Autora: Celina Crisóstomo
Beta: Adriele Cavalcante



Manhã chuvosa na maior cidade do Brasil. Hoje faz dois anos que deixei minha menina ir à busca do seu maior sonho, terminar seu curso de design na bela Itália. Meu nome é , moro em um dos melhores bairros de São Paulo, tenho 20 anos de idade. Há exatamente cinco anos conheci a através dos meus pais. Nossos pais trabalham juntos em uma das maiores empresas de advocacia de São Paulo. Meus pais sempre pediram para que eu entrasse na faculdade de direito, mas meu talento sempre foi escrever, então há dois anos estou cursando jornalismo. sempre foi apaixonada por moda. Se eu vestisse alguma roupa da qual não combinasse eu recebia logo uns seis gritos no meu ouvido: , vai trocar essa roupa, já!” e seu modo delicado de ser. Amo o seu jeito e suas manias. Vocês devem estar se perguntando se nós somos namorados. Não, infelizmente. Sempre quis tentar algo, mas a coragem ia embora. Mas agora, quem foi embora foi a minha menina. Apesar de nos falarmos todos os dias, eu ainda não tive coragem de contar tudo o que eu sinto. E se ela não sentir o mesmo? Essa frase sempre fica na minha cabeça. Amanhã ela chega para visitar seus pais e eu estou disposto a falar tudo que está guardado aqui no meu coração há cinco anos.

”A gente nem ficou
Mesmo assim eu não tiro você da cabeça
O pouco que durou
Nosso encontro me faz duvidar
Que um dia eu te esqueça.
E aí quando vem me ver
Tô aqui esperando você
E nem dormi a noite já passou
Não consigo mais me dominar
Você me enfeitiçou
E a gente nem ficou.”


Faltam apenas duas horas para ela chegar, estou aqui no aeroporto. Seus pais me pediram para vir buscá-la porque iriam ter uma reunião no escritório e não iriam chegar a tempo. Claro que eu aceitei ao seu pedido e aqui mesmo eu já despejaria tudo que estou prendendo.

Flashback on.
Eu estava cursando o primeiro ano do ensino médio e era uma sexta-feira à noite, eu estava muito cansado do churrasco da turma que tinha acontecido à tarde, então resolvi dormir até tarde no outro dia. Mas uma pessoa não saia da minha cabeça. A menina do colar de âncora. Ela era novata, tinha um sorriso que leva qualquer pessoa a sorrir junto. Eu não sabia o seu nome, na verdade, ninguém sabia. Ela não era muito social, fez amizade apenas com a nerd da turma, a Jade Badwi. Passei o dia pensando naquele sorriso.
Sábado, 7:46h da manhã.
Meu celular começou a tocar e fazer um barulho ensurdecedor, porque eu coloco um toque irritante deste jeito? Tenho que me lembrar de mudar. Enfim, olhei no visor do meu celular e vi que era minha mãe. Atendi meio sem vontade e ela me pediu para que eu fosse até o escritório levar umas pastas que ela esqueceu em casa e que meu pai não iria poder pegar porque tinha levado o carro ao lava jato e ela não poderia se ausentar do trabalho, mas mandaria um táxi para mim. Surrei-me mentalmente, eu estava muito cansado. Levantei-me e percebi que eu tinha dormido com as mesmas roupas de ontem e eu estava fedendo a fumaça por conta do churrasco. Despi-me e fui ao banheiro tomando um banho m pouco demorado e escovei meus dentes. Saí do banho e vesti uma calça jeans clara, uma camisa social preta arregaçada nos cotovelos e um vans preto. Passei meu perfume preferido, penteei os cabelos. Desci as escadas, peguei as pastas e passei na cozinha pegando uma maça verde quando ouvi a buzina do táxi que mamãe chamou para mim. Entrei no táxi e pedi ao motorista para me levar ao meu destino. Cheguei à empresa em menos de dez minutos porque graças a Deus, naquele dia, não estava trânsito. Paguei e agradeci ao motorista e desci do carro. Entrei na empresa, subi até o sétimo andar e logo vi a secretária dos meus pais sentada à sua mesa. Ela deveria ter seus 50 anos. Baixinha, cabelos pretos amarrados em um coque na altura da cabeça e seu terninho preto básico.

- Bom dia, Louise.
- Bom dia, . Como vai meu mocinho? – Louise falou sempre daquele seu jeito sorridente de ser. Ela sempre me chamava pelo meu apelido, pois a conheço desde pequeno.
- Estou bem. Mamãe pediu para que eu trouxesse essas pastas que ela esqueceu em casa. – Falei balançando as pastas na altura da minha cabeça.
- Sim, ela me avisou. Pode deixar comigo que eu as entrego. Ela pediu para que você não fosse para casa, quando terminar a reunião ela quer falar contigo.
- Está certo. Ficarei na lanchonete.
- Certo.

Fui até o elevador para descer ao andar quatro para fazer um lanche. Aquela maça não saciou a minha fome. Apertei freneticamente o botão do elevador, mas ele estava demorando a chegar. Virei-me para olhar ao meu redor, pois já estava agoniado com a demora. Quando ouvi o barulho do elevador avisando que já havia chegado ao andar me virei bruscamente para entrar no elevador, até que sentir um corpo e um líquido muito quente se chocar contra meu peitoral.
- Aiiiiii!! – A menina com quem eu tinha me chocado gritou de dor.
- Meu Deus! Me desculpa, você está bem? Me desculpa! – Falei tentando olhar o rosto da menina, mas o seu rosto continuava abaixado abanando suas pernas, pois foi aonde o café tinha caído.
- Não olha para onde anda não, seu imbecil?! – Ela levantou sua cabeça após pronunciar essa frase um tanto quanto grosseira, e eu pude ver que era a menina com quem eu tinha tomado meus pensamentos, a menina do churrasco da turma. A novata.

- Eu já pedi desculpas. – Falei um pouco irritado.
- Suas desculpas não irão passar a queimação que estou sentindo nas pernas.
- Ei, você também derrubou no meu peitoral e não estou reclamando, a pesar de estar realmente ardendo. Vamos nos limpar, eu te ajudo. – Achei que ela iria achar ruim a minha proposta, mas ela não protestou. Pegamos o elevador e fomos até o quarto andar. Quando chegamos à lanchonete pedimos dois paninhos e gelo. Tirei minha camisa e comecei a me enxugar e passar o gelo onde estava bem vermelho por conta do café quente. A menina ficou me encarando, observando cada movimento que eu fazia então a encarei de volta.
- O que foi? – Ela perguntou.
- Por que você está me olhando desse jeito?
- Que jeito?
- Você não tirou os olhos de mim desde quando eu tirei a camisa.
- Na-não é nada.
- Não vai passar o gelo em você não? – Peguei o saco de gelo de suas mãos e me abaixei até as suas pernas fazendo movimentos circulares passando o gelo no local que estava vermelho. – Eu acho que te conheço de algum canto. – Me fiz de desentendido.
- Acho que é do colégio. Eu te vi no churrasco da turma ontem à tarde.
- Ah, foi sim. Mas, o que está fazendo aqui na empresa?
- Meus pais são donos daqui juntamente com outro casal.
- Espera, você é a filha dos ? – Perguntei espantado.
- Sou sim, por quê?... Perai. Você é o tão falado ? Nossa! – Ela começou a rir o que me fez rir junto.
- Sou sim. Seus pais sempre falam de você, acho que meus pais também falam de mim.
- Pois é, o senhor sempre falava de você. Meus pais me puseram na sua escola por que seus pais sempre falaram muito bem de lá, que você sempre amou aquele colégio e tudo mais.
- Ah, está gostando do colégio? Pelo que eu vi você já está andando com a Jade.
- Estou sim, lá tem pessoas muito legais. – Ela sorriu. – Obrigada pelo gelo, mas tenho que me encontrar com meus pais. – Ela se levantou e foi andando enquanto eu permaneci imóvel.
- Espera! Eu ainda não sei o seu nome. – Gritei.
- É , .

Flashback of.

”E pra deixar acontecer
A pena tem que valer
Tem que ser com você
Nós, livres pra voar
Nesse céu que hoje tá tão lindo
Carregado de estrelas
E a lua tá cheia refletindo seu rosto
Dá um gosto de pensar
Eu, você e o céu e a noite inteira pra amar.”


Enquanto me perdi nos meus devaneios se passaram uma hora. Apenas uma hora para ela chegar e meu coração quase saltava do peito. Fiquei andando de um lado para o outro naquele aeroporto, e as pessoas achavam que eu estava ficando maluco. Checava meu relógio a cada um minuto. Não aguentava mais esperar. Eu precisava abraçar minha menina e falar tudo o que eu sinto.

Flashback on.
Eu estava no meu quarto e estava me arrumando para a nossa festa de formatura. Eu e já havíamos terminado o ensino médio. Desde aquele dia na empresa nos tornamos muito próximos, eu juntei ela e a Jade a nosso grupo, o que fez com que Jade começasse a namorar meu melhor amigo Sam. disse que tinha algo para me falar hoje à noite, no fim da festa, estou meio apreensivo. Coisa boa para mim eu sei que não será.

- , meu filho. A já está aqui em baixo te esperando, não demore para descer. - Minha mãe berrou lá de baixo. - Vamos na frente com os para organizarmos as mesas. Se comportem.
- Ta certo, já estou descendo. – Berrei de volta.

*Toc toc* Alguém bateu na porta do meu quarto.
- Pode entrar. – Vi entrando com seu vestido branco com rendinhas azul marinho, e seu salto alto branco. – Você está linda!
- Obrigada , atrapalho? – Ela falou toda tímida.
- Claro que não, só falta eu colocar a gravata e aí já podemos ir.
- Me deixa ajeitar isso para você. De tanto que eu vejo mamãe ajeitando a do papai eu já aprendi. - foi até mim e começou a dar o nó na gravata borboleta que eu teria que usar esta noite. Enquanto ela me arrumava eu comecei a prestar atenção e todos os seus traços. Como ela era linda.
- Prontinho! Melhor agora. Você tem que aprender a fazer isso sozinho, não estarei aqui à vida toda. – Ela falou dando um peteleco no meu nariz. – Vamos se não a gente chega atrasado. Ela foi se virando, mas a puxei pelo braço, o que fez ela se chocar totalmente no meu peitoral fazendo nossos rostos ficarem um pouco colados. Fiz menção em beijá-la, mas ela se afastou e pronunciou apenas um “vamos logo” .

“Porque se eu não parar de pensar em você, a vida não corre, o tempo não anda, tudo se estaciona. Esse sentimento que me afunda, essa âncora que me puxa pra baixo e me impede de seguir, de respirar. Pensar em você é suicídio, mas dentro da minha cabeça, parece que você adora me matar.” – Eder Moreira.


A festa já estava acabando dancei com ela a noite toda. No fim da festa, ela me chamou para um canto e disse que tinha algo para me falar.

- , preciso te falar uma coisa importante. Você sabe que você é meu melhor amigo há três anos. - Melhor amigo, essa palavra me machucava um pouco. – E o que eu tenho para te falar eu acho que você não vai gostar. Não nos separamos desde quando nos conhecemos, e você sabe que eu te amo muito, amigo.
- Diz , estou pronto para qualquer coisa. – Não, eu não estava. Apenas estava tentando passar confiança para ela, mas por dentro meu coração estava apertado.
- Eu decidi cursar design na Itália. – Ela falou, e abaixou a cabeça.
- O QUE? COMO ASSIM? – Eu realmente, não estava esperando por isso.
- É o meu sonho, . Você sabe.
- Mas aqui tem faculdades boas. Fica aqui, comigo. Por favor. – Falei com uma expressão um pouco triste.
- Não dá, . Não dá. Eu viajo amanhã.
- COMO ASSIM? E VOCÊ NÃO ME DIZ NADA?
- Eu não queria ver você agir desse jeito, mas você iria saber de qualquer jeito.
- E eu? Como fico? Você é minha melhor amiga, - essas duas palavras realmente doem – como eu vou ficar?
- Não faz esse drama todo , eu volto nos feriados. – Ela deu um soquinho no meu ombro.
- Não será a mesma coisa.
- Você tá parecendo uma menininha que perdeu a boneca.
- Não faz piada.
- Eeeeita, desculpa mal humorado. – Ela deu uma risadinha e levantou os braços na altura da cabeça. – Pode sempre contar comigo, mesmo distante.
- A distância é de um oceano. Um OCEANO.
- Para com isso, eu volto logo.
- Daqui a três, quatro anos. Vai demorar muito. – Fiz beicinho.
- Own, o bebezão tá fazendo manha. É isso mesmo? – Ela disse me abraçando.
- É sim. Eu te amo.
- Também te amo, . Você sempre será meu melhor amigo.
Flashback of.

“Eu perguntei 18 vezes: Você tem certeza que quer ir embora? E cada “sim” era uma pancada diferente.” - Matheus, 1º dia sem ela.


Meia hora. Meia hora. Daqui a meia hora ela estaria atravessando o portão de embarque. Meia hora. Como eu disse, estou cursando jornalismo. Todo jornalista gosta de escrever, não é? Peguei meu caderno na mochila e o folheei. Abri na primeira página, e comecei a ler alto o que eu tinha escrito quando cheguei a casa no dia em que ela embarcou. Eu estava disposto a mostrar esse caderno à ela. Tudo que estava escrito aqui foi para ela. Pensando apenas nela.

“Eu queria que você soubesse que eu jamais desistiria de algo relacionado a nós. Uma mensagem sua repentina, ou um telefonema inesperado seu é o que espero a qualquer momento. E queria que você soubesse dos meus medos, de não saber o que fazer, de não saber ser suficiente, de não ser amado. E eu gostaria que você fosse do tipo frágil para nos reconfortarmos juntamente. E você, talvez, pudesse me enxergar mais do que aparento ser, mais do que eu tento ser, e que preferia um paradoxo infinito de brigas e xingamentos constantes que mais parecem elogios do que jogar tudo pro alto sem saber o porquê. Mas aí que está: Não dá! É impossível eu querer algo se o que você quis foi ir e fugir dessa bagunça toda. E ríamos ao som de alguma banda antiga, mas não dá pra voltarmos nisso. Se a sua decisão é essa, se o nosso destino é ficarmos cada um em um canto, então, dessa vez, é o nosso último adeus. Parece que dessa vez quem perdeu foi a gente, fui eu, um pouco você, cada um se perdendo um pouco. Mesmo que o nosso destino seja o fim, quero que saiba: eu vou continuar lhe aguardando voltar.”*


- Eu te amo, minha . – Falei para mim mesmo, mas acho que soou alto demais, porque mais alguém ouviu.
- ?! – Era ela.

- ? Você estava aí há quanto tempo? – Falei com uma expressão surpresa.
- Er... Desde quando você começou a ler o texto. É... É lindo. – Ela abaixou a cabeça envergonhada. – Também ouvi o que você falou depois que o leu.
- Sério? Er... Não sei se você entendeu certo.
- Eu entendi sim, . – Me levantei abruptamente.
- , ó. Eu não sei o que você vai achar disso tudo, mas... É a verdade.
- Eu sei, . Eu já sabia disso.
- Você não sente o mesmo... É como eu esperava. Mas, sei lá, ainda quero acreditar que as coisas podem dar certo, não é bom criar expectativas nas pessoas, mas de alguma forma ainda quero crer que nem tudo está perdido. – Abaixei minha cabeça.
- Faria alguma diferença se eu dissesse que ninguém poderia amar alguém tanto quanto eu amo você? – Ela falou, e abriu um grande sorriso, o que me fez sorrir também.
- É que, se eu falo com você, sinto vontade de nunca mais parar. Se estou contigo, sinto vontade de nunca mais te largar. E é isso que é impressionante. Porque você me ganha, e não perde nunca mais. Sinto isso há muito tempo , desde aquele dia no churrasco. Eu não sei como controlar. Parece que você mora mais na minha mente do que na tua própria casa.
- , não posso te dizer que gosto de você desde aquele dia, mas com o tempo, eu fui sentindo uma coisa diferente por você. Eu achava que era apenas um sentimento de amizade, mas, com o tempo, eu fui descobrindo que era... Amor. Lembra daquele dia antes da gente sair de casa? Na nossa formatura. Pois é. Eu queria sim te beijar, mas eu tinha medo. Medo de que você só queria ficar comigo, e depois fingiria que nada tivesse acontecido.
- Por que você pensou isso ? A gente poderia ter conversado, mas você simplesmente resolveu fugir. Fugir da cidade, fugir de nós. Eu guardo esse sentimento a mais ou menos uns seis anos. Seis anos, .
- , me desculpa, eu não queria te magoar. A última coisa que eu quero ver é você sofrer, porque eu te amo muito para aguentar tudo isso. – Uma lágrima escorreu do seu rosto.
- Não chora. – Enxuguei as lágrimas do seu rosto com meu polegar direito. – Agora podemos tentar.
- Mas agora eu moro na Itália. Ficaria tudo mais difícil, .
- Eu vou pedir transferência para Itália, por nós.

Beijamo-nos ali mesmo. Um beijo de saudade, de apreensão, de carinho, de amor. Agora eu pertencia a ela, e ela a mim. Nunca desista fácil de um amor, um dia, ele pode dar certo.

”Eu te vi e já te quis
Me vi tão feliz
Um amor que pra mim era sonho

Surpreendente provar
Do que eu só ouvi falar
E você resolveu me mostrar

Logo eu que nem pensava
Eu não imaginava te merecer
E agora sou o dono desse amor
Eu nem quero saber por quê
Eu só preciso viver
O resto desta vida com você.”



- , o que você vai falar para seus pais? “Mãe e pai, eu vou embora para Itália, tchau.” Você é louco?
- Não né. Eu já tinha dito que queria terminar a faculdade fora, já que estou nos últimos períodos eles irão gostar da ideia.
- Mas você não pode ir de uma hora para a outra, isso é loucura !
- Você está achando ruim eu ir para Itália com você? É isso mesmo?
- Não seu besta! – ela me deu um tapa na cabeça – Só que será muito estranho você largar tudo aqui de uma hora para a outra e se mudar para o outro lado do mundo!
- Tá, você não quer que eu vá.
- Não é isso . Você sabe que não é! - prendi seu pescoço como uma “chave de braço” e beijei sua cabeça - , se você soltar esse volante de novo eu juro que te mato! - gargalhei.
- Calma ! Calma! – continuei a rir.
- Não tem graça, não quero morrer desse jeito!
- E quer morrer como? – fiz cara de interessado.
- Dormindo.
- Dormindo? Por quê?
- Para não sentir nada.
- Não faço a mínima ideia de qual a sensação de morrer dormindo.
- Claro né, idiota.

- Até que eles reagiram bem.
- Pois é. Menos o Evan.
- Evan é seu irmão mais velho. Eu já tinha bastante certeza de que ele não iria reagir bem sabendo que você está me namorando, eu sempre fui melhor amigo dele.
- Logo um marmanjo como você! Eu poderia ter arrumado alguém melhor... – ela gargalhou.
- Admita que você gosta desse marmanjo!
- Quem te disse?
- Você, à exatamente – olhei o relógio no meu pulso – seis horas atrás...
- Assim não vale! – nos beijamos.

Eu poderia estar mais feliz? Depois de cinco anos eu consegui ficar com a menina que eu mais amo, e agora eu sei que ela também me ama. E mais! Vamos morar em outro país, juntos. Tem coisa melhor? Na Itália, irei morar em um flat com Evan, já que mora em um com Taissa. Hoje é sexta, amanhã vamos para o Rio de Janeiro passar nossas férias e de lá iremos para Itália. Iremos eu, , Evan e sua namorada e uma das nossas melhores amigas, Taissa.

"O primeiro beijo ainda está na mente
O seu cheiro ainda está presente em mim
Parece que foi ontem que me conheceu
E hoje é o meu amor
E seu amor sou eu."


POV.

Nossa temporada de férias ano passado foi um horror. Evan quebrou a perna fazendo uma escalada, Taissa foi queimada por água vivas. Comigo não aconteceu nada porque morro de medo de tomar banho de mar. Depois daquele verão em que eu quase morri afogada nunca mais eu entro em um.

- E ai , vamos dar um mergulhinho? O mar está maravilhoso! - Tai disse saindo do banheiro com seu lindo biquíni branco de bolinhas pretas.
- Tá louca? Tá querendo que eu morra?! – Eu disse, levantando os braços e os sacudindo acima de minha cabeça.
- Af , isso foi a 8 anos atrás, você só tinha 12 anos! Deixa de besteira. - Evan falou se levantando do sofá ao meu lado e me puxando pelos braços.

Depois de muita ladainha eles me convenceram, nem sei como. O mar estava bravo. Havia passado uma semana de bronzeado tedioso e, só para mudar alguma coisa, decidi colocar o biquíni e encarar aquele mar. Mergulhei e nadei embaixo da água alguns metros, porém, de repente, uma onda traidora me fez rodopiar como uma sardinha e, ao ficar de pé... QUE HORROR! Notei que tinha perdido a minha parte de baixo do biquíni. Rapidamente submergi e me distanciei da margem. Como eu iria sair da água agora? A praia parecia à plataforma do metrô às seis horas em ponto, e eu estava morrendo de vergonha. Então, pude vê-lo. Meu biquíni boiava tranquilamente perto de um grupo de loiros atléticos que faziam palhaçadas em cima de um colchão de água. “Ei!”, gritei desesperadamente. Um loiro autêntico, com as costas massacradas pelo sol, ouviu, olhou, viu o biquíni e chegou à conclusão certa. Em quatro braçadas me alcançou com o biquíni na boca e ofereceu-o com um sorriso. Descobri que ele era alemão.

O agradeci e fiz um sinal com dedo, o rodando, para que ele entendesse e virasse de costas. Ele entendeu, e prontamente se virou. Quando vesti meu biquíni eu toquei em seu ombro e ele se virou. Para minha sorte, o alemão falava português.

- Da próxima vez toma mais cuidado! – ele disse rindo.
- Ah sim, obrigada. Nossa! Você fala português? Que sorte a minha. – falei com um sorriso.
- Sim, meus pais são daqui, mas fui criado na Alemanha.
- Como você percebeu que eu sou daqui?
- Pelos vários xingamentos que você pronunciou quando viu o seu biquíni boiando. – ele começou a gargalhar, me fazendo gargalhar também – Mas, qual o seu nome?
- Me desculpe. Meu nome é . – falei estendendo-lhe minha mão direita.
- O meu é Klaus. – ele falou apertando minha mão – Está sozinha por aqui?
- Não, estou no hotel com meu namorado, meu irmão e minha melhor amiga. E você?
- Namorado... Ah. Vim com meus amigos. – ele disse apontando para um grupo de garotos e garotas perto de uma das barracas da orla. Logo depois, avistei vindo até nós com uma expressão não muito convidativa, então me apressei em falar.
- Klaus, prazer em conhecê-lo, e muito obrigado pela ajuda!
- De nada , nos vemos por ai. Até mais!
- Até! – saí em direção a .

- Quem é aquele cara?
- Um rapaz que me ajudou.
- Te ajudou em que?
- Meu biquíni caiu e ele me entregou-o. Só isso.
- Espero que tenha sido só isso mesmo.
- Para com esse ciúme bobo. Só foi isso.
- Espero. - segurou na minha cintura e fomos andando em direção a orla, e ele fez questão de olhar para Klaus até chegarmos lá.

“Como esquecer o beijo que você me deu
Não sei se era para esquecer ou lembrar
E ficou um pedaço de você em mim
E hoje eu quero te ver pra me entregar.”


Nossas ferias já estavam acabando. Rio de Janeiro é um lugar muito lindo, belas praias, belas pessoas, restaurantes muito bons e a culinária é maravilhosa. Tínhamos ido às praias e shoppings de lá, é tudo maravilhoso. Eram exatamente três horas e cinquenta e oito minutos da madrugada quando chegamos ao aeroporto para pegarmos o primeiro voo de volta à Itália. Eu estava com sede, então eu e Tai fomos a uma banca que avistamos para comprarmos água para nós quatro. Quando saímos de lá avistamos uma pessoa... Klaus. Ele tinha virado uma espécie de amigo para mim, mesmo nos falando pouco. Não falei, mas como tinha seus ataques constantes de ciúme quando eu ou Tai citávamos Klaus em algum de nossos papos, eu e Tai dizíamos a e a Evan que iríamos a alguma loja do shopping mas na verdade, íamos nos encontrar com Klaus para conversarmos. Tai gostou muito de Klaus também, então os assuntos vinham facilmente. Um dia, descobriu e ficou bastante furioso, quase arrebentou o rosto de Klaus em uma das lojas do shopping. Mas depois de muita conversa, resolveu pegar mais leve.

- KLAUS! – Eu e Taissa gritamos assim que o vimos.
- Meninas!!!! – Klaus respondeu assim que se virou e nos viu.
- Já vai voltar para a Alemanha? – Perguntei.
- Não vou não.
- Mas, por quê? - Tai perguntou.
- Porque vou morar na Itália. – ele abriu um grande sorriso para nós duas. Então nós três nos abraçamos e ele agarrou a cintura de cada uma com seus grandes braços.
- Sério?!?!?! Sério mesmo?!! - Tai perguntou sem conter a animação.
- Sério!!! Quando meus pais foram morar na Alemanha eles não venderam o pequeno apartamento em que moravam na Itália antes deu nascer. Então, como eu estava querendo terminar a faculdade em outro país e já tenho vinte e dois anos, eles resolveram me dar às chaves do apartamento para que eu fosse estudar lá.
- Meu Deus! Não acredito nisso. Que ótimo! – Falei extasiada.
- Qual curso você está estudando? - Tai falou.
- Medicina.
- Tá brincando, né? Sério? – Falei.
- Sim, sério. Por quê? – Klaus perguntou, rindo.
- Porque meu irmão Evan vai terminar medicina lá, também!
- Então vamos cursar juntos! – Eu e Tai começamos a pular de felicidade, enquanto Klaus só sabia rir da nossa animação.
Ouvimos alguém pigarrear. Era .
- Olá Klaus, o que faz aqui? - falou.
- Estou indo para a Itália.
- Oh, sério? – Evan se pronunciou. – Que ótimo.

Já se passou um ano, Evan e meio que já se acostumaram com a presença de Klaus, já que ele estuda com Evan. Minha formatura e de Taissa será hoje. A de foi semana passada, e tudo deu certo. Foi tudo muito perfeito, ele amou! Nossas famílias estão aqui desde a formatura dele, e irão embora depois de amanhã.

Já estávamos nos preparando para a formatura. Depois daquela decisão de Klaus de vir morar na Itália deixou o meu relacionamento um pouco conturbado no começo, já que ele faz questão em me dar atenção em tudo que eu faço ou deixo de fazer. Quando se trata de ciúmes, não mede esforços. Tai vive falando que Klaus só se mudou para cá por minha causa, mas eu já deixei claro para ela e para ele que quem eu amo é o .

- Meninas, se apressem! – Evan gritou do andar de baixo. Como não bebe e meu irmão é um pinguço, achamos melhor que ele nos levasse e nos trouxesse.
- Já estamos descendo! - Taissa gritou de volta.
- Amiga qual sapato fica melhor? – Saí do meu closet com dois sapatos em mãos. Um preto, e um bege.
- O preto.
- Tem certeza?
- Aham. - Taissa estava passando seu batom vermelho.
- Ok.
- De nada hein!
- Obrigada! – Dei um beijo na bochecha dela e a ouvi reclamar que eu estaria melando suas bochechas com meu gloss rosa claro.

A cor das roupas dos formandos era rosa bebê. O vestido de Taissa era lindo. Ele tinha alças largas, costas nuas, o comprimento era um pouco acima dos joelhos e tinha um rendado branco todo transparente por cima de toda a saia. Já o meu era alças largas, todo o vestido era de um rendado rosa bebê e uma transparência cor de pele na altura do busto e da cintura, costas nuas e o comprimento era um pouco acima dos joelhos. Ambas com saltos altos pretos. Ouvimos Evan e gritando lá embaixo que já estávamos atrasados.

- Vamos garotas, estão parecendo que vão casar com essa demora toda!
- Pronto, já estamos aqui. - Tai falou. E Evan nos olhou com uma expressão surpresa, apenas pronunciando meio em tom de sussurro: “Vocês estão lindas.”
- , nossos pais já foram.
- Tá certo. – Fui até não querendo presenciar a cena que eu sabia que iria acontecer, claro. Evan e Taissa se beijando como se o mundo fosse acabar naquele exato momento.
- Oi meu amor. - falou quando me aproximei.
- Olá!! – Falei e em seguida nos beijamos.
- Ô, vocês dois, já chega! - falou pegando a primeira almofada que viu no sofá e jogando no rosto dos dois cidadãos afobados.
- Ei, meu cabelo! - Tai reclamou.
- Então vamos logo. – falou.

Entramos no carro e fui ao banco do passageiro com o e os afobados, quero dizer, Tai e Evan foram atrás. Liguei o rádio e estava tocando Jorge e Mateus. Achamos estranho, porque estávamos na Itália. Eu e Tai vivíamos cantando aquela música, mas quando fez menção em trocar de estação eu dei um tapa na sua mão e ele riu. Quando a batida do violão começou eu e Tai começamos a cantar, levantar os braços e balançar a cabeça de um lado ao outro.

“Pra falar do amor de verdade,
Vou começar pela melhor metade
Te mostrar tudo de bom que tenho
E se for preciso eu desenho
Eu amo você,
Que eu quero você.”


- Vamos meninos, cantem com a gente!!! – Eu e Taissa falamos em conjunto e eles só faziam uma cara de que comeu e não gostou.

“A outra metade é defeito
Você vai saber de qualquer jeito,
Anjo ou animal, suave ou fatal
O que de um grande amor se espera
É que tenha fogo,
Que domina o pensamento
E traga sentido novo.”


- Vamos meninos, eu sei que vocês sabem a música!!! – Falei toda animada. Então nós cantamos todos juntos.

“Que tenha paixão, desejo,
Que tenha abraço e beijo
E seja a melhor sensação,
Que preenche a vida vazia,
Mande embora a agonia
E que traga paz pro coração,
É você, é você.”


Chegamos ao local da festa e já tinha bastante movimentação por lá. Descemos do carro e eu e fomos na frente de mãos dadas e logo atrás, meu irmão e minha melhor amiga. Entregamos os individuais e fomos à procura da minha mesa que seria junto com a da Taissa, já que nossos pais são bastante ligados. cumprimentou meus pais e meus outros familiares assim como eu, Evan e Taissa.

- Amiga! – Ouvi Tai gritar no meu ouvido me fazendo sair dos braços de .
- Oi! – Eu não queria prestar atenção nela, e sim na letra da música que estava tocando e do momento que ela acabou de estragar, mas ela não parava de tagarelar.
- Olha só que lindooooo! Por que seu irmão não canta pra mim?
- Porque ele tem voz de taquara rachada, agora me deixa ouvir. - Taissa se pendurou no meu pescoço e começou a se balançar, mas eu não estava me importando.

Taissa ainda estava um pouco sóbria e continuava agarrada a mim enquanto meu irmão estava levando bronca dos meus pais por ficar completamente bêbado nas festas, eles falavam que ele não se controla, que ele tem que parar se não vai acabar ficando em coma alcoólico, mas eu sempre falo isso para ele e ele não me escuta. Enquanto eu ria das palhaçadas de Taissa eu avistei uma pessoa vindo em nossa direção, eu não estava acreditando! Era a Emma, nossa amiga de infância que tinha ido fazer o colegial na Inglaterra há uns oito anos atrás, e consequentemente fez a faculdade de jornalismo lá. Ela se formou esse ano.

- É a Emma! – Falei descontroladamente tentando tirar Tai de seus devaneios.
- Cel! Tai!
- Quantas saudades! - Emma falou.
- Realmente, oito anos hein. – Falei.
- Pois é, conte-me as novas.
- A tá NAMORANDO com o gato do ! - Taissa despejou na maior cara de pau. Olhei incrédula para ela. – Que foi? É verdade ué.
- ? O gatinho do Ensino Médio que era teu melhor amigo e que a Tai paquerava descaradamente mesmo sabendo que era melhor amigo do Evan? NÃO CREIO.
- É... Ele mesmo. – Respondi, e meu rosto corou.
- Ela acha que não é nada demais namorar o cara mais desejado que o Colégio Amaro já teve. - Taissa disse, e apontou com a cabeça para que eu olhasse para trás. Quando virei, estava lá. Quase presenciamos Emma tendo um ataque cardíaco, mas ela se segurou.
- Oi amor. Essa é a Emma nossa amiga de infância que a gente não via há oito anos por ter se mudado para a Inglaterra. Ela fez faculdade de jornalismo.
- Oh, que legal! Muito prazer Emma. - esticou sua mão direita para um aperto de mão e Emma a apertou.
- O prazer é todo meu. – Então eu e Tai começamos a rir da expressão que Emma fez, parecia que ela tinha visto uma miragem.
- Tira o olho que já é meu! – Falei alto e rindo a tirando dos seus devaneios e fazendo com que Tai risse também para tirar o clima tenso.
- Enfim, Tai cadê o Evan? Ainda não o vi! - Emma falou.
- Deve estar na mesa, vou te levar até lá. Tchau pombinhos, não morram de saudades.
- Vaitimbora, Jones! – Ela e Emma riram, e fez com que risse também.

- Ih, já são quase 3 horas, preciso ir! – Emma falou.
- Onde? – Perguntei.
- Eu... Marquei com uma pessoa.
- Uma pessoa Emma? Ela é real? – Ri. Emma nunca foi tão sociável.
- É sim. – Ela riu. – Iremos nos encontrar perto do zoológico daqui desta rua.
- A essa hora da madrugada? Tem certeza? Você vai sozinha?
- Ah , não tem perigo! Vai ter bastante gente lá fora, e...
- É claro que tem perigo! Você acha que eu vou deixar você ir? De jeito nenhum...
- E desde quando você é minha mãe para dizer o que eu posso ou não fazer?
- Cadê o modo educado de ser dos britânicos? Acho que isso você não aprendeu lá, e eu não sou sua mãe, mas, às vezes, parece que eu preciso mesmo ser, porque você...
- !! - Taissa me chamou, e eu me virei.
- Oi, o que houve?
- Seu irmão precisa ir para casa, a situação tá ficando critica.
- Espera um instante. – me virei de novo - Emma... CADÊ ESSA GAROTA? – Deixei Taissa lá e fui procurar a maluca da minha amiga que tinha ido encontrar não sei quem em um zoológico. Até que ouvi uma voz conhecida me chamando.
- !
- Oi, Klaus. Estou procurando minha amiga, agora não é uma boa hora para conversa, desculpa. – ouvi meu celular tocar na bolsa, era Emma, atendi. – AONDE VOCÊ SE METEU? – Esbravejei. – Fala mais alto! Não tô te ouvindo por causa do som alto!
- E-le-fan-tes! Eu estou cercada de elefantes! Eles fugiram do zoológico! SOCORRO! – Ela desligou.

- Os elefantes fugiram! A Emma tá cercada! – me virei e percebi que Tai se encontrava ao lado de Klaus. - Eu vou ajudá-la! Vocês vão pro palco e avisam a todo mundo!
- Eu vou com você . Pode ser perigoso. – Klaus disse. No meio do caminho até o palco, Taissa achou .


- Tai, o que foi? – Ele perguntou ao ver sua expressão assustada e preocupada.
- Vem comigo! Preciso chegar ao palco urgente!


Enquanto eu corria para fora da festa com Klaus ao meu encalço eu só pensava se minha amiga estava bem. Até que eu vi uma onça pintada rugir.
- Ahhh! – Exclamei.
- Shhhhhhhhhh! Calma! - Klaus falou.
- Vamos! A gente tem que achar a Emma! – Andando um pouco mais vi uma pessoa correr com vários elefantes atrás, era Emma. – Emma! Emma! Emma! – Gritei, ela pareceu não me ouvir.


- Pedi para a banda dar uma paradinha porque quero anunciar uma surpresinha! – O coordenador do colégio falava todo animado. – Nós escondemos várias câmeras pelo parque, para flagrar os casais mais bacanas da festa! Vamos lá! O amor está no ar!

Enquanto várias pessoas corriam para todos os lados para correr dos bichos que fugiram eu não sabia o que fazer, fiquei parada no mesmo lugar, quando um macaco passou do meu lado quase me arrastando e então Klaus me segurou, e... Me beijou.


- MAS O QUE É ISSO? - exclamou ao ver o beijo em uma das telas que mostravam os ‘casais mais apaixonados’ da festa.


Tudo começou a desmoronar, o pessoal corria e só ouviam-se gritos. Na mesma hora que Klaus me beijou eu dei um empurrão nele – mas a filmagem só pegou o beijo.


- KLAUS, O QUE VOCÊ PENSA QUE VOCÊ ESTÁ FAZENDO? EU TENHO NAMORADO. – Gritei.
- , desde que a gente se conheceu eu quero te beijar, eu acho que eu me apaixo…
- PARA! – tapei os meus ouvidos com as palmas das mãos – EU TENHO NAMORADO, EU SÓ GOSTO DE VOCÊ COMO AMIGO! EU AMO MEU NAMORADO, POR FAVOR, SAI DA MINHA FRENTE!
- Mas , como você quer que eu…
- ! Você está bem? - Emma falou.
- Galera, vambora! Está a maior confusão! Parece que alguma coisa desabou em cima do palco! – Um garoto desconhecido gritou para todos que estavam parados do lado de fora da festa.
- MEU DEUS! A Tai, o e o meu irmão, eles estavam lá também, vamos lá! – Exclamei.

Meu telefone começou a tocar na minha mão, era Taissa.
- Tai, oi, vocês estão bem? Cadê meu irmão? E-e-e o ?
- Estamos todos bem, o foi para casa, nós vamos de táxi.
- Como assim ele foi para casa, Taissa? Ele quem iria nos levar!
- Ele viu uma coisa , depois eu explico. Estamos do lado de fora da boate, venha.

Obedeci minha amiga deixando Klaus para trás e caminhando com Emma.
- Por que você está assim? – Emma perguntou.
- Assim como?
- Cabisbaixa.
- Nada. Foi algo que aconteceu, mas eu nem quero mais lembrar.
- Foi o beijo, né?
- Hã, que beijo?
- Eu vi o beijo que Klaus te deu, .
- Aquele idiota não deveria ter feito aquilo. Argh! Que ódio. Nunca mais quero vê-lo na minha frente, e não me importo se ele ainda tem que fazer mais dois anos de faculdade com meu irmão, quero que ele se foda!

- Pronto Taissa, chegamos em casa, agora me explica o porquê do ter ido embora sem a gente. – O táxi nos deixou em casa, depois foi deixar Emma e depois Evan.
- Ele viu.
- O que? – Falei assustada.
- O beijo, , o beijo. O que foi aquilo?
- Klaus me beijou a força, Tai. Eu sabia que isso iria dar problema! Mas como o viu aquilo?
- O coordenador instalou câmeras pela boate para filmar o beijo dos casais apaixonados, então viu tudo.
- Mas Taissa, eu não queria, foi à força! Eu briguei com ele depois, não viu?
- Não, isso não passou no telão. Mas ele ficou muito puto, saiu sem dizer nada e foi embora.
- Eu vou ligar para ele!
- Não, não agora. Deixa para ligar amanhã, ele precisa reorganizar as ideias.
- Eu não posso perdê-lo Tai, não posso! – Desabei nos braços da minha amiga, comecei a chorar como se o mundo estivesse acabando.


Quando amanheceu, percebi o meu rosto inchado do choro que resolveu me fazer companhia durante toda a noite que eu ligava para e não recebia resposta. Já fazia uma semana desde o maldito dia em que Klaus resolveu fazer a maior burrada da vida dele. não queria me ouvir, não queria ouvir meu irmão, não queria ouvir Taissa, nem Emma que viu tudo. Ele apenas acreditava no que viu naquela maldita TV. Ouvi a porta do quarto sendo aberta e cobri meu rosto com o edredom. Era Taissa com uma cesta de torradas e um suco de laranja.

- Amiga, você não pode ficar assim a vida toda. Tudo vai se resolver.
- Ele não quer mais saber de mim. – Falei, já chorando novamente.
- Ele deixou isso aqui em casa hoje mais cedo. – Taissa falou me entregando um envelope. – Ele me perguntou como você estava e eu disse: “Como você acha que ela deveria estar? Não sai do quarto a dias, e chora toda hora.” Ele abaixou a cabeça e limpou algo no canto dos olhos. Parece que ele tem chorado esses dias, porque o rosto dele estava inchado.
- Se ele estivesse mal ele teria respondido minhas mensagens.
- Leia a carta, pode ser que as respostas que ele não te deu estejam nela.


Eu sinto, eu penso, eu falo, eu te conheço, isso te assusta né? “Estou invadindo seu espaço? Desculpa.” Esse fui eu, durante todo esse tempo, me desculpando por que mesmo? Me diminui pra você ficar maior. Se você pudesse sentir o quanto isso dói... Eu queria ligar pra você, e te falar sem pausas tudo que eu ensaio toda vez que você me magoa, mas nunca digo pra não te magoar, afinal você não me faz mal por mal, e talvez esse seja o pior mal que se possa fazer a alguém, tão natural. Bobagem, como se algum ensaio no mundo fosse me deixar firme depois do seu ‘alô’. Então é isso, estou te escrevendo. Sempre fui mais seguro com as palavras. Estou te escrevendo pra talvez um dia te enviar, mas to escrevendo. Sobre muitas coisas, mas principalmente, sobre quantas mulheres eu poderia estar saindo nesse exato minuto, mas não, estou aqui te escrevendo isso. Só queria te dá um conselho, em nome do nosso amor e meu carinho por você, tira uma mão da liberdade e segura um terço. Fica assim, agarrado nas duas coisas sabe? E reza, reza muito pra não aparecer ninguém que mexa comigo enquanto você fica brincando de não saber o que quer. Existe outro tipo de amor, um amor que te dá coragem de ser mais do que é, e não menos. Um amor que faz você achar que tudo é possível. Eu quero que espere por ele, eu quero que saiba que merece tê-lo. Tirei essa uma semana para pensar em tudo. Me desculpa se te fiz sofrer. Me desculpa por tudo de mal que eu já te fiz, mesmo sem perceber. Aqueles cinco anos te amando sem ser correspondido, os dois anos te amando sendo correspondido, os sete anos te amando. Foram os melhores sete anos de toda a minha vida. Eu te amo tanto e eu preciso muito, muito de você. Eu quero muito, muito você aqui de vez em quando nem que seja, muito de vez em quando. Você nem precisa trazer maçãs, nem perguntar se estou melhor. Você não precisa trazer nada, só você mesmo. Mas eu preciso muito, muito de você.

Com amor, seu eterno .


Depois de muito choro ao ler a carta, resolvi no mesmo dia preparar um jantar para nós dois. Eu queria agradá-lo de alguma forma para que nós dois esquecêssemos desta história horrorosa. Planejei uma viagem para Veneza, já que moramos em Milão, a viagem iria durar mais ou menos duas horas e quarenta minutos.

Ficamos hospedados em uma pousada arrumadinha (se olhar a fachada), porém o quarto possuía paredes finas e uma cama muito barulhenta. A dona da pousada era muito bisbilhoteira, e pelo que já sabíamos, estava espreitando do outro lado da porta.

Por .
Era o ultimo lugar do mundo onde se poderia pensar em ter relações sexuais, o que obviamente, fez com que eu passasse a desejar de uma forma nova e convidativa. Apagamos as luzes e entramos embaixo das cobertas na cama, as molas rangendo com o nosso peso e, imediatamente, eu colocava minha mão sob a blusa de em cima de sua barriga.

- De jeito nenhum! – ela disse sussurando.
- Por que não? – sussurei.
- Você está maluco? A sra. Nelson está do outro lado da parede!
- O que é que tem?
- NÃO PODEMOS!
- CLARO QUE PODEMOS.
- Ela vai ouvir tudo.
- Faremos silêncio.
- Sério? Nessas horas você parece um cabrito gritando! – eu a olhei com a expressão assustada – Af! Está bem.
De repente, sexo parecia tão... tão... ilícito.

Algumas semanas depois, Taissa foi morar com Evan e eu vim morar com . Estávamos deitados na cama assistindo um programa de TV qualquer, quando falou:
- Vai ver que não é nada.
- O que não é nada? – perguntei absorto, sem desviar meus olhos da TV.
- Minha menstruação está atrasada.
- Sua menstruação? Está...? – virei-me para encará-la.
- Isso acontece algumas vezes.
O silêncio brotou no quarto.
- Você acha, que...? – quebrei o silêncio.
- Não sei.
Ficamos ali deitados, um ao lado do outro, sem dizer nada por um longo tempo.
- Se vista. – eu disse – Vamos a uma farmácia comprar um teste de gravidez.

A farmácia ficava aberta até a meia-noite, e eu esperei dentro do carro enquanto foi correndo comprar um teste. Um tempinho depois, retornava com uma pequena sacola na mão. Alguns minutos mais tarde, estávamos de novo em casa, no banheiro, com o teste de gravidez, que custou £4,99, aberto ao lado da pia. Li as instruções em voz alta:

- Aqui diz que ele tem um acerto em 99% dos casos. A primeira coisa que você deve fazer é pipi no copinho. – o passo seguinte era mergulhar a fita plástica do teste na urina e depois em um pequeno tubo com uma solução que vinha junto com o teste. Se o resultado do teste fosse positivo, nossas vidas iriam mudar para sempre. Os cinco minutos se passaram...

- Aí vamos nós. – eu disse – Não importa qual seja o resultado, saiba que eu amo você.


Se ela estivesse grávida a fita deveria estar azul... E estava. Nossos pais ficaram super felizes, só Evan que deu um piti, mas está tudo sobre controle. Ambos estamos com vinte e dois anos, minha namorada grávida de dois meses e eu a procura de um emprego. Enquanto ela desenhava croquis para a entrevista com o grande estilista Ralph Lauren, eu tentava uma vaga de jornalista no New York Times. Como na Itália o jornalismo não é muito bom, nos mudamos para New York. Evan e Taissa resolveram vir conosco. Taissa irá ser ajudante de no emprego e Evan ainda terminará seu curso aqui. Lembram da Jade Badwi e do Sam Grogan? Ela é uma renomada advogada por aqui, e Sam é um grande empresário. Eles se casaram há dois anos, com vinte anos de idade, e hoje têm uma filhinha de um ano chamada Gracie. Por uma incrível coincidência três casais estão morando no mesmo prédio, o que é ótimo.

- Amor!
- Oi, o que aconteceu? Tudo bem?
- Tudo. É que eu estou com um desejo.
- Desejo às três da manhã, ?
- Sim, por favor!!!
- O que é desta vez? – cobri meu rosto com o cobertor.
- Coxinha!
- Tá de brincadeira, né?
- Claro que não.
- Coxinha, ? Em New York? Como vou achar coxinha às três da manhã em New York?
- Procura, ué.
- Pode ser quando amanhecer?
- Tá, mas depois não reclame quando seu filho nascer com cara de coxinha. – ela falou em tom de deboche.

Me levantei, vesti uma calça, um casaco, um tênis e peguei um cachecol. Sussurrei um: “Você me paga!” para que começou a rir e falou: “Foi você quem insistiu naquela noite!” e eu ri. Peguei as chaves do carro. já estava com quatro meses e os desejos ficavam cada dia mais frequentes. Morávamos no quarto andar, assim como Evan e Taissa, Jade e Sam. Toquei a campainha do apartamento 408 e quem abriu a porta foi justamente quem eu estava procurando...

- Boa madrugada, Evan! Vá se vestir.
- O que? , são três e meia da manhã! Para que você quer que eu me vista?
- Sua irmã...
- De novo?! Ela vai acabar ficando uma baleia!
- Anda logo que da baleia eu cuido depois!
- O que é dessa vez?
- Coxinha.
- Vocês precisam se mudar para o Brasil.
- Por quê?
- Não se lembra dos últimos desejos? Brigadeiro, açaí, acarajé, sururu... Eu hein.
- Realmente... Mas vamos logo! Não consigo imaginar meu filho com cara de coxinha.
- Se ele puxar a você, com cara de banana ele nasce! – Evan riu achando a piada engraçada.
- Hahaha... Pergunta a tua irmã o tamanho da banana! – Evan fez cara de ofendido e depois rimos.

Duas semanas depois descobrimos o sexo do bebê. É um menino, nosso ! Está crescendo muito saudável. Desde o dia da formatura de eu venho pensando em pedi-la em casamento, e tenho certeza que agora é a hora.

E aconteceu. Viajamos para São Paulo para visitar os quatro avós corujas e no desembarque, no mesmo aeroporto, no mesmo dia e exatamente na mesma hora em que demos o primeiro beijo eu me ajoelhei e a pedi em casamento. Depois de muito choro e espanto ela pronunciou: “Com toda certeza do mundo eu caso com você!” E nós nos beijamos como se fosse a primeira vez.


Casamos três meses depois na praia de Ipanema. Já estamos há um mês casados, já está com nove meses de gestação. está super saudável, qualquer hora é a hora. Hoje teríamos um jantar na casa de Evan e Taissa, eles queriam anunciar algo, não sei muito bem o quê.

- Me deixa ajeitar isso aqui para você. - começou a ajeitar minha gravata borboleta enquanto eu segurava sua enorme barriga. – Prontinho. – ela foi se virando e eu a puxei pelo braço o que fez com que ela se chocasse em mim.
- Desta vez você não vai fugir. – comecei a beijá-la e ela retribuiu o beijo embrenhando seus delicados dedos entre meus cabelos e passava suas unhas delicadamente pelo meu couro cabeludo me fazendo arrepiar. De repente ela deu um pulo para trás e colocou a mão na barriga. – O que houve? É algo com o ?
- Ele acabou de me dar um chute muito forte! – ela sorriu o que me fez sorrir também.


Terminamos de nos arrumar, saímos do apartamento e fomos andando em direção ao apartamento 408, quando tocamos a campainha Jade, Sam e sua pequena Gracie saíram de 410.
- Boa noite casal! – Jade falou animada.
- Boa! – levantei a mão esquerda e os cumprimentei.
, Jade com Gracie no colo foram entrando assim que Taissa abriu a porta e as cumprimentou com um sorriso largo.


- Bom, já que já estamos todos aqui, nós – Evan a segurou pela cintura e a puxou mais para perto – queríamos compartilhar com vocês que nós estamos...
- Noivos! – o casal falou em uníssono o que fez todos aplaudirem e uma pessoa gritar de dor... Peraí... !
- O que foi irmã? – Evan deu um pulo e se aproximou de .
- A... A... A bolsa!
- A bolsa? – Evan pegou a bolsa de e a entregou.
- Não é isso, idiota! A bolsa estourou!

Na mesma hora eu dei um pulo de onde eu estava e saí correndo para o meu apartamento em busca das chaves do carro e da malinha de . Quando voltei ao local em que estava, Evan estava com ela nos braços e Taissa gritava sem parar: “Meu afilhado vai nascer!” Chamei o elevador várias vezes até que ele chegou. Evan entrou com , eu fui atrás e Taissa disse que iria se despedir dos convidados e em meia hora chegaria no hospital.

Chegamos ao hospital e informaram-nos que havia um pequeno problema.
- Um problema? – perguntei.
- Deve ser um bom dia para a chegada de bebês – disse a recepcionista, alegremente – Todas as suítes da maternidade estão tomadas de pacientes.
- Mas fizemos nossa reserva há várias semanas!
- Desculpe-me, mas não podemos controlar o número de mães que entram em trabalho de parto.
- Ahhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!! - gritou.
- Misericórdia, Jesus me ajude! – Evan falou desesperado, e percebi que ele já estava vermelho.

A enfermeira nos conduziu a um cubículo minúsculo, que tinha uma cama, uma cadeira e uma bancada com monitores eletrônicos e deu a uma camisola de hospital para ela vestir. Realmente, ao longo da madrugada enquanto enfrentava corajosamente contrações fortíssimas, descobrimos que estávamos em boas mãos. Fiquei ao lado dela sem saber o que fazer, tentando dar meu apoio moral, mas não adiantou muito. Tai e Evan estavam na recepção esperando a chegada de . Estávamos naquele hospital já fazia seis horas. Em determinado momento, resmungou algo para mim entre dentes.

- Se você me perguntar mais uma vez como estou me sentindo vou te DAR UM SOCO!
A enfermeira passou por mim e cochichou: “Bem-vindo à sala de parto, papai.”

As horas passavam, empurrava. Eu a assistia segurando sua mão. Minutos depois saí para o corredor carregando uma trouxinha de pano, ergui meu filho recém-nascido e exclamei para meus amigos: “Ele nasceu! , meu filho.” Evan e Taissa vieram correndo ao meu encontro, logo Evan pegou no colo e disse: “Meu primeiro sobrinho!” Enquanto chorava abraçada a Taissa.


Cinco anos depois.
- , vamos! Você está atrasado para a aula, meu filho. - gritava da sala.
- Já vou, mamãe.
- Amor, já que você está sem o carro, depois do trabalho te busco e a gente vai buscar , ta certo?
- Tudo certo. – nos beijamos.
- Urgh. – disse quando nos viu.
- Urgh o que, vamos que hoje você está atrasado! – rimos e continuou com sua expressão de nojo.
- Calma mamãe. Eu estava ajeitando meu topete!
- Hmmm, e para que você está se arrumando todo para ir para o colégio?
- Porque a Zoe gosta do meu topete.
- Quem é Zoe, ? Sua namorada?
- Não papai, minha amiguinha.
- Tá certo. – olhei cúmplice para que deu uma risadinha.

Estou indo buscar no trabalho na Ralph Lauren para depois irmos buscar e comemorar nossos cinco anos de casados, daqui a poucos meses, estará fazendo cinco aninhos e nós queremos resolver tudo direitinho para a festa que queremos dar.

Descemos do carro, peguei na mão de minha mulher e fomos andando em direção ao portão principal da escolinha de , quando chegamos lá, vimos nosso garoto conversando tímido com uma menininha baixinha, loira dos olhos azuis. Pensamos que pode ser a tal Zoe que ele falou hoje cedo. Logo ele nos viu, se despediu da amiguinha e veio correndo em nossa direção para um abraço.

- Essa é a Zoe, meu lindo? - falou.
- É sim mamãe! Quero convidá-la para meu aniversário, eu posso?
- Pode sim, queremos que você chame todos os seus amiguinhos para comemorarem com você.
- Ebaaa!!!
- Conhece a Zoe há muito tempo, filhão?
- Não papai, ela entrou esse ano, é novata.
Eu e nos olhamos e sorrimos, todo aquele ciclo estava começando novamente, e com nosso filho. Esperamos que ele seja muito feliz como nós fomos, somos e sempre seremos. Eu e a novata.






FIM



Nota da autora: 04/10/2014 Este primeiro texto (do aeroporto) é de Mark Hr. As músicas citadas são do Jorge & Mateus. Amo as músicas deles e todas têm realmente letra. O que tá em falta nas músicas brasileiras, né? Esse texto que o principal escreveu para a menina foi escrito com fragmentos de textos de alguns autores como Tati Bernardi e Caio Fernando de Abreu. Muito obrigada a todos que leram e comentaram vocês são demais!


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