Escrita por: Patrícia e Victória
Betada por: Heloïse Sanchez




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Décimo Sexto


’s POV.


Eu cheguei em casa mais rápido do que gostaria e bati a porta da frente violentamente, enquanto lutava com minha mala de viagem. Jules estava sentada no sofá com um pote de pipoca na mão e com Muchu apoiado em seu ombro. estava ao lado dela, com uma toalha sobre a testa e a mão sobre a barriga. Ela pulou de susto quando eu bati a porta.
— PUTA QUE PARIU QUEM É QUE BATEU A PO... – Ela parou de gritar quando me viu e sorriu amarelo. – ! MELHOR AMIGA!
Ela levantou em um pulo e fez uma careta, colocando a mão na boca e fez cara de quem estava chupando um limão. Então ela saiu correndo até o banheiro. Olhei de cara feia para Jules, que observava a cena com um sorriso divertido no rosto. Ela estava com mechas verdes no cabelo hoje.
— Eu fico longe de casa menos de 24 horas e você pinta seu cabelo de grama? E é presa?
— Bom, sobre a ser presa, é uma história engraçada. Você deveria a deixar contar para você. Agora sobre o meu cabelo, eu já queria essa cor faz tempo. – Ela levantou do sofá, quase fazendo o dragão dela cair para trás e eu realmente acho que ele fez uma careta pra ela.
Dragão doido. Estreitei meus olhos para eles e enquanto Jules foi na direção da cozinha se livrar do pote de pipoca ou sei lá, fazer a comida do dragão, andei em passos silenciosos e assassinos até o banheiro. Entrei batendo a porta atrás de mim e encontrei com a cabeça enfiada dentro da privada.
— Ah, meu Deus, acho que vou morrer. – Ela resmungou limpando a boca com a costas da mão.
— Você tá se sentindo melhor? – Perguntei puxando o cabelo dela para trás lentamente, fazendo um rabo com o mesmo e prendendo-o com o elástico em meu pulso, para que ela não sujasse a si mesma se vomitasse novamente.
— Melhor do que deveria. O quê você tá fazendo aqui? Não devia estar transando no palácio de Buckingham?
— Devia, mas eu conheço uma babaca que foi presa, então tive que voltar correndo pra casa. Sabe como é né. – Forcei um sorriso para ela.
— Desculpa, loira. Não quis atrapalhar seu foda.
— Tudo bem. Acho que foi um sinal.
ergueu a sobrancelha pra mim e um sorriso irônico apareceu em seus lábios.
— Tá começando a acreditar nos papos da Jules de xícaras e destino?
— Chacras, .
— É. Isso aí. Agora dá uma mãozinha pra sua melhor amiga aqui subir, porque ficar sentada do lado da privada não é muito legal.
Revirei os olhos, mas dei a mão para e a puxei para cima com um pouquinho mais de força que o necessário. Ela fez careta para mim, mas não falou nada, ela sabia que eu não estava feliz. Fomos até nosso quarto e ela deitou na cama, enfiando a cabeça no travesseiro.
— Qual é, melhor amiga, voltou porque da Chuckolândia?
Estreitei meus olhos para ela. Mas antes de responder, voltei para a sala e comecei a arrastar minha mala para dentro do apartamento. Jules acenou para mim e falou alguma coisa sobre ir para aula de yoga e alimentar o Muchu. Quando voltei para o quarto, continuava afundada em nossa cama.
— Tyler pagou sua fiança, mas eu precisava voltar para pagar de volta para ele, né. Também não estava muito legal por lá... – Falei derrubando a mala no chão e começando a abrir seus zíperes.
— Não queria ficar com o inglês?
Tirei todas as roupas que havia selecionado para minha viagem e coloquei-as dentro do armário novamente, sem ligar muito para a organização geral da coisa toda. sentou-se na cama e ficou observando meus movimentos. Quando terminei, separei uma roupa mais simples para ficar em casa e despi-me, colocando uma toalha ao redor de meu corpo.
— Vou tomar banho porque estou fedendo a avião.
— Você tá fugindo do assunto.
— Talvez. Mas eu tô mesmo fedendo. Então já venho.
— Ah, o cheiro é seu. Achei o esgoto do vizinho estivesse vazando para cá de novo.
Mostrei o dedo do meio e minha língua para , mas fui em direção do meu desejado (e necessário) banho.
Meia hora depois, voltei com uma toalha envolta dos cabelos e minha roupa de ficar em casa: moletom. Joguei-me ao lado dela na cama, que gemeu quando pulei e sua cabeça bateu contra os travesseiros. Ela não disse nada, só ficou me encarando com aqueles olhos castanhos pedintes de cachorro esfomeado, que no caso dela, era fome de fofoca.
— Tá bom, Chuck disse que estava apaixonado por mim.
— ELE O QUÊ?
— Disse que estava apaixonado.
— POR QUE?
— Porque ele estava apaixonado!? – Dei ombros e sorri sarcasticamente. – Minha filha, eu dou o melhor sexo da vida dele. Por que ele não estaria apaixonado?
ergueu a sobrancelha, ponderou sobre o assunto e concordou balançando a cabeça enquanto gargalhava.
— E ele te levou para Londres. Então qual é o problema?
— Eu não estou apaixonada. Acho que perdi a magia por ele depois do showzinho de “vamos ser só amigos” que ele fez quando eu fui atrás dele.
— Ah! Eu sabia que seu orgulho não ia deixá-lo escapar dessa. – bateu a mão no colchão, animada.
— Não mesmo. Mas enfim, então Tyler me ligou e eu sabia que era um sinal do universo.
— Então você chutou a bunda do inglês e voltou?
— Bom... – Suspirei. – Não. Eu não chutei a bunda do inglês.
— Por que não? – perguntou então seu rosto tomou uma expressão séria. – , não me diga que você tá grávida e tá esperando exame de paternidade para ver se é dele.
! Claro que não! Não terminei porque ele ficou me olhando com cara de cachorro sem dona.
— Amiga. Ele tem dona. Você! Aproveita!
— Não quero me aproveitar dele.
bufou irritada e cruzou os braços sobre o peito, girando sentada na cama para me encarar de cara feia.
— Por que você é quem acha os milionários? Sinceramente Deus... – Ela olhou para o teto e seus lábios se repuxaram em um sorriso divertido. – Eu faria muito mais proveito do inglês milionário.
.
— Ué, é verdade.
Puxei o travesseiro que antes ela estava se afundando e o bati contra o corpo dela. riu, abraçou o mesmo e deitou ao meu lado. Levantei e fechei as cortinas do quarto e a porta, deixando o quarto em um quase breu confortável para se dormir. Aconcheguei-me na cama e um segundo depois estava me abraçando desajeitadamente.
— Estava com saudades de você, loira. Fiquei assustada com essa coisa de prisão.
— Eu também. – Murmurei e empurrei-a para o lado. – Agora desgruda que eu preciso dormir.
riu e se virou de lado.
— Ah, ...
— Quê?
— Quem era a Gertrudes?
— Ai. – chacoalhou-se como se tivesse sentido um calafrio e soltou um riso fraco. – Um dia te conto amiga, mas digamos que eu consegui um contato violento na prisão.

’s POV.


Sei que não sou a pessoa mais sábia do mundo, mas vou te contar uma coisa: ser presa realmente mexe com você. Principalmente com o seu dinheiro e sua ficha criminal. E te faz ficar com um medo do caralho de ser presa novamente. Vai saber, né.
Minha chefe, incrivelmente, não ficou sabendo de minha pequena visita ao xadrez, para o bem do meu fundo monetário para sapatos. Eu estava trabalhando que nem cachorra e estava tão simpática que minha taxa de insulina estava baixa, porém, minhas gorjetas estavam crescendo exponencialmente. Ou sei lá. Nunca fui boa em geometria.
Como esperado, estava nevando e a temperatura estava uns cinco graus negativos lá fora, mas dentro do Planeta Hollywood o clima era agradável e as famílias retiravam seus casacos e ficavam tranquilamente de suéter. Suéteres vermelhos e verdes. E sabe por quê? Porque hoje é véspera de Natal.
O que famílias faziam comemorando a noite de Natal no Planeta Hollywood era minha grande pergunta, mas, todavia havia uma fila enorme de pessoas para entrar e já eram 22h. Essas gerações de hoje, todas sem respeito algum pelo espírito natalino... Tsc tsc. Não que eu tivesse esse espírito. Mas eles deveriam ter, porque aí eu não teria que trabalhar e poderia dormir. Na verdade, não, porque eu tinha que pagar uma viagem internacional de Londres de última hora que certa loira peituda fez o favor de comprar. Aquela maldita.
Apesar de tudo, a noite correu rápido e antes que eu percebesse já não havia mais fila lá fora. As poucas mesas que sobraram estavam com pessoas bêbadas e conversando, então eu não tinha mais que ficar andando de um lado para o outro. Não que isso fosse de algum consolo, porque eu ainda teria que limpar a porra do restaurante inteiro antes de sequer cogitar voltar para minha linda cama.
— Opa, o Papai Noel acertou em cheio esse ano com o meu presente, gata, você é tudo o que eu desejei o ano inteiro. — Uma voz sussurrou atrás de mim, que já estava passando pano em uma mesa já vaga.
Revirei os olhos. Contive o sorriso e virei-me para Tyler.
— Esse é o nosso ponto de encontro agora?
— Talvez. Vou te pedir em casamento aqui.
— Vou te dar um soco na cara.
— Vou levar isso como um sim.
Dei um tapa em seu ombro. Olhei para o relógio.
— Não tem nada melhor para fazer às duas da manhã na noite de Natal, não?
— Nada é melhor do que te ver com essa legging preta apertada.
— Vai se fuder.
— Eu também te adoro.
Minha chefe nos encarou de longe com um olhar desconfiado, mas sorriu ao ver que era Tyler. Eu hein.
— Sério, Tyler, o que você veio fazer aqui?
— Te levar para casa.
— Palhaço.
— É sério.
Encarei-o desconfiada e depois para o restaurante. Haviam duas mesas que já estavam terminando e de resto eu já havia limpado todas as mesas junto com os outros três garçons. Não era como se eu não pudesse sair, sabe...
— Sua chefe liberou.
— Coitada. Ela vai acabar se apaixonando por você.
Tyler riu e deu uma piscadela.
— Fazer o quê, né? Todas acabam.
Retirei meu avental e joguei-o contra o peito dele.
— Já volto, garanhão. Vou me trocar.
Fui para o vestiário e peguei minha bolsa, coloquei meu suéter vermelho sangue, meu cachecol de caveiras, o sobretudo preto e coloquei os tênis na bolsa, calçando as botas de montaria. Retoquei o batom vermelho e dei uma arrumada no cabelo. Coloquei os protetores de ouvido e passei por minha chefe sorrindo e agradecendo o dinheiro das minhas gorjetas que estava em sua mão, além de ser liberada antes, já que Tyler me esperava no início das escadas para a Times Square.
O caminho para meu apartamento foi tranquilo. Eu não sabia se Tyler sabia, mas ele não iria dormir lá. Só se ele resolvesse dividir a gaiola com o Muchu. Ou seja lá onde o dragão dorme.
Tyler insistiu em pagar o táxi e eu não reclamei. Ele deu uma boa gorjeta para ele, já que o coitado estava trabalhando no Natal, né. De qualquer jeito, ele pareceu um sujeito simpático.
Subimos para o apartamento lentamente e eu senti um cheiro muito estranho e peculiar. Não poderia estar vindo de meu apartamento, afinal, era um cheiro bom de comida. E vamos combinar que né, do meu apartamento, cheiro bom de comida... Piada.
Tyler abriu a porta com sua chave (intimidade é uma merda) e, incrivelmente, o cheiro bom de comida vinha sim do meu apartamento. Especificamente da bancada da cozinha, onde um peru muito apetitoso estava depositado. e Jules usavam aventais vermelhos e estavam arrumadas, cada uma com duas taças de vinho em mãos.
— Feliz Natal! — Falaram em coro.
Arregalei os olhos.
— Quem são vocês e o que aconteceu com as minhas colegas de quarto.
revirou os olhos e enfiou a taça de vinho em minhas mãos.
— Para de reclamar, sua puta. Fizemos isso para você.
Deixei meu queixo cair.
— Sério?
— É, porra. Você iria chegar mais tarde e teria que trabalhar justo na véspera, então resolvemos fazer algo especial pra você.
Abracei-a forte, tomando cuidado para não derramar o vinho.
— Sua linda! Não acredito que você cozinhou pra mim! Viu, o Sr. Glu Glu voltou do inferno!
— É, bem, na verdade...
— Shhhh. Não estraga o momento. — Sussurrei e ela riu, me abraçando de volta. — Te amo, loira.
— Também te amo, vadia.
— Ai, que lindo, abraço em grupo! — Tyler veio para nos abraças zoando, mas ambas respondemos um curto “não” e ele fez bico. — Grossas.
Rimos e Jules veio calmamente com seu ar zen de sempre. Ou, como eu prefiro dizer, seu ar maconhado.
— Feliz Natal, .
— Não sabia que você comemorava o Natal. É um feriado cristão, sabe. Nascimento de Jesus e essas coisas.
Ela sorriu serenamente e me abraçou. Retribuí o abraço e pensei em jogar vinho nela, mas era Natal né, então resolvi dar um descanso pra hippie.
— Natal não é somente sobre o nascimento do Messias, . É sobre a união das pessoas, a fraternidade, o amor, o carinho.
— Ahn, tá. Feliz Natal, Jules.
Ela me soltou e eu bebi um gole de meu vinho, antes de apoiar a taça na bancada para retirar meu casaco e meu cachecol e jogá-lo em meu quarto.
Tyler estava sentado no sofá tranquilamente, conversando com Jules, enquanto Muchu estava em cima da televisão. Como que ele subiu lá, só Deus sabe.
estava terminando de colocar os pratos na mesa, quando o interfone tocou. Olhamos para o relógio. Eram 3h15.
Confusa, atendi o interfone.
— Oi?
— Oi, aqui é o Noah, libera aí.
— Ahn... Noah... Acho que não.
Tyler apareceu atrás de mim e me empurrou gentilmente para o lado.
— Oi Noah, beleza? Sobe aí.
E apertou o botão liberando a entrada.
e eu o encaramos.
— Noah?
— Ah, é um amigo meu do trabalho. Gente boa. Ia passar o Natal sozinho porque a família mora longe, então chamei ele.
Fuzilamos Tyler com o olhar.
— Ah, qual é gatinhas, relaxem. Espírito natalino, lembra?
Revirei os olhos e destranquei a porta à contragosto, resmungando enquanto xingava baixinho e colocava mais um prato sobre a bancada da cozinha.
Espírito natalino é a minha pica, isso sim.

’s POV.


— Você tem que aprender a avisar as coisas, Tyler. Aqui não é a casa da mãe Joana não, você sabia? – estava falando enquanto eu ia até a cozinha checar o arroz que estava fazendo.
Fazia tanto tempo que não comíamos arroz que eu duvidava que vendesse aqui, mas Jules tinha achado um lugar que vendia comida orgânica. Então aqui estava eu, fazendo arroz depois de meses e tomando todo o cuidado do mundo para não estragá-lo. Destampei a panela do arroz quando vi que estava pronto e andei até os armários da cozinha para pegar um prato fundo. Coloquei o arroz dentro, depois sobre a bancada e estava prestes a voltar para a cozinha quando ouvi vozes crescendo na sala.
Vigiando a mesa com olhar carnívoro e parecendo um urubu, estava , Jules estava afagando seu dragão e falando alguma coisa para Muchu. Mas lá estava Tyler abraçando um cara muito, muito mesmo, gato. Eu imediatamente percebi como eles claramente se conheciam. E portanto, esse era o amigo, Noah.
Noah era um cara alto e forte. Ele tinha o rosto angular com uma barba rala crescendo ao redor de seu maxilar, um nariz que se encaixava nos traços másculos de seu rosto e olhos castanhos escuros pequenos, com cílios longos e curvados. Imediatamente pensei como devia estar irritada com os cílios dele. Ela odiava homens com cílios longos porque tinha inveja pelos seus não serem tão grandes. Depois pensei em como ele parecia um modelo galinha.
Os lábios bem definidos e cheios de Noah se abriram em um sorriso que mostrou seus dentes brancos e alinhados quando Tyler o abraçou com força
— E aí, seu bosta?
— Fala aí, bostão, beleza? - A voz de Noah era grossa e rouca, mas respondia no mesmo tom brincalhão de Tyler.
Eles falaram mais algumas coisas que minha mente não processou porque ainda estava abismada com a beleza exótica de Noah. Mas quando eles pararam seu momento gay de amigos, Tyler se afastou, colocando um braço ao redor dos ombros de Noah e balançando o amigo enquanto ria. Noah, também rindo, levou a mão até a cabeça e puxou o gorro natalino típico de papai noel que escondia seu cabelo que... Surpresa, surpresa, também era lindo: fios castanhos escuros curtos com um ar de “acabei de transar”.
Os olhos de Noah vagaram pela sala e notaram Jules, ele sorriu divertido ao vê-la falando com a iguana e sua sobrancelha ergueu-se levemente, provavelmente se questionando qual seria o problema dela. Então Jules percebeu seu olhar e saiu de perto da iguana, jogando seus cabelos de ponta verde para trás. Eu nunca pensei que fosse ver Jules desconcertada por causa de um homem, mas ali estava o momento.
— Cara, essa é a Jules. Ela mora aqui.
Noah abraçou Jules em cumprimento e eu pude notar o belo traseiro que ele tinha escondido por suas calças jeans. Dei também uma reparada em sua roupa inteira, ele usava uma calça jeans escura e uma jaqueta jeans alguns tons mais claro com uma camisa azul acinzentada em baixo que tinha algo escrito como “Barack n’ roll” com uma caricatura do Barack Obama do lado. Ele colocou o gorro natalino no bolso de trás da calça e deu a volta na mesa para ir até , quando Tyler começou a puxá-lo para apresentá-lo para minha melhor amiga.
— E essa beldade aqui é minha melhor amiga, . – Tyler falou com um sorriso brincalhão no rosto e bateu na bunda de que devolveu o tapa no braço dele.
— Seu traste, olha como você me apresenta para seus amigos. – Ela chiou para Tyler que abriu-lhe um sorriso irônico e revirou os olhos.
— Pelo menos ele acertou na parte da beldade. – Noah comentou e por estar de costas para mim não pude ver sua expressão, mas pude ver estreitar os olhos para seu elogio e depois sorrir completamente encantada.
Seu sorriso de batom vermelho só aumentou e eu vi Tyler torcer quase imperceptivelmente o nariz quando Noah abraçou rapidamente. Ela se afastou, piscou com um olho e fez graça para Noah, apalpando os próprios cabelos no ombro, e ele riu. Sua risada também era rouca como sua voz e seus ombros balançavam enquanto ele ria. podia ter tirado os olhos da comida, mas seu olhar esfomeado não foi embora enquanto ela interagia com Noah.
Voltei para a cozinha silenciosamente enquanto eles ainda interagiam e me olhei no espelho do fogão. Eu estava apresentável. Na verdade, eu achava que estava bem gata hoje. Fiquei feliz pela escolha de roupa que fiz: um vestido rosa claro tubinho e curto que grudava em meu corpo, dando-me todas as formas que eu gostaria e uma sapatilha de mesma cor com um lacinho na ponta. Tirei o avental de minha cintura e apertei minha bochecha para trazer cor para as mesmas e passei os dedos nos lábios para espalhar o batom novamente.
! – gritou da porta da cozinha e entrou de olhos arregalados.
— O quê?
— Venha conhecer imediatamente esse amigo do Tyler, minha nossa, , que cara é esse... – Ela começou a me puxar enquanto continuava a falar em sussurro, visto que poderia ser ouvida por eles. – Acho que estou molhada só de olhar para ele e meu Deus que cara mais gos...
A voz de morreu porque, bloqueando a passagem para fora da cozinha, estavam Tyler e Noah. Nossos passos pararam abruptamente e eu tive que piscar para me recuperar do que eu estava vendo. Senhor, ele era ainda mais bonito de perto. Tyler puxou Noah pelo ombro e este sorriu animado para minha melhor amiga e eu.
— Noah, essa loira aqui é a . – Tyler disse apontando para mim com o indicador e sorrindo. – , esse é meu grande amigo, Noah Shaw.
Eu fiquei meio perdida no tempo e espaço quando Noah aproximou-se sem cerimônias de mim e abraçou-me pela cintura como se me conhecesse a anos. Sua pegada era óbvia até mesmo em seu abraço e ele cheirava a canela, álcool misturado com alguma colônia masculina e sexo. O homem exalava sexo.
— E aí? – Ele disse quando se afastou e lançou-me um sorriso de parar o coração, mas o meu já estava paralisado há alguns segundos então eu recuperei-me rapidamente.
— E aí. – Respondi com meu melhor sorriso. olhou para mim de olhos arregalados, depois para Noah que continuava a me encarar e depois para Tyler que sorria divertido alheio aos efeitos sedutores que seu amigo tinha em nós.
— Legal. Agora todo mundo se conhece, cadê as bebidas? – Ty falou aproximando-se de e puxando-a pelo pulso até os armários da cozinha. – Aponta para as bebidas de verdade e eu pego.
— O vinho está em cima da bancada, seu retardado. – revirou os olhos para ele e saiu da cozinha.
— Gata, vem cá... – Tyler riu seguindo-a para fora da cozinha.
Eu sorri para a cena, achando graça de Tyler indo atrás de . Será que ela não percebia o quanto ele comia na mão dela? E quando pisquei para a realidade encontrei Noah ainda me encarando com um sorriso brincando com o canto de seus lábios.
— Então, Noah. – Falei limpando a garganta e indo em direção do forno para olhar as batatas dentro dele. – O que você tinha planejado para o Natal até Tyler convidar você?
— Ah. – Ele deu de ombros e seus olhos acompanharam-me enquanto eu me movia pela cozinha. – Beber até esquecer a noite, ir a baladas, comer alguém. Essas coisas.
Ergui uma sobrancelha para sua sinceridade, mas eu tinha que aplaudir pelo jeito tranquilo com o que ele falava aquilo. Não consegui segurar um riso curto que saiu de mim e Noah sorriu para a minha reação.
— Sei. Que pena que você não vai poder aproveitar sua noite desse jeito, então.
— Não tem problema. Mudanças de planos são legais. – Noah inclinou a cabeça levemente para o lado enquanto me observava tirar as batatas de dentro do forno e seus olhos foram até minha bunda durante alguns segundos.
— Seria mudar muito seus planos se eu pedisse para você me entregar aquele avental de cozinha? Não quero sujar minha roupa e... – Antes que eu terminasse minha frase, meu avental estava na minha frente.
Soltei o prato das batatas ainda dentro do forno e ergui-me, fazendo o movimento de tal modo que meu corpo roçasse no de Noah, que estava logo atrás de mim. Ele abaixou a mão com o avental e eu sorri satisfeita quando minha bunda encostou-se à lateral da coxa dele. Puxei meus cabelos para um lado do pescoço e olhei para ele por cima do ombro.
— Pode passar o fio por cima de meu pescoço por favor?
Noah sorriu e o avental apareceu na minha frente novamente, ele puxou os fios ao redor de meu pescoço e deu um laço pequeno, quando terminou suas mãos pousaram sobre meus ombros, suas palmas quentes sobre meu vestido.
— Obrigada. – Murmurei.
estava certa, essa cara te deixava molhada só de olhar para ele.
— Ah, Noah. Você podia ter esperado até o jantar começar para poder cair em cima da , né, seu bostão. - Tyler entrou na cozinha com duas taças nas mãos e estava atrás dele, segurando sua própria taça.
Noah afastou-se e pegou uma taça, depois Tyler envolveu o ombro do amigo com o braço e eles saíram da cozinha rindo. arregalou os olhos para mim e lançou-me um sorriso malicioso. Dei de ombros para ela, mas não consegui segurar um sorriso malicioso também. Ela abanou o próprio rosto e sua boca falou mudamente “Gostoso”. Eu assenti e tirei o prato das batatas do forno antes que elas queimassem, o que iria acontecer caso eu não parasse de me distrair enquanto fazia tal tarefa.
Levei o prato até a bancada e fui até a sala atrás de , que me contava como havia sido o turno do dia no Planeta Hollywood. Jules estava sentada no sofá ao lado de Tyler e Noah e contava para eles alguma coisa sobre a posição das estrelas estarem favoráveis para a noite de Natal. entregou-me minha antiga taça e nós duas sentamos na bancada durante alguns minutos para conversar sobre nossos dias.
Eu contei para ela como a Sra. Delawicz havia dito para Edgar que ia viajar, mas havia me dito que estava indo passar o Natal na casa do amante, Mason e fez uma careta de nojo enquanto concordava com meus xingamentos sobre ela. Depois Tyler apareceu perto de nós.
— Então, cadê a comida? Estou morrendo aqui. – Ele perguntou batendo contra a barriga.
— Eu chamaria você de nojento... – começou, mas depois abriu um sorriso brincalhão e bateu contra a própria barriga. – Mas também estou esfomeada. Vamos acabar com esse banquete, Ty.
Ela saltou do banquinho e dando uma pequena piscada para mim, puxou Tyler para a mesa para que pegassem seus pratos e se servissem. Jules levantou do sofá, pegou Muchu e avisou que ia colocá-lo para dormir e depois rezar alguns minutos antes de vir para a ceia. Fiz careta para ela, mas deixei que fosse. Não dava para exigir muito de Jules e suas crenças.
Quando e Ty começaram a me rodear para irem se servindo das coisas na bancada onde meu banquinho estava parado na frente, levantei-me e meu olhar encontrou o de Noah. Ele havia apoiada sua taça na mesinha de centro em frente ao sofá e observava a cena com um ar de diversão, vendo-me olhar para ele, bateu sua mão na almofada do sofá ao seu lado e eu andei lentamente até lá, enquanto escutava dizer para Tyler pegar menos comida ou não sobraria nada para ela.
— Companheira de apartamento interessante. – Noah falou quando sentei-me ao seu lado.
— Quem? Jules ou ?
Noah pensou alguns segundos na resposta, então virou seu rosto maravilhoso para mim com um sorriso pequeno no rosto.
— Ambas. – Seus olhos desceram para meus lábios e ele se ajeitou no sofá, colocando um braço ao redor de meu corpo e girando-se para sentar mais ou menos de frente para mim.
— Bom, Jules é bem alternativa em todos os sentidos possíveis. E é... Bom, . – Dei ombros e revirei os olhos para a cena de batendo em Tyler com a colher de arroz.
— Com o que você trabalha? – Noah perguntou.
— Eu sou formada em psicologia, mas não trabalho com isso atualmente. E você?
— Trabalho com Tyler na Madison Square Garden. Mas estou na parte pública da coisa, enquanto ele trabalha na parte interna.
— E como vocês se conheceram?
Um sorriso malicioso brotou nos lábios dele.
— Frequentamos as mesmas festas.
Ah, festas como a balada maravilhosa que Tyler havia levado eu e uma vez? Porque se forem lugares como aquele que Noah frequenta, está explicado o cheiro de sexo que ele exala.
— Você não tirou seu avental. – Eu percebi que a voz de Noah soava muito mais perto e quando notei, ele realmente estava mais perto. Seu rosto tão próximo de meu ouvido que ele parecia estar sussurrando algo para mim.
O interfone tocou e largou seu prato sobre a mesa para atendê-lo.
— Esqueci. – Minha voz saiu como um sussurro e eu me perguntei por que me sentia repentinamente tonta com a proximidade de Noah. Seria o álcool do vinho? Seria uma crise de labirintite? Seria somente a atração que eu sentia pelo cara gato inclinado sobre mim?
Noah sorriu lentamente e seus olhos abaixaram novamente para meus lábios. Ele se inclinou mais um pouco sobre mim, encostando seus próprios lábios em meu pescoço. Eu inspirei profundamente enquanto as mãos dele iam até meu pescoço e desfaziam o nó do avental.
Eu fechei meus olhos, aproveitando o momento e esquecendo completamente do fato que eu não o conhecia, havia trocado apenas umas cinquenta palavras com ele ou que eu estava em um “relacionamento” com um inglês quando o mundo pareceu gritar para mim que não havia jeito de esquecer nenhuma dessas coisas.
? – E o sotaque e a voz de Charles interromperam meu momento.

’s POV.


O grito de Chuck quase me fez derrubar a taça de vinho. Tyler e eu adentramos a sala e nos deparamos com Noah bancando o Damon Salvatore pra cima de . Sorri orgulhosa de minha bfff, até perceber que Chuck não sentia orgulho que nem eu. Ele tava é soltando fumaça pelas orelhas.
— Chuck?! O que você...
— Eu é que te pergunto, . Bloody hell, foi por isso que você me deixou na Inglaterra?
Isso nada, inglês. Eu sou Noah, prazer.
Chuck fez uma cara assassina que até Jules tremeu, a qual estava parada no corredor observando a cena.
— Olha gente, acho que nós deveríamos comer e esquecer tudo isso, comemorar o nascimento de Jesus né... Paz, alegria, essas coisas...
, acho melhor você ficar quieta. — Tyler sussurrou em meu ouvido.
Mesmo aquele sendo um assunto entre a loirinha e o loirinho ( e Chuck), todos nós ficamos ali, na sala, como bons fofoqueiros e barraqueiros que somos. Até Noah, que era o causador da discórdia, permaneceu sentado no sofá com um olhar divertido.
levantou-se do sofá, retirando o avental de uma vez e passando as mãos pelas laterais do vestido rosa. Chuck ainda estava com resquícios de neve no sobretudo marrom escuro que usava.
— Chuck, eu não entendo. Você mesmo disse que sou livre e posso dar a mão para quem eu quiser. — parafraseou o que Chuck supostamente teria dito em alguma das brigas deles.
— DAR A MÃO, ! A mão! Não brincar de fucking Crepúsculo.
— Eu nem sequer beijei Noah.
— Mas ia beijar.
— Talvez. Eu não sei. Isso importa?
Eu abri a boca para responder, mas Tyler me deu um beliscão. Poxa, eu só ia expressar minha pobre opinião.
— Claro que importa, ! Eu te disse que estou apaixonado por você.
A voz de Chuck saiu com um tom pesado de mágoa e eu vi os ombros de despencarem e seu rosto se contorcer de leve.
— Charles, você sabia que havia algo de errado quando eu saí correndo de Londres. Eu só... Preciso de um tempo.
— Você precisa de um tempo ou está me enrolando porque não sabe como me chutar?
prendeu a respiração e eu mordi mais um pedaço de peru, tensa com a cena. Meu Deus, parecia que eu estava presenciando uma cena de novela mexicana ao vivo.
Noah, que estava sentado, sorrindo divertido até o presente momento, levantou-se e isso atraiu o olhar de Chuck.
Tyler repreendeu-o com o olhar, mas este parecia gostar de um perigo, porque andou até e posicionou a mão nas costas dela.
— Olha, inglês, eu sei que acabamos de nos conhecer, mas acho que a dama deveria ter o poder de escolha entre nós e...
— Cala a boca, Noah. — Eu e falamos ao mesmo tempo.
Chuck apertou as mãos em um punho e eu estava prestes a pausar a briga para poder estourar pipoca antes dela começar, quando deu alguns passos para a frente e tentou segurar uma das mãos do inglês. Ele se afastou abruptamente e a fuzilou com o olhar cheio de mágoa e rancor.
— Não encosta em mim, sua vadia. — Chuck vociferou.
Epa.
— Ow, ow, ow. Parado aí, inglês. A única pessoa que pode ser chamada de vadia por aqui sou eu.
Quando Chuck percebeu que havia chamado de vadia no calor de seu ódio, abriu a boca e relaxou o rosto, provavelmente para pedir desculpas, mas não conseguiu porque o tapa de calou sua boca.
Tyler e Noah arregalaram os olhos surpresos. Eu somente ri e soltei um “É ISSO AÍ, IRMÔ.
— ESCUTA AQUI, SEU INGLÊS DE MERDA, VADIA É A SUA MÃE! Tá achando que pode falar comigo assim? Que eu sou qualquer uma pra você me chamar do que quiser? VOU TE MOSTRAR JÁ JÁ COMO SOU ESPECIAL QUANDO ARRANCAR SUAS BOLAS COM O ABRIDOR DE VINHO. — gritou apontando o dedo na cara de um Chuck confuso.
— Porque ela tá falando em Espanhol? — Noah perguntou confuso.
— É português, sua anta. Fala-se português no Brasil. — Rebati.
, ainda xingando o inglês em português, avançou para cima dele. Noah a segurou com força pelos dois braços e eu me virei à procura de Tyler para ajudá-lo, mas o imprestável havia sumido, provavelmente para dentro da área de serviço para pegar uma vassoura ou alguma arma para afastar Chuck e . Jules, que estava sentada no chão do corredor, rezando alguma coisa em hindu, não me pareceu que iria ajudar muito.
Chuck ainda estava atordoado do tapa e estava sendo segurada por Noah, então eu resolvi buscar o taco de beisebol no nosso quarto, só para assustar o inglês. Foi quando eu passei por Jules no corredor que a coisa mais bizarra do mundo aconteceu.
— AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH! — Tyler gritou alto, xingando logo em seguida. E quando eu virei de volta para a sala, encarei a cena perdida.
Charles havia mordido o nariz de Tyler. A iguana. Não o inglês. Seria muito estranho se o inglês tivesse mordido o nariz de Tyler, mesmo que já seja realmente muito estranho que Tyler tivesse sido mordido por uma iguana, a qual ainda estava com a boca presa no nariz dele, balançando de um lado para o outro enquanto ele gritava.
A partir daí, tudo aconteceu absurdamente rápido.
— Que porra é essa? — Noah perguntou.
— CHARLES! — Jules gritou.
— Que foi? — Chuck respondeu.
— MUCHU! — gritou.
— Alguém pode me responder que putaria é essa? — Noah perguntou, soltando .
Eu corri até Tyler e peguei o dragão pelo rabo, puxando-o. Ele se soltou resmungando, com aqueles olhos de réptil doido. Quando Muchu começou a se debater e eu achei que ele iria me morder, joguei-o para cima de Jules, que o segurou e o abraçou quase chorando.
— Charles, meu Deus, o que fizeram com você?!
— Ah, me deram um tapa na cara... — Chuck comentou.
— Não você, idiota. — Eu respondi. — O Godzilla.
— Iguana filha de uma puta. — Tyler reclamava com o nariz inchado e vermelho.
— O que você fez pra ele te morder?! — perguntou atordoada.
— Eu ofereci peru para ele, mas quando ele pulou pra pegar a carne ele veio pra cima de mim e mordeu meu nariz ao invés do pedaço de carne em minha mão.
— AHÁ! EU DISSE QUE ELE GOSTAVA DE CARNE! — Eu gritei vitoriosa.
— Seus idiotas! Charles é vegetariano! Ele fica violento se come carne!
— Na verdade, eu...
— A IGUANA, CHUCK — Todos gritamos ao mesmo tempo para ele.
Tyler sentou-se numa das banquetas perto da bancada, falando todos os palavrões existentes no mundo enquanto Jules conversava baixinho com Muchu, O Assassino. foi buscar um pano com água e Chuck ficou parado, encarando Tyler, enquanto Noah andava de um lado para o outro, provavelmente desejando ter passado o Natal sozinho.
— Ele não vai morrer, vai? Quer dizer, a mordida de iguana não mata? — Noah perguntou.
— Isso é do dragão de Komodo, cara. — Ty respondeu irritado.
— Quer que eu chame uma ambulância? — Chuck finalmente se manifestou.
— Não, vamos pro hospital, mas sem ambulâncias. — Proclamei.
Dei um beijo na bochecha de Tyler e corri para meu quarto, cruzando com que carregava uma toalha ensopada quente. Peguei minha bolsa, coloquei a carteira, dinheiro, celular, umas luvas e outro casaco. Vesti meu sobretudo e voltei para a sala. Noah recolocou seu sobretudo e foi abrindo a porta do apartamento, enquanto Chuck segurava o pano no nariz de um Tyler irritado. foi colocar um casaco e vestir meias calça, já que estava de vestido.
Peguei um pote e enfiei um pouco de peru dentro. Vai saber quanto tempo eu teria que esperar no hospital?
— Você vem, Jules? — perguntou.
— NÃO. Seus malucos. Vou ter que fazer uma oração profunda para retirar este trauma da alma de Charles.
— Ah, obrigada por rezar por minha alma. — Chuck disse.
Todos nós fuzilamos o inglês. Ele só deu de ombros e começou a descer as escadas, já que o velho elevador de nosso prédio estava demorando para chegar. Desci lado a lado com Ty, que ainda segurava seu nariz com a toalha e resmungava, enquanto trancava a porta atrás de nós.
Ao sairmos na rua, Noah, graças à Deus, havia contatado o serviço de táxi assim que Tyler fora mordido e este já nos esperava próximo ao nosso prédio. Noah foi na frente e nós quatro tivemos que nos espremer atrás. Como Tyler estava machucado, eu não poderia ir em seu colo, o que acabou sobrando para ir no colo do inglês. Ambos tiveram uma pequena briga por isso, mas o espírito da iguana assassina havia colocado um pouco de compaixão em seus corações.
O taxista nos olhos sobressaltado e de olhos arregalados:
— Para onde vamos?
— Para o Hospital mais próximo que tiver. — respondeu.
— Rápido, por favor. — Chuck complementou.
— Calem a boca vocês dois, por favor. — Tyler choramingou.

’s POV.


entrou ao lado de Tyler na emergência e o resto de nós fomos para a recepção. Tentando expulsar o ódio constante por Chuck que espalhava em minhas veias, sentei-me do outro lado da recepção, procurando ficar bem longe dele. Ele não reclamou ou pediu para que eu senta-se perto dele. Bom mesmo, filho da puta.
Cruzando os braços sobre meu peito, fiquei observando as várias pessoas chegarem para serem atendidas na véspera do Natal. Todo o trabalho que eu tive de preparar a comida para depois ter que sair correndo de casa por causa de um dragão idiota. Revirei os olhos para mim mesma e bufei irritada ainda encarando a porta da emergência e esperando voltar com Ty.
Meia hora depois, eu já tamborilava os dedos contra o apoio de braço da cadeira e sentia minha bunda formigar pelo desconforto. Meus olhos passaram pela recepção, analisaram Chuck rapidamente, mas ele estava ocupado digitando freneticamente em seu blackberry para perceber que eu estava encarando-o de cara feia. Caralho, trabalhando no Natal? Suspirei exasperada e me levantei em um pulo.
Noah levantou o olhar de uma revista de esportes para mim e franziu a testa em confusão. Eu só fiz um gesto impaciente com minha mão e sai andando pelos corredores do hospital a procura de uma máquina de comida ou bebida. Eu estava com fome, porra. Por que tinha que ter levado a sua bolsa com o pedaço de peru? Merda. Eu vaguei desatenta pelos corredores e alguns médicos me olhavam com cara feia. Então, finalmente, achei uma máquina, pesquei dentro de minha bolsa por algumas moedinhas e consegui dinheiro o suficiente para comprar um café.
— Acho que aqui tem uma cantina. – A voz de Noah soou atrás de mim.
Peguei o copo da máquina e virei para encará-lo. Ele ainda estava com sua pose tranquila e sexy, com as mãos no bolso da calça jeans e o sobretudo caindo sobre a jaqueta jeans. Perguntei-me se ele não estava sentindo frio somente com aquelas roupas, porque eu estava congelando dentro de meu casaco, vestido e meia calça.
— É. Mas eu precisava andar um pouco.
Noah ponderou minha resposta, depois assentiu distraído enquanto olhava para a máquina de lanchinhos ao lado da qual eu havia comprado meu café, que agora eu tomava em pequenos goles e torcia para que aquecesse meu corpo. Depois de algum tempo olhando para os alimentos em disposição, Noah virou-se para mim.
— O que você quer? Um pacote de jujubinhas ou mini-cholocatinhos?
— Você vai dividir jujubinhas comigo? – Respondi erguendo uma sobrancelha para ele e não consegui segurar minha risada.
— Eu não estava pensando em dividir. Estava mais inclinado a fazer alguma coisa do tipo “oferecer e torcer para você não aceitar”. – Ele deu-me um sorriso sarcástico enquanto colocava duas notas de um dólar na máquina e escolhia as jujubinhas para comer.
Observei o pacote de comida girar e cair da máquina. Noah pegou o mesmo, abriu-o e pegou uma mão cheia de jujubinhas, que ele enfiou garganta abaixo em uma ultra mordida.
— Bom, obrigada pela educação. – Falei com um meio sorriso. – Mas não quero jujubinhas. Estou morrendo de fome e acho que devoraria até o pacote se você as entrega-se para mim.
— Vou guardar o pacote para você, então. – Ele respondeu piscando com um olho para mim e nós voltamos para a recepção de onde havíamos saído.
Quando sentamos novamente em nossos lugares, dessa vez Noah sentou ao meu lado e Chuck fuzilou-o com o olhar, o tempo que tivemos de esperar foi o suficiente para que terminasse meu café. Então apareceu na porta da emergência ao lado de Tyler e ela ria enquanto ele estreitava os olhos em sua direção, mas obviamente tentando esconder seu próprio riso. Eu sabia que estava rindo do band-aid gigantesco que haviam colocado sobre o nariz de Tyler.
Minha melhor amiga foi falar com um das recepcionistas do hospital, provavelmente para pegar os papéis que dispensavam Tyler. Este se aproximou de mim e Noah com uma careta de dor.
— Espero que esse band-aid não impeça você de ir viajar comigo no ano-novo, cara. Ou eu vou ficar muito puto. – Noah falou para ele com um sorriso brincalhão no rosto.
Tyler deu um soco no ombro de Noah.
— Eu vou tirar essa merda assim que pisar fora desse hospital. Só vim aqui para poder conseguir alguns analgésicos.
— Drogado. – Murmurei e Tyler deu-me um sorriso sarcástico e revirou os olhos.
— Então nós vamos viajar? – A voz de Noah encheu-se de animação e ele parecia um adolescente recebendo as chaves do carro novinho em folha.
— Vamos, Noah. – Tyler revirou os olhos, mas ele também parecia animado com a ideia. – Aliás, . Falei com . Vocês podiam vir com nós, estamos indo para Las Vegas para o ano-novo.
— Tyler, como você sugere que e eu paguemos para ir para Las Vegas no meio da temporada? Eu ainda estou tendo que lutar para pagar minha passagem da Inglaterra.
Chuck, escutando o nome de seu país, aproximou-se de nós.
— Podemos ir de carro. – Tyler sugeriu dando de ombros.
— Vamos de carro para onde? – perguntou voltando para perto de nós.
— NÃO. EU NÃO VOU PARA LUGAR NENHUM COM DIRIGINDO.
— Eu posso dirigir. – Chuck falou de repente e todos nós viramos para encará-lo.
Minha mente estava gritando “DESCULPA INGLÊS, MAS QUEM CHAMOU VOCÊ PARA A VIAGEM MESMO?”, porém eu me contentei em lançá-lo somente um olhar irritado. Com minha visão periférica, vi Noah mudar de posição na cadeira ao meu lado, mas ele também se manteve silencioso, colocando somente a mão sobre os lábios como se isso fosse silenciar a si mesmo.
— Tá. Pode ser. – finalmente respondeu e eu engoli minha vontade de chutá-la na bunda. – Então nós vamos? De carro? Para Las Vegas?
Suspirei.
— Ok. Acho que posso tirar folga no ano-novo.
soltou um gritinho empolgado e puxou-me para fora cadeira, esmagando-me em um abraço animado. Depois ela abraçou Tyler e acidentalmente acertou-o com o braço no nariz.
— Ai, caralho .
— Desculpa, fracote. Agora vem comigo assinar sua liberação e vamos todos aproveitar nossa ceia. – Ela respondeu dando-lhe um sorriso amarelo e puxando-o pelo pulso para a mesa da recepção.
Chuck olhou para mim, seus olhos azuis mais suaves e menos irritados. Mas não disse nada, simplesmente encolheu os ombros em resposta ao meu olhar frio e foi atrás de Tyler e . Noah levantou-se no segundo que Chuck saiu e sorriu maliciosamente para mim.
— Vamos pedir o taxi, loira?
Assenti e o segui para fora do hospital. Nós tivemos que atravessar a rua para achar um serviço de taxistas e Noah prontamente pediu para que um taxi fosse chamado para todos nós. Eu me encolhi contra a parede lateral do hospital, escondendo-me do frio e esperando que meus amigos se juntassem a mim. Mas quem veio foi Noah. Ele parou na minha frente e sua cabeça inclinou-se levemente para o lado enquanto ele me encarava com os olhos castanhos parecendo mais escuros pela falta de iluminação sobre nós.
— Estou feliz que você vai com sua melhor amiga, mas não posso dizer que estou sentindo a mesma satisfação em relação ao seu namorado.
— Charles não é meu namorado. – Rebati rápido demais e senti minhas bochechas aquecerem-se e corar. Merda.
— Mas ele age como tal.
— Ele tem essa mania.
Os lábios de Noah se contorceram no canto em um pequeno sorriso sedutor e ele olhou para baixo (para mim) por entre aqueles cílios de matar enquanto aproximava perigosamente seu corpo do meu. Instintivamente, ergui ambas minhas mãos para pará-lo, mas ele entrelaçou uma de suas mãos na minha e com a outra empurrou-me contra a parede pelo ombro. Eu não conseguia desviar meus olhos dele e a tensão entre nós mudou para uma coisa muito mais sexy.
Cuidadosamente, Noah levou a mão que estava em meu ombro para meu pescoço e seu dedão alisou minha bochecha lentamente, enquanto seus olhos não abandonavam os meus. A tensão estava me matando, então eu desentrelacei nossos dedos e antes que eu pudesse me parar, minha mão estava agarrando o osso da cintura dele. Noah sorriu satisfeito e com a mão recentemente livre, puxou minha cintura contra ele e eu soltei o ar em um suspiro, a fumaça de ar quente dissipando-se entre nossos rostos.
— Noah... – Eu sussurrei, encontrando minha voz. – Você acabou de ver Charles brigando comigo, isso é errado.
— E não é isso... – Noah respondeu com a voz num sussurro rouco e seus lábios encostaram-se ao canto dos meus. – Que torna tudo mais divertido?
Foi demais para mim. Minha mão na cintura de Noah apertou-o e ele, entendendo o recado, levou seus lábios até o meu. Eu suprimi um gemido vindo de minha garganta e fechei meus olhos, entregando-me ao beijo dele. Os lábios de Noah eram quentes, macios e fortes sobre os meus, forçando meus lábios a abrirem-se e darem espaço para que o beijo se intensificasse. A língua dele invadiu minha boca e eu pude sentir o gosto das jujubinhas, o que me fez sorrir no meio do beijo.
Calmamente e sem nenhum desespero, (o que era desesperador para mim, que tinha o coração martelando contra as costelas) Noah levou sua mão em minha cintura até meu rosto e sua palma quente segurou-me pela bochecha enquanto ele aprofundava o beijo de um jeito que eu não achava possível. Não consegui conter o gemido em minha garganta quando ele me empurrou com sua pélvis contra a parede e eu pude senti-lo. Lá. Senhor, esse cara é gostoso demais. Perdida em seus lábios, a realidade me atingiu como uma faca quando Noah puxou meu lábio inferior lentamente com seus dentes.

“Quando estávamos parando o beijo, fui colocada novamente no chão e xinguei mentalmente minha genética quando tive que puxar o pescoço de Chuck para baixo comigo. Ele sorriu com a ação e por fim deu uma leve mordida em meu lábio inferior, seus dentes demorando para soltar a pele.
— Agora você também foi mordida, quem sabe conseguirá.”


Eu me afastei rapidamente de Noah, arfando após seu beijo e segurei-o longe de mim por seus ombros. A boca dele estava manchada por meu batom e um pouco inchada, ele também arfava e a fumaça de calor saía de sua boca aos poucos. Caralho, como ele podia ser sexy até respirando?
— Devem estar procurando a gente para ir embora. – Sussurrei.
Os lábios de Noah se repuxaram no canto direito em um meio sorriso e ele me puxou contra si para dar mais um selinho em mim antes de soltar minha cintura, eu segurei seu rosto por dois segundos e limpei seus lábios com meus dedões, não conseguindo segurar um sorriso orgulhoso dentro de mim. Ele piscou para mim e virou-se para voltar para o ponto de taxi. Recuperei-me rápido, passando a mão nos meus cabelos e chacoalhei meu corpo antes de ir atrás dele.


Décimo Sétimo


’s POV.


Quando eu terminei meu turno do almoço às 17h no dia 27, um dia antes de nossa viagem, troquei de roupa e saí correndo pela Times Square até o apartamento de Jace. Naquele dia não iria trabalhar no turno do jantar, porque havia trocado o turno com Brody, que iria viajar amanhã, então cobriria meu turno de hoje.
Eu usava calça jeans apertada e rasgada, botas pretas, camisa xadrez com tons entre cinza, preto e vermelho e um sobretudo azul bic. Também usava luvas pretas, gorro preto e cachecol vermelho, afinal, estava muito frio.
Quando finalmente cheguei ao prédio de uns trinta andares, o porteiro liberou minha entrada, já que Jace havia deixado meu nome com ele. Entrei no elevador e subi até o vigésimo sexto andar.
- Oi.
Jace me esperava parado na porta do apartamento, usando calça preta, tênis e um suéter apertado vinho com gola V. Seus cabelos estavam levemente bagunçados e ele usava os habituais óculos de grau. Algo no jeito nerd e despojado dele realmente mexia com os meus hormônios.
- Fala, chefe.
Dei-lhe um beijo na bochecha e já fui logo entrando em seu enorme loft, que possuía um pé direito de uns quatro metros, paredes pintadas de branco e preto, móveis modernos e evidentemente caros. Espiei a cozinha que ficava para o lado direito, toda cheia de eletrodomésticos em aço inox, então me dirige para a sala. Joguei minha bolsa preta sobre o sofá vermelho, retirei o sobretudo e sentei-me nele. Jace revirou os olhos e pegou duas taças de vinho que estavam sobre a bancada.
- Cadê meu pagamento?
- Apressada. Toma um pouco de vinho antes.
Dei de ombros e peguei a taça de suas mãos. Apoiei os pés na mesinha de vidro à minha frente, enquanto bebia um longo gole do vinho evidentemente caro, já que estava muito bom. Jace sentou-se ao meu lado casualmente, bebendo um gole também.
Coloquei minha taça sobre a mesinha e apoiei o cotovelo no apoio do sofá, minha cabeça em minha mão, virada para Jace e seus olhos verdes. Ele elevou as sobrancelhas louras e colocou a taça sobre a mesinha também.
- Sabia que...
Eu comecei a falar, mas não pude terminar. Jace já estava me beijando com força.
Arregalei os olhos, surpresa com a espontaneidade dele, além de sua ousadia. Retribuí o beijo, passando minhas mãos já despidas das luvas por seus cabelos, enquanto ele ia me deitando sobre o sofá. Suas mãos percorriam as laterais de meu corpo avidamente, apertando meus seios com força. Deixei um gemido escapar de meus lábios e arranhei seus braços levemente definidos, porém com uma força impressionante.
Quando desprendemos nossos lábios para que ele retirasse o suéter, eu sorri maliciosa e perguntei provocadora:
- Pensei que estava com medo de grudar e eu fugir, Jace.
Ele sorriu malicioso, retirando os óculos de grau e jogando o suéter longe, o seu abdômen magro, porém definido, agora à mostra. Enquanto retirava minhas botas lentamente, olhou-me nos olhos sorrindo e disse:
- Não vou te deixar fugir.
Passei minhas pernas ao redor de sua cintura e puxei-o, fazendo-o deitar-se sobre mim. Reconectamos nosso beijo e comecei a traçar minhas unhas por suas costas, fazendo-o arrepiar com o contato de minha mão gelada e seu corpo quente. Ele pressionou o seu corpo contra mim e eu pude perceber que ele era grande. Bem grande.
Empurrei-o para que ele se sentasse, então ele passou ambas as mãos por minha bunda e eu sentei-me em seu colo. Comecei a desabotoar minha camisa xadrez enquanto percorria seu pescoço com beijos e mordidas, fazendo-o suspirar alto.
Quando terminei de desabotoar, Jace arrancou a camisa fora e jogou-a longe. Seus olhos verdes brilharam ao encarar meu sutiã vermelho. Ainda bem que havia vindo preparada.
- Gostosa. - Ele sussurrou enquanto abria o fecho de meu sutiã, mas eu o impedi.
Ele não pareceu gostar muito disso, então me empurrou novamente contra o sofá e abriu o botão e puxou o zíper de minha calça jeans, antes que eu pudesse raciocinar. Puxou minha calça jeans para baixo com força, revelando minha calcinha igualmente vermelha. Tirei minhas meias com os próprios pés e então o empurrei, fazendo-o deitar. Abri sua calça jeans e puxei-a para baixo, deixando-o somente de boxer azul marinho. Seu volume gritava dentro dela. Mordi meus lábios o encarando, o que fez Jace sorrir convencido. Subi por cima dele esfregando meu corpo contra o dele e distribuindo beijos desde por cima de sua cueca até sua clavícula. Ele apertou as mãos contra minha cintura e sussurrou:
- Senta no meu colo.
Sorri aprovando seu pedido e coloquei uma perna de cada lado de seu corpo, sentando sobre seu volume. Jace começou a fazer movimentos, esfregando nossas intimidades por cima das roupas íntimas, fazendo-me gemer baixinho de prazer. O tesão já estava fazendo minha pele queimar.
Jace começou a tirar meu sutiã e, dessa vez, eu o deixei. Libertos meus seios, ele caiu de boca neles, sugando o bico do meu seio esquerdo enquanto sua mão apertava o direito. Puxei seus cabelos e inclinei minha cabeça para trás, gemendo baixo e esfregando minha intimidade contra seu membro. Suas mãos percorreram minhas costas lentamente até o cós de minha calcinha e então envolveram minha bunda. Desci meus lábios desde sua orelha direita até sua clavícula, distribuindo beijos enquanto suspirava pelo atrito de nossos corpos. Eu podia sentir minha intimidade encharcada e quente, implorando para ter Jace dentro de mim.
Nossos corpos já estavam extremamente quentes, um clamando pelo outro naquela provocação mútua. Beijei seus lábios com fogo e quando separamos, seus olhos verdes intensos encontraram os meus, penetrantes, sensuais. Fiquei perdida em seu olhar durante alguns segundos, minhas unhas descendo de leve por seus braços. Então Jace estava de pé e eu estava em seu colo.
Apertei minhas unhas em seus ombros enquanto ele caminhava para a parede mais próxima e me apoiava contra ela com força, fazendo-me bater as costas. Ele me soltou de seu colo e eu pude ficar de pé, tendo que ficar na ponta dos pés já que ele era muito mais alto do que eu.
Suas mãos percorreram meu corpo avidamente e um delas foi parar em minha intimidade, ainda por cima da calcinha, somente me provocando. Soltei um gemido baixo e segurei com força em seu membro pulsante e rijo. Um sorriso involuntário apareceu em meus lábios perante seu volume. Apesar de meu considerável número de parceiros, Jace parecia ser o mais novo vencedor em quesito tamanho do documento.
Beijando-me com força e tesão, Jace apertou minha mão contra seu próprio membro e eu percebi que ele queria um tratamento especial. Mordi o lóbulo de sua orelha e então girei, jogando o seu corpo contra a parede. Abaixei sua boxer lentamente enquanto agachava em sua frente, olhando-o nos olhos com um sorriso malicioso.
O membro de Jace pulou para fora e eu confirmei minhas suspeitas. Deveria ter uns 23 cm. Não era tão grosso, mas certamente bem comprido o que dificultaria um pouco as coisas para mim, mas encarei aquilo como um desafio.
- Ah, ... - Jace gemeu levando as mãos para seus próprios cabelos quando segurei seu membro com força e lambi toda a sua extensão.
Comecei a masturbá-lo com uma mão e sugar sua glande, lentamente, somente para provocá-lo. Uma de suas mãos fora parar na lateral de meu rosto e ele fixou seus olhos nos meus. Passei minhas mãos por todo o seu membro, lambendo os lábios e mantendo o contato visual, massageando a cabeça de seu pênis. Jace soltou um grunhido sensual e mordeu o próprio lábio com isso, fazendo-me sorrir.
Engoli seu membro até a metade e comecei um movimento de vai e vem, quebrando o contato visual, apoiando minhas mãos em seus coxas e arranhando-as. Ele gemia baixo, tentando se controlar, soltando alguns palavrões e elogios que somente me deixavam mais determinada a fazê-lo sentir prazer.
Jace passou ambas as mãos por minha cabeça, entranhando os dedos em minha cabeça, então começou a movimentar seu próprio quadril contra minha boca. Segurei em suas coxas de leve e deixei-o agir, mantendo minha cabeça parada e evitando que seu membro tocasse em meus dentes. Ele gemia cada vez mais alto até que começou a investir fundo demais e eu inevitavelmente engasguei.
- Ah, droga! - Xinguei tossindo de leve quando empurrei-o para trás.
Jace sorriu convencido, provavelmente sabendo que aquilo tinha exclusivamente a ver com o fato de ele ser muito bem dotado. Aquele sorriso metido me fez revirar os olhos e ele me puxou pelo queixo para ficar de pé.
- Gostou? - Sussurrei maliciosa, olhando-o nos olhos sensualmente.
Ele ficou alguns segundos observando meus lábios vermelhos entreabertos, então pressionou meu corpo contra o dele e contra o seu volume.
- Adorei. Vamos procurar uma camisinha que eu não aguento mais me segurar.
Mordi meu lábio inferior e sorri, concordando com a cabeça. Ele apertou minha bunda e me puxou pela mão, conduzindo-me até seu enorme quarto, igualmente moderno, com paredes em preto e branco. A vista da Nova Iorque pela enorme janela e para outros prédios não me incomodou, nem mesmo o fato de que alguém poderia nos ver transando. Sorri maliciosa com a ideia, somente então percebendo que eu estava parada no meio do quarto encarando a vista.
Jace aproximou-se lentamente por trás de mim, já vestido com a camisinha. Ele beijou meu pescoço e deslizou ambas as mãos para minha calcinha, puxando-a para baixo pelas laterais lentamente. Empinei minha bunda e ele a abaixou até minhas coxas, agachou-se e beijou-me de leve em minha intimidade, logo após retirar minha calcinha por completo e jogá-la em algum canto remoto do quarto.
Suspirei alto e puxei-o pelos cabelos da nuca para cima, empurrando-o para a cama assim que ele ficou de pé, fazendo-o cair deitado sobre ela. Lentamente, subi por cima dele e fui esfregando meu corpo sobre o dele, passando minha boca de leve por seu membro revestido, então por sua barriga, pescoço, até sua boca. Beijei-o intensamente e coloquei uma perna de cada lado de seu corpo, enquanto minhas mãos passeavam por seus cabelos. Jace segurou em minha bunda com força com uma mão e com a outra encaixou o seu membro na entrada de minha intimidade. Ele investiu contra mim lentamente, provocando-me, até entrar por completo com certa dificuldade por seu tamanho. Apoiei minhas mãos ao lado de sua cabeça, colocando meu peso sobre minhas pernas e começando a fazer movimentos para subir e descer em seu membro lentamente.
- Rebola, .
Sorri maliciosa para ele, levantando-me e sentando-me sobre ele por inteiro. Pisquei somente um dos olhos e respondi:
- Minha especialidade, Jace.
Então apoiei minhas mãos em seu peitoral e comecei a girar meu quadril em espiral por seu membro, mordendo meu lábio inferior e fazendo-o gemer um pouco mais alto. Inclinei-me sobre ele e empinei meu quadril, fazendo-o subir e descer sozinho e rapidamente, movimentos recebidos por gemidos altos de Jace. Ele apertou minha bunda com força com ambas as mãos, sussurrando um “Porra, ” em meu ouvido. Sorri vitoriosa e continuei a rebolar, atendendo aos seus pedidos.
Jace apertou seus dedos contra minha pele com força e me arranhou de leve, gemendo alto e então me virando, ficando por cima. Ele puxou minhas pernas e as juntou, virando-me de lado para ele, com ambas as pernas para somente um lado. Praticamente ajoelhado na cama, ele segurou em minha bunda empinada lateralmente e mordeu o próprio lábio longamente, seus olhos verdes queimando sobre meu corpo.
Seu membro rijo que ainda estava dentro de mim começou a ir e vir dentro de mim, enquanto Jace gemia baixinho, agora ele me chamava de gostosa. Ele ficou alguns segundos assim, lento, retirando e colocando novamente, indo um pouco mais forte, então recomeçando a tortura.
Cravei minhas unhas em suas mãos e gemi suplicante:
- Forte, Jace. Forte.
Ele sorriu malicioso e apertou minha bunda com força, movendo minhas pernas novamente e ficando num papai e mamãe clássico. E então ele me fodeu com força.
Soltei um gritinho alto de um misto de prazer e dor quando ele me invadiu com força e rapidez, até o fundo, machucando-me. Logo em seguida, ele começou um ritmo rápido, indo e vindo sem parar, uma mão apertando minha coxa e outra sobre meu seio esquerdo.
Deslizei minhas unhas lentamente por suas costas, gemendo cada vez mais alto. Seus lábios estavam pousados na curva de meu pescoço, abafando grunhidos de prazer. Puxei seus cabelos loiros, apertei minhas pernas ao redor de sua cintura, puxando-o contra mim um pouco demais. Revirei os olhos de prazer quando, inesperadamente, Jace fez um leve movimento de rebolado dentro de mim, sorrindo com a minha resposta positiva e depositando um breve beijo em meus lábios.
Apertei seus ombros tensionados e ele se apoiou sobre os braços, ficando um pouco distante de mim agora, dando uma visão de seus braços, ombros e clavícula tensionados. Mordi o lábio de tesão com aquilo e apertei meus próprios seios, fechando os olhos por alguns segundos.
Então Jace urrou de prazer, fazendo-me abrir os olhos, para vê-lo revirar os seus e sair abruptamente de dentro de mim, puxando a camisinha fora e ejaculando sobre a minha barriga, enquanto ele gemia alto e longamente, passando a própria mão por seu membro até que a última gota de seu gozo caísse sobre mim.
Confesso que fiquei extremamente excitada com o jeito que ele gozou, porque ficou evidente que ele havia praticamente atingido um orgasmo. Mas a recíproca não havia sido verdadeira.
Jace levantou-se da cama e sequer perguntou alguma coisa para mim. Pegou a camisinha e dirigiu-se ao banheiro.
- Mas o que...
Ele trancou a porta do banheiro e eu fiquei encarando ela sem entender.
Minha intimidade ainda pulsava de prazer e estava encharcada.
Eu não acredito que ele me deixou na mão. LITERALMENTE NA MÃO.
Bufei alto e soltei alguns xingamentos. Maldito fotógrafo esnobe filho de uma puta. Era MUITO bom que a porra do pagamento pelas fotos fosse alto. Desgraçado.
Fiquei ali parada, estirada sobre a cama, minha respiração ainda irregular e meus hormônios à flor da pele, o cheiro de Jace impregnado em meus cabelos bagunçados. Apesar do final, Jace havia sido muito bom. Eu ainda sentia meu corpo tremer de leve pelo prazer que sentia ainda há pouco. Maldito. Eu realmente estava precisando de um orgasmo.
Puxei os lençóis lentamente e comecei a me cobrir, decidida que iria dormir na ausência dele, quando Jace subiu na cama e puxou os lençóis de mim. Olhei para o lado assustada, dando de cara com o sorriso malicioso dele, os olhos sobre meu corpo ainda nu.
- Eu sei que gozei antes de você, mas isso não quer dizer que não vou te fazer gozar, .
Sorri maliciosa com sua resposta, mas depois mordi o lábio reprimindo ele.
- E como você pode ter tanta certeza que vai me fazer gozar?
Ele subiu por cima de mim e eu percebi que ele não só já estava ereto novamente, como vestia outra camisinha. Sorri com isso. Jace encostou nossas testas e sussurrou.
- Porque eu sou muito bom no que faço.
Falando assim, Jace me fez deitar de lado e deitou por trás de mim também de lado, como se estivéssemos de conchinha. Ele ergueu minha perna livre segurou-a com força com uma das mãos. A outra mão encaixou seu membro em minha intimidade molhada e depois foi para meu cabelo, o qual ele puxou com uma pequena força, fazendo-me puxar o ar por entre os dentes.
Senti-o entrar lentamente dentro de mim e então gemi baixinho, sentindo aquele volume delicioso dentro de mim. Puxando meu cabelo, ele começou a investir rapidamente em mim, a proximidade de nossos corpos fazendo nossos quadris estalarem a cada investida.
O prazer recomeçou a crescer dentro de mim, fazendo-me levar minhas mãos para minha intimidade molhada e massagear meu próprio clitóris. Revirei os olhos de tesão quando Jace mordeu minha orelha e sussurrou um rouco “que delícia” ao pé de meu ouvido.
Como queria me recompensar, Jace segurou-me com força e investiu em mim firme e forte, sem parar, incentivado por gemidos altos meus. Continuei com movimentos circulares rápidos em meu clitóris, aumentando ainda mais o prazer que suas investidas me proporcionavam.
- Goza pra mim, . — Jace pediu ao pé de meu ouvido, fazendo-me tremer de tesão.
Meu prazer começou a crescer gradativamente e então eu finalmente consegui alcançar o meu tão desejado orgasmo. Suas mãos apertaram-me com força e ele sussurrou meu nome em meu ouvido, não parando com a força e intensidade de suas estocadas.
Soltei um gemido alto e fino, manhoso, enquanto sentia meu corpo inteiro relaxar. O prazer se espalhou por meu corpo e eu sorri satisfeita. Jace apertou minha bunda e então deu um tapa de leve. Ele saiu de mim lentamente e somente quando o vi ir para o banheiro que percebi que ele havia gozado novamente.
Com o corpo um pouco mole, finalmente enrosquei-me no lençol, sorrindo satisfeita e podendo finalmente confirmar com toda a certeza: Jace não era nem um pouco gay e sim um homem.
E que homem.

’s POV.


Theo soltou-se de minha mão e correu até as grades que cercavam a jaula do que pareciam ser macacos que estavam pacientemente parados. Andei até Theo rapidamente e segurei em sua mão novamente, Edgar dando a mão para Anna e vindo atrás de mim.
- Quem, ? – Theo perguntou olhando para mim em fascinação pelos animais.
- São macacos-japoneses, Theo. Você gosta?
Ele assentiu animado e voltou a encarar os macacos com um sorriso estampado em seu rosto. Edgar soltou Anna e ela grudou ao lado de Theo na grade.
- Foi uma boa ideia trazê-los aqui, . – Edgar sussurrou para mim e eu desviei meu olhar das crianças para ele.
Eu sempre achei que meu querido chefe pareceria completamente deslocado dentro do zoológico do Central Park. Mas acontece que ele se encaixava perfeitamente em seu papel como pai. Usando uma jeans com tênis, um suéter verde musgo que destacava o cabelo preto encaracolado e os olhos de mesma cor, mas que hoje estavam mais para o castanho – ele encaixava-se perfeitamente entre os outros pais que estavam levando seus filhos para o zoológico com clima pós-natalino.
- Eles parecem felizes. – Sorri timidamente.
Droga. Porque meu chefe tinha que ser gato? E corno? E porque eu tinha que saber disso mesmo? Tornava tudo muito mais difícil. Meu coração apertou.
- Quando você trouxe eles aqui da última vez?
- Acho que uns quatro meses atrás, quando a minha esposa perdeu o aniversário de Anna porque estava trabalhando. De novo.
Ah merda. Desviei meus olhos de Edgar para evitar que lágrimas viessem para meus olhos em dó. Maldita esposa idiota e salafrária.
- Eu gostaria que minha esposa tivesse passado a véspera de Natal conosco. Acho que meus filhos mereciam ter a mãe deles presente no Natal.
- Onde ela estava?
- Trabalhando em Madri.
- Você checou? – Eu falei e imediatamente dei um tapa no meu rosto mentalmente.
CALA BOCA .
- Não. – Edgar olhou para mim de relance e franziu a testa confuso, depois voltou a olhar seus filhos hipnotizados. – Mas ela sempre está viajando para Madri.
Madri... Mason. Ah, safada. Ela esfrega na cara dele sem que ele ao menos saiba.
Revirei meus olhos em exasperação e recompus minha cara rapidamente quando Anna virou-se para nós dois e andou até mim esticando sua mão. Edgar puxou Theo para longe da grade e segurou o filho no colo enquanto andávamos para outra exibição. Dessa vez paramos para ver as focas e leões marinhos, que tinham seu próprio show.
Anna insistiu para que assistíssemos ele e então nós sentamos nas arquibancadas ao redor da exibição. Edgar e eu nas pontas, com as crianças no meio pulando animadas antes do show começar. Eu olhei ao nosso redor analisando as pessoas ali, o zoológico estava lotado de famílias porque todos estavam no recesso dos feriados de fim de ano. A maioria daqueles sentados na arquibancada eram famílias compostas por filhos rebeldes e barulhentos. Agradeci mentalmente por Anna e Theodoro serem tranquilos e não tão birrentos.
- Comida! – Theo gritou quando um homem que vendia nozes passou por nós.
Edgar acenou para o homem e tratou de comprar três pacotes de nozes. Ele me ofereceu, mas eu recusei educadamente por ser alérgica a qualquer coisa com nozes, castanhas ou amêndoas. Observei Theo sujar-se (como ele conseguia isso, eu não sabia) enquanto comia suas nozes e sorri para o pequeninho.
- Com licença, vocês poderiam mover dois lugares para o lado e ficar com seus filhos no colo? – Uma mulher de uns quarentas e poucos anos e uma ultra barriga de grávida perguntou para mim enquanto segurava uma menina de uns seis anos pelo pulso com força. A menina estava com cara de birra.
- Eles não são... – Parei minha frase no meio, percebendo a carranca da filha da mulher aumentar. – Claro.
Edgar moveu duas cadeiras para o lado e nós locomovemos Theo e Anna para cima de nossos colos, eu ficando com Anna e ele com Theo. Eu tentei ignorar os arrepios que meu corpo sentia quando Theo se movimentava e o braço de Edgar roçava no meu.
Jesus Cristo, . Se controla. Você está no trabalho.
- Como foi sua viagem com seu namorado, ? – Edgar perguntou tão de repente que eu não consegui evitar a expressão de surpresa em meu rosto. Ele corou levemente com minha reação.
- Ah... Não deu muito certo. Voltei para casa no mesmo dia.
- Problemas com ele?
- Também. – Murmurei baixinho, tentando liquidar o assunto.
Edgar assentiu e começou a falar alguma coisa brincalhona para Theodoro que ria em resposta e eu me concentrei em dar atenção para Anna. Quando o show da exibição começou, eu sinceramente prestei atenção em tudo que estava acontecendo até que meu celular pessoal vibrou no bolso de minha calça jeans. Eu puxei-o de lá e encontrei uma mensagem de nada mais nada menos que Noah. A mensagem dizia:
“Preparada para viajar amanhã? Estou ansioso para te ver novamente.”
Eu senti meu rosto corar violentamente e olhei para ao redor de mim mortificada, preocupada que alguém pudesse ver a mensagem dele. Mas óbvio que ninguém estava nem ai para minha troca de mensagem com Noah. Digitei rapidamente uma resposta:
“Preparadíssima.”
Meu Deus, como eu sou má. Chuck vai estar nessa viagem!
Ah meu Deus, eu sou a senhora Delawicz.

’s POV.


Aproximadamente quatro horas depois, acordei numa cama desconhecida. E apesar do que vocês acham, isso não ocorre com tanta frequência assim... Só um pouco. Depende do meu humor, do meu salário e do meu tempo livre.
Jace estava dormindo serenamente ao meu lado, os cabelos loiros bagunçados e o rosto sereno, ainda nu sob os lençóis brancos, assim como eu. Nua.
Olhei para o teto branco com um lustre preto redondo e suspirei alto. Ah, quanto tempo que eu não tinha uma foda casual.
Lentamente, retirei os lençóis de cima de mim e levantei-me. Minha calcinha estava jogada incrivelmente longe no quarto, achei-a, vesti-a. Abri o enorme armário de madeira escura à procura de uma camisa social de Jace, já que não existe coisa mais sexy do que eu de camisa social e calcinha. Escolhi uma camisa social azul marinho e vesti-a mesmo sem sutiã. Arrumei meus cabelos no espelho e então fui para a sala, a procura de minha bolsa. Encontrei-a jogada no sofá junto a algumas roupas perdidas pelo caminho. Juntei minhas roupas e coloquei-as dobradas perto da bolsa.
Sentei-me no sofá com meu celular já em mãos, procurando mensagens de , Noah, Tyler ou Muchu. Ou melhor, Jules. Não havia nenhuma mensagem nova. Deixei uma mensagem para avisando que estava na casa de Jace e poderia demorar.
- Ah, você ainda está aqui.
Levantei os olhos da tela do aparelho e encontrei Jace coçando a nuca, o rosto amassado do travesseiro e usando somente boxers novas, brancas.
- Quer que eu vá embora?
Ele andou até o remoto local da sala onde havia deixado seus óculos de grau e os colocou. Então se virou para mim sorrindo:
- Claro que não.
Sorri satisfeita e bati no sofá, para que ele se sentasse ao meu lado. Esse momento pós-sexo era estranho, já que eu não estava acostumada com ele, mas somente mantive meu sorriso quando Jace sentou-se ao meu lado no sofá e eu girei de frente para ele, colocando minhas pernas sobre seu colo.
- Viu, eu não fugi. - Comentei enquanto ele passava as mãos por minhas coxas nuas.
Ele abriu um sorriso de canto, os olhos verdes observando minhas panturrilhas.
- Ainda. Você é uma mulher bem peculiar, .
Revirei os olhos e soltei uma risadinha. Ele me observou, os olhos verdes desviando de meu rosto para a pilha de roupas.
- Aquela é a calça jeans da campanha que fez comigo?
Virei-me para trás e só então percebi a coincidência. Jace havia me enviado a calça da campanha de presente uma semana depois.
- Ah, é. Ela é linda, valeu.
Seus olhos verdes brilharam e ele sorriu.
- Veste aí. Você fica uma delícia nelas.
Revirei os olhos e me levantei.
- Só porque eu sou muuuuuuuito legal.
Ele ajeitou os óculos de grau e se acomodou melhor no sofá. Retirei sua camisa social e vi seus olhos brilharem e queimarem sobre mim quando viu que eu só usava calcinha e estava com os seios desnudos. Coloquei a calça jeans e não me importei com o sutiã. Sorri maliciosa para ele e pisquei um olho.
- O que acha?
Tapei os seios com as mãos e fiz uma pose com bico, brincando. Ele sorriu de lado e se levantou.
- Espera aqui.
E beijou meus lábios de leve, antes de voltar para o quarto.
Olhei pelo visor do celular que meu cabelo estava bagunçado e minha maquiagem borrada. Vesti a camisa dele sem abotoá-la e sentei-me no sofá. Peguei minha bolsa e corrigi as imperfeições em meu rosto com a base, usando o visor como espelho. Repassei o rímel e já estava terminando de passar um batom claro quando Jace voltou, com uma câmera em mãos.
- O quê? Não. NÃO. Não vou tirar foto nenhuma, Jace.
Seus olhos me encararam dóceis.
- Ah, qual é, ...
Empurrei-o.
- Você vai espalhar essa foto na internet que eu sei.
- Não precisa aparecer seus seios! Fica só de costas, tampa, algo assim.
Permaneci sentada no sofá.
- Não.
Ele andou até a cozinha e pegou um envelope pardo.
- Então acho que você não vai receber seu pagamento...
- Vai se foder, isso é chantagem. Suborno. Quase uma prostituição.
Jace gargalhou e colocou o envelope debaixo do braço.
- Cinco fotos. Tudo o que eu peço.
Bufei e olhei-o desconfiada. Mais ou menos uns cinquenta caras já haviam me visto nua. Então qual o problema?
- Tá. Cinco fotos.
Levantei-me e retirei a camisa social. Andei até a parede branca da sala e retirei um dos quadros dela, para conseguir ter um fundo para a foto.
Encostei-me na parede e cruzei os braços, espalmando minhas mãos em meus seios e cobrindo-os, enquanto os apertava. Jace arrumou meu cabelo gentilmente, bagunçando-o ao redor de meus ombros, então se afastou e ajustou o flash da câmera. Olhei bem no fundo da lente, imaginando seus olhos, fazendo meu melhor olhar provocador e mordi meu lábio inferior.
Flash. Uma foto.
Virei-me de costas e puxei meus cabelos para o alto, segurando-o como se fosse um rabo de cavalo quase, empinando minha bunda.
— Vire o rosto para mim. — Jace pediu.
Olhei por cima do ombro, entre meu braço e meu cabelo, a boca semiaberta. Flash.
Soltei os cabelos e segurei meus seios, virando-me um pouco mais para trás, ainda de costas, então encarei a câmera e permaneci séria, o olhar intenso, os lábios entreabertos. Flash.
Três fotos.
Vire-me de frente e apertei meus braços, tampando boa parte de meus seios com eles, com as mãos nos bolsos. Então levantei bastante meu queixo e mantive meu olhar na câmera. Mordi o lábio.
Para a última foto, sorri maliciosa para a câmera enquanto tampava meus seios com somente uma mão e jogava meu cabelo para o lado com a outra. Flash.
- Pronto. Acabou.
Jace deixou a câmera sobre a bancada da cozinha e eu o segui. Não queria ver as fotos. Não ainda.
- Seu pagamento, senhorita .
Revirei os olhos e peguei o envelope pardo de sua mão.
Abri-o lentamente e me deparei com um cheque de três mil dólares. SIM. VOCÊ LEU DIREITO.
TRÊS.
MIL.
DÓLARES.
- J-j-jace... Tem um erro com o cheque, né...? Tipo... SÃO TRÊS MIL DÓLARES. MIL DÓLARES. DÓLARES.
Ele riu e veio até mim, pegando o catálogo da Levi’s que também estava no envelope com o cheque extremamente surreal. A foto na capa do catálogo era nada mais nada menos do que eu. Euzinha da Silva. Com Gato 1, Gato 2 e Gato 3. Eu pisava no peito de Gato 2, puxava Gato 1 e Gato 3 por seus pescoços, um de cada lado de mim, enquanto eu encarava a câmera com o queixo erguido, os lábios vermelhos semiabertos. Eu estava linda. Poderosa.
- Parabéns - Jace sussurrou em meu ouvido e, quando ia deixar o catálogo sobre a mesa, me impediu dizendo: - Calma, tem mais fotos.
Pera. MAIS?
Folheei o catálogo e encontrei outra foto minha, mas desta vez sozinha, com os óculos de sol abaixados até a ponta do nariz e um sorriso malicioso nos lábios.
Fiquei alguns segundos encarando essas fotos, pasma, mas o cheque de TRÊS MIL DÓLARES me gritava que sim, aquela gata no catálogo da Levi’s era sim eu, , garçonete do Planeta Hollywood. Puta merda.
Jace me cobriu os ombros com sua camisa social azul marinho e então foi pedir uma pizza pelo telefone e eu, pela primeira vez na vida, não fui interessada na comida. Porque eu não precisava mais me interessar em comida.
E sabe por quê?
PORQUE EU TENHO TRÊS FUCKING MIL DÓLARES.

’s POV.


- Eu não vou viajar com aquele monstro assassino. – Tyler falou cruzando os braços sobre o peitoral.
Eu revirei os olhos para ele.
- Tyler. O Muchu é inofensivo.
- Ele não parecia inofensivo quando resolveu atacar meu rosto e comer meu nariz.
Jules, que estava sentada na bancada da cozinha comendo sua sopa de legumes de jantar, fuzilou Tyler com o olhar. Acho que ela não tinha o perdoado por ter oferecido peru para o Muchu, mas ao mesmo tempo, também não acho que Tyler havia a perdoado de existir. Isso porque ele que nos apresentou para ela.
- Não se preocupe, Tyler. Não vou à viagem, tenho que ficar e alimentar Muchu. Sem falar que vou dar minhas aulas logo no dia um. – Jules respondeu levantando de sua cadeira e entrando na cozinha para se livrar de seu prato finalizado. – Algumas mulheres ficam desesperadas por uma aula de yoga após pecarem tanto no feriado.
Noah, sentado ao meu lado com o braço casualmente apoiado na cabeceira do sofá, riu baixinho.
- Mas, Jules, você vai passar o ano-novo sozinha? – Perguntei cotovelando Noah nas costelas.
- Ouch. Violenta. – Ele sussurrou para mim, mas eu o ignorei. – Eu gosto disso.
Tentando conter minhas bochechas de corar, olhei para Tyler que havia saído de perto e estava parado no início do corredor, analisando a mala deitada cheia de roupas de .
- Por que vocês precisariam levar cinco toalhas?
A resposta de havia sido meio absurda quando eu perguntei a mesma coisa para ela, alguma coisa do tipo: “Nunca se sabe. Nós podemos precisar de duas para banho e quem sabe mais algumas para irmos nas piscinas fabulosas no hotel que vamos ficar lá? Sem falar que vai que nós entremos em uma briga dentro de uma piscina de gelatina ou molho de tomate”. E eu não estava a fim de explicar isso para Tyler, então só dei de ombros e fiz um sinal com a mão para que ele deixasse o assunto para lá.
Eu percebi um pouquinho tarde demais que Jules estava falando comigo. Ela já tinha a chave da casa na mão e uma bolsa no ombro.
- Tudo bem, ?
- Ahn... Claro. Beleza.
- Legal. – Ela sorriu e saiu do apartamento, em seguida só colocando a cabeça para dentro dele. – Boa viagem para vocês, aproveitem muito. Vou rezar pela alma de vocês.
- Macumbeira doida. – Tyler resmungou quando ela fechou a porta e ele sumiu para dentro do apartamento, provavelmente para dar uma mijada.
Eu me levantei do sofá, indo em direção à cozinha e Noah me seguiu silenciosamente.
- O que a Jules disse antes de sair daqui? – Perguntei para Noah enquanto abria a geladeira apenas para encarar seu conteúdo.
- Ela disse que vai passar o ano-novo com um amigo tatuador e que provavelmente vai trazê-lo aqui para passarem a noite juntos. – Noah respondeu movendo-se para estar parado atrás de mim.
- Ah, espero que ela não coma toda a sobra da ceia ou vai ficar mais do que doida com ela. – Murmurei fechando a porta e me virando para ele.
Eu tinha que olhar para cima para falar com Noah. Não que eu não tivesse que fazer isso quando falava com a maioria das pessoas, mas com ele eu tinha que erguer meu queixo para cima para poder encontrar aqueles incrivelmente sensuais olhos castanhos escuros.
- Vocês podem cozinhar o dragão de Komodo quando voltarem. Tenho certeza que Tyler ajudaria vocês. – A voz dele era rouca e ele deu um passo para frente, fazendo-me dar um passo para trás e encostar-me contra a geladeira.
- É uma iguana, Noah.
- É. Eu sabia.
Eu dei risada, mas Noah revirou os olhos e inclinou sua cabeça para o lado lentamente, sua expressão ficando repentinamente séria após alguns segundos e meu riso morrendo comigo enquanto eu mordia meu lábio inferior com força. Noah olhou ao redor da cozinha a procura de Tyler e quando não o viu, inclinou-se sobre mim com os braços, cercando-me. Eu não resisti, um sorriso malicioso surgiu em meus lábios e a reação de Noah foi imitar meu sorriso.
Abaixando seu rosto na direção do meu, uma de suas mãos segurou-me pelo queixo e seu dedão passou sobre meu lábio inferior, libertando-o de meus dentes. Meu coração saltou e eu inspirei profundamente, perdendo o ar logo em seguida quando Noah encostou seus lábios no canto de minha boca e depois me beijou. Novamente, seu beijo foi calmo e quente. Minhas mãos envolveram seu pescoço e meus dedos entrelaçando em seus cabelos, meus pés ficando em suas pontas para que pudessem nivelar nossas alturas. Descendo suas mãos pela lateral de meu corpo, sem a menor vergonha, Noah chegou com elas até minha bunda e a apertou com força, prensando-me contra a geladeira e seu corpo.
Um gemido escapou de minha garganta e eu parei de beijá-lo para poder deliciar-me em seu pescoço. Afastando a gola da jaqueta dele, desci beijos por toda sua garganta e suguei ou mordi sua pele em alguns cantos. Meu gesto foi aprovado, já que as mãos de Noah em minha bunda só as apertaram com mais força e ele constantemente soltava algum gemido baixo em seus lábios. Quando eu mordi seu lóbulo, ele grunhiu alguma coisa inteligível e afastou-me da geladeira, puxando-me em direção à pia pela cintura. Ele me colocou sobre ela, enquanto me beijava e abriu minhas pernas, encaixando-se entre elas. Eu o cerquei pela cintura, puxando-o mais perto de mim e pude sentir que a brincadeira estava começando a ficar mais séria.
- . – Noah sussurrou sobre meus lábios.
Ele não parou de me beijar e suas mãos encontraram a barra de minha blusa, seus dedos quentes entrando por baixo do tecido dela e causando um arrepio intenso dentro de mim quando ele encostou na pele fria de minha barriga. Suspirei alto, mas as mãos de Noah continuaram firmes, segurando minha cintura por baixo da blusa, deixando tudo muito mais quente e desconcertante.
- Hum?
- Tyler está dentro da casa ainda.
Eu não consegui suprimir minha risada e parei de beijá-lo. Afastei-o com um sorriso malicioso e saltei da pia, ajustando minha blusa para baixo novamente. Com uma careta insatisfeita formando-se em seu rosto, Noah olhou para si mesmo e eu percebi que ele estava levemente animado com nossa pegação. Eu pisquei para ele, satisfeita, enquanto ele enfiava sua mão para dentro da calça e se ajeitava. Eu saí da cozinha e encontrei Tyler voltando de dentro do quarto, procurando por nós.
- Ah. Achei vocês.
- Tcharam. – Respondi dando um sorriso animado para ele.
Noah veio por trás de mim e colocou suas mãos em minha cintura, encoxando-me. Tyler ergueu a sobrancelha para o movimento, mas não disse nada além de dar um sorriso cheio de malícia para nós dois. Eu revirei os olhos, sentindo minhas bochechas corarem violentamente.
- Tenho que ir, não fiz minha mala ainda. Eu volto umas quatro da manhã com meu carro.
- Nós vamos com seu carro? – Perguntei girando em seus braços.
- Vamos sim, princesa.
Eu torci meu nariz para o apelido, mas era a cara de Noah chamar alguém assim. Ele se inclinou e me deu um leve beijo nos lábios, o que me deixou meio que em choque, porque ele fez isso na frente de Tyler sem a menor vergonha na cara. Tyler é amigo de Chuck. Chuck, ah merda.
MEU DEUS EU NÃO PRESTO.
Depois ele e Tyler se abraçaram daquele jeito masculino de bater um no ombro do outro e ele foi até a porta. No segundo que ele levou sua mão até a maçaneta, a porta se abriu e Chuck estava do outro lado do batente. Ele encarou Noah meio confuso e com uma certa faísca de raiva em seus olhos, mas não falou nada enquanto este passou por ele sem nem lhe dirigir a palavra e saiu do apartamento. Chuck entrou e eu senti vontade de me bater. E de bater nele. Raiva e mágoa da véspera do Natal voltando. Raiva de outros momentos também.
- Oi. – Ele disse, parecendo meio envergonhado e se aproximou de mim para dar-me um beijo, eu virei a cara e ele acabou beijando minha bochecha. Depois cumprimentou Tyler com um aperto de mão. Eles haviam brigado? – Achei melhor passar aqui e organizar que horas vamos sair.
Tyler olhou fixamente para mim e eu sabia o que ele estava querendo dizer. Merda. Eu sabia o que tinha que fazer.
- Eu vou lá no seu quarto dar uma deitada na cama e já venho, . – Tyler disse espreguiçando-se como quem não quer nada e saiu sorrateiramente da sala.
Eu encarei Chuck alguns segundos e depois suspirei exasperada. Puxei-o pelo pulso até o sofá, sentando-o nele e ficando em pé na frente dele. Chuck tentou colocar a mão em minha cintura para puxar-me até ele, mas eu resisti com todas as minhas forças, seu olhar azul de cachorro abandonado. Merda, odeio esse olhar.
- Charles, precisamos conversar.
- Eu sei. – Ele respondeu enquanto se livrava de seu sobretudo e deixava ele sobre o sofá ao seu lado. – Não quis te xingar, . Estava irritado e fora de controle, desculpe. Você sabe como eu sou em relação ao ciúme depois de Meredith. E eu sou apaixonado por você, não consegui segurar todos os sentimentos que tive quando vi aquele nojento com as mãos em cima de você e... Porra, você me deixou em Londres e quando eu te vi novamente, lá estava você com outro cara praticamente lambendo seu rosto.
Porra. Meredith. Eu completamente esqueci que Chuck já foi cornado. Que merda, eu realmente estava cagando na moita com ele. Puta merda.
- Para, por favor. – Eu sussurrei colocando as mãos na cabeça para tentar segurar os turbilhões de pensamentos que invadiam minha cabeça.
Você é igual a senhora Delawicz.
Você não presta, coitado do inglês.
Mas eu não estou apaixonada por ele, então qual a diferença se eu beijasse outras pessoas? Bom, talvez seja o fato de que eu saiba o que ele sente por mim.
Puta merda. Eu sou uma puta. Meu Deus.
- O quê foi? – Chuck franziu a testa confuso. – , meu amor, não tem problema se você não puder falar que está apaixonada por mim ainda. Eu espero, juro. Porque eu amo vo-
- Para com isso. – Repeti cortando-o. – Para, Charles.
Ele me encarou em choque e ficou em silêncio durante severos segundos enquanto eu esfregava meu rosto nas mãos e andava de um lado para o outro na sua frente. Merda. Merda. Merda. Fala agora, . Fala agora e rápido. Isso é como tirar band-aid. Fala. Fala. Fala.
- Eu beijei Noah.
As reações de Chuck seriam quase divertidas se não fossem causadas por mim. Primeiro ele piscou atordoado, seus olhos azuis se arregalando lentamente enquanto a ideia afundava em sua mente. Depois ele abriu e fechou sua boca pelo menos três vezes. E por último seu rosto perdeu completamente a expressão, ele ficou sério e seus olhos escureceram-se, tornando-se um azul frio que causou um arrepio em mim. Ele levantou do sofá e andou até mim lentamente, o que me fez recuar como uma gazela sendo perseguida por um leão.
Mas ele me segurou pelo cotovelo com força. Força demais.
- Você fez o quê? – Ele sibilou contra meu ouvido, sua voz fria e ameaçadora.
- Beijei Noah.
- Quando?
- No hospital. – Sussurrei sem conseguir olhar para ele.
Talvez não seja uma boa ideia adicionar que eu o havia beijado poucos minutos atrás também. É. Melhor omitir essa parte.
- Porquê?
Franzi a testa e ergui meu olhar para ele, que parecia pronto para estrangular-me.
- Porque eu quis.
- O quê eu fiz de errado?
- Nada, Charles. – Eu encolhi os ombros.
- ENTÃO POR QUE, PORRA?
- PORQUE EU QUIS. PORQUE EU NÃO CONSIGO OLHAR PARA VOCÊ E NÃO LEMBRAR DO SEU CHILIQUE NO HOSPITAL E DEPOIS O SEU “VAMOS SER SÓ AMIGOS” PARA CIMA DE MIM! – Gritei de volta, tremendo da cabeça aos pés com a adrenalina que subia rápido em minha corrente sanguínea.
Eu puxei meu braço para longe de Chuck e afastei-me de seu olhar feroz.
- É ISSO? VOCÊ FICOU COM ESSE ORGULHO DE VAGABUNDA FERIDO E RESOLVEU ME USAR PARA DEPOIS DE CORNAR?
Quê?
- Charles, eu nunca te usei! – Falei boquiaberta por sua acusação.
- Ah, não? – Ele sorriu irônico. – Fez com que eu te levasse para Londres, para o trabalho e fingiu gostar de mim quando tudo que você queria era sair com um cara que pudesse comprar mais que um pão com manteiga com você, não é?
Eu pisquei abismada. Como ele podia pensar isso? Claro, eu o usei para ter um bom sexo, mas jamais pelo dinheiro.
- Isso é mentira e você sabe. – Vociferei e, tomando uma dose extra de coragem estilo Hulk, aproximei-me novamente dele e ergui meu dedo indicador em sua cara. – E olha como você fala comigo, caralho, não aja como se você me conhecesse dos pés a cabeça.
- Mas eu conheço. – E dessa vez o sorriso de Chuck foi meio maldoso, mas sua voz saiu calma demais. – Você é uma ninguém que teve seu coração partido por algum merda anos atrás e foi fazer psicologia para ver se entendia o porquê das pessoas serem do jeito que são. Você é só uma pobre coitada que não vai crescer nunca na vida e vai morar para sempre em um muquifo com a melhor amiga vadia e uma maconheira.
Lágrimas brotaram em meu rosto instantaneamente. E eu estava prestes a respondê-lo quando fui puxada para trás com certa violência e a próxima coisa que vi foi o punho de Tyler acertando em cheio o maxilar de Chuck. Segurando seu queixo (literalmente) Chuck cambaleou para trás e Tyler voltou-se para mim chacoalhando a mão com qual havia socado seu amigo. Ou ex-amigo. Não sei mais. Não sei de mais nada.
- , vai para dentro. – Tyler falou provavelmente para que pudesse descer o cacete em Chuck. Não que eu fosse ser contra isso, mas eu tinha que manter minha honra.
- Não. – Respondi engolindo minhas lágrimas e fixando meu olhar em Chuck, que parecia perturbado com o soco que tomou. – Sai.
- VOCÊ É UMA VAGABUNDA. EU TE DEI TUDO. TUDO. E VOCÊ ME-
- Inglês, para com isso. Vai embora. – Tyler interrompeu-o.
- ELA É UMA VADIA. ELA E A AMIGUINHA DELA QUE VOCÊ COME DE VEZ EM QUANDO. SÃO DUAS PUTAS QUE MERECEM...
Antes que eu parasse a mim mesma, eu já estava gritando com todo o meu pulmão novamente.
- SAI! SAI, SEU NOJENTO. SAI DAQUI AGORA E NUNCA MAIS VOLTA. SAI, CARALHO!
Indo até o sofá, Chuck pegou seu sobretudo e o colocou com a maior calma do mundo, mas seus olhos brilhavam em ódio. Ele jogou a chave que tinha de meu apartamento contra a parede da porta.
- SAAAAAAAAAAAAAAAAAI! – Gritei mais uma vez tão alto que jurei que minhas cordas vocais iriam explodir.
Chuck gritou alguma coisa como “Vai se foder então, vadia” antes de Tyler gritar algo de volta como “Você é um merda” e bater a porta na cara dele. Meu pulmão ficou sem ar instantaneamente e eu comecei a tremer mais que antes.
Chuck idiota. Chuck filho da puta. Chuck nojento.
Minha respiração estava irregular e eu comecei a me sentir afogada pelas lágrimas que escapavam de meus olhos, sem que eu sequer conseguisse segurá-las. Tyler aproximou-se silenciosamente de mim e envolveu-me em um abraço aconchegante enquanto eu soluçava em seu ombro. Alguns minutos depois, consegui recuperar e estabilizar meus sentimentos. Afastei-me de Tyler e avisei que iria tomar um banho.
- Posso ficar aqui, se você quiser.
- Obrigada. – Murmurei concordando e comecei a ir em direção ao banheiro. Mas logo no começo do corredor, voltei-me para Tyler que já havia sentado e estava ligando a televisão. – Se você contar para alguém que eu chorei no teu ombro, juro que castro você.
Tyler gargalhou mas assentiu revirando os olhos e eu fui tomar meu banho para tentar livrar-me do peso que enchia meu coração.


Décimo Oitavo


’s POV.


. – Uma pausa. – . . .
Silêncio. Alguém cutucou meu braço.
.
— Hãn? Quê? Tyler?
— Seu interfone está tocando loucamente. – Ele sussurrou e ao fundo eu pude ouvir o maldito barulho.
Afastei as cobertas e praticamente me rastejei pelo corredor até a sala.
— Alô?
— Senhorita ? É o Sr. Mikaelson, o zelador. Senhorita, creio que seu amigo esteja deitado na calçada de nosso prédio.
Olhei para Tyler, que esperava para escutar o que estava acontecendo.
— Hãn... Meu amigo está aqui em cima comigo, Sr. Mikaelson.
— Não. Eu tenho certeza, é seu amigo estrangeiro.
QUÊ.
— Estou descendo. – Falei imediatamente e voltei-me para Ty. – Chuck está deitado na calçada.
— Quer que eu vá chutar o traseiro dele para longe daqui?
— Não. – Respirei fundo e puxei o cobertor vermelho que Tyler estava usando para dormir no sofá. – Eu mesma faço isso.
Alguns segundos depois, o Sr. Mikaelson estava me apontando para um corpo definitivamente bêbado e britânico deitado em nossa calçada. Parei ao lado de Chuck e agachei-me devagar, com medo que ele estivesse violento.
— Charles?
Os olhos dele abriram-se devagar e um pequeno sorriso sonolento que fez meu coração contrair se espalhou em seu rosto.
— O quê você está fazendo aqui? O zelador interfonou no apartamento dizendo que você estava apagado aqui na calçada.
Chuck murmurou alguma coisa que fez zero sentido, ao mesmo tempo em que levantou sua mão na minha direção. Encolhi-me, pronta para levar um tabefe – não que eu achasse que Charles me bateria de verdade, mas ele havia me assustado ao me segurar com força em nossa briga algumas horas atrás -, mas a mão de Chuck caiu sem força e eu reparei como esta estava bem machucada. Seu olho também. Ele havia brigado?
— Meu Deus, o quê você fez na sua mão? E no seu olho?
— Muujino... Pefaldo. – Ele murmurou com os olhos torturados.
— Charles, levante. Você precisa ir para sua casa. Vamos.
Ele não se moveu. Então tive que chamar o Sr. Mikaelson para ajudar-me a levantá-lo e chamar um taxi. Entreguei meu cobertor para que o zelador o entregasse de volta para Tyler e coloquei o Inglês dentro do taxi, mas não podia simplesmente enviá-lo para casa. Por isso entrei atrás dele. Charles envolveu meu corpo com seus braços musculosos e por um milésimo de segundo eu quis relaxar, porém isso tudo não era justo com Charles.
Por que ele havia bebido? Será que foi por causa da nossa briga? Eu havia o quebrado tanto assim?
Charles continuava a murmurar palavras indecifráveis durante todo o caminho. Felizmente, quando chegamos ao seu prédio, ele já estava mais cooperativo e seu porteiro chegou a oferecer ajuda, mas eu somente balancei a cabeça negativamente e arrastei o Inglês até seu quarto.
Ele caiu silenciosamente na cama, levou uma mão para sua cabeça e gemeu.
— Você bateu a cabeça?
Não entendo sua resposta.
— Vamos lá, Charles. Vamos acabar logo com isso.
Eu estava lavando minhas mãos.
Tirei os sapatos e a blusa de Chuck, tentando não ter uma crise e chorar quando ele tentou me abraçar e começou a murmurar palavras que eu finalmente conseguia entender. Palavras como: “Não faz isso comigo, não me deixa também”. Mas eu estava fazendo o certo, não é? Já não conseguia olhar para ele da mesma maneira há muito tempo, meu interesse não era mais focado somente nele – e isso ficava claro quando eu estava perto de Noah – e havia um limite para brigas que eu conseguia aguentar.
Fiz um simples curativo nas mãos de Charles e quando estava prestes a sair, seu celular dentro do bolso começou a vibrar repetidamente. Pela tela do BlackBerry eu pude ler que era o pai de Chuck ligando. Charles ainda estava se mexendo e falando coisas incoerentes, então coloquei seu celular de lado e mandei-o calar a boca e dormir. Ele ia ficar bem, certo?
Ele tem a família dele. Obviamente ele vai ficar bem. Nós não temos mais nada em comum e não há nada para fazer de agora em diante.
Quando estava indo embora, escutei um barulho na cozinha e logo em seguida o companheiro de apartamento de Chuck – Marcus, que eu me lembrasse – saiu da cozinha com passos trôpegos. Ele sorriu para mim e tentou acenar, mas acabou tropeçando em seus próprios pés. Suspirei alto e por ser uma ótima pessoa, ajudei-o a encontrar seu quarto e se deitar também.
Deixei um bilhete para Chuck, respirei fundo e fui embora. Era melhor que eu o deixasse agora, do que machucá-lo ainda mais depois. Não é?
Tentei convencer a mim mesma o resto do caminho para casa.

’s POV.


Pôneis andavam pelos prados em campinas verdejantes. Eu usava uma roupa da era vitoriana e tinha flores em meu cabelo. Dançava junto a coelhos, esquilos e Muchu. E então a música mudou repentinamente.
— SHOT THROUGH THE HEART AND YOU’RE TO BLAME! DARLING, YOU GIVE LOOOOOVE A BAD NAME.
Pulei na cama sobressaltada e procurei o celular pelo criado mudo que não era meu.
Porra.
Eu ainda estava na casa de Jace.
Atendi o celular meio grogue, com um Jace resmungante ao meu lado. Nu. Sim, nós havíamos transado de novo.
— Alô?
— Oi, , aqui é a sua melhor amiga que TÁ FUCKING TE ESPERANDO PRA IR PRA LAS VEGAS, SUA PUTA.
gritou do outro lado do telefone e eu afastei o aparelho do ouvido.
, que que você tá falando, me deixa dormir, olha que horas são...
Olhei para o relógio e então a realidade me deu um tapa na cara, como eu tinha certeza que queria dar. Eram 4h30 da manhã. Da manhã que iríamos para Las Vegas.
— PUTA QUE PARIU, A VIAGEM. CARALHO, CARALHO, CARALHO.
— Isso mesmo sua puta, é pra ficar desesperada mesmo! Eu estou aqui tendo que aguentar Tyler e Noah me perguntando de você. E você dando, sua safada.
Corri pelo quarto recolhendo minhas roupas, já que eu estava nua, DE NOVO. Coloquei minha calcinha e calça jeans correndo, vestindo o sutiã de qualquer jeito enquanto procurava minhas botas.
, eu chego aí em 20min. Coloquem as malas no carro.
— Elas já estão no carro fazem uns...
— VAMOS PARA LAS VEGAS, BITCH! — Gritei e desliguei o celular antes que a Loirinha pudesse brigar comigo novamente.
Consegui, finalmente, vestir o sutiã decentemente e cacei minha camisa xadrez. Vesti-a e logo sentei no sofá, calçando as meias e então as botas de couro. Minha cara com quase toda a certeza do mundo estava pior do que tudo, assim como meu hálito. Havia transado umas quatro vezes ontem. Isso acaba com qualquer mulher.
Quando terminei de passar o zíper nas botas e coloquei meu sobretudo azul bic, Jace apareceu na sala, com uma calça de pijama xadrez.
— Eu disse que você iria fugir.
Revirei os olhos enquanto passava o cachecol e colocava as luvas. Enfiei o precioso cheque dentro de minha bolsa e roubei uma garrafinha de água da geladeira enquanto ele me seguia, curioso.
— Vou viajar para Las Vegas com uns amigos. Esqueci que não poderia dormir aqui. Preciso ir, estão me esperando com as coisas no carro já.
— De carro? Você vai até Las Vegas de carro?
Peguei uma bala de menta que estava jogada sobre a pia e a coloquei na boca. Sorri maliciosa.
— Só se vive uma vez, gatinho.
Então dei-lhe um beijo na boca de leve e saí correndo, abrindo a porta e a fechando antes que ele pudesse dizer qualquer coisa.
Dentro do elevador, penteei meus cabelos com os dedos e limpei o rímel borrado abaixo dos olhos com os próprios dedos, passando um pouco de pó.
Corri para a rua e segui para a estação de metrô mais perto que fosse da linha vermelha. Bendito seja o apartamento de Jace que ficava numa localização maravilhosa e eu consegui achar o metrô depois de umas quatro quadras e uma pergunta a um cara obviamente drogado.
Entrei no primeiro vagão com direção Downtown, sentei numa das milhões de cadeiras vagas, bem longe dos drogados e marmanjos suspeitos, apertando minha bolsa contra meu corpo. Lancei um olhar assassino para um menino que me encarava maliciosamente e ele virou o rosto.
Por favor, senhor, não deixe que a Loirinha me mate. Eu ainda tinha tantos homens para satisfazer.
Então o homem do metrô anunciou minha estação e eu pulei para fora do vagão assim que as portas se abriram, subindo as escadas loucamente. Corri duas quadras para baixo e uma para direita, então dei de cara com um Noah relaxado sentado na sarjeta, um Tyler de braços cruzados e uma com as mãos na cintura.
— E aí galera, vamos para Vegas? — Sorri sem graça, pronta para levar um tapa de . E o recebi, como previsto.
— Sua maldita. Se fudesse com a minha viagem, iria te matar.
Ri e a abracei. Tyler somente revirou os olhos e foi chamar Noah.
Pera aí.
— Epa. Cadê o Inglês?
travou sob meus braços. Soltei-a e encarei seus olhos verdes cansados.
— Terminamos. De vez. E não foi nada bonito.
— Como foi?
— Não quero falar sobre o assunto.
— Ok. Você tá bem?
deu de ombros. Abracei-a de leve mais uma vez e então abri a porta de trás do carro. Ela sorriu fraco agradecendo e entrou, seguida de Noah, que tomou o meu lugar com um sorrisinho malicioso.
Bom. Pelo menos ela já tinha outra pessoa para substituir o Inglês.
Sentei-me no banco do copiloto e Tyler sentou-se no motorista. Ele não virou para me encarar e somente deu partida no carro, saindo de nossa rua silenciosamente enquanto estava com as costas para a janela do lado direito, com as pernas sobre o colo de Noah, que as alisava por cima da calça jeans. encarava o caminho, meio que ignorando os carinhos do amigo de Ty. E eu não sei o que estava errado com exatamente, mas algo muito errado, porque Noah era bonito demais para não se olhar.
— Ei. O que foi? — Perguntei para Tyler baixinho.
— Nada, ué.
— Você tá estranho. Todos vocês. Quer dizer, menos Noah.
Pelo retrovisor, pude ver que ele sorriu. continuou alheia a nós, já com a cabeça em outro lugar. Observei o painel do carro, moderno, com um lindo botão de ar condicionado que aquecia. Liguei-o. Retirei o sobretudo, as luvas, o gorro e o cachecol, ficando mais leve e confortável agora. Virei-me para trás.
— Conta sobre o Inglês, bfff.
— Depois. — fez uma careta. — Conte-me sobre Jace.
Suspirei longamente e dei um sorriso.
— Cem por cento confirmado. É homem com letra maiúscula.
O carro deu uma chacoalhada ao virar em uma esquina, mas felizmente o cinto de segurança me segurou.
— Desculpe. — Tyler disse baixinho. Noah riu.
Revirei os olhos. ia abrir a boca para falar algo, mas eu continuei.
— Então, eu cheguei ao apartamento dele depois do meu turno, né, aliás, ele tem um apartamento caro pra caralho perto da Times. Rico. Eu já cheguei perguntando do pagamento, mas ele me interrompeu e uns dois minutos depois já estava me beijando e me jogando no sofá. Sim, apressado, eu sei. Mas eu gostei, até.
, eu acho que...
— Calma, eu não terminei ainda!
Noah soltou uma risada e eu somente o ignorei. deu uma cotovelada em suas costelas. O carro começou a andar consideravelmente mais rápido. Olhei de relance para Tyler, que somente observava a estrada, sério.
— De qualquer jeito — continuei — Acabamos transando, óbvio. Ele é muito bom, um pouco grande demais, mas bom. E ele gozou antes, o que foi realmente muito chato. Mas depois ele voltou e me fez gozar, então ficou tudo bem.
— Informação demais, . — disse passando a mão pelo rosto e balançando a cabeça negativamente.
— E depois quando transamos de novo, consegui mais um para o fã clube do meu rebolado. Porque você sabe né, ele é sensacional.
— É, eu sei. — Tyler resmungou ao meu lado.
— Eu queria saber. — Noah disse pesaroso e levou um tapa realmente forte na coxa. Ele gemeu de dor. — É brincadeira, princesa, sabe que você já me fisgou.
fez uma cara de brava e então cruzou os braços. Ty soltou uma risada fraca.
Dei de ombros e continuei a história.
— Bom, de qualquer jeito, ele me deu o pagamento pelas fotos.
— Quanto? — perguntou casualmente.
— Essa é a parte boa. Três mil dólares.
E então o carro freou tão forte que voou contra o banco de Tyler. Senti minhas costelas pressionadas pelo cinto e Noah bateu com a cabeça contra o meu banco.
— TRÊS MIL DÓLARES? — Tyler gritou.
— PORRA, TYLER! — Noah reclamou com a mão na cabeça.
— SUA PUTA, COMO ASSIM VOCÊ GANHOU TRÊS MIL DÓLARES SÓ PRA POSAR E SER BONITA NA FOTO? — gritou.
— Ué, tenho culpa se eu sou linda e a câmera me ama?
Tyler encostou o carro e virou-se para mim.
— Cadê essas fotos?
Procurei as fotos na bolsa e entreguei o catálogo para Tyler. Ele elevou as sobrancelhas e balançou a cabeça afirmativamente, como se aprovasse a foto.
— Tyler, vem pra trás. Eu vou dirigir. — Noah se manifestou e concordou com a cabeça.
— Você também, . — Disse a Loirinha. Epa.
— Por que eu tenho que ir para trás?
— É, porque ela tem que ir para trás? — Tyler comentou.
— Ah, porque... — começou, tentando pensar em algo.
— Porque o carro é meu e eu escolho quem vai ser copiloto. — Noah completou.
Revirei os olhos.
— Isso é muito golpe baixo.
Tyler soltou o cinto e saiu do carro, soltando um:
— Tá, tanto faz.
Peguei minhas coisas e joguei-as para o banco de trás, mais precisamente na cara de . Ela me fuzilou por alguns segundos enquanto eu descia do carro e abria a porta do banco de trás.
Noah e tomaram seus postos no banco da frente e eu e Tyler nos bancos de trás. Coloquei minhas coisas no banco que ficava logo atrás do de e sentei-me no do meio, com Tyler ao meu lado. Ele me olhou com as sobrancelhas elevadas quando deitei em seu ombro com um bico na boca.
— Posso deitar em você?
Tyler revirou os olhos.
— Folgada.
Sorri enquanto abraçava seu braço.
— Você não consegue mais viver sem mim.
Ele soltou uma risada.
— E ainda é convencida.
Segurei em sua mão e deitei-me em seu ombro, mesmo sem a sua permissão verbal.
— Sou sua melhor amiga, não é ser convencida. É constatar um fato.
— Então se você é minha melhor amiga, eu sou seu melhor amigo, certo?
— Certo.
Elevei meu queixo para poder ver seu rosto e vi que ele sorriu.
— Então você também não consegue mais viver sem mim?
— É. Talvez. Sei lá.
Tyler riu e passou o braço ao redor de meus ombros, fazendo-me deitar em seu peito. Sorri com o gesto, percebendo que seja o que for que estivesse incomodando-o antes, havia passado. Aconcheguei-me a ele, fazendo-o me abraçar mais forte.
Fechei os olhos, ignorando os olhos castanhos de Noah nos observando pelo retrovisor.
— Obrigada por ser meu melhor amigo, Ty. — Sussurrei.
Senti seu peito vibrar com uma risada fraca.
— De nada, . É uma honra.
Então me deixei levar e caí no sono.

’s POV.


Assim que caiu no sono, Tyler a seguiu e eu imediatamente pensei em como os dois eram folgados. Tyler não havia nem dirigido meia hora, mas como ele obviamente não estava conseguindo controlar seus espasmos ciumentos na hora de dirigir, achei melhor que trocasse de posto com Noah.
Noah e eu puxamos assunto algumas vezes, deixando o rádio ligado em outras ou ficando em silêncio. Cerca de duas horas depois, já estávamos na I-81 passando por uma cidade desconhecida quando ele puxou assunto novamente.
— Quer dizer que você tem uma melhor amiga que gosta de compartilhar tudo.
Eu sorri fraco pela primeira vez desde que havia deixado Chuck em seu apartamento.
— É. Ela tem essa mania. As histórias dela com homens são divertidas, na maioria das vezes.
Noah olhou de relance para mim e depois para os espelhos laterais enquanto ultrapassava para a pista da direita.
— Tyler não gosta muito. – Ele comentou baixinho.
— Eu sei. Mas não sabe e como ela é cabeça dura, se eu falasse alguma coisa, não sei como ela reagiria. Quem tem que conversar com ela é o Tyler.
— Há. – Noah soltou um pequeno riso e seus lábios se repuxaram em um sorriso de lado malicioso. – Tyler nunca vai admitir nada para .
nunca vai admitir nada para o Tyler. Aliás, acho que ela nem tem noção do quanto gosta dele.
— E você?
Movi-me desconfortável no banco.
— E eu o quê?
— Gostava do Inglês? – Noah olhou de relance para mim, mas o sorriso ainda estava em seu rosto, o que fez com que eu me perguntasse se ele achava divertido o fato de Chuck ter brigado comigo por culpa da existência dele.
Quer dizer, por culpa da existência da atração entre eu e ele, pelo menos.
— Não. Não tanto.
— Tyler me disse que bateu nele.
— É. Foi engraçado. – Dei ombros.
POR FAVOR, PARE DE FALAR DESSE ASSUNTO.
Como se lesse minha mente, Noah não insistiu. Ele não falou mais nada por meia hora e deixou que a música ressoasse baixinha dentro do carro junto dos suspiros de em meio do sonho e do ronco de Tyler. Depois voltou com assuntos normais que distraíam minha cabeça. Eu já estava querendo esfolar alguém para sair de dentro daquele carro, então paramos em um restaurante qualquer em um lugar qualquer e comemos. Abastecemos o carro e seguimos nosso roteiro de viagem como antes.
Quando e Tyler – que haviam acordado para comer - estavam discutindo sobre que rádio escutar depois de nosso almoço, eu revirei os olhos para eles e Noah percebendo minha reação, sorriu de leve para mim. Apoiei minha cabeça contra o vidro e fiquei observando a paisagem mudar enquanto atravessávamos várias cidades e logo cai no sono.
Eu estava sentada em uma cadeira na sala de estar de minha casa em São Paulo e algumas pessoas estavam a minha volta, mas eu não conseguia distinguir o rosto de ninguém, o que não me pareceu importar no sonho porque eu continuava ali – conversando feliz da vida. Então minha cadeira começou a se inclinar para o lado e cair, fazendo com que eu pulasse de susto e batesse minha cabeça contra a de alguém.
— AI, CARALHO.
Esfreguei os olhos com os nós dos dedos enquanto o carro balançava violentamente para dentro da pista novamente. O sol estava alto no céu ainda e eu olhei no relógio no painel para constatar que já eram onze da manhã e eu havia dormido pouco. Depois olhei para quem estava dirigindo e xingando-me pela batida de cabeça.
— Porra, , pra quem parece delicada você tem uma cabeça bem dura, hein?
? – Arregalei os olhos e ela deu um leve pulo no volante, virando-se para mim com a maior cara confusa.
— QUE FOI, MULHER?
— O QUÊ VOCÊ TÁ FAZENDO AI?
— DIRIGINDO! – Ela respondeu olhando nervosamente para a estrada de novo.
— POR QUE CARALHO?
— Ué, porque nossos garotões estão dormindo. Então Noah me deixou para... AH, MERDA.- Ela se interrompeu e gritou quando um carro a cortou e ela brecou com força.
Noah e Tyler acordaram em um pulo, ambos com caras amassadas.
— QUE PORRA FOI ESSA? – Noah gritou.
— PUTA MERDA, . – Tyler chiou.
— ELE QUE ME CORTOU, CARALHO.
Dito isso, minha querida melhor amiga levantou as mãos no ar como se fosse dizer que a culpa não era dela e o carro saiu novamente da pista com velocidade. Eu me estiquei e agarrei o volante com força.
, PARA ESSE CARRO AGORA.
pisou no freio com força, o que fez com que meu corpo rebatesse contra o painel e uma dor subisse por todo meu braço, mas ela parou o carro. No meio da estrada, mas parou. Um carro passou buzinando por nós enquanto eu colocava minha mão no coração e tentava regular minha respiração enquanto Tyler gritava com sobre ela não saber dirigir e ser mulher.
Então para o susto de todo mundo, eu simplesmente saltei para fora do carro, abri a porta de e puxei-a para fora do carro.
— Fora. Eu dirijo.
— Ah meu Deus, não, outra mulher. – Ty resmungou
— Cala boca, Tyler, eu dirijo que nem macho. – Respondi quando entrou no banco do copiloto com uma careta irritada.
— Dirige nada, Loira.
— Shiu, . – Tyler e eu falamos ao mesmo tempo.
— Só não bata meu carro. – Noah disse e bocejou.
— Sim, senhor.

’s POV.


Já eram umas três horas da tarde quando chegamos à Knoxville, Tennessee. Você deve estar se perguntando por que fomos parar no fucking Tennesee, mas isso é uma história bem engraçada. Começou com Noah, em minha legítima defesa. Ele errou na saída de NY e pegou o caminho para o Sul, ou seja, o mais longo para se chegar a Las Vegas. Esperto, eu sei, mas ele provavelmente estava fissurado nos seios de . Mas quando nós percebemos que estávamos perdidos, foi uma história mais engraçada ainda.
, pega a saída à esquerda. — Tyler comentou do banco de trás, segurando no encosto de cabeça do motorista, já que a Loira dirigia.
Eu estava com os pés sobre o painel e mascava chiclete, alheia. Noah dormia com a cabeça contra a janela e babava um pouquinho.
— Mas o mapa não estava apontando isso, Ty.
— Cadê esse mapa?
Procurei-o pelo chão do carro e o achei. Entreguei-o para Tyler.
— Ok, certo. Olha na placa, qual o nome dessa rodovia?
— I-81.
Estourei uma bola de chiclete.
... Por que estamos indo em direção ao Tennesse se no nosso plano de viagem não iríamos passar por lá? — Tyler comentou casualmente.
arregalou os olhos.
— Como assim, Tyler? Onde nós estamos?
— Então. EU NÃO SEI!
diminuiu a velocidade do carro.
— COMO ASSIM VOCÊ NÃO SABE, TYLER?
Eu comecei a perceber que existia uma boa chance desse erro no caminho ser minha culpa. Liguei os pontos, felizmente, bem mais rápido que minha bfff e meu bfff. Encolhi-me no banco, mastigando o chiclete levemente mais baixo.
Infelizmente, apesar de ser Loira, Tyler não era. Os olhos de foram para o retrovisor e encontraram os de Tyler, que mudamente dizia para ela o que eu mais temia.
— NOAH! — Tyler gritou.
! — gritou.
Noah deu um pulo no banco, batendo com a cabeça no vidro e xingando alto.
Eu somente me encolhi no banco, com medo de apanhar.
— EU DISSE PRA NÃO A DEIXAR DIRIGIR! — gritou, simpática como sempre.
— Eu só segui o caminho que Noah já estava fazendo! — Justifiquei-me.
Noah finalmente pareceu perceber que algo estava errado.
— Pra que gritar, princesa? Fala comigo que eu resolvo.
Tyler elevou as sobrancelhas e olhou para , esperando a reação dela. Mordi meu lábio segurando o riso do olhar assassino de , que somente encostou o carro e virou para trás, dando um tapa na coxa de Noah.
— VOCÊ ERROU O CAMINHO, IDIOTA!
Soltei uma risada, mas logo a suprimi quando recebi um olhar nada amigável da Loira Furacão.
— Calma, princesa, não foi bem assim.
— Ele tava é olhando para os seus seios. — Comentei casualmente.
Tyler observava o mapa e as poucas placas próximas a nós, tentando entender onde estávamos.
— Vamos manter a calma. Que horas são?
— FUCKING TRÊS HORAS DA TARDE.
— Ok, acalma a periquita, Loira Furacão. Respira fundo, bfff. Primeiro temos que saber onde estamos, já que essa merda de carro não tem GPS.
— Ei! — Noah reclamou.
— Acho que sei onde estamos. A internet não está das melhores, mas consegui entrar no Google Maps e... Estamos no Tennessee.
— O QUE? COMO FOMOS PARAR NO TENNESSEE?
— O que é um Tennessee?
— Um estado, . — Tyler revirou os olhos. — Olha, estamos a uns trinta quilômetros de Knoxville, que é uma cidade relativamente grande. Podemos parar lá para conseguir nos recompor e decidir o que vamos fazer.
— Por favor. Estou dirigindo há horas já — reclamou.
— Quer uma massagem, princesa?
— Acho melhor você calar a boca, Noah. — Sussurrei para ele, vendo os olhos verdes de chamuscarem.
Soltei meu cinto de segurança, ignorando as cantadas de pedreiro que Noah tentava usar, então abri a porta de trás do carro.
— Vai, saindo os dois. Eu e vamos atrás e Tyler vai dirigir. — Frisei no nome.
Noah deu um sorriso malandro, soltou o cinto e desceu do carro, apertando minha bochecha ao passar por mim, então entrou no banco do copiloto. Revirei os olhos e entrei no carro junto com na parte de trás. Ela estava meio puta ainda, mas somente pegou o travesseiro e o apoiou na janela. Dei de ombros, tirei o chiclete já sem gosto da boca e o colei, discretamente, embaixo do banco de couro. O carro não era meu mesmo.
Tyler assumiu o volante e tentou fazer o GPS do Google Maps funcionar com a pouca recepção da autoestrada e Noah cochilou. Pensei em pegar o mapa e tentar ajudar Tyler, mas já estávamos perdidos o suficiente e eu nunca fui muito boa em Geografia.
— Vem cá. — Puxei relutante e a deitei em meu colo. Coloquei o travesseiro atrás de minha cabeça e me encostei à janela.
Loira Furacão ficou resmungando por alguns segundos sobre como eu sou uma inútil e Noah também, falando que só Tyler prestava e olhe lá. Ele somente revirou os olhos negros. Passei as mãos pelos fios loiros, até que conseguisse parar de resmungar um pouco. Ela se acomodou em minha coxa e logo ela estava dormindo.
E eu também.
Aí que terminou a história de como chegamos a Knoxville, Tennessee. Você deve estar perguntando “Mas Tia , você não chegou a contar como foi chegar a Knoxville, você dormiu no carro com a Tia !” e eu vou te explicar que eu não vi quando chegamos a Knoxville e muito menos como era a cidade, nem os bodes e vacas que deveriam andar livres pelas ruas. Porque e eu dormimos direto e, quando acordamos, não estávamos mais em Knoxville, mas sim em outra cidade. E essa, é outra história engraçada.
? ? Acordem, chegamos!
— Acordem, princesas!
Retorci-me, espreguiçando-me desajeitadamente enquanto bocejava alto. , que havia babado em minha calça jeans enquanto dormia, resmungou e sentou-se lentamente. Limpei a lateral de sua boca e ela sorriu irônica e me mostrou o dedo do meio.
Cocei a nuca, os olhos estreitos tentando encontrar algum local que me informasse que horas eram.
Minha cabeça doía, talvez pelas mil pancadas que dei no vidro conforme o carro fazia curvas, talvez por estar sem dormir decentemente há umas 36 horas, ou somente talvez porque eu estava com fome. Muita fome.
— Chegamos onde?
— Em Paris, princesa.
Cocei os olhos com os nós dos dedos e bocejei. Para variar, a fome estava me deixando mal humorada. E também não parecia estar em seu melhor humor.
— Muito engraçado, Noah. Sério. Onde estamos? — resmungou.
— Anh, mas é sério. Nós estamos em Paris. — Tyler comentou.
— Como assim em Paris?
Eu estava prestes a xingar os dois e parar de palhaçada, quando passamos por uma placa verde escrito: “Bienvenue à Paris”. Peraí. QUÊ?
— VOCÊS ME ENFIARAM EM UM AVIÃO ENQUANTO EU DORMIA? — Gritei alarmada.
Meu Deus. Eu estava do outro lado do oceano.
— QUANTAS HORAS EU DORMI? — Gritei novamente, tão em choque que não sabia se conseguiria falar sem gritar para o resto da vida.
— Calma, , me deixa explicar... — Tyler começou a falar rindo.
— Como vocês nos passaram pela alfândega?! — perguntou confusa.
— COMO... ONDE... QUE... — Passei as mãos pelos cabelos, até que percebi que Noah gargalhava. Estreitei os olhos e também.
— Tá rindo do que, filho da puta? Eu durmo nos EUA e acordo na fucking França e isso é engraçado para vocês? — vociferou.
Comecei a tentar pensar direito, até que a única solução possível me veio à mente.
— VOCÊS NOS DROGARAM!
— Quê? — Tyler disse confuso, ainda meio rindo, sem parar de dirigir.
— É. É ISSO AÍ. — me incentivou.
— Claro que não princesa, sabe que eu não faria nada que você não quisesse. — Ele a olhou pelo retrovisor maliciosamente.
— Quando eu disse que queria ver a cidade das luzes, quis dizer que gostaria de tomar essa decisão sozinha, NÃO FUCKING ACORDAR NELA!
Tyler tentava falar, enquanto eu passava os dedos pelas minhas têmporas doloridas e batia na mão de Noah que tentava lhe alcançar. O carro cambaleava na pista e a gritaria rolava solta, quando olhei para outra placa. Havia uma Torre Eiffel fajuta de uns cinco metros servindo como arco para a entrada de Paris.
Paris, Tennessee.
SIM, ISSO MESMO.
TENNESSEE.
— PERAÍ. — Gritei alto o suficiente para que todos ficassem quietos. — Nós ainda estamos no Tennessee?
— É! Era isso que eu estava tentando falar para vocês! — Tyler disse revirando os olhos. Noah abriu um sorrisinho.
— Porque existe uma cidade chamada Paris no meio dos EUA? — perguntou confusa.
— Pior ainda, porque existe uma cidade chamada Paris no meio do Tennessee? — Enfatizei.
Olhamos pelas janelas, finalmente dentro do cosplay da cidade das luzes. Havia poucas pessoas na rua e dessas, ineditamente, nenhuma andava com uma vaca de estimação ou algum porco por aí.
— São 19h. Vamos dormir por aqui?
e eu nos entreolhamos.
— Bom, pode não ser na Europa, mas ainda é Paris.
— É, vamos dar uma chance para o Tennessee.


Décimo Nono


’s POV.


Quando Noah abriu a porta para que eu saísse do carro e me ofereceu a mão dele, eu praticamente gemi em antecipação ao colocar os pés no chão. Catorze horas em um carro, levantando só para mijar e trocar de posição com que dirigia não era brincadeira. Minhas pernas me matavam, e olha que elas nem são tão grandes. Não consigo imaginar como Tyler e Noah deviam estar sofrendo.
— Tudo bem, então nós vamos passar a noite aqui e amanhã de madrugada saímos novamente? – perguntou espreguiçando seus braços para o alto. Caralho, ela era grande.
— Exatamente. Acho que dá para o gasto ficar nessa cidade, e ela é a maior que teremos por pelo menos algumas milhas. – Tyler respondeu enquanto pegava algumas sacolas de salgadinhos e latas de refrigerante de dentro do carro de Noah para jogar em um lixo ao lado de onde estacionamos.
— Ah, por favor, isso aqui é Paris. Vocês precisam de alguma cidade maior? – disse enquanto puxava sua bolsa de dentro do carro.
Bom, ela tinha um argumento.
— Vamos achar um lugar para comer, então? – Perguntei sentindo meu estômago começar a se revirar e pedir por uma alimentação além de salgadinhos e chicletes.
— Deveríamos achar um lugar para ficar antes de irmos comer.
— Ah, Tyler, não enche o saco. Vamos comer logo que meu estômago está rugindo. – reclamou, pegando na mão dele e puxando-o para longe do carro pela rua.
Noah pegou sua jaqueta de couro preta do banco e apertou um botão na chave de seu carro, esperando o automóvel fazer um barulho de “bip bip” e indicar que estava trancado. Eu me perguntava internamente como Noah conseguia ser tão incrivelmente sexy mesmo depois de passar horas dentro de um carro ou como ele conseguia parecer despreocupado em absolutamente todos os momentos. Mas bom, eu também só o conhecia há três dias. Não é como se eu conhecesse toda a personalidade dele e...
— Graças a Deus, estou morrendo de fome também. – Tudo bem, eu conhecia esse tipo de personalidade. Colocando a chave no bolso da calça e depois erguendo os olhos para mim, percebendo que eu estava encarando-o atentamente, enquanto minha mente processava informações sobre ele, Noah disse: – Que foi, gata?
— Hãn? – Pisquei, voltando ao normal e sorri desconcertada. – Nada, não. Vamos.
Noah deu ombros e sorriu, aceitando de bom grado minha desculpa. Finalmente, alguém que não questionava absolutamente tudo. Nós seguimos lado a lado na rua, atrás de e Tyler, que andavam um pouco mais à frente, olhando pela vitrine de todas as lojas que passávamos. A maioria das coisas estavam fechadas e eu sinceramente não entendia o porquê, já que eram sete e meia da noite de uma quarta feira. As pessoas não trabalhavam nessa cidade?
Alguns minutos depois de andarmos para todos os lados, quando eu já estava imaginando chegar em uma placa que dizia “Aqui acaba Paris! Obrigada pela visita!”, deu um salto de animação ao ver uma casa de Waffles aberta e correu até a porta dela.
O lugar era pequeno e até mesmo seus guardanapos cheiravam a waffles, mas nós entramos e sentamos em uma mesa colada a uma janela com bancos de couro vermelho. Apressei-me para sentar, antes de , ao lado da janela, e ela sentou-se ao meu lado. Noah sentou logo à minha frente, com Tyler a sua esquerda.
— Espero que esse lugar tenha cerveja ou vou ficar muito insatisfeito. – Tyler resmungou e logo começou a brigar com ele, dizendo que Ty deveria ser mais positivo sobre as decisões dela.
Aham, .
Revirei os olhos para os dois e voltei meu olhar para a janela ao meu lado, observando a cidade parada e deserta. Avistei quatro ou cinco pessoas que às vezes surgiam andando nas ruas e todas iam para a mesma direção, com certa pressa, sumindo atrás de uma esquina pouco depois de desaparecerem. Quando uma garçonete de, no mínimo, dezesseis anos aproximou-se de nossa mesa para entregar-nos o menu do restaurante, imediatamente começou o assunto de como ela estava cansada de trabalhar no Planeta Hollywood.
— Você pode tentar se manter nesse negócio de fotos. – Noah comentou sem tirar os olhos de seu menu.
Tyler pigarreou.
— Não acho uma boa ideia continuar trabalhando com esse fotógrafo... Qual o nome dele mesmo? Jonathan?
— Jace. – corrigiu imediatamente e eu fiquei surpresa que ela se lembrasse do nome dele. – E porque eu não continuaria com ele?
— Acho que Noah poderia te ajudar, colocar você para fazer propaganda lá onde trabalhamos.
Estreitei meus olhos para Ty, mas fiquei silenciosa enquanto Noah respondia:
— Como você espera que eu faça isso? Eu lido com conferências e mídias, não com fotografias de mulheres... – Ele parou, percebendo olhares fuziladores sobre ele. – Ah... De mulheres. Só.
— Não, Noah. – interrompeu. – Não preciso da ajuda de vocês dois. Jace é um ótimo fotógrafo e acho que ganhei um bom dinheiro com ele... Você também não acha, ?
Então três pares de olhos voltaram-se para mim e eu só dei de ombros, desviando meus olhos para o menu em minhas mãos e tentando me focar nos pratos que poderia pedir enquanto mudava o assunto da mesa novamente.
Quando a garçonete voltou, pegou nossos pedidos e voltou dez minutos mais tarde com os nossos pratos, meu estômago já estava rugindo dentro de mim, minha taxa de glicose correndo próxima de zero. Então ataquei o prato único de waffles que pedi com vontade. pediu dois pratos. Tyler e Noah pediram três pratos. Dividi um milk-shake com Noah e Tyler e dividiram uma cerveja. Terminei de comer e afastei o prato de mim, como se isso demonstrasse o quão satisfeita estava, e logo meu prato estava empilhado embaixo dos pratos vazios de meus outros amigos.
— Meu Deus, isso pode ser um fim do mundo, mas essa waffle é muito boa. – disse enquanto mastigava sua comida.
Tyler, levando o garfo cheio para sua boca (cheia também) assentiu animado e Noah esticou sua mão até nosso copo de milk-shake e levou o copo até ele, seus lábios carnudos apertando o canudo para sugar o conteúdo do copo. Acho que ele sentiu meu olhar sobre si, pois desviou a atenção da conversa entre Ty e para olhar para mim por baixo de seus cílios perfeitos e longos.
Ajeitei-me na cadeira, desconfortável com seu olhar, mas ele não pareceu perceber, pois continuou a me encarar. Quebrei o contato visual, voltando a observar minha melhor amiga se deliciar com o final de sua comida e depois recostar no banco, batendo em sua barriga, satisfeita.
Noah eventualmente voltou a comer sua comida e fiquei feliz em poder falar alguma coisa quando Ty me perguntou sobre como estava meu trabalho de babá. Eu falei animada sobre Theodoro e Anna, deixando casualmente de lado o fato de meu chefe ser um pedaço do paraíso e sua esposa, o inferno inteiro. Depois pedi para que saísse de onde estava para que eu pudesse ir ao banheiro e afastei-me da mesa.
Procurei por alguns segundos o sinal da placa do banheiro e quando o achei, descobri que ele era um banheiro unissex. E eu realmente achava isso desconfortável, mas entrei mesmo assim. As paredes do banheiro eram de um azulejo verde e somente uma luz tentava iluminar o cômodo inteiro, mas ela estava quase se apagando. Tomei cuidado para não encostar em nada além do necessário e lavei as mãos duas vezes com o sabonete fraco e que mal fazia espuma. Arrumei meus cabelos em frente ao espelho trincado nas laterais e molhei meu pescoço com água, secando minhas mãos na própria blusa, uma vez que havia acabado o papel para enxugar as mãos.
Quando abri a porta para sair do banheiro, dei de cara com Noah encostado no batente da porta de braços cruzados.
— Finalmente, loira. – Ele suspirou e nem esperou para que eu respondesse, simplesmente me empurrou de volta para dentro do banheiro e fechou a porta atrás de si, trancando-a.
— Noah, não é por nada... Mas eu não quero ver você mijar.
Ele revirou os olhos para mim e puxou-me pela cintura até ele, juntando nossos corpos rapidamente.
— Noah... Eu não estou muito com a cabeça para...
Seu corpo empurrou-me para trás, encurralando-me em um canto das paredes e as mãos de Noah apertaram minha cintura com força, fazendo com que minha frase morresse no meio do caminho. Ele abaixou a cabeça até curva de meu pescoço e beijou o local delicadamente, sugando um pedaço de minha pele com calma, meu corpo reagindo ao se arrepiar completamente.
— O que você ia dizer? – Ele sussurrou contra minha pele.
Minha cabeça girou. Dizer? Eu estava dizendo alguma coisa? Quando? O que eu ia dizer?
— Não sei. – Suspirei, apertando os ombros dele com força, quando ele subiu seus beijos até meu maxilar.
— Você ia dizer para que nos beijássemos? – A voz de Noah saiu rouca e falha enquanto seus lábios roçavam os meus.
Sem pensar muito sobre o assunto, afastei-o levemente de mim e segurei em seus ombros com força, enquanto dava um impulso e colocava minhas pernas ao redor da cintura dele, puxando-o com força para mim. Noah sorriu satisfeito, seus olhos escuros brilhando satisfeitos e ele me prensou contra a parede com um baque, fazendo com que o ar de meus pulmões fossem embora. Com uma mão segurando-me pela bunda e a outra segurando meu rosto, ele levou os lábios até minha orelha, onde ele mordeu meu lóbulo e eu não resisti em soltar um suspiro.
E eu estava ficando louca.
Apertei minhas pernas ao redor da cintura dele e Noah entendeu o recado, erguendo seu rosto para mim novamente. A barba dele já estava rala e eu fiz questão de passar minhas unhas nela antes de colar nossos lábios e me deixar levar por seu beijo magnífico. A mão de Noah que segurava meu rosto foi parar em minha bunda, segurando-me no alto enquanto ele se afastava da parede e (eu não sei como ele conseguiu fazer essa parte), mas logo Noah estava chutando a tampa da privada para baixo e sentando nela, comigo em cima de si. Ajeitei-me desconfortável sobre seu colo e quando me afastei para puxar ar, ele logo me puxou pela cintura novamente e colou nossos corpos, sua mão firme.
Tentando decidir onde eu colocaria minhas mãos, resolvi explorar aquilo que me era direito explorar. Comecei pelos maravilhosos ombros, retirando a jaqueta de couro de Noah e ficando satisfeita quando ele pareceu nem sequer pensar em lutar contra a ideia, imediatamente me ajudando a tirar ela. Em seguida, minhas mãos foram parar por baixo do tecido da camiseta dele, explorando os músculos de seu tórax enquanto meus lábios exploravam seu pescoço e Noah apertava com força ora minha bunda, ora minha cintura.
No momento mais feliz do meu dia, no ápice, quando eu finalmente estava abaixando minhas mãos para chegar até o volume crescente de Noah embaixo de mim, quando Noah estava perfeitamente tomado por seus instintos masculinos e tentava retirar minha blusa por completo (uma vez que ele havia subido ela somente até o inicio de meu sutiã), uma batida violenta ecoou dentro do banheiro, seguida de uma voz conhecida como nunca por mim.
, CARALHO! VOCÊ SE AFOGOU NA PRIVADA?
Eu suspirei derrotada contra o pescoço de Noah e ele gargalhou, provavelmente querendo internamente matar , como eu. Afastei-me dele e dei um último beijo em seus lábios inchados antes de descer minha blusa e arrumar meus cabelos. Noah simplesmente levantou, pegou sua jaqueta do chão e arrumou seus pertences dentro da calça. Eu fiquei feliz de saber que aquela era a segunda vez que eu o deixava assim. Feliz e irritada, porque no momento, eu queria terminar o serviço.
Antes que eu abrisse a porta, Noah aproximou-se de mim pelas costas e encoxou-me com vontade, fazendo-me sentir seu volume e minha vontade de matar somente aumentou. Ele beijou meu pescoço novamente e eu estava prestes a me virar para ele e continuar tudo, quando gritou novamente do outro lado da porta:
— AMIGA, O TYLER JÁ PAGOU A COMIDA. QUER QUE EU CHAME A SWAT PARA TE TIRAR DAÍ?
Segurando todo meu ódio mortal dentro de mim, abri a porta do banheiro e dei de cara com uma de braços cruzados.
— Terceira vez, . – Sibilei passando por ela e erguendo três dedos, para enfatizar que era a terceira vez que ela empatava minha foda.
— Terceira o q...
parou de falar imediatamente assim que viu Noah sair do banheiro atrás de mim, passando a mão no cabelo como quem não queria nada da vida e depois seguiu até Tyler sem dizer nada. A expressão de se afundou e ela abriu a maior cara de desapontada do mundo.
— AH, PORRA. Desculpa bfff, poxa vida, eu não queria empatar sua foda.
Ergui a sobrancelha para ela.
— Eu juro que ainda vou te esganar. – Respondi, revirando os olhos enquanto ela me abraçava rápido, pedindo desculpas.
Do lado de fora do restaurante, Tyler e Noah estavam parados observando a rua que agora estava completamente lotada pelas pessoas daquela cidade. Literalmente, devia haver pelo menos centenas de pessoas nas ruas, todas rindo e falando animadas enquanto seguiam rumos diferentes pela cidade.
Um homem trombou em mim e virou-se para pedir desculpa, até que eu reparei que ele usava um chapéu amarelo e uma blusa amarela também, onde havia escrito as palavras “COMA QUEIJO”.
— Desculpa, moça.
— Ah, tudo bem. Senhor, o que está acontecendo? – Perguntei tentando segurar o riso devido às suas roupas.
Ele me olhou como se eu fosse louca e depois sorriu grandiosamente.
— O Festival de Fim de Ano do Queijo! É o maior festival do Tennesse!
E ele saiu andando com a multidão – deixando eu, , Ty e Noah para processar aquela informação bizarra.

’s POV.


O festival do queijo parecia algo muito inútil e pouco conhecido para mim, mas havia pelo menos umas centenas de pessoas naquela rua. Pra mais. E tudo isso por causa de queijo. Eu sei, eu sei. Doideira, né?
Mas, para melhorar, era o maior festival de queijos do Tennessee. Olha, eu já não gostava muito desse estado e já estava começando a sentir ódio por ele pelas últimas seis horas, mas quando descobrimos que todos os hotéis da cidade estavam lotados, eu desenvolvi um ódio mortal pelo Tennessee.
Cansados demais para prosseguirmos viagem, entramos no carro e fomos parar em um hotel numa rua escura, com uma placa piscante com as letras E e L apagadas, ficando somente HOT. Noah pareceu gostar bastante disso. Tyler, que havia descido do carro para ver se havia vaga no HOTel, voltou com um semblante de derrota, mas que eu sabia que era pior do que o hotel estar lotado. Era ter vagas naquela espelunca, que infelizmente, era nossa única opção.
— Eles têm dois quartos de casal. Quarenta dólares. Café da manhã incluso.
Vou te contar uma coisa sobre frescura. Nem eu nem éramos muito frescas. E quando se há comida de graça, eu fico muito feliz. Mas, dessa vez, posso te afirmar com toda a certeza que nenhuma de nós estava muito afim em ficar ali.
Com três andares, todo de madeira, o hotel parecia um estabelecimento mal assombrado do faroeste. Levamos nossas malas, com dificuldade, pelos degraus de madeira na varanda de entrada até o hall, onde uma senhora de uns 60 anos usava maquiagem em excesso e parecia ter levado duas chineladas em cada bochecha. Entregou-nos as chaves com um chaveiro enorme de madeira em forma da Torre Eiffel.
Chamamos o elevador, mas ele rangeu tanto em sua descida, com luzes piscando e sua porta de ferro dobrável suspeita, que resolvemos subir de escada. Noah e Tyler levaram as malas mais pesadas e eu e lutamos para carregar uma, juntas.
Os corredores não eram nem um pouco melhores. Com as luzes piscando fantasmagoricamente, papéis de parede marrons descascando e um carpete vermelho fedendo a mofo, eu estava começando a considerar dormir no carro. As portas de madeira com os números dourados desgastados estavam todas fechadas e não havia ninguém nos corredores. Senti um calafrio e tremi meu corpo inteiro, olhando para , que estava com os olhos verdes arregalados e assustados. Ela entendia meu medo.
— Aqui. Quarto 21 e 22. — Ty disse.
— E aí, como vamos dormir? — Noah perguntou malicioso.
— Ué, eu vou dormir com e vocês...
— Sem chances. — Tyler me interrompeu. — Já deu uma olhada nesse local? Vai que somos atacados durante a noite? É melhor ficar um de nós com uma de vocês.
— Mas eu queria ficar com ! — Resmunguei. — Se formos atacadas, os peitos dela vão nos salvar!
— Nem fodendo. Eu tô morrendo de medo e sua estatura magricela não me parece o melhor escudo contra algum lunático. — se pronunciou.
— Ótimo. Então eu durmo com ela. — Noah passou a mão pela cintura dela e sorriu maliciosamente.
Estreitei os olhos para Noah. Mesmo que eu gostasse dele, e muito, já que ele era bem parecido comigo, ainda estava com essa história de término repentino com o inglês na cabeça. Não consegui falar com minha bfff direito sobre esse assunto e queria me assegurar que ela estava bem de verdade, mesmo que ela estivesse agindo normalmente. E se pegando com o Noah.
Olhei-a sugestivamente, querendo perguntar se ela tinha certeza com os olhos. Ela afirmou com um movimento de cabeça cansado. Provavelmente só queria dormir depois de um término complicado e quatorze horas na estrada. Noah parecia um cara legal, então supus que ele respeitaria o cansaço dela. Afirmei com a cabeça para ela e dei-lhe um beijo na testa, depois abraçando-a forte.
— Eu vou cuidar dela, xerife. — Noah piscou um olho só para mim enquanto colocava a chave na fechadura.
Elevei as sobrancelhas para o apelido. De qualquer jeito, fiz um sinal com os dois dedos de que estava de olho nele. Ele somente deu de ombros e abriu o quarto em que ficariam, levando sua pequena mala e a enorme mala de para dentro do quarto.
Suspirei assim que fecharam a porta, tentando me convencer de que ela ficaria bem com ele. Mesmo não sendo a rainha da delicadeza, eu me preocupava com ela.
— Agora somos eu e você, gata. — Tyler comentou enquanto abria a porta do quarto.
Abri um sorriso de leve com isso. Esse era o Ty que eu estava acostumada.
Entramos no quarto, que era igualmente assustador, deixamos as malas em cima de um móvel de madeira velha, que felizmente não cedeu e caímos ambos deitados na cama.
— Será que tem aranhas no banheiro? Eu precisava de um banho.
Tyler torceu o nariz.
— Precisa mesmo, tá fedendo.
Dei um tapa em sua barriga e ele gemeu de dor, relembrando que estava cheio de waffles.
— Engraçadinho.
Levantei-me e abri minha enorme mala, achando as toalhas roxas que havia colocado lá, minha nécessaire, meu pijama vermelho com corações brancos e meus chinelos. Fiz um sinal com a cabeça para que Tyler fosse para o banheiro e ele riu.
— Quer companhia no banho?
— Não, idiota, quero que cheque se tem alguma coisa paranormal lá. Ou pior, insetos.
Ele revirou os olhos e se levantou.
— Eu disse que vocês precisariam de um homem em cada quarto. Quem iria olhar o banheiro se você estivesse com a ?
— Sei lá, nós chamaríamos os Ghostbusters.
Ty andou até o banheiro rindo, ligou a luz que não parava de piscar e analisou-o por uns longos quarenta segundos. Checou embaixo da pia, no chão, perto da privada, então saiu.
— Liberado. Quer companhia mesmo assim?
Fingi pensar com a mão no queixo.
— Não.
Tyler fez um bico enquanto eu o empurrava para fora do banheiro. Fechei a porta quase em seu nariz e já fui ligar o chuveiro, rezando para que sua água fosse quente. Pude o ouvir gritar um “grossa” do outro lado da porta, fazendo-me rir. Retirei minhas roupas lentamente, fedidas e encardidas já, eu usava a mesma roupa do apartamento de Jace. Já parecia que fazia uma semana desde que eu estive lá.
Para minha felicidade, a água era quente, apesar de não ter um jato muito forte. Retirei meu shampoo, condicionador e sabonete do nécessaire e me deliciei em meu banho.
Devo ter ficado uns dez minutos ali, sendo que eu sou extremamente rápida para tomar banho, relaxando meus músculos doloridos. Não havia roxos em meu corpo, como normalmente havia pós-sexo. Jace não era tão violento.
Sequei-me, vesti meu pijama e enrolei o cabelo na toalha. Fiquei com medo de usar o secador e cair a energia do hotel.
Saí do banheiro perfumada e muito mais confortável após o banho, ignorando que eu estava sem maquiagem. Tyler já me vira em situações piores e melhores. Foda-se.
— Vou tomar um banho também. — Anunciou.
Dei de ombros e emprestei o sabonete para ele. Tyler deu um tapa em minha bunda e entrou no banheiro.
Guardei minhas coisas na mala de novo, coloquei as roupas sujas em um saco e organizei as roupas jogadas de Tyler em cima de sua mala. Assim que organizei tudo, sentei na cama e penteei os cabelos molhados, até que ouvi um celular tocando, o meu celular. Corri até a bolsa, temendo ser sendo atacada por um lunático, mas o nome no visor não era e sim Jace.
— Alô? Jace? Por que você está me ligando?
— Ah, oi, . Onde você está?
— Ah, em Paris.
— Paris? Pensei que ia de carro para Las Vegas.
Suspirei.
— Ah. Paris, Tennessee. Longa história. O que você quer?
— Ok, então. — Comentou indiferente à minha rispidez. — Tenho um trabalho para você, de fotos. Quando volta de viagem?
— Lá pelo dia 3 ou 4. Que trabalho é esse? E pensei que eu havia dito que não queria mais.
— Eu sei que disse. Mas sei que não vai recusar depois de ver como é bem remunerada.
Revirei os olhos. Não poderia negar, mas o dinheiro estava me fazendo gostar bastante de posar para as câmeras.
— Ok. Fala.
— É uma campanha da H&M. Coleção de verão.
Sorri maliciosa.
— Vou poder ficar com as peças que usar no ensaio?
— Pode.
— Fechado. Que dia?
— 12 de Janeiro, às 7h da manhã, depois te passo o endereço.
Torci o lábio para o horário. Mas, mesmo assim, cedi.
— Certo. Obrigada pelo convite.
— De nada. Vejo potencial em você.
— Ah, eu sei que vê.
Desliguei o telefone sorrindo, olhando pela janela do hotel, e quando virei-me dei de cara com Tyler vestindo somente suas calças do pijama, secando os cabelos negros na toalha.
— Johnattan?
— Jace. — Sorri para sua insistência em errar o nome dele.
— Engraçado você já ter decorado o nome dele.
Guardei o celular na bolsa e andei até ele, que estava de braços cruzados. Passei minhas mãos geladas por suas costas quentes nuas, fazendo-o se arrepiar.
— Tá com ciúmes?
Ele elevou as sobrancelhas negras.
— Por que eu ficaria com ciúmes?
Dei de ombros.
— Não sei. Diga-me você.
— Não. Você é minha melhor amiga. Minha. Mas pode transar com quem quiser. Mesmo que seja com um fotógrafo com sexualidade questionável que te oferece trabalhos demais para o meu gosto. — Seus lábios se comprimiram.
Fiz bico e passei minhas mãos por seus ombros agora, acariciando-os.
— Ô drama. Tá parecendo eu. Fica tranquilo, garotão, eu sei me cuidar.
— Ah é?
Tyler abaixou-se e me pegou pelas coxas, jogando-me sobre seu ombro, carregando-me até a cama como se eu fosse um saco de batatas.
— TYLER!
Ele começou a rir, dando um tapa em minha bunda, então me jogou sobre o colchão e depois pulou sobre mim, fazendo cócegas. Soltei alguns gritinhos e me contorci pela cama, tentando me esquivar de suas mãos ágeis, gargalhando muito alto e perdendo meu ar. Esperneei e o acertei na barriga em cheio, fazendo-o gemer alto de dor e cair na cama ao meu lado, contorcendo-se. Fiquei rindo durante mais alguns segundos, recuperando o fôlego. Virei o rosto para o lado e ele também estava com o rosto virado para mim. Molhei meus lábios secos, observando seus olhos fechados e a careta de dor.
— Sua bruta.
Gargalhei.
— Olha quem fala. Seu homem das cavernas.
— Só estava brincando e você já parte para a violência.
Passei meus dedos por seus cabelos na testa, sorrindo.
— Quer beijinho pra sarar?
— Não. Sai de perto de mim, selvagem.
Gargalhei novamente e puxei os lençóis para cima de nós, fazendo Tyler se enfiar debaixo deles. Agradeci mentalmente por haver um interruptor perto da cabeceira da cama, portanto não tive que levantar para apagar as luzes. A luz da cidade entrava fracamente pelo vidro sujo da janela, iluminando parcialmente o quarto que agora estava no breu.
Ajeitei as cobertas sobre nós e Tyler finalmente tirou as mãos da barriga dolorida, virando as costas para mim, deitando de lado, me ignorando. Cutuquei-o. Ele se remexeu, mas não se virou. Tentei alisar suas costas para persuadi-lo a se virar, mas ele não cedeu. Sussurrei seu nome algumas vezes, mas isso também não funcionou. Eu até pedi desculpas pelo chute!
— Tá bom, então. Pode fazer cu doce, mas pensei que a ideia de que você dormisse comigo era para você me proteger, não virar as costas para mim. — Bufei e virei às costas para ele também.
Segundos depois, senti seus braços fortes me envolvendo. Sorri vitoriosa, mas fiquei quieta, para não afugentá-lo. Ele me abraçou forte, ficando de conchinha comigo, seu volume contra mim fazendo uma leve pressão, já que não estava duro. Senti sua respiração em meu ouvido e entrelacei meus dedos com os seus, perto de minha boca.
— Pronto. — Ele resmungou em meu ouvindo, fazendo-me rir.
— Eba. Agora me sinto mais segura.
Não podia vê-lo, mas sabia que havia revirado os olhos. Ele beijou minha bochecha de leve e enroscou suas pernas nas minhas.
— Boa noite, .
— Boa noite, Ty.

’s POV.


Assim que Noah fechou a porta atrás de nós, joguei-me na cama de casal e quase choraminguei quando o colchão duro bateu contra minhas costas. Fechei os olhos, contando até dez e rezando para que o dia acabasse de uma vez.
A briga com Chuck havia sugado todo e qualquer prazer da minha vida e somente após a casa de Waffles que eu começara a aproveitar, de verdade, a viagem. Graças a Noah. Noah. Falando em Noah... Abri meus olhos e ergui minha cabeça usando o cotovelo como apoio para olhar ao redor do quarto e achar Noah. Encontrei-o nem um pouco longe de mim, sentado na beira da cama com sua própria pequena mala aberta na sua frente, encarando seu conteúdo.
— Esqueceu alguma coisa dentro do carro? – Perguntei, sentando-me na cama.
— Não. Esqueci em New York mesmo.
— O quê?
— Pijama.
Gargalhei e Noah se virou incrédulo para me encarar, depois seu rosto se desmanchou em um sorriso brincalhão.
— Você sai para uma viagem e esquece de trazer seus próprios pijamas?
... Eu não estava pretendendo ter muitas horas de sono. – Ele respondeu sorrindo e se levantou da cama.
Noah andou sossegado até o banheiro e sumiu dentro dele alguns segundos, depois voltou com um sorriso maior ainda.
— Eles tem água quente.
— Ótimo. – Suspirei, levantando-me também da cama. Eu abri minha mala rapidamente e puxei meu pijama de dentro dela.
Quando estava prestes a colocar minha mão na maçaneta, braços musculosos se fecharam ao redor de minha cintura e me giraram no ar para trás, afastando-me dela. Minhas roupas caíram espalhadas no chão. Noah apoiou um braço no batente da porta e estreitou os olhos para mim.
— Quem disse que você vai tomar banho primeiro?
— Noah! – Bati o pé no chão. – Você nem tem pijama.
— Quem disse que eu preciso dormir de roupa?
Revirei os olhos e cruzei os braços sobre os peitos, abrindo a maior cara de irritada que eu conseguia tirar de dentro de mim. Era difícil levar Noah a sério. Ele com os cabelos castanhos bagunçados, a blusa colada no corpo por baixo da jaqueta, os olhos castanhos observando atentamente minhas reações enquanto seus lábios sorriam maliciosamente. A calça jeans de corte baixo em sua cintura, mostrando um pouco os ossos de sua entrada pélvica... Ele inteiro, basicamente, não dava para levar a sério.
— Tá bom. Vá em frente. – Dei de ombros, descruzando os braços e acenando com a mão para que ele entrasse no banheiro.
Segurando-se no batente, Noah inclinou o corpo para frente e deu um beijo estalado em meus lábios antes que eu pudesse ter qualquer reação. Ele sorriu brincalhão e prometeu não demorar, fechando a porta do banheiro atrás de si segundos depois.
Depois de encarar a porta fechada alguns segundos, revirei os olhos e peguei minhas roupas do pijama do chão e as joguei novamente dentro da mala, arrependendo-me segundos depois e agachando-me na frente desta para dobrá-las. Aproveitei e fucei dentro de minha mala por algum pijama mais bonitinho do que o de morango que antes havia escolhido. Felizmente, sempre me convencia a colocar uma peça bonitinha de roupas noturnas dentro da mala. Dessa vez eu havia colocado uma camiseta curta que dizia “Suck” na frente e “It” atrás e um shorts bem curto como parte de baixo. Separei ambas as peças e sentei novamente na cama, ficando em silêncio alguns segundos, enquanto escutava o chuveiro ligado.
Chequei meu celular para mensagens de Jules ou de Edgar. Bom, eu estava de férias. Duvido que Edgar fosse realmente enviar alguma mensagem para mim e interromper esse meu período, e Jules também não era muito de manter contato. Mas também não havia nenhuma mensagem de Chuck e eu não sei se fiquei feliz ou levemente desapontada. Quer dizer, eu não podia esperar nada depois de sua visita bêbada e tudo mais. E tudo bem por mim.
Quando o chuveiro desligou e, para ser justa com Noah, ele não havia demorado nem cinco minutos, peguei minhas roupas e esperei que ele saísse do banheiro.
— Tudo seu, princesa. – Noah sorriu saindo do banheiro com somente uma toalha pendurada ao redor de sua cintura e com alguns pingos de água ainda escorrendo por seu peitoral.
E é oficial. Noah é muito gostoso. E ele tinha sardas em seus ombros musculosos e definidos. Oh, Céus.
Tentei ignorar todos os pensamentos inapropriados que surgiram em minha mente com a visão divina que ele estava me proporcionando e engoli seco, passando por ele para entrar dentro do banheiro ainda cheio de vapor e fechando a porta atrás de mim. Liguei a água e imediatamente despi-me para aproveitar aquela chuveirada divina.
Não demorei muito tempo no banho por dois motivos. Primeiro: eu estava morrendo de medo que do nada a água acabasse comigo ainda de shampoo nos cabelos. E segundo: minha mente continuava criando fantasias com Noah. Quando finalmente sai, percebi que havia pegado minhas roupas, mas havia esquecido as peças íntimas e de outras coisinhas, como a escova de dente e de cabelo. Enrolei a toalha ao redor de meu corpo e saí do banheiro. Noah estava deitado na cama com as pernas esticadas diagonalmente nela e ainda estava sem blusa, somente com uma calça moletom.
— Que foi? – Ele perguntou quando me viu e seus olhos percorreram meu corpo duas vezes antes de se focarem em meu rosto.
— Esqueci algumas coisas. – Respondi já pegando o que precisava e voltei para o banheiro rapidamente, lutando para manter a toalha ao meu redor e as coisas em minhas mãos.
Coloquei minha roupa, usei a mão para desembaçar o vidro e poder analisar meu reflexo enquanto soltava e penteava meus cabelos. Eu estava finalizando o processo quando Noah bateu na porta do banheiro:
?
A voz dele parecia um pouco urgente, então abri a porta.
— Que foi?
— Nada. – Seus olhos desceram por meu corpo novamente. – Ouvi soltar um gritinho lá do outro lado e resolvi checar você.
— Sério? Será que aconteceu alguma coisa? Não acha que devíamos ir checar se está tudo bem com eles? Quer dizer...
— Ela estava rindo, . – Noah revirou os olhos
— Então você não estava preocupado.
— Não. – Seus lábios se torceram em uma tentativa de segurar um sorriso. – Eu estava torcendo por você ainda estar só de toalha, mesmo.
— Bom... – Coloquei a escova sobre a pia e passei por ele para sair do banheiro. – Sinto muito já estar de roupa.
Eu dei três passos antes da mão de Noah alcançar meu pulso e me puxar contra ele novamente. As mãos dele prenderam-se firmes em minha cintura e ele inclinou o rosto em minha direção, seus lábios roçando meus cabelos e minha orelha delicadamente.
— Noah... – Suspirei quando percebi que estava dando passos inconscientes para trás, em direção da cama.
Senhor, não. Não dá para segurar. Balancei minha cabeça negativamente e fechei os olhos ao sentir os lábios dele roçarem contra os meus, uma de suas mãos acariciando minha cintura calmamente, enquanto a outra entrelaçava seus dedos em meus cabelos e aprofundava nosso beijo. Pausei minhas mãos nos bíceps de seus braços, sentindo os músculos se contraírem quando eu passava minha unha na pele quente dele e assim que senti a madeira da cama contra minha panturrilha, troquei de posição com Noah, jogando-o sobre ela e sentando sobre ele com uma perna de cada lado seu.
Noah puxou minha blusa para cima e eu deixei, sabendo que ele encontraria um sutiã por baixo dela. Seus beijos desceram por meu colo e eu tive que segurar completamente os gemidos dentro de mim quando ele começou a puxar as alças do sutiã para baixo, beijando cada centímetro de pele que alcançava. Segurei com força em seus ombros, arranhando suas lindas sardinhas com a unha enquanto recebia seus beijos. As mãos de Noah dançaram pelas minhas costas até chegarem ao fecho de meu sutiã, mas ao invés de abri-lo, ele me abraçou mais ainda contra seu corpo e moveu-se para o interior da cama, deitando-me embaixo dele.
Cruzei minhas pernas ao redor dele e os braços de Noah saíram de minhas costas para que ele apoiasse seus cotovelos em cada lado de minha cabeça. Seus olhos castanhos queimavam sobre mim quando eu abri os meus próprios e fechei mais ainda minhas pernas ao redor dele, puxando-o cada vez mais contra mim. Noah fechou com forças seus olhos e inspirou forte.
, e agora? – Ele abriu os olhos novamente para me encarar. – Depois de ontem e seu namorado... Acha melhor parar?
— Ex-namorado. – Corrigi rapidamente, mas minhas pernas ao redor dele soltaram-se lentamente enquanto processava a pergunta de Noah.
Eu achava uma boa ideia? Porque eu queria. Quer dizer, eu queria muito. Mas eu tinha acabado de “terminar” com Chuck. Deveria esperar algum tempo, não é? Tudo bem que o motivo do término tem a ver com Noah e que não faria sentido toda a briga se não fosse para aproveitar agora que eu poderia fazer exatamente o que Chuck estava me tentando me proibir de fazer. Mas eu não era assim, era? Eu havia transado com Chuck somente após nosso encontro e não, eu não queria um encontro com Noah, mas esperar um dia a mais com ele para conhecê-lo não seria exatamente ruim, seria?
? Quer que eu pare? – Noah insistiu, ajoelhando-se entre minhas pernas e passando as mãos delicadamente sobre meus joelhos.
Fechei meus olhos, afim de escapar do olhar de Noah e poder pensar direito. As mãos de Noah continuaram seu caminho por minhas pernas lentamente, ele desceu as mãos até meus tornozelos, brincou com a ponta dos dedos de meus pés e depois subiu novamente suas mãos pela parte de trás das pernas, apertando levemente minha panturrilha e passando os dedos pela barra do meu shorts, antes de apalpar minha bunda e subir as mãos para minhas costas novamente. Ele puxou-me para cima, sentando-me na cama e afastou meu cabelo do rosto, fazendo com que eu abrisse os olhos para ele novamente.
— Preciso de um dia. – Sussurrei por fim.
Noah sorriu fraco e assentiu, deu um leve beijo em minha bochecha e saiu da cama.
— Rola pro lado, princesa.
Revirei meus olhos, subi as alças de meu sutiã novamente e sentei mais para o lado. Noah entregou-me minha blusa e eu a coloquei, ainda sob o olhar dele. Puxei os lençóis para baixo e entrei neles, em seguida, abrindo uma fenda para Noah também entrar entre os lençóis. Ele deitou-se ao meu lado e esticou seu braço musculoso sobre minha cabeça para apagar as luzes do quarto, mas ao invés de voltar com seu braço, ele se deitou de bruços e passou o braço por minha cintura, enquanto eu me deitava de lado, virada para ele.
— Boa noite, Noah.
— Boa noite, princesa. – A voz dele saiu abafada pelo travesseiro, pelo modo como ele dormia com a cabeça enfiada no meio e eu ri baixinho, ficando confortável embaixo de seu braço musculoso e caindo no sono minutos depois.

’s POV.


— ACOOOOOOOOOORDA, BOSTÃO! — Noah gritou pulando em cima de nossa cama.
Bom dia para você também, Noah.
Tyler que antes estava abraçado a mim colocou o travesseiro sobre a cabeça e eu puxei as cobertas para cima, mandando seu lindo amigo para a puta que o pariu.
— Vamos lá, já são 5h e temos uma longa estrada para pegar. Las Vegas nos espera!
— Cadê a ? — Resmunguei.
— Ela foi para o café da manhã já, ia montar uns sanduíches para levarmos na bolsa para a estrada.
— Não acho que os lanches daqui sejam confiáveis, mas confio na minha bfff.
Continuei sob as cobertas, esperando vagamente que Noah desistisse de nos acordar e voltasse para o seu quarto. Eu até poderia dizer que a cama estava aconchegante demais para eu resistir, mas seria mentira. Se não fosse Tyler me abraçando a noite inteira, teria acordado umas quinze vezes pela má qualidade do colchão.
— Vamos lá, gatinha. Acordando. — Tyler puxou o lençol de mim, o qual eu juro que tentei segurar, mas ele era só um pouco mais forte do que eu.
— Não quero. Quero dormir.
— Vai, você dorme no carro. E aposto que tá com fome.
Minha barriga rugiu tão alto que até Noah me olhou surpreso.
— Que fome hein? Eu até perguntaria se Tyler não te deu uma comida, mas vocês dois tem essa putaria de só amizade.
Revirei os olhos para Noah. Ty jogou outro travesseiro nele.
— Vai lá com a loira que mesmo sendo de manhã não confio nesse hotel. Sei lá que tipos de assombração rondam por aqui. Te castro as bolas se alguma coisa acontecer com minha bfff.
Noah riu.
— Pode deixar, xerife. — E saiu do quarto calmamente, deixando-me a sós com Tyler novamente.
Resolvi ignorar o comentário prévio de Noah. Tyler não comentou nada, então acho que ele não se incomodou, certo? Eu não estava ferindo sua masculinidade nem nada querendo ser só sua amiga. Só o fazia ter que segurar todo o tesão que meu maravilhoso corpo o proporcionava.
— Bom, vamos logo, ainda temos um longo caminho pela frente.
Concordei com Ty e levantei-me. Ele entrou no banheiro com uma muda de roupas debaixo do braço e suspirei alto, passando as mãos pelos cabelos embaraçados e sentindo minha cabeça latejar.
Abri minha mala e procurei alguma roupa quente, já que fazia muito frio agora de manhã. Vesti uma calça preta, botas roxas com pelinhos confortáveis, uma blusa preta e branca listrada e coloquei um sobretudo preto. Tyler saiu do banheiro no exato momento que eu colocava o gorro roxo, que ele havia me dado, na cabeça.
Seu sorriso se alargou e ele caminhou até mim fazendo um som de “awn” e então apertou minhas bochechas.
— Até parece que é meiga assim.
— Ei. Eu sou meiga.
Ty elevou as sobrancelhas.
— Nem quando está dormindo, .
Dei um tapa em seu braço por puro hábito.
— Viu? Nada meiga.
Revirei os olhos e virei as costas para ele, arrumando minha mala. Coloquei a bolsa de maquiagens dentro da bolsa, fechei a mala com minhas coisas organizadas dentro dela e resolvi ficar com o gorro. Tyler arrumou suas coisas e saímos do quarto, seguindo para o salão do café da manhã onde Noah e estavam.
Deixamos a chave na recepção e Tyler insistiu em pagar a nossa diária, já que Noah havia pago a sua diária com . Fomos para o salão ao lado do lobby onde o café da manhã estava sendo servido, num ambiente igualmente escuro e decadente, com luzes piscando e a fraca luz do sol nascente iluminando o local. Olhei no visor do celular. Eram 5h30 da manhã.
— Cadê o Noah? — Ty perguntou casualmente para , que examinava minuciosamente um pedaço de pão de queijo em sua mão. Parecia mofado.
— Ah, ele tá colocando nossas malas no carro. Pensando bem... Por que vocês dois não vão procurar algum lugar com comida decente? — comentou indicando a mesa do café da manhã. Havia moscas voando sobre ela.
Não havia mais ninguém no salão, talvez, porque ele fora aberto as 5h e ninguém, além de nós, acordava esse horário. franziu o nariz para o meu gorro, rindo baixinho, mas não comentou nada. Tyler colocou as mãos no bolso do sobretudo cinza e suspirou. Não parecia haver nada comível por ali.
— Vou procurar comida com o Noah. Coloque nossas malas no carro, , e fiquem por lá mesmo. Já volto.
Ele saiu andando e deixou nossas malas perto da mesa onde estava sentada. Sentei-me à sua frente, aproveitando aquele precioso momento para finalmente conversar a sós com ela.
— Dormiu bem? — Perguntei casualmente.
— Ah, dormi.
Ela olhou para as unhas e eu a observei calmamente.
— Quer falar sobre o inglês agora?
suspirou e me olhou com seus enormes olhos verdes. Havia olheiras sob eles. Ela se levantou da cadeira.
— Sim. Vamos indo para o carro, vou contando enquanto arrumamos as coisas.
Levantei-me e peguei minha mala e de Tyler. Começamos a andar e não precisei dizer nada para que continuasse, porque assim ela o fez:
— Chuck foi lá no dia que você estava no Jace. Lá em casa, digo. Noah foi embora e Tyler nos deixou a sós. Ele começou a dizer que sentia muito, mas que estava apaixonado, quase disse que me amava, mas o impedi.
— Você não sente o mesmo. — Constatei o óbvio.
— Não. Não consigo sentir, por mais que ele seja lindo e perfeito. Sabe que aquilo me afetou.
— E afetou em cheio. Prossiga.
Chegamos ao carro e ela apertou o botão na chave para destrancá-lo. Abri o porta-malas e coloquei as malas organizadamente nele enquanto ela prosseguia:
— Minha cabeça dói só de pensar, . Ele me olhava com aquela cara de apaixonado e tudo o que eu conseguia pensar era que eu sou igual à Senhora Delawicz. O inglês se entregou totalmente ao nosso relacionamento, sem ressentimentos, mas eu não conseguia. Não conseguia recomeçar e deixar de lado todo o podre que eu já sabia existir nele. Então eu confessei para ele que beijei o Noah.
Fechei o porta-malas e não pude deixar de puxar o ar entre os dentes, como se sentisse a dor pelo inglês. Ela me olhou pesarosa, os olhos meio marejados, então continuou:
— É. Eu sei.
— Como ele reagiu?
— Exatamente do modo que me fez não conseguir me apaixonar por ele. Surtou. Perguntou onde e por que. Eu lhe disse que foi porque eu quis, ele perguntou onde errou e eu disse que não havia errado, então ele gritou comigo.
Seus olhos deixaram de ficar pesarosos e sua voz começou a mudar o tom pela raiva e mágoa.
— Comecei a ficar nervosa e confessei que desde que ele havia surtado no hospital não conseguia mais sentir o mesmo e ele me chamou de vagabunda, disse que eu o cornei e começou a jogar em minha cara como eu havia usado ele. Ele disse exatamente que “eu sou só uma pobre coitada que não vai crescer nunca na vida e vai morar para sempre em um muquifo com a melhor amiga vadia e uma maconheira.” Depois apareceu bêbado em casa de noite, tive que levá-lo para seu apartamento e fui embora. Não quero fazê-lo sofrer e nem prolongar isso.
— QUE FILHO DA PUTA! Ele te amaldiçoou falando que vamos viver com a Jules para sempre!
, que parecia estar tendo uma crise nervosa, começou a rir. Olhou-me novamente com os olhos marejados e sorriu, suspirando alto, então disse:
— Obrigada por ser minha melhor amiga.
— Não é como se eu tivesse muita escolha. Não acho que eu saiba viver sem você. — Dei de ombros e ela me abraçou. Abri a porta traseira do carro e nós entramos.
Sentei-me confortavelmente e também.
— Espero que tenha respondido umas poucas e boas para esse inglês folgado.
— Eu ia. Até que Tyler apareceu e socou a cara dele.
— TYLER SOCOU CHARLES?
— É. Mas o inglês. Não a iguana.
Sorri para aquilo. suspirou e balançou os ombros, como se afastasse qualquer espírito ruim que a assombrasse. Olhei para o painel do carro e através do vidro pude ver Noah e Tyler voltando calmamente para o carro com sacolas lotadas de guloseimas.
Peguei na mão de e a apertei com força, querendo demonstrar que ela poderia contar comigo. Ela sorriu para mim e disse:
— Eu vou ficar bem.
Então Tyler abriu a porta de trás do carro e Noah subiu no banco do motorista, fazendo-nos morrer com o assunto Inglês-Filho-Da-Puta-E-Ex-Da-.
— Poxa, princesa, achei que iria no banco da frente comigo. — Noah lamentou, olhando-a pelo retrovisor, fazendo sorrir.
— Daqui algumas horas trocamos de lugar e eu sou toda sua.
Ele sorriu.
Puxei as sacolas de Tyler e comecei a vasculhar. Umas três latas de refrigerante, duas garrafas de água, bolachas, salgadinhos, barras de chocolate, chicletes.
— Poxa, e o meu presente? — Brinquei fazendo bico para Ty.
Ele revirou os olhos e virou as costas para mim, indo para algum lugar que eu não pude ver, voltando apenas segundos depois com uma flor vermelha menor que a palma da minha mão, o caule recém arrancado de um jardim qualquer. Elevei as sobrancelhas.
— Pronto. Seu presente.
Sorri com a simplicidade do ato e a coloquei em meu cabelo. Tyler beijou minha têmpora e foi para o banco do copiloto. me olhou sugestivamente, mas eu somente dei de ombros. Não fora nada demais, na verdade.
Noah engatou a ré e saímos para a cidade, prontos para longas horas na estrada até a tão famosa Las Vegas. A verdade é que eu nunca havia saído do lado Leste dos EUA. Ainda sonhava com LA, mas um ano novo em Las Vegas por enquanto já era bom o suficiente para mim.
A viagem fora menos conturbada que a anterior. Como tínhamos bastante comida, as paradas se resumiram em encher o tanque e esvaziar os nossos tanques, se entende o que eu quero dizer. Noah particularmente parecia ter um problema de bexiga, porque paramos umas cinco vezes por causa dele.
Como eu havia imaginado, não me deixaram encostar no volante. Ingratos. Fiquei no banco de trás o tempo todo, sendo acompanhada até por Noah em algum momento, jogando no celular de Tyler até que sua bateria acabasse. Coloquei-o discretamente no bolso de meu casaco. Não iríamos precisar do GPS dele, iríamos?
Quando chegamos ao Texas, às 17h, todos já estavam exaustos e pedindo para parar. Mas já era dia 29 de Dezembro e tínhamos reservas para dia 30, a partir da meia noite.
Paramos em Amarillo, Texas, num Drive-Thru e, para minha surpresa, quando estávamos comendo com o carro desligado à beira da estrada, Noah sugeriu:
, pode dirigir agora de noite, pelo menos por umas cinco horas, para todos nós descansarmos.
— QUÊ? Tá louco? no volante é sinônimo de...
, Noah tem razão. Nós temos que chegar a Las Vegas o mais rápido possível por causa da estadia, ela começa a valer a partir das cinco horas da manhã. E não temos dinheiro para pagar outro hotel, já que vamos gastar nos cassinos ainda.
Eu fiquei quietinha no meu canto, esperando o veredicto final. , que estava sentada comigo agora no banco de trás, olhou-me de soslaio e estreitou os olhos.
— Se eu morrer na estrada, te caço até o inferno pra te estapear.
— Não vai precisar caçar, fofa, você vai pra lá junto comigo.
Ela me fuzilou e então disse:
— Tudo bem. Tyler, você fica de copiloto para vigiar . Noah, vem pra cá.
Noah não precisou de mais uma palavra. Soltou o cinto do copiloto e pulou para o banco de trás. Tyler saiu do banco do motorista. Depois de uma dança das cadeiras, doidas, estávamos todos sentados em nossos novos devidos lugares, com os cintos de segurança.
— O carro não vai superaquecer? — Perguntei casualmente.
— Ficamos quase uma hora parados para comer e em todas as paradas deixei o carro desligado para esfriar. Acho que tá tranquilo.
Dei de ombros e dei a partida. deitou no colo de Noah folgadamente e fechou os olhos, confiante de que Tyler iria me vigiar.
Entrei na auto estrada novamente e botei o pé na tábua.
Las Vegas, aqui vou eu.


Vigésimo


’s POV.


Quando eu finalmente acordei, uma das mãos de Noah estava com o dedo entrelaçado em meus cabelos e a outra segurava minha cintura. Desgrudei meu rosto do peitoral dele, limitando-me a movimentos leves, pois sabia que ele ainda estava dormindo e pisquei forte ao ver que do lado de fora do carro, na estrada, estava tudo escuro. Quanto tempo eu tinha dormido? Soltando a mão de Noah de meus cabelos e de minha cintura, afastei-me do colo dele (Noah fez um barulho que parecia um resmungo, mas não acordou) e prestei atenção em quem estava dirigindo.
.
— Amiga. – Falei em tom baixo, vendo que Tyler também estava apagado com o rosto contra a janela do copiloto.
— Ai, graças a Deus. – suspirou e imediatamente ligou a seta para a direita, ultrapassando duas pistas sem pensar duas vezes, diminuindo a velocidade do carro até que ele parasse suavemente no acostamento.
— O quê você tá fazendo? – Perguntei quando ela abriu a porta do motorista e logo em seguida a minha.
— Trocando de lugar com você. Ainda bem que você acordou. – Ela respondeu enquanto eu saia de dentro do carro. – Juro que não me perdi, acho que estamos perto de Flagstaff.
— Mas, , Flagstaff fica no final do percurso que passaremos pelo Arizona. Como você chegou aqui tão rápido?
— Ai, bfff, você sabe como eu sou, né. Um pouco de dirigir no acostamento quando tinha trânsito, limites de velocidade ultrapassados aqui e ali, algumas fechadas em babacas. Nada demais.
– Arregalei os olhos e ela somente me lançou um sorriso divertido.
— Qual é, bfff? Não fica nervosinha, não, você pôde ficar dormindo em cima do gostosão do Noah o tempo todo. Já eu fiquei dirigindo por sete horas.
— Sete horas? – Perguntei colocando a cabeça para dentro do carro novamente para checar o horário que o painel mostrava. Eram duas da manhã. – , esse percurso demora treze horas, você tem noção que fez tudo em metade do tempo?
tirou sua bolsa do banco do motorista e jogou ao lado de Noah, ainda apagado, depois revirando os olhos para mim.
— Tô ligada. Pode me agradecer pelo dia a mais que teremos em Las Vegas depois, querida.
— Você não existe. – Suspirei entrando no carro, no banco do motorista, ao mesmo tempo em que ela entrava ao lado de Noah, no banco de trás.
— Existo, mas vou deixar daqui a pouco se você não acelerar logo. Porque eu tô definhando de fome e morrendo de sono.
Eu dei risada, assentindo e ligando o carro rapidamente. Estiquei o mapa em cima do volante enquanto saia calmamente do acostamento e fui seguindo na estrada todas as linhas marcadas por Tyler, dizendo que era o caminho certo.
Não percebi o tempo passar tanto assim. Tyler acordou quase uma hora depois que eu assumi o volante e ficou me dando as instruções para onde ir e logo em seguida, Noah acordou e pediu para trocar de lugar com o Tyler. apagou completamente no banco de trás, principalmente quando Ty foi para lá, ela se agarrou fielmente em seu melhor amigo como um travesseiro mole.
— Princesa, o limite de velocidade aqui é 120 km/h. Pode ir além disso. – Noah comentou olhando meu velocímetro, que marcava 90 km/h.
— Você acha que atravessou o Arizona em sete horas andando abaixo do limite?
— Eu juro que mando para vocês as multas que eu receber.
— Não manda, não. – Eu disse olhando rapidamente para ele. – Você não faria isso com nós.
— Olha. – Noah se moveu em seu banco e uma de suas mãos veio parar sobre minha coxa, apertando-a rapidamente. – Não me importo muito com , mas certamente não faria isso com minha princesa.
— Você está distraindo a motorista. – Bati na mão dele, que começava a subir em minha coxa e Noah riu, retirando sua mão e voltando a sentar-se normal no banco.
— Tá certo, prin.
Revirei os olhos para o apelido, mas não deixei de dar um pequeno sorriso na direção dele. Não tenho certeza se “prin” me agradava muito mais que “princesa”, mas com certeza eram apelidos melhores do que “bebê” ou “amor” que Charles falava.
Três horas depois de viagem, passamos por uma placa que dizia “Bem-vindos à Las Vegas” e eu quase chorei de emoção, mesmo ainda estando na estrada no meio do deserto que cercava Las Vegas. Pelo menos nós, com certeza, não havíamos ido parar no meio do México. Ou pior, na Flórida. Noah trocou de lugar comigo quando o transito na estrada começou a crescer. Aparentemente, ele estava com medo que eu não soubesse lidar com os diversos carros querendo encostar-se ao nosso para nos cortar.
Ele estava certo. Eu não saberia mesmo. Então saí feliz do carro para trocar de lugar, mas então Tyler insistiu para que ele sentasse na frente com Noah. Algo a ver com o fato de eu não saber ler mapas (até parece). Acordei assim que sentei atrás, chacoalhando os ombros dela até que seus olhos abrissem lentamente.
. Acorda. Acorda. Acorda. Acorda. – Falei baixinho na orelha dela e depois de um forte tapa em sua bunda. – ACORDA MULHER, ESTAMOS EM LAS VEGAS.
O pulo que deu foi tão forte que ela quase acertou em cheio meu nariz. Mas pelo menos ela acordou imediatamente. Ela piscou confusa e depois grudou o rosto contra a janela, observando a paisagem atentamente, sua testa se franzindo aos poucos.
— O que aconteceu? Dizimaram Las Vegas? Por que estamos cercados de areia?
— Porque Las Vegas fica em um deserto!? – Noah respondeu olhando-nos pelo retrovisor.
— Tem um deserto nos Estados Unidos? – olhou para mim, procurando uma resposta e eu somente assenti, fazendo-a dar de ombros. – Que seja. Cadê a cidade maravilhosa e os cassinos de gente rica?
— Fica olhando pela janela que daqui há meia hora você começa a ver. – Tyler respondeu enquanto analisava o mapa.
voltou a grudar o rosto na janela e eu dividia meu olhar entre a paisagem de Noah dirigindo e a da cidade de Las Vegas aproximando-se de nossa realidade. Mais ou menos há meia hora depois, o carro estava passando na frente de pequenas casas e as coisas começavam a tomar a forma de uma cidade, o aspecto de “deserto” aos poucos ia diminuindo e sumindo de nossa visão. Fiquei feliz ao começar a ver prédios bem ao fundo na paisagem e cutuquei (ainda com o rosto grudado na janela) para que ela também visse.
Nós demos as mãos enquanto Noah adentrava mais ainda a cidade e logo nos vi engolidas pela magnífica Las Vegas. Bom, eram quase cinco horas da manhã, então não havia ninguém muito magnífico nas ruas. Mas eu tinha certeza que quando a noite chegasse e tudo ficasse escuro, as luzes da cidade seriam mais do que sensacionais, e quase perdi o ar só de imaginar os cassinos e tudo que poderia usufruir na viagem. Quando Tyler mandou Noah virar na Las Vegas Boulevard South, dizendo que nosso hotel seria ali, achei que ele estivesse brincando com nossa cara. Simplesmente porque a rua onde Noah virou era completamente lotada por um prédio longo e gigantesco.
Meu querido bonitão dirigiu calmamente até a entrada do tal prédio e eu percebi que estava praticamente tendo um infarto ao ver as letras vermelhas e gregas que diziam “Ceasars Palace” aparecerem na nossa frente em diversas placas. Recusei-me a acreditar que aquilo era verdade, até Noah parar seu carro na frente do lugar e um homem vestido todo de vermelho com um chapeuzinho ridículo se aproximar para abrir as portas do carro e pegar a chave da mão de Noah. Sem conseguir digerir exatamente o que estava acontecendo, fiquei parada ao lado de minha melhor amiga, enquanto Ty, Noah e alguns outros trabalhadores do hotel tiravam nossas malas do carro. Não cheguei a ver onde foram parar nossas malas. Não cheguei a perceber que Noah estava me fazendo andar ao segurar em meu cotovelo, nem que Ty fazia o mesmo com .
O hall de entrada daquele hotel foi como um soco em meu estômago e o ar de meus pulmões foi embora. De repente, respirar não era tão fácil. Primeiro porque eu sentia que havia vendido todos os órgãos de meu corpo ao entrar naquele hotel, porque acreditem, só seria assim que eu conseguiria pagar uma estadia ali. Segundo porque as horas de sono desconfortáveis e dirigindo pareceram desativar alguma parte em meu cérebro que me permitia ter reações. Tyler e Noah fizeram o check-in, enquanto eu ainda processava tudo aquilo que estava vendo.
— Amiga, sou só eu ou esse lugar te deixa com vontade de chorar? – comentou ao meu lado, apoiando-se em mim e suspirando pesarosamente enquanto olhava para as luminárias sensacionais presas no teto.
— Não sei. Estou com medo de molhar o tapete daqui e ter que pagar.
— Eu te entendo. – respondeu olhando ao redor com olhos brilhantes.
Noah e Tyler voltaram para perto de nós. Noah carregava um sorriso satisfeito em seu rosto e Tyler parecia extremamente cansado.
— Bom, princesa. Temos dois quartos. Que tal repetirmos a dose de Paris?
Revirei os olhos para ele, empurrando-o para trás levemente pelos ombros.
— Nem fodendo. Vou dormir com a . – disse sem dar nem espaço para que eu o respondesse. - Ty, onde estão nossas malas?
— Sendo deixadas no quarto de vocês. Aqui é a chave de vocês, então. Nosso quarto é o do lado, então vamos logo subir que eu estou morrendo.
Concordei com Tyler e imediatamente fui até os elevadores para apertar o botão para chamá-los. Noah me seguiu rapidamente e colocou um braço ao redor de minha cintura, como um meio abraço, enquanto esperávamos o elevador. se apoiava com o cotovelo no ombro de Ty e eles conversavam alguma coisa. Tyler revirou os olhos pra e sorriu fraco com algo que ela disse. Ah, por favor, esses dois, deveriam arranjar um motel já.
— Eu preciso urgentemente de uma cama. – Falei, soltando-me de Noah e entrando no elevador quando este chegou.
A memória de Chuck encoxando-me em seu elevador em Londres inundou minha mente e eu a afastei com rapidez. Nem fodendo que esse inglês iria ficar na minha cabeça agora. Subimos todos em silêncio no elevador. Nossos quartos eram no décimo sexto andar e eram respectivamente o 163 e 164. e eu resolvemos ficar com o 164, só porque o número parecia mais bonitinho e feminino.
Mais uma vez, a vista de nosso quarto fez com que eu precisasse tirar um segundo de meu tempo para pensar em como meus órgãos estavam praticamente com etiquetas de preço. Ai, eu podia sentir minha conta bancária voltando para o negativo. assobiou alto quando entrou atrás de mim e depois soltou uma gargalhada alta enquanto olhava ao redor do quarto. Ela abriu a porta do banheiro e levou a mão até a boca.
— Amiga, acho que estamos no paraíso.
Foda-se a conta bancária agora. Nesse segundo preciso de um momento para ficar feliz.
— Eu sei. – Gemi de volta para ela.
correu pelo quarto e pausou antes de tirar seus sapatos para pular na cama. Ela deu um gritinho de felicidade e enfiou a cara debaixo do travesseiro enquanto batia as pernas contra o colchão. Uma batida leve na porta impediu que eu fizesse o mesmo, então a abri e um homem trouxe nossas malas para dentro do quarto. Dei a gorjeta para ele e quase pedi pelo dinheiro de volta quando ele fez uma careta pela pouca quantidade. Porra, vai ficar insatisfeito na puta que pariu.
Quando fechei novamente a porta, aproveitei para dar uma olhada no banheiro e jogar uma água em meu rosto, antes de tirar os sapatos e pular na cama junto com . Eram cinco horas da manhã. Estaríamos em Las Vegas por quatro noites. O mundo girava ao favor da minha felicidade e a gravidade agia contra minha conta bancária. Mas a vida estava boa o suficiente.
Deitei ao lado da minha melhor amiga, deliciei-me com o cheiro e tecido dos lençóis novos e com a sensação do travesseiro de penas de ganso. Quase chorei de felicidade e fiquei olhando para o teto do quarto durante alguns minutos. A respiração de havia ficado profunda e eu sabia que ela estava dormindo.
Então antes de cair em meu próprio sono - eu pensei que naquele momento, deitada na cama com minha melhor amiga apagada em pleno hotel em Las Vegas, eu podia jurar... Que éramos quase ricas.

’s POV.


Antes de tudo, queria deixar algo bem claro aqui: quando Tyler e Noah falaram que bancariam a viagem, eu achei que eles se referiam a um modesto hotel 3 estrelas, próximo a algum cassino, para que pudéssemos aproveitar. Principalmente depois do hotel em Paris. Então eu e combinamos que depois iríamos pagar para eles.
Então quanto a estar no Caesars Palace, só preciso dizer que: EU NÃO IA PAGAR ESSA PORRA NEM FODENDO.
Quando acordamos no dia seguinte, eu, obviamente, por último, já que estava só o trapo depois de ter atravessado os EUA como um jato, eu fiquei com medo de respirar fundo demais. Talvez eles cobrassem pelo ar que eu respirasse ali. Ok, estou exagerando. Mas aposto que se eu usasse papéis higiênicos demais haveria uma taxa adicional. Tenho que me lembrar de não comer comida mexicana, então.
saiu do banho cantarolando, enrolada nas toalhas felpudas dali.
Eu poderia falar o que fosse sobre como eu ficaria devendo até minha mãe após essa viagem, mas não conseguia negar que estava nos céus. Esse lugar exalava riqueza.
— Bom dia, raio-de-sol.
Cocei minha nuca e sentei-me preguiçosamente na cama, sentido uma dor física por esnobar aquele pedaço do céu que exigia que eu dormisse mais. Essa cama era divina.
— Bom dia, loira. Os meninos tão no outro quarto?
— Passaram aqui antes de eu entrar no banho avisando que iriam para o Cassino e não iriam almoçar, já que comeram muito no café. Aliás, eu tentei te acordar para o café da manhã, mas você ficou aí babando e eu deixei.
— DROGA! Que horas são?
— Quase 15h. O almoço aqui deve custar meus dois rins e um globo ocular. Quer procurar algum lugar para comer?
Esfreguei meus olhos e puxei as cobertas de cima de mim, andando preguiçosamente até o banheiro para um longo banho.
— Pode ser. Vou tomar banho.
O banheiro era enorme, com uma pia de pedra negra larga e um Box que cabiam umas seis pessoas dentro. Tomei um longo banho, aproveitando o jato forte e quente do chuveiro, cantarolando tranquilamente e aproveitando os sabonetes do hotel. Lavei meus cabelos e me depilei por completo, torcendo para encontrar algum gato rico no cassino hoje à noite.
Saí do banho, sequei-me e vesti um dos roupões brancos felpudos que estava dependurado na porta. Penteei meus cabelos molhados e já me maquiei com somente o básico: base, pó e rímel.
estava deitada na cama, já vestida com uma calça jeans skinny, sapatilha preta e um moletom rosa pink. Seu cabelo estava preso em um rabo de cavalo alto. Ela me olhou enquanto esperava eu decidir o que vestir, provavelmente impaciente e com fome.
Acabei vestindo algo simples também: legging preta, camiseta preta comprida, escrito “Keep Calm and Buy Shoes” em dourado, botas pretas de cano baixo e um casaco bege. Prendi meu cabelo em um coque e coloquei meus óculos de sol aviador, já que parecia fazer sol lá fora. Peguei minha bolsa bege e enfiei o celular, carteira e um mapa de Las Vegas que encontrei em cima do móvel da televisão.
— Vamos? — perguntou com o cartão da porta em mãos e sua bolsa preta nos ombros, de pé próximo à porta.
— Vamos, bfff.
Descemos o elevador tranquilamente, até que no saguão eu notei que, basicamente, a maior parte das pessoas estava vestida de maneira despojada, mas com roupas evidentemente caras. Dei de ombros para esse fato e segui até o lobby, quando passamos perto do cassino, percebi que a coisa mudava.
Todo mundo ali usava roupas chiques e caras, vestidos longos, ternos, camisa social. Todos exalavam riqueza. E meus humildes dois vestidos de balada não conseguiam competir com aquilo. Olhei para desesperada ao perceber que não só éramos pobres perto daquelas pessoas, mas pior: Nós PARECÍAMOS pobres perto daquelas pessoas.
Ela me olhou por alguns segundos até entender onde eu queria chegar. Mas sua reação de desespero fora por motivo totalmente diferente do meu.
. NÃO. Não vamos fazer compras! Não temos dinheiro, você tá louca?
Sorri para ela e andei até o balcão da recepção. O rapaz desviou o olhar da tela e sorriu simpaticamente para mim. Eu fui direto ao ponto:
— Boa tarde. Existe algum outlet por aqui?
— Boa tarde, senhorita. Existe sim, tem o Premium Outlet há alguns minutos, tem um ônibus na rua de trás que vai direto para ele.
me alcançou quando eu já estava com a informação em mãos.
— Muito obrigada, moço.
Saí andando para o lado contrário do hotel, para a saída do outro lado da rua. ainda tentava me dissuadir:
— Heô, por favor, não faça isso comigo. Por favor. Por favor. Nós fizemos compras na Black Friday!
— Eu sei, querida. São só umas duas ou três pecinhas.
Ela fincou o pé e ficou parada enquanto eu andava.
— Quer saber? Não. Não vou com você, sua descontrolada. Não vou participar da ruína de nossa conta bancária.
Continuei a andar, comentando mais alto para que ela pudesse ouvir, ainda parada onde estava:
— Não se esqueça sobre o cheque que EU consegui para a nossa conta, da sessão de fotos com Jace. Ele vai pagar a SUA passagem aérea. E minhas compras de agora.
apareceu do meu lado novamente, bufando e me puxando pelo braço.
— O que você quer comprar, hein? Já temos roupas!
— Não boas o suficiente. Vamos para o cassino, depois tem a festa de ano novo...
— AHÁ! Compramos roupas para o ano novo na Black Friday e elas são boas sim. Pronto. Não precisa de mais.
Droga. Não ia me deixar vencer.
— Vamos ficar três noites aqui. Temos roupa somente para uma. Você não vai me impedir.
resmungou e me xingou em português algumas vezes, mas permaneceu ao meu lado, mesmo que contra sua vontade. Saímos do hotel e eu encontrei o ônibus facilmente. O cheque de Jace havia sido depositado por em Paris enquanto eu dormia, então era só gastar no cartão. Meu sorriso não saía do rosto de jeito nenhum. Ah, compras. Como elas me deixam feliz.
O ônibus estava bem lotado, mas não liguei para isso. Só pensei nas roupas. E sapatos. E acessórios. Todos no meu lindo guarda-roupa. estava sentada emburrada, resmungando que era muito bom que conseguíssemos muito dinheiro hoje de noite para pagar as compras enormes que ela já sabia que eu iria fazer. Ah, qual é, era um outlet! Não tem como se segurar em um outlet.
Quando finalmente chegamos ao ponto do outlet, desci saltitante e fui à caçada. ainda resmungava, mas eu sabia que ela amaria no final.
Primeiramente, fomos ao Burguer King que havia na praça de alimentação e acabamos com nossa fome de leoas. Mais bem humorada agora, me arrastou até a Ann Taylor na esperança de que haveria vestidos longos por ali.
Se fosse para irmos ao cassino, que fosse com roupas poderosas e prontas para arrasar. Pelo menos nisso concordava comigo.
Passamos longas horas de loja em loja, provando tantas roupas que se levássemos todas refaríamos nosso guarda roupa três vezes, calculando os gastos, comprando tudo nos mínimos detalhes. Quando eram 18h30 estávamos cada uma com cinco sacolas e sorrisos muito satisfeitos no rosto, apesar de furos enormes em nossos pobres bolsos. Eu teria que me prostituir durante um ano para quitar todas as dívidas dessa viagem, mas quem liga? Pelo menos com essas roupas eu poderia ser uma prostituta de luxo.
Havíamos comprado um total de seis vestidos, cinco sapatos, duas calças jeans, umas três blusinhas e duas bolsas. Ah, e aproveitou para comprar algumas lingeries. Safada.
Voltamos para o hotel com dificuldade pelas sacolas, batendo nas pessoas ao entrar no ônibus. parecia feliz com as compras, mas preocupada. Sabia que teria que limpar a bunda dos filhos de Edgar com a língua para pagar nossas compras.
— Você trouxe alguma coisa para arrumar o cabelo? — indagou dentro do ônibus balançante, já bem próximo do Caesars.
— Ah, trouxe um babyliss. Serve?
Ela deu de ombros e assentiu. Coloquei meus óculos de sol dentro da bolsa e examinei minhas compras. Mal podia esperar para colocar meu maravilhoso vestido vermelho. Eu ficaria tão irresistível nele que até me ofereceriam uma estadia de graça.
Quando chegamos ao Caesars, subimos direto para o apartamento e vimos que os meninos não estavam no quarto e nem haviam nos ligado, mas havia um papel que fora enfiado por baixo da porta de nosso quarto. começou a tirar as roupas das sacolas e colocá-las nas malas, então eu peguei o bilhete e o li em voz alta. Era de Noah.
— Princesa e Xerife, como foi o dia de vocês? Tyler disse que aposta que vocês foram fazer compras. De qualquer jeito, gatinhas, estamos esperando vocês no cassino às oito horas. Estejam lindas e magníficas. Papai te espera, princesa. Beijos, Noah e Tyler.
elevou as sobrancelhas para o “papai” e depois riu. Olhamos para o relógio e já eram 19h então começamos a nos arrumar para ficar nada mais nada menos que a cara da riqueza.

’s POV.


Quando acabei de passar a maquiagem, prendi o cabelo no alto com um coque meio desleixado-chique deixando alguns fios caírem sobre meu rosto e ajeitei meus peitos no vestido decotado. Eu estava me sentindo a porcaria de uma estrela de cinema com o vestido sensacional que tinha me convencido a comprar. Tudo bem que ele havia custado meus rins e mais um pouco, talvez um dos globos oculares, mas ele era de morrer e eu estava uma gata.
Passei um batom vermelho nos lábios novamente e sorri para mim mesma no espelho para ter certeza que não havia sujado meus dentes. Tudo ok. já estava com seu lindo vestido vermelho de matar e morrer, seu sapato divo, com sua pequena bolsa em mãos e sorriu para mim maliciosamente quando eu apareci. Peguei minha bolsinha, calcei meus saltos e sorri de volta para ela.
Imediatamente quando chamamos o elevador para descermos, senti um frio na minha barriga. Qual é, essa história de cassino era super legal e entusiasmante. Sem falar que eu veria Noah de terno. Isso é um grande passo na nossa pseudo-relação, sabe como é né. Também porque eu pretendia fazer Noah esquecer como respirar à noite.
O elevador parou no andar do cassino e eu fiquei sem ar durante alguns segundos, até que me puxou pelo cotovelo para fora do restaurante e para dentro daquele cassino maravilhoso. Havia várias pessoas amontoadas ao redor de mesas, todas bem vestidas e com bebidas caríssimas nas mãos. Eu conseguia distinguir onde eram as mesas do Black Jack e onde estavam as mesas do meu jogo, pôquer. Mais ao fundo do ambiente, estavam as diversas máquinas de caça-níqueis cercadas por mais e mais pessoas, algumas já um pouco mais bêbadas do que as que jogavam.
Um garçom bem vestido passou por mim e e ofereceu as bebidas que carregava em sua bandeja. Perguntamos se era de graça e ele disse que fazia parte do pacote do cassino, as bebidas, então agradecemos e pegamos nossos copos, que eu, mais tarde, descobri ser Martini. Uma vez com copos em mãos, e eu andamos ao redor das mesas, observando os jogos, eu prestei atenção nas pessoas das mesas de pôquer.
— Acho que vou entrar no jogo daquela mesa, já está acabando. – Comentei para enquanto apontava discretamente para o lugar a que me referia.
estava de olho em um cara muito gato jogando Black Jack, então sorriu para mim e assentiu com a cabeça já se afastando e rebolando. Ri baixinho de sua indiscrição ao trombar com o homem e passar a mão em seu braço, mas depois revirei os olhos e fui pegar algumas fichinhas para jogar. Eu não tinha tanto dinheiro, então saquei o suficiente para jogar uma primeira partida (que eu estava feliz e confiante que iria ganhar).
Uma vez sentada na mesa de jogo (escolhi a mesa onde as apostas eram mais baixas), fiquei feliz ao ver que ninguém fazia perguntas ou ligava para quem eu era. Havia um homem perto da meia-idade, meio careca que me deu um sorriso sacana, mas eu o ignorei e continuei meu jogo na maior boa vontade. Para falar a verdade, eu adorava pôquer. Era um dos únicos momentos em que a faculdade de psicologia me dava alguma vantagem sobre as pessoas, porque eu captava sinais de mentira e ansiedade mais rápido do que os outros. Isso geralmente me fazia ganhar, quando a maré estava para o meu lado.
Durante metade do jogo, diverti-me em silêncio e na minha enquanto via outros jogadores perderem suas apostas por blefes mal feitos ou por simples falta de prática no jogo. O homem careca estava limpando a mão de todo mundo e eu não tinha muita coisa, somente uma trinca de oito, mas agi como se tivesse um Royal Flush na minha mão e logo o homem desistiu de seu jogo, mostrando que só teria uma sequência. Eu quase suspirei de alívio, pois perderia se ele tivesse pedido mesa novamente, mas mantive minha postura firme e puxei feliz todas as fichas lucradas no jogo para mim. O homem careca ergueu seu copo de uísque na minha direção e sorriu meio que maldosamente. Acho que ele ficou bravo porque eu tinha acabado de arrancar trezentos dólares dele. Foda-se.
Quando o crupiê voltou a distribuir as cartas, senti uma mão em meu pescoço e um beijo estalado em minha bochecha. Pisquei confusa, mas virei-me a tempo de ver Noah puxando uma cadeira e sentando-se ao meu lado na mesa. Ele sorriu lindamente para mim e eu senti uma parte de meu coração se derreter, graças a sua beleza.
Noah usava um colete-terno por cima de uma blusa meio roxa azulada e uma gravata preta estava bem arrumada em seu colarinho. Mordi meu lábio inferior só de pensar no estrago que eu faria e percebi que Noah olhava para mim da mesma maneira. É, nós iriamos nos divertir mais tarde. Porém, no momento, contentei-me em erguer a sobrancelha para ele e voltar a prestar atenção no crupiê distribuindo as cartas.
— Princesa, você está ganhando uma grana jogando, hein? – Ele comentou divertido enquanto colocava o braço ao redor de minha cadeira.
— Eu sei jogar, papai. – Sorri para ele, frisando seu péssimo apelido.
Noah sorriu orgulhoso.
— Quero só ver, gata.
Quando a nova partida começou, minha mão veio péssima e aparentemente a de metade das pessoas na mesa, pois somente três continuaram no jogo. O careca, uma mulher que parecia ter feito botox até nas pálpebras dos olhos e outro homem que estava um pouco bêbado. O careca ganhou a partida com uma quadra, mas não conseguiu recuperar os trezentos reais, somente cento e cinquenta.
O crupiê começou a embaralhar as cartas e eu senti a mão de Noah em meu pescoço novamente, fazendo um carinho gostoso por minha pele que me distraía completamente. Voltei-me para ele com uma expressão de repreensão.
— Noah. Você está tentando fazer com que eu perca?
— Eu? – Ele piscou, colocando uma mão sobre o peitoral e fazendo cara de ofendido. – Claro que não, princesa. Só estou tentando fazer você relaxar.
— Você me ajuda com isso depois, preciso prestar atenção no jogo, agora. – Respondi voltando a prestar atenção no crupiê.
Noah pausou a mão que fazia carinho em meu pescoço, mas não a tirou do lugar. Quando recebi minhas cartas e as olhei, reprimi completamente um sorriso triunfante em meu rosto ao ver que havia recebido dois dez de espada. Se as cartas da mesa aparecessem ao meu favor, eu poderia ter uma quadra, um full, uma trinca. Pelo menos eu havia começado o jogo com uma dupla alta em mãos.
Fizemos as apostas iniciais e eu senti Noah se aproximar mais de mim com seu rosto, seus lábios roçando minha orelha.
— Acho que eu sou seu novo amuleto da sorte, .
Merda. Tive que reprimir com toda a força do mundo outro sorriso satisfeito para Noah e limitei-me a somente assentir para ele e olhar para a mulher de botox de cara feia, porque eu havia percebido ela fazer um mini sorriso ao receber suas cartas e pretendia intimidá-la. A rodada se seguiu e somente o homem careca e mais outro cara (jovem até, parecia estar na casa dos trinta anos) continuavam na jogada. Até agora a mesa havia virado um novo dez de copas e um seis de ouros, então eu estava feliz por minha trinca em mãos. O homem careca, por sua vez, parecia estar animado mais satisfeito com as cartas (ele mexia as pernas ansiosamente várias vezes).
O crupiê pediu as apostas e o filho da puta resolveu aumentar mais cem dólares no jogo. Discretamente, Noah bateu seu joelho contra o meu como um incentivo para que eu entrasse no jogo e eu o fiz, sentindo um aperto no coração, porque se eu perdesse essa rodada, estaria perdendo trezentos dólares. O outro homem desistiu e se levantou derrotado da mesa, havia tido um prejuízo de duzentos dólares com essa jogada. O crupiê preparou-se para virar a última carta e antes que o fizesse, senti a mão de Noah saindo de meu pescoço para pousar sobre meu joelho descoberto pela fenda de meu vestido.
A carta era um dez.
O crupiê perguntou se queríamos aumentar nossas apostas e o homem careca quis colocar mais cinquenta. Eu bati sua aposta, sabendo que era impossível que ele tivesse um jogo maior que minha quadra. Quando viramos as cartas, descobri que ele havia dois seis em mãos e, portanto, tinha uma trinca de seis e uma dupla de dez (a da mesa), um full house. Mas isso não ganhava de minha quadra, então eu recebi, satisfeita, minhas fichinhas, colocando meu lucro de mais ou menos seiscentos dólares dentro de minha linda bolsinha.
Levantei de minha cadeira e ergui meu copo de Martini na direção do homem careca, como um cumprimento por meu jogo. Ele não estava muito feliz, mas sorriu de modo tenso e ergueu seu copo de uísque mais uma vez em minha direção. Noah levantou atrás de mim e segurou minha cintura enquanto eu me afastava da mesa.
— Gostei de ver, princesa. Senti como se estivesse vendo um campeonato de pôquer ao vivo.
— Engraçado, Noah. – Revirei meus olhos para ele e tomei o resto do Martini em meu copo, sentindo o líquido queimar por minha garganta.
— É sério. Agora vem cá. – Ele sorriu brincalhão e tirou a mão de minha cintura, puxou o copo de minha mão e o deixou sobre um móvel qualquer enquanto me arrastava pela mão em direção as mesas de Black Jack. – Quero ver se você também é meu amuleto.
No fim das contas, eu também era o amuleto de Noah. Depois de duas partidas de Black Jack e uma tentativa no caça-níqueis, ele tinha conseguido oitocentos dólares para si mesmo e estava distribuindo beijos por todo meu rosto para demonstrar sua felicidade.
— É minha última jogada, prometo. – Ele sussurrou em meu ouvido e beijou novamente minha bochecha antes de voltar a prestar atenção na mesa de Black Jack.
Revirei os olhos para ele, mas entrelacei nossos braços e como um bom amuleto, mantive-me quietinha ao seu lado até ele ganhar a partida. Dessa vez, o lucro tinha sido só cem dólares. Então quando estávamos nos afastando da mesa do Black Jack, avistei minha melhor amiga se afastando das máquinas de caça-níquel com uma expressão confusa.
— Que foi, bonitinha? – Perguntei quando nos encontramos.
olhou para Noah e deu uma boa checada em seu corpo, sorrindo maliciosamente para mim rapidamente antes de responder.
— Essa merda dessa máquina é doida. Eu estava jogando de boa, abaixando a alavanca que nem todo mundo, ai ela começou a girar, deu pau e...
— Ela devolveu seu ticket? – Noah a interrompeu.
— Não. Ela ficou tudo com os desenhos iguais e depois só mandou essa porra dourada aqui para fora. – disse irritada e balançou o ticket dourado no ar.
Arregalei meus olhos e senti Noah rir ao meu lado, seu corpo revibrando ao lado do meu. Ele pegou o bilhete da mão de e o analisou, antes de concluir:
— Você ganhou dez mil.
— Ela... Ela... Ela o quê? – Engasguei.
arrancou o ticket da mão de Noah e um sorriso de matar surgiu em seus lábios.
— Eu estou milionária. MILIONÁRIA! – Ela gritou me abraçando com força sufocante.
Eu ainda estava em choque, mas fui arrastada para onde retiraria as fichas e senti minha bolsa pesar ainda mais quando ela dividiu o lucro do ticket entre nossas bolsas. Sorrindo eternamente, os músculos de meu rosto doíam, mas foda-se. Amanhã eu poderia pagar massagens para relaxar meu rosto. Porque eu estava rica. RICA.
— Bfff, te amo muito. Mas tenho que ir esfregar na cara de Tyler esse lucro todo. Ele vai ficar doido ao ver essa grana.
— Tudo bem. Também te amo. JUÍZO! – Gritei a última palavra porque já havia começado a se afastar.
Voltei-me para Noah, que tinha as mãos no bolso da calça social, os braços fortes aparecendo contra a blusa social e seu peitoral estufado se destacando no colete social. Sorri alegre para ele e estendi minha mão em sua direção, ele a pegou de bom grado e deixou que eu o arrastasse de volta para as mesas de jogos. Após algumas rondas ao redor do cassino, parei ao lado da mesa da roleta com Noah e nós resolvemos apostar no próximo jogo.
— Quero cem no número doze.
— Doze? Eu iria no dezesseis. – Falei, entregando uma ficha de cinquenta para o crupiê responsável e apontando para o dezesseis.
— Eu gosto do número doze.
Dei ombros e prestei atenção no jogo. O crupiê soltou a bolinha e depois de segundos intermináveis ela parou sobre o número catorze. Eu suspirei desapontada e Noah revirou os olhos, meio irritado por acabar de perder cem em um só jogo. Ele pegou um copo de uísque com um garçom e tomou um gole rápido. Sorri para a frustação dele e imediatamente pensei em uma coisa que melhorasse seu humor. E o meu.
— Vamos lá, jogador. - Falei puxando-o pela mão.
— Para qual jogo você está indo agora? Se você não percebeu, minha sorte acabou de ir embora junto com cem dólares.
— Ah, eu percebi. – Respondi parando abruptamente na sua frente. Noah segurou com força minha cintura para que não me derrubasse e eu apertei seus ombros, subindo minhas mãos até seu pescoço e entrelaçando os dedos atrás de sua nuca. Aproximei meus lábios dos seus lentamente, roçando-os de leve. – Só achei que estivesse na hora de você tentar sua sorte em outro lugar.

’s POV.


Aquilo tudo parecia uma realidade muito distante da minha. Um sonho doido que eu estava tendo depois de mais um longo turno de trabalho no Planeta Hollywood, do qual eu acordaria com me puxando pelos lençóis em nosso pacato apartamento em Soho, Nova Iorque.
Olhei ao redor, para todas aquelas mesas, aquele monte de pessoas, todas jogando livremente.
Saí da mesa do Black Jack com prejuízo de 100 dólares. Mas quem liga? Eu havia ganhado 10 mil dólares no caça níquel. Parecia que o universo conspirava ao meu favor.
Eu estava em Las Vegas, com um vestido maravilhoso, dinheiro de uma sessão de fotos inédita com a Levi’s, mais 10 mil dólares do caça níqueis, com minha melhor amiga subindo para nosso luxuoso quarto com um cara extremamente gato e não grudento. Apesar das milhões de dívidas que estávamos, naquele pequeno momento, enquanto eu andava pelo cassino com a bolsa cheia de fichas e uma taça de Martini em mãos, eu não conseguia pensar em como a vida poderia ficar muito melhor.
Joguei meus cabelos sedosos e cacheados por cima do ombro direito e andei rebolando sobre meus saltos até a área do pôquer, até que finalmente encontrei Tyler sentado, concentrado em seu jogo. Algumas poucas pessoas observavam o jogo, já que havia várias mesas de pôquer ao redor. Beberiquei meu Martini e andei lentamente até a mesa de Tyler, atraindo alguns olhares.
Eu me senti a Vesper, no Cassino Royale, seduzindo o James Bond. Se bem que Tyler não estava vestido igual ao James Bond, mas estava igualmente sexy. E não havia nenhum homem remotamente suspeito ou parecido com o Le Chiffre. Droga.
Seus olhos negros saíram de cima das cartas que eram dispostas sobre a mesa no estilo Texas Hold e subiram para encontrar o meu olhar. Minha maquiagem destacava meus olhos, que estavam particularmente penetrantes esta noite, enquanto meus lábios vermelhos abriam um sorriso malicioso ao perceber que metade da mesa me observava com desejo. Principalmente Tyler, que deveria dizer neste exato momento se aumentaria a aposta ou queria mesa, mas estava ocupado demais me observando se aproximar dele.
— Senhor? Mesa ou vai apostar?
— Ahn? Ah. Mesa.
Soltei uma risadinha ao finalmente parar atrás dele, deslizando minhas mãos por seus ombros e abaixando o tronco para encostar meus lábios em sua orelha.
— Oi, garotão. Você não me parece muito concentrado no jogo.
Ele riu baixinho enquanto mantinha os olhos na mesa, quando mais uma carta fora virada.
— De repente encontrei algo mais interessante de se olhar do que o jogo. — Sussurrou contra minha orelha, fazendo-me rir. Pensei em beijar sua bochecha, mas não queria deixar a marca do meu batom.
— Ganhando muito?
— Mil dólares de lucro já.
— Impressionante, Ty.
— E você?
— Ah, nada demais... — Abri casualmente minha bolsa e mostrei as 4 fichas de mil dólares e mais algumas de 100 dólares.
— Onde você conseguiu isso? — Falou um pouco alto, assustado. Sorri maliciosa.
— Caça níquel. Jackpot. ficou com a outra metade. — Frisei a palavra.
Tyler sorriu desacreditando, ainda olhando para dentro da bolsa. Os outros integrantes da mesa já estavam ficando impacientes comigo, pois era a segunda vez que Tyler atrasava a jogada. Fechei a bolsa e deixei meu copo de Martini sobre a mesa para que ele pudesse beber um gole e se recompor, então pisquei para ele e saí andando, procurando algum lugar para gastar minhas lindas fichinhas. Esperava que não perdesse tudo. Poderia ajudar a pagar as compras e, quem sabe, eu não conseguiria dar um pulo no SPA?
Quando estava rondando a mesa da roleta, um homem me abordou com um sorriso galanteador, com uma camisa social preta, calça social preta e sapatos pretos. Ele era bonitinho, até, com uma barba rala, pele morena, olhos verdes pequenos e um sorriso largo, porém com alguns dentes tortos na parte de baixo. E parecia ser forte.
— O que uma moça linda como você faz sozinha em Las Vegas?
Sorri por cima do ombro, já que ele me abordara por trás.
— Quem disse que estou sozinha?
Ele sorriu.
— Um homem de verdade não deixaria uma mulher tão bela como você andar sozinha por aí. Atrai olhares demais e pode acabar sendo fisgada por outro...
Revirei os olhos e olhei ao redor, percebendo que em pontos remotos, havia sim olhares masculinos em minha direção, vez o outra. Fazer o quê?
— E você se acha capaz de me seduzir?
— Se você me deixar, é claro.
Olhei para a roleta que girava mais uma vez, sem nenhuma aposta minha, enquanto sentia o hálito de mente dele em meu ombro nu. Vire-me para ele.
— Qual o seu nome?
Desviei o olhar do homem para o salão antes de responder a pergunta, até que avistei Tyler em um canto completamente oposto, provavelmente havia acabado de sair do jogo de pôquer. Peguei minha bolsa decidida a segui-lo, então respondi desatenta.
— Ah, . Com licença, por favor.
Passei por ele sem nem olhar para trás, afinal, não é como se eu não fosse encontrar outro homem que fosse bonito e estivesse babando por mim. Mal ouvi quando ele respondeu com o seu nome, somente puxei meu vestido e saí andando rebolando pelo salão, procurando meu melhor amigo que eu vira há segundos atrás.
Encontrei-o perto da saída do Cassino, com as mãos no bolso, mas ele não olhava em minha direção, então tentei apressar os passos antes que ele saísse e me deixasse sozinha. Estava com fome e queria companhia para o jantar, mas e Noah provavelmente já haviam saído para jantar um ao outro.
Mas antes que eu pudesse chegar remotamente perto de Tyler, uma loira com um vestido preto comprido frente única, seios enormes pulando para fora do decote enorme, chegou até ele e encostou-se ao seu ombro. Tyler a olhou sorrindo e passou a mão por suas costas, sussurrando algo em seu ouvido. Ela deu uma risadinha, os dentes alinhados perfeitos, então Ty começou a guiá-la para fora do Cassino, em direção aos elevadores, com a chave do quarto em mãos.
Ele foi embora sem olhar para trás e não me percebeu ali, parada no meio do cassino, encarando-o.
Fiquei ali, parada, como se tivesse tomado um choque, por alguns instantes. Senti uma sensação de vazio estranha e franzi as sobrancelhas, tentando entender porque estava parada ali, encarando o lugar onde antes Tyler estava. Molhei os lábios e sacudi os ombros, piscando mais vezes do que o necessário.
Passei os dedos pelos cachos que já começavam a se deformar e senti minhas palmas suadas.
E daí que agora eu estava sozinha e todos os outros estavam transando? Quantas vezes era eu que estava transando e eles que ficavam esperando?
Sacudi o corpo tentando afastar quaisquer pensamentos de mim.
Virei as costas para a saída do Cassino e voltei rebolando para o salão, decidida a encontrar um homem rico, lindo, gostoso e charmoso. Afinal, era tudo o que eu precisava, não?


Vigésimo Primeiro


’s POV.


— Ai, ai, ai. – Gemi quando senti uma pontada forte em minhas costas. – Babyliss.
Noah ergueu seu corpo de cima do meu, confuso e depois sorriu lindamente quando tirei o babyliss de de trás de mim e lancei-o para o outro lado da cama. Aproveitando que estava apoiada em meus cotovelos, abaixei o resto do zíper de meu vestido (que, olha que útil, ficava na lateral de meu corpo) e as mãos de Noah ajudaram a puxar o resto do tecido para fora de meu corpo.
Não vi para onde ele o jogou, e sinceramente, eu não ligo. Noah se encaixou entre minhas pernas novamente, apoiando seu corpo em suas mãos espalmadas em cada lado de minha cabeça e se abaixou para voltar a me beijar. Sua língua lentamente tomou conta de minha boca e ele sugou meu lábio inferior lentamente, fazendo com que um arrepio passasse por meu corpo. Entrelacei meus dedos atrás de sua nuca, como no cassino, e o trouxe para mais perto de mim enquanto fechava minhas pernas ao redor de sua cintura.
Algum tempo depois, Noah quebrou nosso beijo e passou a depositar sua atenção em meu pescoço, descendo beijos lentos e molhados por toda a pele até chegar em meu colo. Começando a me sentir em desvantagem, comecei a abrir os botões de seu colete e em menos de um minuto, já estava abrindo os botões de sua camisa social. Noah afrouxou sua gravata e me ajudou a retirar o resto de sua blusa, ficando somente com o tecido preto ao redor de seu pescoço. Segurei-o por ali, puxando-o para mais um beijo após passar meus dedos em seu tórax e peitoral.
— Vem cá. – Ele se afastou, ajoelhando-se na cama na minha frente, com minhas pernas ainda ao redor de sua cintura e puxou-me pelos ombros para cima.
Segurei forte em seus ombros, e Noah agarrou minha bunda de modo que me levantasse da cama e me segurasse sobre o colchão somente com a força de seu quadril e braços. Voltei a beijá-lo, passando meus dedos por seus cabelos castanhos desgrenhados e fiquei feliz em sentir que ele tinha uma textura completamente diferente da que eu estava recentemente ficando acostumada, seus fios eram grossos e eu agarrava seus cabelos com um pouquinho de violência, mas ele não parecia se importar. Desfiz sua gravata e livrei-me de seu tecido durante algum de nossos beijos, sinceramente, não me lembro bem quando.
Achei que Noah fosse se locomover quando me segurou daquela maneira, porém ele somente andou ajoelhado no colchão e nos deixou em uma posição horizontal na cama. Depois ele sentou sobre seus próprios calcanhares e, apoiando-me em suas coxas, tirou suas mãos de minha bunda para subi-las por minha coluna até o fecho de meu sutiã. Eu senti a peça se afrouxar sobre meus peitos e soube que ele havia soltado a peça, mas nossos corpos estavam grudados demais para que a peça fosse embora agora. Segurei o rosto de Noah para o lado com uma mão, minhas unhas afundando em seu maxilar com a barba rala, enquanto eu descia minha língua por seu pescoço e sentia os músculos de sua garganta tencionarem e relaxarem sobre meu toque. Ele engoliu em seco quando depositei um chupão na área. Deitei para trás e o tronco dele veio comigo.
As mãos de Noah subiram até meus ombros e ele afastou as alças de minha linda peça de lingerie antes de retirá-la. Com meu cabelo já solto e caindo ao redor de mim, ele delicadamente puxou-o para trás para dar uma boa olhada em meus seios, e eu senti minhas bochechas corarem um pouco quando os olhos dele brilharam em animação. Em um movimento que eu mal captei, Noah puxou-me pela panturrilha para baixo, deitando-me sobre os travesseiros. Encaixei minhas pernas ao redor de sua cintura novamente, puxando meu rosto até ele com as duas mãos, Noah beijou-me novamente com intensidade. Lentamente, suas mãos desceram pela frente de meu corpo, seus dedos fazendo um pouco mais de pressão que sua palma.
— Puta merda, . – Ele sussurrou em meu ouvido.
Suas palmas fizeram o contorno lateral de meus seios e ele os encaixou em suas mãos delicadamente, seus dedos fazendo uma pressão maior sobre a pele e seus lábios encontraram meu pescoço novamente. Apertando-os com mais vontade, ele levou seus lábios até meu colo e sua língua deslizou pelo espaço entre meus seios, enquanto ele os apertava um contra o outro. Um arrepio forte se instalou por mim e involuntariamente movi meu quadril para cima, na direção do dele, nossos quadris se encontraram com força e eu gemi baixinho ao sentir sua animação embaixo do tecido da calça.
A língua de Noah seguiu um rumo totalmente inesperado por mim, (que acreditava que ele estava se direcionando à minha barriga) e logo estava circulando calmamente a aréola de um de meus seios, seus dentes mordiscando bem pouco o bico, enquanto sua outra mão apertava com força o outro. Mordi meu lábio inferior com força, cercando minhas pernas em sua cintura com mais vontade. Ele trocou de lado e fez as mesmas coisas, dessa vez dando pequenos chupões enquanto apertava um seio contra o outro, coisa que parecia agradá-lo fazer e sinceramente, também me agradava muito.
Puxei o rosto de Noah para outro beijo, levando minhas mãos para a bainha de sua calça, pronta para me livrar dela, mas ele segurou meus pulsos e prendeu-os nas laterais de meu corpo antes de voltar a beijar minha barriga. Ele desceu lentamente a língua por minha pele e soltou meus braços com calma antes de seus dedos encontrarem as laterais de minha calcinha e a puxarem para baixo.
— Noah... – Gemi alto quando ele passou seus dedos levemente sobre minha intimidade, já completamente molhada e necessitada por alguma interação.
Ele entendeu o recado e sorriu contra minha pele, afundou seu rosto entre minhas pernas e levou todo e qualquer sentido dentro de mim para longe. Penetrando-me com um dedo, ele passou a língua por meu clitóris e chupou-o com força, fazendo um gritinho de prazer escapar de minha garganta. Ergui minha cintura em sua direção, mas com a mão que não fazia trabalho algum em minha intimidade, ele me segurou pela cintura com força e me manteve no lugar.
Com o ar faltando dentro de mim, a única opção que consegui achar foi segurar com firmeza nos lençóis ao meu redor e afundar minhas unhas no tecido em que estava deitada enquanto era levada para o paraíso com somente ticket de ida.
Contraindo os músculos de minha cintura quando Noah assoprou levemente minha intimidade, gemi alto e pedi para que ele parasse antes que eu gozasse. Fazendo o caminho de volta para meu rosto, Noah passou a língua novamente por meus seios e depois beijou-me com vontade, segurando meu rosto com força. Soltei os lençóis e segurei com força seus ombros, arranhando aquelas malditas sardinhas sensuais em sua pele, com vontade, nem ligando se estava machucando-o ou não. Prendendo-o entre minhas pernas, empurrei Noah para o lado e subi nele, sentando-me em seu colo. Ele me olhou com desejo e fez menção de trocar de posição novamente, porém o parei, colocando o indicador sobre seus lábios.
— Espera um pouquinho aí... Deixe que eu faça você se divertir também.
Com os olhos pegando fogo, Noah ignorou o que eu lhe disse e sentou-se na cama novamente, seu rosto a centímetros do meu. Ele ergueu sua mão com a intenção de tocar meu rosto, mas antes que seus dedos encostassem-se ao meu rosto, segurei sua mão entre nossos rostos e sorri maliciosamente, enquanto puxava seu indicador na direção de meus lábios. Calmamente, passei a língua ao redor de seu indicador e depois o enfiei na boca, sugando-o lentamente. Noah fechou os olhos e abriu a boca em um suspiro delicioso, enquanto eu sentia seu membro ficar cada vez mais incontrolável dentro de sua calça. Juntei seu dedo médio na brincadeira e suguei ambos os dedos enquanto rebolava lentamente sobre o colo dele, fazendo com que ele sentisse a fricção da minha intimidade descoberta contra seu membro quase explodindo para fora da calça.
— Caralho, . - Noah suspirou por fim.
Ele parou minha brincadeira, tirou-me de seu colo com facilidade e pulou para fora da cama, retirando sua calça e cueca em menos de dez segundos. Pegou sua camisinha de dentro da calça e sem muita delonga, encaixou-a sobre seu membro poderoso. Quando ele voltou para cama, encaixou seu corpo sobre o meu e beijou-me com vontade, sua língua invadindo minha boca enquanto ele posicionava seu membro na porta de minha intimidade. Noah me penetrou lenta e calmamente, soltando um gemido de alívio junto de mim.
Meu corpo imediatamente se ajustou a ele e suas penetrações começaram a ficar mais rápidas e fortes. Seu corpo se chocando contra o meu, o suor em nós começando a aumentar e o prazer a se instalar em todas as partes. Depois, ajoelhando-se na cama e puxando meu quadril para cima, Noah colocou minhas pernas sobre seus ombros e começou um ritmo frenético de penetração enquanto apertava minha bunda.
— Mais. – Pedi mordendo meu lábio inferior com força e sentindo o membro de Noah me preencher completamente várias e várias vezes.
Com os olhos queimando sobre mim, Noah investia com mais força enquanto eu apertava meus seios com força para estimulá-lo mais ainda. Meu corpo inteiro tremia pelo esforço da posição e pelo prazer constante que as investidas dele traziam para mim. Uma questão de minutos depois, todos os dedos de meu pé se contraíram e eu soltei um grito misturado com um gemido alto demais, que precisou seu abafado por uma mão de Noah, enquanto ele continuava a investir em mim, mesmo após eu ter gozado.
Sentindo o prazer se dissipar em uma onda deliciosa dentro de mim, fiquei meio desapontada quando Noah retirou seu membro pulsante de dentro de mim. Ele retirou sua camisinha rapidamente e eu desci meu corpo pelo colchão, por entre suas pernas. Eu assenti com a cabeça, mordendo o lábio inferior com força e juntei meus seios enquanto Noah enfiava seu membro entre eles. Então ele fodeu meus peitos com força, seu membro inchado e pulsante friccionando contra minha pele, enquanto ele apertava meus seios e eu estimulava a mim mesma, nunca perdendo o tesão da situação.
... ...
Fechando os olhos com força e gemendo alto, Noah diminuiu a velocidade com que metia entre meus peitos e eu percebi que ele queria que seu prazer durasse mais, porém eu não ia deixar barato o fato dele ter feito com que eu gozasse. Abaixando meu queixo até meu colo e esticando um pouco minha língua, bastou com que eu a encostasse na cabeça de seu membro, que Noah abriu os olhos escuros e dominados por tesão, seus lábios se abriram e ele finalmente gozou, fazendo com que o líquido se espalhasse por todo meu colo e rosto. Eu usei as mãos para apertar seu membro enquanto ele ejaculava e Noah gostou da brincadeira, porque gemeu meu nome diversas vezes.
Quando sua ejaculação acabou, Noah deitou-se sobre mim novamente e beijou meus lábios com uma calma obviamente reprimida, até que eu o correspondi com vontade, então seu ritmo aumentou novamente. Ele puxou um pedaço do lençol e limpou seu gozo de cima de mim, com os olhos vidrados em tesão, seus lábios sempre voltando para os meus a procura de mais um beijo quente. Depois afastou o lençol da cama, o que não era um problema, já que tínhamos mais dois para usar.
Com meu colo já limpo e seus lábios sobre os meus, empurrei Noah para baixo de mim e sentei sobre ele, triunfante, feliz por estar na minha posição favorita novamente.
— Já está cansado? – Sussurrei no ouvido dele, passando minha língua por seu lóbulo, e em seguida mordendo-o.
— Pronto para o segundo round quando você estiver.
Sorri para a resposta de Noah e beijei seus lábios rapidamente, antes que ele pudesse segurar meu rosto contra o seu. Arranhei seus ombros e comecei a descer beijos por seu peitoral, minha língua descendo lentamente por sua pele. Afundei minhas unhas contra seu tórax e senti-o tencionar todos os músculos deste quando desci mais ainda meus beijos até onde seu membro, que agora começava a acordar novamente.
Sem tirar os olhos da expressão de Noah, envolvi seu membro com uma mão (era quase difícil de fazer isso, com minha mão pequena e seu membro grosso) e fiz um movimento de sobe e desce com ela lentamente. Seu companheiro não demorou a acordar com meus toques, e rapidamente eu aumentei meu ritmo sobre ele, apertando-o com um pouco de força, após perceber que isso deixava Noah mais excitado. Se ele gostava da minha mão pequena, imagina o que acharia de minha boca. Afastei meu cabelo de meu rosto, deixando-o completamente para um lado e comecei a distribuir pequenos beijos por sua extensão. Passei a língua lentamente sobre seu membro e seu corpo se arrepiou por completo.
— Quer que eu continue?
Noah gemeu em resposta para mim e eu desci mais uma vez a língua por sua extensão, chupando levemente sua cabeça na volta para cima.
— Você quer que eu te chupe? – Perguntei, logo em seguida, colocando metade de seu membro em minha boca, sem quebrar o contato visual.
Noah abriu a boca em um gemido mudo e fechou os olhos brevemente antes de olhar novamente para mim.
— Caralho, me chupa logo.
Sorri maliciosa e resolvi corresponder ao seu pedido quase desesperado, mas aos meus termos, claro. Engoli lentamente seu membro, quebrando o contato visual e fechando os olhos para me concentrar completamente no que estava fazendo. Usei muita saliva para ajudar na tarefa e segurei-o por sua base, enquanto enfiava seu membro por inteiro na boca e fazia pequenas sucções (que me eram correspondidas com grunhidos deliciosos vindo dos lábios de Noah), eu aumentei o ritmo rapidamente sobre ele quando o quadril de Noah começou a fazer seus movimentos involuntários, com ele fodendo minha boca completamente. Apertei suas bolas levemente, enquanto modificava minhas velocidades e logo Noah estava sussurrando meu nome novamente.
... Oh...
Ele entrelaçou os dedos em meus cabelos, com força, na tentativa de controlar meus movimentos, mas eu já podia sentir seu membro pulsar em desespero por alívio, então diminui completamente meu ritmo. Engoli-o até o fundo e tive que lutar contra o reflexo da garganta, mas depois voltei minha boca sobre seu membro lentamente, minha língua circulando-o enquanto eu fazia o caminho de vai e volta. Noah abriu a boca para falar alguma coisa outra, porém eu o impedi, ao fazer outra pequena sucção e seu corpo inteiro tremeu antes dele avisar que iria gozar. Rápida e sem pensar duas vezes, engoli tudo que ele tinha para soltar e passei a língua sobre todo seu comprimento, para deixar tudo impecavelmente limpo.
Rolei para o lado na cama, engatinhando até estar deitada com a cabeça nos travesseiros, respirei fundo e fechei os olhos. Segundos depois, os dedos de Noah estava sobre minha boca, e depois seus lábios encontraram os meus. Beijando-me de lado, ele puxou minha perna sobre a cintura dele e encostou nossos corpos completamente, enquanto me beijava em um meio abraço. Exausta, mas sorrindo, afastei-me de seus beijos e ele encostou nossas testas.
— Você é muito gostosa, sabia? – Ele disse beijando meu rosto várias vezes e eu ri.
— Achou sua sorte? – Pisquei várias vezes com um sorrisinho, fingindo ser angelical.
— Ganhei na loteria.
— Bom saber. – Sorri orgulhosa e ele encostou os lábios levemente sobre os meus novamente.
— Posso fazer você se sentir milionária também? – Ele sussurrou contra minha orelha.
Minha nossa senhora. Eu não acho que aguentaria tudo de novo. Eu não aguentava nem quando estava com Chuck. E bom, Charles era bem milionário, ou seja, eu era milionária por associação quando estava com ele.
Será que é disso que ele falava quando disse que estava usando ele? Eu estava? Porque obviamente não era algo consciente. Quer dizer, menos quando ele me levou de primeira classe para a Inglaterra. Eu estava bem consciente dos gastos que ele estava fazendo por mim então.
AH MEU DEUS. EU ESTAVA DANDO UM GOLPE NO BAÚ.
Noah, sentindo-me ficar tensa em seus braços, ajeitou-se sobre o cotovelo para encarar meu rosto.
— Quê?
— Nada... Eu só estava pensando em... – Olhei para sua expressão maliciosa. Noah não estava interessado em saber do meu drama com Charles.
Eu não deveria estar interessada em pensar no Charles.
Eu não estou interessada.
É isso.
— Estava pensando em sair para encher a cara. O que você acha? - Beijei seu ombro e soltei-me de seu abraço, levantando-me da cama rapidamente e sentindo seu olhar queimar sobre meu corpo novamente.
— Agora estarei a sua eterna disposição, estou oficialmente promovendo você à minha rainha. – Noah sorriu, flexionando os braços atrás do pescoço e se levantando em um pulo da cama.
Gargalhei e revirei os olhos para seu sorriso de moleque sapeca. Colocamos nossa roupa sem nenhum sentimento estranho e saímos, eu com minha roupa sexy e Noah arrumando a gravata em seu pescoço.
Então eu tomei o porre da minha vida.

’s POV.


Eu já deveria estar bêbada a essa hora, pensei, enquanto virava minha sétima ou oitava taça de Martini. Mas eu conseguia andar perfeitamente e Pierre à minha frente não era um borrão. Minha cabeça doía e eu sabia que deveria ir dormir, porque já eram umas duas horas da manhã e eu estava rondando o cassino há horas já. Pierre segurou minha mão e beijou sua palma, delicadamente.
— Mon Cher, preciso dizer que é a mulher mais bonita deste cassino.
Sorri lisonjeada, sentindo meu estômago embrulhar depois de mais um gole de Martini. Mordisquei os aperitivos que Pierre pediu, enquanto ele se ajeitava na banqueta do bar, com seu smoking sério, o cabelo loiro bem cortado, o nariz fino e reto, os olhos azuis penetrantes. Seus dedos longos e finos ainda seguravam minha mão com as unhas feitas às pressas com esmalte vermelho.
— Muito obrigada, Pierre. Você é francês mesmo?
— Oui. Passando o ano novo em Vegas pela primeira vez. Normalmente frequento os cassinos de Mônaco, já que são mais perto de Paris. — Comentou com seu inglês carregado de sotaque.
Olhei por cima de meu ombro. Não encontrei nenhum homem potencialmente mais bonito do que Pierre, então resolvi aguentar o romantismo parisiense dele. Só esperava que ele não fosse dispor rosas pela cama quando fôssemos transar.
— E você, ? De onde é?
Engoli mais um gole de Martini. Minha cabeça girou por alguns segundos. Olha o álcool me avisando que estava ali, pronto para me dominar.
— Ah, em Nova Iorque. Mas sou brasileira.
Pierre se ajeitou na cadeira e desceu os olhos para meus seios e perna, que estava à mostra devido à fenda no vestido. Ele sorriu.
— Brasileira, é?
Sorri maliciosa. Agora ele estava começando a ficar mais animadinho. Quem sabe todo aquele romantismo seria um disfarce para uma fera cheia de desejos sexuais? Olhei no fundo dos olhos azuis de Pierre, com a maior intensidade que pude e ele não conseguiu disfarçar o arrepio que sentiu com meu olhar. Sorri mais ainda.
— Sim. Nascida e criada no Brasil até os 16 anos. Não tenho marquinha de biquíni, mas te garanto que sou basicamente o estereótipo brasileiro... — Sussurrei mais perto dele, meus lábios vermelhos semiabertos.
— Ah, mon cher, não quero que fique ofendida achando que penso que tudo o que vem do Brasil é sobre bunda e futebol. Tenho certeza que há muito conteúdo em você. — Pierre disse meio envergonhado, fazendo-me segurar com todas as minhas forças uma vontade enorme de revirar os olhos.
— Sem problemas, mon amour, não pensei nada. E não me importo que pense, Pierre.
Vi que ele engoliu em seco com a nossa maior proximidade agora, provavelmente intimidado com minha aparência e atitude, então resolvi arriscar alto e o segurei pela nuca, beijando-o. Pierre pareceu tomar um susto, mas aos poucos levou suas mãos para minha cintura e retribuiu o beijo. Seus lábios macios acariciavam os meus e sua língua demorou a tomar iniciativa para dentro de minha boca. O beijo foi delicado, com as mãos de Pierre sempre em minha cintura, apertando-a vez ou outra, mas nada daquilo me animou muito. Puxei os cabelos da nuca de Pierre e mordi seu lábio inferior, tentando incitá-lo, mas ele parecia suave demais para mim.
Eu queria algo quente. Fervoroso. Sensual. Queria sentir o desespero dele por meu corpo e para me possuir. Mas, infelizmente, Pierre só queria possuir meu coração. E esse aí estava no frigorífico trancafiado à sete chaves há muito tempo.
Separei o beijo, a boca de Pierre borrada pelo meu batom, seus olhos arregalados. Limpei minha boca usando o reflexo de seu celular, enquanto ele ainda respirava com dificuldade. Terminei meu Martini (agora sim era o oitavo) e levantei-me.
— Mas... Mas... Mon Cher?
Deixei Pierre ali, ainda hipnotizado por mim, e saí andando. A última coisa que eu queria agora era voltar para o quarto, mas como não achava ninguém de interessante ali, me dei por derrotada e fui trocar minhas fichas. Pierre, graças à Deus, não me seguiu e ficou sentado no bar me observando com o coração partido. Entreguei minhas fichas para o moço sorridente e ele me parabenizou pelas conquistas da noite, então enchi minha bolsa com os meus maravilhosos quatro mil e quinhentos dólares (confesso que perdi 500 dólares na roleta, mas quem liga? Eu era milionária agora) e fui para os elevadores.
Eu só torcia para que Tyler não estivesse fodendo a loira como me fodia e que ela não fosse como eu. Porque se fosse, ela estaria gritando aos quatro ventos e eu não conseguiria dormir com aquela desgraçada gritando no meu ouvido.
Ajeitei meus cachos já quase desmanchados e chequei meu batom no espelho do elevador. Estava aceitável.
Cheguei ao décimo sexto andar rapidamente e dei de cara com Tyler, saindo de seu quarto e vindo em minha direção. Saí de dentro do elevador no mesmo momento que ele me olhou, meio surpreso.
— Ah. Oi.
Andei até ele calmamente, um pouco zonza pela bebida. Seu rosto demorou a focar em minha visão. Ele amassou o bilhete que tinha em mãos e me olhou confuso. Troquei o pés algumas vezes, vacilante.
— Bom, eu vou dormir e...
Encarei o aviso na porta. Era um daqueles tradicionais “Por favor, Não pertube”, mas havia meu nome escrito com uma caneta preta embaixo, como se o aviso fosse especialmente para mim. Isso explicava a letra ser de . A coitadinha deveria estar cansada de tanto que eu empatava a sua foda.
Tyler deu um risinho. Apoiei-me na parede atrás de mim, com o olhar baixo, evitando o olhar dele.
— Pode ficar no meu quarto. Noah está com mesmo.
Torci o lábio.
— E eu não vou dormir aqui essa noite.
Olhei-o rapidamente, enquanto ele me estendia o cartão. Ele fazia uma expressão estranha, como se esperasse que eu perguntasse o porquê disso. Mas eu sabia muito bem o que ele iria fazer, aliás, o que ele deveria estar fazendo até pouco tempo atrás. Por que ele voltou para o quarto? Eu realmente não queria saber. Não me importava.
Peguei o cartão de sua mão. Seus olhos negros me observavam enquanto ele colocava as mãos no bolso e transferia o peso de um pé para o outro.
— Obrigada.
Ele sorriu, os olhos sobre os meus. Ficamos alguns segundos nos encarando, até que eu quebrei o contato visual e tossi. Andei até a porta de seu quarto e ele me deu passagem, andando até os elevadores.
Não o vi ir embora.
Entrei no quarto escuro, sem me importar em ligar as luzes. Fui direto para o banheiro e retirei meu vestido com certa dificuldade. Fiquei com minha lingerie preta: um sutiã tomara que caia e uma calcinha de renda. Achei um sabonete qualquer e lavei meu rosto, tirando minha maquiagem na marra, já que não poderia pedir meu demaquilante para . Ela provavelmente me sufocaria com o próprio.
Despenteei meu cabelo, desfazendo os cachos com os dedos, então fiz bochecho, já que não usaria a escova de dentes de nenhum deles. Suspirei alto e lavei meu rosto mais uma vez, somente para ter certeza que não sobrara nenhum resquício de maquiagem.
Coloquei o vestido sobre a poltrona, junto com meus sapatos de salto, brincos e bolsa. Pensei em pegar uma roupa de Tyler emprestada para dormir, mas resolvi que não me perturbariam, então retirei o sutiã e me enrolei nos lençóis, somente de calcinha.
Minha cabeça ainda latejava. Eu sabia que estava com um alto nível de álcool em meu sangue, mas não estava alegre, nem bêbada. Estava neutra. Absorta.
Aquela estranha sensação de vazio parecia não querer me abandonar de jeito nenhum. Então virei o rosto em direção à janela, que mostrava as luzes de Las Vegas e a lua cheia no céu. Nada importava, na verdade. Eu havia conseguido dinheiro para quitar nossas dívidas, estava em Las Vegas e não tinha motivo algum para me chatear, mentalizei.
Fechei os olhos e dormi.

’s POV.


Minha cabeça pesava uma tonelada.
Acordei lentamente, sentindo o sol de Las Vegas bater contra meu rosto, e me espreguicei na cama com vontade, sem querer dando um pequeno soco em Noah que ainda dormia ao meu lado. Mas como ele respirava profundamente e nem se moveu com meu soco, fingi que nada aconteceu. Levantei da cama na maior lerdeza, olhando no relógio para ver que eram dez horas da manhã e quase mudando de ideia sobre acordar.
Segurei a cabeça nas mãos, tentando fazer sentido da minha vida. Eu não me lembrava de absolutamente nada de ontem. Tudo bem. Eu me lembrava do sexo maravilhoso com o pedaço de carne – digo, humano – ao meu lado, mas depois de sairmos para beber, o mundo ficou tonto. E minha memória sumiu. Alguns flashes de shots de absinto e tequila. Alguns flashes de morangos e chantilly e Noah nu.
A parte boa é que eu parecia ter aproveitado bem a noite, visto que o garotão ainda estava deitado pelado enrolado em meus lençóis.
No final, coloquei uma roupa folgada – um short moletom azul bebê, uma blusa branca folgada regata e uma sapatilha - fui até o banheiro e escovei meus cabelos, dentes e arrumei minha maquiagem. Vomitei também, como praxe. Depois escovei os dentes novamente.
Quando voltei para o quarto, Noah ainda estava dormindo de bruços, com os braços escondidos embaixo do travesseiro e o rosto afundado neste. Sentei sobre suas costas na cama e balancei-o impulsionando meu quadril contra ele. Noah grunhiu alguma coisa que foi abafada pelo travesseiro.
— Noah... Acorda... – Sussurrei abaixando meu rosto até suas costas e rocei meus lábios nas sardinhas de seu ombro, dando-lhe pequenos beijos na área.
— Hmmmm.
— Acorda... Preciso de ajuda para fechar meu sutiã.
Noah tirou os braços debaixo do travesseiro e levantou seu rosto levemente do travesseiro, esfregando seu rosto sem muito ânimo. Ele falou alguma outra coisa que eu não entendi e começou a se mover, ergui meu corpo de cima do seu e deixei-o virar-se de barriga para cima para me encarar. Ele piscou os olhos irritados, pela luz do sol com força, colocou um braço dobrado sobre o rosto e com a outra mão puxou-me de volta para sentar sobre si.
— Você já está de roupa. Sua mentirosa.
— Sinto muito. – Sorri, puxando seu braço para fora de seu rosto e ele colocou as mãos sobre minhas coxas, apertando-as. – Preciso achar .
— Ouch. Já me expulsando? – Ele fez uma cara de ofendido e ergueu seu corpo, sentando-se na cama comigo em seu colo e abraçando minha cintura. – Vou ter que passar em meu quarto para colocar outra roupa. Não tive essa chance ontem.
Um sorriso malicioso brincou com seu rosto e ele tocou seus lábios com os meus lentamente. Afastei-me dele, segurando seus ombros e tentando não me distrair pelo fato dele acordar simplesmente lindo.
— Você sabe que isso aqui... – Apontei para ele e depois para mim. – É só sexo, né?
Ele revirou os olhos para mim. E encaixou seu rosto na cavidade de meu pescoço, sua respiração quente contra minha pele.
— Sério. Porque eu realmente não estou a fim de outro Charles na minha vida agora, então eu acho melhor deixar isso bem claro.
— Uhum... – Noah balançou a cabeça, ao mesmo tempo que tocava seus lábios em meu pescoço.
— Noah. Por favor, sério.
, acho que já estamos sérios o suficiente. – Ele me deu um sorriso cheio de malícia e eu revirei os olhos. – Não poderia ter escolhido uma esposa melhor para ser minha rainha do reino de Noahlândia.
Estreitei os olhos para ele. Idiota.
— Bom mesmo.
Noah sorriu novamente para mim e virou-se para procurar sua calça dentro do quarto. Fiquei sentada na cama, observando sua beleza sobrenatural. Se Noah tinha um cabelo pós-sexo naturalmente e ficava maravilhoso, não há palavras para descrever como ele realmente ficava após realmente fazer sexo. Sumindo para dentro do banheiro e depois aparecendo com a boca cheia de enxaguante bucal, ele pegou sua camisa social e colocou-a na minha frente, abotoando somente alguns botões. Voltou para o banheiro e quando surgiu novamente, tinha suas mangas arregaçadas.
— Você vai pegar uma nova roupa, não é? – Perguntei levantando-me da cama e percebi o olhar dele sobre meu corpo. Sorri internamente. Talvez nós pudéssemos repetir a dose outra hora. – Vamos lá.
Colocando sua gravata ao redor do pescoço e pegando seu colete, Noah abriu a porta do quarto para que saíssemos e abriu a porta do seu com o próprio cartão. Eu entrei primeiro e parei depois de alguns passos, fazendo Noah trombar com força contra mim, e ter que me segurar pela cintura para que eu não voasse quarto adentro. E duas coisas me passaram pela cabeça com a cena que eu via: primeiro: pelo menos eu havia achado sem precisar procurá-la por ai no hotel. Segunda: por que diabos minha melhor amiga estava dormindo somente de calcinha no quarto que Noah dividia com Tyler?
Atrás de mim, Noah assobiou alto e gargalhou.
— Pelo visto esse quarto não ficou inutilizado, né.
Andei até a cama e chacoalhei os ombros de várias vezes, até que ela se virasse para me olhar. Imediatamente cobri seus peitos quando ela se virou, mas não antes de Noah ter uma visão deles e assobiar novamente.
— Aproveitou bem a noite, hein? – Ele provocou, e arregalou os olhos ao ouvir sua voz e puxou rapidamente os lençóis para cima, meio constrangida.
— O quê você tá fazendo dormindo no quarto de Noah e Tyler?
— É, cadê o Tyler? No banho? – Noah perguntou vasculhando sua mala por alguma roupa nova.
— Sei lá. Eu não dormi com ele.
Não? – Deixei escapar, um pouco surpresa demais, e Noah olhou para mim erguendo uma sobrancelha e comprimiu os lábios para evitar uma risada.
— Não ué. Ele me deu a chave para dormir aqui, mas sei lá onde dormiu. – explicou.
— Então quer dizer que você dormiu no meu quarto com outra pessoa?
— Não, Noah. Dormi sozinha.
— Pelada? – Ele sorriu maliciosamente.
— É. Dormi sozinha e pelada no seu quarto. Qual o problema?
— Cara, que deprimente. – Noah disse, mas encolheu os ombros como em um pedido de desculpa depois que o fuzilei com os olhos. – Não. Sem problemas. Problema nenhum. Legal, na verdade. Gostei de ver.
Joguei um travesseiro na cara dele, fazendo-o gargalhar. Eu estava com dor de cabeça demais para tudo isso, meu Deus.
— Então onde o bostão do Ty dormiu? Porque ele deve ter achado uma ótima companhia para ficar fora do quar...
— Noah. – Interrompi-o. – Você não ia pegar suas roupas e tomar um banho, não? Eu vou com a para nosso quarto e depois vejo você no café da manhã.
Ele sorriu para mim brincalhão e depois revirou os olhos, pegando sua roupa e acenando para antes de entrar no banheiro e fechar a porta atrás de si. O chuveiro ligou alguns segundos depois, então falei para se enrolar no lençol que nós entraríamos em nosso quarto rapidinho. Ela pegou seu sutiã e o vestido, enroscou-se no lençol e saiu desfilando pelos três passos no corredor até entrarmos no nosso quarto, onde ela trocou o lençol por uma toalha.
— Você não tem noção de como eu senti falta desse demaquilante. – Ela disse entrando no banheiro comigo atrás de si.
Sentei na privada e observei minha melhor amiga tirar a maquiagem quase inexistente da noite anterior de seu rosto. Ela tinha mania de ficar tirando maquiagem mesmo quando não tinha mais nenhuma.
— E então, como foi com o senhor Shaw? – Ela sorriu para mim pelo reflexo no espelho gigantesco.
— Sensacional, ele é um deus na cama. Sério. – Respondi sorrindo maliciosamente e ela pediu mais detalhes, então basicamente contei tudo. Bom. Tudo que eu lembrava.
— ESPANHOLA? Ah cara, eu sempre quis fazer isso.
O grito de fez minha cabeça latejar. Ouch.
— Eu já tinha feito, é bem divertido.
virou-se para mim e sorriu maliciosa, enquanto soltava a toalha de seu corpo e andava até o chuveiro para liga-lo, falando distraidamente:
— A próxima vez que eu transar com o Tyler eu vou sugerir isso para ele, vai que dá certo. Pode ser bem divertido, né? Mas o Noah é muito grande? Porque isso pode ser outra vantagem para toda essa brincadeira e...
— Transar com quem, ?
Ela virou a cabeça para mim e piscou confusa.
— Como assim?
— Você disse que dá próxima vez que transasse com o Tyler ia fazer isso.
— Quê? – Ela franziu a testa e fez um barulho de “puf”. – Claro que não, loira. Tá doida, é? Ontem ele saiu com uma vadia ai qualquer, por isso não dormiu no quarto.
— Hm. – Ergui a sobrancelha e mantive meu tom neutro, tirando vantagem do fato que ela estava distraída sobre o quê falava. – Ah é? Você encontrou com ele?
— Encontrei. Aquele gay nem falou nada, só disse que eu podia usar o quarto dele e ficou me encarando de um jeito estranho. Mas antes eu vi ele saindo do cassino com uma vagabunda aí qualquer, então é certeza que de noite ele estava voltando atrás dela, né.
— É, deve ser. Mas você não falou nada para ele? Reclamou?
Eu ia esganar o Tyler.
parou de prestar atenção em como a água do chuveiro estava caindo e olhou para mim, estreitando os olhos na minha direção.
— Claro que não. Por que eu faria isso? – Ela deu de ombros e imediatamente retomou sua postura sobre o assunto. – Eu não ligo.
— Tá. Tudo bem. – Sorri calma para ela e senti que não ia conseguir que ela falasse mais nada sobre o assunto, então mudei de disco. – Sobrou cinco mil e seiscentos de ontem para mim, perdi um pouco no jogo. – Bom, pensei, do que eu me lembrava, eu ainda tinha esse dinheiro.
— Sobrou quatro mil e quinhentos para mim, também. – Ela entrou no chuveiro e gritou por baixo da água. – O que vamos fazer hoje? Tava pensando em depositar uma parte da grana por segurança e depois explorar a cidade.
— Pode ser. E passar na farmácia, preciso de um remédio para essa ressaca. – Levantei-me da privada e dei uma olhada em meu próprio reflexo do espelho, antes que ele embaçasse. Eu parecia mais saudável do que me sentia depois de todo o álcool ingerido ontem. – Coloca mil na conta e vê se isso paga as dívidas que tínhamos até agora. Se é que sobrou alguma depois do dinheiro do Jace.
abriu a porta do box e esticou sua cabeça para fora, seu rosto com uma expressão brincalhona e meio irônica.
— Você quer dizer vê se isso pagou a dívida de, por exemplo, a passagem de volta para Londres que você insistiu em pagar? Aliás, com o dinheiro que eu consegui tirando foto?
— É. Mas também estou falando do dinheiro da sua fiança que tive que pagar de volta para o Tyler. – Mostrei a língua em sua direção e ela riu, falando um “touché” e voltando para seu banho.
— Fica tranquila então. Mil e remédio pra ressaca. Deixa comigo. Te encontro aqui no quarto depois.
— Ok. Pego umas frutas pra você do café da manhã.
gritou uma despedida para mim, novamente fazendo minha cabeça latejar, e eu voltei no quarto para pegar minha bolsa. Saí do quarto, desci direto para o andar onde ficava o maravilhoso banquete do café da manhã e eu fiquei tão enjoada com a visão daqueles mais variados tipos que comida que pensaria que estava grávida se não soubesse que tinha tomado todas as pílulas do anticoncepcional nos horário corretos. É. Era somente uma ressaca das fortes.
Fiz um prato com uma pequena quantidade de ovos mexidos, peguei um copo de café – forte, porque eu estava precisando – e um pedaço de bacon. Era o máximo que meu estômago aguentava.
Quando estava colocando um pouco de açúcar no meu café, que deveria curar minha ressaca, olhei para o outro lado do restaurante e encontrei Noah sentado em uma mesa com uma mulher loira parada na sua frente. Ela mexia tanto em seu cabelo que podia estar tendo uma pequena situação de piolho se eu não soubesse ao contrário, ela estava somente tentando dar em cima dele. Peguei meu prato, copo e aproximei-me da mesa sem nem fazer contato visual com ela ou Noah, sentei na cadeira a sua frente e comecei a comer minha comida, observando a cena com um sorriso divertido no rosto.
— Então eu... Hm... – A mulher continuou, olhando para mim confusa. – Vejo você na psicina?
— Claro, linda. Eu estou indo para lá daqui dez minutos.
Ele sorriu para ela e, satisfeita com sua resposta, a mulher foi embora rebolando. Noah ficou olhando para a bunda dela alguns segundos antes de prestar atenção em mim. Continuei a comer minha comida tranquilamente, até Noah usar seu garfo para roubar o único pedaço de bacon que eu tinha no prato.
— Ei! – Reclamei irritada e ele riu. – Qual o problema de deixar minha comida no meu prato?
Noah comeu meu bacon inteiro em uma garfada e sorriu triunfante para mim, cruzando os braços sobre seu peitoral como uma criança. Revirei os olhos para ele.
— Como a tá? – Ele perguntou de repente.
— Normal ué. Falando em , temos que decidir o que vamos fazer hoje ainda. Vou voltar para o quarto, quando encontrar o Tyler venha com ele para nosso quarto para combinarmos o que vamos fazer.
— Vai lá, esposa.
Fuzilei-o com os olhos e fingi uma risada que o fez gargalhar mais ainda. Tomei mais um gole do meu café e deixei-o na frente de Noah, para que ele pudesse terminar o restinho. Levantei-me de minha cadeira e puxei a bolsa para meu ombro, abaixando meu rosto para dar um beijo na bochecha de Noah. O fiz e quando me ergui novamente, fui levada ao chão por uma trombada forte com o corpo de outra pessoa. Caí de bunda rápido e dolorosamente, não dando tempo nem para Noah me segurar.
Puta que pariu. Ressaca + queda = comida voltando.
Tentei reprimir loucamente minha vontade de vomitar. Minha nossa eu nunca vou tomar um porre desse novamente.
? – Noah chamou.
— Puta merda, desculpa. – Uma nova voz masculina disse e mãos firmes puxaram-me para cima.
Deparei-me com um homem de pele morena, cabelo preto raspado e um sorriso bem cuidado até. Noah perguntou se eu estava bem e eu assenti levemente para ele, vendo o outro homem agachar-se para pegar minha bolsa e entregá-la para mim, depois ele olhou para minha testa com uma expressão preocupada.
— Nossa, moça, acho que você vai ter que vir comigo para a enfermaria urgentemente.
— O quê? Por quê? – Perguntei levando a mão até a testa. Eu não bati a cabeça, bati?
— Porque olhei para você e meu coração parou, preciso ver se tá tudo bem comigo.
Eu tentei, juro que tentei não dar risada, mas foi mais forte que eu. Ri, relaxando pelo momento constrangedor e achando ridícula a tentativa de cantada do homem. Ele sorriu para minha reação, visivelmente também relaxando após ter praticamente me nocauteado.
— Brincadeira. Mas espero que você me deixe pagar um drinque para você no cassino essa noite, depois de ter quase te atropelado.
Fingi pensar no assunto e depois sorri, colocando a bolsa novamente no meu ombro e voltando a ir em direção aos elevadores, falando sobre o ombro rapidamente para o homem:
— Claro, te vejo à noite no cassino.
Tadinho, mal sabe ele que eu provavelmente não iria para o cassino hoje e sim para alguma festa. Uma festa daquelas que fazem Las Vegas ser tão famosa.
É. Talvez eu fosse tomar outro porre hoje.


Vigésimo Segundo


’s POV.


O negativo em nossa conta não foi o suficiente para me abalar. Renovada depois de meu sono de beleza, essa noite eu estava decidida a não ter o mesmo fim que ontem. Aquela não era eu. Eu não era de dormir sozinha em camas alheias. Principalmente pelada.
Então quando voltei para o Ceasars, deixei de lado o negativo da conta, porque afinal, eu estava milionária agora. Assim que depositássemos o resto em nossa conta, teríamos tanto dinheiro que eu poderia fazer uma chuva de dinheiro, como naqueles clipes de rap.
Peguei todas as revistas possíveis informativas da recepção do hotel sobre a cidade e comecei a lê-las no elevador, a caminho de meu quarto e de . Passei pelas páginas rapidamente, ignorando coisas como museus, teatros, circos, danças. Eu queria saber é da farra. Da curtição. Das coisas estilo “Se Beber, Não Case”. Mas essas coisas seriam reservadas para a noite, porque agora de dia, iríamos curtir do bom do e do melhor da riqueza. Elegi os hotéis mais divertidos possíveis e fui andando para o quarto calmamente, pensando na roupa que usaria e no Whopper que eu comeria antes disso tudo. Eu precisava me alimentar, afinal.
— E cadê ela, então? Porque se não formos sair, eu tenho coisas melhores para fazer e... — Tyler se interrompeu quando eu abri a porta do quarto, jogando a bolsa em cima do móvel da televisão, junto com o cartão do quarto.
— Que foi, garotão? — Comentei casualmente enquanto deixava as revistas informativas na mão de , que tentava arrumar as malas, enquanto Noah tentava beijar seu pescoço. — Tá bravinho porque a loirinha de ontem não deu conta do recado?
— Como você sabe que ela era loira? — Indagou com um sorrisinho no rosto.
— Adivinhei. — Virei as costas para ele e comecei a mexer em minha mala.
deu um tapa em Noah que ressoou pelo quarto. Ele deu um gemidinho de dor e se jogou na cama fazendo draminha, falando que ele achou uma esposa muito violenta. Eu e minha bfff somente o ignoramos.
— Enfim. O que achou, ? — perguntou enquanto escolhia entre duas blusinhas de alça.
— Olha, de dia, tem umas coisas legais, mas muito caras. Então achei que podíamos andar pela avenida, a Strip. Conhecer os hotéis. Desfrutar do luxo.
Sorri enquanto elegia uma roupa chique.
— É, tem uns hotéis legais. — Tyler disse dando de ombros.
— Dá pra passear de gôndola! — comentou segurando as revistas, os olhos brilhantes.
— Eu sei! E ainda disseram que tem uma sorveteria lá que é divina. — Acrescentei enquanto escolhia entre duas calças jeans.
Noah levantou-se da cama e ajeitou a camiseta verde que usava com uma jaqueta preta por cima.
— Bom, então se arrumem. Porque eu ainda quero ver os chafarizes do Bellagio antes de cair na noite e aproveitar as festas. Mas, é claro... — Noah pausou e puxou pela cintura para si, fazendo-a soltar um gritinho de susto. — Com muito cuidado, porque tenho uma rainha para quem voltar.
Reprimi o riso quando deu uma cotovelada em suas costelas.
— Aham, Noah, sei. Vai, vai pegar suas coisas que vamos nos trocar.
Tyler finalmente se pronunciou.
— Tudo bem. Encontramos vocês lá embaixo, gatinhas.
E saiu pegando sua jaqueta e puxando Noah atrás de si.
Fechada a porta, tirei o remédio de ressaca para e joguei para ela junto com uma garrafa de água que comprei na rua. O frigobar daqui enfiava a faca e o cabo.
— Eu te amo. — Ela exclamou enquanto tirava um comprimido da cartela.
— Eu sei.
Comecei a procurar uma roupa com mais calma agora. Elegi uma calça jeans skinny rasgada e minha adorada blusa do Bon Jovi com o símbolo do álbum Have a Nice Day, com a jaqueta de couro preta por cima. Calcei as botas de couro pretas de salto e peguei minha bolsa preta, procurando os óculos de sol aviador.
colocou uma calça jeans, com uma blusa branca com desenho de tigre. Vestiu sua jaqueta de couro nude e calçou sapatilhas pretas.
Não demoramos muito com a maquiagem, já que não fizemos nada demais: corretivo, pó, rímel e um batom claro. Pelo menos agora de dia não era o momento para gastarmos nossas maquiagens. A noite nos aguardava.
Chegamos ao saguão e encontramos as duas figuras jogadas no sofá, Noah jogando Angry Birds no celular e Tyler jogando uma maçã para o alto.
— E aí, seus gays, vamos ou não? — reclamou colocando os óculos de sol no rosto.
Tyler jogou a maçã para cima de Noah, que se assustou e quase jogou o celular para o alto.
— Vamos logo, quero nadar com os tubarões naquele hotel lá, que tem um aquário no meio.
Noah levantou-se rapidamente com a informação e já me deu um tapa no braço.
— Pode parar com essas palhaçadas, . Prometi aos seus pais que cuidaria dessa sua bunda magra enquanto estivéssemos nos EUA e sob o meu cuidado, você não vai ficar arriscando a vida assim. — Ela cruzou os braços.
— Ei, minha bunda não é magra.
— Não mesmo. — Tyler e Noah concordaram em coro.
Obviamente, Noah apanhou.
— Ai, ai, minha rainha, pra quê tanta violência? Sabe que sou um homem praticamente casado agora, só tenho olhos pra você. — Ele alisou o braço onde fora atingido.
— Vamos? — Tyler disse impacientemente.
Finalmente, entramos em um acordo e saímos do hotel.
Vou resumir um pouco pra vocês, porque a Tia é muito generosa e preguiçosa, então tô com preguiça de contar tudo. Fomos ao The Venetian, andamos de gôndola, tomamos sorvete, visitamos o aquário famoso lá (não adianta, não vou decorar o nome daquele hotel), fomos ao MGM e vimos os leões, andamos pela Strip inteira e então, finalmente, depois de quatro horas andando, chegamos ao Stratosphere.
O Stratosphere era o prédio mais imponente de lá, com 110 andares e meros 290 metros de altura. Ficava ao final da avenida dos hotéis e era a nossa parada final antes de voltarmos para o hotel e lá, para minha alegria e de Noah, havia brinquedos radicais no topo do hotel. Mas só contamos isso para quando chegamos ao topo, o que já foi um sacrifício, já que a loirinha morria de medo de altura.
— Puta que pariu, vocês viram? 110 andares pra quê? Ficar morrendo de vertigem perto da borda? Vocês deveriam beijar meus pés por isso e...
Ela pausou ao sair do elevador e perceber as filas para os brinquedos. X-Scream, Insanity, Sky Jump e Big Shot.
As garras do Insanity rodavam a toda, para fora do topo do prédio com pessoas gritando, combinando com as pessoas que subiam e desciam a torre do Big Shot e os outros que estavam deslizando no carrinho do X-Scream.
ficou tão branca e com os olhos tão arregalados que achei que fosse desregular a pressão novamente e desmaiar. Mas dessa vez não tínhamos o inglês para salvá-la, mas acho que Tyler e Noah conseguiriam dar conta do recado.
A loirinha deu meia volta e tentou entrar no elevador de volta, mas Noah conseguiu puxá-la pela cintura a tempo, e a segurou firmemente enquanto ela se debatia e a porta do elevador se fechava, lotada de pessoas descabeladas, que já haviam aproveitado as atrações.
— VOCÊS QUEREM ME MATAR?! — gritava raivosa e Tyler tentava não rir da situação.
Só por segurança, Noah continuou segurando-a. Garoto esperto.
— Calminha, rainha.
— É, loira furacão, pode aquietar a periquita aí. Não vamos te forçar a andar em nenhum deles, você pode só ficar olhando.
— E VER VOCÊ SE MATAR? NEM FODENDO.
Seus olhos verdes raivosos me lembraram Muchu. Saudades do bichano.
, eu sou bem grandinha. Sei decidir o que fazer. — Coloquei as mãos na cintura. — E vou sim andar nessas coisas, porque você sabe que eu adoro uma adrenalina.
, se você tá querendo adrenalina sobe no morro às 3h com um colar de brilhantes, NÃO SE FICAR SE PENDURANDO NESSAS COISAS DE METAL DOIDAS.
Noah tentou massagear seus ombros e lhe lançou um olhar raivoso.
— Ok, ok. Vamos entrar em um acordo. — Tyler finalmente intermediou e me olhou com um sorrisinho. — Você pode escolher UM brinquedo. Não precisa ficar preocupada, , não vai ter coragem pra essas coisas doidas mesmo.
Um sorriso tomou conta de meu rosto assim que Tyler disse as palavras proibidas. Observei ao redor e meus olhos optaram pela opção mais radical, enquanto xingava Tyler por ter me desafiado.
Lição número um sobre mim: nunca diga que eu não tenho coragem.
Antes que qualquer um deles pudesse falar qualquer coisa, andei decidida até o Sky Jump.
Afinal, só se vive uma vez.

’s POV


Meu dia estava sendo ótimo. Até me arrastarem para esse tal de Stratosphere.
QUEM DIABOS TEM A IDEIA DE FAZER UM PRÉDIO DESSE TAMANHO?
— Noah. Eu acho melhor você me soltar nesse segundo, ou você vai levar um cotovelo no seu queixo, e vai doer. - Falei desenroscando seus braços de mim.
ainda estava escutando o instrutor falar sobre o que seria o Sky Jump e todas as informações que ela precisaria. Minha bf continuava atenta e sorridente, como se aquela fosse a melhor decisão de sua vida.
— Essa é a melhor ideia da minha vida.
— Não é não. , sério. Desiste disso, nós já subimos aqui e você não precisa provar nada para o Ty.
— Precisa sim, eu ainda acho que ela não vai fazer. - Tyler disse, e depois tomou um soco meu na boca do estômago.
— Viu, ? Eu preciso. E vai super divertido, você vai ver. - disse pulando animada.
Ver é o verbo certo, porque eu não vou participar dessa loucura nem morta.
— Onde é que eu assino também para fazer isso? - Noah perguntou tirando os óculos escuros e me entregando, enquanto ia falar com o instrutor, que até pouco estava dando atenção para .
— Assinar?
— É, nós temos que assinar um documento para poder ir ao brinquedo... Nada de mais. — deu de ombros e começou a tirar o salto, já que ia entrar na fila para pular lá.
— Que documento, ?
— Ahhhh... Coisa bobinha. “Eu estou ciente que esse brinquedo pode ter falhas e que é perigoso para minha vida” etc etc. - Ela fez um gesto com as mãos como se não fosse nada demais. — , você tá bem? Você tá ficando meio verde?
— VOCÊ É LOUCA, ? Eu já tô tendo uma visão de ter que levar seu corpo destroçado de volta para o Brasil em um caixão roxo.
— Ai bf, se solta. Literalmente. — Ela sorriu orgulhosa por sua piada, e depois fechou a cara quando eu não ri. — Entendeu? Se solta... Do topo do prédio? Pular? Não? Okay, sem piadas. Mas olha, eu vou ficar bem. Vou pular junto com o Noah, te encontro lá embaixo. Fica acenando para eu ver se te vejo.
— Ficar acenando é o caralho, vou ligar pros seus pais e falar que tentei de tudo pra te salvar, isso sim.
Noah, na fila para pular, chamou , animado para que ambos fossem juntos. Tyler, um pouco mais esperto, ficou ao meu lado e prometeu que desceria comigo. Eu suspeitava que esse bunda mole não gostasse desses brinquedos também, mas que estava aqui por .
Despedi-me de minha melhor amiga, dando um abraço forte nela e já a agradecendo por todos os anos de amizade, caso não voltássemos a nos ver. Depois peguei o elevador com Ty, voltando para o térreo, escutando meu próprio coração na altura do ouvido, graças ao meu pânico em nome de e pela altura.
Uma vez no térreo, recusei-me a ficar vendo minha melhor amiga tentar se matar. Em compensação, fui dar outra volta com Tyler - parando para ver os chafarizes soltando água, as luzes dos hotéis começando a acender, já que o pôr do sol estava próximo - e desejando voltar para o maldito aquário que estava louca para ir, embora impedisse que eu ficasse muito tempo nadando com os golfinhos.
Quarenta e cinco minutos depois, minha melhor amiga e Noah estavam correndo na avenida na nossa direção, descabelados e sorridentes.
— Melhor experiência da minha vida! — gritou no meu ouvido, assim que me alcançou.
Depois de aprender a não esperar muito da vida, eu sinceramente só estava feliz de ver minha melhor amiga inteira, depois te tentar se matar se jogando - literalmente - de um prédio. Então eu simplesmente abracei-a, e agradeci mentalmente por ela ter voltado inteira de sua aventura.

’s POV.


Eram dez horas da noite quando eu terminei de passar a última camada de rímel e mandei um beijo para a minha imagem. Eu vestia um vestido preto colado de alça, com uns detalhes em dourado na lateral e sandálias de salto pretas. O frio lá fora não importava, porque afinal, piriguete não sente frio.
usava uma saia colada preta, com desenhos de cruz pequenas e uma regata de cetim creme que mostrava um pouco dos seus seios e um sapato de salto preto com detalhes em dourado.
Prontas, pegamos nossas bolsas e mais ou menos uns duzentos dólares do cassino. Com a ressaca curada, estava decidida a tomar outro porre. E eu, depois da noite deprimente de ontem e das briguinhas com Tyler, precisava desesperadamente de Tequila e um gato para mim.
— Então, aonde vamos? — perguntou enquanto estávamos no elevador.
— Não sei. Acho que podemos andar pela avenida e ver os melhores bares e baladas. Podemos comprar uma garrafa de bebida para nós em algum lugar e ir bebendo.
sorriu e assentiu. Eu sabia que ela precisaria de alguns porres e alguns pegas com o Noah por um tempo, até conseguir esquecer todo o drama do inglês.
— Vamos. Vamos tomar o porre de nossas vidas, minha queria melhor amiga. — Estendi o braço para ela, que enroscou o dela no meu e saímos do hotel, rebolando sobre nossos saltos.
Assim que saímos na rua, eu percebi qual era a mágica toda que todos tanto falavam.
Sim, nós estávamos acostumadas com as luzes da Times Square e o glamour da Quinta Avenida, mas aqueles bares e cassinos e hotéis todos iluminados eram totalmente diferentes. Parecia um sonho, um paraíso escondido no meio do deserto que poucos podiam bancar.
E, felizmente, nós podíamos bancar todo esse luxo (graças a mim, é claro).
Entramos em um bar chamado The Deuce Lounge e começamos a beber.
— Quatro tequilas, por favor, moço — pediu apoiando os peitos sobre a bancada.
— E dois mojitos! — Completei, enquanto fuçava na bolsa para colocar o celular no silencioso.
As bebidas chegaram e as viramos rapidamente. Olhamos ao redor e não encontramos ninguém potencialmente rico ou bonito o suficiente. Conseguimos mais duas tequilas de graça (benditos melões, ) e então decidimos procurar outro lugar.
Ao sairmos, a bebida que viramos rápido demais começou a fazer certo efeito. Eu já me sentia mais leve, mas não trocava as pernas ainda. já começava a soltar umas risadas aqui e ali.
Paramos em frente a um bar que destoava do meio. Country Ugly. Um bar country. Eca.
— Vamosssssssssssssssssssssss! — disse mais alegre.
Parei perto do segurança que cuidava da fila.
— Quanto é a entrada, garotão? — Enrolei uma mecha de cabelo no dedo e pisquei um olho para ele.
— É de graça, mocinha. Você tem mais de 21?
Soltei uma risada mais alta do que deveria. Tequila, comporte-se.
— Tenho cara de novinha? — Olhei-o sedutoramente e veio enfiando os peitos no meio da conversa.
— Libera aí pra gente, moço. Nós estamos solteiras e cheias de grana em Las Vegas e nunca fomos a um bar country.
O segurança nos olhos de cima a baixo.
— Vocês não parecem que vieram para um bar country.
Virei para trás, para a fila lotada de homens. Andei até os primeiros da fila, retirei os chapéus de caubói dos dois e estalei um beijo na bochecha de cada um antes que eles pudessem pensar em reagir.
Coloquei o chapéu em minha cabeça e na cabeça da loirinha e sorrimos para o segurança.
— E agora?
Ele riu de minha ousadia e liberou a entrada.
— Tomem cuidado, cowgirls.
— Meu nome do meio! — Gritei de volta e me enfiei no meio da multidão.
Várias mulheres dançavam de mini shorts e blusas curtas, derrubando Tequila na boca de vários homens desesperados e tarados.
É, talvez tivesse tido uma boa ideia.
Sorrimos uma para a outra e entramos na fila para a tequila.
A partir daí, a noite mudou.
! — gritou do outro lado do salão e eu me virei para procurar a loirinha, ainda sentada no colo do caubói gatão que eu havia arranjado para mim.
estava em cima do palco junto com as cowgirls safadas, com o chapéu torto na cabeça e o rosto levemente vermelho de tanto que já tinha bebido. Minha visão embaçou por alguns segundos e então focou novamente. estava derrubando tequila na boca dos homens que chegavam perto dela.
Dale, o meu caubói de um metro e noventa de pura gostosura, sussurrava com o seu sotaque sulista em meu ouvido, como eu era muito linda para ser verdade. Dei uma risada escandalosa e então tapei a boca. Ele tinha três olhos ou era impressão minha?
— VEM CÁ, SUA PUTA! — gritou enquanto era puxada pelos homens e gargalhava alto, trançando as pernas.
— Licencinha, Doyle.
— Dale.
— Tanto faaaaaaaaaaaaaaaaaaaaaz — gritei em seu rosto, fazendo-o arregalar os olhos, então gargalhei alto.
Andei até com dificuldade. Meu corpo estava absurdamente leve, mas eu me movia lentamente. Parecia que eu estava na lua. Por que eu não conseguia andar em linha reta? Por que as pessoas tinham mais membros do que o normal?
Esbarrei em milhares de pessoas e derrubei cervejas enquanto trançava as pernas e pensava seriamente em tirar meus saltos. Mas eu provavelmente os perderia. Ou alguém os roubaria. E não tinha nível de alcoolismo alto o suficiente para me fazer perder sapatos.
Demorei, mas consegui. me puxou para cima do palco enquanto gargalhava e como ela estava pior do que eu, as duas caíram de bunda no palco com o esforço da loira. Alguns homens assobiaram, porque eu convenientemente, caí de pernas abertas, revelando minha calcinha vermelha de renda.
— LOIRA BURRA! Não consegue nem me puxar direito — resmunguei, fazendo-a gargalhar mais ainda. Não aguentei. Gargalhei junto com ela.
— BODY SHOT! — Um homem gritou.
— É, BODY SHOT NA LOIRINHA!
— BODY SHOT NA LOIRINHA! — Um coro começou e então todo o bar começou a gritar, grande parte deles sem nem saber o porquê gritavam isso.
As cowgirls que deveriam estar fazendo o show ficaram nervosas com a nossa intromissão. Os homens então arranjaram a tequila, o sal e o limão para nós.
não reclamou. Deitou no palco, levantou a blusa de cetim e deixou que derrubassem o sal em sua barriga e colocassem o copo de tequila lotado sobre sua barriga lisa. Peguei o limão em minhas mãos trêmulas e me ajeitei tropegamente ao lado dela, de frente para aquela multidão de homens tarados. Eu não sabia distinguir ninguém, para ser sincera, mas foda-se.
— VAI! VAI! VAI! VAI! — Eles gritavam em incentivo.
Então eu me apoiei em , lambi o sal em sua barriga fazendo-a rir, envolvi a borda do copo de tequila com meus lábios e levantei a cabeça rapidamente, virando o corpo de tequila sem a ajuda das mãos. Todos começaram a gritar e a tequila desceu rapidamente, sem queimar, porque eu já estava tão bêbada que não sentia nada. Coloquei o copo no chão e chupei o limão.
— UHUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUL! — e eu gritamos em coro e todos os homens nos acompanharam.
— É, são aquelas ali! — Uma das cowgirls apontou para nós, o segurança em seu lado assentindo.
— FUDEU, , FUDEU! CORRE AMIGA! — Gritei e fiquei de pé ao trancos e barrancos, puxando a loirinha pra cima comigo.
Dois homens claramente alemães da plateia nos ajudaram a descer no palco, e nós demos um selinho em cada um antes de sair correndo para a saída. Eu sairia sozinha, mas jamais seria jogada para fora de uma merda de um bar country. Poderia estar bêbada, mas tinha dignidade.
Conseguimos de um jeito muito mágico e doido levar nossas bundas bêbadas para a saída. Eu segurava nossas bolsinhas, trançadas em meu tronco. arrancou nossos chapéus e os jogou para dentro do bar.
E então estávamos na rua.
Olhamos uma para a outra por alguns segundos, quietas.
— DE NOVOOOOOOOOOOOOOO! — Gritei e começamos a gargalhar muito alto, apoiando uma na outra.
— EU... VOCÊ... TEQUILA... COWGIRLS DE MERDA... — gritava extremamente bêbada.
— EU SEI, NÓS BEBIDA, COMIDA, HOMENS, SEXO — Eu gritava coisas sem sentido, a última tequila fazendo minha cabeça girar tão forte que eu não sabia mais se estava parada ou em movimento.
não parava de rir e dar pulinhos e eu tentava pegar o celular na bolsa, mas não conseguia parar de rir também e minha cabeça girava. Desisti e abracei . Começamos a pular juntas pela rua e cantar “I Will Survive” a todo o vapor.
Foi quando eu tropecei e caí de bunda no chão, que finalmente parou de rir, e um sorriso maníaco tomou conta de seu rosto.
Ela olhou para o panfleto atrás de mim e teve a melhor ideia de noite.

Noah’s POV.


Tyler estava parecendo um cão no cio. A cada bar que nós entrávamos, o idiota olhava ao redor, provavelmente achando que ia achar bebendo com . Depois que ele via que elas não estavam por lá, me arrastava para outro lugar, nunca me deixando dar mais do que uns beijos em algumas mulheres.
— Sempre o estraga prazeres. — Murmurei sendo puxando pela jaqueta por Tyler até a porta do bar para irmos embora.
— Do quê você tá falando?
— De você sempre comendo na mão da Polly, desde sempre. E agora atrás da , como se ela fosse o único rabo de saia do planeta.
Tyler me deu um soco um ombro depois dessa.
— Seu bosta, claro que não. O problema é que você não conhece e bêbadas, elas nunca sabem o que estão fazendo.
— Engano seu, Tyler. Ontem tomei um belo de um porre com a loirinha e depois dela ter arrastado a gente para uma c...
— Exatamente. A tem as ideias pervertidas e a concorda. Da última vez ela sugeriu um ménage a trois. — Ele me cortou.
— Me diz que você topou, amigão. — Gemi entusiasmado com a ideia, já podendo imaginar os belos peitos de fazendo uma dupla agradável com a bunda de . Não que eu fosse comer , eu respeito a regra do “não pegue alguém que é do teu amigo”, mas eu me divertiria.
Tomei outro soco no ombro, dessa vez mais forte.
— Caralho, Tyler! Que foi?
— Para de imaginar o ménage. Eu conheço seu sorrisinho e pode parar de colocar minha no meio dos teus pensamentos pervertidos.
Ergui a sobrancelha para ele, mas resolvi ficar quieto para não ter que receber um soco na cara. Depois de entrar em mais três bares, eu estava certo que Tyler estava perto de ter vasculhado todos os bares de Las Vegas, até que ele pareceu parar e desistir.
— Tá. Elas devem ter entrado em algum hotel, porque o último bar da Strip que nós não fomos é um de country. — Tyler cruzou os braços.
— Essas merdas existem?
— Aqui sim. — Ele fechou brevemente os olhos enquanto assentia, como se sentisse minha dor e pensasse a mesma coisa que eu: Credo.
— Em compensação... — Sorri feliz com a oportunidade, e tirei do bolso de minha calça o panfleto que havia pego em algum dos bares que entramos. — Olha só que maravilha isso que eu achei para nós.
Tyler encarou o panfleto. Era para um strip club chamado Seamless, um dos mais famosos e maiores de Las Vegas. Ele cogitou a ideia durante cinco segundos, o que já foi mais do que o suficiente para que eu percebesse como meu amigo estava precisando encontrar sua masculinidade novamente.
Cinco segundos para sorrir para mim e estar de volta à terra dos machos alfas. Graças a Deus eu não tive que resgatar a força de vontade dele muito longe.
— AH, AMIGÃO. FINALMENTE.
Ri colocando o braço ao redor de seu ombro e puxando-o em direção ao clube, que ficava algumas ruas dali. Joguei o panfleto no chão, torcendo para que algum pobre coitado, saindo desse bar country visse o panfleto e fosse para o caminho da luz.
Menos de cinco minutos depois, eu já estava sentado em um sofá confortável, encarando um poste metálico, iluminado por luzes vermelhas e enfeitado por um belo par de pernas escorregando por ele. Poste sortudo.
— Tyler, eu estou sentindo o cheiro da sua masculinidade voltando.
Tyler ergueu uma sobrancelha para mim e tomou outro gole de seu uísque, olhando de relance para a mulher que dançava no poste. Eu sempre me impressionei com a elasticidade dessas mulheres. E com outras qualidades delas.
— Estou sentindo cheiro de problema amanhã, quando encontrarmos as meninas. — Tyler disse terminando de virar seu copo, fazendo uma leve careta e logo levantando a mão para ser servido novamente.
Uma mulher de pele morena, lingerie amarela cintilante e uma bela bunda parou ao lado dele para voltar a encher seu copo e eu me aproximei de seu ouvido. Ela cheirava a um perfume forte demais, mas sua bunda fazia valer a pena.
— Linda, será que nós podemos pedir por um tratamento especial? — Sussurrei em seu ouvido, espiando em sua bunda empinada.
— Claro, gatão. O que vocês querem? — Ela sorriu terminando de servir Ty, que olhava para seus peitos, que não eram nem de perto tão lindos como sua bunda.
Talvez Tyler quisesse mudar um pouco o prato principal do menu.
— Duas dancinhas particulares?
— Especialistas ou pela brincadeira?
— Pela brincadeira, linda. Meu amigo precisa se distrair só.
A mulher disse que ia ver o que podia fazer por nós e voltou cinco minutos depois, pedindo para que fossemos no caixa pagar pelas danças, e depois alguém nos levaria para uma sala particular. Tyler parecia meio desconfortável, ainda olhando ao redor, como se...
— Você não veio a um strip club desde que terminou com a Polly, né? — Fechei a cara. A masculinidade dele estava mais longe do que eu achava.
— Não.
— Sabia. Para de olhar para os lados como se a fosse entrar aqui e começar a gritar dizendo que você está traindo ela.
?
— Só estou chutando quem estreia nos seus sonhos hoje em dia.
Recebi outro soco, mas dessa vez somente dei risada, esfregando o braço, e paguei pela dança de meu amigo. Ele estava precisando disso.
A mulher que havia arranjado nossa dança apareceu novamente e começou a nos levar para o fundo do clube, onde ficavam as salas particulares. Que na verdade não eram salas, era um banco imenso com cortinas separando cada homem - isso se você resolvesse fechar sua cortina. Eu ia fazer questão de deixar a de Tyler aberta, para que eu pudesse ter certeza que ele estava recebendo a dança, e não fazendo a sua mulher sentar e tomar um chá com ele.
— Vocês vão receber duas novatas. Elas fizeram amizade com a staff, e estão aqui para brincar um pouco. Aqui está a máscara de vocês, e elas também estarão usando as próprias. Não toquem a não ser que elas deixem. Não tirem a máscara.
— Sim, senhora. — Tyler e eu respondemos juntos. A mulher podia ser gostosa, mas ela estava falando sério e, sinceramente, era meio nojenta a ideia de desrespeitar uma mulher.
— Escolham a preferida e boa dança, garotões. Relaxem, sentem e aproveitem o show.
Bati no ombro de Tyler, encorajando-o e coloquei minha máscara, entrando na sala tranquilamente. Sentei no banco, sentindo o veludo confortável dele e tomei um gole de meu copo de uísque, aproveitando o momento. Ty pareceu ficar mais confortável na escuridão da sala e com a música de fundo sensual.
Então nossas mulheres chegaram. Eu imediatamente sabia que queria a loira. Ela tinha peitos cheios, uma barriga lisinha, usava uma lingerie rosa rendada, e sua bunda era um tamanho perfeito entre redondinha e gostosa. Os saltos pareciam ser uma coisa perigosa para ela, que andava meio trôpega, provavelmente bêbada. Sabe-se lá o que essas pessoas dão para as mulheres hoje em dia.
Eu sorri para ela e estiquei minha mão na sua direção, trazendo-a para perto de mim. Ela sorriu, animada, seus olhos - que no escuro eu quase não conseguia ver - escondidos pela máscara, brilharam momentaneamente. Vi Tyler fazer o mesmo com a sua mulher, uma morena de bunda gigante. Bem o tipo dele mesmo.
A minha loira começou a rebolar gentilmente no lugar e eu cocei a ponta de meus dedos contra minha calça jeans para não tocar em sua pele branca deliciosa. Ela cheirava extremamente familiar.
Minha dança estava sendo sensacional. Eu estava aproveitando tudo. Até que minha loira se inclinou sobre mim, sua cascata de cabelos loiros caindo sobre meu ombro, fazendo com que eu me lembrasse da onde reconhecia seu cheiro.
Aparentemente, Tyler também pareceu seu lembrar de alguma coisa, pois no segundo seguinte ele estava puxando a máscara de sua morena e parecendo pronto para ter um AVC.

Tyler’s POV.


Eu sabia, quando as meninas falaram que iam sair para beber, que daria merda. Essas duas bêbadas são um perigo e eu temia saber o que acontecia antes de eu conhecê-las, mas exatamente por isso que eu sabia que tinha que desencanar. Elas sabiam se virar sozinhas antes da gente ser amigos, então eu poderia muito bem aproveitar minha noite. E Noah sabia como aproveitar uma noite, portanto, deixei-o guiar.
O strip club era sensacional. As garotas que giravam no poste eram todas sensuais e muito gostosas. Fazia muito tempo que eu não ia a um strip club, então resolvi que iria aproveitar.
Noah pagou por nossas danças e eu bebi uma dose de uísque de uma só vez, decidido a aproveitar. Sentei-me no sofá aveludado e deixei que a morena dançasse à minha frente, mesmo que sua bunda e seu cabelo dolorosamente me lembrassem de . Noite passada eu havia conseguido esquecer-me dela por um bom tempo, tirando os pequenos segundos que a imaginei, enquanto transava com Marie, a mulher da noite passada, mas estava decidido a deixar isso para trás.
Cherry, foi como a mulher apresentou a stripper. Deveria seu o seu nome da noite.
Sentei-me de pernas abertas e a observei rebolar meio trôpega à minha frente, mais sorridente do que o normal. Quanto mais ela sorria e rebolava, mais minha cabeça doía. Mais minha mente me fazia lembrar-me de .
Ela apoiou o pé direito ao lado de meu quadril, dando-me uma visão privilegiada de sua intimidade na calcinha preta rendada, transparente. Mordi os lábios e pensei em me aproximar, mas ela fez que não com o dedo, como se soubesse o meu pensamento.
Cherry sentou-se em meu colo e começou a rebolar. Joguei a cabeça para trás e senti meu membro pulsar e imagens de pipocaram a todo vapor em minha mente.
— Tá gostando, garotão? — Ela sussurrou em meu ouvido e eu percebi que não era tudo da minha cabeça.
?
Arranquei sua máscara fora e a encarei, ali, sentada em meu colo, em um corpete preto e vinho, extremamente sensual e bêbada, minha melhor amiga.
Meu coração batia tão rápido e eu estava tão chocado que não conseguia acreditar.
Se aquela era , com o Noah era...
? — Gritei para a loira que dançava de costas no colo de Noah, que parecia ignorar tudo o que acontecia. Arranquei minha máscara para poder enxergá-la melhor.
— TY! Você por aqui! — acenou e gritou do colo de Noah.
— Tyyyyyyyyyyyyyyyy, você não quer mais que eu dance pra você? — Ela choramingou. — Não gosta do meu rebolado?
Fechei os olhos com força, e reprimi meus pensamentos.
. Ninguém resiste ao seu rebolado. — Confessei entredentes. Ela não lembraria mesmo.
Andei até a sala onde ainda mandava ver no colo de Noah.
— NOAH! Você não viu que essa é a ?
Eles se olharam e sorriram.
— Na verdade, eu vi sim. Mas eu não sou estraga prazeres como você e tô aproveitando.
— E hoje não sou a , Tyler. Hoje eu sou a Candyyyyyyyyyyyyy — Ela prolongou a última sílaba, enquanto balançava os seios com as mãos.
, ou melhor, Cherry, andou até a sua melhor amiga e se juntou a ela. As duas subiram num dos pufs e começaram a dançar juntas, se esfregando. Noah começou a procurar a carteira loucamente, e procurava um dólar enquanto eu tentava fazer aquelas duas descerem dos pufs.
desceu, somente para sentar no colo de Noah, enquanto continuou rebolando em cima do puf.
— Desce logo, mulher.
— Me chama de Cherry, garotão.
— Para de putaria e desce logo.
— DESCE ATÉ O CHÃAAAAAAAAAAAAAAO! — gritou, ainda meio louca.
Eu sabia que dali a segundos os seguranças passariam para nos expulsar pela gritaria que estávamos fazendo. Peguei pelas coxas, e a joguei sobre o meu ombro direito.
— Vamos embora, Noah. Pegue as coisas delas no camarim.
— Tyler, você é um grande de um estraga prazeres.
— Cala a boca, Noah. está tão bêbada que vai terminar o show para você essa noite no quarto. Vamos embora antes que elas acabem vomitando e acredite em mim: elas vão vomitar.
Noah resmungou mais um pouco, mas acabou indo buscar as coisas delas no camarim junto com uma trôpega. Caminhei para fora do local com sobre o ombro, e um dos seguranças nos parou na porta.
— Ei, ei, ei, homem das cavernas. Onde pensa que vai? — Ele me empurrou pelo peitoral e eu tive que segurar com força pelas coxas.
— Ela é minha amiga. Veio com a melhor amiga dela para cá, ambas bêbadas e resolveram fazer strip. Estou resgatando-as, fica tranquilo. Fala pra ele, .
Virei-a para o segurança e ela levantou a cabeça com dificuldade, gargalhando.
— É verdaaaaaaaaaaaaade, moço! O Tyler aqui tá querendo brincar de Flinstons, mas é verdade, viu? Eu tô loucaaaaaaaaaaaaaaaaaaça da vida. E esse bosta é o meu melhor amigo estraga prazeresssssssssssssssss.
Segundos após, veio de cavalinho nas costas de Noah, gritando a todo vapor.
— UHUUUUUUUUUUUL! UPA UPA, CAVALINHOOOOOOOOOOO! — Ela gritava enquanto Noah dava uns pulinhos que a fazia gargalhar, as bolsas nas mãos dela e os sapatos nas mãos de meu amigo, junto com uma sacola branca, onde deveriam estar as roupas delas.
Os seguranças olharam para nós, claramente confusos, mas finalmente nos deixaram sair. Com muito custo, conseguimos um táxi e enfiamos as duas dentro dele. Noah ficou no banco de trás, tentando convencê-las a se beijarem, mas ria demais para conseguir concretizar tal tarefa.
Apoiei a cabeça no vidro do carro e pronunciei:
— Ceasars Palace, por favor.
Olhei pelo retrovisor e suspirei alto. e Noah dormiriam juntos, com toda a certeza do mundo, com o tanto que eles se beijavam agora no banco de trás, com a cara na janela apontando para cada coisa luminosa que avistava.
Então eu teria que dormir novamente com .
Por favor, que ela esteja bêbada demais e desmaie na cama.


Vigésimo Terceiro


’s POV.


Eu fui atropelada por um caminhão. Foi o meu pensamento assim que eu acordei no dia seguinte, minha cabeça pesando umas quinze toneladas e meus olhos pesados. Enfiei o travesseiro em minha cabeça e nisso senti um corpo ao meu lado.
Meu Deus, por favor, que não seja a nua novamente.
Tomei coragem durante uns cinco minutos até que retirei o travesseiro do meu rosto e me acostumei com a luz que escapava pelas frestas da janela. Virei para o lado.
Era Tyler.
Suspirei alto de alívio ao ver que eu estava exatamente com a mesma lingerie do strip club e Tyler dormia de samba canção. Eu nunca estaria vestida com as peças de roupa se tivéssemos transado.
Olhei para o teto e respirei fundo, sentindo minha cabeça afundar no travesseiro e meus membros pesarem.
Deus. Essa ressaca seria fogo.
Consegui pegar o celular de Tyler e espiar que eram quase duas horas da tarde. Merda! Eu queria aproveitar o dia ainda.
? — Tyler resmungou na cama e se virou até conseguir me enxergar.
Meu rosto deveria estar um desastre com toda a maquiagem borrada e meus cabelos desgrenhados, mas Ty sorriu fraco ao me ver, os olhos ainda semiabertos.
— Bom dia, garotão. Vejo que você não tirou proveito de mim.
Ele riu bem franco.
— Você estava bem sexy no strip club, mas quando chegamos ao quarto, se jogou na cama e começou a roncar tão alto que todo o tesão foi embora.
Gargalhei. Uma chama se acendeu por uns instantes, por finalmente conseguir conversar com ele.
— Então, o que aconteceu? — Ele me perguntou.
Fechei os olhos e flashes voltaram para mim.
Country club. . Body shot. Panfleto. Fila. Stripper. Lingeries. Então Tyler e Noah.
— Eu não sei direito. Só sei que encontrou um panfleto desse strip club e choramingamos até eles nos aceitarem.
— Eu sabia que a ideia tinha vindo de .
— A ideia SEMPRE vem da .
Nós rimos e eu tentei me sentar na cama, mas minha cabeça doía demais, então eu somente caí sentada. A tensão logo voltou ao ar entre nós dois.
— Desculpa por ter dado trabalho. — Suspirei. — Eu sei que queria um segundo round com a loirinha do cassino.
Ele comprimiu os lábios para minha afirmação.
— É. Tanto faz.
Tyler resmungou e se sentou da cama. Ele de longe estava muito melhor do que eu. Seus músculos contraídos fizeram um arrepio leve subir por meu corpo.
— Vou tomar um banho.
Ele se levantou e saiu para o banheiro, meio irritado.
Olhei para o teto e suspirei.
Uau.
Eu dancei num strip club. Deus sabe o que eu e ficamos fazendo enquanto não dançamos para Tyler e Noah. Eu só lembrava-me de flashes da noite inteira. Tyler me levando no ombro. e Noah tirando as roupas praticamente no corredor.
Sentei-me novamente, e dessa vez, não deitei de novo. Tomei coragem e fiquei de pé. Cacei meus sapatos e bolsa, vasculhei-a até achar o cartão da porta de meu quarto.
Não me despedi de Tyler.
Saí do quarto com passos lentos e pesados e fui para o meu quarto. Abri a porta e dei de cara com uma com os peitos de fora e o lençol cobrindo somente as partes de baixo, e um Noah de bruços, a bundinha redonda para cima e o lençol sobre a cabeça.
Assobiei para a bunda de Noah, fazendo-os acordar.
— Que porra aconteceu ontem à noite? — resmungou ao me ver ainda com o corselete vinho e preto, com as cinta liga conectadas e etc.
Noah assobiou para mim.
— Mandou ver, xerife. Você e Tyler aproveitaram?
Fechei a cara.
— Não. Mas aposto que vocês dois abalaram a noite.
deu um sorriso entre as caretas que fazia para a luz do sol, confirmando minhas suspeitas.
Dei um tapa na perna de Noah.
— Vai, ô rei, saindo da minha cama. e eu temos que curar nossa ressaca e vamos ao SPA hoje.
— Nós vamos? — Ela perguntou enquanto enfiava o travesseiro na cara, os peitos ainda de fora.
— Vamos, loira.
Noah resmungou e saiu puxando o lençol, deixando nua.
— Ei! — Ela resmungou.
— Qual é, nós dois já te vimos nua. — Ele respondeu com um sorrisinho malicioso. Pegou suas coisas no chão, enrolou o lençol na cintura e saiu — Vejo vocês de noite, gatas.
Assim que ele saiu, me joguei na cama ao lado de .
— Amiga.
Resmunguei uma resposta.
— Que porra que nós fomos aprontar ontem, hein?
Soltei uma risada para a pergunta de .
— Você nos levou para um Strip club e me convenceu a me inscrever para fazer danças particulares. O destino levou nossas bundas pecaminosas até Tyler e Noah. Isso é tudo o que eu sei e lembro depois de umas seis tequilas naquele bar country doido que fomos.
gargalhou e então parou a risada no meio, porque foi alta demais e ambas as nossas cabeças latejaram.
— Vamos logo para esse SPA. Você ainda tem aquele remédio para ressaca?
— Uhum — resmunguei, debaixo de um travesseiro.
Demoramos, mas conseguimos. Levantamos, trocamos de roupa, retiramos a maquiagem, tomamos banho e colocamos uma roupa. Bebemos os remédios para dor de cabeça e ressaca e saímos com óculos de sol no rosto e as bolsas com os biquínis nos ombros para um “cura-ressaca” chique e digno de nossas novíssimas contas bancárias.
Minha cabeça estava levemente menos pesada quando chegamos ao SPA, cujo balcão na recepção era de pedra branca, com duas mulheres uniformizadas bonitas e jovens, sorridentes. Atrás delas estava um painel enorme com o nome do hotel e alguma frase sobre como nosso bem estar era importantíssimo para eles. O chão era todo coberto por uma madeira clara. Pegamos chaves para armários no vestiário.
Passei pela porta de madeira do vestiário feminino, encontrando várias prateleiras cheias de toalhas brancas felpudas e roupões. Fiz cabaninha para , que se trocou primeiro, colocando um biquíni preto de cortininha e quase caiu pela tontura.
Peguei meu biquíni tomara de caia vermelho na bolsa e o vesti rapidamente, tentando não deixar que nenhuma lésbica tarada visse minha preciosa bunda. ficou tentando evitar que as pessoas conseguissem ver eu me trocar, fazendo uma cabaninha com a toalha. Terminei de me vestir e dobrei minhas roupas, enfiando-as no armário e guardando a chave dele no bolso do roupão. Pegamos as pantufas do SPA e prendemos o cabelo em um coque alto.
Andamos calmamente de volta até a recepção e escolhemos nossas massagens enquanto massageávamos as têmporas. Deveria existir uma massagem especialmente para pessoas com ressaca. O ano novo era hoje de noite e precisávamos estar renovadas.
— Podemos fazer no mesmo quarto? Pra conversar, etc. — comentou para a loira que sorria demais para o meu gosto. Louquinha para dar uma facada no meu bolso.
— Ah, sim, sim. Que tipo de massagem vocês querem?
— Aquela com as pedras quentes, têm? — Perguntei. Sempre me pareceu coisa de gente rica. Já que era pra continuar na dívida, que fosse gastando com qualidade.
— Sim, senhora.
— Uma para mim também. Tem como ser agora?
— Sim, senhora. — A loira respondeu para , então olhou para o computador e fez algumas coisas. — Querem que eu debite o valor na conta do quarto de vocês ou querem pagar agora?
— Ah, na conta do quarto. Quanto ficou? — disse.
— 300 dólares, senhora.
— QUÊ? Trezentos dólares duas massagens com algumas pedrinhas quentes? — Quase gritei, mas segurou em meu braço com força, fazendo-me conter minha voz para que nossos cérebros não explodissem.
— Ah, não senhora, trezentos dólares cada massagem.
soltou um gemido como se tivesse recebido um soco no estômago.
Nós ainda tínhamos uns cinco mil dólares, que deveriam pagar parte de nossa estadia e o resto das dívidas. AH, e o aluguel. Sempre me esqueço do aluguel.
Trocamos um longo olhar, pensando se deveríamos gastar 600 dólares assim. Nossas ressacas precisavam ser curadas.
— Quanto tempo dura? — Perguntei receosa.
— Uma hora, senhora.
Novamente, trocamos um olhar. Os 600 dólares pareciam valer mais a pena agora.
— Pode colocar na conta do quarto. — Anunciei, por fim, decidindo que precisaria ganhar mais 10 mil dólares no caça níquel nesse ritmo.
A loira sorriu e disse que nossos massagistas logo nos acompanhariam até a sala de massagens. Um negro e um asiático, simpáticos, nos acompanharam até o quarto de massagens, com duas macas brancas acolchoadas, paredes cor bege e um carpete vermelho. Havia armários de madeira clara e várias loções doidas sobre uma bancada de madeira também.
e eu tiramos nossos roupões e colocamos eles sobre uma poltrona. Eles disseram que iriam buscar as pedras e nos deram toalhas para cobrir a bunda. Tiramos os biquínis e deitamos de bruços nas macas confortáveis, reclamando de como estava esmagando seus bebês, ou seja, seus peitos. Colocamos as benditas toalhinhas sobre nossas bundas e viramos o rosto uma para a outra, agora menos pálidas e mais animadas com as massagens que estavam por vir. Puxei um assunto sem ser da noite passada, já que minha cabeça voltaria a doer mais se eu insistisse em tentar lembrar agora.
— Como vai ser hoje de noite?
— Vai ter uma mega festa aqui no hotel pra virada do ano, em vários lounges e etc. Achei melhor irmos à Pure Nightclub. Fica no terraço do hotel e é conhecida por ter algumas celebridades e...
— CELEBRIDADES? Quer dizer que o Ian Somerhalder pode estar lá?
— Bom. — comentou sorrindo. — Eu duvido que ele frequente esse tipo de festa, mas aposto que vários gatos frequentam. E como eu e Noah deixamos bem claro que podemos transar e ficar com quem quisermos, hoje tô na procura.
— Nossa loirinha, desde quando você tem esse apetite insaciável, hein? E o Noah nem foi frouxo pra te deixar na mão.
Os massagistas voltaram e nós resolvemos começar a conversar em português. Besteira nossa, mas não era sacrifício algum.
— Nem acredito que já é Ano Novo. — suspirou quando o asiático colocou a primeira pedra sobre suas costas.
A primeira pedra foi colocada em minhas costas e eu soltei um gemidinho, mas relaxei logo em seguida.
— Sabe o que nós deveríamos fazer? Metas para um novo ano.
— Pra quê? Não vamos cumprir nem metade delas!
Revirei os olhos para seu comentário pessimista. E daí? A graça era essa, fazer metas que gostaríamos, porém absurdas. Sonhar um pouquinho de vez em quando.
— Tá bom, então, eu faço metas para mim, sua chata. Minha primeira meta é ter meu quarto de volta até o fim do ano.
ponderou. Era algo razoável. Isso se não nos afundássemos mais ainda em dívidas, é claro. Jules como ajuda no aluguel era o que nos impedia de atingir o fundo o poço e ter nossas coisas hipotecadas.
Os massagistas começaram a fazer movimentos circulares com as pedras quentes em nossas costas. fechou os olhos sorrindo com a sensação e eu deixei escapar um gemido de satisfação.
— Ok. Vou fazer metas também. — Ela murmurou enquanto o asiático mandava bala em suas costas. — Vou transar com mais frequência nesse ano.
Soltei uma gargalhada e a apoiei completamente.
— Infelizmente, minha vida sexual já teve dias melhores. — Suspirei.
— Hmmmmm. — gemeu conforme mais pedras eram acrescentadas às suas costas. Não pude deixar de gemer também. Aquela massagem estava sendo realmente deliciosa.
Fechei os olhos e me deixei levar pela sensação de estar nas nuvens conforme as mãos hábeis de meu massagista faziam pressão. A ressaca estava indo cada vez mais para longe. E olha que era uma das piores que eu já havia tido em minha vida.
— Outra meta: sair do meu emprego de babá. Sei lá para onde vou. Talvez tentar psicologia mais uma vez.
Gemi e emiti um “uhum” manhoso. Deus, que mãos maravilhosas. Eu estava quase pedindo que ele casasse comigo. Isso porque eu nem sabia o nome do meu negão maravilha. Resolvi chamá-lo de Django.
— E que eu tenha várias sessões de foto pela frente. Esse dinheiro extra pode nos ajudar a seguir em frente, finalmente. Já estamos com vinte e quatro anos, por favor, precisamos parar com esses empregos secundários.
— Temos que parar de tomar porres desse jeito. Estou velha para ter ressaca. — resmungou.
— E você precisa parar de ter ideias geniais quando estamos bêbadas. Um dia desses vamos acabar presas a um cafetão por dívida.
gargalhou e então gemeu com a massagem que recebia.
— E temos que parar de dever o aluguel. É desgastante. — Acrescentou em um gemidinho baixo.
— Desgastante é ter que tirar dinheiro do meu fundo monetário para sapatos. Nunca vou comprar meu louboutin assim. — Resmunguei.
— Comprar um Louboutin é uma meta, então. — Anunciou . — E uma cama nova para você. Desculpa.
Pensei em xingá-la por quebrar minha cama, mas as pedras quentes faziam qualquer pensamento maldoso se dissipar. Era como a sensação pós-orgasmo. Só que durava muito mais.
Jackie Chan e Django fizeram um trabalho maravilhoso, de verdade. Eu podia jurar ter tido orgasmos múltiplos durante aquela massagem. e eu ficamos quietas por boa parte do tempo de tão compenetradas na maravilhosa sensação que as pedras quentes nos proporcionavam. Estava tão gostoso que eu quase me sentia rica. Talvez gastar 600 dólares não fosse tão ruim. Ainda tínhamos muito dinheiro para gastar, afinal. Bendito caça níquel.
Quando a massagem acabou, ficamos mais alguns cinco minutos deitadas, com caras abobalhadas, aproveitando as últimas sensações daquela maravilhosa massagem. Então tivemos que nos levantar, já que a sala seria usada por outros hóspedes.
Vestimos os biquínis e colocamos os roupões. Passamos na recepção e marcamos de fazer as unhas, pé e mão. Mais cem dólares em nossa dívida.
De volta ao vestiário, recolocamos nossas roupas e nos sentimos tentadas a usar os chuveiros, que pareciam ter duchas deliciosas, mas fomos direto para a manicure. Já eram 15h e ainda não havíamos almoçado.
Enquanto fazíamos as unhas no salão que ficava dentro do SPA, ficamos conversando com nossas manicures sobre a festa do hotel, onde eu pretendia dar meu golpe de mestre.
— Então, é verdade que vários famosos vão nessa festa?
— Ah, sim, querida! É claro que não todos, mas ano passado o Rod Stewart veio! — a manicure respondeu à enquanto lixava suas unhas.
Sorri para , ansiosa, pensando em qual famoso iria fisgar. Essa poderia ser outra meta para o ano novo. Ou ano velho. Sei lá.
Abri a boca para perguntar se o Ian Somerhalder já havia vindo em alguma dessas festas, mas nenhum som saiu dela. Fiquei olhando para a porta do salão e prontamente fechei a boca.
Uma loira entrava no salão completamente sorridente. Uma loira que eu reconhecia da noite anterior. Uma loira que Tyler havia traçado anteontem no cassino.
percebeu que eu estava quieta demais e seguiu meu olhar. Assim que o choque passou, pigarreei e voltei a olhar para minhas unhas, que estavam cheias de creme agora. A loira nem percebeu quem eu era, também, não havia me visto antes de sair com Tyler para seu quarto.
— Hm, ... Aquela é a vagabunda do Tyler? — sussurrou para mim, indicando a loira com um aceno de cabeça.
— Ah, é?
— Não sei ué, você que me diz. Você que os viu, não eu.
— Nem lembro como ela era, , acha que eu fiquei reparando? Além do mais, ainda estou de ressaca, não vou lembrar-me de nada mesmo.
me olhou com as sobrancelhas elevadas. Um “sim, eu acho” estava estampado em seu rosto.
— Se você diz, ...
— Tenho coisa melhor do que ficar reparando nas mulheres que Tyler levar para a cama. — Dei de ombros e olhei para o carrinho de esmaltes. — O que você acha desse roxo metálico fabuloso? — Mostrei o vidro do esmalte para .
— Lindo. Você deveria passar.
Ignorei seu olhar acusador.
Ela não havia engolido essa história, ainda. E nem eu.

’s POV.


Quando terminamos nosso dia no SPA e nosso almoço, eu me sentia outra pessoa. Claro, uma pessoa mais pobre. Mas, também, uma pessoa relaxada, linda e pseudo-rica. E com menos dor de cabeça. No elevador, falava sem parar em como a nossa viagem estava sendo fantástica e ela mal acreditava como estávamos nos dando bem na vida e eu sorria concordando com tudo porque era verdade. As coisas estavam dando certo e o ano que vem nunca parecia tão promissor quanto agora, ainda mais com nossas novas metas. Até minha ressaca já estava quase completamente curada. Era tudo um milagre.
Parando na porta de nosso quarto, abri-o com o nosso cartão e já comecei a fuçar na minha bolsa para livrá-la de tudo pesado e começar a fazer a contagem de quanto dinheiro sobrara do nosso fabuloso dia. estava andando para lá e para cá no quarto, lutando contra suas peças de roupas, enquanto as tirava para poder andar pelada. Por que estava andando só de calcinha? Não sei. Não pretendo descobrir. Ela só era assim desde... Bom, sempre.
Ignorando seu falatório e strip-tease, sentei sobre nossa cama para espalhar o dinheiro que ainda tínhamos e começar a contá-lo, mas logo quando estava conseguindo me concentrar na tarefa, uma batida forte na porta do quarto fez com que eu mudasse de ideia. estava no banheiro fazendo alguma coisa, então levantei-me preguiçosamente e abri a porta lentamente.
— Eu disse que elas estavam no quarto. – Noah falou assim que abri a porta.
— É que eu não passei muito tempo em nossos quartos. – Ty sorriu malicioso para o amigo e eles trocaram um olhar cúmplice.
Eu queria tanto tirar o sorrisinho de seu rosto ao prensá-lo contra uma parede e socá-lo, que tive que me conter com todo a força de vontade do mundo, erguendo a sobrancelha para eles e batendo a porta em suas caras. Antes que eu pudesse fechar a porta, Noah já havia colocado seu pé no caminho para me impedir, e já estava entrando no quarto com Tyler atrás dele.
parou na porta do banheiro e arregalou os olhos ao ver os dois seres que invadiram nosso quarto. Depois, Noah soltou um assobio alto ao vê-la só de calcinha novamente, e gargalhou.
— Isso vai virar um hábito, xerife?
Dei um soco em seu ombro para que parasse de checar minha melhor amiga. Tyler também estava, mas bom, o Ty pode fazer o que quisesse com a .
— Porque eu já disse que não tenho problema com isso... – Noah disse esfregando o ombro que lhe bati e dando um pequeno sorrisinho para mim. – Mas é que duas vezes seguidas assim é...
— Duas vezes? – Tyler interrompeu-o, erguendo a sobrancelha.
pareceu ficar indignada com a atitude de Tyler, então, distraidamente, descruzou os braços para colocar as mãos na cintura e fingir indignação.
— Qual o problema dele me ver pelada?
. – Falei apontando com o queixo para seus peitos descobertos novamente. Ela grunhiu e entrou no banheiro, voltando já de sutiã.
— Já disse que gosto da atitude. – Noah reforçou e dessa vez eu fui até a cama somente para pegar um travesseiro e jogar em sua cara.
— Cala boca, Noah. – Nós três falamos ao mesmo tempo.
terminou de colocar sua roupa e sentou na cama de braços cruzados, parecendo entediada.
— O quê vocês querem, mesmo? – Perguntei sentando ao lado dela.
— Combinar o que faremos hoje à noite.
— Eu e a vamos ao Pure Nightclub.
Noah assobiou e se jogou sobre o sofá que ficava no canto do quarto.
— É um lugar bem caro. Mas pode ser uma boa ideia ir para lá.
— Vocês ficam prontas em quatro horas e nós nos encontramos aqui no corredor para descermos todos juntos? – Ty perguntou, colocando as mãos no bolso da frente da calça.
— Quatro horas? – ergueu uma sobrancelha para ele. – Em quatro horas eu não terminei de tomar banho.
— De jeito nenhum. – Concordei. – Nós nos encontramos na festa se der e pronto. Não vou marcar horário porque sei que não vou ser pontual.
— Meu Deus, estamos falando de quatro horas. – Noah suspirou exasperado e levantou do sofá. – Eu vou encher minha cara por enquanto.
— Bom, eu gostaria de começar a me arrumar, então. – saltou para fora da cama e começou a empurrar Ty para fora do quarto. – Beijinhos e vemos vocês depois.
— Te vejo na festa, rainha. – Noah sussurou na minha orelha antes de sorrir brincalhão e ir embora atrás de Tyler.
Ela bateu a porta na cara deles e revirou os olhos para mim ao escutar Ty dizer alguma coisa do tipo “É bom que vocês estejam bem gostosas para estarem gastando tanto tempo” e Noah concordar dizendo “É bom que elas estejam divinas, porque gostosas já são”. Depois minha melhor amiga sumiu para dentro do banheiro e eu me espreguicei na cama, algum tempo antes de levantar e encarar minha mala durante vários minutos.
— Missão quase impossível? – perguntou, surgindo atrás de mim e colocando as mãos em sua cintura e analisando sua própria mala.
— Missão falência. – Respondi e nós duas sorrimos tranquilas antes de começarmos a nos arrumar para nosso ano-novo.

’s POV.


O preço da entrada fora uma facada em meu pobre bolso, mas eu resolvi que valeria a pena, já que haviam umas duas pessoas consideravelmente famosas a cada dez metros. Meu look comprado na Black Friday combinava com a maior parte dos looks da festa: curto, brilhante e lindo. Usava uma saia de cintura alta rendada creme e uma blusa roxa de cetim por dentro, calçando um scarpin nude para combinar. Minha maquiagem destacava extremamente meus olhos, com um pouco de batom rosa claro nos lábios. Dessa vez, resolvi deixar meus cabelos lisos, então fiz uma escova rápida.
mal chegara e já foi abrir uma conta para bebidas em nosso nome. Minha menina. Sempre me matando de orgulho.
Holofotes de luz projetavam no céu e luzes alternavam de coloração conforme o ritmo da música eletrônica que tocava. Abri passagem com dificuldade atrás de Noah, até o bar, onde pedia tequila shots para nós. Talvez não uma boa ideia, já que na última vez apagamos completamente e ela sugeriu um ménage, mas quer saber? É noite de ano novo, então foda-se.
— Esse lugar é irado! — Gritou por cima da música, os peitos pulando para fora do vestido vermelho curto e colado. Os cachos loiros chamavam atenção e seus lábios vermelhos abriam um sorriso.
— Acho que vi a Lindsay Lohan por aqui. — Noah gritou, fazendo-nos rir. Era bem provável.
— Suas bebidas, senhorita. — O barman colocou dois copos de tequila sobre pires com sal e um pedaço de limão.
e eu trocamos um olhar e um sorriso malicioso. Colocamos o sal no dorso da mão que segurava o limão e o copo de tequila com a outra. Fizemos um sinal e ao mesmo tempo lambemos o sal, viramos a tequila e chupamos o limão.
— UHUL! — Gritamos juntas, em nosso pequeno ritual. Noah passou o braço pela cintura de .
— Cuidado, minha rainha, ou vai acabar trocando as pernas antes da contagem regressiva.
— Noah, você me subestima muito. — sorriu maliciosa. Ela mal havia se recuperado de um porre, estava procurando outro. Minha menina.
Olhei ao redor, tentando disfarçar, à procura do ser que faltava entre nós. Ele havia chego junto com a gente, mas havia tomado chá de sumiço, para variar. Joguei meus cabelos para trás e sorri para o bartender.
— Um Mojito, por favor.
— Dois! — completou, sorrindo maliciosa.
Pegamos nossos drinks e caminhamos ao redor da pista de dança, esperando alguma música que valesse a pena. Um cara tentou abordar , mas ele tinha um cigarro em mãos, então o dispensou delicadamente, se controlando para não jogar o drink em seu rosto quando ele sinalizou como se fosse apertar os seios dela e fez barulho de buzina. Totalmente desnecessário.
Noah havia ficado no bar, tomando um Martini, enquanto analisava suas presas como um leão espreita as gazelas. Silenciosamente, minuciosamente. e eu rimos do modo que seus olhos se estreitavam estrategicamente, à procura da melhor candidata.
Finalmente tocou uma música boa: Feel This Moment — Pitbull ft Cristina Aguilera. Arranquei pelo cotovelo para o meio da pista de dança e botei pra quebrar com o melhor de ser latina: o requebrado. sorriu para o ritmo que nós adorávamos para soltar o quadril e levou as mãos para o alto, sorrindo.
Joguei meu cabelo para trás, apoiando-me com força nos pés enquanto dobrava os joelhos e deixava meu quadril rebolar livremente. Fechei os olhos, dominada pelo ritmo e deixei-me requebrar, minhas mãos subindo por meu corpo e cabelo, bagunçando-o enquanto arriscava alguns passinhos entre os rebolados.
Quando joguei meus cabelos para o lado outra vez, consegui ver mais uma celebridade. Mas não qualquer celebridade. Dave. Fucking. Franco.
Não sei se vocês sabem, mas eu sempre tive uma queda pelo James Franco. Para ser sincera, pelos homens Franco. E lá estava o irmão dele. No canto da pista de dança, sorrindo abertamente com um copo de Gim com Tônica em mãos, observando a pista de dança com toda a sua sensualidade e masculinidade. Ele usava uma camisa branca de marca, calças jeans e eu não conseguia ver seus sapatos, mas quem liga? Tudo o que eu precisava ver estava bem ali.
estava alheia à tudo, trocando sorrisos com um homem realmente gato à nossa esquerda, alto, loiro e forte. Dei-lhe um tapa na bunda e ela me fuzilou por cima do ombro, mas voltou a sorrir para o loiro. Ele sorriu de volta e, Jesus, que sorriso.
Voltei meu olhar para meu delicioso Dave Franco e então percebi que ele me olhava enquanto eu dançava. Ele provavelmente esperava que eu quebrasse o contato visual, mas eu o mantive e ainda sorri para ele. Virei de costas, ainda o olhando por sobre meu ombro, com o mesmo sorriso. Meu sorriso especial que queria dizer “Vem cá, garotão.”.
Oportunamente, a música mudou para uma mais sensual, provocante.
Após alguns pequenos segundos sorrindo para Dave, dei-me por satisfeita quando ele retribuiu o sorriso e voltei a virar-lhe as costas, dançando ao ritmo da nova música.
já estava enganchada com o loiro, dançando num ritmo sensual. Ela sorriu para mim por sobre o ombro dele e deu uma risadinha com qualquer coisa que ele tenha dito em seu ouvido.
Então eu senti mãos em minha cintura. Mãos fortes. Mãos firmes. Mãos, definitivamente, de um Franco.
Senti meu coração bater tão forte que pensei que iria vomitar.
Deus.
Dave Franco estava me encoxando neste exato momento.
Em Las Vegas.
No Ano Novo.
Alguém me belisca porque isso só pode ser de brincadeira.
Virei-me para trás e encontrei aquele sorriso maravilhoso. Os olhos castanhos sensuais. O maxilar, oh Deus, aquele maxilar. Jesus, como eu vou aguentar tanta beleza, tão pertinho assim de mim e... AH MEU DEUS, ELE TÁ FALANDO COMIGO.
— Quer dançar comigo?
Meu coração. Oh, meu pobre coração. Se eu quero dançar contigo? Querido, por você eu danço até capoeira.
Dei-me um tapa mentalmente. Controle-se, mulher.
— Ah, claro.
Ele envolveu minha cintura com força e encaixou seu corpo entre o meu, nossos rostos na mesma altura, já que ele não era tão alto. Deixei a música me levar e rebolei de leve, fazendo seu corpo se mover junto ao meu, no ritmo da canção. Dave sorria malicioso, fitando meus seios discretamente, com suas mãos deslizando por minhas costas. Encostei meu queixo em seu ombro e rebolei, fazendo suas mãos descerem por meu corpo até a lateral de meus quadris.
Para minha surpresa, ele nos afastou e me virou bruscamente, então me encoxando e rebolando comigo, movendo seu quadril sensualmente contra o meu. Meu coração parecia que iria sair pela boca e meu corpo pegava fogo pelo contato de sua pele na minha. Suas mãos deslizaram desde as minhas coxas, pelas laterais de meu corpo, para minha cintura.
olhou-nos de soslaio, ainda dançando com o loiro, quando percebeu que eu dançava com Dave Franco e arregalou os olhos verdes, quase largando seu par para surtar com o fato. Sorri para ela em resposta. Sim, eu sei. As dívidas eternas que essa viagem me traria valeriam a pena.
Eu estava curtindo demais. Sua respiração contra meu pescoço e ouvido, nossos corpos unidos, sua colônia masculina me impregnando. Então ele me virou bruscamente de volta para si e me beijou. Senti um nó em meu estômago e fiquei tão em choque que demorei cerca de cinco segundos para me mover.
Os lábios de Dave Franco estava sobre os meus.
Dave Franco estava me beijando.
Senti que iria desmaiar, mas novamente me tapeei mentalmente e me forcei a levar as mãos até seus cabelos sedosos e arranhar sua nuca. Retribuí o beijo que fora feroz, procurando minha língua avidamente, fazendo-me suspirar alto. Ah, Dave Franco. Ah.
Nossos lábios se pressionavam e nossas línguas se entrelaçavam avidamente, seu perfume me impregnando. Deslizei minhas mãos por seu pescoço até a base de seu maxilar, sentindo a textura de sua barba rala. Suas mãos apertaram minha cintura com força, puxando ainda mais meu corpo contra o seu.
Eu não ouvia mais a música. Só sentia aqueles lábios hollywoodianos contra os meus, aquela colônia cara me embriagando, aqueles dedos famosos subindo por minha coluna me causando arrepios.
Minha cabeça girava e eu tentava não babar demais no beijo, deixando-o guiar.
Quando nos separamos, eu estava ofegante e sorria abobalhadamente, enquanto ele sorria para mim. Como era baixinho, seu único defeito, eu ficava ligeiramente mais alta do que ele, apenas uns dois centímetros, muito bem disfarçados pela moleza de minhas pernas e meus saltos não tão altos.
Acariciei sua nuca e olhei de relance ao meu redor. Olhei para o relógio da parede e reparei que faltava exatamente um minuto para a meia noite. havia sumido durante meu delicioso beijo com meu gato hollywoodiano.
— Vou buscar uma bebida. O que quer? — Perguntou Dave.
— Ah. Qualquer coisa.
— Champanhe?
Sorri.
— Pode ser.
Ele beijou minha bochecha e deslizou a mão de leve por minha bunda, sorrindo, enquanto sumia em meio à multidão. Olhei para os lados, procurando , mas sem encontrá-la. Dave iria me achar se eu andasse um pouco pela pista, não?
Resolvi dar uma volta em círculo por ela, esperando que e Dave me encontrassem enquanto eu sondava o local com meus olhos ágeis. Olhei novamente para o relógio. Faltavam 40 segundos para a meia noite.
iria me matar. Eu sabia que iria.
Chutei minha própria bunda mentalmente e a da loira. Como assim ela some e me faz procurá-la quando tenho Dave Franco na minha cola? Filha de uma puta.
Bufei alto e comecei a sair da pista de dança com dificuldade, tentando alcançar o outro bar do local, mais perto do parapeito que daria vista para os fogos de artifício.
25 segundos para a meia noite, constavam no relógio de uma das colunas do local.
Merda.
Merda.
Era muito bom que ou ou Dave me encontrassem neste meio tempo. Não queria passar a virada sozinha!
Lutei contra algumas pessoas somente para ver que o outro bar não tinha sinal de . Loira maldita.
Voltei correndo para o outro bar, enquanto as pessoas já começavam a gritar a contagem.
Dez.
Atropelei uma ruiva com vestido brilhante vermelho que me xingou.
Nove.
Pisei no pé de um homem barbudo.
Oito.
Avistei Paris Hilton em um dos lounges do local.
Sete.
Pensei ter visto na pista de dança, mas era outra loira, mas feia.
Seis.
Comecei a me desesperar e estagnei no lugar, no meio do caminho.
Cinco.
Olhar ao redor e não encontrar nenhum rosto conhecido.
Quatro.
Aceitei minha derrota e virei-me em direção à vista para a cidade.
Três.
Observei os prédios luminosos e as milhares de pessoas pulando de ansiedade perante os fogos que iriam logo começar.
Dois.
Sorri tristemente, pensando em , provavelmente perto de Noah.
Um.
Todo mundo gritou ao mesmo tempo “Feliz Ano Novo!” e várias garrafas de champanhe foram estouradas enquanto o céu se tingia de várias cores, provavelmente branco, vermelhos, azul, amarelo...
Mas não vi nenhuma dessas cores. Não gritei feliz ano novo.
Porque assim que todos gritaram o “UM”, Tyler me beijou.


Vigésimo Quarto


’s POV

.
Sinceramente, eu não me lembro do nome do cara loiro que estava comigo. Só lembro que ele me pagou uma nova dose de tequila e depois de dois ou três beijos eu o dispensei dizendo que ia ao banheiro. Para ser justa, eu fui ao banheiro.
Estava lotado, cheio de mulheres se acotovelando para conseguirem se ver no espelho, mas felizmente consegui um cantinho para mim onde retoquei meu batom e ajustei os peitos no vestido esmagador. Sai do banheiro sentindo que estava andando na corda bamba e a dose de tequila grátis do loiro não me pareceu ter sido uma boa ideia. Encostei-me ao primeiro bar que vi e dispensei vários caras que tentavam falar comigo, enquanto eu tentava pedir uma simples água para o bartender.
— Manda uma água aí, amigão. – Noah apareceu ao meu lado, agarrando o braço de um bartender e fazendo um gesto com a cabeça na minha direção.
Incrivelmente, um minutos depois a água estava na minha frente.
— Ah. Amém. – Suspirei tomando um longo gole dela. – Valeu, Noah.
Ele deu ombros e voltou a olhar na direção da pista, analisando todas as mulheres que passavam em seu campo de visão. Noah era um cara, aparentemente, com padrões altos para escolher suas vítimas, e descobrir isso me fez sorrir maliciosamente em sua direção quando este não prestava atenção, porque bem, eu havia feito dele uma vítima minha também.
— Lucrando muito? – Ele me perguntou do nada quando eu estava começando a trocar sorrisos com um cara do outro lado do bar que parecia cheio da grana.
— Talvez. Pesquisando o mercado. E você? – Respondi e sorri mais abertamente quando o homem acenou de leve para mim. Devolvi seu aceno, elevando meu copo na direção dele.
Antes que Noah pudesse me responder, o homem já havia levantado e estava vindo na minha direção. Ele parou entre eu e Noah, provavelmente achando que não nos conhecíamos e me ofereceu sua mão de dedos longos e finos. Mãos de pianista.
— Você gostaria de me acompanhar em uma dança...? – Ele fez uma pausa questionadora, esperando que eu me apresentasse.
— Kaya. - Menti mostrando meu melhor sorriso e aceitei sua mão. – E sim, por favor. – Noah fez um barulho que pareceu uma risada estrangulada e balançou a cabeça negativamente, mas não disse nada.
— Eu sou Thomas. – Ele respondeu puxando-me para fora de meu banquinho alto para envolver minha cintura pela lateral e começar a me puxar na direção da pista.
Não me importei em olhar para Noah, certa que ele acharia alguém para colocar suas mãos em alguns segundos e me deixei ser guiada até um canto da pista, mais próximo da varanda, onde os fogos de ano novo seriam jogados. Thomas tinha um cabelo bem cacheado castanho claro e olhos escuros, mas seu corpo era bem musculoso e seus lábios, apesar de finos, eram ótimos em beijar. Ele pressionava seu corpo contra o meu enquanto dançávamos e nos beijávamos, às vezes esquecendo-se de fazer um, às vezes esquecendo-se de fazer outro.
Escutei alguém ao meu lado dizendo que faltava um minuto para o ano-novo e me afastei brevemente de Thomas para olhar ao redor e procurar por . Mas ela não estava nem um pouco perto de mim, logo Thomas estava beijando meu pescoço e meu pensamento se distraiu. Enrosquei meus dedos em seus cachos macios e fechei os olhos enquanto aproveitava a situação, sem preocupações, até que as pessoas começaram a gritar a contagem.
Dez.
Thomas parou de beijar meu pescoço e me virou para a janela, me encoxando com vontade, enquanto suas mãos seguravam-me contra si pela barriga.
Nove.
Olhei ao redor novamente. Onde a estava?
Oito.
Thomas beijou meu pescoço novamente.
Sete.
Droga eu não ia conseguir achar a agora.
Seis.
Flexionei meus braços para trás e Thomas me encoxou mais ainda, seus lábios fazendo uma pressão forte contra minha pele.
Cinco.
Desisti de olhar ao redor e me concentrei em Thomas atrás de mim, demonstrando todos seus desejos.
Quatro.
Eu também o desejava levemente, diga-se de passagem.
Três.
Céus. Que lábios eram esses.
Dois.
Ele me virou abruptamente em sua direção e segurou meu rosto em suas mãos, um sorriso satisfeito em seu rosto.
Um.
Nós nos beijamos.
Alguns segundos depois de todos pararem de gritar e se cumprimentarem, nós nos afastamos e eu encarei seu rosto vermelho e um pouco suado pelo calor da multidão se abraçando.
— Preciso achar uma pessoa. – Eu falei e olhei para ele, dando-lhe um sorriso malicioso breve.
— Tudo bem, Kaya.
Ah é. Droga. Eu tinha mentido meu nome para ele.
— Nos vemos depois. Feliz ano-novo.
— Pra você também.
Eu acenei rapidamente e saí dali correndo, atravessando o mar de pessoas, comemorando e bebendo seus champanhes, a procura de minha melhor amiga. Onde essa vadia se escondeu? Depois de procurá-la em três bares, finalmente vi um rosto conhecido. Noah. Ele estava com o braço ao redor dos ombros de outra mulher, mas a largou assim que me viu e um sorriso deslumbrante apareceu em seus lábios enquanto me aproximei.
— Feliz ano-novo, minha rainha! – Ele gritou no meu ouvido por cima das comemorações das pessoas, enquanto me abraçava pela cintura com uma força quase esmagadora. Seu cheiro era uma mistura do álcool e do perfume de várias mulheres.
— Feliz ano-novo, gatinho.
Quando nos afastamos, a faísca entre nós já havia se acendido e imediatamente o foco de meu olhar já estava em seus lábios carnudos. As mãos de Noah em minha cintura me seguravam com um pouquinho mais de força e nós dois sorrimos ao mesmo tempo com a mesma ideia.
— Vamos ver se achamos primeiro.
— Eu sei onde ela está. Ali. – Noah apontou para um lado distante da pista e eu precisei de alguns segundos para ver o que ele estava apontando.
— Uau. – Suspirei ao ver minha melhor amiga enroscada com Tyler em um beijo apaixonante. Bom, eu sabia que isso uma hora ia acontecer. Pelo menos agora ela tinha um bom álibi por ter sumido.
Quando voltei a olhá-los, já estava separada de Tyler e logo ele foi embora, deixando-a sem fala.
— Vamos cumprimentá-la e depois subir. – Avisei Noah e ele assentiu colocando um braço ao redor de minha cintura enquanto eu ia atrás da minha melhor amiga por uma explicação.

’s POV.


Eu demorei alguns bons três ou quatro segundos para entender o que estava acontecendo. Acho que nunca, em toda minha agitada e digna de um filme de comédia vida, senti tantas emoções ao mesmo tempo. Surpresa. Choque. Alívio. Felicidade. Dor. Desejo. Desconfiança. Raiva. Mágoa. Alegria. Tudo misturado e tão rápido, que em somatória com os lábios de Tyler, roubaram meu ar e minha fala.
Tyler apareceu atrás de mim nos últimos dois segundos, não disse nada, somente me puxou pelo braço, fazendo-me girar e colando os lábios nos meus, no exato mágico último segundo do ano/primeiro segundo do próximo ano.
Suas mãos envolveram minha cintura com força e me puxaram para perto de si, unindo nossos corpos. Minhas mãos, por outro lado, estavam em seus braços, com o choque do impacto de nossos corpos e lábios.
Demorei para finalmente fechar meus olhos, o que me possibilitou ter certeza de que sim, o autor desse beijo repentino, era Tyler, meu melhor amigo que não havia dado sinal de vida em toda a festa.
Nossos lábios ficaram pressionados por algum bom tempo, até que sua boca se abriu e sua língua acariciou meus lábios, que prontamente se abriram.
Eu estava no piloto automático, então, não me julguem.
Elas se reencontraram com uma ferocidade e uma extrema saudade. Fazia mais de um mês e meio desde que beijara Tyler pela última vez, em meu apartamento. Mas eu ainda reconhecia seu gosto, a textura de sua boca por inteira, seu ritmo de beijar.
Uma de suas mãos envolveram minha cintura por completo, abraçando-me, enquanto a outra subia e se engrenhava em meus cabelos, até achar meu pescoço e então a lateral de meu rosto, acariciando-a. Minhas mãos subiram de seus braços fortes para seus ombros, uma delas indo para seu rosto e a outra deslizando para seu peitoral.
Ele rompeu o beijo ao terminar de morder meu lábio inferior, afastando nossos rostos e ficando com a mão em meu rosto.
Beijamo-nos pelo o que pareceu muito tempo, mas, depois, descobri ter sido num total de 25 segundos. O relógio da parede me ajudou a calcular.
Eu estava sem ar, provavelmente pálida e descabelada. Tyler possuía um brilho intenso em seus olhos negros e seus cabelos igualmente negros estavam desgrenhados. Ele ainda era pelo menos dez centímetros mais alto do que eu, agora com meu salto, portanto eu olhava para cima.
Com os lábios entreabertos de puro choque ainda, tentei dizer alguma coisa, mas somente gaguejei alguns “o... que...”
— Feliz ano novo, .
Encostou nossos lábios novamente em um selinho e me soltou.
— O que... Foi isso?
Seu sorriso parecia satisfeito e ao mesmo tempo culpado. Eu não sabia exatamente como me sentia sobre isso.
— Um beijo, gata.
Não consegui rir ou revirar os olhos, nem elevar as sobrancelhas. Continuei encarando-o. Pensei em perguntar por quê. Mas, no fundo, não achava que gostaria de saber, qualquer que fosse a resposta. Talvez... Fosse melhor pensar que... Sei lá. Ele me beijou. E pronto.
— Ah. Feliz ano novo, Ty.
Ele sorriu, pegou minha mão e beijou as costas dela. Então, ainda sorrindo, sumiu em meio à multidão.
Não sei quanto tempo fiquei ali parada. Talvez pouco, porque logo depois apareceu, os cabelos loiros esvoaçantes, os seios quase pulando para fora do vestido vermelho provocador. Mal percebi Noah atrás dela, sorrindo divertido, provavelmente por ter presenciado o beijo que Tyler havia me roubado.
Ela me chacoalhou pelos ombros algumas vezes.
. O que foi isso?
Seu sorriso rasgava o rosto de orelha a orelha.
Balancei a cabeça, tentando sair do estado de transe. Parecia quase impossível voltar a pensar claramente, mas me forcei a respondê-la com as mesmas palavras de Tyler:
— Um beijo.
, ao contrário de mim, revirou os olhos e me deu um tapinha no ombro.
— Eu sei, idiota. Quis dizer por que Tyler te beijou?
— Eu... Não sei. Na verdade, é o que eu quero saber.
Ela elevou as sobrancelhas. Noah se aproximou e piscou um olho para mim, como em aprovação. Lentamente, comecei a voltar ao normal. O choque começou a se dissipar. Complementei:
— Procurava você. Mas, ele me encontrou e me beijou, sem dizer nada.
— Certo. Como se sente sobre isso?
Balancei os ombros. Respirei fundo. Eram tantas coisas em minha cabeça. Noah esperava com as mãos nos bolsos calmamente, sorrindo divertido. Respondi sinceramente:
— Não sei. Não quero saber.
Noah tossiu.
— Se permite minha intromissão, devo dizer que achei o beijo bem apaixonado.
Eu o encarei com as sobrancelhas elevadas. lhe deu uma cotovelada, mas não negou nada.
— Foi só um beijo. — Afirmei. — Nada demais. Somos amigos. É ano novo. As pessoas se beijam.
Noah afirmou com a cabeça, com um sarcasmo tangente. deu alguns pulinhos, como se lembrasse de algo.
— AH! ISSO! É ANO NOVO! FELIZ ANO NOVO, ! — Pulou em cima de mim, já levemente alcoolizada, abraçando-me com força.
Deixei minha mente descansar um pouco e retribuí o abraço com força, sorrindo com o gesto, gritando um “feliz ano novo” de volta para minha melhor amiga. Noah nos abraçou também e nós o xingamos, rindo. Quando os soltei, percebi os olhos ansiosos de para Noah e percebi que os dois planejavam comemorar a chegada de um novo ano de um jeito bem prazeroso.
Revirei os olhos. Nunca imaginei que inverteríamos os papéis, você sabe, e eu. Porque ultimamente, ela vinha dando muito mais do que eu. Talvez fosse a idade, mas não fazia muito sentido, porque tínhamos a mesma idade. Será que eu estava na menopausa? Deixei o pensamento de lado e dei um tapa na bunda proeminente de naquele vestido vermelho provocante.
— Vai lá, safada. Dê por mim.
sorriu maliciosa. Noah me entregou a chave de seu quarto e eu assenti. me abraçou novamente e respondeu:
— Sim, senhora.
E saiu puxando Noah pelo braço rapidamente, se espremendo para fora da balada. Revirei os olhos e sorri para os dois que saíam correndo. Senti-me uma velha senhora observando as graças da juventude. Eca.
Foi então, olhando para a pista de dança, que percebi que havia esquecido completamente de Dave Franco. E, aparentemente, Dave também havia me esquecido.
Encoxava loucamente uma loira que usava um vestido de paetês que mais parecia uma blusa, Dave aproveitava sua noite sem nem lembrar da minha existência.
Droga. Seria tão bom poder contar para as pessoas do trabalho como eu havia transado com um ator famoso.
Dei de ombros. Não iria me rebaixar e ir chamá-lo na pista de dança. Eu não estava tão desesperada assim. Só um pouquinho. Pelo menos, pensei enquanto ia até o bar, eu o havia beijado. E isso já era uma história boa o suficiente para se contar.
Pedi mais uma tequila shot e virei-a rapidamente. Comecei a sentir o álcool subir. Pedi mais uma, só que dupla dessa vez. Virei. Fiquei sentada ali por uns bons quinze minutos, mas nenhum homem pareceu me interessar e Dave continuava com a mulher vagabunda de antes.
Dancei sobre a banqueta enquanto algumas músicas conhecidas minhas tocavam e tentei procurar com meus olhos turvos alguém que me interessasse. Avistei Pierre de longe e desviei o olhar o mais rápido que pude. Talvez eu devesse subir para o quarto, antes que o francês resolvesse tentar me reconquistar.
Como ainda não estava o suficientemente zonza, pedi mais um mojito duplo e mandei o bartender fechar nossa conta.
Saí do local com dificuldade, debatendo-me entre as pessoas, o mojito firme e forte em minhas mãos, meus lábios no canudo preto. Quando finalmente cheguei aos elevadores, já sentia minhas pernas mais leves. Talvez ter tomado tanto de uma vez só não tivesse sido uma ideia tão boa.
Entrei no elevador vazio e suspirei de alívio. Continuei bebendo meu mojito e puxei o celular que estava entre meus seios. Havia pouco de crédito, então somente mandei uma mensagem para meus pais de feliz ano novo, como eu o fazia todo ano (ok, quase todo ano, eram raros os que eu não estava completamente bêbada e incapaz de digitar).
Cheguei ao meu andar e caminhei trôpega até o quarto de Tyson e Noah. Talvez, só talvez, eu tenha errado seu nome de propósito. Mas nunca admitiria isso. Nem bêbada.
Entrei no quarto escuro e acendi algumas poucas luzes. Terminei o mojito e coloquei o copo vazio com hortelã sobre um móvel. Retirei os saltos e então senti o celular vibrar e tocar alto.
’s POV.


No elevador para o quarto, as mãos de Noah apertavam com força minha cintura puxando-me contra seu peitoral enquanto o elevador lotava de pessoas querendo voltar para seus quartos após beberem todas no ano-novo. Vários dos casais presentes queriam consumar o relacionamento ali mesmo, então fiquei satisfeita quando o elevador parou em nosso andar e eu me esmaguei entre as pessoas para sair dali.
— Ah merda, alguém derramou bebida em mim no elevador. – Noah resmungou olhando para sua blusa recém-molhada.
Eu sorri maliciosamente para ele antes de pegar o cartão do quarto de dentro do meu sutiã.
— Você não vai precisar da sua blusa, Noah.
— Adoro sua positividade. – Ele gargalhou segurando meu rosto com as duas mãos, e me puxando para um beijo, antes mesmo que eu conseguisse abrir a porta.
Os beijos de Noah sempre eram perfeitos. Essa noite, especialmente, sua boca estava com gosto das bebidas que ele tomava e a minha ainda tinha o gosto do cara que eu havia beijado há pouco tempo atrás. Qual era o nome dele mesmo?
— O quê foi? – Noah perguntou ao ver minha testa franzida e partiu o beijo.
— Eu estava tentando lembrar o nome do cara que eu estava beijando.
— Você só precisa lembrar de um nome agora, minha rainha. – Ele falou levando uma mão até minha bunda e apertando-a com força, fazendo-me gargalhar e dar outro beijo nele com vontade, que foi interrompido por duas senhoras de sessenta anos que passavam no corredor e limparam a garganta ao nos verem.
Elas falaram alguma coisa em alguma língua que nem Noah ou eu entendemos, mas balançaram as cabeças negativamente em nossa direção, enquanto seguravam pilhas de fichas de pôquer nas mãos e iam esperar o elevador chegar na dobra seguinte do próximo corredor.
— Velhas intrometidas.
— Elas tinham mais fichas de pôquer que você, garotão.
Noah bateu na minha bunda e pegou o cartão de minha mão, abrindo a porta de meu quarto.
— Você tá falando demais, esposa. Vamos arranjar alguma coisa para essa boca fazer.
Uma vez dentro de meu quarto, Noah colocou o sinal na porta para que não fôssemos interrompidos e eu me perguntei o que acharia disso, enquanto entrava no meu banheiro para poder escovar os cabelos, dentes e tirar o vestido apertado.
, eu vou jogar todas essas roupas em cima da cama no chão. – Ele avisou do lado de fora e eu soltei um barulho qualquer enquanto escovava os dentes. Espero que ele interprete isso como um tudo bem.
Passei um pente no cabelo e contorci-me inteira para poder abrir o zíper de meu vestido e me libertar de seu tecido apertado. Felizmente, minhas roupas íntimas eram de dar água na boca. Sutiã e calcinha rendados e vermelhos. Eu já fui saindo do banheiro enquanto lutava para soltar as fivelas do salto e encontrei Noah deitado sem sua blusa na cama, as mãos casualmente entrelaçadas atrás da cabeça. Ele sorriu satisfeito para mim e eu juro que vi os músculos deliciosos de sua barriga se contraírem levemente.
— Porra de saltos. Só atrapalham. – Reclamei me livrando do último e corri para a cama, subindo no colo de Noah com facilidade, uma perna de cada lado de seu quadril.
— Discordo, você fica muito gostosa neles. – Noah me empurrou um pouco para trás em seu colo e ergueu seu tronco usando os cotovelos como apoio. – Eu ia adorar transar com você usando saltos.
— Eu posso colocar eles de novo. – Murmurei enquanto passava as pontas dos dedos em seus ombros sardentos.
— Tarde demais. Agora eu quero transar com você assim mesmo e... – Ele fechou os olhos quando levei minha boca até seu pescoço e comecei a distribuir beijos por lá, mordendo o lóbulo de sua orelha lentamente e sentindo o corpo dele se arrepiar embaixo do meu. – Ah... Por Deus, .
Sorri contra sua pele e desci meus beijos para seus ombros, minhas mãos desceram até seus bíceps e durante alguns segundos os músculos de lá se contraíram ao máximo, depois, Noah desistiu, jogando o corpo para trás e usando seus braços para envolver minha cintura, enquanto suas mãos seguravam minha bunda empinada sobre ele.
— Noah, você tem os ombros mais bonitos que eu já vi. – Falei contra a pele dele e fui beijando suas sardas enquanto dizia. – Eu. Adoro. Pra. Caralho. Suas. Sardas.
Dava para sentir a ereção de Noah começar a crescer enquanto eu beijava cada sarda de seu ombro e com uma simples passada de mão minha, mesmo que por cima da calça, ele já ficou mais agitado. Uma de suas mãos segurava minha cintura na altura das costelas com tanta força que achei que talvez eu fosse ficar roxa por ali, enquanto sua outra mão procurava se livrar de meu lindo sutiã.
Assim que a peça foi embora, eu deixei de me inclinar sobre ele para poder dá-lo um melhor acesso aos meus seios. Imediatamente Noah puxou-me para trás e sentou na cama, colocando cada mão em um seio e apertando-os.
— Você é muito gostosa, puta merda.
Sorri mordendo meu lábio inferior e segurei em seus ombros com força quando senti meu corpo indo para trás para que minhas costas se arqueassem contra o toque, agora, da língua dele em um peito enquanto uma mão continuava a me provocar. Eu suspirei profundamente quando a mão que antes apertava meu seio desceu por minha barriga e adentrou minha calcinha, seus dedos começando a me masturbar devagar.
— Sabe que da última vez, você me fez gozar só com sua boca. – Noah sussurrou em minha orelha, colocando dois dedos dentro de mim enquanto eu gemia com seus estímulos.
— A culpa não é minha. Você é gostoso demais para não se chupar por inteiro. – Respondi olhando para baixo rapidamente para encontrar os botões de sua calça e começar a tirá-la. Levei meus lábios até os dele para concluir meu pensamento. – Vou fazer tudo de novo.
— Ah não, minha rainha, hoje quem vai fazer gozar só com a boca sou eu. E depois, enquanto eu te fodo.
Antes que eu respondesse ou processasse suas palavras, Noah me jogou deitada na cama com somente a força de seus quadris. Parou alguns segundos de me masturbar e começou a distribuir beijos por minha barriga, enquanto tirava minha calcinha. Ele apertou meus seios uma última vez, antes de usar uma mão para espalmá-la contra minha barriga e segurar meu quadril na cama e com a outra, abriu minhas pernas mais ainda.
E então... Meu Deus.
Oh...
’s POV.


Atendi-o.
— Alô?
— Feliz ano novo, minha modelo preferida.
— Ah, se não é Jace O’Haley.
— O’Maley.
— Tanto faz, loirinho. É O’alguma coisa de qualquer jeito.
Ele riu baixinho.
— Você está bêbada?
— E se eu estiver? Sabia que fico mais safada assim?
— Pensei que fosse impossível ficar mais safada, .
Sorri de leve e senti meu corpo começar a ficar menos pesado. Parecia que eu andava na lua.
— Hmmmm. Você não viu nada ainda.
— Mal começou o ano e já está se insinuando para cima de mim?
— Sabe como é, Jace. Preciso de dinheiro. Você consegue sessões para mim. É grande. E até que fode bem.
— Até que fode bem? Levarei isso como um desafio.
— Uhhhhh. Vai fazer o que comigo?
Sentei-me na cama, ficando mais animada a cada palavra que saía da boca de Jace. Quem precisava de James, ops, Dave Franco? Eu tinha Jace. Um fotógrafo com belos 23 cm de cacete.
— Assim que voltar de Las Vegas, venha para meu apartamento. Tenho algumas coisinhas para te mostrar, Srta. .
Arrepiei e escorreguei pela cama até os travesseiros, me apoiando neles.
— Não sei se quero esperar até voltar, Jace.
— O que quer dizer com isso, ?
— O que você acha de sexo pelo telefone?
Silêncio. Eu sabia que o álcool já havia subido e eu estava mais desinibida do que nunca e nem um pouco disposta a dormir como um idiota, como ontem. Não daria esse gostinho à Tyler e suas vadias. Se podia transar, eu podia também. Nem que fosse pelo telefone.
Jace soltou uma risada rouca.
— Quer que eu fale putaria pelo celular pra te divertir?
— Uhum.
— Eu... Adoraria.
— Quero te deixar duro só com minhas palavras, Jace. Quero que bata enquanto fala comigo, me imaginando aí.
Ouvi um gemido rouco pelo telefone e sorri maliciosa. Aos poucos, meu corpo começou a ficar quente e pulsar. Mais especificamente entre minhas pernas.
— Quero tanto te foder, .
Sorri novamente, percebendo que estava conseguindo provocar Jace ao ponto de fazê-lo começar a falar indecentemente. Sorria somente de pensar o que ele faria comigo quando nos encontrássemos.
— Assim vai me deixar molhada, Jace. — Murmurei.
— Ótimo. Assim fica mais fácil de te comer.
Apoiei o celular entre o ombro e meu ouvido, gemendo baixinho com esse comentário, enquanto puxava minha saia e então a jogava para algum canto do quarto. Segurei o celular com a mão esquerda e com a direita puxei os lençóis para cima de meu corpo, até minha cintura.
— O que você quer, Jace?
— Quero sentir você rebolar no meu caralho.
— Gostou do meu rebolado, é?
— Gosto de você inteira. Principalmente nua.
Gemi baixinho.
— Eu já estou duro, .
— E depois eu sou a safada? — Sussurrei enquanto acariciava meus seios com a mão direita por baixo da blusa roxa.
— Aposto que você está molhada agora.
— Uhum. Estou só de calcinha e blusa, deitada na cama com as pernas abertas.
Jace gemeu roucamente.
— No que está pensando, Jace?
— Estou te imaginando no meu colo, subindo e descendo no meu cacete.
Senti minha intimidade pulsar e passei minha mão por cima da calcinha, alisando-a com as unhas de leve, gemendo baixinho.
— Onde você está?
— No sofá da sala.
— Está alisando seu caralho enquanto pensa no meu corpo sobre o seu?
Jace gemeu roucamente e soltou um “uhum” falho. Minha intimidade pulsou novamente e eu coloquei alguns dedos dentro da calcinha, sentindo-me molhada.
— Diga-me o que pensa enquanto bate pra mim, Jace. Não para.
— Ahhhhhhhh, . Quero sentir sua bucetinha molhada.
Novamente, coloquei o telefone entre meu ombro e meu ouvido e arranquei minha calcinha, jogando-a longe. Logo em seguida, levei meu dedo médio para meu clitóris e comecei a fazer movimentos rápidos e circulares, soltando gemidos no telefone.
— Você está se tocando pra mim, ?
Respondi um “uhum” de leve e continuei com os movimentos, imaginando aquele membro enorme de Jace dentro de mim, aqueles fios loiros sedosos entre meus dedos, os olhos negros me consumindo...
— Ahhhhhhhh, . Quero sentir sua bucetinha molhada.
Eu estava começando a chegar em um ápice, quando percebi, vagamente, em um ponto de minha mente, que os olhos de Jace eram verdes. E então, os fios loiros que eu imaginava sob meus dedos, passaram a ser negros e curtos.
Quando a voz de Jace se transformou na de Tyler, eu soltei um gemido estrangulado, percebendo o que minha mente estava fazendo comigo. Então a voz de Tyler me chamou novamente e eu abri os olhos, somente para perceber, que infelizmente, aquilo tudo não era uma ilusão.
Tyler estava ali, à minha frente, observando-me enquanto eu me tocava seminua em sua cama.
Abri a boca em espanto, quase deixando o celular que me denunciava cair de meu ombro.
... O quê você tá fazendo? – Tyler perguntou com um leve tom de choque na voz.

Noah’s POV.


Puta que me pariu.
Depois de me livrar da terceira camisinha, joguei meu corpo contra o colchão ao lado de e suspirei alto.
— Dá para acreditar que nós vamos embora amanhã, já? – perguntou deitada ao meu lado, sua respiração ainda irregular.
Abri meus olhos e encarei-a. Os cabelos loiros bagunçados caindo ao redor de seu rosto, olhos verdes claros brilhando depois dos três orgasmos que eu havia lhe dado e os lábios vermelhos e inchados depois do orgasmo que ela havia me dado. Eu tive que reprimir as memórias do momento que acontecera durante a pausa entre a primeira e segunda camisinha para evitar ficar duro de novo.
— Eu não quero ter que arrumar minhas malas. é uma chata para organizar tudo.
— Eu só vou jogar tudo amassado dentro da mala. – Respondi, esticando meu braço para colocar minha mão sobre a barriga nua dela.
Puta merda. Ela gemeu. Respirei fundo e balancei a cabeça para afastar o tesão.
— Falando em ... – Ela disse sentando na cama. A simples visão de seus peitos cheios foi o suficiente para me fazer querer comê-la. De novo. – Dá o fora daqui. Ela pode querer dormir aqui.
— São três e meia da manhã. Ela deve ter achado algum lugar para dormir. – Falei já a puxando para cima de mim novamente, e plantando um beijo em seu pescoço perfumado.
— Noah. – Ela se afastou e sorriu meio desapontada para mim. – Acabou a camisinha, garotão. E eu estou exausta.
Sentindo minha animação embaixo dela novamente quando eu movi meu quadril contra o dela, riu e deu um tapa em meu ombro todo arranhado por ela.
— Você é uma máquina?
— Não. Você que é absurdamente gostosa. – Respondi dando uma bela olhada em seus seios e dando um beijo nos lábios dela, mordendo seu lábio inferior logo em seguida. - A gente tem que praticar, como você quer que nós comecemos a construir nossa grande linda família?
— Tchau, Noah. – Ela riu se levantando da cama e eu observei aquele corpo sensacional pular no chão e começar a caçar por suas roupas íntimas. Ela jogou minha cueca para mim e pegou um pijama de dentro de sua mala. – Vou tomar um banho antes de dormir.
Depois de sumir para dentro do banheiro, ouvi o chuveiro ligar e pulei para fora da cama, já colocando minha cueca também. Vesti minha calça e xinguei alto quando bati o mindinho de meu pé na quina da cama. Puta merda, isso dói pra caralho.
Não me dei o trabalho de colocar a minha blusa, só pendurei-a no ombro e gritei um “To saindo” da porta do banheiro e esperei que me respondesse com um “Beleza”, antes de bater a porta de seu quarto atrás de mim. Fucei nos bolsos da minha calça para pegar a chave de meu quarto, mas parei o que fazia ao ver Tyler entrando nele sem me perceber. Apressei meu passo para impedir a porta de fechar.
... O quê você tá fazendo? – Tyler perguntou, sua voz era tão chocada que nem perdi meu tempo olhando para ele.
Ao invés, olhei para nossa cama. Onde estava deitada. Seus olhos estavam tão arregalados que eu achei que eles fossem saltar para fora de seu rosto, que estava tão vermelho que parecia quase roxo. Ela tinha um telefone preso entre o ombro e a orelha. Estava só de sutiã e uma de suas mãos estava escondida embaixo do lençol, sobre metade de seu corpo, suas pernas estavam abertas e...
Puta que pariu.
— O QUÊ VOCÊS TÃO FAZENDO AQUI? – Ela gritou, derrubando o telefone de seu ombro e em seguida se recuperou para pegar ele. – Jace, desculpa, depois eu falo com você.
Tyler olhou para mim e eu tive que reprimir uma gargalhada. Essa era a melhor viagem da minha vida.
— O quê você tá fazendo aqui? – Tyler perguntou de novo, ainda parado como pedra na porta do quarto.
Passei por ele, lançando um sorrisinho malicioso para e andei calmamente até minha mala para pegar meu moletom. Um travesseiro voou na minha cara.
— Que isso, Noah? Tá achando que vai se juntar a mim? – fechou as pernas e sentou na cama, seu rosto ainda não havia se recuperando do vermelho.
— Por mais que isso seja tentador, não. Eu ia pegar meu moletom mesmo. – Agachei-me perto de minha mala e olhei para o chão ao lado da cama, onde estava a calcinha dela. Peguei ela e joguei em sua direção. – Ah, olha aqui tua calcinha.
jogou um segundo travesseiro na minha cara e imediatamente pegou a calcinha, tentando coloca-la discretamente embaixo dos lençóis. Tyler parecia dividido entre tesão e choque.
— E-eu... Eu tava falando com o Jace.
Ergui uma sobrancelha ao mesmo tempo que Tyler e ambos encaramos ela. Eu com um sorriso malicioso, Tyler com uma cara de quem foi eletrocutado com aqueles tasers. puxou sua saia do chão ao lado da cama e colocou ela, agora sem muita vergonha pelo que esta fazendo.
Quer dizer. Eu não teria vergonha. Sou completamente a favor de qualquer tipo de sexo.
Sexo por telefone pode ser divertido também.
Voltei a andar, indo em direção ao banheiro. Sem que visse, já que eu estava de costas para ela, falei sem voz para Tyler um “Aproveita a deixa, amigão”. Mas ele só me fuzilou com os olhos. Entrei no banheiro, fechei a porta e liguei o chuveiro, mas escutei a voz dos dois em uma conversa meio abafada, que se seguiu mais ou menos assim:
— O quê você tava fazendo com esse Júlio no telefone?
— Jace. O nome dele é Jace e não te... O que eu estava fazendo.
As vozes estavam ficando abafadas e difíceis de escutar com meu chuveiro ligado.
— Eu sei o... Mas por que você estava no meu quarto?
— Porque o seu amiguinho... - Entrei embaixo do chuveiro e perdi mais um pouco do papo emocionante. - ... com a .
— E você veio pro meu quarto ligar para o Juan?
— JACE. – gritou alto o suficiente para que eu escutasse e eu estrangulei um riso. Era óbvio que Tyler ainda estava errando o nome para provocá-la. – E ele que me ligou. Ai Tyler, eu vou dormir porque amanhã nós temos... Ainda arrumar a mala.
— Não, não vai não. Acha que pode... seu quarto assim?
— Sim. Eu acho. Porque você está... não temos nada.
— Então é isso? Você entra no meu quarto, resolve bancar o tele sexo com o Joseph na MINHA cama e vai saindo assim, falando que não temos NADA?
Fez-se um silêncio por um tempo. Aproveitei para começar a me ensaboar.
— Tyler...
— Se eu bem me lembro, eu tenho tanta intimidade com você quanto Jace. Eu também te fodi, lembra?
Ouch. Tyler estava ficando irritadinho.
o xingou de vários nomes em português e saiu do quarto gritando alguma coisa do tipo “seu canalha”. Tyler a seguiu para o corredor e então a porta do quarto se fechou, abafando as vozes.
Ai. Porra de dor de cabeça que isso ia dar.
Pelo menos ia poder afogar suas mágoas (caso alguma coisa desse errado entre o casal favorito dela) deixando com que eu me enfiasse nela. Literalmente.

’s POV.


Quando saí do quarto em minha caminhada da vergonha, os saltos na mão e o celular em outra, pensei que finalmente havia acabado aquela loucura, mas Tyler me segurou pelo braço com força e me girou, jogando-me contra a parede do corredor. Deixei o celular e os saltos caírem no chão e abri a boca para reclamar da dor, mas ele já estava gritando.
— Você não pode me dar as costas assim, . EU NÃO SOU QUALQUER UM!
— Eu NUNCA disse que era. Você, ao contrário, simplesmente ficou aí gritando como me comeu aos quatro ventos e como tinha direito sobre mim. Como se eu fosse sua propriedade!
Vociferei para ele, tentando me soltar de sua mão em meu braço. Ele apertou os dedos neles e seus olhos estavam sobre os meus, tão negros que eu não deveria conseguir lê-los, mas podia ver um profundo poço de raiva.
— Mas que porra, , você queria que eu reagisse como? Você estava se masturbando na MINHA cama enquanto falava com um homem que eu nem sei quem é.
Sua voz se distorceu e ficou mais grave, enquanto ele aproximava mais ainda o corpo do meu e abaixava a cabeça para continuar fitando meus olhos arregalados. Minha respiração estava acelerada e meu coração batia forte, descompassado.
— Você mesmo me disse que sou sua melhor amiga, mas posso transar com quem eu quiser. Então qual é a porra do problema, Tyler? Por que você pode ficar comendo outras e ficar sumindo, mas eu não posso nem me tocar?
Vi alguma emoção passar por seus olhos e sua feição mudar.
— VOCÊ É IMPOSSÍVEL! - Tyler gritou, soltando meus ombros e então socando a parede com força, seu punho cravado ao lado de minha cabeça, a poucos centímetros de mim.
Prendi a respiração, totalmente em choque com sua reação, sem palavras e com os olhos arregalados. Seu corpo inteiro tremeu e ele o colou contra o meu, pressionando-me mais ainda contra a parede. Eu podia sentir o bater de seu coração através de seu peito inflado, que subia e descia freneticamente enquanto ele respirava. Podia sentir todo o calor que emanava de seu corpo para o meu e as faíscas invisíveis que percorriam o ar.
Seus olhos negros me encaravam com a mesma intensidade.
Abri a boca várias vezes, procurando alguma coisa para falar. Então somente sussurrei:
— Tyler, eu...
Mas ele me beijou, as mãos segurando as laterais de meu rosto com força. Arfei surpresa, confusa. Era a segunda vez em menos de 24 horas que eu era beijada de surpresa.
Seu corpo estava tão pressionado contra o meu que não sabia o que me esmagava mais, Tyler ou a parede atrás de mim.
Levei minhas mãos até seu pescoço, abrindo minha boca por instinto e sentindo o calor e a maciez de sua língua na minha. Consegui sentir o gosto do álcool e ele provavelmente também sentia o gosto na minha boca. Suas mãos me seguravam com desespero e força, entranhando em meus cabelos bagunçados e os puxando com um pouco de força.
Meus dedos se entranharam em seus cabelos negros curtos, os mesmo que eu havia fantasiado há pouco. Suas pernas forçaram as minhas, fazendo com que seu corpo se colocasse entre elas. Tyler acelerou o ritmo do beijo, fazendo-me começar a perder o ar.
Suas mãos deslizaram pelas laterais de meu corpo com força e precisão.
Diferente do primeiro beijo de hoje, este beijo era bem mais intenso. Mais quente. Mais apaixo...
?!
Abri os olhos de imediato, empurrando Tyler para longe de mim, ao som da voz de no corredor.
Meus lábios provavelmente estavam inchados e vermelhos, meus cabelos desgrenhados e meus olhos arregalados. Eu respirava forte e rápido, desesperada por ar depois daquele beijo.
Tyler me encarou, os olhos negros profundos me perguntando alguma coisa que eu não consegui decifrar, enquanto eu encarava por cima de seu ombro. Ela parecia numa mistura de choque e um sorriso.
Impulsivamente, abaixei-me, peguei meus saltos e meu celular e passei por Tyler voando, que desse vez não me segurou.
Entrei no quarto e empurrei para dentro dele, fechando a porta atrás de mim.
, você sabe que...
— Eu vou tomar banho. Pode ir dormir, vou demorar.
Peguei meu pijama dentro da mala correndo, não deixando brecha para que ela falasse uma palavra sequer. Era coisa demais para processar na minha cabeça. Coisa demais para não surtar.
Quando finalmente entrei debaixo do chuveiro, deixei meus músculos relaxarem e consegui um pouco de paz.
O ano mal havia começado e eu já estava à beira de um ataque de nervos. Olá para você também, ano-novo.

***


Quando abri os olhos na manhã seguinte, dramaticamente maldizendo o mundo e todos os chácaras malditos de Jules, eu sabia que não era tão ruim assim, pelo menos não tão ruim quanto na faculdade.
não estava na cama, constatei ao rolar para o lado. Eu estava sozinha no quarto e isso deveria ser algo bom, mas não era. Porque ficar sozinha me faz pensar e refletir. Sim, às vezes, eu penso. Momentos raros de sanidade.
?
Noah bateu à porta.
Resmunguei. Talvez refletir e essas porras todas fosse melhor do que ter Noah falando como eu estava brincando de DJ ontem. Ah, maldita hora que eu resolvi tomar mais um mojito.
— Já vou!
Levantei-me lentamente, coçando os olhos, procurando minha mala. Nosso quarto estava um cu, sem falta de palavra melhor que conseguisse descrever. Mas, mesmo assim, consegui encontrar um shorts jeans, um sutiã e uma camiseta qualquer do Batman.
Penteei os cabelos com os dedos e abri a porta.
— Que foooi? — Falei em meio a um bocejo.
Ele se apoiou no batente da porta, aqueles olhos sedutores me observando e um sorriso descontraído no rosto.
— Oi. pediu pra avisar que foi tomar café, ir ao banco e então iria fechar a conta. Temos que fazer o check-out até às 13h.
Meu estômago revirou um pouco, talvez pelas bebidas de ontem.
— E que horas são?
— 12h.
Soquei-o no ombro.
— PORRA NOAH! Eu tenho que tomar banho e enfiar tudo na mala ainda. E o café da manhã?
— Tyler foi buscar pra você.
Senti meu estômago embrulhar. Olhei para Noah com os olhos arregalados e saí correndo.
— Poxa, não precisa ficar com medo dele não, ELE PROMETEU NÃO LIGAR PRO JUAN! — Noah gritou quando eu entrei no banheiro.
Levantei a tampa correndo e vomitei minhas tripas para fora, aquela sensação maravilhosa de despejar suco gástrico no vaso sanitário. Adoro.
— Malditos Mojitos! — Gritei.
Noah riu e saiu do quarto, desejando melhoras com um ar de quem se divertia com o meu sofrimento. Filho de uma meretriz.
Abracei a privada durante alguns minutos, esperando meu estômago aquietar. Dando-me por vencida, levantei-me, dei a descarga e escovei os dentes três vezes, na vã tentativa de tirar aquele gosto horrível de minha boca. Tomei um banho curto e rápido, enrolei a toalha na cabeça e procurei uma roupa para a longa viagem que teríamos hoje.
Vesti leggings pretas, uma regata branca com meu sobretudo azul bic e coturnos. Penteei os cabelos molhados lentamente enquanto observava minhas olheiras profundas. Ainda bem que resolvi usar uma parte dos três mil dólares para comprar maquiagem quando chegamos a Las Vegas.
Olhei para o relógio e eram 12h30. Precisava começar a arrumar essas malas urgentemente e a porra da loira não havia dado sinal de vida ainda. Maldita.
Então bateram na porta. Ah. Aleluia.
— Porra, , você foi pagar o hotel lá no Brasil foi... Ah. Oi.
Tyler elevou as sobrancelhas para mim. Em suas mãos, havia uma maçã e um copo de suco de laranja.
— Oi.
Olhei para a maçã vermelha, evitando seus olhos.
— É... Pra mim?
— É. Não consegui pegar um sanduíche, eles fecharam o Buffet.
Sorri de lado.
— Tudo bem. Obrigada.
Peguei-os de suas mãos com o máximo de cuidado para não encostar em sua pele.
Tyler me olhou com seus olhos negros profundos e comprimiu os lábios. Então virou as costas e saiu andando.
— Tyler!
Ele se virou.
DROGA. Por que eu tive que chamar ele mesmo?
Ah é, isso aí. PORQUE EU SOU IMPULSIVA BURRA E IDIOTA. Vai, trouxa, agora arranja alguma coisa decente pra falar.
— Suas malas já estão prontas?
Quis enfiar a maçã na minha narina por minha genialidade, mas somente sorri.
Suas sobrancelhas se uniram.
— Hã... Estão. Você deveria arrumar as suas logo. Estamos descendo para o carro já já, gata.
E, com isso, ele virou de costas e saiu andando novamente. Fechei a porta do quarto do hotel sorrindo, sem saber direito porque, mas extremamente feliz ao ouvir aquele tão usual “gata” que Tyler utilizava quando falava comigo.
Fui até as malas, mordi a maçã e a deixei presa na boca enquanto apoiava o suco no móvel ao lado da cama e pegava uma mala do chão e a colocava na cama. Eu já estava me babando toda quando soltei a mala sobre a cama, mas aí a porta do quarto abriu em um rompante e eu quase engasguei com a baba e a maçã e tudo.
!
— QUÊ? — Tentei falar com a maçã ainda na boca. Terminei de morder o pedaço e segurei-a com a mão. — O que foi, mulher? — Falei de boca cheia.
veio até mim com os olhos verdes esbugalhados.
— FOMOS ROUBADAS!
— QUÊ?!?!?! — engasguei com a maçã e teve que me dar vários tapas nas costas.
— É! SABE QUANTO CUSTOU A DIÁRIA DESSA MERDA?
Suspirei aliviada.
— Porra, , pensei que tinham roubado nosso dinheiro do cassino, nossa casa, sei lá. Não me mata de susto assim.
— SABE QUANTO TIVE QUE PAGAR NO CHECKOUT? — Ela continuou.
— Ah. Sei lá. Mil?
me segurou pelos ombros e me olhou seriamente.
— Três mil dólares, .
— NÓS FOMOS ROUBADAS!
— EU SEI! — Ela gritou e me abraçou, choramingando. — E ainda estamos sendo chutadas para fora! Temos vinte minutos para descer para o saguão, eles vem arrumar o quarto para os próximos hóspedes.
Empurrei gentilmente pelos ombros e olhei ao meu redor, querendo chorar, mas então uma ideia estalou em minha cabeça e eu fiquei completamente séria.
, você cuida do banheiro, eu cuido do quarto. Pega tudo deles. Shampoo, sabonetinho, touca de cabelo, toalha, até papel higiênico.
!
— ELES TÃO ENFIANDO O FACO E O CABO! TÔ NEM AÍ! — Gritei enquanto puxava os lençóis da cama e os enfiava desajeitadamente nas malas.
ponderou por alguns segundos, então pegou uma mala e foi para o banheiro.
Nós éramos ladras quase profissionais. Pegamos até dois travesseiros, que levaríamos na cara de pau debaixo dos braços. Escondidas, é óbvio. Mas no final resolvemos deixar os lençóis, porque ficamos com medo deles mandarem a conta para Nova Iorque. Eles tinham nossos nomes, afinal.
Quando conseguimos entrar dentro do carro com nossas malas, os meninos nos olharam com cara interrogativa perante os travesseiros.
apontou para Tyler.
— VOCÊ! Você nos enfiou nessa enrascada. Ah, como você tem sorte que a é rabuda, viu.
— É! Epa, peraí. — Falei olhando para ela.
— Se não fosse a ficha do cassino, estaríamos quebradas graças à esse hotel. Você sabe que a gente não tem grana!
— Ué, pensei que tinham aceitado porque estavam com bastante dinheiro. E mesmo assim, sabia que conseguiriam ganhar dinheiro no cassino para pagar as diárias. — Tyler deu de ombros.
Pensei em bater nele com o travesseiro, mas não sabia se estávamos bem o suficiente para esse tipo de agressão.
— ABAIXA, ! — gritou quando um funcionário do hotel se aproximou.
Sentei-me em cima do travesseiro rapidamente e o enfiou debaixo do banco.
— Sua chave, senhores. — O homem entregou e saiu cordialmente depois que Noah lhe deu uma gorjeta.
— Ufa. — e eu soltamos ao mesmo tempo.
— Vamos logo antes que eles resolvam verificar o frigobar — implorei, fazendo Noah gargalhar e Tyler sorrir de lado, mas sem conseguir me olhar nos olhos diretamente.
É. Seria uma longa viagem.

’s POV.


A viagem foi longa.
Tudo bem. Talvez não tanto assim, porque dessa vez, somente Tyler e eu dirigimos, então nós não precisamos atravessar a porra do Tennesse para voltar. Também tem o fato de Noah ter me distraído 100% durante o tempo que eu não estava dirigindo ou dormindo com agradáveis massagens e pegações.
De vez em quando, Tyler parecia prestes a pegar também. Mas ele não o fez. Não entendi o porquê. Pelo que Noah conseguiu me explicar - coisa que se recusava a fazer, porque não queria sentar e conversar comigo com a resposta que eu “daria uma de psicóloga”, porém é mais forte que eu, juro – eles haviam brigado porque minha querida melhor amiga tem ótimo senso de timing e foi fazer sexo pelo telefone com o Juan.
Sempre achei que o nome dele fosse Jace, mas Noah insistiu que é Juan.
De qualquer jeito, quando estávamos chegando em Manhattan novamente, somente a alguns poucos quilômetros de atravessarmos o Hudson River, demos um pulinho em uma hamburgueria fuleira para reabastecer nossos estômagos. Enquanto havia levantado da mesa para tentar convencer a garçonete que batatas deveriam ser cobradas junto do lanche e não como acompanhamento e Tyler havia ido ao banheiro, Noah – sentado na minha frente - começou a me chutar por debaixo da mesa com sua bota suja, tirando meu foco da rua que eu observava.
— Ai caralho, Noah. Quer parar de meter isso em mim?
Seu rosto se abriu em um sorriso lento e eu revirei os olhos.
— Meter sua bota na minha perna, seu nojento. Para de me chutar.
— Vou parar quando você prestar atenção em mim. Preciso falar com você. – Ele disse, os ombros tencionados.
— Que foi?
... A viagem foi ótima mas... Não foi nada de verdade, né? Foi tipo, tudo uma brincadeira, né? – Ele parou de falar quando comecei a gargalhar.
— Não se torture, bonitinho. É claro que foi tudo uma brincadeira.
Seus ombros relaxaram e ele olhou para o lado rapidamente, vendo Tyler voltar do banheiro com a sobrancelha franzida, após passar por uma exaltada com a garçonete. Sorri tranquilamente para ele e voltei meu olhar para a rua, quando Tyler afundou novamente no sofá ao meu lado.
ainda está discutindo sobre os acompanhamentos?
— Ela é cabeça-dura, campeão.
—Nem me diga. – Tyler retrucou, balançando a cabeça em uma risada baixa.
— Parece com um grande amigo meu – Noah completou e depois chutou minha perna, fazendo com que eu olhasse.
Eu já esperava o que viria a seguir: ele piscou para mim com um sorriso de lado malicioso. Revirei os olhos, mas tive que me segurar para não sorrir de volta com o mesmo nível de maliciosidade.
Homens.


Vigésimo Quinto


’s POV.


A viagem de volta para Nova Iorque fora ligeiramente mais curta, porque dessa vez seguimos o caminho correto e não fomos parar no Tennessee. E também porque não me deixaram dirigir.
Para ser muito sincera, não lembro muito bem da viagem. Depois da noite de ano novo, Tyler e eu estávamos meio que nos evitando. Ele sabia muito bem que havia quebrado o nosso acordo. Duas vezes. E eu sabia muito bem que havia gostado. Nas duas vezes. Mas não queria que nada mudasse.
Tentamos conversar, mas pediu para dormir comigo nas paradas, então não tivemos muito tempo sozinhos. Portanto, dentro do carro, o silêncio foi tumular.
Eu quase chorei de alívio quando os meninos nos deixaram em frente ao nosso apartamento.
Era manhã do dia 3 de Janeiro, mesmo dia que eu teria que voltar a trabalhar no Planeta Hollywood, à partir das 17h. Delícia.
— Bom, garotas, foi um prazer viajar com vocês. Precisamos repetir isso qualquer dia desses. — Noah anunciou, estalando um beijo em minha bochecha e um tapa na bunda de .
Tyler colocou nossas malas na frente do velho elevador e ficou nos encarando com as mãos nos bolsos, enquanto nós duas procurávamos as chaves nas bolsas.
Assim que o elevador chegou, olhei-o esperançosa, esperando que ele dissesse alguma coisa que melhorasse o clima entre nós, mas ele somente disse um “Até logo, meninas.” Então saiu atrás de Noah e entrou no carro.
Respirei fundo quando vi o carro partir e comecei a colocar as malas dentro do elevador.
, vocês não podem ficar adiando esse assunto para sempre.
Apertei o botão para o nosso apartamento.
— Eu sei. Pensei que depois que eu fui a casa dele, nós tínhamos resolvido e agora conseguiríamos ser amigos sem problemas, mas continuamos brigando por coisas idiotas. Sei lá.
reprimiu os lábios, como se fosse dizer alguma coisa, mas somente pegou suas malas e as puxou para fora do elevador que estava aberto agora, rangendo como um monstro robótico de 200 anos, dando para o nosso andar.
Puxei minhas malas e encaixei as chaves na porta do apartamento, suspirando pesarosamente.
— Bom, agora o melhor é tomarmos um bom banho e relaxar na sala e... — A voz de morreu assim que eu abri a porta do apartamento e demos de cara com o piso encharcado.
— Mas o que...?
Soltei a porta aberta e puxei as malas com dificuldade pelo chão molhado, confusa, tentando entender de onde vinha toda aquela água.
E quando parei no meio da sala, desejei nunca ter saído para Las Vegas.
...
Respirei fundo lentamente, as mãos tremendo, tentando me convencer de que tudo aquilo era uma ilusão.
— O que aconteceu com o nosso apartamento?! — gritou desesperada.
— JUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUUULES! — Gritei raivosamente, louca para pegar aquela hippie pelos cabelos coloridos e enfiar a cara dela na privada até ela se afogar.
correu para a cozinha, procurando alguns panos na área de serviço, mas soltou um grito tão alto que percebi que lá a situação não era muito melhor que a da sala.
Nossa querida televisão estava com um buraco no meio. Não, um buraco é eufemismo. Tinha um ROMBO no meio da nossa querida televisão. Pedaços da tela negra estavam espalhados pelo chão, misturados a cacos de vidro de copos que provavelmente haviam sumido da cozinha. O sofá estava com rasgos em várias partes, soltando espuma para fora, com uma mancha escura que só poderia ser queimado.
Larguei as malas ali no meio e levei as mãos à cabeça. Havia garrafas de vodka para todos os lados, assim como bitucas de cigarro e maconha. As cortinas estavam chamuscadas. Nossas plantas estavam mortas.
Juntei coragem e me dirigi até a cozinha, dando de cara com o cano da pia completamente estourado, mas nenhuma água saía dele. Havia um bilhete ensopado nas mãos de .
— Estava... Estava debaixo da porta... É um bilhete do zelador. A água estava escorrendo por baixo da porta e encharcando o corredor... Então eles fecharam a nossa água. - Ela murmurou com as mãos trêmulas, os olhos verdes arregalados.
Olhei para o micro-ondas quebrado, a geladeira desligada que alagava ainda mais a cozinha por estar degelando e nossa querida e tão suada máquina de lavar louça... Havia sumido.
Vários copos estavam quebrados, além de alguns pratos. começou a sair do estado de negação para a raiva. Eu podia ver seu corpo começar a tremer de raiva.
— Essa... Essa... Hippie doida! ELA DESTRUIU O NOSSO APARTAMENTO!
— EU DISSE QUE ELA NUNCA DEVERIA TER VINDO PARA CÁ!
apontou o dedo para mim.
— VOCÊ DEVERIA TER ME IMPEDIDO DE DEIXAR ELA MORARA AQUI!
— MAS ELA TINHA UMA MÁQUINA DE LAVAR ROUPA!
Nos entreolhamos em choque.
— A MÁQUINA DE LAVAR ROUPA!
Corremos para a mini área de serviço e encontramos a máquina. Intacta. Suspiramos de alívio.
— Pelo menos isso.
Senti uma pontada no estômago ao me lembrar de mais três pequenos detalhes. Os dois quartos e o banheiro. Ainda não havíamos checado.
Pesarosamente, arrastei meus pés pelo corredor com manchas nas paredes, não identificadas, e poças de bebida e vômito. Maldita hippie. Sempre nos enganou com aquela vibe paz e amor, sendo que na verdade era uma louca descontrolada que dava festas alucinadas com drogados sem noção. Nosso apartamento parecia palco de uma House Party Hollywoodiana.
Entramos em meu ex-quarto, viveiro do Muchu. Ele parecia basicamente a mesma coisa. Com o viveiro de vidro no mesmo lugar, mas as roupas de Jules não estavam mais todas ali. Havia alguns vestidos e umas três meias jogadas pelo chão. Parecia que ninguém ousou entrar no habitat reptiliano durante a festa.
Nosso quarto estava um horror. Havia roupas penduradas no ventilador de teto, as gavetas do guarda-roupa abertas, garrafas de bebidas no chão e um chamuscado de cigarro no colchão. A janela estava quebrada e eu consegui ver umas duas camisinhas no chão. Usadas. Eca.
— Eu vou matar aquela hippie. — resmungou enquanto entrava no quarto com cara de nojo, procurando alguma coisa ainda viável de se utilizar entre as roupas jogadas no chão.
Segui para o banheiro, somente para perceber a tampa do vaso sanitário quebrada, a pia entupida com vômito, o Box com sujeiras entupindo o ralo e a janelinha quebrada. Até a porra do espelho estava quebrado!
Depois de reconhecimento da área pós Festa-Da-Hippie-Doida, e eu nos sentamos no que antigamente era um sofá e encaramos a televisão quebrada. A porta do apartamento ainda estava aberta e as malas jogadas no chão.
— Meu Deus. Que enrascada que fomos nos meter. — Exclamei, colocando a cabeça entre as mãos.
— É.
pegou o celular e o BlackBerry e viu algumas mensagens.
— Edgar quer que eu trabalhe amanhã de manhã. Sua esposa viajou e ele tem algumas reuniões.
Inclinei a cabeça para trás e fechei os olhos, as mãos pressionando as laterais de minha cabeça.
— Tudo bem. Eu tenho que estar no Planeta Hollywood hoje às 17h.
— Ou seja, daqui 7 horas.
Xinguei alto, ficando de pé e colocando as mãos na cintura.
— Temos que dar um jeito nesse apartamento.
— Ahn, , o único jeito que podemos dar nessa bagunça é queimar tudo, porque, sabe como é... TÁ TUDO DESTRUÍDO NESSA PORRA!
— Mas... Eu ainda tenho um pouco de dinheiro do cassino! Podemos comprar algumas coisas novas.
— ALGUMAS coisas novas, ? Que tal um apartamento inteiro?
Chutei o sofá e gritei de raiva:
— EU VOU MATAR O TYLER POR MANDAR ESSA DOIDA MORAR COM A GENTE!
De repente, um barulho muito alto e metálico interrompeu nossos surtos, nos fazendo gritar alto e nos abraçar.
— O QUE FOI ISSO?
— EU NÃO SEI!
Respirando pesadamente, andamos abraçadas até a cozinha, de onde vinha o ruído metálico.
— AI MEU DEUS. É UM RATO. ERA SÓ O QUE ME FALTAVA. UM RATO! — Gritei desesperada.
— CALA A BOCA, ! PARECE QUE TÁ VINDO DO FOGÃO!
Respirei fundo e soltei um dos braços de para pegar na portinha do fogão.
— Ok. Respira. No 3, ok?
— Ok, . 1, 2... TRÊS!
— AHHHHHHHHHHHHHHHHHHHHH — Gritamos juntas enquanto eu abri a portinhola do fogão e Muchu pulava para fora, emitindo um som de lagarto doido enquanto se debatia no chão, provavelmente aliviado por conseguir finalmente respirar depois de alguns dias.
— MUCHU?
— ERAGON?
— Por que a porra da hippie doida deixou o lagarto dela aqui?
— Eu sei lá!
Olhei para a Iguana que se movia lentamente pelo chão molhado, emitindo ruídos que pareciam resmungos, então tive uma ideia.
— VAMOS MATAR A IGUANA EM VINGANÇA! — Gritei.
— O QUE? NÃO! Eu não vou matar animal nenhum! Vai que ele solta veneno quando em perigo? Ou sei lá, que ele é abençoado pelos chácaras e nós vamos pegar uma maldição se o matarmos?
— E daí? Não sei se ainda não percebeu, mas nós JÁ ESTAMOS AMALDIÇOADAS. E QUEBRADAS. E NA MERDA.
me chacoalhou pelos ombros.
. . Nós vamos sair dessa. Sempre saímos de todas as nossas enrascadas.
— É, mas essa enrascada é da Jules...
— TANTO FAZ. Me escuta. Vamos conseguir.
Respirei fundo.
— Tá.
— Pega uma vassoura pra cada uma e arranja uns panos e sacos de lixo. Vamos dar um jeito no apartamento.
— E o sofá? E a TV? E os canos?
se irritou, balançando as mãos agitadamente.
— EU SEI LÁ.
— Ok. Ok. Vamos pensar calmamente. — Eu me pronunciei, retomando a razão. — Vamos arrumar o que dá por enquanto. Depois eu vou me arrumar e vou trabalhar e você tenta chamar o zelador pra fazer o trabalho de encanamento.
— Certo.
— Amanhã procuramos alguma empresa pra tirar esse sofá nojento daqui.
— Certo.
Sorri satisfeita.
— Vai dar tudo certo. Temos tudo sob controle.
Muchu resmungou no chão novamente. Olhamos as duas para ele ao mesmo tempo.
— E o que vamos fazer com o Monstro do Lago Ness? — Perguntou .
Coloquei a mão no queixo.
— Hmmmmmm... Ele pode dar um belo de um ensopado.

’s POV.


e eu nos entreolhamos pesarosas quando percebemos que havíamos enchido o quinto saco de lixo e não havíamos saído da cozinha e da sala. Eu não conseguia nem contabilizar os danos que estávamos tendo e constantemente o pensamento de nossa conta negativa fazia minha cabeça latejar. Quando teve que ir para seu turno no Planeta Hollywood, eu fiquei em casa terminando de arrumar tudo.
Eu diria que aspirei toda a sujeira acumulada, mas nós não tínhamos o dinheiro para comprar um aspirador antes. Imagine agora.
Em troca, eu consegui tirar todo o lixo da sala e passei um pano nos armários (agora vazios) da cozinha. Eu já estava sentindo falta dos cinco copos de vidro que tínhamos e que agora estavam em um dos cinco sacos de lixos acumulados no corredor. Nunca pensei que eles fossem tão importantes. Acho que o que dizem é verdade. A grama do vizinho sempre é mais bonita que a sua. Só que no meu caso, o mais correto seria dizer “o apartamento do vizinho nunca está tão destruído como o teu”.
Depois de chorar silenciosamente alguns segundos ao perceber que algumas roupas que e eu havíamos deixado na maquina de lavar batendo antes de viajar, nunca foram retiradas e agora estavam encolhidas e mofadas, respirei fundo várias vezes e coloquei novamente as luvas de borracha amarela, peguei vários sacos de lixo e passei a arrumar o corredor. Achei três manchas de gozo seco no caminho até o quarto, e resolvi pular o banheiro com graciosidade – ia deixar esse prazer para minha querida melhor amiga. Expulsei Eragon de dentro do quarto, batendo a vassoura na bunda dele e ele chiou como um lagarto louco chiaria e saiu rastejando muito rápido do quarto. É. Eu estava começando a pensar que talvez ele desse um ensopado legal.
Três horas, metade da bateria de meu iPod e dois sacos de lixos depois – eu estava de braços cruzados em meu quarto, olhando para minha cama com os lençóis rasgados.
— Que porra fizeram aqui, hein, Eragon? – Perguntei para o monstrinho, que se encolhera em um canto do quarto enquanto eu arrumava tudo.
Arranquei os lençóis e tive que reprimir minha vontade de jogá-los fora pela janela quebrada. Puta merda, a gente ainda ia ter que pagar o conserto dessa merda de janela. O frio já estava deixando o nosso quarto parecendo um freezer gigante. Arrastando meus passos até as gavetas de roupas, fiquei quase aliviada ao perceber que as poucas roupas que havíamos deixado em casa ainda estavam ali. Fuçando mais um pouco, achei o kit de de costura e sentei no chão trazendo os lençóis para mim. Eragon se aproximou e eu fiz um “Sho bicho doido” para ele, que não entendeu o recado e parou um metro de mim.
Mais uma hora depois, eu sabia que chegaria daqui algum tempo. Sentei em nosso colchão, agora sem nenhum lençol, e fiquei feliz ao ver os pedaços antigos de nossos lençóis funcionarem como belas cortinas para impedir o frio cortante de entrar em nosso quarto. Forcei-me a levantar, quando ouvi uma batida na porta e gemi ao sentir meus músculos reclamarem depois de tanto esforço.
Era nosso zelador. Sr. Mikaelson. Um senhor de sessenta anos, vestindo macacão e carregando uma caixa de ferramentas.
— Srta. . – Ele me cumprimentou e já foi entrando na casa, fazendo cara feia para o carpete ainda meio inundado e quase tendo um infarto ao ver os estados de nossos canos.
— Você pode salvar alguma coisa? – Perguntei quando ele voltou para a sala com cara de luto.
— Posso tentar. Mas vocês com certeza vão ter que retirar o carpete e refazer a pintura nas paredes da sala. – Ele disse, e ao perceber minha testa franzida em confusão, apontou para um canto da parede que parecia estar inchado. – Infiltração.
— Merda. E bom, quanto vai custar tudo? As reformas na parede, o carpete, os canos...?
Minha voz foi sumindo enquanto eu percebia a lista interminável de danos. Nós estávamos fodidas. Muito.
— Bom, eu posso fazer os canos por 600 dólares. As paredes, se você pegar algum profissional, provavelmente vai sair dois mil, porque é preciso refazer o gesso. Mas se você quiser eu posso chamar meu sobrinho, ele me ajuda em algumas reformas aqui no prédio e nós podemos fazer mais barato.
— Ai meu Deus... – Suspirei levando as mãos até a cabeça. – Acho que tudo bem, você pode começar as coisas amanhã?
— Claro. Não vou poder ligar o registro de água hoje, mas talvez amanhã vocês já tenham água pelo menos.
— Tudo bem. E... Nós podemos pagar pelos serviços quando eles terminarem? Os danos gerais foram bem... Grandes.
O Sr. Mikaelson sorriu docilmente para mim e seus olhos eram cheios de compreensão e... Dó.
— Sem problemas... Eu também estaria louco com tudo isso, imagino que o dinheiro não vai estar fácil depois da multa.
— Multa? – Arregalei meus olhos.
— Ah, perdão. Eu não entreguei para você o papel? Como sou esquecido. – Ele tirou de dentro do bolso do macacão um envelope e me entregou com um sorriso triste. – Amanhã eu volto aqui e já começou meu trabalho com meu sobrinho, possivelmente.
— Ok. Obrigada. - Sorri, mas meus olhos ainda encaravam o envelope que ele havia me entregue e que tinha um símbolo da polícia.
Assim que o senhor Mikaelson saiu e eu fechei a porta, afundei-me no chão ao lado do sofá (já que não dava para sentar nele) e li o papel com mãos trêmulas.
“(...) Após uma segunda tentativa de controle sobre o perímetro ser ignorada, o(s) responsável(s) pelo estabelecimento estão recebendo uma multa por barulhos altos após o horário das vinte e uma horas, perturbação da paz e negligência às leis aplicadas pelo governo do estado de New York - leis de número (...) O período de pagamento da multa é de vinte e quarto horas, passado esse período o(s) responsável(s) pelo estabelecimento estarão pagando uma multa a parte de 400 dólares diários até a multa ser paga totalmente. (...) Passados sete dias mediante essa multa o(s) responsável(s) receberão uma nova notificação que exigirá a presença destes em uma corte de menor causa em um período e/ou serão levados em custódia pelas forças policiais até pagarem os custos que devem ao Estado.”
Então eu gritei e chorei.

’s POV.


POR FAVOR, pensei assim que cheguei ao meu prédio, que a água já tenha sido religada. Porque depois de dez horas trabalhando, tudo o que eu mais queria era um belo de um banho para retirar aquele cheiro de cerveja, hambúrguer e óleo de mim.
O Planeta Hollywood estava fervendo com seus milhões de turistas e eu havia faturado uma boa grana com gorjetas de brasileiros. Meus braços e bochechas doíam.
Assim que entrei no apartamento, suspirei de alívio ao ver o chão seco e limpo. Joguei as chaves sobre a bancada limpa da cozinha e segui para o meu quarto e o de , louca para me livrar dos mil casacos de frio que eu usava. A temperatura ainda estava negativa a maior parte do tempo em Nova Iorque, e demoraria para subir.
, você sabe se tem alguma coisa pra... — Interrompi-me quando dei de cara com deitada no chão em posição fetal. — Que porra é essa, Loira? Satanás veio cobrar sua alma, afinal?
A coisa deveria ser bem séria, porque não riu e tampouco me xingou.
Ela ficou se balançando enquanto abraçava as pernas e não me encarou.
— O... O papel...
Franzi o cenho e olhei para o seu lado, onde estava um papel amassado. Abaixei-me e peguei o papel do chão, balançando-o para conseguir ler. Li em voz baixa todas as palavras atentamente e fui sentindo meu coração afundar lentamente. Parecia que havia uma âncora em meu pescoço.
Eu havia passado o dia inteiro tentando me manter positiva e me esforçando para conseguir boas gorjetas, mantendo minha mente sã com o pensamento de que sempre nos virávamos, não importava a situação, havia reunido todas as minhas forças para enfrentar nossos problemas de frente.
— Então... Foram... 1200 dólares? De multa?
me olhou com os olhos tristes.
— É.
— Certo. Podemos pagar isso.
— Mais uns 2000 dólares para consertar os canos e as paredes com infiltração.
— Certo. Não podemos pagar isso.
Sentei-me no chão ao seu lado. Apoiei a cabeça contra a cama e respirei fundo.
... O que... O que vamos fazer?
Olhei para o teto. Porra. Tinha sujeira nele. Fechei os olhos e esfreguei minhas mãos em minhas pálpebras.
Normalmente, nessas situações, é quem segura as pontas. Ela é quem me dá um tapa na cara e manda eu me controlar. Mas, sinceramente, não acho que já tenhamos ficado tão no poço. Porque, além do nosso apartamento destruído, ambas estávamos com o emocional mais atrapalhado do que tudo.
havia acabado de terminar com o Charles (o inglês), mesmo que tendo o Noah para animá-la, ele foi bem cruel quando eles terminaram e acho que ela ainda pensava nisso às vezes. Charles (a iguana) não ajudava muito, já que além de termos que cuidar de um lagarto indesejado em nossa casa, ele sempre lembrava do seu Charles (o inglês) e também me lembrava de Tyler, porque sabe como é. Muchu mordeu o nariz dele.
E eu, bem, eu estava meio confusa com Tyler. Meio. E chateada por também, porque qual é, ela estava passando por uma barra.
Amanhã ela voltaria a trabalhar e teria que encontrar com o chefe corno dela que não sabe que é corno, o Sr. Del Toro.
Levantei-me e bati as mãos contra as coxas. Eu teria que fazer alguma coisa, mas sabia que não conseguiria sozinha, portanto, teria que tirar da fossa. Andei para a cozinha e ela me seguiu com os olhos verdes tristes, peguei uma caneta preta marcadora e voltei para o quarto. Tirei a blusa, virei de costas para ela e começar a tracejar minhas costas.
... O que você tá fazendo?
— Ah. Marcando o ponto das incisões.
— Quê? — Ela se remexeu um pouco no chão.
— Ué. Pra vender meu rim.
— O QUÊ?
— Você não disse que não sabia o que vamos fazer? Então. Vamos vender um dos meus rins.
Ela se sentou no chão. Pensei que tinha conseguido, mas ela somente fez um bico e disse:
— Talvez seja uma boa ideia.
Joguei a caneta no chão com força.
— JÁ CHEGA, . PARA COM ESSA PUTARIA. EU TAMBÉM TO NA MERDA, SABIA? MAS PRECISAMOS NOS UNIR PRA CONSEGUIR SAIR DESSA!
— Mas você disse que...
— E EU NÃO ACREDITO QUE VOCÊ QUERIA VENDER MEU RIM! SUA IDIOTA!
— Poxa, mas eu pensei que você queria...
Fiz um sinal com as mãos, mandando ela calar a boca. Respirei fundo e sentei-me na cama destruída.
— Ok. É isso. Vamos começar a procurar apartamentos no Brooklyn amanhã.
Então, naquele momento, pude ver voltar.
— MAS NEM FODENDO!
pulou e ficou de pé, os olhos raivosos.
— PIROU, ? EU NÃO SAIO DE MANHATTAN NEM FODENDO! É HUMILHAÇÃO DEMAIS!
— Você que disse que estamos na merda, que não vamos conseguir...
— NÃO QUERO NEM SABER! Eu NÃO VOU morar no BROOKLYN! Eu sou Nova Iorquina, pelo amor de Deus, eu preciso morar em Manhattan!
— ESSA É A MINHA BFF! VEM CÁ, ME ABRAÇA!
Pulei em cima dela e nos abraçamos com força, enquanto ela ainda tremia.
— Então... Não vamos morar no Brooklyn?
— Depende. Se você voltar a ficar depressiva, sim, vamos morar lá.
Ela suspirou.
— Nunca mais ficarei depressiva na minha vida.
Sorri e a abracei com força.
— Esse é o espírito.
sorriu de volta e retribuiu o abraço. Apertei-a com força e então a soltei, sorrindo.
— Bem. Agora que você tá melhor, precisamos nos focar.
Ela bufou. Olhei ao redor no quarto, procurando minha bolsa com os olhos. Achei-a e tirei a carteira.
— Depositamos somente uma parte do dinheiro em Las Vegas. Temos uns seis mil dólares do cassino ainda, já que pagamos o hotel na volta e combustível.
— Quatro mil e quinhentos. Tive que pagar o aluguel. — comentou.
— Certo. Então temos mais 1200 para pagar a multa. Quanto sobra?
Olhei para ela. levantou os dedos e começou a contar.
— Porra, loira, você não sabe?
— AH, como se você fosse um gênio na matemática! — mostrou o dedo do meio.
— Não sou, mas sei que sobra 3300 dólares.
— SÓ ISSO? — Ela gritou, começando a surtar novamente.
— Brooklyn...
— Ok, parei.
Joguei o dinheiro de volta na bolsa e bufei alto.
— Vamos fazer o jantar. Estou exausta e nem vou poder tomar um banho.
Comentei enquanto saía do quarto, Muchu me seguindo ao ouvir a palavra “jantar”, com atrás de mim. Entramos na cozinha e eu abri a geladeira, procurando alguma coisa.
— Você poderia tomar um banho na casa do Tyler... — comentou casualmente atrás de mim.
Fechei a geladeira do força e virei-me para ela. Não havia nada dentro dela mesmo.
— Que tal... Não?
— Ah, qual é , você sabe que precisamos da ajuda dele! Estamos na merda!
— Não é culpa minha se você terminou com o inglês milionário! Ele poderia ser muito útil agora!
fechou a cara e cruzou os braços. Pude imaginar Muchu fazendo o mesmo se estivéssemos em um desenho animado.
— Você sabe que eu não estava com ele pelo dinheiro.
— Sim, eu sei. Foi mal.
Ela resmungou alguma coisa e pegou um telefone de delivery da geladeira. Eram quase 3h da manhã, mas China In Box era 24h, então foda-se.
ligou e fez o pedido, enquanto eu alimentava Muchu com uns restos de comida podres que eu trouxe do Planeta Hollywood. Nesse sufoco todo, acabamos aceitando a presença do lagarto, mesmo ele lembrando Jules e Chuck, porque assim como nós, ele também foi abandonado.
O apartamento, apesar dos canos quebrados e os móveis danificados, estava limpo. havia lavado o chão enquanto eu estava fora e nós conseguimos tirar toda a sujeira em constantes sacos de lixo. Amanhã eu trabalharia dois turnos, mas teria uma pausa de 3h entre eles, então aproveitaria para passar no banco, ligar para alguma empresa retirar o sofá e procurar Jace. Eu precisava desesperadamente de uma sessão de fotos.
Quando desceu para pegar a comida, que com muito custo pagamos com 20 dólares, sem bebida ou gorjeta (o cara deve ter nos xingado, mas qual é, estamos pobres), eu fiquei sentada no chão do quarto.
Havia passado as últimas horas segurando as pontas. Eu. , a louca.
Minha cabeça latejava e eu sabia que não era somente pelos problemas do apartamento. Também sabia quem poderia nos ajudar e me acalmar. Mas não iria atrás dele.
Não de novo.

’s POV.


— Foi mal, Maria Sofía. Minha cabeça está cheia. – Suspirei, pegando um pano para secar o copo de leite que eu derrubara indo levar para Anna.
— Tudo bem, . Tá tudo legal com você? Sua cara não está muito saudável.
— Vai dar tudo certo. – Limitei-me a responder, dando um sorriso fraco para ela e enchendo o copo novamente. Pelo menos os copos de Anna são de plástico.
Peguei o segundo copo, de Theo, que era estilizado com o tema do super-homem e o enchi de achocolatado morno. Fechei a lancheira de Anna, assegurando-me que o copo não vazaria e seu lanche não amassaria e saí da cozinha, deixando-a junto da mochila, já separadas na sala.
Andei silenciosamente pelo corredor da casa, entrando no quarto de Anna para acordá-la.
— Anna... Vamos acordar? Você tem que voltar para a aula hoje... – Sussurrei em seu ouvido, enquanto levantava seu corpo com delicadeza do colchão.
Os olhos inchados me sobressaíram primeiro. Eu conhecia bem olhos inchados, mas não em crianças. Afundei sentada em sua cama trazendo-a para mais perto de mim enquanto ela esfregava seu rosto sonolento com as costas da mão.
— Anninha, você chorou? O que aconteceu?
Ela resmungou alguma coisa que não deu para entender, devido à sua voz sonolenta, mas abraçou meu pescoço com os bracinhos finos com força e eu deixei que ficasse alguns minutos na posição, enquanto eu afagava suas costas delicadamente.
Levantei, deixei com que ela fosse para seu banheiro e separei seu uniforme do colégio particular, para depois ir atrás de acordar Theo. No corredor, trombei com a Sra. Delawicz.
— Ah, é você. Que susto, garota. – Ela chiou.
— Foi sem querer.
— Bom mesmo. – Ela fez careta e arrumou a bolsa nos ombros. – Estou levando meu motorista para fora da cidade, vou sair com o Mason hoje. Não tive tempo de aproveitar o feriado com ele já que o idiota do Edgar ligava o tempo todo porque Anna queria falar comigo.
Eu ignorei 90% de sua frase.
— Preciso do motorista para levar sua filha no colégio.
— Ah, por favor. Vá de metro.
— Ela é sua filha. De seis anos. Você quer que eu ande de metrô com uma criança?
— Tenho certeza que Edgar pode levar vocês, então. – Ela balançou a mão como se estivesse dando fim a um assunto qualquer e começou a ir embora.
Segurei seu pulso.
— Seu marido já foi trabalhar porque tinha reunião de manhã. E eu não posso e nem vou levar sua filha para o metrô só porque você está afim de pular a cerca um pouco. É absurdo.
— Garota, me solta. – Ela puxou seu braço de meu aperto. – E não fale comigo desse jeito, eu ainda pago seu salário. Absurda é você, sua abusada.
— Eu ainda não contei para seu marido o que você faz ao invés de ir trabalhar.
— E nem vai, cachinhos dourados. Se você contar, não vai conseguir nada além de um belo processo nas costas que eu vou inventar e jogar em cima de você.
A porta atrás de nós se abriu, e Anna apareceu já vestida com o uniforme, com uma escova e tiara nas mãos. Ela se aproximou da mãe e ergueu as mãos em sua direção, como um pedido para que ela a ajudasse.
— A empregada faz isso pra você, Anna. – A Sra. Delawicz sorriu friamente na direção da filha e eu tive vontade de socá-la até a morte quando os olhos de Anna marejaram.
Peguei-a no colo rapidamente e lancei um olhar que eu esperava que enviasse milhões de facas para dentro do corpo dessa mulher safada, nojenta e venenosa. Depois virei às costas e entrei no quarto de Theo.
Levei Anna até a suíte de seu irmão, ainda sem acordá-lo e sentei-a sobre a pia.
— Anna, fica aqui. Vou acordar seu irmão.
Theo estava enrolado no cobertor com vontade, seus cachos espalhando-se sobre seu rosto e sua boquinha meio aberta. Perguntei-me se Edgar seria como o filho enquanto dormia. Balancei os ombros do pequeno lentamente, enquanto sussurrava para que acordasse e sentei-o na cama, calmamente, enquanto agachava à sua frente e começava a tirar seu pijama para colocá-lo na sua roupa do dia.
Quando terminei de colocar a calça em Theo e ele apagou novamente contra seu travesseiro, voltei para o banheiro e encontrei Anna ainda segurando a tiara e a escova com uma cara de abandono.
— O que vamos fazer com essa juba hoje, hein? – Perguntei cutucando-a na barriga.
— Trança.
— Trança? Meu Deus, mas assim você vai parecer a Rapunzel, que nem semana passada! Que tal fazermos um rabo de cavalo bem chique?
— Okay.
Penteei seus cabelos com calma e fiz o rabo tomando cuidado para não prender com muita força seus fios, depois coloquei a tiara em sua cabeça e tirei-a da pia, colocando-a no chão, agachando na sua frente.
— Você está linda, Anna. Ok? Não pode ficar tristinha, porque você fica bonita sorrindo.
Ela assentiu para minhas palavras e eu cutuquei sua barriga, onde eu sabia que ela sentia cócegas, fazendo-a rir quase histericamente.
— Vai para a cozinha comer alguma coisa, que eu vou levar seu irmão para lá também daqui a pouco. – Disse dando um tapinha em sua bunda e ela saiu do quarto dando uma risada gostosa de criança.
Pegando Theo no colo, levei-o até o banheiro, enquanto o pequeno ainda choramingava em sono e lavei seu rosto, deixei-o usar o banheiro e lavei suas mãos. Depois peguei seu casaquinho e vesti-o com ele, que aproveitou o fato de ter levantado os braços para prendê-los ao redor de meu pescoço e não largar mais.
Carreguei-o até a cozinha e encontrei Anna, já comendo um lanche feito por Maria Sofía.
— A Sra. Delawicz foi embora com o motorista?
— Foi. – Maria Sofía fez uma careta. – Mas já chamei o serviço de táxi, vai levar você até a escola de Anna.
— Valeu. – Respondi puxando minha bolsa de passeio para o ombro que Theo não estava dormindo e estiquei a mão para Anna. – Vamos flor, senão nos atrasaremos. Dá tchau pra Maria Sofía.
Anna seguiu meu conselho, beijou a minha colega de trabalho no rosto e foi para a sala pegar sua mochila e lancheira. Nós descemos no elevador de mãos dadas e meu braço começava a dormir com Theo em meu colo, mas não tentei trocar o pequeno de lado até que estávamos sentados dentro do táxi pedido.
Chegando no colégio de Anna, desci junto dela, tomando cuidado para não derrubar Theo e a segui até a entrada do prédio do primário, como sempre fazia. Ela sorriu para mim, acenando animada e subiu as escadas até sua professora, cumprimentando ela antes de sair correndo para se juntar às suas amigas que já estavam entrando no colégio.
Eu já estava virando de costas quando uma mão tocou em meu braço, que segurava Theo, para chamar minha atenção. A mão era de uma mulher lá pelos seus quarenta anos, simpática, que eu reconhecia como a professora de Anna.
— Oi. Desculpa. Eu sou a Sra. Carmell, você é a mãe de Anna, não?
— Hãn... Não. Eu sou a babá dela. .
— Ah, bom. Mas você que toma conta dela, não é ? Eu preciso falar com algum responsável por ela e seria ótimo se você tivesse alguns minutos para falar comigo.
Olhei de relance para Theo, apagado em meu ombro.
— Posso arranjar um sofá para você colocá-lo. – A Sra. Carmell completou com um sorriso compreensivo para mim.
Concordei e acabei seguindo-a para dentro do prédio do primário. Passei por várias salas cheias de crianças gritando e rindo, professoras se preparando para iniciarem suas aulas e até mesmo vi Anna entrando em sua sala, o rabo de cavalo balançando em sua cabeça quando ela fazia movimentos animados para suas amiguinhas.
Entrando em uma sala confortável, a Sra. Carmell apontou para um sofá de couro onde ela esticou um pequeno pano para que eu pudesse deitar Theo e assim que o fiz, senti meu braço formigar com o sangue voltando para o lugar. Sentei na beira do sofá, na frente de Theo, para que ele não tivesse o perigo de se revirar e cair, e voltei-me para a professora.
— Como posso ajudar?
A mulher revirou a gaveta de um dos armário de arquivo e trouxe em minha direção uma pasta. Ela puxou sua cadeira e sentou na minha frente.
— Nós temos percebido que Anna mudou drasticamente algumas de suas ações aqui e queríamos saber se vocês, responsáveis, saberiam nos ajudar a entender o por quê. Veja... – Ela tirou um bando de papéis de dentro da pasta. – Esses desenhos são do começo do semestre.
Eram desenhos da família de Anna e pareciam normais para uma criança de seis anos.
— E estes são os desenhos antes do feriado e do último mês.
Novamente os desenhos eram de família, porém dessa vez, só haviam três pessoas desenhadas. A mãe de Anna havia sumido.
Isso não é bom.
— Ah... Uau. – Respondi analisando tudo. Os padrões de cores não havia mudado, tudo ainda tinha um tom claro e vívido. Mas a falta da mãe dela era meio... Chocante. – Eu não sei como posso te ajudar a entender isso, Sra. Carmell.
— Senhorita , é preocupante a exclusão da mãe dela. Os professores acharam que alguma fatalidade poderia ter acontecido, mas nada foi avisado para a escola.
— Não. A mãe de Anna é viva. Ela só é uma figura... – De uma salafrária, nojenta, sem vergonha e cachorra. – ...Ausente.
— Entendo. Talvez um pedido para a mãe comparecer às reuniões do colégio seja bom para relembrá-la da importância de sua presença para Anna.
— É... Também acho. Infelizmente eu não tenho tanta afinidade com a mãe.
— E o pai? Edgar sempre vem nas reuniões e é muito presente. Podemos ligar para ele?
— Claro. O que acharem melhor.
A Sra. Carmell concordou com um sorriso e se levantou, folheando o arquivo sobre Anna até achar o número de Edgar e discá-lo.
— Senhor Delawicz? Aqui é Emily Carmell, a professora de Anna. Tudo bem? – Alguns segundos de silêncio se passaram. – Sim, sim, está tudo bem com Anna. Na verdade eu liguei para o senhor porque encontrei a senhorita ... Sim, ela quem trouxe Anna para o colégio... Então, nós temos um assunto importante para discutir e precisava marcar uma reunião com o senhor. Ah, claro! Tudo bem. A senhorita vai te deixar a par do assunto e...
Theo se remexeu atrás de mim e eu olhei-o de relance.
— Pode sim, senhor. Um segundo. – A professora parou de falar ao telefone e olhou para mim. – Ele quer falar com você.
Levantei-me confusa e peguei o telefone de suas mãos.
— Alô?
? Você pode vir no meu serviço falar sobre o que a professora quer? Estou ficando preocupado. – A voz de Edgar no telefone era tensa.
— Hãn... Claro. Okay. Mas eu estou com o Theodoro.
— Pode trazer o Theo. Obrigado. Vou mandar o endereço para o motorista.
— Ed-Edgar, sua esposa levou seu motorista para o resto do dia. Eu vou para aí de táxi mesmo. Mande o endereço para o BlackBerry, ok?
— A Mary Ann fez o quê? Ela deixou você sem motorista?
— Bom, é.
— Puta... Desculpe. Tá. Eu mando no BlackBerry. Obrigado, até.
— Até.
Coloquei o telefone no gancho e sorri para a professora, enquanto pegava Theo novamente no colo.

’s POV.


Lá pelas três e meia da tarde, quase no final do meu turno de almoço, eu estava limpando uma mesa quando uns três garotos chegaram. Eles se sentaram e eu vi que nenhum outro garçom estava disponível no momento, então coloquei o pano dentro do bolso do meu avental preto e ajeitei meu cabelo.
Quando me aproximei da mesa, vi que eles sussurraram e deram risinhos entre si. Parei à frente deles, todos com mais ou menos 17 anos, até que bonitinhos.
— Olá, Bem Vindos ao Planeta Hollywood — Sorri. — Eu sou e vou atendê-los hoje, ok?
Antes que eu pudesse virar, um deles tossiu e se pronunciou:
— Ei, você não é a garota do outdoor?
O amigo dele cutucou ele, resmungando um “Cala a boca cara, ela é a garçonete!”
— Ahn, qual outdoor?
— Viu, eu disse que não era ela.
Sorri sem jeito.
— Mas parece muito! — O loiro que me perguntou inicialmente insistiu.
— Moça, você é modelo?
Elevei as sobrancelhas para a pergunta direta do amiguinho do loiro.
— Ahn... Eu só fiz uma sessão de fotos na vida, então não acho que...
— Mas você fez pra qual empresa?
— Levi’s.
— EU SABIA! É ELA, CARA! — O loiro disse animado.
— Não pode ser! — O moreno insistiu.
Finalmente, o terceiro amigo, ruivo, se manifestou.
— Só tem um jeito de saber.
Eles se entreolharam. Naquele momento eu só queria que eles me dissessem logo que droga de outdoor era esse.
— Hm, , né? — O loiro disse.
— É.
Olhou o cardápio rapidamente e sorriu.
— Queremos umas Coca-Colas, por favor. Três.
— É. Com gelo.
Franzi a testa, confusa com tudo aquilo, mas anotei o pedido e sorri.
— Ok, pode deixar.
Então saí para o bar para pegar as bebidas e não dei nem dez passos até que ouvi todos eles pulando e falando alto demais.
— EU SABIA! EU DISSE QUE ERA ELA! Olha só a bunda!
Tá bom, pensei, JÁ CHEGA. Virei e voltei correndo para a mesa e apoiei as duas mãos na mesa.
— Pode ir me falando AGORA que outdoor é esse e que história engraçadinha é essa, seus pivetes.
Os três me olharam alarmados, os olhos arregalados.
— O outdoor... Perto do Manhattan Mall. Você... Você tá nele, moça.
Arregalei os olhos.
— Não. Claro que não.
— Olha, moça, se não é você, é sua gêmea e ela tem a bunda igual a sua...
— Mas... Não é possível!
Meu Deus. Eu estava com a bunda empinada para toda Nova Iorque ver. E EU NEM ESTAVA SENDO PAGA POR ISSO!
— Bom, então a gente se enganou, , desculpa...
Virei as costas pra eles e saí correndo pelo restaurante, entrando no escritório de Lisa, minha chefe, com os cabelos no rosto e um olhar meio doido.
— Preciso sair mais cedo pro almoço. É uma emergência.
Joguei meu avental e o palm em cima da poltrona da sua sala e saí correndo para o vestiário para pegar minha bolsa antes que minha chefe pudesse raciocinar.
Eu, sinceramente, não sei como cheguei tão rápido. Talvez fosse a adrenalina, a revolta ou a curiosidade de como a minha bunda havia ficado no outdoor. Gastei meu MetroCard para descer duas linhas abaixo, na Penn Station e saí correndo para a 33th com a Sexta Avenida.
Quando finalmente cheguei, rodei o quarteirão que nem louca olhando para cima, procurando minha bunda nas paredes dos prédios até que...
Lá estava.
Eu.
E minha bunda.
Estampados em um outdoor no topo de um prédio, numa dimensão de uns 8 metros por 4 metros.
No outdoor eu estava de costas para o que seria a câmera, a bunda empinada na calça jeans da Levi’s, os cabelos castanhos levantados para cima, como se fosse um rabo de cavalo por ambas as minhas mãos e meu rosto virado para olhar para a câmera através do arco que meu braço fazia, os olhos naturalmente borrados de maquiagem, intensos sobre a câmera.
Fiquei alguns segundos me observando, até que percebi que aquela foto não era da sessão.
A raiva subiu por mim e então explodiu em um grito:
— JAAAAAAAAAAACE!
Meu Deus, aquele loiro estava TÃO fodido. As pessoas me olharam assustadas, talvez porque eu estivesse gritando no meio da rua para os quatro ventos. Mas eu as ignorei e lá fui eu gastar meu MetroCard novamente para ir para a casa do filho de uma puta do Jace O’Maley.
Fotógrafo de merda.
Como assim ele tira fotos pessoais minhas e coloca num outdoor? E NEM ME PAGA? Ele não disse nada sobre outdoor quando me deu três mil dólares.
Desgraçado.
Maldito.
Eu já havia acabado com o meu repertório de xingamentos quando finalmente cheguei ao prédio dele. Seu porteiro interfonou para o apartamento e liberou a minha entrada.
Ah, mas ele iria ver só.
Quando saí do elevador, Jace estava parado na porta de seu apartamento com uma calça xadrez de pijama, um moletom marrom surrado de Harvard e os cabelos loiros bagunçados. Seus habituais óculos de grau escondiam os olhos verdes. E o desgraçado sorria. Sorria como se achasse que eu estava ali para concluir nosso sexo no telefone.
Tadinho.
Andei furiosa até ele, os olhos flamejantes e quase soltando fumaça pelas narinas. Assim que ele percebeu meu palpável ódio no olhar, recuou um passo e desmanchou o sorriso. Mas aí, eu já estava na frente dele, empurrando-o pelo peitoral com as duas mãos para dentro do apartamento.
— JACE! SEU FOTÓGRAFO SAFADO DE QUINTA!
— O-o que foi, ? Por que está falando em português?
Chutei a porta para fechar atrás de mim e gesticulei abertamente na sua frente. Respirei fundo e tratei de voltar a falar inglês para que ele me entendesse.
— O QUE FOI? O QUE FOI?! — Repeti a pergunta umas três vezes, descrente. — MINHA BUNDA ESTÁ NUM OUTDOOR, JACE. NOVA IORQUE INTEIRA ESTÁ VENDO MINHA BUNDA!
Ele pareceu que ia rir, mas eu o fuzilei tão intensamente que a risada morreu na metade do caminho até sua boca.
— Eu pensei que você não se importaria...
— Deixe de ser idiota, Jace. Eu já transei com quase Nova Iorque inteira, boa parte já viu minha bunda. — Ok, eu exagerei aí, mas foda-se. Eu estava irada. — MAS VOCÊ NÃO PODE SIMPLESMENTE SE APROPRIAR DA MINHA BUNDA EM UM OUTDOOR E NÃO ME PAGAR, SEU BABACA!
Seus ombros relaxaram e eu quase enfiei meu punho em seu nariz.
— Ah, mas você foi paga, .
— TRÊS MIL DÓLARES É POUCO PRA TER O DIREITO DE EXIBIR MINHA PRECIOSA BUNDA!
Jace virou as costas, andou a até a cozinha (talvez para pegar uma frigideira e me apagar, já que eu estava descontrolada), mas ele voltou com um envelope. De mesma aparência do envelope que continha meu cheque de três mil dólares.
— Não, . Você foi paga novamente.
Olhei-o sorrindo de orelha a orelha.
Quem estava puta mesmo? Eu que não era.
Peguei o envelope de suas mãos com um pouco mais de ansiedade que o necessário e abri ele, sentindo meu coração acelerar violentamente e meus olhos quase marejarem diante do mais novo cheque que possuíamos.
Com as mãos trêmulas, segurei a nossa salvação e abri um sorriso maior que o do Coringa.
Porque em minhas mãos, havia um cheque de 5 mil dólares.
— YEEEEEEEEEEES!
Pulei de alegria pensando na nova televisão que poderíamos comprar. Quem sabe até um notebook? E O MEU LOUBOUTIN! AH, MEU LOUBOUTIN!
Abracei Jace e soltei-o rapidamente, ignorando o fato de que ele veio me beijar. Quem se importa com Jace? Eu estava rica novamente. Eu era como o mercado de ações. Ia lá embaixo, quase quebrava, ficava no desespero e ninguém ligava para mim. Mas agora, eu estava valorizada de novo. E todos me queriam.
Coloquei o cheque dentro de minha bolsa e soltei um beijo no ar para um Jace confuso e solitário, que ainda esperava um beijo.
— Mas...
— Obrigada, Jace. Mas preciso depositar esse cheque e resolver mil coisas sobre o meu apartamento, então não, não tenho tempo pra você. E ainda estou puta porque não me avisou do outdoor — Fiz drama, mas não estava nem aí. Tinha coisas maiores para me preocupar. — Então não vamos transar por um bom tempo. Dois, talvez três dias. Tá bom? Beijinhos.
Beijei-o nos lábios levemente por pura dó e saí para dentro do elevador. Saquei o celular do bolso e digitei o número da Loira Furacão. Tínhamos muito que comemorar.


Vigésimo Sexto


’s POV.


O trabalho de Edgar era quase como eu teria imaginado que seria, se eu soubesse o que ele fazia da vida. Acontece que meu chefe não era um empresário rico, com um prédio inteiro próprio e trezentas pessoas trabalhando por ele.
Quer dizer. Ele era rico. E se não estou errada, geralmente são necessárias umas trezentas pessoas para erguer um prédio.
Isso mesmo. Meu chefe gostosão-sexy-educado, papai-de-trinta-anos, deus-grego-da-meia-idade, era um engenheiro civil.
Ou pelo menos foi isso que eu li na placa de informação quando cheguei ao prédio e uma secretária me indicou que o conjunto de escritórios ao qual Edgar trabalhava era no décimo andar. Theo ainda estava meio apagado em meus braços, então fiquei quase emocionada quando algumas pessoas seguraram a porta do elevador para que eu entrasse sem morrer esmagada por elas. Não que as portas automáticas fossem me esmagar, mas sabe como é, a adrenalina não é bem-vinda com uma criança em seus braços.
Troquei a cabeça de Theo de lado, passando a ponta dos dedos em seus cachos macios e sorrindo para mim mesma quando ele suspirou pesado em seu sonho e agarrou meu pescoço com mais força.
Eu teria tido um deja-vu sobre toda essa coisa de aparecer no escritório de um cara, se não fosse pelo fato de que carregava uma criança em meus braços. Quando parei na frente da secretária, uma senhora, ela ergueu os olhos para mim e seu sorriso imediatamente se expandiu.
— Pequeno Theodoro! – Ela quase gritou, fazendo com que eu recuasse para trás com medo que ela atacasse meu pequeno.
Quer dizer. Não que o Theo seja meu. Mas, enfim.
— Oi. Eu estou aqui para falar com o Edg... Sr Delawicz. – Concertei antes que a senhora pudesse pensar qualquer coisa sobre o nível de intimidade que eu teria com meu chefe.
A senhora arrastou seu olhar sobre Theo para mim, o brilho de carinho não abandonando seus olhos quando ela olhou bem dentro de meus por alguns segundos.
— Ele sabe que você estava vindo? – Sua voz era suave e calma, por alguns segundos me lembrando, assustadoramente, da minha própria mãe.
— Sabe.
— Então pode entrar, querida. Vou ver se encontro algum tipo de toalha para que você possa deitar Theodoro mais confortavelmente e levo logo para vocês. – Ela apontou para um lado.
— Ah, obrigada. Vou... Entrando... Então... – Falei, com a incerteza pingando em minha voz, porque era estranho entrar em um lugar sem nenhuma direção concreta.
A senhora só sorriu para mim e saiu de trás de sua mesa para procurar a toalha, provavelmente. Segui a direção que ela havia apontado e atravessei um corredor cheio de salas aleatórias até achar a que correspondia à de meu chefe.

Edgar Delawicz – Eng. Civil – Coordenador.

A porta estava meio entreaberta, então bati levemente nela antes de colocar a cabeça para dentro do escritório e espiar por ela. Edgar estava segurando o celular entre o queixo e o ombro, seu rosto irritado enquanto ele falava rapidamente, mas em tom baixo para a pessoa do outro lado da linha. Seus dedos digitavam furiosamente em seu teclado e por alguns segundos eu tive dó de seu computador.
Depois minha mente começou a vagar para a ideia de como seria sensacional sentir os dedos daquele homem apertando minha cintura com a força com que digitavam, seus ombros tensionados da mesma maneira que naquela hora, porém com ele em ci...
? – Edgar chamou, sua voz meio preocupada.
Balancei a cabeça, afastando meus pensamentos e sorri amarelo enquanto terminava de entrar no escritório e encostava a porta atrás de mim com o pé. Ele desligou o celular com um “Depois resolvemos isso, vou entrar em reunião, tchau”, Edgar levantou rapidamente de sua cadeira e veio até mim de braços abertos.
Mais uma vez, minha mente pregou peças em mim mesma e eu me vi imaginando que ele estaria abrindo os braços para mim.
A fantasia foi embora quando ele embalou o filho adormecido em seus braços e o abraçou com a adoração de um pai indubitavelmente apaixonado por sua cria.
— Por favor, entra. Pode ficar confortável aqui dentro. O escritório está tumultuado porque o original está em reforma.
Olhei ao meu redor, ainda meio perdida, e percebi que o escritório estava mesmo bagunçado. De um lado havia várias e várias caixas denominadas “Plantas” e com alguma outra sigla que eu já não entendia, mas que parecia separar os projetos. Do outro lado havia um sofá que também parecia meio fora de lugar com seu tom de camurça cinza claro em contraste com as paredes de madeira escura. A escrivaninha de trabalho de Edgar era a única coisa organizada ali. Não era um escritório muito grandioso e eu quase suspirei de alegria, porque isso espantava várias memórias minhas.
— Obrigada, Edgar. – Respondi no mesmo instante que a secretária entrou no ambiente de mãos vazias e um sorriso triste no rosto.
— Não consegui achar nada para que deitássemos o pequeno. Desculpe. Estarei na mesa, qualquer coisa que precisarem.
— Sem problemas, obrigado, Constantine. – Edgar sorriu para a senhora com toda sua pose de melhor pai-sexy do mundo e ajustou o filho nos braços.
Sem muita cerimônia, pousou o filho no sofá e acariciou a cabeça dele por alguns segundos antes de retirar seu terno chique e o esticar sobre o corpinho de Theo.
— Venha, . – Edgar, para quase um ataque de meu coração, esticou a mão na minha direção e depois de perceber sua gafe amigável demais, a recolheu com um sorriso desconcertado e apontou para a cadeira que ficava na frente de sua escrivaninha.
— Então... – E nós começamos um papo de três horas sobre o que a escola queria com Edgar e ele passou as horas perguntando o que eu achava sobre o assunto, já que minha opinião como psicóloga parecia trazer uma espécie de certeza para a cabeça de meu querido chefe.
Não contei para ele sobre sua esposa pulando a cerca.
Eu sei, sou uma pessoa horrorosa e egoísta que não pensa nos queridos filhos de Edgar que sofrem com a situação. Mas a pegadinha é que eu havia pensado... Se Anna sentia falta de sua mãe quando ela ainda morava na sua casa, o que aconteceria se seus pais se separassem? Eu duvidava que Theodoro fosse sentir muito o efeito de sua mãe ou pai saindo de casa, mas a ausência de qualquer uma das figuras em sua vida poderia ser traumática.
E é. Eu também não tinha a cara de pau de admitir para Edgar que eu sabia de seu chifre há quase dois meses, mas resolvi guardar para mim mesma.
Quando o assunto passou para o por quê da sua esposa não ser tão presente, e Edgar começou a repetir várias e várias vezes como sua querida e adorável Sra. Delawicz era muito ocupada com seu trabalho, minha garganta fechou e eu quase não conseguia respondê-lo. Porém fui salva pelo congo quando meu celular começou a tocar.
Era .
— E aí, cara querida melhor amiga?
— O que foi? – Estreitei os olhos para seu tom de voz animado demais.
— Nada não... É que eu acabei de descobrir que tem um outdoor da minha bunda aqui na cidade pra todo mundo ver.
Olhei de relance para Edgar, que também me olhava atento e corei violentamente, perguntando a mim mesma se ele havia ouvido a merda que minha melhor amiga estava me contando.
— Como assim?
— Assim ó, imagina, eu tô de costas com a bunda empi...
— Como aconteceu, , não como você tá.
— Ah. Bom, foi o Jace que tirou e vendeu para fazer propaganda. Aí como eu estava em Las Vegas ele nem falou nada e agora que eu voltei ele também não falou nada porque quem me contou foram uns adolescentes babuínos no Planet... Enfim, longa história curta, eu ganhei cinco mil dólares.
Tenho certeza que meu pulo da cadeira foi tão grande que Edgar só não saltou por cima da mesma para me socorrer porque percebeu meu olhar imediatamente energizado.
— TÁ BRINCANDO!
Edgar franziu a testa e fez a pergunta silenciosamente se eu estava bem e eu respondi acenando com a cabeça várias vezes.
— Nem de longe. Tá escrito no cheque o número cinco com mais três zeros para provar e já está guardadinho aqui no meu sutiã com todo o carinho do mundo.
— Você tem que depositar isso!
— Ah, eu vou. Estou indo pro trabalho e logo em seguida vou depositar e já fazer uma visita para a linda Macy’s e depois na Fore...
— Nem pense nisso.
— Mas...
— Não.
— Mas é que as liquida...
— Não.
— Porra, .
— Não, . Nós temos que pagar toda a reconstrução da nossa casa e mais aquele monte de gastos que fizemos em Las Vegas e não dá para ficar indo fazer compras agora. Prometo que se sobrar dinheiro nós as faremos no final do mês.
— E se não sobrar?
Aí continuamos na merda.
— Damos um jeito, como sempre.
— Droga mulher! Por que você tem que ser tão responsável?
— Porque quando nenhuma de nós é responsável, nós acabamos voltando para uma casa destruída, cheias de dívida que não fizemos e com uma iguana meio dragão assassina abandonada por nossa colega de quarto que fugiu.
riu do outro lado da linha e suspirou.
— Ai, tá bom. Nada de compras. Mas volta logo para casa porque assim que terminar meu turno quero poder fazer com que você lamba o extrato do banco que diz que temos cinco mil na nossa conta.
— Tirando o negativo que já temos, na verdade, né.
— Estraga prazeres. – Alguma buzina soou atrás de e ela gritou para longe do telefone. – Ei seu filho da puta! Cuidado com bunda, ela vale cinco mil dólares!
— Tchau, .
— Tchau, , câmbio-desligo.
Coloquei o telefone em minha bolsa novamente e quando voltei a olhar para Edgar seu rosto tinha um sorriso divertido, que o deixava mil vezes mais jovem.
— Você tem mesmo uma iguana meio dragão assassina que sua ex-colega de quarto abandonou quando fugiu?
O sorriso em meu rosto alargou-se, espelhando o dele.
— É uma longa história.
— E está tudo bem? – Ele perguntou sentando-se em sua cadeira novamente.
— Sim! Tá tudo ótimo. Minha colega de casa recebeu um pagamento por um trabalho que ela fez justamente agora que estávamos precisando. A terceira colega de nosso apartamento fugiu durante o período do ano-novo e deixou a casa destruída para nós. A reforma vai ser bem mais do que podemos pagar.
— Eu posso ajudar vocês.
— Quê?
— Você sabe, eu sou engenheiro civil e administrador. Posso ajudar vocês a diminuir os gastos que podem existir com a reforma.
— Mesmo? Você sabe fazer isso? – Inclinei-me para frente, animada, e quando os olhos de Edgar abaixaram quase imperceptivelmente para meu decote e subiram para meus olhos com a mesma rapidez, eu me encolhi para trás. – Quer dizer. Ia ser ótima a sua ajuda, mas você não precisa fazer isso.
— Fique tranquila, . Faço de bom grado.
— Uau. Obrigada, Edgar. – Levantei da cadeira e fui até Theo, começando a puxar seu corpo molenga para meus braços novamente. Ele já estava acordando, finalmente. Eu o havia deixado dormir demais.
— Você vai buscar a Anna agora?
— Sim. Ela sai do colégio daqui quarenta minutos. É o tempo de chegarmos lá.
— Eu vou com você. O que acha de pegarmos Anna e depois podemos passar em seu apartamento para que eu possa analisar as coisas por lá? Hoje não tenho nada aqui porque meu sócio está em uma reunião por mim em Miami.
— Hãn... – Pensei no estado de meu apartamento e como era vergonhoso que Edgar fosse vê-lo daquele jeito. Porém não havia nada a ser feito. – Claro. Tudo bem.
— Posso?
Ele esticou os braços para pegar Theodoro de meu colo, mas quando tentou puxá-lo, o pequeno agarrou meus cabelos para que não trocasse de colo. Edgar riu e fez um cafuné no cabelo do filho, antes de pegar a mochila que eu carregava comigo, colocar em seu ombro e segurar a porta do escritório para que eu passasse.

’s POV.


Quando cheguei ao Planeta Hollywood, novamente, Deus resolveu me recompensar pelas merdas de Jules. Brody pediu para assumir meu turno de hoje e que eu cobrisse o dele no dia seguinte de dia por causa de uma consulta médica. Obrigada, Jesus.
Passei no banco ao sair do restaurante, depositei o cheque com um sorriso de orelha à orelha e fiquei satisfeita ao ver que, pela primeira vez, nossa conta estava positiva. Saquei uma parte do dinheiro para pagar o zelador e a empresa que iria retirar a carcaça do nosso sofá, amanhã, às nove horas da manhã.
Andando pela rua cantando It´s My Life, eu estava muito feliz, mesmo tendo a sensação de que eu era a bolsa de valores. Essa montanha russa de ficar rica e pobre estava acabando com a minha beleza. E tinha que estragar o meu prazer quando liguei super animada para ela, falando que tínhamos que ter cuidado e blábláblá. Eu estava rica, não precisava ter cuidado. Pagaria para que tomassem cuidado por mim.
De qualquer jeito, eu andei tranquilamente pelas ruas de NY ao sair do metrô (eu estava rica, não milionária, taxis ainda são emergenciais) em direção à minha humilde residência. Obviamente, enquanto eu andava pela rua, eu precisava ficar observando as lojas. Havia prometido à que não iria comprar nada depois do outlet, mesmo com o novo dinheiro do outdoor. Mas nada me impedia de analisar as vitrines.
Parei em frente à uma vitrine de uma loja de vestidos de noiva e sorri para um rodado, rendado e tomara que caia, muito elegante e...
PUTA.
QUE.
PARIU.
TALIA.
O CASAMENTO.
BRASIL.
Senti o sangue fugir de meu rosto e minha garganta secar.
Ok, talvez nós não estejamos tão ricas assim. Talvez nem um pouco. Ok, respira, . Respira. Você tem muitas coisas para lidar no momento. está trabalhando, você tem que voltar para casa e... DAMMIT WOMAN, POR QUE VOCÊ TEVE QUE OLHAR A LOJA DE VESTIDOS DE NOIVA?!
Andando rápido e com o coração quase saindo pela boca, eu podia sentir a rainha do drama que me fez fazer faculdade de artes cênicas entrar em pânico dentro de mim. Descendo a Varick Street, eu só conseguia pensar em como eu precisava que a água já tivesse voltado. E precisava estar quente, porque eu havia acabado de tomar um balde de água fria naquela vitrine de vestidos.
Cheguei ao nosso prédio rapidamente, subi as escadas mais rápido do que o normal e encontrei a porta de nosso apartamento aberta, então supus que estivesse lá.
, VOCÊ NÃO VAI ACREDITAR NO QUE... Olá. Como vai? — Eu abaixei minha voz drasticamente, observando o pedaço de mau caminho à minha frente.
Um e oitenta, bronzeado, calça jeans e sem camisa. Suor escorrendo pelo corpo musculoso. Cabelos negros. E um sorriso de dentes alinhados e brancos.
— Olá. Eu sou o sobrinho do zelador... Juan.
Ah, graças a Deus, um nome que eu iria lembrar. Sempre chamo os mexicanos de Juan, não importa quem seja.
— Olá, Juan. Você... — Eu disse enquanto tirava o sobretudo preto e jogava o cabelo para trás, sorrindo. — Já terminou o serviço?
Juan sorriu sem graça e pegou sua caixa de ferramentas do chão, perto do corredor. Cheguei perto de Juan, encostando-me ao seu braço e utilizando minhas artimanhas de atriz.
— Como os danos eram bem extensos, vai demorar alguns dias para completar tudo, mas meu tio consertou todos os canos do banheiro e eu já passei a massa corrida nele, então acho que vocês já devem poder tomar banho. Mas ainda temos que consertar os canos da cozinha, então ainda não tem água na pia.
Ajeitei as mangas da minha camisa preta que eu usei para trabalhar hoje, enquanto comentava, olhando-o maliciosamente.
— Hmmmmmm, entendi. Você fez um ótimo trabalho, garotão. Quais seriam as formas de paga...
— Essa camisa é nova? — Ele me interrompeu, segurando meu braço onde a barra estava enrolada.
Elevei as sobrancelhas.
— Ah, é, por quê? Tá com a etiqueta ainda? — Virei de costas, empinando a bunda levemente e puxando o cabelo para o lado.
— Não, não! É que nossa... Ela é linda e parece tão macia. — Juan segurou a barra da camisa e passou os dedos no tecido. — Isso parece seda? É algum tipo de algodão novo? Deve ser muito confortável e...
Ok, pensei. Da fruta que eu gosto, ele chupa até o caroço.
Virei de frente para um Juan super empolgado com a minha camisa e sorri forçadamente.
— Então, quanto ficou o serviço? — Fui direto ao ponto, ajustando a postura.
Se tem uma coisa que machuca os meus sentimentos, é homem bonito gay. Ai, que desperdício.
— Ah, ainda tem coisa pra fazer, acho melhor pagar tudo no final porque depende do material que vamos precisar, tinta e etc...
— Ok, beleza. Então até amanhã, garotão.
Dei um tapinha em seu ombro e o empurrei para fora de casa um pouco indiscretamente. Ele mal teve tempo de pegar sua caixa de ferramentas. Como sua caixa em mãos, coloquei-o para fora e fechei a porta na sua cara com um “Até logo”.
Virei as costas e mal tive tempo de entrar na cozinha, quando bateram na porta.
— Olha, Juan, você pode pegar amanhã o que for e...
Abri a porta somente para encontrar um Tyler de braços cruzados.
— Você quer me contar que droga está acontecendo?
Ops.
— Oi, Tyler.
Ele entrou na casa com algumas sacolas de supermercado, fazendo-me elevar as sobrancelhas para tal fato. Tyler colocou as compras sobre a bancada da pia enquanto eu trancava a porta e então parou no meio da cozinha, observando-me.
Pensei em perguntar se ele não iria guardar as compras, mas senti que ele me bateria com uma sacola ou me jogaria contra a parede novamente. E nós dois sabemos o que aconteceu da última vez.
— Por que não me disse que Jules sumiu e deixou o apartamento de vocês destruído?
Olhei para minhas unhas.
— Não foi nada demais.
— Roubaram sua máquina de lavar louça.
Não aguentei e me joguei nos braços dele.
— EU SEI! ELA ERA TÃO JOVEM! — Choraminguei em seu abraço, que agora estava sendo retribuído. Tyler riu um pouquinho do meu drama e aí, do nada, a verdade me atingiu. — FOI VOCÊ! — Gritei e me afastei dele abruptamente.
Seus olhos negros me observaram, confusos.
— Eu o quê?
— VOCÊ QUE APRENSENTOU AQUELA HIPPIE LAZARENTA PRA GENTE!
Tyler demorou alguns segundos, mas entendeu o que eu quis dizer. Então ele tentou se aproximar.
— Mas vocês estavam na merda e...
— Não, Tyler. Comparado ao o que estamos agora — omiti a parte que eu havia acabado de ganhar um cheque de cinco mil dólares e continuei com o meu drama — antes nós estávamos em jardim de rosas. ISSO AQUI É ESTAR NA MERDA!
Tyler sentou-se calmamente no sofá e me olhou com um sorriso leve nos lábios.
, eu sei do cheque.
Parei de andar de um lado para o outro e gritei.
— QUÊ?
— Eu sei do cheque de cinco mil dólares.
— Droga, ! — Resmunguei virando-me de costas para ele e pensando em como fazer a culpa voltar para ele. — Mas se não fosse a minha bunda, ainda estaríamos na merda e seria culpa sua!
Seus músculos se tencionaram e ele ficou com a postura ereta.
— Se não fosse a sua o quê?
Eu normalmente não fico envergonhada. Cara de pau de nascença, são poucas as coisas que conseguem me deixar corada. Mas o olhar de Tyler e, sei lá, alguma coisa, me fizeram ficar levemente corada e arrependida de ter dito aquilo. Bom, ele iria ver mais cedo ou mais tarde, né?
— Os cinco mil dólares. São por causa de um outdoor.
Tyler se levantou e eu instintivamente dei um passo para trás. Não sei por quê.
— Sim, eu sei.
— Eu estou de costas só de calça jeans com a bunda empinada no outdoor.
Tyler comprimiu os lábios com força. Eu sabia o que aquilo significava, mas era uma terra perigosa demais para se adentrar. Dentro de mim, alguma coisa pareceu se revirar, quase como uma ponta de... Satisfação?
Balancei os ombros e expulsei aquele sentimento de mim. Tyler pressionava as mãos em punhos, tentando controlar seja lá o que ele estava sentindo. Não que eu soubesse ou gostasse ou quisesse saber. Porque eu não queria.
— E essa foto... Foi do ensaio? Por que não a vi no catálogo?
Mordi minha língua internamente, mas não adiantou, porque eu sempre tenho que fazer cagada, então eu respondi:
— Não, não foi do mesmo ensaio.
— Sei.
— Foi antes da viagem de ano novo. Quando eu... Dormi lá.
Tyler cerrou os punhos com mais força e pareceu tencionar o queixo. Dentro de mim, uma batalha estava sendo travada entre todos os sentimentos e pensamentos que passavam por minha cabeça. Eu poderia ter mentido para fazê-lo feliz e mentido para fazê-lo infeliz, mas resolvi contar a verdade e não deu muito certo também. Normalmente, eu riria da cara de Tyler e me divertiria com o seu ciúme e não me importaria, mas... Alguma coisa me deixava extremamente feliz por saber que ele estava morrendo de ciúmes, enquanto outra parte sentia dó, sentia vontade de abraça-lo e me explicar e...
E a porta do apartamento abriu e um menino de meio metro entrou correndo no apartamento, com uma garotinha loira com uma boneca em mãos atrás e uma com um pedaço de mau caminho ao lado.
Salva pelo gongo. Ou melhor, pela Super Nanny e sua trupe.

’s POV.


Eu me sentia definitivamente como uma mulher casada. Theodoro, em meus braços, começava a acordar enquanto esperávamos parados no portão do colégio de Anna para que ela saísse.
— Será que Anna vai conseguir nos enxergar aqui atrás? – Edgar perguntou olhando ao redor a procura da turma de Anna sendo liberada.
— Ela vai nos achar. – Respondi ajustando Theo em meus braços enquanto ele esfregava os olhos sonolentos. – Ela sabe que sempre estou exatamente aqui.
Edgar virou a cabeça para mim rapidamente, seus olhos trazendo uma certa surpresa e depois o canto de seu lábio subiu levemente para mim. Ele coçou o maxilar e voltou a olhar para o portão do colégio, cruzando os braços – o que fazia com que seu terno apertasse ao redor de seus braços musculosos e me deixasse pensando...
EM NADA.
Pensando em nada. Absolutamente nada.
— Ah, ali está ela! – Edgar disse apontando para um grupo de estudantes descendo as escadas do colégio e lá atrás, segurando uma Barbie, estava Anna também. – Eu vou buscá-la.
Não me dei o trabalho de responder porque meu chefe já estava indo até sua filha com os braços abertos. Todas as mães, e eu realmente quero dizer todas as mães ou babás ou qualquer que seja a posição das mulheres que esperavam suas crianças pararam para observá-lo.
Era óbvio que um cara como Edgar atrairia tantos olhares. Ainda mais sendo um pai tão lindo. Mas eu ainda assim me impressionei.
Anna voou até os braços de seu pai, abraçando-o com força pelo pescoço enquanto ele levantava ela no ar. Theo começou a ficar agitado em meus braços e eu o soltei no chão para que fosse atrás de seu pai. Segui-o silenciosamente, segurando uma de suas mãos enquanto ele atravessava o mar de outras crianças.
Eu ainda podia sentir os olhos das mulheres em Edgar, mas ele parecia alheio a tudo enquanto colocava sua filha no chão e recebia um abraço nas pernas de seu pequeno. Anna veio até mim e abraçou-me levemente também. Peguei a mochila de suas costas e ela ofereceu sua mão para que eu a segurasse enquanto Theo andava com Edgar.
— Como foi seu dia? – Perguntei enquanto íamos até o carro de Edgar.
— Kayla Lee disse que minhas bonecas são feias.
— Kayla Lee não sabe nada sobre bonecas.
Anna deu um pequeno sorriso para mim e começou a me puxar com mais pressa atrás de seu pai que corria com Theo pela rua até seu carro, atraindo mais olhares. Quando chegamos ao carro, prendi os respectivos filhos de meu chefe em seus lugares no carro e comecei a dar novamente as direções para meu apartamento, mas Edgar disse que se lembrava onde era.
Para ser sincera, eu mesma não lembrava que ele havia me deixado em casa quando fui viajar com você-sabe-quem para Londres (e eu não estou falando sobre Voldemort). Theodoro, animado depois de dormir tantas horas, começou a tagarelar e cantar a música da Galinha Pintadinha que tocava na rádio.
Paramos na frente de meu prédio, tiramos as crianças do carro e eu comecei a rezar para que não estivesse pelada na sala quando fossemos subir. Cogitei até mesmo ligar para ela, mas não daria tempo agora. Theo correu pelo pequeno hall de entrada de meu prédio com Anna atrás dele até que o elevador chegasse. A subida foi silenciosa menos pelo rangido do elevador, que constrangia até os dedos do meu pé.
Quase suspirei de alívio quando chegamos em meu andar e logo tirei a chave do apartamento para abrir a porta.
e Tyler estavam conversando na sala. Ty parecia pronto para espancar alguém e parecia perdida na situação, pra variar. Abri a porta e imediatamente Theo passou correndo para dentro do apartamento, com sua irmã seguida dele.
— Ma-mas... O quê? – virou-se para mim confusa ao ver duas crianças correndo por seu apartamento.
— Oi, . – Tyler falou, seus ombros relaxando um pouco ao ver que eu tinha companhia.
Os olhos castanhos de analisaram as crianças correndo e depois meu chefe, parado logo atrás de mim.
— Amiga, eu sei que você demorou. Mas deu tempo de voltar casada e com filhos?
, Tyler. – Fechei os olhos por um breve segundo, minhas bochechas corando com o sangue que subiu para meu rosto. – Este é meu chefe. O senhor Delawicz.
Edgar saiu de trás de mim e com uma suavidade incrível andou até eles e apertou suas mãos, dizendo com um sorriso amigável no rosto:
— Edgar, na verdade.

’s POV.

Aliviada com a chegada de , saí de perto de Tyler e me aproximei de papai Del Toro. Sorri abertamente e estendi a mão para Edgar, que minha nossa, era fenomenal. Mandou ver, .
, melhor amiga da loira. — revirou os olhos e eu apertei a mão que Edgar também me estendeu.
Tyler se aproximou rapidamente e assim que eu e papai soltamos as mãos, Tyler apertou a dele com força. Edgar manteve o sorriso matador e eu já podia me ver cuidando dos filhos dele e arrumando a nossa casa com um avental na cintura e Louboutins, quando tossiu, chegando ao meu lado.
— Ele é casado, . — Sussurrou.
— Não por muito tempo. — Sussurrei de volta, relembrando-a da safada da Del Toro. E burra. Ai, como ela era burra...
Um objeto não identificado me atingiu nas pernas e eu cambaleei, mas consegui ficar de pé. Encarei a cabeleira castanha, cheia de cachinhos e então um rostinho rosado gordinho com olhos verdes enormes me observando. Ele sorriu e me cumprimentou:
— Oi.
sorriu e passou a mão na cabeleira do garotinho.
— Olá, Theo. Essa é a , minha amiguinha!
Olhei para minha melhor amiga perguntando se ela era retardada, mas percebi que a miniatura do Senhor Delawicz me observava sorridente. Ele era realmente muito fofo.
Ajoelhei no chão e sorri para ele.
— Tudo bem, Theo?
Ele soltou um risinho e assentiu.
— Tia, ? — A menininha disse.
— Sim, Anna?
— De quem é a lagartixa no corredor?
Arregalei os olhos ao mesmo tempo que . Tyler, que estava parado até agora, correu até Anna e a pegou no colo desesperado, olhando para Muchu com um tipo de laser mortal invisível saindo deles. Então trouxe Anna para a sala, que estava assustada com tudo aquilo e sem saber quem Ty era ou porque ele a estava segundo no colo. Edgar a pegou do colo de Tyler delicadamente, os bracinhos de Anna enganchando ao redor do papai. E que papai, hein.
foi buscar um copo d’água e Edgar sentou-se no sofá. Olhei para o corredor e Theo estava puxando Muchu pela cauda. Tyler estava na cozinha atrás de fazendo sei lá o que e... PERAÍ O THEO TAVA FAZENDO O QUÊ.
Segundos após minha epifania, o pestinha veio andando até mim rindo, segurando o dragãozinho pelo rabo. Anna pulou do colo do pai e correu até Theo, pegando Muchu em seu colo. Muchu se debatia, tentando se soltar, os olhos reptilianos arregalados e uns barulhos estranhos saindo de sua boca.
— Olha! Ele gostou de mim! — Anna comentou timidamente.
Por incrível que pareça, Muchu havia se ajeitado nos bracinhos cor de leite de Anna. Dragãozinho safado. Todo pomposo no colo de Anna, parecia quase sorrir diante dos carinhos que a menina lhe fazia. O que, para ser justa, era compreensível: desde que Jules havia ido embora, o sujeito estava um pouco deprimido. E um pouquinho mais doido, já que como presente para a hippie que possivelmente o buscaria depois, nós estávamos o alimentando com ratos. Dia sim, dia não.
— Eu quero também! — Theo resmungou.
Tyler, que saía da cozinha, arregalou os olhos diante da cena, mas eu o segurei e pegou Theo no colo, antes que ele conseguisse colocar as mãozinhas no rabo de Muchu novamente.
— Vem cá, Anna.
A garotinha andou até seu pai e sentou no sofá destruído e esfumaçado ao seu lado.
— Eu não gosto dessa iguana. — Tyler disse com os ombros tensionados.
— Eu sei, garotão. Mas parece que os pirralhos gostam e que Muchu realmente veio de um desenho animado, pois tá adorando a criançada.
Abracei-o de lado, fazendo-o relaxar. Inspirei a sua colônia masculina usual e sorri de leve com isso. Tyler passou um braço por meu ombro.
— Tudo bem. Mas não deixe eles oferecerem comida ao dragão.
Ri disso.
veio com Theo em seu colo até nós, depois de deixa-lo alisar a cabeça de Muchu, o que fez Tyler tencionar os músculos mais uma vez. Theo sorriu para mim e estendeu os braços. Arregalei os olhos para .
— Relaxa. Ele se segura em você. Só use os braços para apoiar o bumbum dele.
— Bumbum — Theo riu com a palavra.
Tyler sorriu ao meu lado. Peguei o pestinha no colo.
— Então, o que a fez trazer o trabalho para casa? — Indaguei.
— Edgar vai nos ajudar a economizar e diminuir os gastos. Trouxe o notebook e vai ver o que pode fazer por nós.
Balancei Theo de um lado para o outro, ignorando Tyler que brincava de ficar sério e depois sorridente com o pequeno. continuou:
— Mesmo com os seus cinco mil, ainda temos alguns reparos para fazer, mas no caminho eu informei Edgar de quase todos os últimos gastos e ele pareceu confiante...
— É... ... Sobre isso... — Dei uma tossida, interrompendo-a. Ela iria surtar quando eu a lembrasse do casamento de sua irmã.
— O que foi?
Entreguei Theo à Tyler, que me olhou atordoado, mas o pegou no colo. Eles se afastaram e eu puxei para o corredor.
— Nós temos um grande gasto a fazer ainda. — Ela me olhou sem entender e eu soltei a bomba de uma vez. — Esquecemo-nos do casamento da sua irmã.
demorou alguns segundos para absorver.
— DROGA!
— Eu sei.
— É NO BRASIL!
— Eu sei.
— É DAQUI TIPO, SEI LÁ, UMA SEMANA.
— Exatamente 10 dias, na verdade.
passou as mãos pelos cabelos e se controlou quando lembrou que haviam crianças na casa e não podia ficar falando palavrão. Voltamos para a sala e encontramos Edgar sozinho no sofá.
— Tyler está na cozinha com eles, parece que vai fazer pipoca.
Olhei para trás, pela bancada que separava a cozinha da sala e o vi procurando, dentre as sacolas de compras que trouxera mais cedo, um pacote de pipoca. Como o grande orgulho que ele sempre me foi, comprou o saco ao invés da pipoca de micro-ondas, já que o nosso foi brutalmente assassinado.
— Ok. Vamos direto ao assunto. Aposto que você tem que voltar para casa, sua esposa deve estar te esperando. — Eu falei sem pensar.
me olhou em repreensão e Edgar sorriu de lado.
— Imagino que não.
Sentamos uma de cada lado dele, o que pareceu meio infantil, mas ok. Edgar abriu uma planilha, uns programas doidos e então começou a fazer perguntas. Demos todos os números exatos, desde quantos centavos gastamos no almoço até quantos dólares perdemos no cassino.
Ele agiu rapidamente, conseguindo montar um esquema para que entendêssemos onde e quando o nosso dinheiro entrava e saía.
Foi rápido: o tempo de Tyler estourar pipoca, encher a barriga dos dois pestinhas e então preparar um achocolatado. Não sei por que ele comprou achocolatado, mas, boa ideia, Ty.
continuou a explicar quais gastos teríamos agora para frente e quais ganhos também, enquanto eu observava Anna acariciar Muchu sentada na banqueta, enquanto Tyler apoiava Theo sentado na bancada e lhe dava o copo de leite.
Antes que eu percebesse, eu estava o encarando. Parei de responder aos dois que decidiam nosso destino financeiro e fiquei ali, observando como o sorriso de Tyler era sincero diante das besteiras que Theo provavelmente falava. O jeito como seus braços se contraíam toda vez que ele segurava alguma coisa. Aqueles olhos negros.
?
Pisquei algumas vezes e olhei para .
— Fala, loira.
Edgar sorriu para o apelido e me respondeu amavelmente, com um olhar acusador que eu sabia que era porque ela percebeu o que eu estava encarando.
— Estamos discutindo as opções de passagem aérea. Edgar disse que conhece uma agência muito boa que pode fazer mais barato.
— Ah, perfeito.
— Bom, minha irmã ainda não confirmou onde vai ser, mas eu vejo isso amanhã. — Ela disse para ninguém em particular enquanto olhava para o seu celular em mãos. — Deus, Edgar, não sabemos como agradecer.
Eu sorri sem graça e assenti. Eles se levantaram e eu acompanhei.
Anna veio andando até nós com Muchu nos braços.
— Nós já vamos embora, papai?
— Sim, querida, vamos sim.
— Tia vai com a gente? — Theo indagou, segurando na perna de .
Edgar sorriu e falou amavelmente:
— Hoje não, garotão. tem que ficar em casa com a amiguinha dela.
— E o Muchu? — Anna perguntou segurando o lagarto folgado em seu colo. Ele parecia estar dormindo!
e eu sorrimos com isso, sabendo que Anna provavelmente nos ouviu falar em algum momento. Eu ia me pronunciar, mas Tyler se abaixou e sorriu.
— O dragãozinho tem que ficar com a gente, Anna. A casinha dele fica aqui e ele é bem chato pra dormir.
— É. — concordou. — Depois vocês podem brincar com ele.
Elevei as sobrancelhas, não querendo entrar na onda, mas me deu uma cotovelada nas costelas.
— Isso mesmo. Voltem quando quiser. — Eu disse entredentes, levemente sem ar.
Eles pegaram as coisas deles e se ajeitaram. Abrimos a porta para os Delawicz e nos despedimos. As crianças ficaram um pouco chateadas, porque pareceram gostar bastante de ficar em nosso apartamento. Edgar pareceu feliz ao ir embora com seus filhos animados e nós estávamos eternamente agradecidas por todo o esforço dele. pegaria a impressão da planilha dele amanhã no trabalho e teríamos um controle melhor de agora em diante.
Uma vez com os Delawicz dentro do elevador, fechamos a porta e trancamos. Tyler pareceu meio inquieto, sem saber se deveria ir ou ficar, e eu não sabia o que falar, mas, para nossa salvação, interveio:
— O que você trouxe, Ty? Vou cozinhar para nós.
Eu e trocamos um olhar de alívio quando Ty revelou macarrão e molho de tomate à salsinha dentre os ingredientes. começou a cozinhar e eu sentei no sofá, com Tyler ao meu lado.
Não falamos nada. Somente ligamos a TV e assistimos juntos, ele com o braço ao redor de meu ombro.
Nada havia mudado.
Não é?


Vigésimo Sétimo


’s POV.


— Ah, qual é. – Eu resmunguei olhando para a tela do computador, conectada no Skype.
Thalia não estava online.
Eu havia pedido especificamente que ela ficasse online para que conversássemos, através de minha curta mensagem de texto para seu celular. Como não entendo porcaria nenhuma de computadores, eu estava usando a conta de e uns dois caras ficavam mandando mensagens, falando que estavam com saudades das minhas habilidades. Optei por não perguntar para eles quais habilidades seriam essas.
Eu amassei o papel com as instruções de como acessar a conta (não brinquei quando disse que não sei mexer no computador) e abri a conversa com a Thalia. Nada. Ela ainda não havia entrado.
— Qual é, Thalia, estou pagando por tempo aqui, porra.
Dez segundos depois minha irmã ficou online e um pedido para iniciar uma conversa de vídeo entrou na tela. Aceitei, demorando em achar onde aceitava esse negócio, e alguns segundos depois, a câmera de Thalia e a minha se conectaram. Mas então ali estava ela: minha irmã mais velha.
Devia fazer quase um ano que eu não a via. Nós mantínhamos contato mensal por telefone ou mensagens, mas a disponibilidade financeira para que ou eu comprássemos um computador ou pagássemos muito mais que quinze minutos numa lan-house era pouco frequente. Ainda assim, Thalia estava exatamente igual.
Minha irmã, diferente de mim, tinha cabelos negros, lisos e olhos azuis, iguais os de minha mãe. Ela sorriu para a tela e acenou na direção de minha imagem.
— Você consegue me ouvir? – Ela perguntou e meu cérebro demorou alguns segundos para desligar e voltar a falar em português.
— Sim. Como você está?
— Uau. Você está com sotaque para falar em português agora? – Ela disse enquanto sentava confortavelmente em sua cadeira. O quarto atrás de si era desconhecido por mim. – Eu estou ótima, super animada. E você?
— Tudo ótimo por aqui também. Escute, Thalia, não posso falar muito tempo e...
— Onde você está?
— Em uma lan-house. Enfim, eu queria te pergu...
— Por que você não está no seu apartamento? Você não tem um computador?
— Não, eu não tenho. Continuando, preciso das informações específicas de onde vai ac...
— Você ainda não se estabeleceu financeiramente com a aí? – Thalia ergueu a sobrancelha, seu olhar quando ela queria ser arrogante e metida tomando conta de seu rosto. – Francamente, . Vocês estão aí faz anos! Onde você tem trabalhado?
— Thalia. Cala a boca. – Pedi tentando controlar minha calma e não atravessar a tela para espancá-la. – Eu não tenho muito tempo. Você pode, por favor, me dar as informações de qual voo e onde eu devo ficar para seu casamento? e eu vamos poder passar no máximo quatro dias aí.
Thalia fez um barulho para demonstrar irritação e pediu um segundo para que buscasse uma pasta com todas as informações. Quando voltou, ela passou todas as informações sem muita pressa – mesmo vendo minha aflição para sua demora – e demorou o tempo do mundo para me dar exatamente tudo que eu precisava saber para planejar minha viagem com .
— E o hotel?
— Nossos pais e os pais de vão pagar a estadia.
— Certo, tudo bem então.
— Vão trazer acompanhantes? – Thalia perguntou inocentemente, mas eu sabia que no fundo ela só queria saber se sua irmãzinha e melhor amiga estavam encalhadas.
A resposta é não.
Bom. Depende do que ela considera encalhada. Se estamos em um relacionamento ou se estamos sem nenhuma relação – se você me entende.
— Vamos.
— Ótimo! Mal posso esperar para te ver, maninha! um beijo para a !
Eu desliguei o Skype, louca para que os dez dias até a viagem demorassem uma eternidade. Posso amar minha irmã, mas ela é um pé no saco 70% das vezes. Paguei a lan-house e procurei na bolsa o endereço da agência de viagem que Edgar havia sugerido. Era do outro lado de Manhattan praticamente, mas não tinha problema, porque eu só iria entrar no serviço após o almoço hoje.
Quando cheguei na agência, tive que pegar a porcaria de uma senha para ser atendida por algum funcionário. Eu nem sabia que existiam filas em agências de viagem. Comecei a me distrair enquanto analisava o conteúdo dentro de meu celular e por alguns poucos segundos me peguei encarando uma foto minha com Charles que ainda estava guardada na pasta de imagens. Ele que havia tirado a foto, eu estava deitada sobre seu peitoral após uma sessão de pegação em sua cama, e meu cabelo havia ficado espalhado por todo seu corpo, então ele havia dito que queria tirar uma foto para provar que eu tinha uma juba de leão. Nunca havia percebido o olhar que ele me lançava na foto. Ou pior, nunca havia percebido o olhar que eu estava dando em sua direção.
, sua loira furacão de esquina. – Ouvi uma voz dizer atrás de mim e a reconheci imediatamente.
Pulei da cadeira e me virei, com um belo sorriso em meu rosto.
— Mike!

’s POV.


O dia seguinte foi um tanto quanto corrido. corria de um lado para o outro de manhã, o que quase impossibilitou que eu conseguisse dormir até às 10h, horário que eu acordaria para o trabalho, mas assim que ela saiu de casa atrasada e esbaforida às 7h, voltei a dormir e, para variar, me atrasei. Acordei 10h30, desesperada, sem tempo de tomar banho.
Vesti a calça jeans preta, uma blusa qualquer branca com um suéter roxo por cima, sobretudo preto, enfiei as botas de montaria rapidamente e enrolei um cachecol no pescoço.
Não comi, não escovei os dentes. Coloquei a bolsa de maquiagens dentro da bolsa, junto com uma calcinha, um par de meias e uma blusa extra. Passaria no Tyler para tomar banho entre os turnos.
Corri feito doida pelas ruas, mas consegui.
Bati o cartão exatamente as 11h no Planeta Hollywood.
Descabelada, cansada, fedendo e sem maquiagem.
Coloquei a polo preta do trabalho, o avental e prendi o cabelo em um rabo de cavalo alto. Roubei um desodorante spray da bolsa de alguém e consegui passar rapidinho. Enquanto isso, o pessoal ia tirando os seus casacos e etc. para começar a trabalhar, aproveitei o tempo para me maquiar levemente. Eu não podia assustar os clientes, afinal.
Meu celular no bolso vibrou.
“Passagens compradas, querida bfff. Minha irmã reservou o nosso quarto e parece que nossos pais vão pagar. Dancinha da vitória.”. Dizia a mensagem de .
Em comemoração, rebolei levemente ao colocar o celular no bolso. Ah, graças a Deus, uma despesa a menos.
Peguei uma bandeja cheia de pratos limpos e talheres e comecei a distribui-los pelas mesas, como sempre. Hoje seria um dia longo.
Quando chegou perto das três e meia, à meia hora do meu turno acabar, eu já estava ansiosa para ir embora. Estava levando uma bandeja com dois pratos para um casal quando Brody derrubou um pouco da cerveja de sua bandeja e eu escorreguei, porque é óbvio, eu não vi.
O que sucedeu foi um estardalhaço de louça caindo no chão, junto com comida, bandeja, e eu.
Sentada de bunda no chão com tudo jogado à minha volta, xinguei Brody e me levantei lentamente, aliviada que não havia sujado minha calça. Só um pouco do avental, aleluia.
— Eu pego o esfregão pra você. — Brody sorriu para mim.
Filho da puta.
Reuni os restos de louça do chão e coloquei-as delicadamente sobre a bandeja. Levei-a até o bar e peguei o maldito esfregão da mão de Brody.
— Desgraçado. — Respondi ao beijinho que ele me mandou.
Ajeitei o meu rabo de cavalo e comecei a esfregar o chão, irritada, querendo ir logo tomar meu banho. Quanto mais eu esfregava, mais sujo o chão parecia ficar. Joguei um produto de limpeza doido lá no chão e continuei a esfregar, até que senti alguém chegar por trás de mim e falar próximo ao meu ouvido:
— Nunca te imaginei do tipo dona de casa.
Virei para trás, passando o antebraço na testa para limpar o suor, encarando Tyler sorrir diante de minha tarefa.
— Vai se foder.
Ele riu, com as mãos nos bolsos da calça jeans escura. Ele usava um suéter vermelho apertado e um casaco pesado preto. O cabelo negro estava espetado, provavelmente porque ele tinha acabado de retirar a touca de frio. Maldito Janeiro.
— É bom que você aprenda a limpar o chão, . Nossos filhos vão fazer muita sujeira.
— Vai sonhando. Você que vai lidar com a bagunça deles. Eu já vou ter que gerar por nove meses.
Apoiei o braço no esfregão, sorrindo. Tyler olhou para o relógio.
— Podemos ir quando você terminar?
— Acho que sim.
Uma mecha de cabelo se soltou do rabo de cavalo, caindo sobre meus olhos. Antes que eu pudesse reagir, Tyler a segurou e a colocou atrás de minha orelha. Sorri para o gesto.
. Você poderia me acompanhar no meu escritório? — Lisa, minha chefe, disse depois de tossir a garganta e abaixar o tom de voz para evitar os olhares dos clientes.
Uni as sobrancelhas, estranhando a sua expressão nervosa, mas entreguei o esfregão para Brody, que oportunamente passava ao meu lado nesse exato momento. Tyler deu um risinho do susto que meu querido companheiro de trabalho tomou, arregalando os olhos verdes e soltou um “Santo Deus, o que é isso”.
— Você, limpa. Eu, vou levar bronca.
Sem dizer mais nada, andei até minha chefe, ouvindo Tyler atrás de mim dizer:
— Boa sorte, gata.
Mandei um discreto dedo do meio para trás, tentando não assustar os clientes. Lisa cerrava os dentes e comprimia os lábios, perto da escada que levava para o seu escritório, esperando-me. Subi as escadas na sua frente, querendo entender o porquê daquilo tudo.
Entramos em seu pequenos escritório e ela foi se sentar em minha cadeira enquanto eu já começava a minha sessão não-foi-culpa-minha:
— Qual é, Lisa, eu já derrubei várias bandejas. E dessa vez nem foi culpa minha, ok? O Brody derrubou cerveja da bandeja dele e eu escorreguei e...
— Já chega, ! — Lisa disse um pouco mais alto do que o usual.
Arregalei os olhos e a encarei surpresa. Nossa, pra quê tanto stress?
— Lisa, eu...
— Cansei das suas desculpas, . Você sempre chega atrasada, sempre entrega os pratos errados, vai embora do nada, fica inventando viagens, os clientes reclamam...
— Ow, ow, ow. Pode parando aí. Os clientes me adoram que eu sei, minhas gorjetas são sempre ótimas!
Coloquei as mãos na cintura.
— Talvez seja pelo fato de que você ficar vindo de jeans apertada e andar rebolando por aí.
EPA. Ninguém insulta o meu rebolado. Especialmente invejosas.
— É O MEU REBOLADO NATURAL, OK? Nós latinas não temos culpa se somos sensuais até no andar.
Lisa pareceu ficar mais irritada ainda e eu imaginei fumaça saindo de seus ouvidos. Seria bem engraçado.
.
Molhei os lábios e esperei calada.
— Você está demitida.
Arregalei os olhos e gritei sem pensar duas vezes:
— Quê?! QUE?!
Ela sorriu cínica e repetiu pausadamente:
— Você. Está. Demitida.
Como assim essa vaca está me demitindo? Quem ela pensa que é?
— VOCÊ NÃO PODE ME DEMITIR!
Ah é, boa tática, . Diga para sua chefe que ela não pode te demitir. Genial.
— Posso e estou. Recolha suas coisas. Não precisa nem terminar o seu expediente.
Boquiaberta e meio gaguejante, consegui reunir palavras dentre minha confusão:
— Mas por quê? Você nunca ligou para tudo isso, você sabe que não. Se quisesse me demitir por isso já o teria feito há tempos. Trabalho aqui já faz quase dois anos! Como... Como...
Lisa pareceu ficar irritada e aquilo me deixou confusa. Ela parecia... Envergonhada?
— Suas... Suas ações foram se acumulando e... E eu não posso mais ter funcionários irresponsáveis como você. Não podemos ter pessoas desajustadas aqui.
— Tá brincando comigo, né? Não sei se percebeu, mas aqui são todos desajustados. Por que mais seriam garçonetes e garçons? Dã. Até parece que alguém faz isso aqui porque quer. — Ri da ideia e então sorri. — Quer saber? Ótimo. ÓTIMO. Eu não preciso disso aqui.
Desamarrei o avental brutalmente e o joguei em cima dela.
— Minha bunda é famosa agora. Eu tenho um outdoor. Não preciso desse emprego de merda.
Virei as costas e saí andando, descendo as escadas raivosamente e escutando um “ÓTIMO” em resposta de Lisa. Mal comida do caralho.
Segui direto para o vestiário e peguei minhas coisas, puta da vida. Puxei a bolsa para meu ombro brutalmente, roubei o desodorante que pulava para fora de uma bolsa qualquer e pensei em fazer alguma coisa para prejudicar o restaurante. Talvez jogar alguma coisa naquelas coisas doidas dependuradas no teto. Ou roubar alguma fantasia que eles tão orgulhosamente dependuravam nas paredes. Talvez o capacete do Darth Vader.
Balancei os ombros. Eu já tinha sido multada nesse mês. Talvez no próximo.
Saí do vestiário com passos firmes e o casaco de frio já vestido. Tyler me encarou surpreso e eu somente o peguei pelo braço e o puxei para fora daquele lugar o mais rápido possível.
— Vamos embora daqui. Eu preciso de um banho.
Ele não se opôs ao meu pedido.
Garoto esperto.

’s POV.


— Mike! Como você está?
Mike estava levemente diferente. Seu cabelo preto estava bem mais longo do que da última vez que eu o havia visto, agora todo espetado com gel, e sua pele estava mais pálida do que seu tom mestiço natural. Ele usava uma roupa de inverno, mas nem de perto o suficiente para o frio que estava lá fora. Ele me abraçou com extra força, seu corpo se inclinando sobre o meu, já que Mike era facilmente uns quinze centímetros mais alto.
— Ah, você sabe como é, né, loira. É complicado.
— E sua casa? E aquele seu trabalho?
— Um desastre, . Longa história. Sabe aquela última tempestade que teve em Nova Jersey, a que saiu no jornal?
— Não tenho televisão, Mike. Longa história também. Mas me conte a sua, primeiro.
— Você tem algum lugar para ir? Porque eu estou livre agora.
— Não. Estou indo para casa ainda e depois vou trabalhar, quer passar lá comigo? – Ofereci colocando meu casaco pesado novamente e sorrindo amigavelmente.
Mike praticamente suspirou de alívio. Provavelmente ele precisava conversar com alguém.
— Claro. Pode ser.
— Então vamos. – Sorri, paguei meus quinze minutos usando a internet e o segui para a rua enquanto fazíamos o caminho para casa. Apertei o casaco contra o corpo com força, frio dos infernos. – Continue a contar, Mike. O que teve essa tempestade?
— Foi no ano novo. Encheu o subúrbio de Nova Jersey, inclusive minha casa. Perdi absolutamente tudo, porque alugava o porão. A única coisa que não perdi foi meu sofá-cama e algumas roupas que haviam sido levadas para o andar de cima para a festa do ano-novo. O resto, puf.
Dei um sorriso simpático para Mike, sabendo que eu estava passando por quase o mesmo sentimento e apertei seu braço em uma forma de demonstrar carinho. Ele sorriu para mim meio tristinho, mas tentando manter seu humor, como sempre.
— Então eu estou só com meu sofá-cama escondido no primeiro andar da casa, tentando sair dali o mais rápido possível porque proprietários de quem alugo não querem pagar pelos danos que tive, apesar deles serem responsáveis por não terem sistema de evacuação de água e impermeabilização das paredes.
— Filhos da puta.
— Eu sei. Mas o ponto é que eu estou tentando achar algum lugar para ficar, porque o meu salário não é bom o suficiente para pagar um apartamento.
Olhei de relance para Mike – e sua cara fofa de gatinho do Sherek – e uma ideia louca surgiu em minha mente. Mas logo a deletei. Não. Claro que não. não ia concordar com isso.
Nós seguimos nosso caminho para casa com calma, ele continuou a me contar como andavam algumas coisas de sua vida. Ele tinha esquecido seu ex-namorado já, o que era um bom avanço para a vida de merda que ele estava levando.
Mike estaria quase no meu nível com a se ele estivesse prestes a dever seu rim para poder reformar seu apartamento como nós estávamos.
Quando chegamos na frente de meu prédio, parei e virei-me para ele.
— Mike. Eu não quero que você se assuste. Algumas coisas aconteceram em nosso apartamento. Coisas mais fortes que o destino. Nós não tivemos chance.
Ele me olhou como se eu fosse a pessoa mais louca do mundo e depois deu de ombros, seguindo-me para dentro do prédio.
Assim que abri a porta do apartamento, deixei com que passasse na minha frente e entrei já jogando minha bolsa no canto, nem ai para nada, quando Mike voltou com tudo para cima de mim agarrando meu braço. Seus olhos brilhavam.
— Diz para mim que esse aperitivo faz parte do destino que você disse.
Por alguns segundos eu achei que ele estivesse falando de Muchu. Não que eu considerasse o Muchu um tipo de aperitivo – talvez somente aquela vez que sugeriu cozinhá-lo por vingança – mas Mike era metade japonês. E vai saber né. Mas não. Quando prestei atenção ao meu redor, encontrei o aperitivo de quem Mike falava.
E meu senhor. Se ele estivesse coberto de chocolate com um laço na cabeça, eu diria que a Páscoa havia chegado mais cedo.
Era Juan. O gostosão, sobrinho do Sr. Mikaelson que havia tanto falado para mim na cama na noite anterior. Ela também havia dito como ele era um desperdício. E eu completamente entendi o que ela quis dizer quando, ao invés de checar meu corpo, Juan deu uma boa olhada no de Mike que estava ocupado demais sorrindo para mim para perceber.
— AHHHH. Não, Mike. Ele é consequência do destino.
— Consequência? Eu chamaria isso de feliz acaso. – Mike sussurrou voltando-se para olhar para as costas musculosas de Juan, que havia voltado a passar massa na parede onde nosso querido sofá antes ficava.
— Oi Juan! – Cumprimentei lançando um sorriso malicioso para minha bicha favorita, que parecia a segundos de hiperventilar. – Eu sou . Esse é meu grande amigo, Mike.
Juan largou a espátula com o gesso e ofereceu-me sua mão amigavelmente. Logo em seguida apertou a de Mike, que fez o favor de soltar uma frase como “Dios mio, muchacho”, o que fez Juan corar, porém deixou-o levemente interessado.
Levei Mike para os quartos, mostrando para ele os desastres que haviam acontecido em minha vida e explicando os danos que foram feitos. Ele deu um mini berrinho quando encontrou Muchu se espreitando no canto de nosso corredor. Depois até agachou para acariciar o lagarto doido.
— Nós pensamos em cozinhar ele.
— Por quê? Coitado. Ele é tão lindo. – Mike estava sentado de perna de índio no meio do corredor ainda passando a mão no Eragon.
— Porque ele é um mala. Quase sempre estamos esquecendo-nos de colocar comida para ele.
— Ah. Eu tenho uma ótima memória para essas coisas de compras, alimentar e tudo mais. É um dos motivos para que eu fosse selecionado como o assistente do editor da Vogue. Ele sempre quer que eu fique decorando coleções passadas e horários de reuniões.
— Mike. Eu tenho uma proposta para você. O que acha de vir morar aqui?
— Sério mesmo? — Ele arregalou os olhos e eu assenti vendo sua animação crescendo. — Eu acho maravilhoso, seria um sonho, . De verdade.
— Então essa é minha proposta. Eu tenho que ir embora agora, porque preciso buscar Anna no balé dela e pegar Theo com a Maria Sofía.
— Sem problemas, loira. Vamos embora. – Ele bateu as palmas contra a calça, como se Eragon tivesse deixado pelo em seu jeans e sorriu tranquilamente para mim.
— Você pode voltar aqui hoje mais tarde? – Peguei minha bolsa novamente, acenei para Juan avisando que ia sair novamente e abri a porta para que saíssemos.
— Sou todo seu, furacão loiro. – Ele fechou a porta de meu apartamento atrás de si. – Quer dizer, até o gostoso do Juan pedir o contrário.

’s POV.


Era somente a segunda vez que eu ia para a casa de Tyler, mas eu agia como se estivesse em casa. Talvez tivesse algo a ver com o fato de que eu sempre fui folgada. E indiscreta. E cara de pau.
— Bom, você sabe que o banheiro é aqui. — Tyler me guiou até seu quarto, que estava uma bagunça, mas eu a ignorei. Péssimo momento para ter um ataque de TOC.
Observei o banheiro e percebi que da última vez havia ignorando um detalhe importantíssimo. A banheira na qual a água do chuveiro caía. Eu estava atrasada para o maldito trabalho quando vim aqui, então tomei banho tão rápido que negligenciei aquele pedacinho do céu.
Uma banheira.
Tudo o que eu precisava.
— Então, você... Usa a banheira? Tipo, ela não tá com problema nem nada?
Tyler riu de minhas perguntas e abriu o armário embaixo da pia, puxando um frasco vermelho.
— Espuma para banho. Ganhei de presente de uma ex-namorada, mas nunca usei. É meio gay. — Ele deu de ombros, me entregando.
Peguei-a de suas mãos e o abracei com força.
— Você — comentei enquanto me soltava dele e apontava o dedo em seu rosto com um sorriso — vai para o céu, meu bem.
Ty riu e se afastou. Não pensei duas vezes e já comecei a me preparar para desfrutar daquela maravilha.
Joguei a minha bolsa em cima da tampa da privada e comecei a tirar as botas de montaria tropegamente, depois as meias e logo em seguida o suéter roxo. Foi somente quando eu terminei de tirar as calças, ficando somente de calcinha e sutiã pretos rendados, que percebi que Tyler ainda estava ali, parado na porta do banheiro, me observando.
Eu normalmente não coro, mas aposto que minhas bochechas ficaram levemente rosadas. Não sei por quê. Deveria ser o frio, sabe, porque eu estava seminua e estamos no inverno...
— Ahn, eu... — Tyler observou meu corpo, os olhos negros me queimando. Coçou a garganta. — Vou... Hm...
Ele pareceu ficar indeciso entre vir até mim ou ir embora. E eu também não sabia se o chamava ou o expulsava.
— Eu vou dar uma saída. — Disse, por fim, se afastando.
Seus olhos subiram de meu corpo para o meu rosto e eu definitivamente corei com o olhar intenso que ele me lançou. Havia algo ali, naquela imensidão negra, além do desejo. Algo que me fez arrepiar e eu tentei reprimir os espasmos que sucedeu o arrepio. Tyler pareceu ignorá-lo.
— Tudo bem.
— Bom banho. Depois eu volto.
Ele se virou rapidamente e pegou o casaco de cima da cama, saindo apressadamente. Soltei o ar com força, sem perceber que estava respirando com dificuldade antes.
O barulho da porta se fechando não demorou muito a vir. Respirei fundo e liguei o chuveiro, tampando a banheira para que enchesse.
Soltei os cabelos calmamente, penteei-os e novamente os prendi, mas dessa vez em um coque. Tirei a calcinha e a blusa novas de minha bolsa, coloquei as maquiagens sobre a pia e observei meu reflexo.
Eu parecia cansada, obviamente, depois da odisseia de hoje.
Olhei para a banheira novamente e percebi que demoraria a encher.
Curiosa e folgada como sou, saí do banheiro somente de calcinha, observando o quarto de Tyler. Havia roupas jogadas em cima da cama, os armários abertos. Dobrei as roupas e as deixei em um montinho em cima da poltrona. Abri as gavetas casualmente e encontrei uma caixa de camisinhas na metade, dentro de uma das gavetas. Franzi o cenho para aquilo e continuei a observar seu quarto.
Arrumei a sua cama, já que os lençóis amassados estavam me deixando nervosa, então resolvi voltar para o banheiro. A água já estava na metade.
Havia três frascos de perfume sobre a pia. Espirrei os três em locais diferentes de meu braço e os funguei. Eu reconhecia todos, mas gostava mais de um deles, cujo nome já estava apagado e o líquido quase no final.
Abri os armários do banheiro, esperando encontrar alguns produtos femininos, mas não havia nenhum indício de que outra mulher estivera ali. Hm.
Joguei a espuma de banho na água que já estava quase no ponto certo, mexendo-a de qualquer jeito, com preguiça de ler no rótulo como fazia. Balancei as mãos na água formando ondas e espirrando água para os lados, mas consegui formar a maldita espuma.
Coloquei a toalha sobre a pia e retirei a calcinha.
Entrei na banheira de água quente e gemi de satisfação. Fiquei somente com a cabeça fora d’água e relaxei.
Fiquei uns bons quinze minutos ali, relaxando e conseguindo tirar todas as dívidas e encrencas e responsabilidades de minha mente. Mas alegria de pobre dura pouco e eu sabia que precisava voltar para casa, verificar o trabalho dos canos, alimentar a iguana assassina e descobrir um jeito de enrolar a e não contar sobre a minha demissão.
Lavei-me lentamente, tentando aproveitar aquele momento ao máximo. Quando terminei de lavar meu corpo, esvaziei a banheira e liguei o chuveiro, fiquei de pé e lavei o meu cabelo.
Terminado o banho, sequei-me e me vesti.
Pensei em esperar por Tyler, até porque, pensando bem, se eu voltasse cedo demais para casa, iria desconfiar.
Mas...
Eu não sabia mais se conseguia ficar sozinha com o Tyler.
Pelo menos não vestida.

’s POV.


— O que você aconteceu, Anna? — Perguntei enquanto agachava em sua frente para tirar suas sapatilhas e trocá-las por suas mini botinhas de inverno.
Ela deu de ombros para mim, os olhos baixos.
— Anna. — Falei puxando seu queixo para cima. — Você não havia ganhado o papel principal na peça de inverno?
Ela deu de ombros novamente.
— Você perdeu o interesse? Alguém fez alguma coisa? — Terminei de colocar suas botas e guardei as sapatilhas em sua bolsa. Levantei e estiquei a mão para ela.
Antes que Anna pudesse me responder, porém, a sua professora de balé — uma mulher perto dos trinta anos, de pele morena, olhos verdes e postura impecável — cutucou meu ombro e sinalizou para que eu fosse falar com ela no canto. Deixei Anna junto de sua bolsa e segui a mulher até uma sala a parte do estúdio.
— Oi. Prazer, eu sou Kaylee, a professora. Eu precisava falar com algum responsável pela Anna porque...
— Sou . Mas eu não sou. — Interrompi-a. — Quer dizer, eu cuido da Anna, mas talvez o Edgar possa ser a melhor opção para conversar.
— Você não é a mãe de Anna? — Kaylee recostou contra sua mesa.
— Não. — Franzi a testa. Era quase dolorido escutar que alguém poderia me confundir com a Sra. Não Sei Dar Valor Para Meu Marido.
— Ah, desculpa. Quando Maria Sofia disse que outra pessoa traria Anna para as aulas e você passou a trazê-la, achei que fosse a madrasta ou mãe.
Eu não me importei em corrigi-la para dizer que Edgar ainda era casado e não existe uma madrasta. Mas então eu teria que explicar que também não existia uma mãe presente na vida de Anna. Trabalho demais.
— Eu tenho um carinho enorme pelos filhos de Edgar, mas não são meus. — Falei e olhei para o relógio no canto da sala. – Não quero te apressar, mas eu tenho que...
— Sim, sim. Então. Como você deve saber, a Anna é a principal no festival de inverno. Preciso que ela compareça aqui nessas próximas duas semanas em outros horários além deste para que possamos fazer o ensaio individual e em grupo.
— Tudo bem, vou trazê-la... — Concordei e já comecei a virar para sair dali. Eu ainda tinha que buscar Theodoro com Maria Sofía no apartamento, ou a coitada não conseguiria limpar nada.
— Outra coisa, . Nas últimas duas aulas a Anna não quis fazer o ensaio, ela tem insistido que não quer mais fazer a peça. — Kaylee disse rapidamente, percebendo minha pressa.
— Vou conversar com ela. Obrigada.
— Claro. Vou enviar os horários dos ensaios para o e-mail de emergência que temos aqui. Obrigada.
Sorri e saí da sala, mas quando voltei para Anna ela não estava sentada no banco que eu a havia deixado. Puxei sua bolsa correndo escada abaixo do estúdio, chamando seu nome e quase tendo um ataque cardíaco quando encontrei-a parada na entrada do estúdio. Peguei seu casaquinho de dentro de sua bolsa e coloquei em seu ombro enquanto parava na sua frente.
— Anna, você tem que parar de sumir desse jeito. Lembra quando você sumiu no supermercado? Seu pai quase teve um ataque.
— Você teve um ataque agora? Desculpa. — Ela disse baixinho, passando os braços nas mangas do casaco.
— Tudo bem, só não faça isso de novo. — Suspirei abotoando seus botões e segurando sua mão enquanto descíamos os últimos degraus e Anna deu um saltinho no último degrau, fazendo a neve do chão afundar sob seus pés.
Nós seguimos nosso caminho pelas ruas de Nova Iorque, já que o estúdio ficava na 3rd com a 66th — ou seja, o apartamento de Edgar era somente algumas quadras de lá. Quando estávamos chegando perto de seu prédio, paradas em um farol para atravessar a rua, eu agachei na frente de Anna para poder olhá-la nos olhos.
— Por que você não quer mais ser a principal do festival de inverno?
— Tem quer ser muito boa para ser a principal.
— Anna. — Falei levantando para atravessar a rua. — Você é muito boa. Promete para mim que você vai continuar nesse festival, seu pai ia gostar muito de ver você dançando.
— Você também?
— Eu também o quê? — Atravessamos outra rua e eu já podia ver o prédio de Edgar. Saquei o celular para mandar uma mensagem para Maria Sofía ir descendo com Theo.
— Você também ia gostar de me ver dançando?
Olhei para Anna, seus olhinhos brilhando em esperança da minha resposta.
— Claro que sim, Anna.
Ela sorriu com seus pequenos dentes de leite e abraçou minha cintura rapidamente antes de voltar a segurar minha mão até o prédio. Alguns minutos depois, estava com Theo e Anna andando em direção ao Central Park, um segurando cada mão. Nós andamos até um parquinho, que por estar nevando, não havia tantas crianças — mas eles se jogaram na neve para brincar do mesmo jeito.
Fiquei observando-os apoiada na grade e quase dei um berrinho quando senti meu celular vibrar na minha bunda. Peguei-o. Era Tyler.
— Me diz que a não foi presa de novo.
Tyler riu na linha.
— Não. Mas eu precisava falar com você, meio que urgentemente. Onde você tá?
— No Central Park, na altura da 64th. Estou com as crianças. — Franzi a testa para a urgência dele.
— Posso ir aí?
— Claro.
Tyler prometeu chegar em dez minutos no máximo e nós desligamos. Continuei a observar as crianças e então Theo veio me buscar para participar da construção de um boneco de neve. Sentei-me na neve e ele sentou em meu colo fazendo a bola da cabeça enquanto Anna fazia a bola maior, do corpo, na minha frente.
? — A voz de Tyler me chamou.
Virei a cabeça para acenar para ele e, com toda sua pose macho alfa, ele andou até onde eu estava com um sorriso desconcertado no rosto. Ele agachou ao meu lado e Theo voou de meu colo para abraçar Ty.
— Oi, campeão.
— Cadê o Muchu? — Anna perguntou, terminando de ajeitar sua bola e depois pegou a de Theo, que soltou de Ty e começou a brigar com a irmã.
Tyler esticou a mão para me ajudar a levantar da neve e puxou-me para cima.
— Valeu, minha bunda já estava congelando de sentar na neve.
— Por que você trouxe eles aqui, no inverno?
— Anna gosta de fazer bonecos de neve e é melhor do que deixar Theodoro no apartamento o dia todo.
— Por que a mãe deles nunca sai com eles?
Theo levantou a cabeça para nós na menção de sua mãe, mas logo depois estava entretido com sua irmã novamente.
— Longa história, Ty. Enfim, o que você queria?
— Preciso da sua ajuda.
— Com?
.
Estreitei meus olhos para ele e, vendo o jeito com o que seus ombros encolheram, como ele desviou os olhos dos meus e depois coçou a parte de trás do pescoço...
— NÃO ACREDITO. — Gritei em sua orelha, começando a pular que nem idiota.
Theo, seguindo o meu exemplo, começou a fazer a mesma coisa e levou Anna a fazer o mesmo. Tyler começou a dar risada e quando eu parei, as crianças também cansaram e continuaram a fazer seu boneco.
— Tá falando sério?!
, eu não sei nem do que você tá falando.
Dei um empurrão brincalhão no ombro de Tyler.
— Você gosta dela, né?
E, como se eu ou qualquer outra pessoa nesse mundo precisasse de mais uma confirmação, Tyler ficou corado. Eu dei outro gritinho, animada e comecei a bater palmas, o que levou Theo a dar sua risada gostosa de criança.
— Eu sempre soube. — Falei, tentando manter a seriedade. Tyler sorriu de lado e deu ombros, ainda constrangido. — Tá. Qual é a ajuda?
— Você acha que eu conto para a ?
— Se eu acho? Tyler, meu amigo, eu estou esperando por esse momento faz algum tempo. Eu tenho certeza que você deveria falar para ela, vai com tudo.
Ele sorriu um pouco mais confiante. Mas um pensamento veio na minha cabeça.
— Na verdade. Não vai com tudo não, pode assustar a . Vamos por partes. Você quer namorar com ela?
Ty arregalou os olhos.
— Namorar? Não exagera, . Quero ver onde nós podemos chegar, mas não vou pedir para casar com ela agora. — Ele sorriu.
— Tyler, você pode simplesmente falar isso para ela, então.
— Você não acha que eu vou tomar um tapa e vai ficar puta?
Ele pareceu meio ansioso.
— Tapa na cara, talvez. Ficar puta, ela pode fingir que vai ficar. Mas ela também gosta de você, Ty.
— Sério? — Os olhos dele se iluminaram e meu coração apertou no peito de felicidade em nome de minha melhor amiga.
FINALMENTE.
— Não sei, minha boca é um túmulo para os segredos de . — Falei e mordi meus lábios, em seguida fazendo o gesto de fingir colá-los, trancá-los e jogar a chave fora.
Tyler riu.
— Então você não pode me dizer se ela gosta de mim?
— Eu, como melhor amiga, nunca poderia dizer que suspeito que ela goste de você desde Las Vegas. Não poderia nem dizer que tenho certeza atualmente, porque sou psicóloga também. Confidencialismo com pacientes.
Tyler riu mais uma vez.
— Não pode dizer, né? Uhum.
Dei ombros.
— Sinto muito, minha boca é um túmulo. — Virei para olhar Anna, que chamava dizendo que havia terminado o boneco.
— Valeu . Tenho que voltar para meu apartamento.
Assenti e ele beijou minha bochecha, antes de se despedir das crianças que estavam começando a fazer uma guerra de bola de neve. Tyler foi embora e eu fiquei no parque mais meia hora, antes de chamar Theo e Anna para voltarmos para sua casa e tomarmos um chocolate quente.
Meu coração flutuava de alegria e eu me perguntei se podia sentir isso também. De vez em quando, nós tínhamos isso de sentir quando a outra estava feliz ou triste demais. Pela primeira vez em um dia de trabalho com as crianças, eu queria ir para casa para que pudesse estar lá quando chegasse.
Eu tinha a impressão que teríamos que arranjar uma nova garrafa de champanhe para comemorar.

’s POV.


Quando cheguei em casa, fui cegada pelo sorriso de , que rasgava de orelha a orelha. Bom, então ela ainda não sabia da minha demissão.
— O que aconteceu, chuchu? Papai resolveu se vingar da esposa safada e te deu um trato hoje?
fechou a cara para meu comentário infame.
— Não.
Entrei na cozinha e deixei minha bolsa sobre a bancada. Peguei uma long neck de Corona e a abri. Precisava beber.
— Tyler falou com você, amiga? — perguntou com os olhos brilhantes.
— Ahn... Não. Ele me deixou no apartamento dele, eu tomei um banho e vim para cá. Ele estava demorando demais.
fechou a cara e cruzou os braços.
— Droga. — Resmungou.
Andei até a sala e sorri aliviada ao ver que o sofá havia sido retirado e a televisão também, graças ao eficiente Juan que se ofereceu. A sala estava completamente vazia exceto pelo móvel onde antes ficava a televisão (uma das poucas coisas que sobreviveram ao Furacão Jules), porque tivemos que jogar fora nossas plantas mortas também, mas pelo menos não estava mais destruída.
Peguei uns cobertores antigos e grossos no meu quarto, ignorando Muchu em seu viveiro, e levei-os para a sala. Enquanto os ajeitava no chão em improviso para podermos nos sentar, veio atrás de mim, falando meio sorridente e meio com medo.
— Então, eu preciso falar com você, amiga...
Terminei de arrumar os cobertores e retirei minhas botas, voltando para a cozinha ainda com a cerveja em mãos, procurando algo para comer.
— Pode falar.
— Eu fiz uma coisa... Quer dizer, primeiro, eu meio que fui obrigada pela minha moral como ser humana de ajudar os necessitados... Não, pera, assim não, eu...
O interfone interrompeu .
— Alô? — Atendi.
— Oi, é o Mike! — Uma voz masculina meio afeminada disse.
Demorei alguns segundos para lembrar que era o amigo gay de .
— AH! Oi, pode subir, Mike.
Bebi alguns goles de minha cerveja.
— Então, você ia dizendo... — Incentivei enquanto abri as portas de casa e ela parecia meio nervosa.
— CHEGUEI, VADIAS! — Mike gritou, saindo do elevador com duas malas enormes junto a si e um travesseiro debaixo do braço.
Encarei-o confusa.
— Você vai viajar? — Perguntei casualmente.
Ele riu enquanto colocava as malas na sala e abraçava .
— Só se for para a sala de vocês.
Olhei para . Ao mesmo tempo que eu estava sacando o que estava acontecendo, eu não queria acreditar. Meus olhos me enganavam.
— Então, ... O Mike é o nosso novo colega de quarto.
Engasguei com o gole de cerveja que eu estava tomando e quase cuspi em cima de Muchu, que passava por entre minhas pernas nesse momento.
— O QUÊ?
— Acho melhor eu sair, né... — Mike foi pegando sua mochila e saindo da sala.
— Não, Mike, pode ficar. — falou amavelmente.
— FICA O CARALHO! — Joguei a garrafa vazia de cerveja dentro da pia e ela quebrou. — , preciso te lembrar que estamos na merda hoje POR CAUSA DE UM COLEGA DE QUARTO?
tentou se aproximar e eu a afugentei com as mãos.
. Calma. Eu conheço Mike. Ele é confiável. Não vai dar uma festa de arromba e destruir nossas coisas.
— É. Também não tenho um iguana de estimação, mas sei cuidar de iguanas. Então posso tomar conta do Charles.
Estreitei os olhos para a bicha louca que tentava invadir minha humilde residência, procurando sinais de uma potencial ameaça em seus olhos levemente puxados e sua pele bronzeada.
— Vamos, , nós precisamos da grana.
, nós SEMPRE precisamos de grana. Somos o fucking mercado de ações. — Joguei as mãos para o alto e abri a geladeira para pegar outra cerveja.
— Ele sabe cozinhar. E trabalha com moda. — foi se aproximando e entrou na cozinha, sorrindo amarelo. — Vai, bfff. Mike é meu amigo e precisa de um lugar para ficar.
— Sei.
— Ele tem um sofá cama. E disse que vai dormir na sala.
Mordi os lábios e reprimi o “tá legal” que quis sair de mim. Respirei fundo e passei por ela, entrando na sala e apontando o dedo no rosto de Mike, que arregalou os olhos castanhos escuros e deu um passo para trás. Ele era bem alto, até.
— Escuta aqui, Michael.
— Mike.
— Tanto faz. Escuta aqui, eu já me fudi o suficiente com colegas de quarto. Então vamos ter regras.
Muchu pareceu se interessar na conversa e veio se enrolar em minhas pernas.
— Certo. — Mike concordou e colocou a mão na testa, não acreditando que eu estava fazendo isso.
— Primeiro: sem novos animais de estimação sem nossa permissão. Segundo: sem festas que destruam o apartamento. Terceiro: você vai fazer o supermercado e sem comidas estranhas e doidas. Quarto: use o quarto de se for transar e coloque uma meia vermelha na porta. — Virei-me para . — Vai ser o nosso novo código para sexo.
Pausei e coloquei uma mão no queixo, pensando.
— Posso conviver com essas regras. — Mike disse relaxando os ombros.
— Ah, sim. Quinta e mais importante regra: sem roubar os homens alheios.
Mike sorriu.
— Pode deixar, . Não farei nada com eles que eles não queiram.
soltou uma risada e eu não pude deixar de abrir um sorrisinho.
É. Isso vai ser interessante.


Vigésimo Oitavo


’s POV.


Uma semana e meia depois.


, você não tem que ir trabalhar cedo hoje? — Perguntei quando apareci na cozinha já vestida para ir trabalhar e a encontrei ainda tomando café da manhã na mesa com Mike.
— Eu... Hm... Decidi ser rebelde. Vou chegar um pouquinho atrasada hoje. — Ela disse dando de ombros e colocando uma colher de cereal na boca já cheia.
, nossa viagem é daqui três dias. Eu não acho a coisa mais inteligente do mundo você ficar se atrasando. Vamos tirar férias que não deveriam existir.
olhou para minha expressão e percebendo que eu iria forçá-la a ir trabalhar na hora, resmungou alguma coisa e depois disse um “Tá bom”, levantando para terminar de se trocar.
— Falando em atrasar para o trabalho, hoje você vai chegar mais tarde, não vai? — Mike indagou colocando um pouco de café fresco em seu copo térmico.
— Uhum. — Concordei engolindo um pedaço da panqueca que antes era de . Ela não ia perceber que eu havia comido, né? — Tenho a apresentação de balé da Anna hoje.
— Ela terminou os ensaios?
— Todos. — Sorri orgulhosa de minha garotinha para Mike e puxei minha bolsa para meu ombro. — Tenho aqui uma troca de roupa para ir à apresentação e alguma roupa emergencial caso eu tenha que passar a noite na casa de Edgar.
— Hm. Qual é a roupa?
— Nada extravagante, Mike. Eu vou como convidada e babá, acima de tudo.
Mike fez um barulho de quem não concordava com o que eu acabava de dizer, mas eu estava certa. Eu não podia ir vestida como amiga ou parte da família porque eu não era nada disso. Apesar de Edgar me tratar como amiga, e seus filhos, como se eu fosse família. A Sra. Delawicz, pelo contrário, sabia exatamente meu lugar e continuava a apontá-lo para mim sempre que nos encontrávamos.
— Bom, eu espero que a apresentação seja legal. Prometo não esperar acordado.
passou na cozinha, olhou para sua panqueca restante com remorso e murmurou um “Tchau, seus molengas” antes de fechar a porta de casa atrás de si. Coloquei meu prato na pia assim que acabei de comer, agradeci Mike pelos votos de sorte e dei um beijo em sua bochecha antes de ir embora também.
Eu passei em um Starbucks no caminho para o trabalho e mandei uma mensagem para Maria Sofía, perguntando se ela queria um café e ela agradeceu, pedindo para que eu pegasse o de Edgar também uma vez que “as coisas estavam feias no apartamento e ela não quis deixar as crianças sozinhas”.
Na última semana, as coisas haviam “ficado feias” o bastante na casa de Edgar. Sempre que Maria Sofía dizia isso, ela queria dizer que meu querido chefe e sua amada esposa estavam chutando o pau da barraca e brigando. E acreditem, a palavra brigar era quase um eufemismo para os dois. Edgar sempre parecia o mais controlado, já a sua esposa, digamos que ela tinha uma compulsão de jogar as coisas na parede.
Eu deveria ter percebido essa mania dela quando ela me jogou contra uma parede querendo me enforcar porque eu havia descoberto que ela pulava a cerca.
No final das contas, eu peguei o café para todo mundo e fui trabalhar com pouca vontade, porque eu odiava estar presente quando eles brigavam. Minha vontade de bater com uma vassoura na Sra. Delawicz e contar para Edgar sobre os companheiros amorosos dela — note o plural, já que nessa última semana ela me apresentou o querido Hector que é primo de Mason. Adorável.
Assim que fechei a porta do apartamento atrás de mim, fui atacada nas pernas por Theodoro, que estava com o rosto vermelho e o nariz cheio de meleca resultante de seu choro de soluços. Maria Sofía tirou os cafés de minha mão e eu agachei para puxar o pequeno para meus braços, abraçando-o com força e já entrando no apartamento.
Eu não precisei atravessar nem metade do corredor que levaria até a sala para escutar a gritaria.
— EU NÃO AGUENTO MAIS VOCÊ ME COBRANDO, EDGAR.
— EU NÃO AGUENTO MAIS VOCÊ IGNORANDO A VIDA DE SEUS FILHOS, MARY ANN.
Encolhi meus ombros e arregalei os olhos ao ver Edgar e sua esposa — que agora eu sei o nome — parados um na frente do outro, com dedos apontados e tudo. Anna estava parada atrás de seu pai, abrindo o berreiro e não ajudando a situação nem um pouco.
— EU NÃO PEDI PARA PARTICIPAR NA VIDA DELES. — A Sra. Delawicz gritou e pegou o copo de whisky vazio que estava por perto.
— VOCÊ É A MÃE DELES, PORRA. — Edgar gritou de volta e eu fiquei quase impressionada ao ver os músculos dos braços dele se tencionarem e aparecerem contra a camiseta social azul clara dele.
— E QUEM DISSE QUE EU PEDI POR ISSO? — Ela arremessou o copo, que se estilhaçou na parede atrás de Edgar.
Maria Sofia apareceu atrás de mim, alarmada, e eu coloquei Theo em seus braços antes de sair correndo para pegar Anna, que estava praticamente roxa de tanto chorar.
Eu apanhei Anna e ela agarrou meu pescoço com uma força quase inacreditável para uma criança de seis anos. Edgar virou-se por um segundo para me ver tirando a filha de perto e seus olhos se suavizaram por um segundo, ao ver a filha tão afetada com a briga.
Ele teve que voltar a atenção para sua esposa quando esta jogou outro copo na parede e deu um grito histérico.
Sério. Alguém precisava medicar essa mulher.
— ONDE VOCÊ ACHA QUE ESTÁ INDO? — Edgar gritou atrás da esposa que foi em direção ao seu quarto com fumaça saindo das orelhas. Figura de linguagem, mas eu posso jurar que vi fogo nos olhos daquela doida.
A Sra. Delawicz trombou pouco delicadamente em Maria Sofía e Theo na sua ida até sua suíte, o que fez Edgar dar outro berro atrás dela e começar a segui-la. Rapidamente, gesticulei para que Maria Sofía levasse Theo – ainda chorando – para o quarto de brinquedos das crianças e assim que ela deixou-o no chão, correu para limpar a sala pedindo desculpa por me deixar sozinha.
Eu sentei no chão com Anna ainda em meu colo e puxei Theo para mim, abraçando-o também e sentindo os dois pequenos tremerem enquanto choravam e eu sussurrava palavras para acamá-los. Dez minutos depois, Anna já havia parado de chorar e estava mexendo no cabelo de uma de suas Barbies que eu havia lhe dado para brincar, enquanto Theo mexia no meu cabelo e fungava o resto de seu choro.
Depois de mais meia hora, eu deixei Theo sentado brincando com Anna e levantei para fazer uma mamadeira para ele e pegar alguma coisa para Anna comer. Saindo no corredor, eu ainda podia ouvir Edgar e sua esposa nojenta brigando dentro de seu quarto, mas pelo menos ela parecia ter parado de jogar as coisas em cima dos outros.
Maria Sofía estava limpando a janela da sala e veio atrás de mim na cozinha enquanto eu esquentava o leite de Theo e pegava uma tigela com gelatina de morango para Anna.
— Eu disse que a coisa estava feia.
— Nossos cafés esfriaram. — Comentei desapontada quando finalmente fui dar um gole no meu. Droga.
— Você não vai comentar nada? As brigas têm piorado bastante entre eles.
— Não é da minha conta. Nós duas sabemos que tipo de esposa a Sra. Delawicz é e como nada disso que essa família passa por causa dela, inclusive as crianças, é justo. Mas não cabe a nós falar nada.
Ou pelo menos eu estava tentando me convencer disso também.
— Como as crianças estão? — Ela perguntou tirando a mamadeira de Theo do micro-ondas e entregando-a para mim.
Dei de ombros, tentando mascarar o quanto eu odiava ver os filhos de Edgar sendo expostos para essas situações. Agradeci pela mamadeira, juntei as coisas para as crianças e voltei para o quarto onde elas estavam, quase pausando para interromper a briga do casal, mas decidindo manter meu emprego.
Quase duas horas depois, eu já havia dado um jeito de dar almoço para as crianças e Theo acabou se exaustando, então resolvi deixá-lo tirar uma soneca antes de acordá-lo para o festival de sua irmã, que começava em cinco horas.
Levei Anna para tomar um banho e enchi a banheira para ela, fazendo muita espuma.
, pega minhas bonecas? — Anna pediu enquanto eu tirava sua blusa e checava o quão quente a água estava com meu cotovelo.
— Vai querer brincar com elas aqui na banheira?
— Vou. — Ela respondeu esticando os braços para que eu a colocasse dentro da banheira.
Eu peguei suas bonecas e quando levei-as até Anna, esta olhou para mim com olhos tristes.
— Papai parou de brigar?
— Hm, não sei, Anna. Acho que sim.
— Ele vai me ver hoje, né?
— Claro que sim. — Sorri e entreguei-lhe uma das bonecas, mostrei outra para ela. — Quer que eu tire a roupa dessa também?
— Aham. Você também vai?
— Não perderia por nada. — Falei dobrando a roupa da Barbie e dando-a para Anna também. Levantei-me do piso e dei-lhe um beijo na testa, passando minha mão molhada em seus fios loiros lindos. — Vou olhar seu irmão um pouco, tá bom? Eu já venho e termino seu banho.
Anna assentiu e começou a brincar com suas bonecas. Deixei a porta de seu banheiro semiaberta, para que ouvisse qualquer problema e voltei para o quarto de brinquedos, onde havia deixado Theo deitado no puff vermelho. Mas quando cheguei lá, apesar de Theo continuar deitado e dormindo, Edgar também estava sentado no chão, contra a parede oposta a seu filho, com a cabeça baixa, mas os olhos fixos no rosto angelical de seu filho.
— Ah... Desculpa. — Murmurei já me virando para sair.
— Não. , tudo bem. Pode entrar. — Edgar me interrompeu olhando rapidamente para mim e depois voltando a encarar seu filho novamente. — Acho que hoje o dia deixou todos cansados.
Eu entrei novamente no quarto e encostei a porta, aproximando-me de Theo para afastar seu cabelo cacheado de seus olhos e sorrindo involuntariamente para a expressão cansadinha de seu rosto.
— Sinto muito. — Respondi para Edgar, que me olhou meio confuso. — Por você ter brigado com sua esposa hoje.
Edgar sorriu fraco para mim e se mexeu para lado, abrindo um espaço para que eu sentasse ao seu lado contra a parede. Eu mordi meu lábio cogitando se aquilo seria apropriado ou não. Depois me lembrei de sua esposa vadia e taquei o foda-se, sentando-me ao lado dele. Edgar suspirou alto e olhou para mim pela lateral de seu rosto, um pequeno sorriso abrindo em seu rosto.
— Eu brigo com minha esposa todo dia, .
— É. Bem, eu só espero que as crianças não tenham que escutar todos os dias. — Falei, sem pensar muito e quase pedi desculpa, uma vez que não era meu trabalho comentar sobre isso, mas resolvi ficar quieta.
— Eu sei que isso faz mal para eles. Mas não tenho como controlar o temperamento de Mary Ann. Ela não vai assistir a apresentação de Anna hoje.
Depois de um minuto sentada ao seu lado, eu comecei a captar a fragrância de Edgar e de repente eu entendia porque Anna e Theo adoravam o colo de seu pai. Ele tinha um cheiro magnífico, mesmo depois de tanto tempo brigando com sua esposa. Era alguma coisa parecida com café, canela e uma colônia masculina.
— A briga era sobre isso?
— Também. Sinceramente, não sei mais sobre o que nós brigamos. Uma hora é sobre as crianças, depois é sobre como nós nos casamos muito cedo.
— E vocês casaram?
— Cedo? Ela tinha vinte e sete, e eu, vinte e cinco. Depois que ela fez trinta e três, ano passado, Mary Ann começou com essa história de que casamos muito cedo.
Edgar se casou com minha idade, praticamente. Isso parecia assustadoramente cedo para mim atualmente.
— Acho que era você quem deveria reclamar por ter perdido seus anos podendo ser o garanhão. — Comentei empurrando o ombro de Edgar com o meu de modo brincalhão e depois ficando roxa de vergonha quando ele se virou para me olhar meio surpreso e depois começou a gargalhar.
— Ela engravidou de Anna, então achei que o certo fosse casar.
— E você se arrepende? — Pressionei, não podendo evitar a curiosidade, mas mantive meu olhar sobre Theo para não afugentar Edgar.
— Se arrependo ter tido Anna? Jamais. Meus filhos são minha vida. Mas acho que poderia ter escolhido uma esposa melhor no cardápio. — Ele respondeu e depois, seguindo meu gesto, trombou contra meu ombro.
Eu ri baixinho e nós ficamos alguns segundos em silêncio, somente olhando Theo em seu sonho pacífico.
— Obrigado por ter tirado Anna de perto de nós, .
— É meu trabalho, Edgar.
— Não. Não é. Seu trabalho é ser responsável por meus filhos quando eu não posso e você faz muito mais do que isso. — Ele virou seu corpo na minha direção, seu olhar cheio de emoções se trancando no meu. — Você cuida de meus filhos e eles têm adoração por você.
Fiquei perdida alguns segundos nos olhos de meu querido chefe. Então quando ele olhou para meus lábios, para meus olhos, para meus lábios novamente e sua testa se franziu inconscientemente com algum pensamento interno, eu tive que praticamente me dar um tapa para manter isso na minha mente.
— Eu realmente gosto dos seus filhos, Edgar. Eles têm um ótimo pai e são crianças muito queridas. — Falei levantando do chão em um impulso e sorrindo meio constrangida.
Eu olhei brevemente para meu chefe ainda sentado no chão, que parecia estar saindo de um transe de tanto que piscava e olhei para Theo, cogitando acordá-lo agora. Mas eu não acho que aguentaria muito mais tempo perto de Edgar. Então eu balbuciei alguma coisa, cocei a cabeça dividindo meu olhar entre Theo e a porta, e sai para ir atrás de Anna, ainda no banho.

’s POV.


Andei alguns passos na rua em direção ao metrô e me escondi em uma mercearia ali perto. Pensei em comprar um chiclete enquanto esperava passar para ir para o seu trabalho, mas com uma viagem internacional de última hora para pagar e desempregada, nem esse luxo eu poderia me dar.
Não demorou muito e a loirinha passou, os cabelos loiros voando e o casaco preto pesado a protegendo do frio de rachar que estava lá fora. Uns dois graus negativos, se duvidar.
Apertei o casaco contra o corpo e esperei um pouco antes de sair, caso ela resolvesse voltar para casa ou olhar para trás. Quando julguei que a barra estava limpa, saí de fininho da mercearia e corri de volta para casa, louquinha pra me enrolar nos cobertores e tirar um cochilo e aproveitar que hoje não teria que ficar enrolando na casa de Brody, meu ex-colega de trabalho, fingindo que estava no turno da noite. provavelmente dormiria nos Del Toro. Ou seria De La Fuente? Na verdade, não sei se eles são espanhóis ou latinos. Talvez poloneses.
De qualquer jeito, subi de escada mesmo, correndo. Entrei em casa, tranquei a porta e joguei as chaves na bancada, retirei meus casacos e os joguei no sofá-cama de Mike que estava na sala. Fui para a cozinha preparar um achocolatado quente e quase derrubei a lata de chocolate em pó em cima de Charles (a Iguana) quando Mike saiu da área de serviço minúscula de nosso apartamento com uma toalha ao redor da cintura e uma cueca em mãos.
— AHHHHHH! — Gritamos juntos.
— O que você está fazendo aqui? — Falei alarmada.
— Eu que te pergunto, querida! — Ele gritou de volta, se abanando com uma mão e se recuperando do susto.
Apoiei a lata de achocolatado na pia e normalizei minha respiração. Acho que até Muchu estava com sua pata no tórax depois desse susto.
— Foi mal, foi mal. Eu deveria ter te visto aí. — Comentei enquanto ligava o fogão para aquecer o caneco com leite.
— Ai, , você desperta a minha bicha interior. — Mike se abanou e se recompôs, seguindo para o banheiro, onde se trocou enquanto eu terminava de fazer o leite (agora em maior quantidade).
Quando Mike voltou, vestindo uma blusa de manga comprida preta e uma calça de moletom verde-escura e chinelos, sentou-se na banqueta do balcão e pegou o chocolate quente que eu lhe entreguei.
Tentei jogar conversa fora e contornar a situação com uma desculpa de que esqueci alguma coisa e resolvi fazer um chocolate quente. Ótima desculpa, eu sei. Por isso que sou atriz.
— Então... Você não foi trabalhar hoje? — Comentei enquanto assoprava a minha caneca, os cotovelos apoiados na bancada.
— Não. Eu precisava resolver umas coisas para o meu chefe na rua e na internet, então iria primeiro fazer pelo computador aqui de casa e sairia só depois do almoço.
Assenti e ignorei seus olhos castanhos acusadores. Bebi meu achocolatado e observei minhas unhas.
.
Mike pegou em minha mão e eu não consegui continuar a evitar o seu olhar.
— Eu sei que sou amigo da , mas também quero ser seu amigo.
Bebi mais alguns goles enquanto sua sabedoria gay me tocava.
— Você foi demitida, não foi?
Terminei o achocolatado mais rápido do que deveria de nervosismo e quando terminei botei o caneco na pia e me virei para ele choramingando.
— Não foi minha culpa, Mike!
Ele riu e assentiu, levantando da bancada e entrando na cozinha para me abraçar.
— Eu sei, eu sei. Ser garçonete é um emprego muito desgastante. Tem que ouvir muita porcaria de muita gente.
Nós andamos meio abraçados até o sofá cama (que era de casal) e deitamos nele. Respirei fundo e resolvi confiar na bicha. Mike não parecia ser do tipo fofoqueiro, de qualquer jeito.
— Certo. Eu meio que descobri isso esses dias, através do meu ex colega de trabalho, o Brody.
— Hãn. Diga.
Cochichei como se alguém pudesse nos ouvir.
— Essa puta me demitiu porque estava apaixonada pelo Tyler. E como ela nunca gostou de mim mesmo, ela simplesmente resolveu me demitir!
Mike abriu um sorriso malicioso que me fez ficar com cara de interrogação.
— Por que você tá sorrindo, sua bicha louca?
— Ei. Olha o respeito. Sou uma bicha comportada.
— Ok, desculpa.
Ele deu de ombros e me olhou com o mesmo sorriso de antes.
. O que sua chefe estar apaixonada por Tyler tem a ver com ela te demitir?
— Eu sei lá. Só sei que nosso santo nunca bateu. E ela andava bem putinha comigo já, quando falei da viagem do Brasil então...
. — Mike me interrompeu, colocando o braço no meu ombro. — Ela acha que o Tyler está apaixonado por você e ficou com ciúmes.
Soltei uma gargalhada que pareceu um pouco forçada até para mim. Ri nervosamente.
— Que ideia idiota, Mike.
Ele deu de ombros e levantou-se do sofá-cama para ir até a cozinha pegar uma banana.
— Você quem sabe, meu bem, mas eu concordo com a sua chefe.
Para meu alívio, meu celular tocou no exato momento, salvando-me de responder Mike. Essa bicha sabia arrancar umas coisas de você que você nem sabia que existiam. Já tinha coisas reveladas demais para o meu gosto: minha bunda no outdoor que o diga.
Corri para o meu quarto — agora limpo, sem o esqueleto da cama destruída por , com o viveiro de Muchu no canto e um colchão no chão onde eu estava dormindo e minhas roupas no guarda-roupa novamente — e peguei o celular que estava sobre o colchão de casal que compramos com o meu dinheiro das fotos que sobrou e um empréstimos de Mike.
Infelizmente, eu havia fugido da bicha investigadora, mas o meu maior problema é quem me ligava.
— Fala, garotão.
— E aí, gata.
A voz de Tyler era meio sonolenta do outro lado da linha.
— Vai ter que fugir de casa pra não descobrir hoje? Não precisa ir pra casa do Brody, você sabe que pode vir pra cá. — Ele ofereceu.
Molhei meus lábios secos. Toda a semana Tyler me ofereceu ficar em sua casa, mas eu achei melhor ir pra casa de Brody.
— Ah, o Mike descobriu. Voltei pra casa e ele ainda estava aqui, maldito. E hoje vai dormir na casa do papai bonitão.
Tyler riu.
— Vai dar o troco na mulher dele?
— Foi o que eu disse para !
Nós dois rimos como antigamente.
— Bom, Ty, de qualquer jeito, vou ficar em casa hoje. Dar uma olhada na conta e começar a ver o que precisamos comprar para o Brasil.
— Ah. Tudo bem. O que eu preciso levar mesmo?
Respirei fundo. Desde que Tyler me contou há uma semana que iria para o Brasil conosco (pelo feliz convite de minha querida melhor amiga), eu fazia de tudo para esquecer esse fato. A tensão entre nós ficava maior a cada segundo e eu não sabia muito bem o que fazer com isso.
— Roupas de calor. Protetor solar. Óculos de sol. Um terno, mas um terno que seja menos quente, porque você vai tostar. E... Chinelos. Acho que tá bom.
— Anotado, madame. Talvez eu passe aí amanhã pra te ajudar com as coisas...
— Não precisa.
Ficou um silêncio meio desconfortável, então tossi e completei.
— Obrigada, gatinho. Mas eu consigo me virar sozinha. Vai deixando as coisas do escritório prontas porque lá no Brasil você não vai ter tempo para trabalhar.
— Ok, gata. Depois a gente se fala.
Desligamos.
Joguei-me no colchão de costas e segurei o celular no peito. Muchu veio andando até mim e subiu na minha barriga.
Olhei para o teto e então para o bichano.
— Ai, ai, Muchu. O que eu faço?
A iguana girou na minha barriga e se acomodou para dormir.
É, talvez dormir fosse mesmo o melhor a se fazer.

’s POV.


Uma hora antes da apresentação, eu estava colocando a tiara de flores na cabeça de Anna e ajustando as roupas de Theo, já que teríamos que sair em menos de dez minutos. Deixei Maria Sofía cuidando das crianças, enviei uma mensagem para Edgar – que havia voltado para o escritório – avisando que seus filhos estavam prontos e ele respondeu segundos depois dizendo que já estava chegando ao quarteirão. Entrei no banheiro de Anna para tomar um banho e me trocar.
Esticando o vestido no ar, pensei duas vezes se ele seria a peça mais apropriada que eu poderia ter trazido, mas agora já era tarde demais para mudar de ideia. O vestido era talvez simples demais para uma apresentação de balé. Tinha uma cor nude, era feito de renda e tinha um laço preto logo embaixo do busto. Não era tão colado nem solto na saia – então eu julgava que ele era fofo sem ser infantil e sexy sem ser exagerado (porque me deixava com belos peitos).
Deixei as coisas em cima da pia e peguei a toalha que Maria Sofía havia separado para mim. Demorei menos de cinco minutos no banho, não precisando lavar a cabeça e logo estava enrolada na toalha me secando. Dois minutos depois eu estava com as roupas íntimas, penteando meu cabelo, enquanto olhava para o meu reflexo no espelho. Minha maquiagem havia saído durante o banho, então eu apliquei uma nova rapidamente, usando coisas básicas.
Dei de ombros para mim mesma depois de ver o resultado final pós-maquiagem, puxei o vestido para cima em meu corpo. No segundo em que passei as alças pelos braços e comecei a me contorcer para subir o zíper do vestido, a porta do banheiro abriu.
— Onde você disse que estava, Ma... – Edgar ia dizendo e ele parou imediatamente quando me viu.
— No banheiro do quarto de Theo! – Ouvi Maria Sofía gritar ao fundo, meus olhos grudados nos de Edgar, ainda petrificado.
Eu fiquei desconfortável imediatamente. E não pelos motivos que eu gostaria. Para começar, sei que Edgar é meu chefe e ele quase acabara de me ver em roupas intimas se tivesse entrado um minuto antes – mas o que me deixava realmente desconfortável eram os olhos dele.
Veja, o problema dos olhos de Edgar não eram as marcas nas laterais – que eu não chamaria de ruga – de quando ele sorria abertamente, ou a finitude verde que lembrava aquela pedra chamada esmeralda. Também não eram suas pupilas levemente dilatadas, que eram prova de que ele estava sofrendo uma reação física ao me ver ali. O problema, verdadeiro, era o fato dos olhos dele estarem grudados em meu rosto.
Somente meu rosto.
Nem durante um segundo ele parou para olhar para o meu corpo, que geralmente era o afrodisíaco para deixar as pupilas dos homens dilatadas. Não. Ao invés disso, ele continuava olhando para meu rosto e um pequeno sorriso tocou o canto de seus lábios.
— Desculpe. — Ele falou, limpando a garganta, depois de dolorosos segundos em silêncio.
— Tudo bem... — Falei, mas minha voz foi quase um sussurro inaudível.
— Quer que eu feche? — Ele perguntou olhando brevemente pela reflexão do espelho para minhas costas expostas pelo vestido, uma vez que eu não conseguia fechar a porcaria do zíper.
Eu mordi meu lábio inferior. Minha mente gritando: “NÃO PRECISA, APROVEITA E TIRA MEU VESTIDO”, mas meus lábios falaram:
— Okay.
Virei de costas para ele, respirando fundo e esperei. Eu pude ver pela minha visão periférica a sua reflexão no espelho se aproximando, ele parando tão próximo de mim, que quando eu estreitasse a coluna minha bunda roçaria na frente de suas calças. O ar parecia denso ao meu redor. As mãos de Edgar eram praticamente uma tortura de tão leves.
Ele tocou levemente meus cabelos, puxando os fios para o lado, jogando-os de um lado de meu ombro e uma mão desceu até minha cintura, onde seus dedos pousaram confortavelmente sobre o tecido rendado – fazendo com que meu corpo praticamente entrasse em combustão. Eu respirei fundo e ajeitei minha coluna, fechando os olhos quase com força quando senti o tecido da calça de Edgar encostar-se ao tecido de meu vestido.
Eu dei um passo para frente inconscientemente, tentando manter minha sanidade mesmo com a simplicidade dos toques de Edgar - mas sua mão em minha cintura não deixou com que eu fosse muito longe, seus dedos pressionando-me com mais força para me segurar. Sinceramente, eu estava começando a me sentir tonta.
O zíper subiu sem nenhuma objeção quando Edgar o puxou, o barulho fazendo com que meus braços se arrepiassem. Novamente, a mão leve torturante puxou meu cabelo para trás e eu pude sentir o corpo de Edgar se inclinando sobre o meu. Respirei fundo, sentindo como se meus pulmões fossem explodir e virei-me para encará-lo, momentaneamente em choque por estar tão próxima de meu chefe. Os olhos dele ainda estavam em meu rosto, cheios de... Admiração?
Isso é tão errado.
Isso é tão certo.
Isso é MUITO errado.
— Você é pequena. — Ele disse de repente.
Eu abri a boca para responder. Pensei melhor. Fechei a boca.
— Você sempre usa salto, mas quando não usa, fica pequena. — Ele continuou a falar.
— Meu tamanho é perfeitamente normal e dentro da média. — Respondi com a voz ainda baixinha.
— Média de que país?
— China. — Respondi com um sorriso pequeno se formando em meus lábios e me afastei dele com um passo para trás. — O quê você estava procurando?
— O pano que Theo usa para dormir. Ele estava reclamando porque tinha perdido.
— Já coloquei dentro da bolsa para levar. Eu imaginei que ele fosse acabar dormindo durante a apresentação, já que vai durar até o horário que ele geralmente dorme.
— Obrigado, . — Edgar deu alguns passos para trás também. — Estamos esperando você.
— Só vou calçar a sapatilha.
Ele saiu e eu tive que respirar fundo algumas vezes para me recompor. Isso não estava dando certo. Eu era atraída por meu chefe e ele era uma ótima pessoa. Ótimo até demais para estar sendo cornado por sua esposa. Ótimo demais para que eu não conte para ele. Talvez eu devesse contar. Não era certo uma pessoa como ele... Mas e Theodoro e Anna? Se seus pais se divorciassem, com certeza a mãe deles iria embora. Eles a perderiam quando já praticamente não a tinham.
Balançando a cabeça para afastar todos os pensamentos e relaxando os ombros, desisti de pensar no assunto. Quando eu voltasse do Brasil eu resolveria esse assunto. Eu me decidiria até lá.
Calcei minhas sapatilhas, passei no quarto de Theo para pegar a bolsa que eu havia citado para Edgar e fui para sala, onde eu realmente era esperada. Não muito tempo depois, estávamos todos no carro, já chegando ao local onde Anna se apresentaria. Edgar estacionou seu carro no meio de todos os outros e eu não pude deixar de notar como todos os carros eram chiques. Talvez não no nível dos carros que eu via com Charles (o inglês, não a iguana), mas certamente um nível alto o suficiente para alguém que sempre andava de metrô – vulgo, eu.
O teatro era imenso e bem iluminado. Os lugares não eram demarcados, portanto já havia várias famílias ocupando as primeiras fileiras, nos forçando a sentar na quinta fileira, porém bem no centro. Anna começou a me arrastar para irmos até o camarote e Theo ficou com Edgar.
! Anna! — Kaylee, a professor de Anna acenou entusiasmada para nós duas.
Eu levei Anna até ela, conversei com Kaylee durante alguns segundos e ela logo teve que ir dar atenção para outras mães. Agachei na frente de Anna e segurei suas mãozinhas.
— Você vai arrasar.
— Vou olhar para você e o papai o tempo todo. — Anna sorriu me abraçando rapidamente.
— Nós estaremos lá. — Falei sentindo meus olhos queimarem por lágrimas que queriam se soltar ao pensar em como Anna merecia que sua mãe estivesse presente também.
Anna foi se juntar à suas amiguinhas e eu voltei para onde estávamos sentados com o coração inflado de orgulho por ela. Edgar estava conversando com uma mulher de cabelo moreno preso em um coque chique quando eu cheguei. Sem interromper sua conversa, peguei Theo de seu colo e o pequeno veio com vontade, cercando minha cintura com suas perninhas.
, essa é Margaret. Mãe de uma das amigas de Anna.
Equilibrei Theo em meu colo e estiquei uma mão para a mulher, que a apertou sorridente. Ela devia ter perto de quarenta já. Bem mais velha que Edgar, como a maioria dos pais ali e eu me perguntei se ele se incomodava – apesar de parecer extremamente confortável, como sempre.
— Finalmente estou tendo o prazer de conhecer a tão sumida esposa de Edgar.
— Ah... — Ofereci-lhe um sorriso confuso. — Não sou a esposa. Sou a babá.
— Bem, então vejo que a esposa continua sumida. — Margaret riu meio desconcertada.
Alguns segundos depois ela ergueu uma sobrancelha questionadora ao olhar para a maneira em que estávamos parados: Theo em meu colo brincando com alguns fios de meu cabelo, meus braços protetoramente envolvendo-o e Edgar, casualmente posicionado atrás de mim, sua mão tão leve – que eu quase não perceberia se não causasse meu corpo inteiro a pegar fogo – pousada sobre minha cintura.
Eu sabia o que essa mulher estava pensando. E eu queria gritar na cara dela que nós não estávamos tendo um caso. A esposa “sumida” dele que estava. Aquela nojenta.
— Ah! O espetáculo vai começar! Beijinhos! — Margaret acenou e apertou a bochecha de Theo, que fez careta e escondeu o rosto em meu pescoço.
As luzes apagaram lentamente, dando tempo para que Edgar e eu sentássemos. Theodoro voltou para o colo do pai, se ajeitando confortavelmente no meio de seus braços musculosos e por alguns segundos eu o invejei.
Anna estava linda. Ela foi linda e perfeita durante a apresentação toda. Seu solo de balé trouxe lágrimas aos meus olhos apesar do fato que eu não entendia nada, porque balé não tem palavras para explicar a história direito. Uma hora e meia depois, todas as famílias estavam batendo palmas para seus filhos agradecendo no palco. Theo havia apagado no colo de Edgar, então quem levantou para buscar Anna fui eu.
Ela estava radiante sorrindo entre suas amiguinhas e recebendo elogios de sua professora – mas ela pulou em meus braços assim que me viu e, depois de agradecer timidamente os meus elogios, pediu para que fossemos para casa pois estava cansada.
Exatos quarenta minutos depois, estávamos na casa de Edgar já. Eu havia colocado Anna em seu pijama, desfeito seu coque e tirado sua maquiagem. Ela estava encolhida contra meu corpo enquanto eu contava uma história, seus olhos se fechando gradualmente. Edgar entrou no quarto silenciosamente e afagou o rosto da filha cuidadosamente.
— Papai está muito orgulhoso, você estava linda hoje, filha.
Com isso, Anna suspirou fundo e caiu completamente em seu sono. Eu levantei da cama com a ajuda da mão de Edgar e fui checar Theo – que estava dormindo desde a peça – antes de ir eu mesma dormir. Coloquei meu pijama e andei lentamente até a cozinha, me sentindo estranha, porém confortável até demais por estar andando por lá tão casualmente.
Edgar estava na cozinha, esquentando água na chaleira e se virou para mim com um breve sorriso no rosto. Ele ainda estava vestido normalmente. Dessa vez seus olhos vagaram, observando meu pijama e eu pensei como deveria ter escolhido um pijama melhor. Infelizmente, eu havia trazido comigo uma simples calça moletom e uma blusa de manga comprida azul marinha de Noah – que quando voltei de Las Vegas achei em minha mala, porém como ainda não havia visto ou falado com ele, eu usava como pijama.
Nada de sentimentalismo. A blusa só era confortável mesmo.
Enchi um copo de água, sentindo minhas costas queimarem enquanto Edgar me observava descaradamente com um sorriso nos lábios.
— Eu... Estou indo dormir, tudo bem? Amanhã eu arrumo as crianças antes de ir embora. E no final da semana eu já estou de volta do Brasil.
Edgar assentiu.
— Está ansiosa? Para chegar ao Brasil?
— Mais ou menos. — Mordi meu lábio inferior e terminei de tomar o copo de água. — Não vejo meus pais há dois anos. Vai ser bom matar a saudade.
Ele assentiu de novo.
— Aproveite, . E obrigada por ter ido à apresentação. Significa muito para Anna. E para mim. Quer chá?
— Não, obrigada. E eu não acho que seria capaz de perder alguma coisa importante para Anna. — Falei aproximando-me dele para colocar o copo na pia, nossos braços encostando-se rapidamente. — Boa noite.
— Boa noite.
Como se ele não tivesse tido o reflexo de parar a si mesmo, Edgar deu um beijo em minha bochecha. Eu gelei durante alguns milissegundos, depois um sorriso idiota começou a aparecer em meu rosto então eu simplesmente virei e sai andando para fora da cozinha.
Limites.
Eu precisava arranjar limites com meu chefe urgentemente

’s POV.


Quando acordei naquele dia, só conseguia sorrir. O dia anterior tinha sido o último que eu fingi ir para o Planeta Hollywood e hoje, hoje era o dia. Hoje de noite iríamos voltar para o Brasil.
Eu não via meus pais fazia uns dois anos. Com a falta de dinheiro de nossa parte e da parte de meus pais, já haviam se passado dois anos desde que eles haviam vindo me visitar junto com os pais de . Seria um choque para eles, principalmente o fato de que eu continuava solteira. Com toda a certeza minha mãe me pressionaria a ficar com Tyler.
já estava a todo vapor na cozinha. Não havia falado muito sobre como havia sido no trabalho, mas também não perguntava mais sobre Tyler. Já estava me dando nos nervos.
— Então, minhas lindas, que horas vamos? — Mike comentou chegando em casa, com sacolas cheias.
— Que que é isso, Mike? — Perguntei apontando para as sacolas.
— Roupas novas de verão. Posso não ser uma bicha espalhafatosa, mas sou uma bicha arrumada. E quem sabe não arrumo um macho pra curtir comigo lá?
Ah, é. Mike também vai para o Brasil com a gente. Ultimamente, estava mais fácil perguntar quem não ia com a gente pro Brasil.
— Isso aí, Mike. — incentivou, enquanto pousava a tigela com ovos mexidos sobre a mesa que ela havia acabado de fazer.
Peguei os pratos nos armários e coloquei-os sobre a bancada junto com canecas. Mike deixou as sacolas sobre o sofá-cama e pegou a garrafa de café para colocar sobre a mesa. Sentamos nas banquetas e começamos a comer nosso café da manhã, mesmo sendo quase 14h.
— Então, como eu havia perguntado, que horas vamos? — Mike perguntou enquanto bebericava o seu café.
— O voo é 23h. Temos que estar no aeroporto três horas antes. — Respondi de boca cheia.
— Então temos menos de seis horas para arrumar todas as malas, arranjar todos os passaportes, etc?
— É, por aí, . — Mike respondeu. — Fodeu.
Terminei de comer e joguei o prato na pia, concordando com a cabeça com Mike. Eu estava indo arrumar as minhas malas, quando tocaram a campainha e disse que iria atender. Fui para o quarto calmamente, até que Muchu saiu correndo do quarto em um rasante, passando pelo meio de minhas pernas correndo e gritando como o lagarto doido que era.
Eu só havia visto Muchu tão doido assim poucas vezes.
E isso só acontecia quando...
— JUUUUUUULES! — e eu gritamos ao mesmo tempo.
Corri para a porta e lá estava. A safada. Riponga de quinta categoria destruidora de lares. Ladra de lavadoras de louça. Maconheira barata. Loira falsa. Guru falseta.
Eu já estava acabando com os xingamentos mentais quando se pronunciou.
— Como você tem coragem de vir para cá depois de tudo o que fez?
Seus cabelos loiros oxigenados antes com as pontas verdes agora estava castanho, o que era uma mudança bem radical para Jules. Ela usava calça jeans e uma blusa branca por baixo do casaco pesado de frio.
— Eu sei que deixei o apartamento sem aviso e meio destruído... Mas eu precisava voltar para me desculpar e para buscar Charles.
Abaixei-me e peguei a iguana doida que rodava ao redor de nossos pés.
— Sua hippie lazarenta, você abandonou o Muchu e acha que pode reconquistar o amor dele fácil assim? — vociferou.
Muchu chiou em meu colo e subiu em meu ombro. Ele parecia feliz e triste ao mesmo tempo de ver sua dona. Jules estendeu as mãos para ele, mas eu lhe lancei um olhar tão assassino que ela deve ter pensado que eu arrancaria sua mão fora com os dentes se ela chegasse perto. E olha que eu arrancaria.
— Meninas, eu sinto muito. Naquela festa eu consegui a minha libertação dessa vida hinduísta e percebi que esse nunca foi o meu caminho, que eu estava perdida esse tempo todo. Então eu voltei para buscar Charles, que eu nem sabia que estava vivo ainda. E para me desculpar.
Eu pensei que eu seria a pior com Jules, mas parecia tão vermelha quanto uma pimenta malagueta. Mike segurou-a pelo braço gentilmente.
— VOCÊ NOS DESTRUIU, SUA MALDITA! DEIXOU O APARTAMENTO PARECENDO QUE FOI ATINGIDO PELO KATRINA! DEIXOU A SUA IGUANA DENTRO DE UM FOGÃO? E ACHA QUE DESCULPAS VÃO FAZER DIFERENÇA? EU VOU TE MOSTRAR O QUE VAI FAZER DIFERENÇA...
— CALMA, MINHA FILHA! — Segurei-a pelos braços e Mike tirou Muchu de meus ombros.
respirava rápido e fundo olhando para Jules como se fosse matá-la.
, eu sinto muito. De verdade. Eu trouxe aqui trezentos dólares para ajudar com os gastos e...
Empurrei para trás e apontei o dedo na cara de Jules.
— Escuta aqui, minha querida. Sabe o que eu faço com trezentos dólares nesse Titanic que você abandonou? EU LIMPO A BUNDA COM ESSA MIXARIA! Só os canos que você estourou foram o DOBRO disso, sua riponga!
— Já disse que não sou mais hippie, .
Coloquei as mãos na cintura.
— Ah é?
— É. Eu encontrei Jesus.
Respirei fundo.
— Ótimo. Então dá os trezentos dólares para Jesus E MANDA ELE MULTIPLICAR!
Jules suspirou, percebendo que aquilo não levaria a lugar algum.
— Então tudo bem. Eu só quero o Charles de volta.
enfiou a cabeça no meio de nós.
— DE JEITO NENHUM! O ERAGON É NOSSO AGORA! Nós que cuidamos dele quando ele estava na pior, sua ingrata! Abandonadora de répteis!
Mike interveio.
— Meninas, uma palavrinha com vocês...
— QUE FOI? — Gritamos juntas.
Fomos atrás dele até a sala e ele cochichou para nós.
— Escutem, antes de começarem a gritaria que nem duas loucas. Nós vamos para o Brasil hoje. Ficar quatro dias fora. Onde vamos deixar o Charles?
Paramos e percebemos a cagada. Ficamos tão preocupadas em arrumar as malas que nos esquecemos da maldita iguana.
— Droga. — resmungou.
— É. Acho que devemos devolver o bichano. — Olhei para Muchu, que andava ao nosso redor, olhando para a antiga dona de longe.
— Mas... Ele virou nosso amiguinho. — resmungou.
— Eu sei, eu sei. Depois, quem sabe no futuro, podemos comprar um bicho de estimação para nós. — Mike falou abraçando de lado.
Ficamos nos entreolhando e percebemos que era hora de deixar a Iguana ir embora.
E então, em menos de uma hora, Jules havia ido embora com o viveiro de vidro de Charles (a Iguana, não o inglês fujão) e com todos os pertences restantes dela. Ah. E no final aceitamos os trezentos dólares. Quem sabe não daria para pagar uns vestidinhos no Brasil?
Arrumamos as coisas silenciosamente, de luto.
Muchu era parte de nossa trupe, nesse desastre todo do Furacão Jules, e agora havia ido embora. Assim como nossa máquina de lavar louça, o sofá, a televisão e o meu adorável micro-ondas. Oh, meu pobre micro-ondas.
Guardamos todas as comidas na geladeira e fomos à farmácia comprar protetor solar e uns remédios básicos. Tivemos que comprar a merda do presente de casamento da Thalia (eu dei um conjunto de roupões felpudos da Saks e deu um mixer doido aí) e então voltamos para casa. Os biquínis daqui era grandes demais comparados aos biquínis brasileiros, então resolvemos que deixaríamos para comprar lá, mesmo sendo um pouco mais caro.
Quando voltamos para a casa, eram quase cinco horas da tarde. Faltavam três horas para sairmos e ainda não tínhamos colocado as coisas nas malas. Dividimos as tarefas, eu montava as malas de roupa, Mike os nécessaires e organizava a casa.
Dentro de duas horas e meia, quando Tyler chegou em casa para todos pegarmos o mesmo taxi para o JFK, nós estávamos correndo pela casa e gritando um com o outro.
— BABYLISS?
— PEGUEI! — Mike respondeu à .
— AH! AH! OS MEUS ÓCULOS DE SOL? — Gritei.
— TÁ NA SUA BOLSA DE MÃO! — me respondeu.
— Vocês ainda não estão prontos? — Tyler resmungou. — Temos que estar no aeroporto em trinta minutos.
— Ai, Tyler, essas meninas arrancam a bicha de mim. — Mike disse enquanto puxava a sua mala de rodinhas vermelha para perto da porta. — Eu estou pronto. disse que não acha o seu short jeans favorito e quer os fones de ouvido.
— ACHEI! ACHEI! — Gritei e saí do quarto correndo, puxando minha mala roxa atrás de mim e com a bolsa preta no ombro. — TÔ PRONTA!
— EU TAMBÉM, EU TAMBÉM! — saiu da cozinha correndo. — O short estava na máquina de lavar roupa. — Ela enfiou o short dentro da bolsa bege que levava, satisfeita. — Estamos prontas.
— Aleluia. — Mike e Tyler falaram ao mesmo tempo e todos nós descemos as escadas com dificuldade.
O frio lá fora castigou. Eu insisti em não usar um casaco pesado demais ou meia-calça, pois agora em Janeiro o calor no Brasil era de uns trinta graus na região litoral paulista, que é onde seria o casamento de Thalia.
Entramos no primeiro taxi que encontramos e Tyler foi no branco da frente. As malas quase não couberam dentro do porta malas.
— JFK, por favor. — Pedi ao taxista.
— Rápido, moço. — Mike apressou.
— VAMOS PARA O BRASIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIIL! — Gritei animada e me acompanhou.
Sorri para todos e senti o olhar de Tyler para mim pelo retrovisor.
Alguma coisa me dizia que essa viagem iria matar muitas saudades.


Vigésimo Nono


’s POV.


Eu odiava aeroportos. Não só porque havia o estresse de passar na alfândega – e eu sempre tinha a sensação que os oficiais me parariam e diriam que meu passaporte estava vencido ou alguma coisa do gênero e eu acabaria deportada para o Brasil em um avião de carga junto com animais. Sim, eu sabia que a coisa não funcionaria assim, graças ao meu Green Card. Mas nunca se sabe.
O ponto é que eu realmente odiava aeroportos porque eles eram lotados de pessoas nas mais diversas situações. Principalmente em Nova Iorque.
Havia pessoas como Charles era: vestidas formalmente e carregando somente uma pequena mala, – para dois dias no máximo – enquanto iam viajar a trabalho. Pessoas olhando ao redor perdidas, sem saber exatamente para onde deveriam estar indo ou se queriam estar indo. Famílias, algumas barulhentas e outras silenciosas, viajando juntas – e estas geralmente me traziam saudade de quando meus pais viajavam comigo e minha irmã. E ainda tinham os casais.
Ah, os casais. Esses eram os piores para mim.
Você sempre encontra um casal que está se separando. A cena pode até ser bonita, mas eu sempre me senti culpada vendo um momento tão triste e pessoal deles sendo exposto para qualquer um. Às vezes, você encontra o casal que está se revendo. Aí é tudo mais bonito e deprimente também, quando você está solteira.
Que é o meu caso.
Mas não é que eu esteja deprimida por estar solteira. Quer dizer. Obviamente eu adoraria poder levar uma pessoa como Charles para conhecer minha família e fazê-lo bombardear a todos com seu charme inglês. E como nós não estávamos mais juntos, tudo que eu podia trazer era meu amigo gay que insistia em estudar português, minha melhor amiga barulhenta e o Ty – que não entendia absolutamente nada e também parecia não querer entender.
— O que significa “é nóis na fita”? — Mike me perguntou com seu português puxadíssimo, quase inteligível.
Estávamos todos sentados no portão de nosso embarque, esperando nosso voo ser chamado dentro de uma hora.
— Não faço ideia. As pessoas só falam isso. — Respondi abrindo o livro que eu havia comprado no Free Shop e tentando começar a lê-lo.
e Tyler haviam sumido. Fazia um tempo que tinham saído para procurar comida para dividir entre todos, já que a comida do avião geralmente é deplorável.
— E “tire o cava-“... Pera, que palavra é essa, ?
— Cavalinho. — Falei lendo para o que ele apontava em seu dicionário português-inglês que continha ditados e frases usuais brasileiras.
— Tire o cavalinho da c-ch-chuva? — Mike tentou, franzindo a testa como se as palavras fossem absurdas.
— É o que você diz para uma pessoa quando quer que ela perca as esperanças em alguma coisa.
— Por que você diria para alguém tirar o cavalo da chuva? Não é mais fácil você dizer “não vai dar certo, esquece isso”?
— Mike. — Suspirei sem ter cabeça para pensar nessas coisas. Eu estava ansiosa demais em encontrar minha família. — Eu não faço ideia. Os brasileiros são doidos. Se você souber pedir comida e direção em português, já está bom demais.
Mike deu ombros, mas ficou em silêncio grande parte do tempo depois disso, lendo atentamente seu dicionário. Quando e Tyler voltaram, segurando sacolas do Free Shop e outras com salgadinhos e lanches naturais, ele parou de prestar atenção no que lia e começou a conversar com eles.
Alguns minutos depois, me cutucou com o cotovelo, apontando para a tela de embarque que dizia que nosso avião estava sendo preparado para que as pessoas entrassem. Assenti e nós esperamos mais quinze minutos até as pessoas começaram a ser chamadas. E nada mais do que meia hora depois, estávamos entrando no avião.
Infelizmente, a falta de dinheiro e timing na compra das passagens faz com que todos nós ficássemos separados um do outro. Meu assento era na 42 A, na 28 B, Ty na 23 G e Mike na 35 H. Enquanto e eu sentaríamos no corredor da direita com diversas fileiras entre nós, Mike e Ty sentariam no da esquerda. Separamo-nos para que pudéssemos acomodar nossas coisas. Ao meu lado estava um senhor e ao lado de um homem qualquer.
— Eu sou uma péssima pessoa por julgar a mulher que está sentada ao meu lado por causa de seu chapéu horroroso? — Mike apareceu ao lado de minha cadeira, o quadril apoiado na cadeira da frente. Ele gesticulou para onde estava sentado e eu podia ver a ponta de uma pena do chapéu da mulher. — E eu não posso nem dizer para ela que ele é horrível porque ela não fala minha língua. Olha aquilo ali.
— Você não é uma péssima pessoa, Mike. O gosto da mulher que é.
— Ufa. Eu estava pensando em pedir para ela trocar de lugar com você, o que você acha?
— Não dá. perguntou para a aeromoça e ela disse que era melhor se manter nos lugares designados porque o voo estava lotado.
Estávamos em Janeiro. Os brasileiros estavam voltando para casa.
— Tyler vai ficar decepcionado. Aposto que ele gostaria de estar sentando do lado da . -— Mike ergueu a sobrancelha olhando para onde estava, parada conversando com Ty, que tinha seu corpo inclinado quase completamente sobre o dela.
Ah é. Eu tinha contado para Mike sobre minha conversinha com Tyler no Central Park. Ele também gritou como menininha e ficou pulando.
— Bom, ele vai ter que sobreviver. Sem falar que quem está amarelando é ele. Ele poderia muito bem falar logo com e acabar com isso.
— Você acha que gosta realmente dele?
Ergui minha sobrancelha para Mike e levantei de meu lugar, esticando-me para pegar o apoio para a cabeça dentro da mala no porta-malas sobre as cadeiras. Quando peguei minha linda almofada rosa, olhei para Ty, ainda falando com – seu olhar desviou dela para mim e ele ficou levemente corado e franziu a testa com alguma coisa que falou para ele. Depois, minha melhor amiga olhou para mim com um sorriso malicioso no rosto, mas assim que me viu ela pareceu quase aliviada.
Conhecendo minha melhor amiga, ela provavelmente fez algum comentário achando que ele estava olhando para alguma mulher gostosa.
— Por favor, Mike. Eles me deixam quase diabética já.
Mike riu e eu o acompanhei durante alguns segundos, minha risada morrendo depois que minha mente trouxe de volta a memória de como costumava dizer que precisava de insulina sempre que eu estava com Chuck ao redor.
Será que ele parecia tão obviamente... Apaixonado por mim? Como Tyler estava por ?
Quando o avião decolou, eu li um pouco e logo o jantar foi servido. Eu vi comendo o que havia comprado com Tyler, mas eu não estava com fome para pegar o sanduíche que ela havia comprado para mim também. Duas horas depois as luzes estavam apagadas e praticamente todos estavam dormindo, inclusive eu.
Com cinco horas de voo, eu acordei e levantei para fazer xixi. Todos ainda dormiam e ainda havia mais três horas de voo, então o banheiro estava livre. Eu joguei água no rosto, limpei a maquiagem borrada do sono e quando voltei para meu lugar, tive que me segurar para não fazer um comentário quando vi Tyler parado no corredor, na frente do lugar de .
Minha melhor amiga estava claramente dormindo, sua cabeça quase caindo no meio do corredor, junto com suas pernas dobradas. Ty ficou olhando para ela durante alguns bons segundos e depois ajeitou a cabeça dela e o cobertor em suas pernas. Ele olhou brevemente para mim, checando se eu estava acordada e meu deu um sorriso tímido – que eu estava começando a ficar acostumada, que era o mesmo sempre que eu o pegava olhando para por tempo demais ou algo do tipo.
Ele voltou para seu lugar e eu voltei a assistir filme até o fim do voo, não conseguindo balançar de dentro da minha cabeça a memória que Charles olhava para mim daquela maneira também.

’s POV.


A primeira coisa que eu senti foi a lufada de ar quente. Puta que pariu. Que calor de satanás era esse? Estava quase pior do que Nova Iorque no verão. E olha que lá tem as ilhas de calor, o que eu também não sei o que significa, mas sei que deixa um calor dos infernos.
Eu estava descabelada, com bafo, com a maquiagem borrada e a roupa amassada. Mas pelo menos havia conseguido dormir graças ao apoio de pescoço que roubei do moço do meu lado. Qual é, uma mulher precisa dormir.
— Santo Deus, que fila é essa! — Mike exclamou ao encarar a fila da alfândega.
— Ih, meu bem, isso aqui não é nada. Tenta ir ao hospital público. — riu e foi para a parte da fila destinada a brasileiros. Apontou para a fila de estrangeiros. — Vocês são por ali, ó. A gente se encontra nos caixas do Free Shop.
Tyler parecia meio cansado da viagem e Mike sorria para todos os lados, doidinho para encontrar um bofe para ele nesse mar de gente do Brasil.
Passamos pela alfândega com tranquilidade. e eu conseguimos nosso Green Card depois da faculdade, depois de uma espera de quase dois anos, então não tínhamos muito com o que nos preocupar.
Quando saímos do aeroporto de Guarulhos, pegamos um táxi direto para a rodoviária e de lá pegamos o ônibus para a cidade litorânea onde seria o casamento da Thalia: Guarujá.
Tyler e Mike pareciam perdidos naquele mundaréu de gente que falava português para todos os lados, aquele trânsito, aquele calor, aquela confusão.
Brasil, meu querido Brasil.
e eu só sorríamos o tempo todo. Morar em Nova Iorque era um sonho, mas aqui era a nossa terra natal. E depois de tanto tempo, finalmente veríamos nossos pais novamente.
Quando o táxi parou em frente ao hotel Jequiti, onde ficaríamos, mal deu tempo de começarmos a tirar as malas do porta-malas, e nossas mães vieram correndo até nós.
— MÃAAAAAAAAAAAAE! — Gritei e joguei as malas no chão, correndo em sua direção também.
Enroscamos os braços em um abraço forte e ela quase me girou no ar.
— Ai, sua peste, que saudades que estávamos de você! — Ela sorriu abertamente, a pele já corada do sol, combinando com seus cabelos cheios de mechas loiras.
— Você nem liga mais para a mamãe. — A Sra. resmungou para , que abraçava sua mãe e ficava falando com uma voz mais fininha com ela. Gay.
— Mamis, que saudades que eu tava de você, sua bocó. — a abraçou com força.
Os pobres coitados de Tyler e Mike vieram atrás, puxando as nossas quatro malas e com nossas bolsas nos ombros. Ambos sorriram sem jeito para nossas mães, sem entender um pingo do que nós falávamos.
Ah é. Eles não entendiam português. Isso seria divertido.
— Então, minha filha, quem são esses? — Minha mãe apontou para os meninos, sorrindo maliciosa.
Tyler se aproximou de nós e me estendeu minha bolsa. Eu a peguei com um sorriso sem graça e apresentei-o minha mãe em inglês, depois para minha mãe, em português.
— Prazer, Sra. — Tyler a cumprimentou em inglês, mas acho que ela entendeu.
— Hmmmmmmmmm... Filhinha, por que não me contou que arranjou um namorado tão bonito assim antes? E forte... Homem assim não se deixa escapar, olha só, pegou até suas malas!
Eu soltei uma risada nervosa e a olhei repreensiva.
— Mãe. Tyler e eu somos somente amigos. Só amigos.
— Aham, querida, sei. Nunca vi alguém trazer um amigo bonitão desses até a terra natal para o casamento da irmã da melhor amiga sem ter alguma coisa acontecendo.
Controlei-me para não bater em seu braço ao repreende-la novamente. Acho que ela arrancaria meus globos oculares. A delicadeza era de família.
— MÃE!
Tyler riu de meu grito.
— Então “mãe” é mother? E o que ela disse? — Ele perguntou curioso.
— Nada, Ty. Nada que você queria saber. — Resmunguei para ele, puxando-o pelo braço até e Mike.
A Sra. me abraçou com força e me beijou no rosto, falando como estava feliz que tínhamos vindo. Assim como a filha, ela tinha seios grandes, (mas não tão enormes) que me esmagaram, era baixinha, mas era morena e dos olhos azuis.
abraçou minha mãe, quase pulando em seu colo de alegria. Quando se soltaram, ela riu e segurou no braço de sua mãe, apontando para Tyler.
— Ah! Mãe, esse aqui é o Tyler. O amigo de ... — Ela frisou a palavra de um jeito suspeito e eu estreitei os olhos.
— Oi, prazer, Sra. — ele estendeu a mão.
Apresentei Mike à minha mãe e frisei a parte que ele jogava no mesmo time que nós, antes que ela começasse com o discurso sobre como estávamos todas namorando e ela não sabia.
Entramos no hotel, com nossos amigos puxando as malas, observando toda a sua arquitetura, que era de matar. Logo na entrada havia piscinas minúsculas de ladrilho azul turquesa, com pilares enormes brancos no meio, já que o pé direito do saguão era de uns quatro metros. As paredes eram cor de creme e tudo remetia, elegantemente, ao ambiente praiano.
Quando estávamos nos dirigindo à bancada da recepção para buscar as chaves dos quartos, ouvimos um “Ei, bocós” vindo de trás de nós e encontramos Thalia ali, parada com um sorriso no rosto e as mãos na cintura.
A irmã de era o retrato dela na fisionomia: o mesmo formato do rosto, dos olhos, as mesmas sobrancelhas, estrutura óssea e quase o mesmo formato de boca. Mas Thalia, ao contrário, possuía cabelos compridos, castanhos escuros e olhos azuis acinzentados de fazer inveja.
Baixinha, peituda, estressada. Elas eram iguais.
— Bocó! — gritou para Thalia e a abraçou com força.
— Dra. Bocó, . Não se esqueça do Doutora. — Frisei rindo ao me juntar ao abraço e a apertar com força.
— Suas palermas, estou tão feliz que vieram. — Ela riu em meio ao abraço e nos soltamos. — Daqui a pouco vamos almoçar no restaurante do hotel. Quero que conheçam meu noivo.
— Mas nós já não conhecemos...
— E quem são esses dois aqui, hein? — Thalia interrompeu e andou até Tyler e Mike, falando em inglês e se apresentando.
Ficamos observando enquanto eles se cumprimentavam e decidimos não falar nada sobre o comentário de Thalia. Assim que todos os comprimentos foram feitos, perguntou:
— Onde estão nossos pais?
— Ah, eles foram andar pela praia. Mais tarde estão por aí. O que vão fazer agora?
— Deixar as coisas no quarto e comprar biquínis. Os biquínis dos Estados Unidos são fraldas de tão grandes. — Resmunguei.
— Certo, então encontro vocês no almoço, bocós.
E então Thalia saiu, os cabelos esvoaçantes e os peitos balançando enquanto caminhava.
Eita família abençoada.
Fizemos o check-in, pegamos nossas chaves e fomos direto para os quarto. Mike e Tyler resolveram não dividir um quarto, já que não se conheciam há muito tempo. Eu sinceramente achava que era medo de Ty ser encoxado por Mike durante a noite. Mas vai saber, né?
Os quartos eram em andares diferentes. O meu e de era no terceiro andar, de Tyler no sexto e o de Mike no terceiro andar. Cada um foi para o seu canto e combinamos de nos encontrar em exatamente uma hora em frente ao hotel.
Quando abri a porta do quarto, quase dei meia volta para cancelar os planos com os meninos. Eu nunca mais queria sair daquele lugar.
Para ser sincera, o quarto não era tão bom quanto o de Las Vegas. Mas ele tinha uma varanda com vista para o mar, que estava uma linda mistura de verde e azul e era acompanhado por um céu azul limpo com um sol radiante. Eram somente dez horas da manhã, mas ele já estava forte.
O quarto era todo de um tom creme, com duas camas de solteiro com lençóis claros e um travesseiro azul escuro e duas toalhas azuis escuras sobre cada cama. Atrás, havia um painel de madeira clara para enfeite. A televisão de LED me fez chorar internamente em memória de nossa antiga televisão.
— Nós podemos comprar biquínis amanhã? — Choraminguei enquanto tirava os sapatos e começava a me deitar na cama, mas me puxou pelo casaco para trás.
— Sem pensar nisso, . Depois vamos nos enrolar, nossos pais vão querer ficar com a gente e vamos acabar ficando com as fraldas americanas. Então não. — me arrastou até o banheiro. — Pode ir tomando o seu banho que eu vou escolher nossas roupas. Tá um calor dos infernos.
— Eu te odeio.
— Odeia não. Não consegue viver sem mim.
E dizendo isso, fechou a porta do banheiro na minha cara.
Bom, pelo menos ela me deu a nécessaire e a toalha antes de bater a porta.
Comecei a tirar as roupas enquanto observava o banheiro: tons claros, um espelho que tomava uma parede inteira, a bancada de mármore com duas pias, os mini sabonetes, xampus, condicionadores, etc. De um lado da parede com o espelho ficava o box do chuveiro, grande o suficiente para duas pessoas, com a porta de um vidro fosco que só podia ver a sombra de quem estava dentro. Do outro lado, ficava o sanitário e um bidê.
Tomei um banho longo, mas não tanto porque não lavei os cabelos, afinal, entraria no mar. Lavei o rosto para tirar os resquícios de maquiagem e então saí do chuveiro enrolada na toalha. Enquanto tomava banho, escolhi um vestido longo azul turquesa, chinelos brancos e prendi o cabelo em um coque alto. Coloquei os óculos de sol no topo da cabeça e fui me maquiar enquanto se trocava, colocando uma saia comprida florida e uma regata branca.
Descemos para o saguão e fomos para o lado de fora do hotel encontrar os meninos. Uma forte lufada de ar quente bateu em nossos rostos assim que saímos e nós duas sorrimos uma para a outra.
Não precisamos falar nada. Aqueles sorrisos em nossos rostos tinham o mesmo motivo para ambas.
Estávamos em casa.

’s POV.


Eu havia esquecido como o calor do Brasil era sufocante. Mas o Guarujá não me deixou esquecer-me disso por muito tempo e logo eu estava arrastando minha melhor amiga, Ty e Mike para uma loja de biquínis. Minha emergência era palpável.
— Vocês usam isso? — Tyler perguntou levantando uma peça de baixo de um biquíni roxo fio dental para nossa vista.
ergueu a sobrancelha para ele e abriu um sorriso malicioso.
— Depende, garotão. Quanto essa peça custa?
Tyler arregalou os olhos brevemente, abaixou a peça novamente e começou a resmungar alguma coisa sobre como ele nunca podia imaginar uma mulher usando isso em Nova Iorque. Mike, enquanto isso, era bem mais útil e toda hora trazia alguma combinação para mim e .
Depois de algum tempo, nós fomos para o vestiário experimentar as peças e ver se ficavam boas. Eu não tinha uma marca de biquíni fazia alguns anos, então simplesmente ia escolhendo a que tivesse melhor ajuste em meus peitos.
escolhia os biquínis que faziam Tyler sorrir.
Duas horas depois, já era perto de onze da manhã e eu estava de biquíni, descendo para ir até a praia quando encontrei com minha irmã no corredor. Nós já havíamos nos visto desde que eu havia chegado e ela continuava a mesma – pequena como eu, cabelos negros com californianas recentemente retocadas, olhos azuis perturbadores e um temperamento bipolar.
! Ainda bem que achei você. Onde você está indo? Eu estava pensando em te apresentar meu noivo.
— Thalia. Eu conheço seu noivo. E estava a caminho da praia. Tomar um sol para tirar o branco da cidade grande.
Minha irmã mordeu o lábio, coisa que ela só fazia quando estava pensando no que dizer e depois abriu um sorriso meio incerto.
— Legal. Aproveite para vê se chega aqui antes das cinco da tarde. Preciso conversar com você direito e mais tarde vai ser o jantar de ensaio, hein. Vista algo arrumadinho.
— Pode deixar.
Encontrei Mike na recepção olhando para seu redor admirado, quase babando em direção ao sol que iluminava tudo pelas janelas. e Tyler apareceram juntos do elevador, discutindo.
— Ty, que merda, eu não vou usar isso! — reclamou tirando uma canga que Tyler tentava enrolar contra sua cintura.
— Mas o seu shorts é absurdamente curto, .
— E daí? Nós estamos na praia! Qual é, Ty? Tá parecendo meu pai.
Tyler fez uma careta e revirou os olhos. Depois olhou para mim com desaprovação ao ver que eu nem estava de shorts, havia somente jogado uma blusa sobre o biquíni. Dei ombros para ele e sai andando com Mike enquanto xingava Ty mais um pouco.
Uma vez na praia, eu quase chorei de saudades. O mar brasileiro era lindo, independente de qual região litoral você o estava vendo. e eu trocamos um olhar breve e sorrimos ao mesmo tempo. Então tiramos nossas roupas, jogamos nossas havaianas em qualquer lugar da areia embaixo de nosso guarda-sol e demos as mãos, correndo em direção ao mar.
— Ele parecia tão bonito de longe. — Gemi sentindo a água gelada de uma onda estourar contra minha barriga.
— O mundo é uma ilusão, amiga. — concordou, mas em seguida riu quando uma marola passou por nós e eu, que não vi, acabei com meu cabelo bagunçado e o nariz cheio de água.
Nós passamos vinte minutos no mar, saboreando a vida boa e sentindo zero saudades de nosso apartamento destruído, de nossa ex-iguana e o barulho de Nova Iorque. Sentindo zero saudade de nossas dívidas e problemas.
Quando voltamos para o guarda-sol, jogou água de seu cabelo em Tyler – que a jogou na areia e teve que sair correndo quando ela foi atrás segurando um punhado de areia. Eu deitei em uma cadeira ao lado de Mike no sol e nós ficamos conversando sobre como a vida aqui no Brasil havia sido para mim e para .
Quando eu fiquei de costas para queimar, uma sombra apareceu atrás de mim e ergui minha cabeça confusa. Minha confusão se dissipou e deu espaço para um sorriso que quase rasgou minha bochecha quando vi quem era.
Eu não via muitas amigas minhas há anos. Amigas que eu sabia que estariam no casamento por também serem amigas de Thalia, mas que eu só lembrava-me de ver três anos atrás, a última vez que visitei o Brasil.
Ainda assim, eu mantinha alguns e-mails com algumas dessas amigas. Maria Eduarda era uma delas.
— Duda! — Eu pulei de minha cadeira e a abracei com força.
Ela não tinha mudado tanto coisa nesses três anos. Exceto pelo cabelo dela que estava na altura de seu ombro – eu particularmente achei que ela estava ótima com o corte – e pela barriga de grávida entre nós. Sua risada continuava a mesma, alta e tranquila enquanto ela devolvia o abraço e nós balançávamos nosso corpo.
— Nossa, quanto tempo! — Afastei-me dela e olhei para sua barriga de provavelmente uns seis meses.
— Tempo demais, ! Eu estava louca de saudades já. Estava quase pedindo para o Pedro ir buscar você nos Estados Unidos na desculpa que era desejo de grávida.
Abracei-a novamente, não resistindo à sua fofura.
— Quem diria, hein? Grávida? Você está linda!
— Obrigada! Completei vinte e seis semanas agora. Estou ficando parecida com uma bola de gude já.
Mike, que havia levantado de sua cadeira, parou atrás de mim com um sorriso apaixonado no rosto. Ele tinha um complexo por gravidez. Acho que é porque ele sabia que nunca poderia ficar grávido, então seu amor por uma barriga como a de Duda era quase obsessivo.
— Duda, esse é meu colega de apartamento lá dos Estados Unidos, Mike.
— Oi Duda. Prazer te conhecer. — Mike tratou de falar, usando seu português carregado de sotaque e sorrindo lindamente.
— Oi Mike! Como você está?
Ele olhou para mim meio perdido, provavelmente não tendo procurado variações para um “Tudo bem?” em português. Depois sorriu meio se desculpando e falou em inglês que não sabia falar muito. Ele me avisou que estava indo no mar atrás de e Ty – que haviam parado lá em algum momento de sua perseguição – e acenou para Duda antes de ir sair trotando lindamente.
— Colega de quarto, hein? O que você fez com a ? — Duda disse sentando em uma cadeira ao meu lado.
— Ela também está morando com a gente. Nosso apartamento tem dois quartos e ele dorme na sala.
— Nossa, eu mataria para ter um cara desse dormindo no meu sofá. Mas não conte isso para o Pedro.
Eu dei risada, olhando para Mike na água espirrando água em minha melhor amiga e recebendo um capote de Tyler.
— É. Ele joga para o outro time, Duda. E joga mesmo, tipo, no ataque.
— O desperdício hoje em dia. — Ela fechou os olhos e balançou a cabeça, decepcionada. — Mas e você? Namorados? E ?
— Bom, o namorado de é o outro cara do lado de Mike. O Tyler. Ela não sabe disso ainda, mas tenho certeza que até o fim do mês ela saberá. E eu estou solteira.
— Justo. Tudo bem. E a faculdade? Terminou?
— Sim. Faz tempo, Duda. — Suspirei ajeitando meus peitos no sutiã e vendo um grupo de homens andando na praia passarem pro nós.
Não dava para negar que os brasileiros eram homens lindos. E quando não lindos, pelo menos eram malhados.
— Você fez psicologia, não é? Você sabia que eu fiz pedagogia depois de biologia? Agora estou dando aula em escolas. Olha, cada dia mais essas crianças e pais precisam de psicólogos, viu?
Então nós começamos um assunto sobre eu sendo formada em psicologia infantil, sobre ela achando que as escolas do mundo deviam ter acompanhamento de alguma psicóloga e eu falando para ela que algumas escolas americanas já tinham esse sistema com uma “conselheira acadêmica e pessoal”. A própria escola de Anna tinha.
Depois nós acabamos no assunto de Edgar e sua esposa idiótica.
— Que vagabunda! Eu espancaria uma mulher dessa se eu a encontrasse.
Concordei com o comentário de Duda, acrescentando que eu só não o fazia porque sabia que perderia meu emprego e gostava demais das crianças para fazê-lo. Eu não admiti que também gostava muito de Edgar, nem o quanto ele era bonito. Isso tudo era questão de eu estar carente após ser tão bem tratada por Charles e Noah. Ia passar.
— Bom, por que você não tenta achar um emprego nessa área de colégios?
Eu podia dizer para Duda o quanto era difícil achar um emprego em Nova Iorque nessa área e como, pior ainda, era difícil manter um com a economia de hoje em dia. Mas eu não estava com o humor para isso, então só sorri fingindo animação pela ideia e troquei o assunto para sua gravidez, exigindo saber de todos os detalhes.
Mais tarde, quando saiu do mar, ela deu um gritinho, também abraçou Duda – elas também se conheciam – e começaram a colocar o assunto em dia. Eu fui dar uma volta na praia com Mike e Tyler, mostrando para eles as direções para outras praias, rindo da expressão de mulheres quase babando por tê-los um de cada lado meu e provocando Tyler sobre sua “quedinha” por minha melhor amiga – na verdade quem começou com o assunto foi Mike, mas eu segui a deixa.
Depois nós voltamos para o guarda-sol e estava tomando sol nas costas — deixando Tyler encarando sua bunda descaradamente — então eu me deitei do lado dela e Mike se juntou a nós. Ty ficou tomando sol de frente mesmo e eu pude respirar fundo aquele ar quente, úmido e abafado das praias brasileiras.
Estava tudo perfeito.
E no fundo, bem no fundo, eu não conseguia parar de pensar como estaria mais perfeito se eu tivesse um inglês de novo para dar a mão.

’s POV.


Quando chegamos da praia, lotados de areia, suor, protetor solar e água do mar, eu pretendia ficar na piscina e aproveitar o maravilhoso sol de verão que durava até as oito horas da noite, mas iria morrer para matar minha fome, se é que me entendem. E ainda tinha a droga do ensaio de casamento. Ensaiar pra quê, gente? O que poderia dar errado?
O clima entre mim e Tyler parecia estar em uma montanha russa. Sendo os picos, as partes que as coisas pareciam estar normais. Eu tentava me convencer o tempo todo que não precisávamos conversar sobre o que aconteceu em Las Vegas ou o porquê havia faíscas percorrendo o ar entre nós toda vez que nos conversávamos e correntes elétricas toda vez que nos encostávamos.
Tomamos banho, eu vesti um vestido vermelho curto com sandálias de salto preto enquanto usava um vestido azul marinho colado e sapatos de salto preto. Prendemos os cabelos em um penteado simples para não morrer de calor com o cabelo solto e nossas maquiagens eram mais neutras, meus olhos mais marcados, e com um batom levemente vermelho.
Assim que chegamos ao saguão do hotel, conseguimos distinguir a voz de meu pai, que vinha do outro lado do recinto até mim, acompanhado do pai de .
Vou te contar uma coisa sobre o meu pai: o Sr. tinha seus 70 anos de idade por aí, era baixinho, careca e barrigudo. Você sabe que ele está chegando por sua voz de trovão, os palavrões e o cheiro de cigarro. Mas, querendo ou não, meu pai era uma figura que fazia todos rirem, seja por causa da vergonha que ele me fazia pensar, ou por seu jeito vaselina de ser.
— Minha filha desaparecida! Finalmente voltou para ver o bom velhinho aqui!
Corri até ele e o abracei com força.
— Ô pai, o Natal já foi e você nunca foi um bom velhinho.
Ele riu e me soltou.
— Olha como você fala com o seu pai, caralho.
O pai de , que estava logo atrás, riu e me abraçou logo em seguida, beijando meu rosto.
— Tudo bem, filha?
Sr. sempre me chamou de filha, o que é um tanto quanto fofo. Ele usava óculos de grau o tempo todo, era bem mais alto que o meu pai, possuía um porte físico em forma e um sorriso simpático, igual ao de . Seus olhos eram pequenos e castanhos.
— Tudo sim e com você? — Abracei-o de volta.
, que havia ficado para trás, logo nos alcançou.
— Paaaaaaaaai! — Ela pulou com força nos braços de seu pai, que a recepcionou com um abraço caloroso.
Tyler e Mike, que ainda não tinham descido até agora, nos alcançaram.
— Quem é esse americano aqui? Veio roubar o meu dinheiro também? — Meu pai perguntou chegando perto de Tyler e o observando de cima a baixo. — You no get my money! — Ele gritou e depois riu, achando sua piada extremamente engraçada.
Tyler arregalou os olhos e engoliu em seco, depois abrindo um sorrisinho sem graça. Mike parecia meio pálido.
— Tio, assim você assusta os gringos. — riu, soltando-se de seu pai e então abraçando o meu. — Saudades da sua delicadeza, tio.
e meu pai sempre tiveram uma relação meio conturbada. Ela falava baixo demais e meu pai era surdo, então imagine como a conversa deles era bem sucedida.
— Bom, meninas, nós vamos tomar um banho. O ensaio do jantar de casamento será daqui uma hora e ainda temos que nos arrumar.
Eles se despediram de nós rapidamente e foram para os elevadores. Tyler e Mike finalmente conseguiram respirar direito.
, seu pai é...
— Peculiar. — Mike completou a frase de Tyler.
riu.
— Vocês se acostumam. Principalmente você, Tyler. — Ela o olhou séria e eu resolvi ignorar.
Eu abri a boca para reclamar onde estava a noiva peituda (também conhecida como Thalia) e antes que eu pudesse falar qualquer coisa, essa veio correndo de dentro do restaurante, com um vestido creme rendado curto e com mangas curtas também. Thalia tinha o cabelo preso em um coque despojado, a maquiagem era clara e ela usava sandálias de salto nude.
— Finalmente. Eu precisava falar com vocês. — Ela suspirou ao nos encontrar e apoiou a mão em meu ombro.
— Ahn, o que foi? Resolveu dar pra trás? — Brinquei e Thalia me fuzilou com o olhar. revirou os olhos e pediu para os meninos esperarem no sofá ali perto enquanto conversávamos.
— Fala, neguinha. — provocou a irmã, que sempre ficava exageradamente bronzeada quando tomava sol.
— Então, o meu noivo, em cima da hora uma prima distante dele disse que conseguiria vir para o casamento e...
Thalia pausou e sorriu sem graça para mim.
— Ela vai ser nossa madrinha de casamento também.
— Peraí... — Levantei o indicador enquanto ligava os pontinhos. Ela não estava falando isso, estava?
— Sinto muito, , mas a prima dele está vindo diretamente da Bélgica exclusivamente para o casamento e nós não temos mais espaço para madrinhas, então eu meio que estou desconvidando você de ser minha madrinha.
— Bélgica? Tô cagando pra Bélgica! Eu vim dos EUA! — segurou meu braço, implorando baixinho que eu parasse de surtar no meio do saguão do hotel.
— Eu realmente sinto muito, . Pago o seu vestido do casamento, se quiser. Sei que deve ter pago caro no vestido para ser minha madrinha e faço questão de reembolsar.
Senti meu rosto ficar quente e então me balancei e me controlei. A raiva foi embora e cifrões apareceram na minha frente. Quem liga se eu fui trocada? Não era minha irmã mesmo. E ela ainda estava disposta a me reembolsar.
— Ótimo. O vestido foi trezentos dólares.
me deu um cotovelada nas costelas.
— PORRA! O que foi? Ela é médica, ela tem o dinheiro!
. — Seus olhos verdes me fitaram repreensivos.
— Tá, tá, tá. Estraga prazeres. Depois não reclama que não temos dinheiro. — Resmunguei. — Ok, foram 150 dólares.
Outra cotovelada.
— MAS QUE PORRA, LOIRA, QUER ME FODER PAGA UM JANTAR! — Choraminguei alisando minha preciosa barriga que estava sendo açoitada pela minha melhor amiga. — Diminuí pela metade o preço!
Thalia respirou fundo e nos interrompeu.
— Tudo bem. Não importa. Eu pago os 150 dólares pra você, não precisam brigar por isso.
Sorri satisfeita e estava pronta para me denunciar e insistir que Thalia pagasse os 80 dólares que custaram o meu vestido, mas então a sua linda irmã chamou Mike e Tyler para se juntar a nós e entrar no restaurante, impedindo que me entregasse.
Thalia entrou na frente e nós fomos logo atrás, ainda meio bravinha porque eu estava me aproveitando de sua irmã. Ué, se não fosse para ser madrinha, então que eu fosse reembolsada com juros.
— Então, quem é o noivo da sua irmã? — Mike perguntou para , que mandava beijinhos para um parente distante dela.
— Não é aquele ali? — Tyler apontou e todos nós olhamos.
e eu deixamos nossos queixos caírem.
À nossa frente, Thalia se beijava apaixonadamente com um homem que definitivamente não era o dono do nome no convite de casamento que recebemos.
— Não, Ty, aquele não é o noivo da minha irmã.
— Ou pelo menos não era, até uns dois meses atrás. — Complementei, ainda encarando a cena.
Acho que a safadeza era característica dos .


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