Always Be You

Autora: Lia | Beta: Laura

Poderia lhe descrever as diversas sensações que, naquele instante, embaralhavam a minha mente e que deixavam-me embriagado de prazer e até mesmo medo, contudo nenhuma palavra, por mais intrínseca que a mesma fosse, estaria apta a executar o trabalho por completo. Eram sentimentos totalmente opostos e indescritíveis que eu nunca pudera se quer sentir antes, pelo menos não ao mesmo tempo, mas eu não estava tão surpreso por ter sido ela quem me proporcionara isso. Sempre fora do feitio de causar-me e ajudar-me a sentir coisas que eu mal poderia imaginar. Não podia negar que aquilo estava me fazendo ficar à beira de um colapso nervoso e que aquilo era completamente anormal, poderia mentir e falar que estava delirando ou apenas sonhando com aquele momento, mas, para falar a verdade, eu mal sabia o que era realidade àquela altura.
Decidi optar por deixar as coisas acontecerem como deveriam e, mesmo que soubesse que aquilo não passara de um sonho ou quem sabe uma tentativa frustrada de recuperação, prolongar aqueles poucos minutos – ou horas – que passariam a seguir.
Ela ainda não havia notado a minha presença, estava concentrada demais observando o céu noturno daquela noite fria de inverno. A brisa gélida circulava por todo o local, mas não parecia incomodá-la, mesmo que suas roupas não aparentassem dar-lhe o calor necessário e eu não queria quebrar aquele momento, portanto apenas a observei, apoiado no batente da porta, o quão linda ela era e ficava a cada segundo que a contemplava. Seu rosto brilhava a luz do luar, assim como seus cabelos que cintilavam e voavam acompanhando fielmente a brisa que os levava, suas mãos estavam postas sobre o ventre e a sombra de um sorriso sereno crescia em seus lábios.
estava ali e eu não conseguia acreditar, mesmo que fosse um sonho, preferia ficar nele a acordar e ver que não poderia tê-la novamente em meus braços. Era a triste realidade que eu tinha que conviver o restante de minha vida, não poderia tê-la novamente, uma situação que eu não poderia reverter nem que fizesse qualquer coisa insana.
– O céu está lindo hoje, não é? – perguntou-me com sua voz doce e angelical, parecia que cantava as palavras e não simplesmente as falava. Ela não desviara o olhar do alto, fitando algo além do meu alcance.
– Parece que eu sou péssimo em discrição – disse cruzando os braços rindo sem humor, era impossível parar de olha-la a cada segundo e não sentir uma vontade incontrolável de abraça-la e nunca mais deixa-la ir.
– Ser discreto nunca foi seu ponto forte – riu tombando a cabeça em minha direção e olhando-me na mesma intensidade que, outrora, fitava a abóbada celeste. Quanto tempo senti saudades dela? Parecia ter sido uma eternidade, sem fim. Vê-la naquele instante, a minha frente, era como um sonho sendo realizado. Queria que viesse até mim e dissesse que esses últimos anos não passavam de um engano, que ela não havia...
? – interrompi meu pensamento antes de completa-lo e não sei se queria realmente completa-lo algum dia, não terminá-lo-ia alegre como estava naquele momento.
Ela levantou-se graciosamente e pôs-se a andar até mim, com um sorriso fraco estampado em seu rosto e disse-me: – Sim, ? – escuta-la dizer meu nome fazia aquele momento ainda mais real.
Fiquei de pé, esperando que ela viesse em minha direção, porém a mesma parou no meio do cômodo. Suspirei frustrado ao vê-la se sentar na cama, sem dizer qualquer outra palavra e por fim disse: – Isso é real? – em um fio de voz.
Ela sabia do que eu estava falando, porém, mesmo assim, não me deu uma resposta imediata de que se eu estava ou não louco, ou era apenas o universo conspirando ao meu favor.
– Só será real se você acreditar que é – obviamente ela sabia o que eu pensava, era notório em cada uma de minhas ações ou pensamentos. Mas eu estava confuso, aquilo havia acontecido realmente ou eu sempre estive sonhando durante esses anos? Não importavam quais eram as respostas, eu não as queria, somente estar com a minha esposa – mesmo que morta – ao meu lado era o suficiente.
Meus pés rumaram automaticamente para onde ela estava sentada e pus-me ao seu lado, deixando um espaço suficiente entre nós. Eu já havia passado por isso, mas todas as vezes que o dia amanhecia ela sumia e eu pensava que era mais um sonho planejado pela minha mente insana. Mas era muito real, tocá-la, ouvi-la e vê-la ali, a minha disposição. Eu não conseguia sentir medo e era capaz de dizer que nada ali poderia me machucar se ela estivesse ao meu lado.
Pensei em como tudo aquilo aconteceu e, mesmo antes que eu pudesse controlar, lá estava eu revivendo aquele momento em minha mente.

Flashback


– EU NÃO AGUENTO MAIS! , ESSA FORA A GOTA D’ÁGUA – ela gritava, seu rosto estava em um tom rubro que eu jamais havia visto em minha vida, sua respiração falha por conta da gritaria e da agitação, era evidente que não estava em condições em discutir. Mas eu não estava muito longe daquilo, meu rosto estava quente e a minha respiração acelerara de uma forma que eu não poderia compreender e, muito menos, explicar. Raiva, angustia e impaciência se apossaram de mim. Como aquela mulher poderia ser tão cabeça dura?
se acalme – tentei, por mais que estivesse irritado, fazê-la me escutar. O que já era quase a quarta guerra mundial em situações normais, e quando ela estava irritada – especialmente comigo – era pedir, ou melhor, implorar para morrer.
– Eu não posso mais com isso, , estou cansada de ser taxada de idiota. Cansei de fechar os meus olhos para não ver o que está bem na minha cara – seu tom de voz caiu gradativamente enquanto ela passava a mão pelos seus cabelos, tentando, inutilmente, se controlar. Eu odiava quando brigávamos, ainda mais quando ela estava certa, o que era na maioria das vezes. Não brigávamos frequentemente, mas quando acontecia, mandávamos nossa filha para ficar um tempo com nossos pais, para que ela não fosse submetida a ver nós dois brigando daquela maneira.
sentou-se no sofá e suspirou fundo, colocando o rosto entre as mãos. Eu nunca tinha visto explodir daquela forma, normalmente apenas brigávamos por quinze a vinte minutos e não duas horas sem cessar. Estávamos exaustos, tanto da briga quanto de nós mesmos. Não a culpava, suas acusações, mesmo que pesadas, eram verdadeiras. Eu estava mesmo distante dela e de nossa filha, embalado demais em meu trabalho, mesmo que ela acreditasse que eu estava mais fazendo uma das minhas ex atividades extracurriculares da faculdade.
E ela tinha razão por duvidar da mim e de minha fidelidade, afinal eu já havia a traído uma vez quando ainda éramos universitários com os hormônios a flor da pele. Isso não fazia nem cinco anos que ela havia me flagrado com outra mulher, um pouco antes dela contar-me, ou melhor, fazer sua melhor amiga me contar que ela estava grávida de dois meses. Eu compreenderia se ela nunca mais quisesse olhar na minha cara e me pedisse divórcio.
– sentei ao seu lado colocando a mão sobre a sua e com a outra mão erguendo seu rosto em minha direção – você precisa se acalmar para podermos conversar – tentei não mostrar a impaciência que estava naquele momento e convencê-la da minha inocência.
– Eu... e-eu preciso de um tempo, okay? – vi algumas lágrimas brotarem em seus olhos enquanto ela gaguejava algumas palavras e eu assenti. Não poderia fazer mais nada a não ser dar-lhe tempo – irei buscar Heather na casa de seus pais, volto assim que puder – disse se levantando e tentando recompor a compostura. Sempre a admirei pela sua personalidade forte e decidida, talvez, mesmo que com essa brigas que, ultimamente, pareciam não ter fim e sermos muitas vezes opostos, fizesse a amar ainda mais que já amava por todos aqueles anos.
– Tem certeza que não quer que eu vá? Não acho adequado você dirigir desse jeito, – minha voz beirava em preocupação, além de que o tempo lá fora não estava muito bom. não iria me ouvir, era sempre teimosa quando queria, fazia de tudo para ter.
– Vai ficar tudo bem, prometo – sorriu e deu-me um beijo na bochecha, antes de sair pela porta.

Flashback off


Onde vivíamos e no tempo que vivíamos o governo tinha poder de tudo e em todos, estávamos a mercê deles e não poderíamos fazer nada, mesmo que fosse injusto. Pessoas doentes – em coma, doenças mentais, câncer e etc – eram eliminadas da sociedade dependendo se a família tinha dinheiro, status ou se havia servido para algo quando estava bom ou se tinha esperança de ficar novamente normal. Comas com mais de cinco meses pelo sistema público, já pelo particular, até que a família pudesse pagar o tratamento que era além das minhas condições financeiras. E, convenhamos, vê-la estática sobrevivendo por máquinas era uma tortura para nós que estávamos aqui, sentindo saudades dela, e para ela mesma que não tinha nenhuma escolha.
Mesmo que eu tivesse todo o dinheiro do mundo para pagar aquele tratamento com o preço absurdo e com a qualidade tão baixa que não o fazia valer a pena, que garantia eu tinha que ela iria acordar algum dia? Fora doloroso para todos que a conheceram realmente, aqueles que conviviam com a mesma durante todos esses anos e para nossa filha que não podia ter a mãe ali quando mais precisava.
Muitas vezes pensei como seria se eu estivesse em seu lugar agora, observando-a dia após dia e desejando nada mais do que a sua felicidade. Suas últimas palavras para mim não tinham as que eu esperava escutar, mas não dá para prever quando algo desse porte está para acontecer. O governo não queria perder tempo com um caso perdido, então seus aparelhos foram desligados assim que o nosso dinheiro se esgotou – dinheiro que os pais dela, amigos e eu juntamos durante algum tempo para pagar o tratamento. Não tínhamos como fazer o contrário, prolongar o seu tempo de vida, sua família ficara arrasada quando ela, finalmente, se foi.
Não pudemos dizer adeus e nem enterra-la de uma forma digna. Por causa do novo sistema que o governo havia adquirido após a Quinta Guerra Mundial, tudo havia se tornado ainda mais injusto e rigoroso, e nada, nada, que nós pudéssemos fazer. Ela fora cremada e jogada em algum lugar onde nenhum de nós fora informado, possivelmente junto aos outros doentes que haviam morrido ou junto a todos os corpos que eram descartados dia-a-dia. Qualquer forma de opinião era considerada uma afronta aos “soberanos” e a pena era de morte, acusado de querer uma rebelião. E não posso negar que, se não fosse pela minha filha, eu faria de tudo para derrubar aqueles que estavam tornando a nossa vida completamente um inferno.
Senti uma sensação fria em meu rosto e, só assim, pude perceber que havia fechado os meus olhos. Ela acariciava o meu rosto como se quisesse decorá-lo, eu não podia sentir mais do que uma pequena sensação gélida por onde ela tocava, não sentia o calor de seu corpo e muito menos sua pele macia.
– Terei de ir em breve – disse-me não mais alto do que um sussurro. Não gostava de quando ela tinha que ir, queria que pudesse ficar comigo quanto tempo desejasse e que esse tempo fosse para sempre.
– Fique mais um pouco, há tempos não vem me ver – disse segurando sua mão contra o meu rosto, sem poder senti-la realmente, mas eu sabia que estava ali. Ela suspirou baixo e eu sabia o que significava; ela não voltaria. Ela avisou-me que isso não poderia durar para sempre, que só estava adiando o inevitável e preparando-me para o que estava por vir. Ela precisava de mim e eu não podia lhe negar isso.
– Do que precisa? – disse friamente enquanto ela tirava a sua mão de meu rosto, senti que as lágrimas queriam inundar o meu rosto e as dela já faziam o que eu me negava. estava chorando e mesmo que eu a abraçasse, não poderia senti-la, não poderia conforta-la e dizer que tudo ficaria bem entre nós.
– Que me deixe ir – sua voz embriagada pelo choro inconsolável só fez o meu coração apertar, eu não me lembraria de nada disso amanhã, seria apenas um sonho qualquer com a mulher que eu amei durante todos esses anos. E o que mais me irritava era que; eu não podia fazer nada.
– Deixe-me ir com você – minha voz beirava em suplica, mas eu sabia que aquilo não a convenceria de deixar-me acompanha-la, ela se recusaria fazer-me ter que passar por tudo aquilo antes que há minha hora chegasse.
– Não, você deve ficar, aqui é o seu lugar – era possível ver seu rosto pequenas gotículas das quais eu queria cuidar, mas não podia, me senti tão horrível. Deveria ter sido eu, deveria ter a parado antes que saísse por aquela bendita porta naquele dia de neve.
– Meu lugar é ao seu lado, – insisti. Sentia-me um idiota, mas era ao seu lado que eu queria ficar.
– Eu te amo, cuide de nossa filha – ela beijou levemente a minha bochecha e eu não pude sentir mais do que uma leve brisa fria no local, era decepcionante não poder senti-la, ao menos, a última vez.
– Eu também te amo, pequena – disse levemente.
– Ficarei sempre ao seu lado, mesmo depois do fim – prometeu-me, aquilo já me bastava para continuar. Se ela estaria ali comigo, mesmo que eu não pudesse vê-la ou senti-la, para mim já era suficiente. Estar sempre com ela.
Aos poucos vi a sua imagem estremecer e passar a ser não muito mais do que um nuvem fosca e gélida, meu corpo se direcionava roboticamente até que pudesse estar deitado confortavelmente na cama, de fato, aquela noite eu não conseguiria descansar. Meus olhos ainda estavam presos onde a minha esposa estava outrora, e instantes depois, que pareciam muito poucos para termos ficado juntos pela última vez, ela desaparecera por completo e eu ficara sem ela novamente, estava pronto para, novamente, achar que aquilo era apenas um sonho maluco que eu insistia em inventar. Como das vezes anteriores, mas, bem lá no fundo, eu sabia que algum dia eu a encontraria sabe se lá onde ou quando, mas nos encontraríamos de alguma forma. Talvez em outra vida, ainda como amantes, e certamente como outras pessoas, ou não. Mas de uma coisa eu sabia: estaríamos juntos a qualquer instante, pois estávamos ligados de alguma forma que nem mesmo o universo era capaz de compreender. Seja o que fosse e o que me espera a frente, estaria pronto por ela e pela a minha filha, eu compreendia que nós sempre e para sempre estaríamos juntos.


Fim



Notas da autora:Então, dudes, o que acharam? Qualquer coisa falem comigo no meu twitter @supremeweasley. xx
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