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Apocalipse 2: Bloodlines






Capítulo 1


Três semanas após Lúcifer ser libertado, o mundo estava um caos. Não somente graças ao rei do mundo inferior, mas também devido a presença dos quatros cavaleiros do apocalipse: Fome, Peste, Guerra e a temida Morte. Os cavaleiros são reféns de Lúcifer, fazem o que ele pede, mas no fundo, contra suas vontades. Os cavaleiros são egoístas e maldosos e para eles, tanto faz se o mundo vai acabar ou não.
Fome, no momento, vaga de cidade em cidade montado em um cavalo malhado e magro, com uma feição assustadora. O animal aparenta ser fraco e esquelético, porém, é o mais rápido de todos os cavaleiros. Fome está na África e por enquanto já fez mais de vinte mil vítimas. Os jornais mostram um comportamento exagerado das pessoas nos supermercados, antes quem saía dali com um carrinho de compra, agora sai com cinco. As prateleiras ficam vazias a todo momento.
- O que explica essa compra exagerada da população? – perguntou o repórter em frente a um supermercado para uma mulher loura de olhos claros, que aparentava ter já seus cinquenta anos.
- Não sei, meus armários estão lotados de comida, mas senti uma vontade de vir às compras. – ela sorriu inocente – Fazer umas comprinhas é muito bom.
Peste também se encontra na África, cavalgando em seu cavalo bege. É um senhor alto de olhos profundos e por onde passa deixa algum vírus para incomodar qualquer um. A ordem era distribuir uma doença que se propagasse rápido, e eis que a doença escolhida foi o Ebola. Talvez o continente africano foi o escolhido pela alta quantidade de pessoas e pela dificuldade delas de resolver os problemas causados pelos cavaleiros. Peste já fez mais de cinco mil vítimas e o mundo está em alerta. Dentro de alguns dias cavalgará para o continente asiático.
- Já são mais de cinco mil vítimas mortas pelo vírus Ebola. Cientista do Canadá desenvolveram uma vacina que já está sendo avaliada pela OMS. Os países estão em atenção para evitar uma epidemia. Os sintomas são dor de cabeça, febre, algo parecido com uma virose ou gripe, mas qualquer suspeita é preciso deixar o paciente em quarentena após os exames – disse o corresponde internacional para o jornal.
Guerra está cavalgado em Paris e acredite, não é para uma viagem romântica nem para conhecer a torre Eiffel. Ele cavalga em um cavalo branco o que até pode ser irônico. Os jornais ao redor do mundo já anunciavam pela manhã um atentado terrorista deixando doze mortos em uma das principais avenidas de Paris. O Oriente Médio está fritando quatro religiões em uma frigideira, a ponto de explodir uma guerra a qualquer hora. A ONU está encurralada devido aos ataques verbais e aos ataques aéreos feitos por alguns países que não querem ficar de bico calado, mas, como não há provas, não tem como punir.
- Um atentado terrorista deixou cento e cinquenta e três crianças mortas em uma escola que é protegida pela ONU. Voltamos logo mais com outras informações – disse a repórter ruiva de cabelos enrolados até a cintura.
Morte... Bem, morte até agora não fez nada. Ou melhor, até agora não matou ninguém. Se ele quiser, pode matar todos com apenas um estalar dos dedos. Este, é um velho senhor com um rosto fino, cabelos grisalhos e é bem perfumado. Usa um sobretudo negro e comprido por cima de seu terno impecável. Seu cavalo é negro e tem os pelos brilhantes. Cada cavaleiro desfruta de uma arma: Fome vaga com um facão afiado, Peste tem em mãos um machado, Guerra desfruta de uma colt e Morte tem uma foice, como todos conhecem.
Lúcifer viu seu exército aumentar devido aos temores de quem antes eram contra ele. A ordem é que, quem é contra Lúcifer, deve morrer. Sua localização pode ser um tanto quanto inusitada, mas é um hotel cinco estrelas no centro de New Orleans. É claro que agora, naquele prédio, há somente anjos e demônios. E é no quarto ao lado de Lúcifer que uma menina chamada foi colocada em sono profundo, podendo ser despertada somente pelo próprio pai. Mal sabe ela o destino e confissões que a aguardam, pobre menina.
- Senhor, Muriel está aqui – anunciou um anjo negro de olhos vermelhos. Lúcifer se levantou do lado do corpo de e, antes de partir, beijou sua testa vagarosamente e ajeitou a coberta sobre o corpo dela. A temperatura estava impressionando a todos com os termômetros marcando quase uma temperatura negativa.
- O que foi? – disse Lúcifer após sair do elevador, no estacionamento do lugar, onde demônios seguravam um anjo ajoelhado no chão – Este é Muriel – zombou o Arcanjo maligno.
- Sim, senhor. Se perguntarmos de uma maneira correta – amolou a espada angelical nos próprios braços – talvez ele possa nos dizer onde está.
- Onde você e seus amiguinhos rebeldes estão se escondendo? – perguntou o Arcanjo, pressionando o pescoço de Muriel de forma que o anjo não pudesse respirar.
- Desista, eu não vou falar – sussurrou com dor Muriel.
- Por mim, tudo bem – e cravou a espada no corpo do homem sem dó nem piedade – levem-no daqui. Eu quero que vocês tragam aquele para mim vivo, eu mesmo quero matar aquele desgraçado.

Após Lúcifer rugir para o mundo, reuniu os poucos que ainda se mantinham fiéis as ordens do céu em algum buraco do Grand Canyon. Ele conseguiu informações na “biblioteca do céu” de como se manter invisível aos olhos de todos os seres sobrenaturais. Assim, ele e sua turma têm conseguido matar ao menos alguns demônios que rondam por ali. A ideia é montar um exército que consiga chegar até Lúcifer e matá-lo antes que seja tarde demais. Recolher informações tem sido o mais difícil, mas eles estão doando suas vidas para conseguir isso.
- está com ele? – interrogou a um demônio com sua espada apontada para ele – Onde eles estão?
- Você é patético e morto – riu, debochando sem medo algum.
- Se você não percebeu, ainda estou vivo e sou patético o suficiente para te matar.
- Não durará muito tempo vivo. Meu mestre já está atrás de você.
- , matamos outro – chegou Naniel, um anjo feminino que tinha seu visual de roqueira moderna, deixando à deriva e aberto para um golpe no meio do queixo. O anjo caiu para trás e o demônio fugiu. A sorte deles é que estavam distantes do esconderijo e o homem de olhos negros não descobriria.
- Droga! – lamentou o acontecimento e sentou em uma pedra afogando a cabeço nas mãos – Eu não sei mais o que fazer. está nas mãos daquele infeliz e o mundo está prestes a acabar. Algum sinal dos cavaleiros?
- Nada ainda, estamos comendo poeira – disse Naniel, guardando sua espada nas costas – vamos?

No Royal Palace as luzes já se apagavam e o Arcanjo andava inquieto de um lado para o outro no quarto da filha.

- Minha criança, eu sei que vai ser difícil para você... – para quem já ouviu falar em Lúcifer, não acreditaria que o mesmo chorava sentado ao lado da cama – Amanhã. Amanhã você acordará e verá o sol nascendo para um mundo perfeito, repleto de criaturas insignificantes – e saiu fechando a janela, por último a porta.

Eu sei que estou viva, mas tudo ao meu redor está escuro e quieto. Se este for meu céu, fiz muita coisa de errada na vida para meu paraíso ser tão repleto de pesadelos. Está tão frio e solitário aqui dentro, é tão ruim que mal consigo explicar. Fico perdida em meu pesadelo, são as mesmas imagens que ficam na minha cabeça, se repetindo sem parar.
- , eu e meu irmão estamos aqui – dizia Jack com uma espada de anjo em sua mão, porém, esta era maior e com um símbolos estranhos.
Eu andava em sua direção e ele me apontava uma porta e, toda vez que eu entrava, dava de cara com um jovem moreno de cabelos cacheados e olhos azuis. Eu nunca entendi quem era aquele rapaz que Jack insistia dizer que era nosso irmão. O mesmo portava a mesma espada que Jack tinha em mãos, talvez um pouco mais escura. Eu o chamava, mas ele não me ouvia, porém, desta vez ele fez um gesto inusitado: apontou em direção a uma janela e esta me sugou com um jato de luz enquanto ele sorria.
Senti meu corpo cair, como naqueles sonhos que você despenca do céu e, desta vez, senti meu corpo todo doer.
Eu acordei, levantei no impulso e me vi sentada em uma enorme cama com uma visão da cidade de New Orleans ao amanhecer. Tudo estava lindo, o sol iluminava o lugar com um tom laranja que até me alegrou, fazendo-me esquecer do que houvera ocorrido antes.
Será que estava tudo bem? Talvez tenha matada Lúcifer, pois o mundo continua lindo e as buzinas continuam irritantes.
A porta se abriu devagar e sorri inocente ao lembrar dos sorrisos de com aquele olhar que não desgrudava da minha boca, mas tudo se esvaziou dentro de mim quando lembrei que estava morto, Azazel o matou. A porta abriu mais um pouco, lentamente, na frente despontou uma bandeja prateada e, por fim, o vi com um sorriso estranho na face.



Capítulo 2


Aquilo era demais para mim, o que aquele homem das minhas visões estava fazendo no meu quarto? Por que ele sorria tanto? Por que ele trouxe café da manhã em uma bandeja prateada? Levantei da cama em um pulo, só agarrando o abajur com a mão direita e indo para o outro lado da cama.
- Fique longe de mim ou eu arremesso isso em você – ameacei sem ter para onde fugir. Ele sorriu inocente e sentou na cama colocando a bandeja sobre a mesma.
- você não sabe quem eu sou, sabe?
- Não sei e nem quero saber. – ameacei novamente, mostrando o objeto – Onde eu estou? Quem me trouxe aqui?
- Primeiro, senta aqui e eu juro que não te farei mal, nunca – ele bateu a mão sobre a cama e me sentei cautelosa, mantendo uma distância considerável dele – eu sou Lúcifer.
Um desespero bateu dentro de mim, levantei pulando por cima de tudo e mirei a porta, que acabou se fechando na minha cara. Vi que do lado direito tinha um banheiro e me tranquei dentro do mesmo.
– Calma, . Eu vou te explicar com calma – ele disse, abrindo a porta que tinha trancado naquele exato momento.
Escapei dele por debaixo dos braços e fui até a janela que dava para um varanda naquela altura toda. Pular ou não pular, eis a questão. Ele se aproximou novamente, me encurralando. Sabe, quando o capeta está muito próximo a você, há boatos que todos as suas ideias de fuga sumam da sua cabeça.
- Afaste-se de mim – fui tentando chegar o mais longe possível dele, mas ele aproximava como se quisesse uma conversa amistosa. Não, não comigo, satã. Apalpei a grade atrás de mim, já passando uma perna para o lado de fora. Uau, aquilo era tão alto, talvez meus miolos voassem a vinte metros com o impacto no chão.
- Tão previsível – Lúcifer disse, vendo eu soltar minhas mãos e começar a queda livre. Como se ele quisesse fazer daquilo um show, bateu palmas duas vezes e vi meu corpo se projetar para cima da cama novamente. Eu estava tão ofegante e provavelmente toda a melanina do corpo resolveu tirar férias – Isso vai ser difícil para você, meu amor, mas você um dia entenderá.
- Meça suas palavras para falar comigo – apontei o dedo na cara do homem que se sentava ao meu lado. Até que eu estava sendo abusada demais desafiando alguém que poderia me matar com um piscar de olhos.
Ameacei me levantar, mas ele me segurou com sua mão. Senti um arrepio percorrer meu corpo e, não sei que macumba foi aquela, mas não consegui mexer um músculo sequer.
- Eu me sinto tão bem perto de você – ele sorriu tão doce – e preciso que escute o que eu tenho para te falar.
- Senhor capeta, – referi ironicamente – eu não sei se você sabe, mas já em anjos demais apaixonados por mim, ok? – dei de ombros e o vi sorrindo de orelha a orelha.
- Só para constar, sou um Arcanjo, e o meu amor por você é explicado por você ser minha filha – disse, prendendo um fio atrás da minha orelha e acariciando meu rosto em seguida. Eu não podia me mexer, senão já teria socado a mão na cara dele. Que brincadeira é essa agora?
- Olha, com família não se brinca. Se você quiser algo de mim, fala logo para acabar com essa palhaçada.
- Não estou brincando – ele ficou sério – Você é minha filha e a obra mais inusitada e perfeita do universo. Você é metade arcanjo e metade demônio, um equilíbrio perfeito que se anula na sua humanidade.
- Isso não pode ser verdade – eu já sentia uma dor no peito e vi que aquilo talvez pudesse ser verdade. E, caramba, como a verdade dói! – e como posso saber que você não está mentindo?
- Por que eu ressuscitaria você, traria para o meu quarto se não te amasse tanto assim? - explicou como se fosse óbvio – Eu quero o melhor para você, minha pequena. - Não me chame assim, meu nome é , – rebati e senti meu corpo sair sob o efeito da paralisia. Ele continua rindo de cada palavra que eu dava – Eu quero ir embora daqui.
- Não – ele disse seco e até um pouco bravo – nós vamos nos dar bem, minha querida.
- Eu não quero ficar perto de você – disse sentindo a tristeza invadir o corpo do homem em minha frente – e não adianta fazer essa cara de coitado, você de inocente não tem nada. Como quer que eu goste de você se quer destruir o planeta.
- Já me aceitou como pai, isso é um bom sinal – ele disse, ouvindo um “nunca” escapar da minha boca – Eu não vou destruir o planeta, é a obra mais perfeita de todo o universo. Se ao menos você entendesse meu lado, minha querida.
- Eu não quero ouvir mais uma palavra vinda de você – tranquei-me no banheiro ao lado enquanto molhava minha nuca.
Aquilo era demais para mim e, como se não bastasse, lágrimas começaram a cair dos meus olhos ao me lembrar de . Eu queria correr para os braços dele e lá me sentiria tão segura.
Saí batendo a porta, dando as costas para o homem sentado em minha cama, e procurei pelo elevador, apertei o botão para ir logo para o térreo e dar o fora dali. Lúcifer parecia não querer me dar paz, essa palavra nem tem uma ligação com ele.
Lúcifer apareceu ao meu lado como um fantasma e levei um susto que me vi obrigada a gritar.
- Minha pobre criança, sei que está sendo difícil para você e vou fazer isso para você ficar melhor – tocou minha testa com dois dedos e desmaiei em seu colo.
Como uma noiva, ele me carregou em seus braços novamente até o quarto e me esticou na cama. Acordei, provavelmente, no outro dia, não tinha meu celular em mãos para verificar data e hora. O quarto estava vazio e vi ali uma chance de fugir. Mas para onde? Eu tinha que achar Jack, urgentemente.
Girei a maçaneta luxuosa devagar, rezando para estar sozinha naquela cidade, ou melhor, que a cidade estivesse vazia de pessoas ruins e lotada de pessoas boas, era isso o que eu precisava. Enfiei meu olho esquerdo pelo vão e corri frustrada até a cama novamente, já que o Arcanjo agora fechava a porta atrás de si.
- Creio que esteja com fome, vim te buscar para um café da manhã – sorri porque achei aquilo realmente o cúmulo da babaquice.
- Estou sem fome – já debati e me enfiei debaixo da coberta que, em seguida, foi arrancada, como naqueles típicos filmes que os pais vão acordar os filhos preguiçosos parar irem na escola – Que saco, me deixa!
- Como você pode me odiar tanto se eu não te fiz nada de mal?
- Fez sim.
- O que eu fiz?
- Por sua causa pessoas que eu amo morreram.
- É isso que você quer?
- Eu não quero nada vindo de você.
- É aquele ? Eu posso d... – o interrompi em seguida, mostrando os dentes.
- Não ouse tocar no nome dele!
- Então, já que a birra acabou, vamos comigo tomar café? Antes que me odeie ainda mais, precisamos conversar, não há motivo para esse ódio todo.
- Com quem eu falo para considerar o dia de hoje o dia da ironia mundial? É sério, quero um feriado para essa data – dei as costas para ele.
Eu tentava não demonstrar, mas minhas pernas tremiam de medo. Cheguei até a duvidar do que ele tinha dito anteriormente, mas por qual outro motivo Lúcifer me trataria daquele jeito? Não tinha outra explicação.
Fui surpreendida quando ele me segurou pela mão e começou a me arrastar para o elevador. Permaneci calada, porém não facilitaria o caminho para aquele... homem. Fiz corpo mole e ele pareceu não se importar, pois realmente não precisava fazer esforço algum para me levar. Sentei ao lado dele com uma mesa repleta de comida e nem movi um braço, vendo ele me encarar enquanto segurava uma faca e a passava no meio do pão.
- Não vai comer? Está delicioso – ele disse de boca cheia enquanto enchia um copo com leite.
- Pensei que Lúcifer não precisasse comer – esnobei virando os olhos para qualquer coisa que pudesse me distrair.
- E eu não preciso, – enfiou outro pedaço de bolo na boca – mas comer é bom demais – ele me encarou – Você coopera comigo e eu coopero com você, coma um pouco.
Eu estava com fome, até demais para a ocasião que deveria me deixar sem fome. Ainda tímida com a presença dele, ergui a faca e ele nem deu bola, eu tinha uma arma em mão e ele nem ficou preocupado, mesmo sabendo que aquilo não o mataria, eu poderia machucá-lo. Cortei um pedaço de bolo e aquilo era incrível, que sabor bom. O homem sorriu pelo meu comportamento e, ao tentar acariciar minha mão em sinal de satisfação e carinho, dei-lhe um tapa ardido, fazendo-o franzir o cenho.
– Na minha época, , os filhos não batiam nos pais – ele disse como se aquilo o tivesse ofendido e, sinceramente, eu não ligava. Senti até um orgulho de mim por poder deixar Lúcifer triste.
Affz , você precisa melhorar a lista das pessoas com quem você toma café da manhã, pensei, tentando ignorar a cara que ele me olhava. Ele levantou da mesa tacando o guardanapo sobre esta e chamou um demônio que estava próximo ao local.
- Chame Guerra, agora – o demônio saiu deixando-nos a sós e Lúcifer sentou em um sofá próximo dali. Após comer, levantei da mesa passando por ele e chamei sua atenção ao me aproximar da porta.
- Fica tranquilo, não vou sair correndo daqui – já me adiantei para não irritá-lo mais ainda.
- Quer ouvir um pouco da sua história? – ele disse, atraindo minha curiosidade, e me sentei ao seu lado naquele sofá claro - Minha filha, eu criei você para me libertar e você cumpriu com o seu papel. Você pode não se lembrar, mas já morreu algumas vezes e eu te trouxe de volta.
- Eu quero deixar bem claro que sou totalmente contra o Apocalipse e esse seu plano maligno.
- Eu sei – ele disse, virando-se para a porta giratória que anunciava a chegada de alguém – Minha filha, conheça Guerra.
Um homem vestindo um terno preto e uma gravata vermelha entrou sorrindo abertamente e cumprimentou-me com um beijo nas costas da minha mão.
- Mais trabalho para eu me divertir? - sentou-se à nossa frente e fiz menção de sair, sendo evitada de cumprir o movimento pelas mãos de Lúcifer.
- Um serviço simples, humanos são tão patéticos que são mais destruidores quando a guerra é somente dessa espécie – zombou, fazendo o cavaleiro na sua frente rir.
- Guerra, prazer – levantei indo até ele, segurei sua mão bem firme enquanto balançava – Eu vou achar um jeito de te matar e, quando achar, vai ser da forma mais dolorosa possível – voltei ao sofá vendo os dois sorrindo, sendo que um destes esbanjava o orgulho no olhar. Fiquei até com medo de que minha morte chegasse.
- Igualzinha ao pai – afirmou para puxar o saco de Lúcifer.
- Nunca mais repita isso – dei-lhe um tapa na cara que fez com que as risadas e os ânimos no lugar fossem para o ralo.
Guerra esfregou a face atingida e me encarou sem pudor. Ele levantou e começou a andar em minha direção enquanto meus pés davam para trás, e assim seguimos, até que minhas costas se chocaram contra uma parede, que para mim estava gelada demais. Sua mão direita grudou com força no meu pescoço e ali começou uma longa subida, tirando meus pés do chão. Comecei a engasgar por causa da falta de ar e meus olhos estavam começando a lacrimejar, quando o único homem que estava sentado resolveu se aproximar.
- Sim, é igual a mim, agora solte ela – disse com a face mais séria que poderia ter, enquanto apoiava os dois braços na cintura – , suba para seu quarto.
Como eu não queria ficar ali, dirigi-me para o elevador, apertando qualquer botão. Que droga, eu preciso arrumar um jeito de fugir, procurar por , se ele ainda estiver vivo, e arrumar um jeito de matar o meu, o.... Lúcifer.

Nas estradas próximas ao Grand Canyon, 11 am

-Naniel, eu preciso ir atrás dela – reclamava enquanto limpava o sangue de sua espada.
- Isso é tolice, você viu com os próprios olhos que ela estava morta – retrucou impaciente enquanto arrastava o corpo de um anjo para fora da estrada.
- Ela não está morta – socou o capô do carro, deixando um estrago ali – Ela está nas garras de Lúcifer e é meu dever ajudá-la.
- Você não pode nos abandonar, – berrou, deixando o anjo ainda mais estressado – Vamos voltar, você precisa relaxar um pouco.
Os dois entraram no carro, deixando uma pilha de corpos mortos para trás.


Capítulo 3


Se eu quisesse sair dali logo, era melhor começar a agir. A TV do quarto estava ligada no noticiário e os repórteres noticiavam a tensão no mundo. Líderes mundiais acusando uns aos outros enquanto a Austrália sofria com o avanço inexplicável do mar, onde as ondas invadiram mais de duzentas cidades, alagando e destruindo. Desliguei por medo de realmente conhecer o motivo de tudo aquilo estar acontecendo.
Ao menos aquele idiota teve a competência de roubas minhas roupas e trazer para meu quarto.
Pulei da cama tentando imaginar como estariam Jack, e Ed. Aproximar deles só traria riscos as suas vidas. Assim que vesti uma roupa qualquer, espiei pela fresta da porta e vi que não tinha ninguém ali. Passo por passo fui andando e meu objetivo era encontrar um anjo, talvez até um demônio que portasse uma espada angelical.
-Hey, mocinha, aonde pensa que vai? – paralisei, virando para trás e dando de frente um homem de olhos azuis e com a barba mal feita. Sexy.
- Você sabia que eu preciso me alimentar? – cruzei o braço na altura do peito – Peça desculpas ou vou falar para meu pai que você estava me incomodando.
- M-me desculpe – gaguejou, suplicando perdão – Eu não queria te incomodar.
- Você tem uma espada angelical? – fui andando na direção dele e vi o homem ficar intimado com minha presença ali – responde.
- Tenho sim, senhorita – engoliu em seco – Por que quer saber?
- Meu pai disse que eu precisava de uma e mandou eu pegar com qualquer um.
- Pode ficar com a minha – ele disse, tirando o objeto de dentro do casaco – mais alguma coisa?
- Sim, – vi que meu plano estava dando certo e queria continuar – estou com fome, vá pegar algo bem gostoso para mim, tem apenas cinco minutos para estar de volta.
Voltei dando risada para dentro do quarto, não acreditando no que fiz. Agora era preciso achar algum lugar seguro para guardar aquilo e usar somente na hora certa. Debaixo do colchão.
Sentei na cama vendo que o homem trazia uma bandeja repleta de comida para mim.
- Obrigada. Qual seu nome? – enfie uma colherada na boca do que sei lá o que era aquilo.
-Antony, senhora – gaguejou com medo.
- Vou te chamar de Tony, ok? Quero que você faça tudo o que eu mandar. E não me chame de senhora ou senhorita novamente, é , é meu nome.
- Claro, como a senh... como você quiser, . Posso lhe ajudar com mais alguma coisa?
-Você é um demônio?
- Na verdade, não. Sou um anjo.
- Sério? Diferente, eu só conheci um anjo que não tinha a terminação EL no nome – sorri bobamente ao me lembrar dele – , conheceu ele?
- Quem nunca ouviu falar? Ele era um anjo bom e do nada se rebelou contra o céu.
- E por que você se rebelou Tony? – Vi o semblante dele mostrar a tristeza.
- Você sabe, era escolher esse lado ou morrer, como todos estão morrendo agora.
- Bom menino – lamentei por estar falando essas palavras – Agora está dispensado – o anjo saiu, fechando a porta atrás de si.
Enfie-me debaixo da coberta com a televisão ligada para ver se bolava mais alguma coisa útil para me tirar dali.
O sono estava difícil de chegar, mas, para fugir dali amanhã, era preciso estar forte e preparada. Bom, acho que ninguém está preparado para dar o olé no capeta, mas vou dar o máximo de mim.
A madrugada havia chegado e o vento havia ficado mais gelado. Puxei o cobertor para mais próximo ao meu corpo e senti uma sensação estranha de calafrio e medo. Quando virei a cabeça para o lado e fechei os olhos novamente, tive a impressão de estar caindo e caí dentro daquele pesadelo novamente.
- ), acorda, ) – Jack abria a janela na nossa casa de New Orleans e me vi com dez anos novamente – Olha o sol, olha o sol, ) – ele dizia rápido enquanto tentava me levantar, mesmo eu estando em estado zumbi.
- O que você quer, Jack? – esperneei irritada com ânimo dele já pela manhã.
- O sol – ele chamou a atenção para uma porta, a qual não reconheci. A porta do meu quarto era branca e esta que Jack me mostrava era de uma madeira cara e tinha um sol esculpido no centro – o sol, – ele insistia.

- Ahhh – berrei, acordando assustada e suada. Lúcifer estava ali.
- O que foi? – ele me abraçou e eu, involuntariamente, o abracei de volta por causa do susto – Calma, vai ficar tudo bem.
- Um pesadelo, só isso – dei por mim e o empurrei para que ele se afastasse.
- Que pesadelo? O que aconteceu?
- Agora não me lembro – menti porque envolvia Jack e eu não queria meu irmão nessa confusão.
- Precisamos tomar cuidado, porque anjos conseguem entrar em sonhos, sabia? – ele sorriu orgulhoso – E isso não é bom. Temo que seja seu amiguinho, .
- ? Onde ele está? Não mate ele ou eu – eu não sabia o que fazer para ameaçá-lo, por sorte ele me interrompeu.
- Um demônio fugiu dele e me informou que ele e um pequeno exército de anjos estão próximos ao Grand Canyon. Ele está conspirando contra mim e eu não ligo. Ele não tem força o suficiente para me matar, apenas deixarei ele vir até mim e o esmagarei como uma mosca.
- Não faça isso, por favor – implorei. Perder mais alguém que eu gostava era demais.
Fiquei ali no quarto sozinha e chorei. Chorei por ver como tudo havia mudado, como todas as pessoas que ficam perto de mim morrem, pelo rumo que o mundo estava trilhando e, principalmente, por sentir a falta dele. Eu queria ele de novo esquentando meu corpo, beijando minha boca ou até talvez me trazendo prazer, como fizemos antes daquele dia horrível. Eu sinto a falta dele e o que eu mais queria agora era poder morrer, acabar tudo, mas isso se tornou uma tarefa impossível, já que todos os anjos me trazem de volta. Agora, vou vingar sua morta , vou fazer isso por você e, no fim, esse mundo ainda vai continuar repleto de humanos, mesmo que egoístas, mas não merecem morrer.

Esconderijo no Grand Canyon

- , eu já disse que você não pode nos deixar – Naniel brigava novamente com o anjo teimoso.
- Eu vou e ninguém vai me impedir – reuniu todos em um espaço mais amplo do lugar para anunciar sua decisão, enquanto a mulher ainda gritava coisas na sua orelha que ele não estava dando a mínima – Queridos irmãos, hoje partirei para descobrir onde está. Naniel ficará no meu lugar e liderará vocês com garra e coragem. Agradeço a todos pela confiança depositada em mim, mas o destino me chama.
Os anjos ali presentes não podiam acreditar que seu grande líder os deixaria. As coisas já não estavam fáceis com ele ali, imagina sem ele.
- Então eu vou com você – afirmou Naniel decidida – você ir sozinho é praticamente suicídio.
- Não, você precisa ficar para liderá-los.
- Lexiel, você é o novo líder deles – ela mesmo o nomeou – Eu e vamos dar um jeito naquele Arcanjo revoltado – fez menção de interrompê-la – Sem nenhuma desculpa, , você só vai se eu foi junto ou te tranco em um lugar bem resistente.
Os anjos ali presentes lamentaram a partida dos dois, vendo-os partir dentro de um carro preto com suas espadas e coragem.

Royal Palace, 2 pm

- Tony, onde meu pai está? – já estava ficando irritada por me dirigir àquele mostro como meu pai, mas era preciso se eu realmente quisesse fugir.
- Ele saiu há algumas horas.
- Você sabe onde ele foi?
- Não.
- Nossa, Tony, você é um inútil! – tentei ofender o homem – da próxima vez informe-se melhor.
Era essa a hora de agir. Já trocada, com uma jaqueta grossa e com a espada por debaixo dela, desci pelo elevador até a portaria. Tony veio encher meu saco, perguntando onde eu ia, mas, novamente, fui autoritária para que o plano desse certo. Comecei a andar em direção à porta principal enquanto muitos olhos me perseguiam. Quando os seguranças me abordaram, provavelmente demônios, enfiei a mão por dentro do casaco e segurei a espada. Já estava pronta para atacá-los e fugir dali.
- Filha, aonde você vai? – soltei a espada e virei para trás.
- Você sabia que é chato ficar dentro de um apartamento sozinha? – fiz cara de chateada para tentar convencer o homem – não tem nada para fazer aqui, que saco!
- Desculpa por não estar te dando a atenção que merece, meu amor – ele me abraçou dele lado – Que tal darmos uma volta por aí?
- Tudo bem – concordei, pensando que essa seria uma chance de fugir. Como Lúcifer estava abraçado à mim, tomei o susto tarde demais. Senti meu corpo sofrer um impacto e, quando olhei a nossa volta, estávamos no topo de uma montanha que dava vista para um enorme rio – Como viemos parar aqui?
- Eu sou um arcanjo, minha filha. Gostou do lugar?
- Amei, é muito lindo aqui – falei, gaguejando por causo do vento frio. Um casaco foi colocado nas minhas costas e o homem ao meu lado sorria de uma forma tão inocente que eu até sentia pena dele – Obrigada.
Ele parecia estar sendo tão legal comigo, carinhoso e podemos até dizer que ele me amava. Às vezes quando ele me olhava sorrindo eu não sentia medo, eu me senti bem, perdi tantas pessoas em minha vida que quando uma chega é mais que bem-vinda. Mas, por favor, , não Lúcifer.
- Está vendo essa cidade que está em volta do rio até sumir no horizonte? – encarei para onde o dedo dele apontava – Eles precisam dessa água para sobreviver. Vamos nos divertir um pouco.
O chão abaixo de mim começou a tremer e eu o encarei assustada. Lúcifer apenas sorria e parecia concentrado no que fazia. Quando dei por mim, uma rachadura que devia ter mais de cem metros de espessura se abriu no meio do rio, fazendo com que toda a água sumisse em questão de segundos. A rachadura começou a ficar maior, do centro dela a cor vermelha cintilava o calor e, cada vez mais, o buraco se aproximava das aera urbana.
- Pare! Você vai matar aquelas pessoas.
- Esse é meu intuito – sorriu de novo, ignorando meu desespero por completo.
Era tarde demais, o buraco estava enorme e as casas começaram a ser engolidas rapidamente. Um vento forte chegou e eu mal conseguia me equilibrar.
- Eu quero ir embora – supliquei para que ele pudesse parar com aquilo. O tanto de pessoas inocentes que morreram e eu não pude fazer nada. - Pare, Lúcifer – a voz grossa gritou atrás de nós, com dificuldade de ser ouvida por causa do vento – Já chega.
- Michel, que surpresa! Você por aqui? – Lúcifer sorriu, tomando a minha frente para me proteger.
- Não deixarei que mate mais inocentes – gritou o homem com um cabelo liso e escuro que balançava com a ventania.
- Ou? – deu de réplica.
- Ou terei que matar você e sua filha.
- Olha, na hora que você citou me matar, eu até que poderia relevar, mas, a partir do momento que você ameaçou minha filha, as coisas desandaram. Vou te fazer sofrer.
Tentei me afastar o máximo que pude, mas não tinha muito espaço disponível ali. Lúcifer poderia matar Michel estalando os dedos, porém, queria ver o anjo sofrer. Atingiu dois socos, deixando o anjo no chão, que mal conseguiu acertar o Arcanjo.
- Está gostando? – ironizou enquanto o anjo gritava de dor e em seguida ouviu-se um estalo após Lúcifer girar o braço do homem sem dó nem piedade – Promete que nunca mais ousará falar sobre minha filha? – pisou sobre as partes íntimas do anjo que gritava de dor e depois chutou-lhe a costela, podendo ser ouvido outro barulho de ossos quebrando. O rosto do homem sangrava e um de seus olhos foi danificado quando Lúcifer enfiou o dedo indicador no mesmo, fazendo o sangrar e agonizar de dor.
- Eu p-prometo – o anjo se debateu com tanta dor – nunca mais.
- É claro que promete, você não estará vivo para isso – Lúcifer pegou sua espada, que era um tanto quanto diferente, e enfiou no corpo do anjo que expeliu um jato de luz e queimou em seguida.
Aproveitei o momento em que Lúcifer tinha as duas mãos presas na espada para poder agir. Me aproximei sem fazer barulho e, quando cheguei perto o suficiente, dirigi o objeto para as costas dele que o atingiu fazendo-o gritar e virar-se para mim. Quando vi que a única coisa que aconteceu foi ele levar as mãos até as costas, reclamando, tentei correr. Mais uma vez em vão. Lúcifer me abraçou com tanta força que fiquei imobilizada em seus braços. Ele aproximou a boca do meu ouvido e eu comecei a chorar. O que eu pensei que estava fazendo? O que me deu ao pensar que poderia matá-lo? Provavelmente ele precisa de uma espada especial, por que nunca pensei nisso antes?
– Minha filha, por que fez isso com seu pai?
- Você não é meu pai nem nunca será – chorei sem encontrar espaço para onde olhar, já que minha cabeça estava afundada em seu peito.
- Isso foi uma coisa que realmente me magoou.
- Desculpa
- O quê? – ele me soltou, surpreso.
- Desculpa, eu não sei ...- não encontrei palavras para falar, por isso fiquei em silêncio, esperando que ele me matasse logo.
- Calma, meu amor – ele me abraçou de novo, beijando meu rosto no mínimo umas dez vezes – Eu entendo o que você está passando. Só nunca mais repita isso, por favor. Agora vamos voltar para casa porque aqui está muito frio para você.
Novamente, aquela sensação estranha tomou conta do meu corpo e, quando vi, estava no meu quarto sozinha vendo que os jornais já reportavam a tragédia feita por Lúcifer. Meu estômago embrulhou ao ver as cenas de destruição e o pior de tudo é que, por uma pequena parte, eu tinha feito parte daquilo.
A imagem de Michel sendo morto por Lúcifer, de uma maneira bem cruel, me jogou na realidade e enriqueceu meu coração para que eu pudesse parar de paranoia e entender que aquele maldito homem, que se diz meu pai, tem que morrer o mais rápido possível e, se eu ficar aqui dentro feito uma Rapunzel esperando por um príncipe que está morto, o mundo estará perdido.
Esperei um bom tempo passar impacientemente, deitada sobre a cama. Desliguei a televisão, já cansada de ouvir tantas tragédias. Fiquei curiosa quando um vento forte entrou pelo meu quarto jogando as cortinas em várias direções. Corri até a janela após acender a luz do quarto, tudo ficou tão escuro de repente. Dei um nó no tecido, para que este pudesse parar de se debater, e em seguida movi os vidros para o lado para que eu pudesse passar e caminhar até a varanda. A cena que presenciei em seguida foi uma das piores já vistas na minha vida, um tornado gigantesco ameaçava tocar o chão, o céu estava negro e algumas pedras de granizo começavam a fazer barulho por onde tocavam. Um raio forte cortou o céu por inteiro me assustando, foi quando corri para procurar por Antony.
- Onde está meu pai – senti uma repulsa por chama-lo daquele jeito.
- Acredito que ele esteja causando isso, portanto, deve estar lá no olho do tornado.
- Obrigada, é que ele pediu para eu o encontrar lá na cidade e não me falou o lugar – sorri, tentando dar o melhor de mim para enganar Tony – Acho que as vezes ele se esquece que eu não tenho esses poderes de anjo – vi o anjo na minha frente gargalhar e dei as costas.
Coitado, Tony deve ter se aliado a Lúcifer com medo de morrer.
Assim que estava com uma mochila nas costas e a espada escondida debaixo do casaco, desci até o andar do térreo para sair, mas a quantidade de seguranças havia aumentado, droga! Vi-me encurralada, olhado em todas as direções, até bater os olhos em uma porta com o desenho de um sol. Caramba! Era a porta do meu sonho que o Jack tanto falava.
Esperei duas mulheres morenas passarem e fui abaixada até a porta. Assim que abri dei de cara com uma cozinha e apenas um homem de avental branco estava lá. Por ser a cozinha do restaurante, tinha que ter uma porta que levasse até o lado de fora. Iria me odiar eternamente por não ter pensado nisso antes. O homem começou a me encarar de modo estranho e se aproximou.
- Oi, o Anthony está te chamando lá em cima.
- Mentira, você está tentado fugir – ele abriu a boca e ia começar a denunciar para todos do hotel que eu estava tentando fugir.
Ok , faça tudo como te ensinou. Tirei a espada de dentro do casaco e parti para cima do homem, que agarrou meus dois pulsos com destreza. Ficamos ali medindo forças e era óbvio que ele estava ganhando por seu porte grande, foi quando me lembrei do que tinha ensinado e, após uma cotovelado no meio da cara e um chute nos países baixos dele, enfiei a espada no meio do seu peito. O homem não teve muito tempo para gritar e o sangue escorreu pela minha mão. Peguei um pano de prato e me limpei com um ânsia me invadindo.
Guardei o corpo do homem na dispensa e finalmente vi o lado de fora do prédio, que é claro, estava cercado por no mínimo dez seguranças-anjos-demônios. Eles olharam para mim confusos e cinco deles vinham em minha direção rapidamente, apontei a minha espada para cada um deles. Era óbvio que eles não tinham ordem para me matar, mas nada os impedia de me capturar e me jogarem novamente na torre da Rapunzel.
De repente, a porta da qual eu saí se abriu atrás de mim e um anjo, que eu anteriormente achava bobo, apareceu com uma outra espada em punhos e saiu atacando todos ali presente, deixando apenas eu e ele vivos. Os corpos ficaram no chão e eu o encarei assustada, pensando qual seria a próxima reação dele.
- Tony, eu... – eu estava com medo, não era a melhor hora para bolar a melhor desculpa possível.
- Eu sei, , agora corre, rápido. Eu dou um jeito nesses corpos – ele veio até mim e me abraçou – Você é a nossa única esperança.
- Obrigada – sorri sem graça por ele estar depositando a esperança em mim – Você tem alguma ideia de para onde eu possa ir?
- Você já sabe por quem procurar. . – ele me entregou a chave de um carro – Falaram que ele e sua equipe estavam próximos ao Grand Canyon. Siga à direita, tem um carro preto estacionado em frente à loja de discos. Vá!
Sai correndo em dispara e, pelo barulho estranho, o tornado tinha tocado o chão. Engoli meu cabelo várias vezes e fiquei com raiva por não ter um elástico em mãos. Destravei o carro e me sentei, encarando o painel sem saber o que fazer. Dirigir um carro não deve ser tão difícil assim. Eu não sei se aquilo ajudaria, mas o carro era automático. Por que carro não têm manual de instrução?
Após uns cinco minutos, consegui ligar o carro e pisei no acelerador, seguindo pelas ruas com as mãos tremendo, com medo de atropelar alguém. Como eu conhecia a cidade, me dirigi até a saída da mesma, vendo que o tornado ficava para trás e as pedras batiam forte contra o para brisa. Só espero que o carro não seja roubado e que a polícia não me pare.
Puta merda, pensei quando digitei o destino no GPS, o Grand Canyon é muito longe, terei que dirigir dia e noite sem parar. Estou sem dinheiro, sem comida e sem noção, provavelmente eu me perderia várias vezes, por isso precisaria olhar as placas com atenção.
Se em Dallas eu pegasse o caminho para Albuquerque, reduziria a viagem para 23 horas. Já faziam quatro horas que eu dirigia sem parar e vi que o carro precisava de combustível. Estava rezando para que um posto aparecesse logo e, após passar por um campo com milhares de gados mortos, achei um pequeno posta na beira da estrada. Estacionei em frente a bomba e entrei para ver se encontrava alguém ali para explicar minha situação.
Chegando dentro da parte de conveniências, senti um cheiro tão forte que tive que levar a camisa até o nariz e meu estômago embrulhou. Dois corpos estava mortos no chão, já em estado de decomposição, e percebi que tinha que sair logo dali. Peguei uma sacola no balcão e joguei ali dentro bolachas, salgadinho, água e tudo o que coubesse, dei a volta no balcão para abrir a gaveta de dinheiro e furtei dali uns quinhentos reais, nunca pensai que furtaria alguém na minha vida, que vergonha.
Voltei até o carro e enchi o tanque, dando partida logo em seguida. O GPS indicou o caminho e eu dirigia sem parar, mas dentro do limite de velocidade, não queria ser presa e queria continuar viva. Como ainda não me sentia segura ao dirigi, parei uns dez minutos para comer e beber alguma coisa. Estava tudo tão estranho por onde eu passava, a vegetação estava seca e muitos animais estavam mortos. Uma família passou por mim cantado animados, coitados, mal sabem que isto é o apocalipse, talvez até seja melhor não saberem e continuarem inocentes.

Na estrada, algumas horas após saírem do Grand Canyon

-Eu ainda acho isso uma loucura, – reclamou Naniel, tentando mudar a estação do rádio, mas nenhuma pegava.
- Não pedi para você vir junto comigo – ele rebateu sem educação e impaciente. No fundo, sabia que era uma missão suicida e que precisaria de mais informações para matar Lúcifer.
- Guarde sua raiva para matar quem entrar no seu caminho quando foi resgatar a sua amada – ela sorriu irônica, encostando a cabeça no vidro do carro – Vamos por onde? Novo México ou Albuquerque?
- Albuquerque, é mais rápido – por fim, desligou a chiadeira do rádio.
- Para onde estamos indo afinal?
- morava em New Orleans, Lúcifer escapou em New Orleans, vamos para lá – disse convicto que encontraria na cidade.

Posto Hyunty, 6 pm

Esquece a parte que eu disse que dirigiria sem parar. Errei o caminho e só agora estou de volta ao lugar certo. Parei no posto para ir ao banheiro e alongar um pouco os músculos. Entrei na parte de conveniências e pedi um café bem forte, sentando-me de frente para o balcão enquanto assistia o noticiário e, pelo visto, as coisas pelo mundo só pioraram. O Brasil enfrenta a maior seca de sua história, na França mais de três milhões de pessoas protestam contra o terrorismo, enquanto a Al-Qaeda se diverte explodindo coisas por aí. O Ebola está fora de controle e o clima está descontrolado.
- Que coisa, parece até o apocalipse – um jovem ruivo de olhos verdes sentou-se ao meu lado, também com uma xícara de café.
- Tem razão, mas você acredita nessas coisas? – Fui surpreendida por uma espada angelical na minha garganta e um golpe de mata leão me imobilizou, deixando-me desequilibrada naquele banco.
- É claro que acredito, graças a você e seu namoradinho isso está acontecendo – ele me deixava cada vez mais sem ar – Você não faz ideia do tanto de anjos que morreram.
- Não foi minha culpa – droga, ele tinha que tocar no e agora toda a saudade e desespero gritou no meu peito, fazendo-me chorar – Nós tentamos, tentou ajudar .
- Agora não importa mais, eu vou te matar, filha de Lúcifer – ele disse, pressionando a espada, e senti o líquido começar a sair do corte.
- Como você sabe?
- Todos sabem.
- Me escuta primeiro – ele pausou, ainda pressionando a espada – Eu estou procurando por , eu quero matar Lúcifer.
- Mentirosa – ele berrou me fazendo temer, ainda mais, sua ira. Eu não podia ficar parada ou seria morta. A espada ainda estava comigo e, assim que a alcancei, espetei o objeto no corpo do homem, rezando para que tivesse atingido um bom lugar, já que eu estava totalmente sem visão – Desgraçada – ele gritou antes de cair morto atrás de mim.
O homem que servia os clientes à minha frente me olhou assustado.
- Calma, você também é um anjo?
- Sim - ele gaguejou com medo – Oh, filha de Lúcifer, tenha piedade de mim! – ajoelhou-se no chão, pedindo misericórdia.
- Calma, não vou te machucar, só matei ele porque ele ia me matar – dei a mão para o homem se levantar – Prazer, sou .
- Prazer, sou Kadriel. Você está procurando por ?
- Sim, estou. Você sabe me dizer onde posso encontrá-lo? – peguei um guardanapo e limpei o sangue na espada enquanto o anjo me olhava assustado.
- Olha, a informação que tive foi que e Naniel partiram em sua busca. Eu aconselho você seguir para o Grand Canyon porque lá estará segura.
- Droga! Tudo bem, Kadriel, muito obrigada. Você dá um jeito no corpo dele? – olhei sem graça por ter matado seu amigo.
- Sim, pode deixar.
- Só mais uma pergunta, Kadriel, você sabe onde posso encontrar Gabriel ou Miguel? – vi o homem começar a rir sem parar – Estou falando sério.
- Se você encontrá-los, manda eles virem aqui que eu pago um café para eles – riu mais uma vez. Dei as costas, lamentando pelo ocorrido e com um pouco mais de esperança por saber que estava me procurando.


Capítulo 4


Já dirigi tanto que minha bunda deve estar quadrada e para ajudar e alegrar meu dia, um caminhão tombou e enquanto uma via está totalmente parada, na outra os carros andam a 5 km/h.
Abri a janela do meu carro para respirar um pouco e aproveitei para devorar um pacote de marshmallows e mesmo assim não tinha saído do lugar. Liguei o rádio e um chiado forte me irritou, apertei o botão para desligar imediatamente. Vasculhei o porta luvas achando um cd do Imagine Dragons. Esse era meu dia de sorte. Coloquei para tocar e encostei a cabeça no vidro rezando para que a polícia não me parasse. Fiquei observando cada carro que passava, um vermelho estranho com uma garotinha de cabelos castanhos enrolados na cadeirinha, um carro branco com um casal de bem com a vida, um outro carro branco com um homem idoso, um carro preto com e uma mulher ao lado. Droga. Dei um pulo tão grande já descendo do carro que quase caí ao tentar sair correndo. Era ele, eu achei dei. Agradeci mentalmente por aquele acidente ter ocorrido e por o trânsito estar lento. Cheguei correndo até o carro e bati no vidro fazendo o carro frear.
- – gritei feliz, como se tivesse achado a galinha dos ovos de ouro.
- , não acredito – ele disse, saindo do carro mais surpreso ainda, e levamos algumas buzinas por estar atrapalhando o transito. me deu um abraço tão forte que me tirou do chão e me fez rodar no ar.
- Romeu e Julieta, temos que sair daqui – intrometeu-se a mulher de dentro do carro, impaciente.
- É verdade, onde você estava? – disse, tentando recuperar o fôlego.
- No caminho eu te explico. Vou pegar minhas coisas no carro – corri em direção ao veículo e peguei minha mochila, retornando em seguida para junto de . Sentei no banco de trás e vi a mulher me encarando pelo retrovisor.
- Essa é – ele tentou me apresentar, mas o interrompi.
- Naniel. Já sei – fiz pouco caso – Prazer Naniel, meu nome é – ela me interrompeu.
- , já sei – ela sorriu irônica – Prazer
Ai que vontade de enforca-la com o cinto de segurança... mas me contive.
- Por favor, , eu preciso que você me fale uma coisa – limpei a lágrima que brotou dos meus olhos – Eu preciso ter certeza porque até agora não pude acreditar. está morto? – droga, que merda de lágrimas que não param. Uma dor tão forte apertou meu peito e um nó na garganta me fez perder o ar.
- , o fez de tudo para impedir Azazel – recusava olhar nos meus olhos – ele não resistiu aos ferimentos.
Aquilo, com certeza, foi pior do que quando recebi a notícia da morte dos meus pais, eu não sei o que está acontecendo comigo, eu só precisava dele perto de mim para ter forças para lutar, mas sem ele aqui vago como um comenta pelo universo, sem rumo.
Enfiei meu rosto no meio das mãos para abafar o choro, mas o soluço pulava tão alto da minha garganta que rapidamente os anjos na frente perceberam. Naniel revirou os olhos em sinal de repúdio, enquanto abriu a porta, veio para o banco de trás e me abraçou, acariciando minha cabeça na tentativa de me acalmar.
– Naniel, vai dirigindo – e ela obedeceu, mudando a posição no carro.
Finalmente saímos daquele congestionamento e eu cochilei enquanto chorava. Provavelmente, tinha me posto para dormir com seus poderes angelicais. Quando acordei, o dia já estava se pondo e os anjos conversavam sobre alguma coisa, fingi ainda estar dormindo para prestar atenção na conversa que tanto deixava incomodado.
- É arriscado demais para ela, não quero vê-la de novo com Lúcifer – ele tentava convencer Naniel.
- Arriscado ou é apenas medo de sentir o gosto da derrota ao ver e juntos novamente?
- Cale-se!
- Vamos ver se ela te perdoará então – sorriu de lado, cantando vitória.
- Vou pensar se posso te perdoar, assim que souber a verdade – levantei-me, saindo dos braços de – Anda, fala logo.
- Ô casal, se forem discutir isso agora me avisem que eu saio do carro. Não estou a fim de ficar ouvindo essas coisas – bufou a que dirigia.
- Naniel, por que não faz um favor para todos nós e morre? – gritei, fingindo bater na cara dela mentalmente. Não fui com a cara dela.
- , ou você cala a boca dessa vadia ou eu mesma calo.
- Vem calar então, e vadia é você.
- Meninas, parem! – o gritou parou a confusão – Será que dá para parar com esse negócio idiota? – cruzei os braços na minha frente, esperando a situação se acalmar.
- Será que você pode me explicar agora, ? – semicerrei os olhos esperando a resposta.
- Droga!
- A verdade, anda logo – a mulher na frente tentava segurar o riso.
- Está bem, calma – ele tentou, mediu e começou a encaixar as palavras da maneira mais suave possível – Tem um jeito de trazer de volta.
- Sério? Como? Eu farei o que for preciso – me animei com a esperança voltando a habitar meu corpo. Era como se uma luz tivesse aparecido no fim do túnel. Esse era o problema para , ele sabia que eu faria o que fosse preciso para trazer de volta.
- Lúcifer pode trazê-lo de volta, ele é um arcanjo – ele disse e a luz no fim do túnel pareceu se distanciar.
- Tudo bem – engoli em seco – Ele está no Royal Palace em New Orleans, vamos até lá.
- Mas como vamos obrigá-lo a trazer de volta?
- Não vamos, – disse convicta – eu vou pedir para ele.
- , parabéns, ela é uma completa idiota – debochou Naniel no banco da frente. Que vontade de dar na cara dela.
- Você acha que eu iria brincar com uma coisa dessas? Você é uma ridícula.
-, mas ela tem razão! Eu não vou permitir que você se aproxime dele novamente.
- Tudo bem, para o carro – ordenei furiosa, segurando a trinca da porta, pronta para pular a qualquer momento caso minha ordem não fosse acatada.
- Eu não vou parar o carro.
- Você não vai parar o carro – apontou para a estrada – e você não vai sair daqui.
- Olha, eu convivi com Lúcifer e ele está se achando meu querido papai, achei até estranho ele me tratar tão bem. Uma vez, ele disse para mim que se o motivo de minha tristeza fosse o , ele poderia dar um jeito, mas briguei com ele.
-E com quem você não briga, garota?
- Naniel, por que todo esse ódio de mim? É ciúmes? – franzi o cenho, já não aguentando mais a voz daquela mulher nos meus ouvidos.
- Ciúmes? Eu tenho nojo de você! – o carro ficou em silêncio e gritou alguma coisa para que a motorista se calasse – Você é uma aberração.
Aquela mulher já tinha passado dos limites e percebi isso quando perdi o controle e avancei sobre o pescoço dela, dando fortes sacolejos com muita raiva. me puxou para trás e a mulher descabelada ria, o que me dava mais raiva. Quando minha ficha caiu, senti uma dor no maxilar e vi que pressionava os dentes um contra o outro.
- Eu não tenho culpa se sou filha dele, me ouviu? - as palavras saíram com dificuldade em meio ao choro e balançava a cabeça em sinal de negação para a mulher na sua frente. Ele até tentou me abraçar para tentar me acalmar, mas nada no mundo me acalmaria. Talvez só ele, . – Como eu disse, vamos para New Orlens e eu pedirei para trazer de volta. Esse é o plano um. O plano dois é matarmos ele – mantive meu silêncio até adormecer.

Royal Palace, 4 pm do dia seguinte

- Não sei se isso é certo, – o anjo andava de um lado para o outro, já fora do carro, que estava estacionado ruas próximas ao hotel cinco estrelas. Fui até ele e dei um abraço para lhe dar segurança. Eu estou confiante, creio que tudo dará certo.
Arrumei o cabelo, que ainda estava rebelde por causa do vento, e comecei a caminhar rumo ao meu destino. Muitos caminhões de construção passavam de um lado para o outro, já que o tornado deixou muitos estragos para aquela cidade, exceto o bairro que o Royal Palace se encontrava. Ao chegar em frente ao hotel, os seguranças vieram para cima de mim, mas fiz sinal com a mão para que se afastassem e disse que não iria fugir. Deste modo, deram passagem para mim e entrei no prédio, fui até o elevador e me dirigi até o meu quarto. Até onde entendi, Lúcifer não estava no Royal, então liguei a TV e o aguardei.
Do lado de fora, e a vaca da Naniel me esperariam até no máximo oito horas da noite. Caso eu não voltasse, seria óbvio que Lúcifer tinha impedido minha saída e eles teriam que ir atrás de aliados para matar o diabo, enquanto eu aguardaria sem nada para fazer, já que uma espada de anjo normal não o mataria e eu informei a ele que não resolveria.
A repórter anunciava a maior queimada na história na Austrália quando a porta se abriu e eu levei um susto.
- Assim que me avisaram que você tinha retornado, vim correndo para cá – Lúcifer sentou-se no canto da cama e me abraçou. Eu tinha que demonstrar carinho ou o plano não funcionaria, por isso, retribui o abraço e dei um beijo no rosto dele, que sorriu como um pai bobo.
- Desculpa, é que eu queria ficar sozinha para processar tudo, e porque eu também não estou bem sem ele – tudo nessa frase teve sentido, não foi fingimento quando as lágrimas escaparam do meu olho, e o homem ao meu lado limpou-as se levantando em seguida.
- , estou certo?
- Sim – respondi sem levantar a cabeça.
- Eu já tentei te falar sobre isso, mas você me impediu.
- Desculpa, mais uma vez, eu ainda estava assustada com todas aquelas informações.
- Minha filha, é só pedir, que eu posso trazer de volta.
- Sério que você faria isso por mim? – meus olhos brilharam, vendo que tudo dava certo.
Levantei-me da cama, segurando a mão que estava esticada, e caminhamos até o elevador, presumi que estivéssemos indo até a garagem. Chegando lá, encostei-me em uma das pilastras cinzas que seguravam o lugar e encarei o homem na minha frente, que se sentou em uma cadeira. Lúcifer ficou me encarando por um bom tempo sem dizer nada e eu comecei a ficar com medo, foi quando senti duas mãos segurarem meus ombros e me girarem para trás.
- – grudei o mais forte que pude naquele corpo e presença que eu tanto sentia falta – Eu estava morrendo de saudade – beijei-lhe sua boca rapidamente. Ele sorriu um pouco e depois começou a encarar Lúcifer com raiva e seus punhos se fecharam – , eu preciso explicar, Lúcifer te trouxe de volta e – ele me interrompeu, passando seu corpo na minha frente e Lúcifer riu debochado.
- Garoto, do mesmo jeito que te trouxe de volta a vida, posso te levar de volta a morte – cruzou as pernas e laçou os braços atrás da cabeça como se não estivesse dando a mínima para a ira do anjo em sua frente, e a verdade é que ele não estava mesmo.
- Vamos, , temos que sair daqui – grudou na minha mão, me puxando, e o Arcanjo então resolveu intervir, chutando a cadeira para longe e segurando do outro lado do meu braço.
- Sério, vocês não vão fazer cabo de guerra comigo! – fiquei brava porque eu não queria ser desmembrada por aqueles dois.
- Você não vai ficar aqui com ele, gritou sem tirar os olhos do Arcanjo.
- Você não vai embora com ele, – disse o Arcanjo em tom de deboche, imitando voz de mulherzinha.
- Pai, eu não gosto de ficar trancada em um – fui interrompida quando Lúcifer me puxou com tanta força e me jogou no meio de seus braços. Ergui a cabeça e vi que seus olhos marejavam.
- Você me chamou de pai. Eu estou tão contente, minha pequena – Enquanto Lúcifer me abraçava, fiz um sinal estranho com as mãos para que ficasse em silêncio enquanto eu tentava resolver aquilo. Espero que ele tenha entendido.
- Bom, será que você poderia me ouvir antes dos dois saírem brigando? – a cadeira voou atrás de mim, graças aos poderes do arcanjo, e eu me sentei de frente para ele, que se ajoelhou para que ficássemos mais pertos.
- Pode falar, sou todo ouvidos.
- Então, como eu ia dizendo, – limpei a garganta – eu não gosto de ficar trancada naquele quarto, é chato. E agora que está de volta e você vai matar todas as pessoas, será que eu poderia aproveitar um tempo com ele? – o homem me encarou de um jeito de quem não estava gostando daquela conversa – E eu gostaria de pedir também que você não machucasse meu irmão Jack, por favor – implorei.
- Sobre o seu irmão, já tentei procurá-lo em todos os cantos, mas é como se ele tivesse sumido do mapa. Eu não queria te contar para não te preocupar.
- Ele está morto? – levantei desesperada, já sem ar e com certeza com a pressão caindo.
- Não, calma. Eu te garanto que morto ele não está, presumo que ele esteja com , com alguma proteção para eu não encontrá-lo.
-Meu Deus – leveis as mãos até a boca, lamentando desesperadamente – Ele não está com .
- Como você tem certeza disso? – Lúcifer se aproximou com um tom de voz desconfiado e agudo. Só então percebi a furada que dei. Droga.
- Porque Jack não sabia da existência de – ótima resposta, . Jack realmente não tinha conhecido ainda. – Arrumei meu cabelo atrás da orelha, encarando o chão, e o homem coçou de leve a barba e só depois prosseguiu.
- Então você quer que eu te deixe sair por aí, é isso?
- É, para eu aproveitar o restante da minha vida com o e, se puder, com Jack também.
- Por que o restante da sua vida? – fiquei nervosa porque o homem pareceu indignado com o que eu disse. permanecia calado no canto como eu havia pedido – Minha filha, eu não te mataria nunca. E, como você quer, não machucarei seu irmão também.
- Obrigada – dessa vez, essa palavra realmente saiu com um sentimento de gratidão já que meu irmão estaria seguro – mas, por favor, ao menos uma semana, deixe eu aproveitar o tempo com o .
- Eu deixo ele ficar aqui, mas em quarto separado – não conteve a risada e gargalhou de leve – Por que está rindo?
- Nada – finalmente se pronunciou.
- Diga logo, anjo insolente – eu fiquei branca por ver que Lúcifer começava a se estressar.
- Vai bancar o pai protetor agora? – esnobou como se o Arcanjo na sua frente não pudesse matá-lo com um estalar de dedos – E, outra coisa, pode até ser em outro quarto, porque o que eu e a fazemos na sala é muito melhor.
Tudo bem. Os dois me olhavam de uma maneira constrangedora, eu queria ser um avestruz para enfiar a cabeça em um buraco na terra e sumir de tanta vergonha que eu estava sentindo. Minhas bochechas queimavam e provavelmente estavam vermelhas. Esfreguei a mão no rosto rapidamente para voltar a atual situação: Depois de dizer aquilo, não saberia se Lúcifer gostaria de deixá-lo viver mais um dia sequer.
- Estou começando a gostar de você, , é bem ousado. Mas ainda é um fracassado, mudou de lado na última hora.
- Eu sei muito bem do porquê da minha decisão – ok. Aquilo estava indo longe demais e, se eu não intervisse, teríamos uma catástrofe dentro de segundos.
- Parem os dois – berrei, chamando a atenção para mim – Pai, você vai deixar ou não?
- Uma semana e depois você terá que retornar – concordei porque aquilo já era uma vitória. Teríamos o prazo de uma semana para pensar em um modo de matar o Arcanjo do mal.
- Sério, muito obrigada. Em uma semana eu voltarei – abracei-lhe e dei as costas, segurando a mão de em direção a saída.
- Não se atrase porque tenho planos para nós, minha filha.


Capítulo 5


- Eu não tive culpa se você chegou perto demais – entrei no carro de , que agora dirigia e tinha Naniel ao seu lado. sentou-se no banco de trás junto a mim e segurava a minha mão, ainda calado.
-Eu sei, você demorou e eu não aguentava mais esperar – disse , parando no semáforo.
- Ainda bem que eu matei aquele demônio, senão estaríamos perdidos.
- Muito obrigada, Naniel – agradeci em tom de ironia - Para onde vamos agora então?
- Na saída da cidade tem uma fábrica de cosméticos bem grande e, no fundo da fábrica, há três enormes galpões que não estão sendo utilizados. A fábrica é de um aliado nosso que cedeu o espaço para nós. Já enviei uma mensagem pedindo para que quem estivesse no Grand Canyon, viesse para cá. Eles devem chegar amanhã – concluiu e eu percebi que algo estava o incomodando. Seu olhar não parava fixo, estava ansioso e sua respiração estava rápida.
- Não é um pouco arriscado ficar bem perto de Lúcifer?
- Na verdade, não – resolveu se pronunciar – É bem esperto, para falar a verdade. Eu ainda não tive tempo de agradecer. Obrigado por correrem o risco de me trazerem de volta.
- Não fiz isso por você – atacou e um silêncio permaneceu, como forma de evitar uma confusão maior.
Assim que chegamos no tal lugar, nos surpreendemos pela adequação. Holyel, o dono do lugar, deixou tudo pronto para nos receber. Os galpões estavam limpos e organizados em pequenos quartos, divididos por uma divisória cinza. No fundo, havia uma cozinha improvisada com o banheiro, embora anjos não precisassem daquilo. Acomodei minha bolsa com minhas roupas em um dos quartos. escolheu o quarto a minha esquerda e Naniel escolheu o quarto a minha direita. Eu não sei se estava imaginando coisas, mas acho que eles queriam tirar de perto de mim, mas não deixaria barato.
- , você pode dormir comigo? – falei em alto e bom tom para eles ouvissem.
- Claro, como você quiser – disse, já entrando e se sentando na cama, sumindo do campo de vista de e Naniel.
- , não sei se você percebeu, mas são camas de solteiro – reclamou.
- Eu percebi, mas não faz mal. É só eu e ficarmos juntinhos e caberemos ali – fechei a cortina que daria privacidade a nosso “pequeno quarto improvisado”. Eu não queria causar ciúmes no , mas ele começou a agir tão estranho depois que voltou. Ele sabe que eu amo e sempre amarei o , fui arrogante ao beijar aquele dia no ginásio, foi por impulso, minha vida estava uma bagunça e, nossa! Agora está uma bagunça maior ainda. Quem diria, de nerd da sala para filha de Lúcifer.
- Até que enfim, sós – sentei-me ao lado de na cama e o abracei.
- Meu amor, como é bom poder te sentir nos braços.
Eu não podia mais esperar por aquilo, era como se um leão ficasse preso em uma jaula por muito tempo e, do nada, a jaula se abrisse. Era assim que meu coração estava nesse exato momento. encostou seu corpo inteiro na cama, me puxando para cima do mesmo. Puxou meu cabelo para trás, deixando-o livre para que pudesse tocá-lo por inteiro, sua mão esquerda acariciava meu braço, causando arrepios fortes e, finalmente, sua mão direita me puxou até atingir sua boca. Eu estava com tanta vontade de senti-lo novamente que acabei mordendo seu lábio com muita força, o que levou a soltar um gemido leve e sorrir maliciosamente enquanto descontava em mim o feito, mordendo o meu lábio e invadindo cada vez mais minha boca com sua língua quente. Desceu sua boca, contornando meu pescoço, fazendo-me arquear as costas por tantos arrepios que percorriam meu corpo.
- Eu te amo e nunca mais pense em me abandonar – virei-me para o lado para tentar recuperar o fôlego, enquanto o anjo, visivelmente excitado, em cima de mim continuava com chupões no pescoço e no meu colo.
- Eu prometo, meu amor, nunca mais vou ficar longe de você, prometo que tentarei ficar vivo – sorriu por completo e descansando ao meu lado. ,br> - Ô casal apocalipse – Naniel abriu a cortina, nos surpreendendo – está chamando vocês.
Seguimos para o lado de fora e demos de cara com uma mesa repleta de livros grossos. Como ninguém se pronunciou, peguei alguns livros ali e deduzi que pesquisaríamos por “como encontrar um arcanjo”.
- Isso parece um pouco impossível. Gabriel e Miguel não são vistos há muito tempo.
- Eu acredito que estejam mortos – disse Naniel.
- Mas é das espadas dele que precisamos, não é isso?
- Sim.
- Então vamos achá-las logo, acredito que tenhamos o prazo de apenas uma semana – encarei , por ele saber das últimas palavras de Lúcifer.
Eram 4 horas da manhã e ainda estávamos ali, lendo os livros. Até agora não tínhamos encontrado nada. Meus olhos já estavam se fechando, me peguei quase caindo no sono umas cinco vezes e, até agora, já devia ter bebido uns dois litros de café.
- Chega, , vá dormir – tirou os pés de cima da mesa e colocou o livro no lugar – vamos, nós continuaremos aqui.
- Eu já disse que estou bem. Não estou com sono.
- Você está dormindo sentada – pegou meu braço e me tirou dali à força, ou quase, porque o sono era tão grande que meu corpo estava mole – Vou leva-la e já volto.
No dia seguinte, o calor do lugar me fez acordar, pelo visto, não passava da hora do almoço e, pelo barulho de conversa, era provável que todos os outros anjos tinham chegado. Coloquei um short com uma blusa regata e mantive meu all star, saí, puxando a cortina, e concluí que estava certa, pois todos haviam chegado. Voltei para onde estávamos na noite passada e agora, com a ajuda de outros anjos, eles continuavam a pesquisa. Dei por falta de , até que o senti me abraçar por trás e depositar um beijo molhado no meu ombro.
-Trouxe um copo de leite quente porque você deve estar cansada de café – disse sorrindo e iluminando meu dia.
- Obrigada, meu amor - virei-me, depositando um beijo no seu lábio.
De repente, as portas do galpão foram abertas com agressividade, as luzes estouraram e uma sombra cobriu o céu. Fomos todos para fora para ver o que estava acontecendo, até que um raio atingiu o chão bem a nossa frente e a sombra de um homem apareceu.
- Jack – gritei, correndo em sua direção e o abraçando – Meu irmão, onde você estava? – estranhei a maneira como ele surgiu, mas eu estava feliz demais por encontrar meu irmão.
- , eu te procurei por céu, mar e inferno – ele me apertava tanto que quase cheguei a ignorar o fato de ter muitas pessoas em volta observando aquela cena bizarra – Fizeram um bom feitiço para esconder você.
- Você sabia que existe um negócio chamado celular? Você me matou de preocupação.
- Espera – Eliot interrompeu, colocando-se entre mim e Jack – É exatamente isso, aquele feitiço só protege de seres sobrenaturais.
Jack sorriu, apoiando a mão na cintura, e fez eu me afastar por precaução. Um calafrio tocou minha espinha e os ânimos não ficaram muito bons após aquele riso macabro de Jack.
- Não precisam ter medo, eu sempre estive do lado de vocês e, assim que você nasceu, vi que precisaria de ajuda, mas nunca poderia intervir para não te prejudicar ou colocar sua vida em risco. Eu simplesmente mudei as lembranças dos seus pais e fiz com que eles acreditassem que eu nasci deles, que era filho legítimo deles, só para ficar ao seu lado, minha irmã.
- Quem é você afinal? – encarou bravo, mostrando sua espada, e mais quatro anjos fizeram o mesmo.
- Eu já disse que sou aliado.
- Seu nome – insistiu o anjo mais uma vez, só que com menos paciência.
- Gabriel – abriu os braços em tom de ironia – Eu sou o Arcanjo Gabriel.
Pausa. Silêncio. Histeria.
Socorro. Meu. Irmão. É. Um. Arcanjo.
- Você só pode estar de brincadeira comigo – caí sentada no chão. Não sei por que, mas minhas pernas ficaram da textura de um sorvete em um dia no Saara. O próprio causador do meu pânico me ajudou a ficar de pé novamente.
- , eu sou o mesmo, nunca fingi nada, minha irmã. Eu te amo.
- Isso é irônico, você é... meu tio!
- Não, , sou e sempre serei seu irmão. Eu sei que tudo isso é confuso demais para você.
- E como vou te chamar agora? Gabriel ou Jack?
- Do jeito que você achar melhor.
Após aquele tumulto passar, e a esperança aumentar de 0% para quase 50%, tudo foi melhorando. Sentamos em uma mesa de pedra branca para conversarmos. Eu bebia um copo de água a cada cinco minutos de tanta ansiedade, minha testa brilhava de tanta suor e minhas mãos ficaram trêmulas. Eles conversavam tanto que não percebiam o que estava acontecendo comigo. Jack, digo, Gabriel, acabara de anunciar que Miguel iria ajudar a derrotar Lúcifer, só precisavam de tempo, já que Lúcifer fez o favor de esconder a espada dos Arcanjos, as únicas que poderiam matá-lo e agora Miguel estava prestes a descobrir sua localização.
- precisará voltar dentro de cinco dias, será que até lá Miguel já estará de volta? – finalmente me encarou e reparou que eu não estava nada bem.
Minha visão foi escurecendo, até eu perder o controle sobre meu corpo e cair no chão. Só me lembrei de ouvir o barulho das cadeiras se arrastando para todos virem me socorrer e ouvi alguém dizendo que minha boca estava espumando, realmente, algo me incomodava e escorria boca a fora, meus olhos começaram a lacrimejar e levei a mão até o direito para limpar a lágrima. Minha visão estava embaçada, mas deu claramente para perceber que era sangue. Por fim, não tinha mais visão de ninguém, era como se eu tivesse sido transportada para outra dimensão, como se eu estivesse acordada dentro de mim mesma.

Duas horas depois.

Acordei impulsionando meu corpo para cima. Uma toalha molhada estava na minha cabeça e , que estava sentado ali ao lado, veio até mim.
- O que aconteceu comigo?
- Não sei. Você caiu no chão e sua boca a espumar, quando colocamos a mão em você, quase nos queimamos.
- Eu preciso ir- levantei da cama e saí correndo para fora, dando de cara com Gabriel e .
- Aonde você pensa que vai com tanta pressa? – me barrou com um abraço apertado, mas o empurrei com os olhos arregalados. Nem eu estava entendendo direito o que estava acontecendo comigo, eu só sabia que precisava voltar.
- Eu preciso voltar para o meu pai. Agora.
- Hey. Hey. Espera aí – Gabriel interviu – Que história é essa? Ele falou isso para você? - Falou. Eu preciso voltar agora.
- Ela não está bem, Gabriel – diagnosticou – tem algo de errado com ela.
- Eu preciso ir, por favor – meu olhos estavam tão arregalados e fixos no nada, que foi praticamente impossível piscar – Eu preciso ir. Vou ficar bem, assim que Miguel voltar, vocês matam Lúcifer.
- Não, , você está doida? Não vou deixar você voltar para lá.
- Um de seus anjos trouxeram aquele carro que deixei na pista aquela vez, ?
- Sim, mas...
- Mas nada. Eu vou. Preciso ir o mais rápido possível.
, e Gabriel se colocaram na minha frente, impedindo minha passagem para o lado de fora. Cada vez mais, eu ficava aflita para sair dali e voltar para o Royal Palace.
- Você não vai sair daqui, .
- Ou vocês me deixam ir, ou eu falo com meu pai a nossa localização. Ele virá e matará a todos.
- , você está chamando aquele nojento de pai, como pode?
- Esperem – Gabriel finalmente decidiu colocar um fim no meu sofrimento – Deixem-na ir, será melhor. - Está maluco, Gabriel? – quase pulo no pescoço do Arcanjo.
- Vá, , mas tome cuidado. Assim que Miguel chegar, nós a resgataremos e mataremos o diabo – lançou a chave do carro para mim.
- Não, , volte aqui – chamava por mim, mas o ignorei por completo. Continuei caminhando até o carro até adentrar no veículo, vendo e sendo segurados por Gabriel.
- Fiquem calmos vocês dois, eu já vou explicar o que está acontecendo com ela.
Saí dali cantando pneu e me dirigi o mais rápido para o Royal Palace. Meus olhos lacrimejavam e minha pele queimava, eu precisava ver meu pai logo, eu estava sentindo como se um vulcão estivesse preste a entrar em erupção dentro de mim.

- Ainda não entendo, Gabriel, por que você disse que era melhor ela ir? – bateu a mão sobre a mesa, quase a rachando no meio.
- Dê uma explicação logo ou eu mesmo vou atrás dela e dou um jeito de matar aquele infeliz – chutou a cadeira para longe.
- Acalmem-se vocês dois! está intoxicada.
- Intoxicada, como assim?
- , entenda uma coisa. é filha de Lúcifer e, querendo ou não, ela sente uma coisa muito forte por ele, mesmo que negue isso. Ele a criou para terem esse vínculo, se ela ficar longe dele, só piorará a cada dia. Aquilo que aconteceu com ela mais cedo não foi porque Lúcifer estava a chamando, mas sim seu próprio corpo, sentindo a falta da presença dele.
- E agora, o que faremos? – fechou os punhos e, mais do que nunca, queria matar Lúcifer.
- Temos que matá-lo e, com o tempo e muito sofrimento, ela se esquecerá dele.

Royal Palace, meia hora depois.

Estacionei o carro ali perto e entrei no local, sendo encarada pelos seguranças. Peguei o elevador e fui até onde era o quarto de meu pai. Bati na porta, ele abriu com um sorriso enorme no rosto e me abraçou, puxando-me e trancando a porta.
- Eu voltei, agora estou aqui – as palavras não saiam organizadas e, apenas conforme o tempo ia passando ao lado dele, eu ia me acalmando.
- Calma minha filha, o papai está aqui- beijou minha testa e me levou até sua cama.
- O que está acontecendo comigo?
- Como os humanos gostam de dizer, de uma maneira patética, você é a metade da minha laranja. Então deite-se aqui e descanse, por favor – puxou a coberta até cobrir minhas pernas – Eu vou pedir algo bem gostoso para você comer.
- Não, – Lúcifer voltou-se para mim – não quero que me deixe sozinha.
- Tudo bem – deitou-se ao meu lado debaixo da coberta e eu coloquei minha cabeça no seu peito. Lúcifer passou a mão nas minhas costas e finalmente eu me senti bem. A temperatura do meu corpo começou a cair e meus músculos relaxaram – Eu só quero que você saiba que eu te amo, minha filha, e tudo dará certo. Amanhã nós começaremos a construir um novo mundo.


Capítulo 6


No dia seguinte, fiquei o dia inteiro passeando pelo hotel e assistindo TV, enquanto meu pai estava fora. Quando a noite chegou, fui para meu quarto e um demônio no corpo de uma mulher loira de cabelos curtos entrou.
- Seu pai pediu para você usar isto – entregou a sacola na minha mão – e é para esperá-lo no quarto dele.
- Para que isso? – espiei a sacola, vendo um tecido vermelho dentro.
- Não sei, apenas cumpra as ordens senhorita.
- Tudo bem, obrigada – entrei no banho e deixei a água quente percorrer meu corpo.
Eu estava me sentindo bem como nunca antes, a angústia de ter perdido meus avós passou, assim como a tristeza de perder meus pais, mesmo que a palavra demônio estivesse envolvida. Fechei o chuveiro e enrolei a toalha no corpo. Abri a sacola e tirei de lá um roupão vermelho curto de seda. Depois de vestir uma calcinha e um sutiã, coloquei aquele traje estranho e fui até o quarto do meu pai, que ainda não tinha chegado. Sentei-me na cama e fiquei ali, esperando por vinte minutos.
- Desculpe a demora, estava ocupado – exibiu as duas mão ensanguentadas e seguiu rumo ao banheiro.
- Para que tudo isso? – encarei a minha roupa, esperando uma resposta enquanto o arcanjo limpava a mão na toalha.
- Vamos com calma que você vai me compreender – jogou a camisa no chão e sentou de frente para mim – Nós precisamos de uma nova espécie. Você é o ser mais puro e neutro que existe e eu sou um arcanjo. Os humanos devem sumir e uma nova classe de anjos, nossa criação, reinará.
- Não estou entendendo – me afastei, temendo o pior.
- Você poderá ter até dez crias por vez e depois teremos uma progressão geométrica. Você é a única que pode me dar filhos perfeitos e eu fiz você minha filha, para ser minha filha, esposa e mãe, por isso você não consegue ficar longe de mim, tudo já estava programado.
- Calma, isso está confuso – coloquei a mão no peito de Lúcifer, que agora estava se aproximando de mim – Você quer transar com sua própria filha?
- Só me resposta uma coisa, – eu não sabia o que fazer, não sabia explicar o que estava acontecendo comigo. Lúcifer falava comigo como se fosse um general e eu, como um soldadinho, tinha somente o intuito de obedecer. Saí do transe para voltar a prestar atenção no que o Arcanjo falava – Você está com nojo ou medo de mim?
- Não – respondi sincera, me ajeitando na cama. Lúcifer veio se aproximando lentamente até encostar seu lábio no meu e uma explosão de confusão dentro do meu corpo me tomar, fechei meus olhos e senti cada parte da boca dele que tocava a minha, em um beijo doce e calmo, mas que conseguia dificultar minha respiração.
- Você gosta de mim, ? – insistiu em perguntar e aquilo estava me deixando aflita. Aonde ele queria chegar?
- Sim – eu realmente comecei a entender que aquele vínculo havia tomado conta de mim. Eu não estava mentindo, eu realmente respondia a cada pergunta com sinceridade.
- Você me ama?
- Sim
-Você vai deixar eu te fazer minha, esta noite e para o resto da sua vida? – ele pegou minha mãe e já sabia a resposta que sairia da minha boca para fora, por isso, foi se adiantando e desabotoando a camisa, tirando botão por botão enquanto aguardava a resposta, olhando fixamente nos meus olhos.
- Sim.
Aquilo foi o suficiente para Lúcifer deitar todo seu corpo sobre o meu, enquanto suas mãos apertavam minhas coxas. Senti a temperatura do meu corpo aumentar, sentei-me na cama de costas para o homem, que agora já tinha se livrado de toda sua roupa. Delicadamente, ele desceu o tecido vermelho que cobria meu corpo, beijando cada parte de pele que era descoberta, causando arrepios por toda parte. Eu já não aguentava aquela demora, meu corpo inteiro clamava por ele.
- Eu não mandei essa roupa junto, mandei? – ele se referiu a calcinha e o sutiã que eu havia vestido.
- Não, senhor, desculpe-me.
- Shhhh – me silenciou com um beijo rápido.
Desabotoou meu sutiã, deixando o tecido cair no meu colo, e, depois de tirar a calcinha, sentou-me em seu colo. Seu membro ereto estava pressionando minha intimidade, me deixando mais excitada a cada segundo, minha intimidade estava molhada em febre, aguardando ele. Lúcifer soltou uma gargalhada tão gostosa, mas, mesmo assim, não conseguiu aliviar minha tensão.
- Está ansiosa, minha pequena?
- Por favor – supliquei para que ele acabasse logo com meu sofrimento, meu corpo não aguentaria mais, eu precisava dele dentro de mim.
- Fala para mim o que você quer, meu anjo – Lúcifer estava realmente se divertindo em me ver naquele estado deplorável e, para me enlouquecer mais ainda, lambeu o lóbulo da minha orelha, e foi descendo até atingir meu pescoço e depositar ali um chupão que deixaria meu pescoço roxo pelo resto da vida. Meu coração quase parou quando, finalmente, sua língua invadiu de vez minha boca inteira, percorrendo cada centímetro, contornando cada curva e deixando minha boca mais molhada. Se a intenção dele era me enlouquecer, estava conseguindo – Anda, fala para mim o que você quer.
- Por favor – supliquei mais uma vez, em meio a gemidos escandalosos por causa da boca de Lúcifer que drenava minhas forças, chupando meus seios.
- Eu não sei como pedir – minha frase saiu falha por causa da mão do Arcanjo, que atreveu percorrer minha intimidade em chamas.
- Fale do jeito que você achar melhor, terei o maior prazer em atender ao seu pedido – sussurrou em meu ouvido.
Eu tinha que acabar logo com aquilo ou meu pobre coração sairia pela boca. Era como se uma linha de pipa tentasse segurar um caminhão.
- Por favor – comecei a planejar as palavras, já que aquilo seria constrangedor de se falar – Eu preciso de você dentro de mim.
- Vamos, mais um pouco.
- Ah porra – desabafei, levantando meu quadril para que o membro dele pudesse entrar na minha intimidade – Me penetra logo – gemi quando senti as mãos fortes dele apertando meu corpo.
- Seu desejo é uma ordem.
Sem dó nem piedade, Lúcifer enfiou seu membro dentro de mim com toda força e vontade. Gritei tão alto que se tivesse uma taça na minha frente, ela quebraria. A dor era quase insuportável, mas, quando Lúcifer começou a se mover em mim, o prazer superou tudo. Nossos corpos se chocavam com muita força, seu membro me estocava cada vez mais rápido e minha garganta estava seca de tanto gemer e clamar por mais e mais.
- Quer que eu pare – ele zombou.
- Não – respondi brava. Ele não poderia parar, eu precisa atingir meu máximo.
Lúcifer colocou uma mão em cada lado de minha cintura e, com seu poder de Arcanjo, ficou fácil ele levar meu corpo para cima e para baixo para que o prazer aumentasse. Minha pele estava queimando e eu já estava ficando tão fraca, foi quando percebi que tive meu orgasmo e, finalmente, senti o líquido quente de Lúcifer cair dentro de mim. Foi uma sensação estranha e totalmente gostosa de se sentir. O serviço estava feito.
Saí dele, me deitando ao seu lado, e vi que era madrugada. Meu sorriso no rosto era maior que tudo, eu tinha alcançado meu limite, estava cansada e sem fôlego, mas eu estava feliz.
- Eu preciso de água.
- Fique aqui que eu vou buscar.
O homem deu as costas, ainda nu, e aquele corpo me atraía mais e mais. Minha vontade era pular nas costas dele e fazer tudo de novo e, se possível, mais intenso. Alguns minutos depois ele trouxe a água e bebi. Depositei o copo ao lado, em cima de algo que não me importava no momento, Lúcifer deitou-se ao meu lado e agarrei o corpo dele o quanto pude.
- Posso fazer outra pergunta? – gargalhou.
- Quantas quiser – sorri em resposta e depositei um beijo no seu peito quente.
- Quem é melhor, eu ou o ? – fiquei o encarando e, como um balde de água gelada, minha ficha caiu. Eu tinha transado com Lúcifer e estava feliz. É isso mesmo? E ? ? Eu tenho que matar esse desgraçado, não importa o que custar. E, como um manto quente, as linhas de sangue me trouxeram de volta da revolta – Você, é claro – e o homem ao meu lado me deu um beijo tão gostoso e melado, cheio de língua se enrolando, e finalmente descansei nos seus braços.


Capítulo 7


- Pai, – chamei pelo Arcanjo que ainda estava na cama – corre aqui – Eu estava no banheiro enquanto tinhas as duas mãos apoiadas sobre a pia. O homem chegou e me encarou curioso, enquanto vestia sua cueca – Não estou bem, já vomitei duas vezes.
- Sim, – o encarei, perdida, e ele se posicionou atrás de mim, levando suas duas mãos até minha parte íntima e percorrendo um caminho até chegar onde seria meu útero – você está grávida, meu amor. Dentro de dez dias eles nascerão – depositou um beijo no meu pescoço – Que orgulho de nós!
- Calma aí – virei para ele – isso é um pouco difícil. Eu acho que agora a ficha caiu. Eu tenho 17 anos e estou grávida, e isso é – Lúcifer me calou com um beijo demorado e, assim que tentei concluir meus pensamentos, ele me beijou novamente.
- Eu vou estar aqui para te ajudar no que for preciso – abriu o roupão vermelho e acariciou minha barriga, depositando um beijo abaixo do umbigo – Daqui dez dias eles nascerão.
- Mas... – desisti de falar. Era como tentar falar para um alcoólatra que beber muito faz mal. Eu já estava obcecada por aquele homem por causa das linhas de sangue. Quando minha consciência batia na porta era como se um fechasse qualquer alternativa de fugir.
- Comecei meu dia muito bem – alongou-se, olhando a movimentada New Orleans que se reconstruía após os tornados – Que tal dar uma animadinha nesse mundo?
- Aonde você vai? – já imaginei que catástrofe viria por aí e eu teria que fazer algo para evitar – Fica aqui comigo.
- , seu coração ainda continua mole em relação aos humanos, mas com o tempo você será igual a mim – Lúcifer fechou a porta atrás de si, me deixando sozinha no quarto com um homem de terno que chegava com meu café da manhã.
Sabe aquela história de que grávida tem que comer por dois? Então, eu teria que comer por mim e por mais dez.... criaturas que cresciam dentro de mim. Encarei minha barriga, que logo cresceria conforme os dias, e fui me deitar na cama com a preocupação de como eles nasceriam, se iria doer muito, se abririam minha barriga ou seria um parto natural estranhamente constrangedor.

Fábrica de Cosméticos, arredores de New Orleans.

Seis dias haviam se passado e os anjos não sabiam mais o que fazem com tantos demônios aparecendo. Agora matavam mais de quarenta por dia e infelizmente alguns anjos morriam nesses ataques. Miguel ainda não aparecera com as espadas. E a cada vez que Gabriel tentava explicar o que achava que estaria acontecendo com , travava e dava as costas para a multidão que estava de mãos atadas. Os cavaleiros do apocalipse estavam fazendo muitas vítimas e agora seria uma boa hora para intervir.
- Naniel, cuide de todos aqui – se despediu da colega com um abraço e se dirigiu em direção aos dois carros que os levaria para Guerra, Peste e Fome.
Estavam informados que os três cavaleiros viriam juntos para New Orleans, mas eles os interceptariam antes de chegarem na cidade. Como não sabiam um jeito de matar os cavaleiros, optaram por aprisioná-los com um feitiço poderoso que Gabriel tinha em mãos, após muito pesquisar.
Já eram quase seis horas da tarde e o sol começava a despencar do céu. A brisa gelada chegou, arrepiando todos ali no meio da estrada, avisando que os cavaleiros se aproximavam. Ao longe, entre as nuances do asfalto, os dois cavaleiros foram avistados, montados em seus cavalos. Assim que os cavaleiros avistaram um barreira formada por anjos, tiraram suas respectivas armas e gargalharam pela ação e pela luta que estava por vir. Os anjos mantiveram-se parados, impedindo a passagem dos cavaleiros, e estes, em tom de superioridade, pararam em frente ao cordão angelical para zombar e, em seguida, matarem um por um.
- O que pensam que estão fazendo? – Peste perguntou enquanto nenhuma resposta saía da boca dos anjos.
- Estão surdos? – foi a vez de Fome perguntar – Vamos matar todos de uma vez.
- Eu acho que não – Gabriel surgiu atrás deles com um livro pesado nas mãos.
Os cavaleiros viraram-se para o Arcanjo, que agora começava a citar o feitiço, enquanto e acenderam o fogo que circundou os cavaleiros - Vict umbra adposita est ignis et aqua, auferetur gloria eorum current et non – Guerra tentou saltar pelo fogo para escapar, mas foi detido pelo feitiço e caiu no chão - relinquent in Apocalypsi praevalet animus militum – concluiu Gabriel e o fogo subiu a mais de dez metros de altura, com suas chamas azuis, e um buraco se abriu na terra debaixo do solo que os cavaleiros estavam, engolindo-os por inteiro. Finalmente presos, o chão foi se fechando e o asfalto sendo reconstruído como se nada tivesse acontecido. As chamas se apagaram, deixando uma forte fumaça que logo foi levada com o vento.
- Yeah! – e Gabriel comemoraram, apertando as mãos – Conseguimos!
Gabriel foi cumprimentar , que estava afastado e em silêncio desde que partiu. O anjo chutava algumas pedras para fora da estrada quando o Arcanjo resolveu se aproximar.
- Nós a traremos de volta, meu irmão – Gabriel se apoiou no ombro de .
- Eu espero que sim, porque isso está doendo – ele levou a mão até o coração, que se apertava cada vez mais de saudade. Seus olhos se encheram de lágrima e o Arcanjo ao seu lado ficou triste pela tristeza do amigo – Eu não consigo aguentar mais. Ela está bem, não está?
- , Lúcifer nunca a machucaria. O amor que ele tem por ela é doentio e profundo demais.
- Nós deveríamos tê-la impedido de ir.
- Não – abaixou a cabeça – ela morreria se não voltasse para Lúcifer imediatamente. Ela precisava ir e cumprir o que seu corpo pedia.
- Gabriel, o que você quer dizer com essas coisas? Há dias você fica falando essas coisas estranhas e me deixa cada vez mais aflito.
- Não é nada – tentou mudar o rumo da conversa.
- Como não é nada? – abriu os braços em tom de revolta e se aproximou, pensando que eles estariam brigando – Por favor, eu preciso saber de tudo.
- Nós precisamos saber de tudo, Gabriel – se pôs ao lado do anjo.
- Eu acho melhor não, caras – Gabriel esfregava a mão no cabelo – Eu acho que não é uma boa ideia.
- Fale logo – perdeu a paciência, já estava esperando por alguma notícia ruim.
- Está bem, só me prometam que não vão fazer algo de idiota!
- Não vamos! – disse impaciente – Conte logo
- é uma criação perfeita, é um ser puro. Lúcifer tem o plano de construir seres perfeitos, oriundos dele e da .
- Você quer dizer que...
- Isso mesmo, vai ficar gravidade dele. Ela precisa disso, seu corpo precisa disso.
- Não pode ser verdade – puxou a espada – Não vou deixar isso acontecer.
- Não, espere! – Gabriel gritou, tentando impedir o anjo que saiu correndo para salvar .
- Eu também não posso ficar parado – disse e saiu correndo com outro anjo, em direção a cidade – Se quiser nos impedir, terá que nos matar.
Gabriel ficou de mão atadas, não teria o que fazer, embora soubesse que Miguel já estava a caminho com as espadas na mão. Os anjos não poderiam se teletransportar, pois dessa forma entregariam sua posição para Lúcifer.

Hotel Royal Palace, 7 pm

- Por que você está assim tão triste, meu amor? – Lúcifer sentou-se ao meu lado, acariciando minha barriga que estava enorme, eu mal conseguia me sentar e a cada meia hora sentia chutes dos bebês.
- Eu não sei – encarei a parede branca e gelada à minha frente. Meu corpo tinha tudo para estar satisfeito ao lado de Lúcifer, mas minha alma estava completamente vazia e solitária - Acho que estou bem – sorri forçado para o pai dos meus filhos.
- Deve ser a ansiedade, afinal, amanhã é o grande dia.
-É, deve ser isso mesmo – deite-me na cama e ele deitou-se ao meu lado.
- Nós poderíamos aproveitar um pouco mais, não acha? – sorriu malicioso enquanto dava chupões no meu pescoço – Não seria uma boa ideia?
Demorei para responder, mas assenti com a cabeça e o homem desabotoou a calça e abaixou a cueca. Como minha barriga atrapalhava um pouco, Lúcifer se ajeitou ao meu lado e ergueu minha cabeça, levando minha boca até seu membro ereto. Como os bebês nasceriam amanhã, seria arriscado tentar algo mais profundo, por isso fazíamos de um jeito mais simples para eu não fazer muito esforço. Lúcifer levou sua mão até minha intimidade e puxou a calcinha para baixo, facilitado por eu estar usando vestido há alguns dias. Com o dedo indicador, passou a mão fazendo com que eu ficasse mais molhada a cada investida de seus dedos. Dei alguns chupões em seu membro, mas eu estava cansada demais. Afastei minha boca do pênis dele e passei as costas da mão para limpar o líquido ao redor dos meus lábios. Peguei a mão atrevida dele e a segurei fazendo-o me encarar.
- O que foi? Não está gostando?
- Não é isso. É que... – procurei motivos para realmente ter parado aquilo, mas nenhum me parecia certo – Eu acho que esta barriga me deixa mais cansada. Estou morta de sono.
- Tudo bem, teremos muito tempo para fazermos mais e melhor – disse levantando e agradeci mentalmente por ele não forçar nada – Vou tomar um banho porque você me deixou nesse estado – disse rindo e olhando para seu corpo.

Arredores do Royal Palace, 5 pm

- Temos doze seguranças na porta dos fundos – explicou para – Conseguiremos controlar os demônios com o exorcismo.
- Temos três anjos ali, eu pego eles enquanto você pega os demônios – apontou enquanto estavam escondidos.
- Boa sorte, cara – apertou a mão do companheiro de luta – Vamos lá.
- Último andar, – relembrou – e lembre-se, caso algo dê errado com um de nós, o outro deverá seguir o plano sozinho sem olhar para trás.

Royal Palace, 6 pm

- Calma, vai dá tudo certo – ele segurava minha mão enquanto eu gritava de dor. Dois médicos entraram, provavelmente um anjo e um demônio. Estiquei meu corpo na cama, tentando me controlar para não me contorcer a cada pontada que sentia na barriga.
- Eu não vou aguentar – meus olhos lacrimejavam sem parar. Não conseguia parar de gritar, senti os ossos dentro de mim se afastando para dar passagem aos bebês e a água deixava o colchão e o lençol molhado.
- Vai sim, eu estou aqui. Nossos filhos vão nascer lindos, meu amor – deu espaço para que os homens de branco trabalhassem.
A dor só aumentava a cada minuto. Senti algo descendo dentro de mim, era o primeiro bebê, que estava pronto para sair. Eu só queria que tudo acabasse logo, mas ao todo seriam dez, o que levaria um tempo maior. Os médicos dobraram meus joelhos e afastaram minhas pernas uma da outra. A dor era tanta que não liguei para aquela cena constrangedora de ter três homens me olhando naquela posição estranha.
- Está doendo muito – gritei, chorando, e levei o travesseiro até minha boca para servir de mordaça e controlar os gritos.
- Vamos, força – um dos médicos incentivou – Vamos, mais um pouco.
Minha intimidade ardia de tão aberta que estava para dar passagem àquela criança. Finalmente senti um solavanco e a primeira criança saiu. Sorri aliviada, mas a dor me trouxe de volta e me lembrei que ainda faltavam nove.
Já tinha se passado uma hora e ainda faltava uma criança para nascer, eu já estava quase desmaiando por fazer tanta força. Minha testa estava molhada de suor e minhas pernas tremiam. De repente, a porta se abriu, causando um grande barulho, provavelmente foi arrombada, sem necessidade, porque estava destrancada.
- entrou gritando, com os olhos maiores que uma bola de basquete. Lúcifer ficou de pé e impediu que ele se aproximasse.
- , – limpou as mãos cheias de sangue em uma toalha branca – Chegaram na hora certa.
- O que você fez com ela? - avançou, tentando se aproximar de mim. tentou logo em seguida, mas Lúcifer os arremessou contra a parede e um caiu sobre o outro.
- Não os machuque – implorei enquanto gritava de dor – Por favor – finalmente consegui relaxar e o último bebê nasceu. Lúcifer ignorou os dois anjos ali e veio até mim vitorioso, beijando minha boca o quanto podia – Parabéns, meu amor.
- – ignorei a boca de Lúcifer que invadia a minha e o anjo se sentou, encostando na parede devido à queda – Você...- eu não sabia o que dizer.
- O que vocês vieram fazer aqui? – Lúcifer ficou na minha frente e na frente dos bebês – Digam logo.
- não vai ficar com você.
- E quem disse isso? Você?
- O que você fez com ela... – lamentava ao me ver rodeada de sangue e exausta em cima da cama – Você a machucou.
- Não! – aumentou o tom de voz – Não a forcei a nada.
- Não briguem, por favor – insisti.
- Seu desgraçado, você vai pagar por isso – transpirava ódio e não havia nada que o impediria de tentar matar Lúcifer. Pela primeira vez, vi as asas de . O anjo radiou luz por todo o lugar e suas asas negras se abriram, derrubando os móveis do lugar. Eram enormes, deveriam ter mais de cinco metros de ponta a ponta.
- Vai pagar por tudo que fez com ela – também entrou na briga e abriu suas asas cinzas, igualmente o outro anjo.
Lúcifer olhou para mim, dando risada, e eu sabia que aquilo não terminaria bem.
- , você viu que quem quer briga são eles – lamentou, coçando a leve barba.
Agora foi a vez de Lúcifer se exibir, porém, ele era mais forte e mais intenso. Uma luz muito forte fez que todos ali quase ficasse cegos, tampei meus olhos com a mão e, assim que consegui enxergar novamente, vi as asas brancas e gigantescas de Lúcifer se abrirem pelo quarto. Aquelas asas deveriam ter uns doze metros. Lúcifer pegou sua espada e a girou nas mãos, demonstrando domínio sob o objeto.
- Quem vai ser o primeiro? – zombou, amolando a espada no próprio dedão.
De repente, a janela do quarto se estilhaçou em mil pedaços após um grande impacto. Tampei meu olho para me proteger dos cacos de vidro e, quando livrei meu campo de visão, vi meu irmão, o arcanjo Gabriel, ajoelhado em cima dos vidros espalhados pelo chão, apenas com uma calça jeans e seu peitoral todo a mostra. Com os pés descalços, não se importava com os objetos que poderiam cortá-lo. O arcanjo que entrou pela janela tinha as asas igualmente as de Lúcifer, porém, estas, encontravam-se dobradas em cima de suas costas. Lúcifer arregalou os olhos de uma maneira que eu poderia até suspeitar que ele sentiu uma pontada de medo.

- Gabriel? – disse confuso por ter sido feito de idiota por tanto tempo – Você esteve debaixo do meu nariz o tempo todo.
- Meu irmão, – levantou-se e apontou a espada na direção do peito do outro – sério que ainda não ouviu aquela frase “lute com alguém do seu tamanho”?
- Sinceramente, não me importo, todos vão morrer mesmo.
- Desculpa te informar isso, mas eu vim acabar com sua festa – Gabriel analisou o lugar com calma e só então percebeu que estava deitada em um lençol cheio de sangue e que algumas camareiras, que eram demônios, tiravam os dez bebês com muito cuidado dali.
O Arcanjo sentiu uma repulsa pelo irmão, maior do que sentia antes. estava em um estado deplorável de fraqueza, e imaginou que a garota tivesse passado por muita dor. Os olhos de estava entreabertos e a respiração estava lenta e profunda. Gabriel começaria a luta sabendo que aguentaria, pois foi feita para isso – Lúcifer, você vai pagar pelo seu ódio pela humanidade – olhou para – e vai pagar ainda mais por ter feito isso com ela.
Lúcifer voou no pescoço de Gabriel, empurrando-o contra a parede do quarto, que se despedaçou em pedaços de concreto pelo chão.
- Está fora de forma, – encarou-o nos olhos e frisou a palavra seguinte – irmão.
Gabriel já não podia segurar tanto ódio, levantou-se e bateu suas asas que o impulsionaram contra o corpo de Lúcifer e os dois arcanjos voaram janela afora, sumindo do campo de visão dos três que estavam assustados no quarto. Assim que a luta se projetou para fora do prédio, e aproveitaram para socorrer .
- Como está se sentindo, ? – sentou-se ao lado dela, tirando a roupa ensanguentada de seu corpo fraco. Nessa hora, não se importou que o anjo ao lado visse o corpo nu da garota.
- , – segurou a mão do anjo com força, enquanto pronunciava suas palavras no tom mais baixo possível – não deixem que o matem.
- Não se preocupe, meu amor – beijou a testa dela e pegou a roupa limpa que o outro anjo lhe trouxera – Gabriel contará com a ajuda de Miguel.
- Não, – tossiu sem força – não deixe que acabem com meu pai.
sentiu uma dor tão grande no coração ao ver o ponto que aquele vício dela pelo Arcanjo do mal tinha chegado. , ao lado, não sabia o que fazer e até suspeitou que se Lúcifer morresse, morreria junto, por isso chamou o outro anjo para um canto mais afastado.
- , tem alguma possibilidade de – pigarreou – se Lúcifer morrer – gesticulava com as mãos, tentando achar as palavras certa.
- Fala logo – disse impaciente e preocupado pela cara que fazia.
- Tem alguma possibilidade dessa linha de sangue ultrapassar os limites?
- Como assim?
- Se Lúcifer morrer, também morrerá? – jogou para fora a dúvida cruel que agonizava seu coração. Ao ouvir aquilo, ficou paralisado, sem piscar, respirar e muito menos capacitado em formular uma resposta para aquela pergunta. Sua ficha caiu e, sim, havia uma possibilidade enorme daquilo ocorrer.
Um vento forte entrou no quarto e os três se viraram para o rombo na parede causado pelos Arcanjos, que agora brigavam pela cidade. Um outro anjo entrou no lugar, seu cabelo era louro, o mais dourado possível. Seus olhos eram tão verdes que pareciam esmeralda. Ele portava uma espada igual a que os arcanjos tinham, por isso, presumiram ser o Arcanjo Miguel. Ele se aproximou de , que ficou agitada e assustada.
- Calma, não vou te machucar. – chamou os anjos que ali estavam – Tirem-na daqui e levem-na para o mais longe possível – dirigiu a palavra para os anjos – , meu nome é Miguel e eu prometo que tudo ficará bem, ok? Vou levar essa luta para um lugar que não tenha pessoas – saiu correndo pelo quarto e se jogou pela janela, caindo, e antes de tocar o solo, abriu suas asas enormes.

Eu realmente estava assustada com tudo aquilo. Eu sentia um aperto no coração ao saber que meu pai lutava com dois seres totalmente poderosos. me pegou no colo - ainda bem, porque minhas pernas estavam moles e eu não conseguiria andar - e se jogou em queda livre para fora do prédio. Apertei seu pescoço e gritei ao ver que estávamos caindo, mas, antes que tocássemos o chão, ele abriu suas asas negras e saímos voando em alta velocidade, costurando os prédios.
voava atrás, dando cobertura a , pois, com certeza, Lúcifer ordenou que não deixassem eu sair do Royal Palace e, agora, três anjos nos perseguiam. voou na direção do que estava mais próximo, jogando seu corpo com impulso contra o do outro. Os dois perderam o equilíbrio e atingiram o topo de um prédio, causando estragos enormes, mas foi mais rápido e cravou a espada no anjo, que ficou prensado no meio de suas pernas. Ficou de pé e voou desesperadamente atrás dos outros dois anjos, que agora estavam perto demais.
- Meus bebês – encarei , suplicando para que ele voltasse.
- , sinto muito, mas não poderei voltar. Eu prometo que eles estão seguros.
- Promete?
-Sim - concordou e bateu suas asas o mais rápido possível, vendo que ainda sobrara um anjos trás de si.
Aquela posição nos braços de estava me deixando desconfortável, não por causa dele estar me segurando de qualquer jeito, mas sim pela altura que estávamos. Mesmo assim, eu podia ver as pessoas na ruas, que assistiam tudo aquilo com curiosidade e com celulares, tentando capturar aquela cena inusitada. Finalmente, venceu o último anjo e pousou, colocando-me no bando de um carro.
- Você vai roubar um carro?
- Não podemos continuar voando, senão Lúcifer saberá da nossa localização e virá correndo atrás de você – saiu cantando pneu – , para onde devemos ir?
- Acho melhor ficarmos na estrada, sem parar.

Enquanto isso, Gabriel levou a luta para um lugar que não tinha pessoas: o mar. Seu corpo já apresentava três cicatrizes da espada do outro Arcanjo que o cortou.
- Você é fraco Gabriel, desista e poderá se juntar a mim – a asa do arcanjo formava ondas enormes no mar abaixo de seus pés.
- Nunca! – avançou contra o irmão, acertando-lhe dois socos, mas foi bloqueado quando tentou enfiar a espada no corpo do outro.
Miguel chegou por trás, surpreendendo Lúcifer, e caíram junto no fundo da água. Miguel manteve a mão no pescoço de Lúcifer e, antes que Gabriel mergulhasse também, os dois arcanjos emergiram em disparada para o mais alto do céu.
- Miguel, que saudade – Lúcifer gargalhou irônico, acertando um chute nas costelas do Arcanjo que o arremessou para longe.
- Volta para o inferno, seu desgraçado – Gabriel o surpreendeu, a espada atingiu a barriga de Lúcifer e fez um corte profundo, derrubando sangue, mas ainda não era o suficiente para matá-lo.
Muitas milhas dali, sentiu uma pontada na barriga e gritou fazendo com que freasse o carro. abriu a porta do carro a caiu ajoelhada no asfalto.
- O que foi? – chegou primeiro ao lado dela.
A garota urrava de dor e se contorcia no chão. a segurou, tentando controla-la, mas foi em vão. os empurrou para longe e os dois anjos ficaram assustados ao ver a aparência da menina ir se modificando. Os olhos de ganharam uma cor diferente, um vermelho mais vivo que sangue.
Seu corpo começou a arder, como se estivesse pegando fogo, mas não havia chamas ao seu redor. Os ossos de suas costas pareciam se mexer dentro de si, como se estivesse se quebrando um por um. Ela sentiu como se a pele na parte de trás tivesse sendo cortava por uma lâmina afiada e perdeu o equilíbrio quando um caminhão pareceu ter sido jogado em cima de si.
Os anjos se afastaram ao ver que uma luz vermelha crescia em volta de , com uma grande massa de calor que estava queimando a pele dos anjos por estarem tão próximos, e ela não parava de se contorcer no chão. De repente, viram algo surgindo de suas costas. Sim, eram duas asas enormes, talvez as maiores que eles já viram e, esta, era totalmente diferente, já que reluzia a cor vermelha. Quando as asas saíram por completo, parou de gritar e a luz em sua volta sumiu.
- , você está bem? – se aproximou, passo por passo.
encarou , e este não reconheceu a garota, era como se um monstro tivesse sido criado no corpo dela.
Ela pegou impulso, flexionando suas pernas, e vou, deixando uma cratera no lugar de onde havia saído. Sua velocidade era maior que a de e , por isso, os deixou para trás. A única coisa que vinha em sua mente, era voar na direção oeste, o mais rápido possível.
Por estar voando baixo, foi deixando estragos na paisagem, como árvores caídas e rachaduras no chão. aumentou a altitude e, agora, já podia enxergar o mar. Avistou os três arcanjos lutando e surpreendeu o mais próximo de si, Miguel, acertando um soco em seu rosto, fazendo-o cair no fundo do mar.
A luta parou por completo, Gabriel viu Miguel sair da água e voltar para o seu lado.
- – Gabriel e Miguel estavam inconformados porque a garota tinha os olhos e as asas vermelhas – O que aconteceu com você?
- Minha filha – Lúcifer apresentou, como se eles não a conhecessem – E ela vai acabar com vocês.

Eu tinha certeza absoluta que o que estava fazendo era errado, mas era como se eu tentasse controlar um lutador quando o jogo era CPU x CPU. Senti minhas mãos ficarem vermelhas, ardendo quando as direcionei para os dois arcanjos à minha frente, e um fogo intenso saiu da minha mão. Os dois se desviaram o máximo que puderam, mas o fogo deixou algumas feridas em seus corpos. Lúcifer apenas ficou de braços cruzados enquanto me assistia torturando os arcanjos com tanto calor.
De repente, como se fossem duas pulgas, e chegaram, se posicionando na frente de Gabriel e Miguel, respectivamente.
- Fiquem parados – ordenou para que os arcanjos ficassem atrás deles.
- O que pensa que está fazendo? – Lúcifer indagou, vendo o plano idiota do anjo – , ataque-os.
Mirei minhas mãos na direção de cada um, e , minhas mãos se aqueciam e, a qualquer momento, um fogo mais quente que a lava no interior de um vulcão em erupção sairia dali. Mas não saiu. Minhas mãos foram se esfriando, juntamente com o sorriso de Lúcifer ao ver que eu não conseguiria atacá-los. Abaixei-as e fiquei encarando a água do mar abaixo dos meus pés.
Os três arcanjos voltaram a lutar e era como se tudo em minha volta estivesse se passando em câmera lenta. O ar ficou lento, as imagens ficaram lentas, eu não conseguia me mover. O som chegava opaco aos meus ouvido, causando um eco que me tirava da realidade.
- , - chacoalhava meu corpo, sem conseguir me tirar do lugar e me trazer para a realidade – Desculpa por isso – acertou um tapa em minha cara e também não adiantou.
De repente, senti um aperto em meu coração e eu finalmente virei meu pescoço para o lado, presenciando a seguinte cena: Miguel segurava o corpo de Lúcifer, que estava bastante ferido e imóvel, enquanto Gabriel vinha em toda velocidade com a espada para acertar o corpo do meu pai. A distância entre a ponta da espada e o corpo de Lúcifer deveria ser de uns cinco metros. Não sei como, mas em questão de milésimos de segundos, projetei meu corpo na frente do meu pai, criando uma barreira entre ele e a espada de Gabriel, que me acertou em cheio. Senti uma dor tão forte e uma luz brilhou de dentro de mim, como se fosse uma ogiva nuclear que estivesse estourada.
Gabriel, Miguel, , e Lúcifer ficaram paralisados e em silêncio, parando a batalha. Perdi todas minhas forças e senti meu corpo atingir a água e começar a afundar, deixando a luz da superfície para trás.

- Nãoooo! – Lúcifer gritou e mergulhou atrás do corpo de garota, trazendo-a de volta a superfície em seus braços. Lúcifer encarou os arcanjos à sua frente e começou a chorar desesperadamente – Volta para mim – persistiu, mesmo sabendo que , a garota que estava em seus braços, não tinha mais vida.
Tudo parou, o ar, o mar, a terra... tudo. Era como se o mundo parasse, os semáforos, as buzinas, as sirenes. A única coisa que poderia se ouvir, era o choro de um pai desesperado.
Lúcifer tirou o cabelo molhado da garota do rosto, e deixou o corpo dela repousar em seus braços trêmulos. O Arcanjo puxou a espada que ainda estava fincada no corpo de com cuidado e limpou inutilmente as lágrimas em seu rosto.
- Vocês venceram – disse e beijou a boca de , sem a mínima pressa possível.
Os corpos de e de Lúcifer ficaram flutuando no ar, um de frente para o outro. Uma esfera de luz se formou em volta e os anjos ali tiveram um pouco de dificuldade de ver o que acontecia. Um jato de luz branca saiu da boca de Lúcifer e começou a percorrer um caminho até começar a entrar pela boca de .
– Eu te amo, – disse, por fim, caindo sem vida em direção ao fundo do mar.
Eles finalmente entenderam que Lúcifer deu a sua vida para a filha. se apressou e pegou , antes que ela pudesse cair na água, e confirmou que ela estava respirando, seu pobre coração, exposto a tanta dor, batia novamente e dentro de algumas horas, ele a teria novamente.
Porém, o corpo de foi sumindo de seus braços, como se ficasse transparente a cada segundo, sumindo por completo.


Capítulo 8


Um mês havia se passado, o mundo estava livre de toda aquela confusão. Sim. A memória das pessoas foram apagadas, não tinha mais imagens, vídeos ou áudio daquela batalha tenebrosa. Miguel e Gabriel seguiram, tentando reorganizar o céu, punir os culpados e trazer a ordem celestial.
e , juntos, foram para o lugar mais afastado possível. Não queriam falar, respirar, conversar. Se não fosse pelos arcanjos, já estaria morto. Não havia um dia em que não tivesse chorado. A batalha estava ganha, mas ninguém ousou comemorar. Os dez bebes estavam sob o poder angelical, cresciam fortes e saudáveis.
Os arcanjos reuniram todos os anjos em um só lugar para que passarem as novas ordens, o lugar era único, como um salão de festa gigante no meio do céu, onde só anjos e arcanjos poderiam entrar. Gabriel foi atrás de e e os trouxeram, mesmo que a força, para saírem daquela agonia. Não estava sendo fácil para ninguém, a falta que fazia era enorme. A multidão se calou e Gabriel começou a discursar sobre os novos tempos que começaria agora.
As portas douradas se abriram e um homem com um sobretudo negro entrou no local com uma foice na mão. Era morte. Todos ficaram de pé e apenas observavam o cavaleiro que adentrava o salão.
- Como ousa entrar aqui? – Miguel se aproximou, já com a espada em punhos.
- Acho que isso não será necessário – sentou-se em uma cadeira, que segundos atrás, era inexistente ali, com calma – Estou livre – mostrou as mãos – Lúcifer me fez seu escravo e agora que ele está morto, estou livre.
- E o que veio fazer aqui?
- Venho trazer notícias, – sorriu – boas notícias.
-Então fale – Gabriel disse impaciente.
- A vida prega as maiores peças na gente. Ela gosta de pisar em nos nossos cadáveres que apodrecem no sol da solidão e na névoa na raiva. O que fazer se é o necessário para evoluir? – levantou-se e guardou a foice dentro do seu casaco – está viva.
- Não, isso não é possível – caiu de joelhos e o barulho de conversa se espalhou pelo lugar – Eu a vi se desintegrando, o corpo frágil dela não suportou a alma de Lúcifer.
- Sua frase se tornou errada quando citou o corpo dela como fraco – morte o corrigiu – Ela é um Arcanjo agora e está vagando por aí, perdida dentro de suas emoções.
- Onde poderemos achá-la?
- O correto é: como achá-la. Ela está vazia, perdida, precisará de algo que só você – apontou para – poderá dar a ela.
-Mas como vou encontrá-la? Eu preciso vê-la! – praticamente rastejava aos pés do cavaleiro, em busca de respostas.
- Ela é um arcanjo agora – deu as costas, deixando todos com cara de taxo. Antes que pudesse chegar a porta, sumiu, e deixou em estado de desespero.
tentou correr até a porta, não pensou, agiu somente pela emoção. A cabeça do pobre anjo estava a ponto de explodir. Desde o dia em que o viu pela primeira vez, sua vida mudou. Após passar o tempo todo se escondendo, mantendo-se como psicólogo, as coisas estavam indo bem, no quesito segurança. E, como uma tempestade de verão, tudo virou de pernas do ar e a pobre garota estava no olho do tornado. Tudo o que fez foi em vão, ele nunca poderia ter evitado tudo. Por ela, ele se aliou ao inimigo, moveu montanhas e gerou guerras, mas para quê, se o destino de sempre tivera sido este?
- Pare , você está fora de si – Gabriel segurou o anjo pelas costas, impedindo que este fugisse – Use a cabeça – Arremessou o anjo contra o chão e o enforcou com os pés sobre a sua garganta. Gabriel não queria machucá-lo, mas estava fora de si, a notícia chegou como uma bomba e estourou como uma represa.
- , escute Gabriel – segurou o braço do anjo e finalmente ele parou de se debater – Não está sendo fácil para você nem para mim, acredite. Nós precisamos ser fortes, é o que faria, ela está sendo forte até agora e você tem que se controlar, seja forte igual a ela - acertou-lhe um soco na cara e finalmente caiu em si.
- não está no mesmo plano que o nosso, não está no céu, terra ou inferno! – Miguel tirou o irmão de cima do anjo e o ajudou a ficar de pé – , você precisa se recompor, o anjo guerreiro que havia dentro de você morreu!
- Não julgue quando você não pode entender.
- Ninguém está entendendo esse seus comportamento maluco – a conversa começou a virar discutição e ninguém ousou intervir.
- Esse é o problema, alguns anjos se acham tão superiores que não conseguem sentir. Falta a vocês um pouco mais de humildade – berrou na cara do arcanjo.
- Cale-se – empurrou para longe – Não ouse dar mais uma palavra.
- A verdade dói, não é? – Miguel já avançava contra o anjo quando Gabriel interviu, segurando o corpo do arcanjo.
- Parem vocês dois – Gabriel berrou – Eu acho que já sei um jeito de trazer a de volta. Morte frisou que ela é um arcanjo, e qual o melhor jeito de fazer isso? Rezando.
- O quê?
- , você é a pessoa que mais ama. Reze por ela, peça que ela volte.
- Eu vou fazer isso – e, sem ter medo ou vergonha de se declarar e todos que estivessem ali escutassem, ajoelhou-se no chão, fechando os olhos em seguida, tendo a colaboração de todos com o silêncio total – , eu sei que pode me escutar, sei também que está sendo muito difícil para você enfrentar tudo isso sozinha, por isso volte para mim, para nós, e nos deixe te ajudar. Meus dias sem você estão sendo os piores possíveis, eu não consigo mais ficar um segundo sem pensar em você, em sua teimosia maluca. Mas eu te entendo, você apenas construiu uma armadura para se defender de tudo e de todos. E quando você finalmente abriu seu pobre coraçãozinho para esse pobre apaixonado aqui, tudo floresceu. Você ficou mais viva que nunca, como uma flor do deserto esperando por uma gota d’água de esperança, carinho e amor. Eu me sinto como um vaso sem flor, um rio sem peixe. Ao seu lado sou forte e sem você não sou nada. Volte para mim e deixe eu te ajudar, por favor, , eu te amo - abriu os olhos visando todas as direções, mas nada aconteceu – Por favor – fungou em uma última tentativa.
- Dr. ? – apareceu atrás do anjo e todos comemoraram, deixando-a assustada – O que faz aqui?
- Dr. ? – perguntou confuso para a garota que tinha um olhar superficial – , que bom que você veio, estava morrendo de saudade – abraçou-lhe e o olhava estranho.
- Calma, – Gabriel se aproximou e olhou fixamente nos olhos de , você sabe o que eu sou?
- Sim, você é o arcanjo Gabriel – se desconcentrou da pergunta e correu até para abraçá-lo, deixando com cara de taxo plantado ao lado – , que saudade.
- , quem é esse homem? – Miguel perguntou estranhando, assim como os outros, a ação da garota que mostrou indiferença para quem antes tanto amara – Você se lembra dele?
- Sim, ele é o doutor , psicólogo da minha escola – olhou para cima, girando em volta de si, estranhando o lugar que estava – Onde estamos?
- No céu, – disse Gabriel – Você sabe o que aconteceu?
- Eu morri e depois ficou tudo confuso. Parecia que eu estava em todo lugar do mundo, ouvindo qualquer barulho.
- , agora você é um arcanjo, isso trará algumas sensações estranhas – a garota arregalou os olhos.
Gabriel e foram acomodar e lhe explicar o que tinha acontecido. A pobre garota ainda estava perdida e não sabia lidar com a situação. Mais ao canto, estava sentado, calado e, provavelmente, quase morto.
- Hey, cara – Miguel se mostrou amigo, sentando ao lado dele – Calma, não te esqueceu.
- Como não? Você viu o jeito como ela me olha?
- Ao passar por aquele trauma, ela bloqueou o sentimento mais forte.
- Quer dizer que o amor dela por mim foi mais forte que toda aquela confusão que o Apocalipse causou?
- Sim, então fique calmo e talvez algum dia ela se lembre.
- Talvez, – lamentou – mas eu já sei o que posso fazer para trazê-la de volta.

Eu estava junto ao meu irmão e que agora me explicaram tudo. Aquele sentimento todo que eu sentia por Lúcifer se esvaziou, deixando-me com um buraco enorme no peito. Eu não sentia mais nada. Não tinha medo, dor, saudade... era tudo tão vazio como o preto no branco. chegou a todo vapor e com a mão direita abraçou minha cintura colando nossos corpos, prosseguindo com um beijo que me deixou surpresa. Eu não sabia o que fazer com aquela atitude inesperada, eu ouvi as palavras “eu te amo” quando ele estava me chamando, mas ignorei.
- Você enlouqueceu? – empurrei o corpo dele para longe, muito longe mesmo, fazendo-o colidir contra uma pilastra branca. Eu precisava aprender a controlar meus poderes de Arcanjo. Senti-me um pouco culpada e corri até meu psicólogo, que estava caído no chão enquanto limpava uma gota de sangue que escorria de sua testa – Desculpa, eu não queria te machucar.
começou a chorar, eu não entendia se era por causa da dor, mas ele é um anjo, uma pancada como aquela não o abalaria desse jeito. Eu só sei que, a cada vez que ficávamos perto um do outro, os olhares se voltavam todos para nós em um repleto silêncio que me deixava incomodada, no fundo eu sabia que tinha algo de errado.
- Por favor, não chore – levantou-se e segurou minhas duas mãos, percebi que sua mão tremia até demais – O que você está fazendo?
- Olha no fundo dos meus olhos e diz que não sente mais nada.
- , desculpa, mas eu nunca senti nada por você. Você é meu psicólogo, é bonito, mas eu nem sei por que e nem como você veio parar dentro dessa confusão toda.
- Tudo bem, – levou as duas mãos até a cintura enquanto encarava o chão – teremos que começar do zero. - Como do zero, ? Você está me deixando confusa – ninguém me entendia, para falar a verdade, nem eu mesma me entendia. Eu olhava para os olhos de cada anjo que nos observava e cada um deles recusava me explicar o que estava acontecendo ou o que aconteceu. Quando pousei meu olhar sob o de Gabriel, percebi que ficou agitado, e era a hora dele ou alguém me explicar tudo.
- Não me olha com essa cara – Gabriel tentou se defender – Ah...Tudo bem, isso vai ser esquisito – disse se aproximando e olhando cada pessoa ali para que todos saíssem de perto – , você morreu e seu pai, digo, Lúcifer deu a alma e a vida para você. Só que ao se tornar um arcanjo, você, por instinto de sobrevivência e superioridade, bloqueou o que te tornava fraca, o que fazia seu coração bater estranho, o que te trazia sentimentos.
- E? – queria que ele desembuchasse logo, o mais rápido possível.
- Essa parte bloqueou todas suas lembranças de . Ela era seu namorado, vocês se amam muito, acredite em mim.
Fiquei num silêncio profundo, onde eu podia ouvir somente minha respiração. Eu analisei cada pedaço do corpo de , que me encarava esperando alguma resposta, mas não achei lembrança alguma, lembrava-me dele somente como psicólogo e mais nada.
- Tudo bem, mas o que vocês querem que eu faça? Eu não o amo mais.
Droga, não deveria ter usado aquelas palavras daquele jeito. Eu não amava mais , mas vê-lo naquele estado após a verdade foi doloroso. deu as costas e saiu dali, cabisbaixo, com os outros anjos que já estavam indo embora. - Eu preciso ficar sozinha, ok? – abracei Gabriel – Eu vou para minha casa.
- Aqui é sua casa agora, .
- Não, minha casa é em New Orleans.
Quando cheguei naquela casa, percebi como o tempo passou. Tudo se transformou. Antes, chorara pela perda dos meus pais, depois uma vida difícil se instalou em mim, meus avós morreram e eu, de um jeito diferente, também morri. Está tudo tão quieto e acredito que a casa precise de uma boa faxina para tirar esse pó e esse cheiro de casa fechada. Fui até meu quarto, que estava todo bagunçado, e deite-me na cama, encolhendo meu joelhos na barriga, abraçando a almofada.
O dia virou noite e eu não consegui fechar os olhos por um segundo. Senti uma sensação estranha e a cama ao meu lado se abaixou, denunciando a presença de alguém, dando-me um susto que me fez virar imediatamente para o lado e ver deitado me encarando.
- Você não vai me deixar em paz?
- Não.
- Não adianta.
- Adianta sim.
- Eu quero ficar sozinha.
- Eu quero ficar com você.
- Sério, por favor.
- Não.
- O que você veio fazer aqui?
- Isso – disse, surpreendendo-me com um rápido beijo – Por favor, não me arremesse dessa vez.
ficou em cima de mim e prendeu meus braços contra meu corpo, deixando-me totalmente sem reação. Não que eu não tivesse força para tirá-lo de cima de mim, mas eu queria ver o que poderia acontecer se aquilo prosseguisse. Suas pernas deslizaram para baixo e agora sua boca tocava meu pescoço com pequenos beijos lentos e, a cada vez que o barulho meloso saía da boca dele, um arrepio percorria meu corpo, mas isso não significava nada, era apenas o ato que me trazia aquela sensação, ainda não tinha amor.
Ele segurou minha cabeça com as duas mãos e invadiu minha boca com sua língua, cheio de desejo. percorria cada canto da minha boca e eu comecei a retribuiu, incentivando-o a continuar com o beijo. O anjo puxou minha blusa para cima e eu ergui os braços para ajudar, evitando o máximo tirar os olhos dos dele, que pareciam me comer com um só olhar, como se ele estivesse em chamas. Ele também tirou a camisa e, em seguida a calça, sentou –me em seu colo e fez meu corpo se esfregar em seu membro para eu perceber como eu o deixava.
- Posso continuar, ? – esfregou sua boca na minha barriga enquanto ia descendo cada vez mais, até parar no zíper da minha calça e me encarar esperando a resposta.
- Pode – autorizei que ele seguisse em frente, mas ele me surpreendeu quando saiu de cima de mim, vestindo a camisa e calça.
- Aonde você vai?
- Vou embora.
- Mas, o que eu fiz? – fiquei perdida, não estava entendendo nada.
- Se não for com amor, para que fazer?
- Você está de brincadeira comigo! – reclamei e também procurei por minha blusa.
- Não, não estou.
já estava me dando as costas quando, de repente, a janela do quarto se espatifou em mil pedaços, o que causou um barulho assustador. Por instinto, me joguei no chão e pulou por cima para me defender dos estilhaços, ele deve ter esquecido que agora sou um arcanjo. Quando ergui a cabeça, avistei-a, com a roupa toda rasgada e alguns cortes profundos em sua pele.
- Mãe? – levantei-me, apoiando no cotovelo. Era só o que me faltava.
- , minha querida – ela andou na minha direção, ainda bem que evitou que ela chegasse mais perto de mim. Eu não sabia por que sentia raiva dela, se era pelo fato de ser um demônio ou pelo fato dela ter me deixado sozinha por todo esse tempo, sabendo que eu estava sofrendo – Saia da minha frente, anjo tolo – empurrou-o com força, de modo que caísse do outro lado do quarto.
- O que você quer? – fui andando para trás até não ter mais como fugir, já que a parede me impedia. A mulher continuou se aproximando e aquilo estava me deixando totalmente nervosa. Senti algo me incomodar no interior da roupa e vi um objeto pontiagudo. A espada, que antes pertencia a Lúcifer, estava ali, peguei-a e apontei para a mulher na minha frente.
- Como assim, minha querida? Eu estou com saudade de você, sou eu, sua mãe.
- Não mais – apontei a espada para evitar que ela se aproximasse - Vá embora, agora.
- Não diga que eu não tentei ser boazinha – Ela se distanciava esnobe, desfilando de uma lado para o outro até se aproximar de e pressionar seu pé contra o pescoço do anjo – É sério que você foi gostar desse qualquer?
agarrou as pernas da mulher e arremessou-a no chão, me apressei e segurei os braços dela.
- Seu nome, qual é? – pegou sua espada e pressionou contra as costas do demônio.
- Você sabe, meu querido.
- Não, seu nome de demônio, qual é? – exigiu mais rude.
Minhas mãos tremiam, eu a odiava, mas por tanto tempo sofri por ela ser minha mãe.
- Tessarin – arregalou os olhos de tal forma que eles pareciam preste a saltar a qualquer instante.
- Tessarin? O primeiro demônio? – Acuei-me mais ainda por estar metida naquela confusão gigantesca.
- Está surdo, moleque? – a soltou e a demônio se dirigiu para a janela – Vocês anjos são muito abusados, por isso darei um fim em vocês – disse saltando janela afora e deixando-nos sem qualquer reação.
Minhas pernas perderam toda a força e, graças a parede, não fui de uma vez para o chão. Enfiei minha cabeça no meio dos meus joelhos e me neguei a olhar para qualquer outra coisa.
- Não, , não fique assim.
- Sai daqui – gritei, tendo a voz abafada em meus braços. tentou de qualquer jeito me consolar, mas eu não queria ajuda, eu apenas queria ficar sozinha.
- Vá embora, você não entende que nunca mais serei a mesma de antes? – ergui a cabeça e as lágrimas escorreram ainda mais – Nós não temos mais chances, , vá embora e, de preferência, para sempre – frisei a última palavra e o anjo cambaleou para frente e para trás, desnorteado.
Após muita insistência em falar alguma coisa, saiu dali, deixando para trás uma lágrima que caíra no chão.
A verdade é que, quando pus os olhos na minha mãe, uma invasão de sentimentos tomou conta de mim. E essa invasão de sentimentos que me refiro, está incluso todas as lembranças de . Sim, me lembrei de quando ele me levou para a casa de campo, dos nossos momentos juntos e até do ciúmes dele quando estava perto de mim. Mas quer saber porque mandei ele embora? Eu não posso mais dar o amor que ele merece, eu sou uma bomba que pode explodir a qualquer segundo e não quero que ele se machuque nessa explosão. Não quero que ele sofra mais, quanto mais perto de mim ele ficar, mais será difícil para nós dois. Eu vi o sol e a lua brincarem de esconde-esconde várias vezes.
- Já chega, – Gabriel entrou no lugar com e ao seu lado – Você não pode ficar assim.
- Saiam daqui, todos vocês – apontei para a porta – Agora – eu sabia que eles se mantiveram ali, mesmo tendo a cabeça enfiada no meu dos braços, como da última vez que vira .
- Sua voz, – ele se aproximou – está diferente. Olhe para mim, – ele tocou meu queixo com a ponta do dedo, fazendo-me encarar seus olhos. - Me desculpa – comecei a chorar e desabei, como se tudo ao meu redor estivesse desmoronado.
- Estou tão feliz que você tenha se lembrado de tudo, .
me puxou para seu colo e se levantou comigo em seus braços, enquanto me balançava como se fosse um bebê.
- , não podemos ficar juntos – desci de seus braços antes que aquilo fosse longe demais.
- Cale essa sua boca, – ele apontou o dedo na minha cara.
- Mas, ...
- Cala a boca, não quero te ouvir dizer mais nada.
- Eu não quero que você sofra mais – peguei a espada e pressionei-a contra meu corpo, que começou a ser perfurado devagar. Minhas mãos tremiam, mas eu teria que fazer aquilo se quisesse dar uma segunda chance para que anjo, que eu tanto amava, pudesse viver.
- Pare com isso, – praticamente todos berraram ao mesmo tempo.
- Não se aproximem!
O mundo à minha volta parecia passar em câmera lenta em frente aos meus olhos. O corte causado pela espada ardia cada vez mais, conforme ia perfurando meu interior. O ar ficou mais pesado e senti uma presença atrás de mim, o que me fez virar de costas e ver o cavaleiro negro com uma cara de poucos amigos.
- Eu tenho uma solução para vocês dois – Morte apontou o dedo comprido para mim e para – Mas, primeiro, vocês precisam dar um jeito em Tessarin ou ela trancará os anjos no céu e trará o inferno para a terra.
- É por isso que estamos aqui... não queremos agir sem a permissão de – o arcanjo Gabriel me encarou.
- Vocês não encostarão um dedo nela – removi minha espada do meu corpo e limpei na camiseta – Eu darei um jeito nisso.
Minhas asas, ainda vermelhas, se abriram após eu saltar da janela e seguir em direção à minha mãe, ou melhor, o demônio Tessarin. É óbvio que todos vieram atrás de mim, mas não me importei e saí voando. O mundo estava se recuperando dos abalos que, para eles, foram fenômenos da natureza por consequência do aquecimento global, mas mal sabiam eles que tudo isso foi por causa do Apocalipse.
Se tem uma coisa estranha, é morrer e desaparecer por um tempo. Tudo agora parece diferente, me sinto um alienígena neste planeta, que parece ter mudado horrores desde que morri. Não sei se estou fazendo o certo, mas estou depositando toda minha chance de ser feliz na morte da minha mãe. Acredito que quando Tessarin morrer, minha vida voltará ao normal, ou melhor, poderei construir uma a partir do zero.
Esse negócio de ser arcanjo me ajudou quanto à procura de Tessarin. Meus instintos me levaram até um campo, que provavelmente era usado para o rebanho, mas não encontrei nada ali de imediato, eu poderia sentir a presença dela, mas não podia vê-la. , , Miguel e Gabriel pousaram logo atrás de mim.
- Eu disse que cuidaria dela sozinha.
- Eu fingi que não ouvi – disse me desafiando e eu estranhei.
Não sei por que, mas sorri e ele retribuiu o sorriso logo em seguida, ignorando o campo de batalha em que estávamos.
- Onde ela está?
E, por uma ironia imensa do destino, o chão abaixo dos nossos pés começou a tremer e o gramado verde se rachou em milhões de pedaços, abrindo um cratera, consideravelmente, imensa. Do centro daquele buraco, Tessarin emergiu e nós voamos para que não fossemos atingidos pelos destroços flamejantes.
A demônio ignorou todos ao redor enquanto recitava palavras em alguma língua que eu não fazia ideia. O céu começou a ganhar a cor vermelha, mesmo que o sol não estivesse em seu auge naquela hora, o solo todo pareceu sofrer uma onda de choque e auroras boreais costuravam o céu. Aquele era um feitiço para trancar o céu e libertar o inferno na terra, um dos feitiços mais poderosos e mais temido que caísse em mãos erradas. Mas, durante o Apocalipse, o céu virou uma anarquia, muitos mudaram de lado e os segredos mais profundos acabaram se esvaindo para o lado mal.
Estiquei minhas asas e avancei contra Tessarin, mas ela, com seus poderes, me arremessou para longe e atingi o chão, causando grande destruição. Miguel e Gabriel tentaram logo em seguida, mas também fracassaram. tinha sumido do meu campo de visão, mas quando o encontrei, vi o anjo atingindo Tessarin com uma árvore gigantesca enquanto ela atacava os arcanjos desprevenida.
Foi nessa hora que partimos para cima dela, mas eu tomei a frente, pois achei justo que aquela morte fosse por minhas mãos. Agarrei o pescoço dela com uma das mãos e com a outra aproximei a minha espada dela e, por inconveniência, ela riu da minha cara, mesmo estando à beira da morte. Para ter certeza que ela não escaparia, Gabriel e a agarram por trás para me ajudar.
- Idiotas – ela berrou, vendo que a batalha já estava perdida. Miguel usava seus poderes para bloquear os poderes dela – Não veem que vocês já perderam? A maldade habita dentro de cada um de vocês, de cada humano que vocês tanto protegem. Vamos, , me mate logo! Obtenha logo essa vingança que você tanto deseja, afinal, eu tenho uma boa culpa por ter arruinado com sua vida.
- Sua desgraçada! – enfiei minha espada no meio do seu peito – Enquanto a maldade for uma opção, nós lutaremos. A única que perdeu aqui, foi você – Tessarin urrou de dor e o sangue finalmente escorreu de sua boca, entregando sua morte.
O feitiço se encerrou, o buraco no chão foi se fechando e as cores do céu foram se desintegrando. Quando o buraco estava prestes a se fechar, arremessei o corpo dela dentro, para que fosse esquecida para sempre.
A vingança, tão vazia e sem valor. Parece que um buraco negro se abriu na minha cabeça, me sinto abandonada e perdida com a pergunta: “e agora, o que vou fazer?”. Senti uma mão apoiada no meu ombro e me virei para trás.
- Hey, vai ficar tudo bem – me abraçou e eu retribui com um abraço forte que me trazia segurança. Sua mão acariciava minhas costas de cima para baixo e depois Gabriel se aproximou também.


Capítulo 9


Era manhã quando depositei um buquê de flores em cima do túmulo do meu pai. Pobre homem, o único inocente que sofreu sem saber, que morreu sem saber. O homem para quem a verdade não fora apresentada, mas que, com muito orgulho, chamei de pai. E se eu fosse chorar por alguma causa, seria por ele.
A mão quente de alguém tocou a minha, mas no fundo eu sabia de quem era, por isso entrelacei meus dedos com força e me apoiei em seu ombro para poder chorar pela verdade.
- O que faremos agora?
- Eu não sei.
- Está uma bagunça lá em cima – referi ao céu.
- Gabriel e Miguel vão colocar tudo em ordem.
- Eu sei.
- E nós? Vamos ajudá-los?
- Não sei. Eu só queria ter uma vida normal, poder fofocar com e Ed, fazer os deveres de casa, xingar alguma coisa – ri.
- Eu tenho uma solução para vocês – morte apareceu, intrometendo-se – Vocês salvaram a todos e acho que merecem uma recompensa.
Viramos para ele, dispostos a ouvir o que o cavaleiro tinha a oferecer.
- Eu posso dar uma vida para vocês, nascerão em famílias diferentes, como humanos, pois bloquearei o poder de vocês. Vocês viverão normalmente e, somente quando o dia da morte de vocês chegarem, vocês voltarão ao seus papéis de anjo e arcanjo, lembrando-se de tudo o que aconteceu.
Encarei e temi pela decisão dele. Precisaríamos fazer isso juntos.
- Nós podemos dar essa resposta outra hora?
- Claro, mas pensem com atenção. Estou dando uma nova vida para vocês, quando voltarem aos seus postos no céu, tudo estará tranquilo e organizado. Você e são o que destino tem de mais raro, são almas gêmeas e em momento algum deixarão de se amar, porém, , sua alma foi despedaçada e estou dando uma nova chance de se reconstruir.
- Mas nós ficaremos juntos nas nossas novas vidas? Nós vamos nos reconhecer? Vamos nos amar? Ela vai gostar de mim? – fuzilou com perguntas.
- Não sei, isso caberá a vocês – sumiu.
Sentamos em alguma pracinha de uma cidade do interior, sem movimentos e barulhos, lado a lado naquele banco de madeira em frente a uma igreja. Nossas mãos estavam unidas e de alguma forma, eu sabia no que ele estava pensando.
- O que você quer ? – encarei-o.
- Não importa o lugar, onde você for eu estarei junto.
- Eu acho que devo fazer isso, por nós – vi o olhar dele se acender de esperança – Eu estou como uma maçã podre que precisa ser renovada, só dessa forma poderemos viver nosso amor em paz.
- Em vidas humanas, creio que isso demorará em torno de 90 anos.
- Mas depois teremos a eternidade.
- Hum... a eternidade ao seu lado? Acho que gostei – ele me fez rir.

Quatro horas depois, no salão Celestial

- Esse é o certo para nós, Gabriel – explicava pela milésima vez nossa escolha para o Arcanjo.
- Eu sei, mas eu vou ficar morrendo de saudade – ele me abraçou – Eu vou ser o anjo da guarda de vocês dois.
- Não precisa se preocupar, – morte apareceu – eles nascerão e morrerão juntos e, consequentemente, voltarão juntos para cá.
- Boa sorte para vocês – Miguel me abraçou e depois cumprimentou .
- Espero que tudo dê certo – surgiu no canto, com os olhos marejados. Fui até ele e dei um abraço especial. Eu me sinto um pouco culpada até hoje por não poder fazer aquele anjo feliz – Seja feliz e eu também serei – ele disse como se tivesse lido minha mente.
- Onde estava antes? – me perguntou.
- Fui me despedir de grandes amigos – caminhei até Gabriel – Cuide bem deles, tudo bem?
- Com toda honra.
Tudo estava pronto para seguir seu rumo, morte com sua foice, se aproximava para cumprir seu papel.
- , até daqui a pouco – veio até mim e nos ajoelhamos de mãos dadas na frente de todos. A mão do anjo contornou meu rosto até que pudéssemos unir nossos lábios em um beijo melado e gostoso, cheio de despedidas e amor.
-Até daqui a pouco, – sorri e, por fim, uma luz branca apareceu no meu campo de visão, deixando-me cega.

New Orleans, 10 anos depois.

O mundo se reergueu após as catástrofes, as cidades estavam mais limpas. Toda aquela confusão serviu de aviso para que o mundo mudasse e começasse a tratar melhor da natureza. New Orlens continua brilhante e barulhenta, especialmente neste final de semana em que um parque de diversão fora inaugurado. Centenas de pessoas foram na inauguração, já que a estreia contaria com o show de uma famosa banda de rock. Sem dúvida alguma, a maior fila era para andar na montanha russa. não aguentava mais esperar para poder subir no carrinho e se aventurar no brinquedo.
- Alfred, deixa de ser medroso e vai com sua filha – Candice pediu para que o pai acompanhasse a filha, já que a vez deles de subirem no brinquedo havia chegado.
- Eu posso ir com ela – um garotinho que aparentava ter a mesma idade se aproximou –Posso?
- Claro, querido – o homem respirou aliviado – Isso seria terrível para minha labirintite.
- Você estava com medo, Alfred, admita.
- Não estava não.
Dentro do carrinho, os dois se sentaram e, de uma maneira estranha, ficaram se encarando sem ao menos piscar. Só foram acordados do transe quando o homem passou verificando as travas de segurança.
- Oi, meu nome é , qual é o seu?
- Oi, – o menino sorriu timidamente – meu nome é .
- Sabia que eu mudei de escola esse ano?
- Onde você vai estudar?
- Na escola Lincoln.
- Eu estudo lá.
- Que legal – sorriu inocentemente – Talvez possamos estudar juntos e ser amigos.
- É, pode ser que sim – o garoto sorriu, gostando da ideia – Você está com medo? Se quiser pode segurar minha mão – segurou forte a mão da garota e ela finalmente se sentiu segura.
- Você não vai deixar nada de mal acontecer comigo?
- Claro que não, esse brinquedo é seguro.
Os olhares novamente se fixaram e as mãos se apertaram. até pensou que aquela sensação estranha fosse medo da montanha russa, mas mal sabia que o real motivo daquilo seria descoberto conforme a convivência fosse ficando maior.
- Olha aqui, filho, vou tirar uma foto – uma mulher loira de sobretudo apareceu com a câmera fotográfica.
As crianças sorriram de dentro do brinquedo, mostrando os dentes de leite que cresciam.
- Oi, você não é a nova secretária que está trabalhando na nossa empresa? – Alfred perguntou.
- Ah – ela os reconheceu – Oi, sou em sim. Senhor e senhora , estou certa?
- Por favor, nos chame de Alfred e Candice – a mulher disse.
- Acho que nossos filhos são amiguinhos.
- Acho que sim – as mulheres sorriram.
Um homem chegou logo em seguida, trazendo algodão doce colorido.
O brinquedo começou a funcionar e as crianças acenaram, dizendo tchau enquanto brinquedo subia.
- Vamos vir aqui amanhã? – ela perguntou para o garoto que ainda segurava sua mão.
- Por mim, nós viremos aqui amanhã e por um montão de anos – ele não entendeu o porquê, ainda mais naquela idade, mas depositou um beijo na bochecha da menina, que ficou com o rosto completamente vermelho.
E o brinquedo se arremessou para baixo enquanto todos gritavam, davam risadas e se divertiam.
Bom começo para um nova vida, paz, tranquilidade e muito amor.



Fim



Nota da autora: (26/07/2015)
Sem nota




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