Escrita por: Patrícia e Victória
Betada por: Heloïse Sanchez




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Trigésimo


’s POV.


— Que merda é essa? — Perguntei boquiaberta, vendo minha irmã se pegar com um desconhecido.
Quando Thalia se afastou de seu noivo e minha mãe apareceu para abraçá-los com um sorriso enorme, minha cabeça deu um nó maior ainda. Coloquei minhas mãos na nuca, tentando impedir meu cérebro de explodir.
— Cara... Isso é muito confuso. — suspirou do meu lado.
! ! — Thalia nos chamou, acenando freneticamente, e começou a arrastar o cara que ela estava beijando loucamente até nós. — Eu queria apresentar para vocês... Meu noivo.
Pisquei confusa e tive que segurar no braço de Mike, que acompanhava a cena com os olhos ansiosos por uma explicação e por um babado. ergueu a sobrancelha para Thalia e cruzou os braços.
— Quer dizer que não basta você ter me expulsado do cargo de ser sua madrinha, você também resolveu expulsar o pobre Henrique do cargo?
Cotovelei suas costelas. E Tyler, mesmo sem entender do que ela estava falando, porque havia sido em português, revirou os olhos. Ele a conhecia bem.
— Maninha... — Puxei minha irmã pelo cotovelo para um canto mais afastado e veio atrás. — Que merda está acontecendo?
— Ahhh... Eu estava tentando explicar as coisas para vocês e apresentar vocês para Markus, mas nenhuma das duas queria me escutar. Na verdade, é uma história engraçada.
— Markus? — perguntou segurando o riso.
— Markus Suhogusoff.
— Markus Strogonoff? — Repeti confusa também, e fiz começar a gargalhar.
. Não começa. — Minha irmã me repreendeu, o que só me deu mais vontade de provoca-la, porém fiquei quieta.
— Tudo bem, Thalia. Continua. Onde que o Strogonoff entra na história e o Henrique sai?
Thalia encolheu os ombros, mostrando-se desconfortável por estar contando a história. Provavelmente porque ela sabia que eu odiava atos impulsivos vindos dela (que geralmente envolviam compras de mil reais em sapatos).
— Então. Eu estava com tudo praticamente pronto para o casamento, convites enviados e tudo mais. E o Henrique veio um dia falar comigo, dizendo que não tinha mais certeza de nós dois e que ele precisava de um tempo.
— Que babaca. — bufou. Ela nunca foi muito fã do Henrique mesmo.
Para ser sincera, duvido que alguém fosse fã dele.
— E onde o Strogonoff entra? — Perguntei ainda muito confusa.
— Eu estava um dia no hospital, papai havia pedido que eu fosse checar uma possível sabotagem em um exame de paternidade, porque o paciente estava apresentando sinais que podiam ser representados por psiquiatras como psicopatia e a mãe queria ter cer...
— THALIA! — e eu gritamos ao mesmo tempo.
— Desculpa. Desculpa. Tá, enfim. Eu fui ao laboratório e eu juro, irmã... — Thalia olhou para seu noivo, falando ao longe com meus pais, com os olhos brilhantes. — Foi como uma cena de filme. Nós trombamos e ele derrubou umas amostras de tubo de sangue que eu estava carregando e eu comecei a xingá-lo... Mas quando olhei para ele...
suspirou apaixonadamente ao meu lado e eu segurei minha vontade de fingir ânsia de vômito. Fala sério, minha melhor amiga estava precisando mesmo ficar de vez com o Tyler para se equilibrar mentalmente de novo.
— Tudo sumiu. Eu não sabia mais o porquê estava irritada. Só conseguia olhar para os olhos dele... Que são tão lindos... E imediatamente eu soube que o reconhecia de algum lugar. Eis que nós fizemos faculdade juntos. Ele estava dois anos na frente e quando eu fui para a residência, ele foi viajar para a Rússia.
— Strogonoff quis voltar para suas origens?
. Seja madura, estou contando minha história. — Thalia me reprimiu fazendo uma careta e cruzando os braços. Cara, três anos sem vê-la e ela estava igualzinha. — Continuando... Ele havia voltado há três meses para o Brasil e estava trabalhando no laboratório. Nós conversamos, saímos, uma coisa levou a outra e...
— Epa. Epa. Epa. Vou te parar aí, Thalia. Eu sou melhor amiga da peituda aqui, não tua. E claramente, já que você não me quer mais como tua madrinha. Então eu vou me poupar de escutar o final dessa conversa promíscua. — cortou-a.
Minha irmã ficou corada. Ela nunca levou muito bem as brincadeiras da sobre sexo. Bom. Ela nunca levou muito bem nenhuma brincadeira sobre sexo. E ela é médica.
— Eu ia dizer que nós ficamos noivos, .
— Bom... Isso explica porque o convite não mudou. Ou porque nós não conhecíamos o tal do Markus. — Falei, finalmente processando todas as informações que estava recebendo.
— Só não explica uma coisa... — fez um suspense. — O cara sabotou ou não o exame de paternidade?
! — Thalia reclamou dando no braço de minha melhor amiga.
— Boa pergunta. — Comentei ao mesmo tempo e tomei um tapa também. — Ei! Você que começou com a história.
— Eu estava contando a minha história!
— Bom. O cara psicopata estava mais interessante. — deu ombros e olhou ao redor, provavelmente a procura de Tyler.
— Eu só gostaria que vocês fossem gentis com o Markus. Todo mundo está sendo ótimo em aceita-lo na família e é importante para mim receber isso de vocês também.
— Relaxa... — passou um braço por meu ombro e outro sobre o de minha irmã, dando uma risada. — Nós seremos as melhores amigas dele.
Depois de um ensaio de casamento muito chato e cheio de familiares enchendo o saco, cerca de cinco horas e meia, nós deixamos Markus bêbado. Não exatamente nós. Foi o pai da , mas a Thalia não ficou muito feliz por ter que levar seu noivo de volta para o quarto.
Ela acabou dando uma bronca em nós, o que não deixou nos melhores dos humores, ainda mais depois dela ter tomado uísque. Minha querida melhor amiga não ficava agradável depois de quase se embebedar com uísque.
Eu fiquei tendo que lidar com parentes insuportáveis durante um tempo, depois fugi de perto para beber junto com Mike. e Tyler tinham sumido e eu esperava que minha melhor amiga recebesse a atenção que merecia depois de tanto tempo. Agora, eu não lembro exatamente o que estava acontecendo naquela noite depois de tantas bebidas.
Mas eu certamente me lembro das consequências delas.
— Mike, você acha que um dia eu vou me casar?
— Claro que vai, gata. Nem que seja para arrancar dinheiro de algum velho com esses seus peitões. — Ele respondeu entrando atrás do bar para pegar um novo coquetel de bebida para nós. E eu não achava que ele era autorizado a entrar lá.
— Não sei não... Isso tudo me parece muito familiar... As flores, os votos, o vestido de noiva...
— Bom, você já assistiu a final do The Bachelorette comigo uma vez e eles sempre têm uns casamentos sensacionais.
— Não, não... — Gargalhei, bêbada demais para entender onde meus pensamentos estavam chegando. — Não estou falando disso. Estou falando de beber em um bar e estar perto de um casamento ao mesmo tempo.
Mike olhou para mim de um jeito estranho e me entregou uma taça de Martini logo em seguida, enquanto ria de minhas palavras. Ele não estava tão bêbado quanto eu.
— Loira furacão, você esteve em Vegas. Você estava constantemente perto de bares e casamentos.
Ri, observando um homem de meia idade com o cabelo preto tingido e um topete entrar no bar, balançando seus ossos do quadril com artrite. Tomei um gole de meu Martini, já nem mais sentindo o gosto da bebida e observei Mike tentar dar uma de barman e jogar uma garrafa para o alto, quase a deixando cair no chão. Ri novamente, sentindo minha mente dar voltas e voltas e latejar enquanto eu ria da cena que parecia tão familiar para mim.
Então todas as bebidas pareceram voltar e quererem escapar de uma hora para outra por todas as cavidades faciais que eu tinha. As peças se juntaram...
E eu lembrei.

’s POV.


Let Me Go – Avril Lavigne ft. Chad Kroeger


estava na mesa com seus parentes, conversando meio sem jeito com todas as perguntas sobre como ela estava nos EUA, provavelmente. Na merda, era assim que nós estávamos.
Eu não estava em meu melhor humor. Mike se enfiou na conversa com e tentava entender as coisas que eram faladas em português. Tyler estava sendo interrogado por meu pai e eu estava no bar, que é onde eu sempre estava nas festas. Não me importei em salvar Tyler de meu pai, até porque daqui a pouco minha mãe sairia da pista de dança para arrancar o meu pai dali. E se eu estivesse lá, seria arrastada também. Para nunca mais sair.
Tomei uns cinco copos de champanhe seguidos, ignorando as pessoas que andavam de um lado para o outro e todo o ensaio. Quando começaram a se organizar para simular a entrada na igreja, peguei meu sexto copo de champanhe e saí do restaurante.
Não sei o que estava acontecendo esses dias. Parecia que eu estava mais confusa e cansada do que o normal. E todo esse calor não estava ajudando. Assim que saí do restaurante, senti uma mão em meu braço.
.
Tyler parecia preocupado.
— Tudo bem?
Respirei fundo e arranquei uma mentira.
— Tudo. Eu só estava meio melancólica. Casamentos me deixam nervosa.
Ele levantou a garrafa de champanhe em sua mão para mim, e eu sorri.
— Como você conseguiu isso?
Ty deu de ombros, rindo e me ofereceu o braço. Minha cabeça já estava mais leve e um alarme soava em minha mente, mas entrelacei o meu braço no seu.
— Tenho meus meios. Vem, vamos tomar um ar.
Saímos para a área da piscina, sendo recepcionados pelo ar quente e pelo vento ao mesmo tempo, que contrabalanceava o calor. Poucas luzes iluminavam o local e nós andamos até uma piscina menor.
Retirei as sandálias e tomei cuidado ao sentar, afinal, meu vestido era curto e minha calcinha não era fio dental, mas era rendada e transparente. Tyler sentou-se ao meu lado na borda da piscina e retirou os sapatos, depois levantando a barra da calça social e colocando os pés dentro da água, junto comigo.
Ele usava uma camisa branca leve com as mangas arriadas e eu percebi uma linha de suor escorrer por seu pescoço para dentro da camisa. Ele fechou os olhos, provavelmente só para sentir o vento em seu rosto. Seu maxilar anguloso estava meio tenso, assim como seus ombros. Percebi as sobrancelhas negras levemente unidas. Fiquei observando-o mais do que deveria, porque quando ele abriu os olhos, nossos olhares se encontraram.
Tyler engoliu em seco e eu desviei o olhar. Para meu alívio, ele abriu a garrafa de champanhe sem perguntar nada e então encheu meu copo, virando a garrafa em sua boca logo em seguida.
— Então... Você... Está gostando do Brasil? — Eu comentei casualmente, girando o líquido restante no copo e observando as bolhas.
— Sim. É muito calor, mas é muito lindo também. É encantador. — Percebi pela minha visão periférica que Tyler me observava.
Respirei fundo. Minha cabeça estava cada vez mais pesada e eu sabia que ficar bêbada não era uma boa ideia, mas eu simplesmente peguei a garrafa de Tyler e virei uns bons três goles de uma vez.
— Você já contou para ? — Tyler perguntou assim que lhe entreguei a garrafa de volta. Nossas mãos se encostaram e eu recuei a minha.
— Sobre o quê?
— Estar desempregada.
Relaxei os ombros.
— Não. Vou falar quando voltarmos. Ainda preciso pensar o que vou fazer de agora em diante...
Tyler se remexeu no lugar e eu fiquei observando nossos pés debaixo d’água enquanto ele tossia e bebia mais um pouco da garrafa. Minhas unhas vermelhas contrastavam com a minha pele branca, reparei. O pé de Ty era muito maior do que o meu, mas nada alarmante.
Ele tossiu.
— Você... Vai continuar tirando fotos?
Mordi o lábio inferior.
— Não sei. Você acha que eu deveria?
Finalmente, tomei coragem para olhá-lo nos olhos. Aquela imensidão negra me abraçou como sempre e todos aqueles sentimentos confusos desde Las Vegas me sufocaram ao ver aqueles olhos me observando. Respirei fundo, várias vezes, enquanto ele molhava os lábios, pensando no que responder. Eu sentia meu peito pressionado e me controlava com todas as forças para não fazer uma burrada. Para não contrariar os meus princípios. Ultrapassar as barreiras. Quebrar o acordo.
— Acho que você deve ser feliz.
Sorri involuntariamente. Isso era tão não-Tyler.
— Você não gosta do Jace.
Ele deixou escapar um sorrisinho de canto de boca.
— É um pequeno desgosto.
Antes que eu pudesse me conter, soltei:
— Relaxa. Ele não é uma ameaça.
Tyler pareceu tomar um choque. Senti meu coração disparar e dentro de mim uma mini- me socava por não ter pensado antes de falar. Maldita impulsividade.
— Uma... Ameaça? Ao que?
Ele me observava e eu olhava para o outro lado. Tyler colocou a mão sobre a minha e eu cerrei os olhos com força.
Isso era tão errado.
E tão certo.
Mas tão errado.
Respirei fundo e virei-me para ele, passando o braço por cima dele para pegar a garrafa que já estava no fim. Virei os últimos dois goles e então entreguei a garrafa para ele.
— Eu deveria ir dormir. Amanhã temos muito o que fazer...
Levantei-me apressadamente, quase caindo dentro da piscina por conta do álcool, mas Tyler, ainda sentado, serviu-me de apoio. Peguei as sandálias e o copo de champanhe rapidamente, e saí andando o mais rápido que minhas pernas moles me permitiam.
Havia tantas razões para fugir em minha cabeça, gritando para meu emocional calar a boca e pensar no quanto isso poderia dar errado, tanto que eu ignorei Tyler me chamando até chegar nos elevadores. Apertei o botão e esperei descalça mesmo. Soltei o coque e deixei meus cabelos caírem, passando os dedos nervosamente pelas mechas enquanto mordia o lábio e minha mente gritava o quão burra eu estava sendo.
Eu não poderia me machucar de novo. De novo não. Ou pior ainda, eu não poderia fazer isso com ele. Eu sabia quais eram as chances e elas não eram boas.
Tyler veio atrás de mim, a barra da calça já abaixada e os sapatos calçados. O elevador chegou no exato momento que ele me alcançou.
Entramos e ele me pressionou contra a parede, fazendo meu ar escapar de meus pulmões. Seus olhos me observavam, principalmente a minha boca que estava entreaberta, enquanto eu o observava também.
Os botões do elevador estavam perto de nós e a porta havia se fechado.
Estávamos a milímetros de distância.
Seu perfume me embriagava e todos aqueles sentimentos confusos dessas últimas semanas foram embora no momento que seu corpo se grudou ao meu.
Estiquei o braço e apertei o botão.
Tyler observou meu ato e então sorriu. Ambas as suas mãos envolveram meu rosto e ele me beijou apaixonadamente, enquanto o elevador subia para o andar do quarto dele.

’s POV.


, olha isso! Eu vou largar meu trabalho e fazer isso de agora em diante! – Noah gritou para mim de trás do bar, tentando fazer sua voz mais alta que a música ensurdecedora.
— Meu herooooooooooí! – Joguei meus braços ao redor de seu ombro, rindo. — Vou poder largar meu emprego de babá e cuidar só do meu reiiii.
— VIDA LONGA PARA A MINHA RAINHA! — Ele gritou, curvando-se para fazer uma reverência e batendo a cabeça no bar, mas depois rindo enquanto saia de trás do bar e voltava para meu abraço.
Uma menina bêbada se jogou em Noah antes que ele me alcançasse e eu rapidamente puxei-a para trás pela barra de seu vestido extremamente curto, fazendo-a cambalear para trás e trombar em outro homem bêbado que poderia dar atenção para ela.
— Nós devíamos ir para o cassino. Quero ver se consigo minha sorte de novo. — Noah sussurrou em meu ouvido, antes de voltar a traçar beijos em meu pescoço.
Rindo animada, saltei da banqueta para seus braços musculosos me segurando em pé. Cambaleamos juntos, abraçados, até fora do bar e para a porta do cassino daquele hotel que eu não fazia ideia qual era. Um guarda gorducho nos parou, segurando meu cotovelo.
— Ai! — Reclamei, agarrando Noah pelo braço quando o segurança me parou.
— Senhores, vocês estão hospedados aqui?
— Olha... — Noah apontou o indicador na cara do guarda. — Ninguém encosta em minha rainha.
— Perdão senhor. Porém não posso deixar vocês entrarem nessa parte do hotel, porque não estão hospedados. Vocês estão cientes para lembrarem-se do hotel onde estão passando sua lua de mel?
Eu comecei a rir, virando-me para encostar minha cabeça contra um pilar que estava ao meu lado e parecia ser macio como um travesseiro. Noah me puxou contra seu peitoral antes que eu pudesse comprovar a teoria do pilar macio.
— Não estamos em lua de mel, caapitão. — Falei pro guarda, colocando a mão por dentro do colete de Noah para sentir sua pele quente e músculos firmes. Hm... Era melhor do que o pilar, com certeza.
— Por que não entramos em lua de mel, então? Aí poderemos entrar no hotel, não é? — Noah perguntou para o guarda que assentiu revirando os olhos e começou a nos empurrar para a saída do cassino.
Noah segurou meu rosto quando chegamos na rua e distribuiu beijos por todo meu rosto até que eu começasse a rir. Ele se ajoelhou na minha frente, de repente, fazendo algumas pessoas pararem para olhar e eu bater palmas, animada pela vista de um homem gostoso como ele de joelho na minha frente.
— Rainha... — Ele iniciou, mas teve um ataque de riso antes de continuar. Depois pegou um panfleto do chão e o enrolou como um fio, fazendo um círculo com o mesmo. — Não imagino meu reino sendo o de mais ninguém. Governe comigo.
Ele se levantou, parecendo cansado de ficar ajoelhado e apertou meu rosto entre suas mãos.
— Vamos governar a porra daquela merda de hotel juntos e exilar aquele guarda.
Eu ri e passei meus braços por sua nuca, segurando-o para um beijo molhado e bêbado. Ele segurou minha mão e colocou o papel em meu dedo anelar esquerdo, depois saindo correndo pela rua, até um lugar qualquer enquanto gargalhávamos.


, você está meio pálida. O que foi? — Mike perguntou, tirando minha taça de Martini de minha mão e andando até meu lado, as mãos em meu ombro. — Viu o fantasma de alguém famoso?

— Vamos prestar atenção, o Rei está falando. — Noah disse olhando para o Elvis em nossa frente e segurando minha mão entre as suas. — Fale, grande Rei do Rock. Iremos repetir.
— Olha... É bem simples. — Elvis disse balançando seu cabelo para o lado, o que me fez ter uma vontade irresistível de tocar em seu topete. — Só repita. Eu, Noah Shaw, aceito como minha legítima esp...


! — Mike deu um gritinho histérico quando simplesmente inclinei meu corpo para frente e vomitei com tudo que podia.
Olhei ao meu redor confusa, piscando e sentindo um outro vômito subir em minha garganta. Saltei da banqueta e corri para a saída mais próxima, que era uma varanda de frente para a praia e enfiei minha cabeça em um lixo antes de vomitar novamente.
— Querida, eu te amo, mas que nojo. Quer que eu segure seu cabelo? — Mike chegou logo atrás, respirando forte e abanando seu rosto pela lufada de ar quente que estava do lado de fora do hotel.
— Mike... Eu... — Comecei, mas tive que ceder ao meu estômago, que colocou o resto de seu conteúdo para fora.
— Gata, não sabia que você tinha tanta coisa assim dentro de você.
— Mike. Eu acho que me lembrei de Vegas.
— Bom, é uma pena que você tenha esquecido alguma hora. Porque aquele gostosão do Noah não é exatamente o que eu diria de ignorável. E vocês passaram algumas boas noites juntos.
Noah.
Ah.
Meu.
Deus.
Vomitei de novo, fazendo Mike dar um saltinho para trás e tomar um gole de sua bebida antes de oferece-la para mim.
— Mike. Isso não é bom. — Segurei em seu ombro a procura de suporte, e tomei um gole de sua bebida, somente para fazer bochecho e afastar o gosto horrível de minha boca. Felizmente era água que ele estava me oferecendo.
— O quê? Vai me dizer que está grávida?
— Pior, Mike. Pior.
— Pior do que grávida? O que você fez? Perdeu nosso apartamento em Nova Iorque para um chinês mafioso em um cassino?
Bom, talvez não fosse tão pior quanto a ideia dele.
— Acho que casei. Com o Noah.
O queixo de Mike pareceu literalmente se deslocar de sua mandíbula por alguns segundos antes dele piscar várias vezes e me dar um sorriso malicioso.
— Quem diria que ao invés do velho você iria tentar o golpe em um gostosão, hein loirinha?
— Não foi um golpe! — Dei um soco em seu ombro que o fez soltar outro gritinho e gemer em dor durante alguns segundos. — Mike. Isso não é bom. Nem um pouco bom.
Ele pareceu pensar um pouco na situação, puxando o colarinho de sua camisa social e suspirando alto, dramaticamente.
— Pelo menos você não está mais encalhada, certo?
— MICHAEL. VOCÊ É PIOR QUE A NESSAS HORAS.
— Ué, furacão. — Ele deu ombros. — Foi um casamento com um cara gostosão, classe média e que nem precisou morar com você ou vir atrás depois do casamento. Você quer união matrimonial mais harmoniosa?
Dei outro soco nele.
— Mike! Eu tô seriamente surtando aqui! O que eu faço?
— Bom, primeiro você para de me bater. — Ele reclamou fazendo um biquinho para mim e depois sorrindo descontraidamente para minha cara assassina. — Depois você volta para seu quarto e tira esse álcool do seu sistema. Dorme. Amanhã você aguenta o casamento de sua querida irmãzinha e quando voltarmos para Nova Iorque, você arruma toda essa bagunça.
— Meu Deus. Minha cabeça vai explodir com tudo isso.
— Ah! E é uma boa ideia você falar com o Noah antes de enviar uma carta de divórcio para o apartamento do cara. Ele vai ficar se perguntando o que fez de errado para não dar certo.
Fuzilei-o com os olhos e ameacei dar outro soco em seu ombro, mas somente dei um empurrão nele. Abracei-o rapidamente e depois respirei fundo, antes de chacoalhar toda a bebida para fora de meu sistema e conseguir andar até meu quarto.
Depois de esquecer o andar de meu quarto três vezes e finalmente conseguir descobri-lo novamente na recepção, rondei o andar meio perdida até achar a porta onde meu cartão funcionava.
Felizmente não estava no quarto ou eu não saberia como lidar com a situação ao contar para ela. Acho que ela me bateria por não ter sido minha madrinha. O que me leva a questionar: Quem foi minha madrinha? E melhor pergunta ainda, quem foi o jumento que legalizou casamentos assim em Las Vegas?
Tirei minha roupa para tomar um banho e peguei minha bolsa, procurando por meu celular para ver se havia alguma mensagem para mim. A única mensagem que eu havia recebido durante a viagem era de Thalia, chamando-me para algum lugar e de Edgar respondendo a minha e dizendo que as crianças estavam bem. Enchi a banheira de água e joguei o líquido que faz aquelas espumas, esperando-a encher três quartos antes de entrar.
Vasculhei meu celular alguns momentos, olhei no álbum de fotos, mas não havia sequer uma foto que pudesse pertencer a noite que eu tinha certeza que iria me assombrar para sempre.
Infelizmente, olhar as fotos não foi a melhor ideia que eu tive, porque acabei me deparando com algumas memórias que não eram a melhor coisa do mundo para serem lembradas.
Três fotos seguidas minhas ao lado de Chuck. Eu me lembrava do dia perfeitamente porque fora ótimo. Estava frio, então eu usava uma touca daquelas que também protegem a orelha e Charles estava usando um cachecol preto. Na primeira foto eu estava puxando-o pelo cachecol enquanto ele esticava o braço para tirar a foto e eu beijava sua bochecha. Na segunda ele estava com o braço ao redor de meu ombro, ambos olhando para a câmera – ele com um sorriso gigantesco e os olhos azuis intensos e brilhantes e eu mordendo meu lábio para segurar um sorriso tão grande quanto o dele. Na terceira foto, estávamos nos beijando.
Mais ao fundo, no cartão de memória, estavam outras fotos nossas. Uma no Planeta Hollywood, onde aparecia ao lado da nossa mesa, emburrada, porque ainda estava no horário de trabalho, e eu havia ido com Chuck e Tyler almoçar. Um tal de Brody tinha tirado a foto. Havia também outras fotos de nós deitados na cama em seu apartamento, eu aninhada em seu braço com os olhos fechados e ele olhando para mim carinhosamente.
Minha mente passou a não precisar mais das fotos. De repente todas as nossas memórias começaram a inundar minha mente e o álcool fazia tudo parecer mais lindo.
? — O sotaque fez meu coração apertar com tanta força que achei que fosse explodir e parar ao mesmo tempo. — ? É você? Você tá aí?
Tirei o telefone de minha orelha, piscando confusa e tentando lembrar quando eu havia decidido que ia ligar para ele.
— Oi, Charles. Eu estou aqui.

’s POV.


Do I Wanna Know? – Artic Monkeys


Assim que Tyler bateu a porta de seu quarto, nossos movimentos foram automáticos. Sincronizados. Perfeitos.
Não nos demos o trabalho de fazer qualquer outra coisa que não fosse tocar um ao outro. Tyler pegou minhas sandálias e o copo de champanhe de minhas mãos e jogou-os no sofá que ficava em seu quarto. Eu não consegui ver nem a cor das paredes, porque tudo o que eu via era Tyler. Seus olhos negros. Seus lábios. Seu corpo. Suas mãos.
Seus beijos desceram por minha garganta, enquanto uma mão sua se entranhava delicadamente em meus cabelos e outra me segurava pela cintura. Sem os saltos, eu era mais baixa do que o usual perto dele, fazendo com que ele tivesse que se inclinar para cima de mim.
Demorei, mas consegui desabotoar sua camisa enquanto ele deixava um rastro de fogo com os lábios por meu colo e pescoço.
Joguei sua camisa longe e entranhei os dedos em seus cabelos negros, puxando-o para mim, colando nossos lábios novamente, não querendo me separar dele nem por um segundo. Tudo o que eu conseguia pensar era sobre ele e sobre como eu sentia a falta dele. Como eu desejava isso internamente, há tanto tempo desejava senti-lo ali, novamente, era um alívio tão arrebatador que quase doía.
Tyler escorregou as mãos fortes e precisas por minhas costas e abaixou o zíper de meu vestido, partindo o beijo para retirá-lo e jogá-lo longe. Minhas mãos foram direto para o seu cinto, desafivelando-o, e então eu puxei suas calças para baixo. Antes que ele pudesse chutar as calças para longe, segurou-me pelo rosto e me beijou novamente, sua língua quente invadindo minha boca com desejo e ansiedade. Segurei em seu pescoço com força, puxando-o para mim. Ele deslizou as mãos de meu rosto para meu pescoço, então para meus braços, cintura, quadris e então minhas coxas, as quais ele envolveu com as mãos e me puxou para cima, sem dificuldades.
Enrosquei as pernas em sua cintura e deixei que ele andasse pelo quarto, comigo em seu colo, sem partir o beijo intenso que ainda trocávamos, como o beijo do corredor em Las Vegas.
Tyler me deitou gentilmente na cama, por cima de mim, partindo o beijo para descer os lábios por meu colo, por cima do sutiã, então pela barriga até minha intimidade. Apertei os lençóis da cama com força enquanto eu sentia sua respiração quente contra minha barriga e suas mãos deslizando desde os meus tornozelos, passando por minhas pernas por completo e então parando em meus quadris.
Chutando os sapatos para trás e então se livrando das calças com as próprias pernas, Tyler distribuiu beijos por minha virilha, perto do elástico de minha calcinha preta rendada, que combinava com o sutiã preto. Respirei fundo, completamente tomada pelo prazer e desesperada para tê-lo novamente.
Tyler retirou meu sutiã rapidamente e então subiu por cima de mim, agora somente de boxer preta, escorregando as mãos para meus quadris e então para minha bunda. Ele a apertou com força e enterrou a cabeça na dobra de meu pescoço, fazendo-me gemer e fechar os olhos.
— Ah, ... — Ele gemeu em minha orelha quando eu deslizei minhas unhas por seus ombros ao sentir seu membro pulsante contra mim.
Deus. Como eu estava com saudades desse homem. Desse cheiro. Desse toque. Dessa voz em meu ouvido. Dessas mãos.
Lentamente, abri os olhos. Nossos rostos agora estavam um sobre o outro, as pontas dos narizes se encostando. As respirações pesadas se misturavam, os peitos inflados e os corações acelerados. Eu podia sentir o seu batimento contra o meu peito. Podia sentir sua respiração em meu rosto. Sua pulsação. Tyler finalmente abriu os olhos e mais uma vez eu fui arrebatada por aqueles olhos negros, que deveriam ser tão comuns por serem escuros, mas era a escuridão mais linda e apaixonante que eu já havia visto.
O tempo desacelerou.
Seus braços estavam nas laterais de minha cabeça, meus cabelos esparramados pelo colchão. Minhas pernas estavam enroscadas nas suas e nossos quadris estavam juntos. Nossos olhos não se desgrudavam e faíscas percorriam o ar.
Eu podia ver somente uma parte de seu rosto, já que a única luz que iluminava o quarto era o luar, que passava pela janela aberta, junto com um vento leve que percorria o quarto.
Meus olhos desceram para seus lábios vermelhos e entreabertos e eu fiquei os observando por um tempo, ainda arrebatada por todas as sensações que me percorriam. Uma de suas mãos veio até meu rosto e levantou meu queixo gentilmente, fazendo-me olhar em seus olhos.
Havia uma pergunta muda neles. Uma pergunta que nos perseguia há meses e nos perturbava há muito mais tempo do que nós dois poderíamos admitir. Uma pergunta que eu já sabia a resposta desde que ele me beijou no ano novo.
, eu...
Levei um dedo até seus lábios e o calei fazendo um “shhh”. Ele sorriu contra meu dedo, meio incerto. Segurei seu rosto com minhas mãos e o beijei levemente, como amantes fazem, como se fosse um hábito. O simples toque de nossos lábios fez meu corpo eletrizar.
— Não precisa falar nada. — Sussurrei contra seus lábios.
Tyler assentiu e me beijou novamente. Levei minhas mãos até sua boxer a abaixei o máximo que consegui sem partir o beijo, enquanto Tyler puxava minha calcinha para baixo também. Nossos corpos pegavam fogo e clamavam um pelo outro.
Partindo o beijo, Tyler ficou ajoelhado na cama e juntou minhas pernas, puxando minha calcinha por minhas coxas e então a jogando para trás. Nossos olhos não desviavam um do outro em momento algum. Ele retirou a sua boxer e se inclinou para a cômoda ao lado, pegando um pacote brilhante de camisinha. Tyler a vestiu rapidamente enquanto eu o observava. Seus músculos delineados torneados, o suor escorrendo por seu pescoço e barriga. Os cabelos bagunçados, as mãos fortes, o rosto angular.
Durou apenas alguns segundos, até que Tyler se deitou sobre mim novamente e me segurou pelos pulsos quando eu tentei levar minhas mãos até seus cabelos. Seus olhos negros me observavam penetrantes enquanto ele puxava meus braços gentilmente, posicionando ambas as minhas mãos acima do topo de minha cabeça e segurava meus dois pulsos com uma mão só. Então, com a outra mão, Tyler posicionou seu membro e me penetrou.
— Oh...
Gemi e meu corpo se arqueou ao senti-lo dentro de mim depois de tanto tempo. Tyler levou ambas as mãos para o topo de minha cabeça, onde havia deixado minhas mãos e entrelaçou nossos dedos, apoiando seus cotovelos no colchão logo ao lado de meus braços. Enrosquei minhas pernas nas suas e me ajeitei sob ele.
Seus olhos percorreram o meu rosto por alguns segundos e então ele começou a se movimentar sobre mim, indo e vindo lentamente. Meu peito tremia conforme minha respiração falhava, o prazer percorrendo meu corpo e fazendo-me fechar os olhos por alguns segundos.
Tyler pressionou os seus dedos contra minhas mãos e começou a intensificar seus movimentos. Lentos, mas fortes. A cada investida, meu corpo ia um pouco mais para trás e um gemido escapava de minha boca, meus olhos cada vez mais pressionados.
— Olhe para mim, .
Atendi ao seu pedido e abri os olhos. Tyler continuou a investir contra mim, fazendo-me gemer e me contorcer de prazer. Ele mordia seu lábio inferior com força, contendo os próprios gemidos. Seus olhos observavam meu rosto, cheios de prazer e fogo.
Ele não soltou minhas mãos. Forçou com as pernas para que eu abrisse mais as minhas pernas e então aumentou a velocidade de suas investidas, fazendo-me fechar os olhos por alguns segundos para gemer e então os abrir novamente, somente para encontrar seus olhos sobre o meu rosto, observando-me com o olhar mais intenso que eu já havia visto.
Conforme Tyler aumentava a velocidade e intensidade, os gemidos escapavam mais altos e com mais frequência. Ele mordia os lábios com força e tentava a todo custo manter seus olhos sobre meu rosto, mas o prazer começou a dominá-lo também e ele cedeu, fechando os olhos e soltando o lábio inferior, deixando gemidos roucos escaparem. Seus braços cederam e ele se deitou sobre mim, o rosto contra a dobra de meu pescoço, abafando ali os seus grunhidos.
— Ah, Tyler.
Gemi seu nome enquanto arqueava as costas, sentindo aquele prazer tão intenso que somente ele conseguia me proporcionar.
Suas mãos finamente se soltaram das minhas e eu passei um braço ao redor de seus ombros, o segurando contra mim, enquanto a outra mão se entrelaçava em seus cabelos. Tyler levou ambas as mãos para minhas costas, me abraçando com força enquanto me penetrava fortemente.
, ...
Sua respiração quente contra meu pescoço e seus sussurros roucos me faziam revirar os olhos e contorcer meus dedos do pé, puxando seus cabelos com força. Seus grunhidos aumentavam toda vez que eu deslizava minhas unhas por seus ombros, minhas pernas apertando seus quadris. Eu estava absurdamente quente, mas não conseguia me soltar de Tyler nem por um segundo. Precisava dele e somente ele.
Girei o rosto para sua direção e o puxei pelo rosto para me beijar. Entrelaçamos as línguas com dificuldade pela velocidade das investidas, que me faziam balançar na cama e nossos quadris estalarem.
Tyler subiu suas mãos para meu rosto e o segurou com força quando, mais uma vez, aumentou o ritmo de suas investidas além do que eu achava possível, me fazendo gemer alto contra seus lábios e arranhar seus braços com força.
Partimos o beijo e encostamos nossas testas suadas enquanto os dois fechavam os olhos e desfrutavam daquele prazer imenso que nos percorria. Segurei em seu rosto com força e ele segurou em meus pulsos, não me deixando largar dele. Nossas respirações se misturavam e os gemidos aumentavam.
O prazer começou a aumentar. Eu senti meu corpo inteiro começar a tremer à medida que meus gemidos ficavam mais altos e finos. Então todo aquele prazer que estava concentrado se espalhou por meu corpo, fazendo-me contrair todos os músculos do corpo e sentir aquela explosão tomar conta de mim.
— AH, Tyler! AH!
Suas mãos apertaram meus pulsos com força e no exato momento em que o orgasmo me atingiu, Tyler estocou pela última vez, precisamente e intensamente, também contraindo todos os músculos do corpo e gemendo meu nome longamente.
Nossos olhos permaneceram abertos, apesar de todo o prazer arrebatador que nos percorreu. Não quebramos o contato visual por nem um segundo, por mais que tenhamos semicerrado nossos olhos, aumentando mais a ainda a conexão que nos ligava. O pouco espaço que havia entre nós parecia um campo elétrico, cheios de faíscas.
Então meu corpo relaxou.
Tyler soltou seu peso sobre mim, o rosto contra meu peito, os batimentos acelerados após a sua ejaculação. Eu soltei seus pulsos e desenrosquei minhas pernas, sem forças para me movimentar depois daquele orgasmo tão arrebatador.
Minhas pernas pulsavam, assim como o meu corpo inteiro. Fechei os olhos e senti os resquícios daquele pico de prazer me deixarem, pouco a pouco, minha respiração irregular combinando com a de Tyler. Minha cabeça estava leve e zonza, não somente pela champanhe, mas por todas as sensações intensas que me arrebataram nos últimos momentos.
Tyler finalmente pareceu recobrar suas forças, saindo de cima e de dentro de mim. Ele ficou deitado ao meu lado, observando o teto do quarto. O vento que entrava pela janela parecia um choque térmico contra meu corpo que ainda pegava fogo.
Um arrepio percorreu meu corpo com o simples toque de sua mão na minha. Abri os olhos com o choque, olhando para o lado e encontrando seus olhos negros.
Ficamos em silêncio, ainda arfantes.
Tyler levantou-se da cama aos poucos e foi para o banheiro livrar-se da camisinha.
Olhei pela janela, ainda imóvel, observando a lua alta e cheia no céu, que parecia combinar perfeitamente com todos os últimos acontecimentos. Quando Tyler voltou, eu ainda observava o céu limpo e estrelado. Ele se deitou na cama ao meu lado, já vestido com a boxer, e me entregou minha calcinha.
Coloquei-a e então deitamos de lado, com as cabeças nos travesseiros, um de frente para o outro. Seus dedos foram parar em minha orelha, fazendo um carinho leve e dócil. Aproximei-me dele e puxei o lençol branco para cima de nós.
Fechei os olhos e Tyler me beijou na testa.
Senti meu coração acelerar com o toque de seus lábios contra minha pele e então eu tive certeza.
Aquilo não tinha sido sexo. Tyler e eu havíamos acabado de fazer amor.

’s POV.


— Hãn... Nossa. — Ele suspirou do outro lado da linha e eu pude ouvir o barulho de lençóis se movendo.
Afastei o telefone de meu ouvido novamente, para olhar o horário e quase gritei de raiva quando vi que eram duas horas da manhã. Três horas da manhã em Nova Iorque.
— Eu... Desculpa. Não prestei atenção no horário e te acordei... Desculpa... Eu vou... Te deixar... Dormir.
— Voltei para Londres. Aqui são quatro da manhã, eu ia acordar daqui duas horas mesmo.
— Desculpa. — Repeti em um sussurro enquanto cogitava afundar minha cabeça nas espumas e me afogar. — Não achei que você estivesse em Londres.
— Vim passar o fim de ano com minha família.
— E não voltou mais para Nova Iorque?
— Não. — Ele pareceu mexer em algum armário e ficou em silêncio alguns segundos antes de falar. — Por que você me ligou?
— Álcool. Problemas... — Fiz silêncio enquanto escutava sua risada ecoar na linha, segurando meu lábio inferior com meus dentes para evitar rir também. — Saudades. Eu não sabia que você atenderia, na verdade.
— Claro que sim. , eu... Não gosto do jeito que deixamos as coisas. Aliás, de como eu deixei.
Sentei na banheira, sentindo a água repentinamente fria e encolhendo-me a procura de seu calor novamente. Liguei a torneira para esquentá-la.
— Você lembra da noite que apareceu no meu apartamento? — Sussurrei incerta se eu deveria tocar nesse assunto. Incerta de qualquer coisa.
Será que falar com Chuck sobre “nós” seria considerado adultério em meu novo querido casamento?
— Vagamente. Desculpe por ela, também.
— Também?
— Sei que não fui o cara mais agradável do mundo na nossa última conversa sóbria, . Não me orgulho de nada que disse.
— Não fui a melhor pessoa, também. — Respondi respirando fundo e tentando relaxar meus ombros, mas achando impossível enquanto eu conversasse com Chuck no telefone.
— Eu fui atrás de você no dia seguinte. Mas você tinha ido viajar quando cheguei.
Por essa eu não esperava. Talvez eu esperasse que ele fosse se arrepender e querer ligar ou mandar mensagem. Mas não ir até nosso apartamento. Quando não respondi, Chuck limpou sua garganta e continuou:
— Aproveitou a viagem?
Eu sabia o que ele estava perguntando. Sobre Noah. E eu não podia ser mais sincera do que dizer:
— Tomei umas más decisões, Charles.
Como falar “eu aceito”.
— Fiz uma besteira monstruosa. Provavelmente vou ser assombrada por uma noite que eu mal lembro pelo resto de minha vida.
Chuck tossiu do outro lado da linha e eu pude ouvir o barulho de uma máquina de café começando a funcionar.
— Você está me assustando, .
— Charles.
— Quê?
— Pare de me chamar de . Não combina com... Você sabe.
— Pare de me chamar de Charles. — Eu praticamente podia vê-lo sorrir na minha frente.
— Tudo bem.
— Termine de contar sobre Vegas. — Ele insistiu.
Pedi um segundo e coloquei o celular de lado, levantando da banheira e saindo dela. Soltei seu ralo, sequei-me rapidamente e coloquei minhas roupas íntimas para depois enrolar-me no roupão felpudo e delicioso do hotel. Peguei o celular de novo.
— Está aí? — Perguntei apagando as luzes do banheiro e voltando para o quarto.
não estava lá ainda e eu duvidava que ela fosse voltar. Entrei embaixo das cobertas, apertando um travesseiro forte contra meu corpo.
— Sim. O que você está fazendo?
— Acabei de deitar na cama. Estou no Brasil.
— VOCÊ FOI EMBORA DOS ESTADOS UNIDOS? — Ele gritou alarmado.
— Não, Chuck. — Ri. — Lembra que minha irmã ia casar? Estou no casamento dela.
É óbvio que ele provavelmente lembraria. Eu passei horas reclamando para ele sobre ter que pagar as passagens e voltar para o Brasil durante a temporada de verão, ainda mais para vir até a praia. Também havia passado um bom tempo tentando convencê-lo a vir comigo. E ele havia aceitado.
— Bloody hell, . — Ele suspirou. — Achei que havia sido deportada.
— Uau. É. Isso seria um problema maior.
— E qual é seu problema menor atual?
— Vamos supor... Hipoteticamente, ok? — Comecei e ele concordou para que eu continuasse. — Então digamos que eu tenha bebido absurdos e não me lembre de uma noite da minha viagem. E que com o cenário atual ao meu redor eu tenha me lembrado de algumas coisas... Agora, hipoteticamente óbvio, talvez as memórias fossem de mim... Casando...
— Casando? — A voz de Chuck estava controlada demais para ser natural. — Com...
— Hipoteticamente?
— É.
— Com o Noah. — Respondi mordendo meu lábio com força e grudando o celular no ouvido para ouvir qualquer resposta.
Silêncio.
Silêncio por quase um minuto inteiro.
— Chuck? Você ainda tá aí?
Nada. Até que eu ouvi o rastro quase mudo de uma respiração forte. Fechei meus olhos antes que eles lacrimejassem, sentindo meu coração apertar e depois começar a bater forte dentro de mim.
— Por favor, não desligue. — Sussurrei com a voz embargada. — Eu... Eu não sei o que fazer. Não me lembro de nada. Meu casamento não era para ser feito por um Elvis em Las Vegas... Não era para ser com Noah...
Chuck continuou em silêncio, mas agora conseguia ouvir sua respiração claramente do outro lado da linha.
— A última coisa que precisava agora era de um divórcio e advogado para pagar. A vai me matar... Nosso apartamento ainda nem terminou de arrumar...
Comecei a soluçar e chorar antes que conseguisse perceber.
— Não... Não chora, . — Ele pediu, seu tom de voz sofrido. — Você vai conseguir dar um jeito em tudo. E... O que aconteceu em seu apartamento?
Respirando fundo para não liberar o rio de lágrimas dentro de mim novamente, contei para Chuck a epopeia que minha vida havia se tornado desde Las Vegas e como apesar do dinheiro na conta ter aumentado, os problemas em minha vida resolveram seguir o mesmo padrão recentemente.
Ele escutou pacientemente durante quinze minutos, fazendo alguns comentários de vez em quando e depois xingando em voz alta Noah, finalmente.
— Eu disse que esse cara era problema. Filho da puta. Provavelmente queria se aproveitar de você e te levou até lá de propósito.
— Conhecendo o Noah, acho que ele não tem capacidade de fazer um plano tão elaborado quanto esse.
. — Ele suspirou nervoso. — Ele é um idiota. Não acredito que deixei você ir viajar com esse babaca. Eu devia ter ido atrás de você em Las Vegas.
— Olha... Eu não acho que teria sido uma boa ideia, não.
— Boa ideia! Bloody hell, ! E o que você considera uma boa ideia? Teu casamento?
— Não exatamente. Nem rico o Noah é.
.
— Tá bom, tá bom. Tô tentando animar o clima, só. Quer dizer, eu vou ter que aguentar a fazendo piadinhas também.
Chuck riu, finalmente se soltando um pouco.
— E como está e Tyler?
— AH. ISSO SIM É UMA BOA HISTÓRIA.
Então eu passei dez minutos falando da vida amorosa de minha melhor amiga. E por mais deprimente que isso pareça, nós acabamos rindo no telefone durante todo o tempo da história. Depois eu perguntei como ele estava.
E como acontece, ele também não estava muito bem.
O pai de Chuck estava doente e por isso ele não podia ter voltado para os Estados Unidos, ainda. A mãe de Chuck, que eu nunca havia conhecido e talvez nunca fosse conhecer, mas também não me importaria porque ele nunca havia falado bem dela, estava enchendo o saco do pobre coitado para que ele ficasse noivo logo. Ah. Chuck também me contou como levou uma mulher qualquer para Londres e não aguentou ficar perto dela nem dois dias antes de enviá-la de volta para Nova Iorque.
— Hm... E por que você não conseguiu ficar tanto tempo com ela? — Perguntei, fingindo desinteresse, mas me correndo para escutar os motivos dele.
— Ah... Você sabe... Ela era bem parecida com...
— A Meredith?
A ex-noiva filha da puta de Charles.
— Você, na verdade. — Ele comentou me fazendo engasgar com minha própria saliva. — Não consegui ficar tão perto de alguém que me lembrava você. Nem a apresentei para minha mãe, porque não valeria a pena.
— Ainda bem mesmo. O que você diria para tua mãe? “Oi mãe, essa é a primeira vagabunda que eu encontrei no bar e resolvi trazer para te conhecer”?
Chuck gargalhou, achando graça da idiotice dele.
— É sério, Charles. Como caralhos você queria apresentar ela para sua mãe?
— Eu queria apresentar você, . — Ele respondeu ficando sério. — Mas infelizmente não deu.
— Vou mandar um cartão postal pedindo desculpas.
— Aproveita e vem embalada junto.
Eu fiquei em silêncio, pensando de repente no que ele havia acabado de dizer. Era isso mesmo, produção? Eu daria certo com Chuck depois de ter casado com outro? Ou não daria certo justamente por estar casada com outro? Estava eu destinada a ser como a mamãe Delawicz?
Ok.
Muitos “e se” para um dia só. Eu não conseguia lidar com isso agora.
— Desculpe. Eu não quis... — Chuck parou, pensando no que dizer. — Você sabe... Força do hábito.
— É. Não, tudo bem. No momento só estou embalada nos lindos lençóis desse hotel caríssimo que minha irmã está pagando para mim.
— Vou deitar também. Você me acordou, mas ainda tenho uma hora para dormir.
— Achei que você já tinha feito um café para você. Ouvi a máquina.
— Era chá.
— Eca. Ingleses.
Chuck riu e eu pude ouvir lençóis novamente.
— Ainda está deitada? — Ele sussurrou na linha depois de ficar em silêncio durante um tempo.
— Uhum. E eu não quero desligar.
— Sua conta vai vir alta.
Ah. Merda. Eu tinha me esquecido disso. Interurbano era uma fortuna.
— Bom, tem dez mil dólares agora. Ela pode pagar algumas horas de interurbano.
— Ela vai te bater, isso sim. — Ele riu.
— Valeu a pena. — Respondi suavemente.
— Sim. Valeu muito a pena. Não se sabe o que se tem até que se perde.
E eu já pretendia dizer para , antes dela jogar pedras em mim, para que jogasse apenas se nunca tivesse falado antes de pensar.
— Você não me perdeu.
— Espero. — Ele suspirou e ficou em silêncio mais um pouco. — Quer desligar agora?
— Na verdade não.
— Também não.
— Podemos só... — Cogitei o que eu ia falar. certamente ia me estuprar ao ver minha conta do celular no final do mês. — Ficar... Aqui? Você sabe...
— Sim. Podemos. Boa noite, .
— Boa noite, Inglês.
E nós ficamos em silêncio, escutando somente a respiração um do outro.


Trigésimo Primeiro


’s POV.


A primeira coisa que eu senti ao acordar foi o colchão quente ao meu lado, porém vazio. Lentamente, abri os olhos e percebi que as janelas estavam fechadas, impedindo que a claridade invadisse o quarto. E então lembrei que estava no quarto de Tyler.
Lentamente, sentei-me e me enrolei no lençol branco. Meus cabelos estavam bagunçados e minha maquiagem tão borrada que eu deveria estar parecendo um panda.
E, pela primeira vez, eu estava sozinha na cama após uma noite de sexo e me sentia mal sobre isso.
Senti meu coração pesar no peito e uma vontade imensa de chorar, mas me controlei. Eu não choro por homens, muito menos por homens que me abandonam na cama.
Respirei fundo e chamei-o, com a voz trêmula:
— Tyler?
Silêncio.
— Ty?
Novamente, o silêncio.
Mas que porra, ele me deixou sozinha na cama mesmo? Fechei os olhos e tentei não pensar nisso. Ele poderia ter saído para fazer alguma coisa, buscar comida, sei lá. Não iria me concentrar nisso. Não com tantas memórias boas da noite passada.
Minha cabeça pesava por causa do champanhe e de todos os sentimentos que me atravessavam. Tomei coragem e me levantei.
Aos poucos, fui pegando minhas roupas e fui para o banheiro. Retirei minha maquiagem borrada, vesti minha roupa de ontem e saí no corredor, em minha caminhada da vergonha, até o elevador.
Graças a Deus, ele estava vazio.
Assim que cheguei ao meu quarto e de , encontrei Mike andando em círculos pelo corredor com aquela cara de bicha preocupada que ele tinha às vezes.
— MENINA! Graças a Deus você está aqui. já falou com você? Nós temos que resolver a papelada o mais rápido possível ou não...
Interrompi-o com as mãos. A voz aguda dele quando desesperado fazia minha cabeça latejar.
— Que que você tá falando, Mikey? Calma a periquita aí, meu bem.
Puxei o cartão do quarto do sutiã, onde eu havia guardado ontem de noite antes de sair para beber. Abri a porta e encontrei o quarto vazio, como suspeitava. Mike veio atrás de mim e se jogou na cama.
— Então você ainda não falou com ? — Mike perguntou, agora mais calmo.
— Não, Mike, eu não falei com ainda. Acabei de acordar. — Resmunguei enquanto escolhia minhas roupas para tomar banho.
Ele parecia inquieto na cama.
— Que foi, hein? Tá me encarando porque tô com a roupa de ontem?
Mike sorriu como se tivesse um estalo em sua mente.
— É! Isso! Passou a noite com quem, hein?
Revirei os olhos e comecei a me despir ali mesmo. Mike era gay mesmo, foda-se.
— Ah, Mike. Como se você já não soubesse. Com o Tyler.
Ele sorriu mais abertamente ainda e saltitou na cama.
— Como foi? Conta tudo!
Entrei no banheiro já pelada, com as roupas novas em mãos. Mike me seguiu e eu fui ligando o chuveiro.
— Foi ótimo. Perfeito. Mas ele sumiu hoje de manhã e... Não sei. Estávamos estranhos esse tempo todo. Acho que nossa amizade sem sexo feria a masculinidade dele, sei lá. — Entrei no box e comecei a falar mais alto para que Mike pudesse me ouvir. — Só sei que quando acordei, ele não estava mais lá.
— Também, são 14h. Você acha que ele ficaria lá no quarto esperando a princesa acordar?
Enfiei minha cabeça para fora do box do chuveiro.
— SÃO O QUÊ?
— 14h, minha linda.
— PORRA!
Enfiei a cabeça de volta no chuveiro e comecei meu banho ainda confusa. Não era surpresa que Tyler não estivesse no quarto. Já era hora do almoço, mas que droga.
— Bom, , eu vou avisar a que te achei e que você está bem. E... Bem. Acho que vocês duas precisam conversar.
Suspirei.
— Eu sei, eu sei. Ela vai querer todos os detalhes. tem cara de santa, mas é fofoqueira.
Mike pareceu dar uma risada nervosa.
— É, isso mesmo... Ela... Vai ficar doida quando souber.
— Então até depois, Mike.
— Até, .
Ele saiu do banheiro e eu finalmente consegui meu tempo sozinha que tanto precisava para processar a noite passada.
Sentei no chão do chuveiro e senti a água cair sobre meus ombros.
Em uma questão de segundos, meu humor mudou completamente. Eu não queria admitir para ninguém o quanto noite passada havia balançado os meus sentimentos, nem para mim mesma, quanto mais para Mike ou . Ou pior ainda: para Tyler.
A porta do quarto bateu e eu respirei fundo, deixando a água levar embora todo o cansaço da noite passada. Meus pulsos estavam doloridos pela força aplicada por Tyler naquela região, mas mesmo assim, eu não conseguia me arrepender da noite passada. Porque eu sabia que cedo ou tarde isso acabaria acontecendo.
Eu era impulsiva demais para resistir. Estúpida.
Levantei-me e me forcei a terminar o banho. Precisava sair daquele hotel o mais rápido possível. Precisava andar, pensar, sei lá.
Saí do banho, sequei os cabelos e me maquiei. Vesti um shorts jeans e uma regata do Batman. Calcei os chinelos brancos, coloquei os óculos de sol e enfiei o celular e o dinheiro nos bolsos do shorts.
Então eu andei.
Fui para o centro da cidade, olhei as lojas, tomei sorvete, observei as pessoas na praia, e mesmo assim, mesmo ocupando minha cabeça, mesmo gastando o dinheiro que eu não devia em um sapato de salto novo, eu ainda pensava em Tyler.
Maldito Tyler.
Voltei para o hotel perto das cinco horas da tarde e joguei a sacola de compras no canto do quarto. não me deu sinal de vida nesse tempo todo, o que era bom e ruim ao mesmo tempo. Com certeza sua irmã estava entupindo ela de tarefas como madrinha. Pelo menos isso me poupava de ter que falar com ela sobre isso.
Sentei-me em minha cama e tentei organizar os pensamentos.
Hoje à noite seria o casamento e mais uma vez eu ficaria na mesa com Tyler. Meu melhor amigo que eu não deveria estar tendo pensamentos amoroso ou sexuais, MUITO menos tendo relações sexuais com ele. Droga, Tyler, por que tão irresistível?
Olhei pela janela e encarei o sol que começava a descer no céu. A praia estava um pouco deserta, tirando a parte dela em que o altar do casamento de Thalia era montado. Suspirei.
Coloquei um biquíni e uma saída de praia branca, os óculos de sol e os chinelos. Talvez um mergulho no mar e uma caminhada na areia me ajudassem a clarear a mente.
Desci para o saguão e então passei pelas piscinas, ainda lotadas, até a praia. Segurei meus chinelos nas mãos e coloquei os óculos de sol no rosto.
Andando à beira do mar, com o sol se pondo, a água contra meus tornozelos e a areia em meus pés, consegui um pouco de paz.
Então eu havia transado com Tyler. E nossa amizade estava cada vez mais estranha. Meus pensamentos estavam cada vez mais focados nele e isso não poderia acontecer porque eu não quero relacionamentos, certo? Porque eles são furada e eu vou acabar me magoando, certo?
Chutei uma conchinha no chão e bufei alto. Eu sempre tive muita certeza do que queria, mas nenhum desses pensamentos, que foram meus princípios durante tanto tempo, pareciam me conformar em seguir em frente e ignorar a noite passada.
Não tinha como ignorar o que aconteceu ontem à noite.
Eu já havia feito sexo com vários caras e de vários jeitos, mas nada nunca chegou perto do que a noite passada significou. Nem mesmo antes de eu adotar minha política contra relacionamentos. Minha cabeça doía cada vez mais a cada flash de ontem que passava por minha mente.
Maldito acordo, malditos sentimentos, maldito Tyler...
!
Senti meu ar escapar e meu coração acelerar ao ouvir sua voz. Estagnei no lugar, sem dar mais nenhum passo, mas não me virei para trás. As palmas de minhas mãos começaram a suar conforme eu ouvia seus passos na areia, atrás de mim. Respirei fundo, várias vezes, sentindo meus braços tremerem levemente.
Fechei os olhos com força, coloquei os óculos de sol no topo da cabeça e soltei o ar. Então eu me virei para ele e abri os olhos.
Ele usava uma camiseta branca e bermudas xadrez, os chinelos em mãos também. Seus olhos negros me fitavam intensamente, como se ele pudesse enxergar minha alma. Cruzei os braços no peito, desviando o olhar para meus pés, assim que ele finalmente parou à minha frente e tocou em meu braço, fazendo-me sentir um calafrio leve.
— Eu te procurei o dia inteiro. — Ele sussurrou.
Senti sua respiração contra a pele do meu rosto e fechei os olhos involuntariamente. De algum jeito, consegui forçar a voz para fora de mim:
— Ah. Eu saí. Achei que tinha me deixado no quarto...
Tyler levantou meu queixo com sua mão, delicadamente, e então sorriu. Nossos olhares estavam fixos um no outro e eu me xinguei mentalmente por novamente estar divagando sobre a escuridão profunda de seus olhos. Malditos olhos.
— Claro que não. Eu tive que resolver algumas coisas, esperava que estivesse dormindo quando eu voltasse, mas você sumiu. Mike disse que você ia falar com , mas ela também não sabia onde você estava. — Sua voz era grave como sempre, porém mais suave.
Mordi o lábio inferior e contive o suspiro de alívio quando sua mão deixou o meu rosto. Era tortura demais todo aquele contato físico quando eu tentava me manter sã e vestida.
— Passeei pela cidade, só.
Olhei para o horizonte, onde o sol se punha aos poucos, no mar. A luz do sol machucava meus olhos, mas não abaixei os óculos de sol.
Ele não me respondeu ou comentou nada. Conseguia sentir seu olhar sobre mim, esperando que eu falasse alguma coisa, ou simplesmente pensando no que deveria falar a seguir. Sinto muito por ter transado com você ontem à noite? Ou melhor, sinto muito por ter feito amor com você ontem à noite?
Passei as mãos pelos cabelos e inspirei fundo, sabendo que eu deveria tomar o controle da situação, se é que ainda havia algum.
— Tyler, eu... — Suspirei e deixei a razão falar por mim, evitando o seu olhar a todo custo para não me desviar de meu discurso. — Noite passada, nós... — Respirei fundo e o olhei nos olhos rapidamente. — Foi um erro.
Abaixei os olhos, esperando que ele concordasse comigo, que ele soltasse uma risada e falasse que tinha sido somente uma recaída, mas novamente suas mãos me seguraram pelo rosto, fazendo-me olhar seu rosto.
Tyler encostou a sua testa na minha e fechou os olhos, como se estivesse lutando para conseguir forças para dizer algo que estava entalado. Nossas respirações se misturavam e aquele momento, em que Tyler franzia a testa e tomava coragem durou apenas segundos, mas pareceu durar uma eternidade.
Seus olhos se abriram e se acenderam, observando os meus, enquanto sua voz saía num sussurro baixo, como uma confissão.
— Nunca foi um erro, .
Abri a boca, meio surpresa. Seus olhos pareciam levemente mais claros com a luz do sol refletindo neles. Eu estava embriagada com a presença dele, o cheiro dele. Senti minhas pernas fraquejarem.
— A única coisa que foi um erro esse tempo todo foi ter mentido para mim mesmo sobre você. Sobre o que eu sinto por você.
Senti meu lábio inferior tremer e meu coração acelerar.
— Eu não sei o que aconteceu, nem como. Mas desde que eu te vi naquele restaurante, você mudou a minha vida. Você entrou nela como um furacão e revirou tudo o que eu achava gostar e valorizar.
Suas mãos deslizaram de meu rosto para meu pescoço e ele acariciou minha pele enquanto me observava ansiosamente, esperando minha resposta, a respiração acelerada.
— Mas nós combinamos... — Minha voz falhou e ele sorriu, puxando meu queixo mais para cima, para encarar melhor meus olhos.
— Eu não quero ser só o seu melhor amigo, . Não te quero somente por uma noite. Não quero mais deixar de ficar com você, porque você disse que se dormíssemos juntos, poderíamos nos apaixonar e as coisas ficariam confusas. E... Isso já aconteceu.
O tempo desacelerou e eu senti minha cabeça girar. A verdade contida em suas palavras me arrebatou. Meus lábios secaram e minha respiração falhou, fazendo-me gaguejar:
— Tyler, você...?
Ele sorriu sem graça perante minha pergunta muda e minha voz trêmula.
— Sim.
Prendi a respiração, ainda zonza. Tyler sorriu e segurou meu rosto entre suas mãos, encostando nossas testas e respirando fundo, como se tomasse coragem, até que seus olhos fitaram bem no fundo dos meus e ele sussurrou as palavras que mudaram tudo:
— Sim, . Eu estou apaixonado por você.
Tyler estava apaixonado por mim.
Tyler.
Tyler, meu melhor amigo, estava apaixonado por mim.
E ele estava me contando isso. Oh, Deus. Tyler estava se declarando para mim.
Tudo ao meu redor começou a girar.
Minhas pernas fraquejaram novamente, decisivamente dessa vez, e eu me desequilibrei, caindo para trás. Por estarmos próximos demais, minhas mãos foram direto para a sua blusa e eu acabei o puxando para baixo comigo em uma questão de milissegundos, durante os quais um gritinho de surpresa escapou de meus lábios.
Tyler conseguiu usar os cotovelos para se apoiar antes que seu peso todo caísse sobre mim e uma vez na areia, ele soltou uma risada nervosa baixa. Se eu não estivesse tão em estado de choque, eu o teria xingado.
A areia me recepcionou com um baque forte que deveria ter doído, mas eu estava tão tomada pela adrenalina que a única coisa que eu fiz foi arregalar os olhos e encarar aquela imensidão escura, logo acima do meu rosto, exatamente como na noite passada. Nossos narizes se encostando. As respirações misturadas. A água do mar a poucos centímetros de nós.
Fechei os olhos, uma vez que não conseguia pensar claramente com aquele olhar sobre mim, tentando me concentrar na informação que eu havia acabado de receber e o que eu deveria fazer com ela.
Segurei-o pelos ombros, não o deixando sair de cima de mim. Tyler beijou minha testa, fazendo-me soltar um suspiro involuntário. Não estava ajudando a pensar.
Pressionei os olhos com mais força e molhei meus lábios. Eu precisava tomar uma atitude, uma decisão, uma posição. Não poderia mais ficar calada ou ignorar todos os sinais que estavam à minha frente, não poderia mais pensar somente em mim ao tomar essa decisão.
Tyler estava apaixonado por mim e qualquer coisa que eu falasse agora decidiria o futuro de nossa relação. Mudaria o curso de nossa amizade, ou terminaria ela.
Respirei fundo e percebi que eu tinha duas opções à minha frente, quando a vida toda eu lutei para que nunca houvesse uma segunda opção. Lutei para nunca mais chegar a esse ponto, nunca mais me sujeitar à pequena possibilidade de me magoar novamente e...
E eu não conseguia pensar em uma razão boa o suficiente para continuar lutando.
... — Ele sussurrou e o seu hálito me embriagou, fazendo-me soltar um gemido involuntário.
Abri os olhos lentamente, e encarei os seus. O som das ondas parecia mais abafado com o seu corpo sobre o meu na areia. Todo o meu campo de visão era ocupado por ele e por alguns raios solares que estavam cada vez mais fracos.
— Não precisa dizer nada, .
Seus olhos estavam fechados e eu observava seus longos cílios negros. Eu podia perceber a dor que tomava conta dele através de sua expressão torturada. Tyler estava com tanto medo quanto eu.
— Ty... — Chamei-o, levando uma mão até seu rosto e o tocando gentilmente na bochecha. Ele abriu os olhos e me encarou, uma ansiedade tangível em seu olhar.
Minha mente se clareou. Dentro do seu olhar, eu tive certeza que estava escolhendo a opção certa. Sorri de leve, não quebrando o contato visual, então sussurrei o mais firme que minha voz trêmula deixou:
— Eu também.
Tyler ficou alguns segundos em silêncio, as sobrancelhas unidas, absorvendo a informação. A água do mar finalmente nos atingiu, de leve, esfriando nossos corpos extremamente quentes, mas nem isso conseguiu fazer nossos olhares se desviarem. Um sorriso se espalhou pelo rosto de Tyler conforme ele percebia o que eu queria dizer.
— Você...?
Sorri mais abertamente e segurei seu rosto agora com ambas as mãos, encostando nossas testas e sussurrando, de uma vez por todas, o que eu já deveria ter dito há muito tempo:
— Sim, seu idiota. Eu também estou apaixonada por você.
E dizendo isso, uni nossos lábios como tantas vezes ficamos tentados a unir. Suas mãos seguraram meu pescoço gentilmente e nossas línguas se enroscaram, quentes e ávidas, num beijo apaixonado. Agilmente, Tyler me segurou pelos ombros e me puxou para cima, fazendo-me ficar sentada em seu colo, ambos sentados na areia, sem partir o beijo. Passei minhas mãos sujas de areia ao redor de seu pescoço, puxando-o mais ainda para mim, aprofundando o beijo. Suas mãos enroscaram minha cintura e nós dois soltamos um risinho baixo quando sentimos a água do mar chegar até nós novamente, encharcando a sua bermuda e a minha saída de praia.
Tyler partiu o beijo antes do que eu queria, fazendo-me tentar beijá-lo de novo, mas ele me segurou pelos ombros delicadamente, impedindo-me de unir nossos lábios novamente. Ele abaixou o olhar nervosamente e respirou fundo, então ergueu o rosto e perguntou de uma vez por todas:
— Então... O que isso significa?
Desviei o olhar de seus lábios, confusa com o que ele queria dizer.
— Isso o quê?
Ele respirou fundo e olhou nervosamente para os lados antes de dizer:
— Nós nos gostamos. E agora? O que vamos fazer?
Sorri para sua pergunta. Deixei meu instinto falar.
— Sei lá, garotão. Acho que agora nós tentamos, né?
Ele sorriu e me beijou de leve na testa.
— Parece uma ótima ideia para mim.
Tentei beijá-lo, mas ele me interrompeu, colocando os dedos entre nossos lábios.
— Mas... Não vamos ficar com mais ninguém, certo? — Ele me olhou nos olhos, inseguro.
Involuntariamente, revirei os olhos e sorri.
— Não, Ty. Mais ninguém. Só eu e você.
Ele não retirou os dedos de meus lábios, ainda me impedindo de beijá-lo.
— Sem fotógrafos.
Gargalhei.
— Prometido, Ty. Sem fotógrafos.
Unimos nossos lábios novamente e eu estava pronta para jogá-lo para trás na areia e subir por cima dele para intensificar o nosso beijo e finalmente matar todas as saudades e libertar todos os nossos sentimentos reprimidos, mas fomos interrompidos por um furacão loiro que vinha a toda velocidade pela areia até nós, gritando a todo o vapor.
! ! Sua vaca, te procurei o dia inteiro! Onde você se enfiou?
Desgrudei-me de Tyler relutante e me levantei rapidamente, batendo a areia de meu corpo enquanto se aproximava e Ty também ficava de pé e se limpava.
Ela parou assim que chegou perto de nós e percebeu que antes estávamos jogados um em cima do outro na areia, de um jeito bem íntimo. Seus olhos verdes se iluminaram e ela nos abraçou com força.
— AI, FINALMENTE, VOCÊS DOIS! — Ela gritou e nos apertou, fazendo-nos rir. Olhamos um para o outro por cima do topo da cabeça da loira e sorrimos meio sem graça pela situação, mas felizes.
— Fala, loira. O que você queria? — Interrompi o surto de , fazendo-a parar de pular no lugar de alegria.
Seus ombros se tencionaram, e então ela sorriu sem graça.
— Então, amiga...
Tyler passou a mão pela minha cintura e eu tentei conter o sorriso com o gesto. ignorou a presença dele, ou simplesmente resolveu contar o que quer que fosse ao mesmo tempo para nós dois.
— Você não vai acreditar quem é que casou.
Olhei-a confusa.
— Ué, mas o casamento da sua irmã não é só mais tarde?
sorriu sem graça e coçou a nuca.
— É, eu sei. Não foi ela.
Uni as sobrancelhas, confusa, e cruzei os braços.
— Não tô entendendo, loira.
deu um passinho para trás e abriu os braços.
— Tcharan. Eu casei, amiga.
Meu coração pulou no peito e minha voz travou na garganta.
— VOCÊ O QUÊ?!

’s POV.


— Juro por tudo que vou ficar com cabelo branco até o final desse dia. — Thalia reclamou encarando sua reflexão no espelho enquanto era maquiada por profissionais.
Eu fui embora, antes que eu surtasse. Já não aguentava mais, depois de passar o dia inteiro aguentando minha irmã, sozinha. Minha melhor amiga havia sumido durante o dia todo e a única notícia que tinha dela havia sido entregue por Tyler, que chegou sorrindo tanto de manhã, que achei que seu rosto fosse estourar. Ele me deu um abraço e perguntei onde estava, ele disse que havia deixando-a no quarto para pegar um café da manhã e depois de dois tapas no ombro, o mandei sair correndo atrás dela. Ele voltou dizendo que ela havia sumido.
E só voltou a aparecer seis horas da tarde, quando fui atrás dela e ela e Tyler estavam se agarrando na praia. Por favor, né. Depois Tyler pega bicho geográfico no pinto e não sabe o porquê.
Enquanto Thalia era maquiada por uma profissional com diploma e tudo mais, eu passava meu próprio rímel no espelho do banheiro que dividia com minha melhor amiga. Não que eu estivesse me corroendo de inveja.
Depois de me arrumar completamente, nós fomos nos encontrar no saguão com Tyler e Mike para irmos até a praia, onde a cerimônia de minha irmã aconteceria. Eu estava meio irritada por ter que sujar minha linda sandália na areia só para ir ao casamento, mas havia me convencido que eu sempre podia exigir pensão de Noah e pagar por um novo sapato com o dinheiro.
E daí que eu havia casado e nem lembrava? O casamento da minha irmã era muito mais majestoso, porém mais entediante do que o meu. E isso eu podia falar com toda a certeza do mundo, porque meu casamento até mesmo após a cerimônia era motivo para piadinha entre meus amigos.
— AH AH AH. PENSEI EM UMA! — anunciou se virando para mim com um sorriso malicioso.
— Cala a boca, .
— É minha querida, a vida é assim. Só sofre para arranjar um amor quem não tem dinheiro para beber.
Mike, aproveitando a risada de todos e meu olhar fuzilante para a , acrescentou:
— Mas vocês não tem dinheiro para beber também.
— Viu, amiga? — colocou o braço em meu ombro, me puxando para um abraço. — Pelo menos você já se livrou do prejû de pagar uma festa de casamento como essa.
— Eu odeio vocês.
— Relaxa, . — Ty disse colocando seu braço no ombro de e puxando-a de volta para ele. — A coisa boa do casamento é que você tem metade de tudo, quem sabe você não pega metade da resistência ao álcool de Noah?
Franzi a testa enquanto Mike e gargalhavam.
— Engraçado. Sabe outra coisa que você vai encontrar pela metade, Tyler? — Perguntei erguendo uma sobrancelha e olhando brevemente para o zíper de suas calças com um sorriso malicioso.
Mike começou a bater palmas enquanto gargalhava e o acompanhou, apoiando suas costas contra o peitoral de Tyler ao rir histericamente. Revirei os olhos para todos eles, mandando o dedo do meio para cada um e logo em seguida gritei:
— OS DEDOS DO PÉ TAMBÉM! — E sai de perto deles, indo atrás de minha irmã.
Ainda deu tempo de ouvir Mike dando um gritinho animado e falar:
— AH JÁ SEI. ESTADO CIVIL: BÊBADA.
Achei Thalia esperando todos sentarem em seus lugares na praia para poder entrar na igreja. Ela ergueu a sobrancelha ao ver meu olhar irritado e entregou-me o buquê com os lábios torcidos, mas não falou nada. Ainda bem ou eu a mandava tomar no cu também.
Enquanto esperava a ordem para poder entrar, peguei meu celular e comecei a fuçar nele. Mandei uma mensagem para Chuck, que havia falado comigo logo no inicio do dia. Minha mensagem dizia:
“Noiva linda e pronta: confere. Casamento perfeito: confere. Festa de matar: confere. Piadinhas infames sobre o meu casamento: confere. Paciência: em falta.”
Meia hora depois, a música começou e entrei na igreja na frente de três outras amigas de minha irmã que eu não conhecia. A música era rápida demais, fazendo com que eu praticamente corresse em minhas pernas curtas para continuar no ritmo de todos e não tornar aquilo em uma fila indiana. Markus estava parecendo sóbrio e animado, olhando para além das madrinhas, ansiosamente.
Eu ainda não havia reparado na cara dele. Parecia ser um cara legal.
Quando a cerimônia começou, Thalia e Markus se ajoelharam na frente do padre e todas as madrinhas e os padrinhos foram se sentar novamente – ideia da minha irmã, obviamente, que não queria ninguém ofuscando sua presença no altar.
— Pensa o lado positivo... — sussurrou me cutucando nas costas do banco de trás. — Você pode esfregar na cara da sua irmã que você casou primeiro que ela.
— Cala a boca, .
— Estou só falando, bf. E seu maridão é mais bonito do que o dela.
Isso arrancou um sorrisinho meu. É. Noah podia não ter a personalidade mais agradável para se apresentar para os pais, porém era agradável aos olhos. Pelo menos alguma coisa boa tinha que sair dessa história toda.
Depois de todo o sermão, palavras e tudo mais que acontece nos casamentos, o padre deixou que os noivos falassem. Votos eram tradições dos americanos, mas aparentemente, Markus também gostava dessas coisas e insistiu que Thalia deixasse os votos acontecerem. Fiquei me perguntando quantas outras coisas ele teve que abrir mão para conseguir isso de Thalia, porque só assim você consegue convencer minha irmã. É como se hospedar lá em Las Vegas. Você chega pedindo e sai com alguns órgãos vitais a menos como pagamento.
Markus começou, falando primeiro:
— Thalia, não é a toa que eu sou o homem mais feliz do mundo. Eu tive a sorte de derrubar suas coisas no chão e ganhar sua atenção durante os breves segundos que você quis me matar. Mas depois disso, quem perdeu todo o foco fui eu. Não é amor à primeira vista porque passamos seis anos na mesma turma da faculdade. Mas é amizade, é respeito, é dedicação e paixão.
Os olhos de minha irmã já estavam cheios de lágrimas e provavelmente seria impossível que ela fizesse o próprio discurso depois dele.
— Você me renova. Abastece. Você me conquista diariamente e eu espero que passemos muito tempo juntos. Espero que nosso futuro seja tão lindo como nosso presente. Eu te amo.
A madrinha ao meu lado, talvez a irmã de Markus, fungava e suspirou alto. Então era a vez de minha irmã. Ela olhou fixamente para o chão alguns segundos, respirou fundo e olhou nos olhos de seu futuro marido enquanto falava sem olhar para o papel com o texto pronto em suas mãos:
— Minha vida sempre foi uma rotina. Eu existia. Você me faz sentir viva. Os momentos felizes se repetem com mais frequência do que antes e eu sei que é porque estou ao seu lado agora. Você me faz sentir segura, confiante e talvez eu não seja a melhor pessoa do mundo para demonstrar o quanto você mudou meu jeito de pensar. Mas eu gostaria de ter a chance de te provar. Provar que posso te fazer tão feliz quanto você me faz. Provar que posso te amar eternamente. Hoje, mais do que nunca, eu acredito em amor. Porque você me apresentou a ele. Eu também te amo.
Markus também estava lacrimejando depois dessa. E para ser sincera, até eu estava. Também estava meio nauseada, porque minha mente continuava a me torturar com lembranças de meu casamento com Noah. Era horrível assistir a algo que sempre sonhei, sabendo que já havia acontecido comigo com a pequena diferença que: eu não lembrava.
A cerimônia prosseguiu e o casal fez seus votos finais de “Eu aceito”. Todos levantaram para bater palmas e eles saíram de mãos dadas com sorrisos quase estourando suas bochechas. Quando as outras pessoas começaram a evacuar a área também para ir até a festa, peguei minha bolsa e fucei nela até achar meu celular. Tinha uma mensagem de resposta de Chuck:
“Você teria sido a noiva mais linda que eu já vi andar até o altar.”

’s POV.


Eu sabia que fazer faculdade de artes cênicas serviria de alguma coisa um dia, apesar do que todos os meus parentes diziam, como por exemplo, que eu passaria fome e ficaria sempre devendo o aluguel. Não que eles estivessem completamente errados (chegaram bem perto da realidade, até), mas eu sabia que serviria de alguma coisa e agora era a hora.
Tive que resumir o meu surto com e minha empolgação quanto à Tyler porque tinha um casamento para comparecer, então foi aí que minhas habilidades como atriz me ajudaram e não surtar com tudo aquilo. E, bem, tenho que admitir que ver Tyler naquele terno delicioso e pensar que mais tarde eu o despiria peça por peça, ajudou a aplacar o meu humor.
A verdade é que eu fiquei bem mais tranquila do que imaginei com toda essa situação de ser rejeitada como madrinha duas vezes, ambas pelas irmãs . Mas era bem divertido ficar pilhando a loirinha sobre isso e sobre como ela sempre se gabou de ser a mais racional, mas era ela quem tinha jurado amar e respeitar Noah Shaw até o último suspiro na frente do Rei do Rock.
Confesso que invejei um pouco o fato de que Elvis consagrou o casamento deles.
De qualquer jeito, quando a cerimônia acabou, perto das 20h, seguimos imediatamente para a festa. Segurei na mão de Tyler para subir as escadas de madeira e seguir pela passarela até o local onde foi montada a festa de casamento.
Sim. A irmã de contratou uma empresa e montou um salão de festas com tudo o que tinha direito no meio da praia. Eu disse que ela era rica.
— Uau.
Tyler assobiou ao passarmos pelos panos brancos que decoravam a entrada.
O local era uma plataforma de madeira clara enorme, com armações de ferro segurando os panos e a lona que compunham o domo do local. Havia candelabros de cristal (não duvido nada que cada um deles custasse os meus dois rins) em cima de cada mesa e uma bola gigante de discoteca sobre a pista principal de dança. As mesas, com cadeiras creme acolchoadas, eram decoradas com toalhas brancas e lilases e combinavam com o imponente arranjo de flores que cada uma possuía, além das velas e da louça claramente cara. Consegui enxergar umas três mesas distribuídas pelo local com bartenders que provavelmente, no fim da festa, fariam malabarismos com fogo e garrafas piscantes. O buffet estava à nossa esquerda, todas as tampas de prata escondendo as possíveis delícias de rico que estariam ali.
— Tarde demais para virar homem e casar com a sua irmã? — Mike perguntou ao observar o garçom passar com taças de champanhe, seguido por outro garçom com aqueles aperitivos de camarão.
o socou.
— Eu diria que você poderia casar com , mas ela é pobre e comprometida. — Comentei dando de ombros, fazendo fechar a cara.
, você não vai me deixar em paz com isso, né?
— Não, loirinha, temo que essa estrada seja até a morte. — Tyler comentou, fazendo piadinha, o que fez fechar a cara mais ainda.
— Qual é, gente, relaxa. Não vamos ficar enchendo a tadinha da , ela está melancólica com tudo isso. — Mike interrompeu, passando ambas as mãos pelos ombros de , que eram cobertos por uma renda creme de seu vestido.
— Obrigada, Mike.
— De nada, meu bem.
Olhei para Mike contendo o riso. Eu sabia que ele tentava segurar todas as piadas maldosas da bicha má que ele tinha dentro de si.
— Certo, vamos nos sentar. — Tomei a frente deles, puxando Tyler pela mão atrás de mim até uma mesa perto do buffet e então me virando para me despedir de , que teria que sentar com os seus parentes. Meus pais estavam perdidos no meio da festa com uns amigos em comum de nossos pais. — E toma cuidado com a bebida, . Lembre-se que rainhas adúlteras são decapitadas.
revirou os olhos e bufou, saindo em direção à sua mesa cheia de madrinhas pomposas e animadas. Assim que ela sentou-se à mesa, rodeada pelos feromônios em fúria, eu sorri para ela do outro lado do salão e acenei. Ela me mostrou um delicado dedo do meio.
— Você está bem quanto a isso, ?
Virei-me para Tyler, confusa, e sentei-me entre ele e Mike.
— Como assim?
. Casada. Todas as coisas que vocês já tinham que resolver agora bem piores, porque tem um divórcio para dar entrada.
Abri a boca para responder, quando Mike me interrompeu:
— É claro que ela está bem, garotão. Vocês dois finalmente admitiram que foram feitos um para o outro. O universo está de volta aos eixos novamente.
Revirei os olhos e contive o risinho idiota que quase escapou de mim. Eu estava apaixonada, não retardada. Tyler colocou um braço na parte de trás de minha cadeira, meio que ao redor de meus ombros, o que me fez retesar um pouco durante alguns segundos. Sempre fomos muito íntimos como amigos, mas agora parecia um pouco estranho. Dei de ombros, balançando aqueles pensamentos de mim.
— Sim, Tyler, eu até que estou bem quanto à isso tudo. e eu sempre resolvemos. E acho que vamos conseguir uma anulação do casamento, de qualquer jeito. Não vou me estressar com isso enquanto estivermos aqui, mas é óbvio que vai ter que aguentar uma bela de uma rodada de piadas e peças. — Abri um sorrisinho malicioso.
— Eu vou falar com o bosta do Noah assim que chegarmos. Acho que ele nem lembra que se casou também, mas até aí ele não lembra nem da data do próprio aniversário. — Tyler comentou dando de ombros.
— Preciso conhecer esse tal de Noah. — Mike suspirou. — E preciso arranjar um homem pra mim. — Ele apoiou o queixo na mão e fez um biquinho, observando a mão de Tyler que fazia carinho em meu ombro. — Fico realmente feliz por vocês dois, pombinhos. Mas eu preciso sair daqui e beber alguma coisa antes que minha bicha carente interior se revele.
E então Mike se levantou antes que eu pudesse falar qualquer coisa, pegou uma taça da bandeja do garçom que passava e se virou para nós sorrindo.
— Que eu encontre um amor para mim assim como o amor de vocês.
Mike virou a taça rapidamente e saiu, nos deixando sozinhos.
Pisquei algumas vezes, sentindo uma parte interior minha começar a surtar ao ouvir essa palavra: amor. Contive o calafrio que quis me percorrer e peguei uma taça de champanhe com o garçom que ainda estava ali. Virei o líquido rapidamente, na tentativa de relaxar.
Eu não tinha mais porque ficar tensa. Quem deveria estar tensa era , mas do outro lado do salão, a loirinha se divertia apresentando Mike às madrinhas e padrinhos. E se , que estava casada e não sabia até ontem, estava bem e tranquila, eu também ficaria bem e tranquila.
Os lábios de Tyler tocaram a parte de meu ombro que não era coberta pelo vestido, próximo ao meu pescoço. Fechei os olhos por alguns breves segundos, sentindo o toque de sua pele na minha. Seus dedos puxaram meu cabelo para o lado e ele apoiou o queixo em meu ombro, alguns poucos fios da barba que começava a crescer fazendo cócegas em minha pele.
— Tudo bem?
Seu sussurro contra meu ouvido provocou um arrepio de leve e eu gemi um “uhum” em resposta. Eu ainda podia sentir uma pequena tensão em meus ombros, provavelmente porque eu ainda estava em dúvida sobre como eu e Tyler deveríamos agir de agora em diante.
— Olhe para mim.
Molhei os lábios e girei na cadeira, ficando frente a frente com Tyler. Meus lábios cor de rosa estavam comprimidos e ele observava meus olhos, ignorando o decote do vestido rosa rendado que eu usava. Seus cabelos negros estavam levemente bagunçados e ele usava somente a gravata vermelha e a camisa social branca, com as mangas arregaçada, já que fazia um calor dos infernos.
Era tão estranho. Tê-lo ali, à minha frente, meu melhor amigo sexy e misterioso, e saber que por um bom tempo estávamos apaixonados e não admitíamos. Saber que ele me queria tanto quanto eu o queria; eu e ninguém mais. Fazia tanto tempo que eu não me imaginava em uma situação dessas que tudo parecia estranhamente novo. Mas, mesmo assim, era tudo familiar. Porque nós nos conhecíamos, sabíamos de nossos defeitos, manias, jeitos, gostos, hábitos, pontos fracos. Era novo e familiar ao mesmo tempo.
Para meu alívio, antes que ele pudesse falar qualquer coisa, um garçom passou por nós avisando que a mesa do buffet estava aberta. Levantei-me em um pulo e fui direto para a fila, com Tyler logo atrás de mim. Mike e ficaram mais para trás na fila, e mesmo com minha insistência gestual para que eles furassem a fila e ficassem conosco, os dois resolveram ficar ali, com um sorrisinho malicioso para mim. Eles mandaram uns beijinhos e insinuaram coisas melosas sobre mim e Tyler.
Esses malditos.
— Quanto tempo mais vai ficar me evitando como se eu fosse um alienígena? — Tyler perguntou brincalhão, colocando uma mecha de meu cabelo cacheado atrás da orelha enquanto a fila não andava.
Virei-me para trás e respondi dando de ombros.
— Você não é um alienígena.
— Claro que sou. Minha beleza é de outro mundo.
Revirei os olhos e lhe dei um tapa no braço por puro hábito. Tyler sorriu.
— O que eu quero dizer é: não precisamos mudar as coisas.
Suspirei. Virei-me para frente na fila, que agora andava. As pessoas pareciam lesmas, porque a cada vinte segundos eu só conseguia dar um passo em direção à mesa, o que não contribuía muito para a tensão que estava entre mim e Tyler.
Olhei para trás novamente e vi que e Mike agora haviam se juntado aos meus pais e aos pais de . E eles riam como menininhas olhando para nós. Os olhos de minha mãe se iluminaram como os de uma criança ao ver o papai Noel enquanto Morta contava em sua orelha sobre meu novo romance. Eles seguraram o braço de meu pai, impedindo-o de vir conversar comigo para deixar eu e Tyler a sós. olhou para mim e piscou um olho só. Se continuasse assim, acho que Noah ficaria viúvo rapidinho.
Finalmente chegamos aos pratos e eu peguei o meu em mãos, esperando minha vez para pegar o camarão com palmito que parecia estar me chamando. A mão de Tyler pousou em minha cintura e eu sabia que tinha que respondê-lo. Sabia o que ele estava dizendo.
Virei-me para ele e desembuchei:
— Nós éramos amigos. E agora somos, sei lá, ficantes. Amantes. Parceiros sexuais com sentimentos amorosos. — Parei por um tempo, pensando em outra qualificação. — De qualquer jeito, agora somos mais do que amigos.
Ele sorriu divertido com a minha enrolação em organizar as ideias. A fila andou e eu comecei a encher o meu prato enquanto ele parecia pensar um pouco antes de responder:
— Sim, nós somos isso tudo, ou seja lá qual classificação que você preferir... — Ele pausou e me olhou nos olhos com um sorrisinho tímido. — E eu sei. Eu também.
Uni as sobrancelhas. Coloquei arroz em meu prato e ele também.
— Sabe o que?
Pegamos um purê e um pouco de salada. Tyler encostou os lábios em minha orelha.
— Sei que você está com medo.
Encolhi os ombros e desviei o olhar, tentando disfarçar o quanto fiquei surpresa com aquela afirmação, apesar de estar estampado em meu rosto o quanto eu estava assustada com toda essa nova situação. Peguei meus talheres e andei rapidamente de volta para a mesa, tentando processar aquilo tudo.
Assim que sentei, Tyler sentou-se ao meu lado. Novamente, Mike e ficaram longe, com risinhos e tramoias para me deixar sozinha com Ty.
Enfiei um camarão na boca rapidamente e Tyler me olhou sério. Respirando fundo, ele confessou:
— Eu também tenho medo, .
Parei de mastigar durante alguns segundos.
Ok. Isso era uma informação importante a se levar em conta.
Mastiguei mais rápido do que deveria e engoli o camarão. Tyler comeu um pouco, dando-me tempo para pensar, o que eu agradeci mentalmente. Bebemos mais champanhe e quando estávamos no final de nossos pratos, ele trouxe sua mão sobre a minha, fazendo-me olhar em seus olhos.
— Eu quero enfrentar o desafio. — Ty disse.
Olhei para o meu prato, pensativa. Quanto mais eu pensava sobre o assunto, mais eu sabia que Tyler deveria saber a verdade. Mais eu sabia que eu deveria falar tudo de uma vez, tirar esse peso de mim e finalmente conseguir aproveitar o que tínhamos pela frente agora. Respirei fundo e sussurrei, enquanto brincava com uma batata com o garfo:
— Eu também quero enfrentar o desafio, Tyler. Prefiro arriscar a ficar com medo e nunca saber o que poderia acontecer, mas você sabe como eu sou inconstante e vou fazer de tudo para fugir dessa situação e...
Tyler levou sua mão até meu rosto e passou o dedão por meu lábio inferior, os olhos vidrados em minha boca, fazendo minha voz desaparecer. Sua mão deslizou para a minha nuca e sua boca veio até minha orelha, sua respiração me provocando calafrios.
— Nunca vou te deixar fugir, . Você é minha agora. — Ele sussurrou em minha orelha e eu fechei os olhos, sentindo uma chama se acender dentro de mim somente pelo jeito firme que ele falou comigo.
Fiquei com os olhos fechados e pude ouvir sua risadinha ao ver meu rosto de prazer contido. Abri os olhos cheios de desejo e o encarei com as sobrancelhas elevadas, detestando a mim mesma por ter deixado transparecer o poder que ele tinha sobre mim.
— Se eu fosse você, parava com esse sorrisinho convencido aí. Não sou uma mulher fácil de domar. — Cruzei os braços e virei o rosto na direção contrária dele.
Tyler me segurou pelo braço com força, os dedos pressionados contra meu braço fazendo-me soltar um gemidinho de dor, então me puxou para que eu o olhasse novamente. Seus olhos negros estavam completamente tomados por minha imagem e eu podia ver o fogo que queimava dentro deles. Ele sorriu maliciosamente observando meus lábios entreabertos e então me olhou nos olhos.
— Já disse que gosto de um desafio. Vou te mostrar quem é que manda.
Olhei-o desdenhosa. Que abusado. Se ele pensava que seria fácil assim, ele estava muito enganado, porque...
Sua mão foi parar em minha coxa indiscretamente, apertando-a com força. Abri a boca em um gemido mudo e Tyler me beijou logo em seguida, tampando o som que quase saiu, deixando-me sem ar. Não demorou muito e ele separou nossos lábios, soltando uma risada maliciosa e me olhando de um jeito divertido.
— Estamos em um casamento, . Que inapropriada.
— Vai se fuder.
— Ouch. Que nervosinha.
Aproveitei que ele estava distraído e me livrei de seu aperto em meu braço. Olhei-o severamente, então peguei outra taça de champanhe que passava por ali e levantei-me. Sua mão foi parar em minha cintura, e logo em seguida ele estava em pé à minha frente.
— Onde pensa que vai?
Sorri por cima do ombro e peguei em sua mão, puxando-o comigo.
— Você quer brincar de me provocar, então eu vou brincar também. Vamos testar esse autocontrole.
E então eu o puxei para a pista de dança comigo, sorrindo ao perceber que as coisas estavam iguais ao que eram antes. Só que bem melhores.


Trigésimo Segundo


’s POV.


Minha irmã não tinha largado do marido, minha melhor amiga não largava mais um de meus melhores amigos, e meu outro melhor amigo, não conseguia passar nem dez segundos prestando atenção em mim antes de um homem de terno bonito apitar em seu radar.
Então eu acabei passando grande parte da festa com meus pais, que eu amava muito, mas não para ficar escutando sobre como eu deveria ter ficado no Brasil com eles. Minha mãe sempre dizia que eu havia abandonado eles. É. Mais ou menos. Mas a vida em Nova Iorque me chamava desde que eu era pequena, e a oportunidade era perfeita demais para negar.
Agora a única coisa perfeita em minha vida era meu vestido de madrinha que me fazia sentir maravilhosa. Se eu tivesse casado com esse vestido eu estaria com um humor muito melhor. Mas acontece que eu não lembro como estava vestida. Então foda-se, meu mau humor continua.
Também tinha a companhia de garçons que me traziam bandejas com bebidas o tempo todo. E que ironia estas não estarem entre as minhas coisas favoritas recentemente.
Quando Thalia anunciou a hora de jogar o buquê para trás, eu me mantive parada e emburrada, bebericando uma taça de champanhe. Infelizmente, surgiu com Mike do nada e ambos me arrastaram para a muvuca feminina. Descruzei os braços para não parecer uma idiota maior e sorri para minha irmã, encorajando-a a jogar logo as flores para que eu pudesse voltar para meu quarto. Ela piscou para mim e se virou.
Olha. Eu havia esquecido que minha irmã tinha uma mira boa.
Dois segundos depois, um buquê estava batendo contra minha cara. Eu o agarrei, como reflexo, meio assustada com a situação. As mulheres ao meu redor suspiraram insatisfeitas e voltaram a se espalhar, mas estava me fuzilando com os olhos.
— Quê?
Ela arrancou o buque de minha mão e bateu com ele na minha cabeça, depois em meu estômago.
— Você já é casada, . Como você é estraga prazeres. Não pode ficar com o buquê, porra.
Mike fez um “Uhum” acompanhado de um biquinho, fazendo rir e logo eles me deixaram parada lá, sem saber nem o que pensar. Eles voltaram a aproveitar a festa. jogou o buquê na mesa, descartando-o, sem nem pensar duas vezes, e estendeu a mão para Ty, convidando-o para voltar a dançar com ela. Não consegui acompanhar para onde Mike havia ido, mas o conhecendo, provavelmente foi atrás de algum homem que ele achou ser gay.
Andei até minha irmã, despedindo-me dela com um abraço forte e falei com meus pais, avisando que já estava subindo para o quarto. No caminho até os elevadores, um funcionário do hotel me parou para falar comigo, pedindo para que eu fosse até a recepção.
— Senhorita , nós gostaríamos de confirmar o horário do seu check-out amanhã.
Por um breve segundo imaginei que a mulher fosse me chamar de Senhora Shaw, que era o sobrenome de Noah. Quase chorei de alívio quando não aconteceu. Talvez se os papéis do divórcio forem rápidos, ninguém precise saber de nada.
— Hm... Sem check-out. Vou embora somente depois de amanhã, junto da minha irmã. Ela vai pagar minha conta.
A recepcionista fez uma careta e pediu licença para ir chamar o gerente. Este chegou com um sorriso sem graça nos lábios.
— Boa noite, Senhorita . Creio que temos um mal entendido aqui.
— Também estou achando. O que aconteceu?
— Bom, quando a senhorita enviou as passagens e pediu para que marcássemos sua estadia durante tal período, nós os fizemos perfeitamente. Creio que a confusão seja da senhorita.
Pisquei confusa. O gerente pegou umas folhas impressas – os e-mails que eu havia trocado com ele quando marquei nossa viagem – e apontou para as datas do voo. Ele estava certo. Nós iriamos embora amanhã às onze horas da noite e ninguém sabia disso. Muito menos eu.
— Tudo bem. Amanhã pela tarde eu volto para acertar isso.
O gerente coçou a nuca desconfortavelmente.
— O check-out é até ao meio dia. Qualquer permanência após esse horário acarreta que outra diária seja debitada em sua conta.
— O QUÊ?!
— A senhorita gostaria de pagar as diárias agora ou pela manhã?
— NÃO, não, não. — Levantei meu dedo indicador na cara dele. — Você não tá entendendo. Quem vai pagar vai ser minha irmã. A noiva.
Novamente, o gerente fez uma careta desconfortável.
— O que foi agora? — Perguntei quase batendo o pé no chão como uma menininha irritada.
— Perdão senhorita, mas a lista de sua irmã inclui somente o quarto dela e de seus pais. O da senhorita não está incluso. Logo, terá que pagar as diárias por conta própria.
— AH, TÁ DE BRINCADEIRA COMIGO.
Respirei fundo, colocando os dedos nas têmporas e as massageando. Era só o que me faltava. Divórcio e mais dívidas. ia me matar, eu havia dito que quem pagaria era nossa família. Talvez ela pudesse pedir para seus pais pagarem, mas eu duvidava muito que eles fossem concordar em fazê-lo.
— Amanhã eu acerto isso, então. Obrigada.
O gerente sorriu para mim, parecendo um pouco aliviado por eu não ter feito um chilique e desejou uma boa noite enquanto eu já estava andando para os elevadores para ir embora.
Estar em um elevador sozinha me trouxe duas lembranças: Noah em Las Vegas e Charles em Londres. Para qualquer um as localizações poderiam parecer que eu estava tendo a diversão da minha vida. E para ser bem sincera eu estava me divertindo em Las Vegas. Mas a memória sobre Londres não foi nada agradável.
Não somente eu havia pisado na bola constantemente naquele dia com Chuck, eu passei o resto do mês tratando-o mal.
Assim que cheguei ao quarto, retirei a roupa, maquiagem e me preparei para deitar em menos de dez minutos. Depois peguei meu celular e sentei na cama como uma criança ansiosa enquanto digitava certo número, já gravado na minha memória.
— Como você me aguentou tanto tempo? — Falei assim que atenderam a linha no quarto toque.
Charles riu do outro lado.
— Ótimo senso de horário, para variar. — Ele respondeu ignorando minha pergunta.
— Bom, a culpa não é minha. Aqui no Brasil temos horário de verão. Esqueço que ai são três horas na frente agora. — Respondi olhando no relógio de umas das cabeceiras para ver o quanto eu estava atrapalhando-o novamente.
Era pouco mais do que meia noite. Merda.
— Como foi o casamento?
— Charles, qual é. Você também? — Bufei irritada.
— Estou perguntando sobre o casamento de sua irmã, . — A voz dele tomou momentaneamente um tom frio e irritado.
— Ah. Desculpa. Foi bacana. Minha irmã estava linda e agora está casada. está um grude com Ty e todos passaram o dia fazendo piada sobre mim.
— Alguém fez piada sobre seu padre ter sido o Elvis? — A voz de Chuck estava meio rouca, sonolenta e meio irônica.
— Não. Ainda não. Tenho certeza que posso esperar por isso. Desculpa ter te ligado de novo essa hora, sei que amanhã você trabalha.
— Tenho uma reunião às sete da manhã. — Chuck disse, mas sua voz não era mais acusatória.
— Merda. Foi mal. Tudo bem, vamos des-
— Não! Escuta, ... Eu quero ouvir sua voz... Eu... Fez bem para mim ter falado com você ontem. Podemos fazer igual, conversar sobre nosso dia e depois só ficar em silêncio...
— Você quer mesmo fazer isso? — Mordi meu lábio inferior para suprimir um sorriso e abracei o travesseiro que seria de contra meu corpo.
— Sim.
— Bom. Então fale do seu dia primeiro. — Pedi deitando na cama com o telefone esmagado entre minha orelha e meu travesseiro.
Quarenta minutos depois, quando Chuck havia terminado de me contar sobre seu dia e eu sobre o meu, nós ficamos em silêncio. Não tenho a mínima noção de quanto tempo demorou, mas logo eu estava dormindo novamente ao som da respiração profunda de Charles.

’s POV.


Acordar no dia seguinte foi bom por quatro motivos.
1. Eu não estava de ressaca, porque não bebi muito no dia anterior.
2. Eu estava no Brasil.
3. Pela primeira vez em muito tempo eu estava genuinamente de bom humor.
O que nos leva ao quarto motivo:
4. Eu estava com Tyler.
Um sorriso ocupou meu rosto assim que eu me virei na cama, ainda nua, enroscada nos lençóis brancos, e dei de cara com Tyler. Ele dormia de bruços, um braço embaixo do travesseiro e o outro de leve sobre minha coluna. O rosto sereno, os lábios entreabertos, os longos cílios negros. Ele nem parecia ser tão bruto como conseguia ser às vezes. Principalmente na cama.
Passei a ponta dos dedos por sua franja curta, macia. O gesto o fez se remexer e resmungar um pouco. Abri a boca, pensando em acordá-lo, mas resolvi deixa-lo dormir mais um pouco. Continuei a massagear seus cabelos lentamente por mais alguns segundos, até que Tyler resmungou meu nome com a boca contra o travesseiro.
.
— Diga.
Ele levantou um pouco o rosto e me olhou com um sorriso divertido.
— Você dorme fazendo biquinho.
Dei um tapa em seu ombro.
— Cala a boca! Claro que não!
Ele riu e abraçou o travesseiro, fechando os olhos novamente.
— Uhum, dorme sim. É meigo.
Puxei o travesseiro sobre o qual ele se deitava, violentamente, fazendo-o gemer em reclamação. Bati nele com o travesseiro.
— Seu idiota.
Tyler revirou-se na cama, ficando de barriga para cima. Joguei o travesseiro no rosto dele e subi em seu colo, colocando uma perna de cada lado de seu corpo. Assim que eu sentei, senti-o me recepcionar muito bem, podemos dizer.
Soltei uma risadinha perante a animação dele. Tyler ainda estava com o travesseiro sobre o seu rosto.
— Ty.
Ele resmungou alguma coisa em resposta.
— Sua barraca tá armada.
Tyler gargalhou e tirou o travesseiro de seu rosto, revirando os olhos.
— Quase todos os homens acordam duros, . É só vontade de mijar.
Fiz um bico.
— Poxa, pensei que era eu.
Ele deslizou as mãos por minhas coxas e sorriu malicioso.
— Você sempre tá no meio, gata.
Mordi o lábio inferior e me inclinei sobre ele, beijando-o de leve nos lábios. Suas mãos deslizaram por meu corpo, apertando minha bunda com mais força agora. Ele tentou aprofundar o beijo, mas eu enfiei dois dedos entre nossos lábios.
— Ainda não escovei os dentes, Ty. E tô precisando de um banho depois de ontem.
— Tudo bem. Damos um jeito nisso.
Então Tyler se levantou da cama com uma agilidade incrível, segurando-me em seu colo e me manobrando enquanto ficava de pé, fazendo-me soltar um gritinho de surpresa misturado a uma risada. Segundos depois eu estava sobre o seu ombro, minha bunda para cima, meus braços batendo em suas costas.
— TYLER HUNT!
Gargalhando, Tyler andou tranquilamente pelo quarto até o banheiro, abrindo e fechando a porta logo depois de entrar e somente então me depositando em pé em cima da tampa da privada.
— Seu bruto. — Resmunguei enquanto descia da tampa da privada e pegava aqueles kits com escova de dente do hotel.
Tyler ligou o chuveiro e tirou a cueca branca que usava. Eu havia dormido nua, então não teria que tirar nada. Apoiei-me na pia enquanto escovava os dentes, observando seus olhos percorrerem meu corpo enquanto eu cuspia e então enxaguava a boca. Terminei de escovar os dentes e entrei no chuveiro. Como o box não permitia que eu o visse, ele aproveitou para, você sabe, mijar.
Comecei a lavar meus cabelos lentamente, enquanto ouvia Tyler escovar os dentes. Massageei meu couro cabelo enquanto deixava a água fria escorrer por meu corpo, já que ainda estava um calor dos infernos. Passei condicionador em minhas mechas calmamente e então ouvi o barulho da porta do box abrir e Tyler entrar.
— Resolveu me acompanhar, então?
Ele puxou meus cabelos molhados para o lado e depositou alguns beijos em meu pescoço. Com as mãos em minha cintura, virou-me de frente para ele agilmente, um sorriso malicioso em seus lábios.
— Achei um pecado te deixar sozinha molhada desse jeito.
Tyler me jogou contra a parede com um pouco de força, fazendo o ar escapar de meus pulmões. Ele levou uma mão até a lateral do meu rosto e se aproximou lentamente de mim, os olhos em meus lábios. Fechei os olhos e respirei fundo, esperando o beijo, mas quando ele estava com os lábios a milímetros dos meus, desviou o caminho e começou a beijar o meu pescoço com vontade. Arranhei seus ombros em protesto pelo beijo não recebido, o que o fez soltar um gemidinho de dor.
— Selvagem. — Ele resmungou contra meu pescoço.
— Você gosta. — Respondi depois de uma risada maliciosa.
Deslizei minhas unhas por suas costas, fazendo-o puxar o ar entre os dentes. O azulejo gelado contra minhas costas contrastava com o crescente calor que subia por meu corpo e a água do chuveiro caía parcialmente sobre nós. Suas mãos subiram de minha cintura para meus cabelos e ele os puxou com força, fazendo eu elevar meu queixo. Soltei um gemido em protesto, que ele prontamente calou com um beijo, as mãos agora me segurando pelo pescoço firmemente, mas também gentis.
Passei as mãos ao redor de seu pescoço, puxando-o mais ainda para mim e sentindo sua crescente ereção contra minha barriga, o que me fez sorrir entre o beijo. Prendi seu lábio inferior entre meus dentes e desci uma das mãos de seu pescoço por seu peitoral, arranhando-o de leve, até chegar em seu membro. Segurei-o com força e comecei a masturba-lo, minha mão subindo e descendo pela extensão em movimentos amplos, acariciando a sua glande com a palma da mão e então voltando a deslizar pelo comprimento.
Tyler elevou o queixo, jogando a cabeça para trás e soltando um gemido rouco em incentivo, usando ambas as mãos para se apoiar na parede. Desci a outra mão que ainda estava entre seus cabelos e comecei a massagear suas bolas com uma mão enquanto a outra deslizava por seu membro pulsante que já estava completamente duro. Comecei a beijar seu pescoço, fazendo-o deixar gemidos escaparem por entre seus dentes cerrados. Segurei seu membro pela base com uma das mãos e com a outra comecei a fazer movimentos circulares na cabeça, com a palma da mão.
Então Tyler enlouqueceu.
Ele me prensou contra a parede com os seus quadris e deixou sua cabeça despencar para a dobra de meu pescoço, onde ele abafou um gemido alto que me fez sorrir involuntariamente. Continuei com as carícias enquanto sentia seu corpo se contrair contra o meu, as mãos apertando meus ombros, braços, cintura, bunda, seios, até que finalmente foram parar em meus cabelos e ele os puxou com força, encostando sua boca em meu ouvido para sussurrar:
— Me chupa logo, caralho.
Sorri perante sua súplica e deslizei meus lábios por seu pescoço, clavícula, peitoral, barriga, até finalmente chegar ao seu membro que pulsava em minhas mãos. Ajeitei-me no chão, longe do jato de água, sobre os joelhos. Tyler segurou meus cabelos em um rabo de cavalo improvisado e eu permaneci contra a parede, ele com o quadril inclinado em minha direção. Segurei-o pela base e levantei os olhos, encontrando o seu olhar suplicante sobre o meu. Sorri enquanto beijava toda a sua extensão, minhas mãos massageando-o enquanto eu o provocava e observava sua cara de tortura. Ele fechou os olhos e mordeu os lábios com força, reprimindo um gemido torturado. Deslizei minha língua por todo o seu comprimento, fazendo o máximo para manter o contato visual. Coloquei meus lábios ao redor de sua glande e comecei a passa-los levemente por sua extensão, deixando-o sentir a textura deles. Seus olhos estavam semicerrados agora, sobre mim, uma mão segurando meus cabelos e a outra servindo de apoio na parede.
Segurei seu membro pela base e então coloquei-o por inteiro na boca e comecei a ir e vir, cada vez mais fundo e mais rápido, parando vez ou outra quando tudo estava em minha boca e fazendo o movimento de engolir, o que o fazia gemer. Então eu retirava seu membro de minha boca e começava a massagear suas bolas enquanto passava os lábios melados por sua extensão, observando seus olhos cheios de prazer.
Tyler puxou meus cabelos com força quando eu comecei a masturba-lo com a mão e mantive somente a sua glande dentro de minha boca e comecei a usar minha língua ao redor dela, acariciando-a como se fosse um beijo.
— Caralho, ...
Sua voz rouca pronunciando meu nome me fez querer chupá-lo até que ele finalmente gozar em minha boca, mas Tyler tinha outros planos. Ambas as suas mãos foram parar em minha nuca e ele me puxou para cima segurando em meus cabelos, mas sem me machucar. Levantei-me rapidamente, ainda com seu membro em mãos, sem entender porque ele havia pausado, até que ele me segurou pelos cotovelos com força e me virou de costas para ele, me jogando contra a parede e então pressionando o quadril contra minha bunda, sua ereção roçando em minha pele.
— Tyler, eu...
Sua mão veio parar em minha boca, segurando-a com força e me calando.
— Shhhhh. Quietinha, ou apanha.
Tentei resmungar alguma coisa contra sua mão novamente e logo em seguida senti o tapa forte que ele me deu na bunda, fazendo um gemido abafado escapar contra seus dedos pressionados em meu rosto. Ele forçou minhas pernas a se abrirem com os joelhos e continuou com a mão em minha boca, o outro braço passado entre meus dois braços e minhas costas, me segurando de um jeito que eu não conseguia me mexer.
Meu rosto estava colado contra a parede e eu tentava falar, mas sua mão continuava firme. Eu sabia que me debater seria inútil, porque ele era infinitamente mais forte do que eu, mas mesmo assim a ideia de todo o controle que ele tinha sobre mim me dividia entre excitada e irritada. Seus lábios roçaram meu ombro, meu pescoço, então meu ouvido. Fechei os olhos ao sentir sua respiração falha contra minha pele.
— Vou te mostrar quem é que manda, .
Então ele soltou meus braços, durante breves segundos, e estava dentro de mim.
— AH!
Gemi em surpresa e tesão, apoiando ambas as mãos na parede dobrando meus dedos, como se fosse arranhar o azulejo. Tyler segurou em meus quadris com força e começou a investir em mim logo em seguida, forte, fazendo meu corpo ir para frente a cada nova estocada e mais um gemido escapar, agora que minha boca estava destampada. Empinei o quadril para trás e senti suas mãos apertando a carne de minha bunda e quadris, um gemido escapando entre os dentes de Tyler.
Então suas mãos foram parar em meus seios, os quais ele apertou com força e grudou o seu corpo ao meu, fazendo-me sentir intensamente cada estocada. Agora com a boca livre, meus gemidos não eram mais abafados e eu fazia o máximo para conseguir controla-los, mas o impacto de seu corpo no meu e o jeito com que Tyler me fodia fazia ser impossível controlar os gemidos.
Apoiei as mãos na parede, empinando ainda mais o quadril para trás, dando um ângulo melhor a ele, que continuava com as mãos firmes em meus seios, puxando-me para trás no exato segundo que movimentava o quadril para frente. Estalos altos ecoavam pelo banheiro, junto ao barulho da água que escorria pelo chuveiro, dos nossos quadris se encontrando violentamente. Cada estalo era acompanhado de um gemido meu, cada vez mais manhoso e suplicante. Tyler não parava; quando eu pensava que iria diminuir, as investidas ficavam mais fortes e mais rápidas e os meus gemidos começavam a se transformar em gritos e minhas mãos procuravam um apoio maior do que a parede, alguma coisa para arranhar, descontar todo aquele prazer que parecia que nunca iria parar de crescer.
— Oh, Tyler, Tyler, não para, não para — Gemi entre suspiros, a cabeça apoiada na parede. Ele apoiou o queixo em meu ombro e seus gemidos roucos me fizeram revirar os olhos de tesão.
— Geme. Geme meu nome, . Geme meu nome. — Ele dizia entre grunhidos em minha orelha e eu somente obedecia. Naquele momento, eu obedeceria qualquer ordem.
Suas mãos deslizaram de meus seios para meus quadris e então ele me mostrou.
Ah, Tyler me mostrou quem é que manda.
A velocidade de suas investidas fez meus gemidos se misturarem uns aos outros e então eu já estava gritando um longo e manhoso gemido fino, misturado ao seu nome, enquanto todo o meu corpo tremia e o orgasmo me atingia. Soltei um gritinho fino quando todo o prazer concentrado finalmente se espalhou.
Meus olhos reviraram e eu senti cada nervo de meu corpo pulsar, aquele apagão do prazer me dominando de um modo que eu senti minhas pernas cederem. Eu teria caído, se não fosse Tyler me segurando pelos quadris firmemente, que ainda estocava violentamente.
Então Tyler saiu de mim rapidamente e ele se masturbou por breves segundos, durante os quais ele finalmente gozou sobre minhas costas curvadas, um gemido grave saindo de seus lábios.
— Ah, caralho...
Minha respiração estava completamente irregular e eu não tinha fôlego para fazer mais nada além de expirar e inspirar lentamente. Tyler não me segurava mais, mas de algum jeito consegui permanecer de pé. Deixei minhas mãos deslizarem pelo azulejo enquanto os resquícios do orgasmo ainda percorriam meu corpo agora pulsante e leve. Seus lábios pousaram entre minhas omoplatas e ele apoiou a testa ali, respirando profundamente, arfante.
Fechei os olhos e tomei forças. Entrei debaixo do chuveiro e deixei a água levar embora todo o suor e o gozo de Tyler que estava em mim, esfriando meu corpo extremamente quente.
Quando abri os olhos, ele me observava, ainda ofegante, as mãos apoiadas na parede. Seu membro continuava duro e seus músculos estavam todos contraídos, o que me fez sentir tesão novamente.
Ele sorriu ao ver meus olhos famintos sobre ele.
— Safada.
Sorri maliciosa e somente peguei o sabonete que estava numa prateleira atrás de mim e comecei a me ensaboar. Tyler respirou fundo mais algumas vezes, então pegou o sabão de mim e começou a deslizá-lo sobre minha pele, lentamente.
— Gostosa. — Sussurrou em minha orelha, a mão ensaboada massageando meu seio esquerdo.
Tirei sua mão de mim com um olhar repreendedor e terminei o banho em silêncio. Saí antes que ele, enrolei-me na toalha e voltei para o quarto.
Sequei-me rapidamente, joguei a toalha sobre o sofá e deitei na cama dele com as pernas abertas. Assim que Tyler saiu do banheiro, com a toalha enrolada na cintura, eu o chamei com o dedo indicador e um sorriso malicioso nos lábios.
— Vem, garotão. De novo.
Tyler jogou a toalha no chão e escalou a cama em uma questão de segundos, já me agarrando e colocando-me sobre o seu colo.
O que eu posso dizer? Ele sabia mandar.

’s POV.


Eu bati na porta do quarto de Tyler três vezes antes que ele abrisse, com um sorriso idiota no rosto, que esvaziou assim que olhou bem para mim. É. Depois de acordar às dez horas da manhã e perceber que minha melhor amiga não estava no quarto, que nossas malas não estavam prontas e tínhamos duas horas para sair do quarto – meu humor foi para o ralo.
— ACORDA PRA CUSPIR! — Gritei entrando no quarto dele, ignorando todos os sinais que eu não deveria entrar, porque ele estava com uma toalha na cintura e eu duvidava que havia algo embaixo dela.
— Hmmm? — gemeu com a cara enfiada no travesseiro enquanto deitava de bruços, ainda pelada.
— É garotada. Vamos levantando. — Peguei um travesseiro e bati com o mesmo nas costas de . — Estamos sendo chutados para fora desse hotel e vocês têm 40 minutos para dar o pé desse quarto.
— O QUÊ? POR QUÊ? COM QUEM VOCÊ CASOU DESSA VEZ, ISABELLE? — gritou levantando o rosto do travesseiro, alarmada.
Fuzilei-a com os olhos.
— Acontece que nossa passagem é para hoje. E nossas reservas aqui também. Eu já arrumei nossas malas, mas... — Olhei ao redor do quarto, que estava com roupas jogadas para todos os lados, como um chiqueiro. — Pelo visto o Ty precisa arrumar as coisas dele.
— Bom. Tudo bem. Minha mala provavelmente vai ficar parecendo que um tornado entrou nela porque você a organizou, mas né...
— Olha, se você quer ter o direito de reclamar, sugiro que passe mais tempo se preparando para dar o fora daqui e depois me enchendo.
— Por quê você tá com tanta pressa? — Tyler perguntou erguendo uma sobrancelha para mim e cruzando os braços após prender sua toalha ao redor do corpo. — Se vocês precisarem pagar mais uma diária, não vai afetar nada, né?
— É. — pulou no bonde já sentando na janelinha. — Por que isso nos afetaria?
Dei um sorrisinho amarelo.
— Então... — Comecei andando para trás e colocando Tyler na minha frente. — História engraçada.
Tyler olhou para trás, para mim, que usava seu corpo como meu escudo.
— Nós vamos ter que pagar nossa estadia.
, que também estava sorrindo, parou imediatamente. Ela demorou cinco segundos para conectar os pontos, parar de encarar os músculos de Ty, engasgar e me responder:
— É O QUÊ?
— Pois é né. Já disse. História engraçada. Um super mal entendido. — Falei segurando o braço de Ty com força para que ele não fugisse. — Acontece que eu meio que disse para Thalia que nós estávamos bem de dinheiro e ela falou para meus pais, então eles não se preocuparam em pagar a nossa estadia.
— Eu posso emprestar um pouco de dinheiro para vocês. — Tyler disse, mas o ignoramos.
— BEM DE DINHEIRO? BEM DE DINHEIRO? O QUE É BEM DE DINHEIRO PARA A THALIA?
— Ah, você sabe como minha irmã é, né . E seus pais também não quiseram pagar nada, eu já falei com eles.
, que estava andando de um lado para o lado, parou para me encarar rapidamente.
— MAS ISSO EU JÁ ESPERAVA DELES, NÉ.
— Eu posso pagar uma parte para vocês. — Tyler sugeriu inocentemente.
— NÓS NÃO PRECISAMOS DO SEU DINHEIRO, TYLER. — Gritamos ao mesmo tempo e ele arregalou os olhos, pulando para longe de mim com o susto.
No segundo seguinte a toalha de Ty escorregou de sua cintura e eu gritei, cobrindo meus olhos com as duas mãos enquanto saía correndo para longe dele.
— COBRE ISSO, TYLER!
— ESTOU COBRINDO! — Ele gritou de volta, sua voz carregada em vergonha.
Fui de encontro com uma parede, uma vez que ainda estava de olhos fechados e gemi quando escutei gargalhar.
— Olha Tyler, por mais que eu adore essa naturalidade em você e queira usufruir da situação... A loirinha aqui, além de empatar nosso segundo round matinal está me expulsando do hotel, praticamente. Então talvez você devesse colocar a toalha antes que eu vá até você para lamb...
. — Gritei cobrindo as orelhas.
— Vocês. São. Loucas. — Tyler disse e em seguida ouvi a porta do banheiro se fechando.
Abri os olhos lentamente e me virei da parede, encontrando a poucos metros de mim com os braços cruzados e a cara emburrada.
— Você nos fodeu, .
— Tecnicamente, foi a Thalia. Mas, nós vamos dar um jeito! Qual é, nós sempre damos!
— SE VOCÊ QUERIA ME FODER, PAGAVA UMA JANTA NÉ, AMIGA.
— EU FAÇO SUA JANTA QUASE TODO DIA, MULHER.
estreitou os olhos para mim e apontou o indicador na minha direção.
— Não pensa que só porque isso tá acontecendo que eu esqueci que você não me chamou para ser sua madrinha!
— PELA ÚLTIMA VEZ, . EU NÃO LEMBRO DE NADA. N-A-D-A.
— Mentira. Você se lembra do Padre Elvis.
— Eu não devia ter te contado nada. — Resmunguei virando a cara e bufando. — Devia ter resolvido a anulação sozinha e depois ter te contado.
— PODIA TER PAGADO A CONTA AQUI SOZINHA TAMBÉM.
— EU VOU. — Gritei indo até a porta para sair do quarto.
— VAI. APROVEITA E USA SÓ SEU CARTÃO DE DÉBITO PORRA.
— NÓS TEMOS CONTA CONJUNTA, CARALHO. — Bati a porta do quarto.

’s POV.


Só gostaria de deixar bem claro aqui que eu avisei. Avisei que a cor do cabelo afetava e que todas as piadas sobre loiras eram verdadeiras. Porque , por muitas vezes, era a prova viva de que loiras são burras.
Meu humor parecia tão instável quanto a nossa conta bancária. Eu cheguei ao Brasil com o coração apertado, medo, indecisa, pseudo-rica (novamente) e solteira. Agora eu ia embora apaixonada, ainda com medo, pobre e num relacionamento enrolado com o meu melhor amigo. Ah, é. Eu também voltava sendo negligenciada duas vezes como madrinha. Não poderia me esquecer desse detalhe.
tinha muita sorte em ser minha melhor amiga e que minha bunda era bonita. Porque além dessa doida resolver casar, ela esquece o dia da nossa passagem de volta e fode com o nosso esquema de não pagar o hotel.
Tudo bem, tudo bem. Vou ser justa. Foram meus pais mão-de-vaca que me fuderam. Os pais de tinham que ajudar a pagar toda a festa e etc, mas meus pais não, e eles poderiam ter me ajudado, só que eles sempre foram uns católicos muito judeus, se é que me entendem. Dentro do bolso do meu pai estava a droga do Escorpião Rei.
Nós estávamos sentados na frente do portão de embarque, umas cinco horas antes de nosso voo, quando Mike disse que queria comprar umas lembrancinhas na loja de conveniência. , muito esperta, resolveu acompanha-lo, para fugir de meu mau humor infinito.
— Você tem certeza que não quer que eu ajude a pagar...? — Tyler insistiu mais uma vez e eu quase o soquei.
— Tyler. Não faça isso mais difícil do que já é. Você sabe que eu não sei negar dinheiro, mas eu não posso aceitar.
Ele sorriu para minha carranca e se ajeitou nos bancos duros do portão de embarque.
— Entendi. Não vou mais falar sobre isso, gata.
Tamborilei os dedos pela minha bolsa de mão. Graças a Deus uma mulher abençoada deixou que despachássemos nossas malas antes do horário do Check-In. Tudo o que eu não precisava agora era alguém me dizendo que eu não poderia despachar minhas malas. Acho que eu finalmente teria um AVC.
Levantei-me e comecei a andar em círculos, ansiosa.
.
Ignorei Tyler.
Andei de um lado para o outro, sentindo meus nervos à flor da pele, tentando respirar fundo.
.
Continuei ignorando-o.
Tyler bufou, levantou-se e me segurou pelos ombros com força.
— Que foi? — Resmunguei, cruzando os braços com dificuldade porque ele ainda me segurava.
— Para de andar de um lado para o outro. Vamos. Relaxa. Sei que está puta com a situação toda de termos que ir embora em cima da hora, mas já não está nas melhores condições.
Resmunguei algumas coisas, mas Tyler me chacoalhou de leve pelos ombros novamente e me olhou severo.
— Você pode estar puta porque agora tem mais uma despesa para arcar, mas ela está casada e nem sabia disso até um tempo atrás. A merda dela é bem maior que a sua.
Bati o pé no chão, com força.
— Porra, Tyler, para de tentar me amolecer!
Ele me beijou na testa, rindo, então me abraçou, ao perceber que eu finalmente tinha cedido um pouco. Bem pouco.
— Dá um tempo pra loira. Ela ainda nem conseguiu curtir a lua de mel.
Olhei para Tyler reprimindo um sorriso para sua piadinha. Que droga. teria muito a agradecer a ele depois, porque ele estava conseguindo direitinho aplacar a minha raiva. Bufei alto e me dei por vencida:
— Tudo bem. Eu alivio um pouco pra loirinha.
Tyler sorriu satisfeito e soltou meus ombros. Elevei o dedo indicador.
— Somente um pouquinho, ok?
Ele riu e beijou minha têmpora de leve.
— Tudo bem, tigresa. Agora vamos procurar alguma coisa pra comer que eu estou faminto. — Comentou ao avistar que e Mike voltavam para o lugar onde estávamos.
carregava uma sacolinha em mãos com três embrulhos e Mike usava um chapéu tipo do bobo da corte, verde e amarelo, com as mãos cheias de sacolinhas. Elevei as sobrancelhas para eles e sorri para meu novo amigo gay:
— Bom, nem dá pra perceber que você é gringo. Mike.
Ele gargalhou e me mandou um beijo.
— Beijinho no ombro pra você.
bateu com a mão na testa.
— Maldita música. Malditas madrinhas bêbadas. Olha o que fizeram com você, Mike. — Ela balançou a cabeça negativamente e Tyler ficou sem entender.
— Por Deus, Mike, tanta coisa pra você aprender e você me fala uma música da Valesca Popozuda? — Ri observando enquanto ele fuçava as sacolas atrás de alguma coisa.
Ele mandou um beijo sobre o ombro e eu e reviramos os olhos. Peguei minha bolsa e então peguei a mão de Tyler.
— Estávamos pensando em ir comer alguma coisa, já que ainda temos bastante tempo para voltar.
— Ah, podem ir, nós esperamos... — comentou.
Interrompi-a com um sorriso mais relaxado. Eu podia ver como ela estava nervosinha com tudo que estava acontecendo.
— Relaxa, bf. Não vou te morder não. Vem comer com a gente, vai. — Chamei-a com um aceno de cabeça e Mike logo pulou para pegar sua mochila.
— Ai, graças a Deus vocês duas, eu já estava preparado para ter que lidar com todos os ferormônios em fúria no apartamento.
pegou sua bolsa e revirou os olhos para Mike.
— Mike, menos.
Fomos para um Pizza Hut que havia ali perto e pedimos nossos pratos calmamente, porém famintos. Desde que entrou, como o furacão que era, no quarto de Tyler hoje de manhã, não conseguimos um momento de paz decente. Foi uma correria de um lado para o outro com as malas, despedidas de nossos pais furiosos que não conseguiram aproveitar o tempo conosco, mais as nossas carrancas para o fato de que eles reclamavam disso, mas não queriam pagar nadinha de nada para as princesinhas deles. Malditos.
Então nós corremos para a rodoviária, fomos para São Paulo, pegamos uma van, erramos a van, acertamos a van, e agora estávamos no Aeroporto Internacional de Guarulhos, depois de umas duas horas no trânsito.
É. Estávamos um trapo.
Durante o jantar, percebi como estava abatida e me senti mal sobre isso. Eu sempre fui do tipo insensível e grossa, mas também me preocupava com essa loira maluca. Tudo bem que ela sempre acabava nos enfiando numas grandes enrascadas e eu nos tirava, sempre graças ao meu rabo (literalmente). Mas ela também não fazia nada por querer.
Para nosso alívio, não houveram atrasos para o embarque e muito menos para a decolagem. Nenhum de nós aguentava mais ficar sentado no aeroporto e nossa casa, neste momento, parecia um hotel cinco estrelas que estava somente me esperando. Graças a Deus o nosso voo era direto. Acho que eu entraria em depressão se tivéssemos que fazer escala.
A viagem foi tranquila.
abriu mão de seu lugar ao meu lado para Tyler, que o aceitou sem perceber a armadilha. Minha querida melhor amiga só estava pensando em si mesma ao ceder o seu lugar, porque ela sabia que eu era um pouquinho dorminhoca e espaçosa.
Mike e foram alguns bancos para trás, separados pelo corredor.
Tyler, graças à Deus, não era muito romântico e meloso, também. Não era do tipo que ficava me chamando de linda e perguntando se eu estava bem e confortável e etc. Uns beijinhos ali, uns carinhos aqui. Nada demais.
O coitadinho percebeu a armadilha poucos minutos após a decolagem. Ele tentou começar uma conversa sobre fantasias sexuais e banheiros de avião, mas eu já estava cochilando antes que ele conseguisse engatar na conversa, agarrada ao seu braço, a cabeça torta e a boca aberta.
Sou uma princesa, eu sei.
Chegamos em Nova Iorque perto das seis horas da manhã, famintos, fedidos, cansados e com jet lag. Eu acho que nunca mais apareceria em um outdoor porque suspeitava que minha bunda ficaria quadrada para sempre.
E então, quando o relógio marcava 8h48 da manhã, nós estávamos entrando em nosso pacato apartamento do Soho, com o cu na mão e rezando para que ele não estivesse destruído novamente. Felizmente, ele continuava a mesma bosta de antes, o que era um alívio.
— Eu nunca fiquei tão feliz em ver esse sofá cama. — Mike anunciou enquanto puxava sua mala até o centro da sala, preguiçosamente.
Joguei minha bolsa sobre a bancada e levei a mala de rodinhas até o meu quarto, então voltei para procurar alguma coisa para beber na geladeira. Tyler havia ido para casa desfazer as malas e depois teria que passar no trabalho.
voltou do quarto com a bolsa em ombros e uma expressão decidida.
, o que você vai querer comer de café da...
Antes que eu pudesse completar minha frase, ela pegou as chaves da bancada e saiu do apartamento como um furacão. Fiquei olhando para a porta sem entender.
— Vish.
Mike levantou a cabeça, deitado de bruços no sofá cama, para olhar para a porta fechada e riu divertido:
— Acho que alguém vai tomar uma bronca daquelas de uma rainha muito irritada.


Trigésimo Terceiro


’s POV.


Precisei bater três vezes na porta.
Três. Vezes.
Já estava praticamente batendo o pé no chão como uma criança mimada. Eu estava congelando, porque havia saído com poucos casacos de casa, vindo direto do aeroporto e só parando para largar minha mala em casa antes.
Sem falar a dor de cabeça que eu estava sentindo.
Quando a porta finalmente abriu, senti meu coração bater rápido e eu não sabia exatamente o que iria dizer. Não sabia como começar o assunto. Resolvi ir direto ao ponto.
— NÓS CASAMOS? — Gritei já entrando no apartamento, irritada.
— Olha só quem resolveu prestar visita para a família.
— FAMÍLIA? — Virei-me para Noah, ficando momentaneamente paralisada ao relembrar o quão gostoso ele era, fazendo-o abrir um sorriso malicioso em minha direção.
Noah estava com o cabelo molhado, como quem acaba de sair do banho, uma barba mal feita de pelo menos três dias. Usava uma regata branca e antes que eu pudesse duvidar de sua inteligência, já que em Nova Iorque ainda era inverno, percebi como seu apartamento estava quente. Olhei ao redor e encontrei uma lareira pequena na parede ao lado de um sofá cinza.
Então eu percebi que estava dentro do apartamento de Noah. Sem ele ter me convidado.
Novamente olhei ao redor para assimilar os detalhes do apartamento. As paredes eram de um marrom escuro, os móveis em tons de madeira, cinza e preto. Sua lareira queimava silenciosamente, sua televisão desligada, porém com controles de videogame apoiados sobre a mesa de centro na frente do sofá, indicando que a pouco tempo ele estivera jogando. No canto havia uma bancada – quase como a do meu apartamento com e Mike – e a cozinha dava para ser vista. Havia um corredor pouco mais à frente com uma porta de cada lado, onde eu julgava que seria o banheiro e seu quarto. No geral, o apartamento era grande, mas fazendo jus ao tamanho de apartamento para um homem solteiro.
Quer dizer.
“Solteiro”.
Voltei minha atenção a ele, que fechava a porta do apartamento trancando-a, e virou-se para mim ainda com um sorriso curiosamente feliz em seu rosto. Meus olhos vagaram para os músculos de seu braço e as sardas em seus ombros. Malditas. Sardas. Ele usava uma calça moletom cinza que caia bem em sua cintura e eu a reconheci de dentro da mala para Las Vegas. Estava descalço e parecia extremamente confortável encarando sua mais nova esposa fuzilando-o com os olhos.
— Nós casamos. CA-SA-MOS.
— Eu sei, lembro mais daquela noite do que você, .
— NOAH! — Peguei uma almofada de seu sofá e, pouco me importando, atirei-a nele. — Por que você não disse nada? Por que não me lembrou?
— Eu achei que você se lembrasse! No dia seguinte você veio com um papo de que éramos só sexo. Achei que você soubesse que não significou nada! — Ele respondeu, erguendo a voz para igualar ao meu tom.
— NÃO SIGNIFICOU NADA? NOAH, EU NÃO QUERO ME DIVORCIAR COM VINTE E CINCO ANOS.
Noah deu uma risada nervosa.
— Quem está falando em divórcio, ?
— Você está brincando, né? É ÓBVIO QUE VAMOS NOS DIVORCIAR. NO MÍNIMO PEDIR UMA ANULAÇÃO.
Ele franziu a testa na minha direção, parecendo confuso. Soltei um gritinho irritada, resistindo a minha vontade de dar um soco na cara dele.
. Nós nos casamos em Vegas, com um Elvis. Brincadeirinha de criança. Acho que está bem claro que não significou nada aquela noite.
Minha mente juntou os pontos devagar.
— Noah... — Respirei fundo, tentando controlar meu surto. — Você está dizendo que achou que o casamento fosse uma brincadeira?
— E não foi? Nós estávamos bêbados e nos conhecíamos há duas semanas.
— Noah. Os casamentos em Las Vegas não são de brincadeira. Nós casamos, tipo, de verdade. Como civil. Cartório. Reconhecido nos Estados Unidos inteiro.
Foi a vez de Noah juntar os pedaços lentamente.
— QUÊ? EU... VOCÊ... NÓS... MAS O ELVIS... — Ele colocou a mão na cabeça, os olhos arregalados me encarando.
Ah, agora o garotão estava assustado.
— ME DIZ, POR QUE, NOAH, VOCÊ TEVE ESSA IDEIA DE MERDA?
MINHA IDEIA DE MERDA?
— VOCÊ QUEM SE AJOELHOU NA MINHA FRENTE E COLOCOU UM ANEL DE PAPEL NO MEU DEDO! — Gritei andando até ele para mostrar-lhe meu dedo anelar esquerdo, livre de qualquer anel.
— VOCÊ DEU UMA RISADINHA E FOI COMIGO ATÉ A CAPELA! EU ESTAVA BRINCANDO! — Ele respondeu andando até mim também, mas não desviando os olhos de meu rosto.
— Noah. Seu idiota. Como você pode achar que aquilo era brincadeira?
— Eu achei que só acontecia em filmes.
— E POR QUE CARALHOS VOCÊ ACHA QUE NOS FILMES OS CARAS SEMPRE SE FODEM?
Os ombros de Noah se moviam com força, assim como os meus, pois estávamos ambos respirando forte. Os olhos escuros dele rapidamente foram até meus lábios, voltando a encarar meus olhos quase no mesmo segundo.
— EU. ACHAVA. QUE. ERA. BRINCADEIRA.
— NÃO ERA, NOAH! AGORA NÓS ESTAMOS CASADOS. ESTAMOS FODIDOS. SOMOS DOIS IDIOTAS BÊBADOS, RETARDADOS, INCONSEQUENTES, COM TESÃO E QUE ACHARAM QUE SERIA UMA ÓTIMA IDE-
Mas eu não cheguei a terminar minha frase. Porque no segundo seguinte a boca de Noah estava sobre a minha, forte e exigente. Abri a boca em susto, mas ele tomou como uma iniciativa para aprofundar o beijo com sua língua.
A barba de Noah poderia estar machucando meu rosto, mas com toda a adrenalina que já estava em meu corpo antes de seu beijo, eu praticamente não senti nada. Ele segurou meu rosto com ambas as mãos, puxando-me para mais perto, com força e colando seu corpo ao meu contra o sofá. Minhas mãos arranharam seu braço, fazendo-o gemer contra meus lábios e um barulho rouco escapar de sua garganta.
Ele se afastou de mim como se houvesse tomado um choque, somente para olhar para meu corpo e voltar a atacar minha boca com força. Suas mãos vagaram até meus ombros e ele começou a puxar meu casaco de inverno para baixo, retirando-o e depois ele espalmou as mãos em minha bunda, trazendo meu quadril de encontro ao dele e gerando um pequeno gemido meu.
Agarrei a bainha de sua regata, puxando o tecido para cima sem a menor vergonha, somente para que passasse meus dedos sobre seu abdômen sensacional. As mãos de Noah seguiam o mesmo rumo em mim, puxando minha blusa para cima até a altura de meu sutiã parando alguns segundos para observar minha expressão. Eu estava mordendo meu lábio inferior e traçando seus músculos com as pontas de meus dedos, levando Noah a puxar o resto de minha blusa para cima.
O quadril de Noah investiu novamente contra mim e eu gemi, sentindo sua excitação até mesmo com as barreiras de ambas nossas calças. Puxei o resto de sua blusa para cima e quando livrei-me dela, explorei por suas costas até chegar em sua bunda, onde apertei com vontade. Noah sorriu entre nosso beijo selvagem e puxou meu lábio inferior com seus dentes, dando um pequeno chupão nele alguns segundos depois. Prendendo-me contra as costas do sofá, as mãos dele começaram a subir por meus braços, parando em meus ombros, sobre as alças do sutiã.
Ele pausou o beijo para olhar para baixo e analisar meus seios, seus olhos flamejando em tesão. Delicadamente, seus dedos puxaram as alças do sutiã para baixo e depois seguiram a renda azul clara da taça do mesmo. Puxando o copo do sutiã para baixo e meus seios para cima, ele os elevou com a ajuda do sutiã dobrado e mergulhou seu rosto em meu pescoço, enquanto ambas as mãos me apalpavam com força. Beliscando o bico de meus seios com seu indicador e polegar, Noah inspirou fundo quando eu gemi alto demais e movi meu quadril para ir ao encontro do dele.
Uma de minhas mãos, decidindo que estavam cansadas de explorar qualquer parte do corpo de Noah, foram para mim mesma, abrindo o botão de minha jeans e mergulhando abaixo da calcinha para que me masturbasse, na tentativa de aliviar a necessidade que me fazia latejar. Descendo seus beijos por meu pescoço, Noah puxou-me para cima, sentando-me na cabeceira de seu sofá para que não precisasse se inclinar muito sobre mim – uma vez que ele era bem mais alto que qualquer homem que eu já estivera – e começou a distribuir beijos por meu colo.
Vendo como eu estava ávida para alguma ação e provavelmente sentindo como ele também estava, imediatamente abaixou sua calça moletom, fazendo com que sua ereção se libertasse – uma vez que ele não estava usando uma cueca – e levou uma mão até seu membro, começando a se masturbar também, na minha frente, enquanto beijava um de meus seios e apertava o outro. Os dedos de meu pé se contraíram com um pequeno espasmo que passou por meu corpo, e Noah sorriu maliciosamente contra meu seio antes de mordiscá-lo levemente e levar a mão que ajudava a apertar o segundo até o cós de minha jeans também.
Ele puxou meu pulso e retirou a mão com que eu me estimulava, somente para substitui-la pela própria. Sem perder tempo, ele se ajustou de modo com que conseguisse me penetrar com um dedo e me estimular pelo dedão. Continuando o movimento circular que eu fazia e fazendo uma pressão extra em meu clitóris, meu batimento cardíaco começou a acelerar freneticamente e...
— Noah. Para. — Empurrei-o repentinamente, respirando forte. Eu precisava pensar. Pensar. Pensar. Eu não conseguia pensar.
Noah se afastou, confuso. Ele estava completamente duro enquanto segurava seu membro, e o calor entre minhas pernas parecia me fazer queimar por dentro. Sem conseguir olhar para ele, desviei meu rosto de sua mão que tentou acaricia-lo e sai de cima do sofá, com as pernas bambas. Antes que eu pudesse dar um passo, os braços de Noah estavam me cercando com força, e ele me levantou no ar enquanto me abraçava pelas costas, trazendo-me ficar de frente à parede da lareira.
Abracei meu próprio corpo, sentindo um vento frio agora que não estava tão colada ao calor de Noah, que me libertou de seu abraço, mas ainda deixando uma mão apoiada na parede e outra abraçando a minha cintura, seu corpo quente atrás de mim.
— Espera, . — Ele sussurrou no meu ouvido, com o rosto enfiado em meus cabelos.
— Eu não consigo pensar.
— Você não precisa pensar. — A respiração dele fazia cócegas em meu pescoço e um arrepio fez com que meu corpo tremesse, minhas pernas perdendo suas forças.
Noah segurou-me pelo braço ao redor de minha cintura e encostou seu lábio no meu pescoço, aplicando um beijo inicialmente leve e depois mais perigoso, com sua língua traçando um caminho até meu ombro e a mão em minha cintura subindo lentamente até ir de encontro com meus seios ainda mal ajustados no sutiã e expostos para ele.
Meu corpo, traindo qualquer instinto racional, arquejou as costas para que a ereção de Noah encostasse novamente em mim e nós gememos juntos, ao mesmo tempo que seu dedão passou a estimular novamente meus seios. Apoiei minhas mãos contra a parede e ele se livrou de seu apoio, usando a mão agora livre para voltar até minha calça jeans. Como eu não havia nem mesmo fechado ela, seu acesso foi livre e rápido.
— Oh... Puta merda... Noah... — Arfei com as investidas de dois de seus dedos, que faziam minha mente ficar praticamente anestesiada.
Perdendo a força também em meus braços, quase bati a cara na parede, porém Noah me sustentou novamente. Virou-me de frente para ele e capturou minha boca em outro beijo intenso, fazendo-me literalmente ter que partir o beijo para conseguir respirar novamente. Segurei sua ereção quente, masturbando-o com fervor enquanto ele fazia o mesmo por mim.
A barba de Noah arranhava meu pescoço e lábios, fazendo-me sentir minha pele inteira formigar em todos os cantos. Tudo em meu corpo formigava e queimava, uma sensação que eu já era familiarizada a sentir quando estava com Noah começou a se formar novamente em mim. Ele bateu minhas costas com força contra a parede por um momento, fazendo com que meu corpo sofresse um tremor e cedesse a qualquer sensação. Um orgasmo abalando meu corpo.
— Noah! — Gemi alto, abraçando seu pescoço para que ele suportasse meu peso.
Ele respirou forte contra a pele de meu pescoço, segurando seu próprio orgasmo, enquanto o meu chegava ao seu fim e depois agachou-se à minha frente e puxou minha calça inteira para baixo, junto de minha calcinha ensopada. Sua língua passou pelo interior de minha coxa, fazendo com que eu gemesse novamente seu nome quando ele voltou a me estimular com a língua. Eu ainda estava sensível, mas aquilo continuava sendo inacreditavelmente bom.
— Você está fazendo todo o trabalho. — Sussurrei para ele quando seu rosto voltou para me beijar.
— Eu gosto de agradar. — Ele respondeu me calando com outro beijo, antes que eu pudesse responder.
Ergui uma perna no ar, curvando-a ao redor de seu corpo e então Noah tinha um ótimo acesso com seu membro. O ar saiu de seus lábios entre os dentes com força, antes que ele respirasse fundo e se ajustasse, colocando uma mão em minha bunda para manter minha perna erguida, e outra contra a parede para apoiar seu próprio peso. Segurei em seus ombros com um braço e com o outro, guiei seu membro até minha entrada. Provocando a ele e a mim mesma ao esfregar a cabeça de seu membro contra minha entrada pulsante.
Foi então que percebi que Noah estava sem camisinha, ainda.
— Noah... A camisinha.
— Eu... — Ele olhou para seu membro inchado. — Merda. Não tenho aqui, só no quarto. Na primeira gaveta do armário.
Assenti e sem pensar duas vezes sai correndo para dentro de seu apartamento. Incrivelmente, acertei qual das duas portas no corredor era seu quarto, de primeira. Não precisei nem acender a luz e já abri a primeira gaveta. Peguei o primeiro pacote na minha frente e corri de volta.
Noah estava já andando até o quarto em passos rápidos, quando trombamos no corredor. Eu subi em seu colo, prendendo minhas pernas na sua cintura e ele me prensou contra a parede por alguns segundos para conseguir colocar sua camisinha rapidamente. Afastou-se da parede, eu me ajustei novamente em seu colo e segurei seu membro contra minha entrada novamente. Mergulhei sua cabeça dentro de mim, suspirando alto ao sentir o mínimo contato e depois encaixei meu quadril completamente contra o dele.
— Puta merda. — Ele gemeu agarrando minha bunda com força, perdendo o equilíbrio nas pernas até que cambaleasse para trás e suas costas fossem de encontro com a parede.
Coloquei minhas mãos contra ela para apoiar-me, enquanto ele conseguia apoio para suas costas e nosso ritmo começava, devagar no começo, nos ajustando a posição e depois ficando mais forte, rápido.
Soltei uma de minhas pernas de sua cintura, para ganhar o apoio do chão, como estávamos um tempo atrás e ele segurou minha outra perna pela coxa enquanto investia furiosamente contra mim, nossos beijos ficando cada vez mais difíceis de se manter. Ele mordeu meu lábio inferior com força uma última vez, antes de se concentrar completamente em nossos movimentos.
Rápidos, depois mais lentos para torturar a ambos, depois girando seu quadril de modo que alcançasse tão fundo em mim que meu corpo pendia para trás quase perdendo seu equilíbrio e querendo deitar no próprio ar.
Respirando fundo, Noah começou a perder seu equilíbrio também até que ambos estivéssemos escorregando da parede até o chão. Ele imediatamente me deitou contra o chão, a madeira fria fazendo o calor de seu corpo parecer mil vezes melhor e meu suor em contato com o frio fazendo meu corpo ter espasmos prazerosos. Apoiando as mãos nas laterais de meu corpo, Noah se encaixou direitinho entre minhas pernas em um simples estilo mamãe e papai que levou meu corpo à loucura.
— Caralho... Meu Deus... Meu Deus... — Arfei entre gemidos levando uma mão para estimular a mim mesma e sentindo o êxtase se instalar novamente em meu corpo, lentamente.
— Vamos, . — Noah respirou em meu ouvido, afastando o cabelo de meu rosto com uma de suas mãos, rapidamente. — Goza para mim.
Ele inclinou mais ainda o corpo sobre o meu, ficando sobre os cotovelos e investiu violentamente sobre mim de modo que chegamos a deslizar contra o chão de seu apartamento. Eu apertei sua bunda com força e ele beijou meus lábios e pescoço, chegando até minha orelha para mordiscar meu lóbulo, enquanto sua língua provocava a área.
Meu corpo espasmou abaixo do dele e seu ritmo aumentou durante quatro investidas de modo sobrenatural, os músculos de seu braço e suas veias parecendo que iriam explodir. Na segunda penetração meu corpo já estava se desfazendo sob o seu, um gritinho prazeroso se libertando de mim, enquanto eu apertava a bunda de Noah e afundava meus dentes em seu ombro, na tentativa de abafar meu grito.
Noah cedeu ao seu próprio prazer, seu corpo tremendo completamente durante todo seu orgasmo e sua respiração acelerada se misturando com gemidos. Ele afundou o rosto na dobra de meu pescoço, enquanto nos normalizávamos, e depois soltou uma risada prazerosa, rolando para o lado, com um suspiro aliviado.
Olhei pela visão periférica para Noah, vendo o suor terminar de escorrer por sua testa e um sorriso bobo tomando conta de nossos rostos ao mesmo tempo. Ele levantou a mão para arrumar meu cabelo, todo molhado de suor ao redor de meu rosto e beijou minha bochecha rapidamente.
— Viu, esposa? Nosso casamento pode dar certo. — Ele disse em tom brincalhão antes de se levantar.
— Da onde você tirou a ideia de me atacar com beijos?
— Você disse “tesão”, eu não consegui resistir. — Ele estendeu a mão para que eu levantasse também e seguiu para o banheiro.
Meu olhar vagou por seu corpo másculo que não desapontava nunca e revirei os olhos para suas costas.
Eu precisava dessa anulação urgentemente.

’s POV.


Mike havia saído para resolver umas coisas do estágio dele na Vogue logo após o almoço, não tinha dado sinal de vida ainda e Tyler teve que ir trabalhar. Sozinha, sem Muchu para conversar comigo, já tendo dormido a manhã inteira e mais um pouco para repor o sono, resolvi fazer uma faxina no apartamento, para variar.
Desde que Jules foi embora, Mike chegou e Muchu foi embora, não tínhamos arrumado muito bem as coisas. Sem mais quase dois mil dólares devido à viagem, meu sonho de comprar uma cama nova para meu quarto estava mais distante que Andrômeda. A outra galáxia, sabe? É, eu sei astronomia, seus merdas. A loira da história é a , ok¬?
Perto das seis horas da tarde, eu finalmente havia terminado. É isso o que acontece quando você está entediada e desempregada e tem crises de organização como eu.
Felizmente, enquanto estávamos fora, deixamos as chaves com o Sr. Mikaelson e ele e seu sobrinho purpurina, Juan, terminaram o trabalho dos canos e das paredes, que agora estavam recém pintadas, mas nada demais.
Varri e lavei o chão de todos os cômodos da casa, reorganizei as panelas e louças na cozinha, arrumei a geladeira, organizei as roupas de nós três por categorias e cores, arrumei o armário do banheiro por tipos de produto e importância, troquei todos os lençóis, coloquei os tapetes para lavar, limpei os móveis, as janelas, o box do chuveiro, a privada, as pias, a área de serviço.
Quando terminei, nossa casa quase parecia estar como antes. Tirando que ainda faltava uma televisão, a máquina de lavar louça, um sofá maior e o micro-ondas. Mas vou parar de falar dele, ou temo que irei chorar.
Sorri satisfeita para o meu trabalho e guardei todos os produtos de limpeza. Eu suava como uma porca, isso porque estávamos novamente no inverno.
Tomei um longo banho, hidratei meu cabelo e saí enrolada em uma toalha felpuda. Vesti uma calça de moletom cinza, uma blusa de mangas comprida vermelha e minhas botas felpudas pretas. Sequei o cabelo no secador, coloquei os meus óculos de grau que eu quase nunca usava e decidi levar algumas roupas para lavar e fazer supermercado.
Agora, a partir desta linha, eu peço compreensão.
Sei o que vocês devem estar pensando.
Ai, Tia , como você é má!
E não, eu não sou má. Sou uma mulher desesperada e que precisa de bens materiais para ficar feliz, principalmente quando estes foram arrancados cruelmente de mim. E eu tinha uma doença. Vocês nunca leram Becky Bloom? Então, considerem-me, sei lá, a porra da Bloom. E, qual é, eu merecia. Em um mês consegui mais dinheiro do que nossa renda anual, poxa (ok, exagero, talvez metade de nossa renda anual).
O ponto é: uma vez no supermercado, eu me empolguei com as liquidações de inverno. Em resumo, eu comprei um micro-ondas novo, uma cama de casal nova para mim e uma televisão.
Ah. E algumas blusinhas que estavam na promoção. ERAM 15 DÓLARES CINCO BLUSAS, EU PRECISAVA LEVAR!
De qualquer jeito, eu cheguei em casa feliz, mas com um gasto de dois mil e quinhentos dólares no total. E lá se foi todo o dinheiro do cassino e do outdoor embora, junto com a multa, os canos, o Ceasars e o Brasil.
... O que é isso? — Mike indagou ao entrar no apartamento, com as sobrancelhas negras elevadas.
Sorri sem graça enquanto guardava os ovos dentro da geladeira, vendo que Mike apontava para a caixa que estava perto da cozinha com a imagem do micro-ondas.
— Nossa, Mike, você não sabe o que aconteceu!
Ele elevou o dedo sorrindo sarcasticamente, me interrompendo.
— Deixa eu adivinhar. Um perigoso mafioso chegou aqui e pediu pra você esconder o tráfico dele em casa enquanto ele viajava para a Itália. E é isso que está dentro da caixa. E daquela caixa ali, na sala. — Apontou para a caixa da televisão.
— Bem, não. Mas, tecnicamente, eu não tive escolha, sabe...
Mike colocou as mãos na cintura, bravo.
— Eles te obrigaram a comprar ou iriam matar sua mãe?
Fiz uma careta e admiti.
— Também não.
Ele bufou.
, a loirinha vai te matar. E com razão.
Choraminguei.
— Mikey, eu precisava disso. E, olha, eu só comprei o que estava faltando. Aliás, eu abri mão da máquina de lavar louça! Peguei só o micro-ondas, a televisão e a cama...
— Você comprou uma cama?!
Bati o pé no chão.
— FÁCIL VOCÊ DIZER! Eu durmo em um colchão no chão! Foi a que destruiu minha cama em primeiro lugar, ok?
Colocando as mãos nas têmporas, Mike andou até a sala e sentou no sofá-cama, que agora estava fechado, sendo um pacato sofá preto de dois lugares mais largos.
. Vocês estão sempre sem dinheiro. O cheque do outdoor não conseguia cobrir direito nem a viagem do Brasil, quem dirá... Isso tudo!
Mordi o lábio inferior e olhei para ele, enquanto balançava meu peso de um pé para o outro, esperando que ele terminasse a bronca que eu bem que merecia levar. E Mike era uma bicha muito séria quando queria.
— Além do mais, mocinha, não podemos esquecer o fato de que você está desempregada agora.
Corri até ele e enfiei as mãos desajeitadamente em sua boca, calando-o.
— TÁ DOIDA, BIBA? Se a escuta isso acabou toda a minha vantagem sobre ela e o fato dela estar casada!
Mike riu e retirou minhas mãos de cima de sua boca.
— Pois é, minha querida. Se eu fosse você, começava a procurar um emprego. E um emprego pra ontem.
Fiz bico.
— Tá bom. Amanhã de manhã ligo para o Jace.
Mike me olhou com uma careta acusadora.
— O que foi agora? — Resmunguei.
— Esqueceu que agora você tá com o Tyler?
Dei de ombros.
— E daí?
Ele revirou os olhos.
— E daí que vocês estão juntos e ele nunca gostou desse fotógrafo, quem dirá agora. Não acha que tem que falar com ele antes de ligar para o Jace, não?
— Só o que me faltava. Homem querendo mandar em mim falando o que eu posso e não posso fazer. — Cruzei os braços.
Mike levantou-se do sofá e foi até a cozinha.
— Bom, , você que sabe. Mas se você realmente gosta de Tyler e o conhece tão bem, sabe o que deve fazer. Só estou avisando. — Ele abriu a geladeira e começou a pegar algumas coisas dela. — Vou fazer um jantar. Você quer?
Joguei-me de costas no sofá e encarei o teto, pensando no que Mike disse sobre Tyler.
O teto estava mais branco que o normal, por estar recém-pintado. Minha cabeça pulsou um pouco enquanto eu pensava sobre o assunto. Tyler e eu éramos... Algo. E eu sabia que ele morria de ciúmes do Jace, até porque eu de fato transei com ele, mas eu precisava do dinheiro, de verdade. Fechei os olhos, afastando o pânico de que, ao falar com Tyler sobre isso, estaria afirmando mais ainda o quão sério nosso relacionamento era. E isso me dava calafrios de tempos em tempos, junto com uma vontade imensa de sair correndo.
Bufei alto.
— Não, Mike, não vou jantar aqui.
Levantei-me e fui me trocar e passar uma maquiagem no rosto. Pronta, coloquei uma troca de roupa dentro da bolsa e disquei o número de cor, digitando uma mensagem enquanto passava pela cozinha e por Mike, que ligava o fogão.
— Amanhã de manhã chame o sobrinho do zelador pra ajudar a instalar a televisão e o micro-ondas, por favor. — Beijei-o na bochecha e saí pela porta gritando — Não sei que horas volto, o meu colchão chega às 10h!
Então entrei no elevador e terminei de digitar a mensagem.
“Ty,
Tô indo aí agora. Pede uma pizza, temos que conversar.
Beijos,

Enviei.

’s POV.


— Como você quer fazer isso? — Perguntei para Noah, enquanto colocava minha calça jeans novamente.
Ele havia colocado sua cueca, calça e segurava sua regata nas mãos distraidamente.
— Isso o quê?
— A anulação. O divórcio. Sei lá, precisamos falar com algum advogado.
— Eu tenho um advogado, posso ligar para ele e perguntar o que dá para se fazer nesses casos. Não deve ser muito difícil. — Ele respondeu calmamente, se apoiando contra a parede que havíamos acabado de transar.
— Tudo bem. Você me avisa quando tiver a resposta dele?
— Claro. — Ele entrou em seu quarto rapidamente e voltou segurando seu celular na minha direção com um sorrisinho. — Coloca seu número aí.
Estreitei meus olhos para ele.
— Ah, qual é. — Noah riu de minha expressão. — Você é minha esposa. Acho que podemos ter o celular um do outro.
— Sem me ligar em horário inapropriados. — Avisei enquanto digitava meu número.
— Prometo. Você já está indo embora? — Noah perguntou olhando-me ajustar minha roupa no lugar e pegar minha bolsa novamente.
— Sim. Eu tenho que voltar para o apartamento e acho que vou passar no meu trabalho.
— Legal. Vou ligar para o advogado agora. Tem certeza que não quer sair para comer hambúrguer ou alguma coisa do tipo? Uma cerveja?
— Tenho. — Ofereci-lhe um sorriso adorável. — Obrigada, maridão. Você pode não dar pensão, mas é um grande beneficiador.
Noah riu e depois fez uma careta quando um pensamento passou na sua mente.
— Será que é considerado adultério as mulheres que tive depois de Las Vegas? Você vai arrancar todo meu dinheiro por causa disso?
— Por mais tentador que soe, não pretendo. Mas fique na linha, garotão. Não força sua sorte.
— Você foi leal esse tempo todo?
Imediatamente Charles me veio em mente. Tecnicamente, eu havia sido infiel com Charles antes usando o Noah. Será que agora seria eu infiel ao Noah usando Charles? Meu Deus, eu sou uma puta.
Afogando os pensamentos, sorri maliciosamente para Noah sem respondê-lo (até porque eu não sabia qual seria a resposta certa) e andei até sua porta, destrancando-a para ir embora sem nem pensar duas vezes.
— Acho que devemos começar a compartilhar nossos bens pelos apartamentos. Que tal me dar seu micro-ondas e máquina de lavar? — Sorri amarelo para ele, que sabia do estado de meu apartamento.
— Fora, loira. Nos vemos depois.
— Fale com o advogado! — Insisti abrindo a porta do elevador de seu prédio e entrando nele.
Noah acenou para mim de sua porta enquanto assentia e o elevador se fechou entre nós. Bom. Um problema a menos para resolver.
Fucei em minha bolsa até achar meu celular e senti meu coração apertar ao ver uma mensagem de Charles esperando para ser lida. Antes de fazer qualquer coisa, pesquei dentro de minha carteira o telefone do trabalho de Mike e o liguei.
— Mike?
— Loira! O que foi que aconteceu? Você está presa em algum lugar depois de estraçalhar o carro de seu marido? Foi presa por violência doméstica? Ou foi...
— Mike, cala a boca. — Ri olhando para os lados na rua antes de atravessá-la. — Só quero saber se você tem um bom cabelereiro para ir, estou precisando de um corte.
Um corte grande.
— Claro que sim, gata. Eu trabalho na Vogue! Vou mandar o endereço e número do telefone para você por mensagem. Beijinhos!
— Beijos, obrigada!
Cliquei na mensagem pendente de Chuck e sorri ao ler: “Chegou em Nova Iorque bem? Estou preocupado.”
Respondi: “Inteira fisicamente. Estou a caminho de cuidar do maior problema de minha vida.”
Ele respondeu antes que eu chegasse do outro lado da rua: “Seu casamento?”
Uau, como homens são extremistas.
“Meu cabelo.”
Alguns segundos depois a mensagem de Mike chegou junto com a resposta de Chuck.
“High Palace. 76th com a Amsterdam Ave. O número do telefone é 678-5463. Marca com o Hector e bom corte, gata.” — Mike enviou.
“Você não deixa de me surpreender, .” — Chuck respondeu.
Peguei um metrô para chegar até o lugar que Mike havia indicado e fiquei trocando mensagens com Chuck durante o caminho até lá, com um sorriso idiota no meu rosto. Brevemente, havia ligado e marcado e quando cheguei ao local o tal Hector – outro gay parecidíssimo com Mike – já estava me esperando.
Depois de uma deliciosa lavagem de cabelo, com direito a massagem no couro cabeludo e um shampoo de cheiro sensacional, Hector me sentou de frente a um espelho e penteou meu cabelo completamente até parar ao meu lado.
— Então, linda. O quê você quer fazer? — Ele perguntou mexendo em minhas madeixas longas.
Meu cabelo sempre fora extremamente longo. Quase em minha bunda, pouco abaixo de minhas costelas. Sempre o amei. Ainda amava, mas estava na hora de dar um up no meu visual e mudar um pouco as coisas. Quem sabe cortar o cabelo não traria sorte para mim?
Tá. Tudo bem. Quem estou enganando? No máximo eu iria ganhar cantadas. Sorte é outra história.
— Corta tudo. — Falei olhando para minha reflexão decidida. — Chanel.
— Sério? — Hector piscou espantado e mexeu novamente em meu cabelo com uma expressão meio triste no rosto. — Tem certeza?
— Absoluta. Tenho certa noção de como quero o corte, posso te mostrar, mas quero doar o resto de meu cabelo para caridade. Aquela instituição... Qual o nome mesmo? Children With Hair Loss ?
Hector sorriu para mim.
— É essa mesmo, lindona. Tudo bem. Vamos fazer essa doação antes que eu me recuse a cortar sua obra prima de cabelo ou roubá-lo para mim mesmo.
Sorri para ele e assenti. Hector puxou meu cabelo todo para trás, fazendo um rabo de cavalo firme e baixo. Depois pegou uma super tesoura de especialista e analisou bem meus fios antes de me dar um sorriso confiante. Respirei fundo e fechei os olhos enquanto ele cortava os fios com precisão. Nos segundos seguintes, abri meus olhos e ele me mostrou um rabo cheio de fios loiros molhados e espalhou o resto de meu cabelo em minha cabeça para que eu olhasse. Ele terminou de arrumar o corte, tirando o volume e ajustando minhas mexas calmamente e com cuidado sagrado.
Ele secou meu cabelo, deixando-o mais liso do que suas ondas mais enroladas geralmente deixavam e depois limpou a base de meu pescoço. Sorri para minha reflexão quando ele terminou.
— Amei. Muito obrigada.
— De nada. Você parece muito profissional agora. Afinou seu rosto. Parece mais velha. Eu gostei muito do resultado, sério.
Levantei e abracei-o rapidamente. Ele pediu para que tirássemos uma foto para que ele mandasse para Mike e depois me enviou ela. Paguei o corte. Não foi nada absurdamente caro, porém nem de perto o que eu costumava pagar quando cortava no cabelereiro na esquina do Soho, quando a situação de minhas pontas estava drástica.
Foi estranho andar na rua sem meu cabelo. Eu me sentia meio pelada, meio sem proteção. Mas logo o sentimento foi embora. Porque eu tinha uma teoria sobre meu cabelo: cabelo pesa. Assim como a nossa vida pesa. Sempre que minha vida estava dando reviravoltas demais, eu cortava meu cabelo ou mudava de alguma forma nova. Era renovador, refrescante e uma resposta saudável para as coisas que me afetavam. Eu acabava com uma autoestima nova, cabeça mais leve e meu coração aliviado.
Assim que lembrei de tudo isso, o sentimento foi embora imediatamente, dando lugar para um sorriso aliviado em meu rosto. Analisei a foto com Hector, vendo se eu havia ficado feia – mas meu novo cabelo realmente me deixava com cara de mais velha, mais responsável e tudo mais – então selecionei alguns contatos em minha lista: Mike, , Chuck e Tyler. Cliquei em enviar e segui meu rumo para meu trabalho, onde eu pretendia passar para ver como estavam as crianças. Incrivelmente, eu estava com saudade das pestinhas.
“JESUSSSSSS, VOCÊ ESTÁ LINDA, FURACÃO!!!!!!!!” — Mike respondeu primeiro.
“Mandou ver, loirinha. Maridão vai adorar.” — A mensagem de Ty chegou em seguida, me fazendo torcer o nariz.
“Eu sei que nós estamos sem dinheiro e você está arrependida, mas não precisava vender seu cabelo, minha querida bf. Aliás, está linda.” — enviou com uma carinha feliz no final.
“Você não deixa de me impressionar, . Novamente. Está maravilhosa.” — Chuck respondeu.
Sorri triunfante até o caminho do prédio de Edgar, tranquila quanto a minha escolha. Quando cheguei ao prédio, cumprimentei o porteiro e subi ansiosa para ver as crianças e como elas reagiriam ao meu novo corte. Talvez eles fossem gostar, principalmente Theo, que provavelmente falaria que estávamos quase com o mesmo corte agora.
Entrando no apartamento, encontrei Maria Sofía na cozinha com milhares de panelas espalhadas, enquanto ela estava sentada em um banquinho polindo-as. Ela olhou para mim, arregalou os olhos e seu queixo caiu brevemente antes dela me dar um sorriso adorável e largar a panela em sua mão para vir me abraçar.
! Você está linda!
— Obrigada. — Sorri envergonhada e movi minha cabeça na direção das milhões de panelas. — Por que você está fazendo essa bagunça aqui?
Maria Sofía perdeu um pouco a força de seu sorriso, mas depois recuperou-o.
— Ah. Edgar pegou as crianças para viajar com eles até Hampton. Ele vai voltar amanhã com eles, mas resolvi dar uma geral que não consigo quando as crianças estão aqui.
— Faz sentido. Você quer ajuda?
— Não, não! Obrigada! Amanhã você já vai ter um trabalhão, fica tranquila.
— Tudo bem. Logo cedo estarei aqui, então.
Ela acenou para mim e se despediu enquanto eu saia do apartamento. Parei alguns segundos do lado de fora, pensando porque Maria Sofía achava que teria tanto trabalho amanhã. Provavelmente seria o contrário, as crianças cansadas demais de sua viagem para brincarem e portanto menos trabalho.
Bom. Amanhã eu perderia fios pensando nisso.

’s POV.


Eu só estive no apartamento de Tyler algumas poucas vezes. Em todas elas, éramos somente amigos e a nossa situação era de tensão sexual. Agora, nós poderíamos transar até pendurados no lustre que ficava sobre a bancada da cozinha, mas eu tinha bom senso, né. Ou não.
Tyler chegou ao mesmo tempo que eu em seu apartamento. Assim que mandei a mensagem, ele avisou que estava saindo do trabalho e passaria para pegar comida, primeiro. Fui a um mercadinho no caminho e comprei um engradado de Stella para ele, porque sei lá, achei que seria algo legal.
Assim que entramos no apartamento, Ty deixou as sacolas de papel pardo do Burguer King sobre a bancada e eu coloquei as cervejas na geladeira. Internamente, fiquei feliz que ele comprou alguma coisa simples, porque caso contrário eu me sentiria mal por ter levado cerveja e não um vinho. E, sei lá, levar vinho era algo meio... Sério?
Balancei os ombros, pensando em como me daria um tapa na cabeça e mandaria eu parar de ser idiota, que eu tinha que parar de ter medo e ficar com essas putarias de achar que tudo era muito sério. Mas ela não estava aqui mesmo, então foda-se.
— Sei que está frio, mas achei que iria querer um Milk-Shake mesmo assim. — Tyler comentou sorrindo e tirando a comida de dentro das sacolas.
Peguei o ketchup de dentro de sua geladeira e coloquei-o sobre a bancada.
— Você me conhece. Eu nunca nego sorvete.
Tyler me entregou o recipiente cheio de milk-shake de chocolate e eu o peguei sorrindo, sentindo que precisava falar logo porque havia mandado aquela mensagem dizendo que queria conversar.
— Ah, você não sabe o que eu vi no caminho. — Ele comentou naturalmente, enquanto abria um dos Whoppers e me entregava.
Estávamos sentados lado a lado em banquetas, as comidas apoiadas na enorme bancada de sua cozinha moderna. Bebi dois longos goles ansiosamente e resmunguei um “O quê?”.
— Sua bunda.
Meu cérebro congelou, porque eu chupei o líquido tão rápido que acho que ele atravessou o meu céu da boca.
— QUÊ?!
Tyler gargalhou e roubou uma batata frita de meu pacote.
— O seu outdoor, . Eu vi o seu outdoor.
Dei uma risada nervosa e bebi Milk-Shake freneticamente até perceber que ele já estava na metade e minha língua estava ficando dormente. Tyler elevou as sobrancelhas para meu claro sinal de ansiedade. Soltei o canudo e comecei a remexê-lo no sorvete, observando-o enquanto pensava no que iria dizer.
— Então... O que você achou?
Ele desembrulhou seu sanduíche e colocou ketchup neste, calmamente.
— Da sua bunda? Maravilhosa, você sabe que eu a adoro. Agora da sua bunda para Manhattan inteira ver? Não me agradou muito, para ser sincero.
Peguei o hambúrguer com ambas as mãos e o mordi mais do que deveria. Minhas bochechas ficaram inchadas de pão e carne e eu tive que me esforçar bem mais do que o necessário para comer, mas isso foi ótimo, porque me preveniu de responder Tyler. Ele segurou uma risada ao ver o meu malabarismo para mastigar, então pegou uma batata frita e pausou antes de coloca-la na boca:
— O que você queria falar comigo, ?
Levantei o indicador. Mastiguei um pouco mais rápido e então engoli. Bebi uns bons goles para ajudar a comida a descer e então tossi. Ok. A hora era agora.
— Bom, Ty, como você sabe... Eu preciso de dinheiro. E estou desempregada.
Ele me olhou por alguns segundos e então relaxou os ombros.
— Ah, que susto, , se você quer dinheiro emprestado, não precisa ficar com ver...
— Não, não! Claro que não, Tyler, você sabe que eu não pego dinheiro emprestado. — Balancei a cabeça como se a ideia fosse idiota. — Obrigada. Mas não é isso.
Remexendo-se no banco nervosamente, ele fez um barulho de incentivo e bebeu seu milk-shake, observando-me. Inspirei fundo e pousei o sanduíche sobre o papel.
— Bem, eu preciso de dinheiro. E tirar fotos dá dinheiro. E Jace me arranja sessões para tirar foto.
Tyler imediatamente ficou ereto na cadeira, largando o milk-shake e tencionando os ombros. Sua expressão ficou mais séria do que o normal e eu pude ver que ele fechou os olhos durante milissegundos, contendo um acesso de raiva.
— Então... — ele molhou os lábios rapidamente e sorriu ironicamente. — Tudo o que você disse na praia vai pro ar, por que você precisa de dinheiro e esse... Johnattan... Bem, acho que ele te dá tudo o que você precisa, não é?
Aquilo foi como um tapa na cara.
Seus olhos negros pareciam cheios de raiva e mágoa.
Olhei-o de olhos arregalados e a boca aberta em choque por alguns segundos, até que a raiva finalmente subiu e eu disparei a falar:
— SEU IDIOTA! Claro que não! ARGH! Seu estúpido, eu estou aqui, falando com você, fazendo o que é o certo pra nossa relação dar certo e você já chega com cinco pedras na mão?
Levantei-me e saí andando para a sala, gritando:
— Eu sabia que deveria ter ficado em casa, maldita hora que eu fui escutar o Mike. MALDITA HORA, TYLER HUNT!
Ele se levantou e veio atrás de mim, querendo pegar em meu braço, mas eu me desvencilhei.
— EU SOU O IDIOTA? Então me contar que você vai ficar saindo com o cara que te comia antes de mim é o seu conceito do certo a se fazer?
Bufei e virei-me de frente para ele, gesticulando.
— EU PRECISO DO DINHEIRO! OU VOCÊ QUER QUE EU SEJA GARÇONETE A VIDA INTEIRA?
— NÃO, MAS TAMBÉM NÃO QUERO QUE VOCÊ FIQUE MOSTRANDO A BUNDA A VIDA INTEIRA.
Soltei um grito de raiva e lhe dei um tapa forte no ombro.
— PARA DE ME CHAMAR DE VAGABUNDA!
— EU NUNCA TE CHAMEI DE VAGABUNDA!
Ri sarcasticamente, fazendo seus olhos ficarem mais raivosos ainda.
— Claro que não, Tyler, claro que não. E todo esse piti seu é o que? Seu jeito de confiar em mim? Você não acredita que eu consiga trabalhar com o Jace sem transar com ele, porque você sempre vai me ver com a vadia que fica saindo e dando por aí.
Seus olhos finalmente se acalmaram.
— Eu nunca te vi como uma vadia, . NUNCA.
A raiva ainda estava subindo por minha cabeça e eu sabia que dentro de segundos eu estaria xingando aos quatro ventos em português.
— Você que fica colocando palavras na minha boca que eu nunca disse. E além disso, eu não acho que você não consiga trabalhar com ele sem transar, eu simplesmente acho que se fosse a situação contrária, você também se importaria, se você realmente gosta de mim.
Gesticulei nervosamente em seu rosto. Eu sabia que a raiva que crescia dentro de mim logo teria que extravasar:
— CLARO QUE EU GOSTO DE VOCÊ, SEU IDIOTA! VOCÊ NÃO PERCEBE? SE EU NÃO GOSTASSE DE VOCÊ, NÃO ESTARIA AQUI DISCUTINDO QUANDO EU PODERIA MUITO BEM TER IDO ATRÁS DO JACE SEM TE FALAR NADA.
Tyler me fuzilou com os olhos. Talvez ficar repetindo o nome de Jace não fosse uma boa ideia.
— Dois dias. DOIS DIAS COM VOCÊ, . Dois dias e já estamos brigando, como você imagina que vamos conseguir dar certo?
Balancei a cabeça negativamente.
— É! E É CULPA SUA! Você que veio atrás de mim, você que me encontrou, você que revirou o meu mundo, FOI VOCÊ QUEM QUIS ISSO!
— E VOCÊ NÃO QUER?
Meus olhos começaram a arder e eu fechei as mãos em punhos com força para tentar me controlar. Toda vez que eu ficava com raiva demais eu começava a chorar e sempre achei isso extremamente patético, então tentava com todas as forças me segurar. Tyler estava a uns dois metros de mim, com os braços cruzados, pressionando seu peitoral forte.
— COMO VOCÊ PODE ME PERGUNTAR UMA COISA DESSAS, TYLER? É CLARO QUE EU QUERO! MAS QUE PORRA, HUNT, COMO VOCÊ CONSEGUE DUVIDAR DISSO? EU FUI ATRÁS DE VOCÊ NO SEU TRABALHO, FUI ATRÁS DE VOCÊ NO CASSINO! QUE PORRA, EU PENSAVA EM VOCÊ ENQUANTO ESTAVA COM O JACE, PORQUE EU SÓ CONSIGO PENSAR EM VOCÊ, SEU IDIOTA!
Tyler pareceu levar um tapa na cara.
Finalmente, as lágrimas escorreram, quentes e cortantes por meu rosto, fazendo minha voz embargar e um soluço escapar. Dei um passo para trás antes que ele pudesse pensar em vir até mim, levantando uma mão para impedi-lo. Respirei fundo, sentindo meu peito tremer pela raiva e pelo choro. Olhei-o nos olhos, tendo que usar todas as minhas forças para não desviar o olhar. Molhei os lábios e então prossegui, tentando manter minha voz firme e calma:
— Eu só queria que você soubesse que não precisa se preocupar, mas parece que você não confia em mim. Como vamos tentar qualquer coisa se você não confiar em mim?
Seus olhos negros amoleceram, os ombros relaxando e a expressão torturada perante minha fragilidade extrema. Malditas lágrimas. Maldito emocional. Por que eu precisava chorar toda vez que estava com raiva? Ductos lacrimais estúpidos.
Tyler andou até mim lentamente, me dando tempo para me afastar caso eu quisesse. Permaneci parada, porque estava cansada demais para querer me afastar. Suas mãos deslizaram desde meus ombros, por meus cotovelos, até minhas mãos. Ele as segurou com força, mantendo seu olhar no meu. Mais umas duas ou três lágrimas escaparam e eu pisquei fortemente, espantando-as rosto abaixo.
Meu peito ainda tremia devido à minha respiração irregular. Ele entrelaçou nossos dedos desajeitadamente e eu abaixei o olhar para nossas mãos, deixando outra lágrima escorrer. Funguei baixinho, fechando os olhos, tentando me controlar. A raiva começou a dissipar aos poucos, conforme ficávamos ali, um de frente para o outro.
— Temos que entrar em um acordo, ou vamos ficar brigando e sentindo medo o tempo todo e nunca vamos conseguir ter uma chance. — Sussurrei, ainda observando sua mão grande junto à minha.
Ele soltou uma de suas mãos e a levou até meu rosto, levantando meu queixo para que eu pudesse olhá-lo nos olhos. Tyler alisou minha bochecha e limpou o rasto de minhas lágrimas com o dedão.
— Eu... — Ele respirou fundo e fechou os olhos por alguns segundos, abrindo-os logo em seguida e prosseguindo. — Eu sinto muito, .
Assenti fracamente com a cabeça, sabendo que ele se referia a ter me magoado.
— Não é que eu não confie em você. É que eu... Não sei como lidar com você. Pensei que sabia, mas ser seu amigo é muito diferente de ser... Sei lá...
— Meu amante?
— Que gay.
Rimos juntos e eu funguei logo em seguida. Ele sorriu amavelmente e alisou minha bochecha com o dedão.
— É, é diferente. Ainda estamos no começo, é tudo muito novo. Mas... Eu confio em você. Só não confio no Jonattan.
Pensei em corrigi-lo, mas resolvi ficar quieta. Às vezes eu tinha bom senso.
— Tudo bem.
— Se você precisa do dinheiro e se sente confortável, tudo bem. Tire as fotos. Mas eu quero conhecer esse estúdio antes.
Soltei uma risada fraca e passei as mãos ao redor de sua cintura, abraçando-o e apoiando minha cabeça em seu peitoral.
— É um pedido razoável. Vou ver o que posso fazer.
— E sem sessões particulares.
— Sem sessões particulares.
Ele beijou o topo de minha cabeça e então me afastou delicadamente.
— Você sabe que eu sou louco por você, não sabe?
Inevitavelmente, abri um sorriso enorme.
— Sim, eu sei.
Tyler me beijou de leve nos lábios e então se afastou.
— Vou esquentar nossa comida novamente, acho que ficou fria.
Limpei meu rosto rapidamente com a manga de minha blusa comprida e então sorri para ele.
— Tudo bem, Ty. Vou lavar o rosto, já volto.
Saí para o banheiro rapidamente, puxando minha bolsa comigo, ainda sentindo minhas mãos trêmulas. Entrei em seu quarto, fechei a porta e comecei a tirar a roupa, sentindo um calor absurdo depois de toda essa briga e esse stress.
Pensei em colocar uma roupa que eu trouxe, mas resolvi abrir o armário de Tyler atrás de alguma camiseta sua para usar de pijama. Escolhi uma camiseta velha e mais comprida do New York Knicks mesmo, time para o qual ele trabalhava. Ela era azul, com uma bola laranja de basquete no meio. Fui até o banheiro com minha bolsa, lavei o rosto algumas vezes e sequei-o lentamente. Deixei meus olhos desincharem um pouco enquanto penteava meus longos cabelos castanhos e passava meu próprio desodorante.
Apoiei as mãos na pia, observando meus olhos castanhos vermelhos.
Então, certo. Era nossa primeira briga oficial de casal, eu acho. Quer dizer, nós éramos um casal, certo?
Dei-me um tapa mentalmente e imaginei me xingando.
Respirei fundo.
Então nós estávamos juntos. Amorosamente. Mas ainda não éramos namorados, isso nós dois tínhamos certeza. Ah, não, ainda tinha uma estrada até lá.
Mas, definitivamente, estávamos juntos e isso significava que eu fiz a coisa certa ao falar de Jace para ele, mesmo que isso tenha gerado uma briga muito maior do que a esperada. De qualquer jeito, ele precisava saber e agora que sabia, eu conseguia manter minha consciência limpa.
Agora era eu e ele e mais ninguém. Sem mais outros homens para mim e sem outras mulheres para ele. Éramos comprometidos, o que automaticamente vetava o sexo sem compromisso.
Sorri para minha reflexão e comecei a me maquiar calmamente, cantarolando.
Pois é, o amor faz milagres.


Trigésimo Quarto


’s POV.


Quando acordei no dia seguinte, com meu próprio relógio biológico, abri os olhos para o rosto de Mike me encarando, em pé, na frente da minha cama. Pulei, tomando um susto e colocando a mão no coração.
— Caralho, biba. Que susto!
— Você tá parecendo que foi atropelada. Achei que estaria com um humor melhor depois de ter ido falar com seu marido e cortar o cabelo.
— Eu estou com um humor melhor. Mas como você esperava que eu acordasse? E obrigada, aliás, pelo elogio matinal.
Mike me deu um sorrisinho malicioso e deu um tapinha na minha cabeça.
— Levanta que você vai se atrasar.
— Que horas são? — Murmurei, ficando sentada na cama e esfregando meu rosto com as mãos.
— Oito e meia.
— Que merda. Estou levantando, obrigada, Mike. — Falei ficando de pé e o empurrando para fora do quarto, enquanto ele insistia para ficar e escolher uma roupa para mim. — Se você não fosse tão gay, acharia que você só estava sendo um tarado!
— Sou gay, mas também aprecio curvas femininas! — Ele respondeu rindo.
— TARADO!
— DA FRUTA QUE VOCÊ GOSTA EU CHUPO ATÉ O CAROÇO.
Gargalhando, batendo a porta em sua cara, escolhi uma roupa básica, uma calça jeans azul clara rasgada nos joelhos e uma blusa verde limão que afinava minha cintura e realçava meus peitos juntos no sutiã branco. Fui ao banheiro, fiz as higienes matinais e penteei meu novo cabelo. Fiquei aliviada ao ver como meus fios se deram bem no corte, sem se rebelar muito contra o chanel. Apliquei um pouco de maquiagem básica, quase imperceptível e um pouco de gloss nos lábios e voltei para o quarto para calçar uma sapatilha e pegar minha bolsa.
Mike estava terminando de comer seu cereal e já estava vestido para seu trabalho, usando uma blusa roxa com gola V e uma calça jeans escura. Ele acenou para mim com a boca cheia quando peguei uma maça em nossa geladeira e dei um beijo em sua bochecha antes de ir embora. Quando estava esperando o elevador pré-histórico chegar, vestindo meu casaco de frio, Mike apareceu também, já pronto para o trabalho, e nós conversamos tranquilamente até chegarmos ao ponto de uma avenida onde nos separávamos. Mike iria para a altura além do Central Park e eu ia na direção deste.
— Vejo você mais tarde, loira. Tenta não arrasar muitos corações rebolando até o trabalho.
— Tenta não destruir a autoestima matinal de outra pessoa! — Respondi, fazendo-o rir, e nós fomos para lados contrários.
Da onde estava, não demorava muito para chegar à casa de Edgar. Algumas quadras depois eu estava na frente de seu prédio. Entrei tranquilamente, murmurando uma música no elevador enquanto subia e ajustando meu cabelo no espelho. Quando cheguei à porta da cozinha, peguei minhas chaves para entrar, mas a porta se abriu no mesmo segundo com Maria Sofía indo tirar o lixo. Ela sorriu para mim, meio tensa, enquanto eu entrava e, assim que coloquei minha bolsa na mesa e comecei a ir até a sala procurar as crianças, ela segurou meu cotovelo.
, as crianças estão no quarto. Edgar chegou cedo demais e eles estão dormindo depois da viagem.
Eu escutava vozes na sala.
— Então... Quem...?
— Notícia ruim. Vai lá. — Maria Sofía balançou a cabeça negativamente, parecendo chateada.
Entrei na sala cuidadosamente, para não atrapalhar. Eu reconhecia as vozes. Edgar. Senhora Delawicz. Quando consegui tê-los no meu campo de visão, vi que havia outro homem presente na cena com a mão entrelaçada na da Senhora Delawicz e Edgar estava de frente para eles. Ele olhou por cima dos ombros do casal quando me viu entrar, e seus olhos arregalaram levemente antes de um pequeno sorriso tocar em seu rosto tenso.
— Ah, olha só quem chegou. É a piriguete. — Senhora Delawicz falou, se virando para ver para quem seu marido sorria. Ela ergueu uma sobrancelha ao ver meu corte de cabelo e torceu o nariz em desgosto por me ver.
Olhei para sua mão entrelaçada na do homem ao seu lado, que agora havia se virado e eu o reconhecia como Mason. Grande. Filho da puta. Mason.
— Pode entrar, . As crianças estão no quarto. — Edgar falou com a voz um pouco tensa, seus olhos passando por meu corpo rapidamente antes de voltarem para meu rosto.
— PODE ENTRAR? — A Senhora Delawicz me agarrou pelo pulso antes que eu pudesse sequer dar um passo, e me chacoalhou com violência. — A PIRIGUETE PODE ENTRAR NA CASA E EU NÃO?
Ela não?
O que estava...
Ah.
— VOCÊ NÃO VAI ENTRAR NA CASA, MARY ANN. EU TE DEI QUATRO DIAS PARA TIRAR SUAS COISAS DAQUI.
Tentei tirar meu braço do aperto da esposa de Edgar, que afundava suas unhas em mim, dolorosamente. Mordi meu lábio inferior para segurar minha vontade de dar um tapa nela e dizer poucas e boas. Aparentemente, a máscara da desgraçada havia caído.
— MAS EU QUIS VIR HOJE.
— Amor, fica tranquila, podemos voltar outro dia aqui. — Mason disse, colocando uma mão no ombro de Mary Ann, mas ela somente segurou com mais força meu braço, fazendo-me fechar os olhos para conseguir engolir a dor.
— OUTRO DIA O CARALHO, MASON. VOU PEGAR MINHAS COISAS AGORA.
Edgar cruzou os braços irritado e depois olhou para a mão de sua esposa me segurando. Ele puxou meu outro braço em sua direção, facilmente fazendo com que ela perdesse seu aperto em mim, e segurou meus ombros para me estabilizar quando tropecei para cima dele.
— AH, QUE BONITINHO. AJUDANDO A EMPREGADA. VOCÊ VAI QUERER MANDAR NELA E EM COMO ELA FAZ AS COISAS TAMBÉM?
— Mary Ann. Nunca mandei em você, eu só pedia para você ficar presente na vida de seus filhos. Só pedia para que você agisse como uma mãe uma vez na tua vida.
— Ah, por favor, Edgar. De novo com essa história não. — Ela bufou irritada, e me fuzilou com os olhos.
Eu estava tentando sumir, praticamente me escondendo atrás de Edgar com medo de me mover e ser agarrada novamente. Meu braço já tinha a marca de cinco unhas, muito obrigada.
— Não é porque você é uma vagabunda que eu também vou esquecer como você é uma péssima mãe.
— VAGABUNDA? EU?
— Ou eu devo dizer que esse menino é o vagabundo da história? — Edgar fez um gesto com a cabeça para Mason, que imediatamente alinhou sua coluna e encarou meu chefe de volta com irritação.
Edgar tinha razão, Mason era pelo menos mais novo que eu. Talvez uns dezenove anos.
— Olha, eu só aproveitei o que sua esposa me ofereceu.
Os olhos de Edgar flamejaram e seus ombros tencionaram. Ele deu um pequeno passo para frente, o suficiente para que minha garganta se fechasse em pânico.
— Minha ex-esposa. Ex. O quanto mais rápido possível.
— Eu não podia concordar mais. Vou deixar você ficar com tudo, porque também não preciso de nada de você. Pode ficar com o apartamento aqui e em New Hampton. Pode ficar com o carro e pode ficar na sua vidinha miserável. — Ela apontou um dedo na cara dele, ficando a centímetros de Edgar, que a fitava com ódio. Mary Ann aumentou seu tom de voz: — E PODE FICAR COM A MERDA DOS SEUS FILHOS. SE EU FOSSE ESPERTA TINHA ME LIVRADO DELES ANTES DE NASCERAM.
Foi tudo que ela precisou dizer para que a mão de Edgar levantasse e acertasse seu rosto com fúria. O estalo foi alto e fez com que meu corpo inteiro tencionasse, lembrando o tapa que eu havia dado em Chuck. A senhora Delawicz abriu a boca para gritar alguma outra coisa, mas a mão de Edgar já estava se levantando novamente.
Antes que ele acertasse de novo, porém, eu o puxei para trás com violência por sua blusa. Segurei sua mão erguida para que ele também não me acertasse e o empurrei para trás no cômodo, para longe de sua esposa. Minhas mãos estavam meio trêmulas, mas eu segurei seu rosto puxando-o para mim, para que olhasse nos meus olhos.
— Se você der outro tapa nela, ela pode alegar violência doméstica e tirar tudo de você.
— Estou pouco me fodendo. — Ele respondeu com os olhos verdes como esmeraldas, cheios de milhares de emoções.
— Ela pode tirar seus filhos, Edgar. Pare.
Ele piscou, uma, duas vezes, e relaxou a mão ainda tensa. Respirou fundo. Como se fosse um movimento comum, suas mãos foram até meu ombro e me seguraram com delicadeza, porém firme, procurando por um apoio.
— AI QUE CENA LINDA. POR QUE VOCÊS NÃO SE FODEM? — Mary Ann gritou para nós.
Edgar fechou os olhos com força, suas mãos aplicando um pouco mais de força e eu me mantive parada, esperando que ele se acalmasse para soltar seu rosto. Nossas respirações se misturaram e meu coração acelerou quando ele abriu os olhos, agora mais claros.
— Vou pegar minhas coisas, você querendo ou não, Edgar. Vou entrar. — Sua esposa repetiu batendo o pé no chão como a mimada que era.
— Não vou sair daqui. E esse merda não entra na minha casa. Muito menos no meu quarto.
Edgar me soltou e cruzou os braços. Ele olhou para mim brevemente e depois para sua esposa. Eu entendi o recado.
— Eu entro com ela. Fica tranquilo.
— Obrigado. — Ele respondeu voltando a olhar para Mason com raiva.
— AH. Era só o que me faltava, uma guarda-costas. Por favor, Edgar. Mason já entrou no nosso quarto mais do que você pensa.
Segurei o punho de Edgar novamente tenso e apertei-o como uma asseguração. Sorri levemente para ele e encarei a Senhora Delawicz com ódio.
— Tá. Tá. Vamos logo com isso. — Ela reclamou e começou a andar até o quarto. Eu fui atrás dela.

’s POV.


— Eu não sabia que você cozinhava tão bem, Ty. — Murmurei contra seu ombro, abraçando-o por trás enquanto ele espalhava o líquido da panqueca sobre a frigideira.
— Sou uma caixa de surpresas, .
Comecei a deslizar minhas mãos por seu peitoral, até o cós de sua samba-canção. Tyler tremeu com o arrepio que meu toque lhe provocou e me deu uma bundada para trás, me empurrando.
— Para de desconcentrar o cozinheiro.
Soltei uma gargalhada e levantei as mãos, me rendendo.
— Tudo bem.
Peguei a jarra de suco de laranja da geladeira e dois copos. Sentei-me sobre a bancada da cozinha do apartamento de Tyler e comecei a beber o meu copo calmamente. O relógio na parede marcava nove horas da manhã e o céu estava nublado, mas sem ameaça de nevar, porque já havíamos passado da metade de Janeiro.
Tyler tinha que estar no trabalho perto do meio dia e eu, bem, não tinha porra nenhuma pra fazer, porque eu estava desempregada.
Noite passada nós terminamos de comer, deitamos no sofá para assistir Criminal Minds e depois de cochilar umas cinco vezes, Tyler me levou para a sua cama, onde dormimos de conchinha. Hoje de manhã eu acordei com o cheiro de comida, para variar.
E agora estávamos aqui.
— O que você faz nesse seu trabalho, Ty? Tipo, tem a ver com basquete mesmo, sei lá?
A panqueca rodou no ar conforme Tyler mexia a frigideira habilmente. Ele sorriu para mim, se exibindo.
— Ah. Bom, eu fiz faculdade de Administração primeiro, depois resolvi que queria trabalhar com esportes e fiz uma faculdade de Educação Física. Terminei faz dois anos e continuei a trabalhar no NYK, porque foi onde consegui estágio nos últimos anos da faculdade. Fui subindo nos cargos e hoje sou assistente chefe do técnico.
Observei seus músculos se tencionarem ao girar a panqueca mais uma vez. Ele a depositou, pronta, sobre uma pilha de umas dez panquecas prontas, então desligou o fogão.
— É bem legal. Trabalhamos técnicas, coisas burocráticas, etc. E paga bem.
Olhei ao meu redor, para seu moderno e espaçoso flat.
— Posso ver que paga bem.
Ele sorriu e dividiu as panquecas igualmente em dois pratos, então colocou a calda e os apetrechos.
— Tcharan. Prontinho, Srta. . Um café da manhã especial do Chef.
Puxei-o com as pernas para mim, colocando-o entre elas, eu ainda sentada sobre a bancada. Apoiei minhas mãos em seus ombros e beijei-o de leve nos lábios, sorrindo.
— Hmmmmmmm. Que delícia.
Tyler deslizou as mãos por minhas coxas nuas, já que eu ainda usava somente a camiseta do New York Knicks. Ele desceu os lábios desde minha boca, por meu queixo, afundando-os em meu pescoço e distribuindo beijos quentes. Apertei-o contra meu corpo com as pernas, minhas unhas deslizando de leve por seus ombros, fazendo-o se arrepiar. Joguei a cabeça para trás, desfrutando de sua boca em meu pescoço, clavícula e ombros.
Puxei-o pelos cabelos da nuca para cima, fazendo-o puxar o ar entre os dentes. Olhei-o sorrindo maliciosa e soltei minhas pernas de sua cintura.
— Vamos comer.
Tyler revirou os olhos e me agarrou assim que eu desci da bancada, colocando-me de costas para ele e contra a bancada, encoxando-me com força.
— Qual é, . Só um pouquinho.
Soltei uma risadinha e olhei para o relógio.
— Vamos comer primeiro, ou você vai se atrasar. E estou morrendo de fome. Preciso de substância antes do sexo.
Ele beijou meu ombro de leve e então me soltou, cedendo.
— Tudo bem. Mas acho que não vai querer transar depois, porque vai se empanturrar com as minhas panquecas. Elas são deliciosas.
Ri desdenhosa.
— Vamos ver, James Oliver.
Sentei-me na banqueta e puxei o prato para a minha frente, junto com o copo de suco de laranja. Peguei o garfo e a faca e, Meu Deus, Tyler tinha razão.
Eram as melhoras panquecas que eu já havia comido em toda a minha vida. Mastiguei-as furiosamente, aproveitando a ideia de Tyler de colocar chantilly nelas, e antes que eu pudesse perceber, meu prato estava vazio e meu estômago explodindo.
Terminamos de comer e colocamos os pratos na pia, satisfeitos. Tyler estava de costas para mim, guardando as louças na máquina, usando somente uma samba-canção azul marinha, os cabelos negros bagunçados.
Sentei-me na bancada da cozinha, rapidamente e retirei minha calcinha preta, jogando-a para trás, sem que ele visse. Arrumei os cabelos sobre os ombros e me apoiei sobre as mãos, reclinada na bancada, as pernas abertas.
Assim que Tyler levantou-se, depois de arrumar as louças na máquina e fechá-la, deu de cara com a minha, bem, buceta.
— Eu estava pensando e... Opa. — Ele pausou ao perceber minha falta de calcinha e meu sorriso malicioso.
Seus olhos queimaram sobre minha intimidade e somente o seu olhar lá já me fez começar a ficar molhada de tesão.
— Você estava pensando?
Tyler sorriu maliciosamente, seus olhos cheios de desejo sobre minhas pernas abertas. Andou até mim calmamente e assim que chegou perto, num movimento rápido, pegou meus cabelos com uma só mão e puxou-os com força, inclinando minha cabeça para o lado. Mordi meus lábios com força.
— Estava pensando que eu quero te foder, . — Ele sussurrou contra minha orelha e eu gemi em aprovação. — Pensei que ia ficar cheia depois.
— Na verdade... Ainda não estou satisfeita, sabe, Tyler... — Sussurrei de volta, minhas unhas deslizando por seus braços lentamente fazendo-os tencionarem.
A mão livre de Tyler me segurou pelo queixo e ele girou meu rosto em direção ao seu, puxando-me para um beijo apaixonado e cheio de desejo, nossas línguas em sincronia, ávidas uma pela outra. Levei ambas as minhas mãos até sua nuca, segurando fortemente em seus cabelos conforme Tyler me segurava pelo rosto e cabelo, pressionando ainda mais nossos rostos, aprofundando o beijo intenso e quente.
A mão que estava em meu rosto foi descendo por meu colo e ele apertou um de meus seios sobre o tecido da camiseta, massageando o bico de meu seio lentamente. Então ela foi descendo, enquanto ainda nos beijávamos fervorosamente, até chegar às minhas coxas. Tyler apertou minha coxa com força, os dedos fortes contra minha pele, alisando-a. Deslizou a mão até o interior da coxa, trazendo-me arrepios, até que ele encontrou o meu clitóris e começou a me estimular com o seu dedão, arrancando gemidos de mim.
Ele abafou meus gemidos com sua boca, fazendo um “shhh” somente para me provocar, então voltando com os maravilhosos movimentos circulares em minha intimidade, agora pulsante.
Suguei seu lábio inferior com força e então o mordi, gemendo no processo, devido aos seus estímulos que me deixavam cada vez mais louca. Parti o beijo e joguei a cabeça para trás, minhas mãos apertando seus ombros nus com força, fincando as unhas e então descendo para seus bíceps, apertando-os com força, conforme minhas pernas se contraíam e minhas costas se arqueavam devido ao prazer.
Tyler levou ambas as mãos para a barra de minha blusa e a arrancou rapidamente, jogando-a longe. Eu estava nua agora, ainda sentada na bancada, com Tyler claramente duro, podendo ver sua ereção contra o tecido da samba-canção. Levei minhas mãos até a barra sua peça, mas ele as segurou e então me empurrou, fazendo-me deitar sobre a bancada, segurando minhas mãos em minhas laterais. Ele me olhou com os olhos negros sedutores e sorriu maliciosamente.
— Prepare-se para ficar satisfeita.
Então Tyler se abaixou à minha frente e sua boca foi de encontro à minha intimidade enquanto ele apoiava minhas coxas em seus ombros e suas mãos seguravam-nas com força, abraçando-as. Arqueei minhas costas logo no primeiro contato de sua língua em meu clitóris, que já pulsava de prazer. Ele percorreu toda a minha intimidade com a língua primeiramente, deixando-me mais encharcada do que eu já estava, então se concentrou no meu ponto de maior prazer, abocanhando-me.
Tentei me apoiar em meus cotovelos para poder vê-lo enquanto ele me chupava, mas seus movimentos me traziam tanto prazer que eu não aguentava suportar o meu peso. Derrotada, deitei na bancada e levei ambas as mãos para seus cabelos negros, meus dedos percorrendo-os conforme meu corpo se contraía.
Usando a ponta da língua, Tyler variava os movimentos, sempre amplos e deliciosos. Ele fazia movimentos circulares, que arrancavam vários gemidos manhosos e suplicantes, junto com alguns espasmos. Meus dedos se entranhavam em seus cabelos e os puxavam com força, então perdiam a força conforme suspiros altos escapavam e logo depois os puxavam novamente.
— Oh... Tyler... Não para, oh, não para! — Gemi enquanto ele sugava meu clitóris.
Tyler levantou minhas coxas e segurou-as contra minha barriga com força, fazendo-me ficar com a minha intimidade inchada mais ainda à sua disposição.
— Goza pra mim, . Goza na minha boca. — Ele sussurrou enquanto assoprava minha intimidade, me fazendo gemer mais ainda.
Então ele apoiou somente a ponta de sua língua em meu clitóris e a mexeu rapidamente, como se estivesse tremendo, em movimentos rápidos e verticais que fez meu corpo se contrair por inteiro e um gritinho de prazer escapar de minha boca. Minhas mãos castigavam seus cabelos e inconscientemente eu pressionava sua cabeça contra mim, os olhos fechados em puro prazer e a boca entreaberta, minhas costas se arqueando de segundos em segundos.
O orgasmo já estava próximo, eu podia sentir meu corpo começar a querer formigar e minha intimidade pulsar mais do que o normal, inchada. Todos os nervos de meu corpo estavam sensíveis e eu não conseguia parar de me contrair.
Assim que Tyler soltou minhas pernas, apoiei os pés na bancada, com as pernas dobradas e abertas para ele. Segurei em seus cabelos com força e, exatamente quando Tyler começou a girar a ponta de sua língua freneticamente, comecei a movimentar meu quadril para a frente e para trás, contra sua boca, combinando os meus movimentos aos seus, fazendo gemidos cada vez mais altos saírem de minha boca.
Puxei seus cabelos com força e balancei meu quadril em sua direção uma última vez, um gemido alto saindo de meus lábios. Minhas pálpebras se pressionaram, fechadas, e eu senti todo o meu corpo contrair ao mesmo tempo, o prazer espalhando por meu corpo em ondas violentas que quase me fizeram perder a consciência, um apagão de prazer tomando conta de minha mente, fazendo um grito de prazer escapar de meus lábios trêmulos e minha intimidade se encharcar ainda mais conforme eu gozava.
Assim que passou, minhas costas arqueadas bateram de encontro com a bancada e eu soltei seus cabelos e deixei minhas pernas escorregarem.
Minha respiração estava falha e meus batimentos estavam absurdamente acelerados.
Eu havia acabado de ter o melhor orgasmo da minha vida.
Abri os olhos lentamente, com um sorriso abobalhado no rosto e a respiração falha. Minhas pernas pulsavam, ainda sentindo os efeitos do orgasmo arrebatador, meu peito tremendo a cada vez que o ar saía de meus pulmões.
— Gozei.
Tyler levantou-se sorridente, percebendo minha voz falha e meu estado sobre a bancada. Ele passou a mão levemente sobre a minha intimidade que estava extremamente sensível agora e eu tremi, fechando minhas pernas. Ele riu de minha reação e então apoiou as mãos em meus quadris, alisando a lateral de minha bunda enquanto eu tentava me recuperar daquela onda de prazer avassaladora.
Ele me segurou pelos ombros delicadamente e me sentou na bancada, observando meu rosto abobalhado e de puro êxtase com um sorriso vitorioso.
— Gostou?
Sorri ainda de olhos fechados, apoiando as mãos em seus ombros delicadamente. Ele riu baixinho de minha expressão e então perguntou com uma voz convencida.
— Satisfeita?
Apoitei a testa em seu ombro e fiquei ali durante alguns bons segundos, até que consegui forças para formar uma palavra:
— Ainda não. Vai buscar camisinha.
Ele sorriu perante minhas palavras e foi para o quarto. Assim que ele saiu, deitei-me sobre a bancada novamente, regulando minha respiração. O sorriso demorou bastante a deixar meus lábios.
Pouco mais de um minuto depois, Tyler voltou, agora nu e com o membro ereto já vestido da camisinha, um sorriso malicioso nos lábios perante meu corpo nu sobre a sua bancada. Eu já estava bem melhor, pronta para mais uma rodada.
Sentei-me na bancada e sorri para ele, que agora estava parado à minha frente. Passei minhas unhas por seu maxilar lentamente enquanto sorria maliciosa.
— Você disse que quer me foder, é isso?
Ele segurou em minha cintura com força e com a outra mão segurou a base de seu membro, roçando-o em minha entrada, contra meu clitóris ainda inchado, arrancando um gemido manhoso de meus lábios.
— Vou te foder até você gritar meu nome, .
Então ele encaixou seu membro em minha entrada e me penetrou com força de uma só vez, chocando nossos corpos com força. Um gemido escapou de meus lábios e logo foi calado por um beijo fervoroso.
Tyler apoiou uma mão em minha cintura e a outra segurou a lateral de meu rosto, o dedão em minha bochecha e os outros dedos entranhados em meus cabelos soltos. Passei as pernas ao redor de sua cintura, puxando-o mais fundo para dentro de mim, enganchei meus braços por baixo dos seus, deslizando as mãos por suas costas e então segurando em seus ombros.
E ele começou a investir.
Seu quadril se encontrava com o meu em investidas fortes, precisas, intensas. Ele movimentava os quadris com destreza, quase em um leve rebolado, fazendo minha mente girar e meus dedos se dobrarem de prazer. A cada investida meu corpo balançava violentamente tal era a força que ele aplicava, retirando quaisquer resquícios do mundo à minha volta de minha cabeça.
Eu tentava gemer, mas seus lábios fortes e exigentes faziam o máximo para continuar contra os meus, nossas línguas lutando para conseguirem se manter unidas.
Tudo aquilo era torturante demais. Tyler investia forte, mas lentamente. E eu sabia muito bem do que ele era capaz. Cada estocada me arrancava um gemido fino, manhoso, suplicante.
— Mais rápido, Tyler, mais rápido! — Eu implorava entre o nosso beijo, fazendo-o sorrir, mas não atender o meu pedido somente para me torturar.
Deslizei minhas unhas por seus ombros com força, fazendo-o gemer contra minha boca. Ele me puxou pelos cabelos com força, partindo o beijo, então prendendo meu lábio inferior entre seus dentes, arrancando um gemido de reclamação de mim, mas aí ele estocou violentamente novamente e eu gemi de prazer logo em seguida, esquecendo a dor.
— Ah, Tyler...
Minhas pernas acabaram se soltando, já que o tranco de cada estocada desafiava o poder delas de permanecerem entrelaçadas. Assim que elas se soltaram, Tyler passou os braços por baixo delas, segurando as dobras de meus joelhos com seus braços e puxando meu quadril ainda mais para perto do seu. Ele parou de investir somente para nos ajustar à nova posição e então eu me segurei com força em seus ombros, para não deixar minhas costas caírem na bancada.
Sorrindo, Tyler firmou minhas pernas agora presas por seus braços e mais abertas para ele. E então ele atendeu meu pedido.
Tyler aumentou o ritmo freneticamente, nossos corpos se chocando violentamente e a toda velocidade. Ele investia furiosamente, fazendo com que eu tivesse que me segurar com muita força em seus ombros, o que parecia impossível perante todo o prazer que subitamente começou a crescer dentro de mim.
— AH! ISSO! ISSO! — Gritei conforme suas investidas furiosas me preenchiam, suas mãos apertando minhas pernas com tanta força que deveria doer.
Seus olhos estavam semicerrados e a boca entreaberta, vários gemidos e grunhidos escapando por seus dentes cerrados, a expressão de puro prazer em seu rosto fazendo-me revirar mais ainda os olhos. Joguei minha cabeça para trás, deixando que o prazer me dominasse e os gemidos escapassem.
Tyler parecia estar sentindo tanto prazer quanto eu, porque seus gemidos começaram a escapar mais altos, assim como os meus, que já estavam se transformando em gritos, combinando com o estalar alto de nossos quadris. Suas investidas não diminuíam e eu sabia que nós dois estávamos a pouco de chegar ao orgasmo.
Ele me soltou violentamente, fazendo-me cair com as costas sobre a bancada e o ar escapar de meus pulmões, mas isso não adiantou em nada para diminuir o prazer que eu sentia. Tyler segurou-me com força pelos quadris e então ele voltou a estocar, agora em movimento mais amplos e consequentemente mais fortes.
— Geme meu nome. — Ele falou com a voz firme e alta, autoritária.
Prontamente, atendi o seu pedido, porque eu já não conseguia mais controlar meus gemidos de qualquer jeito.
— TYLER! AH! TYLER! ISSO! ISSO! AH, TYLER!
Puxando meu quadril mais para a borda da bancada, deixando minha bunda um pouco para fora, Tyler soltou uma das mãos de meus quadris e então enchendo a mão em minha bunda, num tapa forte que estalou pela casa, arrancando um gemido alto de mim.
— Gostosa. — Ele grunhiu e voltou a estocar furiosamente.
Então, pela segunda, vez, meu corpo inteiro se contraiu. Arqueei as costas violentamente e flexionei minhas pernas ao mesmo tempo, minhas mãos arranhando a bancada inutilmente, meus olhos arregalados encarando o lustre, mas não enxergando nada, porque o orgasmo me tomava conta, e logo em seguida eu estava com os olhos fechados, sentindo as ondas de prazer me percorrerem junto a um grito alto de prazer.
Tyler soltou um urro alto e contraiu o seu corpo contra o meu, seus braços ao lado de meu corpo e as costas curvadas enquanto ele estocava pela última vez, os olhos fechados com força e as sobrancelhas juntas. Uma linha de suor escorria pela sua têmpora, deixando-o extremamente sexy. Relaxei sobre a bancada e o seu corpo caiu sobre o meu, suado, arfante. Sentir o seu calor me deixava mais excitada ainda. Seu membro pulsava dentro de mim após sua ejaculação e orgasmo.
Ficamos alguns minutos ali, deitados, arfantes.
Então Tyler se levantou e me puxou com ele, fazendo-me sentar junto com ele. Com sua ajuda, consegui descer da bancada, ainda com as pernas fracas e bambas. Quase caí, mas ele me segurou.
— Nossa, está tão mole assim? — Ele riu de minha fraqueza e eu dei um sorrisinho malicioso, ainda arquejante.
— Você tira o meu chão, Tyler Hunt.
Ele sorriu e me segurou pelo rosto com ambas as mãos, então, me beijou nos lábios delicadamente.
— Você também tira o meu chão, .

’s POV.


A senhora Delawicz marchou com pouca delicadeza até seu quarto. Eu havia entrado na suíte deles poucas vezes – duas, talvez três quando estava procurando Theo e Anna em nossos jogos de esconde-esconde – mas nunca havia observado o lugar de verdade.
Agora, parada no meio do quarto onde eu sabia que havia acontecido tanto sexo – com amor e com traição no meio – eu me sentia mal. Talvez porque eu via as paredes creme e só podia imaginar gozo. Ou porque eu via a cama king size, feita obviamente para que duas pessoas dormissem confortáveis sem se esmagarem, e só podia imaginar como Mary Ann devia adorar o tamanho da cama porque não precisava ficar grudada em seu marido quando se deitava.
Ela abriu um armário no closet que fazia caminho até o banheiro e puxou uma mala roxa de dentro dele. Depois começou a abrir as gavetas e colocar suas roupas essenciais dentro da mala, o que não era nem um terço da quantidade que havia em seu armário. Ela se mexeu no quarto, pegando caixas de joias, produtos de beleza e outras bugigangas até que sua mala roxa estivesse praticamente explodindo.
— Está vendo todas essas coisas que você não vai ter, empregadinha? — Ela provocou, enquanto colocava uma caixa de joias dentro de sua mala.
— Você está falando de um divórcio nas costas, filhos que irão te odiar e um ex-marido maravilhoso que sabe como você é uma víbora? — Perguntei, piscando inocentemente. Ela não era mais minha chefe mesmo, foda-se.
Mary Ann sorriu para mim, meio surpresa, mas satisfeita com minha resposta.
— E não é que a babá solta fogo também? — Ela riu maldosamente, fechando sua mala e pousando-a no chão. Andou até mim, seus saltos ecoando no chão de madeira do quarto e parou a centímetros de meu rosto. — Escuta, empregadinha. Eu ainda posso fazer você perder seu emprego.
— Ah é? E como vai fazer isso? Acha que seu marido vai confiar em alguma coisa que você disser agora sobre mim? — Cruzei meus braços.
— Não, queridinha. Mas o que será que ele iria achar se descobrisse que você sabia de meu affair e nunca contou para ele? Aliás, o que eu ganho não contando?
Abri minha boca para responder, mas nada me veio em mente. Ela sorriu vitoriosa.
— Você magoaria seus filhos se contasse. Eu seria despedida e eles não teriam ninguém.
Ela riu por alguns segundos, se divertindo com a situação. Uma filha da puta completa.
— Quem disse que eu ligo para isso?
— Você é mãe. Deveria ligar.
— AH! É aí que você se engana. — Ela voltou até sua mala e puxou-a até a porta. — Eu só carreguei os mini-parasitas na minha barriga por nove meses. Mas nunca fui mãe.
— Tem razão, você sempre foi uma ogra. E muito mal educada também.
— Queridinha, você não acha que seria mais inteligente da sua parte parar de tentar me ofender, uma vez que as coisas para o seu lado não estão boas?
— Ainda não sei do que você tá falando.
— Eu já contei, já disse. Você não tem mais nada contra mim, mas eu ainda posso te foder.
Sorri ironicamente. E soltei a frase favorita de :
— Se você me pagar um jantar, pode mesmo.
— Não vou falar nada agora. Acho que você ainda me pode ser útil no futuro, porém não se esqueça do que estou dizendo. Você não tem mais nada contra mim, empregadinha.
— Talvez não. Mas acredito que seu marido, que é um ótimo homem, é mais inteligente do que você e lhe dará créditos para cair na sua lábia de novo.
— Ahhhh... — Ela bateu uma palma alta, fazendo biquinho. — Você gosta do meu maridinho, é?
— Não. Mas sei o valor dele.
— Que linda. É uma pena que ele nunca ficaria com a empregada que cuida dos filhos dele, né?
— Você ainda está com um vermelho em um lado do rosto. Gostaria de deixar o outro lado da mesma cor? — Perguntei fechando meu punho. — Prometo deixar um tom mais escuro para combinar mais com seu tom de pele.
Ela sorriu maliciosamente para mim e continuou:
— Um desperdício que provavelmente ele vai ficar solteiro o resto da vida dele, eu ainda tenho tanto para aproveitar...
Antes que eu pudesse responder e dizê-la que daqui a pouco ela estaria fora de forma, com rugas e desenvolvendo Alzheimer – porque a vida era justa o suficiente para dar um jeito nela – Edgar estava na porta do quarto, com os olhos flamejando em irritação. Mason estava atrás dele. Edgar apontou para fora do quarto e sua esposa passou por ele com sua mala cheia de coisas, trombando em seu corpo com força.
Eu me sentia enjoada. Como uma mulher podia falar algo como aquilo de seus próprios filhos? Como uma mulher podia falar assim do próprio marido - ainda mais um como Edgar? Eu sabia que todos tinham problemas, mas essa mulher devia ser um tipo de sociopata ou - como dizia - ela era puramente maldosa pra caralho. Mason foi atrás de seu rabo de saia e Edgar entrou no quarto silenciosamente e parou na minha frente.
— Você está bem? Está branca.
— Eu... — Pisquei, tentando retomar o controle sobre meus pensamentos, que traziam lembranças terríveis demais sobre meu passado para ignorar. Relaxei meu punho. — Só fiquei surpresa com a... Escolha de palavras dela.
— O que ela disse?
Olhei para ele, enxergando preocupação na imensidão de seus olhos verdes. Mordi meu lábio inferior, tomando coragem para recitar as palavras dela.
— Disse que Anna e Theodoro foram parasitas dentro dela. E que não era mãe deles.
— Ela já havia os chamado assim antes. — Ele admitiu, parecendo miserável.
Olhando bem para o rosto de Edgar, percebi pela primeira vez como ele parecia honestamente abatido. Os olhos levemente inchados com olheiras cercando-os. Já que hoje o dia estava sendo mais do que inapropriado no meu trabalho, não hesitei em segurar sua mão com a minha, rapidamente, em um apertão amigável para que ele soubesse que pelo menos eu estaria ali para cuidar de seus filhos, tudo iria ficar bem.
— Ela é uma péssima pessoa, Edgar.
Ele franziu a testa, assimilando o que eu estava dizendo e olhou para nossas mãos unidas enquanto pensava. Continuei:
— Eu... Eu acho que seus filhos vão crescer melhor sem ela por perto.
Edgar olhou para mim novamente, seus olhos vasculhando meu rosto.
— Também acho.
— Vai dar tudo certo. — Terminei, soltando sua mão com um pouquinho de incerteza e sentindo a compulsão de voltar nossas mãos onde estavam.
Elas se encaixavam bem.
Balancei a cabeça e pisquei, afastando qualquer pensamento inapropriado como aquele. Errado. Errado. Eu estava casada, dando uma segunda chance para meu relacionamento com Chuck - ou pelo menos eu gostava de pensar assim - e não precisava de mais problemas.
— Vai expulsar ela de sua casa logo. — Sorri brincalhona e fingindo animação e empurrei Edgar para fora do quarto. No corredor, eu avisei: — Vou olhar as crianças, tudo bem?
Ele assentiu, olhou com carinho brevemente para a porta do quarto de Anna e depois para o de Theo, como se desejasse poder estar entrando no quarto de seus filhos. Entrei primeiro no quarto do pequeno, que estava dormindo profundamente em sua caminha com os cabelos cacheados amassados ao redor de seu rosto. Ajustei o lençol ao seu redor, beijei sua testa levemente e sai do quarto, indo atrás de Anna.
Abri a porta e espiei dentro, mas meu coração quase pulou para fora de minha boca quando vi sua cama vazia. Escancarei a porta e entrei no quarto já sentindo todos os meus músculos em alerta. Mexi nos lençóis de sua cama para ver se ela estava escondida neles, mas não a encontrei.
Voltei-me para a porta, pensando se era uma boa ideia sair gritando a procura dela, quando senti algo agarrar minha perna com força e quase gritei de susto, colocando uma mão sobre minha boca. Olhei para baixo e uma massa de cabelos loiros estava colada em mim.
— Anna! — Suspirei agachando-me para abraça-la.
Ela envolveu meu pescoço por seus bracinhos e enroscou as pernas na minha cintura enquanto eu levantava e a abraçava. Ela tremeu levemente em meus braços e fungou, então eu percebi que ela estava chorando. Afaguei seus cabelos levemente balançando-a em meu colo e falando palavras que a pudessem acalmar, mas ela somente agarrou com mais força meu pescoço e soluçou.
Cantando uma melodia suave em sua orelha, senti quando os pequenos músculos de Anna começaram a ceder à força e seu choro diminuiu. Agachei para sentar em sua cama e afastei-a de meu corpo para poder ver seu rosto. Ela estava com olhos inchados, de novo. Meu coração se partiu.
— Shh... Shh... O que aconteceu?
Mas eu sabia o que tinha acontecido. E é óbvio que estaria afetando ela, mais velha, já com um pouco de noção sobre o que estava acontecendo ao ver seus pais brigando o tempo todo.
— Mamãe e papai estão brigando. Muito, muito, muito. — Ela soluçou de novo e esticou a mão na minha direção para pegar uma mecha de meu novo cabelo curto.
— Eles vão parar de brigar agora, vai ficar tudo bem. Você estava acordada esse tempo todo?
Ela balançou a cabeça negativamente e puxou minha mecha entre seus dedos delicadamente.
— Acordei com o papai falando alto. Por que ele estava bravo?
— Ele não está mais bravo, Anna. Já acabou a briga, fica tranquila. — Sussurrei abraçando-a novamente.
Anna murmurou alguma coisa que eu não entendi contra meu cabelo, mas voltou a chorar silenciosamente, então continuei a embalá-la em meu abraço, cantarolando alguma melodia e balançando-a em meus braços para acalmá-la. Alguns minutos depois, ela relaxou e dormiu silenciosamente, se afogando em pequenos soluços que partiam meu coração.
Antes que eu pudesse levantar para acomoda-la, Edgar abriu a porta e enfiou sua cabeça no vão da porta. Ele estava acabado. Sorriu fraco ao ver sua filha em meu colo e andou até mim, agachando-se na minha frente e apoiando o peso de seu corpo nos calcanhares enquanto fazia carinho na cabeça de sua filha deitada em meu ombro. Anna continuou dormindo profundamente, sem fazer nenhum som mesmo com o carinho de seu pai.
— Como ela está? — Ele me perguntou em um sussurro.
— Estava acordada. Levantou com a briga e quando entrei no quarto ela veio até mim, assustada. Acho que ela está cansada, mas vai ficar bem.
— Ela não quis ir na escola. Por isso levei-os para New Hamptons.
— Foi bom, Edgar. Eles precisavam sair do ambiente um pouco.
Ele assentiu silenciosamente e caiu para trás, sentando de bunda no chão com as pernas ajoelhadas. O quarto estava escuro, com as janelas e portas fechadas, mas eu conseguia vê-lo quase perfeitamente. As linhas cansadas de seu rosto, seus olhos tristes focados em sua filha e depois no chão de carpete como se fosse arranjar alguma resposta em qualquer um dos dois. Nós ficamos em silêncio durante alguns - vários - minutos.
— Você checou o Theo? — Perguntei suavemente.
— Sim. Ele ainda estava dormindo. Maria Sofía estava na suíte arrumando o resto das coisas de Mary Ann, ela disse que qualquer coisa vinha atrás de um de nós.
Aquilo era uma implicação para que eu ficasse paradinha onde estava, certo?
— Tudo bem.
Novamente o silêncio reinou. Não havia muita coisa para ser dita. Eu não tinha intimidade o suficiente com Edgar – talvez com seus filhos, mas certamente não com ele - e não sabia como consolá-lo sem atravessar uma linha de impropriedade que já era meio turva entre nós.
— Eu não sei o que fazer. — Edgar admitiu de repente.
— Eu... Hm... Pedir divórcio? — Sugeri ajustando meu braço ao redor de Anna, que suspirava em sono calmamente na pele de meu pescoço.
Edgar riu suavemente, como se sua risada o engasgasse.
— Já está sendo feito.
— Sério? Tão rápido? Tomara que No... — Cortei-me, percebendo que estava prestes a contar para meu querido chefe a, talvez, pior merda da minha vida: Ter casado com Noah Shaw. Abri um sorriso meio forçado para disfarçar e continuei: — Tomara que no tribunal as coisas ocorram rápido.
— Eu também. Nunca quis ficar tão longe de uma pessoa na minha vida. Mas também nunca imaginei que essa pessoa fosse minha esposa.
Ele pensou durante alguns segundos antes de corrigir.
— Ex. Ex-esposa.
Continuei em silêncio, pensando no que exatamente dizer. Finalmente, tomei coragem:
— O que aconteceu?
Edgar olhou para mim, seus olhos se arregalando levemente enquanto ele processava o que eu estava lhe dizendo. Ok, talvez eu tenha cruzado a linha não tão tênue entre babá-chefe.
— Quer dizer, desculpa. Eu só... Fiquei curiosa. Não é da minha conta.
— Tudo bem, . — Ele sorriu levemente para mim, olhando finalmente para meu rosto antes de voltar a olhar para sua filha. — Foi a Anna. Fui buscar as crianças na escola e Anna viu a mala de sua mãe na sala, correu até o quarto para encontrá-la e...
Ele pausou. Achei que fosse continuar, mas ficou em silêncio. Então eu entendi. Anna havia pego sua mãe na cama com outro cara.
— Ah. Meu Deus. — Sussurrei olhando para o rostinho agora relaxado da pequena em meus braços, por isso ela estava sofrendo tanto, havia visto seus pais brigarem. Provavelmente achava que a culpa era dela. — Minha nossa. Eu sinto muito, muito mesmo, Edgar.
— É. Eu também. — Ele olhou para mim, seus olhos quase implorando por uma resposta. — Você acha que eu sou um idiota porque não fazia ideia do que estava acontecendo? Quer dizer, Mary Ann estava sempre distante, sempre sendo grosseira. Ela... Dizia que era falta de interesse nas crianças e nós continuávamos bem, mas...
Ele levantou em um pulo, começando a andar pelo quarto inquieto.
— Todo esse tempo... Ela falou que fazia meses. Meses. Como eu nunca percebi nada?
— Ela... Ela era boa em fingir, Edgar. E esperta também. — Falei ansiosa, vendo-o dar voltas e voltas no quarto.
— Mas... Nada? Quando estávamos juntos, ela nunca nem desviava os olhos de mim. Eu acreditava tanto que ela ainda era apaixonada por mim, . — Ele parou, ajoelhou-se na minha frente como se esperasse um golpe de misericórdia. — Não é culpa de meus filhos. A culpa é minha.
Um tsunami de emoções passou por mim com força, fazendo com que meus olhos se enchessem de lágrimas sem que eu ao menos estivesse com algum motivo para chorar. Virei-me para o lado, colocando Anna rapidamente sobre a cama, ajustando o lençol ao redor dela com cuidado e tirando fios de seu cabelo de seu rosto. Ela respirou fundo, mas não acordou.
Levantei da cama e Edgar acompanhou meus movimentos com os olhos. Cuidadosamente, ajustei-me para ajoelhar na sua frente e ergui minhas mãos com cautela, para que ele não se assustasse com o movimento. Pausei-as em seus ombros firmes e tensos. Ele respirou fundo, mas de modo trêmulo, e eu o puxei para um abraço como havia feito com sua filha.
Foda-se que ele era meu chefe.
Ele também era uma ótima pessoa. E eu me sentia péssima por lembrar de como eu provavelmente havia feito Charles se sentir. O dia estava sendo uma merda só.
— Não foi sua culpa. — Respondi suavemente, minhas mãos ainda pousadas sobre os ombros dele.
Edgar demorou cinco segundos para reagir, mas depois envolveu minhas costas com seus braços e devolveu meu abraço com uma força exageradamente sufocadora. Porém aguentei firme seu abraço apertado, porque ele precisava daquilo tanto quanto sua filha. Afaguei seus ombros lentamente, para que ele relaxasse e afrouxasse seu aperto em mim. Não funcionou.
Fiquei ajoelhada pelo menos dois minutos até que ele respirasse fundo e se moveu levemente. Os braços que envolviam minha cintura soltaram-se e ele levou uma mão até minha nuca para segurar-se enquanto apoiava sua testa em meu ombro e respirava fundo novamente.
Tomando muito cuidado com meus movimentos, ergui uma mão e passei-a em seus cabelos - tão diferentes de qualquer outro que eu já havia tocado, meio sedosos, cacheados mas deliciosamente agradáveis de se ter entre os dedos. A vontade de puxar seus cabelos quase me dominou, mas mantive meus dedos leves. Afaguei sua cabeça algumas vezes e Edgar começou a movimentar o dedão da mão que segurava meu pescoço, quase como se o movimento fosse involuntário. Um arrepio atravessou meu corpo e eu rezei para que ele não conseguisse sentir meus peitos rígidos e pelos da nuca em pé.
Voltei com minhas mãos para seu ombro, sentindo o momento começar a ficar íntimo demais, e respirei fundo. Ele acompanhou minha respiração e não fez nenhuma objeção quando afastei-me de seu tronco, partindo o abraço. Edgar segurou minha nuca por mais alguns segundos e seus dedos foram até as mechas curtas de meu cabelo.
Exatamente como Anna havia feito.
— Gostei do corte novo. — Ele comentou puxando a mecha.
Antes que eu pudesse responder, Maria Sofia abriu a porta do quarto somente uma fresta, mas o suficiente para que Theo entrasse correndo nele. Levantei em um pulo, pegando-o no colo antes que ele pudesse fazer algum barulho para acordar sua irmã e ele riu, desinteressado pelo clima tenso dentro do quarto.
— Que tal fazermos alguma coisa para comer? — Perguntei para Theo, fingindo animação mas sabendo que minha voz havia saído um pouquinho mais aguda que o normal.
— Vamo, eba! — Ele abraçou meu pescoço e sorriu para o pai atrás de mim, mostrando todos os seus dentes de leite. — Vamo, papai!
— Será que vamos fazer uma panqueca ou uma omelete?! — Edgar perguntou, também fingindo animação.
Nós saímos do quarto de Anna com Theo rindo, e por um breve segundo eu olhei para meu chefe – ele parecia bem. Não ótimo, mas certamente melhor do que quando cheguei. Ele olhou para mim também e nós trocamos um sorriso cúmplice, enquanto eu cutucava as costelas de Theo para fazê-lo rir e o pequeno pulava para o colo de seu pai.

’s POV.


Eu já estava começando a ficar entediada.
Depois que Tyler foi embora para trabalhar, eu fiquei em seu apartamento até umas cinco horas da tarde, fazendo absolutamente nada. Assisti seus seriados de investigação criminal em geral, comi boa parte do que estava na geladeira e reorganizei o armário dele. Ele provavelmente acharia que eu sou louca, você sabe, por ter reorganizado todas as suas roupas por categoria e cor. Talvez eu fosse mesmo.
Cheguei em casa perto das 18h e me preparei para a farsa. Mike não me delataria, então ignorei-o sentado no sofá cama preguiçosamente, ele mexendo em seu computador, fazendo coisas do estágio, provavelmente.
Peguei minha bolsa preta, coloquei uma roupa inteira preta e calcei botas mais confortáveis. Coloquei o casaco de frio e fiquei com a chave em mãos, esperando.
Assim que ouvi o barulho de passos na escada, perto das sete horas da noite, comecei meu teatro.
— Ai, Mike, você não sabe o que um cliente fez hoje lá no restaurante... — Comentei enquanto retirava meu casaco de frio lentamente, no exato momento que entrava pela sala. — Ah, oi, !
Ela parecia meio abatida, mas sorriu, jogando as chaves junto às minhas na bancada. Retirou o casaco também e ambas os colocamos sobre a bancada. Sorri mais do que o necessário.
— Como foi o seu dia?
estralou o pescoço.
— Péssimo. Vocês não imaginam o que acont... O que é aquilo?
Senti meu rosto gelar. Olhei para onde ela apontava e percebi que eu havia esquecido de um pequeno detalhe. Tudo bem, três pequenos detalhes. A televisão, o micro-ondas e o meu colchão.
. Me diz que você ganhou essa televisão de pagamento e não a comprou como eu estou imaginando.
— Olha... — Comecei com um sorriso amarelo e andando para trás lentamente. — Tecnicamente, eu paguei por ela com o dinheiro das minhas fotos, então acho que você pode dizer que eu a ganhei como pagamento.
— VOCÊ COMPROU UMA TELEVISÃO NOVA?
Encolhi-me e sussurrei antes que perdesse a coragem:
— Aham. E um micro-ondas também.
— E UM MICRO-ONDAS? VOCÊ TÁ LOUCA?
— TUDO BEM, TUDO BEM! EU COMPREI UMA CAMA TAMBÉM! MAS FORAM SÓ ESSAS TRÊS COISAS! — Admiti choramingando e achei que fosse explodir de tão vermelha que ficou.
— SÓ? SÓ?
Mike soltou uma risadinha de meu desespero. Bicha filha da puta.
— Amiga, fica tranquila. Eu parcelei em tipo, oitenta vezes. Vai ficar baratinho no final!
— AMANDA, VOCÊ QUER QUE EU FIQUE COM CABELOS BRANCOS?! — Ela gesticulou abertamente aos novos cabelos curtos esvoaçando.
Mike finalmente levantou-se, mas somente foi para o meu quarto, onde ficavam as suas roupas.
— Falando nisso, adorei o corte, amiga. Ficou um arraso, sério! Tô pensando em fazer igual de tão linda que você ficou, sabia?
me olhou com olhos raivosos e eu tive que pensar rápido. Então fiz o que eu fazia de melhor: desviei a culpa.
— Tudo bem, tudo bem, eu gastei quando não devia, MAS... Eu tô dormindo no chão!
— E A TELEVISÃO E O MICRO-ONDAS?
— Ok, por esses você pode ficar brava.
se sentou na banqueta da cozinha e fechou os olhos, respirando fundo enquanto massageava as têmporas.
— Eu tive um dia péssimo. PÉSSIMO. Volto para casa buscando paz e encontro minha melhor amiga compulsiva com três novas contas para pagar, ISSO PORQUE ELA ESTAVA RECLAMANDO PARA MIM QUE NOSSOS PAIS NÃO IAM PAGAR A CONTA DO BRASIL!
— EPA! Parando por aí! Nós realmente não tínhamos que pagar aquela conta, fomos roubadas do pior jeito: pela família.
, querida . ENTÃO PORQUE VOCÊ FICOU ME CULPANDO POR ISSO?
— Eu?! Claro que não, vish, águas passadas, bfff. Já tá tudo bem de novo, viu?
Os olhos verdes de estavam meio raivosos ainda e eu tentava manter o sorriso no rosto, na esperança que aquilo a acalmasse. Comecei a achar que isso a deixava mais irritada ainda.
— Nós estamos TENTANDO ficar bem, não estamos bem de novo. A porra da hippie fodeu com o nosso barato e essas duas viagens consecutivas mal deixaram a gente sentir o cheiro do dinheiro das suas fotos. E aí, enquanto estamos aqui, contando os centavos antes de sair pra comer, você me gasta DOIS MIL DÓLARES DE UMA VEZ?
— Dois mil e quinhentos, na verdade, MAS EU PARCELEI EM CINCO VEZES! — Choraminguei.
— VOCÊ QUER NOS FODER, É ISSO? EU FALARIA PRA PAGAR UM JANTAR ANTES, COMO VOCÊ SEMPRE DIZ, MAS ACHO QUE FICOU CLARO QUE NÃO TEMOS DINHEIRO NEM PRA ISSO!
Mike finalmente saiu do quarto, agora com roupas mais sociais e claramente arrumadas, com o cabelo ajeitado cuidadosamente com gel e um cachecol vermelho no pescoço. Quando ele passou ao meu lado, ignorando que gritava a todo vapor, pude sentir que ele estava todo perfumado também.
— EPA! Onde você pensa que vai, biba? Vai me abandonar aqui com a leoa? — Perguntei desesperada ao vê-lo remexer nas chaves.
havia parado de gritar, mas ainda respirava furiosamente.
— Meninas, amo vocês. Não se matem, por favor. Vou para um encontro quente agora e quando voltar, com sorte amanhã, espero que as lindinhas estejam mais pacíficas. — Mike comentou enquanto remexia em sua bolsa do trabalho e puxava sua carteira de couro preta de dentro dela, logo em seguida colocando-a no bolso do sobretudo preto.
Antes que eu pudesse responder, a campainha tocou. Mike sorriu para nós e abriu a porta.
— Olá, Srta. e Srta. . — Juan comentou timidamente do outro lado da porta, com um casaco preto e camisa social e tudo.
Peraí.
Quê?
e eu ficamos atônitas demais para conseguir responder Juan. Mike sorriu malicioso para nós, mandou um beijo no ar e saiu de casa junto com o sobrinho de nosso zelador, todo sorridente, com a cara de quem sabia que hoje a noite acabaria na cama.
— Bem... — Comentei, ainda confusa. — Acho que estamos bem agora, então?
me fuzilou.
— Se você acha que eu vou esquecer essa história, está muito enganada.
Bufei.
, meu bem, por favor, não vamos brigar. Eu comprei, já tá comprado, não tem como retornar, não vamos chorar pelo leite derramado. Com as minhas fotos eu ganhei três mil dólares somente no primeiro pagamento, o que tecnicamente cobre as coisas que eu comprei, SIM, EU SEI — Aumentei a voz quando ela tentou me interromper. — Eu sei, eu sei, minha querida, o Furacão Jules sugou toda a nossa grana e o Tornado Thalia também, MAS se não fosse aquela hippie doida nós ainda teríamos o nosso querido micro-ondas e nossa televisão, então eu não teria que comprar novos.
Ela abriu a boca para protestar, depois fechou, depois abriu.
— Mesmo assim, não era o momento financeiro pra você sair comprando por aí!
— AH É! — Gritei, lembrando de um fator muito importante. — E preciso lembrar quem foi que quebrou a minha cama, dona ?
soltou um grito de raiva e indignação, batendo o pé no chão.
— EU TE ODEIO!
Soltei uma risada vitoriosa ao perceber que finalmente consegui encurralá-la.
— Relaxa, bf. Eu também te odeio, mas amor e ódio andam lado a lado, então tá tudo bem. — Andei até a cozinha calmamente e chamei-a. — Vem, eu fiz compras, vamos cozinhar alguma coisa que eu tô morrendo de fome.
bufou e veio atrás de mim, se enfiando na minha frente para pegar as coisas de dentro da geladeira.
— Sai. Eu cozinho. Você só faz cagada.
Abracei-a contra a vontade dela e estalei um beijo em sua bochecha.
— Por isso que eu te amo. Porque você me alimenta.
cedeu e deu um sorrisinho, mas logo em seguida bateu com o seu quadril em mim, tentando me espantar.
Sentei-me na banqueta que ficava do lado da bancada que pertencia a sala e apoiei os cotovelos na mesma, observando através dela, enchendo uma panela de água para cozinhar o macarrão.
— Agora que estamos em acordo, pode ir contanto tudo o que rolou hoje e quando terminarmos o macarrão, vamos fofocar deitadas em minha novíssima cama enquanto comemos brigadeiro. É uma ordem. Você pode estar casada no papel com Noah Shaw, mas ainda é minha bfff e isso é mais sagrado do que o matrimônio.
soltou uma gargalhada, mais relaxada. Desci da bancada e peguei duas cervejas Corona e abri as tampas, estendendo uma garrafa para , que remexia o molho vermelho com uma colher de madeira.
, você é a esposa que eu sempre pedi a Deus.
— Eu sei. Você também não é de se jogar fora.
Batemos nossas garrafas uma na outra como em um brinde e bebemos.

’s POV.

— Tudo bem, vamos fazer isso direito. — Falei colocando a vasilha com espaguete e salsicha na cama e sentando de frente para .
— Certo. Fazer o quê?
— Conversar. Quero saber como foi tudo com Tyler.
ficou vermelha.
— Como assim? Como foi? — Perguntou se servindo da comida e equilibrando a garrafa de Corona entre suas pernas.
— Ué. O que ele falou para você finalmente perceber que vocês são feitos um para o outro e parar de idiotice?
— Ah, você sabe né... Nós transamos. — olhou do prato para pegar minha reação e pareceu um pouco desapontada pela falta dela.
É óbvio que eu sabia que eles iriam transar. Talvez esse não fosse o método que eu havia sugerido para Tyler – conversar – mas se funcionou, fico feliz por eles.
— Sim. Mas o Ty não falou nada?
— Tipo o quê?
— Tipo “eu te amo, case comigo, fique comigo para sempre”?
gargalhou.
— Amiga, acho que esse é o Noah. Ou o Chuck.
Joguei um guardanapo na cara dela e ri também. Ela estava certa mesmo.
— Enfim. Ele disse?
— Não com tantas palavras. Mas ele gosta de mim. — Ela sorriu quase timidamente e em seguida franziu a testa, como se a frase estivesse caindo em sua ficha agora. — Eu também gosto dele.
— Essa parte é óbvia. Vocês se gostam desde sempre.
— Eu não diria desde sem...
— Sempre, . — Falei firme.
Ela estreitou os olhos para mim e apontou seu garfo na minha direção.
— Isso está me cheirando a dedo de .
— Bom, eu fiz a comida né... Mas acho estranho ela estar com o cheiro de meu d...
— Tô falando sobre o Tyler, loira. Você já tinha falado com ele sobre mim?
Enchi minha boca de espaguete para evitar ter que responder, mas a saída só durou alguns segundos. Dei de ombros e continuei a comer em silêncio.
— VOCÊ SABIA E NÃO ME CONTOU?
Respondi, mas minha voz saiu incompreensível graças a comida em minha boca. Mastiguei, recebendo um olhar assassino de e finalmente falei:
— Você teria surtado se eu tivesse te contado!
— EU SURTEI. — Ela balançou o garfo no ar.
— Sim, mas teria sido pior se eu tivesse falado. Pode admitir.
— Tá. Mas não é legal isso, nada de fazer complô com o Tyler.
Sorri para ela.
— Relaxa amiga, você é e sempre vai ser a minha dupla de complô.
Ela bufou e nós continuamos a comer calmamente até que ela levantou a cabeça de seu prato com a testa franzida, olhos preocupados:
— Por que o seu dia foi péssimo?
— Adivinha.
— Bom, não faço ideia. Por isso perguntei.
— Edgar descobriu que a esposa o traia.
— QUÊ? FOI VOCÊ QUE CONTOU? AMIGA NÓS NÃO TÍNHAMOS COMBINADO QUE UM PROCESSO NAS SUAS COSTAS ERA O SUFICIENTE?
. Calma. A senhora Delawicz não vai me processar porque não fui eu que contei. Foi a Anna que pegou eles juntos.
— A emprega que trabalha com você?
— Não. A filha de seis anos.
— QUÊ? — Ela quase engasgou com o espaguete em sua boca. — PESADO.
— Eu sei. Foi um dia muito péssimo e triste. É horrível ver aquelas crianças sofrendo. Theo me perguntou onde a mãe dele estava três vezes e eu acho que Edgar não vai ficar bem tão rápido.
— Ué. Ajuda eles então. Você é amiguinha do Edward, pode tentar animar ele de vez em quando. Só tomar conta das crianças para ele não ficar exausto.
, você está sugerindo que eu faça meu trabalho e seja amiga de Edgar?
— E isso é uma coisa ruim? Ele é adoravelmente gostoso para um papai de cinquenta anos.
— Ele tem trinta e um, amiga.
— QUÊ? E você não quer ser amiga dele? Por favor, , você já foi mais inteligente que isso.
Fuzilei-a com os olhos mas deixei o assunto quieto. Nós terminamos de comer calmamente, aproveitando aquela comida meio brasileira e nossas cervejas. Havíamos ficado sentadas no novo colchão da cama de e eu cheguei até a elogiar a compra, porque ele era realmente confortável. Eu já podia imaginar porque ela queria tão desesperadamente uma cama nova.
Depois de mais uma hora conversando coisas banais, o celular de começou a tocar e ela atendeu. Era Tyler.
Peguei nossos pratos, acenei para ela enquanto fechava a porta de seu quarto. Deixei tudo na pia, pensando em lavar as coisas depois e fui para meu próprio quarto, que finalmente era só meu novamente. Infelizmente eu tinha uma cama inteirinha para mim também, mas a única pessoa com quem eu gostaria de dividi-la, no momento, estava em outro país.
Arrumei meu quarto, separei a roupa que eu iria trabalhar no dia seguinte, tomei um banho deixando tudo de ruim ir embora junto com a água, lavei os pratos da pia, arrumei a cozinha e a sala - sabendo que Mike provavelmente não dormiria em casa hoje - e voltei no quarto para me jogar na cama.
Alcancei meu celular e havia uma mensagem de Chuck: “Você já chegou em casa?”
“Sim.” - Respondi.
“Está tudo bem?”
“Depende do que você considera bem, meu dia foi complicado”.
“VOCÊ está bem?” - Ele insistiu.
“Acho que não”.
Meu celular tocou um minuto depois que eu respondi, uma foto de Chuck beijando minha bochecha aparecendo na tela e iluminando meu quarto já no breu.
Então eu atendi.


Trigésimo Quinto


’s POV.


Uma semana depois.


Quando saiu naquela manhã para trabalhar mais tarde do que o normal, tive que ficar lendo algumas revistas na cafeteria onde eu sempre me escondia para poder vê-la passar. Ela só saiu quase vinte minutos depois que o usual, o que infelizmente me forçou a ter que comprar um croissant para mim, porque eu sou gulosa demais para ficar olhando para comida por tempo demais e resistir.
Terminei meu croissant rapidamente e voltei para casa, doida pela minha maratona de seriados de hoje. só chegaria mais tarde e Mike também, por conta de um editorial de moda que ele tinha que ajudar a arrumar na Vogue.
Chegando em casa, joguei minha bolsa sobre a bancada e por um breve segundo, esperei ver Muchu ali, como ele costumava ficar durante a manhã, lambendo as migalhas do café da manhã. Suspirei, lembrando como a riponga de Jeová havia raptado nosso querido companheiro reptiliano.
Vesti meu pijama de novo, tirando Muchu da cabeça para não ficar melancólica (odiava admitir, mas nas últimas semanas havia criado um laço com o bichano) e em seguida peguei a jarra de suco de laranja.
Joguei-me no sofá-cama de Mike que ainda estava aberto, e me cobri com o cobertor xadrez, preguiçosamente. Deixei o celular em meu colo, caso , Mike ou Ty mandassem uma mensagem.
Para minha grande felicidade, estava passando uma maratona de The Vampire Diaries e eu senti uma ponta de saudade do tempo onde éramos somente eu e contra o mundo, sem tantas confusões, com nossos pacatos empregos, sem esposas traíras ou chefes ciumentas ou hippies doidas e répteis. Mas, não importa o quanto tudo isso tenha nos dado dor de cabeça, também nos rendeu ótimas risadas e momento memoráveis. E agora eu tinha Tyler e tinha Noah. Ok, ela me mataria se soubesse que eu estava pensando assim, mas qual é, pelo menos ela estava casada.
Suspirei e virei a garrafa de suco de laranja em minha boca, agradecendo mentalmente pela noite passada, quando ficamos conversando durante horas sobre nossas vidas, porque fazia um bom tempo que não o fazíamos... Mas, mesmo assim, não consegui contar para ela sobre meu desemprego. Talvez quando eu fizer o book eu tome coragem...
— Maldita chave, sempre emperra! — Ouvi a voz da loirinha no corredor e meu coração parou.
O QUE CARALHOS ELA ESTAVA FAZENDO DE VOLTA NO APARTAMENTO?
Tudo aconteceu tão rápido que eu não tive muito tempo para raciocinar. Enfiei a jarra de suco de volta na geladeira, patinando sobre minhas meias, então voltei correndo para o sofá no exato segundo que a chave girou na porta e me joguei nele, puxando o cobertor para cima de mim e me enrolando em uma bola.
Óbvio. Porque ninguém ia perceber a montanha que o cobertor formava agora.
— Quem deixou a televisão ligada...? — comentou, e eu ouvi o barulho de suas chaves sobre a bancada. Quando ela se virou para vir até a televisão, seus passos subitamente pararam.
— Mike?! — Ela perguntou confusa, observando o bolo no sofá, ou melhor, eu.
Antes que eu pudesse reagir, um chiado/gemido saiu de minha boca. Bati em minha cabeça com a mão, xingando-me por ter imitado Muchu. Porque é óbvio que o bichano faria uma montanha dessas debaixo do cobertor, óbvio. Só se ele tivesse feito uma viagem à Chernobyl.
, que merda foi essa? — exigiu, percebendo que somente eu seria inteligente ao ponto de ficar em posição fetal imitando uma iguana.
Puxei o cobertor para baixo e então meu instinto tomou conta.
Tossi.
— Ah, oi, .
Forcei a tosse mais uma vez e funguei, mesmo não tendo nada para fungar. Abri um sorrisinho amarelo.
Seus olhos verdes se estreitaram e ela colocou as mãos na cintura. Oh, oh. Mau sinal.
— O que você está fazendo em casa?
Tossi e limpei um catarro inexistente na manga da blusa do pijama. Continuei com o sorrisinho e forcei minha voz como se estivesse cansada e arrastada.
— Ah, eu fiquei meio mal e Lisa me mandou de volta para casa, você sabe, para não catarrar nos clientes.
elevou as sobrancelhas.
— Sei. Então você saiu de casa, no meio do caminho ficou miraculosamente doente, chegou ao Planet Hollywood, na Times Square, sua chefe te mandou de volta, você veio para casa, colocou o pijama e começou a assistir The Vampire Diaries tudo isso em menos de vinte minutos?
— O metrô estava particularmente mais rápido hoje. — Comentei enrolando uma mecha de cabelo em meu dedo indicador e então tossindo, somente para reafirmar meu álibi.
cruzou os braços no peito e continuou com as sobrancelhas elevadas.
Ela estava esperando que eu confessasse, porque é o que eu sempre acabo fazendo quando me encurralam. Mas eu não faria isso porque eu sou forte e meu álibi é sólido e eu não iria ceder...
— TÁ BOM, EU CONFESSO! — Gritei antes que eu pudesse me segurar e permaneceu imóvel, alheia à minha explosão.
Funguei um pouco.
— Eu tô com câncer, bf.
Ela descruzou os braços e arregalou os olhos como se eles fossem saltar das órbitas, gritando.
— O QUÊ? É SÉRIO?
estava a ponto de começar a chorar quando eu levantei o dedo e falei calmamente:
— Não, na verdade é mentira. A verdade é que eu fui demitida, mas viu, seria muito pior se eu estivesse com câncer, né?
Então eu fui atingida por sua bolsa, que ela tacou em mim com toda a força.
— SUA VADIA NOJENTA!
— EI! Nojenta ofende. — Fiz bico enquanto alisava minha cabeça dolorida. — Por Deus, , o que você coloca dentro dessa bolsa? Tijolos?
Seus olhos raivosos verdes me deixaram nostálgica por alguns segundos.
Saudades Muchu.
— COM CÂNCER NÃO SE BRINCA, . E QUE HISTÓRIA É ESSA DE SER DEMITIDA? VOCÊ TÁ LOUCA? QUANTO TEMPO FAZ ISSO?
Encolhi-me na cama e me afastei dela lentamente enquanto levantava o dedo indicador, tentando pausá-la.
— É... História engraçada.
Puxei sua bolsa para perto de mim antes que ela pudesse usá-la como arma novamente.
— Então, ... Hm... Uma semana antes do Brasil?
Juro que se eu pudesse eu apostava cem dólares que ela iria ter um mini-ataque cardíaco novamente, mesmo eu tendo visto ela tomando o remédio.
— DESDE O BRASIL?! — Seu grito ecoou pela casa e eu prontamente comecei a me defender.
— Pensa assim, amiga, pelo menos não era um emprego maravilhoso. Você está agindo como se eu tivesse um baita de um emprego e convenhamos, nunca fui uma garçonete excepcional.
Ela fechou os olhos, seu corpo tremendo levemente, enquanto ela inspirava fundo, tentando se controlar.
. Você era uma péssima garçonete.
— EI! — Protestei.
Eu não era tão ruim assim, era?
— Mas pelo menos você era uma garçonete empregada e que pagava as contas! — Ela gesticulou abertamente a apontou para a televisão. — Você comprou todas essas coisas, mesmo desempregada, e depois eu sou a loira burra?!
Respirei fundo. Ela tinha argumento sólidos. Minha defesa estava sendo péssima até agora, talvez por isso nunca fiz advocacia.
, eu juro que não foi culpa minha. Eu descobri recentemente através do Brody que minha chefe estava apaixonada pelo Tyler!
bateu uma mão na outra rapidamente e gritou:
— TÔ ME LIXANDO! ABRIA MÃO DO TYLER, MAS NÃO PERDIA O EMPREGO QUANDO ESTAMOS EM UM TITANIC SEM PEDAÇO DE MADEIRA SEQUER PRA UMA DE NÓS!
Olhei-a severamente.
— Você e eu sabemos que havia espaço o suficiente para os dois naquela porta.
Novamente, os olhos raivosos de me lembraram do bichano. Péssima hora para assombrar meus pensamentos, iguana.
— ESSE NÃO É O PONTO, ! O ponto é que você sabia que estávamos na merda e que estava desempregada e fez todos esses gastos. E ainda guardou esse tempo todo isso de mim! Você deveria ter me contado que foi demitida desde o primeiro dia!
Respirei fundo e me aproximei um pouco, porque pelo menos a gritaria havia diminuído. Não que sua expressão de raiva tenha amenizado, mas já era um progresso.
— Eu não contei porque sabia que ficaria louca e estávamos às vésperas de uma viagem que iria nos custar muito! Depois fiquei com medo de como reagiria, exatamente como está reagindo agora, como uma louca. E eu já estou lidando com isso, vou ligar para o Jace e arranjar mais sessões pra encobrir.
Ela sorriu ironicamente.
— Minha querida. É bom você sair na capa da VOGUE pra conseguir dinheiro o suficiente pra nos cobrir durante meses depois disso tudo. Ainda não acredito que você mentiu para mim!
Levantei-me, fazendo-a ir para trás. Cansada de toda a sua gritaria e acusações, comecei a me defender novamente:
— Até parece que você nunca mentiu para mim, . Até parece que nunca escondeu as coisas de mim. Somos seres humanos, algumas coisas guardamos para nós! Pensei que você, como psicóloga, fosse entender isso, né? — Elevei as sobrancelhas, cruzando os braços no peito.
Ela abriu a boca, mas não falou nada. Fechou-a, travando a mandíbula, então virou as costas e marchou para seu quarto.
Relaxei os ombros, que não havia percebido que estavam tensos até aquele momento. Respirei fundo e enquanto a raiva ia embora, percebi que eu havia sido um pouco dura no final. Ela também tinha sido dura, mas eu fui uma grande de uma filha da puta quando ela estava desempregada também...
Suspirei e peguei sua bolsa que estava sobre o sofá cama.
Passei as mãos pelos cabelos e quando voltou de seu quarto para pegar seja lá o que for que ela esqueceu em casa para ter que voltar para o apartamento, ela parecia um pouco cansada.
Estendi sua bolsa para ela, que a pegou evitando meu olhar, subitamente culpada. Percebi em suas mãos os dois celulares: um do trabalho e o outro particular. Ela os enfiou rapidamente dentro da bolsa e então respirando fundo, olhou para mim.
— Você tem razão. Não sobre tudo, mas tem razão. Eu entendo que tenha ficado com medo da minha reação e... Bem, acontece. Só... Arranja um emprego logo, ok?
Sorri fraco e a abracei contra sua vontade. Seus braços pousaram tão leves em mim que mal os senti.
— Desculpa, . Eu deveria ter te contado antes. E não deveria ter comprado essas coisas enquanto ainda estou desempregada. Prometo que não o farei novamente. — Sussurrei contra seus cabelos e então a soltei.
pegou as chaves e respirando fundo, abriu a porta de casa.
Antes de fechar, ela me olhou e falou baixinho:
— Desculpa também.

’s POV.


Cheguei ao apartamento de Edgar exausta já logo de manhã. às vezes me dava uma dor de cabeça insuportável com os problemas que ela trazia, mas dessa vez a dor de cabeça era culpa minha. Estava me sentindo péssima desde seu comentário sobre esconder coisas dela.
Eu ainda não havia contado sobre Charles para ela.
Não tinha coragem, nem vontade de ouvir o sermão que com certeza receberia dela.
Coloquei minha bolsa sobre a bancada da cozinha e cumprimentei Maria Sofía, que estava fazendo uma panqueca de cheiro delicioso na panela. Ela estava sorrindo abertamente, como esteve durante a semana toda depois do episódio da senhora Delawicz e cantarolando alguma coisa em espanhol – que eu entedia bem pouco, por mais irônico que isso seja.
Anna entrou na cozinha, com a escova de dentes na mão e a roupinha de seu uniforme do colégio. Ela me viu na cozinha e acelerou seus passos até mim e abraçou minhas pernas com força. Beijei o topo de sua cabeça enquanto me servia com um copo da água e depois puxei-a para cima da bancada. Ela ficou me olhando tomar a água e depois esticou uma mãozinha na direção de meu copo para tomar também.
— Você já escovou os dentes, é?
— Já, papai me ajudou. — Ela mostrou a escova molhada e eu assenti como se achasse tudo muito interessante.
Virei-me para Maria Sofía, que havia trocado de música para cantar.
— Edgar ainda está em casa? — Perguntei confusa. Edgar estava saindo de casa todos os dias antes que eu chegasse e voltando do trabalho tarde, afundando-se no escritório.
— Sim. Ele disse que vai tirar a manhã de folga hoje. Deve estar arrumando o Theodoro agora.
— Tudo bem. — Peguei Anna no colo e avisei Maria Sofía que estaria voltando para a cozinha daqui um tempo. Segui com Anna agarrada ao meu pescoço até seu quarto. — O que vamos fazer no seu cabelo hoje? Que tal duas tranças?
— Não! Quero cabelo igual o seu! — Ela riu puxando minhas mechas curtas, que haviam virado a diversão dela e de Theo, recentemente.
— Ah, mas não dá para fazer isso hoje! Temos que ir até um mago muito bom e que possa deixar o seu tão bom quanto o meu. Que tal quando você for mais velha?
— Velha que nem você?
— Ei, eu não sou velha. — Brinquei fazendo bico para ela.
Anna apertou meus lábios entre seu indicador e dedão, segurando meu bico e gargalhou enquanto eu fazia o caminho até o começo de seu corredor. Comecei a fazer barulhos, como se estivesse falando, para que meus lábios tremessem e ela começasse a rir mais ainda. Edgar saiu de dentro de seu quarto com Theo ainda meio sonolento em seus braços, ele sorriu para mim e depois seus olhos se iluminaram ao verem sua filha rindo.
Entrei no quarto de Anna e fui direto para seu banheiro, arrumando suas duas tranças rapidamente e calçando seus sapatos. Puxei sua mochila e ela me puxou pela mão até a cozinha. Edgar estava sentado na ilha da cozinha com Theo ainda em seu colo, equilibrando o filho em seu colo enquanto tentava comer usando somente uma mão. Sentei Anna em uma das banquetas, colocando um prato com seu café da manhã na sua frente e cortando rapidamente sua comida.
Dei a volta na ilha, parei ao lado de Edgar e estiquei os braços para pegar Theodoro. O pequeno abriu os olhos ao trocar de braços, mas logo encostou a cabeça na cavidade de meu pescoço e voltou a respirar profundamente contra meu pescoço. Levei-o até seu quarto, onde troquei seu pijama por outras roupas e depois escovei seus dentes e passei uma água em seu rosto para que ele acordasse.
Quando estava secando o rosto do pequeno, com Theo já bem mais acordado e pilhado pela animação que uma criança de três anos geralmente tem – puxando minha blusa, meu cabelo, tentando descer da pia –, Edgar bateu na porta do banheiro e colocou sua cabeça para dentro. Ele sorriu.
— Tudo certo aí, campeão?
— PAI! — Theo gritou e balançou as mãos molhadas, fazendo com que pingos voassem na minha cara.
Eu comecei a gargalhar e Theo me seguiu, mesmo sem saber do que eu estava rindo. Ele esticou as mãos para o pai, tentando alcança-lo e Edgar entrou no banheiro, pegando o filho no colo prontamente, e depois fazendo carinho na cabeça dele, balançando-o de um lado para o outro. Ele esperou que eu terminasse de ajeitar o banheiro de Theo e me seguiu para fora do cômodo, enquanto continuava a brincar com o filho. Arrumei a bolsa de necessidades de Theo e fiz menção de colocá-la em meu ombro, mas Edgar pegou-a primeiro e sem nenhuma palavra, passou a carregá-la.
Quando voltei para a sala, Anna já estava sentada no sofá esperando por nós e Maria Sofía estava fazendo-a companhia, conversando com ela. Estiquei minha mão para que a Anna a pegasse, puxei a mochila dela, peguei minha bolsa na cozinha e virei-me para pegar Theo do colo de Edgar.
— Eu vou com você hoje. Vou deixar Anna no colégio também. — Ele disse.
Pisquei momentaneamente confusa, mas depois sorri assentindo e despedi-me de Maria Sofía antes de sair do apartamento. Edgar havia dispensado seu motorista no começo de janeiro, pois havia se aposentado. Então seguimos pela garagem de seu prédio até seu carro, que ele mesmo dirigiria. Prendi as crianças em seus cintos e Edgar deu a partida quando ajustei-me no banco do passageiro.
Com o carro ligado, a música começou automaticamente e o CD da Disney que estivera tocando na última vez no carro começou a funcionar. Anna já reconhecia as músicas das princesas e ficava animada sempre que uma começava. Theo ria das músicas, sem entender e saber cantar, fazendo gritinhos no meio das melodias. A música do Rei Leão, a que toca bem no início do filme, O Cíclo da Vida, começou.
E essa Theo sabia cantar. Ou pelo menos ele achava que sabia.
— Pai! Fala pro Theo parar de cantar! — Anna pediu, irritada com a gritaria de seu irmão.
— CIIIIIIICO DA VIDAAAAAA. AMORRRRRR. — Theo repetia as palavras que reconhecia na música.
Eu estava gargalhando, incapaz de fazer qualquer coisa e Edgar olhou de relance para mim, um pequeno sorriso tocando seus lábios.
— Anna, deixe seu irmão, é só durante essa música.
— Mas eu quero cantar também. — Ela reclamou.
— E você pode. — Edgar respondeu, virando em uma rua. — Canta com a .
Arregalei os olhos, confusa por escutar meu nome no meio da conversa.
, você canta comigo desde o início?
Fuzilei Edgar com os olhos e ele gargalhou, pela primeira vez na semana toda.
— Claro, Anna. Vamos lá. — Respondi apertando o replay na música e Theo deu outro gritinho entusiasmado que me fez rir novamente.
Nós começamos a cantar timidamente, bom, pelo menos eu estava tímida. Anna e Theo cantavam como a capacidade total de seus pulmões. Eles tentavam fazer os barulhos iniciais da música, fazendo com que lágrimas enchessem meus olhos de tanto que eu ria com eles. Na metade da música, no refrão, Edgar se juntou a nós – fazendo com que seus filhos tivessem o dobro de diversão.
Eu reconhecia que estávamos chegando perto do colégio de Anna, mas Edgar não estava indo rápido no trânsito e parecia proposital – ele queria prolongar o momento.
— É O CICLO DA VIDAAAA. ELE MOVE A TODOS NÓS. NO DESESPERO E NA ESPERANÇA, PELA FÉ E AMORRRRR. — Cantamos os quatro. Bom, talvez só eu e Edgar uma vez que Anna e Theo tentavam nos acompanhar.
Eles podiam ser crianças e não saberem o que a música estava falando, mas quando Edgar olhou para mim e sorriu durante um farol fechado, eu sabia que ele tinha noção da letra também. E sabia que aquilo estava o ajudando, ele precisava ver seus filhos se divertindo novamente. E talvez também precisasse se divertir.
Nós paramos na frente do colégio de Anna e eu desci rapidamente para deixá-la na porta, enquanto Edgar ficava no carro com Theo. Beijei a cabeça de Anna, cumprimentei sua professora que esperava os alunos na entrada do prédio e acenei para a mini loirinha até que ela sumisse no rio de crianças atrás dela. Voltei para o carro rapidamente e assim que entrei, Edgar virou-se para mim:
— Vou ficar com você hoje, preciso de sua ajuda. Vou encontrar alguma escola para Theo.
— Agora?
As escolas americanas começam as aulas lá pelo final de agosto, o que significaria que Theo estaria entrando no segundo semestre.
— É. Segurei-o em casa por muito tempo graças a Mary Ann, então decidi que vou procurar algum lugar para colocá-lo. Ele ficaria feliz com outras crianças.
Olhei para Theo, brincando com um bonequinho no banco de trás, balançando sua cabeça no ritmo da música da Ariel que estava tocando e rindo sozinho.
— Alguma escola o aceitaria no meio do ano letivo?
Edgar caçou no bolso de sua calça um papel e me mostrou, com pelo menos cinco endereços e nomes de escolas.
— Essas aceitam. Estava pensando em passar nelas e ver como são, para decidir depois. Acho que você seria uma boa pessoa para me ajudar a decidir e acompanhar.
— Tudo bem, claro. Vamos. — Concordei analisando os endereços que ele havia escrito na folha, mas acabei me perdendo em pensamentos de como a letra de Edgar era bonita. Pisquei, voltando para a realidade e apontei para um endereço. — Vamos começar por essa, que está mais perto de nós. Depois vamos indo para as outras.
— Bom plano. Vamos.
O carro ficou em silêncio exceto pelos gritinhos animados de Theo toda vez que ele via alguma coisa interessante na rua ou pela música que começava a tocar. Eu ainda achava que os horários de dormir de Theo tinham alguma coisa errada, porque o pequeno ficava pilhado o resto do dia, mas Mary Ann havia insistido nisso. Acho que talvez ela só não quisesse o filho acordado quando ela chegasse em casa para não ter que se preocupar com ele.
Mulherzinha nojenta.
Quando paramos na frente do endereço do colégio, estávamos parados em frente a uma escola primária, com arbustos cheios de flores, uma fachada amarelada e portas de entrada metálicas.
— Impressão minha, ou isso parece uma prisão disfarçada? — Edgar comentou, fazendo um pequeno sorriso crescer em meus lábios.
— Bom, talvez um reformatório para o primário. — Concordei.
— Acho que vou ligar e desmarcar a entrevista que tinha ai. Nem com professores que garantissem que Theo entraria em Harvard eu o colocaria ai.
Theo, escutando seu nome e para dar mais ênfase a decisão de Edgar, gritou:
— ECAAAAAA.
Edgar concordou com a cabeça para seu filho e comentou um elogio antes de ligar novamente o carro e dar partida. No caminho para a próxima escola, ele desmarcou a entrevista pelo viva voz e olhou para mim meio divertido quando disse para a secretária que não poderia ir porque tinha uma consulta médica.
— Bom... Essa não parece ser ruim. — Falei quando o carro parou novamente em outra escola.
Theo começou a se remexer em sua cadeirinha, ansioso para sair, e Edgar assentiu para mim, desligando o carro e indo buscar seu filho no banco de trás. Puxei a malinha de Theo e esperei ambos chegarem até mim, na frente do carro, para que pudéssemos entrar. Edgar pegou a malinha de meu ombro e entregou-me seu filho com um sorrisinho porque ele não estava parando quieto no colo de nenhum de nós.
Quando estávamos perto da porta, coloquei o pequeno no chão e segurei-o pela mão antes que eu ficasse com roxos no quadril por ele tentar se afastar de mim. Edgar nos guiou por um corredor e até uma secretaria. Ele falou com a atendente e depois nós sentamos – eu e Edgar porque Theo ficou correndo para todos os lados – pacientemente em uns sofás até que uma mulher de cerca de trinta anos, morena, olhos claros e nem um pouco vestida profissionalmente para ser uma diretora, saiu de dentro de um escritório para nos chamar.
Peguei Theo no colo quando levantei, ficando meio desequilibrada com sua inquietude e deixei com que Edgar fosse na frente, com medo que ele não quisesse que eu entrasse, mas ele esticou a mão na minha direção. Ele segurou firme minha mão para que entrássemos na sala e eu tentei não pensar como sua mão era quente e tão maior que a minha, ou como o gesto era estranho e parecia familiar ao mesmo tempo.
A mulher, não perdendo sua pose sensual e nem um pouco profissional, pediu para que sentássemos nas cadeiras presentes na sala e deu a volta na mesa para sentar na cadeira da diretora. Sério? Essa mulher não tinha nada a ver com o cargo de diretora. Meu Deus.
Olhei para Edgar, procurando uma reação em seu rosto, mas ele mantinha um sorriso agradável e olhos fixos na mulher, se acomodando na cadeira. A diretora respirou fundo, fazendo com que sua blusa apertasse contra seus peitos e eu resisti a vontade de vomitar.
— Senhor Delawicz! Que ótimo ver que você conseguiu vir hoje! — Ela sorriu grande demais e estendeu sua mão sobre a mesa para cumprimentá-lo. — Helen Montrey.
— Edgar. — Ele apertou sua mão e depois virou-se para mim sorrindo. — E essa é .
Helen fez uma pequena careta, quase imperceptível, mas sorriu para mim – que não conseguia apertar sua mão por estar segurando um Theodoro inquieto em meus braços.
— Prazer. — Sorri fracamente, ajustando Theo no meu colo para que ele ficasse de frente para a mesa e parasse de tentar me chutar e sair do colo.
Theo começou a se distrair com a mesa da diretora e Edgar entrou em um assunto de mensalidade, horários, alunos, métodos de ensino e tudo mais. Montrey respondia tudo com um sorriso estampado, sempre dando alguma desculpa para se levantar e mostrar um papel para Edgar, empinando sua bunda. Quando a irritação começou a borbulhar em meu sangue, levantei com Theo para sair da sala.
— Edgar, o Theodoro está inquieto, vou ficar com ele lá fora. — Avisei, colocando a mão no ombro dele para chamar-lhe atenção, já que ele estava analisando o papel das mensalidades com atenção.
A mão de Edgar cobriu a minha momentaneamente em seu ombro e ele olhou para mim, sorriu e passou a mão na cabeça de seu filho carinhosamente. Uma vez fora da sala, Theo começou a correr para lá e para cá na recepção, deixando-me parada encostada na parede somente olhando. Pesquisei pelo celular as outras escolas que Edgar havia selecionado e fiquei indignada por ele ter se interessado por esse lugar. Pelo amor. A próxima escola que estaríamos indo, pelo endereço, era perfeita.
Vinte minutos depois, quando o pequeno havia derrubado diversas revistas no chão – que eu catei, claro – e corrido para todos os cantos, ele se aproximou de mim exausto e esticou os braços na minha direção.
— Cansou, meu bebê? — Perguntei usando uma toalhinha para secar sua testa suada e ele sorriu levemente para mim antes de acomodar sua cabeça contra meu ombro.
Eu comecei a conversar com ele, para instigá-lo a falar mais e para mantê-lo acordado. Quando nós estávamos falando sobre peixes, Edgar saiu do escritório com um grande sorriso no rosto. A diretora veio logo atrás dele, ajustando sua blusa discretamente para baixo, para que seu decote ficasse maior. Ela tocou o braço de meu chefe levemente, fazendo-o virar-se para ela e disse alguma coisa enquanto corava levemente. Theo começou a se mexer para ir atrás de seu pai e, vejam bem, eu não sou uma pessoa tão legal – então deixei o pequeno sair para atrapalhar o momento.
Theodoro pulou na perna do pai, que pegou-o sem nem pensar duas vezes, mas ainda sorrindo lindamente para a diretora. Mordi meu lábio inferior enquanto continuava sentada esperando por eles e a mulher sorriu tanto com a resposta de Edgar, que quase rasgou sua boca:
— Claro que sim, vou entrar em contato.
Eles chacoalharam mãos e ela acenou para mim com um sorriso falso no rosto, que eu retribui da mesma maneira. Saímos da escola e Edgar ficou em silêncio até colocar seu filho no banco de trás seguramente e entrar no carro. Ele ligou o carro e disse:
— Qual a próxima escola?
— Achei que tivesse gostado dessa escola. — Respondi um pouco mais ríspida do que deveria.
Edgar olhou de relance para mim, surpreso, e depois balançou a cabeça antes de cair no trânsito e alcançar pelo papel de endereços, sozinho. Mantive-me silenciosa enquanto ele dirigia. Mas Edgar quebrou o silêncio, infelizmente, para falar com seu filho:
— Theo, o que você achou daquela escola?
— Eu quelo só o que o peixe qué!
— Você quer só o que o peixe quer? — Edgar repetiu confuso.
Um pequeno sorriso escapou de meus lábios.
— Não, Theo. Seu pai quer saber sua opinião. — Falei virando-me para olhá-lo no banco, enquanto Edgar observava o filho pelo retrovisor.
Theo apontou para mim e repetiu “peixe”. Menino esperto. Talvez eu tenha falado para ele sobre como outras escolas seriam melhores do que a que tínhamos acabado de ir. Edgar olhou para mim novamente e depois voltou os olhos para seu filho.
— Você quer o que a quer? — Ele disse com um pequeno sorriso entretido nos lábios.
— Só o peixe. — Theo repetiu e eu pisquei para ele com um olho, sorrindo orgulhosa.
— E o que a quer? — Edgar perguntou já entrando na rua da próxima escola e eu virei-me para a janela para observá-la.
A escola era uma um prédio de dois andares que parecia uma casa gigante. Sua fachada era azul clara, com balões envolvendo os pilares laterais e uma grande placa que anunciava uma apresentação de teatro do terceiro primário estava pendurada no alto. A porta era branca, grande e com um segurança parado na frente dela.
Meu sorriso se alargou quando vi um pequeno jardim na lateral da casa, onde algumas babás estavam sentadas embaixo de árvores e conversavam. Theo deu um gritinho animado no banco de trás, olhando provavelmente outra coisa, mas seu timing foi perfeito porque eu respondi no mesmo segundo:
— Aqui.

’s POV.


Depois que eu terminei de arrumar a casa e almocei, resolvi que precisava dar um jeito na minha vida ou a loirinha iria me matar e chutar de casa em um barraco digno de uma novela mexicana. Vasculhei minha bolsa em procura de meu celular e achei o número de Jace na agenda telefônica.
Liguei para ele, pensando que na última vez que nos falamos, Tyler me encontrou seminua em sua cama e brincando de DJ.
Nada legal.
— Jace O’Maley.
— Atropelador de mulheres indefesas, acho que você deveria se apresentar assim.
Ele riu do outro lado da linha.
.
— Jace.
— O que você quer? Sentiu falta da minha grande habilidade?
Revirei os olhos e me joguei em minha novíssima cama, observando o lustre.
— Não sei a qual habilidade você está se referindo, mas, não. Eu simplesmente preciso de dinheiro e você sempre aparece com essas sessões mágicas e outdoors.
Jace riu.
— Interesseira.
— Eu prefiro me autodenominar esperta.
Novamente, ele riu. Ouvi-o digitar algumas vezes, até que ele suspirou derrotado. Opa. Mau sinal. Não gostei.
— Bem, no momento eu não tenho nenhuma sessão que precise de modelos, mas eu realmente vi potencial em você.
— Claro que viu. — Comentei involuntariamente. Modéstia nunca foi o meu forte.
Ele ignorou meu comentário e continuou.
— Posso ver quais novas sessões tenho para o mês que vem e te ligo. Mas, se você quer mesmo conseguir boas sessões e com frequência, precisa se cadastrar em uma agência e fazer um book. Posso fazer o book pra você, só marcar com a minha secretária. Faço por um preço amigo, já que você está na merda. 150 dólares está bom pra você?
Preço amigo.
Ah tá.
Respirei fundo e pensei que isso valeria a pena, então acabei cedendo com dor no coração de saber que novamente teria que tocar em meu fundo para meu tão sonhado Louboutin.
— É. Pode ser, né. Obrigada. De verdade. — Agradeci sinceramente. O preço poderia não ser o ideal, mas mesmo assim, ele estava sendo generoso.
— Mas, acho que vou precisar de um pequeno incentivo para conseguir essas fotos para você... — Jace comentou, com um tom malicioso.
Puxei o ar entre os dentes como se estivesse sentindo dor.
— É, bem, sobre isso... Eu estou comprometida agora, Jace.
está namorando?
Tremi involuntariamente.
— Por Deus, não. Eu só estou... Ficando. Ah, sei lá, Jace, eu estou envolvida com uma pessoa e concordamos que vamos dar uma chance ao nosso relacionamento e não vamos mais ficar com ninguém.
— Ah. E posso saber quem é o sortudo?
Soltei uma risadinha.
— Você vai conhecê-lo. Ele vai comigo para o book, pode ter certeza. Ciumento e com razão, né? Sou um pedaço de mau caminho.
Jace gargalhou.
— Com certeza, você é.
Rimos e nos despedimos rapidamente. Fiquei de ligar para sua secretária combinando o horário.
Desligamos.
Joguei o celular para o lado e suspirei alto. Por uma pequena fração de segundo, imaginei Muchu subindo na cama e deitando em minha barriga.
Fechei os olhos e suspirei. Pelo menos agora eu teria uma boa notícia para a loirinha.
Antes que eu pudesse perceber, eu estava dormindo.
Meu corpo estava cansado de todo o sexo de ontem de manhã e eu estava extremamente confortável em meu novo colchão, em minha legítima defesa.
Eu estava dormindo pacificamente quando comecei a sentir leves carícias em meu cabelo. As carícias desceram para minha nuca, então prosseguiram para a minha orelha e então pescoço. Comecei a sentir beijos na lateral de meu rosto e resmunguei, ainda num estado entre o sonho e a realidade, confusa com os toques.
— Hmmmmmmmmmmmmm...
Girei na cama, ficando de barriga para cima.
— Acorda, gata. — Tyler sussurrou contra minha orelha, colocando o seu corpo sobre o meu e beijando-me de leve nos lábios.
Resmunguei novamente, agora finalmente acordando.
— Me deixa...
— Vamos, são 19h já. — Tyler começou a beijar meu pescoço lentamente, suas mãos pousadas em minha cintura. Suspirei alto.
Minha mente começou a clarear aos poucos conforme os beijos me acordavam. Abri os olhos e percebi que era verdade: já estava escuro lá fora e as luzes da cidade iluminavam o quarto.
Levei minhas mãos para suas costas e comecei a subir sua blusa, ajeitando minhas pernas para que seu tronco ficasse entre elas.
— Já acordou com fogo? — Ele comentou rindo, os lábios em minha clavícula.
— Uhum.
Então a porta do quarto se abriu abruptamente e as luzes se acenderam, me cegando.
— Opa... Interrompi alguma coisa? — Noah perguntou com a voz brincalhona ao ver Tyler entre minhas pernas e deitado sobre mim.
Tyler gargalhou e eu cocei os olhos antes de abri-los e encontrar o melhor amigo de meu melhor amigo, agora já dentro de meu quarto, ainda com o casaco de frio e o característico sorriso malicioso nos lábios. Empurrei Tyler para o lado, para que ele saísse de cima de mim, um pouco mais brutalmente do que o necessário.
— Na verdade... — Eu comecei, mas Noah já estava falando novamente.
— Se quiserem, eu posso participar também, sabe. Dar uma inovada no relacionamento de vocês. Novas experiências. Prometo não encostar na sua ferramenta, Tyler. — Ele levantou a mão direita em juramento.
Antes que eu ou Ty pudéssemos responder, entrou no quarto e deu um tapa forte na barriga de Noah, fazendo-o se curvar com ambas as mãos no estômago e soltar um gemido de dor.
— Cala a boca, Noah. Você ainda está casado comigo, lembra? E e Tyler agora estão comprometidos. Um com o outro. — Terminou a frase sorrindo vitoriosa, como se nosso relacionamento tivesse sido minimamente arquitetado por ela. Olha, eu não duvidava nada.
Levantei-me preguiçosamente e olhei para minha roupa. Pijamas nada sexys. Suspirei alto e abri o armário, procurando alguma coisa pra vestir, enquanto Tyler perguntava:
— O que querem?
— Precisamos da ajuda de vocês pra resolver as coisas da anulação, bostão. — Noah respondeu, dando de ombros.
— É, casar vocês conseguiram sozinhos, né? — Perguntei provocando.
— Cala a boca, . Você tá desempregada. — retrucou e eu somente ri.
Seu humor, apesar das patadas, parecia melhor do que de manhã.
— Ai, adoro quando ela fica brava. — Noah suspirou apaixonadamente e tentou abraçá-la. cotovelou sua barriga.
Elegi uma legging preta e um suéter vinho comprido, até pouco abaixo da minha bunda. Empurrei Tyler e Noah para fora do quarto.
— Fora do meu quarto, palermas.
— Qual é, eu já te vi pelada. — Tyler disse, revirando os olhos enquanto eu o deixava no corredor.
— É, eu também. Tecnicamente. Bom, eu já vi seus peitos. — Noah comentou.
Fechei a porta na cara deles no exato momento que Tyler acertou um soco no estômago de Noah, que gemeu em dor.
— FOI SEM QUERER, EU JURO!
soltou uma risada e ficou me observando enquanto eu me despia sem pudor. Troquei o meu sutiã bege por um vermelho rendado e coloquei a calcinha que combinava. A loirinha elevou a sobrancelha e eu dei de ombros.
— Ué, o Tyler está aqui e estamos no início de nosso relacionamento. Preciso estar preparada e bem arrumada, né?
— É. Você tem um belo ponto. — concordou.
Coloquei minhas roupas, enfiei minhas pantufas de pata de monstro e ajeitei minha maquiagem rapidamente no espelho. Passado desodorante e um perfume básico, então saímos do quarto.
Noah estava sentado no sofá cama aberto, preguiçosamente, sem os tênis. Tyler estava sentado numa banqueta, com o computador de Mike sobre a bancada. Já nossa biba favorita estava mandando ver no fogão: ele preparava hambúrgueres para todos nós. Garoto esperto.
Assim que entramos no recinto, Noah bateu no sofá para que sentasse ao seu lado. Ela revirou os olhos e o ignorou.
— Então, o que sabemos sobre essa anulação até agora? — Perguntei enquanto abraçava Tyler por trás, passando minhas mãos ao redor de seu tronco e apoiando minha cabeça em seu ombro.
— Falei com o meu advogado e ele me mandou um e-mail com todas as causas possíveis que permitem uma anulação. — Noah comentou enquanto se espreguiçava e levantava.
Na tela do computador, Tyler imediatamente saiu da página onde acessava o site da ESPN para checar os resultados dos jogos de hoje e abriu a caixa de e-mail. Soltando-se gentilmente de meu abraço, Ty desceu da banqueta e eu empurrei Noah para ela.
— Pode ir digitando esse e-mail, garotão. — apoiou nossa iniciativa, agora dentro da cozinha e ajudando Mike a dispor os lanches sobre os pratos.
— Apressados.
Noah resmungou, mas mesmo assim começou a digitar seu usuário e senha. Poucos segundos depois, ele acessou o e-mail que seu advogado havia enviado e antes que ele pudesse começar a descer o mouse por ele, sentei-me na banqueta do lado e puxei o notebook para mim.
— Ei!
Ignorei-o e Tyler veio por trás de mim, abraçando-me pela cintura e lendo em voz alta para todos o conteúdo do e-mail:
— “A anulação é o processo pelo qual a Corte estabelece que o casamento nunca existiu legalmente.”
— Tá, e daí? — Noah o apressou e eu pisei em seu pé. Ele gemeu e sorriu agradecida para mim.
— “Os elementos que possibilitam a anulação de um casamento são:” — Tyler pausou e começou a enumerar cada um cuidadosamente. — “Um: um dos esposos tem um marido ou mulher vivo no momento do casamento.”
— Não. — e Noah respondem ao mesmo tempo.
— Tem certeza, bf? — Perguntei casualmente e me fuzilou com o olhar. — Olha, eu não duvido mais nada de você. Vai que você casou e não lembra? Ah, é. Isso já aconteceu.
— Cala a boca, , eu que te sustento agora.
Tyler nos ignorou e continuou lendo:
— “Dois: um dos esposos era mais novo do que a idade de dezesseis anos na época do casamento e não possuía a aprovação da corte.”
— Não. — Todos nós respondemos ao mesmo tempo, até Mike.
— “Três: um deles aceitou se casar baseado em ações ou acertos fraudulentos do outro esposo.” — Todos negamos com a cabeça e ele continuou. — “Quatro: um deles foi ameaçado ou forçado a se casar.”
Olhamos para eles. bufou.
— Eu não lembro pra ser exata, mas acho que não.
— Nunca forçaria minha rainha à nada. — Noah comentou abraçando-a e revirou os olhos, mas passou as mãos na cintura dele.
— Ok. Continuando. — Tyler proclamou e estava pronto para voltar a ler, quanto eu enfiei a mão na frente dele e comecei a rolar o mouse.
— Isso tudo é uma grande porcaria. Blá, blá, blá. Casamento entre irmãos, alguma coisa sobre máfia, divórcio não completo, drogas...
Tyler arrancou minha mão do mouse.
— Aqui! “Quando um dos esposos estava sob influência de drogas ou álcool no momento do casamento, contanto que a ação de anulação seja preenchida dentro de 60 dias depois da cerimônia de casamento.”
— GRAÇAS A DEUS! — gritou e abraçou Noah, então se largou dele ao perceber que estava abraçando a pessoa de quem se separaria.
— Bom, aqui no final do e-mail seu advogado colocou os documentos necessários, etc, etc, etc. — Tyler comentou, dando de ombros e saindo da banqueta.
Noah pegou o notebook de cima da bancada e guiou-o até o quarto para poderem conversar e ver os documentos da papelada.
Peguei na mão de Tyler e puxei-o para cozinha comigo. Mike terminava de montar o último sanduíche habilmente e com um sorrisinho no rosto.
— Podemos pegar, Mikey?
— Claro, meus pombinhos. Ah, e eu fiz dois para você. — Ele comentou casualmente.
— Não precisava, mas obrigado. — Tyler comentou, pegando seu prato.
— Não estava falando com você, Ty-Ty. — Mike comentou rindo e Tyler soltou uma gargalhada ao perceber que o hambúrguer extra era pra mim.
Beijei Mike na bochecha.
— É por isso que você é minha bicha favorita.
Ele colocou as frigideiras na pia e então me deu um tapa na bunda. Tyler elevou as sobrancelhas para o gesto, mas ficou quieto.
Levamos nossos pratos para o sofá e nos jogamos nele casualmente, ligando minha mais linda e nova televisão. Poucos segundos depois, e Noah entraram na frente da televisão. Eu estava com a boca cheia demais para poder enxotá-los da frente da TV, então somente gesticulei com a perna pra eles saírem da frente, porque minhas mãos seguravam o hambúrguer.
— O que foi? — Tyler indagou ao terminar de engolir.
— Nós temos... Uma coisa pra pedir.
Mastiguei um pouco mais rápido e forcei a comida a descer. Tyler me entregou um copo de Coca-Cola que ele sabiamente havia pego na cozinha antes. Bebi dois goles e então falei:
— Gente, obrigada, mas acho que está um pouco tarde para vocês pediram para sermos seus padrinhos.
deu um sorrisinho falso e Noah segurou sua mão que provavelmente mostraria seu dedo mais bonito.
— Não é isso. Bom, eu liguei rapidinho pro meu advogado agora e... Bem, cada um de nós precisa de uma testemunha no tribunal. — Noah foi direto ao assunto.
— Nós gostaríamos que vocês fossem nossas testemunhas. Quer dizer. seria a minha testemunha e Tyler a de Noah. — disse.
Tyler olhou rapidamente para mim, fazendo uma pergunta muda. Suspirei e concordei de leve com a cabeça para meu... Para Tyler.
— É, nós topamos. — Tyler disse.
— Mas não pense que esqueci o fato de não ter sido sua madrinha. — Avisei antes de morder meu lanche.
revirou os olhos, mas sorriu.
Mike se enfiou no meio dos dois e abraçou-os lateralmente de um jeito engraçado.
— Gente, o papo tá bom, mas eu me matei na cozinha e agora os hambúrgueres estão ficando frios. Vocês não querem me ver brava. — Ele disse se referindo a si mesmo, no feminino, coisa que só fazia quando começava a ficar afetado.
Noah riu.
— Então vamos, minha rainha, porque aposto que a convivência com vocês está fazendo Mike ficar meio doidinho também.
Resmunguei um “Ei!” e Tyler me olhou como se dissesse “é, bem, ele tem um ponto”.
me olhou por cima do ombro enquanto era arrastada para a cozinha e sorriu.
Tudo bem. Nós somos um pouquinho doidas

’s POV.


Três dias depois.


— Anna, minha filha, por favor, para. — Ouvi Edgar pedir enquanto continuava a analisar alguns papeis de contratos em sua mão.
Anna estava correndo ao redor de seu pai chamando-o e pedindo sua atenção sem parar pelos últimos trinta minutos. Eu estava ocupada demais com Theo fazendo pintura de dedo colorida no chão da sala para tirá-la de lá.
— Anna, vem cá! — Chamei pela terceira vez, mas ela me ignorou.
Ela puxou o braço do pai novamente e Edgar suspirou pesadamente antes de desviar os olhos para sua filha, que imediatamente se encolheu, esperando pela bronca. Ele encarou-a alguns segundos, pegou suas folhas e saiu da sala indo até seu escritório. Anna ficou olhando seu pai ir embora completamente desapontada e veio até mim, abraçando meu pescoço e sentado ao meu lado no chão.
Insisti para que ela brincasse com Theo e entreguei uma folha em branco para que pudesse pintar. Chamei por Maria Sofia e pedi para que ficasse de olho nas crianças durante alguns minutos para que eu fosse falar com Edgar. Eu saí da sala, peguei dois copos de água na cozinha e fui até o escritório de Edgar com passos cuidadosos, já calculando o que eu iria dizer.
“Edgar, meu querido chefe, o que está acontecendo? Três dias atrás você estava bem procurando uma escola para seu filho e desde então está soltando fogo pela boca.”
Bem, talvez essa não fosse a melhor aproximação que eu podia pensar.
Bati na porta, abrindo um pequeno vão e enfiei minha cabeça para dentro do cômodo para espiar. Edgar estava sentado em sua mesa, digitando furiosamente no teclado com a testa franzida em concentração e mandíbula tensa. Ele não reagiu a minha presença, então simplesmente entrei, deixando o copo na sua frente e sentando na mesma cadeira que eu havia sentado quando estava aplicando ao trabalho de babá.
Fiquei silenciosa, pensando em quanta coisa havia mudado – principalmente o que eu pensava sobre Edgar – desde que havia sido contratada e percebido que ele era um ótimo pai. Tudo bem, eu não estava exatamente errada quando tive a impressão que ele trabalhava demais, mas eu sabia que era um esforço para dar tudo aos seus filhos. Ele não queria o dinheiro para se esnobar e sim para cuidar direito de sua família. O que era lindo, sinceramente.
Pesquei meu celular no bolso de minha calça, respondi Chuck e depois enviei uma outra mensagem. O celular de Edgar fez um barulhinho e ele o pegou no mesmo segundo, somente para olhar para a tela, franzir a testa e olhar para mim finalmente.
— O que o pobre teclado fez para você?
— Não o teclado, meu sócio. Errou umas contas e quase fez com que perdêssemos um contrato de dois prédios. — Ele respondeu, pegando a água e tomando-a inteira em dois goles.
— Ele é um idiota?
Edgar olhou para a tela novamente e um pequeno sorriso apareceu em seus lábios.
— Talvez. Está mais para um amigo.
— Bom, podemos concordar que amigos são idiotas às vezes.
— Podemos. Aconteceu alguma coisa, você precisa de algo? — Ele perguntou tirando as mãos do notebook alguns segundos para esticar uma delas até mim.
Por mais que dar as mãos fosse bem inapropriado, o que eu estava prestes a dizer era algo bem mais. Então aceitei sua mão com um sorriso pequeno.
— Edgar, você é o chefe do escritório e tem várias pessoas trabalhando para você, certo? — Pausei, vendo sua reação de erguer uma sobrancelha confuso, assentir e sua mão flexionar ao redor da minha. — E creio que o pobre teclado sacrificou a vida para você conseguir resolver o problema que seu sócio fez, certo?
— É, faltam alguns detalhes... — Ele disse incerto
— Edgar. Eu te considero um amigo e por isso quero te ajudar. A verdade é que você é um pai recém-solteiro, novo e bonito. — Falei a última parte praticamente gaguejando pela incerteza em minhas palavras. — E você precisa se divertir.
— Divertir? — Edgar sorriu, relaxando. Pelo menos ele não estava ofendido.
— É. Você sabe, sair um pouco. Ficar trabalhando não vai te fazer bem. E eu sei que faz somente quase três semanas que você pediu divórcio, mas acho que você merece relaxar. Deixar as outras pessoas fazerem um pouco do seu trabalho.
— Relaxar? — Ele perguntou, encostando as costas na própria cadeira, em uma posição pouco relaxada. — Eu sou relaxado, .
— É sério isso? Você não é nem um pouco relaxado. — Levantei da cadeira e andei até ele, Edgar girou sua cadeira na minha direção, mas eu o girei de volta, ficando nas suas costas. Fechei a tampa de seu notebook, falando: — Começando por isso. Se não relaxar, vai acabar fazendo um prédio cair.
Peguei os papeis jogados por sua mesa e juntei todos em uma pilha, escutando reclamação zero de Edgar, que se mantinha paradinho em sua cadeira. Coloquei os papéis afastados dele e arrumei as canetas também jogadas pela mesa, inclinando-me sobre o ombro de Edgar para ajeitar tudo.
— Arrumar meu trabalho vai me ajudar a relaxar? — Ele perguntou se mexendo um pouco na cadeira, seu ombro roçando meu peito.
Ergui-me, ciente de nossa proximidade física e coloquei as mãos em seus ombros tensos.
Bom, aqui vai nada por tentar ser apropriada com meu próprio chefe.
— Não, mas deixar ele de lado um pouco, sim. — Respondi apertando seus músculos tensos levemente. — Estou falando sério, Edgar. Você é um ótimo partido e deveria estar tentando aproveitar seu novo estado civil.
— Divorciado? — Ele perguntou rindo suavemente, seus ombros balançando sob minhas mãos e relaxando um pouco.
— Não. Solteiro.
Os ombros de Edgar relaxaram completamente e sua mandíbula também enquanto ele abria um sorriso. Sai de trás dele, voltando a parar em sua frente, atrás da mesa.
— Você está dizendo que eu preciso sair com outras pessoas?
— Óbvio. — Respondi rapidamente e antes que a situação ficasse constrangedora, acrescentei rapidamente: — A diretora daquele colégio te chamou para sair, não? Você ligou de volta para ela?
Edgar havia me contado isso quando estávamos saindo do colégio que eu havia amado – e no final, ele também – onde ele inscreveu Theo para começar as aulas no segundo semestre. Mas agora ele franziu a testa para a lembrança.
— Bem, ela não era muito meu estilo.
— Não gosta de pessoas antiprofissionais que tentam namorar os pais de seus futuros alunos?
Ele riu.
— Não é isso. Ela é morena.
— E daí?
— Acho que vou me manter longe das morenas por um tempo.
Ah. Mary Ann era morena.
— Bom, isso é besteira. Você não precisa gostar do cabelo dela, as pessoas beijam de olhos fechados. — Comentei, fazendo-o rir novamente.
— Tudo bem, . Você me venceu. Vou tentar sair mais um pouco de casa.
— Tentar? — Repeti erguendo uma sobrancelha e colocando as mãos na cintura. — Nada de tentar, chefinho. Você vai sair. Hoje mesmo. Eu, você e um amigo meu vamos no bar.
— Não posso deixar as crianças sozinhas e Maria Sofía não é contratada para passar a noite.
— Fica tranquilo. Minha melhor amiga pode olhá-las só por algumas horas.
— Você vai me levar para um bar? — Um sorriso divertido surgiu em seus lábios.
— Não, Edgar. Vou te levar para o mundo da diversão. — Sorri para ele antes de começar a sair do escritório: — Vou deixar as crianças prontas e já estou indo embora. Quando for nove horas nós nos encontramos no bar.


Trigésimo Sexto


’s POV.


Minha melhor amiga é uma grande de uma chantagista.
O que me mata de orgulho, porque ela aprendeu comigo boa parte disso, mas é um porre quando ela quer extorquir as coisas de mim, como ela fez há exatos quarenta minutos. Para piorar, eu ainda não havia feito as fotos do book. Seria somente na semana que vem, então ainda demoraria para eu conseguir mais sessões de foto, portanto, eu ainda estaria desempregada. E isso era ponto pra loirinha.
De qualquer jeito, agora eu havia virado a Super Nanny. Que demais. Eu. Babá.
Coloquei uma roupa qualquer e calcei minhas botas de frio, porque apesar de estarmos no fim de janeiro, ainda estava bem frio. Enfiei as coisas dentro de uma bolsa, dentre elas alguns remédios. Vai que as crianças ficam doentes e morrem, aí a culpa é minha? Não iria presa. Quer dizer, não de novo, pelo menos.
Meu celular vibrou no bolso da calça jeans e eu o peguei imediatamente.
— Pronta? — Tyler perguntou casualmente, sua respiração acelerada.
— Sim. Vamos nos encontrar lá?
— Não, tô chegando aí, vamos juntos. Pode ir descendo, gata.
— Mas por que você veio até aqui se é totalmente fora do cam...
Não terminei a frase. Ele desligou na minha cara.
Bufei olhando para o celular e enfiei-o no bolso da calça novamente, então saí de casa, despedindo-me de que ainda se arrumava e Mike que esperava Juan chegar para eles saírem para jantar. Aparentemente, as coisas estavam ficando sérias.
Desci as escadas rapidamente, dividida entre achar extremamente meigo que Tyler havia vindo até aqui para me buscar, ou achar extremamente idiota porque eu sou uma adulta e já e consigo me locomover sozinha.
Assim que cheguei à calçada, decidi. Definitivamente a primeira opção.
Tyler segurava dois milk-shakes do Burguer King em mãos, mesmo estando uns dez graus.
Sorri para ele e me aproximei rapidamente, passando ambas as mãos por seu pescoço e lhe beijando intensamente. Ele riu e me entregou um milk-shake, sem dizer nada. Demos as mãos e andamos juntos até a estação do metrô.
O caminho até a casa dos Delawicz foi tranquilo. Tyler me contou sobre um novo jogador que eles estavam pensando em contratar e como ele achava que o técnico estava cometendo um grande erro ao manter um carinha que eu esqueci o nome como reserva. Por incrível que pareça, eu estava começando a prestar mais atenção nas histórias dele sobre basquete.
Quando chegamos ao prédio, eu perdi meu ar.
Tyler teve que apertar o interfone porque eu ainda estava chocada demais, observando tudo ao meu redor, desde o chão de uma pedra chique que, se duvidar, era de mármore, até o lustre no teto que, eu aposto, que era de cristais. Jogamos as embalagens de nossos milk-shakes no lixo e eu me perguntei se eles reciclavam na hora e transformavam em ouro. Provavelmente sim.
Minha mãezinha santa, aquilo era um vaso chinês na entrada?
Entramos no elevador e subimos até o vigésimo sexto andar no tempo que o elevador de nosso prédio demorava em nos levar até o terceiro andar.
Assim que chegamos, fomos direto para a sala de estar, toda em tons claros, com uma televisão enorme e bem melhor do que a minha (malditos) e um sofá de arrepiar. Quem precisa de uma cama com um sofá desses?
Edgar entrou na sala casualmente, com um Mini-Edgar em seu colo e a Mini- atrás dele. Poxa, a menina era loira que nem a e eu sou péssima com nomes. Assim que viu eu e Tyler parados no meio da sala, soltou o pequeno Ed no chão e arrumou o suéter que utilizava. Pensei em perguntar se ele tinha certeza que queria sair com essa roupa, mas acho que seria inapropriado.
— Muito obrigado por isso, e Tyler. insistiu que eu preciso de uma noite de descanso. — Ele sorriu, sem graça, checando os bolsos pela carteira e celular. — Já conversei com Theodoro e Anna e eles prometeram se comportar, né? — Os dois sorriram e afirmaram com a cabeça.
Fiquei observando papai se despedir das crianças e contive um suspiro.
Se Tyler pudesse ler meus pensamentos, ele ficaria muito puto.
— Não devo voltar muito tarde, tem comida na geladeira e dinheiro para qualquer emergência. — Edgar dizia enquanto pegava as chaves e ia em direção à porta.
Acompanhei-o e toquei em seu braço gentilmente.
— Fica tranquilo, Edgar. Seus filhos estão em boas mãos. Vai, relaxa. Ou depois a loirinha vai brigar comigo também.
Edgar riu e abriu a porta do elevador que havia chegado. Sorrindo, ele acenou com a cabeça e foi embora.
Tranquei a porta e voltei para a sala calmamente, onde encontrei Tyler sentado no chão e vendo os DVDs que Anna lhe mostrava enquanto Theo estava sentado em seu colo, brincando com um aviãozinho.
Observando aquela cena e toda aquela casa maravilhosa, não sabia como a Sra. Delawicz teve coragem de abrir mão disso tudo por um caso. Era a casa perfeita, os filhos perfeitos, o marido perfeito. Mulherzinha burra, viu.
Discretamente, deixei Tyler com as crianças um pouquinho e fui fuxicar pela casa. Ah, qual é, Ty estava se dando muito bem com os pequenos e eu sou curiosa, dá um crédito. Se a Sra. Delawicz não queria, eu queria. Então segui primeiramente pelos quartos, porque mais tarde teria que ir para a cozinha preparar o jantar, de qualquer jeito. O quarto de Anna parecia de uma princesa, com os brinquedos meticulosamente arrumados, uma casa de bonecas enorme, um mini fogão de dar inveja, as paredes cor de rosa e brancas. Theodoro tinha um quarto igualmente fabuloso. Com paredes verdes e brancas, carrinhos em prateleiras, brinquedos em caixas e mais caixas e várias bolas de todos os tipos e tamanhos dentro de uma caixa transparente. E aí, eu entrei na suíte principal, sentindo meu coração acelerar e minha mente sonhar.
Não tendo vergonha ou educação alguma, abri os armários do closet e um sorriso de orelha à orelha se abriu em meu rosto.
Parece que alguém não esvaziou o armário, não é, Sra. Pulo-Cercas-Como-Hobby? Vamos ver o que você deixou aqui, hein...
Meu coração parou por alguns segundos quando eu olhei para o armário do lado e encontrei a recompensa de Deus por todos os meus sofrimentos nesses últimos meses.
Eu estava olhando para nada mais nada menos do que um Louboutin.
Do meu tamanho.
Um Louboutin.
Original.
Ali.
Na minha frente.
Era tentação demais pra mim.
E então, cinco minutos depois, eu entrei na sala me sentindo parte do elenco de Gossip Girl ou Sex and The City, com uma calça social preta de cintura alta, meus diviníssimos Louboutins scarpins pretos, uma camisa social com as mangas dobradas, um conjunto de colar e brincos maravilhosos de pérolas que provavelmente custou uma década de prostituição junto com dois anéis de pedras maravilhosas e uma pulseira chique e meu rosto todinho maquiado por produtos da Dior, Lâncome e L’Oreal, meus lábios vermelho sangue.
, o que você tá fazendo?! — Tyler perguntou alarmado, olhando para as crianças e pensando provavelmente que eu estava louca e os pirralhos fossem gritar comigo por estar usando as roupas da mãe deles.
Mas Tyler me subestimava muito, porque eu já tinha todo um plano traçado.
— Relaxa, meu querido.
Andei calmamente até eles.
— Você tá com as roupas da mamãe? — Anna perguntou baixinho se aproximando de mim, segurando o pano de minha calça que deixava minha bunda fenomenal.
Agachei-me à sua frente, o meu maravilhoso Louboutin preto segurando meu peso perfeitamente.
— Eu pensei que pudéssemos brincar de desfile de moda, que tal? — Brinquei cutucando sua barriga com o meu dedo indicador, mas ela olhava baixo e parecia um pouco assustada, com os olhos azuis arregalados. — Vamos, vai ser divertido! Você nunca brincou de vestir as roupas da mamãe?
Ela balançou o peso de um lado para o outro e continuou falando com a voz baixa, claramente com medo.
— Não. — Respondeu timidamente.
Coloquei as mãos na cintura e fiz um barulho sinalizando indignação.
— Como assim?! É muito legal, eu fazia isso o tempo todo. Você prova várias roupas e fica andando que nem em um desfile de moda!
Anna sussurrou, parecendo mais animada com a ideia agora, porém ainda desconfiada.
— Mas a mamãe não vai ficar brava?
Sorri maliciosa e a peguei no colo, alisando seus lindos cabelos loiros.
— A mamãe não precisa saber, vai ser o nosso segredinho.
Ela sorriu um pouquinho, parecendo indecisa entre a culpa e a vontade de provar as roupas da mãe. Tyler revirou os olhos para mim enquanto eu levava a pequena até o quarto da mãe, onde já havia jogado várias roupas sobre a cama, junto com alguns sapatos e uns dois batons coloridos.
— Vamos te deixar mais linda do que você já é! — Comentei deixando-a no chão e mostrando as roupas sobre a cama. — Pode escolher, você vai se vestir e quando prontas saímos para a sala e desfilamos para o Theo e o Tyler! Eles vão adorar!
Anna sorriu sapeca e pegou um vestido vermelho rodado e social, mostrando pra mim.
— Usa esse, tia ! — Ela me empurrou o vestido e então jogou os cabelinhos loiros para trás e começou a observar as peças, os grandes olhos azuis brilhantes.
Sorri perante a cena, pensando em como eu adorava calçar os saltos de minha mãe e sair arrastando-os, fingindo ser uma mulher adulta e crescida como ela.
Nós trocamos de roupa umas dez, quinze vezes.
Anna gargalhava toda vez que Theo a via, porque o pequeno começava a pular no sofá e gritar “UOUUUUUUUUUUUUUU” e depois “DE NOVO, DE NOVO!”.
Tyler parecia se divertir também, tirando fotos de nós duas e incentivando cada vez mais. Anna inicialmente ficou com vergonha de desfilar na frente dele, mas eu saí na frente rebolando e fingindo que ia tropeçar e então recuperando a pose, fazendo-a rir e me seguir, sem tropeçar. Então nós batíamos palma e elogiávamos como ela desfilava bem.
Algo entre a oitava e a nona troca de roupa, Theo resolveu que queria usar as roupas do pai também. Enfiamos uma camisa social nele na esperança que ele se contentasse com isso, mas ele quis porque quis que Tyler também colocasse uma roupa.
Quando usamos quase todas as roupas possíveis, Anna estava super sorridente e resolveu continuar com o vestido cor-de-rosa rendado que usava e ficava na altura de seus pés. Ela calçava os saltos mais baixos que encontrei, creme, porque fiquei com medo dela torcer o tornozelo.
— Certo, princesas, vamos arrumando as coisas que daqui a pouco o banquete será servido. — Tyler comentou fazendo uma reverência à Anna, que gargalhou do ato e empurrou-o com a mãozinha, envergonhada.
— Para, Ty! — Ela falou rindo. — Eu não sou princesa.
Peguei-a no colo rapidamente e virei-a de ponta cabeça.
— Mas é claro que é! E vai ficar de ponta cabeça até admitir que é uma princesa!
Tyler levou ambas as mãos para sua barriga, já que o vestido acabou caindo, começando a fazer cócegas.
— Quem é a princesa? Hein? Quem é a princesa? — Ele perguntava e ela ria.
— Eu sou, eu sou uma princesa! — Ela falou entre risadas e então eu a coloquei no chão, rindo junto.
Theo entrou em rasante no quarto e abraçou minhas pernas com força. Tyler riu e beijou o topo de sua cabeça antes de sair do quarto, anunciando que faria espaguete para nós.
— E eu sou um plincipe!
— É, isso mesmo, Theo! Um príncipe! — Falei corrigindo-o sutilmente, então o peguei no colo. — Vamos, tá na hora de arrumar essa bagunça toda ou o papai não vai ter onde dormir essa noite.
Eles dois fizeram uma cara de desapontados e eu me abaixei, ainda com Theo no colo, sussurrando para que Anna escutasse também.
— Tudo bem. Não precisamos arrumar a bagunça. Tia faz isso por nós. Mas vai ser o nosso segredinho que deixamos isso de propósito, hein?
Os dois se olharam e sorriram de orelha à orelha. Olhei para a porta e percebi que Tyler ainda estava ali, observando a cena com um sorriso carinhoso no rosto.

’s POV.


Coloquei o que talvez fosse a melhor roupa em meu armário. Não só porque eu queria esbanjar para Noah a esposa que ele tinha, mas eu também estava empolgada em sair novamente para um bar e beber depois de... Bom... Faz algumas semanas.
Eu só esperava não acabar casada duplamente no final da noite também.
Quando Noah chegou ao apartamento, ele estava vestido casualmente com uma jaqueta de couro marrom, uma blusa preta com uma estampa que eu não conseguia ver direito, calça jeans e botas militares masculinas. Ele sorriu maliciosamente para mim ao me ver.
— Estou certo que tudo isso não é para me impressionar. Será que o rei está perdendo seu trono?
— Cala boca, Noah. Seu único trono é sua privada. — Respondi pegando minha bolsa e dando um beijo na bochecha de Mike que estava assistindo televisão. já estava com as crianças e Edgar já estava a caminho do bar.
Noah gargalhou e ofereceu seu braço para mim enquanto eu trancava a porta do apartamento, fazendo com que ele segurasse minha bolsa e esperasse por mim no elevador do prédio. Pode me chamar se suicida, eu quase nunca usava o elevador de meu prédio, mas saltos não são a melhor coisa do mundo para se descer ou subir escadas. Quando entramos no elevador, encostei-me em uma parede e Noah na outra.
O ar ao redor ficou carregado.
E de repente Noah estava andando na minha direção. Espalmei minhas mãos em seu peitoral, impedindo-o de se aproximar no último segundo e empurrando-o para trás levemente.
— Não, Noah.
Ele franziu a testa para mim e suspirou.
— Droga. Você está bonita demais para resistir, .
— Sinto muito, maridão. Hoje não, estou indo para divertir um amigo meu.
Noah ergueu a sobrancelha para minha escolha de palavras e eu dei um tapa em seu ombro.
— Não desse jeito! Estamos realmente em uma missão de fazê-lo relaxar. — Insisti, suspirando de alívio quando o elevador parou e nós pudemos sair daquele espaço fechado e carregado.
— Então tá bom. Mas existem meios de relaxá-lo facilmente. Podemos repetir o episódio do strip club de Vegas, aquele dia me deixou bem relaxado.
— Cala boca, Noah. — Falei rindo e aceitei seu braço enquanto andávamos na rua.
Cinco minutos depois, estávamos chegando ao bar que Noah havia me recomendado. Era um lugar agradável, com um clima meio mexicano e várias pessoas esperando na porta para entrar. Aparentemente Noah conhecia alguém de dentro, porque nós passamos pelo segurança tranquilamente e eu soltei do braço de Noah para procurar meu chefe no meio das pessoas.
Não querendo dizer nada. Mas Edgar se destacava.
Não só porque ele era o único no bar usando um suéter casual ou porque ele estava tomando uísque. Ele também era de longe o mais bonito. Talvez sua beleza se destacasse por ele ser claramente mais maduro – e não estou falando de idade – em um raio de cinco metros, todas as mulheres ao redor estavam com os olhos focados nele. Infelizmente, alguns homens também.
Noah percebeu minha atenção focada em Edgar e sorriu maliciosamente para mim, antes de segurar meu cotovelo e começar a nos puxar na direção de meu chefe.
— Edgar, não é? — Noah perguntou esticando a mão e sorriu abertamente.
— É, sou eu. Noah, certo? — Edgar respondeu apertando a mão de Noah e depois se inclinando para me cumprimentar com um beijo na bochecha. — Olá, .
— Oi. Você esperou muito tempo?
— Não, cheguei agora pouco.
Noah estalou os dedos para o bartender, pedindo uma bebida para ele e cumprimentando algumas pessoas aleatórias que passavam perto dele. A maioria mulheres.
— Vamos arranjar uma mesa para sentar? — Perguntei para Edgar, ignorando a existência de meu “marido”.
— Claro. — Ele sorriu para mim e levantou-se, oferecendo seu braço para mim que eu segurei com receio.
Nós achamos uma mesa no canto do bar e uma garçonete veio até nós imediatamente, perguntando se iríamos comer ou só beber. Pedimos uma porção de batata frita e duas cervejas Original. A música do bar era alta o suficiente para que pessoas dançassem, mas baixa para que conversas pudessem tomar rumo na música. Havia um palco no fundo do bar, que estava sendo arrumado para que houvesse a performance de alguém mais tarde e Edgar começou um assunto sobre bandas.
Eis que meu chefe chegou a tocar piano quando estava na faculdade. O que eu achei muito meigo, mas óbvio que não demonstrei. Ele contou várias histórias da época em que tinha uma banda, os olhos verdes brilhando animados com as memórias e me perguntou também várias vezes sobre lembranças minhas da faculdade.
Que não existiam muito, porque e eu passávamos setenta por cento do tempo indo em festas e bebendo. Nós havíamos nos formado com honras, claro, mas quando não estávamos estudando... Bom, não lembro de nada suficientemente concreto para contar.
— Ah... E um dia nosso baterista acordou do outro lado do campus, sem memória nenhuma do que havia feito, mas com as unhas do pé pintadas. — Edgar contou rindo.
— É. Eu já acordei com várias surpresas desagradáveis também.
— Como uma tatuagem? — Edgar perguntou dando um gole em sua cerveja.
— Não, como um casamento! Né, esposa? — Noah surgiu do nada, dois shots de tequila em mãos, rindo.
Edgar engasgou com sua cerveja, arregalando os olhos e tossindo até que Noah batesse em suas costas. Olhei para os dois shots de tequila e sem nem pensar duas vezes virei um em seguida do outro rapidamente, fazendo uma careta de desgosto pela tequila e por ódio de Noah.
Bacana Noah. Suave.
— Você casou? — Edgar perguntou, a voz ainda rouca por seu engasgo. Ele olhou para Noah, que sorria divertido com a situação. — Com ele?
— Ei, qual o problema? — Noah perguntou puxando uma cadeira de uma mesa e sentando ao meu lado antes que eu pudesse protestar, colocando o braço ao redor de minha cadeira. — Nós temos um casamento muito feliz.
— VOCÊS AINDA SÃO CASADOS?
— Por pouco tempo. — Falei rapidamente. — Edgar, não é o que parece. Foi em Vegas, estávamos bêbados.
— Vegas, tipo... Um mês atrás? No ano novo?
— Bom, é. — Falei me mordendo de vergonha por meu chefe estar descobrindo sobre essa merda toda. Maldito Noah.
— Achei que isso só acontecesse em filme. — Edgar comentou, perdendo sua postura alarmada para uma divertida com um sorriso brincalhão no rosto.
— EU TAMBÉM. — Noah concordou pegando minha cerveja para dar um gole.
Eu bati minha palma contra minha testa e roubei minha cerveja de volta, dando um gole grande.
— Nós já estamos vendo a anulação. Vai sair daqui no máximo duas semanas e depois é como se nunca tivesse acontecido. A audiência já é amanhã.
— Como você despreza nosso amor, .
Edgar ergueu uma sobrancelha.
— Algum de vocês está apaixonado?
Eu e Noah respondemos ao mesmo tempo:
— Não.
E depois Noah gargalhou, complementando:
— Mal nos conhecemos, eu só gosto de provocar a loirinha.
— Então vocês são amigos?
— É. — Respondi rapidamente, não querendo dar brecha para algum comentário de Noah, que veio logo em seguida do mesmo jeito.
— Amigos com benefícios.
Cotovelei ele com força, fazendo com que cuspisse o segundo gole que estava dando em minha cerveja e começasse a gargalhar enquanto esfregava o local que eu havia o batido. Babaca. Edgar ainda nos olhava divertido, mas o pequeno sorriso em seus lábios já era.
— Nossa. Vocês são muito jovens mesmo.
Noah e eu erguemos a sobrancelha juntos, um pouco ofendidos pelo comentário de Edgar.
— Quer dizer. — Ele limpou a garganta. — Isso não é uma coisa ruim, é que aqui estou eu passando por um divórcio... E vocês anulando um casamento... — Um sorriso se alastrou em seu rosto enquanto ele balançava a cabeça como se não acreditasse no que estava falando, continuou: — Que fizeram enquanto estavam bêbados em Vegas.
— Bom... — Noah concordou com a cabeça, rindo. — A juventude hoje em dia está perdida mesmo. Eu que o diga, essa daqui me forçou a casar com ela.
Cotovelei-o novamente.
— Que mentira! Você que se ajoelhou na minha frente.
Noah balançou a cabeça suspirando exasperadamente e apontou para mim com o dedão:
— Dá para acreditar nessa aqui? Ela achou que eu estava falando sério.
— Você achou que o casamento foi de brincadeira! E nem falou nada no dia seguinte!
— Você esqueceu do casamento? — Edgar gargalhou, tomando um gole de sua cerveja. — Estou impressionado.
Minhas bochechas coraram violentamente e eu mordi o lábio para não responder nada. Levantei da mesa com um sorrisinho irônico e segui em direção ao banheiro para jogar uma água no rosto, escutando Noah dizer atrás de mim:
— Ah, aí está a loira que eu conheço. Virando o pescoço de todos os homens.
Ignorei-o. Uma vez no banheiro, retoquei minha maquiagem, passei uma água na nuca para evitar grandes efeitos da tequila que eu havia tomado e respirei fundo várias vezes. Um grupo de mulheres entrou no banheiro, algumas tropeçando por estarem bêbadas e uma morena encostou em meu ombro para falar comigo.
— A pergunta é... Com qual dos dois você está?
— Eu... O quê? — Pisquei confusa e torcendo o nariz para o hálito de vodka da mulher.
— Dos homens que você está sentada. Qual deles? Porque eu e minhas amigas estamos pensando em... Você sabe... — Ela deu uma risadinha bêbada. — Nos apresentar.
Ergui uma sobrancelha.
— Não estou com nenhum deles. Façam a festa.
A mulher riu, feliz da vida e saiu, juntos de algumas amigas. Eu peguei meu celular para checar se havia alguma mensagem de , dizendo se ela havia morrido ou matado alguma das crianças, mas só havia uma dizendo que já estava dando o jantar. E elogiando as roupas da ex-esposa de Edgar.
Nunca quis tanto que minha melhor amiga colocasse fogo em algumas peças de roupa.
Quando voltei para o bar, encontrei Noah e Edgar virando shots de tequila na nossa mesa, cercados por um grupo de mulheres rindo e tentando dar em cima deles. Noah ria, se divertindo com os cabelos balançando e as risadas histéricas enquanto Edgar parecia confuso, tentando dar atenção para todas para não ser ofensivo.
Esse homem é bom demais para ser verdade.
Andei até o bar, pedindo uma bebida para o barman com um extra sorriso para que saísse de graça e um homem qualquer, agradavelmente bonito, começou a puxar papo comigo junto de mais três amigos. Fiquei falando com eles, vendo o tempo da noite passar e a banda começar a tocar no palco. Eu não pagava nenhuma bebida, mas parecia ter sempre uma em minha mão. Felizmente, minha mente estava firme e forte quanto às alterações do álcool.
Dancei algumas vezes com alguns caras, fiz amizade com algumas mulheres durante alguns minutos e depois elas sumiram, fazendo com que minha atenção voltasse para outros homens. No meio de minha conversa com um, meu celular começou a tocar e eu sorri instantaneamente ao atender.
— Olá, inglês.
— Oi... Onde você está?
Tampei o ouvido para poder escutá-lo sobre as vozes e músicas do bar.
— Em um bar.
— Sozinha? Sóbria?
Eu gargalhei.
— Sóbria, mas não sozinha. Estou aqui com Noah e meu chefe.
Chuck ficou em silêncio alguns segundos, provavelmente decidindo se deveria falar alguma coisa sobre a companhia de Noah. Ele escolheu sabiamente:
— Seu chefe? Levou adiante o plano de animá-lo?
— É. Ele parece estar se divertindo. — Comentei, olhando na direção dele e vendo-o com o braço ao redor de uma mulher enquanto ela rebolava ao redor dele. Edgar parecia tenso, sem saber o que fazer. — Ou está fazendo as mulheres se divertirem, não sei.
Chuck riu.
— E você? Divertindo alguém?
— Eu mesma. Economizando também, não precisei pagar uma bebida até agora.
— Imagino. topou cuidar das crianças do seu chefe?
— Uhum, parece que ela ainda não matou ninguém. — Respondi, meio distraída ao perceber que Edgar havia levado a mulher que dançava com ele para se sentar. Ele colocou um braço ao redor dela.
Chuck falou alguma coisa, que eu não ouvi. O mundo ficando meio mudo ao meu redor enquanto eu assistia Edgar passar a mão na bochecha da mulher e sorrir. Eu reconheci a mulher que havia dito que queria se apresentar para eles.
— Hãn? Desculpa, Charles. Está muito barulho. Depois no falamos, beijos.
Desliguei antes que ele pudesse responder ou que minha mente raciocinasse. Porque eu já estava andando na direção de Edgar, que conversava perto demais com a mulher. Noah chegou a segurar meu braço, balançando a cabeça negativamente, mas eu o ignorei. Os olhos verdes de Edgar desviaram do rosto da mulher e ele parou de falar o que quer que fosse no ouvido da coitada, que parecia deslumbrada por meu chefe.
Ele piscou confuso e um sorriso cresceu em seus lábios. Estiquei minha mão para ele e sorri docilmente. Edgar pegou minha mão e se levantou sem questionar. A mulher protestou:
— Ei! Achei que você tivesse dito que...
— Eu menti. — Aproximei-me de seu rosto vermelho de vergonha e confuso sem soltar a mão de Edgar. — Pode ficar com o outro.
Puxei Edgar para a pista de dança, uma música de um ritmo que parecia tango começando a tocar e as mãos firmes de meu chefe seguraram minha cintura para puxar-me mais perto, depois ele ajustou nossa posição como se fossemos dançar tango.
— Edgar, isso é meio inapropriado. Não quero que nada fique estranho depois.
Edgar sorriu suavemente, segurando nossas mãos longe de nossos corpos e dando um passo para frente – fazendo-me ir para trás – enquanto ele começava a dançar. Seus lábios roçaram meu ouvido.
. Eu bebi mais hoje do que nos últimos anos. Não estou ligando para o inapropriado agora.

’s POV.


Tyler e eu estávamos guardando as louças dentro da máquina enquanto as crianças estavam sentadas nas banquetas, lambuzando-se de sorvete de chocolate e morango. Quer dizer, Theo se lambuzava, porque Anna era uma princesinha e não era tão afobada como o pequeno.
Colocamos um babador nele, já que ele não queria tirar de jeito nenhum a camisa do pai. Fechei a porta da máquina de lavar louça e senti uma parte de mim quebrar. Ai, que saudades da facilidade que era ter uma dessas. Foi uma das primeiras coisas que comprei com meu salário no Planeta Hollywood.
, vaaaaaaaaaaamos brincar! — Theo reclamou, descendo da cadeira e vindo puxar a barra do vestido comprido de festa que Anna me fez continuar usando. Eu não reclamei
. — Vamos sim, pequeno, mas primeiro vamos lavar esse rostinho que quase não consigo te enxergar de tanto que tá lambuzado!
Ele gargalhou e eu o peguei no colo, com dificuldade, porque agachar nos maravilhosos Louboutins e levantar mais de 10 quilos não era fácil não.
Depois que lavei o pequeno e tentei tirar a camisa de seu pai, novamente, em vão, seguimos para a sala enquanto ele brincava com os meus cabelos. Sentamos no sofá ao lado de Tyler e Anna, que remexiam nos DVDs. Anna continuava com o vestido da mãe e eu não tinha intenção alguma em persuadi-la a tirá-lo. Ela esperou demais para esse momento, não o encurtaria de maneira alguma.
Coloquei Theo perto deles e disse que voltava logo. Peguei um cobertor leve do quarto de Anna e o ursinho que estava sobre sua cama, então fui para o quarto de Theo e peguei sua girafa de pelúcia também.
Quando cheguei à sala, Theo e Anna estavam sentados no sofá, vidrados na televisão que passava a entrada da Disney, que havia sido puxado para frente, esticando a sua parte dobrável e deixando-o mais comprido. Pausei o filme rapidamente e cobri-os com o cobertor creme do quarto de Anna, logo depois entreguei seus bichinhos de pelúcia.
— Obrigada, ! — Anna abraçou seu ursinho.
Theo deixou sua girafa sobre o sofá e ficou de pé no mesmo, a camisa social de Edgar escorrendo até seus pés e sobrando. Ele estendeu os bracinhos para mim e sorriu, os cabelos cacheados castanhos quase cobrindo os olhos verdes.
— Colo!
Revirei os olhos e peguei-o no colo. Ajeitei-me no sofá, ainda com o vestido de Maria Ana, porque me recuso a falar o nome dessa vadia pomposa.
Ajeitei o pequeno em meu colo e dei play novamente através do controle que estava sobre o sofá. O filme começou em poucos segundos e percebi que era Procurando Nemo. Virei-me para procurar Tyler e antes mesmo que o filme começasse pausei-o novamente.
Tyler entrou na sala com uma mamadeira e um copinho plástico com bico cor-de-rosa cheios de leite achocolatado. Assim que ele entregou-os para as crianças, coloquei Theo sobre o sofá e avisei que já voltava.
— Cozinha. Agora.
Confuso, Ty foi para a cozinha e eu levei o controle remoto comigo.
— Você tá louco? — Gritei sussurrando.
— O que você tá falando? Eu chequei a temperatura do leite antes pra eles não se queimarem!
Parei por um segundo.
— Awn. Que meigo. — Então a razão de estar brava voltou e eu bati em seu ombro. — Não isso, seu idiota! Procurando Nemo? Onde você estava com a cabeça?
Ele alisou a parte que eu dei um tapa e deu de ombros.
— Meu sobrinho gostava desse filme.
Ignorei o detalhe que eu não sabia da existência desse sobrinho e gritei sussurrando para que ele entendesse:
— Os pais deles acabaram de se divorciar e a mãe deles foi embora e você me coloca um filme sobre um pai solteiro cuja esposa foi brutalmente assassinada por uma barracuda?! Por que você simplesmente não coloca Jogos Mortais pra eles assistirem?
Tyler cruzou os braços e revirou os olhos, bufando.
— Tudo bem, desculpa. O que quer colocar, então?
— Sei lá. Eles têm Hercules?
— Tem.
Sorri tentando conter o entusiasmo. Sempre amei esse filme.
— Hercules será, então. — Beijei-o rapidamente nos lábios e ele me deu um tapa na bunda.
— Vamos lá, mamãe.
Revirei os olhos e segui para o aparelho de DVD e comecei a procurar o novo filme. Tyler parou na frente dos pequenos e começou a fazer perguntas aleatórias para distraí-los, como por exemplo, se eles sabiam a própria idade e desafiando-os a lamber a ponta do nariz. Coloquei o novo filme e acelerei para a parte do castelo rapidamente.
Theo ainda estava tentando alcançar a ponta do nariz com a língua quando me sentei ao lado de Anna e coloquei-o em meu colo. Tyler pegou Anna no colo e sentou-se ao meu lado, deitando a cabeça da pequena em suas pernas. Eu fui mais prática e coloquei Theo sentado entre minhas pernas, suas costas contra minha barriga. Como o sofá era reclinado, ele ficava meio deitado em cima de mim. O filme começou e eu usei uma mão para alisar os cachos de Theo enquanto a outra eu escorreguei para o lado de Tyler. Demos as mãos e assistimos o filme, atentos, respondendo às perguntas dos pequenos.
Não demorou muito e os dois capotaram, Theo bem antes do que Anna, mais ou menos quando Hercules derrota a Hidra. Anna aguentou até começar a tocar a música final, mas ela cochilou várias vezes antes disso. Quando o Hércules apareceu nas estrelas, ela fechou os olhos novamente e cedeu. Tyler alisava seus cabelos lentamente enquanto observávamos os créditos passarem. Olhamo-nos e ele abriu a boca para falar alguma coisa, mas eu sinalizei com o dedo contra a boca para fazer silêncio.
Soltei minha mão que ainda segurava a sua e levei-a até seu rosto lentamente, alisando sua lateral.
Aproximei-me e ele sussurrou quando nossos lábios estavam próximos:
— Levamos eles para a cama?
Assenti lentamente e o beijei suavemente, inspirando sua colônia, pressionando nossos lábios um contra o outro. Quando me afastei, Theo se revirou um pouco em meu colo, sua mãozinha coçando os olhos. Sorri para ele e olhei para Tyler novamente, sinalizando com a cabeça para os corredores, querendo dizer que deveríamos leva-los logo.
Com dificuldade, virei Theo e o ajeitei contra mim, fazendo-o abraçar meu tronco, a cabecinha apoiada em meu ombro. Segurei-o pela bunda e pelas costas, morrendo de medo de deixa-lo cair enquanto dormia, lembrando de como o segurava normalmente.
Escorreguei pelo sofá e fiquei de pé com dificuldade, porque ainda estava calçada com meus preciosos. Assim que me estabilizei, abracei Theo com mais firmeza contra mim e andei até seu quarto. Tyler já havia entrado no quarto de Anna, pude ver através da porta entreaberta.
Abaixei-me calmamente, tentando não balançar o pequeno brutalmente e acorda-lo. Uma vez ajoelhada ao lado de sua caminha, puxei os lençóis com uma mão e então deitei Theo lentamente em sua cama. O pequeno virou de bruços logo em seguida, o rosto virado de lado, a boca semi-aberta. Sorri enquanto o cobria, então alisei seus cabelos e beijei sua testa. Fui buscar sua girafa de pelúcia, mas assim que saí do quarto, dei de cara com Tyler deixando o quarto de Anna também.
Seu dedo indicador foi parar em minha boca, silenciando-me. Sorri contra seu dedo e ele me segurou pela mão, puxando-me de volta para a sala. Assim que chegamos remotamente perto, Tyler virou de frente para mim e passou ambas as mãos ao redor de minha cintura, um sorriso malicioso em seus lábios.
— Sabia que você fica um tesão nesse vestido?
Deixei um risinho escapar.
— Ah, eu sei, muito obrigada por notar. — Comentei jogando meu cabelo para trás e ele somente me beijou, pegando-me de surpresa.
Passei minhas mãos por sua nuca e puxei seus cabelos de leve, aprofundando o beijo, suas mãos me apertando contra si. Senti meu corpo começar a esquentar e arranhei sua nuca, logo em seguida prendendo seu lábio inferior entre meus dentes.
Ele me puxou pelos cabelos para trás e sorriu maliciosamente enquanto balançava a cabeça negativamente, olhando-me nos olhos.
— Que inapropriado, . As crianças estão em casa.
Tentei morder seu lábio novamente, mas ele puxou minha cabeça para trás através de meus cabelos, fazendo-me puxar o ar entre os dentes pela pontadinha de dor que senti.
— Elas estão dormindo. — Sussurrei contra seus lábios e ele sorriu mais ainda.
Com os saltos, eu finalmente estava da mesma altura que Tyler. Era uma sensação estranha, porque apesar de eu sempre ter sido consideravelmente alta, ele também era muito alto e normalmente era maior do que eu.
Tyler me puxou com ele e logo estávamos na beirada do sofá. Parti o beijo e empurrei-o pelo peitoral, fazendo-o cair deitado sobre o sofá. Sorrindo maliciosamente, puxei o tecido do vestido para cima até minhas coxas e subi por cima dele, uma perna de cada lado de seu corpo, até que eu parasse sentada em cima de seu quadril e, bem, vocês sabem.
Deitei-me sobre ele lentamente e o beijei sensualmente pelo maxilar e então pescoço, minhas mãos alisando seus braços musculosos ainda revestidos pela camisa social de Edgar. Mordi seu maxilar ao trilhar os beijos de volta para seu rosto e suas mãos foram direto para minha bunda, entrando por baixo do vestido e apertando minha bunda com força, sua pele contra minha pele.
Eu podia sentir sua ereção começar a tomar forma e eu mesma sentia um calor crescente entre minhas pernas. Levantei meu tronco, ficando sentada ereta sobre ele. Sorri maliciosamente e comecei a movimentar meu quadril em movimentos circulares, rebolando contra sua calça. Tyler mordeu o lábio inferior e seus olhos negros ardiam sobre mim.
Foi então que meu celular apitou, o som vindo da cozinha.
— Já volto. — Falei antes que ele pudesse me impedir e mandei um beijo no ar enquanto caminhava meio trôpega até a bancada central da cozinha dos Delawicz.
Peguei o celular e abri a nova mensagem. Era de Noah.
“Minha rainha e seu chefinho acabaram de sair daqui. Se as crianças ainda não estão na cama, coloquem-as agora, e se já estão, parem de se pegar, seus safados.
Até logo, xerife. Cuida bem do Ty-Ty.”
Sorri para aquilo e voltei para a sala com o celular em mãos. Assim que cheguei, joguei-o para Tyler, que o pegou atrapalhadamente.
— Acabou a diversão, garotão.
Tyler leu a mensagem e somente sorriu para mim, me chamando para ele com um gesto. Subi no sofá e o abracei lentamente, enquanto ele depositava um beijo no topo de minha cabeça.
— Não tem problema. Quando chegarmos no seu apartamento continuamos.
Sorri com o pensamento, mas não insisti em mais nada.
Deitei minha cabeça em seu peitoral e concentrei-me em seus batimentos cardíacos. Ele alisou meus cabelos gentilmente e eu suspirei.
— Obrigada por ter ficado aqui comigo hoje.
Pude sentir seu peito tremer em uma risadinha.
— Acha que eu perderia a chance de te ver brincando com crianças?
Revirei os olhos e lhe dei um tapa leve no braço.
— Tô falando sério. Você não precisava ter vindo. Nem ter ido me buscar. Muito menos com um milk-shake.
Ajeitei-me em seu peitoral mais para o lado de modo que eu conseguisse enxergá-lo olhando para cima. Tyler abaixou-se e beijou meus lábios suavemente.
— Já disse que estou comprometido com nós. Quero que você perceba o quanto é importante para mim.
Um sorriso involuntário tomou conta de meu rosto.
— Você também é muito importante para mim, Ty.
Ele sorriu e beijou minha testa suavemente. Abaixei a cabeça e me ajeitei de modo que meu ouvido ficasse sobre seu coração.
Não demorou muito até que eu dormi, com os dedos de Tyler entre meus cabelos suavemente, ouvindo seus batimentos calmos, com um sorriso sereno no rosto.
Em paz. Apaixonada.

’s POV.


Objection - Shakira.


Eu não tive tempo de questionar o fato de estar tocando tango em um bar mexicano.
Primeiro porque meu chefe começou a guiar-me no ritmo da música com rapidez e habilidade. E quando eu digo habilidade, que quero dizer: habilidade mesmo.
Segundo porque eu não conseguia pensar em muita coisa que não fosse: “ controle seus pés, ignore o corpo gostosão do seu chefe, não comece a hiperventilar”.
Terceiro que o ritmo da música era bom demais, o perfume de meu chefe era bom demais e eu havia tomado bebidas demais.
Definitivamente.
— Edgar... Eu não sei o que estou fazendo. — Ri quando ele empurrou meu tronco para trás com o peitoral, fazendo com que eu girasse minha cabeça.
— Relaxa, . Não foi o que você me disse?
Seus passos continuaram, levando meu corpo como um fantoche para lá e para cá, arrancando olhares de várias pessoas e sorrisos meus porque... Bom, eu estava meio bêbada. Obvio que estaria sorrindo para tudo que acontecia ao meu redor. As luzes do bar haviam ficado meio vermelhas, dando um clima sexy para o ambiente e fazendo com que outros casais começassem a dançar como eu e Edgar. Ainda assim, meu querido chefe dava de dez a zero em todos ali enquanto me guiava para dançar.
A voz da Shakira surgiu no meio da música, deixando o ritmo mais rápido e os movimentos de Edgar começaram a seguir a música – suas mãos leves porém firmes segurando meu corpo para que eu acompanhasse seus passos.
Sempre que eu começava a me perder nos passos, eventualmente pronta para pisar no pé de Edgar, seu braço que estava envolvendo minha cintura erguia meu corpo do chão fazendo-me gargalhar, mas evitar pisar em seu pé.
Eu girei em seus braços umas quatro vezes, sentindo o chão ficar cada vez mais difícil de se encontrar e minha risada mais difícil de segurar. Mas Edgar também estava rindo e muito. Ele seguia a música meio perdido, nossos quadris balançando e as vezes se encontrando – o que fazia um arrepio subir minha coluna – mas sem criar um clima constrangedor entre nós. Ainda estávamos nos divertindo naquela situação.
Outra gargalhava escapou de meus lábios quando eu pensei como era ridículo estar dançando um tipo de tango bêbado junto de meu chefe.
Perdendo meu equilíbrio, envolvi a nuca de Edgar com meus braços e continuamos nossa dança comigo mexendo as pernas ao seu redor e ele dando passos aleatórios. As pessoas ao nosso redor davam espaço para que dançássemos e eu duvidava que fossem atos gentis: eles só não queriam ser atropelados.
Chegando no fim da música, eu fiz a única coisa que já havia visto sobre o tango: segurei nos ombros de Edgar, inclinei meu corpo para trás e balancei a cabeça antes de subir e encaixar uma perna em sua cintura e encostar nossas testas.
A respiração de Edgar era forte. Ele segurava minha coxa contra sua cintura, sua palma esquentando minha pele mesmo por cima de minha calça jeans e seus olhos perfurando meu rosto. Respirei fundo, fechando meus olhos e indo para trás levemente, soltando minha perna, antes que alguma coisa muito inapropriada acontecesse.
Eu quase cai para trás quando afastei-me, fazendo com que Edgar puxasse-me pela mão para me manter em pé. Sorri envergonhada e olhei ao meu redor, achando Noah sentado em nossa mesa com um sorriso sacana no rosto.
Uma mulher aproximou-se de Edgar, pouco se importando com o fato de que estávamos dançando a segundos atrás e começando a puxar meu chefe para dançar o ritmo da próxima dança. Ele ainda me olhou confuso, sem saber o que fazer, mas eu somente virei as costas e cambaleei até onde Noah estava sentado, conversando com uma mulher loira oxigenada.
Quando me viu chegando, meu querido marido disse alguma coisa que fez a mulher ir embora da cadeira ao seu lado, que eu afundei segundos depois. Apoiei minha cabeça contra seu ombro.
— Olha, se eu não fosse a favor de um relacionamento aberto e honesto, eu ficaria com ciúmes de você colocando sua perninha na cintura do chefe. Achei que você só fizesse isso comigo. — Noah disse.
Eu gemi, enjoada demais para responde-lo.
— Talvez ter dançado não foi a melhor ideia do mundo?
Gemi novamente, fazendo-o rir.
— Acho que casar e dançar estão fora da sua lista quando você tiver bebido, então.
Ergui meus olhos para Noah, esperando que estivesse fuzilando-o, mas ele somente riu. Passando um braço ao redor de meus ombros e deixando-me encaixar a cabeça na cavidade de seu pescoço. Ele acariciou meus cabelos suavemente, tentando acalmar meu estômago e pediu uma água para alguém que deve ter passado perto de nossa mesa.
Dois minutos depois ele estava me oferecendo um copo cheio e gelado.
— Vamos, . Você vai ficar melhor se tomar água.
Ergui meu rosto de sua pele somente para encarar o copo com uma careta. Meu estômago não parecia estar pronto para receber água. Tomei um gole meio incerta e olhei ao meu redor, de repente, feliz por ter tomado o gole ou eu teria certeza que vomitaria.
Lá, bem no meio da pista, estava meu querido chefe beijando a mulher que eu havia o deixado para dançar. Beijando com vontade.
— Toma o resto da água, . — Noah repetiu firmemente, virando meu rosto na sua direção para que eu não visse mais a cena que estava fazendo meu estômago girar mais. — Era o plano, certo? Deixar com que Edgar relaxasse e aproveitasse a noite.
Limitei-me a não responder, com medo do que poderia sair de minha boca. Sim, o plano havia sido esse. Não, eu não estava gostando do resultado.
Mas só porque meu chefe era bom demais para beijar qualquer uma. Era quase um desperdício de saliva ele estar dando um amasso naquela mulher desconhecida.
— Falando em plano, você matou alguém? — Noah perguntou pegando minha bolsa para fuçar nela, trazendo meu celular para minha vista. — Estão te ligando milhões de vezes.
Arregalei os olhos. Já pensando nas infinitas possibilidades. pondo fogo na casa. Theodoro colocando o dedo na tomada e morrendo eletrocutado. Anna se afogando na banheira atrás de uma barbie que afundou. Tyler envenenando todos sem quer enquanto fazia o jantar com alguma carne crua. Acidentes. Desgraças.
Era Chuck.
6 ligações.
Suspirei alto, fechando os olhos e agradecendo mentalmente para que não fosse nada com as crianças ou minha melhor amiga. Olhei para Noah, vendo-o sorrir divertido com minha reação e esfregar meu braço com sua mão ao meu redor rapidamente antes de gesticular para meu celular com a cabeça.
O telefone voltou a vibrar, Chuck ligando novamente. Olhei para pista, vendo Edgar continuar a dançar com a mulher, mas com os olhos em nossa mesa e olhei brevemente para Noah antes de levantar da mesa – um pouco melhor quanto aos tropeços – e sair do bar para conseguir atender a ligação.
— Alô?
. Graças a Deus. — Chuck suspirou.
— Desculpa... Eu fiquei ocupada e precisei desligar. — Falei encostando na parede da lateral do bar, sentindo-a vibrar pela música tocando contra minhas costas. — Não quis te preocupar.
Esfreguei meu rosto com uma mão, agachando-me contra a parede até que eu estivesse sentada sobre meus calcanhares.
— Não tem problema. Eu sempre me preocupo demais, não havia entendido o que você disse antes e a linha desligou. Achei que pudesse ter acontecido alguma coisa.
Suspirei apoiando minha cabeça para trás.
— Estou bem, Chuck. Obrigada.
— Está silencioso agora.
— Eu sai do bar. Barulho demais, não conseguiria te ouvir.
— Você saiu de perto dos seus amigos para poder me dar atenção? — Havia um tom orgulhoso e entusiasmado na voz de Chuck que me fez rir.
— Sim. Não quis deixar de dar atenção antes, eu só havia esquecido de avisar que não estava em casa então você não poderia me ligar.
Eu praticamente podia ouvir Chuck sorrindo do outro lado da linha.
— Eu te ligo todos os dias de noite. Não iria deixar de fazer isso hoje também.
— Eu sei. — Sorri também, sentindo os efeitos do álcool aliviarem minha cabeça com o ar frio de Nova Iorque. — Gosto que você me ligue todas as noites.
— Gosto que você me atenda.
— Bom, já está tarde aqui. E por aí também. Vou buscar os garotos para irmos embora, prometi para que não chegaria depois da uma da manhã, aqui já são meia noite e meia.
— Tudo bem, boa noite.
— É. Boa noite, Inglês.
Nós ficamos em silêncio e eu ri. Chuck riu também.
— Você pode desligar primeiro.
— Não, desliga você. — Retruquei.
Ele riu.
— Assim não vamos desligar nunca, então.
— Podemos tentar desligar ao mesmo tempo.
— Vamos. Três, dois, um.
Continuei na linha e depois de alguns segundos nós começamos a gargalhar novamente. Meus músculos antes tensos relaxaram enquanto eu ria. Suspirei fundo e fechei meus olhos, me concentrando na risada de Charles.
.
— Sim?
— Estou com saudade do seu sorriso.
Mordi meu lábio inferior, segurando o sorriso que se alastrou em meu rosto.
— Estou com saudade do seu abraço, Inglês.
— Só do abraço? — Ele sussurrou suavemente. — Porque eu estou com saudades de você. Inteira. Estou com saudades de poder ter você em meus braços, de sentir seu cheiro doce, segurar seus cabelos enquanto te beijo. Saudade de...
— Chuck. — Suspirei, sentindo meu coração apertar ao perceber a saudade que eu também sentia daquilo. Apertei o celular contra meu ouvido, ouvindo sua respiração. — Não faça isso mais difícil. Ficar longe de você não é fácil para mim também.
Não estava sendo, certo? Eu tinha saudades de Charles. De verdade.
— Eu tenho saudades de ver seu corpo embaixo do meu, . — Ele completou com a voz rouca. — Você tem saudades de mim?
Demorei alguns segundos para responder, preocupada demais em tentar estabilizar minha respiração também acelerada pelas memórias que Chuck havia trazido de volta.
— Sim.
Ele inspirou fundo ao mesmo tempo que eu. Antes que eu abrisse a boca para responder, ouvi meu nome ser chamado ao longe na rua. Levantei do chão e quando fui colocar o rosto para fora do beco para ver quem havia me chamado, trombei com Edgar.
Eu o encarei confusa por alguns segundos, percebendo sua boca levemente manchada por batom e sua respiração meio agitada. Afastei o celular do ouvido, cobrindo o som com a mão e falei:
— O quê foi?
— Eu... — Ele coçou a nuca olhando para atrás de mim, no beco escuro. — O quê você está fazendo aqui?
— Atendendo uma ligação. — Estiquei meu indicador no ar e coloquei o telefone no ouvido novamente: — Charles?
— O que aconteceu? — Chuck respondeu imediatamente.
— Nada. Estavam me procurando, vou ter que voltar para o bar. Nos falamos depois...
— Tudo bem. ... — Chuck suspirou. — Precisamos conversar depois. Posso te ligar amanhã de tarde?
Franzi a testa e levantei o olhar para Edgar, que me observava com uma pequena careta e os lábios em uma fina linha.
— Claro. Vou esperar.
— Boa noite, . Estou com saudades.
— Boa noite, Chuck. Eu também. — Respondi com um pequeno suspiro, desligando a ligação e erguendo uma sobrancelha para Edgar ainda parado na minha frente e depois passando por ele, voltando para o bar enquanto falava: — Então... O que foi? Noah se meteu em alguma briga?
— Não.
O tom quase ríspido de Edgar me fez parar, virei-me para poder encará-lo novamente. Ele parecia bravo.
— É sério. O que foi, Edgar?
— Nada... Eu só... — Ele pausou, respirou fundo. — Você estava falando com o seu namorado? O estrangeiro?
— Ele não é meu namorado.
— Seu marido sabe que você ainda fala com ele? — Edgar perguntou, um rastro de sorriso crescendo em seus lábios.
Estreitei os olhos para ele.
— Noah também não vai ser marido por muito tempo. E falar com o Charles não é da conta de ninguém.
— Não mesmo. — Ele sorriu, agora mais relaxado e seja lá o que tinha o irritado fora embora. — Mas é uma situação engraçada.
— Bom, minha vida é uma situação engraçada. — Concordei sorrindo de volta.
— Você tem um marido, um namorado e um ad... — Ele pausou rapidamente antes de continuar. — Um adorável apartamento destruído. Sem falar na melhor amiga espontânea e o namorado dela. Sua vida é uma montanha russa bem grande.
Meu querido chefe encostou na parede, o corpo meio tombando, e foi quando percebi que ele estava bêbado. Andei até ele calmamente, tentando não rir de sua expressão.
— Edgar, acho que você exagerou um pouco nas bebidas. — Comentei passando a mão levemente em seu braço para puxá-lo para mim. Era hora de ir para casa.
. — Ele segurou minha cara, trazendo seu rosto perto demais do meu e fazendo com que corasse violentamente. — Você sabe que tudo isso é um elogio né?
— O quê?
— Eu... Falando da sua vida. Na verdade, eu gostaria de fazer parte dela.
Prensei meus lábios com força, para impedir a mim mesma de responde-lo. Ou pior, beijá-lo. Sorri levemente para meu chefe e o puxei de volta para o bar, onde parei-o na porta e entrei somente para pegar minha bolsa.
Noah estava com uma mulher em seu colo, uma de suas mãos alisando a coxa da mulher e a outra segurando uma cerveja. Ele olhou para mim quando eu voltei e franziu a testa ao me ver pegando a carteira de Edgar de minha bolsa.
— Ele está bêbado. Vou levá-lo para casa. — Respondi sua pergunta silenciosa.
— Beleza. Pode ir, eu pago a noite.
Meu humor melhor mil vezes.
— Obrigada, maridão. — Beijei sua bochecha rapidamente e fui embora, escutando a mulher no colo de Noah questioná-lo sobre o “maridão” e ele responde-la que nosso relacionamento era aberto.
Pelo menos ele não estava mentindo para ela.
Vinte minutos depois estávamos na frente do prédio de Edgar, paguei o taxi e forcei meu chefe a andar pelo hall de entrada enquanto tentava equilibrar nossos pesos. Edgar era um bêbado silencioso, raramente falando alguma coisa ou fazendo algum barulho.
Nós entramos no elevador e o corpo dele caiu sobre o meu, prensando-me contra a parede gelada e fazendo o ar parar em meus pulmões enquanto eu segurava minha respiração. Eu não podia sentir o perfume de Edgar ou meu corpo relaxaria e os instintos tomariam conta das minhas atitudes. E todos já sabiam que eu não era a melhor pessoa do mundo para controlar a mim mesma.
Quando a porta do elevador abriu no seu andar, meu chefe se afastou e cambaleou até a porta de seu apartamento. Eu a abri depois que ele não conseguiu encaixar a chave na maçaneta e o guiei pelo batente.
e Tyler estavam sentados no sofá. Estavam dormindo abraçados, mas abriram os olhos quando escutaram que nós havíamos chego. estava vestindo algumas roupas caras demais para serem dela, o que só significava uma coisa...
— Você está usando as roupas de Mary Ann? — Edgar perguntou, encarando-a confuso.
Minha melhor amiga sorriu, sem um pingo de vergonha.
— Estava brincando com Anna de desfile. Ela adorou arrastar as roupas da mãe pelo chão.
Tyler levantou-se do sofá e eu percebi que ele também estava usando uma camisa de Edgar.
— Desculpa, cara. — Tyler disse já retirando a camisa. — Eu fui forçado para dentro da brincadeira.
Eu esperava que eu chefe ficasse pelo menos um pouquinho bravo, mas ele sorriu e deu de ombros. Talvez fosse o álcool. Ele segurou em meu ombro para manter-se equilibrado e depois começou a cambalear para dentro da casa.
Olhei brevemente para e Ty, sorrindo para mim maliciosamente e suspirei:
— Exageramos um pouco no álcool. Esperem por mim lá embaixo, vou para casa com vocês.
— Ok. As crianças estão dormindo já.
Assenti para e segui para dentro do apartamento. Cheguei no quarto de Theo primeiro, vendo-o dormir em paz e depois fui para o quarto de Anna. Ela estava encolhida na cama e abriu os olhos assim que abri a porta. Eu sorri para ela, que me respondeu com um pequeno aceno. Adentrei o quarto e ajoelhei na frente de sua cama.
— O que você está fazendo acordada, meu amor?
— Eu acordei quando tio Ty me trouxe. Mas ai o papai veio em dar um beijo e acordei de vez. — Ela explicou enquanto eu passava uma mão carinhosamente por sua testa. Ela bocejou. — Fiquei preocupada com vocês.
— Bom, nós estamos bem. Eu estou voltando para minha casa já.
Anna fez uma careta triste.
— Não quero que você vá embora.
Suspirei fundo e olhei para seu rostinho redondo e cansado. deve ter gastado cada gota de energia das crianças durante o tempo em que estávamos fora. Respirei fundo, mordendo meu lábio inferior e pesquei meu celular dentro de minha bolsa. Liguei para .
— Bf, vou ficar por aqui.
— Recebeu uma oferta melhor de cama, é? — provocou e ouvi Tyler rir ao seu lado.
— Com certeza. De Anna. Amanhã estou voltando para casa.
— Você tem roupa?
Ah merda.
— Eu dou um jeito. Boa noite, obrigada por ser babá hoje.
— Que isso. Foi divertido até. Amanhã você me conta os detalhes da noite.
Nos despedimos e eu desliguei. Pedi para que Anna esperasse e sai de seu quarto atrás de Edgar, para avisá-lo que estaria passando a noite em seu apartamento. A porta de seu quarto estava aberta e eu podia ver seu corpo jogado de bruços no colchão. Bati levemente na porta e limpei a garganta antes de entrar. Ele levantou o rosto.
— Edgar. Posso passar a noite aqui? Anna está acordada e pediu minha companhia.
— Droga, ela está acordada? — Ele sentou, um pouco mais sóbrio e meio alarmado no colchão. — Fui eu quem a acordei?
— Não, ela tem sono leve. Enfim... Posso ficar?
Edgar piscou, confuso e depois me olhou como se a resposta fosse óbvia.
— Claro que pode. Você precisa de alguma coisa? Alguma roupa? — Ele olhou para o chão do quarto, onde algumas peças femininas estavam jogadas.
Droga , você podia ter organizado antes, não? Se bem que as roupas de Mary Ann davam um belo toque para o ambiente como pano de chão. Balancei a cabeça, afastando os pensamentos.
— Hãn... Sem ofensas, Edgar. Mas eu não quero chegar perto de qualquer coisa que seja da sua ex mulher.
Ele riu.
— Eu só olhei para as roupas, . Ia oferecer uma blusa minha, mesmo.
— Ah.
Limpei a garganta e assenti levemente, aceitando. Meu chefe levantou cambaleante, foi até seus closets e pegou uma blusa casual de um tecido parecido com flanela que me manteria aquecida. Entregou-me ela e gesticulou para seu banheiro. Troquei de roupa rapidamente, sentindo imediatamente estúpida porque eu deveria ter ido em outro banheiro, já que agora teria que passar por Edgar em uma blusa ridiculamente curta que cobria somente até metade de minhas coxas.
Arrumei meu cabelo em um coque e dobrei minhas roupas antigas, segurando-as contras meu peito sem sutiã antes de sair do banheiro. Edgar estava afastando – ou talvez chutando fosse o melhor verbo – as roupas de sua ex esposa para o canto do quarto e sorriu brevemente para mim quando eu sai.
Então ele parou e olhou novamente para mim, seus olhos se arregalando enquanto ele olhava descaradamente pela primeira vez – que eu percebia – para meu corpo inteiro. Mordi meu lábio inferior para não contorcer minhas pernas enquanto ele encarava minhas pernas nuas e depois meu rosto boquiaberto. Andei alguns passos até que eu estivesse na sua frente.
— Obrigada pela blusa.
Edgar sorriu fraco, meio perdido em seus pensamentos e sua pupila dilatando visivelmente. Cruzou os braços, não de uma maneira tensa, mas como se quisesse segurar a si mesmo e seus músculos do braço flexionaram, se mostrando com o suéter dele.
— De nada, .
— Eu vou indo. — Fiz um gesto com a cabeça para a porta e sorri uma última vez para ele. Pensei em como seus braços haviam sido fortes enquanto ele me guiava por uma música e logo em seguida como ele havia colocado aqueles braços ao redor de uma outra mulher. Seus lábios também. — Boa noite e obrigada de novo. Espero que você tenha gostado da noite e da companhia que teve.
Ele virou-se acompanhando meu movimento até o porta e falou:
— Amei. Era exatamente do que eu precisava.
Mordi meu lábio inferior enquanto saia do quarto, meio magoada por sua resposta. A ideia havia sido minha, no final das contas. Eu havia o arrastado até um bar e havia instigado uma mulher a ir atrás dele. Não deveria me incomodar saber que ele havia gostado da noite e de ter ficado com outra. Principalmente por que ele era meu chefe.
Entrei novamente no quarto de Anna e ela estava sentada na cama. Mexeu-se para o lado quando sentei-me na cama e nós deitamos juntas. Tive que me espremer para caber em seu colchão, porque por mais que eu fosse pequena aquele tamanho era para uma criança de seis anos. Não uma de vinte e quarto.
Anna abraçou minha cintura e deitou contra meu corpo enquanto eu a abraçava de volta calmamente e fazia carinho em sua cabeça. Minutos depois, ela estava pesada e respirando fundo. E logo em seguida quem dormia era eu.


Trigésimo Sétimo


’s POV.


Quando acordei no dia seguinte, sozinha em minha cama, estranhei e logo em seguida me sentei. Já havia me acostumado a acordar ao lado de Tyler e o local onde antes ele estava deitado ainda estava quente.
Cocei os olhos e procurei meu celular, tateando o criado meio às cegas, porque as persianas ainda estavam fechadas. Quando o encontrei, vi que eram sete horas da manhã. Por que eu acordei sozinha às sete horas da manhã se estou desempregada? Ah é, porque eu tenho um ensaio fotográfico para fazer meu book como modelo às 9h no estúdio do Jace. Argh.
Resmungando, joguei os cobertores para o lado e me levantei lentamente. Espreguicei-me e soltei um gemidinho no final, como sempre, provocando uma risadinha em Tyler, que havia entrado de fininho e estava ao meu lado agora, com um sorriso aberto no rosto.
— Bom dia, gata.
Desci as mãos que estavam no alto para se espreguiçar e passei-as ao redor de seu pescoço e depois ombros, sentindo sua pele quente, já que ele estava somente com uma calça de moletom. Beijei sua bochecha e sussurrei:
— Bom dia, gato.
Soltei-me dele antes que ele pudesse me beijar e fiz movimentos com a mão como se estivesse escovando os dentes. Ty deu uma risadinha e um tapa em minha bunda.
— Vai lá, boca de esgoto.
Levantei o dedo do meio e fui para o banheiro, ignorando os beijos que ele me mandava. Tirei a camisola de seda que usava, liguei o chuveiro e sorri para minha imagem no espelho ao perceber um chupão perto de meu seio esquerdo. Ontem, a noite foi boa.
Coloquei a pasta na escova de dentes e me enfiei dentro do chuveiro, escovando os dentes enquanto a água quente escorria por meu corpo. Lavei meus cabelos e não enrolei muito no banho, porque comecei a sentir cheiro de comida sendo feita. Hmmmmmm, comida.
Enrolei-me na toalha assim que saí do chuveiro, os cabelos molhados escorrendo por minhas costas. Maquiei-me rapidamente, somente com coisas básicas, para não ver Tyler com cara de Zumbi novamente. Passei pelo corredor, ouvindo a risada de Mike e Tyler, entrando no meu quarto logo em seguida. Tirei a toalha de meu corpo e enrolei-a em minha cabeça. Vesti um conjunto de lingerie branca, legging preta, regata comprida com uma estampa étnica, botas de montaria pretas e meu casaco de couro caramelo. A temperatura estava começando a subir, agora que estávamos praticamente no início de fevereiro, mas não tanto. Enrolei um cachecol preto no pescoço e segui para a sala, onde encontrei Tyler sentado na banqueta conversando com um sorriso sem graça com Mike, que apontava para ele a espátula que segurava.
— Fala biba, o que te afliges? — Comentei, sentando-me na banqueta do lado de Tyler, pegando meu prato de ovos mexidos.
A espátula veio parar quase embaixo de meu nariz bem quando eu havia terminado de colocar uma garfada cheia em minha boca.
— Você sabe que eu amo vocês dois juntos. Mas eu preciso trabalhar. Com qualidade. Descansado. E vocês tem energia demais, minha querida, parecia uma maratona!
Tyler coçou a nuca e comentou com um sorrisinho de canto:
— Bem, como eu já disse, foi mal, Mike.
Terminei de mastigar.
— Mikey, dá um desconto. Somos jovens com muito fogo para apagar.
— Querida, tenho plena noção que vocês são namorados e...
— Não somos namorados. — Tyler e eu respondemos quase o mesmo tempo. Para evitar o constrangimento, enfiei outra garfada na boca.
Mike suspirou e revirou os olhos. Comi mais um pouco.
— Tá. Tanto faz, pombinhos. Só tentem fazer o que tiverem que fazer durante a tarde e pelo amor de Deus, Tyler, você tem uma varinha mágica no lugar do pinto? O quanto você fez essa menina gritar é inacreditável.
Comecei a gargalhar, porque Tyler engasgou com o gole de café que bebia quando Mike comentou isso.
— Não, Mikey, eu que sou um pouquinho escandalosa mesmo.
Revirei os olhos e me levantei, empilhando os pratos agora vazios.
— Um pouquinho escandalosa? UM POUQUINHO? Você gritava tanto que eu achei que Ty estava te enchendo de porrada, quase chamei a polícia para ir te salvar, querida.
Mordi o ombro de Tyler e beijei-o no pescoço rapidamente, respondendo Mike logo em seguida:
— Pode deixar, Mike. Tyler está me tratando muito bem.
Continuei meu caminho para levar a louça até a cozinha, até que recebi um tapa forte em meu bunda que quase fez as canecas caíssem no chão. Olhei para trás, indignada, e Tyler somente apertou minha bunda com força ao ver meu olhar, sorrindo malicioso, então olhando para Mike.
— É, Mike. Pode ter certeza que dou um trato nessa aqui.
Revirei os olhos e coloquei as coisas na pia, enquanto Mike seguia para o quarto de , onde ele guardava suas roupas, gargalhando e depois falando “Arranjem um quarto! E bem longe daqui, por favor!”.
Coloquei toda a louça na pia e procurei pela esponja e pelo detergente.
— Vou me trocar e pegar minhas coisas. — Tyler comentou casualmente, levantando-se. — Já volto, gata.
Respondi-o com um “ok” e continuei lavando a louça, tentando não pensar em nossa falecida máquina de lavar louça. Terminei-a rapidamente e coloquei-a para escorrer. Sequei as mãos, voltei para escovar os dentes novamente e então peguei minha mochila.
Tyler e eu pegamos um táxi até o estúdio de Jace, cujo endereço ele me enviou por mensagem, conversando sobre coisas aleatórias. Ele havia conseguido o dia de folga e, como havia insistido inicialmente, iria me acompanhar hoje para fazer o meu book. Jace havia me instruído para levar 2 trocas de roupa mais chiques e que fariam minha maquiagem e cabelo lá.
Não demoramos muito para chegar. Eu ainda me lembrava mais ou menos do lugar, um prédio que mais parecia uma fábrica antiga abandonada, se não fosse pelos portões reformados na frente dos quais paramos. Todo de tijolos e com algumas chaminés, o prédio deveria ocupar quase uma quadra inteira.
Passamos pelos portões assim que anunciei meu nome completo, Tyler com uma mão já possessivamente ao redor de minha cintura, tentando não parecer impressionado com o local. Quando Jace me disse que era um fotografo autônomo, ele mentiu. No dia que fomos para o nosso encontro ele me contou, durante o bar mexicano, que na verdade era ele e mais dois irmãos, os Karev, que eram os donos do lugar. Mesmo assim, ele ainda era podre de rico.
A secretária indicou uma porta no final do corredor à esquerda e eu somente segui suas indicações, pegando na mão de Ty e entrelaçando nossos dedos.
Ele abriu a porta para mim, fazendo uma mini reverência para que eu fosse na frente, o que eu fiz dando uma risadinha e revirando os olhos. Virei-me para o estúdio e percebi que Jace nos observava, uma câmera profissional em mãos, um sorriso divertido no rosto. Com toda a certeza, ele não estava nem aí se eu estava namorando ou não, porque ele provavelmente nunca teve essa intenção comigo.
— Bem vindos. — Ele sorriu abertamente, os óculos de grau levemente tortos em seu rosto. — Vamos, temos muito o que fazer hoje.
Tyler estufou o peito inconscientemente ao chegar perto de Jace, mantendo a pose. Sorri para o gesto, percebendo como ele ficava possessivo quanto à mim perto dele. Qual é, era bom se sentir desejada.
Respirei fundo e apresentei-os rapidamente.
— Bom, Jace, esse é Tyler. Tyler, esse é o Jace.
Eles apertaram a mão e Jace deixou uma careta escapar, provavelmente porque meu querido Tyler apertava sua mão com força exagerada. Homens.
Assim que eles soltaram as mãos, Jace voltou a segurar sua máquina fotográfica profissional e sorriu abertamente para mim. Tyler passou uma mão ao redor de minha cintura.
— Vamos começar? Você já conhece o Jeff, não é, ?
Virei-me para o lado e percebi que Jeff, o maquiador/cabelereiro que me arrumou para meu primeiro ensaio, estava colocando alguns produtos sobre uma penteadeira com um espelho enorme. Andei rapidamente até ele e nos cumprimentamos com dois beijinhos.
, não é? — Jeff disse, um sorriso aberto, a barba rala como sempre.
— Sim, ó milagroso Jeff. Diga-me que fará sua mágica hoje novamente, pois preciso estar fabulosa nesse book ou ninguém irá me contratar.
Ele riu, afeminado como era, respondendo com um “Mas é claro, meu bem!” e então desviando os olhos para Tyler, que estava com as mãos nos bolsos da frente da calça jeans, os braços fortes tensionados contra a jaqueta de couro preta que usava por cima da camiseta cinza.
— E quem seria essa belezura? — Jeff me perguntou, estendendo a mão para Tyler, a qual apertou formalmente.
— Tyler Hunt.
Jeff sorriu abertamente, e então virou-se para mim, piscando um só olho, aprovando. Soltei uma risadinha.
Tirei a mochila de minhas costas, colocando-a sobre a cadeira na qual eu me sentaria para ser maquiada.
— Jace me disse para trazer três looks, o que você acha? — Mostrei-os um por um para Jeff e ele sorriu.
— Ótimo. Já até sei o que fazer para cada um deles. Temos alguns acessórios aqui que vão ficar perfeitos e posso tentar pegar emprestado um ou dois pares de sapato de uma sessão que tivemos ontem. — Jeff sussurrou em minha orelha e eu gargalhei.
Virei-me para guardar as roupas nos cabides da arara de metal perto de nós e então percebi Tyler, perto de nós, balançando o peso de uma perna para a outra, claramente desconfortável com todo aquele papo fashion demais.
— Tem algum lugar onde ele poderia esperar? — Perguntei à Jace, enquanto começava a tirar meus figurinos para o ensaio de hoje de dentro da bolsa.
— Ah, claro, por aqui. — Jace indicou para um local atrás de uns painéis brancos. — Tem uns sofás aqui.
Assim que Jace saiu e levou Tyler para um local um pouco mais longe de nós, atrás dos painéis, Jeff virou-se para mim com os olhos arregalados e me deu um tapinha no braço.
— Achei que você estava engatada com o meu chefinho!
Soltei uma risadinha e revirei os olhos.
— Nós nunca tivemos nada. Ele só gostava de mim pelo desafio e eu dele pela ousadia. Depois, pelas fotos e pelo dinheiro que elas me lucravam, também. — Confessei e nós rimos.
— E esse Tyler, hein?
Involuntariamente, sorri. Dentro de mim, a antiga revirou os olhos perante minha reação boba apaixonada. Ah, cala a boca, sua invejosa.
— Nós estamos juntos. Tipo, exclusivos.
— Então vocês são namorados?
Torci o lábio perante a pergunta de Jeff.
— Estamos tentando um relacionamento e vendo onde isso vai dar. — Dei de ombros. Era um jeito reconfortante de pensar, perante meu ainda existente medo de compromissos.
Jeff sorriu malicioso.
— Sei. Sei muito bem onde isso vai dar, minha querida.
Deixei uma risada escapar e revirei os olhos, pegando a primeira roupa das araras e indo para o que seria um pequeno vestiário. Puxei a cortina para se fechar e coloquei meu look, tão orgulhosamente montado na Black Friday. Uma saia longa rosa pink com um top cropped de oncinha. Abri a cortina e andei descalça até a cadeira, sentando-me calmamente. Jeff sorriu aprovando.
Jace apareceu novamente, desligando o telefone, provavelmente numa ligação sobre o trabalho, ou sei lá.
— Vou checar a iluminação e as lentes enquanto isso, ok? Não demorem. — Jace comentou olhando para mim e Jeff.
Sorrimos um para o outro.
— Não se apressa a perfeição, meu bem. — Jeff comentou piscando enquanto ele começava a mexer em meus cabelos. — Quando eu terminar com essa aqui, ela vai ser quase uma das Angels da Victoria’s Secret.

’s POV.


Acordei com Anna se esticando sobre mim – ela estava deitada sobre minha barriga e acidentalmente me deu um soco no peito. Pisquei confusa e ergui minha cabeça para pegar meu celular e checar o horário. Eram oito e meia da manhã, ainda.
Havia um cobertor extra esticado sobre meu corpo que eu não lembrava de ter colocado na cama e eu congelei, pensando se Edgar havia entrado no quarto e me visto somente de blusa (que provavelmente havia subido completamente enquanto eu dormia), deitada com sua filha. Depois pensei em como meu chefe estava cada vez mais longe de agir como um chefe.
Empurrei o corpo de Anna delicadamente, tirando-a de cima de mim e escapando da cama na ponta dos pés para não acordá-la. Entrei em seu banheiro, coloquei a minha roupa da noite anterior – ficando feliz que ela havia sido jeans com uma blusa, para não ter que andar de vestido o resto do dia – e ajustando meu rosto meio borrado pela maquiagem.
Peguei minhas coisas e passei no quarto de Theo para checar se o pequeno ainda estava dormindo. Sua cama já estava vazia. Espiei em seu banheiro, mas não havia sinal dele lá também. Segui pelo corredor confusa, já me segurando para não sair gritando pelo nome de Theodoro.
Entrei na cozinha e Maria Sofía estava terminando de passar algumas roupas, ela sorriu para mim, amigável como sempre, nem se importando de perguntar o que eu estava fazendo dormindo lá.
— Maria, onde está o Theo?
— O Theo? Como assim?
Meu coração parou. Arregalei os olhos.
— Onde o Theodoro está? Ele não está deitado.
— O quê? Tem certeza? Ele não consegue sair da cama sozinho. — Ela pausou o ferro e arregalou os olhos também.
Nem pensei antes de responde-la. Larguei minha bolsa no chão da cozinha e sai correndo pelo apartamento. Entrei novamente no quarto de Theo para conferir que não estava louca, e em seguida corri até o quarto de Edgar. A porta estava entreaberta e eu bati rapidamente nela antes de a abrir, sem ao menos esperar uma resposta:
— Edgar, o Theodo...
Estava lá. Deitado ao lado de meu chefe. Ambos dormindo.
Suspirei alto, relaxando os ombros e agradecendo mentalmente pelo pequeno estar lá. Theodoro estava deitado no centro da cama, com travesseiros em um de seus lados e o corpo de Edgar do outro, para que ele não caísse da cama enquanto dormia. Edgar estava somente de calça moletom, e seu corpo se curvava sobre o de seu filho, um braço protetoramente ao redor dele. Olhando-os um pouco mais do que uma mera funcionaria deveria, percebi as semelhanças entre eles que me faziam sorrir.
Ambos tinham cabelos cacheados extremamente bagunçados enquanto dormiam, ficavam com a postura relaxada completamente e dormiam deitados sobre algum de seus braços, a cabeça afundada na direção aos seus travesseiros. O cobertor estava fazendo um melhor trabalho cobrindo Theodoro do que Edgar, então entrei cuidadosamente no quarto para puxar ele sobre meu chefe.
Ajustei o lençol em cima de seus corpos e quando estava me virando para sair, uma pequena mão cutucou minha cintura e eu olhei para baixo, encontrando Anna com a cara sonolenta esticando os braços para mim.
— Você quer voltar a dormir? — Sussurrei agachando-me na sua frente e puxando-a para um abraço.
Ela assentiu em meu colo e eu dei a volta na cama, retirando o travesseiro que antes ficava ao lado de Theo para colocá-la no lugar do mesmo. Ela segurou em meus ombros enquanto deitava-a no colchão e suspirou pesadamente antes de afundar rapidamente em seu sono novamente.
Passei a mão sobre o cabelo de Theo e acariciei o braço de Anna antes de sair do quarto com passos leves. Cheguei na metade do corredor e ouvi passos atrás de mim, seguido de meu nome.
.
— Oi. Bom dia. — Virei-me para sorrir para Edgar. — Desculpa, não queria acordar você.
Ou talvez eu passasse a querer daqui em diante, porque meu chefe ficava maravilhoso quando acabava de acordar. O rosto levemente amassado, as madeixas desarrumadas e uma postura relaxada.
— Eu estava meio acordado.
Corei imediatamente, pensando se ele estava acordado quando coloquei o lençol sobre ele novamente. Edgar esfregou o rosto com uma mão e sorriu amigavelmente para mim.
— Obrigado por ontem. Eu precisava daquilo.
— Claro. — Sorri falsamente, tentando reprimir uma careta ao lembra-lo com a outra mulher, e continuei um pouquinho animada demais: — Vamos fazer de novo! Dessa vez não estarei com meu marido.
— Noah é um cara legal.
— É sim. E estaremos anulando nosso casamento hoje mesmo, se tudo der certo.
Edgar sorriu abertamente, uma covinha se formando no lado direito de seu rosto.
— Admito que nunca consegui digerir a história de Las Vegas.
— Claramente, nem meu corpo conseguiu. Acho que o choque foi tanto que meu corpo apagou a memória para evitar sofrimento.
Ele riu e juntei-me a ele durante alguns segundos, até meu celular começar a tocar e estragar o momento. Era Charles. Pedi licença e atendi com um sorriso:
— Ei. Achei que você ia ligar mais tarde.
— Já é mais tarde. — Chuck riu. — Aqui na Inglaterra.
Pelo canto de meus olhos, vi Edgar voltar para dentro de seu quarto, silenciosamente. Então segui para a sala.
— Ah. É verdade. Essa coisa de fuso horário é uma merda.
— Era sobre isso que eu queria falar. — Ele respondeu suavemente.
— Então...?
— Você tem acesso a algum computador? — Ele cortou o assunto do nada. — Tipo, você pode usar o Skype?
— Bom... O Mike tem um computador que deixaria usar, mas não tenho uma conta de Skype. Também não acho que saberia fazer isso.
Chuck suspirou.
— Estou cansado de ouvir só sua voz. Queria te ver pelo menos uma vez.
Mordi meu lábio inferior e vi Edgar aparecer na sala brevemente para seguir até a cozinha, ainda de pijama.
— Posso pedir ajuda para Edgar... Você sabe... Para fazer o Skype. — Comentei incerta.
— Seu chefe?
— É. Ele usa bastante o computador, deve saber me ajudar.
— Tenho certeza que sim, também. Acha que tudo bem pedir?
— Charles. — Ri fracamente, pensando no quanto aquilo era idiota. — Eu o levei em um bar para encher a cara. Acho que pedir ajuda com a internet não é um problema.
Chuck riu e concordou. Ele pediu para que eu tentasse pedir e o enviasse alguma mensagem depois para dizer se havia conseguido – senão ele me ligaria novamente. Eu estava indo atrás de Edgar na cozinha, quando trombamos na porta dela. Ele estava com duas xícaras de café nas mãos e estendeu uma para mim, com um sorriso.
— Maria Sofía disse que você não tomou nada.
— Obrigada. — Sorri de volta, pegando-a com cuidado. — Edgar... Posso te pedir um favor?
Ele ergueu uma sobrancelha levemente, não de modo arrogante, mas sim curioso. Eu não era de pedir favor ou aceitar e ele sabia disso – havia demorado para me fazer aceitar sua ajuda para contar os gastos do apartamento até.
— Claro.
— Hm... Você sabe o Charles, né?
— O estrangeiro? — O sorriso de Edgar se fechou minimamente, então ele se recompôs quando eu assenti.
— Ele estava conversando comigo... E pediu para que eu fizesse um tal de Skype para que pudéssemos conversar direitinho. No apartamento, o Mike até tem um computador, mas ele não fica em casa muito tempo e eu não saberia fazer esse Skype sem a ajuda de alguém. Sou bem leiga com tecnologia. Então eu queria saber se voc...
— Ok. — Ele me interrompeu com um sorriso e tomou um gole de seu café enquanto passava por mim.
— O quê?
— Eu disse okay. Vamos para o escritório, vou te ajudar.
Pisquei confusa e comecei a segui-lo pela casa.
— Sério? Obrigada Edgar.
— De nada. — Ele respondeu sorrindo e entrando no escritório.
Em menos de meia hora já havíamos terminado tudo. Foi bem rápido, na verdade. Demoramos mais tempo porque enquanto Edgar me ajudava a completar algumas informações necessárias para fazer a conta, nós acabávamos falando sobre algumas das coisas e nos desconcentrando.
Quando falamos sobre porque a pergunta reserva seria “Qual o nome do seu primeiro animal de estimação?” e a resposta “Muchu”, tive que explicar para ele a origem da iguana. Ele gargalhava com as histórias do Natal e pós Ano-Novo quando encontramos Muchu no fogão e eu sorria, me animando para continuar a contar histórias e fazê-lo rir.
A risada de Edgar era linda, cheia de energia e rara – como a de Anna.
Então eu estava com uma conta novinha no Skype e enviando uma mensagem para Chuck para avisá-lo. Ele me adicionou em uma questão de segundos e uma tela para iniciar uma conversa apareceu, fazendo-me corar dos pés à cabeça.
Felizmente, Edgar poupou minha vergonha e pediu licença para ir tomar um banho, enquanto dava um tempo para que eu falasse com Charles. Agradeci e esperei que ele fechasse a porta do escritório para aceitar a conversa.
Sentei inquieta até o programa se conectar com Charles. Então ele estava bem na minha frente.
Quer dizer. Não literalmente, mas vocês entenderam. Ele estava ali, do outro lado da tela. Exatamente igual a primeira vez que o conheci. Uma barba rala cobrindo seu maxilar, um terno preto com uma gravata azul clara que destacava seus olhos e um sorriso radiante no rosto se abrindo quando minha imagem também carregou.
Acenei timidamente para ele, fazendo-o rir quase que aliviado.
— Oi, .
Mordi meu lábio inferior.
— Oi, Charles. Você está igualzinho.
— Você não. Está bem diferente.
Toquei meu cabelo involuntariamente. Eu até esqueci que havia o cortado e que Charles ainda não havia me visto com o cabelo novo. Talvez eu devesse ter me arrumado um pouco mais antes de aparecer na imagem para ele. Bom. Próxima vez.
— Eu gosto. — Ele sorriu e relaxou em sua cadeira, inclinando-se para trás. Uma mão coçou seu pescoço e parou sob seu queixo, tentando parar um sorriso.
Apoiei-me sobre os cotovelos na mesa, piscando fofamente para ele com um sorriso angelical. Ele estava lindo e tão longe que chegava a coçar meus dedos a vontade de querer tocá-lo. Mesmo com seu charme, ele ainda parecia um pouco cansado. Mas continuava sendo meu inglês.
Charles ficou olhando minha imagem durante dois minutos inteiros antes de rir novamente e se ajustar na cadeira para conversar direito comigo.
.
— Oi.
— Quero voltar para Nova Iorque.
Eu sorri imediatamente, tentando conter minha felicidade e somente respondi:
— Tudo bem. Eu aprovo esse plano.
— Estou pensando em voltar semana que vem. O que você acha?
— Acho que vou estar aqui. Não tenho certeza, tenho que checar na minha agenda.
Chuck gargalhou.
— Vou precisar que você esteja completamente livre para mim. Quero encontrar com você no segundo que pisar nos Estados Unidos.
— Bom... — Sorri dando ombros. — Não posso prometer o segundo. Mas acho que posso prometer estar no aeroporto esperando.
Os ombros de Chuck visivelmente relaxaram.
— Eu não podia pedir mais. Obrigado.
— De nada.
Chuck se inclinou para frente, ficando mais perto da câmera e sorriu para a tela carinhosamente, seus olhos inundando-se com uma admiração visível até mesmo por uma tela e milhares de quilômetros de distância. Depois ele voltou para trás, passando as mãos no rosto e sorrindo relaxado.
Bloody Hell, . Eu estava com saudades de ver você. Imaginar nunca chegou aos seus pés.
Sorri para ele.

’s POV.


— Levante um pouco mais o queixo, . — Jace pediu, com a câmera contra o rosto e uma mão girando o zoom ao redor da lente.
Segui conforme instruído e relaxei meus lábios.
— Assim?
Flash.
— Perfeita.
Relaxei a pose e sequei minhas palmas suadas contra a calça de couro vermelha que eu usava. Por mais divertido que fosse, a presença de Tyler ali, observando cada coisa que eu fazia, era um pouco intimidante. E se eu fizesse uma pose feia, ou uma careta? Pior: e se meu cofrinho aparecesse?
— Querida, Gisele Bündchen nunca saberá o que a atingiu. — Jeff comentou, limpando lágrimas falsas de seu rosto enquanto Jace trocava a lente da câmera.
Revirei os olhos, arrumando a gola da camisa branca com detalhes minimalistas pretos. Meus pés estavam começando a doer por estar de pé e de salto há tanto tempo, mas nem fodendo eu desceria do salto. Jeff conseguiu arranjar Louboutins pra mim e eu me sentia a mulher mais sortuda do mundo, pois era a segunda vez em vinte e quatro horas que encontrava Louboutins para mim.
Tyler desencostou da parede onde estava e veio caminhando até mim, as mãos logo ao redor de minha cintura e um beijo em minha bochecha.
— Você está linda.
Apoiei as mãos em seus ombros e fiz um bico.
— Mesmo? Sei lá, isso tudo é tão mulherzinha e moda e poses de revistas de moda que achei que você não gostaria.
Ele levou os lábios para perto de minha orelha, as mãos ainda pousadas sobre minha cintura, porém firmes.
— Continua linda.
Abri um sorriso involuntariamente, soltando um risinho. Puxei seu rosto para mim delicadamente, e encostamos nossas testas, ambos sorrindo.
Flash.
— Ei! — Tyler reclamou, piscando e levantando a mão como que para cobrir os olhos.
— Ai, mais uma, mais uma! — Jeff exclamou dando pulinhos. — Eles ficam tão lindos juntos, precisa de mais uma foto, Jace!
Jace sorriu para mim.
— Posso, Tyler? — Ele perguntou casualmente.
Tyler pressionou os lábios. Eu sabia que ele não gostava muito da ideia, portanto olhei-o com um bico, pedindo que ele aceitasse, mudamente. Ele revirou os olhos e me girou, colocando-me na sua frente, passando as mãos por minha cintura, colocando sua cabeça sobre meu ombro, quase apoiando o queixo em meu ombro, já que eu estava de salto e ficávamos praticamente da mesma altura.
Sorri para a câmera, minhas mãos pousadas sobre as de Ty.
Flash.
Virei-me em seus braços, então o segurei pelo rosto com ambas as mãos e, suavemente, pressionei meus lábios contra os seus. Uma mão veio parar em minha cintura e a outra em minha nuca, sobre meus cabelos.
Mal vi o flash soltar.
— Chega de fotos por hoje. — Tyler falou me censurando, dando um selinho, então virando para Jace. — Acredito que já tenha tudo o que precisa?
Jace olhou para a câmera e sorriu confiante.
— Sim, estou confiante que teremos um book maravilhoso até o fim da semana que vem. Vou descarregar as fotos e mandar para o setor de edição hoje à tarde mesmo.
— Eu vou me trocar, então. Temos que estar em uma audiência em uma hora.
Tyler confirmou com a cabeça minha frase e eles começaram a arrumar as coisas, enquanto eu voltava para o vestiário. iria me matar se nos atrasássemos para a sua anulação.
Coloquei minhas roupas anteriores e devolvi os Louboutins junto com um pedaço de meu coração. Peguei minha mochila com todos os meus pertences dentro novamente e saí para o corredor, onde me esperavam, apagando as luzes atrás de mim.
Tyler não estava lá, nem Jeff.
Somente Jace.
— Então... Como está a vida de casada? — Jace perguntou com um sorrisinho.
Revirei os olhos.
— Pode cortar a baboseira, O’Maley. Ficou com ciúmes, é?
Ele gargalhou.
, eu sou que nem você. Ou pelo menos, que nem você era. Não quero relacionamentos.
Cruzei os braços.
— Ah é? E porque você me levou para um encontro, então?
— Se bem me lembro, todo o encontro foi forjado e depois fomos para um bar mexicano. Fiquei te confundindo e intrigando porque gosto de conquistar. Fazer o quê? — Ele deu de ombros e eu revirei os olhos.
— Pois é, acho que não fez o trabalho muito bem, porque aqui estou eu, conquistada por outro.
Jace deu de ombros.
— Pode ter certeza que maior negócio do que o meu ele não tem.
Bati em seu braço perante a malícia em sua frase.
— Não, ele não tem maior negócio que o seu. Mas pode ter certeza que é muito melhor.
Jace riu e depois ficou um pouco mais sério, abaixando o tom de voz.
— Bem, fico feliz por você. Por vocês dois. Não sei qual é a história, mas parecem bem apaixonados. Pode ficar tranquila, não vou ficar provocando-o ou a você. Tenho muitas modelos por aí com as quais posso me entreter. — Ele piscou, finalmente andando pelo corredor, em direção à mesa da recepção.
Acompanhei-o, ajeitando as alças da mochila em minhas costas.
— Obrigada, Jace. Por tudo.
Ele deu de ombros e respondeu um “Disponha” com um sorriso divertido.
Chegamos à mesa da recepção onde Tyler terminava de pagar com a secretária o que deveria ser o valor do meu book.
— TYLER! O que você está fazendo?!
Ele pegou a nota fiscal da mão da secretaria que deu um mini pulo com o meu grito e voltou-se para mim, gentilmente retirando minha mochila de minhas costas.
— Eu — ele pausou a frase para colocar a minha mochila com ambas as alças em um só ombro e passando a outra mão em volta de minha cintura. — Estou te dando um presente, .
Resmunguei:
— Não quero presentes. Sei me cuidar. Não posso aceitar isso, Ty, quanto foi? Eu te pago de volta.
Tentei me afastar, mas ele me roubou um selinho e então comentou casualmente.
— Tudo bem. Considere isso meu jeito de me redimir por ter apresentado Jules à vocês e então ela ter destruído o apartamento.
É. Bem. Olhando por esse lado, eu até que posso aceitar.
Suspirei.
— Tá. Obrigada. Mas vamos, temos que ir ou vamos nos atrasar. — Beijei-o rapidamente e então despedi-me de Jeff e Jace com um pouco de pressa.
Saímos do estúdio e já havia um táxi na porta nos esperando, provavelmente porque Tyler o pediu enquanto eu me trocava e conversava com Jace.
Entramos rapidamente e demos as instruções do local onde seria a audiência para a anulação do casamento de nossos melhores amigos. Peguei meu espelhinho da bolsa e chequei a maquiagem que Jeff fez por último: lábios vermelhos matte, olhos com delineador preto de um jeito clássico, com sombra marrom e perolada. Sorri para meu reflexo e guardei o espelho, logo em seguida pegando na mão de Tyler.
Não demorou muito para que chegássemos ao local.
Tyler pagou o táxi e seguimos para onde estava anotado no papel que me entregou ontem de manhã. Quando viramos no corredor, logo conseguimos avistá-los.
Noah parecia outra pessoa, vestindo um terno cinza com uma gravata vermelha. usava um vestido azul marinho, justo, mas não vulgar devido ao decote canoa que cobria os bebês de , com um sobretudo preto por cima. Ela andava em círculos, seus scarpins pretos estalando contra o chão de madeira.
Assim que virou mais uma vez em seus passos nervosos para lá e para cá, ela nos avistou e seu rosto foi tomado por alívio. Noah retirou as mãos dos bolsos, relaxado como sempre, mas mesmo assim seu sorriso pareceu mais aliviado.
— Finalmente vocês dois! Onde foi tirar essas fotos? Na semana de moda em Milão? — resmungou, andando até mim antes que eu a alcançasse, me abraçando com força.
Abracei-a com força igual, nós da mesma altura agora que eu estava com as minhas botas de montaria e ela com saltos. Quando nos afastamos, ela abraçou Tyler rapidamente e Noah, que nos alcançou logo depois, pegou minha mão e beijou suas costas, com o sorriso malicioso de sempre. Revirei os olhos.
Assim que se soltou de Tyler, sua boca torceu em desaprovação e ela apontou para nós dois.
— Vocês estão loucos? Estamos em um tribunal e vocês vem vestidos assim?
Noah colocou as mãos nos bolsos casualmente e revirou os olhos.
— Relaxa, minha rainha. Quem precisa estar apresentável somos nós, não eles. Nós que casamos em Las Vegas, lembra?
Sorri divertida com a expressão torturada de com a insistente lembrança de sua desgraça. Toda vez que o tópico surgia, ela fechava os olhos com se ainda sentisse os efeitos daquela ressaca. Não posso dizer que tinha sérias dúvidas que ela ainda sentia, porque parece que foi uma das pesadas.
— Eu lembro, Noah. — Ela comentou entredentes.
— Bom, relembrar é sempre bom, não é querida? Ah, é verdade, eu não posso relembrar, porque eu não estava lá. — Comentei sorridente e ela me fuzilou com o olhar.
Tyler passou uma mão ao redor de minha cintura e interrompeu antes que gritasse mais uma vez que ela estava estupidamente bêbada.
— Que horas que foi agendada, mesmo?
Noah checou o horário no celular.
— Devemos entrar daqui a pouco, antes de vocês chegarem, o caso antes do nosso já havia sido liberado. Falaram que tem que arrumar a papelada e etc antes de entrarmos. Coisas chatas desse tipo. — Ele comentou dando de ombros.
Suspirei e olhei ao redor.
— De nós duas, sempre pensei que você seria a primeira a casar, bf. Mas, para ser sincera, achei que eu seria a primeira a divorciar, não você.
Ela me empurrou para longe dela.
— É uma anulação! — vociferou e eu somente gargalhei. Ela riu falsamente e cruzou os braços. — Depois você ainda se pergunta porque não foi minha madrinha.
Mostrei a língua para ela.
— Não queria mesmo!
A porta de madeira que deveria ser a que dava acesso para o tribunal foi aberta e uma mulher de meia idade apareceu, arrumando os óculos no rosto, acabando com nossa briguinha infantil.
— Sr. e Sra. Shaw? O juiz está pronto para ver vocês.
Tyler soltou uma risadinha perante o sobrenome de Noah endereçado à e esta o fuzilou com o olhar. Abracei-a de lado e suspirei, sorrindo.
— Vamos, bf. Vamos anular algumas merdas que você fez.

’s POV.


Noah tentou segurar minha mão três vezes antes de entrarmos na sala e eu estapeei-a durante as três. Ele sorriu todo alegre para mim, completamente confiante que tudo daria certo e tudo que passava por minha mente tinha a ver com aquele filme “Jogo de Amor em Las Vegas”, da Cameron Diaz, onde ela é forçada a continuar casada com o Ashton Kutcher.
Não que eu fosse reclamar de continuar casada com o Ashton. Mas com o Noah é outra história.
Ainda assim, respirei fundo, pensando para mim mesma que ter uma melhor amiga louca (como a personagem de Cameron no filme) que recentemente tem transado com o melhor amigo de Noah (coisa que também acontece com o amigo de Ashton e Cameron) era tudo uma coincidência. E nada era certo nesse destino macabro de minha vida.
Ia dar tudo certo.
Tinha que dar.
Nós entramos na sala e quase imediatamente todos meus músculos travaram para aquele ambiente. Vou dizer, para que vocês não tenham a curiosidade, que salas de tribunal são quase iguais as dos filmes americanos. Exceto pelo fato que não há várias pessoas assistindo seu caso e seu juiz não fica usando uma peruca branca cacheada na cabeça. Eles usam a toga, mas aparentemente a peruca é desnecessária.
Noah me puxou pelo punho para frente, para que continuasse andando junto dele e eu o deixei, perplexa demais para fazer outra coisa sozinha. Nós paramos quando chegamos ao lado do advogado de Noah, um homem lá pelos quarenta anos, simpático, e que eu nunca gravaria o nome por ser complexo demais. O cumprimentamos e esperamos o juiz terminar de falar com o meirinho, que logo em seguida anunciou o número de nosso processo nos chamando à frente.
Nosso juiz era um senhor careca, fofo e asiático. Imediatamente eu tive vontade de apertar suas bochechas, mas aposto que ele me prenderia por desacato. Ele recebeu as folhas de nosso processo, analisou-as brevemente e depois olhou para nós ajustando seus óculos no nariz. Ele sorriu tranquilamente.
— Boa tarde, senhores.
Nós respondemos um “Boa tarde” em uníssono.
— Os arquivos do processo já me foram entregues, eu posso ver aqui que estaremos fazendo a anulação do casamento de dois jovens... — Ele olhou para nós novamente e seu foco foi para e Tyler, dirigindo-se a eles: — Os senhores já conversaram com seu advogado e estão cientes do que o contrato de anulação fará?
ergueu uma sobrancelha e depois abriu a boca, confusa por estar sendo direcionada. Tyler parecia em choque por alguma autoridade estar falando com ele e Noah escondeu o rosto atrás de minha cabeça para esconder um sorriso. Nosso advogado limpou a garganta e se intrometeu:
— Meritíssimo, perdão... — Ele apontou para mim e Noah. — Esses são meus clientes, e Noah Shaw.
O juiz franziu a testa e olhou para nós meio desconfiado. Ele ficou em silêncio alguns segundos e depois se ajustou em sua cadeira e deu ombros fazendo um movimento com a mão.
— Certo, certo. As surpresas que esse trabalho me traz hoje em dia com esses jovens... — Ele olhou novamente para os papéis do processo e para mim. — A senhora está ciente que o contrato da anulação não divide e a impede exigir uma remuneração após o divórcio?
Nosso advogado assentiu para mim, estimulando-me a concordar.
— Sim, Meritíssimo.
— E o senhor Shaw está ciente que não terá mais nenhum tipo de compromisso legal sobre a senhora e que ambos estão livres para anularem outros casamentos a partir de hoje?
— Sim. — Noah respondeu prontamente com um pequeno sorrisinho.
O juiz deu ombros e suspirou enquanto ajustava nossos papéis do processo, carimbando-os rapidamente e depois o assinando.
— Bom, o caso de vocês foi bem entediante. Não há muito o que fazer senão acatar com a anulação. Espero que isso tenha servido de lição para que vocês pensem com maior racionalidade da próxima vez que resolverem se casar. Mesmo em Las Vegas.
— Obrigada, Meritíssimo. — Nosso advogado disse indo até ele e pegando os papéis assinados de sua mão. Ele nos entregou os papéis e apontou para pontos em que teríamos que assinar.
— A assinatura do casal e depois das respectivas testemunhas. Logo estarão livres para ir e cometer mais erros. Por favor, senhor advogado, entregue a original para o escrivão e as cópias para as partes do casal.
Dito isso, ele levantou calmamente, desceu de seu lugar e acenou simpaticamente para nós antes de sair do tribunal. Noah abraçou-me rapidamente e já foi assinar os papéis, seguido de mim e depois de e Tyler. Nosso advogado nos parabenizou e despediu-se rapidamente, dizendo ter outro processo para acompanhar em vinte minutos. Ele distribuiu as cópias da anulação como o juiz pedira e sumiu rapidamente.
Eu sai do Tribunal de Justiça com dez quilos a menos em meus ombros. Noah fazia piadinhas com Tyler sobre o juiz ter confundi-los por eles não estarem bem vestidos e gargalhava enquanto seu quase-namorado ficava fazendo careta para seu melhor amigo. Eu saía, quase saltitando pelas ruas por ser uma mulher novamente solteira.
Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Charles imediatamente, avisando:
“Tudo deu certo, sou novamente Srta. .”
Ele demorou um minuto para responder:
“Ainda bem, eu sinceramente tenho em mente outros sobrenomes que combinam mais com você ;)”
Ergui uma sobrancelha para sua mensagem e atravessei a rua junto dos outros, pendurada no braço de Tyler rindo e também o provocando agora. Respondi mudando o assunto:
“O processo foi tão tranquilo que acho que minha gastrite se curou assim que sai da sala”
Charles continuou a me responder, distraindo-me do que estava acontecendo ao meu redor, até que surgiu ao meu lado, tentando ver meu celular enquanto eu digitava e quase fazendo com que jogasse ele no chão em susto.
— Oi bf. O que você está fazendo ai no celular?
— Respondendo mensagens.
— De quem? E por favor pare, você está perdendo o Ty ficar vermelho de raiva com o Noah. Estou sentindo um soco amigável daqui a pouco.
— Minha mãe. — Respondi jogando o celular na bolsa novamente e sorrindo abertamente para distraí-la.
Eu não havia contado para sobre estar falando com o Charles novamente. Em parte porque eu não achava que ela fosse ficar muito feliz, provavelmente falaria que ele não merecia minha atenção depois do que tinha dito e talvez, ele não merecesse. Mas até aí eu também não havia sido a melhor pessoa do mundo para ele. Qual era o problema de segundas chances?
E minha melhor amiga, ocupada demais com a vida de casal e procurando por emprego, também não percebia minhas constantes ligações para algum lugar ou as mensagens que eu estava sempre digitando. Somente Mike sabia de tudo e ele também já não era muito fã.
Talvez quando eu contasse que Charles estava voltando para Nova Iorque ele fosse ficar mais tranquilo. Ele sempre foi fã número um do inglês mesmo.
— Vamos jantar no Planeta Hollywood mais tarde? Eu estava com uma vontade imensa de ter o cardápio de lá. — Ty sugeriu, puxando pela cintura contra seu corpo enquanto esperávamos o farol abrir para nós.
Ela respondeu prontamente, dando-lhe um selinho rápido:
— Você disse a mesma coisa quando nos conhecemos.
apoiou a cabeça contra o peitoral de Ty e eu adorei o gesto – sorri meigamente para eles, piscando sem parar, fazendo-os revirar os olhos e rirem.
— Por mim não tem problema, eu estava afim de ter um hambúrguer mesmo. Mas antes quero voltar para o apartamento de vocês e dar um mijo. — Noah concordou.
— Bom, pelo menos isso não tem nada a ver com a primeira coisa que você me disse. — Provoquei.
gargalhou e aproveitou para fazer a própria piada:
— Tinha alguma coisa a ver com igreja, para variar?
Nós gargalhamos e eu peguei um montinho descongelando de neve para jogar em seu corpo. A neve atingiu Ty e ele fez uma careta enquanto se limpava, mas já estava ocupada devolvendo minha bola com a sua própria, que bateu na minha coxa. Nós saímos correndo rindo pelas ruas descongelando do Soho e não olhei para trás uma vez, ignorando meu (oficialmente) ex marido e melhor amigo rindo e pedindo para esperarmos.


Trigésimo Oitavo


’s POV.


Eu estava terminando de selar o vigésimo envelope com o meu currículo quando jogou o jornal na minha cara, quase atingindo meu pobre cereal que também estava sobre a bancada.
Mike colocava café em duas canecas térmicas, já vestido para seu trabalho como assistente na Vogue, enquanto se vestia para mais uma jornada da Super Nanny.
Observei o jornal que minha querida melhor amiga havia lançado no meu rosto e elevei as sobrancelhas, ao perceber que haviam partes dele circuladas com marca-texto.
, eu já disse que estou lidando com o meu desemprego. Hoje vou enviar minha ficha para mais de vinte audições, está tudo sob controle.
Ela terminou de vestir sua jaqueta preta e me olhou séria.
— Você gastou dois mil e quinhentos dólares em eletrodomésticos, dinheiro que não temos. Essas coisas demoram para dar respostas se você foi escolhida ou não, ser paga então, demora mais ainda. Precisamos do dinheiro.
Revirei os olhos.
— Qual é, eu fui a maior fonte de renda dessa casa nos últimos três meses.
Mike começou a montar seu almoço em um potinho, mas comentou enquanto cortava o tomate:
, meu bem, vocês tem muita coisa pra pagar com duas viagens em um mês, e mais todas essas dívidas, mesmo com todo o dinheiro que você conseguiu.
— É, isso mesmo. Não precisa ser um emprego pra sempre, .
Bufei.
— Só porque eu tomei coragem pra tentar o ramo artístico de novo! Eu não vou ter tempo para tentar se pegar um trabalho qualquer. — Cruzei os braços.
— Sinto muito, amiga. Mas a não ser que você entre para o America’s Next Top Model ou case com o Bill Gates, você precisa de um emprego. — Mike comentou, terminando de arrumar seu almoço e guardando o pote dentro da bolsa carteiro que ele usava.
Dei-me por vencida e segurei o jornal, somente para perceber que todas as coisas circuladas eram absurdas.
— Loira, você pirou o cabeção? Garçonete de novo, nem fudendo! E olha minha cara de assistente da Toys R Us. Vou mandar os pirralhos pararem de ser mimados e chorar pelo boneco mais caro, porque na minha época eu brincava de peteca!
— Você nem sabe brincar de peteca, .
Dei de ombros.
— Isso é irrelevante. O ponto é: nem fudendo vou aceitar um desses empregos.
colocou a bolsa no ombro e segurou a caneca térmica em uma mão, e a chave na outra, pronta para ir embora.
— Não quero saber, bfff. Quando eu estava desempregada, você infernizou minha vida. Ficou me xingando e mandando tirar a bunda do sofá e arranjou o meu emprego. Então, quando eu voltar do trabalho hoje, é bom que você esteja empregada, ou eu vou escolher seu novo emprego.
Tremi involuntariamente. Ela poderia me fazer ser garçonete de novo. Ou pior, atendente de loja de roupas. Seria uma tortura medieval.
Bufei.
— Tá! Mas, poxa, eu queria algo que tivesse pelo menos um pouco a ver com minha carreira como modelo ou como atriz, sabe?
Mike, que estava com a porta do apartamento aberta, arregalou os olhos e pareceu ter uma ideia sensacional, porque soltou da porta e veio pulando até mim, empolgado:
— MEU DEUS! Como eu não pensei nisso antes? Ai, bicha burra! — Ele disse para si mesmo e se deu um tapa na cabeça, então apoiou as mãos em meus ombros, ainda sorrindo. — Você pode trabalhar comigo na Vogue! Ainda não acharam um estagiário substituto para mim e posso te levar hoje mesmo para a entrevista. O salário é praticamente o mesmo que você ganhava no Planeta Hollywood e...
— Eu topo! — Comentei, antes que ele continuasse e eu me desanimasse.
levantou as mãos para o céu.
— Graças a Deus! Então, vai se trocar, , ou Mike vai se atrasar. Eu tenho que ir, preciso levar Anna pra a escola. Boa sorte, . — Ela me jogou um beijo no ar e saiu do apartamento.
Sorri para Mike e pulei da banqueta, correndo para o quarto para me trocar.
Ele me acompanhou, porque sabia que eu demoraria demais se escolhesse a roupa sozinha. No final, coloquei uma calça de veludo preta, uma camisa branca, meu blazer cor-de-rosa e botas de montaria. Peguei minha bolsa preta e enfiei a maquiagem dentro, junto com uma escova de cabelos e um perfume.
— Obrigada, Mike! — Agradeci pela vigésima vez enquanto caminhávamos para o metrô e ele somente me puxou pelo braço, para ir mais rápido pelas escadas.
Passamos os MetroCard e atravessamos a catraca.
— Agradece depois, fofa, agora temos que correr ou nós dois ficamos desempregados!
Entramos no vagão, com direção à Uptown, faltando cinco minutos para que Mike estivesse oficialmente atrasado.
Corremos a todo o vapor pela sétima avenida, e em poucos minutos, estávamos na frente do imponente prédio onde ficava a sede da Vogue NY. Eu teria ficado observando e babando toda a sua magnífica arquitetura e suas funcionárias super bem vestidas que adentravam as portas, mas Mike me puxou pelo braço tão forte que quase me desmembrou, arrastando-me para a recepção.
Pegamos meu crachá de visitante e então entramos no elevador. Eu não conseguia parar de imaginar a Meryl Streep entrando no prédio e me fazendo sair do elevador porque ela é foda demais para dividir o espaço de um elevador com outros meros mortais.
Chegamos ao andar de Mike e eu ainda esperava ver a Anne Hathaway correndo pelos corredores com cappuccinos em suas mãos, quando a biba me cotovelou nas costelas e mandou eu parar de ficar observando tudo babando.
O que eu podia fazer? Estávamos em um setor claramente a ver com moda e tendências, porque vários produtos de marcas caríssimas estavam expostos sobre uma mesa enorme de madeira e haviam muitas pessoas ao redor, elegendo os melhores, discutindo sobre outros que viram em outro lugar, mexendo no computador.
De repente, um homem careca e de óculos entrou no local e eu quase corri para o abraçar e chamá-lo de Nigel.
É. Eu definitivamente precisava arranjar um emprego e parar de ficar reassistindo O Diabo Veste Prada.
Mike passou por algumas pessoas, cumprimentando-as, mas claramente ele era inferior ao cargo de 90% deles. Ele se aproximou de Nigel e sussurrou que já ia começar o trabalho, mas queria primeiro me apresentar no setor de RH para me aplicar para a vaga de estagiária.
, é isso? — Nigel disse. — Eu sou Joseph, muito prazer.
Mordi a língua para não chama-lo de Nigel quando o respondi. Apertamos as mãos e ele me observou de cima a baixo. Instantaneamente, arrependi-me de não ter achado minhas botas de salto na correria para ir embora logo.
Ele sorriu e me indicou o caminho. Esquerda, direita, terceira porta depois do banheiro.
Segui os passos calmamente e Mike me mandou um joinha, antes que eu sumisse no corredor. O filho da puta nem me deu uma dica do que falar ou me avisou de levar um currículo, o que pensando agora, me fazia bastante estúpida de aparecer lá, querendo subir no bonde andando e sentar na janelinha.
Muito bem, . Nota dez pra sua inteligência.
Resmungando e percebendo que já que estava aqui mesmo, não custava tentar, entrei na sala que me indicaram. Haviam algumas pessoas sentadas em mesinhas com cadeiras à sua frente, não muito separadas uma da outra. Tossi baixinho para chamar a atenção.
— Eu vim me aplicar para a vaga de estagiária.
Um homem de uns vinte e cinco anos, óculos de grau, corpo franzino, sorriu abertamente para mim e me chamou. Assim que ele acenou para mim, meu gaydar apitou tão alto que quase fiquei surda. Não que eu fosse esperar diferente, afinal, estamos na Vogue. Qualquer nível de testosterona deve ficar no térreo.
— Pode vir aqui comigo.
Andei calmamente, mantendo a postura.
Ok, pensei comigo mesma, está na hora de usar seu diploma em artes cênicas e passar o óleo de peroba na cara. Eu ia conseguir esse emprego na lábia, porque minha bunda não adiantaria em nada com esse daí.
Sentei-me à frente do homem, cujo nome estava escrito na mesinha. Kevin Harrison.
— Bom dia, Kevin. Meu nome é . — Estendi minha mão e ele a apertou prontamente.
Vasculhei sua mesa com os olhos rapidamente enquanto soltávamos as mãos, procurando alguma coisa para causar simpatia.
— Você trouxe seu currículo, senhorita?
Abri minha bolsa sorridente e comecei a vasculha-la enquanto jogava papo fora.
— Sabe, eu a-do-rei os seus óculos de grau? Muito vintage, isso é acetato?
Kevin sorriu meio desconcertado e involuntariamente tocou a armação com a ponta dos dedos.
— É. Rayban. Disseram que destaca meus olhos.
Sorri enquanto ainda fingia procurar na bolsa meu querido currículo e tentei ganhar mais um pouco de simpatia antes de revelar meu currículo, ou melhor, a ausência dele. Se bem que mostrar meu currículo não me ajudaria muito: trabalhar como garçonete provavelmente não me coloca como uma candidata muito qualificada em uma revista de moda.
— Destaca mesmo! Você deveria usar mais tons verdes, destaca o mel nesses olhos castanhos! — Comentei sorrindo e quando ele sorriu junto à mim, agora mais abertamente, joguei minha cartada, bufando frustrada. — Ai, essa droga de bolsa. Você se importa? — Referi-me a despejar o conteúdo na mesa.
Cuidadosamente, despejei minhas coisas sobre a mesa dele, tomando cuidado para escorregar os dois pacotes de camisinha para meu colo antes que ele pudesse ver. Kevin me olhou preocupado enquanto em desistia de procurar e passava as mãos pelos cabelos, resmungando como eu era burra por ter esquecido a única coisa importante.
— Não precisa ficar se culpando, senhorita .
Suspirei alto e guardei minhas coisas de volta na bolsa enquanto tremia voluntariamente para aparentar um pouco mais de frustração.
— Ai, desculpa Kevin, é que eu normalmente não sou de esquecer as coisas, sabe? Prezo muito a organização e a ordem, minha melhor amiga insiste que eu tenho TOC. Só que com todas as mudanças no apartamento, eu devo ter deixado na outra bolsa e não vi... — Suspirei, apoiando a bolsa no colo. — Quer saber, é melhor eu voltar amanhã, então...
— Não precisa, . — Contive o sorriso ao perceber que ele usou meu nome. Estava ficando íntima. O objetivo estava próximo. — Faremos a entrevista e depois você me envia o currículo conforme for, pode ser?
— Então, senhorita , você já teve alguma experiência com revistas de moda? — Kevin perguntou enquanto entrelaçava os dedos abaixo de seu queixo.
Olhei para a direita e vi a imagem daquele deus indiano, o com a cabeça de elefante. Kadesh? Raffesh? Algumacoisaesh?
— Sempre quis muito, mas tinha medo. É um mercado difícil e tem que se começar do zero, mas meu querido amigo, Michael... — Percebi que não lembrava seu sobrenome e disfarcei rapidamente com um sorrisinho e continuei. — Ou melhor, Mike, ele me incentivou quando eu tragicamente perdi meu emprego numa pequena boutique de roupas indianas feitas à mão. Os donos foram deportados, mas os produtos deles eram tão bons que pessoas de todas as partes de Nova Iorque vinham só para poder comprar!
Kevin elevou as sobrancelhas, tentando conter sua admiração.
— É uma pena que tudo isso não pôde ficar no meu currículo. — Suspirei. Agora era a hora de testar a força dessa simpatia de Kevin por mim. — Os senhores Curry eram muito rígidos e queriam que eu completasse um ano de experiência antes de me registrarem, o que não aconteceu por causa do problema com o visto deles. Enquanto isso, como o trabalho com eles era de manhã, e parte da tarde eu trabalhava como garçonete no Planeta Hollywood para conseguir dinheiro para enviar para o Brasil, que é de onde sou. Minha avozinha está doente e precisa de tratamento médico. — Suspirei fazendo uma cara de dó e pesar.
Então a mão de Kevin estava sobre a minha.
— Sinto muito por isso. E o que mais? O que pode dizer sobre você, sobre sua visão do mundo da moda, como poderia nos ajudar sendo a nova estagiária?
Apertei a mão de Kevin como que agradecendo o conforto e respirei fundo.
— Bem, eu já trabalhei como modelo. Fiz uma campanha para a Levi’s. Eu tinha um outdoor perto do Manhattan Mall! Mas as ofertas estão diminuindo e como eu sempre gostei muito da moda, resolvi me arriscar e tentar o estágio. Desde pequena eu juntava moedinhas para comprar a revista da Vogue, até quando eu ainda vivia no Brasil. — Sorri sonhadoramente. — Eu adorava os editoriais, sabe? Mesmo aqueles com roupas que ninguém usaria na rua, eu sempre adorava as sobreposições, as cores... Achava que representava a moda como a arte que é. Por vezes abstrata, somente para a admiração.
Kevin já estava com o queixo apoiado nas mãos e os olhos brilhantes.
E é nomeada para o Oscar de Melhor Atriz.
— Fiz faculdade de Artes Cênicas na NYU, porque meus pais tem histórico com a atuação, mas eu queria mesmo é fazer moda ou jornalismo, para trabalhar em revistas. Ou melhor, para trabalhar na revista. A Vogue.
Terminei a frase deixando o tom sonhador sair de minha voz e então dei um tapinha no ar, desdenhando.
— Tudo isso é muito sonho, eu sei. Não tenho nenhuma experiência sólida, somente sonhos e aspirações e uma vontade esmagadora de crescer. — Soltei uma risada nervosa e desviei o olhar, dando de ombros, parecendo um pouco triste. — Mesmo assim, muito obrigada por me ter dado essa chance.
— Senhorita , de que adianta o conhecimento se não há uma força de vontade e sonhos tão grandes como os seus? — Kevin falou e então sentou ereto na cadeira. — ... — Ele pausou dramaticamente e então pegou em minha mão.
E o Oscar vai para...
— Você está contratada, Srta. . Pode começar amanhã mesmo, eu vou avisar o setor e mandar os seus dados para fazer o seu cartão de acesso. O salário é de mil e oitocentos dólares.
, SENHORAS E SENHORES.
Internamente, eu chorava emocionada, vestindo meu maravilhoso vestido vermelho da Dior e calçando Louboutins, agradecendo aos meus pais, à , Mike e Tyler, segurando minha maravilhosa estatueta.
— Muitíssimo obrigada, Kevin! Nossa! Não sei como te agradecer!
Ele se levantou e eu também.
Apertamos as mãos e eu saí de lá com um sorriso no rosto, mesmo que eu estivesse ganhando o mesmo que ganhava no Planeta Hollywood.
Pelos menos, agora, eu seria mal paga em um trabalho com glamour.
Quem precisa de salário quando se pode trabalhar na Vogue?

’s POV.


Depois de passar quinze minutos tentando convencer Theodoro que ninguém ia sequestra-lo enquanto estivesse na escola, meus argumentos estavam finalmente chegando a algum lugar. Ele me olhava mais tranquilo, sem agarrar meu pescoço viciosamente.
— Você vê como todos esses amiguinhos estão entrando na escola? É porque todos eles sabem que atrás daquelas portas está um mundo mágico cheio de amigos e diversão.
Theo franziu a testa para mim, fazendo uma careta.
Tá. Talvez a diversão durasse só até o final do maternal, mas eu não ia falar isso.
— E todos eles vão com as professoras, porque são elas que cuidam de vocês nesse mundo mágico.
— Goto de você cuidando. — Ele reclamou cruzando os bracinhos e fazendo beicinho. Tive que me segurar para simplesmente não pegá-lo do colo e sair de lá para tomarmos um sorvete.
— Vou cuidar Theo, venho te pegar e trago seu papai junto.
Ok. Eu sei que não era legal prometer uma coisa assim para uma criança, até porque as chances de Edgar sair de seu trabalho para buscar Theodoro eram baixas, mas a necessidade de argumentos melhores era grande.
— Promete?
— Palavra de escoteira. — Falei, passando a mão em seus cabelos cacheados para tirá-los de seu rosto e o levantando de meus joelhos. Ofereci-lhe uma mão. — Vamos até lá juntos?
Theo olhou suspeitosamente para minha mão, mas depois sorriu para mim e foi saltitando até as escadas do seu colégio, onde uma assistente de professora esperava pelos alunos entrarem. As crianças corriam escadas acima, animadas para um dia de aula.
Acenei para Theo quando ele olhou para mim assustado, quase sendo carregado pelas crianças entrando. Ele segurou firme em sua lancheira e acenou brevemente para mim, antes de sair correndo junto das outras crianças.
Esperei com que o sinal da escola tocasse para ir embora, com meu coração apertado. Era estranho a sensação de deixar Theo em seu primeiro dia de aula. Eu já era apegada demais a essas crianças e meus olhos ameaçavam encher de lágrimas só de pensar em como ir para a escola era um passo gigantesco. E eu estava lá para acompanhar isso acontecer, com Theo, desde o começo.
Segui pelo bairro da escola de Theo sem saber o que fazer, geralmente ele estava comigo nas manhãs. Eu não tinha nada para fazer agora. Sentei no banco de uma esquina qualquer e saquei meu Blackberry, já digitando de memória o número:
— Então, como foi? — Edgar atendeu, ansioso.
— Foi bem. Ele estava com pé frio, mas depois se animou e entrou tranquilamente no colégio.
Meu chefe suspirou do outro lado.
— Achei que ele fosse querer adiar ir... Ele não ficou triste por eu não ter ido, né?
— Bom... Triste eu não sei. Mas se animou quando eu disse que você viria buscá-lo. — Confessei, mordendo meu lábio inferior. Edgar riu, aliviando-me imediatamente. — Desculpa, sei que você não pode sair do trabalho assim.
— Ele sai onze e quarenta e cinco, né?
— É...
— Tudo bem, vou estar aí.
— Sério? — Não consegui esconder a felicidade em minha voz. Theo ia ficar extasiado de ver o pai.
— Sim e como você es... — A voz de Edgar sumiu momentaneamente e pude ouvir alguém falar com ele no fundo. Depois de alguns segundos ele voltou. — Desculpe, . Tenho que ir. Me mande uma mensagem de onde tenho que te buscar, okay?
— Sim senhor.
— Hm... Okay. Até.
Respondi um “até” fraco e nós desligamos. Encarei o celular, confusa. Era impressão minha ou o clima tinha ficado estranho no final da ligação? Por quê? Ah merda, será que foi o “senhor”? Mas... Edgar é meu chefe, eu só estava sendo formal e cordial.
Antes que eu pudesse afundar em meus pensamentos, meu Blackberry voltou a tocar com um número privado aparecendo na tela.
— Alô?
— Senhorita ?
— Ahn... Sim. Quem gostaria?
— Aqui é Emily Carmell, professora da Anna.
— Aconteceu alguma coisa? — Perguntei, já levantando do banco alarmada.
— Bom, mais ou menos. Você poderia vir aqui no colégio?
— Claro. Estarei ai em quinze minutos.
Desliguei o celular, já andando apressada pelas ruas. Peguei o metro mais próximo, mesmo sabendo que teria que andar um pouco mais ao descer na estação mais próxima do colégio de Anna. Mas com o trânsito matinal de Nova Iorque, eu demoraria muito mais pegando um taxi. Ignorei Deus e o mundo enquanto atravessava a cidade.
Oito minutos depois eu estava subindo as escadas do colégio de Anna e quase batendo com a porta na minha cara por chegar no mesmo segundo em que a Sra. Carmell saia para me esperar na entrada. Ela sorriu para mim amigavelmente.
— Ah, aí está você. Estava por perto?
— Não, acabei de deixar o irmão de Anna no West Side. — Respondi olhando ao redor do corredor ansiosa, esperando ver Anna.
A Sra. Carmell olhou-me assustada e depois sorriu compreensível, percebendo minha ansiedade. Ela me levou para a mesma sala em que conversamos da última vez, quando ela me mostrou os desenhos de Anna e assim que abriu a porta, eu avistei a cabecinha loira de minha pequenina.
— Anna! — Suspirei alto e ela virou-se para mim, saltando da cadeira onde sentava e vindo me abraçar. Peguei-a no colo, examinando seu rosto e depois de perceber que ela estava inteira, virei-me para sua professora. — O que aconteceu?
— Bom, senhorita ... Por favor, sente-se, vamos conversar.
, por favor.
Sentei na cadeira onde estava Anna, com ela em meu colo. Ajustei-a de modo que pudesse olhar para sua professora sem problemas.
— Nessa última semana nós temos tido reclamações de diversos professores sobre o comportamento de Anna na sala de aula. — Ela começou, olhando brevemente para Anna com uma expressão repreensiva e depois para mim novamente. — Nós avisamos Anna várias vezes que na próxima reclamação nós teríamos que ligar para algum de seus responsáveis. Como eu sei da situação do senhor Delawicz em relação a sua disponibilidade, achei melhor entrar em contato com você primeiro.
— Tudo bem. O que ela tem feito?
— Ah, aqui. — A Sra. Carmell pegou em sua gaveta uma pequena pasta e esticou-a na minha direção. Anna estremeceu quando peguei-a e coloquei a primeira folha na minha frente.
Eu li rapidamente o papel. Era o relatório de algum professor dizendo que Anna havia se recusado de participar de uma atividade e mais tarde teria sido “rude” com um de seus coleguinhas. A folha seguinte era praticamente a mesma coisa, Anna fazendo alguma atividade errada e se recusando a receber dicas do professor para melhorar.
Depois de ler cerca de oito relatórios, meu braço ao redor de Anna já estava segurando-a forte demais. Coloquei-a no chão e aproximei minha cadeira da mesa da Sra. Carmell, dando a ela minha completa atenção.
— Alguma outra reclamação foi feita? — Perguntei, séria.
— Hoje. Anna empurrou uma colega sua contra a parede e a professora a retirou da sala para que pensasse no que havia feito, quando foi chamá-la novamente para entrar, Anna recusou.
Olhei brevemente para Anna, que havia se encolhido no sofá de couro da sala. Respirei fundo.
— Ela pode voltar para a sala de aula agora?
— Pode, gostaria que eu a levasse?
Assenti e a Sra. Carmell pegou a mão de Anna, que evitou olhar para mim por vergonha, e saiu da sala acompanhada. A Sra. Carmell voltou sozinha dois minutos depois, sentou-se novamente na minha frente na mesa e entrelaçou os dedos, suspirando.
— Desculpe chamá-la de repente, mas achamos importante mantermos a linha no comportamento de nossos alunos e ficamos preocupados com Anna essa semana.
— Não tem problema. É preocupante mesmo, ela geralmente não tem um comportamento hostil com as outras pessoas, Sra. Carmell.
— Me chame de Emily, por favor. Ouça, ... Nós estamos cientes da situação acontecendo dentro da casa de Anna. O senhor Delawicz ligou e explicou que estava passando por um divórcio, que estava sendo difícil para as crianças se acostumarem com a ideia.
— Theodoro ainda é bem pequeno e não entende completamente o que está acontecendo. Anna tem noção e sente a ausência da mãe com mais força.
— A mãe de Anna, nunca foi muito presente, não é?
— É. Mas é diferente, ela não voltar para a casa em nenhum momento e estar lá só as vezes. É um processo difícil para uma criança compreender. Acho que ela sente falta da mãe que nunca teve.
— Eu vou instruir os professores para que deem um suporte moral maior. Eu só precisava ter certeza que ela estava tendo atenção dentro de casa, para ver se seu comportamento não estava refletindo alguma coisa.
— Edgar é o pai mais carinhoso que eu já conheci. — Falei, entrando em modo defensivo rápido demais.
Emily sorriu para mim amigavelmente.
— Estou certa que ele é. Nós só precisamos que, se você concordar, passe o recado sobre o comportamento de Anna adiante. Acho mais fácil você se comunicar com ele para que vocês possam, talvez, fazer algum encaminhamento para acompanhamento ou conversar com Anna.
— Vocês não tinham uma conselheira?
Ela suspirou.
— Nem me fale. Nós tínhamos, mas ela recentemente se casou e o marido precisou se mudar para outro Estado devido ao trabalho. Ela saiu daqui sem nem mesmo completar o aviso prévio.
— Isso quer dizer que vocês estão procurando alguém para preencher a vaga dela? — Minha voz soou um pouco empolgada demais e eu me encolhi, tentando esconder meu interesse.
— Sim! Você não tem noção como é difícil, a maioria das pessoas que aparece é formada em pedagogia e nós precisamos de uma formação em psicologia.
Meu interior vibrou, animação explodindo de meu coração.
— Eu sou formada em psicologia. — Falei, tentando parecer suave.
— Ah! É mesmo! — Emily sorriu para mim e começou a mexer nas gavetas de sua mesa. Ela pegou um papel azul. — Aqui é um formulário de inscrição para a vaga. Estamos fazendo entrevistas ainda.
Olhei tentativamente para o papel, pegando-o meio incerta.
Obviamente que um trabalho como esse seria um ótimo salto para minha carreira, justamente o que eu estaria precisando. Mas... Uma parte de mim se confundia. Eu não queria abrir mão das crianças. Mordi meu lábio inferior pensativa, por fim peguei o papel, dobrei e o guardei dentro de minha bolsa.
— Você acha que eu tenho chances?
— Está brincando? Você já teria minha recomendação! O pagamento não é a melhor coisa do mundo, porém é maior do que de muitos colégios. Também temos um horário fixo, então é mais acessível para muitas pessoas e organizado.
Eu amava meu trabalho, adorava passar tempo com Anna e Theodoro, mas um horário fixo parecia exatamente o que minha vida desorganizada precisava. Sem falar do dinheiro, que certamente seria maior que meu salário atual.
Passei outras duas horas conversando com Emily e mais tarde, quando foi intervalo de Anna, ela apareceu na porta para me dar um abraço. Conversei brevemente com ela, pedindo que se acalmasse na sala de aula porque eu precisava que ela fosse uma boa menina. Arrependida, ela prometeu comportar-se e foi comigo até a porta do colégio quando fui embora.
Acenei e agradeci Emily pela dica do trabalho discretamente. Ela me abraçou, desejou boa sorte e eu despedi-me de Anna, que já estava voltando para seu último período de aulas. Prometi buscá-la e segui pela rua sem ter muito por onde ir.
Aconselhei a mim mesma a falar com minha melhor amiga sobre a nova oferta de trabalho e depois a finalmente contar sobre Charles. Eu tinha que começar em algum momento, não é? Bom, talvez depois. Eu precisava de um conselho agora, de alguém que estivesse a par das coisas acontecendo em minha vida e entendesse minha relutância em deixar de ser babá das crianças.
Só havia uma pessoa.
Sentei novamente em um banco qualquer e peguei meu celular pessoal para checar minhas mensagens, fiquei encarando-o alguns momentos até discar o número. Ele atendeu no terceiro toque.
— Pode falar, Inglês?
— Com você? Sempre. O que está fazendo?
— Bom... Nada. Sentada em um banco na rua. As crianças estão na escola, estou oficialmente confusa e queria sua opinião em uma coisa.
— Pode falar, loirinha.

’s POV.


Depois de minha esmagadora vitória nos prêmios da Academia, despedi-me de Mike e saí correndo para minhas três audições de hoje. Uma para um seriado menor, participando de um episódio, outra para uma propaganda de suco e outra para uma propaganda de absorvente. Como elas eram em lugares distintos e em todas tive que esperar para ser chamada, almocei entre o suco e o absorvente. Quer dizer, entre as audições. Vocês entenderam.
Ficar andando de um lado para o outro com uma fralda que eles ousam chamar de absorvente como se eu estivesse passeando no parque não foi nada fácil. Ainda não sei porque eles insistem nessas propagandas. Mulheres querem conter o sangramento, ficar confortável é um bônus.
Quando saí da última audição, já me sentia extremamente cansada. Andar para cima e para baixo e atuar o dia inteiro era desgastante. Ficar correndo atrás de emprego e oportunidades era muito cansativo. Eu me sentia uma senhorinha de sessenta anos conforme arrastava minhas pernas de volta para casa. Para melhorar ainda mais, o local da audição do maldito absorvente era na puta que pariu virando à direita.
Não estou exagerando. Era acima do Central Park, que é tipo, uma zona selvagem para os verdadeiros nova-iorquinos.
Assim que saí do prédio do local, encolhi-me e percebi que o sol já estava se pondo. Segui pela rua à procura da estação de metrô mais próxima e no caminho deserto (que daqui a pouco teria bolas de feno voando) encontrei um banco. Resolvi entrar só para checar nosso saldo, porque com o cansaço que eu sentia precisava de uma encorajada para continuar nessa rotina de trabalho e audições.
E olha, que encorajada hein. Foi um chute na bunda. Ainda estávamos quatrocentos dólares negativas e demoraria quinze dias para receber, e nesse meio tempo havia o aluguel.
Agradeci o moço que me atendeu e peguei meu celular de dentro da bolsa, digitando uma mensagem para com o status de nossa situação bancária. Levantei-me e coloquei o celular no bolso fronteiro da calça, então saí novamente para a rua, com a bolsa apertada contra meu corpo.
Eu só queria voltar para casa e descansar, antes que Mike e voltassem, para aproveitar meu momento sozinha para uma boa soneca. O céu estava mais escuro a cada segundo e a rua continuava pouco movimentada.
Não estava brincando sobre estar na puta que pariu.
Avistei uma estação de metrô à duas quadras de mim e apressei o passo, mas logo parei completamente, porque uma mão firme segurou meu braço e me puxou para trás. Levei alguns segundos para processar aquilo tudo.
Foi então que eu senti uma coisa pontiaguda contra minhas costas e todo o sangue de meu rosto esvaiu.
— Passa a bolsa quietinha, ou vou ter que te machucar. — A voz masculina atrás de mim disse autoritariamente.
Senti todo o meu corpo travar e minha mente à mil, meus olhos vasculhando as ruas procurando alguém, alguma testemunha, mas todas as pessoas estavam longes demais para perceberem o que estava acontecendo.
A ponta afiada foi pressionada com mais força contra a base de minha coluna e eu senti o ar escapar de meus pulmões.
Retirei a bolsa de meu ombro e a estendi para trás, com a mão trêmula.
O homem pegou a bolsa de minhas mãos em um puxão forte, e então a ponta afiada não estava mais contra minhas costas.
Eu estava sozinha de novo.
Senti meus músculos travados e minha respiração acelerada e todo o choque preveniu todos os pensamentos banais sobre as coisas que estavam dentro da bolsa que eu perdi.
Depois de alguns segundos, forcei minhas pernas para a frente, até uma lojinha qualquer que estava aberta e entrei. Com as mãos ainda trêmulas, puxei o celular do bolso, do qual eu havia esquecido até o presente segundo. Digitei o número de Tyler com dificuldade, porque não conseguia enxergar a tela e então liguei.
, eu estou meio ocupado agora, o que foi? — Ty perguntou com a voz cansada do outro lado.
— Eu... E-eu... E-e-eu... — tentei forçar as palavras, mas minha garganta parecia seca demais e meus lábios tremiam. — V-vo-você...
Ouvi um farfalhar do outro lado da linha e tentei formar as palavras novamente, mas Tyler me interrompeu:
— Você está bem? O que foi? — Sua voz parecia preocupada.
Fechei os olhos com força e sussurrei.
— P-por f-fa-favor... V-vem me b-bus-buscar...
, você está me deixando preocupado. O que aconteceu? Onde você está?
Solucei em seco novamente e senti meus músculos tremerem. Apertei meus olhos fechados com mais força ainda e respirei fundo, forçando meu corpo a se movimentar, com o celular pressionado contra meu peito. Fui até o balcão da lojinha e tossi antes de conseguir perguntar:
— Qual... Q-qual... O endereço daqui?
A moça que digitava alguma coisa no computador olhou para mim e arregalou os olhos.
— Tá tudo bem, moça? Quer uma água?
Ouvi a voz urgente de Tyler saindo do celular contra meu peitoral e somente estendi o celular para a moça.
— Fala... O endereço... P-por f-fa-vor...
Com os olhos arregalados, ela pegou o celular e começou a instruir Tyler. Eu saí de perto, somente agora percebendo que era uma loja de roupas onde eu estava. Andei até o trocador e me joguei sobre um dos pufs que ficavam ali. Não me importei em puxar a cortina.
Gentilmente, a moça veio até mim e me entregou meu celular.
— Seu namorado já está vindo, moça.
Assenti levemente e segurei o celular com ambas as mãos, com força. Encostei minha cabeça na parede atrás de mim e fechei os olhos.
Então eu esperei.
— Onde ela está? — Ouvi sua voz. — ? ?!
Abri os olhos lentamente e o vi passando rapidamente pelas araras de roupa, os cabelos negros desgrenhados, os olhos negros alertas, ofegante, ansioso. Nossos olhares se cruzaram e ele veio correndo em minha direção e se ajoelhou na minha frente, segurando meu rosto entre suas mãos.
Fechei os olhos novamente, me retraindo levemente de primeira, assustada com o contato, mas depois relaxando, ao sentir seus lábios contra minha testa. Antes que eu pudesse processar, meus braços estavam ao seu redor, puxando-o para mim com força, esmagando nossos corpos juntos.
, o que aconteceu?
Percebi que meu peito ainda tremia e que eu soluçava. Levei uma mão até meu rosto e senti que minhas bochechas estavam molhadas.
Tyler se soltou de meu abraço e voltou a segurar meu rosto, os olhos preocupados vasculhando minha expressão, tentando entender o que aconteceu. Seus dedões limparam as lágrimas que escorriam por minhas bochechas e eu funguei, depois puxei o ar pela boca, o peito tremendo, tentando encontrar minha voz.
— Eu... — Funguei novamente e fechei os olhos, me concentrando. Apertei minhas mãos ao redor das suas e me concentrei em seu toque e na sua presença para não entrar em pânico de novo. — Fui assaltada.
Ele me olhou preocupado e me observou por inteiro.
— Levaram... Minha bolsa.
Tyler me puxou para um abraço, acariciando meus cabelos e beijando minha têmpora.
— Te machucaram? — Ele perguntou com a voz estrangulada.
— N-não... Só ficou com a f-f-a-faca... Contra minhas costas.
Então eu o abracei e voltei a chorar, sem entender direito porque eu chorava tanto, mesmo estando bem.
— Tinha alguma coisa muito importante na sua bolsa? — Ele perguntou, trazendo a cabeça para mais perto de mim, encostando nossas testas.
Respirei fundo e falei:
— Meu MetroCard. E meu batom favorito — completei choramingando.
Tyler riu, o peito tremendo. Bati em seu braço e reclamei com a voz chorosa:
— É sério! Eu havia acabado de recarregar e poxa, era um MAC!
Ele levantou e me puxou junto consigo, me abraçando novamente, agora apoiando o queixo no topo de minha cabeça. Abracei-o pela cintura e ficamos assim por uns dois minutos. Olhei para o lado e percebi que a moça da loja que me ajudou antes nos encarava com um sorriso apaixonado.
Respirei fundo e seguimos em direção à porta, onde eu fiquei parada esperando enquanto Tyler chamava um táxi. Foi assim que ele chegou tão rápido aqui do trabalho.
Entramos no táxi silenciosamente e eu me encolhi no banco. Instintivamente, fiz menção de puxar minha bolsa contra meu corpo, somente para lembrar que ela havia sido roubada.
Na minha cabeça, eu imaginava meu pai falando na mesa do jantar quando eu era somente uma pré-adolescente sobre como o Brasil era um país violento e essas coisas de bandidos só acontecerem por lá.
Fala isso pra minha bolsa da Chinatown, pai.
Saltei no banco em susto ao sentir Tyler subitamente perto de mim, mas depois relaxei. Seus olhos negros me observaram carinhosamente e seus braços fortes me envolveram em um abraço leve e eu me deixei ser abraçada por ele, encostando minha nuca contra seu ombro.
O táxi andava suavemente pela cidade e eu sabia que iria demorar. Estava um trânsito infernal e eu não estava brincando sobre estar na casa do caralho.
Fechei os olhos e deixei minha respiração escapar por meus lábios. Os braços de Tyler me apertaram com mais força e um sorriso involuntário apareceu no canto de minha boca. Finalmente ele quebrou o silêncio:
— Você me matou de preocupação, .
Sussurrei.
— Desculpa.
Ele beijou o topo de minha cabeça. Abri os olhos e girei minha cabeça de modo a poder observá-lo.
— Não tem que se desculpar. Você estava em choque. E... — ele deixou um sorriso escapar. — Fico feliz que eu tenha sido a primeira pessoa para quem você ligou.
— Eu tentei ligar para o Noah, mas estava ocupado... — Tyler revirou os olhos e eu ri. — Brincadeirinha. — Tossi. — Aliás, para quem mais eu ligaria? teria um ataque do coração e Mike ficaria gritando como a bicha que é.
— Mesmo assim. Eu... Obrigado. — Tyler completou e molhou os lábios, sorrindo de leve.
Sorri e o beijei nos lábios levemente.
— Obrigada por me salvar. Ainda vai demorar pra conseguir tirar tudo isso da minha cabeça, mas... Você já ajudou muito. — Confessei baixinho, desviando o olhar para meus dedos que se enrolavam nas pontas de meus cabelos.
— Então acho que sei exatamente como distraí-la — Tyler sussurrou contra o topo de minha cabeça e eu lhe dei um tapa no braço.
— Tyler! Eu estou em choque!
Ele gargalhou e me puxou pelo queixo para si, beijando minha boca rapidamente.
— Não desse jeito, sua safada.
— Aham, sei. Como, então?
Ele tossiu e me olhou com um pouco de receio.
— Eu estava pensando... Em te levar para jantar. Na sexta à noite.
Abri a boca, um pouco surpresa, sem saber o que falar. Demorei alguns segundos, mas então disse:
— Tipo... Como um encontro?
Ty coçou a nuca e sorriu sem jeito.
— É. Quero te levar para jantar num encontro.
Abri um sorriso involuntário largo demais e logo em seguida mordi meu lábio inferior, me contendo.
— Nós combinamos que iríamos tentar, você sabe, dar uma chance para nós. Achei que essa seria uma boa maneira de tentar. — Tyler comentou dando de ombros.
Segurei seu queixo e sussurrei, com nossos lábios à milímetros de distância:
— Eu adoraria.
Então eu o beijei, todos os meus problemas em uma caixinha bem no fundo de minha mente, esquecidos completamente, porque eu estava nos braços de Tyler.

’s POV.


— Nós nos falamos mais tarde, então? — Murmurei para o telefone preso entre meu ombro e ouvido, enquanto observava a rua, à procura do carro de Edgar.
sempre estava reclamando porque sou péssima em reconhecer carros. Eu nunca liguei, mas tenho que admitir que em algumas horas eu era péssima. Três carros já haviam me confundido, fazendo com que eu quase fosse até eles só porque haviam parado. Carros de cores e marcas diferentes. Bom. A culpa não era minha que Edgar havia mudado de carro recentemente, ele havia comprado um carro menor e mais familiar, agora que sua ex esposa não usufruiria dele e não reclamaria do carro não ser blindado ou por ter os bancos juntos – como as das picapes – porque era mais confortável para as crianças.
— Sim. E fica tranquila, eu ainda acho que aplicar para o emprego não custa nada. — Chuck insistiu suavemente. — Mais tarde te ligo, tudo bem?
Eu demorei alguns segundos para respondê-lo porque finalmente achei o carro de Edgar e eu corri pela rua até ele. Olhei bem a marca do carro e sorri enquanto entrava no carro desajeitadamente e respondia:
— Você está certo. Obrigada, Inglês.
— Até mais tarde, loira. Estou com saudades.
— Também. — Sorri involuntariamente e desliguei o celular, virando-me para Edgar, que me olhava com a testa franzida. Pisquei confusa. — O que foi?
Ele balançou a cabeça negativamente, deu de ombros e continuou em silêncio, arrancando com o carro. Eu fiquei quieta e confusa durante alguns segundos, depois ajeitei-me no banco, de modo que pudesse encará-lo, virando-me completamente para ele. O banco da frente também era conjunto, então não havia como se esconder. Edgar continuou dirigindo em silêncio, suas mãos segurando o volante com mais força e ignorando meu olhar.
Quando finalmente paramos em um farol, ele me olhou pela visão periférica e se ajustou no banco, parecendo incomodado e ficando ereto enquanto pressionava a boca em uma fina linha descontente. Franzi minha testa, porque ele estava sendo tão estranho?
Olhei brevemente para meu celular, agora em mãos, desejando poder voltar a conversar com Charles, coisa que recentemente me trazia calma e felicidade. Respirei fundo e voltei meu corpo para frente, começando a ignorar meu chefe também. Eu sabia jogar esse jogo, tinha que fazer isso o tempo todo com minha irmã quando era criança.
Nós paramos na rua do colégio de Theo quando ainda faltava dez minutos para o sinal de sua saída tocar. Edgar pegou seu celular e começou a digitar mensagens freneticamente enquanto fiquei encarando a janela, fingindo ter algo muito importante do lado de fora quando na verdade eu só estava olhando uma pomba e desejando que ela não se aproximasse de nosso carro.
Odeio pombas.
Meus olhos já estavam estreitando comigo, fuzilando a ave maldita quando uma mão segurou a minha do nada. Eu pulei, assustada, e puxei minha mão do alcance com um mini gritinho.
— Desculpe. — Edgar falou parecendo arrependido por ter feito o movimento.
Eu quis afundar minha cabeça no chão que nem um avestruz.
— Não. Quer dizer, tudo bem. Eu estava concentrada na pomba e tomei susto demais com a situação. — Falei apontando para trás de mim na janela, de onde dava para ver a pomba.
Edgar se esticou levemente e depois olhou para frente, apontando para o capô do carro.
— Essa pomba?
Olhei para frente, encontrando um pássaro doido olhando desconfiado para dentro do carro, certamente pronto para dar seu bote final e acabar com minha vida. Soltei um gritinho agudo e tampei minha própria boca com a mão, dobrando meus joelhos e trazendo-os para meu peito. Edgar gargalhou.
— Você tem medo de pombas?
— M-me-medo? — Minha voz saiu fina e quando a pomba ameaçou abrir suas asas eu gemi fechando os olhos e tendo um pequeno espasmo involuntário. — Digamos que eu tenha uma pequena fobia.
Edgar riu novamente e soltou seu cinto de segurança para virar-se para mim. Ele puxou a mão que cobria minha boca e segurou-a firmemente.
— Quer apertar a buzina para fazê-la fugir?
— TÁ BRINCANDO? E se ela resolver fugir na direção do vidro? Ela vai cair aqui dentro e ainda nos matar do jeito que ela tanto deseja.
— Eu duvido muito que a pomba tenha essa intenção.
— Edgar. — Falei seriamente. — Olha para a cara dela, ela está pronta para cometer um assassinato.
Ele gargalhou e puxou-me pela mão, tombando meu corpo contra o dele. Nunca pensei que o fato do banco também ser grudado no banco fronteiro fosse ser tão satisfatório. Minhas costas ficaram grudadas contra o peitoral de Edgar e eu me encolhi mais ainda para tentar fugir da pomba que andava sobre o capô do carro agora.
Meu corpo chacoalhava porque Edgar não parava de rir, abraçando-me pelos meus ombros e apoiando seu antebraço em minhas clavículas. Eu gemi quando a pomba abriu suas asas de repente, e depois andou freneticamente até o outro lado do capô. Cobri meus olhos e quase espasmei novamente quando senti os lábios de Edgar roçarem minha orelha.
— Respira, .
— Não dá. Eu também sou meio claustrofóbica, carros já não são a melhor situação para mim... — Tentei respirar fundo antes de continuar, mas falhei. — Imagine com pânico.
Ele parou de rir imediatamente, ficando em silêncio alguns segundos. Ele se ajeitou no banco e me puxou para seu colo, sem nem pensar duas vezes, seus braços me envolvendo seguramente. Meu corpo relaxou momentaneamente e eu perdi a tensão em minhas mãos que cobriam meu rosto, fazendo com que elas caíssem e agarrassem o braço de Edgar.
Se qualquer pessoa passasse por nós e olhasse para dentro do carro, era capaz que achassem que estávamos em um abraço apaixonado, se aconchegando no carro. Mas o que estava acontecendo realmente era: eu tendo um ataque de pânico devido a uma pomba e meu querido amável chefe tentando me acalmar.
— Vou abrir um pouco da janela traseira, isso vai te ajudar? — Ele perguntou suavemente e eu respondi assentindo freneticamente. Ouvi o barulhinho elétrico da janela abrindo e imediatamente meu consciente relaxou mais um pouco. — Vou buzinar para a pomba ir embora, agora.
— Tu-tudo bem. Calma. — Pedi respirando fundo e me movendo nos braços dele.
Ajeitei-me de modo que minha cabeça ficasse escondida no ombro de Edgar. E eu me sentia uma criança de dez anos de idade, chorando sem motivo e fazendo birra, mas meu coração ainda estava prestes a saltar da minha boca. Se minha pressão não caísse depois de uma crise como essa, seria um milagre. Agarrei o tecido de sua camisa social, pouco me importando com minhas unhas o machucando e tentei me encolher mais ainda, fechando os olhos com força.
Edgar tocou a buzina duas vezes suavemente, um barulho de asas ressoou e depois seu próprio corpo relaxou contra o estofado do carro. Ele colocou uma mão na minha cabeça, seus dedos fazendo um carinho suave na minha cabeça, enquanto eu tentava estabilizar minha respiração novamente. As forças de meus dedos aliviando em sua camisa até que meus braços relaxassem completamente.
Abri meus olhos, encontrando-me com a cara no ombro de Edgar, conseguindo ver todas as linhas de sua linda roupa formal de trabalho e podendo sentir seu cheiro... Seu calor... Seus músculos... Afastei-me quase em um pulo, mas não fui muito longe, porque seus braços ainda ao meu redor seguravam-me. E o volante me impedia que eu fosse muito para trás.
Foi então que eu lembrei que estava no colo do meu chefe.
Olhei para cima envergonhada, esperando encontrar uma expressão divertida, porém fui recebida por olhos verdes preocupados. A mão que acariciava meu cabelo soltou-se e aproximou de meu rosto, seu dedo indicador descendo suavemente por minha bochecha até chegar em meu maxilar.
— Melhor? — Ele sussurrou com os olhos fixos nos meus.
Assenti fracamente.
— Obrigada. — Respondi com um pequeno sorriso.
Tentei sair da posição onde estava, querendo sair de seu colo e precisei do apoio dos ombros de Edgar para fazer tal manobra. Segurei nele, que fez pouco esforço para me ajudar, seu braço ainda pesadamente segurando minha cintura junto com a outra mão - e eu tentei levantar, para que pudesse desdobrar minhas pernas e voltar a sentar propriamente.
Incidentemente, durante a tentativa, meu rosto aproximou-se perigosamente de Edgar e ambos congelamos nossos movimentos. Meu nariz estava roçando o dele e minha respiração ficou presa em minha garganta. Procurei por alguma reação em seu rosto, mas seus olhos verdes vagaram calmamente até meus lábios. Então me encontrei também encarando seus lábios. Sua mão em minha cintura segurou-me com mais força e nossos rostos se inclinaram na direção um do outro. Com o mísero dos toques acontecendo entre nossos lábios, meus olhos já estavam se fechando...
Quando o sinal da escola de Theo tocou.
Eu parei abrindo os olhos, sentindo nossa proximidade, a respiração de Edgar em meu rosto e fechei os olhos brevemente para saborear o momento. Depois impulsionei-me para trás, como fora a ideia original de toda a movimentação e afastei-me.
Desdobrei minha perna, peguei minha bolsa e não consegui convencer a mim mesma a olhar para trás. Puxei a tranca da porta e sai do carro sem pensar duas vezes. Andei tentando manter um passo calmo até as escadarias da escola e levei minha mão, trêmula, (por toda a adrenalina que saia de meu corpo) na direção de meus lábios, tocando-os levemente e sentindo que eles praticamente formigavam por terem sido deixados esperando.
Meu Deus.
O que estava acontecendo comigo?
Theodoro apareceu dez segundos depois que parei no início dos degraus. Ele estava segurando sua lancheira e rindo enquanto atravessava a porta, olhou para mim e expandiu seu sorriso, começando a correr pelas escadas até chegar em mim.
Peguei-o no colo antes dos últimos três degraus, agarrando-o em um abraço com vontade que ele retribuiu rindo.
— PAAAAAAAAAAAI. — Ele gritou na minha orelha e começou a se mexer agitadamente em meu colo.
Virei-me para encontrar Edgar caminhando até nós com um sorriso relaxado no rosto, as mãos nos bolsos da calça e uma pose tranquila e confiante que atraía o olhar de todas as mães ali presente. Eu estava acostumada com todas olhando para ele quando íamos buscar Anna na escola, mas por algum motivo, todos os olhares agora me incomodavam.
— Oooooooi! — Theo gritou animado para o pai, esticando os braços para que ele o pegasse no colo.
Nós trocamos rapidamente, os braços de Edgar recebendo seu filho prontamente e com facilidade. Fiquei segurando a lancheira e olhei para a escada, achando a professora de Theo e acenando para ela brevemente, somente para que nos visse indo embora seguramente.
Uma criança escorregou no último degrau da escada, fazendo com que eu parasse de seguir meu chefe e começasse a andar em sua direção, mas logo uma babá e uma professora que estavam mais próximas fizeram um mini socorro. Então uma mão estava levemente puxando-me pela cintura.
— Vamos? Quero pegar Anna no colégio também. — Edgar disse, equilibrando seu filho em um braço enquanto puxava-me pelo outro.
Pisquei confusa e deixei com que ele guiasse meu corpo de volta para o carro. Coloquei Theodoro no banco traseiro e entrei silenciosamente no banco do passageiro, tentando fazer sentido das cenas acontecendo ao meu redor.
Meio inconscientemente, fiquei me espremendo contra a janela do carro para ficar o mais longe possível de meu chefe. O negócio é: eu não estava com medo dele.
Não estava com nojo.
Não estava brava.
Mas estava com uma vontade quase assustadora de simplesmente beijá-lo de uma vez e acabar com a tortura mental.
Então fiquei encolhida, para evitar fazer qualquer besteira.
Edgar dirigiu calmamente pelas ruas de Nova Iorque, brincando com seu filho enquanto os faróis estavam fechados e felizmente, sem falar comigo durante o caminho até a escola de Anna. Quando chegamos o sinal já estava tocando, então ele desceu rapidamente do carro e voltou dois minutos depois com sua filha segurando sua mão com um sorriso gigantesco no rosto.
Ele dirigiu novamente para seu prédio e eu desci sem delongas, pegando as coisas das crianças e esperando-o retirá-las do carro. Anna grudou em minha perna quando desceu do carro e Theo correu até a porta do prédio, tocando o interfone várias vezes mesmo após o porteiro já ter aberto a porta.
— Todos entregues. — Ele sorriu lindamente para mim.
Meu estômago se revirou nervosamente.
— Obrigada. — Respondi quando ele já estava entrando novamente no carro. — Bom trabalho.
Edgar sorriu para mim enquanto colocava seu cinto de segurança e acenou para sua filha com uma piscadela. Theo gritou animado já dentro do prédio para o pai, acenando um pouco tarde demais, e entrei com Anna para consolar o pequeno. Nós subimos de elevador calmamente, com Theo agora em meu colo brincando com meu colar e Anna falando comigo sobre o desenho de fada que havia feito no colégio como desculpa para sua professora.
Quando chegamos no apartamento, as crianças se dispersaram, depois que eu troquei suas roupas e pedi um tempo para ajudar Maria Sofía a terminar o almoço. Eu estava colocando um pouco de brócolis no prato de Anna quando olhei para cima e encontrei Maria Sofia me encarando com um sorrisinho no rosto.
— O quê foi?
— Você está rosada hoje. O que aconteceu?
Pisquei confusa, me atrapalhando com os talheres em mãos.
— Como assim?
— Seus olhos estão brilhando, sua bochecha está rosa, você fica sorrindo sozinha. Recebeu alguma notícia boa?
Eu estava fazendo tudo aquilo?
— O quê? Não. Tudo normal.
— Hm... O senhor Delawicz disse que horas ia voltar do trabalho hoje?
— Para mim? — Perguntei fingindo estar distraída e terminando de separar as comidas nos pratos das crianças. — Não, claro que não falou nada. Pode me passar os copinhos de plástico com tampo, por favor?
Ela entregou-me os copos e cruzou os braços, erguendo uma sobrancelha.
— E o namorado?
— Que namorado?
— O Inglês. Ele falou mais alguma coisa sobre voltar para Nova Iorque?
Sim. Maria Sofía sabia sobre Charles. Mas qual é, nós passávamos grande parte de nossos dias juntas. Eu sabia do namorado que ela queria tanto dar um pé na bunda e ela sabia do meu Inglês que (acho que pode se dizer) eu me arrependia de ter dado um pé na bunda. Mas não é como se fossemos melhores amigas, também. eu não trocava por ninguém.
— Disse... Quer conversar hoje sobre isso. Vamos ver no que vai dar.
— Hm... E será que os olhos brilhantes são por causa do Inglês?
Ergui uma sobrancelha para ela enquanto colocava os pratos na mesa e ofereci-lhe um pequeno sorriso:
— Duvido muito.
Dei o almoço para as crianças, depois fiz com que Anna terminasse qualquer tipo de lição e fiquei o resto da tarde brincando com eles de diversas maneiras, chegando até a tentar distrair Theodoro com o filme do Monstros S.A, que no final, somente Anna ficou assistindo na sala enquanto estava enrolada em um cobertor com sua boneca preferida nos braços.
— Nãaaaaaaaao, ele não. — Theo reclamou quando tentei colocar um boneco do Thor no meio de sua cena de guerra nas estrelas.
Ou pelo menos eu achava que ele estava tentando fazer isso, porque seus bonecos continuavam voando como se não houvesse gravidade.
Não dava para culpar Theo. Eu também gostaria de ver uma luta entre o Loki e o Super-homem quando ambos estão sem a roupa (porque elas pinicam a mão de Theo) no espaço.
— Tudo bem, tudo bem. Desculpa. — Falei rindo e colocando o Thor de lado.
iria chorar se visse o descaso do pequeno com o Thor.
Dez minutos depois, Theo estava puxando o boneco de minha mão e fazendo com que um de seus bichos de pelúcia que tinha formato de dinossauro começasse a tocar terror na cena e comer todos seus bonecos. Obviamente o Loki estava conseguindo derrotá-lo.
Eu continuava sentada contra a cama, os cotovelos apoiados nos joelhos dobrados e meu queixo pousado nos meus braços, meus olhos treinados para observar se Theo não comia alguma peça de seus brinquedos. De vez em quando uma gargalhada escapava de meus lábios e ele me olhava animado, orgulhoso por estar me entretendo com suas historinhas.
Perto das cinco e meia, Anna apareceu no quarto com suas bonecas e se juntou ao seu irmão na brincadeira e Maria Sofia veio me avisar que estava indo embora. Olhei para meu celular preocupada com a ligação que Charles faria e mandei uma mensagem avisando que ainda estava no trabalho.
Sete e quarenta da noite, eu estava limpando a mesa do jantar das crianças e Anna apareceu com suas bonecas para banho. Como eu estava sozinha, peguei Theo e levei-o para tomar banho junto da irmã na banheira da suíte, que era bem maior.
Edgar não dera sinal de vida.
— Bom, você vai ter que tomar cuidado para não afogar enquanto eu lavo a cabeça da sua irmã, combinado capitão? — Brinquei cutucando a barriguinha de Theo enquanto ele ria e voltava a brincar com seus bonecos.
Durou quarenta minutos todo o processo de banho. Anna não precisava muito da minha ajuda, somente da minha supervisão. Ajudei-a a tirar o sabão de seu corpo e depois ergui-a da banheira (o que molhou toda minha roupa), enrolei uma toalha em seu corpo e pedi para que esperasse na cama de seu pai rapidinho.
Terminei o banho de Theo, enrolei-o e o carreguei até a cama de seu pai também. Anna havia seco boa parte de seu corpo sozinha (menina esperta) e somente seu cabelo continuava molhadíssimo. Coloquei o pijama em cada respectiva criança e quando Theo reclamou de estar com sono, ajudei-o com as higienes pessoais e deitei-o na cama de Edgar enquanto levava Anna de volta para o banheiro para secar seus cabelos.
Já eram nove e quinze quando sentei-a no meu colo enquanto eu sentava na privada e ligava o secador em seus cabelos. Haviam quatro mensagens de Charles em meu celular e a exaustão estava ganhando o melhor de mim, não queria conversar, não queria falar sobre ninguém estar voltando para os Estados Unidos.
Quando deitei Anna junto de Theo (que já estava no quinto sono) completamente seca, limpa e higienizada para dormir, não demorou muito para ela também capotar. Peguei meu celular e digitei uma mensagem para Chuck dizendo que ele poderia me ligar.
Dois minutos e meu celular estava tocando.
— Desculpa. Edgar ainda não apareceu, não pude ir embora.
— Tudo bem... — Chuck bocejou. — Está um pouco tarde aqui também e meu dia foi corrido. Mas , eu só queria saber se você gostaria de me ver aí com você em alguns dias.
— Claro que sim. Vai ser ótimo você voltar. — Respondi sentando-me na beira da cama de Edgar, passando a mão carinhosamente na perna esticada de Theo.
— Tenho quase certeza que posso estar ai novamente no sábado, que tal?
— Ótimo! Eu tiro folgas mais tranquilamente de sábado, então para mim é fantástico.
— Legal. Nós conversamos sobre os detalhes melhor amanhã, tudo bem? Agora pelo menos marcamos uma data... — Ouvi o barulho de lençóis. — Estou indo dormir, ou você quer que eu te faça companhia até seu chefe chegar?
— Não, que isso. Obrigada, Chuck. Relaxa, não estou cansada. Boa noite.
Ele riu suavemente quando bocejei no final de minha frase.
— Boa noite, loirinha.
— Estou com saudades. — Murmurei baixinho, admitindo pela primeira vez antes dele. Porém, era verdade, eu gostaria de ter Chuck novamente para compartilhar meus dias. Se ele estivesse em Nova Iorque provavelmente estaria passando para me pegar aqui assim que Edgar chegasse. — Nos vemos em três dias.
— Eu também estou. Até daqui três dias.
Nós desligamos e suspirei exausta. Antes que pudesse largar o telefone, ele vibrou com uma mensagem de :
“Onde caralhos você se meteu? Se não der um sinal de vida vou ligar para a polícia fazendo declaração para pessoas desaparecidas.”
“Estou no trabalho ainda, para de ser exagerada.”
“Ainda? Del Toro tá cuidando de você, é?”
“Eu gostaria. Mas quem está cuidando ainda sou eu.”
“GOSTARIA? QUE TIPO DE CONFISSÃO É ESSA? O QUE VOCÊ QUER DIZER?”
Revirei meus olhos para o celular e respondi:
“Ai meu Deus. Para.”
“Nós vamos ter uma conferência assim que você chegar em casa. Não hoje, porque estou cansada. Talvez amanhã. Tenho novidades para contar sobre o estágio na Vogue também. Volta logo que nosso bichinho de estimação tá preocupado com você.”
“Nós devolvemos o Muchu.”
“Eu sei. Tô falando do Mike.”
Gargalhei e mandei ela se foder. Digitei uma mensagem para Mike falando que estava viva e no trabalho. E antes que eu percebesse, não havia mais nada para fazer e o sono estava literalmente reinando no quarto.
Deitei de costas na ponta da cama, preocupada em deixar as crianças dormindo sozinhas na cama e fiquei jogando joguinhos no Blackberry até estar bocejando tanto que mal conseguia manter a boca fechada. Joguei o celular na barriga e fiquei encarando o teto, escutando a respiração suave das crianças.
Meus olhos começaram a se fechar quando era próximo das dez e cinquenta da noite. Cedo, eu sei. Mas não tão cedo para a rotina que eu tinha. Ou para o tanto de emoções que o dia havia trazido. Fechei os olhos quando estava tocando a ponta de meus dedos em meus lábios novamente e só os abri novamente quando fui chacoalhada no ombro levemente.
Abri os olhos assustada e quase cabeceei Edgar. Ele estava com o rosto praticamente sobre o meu, os olhos cansados e com a gravata frouxa ao redor do pescoço. Levantei para ficar apoiada com meus cotovelos no colchão e esfreguei meus olhos. Peguei meu celular e chequei seu horário. Eram onze e quarenta e oito.
— Perdão. Meu sócio não pode ir em uma reunião e me mandou em seu lugar, era em Nova Jersey e demorou um século para voltar. — Ele falou, desencostando da cama e se afastando. — Meu celular acabou a bateria quando era cinco horas da tarde. Não consegui te avisar de jeito nenhum.
Edgar também estava com as mangas de sua camisa erguidas até o cotovelo e as mãos escondidas no bolso de sua calça social. Levantei completamente da cama, ajustando minha blusa e olhando brevemente para as crianças ainda dormindo pesado.
— Tudo bem. Não tem problema. — Sorri cansada. — Posso ir para casa ou você quer ajuda para tirar eles da sua cama?
Ele olhou para seus filhos esparramados e um pequeno – e incrivelmente sexy – sorriso surgiu em seus lábios.
— Não. Tudo bem.
Assenti e sai do quarto, indo direto para a cozinha para pegar minha bolsa e ir embora. Assim que a coloquei em meu ombro, Edgar apareceu segurando meu cotovelo com a chave do carro entre seus dedos.
— Deixe que eu te leve para casa, está tarde demais para andar da rua.
— Não precisa. As crianças vão ficar sozinhas. Obrigada.
... — Ele não se convenceu. — Durma aqui então. Pode até mesmo ficar na minha cama onde estava.
Um sorriso surgiu em meus lábios, que eu reprimi mordendo-o com força. Os olhos verdes de meu chefe estavam fitando meu rosto seriamente, preocupados. Dei de ombros, falando tranquilamente:
— Obrigada, mas acho que se não dormir em casa minha melhor amiga chama a polícia. Vou ficar bem na rua.
Ele passou as mãos pelo cabelo, levemente frustrado, e seus ombros afundaram quando percebeu que não mudaria minha mente. Eu simplesmente não podia dormir lá. Era uma péssima ideia que me levaria outras péssimas escolhas.
— Boa noite, Edgar.
— Por favor, me avise quando chegar na sua casa. Ou me ligue se estiver insegura na rua. Qualquer coisa, por favor.
— Pode deixar. — Abri a porta para ir embora, chamando o elevador e esperando-o chegar no andar.
— Obrigado, . De verdade. — Ele disse apoiando-se no batente da porta. Quando viu o elevador se aproximar do andar, deu um passo para frente e beijou minha bochecha suavemente com um pequeno sorriso nos lábios. — Boa noite.
Acenei para ele timidamente, feliz que a luz do hall do elevador era mínima de noite porque então ele não veria o quanto eu havia ficado vermelha com seu beijo.
Passei o caminho inteiro até meu apartamento com a mão no rosto, sentindo minha pele formigando e quente, meu estômago se revirando o tempo todo. Respirei fundo antes de entrar em casa e quase me desmontei no caminho até meu quarto – pausando somente para dar um beijo na testa de Mike já dormindo em seu sofá cama – e coloquei meu pijama, já sem maquiagem e com banho e higienes feitas, em menos de dez minutos.
Deitei em minha cama e fechei meus olhos, me arrependendo quase instantaneamente. Arrastei-me pelo colchão até chegar do outro lado, onde havia jogado minha bolsa no chão e peguei meu Blackberry.
“Cheguei sã e salva.”
A resposta veio quase imediatamente, fazendo-me dormir com um sorriso idiota no rosto:
“Ainda bem. Desculpe novamente e obrigado, espero que durma bem. Boa noite.”


Trigésimo Nono


’s POV.


— Gente, o Sandy não passou tipo, em Outubro?
Levantei a cabeça de meu travesseiro e olhei para Mike, parado na porta de meu quarto.
— Sim. Por quê?
Ele gesticulou para o quarto inteiro.
— Então o que diabos aconteceu com o seu quarto, meu bem?
Bufei e me virei na cama, já que antes eu estava de bruços, com a cara no travesseiro. Sentei-me e abracei meu panda de pelúcia com força, fazendo bico.
— Eu tenho um encontro, Mikey.
, que estava sentada no chão de meu quarto, encostada no armário, mexia no celular, alheia à nossa conversa.
Mike elevou as sobrancelhas.
— Ué... Achei que você e o Tyler estivessem juntos.
— Nós estamos! E ele me chamou para um encontro e eu não sei o que vestir porque fazem 3 anos que eu não tenho um encontro de verdade com alguém que eu realmente gosto.
Mike abriu a boca, mas o interrompeu:
— Jace não conta. Ela não gostava dele.
Confirmei balançando a cabeça. Eu estava cagando e andando pro fotógrafo.
— Mas meu chuchu, se vocês já estão juntos e se você já sabe que ele gosta de você, porque o nervosismo todo? — Mike se sentou na beirada de minha cama e eu rastejei até ele no colchão.
Abracei-o e olhei para o bolo de roupas espalhadas pela cama, pelo chão e pulando das gavetas do armário. Não sabia bem o que responder, então usou seus dotes psíquicos de nossa telepatia e falou por mim:
— Ela está nervosa porque agora é pra valer. Desde a faculdade fugiu de relacionamentos como o diabo foge da cruz, você sabe. Mas ela finalmente admitiu que o Tyzão mexe com o coração dela e por isso quer que tudo seja perfeito, porque tem medo que ele se assuste com a meiguice da que nós dois sabemos que é inexistente. O que eu acho que é um exagero, porque como vocês sabem, eu sei que eles vão ficar juntos pra sempre, que nem nos filmes da Disney.
Suspirei e olhei pela janela, silenciosamente concordando com . O sol já havia se posto, mas como era inverno, isso não significava muita coisa. percebendo meu olhar anunciou o horário. 18h45. Tyler chegaria em uma hora e quinze minutos.
— Certo. Então vamos ser práticos porque o bofe vai chegar daqui a pouco e se você for com essa cara de angústia e esse cabelo fedido aí sim que não vai dar certo. — Fiz bico e Mike me empurrou para fora da cama, bruscamente.
— Vamos bf, o Mike trabalha com moda e sabe como você gosta de se vestir. Deixa ele fazer a mágica dele enquanto você toma um belo de um banho e eu faço babyliss no seu cabelo.
Levantei-me relutante e então segui para o chuveiro. Enquanto eu tomava banho, meus companheiros de apartamento elegeram minhas roupas, sapatos, lingerie, maquiagem, até o perfume que eu usaria.
Entrei no quarto enrolada na toalha, já seca e passado hidratante. Mike foi para a sala dar um jeitinho na casa e estava na cama, novamente no celular, com um sorrisinho no rosto.
— Com quem você tanto troca mensagem?
deu um pulinho de susto e me olhou com os olhos verdes levemente arregalados. Ela sorriu sem graça.
— Nada bf, tava mandando mensagem pro Ty falando que você vai estar um arraso hoje e pra ele cuidar bem de você.
Dei de ombros. Não era hora para discutir isso com .
Peguei o conjunto de lingerie preta rendada que eles elegeram e o vesti. O sutiã meia taça valorizou meus seios, que eram médios para o padrão e extremamente pequenos perto dos de . A calcinha preta rendada era bem pequena atrás, o que me custaria vários resgates durante a noite, mas tudo bem, porque era uma ocasião especial.
Mike era mesmo um divo da moda. Selecionou minhas maravilhosíssimas botas de couro que ficavam acima do joelho, meias calça preta, um vestido colado sem decote, preto com uma parte sinuosa mesclando pontos muito pequenos de branco e preto, além de um sobretudo preto mais comprido que o vestido
Quando terminei de me vestir completamente, mesmo com os cabelos desgrenhados e a cara lavada, eu já sabia que hoje a noite seria sensacional. enfiou o celular no bolso, abriu a porta e então Mike entrou com uma maleta de maquiagens,, o secador de cabelo e o babyliss.
Apesar de gay, Mikey não sabia muito bem como fazer maquiagens, então ele ficou segurando o espelho do banheiro para mim (sim, ele tirou o espelho do banheiro e o trouxe até o meu quarto. Vai entender essa bicha doida) enquanto arrumava meu cabelo.
Quando finalmente terminamos tudo, faltavam três minutos para o horário combinado com Tyler. Passei perfume, coloquei uma nécessaire com coisas básicas dentro da bolsa, junto com uma calcinha limpa e álcool em gel. Higiene sempre, né gente.
O interfone tocou.
Sequei minhas palmas suadas no casaco, tirei o celular que estava carregando da tomada e então saí do quarto, no exato momento que Tyler apareceu na porta de casa.
Ele usava uma camisa social vinho, uma calça preta justa e um sobretudo preto, com sapatos sociais.
Mas não foi isso o que me chamou a atenção.
Tyler segurava uma rosa vermelha.
Mordi o lábio inferior assim que percebi que eu sorria demais, abaixando os olhos e depois andando até ele, tentando conter a todo o custo minha felicidade com o gesto. Não fazia nem um pouco o meu jeito, mas eu simplesmente amei.
e Mike estava sentados no sofá, e quando eu cheguei perto o suficiente e peguei a rosa das mãos de Ty e ele segurou meu rosto para me fazer olhá-lo, falando então que eu estava linda, os dois fizeram um coro de “awnnnn”.
Ele me beijou de leve, porque eu usava um batom um pouco mais rosado e provavelmente ele não queria se sujar.
— Aproveitem, meus amores! — Mike gritou do sofá e soltou uma risadinha.
— Até amanhã, pombinhos! É pra devolver ela inteira, hein Tyler! E conseguindo sentar!
Nesse exato segundo, fechei a porta do apartamento, abafando o comentário de , mas não conseguindo impedi-lo. Tyler me olhou com um sorriso malicioso e apertou a mão com força ao redor de minha cintura. Revirei os olhos.
Descemos as escadas e logo estávamos na rua, sendo recepcionados pelo vento frio de Nova Iorque, nossas mãos entrelaçadas. Parei, esperando que Tyler fosse chamar um táxi, mas ele simplesmente continuou andando.
— Você não está pensando em pegar o metrô, né? Porque eu estou com minhas botas maravilhosas e caras e nem fodendo vou gastá-las naquelas escadas podres e fedidas.
Tyler gargalhou, seu dedão acariciando as costas de minha mão, carinhosamente, ainda continuando a andar.
— Não, não vamos pegar o metrô.
— Então... Para onde vamos?
— Ainda não sei.
Parei no meio da rua.
— Como assim você ainda não sabe?
Tyler virou para mim, com os olhos negros brilhantes e um sorriso no rosto, dando de ombros.
— Não decidi ainda, estou pensando como proceder.
— Tyler Hunt, você está me dizendo não planejou o nosso encontro? — Minha voz subiu algumas oitavas e ele deu uma risada alta com o meu nervosismo e indignação.
Puxei minha mão da sua com força e ele me segurou novamente, agora pelos braços, grudando mais o seu corpo no meu.
— Eu não planejei tudo, , até porque primeiros encontros são mesmo imprevisíveis.
Mordi o lábio inferior tentando controlar o sorriso. Tyler sorriu vendo que me amoleceu e eu me recompus, batendo em seu braço, mostrando que continuava brava.
— Não importa. Você não planejou nada para hoje, Tyler, era pra ser especial!
Ele riu e segurou meu rosto entre suas mãos geladas, e eu fixei meu olhar no seu.
— Vai ser especial, . E eu planejei uma ou duas coisas...
— Hmmm, que coisas seriam essas? — Perguntei com as sobrancelhas elevadas.
— Você vai ver. — Ele parou e sua expressão se iluminou, como se tivesse acabado de pensar em alguma coisa, então completou. — Mas eu sei para a região que vamos. Lá escolhemos o restaurante e depois tenho um lugar para te levar.
Fiz um barulho do tipo “hm, sei” e então Ty me segurou pela mão, indo até o meio fio e esperando alguns segundos até que um táxi passasse por nós e o chamou. Entramos nele e Tyler simplesmente disse:
— Central Park, por favor.
Elevei as sobrancelhas.
— Você vai ver. Confie em mim. — Ele comentou com um sorrisinho e eu simplesmente apoiei minha cabeça em seu ombro e relaxei.
Tyler passou o braço ao redor de meus ombros e beijou o topo de minha cabeça. Entrelaçamos nossos dedos e ele ficou acariciando as costas de minha mão com o seu dedão durante o percurso inteiro.
Não demoramos muito e paramos numa das entradas laterais do Central Park, como Tyler havia instruído, do lado oeste.
Saímos do táxi, com Tyler estendendo a mão para me ajudar, então seguimos para dentro do parque. Fechei o casaco com mais força, tentando impedir que o vento frio penetrasse minha roupa. Nossos dedos entrelaçados estavam gelados, mas não soltamos as mãos.
Eram mais de oito horas da noite, mas ainda haviam algumas pessoas passeando pelo parque. Tyler me puxou até um guarda que estava ali perto e o cumprimentou formalmente, logo em seguida perguntando:
— O senhor saberia me dizer onde que fica aquele restaurante do parque, acho que se chamava Tavern on The Green...
O policial sorriu e apontou para uma direção à sua direita.
— Alguns metros para frente, virando à esquerda. Naquelas luzes ali.
Avistei algumas luzes perto das árvores.
Meu estômago revirou. Aquele era um restaurante bem caro.
— Certo. Muito obrigado, senhor.
Tyler saiu me puxando e eu o acompanhei, pensando se eu deveria me oferecer para dividir a conta ou não. Quando chegamos perto do local, avistando as luzes, as pessoas esperando, a porta, tudo... Bem, digamos que eu decidi rapidinho que deixaria Tyler ser cavalheiro.
A fila parecia um caos. Preparei-me para o teatro para conseguir furar a fila, mas Tyler somente me beijou na têmpora e saiu na frente, pedindo que eu o esperasse.
Bufei.
Agora teríamos que ficar duas horas esperando para comer.
Eu sabia que deveria ter sugerido irmos ao Burguer King.
Não demorou muito e Tyler voltou com um sorriso enorme no rosto, pegando em minha mão e beijando meus lábios rapidamente.
— Vamos. Nossa mesa está pronta.
Involuntariamente, meu queixo caiu.
— Como assim? E essa fila enorme? — Fechei a expressão. — Tyler, você na verdade fez uma reserva aqui e quis pagar de fodão para mim dizendo que conseguiu uma mesa para nós?
Ele sorriu.
— Talvez sim. Talvez não.
Seus lábios encostaram em minha orelha e ele sussurrou:
— Você nunca vai saber. Agora vamos entrar, ainda temos muitas coisas para fazer depois do jantar.

’s POV.


Eu tinha um lindo pote de sorvete no meu colo e um cobertor enrolado em meus ombros, quando Mike voltou para a sala de novo. Ele deu um rápido beijo em minha bochecha e foi para a cozinha, provavelmente indo atrás de colher. Voltando, ele sentou por dois segundos no sofá e levantou bufando, avisando que tinha esquecido de mijar ao voltar pra sala. Ele sumiu no apartamento de novo.
Coloquei uma colher cheia na boca e fiquei encarando o filme que estava passando. Não entendia nada da história porque havia pego para assistir na metade, mas muita gente estava morrendo violentamente. Franzi a testa, concentrada, quando o personagem principal estava correndo atrás de um trem. Porque ele estava fazendo aquilo?
— Oi de novo, loirinha linda! — Mike disse, voltando para a sala e segurando meu rosto para beijar-me na bochecha novamente.
— Você lavou sua mão, Mike?
Ele sorriu para mim, maliciosamente, e eu gemi, esfregando meu rosto com nojo.
— Olha, para um gay você é quase como um homem hétero de nojento.
— Natureza masculina, gata. O que você tá assistindo?
Dei de ombros.
— Não faço ideia. Mas estou morrendo aqui casa, trancafiada.
— E você tá aqui porque...
— O Edgar não foi trabalhar hoje, disse que eu podia ter a folga e me trouxe para casa depois que deixamos as crianças nas escolas. Então estou aqui sem fazer nada. — Suspirei pesarosamente.
Para ser sincera a ideia de não ter que trabalhar tinha sido muito apelativa quando foi sugerida por Edgar, mas depois de estar em casa há seis horas, minha bunda já coçava por ação.
— Sei... Então, eu vou no supermercado. Tá afim de ir comigo?
— Pode ser. — Falei tentando esconder minha animação por estar indo fazer alguma coisa na vida. Levantei do sofá rapidamente. — Espera aí.
Corri para o quarto e me troquei em tempo recorde. Peguei meu celular e fiquei encarando o Blackberry durante quinze segundos até decidir que não o levaria comigo. Folga. Eu estava de folga. Não adiantava ficar me preocupando porque nada aconteceria fora do normal. Enfiei a cabeça no suéter mais leve que tinha (o frio já estava melhorando, estando na primeira semana de fevereiro) e puxei a chave do trinco enquanto Mike desligava a televisão para irmos.
Nós andamos calmamente pelas ruas e entramos no mercadinho mais perto e barato que existia perto de nosso apartamento. O dono já nos conhecia por nossas viagens emergenciais a procura de comida por lá. Pelo menos com Jules, e agora com Mike, nossa organização havia melhorado bastante. Mas em partes porque antes nós acabávamos comendo em nossos trabalhos mesmo e agora não era mais assim.
Nossa.
Faziam quatro meses. Quatro meses e minha vida tinha dado tanta reviravolta que nem dava para lembrar como era antes.
Antes do Starbucks. Antes de Charles. Antes de Edgar e as crianças...
— Você acha que a vai ligar se eu comprar o cereal só de chocolate amargo? — Mike perguntou, interrompendo meus pensamentos.
— Desde quando ela come chocolate amargo, Mike?
— Desde nunca, mas esse é o ponto. Ela vai me agradecer, faz bem para o rosto. Assim ela não fica com as espinhas que vive espremendo.
— Se você falar isso para ela, ela vai acabar espremendo seu cérebro, isso sim. Compra, se ela reclamar, nós trocamos depois.
— Na verdade eu duvido que ela perceba a diferença entre os chocolates. Aquela lá só engole, ela não sente gosto.
Fuzilei Mike com os olhos, mas ofereci-o um pequeno sorrisinho para que ele soubesse que no fundo eu concordava, só nunca de fato falaria mal de minha melhor amiga.
Meia hora eu estava cem dólares (isso porque havia dividido com Mike) mais pobre e carregando sacolas de suprimentos até a altura do cotovelo, pelo menos cinco em cada braço. E olha que Mike estava carregando mais. Atarefei-me em ficar guardando tudo em seus respectivos lugares assim que pisamos no apartamento, para não dar brecha a nenhum ataque de TOC de . Uma vez que ela começava a arrumar tudo, era TUDO mesmo. Até minha gaveta de calcinhas sofria.
Quando terminei, tomei um banho e coloquei uma roupa básica para ajudar Mike a cozinhar. Ele já estava na metade do prato e fazia um tipo de macarrão com bifes de frango. Preparei uma salada (coisa que eu não comia há pelo menos quatro meses) e deixei-a lindamente pronta sobre a bancada.
— Sabe o que nós esquecemos? — Mike falou enquanto misturava o macarrão com o molho rapidamente.
— O quê?
— De comprar um vinho.
Franzi a testa, pensando em como seria sensacional ter uma deliciosa garrafa de vinho me esperando quando toda a comida estivesse pronta e sem pensar duas vezes sai da cozinha, peguei minha bolsa, celular e acenei para meu querido amigo gay, que só sorriu orgulhoso para mim, provavelmente por eu estar fazendo aquilo logo.
Pensei em parar na loja que havíamos acabado de fazer compras. Eles provavelmente teriam vinho lá. Mas eu queria qualidade.
Andei cinco quadras até desistir. Parei na frente de uma loja que parecia vender bebidas, mas somente cervejas e pesquei meu celular dentro de minha bolsa. Bom, eu tinha duas opções para pedir ajuda. Fiz a ligação e durou três toques até ser atendida:
— Aloooô?
— Oi, Theo! É a , tudo bem?
Theo deu uma risadinha do outro lado da linha e meus lábios se repuxaram em um sorriso instantaneamente.
— Oiiii!
— O seu pai está aí, meu amor?
Ele riu novamente.
— Codinha!
— Papai está na cozinha? Você pode dar o telefone pra ele, por favor?
Sem responder, comecei a ouvir o barulho do atrito do celular de Edgar, provavelmente contra a mão de Theo, e depois de um minuto e algumas vozes abafadas, ouvi:
? — Era Edgar, parecendo confuso.
— Oi! Desculpa ligar do nada...
— Eu... Não, tudo bem. Só um segundo. — Ele disse e o telefone ficou com o barulho abafado novamente. — Desculpe, minha mão estava cheia de farinha.
— Você está cozinhando? — Perguntei tentando segurar meu riso.
Edgar riu, percebendo meu tom de voz divertido.
— Tentando, na verdade. Acho que vou acabar pedindo comida fora... O que aconteceu?
— Hãn? Ah, nada. Eu queria saber se você conhece algum lugar que vende vinho.
— Tipo uma adega? No Soho? — Ele pareceu momentaneamente confuso.
— Bom, de preferência, sim. É para o almoço.
— Ah... jantar especial?
Pausei, sorrindo involuntariamente para como sua voz tornou-se tensa imediatamente. Ou pelo menos achei que ele soou diferente. Talvez não.
— Não. — Respondi tentando parecer desinteressada. — Só com meu colega de apartamento e o namorado gay dele.
— Ah, entendi. Vai ser um jantar interessante, pelo jeito. Bom, acho que tem uma adega três quadras da sua casa. Direção oeste. O nome é Fillery ou alguma coisa parecida.
— Obrigada. Bom jantar com as crianças.
— Você também, .
Desligamos e eu dei meia volta, procurando a adega que ele havia dito. Demorou dez minutos, mas finalmente a encontrei em uma esquina, quatro quadras atrás de meu prédio. E mais quinze minutos, estava subindo as escadas de meu prédio até meu apartamento, com um vinho que custou trinta dólares e um sorriso inconsciente por ter ouvido a voz de Theo hoje.
É. O sorriso era por causa de Theodoro.
Quando entrei no apartamento, porém, fui recebida com uma cena... Peculiar.
Mike estava tirando sua blusa, sentado no colo de Juan enquanto ele distribuía beijos por todo seu pescoço. Meu querido amigo gay estava tendo seu momento, música estava tocando da televisão (ligada em algum programa de clipes musicais) e nem havia percebido o barulho da porta da casa se abrindo.
Juan falou alguma coisa em espanhol e Mike gargalhou, beijando-o com vontade enquanto agarrava os cabelos de seu estrangeiro. Movi-me silenciosamente pelo apartamento, até a cozinha, onde peguei uma das três taças que havíamos comprado desde o furacão Jules e passai pela sala novamente (onde agora Juan estava deitado sobre Mike, no sofá) somente para ir até meu quarto.
Felizmente, as roupas e coisas de Mike ficavam dentro de meu quarto. Fechei minha porta, abri a garrafa de vinho e enchi minha taça pela metade somente para jogar-me sobre a cama e ficar deliciando meu vinho (que o sommalier havia feito uma ótima indicação, por acaso). Cheguei a ler quase cem páginas de um livro, quarenta minutos passando, até que a porta de meu quarto abriu.
— Vai ter troco, muchacho... — Ele terminou de falar enquanto gargalhava e entrava no quarto, seu olhar encontrou com o meu e ele pulou, assustado, colocando a mão sobre a cueca como se estivesse pelado e fechando a porta alarmado. — ! Como você entrou aqui?
— Hm... Pela porta. — Respondi fechando o livro e sentando, erguendo uma sobrancelha para Mike.
Ele parecia roxo.
— E-e... E quando você chegou? — Perguntou indo até sua gaveta e pegando uma calça jeans nova, quase caindo no chão enquanto tentava colocá-la na pressa.
— Acho que foi durante uma música da Britney Spears.
Mike fuzilou-me com os olhos. Gargalhei.
— Relaxa, Mickey. Nada que eu nunca tenha visto antes. Bom, não no meu sofá... Mas...
— Como você chegou tão cedo? Não foi comprar vinho, não? — Ele perguntou indignado.
— Exatamente. — Revirei os olhos. — Fui comprar o vinho, não produzir um. Achou que eu fosse demorar quantas horas para ir até uma loja e voltar?
Mike considerou minhas palavras e deu um segundo gritinho afeminado, fazendo movimento com suas mãos como se quisesse esganar alguma coisa. Provavelmente eu ou ele mesmo.
furacão . Nem uma palavra sobre o assunto. Se Juan descobrir que você entrou quando estávamos... Você sabe... Ele vai ficar putíssimo comigo!
— Vou fingir que estava aqui o tempo todo. — Prometi e Mike só ficou mais roxo.
TÁ DOIDA? — Ele sussurrou alarmado e balançou a cabeça negativamente. — Não, não. Você acabou de chegar. Nesse instante. Enquanto ele estava no banheiro.
— Ai meu Deus... — Suspirei fingindo irritação, mas divertindo-me internamente. Levantei da cama, parando na sua frente com um sorriso angelical. — Só se você me deixar usar seu Skype mais tarde.
Ele semicerrou seus olhos, cruzando os braços no peitoral, ainda nu.
— Você. Não. Viu. Nada.
— Nadinha. — Jurei beijando meus dedos cruzados e depois sua bochecha. Puxei um pelo de seu peitoral, fazendo-o gemer em dor. — Valeu, muchacho.
Ouvi Mike fazer um barulho de irritação antes de sair do quarto. Andei até a sala e encontrei Juan ajustando a barra de sua camisa. Ele olhou para mim, petrificou-se e ficou vermelho de vergonha. Acenei para ele como quem não tá nem aí e falei:
— Oi Juan! Acabei de comprar um vinho delicioso para nosso jantar! Podemos comer de uma vez?
Mike socorreu seu querido namorado segundos depois, entrando na sala com um sorriso amarelo e fingi ignorar o olhar alarmado de Juan para ele. Passei o resto do jantar fingindo (muito bem) que não havia visto nada e sem fazer nenhum comentário malicioso que pudesse deixar Juan desconfortável - o pobrezinho era bem tímido, para ser sincera.
Mais tarde, fiquei assistindo televisão, enquanto o casal limpava a louça e quando terminaram, apareceram discretamente ao meu lado.
, eu vou sair com o Juan agora... Vamos no cinema... Não vou dormir em casa.
Virei-me para olhá-lo com um sorriso malicioso no rosto que fez Juan imediatamente ficar vermelho. Mike revirou os olhos para mim e entrelaçou seus dedos nos do namorado, puxando seu casaco do braço do sofá.
— Fique tranquilo, não vou afogar na garrafa de vinho. — Comentei com um sorrisinho e levantei do sofá para despedir-me deles.
— Juízo e nada de destruir meu notebook, deixei-o aberto para você acessar.
— Obrigada. Boa saída para vocês dois. — Beijei a bochecha de Juan e depois abracei Mike, sussurrando em sua orelha: — Você tem a maior sorte do mundo que quem entrou no apartamento fui eu, não a .
Ele se afastou rindo levemente.
— Estou ciente, loira. Até depois.
Eles saíram do apartamento e eu voei até o quarto, pegando o notebook aberto e meu celular imediatamente. Digitei uma mensagem enquanto fazia os processos de log in no Skype: “Posso entrar no Skype já, estou te esperando ;)”.

’s POV.


— Então quer dizer que você era um jogador famoso? — Perguntei apoiando os cotovelos na mesa, e o rosto nas mãos entrelaçadas com um sorriso divertido.
Tyler girou a taça de vinho em sua mão, elevando as sobrancelhas arrogantemente.
— Gosto de pensar que eu era um prodígio jovem.
Gargalhei.
— Acho que ganhar o campeonato de basquete de uma liga de cinco colégios aos quinze anos não te faz um prodígio, Tyler.
— Eu fiz uma cesta de três pontos nos últimos quatro segundos do jogo. Sou uma lenda naquela escola até hoje. Isso é inveja.
Bebi meu vinho, tentando não rir enquanto engolia.
— Desculpa, desculpa. É verdade. Estou morrendo de inveja do seu troféu de vinte e cinco centímetros de plástico pintado de dourado de melhor jogador da liga.
— O troféu tem vinte e sete centímetros.
Bati palma lentamente.
— Nossa hein. Quase um monumento.
Tyler revirou os olhos e pegou sua taça de vinho.
— É sim. Você sabe muito bem que eu carrego um monumento.
Involuntariamente, abri um sorriso malicioso e revirei os olhos, percebendo sobre o que ele se referia.
— Você é impossível, Tyler.
Ele riu e bebeu um gole.
— Só constatando fatos.
Apoiei minha taça na mesa e endireitei minha postura, passando uma mão por meu cabelo e o arrumando calmamente, enquanto ainda sorria divertida por sua prepotência. Olhei para o lado, procurando o garçom com nossa sobremesa e não o achando, voltei a olhar para Tyler.
Seus olhos negros me observavam calmamente e eu percebi que ele escondia um sorriso atrás dos lábios comprimidos.
— O que foi?
— Nada.
Elevei as sobrancelhas.
— Tyler. — Falei com um tom sério. — Pode me falar.
Um sorriso brotou em seu rosto, como sempre acontecia quando ele percebia que estava me deixando irritada.
— Só estava pensando.
— No que? — Insisti.
Ele soltou uma risada fraca, rápida, olhando para baixo por alguns segundos, depois para mim novamente, comprimindo os lábios e me olhando com seus olhos intensos de sempre. Tyler abriu a boca duas vezes antes de finalmente, depois de tossir e endireitar a postura, falar:
— Só estava pensando que estou feliz que estamos aqui. — Ele falou um pouco rápido, como se estivesse com dificuldade de admitir.
Tyler não era um cara de sair gritando seus sentimentos aos quatro ventos e ele sempre me pareceu orgulhoso, mas eu havia esquecido disso porque foi ele quem se declarou para mim. Vê-lo assim, agora, me fez perceber quantas barreiras ele teve que superar para se declarar para mim e isso me fez sorrir amplamente. Estiquei minha mão pela mesa até a sua, apertando-a.
— Eu também estou feliz.
Um sorriso brotou em seu rosto, mais confiante. Saber que eu também gostava dele não o deixava tão submisso à mim. Eu entendia esse sentimento perfeitamente. Era o que norteava a minha vida, esse medo de ser vulnerável perante alguém porque eu tenho sentimentos por ela. Deixar meu coração me guiar e ficar à mercê do outro. Até uma semana atrás, isso me causava arrepios.
Ficamos alguns bons minutos nos encarando até que o garçom finalmente chegou com nossa sobremesa e soltamos as mãos, quebrando o clima, mas por uma boa causa.
— Bom apetite. — O garçom disse e logo se retirou.
Abri um sorriso involuntário perante o prato posicionado entre nós, com duas colheres uma de cada lado, o bolinho quente dos deuses já com uma rachadura deixando seu recheio quente e delicioso jorrar como águas vindas do Olimpo. Um delicioso Petit Gateau.
— Cuidado com a baba. — Tyler brincou ao perceber meu olhar sonhador.
Ignorei-o e peguei a colher, enchendo-a com sorvete e com a calda quente que escorria e à levei a boca. Gemi em satisfação.
Tyler riu e pegou um pedaço para ele também. Segundos depois, ele gemeu também.
— Essa é a melhor coisa que eu já comi em toda a minha vida. — Ele murmurou enquanto saboreava.
Olhei-o com as sobrancelhas elevadas e um olhar acusador.
— Tudo bem. É a segunda melhor coisa que eu já comi.
Sorri satisfeita.
— Bom mesmo. Garoto esperto.
Ele revirou os olhos rindo. Comemos a sobremesa quase em silêncio, exceto pelos gemidos e comentários sobre a divindade que era aquele prato. Estava tudo ótimo, até que Tyler resolveu me irritar, porque ele roubou um pedaço que eu estava separando para mim do Petit Gateau, aliás, o último pedaço que havia sobrado. Filho da puta!
— Ei! Devolve, é meu!
Tyler puxou a colher para o seu lado do prato e eu enfiei a minha na frente dela, impedindo a passagem. Ficamos alguns segundos numa briga acirrada de colheres, até que ele conseguiu puxar e levar até a boca, quando por impulso eu bati em sua colher e todo o conteúdo desta caiu sobre a mesa, espirrando na camisa vinho de Tyler em vários pontos, ficando vários pingos marrons e brancos.
Assim que percebi que eu o havia sujado, recolhi minha colher e levei uma mão à boca, tentando controlar a risada que quis escapar.
— Você não fez isso.
Tyler disse seriamente, olhando para a camisa.
Deixei um riso esganiçado escapar.
Ele elevou os olhos seriamente para mim.
— Vai ter volta, . Não ache que vou deixar barato. — Ele falou seriamente enquanto passava um guardanapo na camisa, tentando limpar.
— Poxa, amor, desculpa foi sem querer... — Falei com uma voz manhosa, estendendo a mão até ele.
Tyler parou seus movimentos abruptamente e elevou o olhar para mim.
— Do que você me chamou?
Parei com a mão no meio do caminho até chegar nele, os olhos levemente arregalados ao me dar conta do que eu havia acabado de chamar Tyler. Senti minha pele gelar aos poucos.
Eu chamei Tyler de... Amor?
— Eu... Eu te chamei como sempre te chamo, ué. Ty.
Ele balançou a cabeça e abriu um sorriso leve.
— Não... Você me chamou de “amor”.
Soltei uma risada nervosa e retraí minha mão. Passei-a pelos cabelos e desdenhei o fato, evitando seu olhar.
— Claro que não, Ty. Acho que você ouviu errado.
Ele sorriu abertamente.
— Eu tenho certeza que não, amor.
Revirei os olhos.
— Você está imaginando coisas. — Comentei olhando para o lado, exatamente no segundo que nosso garçom passou. Agarrei a manga de seu casaco, assustando-o um pouco. Sorri gentilmente. — Você poderia ver a conta para nós, por favor?
Ele me olhou meio surpreso e sorriu depois que o susto passou.
— Ah, claro. Já, já, senhorita.
Soltei-o e então me virei para Tyler, esperando que ele tivesse esquecido o assunto, mas ele continuava a me olhar com aquele mesmo olhar. Vitorioso. Feliz. Arrogante.
Soquei-me mentalmente. Burra, burra, burra.
Pensei em me levantar e ir para o banheiro, mas Tyler estendeu a mão e pegou a minha, que estava pousada sobre a mesa ainda. Olhei para nossas mãos juntas, ainda evitando aqueles olhos negros que sempre foram tão magnéticos para mim.
.
Fechei os olhos com força por alguns segundos e depois os elevei para ele, finalmente o encarando, sentindo o poder que seu olhar exercia sobre mim. Ele alisou as costas de minha mão com o dedão e abriu a boca para falar, quando o garçom retornou com a conta.
Meu Deus, mas esse cara merecia uma gorjeta de cem dólares.
Tyler puxou sua mão da minha e pegou a conta.
Ele me olhou e eu o olhei e ele riu.
— Você não vai se oferecer para pagar a conta, né?
Fiz uma cara de “pois é né”.
— Sinto muito, mas eu estou completamente quebrada. Acabei de arranjar um emprego. arrancaria minhas tubas uterinas.
Tyler gargalhou.
— Tudo bem. Eu não deixaria você pagar mesmo.
Ele entregou o cartão de crédito para o garçom que estava com a maquininha e em alguns segundos a transação já havia sido feita. Não tentei olhar o valor porque ou eu me sentiria culpada por não poder ajudar mesmo porque tinha sido caro, ou me sentiria culpada porque eu não podia ajudar mesmo o valor sendo barato porque estou na merda. É foda ser pobre.
Levantamos e Tyler pegou o meu casaco atrás de mim e o segurou para que eu o vestisse. Sorri com o gesto, mas ainda com a questão de tê-lo chamado de amor coçando em minha mente.
Ele me beijou na têmpora depois de me ajudar a me vestir e me deu a mão.
— Vamos, amor, ainda temos mais uma coisa para fazer antes de irmos para casa.
Bati em seu ombro.
— Para, Tyler! Desculpa, que saco, saiu, foi sem querer.
Ele riu de minha irritação e me puxou para fora do restaurante, onde me envolveu com seus braços por minha cintura, aproximando nossos corpos e encostando nossas testas.
— Eu gostei, .
Elevei as sobrancelhas.
— Você não me parece o tipo de cara que gosta de se chamar de amor.
— Bem, você também não.
Pois é, ele tinha um ponto.
— É. Foi impulso. Não sei.
Tyler me olhou, analisando minha expressão.
— Um impulso?
— Sim. Foi uma cena muito de comédia romântica, sabe, esses clichês, aí meu cérebro deve ter associado e eu te chamei assim. — Falei rapidamente, gesticulando com as mãos que antes estavam apoiadas em seus ombros.
Ele comprimiu os lábios.
— Tudo bem, então.
Percebi que ele ficou um pouco ressentido, então adicionei rapidamente:
— Mas nós podemos nos chamar assim. Quer dizer. Se você achar que não é tão idiota assim.
Tyler riu e me beijou rapidamente.
— Eu não acho que é tão idiota assim.
Alisei seus ombros revestidos pelo casaco, sorrindo abertamente agora, então relembrei-o do que ele disse:
— O que vamos fazer agora, gatão?
Seu sorriso se alargou e se iluminou como uma criança perversa.
— Você vai ver.
Soltando-me de seu abraço, Tyler passou seu braço por meus ombros, aproveitando a ainda existente diferença que tínhamos, mesmo eu estando de salto, ele ainda era uns três centímetros mais alto do que eu. Levantei minha mão até encontrar a sua que estava dependurada em meu ombro, entrelaçando nossos dedos.
Andamos calmamente pelo Central Park, com o vento gelado do Inverno que nos deixava aos poucos, as luzes dos postes e a lua sobre nós, exatamente como em um filme de romance.
E eu só conseguia pensar que eu sabia exatamente porque o havia chamado de amor durante o jantar.

’s POV.


? — Chuck chamou e eu levantei os olhos de meu livro para encará-lo na tela do computador.
Ele ainda estava sentado em sua cama, o computador sobre seu colo, deixando-me somente com a vista de seu tronco e rosto, uma blusa azul de manga curta apertando seu corpo definido e uma barba mal feita crescendo por todo seu maxilar. Chuck colocou o livro em sua mão para o lado e ajeitou-se na cama, balançando sua imagem.
— O quê? — Perguntei.
— O que você está fazendo?
Levantei a página de meu livro, que ficava fora de seu campo de visão para que Chuck visse. Ele sorriu para a imagem e assentiu com a cabeça, voltando a ler seu livro também. Depois disso perdi minha inspiração para ler. Passei cinco minutos olhando para a mesma linha e não absorvendo nada. Sai do quarto, tomei um copo de água na cozinha e quando voltei deitei-me na cama de bruços e fiquei encarando a tela. Ou melhor, Charles.
Às vezes minha mente esquecia o quão bonito ele era. Quer dizer, o Inglês nunca foi de se jogar fora, mas o que dizem é verdade: nós damos valor depois que perdemos. O que é meio que infelizmente para o meu caso, porque eu quase perdi de vez.
Nós nunca chegamos a falar disso seriamente. De voltar, ficar juntos de novo. Porém eu tenho certeza que hoje em dia sei que tipo de homem eu devo casar, e não é o tipo do Noah. Quem mais oposto que Noah do que Charles? Bom. Isso quando não estou pensando no extremo. Porque o outro lado da moeda é Edgar. Quem mais oposto do que Noah, Charles e Edgar, aliás?
Observei as mãos grandes de Chuck coçarem seu queixo enquanto ele lia, seu pescoço se esticar para o lado e sua garganta ficar inteira chamando por mim. Ou por meus lábios. Ajeitei-me na cama, chegando mais perto do computador como se isso fosse deixar-me de fato mais próxima. Olhei para minha imagem no cantinho da tela para ter certeza que eu não estava simplesmente parecendo uma louca com o nariz na câmera.
Chuck tinha um belo zoom em meu ombro, que pegava a área de minha clavícula, meu pescoço e um belo de um decote que minha blusa, por eu estar deitada, acabava fazendo. Mordi meu lábio inferior, pensando rapidamente no que estava prestes a fazer. Resolvi ter o luxo da dúvida.
Lentamente, balancei meu ombro para trás, fazendo com que a alça de minha blusa caísse e deixasse em cena somente meu sutiã preto. Notei, então, que estava usando o sutiã que havia comprado na Black Friday com - quase quatro meses atrás - para ser usado com Charles e que nunca havia estreado. Era um sinal de Deus, com certeza.
Movi o computador para trás levemente, dando mais espaço para a câmera, e coloquei meu queixo sobre minhas mãos, de maneira que meus peitos se esmagassem. Charles olhou brevemente para a câmera quando eu suspirei e sorriu, distraído por sua leitura. Mas quem é brasileiro nunca desiste, então meu próximo passo foi drástico: sai da cama, tirei minha blusa e deitei novamente em um flash.
Dessa vez Charles olhou para o que eu estava fazendo, franziu a testa e quando sorri angelicalmente, continuou a ler. Fiquei três minutos tentando lembrar qual havia sido a calcinha que tinha colocado de manhã, mas não era nada sexy. Então rolei para fora da cama silenciosamente e procurei por uma lingerie provocativa. Arranjei uma meia sete oitavos e vesti-a junto com uma calcinha preta de renda que combinava com o sutiã que comprei na Black Friday. Juntei muita coragem e, com a maior cara de pau, sentei-me na cama novamente, em frente ao computador, com os cabelos loiros meio descabelados e sentada com perna de índio.
Quando Charles resolveu me olhar novamente, seus olhos azuis se arregalaram, sua boca ficou entreaberta e ele deixou o livro que lia cair de suas mãos no chão. Sorri satisfeita com isso.
Bloody hell, , o que você está fazendo? — Ele disse com os olhos vidrados na tela.
Levei minhas mãos até a boca, ainda um pouco envergonhada, então passei-as pelos meus cabelos e apoiei-as atrás de mim, inclinando meu corpo.
— Você não queria me dar atenção.
Charles continuou subindo e descendo o olhar pela imagem, mordendo os lábios ocasionalmente. Ele passou sua mão forte pelos cabelos loiros bem cortados, os ombros fortes tensionados.
— Então você simplesmente resolveu se despir?
— Pareceu um bom modo de chamar a sua atenção. — Falei com um sorriso angelical e Charles riu.
— Foi bem... — Seus olhos vagaram e então ele mordeu os lábios. — Eficiente.
Sorri e deslizei minhas mãos por minhas coxas.
— Eu estava pensando... — Comentei olhando para baixo com um sorrisinho, tomando coragem.
— Sim?
— Acho meio injusto eu estar seminua aqui e você não.
Charles gargalhou.
— Então quer que eu tire a minha roupa?
— Sabe, Charles, na verdade eu preferiria que eu tirasse a sua roupa, mas...
Ele encarou a tela intensamente, seus olhos azuis ficando mais escuros.
— Daqui alguns dias estou aí, . E quando eu chegar você não vai precisar ficar tirando minha roupa, porque eu não vou te deixar sair da minha cama por uns bons dias.
Senti meu rosto queimar e soltei uma risadinha sem graça, mordendo meus lábios.
Charles então se afastou da tela e retirou sua camiseta azul.
Prendi minha respiração e mordi meu lábio inferior observando seus músculos delineados e sua pele branca e o modo como seus ombros fortes chamavam por minhas unhas. Eu podia imaginar sua pele quente, seu cheiro tão característico, seu corpo sobre o meu. Ele jogou a camiseta para o lado, sentando-se novamente no sofá e inclinando-se na direção da câmera para ficar mais perto.
— Sabe... Eu estou de calcinha. — Comentei tentando parecer inocente. Charles balançou a cabeça, um sorriso divertido em seu rosto e levantou-se novamente.
Fiquei encarando sem piscar, tentando esconder minha fascinação por seu corpo, enquanto ele tirava seu tênis. Ele olhou para a tela, procurando minha reação e sorriu ao me ver mordendo o lábio com força, ansiosa. Tirou suas meias, depois dando atenção para seu cinto. Quando finalmente sua calça caiu, expondo sua cueca preta, que fazia pouco para disfarçar uma ereção já crescente, meus dentes quase arrancaram meus lábios.
Chuck chutou a calça para o lado e sentou-se no sofá, puxando o computador para seu colo, deixando-me mais próxima do que nunca de seu rosto. Eu podia enxergar sua barba de dois dias crescendo por seu maxilar, a pupila dilatada de seu olho. Respirei fundo e puxei o computador em minha direção também, fazendo com que a câmera inclinasse e Charles tivesse uma visão gloriosa de meus peitos perfeitamente seguros pelo sutiã.
— E... E agora? — Perguntei perdendo minha coragem e ficando visivelmente corada.
— Eu também nunca fiz isso, .
— É tão estranho. — Sussurrei e ele concordou lentamente com a cabeça. — Eu prefiro o seu toque.
Os olhos de Charles se arregalaram momentaneamente com minha confissão e um pequeno sorriso tocou seus lábios.
— Então pronto. — Sua voz foi suave e ele continuou calmamente: — Feche os olhos, . Respira fundo e coloca as mãos em sua cintura.
Estreitei os olhos levemente, decidindo se iria ou não fazer aquilo e depois cedi - eu já havia chegado até aqui mesmo. Segui seus comandos e passei lentamente minhas mãos desde o começo de minha cintura até minhas costelas, logo abaixo da taça de meu sutiã.
— Agora imagina minhas mãos fazendo tudo isso. Eu vou descendo minhas mãos novamente, passando elas pelo interior da sua coxa e subindo novamente, passando por todo seu corpo gostoso e encaixando seus peitos na minha mão.
Minha respiração ficou forte enquanto eu fazia justamente o que ele falava, imaginando com todas as minhas forças suas mãos.
— Distribuindo beijo por seu pescoço, descendo minhas mãos pela lateral de seu peito até chegar no fecho do seu sutiã, liberando você para mim complet... Puta merda, . — Chuck suspirou ao ver que eu havia soltado meu sutiã exatamente como ele estava instruindo.
— O quê você vai fazer agora, Charles? — Perguntei abrindo meus olhos para encontrá-lo com os olhos vidrados na tela, ombros tensionados se movimentando suavemente. — Você está imaginando meu toque em você também?
— Sempre. — Ele suspirou e olhou brevemente para baixo, um sorrisinho surgindo em seu rosto. — Você consegue imaginar o quanto eu te quero, ? O quanto eu quero ter esse peito na minha boca, seu corpo arfando embaixo do meu enquanto minha língua passa por cada canto de seu corpo?
Minha mão desceu involuntariamente para minha intimidade, já molhada, e eu deitei na cama, trazendo a câmera para minha barriga para que Charles pudesse enxergar meus peitos e rosto. Ele se ajustou no sofá, o ar puxado por seus dentes fazendo um barulho satisfatório que me deixou mais animada ainda.
— Posso ver? — Perguntei descaradamente, meus dedos começando a me massagear com movimentos circulares.
— O quanto eu te quero?
Assenti sem uma palavra e a câmera de Chuck mexeu-se até que seu membro apareceu na tela. Ele estava duro como pedra, sua mão descendo e subindo por seu mastro em um ritmo como o que eu sempre fazia. Eu abri a boca para falar alguma coisa, mas encontrei-me soltando um gemido com minha intimidade começando a esquentar e latejar. A tela voltou para o rosto de Chuck e eu encarei seu rosto por alguns segundos antes de fechar meus olhos e continuar a escutar sua voz falando comigo novamente:
— Você é tão gostosa, . Quero poder enfiar minha cara entre suas pernas e provar do quanto você é gostosa de novo. Sentir sua pele quente sob minhas mãos enquanto eu massageio seus peitos, enquanto chupo você inteirinha.
— Ahhh... — Gemi, meu dedo pressionando os pontos mais sensíveis de minha intimidade. Minha boca abriu em um suspiro abafado por outro barulho inconsciente saindo de mim.
— Eu quero subir minhas mãos por seu corpo, apertar sua bunda com força e trazer seu corpo para perto do meu para que você sinta o quanto quero você. Depois vou fazer você minha de novo, vou sentir sua bucetinha ao meu redor novamente e vou fazer você sentir cada centímetro meu.
— Ahh meu Deus, Charles... Quero colocar você inteirinho na minha boca.
— Você vai. Quando você estiver perto de explodir, como agora, vou passar minha língua na sua buceta e você vai se desfazer em meus braços. Ai vou deixar você chupar cada gota que sair de dentro de mim também, do jeitinho que você gosta.
Minha respiração forte foi perdendo o controle, minha mente criando imagens próprias, meu corpo reagindo ao tom de voz, respiração e simplesmente a ideia de Charles poder fazer justamente tudo que ele estava falando comigo. Meu coração começou a acelerar, meus dedos movimentando-se freneticamente e uma outra mão apertando meu peito com força. Abri meus olhos para ver Chuck e foi quando meu corpo se desfez, fazendo com que eu soltasse um gemido estrangulado que tampei com minha própria mão.
Segundos depois Charles estava fazendo os mesmo barulhos, seus ombros se tencionando e aliviando-se logo em seguida. Fiquei em silêncio, um sorriso malicioso tomando conta de meus lábios e ao mesmo tempo, minha bochecha tornando-se vermelha. Nós havíamos transado por Skype.
Que... Adolescente.
Levantei-me bamba da cama, tendo que controlar meus joelhos para não se desfazerem enquanto seguia meu caminho para o banheiro. Limpei a mim mesma e coloquei uma blusa novamente, depois voltei para o quarto para encontrar uma tela somente com um sofá vazio. Minutos se passaram e Chuck voltou, vestindo sua calça de pijama com um sorrisinho relaxado no rosto. Ele pegou seu livro que havia caído no chão, colocou debaixo do braço e pegou o computador, a câmera balançando.
Ele andou até seu quarto e eu fui reconhecendo seu apartamento, seu quarto e então sua cama. Ele ajeitou seus lençóis para deitar-se.
— Vou arrumar minhas coisas, só um segundo. — Ele pediu e sumiu novamente. Pude ouvi-lo arrumando sua mala de viagem e deixando tudo ajeitado e sorri involuntariamente.
Esperei, aproveitando para arrumar as coisas ao meu redor também e deitei na cama. Logo Charles apareceu e deitou-se também, nós ficamos encarando a tela (ou um ao outro) silenciosamente.
— Quando você vai chegar?
— Onze e quarenta amanhã.
— Vou buscar você no aeroporto, ok? Não sei me virar por lá então vou simplesmente me plantar na saída e esperar por você.
— Ou eu esperar por você. — Ele riu suavemente, seus ombros chacoalhando.
— Não vou me atrasar, prometo.
— Se você se atrasar, vou continuar esperando por você.
Meu coração deu um pequeno pulinho animado e eu tive que controlar a mim mesma a vontade de esticar meu braço e acariciar o rosto de Charles na tela. Sorri para ele. Faltavam 13 horas para que eu o visse. Ainda eram onze e meia da noite.
— Você não precisa esperar mais, Chuck. Vou estar lá.
— Durma, . Vou pegar o voo daqui cinco horas.
— Vou pegar um taxi para encontrar você daqui 12 horas. — Sorri e nós nos despedimos. Desliguei a tela e dormi, ansiosa por ter os lábios de meu inglês esperando por mim.

’s POV.


— Eu não sei quanto tempo faz que você não sai em um encontro, mas tenho certeza que você sabe que encontros normalmente não terminam assim, Tyler.
Ele gargalhou e me beijou a bochecha.
— Relaxa, . Você vai gostar.
— Ah, é claro que eu vou gostar. Eu amo isso. Mas não depois de me entupir de comida e definitivamente não com meia calça e vestido! — Reclamei mais uma vez, tentando provar meu ponto, mas ele somente me puxou pela mão para mais perto da pista.
Tentei fincar o pé no chão, ainda encarando a pista de patinação no gelo do Central Park sobre a qual as pessoas patinavam alegremente, algumas caindo, outras tentando piruetas e algumas duas ou três até conseguindo, querendo se exibir para os outros.
— Para de reclamar. Vamos. Eu prometo não rir se você cair.
Bufei.
Não é que eu não gostasse de patinar no gelo. Eu amava. Mas eu não era nenhuma profissional, estava de barriga cheia e de meia calça e vestido. Se eu caísse, seria uma coisa fenomenal.
— Você e eu sabemos que você não vai conseguir cumprir essa promessa, Tyler.
Ele gargalhou confirmando minhas suspeitas e nós andamos até a portinha que dava para entrar no rinque, já com os patins nos pés. Finalmente entramos, e logo que colocamos as lâminas dos patins sobre o gelo, Tyler me puxou para a lateral para que eu pudesse me apoiar na barra e ele também.
— Tudo bem, você tem razão. Eu vou rir um pouquinho.
Dei de ombros.
— Não tem problemas. Eu também vou rir quando você cair.
Ele elevou as sobrancelhas.
Quando eu cair? O que te faz pensar que eu vou cair?
Foi a minha vez de elevar as sobrancelhas.
— Quer dizer que além de jogador de basquete você também é patinador profissional?
Tyler riu desdenhoso:
— Existem muitas coisas sobre mim que você ainda não sabe, .
Antes que eu pudesse respondê-lo brincando, perguntando se o nome dele realmente era Tyler Hunt, ele se distanciou de mim, soltando a barra e patinando para a frente com habilidade, sem parecer gay, somente deslizando os pés para a frente sem perder o equilíbrio.
Tyler girou, mudando a direção, então veio patinando de volta para mim. Ao chegar, me estendeu a mão:
— Confia em mim?
— Tenho outra opção?
Simplesmente peguei em sua mão e rezei para que nenhuma criança conseguisse ver a minha calcinha fio dental quando eu capotasse.
Felizmente, eu ainda lembrava como patinar um pouco. Tentei manter os músculos de minhas pernas firmes, o corpo em uma posição em que meu peso não me levasse para a frente ou para trás subitamente. Tyler e eu entramos na corrente de pessoas que patinavam naquela noite, de mãos dadas, os dedos entrelaçados.
Seus dedos deveriam estar gelados, porque ainda fazia um frio forte em Nova Iorque, mas eu os sentia quentes e confortáveis, apertados contra as costas de minhas mãos. Não afrouxei o aperto por um segundo sequer. Ele nos conduzia levemente, somente ditando para qual lado iríamos, enquanto eu me concentrava ao máximo em meus movimentos para não levar os dois gelo abaixo.
Tyler sorria abertamente, vendo o esforço que eu fazia, minha expressão de concentração. Fuzilei-o com o olhar, mas não consegui resistir ao seu sorriso. Sorri também.
Estávamos completando a primeira volta quando Tyler me puxou com mais força pela mão, fazendo meu corpo ir de encontro ao seu, num choque razoavelmente forte.
— Tyler! — Soltei um grito esganiçado ao sentir que eu ia cair.
Ele me segurou, seus patins deslizando para fora da corrente de pessoas, os meus descontrolados querendo me levar ao chão, mas seus braços se firmaram ao redor de meu tronco e nós saímos juntos do centro da pista para sua lateral, ainda meio desgovernados.
Suas mãos se afrouxaram e eu voltei a perder meu equilíbrio, até que eu finalmente, como eu havia predito, caí.
Minhas pernas se enroscaram e eu caí com a bunda no chão, mas não tão forte como eu esperava e não com as pernas ao ar, abertas. Caí sentada com as pernas meio enroladas, mas não levei Tyler comigo, infelizmente.
Ele bem que merecia.
Fechei os olhos ao perceber que estava no chão, com a bunda gelando, tentando não dar um piti.
Quando os abri, Tyler me encarava com os lábios comprimidos ao máximo, segurando uma gargalhada. Seus olhos mostravam como ele estava cagando de rir por dentro.
— Filho da puta.
Tyler deixou um riso estrangulado escapar e então mordeu o lábio, segurando a risada novamente.
— Eu sei que você quer rir, desgraçado.
Ele negou com a cabeça e eu mostrei o dedo do meio.
— Não faz assim, amor. — Tyler comentou soltando algumas risadas. Revirei os olhos.
— Tá, pode rir. Mas pelo menos me ajudar a levantar. — Comentei levantando os braços.
— Vem cá, estrambelhada. — Ele comentou rindo e segurando minhas mãos.
Firmei meu aperto nas suas mãos e me impulsionei para cima.
Não faço ideia do que aconteceu, mas a força que fizemos não deu muito certo, então Tyler veio para baixo, mas eu consegui ir para cima, mas ele se apoiou em mim e no final, depois de um se apoiando no outro e um gritinho meu ao achar que eu iria cair de novo, terminamos com Tyler ajoelhado no chão e eu de pé.
Ri com a situação, menos mal humorada porque pelo menos agora eu estava de pé.
— Seu incompetente. Não conseguiu nem me levantar direito!
Tyler, ainda ajoelhado, segurou em minhas pernas, atrás de meus joelhos, sorrindo.
— Se você me der a chance, eu treinarei durante um bom tempo como te levantar quando você cair.
Elevei as sobrancelhas.
— Você quer vir patinar todos os dias?
Ele gargalhou e com uma mão, pegou a minha mão que estava solta perto de meu quadril. Ele a segurou ternamente.
— Não, . Eu quero uma chance.
Comecei a juntar as peças lentamente. Peraí... Ele estava pedindo...?
, você quer namorar comigo?
Meu queixo caiu.
Uau.
— Tyler, eu... Nós... — engasguei. — Esse é o nosso primeiro encontro!
Ele sorriu, mesmo eu não tendo aceitado ainda, como se ele soubesse que eu fosse, então permaneceu ajoelhado.
Algumas pessoas que passavam ficaram nos olhando, imaginando o que estava acontecendo com o casal com o cara maluco ajoelhado no meio da pista de gelo.
— Eu sei, . Mas digamos que eu sempre fui um cara apressado. Nasci de 7 meses.
Ri incrédula com sua capacidade de tirar graça de momentos como esses.
E então, ainda rindo, eu olhei para o céu e depois para ele, sabendo que minha impulsividade poderia me levar a me arrepender, mas finalmente disse:
— Sim!
Tyler sorriu abertamente e se levantou.
— Sim?
— Sim, Tyler! Eu quero namorar com você, seu idiota!
Ele riu e me abraçou com firmeza pela cintura, me girando. O que me fez gritar, é óbvio, porque estávamos no gelo. Ele iria cair e fazer entrar gelo até na minha orelha.
Mas Tyler não caiu e nós continuamos inteiros e sem gelo. Ele me pousou no chão novamente e levou as duas mãos ao meu rosto. Nós nos beijamos apaixonadamente e as pessoas ao nosso redor começaram a bater palma.
Gargalhei em meio ao beijo ao perceber que algumas pessoas achavam que estávamos ficando noivos.
Partimos o beijo rapidamente, rindo, mas ainda abraçados.
— Ela só aceitou namorar comigo, pessoal. — Tyler anunciou e eu pude ver muitos olhares decepcionados. — Daqui alguns meses, quem sabe ela não aceita outro pedido. — Ele comentou e algumas pessoas continuaram sorrindo, felizes.
Olhei-o.
— MESES?
Tyler gargalhou.
— Era brincadeira, . Sei que você se assusta fácil, não vou forçar a barra até onde sei que dá. Não quero te perder. Eu não vou te perder. — Ele sussurrou a última parte, logo em seguida beijando minha testa.
Fechei os olhos e inspirei sua colônia, agora mais calma.
— Tudo bem. Eu posso conviver com isso. Mas, por favor, converta esses meses em anos. Sou muito nova para ter uma coleira no meu dedo.
Tyler gargalhou.
— Anotado. Vamos. Ainda temos alguns minutos para patinar.
Sorri confiante ao olhar para a pista.
— Certo. Vamos.
Entrelaçamos os dedos e voltamos para o meio da pista, entrando na corrente de pessoas novamente, gargalhando ao nos apoiarmos um no outro para não perder o equilíbrio.
Ficamos o resto do tempo que tínhamos para patinar nos aventurando, um tentando alcançar o outro em um pega-pega mal coordenado, com direito a beijos quando nos encontrávamos.
Meu corpo estava leve. Nós não parávamos de sorrir e algumas crianças apontavam para nós quando nos abraçávamos e nos beijávamos, fazendo-nos rir. Eu não conseguia me lembrar de um momento em que havia visto Tyler tão genuinamente feliz.
Infelizmente, nosso tempo passou rápido. Ty me puxou pela mão até a saída do rinque, nós devolvemos os patins e pegamos nossos sapatos de volta.
— Fica usando salto pra disfarçar que é baixinha?
Ele comentou observando-me passar o zíper em minhas botas.
— Vai se fuder, eu não sou baixinha. — Reclamei terminando de zipar a bota e ficando de pé. — Sou bem maior do que .
não é parâmetro.
Gargalhei.
— Ela te bateria se ouvisse isso.
Ele riu e assentiu, então levantamos e fomos embora, seguindo para a saída do parque mais próxima. Assim que chegamos à rua, ainda eram onze e meia da noite. Tyler chamou um táxi e nós entramos, esfregando as mãos pelo frio que o vento gelado trazia.
Aconcheguei-me em seu peito.
— Charlton Street, Soho, por favor.
Olhei para Tyler.
— Não podemos ir para meu apartamento. e Mike estão lá!
Tyler sorriu.
— Eu sei, só vou te deixar lá.
— Ah. — Falei sem conseguir conter minha decepção ao saber que não iríamos para seu apartamento.
— Ficou desapontada?
— Não. — Olhei pela janela desviando o olhar. Tyler me cutucou. — Talvez.
Ele gargalhou.
— Qual é! Eu só pensei que iríamos para sua casa depois do encontro, só isso!
— Não sabia que fazia tanta questão de mim assim... — Tyler comentou convencido e eu lhe desferi uma cotovelada.
— Cala a boca e baixa a bola.
Tyler me apertou em seu abraço e beijou o topo de minha cabeça, seguindo em silêncio todo o resto do trajeto. O taxista também ficou quieto, mas pude perceber por seus olhos no retrovisor que ele estava um pouco desapontado por mim também. Qual é, eu botei uma lingerie sexy por nada?
Não demoramos muito. O trânsito da cidade estava reduzido pelo horário, mas nada absurdo.
Tyler pagou o táxi e nós saímos.
Assim que paramos na frente de meu prédio, eu me virei para ele. Ele estava parado a menos de um metro de mim, com as mãos nos bolsos da calça, observando-me.
— Tem certeza que não quer subir? Você pode simplesmente dormir aqui e...
Antes que eu pudesse terminar a frase, Tyler retirou as mãos dos bolsos e transpôs a distância entre nós com um passo largo, as mãos vindo diretamente para meu rosto, segurando-me pelas laterais da cabeça, seus dedos se apoiando em minha nuca, os dedões em minhas bochechas e seus lábios sobre os meus, firmes.
O beijo repentino quase me fez dar um passo para trás, surpresa, perdendo o equilíbrio. Levei minhas mãos para cima, segurando seus pulsos somente para firmar seu aperto em mim. Tyler pressionou mais ainda seus lábios sobre os meus e eu abri-os, intensificando o beijo, sentindo sua língua quente contra a minha, em um beijo calmo e intenso. Senti meu corpo inteiro se arrepiar com o beijo, fazendo-me pressionar meu tronco contra o seu inconscientemente, querendo mais.
Ele partiu o beijo repentinamente, ainda segurando meu rosto entre as mãos. Permaneci com os olhos fechados e a boca entreaberta, respirando pesado.
— ... E amanhã você vai embora. — Sussurrei o final da frase.
Tyler riu roucamente, seus lábios se encostando em minha testa.
— A noite foi ótima, . Não vamos apressar nada.
Abri os olhos e encarei os seus. A orbes negras algumas vezes me faziam lembrar ônix. Negras e hipnotizantes.
— Temos todo o tempo do mundo, certo? — Ele perguntou com a voz ainda rouca, olhando no fundo de meus olhos.
Sorri.
— Certo.
Tyler me soltou e pegou uma de minhas mãos.
— Boa noite, . Até amanhã.
— Boa noite, Tyler. Até.
Ele beijou as costas de minhas mãos e se virou, voltando a caminhar na direção da Varick Street, onde pegaria seu táxi para casa.
Fechei os olhos.
Contei até vinte segundos e os abri novamente, então ele havia sumido na rua.
Entrei em nosso prédio e mesmo sem necessidade, esperei o elevador. Assim que ele chegou e eu entrei, encostei-me na parede dele e fechei os olhos novamente, com um sentimento estranho se revirando dentro de mim e um sorriso se alargando em meu rosto ao pensar no nome dele.
Tyler.


Quadragésimo


’s POV.


Assim que cheguei na casa de Edgar, nove horas da manhã no dia seguinte, eu sabia que alguma coisa estava errada.
Maria Sofía tinha o costume de deixar a porta dos fundos aberta, para caso eu esquecesse minhas chaves, então eu não precisaria tocar a campainha. Porém, quando cheguei, a porta ainda estava trancada. Saquei as chaves do apartamento e entrei confusa, somente para ficar preocupada quando encontrei louças de pelo menos um dia largadas pela cozinha. Olhei ao redor com os olhos já estreitos e postura de guerra.
Coloquei minha bolsa sobre a ilha, deixando o molho de chaves entre meus dedos como se eu fosse a porra do Wolverine e chamei pelo nome de Maria Sofía. O silêncio me respondeu.
— Oi? Maria Sofía? — Chamei novamente, erguendo meu tom de voz enquanto entrava na sala. A casa inteira estava uma bagunça. — Edgar?
Aproximei-me do sofá, somente para juntar alguns brinquedos que estavam espalhados sobre ele e quando virei-me para o corredor, a figura de Edgar surgiu do final do dele. Ele estava com os olhos arregalados e cansados, seu corpo inteiro nitidamente tenso.
. — Ele praticamente sussurrou meu nome, mas a casa estava tão silenciosa que pude ouvir até mesmo o tom aliviado que ele usou. Andei até ele, parando somente com alguns passos entre nós.
— O que aconteceu por aqui? Onde estão as crianças?
— Dormindo no meu quarto. — Edgar respondeu prontamente, apoiando o ombro contra a parede, como se não aguentasse mais o peso de seu próprio corpo. Ele ergueu uma sobrancelha para mim. — Você não ia faltar hoje porque tinha que pegar alguém no aeroporto?
— Eu vou. Passei para dar uma olhada nas crianças. Fiquei preocupada.
Ele sorriu levemente, balançando a cabeça negativamente como se eu fosse uma criança incorrigível e talvez eu fosse mesmo, impulsivamente protetora, quando sua família estava em questão. Suspirei e sorri, passando por ele e indo em direção de seu quarto.
— E onde está Maria Sofía?
— Ficou doente anteontem, logo depois que você foi embora. Dispensei-a porque fiquei com medo que Theodoro piorasse.
Piorasse? — Virei-me para ele, girando nos calcanhares para encará-lo.
— Ele começou a ficar com febre junto com Maria. Não quis que você ficasse preocupada na sua folga, mas ele tem tido uma febre violenta.
— Você ligou para um médico?
— Sim. Estava esperando eles dormirem para que eu fosse comprar o remédio para eles. Ou seja, já estava indo comprar.
Balancei a cabeça, irritada com Edgar.
— Porque você não me ligou? Eu teria voltado ontem imediatamente. Achei que estava tudo bem. Theo parecia bem no telefone.
— Ele piorou muito essa noite, está respirando com dificuldade. Acho que pode ser uma crise de sinusite.
Passei as mãos nos cabelos, tentando forçar a mim mesma a pensar de modo coerente.
— Tudo bem. Vai comprar o remédio. Vou ficar aqui cuidando deles, tentar pesquisar alguma coisa que se possa fazer para essas crises em crianças.
... Não. Você tem um compromisso no aeroporto. Consigo me virar por mais um dia, qualquer coisa o levarei para o hospital.
Olhei-o como se fosse louco.
— Você tá brincando? Não vou deixar você sozinho com seu filho doente, não sou louca. Quero ter certeza que Theodoro está bem e que ficará bem.
— Sei cuidar de meu filho, . — Edgar respondeu, cruzando os braços. — Você tem outras responsabilidades hoje e escolheu tirar o dia de folga. Então é isso que vai fazer.
— Isso é ridículo, Edgar. Não vou ficar sem fazer nada.
— Tudo bem. — Ele disse, passando por mim no corredor novamente e respirando fundo antes de continuar a falar: — Dê um beijo nas crianças e depois vá para seu compromisso. Vou avisá-la caso alguma coisa dê errado depois do remédio.
— Você tem que me deixar comprar o remédio, pelo menos. Vou deixar na portaria, mas por favor, me deixe fazer alguma coisa.
Edgar sorriu levemente, uma pequena covinha surgindo em sua bochecha e assentiu revirando os olhos. Colocou a mão em meu ombro, apertando-o suavemente e depois se afastou, dizendo que ia pegar a receita do remédio. Quando ele virou as costas eu praticamente corri para seu quarto, entrando nele com pouca graciosidade.
Anna estava acordada e levantou a cabeça do travesseiro assim que me viu, um sorriso surgindo em seus lábios. Sorri de volta e ela engatinhou pelo colchão até chegar na ponta, onde esticou os braços para que eu a pegasse no colo. Suas perninhas cercaram minha cintura e eu beijei sua têmpora várias vezes, afagando suas costas enquanto ela escondia o rosto em meu pescoço.
— Como você está?
— Bem. Mas o Theo tá doentinho. — Ela respondeu, a voz abafada contra minha pele.
— Seu pai disse. Mas logo vou trazer remédio, ai ele vai ficar inteirinho de novo. Você tem ficado longe dele para não ficar doentinha também?
Ela assentiu suavemente contra minha pele e abraçou meu pescoço com mais força alguns segundos antes de se soltar de meu colo e voltar para a cama. Ela desceu da cama, dando espaço para que eu pudesse ver seu irmão e saiu do quarto, provavelmente a procura do pai.
Ajoelhei-me ao lado de Theo, pegando uma toalhinha úmida que havia sido deixada ao lado de seu rosto e encostei ela levemente sobre sua testa. Ele dormia pesado, seu nariz respirando forte e o corpo encolhido embaixo do cobertor. Passei as mãos levemente por todo seu corpo, tentando checar se havia alguma outra coisa errada com ele que não fosse sua temperatura.
— Ele já estabilizou em trinta e oito graus. — A voz de Edgar soou no quarto.
Olhei para trás, por cima de meu ombro, e ele estava com um papel dobrado em uma mão e um braço segurando Anna em seu colo. Ele se aproximou da cama e colocou sua filha sobre o colchão do outro lado antes de andar até o lado Theodoro e se agachar sobre seu corpo para encostar os lábios na testa de seu filho.
— Pelo menos ele já conseguiu dormir, antes estava chorando. — Meu chefe falou, a voz soando cansada e triste.
Levantei os olhos do rosto quase sereno de Theo para o de seu pai, encontrando-o com um olhar devastado. Tirei a mão da cintura de seu filho e encostei na mão de Edgar, delicadamente para não assustá-lo. Seus dedos se fecharam contra minha palma gelada e a apertaram firmemente. Ergui-me da cama, tomando cuidado para não movimentar muito o colchão e olhei rapidamente uma vez para o corpo minúsculo de Theo, depois para Anna que havia entrado novamente nas cobertas e olhava ansiosa para mim e para seu pai.
Comecei a andar para fora do quarto, esperando que Edgar soltasse minha mão, mas ele somente me seguiu - minha palma ainda cercada por seus dedos. Parei logo no final do corredor e sorri, tentando parecer menos miserável. Peguei a receita de sua outra mão e apertei seus dedos levemente antes de soltar sua mão e respirar fundo, dizendo logo em seguida:
— Vou comprar o remédio e mandar entregar aqui.
— É. Obrigado, . — Edgar sorriu suavemente, porém sem que o sorriso chegasse em seus olhos.
Assenti e olhei brevemente para a porta de seu quarto, desejando que minha mente pudesse se focar somente em Charles ao invés de se torturar o resto do dia com Theodoro doente. Juntei minha coragem e fui embora, sentindo meu coração ficar pela metade dentro do apartamento.
Meia hora depois eu estava a caminho do aeroporto, minha bolsa apertada contra meu peito enquanto eu tentava afastar o aperto em meu coração. Será que era ansiedade por ver Charles ou dor por ter deixado Theodoro doente somente com Edgar? Ele era certamente mais do que capaz de tomar conta de seu filho, porém tudo em mim queria gritar para que eu voltasse.
Não. Eu já havia comprado o remédio e mandado a farmácia entregar, tudo ficaria bem.
Agora eu precisava focar em Charles que estava chegando. Precisava estar inteira com ele durante o resto do dia. Mandaria mensagens periodicamente para Edgar, somente por precaução, mas minha mente e alma tinham que estar com meu Inglês.
Quando desci do taxi, faltavam cinco minutos para que o voo de Charles chegasse. Corri para o portão de desembarque, sentindo a adrenalina fluir em meu corpo e um sorriso crescer em meus lábios enquanto eu parava para esperá-lo juntamente de várias outras famílias e acompanhantes que esperavam seus respectivos viajantes chegarem.
Ele estava voltando.
Por mim.

’s POV.


Mike estava preparando um delicioso café da manhã enquanto eu estava sentada na banqueta, tagarelando sobre a minha noite anterior e como agora era oficial: Tyler e eu éramos namorados.
estava agitada, em parte porque seu plano não-tão-maligno de unir eu e Tyler finalmente havia dado certo, em parte porque ela disse que precisava trabalhar hoje.
— O Juan não sabe a sorte que tem, meu bem. — Comentei quando Mikey depositou os ovos mexidos em meu prato junto com algumas torradas.
Ele sorriu.
— Ah, ele sabe. Assim como o Tyzão também sabe a sorte que tem em te ter, querida.
Bati minha palma contra a de Mike.
entrou na cozinha e pegou uma de minhas torradas de meu prato.
— Ei! Tá achando o que?
Ela a enfiou na boca e resmungou um:
— Tô atrasada.
Revirei os olhos e deixei passar, mais uma vez, porque eu sinceramente estava com um bom humor implacável e não iria discutir. foi embora com um “TCHAU GALERA ME DESEJEM SORTE” e nós somente respondemos “SORTE, SUPER NANNY”.
Terminamos nosso café da manhã e Mike foi se arrumar para um ensaio fotográfico extra da Vogue que ele precisava comparecer. Eu, mera mortal, não tinha acesso ao ensaio.
— Tchauzinho, chuchu. — Mike falou ao passar por mim, já pronto, mandando um beijo no ar.
— Tchauzinho, flor do campo! — Respondi e pude ouvi-lo me xingar do corredor.
Suspirei e me levantei lentamente, pegando a louça suja e a colocando na pia, calmamente, uma vez que agora estava sozinha. Andei até meu quarto preguiçosamente, coçando meu braço que estava particularmente pinicando hoje. Resolvi tomar um remédio, por precaução, antes que eu desencadeasse uma reação alérgica. Eu nunca havia comido o peixe de ontem à noite, vai que, né?
Assim que bebi o comprimido, fui para o quarto de procurar um livro para ler, já que eu ficaria em casa mesmo pelo menos durante a manhã.
O quarto da loira estava uma bagunça, como sempre. E eu o arrumei, como sempre.
Quando eu terminei de guardar tudo, ouvi alguma coisa começar a apitar sobre o criado-mudo. Era o celular pessoal de , ela havia esquecido em casa.
Peguei-o para desligar o apito e quando fui selecionar o modo do silencioso, a tela se acendeu e a mensagem que apitava apareceu.
“Charles Beway: , aconteceu um imprevisto, não vai dar para nos vermos hoje.”
Encarei a tela por alguns segundos.
estava conversando com... Chuck?
Desbloqueei o telefone imediatamente, conhecendo a durante todos esses anos eu meio que decorei o padrão de todas as suas senhas, então fui direto para as mensagens.
Somente nesse mês, haviam mais de duzentas mensagens.
Eles estavam flertando. Conversando. Falando sobre suas vidas. Planejando se reencontrar. Chuck se declarava para ela em várias mensagens e ela acabava falando também.
Desci toda a conversa, ainda incrédula, até ver que começaram desde o Brasil.
estava conversando com Charles, o Inglês, desde o Brasil.
Sentei-me na cama, atordoada.
Por que ela manteve esse segredo durante tanto tempo? Como ela pode não comentar sobre isso esse tempo todo? E como ela conseguia conversar com Chuck depois de todas as coisas horríveis que ele disse?
Fechei o celular e o deixei sobre a cama, confusa e irritada. esteve mentindo para mim esse tempo todo. Todas as vezes que estava mexendo no celular, que falava que era sua mãe... Ela simplesmente mentiu na cara dura!
Corri para meu quarto e busquei meu celular, digitando o número de Tyler rapidamente.
— Alô?
— Você sabia que e Charles vêm trocando mensagens?
— Muchu sabe digitar?
Bati com a palma contra a testa enquanto ele ria.
— Estou falando sério, Tyler!
— Achei que eles tinham terminado de vez e que nunca mais iria querer ver a cara do Inglês depois das merdas que ele falou pra ela. — Tyler comentou. — Eu não sabia de nada. Como você soube?
— A loira esqueceu o celular em casa. Ele estava apitando e quando fui ver, era uma mensagem do Inglês. Eles iam se encontrar hoje no aeroporto, ele está voltando para Nova Iorque.
— Uau. Por essa eu não esperava. Talvez Noah saiba.
— Por que Noah saberia? — Falei confusa.
— Sei lá. Parece o tipo de coisa que marido e mulher tendem a compartilhar.
Revirei os olhos.
— Vou ligar para ele. Obrigada.
Desliguei antes que Tyler pudesse me responder.
Senti meu estômago revirar e levantei-me da cama, seguindo para a sala, procurando o número de Noah na agenda telefônica, mordendo o lábio inferior compulsivamente.
— Atende, atende, atende. — Sussurrei enquanto ouvia o toque do celular. — ALELUIA! NOAH!
— Eu costumo ouvir isso bastante, mesmo de mulheres comprometidas... — Noah falou com a voz sonolenta e pausou para bocejar. — Mas nunca esperei ouvir isso de você, xerife.
— Você sabia que estava sendo chifrado? — Soltei na lata.
— Epa. Como assim? Sou um homem solteiro.
— Antes, Noah, antes. Quando estava casado com . Você sabia que ela estava falando com Charles?
estava tendo um caso com Muchu?
— O INGLÊS! — Gritei, irritada novamente.
— Ah. Não. Por quê?
— Bom, porque ela estava. E eles parecem que estão num volta-não-volta sem fim. Só queria sabia se você tinha conhecimento disso.
— Pois é, esse Inglês aí é corno manso mesmo. — Noah comentou bocejando novamente. — Vou voltar a dormir, xerife. Boa sorte.
— Obrigada.
Desligamos e eu joguei o celular no sofá cama.
Droga.
Enfiei a cara no travesseiro, tentando pensar.
Tyler e Noah não sabiam.
Será que Mike...?
Fechei os olhos e forcei minha mente a parar de especular. Depois conversaríamos sobre isso. Tinha que ter uma explicação. não escondia as coisas de mim.
Antes que eu percebesse, acabei dormindo profundamente, no sofá cama mesmo, enquanto minha mente ainda vagueava sobre o fato de e Chuck estarem voltando.
Quando acordei, parecia que eu havia levado um chute na boca do estômago.
O enjoo brusco e o refluxo me tiraram do sono em questão de segundos e eu quase não consegui chegar ao banheiro antes de vomitar.
A tampa da privada, felizmente, estava aberta.
Abracei o vaso sanitário e me debrucei, colocando tudo para fora e mais um pouco.
— Droga. — Resmunguei ao terminar. — Malditos ovos mexidos.
Tampei a privada, ainda sentada no chão, e dei a descarga. Levantei-me para lavar o rosto, a boca e escovar os dentes. Meu estômago ainda revirava, então procurei no armário embaixo da pia um remédio para enjoo também e...
Foi quando eu percebi.
Eu havia passado as últimas horas pensando tanto no fator + Charles (o Inglês) que só consegui perceber o óbvio naquele momento.
O pacote fechado dentro do armário fez minha mente se iluminar e eu senti meu coração parar.
Não.
Não.
Era impossível.
Fechei os olhos e contei mentalmente. Um, dois, três... Vinte e um...
Procurei em minha bolsa a cartela e contei novamente.
Quando percebi o que estava acontecendo, voltei para o banheiro e revirei o armário, tirando todos os seus produtos, jogando-os no chão e ignorando a bagunça que eu estava fazendo, contendo ao máximo a minha vontade de chorar.
Assim que achei a caixinha, que eu sempre deixava para emergências extremas como essas, arranquei o palito de dentro dela, meu coração acelerado.
Respirei fundo, fiz o procedimento e apoiei o palito na pia. Sentei na privada e olhei o horário no relógio.
Então eu esperei.

’s POV


Ele não estava voltando.
Pelo menos depois de quarenta minutos depois do desembarque de seu voo, ele ainda não havia voltado para mim ou por mim.
Minha cara já não devia estar das melhores. Meu sorriso havia ido embora faziam vinte minutos e outras pessoas de outros voos que saiam olhavam para mim, sentada no chão encostada em uma parede, como se eu fosse uma mendiga.
Chequei meu Blackberry novamente. Eu havia esquecido meu celular pessoal em casa e já havia tentado ligar para Charles três vezes - todas me deixando na caixa postal. Um pé encostou em mim e eu levantei os olhos, assustada, encontrando um guarda me olhando com careta.
— Senhorita, você precisa de alguma coisa?
— O quê? — Levantei-me, tentando fingir não ter ficado abalada por não ter sido Charles chegando ao invés de um careca de roupa azul. — Não senhor, desculpe. Estou esperando um passageiro sair.
— Certo. Tudo bem.
Ele se afastou e eu desencostei da parede, segurando o celular firmemente em meus dedos e andando irritada até uma mesa de atendimento. Perguntei para a mulher se todos do voo de Charles já haviam saído e quando ela disse que sim, perguntei se havia como ela saber se algum passageiro não havia entrado no voo.
Dez minutos depois descobri que Charles não havia sequer entrado no avião.
Fui embora do aeroporto, meu corpo inteiro tremendo de raiva, chateação ou seja lá que emoção eu estava sentindo. Respirei fundo várias vezes, tentando me controlar enquanto andava de um lado para o outro, esperando um táxi passar. Coloquei meu dedo entre meus lábios para não gritar e fiz meu máximo para não jogar o Blackberry no chão como uma criança de cinco anos.
Crianças.
Digitei com dedos trêmulos o número de Edgar, recebendo a caixa postal também. Chamei por um táxi e assim que entrei nele, pedi para que me deixasse no prédio de meu trabalho novamente.
Eu não ia passar meu dia chorando pelo leite que não derramou.
Assim que o porteiro deixou que eu entrasse e o elevador deixou-me na porta do apartamento de Edgar, meu corpo inteiro travou. Meu coração se apertando assustadoramente dentro de mim enquanto a realidade vinha à tona.
Charles não tinha voltado.
Será que ele estava brincando comigo o tempo todo?
Será que eu só havia feito papel de idiota em esperá-lo no aeroporto?
Encostei minha testa contra a parede, encarando a porta com a chave em minhas mãos. Meus lábios tremeram e antes que eu pudesse perceber, lágrimas estavam escorrendo por meu rosto e meu nariz queimava, provavelmente já ficando vermelho. Merda. Merda. Merda.
Passei as mãos sobre meu rosto com força, respirando fundo para me controlar e afundando as unhas contra as palmas de minha mão enquanto fechava os olhos para controlar as lágrimas. Dois minutos depois, minha respiração estava normal e todos os meus músculos, apesar de tensos, estavam menos em pânico. Menos meu coração, que ainda parecia estrangulado.
Abri a porta e já entrei na casa com passos rápidos, chamando por Edgar.
— Edgar? Anna?
Quando estava na metade do corredor, Anna surgiu da porta do quarto do pai, olhos arregalados e marejados. Agachei-me no chão instantaneamente, acolhendo-a em meus braços numa questão de segundos e seguindo com pressa o resto do corredor.
— Porra! — Ouvi Edgar gritar antes que eu batesse na porta levemente e a abrisse.
Parecia que eu havia o deixado anos atrás e não somente três horas. Edgar estava com os olhos vermelhos, a blusa amassada, os cabelos desgrenhados e o corpo inteiro tenso. Theodoro ainda estava deitado na cama, uma toalha sobre seu rosto, um aparelho de inalação ao seu lado.
— Voltei. — Falei suavemente, fazendo com que a cabeça de Edgar quase se descolocasse com a rapidez que ele tirou os olhos do filho para me ver. — O que está acontecendo?
— O remédio nunca chegou. — As mãos de Edgar tremiam enquanto ele segurava seu celular com força e ele jogou o mesmo sobre o colchão, perdendo o controle por alguns segundos. — A farmácia ligou, eles estavam sem pessoas para fazer a entrega. Então nunca chegou. Theo está com quase trinta e oito e meio.
Coloquei Anna no chão, afagando seu cabelo rapidamente antes de me aproximar rapidamente da cama, jogando minha bolsa no chão do quarto sem nem pensar duas vezes. Agachei-me sobre o rosto do pequenino, que respirava com dificuldade e encostei meus lábios sobre sua pele. Ele estava ardendo. Meus dedos passaram suavemente por sua testa, mexendo na toalha úmida sobre sua cabeça e eu contei até dez mentalmente antes de me afastar dele.
— Vou buscar o remédio. Eu... — Mordi meu lábio, desviando os olhos de Theo para Edgar, que parecia angustiado. — Volto em dez minutos. Ligue novamente para o pediatra dele.
Quando virei-me para sair, ele segurou meu pulso, os olhos suplicantes:
— Leve Anna, por favor.
Assenti levemente e peguei minha bolsa do chão, Anna no colo e corri para fora do apartamento.
Felizmente Anna estava com uma roupa tranquila para o clima, porque eu parei para prestar atenção nela somente quando já estava correndo pela rua até a farmácia. Ela segurava forte em meu pescoço e as pessoas na rua olhavam para mim como se eu fosse louca. Mas pouca coisa pararia minha corrida naquele momento.
Explodi pela porta da farmácia e coloquei Anna no chão enquanto corri até a parte de atendimento, onde encontrei o mesmo salafrário infeliz que me atendera três horas atrás.
— Eu preciso de uma amoxicilina. — Cortei a fila de pessoas esperando para serem atendidas, segurando-me para não socar a cara do inútil. — Agora. Já que você não pode fazer isso três horas atrás.
— Senhorita, tem uma fila... — O farmacêutico começou a falar.
— Juro por Deus, se você não me dar uma amoxicilina em dez segundos eu vou te estrangular até você vomitar o remédio por conta própria.
Anna apareceu do meu lado, abraçando minhas pernas e eu puxei-a para meu colo, recebendo o remédio menos de cinco segundos depois. Pedi desculpas para as pessoas na fila de atendimento, corri para pegar remédio para febre nas prateleiras, corri para pagar e depois corri de volta para o apartamento.
Meus braços estavam formigando quando cheguei no elevador, ofegando, coloquei Anna no chão e segurei uma de suas mãozinhas - tão delicadas e fofinhas perto da minha, suada e quente. Tirei o cabelo de seus olhos, agachando na sua altura para oferecer-lhe um pequeno sorriso e um beijo na testa tranquilizador.
— Theo vai ficar bem, né? — Ela perguntou, a voz manhosa.
— Claro que vai, florzinha. Vamos deixar ele novinho em folha.
Ela sorriu fraco para mim e imitou meu gesto, usando sua mãozinha para tirar um fio de cabelo colado em minha testa de meus olhos. Seus olhinhos azuis só estavam cheios de preocupação, mas ela parecia bem.
Quando abri a porta com as mãos tremendo e o remédio em mãos, minha mente já girava e dava nós sem saber o que fazer. Talvez eu devesse levar Theo para um hospital. Talvez ele estivesse com algo além de uma sinusite. Talvez o remédio antibiótico não fosse o suficiente.
Talvez. Talvez. TALVEZ.
— Edgar! — Entrei na casa gritando e correndo pelo apartamento com pressa.
Graças a Deus eu havia usado uma sapatilha hoje.
Sem nenhuma resposta e vendo a porta do quarto de Theo aberta, corri para lá, porém somente encontrei suas roupinhas jogadas no chão. Olhei ao redor meio desesperada e Anna estava logo atrás de mim, olhos arregalados em pânico palpável. Ela começou a soluçar enquanto lágrimas enchiam seus olhos.
— Shh shh... Anna, não chora. Fica calma. Vamos achar seu irmão e seu pai. — Falei passando minhas próprias mãos trêmulas em seu cabelo para tentar acalmá-la.
Mas eu não era o melhor exemplo do mundo também.
Segurei a mão de Anna enquanto sai do quarto de Theo, mas não precisei procurar muito. A porta do quarto de Edgar era a única aberta no resto da casa e entrei no quarto sem nem pensar duas vezes, seguindo até sua suíte de onde eu podia ver um vapor quente sair e embaçar os vidros dos armários do closet. Peguei Anna no colo e coloquei-a sentada na cama de Edgar pedindo para que ela ficasse ali um pouquinho enquanto eu ia ajudar seu irmão.
Ela soluçou e assentiu.
Beijei o topo de sua cabeça e respirei fundo para tentar reconstruir minha calma.
Abri a porta do banheiro devagar o suficiente para que Edgar me impedisse caso ele quisesse. Mas quando não ouvi nenhuma repreensão, entrei rapidamente, fechando a porta atrás de mim.
Então eu fiz um barulho audível de um soluço e meus olhos encheram de lágrimas ao mesmo tempo que eu podia sentir meu coração se quebrar em pedacinhos minúsculos.
Theo estava gemendo nos braços de seu pai, que havia tirado somente a camisa e estava mergulhado em uma água fervendo que enchia a banheira. Edgar estava com os olhos vermelhos, ombros e braços tensos ao redor de seu filho e a expressão mais melancólica que eu já havia visto em seu rosto. Controlei minhas lágrimas respirando fundo e me aproximei da banheira, ajoelhando-me ao lado dela e desligando seu jato de água que estava começando a fazê-la transbordar.
Os olhos de Theo se moveram para mim lentamente, e ele deu um pequeno gemido, fazendo seu pai fechar os olhos com força e encolher os ombros, segurando seu filho com mais força.
— Edgar. Deixe eu administrar o remédio para Theo. — Pedi abrindo a caixa do remédio e enchendo a seringa, que vinha junto com o líquido do antibiótico, na medida certa.
Escutando minhas palavras e relaxando brevemente, Edgar se moveu na água - fazendo com que um monte dela caísse em mim e encharcasse minha blusa - e trouxe Theodoro para mais perto de mim. O pequeno abriu os olhos e tentou esboçar um sorrisinho. Coloquei a mão em sua cabeça para checar sua febre e depois de constatar que deveria estar basicamente a mesma, puxei seu pescoço para cima com o maior cuidado dentro de mim e levei a seringa até sua boca.
— Theo nós precisamos que você engula isso, tudo bem? Vamos lá campeão, é só um pouquinho de remédio para tirar o dodói. — Minha voz gaguejou no final da frase, ficando embargada pelas lágrimas que voltavam para meus olhos.
— Só mais um pouco, Theo. — Edgar pediu, olhando fixamente para seu filho engolindo lentamente o remédio com uma careta.
Quando finalmente a seringa se esvaziou, eu guardei-a junto com o remédio novamente e peguei uma toalha dentro de um dos armários no banheiro para poder pegar Theo. Enrolei seu corpo mole com todo o carinho dentro de sua toalha e o pequeno abraçou meu pescoço com um gemido. Edgar soltou o ralo da banheira, fazendo-a esvaziar e levantou, deixando-me por milissegundos, paralisada ao ver seu peitoral nu. Eu rapidamente me virei para sair do banheiro.
, eu só vou trocar minha roupa. — Edgar disse suavemente antes que eu saísse.
Não me dei ao luxo de encarar seu corpo fantástico ou respondê-lo antes de sair. Minha mente estava paralisada na ideia de Theo piorando se eu não o secasse e colocasse em uma roupa quente o quanto antes em seu corpinho. Anna correu até mim quando viu que eu estava saindo e abraçou minhas pernas brevemente antes de ir até o banheiro atrás de seu pai.
Levei Theo até seu quarto e sequei com cuidado seu corpo, passando a toalha levemente sobre seus cachos castanhos que felizmente não haviam molhado muito. A respiração de Theo estava levemente melhor e meu peito se encheu de orgulho, porque eu sabia que Edgar havia colocado o pequeno no alcance do vapor quente da banheira justamente por esse motivo.
Escolhi um pijama de inverno para Theo e vesti-o com mãos de pena, tomando cuidado toda vez que ele franzia sua pequena testa em dor. Meu coração quebrava cada vez mais por vê-lo sofrendo desse jeito. Deitei-o na cama e terminei de colocar a coberta ao redor de seu corpo, que ainda tremia levemente devido a febre que estava começando a abaixar. Ele já tinha novamente uma fina camada de suor em sua testa, que eu limpei com uma toalha ensopada e acariciei seus cachos levemente.
Anna entrou no quarto silenciosamente, andando até a cama de seu irmão e passando a mão em seu braço enquanto abraçava forte uma boneca qualquer. Eu sabia que ela estava assustada e para ser sincera, eu também estava. Meu coração não estava pronto para aguentar qualquer outra emoção. Muito menos a preocupação que parecia sufocar minha garganta toda vez que eu olhava para seus olhos inchados.
Alguns minutos depois Edgar entrou no quarto e colocou as mãos em meus ombros, puxando-me para cima delicadamente.
— Eu deixei uma blusa no quarto para você colocar. Sua roupa está ensopada. — A voz dele era baixa, mas controlada. — Vai lá, . Tome um banho. Não quero você doente também.
Assenti sem falar nada e olhei um último segundo para Theo antes de sair do quarto. Peguei a roupa que Edgar havia separado ainda em estado de choque e meio sem saber o que estava fazendo. Minha cabeça estava latejando de preocupação e meu coração estava apertando tanto, que eu duvidava que era a única em apuros.
Alguma coisa deveria estar acontecendo com também. Ou com Charles.
Forcei minha mente a apagar ambas ideias.
Usei o banheiro do quarto de convidados, onde eu dormia quando precisava passar a noite na casa de Edgar, e não consegui relaxar no banho ou livrar minha cabeça da preocupação. Sequei-me e olhei duvidosa para a roupa que Edgar havia selecionado.
Era uma calça de moletom dele gigantesca em minha cintura e pernas e uma blusa cinza com o Darth Vader estampado na frente e escrito atrás “Theo, I’m Your Father”. Meus lábios se curvaram em um riso fraco que eu deixei escapar antes de meus olhos voltarem a encher de lágrimas. A calça moletom seria inutilizável, então coloquei somente as roupas intimas e a blusa que, sinceramente, ficava praticamente na altura de meus joelhos. Penteei meu cabelo e respirei fundo, recompondo minhas emoções com dificuldade antes de sair.
O quarto de Theo estava com a luz apagada quando voltei e eu espiei brevemente na porta, vendo o pequeno dormir ruidosamente - graças a sua respiração falha - e então vi a luz do quarto de Anna sendo diminuída aos poucos.
O corpo de Edgar foi saindo do quarto silenciosamente e antes de sair completamente, ele apagou completamente as luzes, sorrindo brevemente para o interior do quarto. Eu me virei e saí andando em direção à cozinha para esconder meu sorriso e minha preocupação. Quando cheguei no meio da sala, porém, a voz de Edgar me parou.
.
Fechei os olhos e inspirei antes de virar para ele, que como eu já podia esperar, estava bem próximo de meu corpo. Próximo o suficiente para estar quebrando a linha invisível de espaço pessoal entre patrões e seus empregados.
— Você está bem? — Ele perguntou, seus olhos vasculhando meu rosto meio incerto.
— Theo vai ficar bem com esse remédio. Talvez amanhã ele já esteja bem melhor e é bom ficar de olho para que Anna não fique perto demais dele por uns dias... — Comecei a tagarelar, observando um pequeno sorriso surgir nos lábios de Edgar e ele se aproximar. — ... Você sabe, para termos certeza que ela também não fique doente caso seja mais que uma sinusite.
— Eu sei. Obrigado. — Edgar disse suavemente, seu corpo agora tão perto que eu precisava olhar para cima para encontrar seus olhos e ele para baixo. — Porque você voltou do aeroporto? O que aconteceu?
Os dedos quentes de Edgar tocaram a parte interna de minha palma levemente, fazendo com que meus próprios dedos cedessem a tensão no punho fechado que eu mantinha e se abrissem. Desviei os olhos para a mão de Edgar, que começava a exigir contato com a minha, os dedos lentamente se entrelaçando aos meus. Uma forte corrente elétrica energizou meu corpo, fazendo com que eu precisasse morder meu lábio inferior para evitar fazer qualquer barulho.
— Ele nunca chegou. Nem entrou no avião. — Respondi tonta com tantas emoções em poucas horas.
Inconscientemente, meus dedos abriram maior espaço para os dele e logo a palma de Edgar estava pressionada contra a minha. Nossos dedos entrelaçados. Ele flexionou os dedos, fazendo com que meu olhar voltasse para seu rosto e eu podia jurar que o ar que respirávamos era praticamente o mesmo.
— Anna está dormindo? — Sussurrei, mesmo sem saber porque.
— Ela estava vendo um filme no DVD portátil, mas quase dormindo. Vai ficar tudo bem agora.
Assenti levemente, mantendo nossos olhares fixos. Levantando sua mão livre, Edgar traçou seu polegar em minha bochecha, lentamente com um pequeno sorriso em seu rosto, até que seu dedo chegasse na altura de meus lábios. Ele fez o contorno de minha boca delicadamente, seu olhar vidrado no que estava fazendo e o calor se acendendo em seus olhos verdes.
Pressionando seu polegar com um pouco de força sobre meu lábio inferior, um suspiro leve escapou de mim, deixando meus lábios entreabertos. Os olhos de Edgar se focaram nos meus imediatamente, para captarem minha reação. Soltando nossas mãos, ele segurou meu rosto como se eu estivesse prestes a quebrar e minhas mãos vagaram sem permissão até a cintura dele.
Nossas testas se juntaram e nós inspiramos profundamente ao mesmo tempo. O rosto de Edgar se inclinou sobre o meu e minhas pernas praticamente se dissolveram embaixo de mim quando seus lábios quentes roçaram sobre os meus levemente. Fechei meus olhos, esperando pelo beijo e ignorando minha mente metralhando como aquilo era errado. Edgar roçou nossos lábios novamente e inspirou fundo antes de se afastar brevemente de mim.
— Você é a mulher mais fantástica que eu já conheci, .
Então ele mergulhou seus lábios contra os meus.
Imediatamente meu corpo estava pegando fogo, minha mente atirando perguntas para todos os lados. A boca de Edgar era firme, macia e dominante sobre a minha - nossa sintonia perfeitamente conectada. Seus dedos afundaram em minha nuca, aproximando-nos e minhas mãos subiram em suas costas fortes, abraçando-o com força.
Minha mente girava, tão confusa que as sensações eram praticamente impossíveis de serem diferenciadas. Edgar era tudo ao meu redor. Era o ar que enchia meus pulmões, era o tecido preso em meus dedos, o calor que aquecia todas as células de meu corpo em uma questão de segundos. O mundo inteiro apagando-se ao nosso redor, perdendo a graça.
Ele é meu chefe.
Nós estávamos nos beijando.
Uma mão de Edgar soltou meu rosto e, apesar de praticamente anestesiada, senti seu braço cercar minha cintura e puxar-me contra seu corpo. Meus dedos afundaram em suas costas e depois arranjaram espaço para se moverem até seu ombro. O beijo quebrou-se por alguns segundos, ambos retornando o ar para nossos pulmões e quanto finalmente abri os olhos, encarando a expressão calorosa de Edgar, instintivamente coloquei os dedos sobre seus lábios, sentindo a maciez deles contra minhas digitais. Estiquei-me na ponta dos pés para prender seu lábio inferior entre meus dentes, sentindo sua outra mão soltar minha nuca e agarrar minha cintura, apertando minhas costelas.
Isso estava tão, tão, tão errado. Mas olhando para ele, parecia tão certo.
Logo outro beijo havia se iniciado entre nós - caloroso, pesado e familiar. A mão de Edgar que apertava minhas costelas soltou-me. Ele empurrou-me contra a parede, o ar escapando de meus pulmões e prendeu minhas duas mãos pelo pulso acima de minha cabeça com somente uma mão. Meus olhos reviraram quando os lábios de Edgar se aventuraram para meu pescoço, distribuindo beijos quentes pelo meu maxilar e chegando até minha clavícula. Um gemido escapou fraco de meus lábios e Edgar pressionou seu corpo contra o meu, fazendo com que eu sentisse cada centímetro de seu calor.
Sua outra mão que até então estava espalmada na base de minha coluna se fechou em um punho contra o tecido de sua blusa e subiu, trazendo-a para cima também. Eu arfei com o contato do ar gelado com minhas coxas quentes, tentando sem sucesso livrar meus pulsos de seu aperto para podê-lo trazer para perto de mim novamente. Ele beijou meu maxilar e soltou meus pulsos depois de uma segunda tentativa minha, levando sua mão até a parte de trás de minha coxa, subindo pela minha bunda e puxando o tecido da blusa ainda mais para cima. Meus braços flexionaram-se em sua nuca, grudando-o para mim e nós quebramos o beijo - eu gemendo e Edgar respirando forte, controlando-se, contra a pele de meu pescoço.
Ele apertou minha bunda com força, ao mesmo tempo que sua língua invadia minha boca novamente, e nosso ritmo acelerou violentamente, meu corpo se inclinando para trás na dúvida entre querê-lo em cima de mim - eu estava sentindo como ele também queria - ou querer afastá-lo, como minha mente mais racionalmente implorava. Edgar precisou tirar a mão de minha bunda para apoiar-se contra a parede e eu me perguntei brevemente como nós havíamos parado ali.
Theodoro doente.
Anna assustada.
Eu confusa.
Ele desesperado.
Tão, tão, tão errado.
Tão, tão, tão certo.
Meu trabalho. Meu chefe.
Charles.
Meu corpo congelou contra o de Edgar, minhas mãos perdendo a força na nuca dele e meus lábios parando de responder aos beijos. Ele percebeu, afastando-se ofegante de meu rosto e levando a mão até meu rosto para analisar minha expressão.
— O que foi? — Sua voz saiu rouca e sua testa franziu-se.
Eu suspirei fundo e usei a palma de uma mão para afastá-lo, ele foi para trás imediatamente para dar o espaço que eu precisava e suas mãos se ergueram no ar como um gesto de paz.
— Edgar... Eu... Eu não vou conseguir fazer isso.
— Isso o quê?
— Não sei. Isso. E cuidar de seus filhos. — Fechei meus olhos com força, sentindo minha cabeça latejar em confusão e meu coração terminar de rasgar ao meio. — Não vai dar certo. As crianças...
Respirei fundo e meu corpo visivelmente tremeu porque Edgar deu um passo para frente, esperando ter que me pegar, provavelmente.
, nós podemos dar cer...
— As crianças, Edgar. — Falei, minha voz implorando para que ele parasse.
As crianças.
Meu emprego.
Charles.
— Não podemos. Essas coisas nunca dão certo.
Meus olhos encheram em lágrimas e levei uma mão até meu coração para ter certeza que ele continuava batendo mesmo enquanto doía tanto. Porque isso estava doendo tanto?
Tão, tão, tão certo.
Tão, tão, tão errado.
— Por favor. — Inspirei fundo e olhei-o diretamente nos olhos. — Por favor não vamos fazer isso.
Antes que Edgar pudesse responder, minhas pernas começaram a se mover e eu fui em direção ao quarto de hóspedes para pegar minha roupa - mesmo ela ainda estando molhada. Vesti-me rapidamente, peguei minha bolsa e já peguei meu cartão do metrô na mão. Edgar estava parado no meio da sala me esperando, quando eu saí, mas eu ergui uma mão para impedi-lo de falar, antes mesmo que sua boca soltasse um som.
— Estou indo para casa, eu não... — Fechei meus olhos brevemente, incapaz de olhar para a expressão no rosto de Edgar. — Por favor me avise quando Theodoro melhorar. Ou piorar. Ou qualquer coisa. Eu só não...
Respirei fundo, desviando os olhos da expressão confusa, cansada e quebrada de Edgar. Ele parecia prestes a falar alguma coisa, quando completei:
— Qualquer coisa é só me chamar, Sr. Delawicz.
Sai do apartamento quase correndo, pegando as escadas ao invés de esperar sequer o elevador. Meus olhos me traíram imediatamente e eu chorei até chegar no metrô, onde forcei eu mesma a me recompor.
O caminho para casa pareceu demorar uma eternidade. Na rua os ventos frios praticamente congelavam minhas lágrimas em meu rosto. Eu sabia que Mike não estaria em casa ainda, principalmente em um sábado. Mas provavelmente estaria.
Enquanto subia as escadas até o apartamento, peguei meu celular e abri a última conversa que havia enviado mensagens. Meu coração pesou incerto sobre o que fazer, mas no final, digitei:
“Onde você está? O que aconteceu? Eu precisava de você agora”.
Joguei o celular na bolsa e entrei no apartamento, querendo correr para os braços de minha melhor amiga. não estava na sala, mas seu casaco sim. Quando cheguei no quarto, ela também não estava lá.
Bati na porta do banheiro, que estava entreaberta, antes de enfiar minha cabeça dentro do ambiente.
estava sentada no chão, ao lado da pia, encarando a privada seriamente com olhos vermelhos e inchados. Eu olhei para a tampa da privada e lá, parado e esperando, estava um teste de gravidez.


Fim da primeira temporada.



N/a: [05/04/15] - ESSE É O FIM.... Da primeira temporada! Hehehe Bonitinhas, esperamos que vocês tenham tido todas suas perguntas respondidas e bem concluídas com esse final de temporada. Pensamos muito nas decisões para cada personagem e achamos que esse rumo é certo para cada uma... Estamos muito zoeiras, né? Desculpa. Mas meio inevitável as piadinhas. Postar esse ano foi muito importante para nós, para crescer nossa autoestima sobre a história e para crescer nossa habilidade de escrita (acreditem, a primeira versão de BFFF era o cão chupando manga). Passamos por altos e baixos, ideias e mais ideias, dramas, bloqueios de inspiração, risadas e muito mais. Essa história é, acima de tudo, uma história de amizade e esperamos que vocês possam levar isso sempre em seus corações (ai que digressão gay). Obrigada pela fidelidade, paciência, amor e companheirismo de todas; vocês realmente foram essenciais para que continuássemos a escrever essa história! E obrigada também para nossa beta, que tanto faz e tanto ama essa história como nós. Você é sensacional, Helô. A segunda temporada vai, provavelmente, ser postada daqui dois meses... Porém, vamos tentar postar SPOILERS no grupo do Facebook da fanfic para acalmar os corações de vocês. Nos vemos daqui um tempinho... Acalma coração! Beijos, amamos vocês!

N/b: Bom, essa é a primeira Nota da Beta que escrevo em sei lá, quase 3 anos de site, hm... Eu lembro como se fosse ontem que eu entrei no FFOBS e como era beta nova, precisava ficar como disponível e ajudar as amiguinhas betas que estavam com dificuldade em seus prazos, pois bem, sempre lia “Restritas – Atualizadas” e via o nome de uma fic BFFF – Best Fucking Friends Forever e sempre pensei “essa fic deve ser legal, tem um bom nome e tal, um dia vou ver se consigo começar a ler”. Então um belo dia estou no meu e-mail do site e vejo que a beta Nathi está dando adeus, pois precisa sair da equipe de betas e com isso, tinha uma lista de fics para serem repassadas, passei o olho, procurando pelas restritas e corri para responder o e-mail dizendo “eu pego essas” quando li o nome “BFFF – Best Fucking Friends Forever”, bom e foi ai que começou. Entrei em contato com as autoras, elas me enviavam as atualizações, fui ler a fic desde o começo, pois confesso que no início tive um pequeno preconceito com a fic. A maioria das minhas autoras enviavam capítulos de no máximo 8 páginas no word, BFFF eram 18 páginas e geralmente mais, bem mais... Mas depois que comecei a acompanhar a fic, bom, 20 páginas começaram a ser pouca coisa, e junto com esse sentimento de “preciso ler mais” que todas vocês conhecem quando chega atualização, eu também tinha aquele sentimento de “nossa, não acredito que aconteceu isso, preciso falar com alguém”, mas então eu lembrava que não podia falar com ninguém sobre o capítulo. Confesso que me senti aqueles caras que leem os livros muitos famosos antes de todos os meros mortais e precisam guardar com eles tudo, pois o livro ainda está em análise para ir a edição final pra a editora e então todos poderem ler, igual acontecia com o cara que foi responsável pelas revisões de Harry Potter e teve até que ler o livro escondido da esposa, pois ela era fã e se soubesse que ele tinha o livro em mãos... Enfim, com isso vieram vários feedbacks de cada capítulo, vários e-mails trocados com as meninas, onde a gente contava um pouco de nossas vidas. Posso dizer com toda certeza que embora nunca tenha visto a Paty e a Vivi pessoalmente (e nem saiba se elas realmente são reais e não uns pedófilos que tentam seduzir crianças com fics...) que essas duas são duas pessoas de ouro e que me considero uma pessoa de muita sorte em poder ter tido a oportunidade de conhecer elas um dia. Sei que sempre que eu quiser contar algum caos da minha vida, ou qualquer coisa que seja, que elas vão estar lá do outro lado lendo o que escrevi, assim como elas sabem (creio eu) que sempre podem contar comigo para qualquer caos da vida delas. Bom, eu poderia ficar mil anos contando histórias e tudo mais, mas agora serei breve.
Muito obrigada, meninas, pela fic maravilhosa, por serem sempre tão simpática com todas as leitoras, por sempre interagirem e tudo mais. Eu desejo toda a sorte do mundo para as duas, pois ambas são muito merecedoras e vamos esperar pela segunda temporada que essas duas estão cheias de mistério pra contar o que vai acontecer.
Nos vemos em breve... Até mais, Xerife!

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