- Bom dia! - me cumprimentou assim que me viu.
- É, talvez seja um "Bom dia"! - Comentei.
- Ei, ei, nada de ficar deprimida hoje.
- Claro! Não é você quem vai ser diagnosticada pela terceira vez. - Resmunguei.
- Não começa, ! Você disse que aceitaria a doença.
- É, talvez eu deva abraçar a causa e me conformar em morrer com 18 anos. -
Entramos no carro e seguimos em silêncio até o hospital. Londres estava fria e sem ânimo naquele dia.
A quase nove meses atrás, eu fui diagnosticada com um doença rara: ela enfraquecia os ossos, rompia ligamentos, deixava fraca. Eu era pior que um bebê recém-nascido, tirando as crises de tosses, dores de cabeça, enfim... Eu estava morrendo aos poucos.
Os médicos queriam estudar mais a fundo o que a doença podia causar, além da morte precoce, para então poder testar um remédio ou vacina. Eu seria a cobaia.
Com a minha pouca idade, eu já havia terminado a faculdade, mas do que adiantava? estacionou.
- Vai dar tudo certo, logo iremos pra casa. - Suspirei e forcei um sorriso, fraco, aparecer em meus lábios. No fundo, eu sabia que eu não voltaria mais pra casa.
- Olá, ! - Quase que Mary, enfermeira, sempre feliz, cantarolou. Até parecia que não morriam pessoas naquele lugar.
- Oi... Vou precisar assinar algo? - Eu já era conhecida ali, todos tinham pena da pobre moça que estava á beira da morte. Ela me entregou alguns formulários. - Obrigada.
Foi logo que eu assinei, que alguém entrou gritando por um médico.
Eu logo reconheci a voz, que por quatro anos atormentava os meus sonhos, me levando de volta ao passado nunca esquecido. Era o Louis... Virei-me e vi que ele apoiava um menino loiro, que parecia estar com o tornozelo torcido ou algo do tipo.
- UM MÉDICO! UM MÉDIC... – Louis, finalmente, me viu. Seus olhos focalizaram os meus, em meses eu não me sentia tão viva... Senti meu sangue pulsar de novo, meu coração acelerou e, daquela vez, não foi por causa dos remédios.
- ? - Ele sussurrou, de longe.
- Louis. - Sorri em resposta. O menino, que Louis carregava há pouco, já estava na cadeira de rodas, mas nos olhava com curiosidade. Louis veio devagar em minha direção, como se ele estivesse com medo de que eu sumisse. Eu senti aquele frio na barriga que eu nunca mais havia sentido com ninguém. Ele tocou meu rosto, fechei os olhos com o toque quente.
- Louis, quanto tempo. - Sussurrei.
- Tempo demais para o meu gosto. - Abri os olhos e era real, meu Boobear estava lá. - Podia ter me ligado. - Ouvi um tom de reprovação vindo dele.
- Eu não pude, me proibiram... - Senti alguém puxar meu braço, mas não era o Louis. Meu corpo sabia reconhecer o seu toque.
- , precisamos ir. - Era o , eu assenti.
- Preciso ir, Tommo.
- Há quanto tempo que eu não escuto com tanto prazer o meu apelido, como agora. - Ele sorriu. - Me deve uma conversa depois. - Ele piscou.
- Sim, devo. – Afastei-me, me soltando de suas mãos, até que Louis se tocou do lugar do nosso reencontro.
- Vai aonde? - Seus olhos azuis ficaram preocupados.
- Exames. - Confessei.
- Você está...
- Bem, estou bem. - Sorri.
pegou meu braço e me levou para o consultório.
- Aquele era o Louis? - era meu vizinho, e virou meu melhor amigo desde que cheguei a Londres, ele sabia de tudo.
- Era sim.
- O seu Louis? - Ele não parecia acreditar.
- O meu Louis. - Sorri. Quando olhei para trás, Louis sorria.
Levei Niall para o hospital, depois de ter derrubado-o do sofá e o tornozelo dele ter ficado do tamanho de uma batata.
Cheguei, gritando por um médico, mas logo Niall parou de ser a maior importância pra mim, naquela hora. Na recepção, eu vi a .
Fazia quatro anos que estávamos sem contato algum, mas eu reconheci o sorriso que me causava tanta alegria no passado, e percebi que ainda me causa.
Tivemos um breve conversa no corredor, até um rapaz tirá-la de mim, mas eu tive a promessa de uma conversa depois e eu iria cobrar.
Esperei o Doutor com o , após os exames. Depois que vi Louis, eu tinha criado uma nova esperança. O Dr° Ströwr entrou na sala.
- Espero que não esteja cansada, Srtª Grigori? - Ele iria começar a enrolar.
- Não, na verdade, estou bem. Mas preciso que me diga logo, Dr° Edward, vou poder ir pra casa e voltar apenas mês que vem?
Eu queria ver Louis, abraçá-lo, sentir seu cheiro, que me foi negado por anos.
- Infelizmente, não tenho boas noticias. - Eu já sabia, estava muito bom para ser verdade. - A doença se agravou muito durante o mês passado. Para que sua recuperação seja possível, teremos que interná-la.
- Morar num hospital? - Sussurrei.
- Podemos montar um quarto pra você aqui. - tentava ver o lado positivo daquilo.
- Doutor?
- Sim, .
- Eu vou morrer, não é?
- É cedo para dizermos, o ideal é repousar. Os testes com as vacinas serão iniciados e, se houver melhora, uma possível cura estará mais perto.
- Se houver cura. - Completei - Quanto tempo eu ainda tenho?
- É cedo dizer...
- Parcialmente. - Pedi.
- Menos de um ano. – Sorri, sombria.
- Bom, onde será o meu quarto?
- Estamos preparando algo para você, nesse momento.
- Quando começam os testes com as vacinas?
- Assim que for possível. O mais tardar, semana que vem. - Suspirei, me despedi do Doutor e chamei . Eu tinha que ir pra casa pegar algumas coisas.
Esperei no estacionamento por ela. Quando a vi, seus olhos estavam inchados e vermelhos.
- ! - Gritei. Não vi o sorriso que eu desejava, então corri e a abracei.
- O que foi, meu njo? – Perguntei, aflito pelo choro dela.
- Eu vou morrer, Louis. - Ela me respondeu, aos soluços.
- O que? - Tentei olhar em seus olhos, mas o seu abraço era forte e me contive em deixá-la nos meus braços, por aquele tempo.
Contei tudo a Louis, ele se fez de forte. Pedi a para ir pra casa, já que Louis disse que fazia questão de me levar. foi, mau humorado.
Cheguei em casa e preparei algumas coisas.
Até que, depois de um silêncio desagradável, Louis falou.
- ?
- Sim? – Virei-me, angustiada.
- Eu senti sua falta todos esses anos. - Ele confessou. Meu coração deu um pulo.
- Graças a Deus que disse isso, Tommo. - Eu o abracei.
Ainda abraçados, Louis disse o que eu mais queria ouvir.
- Se fosse para resumir minha vida em momentos felizes, eu só iria contá-la a partir do dia em que você entrou nela.
- Eu nunca te esqueci, em nenhum minuto da minha vida, Louis!- Confessei. Ele encostou nossas testas e sorriu.
- Muito menos eu. - Louis me selou. Ação involuntária do meu corpo, enlouqueceu com aquilo.
- Faz de novo? - Pedi. Ele sorriu e me selou novamente.
- Eu te amei durante todo esse tempo - Louis sussurrou em meu ouvido - Eu te procurei em cada olhar, cada sorriso, mas eu nunca achei nada parecido. - Lágrimas rolaram pelo meu rosto. Sofri tanto por tê-lo perdido, que nem sequer imaginava que um dia iríamos nos reencontrar.
- Eu pensava em você todas as noites, antes de dormir, Tommo. - Ele sorriu em meu pescoço. - Pedi tanto a Deus para que ele te colocasse no meu caminho novamente, e ele o fez... - ressaltei.
- Lembra do segundo ano, quando eu te pedi em casamento na frente da escola inteira?
- Lembro! Você pediu a minha mão aos berros! - Rimos.
- Marie Grigori, você aceita se casar comigo outra vez?
- Sem sombra de dúvidas, Louis William Tomlinson.
- Na saúde e na doença.
- Na riqueza e na pobreza. - Sorri.
- Até a adolescência dos nossos filhos.
- Não, Louis, é "Até que a morte nos separe".
- Nosso amor já mostrou que é forte o suficiente para enfrentar até a morte. - Sorrimos.
- Eu não acredito que fiquei sem você durante todo esse tempo. - Louis me beijou. Louis ficou comigo até eu adormecer. O quarto onde eu fiquei tinha aquele ar de solidão, mas com Louis mudava tudo.
Os pais de Louis souberam do meu estado e vieram me visitar, no dia seguinte. Trouxeram flores e logo Harry, amigo em comum meu e de Louis no colegial, me presenteou com balões de corações vermelhos e rosas.
Talvez não fosse tão ruim, eu estava com Louis agora e nada mais me importava.
Duas semanas após a minha internação, e Louis haviam brigado três vezes, aquilo me desgastou muito.
No segundo dia da quarta semana, fui levada para a UTI. Na madrugada, passei mal, com sorte tive oxigênio suficiente para apertar o botão de emergência, antes de desmaiar.
Depois de quase uma semana, eu pude voltar pro quarto.
Dr° Edward avisou a Louis que entradas e saídas da UTI (Unidade de Terapia Intensiva) podiam ser comuns e, às vezes, rápidas. Já outras; sem previsão de volta.
- Ei, Lou, a tá cada dia mais doente. - Resmungou Harry.
- Não tô a fim de ficar ouvindo isso, Harry. - Peguei meu café e fui para o quarto.
- Bom dia, meu amor.
- Bom dia, Lou. - O sorriso dela me deixou nas nuvens. Eu sabia que eu não tinha esquecido da felicidade que passei com ela, essas semanas haviam sido essenciais para eu perceber que ainda a amava. Tinha voltado tudo; meu amor, meu sorriso, meu calor, enfim...Os sentimentos nunca acabaram, apenas se esconderam para não me provocarem mais dor.
- Dormiu bem, querida?
- Sim e você?
- Admito que esse sofá-cama não é um dos meus favoritos... - Brinquei, mas aquele maldito sofá já me deixara inúmeras vezes com dores.
- Ai, Louis, por que não dorme em casa?
- Porque eu preciso ficar olhando pra você enquanto dorme, e, depois ouvir meu nome em seus sussurros, isso me acalma... - Beijei a testa dela. - Me dá segurança para seguir em frente... E lembrar que é você que ilumina meu caminho. - Ela chorou. Talvez os medicamentos a deixassem mais emotiva. Pra mim, dizer aquilo era normal, era a minha escolha amá-la até o final, e eu o faria.
- Eu te amo, Lou... - Ela sussurrou. Foi impossível conter o meu sorriso - Me desculpe por tudo que eu estou fazendo você passar, sei que seria mais fácil se eu fosse normal de novo, mas...
- Mas nada! Quem disse que você não é normal? Para já com isso, , você é perfeita e, além disso, é minha. - Ressaltei.
- Desculpe... Mas você não entende, Louis. A cada dia que passa, eu vou chegando mais perto da morte. Vou deixar tudo; família, amigos e, o pior de tudo, vou deixar você, Lou... - Ela soluçou - Eu não quero morrer... Eu não quero ter que deixá-lo de novo.
- E você não vai... Olhe pra mim, - Peguei seu rosto. Seus olhos estavam vermelhos, não tão diferentes dos meus. - Eu te amo e a gente vai ficar junto até o final, e nada vai nos separar, entendeu? - Ela assentiu - Vamos vencer tudo isso, e depois olharemos para trás e vamos sorrir, dizendo "Aquele desespero todo foi em vão." - Ela sorriu, em meio às lágrimas.
Ficamos ali abraçados até que os remédios a fizessem dormir de novo, e eu torcia veemente para que, tudo que eu disse, desse certo.
Acordei com Louis me olhando, ele sorria.
- O que foi, Louis?
- Tenho duas notícias, meu amor!
- Boas ou ruins?
- A maioria das notícias são boas, basta apenas ver o modo como cada um as interpreta.
- Leu isso onde, Lou? – Perguntei, rindo.
- Num jornal religioso, na cantina. - Admitiu ele, eu ri.
- Diga logo, estou curiosa.
- Você quer a primeira ou a segunda notícia?
- Huuum... Segunda!
- Hoje faz três meses que você está internada aqui. - Ele sorriu.
- E o que tem de positivo nisso, Louis?
- Que faz três meses que os nossos olhares se cruzaram, na recepção, depois de longos três anos. - Fiquei sem palavras, Louis não devia ter me dito isso. Louis sorriu e me deu um beijo.
- Me desculpe, amor, eu não fazia ideia! - Fiquei envergonhada, custava eu lembrar?
- Não ia te obrigar a se lembrar, meu amor. Você passa a maior parte do tempo dormindo. - Sorri.
- E a número um? - Lembrei.
- Bom, a senhorita deu uma melhorada incrível no seu estado com os remédios, e você poderá ter algumas tardes livres para passear comigo. - Louis fez pose.
- Eu não tô acreditando... - Sorri.
- Pois acredite... É bom ir se arrumando, gata! Vamos derrubar Londres hoje. - Ri.
- Sair hoje? Pra onde?
- Que tal um almoço romântico no Nando's?
- Ai, Deus, fritas! - Minha boca se encheu de água.
- Se arrume, minha vida, já venho te buscar. - Ele me selou e saiu, logo a enfermeira entrou pra me ajudar.
Passamos parte da manhã no Nando's. Louis não poupou esforços para que eu "ficasse" feliz... Ele nem imaginava que não precisava daquilo tudo pra que eu ficasse feliz. Eu apenas precisava dele.
- Ei, meu amor, preciso ir pra casa, pegar umas coisas para eu passar a noite com você. Se importa de irmos agora? Depois podemos ir ao parque.
- Não, por mim, tudo bem. - A tarde começou nublada e o tempo escuro. Louis empurrou minha cadeira de rodas até o estacionamento.
- Odeio esse troço! - Gesticulei pra aquela cadeira idiota.
- Do que você tá reclamando? Eu é que faço esforço aqui! - Rimos.
Fomos numa conversa animada até a casa dele.
Assim que sai do consultório, encontrei Harry zanzando pelos corredores do hospital.
Passei por ele, e, assim que ele percebeu que eu não iria parar, me seguiu.
- O que foi, Lou? - Harry conseguiu perguntar assim que chegamos lá fora.
- Grávida, Harry! Grávida! Como eu pude ser tão estúpido! - Eu estava nervoso e andava de um lado para o outro.
- O que? A está grávida?
- Como eu deixei que isso acontecesse? Agora aquela coisa vai matá-la... Harry... Me ajude... - Cai de joelhos e Harry me abraçou. Contei tudo a ele, o que me aliviou um pouco, mas nada iria tirar a dor de que, se a morresse, seria culpa minha.
Os meses se passaram. Eu estava no oitavo mês de gestação, se eu aguentasse mais duas semanas, o meu pequeno Willian nasceria saudável e forte.
Louis não saía de perto de mim desde que descobrimos sobre a gravidez, mas, mesmo assim, parecia que ele nunca estava presente.
Implorei para o Dr° Edward pra que eu tivesse parto normal. Eu sabia dos riscos, mas eu queria ver a carinha do meu pequeno antes de morrer ou sei lá o que aconteceria.
Louis odiava quando eu passava a mão em minha grande barriga. Ele sempre denunciava que a "coisa" estava sugando a minha vida, e deixou bem claro que nunca iria cuidar dele. Aquilo me machucava, mas eu nunca falava nada.
Quando me perguntavam se eu sentia alguma dor, pela falta de remédio, eu sempre dizia que estava bem... Mas doía tanto, tanto... Enquanto Louis saía pra comer, eu chorava de dor e, quando ele chegava, eu fingia que estava dormindo. Olheiras fundas cresceram em torno dos meus olhos, meus ossos estavam fracos, mas eu aguentaria até eu ouvir o choro do meu filho. Louis sofria em silêncio, o que piorava tudo.
Era um linda tarde de Domingo, quando Louis me trouxe uma barra de cereal de Chocolate com Banana. Ele me ajudou a sentar na cama, sem sequer encostar a mão em minha barriga.
- Hora de comer, Will. - Passei a mão em minha barriga, que, com o toque, agitou-se. Pensei em comemorar, mas Louis me fitava perto da porta.
Mordi um pedaço da barra e a engoli, logo senti meu estômago revirar. Meu pequenino estava rejeitando mais uma comida.
Levei a mão à boca e logo deixei de lado a barra de cereal.
- Não vai comer? - Louis se aproximou devagar.
- Bem que eu queria, mas o nosso pequeno não quer mais comer barra de cereal. - Ri.
- Pare de falar assim! Ele não é nada meu! Eu não considero essa coisa como filho! - Louis berrou, e o volume me minha barriga se agitou de uma maneira tão assustadora que me causou uma dor na costela. Tentei não gritar, apenas me apoiei em meus cotovelos, aquilo amenizava a dor.
- Calminha, meu amor. Papai não quis te assustar.
- EU NÃO SOU O PAI DISSO! OLHA O QUE ELE ESTA FAZENDO COM VOCÊ! – Gritou. A dor na costela foi insuportável, Louis me olhou assustado e sangue começou a escorrer pela cama.
- LOUIS! - Arfei. Louis chegou perto de mim, tentando achar onde eu estava machucada. - CHAMA UM MÉDICO! - Gritei.
Logo foi a vez de Louis gritar, a dor era insuportável. Eu podia sentir que eu estava quebrada. As contrações começaram de forma bruta, uma atrás da outra, me deixando sem voz ao final do grito. Uma equipe de enfermeiros me levou para a sala de parto e Dr° Edward estava lá, as luzes claras demais me causaram cegueira por uns instantes.
- A pressão está baixando. - Uma enfermeira falou.
- Não podemos demorar, temos que tirar o bebê. - Foi a vez de outra pessoa falar.
- , me escute, você precisa fazer força, está bem? O bebê precisa de impulso. Vamos lá, garota, você foi forte até agora... Só mais um pouco. - Pediu Dr° Edward. Eu assenti, segurei a beira da cama e comecei a fazer força. Meu pequeno tinha que vir pros meus braços logo, eu tinha que ouvir o seu choro o mais rápido possível. E, com um novo grito, algo se quebrou em mim novamente.
- Outra costela quebrada. - A enfermeira anunciou.
- Calma, , eu já vejo ele. Só mais um pouco. - Arfei e o empurrei, eram minhas últimas forças. Minha mão que estava me dando apoio, logo dobrou e, em meio ao meu grito de dor pelo pulso quebrado, eu ouvi o choro dele... Meu pequeno estava ali, berrando que nem o pai. Eu sorri, em meio às lagrimas. Me trouxeram ele, enroladinho em uma mantinha azul, que Harry havia comprado pra ele, contra a vontade de Louis.
Quando eu encontrei os olhos dele, meu sorriso se estendeu. Eu não me importava mais com a dor, os olhos azuis como os do Louis... Só que tiraram ele de perto de mim, minha maca se moveu e, enfim, desmaiei.
Levaram ela para a sala de parto e me vesti o mais rápido que pude. Quando cheguei, ouvi a enfermeira anunciar que outra costela estava quebrada, logo aquilo acabou comigo. Eu tentei chegar perto, mas fui proibido por uma enfermeira. Ouvi um grito e logo o choro daquela criança. Fechei os olhos, tentando não pensar em jogá-lo pela janela... Foi quando ouvi uma enfermeira dizer, baixo, "Meu Deus, ela ainda está viva!"
Fui olhá-la e a vi sorrindo para aquela coisinha minúscula, que tinha sugado ela durante os últimos meses. Ele berrava e ela parecia gostar. Logo tiraram aquilo de perto dela e vi que o brilho dos olhos dela ficou no vácuo.
- O coração parou! - Gritou alguém.
Trouxeram o desfibrilador (Aparelho de choque usado nos pacientes de paradas cardíacas). Eu não consegui sair do lugar. Sangue escorria pela maca, estavam tentando reanimá-la. O desespero pairou ali, eu queria estar no lugar dela, eu daria a minha vida pela minha pequena. Cai de joelhos, minha visão ficou turva, eu estava sofrendo, em um canto, a olhando. Eu nunca mais veria o brilho nos olhos dela, nunca.
Abaixei o olhar e, enfim, eu estava sozinho de novo.
- Está com pulso, Doutor. - Ouvi a enfermeira dizer aquilo com um certo alívio na voz, respirei fundo.
Eu não podia acreditar que ela ainda estava viva.
- Ela entrou em estado de coma induzido.
Talvez eu tenha desmaiado na sala de parto, não seria a primeira vez que um cara desmaia lá.
Acordei com Harry ao pé da cama.
- Que bom que acordou, Louis, já estava preocupado.
- Harry, a morreu? - Aquela dor que me encontrou na sala de parto voltou, minha respiração acelerou ao esperar a resposta tardia de Harry.
- Não, Lou, ela está viva, mas... - Respirei com mais facilidade.
- Ela está bem? Me diga, Harry!
- Ela quebrou duas costelas na hora do parto... Ela teve uma parada cardiorrespiratória e ficou inconsciente por um tempo, mas a reanimaram... - Harry deu uma pausa - Ela está em coma agora.
- Em coma? - Não me contive e comecei a chorar, Harry me abraçou.
- Ela está em coma induzido, Louis.
- O que isso quer dizer?
O Dr° Edward entrou no quarto.
- Vejo que já acordou, Louis.
- Doutor, o que é coma induzido?
- E vejo que já recebeu as notícias. - O Doutor fuzilou Harry. – Bem, Louis, o chamado coma induzido é, nada mais nada menos que, uma sedação farmacológica controlada.
Eu e Harry nos olhamos, confusos. O Doutor continuou. – Bem, é um estado de inconsciência provocado pelos médicos, através de drogas sedativas.
- E por que foi preciso sedá-la, Doutor?
- Usamos isso em várias situações, e, no caso da , foi para minimizar a dor física e o desconforto.
- Quando ela poderá acordar?
- Depende do grau de sedação usado. Você mesmo sabe que a estava em tratamento antes disso tudo ocorrer, e, durante o parto, ela sofreu várias lesões gravíssimas dentro do corpo. O ideal é que o corpo dela se curasse sozinho até que ela acordasse, mas a medicação para isso a deixará em coma por meses.
- Mas e quanto ao tratamento antigo?
- Ela só poderá voltar a tomar os remédios assim que seus ossos se curarem e seus tecidos estiverem na sua formação original.
- E isso pode demorar quanto tempo, mais ou menos?
- Serei sincero com você, para que os ossos se curem, em media uns seis a oito meses, dependendo do grau de rapidez das células dela. Depois disso, para a volta dos medicamentos, vai ser bem mais rápido.
Assim que o Doutor saiu, minha mãe veio ver como eu estava e Harry disse que ia buscar uma coisa para eu me sentir melhor.
Achei que seria uma cenoura, mas o Harry entrou com um bebê no colo.
- Lembra que ela dizia que ele seria grande e forte? - Harry riu. - O pequeno Will parece ter dois meses de tão gordo.
- Ele não é gordo, Harry, ele é robusto e lindo. - Minha mãe começou a paparicar o bebê. Eles riram.
Até que Harry trouxe o bebê pra eu ver.
- Ele é... – Calei-me.
- Lindo? - Minha mãe riu. - Meu netinho é lindo!
O bebê sorriu pra mim, ele era realmente lindo. Agora eu via que uma coisa tão fofa e pequena não poderia tirar a vida de ninguém, eu me arrependi, amargamente, por ter dito aquelas coisas pra ele.
- Posso pegar? - Pedi.
- Qual é o seu problema, Louis? Ele é seu filho. - Harry riu e me entregou aquela coisa minúscula. Óbvio, grande demais para os bebês da "idade" dele, mas, em meus braços, ele era tão pequeno.
- William? - Olhei pra minha mãe.
- William Edward Tomlinson. - Minha mãe sorriu.
- Ei, William, você já foi ver a sua mãe? - Perguntei pra ele, que apenas passou a mãozinha no rosto.
Levantei-me e fui para o quarto de , ela parecia estar apenas dormir.
-Oi, meu amor... Trouxe o Will pra ver você. - Virei Will pra ela - Olha a mamãe, Will! - Fiquei um tempo ali e logo Will teve que ser levado para ser amamentado.
Sai, comprei flores e um vaso pra deixar o quarto dela sempre perfumado.
Eu estava num parque, brincando com um vizinho meu de Doncaster. Eu tinha uns sete anos, cai do balanço e bati com a cabeça, forte, eu tinha desmaiado no parque. Eu adulta corri até eu para ver se estava bem. Ironia talvez.
Até que eu ouvi a voz de uma criança, um menino, mais precisamente. Ele chamava a mãe dele.
Will já estava com três anos de idade, estava na fase de fazer perguntas e não se cansar de ouvir as respostas.
havia começado, há dois anos, a recuperação com os remédios, mas a dosagem dos sedativos afetou muito o tempo estimado para ela acordar. Mas nem por isso eu perdi as esperanças.
- Papai?
- Hum? - Will estava sentado na cama. Ele havia colocado a mão da em cima de sua perna e a olhava, todo carinhoso.
- Que isso? - Ele apontou pros olhos dela.
- São os olhos, Will.
- Quí faz? - Ele ergueu as mãos, na inocência dele.
- São feitos para olhar.
- Que isso? - Ele apontou pra orelha dela.
- É a orelha da mamãe.
- Quí faz?
- São feitas pra escutar. - Não expliquei muito, ele aprenderia mais tarde na escola.
- Mamãe? - Ele chamou ela. Não tendo resposta, ele se inclinou e chegou perto da orelha dela. - Mamãe?? - Segurei meu choro.
- A mamãe cuidou de você a noite toda, agora ela esta dormindo, Will.
- Mimindo? - Ele franziu a pequena testa.
- Sim, ela está cansada.
- Sada. - Ele passou a mãozinha no rosto dela. - Que isso? - Ele apontou para a boca dela.
- É a boca da mamãe.
- Quí Faz?
- Dão os melhores beijos do mundo. –Suspirei, me lembrando. Will se aproximou dela e a beijou na bochecha, ele se virou contente.
- Pertou! - Ele riu.
- O que apertou, Will? - Ele sempre contava suas historinhas.
- Mamãe, papai! Mamãe pertou! - Ele apontou pra perninha dele, vi os dedos da apertarem de leve a calça jeans dele.
- Ai, meu Deus... - Eu sai, gritando por um médico. A minha mulher estava se mexendo, ela estava acordando.
Catei o primeiro doutor que estava passando e gritei, ele correu para chamar o doutor que cuidava do caso de . Entrei, correndo, no quarto novamente.
Ela estava com os olhos abertos e sorria pro Will, sua atenção só veio pra mim quando ele gritou.
- Papai, cordo!!! - Ele bateu palmas.
- Louis... - Ela sussurrou, do mesmo jeito de quando a gente se reencontrou, um lindo sorriso saiu ao final do meu nome.
Não contive mais as lágrimas, Will me olhou assustado. Cheguei perto dos dois e os abracei.
- Minha vida... - Ressaltei.
- Papai? - Will ia começar a chorar.
- Não pode chorar, Will, a mamãe acordou pra brincar com a gente.
Ele a olhou e sorriu.
- Vejo que perdi muita coisa. - Ela riu, olhando para o tamanho do nosso filho.
- Ainda tem tempo para recuperar. Não vai contar pra mamãe o que você fez hoje, William? - Ele sorriu e começou a falar. Nada como a linguagem dos pequenos, ela ria cada vez que ele falava algo.
Assim que o Dr° Edward entrou, fizeram todos os exames e ela estava completamente bem, sem sequelas do coma induzido e cheia de disposição.
O menino que chamava a mãe era o meu pequeno William, que estava me chamando.
Quando abri os olhos, ele sorriu pra mim, disse algo que eu não entendi e, depois, me deu um beijo no rosto. Eu tinha voltado, eu estava de volta a vida, pra cuidar dele e do meu Louis.
Depois de vários exames e conversas, o Doutor me disse que eu ficaria ali por mais uma semana, em observação, porque, por ele, eu devia ir embora o mais rápido possível.
Louis me contou tudo o que havia acontecido durante todo esse tempo em que eu estava em coma.
Ele havia tirado fotos dos aniversários do Will para me mostrar quando eu acordasse, ele não havia me abandonado nem um dia sequer.
- Essa foto foi com três meses.
- Tio Hally. - Will sorriu, dizendo que foi o Tio Harry dele que havia tirado.
- SuperMan? - Ri
- Filho de peixe, peixinho é! - Resmungou Harry, que estava ali me dando "boas-vindas".
- Essa foi no mesmo dia? – Perguntei, rindo.
E mostrei essa outra foto.
- Foi. - Ri com Louis.
- O Batman? - Questionei, olhando pro Will.
- Nhei, mamãe, nhei.
- Ganhou é? - Todos rimos dele.
E assim ficamos o resto da semana, Louis me contado as lembranças dele e eu querendo saber de tudo.
Tive alta, como o previsto, mas, ainda sim, devia voltar ao hospital uma vez ao mês.
- Finalmente na minha casa! - Ressaltei assim que eu, Louis e William pisamos no jardim.
- É nossa casa, agora, minha vida!
- Nossa... - Ri e o beijei. Logo Will interrompeu nosso beijo, querendo um colo.
- Agora temos um filho e ele não vai deixar a gente em paz tão cedo. - Louis resmungou.
- Podemos esperar até meia-noite, meu amor! - Eu o instiguei.
- Mas ainda são 17:00.
Entramos em casa.
Brincamos com Will até as 21:30 e o colocamos pra dormir no seu quarto.
Andamos pelo corredor, em silêncio.
- Tá achando que vai escapar de mim, ?
- É o que eu menos quero, Louis.
- Agora somos só nós dois.