A sala, que já era normalmente pequena, agora estava cheia de caixas velhas e empoeiradas.
- De onde você tirou todas essas caixas? Na casa mal cabem nós duas sem essa tralha toda! Jajá os meninos vão chegar e a bagunça vai ficar pior ainda! Quer ajuda pra colocar isso em algum lugar? – neurótica como sempre, a menina queria se ver livre daquele caos o mais rápido possível.
- Calma, Vicky! Eu peguei isso tudo na casa dos meus pais. Eles vão fazer sei lá o quê no meu quarto e iam jogar tudo fora. Vou arrumar essas caixas agora mesmo. Só vou olhar pra ver o que tem em cada uma e pegar o que eu quiser guardar... O resto eu jogo fora.
- Eu te ajudo. Por qual caixa você quer começar?
olhou para as caixas, e entre a montanha de papelão e poeira viu uma com “Aniversários” escrito na frente. Os aniversários sempre foram seus dias favoritos do ano. Ela e seu irmão, Tom, sempre se vestiam duas ou três horas antes do que deveriam e ficavam esperando os convidados.
- Eu quero abrir aquela primeiro. - disse, apontando para a caixa.
- Aniversários? Duvido que tenha alguma coisa que preste lá dentro. Pelo que eu lembro, sua mãe jogou muita coisa fora, não jogou?
- Então! Ela deve ter deixado só o melhor pra trás! Espero que não tenha só coisas do Tom aí...
- , não é porque ele tem uma banda que seus pais gostam mais dele!
- Pra você é fácil falar! Seus pais gostam tanto de você quanto eles gostam do Danny!
- Blablablá... Vem me ajudar a abrir. - quando as duas meninas começaram a tirar a caixa do lugar, a porta da frente se abriu e entraram cinco pessoas.
A primeira a entrar foi Giovanna. Morena, não tão alta e com um sorriso largo, entrou de mãos dadas com o namorado - e irmão de Mary -, Tom. Danny e Harry entraram, conversando sobre qualquer filme de herói em quadrinhos, fingindo ignorar Dougie, que insistia em dizer que o Super-Homem ganharia fácil do Batman.
- Faaaala, galera! O que diabos aconteceu aqui?
- Oi, Danny! Tudo bem comigo, e com você? - Vicky disse, olhando para o irmão com um sorriso. – Vocês não sabem bater?
- Como se a gente já não fosse “de casa”, né... Essas caixas são da casa dos nossos pais, não são? O que elas estão fazendo aqui?
- Então, Tom... A mamãe disse que ia jogar tudo fora, então eu trouxe o “lixo” dela pra cá, pra ver se dava pra salvar algo. A gente ia abrir essa caixa, olha: “Aniversários”. Meu dia favorito, lembra?
- Claro! Lembro que a gente costumava se vestir bem antes e ficar esperando no seu quarto. Lá tinha um espelho bem grande e dava pra ensaiar o que dizer pros convidados quando eles chegassem. - Tom disse, já abrindo a caixa. - Espero achar aquela roupa de quando você, Giovanna, Vicky e Carrie se vestiram de McFly... O primeiro e o último à fantasia que você quis fazer. Lembra que você era o Dougie porque... – Dougie, que até então estava distraído com o celular, levantou a cabeça e olhou para o amigo.
- Olha! – Mary disse, interrompendo o irmão. - Tem uma caixa escrito "Halloween"!
- Porque o quê?
- Nada, Dougie. Ele tá inventando história.
- Agora eu quero saber por que você se vestiu de Dougie, ! – Giovanna deu uma cotovelada no estômago do menino, fazendo-o calar a boca, e sussurrou no seu ouvido: “Ela não quer falar sobre isso, Danny...”.
Danny olhou pro nada, tentando achar alguma coisa pra se distrair. Ele sempre falava o que não deveria, mas nunca era de propósito. Ao olhar pra dentro da caixa aberta nas mãos de Tom, viu um DVD. Apressou-se em pegá-lo e ler a capa: “/Aniversário – 2005”.
- Seu aniversário de 2005? Não faz tanto tempo assim! Só seus pais ainda gravam coisas em DVDs...
- Olha só, eu não tenho culpa se meus pais gostam de guardar as boas memórias, ok?
- Claro, Fletcher! Por isso que tudo isso tá bem guardado lá na casa deles. Só que não, né.
- Eu faço a pipoca e você coloca o DVD? - Danny disse para a irmã. – Vai ser engraçado demais ver vocês em uma versão mini do McFly!
- Não! De jeito nenhum! – protestou. - Eu não quero ver esse DVD!
- Eu lembro que quiseram economizar na fantasia pra ir viajar e pegaram as nossas roupas... Coloca aí, gente! Vai ser engraçado ver vocês fingindo ser meninos.
- Não sei, Tom... Pode ser. Olha, ninguém vai ver isso aí.
- Agora eu quero ver. – Dougie pegou o DVD e colocou pra tocar. Quando quatro meninas apareceram na tela, se levantou e foi para o canto da sala. Ao mesmo tempo em que queria sair dali, queria ver o que ia acontecer.
- Olá, meninas! Digam “oi” pra câmera!
Dougie conseguiu reconhecer as roupas que Mary estava vestindo. Ela provavelmente deve ter pegado da bagunça que era a casa dos meninos e ele nem percebeu. Ele se lembrava daquele dia, daquela festa. Não conseguiu evitar o sorriso que apareceu em seu rosto. Ela parecia muito feliz.
- Hoje nós não somos meninas, mãe!
- Ah, claro! Olá, McFly! Digam “oi” pra câmera!
- Olááá! – Todas disseram, sorrindo. Giovana suspirou um “estou velha demais pra isso” e todas riram.
- Me digam quem é quem. Olha só, querido, como elas estão bonitinhas! Depois você chama os meninos pra ver!
- Deus me livre, mãe! Não quero traumatizar ninguém. Eles vão ver de qualquer jeito... Eu só queria saber por que a não quis ser “eu”.
Todos - menos - na sala riram.
- Sério, gente. Até hoje eu me sinto meio rejeitado.
- Porque a Giovanna quis ser você, ué!
- , até parece! Você sabe muito bem que você quis ser o Dougie! – Giovanna se defendeu.
- Não!
- Sim, porque você...
atravessou a sala e apertou “pause” no aparelho de DVD.
- Por hoje é isso, pessoal! Todos pras suas respectivas casas! Dirijam com segurança, vão com Deus! Allons-y!
Dougie apertou “play” de novo, e quando Mary tentou parar o filme pela segunda vez, ele a segurou pelos braços. Ela resistiu por um tempo, mas acabou desistindo.
-... o ama!
O ar no cômodo era denso. Todos estavam praticamente segurando a respiração, olhando de Dougie para e de para Dougie. Ninguém mais olhava para a tela.
- Não! Gio, você está inventando coisas!
- Você me disse que ele é seu favorito! - A namorada do Tom disse.
- E não era pra você contar pra ninguém! Você é uma péssima cunhada...
- , eu vou usar isso contra você sempre que eu puder!
- Tom, não...
- Ah, vou sim! Vou contar pro Dougie que você o acha liiindo e...
se livrou dos braços de Dougie, que agora parecia distante, olhando pra tela.
- Eu não me lembrava disso... Sinto muito...
- Tanto faz, Gio. - Mary respondeu, cruzando os braços.
- Tom, não diga nada, por favor... Já é patético demais do jeito que está. Ela fala dele 24 horas por dia!
- Tá! Eu gosto do Doug, ok? Eu sei que pra ele eu não sou ninguém, sou no máximo a irmãzinha estúpida do Tom! E eu sou estúpida mesmo, não é? Agora me deixem em paz! Eu odeio vocês! - Mary disse com os olhos lacrimejantes. Logo que terminou de falar, saiu andando.
- Eu não acredito no que eu acabei de ver... - Danny disse, apertando o “pause”. - ...
- Não se atreva, Danny. Silêncio.
olhava para o chão quando Dougie se aproximou, a abraçou e deu-lhe um beijo na bochecha.
- Não precisa ficar chateada, ok? Por que você não me falou nada na época?
- Doug, por que eu falaria? Esquece isso, ok? Eu era uma adolescente estúpida. Só. Agora eu já cresci e...
- E ainda gosta dele?
- Danny! - Todos os que assistiam a cena o repreenderam.
- Eu sinto muito...
- Não, . Responda a pergunta dele.
- Doug, não! Eu não... Não...
- Você não gosta de mim?
- Eu... Olha, eu era só uma menina! Uma adolescente... Eu tinha quatorze anos, ok? Esquece isso.
- Você ainda não respondeu.
Sumir. Era isso que queria fazer agora. Mentir seria a coisa certa a se fazer. Ela vem mentindo pra si há algum tempo.
- Dougie, esqueça isso. Eu vou dar uma volta. - Com lágrimas nos olhos e um bolo na garganta, ela pegou seu casaco, mas este foi arrancado das suas mãos.
- Oito anos...
- O quê?
- Tem oito anos que isso aconteceu. Oito anos! Você podia ter me falado antes! Algum de vocês podia ter contado!
- Você é meu melhor amigo, Dougie! Você é meu herói! Pra quê eu ia te contar? Pra te perder? Pra você me rejeitar e ficar frio comigo?
- Eu sei que eu sou, mas quem disse que eu quero ser seu melhor amigo? Eu sempre quis mais do que isso, eu sempre quis você e só você! Você sempre me tratou como um irmão e eu sempre te respeitei por isso! Eu perdi oito anos! Eu sofri por oito anos! Oito! Todas as namoradas que eu tentei arrumar pra te esquecer... Os namorados que você arrumou... - O garoto tinha lágrimas nos olhos, parecia desesperado.
- Doug... - Antes que ela pudesse falar algo, ele a agarrou pelos braços, com o olhar fixo em seus olhos.
- Não. Não tire isso de mim, não agora. Eu te amo! Sempre amei! Diga que era mentira, então. Diga que era e eu vou embora.
- Eu não sei o que dizer... Eu não... Dougie, não deixa isso estragar o que a gente já tem. Não precisa ficar com dó de mim e dizer que me ama de volta. Eu te amo. Não era mentira. Eu era adolescente, era deslumbrada! Você sempre foi bonito, engraçado... Mas eu quero sim que você vá embora. Eu não posso passar por isso agora. Oito anos seguindo em frente, esquecendo e tentando ser feliz acabaram de ir por água abaixo.
- Desculpa, mas já que você quer que eu vá embora, eu vou ser egoísta. Pode me mandar chutar daqui, mas não antes disso.
Ele a beijou. Foi um beijo firme. A segurou pela cintura e pressionou seus lábios contra os dela e a menina não reagiu. Dougie se afastou e a olhou nos olhos.
- Por favor...
Ainda sem receber nenhuma reação, ele a beijou novamente. Desta vez ela reagiu. Passou a mão direita pelos cabelos dele e a esquerda segurou a nuca do garoto.
Todos na sala gritaram e aplaudiram. Vários “finalmente” ecoaram pelo ambiente.
- Oito anos, .
- Oito anos, Doug...
Fim
Nota:Só uma ideia que eu tive... Três vivas para o primeiro dia de férias! Essa short podia ter continuação, não? Oh, well...
Gostaram? Espero que sim! Se não, podem reclamar comigo por aqui, ó: