AQUELA DOS TRINTA
História por That


Hoje já é quinta-feira
E há pouco tinha quase 20
Tantos planos eu fazia
E eu achava que em 10 anos
Viveria uma vida
E não me faltaria tanto pra ver
Aquela dos 30 – Sandy



Santa Mônica, Califórnia – Sexta-feira, 09 de agosto de 2013, 11:23 am.


Assim que o sol da manhã atingiu seus olhos, sentiu uma pontada tão forte na cabeça, que mal conseguiu abrir os mesmos. Por isso achou melhor mantê-los fechados por mais um tempo. A garota girou o corpo na cama, ficando de costas para a claridade, que insistia em romper a fina camada de tecido da cortina. Quando seus olhos pesados quase a levavam para mais uma rodada de sono profundo, ela sentiu algo pesado sobre o meu corpo, como se fosse um braço, e acordou alarmada. A dor de cabeça voltou fortemente, mas não se abateu, olhando para o lado e se assustando ao encarar a figura com quem dividia a cama. Ela levantou o corpo, vendo o lençol escorregar pelo mesmo e deixando seus seios a mostra. Seus olhos se arregalaram no mesmo instante que sua boca de abriu num claro sinal de espanto. Seu acompanhante mal se moveu, apenas se virou, ficando de costas para ela.
- Não! Não! Não! – ela dizia para si mesma, enquanto varria o quarto com olhos, em busca de algo que pudesse vestir. Mas havia tudo pelo chão, menos suas roupas. Derrotada, ela puxou um pouco mais o lençol em sua direção e cobriu-se, dizendo em seguida:
- . – o rapaz se mexeu um pouco, talvez incomodado com o barulho, mas sem acordar de fato. – ! – ela gritou, usando o pé para cutucá-lo por debaixo do lençol. Ele abriu os olhos lentamente, mas não pareceu assustado com a situação.
- Por que você está gritando desse jeito? – ele murmurou, coçando levemente os olhos, enquanto virava-se na direção da garota.
- O que você está fazendo na minha cama? – perguntou, enquanto tentava se lembrar de algo, mas era em vão.
- Não faço ideia. – respondeu, parecendo quase a vontade com a situação.
- Você está, err, vestido? – a garota perguntou, vendo o amigo menear com a cabeça, antes de levantar um pouco a barra do lençol.
- Não, definitivamente não. – o rapaz respondeu, reprimindo um sorriso.
- Não acredito nisso! – exclamou, levando as mãos ao cabelo, num gesto de quase descontrole. – Fala alguma coisa, .
- Feliz aniversário? – disse incerto, vendo a expressão da garota mudar novamente. Talvez não fosse exatamente o que ela queria ouvir. – Não? Tá, o que você quer que eu diga?
- , lembrar que hoje é meu aniversário é a última coisa que importa. – bufou, tentando controlar sua respiração e seu nervosismo. – Você acha que nós, você sabe... – ela começou a falar, não querendo completar a frase e esperando que seu pensamento fosse alcançado.
- O que? – ele perguntou, erguendo as sobrancelhas. rolou os olhos, suspirando. Ela não queria ter que dizer isso em voz alta e era tudo o que queria.
- Você acha que nós dormimos juntos? – falou rapidamente, sem encarar o amigo nos olhos.
- Possivelmente. – ele se limitou a responder.
- Que maravilha. – ironizou, girando o corpo e colocando os pés no chão, preparando-se para levantar. Até que lembrou que estava completamente nua e não queria que a visse daquele jeito. – Será que você poderia se virar, quero me levantar. – disse baixo, virando apenas o rosto para que o rapaz pudesse ouvi-la, porque sabia que caso ela se movimentasse muito, mostraria mais do que gostaria.
- Eu acho que já vi tudo o que você quer tanto resguardar. – ele começou dizendo, observando atentamente a pele nua das costas da menina, guardando desde as pequenas pintas, até a exata forma de sua cintura e descendo, perigosamente, até a linha do seu quadril. xingou-se mentalmente, por não conseguir manter-se controlado. – Mas se você prefere assim. – continuou, jogando as pernas para o lado e se sentando de costas para . Porém, pela janela que havia do seu lado do quarto, todo o reflexo da menina estava estampado na sua frente e com isso ele conseguia ver todos os seus movimentos. Ela deixou o lençol cair ao seu lado e certificou-se que o amigo não a olhava antes de levantar. Toda a silhueta da menina estava à mostra, seu corpo já começava a dar sinais não recomendados, mas não conseguia desviar o olhar e muito menos se controlar. Só de lembrar por onde suas mãos passearam, onde seus lábios tocaram e onde seus corpos se encontraram, ele já perdia o juízo. E o pior de tudo isso: ele precisaria fingir que não lembrava-se de nada. Se ele contasse tudo o que lembrava, poderia pensar que ele fez tudo de propósito, o que não é verdade. Ele tentou evitar que algo mais acontecesse, mas quando se tem uma mulher seminua sentada sobre você, nenhum homem consegue manter o controle. acompanhou seus movimentos, vendo o desenho do corpo de se mover para fora do quarto e voltar segundos depois, já devidamente coberto. Ela jogou sua cueca e sua calça em sua direção e saiu novamente, dando-lhe um pouco de privacidade. O rapaz jogou a cabeça para trás, respirando fundo e em seguida se vestiu. Caminhou até a cozinha, onde ele ouvia uma série de barulhos e lá chegando, encontrou a amiga tomando um comprimido, enquanto uma chaleira repousava sobre o fogão. vestia sua camisa e mantinha um sorriso sem graça nos lábios.
- Eu já te devolvo sua blusa, fui pegar a minha roupa, mas ela estava meio úmida. – ela disse, fazendo uma careta. – O que diabos a gente fez ontem à noite, ?
O rapaz pensou por alguns segundos, tentando decidir se era melhor contar tudo e ficar a mercê de qualquer reação de ou se ele deveria continuar agindo como se não lembrasse nada também. A realidade é que a bebida não age mais tão fortemente com ele, suas ressacas não são mais absurdas e ele sempre se recorda de tudo o que aconteceu. Ao contrário da amiga, que mal coloca uma gota de álcool e agora está sofrendo com a pior ressaca da vida. observou atentamente a forma que estava agindo e resolveu arriscar, mal do jeito que estava, ela não conseguiria fazer muita coisa mesmo.
- Eu preciso confessar uma coisa. – o rapaz começou, recebendo a atenção na garota no mesmo instante. Ela, que estava terminando de preparar um café, colocou o bule em cima da bancada e puxou uma cadeira para se sentar, tendo a ação repetida por . – Eu lembro tudo que fizemos ontem à noite.
- Tudo? – ela engoliu a seco, desviando o olhar para a xícara que segurava.
- Detalhadamente.
- Ai, meu Deus! – a menina deixou a cabeça cair nas mãos, murmurando alguma coisa para si mesma.
- Eu acho que você ficaria uma pouco feliz com as coisas que vez ontem, foi exatamente o que você queria, . – falou, dando a volta na bancada e parando ao lado da amiga. – Sempre reclamou que nunca fez nada louco. Bem, na noite passada você só fez isso. – ele sorriu abertamente, vendo a menina virar o rosto e encará-lo por alguns segundos.
- E você fala isso como se fosse uma coisa maravilhosa de se fazer, não é? – disse, com o tom de julgamento transbordando em suas palavras.
- Bem, depende do ponto de vista. – tentou se justificar, dando de ombros. – Quando se é desejado, pode não ser tão mau assim.
- Ok. – se limitou a dizer, colocando uma xícara à sua frente e depois levando outra aos lábios.
- Ok. – ele a imitou, tomando um gole do café forte e amargo, fazendo uma careta depois. Observou pelo canto dos olhos a feição de , vendo a raiva ser substituída pela curiosidade. A garota suspirou, derrotada, virando-se na direção dele e dizendo:
- , você pode me contar o que eu fiz? Porque eu, realmente, não lembro nada.
- Vá se trocar, nós vamos dar uma volta e eu te mostrarei todos os lugares que visitamos ontem. – o rapaz falou, vendo a amiga acenar com a cabeça, antes de sumir na direção do quarto.


seguia ao volante, enquanto se mantinha calada, observando a paisagem se mover rapidamente ao seu lado. O rapaz sabia parte do que se passava na cabeça dela nesse instante. Depois de quinze anos de amizade, tudo ficava muito claro para eles e nada demandava de muita conversa. Algumas vezes uma simples troca de olhares dizia muito mais que palavras. E agora, provavelmente, ela tentava entender como poderia ter deixado as coisas chegarem a esse ponto. Como ela, que quase não bebe, poderia ter bebido tanto que não lembra o que fez. Algumas vezes ela balançava a cabeça, negando alguma coisa. sabia que não era o bom momento para falar qualquer coisa, por isso se manteve calado durante todo o trajeto. Desde os quinze anos – idade que tinha quando eles se conheceram – ele sabia que a amiga tinha um plano de vida estrategicamente planejado. Formatura da faculdade aos 24 anos, uma carreira sólida aos 28, um casamento aos 30, primeiro filho com 32. Enfim, tudo devidamente planejado, num plano tão bem montado, que se alguma coisa não desse certo no início, tudo iria por água a baixo. E bem, foi isso que aconteceu.
Quando se formou em Cinema, pensava que arrumaria facilmente um bom emprego numa das milhares de produtoras existentes na Califórnia, afinal, Hollywood é aqui. Mas conforme o tempo foi passando e os “nãos” começaram a se tornar recorrentes, ela aceitou o fato que nunca conseguiria começar por cima, então aceitou um trabalho na Universal Studios, como assistente de produtor. Isso já tem cinco anos e nada de promoção, só mais trabalho, cada dia mais trabalho. Com isso o plano da carreira sólida aos 28 anos já era e com o acúmulo de trabalho, ela mal conseguia sair de casa, quanto mais arrumar um namorado. Logo, casamento aos 30 se tornou um sonho distante.
Já para , planejamento era uma palavra que não existia. Nada na sua vida era previamente pensado, ele vivia com o vento, indo para onde ele soprava. Quando abandonou a faculdade pela metade, já sabia que sua vida não seria das mais fáceis, mas ele não se importou. Resolveu que viveria com pouco e como pudesse. Há alguns meses, depois de um longo tempo desempregado, ele arrumou um emprego como barman, mas as coisas saiam um pouco do controle algumas vezes. Como sempre foi muito bom com bebida, bebia mais que servia e quando via, não recebia quase nada no final do mês. Mas, em compensação, suas noites eram sempre divertidas e ele acabava muito bem acompanhado na manhã seguinte. entendia como tudo isso deve ser difícil para ela, por isso sempre estava disposto a ouvir tudo o que ela precisava falar, sempre foi assim. Quando surgia com a expressão derrotada após o expediente, entendia que aquela noite seria apenas deles dois, sem espaço para mais nada ou ninguém. E foi assim que tudo começou na noite anterior. Ele parou o carro da frente do bar e esperou que falasse alguma coisa.

- Bem, eu acho que lembro de ter chegado aqui ontem, mas não lembro de sair. – ela comentou, sorrindo de lado.
- É, nosso caminho começa aqui, quer entrar ou prefere ficar aqui mesmo?
- Vamos entrar, minha dignidade já deve ter ido por água a baixo mesmo. – deu de ombros, saindo do carro e parando perto da porta de entrada do bar. abriu a mesma, e os dois puderam ver os outros garçons terminando de organizar as coisas antes do bar abrir. Um deles, que não sabia o nome, olhou para ela, sorrindo abertamente, enquanto fazia um sinal de positivo com as mãos. A garota resolveu não se importar mais, o estrago já estava feito no final das contas.
- Então, você chegou aqui ontem por volta das sete da noite e estava com uma expressão estranha.


Santa Mônica, Califórnia – Quinta-feira, 08 de agosto de 2013, 19:07 pm.

I know your type
Yeah, daddy's little girl
Just take a bite
Let me shake up your world
Cuz just one night couldn't be so wrong
I'm gonna make you lose control
Good Girls Go Bad – Cobra Starship


- Eu odeio meu emprego. – disse, jogando seu corpo sobre uma banqueta e deixando sua bolsa logo ao lado. – Sério, eu odeio de verdade.
- O que foi agora? – perguntou, jogando o pano de segurava nos ombros e apoiando uma mão no balcão.
- Eu trabalho lá há quatro anos e nunca fiz nada relacionado a cinema. Nada. – ela disse desanimada, apoiando a cabeça no mármore frio que cobria toda a extensão do longo balcão de madeira. – Eles querem um assistente administrativo, alguém que cuide da agenda deles, dos compromissos, contratos e toda essa parte burocrática. E eu não estudei pra isso.
- Já falei o que tem que fazer. Quer dizer, eu falo isso há quatro anos, desde a primeira vez que eu precisei ouvir suas lamentações. – a menina levantou a cabeça, pronta para responder àquelas acusações, mas foi mais rápido e continuou. – Não que eu me importe de te ouvir, só seria legal poder mudar o assunto algumas vezes. – ele deu de ombros, antes de se afastar um pouco e servir outro cliente que estava sentado do outro lado do bar.
- Ok, podemos falar dos meus planos falhos. Amanhã é aniversário de fracasso de um deles. – respirou fundo, passando a mão pelos cabelos. – Quando eu tinha 18 anos, tudo parecia muito mais fácil.
- Tudo parece fácil quando se tem 18 anos, mas aí a idade chega e você vê que não fez nada do que sempre quis.
- , você fez tanta coisa na vida, que não deveria reclamar. Eu nunca sai da trilha que planejei, pensando que assim não teria erro, mas olha só como eu estou agora. – ela apontou para si mesmo com desdém e balançou a cabeça negativamente. – Vou fazer trinta anos amanhã. Trinta. Você tem do que noção é isso?
- Tenho, passei por isso há alguns meses e olha onde estou, eu sou um barman, . Pelo menos você tem um emprego estável.
- Emprego, não carreira. Você não entende... – ela deu de ombros, deixando a frase morrer no meio do caminho.
- Então me explique. – o rapaz pediu, ignorando um pouco o fraco movimento e concentrando-se na amiga. Vê-la daquele jeito acabava com ele. sempre sentiu algo mais por . Sempre. Mas seu estilo de vida nunca pareceu adequado ao dela, sempre muito aéreo, sem foco ou objetivos claros. Já ela sempre sonhou alto, diversos planos e um futuro brilhante. Ele nunca se achou bom o bastante, então, para ele, a amizade era de longe a única coisa que ele poderia ter dela, por isso a cultivava de forma quase perfeita. Sempre por perto, sempre a apoiando. Ele olhou nos olhos da amiga, voltando a enxergar aquela menina de 15 anos que ele encontrou perdida no pátio da escola. A mesma menina que o ajudou tantas vezes a passar de ano ou que ele consolou após mais um coração partido. Mas o que ela não sabia, é que ele daria tudo para ter o seu coração (não) partido por ela.
- Eu sempre imaginei que minha vida seria completamente diferente quando eu tivesse trinta anos. E eu acho que não haja algo mais frustrante do que ver todos os seus sonhos se tornarem fumaça.
- Eu sei do que você precisa. – disse rapidamente, piscando um olho para a garota. Ele caminhou até o bar, pegando alguns morangos frescos no pequeno frigobar e cortando-os em pedaços bem pequenos. Depois buscou uma garrafa de vodca e o pote de açúcar, fazendo uma caipirinha bem fraca e doce, da forma que ele sabia que gostava. Ele caminhou de volta, pousando o copo na frente da garota, que reprimiu um sorriso. Ele estreitou os olhos por um segundo e se abaixou, voltando com um pequeno guarda-chuva colorido, colocando-o na bebida. – Se isso não te alegrar...
- Você é tão bobo.
- Muito morango, muito açúcar e pouca vodca, do jeito que você gosta. – o rapaz cruzou os braços na altura do peito, com um sorriso bobo nos lábios. – Um presente, por conta da casa.
- Você me conhece tão bem. - ela murmurou, enquanto sorria abertamente.
- Quinze anos, . Se não conhecesse... – falou, sendo interrompido por um freguês que o chamava lá do outro lado. – Já volto. – acenou com a cabeça, bebericando um pouco da sua bebida.

Duas horas se passaram, o bar lotou e continuava sentada no mesmo lugar no balcão, tendo a atenção de dividida com mais algumas dezenas de pessoas. Ela entendia e ficava muito grata pelo amigo sempre conseguir arrumar um tempo para ela, mesmo durante seu expediente. Olhá-lo assim de longe, com um sorriso sincero no rosto e com aqueles olhos faiscando com um brilho absurdo, fazia as borboletas do estômago dela se revirarem. passou a vida escondendo tudo o que sentia por , afinal, na cabeça dela, ele nunca a olharia dessa forma. Ela sempre seria a menina nerd e estranha que ele conheceu no ensino médio, que ele não consegue se libertar. Talvez nem tanto, mas essa certeza de que a única coisa que existe entre eles é amizade, vem a falta de insinuações ou tentativas de ambas as partes. Até porque, pra ela, quinze anos é uma quantidade de tempo considerável para se tomar alguma atitude. E sempre achou que não valeria estragar a amizade expondo o que sente. Por isso ela guarda, bem no fundo, preso a sete chaves, tudo o que sente quando pousa aqueles olhos nos dela.

- Ok, o que posso fazer por você agora? – reapareceu, com um sorriso gigante nos lábios. pensou numa infinidade de opções e todas terminavam com os lábios de colados aos seus, mas preferiu dizer:
- Aceito mais uma bebida. – murmurou, vendo o amigo afirmar com a cabeça e girar o corpo, para pegar a garrafa. Ela já sentia que sua visão estava meio embaçada, a cabeça rodava um pouco e sentia que um riso sem motivo surgia de vez enquanto. Mesmo com tudo isso, decidiu que pelo menos por uma noite, ela não estaria no controle de tudo. Se permitiria ousar um pouco mais. Afinal, em poucas horas seria uma jovem de trinta anos. voltou com duas garrafas na mão e ouviu seu nome ser chamado por outro garçom, então virou o rosto na direção do colega, enquanto completava o copo de . Ele adicionou mais alguns pedaços de morango, um pouco mais de açúcar e gelo, mexendo cuidadosamente em seguida. Ele colocou a garrafa que usou perto de onde a menina sentava, para que fosse mais fácil a reposição depois. pegou o copo, provando um pouco o conteúdo. – Essa está especialmente boa, o que tem de diferente?
- Nada. – respondeu, enquanto se afastava. Havia algo diferente sim nessa bebida, falou para si mesma. O rapaz chegou ao outro lado do bar e estranhou a garrafa que segurava. Ele examinou o rótulo e viu que era a vodca mais fraca, a que ele usava sempre nos drinks de . Seus olhos arregalaram um pouco quando ele virou o corpo e viu a amiga quase virar o conteúdo todo do copo de uma só vez.
- Fodeu. – disse baixo, correndo até o outro lado. – Não fala que você virou esse copo de uma vez só?
- Virei. – respondeu, fazendo uma careta, sentindo sua garganta arder um pouco e os olhos lacrimejarem. Mas sorriu em seguida, quase orgulhosa de si mesma. – Por quê? – pensou por alguns segundos, talvez não fosse de todo ruim não contar que ele havia trocado a vodca fraca que sempre usou para ela, por uma das mais fortes que tinham no bar. Ele sorriu de volta, imaginando o que ela poderia falar. Provavelmente levantaria a questão da sua falta de atenção, o que não era mentira, mas ele preferia não ouvir nenhum sermão hoje.
- Nada. – ele balançou a cabeça lentamente, tentando parecer normal. – Eu só acho que você poderia pegar leve, não quero ter que te carregar para casa hoje.
- Eu não fico bêbada, . Só fico alegrinha.


Santa Mônica, Califórnia – Sexta-feira, 09 de agosto de 2013, 12:02 pm.


- Eu não acredito que você trocou as garrafas! – exclamou, levantando a mão e dando um tapa no amigo, que tentava se esquivar.
- Juro que não foi de propósito, as embalagens são iguais. A única diferença é a cor no rótulo. – se justificou. – E pra que eu iria te embebedar? O que ganharia com isso?
- Bem, eu acho que você ganhou bastante coisa ontem. Mesmo sem ser a sua real intenção. – a garota deixou a frase no ar, olhando para o rapaz pelo canto dos olhos, para perceber sua reação. Ele mordeu o lábio inferior e coçou a cabeça, tentando pensar em algo concreto para responder, mas não conseguiu. Não deixou de ser verdade o que ela havia lhe dito. No fim das contas, ele conseguiu muitas coisas que ele vinha desejando há muito tempo. Por mais que não tenha sido seu intento. Deus sabe o quanto ele tentou evitar que algo mais acontecesse. Mas há momentos – e esse foi um deles – em que por mais força de vontade que um homem tenha, ele não consegue se controlar.
- Ok. É, vamos mudar o assunto? – perguntou, sentindo-se estranhamente desconfortável perto de pela primeira vez na vida.
- Vamos. – ela respondeu, fechando os olhos por alguns segundos, tentando se lembrar de qualquer coisa da noite anterior. Claro que os momentos que eles tiveram juntos era sua preferência, mas ela estava num estado que qualquer coisa serviria. Porém todo o esforço não foi bem recompensado, ela não conseguia se lembrar de nada, como se algo tivesse, simplesmente, limpado sua memória. Algo como uma grande quantidade de álcool. – E o que aconteceu depois?
- Não está na cara? – sorriu, balançando a cabeça lentamente. – , eu nunca tinha te visto tão bêbada. Nem na formatura você ficou daquela forma.
- Mas agora eu entendi como pude perder tanto o controle, foi culpa sua. – ela murmurou, apontando o dedo acusatoriamente para o rapaz. – Tá, mas o que aconteceu depois? Eu fiz alguma coisa muito vergonhosa? Não me diz que eu dancei em cima do balcão. – falava mais para si mesma, do que com .
- Não, você não dançou. – ele começou a dizer, fazendo com a atenção de fosse toda direcionada a ele, até mesmo a sombra de um sorriso brotou em seus lábios. – Você fez coisa pior.
- Ai, Jesus. – a garota choramingou, deixando a cabeça cair de encontro ao mármore gelado.
- Enfim, vamos continuar nossa história. – falou, fazendo com que a amiga sentasse direito. – Depois de uns minutos, após ter virado aquele copo, você começou a ultrapassar o nível de alegre, para completamente bêbada. Tentou levantar para ir ao banheiro, mas ao invés disso, conseguiu derrubar não só a sua cadeira, como as outras duas que estavam ao seu lado. Suas pernas se trançaram de uma forma estranha e você só não foi ao chão, porque um carinha que estava por perto de segurou. E, bem, você não queria aceitar que estava bêbada e deveria ir para casa. Então eu resolvi não contrariar e fiquei com os dois olhos em você, para evitar qualquer problema maior. Até que apareceu a Raphaella.
- Raphaella? – perguntou, unindo as sobrancelhas. – E quem é essa?
- Ah! Uma louca aí que apareceu e que no fim da noite já era quase sua melhor amiga. – respondeu, com um pouco de ressentimento na voz.


Santa Mônica, Califórnia – Quinta-feira, 08 de agosto de 2013, 22:44 pm.

Ooh see, she spilled some drink on me
And now i'm knowin' she tipsy
She put her body on me
And she keeps staring me right in my eyes
Blame It - Jamie Foxx featuring T-Pain



brincava com um pequeno guarda-chuva colorido, fazendo-o rolar por entre seus dedos, enquanto ria daquilo como se fosse a coisa mais engraçada do mundo. A garota não fazia ideia do motivo de estar rindo, ela apenas estava. Sua cabeça rodopiava e suas pernas estavam meio bambas, então para se manter em pé, ela precisava se manter com movimento. Ela ouvia uma música animada vindo de algum lugar, então começou a movimentar o corpo, tentando acompanhar a batida. De forma completamente falha. Ela balançava seu corpo de forma meio desconjuntada, bem no meio do bar, onde as pessoas fizeram uma pequena roda em sua volta. Alguns riam, outros comentavam, mas a maior parte dos rapazes falava da sua beleza. E aquilo incomodava de forma absurda. Ele queria tirar todos aqueles homens do bar, impedir que eles olhassem para daquela forma, como se ela fosse um pedaço de carne em exposição, pronta para o abate. De repente o objeto em sua mão perdeu a graça e ela começou a olhar em volta, como se procurasse por alguém e logo avistou . Um sorriso largo surgiu em seus lábios e ela caminhou na direção do amigo, que o olhava de forma confusa. Quando estava perto o suficiente, segurou firme no avental de trabalho do rapaz e o trouxe para o meio do bar, onde estava dançando antes. Suas mãos foram para os ombros dele, mas antes ela mesma colocou as dele em sua cintura. Eles se balançavam num ritmo descompassado, pela falta de coordenação e pela falta de vontade de dançar. Sempre que ele tentava se afastar, o puxava de volta, colando seus corpos. Ele tentava se controlar ao máximo, por mais que suas mãos quase queimavam de tanta vontade de apertá-la, senti-la ainda mais perto. E a garota não media esforços para não ajudá-lo, conforme se movia, ela deixava sua boca perigosamente perto da dele, de forma que elas quase se tocavam. E sempre que isso quase acontecia, ela sorria de forma sexy, como se fosse sua real intenção. apertou os olhos, eliminando quaisquer ideias maldosas que surgiam. Quando a situação estava chegando ao extremo, um grito agudo cortou o som do ambiente e se sobressaltou, olhando para os lados. Ela localizou um grupo num canto escondido do bar, onde uma garota estava em pé numa cadeira e não parava de bater palmas ou gritar. achou aquilo interessante e largou , seguindo para aquele grupo, vendo uma série de copos em cima da mesa, assim como garrafas de tequila, limão e sal. Ela apertou os olhos, tentando focalizar o rosto da menina, mas sem muito sucesso. Mas a garota olhou em sua direção, apontando, e gritou:

- Temos uma desafiante. – olhou para os lados, tentando achar com quem a garota falava, mas não ninguém que poderia ser chamado de “uma”. A menina desceu da cadeira e caminhou em sua direção, pegando uma de suas mãos e arrastando , até que ela estivesse sentada ao redor da mesa. Do seu lado oposto havia um rapaz com uma aparência estranha, ela pensou. Seu cabelo descolorido estava completamente bagunçado e o piercing prateado contrastava com sua pele branca. o analisou por alguns instantes, chegando a conclusão que ela deveria estar mais bêbada do que pensava. A outra menina voltou a gritar, chamando sua atenção e se tornou o novo alvo de sua breve análise. Ela tinha o cabelo escuro, quase preto, num corte desregular, seus olhos escuros estavam bem marcados por lápis preto e um batom vermelho sangue cobria seus lábios. – Vamos preparar. – a garota do batom vermelho falou e rapidamente uma fileira de copos se formou à frente da menina, assim como à frente do cara estranho do cabelo descolorido. contou algumas vezes, até chegar ao número dez. Dez copos dispostos à sua frente. Algo na sua cabeça gritava que aquilo iria dar problema, mas ela se sentia tão tonta, que sabia que não conseguiria se levantar. Um cara surgiu com uma garrafa e começou a encher os copos até a boca, um por um. Um prato com pedaços de limão e sal foi colocado bem no centro da mesa. O cara estranho do cabelo descolorido olhava para com intensidade, como se quisesse impor algo, talvez medo. Ela deu de ombros, voltando sua atenção à garota do batom vermelho.
- O que é isso? – perguntou baixo, pois se falasse mais alto, tudo poderia sair bem embolado e ninguém entenderia.
- Tequila. – ela respondeu, como se a pergunta fosse a mais idiota do mundo. rolou os olhos, chamando sua atenção novamente.
- Não falei da bebida. O que é isso tudo?
- Ah! É uma disputa, quem beber todas essas doses primeiro, vence. – os lábios vermelhos se repuxaram num sorriso largo, como se essa ideia fosse a mais genial de todo o mundo.
- Mas eu não sei se quero participar, na verdade eu já estou meio bêbada e...
- Não, você vai participar sim. Você se voluntariou. – balançou a cabeça rapidamente e se arrependeu logo depois. Tudo girava muito rápido e ela não conseguia focalizar seu olhar em nenhum ponto fixo. Até mesmo o cara estranho do cabelo descolorido se tornou um simples borrão. E disse para si mesmo que a visão era pior ainda. – Preparados? – a garota do batom vermelho perguntou, sendo interrompida por .
- Acho que ela não está em condições para participar de nenhuma disputa. – ele falou, enquanto se aproximava de , passando seu braço por sua cintura, a fim de levantá-la.
- Nada disso, ela disse que queria participar. – a garota se manifestou, segurando seu braço livre. – Por que você não deixa sua amiga se divertir um pouco. Você é o que dela, o pai? Ou pior, namorado? – olhou atentamente para o rosto da menina e depois para . A expressão dela não era das melhores, mas, pelo menos, não parecia que ela estava a ponto de desmaiar ou coisa assim. Na verdade, ele não queria se sentir culpado, como se estivesse tirando oportunidades da amiga. Talvez ela quisesse mesmo participar daquilo, não se sabe. E se ela estivesse disposta a tomar o maior porre da vida? Ele soltou o ar pesadamente e falou:
- Me dê um minuto. – puxando para um canto mais vazio, ele tirou alguns fios de cabelo de seu rosto e fez com que ela o olhasse. Um sorriso bobo surgiu em seus lábios e ele se sentiu como a pessoa mais importante do mundo por alguns segundos.
- . – ela murmurou, jogando os braços ao redor do pescoço dele. – Meu .
- Sim, sou eu. Me responde uma coisa: você quer participar daquela disputa e beber um monte de tequila? – a pergunta soou estranha do início ao fim, mas ele deu de ombros. Nada parece muito correto quando se trata de alguém bêbado.
- Tequila? – ela sussurrou, como se fosse um segredo. – Eu gosto de tequila.
- Então você vai participar? – perguntou novamente, olhando nos olhos da garota. Ela ponderou por alguns segundos, não como se estivesse em plenos poderes mentais, mas como se tentasse se concentrar e então gritou:
- Arriba e abajo! – levantando uma das mãos, como se aquilo fosse seu grito de guerra. suspirou derrotado, enquanto via voltar para a mesa e se sentar no lugar que ocupava antes. A garota começou a estudar seu oponente, olhando fixamente em seus olhos. E então levantou uma mão, apontando para os seus olhos e em seguida para frente, como se dissesse que estava de olho no cara estranho de cabelo descolorido. se juntou as outras pessoas que formavam um círculo em volta da mesa, ignorando completamente o trabalho que deveria fazer. Ele se posicionou bem atrás da cadeira de , para estar a postos caso algo desse errado. A garota do batom vermelho ressurgiu sorridente, parando entre os dois concorrentes. Ela pegou um pequeno lenço de dentro da bolsa e disse:
- No momento em que esse lenço cair na mesa, vocês começam. E é claro, quem tomar todas as doses primeiro, ganha. – comentou rapidamente, como se fosse óbvio. olhava atentamente para a mão da garota, esperando o exato momento em que o lenço cairia. Sua mão direita estava apoiada na mesa, numa distância curta do pequeno copo, assim como seu adversário. olhou a quantidade de doses que tinham na mesa e calculou que as chances disso não terminar mal eram mínimas. Ele estava a ponto de tirar a amiga da mesa novamente, quando o lenço caiu. apanhou um pouco de sal e levou à boca, antes de pegar a pequena dose e virar rapidamente, fazendo uma careta quase que de forma instantânea. Mas não se abalou, virou mais uma, duas, três, quatro. observava tudo aquilo numa perfeita mistura de horror e admiração. Era mais do que sensual ver a amiga daquela forma. Era praticamente sexual. Quando chegou à quinta, viu que seu adversário já estava abalado com a terceira e quase derrotado. Isso pareceu incentivá-la mais, tanto que tomou mais duas doses seguidamente, antes de parar para pegar um pedaço de limão e apertar entre os dentes. Depois de colocar mais sal na língua, ela bebeu mais duas doses e pegou a última, levantando teatralmente.
- Arriba, abajo, al centro e adentro! – gritou, antes de virar o conteúdo em sua boca e colocar o copo virado em cima da mesa. gritou fervorosamente atrás dela, que girou o corpo para olhá-lo e quase caiu no chão, mas o amigo a segurou. Ela parecia não estar mais naquela dimensão, estava completamente fora de si, tanto que seus olhos estavam quase fechados. A garota do batom vermelho se aproximou, levantando um braço de , decretando sua vitória e depois sumiu em direção à saída. ouviu um barulho estranho, como se alguém estivesse engasgando e olhou para em seus braços. Ela tossiu novamente e murmurou algo embolado, que entendeu que era água.

Num canto mais calmo do bar, estava sentada com a cabeça encostada na parede e os olhos fechados. sabia que não deveria deixá-la dormir, mas ele não queria incomodá-la mais. Uma garrafa de água estava em suas mãos, mas permanecia intocada há alguns minutos. Às vezes ela murmurava algumas coisas que fingia entender, mas logo se calava novamente. E assim permaneceram por longos minutos, até que a garota do batom vermelho aparecesse do nada e sentasse com eles na mesa.
- Garota, você mandou bem. – ela disse alto, fazendo abrir os olhos e a olhar por um breve momento. Essa se ajeitou na cadeira, sentando-se de uma forma mais ereta e tentou parecer no normal.
- É, eu faço isso todos os dias. – falou embolada, levantando um dedo e apontando para frente, um pouco mais para a esquerda de onde a garota realmente estava. – Eu bebo dez doses de tequila todo santo dia. – a menina olhou para pelo canto dos olhos, e esse deu de ombros, como se desistisse de tentar entendê-la.
- Enfim, tenho um convite para você. – ela olhou atentamente para , que ergueu uma sobrancelha. – Ok, para vocês dois.
- Eu topo. – respondeu, virando o rosto na direção contrária do que deveria. colocou uma mão em seu queixo e virou para o lado certo.
- Assim tá melhor. – ele comentou em seu ouvido, fazendo com que ela sorrisse.
- Tem uma festa maravilhosa rolando em Beverly Hills, será que vocês se interessam? – a garota disse, cruzando os braços.
- Beverly Hills? Sério? – perguntou, visivelmente interessado.
- Tenho alguns conhecidos lá e fiquei sabendo disso. E aí, vamos?
- Claro! – ele disse, completamente animado, mas então olhou para a amiga que quase dormia sentada e em seguida para a garota do batom vermelho. Essa retribuiu o olhar de e depois voltou o seu para a garrafa que estava nas mãos de . Sem pensar muito, ela a pegou e despejou o pouco conteúdo que ainda restava diretamente no rosto dela. levou uma das mãos à boca e observou a reação da amiga. levantou alarmada, olhando para todos os lados, sem saber de onde aquilo tinha vindo. Até que focou seu olhar na garota e perguntou:
- Quem é você?
- Raphaella. Vamos?


Santa Mônica, Califórnia – Sexta-feira, 09 de agosto de 2013, 12:55 pm.


- Dez doses de tequila, ? – indagou, passando a mão pelo cabelo, completamente desconsertada. – Por que você deixou que eu fizesse isso?
- Porque você parecia estar se divertindo bastante. – ele respondeu, dando de ombros. – Sei lá, achei que seria interessante te ver fora de si uma vez na vida, te ver agindo da forma mais natural possível. Sem nenhuma armadura. – se aproximou do ouvido da amiga, falando baixo. – Tipo essa que você tá usando agora.
- Eu não... – ela começou a falar meio alto, mas parou na metade da frase, tentando controlar o tom de voz, sem se exaltar. – Eu não uso nenhuma armadura.
- Bem, se fosse a de ontem à noite, não teria abaixado a voz. – o rapaz sorriu abertamente, enquanto levantava do banco. – Vem, vamos dar um passeio.

- Você não acredita no tamanho da casa que nós fomos. – comentou, quando pararam num sinal. Eles seguiam em direção a Beverly Hills, onde o rapaz mostraria, pelo menos de longe, a casa que elas visitaram na noite anterior. ainda tentava organizar em sua cabeça tudo o que ela havia ouvido. Era difícil para aceitar que tinha feito tudo aquilo. Não só aceitar, como acreditar. Como alguém tão certa como ela, poderia ter perdido a linha dessa forma. – , você tá me ouvindo? – o amigo falou, fazendo com que ela voltasse sua atenção a ele.
- Desculpe, eu estava pensando em algumas outras coisas. O que você falou?
- Que a casa que nós fomos era enorme e era muito bem frequentada. Tipo, muito bem frequentada mesmo.
- Como assim? – perguntou, franzindo a testa. – Mas, , se era em Beverly Hills, lógico que estaria lotada de pessoas de alto nível. – ela falou como se fosse a coisa mais simples do mundo.
- Sim, pessoas de alto nível e atores do Hollywood. – ele disse, dando de ombros.
- O que? – a voz da menina saiu alta e estridente, fazendo o rapaz de encolher um pouco.
- Calma. – disse, como se o que ele havia falado não fosse nada.
- Calma? , você acabou de dizer que eu estava numa festa com atores de Hollywood e quer que eu me acalme? Eu sempre desejei estar com eles, trabalhar com eles. E quando uma parte disso se torna real, eu não lembro. – a garota bufou, vendo o amigo olhava fixamente para o seu rosto. – Por que você tá me olhando desse jeito?
- Estou decidindo algo. – ele disse baixo, enquanto manobrava o carro para estacioná-lo numa vaga livre junto à calçada.
- O que foi agora? – falou derrotada.
- Você não se limitou a estar numa festa com atores de Hollywood. – começou dizendo, vendo uma expressão confusão surgir no rosto da amiga.


Bervely Hills, Califórnia – Quinta-feira, 08 de agosto de 2013, 23:21 pm.

Last friday night
Yeah we danced on tabletops
And we took too many shots
Think we kissed but I forgot
Last Friday Night – Katy Perry


- Essa é a melhor festa que eu já fui na vida! – gritou, perdendo o equilíbrio por alguns segundos. a observava em cima da mesa com seus olhos protetores, e mais uma vez ele estava a postos para ajudá-la caso algo acontecesse. Ela dançava animadamente uma música qualquer da Katy Perry que quase explodia as caixas de som. A realidade era a seguinte: eles estavam numa festa na casa de um grande agente de Hollywood, mas ele não se sentia a vontade – e nem com vontade – de sair por aí para encontrar alguém com quem pudesse ter algo. Nem mesmo se fosse importante ao algo do tipo. Parecia que havia um elo que o unia a naquela noite, que não deixava que ele ficasse a menos de dois metros dela. E agora, enquanto a amiga estava dançando animadamente em cima de uma mesa, com diversos olhares famintos em cima dela, sua única vontade era colocá-la em seus ombros e levá-la para longe. Só que ele não podia fazer isso.
olhou ao redor mais uma vez, vendo uma loira sorrir e acenar em sua direção. Ele apertou os olhos por alguns segundos e jurou já ter visto aquele rosto em alguma revista. Revezando seu olhar entre e a loira, ele decidiu que poderia se desfazer das amarras por um tempo e aproveitar um pouco. Por que não? Talvez ele nunca mais tivesse uma oportunidade como essa na vida. Enquanto se afastava, Raphaella voltava para onde estava dançando, segurando duas taças de champagne. Como se bastasse a quantidade de álcool que ela já havia ingerido. praticamente pulou de cima da mesa, se desequilibrando e caindo no chão. Raphaella a ajudou a levantar, ao mesmo tempo que a garota não conseguia parar de rir. Seus sapatos já estavam fora de seus pés, jogados embaixo da mesa.
- Eu estava lá dentro e você não acredita quem eu vi. – Raphaella disse baixo perto do ouvido de .
- Quem? – a garota praticamente gritou, vendo a outra fazer uma careta e em seguida um gesto para que ela falasse mais baixo. – Quem? – sussurrou, arrancando uma risada de Raphaella.
- Ryan Gosling.
- Ryan Quem? – perguntou, não conseguindo associar o nome a nenhum rosto. Mas na verdade, ela não era capaz de associar nada com nada no momento.
- Aquele ator loiro, maravilhoso e charmoso. – a expressão confusa da menina se manteve e Raphaella rolou os olhos, buscando por melhores explicações. – Ele fez Blue Valentine, Drive. Ai, meu Deus! Crazy, Stupid, Love? – bufou, fazendo uma careta antes de lançar o último exemplo. – The Notebook?
- Noah está aqui? – prontamente se alarmou, olhando rapidamente em volta.
- Sabia que Nicholas Sparks fazia seu estilo. – a menina balançou a cabeça em sinal de negação. – Você vai ficar aqui parada ou vai querer ir até lá para vê-lo de perto?
- Vamos! – falou, começando a caminhar numa direção qualquer.
- Você poderia, pelo menos, calçar os seus sapatos.
- Ah, sim. – ela voltou trançando um pouco as pernas enquanto andava. Sentando-se, respirou fundo alguma vez, ao mesmo tempo em que tentava encaixar o pé corretamente no calçado. Raphaella esperava calmamente, como se já estivesse acostumada a lidar com pessoas completamente bêbadas.
- Não esqueça que nós estamos numa festa de pessoas ricas e importantes, não haja como uma louca, por favor. – ela olhou atentamente para o rosto de , buscando algum sinal de entendimento. Não encontrou, mas decidiu arriscar. Elas seguiram pelo jardim, se encaminhando para a casa. As pessoas ao redor pareciam tão felizes, levantando suas taças, conversando e rindo alto, bebendo e dançando como se não houvesse amanhã. estava se sentindo parte de tudo aquilo. Pela primeira vez ela sentia que estava realmente aproveitando uma festa, não só por causa da enorme quantidade de bebida que ela ingeriu, mas pela liberdade que ela sentia. Como se ela não estivesse presa as amarras que ela própria criou. Talvez ela estivesse realmente cansada de se limitar, de evitar coisas. Cansada de não viver.
- Onde ele está? – perguntou baixo, como se fosse um segredo, assim que elas pararam perto da porta.
- Ali na esquerda, perto do bar. – Raphaella apontou. – Bem ao lado do... Oh! Aquele é o Chace Crawford? – ela arregalou os olhos, recebendo um olhar estranho de em resposta. – Tá, eu sou louca por esse homem, sempre fui.
- Quem é ele?
- A bebida apaga sua memória? – a garota perguntou, retoricamente, ignorando qualquer resposta. – Gossip Girl? Nate Archibald? Em que mundo você vive?
- No dos adultos?
- Vou atacar. – Raphaella falou, como se fosse algo simples e se preparava para ir até onde eles estavam, mas sentiu seu braço ser segurado e seu corpo ser puxado para trás.
- Como assim atacar?
- Atacar do inglês acordar na cama dele amanhã de manhã. Talvez você devesse fazer o mesmo. – comentou, vendo um sorriso engraçado surgir nos lábios da outra menina.
- Você tá brincando, certo? Eu sei que bebi muito, mas ainda não perdi o juízo. – falou rapidamente, como se um flash de sobriedade reluzisse sobre ela.
- Eu duvido que você seja capaz de chegar lá no Ryan e beijá-lo. É, só beijá-lo, não precisa de mais do que isso. – Raphaella deu de ombros, olhando ao redor e vendo conversando com uma garota loira num canto da sala. – Eu sei que você não tem coragem nem chegar lá do lado... ? – falou, mas já não adiantava, ela já estava na metade do trajeto e com passos decididos. Na cabeça de passava um filme e nele estavam todas as cenas da sua vida sem graça. Todas as vezes que ela teve vontade de fazer alguma coisa, mas por pura vergonha não fez, ou por não achar correto. E agora, essa mesma garota, estava caminhando para beijar um dos caras mais bonitos e cobiçados de Hollywood. Ele tinha namorada? Esposa? Ela não sabia, mas também não importava. A quantidade de álcool no seu corpo servia não só como combustível para loucuras, mas também como um anestésico para a vergonha. Porque esse seria a coisa mais louca que ela faria na vida. E ela não poderia pensar muito ou então desistiria.
conversava animadamente com a loira, que ele descobriu mais tarde se chamar Louise. E não, ela não esteve na capa de nenhuma revista, por mais que merecesse. Por mais que conversasse animadamente com a garota, percebeu quando cruzou a sala, indo em direção a um grupo mais seletivo que estava parado próximo ao bar. Sua expressão transmitia uma confiança incomum. Ela caminhou diretamente pra o rapaz loiro e encarou seus olhos azuis rapidamente, antes de juntar os lábios de forma intensa. As mãos dela seguravam fortemente seu blazer, enquanto as dele ficaram pelo meio do caminho, entre os ombros e a cintura. Seu corpo tenso denunciava sua surpresa, mas em momento algum ele fez menção de afastá-la. se levantou e parou a poucos metros da cena, encarando tudo aquilo boquiaberto. Nunca imaginou que a amiga fosse capaz de algo tão... Ele nem tinha palavras. inspirou o perfume amadeirado de Ryan mais uma vez e deu um passo para trás, afastando seus corpos. Ela via milhões de perguntas estampadas no rosto do rapaz, mas ela sabia que não teria como responder. Então era melhor que ela saísse dali o mais rápido possível.
- Obrigada. – murmurou, enquanto se afastava. Ryan ergueu as sobrancelhas num gesto que parecia um “de nada” e sorriu de uma forma tão sedutora, que ela prendeu a respiração por alguns segundos e sentiu a cabeça girar de forma intensa. Sabendo que precisava de ar puro, seguiu para a parte externa novamente, indo para uma área mais reservada. Sem dar muita importância para Louise, seguiu atrás dela. Chegando ao jardim, encontrou a amiga apoiada numa árvore, como se não estivesse se sentindo bem.
- Pensei que depois de beijar o Ryan Gosling, você ficaria bem e não se sentindo mal. – o rapaz brincou, parando bem na frente da garota. – Loiro, famoso e rico. Talvez ele não beije tão bem, tem que ter um defeito.
- Você tá dizendo isso só porque é moreno, desconhecido e pobre? – ela perguntou, arrancando um sorriso dele. – Se levar alguma dessas características como defeito, você deve ser perfeito além disso, não é? – perguntou, encarando os olhos de . – Bem, pelo menos os olhos são parecidos. – ela disse, completando mentalmente: “A beleza absurda e o perfume maravilhoso também.”
- Quer dizer que você me acha perfeito? Logo você que me conhece tão bem. – ele comentou, sorrindo abertamente. ainda olhava fundo em seus olhos, sentindo o combustível ainda agindo em seu corpo. Se ela quisesse, poderia agir com da mesma forma que agiu com Ryan. E dessa vez seria mais verdadeiro, sem nenhuma influencia externa. Somente algo que ela deseja muito e há muito tempo.
- Talvez seja todos os seus inúmeros defeitos que te torne perfeito. Pelo menos para mim. – ela disse, não acreditando em tudo que havia saídos de seus lábios assim que o fez. Havia muito mais naquela frase do que as palavras poderiam significar. Ela sabia. Ele sabia. Por alguns segundos eles se olharam e realmente se viram. Sem nenhuma máscara, sem precisar esconder nada. Naquele curto espaço de tempo, os dois puderam sentir tudo o que desejavam. A expressão de mudou, mas não era desconfiança, era felicidade. Os olhos brilhavam mais do que qualquer coisa. levou sua mão até os lábios dele e sorriu também. Mas a expressão dela mudou rapidamente. Seu estômago embrulhou de uma hora para a outra – por mais inconveniente que fosse o momento. Mas não tinha mais como evitar. O sorriso de foi substituído por uma careta, enquanto ela colocava tudo que ainda restava em seu estômago para fora.


Santa Mônica, Califórnia – Sexta-feira, 09 de agosto de 2013, 13:31 pm.


- Eu vomitei em você? – perguntou, levando uma mão à boca.
- Só no meu tênis, mas ele era velho. – deu de ombros, apoiando a cabeça no encosto do banco. – Então eu conto que você beijou o Ryan Gosling e você se importa comigo? Devo me sentir importante?
- Um pouco talvez. – ela respondeu, apoiando a cabeça no vidro da janela. – Sabe, eu não consigo acreditar que tudo isso que você tá me contando é verdade. Simplesmente não entra na minha cabeça.
- É tão difícil assim acreditar que você pode se deixar levar e não viver sempre seguindo as regras?
- Não, é difícil de acreditar que eu tenha tido coragem de agarrar o Ryan Gosling. – exclamou, rindo alto em seguida. – Como poderei ver algum filme dele sem lembrar disso?
- Aposto que tiraram várias fotos, devem estar todas espalhadas pela internet.
- Você tá ajudando muito. – a garota disse, com a ironia transbordando em suas palavras. – Ok, e o que fizemos depois?
- Bem, você tinha acabado de vomitar em mim, então teve uma excelente ideia.
- Devo ficar com medo? – perguntou, mordendo a ponta da unha.
- Apavorada.


Santa Mônica, Califórnia – Quinta-feira, 08 de agosto de 2013, 23:57 pm.

And I can't help myself,
All I wanna hear her say is "Are you mine?"
Well, are you mine?
Are you mine tomorrow?
Are you mine? Or just mine tonight?
Are you mine? Are you mine?
R U Mine – Arctic Monkeys


- Vem, ! – gritava, enquanto corria animadamente pelo cais. A pouca iluminação fazia com que o lugar ficasse com uma aparência perigosa, por isso vinha logo atrás, andando o mais rápido que podia e olhando para os lados, observando se não tinha ninguém por perto. Mas a garota não se importava com nada, ela corria livremente, com os cabelos voando com a brisa que vinha do oceano. O rapaz assistia tudo aquilo com um sorriso bobo nos lábios. Ele queria controlar todos os pensamentos que lotavam a sua mente naquele momento, mas era impossível. Vê-la tão feliz daquele jeito, era muito mais do que ele poderia aguentar. jogou os sapatos pelo caminho e parou bem próximo à borda. sentiu que aquilo poderia não dar certo e então correu até ela, parando um pouco atrás.
- O que você está pensando em fazer? – ele perguntou, recolhendo o calçado da menina e colocando num lugar mais próximo.
- Eu quero nadar. – ela disse, abrindo os braços, sentindo o sopro úmido e morno.
- Tudo bem, a gente volta amanhã.
- Não, eu quero nadar agora. – falou, tirando o blazer que usava. Ela largou junto aos sapatos e desceu alguns degraus que levava a uma parte mais próxima do mar. Lá estava mais escuro e não conseguia enxergar muito bem o que ela fazia, mas percebeu quando ela abriu o zíper da saia e a mesma caiu aos seus pés, em seguida ela puxou a blusa para cima, deixando seu corpo coberto apenas pelas roupas íntimas. Ele se aproximou mais um pouco, surpreso com aquela atitude. Mas sentiu suas pernas fraquejarem, quando levou as mãos até o fecho do soutien e abrindo o mesmo. O brilho da lua deixava a pele da menina num tom prateado, algo completamente hipnotizante. ficou imóvel, sem saber o que fazer. Seus olhos arregalaram ainda mais, quando ela pousou as mãos no quadril e levou-as para baixo, trazendo junto a sua calcinha. passou as mãos pelo cabelo, fazendo com que eles caíssem pelas suas costas de forma uniforme, mas isso não interessava ao amigo. Seu olhar estava preso ao seu corpo completamente nu, a poucos metros de distância. Seu corpo já começava a emitir sinais de descontrole, então começou a tentar pensar em qualquer outra coisa que não fosse aquilo que estava vendo, mas era uma tarefa impensável no momento. olhou para trás, sorrindo de forma quase infantil. Ela não tinha noção de como parecia sexy para . Talvez fosse a cena mais sensual que ele já havia visto na vida. – Você não vem? – perguntou, antes de se jogar na escuridão do mar. E como se acordasse se um transe, o rapaz desceu rapidamente dos degraus, já tirando sua blusa no caminho. Ele jogou a peça no canto, junto as roupas de e parou perto da beirada do deck. – Qual é o problema, ? Tá preocupado com a temperatura da água ou que eu veja coisas inapropriadas? – a garota riu, jogando um pouco de água nele.
- Tudo bem. – ele murmurou, abrindo os botões da calça jeans e puxando-a para baixo, juntamente com a boxer preta que usava. encarou o corpo desnudo de pela primeira vez e abaixou os olhos, terrivelmente envergonhada. Apesar de tudo, ela tinha certeza que a bebida estava agindo apenas como um estimulante no momento. Tudo o que ela estava fazendo, ou poderia fazer, era um desejo de seu subconsciente. Tudo fazia parte dos desejos e sentimentos secretos que tinha pelo amigo. Segundos depois estava nadando próximo a , mas mantendo uma distância segura da mesma.
- E então? – ela perguntou, mordendo o lábio inferior.
- E então? – a imitou, passando a mão pelos cabelos molhados, tirando alguns fios que ficaram grudados em seu rosto.
- O que você tem a me dizer?
- Bem, já deve ter passado da meia noite agora. Feliz aniversário, talvez? – ele falou incerto, erguendo as sobrancelhas.
- Ótimo, agora eu vou uma velha de trinta anos. – a garota murmurou, rolando os olhos. Eles tentavam nadar numa distância considerável um do outro, para que nada “estranho” pudesse acontecer.
- Uma bela velha de trinta anos, pelo menos. – fez uma careta ao ouvir o elogio, mas continuou. – Sério, por que vocês mulheres se ligam tanto em idade? É só um número.
- Não é o número que me assusta, , é a falta de tudo o que ele traz consigo. – ela respondeu da forma mais racional e lúcida que conseguiu durante toda a noite.
- E eu posso fazer alguma coisa pra ajudar? – o rapaz perguntou, fazendo a menina ter que respirar bem fundo ao encarar aqueles olhos . Devido ao brilho da lua, eles tinham assumido um tom quase prateado. Bem no fundo sabia que nunca teria outra chance como ela. Se realmente quisesse ter algo com , mesmo que fosse algo encorajado pelo álcool, teria que ser hoje. E ela precisaria ter a coragem de dar o primeiro passo.
- Não sei se devo.
- Sério que você ainda tem vergonha de mim depois disso tudo? – indagou, apontado para o próprio corpo e depois para o dela.
- Talvez eu deva isso ao meu eu de quinze anos atrás. – ela começou a dizer, nadando lentamente na direção do amigo. Esse se enrijeceu, vendo o corpo nu da garota vir de encontro ao seu. – Eu devo estar louca demais, então não fala nada. – pediu, parando bem na frente rapaz. Ela levantou uma das mãos, tocando o rosto dele, que sorriu. Sorriu como se entendesse perfeitamente o que viria a seguir. Tanto que pousou as suas próprias na cintura da menina, fazendo com que seus corpos ficassem mais próximos, mas não completamente colados. A falta de roupa e o excesso de pele poderiam se um agravante perigoso para a sua própria falta de controle. umedeceu os lábios, soltando pesadamente o ar. Ela não sabia como agir com ele, aquilo não lhe era comum. Quer dizer, o desejo sim, mas a proximidade, aquela intimidade, não. Ela lutava consigo mesma, mas essa luta se mostrou desnecessária, quando juntou seus lábios num rompante. E, depois de quinze anos de espera, ela poderia enfim liberar tudo o que sentia. O rapaz não conseguia conter-se, tudo havia sido demais para ele. Ele a tinha tão perto, que não tinha mais motivo para esperar. Ele queria. Ela queria. E o beijo era muito mais do que os dois sempre esperaram. Tinha um gosto bom, um gosto diferente. Algo como desejo misturado com amizade. Talvez amor.
Sim, com certeza era amor.


Santa Mônica, Califórnia – Sexta-feira, 09 de agosto de 2013, 14:07 pm.


- Então eu sou a culpada de tudo? – perguntou, abaixando a cabeça, com o rosto vermelho. Eles estavam sentados no mesmo cais da noite anterior, com as pernas para fora e os pés tocando a água fria.
- Não que eu esteja totalmente isento de culpa, mas... – ele respondeu, olhando de lado para amiga e vendo sua reação pouco confortável.
- Acho que lhe devo desculpas então. – a garota levantou os olhos, encarando os de , que levantou as sobrancelhas, como se tentasse entender pelo o que ela se desculpava.
- Desculpas por exatamente o que?
- Por forçar algo desconfortável, você poderia não querer nada disso e...
- Você está se desculpando por me beijar ou por. Esquece, deixa pra lá. – estava se perguntando se tudo o que ela disse era invenção da cabeça dele ou pura ação do álcool. Porque ele estava tentando, com todas as suas forças e de uma maneira mais discreta, demonstrar o que realmente queria. Só que o que ele não sabia era se ela estava apenas fingindo que não entendia por não entender mesmo ou usando isso como uma forma de dispensá-lo sem criar muitos problemas.
- Quem sabe seja melhor esquecer mesmo. – murmurou, ouvindo a própria voz morrer no final da frase. Mas ela não queria esquecer, isso era o que menos desejava. Na realidade ela queria lembrar-se de tudo. Dos toques, dos beijos. E tê-lo de alguma forma em sua mente para sempre.
- Só que eu preciso admitir que vai ser um pouco difícil.
- Um pouco?
- Não. Pra ser bem sincero, será muito difícil mesmo. – ele bufou chutando um pouco de água para cima. Ele se sentia um adolescente que tinha acabado de ser rejeitado pela primeira namorada. – Ainda mais depois de tudo.
- Depois de tudo o que? – falou baixo, encarando o rapaz mais uma vez.
- Você se ofenderia se eu dissesse que a melhor noite da minha vida, é uma que você não se lembra? – disse, cobrindo os olhos com as mãos por um tempo, para evitar que o sol atrapalhasse sua visão enquanto via a forma que absorvia aquelas palavras. – Logo você, a pessoa que fez dela a melhor.
- Talvez... – ela começou, suspirando antes de continuar. Seu coração acelerado de uma forma estranha, deixando-a bem vulnerável. – Talvez eu me sentisse melhor se você me contasse.
- Tudo? – perguntou, reprimindo um sorriso surgindo no canto dos lábios. A garota olhou em seus olhos por alguns segundos e respirou fundo em seguida, se entregando.
- Tudo.


Santa Mônica, Califórnia – Sexta-feira, 08 de agosto de 2013, 00:37 pm.

Not really sure how to feel about it
Something in the way you move
Makes me feel like I can't live without you
It takes me all the way
I want you to stay
Stay – Rihanna ft. Mikky Ekko
(Se você quiser, pode ouvir a música durante a próxima cena, aposto que terá outro significado.)


Apenas uma luz fraca vinha da janela e dava a todo ambiente um ar misterioso, sensual e muito excitante. Nenhum dos dois falava nada há alguns longos minutos. Eles apenas mantinham seus olhos fixos um no outro. Ambos sabiam que aquele era o momento pelo qual tanto esperaram, sonharam e desejaram. Mas não sabiam muito bem o que fazer, como agir. Tudo entre eles sempre foi muito fácil, quase orgânico, só que agora eles entraram num campo desconhecido. Minado. Qualquer passo em falso, poderia custar tudo e eles não estavam dispostos a isso. Pelo menos não os dois. estava completamente ciente do que estava prestes a acontecer e sabia que deveria evitar, deveria manter o controle. Seria muito errado de sua parte deixar qualquer coisa acontecer sem que estivesse completamente sã. Mas seu corpo respondia da forma contrária toda vez que ele sentia o perfume dela, ou que sua respiração mais pesada ia de encontro ao seu rosto. As coisas só pioraram quando ela levantou uma das mãos e colocou em seu rosto. Seus olhos se fecharam no mesmo momento, sentindo seu corpo responder a esse simples e suave toque. E ficou claro que aquela era uma batalha perdida. Não havia como ele lutar contra seu coração, seus sentimentos e o seu próprio corpo.

All along it was a fever
Foi uma febre o tempo todo
A cold sweat hot-headed believer
Uma pessoa nervosa, impulsiva que acredita
I threw my hands in the air and said 'show me something'
Joguei minhas mãos para o alto, eu disse 'mostre-me algo'
He said, 'if you dare come a little closer'
Ele disse, 'se você se atreve, chegue mais perto'


Suas mãos subiram lentamente pelo braço de e depois fizeram o caminho inverso, parando em sua cintura. Elas estavam trêmulas e incertas, como se ele fosse novamente um garoto de 15 anos que não soubesse o que fazer. E ele realmente não sabia. Tudo era diferente com ela. Mas a garota olhou fundo em seus olhos, como se dissesse que estava tudo bem, que ele não precisava se preocupar. E como um pequeno exemplo disso, ela segurou a barra de sua camisa, trazendo para cima e jogando a peça num canto qualquer. repetiu o gesto, fazendo com que a blusa dela tivesse o mesmo destino. colocou as duas mãos espalmadas no peito de e o empurrou, para que o mesmo caísse sentado na cama. Ela subiu em seu colo, passando uma perna pela sua cintura. Seus lábios foram parar no pescoço dele e o que ainda restava do controle se esvaiu. Aquele pensamento disso tudo ser errado, de que ele poderia estar se aproveitando da amiga sumiu da sua cabeça. A única coisa que ocupava a sua mente agora, era a imagem da mulher que ele sempre amou completamente entregue em suas mãos. E elas, antes vacilantes, assumiram uma postura mais incisiva, passando a percorrer toda a extensão do corpo da menina. Um calor incontrolável subia pelo corpo de ambos e só aumentava, conforme a intensidade dos movimentos crescia. forçou o corpo, mudando de posição com , fazendo com que ela ficasse por baixo. Os lábios entreabertos da garota e a sua respiração – já – acelerada, só aumentavam seu desejo. Ele desceu seus lábios até os dela, dando-lhe o beijo mais intenso, mais apaixonado que podia. sentia precisava mostrá-la que nada daquilo era simplesmente sexo. Havia muito mais em nele e precisava dar tudo isso a ela. Por mais que ela não se lembrasse no dia seguinte.

It's not much of a life you're living
Não é uma vida e tanto a que você está vivendo
It's not just something you take, it's given
Não é apenas algo que você toma, é algo dado
Round and around and around and around we go
Por aí, por aí, por aí nós vamos
Ohhh now tell me now tell me now tell me now you know
Oh, diga-me agora, diga-me agora, diga-me agora, você sabe


Conforme o restante das peças de roupa alcançava o chão, o ar começava a ficar mais pesado para os dois amigos. Eles se embolavam e desembolavam sob os lençóis. Cada toque, cada beijo, cada olhar. Todos eles não demonstravam apenas o desejo que nos consumia, demonstravam a ligação que claramente existia ali. Os lábios não se deixavam nem por um único segundo. Mesmo que não estivessem efetivamente se beijando, eles mantinham os lábios unidos, como mais uma forma de encontro de seus corpos. soltava alguns gemidos esporádicos e mantinha suas unhas fincadas nos ombros de , onde já havia uma série de marcas, mas ele não se importava. A dor era como um incentivo a continuar. E conforme ele se movia, conseguia sentir o corpo dela corresponder e responder a cada comando, como se eles fossem um do outro desde sempre. O que não deixava de ser verdade. As mãos já não tão gentis do rapaz se arrastavam pela pele ardente da menina, como se quisesse arrancá-la. Sua movimentação era intensa e constante, ele não queria parar e também nem poderia. já murmurava algumas palavras soltas, fora de contexto, mas algumas eram bem claras como “Não pare”. Então obedecia veementemente suas ordens, como se essa fosse sua única missão na Terra. E permaneceram assim, unidos, por alguns segundos, apenas sentindo um ao outro. Estávamos ligados de diversas formas: corpos, olhares, corações e até mesmo almas.

Ohhh the reason I hold on
Oh, o motivo pelo qual me mantenho firme
Ohhh cause I need this hole gone
Oh, porque preciso fazer este buraco desaparecer
Funny you're the broken one but I'm the only one who needed saving
É engraçado, você é quem está em ruínas, mas eu era a única que precisava ser salva
Cause when you never see the light it's hard to know which one of us is caving
Porque quando você nunca vê as luzes é difícil saber quem de nós está desabando


estava deitado, com apoiada em seu peito. Enquanto eles tentavam acalmar suas respirações, ele passava a mão levemente pelo cabelo dela, fazendo com ela fechasse os olhos e aproveitasse mais ainda daquele momento. Havia tanta coisa presa na garganta dele, tantas perguntas, só que não parecia haver espaço para nenhuma delas. Talvez nenhuma palavra. Mas elas eram necessárias.
- , eu... – ele começou a falar, mas colocou um dedo sobre os seus lábios, selando-os.
- Não diga nada. – sussurrou, num tom de voz mais calmo, quase tranquilizador. Ela levantou um pouco o tronco, fazendo com que seus olhos ficassem na altura dos dele. – Não estrague isso.
- Se você quiser, eu posso deitar no sofá. – o rapaz teimou, tentando se levantar, mas ela não deixou, forçando seu corpo sobre o dele.
- Eu quero que você fique aqui. – pediu, com um sorriso surgindo no canto dos lábios. – Comigo.

Not really sure how to feel about it
Não tenho muita certeza de como me sentir quanto a isso
Something in the way you move
Algo no seu jeito de se mexer
Makes me feel like I can't live without you
Faz com que eu acredite não ser possível viver sem você
It takes me all the way
Isso me leva do começo ao fim
I want you to stay
Quero que você fique



Santa Mônica, Califórnia – Sexta-feira, 09 de agosto de 2013, 14:55 pm.


- Por que você nunca me disse nada? – perguntou, enquanto mordia fortemente o lábio inferior, tentando não chorar.
- Eu não tenho grandes planos, nunca tive. E Você sempre foi a melhor pessoa que já conheci na vida. Nunca pareceu justo tirar essa parte do seu futuro brilhante. – respondeu, vendo a menina sorrir ao seu lado, balançando a cabeça negativamente logo em seguida. Visivelmente contrariada.
- Você nunca percebeu que deveria fazer parte desse futuro? Sendo ele brilhante ou não? – ela segurou uma das mãos do rapaz entre as suas, fazendo com que ele se sentasse de frente para ela. – Bem, eu tenho tentado te mostrar isso desde o primeiro dia que eu te vi, mas nunca me pareceu a atitude mais correta.
- Será que você está disposta a perdoar o meu pequeno atraso?
- Só se você me prometer ser sempre pontual a partir de agora. – a garota encarou os olhos mais uma vez, antes de sorrir de lado e completar sua frase. – E me beijar nesse exato momento.
- Pode acreditar que não há nada que eu queira mais do isso. – murmurou, puxando para mais perto e colocando uma de suas mãos em sua nuca. – Tá, talvez só uma coisa.
- Ah! Isso só se eu me lembrar perfeitamente dessa vez.
- Pode ter certeza que será inesquecível. – ele falou contra os lábios dela, que sorriu e ergueu as sobrancelhas.
- Quanta pretensão... – ela disse, antes de sentir a boca de contra a sua.


Já é quase meia-noite
Quase sexta-feira
E me falta tanto ainda
Aquela dos 30 – Sandy



- Eu estava pensando. – rompeu o longo silêncio que se instaurara. Eles estavam deitados no perto do mar, numa parte protegida do sol forte daquela tarde, ignorando quaisquer olhares estranhos. Aquele agora era o lugar deles.
- O que é agora? – perguntou, já imaginando que não viria algo bom daquele pensamento. Porque, geralmente, quando ele abria a boca depois de muito tempo pensando na mesma coisa, pode acreditar que será alguma besteira.
- Lembrei dos seus planos e de como alguns falharam. – comentou, chamando atenção da garota, que levantou um pouco o corpo para olhar em seu rosto.
- Sim?
- Então, já que o casamento aos 30 já não é tão possível assim. Nós podemos começar a pensar no próximo plano da lista.
- Que plano, ? – a menina já estava apreensiva com o rumo que a conversa tinha tomado. Ela não queria pensar em nada disso agora.
- Ué, do primeiro filho aos 32. Acho que nós podemos começar a pensar nisso. – ele começou a falar deliberadamente sobre diversas coisas. Coisas essas que não conseguia entender. Ela só continuou olhando para ele, até que percebesse que era hora de se calar.
- , não.
- Por que não? Acho que nós seríamos ótimos pais. Claro que você seria a chata da história e eles corriam para mim quando você estivesse louca lá, brigando com eles...
- . – falou mais alto, fazendo com que ele levantasse a cabeça e parasse de falar por alguns segundos. Eles se encaram, trocando o mesmo olhar cúmplice de sempre.
- O que?
– Cala a boca.
E assim, como se ainda fosse dois adolescentes de quinze anos de idade, continuaram implicando um com o outro. Porque certas coisas nunca mudam.


Fim



Nota da autora: TCHARAM! Mais uma fic da That. (não enjoem de mim, por favor.)
Essa foi a primeira que eu escrevi em terceira pessoa, então se estiver ruim, finjam que não está, por favor.
Essa história foi feita para um especial do grupo WE <3 FFOBS, onde você tinham que escolher três caras e fazer uma fic com eles. Eu escolhi o Danny Jones (dããã), o Ryan Gosling e o Chace Crawford, por isso eles aparecem na fic e não por uma ação do destino.
Enfim, eu espero que vocês tenham gostado e que comentem, por isso me faz feliz demais.
Beijos e até a próxima.

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