Astronaut


Escrita por: Grind
Betada por: Layla F.


PARTES: [I] [II]



Parte I


Estava chegando o dia em que eu teria que partir e deixá-la para trás. Eu não tinha contado isso a ela, uma ação egoísta, mas muito menos dolorosa para mim. Eu sou um tremendo de um covarde que só pensa em si mesmo e esquece que a única pessoa que tenho vai morrer... Virar cinzas no espaço. E eu? Estarei entre as estrelas, na nave da minha família, tentando esquecê-la e com total consciência de que aquilo não iria acontecer comigo. Eu teria deixado o amor da minha vida para morrer.

Hoje a noite iria vê-la, a tomaria em meus braços e o meu discurso para contar a ela sobre a minha partida iria se esvair da minha mente, sendo lembrado apenas no outro dia e isso aconteceria de novo e de novo. Eram esses os meus pensamentos enquanto descia da nave da minha família depois de visitar o nosso futuro lar, já que a Terra, e todo o sistema solar que eu costumava chamar de casa, iriam sumir e, parte de tudo isso, era nossa culpa. Aceleramos o processo de envelhecimento do sol sem perceber.

Conseguiremos viver em um mundo que estava devastado, mas não vamos sobreviver a uma explosão solar, muitos irão morrer. Nossa sociedade parece que deu um jeito de regressar ao passado ao invés de avançar ao futuro, que poderia, de algum jeito, ser promissor. Temos uma hierarquia definida pelo dinheiro que, no meu ponto de vista, é a desgraça da humanidade e é por causa dessa hierarquia que eu não posso levá-la comigo e, mesmo se pudesse, ela não iria querer ir.

Se ela fosse comigo, teria que deixar sua família para trás e, isso, ela nunca faria. Eu nunca pediria para ela se decidir entre o namorado, que esconde o namoro, e a família, tenho certeza absoluta que perderia feio. Ela não ligava para minha casa na hierarquia, não ligava para o meu dinheiro, ela ligava para o que eu sentia: meus sentimentos e os meus ideais, que eram estranhos para alguém na minha posição.

Assim que pisei na Terra, quase extinta, senti o meu coração voltar a ter a esperança dela conseguir passar no nível de inteligência para poder ir para fora desse sistema solar, mas era nessas horas que eu lembrava que ela não tinha acesso a informação além da escola, que era de péssimo nível, e também não tinha tempo para ler ou assistir algo informativo, o que dificultava tudo.

Nós não tínhamos futuro, mas porque eu ainda assim queria correr ao encontro dela e enche-la de beijos? Era o grande mistério que eu tenho certeza que vai me acompanhar pelo resto da minha vida. Senti os braços de meus familiares me envolverem em um abraço forte e unido e, logo que me soltaram, me encheram de perguntas enquanto adentrávamos o nosso meio de transporte flutuante, era uma nave misturada com um avião e um carro.

Chegamos ao ponto mais alto da nossa mansão e logo descemos à sala para discutimos se estava tudo pronto para a nossa partida, e verbalizar isso era como se alguém esfaqueasse meu coração e, de algum modo, me deixasse olhando a minha própria morte. Estávamos tão avançados, mas não encontrávamos um meio de deter a morte, o maior temor de nossa espécie, nem de deter o envelhecimento do sol que, consequentemente, nos levaria a morte.

Eu não via a hora de sair daquele lugar e ir ao encontro dela. Sentia muita falta dela e imaginar que sentiria essa falta para sempre acabava com o meu coração. Quando finalmente consegui sair de lá, fui correndo pegar o meu carro fly, que era um meio rápido pelas nossas vias aéreas, e, com sorte, a pegaria na universidade.

Cheguei à universidade, que não era das melhores, e “escondi” o meu carro fly no lugar que nós sempre marcávamos e que tinha uma ótima vista para a saída da universidade. Olhei no relógio e vi que o fim do período noturno de aulas naquele lugar ainda não tinha terminado, faltavam apenas cinco minutos.

A vi saindo com um sorriso no rosto, como se daqui a um mês tudo não fosse estar destruído. Ela lidava tão bem com o fato de talvez não fosse conseguir sair daqui com a família, ela sabia que não sairia. Ainda tinha um mês pela frente com eles e ela achava que teria algumas semanas a mais comigo, mas ela não teria.

Um garoto, que aparentava ser um ano mais velho que ela, veio por trás, colocou os braços ao redor dos ombros dela e ela sorriu para ele. Naquele momento eu estava com uma pontada de ciúmes e inveja por ele poder fazer aquilo em público. Mas, afinal, quem era aquele que parecia namorar a minha namorada?

Meus olhos estavam se arregalando a cada sorrisinho e a cada passo do suposto casal. O garoto tinha que ser um amigo, ela nunca me trairia, certo? Certo, eu acho. Estava com uma vontade, do tamanho do mundo, de sair da minha condução e ir mostrar para aquele garotinho que ela já tinha namorado, mas, se fizesse isso, os sites iriam noticiar que o famoso herdeiro dos King estava namorando uma garota de uma das mais baixas casas, e os meus pais não iriam gostar da noticia, status era tudo naquela sociedade.

Foi um completo alivio quando ela estava mostrando que iria se despedir dele, mas, para o meu total desespero, ele desviou o rosto e a beijou, como se fossem namorados de longa data. Aquilo me fez esquecer os sites de noticias e saltar do carro fly, indo ao encontro dela, uma ação inconsequente, admito. De fato, ela não desejava o beijo pelo simples fato de tentar afastá-lo, mas ninguém o impedia de beijá-la, então eu fui impedir aquela visão horrível.

Os meus passos pareciam estar grandes demais, mas aquilo me fazia ter um pouco mais de rapidez na minha caminhada/corrida. Empurrei-o para longe dela, ele caiu no chão, mas logo se levantou, reconhecendo-me na hora. Pelo olhar, eu estava ferrado, já imagina o que aconteceria.

- O que o senhor King veio fazer nessa humilde instalação? E o que quer protegendo ela? - O garoto falou em tom de voz alto, raivoso e surpreso pela minha presença, acredito. Bom, não é sempre que vemos um futuro rei andando por aí.

- Nunca mais encoste o dedo nela. – Vociferei e virei-me para , a abraçando e falando em seu ouvido. - Tudo bem?

- Tudo. – Ela falou com um meio sorriso no rosto, com surpresa e assombro misturados, por me ver ali.

Rumei para o meu carro, com um braço ao redor da cintura de e sentindo olhares curiosos nas minhas costas. Não me importei com o garoto, ele não me atacaria, seria preso se desse vida a tal ato. Ordenei para o carro fly abrir a porta do passageiro e ela entrou, calada, mas ainda com o olhar de surpresa em seu rosto.

Entrei no lado do motorista e ordenei ao carro fly para me levar ao lugar secreto onde sempre ficávamos: um apartamento escondido da humanidade e de difícil acesso onde, graças ao universo, não pegava superphones visto que ninguém ia até lá. Nós fomos até o sofá que existia naquela sala, talvez o único apartamento mobiliado, e ela sussurrou com um toque de medo na voz:

- Você está bem?

- Agora sim, mas não sei se vou ficar bem mais tarde. – Verbalizei o que estava dando voltas e atormentando a minha mente.

- Desculpe. - Ela disse abaixando a cabeça.

- Não é sua culpa. - Disse à com toda convicção e a puxei para o meu colo enfiando o meu rosto em seus cabelos loiros e a abraçando bem forte, logo senti seus braços finos e pequenos me abraçarem de volta.

- O fim está próximo. – Ela falou baixinho fazendo com que eu olhasse nos seus olhos, existia um sorrisinho no seu rosto o que, de fato, me assustou. – Eu e minha família vamos para a Nova Terra, não é na melhor das naves, mas eu vou ter um futuro e esse futuro seria adorável se fosse com você.

Não esperava por aquilo, o sorriso brotou no meu rosto e eu levantei para rodá-la, ela sobreviveria, e eu teríamos mais tempo juntos. Nós gargalhávamos como duas crianças e é tão bom ouvir a gargalhada dela, deixava-me com um sentimento de paz interior gigante.

- Vai ser um prazer gigante continuar com o que temos no planeta Nova Terra, meu grande amor.

Sabia que ela me amava e ela sabia que eu a amava e isso era a única coisa importante para mim. Beijei-a com todo o amor e a felicidade que estava dentro de mim e, foi naquele sofá velho, que fizemos amor, a primeira vez dela e a primeira vez que significou algo tão grande e forte para mim.

Xxx

Já era tarde, minha família devia estar pirando, mas eu não queria me levantar daquele sofá e muito menos queria acordá-la. parecia dormir igual a um anjo nos meus braços, mas, sem querer, eu me mexi e ela acordou um pouco atordoada. Logo ela percebeu sua nudez e ficou vermelha, tentando, de algum jeito, fazer a minha jaqueta ficar maior do que realmente era. Eu ri da vergonha repentina dela. Eram essas pequenas coisas que tinham me encantado e ainda me encantam.

- Do que você está rindo? - perguntou levantando-se para vestir-se corretamente.

- Sua vergonha, querida, já vi tudo não tem como você esconder. - Respondi rindo da cara de brava que ela fez.

- Idiota! – Ela exclamou jogando as minhas calças em mim.

Sai correndo até ela, a puxei para mim e a beijei. Nossos beijos eram como descobrir que éramos capazes de voar sem nenhuma máquina, era como estar dirigindo as naves espaciais e eram tão cheios de amor puro e totalmente delicado. Os melhores beijos do universo inteiro, eu podia falar isso com toda certeza.

- Idiota que beija muito bem. – Disse entre os selinhos que depositei nos lábios de que voltou a ficar com as bochechas vermelhinhas, era fofo. – Temos que ir, amanhã você acorda cedo e eu tenho que enfrentar os King.

- Boa sorte.

- Vou precisar, mas, se acontecer algo, quero que saiba que eu sempre vou te amar, você está aqui. - Eu falei com total convicção e colocando a mão dela no meu coração.

- Não vai acontecer nada e eu te amo muito, você também está aqui. – falou do mesmo jeito e repetindo o meu gesto o que me fez sorrir um pouco e a deixar vermelha, pois estava com minhas mãos ali.

- Quando você parte? – Perguntei.

Era um astronauta, navegava pelo espaço e sabia que amanhã ia começar as mudanças de planeta, primeiro os ricos, em seguida os de classe mediana e, por último, os pobres. se encaixava no que seria a última classe, a classe dos pobres.

- Um dia antes da data marcada para o fim da Terra. – Ela respondeu dando de ombros.

- Vou pedir para escoltar a sua nave. - Falei um pouco preocupado com a última informação que recebi dela.

A última nave seria a pior de todas e a mais perigosa, naquele dia teria perigo de colisão com meteoritos e a nave em que ela embarcaria não tem a tecnologia que protege as naves de colisão com meteoritos e meteoros e, muito menos, proteção contra o sol. Agora eu tinha um bom argumento para voltar para Terra, era um aventureiro e meu pai gostava de saber disso.

Seguimos o caminho até o carro fly abraçados e entramos no mesmo. Ordenei para levar até a casa dela e a deixei lá, me despedindo dela com um selinho. Não sabia quando nos encontraríamos, havia uma grande preocupação, podia nunca mais vê-la. Ordenei novamente para me levar até a mansão de minha família, no caminho percebi que o meu superphone tinha várias chamadas não atendidas e inúmeras mensagens, mas decidi ir direto ver os sites e o que eu temia apareceu na tela.


Parte II


A noticia era clara e sua manchete era autoexplicativa: “Filho do rei do planeta é visto abraçado com uma garota de classe baixíssima, será um romance? O que a família real pensa sobre isso?”. Estava muito ferrado. Logo cheguei até o meu destino e, antes de descer do carro fly, visualizei meu pai com uma cara nada agradável e o meu criado robô com uma expressão triste na face. Creio que o carro fly quis ser mais rápido do que o desejado por mim.

- King, você tem noção do que fez? - Esbravejou Clark, o meu pai e rei da Terra.

- Tenho, eu fui buscar minha namorada na universidade. – Respondi com a maior naturalidade que consegui colocar no meu tom de voz e nas minhas expressões.

- Sua namorada?! - Meu pai esbravejou novamente com mais raiva do que antes.

- Algum problema? – Respondi com a mesma naturalidade de antes, eu devia ser um ator.

- Ela não é do seu nível! Nós, eu e o planeta inteiro, precisamos que você se case com alguém do seu nível, que tenha capacidade de governar ao seu lado.

- Sou eu que defino se ela é ou não do meu nível e quem eu quero que governe ao meu lado. - Gritei pela primeira vez na nossa “conversa”, que não terminaria nada bem, não se desafiava um rei.

- Você é o futuro rei e não pode ter uma rainha de tão baixo nível, acabe com esse namoro agora!

- Eu não vou acabar com ele!

- Sofrerá as consequências dos seus atos! - Exclamou Clark e deu as costas a mim, não deu tempo de perguntar qual seria o meu castigo e não estava com um bom pressentimento, sabia que seria algo extremamente ruim.

Entrei em casa e dei graças a deus por não ter ninguém lá. Fiz o caminho do meu quarto e quando cheguei lá meu criado robô disse quase chorando e com aquela voz de robô:

- Senhor, a senhorita foi retirada da nave que a levaria para a Nova Terra e o senhor está escalado para todas as viagens até a Nova Terra.

Meu coração gelou, eu não entendia como ela não estava na lista. Algo iluminou a minha mente e logo percebi que aquele era o meu castigo, o pior de todos que já levei, não podia deixar que isso ocorresse. Sai do meu quarto igual a um furacão e era isso que eu estava sentindo por dentro, um furacão cheio de emoções misturadas. Adentrei o gabinete de meu pai, sem pedir permissão, e logo fui recebido pela voz calma de minha mãe, com toda certeza ela estava alheia a situação:

- Querido, como você está?

- Péssimo. Acabei de descobrir que seu marido é um homem horrível que não merece um pingo de humanidade. – Vociferei para ele que tinha uma expressão serena no rosto.

- Não fale assim com seu pai. - Ela rebateu.

- Sabe o que ele fez? – Eu perguntei e ela fez que não olhando para mim e logo em seguida para ele. – Ele decidiu que o amor da minha vida vai morrer, porque ele não quer que eu seja feliz, porque não segui com seus malditos princípios!

- Cale-se!-O rei vociferou.

- Venho aqui para dizer que acabo com o meu namoro se o senhor permitir que ela continue viva. – Desrespeitei sua ordem, disse o que eu menos queria naquele momento e o que eu mais temia.

- Bom garoto. – Clark disse assim que eu dei as costas e fui em direção ao meu quarto, mas ainda assim consegui ouvir minha mãe.

- Não acredito que você fez isso! Como você pode fazer isso com seu próprio filho?

Não podia perdê-la, mas já tinha perdido, talvez, daqui a uns anos, quando eu governasse, ela voltaria a ser minha. Cheguei ao meu quarto e fui arrumar minhas coisas, o meu criado robô tinha deixado um bilhete dizendo que eu partiria dali a umas cinco horas e eu ainda precisava me despedir dela. Liguei para Lucky maquinando uma ideia um pouco arriscada, mas minha única chance.

Lucky era o apelido do meu amigo. Bom, não sei qual é o verdadeiro nome dele, só sei que ele tem esse apelido, pois no inglês arcaico Lucky significa sorte e ele tinha sorte de sobra, tomara que conseguisse me emprestar um pouco. Iria precisar de toda a sorte do mundo para não ser pego.

Xxx

Tinha chegado atrasado ao local que tínhamos marcado, não foi fácil sair de perto de toda aquela gente que só queria que sua filha casasse comigo para pegar todo o prestigio que era fazer parte da monarquia. Não via ninguém, ela devia ter ido embora.

Estava em um tipo de deserto considerado inabitável e um lugar que era complicado respirar. O oxigênio era escasso, por isso estava usando roupas especiais quase iguais as roupas que os homens do passado usaram para pisar pela primeira vez na lua, os astronautas do passado, Lucky me prometera que daria uma daquelas para poder ir ao meu encontro.

Ao longe vi um ponto preto e me aproximei para ver o que era. Era , que correu ao meu encontro. Quando chegamos um perto do outro resolvi retirar o capacete que me possibilitava abundância de oxigênio, mas eu não me importava mais com isso, só queria sentir o gosto de seus lábios. retirou o capacete e eu a beijei, estava começando a sentir falta do oxigênio quando resolvi colocar o capacete e pedir a ela que colocasse o dela.

- Irei te ver quando eu voltar para escoltar algumas naves, por favor, não me esqueça. – Disse com temor na voz, realmente tinha medo que ela me esquecesse, ela tinha motivos, ter um péssimo namorado não deveria ser nada fácil.

- Nunca irei te esquecer, vou te esperar ansiosamente. - disse com um meio sorriso que me deixou feliz. - Você é a minha estrela: guia-me e me ilumina, não tem como deixar minha estrela para trás.

- Adoro quando você fala essas coisas, nunca vou deixá-la, por mais que possa parecer. – Falei. Ela conseguiu tocar na minha alma com aquelas belas palavras e eu não podia simplesmente deixá-la sem saber se eu a deixaria ou não.

- Eu amo você. – disse sorrindo.

- Eu também amo você! – Exclamei refletindo o sorriso dela. - Por enquanto, essa é nossa despedida. - Falei com dor na voz e retirei o capacete para beijá-la novamente. -Tenho que ir.

Ela assentiu e eu dei as costas sem conseguir falar sobre o ocorrido com o Rei. Fui direto para a nave e quando cheguei já embarcamos rumo à Nova Terra. O espaço era profundo, tão escuro, mas tão lindo de se ver, por mais que fosse difícil de ver algo. Estava no meio dos meus devaneios mais profundos sobre o espaço e o que eu significava nesse universo quando gritaram meu nome.

- ! – Lucky berrava para mim.

- Lucky! – Tentei imitá-lo.

- Em que diabos de lugar você acha que está? – Lucky perguntou-me enquanto apontava para os comandos, tinha me descuidado e esquecido que tinha que controlar uma nave.

- Nos meus pensamentos, desculpe.

O silêncio se apoderou da nave e de nós mesmos por um longo período de tempo, até que eu quebrei o silêncio para impedir que Lucky continuasse com aquela cara aterrorizante.

- Para de fazer essa cara. – Disse conseguindo sua atenção. – É mais assustadora do que o silêncio, no que você estava pensando?

- Desculpe, estava pensando na garota. – Ele falou e eu continuei olhando-o sem entender. – A tal .

- Ah, o que você quer saber?

- Quem é ela?

Eu não queria falar sobre agora e, graças ao bom universo, ou não, tivemos um pequeno lembrete que não estávamos em terra, estávamos no espaço e tínhamos que prestar atenção para conseguir encontrar o local onde os detalhes finais estão sendo colocados para a Nova Terra ser quase igual à Terra.

Não era tão difícil quanto parecia, mas era divertido navegar pelo espaço. Mudava sua filosofia de ver as coisas, mudava o que você é e o que você quer ser. Seus ideais e filosofias são mudados para uma tolerância do que é certo e errado mais amplo, acho que se não tivesse conhecido o espaço não teria me aproximado de e nunca teria visto o quanto o meu pai era horrível. Não podia deixar alguém para morrer pelo simples ato de esse alguém namorar seu filho e não ser a pessoa mais rica e influente do mundo.

Quando pequeno eu queria ser um astronauta igual aos antigos, aquelas roupas gigantes, que parecem pesar uma tonelada e meia, fascinavam-me. Ter o controle de algo, ver o espaço de perto, era algo tão inspirador. Nós nos denominamos astronautas, mas não acredito que sejamos iguais aos originais e, talvez, seja por isso que não vejo tanta loucura em fazer isso. Eu era fascinado pelos astronautas, porque eles enfrentavam o desconhecido de uma forma bem mais doida e arcaica do que nós, descritos pelos antigos como astronautas do futuro.

- Você ainda não me respondeu. – Lucky disse assim que paramos a nave, ainda no espaço.

- Acredita em almas gêmeas? – Perguntei e ele negou. – Eu também não acreditava até conhecê-la, é como se o fato dela não ser a pessoa mais indicada para ser minha esposa não existisse, pois eu a quero para mim e só para mim. Ela é a única que consegue me prender nessa dimensão, se é que existe mais de uma dimensão. Se ela morrer uma parte de mim vai junto com ela e eu nunca recuperaria essa parte, pois eu sou a estrela dela e ela é meu sol.

- Nossa. – Lucky disse meio surpreso. – Sol?

- O sol vai morrer e levar muitas coisas consigo, se ela morresse me levaria com ela.

- Sério que eu ouvi King dizer isso? – Lucky perguntou quase rindo e eu assenti.

- Olha lá! – Exclamei maravilhado com o que se formava a minha frente, era uma belíssima aurora boreal vista do espaço e na Nova Terra.

Era a coisa mais encantadora que eu já tinha visto, nunca vi uma aurora boreal tão perfeita e linda. Era como se todas as coisas lindas tivessem se reunido em um único fenômeno para deliciar os olhos dos espectadores, no meu caso era mais lindo ainda, porque estávamos vendo do espaço, o que tornava aquilo mais lindo ainda. Acho que também era uma aurora boreal.

Os meus olhos e os de Lucky se deliciavam com o fenômeno que estávamos vendo de camarote, tinha absoluta certeza que tínhamos a melhor visão daquele lindo fenômeno. Comecei a tirar algumas fotos daquele belo fenômeno que encantava até os seres humanos mais iludidos.

Xxx

Acordei no outro dia atrasado e Lucky já gritava comigo pedindo para que assumisse a minha posição de comandante da nave e nos levasse até a terra para podermos escoltar a família real e sua comitiva, junto com pessoas influentes e ricas o suficiente para pagar o valor daquela viagem até a Nova Terra.

Assim seguimos nosso caminho, mas não tínhamos permissão para aterrissar na terra, só aterrissaríamos na nossa última viagem até lá. Aquilo me deixou um pouco irado, queria poder ver e senti-la, como sempre fazia. Nossa única noite foi muito significativa para mim e, com certeza, esse sentimento era recíproco. Senti-la daquele jeito foi maravilhoso, foi como voar sem máquina alguma, era igual a nossos beijos só que mais intenso.

Xxx

Os dias no espaço começavam a me entediar, não aguentava mais ficar indo da Nova Terra à Terra, fazer as refeições com um Lucky ansioso para ver a explosão solar, controlar a nave, escoltar naves com seres humanos para a Nova Terra e, principalmente, estava cansado de sentir a ansiedade pulsando nas minhas veias. Queria ver, sentir, beijar, abraçar e conversar com , queria que ela me acalmasse e dissesse que ainda ficaríamos juntos para sempre.

Estava com saudades de tudo, até do meu criado robô me atormentando e, o que mais me corroía, era saber que estava logo ali, só que eu não tinha a divina permissão do rei para aterrissar na Terra, mas o dia estava chegando e eu a veria, consequentemente, conseguiria matar minhas saudades e contaria o plano elaborado por mim para continuarmos juntos até que eu completasse vinte e cinco anos e assumisse o lugar do Rei Clark, o homem horrível que, para o meu desespero, é meu pai.

Na nossa cultura, quando o príncipe atinge vinte e cinco anos deve assumir o reino, mesmo que o antigo rei não esteja morto. Uma forma dos comandantes da humanidade não serem muito atrasados, pois para ser rei tem que respeitar os mais velhos, mas, mesmo assim, estar em sintonia com os mais jovens e isso os reis que passaram dos cinquenta e cinco não conseguem fazer do jeito que é preciso. Eu, para minha tristeza, só tinha vinte e um anos. Convenhamos, deve ser cansativo ser rei, eles precisam de um descanso quando atingem certa idade, encare isso como uma aposentadoria.

Hoje era para ser igual a todos os outros dias, a bordo da nave espacial que escoltava todas as naves que iriam em direção à Nova Terra. Era necessário ser escoltado, pois nós navegávamos em locais que não estavam cem por cento explorados. Existem vários perigos no espaço que um cidadão ignorante na arte da navegação não enxergaria rapidamente, consequentemente, diminuiria a probabilidade do problema ser resolvido.

Não demorava mais do que quatro horas a viagem entre aqueles planetas de sistemas solares diferentes, mas como aquela era a penúltima nave, uma das piores que tínhamos, enfrentamos alguns problemas e a viagem demorou seis horas. Amanhã a pior nave, e a última que faria a viagem até o nosso novo lar, sairia da Terra e rumaria para Nova Terra.

Certeza absoluta que aquela demoraria mais tempo ainda e enfrentaríamos mais problemas, eu e Lucky teríamos até que descer na Terra e ficar um tempo lá, o que me daria tempo o suficiente para encontrar no meio das pessoas que estavam prestes a embarcar. Vou conseguir matar o que estava me matando, a saudade daquela garota que roubou meu coração.

- Não sei como você consegue ficar olhando tanto tempo para o espaço. - Lucky resmungou me dando um pequeno susto.

- Meus pensamentos me consomem quando eu olho para a beleza escura do espaço. – Respondi a quase pergunta dele.

- Se a humanidade soubesse como o príncipe e futuro governante é louco... – Lucky falou e olhou-me parando para pensar, suponho, mas logo continuou. – Acho que eles se suicidariam.

- Você é doido. – Falei tentando voltar a deliciar os meus olhos com a paisagem do espaço, o sucesso foi conquistado nessa minha meta, pelo menos, era o que eu achava.

- Como é ter uma alma gêmea? – Lucky perguntou um pouco envergonhado.

- Estranho. – Respondi.

- Estranho? – Ele voltou a me atormentar.

- Sim.

- Como você conheceu a ?

- Eu estava indo visitar a universidade dela e ela foi a escalada para mostrar a instituição. Ela é linda e eu pedi o número do telefone dela. Trocamos mensagens depois que o meu criado verificou se ela não era um perigo e eu fiquei cada vez mais curioso e, de certa forma, atraído por ela. Resolvemos nos encontrar e naquele encontro eu a beijei e senti como se estivesse voando sem nenhuma máquina. Foi assim que tudo começou. - Eu contei a história resumidamente com um sorriso no rosto. Eu retirei várias partes, pois acredito que a história do nosso romance não seria contada, tenho medo que a magia se esvaia com as palavras.

- Eu quero uma alma gêmea para mim. – Lucky falou, envergonhado.

- Você vai achar a sua quando menos esperar.

Xxx

Hoje era o dia em que eu a viria. Segundo Lucky, eu estava andando pelas paredes de tanta ansiedade, suponho. É, eu estava feliz. Era como se sem ela os dias ficassem mais escuros do que a escuridão normal do espaço. Estávamos quase chegando à Terra quando vimos o processo começar, segundo os especialistas o processo de “morte” do sol seria um pouco demorado e imprevisível, mas começaria com explosões maiores do que as que sempre ocorria e, pelo jeito, estava começando.

Aquilo nos deixou um pouco preocupados, mas tínhamos quase cem por cento de certeza que a grande explosão iria demorar, aquilo era só o começo. O universo não podia ser tão mal assim, não podiam ser capazes de me tirar à coisa pela qual eu lutaria, até contra meu pai e rei, parecia um pouco radical, mas radical era ele. Porque eu não podia ficar com ela se ela era feita da mesma matéria prima que todos nós?

Parecia que aquela aproximação estava mais demorada do que o normal e, de fato, estava demorando mais. Lucky e eu achamos que é pela cautela a mais exigida de nós dois, o corpo humano, sem dúvida, é uma máquina perfeita, mas falha e, por isso, não podíamos nos dar o luxo de irmos rápidos no meio daquela explosão toda. Por mais que tenhamos o campo em volta da nave que impedia que o calor do sol ou suas explosões nos queimasse e que algo nos atingisse, ainda era perigoso.

Estávamos quase lá quando recebemos uma ligação urgente do centro de controle estabelecido na Nova Terra. Aquilo não era bom sinal.

- Análises comprovam que, se os senhores não se recolheram para a nave de abastecimento, irão morrer. O rei acabou de dar seu veredito: os senhores terão que abortar a missão nesse mesmo momento. - A voz de um dos comandantes da Nova Terra soava clara e sem remorso algum de deixar todas aquelas pessoas para uma morte certa e pior, deixar para uma morte certa.

- Como assim?! - Ouvi minha voz gritar com o comandante e continuar a fazer o mesmo. – Deixar todas aquelas pessoas para morrer?!

- Os senhores terão que se recolher agora. – A voz do comandante parece não ter se abalado com nada do que eu tinha dito.

- Vocês estão loucos!

- , calma... – Lucky tentou me acalmar e falhou na sua tentativa.

- Não vou deixar ninguém que lutou para ter uma vaga na pior nave desse reino para trás. – Eu disse decidido e vendo, com o canto dos olhos que, pelo rosto, Lucky estaria comigo se conseguíssemos autorização para ir até a Terra.

- Abortem a missão agora.

- Iremos continuar com a nossa missão. – Lucky disse com seu tom de voz mais calmo possível.

- Estamos acionando o automático da nave em que os senhores estão. – O comandante disse, por fim, e desligou.

Por alguns minutos o silêncio dominou a nave em que estávamos e eu me perdi nos meus pensamentos. Esse seria o fim, nunca mais veria e a veria queimar junto com o lugar em que eu chamava de lar. O fato de que eu teria que deixar para trás esmagava meu peito como se o universo inteiro estivesse sobre ele extremamente frágil e vulnerável. Uma voz mecânica preencheu o ar:

- Entrando na nave de abastecimento.

A voz era tão fria e gelada que conseguia piorar a minha dor. Eu queria chorar, espernear, dizer que o universo era cruel, mas não era eu que iria queimar, era ela. O que mais me consolava era o fato de saber que ela deveria estar feliz nesse momento, achando que daqui a pouco eu chegaria e a levaria junto com todos para a Nova Terra, mas isso não iria acontecer. A verdade era que eu fracassei com ela e agora iria morrer, virar cinzas. Aquela maldita voz voltou a falar:

- Os senhores chegaram ao seu destino.

- Além de irritante é mentirosa. – Sussurrei para mim, mas Lucky percebeu.

- Desculpa. – Lucky falou.

- Você não é o culpado. – Eu retruquei e voltei aos meus pensamentos que estavam me esmagando cada vez mais.

Eu falei que voltaria para vê-la e levá-la a Nova Terra, mas isso nunca aconteceria. Não ouviria sua voz, que mais parecia cantos de passarinho, não veria seus olhos, sua boca carnuda, seus cabelos vibrantes e não teria mais o prazer de conviver com ela. Teria feito tantas outras coisas se soubesse que aquela era a nossa verdadeira despedida.

- . – Lucky disse e eu o olhei esperando que ele continuasse. – Tem um jeito de falar com ela, se você quiser.

Não sabia se queria, não sabia se teria coragem de dizer que ela morreria, mas eu queria ouvir sua voz uma última vez. Eu era o egoísmo em pessoa. Não podia me negar a ouvir sua voz e a alegria que sempre se mostrava pela sua voz, seu sorriso e seus atos.

- Eu quero.

Lucky levou-me para um local dentro da nave de abastecimento, que mais parecia um hotel de luxo, e lá tinha um supertelphone, que fazia contato com qualquer lugar do universo, pelo menos foi isso que Lucky falou. Disquei o número da base onde ela, certamente, estaria e um oficial atendeu, disse quem eu era e pedi para passar para , ele não hesitou. Negar um pedido do futuro rei que ele achava que veria governar? Na mente dele, era idiotice. Não demorou muito para ouvir aquela voz extremamente bela.

- ?

- Amor, como você está? – Eu disse no meu tom de voz mais normal possível, estava usando todo meu autocontrole para não chorar.

- Estou bem e morta de saudades do meu príncipe. – respondeu e conseguiu complicar mais ainda minha situação. Se ela soubesse que daqui a poucos minutos estaria morta no sentido literal da palavra.

- Estou morrendo de saudades da minha pequena, queria estar abraçado a você. -Falei expressando uma das minhas vontades mais profundas, eu adoraria estar abraçado a ela em um lugar seguro.

- Eu também, pena que nessa base não tem o superphotoque, você poderia me abraçar mesmo que eu fosse só uma imagem computadorizada reproduzida em tamanho real.

- Eu amo você e esse meu amor é tão forte que é capaz de atravessar a barreira da vida e da morte, você me esperaria do outro lado dessa barreira como eu esperaria por você do outro lado? – Perguntei, não acreditava na vida após a morte, mas eu tinha que me apegar a algo e aquilo era a única coisa possível.

- Claro! – respondeu e eu sabia que ela estava sorrindo. – Eu amo você!

- É muito bom ouvir isso. – Disse sendo totalmente sincero.

- King, eu sempre serei sua, não importa o que aconteça.

- E eu sempre serei seu, não importa o que aconteça.

- ! – Ela gritou e aquilo foi o suficiente para minhas lágrimas começarem a cair.

- Desculpe. – Eu disse e desliguei o telefone sabia que, provavelmente, ela não estaria mais na linha.

Caminhei para aquela sala gigantesca, chorando. Lucky já estava vendo o espetáculo absurdamente triste. Parei do lado dele e ele me abraçou de um jeito estranho, mas um abraço verdadeiro. Dirigi o meu olhar para a “morte” do sol e sua grande explosão e foi ali que vi todos os meus planos se esvaírem pelos meus dedos de uma só vez.

Não conseguia fechar os olhos, podia imaginar a agonia de todos que estavam na Terra, a agonia de . Qual será o último pensamento dela? Será que foi em mim ou será que ela foi tomada pela dor e não conseguiu pensar em mais nada? Eu a tinha perdido e isso era um fato irrevogável.

- Sinto muito. – Ouvi Lucky dizer, mas ele era só uma voz no meio do nada.

Eu só queria gritar ao universo o quão cruel ele podia ser e desejava que ele fosse capaz de me ouvir e que tivesse remorso do que tinha feito. Sabia que a culpa era minha, mas não conseguia, e nem podia, ser o único culpado. Se continuasse me culpando daquela forma ficaria louco em poucas horas.

Ela não gostaria que eu me culpasse ou gostaria? Eu, se fosse ela, não gostaria que ela ficasse se culpando, mas eu não era ela e não podia imaginar a dor que ela deveria ter sentido. Será que ela se sentiu sozinha? Será que ela sentiu a mesma dor que eu estava sentindo agora? Será que ela sentiu esse mesmo vazio?

Eu queria estar no lugar dela, morrer por ela. Ela poderia ter tido uma vida: encontrar o amor, namorar, noivar, casar, ter filhos e ser feliz. Mas ela não terá, porque eu apareci na vida dela. Será que existia paraíso? Eu queria que existisse, queria que existisse por ela e para ela tentar ser feliz mesmo que seja do outro lado.

Foi quando eu notei que eu era um recipiente vazio, não tinha nada e o que eu tinha foi levado de mim. O que eu tinha foi junto com ela e eu adoraria que ficasse com ela para sempre, porque assim eu poderia saber que estava começando a pagar minha dívida, mas aquele era apenas o começo de muitos anos pagando uma dívida sem fim.

Gostaria de ter o direito de ir junto com ela, mas ela preferiu levar só partes de mim, então, eu irei ficar e darei o melhor de mim mesmo sabendo que o meu melhor já tinha ido embora e nunca mais voltaria, o meu melhor era ela. era um pedaço grande de mim que foi queimado, morto e levado pela morte. Ela era o meu sol e queimou levando minha alma e meu coração junto.

Nada mais me restava, então, eu continuaria como alguém sem , sem o meu melhor. Quando minha hora chegar, vou ir com toda a felicidade ao encontro da mulher que eu amei e que ainda amo e lá pegarei o melhor de mim de volta. Era na vida após a morte que eu precisava acreditar, eu precisava imaginar que ela estava do outro lado esperando por mim. Esperando por King, o cara sem alma que olhava para aquela tela e sentia uma dor insuportável e que jamais iria esquecer-se daqueles momentos. Os momentos da morte de , o seu grande amor e os momentos de sua própria morte.

A tela de vidro mostrava o sol consumindo a Terra e todas as outras coisas que existiam no nosso antigo sistema solar, deveria ter me consumido junto, mas a proteção que a nave de abastecimento tinha aguentava aquela grande explosão.

Respirava normalmente, mas não tinha ninguém dentro de mim, só existia um grande vazio como um grito no escuro que poderia passar por várias estrelas, mas nunca encontraria a sua. Só se eu morresse e eu não tinha e nunca terei o direito de tirar a minha própria vida.


Fim




Nota da autora: 03.10.2014 - Espero que gostem, sou apaixonada por essa fic. Sei que seria melhor se tivesse ação ou se a participação da principal fosse maior, mas eu quis focar nos sentimentos dele, no coração, mente e alma de um homem. Talvez, tenha um epilogo. Quero agradecer a minha beta maravilhosa, Layla, muito obrigada.

Outras fanfics:
O Seu Conceito do Amor – Outros/Em Andamento

Xxxxx Grind
Nota da Beta: Qualquer erro nessa fanfic é meu, então me avise por email. Quer saber quando essa fic vai atualizar? Fique de olho aqui. Obrigada. Xx.



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