mas parecia também que não fazia isso com muita vontade. Devia ser o Johnny.
- O chefe está olhando ainda. Tô tentando manter o meu emprego aqui, Jay. - o segurança respondeu.
Os garotos fizeram careta.
- O seu chefe está aí hoje? Caramba, Johnny! Foi mal...
- Ele não descobrindo que vocês fazem isso todos os dias, Pat, está ótimo. Aliás, quando é que vocês se mandam daqui, hein?
- OOOUTCH!! - todos falaram ao mesmo tempo, tocando o peito como se tivessem sido acertados por uma faca ali.
- Nós vamos amanhã, insensível. Viemos hoje para nos despedir. Ainda há muitos lugares legais para tocarmos nossas músicas com seguranças que gostem da gente!
Johnny revirou os olhos e encarou os garotos. Logo em seguida desatou a rir e a banda riu junto. Troquei olhares interrogativos com , mas ele parecia entender menos do que eu. A banda se despediu do segurança, e eu resolvi que já tinha passado da hora de parar de fuçar a vida alheia.
Encontrei com um sorriso besta me observando.
- O quê?
Mas antes que ele respondesse, ouvimos o berro de Joe:
- EI, VOCÊS! BANDA! É, VOCÊS! ESPEEEREM!
***
Tonight... I wanna give it all to you
(Esta noite eu quero dar tudo a você) In the darkness
(Na escuridão) There's so much I wanna do
(Há tanto que eu quero fazer) And tonight I wanna lay it at your feet
(E esta noite eu quero deitar aos seus pés) 'Cause girl, I was made for you
(Porque garota, eu fui feito para você) And you were made for me
(E garota, você foi feita para mim)
O rádio do único bar aberto na beira da praia tocava um clássico da banda KISS. Era quase meia-noite e toda a turma da Bronx High School estava espalhada por ali.
Alguns cantavam encenando exageradamente a música, outros conversavam em grupos espalhados, sentados em troncos de madeira ou em esteiras de palha.
Joe havia trazido os garotos da banda junto para praia e eles haviam arranjado tantos violões que estava sobrando até para os caranguejos tocarem, se eles quisessem. Sim, eles perguntaram.
Estávamos um pouco afastados da bagunça, provavelmente, apenas eu ouvia a música do bar.
Béé, errado.
- I was made for loving you, baby! You were made for loving me. And I can't get enough of you, baby. Can you get enough of me? [Eu fui feito para amar você, baby! Você foi feita para me amar. E eu não consigo ter o bastante* de você, baby. Você consegue ter o bastante de mim?] - sussurrou em meu ouvido.
O olhei com um sorriso maroto nos lábios. Sorriso que aprendera com ele.
- Você deu pra cantar hoje, hein?!
- Não está gostando? Pensei que essa sua pele toda arrepiada fosse um sinal de que você estava adorando. - ele me devolveu o sorriso maroto, com muito mais experiência.
Tombei a cabeça em seu ombro.
- Ok, você me pegou! Não resisto aos seus sussurros. Mas a questão é: são apenas os seus sussurros ou será que serve qualquer um? OH, J... - tampou minha boca. Haha, ganhei!
Joguei sujo, mas.
- Não se atreva. Prefiro raspar minha cara na brasa dessa fogueira do que assistir outro... - ele nem conseguiu falar, apenas fez caretas, olhando para a fogueira.
Eu tenho que assumir que ele tem um perfil de tirar o fôlego. Ou talvez seja apenas eu, mas provavelmente — e infelizmente —, não.
Eu também preferiria raspar o rosto na brasa do que...
Também não consegui terminar a frase, nem mentalmente.
- Eu só estava brincando, bobão. Pode voltar a cantar aqui, você sabe que eu amo a sua voz. - e antes que ele desse mais do que um risinho, acrescentei: - E não fique metido só porque eu disse isso.
Ele riu.
- Vou tentar.
Rimos.
- Será que o novo casal aí pode se largar um pouco e ajudar aqui? - Steve chamou, fingindo-se bravo.
- Ajudar como?!
Não devia ter perguntado.
Como eu disse, havia violões sobrando até para os caranguejos tocarem. Mas também havia ali pessoas que deveriam realmente ceder seus violões para os caranguejos, se é que você me entende.
Eu não sou uma dessas pessoas, mas Steve quis porque quis que eu ficasse no grupo de apoio, dançando e fazendo o backing vocal.
- Olha, gente, eu não tenho toda essa capacidade pra dançar, sabem... Vou acabar estragando as coreografias e...
- Shiu, , todos querem você de backing vocal. Você arrasa, gata. - Hayden alfinetou, mas a galera que ficara de backing vocal/dancinha/bater palma concordou animada.
Agora que todos sabiam o motivo do sumiço de e da sua inatividade, eu virara algum tipo de... Deusa. Ok, exagero. Mas estavam me tratando como se eu fosse a garota mais legal e supimpa do mundo. Acho que o papo era algo como "Finalmente alguém conseguiu prender mimimi". Bom, se querem saber, era mesmo um feito. Ele correu de mim por meses por causa de UM beijinho. E era uma reação melhor do que a esperada: "Nossa como ela é fácil/Como ele conquista todas mimimi". Bem melhor. Embora esteja me irritando um pouco. Se eu quisesse esse tipo de atenção, andaria na escola com a roupa da educação física e tiraria notas vermelhas em todas as provas. Apesar de estar mais digna que isso, acho que agora eles me viam com um ar... misterioso.
Sei lá. Mas eles já podiam parar.
Alguém podia aparecer grávida para as atenções saírem de mim, né?
E lá estávamos nós, tocando violão e cantando em volta de uma fogueira.
ficou com o violão. Acho que ele havia estudado mais nos últimos tempos, porque ele não tirava os olhos de mim. E mesmo assim tocava o violão melhor que alguns da rodinha. batucava madeiras com as baquetas do baterista da “We Say Summer”, e o baterista batucava com a mão alguns tambores.
E a bagunça estava feita.
E sabe como música é. Num minuto eu tentava evitar o grupo da dançinha e no outro eu conduzia a coisa toda, e de repente eu era o vocal, e não o backing vocal. não conseguia tirar os olhos de mim. Acho que eu também não tirava os meus olhos dele.
- And if the real thing don't do the trick, you better make up something quick. You gonna burn, burn, burn, burn, burn to the wick. Aren't you, Barracuda? [E se a verdade não realizar o truque é melhor você fazer alguma coisa rápido. Você vai queimar, queimar, queimar, queimar, queimar até o pavio. Não vai, Barracuda?] - depois de me fazerem cantar essa música, achei que fosse passar o resto da viagem sem voz.
Mas ouvir Barracuda em uma versão acústica com tantos violões era algo que valia a pena arriscar a voz.
E é claro que isso acabou em e eu tocando e cantando Bruce Springsteen. Podia até ter alguém na turma que não fosse apaixonado pelo cara, mas com certeza conhecia pelo menos uma música dele e não tinha nada contra. COMO ter algo contra? O cara é pura música.
Começamos com as animadas, como Born to Run. Acabamos em músicas como Atlantic City. Foi nessa que surgiu uma gaita, sendo que foi o quem TOCOU. E tocou esplendidamente bem. Olhando para mim, senti como se não houvesse chão sob os meus pés.
Everything dies, baby, that's a fact
(Tudo morre, querida, isso é um fato) But maybe everything that dies someday comes back
(Mas talvez tudo que morre um dia volte a viver) Put your makeup on, fix your hair up pretty
(Coloque sua maquiagem, arrume seu cabelo bem bonito) and meet me tonight in Atlantic City
(E me encontre essa noite em Atlantic City)
Depois fez os solos de gaita de The River. E ali, de frente para ele, eu tive certeza que se o tivesse visto assim antes o teria perdoado por todos os erros passados e futuros num piscar de olhos. E num outro piscar de olhos estaria o agarrando, prendendo-o em meu quarto para jamais sair de lá.
Ri mentalmente enquanto (externamente) quase babava. Ele me deu um olhar que eu entendi como: "Hora de você começar a tocar o violão, ". Eu obedeci instantaneamente, embora pensasse "É hora de você e eu ficarmos sozinhos, e você só de gaita, isso sim", se é que vocês me entendem.
Censurei meus pensamentos e me concentrei em cantar, tocar e não chorar. Era demais ouvir uma música daquelas e não se emocionar; cantar e tocar uma música daquelas, então.
Now I just act like I don't remember
(Agora eu ajo como se eu não lembrasse) Mary acts like she don't care
(Mary age como se não ligasse) But I remember us riding in my brother's car
(Mas eu me lembro de nós passeando no carro do meu irmão) Her body tan and wet down at the reservoir
(O corpo dela bronzeado e molhado abaixo no reservatório) At night on them banks I'd lie awake
(À noite nos bancos eu ia deitar e ficar acordado) And pull her close just to feel each breath she'd take
(E a puxava para perto só para sentir sua respiração) Now those memories come back to haunt me
(Agora esses memórias voltam para me assombrar) They haunt me like a curse
(Elas me assombram como uma maldição) Is a dream a lie if it don't come true
(É um sonho, uma mentira se não se tornar realidade) Or is it something worse
(Ou é algo pior) That sends me down to The River
(Que me manda de volta para O Rio) Though I know The River is dry
(Embora eu saiba que O Rio está seco) That sends me down to The River tonight
(Isso me manda de volta para O Rio essa noite) Down to The River
(Para O Rio abaixo) My baby and I
(Minha querida e eu) Ooh, down to The River we ride
(Ooh, para O Rio abaixo nós passeamos)
sorriu para mim e foi como se todo o frio fosse expulso do meu corpo, proibido de voltar independente do vento que fizesse. Passamos o violão adiante, eu observava o mar escuro enquanto ouvia elogiar a gaita que haviam arranjado. Aparentemente, ela era do dono do único bar aberto. Um senhor supimpa.
não me bateria por caracterizar alguém como "supimpa", muito menos por ter sido a segunda vez que dizia supimpa mentalmente. Por isso eu gosto dela.
- Meu sono passou. - comentou. Olhei para ele, que se sentava ao meu lado. - E o seu?
- Deve ter fugido com o seu. - respondi brincalhona.
Eu sempre tive esses momentos involuntários, e na maioria das vezes me achava sem graça, mas também não me importava. Acho que não era para ser hilária, mas o sorriso que eu ganhava de volta (e, às vezes, a gargalhada) me diziam muito da pessoa com quem eu conversava. E na maioria das vezes, eu descobria quais eram as pessoas dignas de companhia assim.
gargalhou, jogando a cabeça levemente para trás. Ele e seu perfil de tirar o fôlego.
- Sorte deles, então. - ele sorriu para mim e se aproximou, acariciando meu rosto com a ponta do seu nariz até chegar nos meus lábios, onde relou seus lábios, causando arrepios por todo o meu corpo.
- . - ri baixinho, sem graça.
- O quê? - ele sorriu, todo fofo. - Não era eu que estava comendo alguém com os olhos em The River.
Esqueci a vergonha quando o surto que havia guardado se manifestou.
- QUANDO FOI QUE VOCÊ APRENDEU A TOCAR GAITA? E QUANDO FOI QUE VOCÊ APRENDEU A TOCÁ-LA TÃO BEM???
limitou-se a rir.
- , eu AMO gaitas, você sabe d... - e de repente, fez sentido.
- É, eu sei disso. - sorriu ladino .
Houve um minuto de silêncio no qual meu cérebro explodiu, reconstituiu-se e explodiu novamente. E continuou sorrindo.
Então ele se levantou, estendeu a mão para mim e disse com seu sorriso:
- Acho que é a minha vez de contar como foram esses anos para mim. Se você estiver pronta e quiser ouvir o meu lado da história, é claro.
E em meio àquela briga cerebral, tudo que eu consegui fazer foi assentir com um movimento breve da cabeça.
E me puxou para o mar.
Capítulo 21
Segui com uma sensação nervosa se espalhando pelo corpo. Não sabia se queria ouvir como haviam sido os últimos anos dele. Tentei entender meu próprio receio, sem sucesso. Eu sabia como haviam sido esses anos pra ele. Não sabia?
- E então, pronta para ouvir? - pareceu me estudar cuidadosamente.
- Bom... Não tem muito que eu não saiba, né? - sorri insegura e depositou um beijo em minha testa.
- Talvez tenha um bocado, sim, linda. - ele sorriu enquanto abaixava-se para pegar seu chinelo.
Imitei-o, tentando sumir com aquele nervosismo repentino.
Afinal, do que eu tinha tanto medo?
conduziu-me por uma caminhada tranquila à beira da praia por alguns minutos. Em minha opinião, só andar descalça na areia já fazia qualquer viagem valer à pena. Logo, o barulho das ondas rebentando e o sorriso sereno no rosto de acabaram por me acalmar. Foi como se ele soubesse o que fazer para me tranquilizar.
E foi aí que ele começou a falar, sem soltar de minha mão.
- Melhor começar do começo. - falou como para si mesmo e virou o rosto para mim. - Você era como a irmã e o irmão que eu nunca tive.
Aquilo me pegou de surpresa. Ele não era filho único!
- Mas, ...
- Na mesma pessoa, . Irmão e irmã, numa pessoa só. Logo, "melhor amiga" não parecia dizer tudo o que eu sentia por você, e essa foi a melhor definição que eu encontrei. Eu tenho uma irmã, é verdade. E nós somos amigos, e tudo o mais. Mas você era mais do que isso, e, naquela época, eu achei que essa era a definição certa. - ele deu de ombros.
- Bom... Talvez eu visse você assim também. Só nunca tinha parado para escolher uma definição. Você era o , . Somente tudo isso. - sorri, sincera.
assentiu, corando levemente.
A luz ali era fraca, mas era o suficiente para ver perfeitamente suas feições.
- E então os comentários começaram a ficar frequentes. Você não tem amigos além da ? , você não brinca com meninos? Ela é uma garota, blábláblá, etc, etc. E quando diziam que nós éramos namorados, eu queria morrer.
Eu ri, acenando com a cabeça em sinal de compreensão. Eu sabia como era isso, com a diferença de que depois da décima vez, eu passei apenas a rolar os olhos como resposta, enquanto ficava parecido com um pimentão, completamente confuso nas tentativas de explicar seus motivos.
Mas não hoje, hoje ele parecia tudo menos confuso.
- Você era minha melhor amiga, minha irmã e meu irmão. Fazíamos quase tudo juntos, e... Aquilo me confundia horrores. - ele assumiu com uma caretinha bem fofa. - Pelo menos no começo. Eu queria gritar que você era mais do que uma namoradinha, mais do que qualquer coisa. Mas assumir isso em voz alta seria assumir que, talvez... Eles estivessem certo. Só que aquilo não era certo: você não beija sua irmã, ou seu irmão. Muito menos uma pessoa que eu considerava ser ambos. Está me entendendo? - perguntou receoso.
- Perfeitamente. - respondi. - Essas coisas também me assustavam... Éramos tão novos! E já queriam estragar a nossa infância. - ri.
Ele sorriu, cheio de ternura.
Dessa vez eu devo ter corado.
- Então... Conforme crescíamos, começamos a entender melhor essas coisas... E todos aqueles filmes, todas aquelas histórias... Eu... Comecei a sentir aquelas coisas estranhas no estômago, alguns arrepios e me peguei te olhando abobado algumas vezes... E era sempre você e apenas você. E quando vi, estava te beijando. Quando te mandei fechar os olhos aquele dia, depois de tirar os fios de cabelo do seu rosto, eu esperava que aquelas coisas fossem passar, que o seu sorriso não me fizesse sorrir junto, que sua risada não fizesse meu peito inflar. Mas te ver despreocupada, de olhos fechados e tão linda... Só fez tudo aquilo aumentar. E aí, eu o fiz. E naquela hora nada pareceu mais certo. Até a razão me acertar — e todos aqueles receios juntos. Você podia me odiar! Podia brigar comigo, ou sentir nojo de mim, ou pior... Podia gostar de outro! - a voz dele aumentou um pouco nessa última constatação e isso me fez rir, porque ele realmente parecia preocupado, como se essas coisas tivessem acontecido ontem e não anos atrás. - E aí, bem... Eu me afastei de você, olhando cada detalhe do seu rosto para ver se entendia algo. Você continuou de olhos fechados e sua sobrancelha estava, hum, meio franzida. Foi o suficiente para me fazer correr dali. Eu fiquei tão... Desesperado, confuso, triste... Tudo ao mesmo tempo, uma confusão.
- Bom... E eu pensando que eu devia beijar mal. - assumi risonha.
me encarou incrédulo e riu.
- Espera... Sério?
- Sim. - assenti, sem vergonha alguma. - Pensei que tivesse feito algo errado, que você tivesse se arrependido, que eu beijasse mal, ou que minha boca fosse...
Ele me interrompeu com um abraço, afundando meu rosto em seu tórax.
- É sério. - continuei assim que ele me deixou respirar. - Depois disso, sempre que me perguntavam sobre beijo, eu dizia que beijava mal. Aí perguntavam o motivo de eu achar isso e eu dizia "Bem, o primeiro garoto que me beijou saiu correndo antes que eu pudesse abrir os olhos.", e todos riam...
- Você não beijou mal! Quer dizer, eu nem tinha parâmetros pra saber disso. Se você beijava mal, eu também. Afinal, fui eu quem beijou você. , eu tinha tanto medo da sua reação...
Eu dei um sorriso de compreensão para ele. Agora tudo estava ótimo. Na época, eu o teria socado por ficar fugindo de mim por conta disso, mas agora... Não havia motivos. Estava tudo ótimo.
- Se você tivesse me dito essas coisas naquela hora, eu teria te dado um soquinho no ombro, ou um tapa na sua testa e te puxado para deitar ao meu lado. E teríamos terminado nossa sessão de terapia silenciosa da semana.
- Talvez eu te beijasse de novo, eu morri de medo de sentir aquele impulso de novo...
- , você mesmo disse que eu era mais do que sua melhor amiga, eu era sua irmã/irmão. - ri da expressão, e nem esperou eu concluir o meu raciocínio.
- Sim! E irmãos não se beijam na boca! E eu ainda tive que inventar de usar a língua...
- Você não me forçou a nada, caramba! Eu podia ter mantido a boca fechada, sabe.
- Sim, mas eu te peguei de surpresa. Você abriu a boca no susto! - e ele imitou uma beijoca e fez uma cara assustada abrindo a boca exageradamente. - E aí eu fiz aquela besteira...
Foi demais para mim, ri até não aguentar a dor que crescia em um ponto da minha barriga.
- !! Eu não abri a boca de susto! - ri mais um pouco, enxugando algumas lágrimas. - Mas deixe eu terminar de falar, seu tonto! Nós éramos mais do que amigos pra eu te julgar por aquilo. Você sabe disso. Eu jamais diria algo que fosse te magoar, eu jamais me afastaria de você por uma besteira dessas. Quer dizer, você fez coisas muito piores depois e olha eu aqui. Se você tivesse me dito isso naquela hora, tudo teria sido muito diferente. - não havia amargura na minha voz e eu sorria sincera para ele. Leve, era como eu me sentia.
Ele pareceu pensar, sério.
- Talvez tenha sido por isso. - concluiu por fim. E olhou direto nos meus olhos, fazendo uma onde de calor e frio se chocarem pelo meu corpo enquanto aqueles olhos pareciam me puxar para ele. - No fundo, apesar de toda a confusão, eu sabia disso. Talvez meu medo tenha sido, na verdade, você aceitar tudo aquilo apenas para não me magoar. Talvez tivesse sido muito diferente mesmo... Talvez nem estivéssemos juntos aqui.
Nos encaramos por um longo tempo de mãos dadas. Eu deixei um suspiro escapar.
- Eu nunca pensei que fosse ficar feliz por tudo o que aconteceu depois daquele beijo... Mas eu já tinha percebido que talvez as coisas fossem mesmo diferentes agora se não tivéssemos passado tanto tempo longe um do outro.
sorriu.
- Eu também. Quer ouvir o resto da história? Não tem muita coisa, o mais importante foi isso. - ele deu de ombros.
- Apesar de saber que eu vou odiar as partes envolvendo outras garotas, - ri, revirando os olhos. - eu acho totalmente infiel à pequena dizer que o resto não importa. Me conte, , como foram seus anos fugindo de mim e como foi ser tratado tão mal pela pessoa que você mais gostava nesse mundinho?
- Humilde. - ele riu. - Mas essa humildade toda é minha culpa, então... Ok. Mas vamos nos sentar primeiro. Estou velho.
Fomos rindo até uma pedra que havia um pouco antes da maré. Ela era grande o suficiente para deitarmos, mas nos sentamos um do lado do outro, virados para o mar.
- Bom... Eu não consegui te encarar mais depois daquilo. Eu continuei aquela confusão ambulante por muito tempo... E mesmo você vindo atrás de mim... Meu coração parava na garganta só de te ver. Como eu ia falar com você daquele jeito? Não seria a mesma coisa. Eu havia estragado tudo, e a culpa só me consumia mais. Quando você me puxou para dentro do armário de limpeza, uma semana depois do dia do parque... Eu consegui dizer algo. Mas não tudo. Na verdade, não disse quase nada... Pedi desculpas, você disse que não tinha pelo que se desculpar e encarou seus pés tão triste, aquilo me sufocou mais ainda... E eu fugi de novo. Você estava daquele jeito por minha culpa e eu não conseguia fazer nada além de piorar tudo...
- Eu chorei aquele dia. Depois que você saiu do armário. Eu chorei pra valer, .
Ele me puxou para mais perto e me beijou com ternura.
- Desculpa. Acho que se eu me desculpar por essas coisas pro resto da vida ainda não vai ser o suficiente. - ele sorriu tortinho e eu neguei com a cabeça.
- Isso é passado. Enquanto você estiver aqui, não tem nada para ser perdoado.
Ele riu, afastando o rosto do meu sem tirar o braço em volta de meu corpo.
- E aí eu passava o tempo todo com gente que não gostava e não me conhecia. Tudo pra tentar esquecer você. Mas era impossível. E quando chegou o meu aniversário... Não deu mais. - ele sorriu. - Então, ao invés de te evitar, eu mudei a estratégia. Passei a tentar te ver de outra forma. Tentei engolir aqueles sentimentos e vontades. Mas, de novo, foi impossível. Então, bem, o episódio Cherry aconteceu. , - ele voltou a me olhar direto nos olhos. - você estava linda demais naquela festa. Seu vestido rodado cor laranja... A sapatilha vermelha, a maquiagem leve, quase imperceptível, mas que destacava seus olhos e seus lábios muito bem. Eu lembro como se fosse ontem. - a voz dele transbordava dor. - Você ria e parecia que o mundo parava. Eu senti tudo aquilo que vinha sentindo por você e um bocado mais. Mais! Eu ia explodir se não fizesse algo. Eu queria te beijar. E você me puxou pra dançar, porque tocava The Beatles na festa, e ninguém dançava The Beatles como nós dois.
- Você só dançava The Beatles. - lembrei com um sorriso.
- Não. Eu dizia que só dançava The Beatles. Eu dançaria qualquer coisa que você me pedisse pra dançar. - ele piscou para mim e deu a língua. - Enfim, eu nem dancei direito aquele dia. Tinha medo de me entregar e acabar te beijando... Você percebeu. E eu pedi pra ir ao banheiro. Eu saí. Fiquei um tempão jogando água fria no rosto, encarando-me no espelho. E decidi que era hora de te beijar.
- Mas... - essa me surpreendeu. - Eu fui atrás de você depois que cansei de esperar. Estava preocupada. E...
- Quando eu te vi me procurando perdi a coragem. A Cherry estava ali, meio bêbada, jogou-se nos meus braços e eu tive uma ideia brilhante! - ele riu, amargurado. - Iria beijar outra e com sorte seria a mesma coisa que havia sido com você. Assim conseguiria te tirar da cabeça e voltaríamos a ser o que éramos antes.
Fiquei em silêncio, meu coração não aguentando mais ouvir tudo o que passara. Ele havia sofrido aquele tempo todo e eu... Não ajudei em nada.
- Espera, então o nosso beijo foi bom pra você?
- Claro que foi! Até o momento da confusão. Mas com a Cherry... Foi um beijo horrível. - ele riu. - E quando eu abri os olhos, não era você. Você estava parada a poucos metros de mim, chocada, olhando direto nos meus olhos. E eu sorri! - ele se deu um tapa na testa. - Mas eu não sorri porque estava feliz de você ter visto, eu sorri porque era isso que você fazia comigo. Me fazia sorrir não importando a merda que estava acontecendo. Você saiu correndo e então eu acordei.
- E eu disse que éramos só amigos e estava tudo bem. - ri, me recordando. - Não estava nada bem. Acho que não devemos nunca mais mentir um pro outro, olha a merda que dá.
Rimos.
- Sim, sinceridade... Demorei pra aprender, mas acho que não cometo esse erro de novo. - ele piscou para mim. - O próximo estágio foi a bebida. - ele apoiou a cabeça no meu ombro. - E em vez de me ajudar, só ferrou mais as coisas.
Ele não precisou explicar, eu lembrava bem das chapadas dele. Talvez lembrasse mais do que ele, já que ele estava, bem, chapado.
- Mas, hum... - ele pareceu meio desconfortável. Bagunçou o cabelo com a mão e olhou para mim. - Nunca aconteceu nada, sabe?
Não entendi.
- Como assim, ?
Ele parecia corar lentamente.
- Nenhuma das vezes, ahm... Aconteceu.
- , não estou te entendendo! - eu ri.
- Bom, você sabe... Eu tentei te esquecer com outras garotas, e como cada vez você ficava mais linda, a dificuldade nisso aumentava também. E eu ia cada vez mais longe com essas outras garotas.
Entendi. Sentindo o rosto ficar mais quente.
- Ah...
- Mas nunca aconteceu nada!
Sorri torto.
- Nada?
- Não! Quero dizer, nunca fui até... O fim. Ainda mais depois da noite em que você entrou no quarto e... Eu estava com duas garotas. Eu nem sei de onde elas surgiram, e eu já estava só de cueca também não sei como, mas acho que tinha perdido uma aposta... E nem assim eu consegui te tirar da cabeça. Não conseguia. Não era você. Eram duas estranhas, provavelmente chatas, ainda mais perto de você.
Fiquei extremamente vermelha, podia sentir.
Resolvi descontrair dando um tapa no ombro dele.
- Essa é a cantada mais manjada do mundo, !!! - ri.
- Mas é a verdade! - ele riu junto.
Entramos numa guerra de cócegas até que segurou minhas mãos em seu peito, deitado na pedra, e me puxou para deitar junto dele.
- Mas você também, não é? Quer dizer... Você, hum, não... - ele se enrolou todo, voltando a enrubescer.
- , não acredito. Você ainda tem vergonha de pensar em mim assim?
- Não! Quer dizer, um pouco. Quer dizer... Não sei. - ele riu. - Só sei que agora não existe nada que me impeça de assumir essas coisas pra você, principalmente que eu te amo.
Houve um breve segundo entre o sorriso que ele abriu e o beijo que eu lhe dei. Ele nem esperou eu responder, quebrou o beijo e desabafou:
- FINALMENTE EU CONSEGUI DIZER SEM NINGUÉM ME INTERROMPER! - pareceu realmente feliz consigo mesmo, o que me fez rir.
- Eu sabia que você ia dizer algo importante toda vez que o te interrompia. Da última vez, eu até suspeitei do que seria. - sorri.
- É mesmo? - ele sorriu com aquele seu ar maroto que fazia meu estômago dar voltas. - E foi por isso que você começou a rir e caiu de bunda no chão do chuveiro?
Abri a boca, incrédula.
- Como você...
- Estava escrito na sua cara!
- Não estava, não!
- Estava sim! ME AMA. E EU AMO .
Ri dando soquinhos em seu tórax.
- Vai dizer que é mentira? - ele perguntou travesso. - Só... Me prometa que você nunca mais vai me deixar escapar. - ele pediu, suspirando em seguida.
- Só se você prometer que nunca mais vai ME deixar escapar. - sorri, acariciando seu rosto.
Me sentei, dando lhe as costas, e o esperei acomodar-se ao meu lado para dizer:
- Fica comigo esperando o sol nascer? Tem uma coisa que eu quero fazer.
- Tudo bem, eu estou completamente sem sono mesmo. - ele aceitou, sem sequer questionar meus motivos.
Foi como se estivéssemos de volta aos anos da nossa infância. Ficamos ali um bom tempo, aproveitando a companhia um do outro, conversando sobre assuntos aleatórios e usando um ao outro de apoio para a cabeça.
Quando o sono começou a nos incomodar, o horizonte já clareava. Tirei a câmera fotográfica do bolso da blusa de frio e mostrei a .
- Eu sempre tiro uma foto que diz tudo sobre a viagem. Você, , se importaria de estar nela?
Ele riu baixo, talvez um pouco encabulado, e aceitou com um aceno de cabeça. O fiz ficar de costas para o mar e sentei-me entre suas pernas.
Ele me abraçou e eu virei até encontrar seu ouvido.
Sussurrei as palavras ao mesmo tempo em que tirava a foto.
- Eu te amo mais.
Capítulo 22
virou o rosto para me olhar, aparentando não acreditar no que havia ouvido: a terceira vez que eu assumia o meu amor por ele em voz alta em menos de dez horas. E eu que pensei que seria pouco para dizer, já que antes eu havia dito e ele pareceu tão seguro sobre o que eu sentia por ele. Pensei que ele diria "De novo isso? Tá, já entendi, pode mudar o disco" — mas não —, fora tomado por uma euforia repentina, piscou algumas vezes e me beijou.
Eu quis rir da reação dele, entretanto, tudo o que consegui fazer foi retribuir o beijo com vontade.
Ele tirou a máquina fotográfica da minha mão e eu só ouvi o clique. Quando ele ameaçou se afastar, eu o segurei, encaixando uma mão em sua nuca.
Uma hora eu acabei cedendo, e ele se afastou. E foi logo dizendo:
- Acho que essa viagem merece duas fotos. - e, sorrindo, me entregou a máquina.
Sorri junto, essa viagem merecia muito mais que duas fotos. E eu as tinha. Mas eram essas duas que estariam no meu mural de fotos, constatei assim que as vi no visor. Estavam lindas. também viu, e beijou todo o meu rosto em seguida, fazendo-me rir.
- Vamos dormir agora? - pedi.
- Vamos dormir aqui?
Rimos.
- Eu aceitaria fácil se o dia não estivesse nascendo e não viesse ninguém para a praia hoje.
O caminho de volta para o hotel foi cansativo, porém, tranquilo. Logo estávamos de pijama e dentes escovados, prontos para dormir.
e pareciam nem respirar, provavelmente haviam demorado para dormir também — e do jeito que os dois dormiam, teríamos um bom tempo pra descansar antes de sermos acordados!
sentou-se na cama ao meu lado e sorriu.
- Vai mais pro lado. - ele pediu, baixinho.
- Por que você não foi pro outro lado? Eu tô aqui! - tive que controlar a risada.
- Estava muito longe. - ele e suas caretas! Senti vontade de apertá-lo e mordê-lo. - Vai, por favor.
Aproximei-me negando com um aceno de cabeça, e ele fez um bico. Aproveitei para beijá-lo.
pensou que eu estava brincando, mas deve ter se esquecido dessa probabilidade quando eu mordi seu lábio de leve e passei a língua no mesmo lugar em seguida.
Ele deixou-se levar por mim e enquanto eu o beijava, também o trazia para a cama.
- Você não vai dizer que me ama de novo, né? Porque quatro vezes seguidas, em três momentos diferentes, eu acho que morro. - ele fez uma careta de sofrimento.
Ri do desespero dele.
- É tão ruim assim me ouvir dizer que te amo? - brinquei.
- Muito pelo contrário! Meu coração não vai aguentar de tão bom que é.
- Eu te amo.
beijou-me com força, prendendo-me na cama com seu peso sobre mim.
- Você... Pare com isso. - ele pediu, afastando-se. - Não estou conseguindo controlar nada aqui.
Ele deitou e focou o olhar no teto, tentando controlar sua respiração.
Sorri, e me aproximei. Fiz um caminho de beijos do seu ombro até seu maxilar e apoiei minha cabeça ali.
- Boa noite, .
O vi sorrir e suspirar em seguida.
- Boa noite, minha garota estrela.
Ela abriu os olhos e se arrependeu. Estava claro demais. Estranhou a claridade absurda e quando seus olhos finalmente se acostumaram, percebeu que estava numa sala branca.
Paredes brancas, mesa branca, vaso branco, flor branca, tapete branco, luminária branca. Tudo branco.
distinguiu uma porta no meio de uma das paredes brancas, quase imperceptível. Mas logo haviam outras ao lado da primeira. Ela deu um passo na direção das portas e a primeira se abriu. Ouviu um choro baixo e desesperado. Olhando com atenção, reconheceu que via a si própria chorando no armário de faxina da escola. Essa imagem tinha cor, ao contrário da sala em que estava.
A porta se fechou com um estrondo e a do lado se abriu. Ela era novamente, chorando no seu quarto à noite, olhando o céu pela janela. A porta se fechou da mesma forma que a anterior e outra se abriu. E isso se seguiu até que todas as memórias dela chorando tivessem passado em cada uma daquelas portas.
E então ela percebeu.
Eram todas por culpa dele.
escancarou os olhos, sem se mover ou gritar — apesar de ouvir um grito dentro de sua cabeça. Percebeu que sua respiração estava acelerada e tentou se acalmar.
Ainda estava deitada no mesmo lugar que dormira, com o rosto na curva do pescoço de . Fechou os olhos, suspirando. Que tipo de pesadelo havia sido aquele? Tão absurdo, e, ao mesmo tempo, com fatos realmente reais. Ela devia estar enlouquecendo.
Sentou-se com cuidado para não acordar . Sua cabeça doía.
Sentiu a mão de segurar seu braço.
- Aonde você pensa que vai sem dar meu "Bom dia"? - a voz dele funcionou como um analgésico, ela virou-se para olhá-lo e acabou deitando como estava antes.
- Desculpa, eu tive um pesadelo. Quer dizer, um sonho estranho. Quer dizer... Acordei mal.
a olhou, acariciando seu rosto.
- Esquece isso. Seja lá o que foi, era só um sonho. Vem cá. - ele passou os braços pelo corpo de , puxando-a para mais perto e a abraçou.
- Se você continuar com esse cafuné, acho que vou dormir de novo...
- Pode deixar, minha senhora.
- Não me chame de minha senhora.
- Como minha senhora ordenar.
Ela riu fraco ao notar que estava a par dos seriados atuais, já sentindo o sono a embebedar. Pensou em dizer que os livros de Game of Thrones eram muito melhores que o seriado, mas já estava cansada demais para discutir qualquer coisa. Deu um beliscão quase que imperceptível na barriga dele e deixou que seu perfume a levasse de volta para um sonho mais tranquilo.
Acordaram com pulando em cima da cama deles.
- BOM DIA, PRINCESAS, HORA DE PRAIA! - cantarolou, um tanto alto demais.
- VAMOS COMER NA PADARIA! EU QUERO! - acompanhou o tom dela. Bem gay.
- EU TAMBÉM, AMOR! - bateu palmas, animada.
- AH, EU TE AMO TANTO!
- Por favor, parem, já estamos nos levantando... - sentou-se, coçando os olhos e levantou depois, com a cabeça enfiada em sua costas.
Ela tampava os ouvidos com as mãos e bloqueava a luminosidade escondendo o rosto nas costas dele.
- Nós nos rendemos, por favor, bandeira branca, paz, PARE DE PULAR, , CACETE!
- Esse não é meu sobrenome, .
Elas se entreolharam por um mísero segundo, e então gargalharam.
- BOM DIA, COISA LINDA! - abriu os braços.
- BOM DIA, COISA FOFA! - jogou-se no colo dela.
e entreolharam-se. deu de ombros.
- E aí, beleza? - perguntou.
- Suave. - respondeu.
pigarreou.
- Olha como são gays, . Não conseguem nem se abraçar.
- Pff. - balançou a cabeça negativamente.
Elas ficaram pentelhando os dois até chegarem na padaria. Sim, enquanto se arrumavam para descer e todo o caminho até a padaria. O tempo todo dizendo que eles eram afeminados por não se abraçarem.
- Isso é tensão contida, queridos. Medo de abraçar e ficar louco de paix... - não deixou terminar, puxou-a pelo braço e a beijou com força.
gargalhava ao fundo.
Em seguida ele a largou e abraçou — de forma bem máscula.
- Pronto. Satisfeita?
gargalhou, e logo todos os quatro gargalhavam juntos.
Entraram na padaria e fizeram seus pedidos.
Ficaram ali por volta de uma hora, na qual revelou que comparava bandas à comidas, dizendo que aqueles suspiros eram dignos de . E então foram para a praia.
- Hey, Joe! - cumprimentou de longe.
- Vocês!!! Estão a fim de andar de jet ski??
Eles nem se entreolharam para responder e mesmo assim, a resposta veio em uníssono.
- SIM!!!
- , SE SEU HOMEM ME MOLHAR MAIS UMA VEZ...!!
- O SEU QUE É LERDO DEMAIS PARA FUGIR, ORAS!
- , DEIXA EU DIRIGIR, VAI!
- , VOCÊ MAL CONSEGUE ANDAR DE BICICLETA SEM AS RODINHAS DE APOIO!
- PARA SUA INFORMAÇÃO, EU APRENDI ANO RETRASADO, OK?
- AH, ISSO RESOLVE TUDO! POR QUE NÃO DISSE ISSO AN...?
Eles levaram outra ducha de água do jet ski de e , e deixou assumir a direção.
- Destrua-os, meu amor.
- Eu vou. - ela respondeu com pura determinação no olhar.
Alguns minutos depois e já pedia misericórdia.
levantou os braços e falou:
- , SUA MULHER É O DEMÔNIO, FAÇA-A PARAR!
apenas riu maléficamente enquanto direcionava outro jato em e . Joe passou tentando acertá-los, mas desviou.
- EU NASCI PRA ISSO!!! - ela comemorou. - Mas já cansei de ver todo mundo perder pra gente. - ela fez um biquinho, virando para ver.
- Vamos para a ilha ali, então! - ele sugeriu.
- Ok, segure firme! - ela avisou e saiu acelerando como se houvesse uma multidão de zumbis atrás deles.
Era uma ilha realmente pequena, mas tão linda quanto as outras que haviam por perto.
- Quanto tempo será que a gente tem ainda? - perguntou ao descer do jet ski na beira da praia.
- Uns quinze minutos talvez. Acho que deve dar para ouvir o sinal de término daqui. - desceu também. - Melhor não tirarmos o salva-vidas, só para garantir que não vamos nos atrasar e pagar alguma multa. Essa coisa é cara. - ela apontou para o jet ski.
- Uhum. - concordou. - E você fica uma graça nesse colete laranja.
Ela riu, mas ficou levemente corada. jogou-se de costas da areia, bem onde o mar acabava na ilha.
- Isso é o paraíso na Terra, só pode. Apesar que eu tenho certeza que vai levar um mês para tirar toda a areia do meu corpo. Deve ter areia até mesmo no meu cérebro. - ela disse encarando seriamente enquanto ele sentava ao seu lado.
- Eu não consigo acreditar que estamos juntos. - ele declarou. - Minha mãe também não irá acreditar.
- Sua mãe? - questionou curiosa.
- Sim, minha mãe. Como você acha que eu consegui convencer meus pais a me deixarem vir nessa viagem com as notas que eu tenho?
fez uma caretinha.
- Muitas vermelhas?
- Só duas, mas dá para recuperar. O problema é que as outras não são grande coisa também. A não ser a de música, mas não conta pro boletim, né?
- Como você consegue estar tão tranquilo sobre isso, ?
- Meu problema não eram as matérias, meu problema era a falta que você estava fazendo em minha vida.
- Ok, isso é bem fofo, mas não entendo...
- , como eu poderia estudar se só de ver seu cabelo entre as estantes da biblioteca, eu já perdia completamente o rumo? E cada lembrança dilacerava meu corpo cruelmente, punindo-me pelas idiotices que eu havia feito? Eu só fui bem em música porque todas as músicas que eu toquei diziam algo sobre como eu estava — e eu as toquei com toda minha alma.
- E porque você é um ótimo músico, . Sem essa. - ela sorriu, criando coragem para dizer algo enquanto corava violentamente.
- É, mas 98% das músicas que eu sei, tem algo diretamente ligado a você. You are my muse, oh oh oh o-o-oh. - ele cantarolou e reconheceu Muse na hora. I Belong to You. Mon Coeur S'ouvre à ta Voix.
Ela tentou conter a confusão que seu corpo virou. Havia pouco que alguém não conseguisse só de cantar Muse tão bem para ela. E, merda, era extremamente afinado para cantar. Não era fácil alcançar os tons de Matthew Bellamy. Ou "Matt lindo", como ela costumava o chamar quando precisava ouvi-lo para conseguir se acalmar ou se animar, e etc.
- Você... Você tem que parar de fazer isso. Cantar é covardia. - sorriu acanhada.
Ele acariciou seu rosto.
- Nesse caso, então, ser você é covardia. Caramba, ! Nunca ninguém me fez tão bem quanto você, e as coisas que você me faz sentir...
Ela escondeu o rosto nas mãos.
- Para com isso, !
Ele afastou as mãos do rosto dela e a beijou.
- Eu te amo. Nunca esqueça disso. Eu amo cada detalhe seu, eu amo cada efeito que você tem em mim, e eu amo cada reação sua aos efeitos que eu tenho em você. Promete que nunca vai esquecer disso?
Ela concordou com um aceno de cabeça positivo.
- Eu... Eu acho que estou com um pouco de medo de voltar para a Bronx. Voltar para casa, voltar para a rotina... Essa semana está sendo tão surreal, eu acho que estou com medo de ser tudo mentira. Ou acabar assim que pisarmos na calçada da escola, acho que por isso tive um pesadelo hoje... Acho. - ela assumiu com certa dificuldade.
sorriu serenamente.
- Só me prometa que não vai esquecer o que eu disse, linda. De resto, pode deixar que eu vou cuidar com muito carinho. Você confia em mim, não confia? - ele perguntou, sustentando o sorriso. Ela acenou que sim com certa urgência. - Não tem com o que se preocupar, .
deu um selinho nela e levantou-se, puxando-a em seguida. Voltaram para o jet ski e foram para a praia.
- Nossa, já estávamos quase indo à polícia. Achamos que vocês tinham morrido! - Joe comemorou, ajudando-os com o jet ski na beira da praia.
- Ou fugido. - Hayden piscou idiotamente, suspirando.
deu um tapinha na cabeça dela, rindo.
- HEY, GENTE! REUNIÃO NO BAR! - gritou de longe e eles responderam com acenos de mão.
Quando segurou sua mão para irem ao bar, ele riu.
- O quê? , está rindo de quê?
- Imaginei a cara que a minha mãe irá fazer quando eu disser "Ah, é, mãe, eu estou namorando a . Acho que foi tudo bem." - uma lágrima escapou de seus olhos.
Ele estava chorando de rir.
- Ah, meu bom Pai! Sua mãe nunca irá me perdoar por ter sumido por todo esse tempo! - cobriu o rosto com as mãos, horrorizada. - Ela era a única que não enxia nossa cabeça com esse assunto de sermos namoradinhos! Ela não merecia o meu afastamento, ela deve me odiar!
Ela não entendeu, mas isso só fez rir ainda mais.
- Ela... Ela era a que mais acreditava na gente, ! Ela ralhou comigo todo esse tempo, mesmo sem saber o que eu tinha feito pra te afastar. Se ela não quisesse tanto que nós voltássemos a ser amigos, eu nem teria vindo nessa viagem, para começo de conversa. Ela que me mudou para a Bronx quando soube que você tinha mudado de escola! Ela era a que menos falava porque ela já sabia que uma hora nós íamos descobrir sozinhos, e ela não queria estragar nada!
levou um tempo para raciocinar.
- ... Agora me sinto desiludida, . ! - ela colocou a mão sob o queixo, pensativa. - Você não acha que a gente está junto por causa da lavagem cerebral que fizeram em nós quando éramos cotoquinhos, acha?
Ele fez um som engraçado com a boca, como se debochasse da pergunta dela.
- Por favor, . Eu sempre te amei. E te amava mais a cada dia, ficar todo esse tempo sem você... Eu não consigo, foi terrível. E voltar a conviver com você, e te abraçar, e...
- Pode ir parando, . Daqui a pouco não resta nada do meu pobre coração porque você já derreteu tudo. Pare de falar essas coisas, por enquanto.
Ele pareceu que iria reclamar, mas então notou a coloração das bochechas dela, e aí voltou a rir.
- Eu não podia estar melhor! - gritou e pulou para tampar a sua boca.
- Vai atrair olho gordo, ! - ela ralhou, mas ria mais que ele.
Digamos que a felicidade não era só dele.
- Não acredito nisso!
- Nem eu, mas não gosto de sair por aí exibindo minha vida... E tem uma galera muito maldosa nesse mundo. Vai que tem um louco na praia que tá com a vida toda ferrada?
Ele a beijou antes que ela falasse mais alguma abobrinha.
[n/a: Coloque play aqui, baby!]
- HEY, MOE! AUMENTA O SOM AÍ! - todos ouviram gritar.
Moe o fez, e no instante que eles chegaram no bar, a música ecoou em seus ouvidos. reconheceu All Time Low na hora, e antes que percebesse, um sorriso já se formara em seus lábios pelo significado que aquela música tinha naquele momento. Naquele passeio. Naquelas férias de meio de ano.
I have seen millions of faces,
ever-unchanging; content with redundancy,
I'm not the same way;
searching for change in directions that I want to go.
Eu vi milhões de rostos,
sempre-imutáveis; conteúdo com redundância,
Eu não sou do mesmo jeito;
procurando por mudança em direções que eu quero ir.
Logo, os que sabiam a letra, cantavam. E os que não sabiam, curtiam bem a música. a girava, quase dançando com ela. Abraçava-a, ria, beijava-a...
Take a breath, let it out slow.
Seasons change with the break of a lifetime,
Remind me again why we thought twice about it,
We've got ambition like you've got restraint, so
Respire fundo, solte o ar devagar,
As estações mudam com a quebra de uma vida inteira,
Lembre-me novamente por que pensamos duas vezes sobres isso,
Temos ambição como você tem repressão, então
Smile like you don't give a damn about the consequence!
Just say anything,
We say summer holds such wonderful things!
Sorria como você não desse a mínima para a conseqüência,
Apenas diga qualquer coisa,
Nós dizemos o verão guarda tantas coisas maravilhosas!
This must be more than just built up suspense,
In the wake of an accident.
Twist and turn in my sleep,
Wake me up when we get there;
Destination: success!
Run like hell - We make noise for the sake of escaping.
Run like hell - You only live once now take this to heart.
Tell my family and friends I'll be ok.
Isto deve ser mais que um suspense criado,
No acordar de um acidente.
Revirando em meus sonhos,
Acorde-me quando chegarmos lá;
Destino: sucesso!
Corra pra caramba - Fazemos barulho pela segurança da fuga.
Corra pra caramba - Você apenas vive uma vez agora leve isto pro coração.
Diga a minha família e amigos que estarei bem.
segurou em seus braços, e aproximou-se de seu ouvido. Cantou baixinho, junto com a música, a última parte:
- Smile like you don't give a damn about the consequence! Just say anything, - e então, a acompanhou, sorrindo. - We say summer holds such wonderful things.
Capítulo 23
- MAIS AGILIDADE AÍ, GALERA! OU PERDEREMOS A RESERVA DA DANCETERIA! - a voz autoritária de Joe ecoou pelo corredor do segundo andar do hotel.
- Mamãe-Joe ataca novamente. - fez uma careta.
- Eu ouvi isso, . - Joe passou dando um pedala em sua cabeça.
- Ei, nós nem nos atrasamos hoje! Estamos na fila para descer a escada. - ela reclamou, sentindo-se injustiçada.
- Bééhh, então desçam logo. Rápido! - Joe desfez a pose de durão e gargalhou.
deu um tapa leve em sua cabeça.
- A galera quer ir de salto, mas não aprendeu a andar ainda, é nisso que dá! - gritou, provocativa.
O congestionamento era realmente por causa dos saltos número 15 que algumas desmioladas usavam. estava apenas com um 10, muito mais ajuizada.
- Uma santa hora para os elevadores estarem em manutenção. Ao mesmo tempo. Os dois. - observou.
- Ah, empurra aí que vai todo mundo rolando e acabamos com isso logo! - Hayden surgiu, com seu cabelo cor de fogo mais brilhante que o normal.
- Isso é glitter, Hay? - estreitou os olhos, tentando ver melhor.
Hayden balançou a cabeça positivamente, com um sorriso enorme na boca. Mas, logo em seguida, ela fechou o sorriso em uma careta bem feia e apontou para frente.
olhou e entendeu rapidamente o que ela queria mostrar: a fila começara a andar e uma garota havia se esgueirado para falar com . deu de ombros, como se não se importasse — e realmente confiava nele. Mas seu estômago demonstrava essa confiança de uma maneira diferente, dando voltas de nervosismo enquanto esperava aquilo acabar.
Até que ela notou um sorriso entediado no rosto de , como se ele não conseguisse se livrar daquilo. "Oras, se vire!", ela pensou. Literalmente, era só ele se virar e vir até ela. decidiu que não moveria um dedo para ajudá-lo, ele devia saber o que fazer sozinho.
E aí a garota o abraçou de lado, meio — totalmente — desajeitada. O desconforto de foi tanto que era quase apalpável, e quis rir.
Por outro lado, ela também quis vomitar. Era ridículo, não aguentava ver uma coisa daquela, e ele nem estava retribuindo. Ela se censurou mentalmente, decidida a não ser possessiva e louca, apesar de seu corpo gritar por justiça.
Ela não era barraqueira. Seu histórico de brigas era quase inexistente — última havia sido lá pela 3ª série, quando prenderam junto com outras meninas no banheiro dos meninos numa brincadeira idiota. Ela bateu pé e reclamou, enfiaram-na junto no banheiro com as outras. os chamou de ridículos e avisou que se não saíssem da porta, iam todos pro chão. Eles riram, ela contou até três e com a ajuda de e outra garota, fez o strike mais lindo que aquela escola jamais havia visto. Todos pro chão, menos elas.
Enfim, o banheiro masculino fedia; a escadaria não — apesar de tanto perfume junto ser algo um tanto incômodo —, logo, ela não sairia empurrando ninguém. Ainda.
Finalmente se soltou e deu as costas para a garota, deixando algumas pessoas passarem para chegar até .
- Por que você me abandonou? - ele deu um suspiro angustiado, abraçando-a.
- Eu? O quê? - ela riu. - Estava conversando com a galera, você que sumiu!
- A fila andou e eu achei que vocês estivessem logo atrás... Por que você não me ajudou quando uma garota que eu nem sei quem é veio me encher a paciência? - ele reclamou, fazendo caretas.
- Ah, eu nem percebi... Sou o que agora? Sua mãe? Aprenda a se virar sozinho, ! - deu tapinhas no ombro dele e ele fez uma careta, contrariado.
Hayden gargalhou e no olhar dela havia aquela expressão de "Você é minha heroína!" que ela sempre fazia para .
- Vamos logo, vai.
Ela percebeu que havia ficado um pouco chateado, então sussurrou:
- Ei... É sério, você não pode ficar esperando que eu apareça pra te livrar de cada pessoa que aparecer. Principalmente as que tiverem segundas intenções. - ela fez um bico exagerado com a boca e piscou vezes demais, jogando o cabelo — que caía em cachos perfeitos graças a e muita paciência — para cima de .
Ele acabou se dando por vencido e sorriu.
- Eu sei. Mas ainda não aprendi a ser grosso com as pessoas. Desculpa. - ele deu um beijo no canto da boca dela e ela sorriu junto. - E por que eu nunca te vi passando por isso? Ninguém da nossa turma faz essas coisas com você. Ou faz?
Ela negou com a cabeça.
- Não. Eles sabem que não tem chance alguma. - ela riu e Hayden fez reverências, sem disfarçar que ouviu a conversa. - Alguns são meus amigos mesmo, outros são colegas, uns são amigos desses, e o resto prefere as garotas que não leem como passatempo. Eu acho que assusto esse tipo.
Era verdade. Suas notas eram bem faladas pela escola, mesmo ela própria nunca contando. Não gostava de todas as matérias, mas isso não barrava seu desempenho. Era uma reputação invejável que lhe garantia distância dos brutamontes sem cérebro da turma — e seu ingresso na faculdade que quisesse.
Seu sonho era Oxford, mas Cambridge às vezes era tão convidativa... Seu pai já havia a levado a ambas — sem pressão, é claro —, mas ela continuava com o mesmo pensamento. As duas eram incríveis! Só passando para se decidir, quando os representantes apresentaram tudo o que cada uma tinha a oferecer, ela ainda não estava certa quanto ao curso também. Seus pais pensavam em grandes carreiras como advocacia e medicina. Ela pensava em outras grandes carreiras, mas na área acadêmica. Foi interrompida desses pensamentos por Brian, o monitor da viagem, que estava no fim da escadaria.
- Ah, já estão aqui! Eu estava indo checar se as madames iam atrasar o passeio de novo. - Brian deu seu melhor sorriso galanteador, o que fez entortar o seu sorriso. Péssima hora pra decidir bancar o galanteador, Brian.
- Esse não é o seu trabalho, é, Brian? - falou azedo.
E sem esperar uma resposta, ele passou o braço em volta de e a puxou para a saída do Hotel.
- Quem é que tinha dito que não sabia ser grosso agora pouco? - Hay parou para respirar, já que não tinha mais ar de tanto rir.
acabou rindo também.
- Acho que estou aprendendo.
rolou os olhos, mas logo eles estavam presos nos detalhes do rosto de . As rugas que se formavam enquanto ele ria, os pontinhos quase invisíveis que decoravam suas maçãs do rosto... Ela sentiu não apenas seu coração, mas cada pedaço do seu peito, dizer "Eu te amo". Era uma sensação maravilhosa. sorriu bem na hora que ele se virou para olhá-la.
As risadas dele se acalmaram, como se o sorriso dela passasse tudo que ela sentia para ele, até que ele sorriu-lhe da mesma forma.
- Aê, casal. Vocês nem abriram a boca e eu já estou enjoada! Vamos logo para o ônibus, vai. - Hay puxou o grupo.
Grupo que era formado por eles: , Lu, Billie, Joe — que havia sido arrastado junto com eles para parar de bancar a babá da turma — e Steve.
- Mike está fazendo falta, hein, Hay querida? - deu tapinhas no ombro de Hayden e a notou mostrar a língua.
- Só um pouquinho. - Hay assumiu. - Mas ele sempre me liga à noite, da casa dos avôs no interior. - ela imitou um sotaque caipira tão perfeito que chegou a impressionar.
- Subindo, galera!
- Joe, dá um tempo! - Steve reclamou, rindo, e empurrou Joe para dentro do ônibus, entrando logo em seguida, mas não antes de se virar para o grupo e mostrar um básico rolar de olhos.
segurou a cintura de por trás e sussurrou em seu ouvido:
- Dessa vez você vai comigo.
riu e subiu no ônibus, pela primeira vez contente por estar ali com . Ele não soltou de sua cintura, conduzindo-a até as poltronas do lado aposto ao de Joe e Billie. Sentou-a na da janela, fazendo-a rir, e só então a soltou, sentando-se ao seu lado.
- Muito obrigada, senhor. - ela foi irônica.
Ele a olhou de cima a baixo, passando pelo seu sapato alto vermelho brilhante — devia ser glitter — como o de Dorothy, de O Mágico de Oz, e ele não duvidava nada de que o sapato fosse justamente inspirado nela, de salto alto. Em seguida foi para seu vestido preto, de algum tecido que também brilhava, mas era muito mais discreto — e sem glitter — e enfim chegou até a fita vermelha, igual ao sapato, que prendia seus cabelos ondulados como uma tiara. Ela estava deslumbrante, e, aos seus olhos, de tirar o fôlego. Ele teve que se concentrar em respirar.
- Eu quero te beijar. - ele falou quase tão baixo que nem ela pôde ouvir.
- Você está pedindo permissão? - a ideia pareceu diverti-la.
- Talvez. - assumiu.
- Ande logo com isso, . - ela imitou seu tom de voz impaciente, segurando o riso.
- Okie dokie. - e sem mais um único piscar de olhos, ele a beijou. [n/a: "Okie dokie" é uma expressão para "ok" que eu particularmente acho genial, e se eu não disse isso aqui ainda: usem! Tá no meu top 10 de "melhores expressões do mundo", e recomendo! Hahaha Sério, um mundo mais lindo aquele onde mais pessoas dizem "Okie dokie"! Calei. Cortei a narrativa legal agora.]
Ela queria rir, mas conforme ele a beijava, essa vontade foi diminuindo... Até sumir por completo.
- AÊ CASAL!! Isso aqui é um lugar de respeito!
Suas cabeças foram forçosamente afastadas por Joe, que havia mudado para a poltrona atrás deles.
- Depois não quer ser chamado de babá. - Hay revirou os olhos, tando um tapa na cabeça de Joe do assento atrás do dele.
e sentaram-se nas poltranas a frente de e . Steve acomodou-se ao lado de Hayden e mais pessoas começaram a entrar no ônibus.
deu repetidos selinhos em , até que ela lembrou de rir.
Steve começou a fazer algumas gracinhas e logo toda a turma acompanhava. O ônibus se pôs em movimento e a cantoria continuou. puxou de volta ao seu assento — ela estava quase no de Hay... Tentem imaginar como. Ela veio rindo, vermelha, e ele a abraçou.
- O que foi, ? - acalmou sua respiração, sentindo algo diferente naquele abraço.
- Não sei. Senti necessidade de te abraçar. - ele respondeu baixinho, sem soltá-la.
Ela riu, sentindo o corpo leve demais. Feliz demais.
Havia essa lei da vida que ela não gostava de acreditar, mas que sempre se mostrava verídico: a Lei da Compensação Universal. Nada mais nada menos que "Se tudo está bem, algo proporcionalmente ruim está vindo" e vice-versa.
Um arrepio percorreu sua espinha e ela afundou o rosto na curva do pescoço de .
- ? - ela o chamou, com a voz abafada.
- Sim? - ele respondeu, acariciando a parte descoberta de suas costas.
- Promete que vai dançar comigo a noite toda? - ela mal terminou de perguntar e já ouviu um muxoxo de infelicidade da parte dele. - Por favor?
- Ok. Eu prometo... Mas não se acostume. - ele se afastou e segurou o rosto dela em suas mãos. - Promete?
riu.
- Isso eu não posso garantir.
Desta vez, do mesmo modo que ele sentira vontade de abraçá-la, ele sentiu de beijá-la. E no mesmo impulso de antes, o fez. Aquilo voltou a sensação de algo diferente no ar, a mesma do abraço. Ambos afastaram aquele sentimento, mas sem se soltarem.
Talvez com medo de que tudo desmoronasse se eles o fizessem.
- Eu te amo, . - ele sussurrou, com sua testa apoiada na dela.
- Também te amo, . - ela respondeu fechando os olhos.
E ele a beijou, uma última vez.
O ônibus parou e Steve fez-se ouvir com seu tom discreto de gritar:
- MAS JÁ? DAVA PARA VIR ANDANDO!
- A distância passa cem metros do perímetro que o ônibus é descartado, senhor Melligh. - Brian avisou, parecendo entediado. - A balada acaba três da manhã e a partir da meia noite, o ônibus fará viagens de meia em meia hora para o hotel. Caso queiram voltar mais cedo, fiquem atentos ao horário. E não voltem a pé.
Houve um breve murmúrio de concordância, e Brian desceu para liberar a entrada na casa noturna. Quando ele voltou, já estava todos do lado de fora do ônibus. Ele fez um sinal para que todos fossem para as portas e comemorou, levantando os braços de enquanto gritava "Dançar!".
Ele riu da animação dela, sem conseguir evitar ser contagiado com aquilo. Logo entraram na danceteria, e tocava no momento Mika.
O que significa que eles foram direto para a pista de dança. O andar térreo era apenas um corredor que circulava a casa, com um espaço circular no meio. Esse espaço dava visão da pista de dança, que ficava no andar de baixo. Duas escadas desciam em caracol para a pista, o que deixava claro que o lugar não permitia que gente bêbada fosse embora, porque subir uma escada daquelas bêbado... Uma missão impossível de verdade.
- Tooodo mundo remexendo! - agitava a turma, e ninguém ousava contrariá-la.
assistiu sua garota sorrir, agitando o vestido conforme movimentava o corpo. Fazia danças engraçadas, o melhor que ela sabia fazer: se divertir. E divertir todos à sua volta.
Seu coração bateu mais forte. Amava aquilo nela, amava o jeito dela. Mas isso não era novidade. E ele entrou na dança como sempre fazia, sendo quase tão hilário quanto ela. gargalhou e encaixou suas danças, numa sincronia perfeita, como costumavam fazer sempre. Não demorou muito para estarem em um círculo de pessoas, cada colega da turma batendo palmas e dançando enquanto assistia ao casal e suas gracinhas. Então eles aproveitaram o espaço e: Tango!
Alguém jogou uma rosa vermelha de plástico para , ela colocou na boca de e eles começaram.
- Você deve estar um tanto enferrujado, baby. - ela o desafiou com o olhar, duvidando que ele a acompanharia na dança.
- Venha e assista, baby. - ele segurou sua mão e a puxou, com a antiga destreza de quem sabia muito bem como brincar profissionalmente.
Seus pais costumavam ir a concertos de dança, às vezes juntos, às vezes separados — e algumas vezes eles iam juntos, ainda crianças. Tango não era uma dança inocente, mas quando eles imitavam os dançarinos para os pais, não havia como eles não acharem uma graça. Qualquer coisa que crianças faziam, com toda a sua inocência, era uma graça.
- Então me mostre, baby. - piscou, e sentiu que talvez tango não fosse a melhor opção para o momento.
Ele acabaria beijando-a, e se cedesse, seria irreversível: não a soltaria tão cedo.
O dj, muito atento à pista, trocou a música para um tango clássico. Aquele que vem à sua cabeça toda vez que vê ou ouve a palavra tango. Isso, esse mesmo!
conduziu-a pela roda e começou a seu show. A rodou pela pista, soltando sua mão por fim, e vendo-a parar há alguns metros, perfeitamente esguia, de lado, com o rosto virado para ele, seus olhos faiscaram. E eles fizeram seu show, ao som das palmas dos colegas e amigos.
Sua conexão era absurda, e ainda se divertiam com aquilo. Ela gargalhava de vê-lo dançar daquele modo — que não via há anos. tinha muito mais jeito agora, além de muito mais corpo do que tinha anos atrás. E então ele a abraçava e voltavam a dançar juntos.
Acabaram junto com a música, finalizando com a clássica jogada de corpo em que ela quase encostava no chão enquanto ele a segurava. Seu peito subia e descia ritmadamente, um cena maravilhosa de se ver de tão perto, observou.
Ele a ergueu sem soltar de sua cintura, e envolveu seus lábios com os seus. A casa explodiu em aplausos e o dj voltou a tocar a playlist anterior.
não o impediu, entregando-se completamente. Ele quis sair dali, ir para qualquer lugar, só com ela, porém, quando os outros começaram a dançar, ocupando o espaço antes vazio da pista, alguém gritou.
Todos pararam, confusos, e uma loira aguada surgiu no meio das pessoas que cercavam a pista, entrando em um espaço ainda vazio, de frente para e .
estranhou a forma como suas mãos seguraram os braços de sua garota: como se ela fosse escapar a qualquer momento.
sentiu o coração trocar de lugar com o estômago.
- AAAAAAHAHAHAHA! - a loira repetiu o grito, que estava longe de ser uma risada. Os dois sentiram calafrios. - Que bela cena, docinho! Que perfeita...
A ruiva perdeu o chão, cambaleando.
Ok. Bêbada. Ou coisa pior.
reconheceu a garota, tentando lembrar-se de onde a vira...
- Tango! TANGO! O que nem dançar dança, dançando tango! HAHAHAHAAHA! - ela mudou a expressão, encarando friamente. - Tem algo que você não faça com ele, esquisita?
sentiu o corpo de amolecer em suas mãos. Segurou-a mais forte.
- Jenny, você está bêbada. Pare com isso. - ele pediu com cuidado.
- OH, GRACINHA! Não precisa ficar com medo, eu não vou estragar sua noite! Eu vou salvá-la! Vou salvá-lo dessa bruxa que lhe fez tão mal ao ponto de você me usar para esquecê-la! - ela se aproximou, tropeçando. foi para trás, trazendo consigo. - Sabe, , eu não mereço isso! Tudo bem você me usar, tudo bem você jamais me amar como a amou... Mas ficar com ela depois de tudo o que eu fiz para curar seus ferimentos! FERIMENTOS QUE ELA CAUSOU! , você não percebe?? Ela irá fazer tudo de novo, ela irá te desapontar! EU SOU O MELHOR PARA VOCÊ!!!
tremia em suas mãos, ele não sabia o que ela queria fazer, mas imaginou que estava pensando em como atacar primeiro.
Ela se lembrara de onde conhecia a loira. Ela lembrou de todas as vezes que os viu junto, todas. Ela se lembrou de seu rosto na porta do quarto do hotel quando ela apareceu do lado de um sem camisa, e ele dispensou suas amigas e ela.
Então Jenny estava finalmente se vingando. E ela estava pronta para “atacar”.
- Jenny, pare com isso! Você está distorcendo tudo, você bebeu demais e não sabe o que está fazendo. Pare com isso, depois conversamos. Você está mal...
- É CLARO QUE EU ESTOU MAL! , eu estou grávida! GRÁVIDA! DE VOCÊ! E TENHO QUE FICAR TE VENDO COM ESSA ESQUISITINHA!
Tudo aconteceu muito rápido. Jenny se aproximou possessa e escapou de seus dedos, já que havia afrouxado o aperto ao sentir um choque percorrer seu corpo, mas ela não avançou sobre Jenny como ele tinha certeza que faria. Ela se afastou, os olhos arregalados, a expressão muda de pânico.
E então ele soube. Era o fim.
a segurou, dizendo alguma coisa. A música estava alta, mas parecia que ninguém a ouvia. Ninguém respirava.
forçou sua voz, que não queria sair.
- O... O quê?? Jenny, que absurdo é esse? Eu nunca, nós nunca...
- E COMO VOCÊ PODE LEMBRAR, DOCINHO? Sempre tão bêbado, fumado, e sei lá mais o quê! Sempre sob os meus cuidados! Eu pensei que você fosse lembrar pelo menos disso, ! Mas já que não lembra, parabéns! Você não é virgem! - Jenny riu ácida, abraçando-o. Mudou seu tom de voz automaticamente. - Eu te amo tanto, te amo...
afastou-a, incrédulo.
- Você está mentindo!! Nós nunca fizemos isso! Pare, Jenny!
Ela riu de uma forma um tanto demente.
- Tudo bem, docinho. Pode processar isso melhor, eu vou voltar para o hotel, estou um tanto enjoada... - ela riu, como se tivesse algo de engraçado em estar enjoada. - Mas acorde logo, eu sou a mulher certa para você. E eu tenho um filho seu na barriga.
As pessoas se afastaram para Jenny sair, e aos poucos tentaram disfarçar a tensão do lugar dançando. estava imóvel. Seu rosto virou aos poucos, até encontrar o de .
Ela estava imóvel, ainda sendo segurada por . Ele foi até ela, sem romper o olhar. Ela precisava acreditar, precisava não se abalar...
Justo agora! Ele não podia acreditar.
olhou para os lados, sem saber o que fazer.
parecia pronto para socorrê-lo caso desmaiasse ou apanhasse de . Notou que todos os amigos dela estavam logo atrás, prontos para bater nele ao mínimo sinal dela.
Ele parou em frente a ela e estendeu a mão para acariciar seu rosto. Ela se afastou, evitando o contato com ele.
- Eu prometi que ia dançar com você a noite toda...
- Não seria sua primeira promessa quebrada. - ela respondeu seca.
conseguiu parecer mais desesperado do que já estava.
- , por favor... É mentira, eu nunca... Eu te amo, eu jamais...
Muito passou por sua cabeça. Coisas demais, que pareciam se chocar umas com as outras e se desmontar em sua língua, incapazes de serem proferidas.
- Eu não quero conversar com você, . - sua voz saiu mais dolorida do que o pretendido, a coragem faltando até na hora de dizer seu nome. , falasse ! Ela estava brava, não estava? Então deveria ser rude com ele e não demonstrar a pilha de cacos que estava naquele momento. E como se já não fosse o suficiente, ela ainda se ouviu falar: - Não agora.
Ele hesitou, percebendo sem dificuldade alguma que ela não estava brava com ele. Não ainda, pelo menos. A ferida ainda estava muito quente para isso, talvez mais tarde a raiva viesse, mas não ainda. E talvez mais tarde fosse tarde demais.
- , por favor, me ouve. Eu não menti para você, eu nunca...
- E como você pode ter certeza se estava bebendo tanto? Quantas vezes você acordou numa cama sem lembrar de como havia chegado ali, ?
Ela ia continuar, mas caso continuasse, iria desabar.
estava há um passo de chorar, qualquer deslize a levaria para esse erro.
Hayden finalmente apareceu, puxando-a para trás e colocando-se frente a frente com , parecendo adivinhar o último instante em que conseguiria evitar aquele desastre.
- Hey, ! Eu comecei a simpatizar com você esses dias, vê se não estraga isso de vez e se manda. Okay? - Hay sorria, mas havia algo de muito assassino em seu sorriso. - Anda, meia volta! Para bem longe daqui. Você já estragou as coisas demais para uma noite.
Ele, apesar de entender o que ela dizia, ficou furioso. Não podia deixar as coisas daquele jeito, ele tinha o direito de falar com . Era o melhor, não era?
- Hayden, você não...
E então Hay o empurrou, até que encontrou uma parede. Ele viu labaredas de fogo em seus olhos, da cor dos cabelos dela, e sua careta de dor quando ela o fez bater na parede não afetou em nada sua postura.
- Eu não dou a mínima para como você vai superar essa merda, mas você não vai fazer isso às custas dela. Se vira, ! Se é verdade ou não que você fodeu a vadia da Jenny, eu tô pouco me lixando! Mas a minha amiga precisa de um tempo para se entender, um tempo sem você. Vê se se toca, e não estraga mais ainda a noite dela. Falou?
engoliu em seco, numa mistura de emoções. O nó em sua garganta havia triplicado. O que ele podia fazer?
- D... Diz pra ela que...
- Eu não vou dizer nada!! - Hayden se exaltou um pouco. - Não agora, não hoje! Não por você! - e com um último suspiro mortal, ela repetiu: - Se manda.
Com um último olhar de dor para sua , ele foi.
Capítulo 24
O minuto seguinte a saída de foi uma confusão. Respirei demais, vi minha visão embaçar e senti meus sentidos se distorcerem.
Tudo errado, tudo.
Não sei como, mas estava no banheiro feminino. No hall do banheiro feminino, onde havia sofás, uma mesinha de centro e um espelho enorme. Eu estava acabada. Cada traço do meu rosto externava a confusão que eu estava por dentro. Meus muros quebrando, meu coração em pedaços. Eu nunca fora muito boa em disfarçar meus sentimentos, entregava tudo no olhar... Porém, desta vez, o olhar era pouco para mostrar tudo o que eu sentia.
Tinha noção de que Hayden e falavam comigo, mas não conseguia ouvi-las. Tentava focar o olhar nelas, não funcionava. Só conseguia ver minha imagem no espelho. Eu sabia o que tinha de fazer para aquilo passar, mas não queria. Não queria ter que me entregar àquilo.
Ela se pegou imaginando sua noite — como teria sido sem a interrupção de Jenny. Não tinha dúvidas de que seria incrível, estava sendo definitivamente a melhor parte de toda a viagem, quer ficassem na danceteria, quer saíssem para qualquer lugar, como ela tanto desejara durante a dança. Não podia ser verdade, não agora que ela estava tão irreversivelmente apaixonada. De novo, mais do que nunca. Ela viu tudo sumir, seus planos, sonhos, os últimos dias. Voltou para a noite anterior ao passeio, quando estava vazia, enchendo o vazio de raiva e descontando em , que estava tão animada com a viagem.
Lembrou-se de como era naqueles dias, e, finalmente, sentiu lágrimas quentes molharem seu rosto. Não queria voltar à velha , não queria ter que se esconder atrás de toda aquela indiferença de novo. Não queria se sentir vazia. Na verdade, duvidava de que sequer conseguisse fazer isso mesmo que quisesse.
Como ele podia fazer algo do tipo com ela depois de tudo...
Seus sentidos voltaram conforme suas lágrimas iam embora. e Hayden estavam em pânico, tentavam acalmá-la com palavras desconexas de consolo. a abraçou.
- Eu vou molhar o seu vestido... - reclamou, tentando afastá-la.
- Cala a boca, retardada! Nossa amizade passou dessa fase já tem tempo. - parecia brigar, mas reconheceu o tom maternal na voz da amiga.
Apoiou a testa no ombro de e deixou um grito escapar de sua boca. Não era alto, tampouco escandaloso, mas era grave. A voz nem parecia sua. Sentiu Hayden abraçá-la também e ficou naquele casulo de conforto até suas lágrimas secarem, quase dez minutos depois. Afastou-se de e respirou fundo.
- Eu quero voltar pro hotel.
fez um sorriso cúmplice, mas Hay interveio.
- NEM FERRANDO! , você é minha esta noite!
Ela olhou assustada para Hay.
- Mas, Hay, eu não estou com pique algum... Eu só quero deitar e sofrer em paz.
Hayden parecia que ia bater nela.
- Faça isso quando voltarmos para casa, aqui você vai curtir, e com a gente!
- Hay...
- Nem vem, ! Nem que eu tenha que te dar álcool, você vai iluminar a pista de dança com esse seu corpinho hoje até a balada fechar! - Hay ralhou e soube ver que seria inútil resistir. Resolveu então trocar aquilo por um favor.
- Okay, mas só se você trocar de quarto comigo.
Hayden tentou negociar aquele favor, alegando que não responderia pelos seus atos se visse o , mas foi em vão.
- Devíamos ter ficado juntas desde o começo. - ela reclamou e e discordaram mentalmente.
Havia sido ótima ficar no mesmo quarto que e até aquele momento. Ela sentiu que ia chorar de novo e pôs-se de pé.
- Bem, se querem mesmo que eu fique, acho bom arrumarem essa minha cara! A não ser que queiram assustar nossos colegas andando com um zumbi.
- Você tá mais pra Mortiça. - brincou.
- Eu gosto da Mortiça! - bateu palmas, tentando convencer as amigas e a si mesma que podia fazer aquilo.
Elas deram um trato em sua aparência e Hayden fez desenhos com glitter em seu rosto. Nada infantil, mas sim, bem profissional. Ela contou que havia feito aulas de maquiagem criativa, era possível notar pela sombra nos olhos dela — amou. Era disso que ela precisava, por enquanto. Distração. Não duraria para sempre, mas ela podia aproveitar enquanto conseguisse.
Quando saíram do banheiro, a pista realmente parecia a de uma balada. Luzes das mais diversas cores circulavam o lugar e todos pareciam ter se esquecido do babado que haviam presenciado mais cedo. Joe estava por perto e foi correndo ao encontro de . Steve veio atrás.
Ela notou os olhos de procurarem alguém e, mesmo sem a amiga dizer, sabia que havia ido atrás de . Suspirou.
- Hey, Joe, eu estou bem. - ela tentou, mas sua voz soou falsa demais.
Joe a abraçou mais forte. E quantas vezes ele não havia feito aquilo sem nem saber que o motivo era . Agora ele sabia.
- Porra, Joe, libera a aí! Eu também quero. - Steve puxou Joe para longe e a abraçou.
Joe olhou bravo, mas deixou-se contagiar pela risada de .
- Eu sinto vontade de me casar com você e garantir sua felicidade para o resto da vida. - Joe assumiu, fazendo uma caretinha. - Você não merece todo esse sofrimento, .
- Todos nós estamos assim, Joe. - suspirou.
- ENTÃO FEITO! - Hayden deu um "self-five", como se houvesse descoberto a fórmula para a vida eterna. - Seremos todos maridos da esta noite!
- e seus quatro maridos! - Steve aprovou, soltando-a.
- Ai de mim. - choramingou, levando tapinhas dos seus "maridos".
- Vamos dançar, esposa! - Hay a puxou para a pista, dançando perfeitamente a música de Grease que tocava: You're The One That I Want. Foi só começar a dançar que o mundo a sua volta sumiu. Não havia Jenny, não havia , só havia Hayden, e ela era seu John Travolta. Seu Danny Sanders.
Devia estar louca, porque até viu o cabelo dele no lugar do cabelo cor de fogo de Hayden.
Não muito longe dali, assistia. Ele mal entrara no recinto e seus olhos já a achavam, forçando-o a mantê-los ali, o mais perto que podia. Havia desenhos dos lados do seu rosto que saiam de seus olhos. Toda vez que uma luz passava pelo rosto dela, os desenhos brilhavam. Ela não podia ser de verdade e aqueles brilhos em seu rosto, que iam do seu olho até a metade da sua bochecha, só reforçavam a teoria de que ele estava alucinando. Permitiu-se analisar cada detalhe do corpo dela, procurando um defeito que provasse a sua alucinação. estava ao seu lado, quieto. Não dissera nada desde que o achara, devia estar ali para assegurar que o amigo não se mataria. começou pelos pés. O sapato de Dorothy, perfeitamente como ele se lembrava, apesar de muitas pessoas atrapalharem sua visão: nenhum defeito ali. Então passou para a perna dela, vendo cada centímetro de pele exposta até chegar à barra do vestido — que não era colado, mas também não era largo — marcando sua coxa esnquanto ela andava.
Sentiu o corpo esquentar e o ambiente ficar abafado. Ela estava indo dançar: sem ele. Enquanto ele estava ali, despedaçado... sem conseguir tirar os olhos dela. Considerou a possibilidade de ser masoquista para se obrigar a ver aquilo.
Logo um espaço se abriu para que ela dançasse, como sempre acontecia. Hay a acompanhava, as duas imitando Danny e Sandy, de Grease. Ele reconheceu facilmente os passos, era outra coisa que faziam quando pequenos. Gravar as coreografias dos filmes. Hay era boa, mas nada perto de . era perfeita, cada passo que ela dava era como se Olivia Newton-John estivesse ali ao invés dela.
Ele voltou à análise de onde havia parado, desesperado por acreditar que aquilo era fruto da sua imaginação. Ela estava dançando You're The One That I Want e ele não era seu Danny Sanders. Viu seu quadril rebolar e arrependeu-se de fazê-lo. Ela era. Mais ninguém tinha um quadril daqueles e que rebolasse daquele jeito. Tão puro, tão inocente, e ao mesmo tempo tão atrativo.
Ele começou a chorar baixinho.
Não queria voltar à vida que tivera nos últimos anos. Não queria ter que abrir mão do que finalmente conquistara esta semana. Ele não podia ser idiota o suficiente para ter transado com alguém e não lembrar. Jenny vivia se insinuando para ele, mas ele nunca caía. Sempre a fazia ir embora brava, ou ia embora da festa do jeito que estivesse. Perdera a conta de quantas vezes a chamara de quando estava entorpecido, imaginando que era sua garota ao invés de Jenny. Mas não, nunca estivera tão entorpecido para pensar que era mesmo a . Ele só queria que fosse.
Sentiu a mão de em seu ombro e afundou o rosto nas mãos para chorar mais.
- Cara, melhor ir para o hotel. - tomava cuidado com as palavras, receoso.
negou.
- Pode ir pra , . Eu vou ficar bem, só preciso ficar sozinho.
Ele se levantou do banco em que estava na beirada do bar e foi para uma das escadas da danceteria. Subiu sem achar o formato em caracol tão engraçado quanto achara na chegada, com o cuidado de não deixar que vissem seus olhos vermelhos. Não que ele ligasse de o verem chorando, apenas não queria ter que falar com qualquer uma daquelas pessoas. O andar do térreo era mais escuro, com exceção da saída. Ele escolheu um canto do lado oposto e sentou ali, esparramando as pernas pelo chão.
E chorou em paz.
Ela estava levando tudo aquilo muito bem, até que começou a tocar The Beatles. Steve e Joe a rodavam, cantando junto com a música. Ela sentiu seus joelhos cederem e caiu nos braços de Steve. Ou Joe. Ou Hay, quem sabe?
"The Beatles não", ela implorou. "Isso já é demais."
Ele não sentia vontade de se matar, até que The Beatles começou a tocar. A música era alta demais para não ouvir. tampou os ouvidos, mas ela continuou ali, na sua cabeça. Então ele se arrastou até o corrimão, de onde se via a pista toda abaixo. Seus olhos a acharam rápido e ele culpou a fita vermelha em seu cabelo.
Estavam puxando-a para dançar.
sorriu, aliviado por não ser o único afetado pela música. Se havia algo que eles dançavam o tempo todo na infância, esse algo era The Beatles. E os passos dessa dança foram um dos poucos que eles mantiveram durante os anos. Ele começou a se achar desajeitado demais e sentia vergonha de dançar com ela, mas The Beatles era The Beatles. Vê-la dançando sem ele não faria bem a sua sanidade.
E então a viu se render e fazer seus belíssimos passos para I Wanna Hold Your Hand. Ficou automaticamente bravo, mas não durou muito. dançando The Beatles era... Ele tinha essa teoria: se os próprios Beatles a vissem dançar suas músicas, todos eles a pediriam em casamento. Ele se escorou no corrimão e ficou ali, vendo-a dançar e se divertir. Sem ele.
Começou a imaginar como seria a vida dela se eles nunca tivessem se conhecido. Começou a excluir-se das memórias dela e a imaginou muito mais feliz, muito mais independente, muito mais . Será que ela não conheceria a tristeza que já conhecia se não existisse? Fechou os olhos com demasiada força, tentando esquecer aquilo. Ela era tão feliz com ele, de um jeito que ninguém naquela pista ou no mundo a faria. Apenas ele.
Pensou em ligar para sua mãe, mas ficou com medo do que ouviria ao dizer que uma garota se dizia grávida dele. Não precisava de mais ninguém o julgando, não precisava de mais ninguém duvidando dele. Ele estava certo de que Jenny estava louca, querendo estragar sua felicidade, talvez para vingar-se das vezes que ele a chamara de em sua presença. Ele não se importava, era Jenny quem não o largava por mais que ele dissesse que não queria nada com ela.
E The Beatles continuou a tocar por um bom tempo.
- EU ESTOU MORTA! - levantou os braços em rendição.
- MEUS PÉS ESTÃO MORTOS! - apontou para o salto que usava, quase chorando.
- DANCEM, DANCEM, DANCEM! - Hay gritava correndo em círculos.
apontou para Hay.
- Quem deu drogas pra ela?
Todo negaram, e Hay deu uma falsa chave de braço em , rindo.
Até parecia que estava tudo bem, ela se pegou pensando. Devia participar do teatro da escola, tinha um potencial absurdo para se esconder atrás de máscaras.
Algo conhecido começou a tocar, não era mais The Beatles... espremeu os olhos, tentando concentrar-se melhor na música... E então os arregalou.
. Não, não era possível. Não ali, numa balada!! Ok, era uma música dançante, contagiante, maravilhosa... "MAS NÃO O TIPO DE MÚSICA QUE TOCA NUMA BALADA! NÃO MEREÇO!"
Talvez ela merecesse, já não tinha certeza de nada.
- Ok, vamos embora.
Todos reclamaram, já passava da uma da manhã e ninguém parecia querer ser o primeiro a sair dali. A não ser os que passavam mal de tanto beber. nem havia visto o bar ainda.
- Não, gente, é sério. Estou indo embora.
- Não é por causa da música, é? - Steve perguntou, parecendo bravo.
- Não! Eu só quero ir embora, será que dá?? - ela se exaltou um pouco e viu um olhar amedrontado nas amigas. - Desculpa. Dia longo. – riu, sem graça.
Fingiram que não havia sido nada e trataram de tirá-la dali o mais rápido possível. estava com eles há um bom tempo, o que fez se perguntar por onde andava — e se ele estava bem. Afastou os pensamentos da cabeça e tentou concentrar-se no que sentia.
Nada, ainda. Nenhuma raiva.
Ok, talvez depois de uma boa noite de sono!
Apesar de algo lhe dizer que a única raiva que ela sentiria seria a por Jenny.
Saíram da casa e ela sentiu como se a olhassem, mas não viu ninguém por perto além do motorista do ônibus.
- Vou sair em cinco minutos, rapazes! Podem entrar e esperar lá dentro. – o condutor foi simpático, todos subiram.
- Ahm, eu acho que vou ficar, . Pra, sabe...
- Ok, amor! Vai lá! - deu um selinho rápido em , como se quisesse que ele sumisse antes de ganhar mais atenção.
Não adiantou, entendeu que iria atrás de , sem saber onde ele estava. Seu coração, ou que sobrara dele, doeu tão profundamente que o ar chegou a faltar e ela mal conseguiu respirar devidamente.
fechou os olhos com força e adormeceu sem perceber.
Ele estava de volta no escuro quando a viu subir uma das escadas. Linda, linda, linda. Fechou os olhos e manteve sua imagem ali, perfeita, sorrindo para ele. Como ela estava antes de Jenny resolver arruinar a sua vida.
Estava quase dormindo quando alguém o cutucou.
- Bebeu? - perguntou, tentando enxergar algo.
- Não. Nem um gole.
- Fumou? - ele o ajudou a levantar, por mais que não tivesse pedido.
- Um garoto ofereceu, mas não aceitei.
- Nem se drogou? Você está mesmo acabado. Tudo isso por uma garota? Isso porque teimava em dizer que não gostava dela. - teria rido, mas seu semblante era de pura preocupação. - Um ônibus sai em meia hora, aí voltamos para o hotel.
- Não sei se quero.
Cada canto daquele quarto o lembraria dela. O elevador o lembraria dela. Ele não aguentava mais aquilo. Já vivera naquele sufoco anos demais, agora era como se um buraco negro viesse engolindo tudo de novo, deixando-o vazio.
- Hum, acho que você não está em condição de exigir alguma coisa.
- , eu nunca...
- Cara, você é o primeiro que se empenha tanto em deixar claro que ainda é virgem. Sério. Tudo bem que a garota tá grávida e é uma vadia que já deu pra escola inteira, mas não precisava se empenhar tanto em negar umas transas com ela. Só o filho. - dessa vez riu, e o encarou com uma expressão nada amigável. - Ok, não tá mais aqui quem falou!
- Obrigado. - agradeceu seco. - Como eu vou fazê-la acreditar em mim, ? Eu não quero acabar essa viagem assim. Não foi para isso que eu vim...
Seu amigo deu de ombros.
- Grave a Jenny dizendo que é mentira, oras.
- Até parece que ela vai assumir.
- Se você insistir que se lembra muito bem da sua vida e que nunca a comeu, talvez ela fale. Depois de te dar um tapa. - ainda tentava arrancar um sorriso do amigo.
- É, é só o que dá pra fazer, mesmo... Preciso de um gravador.
- Usa o celular! - falou como se sua ideia fosse inusitada.
- Me empresta o seu? Por segurança, uso dois.
- Não agora. Agora você vai comer. Olha essa palidez!
- Okay, mamãe...
Ele não estava motivado a andar, mas, de alguma forma, a ideia de dera as suas pernas a força necessária para aquilo. Era isso, ele não ia desistir agora. Não desta vez.
No fundo, o que mais doía era sua promessa quebrada. Não havia dançado a noite toda com como ela pedira. Não pudera cumprir sua promessa. Estava cansado disso e, desta vez, não sabia se ela o perdoaria.
Capítulo 25
- E vou ficar bem, mulher! - repeti pela décima vez, começando a perder o sono. - Vão logo, antes que eu não consiga mais dormir...
já estava no corredor, mas Hay mantinha sua cabeça dentro do quarto, segurando a porta.
- A gente podia pegar o colchão do quarto de vocês e trazer aq...
- HAY! Boa noite! - sorri.
Hayden deu a língua e saiu, fechando a porta com um estalido.
O silêncio que se seguiu fez eu me arrepender de expulsá-las. Agarrei-me desesperadamente ao último fio de sono que tinha. E, por um tempo, funcionou. Foi uma daquelas noites mal dormidas, em que eu parecia acordar o tempo todo, até que não deu mais e eu me sentei, puxando minha mala para mais perto. Peguei o iPod e os fones, sentindo falta de um bom headphone. O meu tinha que quebrar antes da viagem, como de praxe. E eu tinha que me lembrar de e sua mania de consertar tudo só de pensar nisso, não tinha?
Respirei fundo, um começo de raiva se manifestando em meu peito. Ia ser assim? Eu não queria...
Coloquei os fones e vesti um blusão, trocando a calça do pijama por uma jeans surrada. Ajustei o chinelo no pé e subi um pouco a barra da calça, tudo sem fazer barulho, ou, pelo menos, foi o que tentei. As companheiras de quarto de Hay chegaram em algum dos momentos em que eu acordara durante à noite. Ainda deveria ser noite lá fora, afinal, eram cinco da manhã. Saí do hotel e caminhei até a praia, tirando o chinelo para pisar na areia, e fui até as pedras onde ficara com na noite anterior — depois de patinar no gelo, virar sua namorada e vê-lo tocar gaita. No iPod tocava uma lista aleatória de músicas clássicas, não estava a fim de cantorias que pudessem me dizer o que eu sentia.
Eu só precisava sentir, ninguém tinha que me dizer nada. Logo, uma boa seleção de Chopin, Mozart e Beethoven dariam conta daquilo.
***
Ele observou o sol nascer e a garota que fazia o mesmo, mais à frente. Ela não se movia e, mesmo de longe, ele já sabia quem era ela: a sua garota. Demorou um pouco para atormentá-la, aproveitando a paz que emanava dela, a paz que precisava para fazer o que pretendia mais tarde.
Andou até a pedra que ela estava, reconhecendo o lugar e momentaneamente sorrindo por ela estar ali. Sentou-se ao seu lado, tirando o iPod dali antes disso. Continuou com o aparelho na mão, mas permaneceu como estava.
- Hey...
Sua voz saiu fraca, errada. Pensou ver uma leve contração no rosto de .
- Oi.
Ela continuou sem olhá-lo. respirou fundo e virou-se para o mar, deixando o silêncio predominar por alguns minutos. Até que não aguentou mais.
- , é mentira, eu nunca fiz nada... Do tipo que engravida. - ele teria rido pelo modo como não conseguia dizer a palavra sexo na frente dela se não estivesse desesperado. - Se ela tá grávida, não é de mim!
Ela sorriu, olhando para baixo. Ainda sem se virar para ele.
- Eu acredito em você, .
Ela até podia acreditar, mas ele não acreditou em seus ouvidos.
- Acredita?
Desta vez ela se virou para olhá-lo frente a frente.
- Sim. É claro que eu acredito em você. Eu nunca deixei de acreditar em você, . Eu tive medo, medo de acreditar sempre e só me machucar... E aconteceu de novo. - o sorriso dela se desfez. - Eu acredito em você, mas não tem como lidar com isso agora. Eu pensei, pensei muito, e não vi solução. Só vamos saber se o bebê existe e se é seu filho em uns meses meses, e se ele existir e for seu... Eu não vou ser responsável por uma criança sem pai.
Aquilo sim, doeu.
- Mas, ! - ele controlou a voz, que havia saído fina demais. - Eu te amo! Eu nem gosto da Jenny, eu não posso viver com ela, nem nada do tipo!
- , se o filho for seu, você terá que assumir! Pelo menos isso! - gesticulou com as mãos, brava.
- Mas ele não é!
- Então você não terá que assumir. - ela bufou.
- E o que te impede de estar comigo enquanto não descobrimos isso? - ele a viu fechar a expressão, parecendo uma criança. Literalmente, ela parecia a garotinha que era dez anos atrás. E estava brava. Com ele. recuou ao reconhecer aquela expressão.
- Não quero sofrer mais, . Jenny vai ficar no seu pé, vai ficar me humilhando o tempo todo, não importa o que você lhe diga. Se ela chegou ao ponto de mentir sobre uma gravidez, ela não vai ligar pra você dispensando ela o tempo todo, na frente de quem for.
- E como... Como vamos ficar?
Desta vez ele teve certeza que o rosto dela se contorceu em dor.
- Como antes. Cada um na sua.
- Nove meses?? - ele pensava que estava desesperado antes? Não, agora sim, ele estava desesperado.
- Não precisamos nos provocar mais. Sem xingamentos e olhares de desprezo, que tal? - ela tentou sorrir, mas viu que desgostava tanto daquilo quanto ele.
- Eu vou te provar que é verdade antes disso. Não serão nove meses, nem ferrando! Eu não quero voltar como era antes, de jeito nenhum. Só não queria terminar essa viagem assim...
Ele se distraiu com a lista infinita de músicos no iPod dela, procurando algo específico. O olhar dela demorou um pouco para sair dele, mas logo ela olhava para o mesmo lugar que antes, como se ele não estivesse mais ali.
- Eu também não, . Mas você consegue ficar numa mesa cheia de pessoas comigo do outro lado? Se sim, tudo bem. Pelo menos hoje, eu posso fazer isso. Nós podemos ser... Colegas.
Ele assentiu com um baixo "Ok". Achou a música que queria e deixou tocar, esperando ouvir uma reclamação dela. Uma reclamação que não veio.
virou o rosto para ele, e fez o mesmo para ela, notando seus olhos marejados. Ele inclinou-se para beijar sua testa antes de levantar e se afastar.
Nos seus ouvidos tocava Michael Jackson. Justamente o que ela não queria, uma música com letras que a fizessem pensar mais naquilo.
"Billie Jean it's not my lover. She's just a girl who claims that I am The One, but the kid is not my son!" (Billie Jean não é minha amante. Ela é apenas uma garota que diz que sou O Cara. Mas o garoto não é meu filho!)
Ela chorou.
***
- ONDE INFERNOS VOCÊ ESTAVA, PROTÓTIPO DE AMIZADE?!?!
Fui rindo até Hayden e os garotos, que pareciam escoteiros. Mesmo, eles estavam com lenços nos pescoços, bermudas bege e... Sacolas? O que era aquilo?
- Estava passeando, oras. Despedindo-me da praia.
- SEM AVISAR?! - Hayden continuou gesticulando feito uma louca.
- Minha mãe não precisa mesmo se preocupar comigo nessas viagens, né? Ela já tem uns três encarregados disso infiltrados no rolê...
Hayden me deu soquinhos no ombro, ainda brava, mas beeeem mais amena.
- Nós estamos procurando animaizinhos, ! - Steve estava com um caranguejo na mão.
Um caranguejo VIVO. E, sim, sua mão tinha uns vergões, ou seja, ele já havia levado umas pinçadas.
- Tá lindo na sua mão, Steve, mas mantêm isso longe de mim.
- Não, ele não machuca! Ele só ficou confuso, pensou que minha mão era a areia ainda. - e Steve riu, quase derrubando o caranguejo e levando outra pinçada. - Outch!
- Sim, entendi. - respondi com um sorriso de canto.
Acompanhei-os pela praia, entrei no mar com eles o suficiente para molhar a barra da calça que usava, achei e almoçando no HotDog e nada de . O tempo todo.
- ?
sentou-se ao meu lado em frente ao bar de sempre. estava disfarçando ir pegar um suco no bar, típico.
- Hey. - sorri.
- Tudo bem? - assenti. Ela duvidou. - Mesmo?
- Sim.
- Onde você estava, de verdade? - seu olhar transbordava confiança, o tipo de olhar que deixa claro que não vai sair por aí te julgando logo depois de te consolar. Essa era .
- Na praia, despedindo-me antes de ter que voltar para casa.
- Desde que horas? Passamos cedo no quarto da Hay e você...
- Cinco e pouco. Vi o sol nascer. - ri enquanto arregalava os olhos para mim.
- Você deve estar morta de sono!!
- Não estava, até almoçar... - espreguicei-me e riu. - Acho que vou tirar uma sonequinha ou não aguentarei a janta de despedida hoje.
Dei um longuíssimo bocejo para fechar o momento preguiça.
- Você pode ficar no nosso quarto, eu estou com a chave. Aí eu subo e te acordo umas seis horas para tomarmos banho e nos arrumarmos. E eu não deixo ninguém subir antes de você sair.
‘Ninguém’ era , claro. Se não for a melhor amiga do mundo, eu nem quero saber quem é. Ela já é o máximo.
- Ótima ideia, . Sério. Mas não precisa impedir ninguém de subir, só não deixe o ‘ninguém’ subir sozinho, subam todos. - eu ri enquanto ela fazia careta e ria de mim. É claro, eu estava brincando quando devia estar choramingando.
E sabia.
- Vocês conversaram?
- ... Sim. Tem umas boas horas, já. - dei de ombros.
- Quer falar sobre isso?
Suspirei. Era , tinha pouca coisa que ela não conseguia de mim. Ainda mais com aqueles olhos de gato virados na minha direção.
- Ele disse que não tinha relação nenhuma com a Jenny.
Careta. Dela, não de mim.
- Eu os vi juntos algumas vezes. - ela comentou receosa.
Receosa, mas jamais mentindo para me confortar.
- Eu os vi se beijando algumas vezes. - ri. Era verdade. E dava ânsia só de lembrar.
Na época, aquilo era meu combustível para ser rude com .
abriu a boca em compreensão, dizendo um "Ooh" baixo.
- Então, não acredita nele?
Rolei os olhos.
- Claro que acredito. Quer dizer, ele passou uma época bebendo bastante, então pode ter acontecido... Mas já faz um tempo que eu ouço que nem nas festas ele vai mais. E não acho que ele fosse mentir para mim sobre isso. Não acho que o filho seja dele, por mais que muita coisa aponte para ele, e não é por egoísmo meu. Mas falei o que eu pensava e impus que nos afastássemos. Afinal, Jenny não iria me deixar em paz se eu continuasse com ele, você sabe. E eu ia acabar socando a vadia. - sorri e concordou, quase rindo.
- Ia mesmo. E ia ser liiiiiindo! - deu alguns socos no ar, sonhando.
- É. E aí ele pediu que pelo menos hoje eu não fugisse dele e, é, eu aceitei.
E teria que ser extremamente madura para não chorar feito criancinha toda vez que o visse tão perto e lembrasse de tudo. De tê-lo, mas não poder... Ser dele. Aquilo era pior do que não tê-lo. Ou pelo menos pareceu pior naquela hora.
me abraçou e eu acabei me apoiando nela e fechando os olhos...
- VAAMOS SUBIR, ! Nada de dormir em mim!
Assim que ela percebeu que eu cochilara,eu percebi que ela percebera, afinal, foi no meu ouvido que ela gritou. E estou repetindo formas do verbo "perceber" aqui para não dizer palavrões feios e bobos.
Rolei os olhos e fui puxada por para o hotel e se não fosse por ela, eu provavelmente jamais chegaria na cama, a preguiça era tanta que eu ia sentar na calçada perto de uma árvore e ficar por ali mesmo.
- ... - uma pergunta não queria calar dentro de mim. - Vocês o viram hoje?
- O viu. Mas já faz algumas horas.
- Hum.
E essas foram as únicas palavras que trocamos entre a praia e o nosso quarto do hotel. E desta vez não estava com outra no quarto, pelo menos não no nosso quarto, mas o sono falou muito mais alto do que todo o resto, e nem tive tempo de sentir o perfume dele nas coisas. Foi só encostar no travesseiro que já senti os olhos pesarem. me cobriu e sussurrou um "boa noite" risonho.
E aí eu apaguei de vez.
***
estava saindo do banheiro quando viu a porta do quarto se abrir. Ela deu um passo para frente, agachando-se para dentro da cozinha, agindo por impulso. Podia ser , mas deveria ser . Ficou sem saber o que fazer por alguns segundos, e aí resolveu checar com seus próprios olhos.
Era . E ele estava parado em pé ao lado da adormecida . ficou dividida entre avançar nele rugindo e ficar quieta onde estava. Mas, independentemente do que decidisse, seus pés não pareciam se mover. Então, ok, ela ficaria vendo-o. E se fizesse alguma besteira, com certeza nada a impediria de voar nele. Ou assim ela esperava.
Observou suspirar, olhando para , seus ombros relaxando aos poucos. Ele ajoelhou ao lado da cama, apoiando a cabeça no móvel de cabeceira, ficando de frente para .
começou a se sentir intrusa por estar ali, mas forçou-se a lembrar que não queria aquilo. Se ele a beijasse, sabia que ficaria bravíssima. Por mais que, na verdade, ela ficasse mais triste por ter que ficar brava com aquilo. Sorriu preocupada, sabia que sua amiga era uma pessoa boa demais para ter que passar por aquilo. Lembrou-se de cada vez que a viu xingar , menosprezá-lo e como parecia realmente achar tudo aquilo dele. Ela escondia bem demais os seus sentimentos, apesar de não o suficiente para passar despercebido por . sempre soube que tinha muito mais ali do que contava, mas como ela já contava mais para ela do que pra qualquer outra pessoa, jamais insistiu no assunto.
abriu a boca e preparou-se para gritar, mas o que aconteceu a pegou desprevenida. Ele começou a sussurrar e ela apurou os ouvidos, parando de respirar.
- Eu te amo. Sinto muito por tudo isso. Eu vou resolver, prometo que vou. Eu vou te proteger de tudo isso para o resto da minha vida, nem que seja de longe. Apesar de não ser o plano que mais me agrada... Eu te amo, . - ele se aproximou e beijou a bochecha dela, que pareceu nem se mover.
só voltou a respirar quando viu sair do quarto, deixando-a embasbacada com o que vira.
Lágrimas. Ele estava chorando.
- ? , princesa, acoooorda. - sussurrava, tentando acordar a amiga um pouco diferente do que costumava fazer. Que era gritando. Deu uma leve sacudida no ombro de , que murmurou algumas coisas desconexas. - Hora de acordar, Aurora!
- Eu vou começar a acreditar que sou realmente a Bela Adormecida e dormir para sempre, vocês vão ver.
riu.
- Bom dia! Hora de acordar, comer alguma coisa, tomar banho e se arrumar! Dormiu bem?
- Como um anjo, apesar de não ter a mínima noção no que essa expressão se baseia. - bocejou, esticando-se toda na cama de casal. - Apaguei. Nem sonhar eu sonhei.
E ela estava agradecida por isso.
, por sua vez, não sabia se contava ou não.
- Não acordou nenhuma vez?
- Noope. Nenhuminha! Hummm, estou bem e estou com fome, o que há para comer?
- Há umas frutas, tem...
- Feito! - levantou-se e foi para a cozinha, abocanhando a primeira maçã que viu. - E aí, perdi muita coisa?
Ela perguntou, tentando disfarçar a boca cheia e riu.
- Não, a galera foi num shopping aqui perto.
ficou automaticamente séria.
- Você não deixou de ir por minha causa, né?
- Não! Shopping, sério? Preferi ficar na areia o dia todo. Vou sentir falta daqui.
- Com seu gostoso , né? - riu, tampando a boca. - Não estamos tão longe de casa, dá para voltar aqui sempre... Principalmente nas férias.
O resto de pareceu um abajur de tão iluminado que ficou.
- A gente devia combinar com todo mundo de fazer isso pro resto da vida!!! Nas férias de verão, pra sempre!!!
engoliu a maçã antes de dizer:
- Eu sou um gênio!
- E bem humilde, mas desta vez eu tenho que concordar!
Elas se abraçaram num momento feliz e continuaram bolando seus planos malucos para o futuro enquanto se arrumavam para o jantar da noite, que seria em uma casa de massas.
***
já estava no quarto quando saímos do banheiro, de cabelo arrumado e salto... E vestindo uma toalha.
- OOOPA, marcha ré, ! Temos homens no quarto! - dei um passo para trás, mas me empurrou para frente, rindo. Escondi-me na cozinha.
- Homem, no singular. - se levantou da cama e abraçou , dando um selinho nela. - Vou tomar banho e me arrumar no banheiro, aí vocês se arrumar aqui em paz.
Ele piscou e agradeceu com outro selinho
Por algum motivo obscuro, aquela cena junto das palavras de deram uma estranha sensação de enjoo em mim. Sozinho, ele estava sozinho. E onde raios havia se metido ?? Deveria fazer umas 12h desde a última vez que o vi...
- O que foi? - perguntou assim que entrou com sua mala no banheiro.
- Eu só, hum, acho que estou um pouco preocupada.
- Com o quê?
Rolei os olhos.
- O ‘ninguém’. - brinquei, achando que não ia entender, mas ela riu demais. Havia entendido ou não?
- Ele veio aqui. - falou, quando conseguiu parar de rir. Nem fora tão engraçado assim. - Um pouco depois que você dormiu, acho que esqueci a porta do quarto aberta.
soltou um "Ops?" com cara de culpada, como se pedisse desculpa.
- E...
- E o quê?
- E o que aconteceu??? – perguntei, aumentando meu tom de voz em uma(s) oitava(s), impaciente.
sorriu ladino.
- Ele pegou a putinha que estava junto com ele e disse que ia ter que ser em outro lugar!
Não pude conter os impulsos musculares do meu rosto. Meu queixo caiu, minha boca ficou aberta em um "O" e meu olhar completou o quadro com perfeição: não era possível, fiquei indignada. Mas passou rápido.
- Você está mentindo.
- Pois é.
- , às vezes eu questiono seu amor por mim.
- VOCÊ TINHA QUE VER A SUA CARA! HAHAHAHAHAHAHHAHAHA!
Quis bater em algo (ou alguém, tipo ) enquanto ela rolava de rir na cama. Coloquei meu vestido e tirei a toalha do corpo antes dela conseguir se recuperar.
- Passou a graça já?
engoliu algo que podia ser outra risada.
- Desculpa, , eu precisava confirmar.
- Confirmar o quê?
- O que você sente por ele.
- Com essa brincadeira? Nossa, que bom que é fácil assim perceber essas coisas!
rolou os olhos.
- Você ficou com ciúmes de cara, com raiva, ficou brava! Sem nem saber se o que eu falei era mesmo verdade. E aí, percebeu que era absurdo! Ele jamais faria isso depois de tudo, o que mostra que você confia demais nele. Cabeça quente e confiança cega ao mesmo tempo em relação com uma pessoa só pode ser uma coisa.
- Obrigada por me esclarecer, doutora. Sou masoquista por causa de alguma deficiência mental, acho que posso viver com isso. - murmurei ainda brava.
- Não, sua boba! Eu fiz isso porque... Porque eu percebi o que ele sente por você e fiquei meio assustada com a magnitude disso tudo! Como você consegue esconder tão bem o que sente por ele? Ou conseguia, pelo menos.
Fiquei sem palavras para responder . Tudo o que eu consegui pensar que fez sentido foi:
- O que ele fez pra você... Perceber? Quer dizer... O que...
- Ele ficou te olhando, ajoelhou ao seu lado, sem encostar em você. E só o olhar dele já bastava para saber. Ele disse algumas coisas, além de repetir que te ama. Ele pediu desculpas, ele prometeu que já mais deixaria você sofrer de novo, nem que fosse de longe. Ele te deu um beijo no rosto e saiu, com lágrimas nos olhos! com os olhos marejados, eu não sei mais o que pensar do mundo! Como vocês fizeram isso? Como conseguiram esconder essas coisas tão bem?
Encarei sem resposta, a mente em branco. Algumas memórias começaram a vir e acho que para foi o mesmo, porque em seguida ela falou:
- Eu me lembro do dia que te conheci: primeiro dia de aula e você era aluna nova. Toda tímida com a atenção, foi minha dupla na atividade da primeira aula.
Sorri com a lembrança. Gostara de de cara, seu sorriso carinhoso e sua calma... E depois sua histeria ao descobrir nossos gostos em comum, fazendo-me rir e agir igual em seguida.
Estava tudo ótimo, até o intervalo. Alguém me cutucou enquanto eu conversava com e eu me virei. sorria com melhor sorriso para mim e aquilo me enfureceu. "O que você está fazendo aqui??", "Eu estudo aqui. Agora." ele respondeu com o mesmo maldito sorriso. E eu saí correndo, deixando sem entender nada e com um sorriso menos firme.
Ele não podia me deixar em paz?? Claro que não. Eu só não sabia, pensava que ele vivia para me atormentar, apenas. E eu tinha que gostar tanto dele, mesmo sabendo que ele não sentia o mesmo por mim? E ainda jogava na minha cara as outras que ele gostava de verdade?
Doeu de verdade lembrar-me disso. Mesmo que eu estivesse errada, foi o que eu pensei por muito tempo. "Você é só a amiga, a amiga otária, ainda por cima. E ainda se importa com ele."
- É, eu também lembro.
- Eu jamais levaria sua reação ao ver como uma reação apaixonada. Você parecia que preferia morrer a estar no mesmo lugar que ele. Agora eu entendo tudo. A insistência dele em falar com você, a sua insistência em ser odiosa com ele como não era com mais ninguém, o jeito chateado que eu o via depois de ser dispensado por você. E como ele não falava comigo quando eu perguntava se estava tudo bem, é claro, ele devia achar que eu estava roubando o lugar dele sendo sua amiga. - se deu um tapa da testa. - E você começou a usar só preto e lápis de olho, como se demonstrasse seu espírito assim. E ele começou a te provocar quando viu que conversar não ia dar certo e eu não entendia NADA, NADICA!
- Ok, . Já entendi o seu ponto... Mas eu preferia não ser lembrada dessas coisas.
se aproximou de mim.
- Ainda dói?
- É claro que sim! Eu tinha começado a me "curar" com essa viagem, ele estava conseguindo me fazer me esquecer de tudo, . Eu estava começando a achar que esse tempo sem o meu melhor amigo havia sido bom para entender as coisas! A puta que pariu com isso, e não faça essa careta, eu falei um palavrão mesmo...
- Eu sei, e eu tenho que dividir isso com alguém!!
- ... Eu não precisava de tempo algum para entender coisa alguma, eu podia ter feito isso ainda sendo amiga dele! Todo esse tempo eu sofri à toa, todo esse tempo eu tentei fugir, mas ele não podia me deixar ir ou me aceitar de vez, ele tinha que ficar por perto e mostrar como não...
Minha garganta pareceu fechar e mais nada saiu de lá enquanto minha boca ainda se movia. Joguei-me na cama, desolada, confusa, uma verdadeira bagunça, e sentou-se ao meu lado.
- Ele te ama, .
Fechei os olhos.
- Eu sei.
suspirou. Estranhei, já que o papel de Lady Suspiros era meu.
- E isso sempre foi mais um peso para você do que qualquer outra coisa, né?
Maldita , ela sempre tinha que entender tudo. Não é à toa que eu guardara aquele segredo tão bem, caso contrário ela já teria dito tudo aquilo depois de uma semana vendo minhas reações ao .
Falo como se ele fosse uma alergia, haha. E não é que essa é uma perspectiva interessante?
Parei de falar bobeira.
- Sempre... Mas eu sou absurdamente melhor com ele. Eu só queria entender, , por que não continuamos juntos? Nada disso teria acontecido, eu não teria que... que... Nada!!
Eu estava parecendo uma criança mimada, mas não liguei. Tanto tempo precisando ser tão madura, com alguém eu tinha que poder “desabafar”. me abraçou de lado, deitando na cama em seguida. Ficamos olhando para o fantástico teto branco do quarto.
- É, mas não adianta pensar nessas coisas, . E o sabe tudo o que fez e assumiu para você. Não dá para exigir metade disso de um homem nos dias de hoje. - ela riu. - E ele te ama, de verdade...
E como ela podia ter tanta certeza? Eu mesma já estava me esquecendo.
Não, mentira, não estava. Mas doía demais e eu não sabia no que culpar, ou no que me segurar. E aí eu me lembrei de uma coisa. Uma boa coisa, quer dizer, ÓTIMA.
“Só... Me prometa que você nunca mais vai me deixar escapar.”
Ele pediu. E eu pedi de volta. Será que essa promessa ele conseguiria cumprir? Eu, sinceramente, esperva que sim.
Capítulo 26
Nada de , ainda. Em lugar nenhum. Nem mesmo a sombra dele... Pelo menos agora eu sabia que ele estava vivo, já que o vira entrar no quarto e conversar comigo enquanto eu dormia. Uma dor lancinante tomou meu peito e eu senti uma vontade enorme de... Abraçá-lo. O quão difícil isso tudo devia estar sendo para ele? E eu não podia fazer nada... Nada além do que tinha combinado. Não haveria hipocrisia desta vez, eu não fingiria odiá-lo.
E onde ele havia se metido que não estava na frente do hotel, esperando todos descerem para ir à pizzaria no final do quarteirão? Eu estava com e , perto da mureta do hotel.
Jenny estava com suas amigas, rindo de algo, quando olhou diretamente em meus olhos. Como ela fazia isso, eu não sei. Elas estavam do lado oposto da entrada! E isso me assustou o suficiente para me deixar sem reação — e ela devia haver percebido. Jenny sorriu de lado, a maldade transbordando de seu ser, então ela se levantou. Ninguém parecia ver, só as amigas dela. percebeu em seguida e acho que, um pouco depois disso, mais ninguém respirava, porque eu podia ouvir os passos dela até mim. Quinze, quem sabe vinte passos e ela estaria na minha frente. E eu não podia estar desestabilizada como estava. Forcei minha expressão ao máximo, numa tentativa de parecer brava, mas não funcionava. Eu estava com medo, era isso. Afinal, eu tinha algo a perder de novo e ela queria ser responsável por essa perda.
E isso, no momento, destruía-me muito mais do que me deixava brava. Um alarme soava em minha mente, com os dizeres "Cedo demais!" e "Não entre em pânico!" em vermelho.
Quando eu percebi que não adiantaria fazer pose e brigar, o tempo passou, voou. Rápido demais. E as coisas aconteceram na mesma velocidade. Logo, alguém estava na minha frente, de costas para mim, tapando a minha visão e pelo perfume, só podia ser o meu . Ele vestia sua jaqueta de couro preto e seu cabelo ainda estava molhado, o que deixava claro que ele havia acabado de sair do banho. Eu teria mordido o lábio com aquela visão, se não estivesse tão fora de mim.
- Você já fez barraco suficiente para uma viagem, Jenny. Dá um tempo.
Sua voz veio forte, estrondosa e passava uma autoridade jamais vista antes. Pareceu surtir efeito em Jenny, que depois de perder a pose de megera, estendeu a mão na direção do rosto de com um sorriso. Ia ser um belo tapa.
Porém, segurou a mão dela longe de seu rosto.
- Não ouse. - ele falou no mesmo tom, um pouco mais baixo.
E antes que ela respondesse, Brian apareceu.
- Bom, todos aqui! Vamos, ninguém ficará para trás. - Brian liderou o grupo, que ocupou a calçada inteira.
Jenny afastou-se com aquele sorriso de megera dela e assim que ficou de costas, virou-se para mim, com um olhar preocupado. Eu estava apoiada no muro, sem querer, mas isso explicava como eu ainda não havia caído no chão. Tentei forçar um sorriso.
- Você está bem? Me desculpa, me desculpa... - ele me ajudou a sentar sobre o muro e logo um grupinho se formou a minha volta. O toque firme dele estava me acalmando aos poucos.
me acudia com , logo atrás dos dois. Steve, Joe e Hayden pareciam não saber o que fazer com a presença de . Hay só faltou espumar, como se ela estivesse esperando uma ordem minha para atacar.
- O que você pensa que está fazendo, ?! - Hay soltou, quase como um latido.
Eu dei uma risada fraca e todos me olharam.
- Não mate o , Hay. Estamos em uma trégua, pelo bem da viagem. - expliquei, começando a sentir meu corpo normalizar.
- É, eu não ia falar nada, mas eu acho que a Jenny está só fazendo cena. E estragar uma viagem por causa disso... - Steve levantou os braços, declarando-se inocente, e Joe teve que segurar Hay para que ela não voasse nele.
Eu nunca pensei que ela gostasse tanto assim de mim, mas esse temperamento explosivo era da personalidade dela. devia sentir tanto quanto Hayden, mas tinha outras maneiras de demonstrar isso. E eu era grata por ambas.
Na confusão do momento, sussurrou só para que eu ouvisse:
- Consegui a prova que te prometi mais cedo, bem mais rápido do que o esperado.
Segurei minha língua, pois queria perguntar: "MESMO? VOCÊ NÃO É O PAI? ELA NÃO TÁ GRÁVIDA? PODEMOS FICAR JUNTOS??", mas tudo o que consegui fazer foi arregalar os olhos. Pisquei algumas vezes antes de responder:
- Tem certeza? Tem que ser uma boa prova, . Nada de deduções por causa de coisas que você ouviu ou...
Ele sorriu, deixando a cabeça pender levemente para a direita e ficando extremamente mais fofo, fazendo eu me perder naquele ato.
- É a melhor prova de todas, você vai ver mais tarde. Ou melhor, ouvir. E depois ver.
E antes que eu o questionasse, Joe nos puxava para alcançar o grupo que já estava quase na pizzaria, dizendo que Brian ia brigar com a gente.
- Joe, relaxa! - eu o abracei por trás, fazendo-o andar mais devagar.
Joe soltou alguns palavrões fortíssimos como "boba", "tonta" e "idiota" antes de se juntar à gargalhada do grupo.
Minhas pernas tremiam, mas ninguém parecia notar. continuou com seu sorriso ladino, quase como se sua intenção fosse mesmo me corroer de curiosidade. Por que ele não me beijava logo? Não. Não. , concentra. Ele está fazendo o que você pediu. Pela primeira vez em muitos anos. Inspira e expira, lembra? Não esqueça.
Tentei respirar o mais fundo possível, apesar de estar com a conhecida sensação de que, independentemente do esforço, eu respirava muito menos do que o normal. Chegamos à pizzaria e mal ficamos dez segundos na fila.
- Viu como se atrasar também tem seu lado bom, Joe? - deu tapinhas no ombro de Joe, que mostrou-lhe a língua.
O povo está bem maduro hoje, não é?
Eu estava no modo observador. Via tudo acontecer ao meu redor e sorria, respondia monossilabicamente e aproveitava a sensação de estar ali, no meio de toda aquela gente. Não que eu não me sentisse parte, pelo contrário, só parecia estar numa situação antagônica da minha, e aquilo me impedia de participar mais.
ficou do lado oposto na mesa, quase inteiramente de frente para mim. E ele sorria, fazia piadas, participava da conversa com sua singularidade. Meu coração dava leves solavancos, ou parecia dar, toda vez que ele fazia aquelas pequenas coisas que eram marca registrada de . O sorriso com o olhar baixo, as marcas perto dos olhos e nos cantos da boca quando ele gargalhava ou sorria demais. E quando ele olhava para mim e me pegava observando-o, corando levemente e fazendo algumas das ações descritas anteriormente. Esse garoto podia me matar só com isso.
"Meu garoto", pensei, com um pouco de dor.
A maioria já havia acabado de jantar quando ele se levantou, percebendo meu olhar em si pela quinta vez, e fiquei com vergonha de segui-lo. Isso não me impediu de bombardear perguntas mentalmente. Aonde ele ia? Por que ele ia? O que será que ele iria fazer?
Tentei me distrair com o ambiente.
Era uma sala especial, um canto reservado para a nossa festa. Várias mesas, um bar e uma música bem animada tocando ao fundo. Parecia um restaurante dentro do restaurante. Perdi-me nos quadros até que senti Hayden se espremendo para ficar ao meu lado, mandando Steve para longe. Ri para ela e, para minha confusão, Hay pegou minha mão e a apertou.
- O que foi??
- Pediram para eu fazer isso.
- Quem pediu?
- Não importa.
- Por que "pediram", então? - fiz as aspas com a mão livre.
- Porque sim. Disseram que você ia precisar de apoio e de uma pessoa durona. Achei que eu era mesmo a melhor escolha por aqui. - Hayden deu de ombros, indiferente, piscando seus olhos verdes para mim.
- Entendi. - respondi, rindo.
Quando havia falado com ela? E o que ele havia falado para convencê-la a colaborar?
É claro que havia sido . Quem mais seria?
E por falar nele...
- Por favor, galera, silêncio aqui. Estão me ouvindo? Prestem atenção. A gravação a seguir contém informações fortes e repercussivas, eu só queria pedir para ninguém quebrar nada ou o cara bacana que me deixou usar isso aqui perde o emprego. É isso aí, fiquem com a bomba da vez!
Aos poucos, o silêncio tornou-se absoluto. Todos encaravam a caixinha de som mais próxima de si. Eu percebi que apertava a mão de Hayden com certa força, mas não fiz nada quanto àquilo.
E então, começamos a ouvir uma conversa. Alguns chiados, mas a maioria estava bem clara.
"Olá, , você demorou. Achei que fosse vir atrás de mim mais rápido."
Houve uma comoção algumas mesas atrás de nós e virei para ver a vadia louca da Jenny sendo segurada no lugar por Steve e .
"Por favor, Jenny, sem joguinhos." "Tá cansado, bebê? Tudo bem, aquela estranha não vai mais estragar a sua vida. "
Houve uma risada incrédula que eu supus ser de , eu apertava a mão de Hayden cada vez mais forte. 'Estranha'. Estava odiando cada segundo daquela gravação, mas sabia que devia haver algo ali, algo que trouxesse minha felicidade de volta de uma vez por todas.
"Por que você está fingindo uma gravidez, Jenny?" "Fingindo, ? Como você..." "Eu disse: sem joguinhos, Jenny. Aqui entre nós, eu lembro muito bem do que fizemos e do que deixamos de fazer. Então, ou você está grávida de outro, ou..."
Eu comecei a fazer uma careta pelo "lembro muito bem do que fizemos", mas então...
"Eu não estou grávida. E eu te livrei da megera! Olha só como eu te amo, !" "... Precisava mentir, Jenny? Na frente de todo mundo? Precisava humilhar a Roxy..." "E VOCÊ AINDA A DEFENDE!? DEPOS DE TUDO..." "Não aumente sua voz pra falar da na minha frente. Não fale do que não sabe, Jenny. Você não faz ideia da merda que fez..."
Eu parei de ouvir a gravação. Alguns gritos ecoaram em meus ouvidos, mas eu os ignorei. Soltei-me de Hayden e levantei bem a tempo de ver Jenny vindo furiosa em minha direção. Ela parecia jogar abobrinhas no ar, não sei, não ouvia. Porém, eu estava bem consciente quando dei um tapa tão forte em seu rosto, que Jenny caiu, ficando sentada no chão.
Outros gritos, algumas pessoas se amontoaram ao nosso redor. Eu continuei em pé, parada.
- Sua vad... - ela começou, mas acabou por aí mesmo.
- Cala a boca. Cala a sua boca, ou eu juro que quebro todos os seus dentes, projeto de ser humano. Você nunca mais se meta na minha vida, tá ouvindo bem? Se você tentar alguma merda com qualquer pessoa que eu conheça, eu juro que acabo com você. Você é podre, Jenny. Você não vale o chão que pisa. Nunca mais, está me ouvindo? Ou você vira gente ou some deste continente, porque eu não quero ver a sua cara suja nunca mais na minha vida! -
minha voz saiu controlada o tempo todo, minhas mãos estavam fechadas e tensas, mas eu dei-lhe as costas e passei por todos até chegar na saída do cômodo e encontrar . Ele me abraçou antes que eu pudesse pensar em qualquer reação.
- Me desculpa?
Deixei que seu perfume entrasse em meus pulmões, sentindo cada sensação que aquilo me dava. A calma se espalhou pelo meu corpo e eu suspirei, observando a pele do pescoço de se arrepiar. Ele me abraçou mais forte. Uma música começou a tocar e a iluminação trocou.
- Eu estou te devendo uma noite de dança, . - se afastou e estendeu-me a mão direita. Sorri, sem conseguir evitar o espasmo dos meus músculos faciais. - A senhorita me concede esta honra?
Ri e os olhos dele brilharam.
- Mas e a Jenny?
- Ela que se vire. Ela que vá embora, ou ela que aceite nos ver felizes... É melhor ela se acostumar logo com isso.
Mordi o lábio, um pouco nervosa. E aí, fez a sua melhor cara de cachorro abandonado na chuva e eu revirei os olhos, rendendo-me. Ele abriu um sorriso enorme e me puxou para o lugar que agora era uma pista. Se Jenny estava num canto, ou se havia saído, eu nunca descobri. Tudo o que eu sei é que aquela foi a noite mais feliz que eu já havia tido. A tranquilidade de ter de volta, o fato de poder confiar completamente nele e as músicas que não cessavam tornaram minha alegria quase palpável. Da pior tristeza direto para a melhor alegria, era quase como uma alucinação. Hayden ficou me paparicando, dizendo que aquele fora o tapa mais lindo que ela já havia presenciado. Todos me davam parabéns pela coragem — e pelo tapa —, e acho que o tapa dado por mim em Jenny fora um tapa por todos que os estavam presentes.
Todos aqueles altos e baixos da viagem terminaram em um grupo de pessoas muito queridas voltando rindo para o hotel, no meio da madrugada. A jaqueta de agora estava em mim, quente e com seu aroma estonteante. Subimos pela escada, e ficaram para trás.
fez novamente sua melhor cara de pidão.
- Uma última vez?
- Uma última vez o quê?
- Dormir junto com você.
Mordi o lábio por impulso e ele riu.
- Ok, mas não acho que seja algo para se contar para titia depois. Ah, é, mãe, e nós dormimos na mesma cama alguns dias!
prensou-me na porta do quarto antes que eu conseguisse abri-la. Ele tinha um de seus sorrisos ladinos no rosto. Prendi a respiração, não me beijava desde... Parecia uma eternidade. E ele parecia concordar comigo, porque no instante seguinte, tomou meus lábios com os seus, num beijo cheio de necessidade e desespero. A língua dele travando uma batalha com a minha, numa agressividade carinhosa — e deliciosa. As vozes de e chegaram aos nossos ouvidos e o beijo foi perdendo a intensidade, terminando de modo calmo. Ele abriu a porta e me puxou para dentro com um sorriso sereno, abraçando-me em seguida.
- Eu pensei que ia te perder de verdade dessa vez. - sua voz veio carregada de dor e alívio ao mesmo tempo.
- Eu estou feliz por você não ter perdido. – confessei. Ele levantou meu rosto para selar seus lábios nos meus.
entrou seguida de e os dois comemoraram nosso beijo nada discretamente. Eu não soube dizer bem se aquela comemoração era por mim e por , ou se era porque eles poderiam dormir juntos novamente. Uma última vez. Trocamos de roupa, escovamos os dentes e logo nos deitávamos, cansados demais para qualquer outra coisa.
Fiquei de lado na cama, de frente para , e ele sorriu, abraçando-me e unindo nossos corpos.
- Eu, sinceramente, não sei como vou conseguir viver sem isso toda noite. - ele assumiu, fazendo-me corar.
- Então, trate de estudar e passe na mesma universidade que eu, assim nós daremos um jeito nisso no próximo ano.
- ... Isso é um plano? Para o futuro? Comigo? - ele parecia uma criança, piscando os olhos demais.
- É claro que é, seu bobo.
Ele conseguiu me aproximar mais ainda de si.
- Eu te amo, Roxy.
- Eu sei, . Eu sei.
E como se aquilo fosse tudo o que faltava ser dito, adormecemos.
Capítulo 27
O dia seguinte foi uma confusão. Malas demais, pessoas demais, gritaria demais. E um tempo lindo, como se o lugar tentasse nos torturar por estarmos indo embora. Eu fiquei sentada com na calçada, os pés desejando pisar uma última vez na areia, até que apareceu para nos chamar. Ele havia cuidado das malas com . Jenny parecia ter se enfiado num buraco, porque não a vi em lugar algum — e também não procurava, não me importava... Estava tão leve que, se viesse um vento mais forte, ele poderia facilmente me levar. Ou pelo menos o meu espírito, minha mente...
guardava nossos lugares dentro do ônibus, o óculos de sol cobrindo seus olhos , fazendo-me suspirar. Se era pelo fato de seus lindos olhos estarem escondidos, ou pelo ar sexy que aqueles óculos davam, eu não saberia dizer. Mas suspirei. O fato era que nada muito pior do que alguém se dizendo grávida dele podia acontecer, e depois de ter me provado que não desistiria de lutar por nós tão facilmente... Eu confiava. De novo. Eu confiava nele de verdade, com todo o meu corpo. Era cedo para dizer, mas eu já entendia. E ele devia entender também. E era por isso que eu parecia andar sobre fofíssimas nuvens.
O caminho de volta foi uma bagunça, com música e pessoas já relembrando os últimos dias como se eles tivessem acontecido séculos atrás. Hayden dava tapas na cabeça de de cinco em cinco minutos — ela dizia que aquele seria o modo dela descontar o estresse que havia passado por culpa dele. só ria, como se nada mais na sua vida precisasse melhorar. Até o final da viagem, Hay não precisava mais dar tapas: só de se movimentar ela já fazia se afastar assustado.
A parte mais inusitada do dia, porém, foi chegar em casa acompanhada de .
- ? É você? Como você está grande, olha só! Amor, venha cá! - mal minha mãe abriu a porta, ela já nos dava suas costas.
- Mãe, eu estava com saudades também. Estou viva, sem machucados, a viagem foi legal...
Mamãe abanou a mão na minha direção, como se dissesse "Tudo bem, querida, pode calar a boca agora". Tive que rir.
Entramos na casa e eu levei minhas coisas para o quarto, quando voltei, minha mãe ainda mimava — e o fez até não poder mais. Meu pai olhava de para mim o tempo todo, como se já soubesse. E nem eu sabia.
- Hum, tia... Eu tenho algo para lhes pedir.
- Diga, querido! Qualquer coisa!
Meu pai engasgou. Vejam, ele gostava de , sempre gostou. Mas ele sentia um pouco de ciúmes, sim. Todo aquele lance de melhor amigo, que devia ser meu pai. Bobo.
- Bom, eu já pedi para a , mas eu queria a permissão de vocês. - ele limpou a garganta, parecendo nervoso, e aí eu entendi. Corei automaticamente. Ele podia ter me preparado psicologicamente para aquilo, mas tinha dúvidas quanto ao planejamento do que ele estava fazendo. - Eu quero namorar a filha de vocês.
Quais as suas intenções? O que você vai fazer na faculdade? Esse é o último ano de escola e não queremos que isso atrapalhe , e por aí vai... Eu me afundei no sofá, querendo me fundir com ele pelas perguntas que meu pai fazia, mas permaneceu firme.
E, adivinha? Comemoramos com pizza. E assim, voltamos ao que éramos anos atrás, aquilo que eu achava que nunca mais teria... Voltamos a frequentar a casa um do outro, fui mimada por seus pais muito mais do que ele havia sido mimado pelos meus. Terminamos as férias vendo seriados, filmes e passeando com e . E sozinhos. Visitamos o parque do nosso primeiro beijo, e... me deu uma aliança! E eu era contra alianças de namoro até aquele momento. Com parecia certo, não é como se eu fosse dele há apenas algumas semanas. Não que precisássemos de uma aliança para dizer aquilo, mas me fazia bem ter aquela pequena peça em meu anelar direito, com o nome dele gravado.
E quando as aulas voltaram... Todos já sabiam de nós, e, afinal, o que tem de mais normal do que duas pessoas que brigavam tanto terminarem juntas? Não foi muita surpresa e isso me chocou. Já estava pronta para ser o assunto de toda a escola, não que eu me preocupasse... Mas não.
E então, lá estávamos nós, nos matando de estudar. Nos beijando, estudando, recuperando as notas de , fazendo palhaçadas pela escola, estudando, nos beijando mais, passeando, estudando... E ouvindo tocar seu violão. Para mim. E quando não aguentávamos mais, trocávamos aquele selinho carinhoso que tornava tudo mais suportável.
- , você vai acordar ou vai continuar aí, hipnotizada pelo café da manhã? Preciso de ajuda, filha!
Minha mãe corria de um lado para outro sem parar. Era meu aniversário, mas podia facilmente ser a 3ª Guerra Mundial. Eu duvidava que minha mãe fosse ficar tão desesperada se realmente fosse uma guerra, aliás. Mas não era apenas meu aniversário, afinal, havia outra comemoração: minha aprovação em Oxford — a de . ainda não havia dito onde havia passado, e era essa a minha preocupação atual. Todo aquele mistério dele devia ter um motivo, e não parecia ser um motivo muito bom.
Tomei o café e me arrumei para "ajudar" minha mãe. Digo entre aspas porque ela pode até pedir ajuda, mas tem essa mania de fazer tudo sozinha. Ela realmente ficava insuportável quando fazia uma festa — e a carta grande e pesada que chegara de Oxford não ajudava muito nisso. Papai me lançava olhares de medo de vez em quando, como se estivesse pedindo para eu manter uma distância maior dela. Caso ela completasse a transformação em fogos de artifício, sabe?
Um pouco antes das treze horas a fizemos ir se arrumar, papai assumiu a churrasqueira. e sua família foram os primeiros a chegar, junto, e veio direto em mim. Voando em cima de mim. Ainda não havíamos comemorado nossa entrada em Oxford, ela brilhava mais que o sol. Diferentemente de mim, que tinha a felicidade apagada pela incerteza do sucesso de . Aquilo estava me matando.
- NÓS VAMOS MORAR JUNTAS! E nossos cursos ficam no mesmo prédio e nós vamos participar do jornal, e...
Todos riam com a empolgação de . Meus avós e tios chegaram em seguida, a bajulação estava apenas começando. Eu fui a primeira na família a ser aceita em Oxford e ninguém deixou aquilo passar. Meus pais haviam feito a University of London, e alguns familiares também. Mas, por algum motivo, a Oxford tinha todo um apelo diferente. Não entendia aquilo, mas não importava. Porque eu havia conseguido e, de algum modo, era gratificante.
Então, chegou, com seus pais e sua irmã. Ele vestia uma calça jeans clara, uma blusa azul marinho e uma camisa xadrez azul e branca. Porém, era o seu sorriso que mais chamava a atenção. Vê-lo foi como tirar o peso de um navio do meu coração. Ele me chamou com um aceno e eu fui. Cumprimentei sua família no caminho e o abracei.
- Parabéns, meu amor. - ele soprou no meu ouvido.
- Você já me deu parabéns. Algumas vezes.
- Não pessoalmente. - ele piscou, depositando um beijo em minha cabeça em seguida.
- ...
- Eu passei na Royal Holloway, .
Processe a informação, respira, responda decentemente:
- Hum... Okay. Não é longe, meus pais vão querer que eu venha para cá para visitá-los mesmo e...
- .
- Oi?
- Shhiu. Eu não terminei de falar.
- Ah... Desculpa.
Ele sorriu ternamente, depositando um beijo em meus lábios em seguida.
- Eu te disse que ia tentar entrar em uma faculdade de música, não disse?
- Sim!
- E eu consegui.
- Q... Qual?
Ele sorriu abertamente.
- Oxford.
Pausa para processar a nova informação. Tem noção de como é difícil conseguir entrar na turma de música de Oxford? A média é de vinte alunos novos por ano. VINTE. Do mundo TODO. E era um deles.
- NÃO ACRED-AAAAAAHHH!
O abracei enquanto ele ria e o puxei para contar a novidade a todos. Agora, sim, agora eu brilhava mais que o sol e juntos. E eu ria por tudo, o sorriso não saía de meus meus lábios, de modo que já estavam doendo por sorrir tanto. Os olhos de reluziam como pedras preciosas. Eu queria beijá-lo, então o convidei para um passeio enquanto todos estavam ocupados demais com o segundo prato de almoço.
Nós nos beijamos, para selar aquela dia que estava sendo o melhor de toda a minha vida. Era perfeito demais para ser verdade.
Depois de o bolo ser servido, me convidou para um passeio no parque. Ele avisou a todos e me conduziu... Para a sua casa. Se havia dois caminhos que eu sempre soube bem, eram esses: o do parque e o da casa de . E eles eram opostos.
- ...
- Eu não dei seu presente ainda, linda. E, sim, é surpresa.
- Ok... Isso significa que eu não posso fazer perguntas?
apenas riu.
Ele me levou para o seu quarto e quando eu entrei...
Havia alguns balões, velas, uma garrafa de vinho... E um buquê de flores vermelhas.
- ... - eu fiquei sem palavras.
- A noite é sua, . O que você quiser fazer, como ficar deitada olhando pro teto... Eu só queria ficar a sós com você. - sorriu, inclinando a cabeça levemente, daquele jeito que sempre me fazia sorrir involuntariamente e pensar em como ele era lindo. - E esse pacote é pra você.
Peguei o embrulho e o abri. Dentro havia um lindo casaco cinza e um caderno de couro.
- Para a faculdade, os dois. Posso até te ver andando pelos corredores de Oxford com o cabelo preso e cinco livros nas mãos... E o caderno que eu te dei.
O beijei. Era isso, não havia nada mais certo. O dia perfeito, que ia ficar mais perfeito ainda. Um dia que ia me marcar com sorrisos para o resto da vida. E eu confiava nele. Confiava inteiramente, sem qualquer sombra de dúvida, graças a tudo o que ele passou para conseguir ficar do meu lado. Graças a Jenny, que havia sumido da cidade. Quis rir com o pensamento. A lembrança... Era a melhor coisa que Jenny podia fazer, mesmo, porque toda a raiva de Hayden havia se transferido para Jenny, e não acho que ela fosse sobreviver por muito tempo se permanecesse na mesma cidade que Hay.
Afastei os pensamentos com uma risada e fiz se sentar na beirada da sua cama. Ele não entendeu minha risada, mas também não a questionou. Andei pelo quarto que eu conhecia tão bem e fui acendendo as velas enquanto via detalhes que me lembravam nossos anos de amizade. Os posters de , nossas fotos juntos... Eram tantas, ele devia ter mais do que eu. Quando me voltei para ele, me olhava com aquele olhar que parecia dizer tudo o que ele sentia por mim melhor do que qualquer declaração de amor faria.
Caminhei em sua direção.
- Eu te amo, . - falei enquanto sentava em seu colo, de frente para ele.
encaixou as mãos em minha cintura e a apertou carinhosamente.
- Eu te amo muito mais, .
EPÍLOGO
Era uma tarde gostosa, daquelas nem quentes nem frias, com um belo sol e um céu límpido. Logo após o sagrado churrasco de sábado, duas pessoas terminavam de arrumar a cozinha.
- Sorrindo por quê? - o homem perguntou.
A mulher encarou o sorriso dele com sua melhor expressão de descaso.
- Porque sim. Tem que ter motivo pra sorrir, agora?
- Não. - ele deu de ombros, pendurando a toalha e indo até ela. - Mas você tem um.
- E como você sabe? - ela ergueu uma das sobrancelhas, em sinal de desafio.
O homem suspirou e a abraçou, dizendo em seu ouvido:
- Eu sei porque eu te conheço bem demais, .
Ela sorriu e se esticou para alcançar os lábios dele. Aqueles lábios que eram tão seus quanto o homem a sua frente.
- É que foi nessa época do ano que...
- Shhiu, eu sei. Foi uma pergunta retórica.
ia chamá-lo de convencido, metido, e todos os outros nomes que podia, mas eles foram interrompidos por um menininho de seis anos. A criança puxava a barra do vestido dela e a calça jeans do homem.
- O que foi, pequeno? - perguntou, abaixando-se para ficar na mesma altura que o menino.
- Tá tudo bem, campeão? - o homem a imitou, apoiando o braço levemente sobre o pequeno ombro do menino.
- Uhum. É que... Eu... Eu não sei... Acho que eu estou apaixonado. - o menininho confessou, corando.
Aquela facilidade para corar havia sido herdada.
Os adultos teriam rido, afinal, o garotinho na frente deles era tão novo para aquilo. Porém, eles não o fizeram.
- Oh! - a mulher comentou, trocando olhares com o homem logo em seguida.
- Isso é ótimo, campeão!
- Não, não é! - o garotinho abaixou a voz, aproximando-se mais dos dois. - Ela é minha amiga. - a sentença parecia ser a de um crime. Eles tiveram que morder a língua para não rir. Digamos que era uma situação conhecida por ambos.
- Oh!
- Ok, ouça bem, pequeno. O amor é algo complicado, mas não existe nada errado nele. É difícil até mesmo para os mais velhos entenderem, então, não fique mal por não conseguir identificar tudo o que você sente agora. E é muito difícil encontrar isso tão cedo. Às vezes, - o homem olhou para a mulher ao seu lado e sorriu. - pode ser a pessoa certa, mas na hora errada. Não tem como saber. E sabe? isso não importa. Porque uma hora ele chega e não há nada melhor do que isso.
O menininho mal piscava.
- O que eu faço, então?
A mulher acariciou o rosto dele.
- Bom, você diz pra ela o que sente. Diga que gosta muito dela, que gosta muito da amizade dela... E deixe acontecer, pequeno. Vocês são tão novos... Quer dizer, ela tem a sua idade, né??
O garotinho riu e antes que ele respondesse, uma menina entrou na cozinha. Ela era a irmã mais velha do menino, com seus 10 anos recém-completados.
- EU ACHEI, EU ACHEI!
Eles se levantaram enquanto a garota tropeçava no tapete da entrada, voltando para ajeitá-lo em seguida.
- Achou o que, broto?
- Odeio quando vocês usam essas gírias, sério. A não ser batata, é legal falar que algo é batata. - a garota parecia falar sozinha, e logo voltou seu olhar para eles. - Mas eu acabei de achar a música que eu queria! E pensei que ela fosse ser muito velha, mas é da época de vocês. Vocês devem conhecer, ouçam!
Os dois se entreolharam.
- Impressão minha ou a pequena ali nos chamou de velhos, ?
- Acho que ela nos chamou, sim, amor.
- Pai! Mãe! Prestem atenção!
A garota ligou a música no aparelho que carregava e uma conhecida letra começou a tocar. We Say Summer, de uma antiga banda conhecida como All Time Low. Eles trocaram um olhar cúmplice, perguntando-se quantas outras coincidências teriam na vida. Tempo era o que não faltava para os dois.
e entraram na cozinha pelo mesmo lugar que a garota, atraídos pela música. O sorriso nos lábios deles deixava claro que o dedo deles estava no meio daquela história. O menininho largou a calça do pai e se ajeitou assim que outra menina entrou, atrás de e . Ela aparentava ter a sua idade, mas era um ano mais nova. O cabelo da mãe e os olhos do pai, era o que todos falavam da filha do casal .
bagunçou o cabelo do menino, sendo repreendido e notando o olhar nervoso do próprio filho para a filha dos amigos. Desta vez ele quis rir de verdade, mas se segurou por seu filho. Seu filho, ele repetia a palavra incontáveis vezes, seu filho, que tinha os olhos da mulher da sua vida, mas era uma cópia melhorada da criança que ele próprio havia sido — apesar da herança de corar com tanta facilidade ter vindo da mãe. E a menina, sua filha, lembrava muito a mãe, mas vivia apontado detalhes de nela. O jeito desastrado era de , de qualquer jeito, ela não podia negar. Mas eles eram eles mesmos, essa era a verdade. E, o mais importante, eram seus filhos.
sorriu e abraçou de lado, fazendo sua filha sorrir com a expressão de aprovação que eles faziam para a música. Ela parecia até saber o que aquela música significava e, se ainda não sabia, logo saberia. Mas, por enquanto, eles apenas ouviram a música e deixaram as lembranças de uma viagem de muitos anos atrás tomar posse de seus olhos, cada um do seu jeito.
O verão, afinal, sempre guarda muitas maravilhas. Para todos os que sabem aproveitá-lo.
FIM
N/A: (29/11/12) Então, chegamos ao final. É isso. Vou tentar não fazer uma nota maior que a fanfic inteira, ok? HUAHUA Foi bom. Aliás, foi ótimo. Eu sempre amei escrever, mas nunca cheguei a finalizar uma estória tão grande. Menos de 100 páginas - ou pelo menos é o que o meu programa diz: 96 páginas, 62.386 palavras (apesar de eu ter feito algumas modificações, é mais ou menos isso)-, mas ainda assim, muito maior que qualquer conto que eu tenha escrito até o fim. E eu jamais teria feito isso se não tivesse publicado We Say Summer aqui. Sim, eu nunca teria ido até o fim sem o apoio de vocês! Parece clichê e bobo, mas é a pura verdade. Na minha cabeça, WSS já estava feita. Às vezes falta a animação pra passar pro papel, e essa animação foi você, leitora. Você, que comentou em todas as atualizações ou em uma única, você que nunca comentou mas me seguiu no twitter e pedia att, você que leu We Say Summer até o fim, e está lindo isso agora. Todas vocês: Obrigada! Eu realmente agradeço issso à você. Foi uma sensação indescritível terminar de escrever, eu me senti extremamente bem... E espero que vocês também curtam :) Espero que tenham gostado muito do final, e que tenham achado o Epílogo digno de We Say Summer. Eu, pessoalmente, amei. É tudo o que eu sempre quis pra essa estória, o meu conto fofo e engraçadinho, com um draminha básico só pra dar mais emoção. Esses dois foram feitos um pro outro, e nem eu ousaria separá-los, mas... Foi divertido!
Então, alguns agradecimentos especiais.
Às beta-readers: Sorte foi o que não faltou pra mim. Todas as betas que pegaram We Say Summer foram absolutamente adoráveis. Maroca, a primeira beta linda e maravilhosa, que acompanhou meu começo de perto e me apoiou DEMAIS. Ela lia WSS, o que não fazia com mais nenhuma fanfic que betava, e ainda comentava comigo, deixava notas no final da att... Além de betar minha fanfic ainda fazia isso? Parecia surreal, ainda mais pra mim, que acabara de entrar no ramo. Aliás, Mari que vai prestar a mesma faculdade que eu, então é bem capaz que nos conheçamos e *-* E então a Mari teve que sair, eu sofri, mas veio a Van. Vaaan! Outra linda, que fazia propaganda e me achava a rainha da comédia. A Van, que indicou WSS no Broccolice, quando ele estava na ativa. Adorável! A Van, que betou outra fanfic minha, Our Anthem, uma fic que eu fiz especialmente pra Blink 182, mas não cheguei a finalizar. Talvez volte a escrevê-la, afinal, quase não tem fics pra blink!!! E eles merecem!!! HAHA ok, continuando. Letii, que foi passageira, apenas cobrindo uma beta, mas que foi tão adorável e prestativa quanto todas as outras! O que me traz a conclusão que o FFOBS só aceita gente bacana na equipe. Deve ser um dos testes pra entrar, certeza! Mas, rufem os tambores... Porque chegamos na Nelly, a atual beta. A beta que me procurou por e-mail, se oferendo para ser a beta-reader de We Say Summer quando eu já tinha desistido de escrever porque não conseguia falar com a beta atual. Já nem lembro quem era, o que aconteceu, e como eu deixei aquilo me fazer desistir de WSS, mas eu nunca vou esquecer da sensação que eu tive quando vi o email da Nelly. Foi... mais surpreendente do que uma beta conversar comigo sobre a fic, mais até que fazer propaganda da minha fic e me achar demais. Eu não tenho palavras pra agradecer a Nelloba linda, e acho, só acho, que vocês tem que agradecer a ela por We Say Summer não ter entrado em Hiatus pra sempre. Sem ela, não sei quando eu teria terminado isso aqui. Provavelmente, nunca. Então, Nelly, muitíssimo obrigada <3 E espero que você goste de HBLF - His Best "Lesbian" Friend o tanto que gostou de We Say Summer ao ponto de ir atrás de mim! <3
Às leitoras famosas! KJGHLFD Famosas pelo menos pra mim. Leia-se: Escritoras de fanfics que eu lia. Sim, eu lembro bem de como foi indescritível ver a Abby comentando logo no começo de We Say Summer. Aquilo foi um apoio e tanto, que não vou esquecer. Se a intenção era me animar a continuar, você conseguiu, Abby! Mas e o dia que a Cah comentou? A Cah, de Addicted e Closer. Closer. Eu talvez nunca tenha dito, mas Closer foi uma inspiração e tanto pra We Say Summer. Eu terminei de ler e decidi que precisava fazer uma estória como aquela, eu queria fazer a minha estória de amor. E aí veio We Say Summer. Então, não acho que seja estranho o fato de eu ter ficado embasbacada quando vi que a autora da minha inspiração estava comentando na minha humilde fanfic. E que ela gostava, e lia sempre. E comentou mais vezes, e conversou comigo, e até hoje... Eu morri e morro, isso foi um dos maiores apoios que eu recebi pra escrever. Espero que tenha feito jus, que tenha conseguido finalizar bem com o que sei. Apesar das dificuldades e o tempo que eu fiquei sem escrever, espero não ter perdido a mão de We Say Summer, e que tenha feito jus a estória que criei e as pessoas que me apoiaram com ela! (E acho que a autora de PMI lê também? Sah, você está ai? KJFKDJÇ ;-; tem vezes que eu fico com vergonha, tenho mania de achar que nada que eu escrevo é suficiente, aí quando vejo gente que escreve bem lendo eu fico... Assustada. O que me lembra os atuais 57 likes na página do facebook, e se 57 pessoas leem WSS, isso já é umas 52 pessoas a mais do que leriam se não fosse o FFOBS. OBRIGADA, FFOBS! ? e Amy H., que fez essa capa maravilinda perfeita!)
E um último agradecimento especial: Leitoras lindas que viraram minhas amigas, e amigas minhas que viraram leitoras lindas! Maarih, Bruuh, Juubs, Isa... Mah, Helô! O acompanhamento que vocês deram pra We Say Summer foi impagável. E o apoio com a história nova... Vocês não existem. Merecem esse espaço especial pra sempre aqui. ?
Oh sim, e @mandaalima, pelo apoiou via twitter enquanto eu finalizava essa ÚLTIMA att. E Júlia C., que deu like no meu momento carente no fb. E Juubs, porque claro, né, SUA LINDA! Fiquei carente, e ainda estou, então dessa vez peço somente amor. Me amem. Socorro. KJFGHFKJGÇF Eu sei que essa não é a escrita mais brilhante, e, na verdade, sinto muita vontade de reescrever We Say Summer, mas acho que vou deixar isso pro dia que eu estiver feliz na minha faculdade de Letras, aprendendo cada vez mais, pra poder transformar essa história no melhor que ela pode ser. Já disse que é meu xodó, certo? Meu casalzinho fofo, e etc? Ok, parei.
E eu vi alguns pedidos por We Say Summer 2. Acho que vendo o final, vocês vão entender meus motivos para dizer que não tem como fazer uma continuação. E eu sempre imaginei WSS assim :) Porém, eu andei pensando...
Atenção, aviso importante!!! Depois de muitos pedidos, eu percebi que estava com uma ideia padronizada do que é uma continuação e não percebi que havia sim um modo de contar mais de We Say Summer sem ser chata, monótona e repetitiva. Uma parte da história pouco explorada, que vocês sabem alguns detalhes, mas só isso. É, eu decidi escrever sobre a vida deles ANTES da viagem. É um projeto, ainda, de nome incerto (por enquanto estou pendendo para "Before We Say Summer – The Winter", o que acham?), e de tamanho mais incerto ainda. Pode ter 10 capítulos, ou 30. Eu ainda estou me organizando quanto a isso, mas já acertei algumas coisas que vocês com certeza vão amar. Não é falta de humildade, ok? KGJHLFKJGHLF Não sei quando isso vai ser publicado, mas fiquem de olho no meu twitter ~especial~ @rooxyfics que eu com certeza vou enxer muito sobre isso por lá. E pela página de WSS no facebook, é claro. Quero deixar bem claro que me empolguei MUITO com essa ideia, e já tenho o prefácio prontíssimo e eu fico relendo ele só pra sorrir. Se não fosse assim eu JURO que não estaria fazendo uma "continuação", caso contrário eu não teria nem ao menos começado a desenvolvê-la. E se estou fazendo isso, é por vocês, para vocês. Se quiserem agradecer, as responsáveis por me fazer pensar nisso foram a @loserlikebia e a @mariliapedra (sempre você, né, Maarih linda?), além dos choros de muitas outras pelo eminente fim de WSS, que já tinham me feito pensar em escrever extras (tipo a formatura deles, e o casamento, e os filhos, e etc).
E acho que é isso. É difícil me despedir, mas... Não é realmente necessário. Além da fanfic nova, eu digo. Como sempre, ficam alguns links pra mantermos contatos, sintam-se livres para me adicionar no facebook, seguir no twitter/tumblr e etc. E eu juro que sigo de volta, porque eu realmente não quero perder esse contato com vocês, e, se não for pedir demais, realmente queria saber o que vocês acharam de We Say Summer :) Seja por comentários aqui ou por conversas pelas redes sociais, não importa. Mas me digam, é importante pra mim <3