A Mouthful Of Pain

Fiction por Pattie K.


“How many hearts will die tonight?”
(City and Colour - Hello, I'm in Delaware)

Eu sorri como uma boba, aproveitei o farol vermelho do semáforo e o permiti me roubar um beijo. e eu somos uma incógnita engraçada. Muitos disseram no começo que seríamos algo impossível, que nosso amor não passava de atração, que o relacionamento não iria pra frente. E apesar de tudo, todos se calaram quando notaram que mais uma vez estavam errados. Dois babacas, apaixonados e sem noção. Um cabeça dura e uma orguhosa. Dois medrosos com sede de viver. nunca foi de sofrer por amor. Eu me proibi de passar por isso outra vez. me disse uma vez que sou seu primeiro amor. Ele é meu eterno e último amor.
O sinal verde acendeu assim que o beijo parou. resmungou, mas do mesmo jeito continuou a fazer o trajeto para o nosso condomínio. Pude ver um homem e uma mulher correndo pela calçada vestidos apenas com as roupas íntimas, ri como uma louca e me acompanhou logo que nossos olhares se cruzaram por um mero segundo. Enquanto ele voltou a olhar para a rua, eu manti meu olhar em seu sorriso, aquele sorriso perfeito que ele dava depois de rir, por Deus, eu me sinto uma babaca até hoje por ficar tão besta e risonha por um simples sorriso. Mas é aí que tá... Não é um simples sorriso. É o sorriso dele.
Assim que o carro estava entrando na outra rua, um piscar de olhos foi o suficiente para perder muita coisa. Tudo o que eu senti foi o carro sendo jogado com força para o lado, os vidros viraram cacos que praticamente choviam em meu corpo, a música que tocava baixinho sumiu com o barulho da lataria do carro sendo amassado enquanto capotava pela rua.

— Ai! — resmunguei assim que dei com a cara nas costas de alguém — Desculpa... — disse, levantando o olhar.
O garoto me olhou de cima a baixo.
— Olha por onde anda, nanica — Caralho, é o primeiro dia de aula, fala sério.
Eu arqueei as sobrancelhas. — Querido, o dia em que 1,69 de altura for considerado ser nanica, faça-me o favor de me avisar — Ele riu — E se desculpa não basta pra você... — sorri falsamente — Vá para o quinto dos infernos.
Sem querer perder mais tempo, dei as costas e segui meu caminho.


Eu sentia a ardência dos cortes que eu ganhava a cada milésimo, sentia o coração batendo rápido, a respiração descompassada, os pulmões doendo, a visão confusa, um enjoo chato e um pavor enorme.

Virei-me sorridente. Como eu havia sentido falta dessa vitamina que o colégio vende, engoli o grande gole que havia dado e quase o fiz voltar para fora quando, pela terceira vez na semana, esbarraram em mim fazendo com que todo o líquido rosa claro voasse no meu cabelo e na minha blusa.
— Mas que bost... — me calei assim que levantei o olhar e vi o causador disso me olhando indiferente com um sorriso de lado.
— Foi sem querer, não tenho culpa se você não olha por onde anda — , o perfeito idiota que em cinco dias de aula já conseguiu se tornar o cara para todos e pra mim um poste no caminho do qual eu trombo todo dia sem querer, tsc. Babaca.
Tenho quase a completa certeza de que ele vai me perseguir com essa porcariazinha de desculpa por mais tempo que eu imagino. Bufei e não me preocupei em me limpar, pelo contrário, fiz a coisa mais impulsiva, idiota, passe-livre-pra-direção-e-orientação, e mais engraçada que pude. Não tenho culpa de ser cabeça quente.
— Oops! — foi questão de um segundo e o resto da vitamina do meu copo de 500ml caiu “acidentalmente” na sua roupa — Olha! Foi sem querer, — imitei-o — não tenho culpa se você não olha por onde anda — Dei o meu melhor sorriso enquanto ele me matava com os olhos.


Pisquei, tentando focar minha visão em algo, e consegui focar na pior imagem possível. . Preso no banco, de ponta-cabeça, assim como eu, mas ele parecia mil vezes pior. Na verdade, não parecia. Ele realmente estava pior.

— Qual é o seu problema comigo? — perguntei baixo.
se sentou do meu lado no sofá e suspirou. Era a quarta vez que nós dois estavamos na sala de espera da direção no mesmo bimestre.
— O problema não é com você — olhei para ele confusa — O problema está em você.
Sem entender, bufei.
— Que seja.


Segurei o choro com esforço. Apoiei-me com o braço menos dolorido no teto do carro e com o outro soltei o cinto, despencando do banco. Gemi de dor e mordi os lábios fazendo uma expressão desgostosa.
— Eu vou te tirar daqui, prometo. — Falei, tentando sorrir, mas tenho certeza de que falhei.

Revirei os olhos, mandando para o inferno. Graças à bela ideia dele, estamos limpando o ginásio. Só Deus sabe o quão feliz eu estou. Nossa, tão feliz que poderia pegar uma metralhadora e encher esse maldito rosto perfeito dele de tiros.
— Limpa direito, — ele disse, apoiando-se no cabo do rodo, mostrei o dedo do meio e continuei a cumprir o castigo — Qual é, peste?
Senti, segundos depois, respingos de água em minhas costas. Virei-me, encarando-o séria.
— Qual é o seu problema, ? — ele riu, me molhando outra vez com a água espumada do balde. Revidei. E já era tarde demais quando notei que estavamos rindo feito idiotas enquanto um molhava o outro.


Com muita dificuldade, saí e dei a volta no carro, meu corpo todo ardia. O vento tocando minha pele parecia-se mais com chicotadas em meus cortes. A escuridão da madrugada não facilitava em nada, assim como a ausência de uma ajuda só ferrava mais com a situação. Abri a porta do motorista e mordi o lábio segurando o choro. sussurrava coisas indecifráveis.

Assim que abri a cortina do meu novo quarto, sorri como uma louca. Finalmente haviamos nos mudado, desci e desviei das várias caixas de papelão. Enquanto meus pais conheciam a casa, eu vou conhecer o condomínio. Rodei por cada pedaço de lá até achar no final do terreno um pequeno jardim com banquinhos, um amorzinho. Assim que notei que já tinha alguém lá, provavelmente um morador, dei meia volta.
— Hey! — eu achei a voz familiar, mas ignorei. — Garota surda! — parei no mesmo instante e me virei com a resposta na língua. Mas a mesma sumiu assim que olhei para ele.
— O que você tá fazendo aqui, ? — ele riu.
— Eu moro aqui, gatinha — Ele sabia muito bem que eu tenho pavor de caras que me chamam assim, parece que quer levar uma no meio das pernas. Minha mente, com um estalar de dedos, focou-se na outra parte da resposta.
— Você... O QUÊ? — Deus, eu devo ter mijado na cruz.


Tentei segurá-lo e soltá-lo ao mesmo tempo. Fui um desastre, mas a pouca consciência e força que aparentava ter me ajudaram. Abracei-o de um jeito estranho e lentamente puxei-o para fora do carro, afastando-nos do mesmo. Nunca se sabe quando seu carro pode explodir. Eu sentia a cada segundo de força as dores ficando mais fundas e insuportáveis. Respirei fundo sentando no asfalto, colocando a cabeça dele em meu colo.

— Não acredito que você aceitou dançar comigo — pude notar o tom debochado dele.
— Vai se ferrar — respondi.
— Parou de birra, é, ? — ele sorriu divertido, apoiando seu queixo no topo de minha cabeça.
— Já disse que você é um pé no saco? — perguntei, tentando olhar para seu rosto.
riu de uma maneira calma e gostosa.
— Já.


piscou lentamente e eu arregalei os olhos, aliviada. Fiquei acariciando seus cabelos enquanto tentava me lembrar onde havia deixado meu celular, eu precisava chamar uma ambulância. Escutei o barulho de uma porta sendo aberta e olhei ao redor com dificuldade. Uma voz receosa, gritou.
— Já chamei o socorro.
Sorri fraco. Me preocupo com o culpado depois, agora preciso cuidar da pessoa mais importante da minha vida.
— Já estão chegando. Aguenta firme — sussurrei.

Para variar, já havia dado um jeito de me aborrecer. Típico.
Assim que passamos pela portaria do condomínio, apressei meu andar, deixando-o para trás, descontei minha raiva nos passos que eu dava a cada segundo. Escutei-o bufar, parei e olhei para trás, vendo-o olhar para o céu enquanto bagunçava seu cabelo. Ele sempre fazia isso quando ficava bravo. Dessa vez, fui eu quem bufou. Voltei a andar, ignorando-o.
— Espera um pouco, — ele segurou meu pulso, forçando minha parada, e me virou de frente à ele.
— O que é, ? — disse séria, fato que o fez revirar os olhos e respirar fundo.
— Vá pro inferno, garota.
Eu lhe responderia com um belo corte, se minha boca não estivesse coberta pela dele e meu cérebro tentando processar o que estava acontecendo ali. Demorei um pouco, mas lentamente meu corpo e mente cederam ao grande . E senhoras e senhores, foi o beijo mais doce, lento e até mesmo mais provocante que já dei em toda minha vida.


— Eu... — a voz falha de soou de repente, senti um aperto no coração mas do mesmo modo, sorri. Olhar em seus olhos, escutar a sua voz e poder ver um sorriso em seus lábios, era o que me fazia feliz — Te amo, . Como... Se fosse amor entre...
— Entre almas — completei sorrindo, enquanto deixava uma lágrima escorrer — Eu te amo mil vezes mais — disse calmamente, acariciando seu rosto e enxugando a lágrima que por ali escorria.
A dor física se foi.

Era final do ano e, bem, eu e viramos ficantes insconstantes. Uma hora nos beijávamos, nos queríamos, e no segundo seguinte brigávamos como cão e gato. Eu, já cansada de toda essa merda, de todo esse pega escondido e de tudo, decidi falar com ele. Decidi que não me importo se me apaixonei feito uma imbecil nesses meses de vai e vem. De fica e não fica. O que importa é que vai doer menos dar um fim antes que eu tenha estampado na minha testa que sou o brinquedinho proibido que gosta de usar escondido às vezes.
Ele estava no refeitório, como de costume. Sendo paparicado por todas as vadias do segundo ano e se divertindo com os amigos. Entrei em seu campo de visão e nossos olhares não se desviaram um do outro até que eu parei em sua frente, inexpressiva, calma e confiante. sorriu. Minhas pernas amoleceram. Mas me manti firme.
— Precisamos conversar — falei com calma.
— Eu sei, . E é por isso... — ele se levantou e parou em minha frente, segurando uma de minhas mãos, entrelaçando nossos dedos, deixando-me boquiaberta e sem reação alguma — Não quero mais que isso seja um segredo, muito menos uma brincadeira. Porque porra, eu não sei o que seria sem esse seu orgulho desgraçado, seu gênio forte, seu sorriso puro, sua voz, seus beijos. Sem cada parte de você. Eu quero que todos saibam que a babaca que me consquistou dos pés a cabeça foi você, senhorita .


Mas com toda a sinceridade, eu prefiriria milhares de vezes ter a dor física me torturando e acabando comigo, do que a dor que está explodindo em meu coração.
— Hey... ? — chamei-o baixinho, tentando me convencer de que ele havia apenas desmaiado — ...
Sussurrei seu nome, gritei e nada. Medi sua pulsação. Nada. Verifiquei sua respiração. Nada. Não havia nenhuma outra coisa além de nada.

beijou a ponta do meu nariz, abracei seu pescoço e sorri feito boba. Me sentia completa. Me sentia capaz de tudo. Era como um verdadeiro sonho do qual eu não queria acordar nunca mais, era de longe, o melhor de todos.
— Você fica melhor sem a minha blusa, sabe...
— Tarado — roubei inúmeros selinhos dele enquanto uma de minhas mãos batia em seu ombro — Você precisa ser mais inocente, como eu, senhor — direcionei a ele meu olhar mais malicioso, carregado de desejo e excitação. mordeu o lábio.
— Você vai me carregar direto pro inferno, garota.
Dessa vez, o beijo não foi nada carinhoso, muito menos inocente. Foi o suficiente para que o fogo voltasse a arder entre nossos corpos.


Incapaz de fazer algo, chorei como um bebê que acabou de deixar a chupeta cair. Escutei, longe, o som de uma sirene. Não consegui sentir nenhum alívio, meu psicológico pareceu entrar em uma guerra, pareceu também se transformar em um nó com trilhares de pequenos fios embaralhados. Eu gostaria que isso fosse um pesadelo e que eu acordasse o mais breve possível. Só que não era um.

— Nem tudo o que você quer que aconteça vai acontecer — disse, encostado na parede.
— Então o que você tá fazendo aqui? — perguntei, olhando a rua pela janela.
— Vim fazer o contrário do que você quer e terminar a nossa discussão. Eu não vou deixar que depois de quase um ano, você faça a merda de deixar tudo por uma bobeira.


Solucei, incapaz de me mover. Incapaz de tentar trazê-lo de volta, mesmo sabendo que seria inútil tentar. Incapaz de fazer algo que prestasse. Tudo o que eu mais precisava era que essa dor parasse, mas ela não vai parar tão cedo. Porque isso é só o começo. A dor da perda é só o primeiro passo. A saudade, o arrependimento de ter errado tanto, ter perdido tanto tempo, e todos os momentos mais dolorosos virão depois. Porque nós dois sabíamos muito bem que uma desilusão amorosa era cem vezes melhor do que perder alguém para a morte.

— Você é uma chata, sabia? — escutei a voz baixa de enquanto observava nossas mãos erguidas no ar e nossos dedos se entrelaçando.
— E você ama essa chata — respondi, aérea. Ele riu fraco.
— Só pode ser aquela coisa de almas que se amam, porque de jeito nenhum eu te aguentaria tanto assim — brincou.
— Babaca — resmunguei sorrindo.


Me vi em um beco sem saída, eu comecei a me afogar em minha própria dor. No meu próprio desespero. diria que foi melhor assim do que me fazer sofrer por seu sofrimento. Eu não discordo, daria minha vida se fosse preciso para não vê-lo beirando a morte, completamente acabado, sofrendo e sentindo dor em cada célula de seu corpo. Mas isso não foi preciso, porque ele se foi, para sempre, sem que eu tivesse a chance de fazer isso.

— Se você não for a mãe dos meus filhos, vou contar pra eles que a mulher que eu mais amei no mundo é uma pentelha, orgulhosa. Que foi o maior desafio de todos decifrá-la e aprender a lidar com ela. Mas que é a criatura mais amável desse mundo.
— E que mulher é essa, ? — fingi ciúmes.
— Essa mulher tá do meu lado lendo um livro sem pé nem cabeça, morrendo de ciúmes do cara mais gostoso desse planeta, que ela ama tanto — sorriu largo me fazendo rir.


se foi, deixando comigo as lembranças, de seu cheiro, de seus beijos, de seu toque, seu sorriso, sua voz, suas manias, sua risada, seu jeito. As lembranças dele, dos momentos, das palavras, das brigas, de nós. Deixando a saudade que desde já era capaz de doer em meu peito de um jeito descomunal. se foi, levando meu coração, minha alma e minha felicidade. Ele se foi junto da melhor parte de mim e de minha vida.
Falando da maneira mais correta, acabo de morrer, mesmo que meu coração ainda pulse e que eu ainda respire.
Essa dor me parece, metaforicamente, com a dor de um afogamento. Enquanto seu coração vai apertanto, sua garganta e pulmões vão ardendo tanto quanto o fogo do inferno, você luta inutilmente, como um rato, para sobreviver. Mesmo sabendo que é inútil tentar, você bate os braços, as pernas e pensa que ainda há uma salvação, quando na verdade, não há.

Fim





Nota da autora: Oiii deusas. E aí? O que acharam dessa short?
Já fazia um tempo que a fic tava 'mofando' no meu pc e veio o especial, acabou que ela se encaixou perfeitamente :3
Espero que tenham gostado, apesar de que curtir ter um final desses, ninguém curte muito, mas...
Não sei muito bem o que falar aqui, porquê a timidez me impede de dar umas boas piras (-q).
Besitos girls, até a próxima.
Nota da Beta: Qualquer erro nessa fanfic é meu, então me avise por email ou mesmo no twitter. Obrigada. Xx.

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