Depois de tanto tempo, eu não imaginava te reencontrar. De longe, lá estava você, mais forte, mais cara de sério, um jeito mais adulto de ser. Mas aquele teu sorriso bobo permanecia no rosto, do mesmo jeito que vi pela última vez. Mil coisas se passaram pela minha mente, um frio na barriga, um coração acelerado, um pensamento de “Nem me arrumei o suficiente para essa ocasião” e me lembrei de tudo, tudo mesmo. Cada momento que passamos, desde o comecinho, quando éramos jovens, infantis e sem noção. Inocentes demais para essa vida maliciosa. Lembrei de todas as vezes que você me fez sorrir, com brincadeiras idiotas, que eu nunca entendi muito bem. E, por não entender bem, descontava a minha falta de entendimento em você, com grosserias que te via aguentar sorrindo. Tinha tantos caras por aí, mas você... Você era diferente de todos eles. De verdade. Não achei que era possível aparecer alguém como você, mas apareceu. Uma vez. A única vez. Mas eu soube que existiu. As pessoas diziam que era só mais um, mas você nunca desistiu, até mesmo quando eu desisti de mim. Você estava lá. Por que eu te deixei ir mesmo? Não importa mais, não é mesmo? Passou. Só que você aí, na minha frente. Nem deve lembrar mais de mim. E por que eu estou me sentindo tão… Boba? Como se os nossos caminhos enfim tivessem se reencontrado. E uma pontinha de esperança brilhou em meus olhos. Como se um baú cheio de tudo aquilo que sonhamos e planejamos tivesse sido aberto novamente. De repente você olhou para mim, ficou alguns segundos olhando fixamente. Aposto que estava com aquele pensamento “Conheço você de algum lugar” e começou a vir na minha direção. Confesso, minhas pernas não paravam de tremer e o nervosismo era inevitável. Seu sorriso chegava cada vez mais perto de mim, chegou com aquele jeito encantador, olhou dentro dos meus olhos e disse:
— Quanto tempo... Nem acredito que é você mesma. – Que sorriso mais lindo, meu Deus. Senti tanto a falta dele.
— É verdade, você mudou tanto, mais um pouquinho e eu nem te reconhecia.
— Mas poxa, me diz, como está? O que tem feito da vida? Deve estar cheia de coisas para se preocupar, aposto que se tornou quem você queria ser.
Não, não me tornei tudo o que eu queria. Eu fiz escolhas erradas, nada deu certo. Queria ser médica, sou enfermeira. Queria ter viajado muitas vezes, conhecido vários lugares. Hoje, mal consigo sair da mesma rotina de sempre. Eu queria ter casado contigo, ter os nossos filhos, lembra? Teu sonho sempre foi ter uma menininha, e eu queria ter realizado. Mas deixei de lado tudo isso. Não deu. Depois que mandei você ir embora, nada mais foi o mesmo. Dias depois, tudo estava estranho, triste e vazio. Só que não tinha mais volta. Eu deveria ter te segurado pelos dois braços, pés, cabeça. Mas eu deixei você ir. Um dos maiores erros que cometi… Eu sei.
— Estou bem e realmente não tenho o que reclamar da minha vida. Tenho minha casinha, meu carrinho, minhas coisas. Tudo está como deveria ser. Mas e aí? Como está? O que tem feito? Diga-me.
— Bom, não posso dizer que tenho o melhor emprego, mas consigo me manter muito bem. A minha casinha de quatro cômodos... Estou super feliz com ela. E o meu carrinho com espaço para viajar é charmoso e quase não me causa problemas. Não é nada do bom e do melhor, mas estou feliz assim… Sem dúvidas.
— Fico tão feliz por você, sério. Sempre quis que tudo desse certo pra você.
— Que isso, eu também estou super feliz de saber que você está ótima, que as coisas ficaram do jeito que você queria. Do jeito que sempre quis. Elas iriam ficar muito melhores com você ao meu lado. Eu me arrependo tanto de não ter falado o quanto você era importante pra mim, por não ter sido quem você merecia que eu fosse. Que saudades das loucuras que costumávamos fazer, do seu jeito bobo, das tuas manias idiotas. Que saudade de você, de nós. Dos nossos planos, sonhos. Mas eu fui para a esquerda e você foi para a direita. Nos perdemos. E aqui estou eu, lamentando por tudo. Mas será? Que ainda existe esperança? Será? Que Deus está me dando uma segunda chance? O que é isso, mulher, não se iluda tanto apenas por um reencontro de tantos anos. Mas eu precisava perguntar a ele, precisava saber se ainda existia esperança.
— Obrigada. – Disse com o melhor sorriso que consegui dar. – Mas me diga, sua casa parece grande apenas para você, mora sozinho nela? – Eu fiz a pergunta como se fosse algo simples e normal, mas nunca torci tanto para que a resposta fosse positiva.
— Bem, acontece que... – Uma voz ao fundo - angelical, por sinal - nos interrompe.
— Papai! — Ela disse.
Uma pequena garotinha, com um cabelo tão liso que deveria escapar facilmente pelos dedos. Olhos de mel, que encantavam qualquer um... Era realmente linda.
— O que está fazendo aqui, pequena? Falei para você ficar lá dentro. — Ele disse.
— Mamãe pediu para que eu viesse te chamar, porque ela está com pressa.
Quando olhei ao longe, pude enxergar uma mulher, nem tão alta, nem tão baixa. Com os cabelos morenos e lisos, tal como os da menina. Estava muito bem vestida. Ela tinha bom gosto - admito. Ele não precisava mais responder a minha pergunta, estava bem claro para mim. Ele seguiu mesmo em frente e conquistou tudo o que sempre quis. Realmente, não eram coisas materiais, mas valiam muito mais. E, por segundos, senti uma pitada de inveja, um sentimento de “Era pra ser eu”. E toda aquela esperança que havia nascido em mim foi ao chão. Eu só queria sair dali - o mais rápido possível. Só queria apagar tudo isso da minha mente. Só queria poder voltar no tempo e reverter tudo. Mas é assim, não tem jeito, nem volta. Apenas um ar de “Podia ter sido diferente.”
— Fique tranquilo, já estou indo. Tenho muito o que fazer ainda. — Eu disse, mesmo sabendo que não tinha nada para fazer.
— Entendo, então tudo bem. Tenho que ir, mas foi muito bom ter te visto novamente, espero que continue dando tudo certo para você.
— Digo o mesmo, foi ótimo te reencontrar. E desejo tudo de melhor para você também. — Dei um sorriso forçado.
— Muito obrigado. – com o sorriso mais perfeito do mundo - Então, até mais. Tchau!
— Tchau. — Eu disse com lágrimas nos olhos e uma dor tremenda no coração.
— Vamos, meu bem. — Ele disse à menina.
E quando viraram as costas e começaram a se afastar, pude ouvir a linda menina pergunta-lo:
— Quem era, papai? Diga que fomos - e como fomos - os melhores amigos que alguém poderia ter. As vezes em que te fiz sorrir, sonhar, amar. Que eu fui o seu porto seguro, seu primeiro amor. Quem você costumava passar a maior parte dos seus dias - e adorava isso. Que fomos namorados, noivos e que quase casamos. Diga que você me amou como nunca havia feito antes e que eu sou uma parte da sua vida, que sempre vai existir em você. Diga, por favor. Diga…— Eu pensei.
— Uma velha amiga, pequena… Velha amiga.
Fim.
Nota da autora:(04/02/2015) É a short fic que eu mais gostei de escrever. Um belo de um draminha apaixonante que nos faz ter vontade de chorar. Espero que gostem e não se esqueçam de comentar! Beijinhos da autora. Grupo no facebook || Twitter