Autora: Pamy Almeida
Beta-Reader: Amy Moore


Chapter one
Don't know where to start
(Não sei por onde começar)
Let me get to the good parts
(Deixe-me começar com as partes boas)
The Pretty Reckless – Goin’ Down



“Hey, ! Tem como cobrir meu turno amanhã? Vou ficar te devendo essa! Kat xx.”

Eu, realmente, devia começar a anotar todos os favores que eu faço para a Kat. É sério, só por precaução mesmo, já que eu sei que nunca teria coragem de cobrar.
O pior de tudo é que ela também sabe disso.
Joguei meu celular de volta em minha mochila e catei o resto do meu material, que estava espalhado em cima da mesa da biblioteca do colégio. Antes que a tela do aparelho desligasse, consegui vislumbrar o horário – 18:43. Se eu fosse outra pessoa (aliás, se eu fosse uma pessoa normal), me assustaria por ter passado toda a minha tarde de sexta-feira estudando, mas isso já era uma rotina minha. Principalmente se estivesse em época de provas (o que no caso era); aí mesmo que eu morava na biblioteca, fritando minha cabeça com os livros e exercícios. Não que eu esteja reclamando; para manter as melhores notas do colégio se exige este tipo de sacrifício.
No meu caso, nem usaria mais a palavra “sacrifício”, já que me dedicar completamente aos estudos faz parte da minha rotina desde que me entendo por gente.
É só estudar, estudar e estudar.
Levantei da cadeira de madeira extremamente desconfortável e me espreguicei. Apoiei minha mochila em um ombro só e suspirei. Ainda tinha que andar cinco quarteirões até minha casa. Puxei minha mochila para frente, tirando meu iPod do bolsinho lateral e coloquei os fones enquanto me despedida da Sra. Smith, a simpática bibliotecária.
Uma música da banda The Pretty Reckless começou alta em meus ouvidos. Abri a porta da biblioteca, encontrando os corredores da escola completamente vazios e com a iluminação parcialmente desligada. Também, não era para menos. Antes que eu pudesse me controlar, comecei a cantarolar baixinho a canção. Bom, achei que de fato estava baixinho, até que me dei conta que minha voz sobressaía a da vocalista e, em uma reação quase que automática, girei meu pescoço para me certificar que não havia mesmo ninguém por ali. Imagina o tamanho da vergonha que eu passaria se um dos trogloditas do time de futebol estivesse ali. Eles me amam quando precisam dos trabalhos feitos, mas quando eu não tenho mais utilidade, adoram me zoar. Forcei meus olhos na escuridão, ajeitando minha mochila que cismava em escorregar dos meus ombros e, foi quando eu vi uma sombra no fim do corredor se mexer rapidamente em minha direção.
A primeira reação de uma garota comum seria sair correndo na direção oposta, gritar escandalosamente e chorar pedindo os pais, já que a escola devia supostamente estar vazia e não ter uma sombra correndo por aí. Mas como eu já deixei claro que eu posso ser muitas coisas, menos normal, fiquei estática, esperando o destino me acertar. E para mim o destino era uma... garota?
A menina começou a acenar freneticamente para mim, mas ainda assim não conseguia distinguir sua silhueta das de nenhuma da meia dúzia de pessoas dessa escola que poderiam estar realmente contentes por me ver. Ela foi se aproximando cada vez mais, até estar a poucos passos de mim. Colocou uma mão no joelho, ofegando alto, e outra me pedia claramente para que eu esperasse. Enquanto ela se recuperava da corrida, percebi, ainda que na meia luz, que seus cabelos tinham um tom de vermelho intenso, sua pele era quase tão branca quanto a minha. A garota não usava o uniforme da escola e sim uma meia calça xadrez preta e verde musgo, uma saia preta no meio da coxa, uma blusa azul marinho de manga três quartos e um All Star surrado.
Ela se endireitou, ainda ofegando, e me olhou com um sorriso brincalhão no rosto.
- Eu preciso mesmo parar de fumar – disse, divertida.
Assim que ela me encarou, percebi que eu conhecia sim aquela maluca.
Não, eu não estava exagerando em dizer que ela era insana. Essa era ninguém menos que Elle Judd, a outra garçonete da lanchonete na qual eu trabalhava. E cara, ela nunca falou comigo, no mínimo também achando que eu era só mais uma nerd esquisita que estudava na mesma escola que ela. O fato era que, assim como Kat, sempre que ela precisava que alguém cobrisse seu turno nos finais de semana, era a mim que ela recorria e então tudo fez sentido.
- Olha, Elle, a Kat já vai faltar amanhã, acho que não tenho como cobrir você também, me desculpe - disse.
Elle me olhou por uns segundos sem entender, até que como num estalo o semblante dela mudou para um de pura diversão.
Ótimo, agora eu divertia as pessoas até falando normal. Qual o problema comigo?
- Não é nada disso, gata! - E deu uma risada.
Eu disse que ela era maluca. Primeiro, me chama de “gata”, o que obviamente para todo mundo eu não era, e depois riu sem motivo aparente. Acho que a hora de começar a ficar com medo chegou; eu estava lidando com uma fugitiva de algum hospício.
- Quer uma carona para casa? - Elle me perguntou, como se fossemos amigas de infância.
- Não, obrigada, eu posso ir andando – disse, desconfiada.
- Qual é! Eu não vou te morder! É só uma carona - ela disse, piscando, e completou. – Relaxa; se eu encontrar algum fio de cabelo seu no meu carro, prometo não fazer nenhum ritual. - Fez sinal de juramento e continuou séria.
E ainda tinha isso. Todo mundo achava que ela mexia com magia negra, forças das trevas, ou seja lá como o povo chamava aqui, e nem sabia o porquê de acharem isso. Sempre fui bem cética com essas coisas e ficava rindo mentalmente desse monte de bitolados da escola, mas preciso confessar que ouvi-la falar assim tão normalmente sobre isso não me deixou nem um pouco confortável.
Até porque, entre eu achar uma coisa e ela ser realmente verdade, existe uma grande diferença. E quando me dei conta disso, o meu desconforto passou para o máximo. Querendo ou não, devo ter transparecido claramente esse meu sentimento para as minhas feições, o que deve ter sido bem engraçado, já que ela gargalhou alto ecoando por todo o corredor.
- Você é sempre bobinha assim mesmo? - ela perguntou naturalmente e me puxou pelo braço em direção a porta da saída. - Realmente não acredito que a traça de livros caia no conto desses babacas da escola.
Eu podia cavar um buraco ali no chão mesmo e me esconder para o resto da vida que mesmo assim a minha vergonha não passaria. Como eu deixei me levar, mesmo que por um segundo, pelas historinhas do pessoal daqui?
Depois de lidar com a minha idiotice, percebi que já estávamos chegando ao estacionamento da escola. Vi Elle tirar uma chave de sua bolsinha transpassada, que eu não havia notado por ser minúscula, e imaginei se tratar da chave de sua pick-up cabine dupla. Ela destravou as portas e soltou meu braço que ainda segurava com vontade, andou para o lado do motorista e eu fiquei parada no meio do caminho. Elle já estava abrindo a porta para entrar, quando me percebeu.
- É sério, , é só uma carona. Já está escuro; é perigoso você ficar andando por aí sozinha. - E pela primeira vez naqueles míseros minutos de conversa, a garota parecia falar sério.
Eu quase disse que eu não me sentia lá muito segura na companhia dela, mas acho que isso realmente a ofenderia e, sinceramente, Elle nunca havia feito nada para mim. Bom, literalmente nada, nem de bom nem de ruim; só fingia que eu não existia e lembrava quando lhe era conveniente. Ou seja, agia como todo o resto da escola. E outra, eram cinco quarteirões! Eu estava arrasada, morrendo por um lanche gostoso e uma cama quentinha. Arriscar minha vida pegando carona com a maluca da escola, de repente me pareceu muito tentador. Dei de ombros e abri a porta do carro, me ajeitando no banco gasto da pick up que não parecia tão nova por dentro. Logo estávamos fora dos limites da escola e Elle mexia no rádio, a única coisa que parecia ser bem cuidada ali, quando uma canção do Aerosmith preencheu o carro.
- As pessoas falam que eu sou bruxa, não telepata; você ainda precisa me dizer onde mora - ela disse, rindo para mim.
Dei as instruções necessárias a ela e ficamos em silêncio novamente. Eu cantava mentalmente a música, alheia as coisas, mas não totalmente dispersa a ponto de não notar as olhadas de esgueira que Elle me dava. Aquilo estava ficando cada vez mais estranho.
Logo vi que entravamos em minha rua. Apontei onde minha casa era e ela parou em frente ao enorme jardim dianteiro. Elle olhava espantada para minha casa, o que não era para menos, ela estava mais para um casarão; seis quartos, duas salas, oito banheiros, fora a piscina exageradamente grande na parte dos fundos.
- Cara, você é rica! - ela exclamou, me encarando, descrente. - Por que você trabalha naquela lanchonete nojenta, e principalmente, por que não tem um carro?! Seus pais podem te dar uns cinco, se você quiser!
Eu nunca tive que explicar a história da minha vida para ninguém, já que nunca nenhuma pessoa se interessou. Era meio triste dizer, mas Elle era a primeira pessoa da escola que sabia onde eu morava. Nunca fui de fazer amigos e, os poucos colegas que tinha, eram daquele tipo de amizade que começa e termina entre as paredes da escola.
Como faltava apenas uma semana de aula para acabar o inferno do ensino médio, e eu poder finalmente sair daquela cidade e ir para a faculdade, não estava a fim de criar laços naquele momento.
- É complicado - falei simplesmente. - Obrigada mesmo pela carona. Tchau. – Despedi-me, já com a porta aberta, e a bati, seguindo o caminho no meio do jardim sem me dar ao trabalho de olhar para trás.


Chapter two


I can feel the pressure

(Eu posso sentir a pressão)
It's getting closer now
(Está ficando mais perto agora)
Paramore – Pressure


Sentada no balcão do cozinha com as pernas cruzadas na posição do “Buda”, eu gargalhava junto com a Sra. Juanez e Mary. Essa tentava controlar as gargalhadas e manter a compostura de uma governanta séria. Como se eu não a conhecesse. O cheirinho do bolo de laranja da Sra. Juanez empesteava a cozinha e fazia minha barriga reclamar querendo logo saboreá-lo, vi o Sr. Peterson passar pelo corredor ajeitando seu paletó do uniforme e proferir milhares de elogios àquele aroma delicioso, mas logo se adiantou para a garagem preparar o carro que levaria meu pai ao escritório.
Como fazia um clima atipicamente agradável e até um Sol tímido brigava para aparecer por entre as nuvens branquinhas, Mary e eu resolvemos que seria gostoso tomar o café da manhã ao ar livre. Por isso ela ajeitava as últimas louças em cima de uma bandeja e a carregava para a mesa ao lado da piscina que ficava no jardim traseiro.
Ouvi passos duros vindos do corredor principal da casa e imediatamente soube a quem eles pertenciam, pulei do balcão da cozinha e percebi o sorriso no rosto da cozinheira diminuir e praticamente sumir quando a voz de meu pai se fez ouvir na entrada da cozinha.
- Bom dia, filha. Sra. Juanez. - Ele fez uma menção com a cabeça na direção da cozinheira que lhe cumprimentou de volta.
Meu pai voltou a andar e atravessou a cozinha com o mesmo semblante duro indo para o jardim.
- Vá fazer companhia ao seu pai, menina . - O sotaque latino carregado dela se fez ouvir.
- Como se a minha presença fosse fazer diferença - sussurrei e vi o olhar pesaroso que a calorosa senhora me lançou.
Segui o mesmo caminho que ele havia feito a pouco, me aproximando da mesa enquanto Mary servia seu café e ele lia compenetradamente seu jornal. Sentei-me a sua frente e a governanta preencheu meu copo com suco de melancia. Meu pai parecia sequer ter notado que Mary ou eu estávamos lá, às vezes eu me perguntava se estava levando muito a sério essa história de ser invisível e o estava praticando com ele também.
Parecendo lembrar de algo, meu pai abaixou seu jornal e me encarou.
- As respostas das faculdades de Direito chegando essa semana, correto? - ele perguntou, com seu típico tom profissional.
Era difícil saber se conversava com meu pai ou com o poderoso advogado Johnnatan , já que ele parecia me tratar como um dos seus clientes.
- A resposta de Bristol chegou ontem – falei, só para ter algo o que responder, já que eu sabia exatamente o que ele falaria de volta.
- Só nos interessa Oxford. - E como eu previ, ele respondeu exatamente a mesma coisa de sempre.
- Claro - sussurrei uma resposta mais para mim, já que ele já havia colocado o jornal a sua frente novamente.
Nem por curiosidade ele perguntou se eu havia sido aceita em Bristol, o que na realidade aconteceu. Eu não esperava um maior interesse nisso, aliás, eu não esperava interesse algum, mas como vinha acontecendo há muitos anos, eu ainda tentava estabelecer uma maior comunicação entre nós.
Tentativas vãs.
Pela total falta de interesse dele e por, infelizmente, eu já estar acostumada, terminamos a refeição em silêncio e logo meu pai se levantou dizendo estar atrasado para chegar ao escritório. Eu sempre achei isso desnecessário, chegar sempre cedíssimo, antes mesmo de todos os outros funcionários e ser sempre o último a sair. Uma vez me atrevi a perguntar e meu pai foi curto e grosso na resposta: “Isso se chama responsabilidade, não é porque eu sou o dono da firma que isso quer dizer que posso me dar ao luxo de certos privilégios. Preciso dar o exemplo”.
Depois disso nunca mais me atrevi a perguntar qualquer outra coisa sobre o escritório, mesmo sabendo que daqui a alguns anos eu estaria na mesma rotina que ele agora.
Fui para a sala de TV e me joguei em um dos enormes sofás vermelhos de lá. Desde nova adorava ficar estirada naquelas almofadas gigantes e extremamente confortáveis. Peguei o controle e deixei em um canal que passava clipes antigos que amava. Não muito tempo depois, Mary bateu levemente a porta e vi sua figura adentrar a sala.
- , a Becky já está lhe esperando no hall de entrada – anunciou, sorrindo.
Todos os sábados, quando Mary anunciava a chegada dela, o dia ganhava todo um novo ânimo. Principalmente depois do café da manhã deprimente que eu compartilhava com meu pai. Levantei com minha disposição renovada e andei apressadamente para o hall de entrada, encontrando minha professora de música para próxima à porta.
- Bom dia, querida! - a animação de Becky era contagiante.
A cumprimentei de volta e seguimos para o que deveria ser outro escritório da casa, mas com o passar dos anos virou um sala de música, onde todos os sábados, desde que eu tenho doze anos, Becky me dava aulas de piano.
Tudo começou com a minha mãe quando eu tinha apenas sete anos e ela resolveu me ensinar a tocar, por muito tempo, nos praticamos juntas quase todos os dias ali. Praticamente uma terapia entre mãe e filha. Mas quando o diagnóstico do câncer de mama foi revelado e ela começou a ficar debilitada devido às sessões de quimioterapia, minha mãe fez questão de contratar uma professora de música para que eu não parasse de praticar.
Quando ela faleceu, há quase cinco anos, foi como se tivessem arrancado um pedaço de mim e enterrado junto com ela. A única coisa que me fazia ter a sensação de proximidade novamente era quando meus dedos sentiam as teclas do piano e as melodias preenchiam o silêncio ao me redor.
Isso para sempre será uma coisa nossa.
Mas o tempo passou e o amor pela música cresceu, eu queria mais. Queria expandir meus horizontes e os violões sempre me atraíram. Como Becky percebeu esse meu interesse crescente, ela insistiu diversas vezes ao meu pai que a deixasse me ensinar também a tocar violão. Porém, ele já havia se tornado o homem duro que é agora e resolveu que aquela coisa de música era uma perda de tempo para mim, e que o piano já tomava tempo demais. Tempo esse, que para ele deveria ser preenchido com mais estudos.
Sabe como é né, a gente cresce e fica mais abusado, além de ganhar maior liberdade. Arranjei um emprego de garçonete na lanchonete e escondida dele comprei meu violão, além disso, pago minhas aulas clandestina com minha professora cúmplice. Ela que ficou tão feliz em me apoiar nessa empreitada contra meu pai, que como um bônus começou a me ensinar canto também.
- Então, treinou os exercícios de voz que eu lhe indiquei no sábado passado? - ela perguntou, depositando sua bolsa em cima de uma mesa no canto da sala.
- Claro, e os exercícios para o violão também.
- Minha aluna preferida! A única que realmente fez o que peço - ela disse, rindo.
Como sempre, a manhã passava rápida demais e logo vi me despedindo de Becky mais uma vez. Percebi que se eu não corresse, chegaria atrasada ao trabalho, já que precisava render a Kat também. Tomei um banho rápido, sem deixar de passar na cozinha depois e carregar alguns dos quitutes que a Sr. Juanez sempre fazia para o lanche da tarde. A minha fome quase me fez perder a condução e tive que forçar minhas pernas a correrem mais do que estavam acostumadas. Já dentro do ônibus, e totalmente sem fôlego, me joguei em um dos últimos bancos que estavam vazios.
Mesmo depois do esforço, consegui chegar atrasada, o que me fez correr mais uma vez naquele dia, mas agora para atrás do balcão e pegar meu avental. Desfiei uma dúzia de desculpas para Emily, a garota que trabalhava na parte da manhã e não parecia nada feliz, ela só deu de ombros e foi embora.
Talvez a sorte estivesse um pouco comigo naquela tarde e o movimento seria tranquilo, me debrucei no balcão observando as únicas três mesas ocupadas e suspirei, pra logo tomar um susto com a cabeleira vermelha que passou esvoaçante a minha frente dando a volta no balcão e parando ao meu lado.
- Fala aí, riquinha. - Elle me cumprimentou, sorrindo.
Eu tentei não pensar no acontecimento de ontem a noite, até porque não queria tirar conclusões precipitadas e talvez, só talvez, alguém estivesse somente tentando ser legal comigo. Mas a ouvir me chamando de “riquinha”, fez um alerta se acender dentro de mim e logo a ideia de que ter aceitado aquela carona foi um grande erro, se fixou em minha mente. A Elle é o tipo de garota adorada por todos e que sempre chama atenção pelo seu jeito “sou bacana e não me importo com que tribo você anda”, ou talvez o seu cabelo avermelhado com as pontas meio loiras já chamem atenção suficiente, a questão é que mesmo ela sempre sendo simpática com todo mundo, não quer dizer que eu me inclua no “todo mundo”. O que deixava tudo mais estranho.
- Oi, Elle – respondi, sem ânimo algum.
Ela sorriu de um jeito estranho para mim e saiu andando para atender uma mesa que havia a chamado.
Nada tirava da minha cabeça que toda essa gentileza, sorrisinhos e, sinceramente, intimidade demais, escondiam um interesse maior. É nessa hora que eu começo a formular as hipóteses, que no final acabaram sendo só duas. Ou ela quer um favor gigante meu como, sei lá, fazer todas as suas provas finais e trabalhos que ainda restavam entregar, ou, o que me assustava profundamente, estava começando a considerar que Elle poderia ser lésbica e estava afim de mim. Porque convenhamos que ninguém sorri tanto para alguém do mesmo sexo sem querer algo maior dele.
E isso martelou na minha cabeça o resto da tarde, já que ela continuou a me tratar como se fossemos amigas de infância e os tais sorrisos insistiam em aparecer. A hipótese do lesbianismo estava ganhando de lavada, já que quando ela queria favores escolares ia direto ao ponto e não ficava nesse joguinho como se quisesse ganhar minha confiança.
A noite se aproximava e a hora de fechar a lanchonete chegou, geralmente essa é a hora que a Elle e a Kat se mandam, me deixando para lavar e arrumar tudo sozinha. Mas como eu imaginei que pudesse acontecer, devido todas aquelas atitudes esquisitas, Elle ficou e começou a colocar as cadeira viradas de cabeça para baixo por cima das mesas. Franzi o cenho estranhando mais ainda aquilo, mas resolvi esconder minhas desconfianças e fui para os fundos da lanchonete pegar uma vassoura para varrer o chão do salão. Quando voltei para dentro da lanchonete, Elle já havia puxado as portas de ferro para baixo e mexia no som.
Comecei a varrer o chão, tentando ser indiferente a situação mais esquisita que já havia presenciado até que The Pretty Reckless começou a tocar no rádio, achei engraçada a coincidência de ser exatamente a mesma música que eu ouvia ontem quando saía da escola. Aquela música tinha o poder de me fazer cantar sem perceber, quando me dei conta, Elle batucava no balcão ao ritmo da bateria e eu cantava mais alto do que eu jamais me permiti perto de alguém sem ser Becky. O choque da realidade me pegou, fazendo com que eu me calasse e saísse andando para os fundos da lanchonete novamente, morta de vergonha.
- Hey, o que houve? - Elle gritou, vindo atrás de mim.
Fingi que não a ouvia e permaneci calada mexendo em todas as coisas do armário de limpeza, sem saber exatamente o que estava fazendo. Aquela era a situação mais constrangedora de todo minha vida. Sempre passei despercebida pelas pessoas ao meu redor e de repente me pego cantando em alto e bom som do lado de uma maluca que ainda por cima tem fama de bruxa.
- Por que você saiu correndo feito uma louca? - ela perguntou, chegando ao meu lado.
Virei de costas para ela, e fui mexer na outra parte do armário que ainda não havia sido atacado pelas minhas mãos ansiosas e descontroladas.
- Qual é! Agora não vai me responder? Até uns minutos atrás você estava cantando a plenos pulmões! - ela disse, parecendo confusa.
Encarei-a pronta para dizer milhões de coisas nada legais, mas como sempre, meu lado pateta de ser me impedia de dizer qualquer coisa maldosa a quem quer que fosse. É um poder idiota de se ter, nunca conseguir dizer nada que magoasse alguém. Estúpida demais.
Abaixei minha cabeça e voltei a passos largos para dentro da lanchonete. Percebi que outra música da The Pretty Reckless tocava, me dando conta de que era o CD da banda que rodava no aparelho de som. Como num clique, tudo fez sentido para mim.
- Você me ouviu ontem no corredor da escola, não ouviu? - encontrei minha voz e a indaguei, tanto surpresa quanto indignada.
Ela sorriu de lado e eu vi que era aquilo mesmo. Escondi meu rosto nas mãos, sentindo minha vergonha aumentar ainda mais e minha vontade de sair correndo quase tomar conta mim.
- , você é boa demais! Quase não acreditei quando escutei aquele vozeirão no escuro do corredor e logo depois encontrei você - ela disse, empolgada se aproximando de mim com um sorriso enorme no rosto.
Os elogios de Elle não estavam ajudando em nada com a minha vergonha, que só ficava maior quando eu pensava que ela havia me ouvido cantar não só uma, mas duas vezes.
Escutei batidas na porta de ferro e então Elle saiu correndo a abrindo, deixando duas garotas entrarem. Uma tinha cabelos loiros tão longos que chegavam até o fim de suas costas, olhos azuis e usava um vestido azul escuro de meia manga e uma sapatilha branca; A outra tinha cabelos pretos curtíssimos e conforme se mexia, algumas partes ficavam azuladas, com olhos também azuis, usava uma calça de couro apertada, uma ankle boot e uma blusa listrada. As duas mascavam chiclete e cumprimentaram Elle com empurrões e risadas, pareciam três meninos no corpo invejável de três garotas lindas.
- E aí, cadê a nossa vocalista que você disse que tinha encontrado? - a de cabelos pretos perguntou para Elle cruzando os braços e arqueando uma sobrancelha.
- Cix e Alex, essa é , nossa admirável nerd com vozeirão de estrela do rock. - Elle anunciou, sorridente, apontando para mim.
O choque que aquelas palavras me fez ter deveria ser visível em meu rosto e a única coisa que passava em minha mente era “que história é essa de vocalista, vozeirão e estrela do rock?! A Elle só podia estar drogada!”
- Você está falando sério? - a loira perguntou, desconfiada, e franziu o cenho de leve.
- Claro que estou! Se vocês tivessem chegado aqui uns cinco minutos antes teriam ouvido. Ela é simplesmente incrível! - Elle continuava com a empolgação de sempre.
- Não sei não, Elle. Ela não tem cara de ser tudo isso que você está dizendo. - a morena disse compartilhando da desconfiança.
Mas em que universo paralelo em vim parar? As três conversavam sobre mim e me analisavam dos pés a cabeça, me fazendo sentir como um animal de zoológico que estava ali para exposição e comentários dos visitantes.
As três engataram uma conversa paralela e depois de muito me dissecarem com os olhos, se distraíram umas com as outras. Aproveitei aquele momento para arrancar o avental que ainda usava e o empurrei de qualquer jeito no compartimento embaixo do balcão. As escutei discutindo sobre os meus possíveis dotes me deixando mais nervosa e doida para cair fora daquele lugar.
Se eu fosse silenciosa e não fizesse movimentos bruscos, talvez conseguiria sair despercebida, afinal de contas, em ser invisível eu era mestre.
Aproximei-me da porta de ferro, com a excitação batendo forte no meu peito tanto pelo medo delas me verem quanto por estar bem próxima de conseguir fugir. Assim que meus dedos sentiram o frio do metal, escutei a voz confusa de Elle me chamando, me fazendo tomar o segundo susto daquele dia e depois estancar no lugar.
- Aonde você vai? A gente precisa conversar.
- Como você acha que ela vai ser a nossa vocalista, se nem saber falar ela sabe?! - a morena disse, exasperada, mas consegui sentir um tom de deboche por baixo de suas palavras.
Eu sou uma pessoa extremamente calma e compassiva, mas não significa que tenho sangue de barata. Sabia que aquela garota estava tirando sarro com a minha cara, e um dos motivos de sempre me manter as sombras era para permanecer fora das possíveis gozações dos outros.
- Eu sei falar. - Antes que eu pudesse segurar minha língua, já havia falado.
A morena me olhou com um sorrisinho mais debochado ainda no rosto e eu pude perceber que ela estava se divertindo com aquilo. A loira a mandou um olhar reprovador, que não adiantou de nada, já que a morena continuou a pressionar:
- Então a nerdzinha sabe falar, mas o que me interessa mesmo é saber se você sabe cantar também.
Eu queria saber em qual momento eu saí do fim do meu expediente e entrei numa audição para, o que eu estava percebendo agora, fazer parte de uma banda de garotas. Fiquei sem saber o que fazer ali, me sentindo acuada pelas três garotas que pareciam ter saído de um editorial de moda. Olhei para Elle, que era o rosto mais familiar ali e acho que finalmente a garota entendeu que eu não estava nada confortável com aquela situação.
- Meninas, é melhor explicarmos a situação para a e a deixar digerir a ideia - ela disse, chegando perto de mim e me puxando pelo braço.
Eu percebi que aquilo estava se tornando um padrão, Elle sempre me carregando pelos lugares pelo braço como se eu fosse uma criança de cinco anos.

Eu ainda não conseguia acreditar que estava dentro de um pub, com três garotas completamente insanas e ainda segurava uma garrafa de cerveja. Eu nunca havia entrado em um pub em toda a minha vida, se alguém me falasse que isso aconteceria antes do fim do ensino médio e que ainda por cima o motivo era a discussão sobre eu entrar ou não em uma banda de rock, eu teria rido. Melhor, gargalhado até não aguentar mais e depois perguntaria se a pessoa tinha fumado maconha estragada.
Vi Cix, a garota dos cabelos escuros, lançando um sorriso safado para um cara que devia ter muito mais que vinte e cinco anos e fiquei assustada. As outras duas riram e deram tapas no braço dela mandando-a se concentrar no assunto. Cix olhou de cara feia para elas, mas logo deu de ombros se dando por vencida.
- Então, , você tem experiência com música? - Alex me perguntou, dando um longo gole em sua cerveja logo em seguida.
- Um pouco. - Dei de ombros girando a garrafa de cerveja em minha mão que ainda estava completamente cheia.
- Nossa, estou me cansando de ouvir a sua voz, dá para você falar menos? – Ironia transbordava das palavras de Cix, seus olhos me examinavam atentamente e logo uma risada saiu de seus lábios.
Lancei um sorriso sem graça, mas continuei calada. Não estava confortável com aquilo, não devia estar ali, supostamente bebendo, ainda mais sem nem avisar alguém na minha casa. Se meu pai soubesse disso, teria um enfarte fulminante.
- Nerdzinha, não vai beber sua cerveja? - Elle perguntou, batendo seu ombro no meu.
- Eu acho que ela nunca bebeu. - Alex disse, depois de depositar sua garrafa vazia em cima da mesa, sem nem ao menos deixar que eu me explicasse.
Cix e Elle me olharam descrentes, provavelmente se perguntavam qual garota de dezoito anos no Reino Unido que nunca havia bebido ainda.
- Não acredito que vamos desvirginar alcoolicamente uma nerd! - Cix gargalhou e me olhou realmente com interesse.
Cara, eu realmente odiava quando elas só ficavam me chamando de nerd. Não que eu não fosse, mas do jeito que elas falavam fazia parecer como algo bizarro, e as vezes até soava como uma coisa ruim. Como se eu fosse a estranha ali.
Meio que não pensando muito no que estava fazendo, levei a garrafa a minha boca e dei um gole generoso naquele líquido. E, nossa, como era horrível! O gosto amargo me deixou com uma sensação estranha na boca, minha língua ficou áspera e eu só queria poder conseguir uma garrafa d'água imediatamente.
As três meninas riram da minha cara de nojo e começaram a dar tapinhas em meu braço como se estivessem me parabenizando pela coragem, achei engraçado aquilo e acabei rindo com elas.
- Bom, vamos tratar de negócios então. - Cix disse, me olhando. - Alex e eu nunca ouvimos você cantar, mas a Elle garante que você é excelente e nós duas confiamos na nossa baterista.
Cix e Elle bateram suas garrafas num gesto cúmplice e sorriram uma para outra.
- O problema é o seguinte: nós tínhamos uma vocalista até umas semanas atrás, mas ela se achava estrela demais e vivia dizendo por aí que era dona da banda. Acho que já deu para perceber que eu não sou do tipo que tolera gracinhas. - Cix disse levantando uma sobrancelha.
E eu não sei porque, mas senti que aquilo foi um aviso para mim.
- Então nós “gentilmente” a expulsamos da banda, mas já tínhamos nos inscrito em um concurso enorme que a Universal Music abriu e o prêmio para o vencedor é um contrato com a gravadora. Aí nos vimos com um problema enorme nas mãos, já que mesmo insuportavelmente nojenta, a Stella era uma puta cantora. - Alex continuou contando a história delas, só sendo interrompida quando o garçom chegou com outra rodada de cervejas.
Eu estava sentindo aonde aquele papo chegaria, mas estava rezando para que não o fosse.
- O jeito foi correr atrás de uma vocalista nova, colocamos comunicados em todos os lugares em que a gente pode, fizemos várias audições, mas nenhuma garota tinha a voz que procurávamos. A gente já estava pensando em desistir, tínhamos marcado uma reunião da banda para ontem à noite para reclamar mais e meio que nos convencer de que sair do concurso era o único jeito. - Elle falou dessa vez e sorriu para mim. - Bom, essa era a idéia até eu a ouvir cantando ontem no corredor da escola.
Eu estava ferrada, muito ferrada.
Então era isso mesmo, elas queriam que eu entrasse na banda e para piorar a situação, estava sendo vista como a salvação delas. Eu posso ser nerd, mas não era tapada. Um contrato com a Universal Music era uma oportunidade imperdível para qualquer banda que queira uma carreira de verdade, sólida. E, definitivamente, aquelas três pareciam bem seguras de que nasceram para aquilo.
O problema era a absoluta certeza que eu tinha de que não pertencia a esse mundo que elas pareciam se encaixar tão perfeitamente.
- Então, , você quer se juntar a nós? - Alex perguntou e por um segundo vi apreensão em seus olhos.
Elle me encarava em expectativa, enquanto Cix fazia uma cara blasé, mas eu podia apostar que sua expectativa era igual ou talvez maior que a da amiga com o cabelo cor de fogo.
- Vocês não podem estar falando sério. As três já deixaram bem claro que eu não passo de uma nerd! Como eu vou ser vocalista de uma banda de rock?! - falei nervosa e instintivamente levei a garrafa em minha mão até minha boca.
Meu estado era tão crítico que nem o sabor estranho da cerveja me abalou, me fazendo tomar o conteúdo inteiro da garrafa de uma vez.
Acho que isso serviu de alarme para as três garotas, elas se entreolharam tentando buscar apoio uma na outra para me convencer daquela maluquice.
- , eu sei que todo mundo fala que você é só uma nerd, mas você não gostaria de poder mostrar para eles que é muito mais do que isso? - Elle me perguntou e segurou minha mão, que estava abandonada em cima da mesa. - A gente não quer te pressionar a nada, você sempre foi uma garota legal comigo, mesmo eu não merecendo muito por te tratar como ninguém. - ela apertou mais forte minha mão e a soltou.
- É verdade, . Sem pressão mesmo, você pode pensar, analisar de todas as formas se terá condições para isso - falou Alex. - Mas eu só queria que você soubesse que isso é muito importante para a gente, é uma oportunidade de ouro para as nossas carreiras e nos ficaríamos muito felizes se você pudesse nos ajudar.
- Eu realmente não sei se posso. Vocês entendem não é? - me sentia miserável por de alguma formar estar matando os sonhos dessas garotas.
- Claro! Por isso a gente vai te dar um tempinho para pensar. - Elle disse com o seu jeito empolgado novamente. - Só que é um tempinho mesmo, o concurso é daqui duas semanas e para você aprender a nossa música seria bom ter o máximo de tempo possível de ensaio.
- Duas semanas?! - exclamei espantada.
As três balançaram a cabeça em afirmativa.
- Olha só, amanhã nós vamos fazer um churrasco na casa da Elle, ela vai te dar o endereço. O irmão dela está na cidade, ele está de férias da faculdade e trouxe uns amigos. Como os pais dela estão viajando esse final de semana, a gente está a fim de aproveitar. Pensa com calma essa noite e aparece por lá, ok? - Cix disse e cutucou Elle para que ela me desse logo o endereço.
A garota tirou uma caneta da bolsa e apanhou um guardanapo, anotando rapidamente as coordenadas e me passou. Olhei o endereço e percebi que ficava um pouco longe da minha casa, abaixo do nome da rua ela também havia anotado seu número do celular.
Senti que não tinha mais nada para fazer ali, as garotas já haviam colocado as cartas na mesa e agora cabia a eu decidir o rumo desse jogo. Levantei da cadeira ainda atordoada com aquelas informações e me despedi delas, que ainda pareciam nutrir uma ponta de esperança de que eu aceitasse.
Sai com dificuldade do pub, já que conforme o tempo foi passando o local ficou extremamente lotado, cheguei à calçada e logo uma rajada de vento frio passou por mim me fazendo agarrar meu casaco. Avistei um táxi vindo devagar pela rua e logo acenei para ele, decidi que não era a melhor opção andar sozinha até o ponto de ônibus aquela hora da noite. O táxi parou a minha frente e eu entrei dando meu endereço ao senhor que prontamente seguiu o caminho. Suspirei, jogando minha cabeça para trás, pensando na tamanha enrascada que eu estava prestes a me meter.


Chapter three
Like a deer caught in the headlights

(Como alguém pego pelos faróis)
I won't know what hit me
(Eu não saberei o que me atingiu)
Running from lions
(Correr de leões)
Never felt like such a mistake
(Nunca pareceu tanto um erro)

All Time Low – Running From Lions

A minha mente ferveu durante a madrugada inteira. Pensei sobre tudo o que elas falaram e constantemente as feições esperançosas delas preenchiam a minha mente, e aquilo era uma verdadeira droga. Eu era conhecida, não que eu fosse lá muito conhecida, mas quem já teve contato comigo sabe do meu pequeno problema em não saber negar nada para ninguém. E era meio que assim que quase todos no colégio pelo menos sabiam da minha existência; eu viva fazendo favores a torto e a direito, às vezes, mesmo com a possibilidade de não conseguir, eu aceitava e dava sempre meu melhor. Talvez isso tenha sido um fator bem agravante na decisão desesperada de Elle de me propor a entrar em sua banda.
Já havia amanhecido há muito tempo, mas a minha coragem de sair da cama era nula. Sabia que se levantasse teria que ir enfrentar as três garotas e queria adiar o máximo que podia. Puxei o cobertor até minha cabeça e suspirei alto. Pensei em como um simples descuido com a minha cantoria descontrolada me deixou nessa situação.
Ouvi batidas em minha porta e acabei resmungando alto. Com certeza era Mary querendo se certificar de que estava tudo bem comigo, já que hoje não havia dado sinal de vida. As batidas continuaram e eu gritei um “entra” totalmente abafado pelas cobertas.
- A gente que bebe até de madrugada e a nerd que fica na ressaca? – Ouvi de dentro do meu quarto a última voz que pensei ser possível.
Tirei o cobertor desajeitadamente de minha cabeça e visualizei Cix, Alex, Elle e Mary, que sorria divertidamente, provavelmente com a minha cara de surpresa.
- Elas falaram que são suas amigas da escola e que tinham marcado de sair com você hoje, então eu as deixei entrar. - Mary se explicou, ainda sorrindo, e saiu do quarto.
Ótimo, agora a minha governanta ficou maluca e deixa desconhecidas entrarem na casa.
Voltei a olhar para as garotas, sem entender, mas antes que eu pudesse falar qualquer coisa, fui atacada por elas. Elle puxou minhas cobertas a tacando no chão enquanto Alex e Cix me puxavam da cama, quando percebi já estava sentada no chão do quarto entre risadas com as três.
- Vocês são malucas. Sabem disso, não é? - consegui falar, tentando me levantar do chão.
- Com muito prazer - vi Alex responder, enquanto me empurrava em direção ao banheiro.
- O que vocês estão fazendo aqui? Não era pra eu ir até a casa da Elle? – indaguei, depois de rir da resposta de Alex.
- Alguma coisa me dizia que você estava pensando em fugir da gente - Cix respondeu, com o sorrisinho debochado, que parecia estar sempre colado em seu rosto.
E ela provavelmente estava certa; talvez depois de me arrumar desistisse de sair de casa e depois lidaria com o falatório e a cara decepcionada de Elle na lanchonete. Nada tirava da minha cabeça que seria mais fácil fugir do que enfrentar o dia estava só começando.
Consegui me desvencilhar dos braços de Alex e me levantei, indo para o banheiro.
- Ui, belo traseiro, nerdzinha! - Cix disse e eu percebi que havia dormido somente de calcinha e a parte de cima do pijama.
Saí correndo para dentro do banheiro, enquanto ouvia as gargalhadas das três.
Tomei um banho rápido, fiz minha higiene matinal e voltei ao meu quarto, já vestida com meu roupão. Encontrei Alex revirando meu guarda-roupa, enquanto Cix e Elle conversavam despreocupadamente deitadas em minha cama.
Nem um pouco folgadas.
Fiquei parada, olhando a cena, até que Alex percebeu minha presença e sorriu, trazendo consigo uma muda de roupas. Percebi que eram roupas que eu nunca havia usado e nem pretendia. Não era de me arrumar muito; sempre optei pelo básico e confortável.
- Você tem roupas bem legais - Alex disse.
Desdobrei as peças de roupas encontrando uma calça skinny ultra apertada, uma blusa regata listrada em vermelho e branco minúscula e um blusão branco. Olhei para a cara de Alex e ela logo percebeu que tinha algo errado.
- Nem um pio! Você só sai deste quarto decentemente vestida, e anda logo! - ela disse, empurrando contra mim um par de sapatilhas azul marinho. - Não entendo. A maioria de suas roupas ainda está com as etiquetas e são de lojas bem caras. Por que você compra se não vai usar? - ela me perguntou, parecendo bem intrigada.
- Meu pai me obrigou a fazer cadastro nessas lojas há uns anos atrás, como ele tem credibilidade, as vendedoras vivem me mandando roupas e a conta vai direto para o escritório dele - dei de ombros, me dando por vencida.
Peguei uma calcinha e um sutiã, voltando ao banheiro, sob os olhares curiosos das três. Terminei de me vestir e voltei novamente ao quarto, as três me olharam e eu me senti um E.T. vendo as expressões estranhas em seus rostos. Cix e Elle estavam verdadeiramente espantadas comigo, enquanto Alex só faltava dar pulinhos pelo quarto de tão radiante que estava.
- Agora a maquiagem! - ela anunciou, correndo para a minha penteadeira e me chamando para sentar.
- Eu não entendo, achei que fosse só um churrasco na casa da Elle, pra que me arrumar toda? – perguntei, enquanto era sufocada com o pó que Alex passava em meu rosto.
- Você vai entender assim que ver os amigos do irmão dela. - Cix disse, com uma voz totalmente pervertida.

As três tagarelavam sobre um milhão de coisas ao mesmo tempo e eu realmente não sabia como elas conseguiam se entender, ainda mais com a música alta que saía dos alto falantes da pick-up de Elle. Fiquei olhando a paisagem do lado de fora da janela totalmente alheia a elas, quando o carro parou e as três desceram, as segui vendo uma casa mediana e muito simpática de cor marfim.
- Eles ainda não voltaram do mercado, devem estar comprando um monte de porcarias. Não sei como eles não engordam, parecem uns monstros comendo! - Elle disse, abrindo a porta da casa.
- Uns monstros bem gostosinhos - escutei Alex falar e as três riram.
- Bom, já que eles ainda não chegaram, não tem bebida e nem comida, vamos logo para o porão - Cix disse, tomando a dianteira e abrindo uma porta embaixo da escada logo na entrada da casa.
A seguimos e chegando lá embaixo, vislumbrei as paredes forradas com proteções acústicas, vi dois violões em seus cases, uma guitarra preta e branca, um baixo roxo fosforescente, uma bateria azul brilhante e três microfones pendurados em pedestais prateados. Além desses instrumentos, um sofá vermelho puído ficava encostado à parede de frente a eles, e ainda existiam alguns amplificadores espalhados pelo cômodo.
- Acho que está na hora da gente conhecer seu potencial - Cix disse, se sentando no sofá depois de pegar um violão e começou a dedilhá-lo.
Alex e Elle se sentaram ao lado dela me encarando e esperando minha reação. O engraçado era que eu ainda não havia concordado e nem discordado de nada e as três me tratavam como se eu já fizesse parte da banda.
- Mas eu não disse que aceitava entrar na banda.
As garotas me olharam se dando conta disso tanto quanto eu.
- Faz assim, canta para gente. Depois disso a gente senta e discute o quanto você quiser - Alex disse.
Ponderei, e não custava nada fazer aquilo, mesmo que eu já tivesse tomado a minha decisão.
Fui até a bateria e peguei o banquinho, o trazendo para o meio do porão, ajeitei o microfone até ficar à minha altura e peguei o outro violão, o retirando do case. Percebi que as três me observaram atentamente nos preparativos, ainda mais quando eu peguei o violão. Sentei de costas para elas já esperando as reclamações, mas para a minha surpresa ninguém falou nada e então eu comecei os primeiro acordes de “The Only Exception” de Paramore.
De olhos fechados, tentei não pensar nas pessoas que estavam me ouvindo e me entreguei completamente à música.
Cada vez que eu cantava um novo verso, toda uma nova vontade de mostrar que eu era capaz daquilo tomava conta de mim. Minha voz, que começou tímida, agora era completamente audível e atingia as notas perfeitamente.
Assim que acabei, esperei o silêncio vir, mas muito pelo contrário, ouvi aplausos. Muitos aplausos.
Olhei para trás e percebi quatro rostos masculinos sorridentes para mim, as garotas pareceram não perceber meu pânico por saber que mais gente do que eu esperava havia me ouvido e levantaram parecendo estar em estado de êxtase.
- Meu Deus! Você é melhor do que eu pensei! - falou Elle, vindo em minha direção.
- Incrível! Você precisa ser nossa vocalista! - Alex disse, batendo palminhas.
- Muito bom, nerdzinha - Cix disse, tentando segurar o sorriso.
- “Muito bom”? Você está brincando, não é? A garota é maravilhosa! - um dos garotos exclamou, chegando mais perto junto com os outros.
E, uau! Elas não estavam brincando quando disseram que eles eram lindos. O que só piorou a minha situação, já que eu sentia minhas bochechas mais quentes do que nunca. No mínimo devia estar parecendo um pimentão de tão vermelha.
Elle, finalmente, percebeu que aquela não era a cena que eu esperava encontrar quando virasse de frente novamente e então resolveu tentar amenizar a situação.
- , esses são , , e, você deve se lembrar do meu irmão, - ela foi apontando enquanto falava e eles acenavam com a cabeça.
Meu olhar parou no de e eu quase não acreditei que era ele mesmo. Estava tão diferente! Continuava lindo, mas agora tinha toda uma presença de adulto e era assustador pensar que só havia se passado dois anos desde que ele saíra do colégio.
Ouvi mais elogios vindos de todos e não sabia o que fazer, pois não estava acostumada com aquela situação, então eu só balançava a cabeça sem graça. Os garotos resolveram subir para ajeitarem o churrasco e também porque Elle os expulsou, dizendo que a banda teria uma reunião naquele momento. Os quatro concordaram, indo em direção as escadas, mas meus olhos se recusavam a desviar da figura de , que aos poucos ia desaparecendo.
Como eu havia me esquecido de quem Elle era irmã? Como eu me esqueci que ela era irmã do cara mais gato do colégio até hoje? Porque, convenhamos, agora só tem umas coisinhas bem sem graças por lá. O colégio nunca mais foi o mesmo desde que ele decidiu ir para uma faculdade em Londres.
Quem escutasse meus pensamentos acharia que eu tinha uma queda por ele e bem, claro que eu tinha, assim como toda a população feminina de lá.
- Terra chamando , alô! - Alex sacudiu a mão na minha frente morrendo de rir junto com as outras.
- A gente avisou do nível de gostosura - Cix disse, entre risadas ainda e se possível, eu senti meu rosto esquentar ainda mais.
Levantei do banquinho devolvendo o violão ao case e então voltei a olhar para elas. As três já haviam se recuperado do acesso de risadas e me encaravam esperando o que eu falaria. A expectativa era visível nos rostos de Elle e Alex.
- Eu tenho condições - falei.
Senti a excitação passando por elas, por ter meia aceitação minha.
- Pode falar! - Elle disse.
- Eu vou ensaiar essas semanas as músicas que vocês quiserem, vou participar do concurso, mas ninguém da escola pode saber e muito menos meu pai. Vou ajudar vocês no que eu puder, mas se por um acaso a banda ganhar, vocês vão precisar achar outra vocalista. Combinado? - expus meus termos, extremamente apreensiva, sabendo que aquilo era o máximo que eu poderia fazer.
Elas se entreolharam, com caras confusas.
- Sério, ? Se a gente ganhar, vamos ter uma carreira de verdade e você quer pular fora justamente quando isso acontecer? - Alex me perguntou, espantada.
- Minha vida tem outros planos - respondi a contragosto, lembrando das inscrições nas faculdades de Direito. - Temos um acordo, então? – perguntei, estendendo minha mão na direção de Cix que era quem me olhava com a expressão mais contorcida de desentendimento.
Mais uma vez as três se entreolharam, mas acho que elas perceberam que aquela era a última chance delas de tentarem o concurso, então me olharam sorridentes e, ignorando minha mão estendida, mais uma vez naquele dia eu fui atacada por elas. Alex e Elle davam gritinhos afetados enquanto me esmagavam num abraço que era compartilhado por Cix que somente ria da reação das amigas.
Acho que eu nunca me acostumaria com o jeito intenso daquelas garotas, mas mesmo assustada, eu dava boas risadas com todo aquele ataque de felicidade.
- Eu vou segunda-feira onde a gente se inscreveu e mudo o nome da Stella pelo da , já estou de férias mesmo - Cix disse depois de nós todas sentarmos no sofá.
Discutimos mais algumas coisas sobre o concurso e elas me explicaram como funcionaria: nós iríamos tocar três músicas, dois covers e uma de autoria própria, a apresentação não poderia passar de vinte minutos, se não automaticamente perderíamos pontos.
Cada vez que elas falavam mais sobre o fatídico dia, meu medo aumentava. Eu queria mesmo ajudá-las, mas meu medo de encarar multidões poderia atrapalhar bastante a apresentação. Eu poderia fazer igual a hoje e cantar de costas para a platéia, mas acho que os jurados não curtiriam muito.
- Bom, acho que a gente já explicou tudo para você. - Alex falou se levantando do sofá e completou. - Agora vamos subir, porque eu estou morrendo de fome e esses meninos estão quietos demais.
- Você tem razão, eles ainda não vieram perturbar a gente e isso sim é estranho - Elle disse, desconfiada.
Saímos do porão e percebemos o completo silêncio dentro da casa, nos olhamos estranhando ainda mais isso. Andamos até o quintal de trás da casa, era relativamente grande, um gramado verde com uma pequena piscina no canto esquerdo, três mesas de plástico, várias cadeiras e uma churrasqueira, com alguns pedaços de carne ainda meio crus, se encontravam no canto direito do espaço, muitas latinhas de cervejas vazias em cima daquelas mesas, várias bexigas estouradas espalhadas pelo chão e nada dos garotos. Elle gritou alto pelo irmão esperando pela resposta, mas nada ouvimos.
Ficamos paradas no meio do gramado, tentando entender o que poderia ter acontecido, até que escutamos risadas altas vindas do corredor que ligava a parte da frente da casa com a parte de trás pelo lado de fora, vimos o pequeno portão pintado de branco encostado. Elle se adiantou na direção dele, mas logo se arrependeu quando os quatro garotos vieram correndo com bexigas cheias d'água e uma a atingiu.
- Filho da puta! - ela gritou, indo para cima de que a havia atingido, enquanto ele se contorcia de tanto rir.
Os outros nos viram mais a frente e começaram a correr em nossa direção, corremos para a porta da cozinha, mas foi mais esperto e chegou lá primeiro a fechando e tacando uma bexiga em Cix que estava à frente de Alex e de mim, ela deu um grito de raiva e começou a correr atrás dele.
Alex correu em direção à churrasqueira, enquanto eu corria em direção a , já que ele estava desarmado.
Escutei o grito fino de Alex e ela xingando aos berros. Passei por trás de , que estava caído no chão com Cix em cima dele, enquanto ela lhe dava tapas e ele ria. Quando estava quase chegando ao portão branco escutei gritar:
- Nem pensa nisso! Você está na minha mira!
Não sei de onde saiu, quando percebi, ele já estava segurando o portão fechado e no mesmo segundo que eu parei sem saber o que fazer, senti o impacto em minhas costas e a água gelada escorrer pelo meu corpo. Fechei os olhos com força e tranquei o maxilar para não gritar xingando , ouvi as gargalhadas dele e seus passos apressados em minha direção.
Abri novamente os olhos a tempo de ver correr, rindo, e o grito desesperado de Elle acompanhado das outras garotas. Fiquei apreensiva, tentando imaginar o motivo dos berros novamente, até que senti os braços de erguendo meu corpo e me carregando em direção à piscina. Vi jogando Alex lá dentro e se jogando logo depois, Cix ainda batia em só que agora dentro d'água e Elle ria junto com , e então percebi qual seria meu destino.
- Não, não, não! , me coloca no chão, por favor! – gritei, desesperada, me debatendo em seus braços.
Ele gargalhou mais alto e apertou ainda mais seus braços ao redor do meu corpo. Já era tarde demais; senti o impulso que deu e então o frio da água da piscina tomou conta de mim. Ele me soltou com o impacto da água, então eu nadei de volta a superfície dando de frente com ele que ainda ria, não sei o que deu em mim na hora que eu comecei a rir também.
Era para eu estar com raiva dele, mas eu simplesmente só conseguia achar graça daquilo tudo.
Joguei água nele com as minhas mãos e ele devolveu, começamos assim uma guerrinha d'água particular, até que eu percebi ele se aproximar de mim e de repente puxar meus braços, me afundando junto com ele. Consegui soltar meus braços e o empurrei para longe, voltando para a superfície.
- Quer me matar afogada? – falei, tentando soar séria, mas sem sucesso.
Ele riu e não falou nada, apenas passou sua mão direita em meu rosto, ajeitando meu cabelo bagunçado e me encarou por uns segundos, que pareceram uma eternidade.
Mesmo com todo o frio da água, eu senti um calor me preencher quando sua pele tocou a minha, meu coração bobo começou a martelar forte em meu peito e eu assustada com aquela mistura de sentimentos me afastei bruscamente dele. fez uma expressão confusa, mas se afastou, virando de costas, apoiou as mãos na borda de piscina, tomando impulso e saiu de lá.
Fiquei estática, somente repetindo minha ação de antes no porão e o observei bagunçar os cabelos com a mão se afastando em direção a churrasqueira.

- Bati! Toma, seus otários! Podem virar os copinhos aí! - gritou Cix pela terceira vez desde que a gente havia começado a brincar.
Encarei o shot de tequila sentindo meu estômago embrulhar, seria o quinto.
Já deu para imaginar que eu estava mais do que alegrinha, estava completamente bêbada. Segurei o shot e ergui em direção a ela falando:
- Há dois dias que eu ando com vocês e já bebi mais álcool do que na minha vida inteira – e virei a tequila fazendo uma careta.
A careta nem era mais pelo gosto, quando chegou à terceira dose o líquido descia como se fosse água, foi mais pela queimação no estômago que estava me matando.
Escutei as risadas de todos e ri também.
- Acho que a nossa nerd está bêbada! - Alex disse, me abraçando de lado.
- Eu também acho - falei e eles riram mais ainda. - Melhor parar por aqui - me levantei da cadeira cambaleando, sendo amparada por , que estava sentado ao meu lado.
- Cuidado aí! - ele exclamou e depois riu.
- Não tenho culpa se estão tirando o chão do lugar! - exclamei em resposta e a explosão de gargalhadas foi imediata.
Andei para dentro da casa procurando pelo banheiro, quando o achei no corredor da entrada, entrei trancando a porta. Fui direto para a pia jogar água em meu rosto, me sentia leve e sonolenta, tinha a impressão de que se me deitasse em qualquer lugar naquele momento apagaria e só acordaria no dia seguinte.
O que não era uma má idéia.
Terminei no banheiro, mas ainda fiquei um tempo me encarando no grande espelho de lá. Minhas pálpebras pareciam querer fechar contra minha vontade, meus olhos estavam ficando um pouco avermelhados e minhas bochechas estavam coradas.
Deplorável, meu estado.
Destranquei a porta e a abri com um pouco de força exagerada, dei um pulinho pra trás quando me assustei com a figura de parado à minha frente. Ele parecia assustado também; vi seu braço erguido e seu punho fechado, acho que ele se preparava para bater na porta exatamente quando eu a abri.
- Você está bem? - ele perguntou, parecendo preocupado.
- Acho que sim, mas ficaria melhor se eu deitasse um pouco – falei, esfregando meus olhos.
- Você é meio fraquinha para bebida, não é? – perguntou, com humor.
- Um pouquinho – respondi, fazendo um gesto com a mão que ele julgou ser engraçado já que riu.
Já disse como ele fica lindo quando ri? joga a cabeça um pouco para trás, seus olhos ficam apertadinhos formando pequenas rugas ao redor deles e depois balança a cabeça em negativa...
E eu só podia estar muito bêbada mesmo para ficar analisando a risada dele.
- Você tem certeza que está bem? - perguntou novamente, com a mesma cara preocupada. – Você está me olhando estranho.
Devia estar com a maior cara de idiota. Qual era o meu problema? Além de estar bêbada, é claro. Nenhum cara até hoje me deixou desse jeito, abobalhada e observadora. Era como se cada gesto que ele fizesse tivesse uma importância enorme no futuro do mundo e eu precisava avidamente prestar atenção em todos eles.
Não, eu não estava nenhum pouco bem.
- Preciso deitar.
concordou com a cabeça e segurou meu braço quando eu quase caí de cara no chão por ter tropeçado no tapete em frente às escadas que levavam ao segundo andar. Esperei pela risada dele, mas não ouvi nada, continuou me segurando enquanto subíamos os degraus e aquela mesma sensação esquisita quando ele me tocou na piscina voltou. Mas eu estava tonta demais para fazer qualquer movimento brusco para afastá-lo e o deixei me guiar pelo corredor, entramos em um quarto que logo percebi ser de Elle, já que fotos dela com Cix e Alex estavam espalhadas pelas paredes, além de pôsteres do Travis Barker, baterista do Blink-182.
Caminhei direto para a cama e me joguei nela, imediatamente relaxando e fechando os olhos. Escutei uma risada nasalada vinda de e logo seus passos para fora do quarto.
- Espera – falei, sem nem perceber e abri meus olhos com dificuldade.
- Precisa de alguma coisa? - perguntou voltando e parando em pé ao meu lado.
- Sim. - disse e me afastei para o outro canto da cama. - Companhia.
Consegui focalizar o rosto dele por poucos segundos e pensei ter visto um sorriso, mas logo meus olhos pesaram demais e os fechei novamente. Senti a cama ao meu lado afundar e um aroma gostoso misturado com cloro de piscina invadiu minhas narinas, sorri fraquinho percebendo que era o cheiro de e então apaguei.

Continua...

Nota da Autora: Demorou, eu sei que demorou muito. Mas acho que valeu a pena, já que nossos bonitinhos resolveram dar o ar da graça e já chegaram agitando as coisas.
Só fiquei chateada com os poucos comentários. O que houve galera?! Eu sei que vocês estão aí lendo, deixem marcada a sua presença.
Mesmo com os poucos comentários ~~Três~~, vou responder aqui porque eu morri de rir com um deles, rs.
Lari: Meu Deus, todas desconfiam da Elle, tadinha! Hahaha... Relaxa que ela é gente boa mesmo . Eu fico muito feliz por você estar curtindo e espero que continuem gostando, já que as coisas vão começar a ficar mais loucas. / Tataia: Todo comentário é construtivo e super bem-vindo! Então pode continuar que isso me deixa extremamente feliz, rsrs. / Isys: A sua primeira pergunta foi respondia, agora a segunda me fez rir eternamente sozinha aqui! Hahahahahahha, coitado do pai da principal! Sério que o jeito dele deu a entender isso? Nunca imaginei. Mas é uma teoria interessante e você vai ter que esperar pra ver, rs. A atualização foi pequena, I know, mas as próximas serão bem maiores!
Bom, galera, meu adeus fica aqui e espero muito mais comentários do que recebi na última att, heim!
Quem quiser, me segue lá no @PamyAlmeida pra gente trocar uma ideia.
Beijos e até a próxima!

Outra fics:
Everything I Feel - Hiatus [McFLY | Em Andamento]
Who Knew (ShortFic) [Restritas | Finalizadas]
Xx


Nota da beta: Uma fic como essa merece muitos comentários, não? Eu a adoro. Sinto que vou me apaixonar pelo nosso nesta fic *---------* Parabéns, Pamy!

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Nota da Beta: Comentem. Não demora, faz a autora feliz e evita possíveis sequestros - só um toque. Qualquer erro encontrado nesta fanfiction é meu. Por favor, me avise por email ou Twitter. Obrigada. Amy Moore xx