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Acostumada

Está certo. Eu te amo e você me ama. Mas de tão certo, tornou-se errado para mim. Sempre fui muito solitária e me acostumei a ser assim, entenda, eu te amo, só não estou acostumada. Acomodei-me com o inacomodável. Ninguém deve se acomodar com a tristeza e muito menos se acostumar com a mesma. Tornei a minha solidão minha amiga, mas ela se apaixonou por mim, e agora está com ciúmes por ver você e eu, se amando.
Nunca percebi que sou uma pessoa fácil de apaixonável. Para mim, apenas sou uma pessoa fácil para chorar. Mas agora, nessa explosão que começou no meu coração, percebo que existe você, pronto para me resgatar da minha explosão, mas estou insegura agora. Já me acostumei em viver em uma explosão e com a solidão me fazendo companhia. Mas você não entende, querido, esse é meu mundo: uma explosão que eu já estou acostumada. Mas existem certas coisas que não devemos nos acostumar.
A verdade é essa: estou familiarizada com a tristeza. E você é a felicidade, o que é o antônimo! E eu estou com medo. Vejo sua mão estendida para que eu a pegue, mas eu não o faço. Você ri e pisca para mim; dá-me as costas, mas olha para trás, olha para meu coração, para a explosão. Sigo seu olhar e enxergo as chamas se espalhando por meu corpo. Sou uma garota em chamas,
Eu não estou na explosão; a explosão que está em mim. Não estou familiarizada com a tristeza; estou familiarizada comigo! Corro ao seu encontro, mas não estou acostumada com isso, eu não estou acostumada a sentir a felicidade correndo por minhas veias. Eu simplesmente corri; para no fim, parar em você, vendo as minhas chamas se entrelaçarem com a sua felicidade, que agora; se tornará a nossa.

Minhas Cordas


Está muito apertado! As cordas que me enlaçam estão se apertando a cada respiração minha, e eu sinto que vou desmaiar. ''Mas quando você está sonhando, você não pode desmaiar'' , olho para os lados, ofegante, procurando o dono da voz que falou isso para mim; mas eu constato que não há ninguém na imensidão do meu ser. Só eu. Eu e as cordas que me enlaçam.
Sou puxado para frente e em um solavanco eu caí de cara no chão. Meu nariz sangra e o calor do mesmo se espalha pelo meu corpo mortificado. A corda se aperta mais e me puxam para frente; eu me levanto forçadamente e começo a andar como um bêbado. Eu acho que me embebedei hoje de manhã; mas eu não me lembro de quando foi hoje de manhã.
Eu me vejo seguindo um caminho que eu não quero seguir, mas que eu estou sendo induzido a isso. Gemo inúmeras vezes pelos apertões que recebo em meu corpo por conta das cordas que me enlaçam, mas quando eu olho para as mesmas, eu constato que não tem nada enrolando meu corpo. Eu olho em volta para tentar ver quem estava me puxando anteriormente, mas eu constato que não há ninguém ali. Só eu.
Oh Deus. Eu não acordei, eu não desmaiei e muito menos gritei. Eu chorei; apenas por perceber que esse tempo todo eu estava me enganando e tentando acordar de um pesadelo que eu já estava acordado. Eu estava vivendo. E agora, em sã consciência de que eu vivo; eu estou morrendo. E eu acho que esse é meu fim, mas não; esse é o meu começo.

Teimo


Minhas lágrimas escorrem quentes por meu rosto. Meu peito está ardendo assim como meu nariz. Coloco a mão no peito e constato que ele está em chamas! Estou queimando por dentro e isso está me dilacerando. Deve ser a saudade que passou por meu corpo como um arrepio e colocou fogo em meu coração alcoolizado.
Estou sentada em uma cadeira com o telefone na mão. Por que eu ainda teimo em ligar para ele? Em cada palavra que ele pronuncia é como uma facada em meu coração. Mas não faz mal, querido. Eu já estou acostumada. Mas eu não me entendo; por quê? Por que eu teimo em ainda continuar o ligando quando dizem para mim que isso só irá me fazer mal? Deus, eu estou queimando.
Digo para todos que eu o odeio; que essa é a última vez, que eu sou forte! Mas quem eu quero enganar? Nem eu mesma me engano. Ouço sua voz na esperança de você me notar, notar como me faz sentir. Eu sou humana! Eu sou sua pequena! Lembra-se? Mas ele sempre arranja uma desculpa... E eu também, porque no fundo eu não o odeio tanto assim. Mas estou tão machucada; tanto assim.

Eu me esqueci


Sinto-me em um incêndio, sem ninguém para me salvar, ninguém me vendo queimar. Minhas lágrimas tentam apagar o fogo que me rodeia, mas eu me esqueci de que eu choro fogo. Queimando minha pele, queimando meus olhos, queimando minha alma, queimando meu coração já em chamas.
Ninguém vem me buscar, mas eu me esqueci de que estou em meu próprio quarto, que eu mesma tranquei. Tento achar a chave para abrir a porta, mas eu me esqueci de que ela está dentro de mim, enterrada em meu coração em chamas. Grito em desespero, afundando a mão em minhas chamas, sentindo minhas entranhas se retesarem cada vez mais em uma pressão enorme. Ofego ao olhar a chave fria em minha mão. A minha chave.
Enquanto rastejo até a porta de meu quarto em chamas, sinto a dor de meu corpo me corroer por completa, me fazendo franzir a testa e um grito rancoroso cortar meus lábios ressecados. A solidão ronda meu quarto desesperadamente, percebendo o meu objetivo e percebendo qual seria seu destino. Provar do seu próprio veneno, ficar só e queimar amargamente. Com a porta já aberta, ofego novamente.
Anos esperando alguém vir me buscar, anos queimando, anos esperando alguém vir me salvar, anos gritando e chorando desesperadamente. Mas eu me esqueci de que a única que poderia me salvar sou eu.

Só estou me enganando


Sinto-me presa em meu próprio corpo, enroscada em meu próprio coração, sem ninguém para me salvar de mim mesma. Vejo-lhe a minha frente, mas você não me vê. Invisível em sua vida, isso que eu sou. Eu sou invisível até para mim mesma!
Me engano achando que sou eu que estou presa em suas cordas e que só vou sair daqui quando finalmente acontecer algo entre nós. Me engano achando isso, porque você já deixou bem claro que nada irá acontecer. Do mesmo jeito que a paixão aconteceu, que meu sonho em forma de pesadelo se concretizou, acordei, em um estalo profundo e doloroso. Não vai acontecer.
Estou lhe prendendo em mim, tentando achar um jeito de não doer, estancando meu coração dolorido com você. Me engano achando que isso irá resolver. Só está doendo mais. Só está me fazendo lembrar mais de você. E você só quer voar, porque, querido, eu sei, você também está sangrando, e não adianta tentar estancar um fluxo de sangue com um algodão sujo, ensopado de sangue. Eu só estou me enganando mais.

Um dia eu amei


Não sei onde você está agora, não sei se você está sorrindo agora, não sei o que você está pensando agora. Só sei que ainda penso em você, que eu continuo parada te esperando enquanto eu deveria estar andando e aceitando a minha angustia que me persegue junto com a sua ausência. O único que pode me libertar é você, o único que tem a chave do meu coração, mas agora você não está mais aqui, e eu continuo sozinha, presa no tempo, lembrando-me de como foi bom enquanto durou.
Agradeço-lhe por ter me escolhido, por ter me feito provar do sentimento mais mágico que existe: o amor. Aquele sentimento que todos almejam e que todos estão esperando com o coração na mão o amor bater em sua porta e libertar seu coração de seu corpo cheio de angustia. Uma queda livre, onde só os loucos aproveitam. Juntos.
Mas nosso fim foi trágico, nós nos perdemos no tempo e a distância nos separou. Continuamos caindo, feito loucos, sozinhos. Já percebeu que louco sozinho nunca é bem visto pela sociedade? Pois é. Eu provei na pele isso, como provei também o amor. De tão doce que o amor é, acaba sendo amargo. Mas eu me orgulho de falar que um dia eu provei desse amargo, que um dia eu amei.

Ouço


Ouço meus soluços ecoando no banheiro. Ouço meu silêncio gritando a todo vapor. Ouço a lâmina gelada cortando minha pele quente. Ouço o sangue em minhas veias pulsarem em meus ouvidos. Ouço minhas lágrimas lamentarem em meus olhos. Ouço a briga interna acontecendo dentro de mim, brigando para saber quem era o culpado pelo meu sangue fora de meu corpo. Eu estou enlouquecendo!
Quero acabar com toda essa dor, tento tirar as vozes que ouço, abrindo cortes em meu pulso, tentando aliviar, tentando desesperadamente que alguém me note e me salve de mim mesma. Tentando desesperadamente acabar com essa dor.
Olho a lâmina em minhas mãos, suja de sangue, e sinto meus olhos se cortarem em mais lágrimas. Sou eu, a única culpada de tudo isso, uma garota aterrorizada por si mesma. Corta-me o coração ver meu estado no espelho. Acabada, deprimida, ensanguentada pela própria dor, tentando passar, tentando parar. Mas, o único modo de parar que vejo é apenas um.
Estou cega pela dor, pelo meu sangue. Por onde olho, vejo fraqueza, dor e angustia grudada em minha pele. Choro desesperadamente, meus olhos sangrando e me impossibilitando de ver outro cominho que não seja mais dor. Pendo meus pulsos na pia do banheiro e ligo a torneira, sentindo a água abrir meus cortes e expor minha fraqueza, me fazendo gritar amargamente.
Ouço minhas lágrimas se recolhendo para dentro de mim. Ouço meu sangue se aquietar. Ouço meus soluços se amenizarem. Ouço minha briga interna se esvair. Ouço a lâmina fria cair no azulejo do banheiro. Ouço a água correndo em meu pulso fazer silêncio para me contemplar lacrimejando baixinho, suspirando por finalmente acabar. Sorriu ao sentir uma mão em meu ombro, me dando forças para continuar, clareando minha visão, me fazendo ver o outro caminho. E, no final dele, está a pessoa que nunca me abandonou e que é a única que estará lá para me acalmar: Deus.

Meu filme



Pensei em fazer um filme, escrever o roteiro e depois queima-lo, pois eu sei que um dia tudo vai acabar e cedo ou mais tarde eu irei me magoar. Os meus futuros telespectadores iriam ficar confusos ao assistir minha vida em forma de filme. Tento me enganar que estou pensando neles ao desistir de fazer meu filme, mas só estou me magoando mais. Por que, por trás de toda minha farsa, eu só estou me protegendo.
Talvez, quem fique mais magoado nessa história sejam os telespectadores, pois eu os estou afastando para me proteger, evitando novas chegadas para evitar partidas. Evitando para viver, ou apenas evitando, para sobreviver. Tampo seus olhos para evitar verem minhas feridas. Tampo seus olhos para evitar verem meu filme, minha vida, me ver caindo em um abismo tentando segurar duas coisas: memente e grito por socorro do fundo da minha garganta. Quando eu abro os olhos, vejo que estou no meu quarto, no escuro. E percebo que eu estava tampando meus próprios olhos, como uma verdadeira bebê no escuro com medo do mesmo. Apoio minhas mãos no chão duro, levanto-me buscando forças do meu âmago e ergo a cabeça ao me levantar provando que estavam enganados sobre mim. Que eu não preciso de ajuda para me levar como uma bebê, e, que mesmo com o julgamento ao meu redor, eu continuo em pé, mesmo com solidão e o medo me medindo ao andar.

Bebê crescida


Sempre fui vista como a menininha. A bebê crescida, mas ainda bebê. Aquela que pode crescer o tanto que crescer, mas vai continuar bebê. Os outros me olham com outros olhos, olham com olhos de críticos hipócritas e que só dão valor a casca. Isso que eu sou, uma casca. E eu estou perdendo-me dentro dela.
O pior de tudo, é que eu não sei nem por onde começar a me resgatar. Sinto que me perdi em meu medo, e minha solidão empurra-me para baixo quando eu tento sair do fundo do poço que renomeei para meu quarto. Medo da sociedade, medo do mundo, medo de mim, medo do que o mundo me transformou e suas dores me calejaram.
Afasto quem está perto de mim, por que mesmo eles me vendo como esse bebê, inofensiva, eu sei o mal que eu posso causar, o mal que eu estou me causando com esse medo de me assolar. Tento pular para ver a superfície do buraco que me enterrei.
Ajoelho-me, fecho os olhos fortemente e grito por socorro do fundo da minha garganta. Quando eu abro os olhos, vejo que estou no meu quarto, no escuro. E percebo que eu estava tampando meus próprios olhos, como uma verdadeira bebê no escuro com medo do mesmo. Apoio minhas mãos no chão duro, levanto-me buscando forças do meu âmago e ergo a cabeça ao me levantar provando que estavam enganados sobre mim. Que eu não preciso de ajuda para me levar como uma bebê, e, que mesmo com o julgamento ao meu redor, eu continuo em pé, mesmo com solidão e o medo me medindo ao andar.

Como sempre


Um dos inúmeros textos que escrevo está em minhas mãos, um texto de amor, como sempre, um texto para você, como sempre, um texto do que eu sinto por você, como sempre, um texto de como você enfia uma faca em meu coração olhando em meus olhos... Como sempre.
Admirando as letras do meu coração transcritas no papel, percebo o quão tola estou sendo por chorar por você novamente, por me deixar ser machucada por você novamente, por mesmo não querendo, imagina-lo beijando-me, imagina-lo novamente... Como sempre.
Amasso rancorosamente o papel em minhas mãos com a cena típica da minha traição em meus olhos. A cena de uma épica amizade adolescente palpitando em minhas pupilas, incomodando-as, me fazendo chorar por algo que um dia ajudou-me e rendeu-me boas gargalhadas, mas que agora, incomoda-me por eu ter sido tão tola, por eu ter sido tão traída... Como sempre.
Fiquei sozinha. Com meus textos a minha vista e com a ilusão palpitando em meus olhos. Com meus olhos doendo, apertei meu punho onde o meu texto amassado estava e joguei para onde meus outros textos estavam. Risquei um fósforo e a faísca que deu inicio ao fim dos papeis foi o alivio da minha alma. Fiz algo inédito na minha vida: Esquecer o passado e viver o presente, pois o futuro me aguarda.

Desengonçada


Não importa o que eu faça, eu sempre vou cair. Olho para o espelho a minha frente e vejo-me uma desengonçada, uma coisa que verdadeiramente sou, já que vivo caindo. Mas minhas quedas levam não só meu corpo quebrado ao chão, mas também meu coração desengonçado.
Sinto o cheiro dilacerante da minha dor, sinto a temperatura elevada do meu sangue escorrer sobre minha pele, sinto tanto... Dói-me tanto. Sou um patinho desengonçado dentro d’água, navegando em sua própria dor, velejando em seu próprio sangue, sendo soprado pela sua própria amargura. Essa sou eu, essa menina desengonçada que você vê na rua e a perdi de vista como só mais uma em meio à multidão. Mas é essa mesma menina que fica encolhidinha dentro do banheiro, chorando escondida e apreciando o seu próprio sangue em sua própria pele como uma válvula de escape.
No chão empoeirado de meu quarto, suspiro por finalmente cair, franzo a testa pela dor ardida que me consome. Mais uma vez. Gaguejo com meu próprio sangue em minha boca, depois o cuspo no chão como a vida fez comigo. Preparo-me para levantar do chão com meu corpo quebrado, e como de costume, continuo a andar na vida que tanto me inveja.

Enferrujando-me


Estou mancando. Meu pé foi ferido por uma pedra pontiaguda. Ou será que foi meu coração? De qualquer modo, está doendo e me impedindo de andar. O peso que carrego dilacera-me e me impede de andar, a situação piora com a dor que carrego comigo até hoje.
Penso em me jogar de um precipício e acabar com essa dor que me acaba, mas até para isso precisa-se andar. Repenso o caso e sinto-me uma dramática aleijada, mancando. Repenso de novo e percebo que não estou aleijada, apenas mancando. Coração aleijado. Concluo depois de repensar novamente.
Vejo os outros se apoiando em mim para andar, como se eu fosse uma muleta. Como se já não bastasse minha dor e meu rancor corroendo minha garganta, eu ainda vejo as lágrimas de outros, como um ácido em minha pele. Enferrujando-me. Fazendo-me tombar no chão enquanto eu tento caminhar para o meu fim. O fim da minha dor. Por que é tudo que eu quero: fazer parar. Arrancar esse nó constante em minha garganta e rasgar minha pele calejada.
Ofego segurando meu coração. Acabo caindo novamente enquanto apoiavam-se em mim. Meu braço estirado no chão carregando meu coração ficou sem vida, mole como minhas pálpebras que teimavam em permanecer de pé. Por fim, suspirei. Jorrando meu coração no chão, descansando por completo.
Um som alto ecoou em meus ouvidos, me acordando de meu pesadelo para me despertar a outro. Era minha irmã, me chamando para ajuda-la em seu pesadelo; em sua vida. Tão nova e tão vulnerável, tão eu. Era por ela que eu deveria continuar a caminhar, servindo de muleta para ela e sendo forte por ela. Olhei para porta e vi minha mãe chorando. O rancor grudou em minhas entranhas novamente. Caminhei até suas lágrimas e não as sequei. Abracei-a forte, minhas lágrimas se misturando com as dela. Nossas lágrimas me enferrujando e me fortalecendo. Por que a base de lágrimas, eu me sustento.

Está nevando?


Olho-me no espelho e encaro a mulher já formada na minha frente, sorrio ao observar que eu me tornei o que queria. Olho pela janela do meu enorme quarto e analiso o lugar esplendido que estou; respiro profundamente de olhos fechados em pura satisfação, com as mãos na armação da enorme janela.
Expiro e lentamente abro os olhos; sinto o peso de meus lábios em uma linha tênue em minha boca, suspiro. O cenário mudou, e eu ainda estou na linha de partida, e posso ver meu eu tão sonhado acenando para mim, com um fundo de tirar o fôlego. Estreito os olhos para ver melhor. Está nevando lá?
Fecho os olhos por estar viajando novamente, mas depois percebo que não preciso fechar os olhos para sonhar e viajar no meu próprio infinito, então eu os abro. Está nevando? Céus, eu me sinto infinita. Abro os braços em completo desespero em uma tentativa de abraçar tudo isso e nunca mais largar, os deixar aprisionados em meus braços; fecho os olhos fortemente para tentar sentir isso. Quando fecho meus braços em um abraço de urso, abro meus olhos e estou de volta à vida real, abraçando alguém. Olho para trás e percebo que não estou mais na linha de partida; eu estou andando!
Entro no meu quarto e me deito na minha cama, abraçando meu travesseiro. Bem, muita coisa mudou, e agora eu percebo que estou perdendo tudo isso enquanto estou pensando no futuro. Sento-me e fecho os olhos. Está nevando? Sinto uma umidade em minhas bochechas e percebo que são lágrimas. Abro meus olhos e estou de volta à linha de chegada; soluço em libertação, e irrompo em um choro.
Flexiono minhas pernas para frente e jogo meu corpo na mesma direção, correndo com a vista embaçada, agora não mais sonhando para me sentir viva, mas me sentindo viva para sonhar. Quando minhas pernas pedem por um pouco de descanso, eu paro um pouco e arfo, respirando com dificuldade por subitamente estar tão frio. Isso me faz pensar; por quanto tempo eu corri? Sinto uma umidade em minha bochecha. Está nevando?

Eu fui entregue


Eu fui entregue sem minha própria permissão, essa foi minha perdição. Violaram-me, roubaram-me, rebaixaram-me, e me restou pouco, minha essência creio eu que não acabou e que nunca acabará, o porém é que eu não me deixo transparecer, eu estou me aguardando para mim mesmo, estou sufocando-me.
Sou como um vidro translúcido, quando a escuridão não está por perto eu me deixo transparecer, um pouco, mas é o meu pouco. Já passei tanto tempo aprendendo a não ser eu, que eu já me acostumei a oprimir-me, a sentir tanta saudade, saudade de mim, de quem eu costumava ser.
Havia dons em mim, dons que eu já me esqueci, ou que eu fui obrigado a esquecer. Em meu antigo ser humilhado, eu era exaltado, mas agora, o que sou? Quem eu sou? Quem me tornei? Antes eu era usado para exercer os dons que Deus me deu, agora sou obrigado a não mais isso, sou obrigado a exercer algo que não sou, sou obrigado a exercer algo que me tornei.

Tão eu


Sinto que estou incomodando, como uma pedra no sapato dos outros. Não, não sou engraçada. Não, não tenho coragem. Não, não sou forte. Não, não estou bem. Mas quem se importa? Eles deixam isso bem claro para mim, que não me querem por perto. Que sou fraca para chorar. Que sou muito... Eu.
Esse é meu problema. Ser muito eu. Mas ao mesmo tempo, não ser nada do que eu quero ser. Vivo em conflito, confrontada e intimidada. Cheia de barreiras e sem nenhuma saída. Sento e aprecio minha própria jaula. Meu próprio corpo. Meu próprio eu. Assisto as pessoas me desprezarem, persuadirem-me e virem até mim por interesse. Vejo meu sorriso iludido ao pensar que aquilo pode se tornar uma amizade. Vejo minha própria desgraça.
Cansei de levantar, cansei de cair, cansei de tudo. Vou apenas sentar e apreciar a paisagem de minha própria amargura. Tão azeda que me anestesia. Tão monótona que me enjoa. Tão desprezível que minha garganta cria um nó. Tão eu.


Guerreira chorosa


Doce e salgado. Força e choro. Camuflo-me em meu corpo de mulher; meu corpo vazio cheio de nostalgia. Corro do que é novo para evitar se tornar velho. Evito novas chegadas para evitar velhas partidas. Evito novas ilusões para evitar velhas decepções. Evito novas forças para evitar velhas lágrimas. Essa é minha vida. Evitar para não se machucar.
Penso se isso verdadeiramente é uma vida. Almejo tentar, mas não tento. Almejo acertar, mas apenas erro. Erro sem tentar. Pois esse é meu maior erro. Não tentar. Ter medo do novo e trauma do velho. Ser forte o bastante para chorar, ser fraca o bastante para ser forte. Tudo isso, sem ser o bastante.
Minha vida é desconhecida para mim, nem mesmo eu a conheço e muitos acham que a conhece. Minha vida é um animal selvagem, indomesticado, uma guerreira misteriosa, um território desconhecido, uma vasta floresta sombria; essa sou eu. Uma guerreira chorosa e com medo do novo. Com medo da vida.


Meu muro


“Oh, não! Não me ame!” repito como uma reza, automaticamente, em um clamor para mim mesma e para as pessoas ao meu redor... Para ele. ‘’Oh, sim. Deixe-me lhe amar. ‘’ Peço para ele, ou ao menos, penso que peço. Nunca fui de me importar com perdas, não aparentemente. Nunca fui de me importar, não aparentemente. Sou uma pessoa feita de pedaços. Cheia de cortes por dentro. Mas nada aparentemente...
Tento segurar meus pedaços e tirar de dentro de mim, para mostrar para o mundo... Mostrar para ele, para o mesmo saber que eu me importo; saber que tenho um coração que o ama desesperadamente, saber que não sou fria e indolor como aparento, para ele saber que tenho sangue correndo em minhas veias que está em chamas, clamando por ele, clamando para ele acalmar-me e me aliviar dessa pressão que estou sentindo. Angustiada e magoada aparentando calma. Só aparentando.
As promessas, os erros, as mágoas, a dor e o sofrimento estão ressurgindo para lhe dar tchau enquanto vemos você partir. Meu último pedaço... O pedaço que faltava para eu me construir novamente. Desmoronei. Desesperada em ter que construir tudo de novo, o muro que construir entre eu e o mundo. Entre eu e meu eu aparente... E mesmo sem querer, entre mim e você.
‘’Oh, sim. Deixe-me lhe amar.‘’ repito, de novo, inutilmente. Estou atrás do muro acompanhada com minhas dores e culpas, vendo você partir. Minha culpa está segurando-me, impedindo-me de derrubar minha parede de orgulho e correr atrás de você. Fecho os olhos fortemente. ‘’Oh, sim. Deixe-me lhe amar.‘’, ‘’Oh sim, me ame!’’. Abro os olhos novamente e ele está lá. Seus olhos sorridentes me apreciando. Seu sorriso bobo me enlaçando. Meu muro. Meu muro entre eu mesma e meu eu aparente.


Camisa de Força


Estou entrando em pane. Meu corpo se convulsiona em um colapso. Céus, eu estou entrando em chamas! Tento mexer meus braços, mas percebo que eles estão presos em volta de meu corpo em uma camisa de força. “Eu não estou louca! Eu não estou louca! Eu não estou louca! Apenas perdida.” Tento gritar, mas nada sai de minha garganta a não ser pedido de socorro. “Socorra-me!”. Finalmente falo.
Grito do fundo de meu âmago, mas ninguém está lá para me ouvir; eu os afastei de mim. Olho ao redor paranoicamente, tentando avistar alguém para desatar minhas ataduras e levar-me para casa longe desse hospício assombroso. Para levar-me para mim novamente. Libertar-me dessa camisa de força que me prende e me abraça. Mas ninguém está ali; só eu e minhas ausências.
Tenho medo de dormir. Encolho-me no canto da sala em que estou e continuo olhando para os lados, amedrontada. Fecho os olhos fortemente e abro logo após em um solavanco. A porta está aberta, mas ninguém está entrando. O lugar está vazio assim como meu corpo, mas o clima está pesado assim como meu coração. Descanso minha cabeça na parede e admiro a porta aberta.
Finalmente adormeço e sonho com o que estaria por trás daquela porta. Quando acordo, determinada, sigo em direção a mesma e olho desconfiada para o vazio que atrás dela habita. Dou um passo para frente e sinto as mangas da minha camisa de força afrouxarem-se. Corro para ver se a camisa finalmente cai e me liberta. Acabo caindo e uma mão estende-se para mim.
Eu não saiba o que havia atrás daquela porta, mas sabia o que eu queria encontrar. Tinha medo de certificar e colocar em prova minhas dúvidas. Eu nunca estive presa com uma camisa de forças, era meu coração. Eu nunca estive presa, era meu coração. E eu não queria colocá-lo a prova e correr o risco de machucá-lo novamente, e com isso, acabei machucando os que me esperavam no final; me esperavam criar coragem e correr atrás.


Eu sou meu resto


“Por favor, não me deixe só, eu preciso de você aqui comigo.” Eu peço para mim mesma, no fundo de meu ser coberto em pó. Desmoronei e estou tentando andar com meus escombros em minhas mãos. A cada pedaço que vou pegando, vejo pedaços de minha vida quebrados, fazendo cortar-me e pesando-me cada vez mais. Vejo tudo escuro. Desmaiei. Cai. De novo. Sozinha. Em meu próprio pó.
Sinto-me só, fria e pesada. Inútil e desprezada. Um peso desnecessário de levarem. Convulsiono meu corpo pelo impacto das pancadas que estão dando em meu corpo morto. Estão me fazendo sangrar com minhas próprias dores. Batendo-me com as pedras do meu próprio escombro. Fazendo-me esquentar lentamente, mas discretamente. Obrigada, vocês me libertaram de mim mesma. Suas pancadas quebraram a casca que visto e libertaram-me.
Ainda com meus pedaços em meu corpo; levanto, pois percebo que mesmo com esse peso, sou leve para voar, mas pesada para cair. Sou alto e baixo. Lindo e feio. Perfeito e imperfeito. Sou meu resto. O resto de meu corpo destruído por uma explosão, causado por uma bomba que eu própria criei; que eu própria estourei.


Minha Criança


Brilhante, encantadora, feliz, sorridente, contagiante, risonha. Essa era eu. Perdi-me em meu novo mundo, em minha idade, no meu sofrimento e em meu medo. Estou gelada por fora, como um cubo de gelo, pois o medo me congelou, me desencantou, me abalou, me matou, matou quem eu era.
Parei de acreditar em mim mesma, enquanto vejo minha ruína e meus problemas em uma tela de cinema, o medo furtou quem eu era, prendeu-me na cadeira e deixou-me assistindo minhas catástrofes. Acredito que não tem saída e um caminho para meu verdadeiro eu. Estou presa nas cordas de minhas lembranças, me machucando, me fazendo jorrar lágrimas.
Estou tão cansada que só quero sentar e chorar na esperança de que com minhas lágrimas o cansaço se esvaia. O medo está me tirando forças para quebrar as cordas que me prendem, me fazendo fechar os olhos para o verdadeiro eu que me admira chorando, me esperando. E me fazendo abrir os olhos para a tempestade que acontece em meu peito.
No meu último fôlego, suspiro e deixo minha cabeça tombar. Estou cansada de fazer força na tentativa de romper minhas cordas. Estou morta. Enquanto só vejo escuro, sinto as cordas se afrouxarem, se soltarem, e alguém me abraçar forte, lavando meu rosto com lágrimas.
É meu verdadeiro eu, minha criança que nunca cresceu e se escondeu com medo, com medo do mundo novo, com medo de como eu tive que crescer: tão rápido, tão de repente, por pressão, imposição. Com medo do que me tornei. Com medo de mim mesma.


Movimento Involuntário


Espero-lhe como um movimento involuntário. Desejo-lhe bem mesmo eu não estando assim. Mas ao mesmo tempo, lhe desejo mal. Não; não saia de perto de mim. Seu lugar é perto de mim! Eu preciso de você para ter algo á que observar. Para ter algo a que amar. Não; não quero saber seus motivos. Pois se eu souber, eu sei que irei mudar de ideia. Eu verei que você também precisa de você. Você precisa se achar para depois me dar. Mas você precisa de um tempo. E eu sinto que já perdi tempo demais. Eu sinto que estou lhe perdendo. Eu sinto que o tempo lhe roubou de mim; assim como você roubou meu coração.
Como um assalto. Um furto com seus olhos. Seu jeitinho. Seus braços. Você! Você roubou meu coração e agora está longe. Foi embora e levou-o junto. Deixou-me aqui: vendo-lhe partir e olhando para o tempo. Olhando para o vilão de tudo isso. O tempo. Mas mesmo não sentindo mais nada dentro de mim, não consigo me livrar de você; não consigo lhe deixar partir mesmo você tendo ido embora. Por que como um movimento involuntário, eu amei você.
Agora, acho que amo um fantasma. Pois você se foi, mas ficou comigo como um fantasma que vez ou outra me assusta; fazendo-me vacilar e pensar no que deveria ter feito antes, por que assim não perderíamos tanto tempo e você estaria aqui comigo. Ou ao menos eu teria algo á que lembrar sem me assustar em pensar que isso nunca vai acontecer. E agora, eu peço para o seu fantasma: “Por favor, volte para mim e não ache o que estava procurando.” Mas como um efeito colateral, logo depois eu penso: “Mas ele foi embora para tentar se achar!” Então fico sem nada pedir. Observo você no fundo da minha mente e rolo na cama, colocando a culpa em quem teve paciência comigo e na minha falta de coragem de falar com você antes. O tempo. E será somente ele que poderá resolver toda essa bagunça. Todo esse amor. Por que como um movimento involuntário, eu te espero.


Pensando bem


Ficar em um mundinho só seu deveria ser bom. O problema, é que eu me tranquei nele com medo do mundo lá fora. Com medo de que me vissem e ficassem horrorizados. E pior, eu estou presa sozinha, apenas com um espelho que me mostra como me deixo ser para os outros. Só. Presa; e com medo de me libertar.
Penso demais para me deixar levar. Penso demais para saber que o melhor a se fazer é ficar presa no meu mundinho, longe de mim e apenas assistindo por meio de um reflexo no espelho minha vida passar; sem ninguém notar que quem está com eles não é verdadeiramente eu.
Aqui, presa, tenho bastante tempo para pensar. “Como eu vim parar aqui?”, “Onde está a chave do meu mundinho?”. Sentada no chão da minha prisão e em frente ao espelho, assistindo-o, e rondada pelos meus próprios pensamentos. Fechando os olhos, eu sinto. Eu não estou só. Meus pensamentos estão depositados aqui; presos comigo. Nesse tempo todo, eu estava sendo manipulada por mim mesma; acreditando que quem estava vivendo minha vida era o meu reflexo atrás do espelho. E não. Quem estava vivendo minha vida é e sempre foi eu. Sentada, deprimida e pensativa... Só.
Meu reflexo no espelho olhou para minha face, e abrindo os olhos, pude perceber sua expressão de agonia. Pensando bem... Não deve ser tão legal lá fora. Ela apontava freneticamente para trás de mim. Eu, com medo de olhar, relutante virei para trás. Oh! A porta estava e sempre esteve aberta. Eu só tinha que parar de pensar e abrir meus olhos.
Indecisa e confusa entre cruzar aquela porta e sair dessa prisão para enfrentar o mundo a fora. Pensando bem... “E se eles me fizerem voltar para cá novamente?”. Em um ato rápido, joguei uma pedra no espelho atrás de mim que gritava em desespero e depois de sentir os cacos de vidro bater em minha pele, olhei para minhas próprias mãos. Oh! Essa sou eu. Eu voltei para mim! E em outro ato rápido, fechei meus olhos e corri rapidamente. Sem pensar... Sem me martirizar por ter feito uma escolha e não outra.


Meus Cacos de Vidro


Ultimamente estou fazendo muita escolha errada, colocando meu coração de vidro em jogo e o lançando para o alto, esperando alguém pegá-lo, esperando alguém resgata-lo. Mas ninguém foi; ninguém teve o interesse de segurar. Ele quebrou. E agora, na minha cama, sinto os cacos de vidros palpitarem dentro de mim, fazendo uma pressão terrível, rasgando minha alma; sufocando-me.
Observando o teto e deitada em minha cama, sinto os cacos de vidro dentro de mim movimentando-se, abrindo espaço para as lágrimas jorrarem inicialmente em conta gotas pelo canto dos meus olhos e molharem meu travesseiro exausto pelo peso do meu vazio. Estou morrendo e ninguém está ligando.
Durmo exausta pelo choro e penso que finalmente desmaiei tamanha a dor que sentia em meu peito. Infelizmente, acordei e as lágrimas voltaram junto com as lembranças. Trajei um sorriso em meu rosto e levantei, fazendo meus cacos de vidros se moverem, e a cada passo que dou, eles me cortarem; no fundo da alma, nas minhas retinas, em minhas entranhas, em minha pele. Matando-me, me sufocando, me ferindo a cada passo. Mas acima de tudo, enganando a todos que acreditam no sorriso trajado em meus lábios cansados de sibilar pedidos de socorro.


Minhas Lembranças


Durante minha vida toda, procurei não sentir nada; eu já sentir muito, eu já me machuquei muito. Mas ai vem você; com seus cabelos que enrolaram meu coração. Com seus olhos que iluminaram minha alma. Com seu coração que acordou o meu. Com seu sorriso que me obrigou a olha-lo. Olhar minha destruição.
Você me enfeitiçou e me fez construir-me para logo depois derrubar-me. Até hoje me pergunto: “Por que fez isso?” Só não pergunto para você porque você não está mais aqui. Você se foi e me deixou aqui, quebrado, cansado demais para me construir novamente. Você me deixou aqui... Vendo-a partir. Vendo-a me destruir.
Abro os olhos e acordo para outro pesadelo. Não deveria ser assim. Eu já tinha me camuflado e você me achou, me fez sentir novamente. Na minha cama, ouvi uma discórdia acontecendo em casa. Mas eram apenas minhas lembranças... Assim como você.


Só eu


Estou tão exausta! Minha vida está desmoronando aos meus lados e eu estou assistindo de camarote, sem ter para onde correr para proteger-me dos escombros caindo, sem ter ar para respirar. Só pó, só desastre, só ilusão, só eu. Uma residência descartável onde poucos entram e muitos saem. Principalmente eu.
A cada visita que recebo, me perco. A cada conversa, me perco. A cada despedida, me perco. A cada ausência, me perco. Ultimamente só estou me perdendo, me machucando, me sufocando por não ter ar limpo para respirar. Só escombros e restos de mim por onde olho. Só eu.
Essa sou eu: aquela menina alegre, que faz muitos rirem e se alegrarem. Mas que ninguém sabe o que eu faço quando estou longe, sem ninguém para me ver e me impedir. Só eu. Uma menina alegre que tem muito a contar. Uma menina que virou mulher muito cedo e de uma forma que ninguém merece. E em pensar que essa mesma menina só queria uma vida normal, tinha um jeitinho especial, um jeitinho único, brilhante! E que agora, ela guardou tudo só para si, bem no fundo do seu corpo, para ninguém roubar ou reclamar.



Ouvi dizer


Sei o que todos acham a meu respeito, todos os julgamentos, todos os cochichos, e mesmo que eu diga que isso não influencia em mim, minha mente diz ao contrário, ou ao menos agora. Aqui, na sua frente, sentindo seus lábios contra os meus. Será que você pensa sobre mim a mesma coisa que as outras pessoas pensam? Será que você pensa que sou apenas um brinquedo? Sem sentimento? Sem caráter? Você só quer me usar? Ouvi dizer que você não ama... Ouvi minha esperança dizer que isso pode dar certo... Qual eu devo ouvir? Em qual aposta devo depositar os restos do meu coração?
Ouvi dizer que isso que nós temos é precipitado, antecipado, que está acontecendo tudo muito rápido. Ouvi meu coração dizer: “Cuidado, eu estou muito quebrado.” Me ouvi dizendo: “Eu te amo.” Mas lembrei... É muito cedo. Eu só não quero pular de cabeça, mas olhei para trás e vi a esperança me derrubando no precipício, vi como éramos antes... Não devo esquecer. Isso pode dar certo. E enquanto eu caio, a felicidade me acompanha. Observando meu rosto alegre enquanto nós caímos com os cabelos ao vento.
Cai. Isso deu certo? Isso deu errado? Ele me segurou? Ouvi dizer que sim... Ouvi dizer que não... O que devo ouvir? “Ninguém. Ouça apenas a você mesma.” O homem a minha frente falou, sorrindo depois de me beijar. “Aceita namorar comigo?”


A Morte


“A morte não foi feita para ser temida”, só existe um caso que essa citação não se enquadra, o caso de quando você não viveu antes da morte. Esse é meu caso. Falo para todos e para mim mesma que eu não tenho medo da morte, é verdade, eu não minto. Eu tenho medo da vida, não da morte, tenho medo de não fazer nada para viver ela enquanto é tempo e passar o resto da minha vida me lamentando. Se bem que eu não estou muito longe disso.
Eu tenho sã consciência de que eu tenho que mudar para poder viver, mas a minha consciência só vai até ai, sem resultados e sem explicações, sem respostas e nem perguntas. Só a ideia de que eu tenho que mudar, apenas com a certeza de que a indecisão me acompanha e rir da minha cara. De tanto vacilar em andar, eu já levei muitos tombos e o único que me levanta do chão é o medo de mudar e me lamentar novamente. Acabo voltando sempre por começo e não andando. Só caindo, aumentando minhas feridas.
Sem conseguir dar murro no vento e acertar o caminho na marra, eu penso. Talvez nem tudo seja na força, talvez seja só um jeitinho, um jeitinho em mim. Eu não preciso lutar contra mim, eu preciso me aliar a mim, alimentar meu corpo esguio com minhas vitórias e ausências de medo. Apenas um pé atrás do outro, parece muito fácil falando assim e eu me recuso a acreditar no fácil. Deve ser por isso que eu caí tanto, enquanto eu ajudo o outro a andar e a se levantar, apontando o errado e indicando o certo, a morte chega mais rápido, e no final eu estou aqui, no começo.


Angústia ardida


Meus olhos embargados denunciam meu coração vazio. Dobro minhas pernas e abraço meus joelhos, tentado buscar forças para continuar, buscando força em algo que não seja a angústia que me admira, admira sua obra ao passar dos anos. Ela me transformou tanto. Risco minha coxa com minhas unhas e suspiro. Amor só se cura com mais amor, e dor, infelizmente só se cura com mais dor; Penso assim.
Cravo minhas unhas em minha coxa e entreabro os lábios. “Não, não, de novo não...” clamo a angústia que me admira de perto. Traiçoeira! Assim como meu coração. Com lágrimas no rosto, enfio a mão debaixo da minha cama e tiro de lá meu pecado, minha morte, minha dor, meu remédio doloroso e traiçoeiro. Minha vida é cheia de traições; penso. Com minha morte em mãos, entro no banheiro carregado de angústia e tranco a porta. Olho-me no espelho e vejo-me desgastada, traída, angustiada.
Sento-me no chão do banheiro aos prantos e arfo ao olhar minha coxa. Meu próximo alvo, minha próxima válvula de escape. Deposito a lâmina prateada em cima de minha coxa e gemo. Imagens da minha vida desastrosa passam em minha frente e corta meus olhos, arrancando mais lágrimas dele e depositando força em minha mão, fazendo-me soltar um gemido ao notar o sangue em meu corpo. O que eu mesmo causei.
Teimo com minha própria dor, a verdadeira causadora do meu sangue carregado de traições. Eu digo que a culpa é dos outros por me causarem tanta dor, mas a própria vítima nega, alegando que eu que me fiz doer. Mas não adianta, eu sou muito teimosa para acreditar nisso. Para acreditar em mim.
A grande verdade é que a culpa é mesmo minha. Por ser tão fraca e achar que o único jeito de aliviar minha dor é assim. Fazendo doer mais. Sou eu que me corto, sou eu que me dou, sou eu que não acredito em mim, que eu posso parar, sou eu que vejo e faço meu sangue arder em meu corpo. Sou eu. E vai ser apenas eu que vou poder parar, fazer parar, me salvar dessa angústia ardida.


Boa sorte sem mim


“Shi... Shi... Shi...” Falo baixinho, ajoelhada perto de mim. Eu, abraçando meus joelhos e com meu rosto inchado pelo choro entre minhas pernas. Balanço-me para frente e para trás, sentindo um arrepio percorrer minha espinha ao passar a língua pelos meus lábios ressecados, sentindo o gosto salgado das minhas próprias lágrimas. “Será que esse é o gosto da solidão?” pergunto-me.
Eu só queria que parasse de doer, essa dor está me corroendo. A solidão está me aninhando em seu peito vazio enquanto a mesma acaricia meus cabelos, sussurrando em meu ouvido: “Boa garota, não se preocupe, essa dor vai passar depois que você dormir, suas lágrimas vão lhe cansar. O que importa agora é que você não está só. Eu vou lhe fazer companhia, garotinha.” Uma última convulsão de meu choro baixinho se esvai de meu corpo, permitindo-me adormecer.
Em meio ao meu sono regado a lágrimas, a palavra “garotinha” ecoava em minha mente, me fazendo abrir os olhos rapidamente e sentar na ponta da minha cama sobressaltada. Olho para a escuridão do meu quarto e vejo a solidão no canto do meu quarto. “Agora é sua vez de ficar só.” Levanto-me da cama e saio do meu quarto. “Agora é minha vez de ser feliz.”, sussurrei para a solidão ao meu lado. “Boa sorte sem mim, garotinha.” Ela falou, acariciando minha dor juvenil. “É hora da garotinha aprender com a dor. Mas pode deixar, eu voltarei, mas voltarei somente para lhe mostrar minha vitória. Boa sorte sem mim.” Falo triunfante, sussurrando para a solidão que antes sussurrava para mim.


Cuidado, a tristeza é viciante


“Cuidado, a tristeza é viciante!”, eu só queria que alguém tivesse falado isso para mim antes. Olho em volta com um sorriso no rosto e com meu coração arranhado no fundo de meu corpo, por mais que as pessoas achem difícil sorrir quando se está triste, nós conseguimos, é tão fácil quanto ficar triste.
Assim como felicidade é passageira, a tristeza também é, como todos os sentimentos, mas a tristeza foi à única que prometeu me fazer companhia em momentos difíceis. Essa missão não foi difícil para ela, mas foi difícil para mim. “Cuidado, a tristeza é viciante!” e uma companheira leal, devo resaltar.
Assim como todas as decisões erradas e tolas que tomei na minha vida, a minha decisão de deixá-la ficar comigo foi a que mais me marcou, me massacrou, assim como o imã que a própria tristeza colocou em meu coração arranhado que atrai ilusões assim como todos os sentimentos obscuros e viciantes.
“Cuidado, a tristeza é viciante!”, uma droga para eu ser mais exata, que me fez provar outros tipos de drogas assim como a solidão, o desespero, o medo... Tento arranjar forças para andar e pedir ajuda, mas a solidão e o medo me puxam para baixo, sendo facilitados pelo fato de eu estar drogada e cambaleando.
Enquanto eu chorava no canto de uma sala escura em minha casa, alguém bateu em minha porta, cambaleei até abrir a mesma, caindo no ombro da felicidade que esperava na entrada de minha casa. Enquanto ela me ninava em seu ombro, esperando o efeito da droga em meu corpo calejado se esvair, ela entrou comigo em minha casa, sentou-se no sofá e me deixou em seu colo, continuando a me ninar.
Quando eu adormeci em seu ombro, ela me deitou no sofá e se foi, afinal, ela só estava de passagem, mas quando eu acordei, havia um papelzinho em minha mão escrito: “Cuidado, a tristeza é viciante! Mas não é ela que se vicia, é você. Não precisa andar para buscar ajuda, não precisa de café para tratar a tontura, não precisa de comprimido para curar a enxaqueca, basta sorrir. E lembre-se, eu sou passageira, mas um sorriso apressa minha chegada e depois basta você abrir a porta para mim. Você precisa saber que eu fui várias vezes em sua casa, mas você não abriu a porta para mim, talvez seja por que você estava mais ocupada com a tristeza e não teve tempo de abrir a porta para mim. Mas não se preocupe, eu não fiquei magoada. A tristeza não é uma boa amiga, mas ela é uma ótima inimiga, aproveite isso, e saiba que você tem uma aliada nessa guerra, eu, mas agora você tem que abrir a porta para mim, está frio aqui fora.”


Deve ser isso


Você já tentou se olhar no espelho com um sorriso com rosto?

Eu já. E eu me senti tosca.
Odeio gente falsa. Como seria diferente com um sorriso falso?
Simples: não é.
Olho meu sorriso forçado no espelho e me pergunto: “Como as pessoas podem acreditar nisso?Ou elas fingem que não veem? Não acreditarem?”
É. Deve ser isso.
Medo de perder o seu precioso tempo com a tristeza alheia. Já tem muita guardada, não precisa ficar aturando outras.
Deve ser isso que os outros pensam. Ou não pensam.
Deve ser isso! Eles são tão apressados consigo mesmo, para não perder tempo, que não percebem.
Então deve ser isso!
De tanto me olhar no meu acusador, tenho uma crise de riso. Chega a ser patético ficar tanto tempo sorrindo para um espelho apenas para se sentir bem.
Deve ser isso. “Sou patética.”
Deve ser por isso que eu faço os outros rirem. Coitados... Assustar-se-iam se soubessem de metade do que acontece em mim.
Começo a rir escandalosamente. Rio tanto que começo a me achar fofa, por incrível que pareça.
Faço caras e bocas em frente ao espelho e rio com minhas babaquices. E agradeço que apenas eu estou vendo isso. Mas depois me lastimo por não ter uma melhor amiga(o) para partilhar esse momento.
Deve ser isso. Eu devo achar graça da minha tristeza. Por que um dia, posso não achar graça de nada, até da minha alegria.


Vendo-me partir


Lembro-me como se fosse ontem quando eu tinha seu sorriso só para mim. Apenas direcionado para mim. Mas eu te perdi entre meus dedos assim como eu me perdi em seu sorriso. E eu estou ai, perdida de mim mesma e só olhando para ti, lhe vendo partir e me deixar aqui, admirando minha partida e esperando minha chegada, esperando você para me trazer junto com seu sorriso, como tudo era antes, você só para mim.
Você se foi e eu ainda não te esqueço, por que mesmo que não queira, você levou parte de mim em seu sorriso, e eu quero me resgatar, lhe beijar e me resgatar. Mas não tenho coragem para isso, olho em seus olhos e perco minha fala, não sei como chegar a você e falar onde eu verdadeiramente estou, em você, e você está em mim. Quero me resgatar, mas você não deixa, por que no fundo, você sabe onde estou e quer ficar comigo, no seu sorriso, apenas me esperando ir pegar, apenas me esperando beijá-lo.
Não sei se verdadeiramente quero ir me resgatar, quero me deixar perdida em você, por que assim eu sei que você ainda tem uma parte minha. Tenho medo de me ferir, mas já estou sangrando, sentindo que cada vez estou mais longe de mim mesma, com saudade de mim. Aqui, me vendo partir e você me levar em seu sorriso.


Dom


Sinto-me pressionada, não sei exatamente a que, mas me sinto. Uma emoção ou um sentimento não tem explicação, foi feito apenas para ser apreciado, como o amor, o amor não tem explicação, mas também não teria graça se tivesse, ou ao menos ninguém se interessaria, pois prefeririam presenciar aquilo ou simplesmente sentir, as maiores dádivas da vida não têm explicação, ou se existir, como eu falei anteriormente, ninguém se interessaria verdadeiramente por isso, saber apreciar é para poucos.
As pessoas perdem tempo com coisas fúteis, ou simplesmente reclamando por elas, mas o que seria das coisas boas da vida se não fossem exclusivas? Como o camarote de um show, só se consegui estar lá se pagar, tem limite de pessoas, a maioria delas não tem condição ou simplesmente não tem sorte, por isso o camarote é tão cobiçado, ele é exclusivo, assim como saber apreciar.
Isso é um dom, mas infelizmente nem sempre é descoberto ou apenas não querem descobrir, esse dom está escondido em meio à bagunça dentro de si, a pessoa tem que olhar para dentro, saber sentir o vento forte que há dentro de si, saber sentir cada arrepio, sentir cada pelo do seu corpo ereto ao se arrepiar, saber gostar dessa sensação. Sentir, esse é outro dom, sentir com intensidade, apreciar o prazer de sentir.
Isso é um emaranhado de coisas a se aprender, mas nem todos se interessam, é exclusivo, difícil, tentador e perigoso, você só tem que ter cuidado para não se enrolar, você tem que saber o caminho para o fio da meada, mas o saber é exclusivo, o dom é exclusivo, cada um tem o seu, só cabe a você ter o interesse de descobrir.


Novamente


Estou lhe recebendo
De braços abertos
Mas não se esqueça
Meus braços estão iguais meu coração
Estão cheios de espinhos

Estou me fazendo mal
Mas estou ficando forte
Obrigado
Obrigado por me ajudar
Graças a você eu sei que aguento
Eu vou aprender a aguentar

Obrigado por me derrubar
Obrigado por me deixar no chão
Obrigado por me fazer levantar só
Obrigado...

Estou me quebrando
Quebrando-me para ficar nova
Novamente...
Ficar nova novamente...
Novamente...


Está chovendo


Está chovendo, e está chovendo dentro de mim. Observo as gotas em minha janela e suspiro pesadamente. Ninguém consegue me entender. Ninguém me leva a sério. O amor que sinto me consome e a nostalgia é a única coisa que me resta. Que saudade! Saudade do que nunca aconteceu.
A sua voz acaricia meu coração dilacerado, me faz respirar em meio à poeira de meu corpo vazio, me faz sorrir em meio as minhas lágrimas, me faz acreditar em mim mesma quando todos me colocam para baixo. E é incrível como alguém que me faz sentir-me tão bem consegue me fazer sentir-me tão mal. Como a angústia que abita meu ser por você não está por perto.
Minha felicidade é imensa quando eu vejo você em uma foto, quando vejo você sorrir. E a única coisa que pode bater de frente com esse sentimento é o vazio que me assola de vez em quando, como agora, quando eu estou olhando a chuva, lembrando-me de você e de todos os males que me assombram, e, de como eu consegui passar por tudo isso mesmo com a sua ausência me fazendo companhia.


Quem eu verdadeiramente sou


Pessoas dizem que eu sou meio bipolar, inconstante. Mas quem são elas para falarem algo? Elas nem sabem que eu verdadeiramente sou, às vezes nem eu sei, então quem são elas para falarem algo? Nem tem algo para falar. Tenho vários lados, vários humores, como todo mundo, mas como todo mundo, tem certos lados e emoções que se destacam e fazem as pessoas se destacarem.
Minha tristeza grita para ser notada, mas eu não quero ser notada e nem que a notem. Esse é meu conflito, esconder minha tristeza gritante, que insiste em me assolar a qualquer momento, me impedindo de desfrutar a total felicidade. A tristeza tem medo de me perder, como eu tenho medo de perder a felicidade da minha juventude e o tempo dela chorando pelos cantos e cedendo meu lugar na felicidade para a tristeza. Como fiz sempre fiz até agora. E é essa minha vida: um vai e vem de ausências incompreendidas.
Quero correr para longe de mim, abalar as barreiras da realidade e as que a tristeza impõe em mim, ela não tem controle contra mim, mas a quem eu quero enganar? Eu a deixei ficar no controle, eu estou cansada de mim, tenho vontade de mudar de corpo e de coração, o meu já está esfarelado nas mãos da tristeza. Percebi isso quando chorava em meu corpo amedrontado com medo que eu não volte mais, pois não é só a tristeza que tem medo de me perder, eu também tenho, tenho medo de me perder para a causadora de meus choros pré-sono.
Coloquei um pouco de amor próprio nas barreiras que me impediam de seguir em frente e elas se dilaceraram. Suspirei enquanto fechava os olhos. Abri os mesmos lentamente e olhei minhas mãos, não havia nada nelas, apenas um bilhete pequeno dizendo: “Você venceu, eu não insistirei mais.”. Sorri ao terminar de rele-lo. Na próxima vez que a tristeza vier me consolar em meu choro causado pela dor da realidade, não deixarei mais ela me controlar e nem me seduzir com uma proposta de ficar livre da dor, afinal, eu preciso da minha dor, pois foi ela que me tornou quem eu verdadeiramente sou: uma guerreira.


Só resta


Você me conquistou. Seu jeitinho fofo me enfeitiçou. Seu carinho me encantou. Seus olhos me inundaram. De amor por você. Avisto um barco em meio ao mar de indecisão que seus olhos me fizeram entrar, o barco da paixão. Paixão pelo melhor amigo. Isso pode ser perigoso, isso pode ser delicioso, esse é você. Meu maior problema. Meu barco tá furado, ta me fazendo enjoar, ou melhor, me fazendo confundir-me.

O barco da paixão é bastante perigoso. Mas todo perigo tem sua porcentagem de tentação. Eu gosto de perigo, eu gosto do meu melhor amigo, ou melhor, eu sou apaixonada por ele. Seus lábios se curvando em um sorriso me faz derreter. Se ele soubesse o efeito que causa em mim ele não faria isso. Ou faria? Essa resposta a minha indecisão esconde por trás de sua farsa. Sou dividida entre você e nós. A hesitação é irmã da indecisão. Mesmo que você se decida, você ainda hesita em correr atrás da escolha. Nós.
Eu já decidir a tempos, apenas eu não reparei nisso, estava muito ocupada tentando roubar a resposta da indecisão que me acompanha. Nesse tempo todo, a resposta estava em mim, no meu coração. Nós. Resolvi contar ao dono do meu coração o sentimento que ele despertou em mim além da amizade. De qualquer jeito, a amizade não iria durar muito com isso em minha cabeça, algo alem da amizade que acabaria com a mesma, acabaria comigo. Só resta saber se o fim da amizade daria em namoro, ou no começo de um casamento. Só resta saber se eu ficaria feliz por ter ganhado, ou feliz por ter tentado.


Não fuja de mim


O vento em um dia de sábado me faz voar em minha tristeza. A música alta que soa em meus ouvidos faz-me esquecer do mundo, por consequência, fazendo-me entrar em meu mundo melodramático, no qual os moradores são minhas próprias dores, e a única que me entende é a solidão que me faz companhia.
Um arrepio atravessa meu corpo esburacado. Gemo pela minha desgraça. Balanço meus braços no vento e sinto o mesmo soprando em minhas entranhas, fazendo a chama fraca de meu otimismo hesitar em continuar viva. A solidão ao meu lado, estica a mão para meu corpo e atravessa com sua mão em minhas entranhas, fazendo-me entreabrir a boca com uma expressão de dor em meu rosto. A chama se apagou.
“Por quê?” Essa palavra escapou entre meus lábios ressecados entrecortada e carregada de dor. A população de meu mundinho medíocre riu de mim. Riram do meu fracasso. Riram da minha desgraça. De novo. “Você não merece esse otimismo todo. Você mesma se rebaixa para lhe chutarem.” A solidão avisou-me, ainda com a mão vazia em meu corpo, olhando em meus olhos medrosos.
Fechei os olhos pesadamente e desejei que tudo mudasse. Pena que foi só um desejo. “Não fuja de mim” a solidão gritou em meus ouvidos. “Não fuja de mim” uma multidão falou em uníssono. “Não fuja de mim” Ouvi minha própria voz em minha mente. Abri os olhos atordoada e vi-me em meu quarto bagunçado. “Não fuja de mim” gritei ao meu otimismo. Ofeguei. Olhei para o meu corpo esburacado e avistei a pequena chama do otimismo. “Não fuja de mim.” A chama falou para mim. Sorri.

Admita
Você era fria, e eu lhe aqueci. Você era quieta, e eu lhe fiz gritar. Você era dura, e eu lhe amoleci. Você era fechada, e eu lhe abri. Eu lhe machuquei, amor? Ou eu só lhe acariciei? Eu lhe mudei, amor? Ou eu só lhe revelei? Eu lhe corrompi, amor? Ou eu só lhe toquei? Responda-me, por favor, amor. Eu consigo ver seus cortes em seu sorriso, e isso me encantou. Sua doce dor me encantou. Você era tão pura... Você era tão nova...
Diga-me que o problema não sou eu, diga-me que me ama também, apenas segure minha mão e não me deixe ir. Eu consigo ver a aura de diversão que lhe cerca, eu também consigo ver que isso é uma farsa, mas eu não consigo mais lhe ver pelo muro de orgulho que você construiu. Não sou eu que estou longe de você, tem algo entre nós, e eu só preciso saber que não sou eu. Diga-me que o que você segura nas mãos é minha mão, e não seu orgulho. Diga-me que o que tem nas mãos é apenas seu colar, e não seu orgulho; segure o pingente de seu colar na palma da mão como se fosse a minha mão.
Não me deixe ir. Não deixe esse doce amor se amargar. Ame-me tanto quanto eu te amo. Sinta minha falta tanto quanto eu sinto a sua. Segure forte minha mão tanto quanto segura seu orgulho... Seu colar, seu violão. Apenas admita que esse é seu melhor momento, mesmo que tenha uma pitada de dor. Admita que você sente minha falta. Admita que isso não é tudo sobre mim, mas sobre você. Você sente sua falta, e precisa se arriscar mais. Então aperte seu colar na palma da mão, e imagine minha mão ali... Meu coração na palma da sua mão, por que é assim que eu imagino.

Eu sou minha tempestade
Sou um muro de areia, com intuito de embaçar a visão dos próximos, mas o único que acaba com visão embaçada sou eu mesmo. Enquanto estou tentando limpar os olhos e protegendo os mesmos para tentar andar, e não ser atingido com uma lufada de ar carregada de areia, tropeço inúmeras vezes e caiu na maioria de minhas tentativas de seguir em frente.
Caiu à noite, e preparo-me para a tempestade que todo dia, de noite, vem. Cubro meus olhos com meu antebraço e semicerro os olhos. Olho para trás e tento ver algum lugar para me abrigar. Mas não tem. Não mais. Eu fui embora do único abrigo que me aceitava, e como uma forma de tentar me derrubar, de noite, todo santo dia, vem uma tempestade de areia para tentar me impedir de seguir em frente. Uma tempestade de mim mesmo. Eu sou minha tempestade.
“Mas eu não caí, eu ainda continuo aqui.” Eu grito rancorosamente para minha tempestade, na tentativa de que com o meu grito ela fosse embora. Tento andar um pouco mais rápido, e dou de cara no chão. Tusso pela boa dose de areia que desceu pela minha garganta, rasgando meu coração e ressuscitando meus pecados, me fazendo apodrecer.
Derramo todos meus erros em forma de lágrimas, e tampo meus olhos com minhas mãos, e enquanto mais choro, mas minha tempestade vai se acalmando, deixando apenas minhas lágrimas como chuva. Mas eu ainda estou no meio do deserto, no meio do árido. Eu ainda estou em mim, e nenhuma tempestade jamais me derrubou, por que mesmo se ela tentar, eu sempre vou estar lá para me acalmar.

Meu Livro
Sabe... Eu sempre sonhei em ter uma família, filhos e um bom marido, eu ainda sonho com isso, a única diferença entre eu atualmente e antigamente é que eu já não tenho mais tanta confiança em mim mesma como antes, minhas palavras voam ao vento e já cansei de ir tentar resgata-las, atualmente apenas observo... Eu observo meu eu de antigamente se ir com o vento.
Sou uma folha ao vento, mas preciso urgentemente de uma pessoa para me resgatar, mas a única pessoa que fazia isso por mim e que ainda tinha o prazer de escrever em uma folha já amassada não tenho mais, se foi, como eu me deixei ir.
Estou tentando buscar forças da onde já não tenho mais, me sinto só em meio á multidão, minha vida é uma rotina tediosa, sou como um livro velho na estante empoeirada, mas que guarda uma história de drama e romance dentro de si. O meu livro já está acabando, mas não sei como será o fim, acho que até eu estou cansando de mim mesma.
Cansei de drama e romance, quero algo novo, viciante e atormentador, quero carinho sem romance, drama sem morte, música sem letra, melodia sem som, quero algo, quero tudo, mas não tenho nada. Cansei de indecisão, cansei de mim mesma, vou fechar o livro e jogar no lixo, não quero mais ser quem sou, cansei de dor, cansei de alegria, vou atrás de algo novo que ainda desconheço, mas vou atrás.

Mofando
Um quadro em branco, uma mente pensante e compulsiva, um fio descascado pelas lágrimas que derramei, apenas eu, sem querer ser eu. Apenas querendo me desligar, e ao mesmo tempo me conectar com meu eu. Nunca paro de pensar, de me preocupar, só pensar, sem falar, como se tivessem roubado minha voz de mim. Me privado de ser eu mesma, e apenas pensar, para um futuro bom me aguardar.
Nunca sei o que bem eu quero, sempre deixo me levarem para longe de mim, tentando voltar para o ponto de partida, mas nunca andando, nunca falando, sempre pensando, sempre caindo sem nem mesmo me levantar. E agora eu estou aqui, sempre regressando, com o meu pensamento andando.
Estou cansada de pensar; sinto como se meu coração estivesse no lugar de meu cérebro, e enquanto ele bombeia o sangue pelo meu corpo, minha cabeça dói com cada batimento. E parece que eu não tenho coração; é só um lugar vazio e empoeirado em meu peito, e eu estou mofando.

Nostalgia
Em pleno dia de domingo eu estou aqui em casa, mais precisamente no meu quarto, sentada no chão gélido por conta da chuva que cai lá fora e com um sentimento de nostalgia que não cabe no meu peito e escorre em forma de lágrimas.
Meu quarto é regado a lágrimas, recheado de saudade, e uma música calma ecoa pelo meu quarto. Lembranças do dia em que ele se foi passam claramente em meio aos meus pensamentos, meu olhar se fixa em seu rosto, sereno e impactante, que marcou profundamente meu coração.
Mas ele me deixou, se foi e me deixou só, em um lugar frio e solitário, silencioso e escuro, ou apenas minha vida ficou assim depois que ele se foi, sem graça e fria.
Prazer, meu nome é Inês e tenho apenas 13 anos, não acho que mereço tudo isso, tento me reerguer, mas as lembranças me puxam para o chão, minhas lágrimas caem junto com o ritmo da música, meu coração está dilatado e estou tentando conversar com minha própria solidão, mas parece que ela também me deixou.
Sinto-me descartável e fraca, mas será que sou mesmo? Eu não mereço tudo isso, mas será que ele merece? Sinceramente não sei mais de nada, apenas que estou só. Fecho os olhos e vejo nós dois no silêncio do mesmo quarto que estou. Agora estou aqui, chorando por algo que se foi e que me descartou como uma carta de baralho, tenho que ser forte, tenho que ter amor próprio, pois se ninguém me dar amor, eu vou me dar esse direito, o direito de ser amada.
Vou pedir ajuda a única pessoa que nunca me deixou, eu mesma. Irei me levantar e ir atrás de mim, pois eu valho a pena, eu sou digna. Ignorei minha solidão que resolveu me atormentar, vendo que resolvi me reerguer, me reergui com a força de quem já enfrentou uma guerra, dei uma última olhada na solidão que antes era minha única companhia e limpei minhas lágrimas, me olhei no espelho e sorri para mim mesma, eu mereço, mereço ganhar essa batalha contra a saudade e solidão.
Resolvi mudar a trilha sonora da minha vida, afinal tudo tem um fim, até a música que me acalmava em meio ao meu desespero. Os soluços do meu choro cederam e deram início a gargalhadas, minhas lágrimas cessaram e deram início a sorrisos, minha solidão cessou e deu início a calmaria, sim, calmaria, pois prefiro andar só do que mal acompanhada, me dei conta de que solidão é ótima amiga para os fracos, e isso eu casei de ser.
A saudade ainda me restou, um sentimento que adormeceu, mas a saudade que levo dentro do coração tem sono leve, é só falar o seu nome que ela já se desperta, mas eu aprendi com ela. Saudade é quase a mesma coisa que a dor, é dolorosa e tocante, ela não se vai, a gente só se acostuma e aprende com ela, e fica forte, para quando ela voltar a gente saber como lidar.

Explodir em suas mãos
Não sei se é bom ou não as pessoas me conhecerem. Mudei muito, acrescentei muito, mas não subtraí, não substitui; estou cheia e prestes a explodir. Quero chorar para ver se alivia, mas nada mais sai do meu corpo a não ser decepções que causo para os que me encheram de expectativas.
Eu realmente vou explodir, e ao mesmo tempo em que temo isso, eu almejo. Quero esvaziar meu corpo de algum jeito, mas não sei como. E enquanto eu penso em um jeito, mais coisas entram em meu corpo calejado, mais mágoas e raiva. E às vezes queria que as pessoas pudessem me ver como estou, não fisicamente, mas internamente. Cheia, um perigo a mim mesma e aos outros.
Não toque em mim! Posso explodir em suas mãos! Tento alertar, mas minha voz não sai. Se as pessoas me conhecessem, poderiam ver que sou um perigo. Estou mudando, mas não substituindo minhas características e defeitos por outros. Fui errada, sou errada; então não me toque, posso explodir em suas mãos.

Venda em meu rosto
Às vezes me pergunto se realmente quero que alguém me entenda. Às vezes me pergunto o que eu quero que eles entendam. Às vezes me pergunto o que eu quero, e para que eu estou vivendo. Qual o motivo de tudo isso? Qual o motivo dessa sensação ruim que insiste em me cutucar? A quem eu quero enganar? Eu que fico remoendo! Revendo. Rebobinando a fita só para sofrer, sentir algo forte, e acabo transformando esse sentimento o motivo para eu continuar vivendo, continuar chorando, continuar sofrendo.
Eu não vivo progredindo, eu vivo regredindo; enquanto uns andam para frente mesmo chorando, eu ando para trás mesmo sorrindo. E por quê? Por que eu sofri? Porque eu quero sofrer! Porque a felicidade é uma tristeza, e a verdade é uma mentira. Eu estou fazendo do meu passado meu futuro, estou andando em círculos procurando um lugar para andar reto. Mas qual é a graça de uma linha reta? Trago meu passado como um cigarro e viro meu amor como um shot de tequila, e agora ando em linha reta, e eu faço de meu futuro traçado um futuro incerto.
Estou desrespeitando a mim mesma e a minha consciência; desculpem-me meus pais... E só quero viver o presente sem felicidade nem tristeza, sem verdade nem mentira, porque quem faz essas coisas somos nós mesmos, e quem faz meu novo passado é meu velho futuro. Abaixo minhas máscaras e assumo que meu lugar é lugar nenhum, assumo meu deslocamento e abandono minha estrada bem feita e pulo na corda bamba, porque quem faz minha queda sou eu mesma, quem faz meu buraco sou eu mesma, então decido colocar uma venda em meus olhos, e percebo que eu nunca enxerguei melhor antes.

Fim



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