Era angustiante.
O dia dos namorados ainda não chegara, mas isso não impedia de haver balões
vermelhos em formato de coração por toda parte – em todos os lugares da
cidade –, assim como, também, casais apaixonados se beijando e se presenteando,
esbanjando todo o seu amor aterrador e nauseante para o mundo inteiro ver. Pois é,
não havia coisa mais angustiante que estar entre todo esse clima romântico bem no fim
do seu relacionamento de dois anos.
, minha melhor amiga, que estava
radiante por ter ganhado uma gargantilha cara de seu querido namorado, me arrastava
pela praça popular no centro da cidade, tentando me mostrar toda a beleza daquele dia
ensolarado, que, sinceramente, só estava deixando meu humor pior.
- Vamos, ! Você tem que mostrar para
aquele idiota que nada disso te abalou.
Dei de ombros, encaminhando-me para frente ao lago e privando-me de enxergar
aquela vista linda da pracinha lotada de adolescentes apaixonados e cheios de
hormônios que não conseguiam manter a língua fora da boca um do outro. Sério que
achava que isso me faria superar o
término com meu ex-namorado infeliz que me traiu com a vadia mais comestível e
detestável de toda essa galáxia infeliz? Onde minha amiga estava com a cabeça, afinal?
- , o que exatamente você quer que eu
faça? – perguntei cansada, louca para voltar pra casa e me trancar no quarto ouvindo
músicas pesadas de rock e lendo histórias de terror. Sim, eu me privava de qualquer
coisa romântica quando terminava um relacionamento, porém, para meu tremendo
azar, tive que terminar um bem na semana do dia dos namorados.
- Ora! Você não pode passar o dia dos namorados sozinha! E nós temos pouco tempo
para te conseguir alguém.
Fiquei alguns segundos encarando-a para ter certeza se falava realmente sério, e
quando percebi que sim, a única expressão que pude demonstrar fora de
incredulidade.
- Eu não quero ninguém! Estou muito bem sozinha – resmunguei, cruzando os braços.
Bem, digamos que depois de levar um par de chifres no meio da testa, você meio que
perde a confiança nas pessoas e o desejo de se entregar a alguém novamente;
principalmente tão rápido. Por que não
entendia esse simples e óbvio fato?
Ela fechou a cara.
- , zinha do meu coração, já está se esquecendo do baile? Isso não é apenas
por causa do feriado e sim do evento mais esperado do ano! Faz eras que essa cidade
não tem um baile descente, e quando finalmente decidem fazer um, você irá
sozinha?
Eu não havia me esquecido do baile. Estava tão ansiosa quanto ela para esse evento –
pelo menos até alguns dias atrás –, tanto que até forcei Tyler – meu ex – a ser o
primeiro a comprar os convites. Mas agora o que menos quero é ir até lá e assistir
todas as pessoas com seus pares, dançando felizes, enquanto eu fico me martirizando
por ter perdido dois anos de minha vida confiando no cafajeste do meu ex.
- Eu não vou – suspirei.
Ela arregalou os olhos.
- O QUÊ? É claro que vai! – gritou. – Nós vamos te encontrar um par a tempo, fique
tranquila!
- Não é por isso, . Eu simplesmente não
quero ir.
- Ah, você quer sim. Desde que anunciaram, você não fala de outra coisa – ela apontou
um dedo acusatoriamente em minha direção. – E você vai nem que eu tenha que te
levar à força!
- , eu não quero ir. Além disso, temos
apenas três dias para encontrar um par e, levando em consideração que a maioria dos
caras que conhecemos já estão comprometidos, o mais óbvio é que você me arrumará
um desconhecido. E ir ao baile com uma pessoa que eu não conheço é algo que não
estou nem um pouco afim de fazer.
Ela fez careta.
- Tudo bem – murmurou e eu suspirei aliviada, pensando que ela havia desistido dessa
ideia. – Já pensei em alguém para ir com você.
- Quê?! – me espantei, pega de surpresa.
- É! Isso vai dar certo! – ela gritou animada, mas era como se constatasse isso para si
mesma. – Venha, !
Antes que eu pudesse me dar conta, ela agarrou meu pulso e me arrastou pra fora da
praça.
- Aonde vamos? – perguntei, tentando forçá-la a parar de correr.
- À casa de !
Revirei os olhos.
- , eu não vou pra casa do seu namorado
e ficar de vela.
- Não seja boba, terá algo muito melhor pra te entreter lá. Ou melhor: alguém.
Eu poderia ir até Hollywood e escrever um roteiro para um filme de terror de
grande sucesso, agora, pois as vastas torturas psicopatas que se arrastavam por minha
mente naquele momento eram extraordinariamente assustadoras e inéditas. Ninguém
poderia imaginar a vontade aterradora que eu estava sentindo de matar
. Não, sério, como ela tem uma ideia
insana dessas?
- Desculpe. Você pode repetir? – se
pronunciou, dirigindo à um olhar
tomado por uma incredulidade latente,
devidamente acompanhada de uma faísca assustadora de raiva. Provavelmente eu não
estava muito diferente dele. – Por que eu acho que não ouvi direito.
- Que isso, gente! – tentou nos acalmar,
postando-se protetoramente frente à sua querida namorada vítima dos intensos olhares
mortíferos. – Essa foi uma boa ideia!
- Eu não vou com ele! – berrei.
- E eu não vou com ela! – gritou .
Nós nos encaramos e o ódio recíproco cintilou incandescentemente em nossos olhares
conectados.
- Vocês dois têm que parar com essa rixa sem sentido! – disse brava, saindo de trás de . – Afinal, já chegaram a ser amigos uma vez.
- Passado – rosnei.
- E quem vive de passado é museu, querida – respondeu ele. E o modo como milagrosamente concordamos foi
assustador... para ambos.
- , amigão – tocou seu ombro. – Você terminou com Stacy.
terminou com Tyler.
sempre esteve ansiosa por esse baile e
você tem dois convites já comprados. Não é muito difícil ligar as coisas, né?
- Não seja por isso – retirou dois
papeizinhos de seu bolso e os jogou no chão. – Não tenho nenhuma intensão de
aparecer naquela merda de baile, pode ir sozinha, .
- Eu preferiria ir sozinha a aparecer com você, isso você pode ter certeza – respondi
cruzando os braços.
Parecia infantil, eu sei, mas nós dois sempre éramos assim. Já chegamos a ser amigos
uma vez, mas isso não durou muito tempo e as coisas acabaram desse jeito. No
começo, quer dizer, no fim de nossa amizade, nós começamos com as provocações no
colégio. Um pregando peças no outro, um prejudicando o outro... E quando vimos,
nosso ódio chegou num tal ponto que apenas faltávamos planejar o assassinato um do
outro. Sério, ele já me fez passar por tantas humilhações no colégio, mas
tantas que eu nem sou capaz de listar. Embora eu não tenha ficado por baixo
também.
- , larga disso! –
berrou impaciente, colocando as mãos na
cintura. – E você também, !
- , olha só, eu não quero mais saber
dessa história. Se eu soubesse que me daria de cara com uma ideia absurda dessas
assim que chegasse nessa cidade, nem teria vindo.
- Isso é exatamente o que você deveria ter feito – resmunguei. – Nunca ter saído de
onde veio.
- Vadia, fique quieta que eu estou falando com a , não com você.
- Vadia é a sua mãe!
- Fale da minha mãe de novo e eu vou...
- Vai o que, seu infeliz dos infernos?! – avancei em sua direção, pronta para dilacerar
aquele rosto convencido e insuportável, quando me agarrou pela cintura e me pôs pra trás.
- Mas que coisa vocês dois! – ele gritou alterado. – Será que não conseguem agir que
nem gente nem por um segundo?! Isso tudo ficou no passado, agora você são dois
adultos! Sejam racionais, seus merdas!
Revirei os olhos. Está vendo o que esse idiota do faz? Até o perdeu a paciência
– e ele sempre é um amor de pessoa.
- Tudo bem. Não querem ir juntos: OK! Mas vocês vão sentar essas bundas teimosas
no sofá e vão resolver tudo agora mesmo! E só vão sair dele quando forem decentes o
bastante para terem uma conversa civilizada e apertarem a mão um do outro, pois eu
estou FARTO dessa situação! A minha vida inteira no colégio tive que aturar vocês dois,
isso NÃO VAI se repetir agora!
Ok, surtou completamente. Como ele
acreditava que podíamos resolver toda a nossa situação, todo o ódio que sentíamos
durante quase uma década, num dia? Se ele não estivesse tão irritado, eu juro que
gritava com ele.
- , ponha juízo na cabeça do seu
namorado, por favor – murmurou,
irritado. – Pois nunca. Nunca mesmo que e eu nos entenderemos. Ouviu, ? Nunca!
- E por que nunca? – desafiou, cruzando
os braços e empinando o nariz. – O que
te fez para odiá-la tanto?
Ele sorriu irônico.
- Você quer que eu liste? Pois acho que demorará pelo menos uma semana para que
eu tenha tudo o que ela fez escrito num papel.
- Como se você não tivesse se vingado em cada uma de minhas ações – resmunguei,
sentindo mais da fúria cobrir minhas emoções.
- Não estou falando disso! – fez um
gesto de descaso, impaciente. – O que
te fez no início que te levou a sempre provocá-la? O que te levou a terminar
aquela amizade legal que vocês dois tinham?
Ele franziu o cenho e cerrou o punho.
- Isso já faz muito tempo, nem sequer me lembro – murmurou baixo, virando o rosto
para longe.
Estava pronta para rir sarcasticamente, quando percebi que nem mesmo eu me
lembrava do motivo de nossa amizade ter terminado. Acho que depositei todas as
minhas energias em guardar na memória os momentos ruins com ele para manter o
ódio vivo, que nem sequer me lembrava mais do que vinha antes disso, antes dessa
guerra.
- E você, ? Se lembra? –
perguntou.
Torci o nariz. Não queria admitir isso, sabia muito bem o que ela diria se
soubesse.
- Responda, – inqueriu
, impaciente.
- Eu não me lembro! – bufei, frustrada. – Faz muito tempo.
- Sabe o que também faz muito tempo? Essa briga. Já que não se lembram o motivo,
por que continuar? – ela disse cautelosamente, mas me fazendo revirar os olhos por
serem exatamente as palavras que eu previa. – Você são duas ótimas pessoas,
esqueçam isso e se resolvam. Sigam em frente, deixem de lado esse ódio sem
sentido.
- Mas... – nós dois murmuramos em uníssono, mas fez questão de nos interromper.
- Vocês vão fazer como o disse agora:
vão sentar nesse sofá, conversar, pôr tudo pra fora... se desculparem e, por
fim, vão selar a paz com um aperto de mão.
- De jeito nenhum! – berrei. – Tudo bem que não nos lembramos do motivo de termos
brigado, mas eu me lembro muito bem de cada humilhação que passei por
causa dele.
- ...
- Olha, – respirei fundo, para eliminar
completamente a raiva que sentia naquele momento, mas em vez de calma, tudo que
consegui foi cansaço. – Eu não estou nos meus melhores momentos para continuar
discutindo uma coisa que eu tenho certeza de que não irá mudar meu modo de pensar,
então vamos encerrar isso por aqui, pois agora eu vou voltar para casa.
- Mas e o baile?!
- Bem, é como eu te disse antes: eu não vou. – respondi, encaminhando-me para a
porta. – Tyler provavelmente estará lá e... – engoli em seco, tentando ocultar minhas
emoções quanto ao assunto delicado – não quero encontrá-lo tão cedo. Não depois do
que ele me fez.
- ...
- Mas eu espero que vocês se divirtam. Mesmo – sorri. Acho que eu não precisava
especificar que falava somente com e
, né? – Tchau.
Assim que fechei a porta, pude sentir novamente a dor da traição de Tyler apertando
dolorosamente meu coração, mas fiz questão de controlar as lágrimas... pelo menos até
chegar em casa.
A noite passada tinha sido completamente insuportável. Mesmo com os filmes de
terror passando na tela da TV, eu passei a noite – e boa parte da madrugada também –
pensando no quanto eu amava o cafajeste do Tyler. Tudo bem que ele agiu
erroneamente mal, mas ele nunca me deu outros motivos para odiá-lo... na verdade,
ele era o namorado perfeito – maravilhosamente perfeito. Eu confiava plenamente nele.
Bem, até, sabe, a traição.
Será que ele sempre me enganou, desde o início de nosso relacionamento, ou apenas
teve uma recaída? Bem, não vou pensar muito nisso, senão acabo vendo a perspectiva
dele e fazendo a enorme besteira de perdoá-lo por esse ato completamente e absolutamente
imperdoável.
Deus, o que fazer para distrair minha mente? Meus filmes de terror se esgotaram e
minha internet está lenta demais para baixar algum – pelo idiota do meu irmão ficar
assistindo vários e vários filmes pornôs em seu quarto. Ok, minha única opção é sair
sozinha, já que está tendo um passeio
romântico – argh! – com seu fofo namorado – por que esta palavra se tornou
tão idiota repentinamente?
Levantei da cama preguiçosamente – e muito pouco disposta – e vesti um casaco
simples, apenas para disfarçar aquela blusinha vulgar que estava usando, já me
dirigindo para a rua.
Bem, para onde vou? Para a pracinha? Não, muitos casais. Para a biblioteca pública?
Não, muitos livros românticos. Shopping? Casais. Cinema? Comédia romântica. Parque
de diversões? Casais. OK! Se eu continuar desse jeito, vou acabar ficando intocada em
casa mesmo. Ah, que seja, vou para a sorveteria, pelo menos terá aquela gostosa massa
gelada para me consolar.
Por que a garçonete estava demorando tanto com um pedido tão simples? Ela não
percebia meu desconforto assistindo aqueles casais idiotas colocando sorvete na boca
um do outro? Ou ela percebia e estava a fim de me torturar?
- Seu sundae de chocolate – a infeliz apareceu com meu pedido e, pelo seu
tom indiferente, percebi que ela não se
prezaria a me torturar com sua lentidão, mas não se importaria nem um pouco em me
deixar esperar.
- Já era tempo – me atrevi a dizer, já que estava de péssimo humor. – Da próxima vez,
pedirei apenas um picolé, se isso fizer você trabalhar mais depressa.
- Desculpe – murmurou de cara fechada, visivelmente nem um pouco ressentida, e
saiu de perto do balcão. Vadia.
Bufando irritada e resmungando baixinho comigo mesma, comecei a provar meu
sundae de chocolate que, ao menos, estava bom.
- De mau humor, ?
Eu devia estar alucinando legal agora, pois podia jurar que tinha ouvido a voz
do...
- ?! – gritei, espantada com sua presença.
– O que diabos está fazendo aqui?!
- Acredite, eu também não gostei nem um pouco desta terrível coincidência. Mas não
vou embora só por que está aqui, seria infantilidade. Além disso, quero
tomar sorvete.
Bufei. Bem, não serei eu a infantil, então. Ele sentou-se no único lugar disponível no
balcão – que ,infelizmente, era ao meu lado – e eu continuei tomando meu sundae e ignorando-o, enquanto pensava em Tyler.
Maldito. Não sai de minha cabeça nem mesmo agora!
Grunhi alto e afastei o potinho do sundae, perdendo o apetite com a raiva
repentina.
- Sei como se sente.
Saltei levemente ao soar da voz de e,
seguidamente, lhe dirigi um olhar descrente.
- Do que você está falando?
- Da sua decepção amorosa – respondeu indiferente, mas notei um certo rancor sendo
precisamente ocultado. – Acontece que sofri a mesma coisa recentemente. Ontem, para
ser mais exato.
- Você terminou seu namoro ontem? – me espantei, mas me arrependendo logo
depois por ter demonstrado interesse no assunto.
Ele se virou para responder, quando a garçonete lhe entregou um milk-shake de
chocolate, fazendo com que eu estreitasse os olhos ao perceber a rapidez com qual o
servira.
- Pois é. Assim que cheguei à cidade – respondeu, tentando manter um
tom indiferente.
- Hã... que péssimo – murmurei, sem saber o que dizer, pois nunca me atreveria a
consolá-lo devidamente, afinal, era o .
- Ela resolveu ficar com outro cara – resmungou e bebeu um gole de seu milk-shake.
Caras normais afogariam suas mágoas em álcool, não em sorvete, mas acho melhor
não julgá-lo já que essa é uma melhor opção. – O pior é que foi bem quando eu tinha
acabado de tomar minha decisão.
- Decisão?
Eu não sabia o que diabos tinha dado no
para estar me confessando tudo isso, mas já que ele está, vou tirar proveito deixando
minha curiosidade rolar solta.
- É... Eu a convidei para vir comigo até minha cidade natal para conhecer meus pais e
nós podermos finalmente oficializar nossa relação no baile que teria, mas as coisas não
saíram como nos conformes – bufou. – Ela me deixou plantado no aeroporto e eu vim
sozinho para a cidade. Claro que assim que cheguei tratei logo de ligar para ela, mas a
vadia foi e terminou tudo por telefone, dizendo que fazia tempo que estava apaixonada
por outro e que iria embora com ele.
- Mas que imbecil! Como pôde terminar um relacionamento por telefone?! Isso não se
faz, é muita sacanagem! – me revoltei, só depois me dando conta que estava
defendendo meu inimigo número um. Pigarreei. – Quer dizer... que mau hein,
.
- Pois é, – resmungou, com o olhar
distante. – Estamos no mesmo barco.
Arregalei os olhos.
- Uou uou uou uou uou! Quem disse que estamos?
- – respondeu simplesmente e eu
estreitei os olhos pela segunda vez no dia. Eu mato a .
- Olha, eu não sei o que te deu para se abrir para mim, , mas não compare nossas situações, ok? Em primeiro lugar, eu não
levei um pé na bunda.
- Mas foi traída.
Controlei um rosnado. Por que ele tinha que me lembrar disto? Ah, é mesmo, por que
ele é o ! Bem, não vou mais continuar
aqui neste lugar desprezível para ser lembrada da minha incrível estupidez de confiar no
meu ex, ainda mais pelo idiota do .
- O papo está bom, – disse ironicamente
e joguei o copinho do sundae no lixo, já me levantando de meu lugar. – Mas agora, se
me permite, vou vazar da... – interrompi-me no meio da fala, pois ao virar-me para sair
acabei trombando repentinamente com uma garçonete que segurava uma bandeja cheia
de sorvetes, que, claro, caíram completamente em minha roupa. Preciso dizer que me
tornei o centro das atenções naquele momento?
- Ops – a garçonete riu, e quando fui encará-la, notei que era a mesma que me serviu
o sundae. Ela. Não. Fez. Isso.
- AH, SUA FILHA DA MÃE!! – berrei e lancei-me em sua direção, mas senti braços me
agarrarem antes. – ME SOLTA! ME DEIXE ACABAR COM ESSA VADIA! – berrei,
debatendo-me nos braços de quem me segurava, que nem sequer pensei em virar para
enxergar.
- , calma! Foi um acidente! – reconheci a
voz do e percebi que era ele quem me
segurava. Pensei que o infeliz apenas riria de mim, mas nããão! Ele tem que me impedir
de acabar com a vadia também. Idiota!
- Que merda de acidente o quê, ! Você é
cego por acaso?! Essa vadia fez de propósito! AH, MAS ELA ME PAGA!!
Inesperadamente, dei uma cotovelada na boca do estômago de
, fazendo-o se curvar sem ar, e avancei
na direção da infeliz com toda a fúria que me consumia naquele momento. Porém,
acabei escorregando com o sorvete espalhado no chão e caindo de bunda, apenas
fazendo com que as pessoas e as várias crianças presentes gargalhassem mais e meu
mico se tornasse maior. Ah, mas eu mato. Ah se eu mato!
Depois de várias tentativas inúteis, eu finalmente consegui me postar de pé para pegá-
la, mas me agarrou de novo, me
jogando em seus ombros, e me arrastou pra fora da sorveteria – sobre meus protestos,
é claro, além das contínuas gargalhadas das crianças que apontavam e riam.
- Qual é a tua, ?! – berrei, assim que ele
me colocou no chão, tentando socá-lo para descontar minha raiva pelo menos em
alguém.
- , para – resmungou, segurando meus
pulsos. – Deveria me agradecer, te tirei daquela situação constrangedora.
- Constrangedor foi sair com meu orgulho ferido! – berrei a plenos pulmões, fazendo
fazer careta. – Eu devia ter acertado uns
belos tapas naquela garçonete filha da mãe que me jogou o sorvete de propósito na
roupa só por que não foi com a minha cara! Eu deveria ligar para meu pai advogado
agora mesmo e processar essa vadia miserável por tamanha insolência cometida contra
um simples e inocente cliente que...
- Cala boca! – gritou, impaciente. – Será que dá para ficar quieta um minuto e tentar
recuperar a pouca sanidade que tem?
Rosnei e puxei meus pulsos furiosamente de seu aperto, mas o obedecendo e tentando
me acalmar, pois sabia que não pensava direito quando estava brava – apenas por isso,
que fique claro.
- Bom, muito bom. Boa menina. Viu como é fácil agir que nem uma pessoa normal? –
murmurou quando consegui me acalmar, fazendo-me rolar os olhos. – Vish, sua roupa
sujou toda com isso.
Observei-me e trinquei os dentes para controlar a raiva, pois seria capaz de retornar
até lá e esmagar o rostinho daquela garçonete contra o chão. Realmente, eu estava
completamente encharcada com o sorvete agora derretido. Até meu casaco estava em
péssima situação. Mas eu não podia culpá-la totalmente, pois a lambança só ficou pior
pelas minhas várias quedas no chão melado tentando alcançá-la.
- Tome – tirou seu casaco, um pouco sujo por ele ter me segurado, e me estendeu.
– O tempo não está lá essas coisas, se você continuar molhada desse jeito, ainda mais
com algo tão gelado, vai acabar ficando resfriada.
Franzi o cenho, encarando seu casaco como se fosse um ET. Desde quando ele era
gentil comigo?
- O que diabos deu em você?! – indaguei alto.
- O que?
- Você está muito estranho – murmurei, minimamente assustada e quase recuando um
passo. – Nunca foi assim.
Ele rolou os olhos, impaciente.
- Só estou sendo decente, . Agora
largue de frescuras e recolha de uma vez este casaco antes que eu mude de ideia.
Relutantemente, peguei o casaco, ainda olhando estranhamente. Mas resolvi fazer o que ele dizia de qualquer forma já que
era o mais sensato. Prendi seu casaco entre minhas pernas e tirei o meu completamente
encharcado e grudento. Fiz careta para o tecido e peguei o casaco de
para vesti-lo, mas parei assim que
avistei sua expressão estranha e repugnante.
Ele tinha seus olhos completamente presos em meus seios expostos pelo enorme
decote, enquanto seu pomo-de-adão pulsava fortemente. Idiota. Agora vai ficar
babando no meu corpo, é? Tudo bem que eu estava usando uma blusa muito vulgar
por baixo do casaco, mas eu não tinha nenhuma intenção de tirá-lo fora de casa.
Rolei os olhos e vesti o casaco dele, certificando-me bem de ter coberto
completamente qualquer centímetro de pele que pudesse estar visível para ele.
- Er... obrigada – agradeci a contragosto, e me sentindo estranha por ter feito.
- Não há de que – sorriu convencido, daquele jeito arrogante e odiável que sempre
fazia. – Se quiser te dou uma carona até em casa, meu carro está ali na esquina.
Escancarei a boca e o olhei estranhamente mais uma vez.
- Ok, qual é a pegadinha? – perguntei e ele fez uma expressão ligeiramente
confusa.
- Como assim?
- Desde quando você é tão legal comigo?
- Só estou tentando ser educado, .
- Você nunca tentou ser comigo.
- Bem, estou tentando mudar meu comportamento quanto a você. Mas você não
facilita, não é?
- E o que quer que eu faça?
- Que aja como uma pessoa normal! – urrou, irritado. – Pode fazer isso, pelo menos?
Ou é difícil demais para uma débil mental como você?
Estreitei os olhos.
- Agora sim está agindo como o que eu
conheço.
- Parece que você prefere essa versão minha.
- Não prefiro nenhuma versão não, seu idiota! – rebati como uma garota de seis anos e
ele rolou os olhos.
- Oh, Deus... Vai aceitar a carona ou não? Não vou perguntar outra vez.
Inclinei o queixo esnobemente.
- Bem, vou aproveitar esse seu surto anormal e bizarro de gentileza comigo.
- Céus, só cale a boca ou então mudo de ideia.
- Ok ok! – ergui as mãos em rendição. – Mas vamos logo, já estou ficando incomodada
grudenta e melada deste jeito.
- Beleza... – respirou fundo, parecendo cansado. Ele estava mudado ou era impressão
minha? Ele sempre esteve disposto a discussões comigo e agora parecia
simplesmente... impaciente. – Siga-me.
Nunca pensei que um dia estaria passando por esta situação bizarra do
sendo gentil comigo e eu aceitando suas
gentilezas. Mas tudo bem, pois as coisas não podem se tornar piores do que já
estão.
Assim que viramos a esquina, ele se dirigiu até seu carro e eu cessei meus passos,
completamente estática com o que via.
- Hey, mudou de ideia, ? – perguntou,
notando o quanto eu estava afastada.
- V-você t-tem...
- Uma BMW? – ele sorriu convencido, daquele jeito que sempre odiei. – Pois é, só pra
quem pode.
Tratei logo de parar de babar em seu carro e fui até a porta para poder entrar. Céus,
se eu soubesse que o tinha uma BMW,
teria aceitado seu convite sem nem pestanejar, mesmo ele sendo o idiota que é.
- Beleza – ele disse, assim que entramos no carro. – Ainda mora no lugar de
sempre?
- E você lembra do lugar de sempre? – me espantei.
- Ah, qual é, já fomos amigos uma vez, esqueceu?
- Isto não é uma coisa que eu goste de lembrar – resmunguei. – Além disso, já faz
mais de uma década que isto aconteceu, como você poderia se lembrar da onde
moro?
Ele gargalhou.
- , , o colégio inteiro conhecia sua casa, não se espante – murmurou. Ok, ok,
isso era verdade, consequências da popularidade. – Então, o lugar de sempre ou não?
- É.
E então ele começou a dirigir em direção à minha casa, com nós dois nos mantendo
em silêncio por quase todo o percurso. Porém, já no meio do caminho, resolvi quebrar
aquele clima incômodo.
- Posso ligar o rádio? – perguntei, desconfortável com o silêncio, mesmo que fosse
compartilhado com o .
- Olha só – gargalhou. –
pedindo permissão para algo!
- Acontece que o carro é seu, animal, e eu tenho educação.
Ele rolou os olhos e ligou o rádio, onde uma música do 30 Seconds to Mars começou a
tocar aleatoriamente. Ele foi para trocá-la, mas eu dei um berro tão alto que ele se
impediu. Eu amo 30 Seconds to Mars! Ele que se atrevesse a trocar que ia ver só...
- Você curte 30 Seconds to Mars?! – indagou incrédulo.
- Mas é claro que sim! – me defendi. – Eu gosto de rock, por que a surpresa?
Ele me olhou estranhamente por alguns segundos e balançou a cabeça.
- Não, é que... eu pensei que você fazia mais o estilo patricinha, com músicas da
Britney Spears, Madonna, Space Girls, etc.
- Meu Deus, eu nunca fui tão ofendida em toda minha vida! – resmunguei, injuriada.
Como ele se atrevia?
- Foi mau – deu de ombros, segurando o riso. – Mas é que você sempre foi aquela
garota bobinha e romântica do colégio, jamais imaginaria que curtisse rock.
- Eu sempre curti rock. E eu ser romântica não muda este fato. Na verdade,
uma coisa não tem nada a ver com a outra.
- Lógico que tem! Não é sempre que as aparências enganam – defendeu-se e eu bufei.
– Não entendo por que você tem sempre que me surpreender... – sussurrou
baixinho.
- O que? – perguntei, sem entender o que disse.
- Nada – desviou. – Só estava pensando no quanto você era uma bobinha
romântica.
- Bobinha nada!
- Claro que é.
- Não sou! – resmunguei, estranhando por não ter gritado como sempre fazia quando
discutia com ele. – Você pode me chamar apenas de romântica, pois isso eu sou
fielmente e não me envergonho.
- Você deve estar muito mal por não ir ao baile, né? – murmurou disperso, mudando
completamente de assunto. Depois ninguém acredita quando eu digo que o
é louco. – Afinal, você acredita fielmente
nessa coisa de Dia dos Namorados ser uma data especial e tal.
- Mas é uma data especial – debati. – É o dia dos casais ficarem juntos e
demonstrarem seu amor.
- Bah! Isso é o que a mídia diz para que os casais gastem seu dinheirinho com
presentes idiotas. É uma data comercial, apenas.
- Pode até ser, , mas é a oportunidade
que os namorados têm de demonstrar o que sentem com ações e presentes, nos
mostrando o quanto nós, namoradas, somos especiais.
- Isso é bajulação!
- Não é nada! Se você sente algo por alguém, você quer fazer de tudo para demonstrar
para essa pessoa. Você mesmo queria fazer algo especial para sua namorada – segurei
o riso. – Mas o “presente especial” não aconteceu, e você ganhou como
presente um pé na bunda.
- Ah, e você ganhou de presente um par de chifres.
Fechei a cara.
- Pelo que ouvi, ela também gostava de outro cara e foi embora com ele, então você
também foi traído, querido.
- Mas pelo menos ela foi sincera e me disse, já o seu namorado teve que ser pego para
você descobrir.
- Pelo menos ele não terminou comigo por telefone.
- Pelo menos o meu término não foi numa data especial para mim.
Cruzei os braços e virei o rosto, enquanto o carro permanecia em pleno silêncio apenas
com o soar leve da música acústica de Hurricane tocando. Eu estava claramente irritada
e um pouco frustrada, mas parecia
simplesmente calmo e pensativo.
Observei o carro fazer a curva fechada familiar em direção a minha casa e suspirei
aliviada, não aguentava mais ficar num mesmo ambiente que o
– ele me irritava demais! Então
assim que o carro parou, mais do que rápido abri a porta para sair, quando ele me
impediu segurando meu braço.
- , espera – pediu, soltando-me
seguidamente, por saber que eu me incomodaria com o contato. Arqueei uma
sobrancelha, impaciente. O que ele queria, agora? – Acho que
e têm razão.
- Em que? – perguntei rabugenta. Não estava gostando do rumo desta
conversa...
- Está na hora de pararmos com isso. Já somos dois adultos, essas brigas são muita
infantilidade. O nosso tempo no colégio já acabou, temos que superar nosso passado e
começar do zero.
Arregalei os olhos e entreabri a boca.
- Espera... calma aí! – ergui a mão para pará-lo e fechei os olhos alguns segundos para
absorver o que ele dizia em minha mente. Não me julgue, aquilo parecia surreal
demais. – Você... está dizendo... para nós fazermos as pazes? É isso mesmo que eu
entendi?
Encarei-o incredulamente.
- Não precisamos ser necessariamente amigos, apenas agirmos civilizadamente.
Eu devo ter ficado em silêncio durante uns dois minutos, enquanto pensava em apenas
duas coisas: se ele estava falando sério e qual seria a melhor resposta, caso estivesse.
Afinal, o que eu diria? Zoaria com a cara dele e continuaria odiando-o infantilmente?
Ou aceitaria a proposta e agiria como a adulta que sou? Se ele está sendo civilizado o
suficiente para me ajudar e propor isso, por que eu também não posso ser civilizada e
resolver esse relacionamento conturbado que temos desde os tempos do colégio?
Confesso que no princípio – quando e
pensaram nisso – essa ideia me parecia
absurda, mas agora que estou mais calma, estou até que sabendo analisar os lados bons
da coisa e enxergar por uma nova perspectiva.
- Bem... é – concordei. – Nisso eu concordo. Brigar me faz parecer infantil, não gosto
disto.
- Então você concorda? – perguntou cautelosamente, mas notei que ele tentava
disfarçar o tom impaciente.
Suspirei, pensando mais um pouco.
- O que te deu hoje, ? – resmunguei,
recostando-me no carro.
- Digamos que estou cansado dessa guerra. Sou um homem maduro e não quero mais
continuar com isso.
- É... – concordei, dispersa. Eu também era uma mulher madura. Com princípios um
tanto infantis, mas era madura. Pelo menos, madura o suficiente para superar essa
rixa... Eu acho... Bem, não custa nada aceitar, não? – Ok, tudo bem. Podemos
tentar.
- Então fechado? – perguntou, estendendo a mão num cumprimento.
Olhei para sua mão por um momento, ainda em dúvida, e, finalmente, apertei-a para
selar o acordo.
Contudo, estranhando demais aquela situação, saí de vez do carro e me apressei para
seguir até a porta de minha casa, tão dispersa que mal notei o
me seguindo pelo meu quintal.
- O que foi agora? – perguntei, virando-me para ele, que parecia calmo e normal com
as mãos enfiadas no bolso da calça.
- Ué, achei que seria decente te acompanhar até a porta. Agora que estamos
começando do zero isso seri...
- Então vou ser escoltada agora? Estou bem, pode vazar daqui!
Ele revirou os olhos.
- Trégua, lembra?
Bufei impaciente, mas quando estava prestes a respondê-lo, avistei algo no outro lado
da rua que fez meu estômago cair aos meus pés. Era horrível, insuportável de ver.
Parecia que eu tinha levado dúzias de tapas na cara e um chute na boca do estômago,
pois aquela cena era simplesmente dolorosa demais de se assistir.
- ? – estranhou minha expressão. – Hey, o que você tem,
?
Ele seguiu a direção de meu olhar e franziu o cenho, tentando entender o que
acontecia. Lágrimas se acumularam no canto de meus olhos e eu trinquei os dentes
para impedi-las de cair por meu rosto e demonstrar a dor emocional que sentia naquele
momento.
- Aquele é o tal Tyler? – perguntou ele, deduzindo. Permaneci em silêncio. – E aquela
deve ser a amante... – ainda permaneci em silêncio. – Não sei você,
, mas para mim está parecendo que o
cara fez de propósito. Afinal, onde já se viu desfilar com sua amante na rua da sua
ex?
Sim, tinha razão. O desgraçado só
podia estar fazendo de propósito. Ele queria esfregar minha escolha na minha cara e
me fazer sofrer com as consequências dela. Mas precisava mesmo olhar em meus olhos
e beijá-la? Será que ele sempre foi tão doente assim e eu nunca reparei? Bem. Se ele
pensava que eu ficaria aqui assistindo e me banharia em lágrimas, estava errado!
- Venha, – agarrei a mão de
e ele me olhou espantado, sem entender
minha atitude.
- Espere, o q...
Antes que ele pudesse terminar de perguntar, eu o puxei porta a dentro até minha
casa, torcendo para que Tyler tivesse nos visto e interpretado as coisas de outro jeito.
Do jeito que eu queria que interpretasse.
- , o que diabos você está fazendo?! –
questionou assim que entramos, enquanto eu corria até a janela para espiar pela cortina
a cara raivosa de Tyler em direção a minha casa.
- Shhh, ! – silenciei, assistindo Tyler
arrastar furiosamente a loira repugnante para fora da minha rua. Então era isso. Ele
queria mesmo me provocar. – Imbecil!
- Mas eu não fiz nada! – urrou,
frustrado.
- Não você – disse impaciente, afastando-me da janela e bufando frustrada. – O meu
ex. E me desculpe por isto, , eu queria
descontar de alguma forma – me joguei no sofá pousando os cotovelos no joelho, e
agarrei os cabelos, suspirando frustradamente. – Ah, como eu queria fazer esse filho da
mãe pagar por tudo que me fez!
Senti o olhar de me analisando, mas não
fiz menção de me mover, apenas continuei arrancando os cabelos do couro
furiosamente, como se aquela ação pudesse aliviar minha fúria e decepção.
- Olha... acho que posso te ajudar e fazê-lo pagar.
Ergui a cabeça instantaneamente e o olhei inquisitivamente.
- Como?!
Ele torceu a boca, parecendo ainda estar se decidindo – ou se arrependendo da
decisão.
- Do modo mais clássico, . Fingindo
estar dando o troco – deu de ombros. – Pelo que notei, esse cara ainda está a fim de
você, ele só quer jogar na sua cara a decisão que você tomou de dispensá-lo – observou. É, era exatamente isso. – Então se
você também jogar na cara dele as consequências dos atos dele, mostrá-lo que ele
perdeu a oportunidade, este cara vai aprender a lição.
- E como eu fingiria estar dando o troco?
- Já disse. Vou te ajudar com isso. Talvez trabalhar juntos, ajude nossa nova relação a
se desenvolver melhor.
Fiquei alguns segundos sem entender o que ele dizia, até que um estalo se fez em
minha mente e minha linha de raciocínio encontrou a dele. Ok, ok... é isso mesmo?
Mas está parecendo insano demais! Tudo bem que eu não reagi como reagiria a
algumas horas atrás, mas ainda assim não gostava muito da ideia... mas isso faria Tyler
ficar louco e essa ideia sim me agradava...
Ok, tenho que pensar um pouco. Deus! É muita loucura para um dia só, eu mal estou
digerindo. Mas ok. A vontade de me vingar está parecendo ser mais forte que a
sensatez...
- Ok... Mas ele estudou no colégio com a gente, ele conhece nossa história, jamais
acreditaria que estamos...
- , já falei para esquecermos isso e
começarmos do zero – resmungou. – Além disso, se fizemos as pazes na vida real, por
que não podemos fazer na cabeça de Tyler?
Pensei um pouco.
- Ok, então qual é seu plano?
- Vamos ao baile juntos. Eu ainda tenho os convites.
Mordi o lábio inferior.
- Eu não queria ir justamente para não vê-lo, e agora irei justamente para isto?
- Não, não justamente para isto. Você irá para mostrá-lo que ele não faz falta. Por que
se ficar em casa neste dia, com certeza ele vai saber que você ainda não o superou e vai
continuar com essas provocações idiotas até você voltar para ele. Conheço muito bem
esse tipo.
Olhei para . Realmente o olhei desta vez
– com novos olhos. Ele estava sendo tão legal comigo... mas por quê? A maior parte
de minha vida eu o detestei – e até onde eu sei, esse sentimento sempre foi recíproco
–, nunca mesmo imaginei que um dia ele seria uma pessoa tão gentil e disposta a
ajudar. Ainda mais me ajudar.
A antiga – a dos tempos do colégio –
gritava que era uma armadilha e que eu me ferraria feio, mas a
madura queria dar um basta de vez
naquela guerra e ser capaz de confiar nele novamente – eu só não sabia da onde que se
originava essa vontade secreta e profunda.
- Você tem razão. Não posso continuar me martirizando pelo que aconteceu como uma
fracassada. A vida continua, não é pelo fim de um relacionamento que o tempo tem
que parar.
- É... – murmurou baixo, pensativo. E algo me fez acreditar que toda aquela força de
vontade em me ajudar se originava apenas por ele estar compartilhando dos mesmos
sentimentos desiludidos que eu. De qualquer forma, ele estava me ajudando e isso era
algo que eu nunca esperaria dele.
- Obrigada – sorri, realmente agradecida com tudo.
E, ali, naquela pequena sala de estar da minha casa, aconteceu a coisa que nunca
ninguém na face da Terra imaginou que aconteceria algum dia:
e
trocando sorrisos harmônicos. Eu não
sabia dizer por que, mas tinha a leve impressão de que minha vida mudaria
completamente a partir daquele momento.
- Ok, ainda está difícil de digerir.
Revirei os olhos para a completamente
estática jogada em minha cama e continuei mexendo no facebook.
- É realmente sério, isso? Você vai mesmo pro baile com o
?
- Achei que o que mais te surpreenderia seria nós termos feito as pazes – respondi
com descaso, disposta a manter o tom
indiferente firme para livrar-me de suas perguntas. Mas conhecendo-a bem, isto de
nada adiantaria.
- É, isso também me surpreendeu, mas você estava mais determinada a evitar Tyler no
baile do que continuar brigando com o –
disse, virando-se de bruços. – Mas, sabe, eu sabia que um dia vocês iriam se
acertar.
- Por que diabos você diz isso? – agora quem se surpreendeu foi eu. Até parei de
mexer no facebook para encará-la.
- Vocês são como água e vinho, . E
todo mundo sabe que opostos se atraem, hã? – ela sorriu maliciosamente e eu virei-me
de volta para o computador, disposta a ignorá-la. – Ah, vamos! Vai dizer que nunca teve
uma quedinha pelo bad boy do ? Todas
tiveram!
- É claro que não!
- Ah, fala sério!
Céus, eu não acredito que estava tendo essa conversa com . Ela é realmente minha melhor amiga? Estou precisando seriamente
fazer novas amizades.
- , eu sempre o detestei, como poderia
nutrir alguma atração por ele?
- Mas agora você não o detesta mais – ela insinuou e eu senti vontade de esmurrá-la,
mas isso só pioraria minha situação, pois ela insistiria mais nas provocações.
- , eu juro que se você continuar dizendo
essas asneiras, eu desisto dessa ideia de baile com e volto a odiá-lo com todas as forças do meu ser.
- Ok, ok, não falo mais! – rendeu-se e veio até mim no computador. – Mas, ei, já sabe
com que roupa vai?
- Pra onde?
Ela deu um tapa em minha testa.
- Acorda, criatura! O baile!
- Ah, você sabe, aquele vestido que escolhi com você – dei de ombros.
- Sério que você já o comprou? – surpreendeu-se.
- , eu o comprei no mesmo dia que o
vesti!
- E não o devolveu mesmo com o término com Tyler?
- Pode, por favor, não dizer esse nome na minha presença? – me exaltei. – E, não, não
devolvi. Jamais devolveria aquela relíquia. Ainda mais pelo idiota do... por ele.
Oportunidades de usá-lo não faltariam.
- Certo. vai morrer do coração quando
te ver naquele vestido! – ela pulou animada.
- , esquece essa história! – gritei, já
querendo desistir dessa ideia. sabia
mesmo me perturbar. – e eu não temos
nada!!
- Uhh, – ela sorriu
maliciosamente, enrolando um cachecol felpudo no meu pescoço. – O que houve com o
“”?
- Apenas estou me familiarizando. Não pegaria bem chamá-lo de
na frente de Tyler, assim ele nunca
acreditaria nessa história.
- Aham, sei – gargalhou. – Olha só, apenas porque sou sua melhor amiga, mas
apenas por isso mesmo, eu vou fingir que acredito, ok?
- Ah, você vai ver!
Pulei em cima dela e ela me empurrou para sair correndo pela casa, enquanto cantava
alto e infantilmente “ e
em baixo de uma árvore, se beijando e
se abraçando”. Só tenho que dizer que as provocações pioraram dez vezes mais
quando ela encontrou o casaco de no
meu quarto, deixando-me realmente fula da vida.
era insuportável. Mas jamais deixaria de
ser a melhor.
Ah, eu estava cansada daquilo. Se eu já achava que Tyler era bipolar quando
namorávamos, agora tenho absoluta certeza. Um dia esse idiota esfrega seu
relacionamento com a vadia bem na minha cara e no outro manda entregar flores no
meu trabalho? Eu tinha um bom lugar para mandá-lo enviar aquelas flores! E aquele
maldito bilhete com os dizeres:
“Desculpe ter passado na sua rua com minha
nova namorada, só agora tive noção do quanto isso deve ter te perturbado. Espero que
continuemos bem. Com amor, Tyler”.
Sério, ele era imbecil ou o quê? Ele
queria dar uma confirmação de que ela era namorada dele e ainda queria que
continuássemos bem? De que raios de lugar ele tirou essa história de que nós
estávamos bem antes disso? Sério, ele só pode estar louco.
- Marie! – gritei minha secretária, enquanto amassava o bilhete como se fosse o
próprio Tyler.
- Sim?
Suspirei aliviada quando ela entrou em minha sala – sempre tão eficiente, é isso que
mais gosto nela.
- Por favor, retire essas malditas flores daqui! – ordenei, sem nem me prezar a
enxergá-las mais algum tempo, apenas continuei olhando a chuva cair pela janela do
meu escritório. – E não receba mais nada que venha de Tyler!
- Sim, senhora. Mas todas? – ela apontou para a outra ao lado, com lindas rosas
brancas que pareciam ser realmente muito caras. Nossa! Nunca achei que Tyler teria
coragem de comprar aquele buquê maravilhosamente caro.
- Você não ouviu o que eu disse? Não quero nada desse cara aqui!
Ela franziu o cenho.
- Por isso mesmo estou perguntando. Acontece que essa foi mandada por outra
pessoa...
- Outra pessoa?!
Espantei-me e corri até o lindo buquê que me cativara mais do que o de Tyler. Mas
quem me mandaria flores a não ser Tyler? Com a curiosidade me corroendo, recolhi o
bilhete enfiado entre as rosas e quase caí pra trás ao notar o que a caligrafia a mão
dizia: . Mas que diabos???
Oh, hey! Pensei em mandar essas rosas para você ao encontrar o idiota do seu ex
aqui na floricultura da minha mãe. Fiz questão de pagar o mais caro e deixar claro que
estava mandando para “a minha namorada ”. O cara visivelmente surtou, mas o problema é que minha mãe
também e ela está me enchendo o saco para te conhecer. Então esteja pronta às três,
pois irei te buscar para almoçar conosco. E não adianta brigar comigo ou fazer birra, é
uma ordem de minha mãezinha linda e chata. Te vejo depois. . PS: Mandei as flores para o mesmo lugar que o cara mandou, então não me
culpe caso tenha chegado num lugar inapropriado.
Ao contrário de Tyler, tinha escrito
quase uma carta, e tudo feito à mão com a sua – eu tinha que admitir – linda letra. Eu
achei que ficaria mais incomodada do que realmente estava com a sua notícia, mas era
até que bom que eu não estivesse surtando com algo tão simples desde que já
combinamos recomeçar nossa relação. Só não me agradava ele dizer à mãe dele que
somos namorados... Mas se isso foi para irritar Tyler, eu aceito mais facilmente.
É, minha dívida com o está cada vez
ficando maior. E eu não sei o que estava dando em mim para não me importar nem um
pouco com isso.
Eu já estava pronta. Não sei bem porque me produzi tanto para um simples
almoço na casa dos , mas enfiei em
minha mente que era apenas pelo meu excesso de vaidade. Eu usava um lindo vestido
listrado que tinha comprado recentemente e um confortável sapato vermelho de salto
alto que tinha roubado de uma vez – e
não venha me julgar, aquela ali rouba praticamente um terço de minhas compras.
Penteei os cabelos pela segunda vez naquele dia e grunhi ao me dar conta que estava
fazendo muita produção. Pra quê tudo isso? Tudo bem que sou muito vaidosa, mas
não precisava exagerar tanto, ainda mais para a família do cara que um dia odiei mais
do que tudo na vida.
Ouvi a campainha tocar e me surpreendi pelo ter chegado exatamente às três em ponto. Mas tudo bem, eu já estava
pronta mesmo, só faltava um gloss nos lábios para finalizar e fim. Peguei minha bolsa e
desci as escadas para encontrá-lo, mas ao abrir a porta me deparei com algo nada
agradável. Ou melhor, alguém.
- O que diabos você está fazendo aqui, Tyler? – exigi, furiosa por tamanha
ousadia.
Ele sorriu torto, analisando precisamente cada detalhe de meu corpo. Mas quando seus
olhos encontraram os meus, ele provavelmente se deu conta de que aquela produção
não era para ele e fechou a cara.
- Não precisa fazer show, gata. Estou aqui porque vou sair com seu irmão.
Gata? Sair com meu irmão? Ele estava pedindo um soco na cara ou era impressão
minha?
- Desde quando é amigo de David? – cobrei furiosa.
- Sempre fui – sorriu irônico. – Nós combinamos um programa só para homens, então
da licença.
- Tudo bem, faça o que quiser! Mas se eu souber que você perguntou algo de mim
para...
- Ah, o mundo não gira ao seu redor, amor – respondeu, tentando passar pela
porta.
- Não me chame de amor! – gritei, empurrando-o para fora. – E se quiser esperá-lo,
que espere aí fora, na minha casa não entra qualquer um!
- Pelo que eu vi ontem, entra sim – respondeu, e eu reconheci o
tom enciumado em sua voz. – O que você
anda fazendo com o , hein?
Sorri lindamente.
- Não te interessa.
Ele fechou a cara.
- Vai sair com ele, não vai? Não se arrumaria assim para nada.
Droga, sabia que não devia ter exagerado tanto. Mas já que isso irritou Tyler, não vou
me arrepender.
- Bem, sabe o que é, acontece que, não sei se você sabe, mas parece que isso: NÃO É
DA SUA CONTA! – gritei e bati a porta em seu nariz. Se ele queria inventar essa
historinha de sair com meu irmão, tudo bem, mas esperaria lá fora. E seria melhor
esperar sentado, pois não vou avisar ninguém sobre sua visitinha.
Fui para subir para o quarto de novo quando a campainha tocou novamente. Já
planejando terríveis e vastos insultos, abri a porta e me dei de cara com...
? Ah, é mesmo, o almoço. Está vendo
só? Esse idiota do Tyler me irritou tanto que até esqueci o que ia fazer.
- Hey – cumprimentou, beijando-me no rosto. Eu ainda estava furiosa demais com
Tyler para me importar com esse pequeno ato. – Uou! – exclamou ao me visualizar por
completo. – Não precisava de tudo isso não, , mas se quer causar boa impressão em minha família, por mim tudo bem.
Não tenho nada contra isso.
Evitei corar e saí, trancando a porta e levando a chave de David – meu irmão –
comigo. Até parece que deixarei ele sair com esse imbecil!
- Então você vai conhecer a família dele – Tyler murmurou, do outro lado da varanda.
fingia que não tinha ninguém ali e eu me
repreendi por não ser capaz de fazer o mesmo. – Você é mesmo rápida,
. Ou devo dizer... vadia?
- Ei, ei, ei, cara, fica na sua – se meteu e
contraiu seus músculos de um modo ameaçador e... sexy. Ok, vou fingir que não
pensei isso.
- Ou o que? – Tyler desafiou, aproximando-se de com o peito inflado.
- Ok, ok! Já chega – me meti entre os dois. – Olha só, Tyler, David disse que desistiu de
ir por que tem um encontro com uma garota, não há mais nenhum motivo para você
continuar aqui. Agora vá embora!
Ele bufou ironicamente.
- Sabe, , estou até que feliz por
terminarmos – ele deu um sorriso arrogante. – Você não é nada do que eu esperava.
Simplesmente não serve para mim.
- Claro que não serve, você merece uma puta de esquina – respondeu e eu sorri mentalmente. – Agora, se nos permite, nós
temos um compromisso – agarrou
minha mão. – Vamos, baby.
Cara, o está realmente atuando bem, a
cara de lixo que Tyler fez eu jamais esqueceria – é simplesmente impagável.
me arrastou até sua BMW todo exibido
e ainda se atreveu a soltar para Tyler um “belo carro” ao avistar sua
picape simples e meio enferrujada. Preciso dizer o quanto eu estou adorando o
agora? Acho que esse é oficialmente o
começo de uma ótima amizade.
- Ah, mas eu não me canso de olhar para minha nora! Que menina mais linda você
arrumou, bebê! – a mãe de
dizia enquanto almoçávamos na mesa. A
comida estava deliciosa, mas a melhor parte era que aquele momento estava um tanto
quanto cômico, pois nunca cheguei a ver um tão vermelho e constrangido antes.
- Mãe... por favor, já é a milionésima vez que peço...
- Tudo bem, não te chamo mais de bebê, amorzinho!
Segurei uma gargalhada alta e disfarcei bebendo o suco. A família de
era realmente maravilhosa, eram tão
carismáticos que chegava a causar inveja. Eu estava agindo tão natural e
espontaneamente com eles que estava até me estranhando, mas eles me adoraram e
deixaram claro que eu fui “aprovada como nora”. Acho que não preciso
dizer que e eu demos umas boas
engasgadas quando eles disseram isso.
- Mas então, quando é o baile? – perguntou a mãe dele.
- Amanhã – respondi, já que
encontrava-se ocupado devorando a sobremesa feito um animal selvagem.
- Mas tão cedo assim? comprou os
convites a dois dias! Você já conseguiu alguma roupa, filha?
- Ahn, sim, eu tinha uma guardada para uma ocasião especial – menti. Não queria
dizer que tinha comprado uma roupa meses atrás por já estar combinada de ir com
meu ex.
- Ah, que maravilha. E você, filho?
demorou um pouco para responder,
enquanto engolia o que comia. Ugh, nojento.
- Já tenho, mãe – respondeu simplesmente.
- Ótimo! Eu vou deixar você bem lindinho para minha norinha amanhã – ela apertou a
bochecha dele, enquanto dizia tudo com voz de quem fala com bebês. Ah, ainda bem
que meus pais não me fazem pagar esses micos mais.
- Ok, mãe! – respondeu impaciente, tirando a mão dela de suas bochechas
coradas.
- Você parece ser muito apegada ao –
observei, segurando o riso. Ele rolou os olhos.
- Mas é claro! Meu filhinho raramente vem me visitar, sinto-me desolada sem meu
bebezinho aqui...
- Mãe!
- Ok, sem chamar de bebê! – ela resmungou e eu ri por ela nunca conseguir parar de
chamá-lo assim.
E o almoço se seguiu assim, com a mãe de fazendo-o passar vergonha, com o pai de dizendo poucas coisas, mas sorrindo o tempo inteiro, e eu me
divertindo tanto quanto há muito tempo não me divertia. Parecia até que aquela família
tinha sido feita para que eu conhecesse.
Era hoje! O dia dos namorados e o tão esperado baile. Na cidade, todos estavam
tão ansiosos que até as lojas fecharam mais cedo, com todas as mulheres indo lotar os
salões de beleza para prepararem-se para o grandioso evento. E ele só era tão
grandioso, pois nessa cidade nunca acontecia nada de emocionante e, por algum
milagre, a primeira dama resolveu organizar esse baile que todas nós, mulheres das
famílias fundadoras, implorávamos para ter.
Desde que anunciaram eu não pensava em outra coisa que não fosse o tal baile e o
quão romântico seria passá-lo ao lado de Tyler. Claro que agora minhas ideias
mudaram, mas a ansiedade permanecia a mesma, só que apenas com um propósito:
vingar-me de Tyler. Não me entenda mal, está realmente demonstrando ser – o que eu sempre duvidei a vida inteira
– uma boa pessoa e eu estou muito agradecida a ele, mas a ideia de ter algo a mais do
que uma simples amizade me incomoda.
Mas nossa situação já está resolvida o suficiente para que sua companhia durante toda
aquela noite se torne agradável. Na verdade, sinceramente, parecia ser uma companhia muito mais agradável do que Tyler
jamais fora. Eu só lamento ter percebido isso somente agora, desperdiçando tantos
anos de amizade com brigas e provocações.
Ok, não importa, as coisas estão bem agora.
- , me ajuda com essa trança? – Kate,
irmã de , perguntou enquanto tentava
ajeitar o penteado trabalhoso que fazia em . – É que essa idiota não para quieta e está ficando difícil a coisa aqui.
Eu ri.
- Pode deixar – respondi, já me prontificando para ajudar.
Acontece que estávamos nós três reunidas em meu quarto preparando-nos para o
baile, pois decidimos que seria melhor do que pagar a fortuna que os salões se
aproveitaram para cobrar. Estávamos até que bem, pois Kate tinha talento com cabelos
e eu com maquiagens.
- Está ficando bom? – perguntou,
receosa.
- Está sim – respondeu Kate, quase terminando. – Terminando o seu, eu começo o de
e, então, dou um jeito no meu.
- Isso não irá te atrasar? – perguntei preocupada.
- Não, tudo bem – sorriu. – Além do mais, meu namorado e eu não queremos chegar
tão cedo, já que nossos amigos da escola chegarão mais tarde lá.
- Oh, então ok.
E então, finalizando o penteado de , ela
logo partiu para minha vez, escolhendo ela mesma um penteado que dizia ser perfeito
para mim. Eu só esperava ficar tão bonita quanto tinha ficado.
É, eu estava pronta. Minha imagem no espelho parecia tão bela que eu mal me
reconhecia. Tudo bem que tenho boas vantagens na aparência, mas eu estava tão
elegante agora que estava até um pouco difícil de digerir que era eu ali refletida no
enorme espelho de corpo inteiro. dissera
que eu arrasaria todas as mulheres do baile, mas eu ainda duvidava disso, pois ela e
Kate estavam realmente tão divinas quanto eu... Porém, agora estou até começando a
me achar um pouco para acreditar que é verdade.
Olhei-me mais uma vez no espelho e reparei cada detalhe de meu vestido de cor
salmão que delineava delicadamente cada uma de minhas curvas e se acentuava
firmemente em meus seios, deixando um decote decente, mas sexy, exposto, e no fim,
a camada do vestido se alargava após minha cintura, num circulo perfeito ao meu
redor, pousando no chão como um toque de plumas – como vestido de realezas. É,
tenho que dizer que paguei uma fortuna por ele.
Respirei fundo e desci as escadas, sendo logo abordada por meus pais também
prontos para o baile, já meu irmão não estava, pois ainda estava se arrumando já que
iria mais tarde com a turma de Kate.
Meus pais fizeram o mesmo discurso que fizeram no meu baile de formatura, então
pude ter meio que uma preparação mental para todos os mimos e bajulações que
fariam a mim. Mas eles partiram logo, pois tinham que chegar cedo por fazerem parte
das famílias fundadoras. Já eu, fiquei sentada no sofá assistindo TV enquanto esperava
o . Não que ele estivesse atrasado,
apenas eu que estava muito adiantada.
Porém, não demorara muito para a campainha tocar. E não sei o que me deu, acho
que foi a ansiedade, mas eu corri no mesmo instante para atendê-la, sentindo meu
coração palpitar fortemente de nervosismo.
- He... hey...
Ele se interrompeu no cumprimento ao ver-me e eu não sabia dizer o porquê daquilo,
apenas sabia que ele comtemplava minha figura com uma admiração tão grande que
minha mente meio alucinada chegou a enxergar sentimentos que não existiam em seu
olhar. Mas eu não podia culpá-lo totalmente, eu também estava meio abobalhada com a
visão dele. Ele estava... simplesmente magnífico. Seu cabelo estava devidamente
penteado e seu terno estava impecavelmente comportado, de um modo que fazia-o
parecer um astro de Hollywood indo para a premiação do Oscar.
Nunca imaginei que um dia veria o “bad boy ” vestido dessa forma... mas, acima de tudo isso, nunca
imaginei que vê-lo assim mexeria tanto comigo.
- Você... está... – pronunciou-se, mas visivelmente sem palavras. – Tão perfeita...
Corei e sorri com uma felicidade e contentamento incomum me dominando por
completo.
- Você também – respondi corajosa e verdadeiramente, sentindo meu sangue ferver de
um modo totalmente novo para mim.
Ele sorriu tão lindamente para mim, que pude sentir todo meu corpo se arrepiar e meu
raciocínio falhar um pouco.
- Er... então, vamos? – perguntei, já pegando minha bolsa.
- Espere – pediu delicadamente, puxando minha mão para a sua com uma delicadeza
tão amorosa que fez meu coração disparar. Então, ele retirou de dentro de seu bolso
um lindo corsage de rosas brancas – como ele sabia que eram minhas flores preferidas?
– e prendeu em meu pulso.
- Por que isso? – eu ri. – É só um baile da cidade, acho que não terá esse tipo de
co...
- Tradição é tradição – murmurou roucamente, ainda segurando minha mão, fazendo
com que eu estremecesse minimamente. – Só para saberem que hoje você está
comigo. Não quero arriscar, você está muito linda e provavelmente os caras virão com
tudo para cima de você.
Abaixei a cabeça envergonhada. Desde quando e eu nos tornamos assim? Parecíamos até estar...
- Vocês estão namorando? – David se espantou ao descer as escadas e nos ver. Ele
estava com o terno que mamãe comprou para ele, mas seu cabelo liso permanecia
bagunçado daquele jeito usual dele.
Corei.
- É claro! – respondeu, sorrindo. – Sou
, a propósito. Você deve ser o
cunhadinho, David.
- É... – resmungou ele, encarando de
cara feia. Preciso dizer que meu irmão morre de ciúmes de mim? Por isso estranhei
tanto quando Tyler disse que sairiam juntos. – Só vou te dizer uma coisa,
– rosnou, aproximando-se
ameaçadoramente. Iiih, começou com suas crises ciumentas. Mas
não vacilou e continuou em sua postura
firme. – Magoe minha irmã como aquele imbecil lá e eu acabo com você. Entendeu?
- Ok, ok, David, pare com isso.
- Pode deixar! – respondeu
prontamente, me interrompendo.
Suspirei. Que situação constrangedora. E causada pelo meu irmão mais novo, olha
só!
- É bom mesmo – respondeu e depois se dirigiu a mim. – Vocês já vão para o baile?
- Sim, já estamos indo – respondi e os olhos dele foram até meu pulso com o corsage,
fazendo-o ficar pálido.
- EI! ESPERA AÍ! Precisava dessa coisa? Oh meu Deus, Marie vai me matar! Sou um
homem morto!
- Relaxa, sou só eu querendo fazer a diferença – respondeu
, sorrindo. Era impressão minha ou ele
não conseguia parar de sorrir um minuto sequer?
- Graças a Deus! – David suspirou aliviado. – Er, então, bom baile para vocês, eu só
vou mais tarde.
- Para você também, maninho – beijei sua bochecha e ele sorriu levemente, voltando a
subir as escadas.
- Seu irmão é engraçado – riu e eu ri junto, já que era verdade. – Mas então, vamos? –
perguntou, estendendo-me o braço.
Coloquei minha mão sobre seu braço e sorri.
- Vamos.
O baile estava lotado quando chegamos, provavelmente quase toda a cidade já
estava presente. Havia dois salões distintos lá, um para os mais velhos e outro para os
mais jovens, mas era apenas questão de gosto mesmo, pois um era mais bagunça e o
outro era mais calmo. e eu fomos para o
dos jovens, pois e
já estavam por lá. Nem mesmo
precisamos procurá-los muito, pois estavam perto da entrada em uma mesa para
quatro pessoas, provavelmente nos esperando, mas gastando bem esse tempo de
espera com beijos e amassos – ugh.
Ao nos aproximarmos, pigarreou alto
até que eles nos notassem e se separassem. Levou pelo menos um cinco minutos para
isso acontecer.
- Hey – cumprimentou, com os lábios
manchados com o batom de
.
- Oi, gente – disse ofegante, enquanto
ajeitava o vestido amarrotado.
- Sério, gente, melhor fazerem isso bem longe de mim, pois não estou a fim de ficar de
vela – resmunguei, sentando-me ao lado de . também sentou-se, entre
mim e .
- Você não precisa ficar de vela, está aí
para você – insinuou e
deu um tapa em sua cabeça. – Qual é!
Vocês agora estão de bem e estão solteiros, quem sabe rola algo hoje, hein?
- Com você falando aí que não rola mesmo, idiota – agora foi a vez de
bater no namorado.
– Ignorem-no. Mas
vão dançar, vão curtir a festa! Não precisam ficar com a gente.
Fuzilei com os olhos – ela estava
praticamente dizendo o mesmo que o , só
que mais sutilmente.
- Ok, eles têm razão, que tal dançarmos, ? – perguntou, já
levantando-se da cadeira e estendendo-me a mão.
Olhei para e ela prontamente me
despachou com a mão, resmungando um “vá logo!”. Obedeci e coloquei
minha mão sobre a de , que me guiou
delicadamente até o centro do salão, onde todos começavam a dançar uma música
agitada. Ok, música agitada não combinava com este meu vestido.
- Ok, não precisamos dançar essa música – respondeu, provavelmente compartilhando dos mesmos pensamentos que
eu. – Vem, vamos pegar algo para beber.
Ele me arrastou até o balcão de bebidas e pediu ao barman alguma bebida alcoólica
para ele, logo depois me perguntando qual eu queria. Como não sou muito fã de
álcool, pedi apenas um simples vinho.
O tempo ali foi passando agradavelmente rápido, conversando e bebendo com
. Nós passamos quase todo o tempo
lembrando e rindo do que aprontávamos um com o outro. Engraçado como o que
dizem é verdade: “um dia você irá rir de tudo isso”, já que eu sempre
imaginei que jamais riria das humilhações que me causou. Mas o que posso dizer? Eu também jamais o perdoaria por isso
e olha só como estamos.
- Você... – ele gargalhou mais um pouco. – Você lembra quando você caiu num buraco
que eu cavei no acampamento?
- Como esquecer? – gargalhei. – Eu fiquei traumatizada depois disso, nunca mais andei
sem olhar para o que estava pisando!
Ele gargalhou.
- Eu lembro que quase mijei nas calças de tanto rir!
Ri levemente.
- E você lembra quando eu coloquei viagra na sua água e você ficou com toda aquela
animação na aula da senhora Strild?
- Mano! Eu nunca tinha passado tanta vergonha na minha vida! A professora desmaiou
na minha frente e eu não sabia se ajudava ou fugia com aquele pau duro!
Gargalhei tanto que mal consegui respirar. Era bom não estar mais sofrendo com todas
essas lembranças e encarando tudo com bom humor. Eu me sentia bem mais leve e
confortável com agora, já que eu não
tinha mais por que culpá-lo por coisas que agora não tinham mais nenhuma
importância.
- Me desculpe – murmurei, ao cessar os risos. Ele bebeu um gole de sua bebida para
parar de rir e me encarou sem entender.
- O que?
- Me desculpe por tudo que te causei no colégio. Eu nem mesmo faço ideia do que me
levou a isso. Realmente, sinto muito – murmurei, agora séria, mas com o olhar focado
em meu copo de vinho.
- Está tudo bem. Eu te fiz coisas piores – ele disse e eu ri levemente. – E me desculpe
por elas também.
- Sabe, agora que estamos bem e tudo mais, eu sempre me pego pensando em como
seria se não tivéssemos terminado nossa amizade – murmurei e vi pelo canto do olho
ele ficar tenso. – Afinal, eu nem me lembro por que começamos a brigar do nada... faz
tanto tempo...
- Er... ... Eu tenho uma coisa para te
dizer...
Encarei-o inquisitivamente e ele respirou fundo, parecendo nervoso e tenso. Mas por
que estaria assim? Pensei que já estivesse se sentindo mais confortável comigo.
- É que... nossa amizade terminou porque...
- Ora, ora, se não é o casal do ano! – Tyler apareceu do nada, interrompendo
e atraindo nossa atenção. Ele estava
visivelmente um pouco alterado, vindo tropeçando até nós, enquanto a loira nojenta
tentava convencê-lo a sair dali.
- Tyler, não arrume confusão aqui, sério – pedi, sem ser grossa, pois naquele
momento, não sei porque, já não sentia mais tanto rancor por causa dele, apenas pena
por vê-lo naquele estado tão deplorável. Era como se eu já tivesse superado o que nos
aconteceu e não me importasse mais.
- Ah, cale a boca, sua vadia! – resmungou. – Você me trocou por este cara aí! Eu que
sempre te amei você jogou fora feito um objeto!
- Pra começar, você fez por merecer –
se meteu e Tyler trincou os dentes.
- Essa piranha que me seduziu – ele empurrou a loira para frente, que tropeçou e caiu
aos meus pés. Ela parecia arrasada com aquilo que acontecia e eu pude perceber que
ela não era tão vadia quanto imaginei, apenas uma menina iludida que caiu nas lábias
de Tyler. Ajudei-a se levantar e fiquei frente a Tyler. – Você devia acreditar em mim,
! Nós namoramos durante dois anos e eu
não recebi nenhum voto de confiança!
- Que confiança, Tyler? Como eu poderia confiar em você, se eu te peguei no flagra
com ela na cama! – gritei, já começando a perder a pena que sentia dele antes, com
minha mágoa cintilando sobre meus sentimentos. – Você tem que aceitar o que
aconteceu agora. Eu não vou voltar para você. Acabou!
- Acabou, é? Ótimo! – gritou, rindo irônico. – Você nunca me satisfez mesmo! Eu
SEMPRE procurei por outras! Botei chifres em você com praticamente todas dessa
cidade e você nem ao menos percebeu – ele gargalhou. – Todas dessa cidade riam
quando te viam, zinha. Sempre diziam
“Olha lá, ela era a toda popular da escola e agora é a maior chifruda da
cida...
Não deixei que ele terminasse, apenas joguei a taça cheia de vinho fortemente sobre
sua cabeça e o chutei no meio das pernas o mais forte que consegui. E digamos que
como meu sapato tem o bico meio fino, aquilo devia ter doído... bastante. É, eu sou
meio macabra quando estou com raiva.
- Outch! – gemeu por ele, como se
entendesse o quão doloroso devia ter sido.
Tyler gemeu por uns dois minutos, jogado no chão, até que conseguiu reunir forças
suficiente para se levantar e... levar um soco de .
- Outch! – agora quem gemeu foi eu.
sorriu convencido.
- Ah, você me paga! – Tyler rosnou, mas como estava bêbado demais, nem sequer viu
David vindo até ele e socando-o também. Oh, Deus, até David?
David reuniu um grupo de amigos e ambos seguraram Tyler e o levaram para fora.
Algo me dizia que Tyler não esqueceria dessa noite jamais... Mas eu não me importava
mais. Que David e seus colegas acabem com ele, por mim tanto fazia.
- O show terminou, galera! Podem voltar ao que faziam! – gritou para os curiosos aglomerados que nos cercavam. Depois
virou-se para mim e me agarrou pela mão. – Venha, vamos dançar, ainda não tivemos
chance disso!
Eu nem sequer tive como rebater, me
arrastou até a pista e, como se fosse combinado, uma música lenta e romântica
começou a tocar. Ele levou minhas mãos aos seus ombros e pousou as suas em minha
cintura, enquanto nos conduzia no ritmo calmo da melodia tocada.
- Bem, antes dessa confusão toda eu tinha algo para te dizer, não? – perguntou com os
lábios em meu ouvido. Sentindo minha pele arrepiar naquele local, demorei alguns
segundos para entender do que ele falava.
- Sim... E o que é?
Ele suspirou e uniu mais nossos corpos, fazendo com que uma carga elétrica se
estendesse sobre meus membros prazerosamente. O que estava acontecendo comigo,
afinal? Eu estou...? Por ele...?
- Lembra de quando nossa amizade terminou? – sussurrou, soprando seu hálito doce
contra meu pescoço. Fechei os olhos inconscientemente e resmunguei baixo um
“uhum”. – Eu ainda me lembro porque... ela terminou.
Abri os olhos e afastei-me levemente para encará-lo.
- Como?
- Foi eu... Eu comecei primeiro a brigar com você, com as provocações. No começo
você não entendia e apenas se irritava, mas depois começou a me odiar também.
- E por que você fez isso? – perguntei confusa e um pouco nervosa.
- Por que eu soube sobre você... e Josh.
Agucei minha memória para lembrar-me de meu caso com Josh e arregalei os olhos
ao ligar as coisas. Mas como ele saberia disso? E por que se revoltaria por uma coisa
dessas?
- Espera, como você...
- O infeliz esfregou na minha cara que tirou sua virgindade,
. Afinal, ele sabia o que eu sentia por
você.
Afastei-me dele, respirando forte com aquelas revelações. Então ele gostava de mim
naquele tempo? Por isso se revoltou e passou a me odiar?
- Mas só por isso você me odiaria tanto, ? Isso é muito idiota!
- Então você se esqueceu de quando fomos para o nosso primeiro acampamento
assistir o cometa que passaria? Do que aconteceu naquele dia?
Encarei-o sem entender por algum tempo, até que... uma memória antiga surgiu em
minha mente. Uma lembrança que, com o tempo, eu aprendi a trancafiar em minha
memória.
Segurei meu chapéu na cabeça, enquanto me arrastava para longe do acampamento cheio com a defumação da
fogueira que o professor Wagner tentava a todo custo acender, mas que só gerava
fumaças. Eu não estava conseguindo manter o mesmo ritmo que as pernas longas dele
correndo, mas ele me segurava tão firmemente na mão, que eu não conseguia deixar
de me sentir segura nem um minuto sequer. - Para onde estamos indo, ? –
perguntei. - Calma, só quero te levar para ter uma vista melhor do cometa. - Mas o professor vai ficar bravo quando não nos encontrar! – contrapus, sendo
racional. – Além disso, ele disse que de lá já dá para ter uma boa visão. - Ah, ele não entende nada! – resmungou. – Dali é muito melhor, venha!
E então ele continuou me arrastando por uma trilha desconhecida, até que
chegamos no pico de um penhasco, com uma vista aberta para todo o céu negro
lindamente coberto com várias estrelas brilhantes e uma enorme e linda lua cheia. Era
lindo. - ... isso é incrível! – eu disse,
maravilhada com aquela versão. – Realmente, aqui teremos uma melhor visão do
cometa, você é um gênio! - Eu sei – respondeu, daquele jeito exibido de sempre. – Este lugar é muito
especial. Por isso te trouxe aqui. Lugares especiais, para pessoas especiais. Eu sorri, tímida. E sentei-me ao seu lado no chão, enquanto esperava o cometa
aparecer. Ele segurou minha mão na sua como sempre fazia e começou a brincar com
meus dedos distraidamente. - ... posso te perguntar uma
coisa? Olhei-o com um sorriso terno e assenti prontamente. - Você realmente gosta do Josh? Desmanchei meu sorriso. Se ele soubesse de quem eu realmente
gostava... - Bem, ele é meu namorado... - Mas você gosta dele? – insistiu, prendendo seu olhar profundo e intenso no
meu. Quase perdi o ar. - Er... - Digo, realmente gosta. Tipo... você o ama? Fiquei tensa e mexi no cabelo. Por que ele estava me perguntando essas coisas?
- Ah, , eu... - Não, tudo bem – respondeu, acariciando-me a face tão amorosamente que senti
o sangue subir todo para meu rosto. – Mas quero ver se continuará gostando dele
depois disso. - Depois do... – minha frase foi interrompida quando senti seus lábios nos meus,
beijando-me tão docemente que senti estar flutuando, viajando entre as nuvens, com as
borboletas fazendo festa em meu estômago. Entreabri os lábios para um arfar e ele aproveitou para aprofundar o beijo e
explorar cada canto de minha boca com sua língua. Senti meu corpo estremecer,
enquanto minhas mãos iam inconscientemente ao seu pescoço para puxá-lo mais para
mim. Uns dois minutos depois nos separamos ofegantes, mas apenas pela falta de
oxigênio, pois por mim aquele momento não terminaria nunca. - Não se preocupe – murmurou ao nos separarmos. Eu ainda estava com o
raciocínio lento, mas fui capaz de enxergar seu sorriso sacana que fazia metade das
garotas da escola se derreterem. Assim como eu. – Este será nosso segredinho –
murmurou, alisando meu rosto. Fui para dizer alguma coisa, mas ele me calou com um
simples selinho e apontou para o céu. – Veja, , o cometa... a única testemunha do que vivemos aqui hoje. Olhei para o cometa e vi o quão belo e luminoso era... a única testemunha... A
única testemunha do erro que cometi, ele quer dizer. Eu não poderia ter feito isso, eu
namoro Josh! Por mais que aquilo tenho significado para mim, eu não poderia ter feito
nada disso ainda estando com Josh. - Desculpe, – levantei-me de
repente, ele encarou-me confuso. – O professor deve estar procurando pela gente,
melhor eu ir. E então, eu saí correndo pela trilha que tinha nos arrastado, deixando-o naquele penhasco com um olhar confuso e
um sorriso bobo no rosto.
- Eu... eu me lembro – respondi, sentindo-me sufocada.
- E você tem noção de como me senti no dia seguinte ao receber a notícia de que você
tinha transado com Josh?
- Mas eu não... – murmurei. – Eu nunca fiz nada com ele.
Ele se espantou.
- Como assim?
- Ele nos viu naquele dia... então acho que ele te contou isso para te provocar.
- Mas por que você não me disse a verdade quando te procurei?
- Por que... Eu não sei, eu pensei que você estava brincando comigo naquele dia. Você
disse que seria nosso segredo, então pensei que você não quisesse nada sério comigo...
Que queria apenas se divertir como fazia com todas as garotas da escola, sei lá.
- Não, você era diferente – murmurou. – E eu disse para mantermos em segredo, por
que você namorava Josh e eu não queria que você adquirisse a fama de vadia ou nada
do tipo...
Senti uma lágrima escorrer por meu rosto.
- Então toda a briga que vivemos foi tudo... por um mal entendido? – perguntei
fracamente. – Eu... – o olhei nos olhos, sentindo todos os sentimentos por ele daquele
antigo momento no penhasco retornarem feito uma avalanche. – Sinto muito –
murmurei, antes de correr até a saída daquele baile.
Eu não sabia muito bem por que estava fugindo. Talvez fosse por nunca ser capaz de
enfrentar meus sentimentos dessa forma, talvez por ter medo de ser culpada por tudo
que aconteceu... por medo de tudo voltar a ser como antes... Não sei, eu estava muito
confusa, não conseguia pensar direito no que estava fazendo.
e me avistaram e ela fez menção de me seguir, mas
a impediu dizendo alguma coisa. Eu
continuei correndo sem me importar, sentindo minha visão embaçar com as
lágrimas.
- ! – gritou, quando consegui chegar lá fora. –
! – ouvi a voz mais perto agora e tentei
correr mais, mas a barra longa do vestido me atrapalhou e ele conseguiu me alcançar,
segurando meu braço. – Não, por favor não fuja. Eu quero resolver isso.
- Não há o que resolver, , faz muito
tempo – murmurei com a voz embargada e sem olhá-lo.
Ele virou-me abruptamente para ele.
- Antes tarde do que nunca, minha linda – murmurou, antes de prensar seus lábios
nos meus.
Senti meu corpo reagir anormalmente com aquela ação e percebi que era apenas meus
antigos sentimentos despertando novamente... despertando apenas por ele. Nunca
ninguém conseguiu causar aquilo em mim... E ele conseguia. Conseguia tornar o
encaixe de nossos lábios o mais perfeito possível.
Levei minhas mãos à sua nuca e aprofundei o beijo, sentindo uma emoção tão grande
em meu peito com seus lábios macios e quentes nos meus, que pude até reconhecer o
sentimento que pulsava firmemente em minhas veias, em meu coração, em meu
sangue... o amor. O retorno de meu primeiro amor.
Quem poderia imaginar?
afastou seus lábios levemente e
encostou nossas testas, enquanto nossas respirações normalizavam-se aos poucos
soprando contra os lábios um do outro.
- Sabe por que... te ajudei? Por que mudei meu... comportamento com você?
- Por ter... sofrido o mesmo que eu?
- Não... – sussurrou roucamente, fazendo com que minha mente gritasse para ter seus
lábios nos meus novamente. – Foi por te ver sofrendo por um cara que não te
merecia... foi por querer, finalmente, resolver tudo... Foi por ter me apaixonado por
você mais uma vez.
- Apaixonado? – minha voz falhou.
- Sim... desconfio até que nunca deixei de te amar esses anos todos.
Olhei em seus olhos e senti o mais feroz e maravilhoso dos sentimentos refletir de seus
olhos e tocar meu coração.
- Eu... também.
E então ele deu aquele sorriso incandescente que iluminou minha alma e me beijou
apaixonadamente – de um jeito que só ele poderia me beijar.
Se algum dia me dissessem que eu estava apaixonada por , eu com certeza ou
riria da pessoa ou tentaria matá-la, mas, de fato, isso não deixaria de ser verdade. Eu
não sabia exatamente explicar como consegui enganar a mim mesma todos esses
anos... fingindo que sentia ódio, mas sentindo amor... Mas não importava. Nada mais
importava...
Não importava o tempo perdido com brigas... Agora estávamos finalmente juntos e
com tudo resolvido, recuperaríamos o tempo perdido de um jeito ou de outro.
Afinal... Antes tarde do que nunca.
Fim
N/A: Heeeeeey Girls!! xD Gostaram dessa fic? Foi a minha
primeira com enredo clichê, então espero que tenha agradado! Eu sinceramente não gostei do final kkk’
Apesar que até que me surpreendi por ser capaz de escrever algumas partes
exatamente como imaginei, ainda mais eu tendo escrito as pressas e estando meio que
sem inspiração para escrever, então espero que eu tenha me saído bem, pelo
menos.
Enfim, é isso! Quase 30 páginas de história, espero que não tenha saído muitas
besteiras xP
Bjim! ;*
Nota da Beta: Qualquer erro nessa fanfic é meu, então me avise por email. Se deseja saber quando essa fic vai atualizar, visite esta página. Obrigada. Xx.