Sexo sem compromisso é uma das melhores coisas do mundo. A segunda é largar o homem na cama sabendo que ele nunca iria ligar porque o telefone é de uma lavanderia. A terceira é encontrar minha melhor amiga (vulgo ) no café ao lado de nosso prédio decadente para compartilhar minha noite com o estranho.
De qualquer jeito, acho que eram umas onze horas da manhã quando finalmente cheguei ao café, usando óculos de sol e com os cabelos castanhos totalmente bagunçados. Joguei-me na cadeira em frente à e deixei a bolsa cair de meu ombro no chão. Pude ver seu olhar reprovador e divertido ao mesmo tempo, contendo o riso. É, eu estava um trapo.
Desajeitadamente tirei o casaco preto e cocei minha nuca. Eu ainda estava fedendo colônia masculina. Cruzei as pernas cobertas por uma calça jeans rasgada apertada, calçando sapatos de salto mega altos, pretos.
usava óculos escuros no topo da cabeça, segurando o cabelo exageradamente loiro, vestido lilás com um decote provocador em V e sapatilhas pretas. Assim que cheguei, ela puxou os fones de ouvido, abriu um sorriso e comentou com a maior naturalidade:
— Bom dia, raio-de-sol.
Abri a bolsa e puxei uma aspirina, fazendo um sinal positivo para em resposta, a qual sorriu perante o meu gesto, bebendo um gole de seu café logo em seguida. Depois de alguns segundos ela falou, agora mais séria:
— Onde você dormiu? Quer dizer, com quem você dormiu, né?!
Deixei um pequeno sorriso escapar, coloquei o comprimido na boca e engoli junto com um gole do bico da garrafa de água que estava em cima da mesa.
Não respondi, somente dei de ombros, ainda meio sonolenta.
— Foi na casa do Fred de novo?
Franzi a testa.
— Quem diabos é Fred?
gargalhou e me estendeu o café com cafeína extra que estava à sua frente para mim. Levantei-o como se fosse brindar, então dei dois longos goles, sentindo o líquido queimar minha garganta. Xinguei.
— , você não toma jeito, hein... Quem foi a vítima da vez?
Tirei os óculos de sol, revelando meus olhos castanhos rodeados de olheiras fortes e lápis de olho borrado.
— Porra, , você acha que eu lembro? Estava voltando do trabalho, sentei do lado de um cara gato no metrô. Ele me chamou pra uma bebida e, porra, o cara era muito gato! Depois da quinta dose de tequila só lembro de minhas roupas voando e do cheiro de tabaco do sofá dele. Ah, e fica tranquila, nós usamos camisinha.
Vi balançar a cabeça em negação, logo depois sorrindo. Forcei minha mente a lembrar, mas demorou uns dois minutos até eu lembrar o nome do dito cujo.
— Acho que era Hector o nome dele. Sei lá, só sei que era muito bem dotado. — Sorri ao final da frase, dando mais alguns goles no café.
— Porra, , Hector? Não tinha nome melhor, não?
Gargalhei ainda meio dopada pela ressaca. Pisquei algumas vezes e olhei no relógio. Eram 11h30 já.
— Merda! Merda! Olha, , só sei que não vou vê-lo nunca mais. Além do mais, menti meu nome pro idiota. Te amo muito, ok? Se cuida, tenho que correr pro trabalho. — Beijei o topo da cabeça de , puxei a bolsa comigo e saí cambaleando com o copo de café na mão.
Entrei correndo em nosso apartamento, seguindo para o banheiro. Escovei os dentes, passei maquiagem para disfarçar as olheiras, rímel, lápis de olho e troquei os brincos chamativos por dois simples de caveira, pequenos.
Tirei os saltos, joguei o conteúdo da bolsa na cama do meu quarto. Coloquei a blusa preta, junto com a calça jeans preta. Enfiei os All Stars desajeitada, prendi o cabelo num rabo de cavalo, coloquei uma tiara preta para prender a franja e puxei a bolsa comigo. Saí enfiando o essencial dentro dela. Maquiagem emergencial, celular, iPod, crachá, avental do trabalho, chicletes, camisinhas e chaves de casa. Enfiei duas barras de proteínas na bolsa quando estava saindo.
’s POV.
Fitei sair do café e quase ser atropelada por um carro ao atravessar a rua fora de hora. Basicamente ela ergueu o dedo do meio e continuou a andar.
Aliás, como você deve saber, meu nome é . Incomum, porque sou brasileira. Isso mesmo, vinda da terra onde supostamente as pessoas andam com macacos e moram na floresta. Pelo menos é isso que os ignorantes daqui acham. E é minha melhor amiga, brasileira também.
A coisa é que, sempre quisemos morar em New York e com dezesseis anos nossos pais aprovaram a ideia, porque sabiam que isso significava menos contas para pagar. Minha tia, Julie, era uma estilista famosa trintona e solteira que aceitou abrigar-nos até que tivéssemos grana para comprar um apartamento e terminássemos o colégio.
Ficamos com ela até o limite de nossos dezenove anos e mudamos para um lugarzinho com espaço o suficiente para nós duas e barato o bastante para que não precisássemos nos prostituir. Nossos pais – depois de muita birra, devo dizer – concordaram em pagar a faculdade e acabamos nos formando também aqui.
Fiz psicologia, já que minha habilidade de escutar pessoas e ser amigável – ou como diz: falsa – é notável. fez artes cênicas, afinal, ela ama causar. Para falar a verdade, no final de nossos vinte anos, não havia situação melhor do que essa.
Quando a conta chegou, agradeci e deixei uma nota de dez dólares. O café, a mini garrafa d’ água e a porra da gorjeta que eles insistiam que pagássemos. Saí do café e olhei para o relógio, 11:45. Oh, merda. Eu também estava atrasada.
’s POV.
Bati o cartão no Planeta Hollywood 12h em ponto. Minha chefe olhou para mim com nenhuma simpatia. Sorri amarelo e coloquei os óculos de grau, uma vez que minha miopia não ajudava na hora de trabalhar. Havia alguns clientes já, a maioria estrangeiros, mesmo estando fora de temporada.
Prendi o cabelo num coque rápido e fui para a primeira mesa. Era uma mulher na casa dos quarenta e dois pirralhos catarrentos.
— Bem vinda ao Planeta Hollywood, meu nome é e vou servi-los hoje. Aqui está o cardápio. — Entreguei os cardápios para eles. — Qualquer coisa, é só chamar.
Nenhum deles disse nada, a mulher só sorriu e os meninos começaram a bater um no outro com o cardápio. Patético.
Atendi mais algumas mesas, levei alguns desaforos, alguns elogios, muitas gorjetas. Coisas do tipo.
Já eram quase quatro horas, perto das minhas horas de folga antes de voltar para o jantar, quando um rapaz sentou. Lisa, minha chefe mal-comida, olhou feio para mim quando tentei enviar a garçonete novata atender o infeliz. Porra, eu precisava ir ao banheiro!
Bufei e coloquei meu melhor sorriso no rosto. Conforme me aproximei, percebi que ele não era de se jogar fora. Provavelmente uns 25 anos, cabelos lisos, castanhos escuros. Os olhos misteriosos negros e profundos. Maxilar largo, lábios médios e cheios, muito convidativos. Usava uma camisa branca e uma jaqueta de couro, delineando os músculos. E parecia ser alto, mesmo sentado. Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e entreguei o cardápio para ele.
— Boa tarde, bem vindo ao Planeta Hollywood. Eu sou e vou te atender hoje. Qualquer dúvida me chama, ok? — Pisquei e já ia sair andando, mas ele se pronunciou.
— Hm, , não é?
— Sim? — Virei-me e sorri.
Ele encarou o cardápio aberto por alguns segundos, então seus olhos encontraram os meus. Um sorriso de canto brotou em seus lábios.
— Eu quero uma Stella Artois, por favor. E se você estiver no cardápio também, eu gostaria de tê-la como prato principal.
— Então você só vai ter a cerveja, amigão.
Antes que ele pudesse responder, virei e saí rebolando, pronta para enfiar a garrafa de cerveja na goela dele. E depois beijá-lo, é claro.
’s POV.
Cheguei no Starbucks e coloquei aquele avental ridículo que éramos obrigados a usar em nosso turno. Dei o laço nas costas e prendi o cabelo em um rabo, o soltando logo em seguida ao perceber como parecia ingênua com ele. Acredite, de ingênua não tenho nada.
Toquei o ombro da menina que não conhecia, mas deveria substituir agora. Ela agradeceu e tentei sorrir o mais amigável possível para o próximo cliente. Uma velha.
— O que gostaria?
— O que vocês têm?
Como assim? Porra, olha no cardápio gigante que tem atrás de nossas cabeças, sua retardada. Consegui conter os xingamentos e ofereci um dos cafés mais pedidos. Um simples nespresso.
— Ah, mas isso não fará mal a meu estômago? Quer dizer, a cafeína pode apodrecer as paredes dele e depois eu teria que fazer uma cirurgia. Seria terrível!
— Senhora...
— Ah, sim! Você tem razão! A cafeína pode ajudar a manter-me acordada, mas você acha que vale a pena ter seu órgão necrosado somente para ficar mais alerta? A única coisa que está necrosada aqui é seu cérebro – pensei irritada, mas ainda tentando esboçar um sorriso comercial.
— Senhora... – Tentei de novo.
— Verdade! Bem pensado, querida! Quero um nespresso sem cafeína, pode ser? Não, não. É melhor não. Acho que vou correr o risco de estragar meu estômago. Sabe, a Kurtney, que é minha afilhada médica, sempre disse para que eu tomasse pouco café, porque isso iria me atrapalhar...
— Então será um nespresso sem cafeína? – perguntei rápido. Mesmo sabendo que isso não existia.
— Então, eu não lembro! – A velha riu. – Acho que Kurtney mandava eu tomar cafeína, na verdade.
Puta que pariu.
Marquei um nespresso e entreguei para ela a notinha, tentando fingir que estava prestando atenção no que dizia, mas minha mente continuava imaginando vários modos de bater nela. E a mulher não queria entregar a porra do dinheiro e vazar dali!
Mark, um gay que trabalhava no mesmo horário, se aproximou cautelosamente e perguntou se eu poderia abrir o outro caixa porque a loja começara a encher já.
Bingo!
— Fique aqui, eu abro o outro caixa.
Antes que Mark respondesse, larguei-o lá e andei até o outro caixa, do outro lado da cafeteria. Nunca entendi o porquê de serem tão longe. Se um ladrão quiser roubar, ele vai ir aos dois de qualquer jeito! Abri o caixa e esperei alguém se tocar que também estava atendendo, até dei um sorriso para uma mulher da fila, mas ela não percebeu também. Gente burra. Mas, felizmente, a burrice dela fez com que ninguém largasse da fila que começava a crescer na rua.
’s POV.
Quando meu expediente acabou, mais ou menos onze horas da noite, troquei de roupa com a mais profunda vontade de jogar o avental na lata de lixo. Soltei o cabelo, coloquei meu casaco sobre a roupa e puxei o cartão do metrô da carteira, já o deixando no bolso da calça jeans.
Desci as escadas do restaurante e saí na Times Square, movimentada como sempre, enfiando as mãos nos bolsos do casaco. Não dei três passos até que senti alguém segurar em meu braço. Virei-me assustada, achando que iriam querer me roubar — O que seria um porre, porque eu mal conseguia pagar o aluguel, ser roubada era a última coisa que eu precisava.
— Ahn? Quê? Me solta!
Quando estava pronta pra tentar aqueles golpes malucos dos filmes de ação, percebi que o tal sujeito era o cliente da Stella Artois que eu havia atendido mais cedo, não um ladrão. Soltei o ar e revirei os olhos.
— Ah, é você. O que você quer?
Ele comprimiu os lábios, pensativo, os olhos vasculhando minhas feições e corpo. Estufando o peito imperceptivelmente, ele sorriu e respondeu com a voz firme.
— Achei que estaria com fome depois de trabalhar o dia inteiro e gostaria de te levar para comer alguma coisa.
Olhei-o incrédula. Ele poderia simplesmente falar que queria me comer. Hesitei por alguns segundos, ponderando, quando finalmente cedi.
— Certo. Mas eu quero ir ao Burguer King. E quero um Whopper duplo com coca-cola grande. E depois eu quero um Milk-shake também.
O ser que eu ainda não conhecia sorriu. Piscou um olho e pegou em minha mão, puxando-me pela rua junto consigo.
— Ei.
Parei no meio do caminho. Ele virou-se confuso.
— Você não me disse seu nome.
Ele sorriu desconcertado, não percebendo sua gafe.
— Ah, é verdade... Meu nome... É Tyler.
Pressionei meus lábios e assenti mudamente. Voltamos a andar.
’s POV.
Horas depois, quando o movimento do horário de almoço já não existia mais, e somente aqueles empresários que saíam para tomarem um café entravam. Escutei o barulho da porta ao lado tilintar e desci da bancada que estava sentada enquanto lia uma revista, andando até o caixa e esperando ser ignorada por mais um cliente. Não aconteceu. Levantei os olhos e forcei meu sorriso. Era um homem. Não, esperem.
Um deus grego, literalmente.
Tinha cabelos loiros escuros, curtos, penteados de um jeito desgrenhado. Os olhos azuis meio acinzentados, quase como o céu prestes a despencar em neves do lado de fora. Seus lábios cheios se abriram em um sorriso apaixonante.
Tudo bem, eu sempre vejo as coisas bem mais românticas do que elas são. Até mesmo um arroto seria lindo. Ok. Não vamos exagerar tanto. Ofereci a melhor voz possível e apostei em dar umas piscadas leves. sempre fala que fico fofa fazendo isso.
— Vocês fazem um café puro na hora?
Jesus, Maria e José. Acho que acabo de encontrar o homem mais gato possível para mim. Ele tinha sotaque inglês. Isso mesmo, um sotaque fofo e extremamente charmoso. Um pouco disfarçado pelo inglês americano quase usual dele, devo acrescentar.
— Fazemos, mas demora cerca de cinco minutos. Nossa máquina é mais velha que a dona Chantal ali. – Apontei para uma senhora sentada numa mesa pouco longe de nós.
Qualquer um que passasse por aqui esse horário a veria. Não tinha como não vê-la. Seu cabelo era um branco meio arroxeado e ela sempre colocava uma maquiagem exagerada. Apesar de ser uma fofa, se quer saber. O homem riu e passou a mão na barba rala que cobria seu maxilar, depois assentiu, procurando o dinheiro para pagar.
— Nunca a vi por aqui – comentou. – Quero dizer, você. É...
Seus olhos baixaram até a altura do meu busto para lerem o crachá e pararam por lá um segundo antes de voltarem para meu rosto. Esqueci que estava sem crachá hoje e chocalhei minha cabeça levemente para afastar o pensamento de o quão gostoso ele parecia naquele terno preto que só mostrava o quão forte era.
— – falei virando-me para pegar o copo de água quente que apitava estar pronto para receber o café na máquina. – E não sou nova. Só cobri o turno de alguém hoje, mas trabalho de segundas à quintas e domingos.
Ele sorriu para mim, com os dentes alinhados, enquanto eu entregava seu café pronto e ele despejava um pouco do açúcar e tampava-o de novo.
— Vou passar a vir aqui então de segundas à quintas. E domingos.
Ri da cantada indireta-direta dele e assenti com a cabeça, devolvendo seu troco. E logo em seguida apertando a mão que ele havia esticado como comprimento. Se me permite dizer, até as mãos dele eram perfeitas.
— Aliás, meu nome é Charles Beway. Mas pode me chamar de Chuck, .
Não sei direito o que aconteceu.
Tyler era um cara realmente legal. Ficamos conversando por um bom tempo, eu sempre o provocado colocando minha perna em cima da dele ou deixando minha mão em seu joelho e a deslizando até chegar à sua virilha.
Assim que terminamos o sanduíche, não lembro como, acabamos dentro do banheiro masculino dos funcionários, agarrados dentro de um reservado.
Ele me pressionou contra a parede frágil e logo em seguida puxou uma de minhas pernas, passando-a ao redor de seu quadril. Nossos lábios se encontraram com veracidade. Suas mãos exploravam minha bunda e pernas, apertando-as com força, apreciando o formato delas. Minhas unhas percorriam sua nuca, pescoço, ombros, braços, costas. Eu não o poupava, arranhava sem dó.
Seus lábios foram descendo por meu rosto, chegando ao pescoço, onde distribuiu vários beijos. Meu corpo pegava fogo. Eu podia sentir sua ereção coberta pela calça pressionada contra mim. Suspirei alto algumas vezes, principalmente quando ele me deu um chupão, cravando minhas unhas sem dó em suas costas.
— Você tá apressadinho, hein — comentei quando ele começou a desabotoar minha calça jeans.
Ele parou de me beijar no pescoço, segurou meu rosto com uma das mãos e me olhou nos olhos duramente.
— Cala a boca.
Antes que eu pudesse protestar, ele me beijou novamente. Que homem.
Suas mãos foram por baixo de minha camiseta, subindo até meu sutiã. Quando ele estava abrindo o feixe, a porta do banheiro abriu. Tapamos um a boca do outro rapidamente, ficando parados. Meu coração batia a mil por hora.
Rapidamente Tyler pegou-me no colo, tirando meus pés do chão, caso alguém visse. Ouvimos os passos dos funcionários.
— Ei, cara, não aguento mais limpar mesas. Era pra eu já estar em casa.
Um deles comentou, abrindo o zíper. Segundos depois ouvi o barulho de água, que na verdade não era água. Eca.
— Para de reclamar, agradece que daqui dois dias já é sexta feira.
Ficamos parados por quase dois minutos inteiros até os funcionários irem embora. Quando a porta finalmente fechou novamente, esperamos alguns segundos antes de nos soltarmos. Tyler me deixou no chão e eu ajeitei meu sutiã novamente, logo depois arrumando minhas roupas. Limpei sua boca suja por meu batom. Tyler ajeitou suas roupas também, mais me observando do que a si mesmo. Peguei minha bolsa do chão e pisquei. Ele abriu a porta do reservado e saiu, verificando se a barra estava limpa. Segundos depois ele pegou em minha mão, beijou meu rosto e sussurrou:
— Você primeiro.
Não perdi tempo e saí correndo dali, esquivando-me dos funcionários que me olhavam com curiosidade e dúvida. Escapei pela saída de emergência.
Pensei em esperar por Tyler, mas qual seria a graça?
Com um sorriso nos lábios, enfiei-me no meio da multidão agitada e não diminui o passo até chegar ao metrô, deixando para trás alguém que eu pensei que nunca mais iria encontrar.
Ah, como eu estava errada.
’s POV.
Chegar em casa é a sensação mais deliciosa depois de um dia de trabalho sem fazer nada. Chutei as sapatilhas pretas para perto do sofá, vasculhei as correspondências e achei a terceira carta de atraso do aluguel no mês. Foda-se esse cara. Eu pago quando quiser. Ok, talvez não.
Deitei no quarto por meia hora e cai no sono. Quando saí, encontrei com aquelas tiaras de festa, verde, na cabeça, um pote de sorvete no colo e assistindo entusiasmada a final do Ciclo de America’s Next Top Model. E só de sutiã e calça jeans. Procurei pelas outras vestes dela e as encontrei sobre a pia.
Joguei-as no chão da cozinha e peguei uma panela, enchendo-a de água e coloquei-a no fogão, me preparando para fazer um jantar luxuoso e especial para a noite. Macarrão com queijo. Joguei o macarrão, joguei o queijo. Dei uma misturada e tava pronto.
— O que temos para comer? – indagou com a boca lotada de sorvete de flocos e raspando a colher nas laterais do pote.
— Você quer comer mais? – perguntei apontando para o pote praticamente vazio em seu colo.
— Qualé, isso daqui é só aperitivo para assistir a TV! A comida de verdade vem agora, não é? – Ela fez uma careta esfomeada.
— Se você chama miojo de comida. Aham.
deu ombros e começou a vasculhar os armários da cozinha atrás de dois pratos fundos. Pegou os talheres e apoiou o cotovelo na bancada, começando a contar:
— Me peguei com um cara que apareceu lá no trabalho hoje.
— Aonde?
— Banheiro masculino dos funcionários do Burger King. Tinha uns caras lá... Não prestei atenção.
— Você comeu o cara na frente de outros caras?! – falei alarmada, derramando o miojo no prato dela em maior quantidade.
gargalhou e explicou que havia sido no reservado mesmo. Eca. Alguém tinha cagado lá um dia. Eca. Ou mais. Comecei a contar sobre meu homem. O gostosão, o deus-grego. O Chuck Norris da minha vida.
— PERAÍ, ELE ERA LOIRO DE OLHO AZUL? COMO ASSIM VOCÊ SÓ PEGA OS DEUSES? COMO ASSIM EU FICO COM O TARADO DO RESTAURANTE E NO BURGER KING?
— Eu não fiquei com o Chuck.
A próxima coisa que me acertou foi a lata de Coca-Cola vazia dela.
— Vaca – murmurei, jogando a lata nela também.
— Vaca? VACA? VOCÊ DEIXOU O DEUS GREGO IR EMBORA!!!! NEM UM BEIJINHO, NEM O TELEFONE VOCÊ DEU! SUA, SUA, SUA... LOIRA!
— EI! Olha o preconceito! – Fiz cara de ofendida. – Além disso, ele falou que vai ir me visitar lá novamente.
— Ou seja, ele quer te comer. – , sempre delicada.
— Em outras palavras... Talvez. – Dei de ombros, terminando de comer meu macarrão. estava no segundo prato já.
Ela me olhou curiosa, tentando decidir se iria me bater por ser ingênua ou se iria rir por eu estar fingindo ser ingênua. Algo do tipo. Só sei que ela resmungou logo em seguida:
— Peidei.
Certas coisas não se dividem nem com sua mãe. E bom, no meu caso, eu sabia até quando ela peidava. Fico lisonjeada ou enojada? Hm.
’s POV.
Colocamos os pratos dentro da máquina de lavar-louça assim que terminamos o jantar e fomos assistir o novo episódio de Vampire Diaries. Depois de algumas lágrimas, comentários, choro e etc., levantamos do sofá. Assim que olhamos para o corredor, gritou:
— É MEU!
Corri feito idiota para o banheiro, mas a vaca enfiou o cotovelo no meu estômago e quase me fez chamar o Hugo. Caí sentada no chão, xingando-a de todos os palavrões existentes e inexistentes. Mal ouvi a porta do banheiro fechar, seguido pelo barulho do chuveiro sendo ligado.
Foda.
O vizinho bateu com a vassoura no teto, reclamando dos palavrões e mandando eu lavar a boca.
Com dificuldade, levantei-me, ainda resmungando e com o jantar rebelde em meu estômago, mas o contive. Abri a janela e gritei.
— ENFIA A VASSOURA NO CU, BABACA! VAI ARRANJAR UMA PUTA PRA VOCÊ COMER QUE ESSE MAU HUMOR É FALTA DE SEXO!
Fechei a janela satisfeita comigo mesma e ignorei sua resposta, na qual ele me chamava de vadia. Para variar.
Olhei para a bagunça e comecei a ficar nervosa. Sou a bagunça em pessoa quando quero, mas ocasionalmente tenho surtos de arrumação. É, estranho. não me entende. E olha que ela é psicóloga.
Puxei meu iPod que estava na bolsa, coloquei meu querido e amado Bon Jovi para tocar e comecei a limpar. Primeiramente peguei minhas roupas e as levei para o quarto, juntamente com todas as minhas tralhas. Organizei a cozinha, colocando as coisas de volta em seus lugares, passando a vassoura pelo chão e tirando o lixo. Tirei tudo que estava em baixo do sofá e coloquei em seus lugares. Achei o controle remoto dentro do vaso de plantas, coloquei-o em cima da TV, depois arrumei os DVDs no armário. Fiquei rebolando e cantando a música super alto. Senti mais algumas batidas da vassoura do vizinho, mas as ignorei. Rebolei loucamente enquanto caminhava numa tentativa de dança sensual até o quarto de . Deparei-me com o inferno. Dobrei todas as roupas que estavam jogadas (acredite ou não, havia uma calcinha no ventilador de teto) e as coloquei nas gavetas. Enfiei suas tralhas nas gavetas (dentre elas um objeto não identificado que eu estava com medo de descobrir a utilidade. é bem safada quando quer). Terminei de arrumar seu quarto retirando as embalagens de comida, chiclete, algodões sujos de esmaltes e joguei tudo em um saco de lixo enorme. Arrumei meu quarto que estava repleto de revistas jogadas pelo chão, calcinhas, camisinhas e outras coisas que você não quer saber.
Mudei de música algumas vezes, todas de meu querido e eterno amante Bon Jovi. Menos de meia hora depois a casa estava pronta. Incrível como fico ágil nisso ao som de Bon Jovi.
saiu do banho enrolada na toalha cantarolando e cheirando a sabonete. Filha da mãe.
Passou pelo corredor lentamente, assobiando alguma música, entrou em seu quarto e fechou a porta, ignorando-me varrer o chão da sala. Segundos depois, a porta de seu quarto abriu e ela estava tão assustada que deixou a toalha cair.
— Ok. Que porra foi essa? Um alien entrou aqui e arrumou minhas coisas? Enfiou uma sonda no meu cú e eu não percebi também?
— Roupas, por favor.
pegou a toalha revirando os olhos.
— Seu excesso de peitos acaba com minha auto-estima, .
Ela novamente revirou os olhos.
— Você sabe como tenho meus surtos de limpeza. Somente achei que deveria arrumar a casa e aproveitei que você estava no banheiro.
— Não. Tá brincando. Seus surtos de limpeza são normalmente uma vez ao mês. Raramente duas. Essa é a TERCEIRA vez que tem um surto de limpeza e estamos na metade do mês.
Fiquei parada de sobrancelhas elevadas, a música pausada e abraçada ao cabo da vassoura que antes fora meu microfone.
— OH. MY. GOD. VOCÊ TÁ GRÁVIDA!
— O QUÊ?
Ok. Está decretado. ELA PIROU NA BATATINHA.
— OH MEU DEUS, , VOCÊ TÁ GRÁVIDA! JESUS, EU VOU SER TIA.
— Ok, primeiro: Eu NÃO estou grávida. E segundo, que papo é esse de ser tia?
— Sou sua irmã de alma, lembra? Poxa. Pensei que eu ia ser a madrinha.
— Não viaja, ! Você sabe como eu tomo cuidado com essas coisas. Proteção sempre. E eu nunca perco a pílula, tipo, nunca. Ok, uma vez ou outra, mas foda-se. De qualquer jeito, esse não é o ponto.
suspirou alto e deixou a toalha cair quando foi arrumar o cabelo. Revirei os olhos enquanto ela a recuperava e sorria desajeitada.
— De qualquer jeito... Seria legal te ver grávida. Talvez você parasse de sair dando por aí, não que eu seja contra, mas é cansativo não saber onde você foi dormir. Talvez. Quem sabe.
Olhei-a pensando como poderia ser melhor amiga dela. Ah, é. Eu sou mais louca que ela.
Suspirei alto em desaprovação e voltei a varrer. entrou em seu quarto, dando o assunto por encerrado, provavelmente já o bagunçando novamente.
’s POV.
Quando acordei no dia seguinte por cerca de umas dez da manhã, não achei nada que prestasse no armário. O fato é, sou péssima em escolher roupas. Andei sorrateiramente pelo quarto de e peguei uma camiseta rosa clara decotada em V que ela raramente usava, coloquei minha jeans colada de sempre e uma bota preta de cano alto por cima. Prendi um cachecol no pescoço e deixei o casaco pesado em cima do sofá, para quando fosse sair.
Preparei meu café e o de . Comi uma maça e entrei novamente no quarto de . Abri sua janela e tirei suas cobertas de cima do corpo. Ela se contorceu na cama e colocou o travesseiro sobre a cabeça, protegendo-se do sol quase inexistente do tempo nublado.
— Vai para a puta que te pariu, ! – ela murmurou casualmente quando puxei o travesseiro também.
— Bom dia para você também, querida. Bom saber que seu humor hoje está calmo. – Estava sendo sincera. Geralmente era um “vai dar, filha da puta” que recebia.
Mas eu estou acostumada e quando eu sou a vítima, uso as mesas palavras. Esperei até que ela levantasse da cama para me despedir e pegar o metrô em direção ao trabalho. Já eram 11h20 da manhã e provavelmente chegaria atrasada. Assim como , que já estava enrolando fazia cinco minutos.
Bati o cartão faltando um minuto para meu horário. Mark se aproximou com meu avental e pendurou ao redor de meu pescoço enquanto coloquei o meu cabelo em um rabo alto, dessa vez não me importando em como pareci com este. Mark deu um tapa em meu ombro e fez um gesto com a cabeça para a porta da loja.
Uma única palavra: Chuck.
Eu havia contado pra Mark dele. Na verdade, Mark havia nos visto conversando e já chegou falando: “MENINA, QUE GATINHO ERA AQUELE BOFE?”
— Vai lá atender ele, menina! – Mark jogou a chave do segundo caixa em minhas mãos e voltou para seu posto.
Abri o caixa e fiz um sinal para que Mark mandasse Chuck e mais alguns homens — que o acompanhavam – para meu caixa. Ele falou com os caras e Chuck olhou para o caixa com um sorriso no rosto quando me viu.
Um dos amigos de Chuck tinha cabelos ruivos e umas sardas fofas no rosto. Parecia ser um pouco mais novo que os outros e pediu um café com leite desnatado. Os outros três estavam na faixa etária de Chuck, ou alguma coisa bem perto. Pediram o mesmo café de grão escuro para todos e agradeceram “minha atenção”, numa tentativa de cantada. Chuck foi por último quando os amigos-empresários se sentavam em uma mesa qualquer.
— Olá de novo! – ele falou radiante.
— Oi. O que vai querer hoje? – perguntei iniciando um novo pedido no computador e olhando algumas vezes na direção dele.
Chuck olhou para o cardápio atrás de mim e depois para dentro da carteira. Tirou uma nota de cinco dólares e pediu o mesmo que ontem. Ficou me observando intensamente enquanto preparei o café e deu algumas olhadas na minha bunda e peitos. É, minha visão periférica é demais. Aprendi com .
Dei o troco e sorri. Chuck se virou e voltou-se para mim de novo com a testa franzida, que fofura.
— Eu não vou poder voltar aqui mais tarde hoje... – avisou limpando a garganta. Assenti como quem não quer mais nada com isso. – E bom, você gostaria de... Ir jantar comigo?
Epa.
Para. Volta a porra da fita. SAIR? COM ELE? PUTA QUE PARIU!
Responde, ! Responde logo, sua pamonga! Ai como sou monga! Não fica encarando ele de boca aberta, fala alguma coisa, sua anta!
— Acho que vou ter que checar se hoje posso sair.
Ok. Alguém me mata, por favor.
— Brincadeira – acrescentei assim que ele olhou para baixo, desapontado. – Hoje está ótimo.
Nunca vi na porra da minha vida inteira um inglês tão charmoso, simpático, fofo, lindão e gostoso ao mesmo tempo — tá bom, tirando o Daniel Radcliffe e o Alex Pettyfer – como esse. Meu Deus, eu dava – como diria . Ele está falando alguma coisa. E eu não prestei a menor atenção, porra.
— Então... – Chuck sorriu meio confuso pelo meu silêncio. Provavelmente havia perguntado alguma coisa para mim. – Quer que pegue você em casa?
— Ahn, claro. Tudo bem.
Ele mordeu o lábio.
Aproveita e me morde também, deus grego!
Entregou-me a notinha de seu café e eu anotei meu telefone junto do endereço em pleno Soho. Chuck sorriu uma última vez para mim e segurou em minha mão quando devolvi o papelzinho.
— Até umas oito, .
E beijou as costas de minha mão. PUTA QUE PARIU. CASA COMIGO, NOW!
— Aham. Até. – Pisquei hipnotizada pela beleza incontrolável dele.
’s POV.
Mais uma vez estava atrasada no trabalho. Incrível como eu quebrava todas as regras possíveis no emprego e ainda não havia sido demitida. Acho que fazia quase um ano que estava trabalhando no Planeta Hollywood. Chegando atrasada 8 dias por semana.
É. Sente o drama.
O trabalho foi entediante como sempre. Recebi várias caixinhas (posso ser grossa na maior parte das vezes, mas sou um amor trabalhando. Aliás, eu sou atriz, duh.) e bebi algumas cervejas escondida. Quando chegou perto das seis horas, bati meu cartão. Hoje meu turno era somente do almoço/tarde. Amanhã eu iria cobrir a noite, por isso teria o dia livre. Tirei meu avental super escroto e fedorento, enfiei-o na bolsa, calcei meus saltos novamente, bagunçei o cabelo extremamente repicado e retoquei a maquiagem. Peguei minha bolsa, coloquei o casaco e me preparei para encarar o frio ainda suportável de Novembro.
Para variar, Times Square estava lotada. A estação de metrô da 42nd estava insuportável, então resolvi andar até a Penn Station, algumas quadras para baixo, perto de minha querida e amada Macy's. Conforme andava, parei num Dunkin Donuts e comprei um cappuccino básico. Pensei em comprar um Donut com granulados, mas lembrei dos waffles que havia em casa. Credo, que pensamento de gorda, . Pra variar, eu só estava pensando em comida. Bem que diz que eu só como.
Nos dois sentidos.
De qualquer jeito, andei calmamente sobre meus altíssimos e muito queridos, salto altos rosas comprados numa mega liquidação da Jimmy Choo. Olhei algumas coisas nas vitrines, mas pra variar, o aluguel deveria estar atrasado, então suspirei e me contentei em esperar a próxima liquidação, que seria daqui um mês, depois do Dia de Ação de Graças. Melhor feriado já inventado. As liquidações são maravilhosas.
Enquanto andava, pensei na vida. Como diria : "Nossa, ! Você pensa?!". É, sim, eu penso, porra.
Lembrei de ontem, quando me agarrei com Tyler no banheiro, da adrenalina correndo por meu corpo. Sorri vitoriosa, lembrando daquelas mãos em meu corpo, então passei o dedo indicador e o polegar por meus lábios, lembrando de seu gosto.
Balancei a cabeça e suspirei alto. Essa não era mais eu.
Afinal, eu não me apaixono. Não mais.
Chacoalhei os ombros, respirei fundo e dei mais um gole em meu cappuccino, procurando esquecer e enterrar as lembranças de minhas dores e sofrimentos, de como eu era antes de finalmente mudar minhas atitudes e conquistar amor próprio. Ou seja, como eu era antes de pirar e sair dando por aí. Não que eu seja uma puta, tá? Talvez uma vadia, mas só a pode me chamar assim.
Bebi mais dois goles e joguei o copo vazio numa lixeira ali perto. Parei no farol, esperando os carros passarem, encarando o outro lado da rua e pensando na vida. Sem perceber, comecei a atravessar a rua e quase fui atropelada por um Camaro preto; que freou à centímetros de meu quadril, enfiando a mão na buzina.
— Olha por onde anda, porra!
Senti a raiva subir por meu corpo, fazendo-me tremer. Bati no capô com força, logo em seguida mostrando o dedo do meio.
— Senta e roda, viado!
Chutei a placa do carro, amassando-a de leve, logo em seguida saindo andando rápido com o pé doendo pra porra, mas não manquei por puro orgulho. A última coisa que ouvi antes de finalmente chegar às escadas que davam acesso à estação do metrô foi um "vadia" e o cantar de pneus do carro.
Eram seis e meia quando comecei a surtar. Remexi em meu armário inteiro e tive a certeza que, primeiro: iria matar por arrumar meu armário de um jeito que eu não achasse nada dentro e segundo: ela ia me matar pela bagunça que estava criando em meu quarto. Bom, estou em emergência.
Então foda-se.
Joguei no chão uma camiseta branca que não serviria de roupa e cacei por minha calça jeans justa que aumentava loucamente minha bunda. Não, claro que não sou santa. Poupe-me né. Assim que a achei e descobri que não combinava tão bem com a blusa que já tinha selecionado uns minutos atrás, puxei o elástico de meu pulso e prendi o cabelo num rabo alto, levantei a blusa até a barriga e dobrei as calças de moletom para me locomover melhor. Era hora da caçada.
— MAS QUE PORRA VOCÊ ESTÁ FAZENDO? – gritou de repente, chegando em casa e fazendo-me pular de susto.
— EU TENHO UM ENCONTRO COM O DEUS-GREGO DE ONTEM! PRECISO DE UMA ROUPA, !
Ela arregalou os olhos quando mencionei o deus-grego. Soltou a bolsa e o casaco na porta do quarto e correu ao meu socorro. Juntas, reviramos o quarto durante mais meia hora até que finalmente achamos um vestido que combinasse de um jeito sensual e fofo ao mesmo tempo. Corri para o banho e torci mentalmente umas cem vezes para que meu cabelo resolvesse secar a tempo, odeio secadores e chapinha.
Saí enrolada na toalha e estava escolhendo meu sapato. Coloquei as roupas íntimas vermelhas de renda, que tinha e enfiei a roupa escolhida por nós em meu corpo. Já eram sete e meia – como o despertador armado por mim, avisou. Ou seja, estava fodida. Calcei o sapato preto de um salto de oito centímetros que jogou aos meus pés e passei maquiagem enquanto minha melhor amiga penteava o meu cabelo molhado, loucamente.
Terminada, ela correu até seu próprio quarto e voltou com uma bolsa pequenina, onde jogou nosso kit de maquiagem básica, uma camisinha, carteira e celular.
— E você acha que eu vou transar no primeiro encontro? – perguntei, encaixando o brinco na orelha.
— Espero, né, querida. Lembre-se que ele é o Chuck Norris da vez, você tem que agir de modo especial com o Chuck Norris, poxa.
Estreitei os olhos e me preparei para reclamar como ela era uma péssima influência aos jovens do planeta, quando o interfone tocou e correu como louca para atendê-lo. Respirei fundo e ela voltou exasperada gritando que ele havia chego. Senti como se estivesse fazendo um parto. Não que eu tenha tido um filho alguma vez, mas fiquei que nem nos filmes quando a mulher respira freneticamente.
Era agora. Alguém me dá um chute porque esse é o cara mais bonito com quem já saí.
’s POV.
Assim que foi embora, encarei o quarto bagunçado parecendo que o furacão Katrina havia passado por ali. Estávamos em Nova Iorque, no Soho. Só pra constar: ele havia passado em Nova Orleans, tá?
Enfim. Eu olhei aquela bagunça com uma imensa vontade de chorar e matar , mas respirei fundo, estalei os dedos e fui fazer o que faço melhor: agir como doida. Chutei meus sapatos, bolsa e casaco para meu quarto, dobrei a barra da calça, puxei as mangas, prendi meu cabelo no coque mais escroto da face da terra, coloquei os óculos de grau e enfiei os fones de ouvido. Bon Jovi entrando em ação.
Eram tantas roupas jogadas no chão que eu juro que não dava para ver o piso. Comecei a dobrar uma por uma, colocando-as em cima da cama arrumada (por mim, é claro). Demorei meia hora arrumando o guarda-roupa dela, somente para saber que ela iria bagunçar tudo de novo assim que chegasse, mas foda-se. Limpei a cozinha, mas não havia tanta coisa. Passei uma vassoura na casa inteira, coloquei as roupas para lavar, tanto as delas como as minhas, depois retirei a louça do café da manhã que ainda estava dentro da máquina, colocando-as nas prateleiras. Arrumei meu quarto (não que ele estivesse muito bagunçado, mas não custava checar). Levei o lixo para fora, limpei o banheiro, tirei a calcinha suja de do chão do box, peguei as toalhas sujas e enfiei no cesto na área de serviço. Uma hora depois, nossa casa estava brilhando.
Olhei para os lados, satisfeita, após meu trabalho duro. Meus surtos de limpeza estavam ficando mais constantes. Em breve eu deveria ficar menstruada. Droga. Uma semana sem sexo.
Sentei no sofá e liguei a televisão. Passei os canais, vendo que não havia porra nenhuma interessante, afinal, era quinta-feira. Vampire Diaries estavam em Hiatus, então não me restavam muitas opções.
Olhei pela janela, vendo as luzes de minha querida e agitada Nova Iorque. No relógio da parede estava marcando 21h.
Levantei-me com um sorriso nos lábios, esquecendo que deveria economizar dinheiro, então me enfiei num vestido preto sensual, sapatos vermelhos e um sobretudo preto. Penteei o cabelo rapidamente, enrolando as mechas nos dedos. Passei perfume, desodorante, escovei os dentes e passei uma maquiagem básica. Base, pó, muito rímel, lápis de olho nos cantos externos, batom mega vermelho. Eu me pegava. Fiz uma garra para minha imagem, mandei um beijinho e peguei minha baby bag preta de rebites.
Hoje eu iria dançar até meus pés cansarem, então eu tiraria os saltos e dançaria mais ainda. Estava pronta para arrasar. Os homens da boate que se cuidem hoje, pois uma vez que eu coloco um homem na mira, é tiro e queda.
Paguei o ingresso mais barato de uma balada fulera, com uma banda de merda tocando, mas foda-se. e eu iríamos passar o ano novo na balada do Madame Tussauds mesmo, enquanto isso eu podia me contentar com baladas meia-boca.
Logo que entrei, fui direto para o bar, é claro. Open Bar é o melhor tipo de balada. Enquanto esperava o bartender colocar uma tequila shot para mim, Lady Gaga começou a tocar. Born This Way é a minha música.
Rebolei ainda sentada na banqueta do bar, batucando com os dedos na bancada. Vi algumas bichas soltando a franga e rebolando, aproveitando o som da diva.
Assim que minha dose chegou, coloquei o sal na boca, virei o copo e chupei o limão. Antes mesmo que a bebida terminasse de descer, corri para a pista de dança.
Levantei os braços e comecei a rebolar pra valer, seguindo o ritmo da música, descendo e subindo o quadril. Comecei a fazer movimentos engraçados com as mãos, enquadrando meu rosto e fazendo biquinho, rindo junto com algumas bibas que gostaram de mim. Bati o quadril junto com uma bicha, que usava purpurina em todos os lugares (não duvido que haja purpurina naquele lugar que não bate sol também).
De repente, senti duas mãos firmes em minhas costas. Virei para trás sorrindo e me deparei com um par de olhos verdes encantadores.
— Não pude deixar de vir aqui após ficar hipnotizado pelo seu rebolado.
Disse no exato momento que a música acabou, sussurrando em meu ouvido, envolvendo minha cintura com força. Observei-o por alguns segundos, quando uma nova música começou a tocar.
Assim que o ritmo da música contagiou nossos corpos, passei os braços ao redor de seu pescoço e começamos a nos movimentar ao mesmo tempo, eu rebolando lentamente somente para provocar.
O homem que me envolvia era maravilhoso. Cabelos castanhos desarrumados, barba rala, lábios cheios e dentes alinhados. Era mais alto do que eu (e eu estava usando um salto de 11 cm.), cheirava Azzaro e usava uma camisa social azul da Ralph Lauren.
Sorri e mordi seu maxilar de leve, sentindo a barba rala pinicar meus lábios. Encostei minha testa na sua com dificuldade e comecei a esfregar meu corpo contra o dele de leve, rebolando e descendo minhas mãos por seus ombros, até chegar nos cotovelos.
— Qual o seu nome?
Inclinei meu tronco para trás, de modo que eu pendesse minha cabeça para trás, porém nossos quadris colados. Ele aproveitou e beijou meu pescoço, mordendo o mesmo de leve e provocando-me alguns arrepios.
Voltei com meu corpo para frente, meus dedos apertando sua nuca com força.
— Amber – menti. – E o seu?
— Joseph.
Não demonstrei nenhuma emoção, somente soltei suas mãos de mim e virei de costas. sempre disse que minha bunda é enorme (apesar de eu não concordar, ainda a acho normal), então me aproveitei disso e rebolei esfregando-a contra ele. Vadia, eu sei. Mas qual é, nem meu nome ele sabe!
Puxei meus cabelos por cima do ombro esquerdo, deixando meu pescoço visível. Enquanto rebolava, pude perceber que ele parecia concordar com , uma vez que eu podia sentir sua animação e satisfação com o jeito que movimentava minha comissão traseira.
Suas mãos apertavam-me com tal força que não havia dúvidas de que ele me queria. A música já chegava ao final e eu estava pronta para puxá-lo para um canto e mostrar quem é que manda, mas o inesperado aconteceu.
Mesmo com todo o calor que sua presença proporcionava ao meu corpo, esfriei rapidamente com aquela visão. Joseph mal percebeu que eu havia parado de rebolar, continuava a me encoxar loucamente.
Do outro lado da pista de dança estava o cara do Burger King.
’s POV.
— Espero que você não se incomode com o jogo passando na TV ali. – Chuck puxou a cadeira para que eu me sentasse e acomodou-se do outro lado. Não ia me importar nem com um terremoto passando se você ficar aqui.
— Imagina... Até torço pelos Giants de vez em quando. – Sorri brincalhona.
— Está certo... Então me conte, por que uma mulher como você trabalha no Starbucks? Quer dizer... Você não está formada em nada e etc? – Chuck apoiou o rosto na mão e esperou atenciosamente minha resposta.
Ele parecia tão... Gostoso, nesse exato momento.
Contei para ele basicamente a verdade. Que era brasileira – ele fez uma cara de safado nessa hora, você deve imaginar o porquê –, que havia vindo morar aqui com fazia um tempão, tinha me formado em psicologia, mas nunca tinha seguido em frente na carreira com um trabalho. Ele também me contou que era inglês nascido no interior da Inglaterra – falou até a cidade, mas eu já estava ocupada demais babando para registrar. Alugava o apartamento para outro cara também, mas esse não passava muito tempo na casa, apesar de “ser um cara legal”, e somente ajudava a pagar as contas.
Contas. Nota para mim mesma: Pagar o aluguel urgente.
Nota dois: Arranjar grana para pagar o aluguel urgente.
Enfim, nós conversamos basicamente sobre tudo existente. Desde sobre como minha amizade com começara até quando o pai dele tinha colocado um peixe recém-pescado dentro na própria cueca. De propósito. Não. Você não quer saber essa história.
Já estávamos na sobremesa – um creme de papaia –, quando meu joelho roçou, pela quintalhésima vez, no de Chuck. Mas houve alguma coisa diferente agora. Lembrem-se que sou muito romântica, mas senti que meu coração acelerou drasticamente quando encontrei os olhos penetrantes dele me fitando. Enrolei umas mechas com meus dedos e senti a aproximação dele em relação ao meu rosto. Suas mãos foram parar perto de minha coxa e estávamos tão perto que conseguia sentir a sua respiração, quando o filho da puta de um garçom parou em nossa mesa com um copo cheio de um líquido rosa.
— O cavalheiro que estava no bar mandou para você, senhorita.
Sorri constrangida pelo momento que interrompera, recebi o drinque, mas Chuck foi um pouco mais rápido em responder:
— Ela está acompanhada, avise-o. – Sua voz foi tão sedutora como irritada. Colocou as mãos sobre as minhas em cima da mesa e ergueu a sobrancelha para o garçom encabulado.
Esse cara deve odiar o trabalho.
— Sim, senhor, já falei o mesmo. Mas o homem insiste, dizendo que vocês devem ser amigos ou parentes.
Que Deus me perdoe, mas se fosse parente dele, já teria cometido incesto há muito tempo.
A risada de Chuck foi irônica e logo seu riso cessou em um silêncio tenso. Dividiu seu olhar entre mim e o garçom.
— De esse recado para o cara e cobre o dobro dessa bebida.
Seus lábios encostaram-se ao meu docemente, apesar dele não ter implorado por passagem, deixei-me ser consumida por sua língua se movimentando com a minha. Passei as mãos ao redor de seu pescoço e o puxei-o para mim. O beijo começou a ficar um pouco mais atrevido quando senti que minha empolgação – e a dele, diga-se de passagem – estavam crescendo. Parei o beijo calmamente quando me lembrei do pobre coitado garçom parado ao nosso lado.
Chuck sorriu satisfeito para o garçom — que provavelmente pensava se deveria se matar ou só pedir a demissão imediata dali – e jogou duas notas de cinquenta sobre a mesa, levantou-se e puxou-me gentilmente pela mão. Segui-o para fora de lá e assim que saímos, gargalhamos. Andadas algumas quadras, Chuck me puxou pela cintura enquanto o farol se mantinha fechado e falou com um sorriso tímido:
— Desculpe pelo que fiz.
Desculpas? Por ser gostoso e ter me beijado? Pode fazer quantas vezes quiser.
Lembrei-me de estar sorrindo como retardada para ele.
— Se tivesse sido ruim, você teria do que se desculpar.
Ele deu-me um selinho que quase se transformou em um beijo quando segurei seu rosto grudado ao meu, mas o farol para que passássemos se abriu e voltamos a andar calmamente pelas ruas.
Chuck seguiu por alguns espaços até que eu parei bruscamente, fazendo-o me encarar.
— Você esqueceu seu carro.
— Não, amanhã eu pego. Meu apartamento é aqui do lado. A não ser que queira ir para casa agora; quer dizer, é meia noite só. – Deu de ombros.
Assenti como quem não se importava. O prédio dele era um chique clichê de filmes. O hall de entrada claro e o elevador devagar o suficiente para um silêncio se instalar entre nós. Ele morava no 36B – achei útil lembrar disso. O apartamento não era muito grande, mas, nem de longe, apertado. Chuck jogou seu casaco sobre o sofá e esticou a mão para que eu tirasse o meu e o entregasse. Dei alguns passos pela casa até a cozinha para checar se ele era pelo menos alguém higiênico.
Senhoras e senhores, Chuck tem a casa arrumada.
— O que você tanto vê? – Ele se aproximou por trás de mim e abraçou minha cintura, apoiando o queixo em meu ombro.
— Vendo se sua casa é higiênica. – Sorri, virando-me para ele calmamente.
— Bom, não consigo esconder o fato de que, na verdade, não sou nem um pouco organizado aqui em casa – respondeu, cercando-me com os braços contra a bancada.
— Eu sei. Vi os pratos sujos dentro do forno – murmurei, aproximando meus lábios de seu pescoço. Chuck arrepiou-se.
Beijei seu pescoço calmamente enquanto ele puxava-me mais perto que ele. Já não havia espaço entre nossos corpos e a sensação era maravilhosa. Chuck parou meus beijos e inclinou minha cabeça para trás, começando a beijar desde meus ombros até o decote do vestido. Fiz com que ele andasse até o sofá enquanto deliciava seus lábios com mordidas, e derrubei-o sobre este. Passei cada perna de um lado e observei o olhar excitado e penetrante dele sobre mim.
— Charles é um nome muito sensual – comentei em um sussurro. Chuck riu baixinho com o comentário, mas não respondeu nada.
Suas mãos voaram de minha cintura para minhas coxas. Subiu a barra de meu vestido até minha cintura e apertou minha bunda com vontade. Comecei a sentir seu membro entre minhas pernas e passei a mão por ali por pura provocação. Usei habilmente a distração dele com minha bunda para abrir sua camisa e finquei minhas unhas sobre seu peitoral – bem mais definido do que imaginei. Chuck me segurou pelas pernas e levantou do sofá, deitando-se neste novamente, comigo por baixo. Suas mãos caçaram pelo fecho de meu vestido e quando abriu, deslizou-o até minha cintura, deixando a mostra meus seios protegidos pelo sutiã vermelho de algumas rendas.
Beijou novamente meus lábios e dessa vez passei minha perna ao redor de sua cintura, puxando-o mais para mim. Estava com tesão só nas preliminares e ele também, aliás. Inverti as posições rapidamente. Odeio ficar embaixo. Senti a respiração ofegante de Chuck sobre meus seios enquanto os beijava, ainda sobre o sutiã, e suas mãos vasculharam por um feixe. Parei-o calmamente e apontei para o círculo – que mais parecia enfeite — na parte da frente do sutiã e estava pronta para soltá-lo...
Quando meu celular tocou.
’s POV.
Sinceramente, eu nasci pra me fuder. Sério. SÉRIO.
Desesperada, sorri para Joseph e disse que precisava ir ao banheiro. Saí correndo antes que ele pudesse reclamar ou pedir meu celular. Cheguei ao guarda-volumes e peguei minha bolsa, levando-a comigo para o banheiro. Assim que me enfiei dentro do mesmo, tranquei a porta de um reservado, saquei o celular e coloquei na discagem rápida.
— Atende, porra! – gritei para o celular.
— O que você quer, filha da puta? Só você pode dar agora? – resmungou.
— Ah, cala a boca, sua palerma... PERAÍ. VOCÊ TÁ DANDO PRO CARA GOSTOSO DO STARBUCKS QUE EU ESQUECI O NOME? – gritei. Algumas meninas que estavam no banheiro começaram a rir.
— PORRA, . Não me deixa surda, sua louca.
Fechei a tampa da privada e sentei sobre ela.
— Vai se fuder, vadia! Não acredito que acabei com a sua foda! AH, QUE MERDA. Desculpa, desculpa, desculpa, mil vezes desculpa.
provavelmente estava revirando os olhos agora.
— Fala logo o que você quer.
— PUTA MERDA, É MESMO! – gritei ao lembrar-me do detalhe cara-do-burger-king-na-mesma-balada-que-eu. – Advinha quem eu encontrei aqui?
— Sei lá, a Lady Gaga?
— Não, bobinha, ela não frequenta clubes assim, né.
Juro que a vi batendo a mão na testa.
— Sei lá, porra, fala logo.
— O cara do Burger King! Lembra?
— O Tyler?
Franzi a testa.
— Que Tyler? Eu to falando do cara do Burger King!
— Então, o Tyler, sua anta! – bufou.
— Quem diabos é Tyler? O que ele tem a ver com o cara do Burger King? Volta pro assunto inicial!
— Porra, eu sou a loira e você que é burra. Tyler é o nome do cara do Burger King! Você que pegou ele e eu quem sei o nome? Agora sim estou me sentindo solteirona.
— AH É! – Fiquei feliz ao lembrar o nome dele. Agora poderia parar de chamá-lo de cara do Burger King.
provavelmente estava batendo a cabeça contra a parede.
— De qualquer jeito, eu estava me agarrando com um cara super hiper mega ultra gostoso, chamado Jonas. Quer dizer, acho que era esse o nome dele. Enfim. Nós estávamos nos agarrando quando eu vi o Thomas!
— Tyler!
— Tanto faz! Eu o vi e saí correndo, uma vez que eu sumi aquele dia, né, sei lá, fiquei com vergonha.
— , me responde uma coisinha, por favor?
— Claro, amiga.
— Você bebeu fora do normal? Comeu alguma bala suspeita? Inalou algo tóxico?
Parei para pensar.
— Não que eu saiba. Tomei somente uma dose de tequila, pra falar a verdade.
Ouvi suspirar do outro lado da linha.
— Então por que está agindo feito idiota? Alguma vez em sua vida entrou em pânico por causa de algum homem?
Novamente, tive que parar para pensar. Acho que ela estava se referindo a minha vida depois da faculdade.
— Acho que não.
— Então por que raios você está trancada dentro do banheiro da balada, escondida, me contando isso e interrompendo meu sexo?
Mas que merda, ela tinha razão.
— Você tem razão! Obrigada, , eu sabia que você tinha a resposta para esse problema! Te amo, loira.
Pude ouvi-la resmungar um “tá, sei, vai se fuder”.
— Ah, ?
— Que foi, porra? – ela resmungou com seu adorável humor.
— Dica de amiga: Saí daí usando somente calcinha e sutiã e arrase amiga. Bota pra quebrar. Não se esquece da camisinha. Beijinhos.
— , VAI SE...
Desliguei o telefone rindo.
Sai do reservado com alguns olhares escrotos sobre mim, arrumei os cabelos, repassei a maquiagem e saí de lá com a certeza de que iria botar pra quebrar, assim como havia aconselhado .
Mal sabia eu o que me esperava fora daquele banheiro.
’s POV.
Olhei fixamente para o celular após desligar em minha cara e a amaldiçoei algumas vezes. Aquela vaca ordinária... Ela é tão... Ela. Argh.
Olhei-me no espelho. Meu batom estava totalmente borrado, meus lábios vermelhos e sentia-os começaram a inchar de tanta ação. Meu Deus, Charles é quente. Muito. Arrumei meus seios no sutiã e pensei no que falara. Sair de lá só de calcinha e sutiã não seria exata má idéia... Joguei o vestido em cima da pia e respirei fundo antes de abrir a porta.
— MAS QUE PORRA É ESSA? – um cara gritou ao me ver.
Chuck estava no sofá, a cabeça apoiada nas mãos quase como se não acreditasse no cara lá. Julguei que aquele fosse seu colega de apartamento. Usava uma jeans caída, blusa preta escrita: “The Beatles” e uma jaqueta de couro por cima de tudo. Ele me olhava arregalado.
Ok, . Duas a uma: ou você age normalmente ou você corre.
Calculei o tempo que daria se tivesse que correr de volta ao banheiro, agarrar minha bolsa, vestido e sair só de roupa íntima do apartamento de Chuck. Seriam uns vinte segundos de pura adrenalina broxante. Suspirei lentamente e andei até o cara.
Chuck olhou-me meio dividido se deveria ajudar-me ou admirar meu corpo. Ele fez a segunda parte.
Apertei a mão do cara desconhecido, apresentei-me como e ele como Marcus. Sorri simpática e sentei-me sobre o colo de Chuck, que me recebeu meio surpreso.
— Você está de... Bom. Acho que sabe.
— Sei... Charles e eu estamos em um encontro.
— Charles? Ninguém o chama de Charles...
Chuck olhou fixamente para Marcus durante alguns segundos e o amigo piscou, entendendo a situação.
— Hãn, é. Vejo você por aí, . Até depois – falou meio gago e puxou a chave da casa com ele, batendo a porta do apartamento logo em seguida.
Chuck riu abertamente e dei-lhe um tapa no peitoral.
— Ele vai achar que sou uma prostituta! – choraminguei.
— A prostituta mais linda que ele já viu, então.
Chuck se inclinou para trás e deitei meu rosto em seu ombro, sentindo suas mãos segurarem firmemente minha cintura. Ele riu novamente com a situação e não me contive o suficiente para não rir também. Passou umas das mãos por baixo de meus joelhos e levantou do sofá comigo no colo, andou até o corredor que levava a dois quartos e o banheiro, chutou uma porta e entrou. Fui pousada na cama sentada e logo recebi beijos leves nos lábios.
Ele estava inclinado sobre mim e me beijando. Rapidamente passei o olhar pela cama e percebi que era de casal. Fui para trás e apoiei-me sobre os cotovelos quando ele já estava praticamente sobre meu corpo. Beijei o começo sua barriga, passando a língua no tanque bem definido dele e arranhando-o nas costas. O vestido obviamente não era mais um obstáculo, então as suas mãos foram diretamente para minha bunda e a apertaram.
Empurrei-o de cima de mim e, como no sofá, coloquei uma perna de cada lado. Beijei lentamente sua barriga e passei a mão novamente por seu membro, Chuck suspirou de excitação e olhei-o com uma sobrancelha erguida. Apontei para meu sutiã novamente e brinquei com minhas alças, deixando-as meio caídas, apertei um seio contra o outro e pisquei para ele. Afinal, eu sabia que meus seios eram minha principal arma no jogo.
Chuck tentou aproximar-se, erguendo um pouco do tronco, mas o empurrei para trás novamente. Passei as mãos por toda sua barriga e me livrei de seu cinto rapidamente. Burro nem nada, Chuck ajudou-me a tirar sua jeans e logo voltou a beijar vorazmente meus lábios. Usou as mãos para se aproximar do feixe na frente do sutiã e eu o empurrei novamente. Dessa vez, afastei-me um pouco dele – sentando em suas coxas - e fiz um sinal com o indicador para que ele se aproximasse. Obediente, ele veio com o olhar vidrado no sutiã. Sentou-se comigo em seu colo e abriu o botão para libertar meus seios. Chuck sorriu abertamente para mim e começou a beijá-los com toda sua vontade reprimida. Soltei a cabeça para trás e me deliciei. Sugava, lambia-os, até coisas que nem nome sei dar, ele fez. Quando senti que estava bastante de diversão para mim mesma, deitei-o novamente na cama.
Desci com beijos por seu corpo até chegar a boxer com volume avantajado. Vamos concordar que nosso Chuck Norris, era dotado. Muito bem dotado, por sinal.
Ele estava enlouquecendo de tesão quando o masturbei com somente uma mão, lentamente, passando o dedão pela glande vez ou outra. Apoiei-me em suas coxas, pronta para usar a boca, mas fui empurrada para o lado. Senti suas mãos apertarem bruscamente meus seios e sua língua os contornarem, Chuck desceu os beijos pela minha barriga e tirou minha calcinha lentamente. Alcancei uma camisinha que estava por perto e vesti-o. Ajeitou-se sobre mim calmamente.
Seu membro ameaçou entrar em mim e Chuck me beijou em todo pescoço. Eu estava quase implorando por sua penetração, quando ele começou encaixando somente a glande dentro de mim, e saiu novamente. Isso ocorreu algumas vezes, até que eu estava prestes a simplesmente enlouquecer. Então passei as pernas sobre sua cintura e o puxei com elas para dentro de mim.
Chuck gemeu junto comigo e nossa movimentação foi calma por alguns momentos, enquanto ainda aproveitávamos a sensação. Agarrei os cabelos dele e sussurrei em sua orelha:
— Mais forte!
Ele sugou meu lábio inferior e investiu com força. Nós nos movíamos em sincronia. Troquei a posição um tempo depois para que ficasse em cima dele. Chuck pareceu aprovar, uma vez que tinha visão privilegiada de meus seios. Joguei os cabelos para trás – afastando aqueles que grudavam no suor da testa -, apoiei as mãos em seu peitoral e comecei a subir e descer lentamente em seu membro, rebolando de leve em espiral, somente para provocar.
disse que homens adoram um belo rebolado.
Chuck segurou em minha cintura com força e começou a forçar seu quadril para cima, investindo com força em mim. Sua penetração era constantemente forte e nossas bocas soltavam sussurros sensuais e suspiros de prazer. Conseguia sentir a respiração irregular de Chuck, que provavelmente, como eu, estava sentindo o ápice chegar. Meu corpo inteiro tremia e estava incrivelmente quente. Como me lembrava, a onda de prazer avassaladora tomou conta de meu corpo, fazendo-me perder o foco e a razão, soltando um gemido alto e manhoso. Contraí meu corpo inteiro, aproveitando a deliciosa sensação que durou apenas segundos, mas foi o suficiente. Era meu primeiro orgasmo em três meses. E possivelmente o melhor que já tive. Alguns segundos depois Chuck me acompanhou, travando seu corpo e urrando baixo em prazer, gozando dentro da camisinha. Beijamo-nos com vontade mais algum tempo, até que me deitei ao lado dele, apoiando a cabeça em seu peitoral. Chuck livrou-se cuidadosamente da camisinha, não querendo correr o risco de algo dar errado, enquanto eu me recompunha, limpando a testa suada.
Assim que ele voltou do banheiro, aninhamo-nos juntos na cama. Ele acariciava minhas costas com a ponta dos dedos e trocávamos alguns beijos uma vez ou outra. Estabilizamos nossa respiração e batimentos cardíacos, e conversamos por mais meia hora. Deitei-me de lado e ficamos em um tipo de conchinha.
A última coisa que lembro é de Chuck ter beijado meu pescoço e murmurado “boa noite”.
’s POV.
Uma música desconhecida estava tocando quando terminei de recolocar minha bolsa no guarda-volumes. Jake estava no bar, de costas, conversando com o barman e bebendo um Martini Seco. Ajeitei meus seios dentro do vestido, empinei a bunda e saí rebolando pela lateral da pista em direção ao bar, decidida a aproveitar minha noite e esquecer o cara do Burger King, o Tyson. Ou seja lá qual for o nome dele.
— Porra! – exclamou um ser não identificado que esbarrou em mim, quase me fazendo cair.
Olhei para frente e vi o bêbado que havia esbarrado em mim olhar para sua camisa branca, agora molhada de Vodka. Seu sorriso sumiu e ele me olhou bravo.
— Ei, idiota, olha por onde anda!
— Ah, desculpa pela camisa, mas não foi culpa minha — comentei, revirando os olhos, tentando manter a calma.
O bêbado (que não era bonito, aliás, usava uma barba enorme, tinha uma verruga acima da sobrancelha esquerda e aparentemente barriga de chopp) olhou-me de cima a baixo e sorriu.
— Tudo bem, gatinha, vou te perdoar só porque você é gostosa. Talvez com um beijinho eu esqueça tudo isso.
Como é que é?
— Escuta aqui, seu babaca, quem você acha que é...
— Algum problema aqui?
Olhei para o lado, realmente puta por ter sido interrompida e deparei-me com o cara do Burger King, o Tom.
— Nenhum, a gatinha aqui só está um pouquinho nervosa — comentou o bêbado, rindo.
Senti o sangue ferver sob minha pele.
— Você ainda não me viu nervosa, seu filho de uma...
— Querida — Timothy me interrompeu. — Vejo que foi somente um mal entendido, vamos embora.
— Eu não vou embora porra nenhuma...
Antes que eu pudesse reclamar, Thomas – ou era Tyson? - pegou-me pelo braço e saiu me arrastando dali. Continuei xingando o maldito bêbado durante o trajeto inteiro, tentando me livrar de suas mãos, mas, cara, ele era realmente forte!
Quando vi, estávamos numa saída de emergência estranha, perto de uma escada de incêndio. Olhei para os lados, coloquei as mãos na cintura e bufei.
— O que você quer, Teddy?
Ele me olhou confuso.
— Tyson?
Percebi que ele comprimiu os lábios, tentando não rir.
— Droga, qual era mesmo o nome que a disse?
Soltando uma risada de leve, ele respondeu com a voz grossa e sensual.
—Tyler. Vejo que não tem boa memória, .
Revirei os olhos. Claro que ele lembrava o meu nome. Todos lembravam.
— Tanto faz, Tyson. O negócio é que você estragou minha noite, tá legal? Estava tudo indo muito bem com o Jacob, até que você apareceu. Era pra eu nunca mais ver você, aliás, ficamos no Burger King!
Tyson continuou quieto, somente escutando, os lábios comprimidos e o olhar divertido. Ele estava praticamente rindo da minha cara!
— A encontrou o inglês gostosão dela e foi ter a droga de um encontro de verdade. Eu tive que vir pra balada, pra poder esquecer de tudo e conseguir uma boa noite de sexo, mas aí eu te encontrei e surtei do nada!
Continuei falando, fazendo gestos com as mãos.
— E quer saber? Eu estou muito puta! Porque eu acabei com o sexo da minha amiga e, poxa, ela nunca dá! Bem que eu sempre tento arranjar uma noite de prazer pra ela, mas é muito sentimental. O problema é que eu sou uma vaca insensível, que surtou por motivos idiotas, porque homem nenhum me assusta ou me deixa em pânico, e que acabou com o sexo da amiga e agora estou falando tudo isso pro cara do Burger King! — Bufei alto, passando as mãos pelos cabelos. — Aliás, qual é o seu nome mesmo?
— Tyler - ele comentou, rindo baixo.
— Entende o meu problema, Tyler? Nada dá certo para mim, que ódio. Bem que eu deveria ter ficado com casa com os meus pais, mas não, eu tinha que inventar...
Não consegui continuar. Meus lábios foram calados pelos lábios de Tyler, que me empurrou bruscamente contra a parede, mas eu mal liguei para a suposta dor. Os segundos de surpresa após aquele beijo roubado passaram rapidamente, e eu correspondi o beijo. Levei meus dedos para sua nuca e a arranhei de leve. Tyler apertou minha cintura com força e sugou meu lábio inferior, fazendo-me arrepiar.
Segundos depois, ele se afastou delicadamente de mim, ajeitando minha franja com uma de suas mãos, sorrindo de canto.
— Sabe, , você ainda pode conseguir uma boa noite de sexo.
Abri um sorriso malicioso, adorando a idéia. Tyler apertou minha cintura com força, puxando-me para ele e pressionando nossos corpos, fazendo um calor delicioso subir por meu corpo. Afastou meus cabelos gentilmente e sussurrou em meu ouvido com sua voz rouca extremamente sedutora:
— Vou te fazer gemer meu nome tão alto que você nunca mais vai esquecer ele outra vez.
Depois disso, não tive dúvidas. Sorri aprovando e logo em seguida estávamos de volta no salão, atravessando a pista de dança como foguetes, prontos para irmos para casa. Peguei minha bolsa no guarda-volumes, correndo, enquanto Tyson ia chamar o táxi.
Saí colocando meu casaco, louca para saber do que Timothy era capaz.
Quando o avistei, alguns metros à frente, esperando, encostado em um táxi por mim, ouvi alguém gritar:
— Amber!
Ignorei, porque, evidentemente, não era comigo. Então continuei andando até Tyler, mas o grito continuava.
— Amber! Amber!
Assim que cheguei perto de Tyler, senti uma mão em meu braço.
— Amber, estou te chamando!
Disse o cara com quem eu havia me esfregado na pista de dança.
Amber? Quem diabos é Amber? AH É!
— Ah, é. Eu sou Amber. — Sorri maliciosa e cutuquei Tyler com o meu cotovelo, piscando de um jeito malandro. — Meu nome é Amber.
Jerry, ou seja lá qual era o nome do cara gostoso, olhou-me confuso.
— Fiquei te esperando por um bom tempo no bar, você nunca voltou. Fiz alguma coisa de errado, Amber?
Sorri de lado, realmente sentindo pena dele. Thomas também sorria, segurando o riso.
— Olha, Joel — falei, colocando minha mão em seu ombro.
— Meu nome é Joseph.
— Tanto faz. Realmente sinto muito. Mas você não é o primeiro que eu deixo esperando.
Pisquei e, antes que ele falasse qualquer coisa, entrei no táxi, seguida por Teddy.
Assim que a porta se fechou, falei o endereço de meu apartamento e de . Ela provavelmente estava dando para o Cory no apartamento dele mesmo, não acho que ela vá se importar.
Minha cabeça pediu por mais um tempo para acordar. Abri os olhos devagar e encontrei Chuck dormindo calmamente ao meu lado. Passei os dedos sobre seu peitoral e beijei seu ombro carinhosamente.
— Você está me encarando – Charles murmurou de repente.
— Mais ou menos.
Chuck riu e puxou-me para um beijo suave e delicado.
— Você não tem que trabalhar hoje, não é? – perguntou, olhando o relógio digital sobre o criado-mudo. – Porque são dez e meia, minha vontade de levantar é zero e não pretendo me despedir de você agora.
— Sexta feira eu não trabalho. E você? – Sentei-me na cama, mais acordada agora.
— A empresa é praticamente minha, só estou cuidando dessa filial para meu pai. Não preciso exatamente ir trabalhar.
— Você não havia me contado isso antes. Quer dizer, as Beway são empresas grandes, né não?
Chuck sorriu em resposta e assentiu levemente, mas fez um sinal com a mão para que eu esquecesse o assunto. Dei ombros e deitei com a cabeça em seu peitoral novamente. Ele acariciou meu cabelo e beijou minha testa algumas vezes. Cara. Ele é muito fofo.
Se não fosse por ontem, sua fofura seria até meio gay. E ele definitivamente não é gay.
Senti minha barriga se comprimir em uma sensação gostosa do arrepio que Chuck provocara no meu pescoço. Puxei o lençol junto de mim quando levantei da cama repentinamente, e rebolei até o banheiro. Sorri para Chuck deitado na cama, só de boxer preta e o chamei com o dedo indicador.
— Hora do banho – expliquei, piscando e soltando o lençol no chão.
Não deu nem tempo para que eu ligasse o chuveiro, quando uma mão pegou em minha cintura e a apertou fortemente. Ele colocou as pontas dos dedos nas laterais de minha calcinha, querendo se livrar rapidamente dela. Eu pulei nele antes que conseguisse e o beijei vorazmente, deliciando todo o contorno saboroso de seus lábios e arranhando as suas costas. Chuck me segurava firmemente pela bunda com uma mão e suas pernas andaram quase como se fosse seu próprio peso ali. Comecei a beijar seus ombros fortes e tensos – provavelmente pelo trabalho.
Senti meus pés encostarem-se à tampa da privada e a chutei para baixo, me soltando lentamente de Chuck para deixá-lo confortável. Ajoelhei-me, meus seios eriçados roçando em seu peitoral conforme eu deslizava lentamente para baixo, fazendo-o ofegar; Passei as mãos por tudo e desenhei com as unhas os músculos de suas costas, ao mesmo tempo em que agora beijava sua barriga de leve. A excitação dele estava pulsante e resolvi tratá-lo como fui tratada na noite anterior.
Chuck percebeu minha intenção, entranhando seus dedos em meus cabelos enquanto arfava alto. Arranquei sua cueca habilmente, a qual ele chutou para longe, e comecei a masturbá-lo imediatamente. Com a mão direita fazia movimentos rápidos e acariciava a glande algumas vezes com o dedão, minha mão esquerda apertando sua coxa com força, enquanto eu o observava fechar os olhos e gemer baixinho. Beijei-o sedutoramente nos lábios de leve antes de descer meus lábios até seu membro, absurdamente ereto, ainda em minha mão. Usando toda a minha vontade e habilidade adquirida pelo tempo, segurei a base de seu membro com uma mão, subindo e descendo minha mão até a metade do membro, então desci beijos por toda a extensão dele lentamente, lambendo logo em seguida o caminho de volta. Suguei sua glande, deixando minha saliva escorrer por ela e facilitando o trabalho assim. Soltei ambas as mãos e segurei em suas coxas, engolindo aquele membro realmente grande de uma vez, agora indo e voltando nele. Ele segurava meus cabelos com força e gemia roucamente, forçando o quadril para frente, fazendo-me engolir seu membro por inteiro, várias vezes, quase engasgando. Quando senti seu membro começar a latejar, Chuck puxou-me para ficar de pé novamente, pegando-me em seu colo novamente. Vi uma chama de prazer e loucura em seus olhos claros, que me deixou louca.
A porta do box se abriu e uma água quente entrou entre nosso beijo. Chuck atacou com as mãos, voando direto para meus seios arrepiados e beijando-os em seguida. A água parecia aumentar o tesão do momento umas mil vezes. Enquanto me sugava, uma de suas mãos entrou por dentro de minha calcinha e ele me estimulou com os dedos lentamente. Eu estava para implorar por alguma ação de verdade – se você me entende –, quando Chuck também não pareceu estar aguentando muito mais.
Fiz o favor de apressar o processo e tirei minha calcinha, enquanto ele saiu do box para vestir seu membro agilmente com uma camisinha, e logo me puxou para perto pela cintura. Antes de quaisquer movimentos, nossos rostos ficaram a milímetros de distância e os olhares se encontraram e, por um segundo, tive certeza que ele estava tão “ali” quanto eu. Seu membro entrou com um movimento só de sua pélvis e ele gemeu ao mesmo tempo em que eu. Era quase um alívio tê-lo dentro de mim depois de tanta excitação.
Nossos corpos se moviam sincronizados e Chuck aumentava sua força a cada investida. Os sussurros eram contínuos e nada era mais excitante para mim do que dizer em minha orelha como eu era linda. Clichê? Talvez. Seduzente? Com certeza. Ele me beijava e apertava meus seios enquanto meus dedos arranhavam suas costas e minha língua saboreava cada canto daquela maldita boca deliciosa. Apoiei minhas mãos em seus ombros e os apertei, dando um sinal do que eu gostaria de fazer.
Chuck entendeu o recado e me deu o impulso pegando em minha bunda, cerquei sua cintura com as pernas e antes de ele que conseguisse investir de novo, berrei:
— Ai caralho! Janela filha da puta! Minha cabeça, sua corna!
A risada de Chuck inundou o banheiro e corei até os dedos do pé. Ele tirou uma das mãos de minha bunda e colocou sobre minha cabeça antes de me beijar novamente nos lábios. Ainda estava meio desconcentrada com a dor e com a vergonha que tinha acabado de passar, mas senti o membro intacto de Chuck entre minhas coxas, e decidi que iria mostrar como se era feito com . Ajudei durante as investidas, rebolei sobre seu mastro incrivelmente potente e fiz com que ele gemesse meu nome alto, pelo menos umas três vezes, como se implorasse por mais.
Chuck ficou bambo nas pernas e percebi aonde tinha chego com ele. Era um orgasmo. E vê-lo se contrair inteiro dentro de mim, e sua cabeça pender para trás de prazer, me levou ao mesmo ápice, não digo que tive um orgasmo, mas foi algo bem próximo. Ambos gozamos e nos beijamos ferozmente por mais um tempo. Com certeza, Chuck Norris estava sendo promovido ao segundo melhor sexo que eu já tinha feito. O primeiro não vem ao caso agora.
Soltei-me de sua cintura e senti minhas pernas tremerem pela nova posição repentina. Coloquei a cabeça debaixo da água enquanto Chuck se livrava da camisinha. Virei de frente para a parede azulejada em tons de verde meio escuro e suspirei prazerosamente por um segundo rápido. Esfreguei o rosto e senti as mãos dele puxarem minha cintura contra ele. Vamos dizer que ele não tinha exatamente se livrado de seu volume e a sensação foi ótima de saber que eu ainda o excitava. Apoiei a cabeça no peitoral dele e olhei para aqueles olhos azuis cheios de ternura que me encaravam calmamente. Olhei um pouco mais além dele e vi onde tinha batido a cabeça. No puxador da janela.
Soltei uma risada instantânea e ao perceber do que eu ria, Chuck me acompanhou. Dei dois passos para frente e puxei-o para debaixo da água comigo. Tirei a água de seu rosto e o beijei lentamente. As pontas de seus dedos traçavam alguma coisa aleatória na minha coluna, que me dava arrepios a cada minuto. Aninhei-me em braços antes de despejar xampu em minhas mãos e lavar todo o comprimento de meu cabelo. Ele observava atentamente eu tomar banho, até que aproximei meu corpo ensopado com a espuma do sabão nele e acabei fazendo com que ele tomasse seu banho também. Trocávamos algumas palavras. Geralmente alguma iniciativa dele de como dizer que era linda ou derivados. Saímos de lá juntos e enrolei a toalha em minha volta, andando até o quarto calmamente.
Estava observando o quadro acima da cama dele, que eu não havia reparado a existência, quando Chuck me jogou em cima da cama e pulou sobre mim, enchendo meu rosto de beijos e, por fim, meus próprios lábios. Eu ri e bati inutilmente naqueles ombros do dobro de meu tamanho. Rolei-o para o lado e cacei minhas roupas jogadas pelo quarto.
— Ei, como você vai ficar sem a calcinha? – Chuck perguntou esfregando os olhos cansados.
Sorri sarcasticamente para ele e alcancei na minha bolsa a calcinha extra que tinha certeza que colocaria lá. Ele gargalhou e assentiu, aceitando a derrota.
— colocou-a ali. Ela sempre tem esses kits de sexo nas bolsas e acha que eu sempre preciso de um também.
— Se fosse por mim, você precisaria de um destes todo o dia.
Sorri para ele meio envergonhada. Vesti a calcinha e o vestido, calmamente, enquanto Chuck mantinha seu olhar fixo em mim. Irritei-me um pouco e perguntei:
— Por você me encara toda hora?
— Estou te admirando, . – Ele deu ombros.
— É meio tenso você ficar fazendo isso, sabia? – Franzi a testa, rindo baixinho.
— Não foi você que me acordou fazendo isso? – Ergueu a sobrancelha para mim.
Droga. Odeio estar errada.
Dei de ombros e coloquei a bolsa neste, indo até o banheiro para caçar minha calcinha e a coloquei dentro de um saco plástico que encontrei, e voltei para o quarto, que incrivelmente teve sua cama arrumada nesse meio tempo.
— Quanto tempo eu fiquei procurando minha calcinha? – Zombei.
Chuck soltou uma risada e me ajudou a achar meus sapatos. Quando terminei de colocá-los, ele me puxou para perto novamente e sussurrou:
— Podemos começar a te despir de novo?
— Tenho que voltar. deve estar bêbada com qualquer um lá e não tenho a mínima vontade de vê-la xingando o cara por não lembrar-se dele. Acredite, ela já fez isso. – Sacudi a cabeça em sinal de desapontamento e Chuck sorriu tristemente.
Puxou-me pela mão até a porta de casa e então percebi que ele estava somente de toalha presa na cintura. Ele abriu a porta e apertou algum botão no interfone, em seguida pedindo para um senhor Malcom chamar um táxi, supostamente do prédio, e Chuck avisou que pagaria mais tarde.
Beijei seus lábios levemente e agradeci pelo encontro e pela noite. Chuck sorriu, mas havia algo que o incomodava. Ou pelo menos eu tive tal impressão. Ignorei minha maluquice momentânea. Ele beijou as costas de minha mão, segurou-a até o elevador chegar e em seguida deu-me um beijo pouco mais demorado.
— Ligo para você depois.
E quando a porta do elevador fechou, eu me belisquei para ver se aquilo era verdade. Por que se fosse... poderia começar a preparar meu casamento.
’s POV.
Chutei a porta de meu apartamento, ligando as luzes e fechando a porta atrás de mim. Tyler (acho que vou precisar anotar o nome dele em algum lugar pra lembrar) tirou seu casaco e o jogou para trás, logo em seguida puxando o meu violentamente. Tranquei a porta desajeitadamente atrás de mim, sem partir o beijo. Antes que eu pudesse falar qualquer coisa, ele envolveu minhas coxas com ambas as mãos.
— Dá um impulso — sussurrou em meu ouvido.
Logo que atendi seu pedido, já estava em seu colo. Prensou-me contra a porta, fazendo-me suspirar alto. Puxei seus cabelos da nuca, fazendo com que sua cabeça se inclinasse para trás, logo em seguida mordendo seu pescoço.
Tyson caminhou pelo apartamento comigo em seu colo, nossos lábios grudados agora, apoiando-me na bancada da cozinha. Fui desabotoando sua camisa social, exibindo um abdômen fenomenal, todos os músculos delineados. Dava pra ver porque ele me carregava com tanta facilidade. Tirei sua camisa rapidamente, logo em seguida sentindo suas mãos em minhas costas, abaixando o zíper de meu vestido, tirando-o por minha cabeça, deixando-me de meia fina 7/8 e um conjunto de calcinha e sutiã, pretos, de renda.
Levei minhas mãos para seu cinto, o abrindo com habilidade, logo em seguida puxando a calça para baixo com força, deixando-o de boxer preta.
Tyler (finalmente lembrei o nome dele) puxou-me novamente, agora me carregando pelo corredor, comigo em seu colo ainda, entrando em algum quarto que não vi, afinal, estava muito ocupada beijando seu pescoço e deixando minha marca ali.
Deitamos na cama e assim que percebi onde estávamos, parei. Apoiei-me sobre meus cotovelos e parti o beijo, sussurrando.
— É o quarto da minha melhor amiga. Ela vai me matar se eu fizer sexo na cama dela.
Tyler mordeu meu pescoço e deslizou as mãos desde meus seios até meu joelho, delineando meu corpo, sentindo minhas curvas. Perdi o foco quando começou a morder minha orelha, pressionando seu corpo contra o meu.
— Só uma rodada aqui, ela nem vai perceber...
Cravei minhas unhas em suas costas e gemi baixo quando ele apertou minha bunda com ambas as mãos. Empurrei-o com força e girei bruscamente. Em uma batida de coração, já estava em cima dele, sentada estrategicamente sobre seu volume. Joguei meus cabelos castanhos compridos para trás com uma das mãos, piscando um olho somente e mordendo meu lábio inferior. Levei minhas mãos para trás e sem demora tirei meu sutiã, jogando-o para trás. Tyson tentou tomar o controle, mas eu segurei seus pulsos e o impedi. Ainda de calcinha e com as meias, comecei a provocá-lo, rebolando sobre seu volume. E que volume.
Fiquei um tempo assim, soltando gemidos baixos e pressionando minha intimidade, ainda coberta, contra seu volume cada vez maior. Jesus, aquilo nunca iria parar de crescer?
De repente, fui jogada para trás e, quando percebi, Tyler estava prendendo minhas duas mãos acima de minha cabeça com uma somente. Seus olhos agora completamente negros me miravam, cheios de desejo e certa loucura.
— Acha que pode ficar me provocando assim sem ser punida? — sussurrou.
Roçamos nossos narizes, provocando, nossos lábios a milímetros. Levantei meu queixo na tentativa de beijá-lo, mas ele se afastou. Tentei soltar minhas mãos, mas ele simplesmente era forte demais.
— Vai judiar assim de mim? — Fiz bico.
Tyler sorriu malicioso. Pensei que iria me mandar calar a boca, coisa que eu adorava, porque qual é, sou do tipo que gosta de ficar no comando, mas amo ser domada. Mas ele me surpreendeu com um beijo delicioso, enroscando nossas línguas com calma e desejo, saboreando uma à outra. Com a mão livre, ele foi descendo minha calcinha lentamente, provocando-me, até finalmente tirá-la. As meias, como iam até metade da coxa, não o impediam em nada, então ele as deixou lá. Sinceramente, acho que eu fico extremamente sexy com elas. E, aparentemente, Tyler também achava isso.
Soltou minhas mãos e começou a descer beijos por meu pescoço, colo, seios, barriga. Apertou meus seios com certa força, prendendo o bico deles entre seus dedos, logo em seguida chupando-os.
Rápido demais, Tyler sentou-se na cama, em minha frente, procurando alguma coisa pelo chão.
— Camisinha — sussurrou para mim.
Revirei os olhos ao lembrar disso. nunca tinha camisinhas em seu quarto, sempre pegava comigo, mas eu havia dado todas as minhas para ela. Levantei-me com um sorriso malicioso nos lábios e fiz o caminho de volta até a sala, sem me importar com o fato de que usava somente meias 7/8. Assim que achei sua carteira no chão, puxei uma camisinha de lá, mas antes de virar, Tyler abraçou-me por trás, tirando o pacote de minhas mãos.
Quando grudou nossos corpos, percebi que ele já estava sem a cueca, uma vez que pude sentir toda a sua excitação. Puxando meus cabelos e deixando meu pescoço à mostra, Tyler começou a beijá-lo enquanto, aparentemente, colocava a camisinha. (Pra falar a verdade, com aqueles beijos e aquele corpo perto de mim, não sabia mais nem meu nome.)
Pegando-me de surpresa, Tyler empurrou gentilmente minhas costas, fazendo-me apoiar na bancada da cozinha que servia como divisória entre a cozinha e a sala.
Logo em seguida, ele estava dentro de mim. Empinei ainda mais meu quadril para trás, ficando na ponta dos pés, para que ele pudesse ter um melhor ângulo, um gemido alto saindo de meus lábios. Apertei a bancada com as unhas, pendendo a cabeça para frente e quase me deitando sobre a mesma.
Ele era muito grande.
Uma de suas mãos foi para minha cintura, enquanto a outra foi diretamente para meu cabelo, puxando-me com força, por eles, para trás, seus lábios em meu ouvido:
— Meu nome é Tyler. Não se esqueça disso quando for gemer.
E, novamente, ele saiu e entrou em mim com tal força que tudo o que eu pude fazer foi gemer alto e longamente.
Normalmente eu não aceito esse tipo de comportamento. Eu estou sempre no comando. Mas com Tyler era diferente, ele conseguia segurar a fera dentro de mim, domar-me e possuir-me de tal modo que realmente não importava quem estava comandando quem.
Segurando com ambas as mãos em minha cintura, Tyler começou a ir e vir em mim, forte e precisamente, sem deixar tempo para eu raciocinar, sem me deixar acostumar com seu tamanho.
Gemidos e mais gemidos saíam de meus lábios. Palavrões, delírios, pedidos suplicantes por mais. Tyler. Tyler. Tyler.
Acho que estava tão descontrolada pelo prazer, que até o vizinho sabia que Tyler estava me fodendo. Não sou nada discreta na cama.
Ele também parecia estar curtindo demais. Atendia meus pedidos, vez ou outra gemia conforme eu mostrava minha grande habilidade em rebolados, muitas vezes me chamando de gostosa e dando tapas leves em minha bunda, minha grande arma na hora do sexo.
Não demorou muito e ambos gozamos pela primeira vez.
Arqueei mais ainda minhas costas, gemendo alto e chamando seu nome novamente, agora suspirando e puxando o ar entre os dentes conforme sentia meu corpo inteiro travar quando o orgasmo chegou, abatendo-me e fazendo-me ficar cega pelo prazer por alguns segundos. Tudo ficou preto e a única coisa que eu conseguia sentir, era uma onda extremamente forte de prazer, avassaladora, que me fez ficar sem ar e fala durante os segundos que o orgasmo durou. Tyler era tudo o que eu sentia. Assim que passou, senti meu corpo mole e pulsante. Fazia um bom tempo que não sentia um orgasmo tão bom.
Tyler urrou alto de prazer, apertando-me mais do que o possível, logo em seguida tirando o pênis de dentro de mim, ainda ereto, agora com a camisinha totalmente cheia. Sorri maliciosa quando o vi piscar para mim e ir para o banheiro limpar-se.
Estava cansada, mas não iria parar tão cedo. Usei o tempo que ele ficou fora para me recompor, regulando minha respiração e procurando outra camisinha em sua carteira.
Bingo.
’s POV.
Saí do táxi e vasculhei a bolsa procurando a chave. Xinguei algumas vezes quando o elevador antigo do prédio – que nunca usei por medo dele despencar – demorou a aparecer, mas qual é, eu estava de salto alto e tinha acabado de transar. Puxei a porta de ferro junto comigo e tirei os saltos rapidamente. Parei no terceiro andar e andei sorrateira pelo corredor, já que nosso vizinho de baixo adorava tentar nos multar por barulho. Aquele mal comido.
Enfiei a chave na fechadura, mas quando a virei, a porta se abriu sozinha. Eu vou matar a . Depois fazem a rapa no nosso apartamento porque ele estava aberto, e ela vai querer que eu a sustente. Puta que pariu, viu.
Graças a Deus os móveis ainda estavam cada um em seu lugar. Suspirei com as roupas dela jogadas no meio da sala e dobrei uma camiseta social masculina – provavelmente do companheiro dela. Entrei pela casa e vi a porta de seu quarto entreaberta. Espiei e só consegui definir as costas malhadas e o cabelo castanho do cara. Bom, foda-se também. Chuck é melhor. Uh, bem melhor.
Balancei a cabeça a fim de retirar os pensamentos pervertidos que me vieram e fui me despindo em direção do banheiro. Tomei um banho gelado e fiz questão de colocar meu pijama de “dia de folga” quando saí. Enrolei a toalha nos cabelos e saltitei desleixada para a cozinha. Estava com uma fome que poderia comer um boi. Não que eu realmente quisesse comer um. Só estou dizendo que conseguiria. Enfim, não vamos encher a salsicha.
Um cara alto, moreno, de olhos negros penetrantes, preparava seu cereal calmamente e despejava quase todo o nosso leite dentro da tigela. Filho da mãe.
— Tá achando que leite sai de vaca? – perguntei indignada.
Ele me olhou desconfiado e engasgou ao perceber meu estado. Vai se ferrar meu filho, eu tô em casa!
— E não sai? – Sua voz era grossa e quase do mesmo tom de Chuck. Só mais sexy.
— Tanto faz. É caro, ok? – Roubei a caixa de suas mãos e a abracei, protegendo-a.
Mentira, não era nem um dólar direito.
— Ok. Eu compro outra caixa.
Sorri satisfeita e apresentei uma mão para ele.
— Aliás, sou a .
— Tyler. – Apertou-a.
— Ah, o cara do Burger King. O que interrompeu minha transa. Maldito seja.
Ele piscou algumas vezes e deu ombros. Ê versão masculina, viu.
— E você é a menina do inglês gostosão. A que nunca dá.
, eu vou te matar.
— Só pra sua informação, não que seja da sua conta, mas eu dei ontem, tá? E hoje de manhã. Loucamente.
Tyler deixou uma risadinha escapar, olhando-me divertido.
— Anotado. E, bem, se você ainda não percebeu, eu também transei ontem. Loucamente.
Abri a boca para responder, mas fui interrompida pelo grito de .
— Ô TAYLOR, CADÊ VOCÊ COM O MEU CAFÉ?
— É TYLER! — gritamos ao mesmo tempo. Ele me olhou revirando os olhos e eu ri baixinho.
Alguns segundos depois, apareceu.
Vou te dizer, ela sabe fazer uma entrada triunfal.
Seus cabelos estavam totalmente bagunçados, desgrenhados e com não-sei-mais-o-que no meio. Ela adentrou a cozinha usando uma camisa social, meias pretas até as coxas, segurando uma garrafa quase vazia de whisky. Seus olhos estavam borrados pela maquiagem e a boca com resquícios do batom vermelho.
— Fala, loira...
Levantei-me, contornei a bancada, empurrei que estava grudada no Tyler e puxei a garrafa de sua mão, colocando-a sobre a bancada. Ela me olhou com a maior cara de cu do mundo, depois deu de ombros, pegou a garrafa de volta e bebeu um longo gole da garrafa. Segundos depois, a garrafa atravessou a janela da sala (que felizmente estava aberta) em rasante; o barulho dos cacos de vidro fez com que ela risse.
Antes que eu pudesse bater nela, segurou meus dois pulsos e riu.
— Eu não estou bêbada, bobinha.
Então, super orgulhosa e com o bafo do recém gole de whisky, fez o 4. Ela nem tremeu. Vadia.
— Só estava tirando com a sua cara — comentou, jogando-se numa banqueta e roubando a tigela de Tyler, enfiando uma boa colher na boca. Ainda mastigando, ela perguntou: — Como foi com o inglês gostosão?
Sentei-me novamente. Encarei Tyler, pensando se deveria entrar em detalhes em sua frente, mas ao lembrar que ele viu todos os detalhes de , dei de ombros e respondi naturalmente:
— Dei loucamente. É isso que você queria saber, né, vadia?
assentiu felizmente.
— Essa é minha menina. E fizeram mais o que além de transar?
— Ah, jantamos num restaurante. Andamos até a casa dele, transamos, acordamos, transamos de novo – falei antes que a mente poluída de criasse uma noite imaginária para mim.
Ela sorriu maliciosamente, tinha entendido minha preocupação.
— Nada de mais, enfim. E vocês dois?
Tyler se ajeitou na cadeira, sorrindo tensamente. Ele sabia que iria me contar tudo, já deveria ter sacado nosso tipo de amizade “conta-tudo”.
— Dei na bancada, no quarto e dormimos.
Levantei em um pulo da cadeira e corri para pegar um desinfetante nos armários. Fiz uma breve limpeza na bancada, enquanto gargalhava de minha reação. Essa vaca bem-comida.
Respirei fundo e equilibrei minhas reações. Teria que agir como se não me importasse com o sexo na cozinha até ele ir embora.
— Hm. Vocês têm um apartamento muito legal — Tyler comentou, puxando novamente para seu colo. A vadia sentou-se muito feliz, sorrindo abobadamente e terminando de raspar a tigela que Tyler havia deixado para ela.
Peguei o jarro de café que eu havia feito enquanto conversávamos, servi três canecas e empurrei duas para eles. sorveu metade do café em dois segundos. Tyler tomou sua caneca inteira em três.
Bebi lentamente meu café, perguntando-me se a garganta deles era de ferro.
— Aliás, seu quarto é muito bonito. Gostei do colchão.
— É, o comprei recentemente, é bem confortável... Ei. Espera aí. COMO VOCÊ SABE QUE MEU COLCHÃO É BOM?
Olhei assassinamente para , que estava engasgada com o café. Tyler teve que bater em suas costas para que ela conseguisse se recuperar, mas eu não estava nem aí. Essa vadia está morta.
— Vai ter troco — falei com a voz mais assassina possível, apontando o dedo em sua cara, meus olhos faiscando.
Em minha mente, comecei a fantasiar eu e Chuck fazendo o Kama Sutra inteiro na cama de . E no chão do quarto de , na parede, na escrivaninha, até no lustre.
— Olha... — ela comentou, depois de respirar fundo várias vezes, recompondo-se mas ainda meio vermelha. — Eu tenho uma ótima explicação.
Tyler empurrou-a gentilmente e mordeu seu ombro, anunciando baixinho que iria se trocar para nos deixar a sós. Pressionei os dedos contra as têmporas, tentando não imaginar se haveria gosma branca em meu lençol; ou pior, uma camisinha usada entre meus travesseiros. Arrepiei-me inteira de nojo e balancei meu corpo, tirando essas imagens de mim.
— Você vai pagar muito caro por isso, .
— Ah, , você fala com se fosse a primeira vez que eu faço isso, pelo amor, né.
— O QUÊ?
Quer dizer que havia mais esperma do que eu imaginava? De noites anteriores? Ah, agora sim essa vadia está morta!
— Droga, não saiu como eu esperava... — ela sussurrou baixinho, batendo os dedos no queixo enquanto pensava.
Estava a ponto de jogar pela janela também; o que seria muito divertido, devo admitir. Mas, para variar, ela começou a rir e esticou o braço por cima da bancada, pegando minha mão e a apertando.
— Juro que não fizemos nada em seu quarto. Ele me levou no colo até lá, achando que era meu quarto, então tiramos algumas roupas lá, mas nada aconteceu além de beijos e algumas mãos. Então eu vim até a sala buscar a camisinha e acabamos transando na bancada. Duas vezes.
— , NÓS COMEMOS AQUI! Puta merda, sua vadia suja! — xinguei-a, mas ela não pareceu ligar, afinal, já estava acostumada.
— Ah, ele não gozou na bancada, sabe... Foi em mim, mas dentro da camisinha, quer dizer... Na primeira vez eu só estava com os braços apoiados na bancada, depois eu estava sentada nela... Pensando bem, a segunda vez foi bem melhor que a primeira.
Tampei os ouvidos. Era demais para mim. Comecei a cantar para evitar escutar o resto; realmente não queria saber de tantos detalhes assim. realmente não sabe o que é limite de intimidade, um grande defeito que a fazia única. Antigamente ela somente comentava quando soltava puns, hoje em dia fala sobre coisas que você realmente não quer saber.
Continuei com os ouvidos tampados, mas algumas palavras do que ela me dizia, dava para captar.
— Aqueles dedos... Você não sabe o quanto eu gritei... Gozei... Oral... Era muito grande!
— PARA, PELO AMOR DE DEUS! — choraminguei.
, para variar, começou a gargalhar.
— Relaxa, amiga, estou somente te enchendo o saco! Nossa, como você fica incomodada com pouco.
Para meu grande alívio, antes que ela pudesse entrar em mais detalhes, Tyler apareceu na cozinha, ainda sem camisa, afivelando o cinto e com os cabelos levemente molhados. Provavelmente tinha tomado uma ducha.
Ele olhou para minha querida amiga, indicando a camisa social que ela usava como vestimenta. Dando de ombros, desabotoou a camisa rapidamente, retirou-a e deu para Tyler, ficando somente de calcinha e as meias negras.
— ! — falei, indignada com a visão de seus seios.
— O quê? Não é como se vocês já não tivessem visto. — Deu de ombros.
Tyler somente riu e colocou a camisa, sem tirar os olhos dos seios de minha amiga, mordendo seu lábio. Ah, arranjem um quarto.
’s POV.
O dia seguinte foi um porre.
Trabalhei até 3hrs. da manhã, esfolando meus músculos faciais com os milhões de sorrisos que dei para os clientes. Nova Iorque literalmente nunca para.
Acordei praticamente três horas da tarde do sábado. literalmente pulou em cima de mim, batendo em meu rosto e dizendo que precisávamos fazer alguma coisa.
Vou te dizer, depois que ela finalmente tirou o atraso, estava bem mais animada e disposta para qualquer coisa. O que um bom sexo não faz?
Resmunguei alguns palavrões, mas a loira não queria nem saber. Chutei-a de cima de mim para o chão e sentei-me na cama, coçando os olhos com os nós dos dedos. A maldita havia aberto a janela, então demorei alguns segundos para me adaptar à luz. Bocejei umas duas vezes, cocei a nuca e olhei para o chão, onde minha querida amiga se encontrava, com a bunda pra cima, o dedo do meio levantado para mim. Quanto amor.
— Também te amo — comentei antes de me levantar lentamente, logo pegando meu rumo para o banheiro, coçando minha bunda no caminho e pegando uma toalha limpa.
Entrei no chuveiro e tomei uma ducha bem demorada, tirando os resquícios de cansaço de mim, relaxando totalmente sob a água fervente. Uns 15 minutos depois, fechei o registro e me sequei na toalha, logo em seguida usando-a como vestimenta e andando livremente pelo corredor, balançando minhas madeixas molhadas com os dedos.
— Hm, olá.
Olhei para o final do corredor, perto da cozinha, e encontrei um cara realmente gato.
Alto, loiro, olhos azuis, sorriso matador e jeito de nerd safado. Provavelmente músculos escondidos sob aquela camisa deliciosamente azul; coisa que eu adoraria verificar.
— Olá, bonitão.
Dei meu melhor sorriso, mas logo entendi o que estava acontecendo quando vi chegando perto dele com uma caneca de café; Ele a beijou brevemente nos lábios.
Safadinha.
— Ah, Charles, vejo que você conheceu — comentou minha pequena, rindo baixinho de minha situação.
Apertei a toalha ainda mais contra mim, de modo algum me sentindo constrangida. Qual é, ele tá comendo minha melhor amiga, não preciso me sentir bonita pra ele. Não somos do tipo que divide homem assim.
— Beleza, Charles? — eu disse, piscando um olho e tentando imitar a voz afetada de .
— Chuck, por favor. Tudo em cima. E você? — Chuck sorriu elegantemente.
, sua safada de bom gosto!
— Eu até apertaria sua mão, mas acho que minha toalha iria cair e não iria gostar muito disso. Bem, eu vou me trocar e já volto. Não faça nada que eu não faria, fofa — falei para . Quer dizer, eu dei na bancada da cozinha, ela tem direito de fazer o que quiser depois dessa.
Demorei uns 40 minutos pra me trocar, somente dando tempo para eles se divertirem. Coloquei por final uma calça jeans, All Star preto, blusa branca simples colada e uma jaqueta vermelha. Pra terminar o visual, prendi meu cabelo, ainda úmido, num rabo de cavalo, passei um rímel básico e um pouco de corretivo. Coloquei meus óculos de sol aviadores no topo da cabeça.
Saí do quarto assobiando, para eles perceberem que eu estava me aproximando.
Quando entrei na sala, tinha acabado de abaixar a blusa, enquanto Chuck abotoava a camisa. Seu pescoço estava borrado de batom.
— Hm, Chuck, seu zíper está aberto.
Comentei somente para aloprar.
olhou-me com cara de cu, para variar, mas eu somente sorri. Sentei entre os dois no sofá, aloprando só mais um pouquinho e apertei a mão de Chuck.
— , melhor amiga dessa gostosa aqui — comentei, referindo-me à .
Chuck apertou minha mão e riu, os dentes perfeitos. nunca teve mal gosto, graças a Deus.
— O que vamos fazer hoje, fofos?
, discretamente olhou para o suposto céu e perguntou mudamente o porquê da minha existência.
— Ah, e eu vamos...
— Sem “ e eu”, querido. Eu e somos uma só, ou seja, somos nós três hoje, baby.
bateu com a mão na testa repetidamente questionando porque resolveu me acordar. Eu sei que ela me ama.
— Ah, ok. — Chuck riu. — Você poderia chamar o Tyler!
levantou a cabeça subitamente, agora sorrindo com a ideia de merda do peguete.
— Quem é Tyler, porra?
— Ah, não é o cara do Burguer King? — comentou Chuck.
— Viu? Até ele sabe! — falou inconformada, apontando para seu inglês-gatão. — É o cara de ontem, , aquele com quem você fornicou na nossa cozinha — complementou, com cara de cu.
— Ahhhhh, ele. Hm, ele, eu sei bem quem é agora.
Chuck somente riu de minha cara de safada.
— Mas ele nem deve lembrar de mim, tipo, claro que ele lembra da minha bunda, porque ela é inesquecível e eu sou um furacão na cama, mas nem deve saber meu nome. Eu acho.
revirou os olhos, puxou um aparelho de dentro do vaso de plantas e me entregou. Segundos depois, percebi que se tratava de meu celular. Como ele foi parar lá eu não tinha a mínima ideia, é claro.
Olhei para o visor e percebi que haviam 5 chamadas perdidas de “Cara do Burguer King”. Adoro minha agenda telefônica.
— Olha, , só porque você transa e não lembra mais do nome das pessoas, não quer dizer que todos sejam assim. Espero eu, né — comentou.
— Ah, foda-se também, estou cansada. Vou mesmo ter que chamar o Cara do Burguer King pra ir com a gente? Eu não ligo de ficar de vela. — Fiz bico.
— Liga sim, você diz que não, mas depois de cinco minutos de vela, vai ficar entediada, usar seu charme e vai acabar com o garçom nos fundos do restaurante, então todos nós vamos ser expulsos por sua causa. Ou seja, sim, você tem mesmo que chamar o Cara do Burguer King.
— E, por favor, chame ele de Tyler quando estiver na frente dele — comentou Chuck, entrando na onda. — É bem broxante quando a mulher não lembra seu nome.
, que ainda estava com meu celular em sua mão, clicou em “Ligar” e colocou o telefone em seu ouvido. O que ela pretendia falar com o cara que eu transei ainda era um mistério.
Chuck e eu ficamos observando-o enquanto ela batia com os dedos na coxa, esperando o dito cujo atender. Após o quinto toque, finalmente sorriu. Consegui ouvir a voz rouca e grossa de Tyler dizer um “Alô” mal humorado.
— Oi, Tyler, tudo bom? Aqui é a , a maníaca pela caixa de leite e melhor amiga de , lembra?
Consegui ouvir uma risada baixa. Segundos depois, continuou.
— Então, o negócio é o seguinte, lembra do meu inglês? É, esse mesmo. Bem, eu e ele queremos almoçar e a , como a chata que é, resolveu que quer ir também, então eu estou te ligando e pedindo a gentileza de que acompanhe minha querida amiga, uma vez que eu estarei muito ocupada com o meu inglês para cuidar dela.
Exatos cinco segundos depois, enquanto ele falava alguma coisa que fez olhar para mim e rir, ela sorriu maliciosa e concordou com a cabeça.
— Ok então. Passo o endereço por mensagem. Até mais, Tyler, e obrigada de novo.
Desligando o aparelho com um sorriso vitorioso no rosto, devolveu meu celular e piscou para mim.
— É oficial, , estamos em um encontro quadruplo.
EPA.
— Ei, encontro o escambal, eu não tenho encontros. Tyler é somente um conhecido meu.
— Que já te comeu — Chuck comentou delicadamente. apontou para ele como se dissesse “Ele tem um ponto.”
Revirei os olhos e levantei-me, irritada, apontando para os dois.
— Vocês estão conspirando contra mim.
’s POV.
Foram duas horas de escutar tagarelar coisas absurdas e aleatórias do nada, que fizeram meu dia com Chuck broxar. Não somente porque minha bff é uma fofa, que quando você finalmente se acha livre da companhia dela e começa a ter seu momento com seu inglês gostosão, ela volta de novo, mas porque ela também age como se não fossemos um casal querendo espaço. Ainda bem que Chuck pareceu gostar dela.
Eram umas duas da tarde quando resolvi que iria me trocar para nossa saída. Eu sei o quanto demoro. Encarei cinco minutos meu armário antes de voltar para a sala e anunciar:
— Chuck, eu vou demorar a escolher a roupa. Quer ficar lá comigo?
— Olha que ela demora mesmo, viu, Charles? – zombou, fazendo um sotaque ridículo no nome dele.
— Ah, tudo bem. Eu te ajudo. – Ele sorriu e se levantou graciosamente do sofá, andou até mim e pegou minha mão para irmos juntos ao meu quarto.
— Escolher roupa, sei. – Ouvi bufar na sala e rir.
Não estranhei nem um pouco quando ao entrar em meu quarto e fecharmos a porta, fui puxada para um beijo longo – cheio de desejos reprimidos nas últimas duas horas – vindos de ambas as partes. Segurei o rosto de Chuck e parei o beijo lentamente, olhando nos olhos dele por alguns segundos. Ele sorriu radiante e abraçou-me pela cintura. Ficamos nos encarando daquele jeito até que senti minhas bochechas corarem violentamente com os olhos azuis penetrantes dele e me afastei, indo até meu armário.
Tirei umas roupas de lá. Mas nada que me interessasse realmente. Colocava-as em frente ao corpo só para ter certeza que não queria usá-las e as jogava novamente pelo quarto. Estava com um vestido preto curto e justo em cima de meu corpo quando, pelo espelho, vi Chuck morder os lábios e sorrir.
— Sério? Sempre achei esse vestido tão estranho em mim – comentei, tirando minha blusa e depois os shorts.
— Ah, deixe-me vê-lo de perto. – Dle deu ombros descontraidamente.
Andei até ele – que estava sentado na beira de minha cama - e coloquei o vestido em seu colo antes de deitar, cansada, no meu belo travesseiro. Meu companheiro de todas as horas.
— Ei, assim eu também não resisto. – Chuck deitou-se ao meu lado, colocando uma mão em minha cintura e me puxando para ele, calmamente.
Abracei-o pelo pescoço e ele encostou nossas testas. Ouvi a batida de na porta e, antes da minha resposta, ela entrou.
— Olha aqui, loira. Eu sei que você demora, mas eu já...
A saia florida que eu amava usar estava na sua mão, que se mexia indignada pela minha demora de quinze minutos e depois ela travou, olhando meio frustrada para mim e Chuck na cama.
— Ah não, ô britânico! Caralho, como assim você também atrapalha a demora dela? Um dia você ainda vai sofrer de ter que ficar esperando ela se arrumar. Aí eu quero ver o drama que você vai fazer para cima de mim, seu inglês safado! – ela soltou, colocando a saia na ponta da cama e dobrando algumas roupas minhas jogadas pelo caminho.
— Vou me trocar antes que ela dê um piti de existência também – falei suspirando, levantando e indo ao banheiro, começando a me trocar.
’s POV.
— Eu ainda prefiro um Whopper duplo. – Fiz bico, ignorando as risadas de e Chuck.
Ai, odeio casal meloso. Tipo, eles se conheceram acho que anteontem e parecem almas gêmeas já. Argh, me dá náuseas somente de ver.
, observando o cardápio do restaurante italiano que ficava perto de nossa casa, o Marinella. E Chuck ficou somente a observando, tirou uma mecha de cabelo dela e colocou atrás da orelha. ruborizou levemente.
Ok, alguém me trás um balde que eu estou prestes a chamar o Hugo.
Bufei pela décima nona vez e apoiei o queixo em uma mão, a outra batucando com as unhas na mesa.
— Sabe, você poderia pelo menos fingir que está gostando da situação, .
— Acontece que sinceridade é a minha maior qualidade, então eu prefiro poupar os sorrisos falsos e me limitar a somente segurar o vômito. – Fiz um gesto para baixo da mesa, imitando um vômito. — PUTA MERDA! — exclamei quando bati com a cabeça em baixo da mesa na hora de me levantar.
e Chuck riram de mim enquanto eu coçava a cabeça temendo ter um galo. Tyler apareceu ao lado de nossa mesa de repente. Perfeito timing, amigão.
— Olá, .
— E aí? — comentei disfarçando o galo na cabeça e escorregando a mão pelo pescoço.
Novamente, fui cutucada pelo mortal salto de . Acho que só talvez haja a possibilidade de eu ficar com um hematoma na canela.
— Oi, eu sou o Charles Beway. Mas chame de Chuck, por favor, Charles é muito sério.
Ele se levantou e estendeu a mão para Tyler, que estufou o peito de modo quase imperceptível, a expressão séria porém divertida, apertando a mão de Chuck.
— Tyler. Prazer em te conhecer, Chuck.
Quando os pratos de e Chuck chegaram, encarei-os sem muita vontade. Apesar de fã de macarrão, eu estava com vontade mesmo é de um belo hambúrguer.
— Galerinha, tá tudo muito bom, muito legal... Mas eu vou ao Burguer King, que fica duas quadras daqui, buscar meu querido Whopper, beijos.
Levantei-me antes que pudesse ouvir protestos e peguei minha bolsa, mas não achei meu casaco. Tyler estava de pé à minha frente, segurando o mesmo para que eu o vestisse; Com sua ajuda, coloquei-o e encarei-o em seguida. Ninja maldito.
— Importaria se eu fosse junto? – Elevou uma sobrancelha. Dei de ombros. Pelo menos eu daria alguns minutos de paz para os pombinhos lambuzados de mel.
— Vamos, garanhão, eu estou faminta.
Saí andando na frente, mandando um beijo rápido para minha querida melhor amiga, que agora estava recebendo beijos no pescoço. Vadia.
Após 15 minutos de caminhada, entramos no Burguer King e pegamos a fila enorme de pessoas para comprar seus almoços na turbulenta tarde de sábado. Tyler ficou o tempo inteiro com o queixo erguido, os braços cruzados, um olhar divertido e desafiador ao mesmo tempo. Bufei e reclamei mentalmente por ter escolhido trocar os tênis por botas de salto, mas não havia mais o que fazer, uma vez que já estávamos na fila. Puxei os óculos de sol para o topo da cabeça e enfiei a mão na bolsa, procurando o dinheiro para pagar, enquanto a mulher da frente escolhia seu prato já. Eu podia sentir o gosto do meu Whopper.
Fui impedida, porém, por uma mão forte e rápida.
– Eu pago – Tyler disse firmemente.
– Não, eu tenho dinheiro – contra argumentei, sentindo o couro da carteira entre os dedos agora.
– . Deixa comigo. Eu pago.
Olhei-o nos olhos negros indecifráveis e dei de ombros, soltando a carteira. O aluguel já estava atrasado mesmo, se ele queria pagar quem sai no lucro sou eu mesmo. Não é como se eu já não tivesse feito sexo com ele, mas poderia pagar esse "almoço" em breve para ele.
Tyler somente soltou minha mão quando a mulher do caixa nos chamou. Antes que eu abrisse a boca, Tyler pediu.
– Dois Whoppers Duplos, duas Coca-Colas e um milk-shake de chocolate. Pra viagem.
Elevei as sobrancelhas, surpresa, mas mantive-me muda até ele terminar o pagamento. A atendente sorriu o máximo que conseguia para ele enquanto dava o troco; para sacaneá-la, Tyler piscou com seu olho direito para ela. Quase pulei o balcão para segurar a pobre coitada que quase caiu depois dessa.
Revirei os olhos e puxei a nota fiscal de sua mão, indo para o balcão lateral esperar o pedido de número 176.
Apoiei as mãos na bancada e comecei a batucar com minhas unhas de esmalte preto, já lascado, na bancada. Segundos depois, senti Tyler me abraçar por trás, apertando minha cintura com ambas as mãos, então eu só senti toda aquela pressão contra mim.
– Você sabe que é muito mais gostosa do que aquela mulher do caixa, né? – sussurrou em meu ouvido enquanto me encoxava, passando as mãos agora pela lateral de meus quadris.
Suspirei e revirei os olhos mais uma vez.
– Por favor, né, Tyler, disso eu tenho certeza. Mas o que te faz achar que eu teria ciúmes de você? Que eu saiba, não temos laços. Hoje só ocorreu por intermédio da , você sabe.
Ele me largou e virou-me, fazendo com que nossos narizes se encostassem com nossa proximidade. Não tendo saída e sendo pressionada contra a bancada atrás de mim, encarei seus olhos escuros e mordi meu lábio inferior. Seus dedos subiram por meu pescoço, jogando meus cabelos para trás, deixando-o exposto. Delicadamente, ele cutucou uma parte de meu pescoço que estava dolorida; então eu lembrei que ele havia feito isso comigo pouco tempo atrás quando transamos. Maldito. Nem havia percebido o roxo antes. Sorrindo abertamente, Tyler beijou o local e apertou minha cintura, agora com ambas as mãos, puxando-me contra ele.
— Você pode até negar, mas temos uma conexão incrível. Você sabe disso, eu sei disso, até sabe disso.
Revirei os olhos.
— Caso você queira repetir a dose, tudo o que você precisa fazer é dizer. Aliás, não é como se eu fosse uma vaca insensível que não repete meus casos. Tá, é sim, mas para você eu abro uma exceção. Somente mais uma vez — sussurrei.
Seus lábios deslizaram por meu pescoço, sua respiração falha, até chegarem em meu ouvido, o qual ele mordeu de leve.
— Mas eu não quero somente uma reprise — sussurrou, enquanto seus dedos apertavam-me cada vez mais perto dele.
Fechei os olhos de leve e suspirei. Quando abri minha boca para respondê-lo, a atendente anunciou que nosso pedido estava pronto.
Tyler pegou a bandeja com os refrigerantes e a sacola com os hambúrgueres, então estendeu o braço para eu passar o meu por dentro dele. Ignorei-o e saí andando com passos firmes à sua frente, podendo ouvir sua risada.
Passou-se uma semana depois de nosso encontro “quádruplo”. Chuck e agora saíam praticamente todos os dias; seu bom humor constante denunciava que ele estava dando um belo de um trato em minha amiga.
Tyler havia me ligado algumas vezes, perguntando se eu não queria sair para tomar um café ou algo do gênero, mas eu ignorei todas as ligações e apaguei todas as caixas postais. Quarta-feira ele passou em casa, mas mentiu por mim e disse que eu estava com mononucleose.
Assim que recebemos nosso pagamento, finalmente conseguimos pagar o aluguel atrasado e o do mês seguinte, o que nos custou todas as nossas gorjetas.
insistia de que eu deveria sair com Tyler mais uma vez, mas isso iria contra meus princípios de nunca ter um segundo encontro. Levando em conta que este seria, tecnicamente, nosso quarto encontro, eu já meio que quebrei minha regra, mas quem liga para isso?
Fiz o máximo possível para tirar aquele olhar misterioso e observador de minha cabeça. Eu tinha quase certeza de que Tyler seria somente mais um babaca com os mesmos princípios que os meus e simplesmente havia gostado do meu rebolado.
Durante a semana, saí com um cara diferente do outro. Fomos para motéis, becos, apartamentos deles, etc. Eram todos variados, mas nenhum deles parecia ter o que eu queria, nenhum deles conseguiu me satisfazer completamente.
Sábado eu estava cobrindo o turno do almoço do Leonard, quando Karen pediu para atender o cliente que havia acabado de chegar. Enrolei o cabelo num coque rápido, coloquei meu melhor sorriso no rosto e andei calmamente até a mesa número 17 enquanto procurava o palm no bolso do avental.
— Boa tarde, bem vindo ao Planeta Hollywood. Eu sou e... Ah. — Suspirei contendo a surpresa. — É você.
Seus olhos negros me analisaram de cima à baixo lentamente.
— Você parece muito bem para quem estava com dengue.
Cocei a nuca e sorri sem jeito. Tyler manteve seu olhar acusador sobre mim.
— É, passou faz dois dias...
— . Você me disse que estava com mononucleose e não existem casos de dengue nos Estados Unidos.
— Ah. Eu sabia disso.
Puta merda, não podia ficar pior do que isso.
— Por que não atendeu minhas ligações?
— Eu estava com gripe.
— Mononucleose.
— Ah. É. Isso.
Ele suspirou e eu transferi o peso de um pé para o outro. Não sabia o que dizer, muito menos o que responder, afinal, ele não deveria estar aqui. Após alguns segundos de silêncio, ele passou as mãos pelos cabelos negros curtos e balançou a cabeça negativamente.
— Não sei por que eu vim.
— Nem eu. Ah, quer dizer, eu sei. Quer dizer, eu vim trabalhar pra cobrir o turno do Lancer, quer dizer, do Leonard... Ah, caralho, você entendeu, Tyler.
Finalmente, ele abriu um sorriso de canto.
— Então você conseguiu lembrar meu nome.
— Cara do Burguer King não me parecia um apelido muito carinhoso.
Nós dois sorrimos.
— Por que você é assim, ?
Franzi o cenho.
— Assim como?
— Tão... Misteriosa. Desdenhosa. Sem vergonha. Divertida. Falante. Por que ignorou minhas ligações? Eu só queria conversar. Não iria te agarrar contra a sua vontade.
Mordi meu lábio inferior e coloquei o palm dentro do bolso do avental. Vendo que teria pouco tempo para conversar com ele devido ao grande movimento do restaurante, puxei uma caneta do bolso e peguei sua mão. Antes que Tyler pudesse falar qualquer coisa, anotei o endereço de um café próximo de casa e um horário.
— Você quer conversar? Então saiba os riscos que está correndo. Depois não diga que eu não avisei.
Antes que ele pudesse falar, suspirei e saí para atender as outras mesas com uma única certeza em minha cabeça: Eu estava fazendo uma grande merda.
’s POV.
Mike colocou seu avental no pescoço e sorriu para mim.
— Pelo menos agora eu posso descansar dez minutos – falei aliviada de poder sair de frente daquele caixa e não ter que dar sorrisos. Minha bochecha seriamente doía.
Algum cliente entrou e Mike deu um tapinha em meu ombro, indo em direção ao caixa. Antes que eu pudesse ir para os fundos, me sentar na escada de emergência, minha chefe chamou meu nome. Ela não parecia estar contente.
— , chegou ao meus ouvidos que você está namorando.
Ela soltou assim que entrei dentro da mini sala que a pertencia.
— Ah. Nós só estamos saindo...
— E isso faz quanto tempo? – instigou-me. Estou oficialmente me sentindo uma pessoa acusada de homicídio.
— Faz, acho que duas semanas? Mais ou menos isso.
— Isso deveria ser reportado para nós imediatamente, . – Ela cruzou os braços sobre o peito. – Principalmente sendo um cliente o seu namorado — comentou ignorando o fato de que eu havia negado o namoro.
Imagine minha expressão ao ouvir essa. Se eu tivesse tomando algum líquido, o mesmo iria voar da minha boca a fora. Franzi a testa.
— Como?
— Srta. . Entenda a situação. Como saberemos que você esta o cobrando? E se você estiver usando-o para traficar produtos nossos?
Silêncio.
Eu estava de boca aberta.
— Ok. Martha, da onde caral-
— Srta. Kennedy para empregados, Srta. . Mais respeito, por favor.
VADIA.
Você não é nem três anos mais velha que eu. Vai se foder.
— Ok. Srta. Kennedy. Primeiro, eu nunca dei motivos para tais acusações. Segundo, ele não comparece aqui frequentemente e, algumas vezes, nem mesmo é atendido por mim. – Enumerei meus pontos com os dedos, quase os enfiando no meio da fuça dela. Aliás, eu estava quase metendo a mão na cara dela.
E a puta só mantinha um sorriso de bosta no rosto. Mal comida do caralho.
— Não tenho como ter certeza, . E se não tenho certeza, é porque não confio. E não confiar significa que...
Mike bateu na porta calmamente e olhou em minha direção, fazendo um gesto combinado entre nós para quando Chuck chegasse. Assenti e sorri internamente. Minha deixa.
— Sabe o que tudo isso significa para mim? Porra nenhuma. Eu não fui nada, além de uma ótima funcionaria e sinceramente, Martha? Você tá precisando tirar as teias de aranha da sua piriquita, porque é insuportável ficar no mesmo ambiente que você.
Ela ia abrir a boca quando eu acrescentei.
— E, minha filha, essa porra de trabalho significa nada para mim. Estou me demitindo.
Abri a porta e saí com passos firmes. Puxei minha bolsa presa nos cabides embaixo do caixa e acenei para Chuck. Sentia meu rosto vermelho e a pulsação intensa, meu coração quase explodindo junto com minha cabeça. Minha perna começou a ficar fraca no salto alto e senti meu equilíbrio lutar contra os obstáculos.
Quando finalmente me aproximei de Chuck, segurei seu ombro com força, procurando apoio. Ele olhou alarmado para mim, envolvendo minha cintura rapidamente. Mike apareceu meio exasperado atrás de mim, perguntando o que diabos tinha sido aquilo.
Consegui tirar o avental ainda pendurado em meu pescoço, me livrando parcialmente de uma sensação sufocadora. Minha visão embaçou completamente e eu parecia suar frio.
Mike pediu para Chuck me levar para o lado fora e, rapidamente, eles me arrastaram em passos rápidos que eu não conseguia acompanhar. Um vento gelado alcançou meu rosto e eu estremeci por estar sem casaco. Minhas pernas cederam e eu sentei sobre meus pés no meio da calçada. Minha ex-chefe abriu a porta do café aos berros.
— MIKE! VOLTE PARA DENTRO IMEDIATAMENTE, VOCÊ DEIXOU O CAIXA SOZINHO.
— EU NÃO VOLTO PORRA NENHUMA. EU ME DEMITO TAMBÉM.
Vi flashes dela gritando algo de volta e fechando a porta do Starbucks. Mike abaixou-se ao meu lado e colocou a mão em minhas costas encolhidas.
— Chuck, eu acho que ela está respirando errado. Melhor levá-la para um hospital. Vamos, Chuck! Eu faço curso de enfermagem, querido! – Mike gritava, sem perder a pose gay nem por um segundo.
— Quê?! Puta que pariu! – Chuck gritou e meu corpo foi erguido do chão na maior facilidade.
Para ele eu devia ser um tipo de bola de lã. Sei lá.
— Ela está branca! – Chuck gritava para Mike.
— Bofe! É só nos apressarmos! Tem um hospital a seis quadras daqui!
Então o passo de Chuck parou e ele usou alguma técnica que liberou uma de suas mãos, que ele usou para levantar minha cabeça tombada. Eu realmente não estava conseguindo ter controle sobre meu corpo e isso me deixava em pânico. Ele pediu para Mike ajeitar meus braços ao redor dele e pediu para que eu tentasse segurá-lo, apertei minhas mãos em seu pescoço, mas não tenho certeza se houve alguma força no movimento.
— Mike! Eu vou correr! – Chuck anunciou.
E o vento em mim ficou mais forte, e várias buzinas de carros ficaram mais frequentes, meus olhos captaram alguns prédios semelhantes do caminho que eu sempre fazia e então, o hospital.
Chuck atravessou a porta da emergência em disparada e várias pessoas se aproximaram. Seus braços me soltaram em cima de uma coisa dura e uma máscara de oxigênio encontrou meu rosto. Virei o rosto para o lado, vendo Chuck vermelho e ofegante. Mike estava ao seu lado falando algo e então, a porta abriu novamente, com entrando ao lado de Tyler.
Aí eu apaguei.
’s POV.
Ocupei minha mente como nunca com o trabalho. Atendi todas as mesas possíveis, fui simpática com todos e acabei ganhando mais gorjetas do que o esperado. Terminado meu turno às quatro horas da tarde, corri para o banheiro e me troquei. Enfiei minha calça jeans, blusa branca e minha camisa xadrez. Ainda com o cabelo preso em um coque, coloquei meus óculos de sol, enfiei o uniforme dentro da bolsa preta e saí para a rua correndo.
Felizmente consegui pegar o metrô a tempo e logo estava descendo na estação Houston Street, andando pela Varick Street em direção ao cybercafé que ficava ao lado de meu apartamento com .
Joguei o chiclete de menta num lixo próximo, suspirei longamente e entrei no estabelecimento. Retirei meus óculos de sol e logo em seguida o avistei. Assim que me aproximei, ele suspirou aliviado, provavelmente achando que eu iria dar um bolo nele, e disse:
— Oi.
Sentei-me na cadeira à sua frente e sorri.
— Beleza?
Ele sorriu levemente, uma leve visão dos dentes brancos e alinhados. Conforme tirei a bolsa do ombro e a coloquei na cadeira, percebi que ele cruzou os braços e estufou o peito.
— Beleza. E você?
— Ah, tudo normal. Foi uma semana agitada. — Sorri maliciosa.
— Imaginei. Fiquei surpreso quando me disse para te encontrar aqui.
— E eu fiquei surpresa quando te vi no meu restaurante. Quer dizer, no restaurante em que eu trabalho.
Novamente, ele sorriu.
— É bom te ver de novo. Você é bem divertida.
— Ah, isso. Obrigada.
Olhei para o café que ele tomava, depois para o cardápio e então para seus ombros. Ele usava uma jaqueta de couro, camisa branca com gola V por baixo e, provavelmente, calça jeans, uma vez que ele estava sentado e eu não podia ver suas pernas.
Pedi um suco qualquer e um croissant de queijo, ignorando os preços. Tyler iria pagar de qualquer jeito, então foda-se. Ficamos em silêncio alguns segundos. Eu esperava que ele fosse puxar assunto, mas isso era algo curioso sobre Tyler: ele era mais reservado, mais quieto. O que era ótimo para mim, óbvio, porque eu sozinha já falo por duas pessoas.
Fitei meus dedos entrelaçados enquanto mordia o lábio, evitando encará-lo, mas sentindo ao mesmo tempo o olhar dele queimar sobre mim.
— Olha, , eu quero deixar algo bem claro...
— Tyler, eu...
— Ah — falamos juntos ao perceber que um interrompeu o outro. Sorri sem jeito e mandei-o continuar, torcendo para ele não me chamar para jantar.
— Não quero que entenda errado a minha insistência. Não estou procurando um relacionamento sério ou algo do gênero, longe disso.
Após essas palavras, não pude deixar de suspirar alto de alívio.
Tyler riu de minha reação e disse que era minha vez de falar.
— Ah, ufa. Eu ia dizer exatamente isso, que não quero algo sério nem nada... É que eu sou uma pessoa livre, sabe? Odeio me sentir presa.
Dessa vez, quem riu foi Tyler.
— Quer dizer que você é selvagem, então?
— Podemos dizer assim — comentei rindo maliciosa.
Um silêncio prevaleceu entre nós durante alguns segundos, nos quais meu pedido chegou e eu beberiquei meu café.
— Bom... — Meu celular tocando me interrompeu. Era minha amiga do Planeta Hollywood. — Droga, Ty, eu preciso atender essa ligação, mas prometo que volto. Deixo minha bolsa aqui como garantia.
Ele sorriu de lado, assentindo, depois bebendo alguns goles de seu café enquanto eu saía pela porta e abria o celular.
— Fala, Mads.
Ela me pediu para esperar um segundo. Enquanto esperava, observei as pessoas que passavam na rua, percebendo que várias pessoas olhavam para o outro lado da rua alarmadas, vendo um homem afeminado correr desesperado na frente de um homem forte e loiro que carregava uma garota loira no colo.
— Oi, , a chefe mandou te ligar e avisar que hoje de noite eles vão fechar o restaurante para uma festa de um milionário aí e ninguém vai precisar ir porque ele contratou uns garçons luxuosos aí.
Enquanto ouvia Mads, observei a cena e reparei que a garota tinha sapatos iguais aos meus da liquidação de ano novo da Macy’s.
Os mesmo sapatos que eu emprestara para de manhã.
Conforme as engrenagens do meu cérebro funcionavam, percebi que toda aquela roupa era familiar, principalmente o cabelo louro esvoaçante e aqueles braços que a envolviam. Definitivamente britânicos.
Senti minha garganta travar e as pernas tremerem, mas mesmo assim me obriguei a fazer o que era mais racional.
— Ah, Mads, eu preciso ir... Mas tá, hoje não tem trabalho, saquei. Valeu, tchau! — Desliguei apressada e voltei correndo para dentro do cybercafé, desesperada.
— TYLER! TYLER! VEM COMIGO AGORA! — falei um pouco mais alto do que deveria enquanto pegava a bolsa.
Tyler, que bebia o final de seu café, engasgou-se e arregalou os olhos com os meus gritos. Arranquei a bolsa da cadeira e saí correndo para a rua, mal observando se Tyler me seguia ou não. Extremamente satisfeita por estar usando tênis, corri para alcançar Chuck, que entrava no hospital com nos braços.
Tyler entrou atrás de mim, ofegante, com o casaco em mãos e uma expressão confusa que logo mudou ao ver na maca.
Cheguei perto de Chuck, que conversava com uma enfermeira, gritando exasperada para saber que porra estava acontecendo com o meu bebê.
— se demitiu hoje no emprego e acabou desregulando a pressão. Ela teve um ataque — ele comentou exasperado, passando as mãos pelos cabelos loiros.
Eu simplesmente surtei.
— ELA SE DEMITIU?
Quando finalmente me deixaram ver , ela estava dopada. Os batimentos ressoavam no visor ao lado dela, seus peitos enormes subindo e descendo conforme ela respirava calmamente. Seus cabelos estavam sobre o travesseiro, levemente despenteados, as mãos sem movimento de unhas negras sobre o colchão. Aquela camisola horrível do hospital a deixavam com um ar doentio.
Há alguns anos atrás havia começado a tomar remédios para controlar a pressão, como sempre fora muito emocional (assim como eu), estava sempre com a pressão subindo. Nunca nada havia acontecido; várias vezes eu esquecera esse pequeno fato do qual nós nunca falamos, aliás, eu soube dessa história através da mãe dela. Mas isso não era importante, porque nada de grave nunca havia acontecido com ela.
Até hoje.
Os sapatos que me ajudaram a reconhecê-la estavam no canto do quarto, perto de suas roupas. A quase parada cardíaca que ela tivera desgastara todo o seu corpo, ela estava tomando calmantes e controladores de pressão, mas o desgasto físico exigira que ela passasse a noite no hospital. E eu, como sua linda melhor amiga, ficaria de noite lá com ela. Chuck brigara para ficar, mas quem ele pensa que é? Ele não tem esse direito só porque regou a roseira da minha amiga.
Fechei os olhos e bufei enquanto escorregava pela cadeira de couro consideravelmente confortável do hospital. Estava perdendo o novo episódio de How I Met Your Mother por causa das maluquices da . Nunca achei que seria eu sentada na cadeira do hospital; normalmente eu sou quem fica na maca por alguma merda que eu fiz. É exaustivo ficar preocupada.
Esfreguei os dedos nas têmporas, fazendo movimentos circulares enquanto o bip constante da máquina ia me irritando. Sempre detestara hospitais, tive experiências ruins neles.
Fiquei perambulando pelo quarto de um lado para o outro com os fones de ouvido, tentando não pensar em como minha melhor amiga estava quase entubada (sim, eu exagero muito as situações) na cama à minha frente. Inconscientemente, comecei a cantar baixinho meu amado Bon Jovi.
— Não sabia que você era fã de rock, — Tyler comentou ao entrar no quarto com um singelo buquê de rosas brancas.
Retirei um dos fones de ouvido e olhei para , perguntando-me se ela poderia nos escutar e se seria melhor sair do quarto para conversar. Julgando pelo rastro de baba em sua boca, acho que podíamos permanecer ali. Peguei as rosas de Tyler e coloquei-as perto do buquê enorme de rosas vermelhas imponentes que Chuck havia deixado na cômoda ao lado da cama de . Apesar de chateado por não saber dos problemas de saúde de , ele ainda mandou flores. Um verdadeiro cavalheiro.
— Obrigada por vir, Tyler. Realmente não precisava.
— Ah, ok. Achei que fosse gostar de algumas camisinhas também para tirar o seu rótulo de “A-que-nunca-dá” — ele disse indicando para um pacote brilhante que eu não havia notado antes, no meio das flores brancas. Ri daquele fato, pensando em qual seria a reação de quanto à isso.
Guardei o iPod na bolsa e andei até Tyler, que me observava de longe. Coloquei uma mecha de cabelo atrás da orelha e sussurrei:
— Por que você realmente veio até aqui, Tyler?
Ele ponderou por alguns segundos e deu de ombros.
— Ah, acho que estava sem nada para fazer.
Elevei as sobrancelhas, esperando uma desculpa esfarrapada um pouco mais plausível.
— Ok, talvez eu tenha vindo porque me preocupo. Com você. Com também, mas principalmente com você.
Abaixei o olhar e fitei meus tênis e os dele. Respirei fundo e percebi que aquilo seria muito estranho de se discutir com minha melhor amiga presente, mesmo que inconsciente, mas resolvi continuar.
— Não podemos ficar juntos... Romanticamente falando.
— Eu sei — a resposta foi rápida e curta, sem nem um pingo de mágoa. Quando levantei os olhos, surpresa, havia um sorriso em seu rosto.
— Sabe?
— Você não é do tipo que procura compromisso, e nem eu. Não nos conhecemos há muito tempo. Você é louca e tagarela.
— Ei, você que é muito quieto.
— Ok, mas você continua louca.
Dei um sorriso brincalhão.
— E quem não é?
Tyler sorriu de volta, balançando a cabeça negativamente e passando as mãos por minha cintura.
— Você é confusão. E eu não quero uma namorada confusa e louca, sem ofensas, . É muito para eu conseguir lidar.
Dei de ombros, ignorando as ofensas que mais tarde me fariam resmungar, rebatendo-o:
— Você é muito quieto e reservado. E parece ser ciumento. Eca.
Ele riu e apertou-me com as mãos firmes.
— Mas nada disso quer dizer que não podemos ficar juntos. Não romanticamente falando.
Subi minhas mãos por seus braços e apoiei-as em seus ombros.
— Tipo... Amigos?
— É.
— Com benefícios?
Tyler me olhou de cima à baixo algumas vezes, como se me imaginasse nua novamente, então mordeu os lábios e soltou uma risadinha.
— Ocasionalmente. Mas acho que você é bonita o suficiente para conseguir quantos homens quiser, dos mais diversos tipos, então não acho que ficará carente ao ponto de precisar de mim.
Concordei, pois, de fato, era verdade.
— Então somos amigos. Tipo, sei lá, melhores amigos que nem naqueles filmes legais dos cinemas, mas sem a parte que eles ficam juntos. Ou sei lá. Falando nisso nós poderíamos ir ao cinema no sábado ver Velozes e Furiosos 6. Ou 7. Sei lá quantos existem.
Tyler riu e me abraçou. Foi estranho ao cubo, mas retribuí o abraço, por mais estranho e inoportuno que estivesse sendo.
Quando nos soltamos, ele sorriu e concordou.
Talvez isso pudesse dar certo, afinal.
’s POV.
— Sua filha da puta! – E um tapa em meu braço.
Meus olhos demoraram a se acostumarem com a claridade, mas a voz claramente pertencia a , que, depois de segundos, vi sentada na cadeira ao lado de minha cama. Senti minha boca seca e testei meus dedos para ver se ainda tinha controle deles.
Estava tudo ali. Até mesmo a dor do tapa de em meu braço.
Minha cama fez um barulho e começou a se erguer, sentando-me de um modo inclinado. Alcancei o copo perto de mim, mas foi que o levou até minha boca.
— Se eu tiver que começar a te alimentar, você tá encrencada, , porque eu vou comer sua comida inteira – ela resmungou tomando um gole de minha água depois de me servir.
Um leve sorriso encostou em meus lábios.
— Mas, escuta, eu estou te dando créditos aqui por ser minha melhor amiga. Que porra de história de hipertensão é essa agora? , você teve a porra de um treco. Achei que você controlava essa merda.
Arregalei meus olhos. Mas não consegui respondê-la.
— É né, sua puta?
— Starbucks... – gemi, me lembrando levemente das coisas.
Puta que pariu, eu tinha me demitido.
PUTA QUE PARIU.
— Ah, isso você fica tranquila. Eu voltei lá e meti um soco de direita na sua ex-chefe, ameacei processá-la por umas coisas imaginárias e etc. E eu sei que você se demitiu, mas tudo bem, guardei dinheiro para uns sapatos que dá para pagar o aluguel inteiro desse mês. Só espero que você me devolva essa gran-
— .
— Oi, amiga. – Ela sorriu.
— Você tá tendo um surto de ansiedade. Tá falando mais rápido que locutor de jogo de futebol brasileiro.
relaxou os ombros e soltou uma risada aliviada.
— Eu estava com medo que você fosse perder a memória e-
— Esquecer seus avisos de peido não seria tão ruim. Até porque você é tão adorável, .
Ela bufou e fez um gesto no ar com a mão quase como se dissesse: “Por favor, eu sei disso.” Sorri para ela.
— E você esqueceu-se de alguém? Sei lá, um loiro inglês talvez, que deixou um vaso de rosas aqui do lado para você hoje de manhã?
Inclinei minha cabeça para o outro lado, para ver um buquê de rosas vermelhas posto num vaso de vidro com água. Voltei com um olhar mortal para depois de ver outro buquê branco com um pacote de camisinhas ao lado.
— Bom, ontem foi uma péssima experiência.
— Por quê? – franziu a testa. – O que você fez ontem?
— . Eu tive um treco, lembra?
Ela gargalhou, mas depois parou e ficou séria. Tipo, realmente séria. não fica séria.
— . Eu tenho que te contar que assim... Esse treco... Eles fizeram uns testes e depois uma mini cirurgia... Bom, você apagou um mês.
— QUÊ?!
— Brincadeirinha! – Ela gargalhou alto. – Você só ficou dopada dois dias.
Eu continuei de testa franzida. Vadia sem graça.
— Quer dizer, você acordou, mas sempre apagava de novo. Por isso os médicos disseram que você estava com alguma lesão. E eles realmente fizeram testes, mas você tá ok. Novinha em folha.
Relaxei os ombros. Então uma batida leve na porta.
— O que não pode ser dito do seu inglês.
E depois dessa frase, vi Chuck parado na porta, com um sorriso aliviado no rosto. Ele tinha o rosto em perfeito estado, mas seu ombro esquerdo estava enfaixado por baixo da camiseta preta de gola V. Usava uma calça jeans de lavagem clara e segurava novas rosas vermelhas. encarou-o e depois se virou para mim.
— Ai meu Deus, tá bom, eu saio! Não precisam me expulsar com esses olhares nojentos de apaixonados. Eca.
Chuck ergueu a sobrancelha e deu passagem quando saiu em passos pesados e arrastados. Tinha que ser minha melhor amiga.
Eu me ajeitei na cama para poder me sentir confortável naquela coisa dura. Era difícil, vou te contar. Sorri encorajando Chuck para se aproximar. Ele parecia meio hesitante.
Sem uma palavra, ele deu a volta na cama, colocou as novas rosas junto com as outras no vaso e parou novamente na frente da cama. Eu não entendia a expressão dele. Tinha alguma coisa errada.
— Como você fez isso no ombro? – perguntei.
— Desloquei o ombro enquanto corria para você viver.
Ok. Chuck Norris bravo. Nada bom. Algo a ver com fim do mundo. Olha 2012 mandando um abraço para mim.
— Chuck, vem cá. – Eu bati com minha mão cheia de agulhas na cama, ao meu lado.
E eu querendo ser sexy e parecer bem quando tem um tubo de oxigênio enfiado no meu nariz. Ele não veio.
Aposto que foram os tubos de oxigênio.
Ok , para de brincar. Meu Deus, como ele pode parecer tão lindamente charmoso mesmo sério desse jeito? Acho que é o estilo despojado, hm... Imagina esses lábios nos meus.
Puta que pariu. O que o Chuck perguntou mesmo?
— Hãn. Desculpa. Eu não... – Caralho, falar que não prestou atenção é foda. – Eu estou enjoada, não entendi direito.
Bela, . Agora ele vai achar que você tá grávida também.
— Eu perguntei se você ia esperar morrer pra falar que tinha pressão alta.
— Não foi por mal. Eu tinha pressão controlada. Como ia saber que no dia que eu não tomei remédio, ia ser demitida? Aliás, ia me demitir?
Chuck cruzou os braços sobre o peito estufado.
— , sua situação de emprego é irrelevante agora! Você deveria ter me contado!
Pisquei, confusa com a súbita agitação de seus braços e a violência em sua voz, que começava a se elevar para mim. Essas coisas realmente me irritavam. Cobrança, encheção de saco. Querer ter um GPS colado na pessoa e manter atualizado 24/7 aonde, quando e porquê estava em algum lugar. Minha nossa, eu tinha saído do Brasil justamente porque queria ter minha independência e eu acabava conseguindo isso.
— Ah, perdão. Não sabia que o papai tinha que saber tudo.
— Como você quer que eu confie em você se não me contar tudo? – ele perguntou, claramente magoado.
Eu tinha pedido para alguém confiar em mim, por acaso? Assinado um contrato ou algo do tipo?
— Hãn, qual é a sua e seu problema de confiança? Até parece que eu sou uma traficante de drogas, com identidade dupla que tá mentindo sobre tudo na vida. Charles, foi um remédio. Foi um dia que eu esqueci de tomar um remédio que eu não havia mencionado.
— Você não acha importante mencionar doenças?
— NÃO, PORRA! – gritei, ficando profundamente irritada.
Ah, vai tomar no cu também, viu. Ele podia ir embora, não quero ter que ficar discutindo. Poupe-me né. Não é como se ele fosse insubstituível, eu acho. E de drama tô cheia, já que a vai fazer o resto da minha vida. E eu tô de TPM.
— Eu acho extremamente razoável que uma namorada conte seus problemas de saúde para seu parceiro, porque...
Pausa.
Pausa.
Elevei uma sobrancelha pra ele e ergui minha mão no ar, interrompendo-o Estreitei os olhos. E tomei muito cuidado para não soltar uns bons e velhos palavrões na orelha dele.
— Quem diabos fez você pensar que eu sou tua namorada?
— Você. - Seus olhos azuis tomaram um aspecto furioso.
— Honestamente, Charles, eu não ligo para o quê você achou. Você está fazendo um eterno drama por absolutamente nada e eu realmente estou cansada, então não vou ficar discutindo com você. Não houve um pedido de namoro, não há nem um mês que estamos saindo. Não preciso ficar dando satisfações, e quer saber? Existe um limite para ataques de piti que eu aguento e você está bem longe desse limite.
Charles passou a mão por seus cabelos e assentiu com cabeça, sua postura se tornando fria.
— Acho que me precipitei. Você realmente pensa isso?
Revirei os olhos, irritada e não me importando em conter nada.
— Precisa que eu faça um desenho, Charles?
— Não. Você quer que eu vá embora?
Revirei os olhos.
— Rápido, de preferência.
— Tanto faz.
— Faça-me essa honra, inglês.
— Você está certa, eu realmente estou no meu limite, . Não vou responder o seu chilique, pois acredito que psicólogos se dão conta das merdas que fazem sozinhos. Ou pelo menos eu espero que sim. Obrigada pelo seu tempo, não vou gastá-lo mais.
Ele saiu sem nem olhar novamente em minha cara, deixando-me somente com aqueles olhos azuis frios e nervosos. Eu quase podia ver a poeira que levantou quando ele acelerou para fora.
Porra.
’s POV.
Dois dias depois que saiu do hospital, trabalhei que nem cachorra para conseguir o máximo de gorjetas. Ela iria me pagar cada centavo depois, ô se ia.
Saí do trabalho exausta e com as costas doendo, para variar. Coloquei o uniforme escroto do restaurante na mochila e me vesti com minhas roupas normais: jeans, blusa do Aerosmith, casacão comprido preto e botas de salto. Conforme descia as escadas do restaurante, coloquei um cachecol ao redor do pescoço, o vento frio de Novembro e a proximidade do Dia de Ação de Graças estavam deixando-me nostálgica.
Como de praxe, Tyler estava ali, esperando-me para irmos ao Dunkin Donuts mais próximo. Ele trabalhava no Madison Square Garden, alguma coisa a ver com esportes, então quando chegava 15h da tarde, quando meu turno do almoço terminava, nós íamos tomar café e conversar antes de eu voltar para o turno do jantar.
Passei o braço ao redor do dele logo que cheguei perto e bufei alto.
— É impressão minha ou Nova Iorque se fragmentou do continente e está se movendo para o circulo ártico? Está cada vez mais frio e estamos em novembro ainda!
— Culpe o aquecimento global — Tyler comentou casualmente, começando a andar comigo.
Chegamos ao Dunkin Donuts e fizemos nossos pedidos, arranjando uma mesa ali no canto. Assim que sentamos com nossas bebidas fumegantes e donuts de chocolate, começamos a colocar as novidades em dia.
— Então, como foi ontem à noite, garanhão?
— Ah, ninguém. Fiquei em casa vendo basquete. Você?
— Ontem estreou o novo episódio de Vampire Diaries.
Tyler revirou os olhos.
— Você e esses vampiros com sentimentos ridículos. Isso é seriado para adolescentes, , que vergonha de você.
— Cala a boca. E nem começa com essa de que eles brilham no sol, o Damon não brilha no sol, ok? E minha mãe também assiste Vampire Diaries no Brasil, então não, não é seriado de adolescente. Assunto encerrado.
Tyler riu, bebendo um longo gole de seu café puro.
— Faturou muito hoje? – perguntou por fim.
— Um pouco, o movimento anda crescendo esses dias por causa das festas e da proximidade das férias de inverno. Bem interessante para o meu bolso, esse ano queria me presentear de Dia de Ação de Graças com um belo par de sapatos.
— Posso comprar um par para você, se quiser. — Tyler piscou para mim.
— Um Louboutin, de preferência.
Dando de ombros, sem saber o quanto caro esse sapato era, Tyler roubou um pedaço do meu donut e concordou com a cabeça. Doce inocência.
— Então... Como anda ?
Passei a ponta do indicador pela borda de meu copo de café lentamente, em movimentos contínuos, olhando para o líquido negro. Era complicado falar com Tyler sobre por dois simples fatos: 1. Tyler agora era amigo de Chuck. Bem amigo. 2. não estava mais com Chuck.
— Ah — disse casualmente. — Ela... Ela está bem. Eu tento conversar com ela sobre esse assunto, mas quem é formada em psicologia é ela, não eu.
— Por que ela não trabalha na área de psicologia mesmo?
— Não consegue emprego. Fez um estágio um tempo atrás, mas digamos que não deu certo porque a esposa do chefe dela era do tipo ciumenta. E os peitos de não ajudaram nesse quesito.
Tyler riu baixinho e tomou outro gole de se café, finalizando-o. Bebi dois longos goles do meu.
— Será que ela não precisa de uma animada?
— Quem? A ? Magina, ela só passa o dia inteiro assistindo todos os seriados possíveis e ouvindo boybands, com a calça do pijama e um moletom da Gap. Super animada. E arrependida de ter saído do trabalho. Mas eu não te contei isso.
— Fiquei sabendo de uma balada underground no Soho que parece ser bem legal. Mulheres que forem de vestido curto não pagam. Vai ser no sábado, começa às 23h.
Que tipo de mulher usaria algo além de vestido curto em uma balada? Franzi o cenho com essa informação, mas deixei de lado.
— Parece tentador, mas não gosta de baladas. Estranho, eu sei, mas não posso reclamar de nada, eu tenho fobia de pés.
Para minha surpresa, Tyler soltou uma risada alta e segurou em minha mão.
— Quando você me disse da primeira vez quase não acreditei. , você sabe como isso é estranho, não? Não me deixou enroscar minhas pernas nas suas depois que transamos porque meus pés estavam encostando em você.
— Ei! Pés são estranhos, ok? Não gosto deles em contato com a minha pele, tenho essa fobia há muitos anos. Sem preconceito.
Ainda rindo, Tyler levantou as mãos como alguém que se rende. Revirei os olhos e terminei de beber o meu café.
Quando meu horário de folga estava quase terminando, Tyler me acompanhou até o Planeta Hollywood pacientemente e com a palma da mão em minhas costas como que me protegendo. Chegando à porta do restaurante, Tyler piscou o olho direito e beijou as costas da minha mão. Logo em seguida, sem falar nada, ele virou-se e foi embora, misturando-se entre a multidão.
’s POV.
Eu estava em uma crise intensa de não-ter-nada-pra-fazer. E nem mesmo a televisão parecia satisfazer. Havia acabado as pílulas de calmante que me apagavam rapidamente e faziam o dia passar mais rápido. Não são drogas. São calmantes, juro.
E eu me arrependia profundamente de ter me despedido do trabalho. Mas só isso também.
Continuava furiosa com Charles. E, sinceramente, não estava muito a fim de pensar nisso, porque sabia que havia fodido com tudo. Depois de esperar que viesse checar em mim durante seu horário de folga e perceber que ela não viria, senti-me sozinha.
Merda.
Fiz então a primeira coisa que passou em minha mente. Peguei o celular e procurei na lista de contatos um certo número. Liguei.
— Você roubou minha melhor amiga, né vagabundo? – falei assim que ele atendeu.
A risada irônica de Tyler ecoou no telefone.
— Sinto muito, . Dei uma volta com ela durante seu horário de folga. Está tudo bem? Você não me ligou só para saber se havia saído com , não é?
— Não. Liguei porque estou sozinha e deprimida. Preciso de um babaca que me lembre a para me animar – resmunguei.
— Ponha uma roupa. Vamos almoçar. Passo aí em meia hora.
E desligamos. Pensei em comentar que já eram mais de 16h, mas era comida de graça, então eu resolvi somente ir.
Respirei fundo e fui procurar algo para vestir. Antes que percebesse, já havia se passado meia hora e o interfone tocou, com Tyler avisando que me esperava na portaria. Peguei uma bolsa qualquer, um dinheirinho emergencial que eu – realmente – esperava não precisava ter que usar e rezei no caminho para que Tyler resolvesse pagar o almoço por mim.
Quando me encontrei com ele, nos cumprimentamos e andamos até um restaurante italiano qualquer, conversando sobre como era uma merda estar desempregado. Não que ele fosse, mas Tyler parecia ser alguém vagabundo que me entendesse. Sem ofensas, claro.
Sentamos, eu pedi uma coisa bem simples e barata enquanto ele pediu um super prato que devia custar pelo menos trinte dólares. Nós falávamos de , do tempo, da comida. Então, dele.
— Qual é a porra do problema entre vocês dois?
Tyler sabia ser um cara direto.
— Bom… Eu não gosto de cobranças e Charles foi uma pessoa bem exigente – respondi, dando uma garfada na comida.
— Se ele não for exigente vai acabar que nem da última vez. Então é óbvio que ele seria, pelo menos eu também seria. E olha que eu sempre estou pouco me fodendo para relacionamentos. – Ele deu ombros.
Peraí.
— Última vez? Foi a primeira vez que nós dois brigamos, Tyler. E aparentemente a última.
— Última vez que ele foi traído. Chuck tem um belo chifre na cabeça, você não sabia? Caralho, , para uma psicóloga você está bem fraquinha na arte de entender as pessoas.
Pensei em levar aquilo na ofensiva, mas ele estava certo.
— Charles foi... Corno? M-mas... Como que alguém...? Como pode alguém fazer isso com... Alguém como ele? – Minha cabeça deu cambalhotas, junto com meu estômago.
Droga, eu fui a vadia mais insensível desse mundo e tudo que Chuck estava precisando era que eu desse uma mínima segurança para que ele confiasse em mim. Merda.
— Você está engasgando com a culpa – Tyler comentou ironicamente.
Fuzilei-o com os olhos.
— Como ele nunca me contou isso?
— Bom. Se me recordo bem do que ele me contou... Vocês nunca foram namorados, nem estavam juntos a mais de um mês, então existe uma linha que vem com limites sobre o que é tudo bem em exigir e sobre dar um chilique, e Chuck não estava no permitido dessa linha. Logo ele não precisava falar nada. Aliás, duvido que você fosse escutar se ele tivesse contado na hora.
Ai.
— Ouch – murmurei. – Você sabe usar as palavras das pessoas contra elas, hein?
— Bom, com o meu trabalho eu tenho que saber. Então sim.
Droga.
— Acho que estou sentindo meu suco gástrico sendo substituído por culpa.
— Fale com ele. O inglês não é tão orgulhoso. – Tyler deu ombros. – Só não prometo nada.
— Eu sou orgulhosa.
Ele sacudiu a mão, chamando um garçom e pedindo a conta. Tyler pagou. Ah, como meu bolso ficou mais leve. Ao nos despedirmos na porta do restaurante, eu agradeci a conversa e a companhia.
— Relaxa. Vai lá, loira. Vai foder com a mente do inglês mais um pouco.
Virou-se e seguiu seu rumo, fazendo-me sentir culpada mais uma vez. Que merda. Por que ele e Chuck tinham que ter razão? Por que eu tinha que perceber a merda que tinha feito e, pior, descobrir que a merda era maior do que se imaginava?
Que caralho.
’s POV.
Assim que cheguei no Planeta Hollywood, dei de cara com Brody, um dos garçons que atendia lá.
— , o que você tá fazendo aqui?
— Ahn... Indo trabalhar?
— Hoje é quarta-feira. Nós combinamos na segunda que você iria trocar o turno comigo e trabalhar por mim na sexta no almoço porque eu tenho uma consulta médica. Lembra?
— MERDA! É verdade. Desculpa, Brody. Eu vou pra casa então, né...
— Só não vai esquecer de voltar na sexta às 11h.
— Pode deixar. Vou anotar.
Dei um tapinha em suas costas e voltei para a agitada Nova Iorque, resmungando porque já poderia estar em casa fazia uma hora. Enfiei os fones de ouvido e peguei o metrô, pensando em qual filme de zumbis que me faria assistir agora. Maldita desempregada. Malditos Starbucks superlotados.
Não demorou nem vinte minutos e eu estava dentro do apartamento, jogando o casaco sobre a bancada junto com as minhas chaves.
— ?
Andei até seu quarto e nada. O banheiro estava vazio.
Filha da puta.
Resolvi tomar uma ducha, vestindo roupas mais confortáveis depois, um short de lycra e uma camiseta de algum time de futebol de um dos caras com quem eu dormi que esqueceu aqui. Prendi o cabelo num coque e estourei pipoca, resolvendo procurar algum filme para assistir, já que não havia nada de interessante no meu Facebook.
Depois de passar por todos os canais possíveis do nosso simples pacote de televisão, desisti bufando e desliguei-a.
Na bancada da cozinha, meu celular me observava como se tentasse me falar algo. Eu sabia que passaria por uma louca carente, mas foda-se, eu sou impulsiva e faço o que quero. Levantei-me e peguei o maldito celular, discando o número que bem conhecia.
— Alô? — disse uma voz grossa.
— Fala, gato.
— Você e a estão carentes de mim hoje, hein.
— Como assim a ? VOCÊ COMEU A MINHA BEBÊ?
Tyler gargalhou.
— Claro que não, boba. Nós saímos para almoçar. Ela queria falar sobre o Chuck. Acabou de sair daqui, faz uns cinco minutos — ele comentou casualmente. — Não era para você estar trabalhando?
— Troquei de turnos com um colega, tinha esquecido disso. Tô em casa sozinha — comentei com um bico, mesmo sabendo que ele não poderia ver.
— Sei. Imagino que isso foi uma indireta.
— Talvez.
— Então suponho que você não se importe que eu passe aí. Estou há duas quadras do seu apartamento.
— Pode vir, gatinho. Tô te esperando na cama.
— Opa. É agora mesmo que eu vou correndo.
Gargalhei e mandei ele se apressar. Desligamos.
Fui até o banheiro e passei um pó e rímel. Escovei os dentes que estavam sujos de milho, soltei os cabelos e penteei-os. Quando eu estava escolhendo uma blusa que fosse minha para usar, a campainha tocou. Droga. Apertei o botão que liberava a sua entrada e destranquei a porta. Eu estava deixando o pote de pipoca na cozinha quando Tyler apareceu na porta, vestindo a mesma roupa que hoje mais cedo.
— E aí.
Mandei-o entrar com um gesto de mão e ele trancou a porta atrás de si, jogando a chave na bancada logo depois.
— Não achei nada de interessante passando na TV, mas se quiser podemos olhar de novo.
Ty deu de ombros e pegou a bacia de pipoca pela metade, logo em seguida seguindo para a sala e sentando no sofá preguiçosamente. Folgado.
— Você não deveria estar trabalhando? — repeti a sua frase.
— Só trabalho depois das três em dia de jogo ou em final de temporada. O Madison Square Garden tem gente pra caralho trabalhando lá.
Dei de ombros e sentei-me do seu lado, puxando a bacia para o meu colo. Tyler passou um dos braços ao redor de meus ombros e com o outro começou a procurar algum filme na televisão. Depois de alguns canais, parou em um filme, Velozes e Furiosos: Desafio em Tokyo.
— Olha, eu posso ser violenta. Mas não sou fã de carros correndo – falei puxando o controle de sua mão e mudando de canal.
— Mas eu gosto – Ty retrucou, puxando o controle e voltando no canal.
— Pena que o controle é meu e eu pago a conta da TV.
— Só por curiosidade, desde quando você paga alguma conta? – Ele se virou para me encarar, com um sorrisinho irônico no rosto.
— Ah, cala a boca.
Eu puxei o controle de volta, mudei o canal e o coloquei embaixo da bunda.
—— Vai ser assim, mocinha? — comentou colocando a bacia de pipoca no chão bem longe do nosso alcance.
Comecei a rir da sua cara de injustiçado e apontei para ele, me divertindo. Ele segurou meus pulsos com força e me olhou sério. Mordi o lábio para tentar não rir. Logo em seguida ele me soltou e começou a me fazer cócegas, os dedos cruéis em minha barriga. Comecei a gritar e espernear, mas ele era muito forte e conseguiu me segurar.
— TYLER! SOCORRO! AH!
Eu estava deitada no sofá me esperneando enquanto ele me fazia cócegas e dizia rindo também:
— Vai, tenta esconder o controle de mim de novo!
— Eu... Não... Consigo... Respirar!
Tyler parou com as cócegas e ficou ajoelhado ao meu lado, rindo, ofegante por ter que lutar comigo. Recuperei o meu ar e, não dando tempo para que ele me impedisse, rolei do sofá para o chão em cima dele, fazendo cócegas em sua barriga. Ele começou a rir e se contorcer, uma risada gostosa e alta, quase escandalosa. Mas, infelizmente, Tyler era muito mais perspicaz (e forte) do que eu, então conseguiu me tirar de cima dele e subir por cima de mim, prendendo ambas as minhas mãos acima de minha cabeça.
Nós dois ainda estávamos rindo, ofegantes. Seu corpo fazia peso sobre mim, mas não me esmagava. Quando finalmente conseguimos parar de rir, ficamos sorrindo, ainda ofegantes, até que os sorrisos se dissiparam e nossos olhos se encontraram com o mesmo pensamento: Estávamos muito perto. Muito.
Sua respiração pesada e quente batia contra meu rosto. Meu peito subia e descia mais lentamente agora, meus olhos focados nos seus. Ainda prendendo minhas mãos, Tyler abriu a boca para falar alguma coisa, mas pareceu desistir. Então ele me beijou.
Foi um beijo intenso. Nossas línguas se entrelaçaram e entraram em sincronia, exatamente como da última vez. Agora com as mãos livres, levei-as para a sua nuca e puxei seus cabelos ralos. Tyler escorregou as mãos pelas laterais de meu corpo até chegar à minha cintura, logo em seguida me segurando com força conforme girava no chão, deixando-me por cima. Acomodei uma perna de cada lado de seu corpo, deslizando minhas mãos para seus ombros agora, enquanto suas mãos desciam de minha cintura para minha bunda e a apertavam com força. Partimos o beijo por alguns segundos, nos olhando nos olhos, ofegantes e silenciosos. Eu sabia que devia dizer alguma coisa. Pausar. Falar sobre como isso era uma péssima ideia. Mas tudo o que eu fiz foi beijá-lo de novo. Tyler pareceu aprovar isso.
Suas mãos deslizaram por minhas costas, segurando-me firmemente, então Tyler levantou o tronco e ficou sentado comigo ainda em seu colo. Partimos o beijo para que ele retirasse minha blusa e eu aproveitei o momento para retirar a sua. Ele segurou meu rosto com uma das mãos e veio com se fosse me beijar novamente, mas desceu a cabeça para o meu pescoço, o qual começou a beijar e morder de leve, fazendo-me gemer baixinho e arranhar suas costas. Sob mim, eu podia sentir a excitação de Tyler crescer.
O chão não parecia incomodá-lo, o que era ótimo, porque eu não queria desgrudar o meu corpo do seu nem por um segundo. Passei minhas unhas por seus braços quando ele apertou meios seios e mordeu os lábios pervertidamente. Logo em seguida o sutiã já estava jogado em algum canto da sala e os lábios de Tyler passeavam por meus seios, sua língua rodeado o bico do meu seio esquerdo. Puxei o cabelo de sua nuca com força e inclinei a cabeça para trás, gemendo mais alto agora.
— Quarto. Agora — ele sussurrou roucamente, me ajudando a sair de seu colo.
Levantei-me com dificuldade, com as pernas meio bambas, mas consegui atravessar o corredor até o meu quarto. Assim que fechou a porta, Tyler veio até mim e me empurrou, para que caísse deitada na cama, e puxou meu short de lycra para baixo com certa brutalidade. Minha calcinha branca com bolinhas coloridas o fez sorrir, mas ele não comentou nada, somente retirou-a e jogou-a longe.
Sentei-me na cama e desfivelei seu cinto, abri sua calça e puxei-a para baixo com força, junto com a cueca. Seu membro pulou para fora, rijo e grande, exatamente como eu me lembrava. Sorri para ele e passei minha língua por toda a sua extensão, segurando a base e distribuindo beijos pela glande. Tyler passou as mãos por meus cabelos e os puxou com força enquanto gemia alto. Envolvi seu pênis com minhas mãos e comecei a masturbá-lo enquanto lambia a glande, ouvindo-o gemer cada vez mais, até que ele moveu o quadril para trás, retirando seu membro de minha boca e de minhas mãos.
Passei as costas da mão por meus lábios e então ele me empurrou pelos ombros, me fazendo deitar, logo em seguida abrindo minhas pernas e passando a língua por minha intimidade. Gemi alto com o contato de sua língua quente, apertando os lençóis ao meu redor. Dois dedos dele me penetraram e o dedão da outra mão começou a fazer movimentos circulares em meu clitóris, fazendo-me gemer e revirar os olhos.
Seus olhos negros observavam minha cara de prazer conforme me masturbava deliciosamente, seu dedão fazendo maravilhas em meu clitóris. Eu tentava manter o meu olhar no seu, mas várias vezes fechava os olhos conforme soltava gemidos mais altos que pareciam gritinhos. Arqueei minhas costas e pedi por mais, mas, ao invés disso, ele parou.
Abri os olhos e o vi vasculhando a cômoda, pegar uma camisinha e se vestir. Bufei indignada por ele ter parado justo quando estava bom para mim, então me sentei na cama e cruzei os braços. Tyler riu e apoiou as mãos na beirada da cama, mandando-me deitar. Fiz que não com a cabeça, decidida. Ele elevou as sobrancelhas.
Ajoelhei-me e fiquei na beirada da cama, quase da mesma altura que ele. Uma mão sua apertou minha cintura com força e a outra puxou meus cabelos, pendendo minha cabeça para trás. Seus lábios sussurraram ao pé de meu ouvido com uma voz rouca e autoritária:
— Deita.
Mordi o lábio, maliciosa e resolvi continuar com o jogo.
— Não.
Ele riu como se esperasse aquilo.
— Vou ter que te obrigar, então?
Fiz que sim com a cabeça e ele riu novamente. Então eu fui jogada no colchão e tive minhas pernas abertas. No segundo seguinte seu corpo estava sobre o meu e seu membro dentro de mim. Apertei suas costas com minhas unhas e gemi alto, fechando os olhos. Eu não o enxergava, mas sabia que Tyler sorria.
Instantes depois, ele apoiou os cotovelos nas laterais do meu corpo e começou a investir, lentamente, indo e vindo com tal força que me fazia quase gritar a cada investida. Minhas unhas castigavam suas costas e eu sentia um prazer enorme subir por todo o meu corpo. Tyler apoiou a testa na minha e nossos olhares se cruzaram no exato momento que ele aumento o ritmo, indo e vindo cada vez mais rápido, fazendo o ritmo de meus gemidos aumentarem.
— Geme meu nome, — Tyler sussurrou ao pé de meu ouvido, fazendo-me revirar os olhos e atender o seu pedido logo em seguida.
— Ah, Tyler.
Segurando meu quadril com firmeza, Tyler ficou de joelhos na cama e deixou-me deitada, segurando meu quadril elevado para que pudesse continuar a me penetrar. E foi o que ele fez. Repetidas e repetidas vezes em várias intensidades e velocidades.
— Tyler! Ah, Tyler!
Tyler me penetrava com tal força e velocidade agora, que nossos quadris estalavam muito alto ao se encontrarem e eu estava praticamente gritando de prazer. Ele gemia alto, apesar de tentar reprimir a maioria desses gemidos enquanto mordia a boca. Minhas unhas percorriam tudo à minha volta. Colchão, lençol, travesseiro, até meu próprio corpo.
Crescente, o prazer finalmente chegou ao seu ápice e eu soltei um gritinho. Arqueei minhas costas e puxei o ar com força entre os dentes, gemendo seu nome manhosamente enquanto sentia aquele prazer que estava concentrado se espalhar por todo o meu corpo e escurecer minha visão por exatos quatro segundos, enquanto todos os músculos de meu corpo se contraíam.
Não aguentando mais, Tyler me penetrou com força mais uma vez e permaneceu ali, gozando, bem fundo dentro de mim, enquanto seus olhos estavam cerrados e os músculos de seu braço todos contraídos, as sobrancelhas unidas e a boca semiaberta num gemido longo e sensual, no final do qual meu nome fora pronunciado num sussurro tão sensual que quase me fez gozar novamente. Quando seus olhos se abriram, seu olhar encontrou o meu de imediato.
Uma faísca percorreu o ar entre nós enquanto nossos corpos suados ainda estavam conectados. Aquele momento durou alguns segundos, até que Tyler finalmente saísse de dentro de mim e se dirigisse ao banheiro com a cueca e a calça jeans em mãos.
Sozinha em meu quarto, abri um sorriso, satisfeita com o prazer que havia acabado de sentir.
Então a realidade me atingiu e o sorriso se desmanchou.
Vaguei pelas ruas de New York sem muita felicidade ou vontade. Minha cabeça martelava em dúvida e raiva. Porque obviamente eu ainda achava que Charles não deveria ter exigido de mim tanto quanto exigiu, e pior, ele não deveria ter simplesmente suposto que eu devia algo para ele somente por estarmos saindo juntos. Mas então a história de Tyler também fodia com minha cabeça, porque enfim compreendia de onde vinha aquela necessidade de confiança e “cartas na mesa” dele. E eu me sentia péssima por não ter pedido para conversar, por nem ao menos ter deixado-o falar muito, e simplesmente ter vomitado todas as coisas que vomitei.
Mas eu ainda tenho minha razão pela briga. Até porque, como ele podia exigir que eu tivesse contado tudo para ele, quando nem havia me contado de seu último relacionamento?
E de novo, como eu podia exigir isso dele, e vice-versa, quando nós nem estávamos em um relacionamento sério? Porra.
Quando percebi, eu já havia tomado um metrô e estava parada na Wall Street sem saber exatamente para onde ir. Eu realmente não costumava vir para esses lados administrativos da cidade. Sabe como é né, vida de ex-garçonete. Forcei minha mente a lembrar de onde era a empresa de Chuck. Óbvio que eu sabia que eram as Beway, mas onde isso ficava no meio da rua super lotada, eram outros quinhentos. Andei pela rua esperando que uma placa gigante aparecesse e dissesse “A EMPRESA BEWAY É POR AQUI”, mas a placa nunca apareceu, ao invés disso, fiz o que toda mulher perdida faria:
Pedi ajuda.
Vi um homem mais velho - lá pelos seus cinquenta anos -, de cabelos grisalhos e todo encolhido em seu terno devido ao frio do dia, fumando um cigarro e encostado na entrada de um prédio.
— Com licença... Onde fica a empresa Beway? – perguntei.
Ele sorriu para mim.
— Ah minha jovem, você está na frente dela. Eu trabalho na Beway, estou no meu horário de folga.
Que sorte do caralho. Ó, o destino já tá me mandando um presente.
Olhei para cima. O prédio era majestoso, simplesmente. Deveria ter uns trinta e poucos andares o prédio. Todas as janelas eram de vidro e espelhadas, foda. A porta giratória também era de vidro, e eu podia ver o hall de entrada pintado com uma cor creme, de carpete branco e cheio de enfeites de rico e – coitada da pessoa que limpava esse lugar - lotado de empresários vestidos de terno conversando e saindo de tempos em tempos. Podia também ver as belas catracas que impediam que eu entrasse lá com fácil acesso. Fechei a cara.
— Meu nome é Malcom. Eu posso te ajudar com alguma coisa?
Pisquei, saindo do transe e abrindo um sorriso desconcertado. Ele com certeza viu o “pobre” estampado em minha testa.
— . Eu queria falar com o Chu... Charles. Charles Beway. – Apertei a mão estendida dele.
— Certo. É assunto profissional? – Ele apagou o cigarro com o sapato preto social bem polido e sorriu amigavelmente.
— Não. Eu sou uma... Conhecida dele.
— Ah, entendo. Tudo bem, vamos entrar e eu vejo o que consigo arranjar para você.
— Minha nossa, muito obrigada mesmo! – Suspirei aliviada e me segurei para não abraçar o velho ali mesmo. Realmente, eu não estava ansiosa para ter que arranjar um jeito de burlar o sistema de segurança ou causar algum barraco só para vê-lo.
— Não é nada demais, senhorita . - Ele deu ombros.
Falou meu sobrenome de um jeito estranho, quer dizer, do jeito estranho que os americanos falavam. Mas não me incomodou nem um pouco, afinal, ele estava me ajudando a entrar no prédio e ver Chuck. Estava bom demais para mim.
Segui-o para dentro do prédio e ele pediu para que eu esperasse enquanto ele falava com as secretárias. Ele voltou alguns segundos depois segurando um cartão e entregou-me.
— O andar do senhor Beway é o último. Ele deve estar em reunião agora, mas você pode esperá-lo que quando ele sair, as secretárias dele avisarão que você o espera.
— Malcom, você salvou uma alma. Obrigada mil vezes. – Sorri abertamente e segui para as catracas.
Eu esperava que a qualquer momento um dos seguranças que ficavam parados pelo hall me parassem enquanto eu atravessava as catracas, mas não aconteceu. Esperei um dos seis elevadores durante o que pareceu uma eternidade, e eu agradeci internamente por sempre ter me instruído a vestir-me bem independente para onde fosse.
Pelo menos agora eu não parecia uma completa deslocada. Talvez um pouco.
Quando o elevador finalmente chegou, eu adentrei-o junto com pelo menos mais quinze empresários que falavam de assuntos com matemática no meio – ou seja, eu não entendia –, ou não falavam nada e ficavam em um silêncio desconfortável. O elevador parou em praticamente todos dos trinte e seis andares, e eu odiei ter acertado minha previsão de quantidade destes.
Quando a porta abriu no último andar, eu – a única pessoa que havia sobrado no elevador – me deparei com uma parede azul meio transparente com letras gigantes gravadas que dizia “Beway”. É, eu estava no lugar certo. Assim que sai do elevador, encontrei em minha direita, no final do corredor, uma mesa com duas secretárias que pareciam realmente entretidas em seus computadores. E na outra extremidade do corredor, uma área de espera. O elevador ficava no meio de ambas, e eu tinha certeza que atrás da parede azul em minha frente havia várias salas de reunião.
Somente uma das secretárias dignou-se a olhar-me quando parei em sua frente.
— Sim? – Ela ergueu a sobrancelha.
— Eu estou aqui para ver o Charles. Sou amiga dele.
Ela deu um sorriso irônico.
— Claro. Acontece, querida, que você precisa de um horário marcado. Sem horário, sem senhor Beway. E, infelizmente, nós só temos horários para reuniões no meio de dezembro.
— Estamos na primeira semana de novembro – falei e ela assentiu, desinteressada. – Você quer que eu espere um mês e meio para ser atendida pelo meu amigo?
A mulher deu ombros e voltou sua atenção para a tela, pouco antes de dizer:
— Por favor, retire-se do prédio ou marque um horário.
— Escuta aqui, fofolets – comecei, colocando as duas mãos sobre a mesa e inclinando-me ameaçadoramente sobre ela, depois sorrindo para a secretária secundária que finalmente havia percebido minha existência.
— Quem você acha...? – Antes que começasse, ela se interrompeu, amedrontada.
— Eu vou sentar naquelas cadeiras que me parecem extremamente confortáveis. - Fiz um gesto com a cabeça para o final do corredor que tinha duas poltronas de camurça com uma mesinha decorativa entre elas. – E vou adorar esperar o senhor Beway sair da reunião. E quando ele sair vai me atender. Enquanto isso eu aceito um café forte, por favor.
Afastei-me sorrindo delicadamente e sentando em uma das poltronas. A secretária levantou imediatamente e sumiu, voltando dois minutos depois com meu café. Ela entregou-me o mesmo silenciosamente e voltou a trabalhar sem mais nenhuma palavra.
Pensei seriamente nela ter cuspido em meu café. Mas, bom, foda-se. Eu podia jurar que o tempo estava mil vezes mais devagar, porém eu sabia que aquilo era somente minha ansiedade em vê-lo. Fazia uma semana que sequer havíamos nos visto. Pouco tempo, eu sei. Mas de repente parecia ser muito.
Em um certo ponto, estava tão ansiosa, que quando o elevador fez seu barulho de portas abrindo, eu automaticamente endireitei minha coluna e deixei a xícara de café na mesinha. Mas quem apareceu foi cerca de seis empresários que cumprimentaram as secretárias com a cabeça e adentraram no escritório.
Mais uma vez, eu podia jurar que eu esperei horas - se eu não soubesse que foram apenas quarenta minutos. Sim. Quarenta minutos esperando para falar com ele. Antes quarenta minutos do que uma vida me corroendo por não ter resolvido as coisas, certo? Eu sou daquelas pessoas que se corrói com culpa e remorso até resolver a situação. É.
E mesmo assim, eu fui fazer o que da vida? Isso mesmo. Psicologia. Nada como lidar com os problemas dos outros também.
Chacoalhei os pensamentos de minha cabeça quando o elevador fez seu barulhinho novamente e meu coração disparou quando eu ouvi a risada dele. Saindo do mesmo, Chuck e mais três homens bonitões. Eles riam e pareciam muito satisfeitos. Os quatro aproximaram-se das secretárias e todos receberam mini papéis – provavelmente chamadas e recados. Até que a secretária que eu havia ameaçado apontou, para quem? Pra quem? Para mim.
Óbvio.
Quando Charles virou somente o rosto por cima do ombro, sua testa estava franzida em confusão, como se ele não tivesse entendido o que a secretária estava falando, mas assim que me viu, sua expressão suavizou-se e depois pareceu ficar mais confusa quando ele tentou esconder um mini sorriso que brotou em seus lábios e desapareceu em um flash. A secretária continuava a tagarelar, e ele fez um sinal com a mão para que ela calasse a boca – ou pelo menos eu interpretei dessa maneira. Deu um toque no ombro de cada um de seus amigos/empresários/deuses, que me olhavam curiosos, e andou até mim calmamente, com uma expressão quase séria. Achei ter reconhecido um deles de algum dia no Starbucks.
— ? – sua voz era de surpresa.
Tcharam, feliz natal adiantado! Só esqueci o laço na cintura.
— Charles. Oi. – Sorri estendendo a mão.
— Está tudo bem com a ? O que houve? – Ele apertou minha mão, hesitante.
Sua palma estava gelada e seus olhos me analisavam como um scanner de segurança.
— Está tudo bem com ela. – Pisquei, deslumbrada em como ele parecia saudável e até melhor do que no hospital. – Eu realmente preciso conversar com você.
O que eu esperava? Olheiras debaixo dos olhos dele e uma barba mal feita? Ele era Charles Bewey, afinal. E não podia se dar ao luxo de ficar que nem eu: em casa se remoendo.
Ele pensou alguns segundos – que me pareceram uma eternidade silenciosa – antes de responder:
— Acho que posso arranjar tempo para você. Vamos entrar. Bitch, please – pensei em dizer, mas mordi minha língua. Forte demais até.
Então ele colocou a mão em minha cintura – como se fosse um ato normal - e guiou-me para dentro do escritório – para trás da parede azul –, e eu devo dizer que o que eu imaginava de lá era bem diferente. Quer dizer, achei que fosse ser menos... Rico.
Assim que adentramos, o chão tornou-se um carpete tão macio que meu salto afundava todas as vezes que eu pisava. Havia uma grande mesa retangular de reunião – grande, quero dizer, de pelo menos trinta pessoas – e vários pequenos escritórios nas paredes. Contei dezessete no caminho todo. Havia um banheiro e a porta de uma mini cozinha onde provavelmente havia sido feito meu delicioso café. O espaço era muito aberto e claro. As pessoas que trabalhavam lá não pareceram se incomodar com minha presença, mas davam um sorriso amigável para Chuck e às vezes diziam “Parabéns”. Será que ele tinha ganhado alguma coisa? Porque eu tinha certeza que não era aniversário dele.
A sala dele era a maior – o que soa certíssimo, levando em consideração que ele era o chefe de lá, e era a única fechada. Em sua frente havia outra sala fechada, mas com anexo a dois dos mini escritórios e sua porta tinha as inscrições “Vice-Presidente/Coordenadores Gerais”, e na de Charles estava escrito “Presidente - CEO”.
Intimidador, se você quer saber. Pra caralho até.
Assim que entramos na sala, Chuck – acho que posso voltar a chamá-lo assim, já que ele não me expulsou do prédio – fechou a porta e trancou-a. Ele colocou as mãos no bolso da calça e ficou encarando minha expressão de completa idiota fascinada com o que via.
— Ah, é. Estou muito agradecida por você estar me escutando, de verdade – falei tentando manter minha voz controlada e calma. – E... E eu não estou falando o que vim fazer aqui, não é?
— Não, não está.
— Tudo bem, acho que eu mereço que você fique nervoso comigo e não queira me ver nem pintada, né – falei enquanto observava ele sentar-se em uma das poltronas que havia ali.
Chuck não parecia nervoso. Não parecia prestes a gritar comigo. Chuck não parecia nem ligar do fato de eu estar lá.
— Não nos vemos faz tempo, né – continuei.
, vai tomar no cu. Uma semana, mulher. UMA.
— Culpa sua – ele respondeu, ignorando o exagero no que eu havia acabado de falar e analisando atentamente o que eu fazia, me deixando mil vezes mais desconcertada do que já estava.
— Certo. Sobre isso... Tyler conversou comigo hoje – murmurei cautelosa. Isso trouxe a atenção para os olhos dele. – E eu realmente sinto muito por ter sido uma idiota.
— Uhum. – Estreitou os olhos azuis e olhou para o carpete.
— E olha, metade de mim acha que eu estou certa. E a outra sabe que não – despejei, sem me importar tanto com a voz falha. – Chuck. – Ele voltou seu olhar para mim. – Eu realmente não sou boa nisso de desculpas. Mas eu sei que fui injusta. Você é um ótimo cara e eu gostaria de ser uma boa pessoa para você também... E você é o tipo de cara que merece que a pessoa com quem esteja junto seja... Você sabe, confiável. Fiel.
— Então você já sabe de Meredith. Tyler te contou.
E aí estava o nome da ex-namorada vadia.
— É. Ele mencionou.
— Não quero pena – dle disse rapidamente. – Não quero absolutamente nada. Nenhuma desculpa ou discurso, não se ele for fundado no fato dela ter me traído.
Não. Pera aí. Ele está entendendo tudo errado. Porra. Por que eu falei que eu sabia dela? Eu podia ter simplesmente mentido. Isso, aí você foderia com tudo mais ainda. Boa, . Saí dessa agora, sua pata choca.
— Não... N-não é por causa disso. Droga, Chuck! Isso é complicado para minha cabeça. Eu obviamente não sou boa nisso. Porra. – Lágrimas ameaçaram brotar em meus olhos e eu rapidamente as engoli. - Escuta, sou orgulhosa e não costumo me desculpar, tipo, nunca. Se estou dizendo que não é por causa dela, é porque não é. Sei que errei.
— Tudo bem.
— Tudo bem? É... É isso que você vai me dizer?
— É.
— Desculpe se eu te magoei e, acredite, eu vou me corroer em culpa durante muito tempo por causa disso. Mas eu estou dizendo que eu não faria isso se soubesse...
Merda.
— Que eu fui corno – ele pareceu começar a ficar irritado.
Puta que pariu.
— Não! Eu... Ah. Não sei. – Ergui as mãos no alto, desistindo. – Isso não foi nada como eu havia planejado que fosse. Nossa. Não sei como consegue pedir desculpas tão fácil, não é fácil.
— Eu estou bem, . Estou ótimo, na verdade. Fui em bares essas duas noites, vivi, trabalhei. Nós não estávamos vendo antes, mas não íamos dar certo como algo mais do que amigos. Eu gosto muito de você, mas não vou voltar na mesma tecla. – Ele levantou da poltrona e aproximou-se de mim.
Ah, que ótimo. Você está levando um pé na bunda agora, .
Que perfeito.
— Você sabe que eu não sou de querer me vingar. Eu só não posso ficar com você... Daquele jeito. No fim você ainda é minha amiga, acredite. Não há mais nada que eu possa dizer.
— Não mesmo – respondi, ficando de cabeça erguida e respirando profundamente, ou tentando. Foda-se, eu fiz minha parte. – Obrigada pelo seu tempo.
Afastei-me e quando estava prestes a sair pela sala, ele puxou-me pela mão.
— Podemos ser amigos?
— Ah, sobre isso... – falei abrindo um sorriso e tentando manter a calma. – Não.
E fui embora pensando no que ele disse. Pois é, ele estava certo. Figurinha repetida não completa álbum.
’s POV.
Quando Tyler voltou do banheiro, eu já havia vestido minha calcinha novamente e agora usava uma camiseta do Bon Jovi e shorts jeans. Ele sorria divertido, mas sabia em seus olhos que havia preocupação.
— O que acabou de acontecer... — comecei a falar.
— Foi ótimo — ele complementou.
Ri baixinho e concordei com a cabeça. Era verdade.
— Mas foi errado.
— Por que errado?
— Porque... Somos amigos. E só. E eu não transo com os meus amigos, porque quando você começa a transar muito com a mesma pessoa, isso pode ficar... Confuso.
Tyler permaneceu calado.
— E quando as coisas ficam confusas, eventualmente, pode virar paixão. E nem sempre os dois chegam a esse estágio. Então as pessoas começam a se evitar e depois uma delas acaba confessando. E elas se afastam. Uma abandona a outra. Não quero te perder.
Ele pegou em minha mão e, provavelmente em toda a nossa amizade, presente ou futuro, disse o que seria a coisa mais fofa que ele já havia me dito:
— Eu não vou te abandonar, . Prometo.
Eu contorci os lábios e puxei minha mão de volta.
— Eu não gosto de promessas.
— Não gostava de transar duas vezes com o mesmo cara também.
— Eu ainda não gosto. E é por isso que não podemos repetir.
— Não precisa ser assim.
— Precisa, Tyler. Eu gosto da sua amizade. Gosto da liberdade que temos. Gosto de ter um homem ao meu lado com o qual não precise me preocupar em não causar ciúmes, ou vestir a minha melhor roupa, ou ter que dar satisfação. Eu gosto disso, de nós.
— Eu também gosto.
— Então para que continue assim, nós não podemos continuar transando. Eu sei que vai ser difícil, já que eu sou ótima na cama...
Tyler riu e passou a mão desde o meu joelho até a minha bunda, como se confirmasse a minha frase, quase me fazendo desistir do que falava e puxá-lo para mais uma rodada de sexo.
— Mas é necessário. Não podemos arriscar nossa amizade.
— Eu entendo. Seria impossível para você não se apaixonar por mim se continuássemos transando.
Peguei um travesseiro próximo e joguei nele.
— Idiota.
Ele sorriu de lado, nada arrependido. Cometi o erro de descer os olhos de seu rosto para o seu corpo, distraindo-me da conversa ao observar todos aqueles músculos delineados olhando para mim. Se ele percebeu ou não que eu estava babando nele, resolveu ignorar e comentou:
— Então, sem sexo. Somente amizade.
— Isso. Não precisamos agir diferentes só porque não vamos transar, também.
— Isso vai ser difícil.
Suspirei.
— Eu sei, mas sacrifícios tem que ser feitos pelo bem da nação.
Tyler beijou as costas de minha mão que estava próxima a ele e disse:
— Tá bom então, amiga. Vamos fazer alguma coisa fabulosa para você comer.
— Por favor, só porque eu falei sem sexo, não é pra você ficar afeminado.
Ele gargalhou e bateu no peitoral.
— Aqui é macho, porra.
Sorrindo maliciosa e levantando da cama, pisquei um olho para ele.
— Eu sei. Ô se sei.
’s POV.
— Eu já falei que não vou falar com ele de novo – repeti para .
Ela estava só de sutiã e shorts, deitada em cima de mim enquanto assistíamos uma finale de American Next Top Model. Tínhamos passado máscara no rosto e ficado em casa sem fazer absolutamente nada. estava em folga e bom, eu estava desempregada. E a temporada que assistíamos era reprisada, aquela onde ganhou uma mulher e quem ficou em segundo fez mais sucesso. Vai saber né.
— Bom, eu acho que você tá perdendo um deus grego, um ótimo sexo e uma oportunidade de fincar suas garras em um cara legal. E só porque você ainda tem aquele seu antigo orgulho todo. Seja amiga dele e depois finque suas garras!
— Bom. – Suspirei. – Não nasci para ser amiga de ex-namorado.
— É, mas você mesma disse que ele não foi seu namorado, então qual o problema? – resmungou colocando metade de uma barra de chocolate na boca.
Resolvi mudar de assunto rapidamente, antes que ela tentasse dar uma de conselheira amorosa. E, diga-se de passagem, ela era bem pior em relacionamentos que eu. Para você ver o naipe da coisa.
— Sabe que não funciona usar essas máscaras se você fica comendo doce.
— Eu tô de TPM, vai se fuder. – E assim ela terminou de lamber os dedos de chocolate, pegou no controle e mudou de canal.
— UI! Quem é esse cara?
levantou do meu colo e se concentrou na entrevista que algum cara bonito estava dando. Eu tombei a cabeça para trás e fechei os olhos, até ela me meter um tapa na perna.
— PUTA QUE PARIU. , CHEGA!
— Ai, caralho. Quê que foi, sua vaca?
— Eu acabei de gritar que tinha um cara gato na televisão e você tomba o rosto pra trás, nem pra olhar? AH NÃO, MINHA FILHA. Já chega.
Minha mente demorou um pouco para acompanhar a reação de . Ela levantou no maior pulo e saiu em disparada para os quartos, eu a segui, meio receosa do que essa louca devia estar fazendo, mas a encontrei jogando todas as roupas de meu armário para o alto, xingando e falando coisas sem sentido. Ela jogou um vestido que eu provavelmente havia usado uma única vez na vida, mas que ficava um arraso em mim. Tinha uma cor cinza e uns desenhos estranhos o decorando, e deixava meus peitos o dobro de seus tamanhos, o que cá entre nós, é muito. Separou também um salto alto majestoso.
— Vamos a uma balada que Tyler disse que tinha no Soho. Não há discussão sobre o tópico. Vamos nos embebedar essa noite.
— Só uma coisinha... – falei e ela fechou a cara em minha direção. – , tá frio pra caralho. Você quer que eu use o vestido mais curto do meu guarda-roupa?
Ela franziu a testa pensativa, então pareceu que algo estalou em sua mente.
— Ahhhhh.
— Lembrou do que, loira burra?
— Bom, primeiro que a loira é você. Segundo que Tyler disse que mulheres de vestidos curtos não pagavam, e agora abre três tópicos aí: um, nós não temos ideia de quanto é para entrar nessa merda. Dois, não temos dinheiro nem pra pagar aluguel esse mês. Três, a gente pega aquela garrafa de vodca que um dia um cara x resolveu comprar para mim achando que eu ia dar para ele, e nos aquecemos com ela.
Dei de ombros, concordando com a situação. se virou de costas, pronta para achar sua própria roupa, já rebolando no ritmo de festa e, não deram nem vinte minutos, ela surgiu na porta do meu quarto, maquiada, perfumada e pronta para matar com um salto de 15 centímetros e um vestido preto aberto nas costas em V.
Peguei um dinheiro para o táxi que teríamos que pegar, já que provavelmente nem conseguiremos andar de salto com o teor de álcool em nosso corpo, coloquei-o no sutiã e nem esquentei a cabeça com o celular. Eu não tinha ninguém para me preocupar em dar satisfações mesmo.
Já no elevador, abrimos a santa garrafa de vodca e viramos alguns goles antes de entrar no táxi de algum muçulmano emburrado que mais queria ir para casa do que nos levar para a maldita balada. Trabalha por que, então, porra?
Assim que chegamos no endereço que Tyler enviara por mensagem para , nós duas entramos em choque por perceber o naipe da balada. Essa porra era pra gente milionária. Tyler estava na porta, do lado de um segurança e abriu a porta do táxi para nós, segurou-nos pela cintura dando um beijo no rosto de cada uma e só de se aproximar do segurança, o mesmo liberou nossa entrada.
Tyler agradeceu com um sinal de cabeça e nos guiou pelo corredor estreito, já liberando nossa cintura. pulou de excitação ao escutar as batidas de música eletrônica aumentar drasticamente. Descemos uma escadaria e minha visão foi invadida por várias luzes de balada e, sem exageros, umas seiscentas pessoas. Rapidamente avistei o bar.
Nosso querido amigo Tyler sumiu, provavelmente ao ser encoxado por uma mulher qualquer aí, logo após ter sussurrado algo no ouvido de , que pareceu se sentir encorajada a beber logo em seguida. Nem precisei pedir para ir ao bar, ela já estava me arrastando para lá rapidamente.
Também não reclamei. Ela sabia pedir o que eu queria: qualquer coisa forte.
’s POV.
A música estava tão alta que eu estava com dificuldade de ouvir os meus pensamentos, mas quem ligava? Não precisava pensar mesmo, só dançar, beber e gritar “UHUL” depois que alguém virava uma dose.
estava tentando entrar no clima o máximo possível, mas ainda podia ver suas sobrancelhas se unirem ao ver duas meninas se esfregando enquanto dançavam alguma música do David Guetta. Mas, depois de alguns anos (uns 15 ou 20, literalmente) convivendo juntas, já havia se acostumado com o meu ritmo festeiro e dançante.
— Ei moço! Você poderia trazer duas tequilas shots? — gritou apoiando os cotovelos na bancada do bar com dificuldade, já que o espaço entre as pessoas era minúsculo. O bartender, de cabelo espetado com gel e um covinha fofa no rosto, piscou para ela e começou a preparar as doses.
Como uma ladra profissional, jogou o cabelo por cima do ombro e apertou os seios com os braços, piscando mais do que o necessário enquanto sorria para o bartender que posicionava os copos à nossa frente.
— Obrigada, bonitão — gritou , esperando que o truque dos seios nos livrasse de pagar as bebidas.
— São quinze dólares, loirinha. Desculpa, mas eu sou gay.
— Droga! — resmungou procurando dinheiro na bolsa.
— Deixa comigo, , resolvo nosso dilema — gritei para ela, falando para que esta procurasse Tyler na área VIP.
— Vai apresentar o seu amigo para mim para não ter que pagar? — indagou o bartender levemente intrigado.
— Óbvio que não, acho que nada no mundo faz Tyler virar gay — comentei rindo. — Ele vai é pagar para mim, ele tem dinheiro o suficiente para isso.
Alguns segundos depois, meu querido e mais novo melhor amigo chegou com duas notas de cem e entregou para o bartender com descaso.
— Acho que isso cobre tudo o que elas forem beber essa noite. Coloca numa conta ou algo assim.
e eu abraçamos Tyler ao mesmo tempo, que riu divertido com nossa reação.
— Nossa, se eu soubesse que era fácil assim ganhar afeto de vocês, pagava bebidas mais vezes.
— Cuzão. Você sabe que estamos necessitadas — comentou segundos antes de lamber o sal e virar o copo de tequila, chupando o limão e fazendo a maior cara de cu da face da terra. — UHUL! — gritou.
Essa é a minha garota.
Repeti os gestos de , com Tyler gargalhando ao final. Uma nova música mais dançante ainda começou a tocar, o que foi a minha deixa. Peguei os dois pelas mãos e os puxei para a pista de dança rapidamente, nos embrenhando no meio das pessoas.
Fechamos uma espécie de rodinha e colocamos um braço no ar enquanto balançávamos a cabeça no ritmo da introdução da música, logo depois os abaixando quando o ritmo acelerou. Foi então que fiz o que sei fazer de melhor: rebolar.
seguia o meu exemplo, seus peitos balançando loucamente enquanto ela pulava e rebolava de acordo com a música. Tyler simplesmente dava passinhos para os lados e ria imitando os meus dedos indicadores levantados, vez ou outra envolvendo minha cintura e seguindo o meu ritmo.
Ficamos assim por algumas músicas, quando Tyler checou o celular e fez uma cara séria. Logo em seguida senti suas mãos firmes em minha cintura me puxando. Cutuquei e indiquei com gestos estranhos que iria sair com Tyler, os quais ela provavelmente não entendeu e deu de ombros.
Andamos dentre várias pessoas alcoolizadas e pulantes até acharmos algum lugar calmo e isolado. Preparada para ser enquadrada por Tyler, o que ia contra o nosso acordo, quando ele me mostrou uma mensagem em seu celular. Demorei alguns segundos para processar o que estava escrito, até entender: Chuck.
Olhei para Ty em dúvida e ele deu de ombros, como se fosse algo muito simples. Para conseguirmos conversar, ele me puxou pela cintura e grudou nossos corpos para poder falar em meu ouvido:
— Chuck está perto da área VIP, do outro lado da balada, mas quer vir tomar um ar e você e estão perto da porta. Leve-a para o bar ou algo assim. Não acho que ele vá querer ficar muito tempo lá fora com esse frio.
Assenti com a cabeça e beijei-lhe na bochecha.
— Até daqui a pouco, bonitão.
Tyler apalpou minha bunda rapidamente assim que eu virei de costas para sair.
— Até, gostosa.
Revirando os olhos, continuei meu rumo até onde estava, ignorando o arrepio que subiu por meu corpo quando Tyler me tocou e me focando no fato de que deveria proteger minha melhor amiga.
’s POV.
Minha cabeça tava girando de um modo engraçado. Eu sabia que isso significava que já estava ficando mais que alegre – porém, contudo, entretanto, toda via –, mas foda-se. Então duas mulheres se esfregando em mim não parecia tão estranho, e o ritmo da música era mais relaxante para meu corpo, que parecia mil vezes mais suave e leve do que normalmente. Nem os pesos dos meus peitos incomodavam quando eu pulava loucamente com na pista de dança.
Aquilo sim era diversão barata. Eu nem tinha pagado por essa porra toda, ou melhor, estava pagando, porque eu e consumíamos pra caralho. Tadinho de Tyler. Tadinho mais ou menos, porque ele sempre vinha checar nós duas e dava boas gargalhadas com nós.
Dessa vez quando ele chegou, veio por trás de e segurou-a pela cintura, mas eu estava ocupada demais me esfregando em um moreno gostosão para olhar para os dois por mais de cinco segundos. Eles se afastaram depois de um tempo, com me falando coisas que nem de perto eu decifrei.
O morenão passou a mão por todo volume de minha bunda e beijou meu pescoço enquanto eu levava as mãos para o alto e rebolava no ritmo da música. Que vida boa. Mas então veio.
Ela me agarrou pelo cotovelo e me arrastou para fora da pista, até o bar. Pediu duas doses de tequila e manteve o olhar em mim, como se eu fosse uma prisioneira prestes a fugir. Resolvi ignorar o olhar, pensando que ela estava mais bêbada que eu, até que ela começou com aqueles seus tiques irritantes de ansiedade. Ela tamborilava inconscientemente os dedos no bar, arqueou suas costas – como se estivesse tentando alongá-las – e soltou o sinal final, olhando discretamente para a porta da balada que estava próxima de nós. Safada.
Virei meu corpo todo em direção a sua visão, enquanto segurava um copo com outra dose de tequila e dei de cara com Tyler e Chuck saindo pela porta do bar.
Chuck.
Chuck.
Então as bebidas e o sorvete da tarde resolveram voltar, mas segurei firmemente as rédeas do meu estômago. Olhei-o de cima a baixo e virei a minha dose de tequila de uma só vez antes de chamar de vadia. Virei a dose dela também. E depois mais duas que o barman me entregou. Pisquei para , que olhava para Tyler como se quem dissesse: “FODEU” e parecia congelada, enquanto tomava uma nova dose. Dei um rápido olhar para e alguns passos de volta para a pista de dança, rebolando como se meu apê com dependesse de minha bunda.
Só consegui ver Tyler empurrando Chuck, que estava com a maior cara de incompreensão do mundo, para fora da balada.
’s POV.
Honestamente, reagiu melhor do que eu esperava. Para começar, eu nem sofri alguma agressão física. A loira me encarou com um olhar meio surpreso e meio raivoso, chamou-me de vadia e virou a minha dose de tequila, pedindo mais duas para o barman. Só para ela. Que egoísta.
Pedi uma dose para mim e calei-me, sabendo que qualquer palavra errada faria explodir. Quando esta terminou a dose, levantou-se, ajeitou os peitos no vestido e saiu para a pista de dança.
Não a impedi, aliás, encorajei-a mentalmente. Melhor para ela que se divertiria.
Terminei minha dose de tequila e apoiei as mãos com força no balcão, meu equilíbrio levemente afetado agora, mas não cheguei a sair do bar. Senti duas mãos distintas segurando cada braço meu. Olhei para a direita e dei de cara com os olhos azuis do britânico, que não parecia nem um pouco feliz.
— Posso saber por que ninguém me avisou que estaria aqui?
Sorri desajeitada e sentei novamente na banqueta. Deus me proteja e que não veja esta cena.
— Ah... Eu não tinha o seu... Telefone...
— Oh, bloody hell — xingou Chuck, no modo excêntrico que todo bom britânico xingava, olhando-me descrente. — Você sabe bem que eu gosto de . Não quero voltar, não mesmo. Mas ela pode ser minha amiga, apesar de tudo.
Apesar de vocês já terem transado e acordado um hospital todo ao brigarem. Ah, sem mencionar a discussão na sua empresa.
— Escuta, inglês — gritei para que minha voz conseguisse sobressair a música eletrônica que tocava agora. — está passando por um momento difícil desde que... Parou de trabalhar... E o médico pediu que ela evitasse stress. E você é meio que um sinônimo pra isso no momento. Ela não quer ser amiga.
Chuck revirou os olhos e Tyler me olhou decepcionado. Minhas mentiras já foram melhores. É a convivência com .
— , amigos. Só quero resolver isso com ela para que sejamos amigos.
Suspirei. faz a cagada e eu que escuto. Toquei o ombro de Chuck e falei o mais calma e gentil possível, mesmo sabendo que iria me matar depois das palavras que logo saíram de minha boca:
— Talvez você tenha uma chance.
Olhando-me surpreso, Tyler ocupou o lugar onde Chuck estava antes, uma vez que o inglês assentiu, jogou uma nota de vinte dólares - não sei por que, já que ele não bebeu nada -, levantou-se e meteu o pé atrás da loira-furacão. Eu estava tão ferrada.
— Você sabe que...
— Sim, eu sei, Tyler. Ela vai me matar.
Ele riu.
— Na verdade, ia falar que a pista tá chamativa e ia te chamar pra dançar.
Olhei para baixo e vi sua mão estendida, convidando-me a dançar. Uma música latina começou a tocar, a perfeita para mostrar (ou relembrar) a Tyler meu talento com os quadris. Peguei sua mão e levantei da banqueta.
— Só amigos também?
Tyler passou uma das mãos ao redor de minha cintura e aproximou nossos corpos, pressionando-os. Piscando o olho direito, ele soltou um sorrisinho de canto antes de responder:
— Até você dizer o contrário, sim.
E fomos para a pista de dança.
’s POV.
Eu tava puta da vida com a presença de Chuck na balada, mas ao mesmo tempo aquilo me instigava a aproveitar mais ainda aquilo tudo. Era um tipo de vingança, e eu simplesmente não queria esperar o prato congelar antes de comê-lo.
E mesmo com todas as doses de tequila e sei lá mais o quê, minha cabeça continuava voltando para o pensamento: Chuck. Que merda. Então eu me via procurando ele pelos cantos dos olhos e logo em seguida, me batia mentalmente.
Até que em certo momento eu consegui não pensar nele. Talvez tivesse sido a última dose de tequila com sal e limão que eu havia tomado com , mas tudo ficou meio embaçado e só estava sentindo meu coração pulsar, cabeça girar e minhas pernas se movimentarem na pista de dança junto com o resto de meu corpo.
Alguma mulher chegou em mim, mas eu a afastei gentilmente, mandando um dedo médio e rebolando para um pouco além dali. estava se esfregando com Tyler e eu jurava que ele estava prestes a comê-la com os olhos ali mesmo. Torci para que ela se lembrasse de usar uma camisinha, mas minha mente se embolou nos pensamentos.
Camisinha é uma palavra engraçada.
Duas mãos masculinas encontraram minha cintura de modo firme, como se quisessem me segurar. Coloquei as minhas sobre as mesmas e rebolei contra o homem, jogando meu cabelo para trás e fechando os olhos com o ritmo da música. Ele passou a mão por meu ombro, tirando os cabelos de lá e beijou a área com grande avidez. Segurei seus cabelos e me girei rapidamente, de encontro com sua boca. Abri os olhos só para checar e me deparei com o morenão novamente.
Foda-se.
Beijei. Beijei mesmo. Beijei com orgulho. Muito. Deliciosamente. Loucamente. Intensamente. Fogosamente. Tudo. Peguei mesmo.
E caralho, ele beija bem pra porra.
Ele guiou nos corpos até uma parede bem mais isolada – levando em consideração que aquela porra tava lotada pra caralho e ainda devia ter fila pra entrar -, e aproveitou um pouco da privacidade para passar a mão pelo resto de meu corpo, incluindo meus sagrados peitos.
Ah, como ele beijava bem meus peitos. Provavelmente eu estava sentindo mais prazer do que ele. Porém tive que parar a cena para não ficar acima de dezoito ali mesmo, andei com ele até o banheiro feminino e assim que uma mulher saiu, entrei furando a fila na frente de umas vinte mulheres, segurando-o pela mão.
A merda do banheiro era pequena demais, porém deu para que ele sentasse no vaso e eu subisse em seu colo. Conseguia sentir sua excitação, já que me vestido era tão curto que subia completamente, praticamente me deixando somente com minha calcinha e as roupas dele nos separando. Senti minha mão bater contra a descarga, que tocou, fazendo com que nós dois gargalhássemos que nem os retardados bêbados que estávamos.
Parei o beijo, saindo de cima dele e sentando no chão. Ele sentou-se do meu lado.
— Sabe que seus peitos são lindos?
— Obrigada. E você é um exímio beijador. – Gargalhei junto com ele.
— Vamos sair daqui que eu pago para nós uma rodada de tequila.
Sorri maliciosamente e levantei rapidamente, erguendo a mão para ajudá-lo. E saímos do banheiro ignorando a fila de vadias nos xingando. Superem, suas putas.
Logo depois de tomar nossos shots, o morenão foi dançar com outra. reivindicou minha pessoa como “dela” e me levou para tomar mais bebida ainda. Minha memória já estava se esvaziando e eu sabia que com mais um pouco de álcool, eu realmente não ia me lembrar de mais nada. Porém, quem liga?
Chuck, que provavelmente se esfregava com uma vadia no meio da pista, certamente não.
’s POV.
— UHUL! — e eu gritamos juntas.
A tequila desceu facilmente por minha garganta. Eu tinha uma leve noção de que deveria queimar. Uma leve noção de que o sutiã de estava aparecendo. Uma leve noção de que eu estava rindo alto demais e que não deveria chamar o bartender de Diego só porque ele tinha cara de mexicano, mas, talvez, o nome dele fosse realmente esse. Ou Juan. Tanto faz.
— Mais duassssss dosesssssssssssss, Diego! — gritei. começou a rir como se fosse algo extremamente engraçado. Eu também.
Diego gritou algo que fez rir mais ainda. Insisti e pedi a tequila novamente. Ele segurou meu braço e gritou em meu ouvido.
— O dinheiro do seu amigo acabou! Se quiser comprar mais vai ter que pagar.
Olhei para , que agora flertava com o morenão pela trilhonéssima vez na noite, e dei de ombros. Já havíamos bebido o suficiente, eu acho. Não sei. Parei de contar na décima dose.
Apoiei as mãos no balcão e fui me levantar. Tudo girou e eu tropecei nos saltos, caindo no colo de . Ela me olhou séria por cinco segundos. Depois explodimos a rir da situação, tentando me colocar de pé novamente. Com muito esforço, estabeleci meu equilíbrio e segurei na mão de para ajudá-la a levantar-se. Cinco minutos depois estávamos andando grogues, sem rumo e rindo loucamente. Quando decidimos entre risadas e palavras arrastadas que iríamos dançar, Tyler apareceu segurando cada uma pela cintura.
— Ei, ei, ei, vocês estão bem?
colocou uma mão no ombro do Tyler e falou com a voz arrastada:
— Saaaaaabe Tyyyyyyyyyy, você é muuuuuuuito legal. Cara, você é o cara. Tipo, demaisssssss, sabe? É por isso que eu gosto de você. Porque você pagou o leite.
Tyler olhou-a preocupado e contendo o riso, segurando-a quando ela cambaleou. Sem mais o apoio de Tyler, comecei a perder o equilíbrio, mas antes de tropeçar nas próprias pernas, fui segurada por mãos fortes. E estrangeiras.
— Vocês estão extremamente bêbadas — Chuck constatou.
não reagiu, ela estava interessada demais no chão sujo da balada. Comecei a rir.
— Tamo muito loucasssssssssssssssssssssssssss! — gritei cutucando-a.
Começamos a rir e gritamos “UHUL” juntas. Passei um braço ao redor de Chuck e falei:
— Sabe, inglês, você cheira bem. E é muito legal com a , ela que é burra.
— Ei! Sem preconceito com o cabelo! — disse fazendo bico.
Chuck e Tyler trocaram alguns olhares, então concordaram mudamente com algo que eu não percebi porque estava ocupada demais rindo de , que ainda fazia bico. Os dois começaram a nos ajudar a andar para a saída, pedindo nossas bolsas por nós no guarda-volumes.
— Eu não quero ir pra casaaaaaaaaa Ty. Me deixaaaaaaaaaaaaaa! — Tentei me soltar dele, que havia trocado de posto com Chuck há alguns instantes atrás.
ainda estava brava com Chuck, que tentava controlá-la.
— Anda, , o táxi já está aqui.
— Não quero! Eu quero dançar! Quero dançar Lady Gaga!
Revirando os olhos, Tyler me pegou no colo e me enfiou no banco de trás do táxi, onde já estava com os braços cruzados. Tyler sentou ao nosso lado, e Chuck sentou na frente ao lado do taxista.
’s POV.
O carro balançava nas ruas e meu estômago saltava dentro de mim. As coisas giravam muito. Muito mesmo. Eu me sentia em um carrossel rosa cheio de pôneis gigantes atacando minha barriga, e de vez em quando me fazendo cócegas, porque minha vontade era rir toda vez que olhava para com a cara contra a janela do táxi, babando em uma brisa gostosa.
Malditos pôneis que me faziam rir.
Tyler parecia concentrado em olhar para frente e nos ignorar. Ele estava fazendo isso tão bem, que minha vontade foi maior e eu toquei com o indicador seus lábios, fazendo um barulho com minha própria boca:
— BIRU BIRU BIRU, BUBU, BIRU BIRU BIRU.
— Que merda você está fazendo? – ele perguntou me olhando, arqueando uma sobrancelha.
— BIRU BIRU BIRU – repetiu, saindo da brisa e gargalhando, fazendo o mesmo gesto em sua própria boca.
— PÔNEIS MALDITOS! – gritei, para causar mais uma explosão de gargalhadas em nós duas, que se estendeu até que chegássemos em nosso apartamento.
’s POV.
Quando abri os olhos na manhã seguinte, fui ofuscada pela luz do sol e os fechei novamente, gemendo. Minha cabeça pesava muito e eu não tinha forças para me levantar e fechar a janela. Rolei na cama a fim de alcançar o móvel e ver o horário no celular, mas bati de encontro com um corpo. Ainda com os olhos fechados, tateei e senti uma pele macia e cabelos sedosos compridos. Franzi o cenho e então senti o pânico tomar conta de mim quando encostei em seios. Seios grandes.
— AH! — gritei ao me sentar na cama, puxando o lençol para me cobrir. Ignorando a claridade, encarei com os olhos arregalados.
— Vai se fuder! — resmungou virando de bruços na cama, vestindo apenas a calcinha do dia anterior.
— Puta que pariu, o que aconteceu aqui? — perguntei desesperada, olhando nossos vestidos jogados no chão.
Respirando rápido, olhei para meu corpo e vi que usava calcinha e sutiã. Ok, muita calma nessa hora, talvez nós tenhamos bebido muito, Tyler nos trouxe para casa e nos colocou na cama. Infelizmente, eu não lembrava mais nada do que aconteceu após ter dançado com Ty e, sinceramente, não sabia se gostaria de lembrar. estava com os cabelos mais desgrenhados do que nunca e tinha um roxo na coxa. Puta que pariu.
— Ahn, ... Eu sei que você quer dormir, mas... QUE PORRA ACONTECEU AQUI?
Coçando a cabeça preguiçosamente, se virou não querendo muito saber o que tinha acontecido. Olhou para o seu próprio corpo e ao dar de cara com os seus seios, levantou-se num pulo e tentou os tapar com as mãos.
— VOCÊ ME ESTUPROU?
Revirei os olhos.
— Ah é, porque eu adoro enfiar meu pênis de vinte e dois centímetros em garotas dormindo.
tacou um travesseiro em mim.
— , é extremamente sério. Nós somos amigas há sei lá, quase duas décadas, mas não rola esse tipo de intimidade e NUNCA vai rolar.
— Eu sei, loira, eu também sou fã de espada, muito obrigada.
Ficamos paradas nos olhando, perguntando-se o que aconteceu na noite anterior. Olhei novamente para as roupas no chão e senti um arrepio subindo por minha espinha. Por favor, Deus, que eu não tenha colado o velcro com a minha melhor amiga.
— Liga para o Tyler — comentou, parecendo ter uma ótima ideia. — Tenho quase certeza de que lembro que foi ele quem nos trouxe pra cá.
Dando de ombros, estiquei-me sobre a cama a peguei o celular. Enquanto eu ligava para Ty, se levantou e começou a se vestir, uma vez que estávamos no quarto dela. O telefone tocou algumas vezes, até que ele atendeu com uma voz animada. Que horas eram, afinal?
— Fala, gata.
— Oi, Ty.
— Tá tudo bem?
— Ah, claro, eu só acordei seminua na cama de com ela somente de calcinha e um roxo na coxa.
Para minha surpresa, ele começou a rir como se já soubesse daquilo e fosse super engraçado a minha reação.
— Você poderia me esclarecer o que diabos aconteceu ontem à noite?
— , ... Não sei se você quer saber.
Nesse momento, gelei.
— Nós não fizemos sexo grupal, fizemos?
— Na verdade...
— O QUÊ?
— É brincadeira! até sugeriu, mas ela estava em um estado sonolento demais para que acreditássemos.
— Por que estamos seminuas?
— AH, isso é simples. Quando chegamos ao apartamento de vocês, Chuck teve que carregar e...
— CHUCK VEIO AQUI?
olhou-me assustada e pulou na cama, agora já vestida, tentando arrancar o celular de minha mão. Desesperadas, colocamos o celular no viva voz e Tyler narrou a história inteira para nós.
Tyler’s POV.
O trajeto até o apartamento delas foi complicado. Chuck ficou tranquilo no banco da frente dando instruções para o taxista. Enquanto isso, as duas mais bêbadas do que tudo, se apoiavam em mim e ficavam trocando palavras arrastadas. Já estavam para lá de Bagdá.
Finalmente, para meu alívio que temia levar vômito na roupa, chegamos ao apartamento das garotas. Com dificuldade, as tiramos do táxi e Chuck pagou a conta. Melhor para mim.
— Tyyyyyyyyy, eu prometo que eu nuuuuuuuunca mais te chamo de cara do Mc Donald’s, ok? — falou arrastado.
começou a gargalhar.
— É Bob’s, sua anta!
Pensei em corrigi-las, mas fiquei quieto. Chuck não falou uma palavra, somente foi guiando pela cintura até o elevador. , teimosa como sempre, não queria sair do lugar. Suspirando, abaixei-me e agarrei suas pernas, colocando-a sobre meu ombro. Ela gritou uma ou duas palavras de protesto, mas foda-se. Dei um tapa em sua bunda mandando-a calar a boca.
Dentro do elevador, Chuck elevou uma de suas sobrancelhas claras para mim, com ainda apoiada em seu ombro, rindo e delineando seus músculos com a ponta dos dedos trêmulos e alcoolizados. Ele pareceu quase aliviado quando paramos no andar delas.
Enfiando a mão na bolsa de à procura da chave, não fiquei surpreso com o conteúdo: camisinha, batom, camisinha, dez dólares, camisinha e balas de menta. De qualquer jeito, coloquei-a no chão para abrir a porta. Não demorei nem 10 segundos no processo de colocá-la no chão, enfiar a chave na fechadura e a abrir para elas passarem, mas conseguiu tropeçar e cair em cima de , que caiu em cima de Chuck e este teve que segurá-las. Elas se entreolharam a começaram a rir novamente. Chuck somente revirou os olhos, assim como eu.
As duas entraram no apartamento, cambaleantes, tateando as paredes e finalmente caindo juntas sobre o sofá. Chuck finalmente conseguiu ajeitar os botões da camisa e foi buscar um copo d’água. Ele não me pareceu estar em seu melhor humor.
De qualquer jeito, deixei as duas atrapalhadas no sofá se batendo e entrei na cozinha com o britânico, a fim de beber um pouco de água e levar um pouco para elas. Chuck estava com o copo em mãos e as costas na bancada.
— E aí - falei enquanto abria a geladeira.
— Ah. E aí.
— Então, cara... Você... Veio pra me ajudar ou porque se importa com a loirinha?
Chuck franziu o cenho.
— Os dois, eu acho. Mais a segunda parte. Porém eu não quero nada com ela agora de novo.
— Já conversamos sobre isso, inglês. Você pode falar isso, mas você quer. E não pode ficar perdendo tempo, essas duas são complicadas. Mais complicadas do que qualquer outra mulher que vamos conhecer.
— E tentadoras. Quer dizer, só .
Sorri de canto. É, podemos assim dizer.
— comentou contigo sobre isso ontem? Sobre ... Ter ido no meu trabalho?
— Óbvio. fala pelos cotovelos, acho que já até decorei seu ciclo menstrual.
— Que péssimo admitir isso, cara. – Chuck balançou a cabeça, como se entendesse meu ponto de vista da coisa.
— Pois é... Mas de qualquer jeito, gosta pra caralho de você. O problema é que ela é orgulhosa. Tem personalidade pacífica uma vez que a guerra não é com ela, sacou?
Ele assentiu pensativo. Logo em seguida, risadas explodiram na casa junto do som alto de uma música mexicana. Terminei meu copo d’água e fiz o nome do pai antes de sair da cozinha com o copo para e . Chuck riu de meu gesto.
Quando entramos na sala, elas estavam somente com suas roupas íntimas. Não que fosse um problema para mim, mas Chuck pareceu um pouco incomodado com o fato de estar seminua na minha frente.
Conti o assobio ao reparar em seus melões. Mandou ver, loirinha.
— Tyyyyyyyyyyyyyyy, você é tãaaaaaaaaaaaao gentil — veio pulando em sua lingerie preta rendada, diferente da que estava usando no dia que nós... Dormimos juntos.
Animada, ela tomou o copo d’água de minha mão e virou dois goles, parando subitamente e me olhando com um bico. já estava ao seu lado, pegando o outro copo e o bebendo.
— Pô, isso não é vodca, Tyyyyyyyyy. Eu quero vodca! — resmungou devolvendo o copo.
— Sem vodca para a senhorita, não quero ter que ficar cuidando de você no hospital.
— Escuta aquiiiiiiiiiiiii, Tyler... Nóssssssssss... — apontou para si mesma e para . — Sabemos muuuuuuuuito bem como cuidar de nós mesmas, falou?
— Tirando o prazo do aluguel. Isso nenhuma de nós sabe cuidar — comentou pegando o copo de volta e o bebendo, somente para perceber, pela segunda vez, que não era vodca.
— Aluguéis são chatos. E caros. Eu não gosto deles — resmungou, sua lingerie rosa claro torta na bunda, e começou a dançar. a seguiu.
Chuck elevou as sobrancelhas e eu somente ri.
A música mexicana continuava tocando, e dançando loucamente ao som de alguma banda mariachi. Resolvi relaxar e sentei-me no sofá, sendo seguido pelo inglês. Elas tropeçaram uma na outra e caíram no chão. Quase levantei para ajudá-las, mas elas se viraram muito bem — para um par de bêbadas — para se levantar. Cruzei as mãos atrás da nuca enquanto as duas bêbadas andavam de um lado para o outro sem rumo em sua sala.
Então começou a tocar uma música que pareceu trazer alguma memória para as duas, ou talvez elas realmente só estavam muito bêbadas, só sei que elas se entreolharam com sorrisos sacanas brotando em seus rostos. esticou a mão para a melhor amiga, que a pegou e girou em seus braços antes de deslizar aos tropeços.
Ambas riram, e percebi que Chuck se conteve para não ajudar – uma vez que a loira ficou de joelhos no chão alguns segundos, assimilando sua queda, antes de levantar e voltar a dançar com a amiga.
, em um piscar de olhos meus, tinha sumido e quando voltou tinha uma vassoura na mão. Ela a balançava no ar e eu esperava ansiosamente pelo momento em que ela batesse a mesma na própria cara. Ao invés disso, ela manteve a vassoura em “equilíbrio”, e passou por baixo dessa, fazendo um malabarismo com as costas, entortando-se.
Depois, a loira pegou a vassoura e começou a fazer o mesmo, porém resolveu que era uma boa hora de soltar a vassoura logo sobre a cabeça de e pular sobre o colo de Chuck.
Levantei-me para socorrer minha pobre coitada, já que eu tinha certeza que Chuck ficaria bem com sobre seu colo, com aqueles melões gigantescos encostando nele e sua vontade de dar óbvia. Quando me agachei perto de , ela tinha as mãos na cabeça e um bico formado em seus lábios.
— O que foi, minha gatinha? – perguntei.
— não me deixou gaaaaanhar – ela fez manha, aproveitando minha proximidade e agarrando meus ombros.
Enrosquei os braços por baixo de seus joelhos e costas e a ergui no ar, decidindo que já era hora de encerrar a noite dela. Levei-a até o quarto, ignorando completamente Chuck e no sofá – aliás, o que diabos os dois estavam fazendo? Eles pareciam se beijar, afastavam-se, brigava, Chuck respondia e eles se beijavam de novo.
Quando pousei sobre a cama de , ela simplesmente não queria soltar meus ombros e eu também não fiz muita questão que ela o fizesse. Só mantive-me perto o suficiente para escutar sua respiração afobada de gente bêbeda e o hálito de puro álcool.
— Saaaaaabe, Ty. Eu gosto muito de você assim... Peeeeeeeeertinho de mim – sussurrou, encarando-me de repente com aqueles gigantescos olhos amendoados e borrados da maquiagem.
Nunca havia reparado em quão grande seus olhos eram. Somente sua bunda, mas bom, esse não era o momento certo para pensar na bunda dela.
— Ah, obrigado, . Que tal você simplesmente se deitar agora e dormir? Acho que está precisando descansar e dar um tempo para seu organismo processar as cinco garrafas de cada bebida existente naquele bar – falei, não querendo ser rude, mas acabando sendo. O que a fez fechar a cara.
— Você que falou que ia pagar. Você parece muuuuuuuuuito com meu irmão mais velho, sabia? Chato pra caramba. Mas eu gosto muito. – Ela tombou a cabeça no travesseiro, cansada.
— De mim ou dele?
puxou ar para responder, mas Chuck entrou no quarto com se debatendo em seus braços. Caralho esses dois.
— , bloody hell, você vai se machucar.
— Chaaaarles, eu não quero deitaaaaaaaaaaaar – gritou, tentando se soltar, sem sucesso. – Vem comigo pelo menosssss?
— Puta merda. O açúcar é demais. – tampou o ouvido.
Essa é minha menina. Não muda nem bêbada.
— Chuck, você não quer tascar um daqueles beijos de rolha nela e calar a boca da loira peituda? — sugeri.
Não descobri se o olhar fuzilando foi por ter sugerido um beijo, que desencadeou a ideia mais brilhante – porém inoportuna de –, ou se foi por tê-la chamado de loira peituda. Acho que a segunda parte. Quem não iria querer a sugestão de ?
— AHHHHHHHHHHHH, MENÁGE A TROIS. VAAAAAAAAAAAAAMOS?
— MÉNAGE COMO, SUA BURRA? A GENTE TÁ EM QUATRO! – respondeu nervosinha.
apontou para cada um de nós, contando nos dedos quantos erámos. Apontou para si mesma e percebeu, então, seu equívoco.
— Mas seria uma boa ideia. – Ela deu ombros.
Pensei em sugerir para deixarmos o inglês de fora. Mas aí acho que seria pedir para tomar um murro no meio das fuças. O loirinho tava quase verde de ciúmes pelas merdas que a sua loirinha tava falando.
— Ok, realmente acho melhor que vocês durmam – Chuck falou abrindo as cobertas e puxando pelo cotovelo para baixo do lençol.
Meti um tapa na bunda de .
— Já pra cama, mocinha.
Ela me encarou meio irritada, mas depois capotou sobre o travesseiro. Chuck arrumou o lençol ao redor de , e eu só verifiquei se as janelas estavam fechadas.
Quer dizer, elas tinham sugerido o ménage. Sabe-se lá o que esperar dessas daí.
Quando Chuck saiu do quarto, apaguei a luz e olhei para ambas se mexendo na cama antes de escutar dizer:
— , quero peidar.
A melhor amiga gargalhou e avisou:
— Estou tirando o sutiã porque essa merda tá esmagando meus bebês, eles precisam respirar um pouco, certo?
Então veio o barulho de peido de .
Balancei a cabeça negativamente e fechei a porta do quarto enquanto elas riam. Bati no ombro do inglês enquanto estávamos saindo da casa, como em uma despedida de pessoas que passaram por uma barra juntos.
Passado um pouco mais de uma semana da performance que eu e havíamos feito para Chuck e Tyler - não havia mudado muita coisa no geral. Eu estava em um momento com Chuck onde eu até gostava de ficar com ele, mas não tinha paciência para lidar com o resto. Enquanto e Tyler... Bem, continuavam a agir como e Tyler.
— VOCÊ QUER O QUÊ? PASSAR UMA SEMANA MORGANDO NESSE SOFÁ? COM ESSES PEITOS VOCÊ AFUNDA NOSSO ESTOFADO, SUA VADIA.
Bom dia para você também, .
— Só não quero pegar qualquer emprego, acho melhor esperar por alguma oportunidade muito boa e sei lá...
— MAS NEM FODENDO, . VOCÊ ERA CAIXA DO STARBUCKS, QUER SER O QUE AGORA? DA CIA?
Bocejei, concordando em meio termo com ela. Tudo bem, eu iria pelo menos olhar para os classificados do jornal.
Enrosquei o roupão roxo que eu usava ao redor do corpo e levei o copo de café comigo enquanto descia no elevador até a mail box do saguão. Ignorei olhares de pessoas mal comidas que iam embora de seus apartamentos para irem trabalhar enquanto eu morgava no sofá.
Tomaram no cu, idiotas. E eu também.
Tyler entrou pelo portão do prédio quase no mesmo instante que as portas do elevador abriram para que eu voltasse com o jornal. Ele apressou seus passos e me deu um bom dia calmamente. Perguntou como eu estava, e eu o respondi com um olhar que dizia “acabei de acordar, vai se fuder”.
Quando chegamos, esperava ansiosamente para que olhasse comigo quais oportunidades de emprego existia para minha situação naquele momento.
Não havia muita possibilidade que eu abrisse um consultório de psicologia. Portanto, eu esperava simplesmente ter que me submeter a trabalhar como caixa de algum lugar, lixeira, faxineira e até mesmo puta – se dependesse de para escolher meu trabalho. Então quando usou o marca-texto amarelo para circular uma proposta de emprego, eu desejei desesperadamente que houvesse quaisquer uma das opções acima.
— Babysitter? Tá fodendo comigo? – perguntei, colocando a mão na cintura, indignada.
Tyler reprimiu um riso e eu o fuzilei com os olhos, o que o fez erguer os braços para o alto e sair da sala em um vapt vupt, indo até a cozinha. Briga de mulher não se mete pinto.
— Nem ferrando, . Nós temos o quê? Dezesseis anos? Não tenho idade para ser babá! – argumentei, pronta para metralhar a ideia.
— Nããão – alongou a palavra. – Temos uma porra de conta negativa no banco. Qualquer empreguinho que você ganhe por hora, e ganhe “bem”, está ótimo.
— Prefiro voltar para o Starbucks e pedir desculpas para minha chefe.
fechou a cara e me encarou por segundos até que eu admitisse.
— Tudo bem, eu não pedia desculpas para aquela vaca mal comida nem fodendo, mas... Ah... Não quero ser babá. – Fiz bico.
— Aposto que fodendo com o Chuck você iria pedir desculpas, sim – Tyler comentou, da porta da cozinha.
Desejei ter uma almofada para poder atacá-lo. Porém, me satisfiz com um belo dedo do meio.
— Desculpa, Tyler, quem chamou a testosterona na conversa mesmo? – ataquei.
Quando Tyler suspirou para responder-me, a campainha tocou.
— AGORA AQUI É CASA DA MÃE JOANA, CARALHO? – gritei, apertando novamente o roupão contra o corpo, escondendo meu pijama e abrindo a porta de mal grado.
— Oi, Chuck! – disse com um sorriso sarcástico no rosto.
Filha duma puta. Eu sabia qual carta ela ia usar. Faria com que Chuck me convencesse que trabalhar como baby-sitter era a coisa mais sensata para se fazer no momento.
— E aí, cara. – Tyler comprimentou-o com um aperto breve de mão.
Foi então que eu percebi que o inglês já tinha passado por mim. Fechei a porta e encarei os três, com mau humor. já estava mostrando a Chuck o classificados de empregos, e agora Tyler havia se afundado no sofá enquanto mexia no celular, como se quem tivesse esperando o show começar.
Cornos. Tudo bando de filho da puta.
— ... – Chuck começou com voz suave.
— AH, NÃO. Pode parar por aí. Não vem com essa para cima de mim, não, que você entrou na minha casa, passou reto por mim e nem bom dia deu. Seu loiro maldito.
Tyler, provavelmente usando um aplicativo do celular, fez um barulho de chicote.
Encarei-o irritada. Puta que pariu, alguém vai perder as bolas.
— Desculpa, vem cá... – Chuck aproximou-se lentamente de mim, passando um dos braços por minha cintura e, com o outro, segurando meu rosto para que eu não o virasse. E tascou um beijo em minha bochecha. – Bom dia, loira.
É. Tá bom. Ótimo dia.
— Isso é completamente injusto e não vale. É a porra de um complô – falei, tentando manter-me firme e forte nos meus super argumentos.
— , vocês estão precisando que você faça esse sacrifício agora. Vocês tem que arranjar um jeito de pagar esse aluguel no fim do mês – Chuck continuou.
— Ué, pode se prostituir. Não vejo problema nenhum em calcular o quanto ela ganha e usar o dinheiro.
— Ei! – resmungou. – Por que você que tem que cuidar do dinheiro?
— . Você não vai se prostituir – Chuck disse, acabando o assunto. Tyler concordou erguendo as mãos aos céus, como se agradecesse Chuck por ter vetado a ideia.
Mas era uma boa ideia.
— Então, tem que ser babá.
— , você pode criar uma ideia de marketing melhor, por que você não cobra mais caro? É só dizer que você é formada em psicologia e sabe lidar com a mente de crianças. – Tyler deu ombros.
— Tyler – eu disse, suspirando pesarosamente. – Eu sou formada em psicologia e, teoricamente, sei lidar como a cabeça de crianças.
— Olha que perfeita ideia! – pulou de felicidade. – Vamos fazer isso então, !
Respirei fundo, finalmente desistindo de lutar contra a ideia. Foda-se. Eu tinha feito a cagada de me demitir, então eu deveria ter que pagar por isso. Não ia fazer gastar mais de suas reservas para sapatos e também não queria alongar a história.
— Ok. Mas não consigo dinheiro para pagar o aluguel inteiro nem morta. Vamos precisar de ajuda com grana esse mês. Deveríamos alugar para mais alguém.
— Nem ferrando. Vetado. Cancelado. Fora de questão, limites, fronteiras... Fora de tudo.
— Mas é uma ótima ideia – Chuck disse cortando e fazendo alguma conta na calculadora de seu blackberry.
— Se vocês duas são demais morando juntas, imagina três. Concordo totalmente com a ideia – Tyler disse.
— Rá! – Apontei para , feliz da vida por eles terem apoiado-me.
— Certo. Mas ela terá que pagar pelo menos metade do aluguel ou eu ficarei muito puta e expulso a pessoa daqui com uma vassoura no cu dela.
— Por mim tudo bem. Só deixe que eu a entreviste, ou nós morremos a procura de alguém.
— Ah, não se preocupem. – Tyler sorriu de modo malicioso, levantando-se do sofá e começando a arrastar e eu para nossos quartos. – Eu tenho a pessoa perfeita.
— Vão se trocar que estamos com fome – Chuck disse sentando-se no sofá alguns segundos depois de nos expulsar de nossa própria sala, Tyler o acompanhou, então eles engajaram em uma conversa patética sobre o jogo de basquete da noite anterior.
’s POV.
Depois de uns trinta minutos convencendo a usar a primeira roupa que havia provado, ela foi com a fucking primeira roupa que havia provado — provavelmente somente para me irritar —, e nós saímos do quarto acompanhadas por um “ALELUIA” em conjunto dos garotos. Homens.
Joguei as chaves de casa, o celular e uma bolsinha de maquiagens dentro da bolsa enquanto Tyler segurava o casaco para eu vesti-lo, logo em seguida passando o braço ao redor de meus ombros. Prestativo como sempre.
Chamamos o elevador e pareceu ficar desconfortável ao lado de Chuck, uma vez que o clima entre os dois ainda estava nublado, podemos assim dizer. O inglês, para a alegria da nação, deslizou sua mão pela de , que estava pairando ao lado do corpo dela, mas minha loira não ficou muito mais feliz que antes.
Pegamos o rumo do Burguer King, como todo costumeiro final de mês, quando não temos dinheiro para comprar nem uma calcinha nova, conversando aleatoriamente entre si. Não demorou muito e já estávamos no meu paraíso. Fizemos os pedidos e sentamos à mesa, à minha frente, com Chuck Norris ao seu lado, Tyler, obviamente, sentado ao meu lado.
— Então... Onde que é esse emprego de babysitter do jornal, ? — Chuck perguntou quando a garçonete deixou suas batatas sobre a mesa, ele parecia totalmente fora de lugar com seu suéter sofisticado e cabelo arrumado.
Tyler usava uma camiseta cinza claro justa por baixo de uma jaqueta preta e jeans pretas, com tênis pretos com branco da Nike, muito mais despojado do que o inglês. usava uma blusa branca com bolinhas pretas de alça, jeans claras e sapatilhas pretas, além do sobretudo preto comprido que a protegia do vento frio do outono. Seu cabelo loiro estava solto e liso caindo pelos ombros. Eu usava jeans, camiseta do Batman, jaqueta de couro e All Stars.
— É na Quinta Avenida. Lugar de roupas, sapatos, gente rica e cheirosa, glamour... Ah, é tão lindo que me faz chorar — comentei, emocionada.
Chuck e Tyler reviraram os olhos.
— Eu liguei para lá enquanto me arrumava, me obrigou. Marquei uma entrevista para segunda-feira de manhã.
— Parabéns, loirinha — Tyler disse levantando o seu copo de Coca-Cola. Chuck deu um leve sorriso para , que simplesmente deu ombros, fazendo pouco caso da comemoração.
Ignorei-os e comecei a mastigar meu hamburguer vorazmente, prestando atenção nas batatas de Norris, intocadas, pedindo por meu lindo estômago. Eles continuaram a conversar sobre o novo emprego de (com a graça de Deus), e eu roubei algumas batatas do inglês, que estava muito distraído para perceber. Foi entre a quinta e a sexta batata roubada que percebi que o assunto havia mudado, chamando minha atenção de volta.
— Então, eu tenho uma amiga da faculdade que está procurando um apartamento. Passo o telefone dela para depois.
— Ei. Por que não para mim? — comentei, indignada.
— Porque você vai arranjar mil e um motivos para ela não morar com a gente, e nós realmente precisamos da grana.
Cruzei os braços e emburrei. Filhos da mãe. Até Chuck Norris assentiu com a cabeça!
— Pensa assim, amiga, com outra pessoa para dividir o apartamento, vai sobrar mais dinheiro para a reserva de sapatos!
Ponderei sobre aquilo um segundo e cedi. Ela sabia que sapatos sempre seria meu ponto fraco.
— É, mas vocês vão ter que dividir o quarto, né, porque a garota não vai dormir no sofá... – Tyler começou, somente para ser interrompido.
— DIVIDIR O QUÊ? — gritou, chamando atenção de algumas pessoas ao nosso redor. Comecei a rir instantaneamente, percebendo que agora ela não gostava tanto assim da ideia.
— Ué. Vocês vão morar em três, e são dois quartos. A lógica é que vocês dividam o quarto.
— Ela que durma no sofá, folgada! — comentou, emburrada.
Chuck, como sempre, interveio, e eu estava pronta para agradecê-lo, quando ele me resolve apoiar o Tyler. Só de bronca, roubei mais batatas dele.
— Vocês não vão achar nenhuma pessoa decente que aceite dormir no sofá, .
— Olha, vamos combinar que qualquer pessoa que aceitar morar conosco, não vai ser muito decente, né... — comentou. Não pude deixar de concordar.
O almoço se seguiu desse jeito. Casal-não-casal ficou tentando convencer um ao outro sobre quem estava certo, enquanto suas batatas magicamentes sumiam e reapareciam em meu estômago. No final, fomos todos comprar milkshakes num lugar desconhecido perto de casa, e depois cada um seguiu seu rumo.
Quando nos despedimos, ficou na ponta dos pés para dar um beijo da bochecha do inglês, mas este segurou seu rosto e lhe deu um selinho. não pareceu ter adorado o gesto, o que era coerente, porque, há pouco tempo atrás, ele havia tido um ataque de pelanca no escritório dele quando foi lá se desculpar, o que não foi muito legal da parte dele.
Então quando Chuck foi embora, somente deu de ombros e subiu para o apartamento, ignorando o fato de que ficaria bastante tempo sem vê-lo agora.
Essa é a minha garota.
’s POV.
— Puta que pariu – resmunguei quando um carro passou voando pela avenida. Juro que esses caras não tem senso de limite de velocidade.
Dobrei a esquina duas avenidas à frente e lá estava eu. 5ª Avenida. Mas não estava fazendo compras, ou passeando. E sim em direção ao trabalho. Trabalho que fui forçada a aceitar. Trabalho de merda.
É o cúmulo da pobreza você ser formada em uma universidade e não conseguir achar emprego. Malditos filmes hollywoodianos que fizeram parecer ser fácil ter uma vida bem sucedida. Eu poderia falar horas e horas sobre como enche o saco pegar metrôs lotados e ter que correr na muvuca dessa cidade. Mas eu não tenho horas e horas. E nem saco.
Até porque, Nova Iorque não é tão ruim assim. É onde os sonhos são feitos, não é? Ou pelo menos é o que a Alicia Keys fica repetindo da música dela. Então foda-se tudo isso.
Olhei para meu relógio para checar as horas: estava no horário da minha entrevista já. Localizei o prédio. Era daqueles de ricassos. Mas você não está entendendo. Eu nunca vi prédio tão chique. A porta do elevador devia ser de ouro lá dentro.
Toquei um daqueles mil interfones e quase instantaneamente a porta fez um “pam” e destravou para mim. E olha. Dez pontos para a Grifinória. Não é que os filhos da puta tinham um vaso chinês de porcelana logo na entrada?
Eu nunca ia poder trazer a para o trabalho. A não ser que eu queria que ela fosse indiciada por furto. Quando subi por aquele elevador chique até o vigéssimo sexto andar, me deparei com uma empregada espanhola jovem e uniformizada que segurava um menino de três anos pela mão e esperava com um sorriso estampado na porta. O meninho era uma gracinha. Ele e a irmã dois anos mais velha, que, aliás, são quem eu devo cuidar pelo menos seis horas por dia para ganhar um salário semanal de 1.800. Explico essa fita daqui a pouco.
Acontece que após ser recebida com abraço acalentador do menino e um aceno tímido de sua irmã, que se encontrava escondida atrás de uma coluna no meio da sala – que era maior que meu apartamento, diga-se de passagem –, eu conheci o pai dos pirralhos. E, meu Deus, que pai era esse? Deveria ser proíbido isso. Ele era um homem no início de seus trinta anos, corpulento, mas nem tanto, cabelos pretos encaracolados e um sorriso alinhado e branco de matar. Olhos verdes, mas que se você prestasse atenção, pareciam ser meio castanho também.
Edgar, foi como ele se apresentou. Mas me contentei em chamá-lo de Sr. Delawicz.
Ofereci meus serviços em US$ 30/por hora, mas ele resolveu pagar em US$ 60/por hora e eu, sinceramente, não ia negar esse novo preço, até porque o emprego era temporário – ou essa é a teoria –, e quanto mais eu ganhar em menos tempo para pagarmos a dívida e eu poder voltar a ser desempregada, está ótimo. E é aí que entra meu salário gigantesco, que me daria até orgulho - se não envolvesse ser babá de crianças.
Foi quando o papai me levou para o escritório e ficamos sozinhos, que pensei sériamente para mim mesma: Minha Nossa Senhora, me dê forças que eu preciso desse emprego.
Ele perguntou uma série de coisas de modo desatento enquanto mexia em seu blackberry incesantemente. Mais um viciado em trabalho, pai não presente. Aposto.
— Onde mora? Qual seu nome? Sua idade? Faz faculdade? Já fez isso?
E eu ia respondendo sem muito ânimo.
— Soho. . Vinte quatro anos. Formada em psicologia. Não, mas acho que sei me virar.
Tentei explicar algumas habilidades minhas para “Edgar”, na tentativa de uma boa impressão. E bom, acho que isso rendeu o sálario extra e, principalmente, o emprego.
Estava prestar a agrader a oportunidade, quando meu celular vibrou na bolsa e um número desconhecido ligava. Atendi relutante, somente para ouvir do outro lado uma música de mantra, algumas pessoas fazendo “oummm” e logo em seguida uma voz animada e meio rouca:
— Oi! Aqui é a Jules! O Tyler falou para ligar para você sobre o apartamento! Estou perto do Soho, podemos nos ver hoje?
E antes que eu perguntasse qualquer outra coisa, ela atirou novamente:
— Qual o endereço? – Dando tempo somente para que eu a respondesse o mesmo, ela disse animada: – Fantástico! Os cosmos ficam muito felizes com isso! Vejo você em quinze minutos!
Chamada encerrada.
Pisquei algumas vezes meio atordoada com o ritmo de Jules e terminei de despedir-me do Sr.Delawicz – que nem ao menos havia percebido que eu tinha atendido uma ligação – e das crianças. Ah, e de Maria Sofía, a empregada sorridente. Fui avisada que iria começar a trabalhar logo depois do feriado de Ação de Graças. ia me matar por que não teríamos dinheiro para comprar nem um sapatinho ou um vestido durante a Black Friday. Pois é. Shit happens.
E quando desci, preparei-me para correr. Eu estava a, pelo menos, meia hora de casa, Jules estaria lá em quinze minutos e estava sozinha no apartamento.
É o fim da picada.
’s POV.
O maldito despertador que havia programado estava longe demais para que eu pudesse somente rolar na cama e desligá-lo, ao mesmo tempo em eu estava perto demais para eu ignorar o seu barulho. Derrotada, levantei-me grogue e andei até o desgraçado, o qual tinha como nome “Nem pense em voltar a dormir, ”. Carinhoso.
Sem muitas escolhas, já que havia prometido arrumar a casa uma vez que nessa semana ainda iríamos encontrar nossa queridíssima nova moradora, fui até o banheiro e tomei uma longa ducha para conseguir acordar. Coloquei uma roupa qualquer, já que só trabalharia de noite hoje no restaurante, calcei minhas botas felpudas de leopardo e segui para a cozinha procurar algo para comer enquanto esperava os melões ambulantes chegarem.
Comi meu cereal lentamente, mas eventualmente ele chegou ao fim e eu tive que enfrentar o apartamento. Coloquei meus fones de ouvido e meu querido parceiro de faxina: Jon Bon Jovi. Prendi o cabelo e comecei a limpar a cozinha, lavando a louça atrasada enquanto rebolava e cantava, já que a maldita máquina de lavar louça havia quebrado de novo. Não sei por que ainda insistíamos nela, nas minhas estimativas ela era quase tão velha quanto o primeiro iPod.
Passaram-se uns trinta minutos e foi quando eu já havia passado pano na cozinha e estava achando as mais variadas coisas embaixo do estofado do sofá, que o interfone tocou. Estranhei, porque Tyler agora tinha a chave de casa e Chuck deveria estar trabalhando, mas mesmo assim atendi.
— Alô? Quem é?
— Oi! Namasté!
— Ahn? Moça, eu não pedi comida indiana...
— Ah, não, desculpa! Aqui é a Jules! Eu vim encontrar com a , amiga do Tyler, sobre dividir o apartamento...
— AH! Você é a... Porra... Quer dizer, oi, desculpa, mas a ainda não chegou em casa, não seria melhor você...
— Esperar? Ah, eu não me importaria de esperar. Não tenho mais nada para fazer até depois do almoço, que é quando eu vou dar aula de yoga.
— Ah. Tá, beleza, maravilha. Pode subir, bonitona.
Contrariada e realmente querendo arrancar a cabeça de , cliquei o botão para que liberasse a entrada de Jules no prédio. Melões irão rolar mais tarde.
Enquanto eu andava de um lado para o outro no corredor, pensando se deveria trocar de roupa, ou se deveria colocar algo mais amedrontador para expulsar a maldita de uma vez por todas do meu apartamento, escutei um estrondo na porta do apartamento. Ótimo. Agora, além de ter que enfrentar a nova moradora asiática, teria que enfrentar ladrões.
Para meu grande alívio e para o bem do abajur, que foi a primeira arma que eu achei, era somente abrindo a porta como se tivesse acabado de correr uma maratona... ESPERA. CHEGOU!
Esmaguei a loira assim que ela fechou a porta atrás de si, arrancando o que sobrava de fôlego nela, somente para depois soltá-la e encher a mão na bunda dela.
— SUA PUTA! Por que que você não me avisou antes que a asiática ladra de lares vinha hoje?
— Eu... Não... Sabia... Até... Quinze... Minutos... Atrás — disse a loira enquanto pegava uma garrafa d’água na geladeira.
Sorte dela que ainda tínhamos isso.
— Se eu tivesse que enfrentar isso sozinha, você sabe que acabaríamos sem colega de quarto nenhuma, não sabe?
— Por que... Você... Acha... Que... Eu... Vim... Correndo?
Após a última palavra, estava jogada sobre o sofá esparramada. E foi então que a campainha tocou.
— TÁ ABERTA!
Jules, que, para minha surpresa, não era asiática, entrou no apartamento lentamente e fechou a porta atrás de si. Ela era, de fato, uma criatura muito interessante em seus um metro e setenta. Ela usava uma camiseta rasgada do Jimi Hendrix, aparecendo a barriga, junto com uma calça sarouel preta de malha e sneakers brancos com dourado. Os cabelos loiros oxigenados eram compridos até a altura da cintura, com as pontas azuis. Ela usava um chapéu e óculos escuros redondos. Pode parecer preconceito, mas eu juro ter sentido cheiro de maconha quando ela me cumprimentou.
, ainda ofegante sentada no sofá, acenou para Jules para não ter que cumprimentá-la.
— Oi, então você é a...?
— — respondi sem vontade.
— ...
Jules elevou as sobrancelhas e assentiu, segurando a risada. Revirei os olhos e disse para a nossa convidada sentar, tendo que fazer o papel da boa anfitriã, já que estava reaprendendo a respirar. Olhei em volta e percebi que a casa ainda estava uma bagunça, mas pra quê se desculpar? Eu não estaria falando de verdade. Além do mais, ela teria que se acostumar com isso, se quisesse morar aqui.
De qualquer jeito, ainda de pé, percebi que estava com a pele oscilando entre um tom de verde e cinza engraçado, então resolvi buscar água para ela na cozinha. Como sabia que iria apanhar se não levasse água para a intrusa, digo, possível nova moradora, peguei três copos e uma segunda garrafa d’água. Nesse ritmo nem água nós teríamos mais.
Levei os copos e servi água para todas nós, sentando na banqueta da cozinha, que puxei para a sala logo após guardar a garrafa de volta.
parecia um pouco mais com um ser humano normal depois do segundo copo de água, para meu alívio, então começou a fazer algumas perguntas básicas.
— Bom, fale sobre você, né... Nome completo, idade, cidade natal, gostos, faculdade, etc...
Jules se ajeitou no sofá com aquele sorriso light dela e começou a enumerar com os dedos de unhas vermelhas:
— Jules Wright, vinte e sete anos, sou de Nova Jersey, larguei a faculdade de literatura no primeiro ano. — Pra ser stripper, pensei, mas somente sorri e ela continuou a falar enquanto levantava os dedos: — Gosto de quase todos os tipos de animais, sou fã de bandas de rock antigo, feminista, etc...
— Hmmmm... Você tem um trabalho fixo?
— Eu trabalho como professora de yoga num SPA no Brooklyn e dou algumas aulas particulares, além de alguns bicos. Dá pra ganhar o suficiente para pagar metade do aluguel daqui, até.
e eu sorrimos ao mesmo tempo. Infelizmente, essa parte me agradou muito. Coçando a garganta, procurei dar a volta por cima da situação:
— Então... Você trabalha o dia todo?
— Trabalho até as 17h, volto para casa para alimentar o Charles e então...
— ALIMENTAR QUEM? — quase engasgou com a própria saliva.
— Ah. Charles, ué. Minha iguana.
Nós duas colocamos a mão no peito aliviadas.
— Ah, sim, a iguana... ‘PERAÍ. VOCÊ TEM UMA IGUANA? — gritou, com os olhos esbugalhados.
— Não gosto de me referir a Charles como um animal, na verdade, sinto como se ele fosse da família desde que o encontrei no quintal de casa devorando meu rato de estimação, Mickey.
— Que simpático esse Charles, hein — comentei com um sorrisinho segurando a risada.
— Ah, mas é somente o instinto natural dele. E ele não faz mais isso. E Mickey era recém-nascido, não havia tido tempo para criar laço afetivo. Charles nos fez um favor, na verdade. Meus pais não gostavam de Mickey, achavam que ele traria doenças para casa. Eu o achei na rua e...
— Já percebi que você adora salvar animais, então... – falou em tom baixo.
— De qualquer jeito... O Charles não fica... Andando solto, por aí, né? Não precisa levar pra passear nem nada... E ele não gosta de carne humana, suponho – perguntei.
Jules riu como se fossem perguntas absurdas. Eu vou lá saber, tenho cara de especialista em répteis?
— Charles tem uma dieta balanceada, come duas vezes por semana alguns insetos. Ele fica numa caixa de vidro, um viveiro, podemos dizer, com ambiente climatizado e raios UV para que seu metabolismo funcione propriamente. Não, ele não transmite doenças, nem representa uma ameaça. É um verdadeiro cavalheiro.
Eu já ia perguntar se ele era treinado pra abrir a porta para ela, mas continuou com as perguntas:
— Bom... Sabe cozinhar, limpar, essas coisas?
— Ah. Eu fiz um curso de comida árabe.
— Não gosto de kibe.
Jules sorriu sem graça com a minha constatação,o e pareceu desejar ser o Ciclope dos X-Men.
— Bom, eu fiz um curso de comida mexicana também...
— Eu não... — Calei a boca ao ver uma embalagem da Taco Bell em cima do balcão. Que merda. — Gosto tanto de qualquer outra comida quanto gosto de comida mexicana. — Sorri amarelo.
— Que ótimo! Aliás, eu não tinha muitos móveis no meu antigo aparamento. Era tudo comprado pelo meu ex-namorado. Mas eu tenho uma máquina de lavar roupas bem pequena, se quiserem...
Meus olhos brilharam. Os de também. Dentro de mim, havia um conflito interno entre economizar para a reserva de sapatos e aceitar a hippie doida, ou pagar a lavanderia e ficar sem nenhuma (outra) louca no apartamento.
Infelizmente, em meu âmago, eu sabia que um lado havia ganhado. Afinal, os sapatos sempre ganhavam em questões como essa. Olhei para e suspirei alto, como quem diz “Pois é, né. Vai ter que ser.” Ela somente assentiu.
— Então, Jules... Quando você gostaria de se mudar?
Um sorriso enorme iluminou seu rosto.
— Ah, pode ser domingo mesmo! Obrigada mesmo, meninas, vocês não tem noção do quanto eu precisava de um lugar para ficar! Vocês me salvaram.
— Magina, que isso — comentou sorrindo amavelmente.
Jules levantou-se e ajeitou a alça da bolsa no ombro, então deu um abraço em cada uma de nós, falando em uma língua asiática louca. Sorrimos e combinamos que ela chegaria às 14h.
Enquanto escoltava Jules para fora de casa, sabia que havia perdido a batalha. Mas não a guerra.
’s POV.
Quando Jules foi embora, quase caí na gargalhada pela escolha de Tyler. Não era a toa que eram amigos. Mas pelo menos ela não parecia uma doidona psicopata. Só doidona.
Eu sabia que ia começar a reclamar no instante que ela trancou a porta atrás de Jules e me encarou irritada.
— EU NÃO ACEITO QUE VOCÊ TRAGA UMA CEQUELADA PARA MORAR COM A GEN-
— – cortei-a. – Fofa, querida, bff. Ou é a Jules ou é a menina que está estagiando no trabalho de Chuck e toca saxofone. E eu não quero alguém com um saxofone aqui.
— MAS A MACONHADA NÃO TEM PROBLEMA?
— , linda, maravilhosa. Tô fedida, suada, cansada e com fome. Por que você não termina a faxina e me deixa tomar um banho?
— , linda, maravilhosa. POR QUE VOCÊ NÃO VAI SE FUDER?
Dei ombros, pegando a bolsa de cima da bancada da cozinha e colocando-a no ombro antes de seguir para meu quarto, jogá-la novamente no chão e colocar uma roupinha de ficar em casa o dia inteiro – vulgo: uma blusa azul curta, que deixava minha barriga quase descoberta, com o escrito “Let’s Do It Sexy Boy” na altura dos peitos e uma calça jeans.
Lar doce lar.
Fui até a cozinha e procurei pelo último pote de sorvete. Ah, que vida boa. Sentei no sofá de modo espaçoso, dando um chute na bunda de uma , agora entretida em limpar a janela da sala, e liguei a televisão em um canal qualquer. Fiquei assitindo uma longa maratona de 2 Broke Girls e alienei-me do mundo por quase três horas, tempo o suficiente para terminar de arrumar a casa, tomar uma ducha, reclamar das roupas sujas e da falta de dinheiro para levá-las até a lavanderia, e sentar-se ao meu lado, se espalhando ainda mais do que eu.
O pote de sorvete em meu colo rapidamente foi se esgotando, e tenho que dizer que e eu tinhámos um apetite insaciável, mas ela sim era uma verdadeira devoradora de sorvetes. O pote não estava nem mais em minhas mãos quando, depois de outras horas, minha querida melhor amiga saltou do sofá e derrubou o pote de sorvete EM CIMA DE MIM.
EM CIMA.
ELA PODIA TER JOGADO TUDO NO CHÃO. NO TETO. NO SOFÁ.
Mas obviamente tinha que cair em mim.
— Puta que pariu, tô super atrasada para meu trabalho! Que merda! – Ela ficou toda afobada.
E a loira aqui melecada que é bom ela ajudar, foda-se, né.
— PORRA, . OLHA O QUE VOCÊ FEZ EM MIM.
E quando a vagabunda se deu conta da sujeira que fez, gargalhou. Gargalhou de verdade, de sentar no chão e bater em sua própria coxa. Durou pouco tempo, até que eu coloquei a mão no peito depois de sentir um pedaço de sorvete derretendo entre meus peitos e melequei toda minha mão. E fiquei mais puta ainda.
E ela percebeu. Controlou-se e recompôs sua postura apressada.
— Ai ai, . Vai se limpar. Que nojo, fica se sujando o tempo todo. – sorriu irônica quando eu me levantei para ir ao banheiro.
Tirei a blusa, ficando só de sutiã, e ameaçei jogar nela – só não o fiz porque sabia que realmente estava atrasada e se o fizesse ela ia perder seu turno para algum outro filho da puta louco por gorjetas. Ela soltou um gritinho ridículo e voltou a dar risada enquanto arrumava sua bolsa.
Fui até o banheiro, escutando-a procurar por seus sapatos no quarto e depois perdi a noção de onde ela estaria, escutando somente a água da pia jorrar e estando concentrada em limpar aquela meleca toda. Ave Maria, viu.
Eu estava focada em limpar aquilo tudo, então nem percebi quando saiu da casa. E muito menos quando deixou Chuck entrar.
Todos os xingamentos possíveis estavam saindo de minha boca:
— Puta que pariu. Que eu vou ter que aguentar um mini-dragão só para poder pagar o aluguel. Aquela ex-chefe de merda, vadia, filha da puta. Caralho que essas coisas só acontecem quando eu tô de TPM viu, vai tomar no cu todo mundo.
— ? – um sotaque inglês conhecido me chamou, abrindo a porta do banheiro.
Chuck ergueu a sombrancelha para meus xingamentos e depois analisou minha expressão de raiva e susto. E depois deu uma boa checada em meu corpo.
— Oi? Chuck? Terra chamando Chuck? – Eu estalei os dedos para ele, tentando fazê-lo desfocar os olhos de meu peito. Sorri, me recuperando do susto de encontrá-lo ali. – Eu tô aqui em cima, garanhão.
— Eu não diria muito “em cima” devido a sua altura, , mas...
Ele gargalhou quando eu fechei sorriso e formei um bico. Larguei a blusa melecada e suja na pia, cansada de esfregá-la, e sequei as mãos contra meu jeans apertado. Andei até a porta do banheiro, onde Chuck se encontrava com um sorriso malicioso, pausei em sua frente só um segundo para dizer:
— Sua baba tá escorrendo.
Segui para meu quarto, e Chuck ficou paralisado alguns segundos antes de vir atrás de mim. Ele observou enquanto eu pegava uma camiseta xadrez qualquer e abotoava somente os botões de baixo.
QUAL É, JÁ FALEI. Tô carente e de TPM. Tenho direito de ser vadia de vez em quando, ok? Ok. Chuck limpou a garganta enquanto me observava prender o cabelo em um rabo de cavalo alto. Ergui a sobrancelha pra ele:
— Que foi, inglês?
— Nada. – Ele colocou as mãos para o alto, sorrindo com o canto direito do lábio.
— Então. A Jules veio hoje aqui, falar sobre o apartamento. Vamos alugar para ela, mesmo. Sei lá, não acho que a menina que você falou do saxofone seja muito melhor. E a não encrencou tanto quanto achei que fosse – falei, sentando sobre minha cama, com perna de índio.
— Bom... – Chuck disse, saindo de perto da porta e aproximando-se de minha cama, mas sem sentar-se ou apoiar-se. Só ficou parado em frente a ela. – Pelo menos um problema se resolveu.
Assenti, observando fixamente Chuck. Ele estava com seu usual terno preto de trabalho, que deixava seus braços incrivelmente musculosos, mesmo debaixo de tanto pano, uma blusa social azul clara e uma gravata listrada em tons de azul. Estava tão sério, o sério que ele sempre foi. O cabelo penteado perfeitamente e a postura reta.
Fiquei nervosa com o jeito que ele me olhava, esperando que eu falasse alguma coisa. Esperando que eu fizesse alguma coisa. E mil coisas a se fazer passavam em minha cabeça. Bom, a gente tem que suprir as expectativas das pessoas, né.
Suspirei profundamente e soltei o cabelo que acabara de prender, como quem não quer nada da vida. Depois levantei da cama e dei a volta até ficar de frente para Chuck, que me olhava curioso. Lentamente me aproximei de seu corpo. Eu podia sentir todas aquelas malditas faíscas e tensão – sexual, de preferência – entre nós. Toquei com a ponta de meus dedos seu ombro e retirei seu terno lentamente, não por dificuldades, mas porque era realmente bom ficar passando a mão nos braços fortes dele.
Quando me livrei do terno, afrouxei sua gravata e tirei-a também. As mãos de Chuck seguravam firmemente minha cintura, como se estivesse pronto para puxar-me novamente caso eu resolvesse parar, coisa que eu não pretendia. Soltei os primeiros botões de sua camiseta, deixando a mostra o início de seu peitoral.
Enfiei as mãos por dentro de sua camiseta pelo pescoço, massageando-o na área de seu trapézio e arranhando-o ao mesmo tempo. Chuck estava de olhos vidrados em meus lábios e fazia pequenos gemidos quando minha mão gelada espalmava sobre sua pele quente, mas aquilo não me impedia. Delicadamente, eu comecei a distribuir beijos pela parte exposta de seu peitoral, depois me foquei em seu pescoço.
Depois meu rosto foi afastado por mãos quentes, e Chuck encarou-me fixamente por alguns segundos, provavelmente procurando por sinais meus que o impediriam de beijar-me. Não havia sinais. E isso ficou claro.
— , você vai me deixar louco – sussurrou com seus lábios centímetros dos meus.
— Hm... – Sorri tentando parecer o máximo de angelical que conseguia, mas duvido que meus olhos deixassem. – Vou considerar isso um desafio.
E dito isso, Chuck finalmente beijou-me de verdade – desde que havíamos brigado, ele havia dado selinho e no dia da balada havíamos nos beijado, mas até aí eu não me lembrava desse dia. E agora estávamos com vontade, então que mal tinha?
Os dedos de Chuck enroscaram-se em meu cabelo, puxando-me cada vez mais perto dele, tirando cada molécula de oxigênio que podia existir entre nossos lábios. Meus braços envolveram seu pescoço e eu fiquei de ponta de pé durante alguns segundos, até desistir e fazer com que Chuck se inclinasse sobre mim.
Livrei-me completamente de sua camiseta e quebrei o beijo por alguns segundos, somente para poder beijar tudo que tinha direito na parte de cima de seu corpo. Minhas mãos exploravam todos os pedaços de seu corpo como se fosse algo novo.
Mas Chuck também não perdia tempo, tirou minha blusa e depois meu sutiã, podendo ter para si o que ele mais gostava – meus seios. Antes que ele pudesse desfrutar-se, ele colocou as duas mãos em minha cintura e quebrou o beijo só para que eu entendesse o que pretendia fazer e, assim que compreendi, ele fez esperou meu impulso e eu pulei em sua cintura, fechando as pernas ao seu redor. Chuck gostava da posição porque facilitava sua diversão com meus seios.
Bom, qualquer homem gosta de uma posição dessas.
Eu finalmente podia bagunçar seu cabelo e não ligar para arrumá-lo depois. Chuck me prensou contra a parede de meu quarto e mergulhou a cabeça entre meus seios. Beijou-os, sugou-os com vontade, depois voltou sua atenção para meus lábios.
Arfando, eu pausei o beijo. E o deixei ficar focando sua atenção em meus seios.
— Acho que estou fora de forma – admiti, bamba, soltando minhas pernas ao seu redor e ficando novamente no chão.
Chuck encostou sua testa na minha, também meio ofegante. Porém, nem perto do quanto eu estava.
— Vamos recarregar essas energias então. – Ele sorriu levemente e puxou-me pela mão para fora do quarto.
Fiquei boquiaberta por alguns segundos. ELE ESTAVA PARANDO O SEXO PARA QUE EU COMESSE? COMO ASSIM? Estava prestes a começar o meu piti, quando percebi que meu estômago rugia de fome. Revirei os olhos numa luta interna sobre quem rugia mais: o meu estômago ou a leoa dentro de mim, louca por sexo.
Resmungando, deixei o estômago vencer, com a promessa de que a leoa iria se satisfazer com um inglês grelhado mais tarde.
O fluxo em NY estava um inferno. Acho que estava fazendo mais exercício atendendo as mesas do que se estivesse numa academia. Eu juro que nunca testei tanto o meu equilíbrio com pratos. Tava melhor do que os garotos do farol em São Paulo.
Ainda eram 20h00 e o fluxo de pessoas estava uma coisa insana. Meus músculos facias estavam doendo de tanto sorrir. Malditas festas de fim de ano. Por que tínhamos que estar abertos em Dia de Ação de Graças mesmo?
Eu estava apoiada no balcão do bar, pedindo uma rodada de cervejas para uma mesa cheia de alemães, quando senti duas mãos em minha cintura e uma voz rouca ao pé do meu ouvido:
— Oi, gata, vem sempre aqui?
Virei-me enquanto cruzava os braços, tentando fazer cara de brava.
— Infelizmente, sim. E você?
— Ah, só quando quero encontrar pessoas lindas como você. — Olhou ao redor e só vimos mesas com famílias e/ou turistas malucos. Nenhum deles era bonitos.
— Aham, Tyler. Aham. Fala logo o que você quer.
— Então... Eu vim te sequestrar do seu trabalho. Compramos uma roupa no caminho pra você. Vamos.
Ele saiu me puxando, mas eu finquei o pé no lugar e não quis sair.
— ‘Peraí. Volta a fita. Me sequestrar? Ahn? Você tá louco? Olha o tanto de gente que tem nesse lugar!
— Ah. Eu sei. Mas eu subornei sua chefe.
— Você O QUÊ?
— Ela é barata de se comprar. Aliás, nós temos uma reserva agora, então precisamos ir andando ou vamos nos atrasar.
Soltei sua mão e cruzei os braços novamente.
— E as minhas gorjetas? Hein?
— Sua chefe disse que pode levar tudo o que conseguiu até este presente momento. E eu arranjei uma pessoa para cobrir as suas mesas. Para de reclamar e aproveita a oportunidade, .
— Mas, Tyler, eu tenho que cumprir com as minhas...
— Responsabilidades?
— Ah, é... Tá. Foda-se as minhas responsabilidades. Espera enquanto eu vou buscar minha bolsa.
Tyler sorriu e disse:
— Essa é a minha garota.
Ignorei-o e fui até o vestiário rapidamente, esquivando alguns garçons irritados comigo, talvez porque eu estava atrapalhando seu curso ou talvez porque iria embora mais cedo. Foda-se. Chegando ao vestiário vazio, tirei a blusa do uniforme do restaurante, coloquei minha regata branca comprida e vesti o casaco de couro, puxando a bolsa preta do armário comigo e parando na frente do espelho para checar a maquiagem. Retoquei o pó e passei um batom vinho. Passei os dedos de unhas pretas pelos cabelos, desembaraçando-os e troquei o par de brincos de bolinha por brincos de argola. Bem melhor.
Minha chefe me esperava na saída do vestiário com um sorriso, o que era meio estranho, porque eu não sabia que ela conseguia sorrir. De qualquer jeito, peguei o dinheiro da gorjeta que estava em suas mãos e agradeci, despedindo-me dela, que desejou que eu aproveitasse por ela. Só não sabia ao que ela se referia, se seria à minha saída mais cedo, o lugar ao qual Tyler estava inventando de me levar, ou o possível sexo no fim da noite. Brincadeirinha.
De qualquer jeito, Tyler pegou em minha mão e logo descemos as escadas do restaurante, saindo em plena Times Square com o vento frio de novembro. Apertei o casaco contra meu peito e fizemos uma breve caminhada até a Forever 21 que era, literalmente, ao lado do restaurante, para nosso alívio.
Assim que entramos, Tyler perguntou à vendedora mais próxima onde ficava a sessão de sapatos. Boquiaberta, olhei para ele, surpresa, e este somente deu de ombros como quem diz “Eu sei, me agradece depois”.
Eu não fazia muito ideia do que vestir, para falar a verdade, já que Tyler estava com uma calça preta, uma camiseta branca com uma gola V sutil e uma camisa jeans por cima. Mas isso não conta muito, porque Tyler está sempre despojado...
Quando chegamos à sessão de sapatos, demorei alguns segundos para parar de idolatrar os pares e conseguir voltar meu olhar para Tyler, que ria baixinho com a minha cara de criança feliz.
— Então, Ty, fica meio difícil comprar um sapato de salto quando eu não sei para onde vamos.
— Você vai saber quando chegarmos lá. Pegue um sapato de salto, mas nada muito exagerado, não é um lugar chique. Algo simples, preto, que combine com a sua calça. Depois você pode escolher um colar ou um lenço, sei lá. Aí já é exigir demais da minha masculinidade mandar escolher um acessório.
Ri e comecei a vasculhar, tentando ignorar os sapatos bafônicos que imploravam que eu os escolhesse. Como começaria a fazer frio muito em breve, procurei por uma ankle boot, já que a minha estava velha e era marrom. Depois de pedir uns 5 pares diferentes (Tyler os achava exatamente iguais, mas a opinião dele não conta, ele só iria passar o cartão), encontrei o par perfeito. Uma ankle boot preta de salto, de couro, com umas tachinhas redondas prateadas no calcanhar. Lindas. Calcei e fiquei andando pela loja me sentindo uma diva. Tyler não gostou muito do fato de estarmos exatamente da mesma altura agora, mas somente pelo sorriso no meu rosto, resolveu concordar em levar, com uma condição: que eu levasse um gorro roxo daqueles que ficam soltinhos, e que seria lindo se não tivesse um maldito pompom feupudo em seu topo.
— Vai se fuder!
— Qual é, , você vai ficar tão lindinha com esse gorro...
— Você está me torturando. Como quer que eu use um sapato lindo desse com um gorro de pompom?
— Ué, então não leva o sapato...
— Filho da puta.
— Você me ama.
— Ah, tá bom. Vai sonhando. — Revirei os olhos enquanto ia tirando os tão amados sapatos.
— É brincadeira, . Não precisa usar o gorro hoje. Mas eu realmente quero que use um dia. Pode usar esse cachecol ao invéis do gorro. — Ele me estendeu um cachecol branco de pano com várias caveiras desenhadas em preto. Minha cara.
— Eu não sei se você sabe disso, Tyler, mas você não é nem meu namorado nem um cara que precisa me pagar nada para me comer.
— Para de reclamar e me deixa te mimar.
Dei de ombros. O que eu ia fazer? Ele era mais teimoso do que eu, e olha que eu sou mais teimosa do que uma porta. Concordando, esperei Tyler pagar os itens no caixa enquanto mandava uma mensagem para avisando resumidamente que havia sido sequestrada do trabalho e não sabia quando chegaria a casa.
Voltando com as sacolas, eu tirei os tênis e calcei meus novos bebês, guardando os calçados anteriores na caixa. Levantei-me, enrosquei o cachecol no pescoço e segurei a sacola na dobra interna do cotovelo.
Saímos da loja e fomos atingidos por uma rajada de vento frio, fazendo-me encolher. Tyler passou uma mão ao redor de minha cintura e disse alegre:
— Milagrosamente, conseguimos comprar as coisas com tempo de sobra, então não vamos perder nossos lugares.
— Ah, graças a Deus, eu poderia comer um boi de tanto fome que estou.
— E quem disse que nós vamos jantar, ?
Parei de andar em plena Times Square e o encarei brava, de braços cruzados.
— Tyler Hunt, é muito bom que você me fale AGORA onde você está me levando. E se for uma peça da Broadway, eu te bato.
Tyler riu malicioso e me apertou ainda mais contra ele, fazendo um sinal com a outra mão para chamar um táxi, o qual rapidamente chegou.
— Não, , não é uma peça da Broadway. Você vai ver. Só entra no táxi.
Olhei por cima do ombro para ele e encarei seus olhos negros.
— Confie em mim, — ele sussurrou.
E eu confiei.
’s POV.
Chuck não me deixou colocar uma blusa novamente, nem mesmo o sutiã. Arrastou-me para a cozinha e abriu a porta, procurando por alguma coisa e pediu para que eu pegasse alguma bebida.
Como se nós tivéssemos esse luxo na minha casa.
Desconfortável sem a blusa, fechei a cara e, depois que Chuck percebeu, revirou os olhos para mim, voltei para o quarto sem uma palavra e peguei a camiseta dele jogada no chão. Aproveitei e tirei a calça jeans que realmente estava começando a me incomodar, ficando só de calcinha. E quando voltei para a cozinha, Chuck derrubou a panela – felizmente vazia, senão ele limparia a sujeira – no chão ao me ver. Ele sorriu, veio até mim, já colocando uma mão boba em minha bunda, e beijou levemente meus lábios.
— Ah, estou me decidindo se prefiro você assim ou sem a blusa – sussurou ainda com os lábios sobre os meus.
Segurei seu rosto com minhas mãos e respondi enquanto o empurrava para longe:
— Sua dama ainda está com fome, homem.
Chuck ergueu uma sombrancelha para mim e deu ombros, soltou-me e continuou a cozinhar. Não fazia ideia do que ele preparava. Ou eu estava ocupada olhando para seus músculos definidos e tentando não atacá-lo ali mesmo, ou tentava controlar meu estômago faminto. E depois que ele trouxe para perto de mim um prato com macarrão e queijo que cheirava extremamente bem, eu abri um largo sorriso.
— Ah, mas isso que é um homem. Faz comida e tudo.
— Bom, eu se fosse você não me acostumava com esse tratamento. Primeiro porque você não tem mais comida na geladeira, segundo que essa é a única coisa que eu sei cozinhar. Tirando o bom e velho bacon.
— Odeio bacon. Prefiro uma panqueca – falei, franzindo o nariz em nojo.
— É, você também não tem comida o suficiente para fazer panquecas.
— Para sua informação... – Levantei o dedo indicador, pronta para retrucar dizendo que já tinha arranjado o trabalho, mas quando o fiz, Chuck revirou os olhos e saiu da cozinha.
Ele sumiu alguns segundos. Tempo o suficiente para que eu comesse metade do prato. Afinal, quando você vive com a , você aprende a comer rápido. Ou aprende a passar fome. Ou a ver seu dinheiro do supermercado indo embora junto com um par de sapatos e, acredite, a já fez isso. Várias vezes.
Quando ele voltou, parou atrás de mim e puxou meu cabelo inteiro para um dos lados de meu ombro e começou a distribuir beijos do outro. Usou uma das mãos para abrir os botões de sua blusa que eu usava e começou a descê-la pelos meus ombros. Distribuindo beijos sobre toda minha clavícula e só então meu estômago decidiu que era uma boa hora para parar de estar com fome, eu sussurrei para ele:
— Charles Callum Beway, você fez comida só para me seduzir logo em seguida?
Isso o fez interromper os beijos para gargalhar. Eu podia sentir sua respiração quente sobre meu ombro e um arrepio se espalhou por toda minha espinha, arrepiando todas as partes de meu corpo. Chuck percebeu meus seios eriçados, e eu praticamente pude senti-lo sorrir satisfeito. Afastou-se com um ultimo beijo no ombro, deu a volta na bancada e jogou o prato vazio na pia.
É bom que ele tenha em mente que irá lavar esse prato depois.
Ele encostou-se contra a pia e cruzou os braços. Encarou-me alguns segundos, até que eu inclinasse a minha cabeça para o lado e desse um sorriso do tipo “Vem aqui que eu sou fofa e quero transar com você”. Ou pelo menos era minha intenção ao olhar para ele. Seus olhos azuis não desgrudaram dos meus até que ele estivesse parado ao meu lado novamente. Virei-me para ele e a banqueta, que não me deixava colocar os pés no chão, foi útil uma vez em minha vida, ajudando-me a girar e privilegiando Chuck uma vez que ele não precisaria se inclinar tanto para me beijar.
Enrosquei-o entre minhas pernas e puxei-o pelo cabelo, iniciando um beijo calmo e menos desesperado do que antes. Os beijos de Chuck eram tão bons que eu sempre esquecia que havia brigado com ele dias atrás, então quando ele passou a mão por minhas coxas e as apertou, falei entre nosso beijo:
— Charles?
Ele franziu a testa, como se eu estivesse atrapalhando um super momento – o que eu realmente estava fazendo, afinal, era nosso sexo –, mas afastou-se alguns centímetros, o suficiente para ficar me olhando, esperando por uma continuação.
— Nós vamos simplesmente transar e fingir que nada aconteceu? – perguntei.
A expressão de Chuck foi de desânimo completo. Seus ombros caíram e seu sorriso se desfez.
— Sempre achei que se chamasse “make-up sex” porque foi feito para esquecermos o que aconteceu.
Ponderei sobre o assunto. O que exatamente eu esperava ter que conversar com ele sobre? A verdade é que eu não estava interessada em nada sério com ele, não depois da demonstração de ciúmes que ele havia me dado. Não depois de ter ido pedir desculpas e ele vir com um papo de sermos amigos que, claramente, não havia dado certo para nenhum de nós. Então, cheguei em uma conclusão importantíssima:
— Foda-se a conversa – concordei e sorri maliciosamente para ele.
Chuck gargalhou e assentiu, a felicidade voltando para seu rosto. É eu sei, o sexo comigo é sensacional, inglês.
Puxei-o para um beijo sem ter que me preocupar com meu estômago ficando com fome e o beijo pareceu mil vezes melhor do que antes, meu corpo muito mais energizado. Rapidamente, envolvi minhas pernas ao redor da cintura dele, e Chuck me levantou da cadeira, equilibrando o meu peso com um braço embaixo de minha bunda e com o outro tratou de segurar-me pelo quadril, impedindo que eu voasse para trás repentinamente. Ele parecia eternamente perdido em quesitos de localização e quando senti minhas costas trombar com uma parede, eu pausei o beijo o suficiente para sussurrar:
— No sofá.
Assim que chegamos no mesmo, o corpo de Chuck foi para trás e eu ajeitei minhas pernas, deixando uma de cada lado de seu corpo. Eu realmente estava feliz de ter ficado só com minha calcinha e a blusa aberta dele, uma vez que isso facilitou muito as coisas.
As mãos quentes dele encontraram meus seios e os apertaram com vontade. Ele soltou um gemido quando eu deixei de equilibrar meu peso sobre meus joelhos e sentei-me completamente em seu colo. Mesmo com sua calça jeans, eu podia sentir a animação dele crescente embaixo de minha intimidade. Desci as mãos até encontrar o botão da calça e, com ajuda mútua, rapidamente a tiramos.
Uma vez que eu podia escutar seus gemidos roucos devido à fricção de nossas intimidades, passei a mão por lá, acariciando seu membro por cima da boxer. Uma das mãos de Chuck apertou a parte interna de minha coxa e seus olhos encontram os meus, rápido o suficiente para que eu soubesse o que ele pretendia fazer. Então seus dedos invadiram a minha intimidade por baixa da calcinha, e eu arqueei minha coluna, soltando um gemido que ele impediu ser terminado, tampando-o com um beijo.
Seus dedos me estimulavam enquanto eu arranhava suas costas e tentava manter minha sobriedade. A calcinha, que ele havia puxado para o lado, deveria estar atrapalhando-o, porque pouco tempo depois de me penetrar com seus dedos, Chuck os retirou e passou uma mão por minhas costas e outra por minha bunda, levantando-se comigo no colo e invertendo as posições, praticamente me jogando no sofá. Deitada e arfante, somente deixei minhas pernas moles quando Chuck as juntou e levantou-as, puxando a calcinha por elas e finalmente se livrando da mesma, jogando-a para o lado. Enquanto ele procurava na carteira do bolso da calça caída no chão o pacote de camisinha, eu tirei a camisa dele e a joguei atrás de mim.
Assim que ele voltou seus olhos azuis brilhantes para mim, abriu um sorriso safado que me fez arrepiar. Colocou o pacote de camisinha no chão novamente e subiu em cima de mim, beijando-me intensamente e apertando meus seios. Levei minhas mãos desde aqueles ombros divinos até o seu membro, o qual estava completamente rijo e praticamente implorando por mim. Dentre beijos e gemidos, consegui me livrar de sua boxer e comecei a masturbá-lo.
— Ah, ... — Charles gemeu meu nome de um jeito tão sensual que me fez revirar os olhos.
Continuei subindo e descendo com minha mão por seu membro, acariciando sua glande com o dedão, enquanto ele arqueava as costas e apoiava a testa em meu ombro, gemendo roucamente em meu ouvido, as mãos apertando minha bunda com força.
Ficamos pouco mais de um minuto assim, até que Chuck resolveu mostrar quem é que manda e se sentou no sofá, me puxando pelos quadris até onde ele estava, abrindo minhas pernas e me penetrando novamente com dois dedos logo em seguida. Gemi alto e apoiei-me em meus cotovelos enquanto ele investia em mim lentamente com seus dedos, olhando-me nos olhos sedutoramente enquanto se abaixava, beijando meus seios de leve, então minha barriga, descendo por ela até minha intimidade. Primeiro, ele distribuiu beijos por ela e não parou de me penetrar, somente me provocando com o suave toque de seus lábios. Minhas mãos foram parar em seus cabelos loiros e eu os puxei com força, não aguentando mais daquela tortura. Então ele levou sua língua até o meu clitóris e começou a estimular-me com esta, em movimentos circulares, vez ou outra o sugando. Eu estava no céu.
Gemidos e mais gemidos saíam de minha boca, até que eu estivesse quase gritando, o que fez Chuck retirar os dedos de dentro de mim e tapar minha boca, sem parar de me lamber. Oh Deus. Que homem era aquele.
— Chuck... Oh... Eu vou... Gozar... — anunciei ofegante entre gemidos.
Eu esperava que ele parasse e decidisse que estava na hora para me penetrar, mas ele somente segurou minha bunda com uma mão de cada lado, apertando-me enquanto aumentava o ritmo de sua língua em mim.
Apertei as mãos em seus cabelos, puxando-os, bagunçando-os, arranhando-os, enquanto mantinha meus olhos fechados e as costas arqueadas, sentindo aquele prazer enorme crescer até onde eu nem sabia que poderia crescer. Soltei um gemido alto falho, já que na metade do som o orgasmo me atingiu e eu prendi a respiração, travando todos os músculos de meu corpo e revirando os olhos de prazer. Fiquei alguns segundos segurando sua cabeça com força contra minha intimidade enquanto a onda de prazer percorria todo o meu corpo, então relaxei e me estiquei sobre o sofá, puxando Charles gentilmente pelos cabelos para que me observasse. Ele sorriu ao ver a minha expressão de satisfeita e o sorrisinho safado que eu dava. Beijou a minha virilha e ajeitou-se no sofá, vasculhando o chão com olhar para lembrar onde havia deixado a camisinha. Assim que a achou, abriu-a delicadamente e vestiu-se.
Empurrei-o para que ele ficasse sentado e subi em seu colo, uma perna de cada lado de seu corpo. Chuck segurou a base de seu membro e encaixou-o em minha entrada. Seus olhos azuis estavam mais claros do que o normal. Gememos juntos quando sentei sobre ele lentamente, sentindo-o penetrar-me pouco a pouco. Fechei os olhos ao sentir-lo inteiramente dentro de mim, sorrindo satisfeita, recebendo um beijo roubado. Chuck passou uma de suas mãos por minhas costas, apertando-me contra ele, enquanto a outra segurava meu rosto para que não partíssemos o beijo.
Comecei a subir e descer lentamente em seu membro, enquanto nossas línguas permaneciam entrelaçadas e em sincronia. Comecei a aumentar o ritmo e conforme subia e descia comecei a alternar com rebolados, movimentando meu quadril vezes em espiral, vezes para frente e para trás. Tentei manter nossos lábios unidos, mas gemidos vindos de nós dois partiam o beijo. Suas mãos envolveram minha cintura com firmeza e ele começou a me auxiliar conforme eu subia e descia em seu membro.
— Ah, ... — ele gemeu roucamente quando apoiei as mãos em seus ombros, fincando as unhas, rebolando lentamente para provocá-lo.
Então Chuck me segurou pela bunda com força e me manteve parada, impedindo-me de subir e descer, e ele começou a movimentar seu próprio quadril para cima e para baixo, penetrando-me com força e rapidez.
Arranhei seus braços inteiros e joguei a cabeça para trás, gemendo alto e pedindo por mais. Chuck respondeu meu pedido prontamente, nossos quadris estalando ao se encontrarem, nossas respirações cada vez mais pesadas e os corpos suados em contato.
Chuck subiu as mãos por meu corpo e apertou meus seios com força, dando breves beijos nele.
Eu sabia que não demoraria muito até que eu gozasse novamente. Chuck segurou-me com força e me deitou no sofá, ainda dentro de mim, ficando por cima e encostando a testa na minha. Então ele começou a me penetrar em um ritmo frenético, mais rápido do que antes, fazendo-me soltar gemidos cada vez mais altos, coisa que ele pareceu apreciar. E muito.
Arranhei suas costas de todos os ângulos possíveis enquanto sentia seu membro me preencher cada vez mais. Chuck grunhiu e estocou em mim mais uma vez, com toda a força que possuía, permanecendo ali e gemendo alto e roucamente ao pé de meu ouvido. Ouvi-lo ali, gemer meu nome enquanto gozava, foi o que me faltava para chegar ao ápice novamente. Nossos corpos se contraíram ao mesmo tempo e ficamos alguns segundos ali, extremamente perto e unidos, gemendo e gozando conforme o prazer tomava conta de ambos.
Meus dedos dos pés relaxaram conforme a onda começou a se dissipar e Chuck começou a distribuir beijos por meu rosto suado. Com a pulsação extremamente acelerada e os olhos abertos agora, encarei o seu rosto sereno e suado. Nossos olhares se encontraram e ambos sorrimos fraco.
— Você é linda, — ele comentou num sussurro.
Concordei com a cabeça, sem conseguir falar nada. “Obrigada”?
’s POV.
— Você me tirou mais cedo do trabalho pra ver um JOGO DE BASQUETE?
Eu estava sentada na cadeira acolchoada, à beira da quadra de basquete, enquanto milhões de pessoas se amontoavam para chegar aos seus lugares. Estava parecendo a Macy’s no Natal.
— Bom, você sabe que eu trabalho numa das divisões do New York Knicks, o treinador pediu que eu viesse ver o jogo do adversário, já que o assistente técnico está com mononucleose... – Ele me lançou um olhar significativo. - E não pode vir. E o inglês gosta mais de rugby e todos os meus outros amigos já tinham compromisso. Então... Perguntei-me: Por que não a ?
— Nossa, Tyler, por que não a ? Por que não chamar minha melhor amiga que não sabe porra nenhuma de basquete e tem que trabalhar?
— Você é muito ingrata, viu.
— Eu sei. Você me ama.
Tyler revirou os olhos e acenou para um dos vendedores de hot dog, ignorando minha constatação enquanto puxava vinte dólares da carteira, esperando o vendedor se aproximar.
— Eu vou querer um hot dog e uma coca-cola, por favor. A moça vai querer...
— O mesmo que ele. E será que você tem nachos aí?
— Gulosa — Tyler comentou rindo.
O vendedor chamou um amigo dele e pegou um cestinho de nachos para mim. Tyler os pagou e eles foram embora. Bom, já que eu teria que assistir ao jogo dos... Dos... Heat e Nets? Mas... Ué.
— O Madison Square Garden não é do Knicks?
— É, mas o estádio dos Nets está interditado porque alguns vândalos estragaram os assentos e etc. Loucos.
Dei de ombros e enfiei alguns nachos na boca. Uma voz começou a sair das caixas de som, o interlocutor, provavelmente, então um monte de homem de uns dois metros de altura começaram a entrar na quadra – e eu podia imaginar ali no meio, chorando encolhida –, vestidos de branco e vermelho, com caras de mau. Logo em seguida, o narrador anunciou outro time, vestido de preto e branco, igualmente altos e com cara de maus.
Tyler ao meu lado puxou seu iPhone do bolso e procurou pelo bloco de notas, onde iria anotar todas as táticas do time que seria seu futuro adversário.
Desinteressada, comecei a comer meu hot dog vorazmente, tomando cuidado para não deixar cair ketchup em meu novíssimo cachecol. O apito soou e a bola começou a rolar. Ou melhor, quicar.
Os caras de preto e branco, os Nets, descobri depois que um deles virou e vi o que estava escrito em sua camiseta, estavam com a bola e avançavam na quadra rapidamente, cercados por gigantes brancos e vermelhos. Eu estava tomando meu refrigerante enquanto Tyler anotava coisas simplees no celular, que eu com toda a certeza não entenderia.
Dois caras se trombaram e foi cobrada a falta, mas o cara foi para a lateral.
— Ué? — deixei a pergunta no ar enquanto olhava para Tyler. Ele sorriu como se eu fosse uma criança indo pela primeira vez... A segunda parte era verdade.
— Todas as faltas cometidas no basquete são cobradas na lateral.
— Que bosta.
Tyler revirou os olhos e sorriu, anotando mais duas palavras assim que a cobrança de falta foi executada.
Algumas cestas foram feitas, o jogo estava bastante equilibrado (de acordo com o comentário do cara sentado atrás de mim), e eu já havia terminado toda a minha comida, então ficava assistindo o jogo e comentando coisas engraçadas com Tyler, como por exemplo, como os dreads do camisa vinte e três do Miami Heat pareciam pulseiras de artesanato barato.
Já estava no quarto tempo (pra quê tanto tempo? Eu hein) e eu estava procurando por um vendedor de hot dog quando um jogador dos Nets interceptou um passe e espalmou a bola com força, a qual veio girando a toda a velocidade em direção à arquibancada. Especificamente, a mim. Assim que vi a bola chegando, me encolhi e gritei, internamente já planejando matar Tyler por me fazer vir assistir o jogo com ele.
Mas eu não senti o impacto. Tyler estava com o braço na minha frente. Ele espalmou a bola para longe. Olhei-o, surpresa, e ele sorriu de lado, balançando o braço disfarçadamente pela dor do impacto.
— Awn. Meu herói.
— Que isso, princesa. Sempre à disposição.
Revirei os olhos e o abracei de lado, apoiando a cabeça no ombro dele.
— Sabe, Tyler, você é um fofo quando quer. Não sei como ainda não arranjou uma namorada.
— Você sabe que eu não faço o tipo que gosta de ficar preso a uma só. É pecado não deixar as outras provar da minha fantástica companhia.
Revirei os olhos e dei uma cotovelada em suas costelas, fazendo-o gemer de dor e depois rir.
— Coitadas das suas antigas namoradas. Devem estar até hoje com a cabeça pesada dos chifres.
Tyler deu um sorriso de lado.
— Acredite ou não, quando eu resolvo namorar, eu não traio. Prefiro terminar. Acho trair uma desculpa para continuar com algo que não está dando certo.
Olhei-o de canto de olho, incrédula.
— É sério! — ele afirmou rindo.
Dei de ombros. Melhor para ele. E para as antigas e futuras namoradas.
Soltei-o e ele voltou a anotar algumas outras coisas no celular. Tirou até algumas fotos. Eu havia decidido torcer para o Miami Heat, somente porque o símbolo deles era uma berinjela fumegante. Não que eu goste de berinjelas, mas elas são legais. E foi em algum momento entre a minha reflexão sobre berinjelas e como aqueles lindos braços do camisa dezenove dos Heats ficariam lindos ao meu redor, que o juiz apitou o último tempo, dando a vitória para o Miami Heat.
Tyler anotou mais algumas palavras e bloqueou o celular, recolocando-o no bolso da calça. Levantou-se e estendeu o braço para mim, puxando-me para levantar, mas como eu nunca posso fazer nada direito, meus pés se enroscaram e eu tropecei. Óbvio, . Você tinha que parecer uma retardada mental bem quando o camisa dezenove estava passando. Maravilha.
Para meu alívio, o jogador estava ocupado demais secando a garrafa de Gatorade que o esperava. Tyler me segurou firmemente pela cintura, evitando um vexame maior do que simplesmente me enroscar, enquanto eu consegui ficar (quase) de pé. Apoiei a testa no peito dele, envergonhada, e senti seu corpo rerveberar por baixo de mim enquanto ele ria.
— Ai, ai, ...
— Cala a boca, idiota — resmunguei.
Levantei a cabeça e encarei-o com um bico. Foi somente quando o seu sorriso começou a se desmanchar que eu percebi que estávamos perigosamente perto. Tipo, dois centímetros de distância entre nossos lábios. Seus olhos negros encaravam os meus, curiosos, mas depois de alguns segundos eles se focaram em meus lábios semiabertos, ainda pintados de vinho. Eu podia sentir sua respiração pesada e o habitual hálito de menta. Eu podia sentir o que estava para acontecer. Um alerta gritava em minha mente “PERIGO” e eu sabia que isso foderia com tudo, então antes que ele tentasse qualquer coisa, restabeleci meu equilíbrio e desviei o rosto enquanto fazia de conta que havia machucado o tornozelo. Tyler coçou a garganta e perguntou se eu não queria ir para um hospital. Respondi que estava bem e me afastei mais ainda dele.
Passei minhas mãos pelo meu casaco e recoloquei o cachecol recém-ganho no pescoço. Ele me observava cautelosamente.
— Tem uma garota te encarando — Tyler constatou olhando para o outro lado da quadra.
Era uma loira, pouco mais baixa do que eu, com uma blusa branca decotada mostrando seus seios enormes, calça jeans e um casaco marrom por cima que combinava com as botas de salto. Quando a observei, percebi que ela não me encarava, mas sim a Tyler, que estava retribuindo o olhar, afastado de mim, com as mãos no bolso. E eu conhecia muito bem aquele olhar que eles estavam trocando. Havia trocado esse mesmo olhar quase um mês antes com ele.
Desviei o olhar da loirinha e olhei Tyler, que a observava intensamente enquanto eu colocava a bolsa no ombro e checava o horário no celular. Não tinha mais como voltar para o trabalho. Ótimo.
— Ty.
Ele desviou o olhar da loira para mim, intrigado.
— Ah, desculpa.
— Não. Não se desculpe. Só vai lá, aproveita.
Percebi que seus olhos vasculharam os meus, procurando uma coisa que não existia. Ciúmes.
— Você tem minha benção, garotão. — Dei um tapinha em seu ombro.
— Mande mensagem avisando que chegou em segurança em casa. — Ele abriu a carteira e me deu uma nota de vinte dólares. — E vá de táxi. Eu te ligo amanhã.
A loirinha estava subindo as escadas para a saída, olhando por cima do ombro, justo no momento em que Tyler me beijou na bochecha, sussurrou um “valeu, gata” e andou rapidamente através da quadra para conseguir alcançar a loirinha.
Não olhei para trás. Não tinha porque, afinal. Tyler era meu melhor amigo. E só.
— Eu não esperava que Chuck fosse tão poderoso assim, amiga – disse enquanto trazia nas mãos mais três cabides de roupas.
Estava encarando no espelho um roxo que eu havia ganhado em algum momento, na minha cintura. Dei ombros, sorrindo ironicamente de volta para ela.
— Que gracinha, , você é uma fofa.
— Nossa... Para quem levou um trato dois dias atrás você tá nervosinha, hein. Que isso, poxa, só estou de ‘zuzu com você. Por que tá bravinha?
Fiz um bico.
— Porque eu tô perdendo todo meu espaço no armário com suas mil roupas. E eu não posso usar nenhuma delas porque seu peito é pequeno demais para os meus.
— Vai se fuder. Eu não posso usar suas calças porque elas ficam curtas em mim com esse seu tamanho de anã – ela retrucou enquanto pendurava os cabides.
— Touché.
saiu do quarto e fez o caminho de volta com mais roupas pelo menos mais vinte vezes, enquanto isso, eu arranjava espaço para as coisas dela em minhas gavetas. Esvaziava algumas gavetas e achava objetos perdidos, como alguns anéis que eu procurava faziam milênios. Quando consegui arrumar pelo menos duas gavetas, ajudei a trazer o resto das tralhas de minha melhor amiga para dentro, e nós acomodamos tudo com grande dificuldade, porque, porra, ela realmente tem muita tralha.
Quando terminamos a cômoda, percebemos que havia todas aquelas outras coisinhas, como enfeites, abajur e – mais – roupas para mudarmos de quarto, mas a fome batia forte em nossos estômagos. Principalmente no de , que reclamava tanto quanto uma velha de cem anos com dor nas juntas.
Fomos na cozinha e, juntas, inventamos um cardápio bem brasileiro, para variar um pouco. Mas quando começamos a fazer, percebemos que não tínhamos nem um terço da comida que precissavámos. Merda.
Fiquei triste quando só pudemos fazer um macarrão e que este mal deu para nós duas. Ainda mais quando se come com alguém como . Teríamos que ir ao mercado amanhã mesmo – depois que Jules chegasse, de preferência, assim ela pagaria metade –, e algo me dizia que nós saíriamos de lá com um produto de tudo.
Não havia refrigerante. E isso me deixou bem irritada. não ligou, ela podia muito bem enfiar a cara na torneira e tomar a água de lá – supondo que nossa água não tenha sido cortada por atrasar a conta, claro.
— Qual é, loira. Bebe um pouco do leite que restou e já era, eu deixo você matar – ela disse dando ombros e entregando-me a caixa do mesmo.
— Ah, que gostoso. Macarrão em leite. – Fiz careta ao tomá-lo e perceber que estava meio azedo. – Você vai cagar até amanhã se tomar mais desse leite, . Por favor, não faça isso.
— Mas... – Ela fez um bico gigantesco. – Eu tô com sede.
— Nós temos uma bebida emergencial, lembra? – falei abaixando o tom de voz, como se fosse um segredo que alguém pudesse escutar, apesar de nós sermos as duas únicas almas ali.
— TÁ BRICANDO? VOCÊ VAI ME DEIXAR ABRIR?
Dei ombros.
— Estamos falando do nosso último dia como as duas morando aqui, certo?
deu um gritinho histérico e saiu correndo da cozinha. Voltou alguns segundos depois, eufórica, abraçando caixa da garrafa do Veuve Clicqout, com os olhos brilhando tanto que parecia o evento mais fodástico do ano.
A coisa é que nós guardávamos durante o primeiro semestre inteiro o dinheiro para essa maldita garrafa. Todos os anos. E quando chegava no ano novo, nós tomávamos-a inteirinha. Gota por gota. Sem dividir com mais ninguém. Porém, esse ano nós teríamos Jules, muito provalvemente. E não pareceu fazer sentido esperar muito mais.
Abri a caixa e puxei as duas taças que vinham junto com a garrafa. Ah, era bom ter copos de verdades e não lata ou caixas leite antigas. Delicadamente, abrimos o champagne e rimos quando a rolha saltou para longe. Despejei um pouco na taça de e depois na minha. Brindamos.
— Pela nova fase de alguém morando com a gente.
— E que dure pouco, já que você conseguiu um novo trabalho – completou.
Tomamos todo o conteúdo de nossas taças e nos servimos com mais um pouco. Terminamos nossa comida, e começou a tagarelar sobre uma família que havia atendido outro dia no trabalho e a havia dado pouco gorjeta, apesar dela ter sido super gentil com eles, mesmo quando uma das crianças derrubou o prato cheio de comida no chão e ela teve que limpar a bagunça. Aham. Eu também duvido que a tenha sido gentil.
A garrafa estava pela metade quando o assunto mudou.
— O que vamos fazer no Dia de Ação de Graças? É tipo, terça-feira – ela comentou.
— Ah. Podíamos pedir para Jules comprar o peru. E fazemos um jantar só nosso.
— Mas Tyler vai estar viajando, podemos chamar Chuck mes-. PERAÍ. – Ela piscou, incrédula, e estreitou os olhos, adquirindo uma expressão desconfiada. – Você disse “nosso”.
— É, ué. – Dei ombros, pegando nossos pratos e começando a lavá-los.
encheu mais sua taça e a minha. Agora dois terços da garrafa tinha ido garganta abaixo e eu sabia que os efeitos iam surgir.
— E quanto ao Chuck? Não vai querer ele aqui?
— Não – respondi, agora passando água nos pratos.
— Ué. Como assim? Que bicho te mordeu, ? Por que não?
— Porque eu não quero nada com ele, não preciso dele aqui no Dia de Ação de Graças.
— Mas, ... Você tá brava? Vocês transaram, tipo, anteontem – ela comentou, confusa.
— Não estou brava. Só não tô caindo aos pés dele, sem falar que hoje ele nem me ligou, então tanto faz.
— Meu Deus, acho que vai chover. não se apaixonando por um deus-grego que trata ela bem.
— Ah, por favor.
riu e me abraçou, mesmo eu estando de costas para ela.
— Essa é minha menina.
— Aham. Saí pra lá – murmurei, empurrando-a para trás com minha bunda. Ela deu um tapa ardido, e eu reprimi um xingamento. – Vai tirando os lençóis de sua cama para que a gente coloque ela no meu quarto, vai.
— HÁ. HÁ. HÁ. , não dá para passar a cama pro teu quarto nem fodendo. Não sei se você percebeu, mas a cama é grande. E bom... O corredor não.
Eu sorri angelicamente para , enquanto colocava as louças no escorredor e puxei de dentro de uma gaveta um martelo. Óbvio que eu já tinha pensado naquilo. Eu ia desmontar aquela merda de cama.
— Isso não vai dar certo – murmurou quando eu passei por ela com o martelo em mãos, pronta pra conseguir passar a cama pela porta.
Amarrei o cabelo em um coque alto e começei pelos cantos da cama, procurando por pregos. Por que essa porra não tinha pregos? me ajudou a tirar o colchão, e eu observei, curiosa, as madeiras verticais que antes proporcionavam apoio para o colchão, e enquanto deixava o mesmo dentro do quarto, eu peguei o martelo e com todas as minhas forças, destruí a primeira madeira vertical. Eu estava na quarta quando entrou no quarto aos berros:
— QUE PORRA VOCÊ TÁ FAZENDO COM MINHA CAMA, ? EU VOU TE ESGANAR.
Ela tentou avançar sobre mim, e, em uma manobra perigosa, eu subi no esqueleto da cama para fugir dela. Mas meu peso na madeira, que antes eu atacava com o martelo, foi o suficiente, e a mesma cedeu, me fazendo cair com tudo de bunda e torcer meu pé direito violentamente, afudando-o no esqueleto da cama.
— AH MEU DEUS, EU VOU TER QUE AMPUTAR MINHA PERNA! – gritei e logo em seguida gargalhei.
Olha, o Veuve mandando lembranças.
— , SUA IDIOTA. PUTA QUE PARIU, MULHER. – parecia prester a se descabelar. Mas alguns segundos depois a raiva tinha ido embora e agora ela estava divertida, rindo. Bêbada. – O que eu faço?
Pisquei, zonza com o álcool.
— Me ajuda a sair de dentro daqui, pra começar – respondi, a dor parando de irradiar por minha perna e sumindo lentamente.
Cuidadosamente, eu e minha melhor amiga tiramos minha perna direita afundada e eu manquei para o lado, enquando ela pegava o martelo e terminava de destruir as madeiras em um gesto de “vingança”. Ela parecia estar se divertindo, na verdade. Ou talvez fosse o álcool no organismo dela. E eu esperava que ela não cometesse o mesmo erro que eu.
Estava de braços cruzados, emburrada, com dor de cabeça devido ao álcool e com uma leve dor no tornozelo, quando o interfone tocou na sala. me olhou, os olhos brilhando de felicidade por estar destruíndo a cama, e eu bufei, percebendo que teria que ir atender o mesmo.
Arrastei minha perna direita até lá e eu estava gritando xingamentos em português e inglês quando atendi o interfone.
— ? – Tyler perguntou do outro lado da linha. – Que língua você tá falando?
— Português, provalvemente. – O sotaque britânico inconfundível de Chuck falou atrás dele. — O que vocês querem? – resmunguei.
— Subir, ué. Trouxemos comida chinesa. E nossa companhia, claro.
Bufei.
— Tá. – E apertei o botão que permitiria a entrada deles no prédio.
Andei mais alguns passos até a porta e a abri, usando-a como apoio para não ter que ficar com o pé machucado no chão. Esperei que o elevador chegasse, mas ele não saía do andar que se encontrava. Um minuto depois, ouvi as risadas de Tyler e Chuck e eles surgiram pelas escadas, sorridentes e animados. Chuck trazia duas garrafas de refrigerante entre os braços, e Tyler uma sacola de plástico cujo conteúdo provavelmente seria a comida chinesa.
Eles se entreolharam ao perceber meu estado: Roupa velha de ficar em casa, toda suada, um coque alto mal feito no topo da cabeça, sem um pingo de maquiagem e um pé erguido do chão. Ah, sem falar da falta de humor exalando de meu corpo. E o cheiro de álcool.
Tyler me cumprimentou com um breve beijo na bochecha e entrou na casa gritando o nome de . Chuck ofereceu seu braço livre das garrafas como apoio, enquanto fechava a porta atrás de mim com o pé, percebendo que a mesma era meu apoio.
— Tudo bem? – perguntou suavemente.
— ! – Tyler gritou mais uma vez entrando na casa, já fora do meu alcance de vista.
Fiz uma careta com os berros dele. Champagne de merda me deixando com dor de cabeça. Chuck soltou-me por um breve segundo para colocar as duas garrafas de refrigerante no chão e depois seus braços voltaram para minha cintura e a apertaram, ele me trazendo para mais perto de seu corpo.
— Tudo – murmurei quando ele beijou levemente meus lábios.
— Mesmo?
— Aham – respondi dando um sorriso fraco. – O quê você fez hoje?
— Tyler me sequestrou. Queria que eu avaliasse com ele um cara que é assistente de técnico de um time que está começandou a ganhar atenção, o cara tem boas sacadas durando o jogo. Por isso sumi.
— Ok.
Ele procurou novamente por meus lábios. Dessa vez, eu não resisti e recebi de bom grado o beijo. Rapidamente, meus lábios abriram espaço para sua língua e o beijo se tornou mais intenso, mas não desesperado. Na medida certa. Eu sorri em meio ao beijo ao ouvir Tyler limpando a garganta.
— Não quero atrap-
— Mas eu quero. Podem parar com essa putaria toda vocês dois – falou, chegando logo atrás dele e cruzando os braços. Ela estava sendo uma bêbada bem irritadinha. – Sua perna melhorou, ?
estava claramente irritada. E eu descobri o motivo assim que olhei para a mão de Tyler, que agora segurava o martelo.
— Aliás, o quê você fez? – perguntou Chuck, virando-se para mim após também perceber o martelo na mão de Tyler.
— Bom, ela estava tentando mandar minha cama para o quarto dela, para que nós não precisássemos dormir na mesma. Aí, ela afundou que nem uma baleia encalhada e ficou choramingando. E depois eu estava tentando fazer o que ela estava fazendo e eu estava conseguindo, quando o Alladin aqui resolveu me atrapalhar – respondeu , apontando para Tyler com o dedão.
— Eu disse que trouxe comida chinesa, não indiana – ele retrucou, com um sorriso irônico.
— Tanto faz, Burger King. Tanto Faz.
Tyler revirou os olhos e foi para a cozinha. Eu me libertei do braço de Chuck – que seguiu Tyler – e me aproximei de , com os olhos estreitados. Segurando-me para não começar a rir dela, que estava claramente sob efeito do Veuve. Bem mais do que eu, pelo menos.
— , você voltou a chamar o Tyler de “Burger King” agora?
— Não se mete, . Tô com TPM e eu tava descontando na cama até agora. E ainda tô bêbada.
Dei de ombros.
— Beleza, flor.
Nós todos comemos o que os nossos queridos homens trouxeram. E com “nós”, eu quero dizer: , Tyler e Chuck - porque eu fiquei, sinceramente, satisfeita somente com a volta de minha linda Coca-Cola. E conversamos alguns minutos até que os homens resolveram dar uma olhada na cama e ver se conseguiam levá-la até meu quarto, enquanto ia atrás deles berrando instruções de modo nervoso e grogue. Eu simplesmente fiquei na cozinha lavando a louça e joguei fora a garrafa de Veuve – que eu descobri que havia finalizado, provalvemente enquanto eu destruía a cama. Isso explicava ela estar irritadinha e bêbada. Quando terminei, afundei no sofá e pensei que ia morrer de tédio quando finalmente Chuck apareceu na sala e sentou-se ao meu lado.
Tyler e ainda discutiam no corredor. Ah, álcool. Sempre causando discórdia.
— Não dá para passar a cama, . É muito grande – Chuck disse, claramente desapontado consigo mesmo.
Murmurei um “tudo bem” e puxei seu braço sobre meu ombro, aninhando-me em seu peitoral. Chuck recebeu o movimento de bom grado e ficou fazendo cafuné em meus cabelos – agora soltos – e me contando sobre o cara que ficou a tarde avaliando com Tyler. Eu assentia meio sonolenta devido ao champagne, mas não prestei atenção.
Eu começei a me acomodar para dormir ali mesmo, no colo de Chuck. Sentei-me completamente em seu colo e coloquei os braços ao redor de seu pescoço. O Veuve realmente havia me deixado com sono, Senhor. Nós contínuavamos a conversar em tom baixo sobre o trabalho dele, sobre a mudança de Jules e contas para pagar – ignorando a briga de Tyler e , que acontecia em algum outro cômodo dentro da casa –, e então Tyler apareceu na sala, gritando um “foda-se”.
Encarou a mim e Chuck como se lembrasse da nossa existência de repente.
— Chuck, eu to vazando. Vou viajar amanhã de manhã já.
O lindo homem onde eu estava sentada assentiu e graciosamente me tirou de seu colo. Eu me levantei com cuidado, apesar de que a dor em meu calcanhar tinha sumido praticamente por inteiro agora, e abri a porta para eles.
— Bom Dia de Ação de Graças, Ty – falei, dando-lhe um breve abraço, que só deixou mais claro para mim o quanto ele estava claramente tenso e irritado.
— Valeu. Pra você também – ele respondeu, olhou de relançe para trás de mim, onde eu sabia que provalvemente estava parada. – Pra você também, .
— Vai se foder – ela murmurou em resposta e foi até a cozinha, com passos pesados e tontos.
Revirei os olhos. Dei um beijo no inglês, que estava confuso com a reação de ambos, enquanto Tyler chamava o elevador. Passei a mão pelo cabelo de Chuck e beijei seu pescoço rapidamente, quando Tyler avisou que o elevador tinha chego com um grunhido.
— Bom Dia de Ação de Graças – Chuck disse abrindo um meio sorriso. – Vou para Londres e quando voltar, te ligo.
— Sem problemas – falei, observando-o fechar a porta do elevador e assentir levemente para mim antes de voltar-se para um Tyler irritado.
— Ela é bipolar, inglês. Juro. – Tyler deu ombros, provalvemente respondendo uma pergunta silenciosa de Chuck sobre .
Fechei a porta e me deparei com , emburrada, sentada no sofá. Sentei ao lado dela e a abraçei calmamente.
— Calma, bfff, são só homens. São babacas e não entendem a TPM.
— Eu sei – ela respondeu, aliviando a expressão e soltando um leve sorriso. – Aliás, o meu quarto está pronto para receber Jules, mas o nosso não está pronto para nos receber.
Dei ombros.
— Esse sofá parece confortável o suficiente para mim.
’s POV.
Quando a campainha tocou, eu estava no meio do meu sonho com patos ninjas vindos de Matrix querendo levar o sabre de luz sagrado de volta para Mordor. Olhei para o lado, esperando que fosse atender, mas a desgraçada estava babando na almofada do sofá. Droga.
Respirei fundo e levantei-me ainda zonza, apoiando-me nas paredes até finalmente chegar à porta. Olhando pelo olho mágico, encontrei uma hippie sorridente cheia de malas atrás de si. Jules.
Contei até três e abri a porta, lutando com o meu instinto assassino que queria mandá-la voltar para casa com uma vassoura enfiada no cu.
— Boa noite, Jules.
— Namastê, . Desculpe pelo horário, mas é que acabei de chegar de um retiro hindu e resolvi que deveria vir direto para cá. Eu acordei vocês?
Sorri. Eu tinha tantas frases irônicas perfeitas em minha mente que foi uma luta interna conseguir decidir qual delas era a melhor. Quando finalmente decidi que responderia um delicado “Magina, que isso, e eu estávamos fazendo um de nossos experimentos com cérebros de vaca”, a maldita da loira peituda resolveu levantar do sofá e sorrir.
— Oi, Jules!
Ainda sorrindo (acho que meus músculos facias travaram nessa expressão), dei passagem para a hippie doida que vestia um vestido tye-die, um casaco de tweed cor-de-rosa e calçava chinelos. Estava tipo, dez graus lá fora.
— Então, meninas, eu espero que vocês estejam com fome, porque eu trouxe um prato muito famoso da Índia para vocês — ela comentou enquanto puxava suas malas marrons atrás de si.
Eu não estava com fome, milagrosamente. Mas as malas eram poucas até, tirando a caixa de vidro que estava embalada com plástico bolha e continha um lagarto dentro dela.
Pera. QUÊ?
— Você trouxe um lagarto pro jantar? Como que se cozinha isso? Bota no forno e espera assar?
— O quê? Não! — Jules largou as malas na sala, voltou correndo para o réptil e abraçou a caixa. — Oh, Charles, não fique assim... é uma piadista. — Ela me direcionou um olhar feio enquanto conversava com o lagarto verde dentro da caixa.
— Charles? — comentou confusa, até que fez uma expressão de quem havia acabado de descobrir a solução de uma equação matemática. — Ah! A iguana!
Infelizmente, lembrei que Jules havia comentado sobre seu amigo réptil em nossa entrevista. E me fizera concordar com o desgraçado. Maldita. Resmungando sozinha, puxei as malas de Jules para o quarto, que antes era meu (desgraçada), enquanto a hippie doida trazia a caixa com Charles dentro. A iguana. Não o inglês.
Zonza, entrei na cozinha, antes que minha ressaca, junto com a visão do lagarto que compartilharia apartamento, fizesse-me cometer suicídio. Ou homicídio. Talvez ambos.
Passei as mãos pelo rosto com força, provavelmente borrando minha maquiagem, mas foda-se. Como estávamos sem nada na geladeira (ok, tinha um queijo fedido, mas ele não era comestível), eu bebi um copo de água da torneira mesmo e foda-se as bactérias. Enquanto servia o copo de água lentamente, ouvi a conversa das duas, enquanto elas andavam para os quartos.
Jules voltou para a porta e trouxe um colchão de solteiro consigo.
Então, ela jogou o colchão no meio do corredor que levava até nossos quartos e começou a colocar o seu lençol nele.
— Ahn... Jules... Não seria melhor arrumar a cama já dentro do quarto do que levar para lá?
Ela começou a rir, jogando o travesseiro com fronha de elefantes sobre a cama improvisada.
— Eu comecei a seguir uma religião nova do sul da Índia, perto do Sri Lanka, a qual propõe que não se deve dormir em quartos alheios porque a aura deles já está instalada ali. É por isso que somente dormimos em aposentos aonde ninguém jamais chegou a dormir antes.
sorriu como se aquilo resolvesse os nossos problemas, mas eu somente fiquei muito puta. Quer dizer que eu mudei tudo o que era meu pra essa puta hippie resolver que vai dormir no corredor? Além do mais, como é que eu vou fazer pra chegar ao banheiro de manhã?
— Jules... — começou, vendo o fogo crescer dentro de meus olhos. — Eu não sei qual siri que estabeleceu isso... Mas você pode dormir no quarto de . Afinal, esse apartamento é alugado, então não somos donas dele nem dos quartos e não deixamos a aura neles e...
— E o Seu Sirigueijo com certeza entenderá a sua situação.
Jules riu como se fôssemos crianças de seis anos pedindo para visitar o Papai Noel no Polo Norte. Não era algo tão absurdo e idiota, em minha legítima defesa, afinal, o Polo Norte...
— Eu acabei de começar meu rito de passagem para ativar os meus chacras e conseguir me provar capaz de conectar com o grande Porokitos, o ser que comanda o outro plano.
Elevei as sobrancelhas, incrédula, mas resolveu ser a voz da razão (na concepção dela, porque para mim aquilo tudo era uma putaria sem fim):
— Ok, então, Jules. Pode dormir no corredor. Mas vai ter que colocar seu colchão no quarto da quando não estiver dormindo, para não atrapalhar a passagem, ok? E você pode deixar as coisas, roupas e o mini-dragão inglês, no quarto de .
É, tá, tanto faz... ‘PERAE.
— Por que o Muchu tem que ficar no meu quarto, hein?
Jules olhou-me quase com raiva, a boca aberta em ofensa, mas não conseguiu falar porque tomou a frente.
— Ué, dormir junto com a gente ele não vai. E na sala, vamos combinar, vai espantar as visitas.
Se por visitas ela quis dizer Tyler e Chuck, acho que não, porque os dois já sabiam da existência do réptil. Mas ok.
— Eu voto pelo quarto — Jules se pronunciou.
Vaca. Ninguém pediu sua opinião. Você mal chegou e já tá querendo arranjar briga? Vou te deixar umas surpresinhas no seu shampoo pra você aprender quem é que manda nesse barraco.
— Eu também — enfiou a faca em minhas costas e o amargo gosto da traição queimou em minha boca. Vaca número dois.
Resmungando, passei pisando por cima do colchão de Jules no chão e lancei um olhar assassino para Godzilla, o lagarto ladrão de lares. Entrei em meu quarto (e de ) e bati a porta atrás de mim. Eu sabia bancar a garota mimada quando queria. Principalmente quando perdia.
Enquanto tirava a roupa e botava uma camiseta larga, consegui ouvir conversar aos sussurros com Jules, provavelmente se desculpando pelo meu compartamento. Alguém tinha que se desculpar se quiséssemos continuar com a ajuda no aluguel. E esse alguém com certeza não seria eu.
Desliguei o despertador e me joguei na cama, enfiando-me debaixo das cobertas e apagando a luz para dormir. Foi quando eu coloquei os fones de ouvido e achei a música perfeita para dormir, que -Víbora- adentrou o quarto. Minhas costas ainda doíam no ponto onde eu fora apunhalada pela pessoa mais importante do mundo para mim.
Não dei play na música, mas continuei deitada e evitando o seu olhar, encolhida na cama. pegou seu pijama e foi para o banheiro, onde ficou durante menos de dez minutos, voltando com uma calça de flanela e camiseta, sem maquiagem e com os cabelos loiros presos num coque. Ela se deitou o meu lado, mas eu estava de costas para ela.
— ...
— Fala.
— Se você peidar eu te mato.
Não consegui segurar a risada.
— Você bem que merecia um peido caprichado.
— Você sabe que não podemos perder a Jules.
— Tá. Mas precisava enfiar a droga do réptil no meu quarto junto com as coisas dela?
— Ué. No nosso quarto não ia ficar. Eu não tomo banho com o Eragon no banheiro. E na cozinha vai te fazer querer usar ele como aperitivo.
— Você sabe que Eragon é o nome do humano que treina o dragão, né? E que iguanas não têm nada a ver com dragões?
— Tanto faz. Ainda vou chamá-lo de Eragon.
Dei de ombros e virei na cama.
— Você ainda não pediu desculpas.
— Vai se fuder, , você sabe que eu estou certa no final das contas e....
— . Fala logo.
— Argh. Tá. Desculpas, porra. Feliz?
— Extasiada. Agora vamos dormir que toda aquela bebida tá me dando uma dor de cabeça da porra.
— Por favor.
Cada uma foi para o seu canto, aconchegando-se o melhor possível.
— ?
— Sim?
— Eu te amo, viu, BFFF?
— Ah. Eu também te amo, peituda.
Ela riu. O silêncio prevaleceu depois disso. E ambas caímos no sono.
’s POV.
Depois que Jules chegou no domingo em casa, nós também não a vimos muito. A mulher é louca e passa 80% do dia fora de casa, o que é ótimo para mim, que estou em casa o tempo todo, porque meu emprego de baby-sitter começa só depois do Dia de Ação de Graças. Que por acaso é hoje. É. Eba.
Ação de Graças. Eu acho uma merda. Não sei que tipo de pessoa comemora qualquer coisa comendo um peru, mas aparentemente sempre é legal gastar uma grana preta pra comer peru. Peru é uma palavra engraçada, não? Peru, peru, peru, peru, peru.
Tudo bem, parei. É muito tempo sem trabalhar, o cérebro necrosa levemente.
Também tenho que levar em consideração que eu não tenho a grana preta para comprar o maldito peru. Ou seja, nesse Dia de Ação de Graças, Jules ia pagar tudo. Aliás, a única coisa realmente boa de Jules é que ela aceitou pagar os atrasos do aluguel e a compra do supermercado inteira do mês.
E quando fui ao mercado no final da tarde, deparei-me com uma seleção intensa de peru. Então, liguei para Jules, que parecia bem animada com essas história de passar o Dia de Ação de Graças comigo e com . Coitada, mal sabe ela que nós sempre só ficamos bêbadas e comemos pra caralho.
— Oi, Jules, pode falar?
— Namastê, ! – Ela atendeu, a música de mantra no fundo. – O que posso fazer por sua alma?
— Hãn. Acho que nada, minha alma tá bem. Obrigada. Eu só quero saber que peru pegar. Não conheço muito essas coisas. Aqui tem peru congelado, não congelado, natural, orgânico... Ah, tem um kosher aqui, isso faz bem pra alma, né?
— Ah, bobinha. Pegue o peru que você achar que te apela, aquele que te diz “Sou o senhor Glu Glu e quero que você me coma, porque sou apetitoso.”
Eu olhei para a longa fileira de perus pendurados em minha frente. Nem um deles parecia exatemente apetitoso no momento.
— Certo. Isso significa que pode ser o kosher?
— Pode sim, wewi. – Ela riu do outro lado, sua risada rouca e escandalosa.
— Você me xingou?
— Claro que não. Wewi é bebê em cherokee.
Franzi minha testa, depois revirei os olhos, ignorando a informação. Apontei para um peru kosher que uma atendente alcançou para mim, já que eu não alcançava a seleção de peru. Na minha defesa, os donos do supermercado deveriam saber que nem todos alcançam coisas acima de um metro e sessenta. Recebi o peru com um braço, tomando cuidado para não derrubar o celular preso entre o ombro do mesmo e o pescoço.
— Uhum... Tá certo – murmurei em resposta. Ô mulher estranha. – Beleza, te vejo quando chegar em casa, não se atrase para nossa ceia. Valeu.
Quando desliguei, comprei algumas outras coisas que faltavam em casa. Ou seja: tudo. E gastei cerca de cento e quinze doláres que caíriam na conta de Jules. Ah, como é bom não pagar conta.
Carreguei as compras de volta pro apartamente com certa dificuldade, até porque a porra do peru era mais pesado do que tudo que eu estava levando. E quando guardei todas as compras, li a receita que Jules havia me deixado sobre o peru. Calmamente temperei o mesmo passo a passo que a receita dava e o coloquei no forno.
Estava com as mãos sujas e a blusa também devido aos temperos exóticos que Jules havia sugerido, então resolvi tomar banho. Eu, sinceramente, não entendo muito dessas porras de cozinha, então eu não neguei fazer a comida (aliás, eu não podia negar fazer nada – do contrário, eu realmente não teria nada para fazer), mas também não posso ser julgada pelo modo como cozinho, certo?
Porque, bem... Quando entrei no banho, acho que perdi um pouco da noção do tempo. E só quando interromepeu o final de meu banho com a cara vermelha e ofegante que eu percebi.
— PUTA QUE PARIU, . O QUE VOCÊ TÁ FAZENDO? – ela gritou, logo após eu ter gritado e puxado a toalha para proteger meu corpo.
Foi então que eu vi atrás dela uma fumaça preta. Foi então que eu lembrei do Glu Glu.
Arregalei os olhos e sai aos tropeços do box, atravessando o banheiro e quase nocauteando quando escorreguei na porta, correndo pelo corredor com somente uma toalha presa no corpo. Chegando à sala, a fumaça preta era intensa para dentro da cozinha, praticamente não se dava para ver nada dentro da cozinha. Exceto de onde vinha a fumaça: o forno.
Dei um berro alto e usei uma luva antitérmica para abrir o forno. A fumaça atingiu meu rosto e eu tossi, afastando-me do mesmo. Fui até a janela da sala e abri a mesma.
— TÁ LOUCA? TÁ ULTRA FRIO LÁ FORA!
— VOCÊ VAI SOBREVIVER COM O FRIO. JÁ O GLU GLU MORREU NO FOGO DO INFERNO.
fechou a cara para mim, mas me ajudou a abrir as janelas da casa e rapidamente a fumaça saiu do apartamento, deixando somente um rastro do cheiro forte de queimado. Aproximei-me novamente do forno, somente para ver Glu Glu inteiramente preto e queimado ser tirado do forno por , que o soltou violentamente na pia.
— Para com isso, coitado dele! Já sofreu na hora de morrer! – falei, fazendo bico.
Puta merda. EU DEMOREI TRÊS HORAS PRA FAZER ESSE PERU.
— Quem vai sofrer pra morrer vou ser eu, que vou morrer de fome porque não comi no trabalho achando que ia chegar em casa e ter uma ceia me esperando – resmungou, colocando a mão sobre o estômago. – Que merda, . Eu tô com fome.
Abri a boca para respondê-la, mas escutamos um barulho de porta sendo destrancada e eu corri – sabendo que seria Jules – para dar as notícias antes que e sua delicadeza o fizessem.
Jules fechou a porta atrás de si com o nariz franzido, ela estava sentindo o cheiro de queimado. Merda. Eu a abraçei rapidamente e coloquei uma mão em seu ombro, fiz bico e falei com a voz triste:
— Sinto muito. Tentei fazer de tudo por ele, foi difícil. Mas ele não deve ter sofrido muito.
Jules arregalou os olhos.
— VOCÊS MATARAM O CHARLES?
— Por que nós matariamos o inglês da ? – apareceu atrás de nós, saindo da cozinha. Fez uma cara de confusão e percebeu o equívoco. – Ahhh! Você tá falando do Muchu. Não, não, ele tá vivinho da silva. Falando nisso, , já que você tostou o peru, que tal mudarmos a tradição para iguanas?
Fuzilei-a com os olhos.
— Você matou o Glu Glu? – Jules perguntou com voz triste. Ela havia aprendido a ignorar e seus comentários sobre o Eragon.
— Tecnicamente, eu só ajustei o fogo. E sai de perto do forno... Por uma hora – murmurei, envergonhada.
Jules olhou-me desapontada e por fim suspirou, colocando a mão em meu ombro, como se quisesse me reconfortar.
— Vai por uma roupa, . Vai ficar tudo bem. A alma de Glu Glu estará salva, vou rezar por ele depois. Vou fazer comida mexicana.
— Ouvi você dizer que vai fazer comida, Jules? – interromepeu, esfomeada. – Quer uma companhia adorável para ir testando os temperos enquanto você faz tudo?
Jules sorriu ironicamente para ela e deu de ombros logo em seguida, entrando na cozinha e levando consigo. Bem, pelo menos essas duas se entendiam e não tivemos que aniquilar o Eragon. E eu tinha me livrado de fazer a comida.
’s POV.
Eu estava dando a descarga pela terceira vez na privada, desejando poder negar que também era a terceira vez que ia ao banheiro. Em duas horas. Ainda me pergunto de onde vinha tanta merda.
Jules estava orando pela alma do pobre peru que havíamos queimado enquanto eu andava pelo apartamento com os botões da calça jeans abertos e as mãos na barriga, controlando as dores que os japanleños de Chernobyl estavam me provocando. Maldita hippie. Ela ainda iria me pagar por essa comida mexicana de quinta. Aposto que ela botou laxante no meio.
Peguei um perfume barato nosso e espirrei pelo banheiro inteiro, na vã esperança de mascarar o cheiro dos dejetos de três vítimas do japaleños. Eu era a maior vítima, já que comi mais do que as outras. Sempre soube que deveria parar de ser gulosa. Não que eu vá parar agora.
estava lavando a louça cantando alguma música brasileira velha, Jules havia terminado a oração pelo Sr. Glu Glu e agora estava puxando o colchão de meu quarto para o corredor.
Sentei-me numa banqueta, apoiando os cotovelos na bancada, quando a pilha de correspondência à minha direita me chamou a atenção. Havia um envelope azul bebê grande, perolado. E eu duvidava que o cara que cobrasse o aluguel fosse fazer um envelope tão bonito para cobrar dinheiro. Estiquei a mão e puxei-o. “ e ” dizia com letras cursivas em branco.
Abri o envelope e comecei a ler a letra cursiva e delicada, a qual comunicava que Talia e Henrique Iwomato iriam se casar e... EPA.
— Ai. Meu. Deus. ! — gritei tão alto que a loira deixou um prato escorregar de sua mão para dentro da pia e quase quebrar.
— Porra, ! Que foi?
Entreguei o convite.
— Ah. É um convite de casamento. Não é como se pudéssemos pagar vestidos para ir...
— OLHA O NOME, LOIRA BURRA!
— Olha o preconceito! — ela gritou irritada e depois releu. — Talia... OPA! TALIA? A MINHA TALIA? Aquela vagabunda... Tudo bem que nunca fomos muito próximas, mas eu sou a irmã dela! Pelo menos ela continua com o mesmo namorado — comentou, dando de ombros.
— . É o casamento da sua irmã. NO BRASIL. Em FEVEREIRO. Como que vamos conseguir dinheiro pra ir? Como vamos pagar vestidos?
— Relaaaaaxa, amiga. Meus bebês vão pagar pela viagem — comentou naturalmente.
— Você não vai vender seus peitos. Muito menos se prostituir.
— Eu tô falando do trabalho de babysitter, anta.
— Ah. Bom... O Chuck pode bancar também.
— Ei! Tenho cara de golpista?
— Não. Tem cara de esperta. E o Chuck faria tipo, qualquer coisa por você.
— Talvez – ela respondeu dando ombros.
Olha, vou ser bem sincera: Era estranho ver a em um “relacionamento” e não estar apaixonada. Mas ela realmente não parecia estar.
— De qualquer jeito, o casamento da Talia é dia 8. E aqui tem um bilhete dela falando que seremos madrinhas. — Entreguei o papel perfumado com a califragia de médica da irmã de .
— Nossa. Que jeito meigo de pedir para que sejamos madrinhas.
— Para de reclamar. Depois eu vou numa lan house e mando um e-mail para ela, perguntando sobre vestidos e sapatos, quando temos que chegar, quando vamos embora, qual hotel que vamos ficar, etc.
— E outro detalhe... Como vamos pagar por tudo isso?
Torci o lábio.
— Ah, foda-se, não vamos pensar nisso agora! Amanhã nós pensamos nisso — completei, guardando o convite de volta no envelope e botando-o debaixo o braço. — Vamos arrumar a casa que temos Black Friday em algumas horas e você sabe que eu não posso perder. Guardei duzentos dólares para isso — comentei como se estivesse rica. Na minha situação, isso era uma fortuna.
— Tá bom. Mas não se esquece de mandar o e-mail.
Pulei para fora a banqueta e fui para o quarto, tendo que me espremer na parede para não pisar em Jules, já apagada em seu colchão com uma camiseta dos Beatles e short preto. Entrei em meu quarto/quarto da (ainda vou demorar a me acostumar com o fato de que divido o quarto agora) e guardei o convite do casamento na minha bolsa do trabalho, para lembrar que tenho que passar na lan house. Coloquei o pijama, fui escovar os dentes e programei o despertador para as 3h30 da manhã. Black Friday que me aguarde.
Quando deitei, estava no banheiro se trocando e fazendo seu ritual para dormir. Não cheguei a vê-la deitar na cama, porque antes que pudesse evitar, caí no sono. Dormi pesado, sem sonhos ou incômodos, acordando antes do que queria, porque xingava alguma coisa e saiu da cama abruptamente. Sentei-me lentamente e tateei, procurando o celular, somente para perceber que o despertador já havia tocado. Uma hora atrás.
— Porra! — xinguei enquanto me levantava num pulo, caçando uma roupa no guarda-roupa e minha bolsa.
— Sua louca, tá se trocando por quê? — resmungou, voltando do banheiro, onde provavelmente o japaleño a atacou novamente.
— Louca é você, esqueceu que dia é hoje?
— Ahn... Sexta?
— É Black Friday!
— Ah. E?
Taquei uma roupa pra ela.
— Pode ir se trocando. Você não trabalha ainda, e eu estou de folga no almoço. Vamos comprar.
— Tá... Com que dinheiro?
Sorrindo, tirei duzentos dólares e um cartão de crédito da sacola onde eu guardava as calcinhas. revirou os olhos.
— Eu preciso mesmo ir?
— Vai confiar na Jules pra comprar roupa pra você?
Ela pareceu pensar por alguns segundos. Então começou a se trocar enquanto xingava baixinho. Coloquei uma jeans e camiseta branca, com um casaco preto por cima, All Star e o cachecol que Tyler havia comprado para mim. Passei pelo corredor silenciosamente, tentando não acordar Jules, cheguei à cozinha e agradeci que havia comprado café. Silenciosamente, botei água para esquentar e peguei o coador e duas canecas.
chegou à cozinha vestida de jeans, blusa verde claro, casaco pesado com touca de pelos e botas baixas pretas de cano longo. Enfiamos o dinheiro no sutiã e os celulares também, já que levar a bolsa seria suicídio. Tomamos o café agora pronto e fomos para a caçada, trancando a porta silenciosamente. Nova Iorque estava prestes a explodir o número de vendas.
Era mais de 5h. quando chegamos à Macy’s. E acho que metade de Nova Iorque estava lá. Não havia uma fila certa, mas, sim, um aglomerado na frente da loja. Contra a vontade de , saí puxando-a pela muvuca, recebendo xingamentos e usando a desculpa de que não falava inglês, esquivando-me por baixo de braços e tendo até que engatinhar uma hora, para finalmente conseguir chegar perto da porta.
— Acho que estou com alguns roxos — resmungou enquanto massageava a barriga, onde havia acabado de levar uma cotovelada.
— Querida, você passa por isso todo ano comigo e ainda não se acostumou?
— Eu sempre fujo no meio.
— Verdade. Mas esse ano sinto que vamos faturar alto.
— Gastar alto, você quis dizer.
— Sem pensar em contas agora. Trabalhamos que nem desgraçadas e merecemos roupas. Precisamos de vestidos novos para balada. Casacos novos. Lingeries novas, que tal?
Ela ponderou durante alguns segundos. Então cedeu.
Eu vi uma mulher ser atendida por paramédicos. Ela tinha um salto alto perfurado o ombro dela e sorria para o par do mesmo na mão. Sério. Também vi lutar com unhas e dentes com uma mulher. A cena se seguiu mais ou menos assim:
— , segura essa blusa aqui. Ah, e essa também – falou enquanto colocava mais duas peças em meus braços, já lotados de roupas. – Minha nossa, que linda essa calça. Segura isso também.
— , eu tenho cara de armário? – resmunguei.
Ela sorriu amarelo para mim.
— Claro que não, bf. Um armário não deixaria cair tantas peças assim – completou, olhando uma peça que havia caído de meus braços e a colocando de volta no topo da pilha de roupas em meus braços.
Mas enquanto havia se abaixado para pegar a peça, viu outra que fez seus olhos se arregalaram e ela mergulhou no chão. Sabe, eu tinha orgulho de minha melhor amiga. Ela vivia nessa audácia, como se não fosse morrer pisoteada pelos bois que estavam conosco na loja. Olha que eu já havia visto bois na televisão naqueles programas que se passam em Madri, e eu me sentia em Madri no meio da boiada. Porém, temos que considerara que bois seriam mais gentis.
Enfim. Quando mergulhou, uma mulher pisou na mão de e minha melhor amiga levantou, com uma nova blusa na mão. Jogou a mesma sobre mim e puxou violentamente o cabelo da pirua loira que a pisara.
— Escuta aqui, sua vadia, você me viu no chão que eu sei! – gritou.
A mulher era uma piranha de quarenta anos que parecia ter feito mais botox no rosto que a pele aguentava e estava prestes a explodir com o enchimento de silicone em seu peito. Eu sinceramente tive a sensação que seus peitos fossem explodir na cara dela. Mas não explodiram.
— PEDE DESCULPA, SUA VACA! – estava segurando o cabelo da mulher com força, puxando o rabo de cavalo da mesma para baixo. – VAI, SUA PUTA.
— NÃO PEÇO DESCULPAS. ALIÁS, POR QUE SUA AMIGA TÁ CARREGANDO TANTA ROUPA? NÃO SE PODE FICAR SEGURANDO MERCADORIA.
Os olhos de tomaram uma expressão sombria.
— Você vai pedir desculpas ou vai perder essa merda de aplique que acha que pode passar por cabelo?
Nós ficamos com a peça e com o pedido de desculpa. Ficamos também mais quatro horas e meia a procura de roupas. Quer dizer, ficou, eu fiquei na fila do trocador. Quando conseguimos um lugar e estava quase há dez minutos vestindo roupas, eu avistei a sessão de lingerie. É, eu precisava de algumas novas. Então larguei as mil roupas, que ela havia pedido para que eu segurasse, ao pé dela (dentro do trocador, é claro, senão ela me mataria por roubarem a roupa dela) e segui sozinha para a sessão. Sim, sozinha.
Sim, eu sei. Arriscado.
Desviando-me de loucas lutando por uma última blusa, de uma mulher que estava vomitando no canto da loja, de um homem que estava à procura de sua mulher – e minha nossa, ele parecia estar tendo uma síndrome de pânico - e de outros seres possuídos pelo dinheiro... Cheguei na sessão sã e salva. Pouco me importava o lado direito da sessão, que era de sutiãs pequenos e que estourariam em meus seios. Então, logo segui para a área do 46 pra cima, ali sim eu encontraria minhas almas gêmeas.
Eu andava (desinteressada) entre as peças quando uma me chamou atenção. Era preta, com um lindo detalhe no centro, como brilhinhos que davam a impressão que meus peitos estavam em seu céu. E bem, eu queria que qualquer homem achasse que estava no céu quando visse meus peitos. Agarrei o sutiã rapidamente e o escondi debaixo da blusa. Eu tinha certeza que se alguma vadia visse essa peça divina, viria tentar encher meu saco. E ninguém enche o saco de . Corri até no trocador, para interrompê-la enquanto analisava sua bunda em um shorts.
— Você tem noção que estamos no inverno, né?
— Mas estaremos, possivelmente, no Brasil durante o carnaval e vai estar calor. Então eu já compro agora. – Ela deu ombros, começando a retirar a peça e vestir outra.
— Compulsiva – murmurei, fazendo-a me fulizar com os olhos pelo espelho.
— E você? Quer o quê aqui comigo? Não vai me dizer que alguém ameaçou te bater e você veio se esconder aqui. – Ela revirou os olhos enquanto fazia uma careta de desaprovação pro short preto que experimentava.
— Encontrei essa peça aqui. – Retirei o sutiã de baixo da blusa e mostrei. – Quero experimentar – terminei, já tirando a blusa e sutiã, vestindo a peça nova.
Eu sei que espelhos em lojas são feitos para parecer que nosso corpo fica mais esbelto e magro, mas, sinceramente, meus peitos estavam gigantes naquele sutiã. E isso é bom, claro. me olhou de cima a baixo e um sorriso malicioso surgiu em seus lábios.
— Eu sei. Essa peça é de outro mundo – respondi seu olhar.
— Olha, se essa peça é de outro mundo, então você acaba de ficar a ET mais gostosa que existe. Compra essa coisa agora – ela disse, me empurrando para o lado no minúsculo trocador para colocar sua blusa original. – Já acabei minhas compras, vamos.
agarrou cerca de vinte peças - antes eram quase cinquenta, ou seja, ela deliberadamente excluiu boa parte do que queria. E eu aposto nosso apartamento que ela iria reclamar em algum momento por não ter pegado alguma das peças que deixou para trás. Mas foda-se.
Quando saímos, a fila para provadores era tão extensa que adentrava a loja, e eu não consegui mais segui-la com os olhos. Senhor. Perdoe essas almas que não sabem usar o salário delas. Perdoe a também, ela nem salário tem direito. Perdoe-me também, por estar desempregada.
Fomos atendidas rapidamente, uma vez que as atendentes do caixa estavam trabalhando a todo vapor para conseguirem o máximo de comissões possíveis. Isso sim é trabalho de guerreira. A mulher digitou tão rápido os preços e números de peças em seu teclado que eu deliberei se ela iria perder os dedos depois desse dia. Mas parou ao ver meu sutiã, que havia acabado de passar.
— Você sabe que essa peça é única? – a mulher perguntou, observando curiosa a lingerie.
— Sei, sei. Passa logo essa merda – respondeu por mim.
— Ah, nossa. Não sabia que você que o estava comprando. Não acha pouco grande para você? Ficaria bem melhor se você tivesse peitos como o meu – ela disse sarcasticamente, colocando o sutiã contra os peitos sobre a blusa de uniforme.
— ESCUTA AQUI, SUA LOIRA DE BORDEL, VADIA BARATA DO BORÔCOTÓ, SE EU QUI-
— São para mim – falei, puxando o sutiã de volta e colocando-o dentro da terceira sacola de compras.
e eu saímos da loja, cada uma segurando quatro sacolas em cada mão. E juntando todas as sacolas, provavelmente teríamos um salário inteiro meu (o salário novo, é claro, o antigo não dava nem para encher uma sacola), os duzentos contos de e mais algumas noites em bares e baladas que não poderíamos pagar. É a vida.
Quando andávamos rapidamente na rua, para que não morressemos congeladas, parou de repente em frente a uma outra loja de departamento e sorriu abertamente, os olhos quase enchendo de lágrimas.
— Quê foi, mulher? – perguntei, quando olhei para o lado e a percebi parada.
— , olha que vestido lindo... – Ela fez bico.
— Aham, legal mesmo. Vamos. – Tentei puxá-la, mas as sacolas (de ambas) não me deixaram ser muito eficiente.
— ... Mas olha, ele é lindo. Ficaria lindo em mim. Você não acha? – deu um passos em direção à porta da loja lotada.
— ... – gemi. – Por favor, não. Estou cansada.
— Só ele. Prometo. – Ela levou o dedo indicador levantado até o coração, fazendo uma cara de cachorra abandonada.
Filha da puta.
— Tá, porra. – Revirei os olhos e depois gemi descontente. Meus pés estavam me matando de dor já. – Ai, caralho, viu...
Três horas depois. SIM, VOCÊ LEU BEM. TRÊS HORAS DEPOIS. me olhou com um sorriso satisfeito no rosto e nos analisou, lado a lado no trocador com nossas roupas lindas e belas de balada.
— ... Nós vamos para o inferno – falei, começando a retirar o vestido colado e ajudando-a a abaixar o zíper do próprio.
— Mas nós vamos bem vestidas, querida melhor amiga. – Ela sorriu, animada.
— Por favor, vamos agora? Compramos mais dois vestidos de balada para cada uma e uma roupa para o Ano Novo, que nós nem sabemos onde vamos passar.
— Mas com certeza não o vamos passar sentadas em casa de moletom, então já precisamos estar preparadas para arrasar. – segurou suas novas três peças de roupas e saiu do trocador, seguida de mim.
Analisei minhas roupas: a de Ano Novo era um vestido vermelho maravilhoso que deixava minhas pernas longas e os peitos altos, e a de era uma combinação linda de uma saia alta de renda branca e uma blusa roxa, que a deixava mais magra e levemente peituda, vadia. Nós realmente tínhamos arrasado quando experimentamos as roupas.
Dei de ombros, enquanto passava o cartão de crédito dela. O banco certamente bloqueava o mesmo se usássemos além do dinheiro de nossa conta. Certo? Certo? Espero que sim. Dessa vez, quando saímos da loja cada uma com uma sacola a mais, estávamos decididas a ir para casa, e assim foi o que ocorreu. E olha, eu gostei de fazer compras. Pelo menos a do sutiã.
É. Processe-me (mentira, processa não, que eu não tenho grana pra pagar advogado).
’s POV.
Deixamos as sacolas em casa, e eu saí para checar os e-mails na lan house e contatar Talia. E depois pagar o aluguel no banco.
Abri minha garrafinha de água, já que não podia comprar um refrigerante no local, paguei por uma hora de internet e me sentei calmamente em frente ao computador.
Chequei meus e-mails, informei minha mãe sobre minhas compras, minha ida para o Brasil pelo casamento de Talia e como estava tudo bem. Pedi para avisar os pais de que estávamos bem. Não contei sobre Jules, Tyler ou Chuck. Perguntei como estavam meus irmãos e meu pai, se eles iriam ao casamento de Talia e como andavam os negócios em sua empresa, entre outros. Enviei o e-mail junto com uma foto perdida em meu celular, minha com num dia desses, sorridentes e levemente alegres. Mas ela não precisava saber disso. Desconectei o celular do computador e abri uma nova mensagem, escrevendo o e-mail para Talia.
Quando precisaríamos chegar, qual seria o hotel (já que o casamento seria em Riviera) e se havia uma exigência de roupa para as madrinhas, ou sapato. Resumi com um parabéns ao casal, blá blá blá, espero sua resposta e beijos de e eu. Enviei.
Fucei meu quase inabitado Facebook, já que demorava horas para conectá-lo pelo celular, aceitei alguns amigos, curti umas fotos, então tive que sair, já que o tempo havia acabado. Fechei o casaco preto que usava e encarei o frio de NY, cada vez mais perto do inverno, andando rapidamente ao banco mais próximo.
Não demorei muito na fila. Era um caixa eletrônico, e eu precisava fazer um simples depósito para o aluguel. Cinco minutos e voilá. Fui até a fila para conversar com um atendente, checar o saldo no banco, depositar cinquenta dólares e ver as possibilidades de um empréstimo.
— Boa tarde, moça.
— Oi. Eu queria ver o meu saldo na conta corrente — joguei as palavras, sabendo que teria pouco tempo para ser gasto se quisesse verificar como andava a Black Friday na H&M antes de ir para o trabalho.
— Ah. Sim, senhora. O nome do titular, por favor?
Dei as informações necessárias e ele acessou a conta.
— Srta. ... Hm... Sua conta está negativa.
— Ah. Eu já esperava isso. Quanto? 100? 200?
— Mil dólares, senhorita.
— Ah, tudo... MIL DÓLARES? — gritei e algumas pessoas me olharam assustadas. — Não, não, não. Isso é impossível! Eu nem usei meu cartão de crédito direito hoje. E depositou meu salário semana passada e... — Parei de falar e estreitei os olhos. Aquela vaca não havia depositado o meu salário. Maldita.
— Nós temos programas de empréstimo muito bons hoje em dia, senhorita...
— Tá, tá... Obrigada, boa tarde, é nóis. Feliz Dia de Ação de Graças atrasado.
— Oh, para a senhori...
Não esperei ele terminar de falar e saí do banco apressada, por uma rua lateral menos movimentada, mas estamos falando de Nova Iorque e do meu senso de atenção. Além da minha maravilhosa habilidade de sobrevivência. Só que não.
Um carro estava vindo e freiou bruscamente assim que comecei a atravessar a rua, fazendo-me dar um pulinho para trás e um gritinho. Seu capô teve a ousadia de tocar em meus joelhos. Era um carro preto, um Camaro. Bati no capô com força.
— Quem foi o louco que liberou sua carteira de motorista, ô assassino?
O condutor saiu do carro. Eu queria estar de salto para poder tirá-lo e enfiar na garganta do desgraçado, mas estava usando tênis. Maldita Black Friday.
— Sua vadia suicida, não olha por onde anda, não?
— Nossa. Ninguém nunca me acusou de ser suicida antes.
O homem, que deveria ser quase quinze centímetros mais alto do que eu, usava jeans, tênis simples, camiseta branca, cachecol vinho, um sobretudo preto e óculos pretos de grau quadrados. Seus cabelos compridos até abaixo da orelha, loiros, combinavam com a barba loira por fazer. Os olhos verdes me fitavam, irritados, e eu podia ver sua jugular pulsar. Aproximei-me irritada e vi que de repente ele relaxou e pareceu surpreso.
— Eu te conheço — comentou.
— Bom. Um monte de caras me conhecem.
— Não, não... Eu... Eu quase te atropelei uma vez.
— É, bem. Isso aconteceu faz tipo, quinze segundos. Tá com perda de memória recente?
— Não, porra — disse irritado. — Quase te atropelei um tempo atrás. Você amassou a placa o meu carro.
— Ah. Eu também faço isso com frequência.
— Eu deveria prestar denúncia, você sabe.
— É. Mas você não vai.
Ele estreitou os olhos.
— Eu sou Jace. E você?
— Sou a garota que está de saída.
Ele segurou meu braço.
— Tá, eu sou . Feliz?
Jace sorriu, os olhos verdes luminosos com covinhas. Dei de ombros e me soltei.
— Posso ir agora?
Ele indicou o carro com a cabeça.
— Não quer uma carona?
— Minha mãe não gosta que eu entre em carros de estranhos.
— Mas você sabe o meu nome.
— É. E eu nunca fui muito obediente.
Dei a volta no carro e entrei. Coloquei o spray de pimenta no bolso, ao meu alcance, para qualquer imprevisto. Eu não era burra nem nada, né.
Jace sentou no banco do motorista e deu partida. Eu sabia que iria me comer se soubesse que havia aceitado entrar no carro do cara que quase me atropelou. Duas vezes, de acordo com ele. Mas não deu tempo para repensar e sair, o carro já estava em movimento.
— Então, onde eu deixo a suicida?
— Planeta Hollywood.
— Cinco horas da tarde é meio tarde para se almoçar.
— Ah, não, eu trabalho lá — comentei desinteressada enquanto observava o carro. Olhei para trás e observei um monte de equipamento estranho e uma câmera profissional de fotografia. — Você é fotógrafo?
— Sou. Trabalho autônomo, tenho somente uma assistente, Drew.
— Legal.
— Você deveria trabalhar com isso, sabe. Não fotografando, mas modelando.
Soltei uma gargalhada.
— Ah tá.
— É sério. Você é bem bonita e magra. E tem um perfil muito bom para fotos. Já tentou alguma vez?
— Nunca. E não sou do tipo que está disposta a passar fome para fazer campanhas.
— Mas você já é magra, só precisa arranjar um ótimo fotógrafo que possa te arranjar uma sessão com alguma marca famosa.
— Nossa... Onde será que eu vou encontrar um fotógrafo bondoso assim? — ironizei.
— Jace O’Maley, ao seu serviço.
— Eu mal te conheço, amigão. Obrigada, mas não.
— Tudo bem. Mas sabe, a Levi’s precisava de modelos para um catálogo. Você poderia pelo menos tentar.
Fiquei em silêncio. Havíamos chego ao restaurante.
— Obrigada pela carona. E pelos elogios. Tente não atropelar mais ninguém.
Abri a porta do carro e ele me estendeu o seu cartão.
— Caso você mude de ideia, me liga. Ou se precisar de companhia para sair. Tomar um drink. Quem sabe?
— É. Quem sabe.
Peguei o cartão e fechei a porta do carro. Ele saiu em meio ao caótico trânsito. Suspirei e dei de ombros. Havia uma lixeira perto de mim, mas resolvi que deveria guardar o cartão.
Como Jace mesmo disse: quem sabe?
’s POV.
Três dias depois da Black Friday (ou seja, segunda), lá estava eu vestindo minha nova camiseta feminina social e uma saia alta preta. Calcei uma sapatilha meio chique, mas que não me causaria bolhas, afinal, era meu primeiro dia de trabalho e nunca se sabe o que crianças vão fazer com você. Quer dizer, algumas crianças você pode imaginar que vão pular para cá e para lá, mas as crianças Delawicz, para quais eu tinha sido brevemente apresentada, certamente não teriam esse comportamento. Elas pareciam extremamente tímidas e fechadas em seu próprio mundo de dinheiro.
Arrumei meu cabelo em um rabo e coloquei um casaco maior que cobria minha bunda e me impedia congelar nas pernas desprotegidas, fechei-o calmamente enquanto olhava no relógio do celular e percebia que estava quase no horário de ver o inglês antes de ir para meu primeiro dia de trabalho.
Ele insistira em tomar café da manhã comigo em um Café que já ficava perto da casa dos Delawicz, e acho que ele na verdade quer somente tomar conhecimento de como estava minha vontade de ir trabalhar.
Ele logo iria descobrir: zero.
Saí de casa e respirei fundo o ar gelado de dezembro. Andei por várias ruas, peguei o metrô e andei um pouco mais até que estremeci de frio pouco antes de achar e entrar no mini café que havia combinado com Chuck. Fiquei na ponta dos pés para tentar ver além dos vários homens de terno e mulher que tentavam dar em cima deles. Procurei um pouco, até achar o loiro conversando animadamente com uma mulher morena. Aproximei-me lentamente, pouco ligando para o fato do inglês estar sendo paquerado.
Cheguei perto o suficiente e diminuí o passo, aproximei-me por trás de Chuck, abraçando-o pelas costas. Primeiramente, ele ficou rígido, mas depois relaxou ao perceber quem era. A mulher com quem ele conversava era muito bonita. Olhos azuis como do meu inglês, pele perfeita e clara, corpo esbelto e proporcional. O cabelo moreno era de um preto intenso e caía em cachos sobre seu ombro. Usava roupas chiques e estilosas, provavelmente caras também.
Inclinei cabeça para um lado e delicadamente ergui a sobrancelha.
— Quem é? – perguntei para Chuck, sem exatamente tirar os olhos da mulher.
— Sou Britaney. – Ela sorriu desconfortável e apertou a mão que eu estiquei sem hesitar. O aperto dela era fraco e sua palma era gelada. Nada que os homens gostem.
— Ah, legal. Uma vez tive uma amiga no trabalho que se chamava Britaney, mas ela foi demitida.
Chuck estava abraçando minha cintura em frente ao tronco dele, como se achasse que eu estava prestes a arrancar o couro cabeludo da mulher. Eu não estava nem perto disso. Na verdade, estava me sentindo surpresa do quanto eu genuinamente não estava ligando para a existência dela. Claro, não havia gostado de ver o cara com quem eu ia me encontrar falando com outra, mas eu sabia que era comigo que ele transava.
Então foda-se.
Britaney desviou o olhar para as mãos de Chuck ao meu redor. Continuei a sorrir confiante, ela olhou novamente para mim e sorriu desconcertada. Despediu-se de Chuck com um aceno de cabeça breve e saiu apressada.
Viram? E eu nem tive que aumentar minha pressão.
— Preparada para o trabalho? – Chuck me virou, soltando minha cintura e segurando meu rosto.
— Como nunca, inglês – respondi, deixando claro meu tom irônico na voz.
Ele riu.
— Ainda bem que você chegou, não aguento essas mulheres me abordando.
— Ai, como você é cobiçado. – Revirei os olhos e dei um tapa em seu ombro.
— Não chega a tanto. – Ele sorriu tentando engolir seu ego inflado prestes a explodir.
Ergui a sobrancelha, peguei o café que ele havia pedido para mim antes mesmo que eu chegasse, e me esperava sobre o balcão do café.
— Aham, Charles. Aham.
Chuck gargalhou e beijou minha bochecha.
— Vamos para seu trabalho, sou o último a querer que você perca esse emprego. Senão vai caçar minhas bolas.
— Não seja bobo - falei com um meio sorriso. – Ela vai caçar o número da sua conta bancária.
Ele sorriu divertido com minha resposta. E enquanto tentávamos passar pelas pessoas e sair do café, pude ver a morena falando com algumas amigas e todas elas se viraram para – provavelmente – analisar meu inglês, já que todas abriram um sorriso malicioso. Chuck, sem ao menos perceber a existência delas, puxou-me pela cintura quando um grupo de homens começava a se locomover para trás distraídamente - quase passando por cima de mim – e depois mee soltou e rapidamente saímos para o frio dos primeiros dias de dezembro.
Seguimos o curto caminho até o prédio onde os Delawicz moravam, paramos alguns passos longe do mesmo e conversamos alguns segundos. Chuck soltou minha mão somente quando foi jogar nossos cafés – que então já havíamos acabado – em uma lixeira, e eu senti a minha palma fria com o contato com o vento gelado. Chuck voltou e começou a distribuir beijos em minhas bochechas, queixo e, por fim, meus lábios. Rapidamente, puxei-o para mais perto de mim e envolvi seu pescoço com os braços, deixando meus dedos passarem pelo cabelo loiro ralo e bem cortado de sempre. Uma de suas mãos segurava-me na base das costas e a outra repousou levemente na lateral de minha bunda.
Afastei-me (contra vontade) dele, antes que eu acabasse sugerindo que déssemos um pulo no meu apartamento. Ou em um motel. Para mim tanto faz. Mas sorri confiante, desejando parecer pronta para encarar meu trabalho. Despedimos-nos em segundos e eu parei em frente à porta do prédio, olhando para trás somente para ver Chuck atravessar a rua rapidamente, as mãos no bolso da calça social e sua elegância de sempre.
O porteiro me reconheceu e abriu a porta do prédio para mim quase instantaneamente. Olha que gracinha, eu nem precisei ligar para o apartamento no interfone. Eles tem alguém para lembrar as pessoas que os visitam e os pouparem de atender interfones. Bacana.
Subi os elevadores para o apartamento, ainda estranhando a riqueza do lugar, se assim me permite falar. Maria Sofía, a empregada, já me esperava com a porta aberta. Dessa vez reparei melhor nela. Realmente, ela era jovem e também mexicana. Tinha quase minha idade, senão menos. A pele era um bronzeado meio amarelo e o sorriso dela era branco que doía só de encarar muito, apesar de os dentes não serem perfeitamente alinhados. Seus cabelos eram negros e estavam presos em um rabo de cavalo baixo e soltinho, os olhos pareciam duas amêndoas. Usava um uniforme (que eu realmente esperava não ter que usar também) que consistia em um vestido cinza e uma sapatilha branca, ao redor de sua cintura tinha um avental impecavelmente branco. Ela comprimentou-me animadamente, provavelmente feliz de não ter mais que cuidar das crianças. Se é que ela estava fazendo isso até agora.
— O Sr. Delawicz está com as crianças na sala de visitas. Estavam montando um pequeno autorama para o pequeno Theodoro – o sotaque dela era claro.
Ergui a sobrancelha ao imaginar a cena contraditória, mas assenti sorrindo e a segui. Eu havia conhecido um Sr. Delawicz que era focado no blackberry e era novo demais (provalvemente irresponsável e bonito demais também) para ser um pai carinhoso. E a cena ficou mais estranha ainda quando se materializou em minha frente.
Assim que entrei na sala de visitas – ou, como eu chamo, sala de estar - pela qual havia apenas passado rapidamente, vi o Sr. Delawicz (Edgar) sentado no chão com um controle remoto na mão e seu filho ao seu lado, concentrado também no controle remoto. A irmãzinha dele estava sentada no canto, brincando com várias Barbies espalhadas no chão. Adentrei a sala timidamente. Eu deveria me apresentar de novo? Tossir para que notassem que eu estava lá?
Mas antes que eu reagisse, o carrinho de Theodoro voou para fora do autorama e pousou aos meus pés. O pai seguiu o carinho com os olhos e depois piscou, espantado. É, com certeza que eu não havia sido percebida antes.
— Sr. Delawicz. Essa é . A babá que o senhor contr-
— Sim, sim. Eu lembro. Obrigada, Maria Sofía. – Ele levantou-se graciosamente, bateu as palmas da mão contra a calça social como se tirasse um pó, que eu duvido que Maria Sofía deixasse existir, e aproximou-se, apertando minha mãe amigavelmente.
Meu Deus. O que aconteceu com o homem que eu conheci quando vim fazer entrevista?
— Sr. Delawicz, perdoe-me interromper agora, mas o senhor gostaria que eu já separasse sua chave do carro? – Maria Sofía perguntou enquanto observava minuciosamente meu aperto de mão com seu chefe.
— Por favor, sim. – Ele a olhou brevemente, sorriu com simpatia e voltou-se em minha direção, com os olhos intensos. – Perdão, senhori... – Seu olhar desceu para minha mão, procurando um sinal de compromisso, mas a mão esquerda estava escondida em minhas costas, então ele completou, confuso: – ... Senhora... ?
— Ah. – Pisquei envergonhada e mostrei a mão esquerda para ele. – Não, não. Senhorita.
Meu chefe observou o movimento, curioso, mas abriu um sorriso descontraído logo em seguida e esticou o braço, dando a mão para o pequeno Theodoro que se aproximava de nós timidamente, mas que eu nem havia percebido, porque estava ocupada impressionada com o pai.
— Theo, essa é a senhorita . Ela é sua nova babá. – Ele empurrou levemente o menino para mim.
Agachei-me no chão e abri meu melhor sorriso para o garotinho. Estiquei a mão para cumprimentá-lo, mas este ignorou o movimentou e me abraçou. Afastando-se depois com o rostinho vermelho para se esconder atrás das pernas do pai, o qual ele era extremamente parecido. Theo tinha os mesmos cabelos pretos encaracolados e olhos verdes brilhantes. Era miúdo e tinha um sorriso sapeca nos lábios. Mas até aí ele só tinha três anos.
— Anna, venha cá – o pai chamou pela filha, que observava curiosamente a cena de seu cantinho. – Quero muito que conheça uma moça, amiga do papai. Essa é .
A menina se aproximou lentamente, agarrando a Barbie pelo cabelo. Ela não era tão parecia com o pai. Tinha o longo cabelo loiro claro preso por uma tiara azul turquesa, a pela era pálida, os olhos verdes (eram a maior semelhança com o pai) e tinha um jeito claramente tímido.
— Que boneca bonita – falei docilmente.
— O nome dela é – Anna respondeu em um murmurio.
— Essa boneca tem pelo menos vinte nomes. – Edgar sorriu para mim. - Anna e Theo, vão pedir para Maria Sofía fazer um lanche para vocês. Vou conversar com a nova amiga de vocês agora.
As crianças saíram atrás de Maria Sofía, mas eu duvido que elas realmente fossem pedir por um lanche quando chegassem lá, e o pai virou-se de costas, foi até um balcão no canto do cômodo e quando achei que ele fosse beber um copo de uísque, ele simplesmente tomou um gole de água.
— Sei o que está pensando, senhorita . Mas quando veio fazer a entrevista, eu estava ocupado na cabeça graças a uma maldita reunião surpresa que a empresa com que trabalho resolveu fazer. Posso garantir pelo menos, que escutei suas informações quando se apresentou.
Eu sorri desconfortável.
— Não pensei nada, senhor.
— Ah, por favor. Chame-me de Edgar. Maria Sofía não o faz porque tem vergonha, mas logo você descobrirá que todos os outros empregados me chamam por nome. – Ele balançou a mão que não segurava o copo de uísque, como se fosse uma bobagem. – Porém, aconselho você a chamar minha esposa de Sra. Delawicz. Ela não é tão...
— Simpática? – ofereci.
— Provavelmente. – Ele sorriu. - E você também não deverá vê-la muito. Ela trabalha bastante e viaja muito, veja, por isso preciso de uma babá. Não posso passar tanto tempo em casa, apesar de amar muito meus filhos.
— Claro, eu entendo sen... Edgar. – Sorri desconfortável. Chamar seu chefe pelo nome é bizarro.
Ele aproximou-se e colocou a mão no meu ombro.
— Por favor, sinta-se a vontade para pedir dinheiro para passear e fazer compras com meus filhos. E fique familiarizada com a casa também, você pode dormir aqui se precisar.
— Eu divido o apartamento que moro com minha melhor amiga e outra inquilina. Mas obrigada, e prometo tomar conta de seus filhos com carinho – falei, desejando com todas as minhas forças que ele tirasse a mão leve de meu ombro, que me deixava intimidada.
Meu desejo interno foi atendido e o Sr. Delawicz afastou-se, foi até o terno esticado no sofá e pegou algo no bolso do mesmo, depois o trouxe para mim. Era um celular, um blackberry simples, preto e leve.
— Hãn... Eu já tenho um celular, obrigada. – Ergui a sobrancelha, segurando o aparelho com cuidado e esticando-o de volta para Edgar.
— Eu sei. Mas esse eu tenho o número e todos os empregados também. Aliás, há uma lista de contato e você precisa ficar com o celular perto o tempo todo, se eu precisar de uma emergência, acho que posso contar com você, certo?
— Tá. É... Senhor, eu não sou uma médica para ser bipada e vir correndo prestar socorros.
Ele riu.
— Sei disso, senhorita . Por favor, não me subestime. Sempre que eu for chamá-la, você vai receber extra por hora, como sempre. Você prefere pagamento depositado direto na conta ou que eu te pague todo o final de mês em dinheiro?
— Ah. Salário extra, é? – ponderei o assunto e dei de ombros. - Vou passar minha conta e agência, pode ir depositando para mim quando der tempo.
Ele sorriu.
— Certo. Vejo você mais tarde, tenho que ir para uma reunião. Até mais, senhorita .
Um homem careca estava esperando no fundo da sala (um homem que eu nem tinha reparado a existência), e Edgar andou até o mesmo. Cumprimentou-o com um aperto de mão e acenou para os filhos que voltavam, sem lanche, para a sala.
Minha nossa. Alguém me mata porque eu acho que entrei em um universo paralelo.
Theodoro e Anna vieram até mim. Ajoelhei-me no chão para poder ter uma conversa séria com eles.
— Bom, o quê vocês gostam de fazer?
Quando cheguei em casa, às 4h da manhã, exausta, após OUTRO turno de jantar, todos estavam dormindo, eu me joguei em minha cama, dando-me somente o trabalho de tirar o casaco e os sapatos. Acordei no sábado com cantando no chuveiro, perto das três horas da tarde. Havia uma poça de baba no meu travesseiro, a qual eu negaria até a morte ser dona.
Levantei-me ainda com sono, tirei a roupa do dia anterior e procurei por meus tênis debaixo da cama. Encontrei um papel branco e puxei-o. Era o cartão de Jace. Coloquei-o sobre o criado mudo e comecei a organizar lentamente o quarto, começando pelas roupas. Quando saiu do banho, eu havia guardado todas as roupas no armário e já estava seminua, pronta para entrar no banho.
— Onde está Jules? — Perguntei desinteressada.
— Saiu para dar aula de Yoga. Pediu para que cuidássemos do Eragon e disse que o jantar dele estava na cozinha. Tinha uma caixa branca lá, mas estava se mexendo, então resolvi que iria deixar as honras para você. Suspirei. Maldita iguana.
— Tá. Tyler ligou? — Comentei fingindo desinteresse enquanto ia para o banheiro.
— Não. Acho que ele tá meio putinho com você.
— Ah. Foda-se. Ele viajou para ver a família. Ou algo assim. Tanto faz.
— Tanto faz? — Ela perguntou, não acreditando muito.
— É. Tanto faz. — Fechei a porta do banheiro e entrei no banho.
Demorei uns quinze minutos, tirando todo o suor de ontem, lavando o cabelo cuidadosamente e relaxando sob a água quente.
Quando saí, agora vestida, segurava o cartão de Jace. Merda.
— Por que tem um cartão de um fotógrafo no nosso quarto, ?
— Ah. Eu o conheci na rua. Ele me chamou para uma sessão. Ou para sair. Ambos, talvez. Não sei se quero.
— Pera. Uma sessão de fotos onde você é tipo, paga?
— Ah. Se minha foto for aprovada para o catálogo, sim. Eles me pagam.
— E você ainda não fez por que...?
— Não sou fotogênica.
— Vai se foder. Você mesma disse que nossa conta estava MIL DÓLARES negativa.
— Não disse não. Como você sabe disso?
— Você fala dormindo, esqueceu?
— Merda.
me deu o cartão e o celular.
— Você tem que aceitar. Precisamos da grana. E ainda vamos viajar para o Brasil no casamento de minha irmã. Precisamos desesperadamente da grana. Meu trabalho não cobre a dívida e nossas passagens.
Bufei e peguei ambos de suas mãos.
— Tá. Que merda. Eu ligo.
Ela sorriu estonteante e voltou a se trocar. Ia fazer um turno extra na casa dos ricaços (vulgo Delawicz) porque o tal do Edgar ia ter uma reunião de emergência e “os filhos dele são tão lindos que eu não ligo de passar um dia de sábado com eles” – de acordo com . Eu tinha que perguntar mais sobre o trabalho dela.
Digitei o número do cartão e depois de dois toques a voz que eu já conhecia atendeu.
— O’Maley.
— Sempre achei engraçado pessoas que atendem o celular falando o sobrenome. Faz isso quando vítimas de atropelamento ligam também?
— Ah. .
— Isso. Oi... — MERDA. Esqueci o nome dele. O cartão caiu no chão quando tentei pegá-lo. — Como vai, bonitão? — Soltei antes que ele percebesse minha gafe.
— Bem. E você?
— Bem... Pensei sobre sua proposta.
— Qual das duas?
— Ambas.
— Então...?
Fiz um suspense.
— Sim. Para ambas.
— Maravilha. O ensaio é na segunda feira. Quer sair sábado que vem?
— Perfeito. Algum lugar em mente?
— Decidimos depois por mensagem, preciso ir.
— Tudo bem, até mais.
Desligamos.
voltou com um sorriso de orelha a orelha, uma calça jeans apertada e uma bata vermelha. Como ela conseguia ficar tão fofa com essas roupas a la babá?
— E aí?
— Ah. Vamos sair sábado e eu tiro as fotos na segunda. Feliz?
colocou o casaco, enfiou os celulares – eu ainda não havia engolido essa dela ter ganho um celular novo por trabalhar lá - numa bolsa preta pequena e me beijou na bochecha.
— Extasiada. Fica de olho no Charles.
— Tá bom.
Quando saiu, fui para a cozinha e olhei para a caixa que se movia. Pensei se seriam insetos que poderiam me atacar quando soltos. Achei melhor não arriscar. Entrei em meu quarto, que havia virado a Iguanalândia, com a caixa inquieta nas mãos. Charles, a Iguana, estava sobre um dos troncos de dentro do seu viveiro de vidro.
Abri a tampa do viveiro do lado oposto ao qual o réptil estava, somente o suficiente para virar a caixa. Fiz o mais rápido que consegui, morrendo de medo de ter uma barata correndo atrás de mim. Fechei a tampa e só então vi que era um rato menor do que meu punho que estava dentro da caixa.
Muchu sorriu para o ratinho e começou a se aproximar. Cara. Aquilo era demais. Era tipo Animal Planet em 3D.
O ratinho, que resolvi apelidar carinhosamente de Loser, tentava correr, mas nosso amigo dragão era bem rapidinho para um animal rasteiro. Antes que Loser pudesse piscar, ele já estava dentro da goela de Muchu. Foi um assassinato brutal. Animal. Sensacional.
Antes que ficasse mais psicopata ainda, larguei a caixa perto do viveiro e apontei para meus olhos e então para Charles, somente para que ele soubesse quem estava no topo da cadeia alimentar.
’s POV.
Na segunda-feira, acordei mais cedo do que desejava. Vesti-me com calça jeans escura, uma blusa cinza, um casco de frio meio pesado, um cachecol roxo ao redor do pescoço, luvas pretas nas mãos e peguei minha bolsa. Quase tropecei no colchão de Jules no meio do corredor e soltei vários palavrões em voz baixa.
— Jules, tô falando sério. Se livra dessa mania de dormir no corredor ou eu vou voltar com as coisas da para o quarto dela. – Resmunguei apontando com o dedão na direção do corredor quando fui para a cozinha.
— Ué, , você não tinha falado que ia entrar hoje de tarde, só depois que os pirralhos voltassem de um passeio sei lá onde com sei lá quem? – Jules perguntou, ignorando meu comentário.
Eragon estava em cima da bancada, encarando que comia rapidamente. Provavelmente ele estava pensando em roubar a comida dela, que protegia a tigela de cerais com o braço ao redor.
— É, . Vai sair com o Charles? – ergueu o olhar do prato de comida, curiosa.
— Por que eu sairia com uma iguana suja na rua? – Sorri sarcasticamente e percebi Jules fechar a cara enquanto fazia seu omelete.
— Charles não é sujo.
— Ah, é sim. Ele come rato e grilos. – falou, levantando e colocando o prato sujo na pia.
— Você deu um rato para ele? Charles não come ratos e nem grilos, . Ele é puramente vegetariano.
— Olha, não sei não. Ele pareceu se divertir com o Loser. Aliás, quem deixou a caixa branca na sala, então?
Revirei os olhos.
— Foi o rato que eu peguei aqui no apartamento, . – Jules falou irritada, olhando para Eragon como se não reconhecesse o bichinho.
Senhor, traumatizou a mulher.
— Isso explica muita coisa. Mas ó, a culpa não é minha que você faz o coitado ser vegetariano e não o deixa experimentar os prazeres da carne.
— Prazeres que você não reconheceria mais, porque já que faz três semanas que não dá, né. – Comentei baixinho. Um pano de prato voou na minha cara. – Ei!
— Já liguei pro Jace, porra. Vocês são muito chatas, viu. Aliás, quando você não saia com o Chuck eu não te enchia... – começou, mas parou para pensar. – Tá, eu falava para você dar o tempo todo.
— Agora eu tenho o inglês para me satisfazer. – Sorri maliciosamente.
— Ui. Amigos com benefícios. – Jules assobiou. – Tem certeza que não vai ficar apaixonada, ?
Eu ponderei, mas depois gargalhei. A ideia soou idiota, porque eu realmente não estava. Pela primeira vez na minha vida, eu transava com alguém e não me preocupava se ele não me ligasse ou corresse atrás todos os dias, coisa que Chuck realmente não fazia.
— Tenho, Jules.
— Okay. Tenho aula daqui meia hora, tchau meninas. – Jules mastigou o último pedaço de seu omelete, agarrou Eragon e provavelmente o largou no quarto vazio, que agora virara seu viveiro, onde ninguém se atrevia a entrar. Passou por nós com sua bolsa no ombro. – Tchau, meninas. Que os chákras estejam com vocês hoje, bom dia!
— Quê que tem uma xícara? – perguntou enquanto lavava a louça suja.
Balancei a cabeça e ri. Dei um tapinha no ombro dela e peguei a chave de casa dentro da tigela azul na bancada.
— Tchau, .
— AH! , você não falou para onde vai.
— Vou sair com Mike. O gay que trabalhava comigo no Starbucks, lembra? Ele marcou comigo uma semana atrás e só posso ir hoje, já que posso chegar duas horas depois.
— Você não vai me trair e fazer compras com o bicha, né? – Ela fez bico.
— Claro que não, . Tchau, tchau. – Falei, fechando a porta de casa atrás de mim e escutando-a resmungar alguma coisa que não fez exatamente sentido e era acompanhada de palavrões.
Fui para o metrô lotado e peguei a linha que geralmente usava quando ia para o trabalho no Starbucks. Parei uma estação antes, onde eu havia combinado de encontrar Mike. Assim que subi as escadas e o vento gélido bateu em meu rosto, eu avistei Mike parado contra a parede de uma loja qualquer.
Mike era mestiço de japonês com alguma coisa latina, tinha lábios cheios e olhos negros. O cabelo preto liso estava repicado e penteado perfeitamente para o lado. Usava uma bota marrom, calça jeans rasgada nos joelhos, um casacão de couro marrom que me impedia ver a blusa de baixo e um cachecol – ai está o detalhe gay – de flores vermelhas. Ele sorriu alegre e seu espírito gay iluminou meu dia. Ele andou rapidamente até mim e abraçou-me forte.
— Meu Deus, loirinha. Você está arrasando! O que você fez no cabelo? Você emagreceu? Mulher, você está muito chique com essa roupa, hein! Deve estar milionária! – Mike disse, puxando-me animado pela rua até um café que eu nunca havia visto na vida. Devia ser novo.
— Ai, Mike, quem me dera. – Gargalhei. – E você? Fiquei com Muita saudade! Mal acredito que faz quase três semanas que nos demitimos daquele lugar! Onde você está trabalhando? E os bofes?
Mike riu e encontrou uma mesa encostada na janela, sentei-me de frente para ela e ele de costas. Ele abriu o casaco e eu reparei em sua camiseta vermelha por baixo do mesmo, que tinha estampada no centro os dizeres: “Sorry girls, I suck dicks"(*Desculpe meninas, eu chupo pintos), eu ri silenciosamente. E nós começamos uma conversa animada sobre nossos novos empregos.
Fiquei realmente feliz quando Mike contou que havia conseguido um bico como ajudante de um estilista da Vogue e que ele agora ajudava a montar looks que apareceriam em propagandas e tudo mais. Ele disse que não ganhava muito, mas era o suficiente para bancar suas contas em casa, uma vez que ele morava sozinho.
Eu estava falando de meu próprio trabalho, de como as crianças eram doces e gentis, enquanto o pai era quase um pedaço do céu e a mãe era o inferno inteiro. Afinal, eu havia visto a Sra. Delawicz três vezes na primeira semana de trabalho que estava lá, e em nenhuma das vezes ela dirigiu o olhar para mim ou deu atenção aos filhos. Não é a toa que a pequena Anna vivia atrás das empregadas da casa, a procura de uma atenção feminina. Estava também prestes a dizer como eu sentia uma certa dó de Edgar e das crianças quando meu celular tocou.
— Olá, bonitão. – Atendi fazendo um gesto para Mike, pedindo-o para esperar.
— Oi, minha gostosa. – Chuck disse do outro lado com uma risada baixa. – Onde você está? Quer que eu passe ai de carro e te leve no trabalho?
— Ah, estou tomando um café perto de onde ficava o Starbucks.– Calculei rapidamente, se eu fosse andar a pé, demoraria muito mais para chegar no trabalho. – Pode vir me pegar.
— Certo. – Chuck disse.
— Estou na 46th com a 2ª Avenida. É bem do lado do metrô, na verdade, se for incômodo eu posso ir sozinha mesmo. – Falei gentilmente.
Por favor não diga que é incômodo, não quero andar. Por favor. Por favor.
— Não é incômodo, . Estou ai daqui uns cinco minutos. – Ele falou e eu já podia escutar o bipe da chave destrancando o carro.
YES!
— Tudo bem, tchau, loiro.
— Tchau, loira. – Ele murmurou e desligou.
Pisquei, guardando o celular e sorri de volta para Mike.
— Onde estávamos?
— Ah, você ia me contar da megera do seu trabalho. – Mike disse, movimentando a mão logo em seguida em um gesto de “esquece isso”. – Me conta desse homem aí. É o que pegou você no colo no dia da demissão e conheceu você lá no Starbucks? Porque mulher, aquele era um inglês bonito.
— É ele, sim. Charles Beway.
— Uiiii. – Mike abanou o próprio rosto com a mão. – Beway? Da... Empresa milionária Beway? Loirinha! Estou oficialmente orgulhoso. Eu sabia que esses peitos ai não seriam a toa!
Gargalhei e revirei os olhos para ele.
— E você, Mike? Você tinha um namorado? O que aconteceu com ele?
O rosto de Mike perdeu a cor e emoção. Ele ficou repentinamente melancólico e triste, seu sorriso se fechando imediatamente.
— Ah, ... Sabe como é com os gays, né... Para alguns de nós é difícil aguentar o preconceito e essas coisas... – Ele baixou o olhar para seu café.
— Você não está me dizendo que ele se matou, nem nada assim, né?
— Não, boba. Mas ele quis mudar de cidade porque dizia que New York não estava preparada para o poder de biba dele e eu fiquei, porque bem, para onde eu iria com ele, né? Abandonar tudo pelos ares e simplesmente sair da cidade somente por existir pessoas que não sabem respeitar a diferença? – Mike deu um meio sorriso, desanimado.
— Ah, Mike. Desculpe. Mas você já sabe né, sou além de tudo sua amiga. Por favor, conte comigo sempre que precisar desabafar sobre algum babaca que está partindo seu coração.
Tirei a luva de uma das mãos e estiquei ela sobre a mesa, oferendo ela como um conforto para Mike. O toque gelado dele me arrepiou, mas eu lhe dei um sorriso confiante e amigável, Mike correspondeu com um sorriso que quase alcançava seus olhos levemente puxados. Estiquei os ombros e ajeitei-me na cadeira, sem soltar sua mão olhei para a porta. E lá estava Chuck.
Eu podia imaginar o que passaria na mente dele. Podia imaginar a briga que entraríamos e o quanto eu ficaria irritada com tudo. Podia imaginar eu mandando-o tomar no cu e sair andando. Mas não.
Chuck sorriu.
Ele sorriu para mim. Sorriu normalmente, como um cumprimento silencioso e andou até nossa mesa. Levantei-me confusa com sua reação, puxando minha mão para longe e dando um susto em Mike.
— Ahn. Charles. Tá tudo bem? – Perguntei quando ele parou ao lado de nossa mesa.
— Tudo, . Por quê? – Ele piscou confuso e se virou para Mike, depois sorriu mais abertamente do que antes. – Mike! E aí, cara? Tudo bem?
— E-e-eu. Hãn. Tudo. – Mike sorria abobalhado, mas apertou a mão estendida de Chuck.
Depois meu inglês se virou para mim e deu-me um selinho de cumprimento e eu olhei fundo em seus olhos, procurando pelo acesso de ciúmes, mas esses estavam azuis claros e serenos, como quase sempre. Talvez com um pouquinho de ressentimento escondido bem lá dentro.
— Vamos? Você já pagou a conta? – Ele perguntou, olhando ao redor a procura de uma garçonete.
Eu ainda estava chocada demais para responder, então Mike o fez por mim.
— Ah, não. Mas pode deixar, é por minha conta.
— De verdade? – Chuck perguntou, ignorando minha boca aberta e passando o braço ao redor de minha cintura. – Posso levar a dama?
— Olha meu caro, se fosse eu sendo resgatado por um cavaleiro como você eu não ia gostar que não deixassem. Então, claro que sim, gato. Vai lá.
Dessa vez Chuck sorriu sem graça. Provavelmente por ter sido assediado.
Pisquei ainda meio alienada, mas sorri para Mike e dei um beijo em sua bochecha como despedida depois que ele se levantou e começou a colocar algumas notas sobre a mesa. Ele acenou descontraído e Chuck me puxou para fora da Café com o braço ainda em minha cintura. Quando paramos perto de seu carro, eu finquei meu pé no chão e ele olhou para mim, assustado.
— Que foi?
— Eu que te pergunto. O que aconteceu?
— , você pediu para eu vir te buscar. Lembra? Você tá bem? – Seus olhos confusos vasculharam meu rosto por compreensão. .
— Charles, eu sei. Eu só não entendi o que aconteceu lá dentro. – Apontei para trás de mim com o dedão. – No Café.
— Não entendi.
— Você me viu de mão dada com o Mike, sei que viu. E você sorriu. Você ficou normal.
— Eu continuo não entendendo. O que você queria que eu fizesse?
— Uma tempestade no copo da água! – Falei, incrédula por ele não estar reagindo. – Você fez isso da última vez.
Mas Chuck riu e se aproximou, passando os dois braços por minhas cintura e me apertando forte contra seu corpo. Seu rosto enterrado na cavidade de meu pescoço, ele depositou um beijo por lá e depois outro em meus lábios.
— Eu aprendi uma coisa.
— E o que isso seria? – Perguntei, não resistindo à tentação de abraçá-lo, envolvendo seu pescoço com meus braços.
— Que você é livre e pode dar a mão para quem quiser.
— Você aprendeu isso agora? – Provoquei, elevando uma sobrancelha.
— Qual é, . Um passo de cada vez. Sou um homem controlador.
Obviamente.
— Charles Beway, que bicho mordeu sua bunda? – Falei, fazendo-o rir.
— . Eu ainda odeio o jeito que todos os homens te olham com desejo quando você passa perto deles... – Ele murmurou entrelaçando os dedos de uma mão em meu cabelo, a outra segurando-me na cintura. – Mas também sei que você não liga. Isso faz ficar quase tudo bem e eu só quero deixar tudo entre nós normal.
— Gostei da atitude, mas ainda acho que alguma coisa te mordeu. Não consigo engolir a mudança repentina.
— Então... – Chuck murmurou com seus dedos em meu cabelo me puxando para frente ao mesmo tempo que seu braço em minha
cintura erguia meus pés do chão, ele me beijou devagar.
Seus lábios abriram espaço entre os meus e sua língua invadiu a área lentamente, entrelaçando-se com a minha, a barba rala ao redor de seus lábios arranhava minha boca de uma jeito delicioso. Uma de minhas mãos precisou usar os ombros musculosos de Chuck como apoio, uma vez que não tinha o chão em meus pés e com o outro braço envolvi seu pescoço. Quando estávamos parando o beijo, fui colocada novamente no chão e xinguei mentalmente minha genética quando tive que puxar o pescoço de Chuck para baixo comigo. Ele sorriu com a ação e por fim deu uma leve mordida em meu lábio inferior, seus dentes demorando para soltar a pele.
— Agora você também foi mordida, quem sabe conseguirá.
Com um último selinho, ele virou-se e abriu a porta do passageiro para mim, sorriu e fechou a porta.
’s POV.
Acordei na segunda mais desanimada do que tudo. Sempre fui desinibida, mas não estava exatamente confortável em tirar fotos para um ensaio sem experiência nenhuma anterior. E com um cara que eu mal conhecia que tinha pinta de gay. Sim, sou preconceituosa. Pode me xingar, não é como se eu fosse me ofender de verdade.
Jace me ligou perto das onze, quando eu havia terminado de lavar a louça de meu solitário café da manhã, uma deliciosa tigela de sucrilhos. Peguei minha bolsa marrom, coloquei óculos de sol, já que estava sem maquiagem, porque sabia que lá eles iriam cuidar dessa parte, então desci para a portaria e entrei no Camaro preto (que quase me atropelou não só uma
vez, como duas).
— Oi.
— Oi. Café? — Ofereceu um copo médio do Starbucks para mim.
— Ah. Obrigada. — Beberiquei rapidamente, procurando o gosto de um Boa Noite Cinderela ou algo do tipo. Parecia somente café para mim. Ótimo.
— Pronta?
— Nasci pronta, querido.
Enquanto Jace dirigia, tentei me concentrar em minhas unhas, que estavam sem esmalte, mas bonitinhas. Um milagre que nenhuma tivesse quebrado com esse tamanho. Discretamente, desviei o olhar das unhas para ele. Jace usava uma camiseta xadrez com o fundo verde escuro, calça jeans preta e um casaco preto simples. Não podia ver seus sapatos, mas apostava que era um tênis baixo, Vans ou All Star. Usava seus habituais (não que eu tenha convivência com ele, mas...) óculos de grau de nerd.
Não demoramos muito para chegar, não era muito longe de casa, e como já devem ter percebido, Jace não é o condutor mais prudente do mundo. De qualquer jeito, preciso confessar que eu não esperava que aquele fosse o local. Nem um pouquinho. Até Jace abrir a porta e me chamar. Porque meu Deus... Que tipo de fotógrafo ele era?
O prédio pareceria uma fábrica antiga abandonada, se não fosse pelos portões reformados e automáticos que havíamos passado. Havia uns quinze carros no estacionamento. Toldo de tijolos e com algumas chaminés, o prédio deveria ocupar quase uma quadra inteira. Aquilo era um estúdio de fotografia ou uma fábrica da Canon?
Enquanto andávamos para as portas principais, percebi que a maioria das janelas continuavam com suas barras de ferro enferrujadas, dando um ar surpreendentemente legal ao ambiente.
— Boa tarde, Sr. O’Maley.
— Boa tarde, Mila. — Jace cumprimentou a secretária, que estava atrás de uma bancada preta junto com mais outra secretária. Atrás delas estava um painel enorme escrito “Karev & O’Malley Studios”. Narcisistas? Nem um pouco.
Jace posicionou a mão na base de minha coluna e seguiu me guiando. As secretárias me encararam, provavelmente por causa da minha cara pálida e dos óculos de sol, sorriram amarelo e voltaram a digitar em seus computadores. Chegamos rapidamente a um corredor ENORME. É muito sério isso. Ele era ENORME. Entramos na primeira porta à direita e me deparei com uma sala de fotografia ENORME. Porra, tudo aqui era de Itu? Não que americanos devam saber da existência de Itu... Será que Jace também tinha uma coisa ENORME? Foco, , foco.
O painel branco era enorme, com vários equipamentos de iluminação apontados para ele, câmeras em seus tripés, etc. Pessoas andando para um lado e para o outro, arrumando os equipamentos, montando uma mesa de comida muito convidativa, roupas em araras de metal, várias mesas de maquiagem com luzes no estilo de camarins e tudo o que você pode imaginar, tudo muito bem organizado e disposto no espaço gigantesco que aquele estúdio tinha. E aquele era só um dos estúdios da “fábrica”.
— Venha, , vou te apresentar ao nosso maquiador. Jeff, essa é a garota que te falei.
Jeff, um homem magro, baixo, com o cabelo raspado e barba rala, vestia uma camisa social preta com alguns botões abertos (abertos demais, já que eu podia ver os pelos de seu peitoral) e jeans skinny preta. Retirei os óculos de sol e quando percebi, uma assistente loira estava ao meu lado se oferecendo para retirar minha bolsa e meu casaco. Coloquei o celular no bolso da calça jeans e entreguei os requisitados para ela, voltando-me novamente para Jeff, agora sem o óculos de sol.
— Você tem olhos profundos. Gosto disso. Vamos dar um jeito nessas sobrancelhas.
Elevei as ditas cujas, pensando em sugerir que desse um jeito no seu cabelo, quase não existente, mas resolvi que precisávamos da grana. Sentei-me na cadeira da tortura e deixei Jeff fazer sua mágica.
— Então, linda, você é de onde?
— Brasil.
— A-do-ro o Brasil! Todas as melhores modelos vêm de lá! — Sussurrou a última frase em meu ouvido.
— Ah... É minha primeira vez como modelo. Jace meio que insistiu.
— Bom, pode ficar tranquila que vou te deixar uma diva. Você passou alguma maquiagem antes de vir?
— Não, imaginei que vocês tomariam conta disso.
— Boa garota. Agora feche os olhos e relaxe.
Jeff era muito rápido, apesar de perfeccionista, já que estava o tempo todo murmurando que estava torto. Conversamos mais um pouco, sobre quantas modelos famosas ele já havia maquiado, o tamanho dessa empresa, como Jace era, algumas dicas para as fotos, entre outros. A conversa me distraiu principalmente quando ele começou a tirar a minha sobrancelha, o que fora um tanto quanto doloroso.
Quando terminou a maquiagem, me virou de costas para o espelho e perguntou se poderia cortar um pouquinho. Rezando para que ele não me depenasse, resolvi que o dinheiro poderia me pagar um aplique caso o corte desse errado. Consenti.
Exatos quarenta minutos depois, Jeff me virou de frente para o espelho e eu precisava concordar com ele: Eu parecia uma diva. Meus cabelos continuavam praticamente no mesmo comprimento, levemente mais repicados, mais leves e com mais volume, devido aos milhares de produtos que ele passou. O castanho claro estava ressaltado, brilhante e meu cabelo parecia extremamente sedoso. Já a maquiagem era algo simples, mas o suficiente para realçar minha beleza. Os olhos estavam com delineador preto, sombra clara nos cantos internos dos olhos para iluminar, uma sombra marrom na pálpebra, de leve. Um blush bronzeador disfarçava a minha palidez e os lábios estavam parecendo mais cheios, com um batom vermelho matte. E precisava admitir que minhas sobrancelhas estavam muito melhores.
— Jeff, você é um gênio. — Suspirei. Ele riu e fez um gesto de descaso com a mão.
— Que isso, querida. Maquiagem só realça o melhor em você.
— Obrigada.
Jace se aproximou com uma câmera profissional em mãos que deveria valer mais que o meu apartamento, sorrindo satisfeito com a minha aparência. Indicou um pequeno espaço com cortinas para mim com a cabeça.
— Estão te esperando para a troca de roupas e já vamos começar.
Assenti mudamente e fui para o camarim. Lá estava uma calça jeans super apertada, rasgada, junto com uma camiseta curta branca que mostrava minha barriga. Vesti-as e calcei os sapatos estonteantes que quase me fizeram chorar de emoção. Só não chorei porque não eram Louboutins, mas eram sandálias altíssimas pretas, sensacionais. Olhei-me no espelho e comecei a sentir a confiança crescer dentro de mim. Eu poderia fazer isso. Eu sou e posso fazer qualquer coisa. Até mesmo uma propaganda para a Levi’s, mesmo sendo o meu primeiro trabalho como modelo. O que era meio surreal, mas...
— ? Estamos prontos.
Saí do camarim e percebi que Jace me olhou de cima a baixo e sorriu pervertidamente. Hm. Acho que ele não é tão gay assim no final das contas.
— Vamos? — Perguntei.
Ele me guiou para uma parte do estúdio que eu não havia visto, porque havia um painel cobrindo, o qual descobri ser verde. Todas as paredes eram verdes, na verdade. Tecnologia, você facilita tudo para nós.
— Não teria como fotografar nessa neve, então tivemos que apelar para o painel verde. Tudo bem?
— Yep.
Uma assistente trouxe alguns acessórios para mim. Uma correntinha prata com um pingente de crucifixo igualmente prata, um óculos de sol aviador (eu nem sabia que a Levi’s tinha óculos de sol) e amarrou uma bandana gasta com a bandeira dos Estados Unidos em minha cabeça.
Jace ajustou a sua câmera e piscou um olho somente para mim antes de posicionar a câmera perto de seu rosto.
— Quando você se sentir pronta, .
Olha, amigo... Aí tá o problema... EU NÃO ME SINTO PRONTA!
Senti que ia começar a ter um ataque de nervos, mas me estapeei mentalmente e mandei-me concentrar no prêmio.
Dinheiro. Sapatos. Sem dívidas. Viagem.
Respirei fundo e mordi o lábio. Encostei-me no painel verde e coloquei as mãos no bolso, levantando um joelho e apoiando o pé no painel verde. Mordi o lábio e fiquei parada. Flash.
Bom, isso era um começo.
Esperei que Jace me desse instruções, mas ele não falou nada. Coloquei um braço sobre a cabeça, levantei o queixo e mantive a pose das pernas. Flash. Segurei a haste do óculos com uma mão, posicionando-o na ponta de meu nariz, olhei bem no fundo da câmera e sorri de lado, enquanto a outra mão estava apoiada sobre minha coxa. Flash.
Jace continuou a tirar as fotos, enquanto eu ia explorando diferentes poses, um pouquinho recatada, ainda.
Algumas pessoas começaram a vir observar o ensaio e eu respirei fundo. Jace percebeu que eu estava voltando a ficar nervosa e começou a falar algumas coisas simples:
— Coloque os óculos no decote e as mãos na cintura.
Flash.
— Vire de costas e olhe por cima do ombro.
Flash. E vários olhares sobre minha bunda, que estava muito empinada e bem valorizada pela calça. Flash.
— Tire a bandana. Coloque os óculos no topo da cabeça.
Flash.
Comecei a me soltar mais, até que Jace disse:
— Acho que temos o suficiente. Chame os outros modelos.
Suspirei, parte aliviada, parte chateada porque achava que estava começando a pegar o jeito da coisa, até que ele me segurou pelo braço e disse:
— Não, você continua. Vai tirar fotos com outros modelos.
Olhei para a porta e vi três modelos masculinos entrando no ambiente. Modelos malhados. Com barbas ralas. Um loiro, um moreno e um negro. Maravilhosos. Todos para mim.
— Só eu e eles? — Perguntei segurando o entusiasmo. Agora sim eu estava gostando.
— Sim. E você está se saindo ótima, fique tranquila.
Voltei para o painel verde e esperei os modelos chegarem. Eles se apresentaram, mas não sei se vocês sabem, eu tenho um pequeno problema em decorar nomes. Resolvi chamá-los de Gato 1, Gato 2 e Gato 3.
A assistente borrifou água nos peitorais malhados, pegou a bandana e o óculos de sol e repassou um pouco de blush em mim.
Gato 1 e Gato 2 ficaram cada um de um lado meu, enquanto Gato 3 sentou-se à minha frente, um de seus braços malhados levantado, segurando em minha coxa com força. Passei uma mão pela nuca do Gato 1 com o meu braço na frente de seu peitoral, então puxei os cabelos da nuca de Gato 2, fazendo-o encurvar a cabeça para trás. Olhei para a câmera e sorri maliciosa. Flash.
Gato 3 levantou-se, encostou-se no painel, puxando meu quadril em sua direção, enquanto Gato 1 puxava-me pelos ombros para baixo, fazendo-me reclinar para trás, apoiando-me em seus braços. Segurei em seu rosto com uma mão, com o braço que não taparia seu rosto na foto, deixando o outro braço balançando para o Gato 2 pegar minha mão e beijá-la, ajoelhado no chão. Flash.
Chegou certo ponto da sessão em que eu já estava sendo carregada no colo. Eu até pude fingir que enfiava meu salto no peitoral de Gato 2. Deus, como eu me sentia poderosa. Eu poderia fazer isso o dia inteiro.
Foram inúmeras fotos, com mais e mais poses ousadas, mais e mais vontade de beijar aqueles três homens lindos na minha frente. Jace disparava flashes a todo vapor e uma vez ou outra pedia alguma pose específica. Quando terminamos, ouvi Jace murmurar que havia no mínimo 200 fotos da sessão inteira. Porra.
Despedi-me de Gato 1, 2 e 3, pesarosamente, sabendo que seria antiprofissional e muito menos prudente pedir o telefone deles. Droga.
Jace veio até mim e sorriu confiante.
— Eu disse que você iria se sair bem. Ficaram lindas. Vamos enviar as fotos editadas para a empresa dentro de uma semana e eles irão escolher as melhores. Se você estiver em uma ou mais delas, vai receber um cachê. Se não, recebe somente um jantar meu.
Revirei os olhos e sorri. Ele não iria desistir.
— Obrigada por isso. Qualquer outro trabalho que tiver, só me chamar.
Fui para o trocador e recoloquei minha jeans, minhas botas marrons de salto, minha blusinha bege e o casaco nude. Coloquei a bolsa no ombro e saí à procura de Jeff, dando um breve abraço nele, antes de ir para a saída. Jace me acompanhou e pediu para que a secretária chamasse um táxi, já que ele teria que trabalhar, porque a outra modelo já havia chegado.
— O que acha de irmos num restaurante japonês, no sábado?
— Ah. Perfeito. — Menti. Eu odiava passar vergonha na frente dos outros e não conseguia comer com aqueles malditos pauzinhos.
— Então, até sábado, . — Ele comentou quando avistou o táxi.
— Até, Sr. O’Maley.
Ele me beijou na bochecha, longamente, enquanto segurava com uma só mão a minha cintura. Quando me soltou, eu pisquei um só olho para ele e saí do prédio, andando até o táxi, sentindo seu olhar queimar sobre minhas costas.
’s POV.
Eu fiquei pensando no que Chuck dissera enquanto ele dirigia. Qual seria o ponto de vista dele? Ele estava querendo me agradar loucamente? Porque estava funcionando. Claro, era fantástico não ter mais que escutar um piu sobre namoro, ciúmes ou qualquer outro assunto derivado de relacionamentos vindo dele. E o sexo entre nós continuava incrível.
Pensar em como eu estava conseguindo ficar com ele sem complicações, trouxe-me um tesão inexplicável. Quando Chuck fez a curva para três ruas antes de meu trabalho e parou no farol, eu me virei no banco para encará-lo:
— Você pode parar em um estacionamento? – Pedi com um sorriso meigo.
— Por quê? – Chuck sorriu, sua testa franzindo com minha pergunta.
— Por favor, vai. – Fiz bico.
Ele deu ombros e quando o farol ficou verde novamente ele passou reto pela rua que deveria entrar e achou por um estacionamento simples e sem serviço de manobrista. O carro entrou em um espaço escuro e subterrâneo, Chuck fez algumas curvas e achou uma vaga entre duas colunas, onde estacionou o carro calmamente. Quando terminou, desligou o motor, soltou seu cinto e virou-se para mim.
— Aqui estamos. Você não está atrasada?
— Não tem problema. – Sussurrei e soltei meu cinto de segurança, inclinando-me instantaneamente, puxando-o com as mãos ao redor de seu pescoço, para um beijo.
Chuck veio sem hesitação, sua boca se abrindo contra minha e o mesmo ritmo do beijo que a pouco havíamos dado na rua começou. Devagar o beijo se intensificou e aumentou o ritmo, minhas mãos desceram de seu pescoço para encontrar a pele quente por baixo da camisa social e gravata, minhas unhas arranhando o espaço que conseguiam alcançar e suas mãos apertaram minha cintura e me puxaram para frente.
Entendendo o movimento dele, com cuidado eu passei para o outro lado do carro e sentei-me sobre seu colo, uma perna de cada lado e o volante em minhas costas pressionando-me contra o tronco de Chuck. Eu distribui beijo por seu pescoço e desfiz o nó da gravata, jogando-a para o lado e abrindo os primeiros botões de sua camisa para poder passar minhas mãos por seu peitoral.
A pele de Chuck se arrepiava com meu toque e suas mãos antes em minha cintura, agora estavam em minhas coxas e as apertavam violentamente, sua respiração pesada e quente em meu ouvido enviava pequenas correntes de energia por meu corpo e eu comecei, inconscientemente a me mover sobre seu colo. Um movimento leve, fazendo uma fricção tortuosa entre seu membro e minha intimidade.
Tirando a mão de minha perna, Chuck tateou a lateral de seu banco e achou a alavanca que o fazia ir para trás, dando mais espaço para ambos.
— Obrigada. – Sussurrei em seu ouvido e depositando uma mordida no lóbulo de sua orelha.
Voltando sua mão, Chuck segurou-me com uma mão na base das costas e com a outra, apertou a parte interna de minha coxa e avançou com os dedos até os bolsos da frente e depois até o cós de minha calça jeans. Nesse ponto, já tendo me livrado de sua camisa por completo, aproveitei o tempo para retirar meu casaco, cachecol e blusa.
— Que garota esperta. – Chuck sorriu maliciosamente e abriu o botão de minha calça jeans, abrindo o zíper e puxando a calça até a metade de minhas coxas, com dificuldade, mas ele achou um jeito.
Antes que eu pudesse puxar o ar para respondê-lo, uma mão de Chuck entrou por dentro de minha calcinha e ele penetrou minha intimidade com vontade, usando dois dedos. Eu gemi com seu toque e instantaneamente tombei a cabeça para trás, dando um suspiro. Aproveitando-se do momento, Chuck levou a mão até então na base de minha coluna, até o fecho do sutiã e abriu ele rapidamente. Seus olhos azuis ficaram vidrados nos meus enquanto ele fazia movimentos constantes dentro de mim com seus dedos, estimulando-me cada vez mais e com os dentes, puxou as alças de meu sutiã para baixo e depois se livrou do mesmo.
Então ele investiu com os dedos dentro de mim como nunca e todo meu corpo reagiu arrepiando-se. Chuck apertava um seio enquanto sugava o outro e eu simplesmente não fazia ideia como ele conseguia fazer tantas coisas ao mesmo tempo, nunca esquecendo de nada. Eu agarrei seus cabelos com uma mão e com a outra arranhei seu ombro com força ao sentir outro arrepio se apoderando de mim, eu sabia o que estava por vir. Ignorando a falta de ar em meus pulmões, Chuck parou de mexer em meus seios e a mão que antes os segurava foi parar embaixo de minha bunda, apertando-a. Ele segurou-a com força para cima quando seus dedos acariciavam meu clitóris com movimento circulares e depois me penetravam.
Alucinando de prazer, soltei um gritinho quando Chuck colocou seus dedos até o fim e apertou minha bunda simultaneamente, uma onda de prazer se dissipou por meu corpo, fazendo meu corpo inteiro contrair-se ao redor dele e depois relaxar. Tirando os dedos molhados de dentro de mim, ele os passou entre meus seios e levou sua língua até lá, aproveitando o resto de energia que havia me proporcionado. Depois beijou-me lentamente, aproveitando cada canto de minha boca.
Exausta, pausei o beijo aos poucos e tombei minha cabeça sobre o ombro dele. Chuck acariciou meu cabelo silenciosamente, então percebi que sua respiração era irregular quase como a minha e seu coração batia forte. Eu podia sentir seu membro completamente ereto embaixo de mim. Então Chuck suspirou.
— Bloody hell, . Você tem noção do quanto é linda? – Sussurrou em meu ouvido.
— Obrigada. – Murmurei, fazendo carinho em seu pescoço com as unhas enquanto ainda apoiava sua cabeça em meu ombro.
— Preciso te levar de volta para o trabalho. Acho que você está uns vinte minutos atrasada.
Suspirei profundamente e assenti.
— Tudo bem. – E falando isso, comecei a vestir-me e saí de cima de seu colo.
Quando o fiz, pude sentir e ver o volume intensificado nos meio das pernas de Chuck e eu sorri sem-graça.
— Vou recompensar você, prometo.
Chuck sorriu feliz e começou a colocar a sua camisa e gravata enquanto eu terminava de enrolar o cachecol em meu pescoço. Quando terminamos de nos arrumar, Chuck ligou o carro, saiu do estacionamento e dirigiu calmamente pelas ruas – parando na frente do prédio dos Delawicz.
— Não que eu queira te deixar assim, mas tenho que ir trabalhar. Ou então vai brigar comigo.
— Não tem problema, loira. – Ele sorriu e beijou meus lábios com um selinho rápido de despedida. – Se eu tiver folga mais tarde, passo no seu apartamento de noite.
Assenti e saltei do carro dele. Corri para o prédio e o porteiro – que agora eu sei o nome: Malcom - abriu a porta imediatamente, cumprimentei-o com um breve grito de “Oi, Malcom” e segui apressada até o elevador.
Os cosmos – como diria Jules - estavam fazendo as pazes comigo e o elevador estava no andar, me levando rapidamente para cima. Dentro do elevador, eu já peguei minhas chaves do apartamento - sim, eu havia sido confiada com uma chave do apartamento – e entrei pela porta da cozinha, como sempre. Pensei que iria encontrar Maria Sofía nela, pronta para dizer que eu estava atrasada, mas o fogão não tinha nem sequer sinal de panela e a pia estava limpa. Apoiei a bolsa na ilha no centro da cozinha e prendi os cabelos em um rabo alto. Respirei fundo e saí pela casa.
Na sala também não havia ninguém. Confusa, chequei na varanda Gourmet, mas também nenhum sinal de vida. Passei pelo quarto das crianças, somente para descobrir que também não havia ninguém lá. Eu não conhecia o resto do apartamento, tirando o escritório (que também estava vazio). A casa estava tão vazia e silenciosa que minha respiração pareceu alta demais. Peguei o blackberry de trabalho e enviei uma mensagem para Maria Sofía, perguntando onde estavam todos.
Voltei para a cozinha e sentei na ilha onde antes tinha apoiado minha bolsa. Meus pés não tocavam o chão quando eu sentava lá e pensei como me zoaria eternamente se visse a cena. Deixei o blackberry ao meu lado e peguei meu celular de verdade, para ver que havia uma mensagem da dizendo que estava indo fazer a sessão com Jace. E outra de Chuck, perguntando se eu havia tomado bronca pelo atraso. Respondi , depois Chuck e acabei engajando em uma conversa com ele.
“Que tal fazermos alguma coisa no natal?” – Ele perguntou.
“Só se você me prometer que vai cuidar muito bem de mim como hoje… (;”
“Posso fazer isso de novo, se você gostou tanto.”
“Faça. Mas só depois que eu devolver na mesma moeda.” – E eu me senti excitada só de pensar em dar o mesmo prazer para ele.
“E quando vai ser isso?”
“Poderia ser agora...”
“Agora?”
“Agorinha.”
Segundos após eu enviar a mensagem, Chuck me ligou.
— Agora? – Sua voz rouca soou baixa do outro lado da linha.
— Bom... – Murmurei. – Não vejo porque não sair mais cedo se não tem ninguém aqui.
— Merda. Eu queria tanto não ter uma reunião em meia hora. – Ele resmungou e eu ri, divertindo-me com o tom sincero em sua voz. – Mas assim que tudo acabar eu vou para sua c...
Então eu ouvi um barulho de um gemido e algo quebrando-se, fazendo com que eu quase deixasse o celular cair de meus dedos.
— ? – Chuck chamou na linha.
Mas eu não respondi, simplesmente desliguei a chamada, coloquei o celular no peito e saí da cozinha com passos silenciosos.
A primeira coisa que eu vi passar pela sala foram duas pessoas, que estavam se agarrando tanto, que eu não consegui reconhecer de primeira. Eu vi cabelos morenos longos. Talvez fosse Edgar e a esposa. Seria eternamente desagradável ficar aqui. E então vi o vaso que havia sido nocauteado por eles quando estavam passando pela sala. A massa acalorada seguiu pelo corredor que levava para a suíte principal (onde eu nunca havia entrado) e entraram no mesmo. Juntei os cacos do vaso, mas quando estava me levantando para pegar uma vassoura, limpar aquilo e ir embora, escutei outro gemido. Ah não, isso não era bom. Nada, nada bom. Eu precisava sair dali. Antes que pudesse me mover, escutei mais uma vez os gemidos altos. Dessa vez com nomes. E o nome chamado não fazia parte do casamento, somente a voz que o gritava.
— AH, MASON! AH. AH. MASON!
E era com certeza, a voz enguiçada da Senhora Delawicz. E Mason, com certeza, não era o nome do Senhor Delawicz.
Quando cheguei em casa após o ensaio de fotos, jogando a bolsa sobre a bancada, agradeci que Jules estava dando aula de yoga. Muchu falava sozinho em iguanês dentro de meu falecido quarto. ainda estava bancando a Super Nanny.
Entrei no quarto e comecei a arrumar as coisas, tirando as milhares de roupas jogadas no chão, até que encontrei o cachecol que Tyler me dera. E o gorro roxo, perdido num canto remoto do quarto. Suspirei.
Maldito.
Desde que brigamos, antes do dia de ação de graças, não havíamos conversado. Ele me ligou umas duas vezes, mas eu não retornei. Eu liguei uma vez, mas ele estava em reunião e eu não quis ligar mais tarde quando ele saiu dela. Fazia tanto tempo que não conversávamos que agora parecia ridículo o motivo de nossa briga. Que eu ainda estou tentando lembrar, mas eu estava bêbada e irritada. E provavelmente havia falado coisas que não devia. Merda.
A verdade é que eu sentia falta de Tyler fazia algum tempo, mas com essa história do Jace e as fotos, eu havia arranjado os perfeitos pretextos para não conversar mais com ele. Droga.
Procurei meu celular e digitei o seu celular, mas não consegui ligar, porque haviam acabado os créditos. Merda. Como eu falaria com ele agora?
Guardei as roupas nos devidos lugares enquanto me remoía. Eu odiava correr atrás. Ele que tinha que correr atrás! Não que fôssemos um casal para ter essa de homem correr atrás, mas foda-se. Ok, talvez não foda-se, mas... Para de dar uma de orgulhosa, !
Olhei para o gorro e suspirei. Tirei minha roupa, colocando uma jeans skinny preta, a bota de salto que Tyler havia comprado para mim, uma blusinha branca, um casaco cinza de linho e um sobretudo preto. Coloquei o maldito gorro na cabeça e enrosquei o cachecol. Vesti minhas luvas de couro e peguei uma bolsa preta, enfiando minhas coisas básicas dentro dela. Saí do apartamento sem deixar um bilhete ou algo do tipo, somente resolvi seguir meus instintos e dar uma de Stalker. Só esperava não ter o mesmo fim que ela teve naquele dia.
Eu comecei a pensar nos milhões de motivos para não ir até o Madison Square Garden quando já estava subindo a linha vermelha. Desci do metrô, seguindo meu rumo para o trabalho de Tyler. A cada passo que eu dava eu pensava em como aquilo era uma péssima ideia, mas em momento algum diminuí o ritmo ou dei meia volta. Somente continuei seguindo o meu rumo me xingando mentalmente.
Burra. Burra. Burra.
Cheguei ao local respirando fundo, minha respiração virando uma fumaça branca naquele frio intenso. A ponta de meu nariz estava congelada, mas eu não sentia muito frio. Meu coração batia tão rápido que eu pensei que fosse desmaiar. Tomei coragem e entrei no Madison Square Garden.
E foi só aí que eu percebi que não fazia a mínima ideia de onde iria encontrar Tyler naquele local enorme.
Tirei as luvas e as coloquei dentro da bolsa. Peguei meu celular, somente para lembrar, novamente, que não tinha dinheiro para ligar. Merda.
Andei até um balcão próximo e tentei minha sorte.
— Hm, boa tarde... Você sabe onde eu posso encontrar Tyler Hunt? Ele trabalha aqui...
— Em qual setor, senhorita? — Perguntou a jovem atrás do balcão que mexia em seu computador.
Mordi o canto interno do lábio.
— Basquete...?
Ela sorriu como se eu fosse uma menininha de cinco anos.
— Sim, isso eu sei, senhora. Mas ele trabalha no setor financeiro, para algum time, como técnico, faxineiro, diretor...?
— Ah, faxineiro não. E ele não é o técnico. Pelo menos não o principal, sabe? Ele vai aos jogos e analisa os times adversários jogarem. Algo assim.
A mulher elevou as sobrancelhas loiras. Olhei para seu crachá.
— Escuta aqui, Moira, eu preciso achar meu melhor amigo. Então sei lá, digita o nome dele aí e me diz onde ele tá.
— Desculpe, senhora, mas não funciona assim o nosso sistema e...
— Querida, senhora, é a mãe de Jesus que está lá no céu. Eu tenho vinte e quatro anos, fofa, então não vem com senhora pra cima de mim.
— Desculpe, senh...
— Você tem problemas auditivos? O que eu ACABEI de fa...
— ?
— QUÊ?
Então eu dei de cara com Tyler. Observando-me com uma cara de incompreensão, surpresa e vergonha. Talvez porque eu esteja gritando com Moira que nem uma louca, com um gorro roxo com pompom, enquanto ele estava saindo do trabalho com seus amigos. Amigos que também devem me achar louca e que estão dando alguns risinhos.
— O que você está fazendo aqui? — Ele perguntou conforme se aproximava de mim.
Percebi por cima de seu ombro que dentre seus amigos, três homens, havia uma mulher loira bonita demais para o meu gosto.
— Ah, eu? Eu estou aqui... Querendo saber quando vou poder comprar os ingressos para a próxima partida, sabe, porque eu adoro basquete...
— Você odeia basquete.
Porra. Porque eu tive que ir naquele jogo com ele mesmo?
— Não, claro que não, depois daquele jogo eu virei super fã sabe...
— .
— Tyler.
— Você veio me ver?
— Não, dã. Não posso mais vir no Madison Square Garden porque eu quis?
— Na verdade... Não. Eu aposto que você nunca entrou aqui sem ser comigo.
— Você não sabe de nada, Tyler.
— Sei mais do que eu gostaria de saber, na verdade.
— Você é um idiota.
— Você me adora.
— Podemos não fazer isso aqui?
Ele olhou por cima de seus ombros para seus amigos que cochichavam entre si.
— Tem algum problema com meus amigos?
— Eu? Claro que não. Só não quero discutir na frente deles.
— Ih, relaxa, nós vamos deixar o casal em paz... — Um dos amigos dele comentou, um loiro magricelo, rindo junto com os outros, conforme saíam de perto.
— Não somos um casal! — Eu e Tyler falamos ao mesmo tempo.
— Também, o Tyler nunca falou de você. E com esse gorro ficaria difícil de não lembrar — Comentou a loira, demonstrando suas tendências suicidas.
Elevei uma sobrancelha. Coloquei as mãos na cintura e virei-me para ela, quando Tyler já estava segurando meu braço e falando o meu nome com aquele tom de quem queria me impedir de algo.
— Engraçado, querida, ele nunca falou de você também.
— Então acho que somos duas desconhecidas, não?
Sorri ironicamente.
— Não, não, querida. Eu sou desconhecida, sim. Mas você daqui a pouquinho vai ser a desaparecida.
Os amigos de Tyler deram algumas risadas e a loira fez uma expressão de indignação que só me fez sorrir mais ainda. Antes que ela pudesse retrucar, somente para levar outra patada, Tyler me segurou com força pelo braço e me puxou para a saída.
— Já chega, , vamos embora daqui. Precisamos conversar. — Ele lançou-me um olhar repreensivo que me fez desmanchar o sorriso, então olhou para seus amigos. — Até amanhã, pessoal. Desculpe por isso, Polly.
Olhei por cima de meu ombro, conforme eu era puxada e soltei um sorrisinho malicioso para Polly, mas não consegui mostrar o dedo do meio, o que me chateou muito. Poucos segundos depois estávamos na rua gelada e Tyler continuava me puxando. Tentei me desvencilhar.
— Sabe, Ty, nós já estamos na rua. Não precisa continuar bancando o homem da caverna.
— Não sei o que esperar de você, então prefiro manter a precaução.
Finquei meus pés no lugar, não deixando que ele me arrastasse.
— Vai continuar me tratando assim?
— Você que começou com a ignorância.
Revirei os olhos e bufei, a fumaça branca saindo de meus lábios gelados.
— Qual é, Tyler, desculpa pela Polly. Mas você sabe que eu não sou de levar desaforo pra casa.
Ele soltou meu braço e passou as mãos enluvadas de couro pelos cabelos negros. Já eram sete horas da noite e o céu já estava completamente escuro. Na rua, várias pessoas passavam, agitadas pelo frio e com pressa.
Cruzei os braços e fiquei a observá-lo. Nossos olhos se encontraram e ele desviou os seus para minha cabeça. Mais especificamente para meu gorro.
— Pensei que você havia dito que nunca iria usar.
— Abri uma exceção.
Ele sorriu, sabendo que eu estava começando a ceder, então colocou as mãos no bolso e respirou fundo, encolhendo os ombros pelo frio.
— Imagino que não queria conversar aqui, certo?
— Certo. Podemos ir para o meu apartamento.
— Ou podemos ir para o meu.
Elevei as sobrancelhas.
— Eu nunca fui ao seu apartamento.
Tyler sorriu, oferecendo-me seu braço.
— Para tudo existe a sua primeira vez.
’s POV.
Eu ainda estava confusa e perdida no espaço. Mas a senhora Delawicz não estava confusa, nem perdida. Só estava tendo orgasmos no quarto no final do corredor.
Chocada, não pensei muito. Segui pelo corredor e parei em frente a porta entreaberta do quarto. Eu podia ver pouco do que acontecia dentro, infelizmente. Mas conseguia escutar muito. O que eu deveria fazer? Entrar gritando? Fechar a porta? Sentar no chão e chorar?
Vi um movimento na cama e lá estava. Os cabelos morenos. Como eu não havia pensado nisso antes? Ela com certeza era a Senhora Delawicz. E os cabelos masculinos não eram de Edgar. Aliás, o cara era ruivo. A Senhora Delawicz gemeu novamente e deu um grito (que mais parecia que estavam torturando-a, mas eu tenho certeza que não era o caso). Eu dei um pulo para trás e nesse exato momento meu peito vibrou e antes que eu alcançasse o celular, o toque alto de Chuck soou pelo corredor. Os gemidos pararam. Meu coração também.
Arranquei dali correndo e entrei na cozinha com pressa. Ignorei o celular tocando e peguei minha bolsa. Quando estava abrindo a porta para sair de lá, mãos finas e unhas longas prenderam meu braço e me puxaram com força.
A Senhora Delawicz não tinha um olhar muito agradável no rosto. Seus olhos estavam vorazes. Ela usava um roupão de seda marrom e os cabelos estavam bagunçados e amassados. Ela me jogou contra a parede e eu juro que achei que fosse tomar um murro na cara.
— O QUÊ VOCÊ ESTÁ FAZENDO AQUI? – Ela gritou, a boca manchada do batom vermelho.
— Indo embora. Pode deixar. Não vi nada, não ouvi nada...
— Ah, mas você não viu mesmo. Você nem estava aqui. Você nem está nesse prédio, sua empregadinha enxerida.
Pisquei. Vadia. Que vadia master.
— Olha aqui, eu posso muito bem con-
— E você acha que Edgar acreditaria na empregada e não na esposa? Não seja ridícula, garota. Edgar é um idiota. Ele nunca desconfiaria de mim.
— Se eu mostrar essa marca de chupão no seu pescoço, talvez ele acredite.
— Você acha que eu não transo com meu marido também, garota?
Eca. Verdade. Eles também transam.
— Você é completamente suja e eu vou contar para seu marido que encontrei você...
Antes que eu completasse a frase, escutei o barulho de uma chave girando na porta da sala. Acho que a Sra. Delawicz também escutou, porque ela gelou e virou o rosto em direção à porta que ia para a sala. Depois voltou-se para mim.
— Distraia-o. Agora. Seja útil ou não vai ver um tostão o resto de sua vida e eu ainda vou achar algum motivo qualquer para processar você.
— VOCÊ O QUÊ?
As mãos dela foram para o meu pescoço e ela me prensou com força contra a parede.
— Aja diferente ou qualquer coisa que eu acabo com você e todos que você se importa. Leve ele para a cozinha que vou tirar Mason pela sala.
Ela soltou-me, arrumou seu robe e lançou-me um sorriso maldoso antes de sair correndo de volta para o quarto. Pisquei algumas vezes, em choque. Depois escutei o rangido da porta e voltei para mim mesma.
Tudo bem, . Só levar ele para a cozinha. Tudo bem.
Corri para a sala no exato segundo que Edgar entrou, segurando cada um de seus filhos pelas mãos. Ele estava rindo e parecia satisfeito com a vida que tinha. E lá estava eu, sabendo um segredo que poderia destruir a vida perfeita dele e de seus filhos.
Meu Deus, seus filhos. O que seriam deles se os pais se divorciassem? Eles nunca viam a mãe, imagina se acabassem indo morar com ela? Senhor, pobrezinhos.
— ? Está tudo bem? – Edgar me perguntou, soltando a mão de Theodoro, que correu até mim e abraçou-me pelos joelhos.
— Ah... Sim, sim. Claro. Mas, preciso que você cheque para mim uma coisa na cozinha... Acho que o gás está ligado... Vazando... Não sei. E-eu...
— O que é esse vaso quebrado? – Edgar indagou após olhar por cima de meu ombro, mas depois voltou-se para mim com um leve sorriso quando dei ombros, sem conseguir responder mais nada. - Vamos ver esse gás, então.
— Por favor. – Suspirei pesarosamente, mas se ele notou, não se deu ao trabalho de demonstrar.
Quando Edgar entrou na cozinha com as crianças, eu imediatamente ofereci alguma coisa para que eles bebessem. Peguei um copo de vidro, servi Edgar com um pouco de água e ele bebeu enquanto procurava ao redor da cozinha por alguma coisa de gás aberta. Prendi Theo e Anna em suas cadeiras altas e coloquei na frente de cada um uma tigela de cereal com leite.
— Não acho que tenha nada aberto mas... Amor! – Edgar começou a dizer e se interrompeu, abrindo um sorriso de matar para o monstro que estava atrás de mim.
Quando me virei percebi que a Sra. Delawicz já havia se recuperado de sua brincadeira de pular a cerca. Ela já havia colocado um vestido azul e prendido seus fios morenos em um rabo de cavalo. Ela sorriu na direção do marido, andou até ele e o abraçou afavelmente, quase me fazendo vomitar ali mesmo.
Vadia falsa. Judas dos infernos.
— Ah... Senhor Delawicz... – Limpei minha garganta enquanto limpava o rosto sujo de Theo com um pano. O menino sorriu para mim e pegou o pano para limpar a mesa que antes estava sua tigelinha.
— Não, Theo. A mesa está limpa. – Edgar disse e depois continuou. – Pode falar, .
— Eu queria saber se podia ir embora mais cedo. O dia foi... Estressante, para mim.
Antes que Edgar respondesse, sua cobra de estimação, quer dizer, esposa - disse:
— Ah, por favor! Nós entendemos! Descanse hoje e ainda receberá seu salario normal, já que eu tenho certeza que você fez um esforço grande para chegar aqui.
Eu podia sentir o veneno dela em minha veia. Mas simplesmente sorri e assenti. Coloquei seus filhos no chão e despedi-me deles. Theo particularmente ficou triste, mas Anna simplesmente balançou a cabeça em concordância quando eu disse que precisava ir para casa dormir.
Peguei minha bolsa e saí de lá o mais rápido possível. Cheguei a ver Maria Sofía do outro lado da rua com compras na mão, mas nem morta eu falaria com ela agora. Andei até o metro com pressa e quando cheguei em casa, vinte minutos depois, coloquei uma roupa confortável e me afundei no sofá.
— Saí, Muchu! – Falei fazendo gestos com as mãos para afastar o lagarto que estava próximo de mim e de minha bolsa.
Bolsa. Celular. Chuck. Sabendo já o que ia encontrar, não me incomodei em olhar quantas ligações perdidas tinham, simplesmente digitei o número dele que eu já sabia de cor.
— O quê aconteceu? – Ele atendeu no terceiro toque e eu podia ouvir algumas pessoas falando atrás dele.
— A Senhora Delawicz... – Hesitei, não era uma boa ideia contar para ele, era? – Estava na casa e não gostou de me ver no telefone. Já estou em casa.
— Como assim? Você foi despedida, ?
— Não, bobo. Só fui liberada mais cedo, você não quer vir para cá? – Perguntei enquanto abraçava meus joelhos e equilibrava o celular entre meu ombro e meu ouvido.
— Tenho que terminar umas coisinhas antes de ir, estou em reunião. Mas depois vou para aí.
— Ok, só tocar o interfone.
Desliguei o celular e remexi no controle da TV por vinte minutos, vendo o que estava passando, mas nada chamando minha atenção o suficiente. Que merda. Que merda tudo. Minha mente estava exausta e precisava relaxar urgentemente.
As imagens da Sra. Delawicz se atacando com o tal Mason na sala haviam voltado para assombrar minha mente. O marido dela era tão bom com ela... Como ela podia ser tão vadia? Eu precisava contar para Edgar dela, certo? É burrice ficar escondendo isso dele, porque no dia que ele descobrir, vai sobrar para mim. E pros filhos dele. Mulher escrota. Nojentinha. Filha da puta.
Deitei no sofá, deixando a TV ligada e encarando ela, mesmo com minha mente em um branco total e nem percebi quando caí em um sono profundo. Meu sonho teve a ver com , Edgar e Maria Sofía, acho que lembro de que estávamos todos navegando em um barco a vela e cantando músicas de ninar como as que Theo e Anna me faziam escutar quando um barulho interrompeu meu sonho.
— PREM PREM PREM.
Saltei em susto com o interfone e me arrastei para fora do sofá somente para apertar o botão para liberar a portaria e depois, imediatamente me plantei na frente de minha porta. Quando escutei passos no corredor, dois minutos depois, abri a porta e lá estava meu inglês, lindo como sempre.
— Olá. – Ele sorriu. – Desculpa a demora de três horas. Foi uma longa reunião.
— Tudo bem... – Murmurei. Ele demorou tudo isso?
Fechei a porta atrás de mim.
— Onde está ? – Ele perguntou pegando minha mão, para nos levar até o quarto.
— Provavelmente saiu com alguém e temos tempo para nós. Jules não vai chegar até de madrugada.
— Não queremos ser pegos, não é? – Ele deu um sorriso malicioso.
Chuck abriu a porta de meu quarto e antes que eu sequer pudesse pisar dentro do cômodo, ele já estava me beijando. Nossas línguas se entrelaçando e brincando entre si enquanto as mãos dele passeavam felizes por minha bunda, apertando-a e segurando-a com força.
— Vamos nos desfazer dessa blusa. – Murmurei nos lábios dele entre um beijo.
Chuck riu e me soltou, segurou meu rosto novamente e franziu a testa ao olhar para meus olhos. Eu sabia o que ele estava vendo: Minha mente estava a mil e transar agora não era uma boa ideia, apesar do que eu estava falando. Mas ele aparentemente ignorou o que viu, porque sorriu um pouco e respondeu:
— Tudo bem.
Ele tirou sua blusa sem delonga e me puxou para outro beijo. Dessa vez eu envolvi sua cintura com minhas pernas em um pulo e ele andou em direção à minha cama, caindo sobre ela logo em seguida, de costas. Ajeitei meu corpo sobre o dele e comecei a distribuir beijos por toda a extensão de sua barriga, mas quando cheguei perto de seu cinto e comecei a tirá-lo, Chuck me parou e puxou-me para olhar meu rosto.
— Pare, . Você não está com cabeça para isso, não precisamos transar.
— Mesmo? Eu quero transar. – Perguntei fazendo bico.
— Sei que deve, mas nada como ficar deitado na cama conversando. – Ele colocou uma mecha de cabelo minha trás da orelha, seus olhos azuis queimando sobre meu rosto.
Ele me tirou de seu colo e derrubou-me para o lado, deixando minha cabeça sobre seu peitoral nu enquanto suas mãos me abraçavam pela cintura. Eu podia escutar as batidas de seu coração de modo constante e calmo. Minha perna estava enroscada na sua, meu pé fazendo um movimento leve em cima de sua calça.
— Acho que vou ser demitida daqui a pouco. – Falei, alguns minutos em silêncio depois.
— Por quê?
— Porque eu vi algo que não deveria ter visto. E acho que a Sra. Delawicz já nunca gostou de mim, imagina agora.
— Duvido que você vá ser demitida. As crianças gostam de você e a Maria Sofía também, não acho que uma rixa vá mudar alguma coisa.
Chuck meu querido, você não tem noção da lambança que eu entrei no meio.
— Não deixe isso consumir sua cabeça, .
— Não tem nada me consumindo. – Resmunguei, teimosa.
— Ah, tem sim. Você está preocupada em ser demitida e não ter ninguém para cuidar das crianças. Está preocupada com o dinheiro do aluguel e provavelmente achando que a culpa é sua por seja lá o que você viu.
— Droga! – Reclamei, sentando na cama. Chuck soltou-me de vez e colocou os dois braços atrás da cabeça, um sorriso glorioso de quem está certo surgindo em seus lábios. – Como que você sabe dessas coisas?
— Bom, você estava quieta. E você fala pelos cotovelos.
— Não falo, não. – Fiz careta e ele riu. – fala.
— Ah, comigo você fala.
— Tá se achando o rei da cocada preta, hein! - Falei dando um tapa fraco no estômago dele.
Chuck fez uma careta, se contorceu sobre o estômago e fez um gemido de dor.
— Ai! Desculpa!
Alguns segundos depois, Chuck voltou-se para mim gargalhando, sem um pingo de dor em seu rosto.
— Você cai direitinho! – Ele ainda estava gargalhando quando puxou meu pescoço para baixo e deu um beijo esmagador em meus lábios.
Senti uma onda de vingança passar por mim.
— Ai ai ai! – Gritei, debatendo-me contra ele, que me soltou imediatamente em um susto. Eu pulei para fora da cama, segurando meu pescoço com ambas as mãos como se estivesse com dor e sai do quarto rapidamente. Como eu sou má, meu Deus.
Corri para dentro do banheiro e fechei a porta atrás de mim, trancando-a rapidamente. Contei três segundos e batidas fortes foram de encontro à porta. A voz de Chuck soando desesperada do outro lado:
— ? Que quê foi? Eu te machuquei? – Ele bateu novamente na porta. – , abre essa porta, por favor.
Coloquei a mão sobre minha boca para evitar gargalhar e respirei fundo antes de abrir a porta e passar voando ao lado dele, indo em passos rápidos para a cozinha. Foi o tempo de eu chegar perto da porta que sua mão segurou minha blusa e me puxou para trás, em seguida outra envolveu meu rosto e levantou o mesmo.
Eu ergui meu olhar com um sorriso malicioso e Charles imediatamente percebeu, seus olhos azuis preocupados se suavizando nitidamente.
— AH, MAS QUE FILHA DA PUTA. – Ele gritou e agarrou minha cintura, fazendo cócegas por toda ela e me deixando sem ar. – Você está muito morta!
— Nã...
Antes que eu terminasse a palavra eu já estava tendo outro ataque de riso, lutando contra os braços musculosos dele que insistiam em apertar minhas costelas. Quando consegui escapar, corri que nem criança pela casa inteira, subindo no sofá e sendo perseguida por Chuck.
Quando atravessei o corredor pela terceira vez, olhei para trás e tive uma visão diferente de tudo que já havia visto. Era de Charles, sem blusa e com o cabelo bagunçado, rindo enquanto corria trás de mim. Os olhos azuis brilhando como nunca debaixo da luz fraca do corredor. E um pensamento saltou em minha mente: E se ele estiver apaixonado?
Voltei a correr, ainda atordoada pelo homem que havia visto e confusa com minha própria mente. Eu não estava apaixonada, disso eu tinha certeza. Não mais ou se eu sequer havia ficado em algum momento - depois do hospital – não havia mais o mesmo sentimento. Talvez muito tesão. Talvez uma admiração por ele ser um homem tão bonzinho, mas.... Não era o que eu queria de verdade. Procurava, sei lá.
Finalmente, quando trombamos um com o outro e caímos no chão gelado da sala, pude ver o suor escorrendo pela testa de Chuck e sentir meus músculos reclamando pelo repentino exercício físico – que eu duvido que ele estivesse sentindo isso também. Meu diafragma doía embaixo de minhas costelas, meu ar faltando e o coração bombeando tanto que podia senti-lo em meu pescoço.
— Eu acho que não corro assim a dias. – Chuck disse, ainda recuperando o ar de sua risada.
— E você acha que eu faço maratonas todo fim de semana?
— Claramente não, já que você perdeu a corrida diversas vezes. Só deixei você escapar até agora porque tive dó.
— CHARLES BEWAY, EU GANHEI DE VOCÊ DE LAVADA.
— Eu deixei você ganhar. – Ele riu e virou sua cabeça em minha direção, passando seu polegar por minha maça do rosto. O pensamento sobre o que ele estaria sentindo voltou a minha mente e eu fiquei desconfortável.
Resolvi mudar de assunto, para uma coisa segura, que eu sabia que não envolveria assunto sobre sentimentos. Aliás, não envolveria assunto nenhum.
— Isso me lembra que estou com algo pendente com você. - Um sorriso sacana cresceu em meus lábios e em um movimento rápido, joguei meu corpo sobre o dele.
— Mereço receber o dobro por ter deixado você ganhar agora há pouco. – Ele murmurou aproximando seu rosto do meu.
Antes que Charles conseguisse me beijar, levantei meu corpo do chão e ele me olhou desapontado. Ofereci minha mão para ajudá-lo a levantar, quando ele o fez eu imediatamente o empurrei contra a parede do corredor e puxei seu pescoço para baixo, iniciando um beijo violento entre nós.
As mãos de Chuck simplesmente não brincavam em serviço e foram instantaneamente para minha bunda, pressionando mais ainda meu corpo contra o dele. Ele inverteu nossas posições, jogando-me contra a parede – o ar escapando de meus pulmões - e puxando pelo joelho uma de minhas pernas para seu quadril.
Minhas mãos desceram por toda sua barriga enquanto nos beijávamos e chegaram até o cós da calça. Retirei seu cinto habilmente e Chuck livrou-se da calça, chutando-a para o lado com o pé enquanto beijava meu pescoço, suas mãos segurando minha cintura com firmeza. Meus dedos brincaram com a borda da cueca dele e em seguida, sobre o tecido dela, acariciei seu membro devagar, fazendo-o soltar gemidos durante seus beijos.
Seu membro latejava quando abaixei sua cueca e pude segurá-lo em minhas mãos, fazendo uma pressão delicada sobre o mesmo enquanto o acariciava lentamente em um movimento de sobe desce, passando meu dedão sobre sua glande e vendo os ombros de Chuck relaxarem com o movimento. Satisfeita comigo mesma, agachei-me de joelhos na sua frente e ele imediatamente colocou as mãos em meu cabelo, entrelaçando seus dedos com força em meus fios loiros. Segurei seu membro pela base e comecei a lambê-lo lentamente, distribuindo beijos molhados por toda sua extensão para depois começar a sugá-lo aos poucos.
— Ah, . . – A voz dele gemia, fazendo-me querer dar mais prazer para ele.
Comecei engolindo somente a cabeça de seu pênis, depois tirando a boca, massageando-o com a mão e voltando com a boca, engolindo um pouco mais. Toda fez que eu o fazia, o quadril de Chuck se movia em minha direção com um impulso inconsciente e eu sabia que estava dando uma das melhores noites da vida dele. Quando não havia mais o que engolir, segurei suas coxas com força, enfiando minhas unhas em sua pele e comecei um movimento de vai-e-volta constante em seu membro, quase engasgando em diversas vezes devido ao seu volume assustador.
— Eu...Não aguento... Mais. – Chuck sussurrou, a voz rouca e a respiração arfante.
Chuck, com a cabeça inclinada para trás, moveu seu quadril para frente violentamente e gemeu quando chegou em seu ápice. Eu me mantive firme onde estava, engolindo todo seu orgasmo. Depois retirei minha boca e levantei-me, sentindo meus joelhos reclamarem pelo tempo na posição. Imediatamente, fui recebida por um beijo, a língua de Chuck entrelaçando-se na minha e suas mãos segurando-me firmemente pela cintura, seus dedos começando a puxar o tecido de minha blusa para cima.
Mas assim que minha blusa subiu até a altura de meu sutiã, a porta da sala se abriu.
Afastei-me bruscamente de Chuck, empurrando-o contra a porta e ele imediatamente colocou seu membro para dentro da cueca novamente, puxando-a para cima. Eu o empurrei em direção ao banheiro rapidamente, fechando a porta entre nós e fazendo um gesto com o dedo indicador sobre meus lábios, que tenho certeza que estavam inchados e vermelhos.
— , não era combinado que as roupas dos seus caras ficariam jogadas somente dentro dos qu... – Era a voz de Jules e ela surgiu no corredor, a saia longa verde arrastando no chão e seus olhos encarando a calça de Chuck jogada lá. – ?
Ela pareceu genuinamente espantada pelo feito ter sido meu.
— Ah. Oi. – Sorri amarelo.
— Senhor, que os chácaras purifiquem a alma de você e do inglês, seus pecaminosos. – Ela murmurou e segui o corredor para dentro do quarto da iguana.
Fiquei estática, em choque demais por ter sido pega com a boca na botija. Ou pelo menos, segundos depois disso. Depois ela voltou com duas velas na mão e sorriu para mim tranquilamente, como se já não estivesse brava.
— Vou ficar fora essa noite, tenho esperança de fazer o mesmo programa... Que você. E vou fingir que não vi nada, pode deixar. – Ela disse e sumiu de minha visão. – Vou rezar por suas almas! – Gritou por fim e eu somente escutei a porta da casa fechar-se.
Então a do banheiro abriu-se e Chuck apareceu, um sorriso se alastrando pelo rosto e depois se transformando em uma gargalhada.
— Por que as pessoas sempre nos encontram nessas horas? – Falei, levemente irritada.
Qual é, era a segunda vez. Que porra de carma.
— Relaxa, Marcus nem lembra do nosso primeiro encontro e Jules com certeza vai estar fumada o suficiente daqui meia hora para lembrar-se também.
— Mas nós definitivamente precisamos de planos para nos esconder. – Falei afastando-me e pegando a calça dele do chão para levar até o quarto.
Entrei, joguei a calça no chão e quando virei-me, a luz do quarto apagou-se e o corpo de Chuck chocou-se contra o meu, uma de suas mãos segurando minha bunda instantaneamente e a outra no meu rosto.
A única luz dentro do quarto era a vinda da rua pela janela, tão fraca que eu somente podia reconhecer os olhos azuis luminosos de Chuck e os traços de seu corpo. Nós andamos em silencio até a ponta da cama e paramos quando a parte de trás de meus joelhos encostaram na madeira. O dedão da mão que segurava meu rosto traçou o formato de meus lábios inchados e os olhos de Chuck estavam vidrados sobre eles. Coloquei minhas mãos ao redor de seu pescoço e seus olhos se voltaram para mim, cheios de prazer. E sem uma palavra, voltamos a nos beijar.
Eu não sabia o que esperar do apartamento de Tyler. Para ser muito sincera, eu simplesmente não havia pensado nisso e somente me concentrei no fato de que estava congelando na rua e precisava urgentemente de um aquecedor. Então quando chegamos em frente ao Chelsea Park, num prédio entre a 28th e a 10th, não reparei de primeira em seus 10 andares, em sua largura de uns seis apartamentos por andar, ou em suas portas de vidro rolantes. Não vi sua cor, não vi nada. Só seu aquecedor.
Uma vez dentro do hall, pude parar de ficar dando mini pulinhos para me aquecer. E foi aí que eu comecei a ficar ansiosa.
Tyler chamou o elevador e começou a vasculhar os bolsos com a maior calma do mundo a procura das chaves. Fiquei observando-o por alguns segundos, até que seus olhos negros encontraram os meus e eu desviei-os para minhas unhas, uma vez que as luvas já estavam em meus bolsos.
O barulho das portas do elevador me fizeram suspirar aliviada, entramos e o silêncio durou mais do que eu queria, porque ele morava no maldito décimo andar, o último. Chegamos ao topo mais devagar do que eu desejava.
— É por esse lado. — Ele disse enquanto virava à esquerda.
Segui-o lentamente e esperei pacientemente que ele abrisse a porta do apartamento. Entrei e fiquei parada ali por algum tempo. Tyler foi para seu quarto fazer sei lá o quê e eu fiquei observando seu apartamento por um tempo.
Parecia um loft, bem moderno, com uma cozinha à minha esquerda em uma madeira escura e lisa, com vários eletrodomésticos em aço inox, uma bancada de madeira também que dividia a cozinha com a sala de estar, a qual possuía dois sofás pretos de couro e uma televisão enorme na parede. À minha direita estava o corredor claro e comprido para os quartos, provavelmente. Tyler não me chamou, mas eu o segui mesmo assim após minhas analises.
Com três portas, uma no início do corredor à direita aberta que dava para um mini escritório, uma à esquerda um pouco mais à frente que estava fechada (que eu internamente deseja não ser o Quarto Vermelho da Dor) e a do final do corredor que estava aberta e eu podia ver a ponta de sua cama e seu armário encostado na parede direita.
Tyler apareceu na porta de seu quarto, agora sem camisa, usando somente calças de pijama e chinelos. Fiquei observando seu peitoral e braços e todos aqueles quadradinhos intensamente, lembrando-me de quando eu passei as mãos por tudo aquilo, deixando rastros vermelhos com minhas unhas, enquanto eu sentia sua respiração quente contra meu pescoço e eu revirava os olhos...
— ?
Demorei alguns segundos para perceber que eu estava mordendo meu lábio e encarando seu corpo seminu por mais tempo do que deveria. Soltei meu lábio inferior e tossi, olhando para baixo, então para ele:
— Desculpa, o quê?
— Pizza, . Pizza.
— Ah.
— Calabresa?
— Parece delicioso. A. DeliciosA.
Tyler riu e me fitou com aqueles olhos negros intensos.
Foco, , foco. Pensa no Jace com quem você vai sair no fim de semana. Ok, péssima ideia, eca, credo, não tenho e nem terei laço afetivo nenhum com o Jace. Então... Pensa no... Pensa em hambúrgueres. Não, eles são deliciosos também. Pensa em... PENSA NO MUCHU. Isso, pensa no Muchu.
Tyler andou até mim lentamente, sedutoramente, fazendo com que Muchu começasse a sumir de minha mente, mas me agarrei ao rabo daquele lagarto maldito com todas as minhas forças para não ceder. Não iria dar o braço a torcer e acabar com o meu combinado com o Tyler. Não iria contra minha palavra, não iria desistir da minha teoria de que isso iria dar merda.
Quando percebi que deveria me afastar, ele já estava à minha frente. Perigosamente perto. Perigosamente pousando as mãos em minha cintura. Encostou nossas testas e eu fechei meus olhos. Minha mente gritava: EMPURRA ELE, IDIOTA. Mas meu corpo gritava: ME FODE, TYLER. Então eu estava no meio de um grande dilema.
Eu podia sentir seu calor emanar, as faíscas que percorriam o mínimo espaço entre nós, a química entre nossos corpos praticamente gritava para que nos uníssemos.
— Vou pedir a pizza, então. — Ele sussurrou e me soltou.
E eu fiquei ali. Parada.
Com a maior cara de tacho da face da terra.
Enquanto aquele desgraçado ria e andava com a maior pose de maioral até sua cozinha, exibindo aquele corpo nu também conhecido como pedaço de mal caminho.
Simplesmente me deixou ali, louquinha pra dar.
Eu demorei no mínimo uns quinze segundos para assimilar tudo. Meu queixo estava caído e minha indignação transbordava. Como ele ousava fazer algo assim comigo?
— Eu. Não. Acredito. Que. Você. Fez. Isso.
Ele riu ao telefone, terminando o pedido, quando eu finalmente saí do estado de choque e fui andando até ele, furiosa, apontando o dedo para ele.
— Como assim você para de falar comigo sem mais nem menos, não corre atrás de mim, depois me trás para o seu apartamento e fica achando que pode me provocar?
— Eu não fiz nada, eu só estava perto de você.
— Foda-se!!!! Perto demais para o meu autocontrole! Argh, Tyler, você é um idiota, sabia?
A esse ponto, eu já estava na frente dele, gritando e apontando o dedo a dois centímetros do nariz dele, enquanto ele tentava não rir.
— Calma, .
Tirei meu gorro roxo e o joguei nele.
— CALMA O CARALHO! Você é um babaca estúpido, eu te odeio, te odeio com todas as minhas forças! Eu nem devia ter vindo atrás de você, seu... ARGH! Eu não queria nada com você, NADA. Aí você vem correr atrás de mim com esse papo de amigos coloridos e a porra toda, só pra fuder com a minha cabeça!
Tyler permaneceu quieto, enquanto eu andava de um lado para o outro gritando.
— Depois eu falo que não vamos mais transar e você fala que tudo bem, mas aí do nada, eu perco o interesse pra você? Aí EU que tenho que correr atrás da princesa! Seu energúmeno! Você não pode me tratar assim, eu sou sua melhor amiga e provavelmente a única que você vai ter pro resto da vida, você tem noção como relações como a nossa são raras? E você fica aí, tentando me provocar, me fazendo correr atrás, ISSO NÃO É UM RELACIONAMENTO! Somos amigos e só, porra! Para de tentar fuder o que a gente tem!
Bufei alto e parei de andar.
Tyler me encarava meio confuso e tentando segurar o riso, o que me deixou mais irritada:
— QUE FOI, PORRA?
— Você está falando português. Eu não entendi nem 1% do que você disse.
— Ah. Merda.
Passei as mãos pelo rosto e suspirei alto. Eu esqueci que começava a falar português quando irritada. Droga.
— Mas eu percebi que você me xingou. Algumas vezes.
Voltei a falar inglês:
— É, mais ou menos por aí.
— Quer repetir em inglês?
— Não. Você entendeu. Se não entendeu, depois procura no dicionário. Para de fuder com a minha cabeça. Para de fuder com a nossa amizade. Não vamos ficar.
— Ok.
— E não quero mais você indiferente porque não te dou mais sexo. Sou sua melhor amiga, sou mais importante que sua mãe. E nunca mais espere que eu corra atrás de você.
— Ok.
— E para de responder ok.
— O... Tudo bem.
Revirei os olhos e tirei os casacos, ficando com calor depois de andar de um lado para o outro e gritar que nem louca. Bufei novamente e revirei o cachecol. Tyler me observava discretamente enquanto pegava cervejas na geladeira. Retirei as botas de salto e fiquei de meia mesmo.
Fui até o sofá e sentei-me folgadamente, pegando o controle remoto ao meu lado e ligando a televisão. Tyler sentou-se ao meu lado, ainda usando somente a calça do pijama, mas eu estava irritada demais para reparar em seus músculos definidos.
Peguei a cerveja que ele me entregou e a abri com ajuda da barra da camiseta, depois tomando alguns goles. Não sabia exatamente porque estava tomando, já que eu detesto cerveja, mas era álcool, né. Então tava valendo.
— O que quer assistir?
— Sei lá. Tem filme aí?
— Tenho uns de ação, uns documentários, Criminal Minds...
— Criminal Minds.
Ele levantou e colocou o primeiro DVD da oitava temporada pra rodar. Bebi mais alguns goles da cerveja e nem precisei pedir, Tyler já estava com outra estendida para mim. Batemos os gargalos das garrafas como em um brinde e bebemos. O episódio começou e nós começamos a comentar sobre ele, ao acaso, enquanto a pizza não chegava.
— Aposto que o serial killer é mulher.
— Não é não, já assisti esse episódio. — Ele comentou casualmente enquanto bebia um gole de sua terceira cerveja.
— Tyler, se você já assistiu, CALA A BOCA.
Rindo, ele se levantou para atender a campainha, que para a alegria do meu estômago, era o entregador de pizza. Ele pagou e voltou com a pizza. Sentamo-nos no chão para não sujar o sofá e continuamos a assistir enquanto comíamos com as mãos mesmo.
O episódio acabou e o serial killer infelizmente não era uma mulher. Foi uma grande surpresa pra mim, sabe. Porque ninguém me contou. Nem me falou quem era o serial killer. E onde os corpos estavam escondidos. Magina. Foi tudo uma grande surpresa.
Ajudei Tyler a levar as garrafas para a cozinha, junto com a caixa de pizza e sentei na bancada da cozinha depois, lambendo meus dedos engordurados. Tyler parou à minha frente e apoiou as mãos em minhas coxas. Elevei as sobrancelhas, pronta para brigar com ele, quando ele simplesmente me abraçou.
Fiquei estática por um tempo, não por ser uma vadia sem coração (tá, em parte sim), mas porque Tyler não é o tipo de homem que você espera que te abrace. Somos amigos, melhores amigos para ser sincera, mas eu não esperava por essa.
Mesmo assim, correspondi o abraço, passando minhas mãos por seu tronco largo e apoiando minha cabeça em seu ombro. Depois de alguns segundos, começou a parar de ser estranho e passou a ser somente... Confortável. Caloroso. Aconchegante. Totalmente diferente do nosso abraço no hospital, quando estava dopada na cama ao nosso lado.
Não sei quanto tempo ficamos assim. Mas eu poderia ficar abraçada com Tyler por muito tempo, porque de fato era gostoso abraçá-lo, por mais gay e estranho que isso soasse. Mesmo com ele no meio de minhas pernas e com seu corpo seminu próximo demais ao meu, eu consegui não pensar besteira. Eu somente pensei que estávamos em paz novamente. E, que de um jeito muito estranho, eu me sentia segura nos braços dele.
’s POV.
Acordei sendo esmagada embaixo de um braço musculoso. E imediatamente me revirei na cama, pronta para dar um murro em , somente para lembrar que não é musculosa e nem havia dormido comigo. Charles, sim.
Pisquei, desorientada com a luz que entrava pela janela e sentei-me na cama, puxando o lençol junto comigo ao redor de meus peitos – apesar de estar de calcinha, eu não havia colocado sutiã - somente para perceber que havia descoberto Chuck, deitado de bruços ao meu lado, o braço musculoso sobre meu colo. Ele estava de cueca, sua respiração era calma e profunda enquanto dormia.
Soltei-me de seu braço com cuidado e levantei da cama andando com as pontas dos pés pelo quarto até o armário, onde peguei um shorts e uma blusa branca, a qual vesti logo depois de arranjar um novo sutiã – não faço ideia de onde foi parar o de ontem. Sai do quarto sem fechar a porta e entrei no banheiro.
Olhei para minha situação crítica. Meu rímel havia manchado meus olhos, minha boca ainda estava levemente vermelha e havia pelo menos três leves marcas de chupões em meu pescoço. Tentei me lembrar em qual dos cinco rounds de ontem Chuck havia deixado tais marcas, mas não pude chegar a uma conclusão. Lavei meu rosto e escovei os dentes, penteei o cabelo embaraçado, até deixá-lo sem nós e solto em ondas sobre meus ombros. Fui até a cozinha e preparei dois cafés, deixando-os esfriar sobre a bancada enquanto saltitei até o quarto e pulei sobre a cama.
— Bom dia! – Gritei no ouvido de Chuck, dando-lhe um tapa no ombro e deitando-me ao seu lado.
O braço musculoso de Chuck envolveu minha cintura novamente e eu sabia que ele estava meio consciente enquanto eu pedia mais uma vez para ele acordar, apesar de seus olhos se manterem fechados.
— Levaaaaaaaaanta. – Insisti, passando as unhas sobre os músculos de seu braço ao meu redor e um meio sorriso surgiu no rosto dele. – Vamos seu loiro. Acordando!
Charles abriu os olhos e piscou algumas vezes, esfregando-os com a outra mão antes de se acostumar com a luz e abri-los completamente, ele sentou-se lentamente e estalou o pescoço antes de começar a se espreguiçar e olhar para mim. Senti uma pontada de inveja por causa de sua íris azul clara, mas eu sorri satisfeita por ele ter acordado.
— Meu Deus, mulher. – Ele bocejou. – Você não ficou cansada de ontem, não?
— Mais ou menos. – Respondi dando um longo selinho em seus lábios e depois me afastando, levantei da cama e estendi a mão para ele.
— Levante esse traseiro loiro daí e vamos tomar nosso café.
Chuck ergueu a sobrancelha mas o fez, pegando sua calça e passando no banheiro para fazer sua higiene pessoal antes de ir para cozinha atrás de mim. Eu estava na metade de meu café, segurando uma revista cheia de assuntos como “Como fazer suas velas durarem mais”, “100 motivos para seguir os ditados do Yin-Yang” ou “5 maneiras de fazer seu mantra funcionar” e sem realmente ler nada além de folheá-la, quando ele voltou e depositou um beijo no topo de minha testa, antes de pegar sua xícara.
— O quê você está lendo? – Chuck perguntou enquanto mordia uma torrada.
— Acredite em mim. – Falei fechando a revista de Jules e colocando-a de lado. – Nada de interessante.
— Bom, são onze horas da manhã e o jornal já deve ter chego. Quer que eu vá buscá-lo para você? – Ele perguntou com os cabelos loiros desarrumados, o peitoral definido nu e a calça do terno dando-lhe um charme incrível.
Mas e daí? Tinha alguma coisa além de charme que eu gostava?
— ? – Ele chamou, sua testa franzida. – Por que você está me encarando de testa franzida?
— E-eu? Franzida? – Imediatamente forcei um sorriso. – Nada não. Impressão sua.
— Ok. Você acha q... – Antes que Chuck pudesse continuar sua frase um toque estridente de celular veio de cima da mesinha da sala e eu sabia que era o celular dele. – Já venho.
E enquanto ele saiu para atender a ligação, eu fui atrás de meu celular pessoal e do blackberry de trabalho. Achei-os com uma mensagem de , de Jules e de meu chefe. A de Edgar dizia: “Não precisa vir hoje, vou passar o dia saindo com as crianças. Minha esposa foi viajar novamente”.
Viajar, sei. Aham.
Mas respondi um: “Ok, tenham um bom dia. Até amanhã.” A de Jules dizia: “Sua alma está purificada, fique tranquila”. Ignorei-a.
E a de dizia “Vou dormir no Tyler, beijos e vê se fica com o inglês essa noite. A casa é toda sua”. Respondi minha melhor amiga com uma mensagem que dizia mais ou menos assim: “QUÊ? COMO É QUE É? Você tem muitas explicações para dar quando chegar em casa, mocinha”.
Soltei os telefones sobre a bancada e voltei o olhar para Chuck, que gesticulava impacientemente enquanto falava, perto da janela da sala. Eu aproximei-me sorrateiramente e sentei no sofá como quem não quer nada da vida – mas querendo escutar a conversa – e fiquei fingindo analisar minhas unhas enquanto ele andava para lá e para cá no cômodo.
— Não, eu posso chegar ai amanhã.... – Ele ficou quieto, escutando uma resposta. – Não. Porque eu preciso... Eu sei.
Completamente esquecida de fingir não prestar atenção, eu encarava atentamente Chuck falar no telefone, sua testa franzindo-se enquanto falava.
— Tudo bem. Vou ver... – Chuck olhou para mim e desviei meu olhar rapidamente. – Tá certo, pai. Tchau.
PAI?
Continuei com o olhar desviado até Chuck juntar-se a mim no sofá e colocar seu braço em minha cintura, puxando-me para perto dele e enterrando seu rosto em meu pescoço.
— É... – Suspirei, desconfortável. - Tá tudo bem?
— Tá. Ele só quer que eu vá para Londres.
— Bom, tudo bem. É só pegar um avião e ir. Você vai quando?
— Sexta. Mas vou ter que passar a semana no escritório tendo conferências. Inclusive hoje, provavelmente. – Ele murmurou contra meu pescoço.
— Ah.
— “Ah”? – Ele me imitou e afastou seu rosto de mim, para poder olhar em meus olhos. Desviei-me dos mesmos. - Só isso?
— Só, ué. O quê você queria que eu falasse?
— Alguma coisa diferente de “ah”. – Ele respondeu enquanto eu me soltei de seus braços e levantei do sofá.
Andei até as canecas de café e coloquei-as dentro da pia, procurando o sabão para lavá-las e enquanto o fiz, vi Chuck aproximar-se da bancada com minha visão periférica. Ele segurou meu blackberry de trabalho entre as mãos e suspirou pesadamente.
— Seu chefe respondeu “Até”. – Constatou, colocando o celular de lado de novo.
— Obrigada. – Respondi e enchi a esponja de sabão líquido.
Estiquei minha mão para dentro da pia para pegar as xícaras, mas fui parada pelas mãos quentes de Chuck que seguraram as minhas, geladas.
— Você tá bem? - Perguntou, virando meu corpo delicadamente em sua direção, suas mãos ainda segurando as minhas.
— Sim.
— Tudo bem não poder ficar aqui hoje? – Ele franziu a testa, os olhos azuis vasculhando meu rosto. – Você quer que eu fiquei?
— Não precisa, você tem que trabalhar. – Dei ombros.
— Vai ser só uma semana.
— Eu sei. Tudo bem. – Olhei para cima, encontrando o olhar dele sobre mim.
—Não queria ficar longe de você. – Ele murmurou, fitando meus lábios. – Queria poder passar o dia agarrado nesses cabelos loiros e beijando esses lábios.
— Mas...
— Mas são reuniões importantes. – Ele aproximou mais ainda seu corpo do meu, segurando meu rosto entre suas mãos. – Você pode vir comigo se quiser.
Não consegui resistir a tentação de simplesmente gargalhar.
— É sério. – Um sorriso brincou nos lábios dele. – São dois dias, você não vai trabalhar no fim de semana. Por que não? Eu trago você de volta segunda de manhã, antes do horário de seu trabalho.
— Charles. Seja racional, eu não posso largar tudo sexta e sair viajando com você para a Inglaterra. – Fiz uma pausa para suspirar. – Não dá.
Ia ser divertido, ok. Mas também não dá para falar que eu vivo em um conto de fadas ou que minha conta bancária é iluminada com moedas de ouro. Aliás, a única coisa que posso dizer é que tem teias de aranha nela.
— Dá sim. Por favor, pense no assunto. – Ele murmurou abaixando a cabeça e deixando os lábios a centímetros do meu. – Pense no quanto vai ser...
Antes que ele terminasse, juntei nossos lábios e ele sorriu no beijo, seus dedos saindo da lateral de meu rosto para entrelaçarem-se em meus cabelos, enquanto minhas mãos seguravam seu quadril. Meus lábios se abriram sob os dele e nós começamos um beijo calmo até eu conseguir empurrá-lo para trás e nos afastar.
— Você é muito persuasivo. Mas não dá, é muita idiotice.
Charles sorriu fraco e deu um longo selinho em mim, antes de sair da cozinha, com seu celular na mão e começar a fazer ligações para pessoas que se encarregariam em comprar sua passagem ainda para o dia. Lavei os pratos e arrumei a cozinha, quando meia hora depois Chuck apareceu já vestido com sua blusa social e as mãos nos bolsos da calça.
— Tenho que ir. Passar em casa, tomar banho e ficar a semana vivendo no escritório, tendo as conferências. Sexta-feira vou arrumar algumas coisas e ficar lá até ás 17h para ir para o aeroporto depois. Meu voo é às 18h.
Sorri.
— Ok. Boa viagem. – Falei indo em direção à porta.
Assim que abri a porta, Chuck que sorriu levemente, aproximou-se para dar um beijo e foi embora.
’s POV.
Acordei sem despertador algum e com uma leve dor de cabeça, perdida no tempo e no espaço. Enrosquei minhas pernas nuas nos lençóis confortáveis demais para serem os meus e rolei na cama, batendo de encontro com um corpo seminu e musculoso. Abri os olhos lentamente, dando de cara com o rosto sereno de Tyler, os cabelos negros atualmente mais compridos, bagunçados. Olhei ao meu redor enquanto me espreguiçava e me dei conta que estava no apartamento dele. Levantei o lençol e vi que eu usava uma samba canção dele e minha camiseta de ontem.
Sentei-me na beirada da cama, enquanto tentava assimilar o que era mais estranho, ter dormido na casa de Tyler, ou ter acordado na mesma cama que Tyler sem ter feito sexo com ele na noite anterior.
— Que horas são? — Ele sussurrou, sonolento, provavelmente tendo acordado com meus movimentos, que fizeram a cama balançar um pouco.
Forcei os olhos para enxergar o despertador.
— Onze horas.
Então eu dei um pulo da cama e quase desmaiei de tão tonta que fiquei por ter levantado rápido, caindo sobre o colchão de novo, enquanto xingava.
— Que foi? — Ty resmungou.
— Eu tenho que trabalhar, porra! — Levantei-me novamente, dessa vez conseguindo ficar de pé, achando minhas roupas sobre uma poltrona e entrando no banheiro de Tyler, trancando a porta.
Tomei uma ducha rápida, permaneci com a calcinha de ontem, coloquei o sutiã, a calça e saí do banheiro à procura de um par de meias e uma camisa dele ou algo que não fosse a minha blusa, já que esta estava amassada e cheirando à cerveja. Escolhi uma camisa social branca que ele provavelmente não usaria porque havia mais umas cinco ali, coloquei-a e dobrei as mangas, calcei meias brancas qualquer que ficaram enormes e fui para a sala.
Nesse meio tempo, Tyler havia levantado e usado o outro banheiro para lavar o rosto, colocado uma camiseta de algum time de futebol americano aleatório e estava na cozinha esperando a cafeteira terminar de fazer o nosso café. Fui até o sofá e peguei meu cachecol, vesti meu sobretudo e calcei as botas de salto que me matariam no trabalho hoje, mas não havia tempo nem dinheiro para arranjar outro sapato.
— Aqui, amor.
— Vai se fuder. — Respondi pegando a xícara de café que ele me ofereceu.
Tomei-o rapidamente, ignorando o queimar em minha garganta, devolvi a xícara para Tyler e lhe dei um beijo na bochecha, já com a bolsa e o gorro em mãos.
— Valeu, gatão. Depois a gente se fala.
Ele me deu um tapa na bunda que eu respondi com um dedo do meio, então eu saí do apartamento e corri feito uma desgraçada para a estação de metrô mais próxima, sabendo que mesmo assim eu teria que andar umas 10 quadras até o Planeta Hollywood e minha chefe iria me matar. Eu já havia faltado ontem para tirar as fotos, se eu faltasse hoje de novo, eu acabaria perdendo meu emprego de merda, mas eu realmente precisava dele, ainda mais que mesmo depositando meu salário, nossa conta ainda estava 300 dólares negativa e o aluguel tinha que ser pago na próxima semana. Belo presente de Natal, eu sei.
Quando finalmente cheguei ao restaurante, esse estava há exatos cinco minutos de abrir. Peguei meu uniforme reserva no armário, coloquei a camiseta, o avental, prendi o cabelo em um rabo de cavalo alto e passei uma maquiagem básica, afinal, eu não queria assustar os clientes.
Minha chefe não brigou comigo, o que foi um milagre, além do fato de ela estar sorridente, outro milagre. Ou, como eu gosto de chamar, uma boa noite de sexo.
Trabalhei que nem uma desgraçada até as 22h, quando eu cumpri meu horário que faltava e outra pessoa chegou para me substituir e ficar até as 3h. Coitadinho. Só que não. Voltei para casa sem sentir meus pés de tanto andar de um lado para o outro de salto, com a certeza de que poderia desfilar em qualquer lugar depois da quantidade de bandejas que consegui equilibrar sobre 12 cm.
Tyler me mandou uma mensagem, perguntando como havia sido o trabalho, a qual não pude responder porque AINDA estava sem crédito. Tinha que me lembrar de usar a gorjeta de hoje para recarregar o celular.
Jules ainda não havia chego, para o bem da nação, porque eu realmente não estava afim de ter que pular o colchão da hippie doida. estava na cozinha fazendo miojo, o qual ela aumentou a quantidade, assim que viu que eu cheguei em casa. Garota esperta.
— Como foi o trabalho, senhorita?
— Uma bosta. Dormi no Tyler e esqueci que tinha que trabalhar, não levei tênis. Nunca andei tanto de salto na minha vida. Não aguento mais meus pés.
— Bom, se você espera que eu ofereça uma massagem, esperou errado. Miojo é o máximo que eu posso te oferecer.
— Eu não poderia pedir coisa diferente disso. Vou me trocar, acha um filme pra gente.
— Ok.
Tomei uma ducha rápida, sem lavar os cabelos, coloquei uma calcinha limpa branca, calça de pijama vermelha com corações brancos, um moletom cinza da gap e pantufas do Tigrão. Prendi meu cabelo em um coque e segui para a sala, onde um pote de miojo me esperava.
— Você é uma linda, .
— Eu sei. Chuck me diz isso o tempo todo.
Ela começou a comer quando deu um pulo como se lembrasse de algo e quase derrubou o miojo em mim. Seria um desperdício.
— . EU PRECISO TE CONTAR.
— O quê, doida? — Respondi de boca cheia.
— Você precisa prometer que não vai contar pra ninguém.
— Poxa, eu tava querendo contar pro Muchu.
Ela fez uma cara feia e eu somente coloquei mais miojo na boca e prometi.
— Sabe meus chefes?
— Os Del Toro?
— Delawicz, , Delawicz. — Ela revirou os olhos. Ué, eu cheguei perto.
— Tá, o que que tem?
— Ontem eu fui trabalhar, como sempre, mas quando eu cheguei não tinha ninguém em casa, eu supus que eles tinham saído, sei lá! Eu fiquei na cozinha na minha, até que eu ouvi uns gemidos e vi um casal se agarrando, que por acaso quebrou um vaso no meio da pegação e foi parar no quarto principal. Como eu tava no telefone com o Chuck, desliguei na cara dele, até que eu ouvi a Sra. Delawicz gemer o nome Mason.
— Ué, o que que tem?
— , o nome do marido dela é Edgar.
— Porra! Que perua safada essa Del Toro hein. Mas você saiu de fininho e vai fazer de conta que não viu nada, né?
— Olha, eu ia sair de fininho, mas aí o Chuck me ligou e a Sra. Delawicz... — Ela frisou o nome da mulher - Ouviu e veio atrás de mim.
Ajeitei-me no sofá. Agora tava ficando interessante.
— Mas e aí? Ela te bateu? Você bateu nela? Ela te chamou pra participar da transa?
— Ai, caralho, .
— Ué, tô tentando quebrar o gelo!
— Mas a porra é essa! O gelo é a merda do iceberg do Titanic! Essa puta quase me enforcou na cozinha e me ameaçou de tudo quanto é coisa, mas não vai me demitir porque o marido dela gosta de mim e as crianças também e eu falei que conto se ela me demitir. Ok, ela praticamente riu da minha cara, mas aí o marido dela chegou em casa e a vagabunda me fez despistar ele.
— Porra, coitadinho do Edward.
— Edgar.
— Isso.
— Agora que essa perua descarregou esse segredo pra cima de mim, eu estou me sentindo culpada pra caralho. Como vou olhar na cara do Edgar?
— Não sei, , mas provavelmente com os olhos.
Não fiquei surpresa pelo tapa que tomei.
— E pra melhorar tudo isso, o Chuck parece estar ficando envolvido demais, apesar de ele dizer o contrário.
— Isso não é bom?
— Não sei! Você sabe que desde minha missão como Stalker eu não sinto mais a mesma coisa por ele.
Pensei na minha missão ontem à la Stalker. Deu muito mais certo do que a dela, coitadinha.
— Bom, então você começa a dar uns gelos nele.
— Eu tento, mas ele até me chamou pra ir pra Inglaterra com ele, fica toda hora olhando nos meus olhos e...
Pera.
Parou.
Rebobina.
Quê?
— ELE O QUE? PARA O MUNDO QUE EU QUERO DESCER, , ELE TE CHAMOU PRA IR PRA INGLATERRA E VOCÊ NÃO TÁ SE APAIXONANDO POR ELE? PORRA, ATÉ EU AMO ELE DEPOIS DESSA!
arregalou os olhos e me encarou como se eu fosse doida, sendo que ela é quem estava reclamando de ser convidada para uma viagem para Londres.
— Porra, , eu vou me sentir a maior aproveitadora indo pra lá com ele, ele que vai pagar tudo e...
— E ELE AINDA VAI PAGAR TUDO? EU VOU TE ESTAPEAR ATÉ A MARCA DA MINHA MÃO FICAR PERMANENTE EM VOCÊ, SUA RETARDADA!
— PARA COM ISSO, !
Parei de gritar e respirei fundo por alguns segundos.
— . . Fofa. Meu amorzinho. Me diz que você não deixou a loirice te consumir por completo e pensa racionalmente comigo.
— Vai se fuder.
— Também te amo. Mas esse não é o ponto. O ponto é que ele te chamou pra ir pra outro continente. Pra Inglaterra. Passar um fim de semana. Com tudo pago. Sabe quantas promoções eu participei tentando ganhar isso?
— Sei lá, nenhuma?
— Exato. Mas esse também não é o ponto, porque ninguém nunca ganha isso. E querida, você ganhou. Com um deus grego ainda.
— Mas eu tenho que trabalhar, !
— Foda-se o trabalho! Aliás, você pode subornar sua chefe adúltera! Dá o celular dela que eu chantageio!
— NÃO! — Ela gritou batendo em minha mão que procurava seu blackberry. — Ô ANIMAL, não quero ver essa mulher nunca mais.
— ENTÃO! Ela pode ser rica. Mas assombração sempre volta e eu duvido que ela vai te achar na Inglaterra.
— Tá, que saco, eu vou pensar nisso.
— Com muito carinho, por favor.
Ela terminou de comer seu miojo que já estava frio e resmungou uns “você é impossível”. Ingrata. Deixei-a assistindo TV e fui montar a mala dela escondida, enchendo-a de lingeries e roupas promíscuas, mesmo sabendo que ela iria me xingar inicialmente.
Mas ela iria me agradecer depois.
Coloquei o cinto de segurança ao redor do corpo de Theo e ele me olhou com os olhos pretos cintilantes, enrolando uma mecha de meu cabelo entre seus mini dedinhos. Afastei sua mão levemente para poder pegar Anna, ainda em pé no chão da garagem. Ela segurou em meus ombros quando eu a puxei para cima e encaixei-a no banco do carro, também colocando o cinto ao redor de seu corpo.
— Brigada. – Ela disse, segurando sua Barbie pelos cabelos.
— Tchauuuuuuuuuuuuu! – Theo gritou, chacoalhando seus braços.
Edgar, entrando no banco do motorista, riu do movimento do filho e se esticou até a porta do passageiro para destravá-la para mim. Eu entrei sem delongas e Theo gritou um “oi” longo e animado novamente.
Selecionei um filme de princesa para tocar no DVD preso no teto do carro e deixar Anna ocupada assistindo-o. Theo também chegou a assistir ao filme, mas ele não era tão ligado em princesas como a irmã. Edgar manobrou para fora da vaga de sua garagem e rapidamente o carro estava andando nas ruas.
— Você vai sair esse fim de semana, ? – Ele perguntou, olhando para mim brevemente.
— Não.
— Você não tem um namorado? – Ele perguntou, e com minha visão periférica, o vi erguer uma sobrancelha.
— Não. O cara com quem eu... Saio... - Falei, pensando na falta de uma palavra melhor do que Chuck era para mim. Quer dizer, como explicar para o seu chefe seu status de relação? Transando casualmente, mas sem emoções (por sua parte)? - Está indo viajar, então vou ficar por aqui.
— Ah... Por que não vai com ele?
— Porque ele vai para Londres, e eu não tenho grana sobrando para me dar certos luxos. Sem falar que sua esposa está viajando, então você estaria sozinho e pode precisar de ajuda.
Quando paramos no farol, Edgar virou-se para mim sorrindo. A coisa é que, Edgar pode ter dois filhos, pode ser uns oito anos mais velho que eu. Pode estar casado e em uma rotina igual há anos, mas o cara era gato. Muito. E quando ele sorria, ele ficava jovial e convincente em tudo que falava.
— Qual é, . Sei cuidar dos meus filhos durante um fim de semana. – Havia um tom quase malandro em sua voz. Eu sorri.
— Ah, eu não estou preocupada com eles. Estou preocupada do que eles possam fazer com você sozinho.
Edgar gargalhou e voltou sua atenção para as ruas, agora que o farol havia aberto.
— Mas, sério. Pode ir viajar. Maria Sofía vai ficar e ela pode me ajudar qualquer coisa.
— Eu teria que falar com ele... Acho que agora não dá mais tempo. Não sei.
E em minha mente veio a imagem de gritando comigo e dizendo que eu era retardada por não ir logo. Ir seria divertido, um lugar exótico para nós dois...
— Depois eu ligo para ele. – Concluí.
— Liga agora. Pode ligar. – Edgar disse enquanto seu carro ia diminuindo a velocidade para chegar à porta do supermercado. – Eu tiro as crianças do carro.
— Tudo bem. – Murmurei em resposta e quando ele estacionou, saí e já digitei o número de Chuck, que atendeu no quarto toque. – Oi, loiro.
— Oi, bonitinha. Tá tudo bem?
— Tá sim. É que eu queria saber... – Comecei, observando Edgar tirar seus filhos de dentro do carro com delicadeza. – Se ainda tá de pé sua proposta para eu ir viajar com você.
— Tá brincando, né? – Chuck disse e eu podia escutá-lo sorrindo. Se é que isso é sequer era possível. – Claro que está de pé!
A animação dele me fez rir.
— Tá. Eu vou para seu escritório assim que der.
— Ok! Vou mandar comprarem sua passagem agora! – Ele tampou o som do telefone e começou a falar para alguém comprar mais uma passagem, ao lado da dele. – Eu estou muito feliz, . Obrigado por estar indo comigo.
— De nada. – Respondi tentando ignorar meu ego que inflava todas as vezes que ele dizia que gostava de ficar comigo. – Até daqui algumas horas.
— Até! – E ele desligou.
Rapidamente, mandei uma mensagem para dizendo que ela arrumasse minha mala, já que eu estava indo para Londres e ela me respondeu: “Tá arrumada faz dois dias, debaixo da cama. Beijão e boa viagem, sua loira sortuda.”
Ah. Por isso eu havia sentido falta de algumas roupas ontem.
Voltei minha atenção para Edgar parado na porta do supermercado, que conversava agachado com os filhos, segurando a mão de Anna e com outra mão sobre a cabeça de Theo. Arrumei minha bolsa no ombro e dei a volta no carro, me juntando a eles.
— Tudo certo? – Edgar perguntou se erguendo, sem soltar a mão da filha.
— Tudo. Vou ter que me encontrar com ele às 17h. – Respondi com um breve sorriso, pegando a mão estendida para mim de Theo. – Que tal fazermos compras, hein pequeno?
— Sim! – Theo riu, mostrando seus dentes quase totalmente crescidos e começou a me puxar atrás de Edgar e Anna.
O supermercado era gigante. E eu nunca pensei que jamais entraria em um lugar tão grande vendendo comida. enlouqueceria. Fomos inicialmente para perto de alguns carrinhos, onde eu peguei um e Edgar outro, eu sempre não tendo muita certeza do que fazer. Era sempre Maria Sofía que vinha fazer compras e sozinha, mas Edgar havia insistido que fossemos com seus filhos dessa vez ao invés dela. Mas eu não fazia ideia do que se comprar para a casa de Edgar e eu duvido que ele também soubesse.
Colocando Theo dentro de meu carrinho, arrastei-o para lá e para cá no supermercado, sempre tendo que tirar alguma comida que ele pegava sorrateiramente, enquanto Anna caminhava desatenta ao lado do pai. Ela parecia interessada demais na Barbie dela. Edgar ia pegando alguns produtos, perguntando-me se eles eram bons e eu sempre fazia alguma careta que provavelmente denunciava que eu não fazia ideia de que marcas caras eram aquelas. Mas eu sempre escolhia a opção de produto que parecia mais apresentável ou comestível.
Ficamos duas horas andando pelo mercado. Não fiquei muito surpresa quando descobri que havia uma sessão de eletrônicos e brinquedos infantis dentro do supermercado. Aquilo era então um... Wall-mart de ricos. Basicamente. Mas nós não entramos na área, somente passamos na frente de seus corredores e continuamos nossa jornada. O carrinho de Edgar estava cheio e ele começou a colocar algumas coisas no de Theo, fazendo-me ter que segurar o menino no colo e empurrar o carrinho com a ajuda de Edgar. Nós estávamos no meio do corredor de produtos enlatados, olhando para dois tipos de Leite Condensado e questionando qual dos dois era de melhor qualidade quando Theo – que havia apagado em meus braços - se debateu e derrubou uma das latas de leite de minha mão.
Arrumando-o em meus braços, passei uma mão sobre a testa de Theo para checar se ele havia acordado, mas provavelmente ele estava sonhando, porque seus olhos não se abriram. Edgar sorriu para mim.
— Anna, pega a lata para o papai por... – Edgar girou, olhando para baixo e arregalou os olhos. – Cadê a Anna?
Olhei ao redor, desorientada. Pisquei algumas vezes, tomei consciência e imediatamente entreguei o Theo ao Edgar e, sem ao menos responder, sai correndo pelo supermercado olhando entre todos os corredores a procura de uma criança tímida, loira e perdida. Não achei nada por oito corredores, até que passei rápido demais por um e vi um vestido rosa. E uma menininha.
Brequei com o coração na boca e corri pelo corredor, assustando algumas pessoas colocando comida em seus carrinhos e praticamente me joguei sobre Anna. Ela colocou os bracinhos ao redor de meu pescoço quando eu a levantei no colo.
— Anna, você tá bem? Por que você saiu de perto da gente? Aconteceu alguma coisa?
— Eu queria ver as Barbies. – Ela respondeu, os olhos verdes assustados com meu desespero.
Olhei ao me redor, estávamos no corredor das Barbies. Respirei fundo, acalmando-me.
— Não faça isso de novo, tudo bem? Seu pai levou um susto. E eu também.
Anna balançou a cabeça para mim, soltando um pequeno sorriso e voltou a abraçar meu pescoço, escondendo seu rosto em meu cabelo. Voltei a andar com ela em meu colo e quando não achei Edgar no corredor em que o havia deixado, fui para o lugar mais óbvio que pude pensar: a entrada.
E lá estava ele, ainda segurando Theo nos braços e conversando alarmado com um guarda que parecia pouco interessado no que ele falava. Quando fui vista, Edgar visivelmente relaxou o corpo e fechou os olhos dando um suspiro, vendo Anna em meu colo.
— Pronto. Ela queria ter ido ver as Barbies. – Falei, tentando não demonstrar o quão aliviada eu estava.
— Viu, senhor? Casais perdem seus filhos aqui dentro pelo menos uma vez por hora, não é razão para pânico. – O guarda falou, sua voz monótona.
— Ah. Cale a boca. – E foi a primeira vez que vi Edgar falar alguma coisa grossa para qualquer um. Foi divertido. – , vamos embora. Esqueça as compras.
Certamente, eu não ia discutir com meu chefe. Então somente assenti e comecei a seguir Edgar, que havia deixado os carrinhos cheios de compras largados em algum lugar do supermercado. Quando chegamos novamente ao carro, coloquei Anna no banco de trás e Edgar entregou-me Theo, para falar com a filha.
— Anna, papai dá quantas Barbies você quiser, mas não pode sair de longe quando estamos em um lugar grande. – Ele suspirou, acariciando o cabelo da filha. – Papai quase enfartou com você sumindo.
Eu duvidei que Anna soubesse o que enfartar era ou que entendesse o porquê havíamos ficado tão desesperados, mas ela sorriu e colocou a mãozinha no rosto do pai, que também sorriu com o gesto.
— Desculpa, papai.
— Tudo bem, filha. – Ele se afastou e voltou-se para mim, erguendo as mãos para que eu o entregasse Theo.
— Hãn... – Murmurei quando tentei afastar Theo de mim, mas este segurou firmemente em meu pescoço e resmungou em um começo de choramingo.
— Parece que alguém gosta do seu colo. – Edgar riu, mas eu só fiquei envergonhada e rezei para não ter ficado vermelha. – Tudo bem, vai com ele no colo mesmo.
Ok. Eu sei que não se pode levar crianças no colo no banco da frente, mas simplesmente não consegui negar. Coloquei o cinto ao redor de nós e arrumei-o em meu colo de um modo confortável para ele e nem tão confortável para mim.
Edgar dirigiu com um cuidado extra. Nunca passando de sessenta por hora e sempre olhando para trás pelo retrovisor, talvez para checar que Anna ainda estivesse sentada no banco vendo seu filme de princesas. Quando chegamos ao apartamento novamente, eu adentrei silenciosamente a casa atrás de Edgar e Maria Sofía veio nos receber:
— Ué, cadê as compras?
— Shhh. – Edgar pediu e apontou para Theo em meu colo. Maria colocou as mãos na boca e sussurrou uma desculpa, abrindo espaço para que eu passasse.
Andei em passos leves até o quarto de Theodoro, sentindo meus braços exaustos por carregá-lo, agachei lentamente seu corpo em direção a cama e Edgar o cobriu com o lençol. Eu saí sorrateiramente do quarto e fui para dentro do quarto de Anna, que brincava com umas bonecas de pano.
Sentei-me ao seu lado no chão, de vez em quando participando de sua historinha que eu simplesmente não entedia o roteiro, então falava algumas coisa tipo “Meu nome é e eu gosto muito de você!” e Anna ria e continuava a brincar. Fiquei alguns minutos brincando com ela, quando Edgar apareceu dentro do quarto e pareceu confuso ao me encontrar lá.
— . Você não ia viajar?
Arregalei meus olhos. PUTA MERDA EU TINHA ESQUECIDO.
Levantei-me em um salto, despedindo-me de Anna com um beijo no topo de sua cabeça, ela me ignorou, empolgada demais com sua brincadeira e voei para fora do quarto. Quando cheguei na porta, com a bolsa no meu ombro, Edgar segurou meu braço pelo cotovelo levemente:
— Deixa eu te levar.
— Ah... Não precisa. Sério. Eu tenho que passar em casa, pegar a mala e depois ir até o escritório de Charles.
Mas Edgar já havia pego sua chave do carro.
— Maria Sofía vai olhar Anna por mim. Você vai chegar muito atrasada se for de metrô. Eu insisto, sério.
Olha. Na minha defesa, eu realmente estava atrasada. Meu celular marcava dez para às 17 horas e nem morta eu chegaria até Chuck antes das cinco e meia se fosse de metrô. Então suspirei e falei:
— Tá. Vamos então, muito obrigada.
Edgar não dirigiu com tanto cuidado enquanto corria para me levar até meu apartamento. Ele ficou dentro do carro quando eu subi, peguei a mala pronta que havia feito, coloquei um vestido preto apertado – pensei como iria me arrepender loucamente por usá-lo em um voo - e corri de volta para baixo. Por alguns segundos pude jurar que ele me encarou de cima a baixo, mas ignorei o pensamento porque ele é meu chefe.
E a esposa dele é uma vadia.
Então Edgar me levou até o escritório de Chuck e eu parei na porta do prédio dele às 17h18. Virei para me despedir.
— Muito obrigada. Mesmo. Pode tirar o gasto da gasolina de meu salário, sei lá.
— Tá tudo certo, . Boa viagem. Aproveita.
— Obrigada. – Eu sorri e antes que pudesse evitar o movimento, aproximei-me dele e beijei sua bochecha.
Saí do carro antes que meu rosto ficasse uma pimenta, arrastando a mala comigo e sendo liberada em uma questão de segundos por seguranças, para poder subir até o andar de Chuck. Um dos seguranças havia pedido para que eu deixasse minha mala lá embaixo mesmo, uma vez que ele prometeu que já a colocaria dentro do carro do “Senhor Beway”.
Subi em um elevador vazio e senti uma intensa vontade de me bater ao lembrar que eu havia beijado a bochecha do meu chefe. Senhor, como eu sou idiota. Que coisa mais constrangedora. Que coisa mais irresponsável, idiótica, aleatória e errada de se fazer. , sua trouxa.
— ! – A porta se abriu e Chuck me esperava do lado de fora, seus olhos azuis brilhando intensamente. Ele segurou meu rosto entre as mãos e deu-me um beijo rápido. – Achei que tivesse acontecido alguma coisa com você. Ainda bem que chegou, estou esperando o Gilian chegar e nós já vamos descer.
Quem é Gilian? E minha nossa, ele estava empolgado.
— Tudo bem. – Sorri meio atordoada.
— Fique aqui dois segundos que eu vou pegar meu terno. – Ele disse, virando-se e sumindo atrás das portas azuis.
Lembrei-me da última vez que havia vindo até aqui. Suplicado para que ele me perdoasse e encontrei o olhar das secretárias de Charles fuzilando-me. Sorri descaradamente para elas, acenando falsamente e quando Chuck voltou, fiz questão de beijá-lo rapidamente de novo e segurar sua mão.
— Vamos, então? – Ele perguntou sorrindo abertamente.
— Claro. Vamos para Londres.
E falar em voz alta parecia mais absurdo do que nunca.
’s POV.
Sábado chegou (muito) mais rápido do que eu esperava. Enquanto eu acordava em meu apartamento alugado entre três pessoas, acordava na porra do outro continente com o inglês milionário dela. Vendo o London Eye pela janela do quarto e sendo acordada com uma xícara de chá e um The Guardian para ler. Maldita.
A loira peituda na Inglaterra e eu aqui chegando do turno do almoço e tendo que me arrumar para um encontro com um fotógrafo com pinta de gay.
Eu não estava ansiosa, afinal, eu não saio para encontros. Não tenho casos. Não namoro. Então isso seria somente um jantar com o meu fotógrafo que ficou mandando indiretas para mim e quase me atropelou. Duas vezes.
Calcei as botas de salto e saí de meu quarto (e de , já que a hippie doida roubou o meu) e fui para a sala buscar minhas chaves. Jules estava assistindo TV, comendo um prato tailandês que eu nem queria saber o nome e que fedia, com Muchu ao seu lado. A iguana me encarou, pareceu semicerrar os olhos, e voltou a fitar a TV.
— Vai encontrar Tyler?
— Ah, não. Vou sair com um cara aí...
Jules torceu os lábios.
— Vai vestida assim?
Elevei as sobrancelhas. Quem aquela riponga achava que era pra poder opinar na minha roupa?
— Vou. Algum problema?
Dando de ombros, Jules colocou uma garfada da massa marrom que ela chamava de comida na boca. Charles roubou um pouquinho do prato da dona enquanto ela me olhava novamente para comentar. Safado.
— Nada não... Só tá um pouquinho simples pra um encontro.
Peguei as chaves de cima do balcão e coloquei-as dentro da bolsa preta que usava.
— Tudo bem, não é um encontro mesmo. Tchau Jules. Tchau lagartão.
Charles emitiu um barulho estranho. Acho que era “tchau” em iguanês. Tanto faz.
Saí de casa e desci as escadas tranquilamente, não me preocupando com o fato de estar usando botas pretas de couro de cano baixo, calça jeans preta, blusa cinza estampada comprida e jaqueta de couro. Usava luvas pretas de couro, um lenço vermelho no pescoço e um anel de dois dedos com um crucifixo. Dentro da bolsa havia uma calcinha extra e camisinhas, então eu estava pronta. Coloquei os protetores pretos de ouvido e saí do prédio, chegando até o Camaro preto que me esperava. Abri a porta e entrei, com Jace me observando.
Retirei os protetores de ouvido e balancei a cabeça, sacudindo os cabelos e então olhando para o loiro. Sorri e ele sorriu de volta, encarando minha roupa e torcendo o canto do lábio. Mas que caralho, agora tenho que sair de vestido social pra um jantarzinho?
— Pronta?
— Aham.
Ele deu partida e começou a fazer o caminho para não-sei-onde. Chegamos ao local e eu comecei a pensar que talvez a riponga estivesse certa. Merda.
Entramos no restaurante com fila de espera e, após uma breve conversa de Jace com o maitrê (que descobri naquele exato momento que se pronuncia métrê, uma putaria francesa), fomos guiados até uma mesa para nos sentar. Jace usava jeans escuras, camiseta social preta, sobretudo preto e óculos de grau. Puxou os cabelos loiros para trás com uma mão e pegou o cardápio da mão do maitrê com a outra.
— Ahn... Por que estamos num restaurante chique e não numa lanchonete?
— Você queria uma surpresa. Uma lanchonete não seria uma surpresa.
— Bom. Tanto faz. Se tem comida, eu estou feliz. — Abri o cardápio e notei que este estava escrito em francês. Maravilha.
Enquanto deliberava se deveria fingir que como bastante, mas não sou uma troglodita esfomeada ou simplesmente agir como o usual, percebi que uma mulher, em uma mesa próxima à nós me encarava. Uma moça de uns vinte e cinco encarava minha roupa e revirava os olhos. Gente. Era uma jaqueta de couro e uma blusa simples, qual o grande problema? Não era tão absurdo assim.
— Aquela vaca não para de me encarar.
Jace virou-se e notou-a. Riu e virou-se.
— Acho que sua blusa chama a atenção.
Olhei para sua estampa que tinha os dizeres “NO BOYFRIEND, NO PROBLEM” e um desenho de um boneco empurrando o outro para fora de um círculo vermelho com um traço diagonal.
— Não vejo problema algum nele. Você vê?
— Acho-o interessante. Você é como um livro aberto, não?
Sorri maliciosa.
— Você que pensa.
Jace fechou o cardápio e me encarou através das lentes dos óculos de grau. Seus olhos verdes fitaram minha boca durante alguns bons segundos.
— Como foi o trabalho hoje?
— Cansativo, como sempre. Mas o mês de Dezembro atrai muitos brasileiros e eles dão bastante gorjeta por sermos do mesmo país.
— Não sabia que é brasileira.
— Ah. Sou.
— De onde?
— São Paulo.... De onde você é?
— LA.... Eu sei, todos perguntam por que me mudei para cá se LA é tão linda, ensolarada e etc... Mas em prol das fotos eu resolvi vir para cá. Menos famosos e mais rostos novos. Não quero somente fotografar. Quero descobrir. Reinventar.
Assenti mudamente, fazendo de conta que estava interessada em como ele era motivador e novo e super genial. Essas coisas.
— E você, quer trabalhar no Planeta Hollywood para sempre?
— Ah, óbvio que não. Eu fiz artes cênicas. Queria ser atriz, porque não sei se percebeu, mas eu sou um pouco rainha do drama.
— Deveria trabalhar como modelo.
— Posso levar isso como um trabalho eventual, para ganhar um dinheiro extra.
— Se fosse dedicada, conseguiria uma fortuna.
Suspirei.
— Podemos mudar de assunto?
Jace agradeceu ao garçom que trouxera o vinho (eu nem o vira pedir o vinho) e ergueu a sua taça. Ergui a minha, mesmo achando tudo aquilo muito ridículo.
— À sua carreira como modelo.
— À minha conta bancária.
Brindamos e bebericamos o vinho. Era realmente muito bom.
— Então... Eu até te perguntaria se tem namorado, mas a frase é sugestiva. — Jace apontou para a blusa.
— É. Bem por aí.
Voltei a encarar o menu. Homard, crevette, poulet, cricket, o caralho à quet. Maravilha, . Simplesmente maravilhoso você não ter aceitado quando sua mãe te ofereceu pagar aulas de francês.
— Então, escolheu o que comer?
Levantei os olhos do menu. Eu poderia fingir ter entendido tudo e apontar para qualquer comida com um nome legal, poderia falar que não entendi nada e poderia falar que comeria o mesmo que o dele. Ah, também poderia falar que não estou com fome e quero uma salada, mas até mesmo Jace (que me conhece faz menos de uma semana) sabe que eu sou esfomeada. Sorri sem graça e olhei novamente para o menu. Tudo parecia absurdamente pomposo (mesmo não entendendo nada) e eu provavelmente nem saberia o jeito correto de comer aquelas coisas.
— Ah... Pode ser o mesmo que o seu.
Jace sorriu, colocou uma mecha do cabelo loiro para trás com os dedos longos e fechou o cardápio, deixando-o sobre os pratos. Pensei que fosse chamar o garçom, mas levantou-se e disse:
— Vamos.
Elevei as sobrancelhas.
— O quê? Quer que eu te acompanhe até o banheiro pra balançar quando você terminar?
Revirando os olhos, ele estendeu a mão para mim.
— Não. Quis dizer vamos embora daqui.
— Ahhhh. Mas... Nós podemos comer aqui, Jace. Eu sei ler francês, tá. Eu sei que minha roupa não é apropriada, mas não precisamos ir para outro lugar só por que...
Não continuei a frase, porque Jace me agarrou pelo braço e me fez levantar com força. Com a mão livre, pegou minha bolsa e aproximou seu rosto do meu. Arregalei meus olhos surpresa e olhei dentro dos seus lindos olhos verdes. Ele sorriu de canto.
— Vou repetir mais uma vez: Vamos embora daqui.
Sua mão escorregou para as minhas costas e me puxou pela base da coluna para perto. Arrepiei e me surpreendi com seu aperto. O’Malley poderia ser fotógrafo e ter até pinta, mas eu não o chamaria de gay novamente depois dessa.
Agora sim esse encontro estava valendo a pena.
’s POV.
Depois de um voo exaustivo de seis horas e cinquenta minutos, perguntas irritantes na alfândega e mais uma viagem de carro até seu apartamento, nós finalmente chegamos e eu estava maravilhada demais com tudo para ter qualquer reação que não fosse sorrir.
Londres era mais do que linda... Era uma cidade puramente feita para pessoas amantes de romance, de beleza estética e sotaques sensuais em todos.
Quando o motorista que nos havia pego no aeroporto parou o carro em frente a um conjunto de prédios majestosos, eu imediatamente levantei minha cabeça do colo de Chuck e sentei-me no banco, olhando maravilhada para eles. Os prédios eram altos, espelhados, modernos e claramente caros. Eles se destacavam loucamente em uma cidade cheia de prédios antigos como Londres e eu tinha certeza que qualquer um que morasse lá dentro era podre de rico.
Chuck saiu do carro e esticou a mão para mim, eu segurei-a e fui atrás dele. Parando boquiaberta na frente do prédio.
— Que absurdo. – Sussurrei abismada e em choque. Chuck, ao meu lado com a mão ao redor de minha cintura, sorriu.
— O quê?
— Seu apartamento é dentro de um desses prédios? – Virei meu rosto para ele e seu sorriso somente se alastrou. – Tá. Fodendo. Comigo.
— Gostaria. – Chuck sussurrou roucamente em meu ouvido e sua mão em minha cintura fez um passeio rápido por minha bunda e depois subiu novamente.
— Acho que acabo de gostar um pouco mais de você. – Murmurei, ainda boquiaberta. – E também acho que estou louca para ver seu quarto. – Completei a frase com um sorriso malicioso.
Chuck riu e começou a me puxar em direção ao prédio. O hall do lugar era insanamente mais caro que meu apartamento, talvez a maçaneta da porta fosse. Nosso motorista apareceu de dentro do elevador quando esperávamos por ele e avisou que havia deixado nossas malas já dentro do apartamento. Eu me perguntei quando ele havia feito isso, mas não duvidei de sua palavra.
O elevador era claro e espelhado completamente. Virei-me na direção oposta à porta para olhar minha aparência no espelho e descobri não estar tão acabada assim. Nada que uma escova de cabelo e não concertasse. Vi Chuck observar-me atentamente pelo espelho, seus olhos azuis parecendo quase escuros e provocativos, passei os dedos sobre meus lábios, fingindo arrumar um batom que não existia e antes que pudesse processar as coisas, Chuck estava encoxando-me.
Seus braços musculosos ao redor de meu quadril, suas mãos pousadas perigosamente perto de minha virilha, sua cabeça apoiada em meu ombro com seus lábios roçando meu pescoço levemente. Seu membro pressionado contra minha bunda. Eu fechei os olhos, esperando por um tratamento especial vindo de suas mãos ou lábios, mas quando o elevador parou no décimo quarto andar, Chuck puxou-me para fora do elevador. Suspirei desapontada.
Observei-o tirar as chaves do bolso da calça lentamente e uma onda de desconforto passou por mim. Cara, eu realmente estava na Inglaterra. Prestes a entrar no apartamento dele para que transássemos intensamente. Quando que eu virei vida louca desse jeito? Minha nossa. Quando que eu comecei a fazer essas coisas por uma simples transa?
Quando a porta se abriu e entramos no apartamento, eu me senti... Constrangida. É. Por aí. O apartamento era tão luxuoso que minha vida deveria valer menos que aquele lugar. Bem menos. Tudo estava impecavelmente limpo e eu sabia que foram precisas pelo menos três pessoas para deixar aquele lugar sem uma camada de pó. Tenho certeza que minha boca se manteve aberta e que praticamente havia baba escorrendo por ela enquanto eu analisei o lugar, sempre sendo seguida por Chuck. Havia uma escada que levava ao andar de cima, onde provavelmente seria o quarto e eu inicialmente não quis subir ela, temerosa que subi-la significaria ver mais coisas de gente rica. O apartamento, em geral, era um sonho. E era exatamente o estilo de vida que eu imaginava que Chuck teria tido quando estava em Londres.
Juntei coragem e comecei a subir as escadas, com Chuck sempre no meu calcanhar. O quarto realmente era a única coisa existente no segundo andar – e a suíte dele, mas enfim. E também era intimidador de tão grande e exageradamente cheio de coisas caras. Cocei meu pescoço, desconfortável, e voltei-me para Chuck olhando-me com expectativa.
— O quê você acha? – Ele perguntou tirando o casaco, o colocando sobre uma cadeira e andando até a porra de um frigobar e tirando de lá um vinho tinto e duas taças.
Ele havia se trocado no aeroporto (tirado aquele terno sério) e aquela era uma das únicas vezes que eu havia o visto sem roupas sociais. Uma camiseta preta lisa, calça jeans escura e um tênis de marca.
— Intimidador.
— Mesmo? – Chuck ergueu a sobrancelha. – Por quê?
— Porque esse lugar com certeza vale mais que meu seguro de vida. – Comentei soltando uma risada nervosa.
— Provavelmente também vale mais que o meu. – Ele deu ombros.
— É. Mas esse lugar é seu. Charles, estou me sentindo mal de estar aqui.
Ele piscou confuso e em choque.
— M-mas... Por quê? O quê eu fiz? – Ele soltou a garrafa e as taças, aproximando-se de mim.
— Não, você não fez nada. Mas vamos combinar, nós dois sabemos que a única coisa que vamos fazer aqui é transar. E eu nunca imaginei que seria esse tipo de pessoa.
— Qual é o problema? Eu sou apaixonado por você, . Sempre estive, nunca foi só sexo.
Para mim foi. Suspirei. Puta que pariu, eu mereço.
— Cadê aquele vinho que você estava na mão? – Perguntei olhando ao redor do quarto, tentando não fazer contato visual com ele.
Andei até a cama, sentei-me sobre a mesma e esperei Chuck entregar-me uma das taças e sentar ao meu lado.
— Podemos brindar a estarmos aqui e termos uma noite ótima? – Ele sorriu animado.
— Claro.
Nós brindamos e viramos o líquido das taças. Então começamos a nos beijar.
Imediatamente Chuck estava sobre mim, suas mãos subindo meu vestido e apertando minhas coxas enquanto distribuía beijos por meu colo. Eu me livrei de sua camisa e tirei o cinto de sua calça, começando a abri-la. Tive que parar meus movimentos para que Chuck puxasse meu vestido sobre minha cabeça, jogando-o para o lado e ele ficou bem feliz ao perceber que eu não estava usando um sutiã (o vestido já apertava tudo, mesmo). Continuei meu trabalho em abrir sua calça, sentindo meus lábios inchados, enquanto, de vez em quando, Chuck dava-me um beijo intenso.
Quando ele finalmente ficou só de boxer, começou a distribuir beijos por minha barriga, sua língua se arrastando por minha pele e dando arrepios para meu corpo. Achando que ele fosse fazer algum tratamento especial, arqueei minhas costas ao sentir suas mãos nas partes internas de minha coxa, mas ele só as beijou e voltou para meus lábios. Tentei me distrair da decepção passando a mão em seus cabelos, ombros e braços.
Mas depois de cinco minutos naquele ritmo. Desisti. Empurrei Chuck para o lado e levantei da cama em um pulo.
— Desculpe. – Falei, colocando uma mão em minha boca inchada e com a outra pegando meu vestido e minha bolsa.
Fui até o banheiro em passos apressados, tentando ignorar o olhar perdido de Chuck quando o fiz e entrei, trancando a porta. Olhei-me no espelho e senti nojo.
— Desde quando diabos você faz isso? – Murmurei para mim mesma. – Você está praticamente se vendendo para ele, .
— ? – A voz de Chuck soou do outro lado da porta. – Você está bem?
— Tô. Preciso de um tempo, só.
— Tudo bem.
Abri a torneira e fiz uma conchinha com minhas mãos, enchendo-as de água gelada e jogando-a em meu rosto. Respirei fundo diversas vezes. Tudo bem, talvez eu não fosse necessariamente uma puta. Chuck tinha grana, transava bem e se ele resolveu que queria fazer isso comigo do outro lado do Atlântico, não tem problema. A coisa é se eu queria. Eu queria transar com ele mesmo não sentindo nada? Ele havia acabado de dizer que estava apaixonado por mim, Jesus!
Revirei os olhos para mim mesma no espelho. Você é patética, . Está usando o cara para vir para a Inglaterra e transar bem quando ele está realmente gostando de você. Coloquei meu vestido e recompus-me, sabendo o que eu precisava fazer. Mas antes que eu abrisse a porta, meu celular vibrou dentro da bolsa.
Era Tyler.
’s POV.
Eram umas três horas da manhã quando Jace me deixou em casa, dirigindo perigosamente em seu Camaro, já que estávamos os dois bêbados. Pelo menos não havia tantas pessoas assim no bairro do Soho nessa hora, nenhuma pessoa para ser vítima de um fotógrafo bêbado.
Ele estacionou pouco antes do prédio e descemos do carro, já que ele insistiu (a bebida o fazia virar cavalheiro, o que era algo bizarro, mas bom) em me levar até a porta e ter certeza que eu não vomitaria no caminho. O coitado ficou impressionado com a velocidade que eu conseguia virar shot de tequila. Minha barriga estava melada de fazer body shot.
Nós havíamos passado o resto da noite em um bar mexicano que eu nunca havia conhecido e era fantástico. Havia um salão enorme para dança onde vários casais dançavam salsa num ritmo frenético. Eu aprendi a dançar salsa rapidamente, principalmente depois da quinta dose de tequila, na qual eu já estava expert.
— Juan nos convidou para um concurso de dança que o bar vai promover para aumentar o movimento, aos sábados, valendo um barril de tequila para o casal vencedor.
Comecei a gargalhar, talvez porque o dono do bar também estivesse bêbado para nos chamar (porque metade do tempo em que dançamos, eu estava pisando no pé de Jace, que já não sentia mais dor depois de umas treze pisadas) ou talvez porque o nome dele era Juan. E Juan era um nome engraçado. E mexicano. E clichê.
Chegamos à porta do prédio depois de um longo caminho em ziguezague e eu vasculhei todos os bolsos, tentando lembrar em qual eu havia deixado a chave, até que finalmente encontrei-a no meu sutiã. Então olhei para Jace, que estava com os botões da camiseta social quase todos abertos, o sobretudo fedendo um pouco à tequila e sem os óculos de graus costumeiros. Ele parecia despojado, tranquilo, feliz. Sexy. Seus olhos verdes observavam as janelas do meu prédio.
— Jace, você não quer...
Ele não respondeu, nem me deixou terminar a frase. Ele somente me beijou.
Passou os dedos longos por minha nuca e lateral do meu rosto, seu dedão em minha bochecha. A outra mão me envolvia na cintura. E seus lábios estavam pressionados intensamente contra os meus.
Cambaleei para trás e encostei-me na parede, ainda com os lábios unidos aos dele. Fechei os olhos e passei uma mão por sua nuca e a outra por suas costas, por dentro do casaco. Abri meus lábios e dei passagem à sua língua quente, que se enroscou na minha com calma, saboreando o ainda presente gosto de tequila que estava em nossas bocas.
Seus dedos apertavam minha cintura com força e eu puxava seu corpo cada vez mais contra mim, envolvida em seu beijo torturantemente lento e envolvente. Senti um arrepio quando ele mordeu meu lábio inferior e me afastei dele, ofegante:
— Você não quer subir?
Encostamos nossas testas e ele suspirou. Eu estava zonza e me sentindo leve demais.
— Não posso... Amanhã tenho um ensaio importante para a Johnson logo cedo e sua casa é muito longe do estúdio.
Pisquei várias vezes, não acreditando que ele estava recusando subir para o meu apartamento e transar. Eu não estava tão bêbada assim para ele achar que não conseguiria transar, estava? Ele me beijou levemente nos lábios e se afastou, descendo as escadas para a rua novamente.
— Epa. Você vai embora assim?
Jace se virou para mim novamente e levantou as sobrancelhas. Pensei que ele fosse rir, já que ainda estava bêbado, mas permaneceu com a expressão serena.
— Vou. Por quê?
— Então... Você me pagou um jantar e não vai querer subir? Não vai querer sexo?!
— Não.
— Por que não, seu louco?
Ele riu, provavelmente me achando extremamente arrogante e atirada, mas foda-se.
— Porque você é como o homem da relação. Se eu grudar, você foge.
Tentei processar aquilo, mas minha mente de bêbada não ajudou muito. Fiquei somente encarando-o abobadamente.
— Vá dormir, . Depois eu te ligo. Quem sabe marcar mais uma sessão de fotos. Ou outro jantar.
Então ele saiu, desceu as escadinhas do prédio e saiu andando. Virei-me para a porta, ainda com a chave em mãos, lutando para conseguir colocá-la no fecho, mas quando finalmente consegui, percebi que não queria entrar no prédio. Não queria ir dormir e não queria que ele me tratasse como o homem da relação. Eu só queria transar com Jace.
Tirei a chave da fechadura e desci as escadas trançando as pernas, gritando o nome de Jace. Andei até seu carro o mais rápido que meu equilíbrio permitiu e bati na janela do passageiro.
— Abre aí, idiota!
Nada.
Bati na janela mais algumas vezes.
— Jaaaaaaaaaaaaaaace, me deixa entrarrrrrrrrrrrrrrr. Eu prometo que não vou fugir.
Mentira. Mas foda-se.
Nada novamente. Aquilo estava me deixando irritada. Ele realmente me deixaria do lado de fora?
Soquei o vidro, pedindo para que ele abaixasse o mesmo, mas ele não o fez e eu dei um gritinho de raiva.
— SEU IDIOTA! ARGH, NÃO ME DEIXA ASSIM!
Comecei a socar o vidro até que ouvi alguém em algum lugar distante gritar alguma coisa que provavelmente era comigo. Não enche, vizinho. Eu só estava querendo uma foda, poxa.
Andei até o capô e comecei a bater no mesmo, gritando coisas sem sentido. Demorou alguns segundos até eu perceber que Jace não abriria a porta. Mais uns segundos para perceber que Jace não estava dentro do carro. E a última etapa, que foi perceber que eu estava gritando com o carro errado, eu consegui perceber mais rápido.
— Ei, sua ladra de merda, esse é o meu carro! — Um homem saiu de roupão na rua, gritando furioso. — Eu já chamei a polícia!
Assim que percebi a cagada, resolvi que era uma boa hora para ir para casa. Quem precisa de sexo, afinal?
Mas, pra variar, meu equilíbrio fudeu comigo e eu tropecei no meio fio ao tentar correr, caí de cara no chão e rolei para o lado, zonza.
Maravilha. Tinha como ficar pior?
E as sirenes me responderam logo em seguida que sim, tinha como ficar pior.
’s POV.
Atendi confusa.
— Oi, Tyler, tá tudo bem?
— Oi, . Tudo bem contigo? Desculpa ligar assim do nada. – A voz dele estava estranhamente ansiosa.
— Tudo, eu acho que estou voltando para casa daqui um tempo. O que aconteceu? Onde você está?
— Ah, você sabe como é né? – A voz dele estava estranha. – To na prisão.
— VOCÊ TÁ AONDE?
Tyler riu nervosamente do outro lado.
— Não sou eu que estou preso. – Ele falou e eu suspirei aliviada. – É a .
— QUÊ?
— .
— QUÊ?
— , sua melhor amiga.
— QUÊ? COMO ASSIM? QUANDO? POR QUÊ?
— Foi só um mal entendido, . Vou tirar ela daqui, pagar a fiança, etc.
Bati a mão contra minha testa.
— Puta que pariu. Desculpa por isso, Ty. Nem sei o que dizer.
Tyler deu uma risada do outro lado da linha.
— Eu digo que é bom vocês me pagaram de volta o dinheiro da fiança depois, porque eu posso pagar a bebida de vocês e deixá-las bêbadas para que depois vocês dancem músicas mexicanas só de calcinha e sutiã. Mas eu duvido que essa história de prisão vá me render alguma coisa.
Era um sinal, é isso. Jules diria que era os cosmos me mandando uma mensagem. E quando a gente recebe mensagem, não dá para fingir que não leu. Pelo menos não com as tecnologias de hoje em dia.
— Tá. Tudo bem. Olha. Vou tentar chegar em vinte quatro horas, no máximo. Por favor, faça companhia para ela.
— Não sei não, , ela parece estar cheia de amigas aqui. Tá até falando com uma tal de Gertrudes. Acho que ela não quer que eu pague a fiança.
— Tyler. – Respirei fundo.
— Oi, .
— Paga a fiança. Deixa a longe da Gertrudes. Tô chegando o mais rápido que posso.
Eu desliguei o telefone sem escutar o que mais ele tinha para dizer. Mas que fantástico. Sensacional. Ficar quase dez horas para chegar no apartamento, passar meia hora dentro dele e ter que sair correndo de volta para os Estados Unidos porque minha melhor amiga resolveu que era uma boa hora para ser presa e ficar amiga de uma pessoa chamada Gertrudes.
Ah! E ainda tinha o bônus de deixar Charles aqui. Do nada. Bem legal.
Relaxei os ombros e abri a porta para sair do banheiro. Peguei minha mala ainda fechada e desci as escadas de modo barulhento, as rodas da mala batendo contra os degraus. Encontrei Chuck sentado no sofá da sala, com a testa franzida e o rosto em uma expressão séria.
— O quê aconteceu? – Ele perguntou quando parei em sua frente.
— Tenho que ir embora. – Murmurei, não conseguindo encarar seu olhar.
— Por quê?
— Por que preciso. foi parar na prisão, ou seja, é obviamente um sinal do universo que eu não deveria ficar aqui.
— Um sinal do universo? – Mesmo sem olhar para ele eu podia escutar seu tom de voz meio zombeteiro e imaginar o sorriso brincalhão que abria espaço em seus lábios. – Qual é, . Já disse que para mim não é só sexo, não se preocupa com isso.
Então ele levantou-se do sofá e seus braços envolveram minha cintura com força, puxando-me contra ele. Espalmei minhas mãos em seu peitoral e finalmente ergui meu olhar para ele, que tinha seus olhos azuis fixos em mim. Fixos em meus lábios e então ele estava inclinando seu rosto em minha direção e enquanto meu corpo gritava “SIM, VAMOS LOGO COM ISSO”, meu cérebro gritava “ + GERTRUDES = PROBLEMA”. Os lábios carnudos de Chuck roçaram os meu lentamente, tentando abrir um espaço que eu não podia dar. Mas meu corpo queria dar. Literalmente. A língua de Chuck encontrou o caminho para minha boca enquanto eu me decidia sobre o que fazer. Antes que pudesse me parar, minhas mãos no peitoral de Chuck subiram até seu pescoço e agarraram seus cabelos loiros com força, puxando-o mais contra mim.
NÃO. NÃO. NÃO. ACORDA .ACORDA PORRA.
Abri meus olhos assustada e afastei Chuck de mim. Ele me olhou confuso, sua testa franzindo-se lindamente. Droga. Ele é lindo mesmo.
— Charles. Desculpa. Eu preciso ir, mesmo.
— Então eu vou voltar com você.
— Não! – Falei um pouco rápido demais. – Chuck, seu pai quer você aqui. Você tem suas responsabilidades aqui e eu tenho as minhas em New York. E é em nossos lugares que devemos ficar.
Suspirei pesarosamente, sentindo toda a pressão do momento em mim.
— Preciso voltar, Chuck. E você precisa continuar aqui. Ok? – Afastei-me mais ainda dele e puxei a minha mala até a porta do apartamento. – Eu vou pagar minha própria passagem de volta, não se preocupe.
— Não, deixe que eu pago.
— Não, tudo bem. Eu pago, Chuck. É a única coisa que eu posso fazer e não me sentir culpada por estar indo embora depois de vinte minutos.
— , você não tem dinheiro. Deixe que eu pago, sério.
— Charles. Não. Eu vou pagar minha própria passagem de volta.
— Não vai me deixar pagar mesmo?
ia querer me matar.
— Não.
Chuck assentiu lentamente com a cabeça enquanto eu abria a porta e colocava minha mala para fora.
— Quando vou ver você novamente em New York? – Ele perguntou enquanto eu abria a porta do elevador.
Eu olhei para ele. Aquele era Chuck. Chuck, o cara lindo e gostoso que havia pagado uma viagem para mim de classe executiva para que pudéssemos transar em seu maravilhoso apartamento em Londres. Chuck, o milionário apaixonado por mim, mas que só me trazia satisfações sexuais. Bom, muitas satisfações. Mas a diversão acabava por aí, porque ele também era Chuck, o possessivo.
Tentei suprimir a careta em meu rosto ao pensar no seu ataque de ciúmes e na sua resposta de “Vamos ser só amigos”. Não. Nós não podíamos ser amigos. Nem nada.
— Ah, é... Chuck... É... Hãn. Não sei. – Falei baixinho, mas suficientemente alto para que ele me escutasse.
— Tudo bem, eu procuro você quando voltar. – Ele sorriu de lado e meu coração ganhou uma rachadura pequena quando a porta do elevador fechou entre nós.
Na recepção, pedi um taxi para o aeroporto e ele chegou em três minutos. A ida para o aeroporto foi tranquila e comprar minha passagem de volta também. O voo que voltaria para New York sairia em duas horas e meia. E dessa vez, eu não iria voltar em classe executiva, meu salário não conseguia pagar tantas coisas assim. Passei pela alfândega e depois no free shop, somente para fingir ostentar o dinheiro que eu não tinha. Porque libra tem que ser tão cara?
Quando finalmente meu voo começou a embarcar e meu grupo para entrar foi chamado, eu percebi o que estava acontecendo ao meu redor. Fala sério. Eu tinha abandonado um inglês loiro e milionário no apartamento dele em Londres para salvar minha melhor amiga que havia sido presa.
Jogando minha bolsa aos meus pés no chão do avião e sentando-me na cadeira desconfortável, adormeci pela exaustão de estar viajando duas vezes em menos de três horas para fuso horários diferentes e só acordei novamente uma hora antes de pousarmos em New York.
’s POV.
Gertrudes parecia uma pessoa muito legal. Simpática, engraçada, mexicana, etc. Tirando o fato de que ela havia esfaqueado o marido, ela era uma boa pessoa. Mesmo que ela tenha esfaqueado ele vinte e sete vezes. Mas ela jura que foi sem querer.
Tyler voltou balançando a cabeça negativamente e foi autorizado pelo guarda para vir até minha cela. Eu me levantei de meu banco lentamente, o efeito da bebida passando, com uma dor de cabeça esmagadora agora. Apoiei as mãos na barra.
— O que você foi fazer, ursinho?
— Ah, eu liguei pra .
— Porra, Ty! Não era pra ligar pra loira peituda, ela tá fazendo sexo no Big Ben!
— Você sabe que Big Ben é o sino, não a torre, né? E seria muito estranho fazer sexo lá.
— Tanto faz, Ty.
Bati com a cabeça contra a grade.
— Por que você sempre se mete em confusão, ? — Tyler perguntou rindo, segurando minha mão direita que estava na grade.
— Não sei. Faz parte do meu charme.
— Charmezinho complexo o seu hein.
Dei uma piscadela.
— Os homens adoram.
Ele gargalhou.
— O... Como o nome dele mesmo?
— Jace.
— Isso. Jace adorou?
Esfreguei as têmporas com os dedos indicadores, tentando aliviar a dor da bebida. Troquei os pés buscando equilíbrio.
— Sei lá. O desgraçado foi embora quando o convidei pra subir. Algo sobre eu ser como um homem e ele não poder grudar, ou eu iria pisar nele.
— Hm, então ele não é tão idiota quanto eu pensava.
— Nem gay.
Tyler elevou as sobrancelhas, confuso.
— Ah. Longa história.
— Bom, não é como se você pudesse ir para outro lugar mesmo, então conte-me. Como conheceu esse sujeito?
— Argh. Tá. Ele quase me atropelou uma vez, depois outra vez depois da Black Friday. Ele saiu do carro puto, brigamos, mas ele acabou me reconhecendo da primeira vez e começamos uma conversa muito estranha e ele me ofereceu carona.
— Eu normalmente perguntaria para alguém que estivesse me contando isso se ela é louca, mas eu já sei a resposta no seu caso.
— Idiota.
— Eu não afirmei.
— Não precisou. Prossiga.
— Então, ele ficou puxando assunto, descobri que ele é fotógrafo e um dos bons, me ofereceu uma proposta pra uma sessão de fotos e a me obrigou a topar. Antes de eu te ver na segunda feira eu fui à sessão, tirei várias fotos e iria saber se fui selecionada para a campanha dali um tempo. Hoje, ontem, sei lá mais que dia é, saímos para jantar, apesar de eu jurar que ele era gay, aliás, ele usa óculos de grau, chapéu e é fotógrafo. Meio suspeito, né. Mas acontece que ele é bem mais homem do que eu imaginava.
— Interessante. E você veio parar na cadeia depois que confundiu o carro dele, depois de milhares de shots de tequila e acharam que você estava roubando. Fascinante.
— Eu sei.
— Linda história para contar pros seus futuros filhos.
— Vá se foder.
— Ah, eu também te adoro, .
Revirei os olhos.
— Você não tinha que me tirar daqui? O efeito da bebida tá passando e a dor de cabeça aumentando. E não sei se todos os nachos vão querer voltar ou não, eles estão tendo uma boa discussão no meu estômago.
— Já volto, gata. Vou pagar sua fiança que depois vou cobrar com juros.
Mandei um beijo no ar enquanto ele se afastava.
— Vai lá, meu herói!
Ele gargalhou e sumiu em um corredor à esquerda.
Sentei-me em meu banquinho de volta. Gertrudes, que ficou quieta durante minha conversa inteira com Tyler (talvez porque ela somente falasse espanhol e não estava entendendo nada) falou comigo:
— Se quiser, posso dar um jeito nesse seu namorado também. — Disse em espanhol com um sorriso maníaco.
Afastei-me lentamente dela no banco, rindo amarelo.
É. Talvez ela não fosse tão simpática assim.