Spin-off de Ópera by Lan
Fic by: Ally M. | Beta: Ste Pacheco


Prólogo

“Uma gota em meus olhos, uma lágrima, desceu por minha bochecha, levando com ela toda a minha saudade, meu sofrimento, minha dor.
Coloquei novamente a foto no criado mudo, recostando-me nos travesseiros altos para tentar dormir. Mas eu sabia que, como nas outras noites, fechar os olhos e sonhar seria impossível. O meu lado direito estava vazio e frio e não havia nada que eu pudesse fazer para reverter aquela situação.
- Lembro-me – falei, sussurrado. – de quando eu chamei por você e você veio ao meu encontro. Na casa de Scott. Pergunto-me que se eu fizesse a mesma coisa hoje, você viria me encontrar. Eu não sou mais tão bonita, meu querido. Nem, provavelmente, tenho mais nada a lhe oferecer. Mas eu queria que você estivesse aqui, .
E quando me virei para apagar a vela, ouvi um barulho próximo a janela. Um guincho vindo da cadeira de balanço me fez imediatamente voltar o olhar naquela direção.
Para minha surpresa, ainda que eu estivesse velha e devagar, lá estava ele, atendendo o meu chamado.
Meu estava parado na frente da janela, tão lindo quanto eu lembrava que ele era em nossa época de juventude. Vestia seu uniforme da Highgate da mesma forma como eu havia guardado em minha mente: a calça de pregas preta, a gravata vermelha e as mangas do terno arregaçadas.
Seus olhos negros, mais brilhantes do que nunca, fitavam-me com um misto de curiosidade e fascínio. Em seus lábios estava estampado seu típico sorriso malicioso, do qual eu me lembrava de ter visto tantas vezes.
esticou uma das mãos em minha direção e abriu a boca para falar, sua voz tão nítida e profunda como se estivesse realmente presente:
- Com medo, ?
Eu sorri, levantando-me e andando até ele a passos de tartaruga. Segurei sua mão, quente, sólida e macia como a do meu de dezoito anos:
- Eu não tenho medo de você, .” (Última cena do ato final de Ópera)



Um

5 dias antes, sexta-feira à tarde - Casa do Sr. e Sra.

colocou o chá nas canecas e levou-as até a varanda, onde o marido a aguardava sentado no pequeno sofá que ali tinha. Entregou-o uma das canecas e sentou-se ao seu lado.
- Essa coisa de novo, ? Por que não traz uma cerveja para mim ao menos dessa vez? - resmungou.
- Você sabe que o médico o proibiu, - respondeu.
- Ele disse que sou forte como um touro - retrucou, e ela notou que seus olhos brilhavam de diversão.
Estava provocando-a, um hábito que nunca deixou desde que se conheceram.
- Certo, mas ele também disse que só iria permanecer assim, e saudável, se seguir a dieta que ele passou, ou você vai acabar tendo algo sério, e não apenas uma tontura - E após uma pausa, continuou - Touros também adoecem, querido, mesmo que sejam fortes. E você vai viajar hoje à noite. Então, sem cerveja ou qualquer coisa do tipo para você, .
- Tudo bem, querida. Você venceu - suspirou, olhando a caneca cheia de chá. - Às vezes, sinto falta de quando éramos jovens. Você lembra, ? Podíamos fazer qualquer coisa juntos. Agora estamos confinados a chás e dietas para saúde à base de coisas integrais. Ela colocou sua mão livre em cima da dele.
- A vida é assim, . Vivemos a nossa muito bem, tivemos ótimos anos juntos. Veja, quem diria que estaríamos aqui hoje, casados, com três filhos lindos e vendo nossa neta crescer?
- Conseguimos uma vida feliz - concordou.
- E um casamento duradouro.
- Antes de conhecer você, eu nunca havia cogitado casamento e filhos. Exceto se… bem, você conhece a história; então, você apareceu e mudou tudo.
- Com um empurrão da Senhora Paskin.
- Ainda assim, você era teimosa demais para ficar longe de mim.
- Você era charmoso demais tentando me botar para correr, não pude resistir - disse, sorrindo enquanto lembrava dos velhos tempos. Tanta coisa havia mudado…- Lembra quando me pediu em casamento? Você parecia tão desajeitado - riram.
- Impossível esquecer o dia em que você me disse sim, meu amor - sorriu, olhando-a com ternura, ainda segurando sua mão.

48 anos atrás…

estava no apartamento de , era sábado à tarde e os dois estavam sentados ao sofá assistindo à um musical antigo que passava na televisão. Ela o sentiu mais uma vez inquieto naquele dia, e perdeu a paciência.
- , você quer parar de balançar essa perna? Se não queria ver o filme comigo era só ter falado - reclamou, irritada.
Ele a olhou meio espantado, lembrando que geralmente ele era o impaciente.
- Agora vai ficar calado? – indagou. - E sossegue essa perna - deu um tapa, fazendo se aquietar.
- Calma, amor. Também não precisa partir para a violência - falou, erguendo as mãos em sinal de rendição - E não é o filme.
- Se não é o filme, o que é, então?
- Só estou um pouco nervoso por causa do… Show de hoje. Sim, é isso.
- Você não tem nenhum show hoje. Seu show é sábado de vem.
- Sério? Pensei que fosse hoje - riu, nervoso. - Então… deve ser o teste de terça na faculdade. Não paro de pensar nisso.
- Pare de tentar me enrolar. Você mesmo disse que não era um teste importante. Vamos, diga logo o porquê dessa inquietação.
- … Precisamos conversar.
Ela o olhou, estreitando os olhos.
- Você está me traindo, ? - perguntou, desconfiada.
- O quê? Não! - negou, prontamente. - Claro que não, - disse olhando-a nos olhos.
- Então, o que é?
- Eu… - tentou falar, mas não conseguiu. Então apenas disse: - Preciso ir ao banheiro.
E saiu de lá antes que ela pudesse dizer algo. No banheiro, ele encarou o próprio reflexo e, sentindo o suor nas mãos, abriu a torneira e lavou-as, jogando água no rosto também.
- Tudo bem, vai dar certo. Vai dar certo. Você consegue, cara - falou para si mesmo, tentando ficar mais calmo. - Afinal, por que você está nervoso? Só vai pedir ela em… Casamento.
Respirou fundo.
Saiu de dentro do banheiro e caminhou até um criado-mudo ao lado de sua cama. Tirou de lá a caixinha aveludada, que continha o anel que fora de sua mãe, e colocou dentro do bolso do short.
Voltou para a sala e encontrou a namorada distraída, cantando baixinho a música que tocava, mas logo que o viu se aproximar, o olhou inquisitiva.
- Então? - indagou, esquecendo do filme.
- Então o quê?
- O que está acontecendo, ? Desembucha!
O garoto olhou para ela mais um instante, o nervosismo tomando conta dele. Respirou fundo mais uma vez, tentando criar coragem. Sentou-se no sofá ao lado dela, e segurou as mãos da mesma entre as suas.
- Tudo bem, eu… Então… .
- Sim…? - lançou um olhar “você-já-pode-falar-agora” para ele.
- Ok. Como você sabe, amanhã faz dois anos que nos conhecemos, lembra? Aquele dia em que eu te salvei de ser atropelada. E depois…Houveram tantas coisas… Eu queria que você ficasse longe, mas você era como uma mosca teimosa em cima de mim e por mais que eu te espantasse, você sempre voltava – pausou. - Certo, eu não queria exatamente te comparar com uma mosca, amor, e eu estou parecendo o . O que quero dizer é que você foi a única pessoa que confiou e acreditou em mim quando ninguém mais o fazia, sempre esteve ao meu lado e… Eu quero te agradecer por isso, meu amor.
- … Não precisa...
- Ainda não acabei - interrompeu-a. - Continuando… Eu nem sei o que teria sido de minha vida, se você não tivesse aparecido. Talvez... - parou, pensando que provavelmente teria cumprido a promessa feita a Ivane e sabia que pensava no mesmo.
- … - chamou. Ele olhou para ela novamente, e viu seus olhos cheios de lágrimas enquanto um meio sorriso aparecia na boca dela.
- Você me conhece tão bem agora, não é? Mas não fale nada ainda. Primeiro, quero que você saiba que eu planejei fazer isso amanhã, mas… - se levantou do sofá e tirou a caixinha do bolso - … Eu estava morrendo de ansiedade.
Ajoelhou-se em frente a ela e abriu a caixinha.
tinha levado a mão à boca e tinha arregalado os olhos, assim que o vira se ajoelhar.
- , você aceita se casar comigo? - perguntou .
Ela o encarou em silêncio, paralisada, o que fez ele ficar mais nervoso ainda.
- Amor, fala alguma coisa… - pediu ele.
Ela começou a balançar a cabeça para cima e para baixo.
- Sim - sussurrou, para ele. - Sim, - repetiu, mais alto.
Foi então que o viu soltar o ar, aliviado; depois fechar os olhos e sorrir, antes de os abrir novamente.
- Ainda bem que você aceitou, porque eu já estava em frangalhos aqui. - riu, sentindo os próprios olhos arderem.
Colocou o anel no dedo dela e, quase no mesmo instante, ela pulou em seus braços.
Ficaram abraçados ali no chão. mal podia acreditar naquilo, sonhara e imaginara aquele momento tantas vezes e em nenhum desses sonhos os dois estavam em uma sala de estar, desarrumados. Ele só com um short e ela com uma boxer mais uma camiseta velha dele; e uma televisão ligada em um filme antigo.
Mas ela sabia que nenhum sonho seria tão perfeito quanto aquela realidade estava sendo.
- Eu te amo – murmurou, no ouvido dele.
- Eu também te amo, . Muito.

E se beijaram, selando aquele momento maravilhoso.

Dois

- E quanto ao nosso casamento? - perguntou, . - Você arrumou o Spike como um verdadeiro cavalheiro.
Ele riu.
- Não só o Spike, querida. também, com uma ajuda do . Embora ache que ainda jogou algum tipo de praga no velho aqui no dia do nosso casamento. Ele e aquela boca que falou das futuras dietas para saúde - ela riu.
- Talvez ele tenha previsto. Não se esqueça que ele não está muito diferente de você. Vocês apenas não são mais dois garotos, querido. Nenhum de nós.
- Isso mesmo. Ao menos eu não tenho de resmungar sozinho - sorriu.
- Claro que não. Agora pare de me enrolar e tome o restante de seu chá. - disse, olhando para a caneca que ainda estava pela metade. - Enquanto isso, vou pegar seu remédio - acrescentou, enquanto se levantava.

47 anos atrás - dia do casamento de e .

- Spike, volte já aqui! - chamou, já impaciente, pelo cão. - Não temos tempo de brincar agora, amigão. Vamos.
O canino pareceu finalmente notar a zanga do dono, pois começou a se aproximar devagar, olhando-o cauteloso e grunhindo baixinho.
- Isso, garoto. Agora vamos colocar sua roupa chique - e pegou uma espécie de gola, com uma gravata borboleta que estava em cima de uma cadeira.
Tirou a coleira de Spike, e abotoou a gola no cachorro. Em seguida, sorriu para o animal enquanto esfregava as orelhas do mesmo.
- Olha só, agora você vai parecer mais chique que o .
- Eu ouvi isso! - gritou, do banheiro enquanto ainda tentava fazer um laço na gravata. - Cara, você não podia arranjar uma gola dessa do Spike para mim? Esse troço é horrível - apontou, frustrado, para a gravata.
riu.
- Pede para o te ajudar. Eu ainda nem estou pronto e temos que estar na igreja em vinte minutos - respondeu ele.
saiu resmungando, enquanto terminava de se aprontar.
- Viu, Spike? está até com inveja de você – falou, para o canino, que latiu em resposta. - Agora, pegue sua cesta que nós já vamos. Sabe o que fazer, certo?
O cachorro latiu novamente.
- Muito bem. Mas lembre-se de não correr lá dentro - relembrou.
Olhou-se no espelho mais uma vez e sorriu. Em poucas horas, seria sua esposa e os dois estariam dentro de um avião, viajando em lua de mel.

Momentos depois, se encontrava nervoso, ao lado de e , esperando a noiva chegar.
- Porra, - reclamou. - Pare de andar de um lado para o outro.
- tem razão. - acrescentou - está lá fora e disse que iria avisar assim que ela chegasse com as meninas.
- Mas as noivas sempre demoram assim? – insistiu. - Já faz mais de meia hora e… Ei! - pausou, olhando para a porta da igreja. - Olhem, o está entrando na…
- , sua bicha! A hora da forca chegou! - gritou ele, fazendo com que alguns convidados rissem e o olhou com os olhos arregalados.
- Ele chama isso de sinal? – resmungou, baixo, para os dois ao seu lado. Mas eles estavam ocupados rindo da situação.
- Ele sinalizou ao estilo - disse , ainda rindo. - Qual é, , não leve a sério. Ao menos ele avisou, agora fique quieto - mal terminou de falar, quando a marcha nupcial começou a tocar.
Chelsea, a filhinha de e , entrou primeiro com uma cestinha de pétalas de rosas, jogando-as enquanto passava. Em seguida, veio Spike, com as alianças. passara a semana treinando o canino para aquele momento. Logo depois dele, , e Larissa - uma amiga de da faculdade - como damas de honra.
veio acompanhada pelo tio, John . Usava um vestido branco tomara que caia simples, porém sofisticado, com um véu curto e buquê de flores brancas.
encontrou os olhos dela e a encarou com um sorriso de canto, maravilhado. De repente, já não estava mais nervoso. A sua garota estava ali, vindo em sua direção para ser sua para sempre.

Minutos mais tarde…

- ...Pode beijar a noiva - o padre falou, e não hesitou em puxar para si, esmagando seus lábios nos dela. O beijo foi seguido de aplausos dos convidados ali presentes.
- Obrigado por me salvar - disse ele, os olhos transbordando uma sinceridade tão grande que quase a fez chorar. - Amo você, Sra. - acrescentou em seguida, puxando-a para mais um beijo.
- Amo você mais, meu - respondeu ela.

Horas mais tarde, o casal se encontrava dentro de um avião com destino à Paris.
O piloto do avião havia acabado de comunicar aos passageiros que se preparassem, pois em poucos minutos iriam aterrissar, quando falou, em um sussurro, ao marido:
- Tenho duas surpresas para você.
Ele sorriu.
- Sério? E eu posso saber que surpresas são essas, Sra. ?
- Se eu te contar agora deixará de ser surpresa, mas eu vou te mostrar assim que chegarmos ao hotel, Sr. .
- Hm. Acho que estou começando a gostar disso - murmurou, beijando-a suavemente.

Quando chegaram à porta da suíte do hotel onde iam ficar, pegou nos braços e entrou com ela no quarto, depois de dar uma gorjeta ao empregado do hotel que levara as malas para dentro.
- Melhor seguir a tradição, certo?
- Se não, pode dar azar, como diz - ela respondeu, e os dois riram.
Colocou-a no chão e foi fechar a porta do quarto. Tirou o paletó e a gravata, enquanto voltava-se para ela.
- Então… Você disse que tinha duas surpresas para mim - lembrou, aproximando-se e puxando-a pela cintura para perto, até estarem os dois com os corpos colados.
Ela levantou os braços para cima e virou-se de costas para ele.
- Veja você mesmo, amor.
Deu uma risada antes de abraçá-la por trás. Beijou seu pescoço e ombros e moveu uma das mãos ao fecho do vestido.
Abriu o zíper e o deslizou até o fim de suas costas.
Afastou-se um pouco, apenas parar espiar e ainda segurando-a perto, murmurou em seu ouvido:
- Renda branca, huh? Que sexy! - ela riu e deu um passo para frente, fazendo com que o vestido caísse aos seus pés. Em seguida, voltou-se novamente para ele, que a encarava com seu típico sorriso malicioso.
Se aproximou até ficarem frente à frente, espalmou as mãos no peito dele e começou a desabotoar os botões de sua camisa, um a um. Depois de aberta toda a camisa, empurrou-a pelos seus ombros, libertando-o dela para, após, abraçá-lo pelo pescoço, puxando-o para si até seus lábios encontrarem-se.

Peça por peça foi tirada calmamente até que não restou mais nada entre os dois. Em seguida, eles se amaram lentamente, e tornaram-se um só. Não tinham porque terem pressa, aquele momento pertencia apenas aos dois e tinham todo o tempo do mundo para compartilharem-no um com o outro.

Na manhã seguinte, acordou sentindo beijos no rosto. Tentou, em vão, reprimir um sorriso, antes de abrir os olhos. Sentia como se uma sensação de paz e felicidade estivessem rodeando-o ali, junto com sua esposa.
- Bom dia, - saudou-a, com a voz rouca por causa do sono, enquanto sorria.
- Bom dia, - repetiu ela. - Pedi o café da manhã, está com fome?
- Sim, Sra. . Mas preciso ir ao banheiro antes.
- Tudo bem.
Minutos depois voltou ao quarto e estava na cama, deitada. A imagem o fez lembrar-se de algo.
- Amor - chamou, após deitar-se o lado dela. - Ontem você disse que tinha duas surpresas, qual era a segunda?
- Tecnicamente, eu te mostrei ontem, porém acho que não deu para notar. Talvez porque estávamos muito distraídos - acariciou o rosto dele com uma mão.
- Sim, e foi uma ótima distração - sorriram.
Ficaram um momento em silêncio, apenas olhando um para o outro, até que perguntou:
- Quantos quartos você disse que teremos na nossa casa?
- Quatro ou cinco, por quê?
- Apenas para saber. Acho que por hora será suficiente.
- Suficiente para quê? - indagou, confuso.
teria rido da expressão que ele fizera se não estivesse um pouco nervosa.
Pegou a mão, levando-a até sua barriga, antes de dizer com um sorriso:
- Parabéns, papai.
Os olhos de brilharam em compreensão quase no mesmo instante. Sorriu para ela, antes de olhar para as mãos dos dois, no ventre dela.
- Quanto tempo? - perguntou ele.
- Seis semanas.
Ele começou a rir e não percebeu as lágrimas que haviam em seu rosto até sentir enxugando-as.
- Estou tão feliz, . - murmurou, abraçando-a forte - Tão feliz que nem posso acreditar.
- Eu também, . Estava um pouco nervosa para te contar isso e… Bem, agora que você já sabe - desconversou -, acho que já podemos comer. Ou melhor, você pode.
- Você já comeu?
- Já, desculpe não ter te esperado.
- Sendo assim, eu acho que a comida pode esperar mais um pouco.
- Por quê? - perguntou ela, sorrindo.
- Porque agora estou com fome de outra coisa - respondeu, com o sorriso malicioso que ela tanto conhecia, antes de juntar seus lábios aos dela.

Três

Presente - Sexta-feira à noite, Casa do Sr. e Sra.

- Tem certeza de que não esqueceu nada? - perguntou, pela segunda vez naquela noite, desde que ele disse que já tinha tudo pronto para a viajem.
- Sim, querida. Provavelmente, chego amanhã cedo lá, e de noite já estarei vindo para casa.
- Promete? - ela perguntou, apreensiva.
- Prometo.
- Então até logo, . Dirija com cuidado. - ela disse, e ele sorriu para ela puxando-a para um abraço.
- Até logo, . Amo você, Sra. .
- Eu também, Sr. . Agora vá, antes que fique muito tarde.
Ela observou ele entrar no carro e dar a partida. Ficou ali parada, olhando até o carro desaparecer e, em seguida, caminhou de volta para dentro de casa.

Cinco dias depois - Quarta-feira, manhã seguinte ao funeral do Sr.

David abriu a porta da casa com sua chave e entrou primeiro, seguido de Viola e Alana.
- Estranho a mamãe não ter ouvido a campainha - comentou ele, assim que fechou a porta.
- Talvez ela ainda esteja dormindo - sugeriu, Viola. - Por que vocês não vão ver se ela está bem, enquanto eu preparo alguma coisa para ela comer?
- Tudo bem. Vem, Alana. - David chamou a irmã, que ainda estava calada desde o momento em que saíram do carro, e a abraçou pelos ombros enquanto subiam as escadas.
Chegaram ao quarto da mãe e encontraram a porta entreaberta. Entraram e a encontraram na cama, de olhos fechados, abraçada ao porta-retrato que ficava ao lado da cama, com uma foto de quando ela e o pai deles ainda estavam no colegial.
Alana se aproximou da cama e puxou, delicadamente, o porta-retrato das mãos da mãe, colocando-o ao seu lugar usual.
- Mamãe? - chamou ela, sem obter resposta.
- Mamãe? - David repetiu.
Silêncio.
Alana resolveu colocar a mão no rosto da mãe para tentar acordá-la, mas quando o fez, sentiu o corpo frio ao seu toque.
- David, ela está gelada - conseguiu dizer, com a voz falha.
Ele começou a entender o que estava se passando e tentou manter a calma, por causa da irmã.
- Alana…
- Por que ela não acorda? - perguntou, alto - Mamãe, acorde!
Começou a sacudir o corpo desfalecido da mulher, mas ainda assim não conseguiu nada.
Chegou mais perto e se apavorou.
- David, ela não está respirando - gritou, desesperada, e não notou as lágrimas que caíam de seus olhos. - Vamos, mamãe, acorde! Você tem que acordar, vamos!
David segurou a irmã por trás, para afastá-la do corpo à cama. Viola, depois de ter ouvido os gritos da irmã, correu para o quarto e assim que seus olhos encontraram os do irmão, ela compreendeu o que havia acontecido.
- Meu Deus! - sussurrou, levando uma mão à boca para conter um grito.
Alana já estava diferente, o rosto, vermelho e inchado ainda pelas lágrimas do dia anterior, estava repleto de lágrimas e ela gritava, tentando se soltar dos braços do irmão.
- Deixe-me, David, é a mamãe! – gritou. - Me solte!
- Alana, calma - Viola falou, enquanto tentava conter as próprias lágrimas. David não estava muito diferente, mas perder a razão não ajudaria em nada; já bastava a irmã.
- Viola, chame um médico, uma ambulância, qualquer coisa. - falou David. Ela apenas assentiu, saindo de lá. Em seguida, ele falou para a outra irmã: - Alana, nós temos que sair daqui, vamos.
Com esforço, conseguiu tirar a irmã de lá. Minutos mais tarde, Doutor Thompson, o médico da família, examinava a Sra. .
Levantou os olhos do corpo dela e olhou para os três que ali esperavam, agora ao lado dos maridos e esposa.
- Sinto muito, garotos. Ao que tudo indica, a mãe de vocês faleceu enquanto dormia.
Alana sufocou um grito, sendo acalentada pelo marido. Não só ela, mas o três agora choravam pela morte da mãe.

No dia seguinte, foi o funeral da senhora . Os mesmos amigos estavam todos ali presentes, assim como estiveram no funeral do Sr. .
foi enterrada ao lado do marido. Os três irmãos observaram juntos, e o tempo inteiro abraçados, o caixão ser enterrado.
Assim que a cerimônia chegou ao fim, as pessoas vieram uma a uma falar com os três.
, que era primo de foi o último a se aproximar dos meninos.
- Soube pelo médico que não sofreu enquanto dormia. - murmurou, em frente a eles. - Sei que é difícil, meninos, mas vocês, além de chorar, também devem sorrir, porque agora sua mãe encontrou o pai de vocês. Seja lá onde estiverem, eu tenho certeza que estão juntos, e que estão felizes. Há muitos anos, eles foram destinados a ficarem juntos. Agora estão em paz.
- Mas foi tudo tão repentino. - Viola disse. - Foi uma surpresa para nós.
- A vida é cheia de surpresas, meus filhos. Mas não se apavorem, porque seus pais estão felizes agora.
- Como pode ter tanta certeza, tio ? - David perguntou.
- Porque eu lembro de quando aqueles dois se apaixonaram e sei que o amor que eles sentiam um pelo outro não era suficiente para uma só vida.

não tinha como comprovar, mas sabia que o que falava era verdade. Em algum lugar, os dois estavam juntos.

Epílogo

- Eu prometi que voltaria - murmurou, no ouvido de , que estava sentada de lado, em seu colo.
- E voltou - ela disse, com um sorriso.
Estavam encostados em uma árvore, observando o sol se pôr, no final daquela tarde, os campos coloridos pela luz amarelada.
O velho Audi estava estacionado há alguns metros de onde se encontravam. O jovem casal havia passado a tarde inteira ali, conversando e rindo das antigas lembranças.
O sol estava quase desaparecendo quando , perguntou, olhando-a nos olhos:
- Está feliz?
- Você está? - ela retrucou, sorrindo.
- Acho que nós estamos - ele disse, retribuindo o sorriso. - Eu te amo, .
- E eu te amo, .
- Para sempre - ele disse.
- Para sempre - repetiu ela.

E enquanto a noite caía, eles se beijaram, felizes, sabendo que sempre estariam juntos.

Fim



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