Quando duas pessoas que tem vidas parecidas se conhecem, pode acontecer duas coisas: dar certo ou errado. Mas como daria certo se ele se recusa a te deixar entrar no seu mundo? Como conseguir a confiança, e a permissão para isso? Será que você consegue desvendar todos os mistérios sobre ele? Será que você está pronta para causar uma pequena (grande) bagunça na vida dele?
“Existe uma maré nos casos dos homens a qual, levando à inundação, nos encabeça à fortuna. Mas omitidos, a viagem das vidas deles está restrita em sombras e misérias. Em um mar tão cheio estamos agora a flutuar. E nós devemos pegar a correnteza quando nos for útil, ou perder as aventuras a nossa frente”
Carolina do Norte, Charlotte, 7:00 da manhã;
Escola nova e volta às aulas, o que acabava sendo decepcionante e ao mesmo tempo aliviador, por ser o último ano. Mais um dia, mais um maldito dia. Como alguém consegue acordar nesse horário bem humorado e de bem com a vida?
Fui ao banheiro, fiz minha higiene matinal e me troquei, logo me sentando na cama por alguns minutos encarando o nada, como se algo estivesse me prendendo ali. Criei forças para pegar a mochila e poder ir para a escola. Ao descer as escadas ouvi minha mãe em seu quarto discutindo com meu pai. Eles mal acordaram e já estavam brigando. Me pergunto como ela consegue aguentar algo como isso e deixa passar como se não fosse grande coisa. Depois de ouvir a mesma discussão de sempre, a qual eu já sei de cor e salteado, de trás para frente e em 3 línguas diferentes, saí porta afora, sentido o vento bater em meu rosto. O tempo estava agradável, nem tão frio, nem tão quente, e mesmo assim eu estava usando meu inseparável moletom. Coloquei meus fones e comecei a caminhar até a escola, mais conhecida como casa do demônio.
Ao chegar, avistei as garotas fúteis do primeiro ano que acham que estão arrasando por serem novas na escola, as garotas do segundo ano fofocando sobre qualquer bobeira que as convém e o pessoal do terceiro ano falando o quanto podem causar na escola por ser o último ano. Pelo jeito são todos babacas. Mal cheguei e já conto os segundos para o ano acabar e dar o fora daqui. Peguei o papel com os novos horários e as primeiras aulas eram de geografia, o que me dava certo ânimo por ser uma das minhas matérias favoritas. Peguei meu material e andei rápido para chegar à sala antes de todos.
O sinal tocou e todos que ainda eram desconhecidos pra mim, entraram e sentaram em seus lugares. assim que me viu, me deu um beijinho na testa. Não ficamos naquele mimimi de volta às aulas, já que nos vimos em boa parte das férias.
é meu primo e meu melhor amigo. Mudamos para esta escola esse ano e, por mais bobo que pareça ser mudar de escola no último ano, tivemos nossos motivos. já tinha amigos por aqui, e , então eventualmente acabou ficando mais com eles. Um dos meus problemas era ser anti-social, então acabava ficando de escanteio às vezes, mas estava com a cabeça cheia demais para cobrar atenção.
Prestei atenção nas aulas de geografia com todo o gosto do mundo, e em grande parte das outras aulas, nem tanto.
Assim que chegou a hora do almoço, procurei , que estava com os garotos. Eu já os conhecia há anos, mas não ia muito com a cara deles, mas mesmo assim ficaria ali. Depois do que aconteceu, foi difícil pensar em arranjar amigas.
Eles estavam falando de alguma festa do final de semana, como despedida das férias, a qual eu não fui e não fiz questão de ir, já que para mim é só um meio para conseguir duas coisas: garotas e status. Coisas que não me interessavam. Acho que no fundo, eu acabava tendo inveja daquilo, por eles não terem sérias preocupações na vida.
sempre foi o que mais tentava puxar papo, era o mais simpático e o mais quietinho dali, mas em questões de festas, ele era como os outros. Geralmente nossas conversas acabavam tão rápido quanto um respiro, o que era um alívio para mim. Fazer amigos não era o meu forte.
Andei até o jardim da escola, longe do pessoal, e coloquei meus fones novamente, coloquei Blink da banda Revive pra tocar. Incrível como a letra daquela música se
encaixava tão bem na minha vida no momento. Tudo acontece num piscar de olhos, tão rápido, que você acaba se perdendo e não sabe como se reencontrar.
Fui para casa, me troquei rapidamente e fui trabalhar. Trabalho numa lojinha de livros e CDs e é a melhor parte do dia, por mais cansativo que seja. Decidi arranjar um emprego para poder ficar longe de casa e pelo menos tentar juntar dinheiro para a faculdade.
O dia havia sido normal e assim que chegou a hora de fechar a loja, me deu um peso nas costas por lembrar que teria que voltar para casa e ver a mesma porcaria.
Assim que cheguei, dito e feito, meus pais brigando. Respirei fundo, subi as escadas e joguei a mochila em algum canto do quarto, tomei banho e deitei, com sono suficiente para um mês todinho, e sem perceber, dormi como uma pedra.
***
Os outros dias foram exatamente a mesma coisa, e até que enfim, sexta feira! Senti meu celular vibrar, era .
- Ei , posso pedir um favor? - ele realmente não conseguia começar uma conversa com "oi" ou "tudo bem?" e eu particularmente adorava aquilo, sempre íamos direto ao ponto.
- Claro, depende.
- Hoje é a festa do pessoal dos últimos anos, vai ser no lago. Quer ir? - perguntou com um tom de voz meigo, sabendo que eu nunca resistia àquilo.
- Não sei não, você sabe que eu não curto festas. - eu realmente não curtia nenhum tipo de festa, mas sempre acabava indo em várias por .
- Poxa, você nunca sai de casa. Prometo que vai ser legal, por favor! - disse mais meigo ainda, e como sempre, acabei me rendendo. Droga de voz adorável
- Tudo bem, me espera na pracinha às sete.
- Obrigada, gatinha.
Não fazia a mínima idéia do que vestir e não podia usar roupas que mostrassem as coxas, barriga e braços, então só coloquei uma calça preta, um tênis e uma blusa de frio. Não sabia onde meus pais estavam, então apenas saí e fui até a pracinha que por sinal era no máximo 10 minutos de minha casa. sempre me pegava lá quando saíamos. Eu tinha vergonha do que ele poderia presenciar se fosse me buscar em casa, então combinamos que nosso ponto de encontro era a tal pracinha.
Entrei no carro e senti seus olhos me encarando.
- Tá me zoando que você está indo de jeans e blusa de frio pra festa? Você sabe, é uma festa no lago e tudo o mais... - disse indignado, porém bem humorado. O encarei até ele entender que eu realmente não estava ligando para o que ele estava achando da minha roupa.
Senti o carro em andamento e liguei o som, estava tocando It's Time do Imagine Dragons, e me encostei de volta no banco e comecei a observar as ruas, e depois de quase trinta minutos finalmente chegamos.
- Tente aproveitar, ok? - sorriu abertamente, e assenti da maneira mais convincente possível.
Começamos a andar e o som ficava cada vez mais alto. Observei todas as meninas com cervejas nas mãos, a maioria dançando com algum garoto aqui, outras beijando ali e por aí vai. Estava me sentindo totalmente desconfortável por ser a única sem nenhuma dessas coisas. Fui despertada por com duas cervejas na mão, me oferecendo uma, porém recusei.
- Olha só quem está aqui! - gritou sorridente. Deduzi que ele já tinha bebido algumas - muitas - cervejas, então só sorri de volta e balancei a cabeça assentido. Observei o lugar e tentei achar algum canto para sentar, o mais longe possível, e achei.
Enquanto andava, senti alguém me puxar e quando virei era apenas com a Callie do lado.
Callie era sua quase namorada, estudava na mesma escola que nós, mas havia faltado a primeira semana pois ainda estava viajando. Eles se conheciam há alguns anos, mas sempre rolava aquele clássico de "somos só amigos". Era um casal totalmente fofo, por mais confusos que fossem.
- Ei, Callie! - falei animada enquanto recebia seu abraço.
- Oi, gatinha! Nós vamos dançar, não quer vir junto? - perguntou aumentando a voz por conta da música alta.
- Eu não danço! - ri, vendo a garota ser puxada por até onde todos estavam dançando. Aceitei vir na festa por para ser largada pelo mesmo, que maravilha!
Bufei e continuei andando até ouvir uma voz num timbre muito grosso e bravo. Olhei para trás e vi um garoto falando com alguém no celular. Alto, cabelos pretos, mas não consegui definir a cor dos olhos por conta da distância, apenas me concentrei em sua voz, que dizia algo como "me deixe em paz" e coisas do tipo. Ele estava andando de um lado para o outro com uma expressão nervosa. Criei coragem para ser agradável, afinal, o que mais eu poderia fazer?
- Está tudo bem? - perguntei com o melhor tom de voz possível.
- Parece estar? - respondeu ríspido, nada simpático.
- Não sei, por isso perguntei. - arqueei uma sobrancelha. Que garoto abusado!
- Cuida da sua vida. - disse grosso, saindo com passos fortes para longe.
Péssimo dia para sair de casa.
***
7 horas. Mais uma segunda feira. Levantei praticamente me arrastando pela consequência de ter dormido tão mal por conta de pesadelos. Pois é, tenho um monte deles.
Ao chegar à escola avistei no pátio com seus amigos. Me aproximei e senti um beijinho na testa, e ele me encarou por alguns segundos como se estivesse buscando a resposta de alguma pergunta.
- Pesadelo? - arriscou a pergunta, me abraçando de lado.
- Exatamente. - respondi com os olhos fechados.
Assim que os abri, vi chegando com uma menina ao seu lado, um batendo na cabeça do outro como duas crianças.
- Vocês já sentiram o quão bom o cabelo dele é? - a garota perguntou enquanto passava a mão sobre os cabelos de .
- Vocês já perceberam o quão chata essa garota é? - perguntou o mesmo, tentando tirar as mãos dela de seu cabelo.
- , essa aqui é a , ela é um monstrinho, mas é minha melhor amiga desde quando me conheço por gente. Ela vai estudar com a gente agora! - anunciou tentando esconder a empolgação em sua voz.
- Bem vinda! - me apresentei sorrindo de maneia simpática.
- Obrigada! Você é a única menina que eu conheci até agora, será que você pode me mostrar a escola e me ajudar com os horários? - perguntou sem graça, um tanto quanto fofa.
- Uhum!
Começamos a caminhar pela escola, levei para a sala de teatro primeiro, onde particularmente já era meu lugar favorito dali, porque tinha silencio e paz. Tudo o que eu precisava.
- Você é a única menina do grupo deles? - perguntou com a voz baixa.
- Grupo? Na verdade, são só eles mesmo. Eu não me dou bem com nenhum deles, apenas , que é meu primo, e às vezes tenta ser legal, mas nesse caso, tem outra garota, a Callie, que é a quase namorada do . - tagarelei tudo de uma vez, enquanto observava o palco.
- Ah sim! Posso saber por que você não se dá bem com eles? - mordeu o canto da boca de maneira insegura, dava pra perceber.
- Apenas não gosto do jeito que eles levam a vida, ligando apenas pra festas e garotas. é o único que tem cérebro naquele meio, então me desculpe por isso, já que você é melhor amiga do e tem que ouvir isso de mim. - ri um pouco, tentando afastar qualquer tensão que pudesse se instalar ali.
- Tudo bem! Vivo dizendo para que ele tem que tomar jeito, pois a vida não é só isso. Mas acho que se você se aproximar e conhecê-los, e permitirem que eles te conheçam, você pode se surpreender.
O sinal tocou.
- Qual é sua primeira aula? - perguntei vendo se atrapalhando para pegar o papel com seus horários.
- Biologia! - respondeu decepcionada, e não pude evitar de rir com aquilo.
- Bem, a minha é matemática, mas a sua sala é a primeira do corredor da esquerda. Te vejo na hora do intervalo!
Nos separamos assim que chegamos no corredor. Peguei meu material choramingando por ter aula de matemática. É uma coisa tão chata e confusa que sinto vontade de chorar sempre que tenho essa aula.
Sentei no meu lugar, rabiscando em algum canto do caderno, até a porta ser aberta e todos olharem.
- Foi mal o atraso, eu sou novo na escola e acabei confundido as salas. - disse um garoto que não me parecia tão estranho. Já vi esse rosto!
Enquanto todas as garotas da sala estavam praticamente babando no novo rapaz, o professor perguntou.
- Tudo bem, sente em algum lugar disponível. Qual é o seu nome?
- . - respondeu sentando em uma cadeira no fundo da sala. O encarei por alguns segundos e bingo! Ele é o garoto da festa.
Na hora do intervalo sentei onde e seus amigos estavam, incluindo e Callie.
- , eu vi o novo garoto da sua sala. A gente até o chamaria pra sentar aqui, mas não o achamos. - disse .
- É, já conheço ele. - falei encarando o além.
- De onde? Desde quando? - perguntou com a voz um pouco exaltada.
começou a me proteger ao extremo depois do que tinha acontecido comigo na antiga escola. Eu não gostava de preocupá-lo com nada, afinal, eu não mereço essa atenção.
- Ei, calminha! Naquela festa no lago, enquanto vocês estavam dançando e ficando bêbados - encarei - Eu me afastei um pouco e vi ele no celular, e quando desligou eu perguntei se estava tudo bem porque ele parecia bem nervoso, mas ele foi um grosso, fim. - expliquei de maneira distante, nem me importando com aquilo.
- Hmmmmm. - brincou, até ser atingido por um tapa vindo de .
- Sosseguem! - chamou a atenção dos dois, que pararam no mesmo instante e riram.
A próxima aula era química. Eu odiava aquela matéria, nunca consegui me dar bem. Imaginei o quão chato seria ouvir aquele blá blá blá e aqueles exercícios doidos, então decidi matar aula. Poxa, mesmo estando no começo das aulas, às vezes você realmente fica de saco cheio de uma matéria e precisa de um descanso dela.
Matar aula uma vez não tem problema, certo? Fui cuidadosamente até a sala de teatro, sentei num banco qualquer, peguei meus fones e aproveitei a paz que tive por alguns minutos, até ouvir a porta ser aberta. A casa caiu!
Quando virei para trás, percebi que não era ninguém da diretoria, e sim o garoto novo. Assim que me viu, me encarou por alguns segundos com a expressão confusa.
- O que você está fazendo aqui?
- Provavelmente o mesmo que você, porém para mim não vai pegar mal já que não é meu primeiro dia na escola e já estou matando aula. - respondi com a ironia bem clara em minha voz.
- Geografia não é minha matéria favorita, então precisei disso. - se defendeu rapidamente.
Oi? Ta maluco? Como alguém consegue não gostar de geografia?
- Dizer que não gosta de geografia é como dizer que não gosta de mim. - tentei fazer graça.
- Que ótimo, porque eu não te conheço mas já não gosto de você. - respondeu cinicamente como se fosse a coisa mais normal do mundo e saiu da sala.
Qual é a necessidade de ser grosso desse jeito?
's POV
Nova escola, novas pessoas, tudo novo. Não gosto disso, mas foi preciso. Por sorte, é o último ano. Incrível como ainda não havia me acostumado com todas as mudanças que aconteceram nos últimos tempos. Quando a vida decide ser ruim, ela não brinca. Estava pensando nisso quando decidi matar aula de geografia, porque honestamente ninguém merece aquela chatice. Conheci a escola sozinho, entrando e saindo de várias salas e me perdendo um pouco. A sala de teatro era quase sempre vazia, soube que só a usavam para apresentações de fim de ano e palestras, e um lugar vazio era tudo o que eu precisava naquele momento. Os problemas dominavam minha mente, quase nunca conseguia me concentrar nos estudos por conta disso.
Meus pensamentos foram interrompidos quando vi alguém. Era a garota que tinha falado comigo na festa, que por sinal, nem sei o nome. Eu pensava que por ser o último ano, talvez pudesse me aproximar das pessoas daqui, mas aparentemente são todos iguais. Pessoas que não passaram por nada na vida e se lamentam por qualquer bobeira, ou que tem de tudo e se acham os donos do mundo.
Eu gosto de ficar sozinho, é a minha melhor opção. 's POV end
Hora de ir embora da escola, hora de ir trabalhar! Claramente a melhor parte do dia.
Fui até em casa para me trocar e ao chegar, me deparei com uma cena deplorável. Minha mãe chorando sem parar, como se todas as lágrimas do mundo estivessem ali, somente em seus olhos.
- O que houve? - sentei ao seu lado rapidamente.
- Você sabe o que houve. - respondeu soluçando. Observei seus braços e boa parte estava sangrando e com várias marcas.
- Quantas vezes você vai ter que apanhar para poder tomar uma atitude? - perguntei indignada, levantando no mesmo instante.
- Você sabe que não é tão fácil assim, . - levantou com certa dificuldade, parando em minha frente.
Não respondi, apenas subi para meu quarto e me troquei. Aquilo era inacreditável, vê-la se submetendo a esse tipo de coisa e não mover um dedo para mudar a situação.
Enquanto andava até meu trabalho, lembrei da cena que tinha acabado de ver. Aquilo era um absurdo total, ninguém deveria viver daquela maneira. Ou talvez... Deveria.
Acho que certas pessoas nasceram pra sofrer.
***
Olhei de longe minha casa e respirei fundo. Aquele lugar deveria ser aonde me sinto amada, confortável e segura, mas era exatamente o contrário. Decidi parar na pracinha na qual tinha alguns balanços velhos, mas eu não me importava, sentei em um deles e comecei a balançar.
Pensar na vida era a coisa que eu mais gostava e odiava de fazer, por lembrar de todas as coisas que aconteceram, acontecem e que provavelmente acontecerão.
Flashback on; 2 anos atrás.
- Você é tão burra, tão inútil, não sei como alguém consegue ficar perto de você, porque eu não aguento! - gritou meu pai, andando em minha direção. Pude ver a raiva em seus olhos, o que me assustou mais ainda.
- Não, eu não sou nada disso! - fui interrompida por um tapa em meu rosto.
Ele sempre deixava aquilo bem claro, falava aquilo repetidamente todos os dias junto com as agressões, o que me levou a acreditar que eu realmente era o que ele dizia.
- Eu não quero te ouvir, você não é nada! Eu odeio você! - gritou alto e ao mesmo tempo me empurrando. Eu não conseguia pensar em nada naquele momento, só aceitar as agressões que estavam por vir.
Meu próprio pai dizendo que me odeia. Meu próprio pai me batendo. A única coisa que eu sei é que isso não é ser pai. Flashback off.
Parei o balanço ao perceber as lágrimas escorrendo pelo meu rosto. Estava com tanta raiva dos meus pais, do mundo e principalmente de mim mesma, por ser realmente uma inútil, por não conseguir fazer nada decente, por não fazer nada que mudasse essa situação. Apertei meu próprio braço com tanta força que sentir a dor era algo prazeroso.
Dor. Era bom sentir aquilo, era de certa forma aliviador, como se um peso saísse das minhas costas, como se aquilo me fizesse lembrar que ainda estava viva, como se fosse o melhor que eu pudesse fazer naquele momento.
Parei ao perceber que tinha os apertado tanto em cima dos cortes mais recentes, que estava sangrando. Aquilo me fez sorrir verdadeiramente.
As coisas na escola estavam menos chatas com a chegada de . Ela era engraçada e sabia conversar, e pessoas assim estavam em falta no mundo.
- Você ficou sabendo da festa de sábado? - perguntou sorrindo.
- Outra? Quem é que tem pique pra dar uma festa todo final de semana? - rolei os olhos.
- Dessa vez é a festa do e você tem que ir! - fez um biquinho extremamente fofo.
- Eu nem vou com a cara dele e vou à festa? - perguntei rindo. Aquilo não tinha sentido.
- O que eu disse sobre você se aproximar? - deu um sorriso frouxo.
Senti um aperto no coração, e me senti dividida entre ir ou não ir.
- Tudo bem, eu vou. - respondi depois de segundos pensando, me rendendo á idéia.
Fomos para a sala, aula de química, na qual eu decidi ir dessa vez. Vi que o garoto da festa do lago estava sentado no fundo na sala, rabiscando em seu caderno.
- , o que acha de chamarmos o garoto novo para a festa? Ele não tem amigos por aqui, e seria uma boa oportunidade para ele também. - propôs baixinho, de maneira que só eu ouvisse.
- Por mim ele pode ficar sem amigos. - respondi firme, e a garota arregalou os olhos minimamente com a minha resposta, mudando completamente de assunto.
***
Sábado. O dia em que eu deveria ter ficado na cama dormindo, mas estava me arrumando para uma festa na qual só vão as pessoas que julgo serem desnecessárias no mundo, porém, talvez algo me surpreenda.
Não sei por que, mas aquilo estava grudado na minha mente e até me dava certa ansiedade por esperar que algo realmente me surpreendesse.
me buscou na pracinha e fomos para a tal festa.
era dono de uma casa tão grande que eu me perderia fácil se morasse nela. Olhei para todos os lados e vi as mesmas coisas, a única coisa que mudava eram as pessoas, mas estavam todos fazendo o mesmo de sempre, bebendo, dançando, agarrando alguém.
- , você veio! - ouvi a voz de Callie, totalmente animada.
- Pois é, é o que parece! - respondi em um tom óbvio, forçando o sorriso.
Fui arrastada por Callie até uma mesa onde estavam todos conversando sobre alguma bobeira e rindo muito, provavelmente quase bêbados. Depois de um tempo, no qual até me deixei levar e tinha bebido alguns copos de bebida, decidi ir para fora e tomar um ar. Lugares cheios não são a minha praia. Fui para o jardim, era um lugar confortável, e eu poderia ficar ali a noite toda se não fosse todo o barulho e as pessoas. Avistei uma pessoa entrando e lá estava ele, o garoto da festa do lago. Quem foi que o chamou?
Continuei sentada no jardim olhando para todas as pessoas que entravam e saíam, tentando imaginar o que estava se passando por suas cabeças, e fui interrompida por alguém sentando ao meu lado. Era .
- Bela noite, não?
- Poderia estar melhor. O que você está fazendo aqui? - perguntei arqueando uma sobrancelha, um tanto quanto antipática.
- Sua amiga me convidou. - respondeu dando um gole em sua garrafa de cerveja. O encarei por alguns segundos e pude notar que seus olhos eram azuis.
- Imaginei.
- Qual é o seu nome? - perguntou dando mais um gole na garrafa.
- , e você é o garoto da festa do lago. - respondi sem olhá-lo, com a minha concentração todas nas outras pessoas.
- Eu tenho um nome também, assim como você. É , e seria melhor se você me chamasse por ele. - falou sério e autoritário. Era só o que me faltava.
- Uau! - forcei uma voz de falsa surpresa. Ele merecia o troco por ser grosso da última vez. Sim, isso pode parecer infantil, mas eu realmente não me importava com aquilo naquele momento.
Ficamos alguns minutos em silêncio até ele se levantar e entrar na casa.
***
Não vi durante a semana inteira, o que me deu uma estranha preocupação, pois ninguém falta uma semana toda sem motivo, a menos que ele realmente não queira dar o fora daqui.
A semana foi totalmente chata, com as mesmas pessoas, mesmas coisas, o que me levou a pensar que deveria fazer algo diferente, só não sabia o quê.
Passei o fim de semana adiantando as tarefas escolares e vendo quantos filmes pudesse para ocupar a cabeça e não pensar em qualquer outra bobeira. Era engraçado pensar que enquanto eu estava em casa fazendo isso, tinham tantos outros adolescentes da minha idade, ou até mais novos, fazendo coisas absurdas.
E lá estava uma nova semana, que provavelmente seria como todas as outras. Ao chegar à escola avistei o pessoal rindo até demais.
- Também quero rir! - falei autoritária, cruzando os braços.
- ! Sabe o Jackson, altão, líder do time de futebol, que se acha O machão? Apanhou do garoto novo, o ! Mas foi tão engraçado o jeito que o Jackson apanhou que depois disso nenhuma garota vai chegar perto dele. - explicou, rindo ao terminar.
Em primeiro: Jackson é um dos caras mais populares da escola, e segundo e , era o mais babaca também.
Em segundo: ouvir aquilo me deu certo alívio por saber que tinha voltado, e aparentemente estava bem, já que até brigou.
Claro que eu gostaria de saber o motivo da briga, mas cada um dizia uma coisa e eu preferi não acreditar em nada.
Eu e tínhamos aula juntos, o que me fez ver que talvez fosse uma oportunidade para começarmos uma amizade decente. Sentamos um do lado do outro.
- Como foi seu final de semana? - perguntou enquanto abria seu caderno.
- Normal, e o seu?
- Normal também, fui a uma festa.
- Qual a graça? É só isso que você faz da vida? - o encarei séria, o deixando um pouco sem graça.
- Olha, sei que você não gosta muito de mim, mas não é como se eu só fizesse isso da vida. Eu também sossego em casa às vezes, estudo, mas eu também saio para curtir a minha adolescência, afinal, é o último ano e depois vai vir a faculdade e talvez eu não tenha mais tempo pra toda a farra. - respondeu sincero.
Faculdade? ? Eu ouvi isso mesmo? O lance de "talvez você se surpreenda" era verdade mesmo! Sempre julguei como um garoto que não se importava com nada na vida, mas talvez eu estivesse errada.
- Sério? O que você quer fazer? - mudei da água pro vinho, sorrindo como se não tivesse praticamente o ofendido. Esse assunto me deixa totalmente empolgada.
- Direito. Vou seguir os passos do meu pai, e você?
Eu achava lindo quando ouvia aquilo de qualquer um, ver um filho querendo ser como o pai. Lembrar que existem pais bons que servem de exemplo para os filhos é algo bom, mas me deixava triste ao mesmo tempo e com uma pitada de inveja por não ter um pai de verdade.
- Hmm, seguir os passos do seu pai, né?
- É aquela coisa de "meu pai é meu herói" e querer fazer o mesmo que ele. Mas e você, o que pretende fazer? - perguntou novamente.
- Ainda estou em dúvida.
- Você é a mais esperta entre todos nós pelo que diz, acredito que você vá se dar bem em qualquer coisa que tiver em mente. - disse com um sorriso sem mostrar os dentes, e em resposta eu sorri largamente.
Ouvir aquilo era bom. Gostava de imaginar que aquilo poderia dar certo, que pelo menos uma coisa poderia dar certo.
Na troca de aula, pensei na bela mentira que havia contado para . Eu sabia exatamente o que queria fazer. Toda criança tem um sonho desde pequena como querer ser médica, modelo ou professora, e bem, eu tinha o meu, ser veterinária. Não respondi aquilo, pois sabia que por mais que trabalhasse, não conseguiria bancar a faculdade no próximo ano por não ter dinheiro suficiente, afinal, minha mãe trabalhava como vendedora em uma loja, e por ironia do destino eu também, e não era dinheiro o suficiente para bancar mensalidades absurdas, por mais que eu quisesse. Não poderia pedir muito, pois o salário da minha mãe era apenas para manter as contas pagas e ter o que comer. Ter um pai vagabundo que não trabalhava dificultava tudo.
's POV
Uma semana sem vir para a escola e quando volto tenho que aturar Jackson enchendo a porra do saco. Ele era o único da escola que me conhecia, afinal, nossos pais eram melhores amigos, principalmente nossas mães, porém nós nunca nos gostamos. Nossas mães se afastaram depois da cagada que tinha acontecido com a minha família, o que fez Jackson achar que poderia tirar sarro da minha cara sempre que podia.
Acabei batendo nele sem pensar duas vezes e não me importava se levaria alguma advertência por aquilo. Fui para a sala e assim que a aula começou, o professor estava explicando algo que eu não conseguia entender, pois era continuação de matérias passadas que eu perdi por conta das faltas. Quando o sinal bateu, tentei ser rápido até alcançar .
- Será que você pode me passar as matérias passadas? Eu faltei a semana toda e preciso alcançar vocês. - isso foi totalmente cara de pau da minha parte mas quem se importa? Não era grande coisa.
- Qual é o seu problema? Você fala que não gosta de mim, senta do meu lado na festa e depois age como um estranho e agora está aqui pedido as matérias que você perdeu? - ela respondeu de uma maneira tão indignada que fiquei surpreso.
- Garota, não seja mimada e me passa o que eu perdi, é tão simples! - se tem algo que é curto, é a minha paciência. Pelo amor de Deus, são só matérias passadas, ela não precisa dar esse showzinho. 's POV end
estava na frente da porta, o que me deixou mais nervosa ainda. Fala sério, tanta gente na sala e ele tem que pedir pra mim?
- Eu não sou mimada! E já disse que não, que saco! - respondi com um tom de voz elevado. Me chamar de mimada é realmente uma ofensa, pois é tudo o que eu não sou. O encarei até entender que eu não emprestaria nada e saí da sala.
No dia seguinte, assim que cheguei à escola, cumprimentei o pessoal com um aceno e vi que estava faltando alguém ali. .
- Onde está? - perguntei para .
- O garoto novo pediu ajuda para ela, ele está sem algumas matérias. - respondeu fazendo cara feia. Eu conhecia muito bem aquela expressão...
- Você está com ciúmes? - perguntei rindo. Que graça, não?
- Não gosto de nenhum cara com ela, só isso.
Aquilo foi realmente fofo. Mas... pedir ajuda pra ? Blé.
O dia havia sido assustadoramente bom, conversei bastante com e e eles eram caras bacanas até. inclusive me levou até a pracinha perto de casa. Ele queria me levar até a porta e acabei mentindo novamente ao dizer que iria para a casa de uma tia por ali.
Quando cheguei em casa, vi que estava tudo totalmente bagunçado, como se um furacão tivesse passado por ali. Andei cuidadosamente até a escada, tentando desviar dos cacos de vidro que estavam espalhados pela sala.
Ouvi a porta sendo aberta, era meu pai, claramente bêbado.
- Aonde é que você estava, sua imbecil? - perguntou cambaleando em minha direção.
- O que diabos aconteceu aqui? - perguntei ignorando sua pergunta.
No curto espaço de tempo que tive para observar toda aquela bagunça, senti meu braço sendo apertado, sendo levada por empurrões até bater na parede. Um tapa, dois tapas, três... Totalmente sem motivo, mas para ele aquilo deveria ser prazeroso.
- Chega! Você vai deixar a garota toda marcada! - ouvi a voz embargada da minha mãe tentando puxar meu pai.
Ela estava em casa, o que era estranho. Com certeza faltou no trabalho apenas para ficar em casa e tentar impedir que meu pai cometesse alguma besteira e pelo jeito não adiantou muito.
- Calada! Eu bato nessa garota a hora que eu bem entender! - gritou totalmente nervoso.
Assim que ele me soltou, fui correndo para o meu quarto com a visão embaraçada. Desgraçado.
Me senti tão fraca, tão burra, tão inútil, e aquele sentimento se misturou com a raiva e fiz o que parecia ser a coisa mais certa para mim naquele momento.
Fui até o banheiro e peguei qualquer lâmina que vi pela frente e pressionei contra minha barriga, fazendo com que a dor se transformasse em algo bom. Levei a lâmina até os braços, sentindo a mesma sensação, e aproveitando cada segundo daquilo.
"Você já se perguntou o que marca o nosso tempo aqui? Se uma vida pode realmente ter um impacto no mundo? Ou se as escolhas que fazemos importam? Eu acredito que sim e acredito que um homem pode mudar muitas vidas para o melhor, ou para o pior.”
Acordei sentindo uma dor enorme no corpo todo, como se um caminhão tivesse passado por cima de mim, se bem que eu gostaria que tivesse mesmo.
Assim que cheguei à escola, uma sensação de desconforto enorme tomou conta de mim. Aquilo acontecia muitas vezes e cada vez ficava pior. Eu realmente odiava aquele lugar, achava um saco acordar cedo e aguentar aquele pessoal. Vivia me perguntando como deveria ser a vida de cada um ali, o que eles pensavam, como eles encaravam a vida ou como era se importar apenas para festas e essas bobagens.
Não estava afim de falar com ninguém. Sabe quando as pessoas falam dos mesmos assuntos de sempre? E, além disso, eu realmente precisava de um tempo quieta. Talvez isso fosse um defeito, mas eu não consigo conversar por muito tempo ou manter o bom humor. É bem desagradável, eu reconheço isso, mas mesmo sem motivo aparente, eu me afasto de todos por necessidade de um tempo pensando apenas comigo mesma. É como se ninguém fosse me entender ou ouvir, então eu era minha melhor companhia. Ignorei a todos e fui para a sala e esperei o começo da aula.
's POV
Saí rapidamente da sala assim que o sinal para o intervalo bateu e comecei a procurar um lugar quieto para poder ficar, até que alguém acaba esbarrando em mim. Jackson.
- Olha por onde anda, babaca. - gritei. Não suportava respirar o mesmo ar que Jackson, quem dirá estar perto dele.
- Escuta, só porque você me deu umas porradinhas não significa que você manda aqui! Eu ainda sei muita coisa sobre você e posso te ferrar aqui, então fica na sua! - Jackson falou tão perto que eu poderia dar um murro em sua cara naquele instante, mas não o fiz e apenas saí andando.
Nem ele nem ninguém têm o direito de sequer pensar em se meter na minha vida. Aquilo era exaustivo, cuidar de tanta coisa, vir para a escola e até aqui ter algo para atrapalhar. Sempre imaginava como seria minha vida se não tivesse acontecido tudo o que aconteceu, da forma que aconteceu. Eu poderia ter me tornado uma pessoa melhor, uma pessoa diferente, mas cada um tem o que merece, e eu tenho que aceitar o que eu tenho. 's POV end
O ultimo sinal bateu, indicando o fim da aula. Enquanto andava, senti alguém se aproximar. Era , acompanhando meus passos.
- Você está bem?
- Por que não estaria?
- Você ignorou o pessoal o dia todo, aconteceu algo?
- Só não quero papo hoje, estou sem saco para isso, até amanhã. - respondi enquanto me afastava ás pressas. Um pouco rude, talvez muito. Aquilo fez com que eu desse alguns passos para trás, por conta do arrependimento - Desculpe, é que eu... - não terminei a frase, apenas dei um longo suspiro, torcendo para que ela entendesse.
- Tudo bem, . Qualquer coisa estou aqui, tudo bem? - sorriu, o que me fez sorrir também.
Enquanto andava pela rua, senti que tinha alguém atrás de mim, o que me deu certo pânico pelo fato da rua estar vazia. Tentei apertar o passo, até ouvir a voz de alguém.
- Psiu. - era a voz de , mas aquilo não me impediu de dar um pulinho totalmente ridículo por conta do susto.
- Puta merda, cara! - falei com a mão no coração, enquanto ele estava... É isso mesmo? Ele estava rindo de mim?
- Sua cara foi hilária! - falou entre os risos. Acabei seguindo o som de sua risada e ri junto.
- Mas é sério, não faz mais isso, por favor. - pedi ainda rindo, dando um tapinha em seu ombro.
- Tem tanto medo assim de andar sozinha na rua? - passou a caminhar ao meu lado.
- Nunca se sabe o que pode acontecer - o olhei rapidamente e não podia negar que ele era uma gracinha - Mas o que você está fazendo aqui? Você nem faz esse caminho. - perguntei curiosa, franzindo a testa.
- Eu simplesmente não quero ir para casa. - respondeu encarando a rua.
Eu honestamente não entendia , um dia ele estava totalmente grosso e no outro, ele estava agradável. Homens...
- Algum motivo pra isso? - me atrevi a perguntar, já sabendo o que estava por vir.
- Você é curiosa assim sempre? - perguntou num tom de voz suave, o que me surpreendeu.
- Bem, acho que tenho motivos para querer saber o que rola com você, digo, você é todo estranho, da primeira vez que te vi você estava nervoso, falou que não gostava de mim, depois faltou uma semana inteira, brigou com o Jackson. Acho que deve ter uma história interessante por trás disso tudo ou você é apenas meio irado da cabeça. - respondi dando um sorriso sem mostrar os dentes.
- Acredite, boneca, você não quer saber dessa história. - sorriu sem mostrar os dentes e acenou em despedida, seguindo seu caminho.
Aquilo me deixou intrigada e mais curiosa ainda, mas se ele diz que eu não quero saber daquilo, tudo bem.
Poxa, a quem eu quero enganar? É claro que eu quero saber!
Senti meu celular vibrando e o nome de estava na tela. Não queria atender, mas era preciso.
- Olá, gracinha! Você acha bonito ignorar seu próprio primo e o resto da galera? Isso não se faz! - forçou a voz em um falso abatimento, o que foi até engraçado.
- Ô dó! Perdão por isso, eu apenas precisava de um tempo sozinha, já já passa! Preciso ir para o trabalho, amanhã nos falamos, beijos. - não esperei ele responder e desliguei. Realmente não estava com paciência para papo furado, por mais que eu saiba que ele estava apenas preocupado.
Em uma época, na qual eu e éramos totalmente unidos, acabei contando o que realmente acontecia em casa, e depois daquilo ele sempre foi cuidadoso, às vezes até demais. Suas preocupações eram dobradas, já que me tratava como uma irmã mais nova e tentava me proteger desde o acontecimento da nossa antiga escola, mas aquilo acabou afrouxando e hoje em dia já não era mais o mesmo. nunca soube dos meus cortes, meus problemas tão fortes comigo mesma e as tentativas falhas de suicídio.
Havia tomado vários remédios misturados duas vezes. Simples assim, entregando a vida de bandeja. O problema é que não aconteceu nada da primeira vez, o que me fez partir para uma segunda vez, que resultou na mesma coisa. Depois desses acontecimentos, decidi encarar aquilo como um sinal do universo que eu ainda estava aqui por alguma razão, apenas não sabia qual.
Os pais de e os meus acabaram se afastando por consequência do meu pai ter uma ignorância tão grande, que foi capaz de afastar as únicas pessoas que realmente queriam ajudar.
No dia seguinte, assim que cheguei na escola avistei o pessoal, mas tinha algo diferente ali. estava no meio da rodinha.
- Olá. - olhei para todos e parei ao lado de , sentindo seu beijinho na minha testa.
- Ignora todo mundo e depois volta como se nada tivesse acontecido, sempre soube que você não valia nada! - disse com a voz carregada de indignação, o que fez todos rirem.
- Já tínhamos bolado um plano de substituição, por isso chamamos o pra ficar com a gente, mas já que você chegou, vocês que se entendam. - falou .
- Então você é o step, né ? Mas aqui sempre cabe mais um. - falei sorrindo. Desde quando eu era tão gentil e receptiva? Por mais grosso que tinha sido várias vezes, não poderia simplesmente expulsá-lo dali.
's POV
Quando cheguei à escola, o grupinho de estava no mesmo lugar de sempre. Era engraçado, porque enquanto eles não chegavam, ninguém ficava naquele canto, como se eles fossem donos daquela parte. Estava passando por ali até ouvir um assobio vindo de algum deles, e depois eles basicamente gritando para que eu fosse lá.
- E aí, ! Eu sou o , primo da , esses são , , , mas você já conhece, e Callie - abraçou a garota de lado, dando entender que era sua namorada ou algo do tipo - Mas então, você é novo aqui e ainda não o vimos andando com ninguém, então se quiser, pode ficar com a gente. Eu também entrei aqui esse ano, e mesmo conhecendo gente daqui, foi meio estranho, e já que você não tem ninguém... - terminou de falar e olhou para o resto do pessoal, que me encaravam com um olhar esperançoso.
- Beleza. - dei o meu melhor sorriso, mesmo odiando sorrir.
Eu gostei daquilo, porém segundos depois lembrei que havia prometido para mim mesmo que não me aproximaria de ninguém dessa nova escola, tanto que já havia sido grosso com e evitado me aproximar de novas pessoas por diversos motivos. Eu gostava de ficar só, gostava de manter tudo apenas para mim mesmo, afinal, nunca fui como esse pessoal que teve os amigos para ajudar nas situações mais difíceis, e logo agora era estranho a idéia disso poder acontecer. Meus pensamentos foram interrompidos com a chegada de e segundos depois todos já estavam rindo do que havia falado. Eles dão risada tão naturalmente, enquanto estão todos juntos parece que nada mais importa para eles. Não posso negar que isso me causava inveja, pois eu nunca tive algo assim, mas talvez, bem talvez, a vida tenha decidido ser legal comigo dessa vez. 's POV end
Na hora do intervalo, estávamos todos juntos, o que estava sendo agradável.
- Eu vou mandar uma cesta básica para a sua casa, porque não é possível! Você come feito um boi! - resmungou indignada, olhando para . Ele estava comendo o seu terceiro lanche e aparentemente não estava satisfeito.
- Seria ótimo se você mandasse sua mãe fazer aqueles bolinhos de laranja, eles são demais - fechou os olhos e sorriu, como se pudesse sentir o gosto dos tais bolinhos em sua boca - O engraçado é que ela cozinha tão bem e você só falta botar fogo na cozinha. - finalizou rindo mais do que deveria. fechou a cara no mesmo instante, o que foi totalmente engraçado.
- Só porque eu falhei algumas vezes na cozinha, não significa que sou ruim! - se defendeu com cara feia.
- Algumas vezes? Amor, você não sabe nem ferver água! - riu mais ainda, tirando a garota do sério de vez.
A relação dos dois era engraçada, mas era bem nítido que os dois eram o porto seguro um do outro. E bem, não consigo deixar de imaginar como seria se eu fosse o porto seguro de alguém. Creio que isso seja uma das piores sensações que existe, se sentir incapaz de algo, sentir como se nada na sua vida valesse a pena. Isso me dava um aperto no coração, pois todos nós estamos aqui, vivos, vivendo nossas vidas de maneiras diferentes, mas no fundo todos nós queremos a mesma coisa; queremos amar, ser amados, ser notados, ser importantes e deixar nossa marca no mundo.
Me perdi naquele pensamento enquanto ouvia e contando palhaçadas sobre suas infâncias juntos, mas quando percebi, estava do outro lado da mesa me encarando tão profundamente que estava me deixando sem graça. Seus olhos eram uma coisa absurda, mal brilhavam, e eram dominados por tristeza, eu conseguia perceber. Sorri de canto e ele fez o mesmo. Sentia que esse garoto ainda iria causar tanta coisa...
Fomos até a sala de artes, onde teríamos aula com um dos melhores professores da escola. Pelo menos, é o que dizem.
- Então classe, provavelmente vai parecer bobo e infantil para vocês a atividade que eu irei pedir, mas isso fará bem para todos, acreditem. Cada um terá um quadro e desenhará alguma coisa, boa ou ruim, isso irá partir de cada um, mas deve ter um significado. Depois disso, vocês irão formar duplas e explicar o significado do seu desenho para seu colega, e eu quero capricho! Boa sorte. - Mark, o professor, terminou de falar.
Particularmente eu adorei aquilo, poderia ser uma boa hora para ver que aquele pessoal não era tão babaca quanto eu imaginava.
Eu não fazia a mínima idéia do que desenhar, apenas estava rabiscando o quadro até desenhar a única coisa que sabia: uma casa. Qual é? Foi a única coisa que aprendi a desenhar decentemente quando era pequena. Na hora de pintar, usei tons de tintas escuras, para demonstrar a tristeza e mágoa juntas.
- Tudo bem, turma. Como foi um desenho livre, deixarei vocês escolherem a dupla de vocês, e se quiserem trocar depois, tudo bem. Quanto mais explicações, melhor, e vou querer um relatório sobre o que ouviram. - Mark terminou de falar e todos foram ao encontro de suas duplas.
estava com Callie, com , com Hanna, que por sinal, estavam conversando e rindo até demais. Senti alguém com a mão no meu ombro e quando virei, era apenas Jackson.
- Posso ficar aqui, ?
- Pra você é . - respondi seca.
Avistei e sem pensar duas vezes, fui até ele.
- Você vai fazer dupla comigo, se não terei que fazer com Jackson, e se isso acontecer quem vai dar umas porradas nele vai ser eu. - falei tão rápido que ele apenas me olhou com uma cara estranha e riu.
- Você deveria experimentar fazer isso, é realmente bom.
- Por que você bateu nele?
- Ele se mete muito aonde não deve.
Dei um meio sorriso para tentar esconder a curiosidade e observei seu desenho. tinha desenhado um céu com metade colorido e metade preto, com bonequinhos estranhamente ridículos com expressões tristes e felizes.
- O que significa? - apontei para o seu desenho. Estava sem dúvidas melhor que o meu.
- Bem, isso significa a realidade. Pessoas tristes e pessoas felizes.
- Qual delas você é? - torci mentalmente para que ele não fosse grosso.
- Depende do seu ponto de vista, o que você considera ser feliz e ser triste, então se eu falar, não vai valer. - respondeu encarando o próprio desenho. Por que ele tinha que ser assim?
Mostrei o meu desenho e expliquei que era uma casa arruinada, pois não havia amor nem carinho, apenas o contrário.
- Isso seria sua casa? - arqueou uma sobrancelha e me encarou, e até demorei de responder, pois fiquei observando a beleza de seus olhos.
- Depende do seu ponto de vista. - sorri sem mostrar os dentes.
***
Depois de mais um dia de trabalho, tudo o que eu, ou qualquer outra pessoa que trabalha espera é chegar em casa e ter sossego. Era tudo o que eu queria e tudo o que não tinha. Assim que coloquei meus pés para dentro de casa, ouvi os gritos vindos do quarto. Aquilo me fez rir. Uma risada totalmente sem humor e sem emoção, apenas uma risada.
Como alguém consegue brigar todo santo dia, pelo mesmo motivo?
Tomei banho e quando deitei a discussão ainda continuava. Às vezes eu ficava surpresa com aquilo, pelo fato deles não cansarem de repetir as mesmas coisas. Minha mãe sempre reclamando das bebidas e por ele não trabalhar, e ele sempre dizendo que essa família foi a pior coisa que aconteceu na sua vida. Coloquei meus fones, escolhi qualquer música e tentei dormir.
"It's gotta be this one You don't have to fake it You know I can take it What if I told you your tears haven't been ignored? And everything that was taken can be restored?" (Feel This - Bethany Joy)
Acordei atrasada. Merda.
Me arrumei o mais rápido possível e enquanto descia, avistei minha mãe sentada na cozinha, com a cabeça baixa.
- Que foi? - perguntei sem olhá-la e pegando uma maçã. Nunca conversávamos decentemente, eu apenas perguntava o que tinha acontecido, mesmo já sabendo a resposta.
- Seu pai. - respondeu baixo, ainda com a cabeça baixa.
- Novidade! - falei com a ironia explícita em minha voz.
- Dessa vez é pior. - sua voz embargada me deu um arrepio.
- Isso é possível? - larguei a ironia e a seriedade tomou conta. Ela só podia estar brincando com a minha cara.
- Ele está se drogando.
Puta que pariu!
Tinha como piorar e piorou! Se tudo já estava fudido, imagine agora? Senti uma raiva tão grande invadir meu corpo, que apenas saí de casa batendo a porta com toda a força do mundo. Aquilo era absurdamente injusto. Já o aguentávamos sendo alcoólatra e agora teríamos que aguentá-lo sendo drogado?
Me lembrei de todas as vezes que me falava coisas como "vai ficar tudo bem" e isso me deixou mais nervosa ainda. Essa coisa de que tudo melhoraria, nunca funcionaria comigo pelo jeito.
Quando cheguei à escola e vi o pessoal, senti vontade de me esconder num cantinho e não sair mais. Ouvir o papo de como suas vidas eram legais, de como as festas que estavam planejando ir seriam divertidas, iriam me deixar mais nervosa ainda. Disfarcei e fui para a sala de teatro, não me importava se ficasse com faltas, eu apenas precisava pensar. Eu não podia falar nada daquilo para ninguém, nem mesmo . Eu simplesmente estava sozinha, era apenas eu comigo mesma.
Passei duas aulas na sala de teatro, apenas pensando na minha vida. Tive uma infância normal, com certas dificuldades por causa do dinheiro, mas sempre com o suficiente. Até os 9 anos era tudo considerado normal para mim, naquela época eu ainda não conseguia enxergar certas coisas, mas conforme fui crescendo e começando a entender, vi que a vida era totalmente diferente do que eu imaginava.
Quando descobri quem meu pai era de verdade, ou seja, um verdadeiro monstro, foi como tapas na minha cara, e tempos depois eram literalmente tapas na minha cara dados pelo mesmo. Vivia me perguntando como Deus fazia uma sacanagem dessas e deixava alguém como ele ser pai, e fazer tudo o que faz e nunca ser punido por isso.
Minha mãe nunca foi aquela que tentava ser melhor amiga da filha, ajudar nos problemas da adolescência, sair juntas e fazer coisas normais que mães e filhas fazem. Quando começamos a receber agressões verbais e físicas, ela nunca tentou fazer nada para impedir ou mudar algo, ela simplesmente deixava e aceitava. Eu não tinha como fugir daquilo, então consequentemente acabei aceitando também. Se as duas pessoas que eram responsáveis por mim, faziam e aceitavam tais acontecimentos, o que eu faria para impedir?
Enquanto pensava nisso, acabei chorando, chorando bastante, o que acabou se tornando normal também. Pensar naquilo me dava uma dor tão grande no coração, que sentia que a qualquer momento iria desabar.
Quando o sinal bateu, fui direto para o banheiro lavar o rosto. Enquanto saía, Callie esbarrou em mim.
- ! Aonde você estav... Que carinha é essa?
Merda.
- Não é nada. Eu dormi tarde demais essa noite e perdi a primeira aula e acabei matando a segunda para dormir. Só isso. - respondi tentando não tropeçar em minhas próprias palavras. Aquela desculpa foi de longe, a pior de todas.
- Sei... Estou de olho em você, mocinha! Até o intervalo. - cerrou os olhos desconfiada, logo entrando no banheiro.
- , eu tenho uma surpresa pra você! - anunciou animada.
Todos na mesa olharam para ela automaticamente, esperando algo extraordinário, mas ela apenas enfiou a mão na bolsa e retirou um pote com pedaços de bolinhos. Os famosos bolinhos de laranja da mãe de .
- Caraca! Fazia tempo que eu não comia um desses, obrigada gatinha! - respondeu sorrindo e dando um beijinho na bochecha de . Ela fez uma cara tão fofinha e sorriu tão verdadeiramente que eu poderia dizer que ela estava apaixonada.
- Só ele merece? - perguntou , se intrometendo na fofura dos dois.
- Desculpe , mas dessa vez os bolinhos são só dele - respondeu rindo - Mas vocês podem ir lá em casa qualquer dia desses e podemos tentar fazer juntos, todos nós. - finalizou sorridente, deixando seu convite ainda mais bonito.
- Não é você que quase bota fogo na cozinha? - Callie cerrou os olhos desconfiada. Todos na mesa começaram a rir e fechou a cara. A coitada nunca se conformaria que era ruim nisso.
- É sério, podemos tentar! Que tal no final de semana? - insistiu.
Ela realmente queria provar que poderia ser capaz de fazer os tais bolinhos, então apenas concordamos, até porque seria muito melhor estar com o pessoal do que estar em casa.
Percebi que estava faltando alguém e estava certa. não estava conosco.
Aulas de matemática me davam uma leve vontade de dar um tiro na minha cabeça. Callie estava sentada na minha frente, e me senti desconfortável pelo fato dela ter me visto naquele estado, mesmo que eu tenha tentando disfarçar.
- Você está bem, ? - perguntou cuidadosamente enquanto se virava pra trás.
- Estou. Não se preocupe comigo, eu estou bem de verdade!
Deus, cadê o meu premio de mentirosa do século?
- Você sabe, todos nós gostamos bastante de você. Lembro quando conheci , ele falava muito de você. - disse risonha.
- Imagino o que ele tenha falado. - gargalhei baixo, imaginando de todos os micos que ele devia ter falado sobre mim.
- Eu tenho muita sorte, ele é tão bom pra mim. - segurou o rosto com as mãos, parecendo uma criança.
Callie e eram como e , eram o porto seguro um do outro sem dúvidas. Callie foi a primeira garota que gostou de verdade, o que me surpreendeu, considerando certos fatos sobre garotos. Ou sobre um garoto... Eu odiava lembrar daquilo.
- Isso é bem visível. Fiquei feliz quando você apareceu na vida dele, porque depois disso ele tomou mais juízo.
- É estranho. Estou numa fase complicada e, de algum jeito, faz com que tudo fique mais fácil. - Callie revelou, com o tom de voz baixo.
- Aconteceu alguma coisa? Se não quiser falar, tudo bem. - eu apenas falei aquilo para ser agradável, porque na verdade, eu estava morrendo de curiosidade.
- Tudo bem! Meus pais estão se separando e eu tenho que escolher com quem ficar. Não é nada fácil, mas como eu já disse, com o parece que fica tudo mais fácil. - respondeu cabisbaixa.
Nunca imaginei como seria uma vida sem meu pai, porque depois de todos aqueles anos presa em uma situação, acabei me acostumando com aquilo. Mas Callie, pelo o que eu sabia, tinha uma boa família, e ver isso acabar não deveria estar sendo fácil para ela. Saber que estava ajudando ela, me deixou de certa forma alegre.
- Poxa, sinto muito! Mas talvez, seja a melhor opção. É melhor estarem separados, mas felizes, do que juntos e infelizes. Aposto que não está sendo fácil para eles também. - dei a minha sincera opinião.
- Realmente. - respirou fundo, dando um sorrisinho e se virando para frente novamente.
***
Enquanto andava pela rua, senti alguém atrás de mim, mas dessa vez, já sabia quem era. .
- Olha só quem está aqui de novo. - falei o mais animada possível.
- Pois é. - respondeu seco. Parece que o dia não estava bom para ele também.
- Onde você estava na hora do intervalo?
- Não importa.
Se não fosse grosso, não seria ele.
- Bem, combinamos que sábado vamos para a casa de fazer bolinhos. Pode parecer chato, mas nós realmente queremos ver isso. Então, se quiser ir, me avise. - falei simpática, ignorando sua grosseria. Honestamente, não faço a mínima idéia do por que o convidei para ir. Acho que, no fundo, eu gostaria de entender .
- Tudo bem. Posso anotar meu número no seu celular? Não sei onde ela mora, então você vai ter que me dizer. - perguntou aparentemente animado. Dá pra entender essa pessoa?
Peguei meu celular e entreguei em suas mãos.
- Até sábado. - peguei meu celular de volta, virando as costas e andando.
me intrigava. Ele tinha essa mania de sumir, aparecer, ser grosso e depois agir normalmente. Eu o acharia um babaca total, mas eu sentia que era diferente. Ele tinha uma história, a qual eu gostaria muito de saber qual é.
***
Sábado. Dia de fazer bolinhos, ou dia de ver a cozinha pegar fogo.
Acordei 11 da manhã, mas se pudesse dormiria até o dia seguinte. Não tinha ninguém em casa, o que era um alívio. Nunca sabia aonde minha mãe se enfiava, mas nunca me interessei em saber. Meu pai, obviamente deveria estar em algum bar de alguma esquina qualquer.
Levantei praticamente me arrastando por conta da preguiça. Tomei banho, coloquei uma roupa básica e senti que estava esquecendo de algo, ou melhor, alguém: . Peguei meu celular rapidamente e mandei uma mensagem para ele, perguntando se ele realmente iria. Ele confirmou, e então passei o endereço onde morava.
Assim que cheguei, já estavam todos lá, inclusive .
Aquilo poderia parecer ridículo, vários adolescentes juntos apenas para fazer bolinhos de laranja, mas parando para pensar, entre ficar aqui fazendo bolinhos e estar em alguma balada qualquer, onde você apenas consegue felicidade momentânea, eu prefiro estar aqui. Querendo ou não, era isso o que eu tinha, eram essas pessoas que estavam comigo, eu precisava aproveitar aquilo.
estava conversando com , o que parecia bom, já que estava rendendo boas risadas entre eles. Depois e entraram na conversa, e pelo jeito ficou melhor ainda.
estava com um caderno nas mãos, dizendo que aquela era a receita de sua mãe. Cada uma de nós estava fazendo algo, enquanto os garotos estavam conversando. Muita folga, não?
- Eles não vão fazer nada? - observei os quatro de longe enquanto mexia a massa.
- Eles podem lavar a louça depois. - respondeu Callie.
- Até parece
- Será que isso sai hoje ou não? - adentrou a cozinha, passando a mão na barriga.
- Se você ajudasse, seria mais fácil. Mas já que você está com tanta fome, pode comer isso. - ergueu o pacote de farinha para rapaz, fazendo todos gargalharem.
- Acho que vai ficar mais gostoso se eu fizer isso. - encheu a mão de farinha e jogou na cabeça da melhor amiga.
Todos estavam rindo, inclusive , até puxar o saco de farinha de volta e jogar em . E foi assim que começou a famosa guerra de comida. Eu tentava acertar , enquanto tentava jogar ovos em , mas acabou pegando na cabeça de Callie.
- Ei! No cabelo não vale, cacete. - gritou a mesma, pegando um ovo e acertando as costas de .
Nem preciso dizer no que isso tudo se tornou, não é? Farinha aqui, ovo ali, massa espalhada pelo chão.
- Eu ainda estou com fome, de verdade. - deu leves tapas em sua barriga, que até estava fazendo um barulho estranho.
Estávamos sentados no chão da cozinha, totalmente sujos.
- Eu vou tomar banho. Vocês duas podem tomar também, eu empresto alguma roupa. - se levantou e foi em direção às escadas.
- E a gente? Vamos ficar aqui no meio da sujeira? - gritou indignado.
- Depois que eu tomar banho, posso ir à sua casa pegar roupa para você - olhei para os garotos, que estavam acabados - Ou vocês... Acho que ninguém vai querer sair cheirando a ovo por aí. - ri baixo e subi as escadas.
Assim que terminamos o banho, fui o mais rápido possível até a casa de buscar uma roupa para ele e os garotos. Eu tinha a chave de sua casa e seus pais eram como os pais que eu nunca tive. Quando abri a porta, Márcia, mãe de estava na sala vendo um filme qualquer.
- Oi tia, só vim pegar umas roupas do . - me aproximei, dando um beijo em seu rosto.
- Tudo bem, querida.
Fui até o quarto de e peguei roupas o suficiente para ele e os garotos. Reparei na foto que ele tinha do lado do abajur. Uma foto de quando éramos pequenos. Bons tempos! Era uma época onde não tínhamos preocupações, só gostávamos de brincar e brincar.
Assim que estava saindo, ouvi a voz de Márcia.
- , está tudo bem na sua casa?
- Não mudou muita coisa. - respondi sem rodeios, segurando a maçaneta da porta, pronta para abrir.
- Qualquer coisa que precisar, estamos aqui, querida.
Aquilo era com certeza, uma das melhores coisas de se ouvir, pois eu sabia que minha tia sempre estaria ali para mim, independente de qualquer coisa.
Depois que estávamos todos limpos e com a casa arrumada, decidimos ir comer fora, já que nossos bolinhos agora estavam literalmente no lixo.
Fomos ao shopping, e cada um comeu no seu lugar de preferência. Em boa parte do tempo, houve uma grande troca de olhares entre eu e . Ele quase não falava nada, apenas observava, ria, e fazia algumas gracinhas.
- Ah, me esqueci de contar, arranjei um emprego! - anunciou a novidade, extremamente empolgada.
- De que? Cozinheira não é, né? - perguntou fazendo uma cara assustada.
- Eu vou ser babá dos filhos da vizinha por um tempinho. - respondeu sorrindo, ignorando a brincadeira de .
- Só eu que não trabalho aqui? - Callie perguntou emburrada, esperando as outras pessoas se manifestarem.
- Eu também não. - acrescentou.
- Somos inúteis e desempregados. - deu alguns tapinhas nas costas dele, com um olhar engraçado de quem entendia a situação.
era o típico garanhão que todo grupo tem, o que eu achava uma tremenda babaquice, afinal, sair pegando todas não o levaria a nada. Fora o risco de quebrar o coração de alguém.
's POV
Passar a tarde ali, daquele jeito, foi melhor do que eu esperava, foi diferente.
, e eram caras bacanas, conversavam comigo abertamente, de forma acolhedora, sem aquilo de excluir ou tratar diferente por ser novo no grupo. Eles eram totalmente o contrário do que eu imaginava.
Eu tinha um sério problema em julgar as pessoas, e sim, é errado, mas eu não conseguia evitar. Por mais estranho que aquilo fosse para mim, era interessante. Decidi que talvez pudesse deixar aquilo rolar, poderia ser bom ter amigos, viver coisas novas e ter novas lembranças, eu deveria pelo menos tentar.
Assim que fomos embora, eu e os garotos fomos para a casa de , que contou que planejava pedir Callie em namoro oficialmente na festa surpresa de aniversário que estava planejando para ela, e pediu nossa ajuda. Dava para ver em seus olhos o quanto ele gostava dela.
Nunca senti aquilo em toda a minha vida, e achava isso bom. Digo, sempre tive outras coisas para me preocupar, mas não me impediu de ficar com várias garotas, mas eu nunca senti nada com nenhuma delas, como aquela bobagem de sentir borboletas no estômago e todo aquele nhenhenhe. Amor é algo estranho, no meu ponto de vista. Minha mãe era meu exemplo mais próximo de como tudo aquilo poderia ser horrível. Muito amor
foi o que destruiu a minha família, então eu simplesmente não me importava se nunca sentisse aquilo. 's POV end
Os garotos tinham ido para a casa de e nós voltamos para a casa de novamente.
- Você está bem? - perguntei para Callie, que estava bastante quieta e pensativa.
- Uhum. Decidi que vou ficar com a minha mãe. - revelou sua decisão dando um sorriso sem graça.
Eu e nos entreolhamos rapidamente e abraçamos Callie. Naquele momento, eu não pensava em nada, não pensava nos meus pais, na minha casa, apenas pensava que mesmo que minha vida fosse complicada, a vida dos outros também era. De modos diferentes, mas eram complicadas também.
Estava largada em minha cama, pensando em como o dia tinha sido divertido. As coisas estavam diferentes com a chegada de e , todos estavam mais unidos, e até mesmo eu estava passando mais tempo com os garotos. sempre contava histórias de como teve sorte de arranjar amigos como eles.
E então, meu pensamento foi parar em . Lembrei dos olhares, do seu jeito... Ele não era como os outros, era quieto, pensava bastante e, com certeza, escondia algo. , apesar dos pesares, era interessante.
"Você já se perguntou se somos nós que fazemos os momentos em nossas vidas ou se são os momentos da nossa vida nos fazem?"
Eu estava correndo tanto que já não sentia minha própria respiração. Na verdade, não sabia por que estava correndo, já que eu poderia finalmente ter o que tanto queria; a morte. Então por que diabos estava correndo dela?
Era como se correr não fosse adiantar, eu sentia minhas pernas enfraquecendo e as lágrimas descendo pelo meu rosto. Eu queria morrer, então por que ainda insistia em correr? Uma hora, iria cair. E caí. Ver tudo ficando preto foi desesperador e ao mesmo tempo aliviador. Estava prestes a desistir até lembrar que estava tudo tão inacabado. Minha vida estava inacabada, eu ainda não tinha vivido tudo o que diziam que teria para viver, e então gritei. Apenas gritei. Mas sabia que estava morrendo. Morrendo por dentro.
Abri meus olhos e olhei para o teto. Sentei na cama e coloquei a mão no coração. Estava acelerado. Incrível como ter pesadelos era algo tão normal para mim e mesmo assim me surpreendia com tal acontecimento. Olhei no celular e marcavam 4:37 da manhã. Pior que perder o sono, era perder o sono por causa de algum pesadelo. Levantei devagar e fui até o banheiro lavar o rosto. Me olhei no espelho e me encarei por vários segundos.
Perdi a conta de quantas vezes já me perguntei o por que eu era eu, o por que eu estava nesse corpo, vivendo essa vida. Apenas uma vida e eu já havia tentado acabar com ela duas vezes, e na maior parte do tempo gostaria de nunca ter nascido. Não queria ter nascido para isso, para viver essa vida, viver nesse drama. Nunca pensei que merecia algo além do que sofrimento. Nunca consegui pensar em algo que pudesse mudar minha vida. Apenas pensava que merecia sofrer.
Voltei para a cama com o mesmo pensamento e continuei pensando no quanto a vida em geral era estranha. Algumas pessoas eram extremamente felizes e apaixonadas pela vida mesmo com problemas. Por que caralhos eu não podia ser assim também? E com esse pensamento, caí no sono novamente.
Eu estava em um daqueles dias que eu não queria falar com ninguém. E assim foi, até a hora do intervalo. Assim que me sentei à mesa, encostei-me ao ombro de e fechei os olhos, respirando fundo.
- Ta tudo bem?
- Uhum - respondi ainda com os olhos fechado, e assim que os abri, percebi os olhares em cima de mim - É sério! - falei mais alto, olhando para cada um.
Decidi ir dar uma volta pelo pátio, para evitar que minha antipatia virasse grosseria. Vi sentado em uma mesa longe do pessoal e fui até ele.
- Olá. - me sentei ao seu lado mesmo sem autorização.
- Oi. - respondeu seco. Ugh!
- Por que você está aqui e não com o pessoal?
- Porque eu quero. E você, por que está aqui? Não está com uma cara muito boa. - olhava para mim profundamente, o que me deixou bem sem graça. Aliás, bom saber que estava óbvio que eu não estava bem.
- Tive um pesadelo, só isso. - desviei o olhar, tentando fugir de seus olhos, até o silêncio tomar conta dali por um tempo.
- Tem certeza que está assim apenas por causa do pesadelo?
- Tenho. - respondi rapidamente. Não havia gostado da pergunta, mas ao mesmo tempo, gostado. Parecia até que ele sabia que não era apenas por aquele motivo.
- Não parece.
- Você é estranho. Uma hora está super grosso e agora está assim. - fui mais grossa do que deveria, logo me arrependendo do que havia falado.
- Você não tem muita moral pra reclamar da minha grosseria, né boneca? - riu baixo.
- Você é um saco! Na verdade eu só queria ficar sozinha. - dei um sorriso frouxo, me permitindo contar a verdade.
- Aconteceu alguma coisa?
- Você é curioso assim sempre? - repeti a mesma coisa que ele me perguntou dias atrás.
- Bem, você é toda estranha, uma hora está grossa e em outra, legal. Provavelmente deve ter uma história interessante por trás disso. - respondeu repetindo a mesma coisa também e caímos na risada.
- Acho que todo mundo acaba tendo essa necessidade de ficar só em algum momento, é só isso mesmo.
não fazia idéia do quão bagunçada minha vida era. E mesmo se quisesse saber, não podia envolvê-lo no meio da bagunça.
-Tem razão. Mas mudando de assunto, preciso aproveitar que estamos sozinhos e conversar com você sobre o e a Callie.
- O que tem eles dois?
- Nada demais, mas está organizando uma festa surpresa de aniversário para ela e quer pedi-la em namoro oficialmente. Ele pensou em algo bem legal, mas precisamos da sua ajuda pra dar certo!
- Que gracinha! Agora desembucha. - coloquei as duas mãos no rosto como uma criança.
me contou de todo o plano de , e sinceramente foi uma ótima idéia. Assim que o sinal bateu, cada um foi para sua sala.
Vi no corredor com uma garota do segundo ano e simplesmente não entendi. Semana passada ele estava com a Hanna e agora está com outra?
Assim que ele entrou na sala fiquei o encarando com cara feia, como uma criança que não tinha ganhado o presente desejado.
- Ué, o que foi? - perguntou confuso.
- Toda semana é uma garota? - cruzei os braços, com a cara fechada.
- O que tem demais nisso? Eu disse que estava curtindo minha adolescência. - seu tom de voz me tirou do sério. Ele disse como se fosse a coisa mais certa do mundo. Cínico.
Aquilo não me surpreendia. Garotos são exatamente a mesma coisa, por mais diferente que possa aparentar ser.
Olhei para ele e simplesmente não consegui dizer mais nada. Vê-lo agindo daquela maneira me fazia ter más lembranças.
's POV
Estava com os garotos na casa de para terminar de organizar os preparativos para a festa de Callie e no meio da conversa descobri que era a mais nova da turma, o que esclareceu tudo, já que Callie faria 18 e ainda iria fazer 17. colocaria seu plano em ação hoje e a festa seria amanhã.
- Cara, acho que sua prima está brava comigo. - cochichou para .
- Por quê?
- Ela me perguntou se toda semana eu estava com uma garota diferente e eu não dei a melhor resposta do mundo, e depois disso ela nem olhou mais na minha cara, então... - respondeu sem graça, passando a mão pelos cabelos. não estava com uma cara nada boa.
- Foi por isso que se mudou de escola - e eu e os garotos olhamos um para a cara do outro, sem entender aquela frase, e entendeu que estávamos confusos e deu continuidade - Ela gostava de um garoto e ele dizia que gostava dela também, mas no fim ele ferrou com ela, e aquilo acabou sendo demais pra ela aguentar.
Aquilo me surpreendeu. Fiquei curioso para saber o que tinha acontecido entre ela e esse tal garoto.
- O que aconteceu? - eu realmente era muito cara de pau para perguntar aquilo, mas não pude evitar.
- Ele a iludiu por meses, dizia que gostava dela mas não gostava, na verdade ela foi uma diversão para ele, porque ele falava mal dela para todos os amigos e depois, quando aquilo perdeu a graça pra ele, falou isso na cara dela e admitiu que ficava com a melhor amiga dela enquanto eles dois estavam juntos. O pior foi que ninguém ficou do lado da e aquilo se tornou insuportável para ela e nós dois mudamos de escola juntos. Eu não contei isso pra ninguém, então isso não sai daqui, ok? - falou sério, tipo, bem sério mesmo.
- Relaxa.
Assim que acabamos de combinar tudo, fui para casa pensando no que havia contado. Não conhecia o suficiente para saber que tipo de garota ela era, mas no meu ponto de vista, não havia nada mais estúpido do que iludir alguém. Nenhuma pessoa merecia passar por aquilo. A vida já é difícil por si própria, sofrer por amor é um maldito bônus. 's POV end
Estava sentada na cama olhando para a porta, imaginando que à qualquer momento meu pai poderia aparecer ali e cometer alguma loucura. Meu celular começou a tocar. Era Callie, assim como o esperado.
- Alô?
- ... - Callie estava com voz de choro, dava pra perceber.
- O que aconteceu? Algo com seus pais? - perguntei rapidamente para tentar disfarçar.
- Foi o ! Eu sei que está tarde, mas você pode vir pra cá? Eu explico tudo e você pode dormir aqui se quiser. - propôs com a voz mais embargada ainda.
- Tudo bem. Até daqui a pouco.
Eu passaria a noite fora e isso me animou automaticamente. Sabia exatamente o porquê Callie estava chorando, eu e havíamos conversado e combinado essa parte. Digamos que Callie não tem muitas amigas por aqui, então tínhamos certeza que ela me ligaria.
Arrumei uma bolsa com algumas roupas e saí de fininho até a cozinha. Escrevi um bilhete simples dizendo que dormiria na casa de uma amiga e tratei de sair rápido de casa. Andar sozinha a noite não era meu passatempo favorito, mas faria parte para o plano de dar certo.
Assim que cheguei na casa de Callie, a mesma estava com os olhos cheios de lágrimas. Não quero nem ver quando ela souber que todas essas lágrimas são em vão...
- Ele terminou comigo, ! Eu o odeio! - me abraçou, chorando sem parar.
- Ei, não fique assim! Você sabe como os homens são! Você consegue arranjar algo melhor que o , eu juro. - retribuí o abraço, mas estava rindo por dentro por vê-la naquele estado. Tentava adivinhar mentalmente qual seria sua reação quando descobrir o porquê daquilo.
Passamos a noite conversando sobre diversas coisas, como histórias de família, sobre seu irmão mais novo e tudo o que podia apenas para se manter ocupada e não chorar mais do que já havia chorado.
- Amanhã é meu aniversário! Como ele termina comigo um dia antes do meu aniversário? Isso não se faz! - se revirou na cama, cheia de braveza e indignação.
- Olha, amanhã podemos sair, tudo bem? Conheço um lugar que você vai adorar! Vai até esquecer que terminou com você. Iremos curtir seu aniversário do melhor jeito
possível! - tentei ao máximo parecer o mais convincente e animada possível, sem dar nenhum indício que aquilo tudo fazia parte de um plano.
- Tudo bem. - se rendeu, com a respiração pesada e decepcionada.
Acordei primeiro que Callie e mandei uma mensagem para dizendo que tudo estava indo como o planejado. Mal podia esperar a hora para ver a reação de Callie. Havíamos combinado que a festa seria num clube, mas tinha o alugado para fazer a festa e chamou apenas os amigos mais próximos.
Assim que Callie acordou, corri para abraçá-la.
- Feliz aniversário! Muito amor, paz, dinheiro e todo aquele blá blá blá! Você merece ser muito feliz! - enchi seu rosto de beijinhos, a fazendo rir bastante, até que parou e deitou novamente.
- terminou comigo. - lembrou do ocorrido com um tom de voz derrotado.
Descemos para comer e conforme conversávamos, Callie disse que seu melhor presente foi saber que seus pais bancariam completamente a faculdade dela, o que me deu certa inveja. Passamos o dia assistindo filmes, o que estava sendo deprimente. Belo jeito de comemorar 18 anos, não? Assim que deu o horário combinado, lembrei Callie que a levaria num lugar onde pudéssemos comemorar seu aniversário. Ela colocou um vestidinho preto e sinceramente, tinha sorte, pois ela é realmente bonita. Quando fui me arrumar, não fazia a mínima idéia do que colocar, mas recebi ajuda da garota, que me emprestou um shorts e uma blusinha levemente detalhada. Fui até o banheiro e assim que me troquei, coloquei uma jaqueta. Não podia bobear e arriscar de mostrar os cortes.
Pedi um táxi, que chegou rapidamente e nos levou até o lugar indicado por mim. Assim que chegamos, Callie olhou para mim com uma cara confusa.
- Um clube? Isso é tão... Comum. Eu e tínhamos combinado algo melhor que isso. - lembrou parecendo decepcionada.
- Você pode se surpreender. - sorri empolgada enquanto a puxava para dentro do clube.
Assim que entramos, todos gritaram "surpresa" e a reação de Callie realmente foi engraçada. Sua atenção foi para , que estava parado em sua frente.
- Foi um péssimo jeito de demonstrar que te amo, mas foi a melhor ideia que eu tive. Primeiramente, feliz aniversário! - fez uma pausa, esperando os gritos e aplausos cessarem - Callie, nunca pensei que iria gostar tanto de alguém como gosto de você, pode parecer clichê, mas é simplesmente a verdade. Você me faz uma pessoa melhor, você me faz tão feliz que não consigo achar palavras para explicar. Você me faz querer ter um futuro melhor, mas esse futuro eu quero que seja com você. Você aceita ser minha namorada? - finalmente fez seu pedido, fazendo Callie nadar em lágrimas de felicidade. Todos estavam aplaudindo e gritando novamente. Ver todo o esforço que tinha feito para realizar isso me deixava com pequenas esperanças de que nem todos os garotos eram iguais, mas minhas esperanças sumiram quando me lembrei de acontecimentos passados. Aquilo me perseguia.
Espantei aqueles pensamentos, afinal, a noite era de Callie, e eu deveria estar feliz e aproveitar por ela.
- Deu tudo certo, obrigada por ajudar! - meu primo me abraçou forte, quase me esmagando em seus braços.
- Qualquer coisa por você, gordinho! Felicidades para vocês dois. - retribuí o abraço, parabenizando o casal.
agradeceu e foi dançar com Callie, o que era engraçado já que ele é péssimo nisso. estava vindo em minha direção com a cara super emburrada, parecendo uma criança quando leva bronca dos pais.
- Oi pra você também. O que houve?
- Nada.
- Fala logo, menina. - tentei mais uma vez.
- .
Procurei rapidamente com os olhos, e quando achei, lá estava ele ficando com a menina que estava semana passada. Eles faziam rodízio de mulher ou era impressão minha?
- Puts, mas... Você gosta dele! - falei com os olhos arregalados e sorrindo. Eu sabia!
- Não! Ele é meu melhor amigo e ele pegar qualquer uma que vê pela frente não me agrada, apenas isso. - falou firme e séria, cruzando os braços e observando a cena.
- Eu tinha certeza que tinha algo entre vocês dois!
- Não tem nada entre nós, sua doida. Somos melhores amigos, só isso. Mas é que isso realmente me irrita, sabe? - respirou fundo, fazendo uma expressão enojada por estar vendo tudo aquilo.
- Então você gosta dele? - cerrei os olhos. Era a única resposta que eu gostaria de ter no momento.
- Não. Quer saber? Eu vou dançar, ele não merece minha atenção hoje. Você vem? - estendeu a mão na esperança que eu a pegasse.
- Eu não danço, mas boa sorte.
Pensava seriamente na idéia de andar com uma plaquinha escrito "eu não danço" quando for para alguma festa.
estava com Callie, com Hanna, dançando com outras garotas, e provavelmente procurando alguma garota para ficar, então eu já não tinha mais nada para fazer ali.
Assim como de costume, depois de algum tempo, fui para fora do clube respirar ar fresco, pensando no que havia me dito, e por sinal, não tinha me convencido.
Deparei-me com falando com alguém no celular, totalmente nervoso. Aquilo me fez lembrar que foi exatamente daquele jeito que o conheci. Assim que desligou, repeti a primeira coisa que disse para ele. A grosseria era garantida, então que mal teria?
- Está tudo bem? - mordi os lábios, esperando a patada que estava por vir. olhou para trás e ficou me encarando por alguns segundos.
- Você precisa parar de aparecer em momentos em que eu estou nervoso. - respondeu sorrindo sem mostrar os dentes.
- Você precisa parar de ficar nervoso. - retribuí o sorriso, indo em sua direção.
- Não é tão simples assim, mas isso não importa. Deu tudo certo! - mudou de assunto rapidamente, olhando para a entrada do clube e dando um longo suspiro.
- Uhum. É bom ver que pelo menos alguém por aqui está feliz. - as palavras saltaram da minha boca. Não movi nem um músculo depois que disse aquilo.
- Concordo. Mas, você sabe... Eles se amam tanto agora, mas não fazem idéia do que vem pela frente.
- O que você quer dizer com isso?
- O amor destrói muita coisa. - respondeu sério, me encarando de maneira esquisita.
- Nisso eu vou ter que concordar, mas não é como se e Callie fossem ser como esses casais que... - parei de falar no mesmo instante. Não sabia como continuar aquela frase, não conseguia imaginar eles se tornando aquele casal horrível como meus pais se tornaram.
- Que...? - tentou me induzir a terminar o fim da frase.
- Nada, esquece. Vou pra casa, boa noite. - me virei rapidamente, já caminhando para fora dali.
- Eu posso ir com você?
- Tudo bem.
fez palhaçadas durante o caminho inteiro, o que foi estranho e revelador, já que nunca imaginei que ele tivesse um bom humor tão grande escondido ali em meio a tanta grosseria.
- Qual é a sua casa?
- Aquela ali. - apontei para a minha casa.
- Bom saber. Boa noite. - se virou, seguindo seu caminho. me intrigava cada vez mais. Querer conhecê-lo de verdade era um desafio que eu estava disposta a aceitar.
Assim que cheguei em casa, tudo estava do jeito que eu imaginei, extremamente bagunçado. Ouvi gritos vindo da cozinha e aquilo me deu um aperto forte no coração. Enquanto subia para meu quarto, ouvi uma voz grossa atrás de mim. Meu pai.
- Além de tudo está se vestindo como uma vagabunda? Você é um lixo mesmo, garota. - falou enquanto segurava um copo com alguma bebida qualquer.
- Deixe quieta, ela acabou de chegar. - ouvi a voz de minha mãe atrás de meu pai, que foi interrompida por um tapa em seu rosto.
- Eu já te falei para não se meter quando falo com essa menina. - gritou enquanto lhe dava mais um tapa. Meus olhos se arregalaram e rapidamente fui até meu pai tentando segurar seu braço.
- Chega! Todo dia a mesma coisa! Chega! - gritei. Péssima idéia bancar a mulher maravilha. Tive um tapa em meu rosto como resposta.
- Vocês duas são tão ridículas a ponto de acharem que podem me enfrentar? - gritou enquanto segurava meus braços e me empurrava até bater na parede. Foram tantos tapas, socos na barriga, com um empurrão de brinde no final, que tive certeza que deixaria marcas. Ouvi a porta sendo batida, olhei rapidamente e vi que ele havia saído.
- Filha, você está bem? - minha mãe correu até onde eu estava, com os olhos cheios de lágrimas.
- Você ainda pergunta? Eu apanhei por sua causa, de novo! - respondi enquanto levantava com dificuldade e subia as escadas rapidamente.
- Me desculpe! Eu só... Uma hora isso vai mudar, eu sei que vai! - limpou as lágrimas de seu rosto, seguindo meus passos.
- Mas é claro! Você acha que vai acontecer um milagre? Isso só vai mudar quando você fizer algo para mudar! Caso contrário, eu juro que saio dessa casa e te deixo aqui sozinha com esse homem. - gritei tão alto que os vizinhos deviam ter ouvido.
Fui para meu quarto e me joguei na cama junto com as lágrimas. Eu não conseguia pensar direito depois daquilo, apenas queria morrer naquele instante. Assim que o choro cessou, fui até o banheiro ver como estava meu estado. Meus braços estavam marcados, com marcas dos tapas no rosto, e minha barriga estava dolorida. Valeu, pai.
O despertador estava tocando e a minha única vontade era dormir para sempre. Levantei e fiz minha higiene matinal, e assim que olhei meu rosto, as marcas estavam totalmente fracas, então ninguém perceberia. Me troquei e desci de fininho até chegar na rua, o que foi totalmente ridículo pelo fato de ter medo de andar na minha própria casa.
Cheguei na escola e estavam todos ali, inclusive .
- Bom dia, . - falou . Alguém avisa que eu não quero papo com ele?
- Bom dia. - respondi para não ficar aquele clima tão chato. Os garotos perceberam e rapidamente mudaram de assunto.
- A festa de Callie realmente estava boa, todos nós fizemos um bom trabalho. - sorriu, olhando para . Olha só, nem vergonha na cara esses dois tem. Assim que olhei para , ela estava fuzilando o melhor amigo com os olhos. Eu queria rir naquele momento, mas não podia.
A atenção de estava somente em seu celular, que por sinal, não parava de chegar sons de mensagens. Será que ele tinha namorada ou algo assim?
O sinal bateu e todos fomos para nossas salas. As primeiras aulas eu tinha com , o que me fez querer fugir dali.
- Você está brava comigo, já sei. Me desculpe por aquilo. Sei que você deve me achar um babaca agora e que fica com todas, mas... Poxa, só me desculpe. - se desculpou sem jeito.
- Que seja. Você é exatamente isso e também. - respondi dando os ombros e abrindo meu caderno. Garotos como eles provavelmente nunca teriam jeito.
- ? Por que ele? - perguntou confuso.
- Ele estava com a Hanna na festa. Vocês são tão amigos assim que precisam compartilhar até as garotas? - perguntei ironicamente.
- Hanna era a única disponível para ele na festa, então ele ficou com ela, só isso. - respondeu ainda confuso.
- A única disponível? Tem certeza? - arqueei as sobrancelhas, tentando fazer ele se tocar sobre o que eu estava querendo dizer.
- Sim oras, a não ser que você quisesse ficar com ele. - raciocinou com os olhos levemente arregalados, o que me fez cair na gargalhada.
- Claro que não! - respondi ainda rindo, lembrando de . Tinha certeza que entre ela e ainda teria algo.
Minha raiva por havia passado. Tinha dado boas risadas com ele durante as aulas. Assim que o sinal bateu, todos foram para o banheiro trocar de roupa para a aula de educação física. Aquele shorts e blusinha simples me deixava super desconfortável. Assim que estava saindo do vestiário, reparei nos meus braços, ainda estavam marcados. Coloquei uma blusa de frio por cima, o que me fez parecer um patinho! Fui ao encontro de Callie e .
- Estamos no último ano, qual a necessidade de ainda jogarmos queimada? - estava indignada.
- É legal, eu gosto! - Callie falou animada.
Eu não gostava nem desgostava, apenas torcia para que a bola ficasse longe de mim. Jogaríamos queimada até começar os treinos para o campeonato de futebol, então até mesmo os meninos iriam jogar. Jackson e estavam escolhendo os times, e claro, estávamos todos no time de .
- Eu vou acertar a bola na cara da Hanna! - falou com um tom de voz super decidido.
- Você gosta dele, né? - Callie perguntou para , enquanto via a mesma olhando para .
- Não. - respondeu dando um sorriso sem mostrar os dentes.
Assim que o jogo começou, eu tentava fugir o máximo possível da bola. Era ridículo por ter que ficar correndo de um lado para o outro.
- Ei, você quer jogar? - me ofereceu a bola.
- Uhum, obrigada! - agradeci enquanto pegava a bola e mirava no meu alvo. Hanna. Seria uma boa dar uma bolada nela, apenas para ver feliz.
Assim que joguei a bola nela, uma garota se meteu na frente. Porra. Encarei , que estava sorrindo para mim.
O jogo estava quase acabando, só havia sobrado eu, , e no time, e Jackson, Hanna e mais três garotas do outro time.
Jackson jogou a bola tão rapidamente que eu só consegui vê-la quando parou em meus pés. A bola tinha batido no meu estômago, o que não foi nada agradável.
- Caraca, foi mal, gatinha! - Jackson se desculpou enquanto tentava me ajudar.
- Foi só uma bolada, está tudo bem, vamos continuar. - falei tentando recuperar o fôlego e me afastando de Jackson.
- Não prefere parar? - perguntou enquanto segurava minha cintura. Aquilo foi totalmente sem querer, nos encaramos rapidamente e ele me soltou, tentando disfarçar a vergonha, o que honestamente foi totalmente fofo. Balancei a cabeça dizendo que não, e continuamos o jogo.
estava finalmente com a bola e acertou em cheio a cara de Hanna, o que fez todos nós rirmos.
- Está bem, pessoal, chega de boladas por hoje! Os treinos para o campeonato começam daqui duas semanas, então, estejam fortes e saudáveis. - o professor anunciou as novidades, recolhendo a bola.
Andamos até o vestiário, abraçou de lado, perguntando o porque dela ter acertado Hanna. Depois dessa, ele que deveria levar uma bolada.
estava andando ao meu lado, com seu celular em mãos, o que atiçou minha curiosidade novamente.
- Você tem namorada? - perguntei de uma vez, olhando para o chão para disfarçar.
- Não tenho. Por que a pergunta?
- Você está com o celular na mão desde a hora que chegamos, então deduzi que fosse sua namorada. - respondi sincera. Não sei por que, mas, ouvir aquilo me deu certo alívio.
- Não é ninguém importante. - guardou o celular. Se não fosse importante, ele não daria tanta atenção, certo?
Fui para o vestiário junto com as garotas, já rindo por lembrar que tinha feito o que queria.
's POV
Enquanto me trocava, ouvi o barulho do meu celular. Mais uma mensagem, aquilo estava me cansando. Aquela pessoa me cansava.
- , agora está namorando via SMS? Ou está tentando cuidar da mamãe maluca? - Jackson soltou suas provocações perto do meu ouvido, soltando uma risada depois. Não me aguentei e agarrei a camisa de Jackson.
- Não ouse falar da minha mãe, seu merda! - gritei enquanto o empurrava até chocar seu corpo na parede.
Senti um soco em meu rosto, mas quase não senti de tanta raiva que estava. Jackson é ridículo, sempre foi desses que tentou se sair por cima das outras pessoas. Assim que tentei me aproximar de Jackson novamente para mostrar com quantos paus se faz uma canoa, fui puxado por e .
- Chega cara, não vale a pena. - falou enquanto me levava para fora dali.
Assim que estávamos fora, as meninas estavam saindo do vestiário feminino.
- O que houve? - perguntou , com os olhos arregalados, se aproximando rapidamente.
- Jackson.
- De novo? - pareceu decepcionada e ao mesmo tempo preocupada. Vê-la daquele jeito quase me fez sorrir.
Jackson estava saindo do banheiro e me encarou rindo. Filho da puta.
- , se eu fosse você, não ficaria perto dele. Talvez você fique louca. - falou ainda rindo. Assim que tentei ir atrás de Jackson, me puxou.
- Deixe isso para lá! Você é melhor do que isso. - olhou em meus olhos, e aquilo foi o suficiente pra me impedir de começar outra briga.
Acho que nunca havia parado para reparar o quão linda ela é. 's POV end
As outras aulas foram entediantes, o que me dava um sono fora do normal. estava do meu lado, com o celular debaixo da mesa, digitando com a maior pressa do mundo.
- Quem é? - perguntei na maior cara de pau. Imaginei que fosse , já que os dois eram como carne e unha.
- Quem é o quê? - não tirou a atenção do celular. Encostei-me ao seu lado rapidamente e olhei o nome na tela. Era Hanna. Credo.
- Vocês estão ficando sério ou é só curtição igual o faz com as garotas? - perguntei desconfiada. Não gostei daquilo.
- Na verdade, Hanna não significa nada para mim, mas ela anda meio... Carente... E eu estou ajudando ela com isso. - falou com um sorriso sem graça. Aquilo me fez rir por ser tão ridículo.
- não vai gostar nada disso, viu rapaz? - brinquei.
- Ela está estranha comigo desde quando soube que eu fiquei com Hanna e isso me deixou chateado, sabe? Ela é minha melhor amiga e eu odeio esse chilique dela só por causa disso. - finalmente guardou o celular no bolso, dando plena atenção para mim.
- Primeiro de tudo: pare de ser babaca e dê um fora na Hanna, já que você nem quer ficar com ela de verdade. Em segundo: converse com a . - praticamente ordenei. Eles eram meu casal favorito, mesmo sem ainda serem um casal de verdade, mas eu tinha certeza que uma hora ou outra, eles iriam dar certo.
Ver o começo de relacionamentos era algo que eu realmente gostava e ao mesmo tempo não. Eu sempre sentia como se estivesse ficando para trás, como se a vida de todos estivesse mudando e a minha, a mesma coisa.
***
Duas semanas se passaram e as coisas estavam exatamente na mesma. Na escola, em casa, em tudo, o que estava me deixando brava.
e estavam no maior grude, como sempre. Ele havia parado de ajudar Hanna com sua "carência". e Callie estavam na mesma. , nem preciso dizer, não é? E ... Bem, estava na mesma também. Ele e os garotos estavam próximos e ele até estava mais extrovertido. E eu realmente estava ficando para trás.
Os treinos para o campeonato haviam começado, e os meninos decidiram de última hora que se juntariam ao time, incluindo , o que eu achei uma péssima ideia, já que Jackson é o capitão.
Estávamos todos na quadra, eu e as meninas sentadas na arquibancada, apenas observando.
- Você pode segurar para mim? Esqueci de por dentro do armário. - me entregou seu celular e virou as costas, correndo para a quadra novamente.
O lance das mensagens ainda continuava, mas não como antes. Eu não tinha coragem de perguntar quem era, já que ele sempre demonstrava raiva quando digitava, mas aquilo estava me matando de curiosidade.
O jogo estava prestes a começar, até levantar e dar um berro.
- Ei, 23, me liga! - gritou sorrindo.
Todos começaram a rir, principalmente , que vestia a camisa 23.
Considerando os fatos, o jogo estava sendo melhor do que esperávamos, já que e Jackson até estavam se aturando.
O jogo estava quase no fim quando o celular de começou a tocar. Decidi deixar tocar, mas logo depois, a mesma pessoa estava ligando. O número não estava gravado nos contatos, então não sabia quem poderia ser.
- Atende logo, pode ser importante. - Callie disse um tanto quanto impaciente, já que aquele barulho de celular tocando era realmente chato.
Fui andando até o corredor, onde estava sem barulho nenhum, e atendi.
- Alô?
- está por aí? Preciso falar com ele urgente! - era uma voz de criança, o que fez com que eu me derretesse de amores. Eu adorava crianças.
- Quem é? Ele está no jogo, mas daqui a pouco ele vai sair, você quer deixar algum recado?
- É a irmã dele. Fale que nossa mãe piorou e ele precisa vir para casa, tchau. - falou de um jeito totalmente meigo e desligou.
tinha uma irmã? Aquilo era surpresa pra mim, já que ele nunca nem tocou no assunto. Comecei a caminhar de volta para a quadra e no meio do caminho, estava andando até mim.
- Quem deixou você atender meu celular? - perguntou de maneira totalmente grosseira.
Ele sem grosseria estava bom demais para ser verdade.
- Ei, calminha! Era sua irmã, ela pediu para te dizer que sua mãe piorou e você precisa ir para casa. - tentei parecer o mais tranquila possível e não ser grossa também.
- Droga! - gritou e chutou a parede, me assustando e me fazendo dar alguns passos para trás, mas logo depois me aproximei de volta.
- Se você precisar de ajuda, pode me dizer, ok? - me posicionei em sua frente e olhei em seus olhos. Aqueles olhos... Tão bonitos quanto o dono.
- Eu não preciso da sua ajuda. - pegou o celular da minha mão e virou as costas. A famosa ingratidão.
Depois de um tempo, parei para pensar: tinha uma irmã e aparentemente sua mãe estava doente. Aquilo fez meu coração se apertar. Não sei por que, mas senti necessidade de tentar ajudar.
No dia seguinte, assim que cheguei à escola, estavam todos ali, menos , e aquilo me preocupou. Por que diabos eu estava me importando com ele daquela maneira?
Fomos para a sala e foi tudo normal, para variar. Na hora do intervalo, tentei procurar e ele estava no jardim, com seu celular em mãos, o que já não era novidade. Ele me olhou rapidamente e então criei forças para abrir minha boca.
- Olá. Sua mãe está melhor? Já que ela está doente, eu ach...
- Porra, você não pode simplesmente cuidar da sua vida? - me interrompeu de maneira tão grosseira que aquilo quase doeu.
Não tive coragem de falar mais nada, apenas arqueei as sobrancelhas, virei as costas e saí andando. Eu não era obrigada a aguentar suas grosserias, sendo que eu apenas queria ajudar.
's POV
Estava exausto. Dormi no máximo 2 horas durante a noite toda por causa de Sophia, minha irmã mais nova, e minha mãe. Aquela situação toda me dava tanta raiva, que acabava descontando em pessoas erradas, como . Ver seu olhar decepcionado por causa da minha grosseria me deu uma sensação estranha. Desde quando eu sentia aquela merda?
Estava atrás de enquanto andávamos na rua. Ela estava com os fones de ouvido, então não percebeu que eu estava ali. Apressei o passo até alcançá-la.
- Oi. - falei meio sem jeito. Meu Deus, estava parecendo um virgem falando com a gostosona da escola.
tirou os fones, me olhou rapidamente e continuou andando. Creio que ela estava chateada pela minha grosseria e isso fez aquela sensação estranha voltar.
- Eu não queria ter sido grosso com você, mas é qu...
- Mas é que o quê? Você chega a ser ridículo. Você fala com os garotos numa boa, mas quando está comigo, não passa de um grosso. Se você não quer ajuda, tudo bem, se foda sozinho. - me interrompeu indignada, ainda andando.
Ela estava acelerando o passo, o que me fez sentir... Raiva? Ela não podia simplesmente falar aquilo e sair andando. Puxei seu braço, a fazendo olhar para mim.
- Mas que merda voc... - não pensei duas vezes em fazer aquilo e simplesmente encostei minha boca na sua.
Não demorou muito para ceder e começarmos um beijo calmo e lento. Minhas mãos estavam na cintura dela e era como se aquilo fosse o encaixe perfeito, já que ela é mais baixa que eu. Estávamos no meio de uma calçada qualquer, em uma rua qualquer. Nada romântico, mas aquilo não importava no momento, já que era apenas mais uma garota que eu estava beijando na vida. Eu realmente não queria parar de beijá-la, mas tivemos parar pela falta de fôlego.
- Eu...É...Tchau. - falou atrapalhada enquanto me olhava com as bochechas rosadas, e logo virou as costas e saiu andando, apertando o passo o máximo que podia.
Não sei por que fiz aquilo, apenas fiz. Talvez fosse a necessidade ou a atração absurda que senti por ela no momento. Não importa. Gostei.
Sorri sozinho, vendo se afastar. Aquilo tinha sido absurdamente bom e surpreendentemente diferente.
"J. K Rowling uma vez escreveu: As consequências das nossas ações são muito complicadas, tão diversas que prever o futuro é um negócio muito difícil de fato."
7 horas. Mais um dia. Escola de novo. E... de novo.
Lembrar daquilo me faz querer cavar um buraco no chão e ficar lá para sempre. Por que diabos ele me beijou? Não é como se "nossa, não tem nada para fazer, vou beijar essa garota." ou algo assim. Ele simplesmente me confunde, mas não posso negar que gostei daquilo. E muito, por sinal.
Ainda estava deitada e observei meus braços. Estavam doloridos por conta de cortes da noite anterior. Não tive nenhum motivo aparente para fazer aquilo, apenas fiz, só para ter aquela sensação. Eu reclamava tanto do meu pai por ser viciado em bebidas, e agora em drogas, que não enxergava que eu era viciada naquilo. Na dor.
Ouvi a discussão vinda do quarto dos meus pais, o que era normal.
Eu estava tentando passar a maior parte do meu tempo livre na casa de alguma das garotas, apenas para não ficar em casa e causar mais confusão.
Cheguei à escola e... . Será que eu já posso cavar um buraco e me esconder nele?
- Bom dia. - falou , me dando um beijo na testa. Aquilo era de longe, uma das melhores coisas nele: ser tão carinhoso.
Olhei rapidamente para e ele estava aparentemente normal, não parecia nervoso pela minha presença nem nada do tipo.
Poxa, me ensina esse truque!
- ? Ta tudo bem? - perguntou , enquanto me encarava.
Estávamos na aula de química, o que sinceramente não podia ser mais chato.
- Estou sim, é que... Eu não sei nada de química, não nasci para isso. - respondi com a voz derrotada, desistindo de fazer os exercícios pedidos pelo professor.
- Eu também não. - Callie se intrometeu, dando um longo suspiro.
- É tão fácil! Sério, olhem aqui. - sorriu empolgada, fazendo nós duas sentarmos do seu lado e explicando a matéria.
Assim que terminamos, foi como chegar no topo do monte Everest. Ela realmente sabia explicar bem.
- Vocês deviam ir lá pra casa a noite. Podemos ver algum filme ou algo assim. - propôs enquanto guardava seu material. Eu e Callie concordamos e comemorei mentalmente pelo fato de não precisar ficar em casa.
Estávamos todos juntos no intervalo e eu continuava me sentindo envergonhada por causa de . Por que eu estava sendo tão besta? Ele aparentemente não estava nem ligando, então por que eu deveria?
- Eu posso pedir um favor para vocês? - forçou uma voz fofa e agradável. Lá vem...
Todos estavam olhando para ela, esperando, até começar a rir.
- Ela quer levar todo mundo para assistir o jogo do Charlotte Hornets, não é?
-É Charlotte Bobcats! Eles mudaram o nome, mas sempre vou preferir Bobcats. Mas como você sabia? - perguntou, acompanhando sua risada.
- Te conheço desde sempre, talvez seja por isso. - respondeu dando uma piscadinha.
- Você também gosta de basquete? Caraca! - sorriu, o que fez torcer o nariz. Ciúmes? Obviamente.
- Finalmente alguém que goste também! - levantou a mão, esperando bater ali, dando um high five. Qualquer um que olharia , não imaginaria que ela é fã de basquete.
- Por favor, pessoal, eu juro que vai ser legal. - pediu sorridente, desmanchando seu sorriso em uma expressão fofa e amável.
- Não entendo nada de basquete, mas tudo bem. - Callie se rendeu e fez o resto concordar, inclusive .
- Se você escutá-la falando de basquete por 5 minutos, ela vai te explicar exatamente tudo, sério. - disse cheio de certeza.
- Mas é legal, e afinal, todos aqui devem ter algo que gostam muito, não é? - olhou para cada um como se esperasse respostas.
- Eu gosto muito, muito, muito mesmo, de garotas! - fez graça, nos fazendo rir. Esse garoto não tem jeito.
Assim que estávamos indo para a sala novamente, senti meu braço ser puxado por alguém e lá estava ele, com aqueles olhos maravilhosos me encarando.
- Acho que precisamos conversar.
- Já sei exatamente o que você vai dizer, que foi algo totalmente sem pensar e blá blá blá foi um erro e mais blá blá blá, então acho que não precisa. - disparei a falar rapidamente, quase tropeçando em minhas próprias palavras.
- É isso mesmo, então você já pode parar de agir como se eu fosse te comer viva. - riu baixo. Aquilo foi quase engraçado, exceto pelo sentimento de tristeza que tinha se instalado em mim. Já que as coisas estavam claras entre nós, eu não tinha mais o que fazer ali, então apenas andei para a minha sala.
O dia foi realmente um saco, estava me sentindo incomodada a todo momento, e o motivo tinha nome e sobrenome.
***
As meninas eu estávamos na casa de , apenas comendo e batendo papo. Seus pais estavam viajando à trabalho, então tínhamos a casa só para nós.
- Podíamos brincar de verdade ou consequência, o que vocês acham? - Callie perguntou animada. Ela tem 18 anos, eu juro.
- Isso é tão bobo! E afinal, só nós 3 não tem graça.
- Então podemos ficar aqui falando só verdades, tipo, cada uma fala algo sobre si mesma e assim nos conhecemos melhor. - Callie propôs enquanto enfiava alguns marshmallows na boca.
- Eu começo! Eu ainda tenho medo do escuro. - admitiu com um sussurro, como se aquilo fosse o segredo mais obscuro do mundo.
- Eu não sei nadar. - foi a vez de Callie.
- Eu mudei de escola por causa de um garoto.
Esbanjar a verdade é sempre complicado, mas às vezes é realmente preciso. Precisamos ser honestos com nós mesmos de vez em quando, e encontrei o momento perfeito para isso. Não é difícil, é apenas doloroso. Eu nunca havia falado sobre isso com ninguém, apenas com , mas já que agora tinha as garotas, e me senti confortável o suficiente para falar sobre isso, apenas falei. Afinal, eu confiava nelas, por mais que fossemos amigas há pouco tempo, sinto que elas são as pessoas certas para confiar. E não podemos ignorar nossos sentidos, certo?
- Como assim? - perguntou confusa.
- Eu e estudávamos em outra escola e lá eu tinha tudo, ou pelo menos pensava que tinha. Conheci um garoto e na época era maravilhoso, já que alguém finalmente estava gostando de mim. Meses depois ele simplesmente mudou, deixou bem claro para mim e para todos que nunca havia gostado de mim, que eu não passava de uma diversão para ele, e ainda disse que ficava com a minha melhor amiga. Depois daquilo eu não sabia o que fazer, já que ninguém ficou do meu lado, apenas , então decidimos mudar de escola. Eu nunca contei isso para ninguém, então... - terminei de falar para engolir o choro e impedir que as lágrimas escapassem dos meus olhos. Oras, não seja bundona logo agora, !
Aquilo realmente me deixava triste, lembrar daquilo era um saco. Eu me sentia tão burra e tão incapaz de fazer alguém gostar de mim.
- Ei, se você quiser chorar, tudo bem, estamos aqui para você! - sussurrou baixinho, me envolvendo em um ótimo abraço.
- Sua ex melhor amiga nem tentou se explicar ou algo assim? - Callie cruzou os braços, chocada e indignada ao mesmo tempo.
- Ela fez o mesmo que ele, deixou claro que eu merecia aquilo, que não aguentava mais as minhas crises.
- Que galinha! Prometo que algum dia a gente ainda breca essa menina. - barbeou revoltada, nos fazendo rir.
Gente, eu realmente arranjei as pessoas certas!
- Vamos continuar, ok? Não vamos focar no meu coração partido, afinal, isso acontece com todos. - as garotas apenas assentiram positivamente, e me senti aliviada por respeitarem minha vontade.
- Deixa eu ver... Eu tenho pés tortos. - disse Callie, enquanto encarava os próprios pés. Sim, eles realmente eram tortos.
Lembrei de um acontecimento que não podia ser ignorado, que se juntou com a minha enorme vontade de contar para alguém, então esbanjei outra bomba.
- Eu tenho algo para contar. me beijou.
- O QUÊ?! Que babado, menina! Como assim? - Callie arregalou os olhos, abrindo um sorriso empolgado em seguida.
- Ele sempre é muito grosso e quando fui falar sobre isso, ele simplesmente me beijou. Mas hoje ele disse que aquilo foi apenas um erro, então não sei se isso importa. Mas não contem isso para ninguém, ok?
- Tudo bem, mas convenhamos que ele é lindo! E bem... Ele é super na dele, quase nunca fala nada, talvez ele tenha problemas e não queira atrapalhar ninguém com isso. - Callie expressou seu pensamento enquanto abria mais um pacote de guloseimas.
Eu não tinha parado pra pensar naquilo.
Depois de muitas verdades, lágrimas e risos, fomos cada uma para sua devida casa, o que particularmente foi desanimador para mim. Cheguei em casa e subi direto para meu quarto. Estava triste, sem nenhum motivo certo, apenas estava. Odiava a sensação de estar sozinha, de não ter com quem conversar, de ter medo de estar em minha própria casa. Por que as coisas tinham que ser dessa maneira? Por que eu não conseguia fazer algo para mudar isso?
Sábado, 5 PM.
Chegou o dia de ver o jogo do Charlotte Bobcats, ou Hornets... Tanto faz.
ficou contando os dias para isso, o que chegou a ser fofo. Ela e conversavam bastante sobre isso, já que os dois adoravam basquete.
Assim que o jogo começou, era com certeza a mais animada dali. Estava vestindo a camiseta do seu jogador preferido, Spencer Hawes.
- Vamos lá, Hawes, você consegue meu amor! - gritou como se o jogador estivesse realmente ouvindo.
- Eu sou o seu amor! - repreendeu, fazendo cara de emburrado mas a garota nem deu importância para aquilo, estava realmente concentrada no jogo.
Charlotte Bobcats ganhou por 17 pontos a mais que Detroit Pistons, o que fez querer morrer de tanta felicidade. Ela poderia explodir ali mesmo, de tão feliz que estava.
Ela se recusou a sair de lá por alguns minutos, mas finalmente se rendeu quando dissemos que iríamos sair pra comer. Tivemos que aguentá-la falando do jogo o caminho inteiro. Literalmente.
- , dá um jeito na sua melhor amiga, antes que eu tenha que beijá-la pra calar sua boca. - falou , fazendo todos rirem. Nesse momento, automaticamente meus olhos foram de encontro com os de , que já estavam me olhando.
- Se você fosse Spencer Hawes eu deixaria você me beijar a vontade. - disse rindo, enquanto comia sua batata.
- Nunca vi uma garota ser tão fã de basquete, isso é meio raro. - comentou baixo, achando que seu comentário passaria batido.
- Acontece! Mas e você? Não sabemos quase nada sobre você. - disse , na tentativa de arrancar algo do garoto.
- Eu tenho uma irmãzinha de 8 anos.
Ele finalmente falou da irmã!
- Que gracinha! Se ela precisar de uma babá, aqui estou eu. - falou enquanto sorria, fazendo assentir e sorrir também. Ela realmente adorava crianças.
's POV
Uma palavra que resumia minha semana é: doida.
agiu como uma garotinha fugindo de um palhaço, ela nem mesmo olhava para mim. Assim que conversamos sobre o ocorrido entre nós, me senti aliviado. Eu realmente havia gostado de beijá-la, poderia até mesmo repetir o ato, mas isso a deixaria confusa. Depois que soube que ela foi iludida por um babaca qualquer, não podia brincar com ela. Amor é algo que nunca viria da minha parte, então deixar claro que aquilo foi um erro foi o certo a se fazer.
havia se oferecido para o trabalho de babá de Sophia e assim que chegou segunda feira, fui decidido a conversar com a garota sobre isso.
Cumprimentei o pessoal, menos , que não estava presente. Estávamos indo para nossas salas, então criei coragem para falar com .
- Ei, preciso te pedir algo! Será que você pode cuidar da minha irmã por um tempo? - perguntei nervoso. Se Sophia conseguisse uma babá facilitaria muita coisa.
- É claro que eu posso! Você prefere que eu a busque na sua casa? - sua empolgação quase me assustou, mas eu estava ocupado reparando em sua beleza.
- Não precisa. Eu deixo ela na sua casa às cinco e busco às nove, tudo bem? Depois você me diz quanto vou ficar te devendo por isso.
- Tudo bem. Afinal, qual é o nome dela? - perguntou ainda sorrindo. Ela gostava de crianças mesmo, dava até para ver o brilho em seus olhos.
- Sophia. Obrigada, de verdade!
- Não precisa agradecer, vai ser divertido! Mas agora vamos pra sala. - falou entrando na mesma, e eu estava seguindo seus passos, mas parei ao ouvir meu celular tocar novamente.
- Mas que droga, me deixe em paz, eu não quero mais ouvir sua voz! - gritei impaciente e desliguei de uma voz, não dando oportunidade para aquela pessoa falar nada.
Assim que olhei para frente, estava em frente à sala, me encarando. Ela só aparece em momentos assim ou é o famoso destino?
- Eu falo sério quando digo que se você precisar de ajuda, é só dizer! Aprendi que se você deixar as pessoas te conhecerem, você pode se surpreender. - ao terminar, mordeu o canto da boca. Eu realmente gostaria de poder beijá-la naquele instante.
Não, eu não precisava de ajuda, e não, não gostaria de me surpreender com nada. Já bastam as surpresas desagradáveis que a vida nos dá.
- Você não entendeu que eu não preciso de ajuda? Meu Deus, pare de ser chata.
Aqueles olhos cobertos de decepção fizeram com que eu me arrepiasse novamente. Ela apenas entrou na sala e entrei em seguida. estava conversando com a mesma, que estava claramente emburrada. Eu não entendia o porquê de ser tão grosso com , acho que ter alguém disposto a me ajudar acabava me deixando nervoso. Eu passei a vida inteira passando por perrengues sozinho, então por que precisaria de ajuda logo agora?
Assim que cheguei em casa, fui para o quarto de Sophia, que estava desenhando algo.
- Ei, se arrume, arranjei alguém para cuidar de você. - peguei sua pequena mochila, arrumando algumas coisas lá dentro.
- Você vai me abandonar, assim como o papai fez com a gente? - arregalou os olhos, parando de desenhar no mesmo instante. Aquela frase fez com que todas as partes do meu corpo parassem. Ouvir aquilo de uma criança de 8 anos era triste. Mas eu não sentia tristeza, apenas raiva.
- Não Sophia, não vou te abandonar. E você tem que me prometer que não vai contar nada sobre nossa vida para a babá, ok? Ela é bem legal, você vai gostar dela. - tentei mudar o rumo da conversa, tentando fazer com que ela esquecesse aquilo.
Estacionei o carro na frente da casa de , tirando Sophia do mesmo. Parei em frente a porta e toquei a campainha, que foi aberta rapidamente.
- Olá! Essa deve ser a Sophia, não é? - se abaixou para falar com a pequena.
- Eu mesma! - Sophia sorriu. Eu adorava aquilo nela, mesmo já tendo passado por tanta coisa, sempre foi uma criança alegre.
- Aquele carro é... Seu? - perguntou enquanto erguia o pescoço para olhar melhor.
- É.
Entreguei a bolsa de Sophia para a garota, e assim que me olhou, fez uma pergunta que eu não esperava.
- Você está bem? Já percebemos que você nunca fala muito, não te conhecemos muito bem, mas se quiser falar qualquer coisa, de verdade, estou aqui.
Aquela frase me lembrou . Ela tinha aquele jeito acolhedor mesmo depois das minhas grosserias. E não era diferente. O que essas garotas tinham, afinal? Ninguém fica tão disposto para ajudar alguém a troco de nada. Mas não podia negar que aquilo era gostoso de ouvir.
- Eu tô legal, sério. Até mais tarde, e se comporte Sophia. - ordenei, me despedindo rapidamente, com pressa para fazer o que eu estava planejando há tempos.
Estacionei o carro o mais longe possível e comecei a caminhar até meu destino. Bati na porta algumas vezes, até ser aberta.
- Quem é vivo sempre aparece! Entra aí. - Dan sorriu animado, com uma garrafa de cerveja na mão, dando espaço para eu entrar em sua casa.
- Preciso de uma informação, Dan. Você sabe aonde Richard está? - fui direto ao ponto sem vergonha nenhuma.
- Cara, seu pai? Não o vejo desde... Você sabe. - respondeu sentando em uma poltrona. O lugar não era tão organizado, mas dava pra viver.
- Não diga que aquele merda é meu pai! Ele anda me ligando, mas nunca diz aonde está, eu preciso saber, Dan! - gritei nervoso. A palavra "pai" simplesmente não existia para mim.
- Foi mal. Não sei aonde ele está, mas provavelmente esteja fazendo suas cagadas em outro lugar. - Dan riu, e não pude deixar de acompanhar sua risada.
- Se você souber de algo, me avise! Agora já vou, foi bom ver você, Dan! - demos um abraço forte com direito a tapinhas nas costas. Um clássico.
- Seu pai é um merda, mas você não. Eu te deixo informado se souber de algo, e se cuide. - falou sério, abrindo a porta e me acompanhando com os olhos.
Entrei no carro, respirei fundo e abaixei a cabeça. Não é possível que o inferno vai começar novamente. 's POV end
Toquei a campainha da casa de e esperei. Saí mais cedo do trabalho e avisei que passaria em sua casa. Assim que abriu a porta, estava com a cara toda borrada de maquiagem.
- Você sabe que batom é na boca e não na bochecha, certo? - cerrei os olhos, prendendo o riso. Assim que abriu a boca para responder, uma garotinha encostou-se a porta.
- Oi, meu nome é Sophia, e o seu? - a garotinha perguntou sorridente enquanto segurava uma bolsinha com maquiagens. Agora tudo estava explicado.
- Eu sou a ! Foi você que deixou a bonita desse jeito? - perguntei de forma inocente, recebendo um dedo do meio discreto de .
- Uhum! - respondeu animada e orgulhosa de seu trabalho.
Entrei e sentei no sofá junto com , que ainda estava borrada de maquiagem.
- Eu pensei que você só estava cuidando dos filhos da sua vizinha. Quem é a garotinha?
- hoje de manhã me pediu para ser babá da sua irmãzinha e eu aceitei. Só que ele só vem pegá-la às nove, então ela fica aqui mais tempo. - explicou.
Observei a garota de longe, que agora estava juntando seus brinquedos. Ela tinha os traços de .
- Ela é linda. - falei enquanto ainda a observava.
- E bagunceira também. - apontou para o próprio rosto, o que me fez rir.
- Vá se limpar, você está ridícula. - falei baixo, para não correr o risco de Sophia ouvir.
Levantou e subiu as escadas até o banheiro para se limpar, enquanto isso me aproximei de Sophia e sentei ao seu lado.
- Então você é a famosa irmãzinha do ? Já falei com você no telefone, lembra?
Eu queria apertá-la por ser tão fofa.
- Lembro sim! Você é amiga do meu irmão? - perguntou sem olhar para mim, estava concentrada demais em seus brinquedos.
Aquela pergunta afrouxou meu sorriso, mas respondi rápido.
- Mais ou menos.
Segundos depois, a campainha tocou. Caminhei até a porta e assim que abri, lá estava ele.
- Oi. - falei sem graça. estava com cara de cansado, o que quase me fez perguntar o motivo.
- Oi. Cadê a ?
- Sua irmã lotou a cara dela de maquiagem, ela está se limpando. - segurei o riso.
- Sophia não tem jeito! - quase riu ao terminar de falar.
A pequena veio correndo, abraçando as pernas do irmão.
- Você não me abandonou mesmo! - falou enquanto a pegava no colo.
- Claro que não, coisinha.
Aquilo foi uma cena adorável de se ver. Fui até a sala e peguei a mochila de Sophia, logo em seguida entreguei para .
- Boa noite. - falou já dando as costas e indo em direção ao carro.
- Ei, esse carro é seu? - gritei alto o suficiente para que ele ouvisse.
gargalhou e me olhou.
-Acabei de roubá-lo! Até amanhã.
Olhei o carro se afastando e suspirei. tinha uma irmã, um carro, coisas que a maioria dos adolescentes tem. Mas o que eu realmente gostaria de saber é: o que ele tinha por dentro, em seu coração e em sua mente.
Não entendia minha própria curiosidade, mas eu realmente queria saber daquilo e estava disposta a descobrir.
“Algumas guerras nunca terminam. Algumas acabam em tréguas desconfortáveis. Algumas guerras resultam em total e completa vitória. Algumas guerras acabam com paz. E algumas guerras acabam com esperança. Mas todas essas guerras são nada comparadas com a mais assustadora de todas: aquelas que você ainda tem que lutar.”
Murmurei alguns palavrões enquanto corria até chegar à escola. E mais uma vez, eu estava atrasada. Depois de 20 minutos de atraso, não era permitido entrar na sala, então apenas sentei em algum canto do pátio, esperando a segunda aula. Coloquei meus fones e uma música qualquer começou a tocar.
O motivo do meu atrasado foi a decepção da minha vida: meu pai. Que por sinal, resolveu dar um belo chilique logo cedo e conseguiu até me bater. Olhei meus braços rapidamente e estavam vermelhos por conta do acontecimento e por cortes recentes. Suspirei e encostei minha cabeça na parede. Meus olhos estavam fechados e eu estava focada na música que estava ouvindo, até sentir alguém sentando ao meu lado. Abri os olhos lentamente e lá estava .
- Olá - decidi tentar puxar assunto, mas não obtive resposta - Bom dia. - tentei novamente. estava me olhando, porém não respondia.
Olhei para frente e respirei fundo. Passamos o tempo todo assim, até bater o sinal e irmos para a sala.
- Pensei que tivesse faltado, já estava preocupado. - disse em tom apreensivo, me dando um beijo na testa.
- Você não vive sem mim, não é mesmo? - perguntei risonha.
As aulas foram totalmente chatas, quase não tinha ouvido nada, até chegar a aula de artes.
- Bom dia alunos! Tenho boas e más notícias. A boa, é que nossa escola foi premiada com um passeio para um museu em uma cidade próxima daqui, com tudo pago, e exclusivamente para os últimos anos. A notícia ruim, é que iremos na sexta feira que vem, bem cedo, e voltaremos no domingo à noite, ou seja, sem nenhuma festa para vocês durante o fim de semana, incluindo você, ! - o professor terminou de falar, fazendo todos nós cairmos na gargalhada. A fama de baladeiro de era conhecida por todo canto.
- E quem não quiser ir? - perguntou Callie, com uma expressão decepcionada.
- Você vai perder basicamente 80% da sua nota. Esse passeio é importante, vocês terão que ir. - o professor respondeu autoritário. Callie parecia derrotada, cruzou os braços e bufou.
Assim que a aula acabou, eu e as garotas decidimos bater perna pelo pátio, respirando um ar fresco.
- Por que você pareceu tão decepcionada com o passeio? Parece ser interessante, creio que vai ser legal. - falei enquanto colocava a mão no saco de salgadinho que estava na mão de .
- Eu e o ... Íamos sair. Agora não vai dar mais por causa desse passeio idiota. - Callie respondeu brava, chutando as pedrinhas do chão.
- Mas sair vocês podem sair sempre, doida. - se intrometeu, com a boca cheia de salgadinho.
- Ew, sua porca! - Callie olhou enojada para a garota - Mas não íamos sair pra um lugar comum... Íamos fazer algo diferente, entendem? - Callie ainda chutava as pedrinhas no chão, nos dando um olhar malicioso e sem graça ao mesmo tempo.
- Ué! Um lugar diferen... Ai meu Deus! Vocês iam...? Sério? - arregalou os olhos, tentando controlar seus risos.
- Fale baixo, sua babaca! Sim, isso mesmo, íamos passar a noite num motel e blá blá blá. - Callie explicou enquanto tapava a boca da garota com a mão, impedindo algum escândalo.
- Eu não precisava saber que você e meu primo iriam transar a noite toda, obrigada por compartilhar, lindinha! - falei com certo cinismo, porém bem humorada.
- Perdão! - riu, me abraçando de lado.
Andei até chegar em meu trabalho, ensaiando como dizer para meu chefe que faltaria na próxima sexta-feira por conta do passeio.
- Ei George! Posso falar com você um instante?
- Claro! O que houve? Você não vai pedir as contas, vai? - perguntou desconfiado.
- Jamais! É que na minha escola vai ter um passeio sexta-feira da semana que vem e eu preciso ir, vale mais da metade da nota. Mas iremos na sexta-feira de manhã, não vou poder vir para cá.
- Oh, querida, vá sem problemas, estudar é importante! - falou risonho, e sua simpatia até me fez esquecer o meu motivo de ter ficado tão nervosa para contar aquilo.
- Obrigada George, mesmo!
Abri a porta de casa lentamente e encostei-me a porta. Fechei os olhos e respirei fundo. Só de pisar naquele lugar já me trazia um desconforto gigantesco.
Estava subindo as escadas e chegando em meu quarto, até ouvir soluços vindo do quarto ao lado. Abri a porta lentamente e me deparei com minha mãe sentada no chão chorando, o que não era novidade.
- O que aconteceu dessa vez?
- Filha! - falou com dificuldade no meio de seus soluços. Assim que levantou a cabeça, percebi que seu rosto estava sangrando e seus braços estavam marcados.
- Mãe, levante! Vem cá, eu te ajudo! - arregalei os olhos e rapidamente me aproximei para ajudá-la, estendendo minha mão para ela levantar. Aquilo cortava o meu coração em pedaços que eu nunca poderia contar.
- Por favor, fique o mais longe dessa casa que você puder, seu pai está ficando cada vez mais perigoso e eu não quero vê-la neste estado! - seus soluços atrapalhavam sua fala, e aquilo me deixava mais aflita a cada instante.
- Você precisa fazer algo, por mim e por você! Mãe, por favor, a gente poderi... - fui interrompida com batidas na porta, até vê-la sendo aberta brutamente. Lá estava ele, bêbado e claramente drogado.
- O que é que você quer? Você já não machucou gente o suficiente hoje? - gritei enquanto segurava as lágrimas. Só de olhar para ele naquele estado, o ódio invadia meu corpo.
- Parece que falta você, filhinha! - riu de maneira divertida enquanto vinha em minha direção, acertando um tapa em meu rosto, me fazendo cambalear.
Aquilo fez com que meu ódio aumentasse e simplesmente sem pensar, tentei chutá-lo e estapeá-lo, mas fui agarrada pelas mãos, sendo empurrada para longe. Seu olhar cheio de ódio fazia com que eu me arrepiasse da cabeça aos pés.
-Você vai aprender a nunca mais tentar me enfrentar.
***
Parei e observei a escola, puxando as mangas da blusa até conseguir segurá-las nas mãos e me olhei pela tela do celular. Nada que uma boa maquiagem não resolvesse marcas deixadas pelo acontecimento da noite anterior. Avistei o pessoal e me aproximei, mas na verdade, gostaria de estar em qualquer lugar menos ali, e sozinha de preferência, mas nada é como queremos.
Senti um beijo em minha testa vindo do meu primo, óbvio. Encostei-me em seu ombro e fechei os olhos, apenas ouvindo a conversa do pessoal.
- Precisamos conversar depois. - ouvi a voz de soar baixo em meu ouvido e apenas assenti. Não vou negar que aquilo me fez gelar. Ouvir tal frase sempre dá um medinho.
O sinal tocou e todos estavam indo para a sala.
Parei. Pensei. Respirei.
Eu não estava com saco para enfrentar uma aula de matemática logo agora. Desviei o caminho discretamente, indo para a sala de teatro discretamente e coloquei meus fones. Ficar sozinha por um tempo era tudo o que eu precisava.
's POV
Aquela aula de matemática conseguia ser mais chata do que eu. Olhei para frente e ela não estava lá. obviamente tinha decidido matar aula e eu deveria ter feito o mesmo. Abaixei a cabeça para tirar um cochilo, aquilo já tinha enchido o meu saco.
- ! Veio aqui para estudar ou dormir? - o professor estava em frente à minha mesa, me encarando com um olhar sarcástico.
- Gostaria de estar dormindo, obrigado. - respondi debochado.
- Você pode dormir na sala do diretor, o que acha? Ande. Se retire da minha aula agora e só entre aqui quando estiver disposto a aprender! - falou autoritário, andando até a porta e abrindo a mesma, me convidando educadamente a me retirar dali.
Segurei o riso e levantei, saindo da sala. Ele precisava mesmo fazer aquele show?
Fui até a sala de teatro discretamente. O caralho que eu iria para a direção, né?
Lá estava ela, sentada e com as pernas encostadas na cadeira da frente e com os fones no volume máximo. Sentei em algumas cadeiras atrás, coloquei meus fones também e aproveitei o "descanso" que havia conseguido.
Quantas vezes já olhamos para alguma pessoa e tentamos adivinhar qual era sua história de vida, seu sofrimento e suas decepções? Pois eu fazia isso o tempo todo, e no momento, tentava adivinhar como a vida da garota sentada em minha frente era.
Aquilo podia ser considerado um bom passatempo, já que passou tão rápido e em um piscar de olhos o sinal para a segunda aula tocou. A garota levantou primeiro e assim que me viu, deu um pulinho de susto e aquilo acabou sendo engraçado. Muito.
- Puta. Que. Pariu! Que merda você está fazendo aqui? - perguntou com os olhos arregalados enquanto sentava novamente, se recuperando do susto.
- Fui expulso da aula e vim pra cá, só isso. Acho que precisamos ir.
Ela sorriu sem mostrar os dentes e começamos a caminhar até a saída, e assim que abrimos a porta, Jackson e seus amigos estavam pegando seus devidos materiais para a próxima aula. Merda.
- Olha só, com uma garota na sala de teatro, que danadinho! - Jackson zombou, fazendo seus amigos imbecis rirem daquilo. rolou os olhos e o ignorou, e eu fiz o mesmo, andando pelo corredor com ela ainda ao meu lado, até ouvir a voz de Jackson novamente.
- E sua mamãe? Ainda louca?
Fechei os olhos rapidamente e dei alguns passos para trás até agarrá-lo e grudá-lo em seu armário. 's POV end
Mal pisquei e já estava com Jackson grudado no armário. Falar sobre sua mãe não era seu assunto preferido pelo jeito. Os dois estavam trocando provocações até começarem a se bater de verdade, e simplesmente sem pensar, corri até eles gritando.
- Mas que inferno, parem com isso!
O corredor estava enchendo cada vez mais, todos se aproximando para assistir a briga, que estava cada vez pior.
- Segure o amigo de vocês, porra! - gritei impaciente para os amigos de Jackson, que arregalaram os olhos ao ouvir meu grito. Bando de maricas!
, e correram para segurar enquanto os amigos de Jackson o seguravam também.
- Você é um merda, ! Não aguenta ouvir nada que não te agrade, não é? - Jackson limpava o sangue que escorria de seu nariz.
tentava se soltar dos braços de , gritando tantos palavrões que eu nem sabia que existiam tantos assim. Me aproximei e fiquei em sua frente, o olhando nos olhos.
- Ei, preste atenção em mim! Chega! Jackson é um babaca, brigar com gente como ele não vale a pena! - falei sorrindo sem mostrar os dentes, colocando minhas mãos em seus ombros, tentando acalmá-lo.
- Eu posso saber que baixaria é essa? Alguém pode me explicar? - a voz do diretor fez com que quase todos parassem de falar - Vocês dois, na minha sala agora!
- Mas Jackson que o provocou! - protestei brava.
- Ta tudo bem, o máximo que vai acontecer será eu ficar na detenção ou alguns dias de suspensão. - respondeu baixo, apenas para que eu ouvisse.
O resto do dia foi uma bela porcaria, estava doida para deitar em minha cama e dormir até 2037. Assim que estava indo embora, ouvi alguém me chamar. .
- Ei, precisamos conversar, lembra? - perguntou com uma expressão não tão boa, o que já me fez tremer na base.
- Ah sim. Pode ser a noite? Eu ainda trabalho e tudo mais. - falei rindo, tentando ser engraçada, porém falhei.
- Tudo bem, pracinha ás oito, até mais. - respondeu ríspido e se afastou.
Para estar daquele jeito, algo tinha acontecido. Algo realmente sério.
's POV
- Eu estou bem, vó! Foram só alguns socos, relaxa! - repeti a mesma coisa que estava falando há minutos, enquanto segurava uma bolsa de gelo no rosto.
- Se estivesse bem, não estaria neste estado! Eu deveria te dar uns petelecos por ficar brigando na escola. Aonde já se viu? Um rapaz grande desse jeito brigando feito um moleque? - perguntou indignada, se sentando ao meu lado.
- Eu vim aqui para conversar com a senhora, não para levar bronca!
Minha vó, ou minha segunda mãe, como eu prefiro pensar. Eu amava passar o tempo com ela, o único problema é que ela mora horas de distância de Charlotte, o que dificultava minhas visitas.
- Perdão meu amor, pode falar!
- Sexta-feira eu terei um passeio da escola, só voltarei domingo e preciso ir. Não posso deixar Sophia com minha mãe e você sabe por que... Será que eu posso deixá-la com você? - fiz a minha melhor expressão de cão pidão para convencê-la mais rápido.
- Mas é claro! Estou morrendo de saudades daquela danada, há tempos não a vejo! Pode deixar, eu cuido dela direitinho! - se manifestou animada, sorrindo até a testa.
- Obrigado vó, de verdade! Agora vou embora, preciso levar a Sophia para a casa da babá.
Entrei rapidamente em casa, logo notando o som alto do choro de Sophia, o que me fez praticamente voar até seu quarto.
- Soph... MÃE? O que aconteceu??? Mãe?
Sophia estava sentada num canto do quarto, chorando sem parar, enquanto minha mãe estava desmaiada em sua frente, com seu frasco de remédios vazio em sua mão direita. Aquilo não podia estar acontecendo.
- Sophia, fique lá embaixo, tudo bem? Ela vai ficar bem, eu juro! - tentei parecer o menos nervoso possível, tirando o celular do bolso rapidamente e ligando para a ambulância.
Carolinas Medical Center.
- Parentes da paciente Elena ? - um médico baixo, com cabelos brancos e óculos perguntou alto para identificar quem eram os parentes de Elena, no caso, só eu e a pequena Sophia.
- Eu, doutor! Ela é minha mãe, como ela está? - perguntei nervoso e apreensivo, segurando a mão de Sophia, que estava agarrada em minha perna.
- Bem, sua mãe tomou uma grande dose de remédios que não são recomendáveis na proporção tomada. Creio que isso tenha sido uma decisão tomada em um momento de desespero. Ela está desacordada mas ficará bem. Fizemos uma lavagem estomacal, mas ela passará a noite aqui só para termos certeza que ficará bem. - detalhou a situação com seriedade, mas sorriu ao terminar.
- Tem mais alguma coisa que eu precise saber?
- Se ela fizer esse tipo de coisa novamente, pode prejudicar os rins, o fígado e até o cérebro. Sua mãe precisa de descanso, atenção e amor, nada melhor que isso! Você já pode vê-la, mas como eu disse, ela está desacordada. - respondeu simpático.
- Vou para casa ajeitar umas coisas e volto para passar a noite aqui. Obrigado doutor, de verdade! - agradeci com um aperto de mão, observando ele se afastar.
- A mamãe vai ficar bem? - Sophia estava com os olhos cheios de lágrimas.
- É claro que vai, você vai ver! Vamos cuidar dela juntos, tudo bem? Agora vem aqui, que hoje eu te carrego no colo! - respondi enquanto a pegava no colo, ouvindo sua gargalhada fraca.
Eu me sentia terrível por não conseguir proporcionar uma infância melhor para Sophia. Gostaria de poder dar mais atenção para ela, levá-la em parques e toda aquela coisa que irmãos deveriam fazer juntos.
Peguei meu celular e disquei o número de .
- Ei , eu já estava preocupada! Você não vai trazer Sophia hoje ou está atrasado? – disparou a falar, parecendo realmente preocupada.
- Aconteceu um imprevisto e não consegui levá-la. Vou ter que dormir fora hoje e a levarei comigo, então você está livre de Sophia por hoje! - ri, tentando disfarçar o nervosismo.
- Poxa, eu adoro essa garotinha, ela alegra meu dia. Mas afinal, o que houve? Posso ajudar em algo?
- Nada importante, agora vou desligar. Amanhã você a terá pra você a tarde toda.
Qual é a desse povo e "posso ajudar em algo?" e coisas do tipo? Eu realmente não consigo me acostumar com esse tipo de pergunta.
Olhei para Sophia rapidamente e não pensei em mais nada. O resto da tarde seria só nós dois e passaríamos a noite no hospital. E como sempre, eu estava só. Eu não tinha aquele amigo que estava ali por mim e pra mim, não tinha uma família que viria correndo para o hospital ver como minha mãe estava.
Valeu aí, universo, por essa sorte grande! 's POV end
Sentei no balanço velho da pracinha esperando por , que estava alguns minutinhos atrasado. Olhei para o céu e havia algumas estrelas ali. O universo é tão grande, tão cheio de coisa, que realmente não somos nada nesse mundo, estamos apenas vivendo para morrer. Não é como se todos fossem se lembrar de você por algo que você fez, a menos
que você seja presidente de algum país ou um Osama Bin Laden da vida. Eu não serei nenhum dos dois, ou seja, eu realmente estou só vivendo para morrer. Fui despertada daqueles pensamentos doidos assim que vi meu primo se aproximando e se sentando no balanço do lado.
- Desculpe o atraso, os garotos estavam em casa e acabei perdendo noção do tempo, mas enfim... Posso te fazer uma pergunta?
Como causar medo, desespero e um possível ataque cardíaco em alguém: faça essa pergunta.
- Claro. - respondi com o nervosismo bem aparente em minha voz.
- Sei que as coisas desandaram um pouquinho com esse meu lance com a Callie, nossa mudança de escola e eu estar mais junto com os garotos, mas você sabe que somos eu e você em primeiro lugar, certo? Te conheço desde sempre e sei quando tem algo errado, até quando você usa muita maquiagem, mesmo sabendo que não precisa. Aconteceu algo? - terminou de falar me encarando com seu olhar analítico. Meu coração disparou conforme suas palavras saíam de sua boca. Ele realmente sabia quando algo estava errado.
- Me desculpe por não te contar sobre isso, mas eu pensei que talvez fosse melhor assim, sabe? Você sabe como meu pai é, e bem, está pior. - tentei continuar porém não conseguia, simplesmente não conseguia, estava com um nó na garganta que me impedia.
- O que ele anda fazendo com você? - levantou levemente alterado, não gostando do rumo que a conversa estava tomando. Estendeu a mão, me fazendo levantar também.
- A maquiagem é pra esconder o que resta depois que ele me bate e eu... Eu queria que... Eu queria um pai de verdade. - senti as lágrimas descendo pelo meu rosto e logo em seguida os braços de me envolvendo no melhor abraço que eu poderia receber naquele momento.
Dizem que o único lado bom da queda livre é dar, a quem nos ama, a chance de nos pegar no colo. No meu caso, contar a verdade e receber um abraço daqueles é o melhor que posso ter.
- Está tudo bem, você está aqui comigo, pode chorar o quanto quiser, eu estou aqui pra você - falava enquanto me abraçava cada vez mais forte e mexia em meu cabelo - Por que você não me disse antes? Temos que fazer algo! - soltou meu rosto lentamente, limpando as lágrimas de meu rosto.
- Eu não sei. Eu queria poder acreditar que uma hora tudo irá melhorar, mas não melhora nunca, então eu simplesmente aceitei. Ele é alcoólatra e agora drogado, eu não sei o que fazer em relação a isso. - respondi desesperadamente, atropelando minhas próprias palavras com a cabeça baixa, tentando engolir o choro.
- Drogado? - gritou bravo - Você não fica nem mais um dia naquela casa, e eu estou falando sério! - mudou sua expressão completamente. Estava com raiva, muita raiva.
- Por mais que eu queira muito sair de lá, eu não posso simplesmente largar minha mãe! Ela vai sofrer tudo isso sozinha e eu não posso deixar isso acontecer. - finalizei ainda mais desesperada, imaginando por breves segundos o quanto minha mãe sofreria sozinha em casa.
- Você vive com uma pessoa que só está te machucando, eu não posso deixar isso acontecer! Você precisa de um descanso disso tudo e você pode ver sua mãe quando ela estiver sozinha. Mas por enquanto, você vai ficar na minha casa e assunto encerrado! - finalizou autoritário, me abraçando forte novamente.
A dor em meu coração era tremenda, por mais que eu tentasse afastar aquele sentimento dali. Mas às vezes é inevitável. E é só o que nos resta: Sentir a dor.
"Ser feliz hoje é mais importante do que ser feliz pra sempre."
- Bom dia, flor do dia.
E lá estava ela, a boa e velha - não tão velha - dona Márcia, mãe de .
- Bom dia, tia! - falei animada, me sentando na cama.
Sim, realmente falou sério quando disse que eu ficaria em sua casa.
- Como você está, meu amor? Dormiu bem?
- Estou bem, dormi como um anjinho! Sinto que toda cama é melhor que a minha. - respondi rindo - Estou preocupada com a minha mãe, na verdade.
- Você está aqui há uma noite e já está preocupada? Conversamos com ela ontem, e ela deixou você ficar aqui numa boa. Vocês podem se ver à noite! Fique tranquila pois só queremos o seu bem! Inclusive, vamos descer para tomar café para ir firme e forte para a escola. - estendeu a mão animada.
- Ta explicado porque está tão gordo, olha só o banquete que ele tem logo de manhã. - observei a mesa do café da manhã, sentindo meus olhos brilharem ao ver toda aquela comida.
- Isso se chama ser saudável! - adentrou a cozinha, dando um sorriso maravilhoso.
A campainha estava tocando e Márcia foi atender. Quem tocava a campainha de alguém essa hora da manhã?
- Olha só se não é o meu filhão e a sumida! - Chris, pai de , havia acabado de chegar, e corremos feito criança para abraçá-lo.
Tio Chris trabalha viajando e já estava longe há quase 2 meses.
- Como foi de viagem? - perguntei animada, esperando ouvir uma longa e bela história, já que ele viajava para lugares maravilhosos sempre.
- Foi muito boa, creio que uma das melhores, fechei um bom negócio. Mas não vamos falar sobre isso, me contem, como vocês estão? - mudou rapidamente de assunto, recebendo um abraço apertado da esposa.
- Eu estou bem, pai. vai ficar aqui em casa por um tempinho, então não estranhe se a comida acabar rápido demais. - riu ao terminar de falar, fazendo os pais gargalharem e acabei me rendendo às risadas. Eu realmente comia pra caramba.
- Crianças, está na hora de vocês irem para a escola, nos vemos a noite. Boa aula, e se comportem! - Márcia disse como se estivesse conversando com duas crianças de 10 anos.
Chegamos na escola e só Callie havia chegado. Parabéns para mim, sempre de vela.
- Bom dia, ! - me deu um beijo estalado na bochecha.
- Olá. Cadê o resto?
- chegou! - apontou para o mesmo, que dava passos lentos e desanimados.
- E aí, que cara é essa? - perguntou para , que assim que chegou, sentou.
- Péssima noite de sono. Tô precisando de uns 20 litros de café. - respondeu coçando os olhos como uma criancinha.
- Tem aquela tia do outro lado da rua que vende tudo, até café, por que você não vai lá com a ? - perguntou sorrindo de maneira inocente e maliciosa ao mesmo tempo. Eu estava sendo indiretamente expulsa dali, valeu, priminho!
- Quantas manhãs eu passei morrendo de sono e você não me falou dessa bendita tia que vende café do outro lado da rua? Callie, me desculpe, mas irei matar seu namorado! - revelou seu bom humor, nos fazendo rir mesmo em meio a todo aquele sono que ele dizia estar sentindo.
Caminhamos lado a lado e eu ainda estava rindo. Aquilo às vezes era vergonhoso, quando a coisa já perdeu a graça e você é a única que ainda está rindo.
- Como assim você ainda está rindo? Nem foi tão engraçado assim!
- É que você sempre está sério, ver você sendo engraçado foi... Engraçado. - controlei meus risos, respirando fundo até parar de vez.
havia comprado dois cafés e os tomado em menos de 10 minutos. Estávamos do lado de fora da escola, apenas observando o vai e vem do pessoal.
- Você vai fazer o que depois da escola? - perguntei de repente, apenas para tentar puxar assunto.
- O mesmo de sempre. Por que? Está querendo ver se eu estou livre para me convidar pra sair? - arqueou uma sobrancelha e sorriu sem mostrar os dentes.
- Quê? Eu? Nã... Não! - respondi sem graça enquanto ele ria fraco daquilo.
- Você às vezes é bem engraçadinha. E você, o que vai fazer depois da escola?
- O mesmo de sempre. Trabalhar.
- Você e a são as únicas decentes desse grupo, as únicas que trabalham. Vamos todos ser empregados de vocês duas desse jeito.
- Mal posso esperar para ver todos vocês lavando meus panos de chão!
O dia havia começado de uma maneira tão bacana que aquilo estava sendo surpreendente. , e estavam chegando e pararam ao nosso lado, nos cumprimentando. Estávamos entrando na escola todos juntos até uma garota esbarrar em , claramente de propósito.
- Me desculpe, lindinho! - a garota sussurrou, piscou e continuou andando. Eu e nos olhamos rapidamente e caímos na gargalhada e nos acompanhou, mas estava séria, olhando para o melhor amigo, indignada.
- O que foi isso? - cruzou os braços.
- Eu não sei, nem sei quem é ela. - respondeu de maneira inocente, tentando segurar o riso.
- É uma garota do segundo ano, não sei o nome dela e nem me interessa. Era só o que faltava, essas garotas ficarem arrastando a asinha para o seu lado. - descruzou os braços e rolou os olhos.
- Ta arrasando hein, lindinho! - falou no ouvido de em tom de brincadeira.
Depois de todas as aulas chatas que teve no dia, finalmente a aula favorita de todo mundo: educação física. Era a favorita dos garotos porque sempre rolava o bendito futebol, coisa que eles amavam, e as garotas sempre ficavam apenas conversando ou jogando algum jogo bobo. Fomos todos interrompidos quando o professor pediu um pouco de atenção e começou a falar.
- Pessoal, eu tenho um comunicado a fazer para as garotas. Teremos nossos testes para líderes de torcida à partir da próxima aula. Isso mesmo, teremos nossas líderes de torcida esse ano com os pompons para o alto no campeonato animando todos nós. Vocês terão essa aula livre para conversar sobre isso e na próxima aula começam os testes. Boa sorte! E agora, vamos lá, rapazes, bora treinar!
- Não acredito, ai que maravilha! - Callie sorriu e deu pulinhos de felicidade com o comunicado, fazendo com que eu e nos olhássemos sem entender.
- Você está doida? São testes para um grupinho bobo de líderes de torcida, eu nunca participei dessa baboseira e você está assim toda animada.
- Eu era a líder na minha antiga escola! Fiz ballet minha vida todinha, sempre me inscrevi pra isso que você chama de baboseira. Qual é, você não gosta de dançar nem nada? - minha crítica não abalou animação.
- Você fez ballet, isso é bonitinho! E bem, eu danço feito um patinho, isso não rola pra mim. Mas sabe dançar que eu já vi, então boa sorte para vocês duas. - tentei encerrar o assunto.
- Eu fiz aulas de dança por um bom tempo, . - mordeu os lábios. Eu era definidamente a patinha feia do grupo.
- Poxa, é nosso último ano! Temos que fazer isso juntas! Não iremos sem você. - Callie disse decidida enquanto sentava ao meu lado, e sentava do outro.
- Chantagem não vale! - protestei.
- Callie está certa! É nosso último ano, temos que aproveitar e fazer de tudo um pouco. E aliás, a gente vai te ajudar, ! - sorriu animada e esperançosa, aguardando minha resposta.
E eu lá tinha escolha? E afinal, por que não? Eu geralmente me privava desse tipo de coisa, mas só de lembrar que ano que vem eu não estaria mais ali e provavelmente não veria quase ninguém, poderia fazer aquilo apenas para ter uma boa lembrança daquilo tudo.
- Tudo bem, eu topo! - as duas me abraçaram ao mesmo tempo, quase me amassando em meio toda àquela animação.
Assistimos o treino dos garotos e assim que acabou, Callie juntou o grupo e deu a boa notícia.
- Nós três iremos fazer o teste de líderes de torcida!
- Tenho certeza que vão passar todas, ou seja, terei minha namorada, minha prima e minha amiga como líderes de torcida naquelas roupas minúsculas? - cerrou os olhos, aparentando estar com ciúmes.
- Para de ser viado, deixe as meninas! Afinal, aquelas roupas são demais! Já que Callie namora e é do , sobra a para eu beijar, porque com aquela roupinha eu vou acabar não resistindo. - fechou os olhos, fingindo estar pensando naquela cena.
- Tire o olho da minha prima, rapaz. - tentou parecer sério, mas acabou rindo também.
's POV
A campainha tocou e eu já sabia quem era e tive a certeza quando abri.
- Sophia! Senti sua falta ontem, sabia? - abaixei para ficar do tamanho da pequena.
- Também senti saudade, mas foi legal passar o dia com o meu irmão! - respondeu olhando para o mesmo.
Sophia realmente amava o irmão, sempre falava dele, sempre mesmo.
- Ela é toda sua, boa sorte com essa coisinha! Até mais tarde. - falou enquanto dava um beijinho em Sophia e virava as costas.
- Você está bem? - perguntei, enquanto o mesmo virava de volta para me olhar.
- Por que não estaria? - respondeu fazendo outra pergunta. Eu odiava aquilo.
- Me responda você.
- Estou bem, de verdade. E você?
- Bem também. O que você faz durante a tarde? - ousei a perguntar, sem vergonha nenhuma.
- Assalto bancos. Até mais tarde. - riu e deu uma piscadinha, virando o corpo e caminhando até a rua.
Fechei a porta e olhei para Sophia, correndo até ela e enchendo de beijinhos.
- Como você está? Foi passear ontem? - perguntei empolgada, ajudando a pequena a tirar a mochila das costas.
- Eu tô bem! Não fui passear não, tive que ficar no hospital com .
- No hospital? O que houve?
- disse que não posso contar da nossa vida para você.
Oi? Eu entendi bem? Qual era o problema em saber algo sobre eles? que me aguarde!
- Que pena! Mas a gente pode sair hoje, o que você acha? Podemos ir ao shopping comer ou ir ao parque, o que você acha? - decidi mudar de assunto, afinal, seria injusto pressionar uma criança de 8 anos.
- Sério? Eu quero ir ao parque! - respondeu animada, levantando e indo para a porta.
Sorri ao ver aquela cena, Sophia era uma das crianças mais fofas do mundo. 's POV end
Estava saindo do trabalho e indo para casa de , ficar com ela e Callie, que já estava lá. Cheguei em frente à sua casa e toquei a campainha.
- Oi , entra aí, estamos brincando com a Sophia. - Callie abriu a porta, me dando espaço para entrar.
- Oi princesinha, você lembra de mim? - perguntei olhando para Sophia, me sentando ao seu lado.
- Lembro sim! - respondeu vindo em minha direção, me dando um beijo na bochecha.
Ficamos batendo papo e conversando com Sophia, até a campainha tocar. levantou para atender, era . A pequena correu até o irmão, dando um abraço apertado no mesmo.
- Você deveria ficar um pouquinho aqui com a gente, podemos chamar os meninos e ficar batendo papo. - dava opções para o garoto, ainda encostada na porta e do lado de fora.
- Vamos ficar, por favor! Estávamos montando um castelo de lego e não terminamos! Por favooooooor? - Sophia insistia ainda no colo do irmão, que riu e aceitou o convite.
estava ligando para o pessoal enquanto estava sentado no chão ao meu lado com Sophia e Callie no sofá.
- Pera aí, cadê o castelo de lego que você falou? - fez uma busca rápida pelo local, cerrando os olhos para a irmã, que correu e abraçou Callie, que estava gargalhando ao observar aquela cena.
- Não tem nenhum castelo de lego aqui. Por que teria um desses? - me intrometi, rindo da reação do garoto.
- Mas que danada essa menina está! Ficar aqui não está fazendo bem pra ela, vocês estão fazendo minha própria irmã mentir para mim! - falava com falsa indignação em sua voz, e Sophia ria ainda mais.
- , posso falar com você aqui rapidinho? - chamou o garoto, que levantou e foi até ela. Olhei aquilo e era levemente estranho, mas não dei bola. A campainha estava tocando novamente e dessa vez eram os meninos, com certeza. Assim que abri, estavam os três rindo. Rindo até demais.
- O que foi? Também quero rir. - exigi, me encostando na porta.
- Sabe a menina do segundo ano que esbarrou em hoje? Não sei como, mas ela conseguiu o número dele e agora eles estão trocando mensagens. - explicou com o olhar safado.
- O que tem de mais nisso? - perguntei sem entender.
- O que tem de mais no que? - perguntou por trás de mim, convidando todos a entrarem e se acomodarem.
- Caraca , você já é pai e nem contou para nós? - perguntou, olhando para Sophia que estava no colo de Callie.
- Você é tão babaca! - Callie resmungou enquanto jogava uma almofada em - Essa é a Sophia, irmã do .
- Ai que bichinha bonita, ao contrário do irmão. - falou em tom provocativo, porém bem humorado.
- Eu estou morrendo de fome, tem algo pra comer aí? - perguntou, se jogando no sofá.
- Não tem não, melhor pedirmos uma pizza. - respondeu já discando o número da pizzaria em seu telefone.
- Alguém nesse grupo precisa aprender a cozinhar, se não sempre comeremos pizza ou sairemos para comer fora, aí vamos todos ficar obesos e falidos. - se manifestou.
- Aprende a cozinhar você, gatão. - Callie disse debochada.
Depois de muitas palhaçadas e de muita pizza, estávamos prontos para irmos embora.
- Alguém quer carona? - ofereceu sem olhar para ninguém, pegando a irmã no colo.
- Quê? O carro da frente é seu? - parecia confuso e o rapaz apenas assentiu.
-Não acredito! Eu andando a pé feito trouxa e o cara aí tem carro! Me passa essa chave agora pra eu encontrar umas gatas. - pediu com certa indignação na voz, porém bem humorado, nos fazendo rir.
- Leve o para encontrar a nova gatinha dele! - começou com a brincadeira e os garotos riram mais ainda.
- Que gata? - se manifestou séria.
- A menina do segundo ano que esbarrou nele hoje conseguiu o número dele e agora estão trocando mensagens, só isso. - deu os ombros, explicando como se não fosse grande coisa.
- Como assim? Que absurdo! Me deixa ler essa palhaçada! - estendeu a mão pedindo pelo celular com a expressão brava. É, pra ela era grande coisa.
- Ihhhh, a casa caiu hein rapaz, apaga que dá tempo! - gritou rindo.
- Sentou no quiabo hein . - acrescentou.
- Vai dormir de couro quente! - finalizou.
No final de tudo, se rendeu às risadas e deixou aquilo para lá, era apenas ciúmes que rolava entre melhores amigos. Eu e fomos embora, assim como o resto.
Resumidamente, o dia tinha sido ótimo, por incrível que pareça.
Estava deitada pensando em tudo aquilo, quando atingiu meus pensamentos. Se até ele estava bem humorado e fazendo gracinhas, era porque o dia havia sido realmente bom. Sorri com aquilo e decidi dormir, pela primeira vez em muito tempo, sem medo de acontecer qualquer coisa durante a noite.
's POV
O dia foi claramente estranho. Um estranho no sentido bom. Na noite anterior passei no hospital com Sophia e o resto do dia havia sido... Bom?! Quando é que isso aconteceria logo comigo?
me chamou de canto para termos uma conversa rápida sobre qual era o problema em saber algo sobre minha vida ou a vida de Sophia, pois a pequena havia falado aquilo, e eu, como sempre, não dei satisfação nenhuma, afinal, minha vida, meus problemas, e ninguém precisa saber deles.
Fui despertado de meus pensamentos com batidas na porta.
- Eu posso dormir com você hoje? Não estou conseguindo dormir sozinha. - e lá estava ela, em seu pijama roxo e um cachorro de pelúcia na mão nomeado como Toby.
- Claro que pode! - a peguei no colo e coloquei junto à mim na cama, fazendo carinho em seu cabelo.
Nunca tinha gostado da idéia de ter uma irmã, até Sophia chegar. Devo admitir também que mesmo no meio de todo esse caos, ela muitas vezes me fez por a cabeça no lugar, mesmo que não saiba disso. Olhei seu rostinho, com os olhos já fechados e a respiração leve, quase caindo em sono profundo. 's POV end
Os dias passaram voando até chegar o dia de nosso passeio. Eu ainda estava na casa de e estavam sendo ótimos dias, eu realmente me sentia amada ali. Conversei com minha mãe algumas vezes no telefone e ela sempre me dizia que estava tudo bem, mas obviamente não estava e aquilo me fazia sentir culpa por largá-la sozinha naquela casa com aquele monstro. Com esse pensamento, decidi que assim que voltássemos de nossa pequena viagem, eu voltaria para casa.
E lá estávamos todos nós, menos , arrumando nossas malas no ônibus e nos preparando para algumas horas de viagem até chegarmos em nosso destino.
- Eu estou com fome. - resmungou passando a mão por sua barriga.
- Cara, são 8:30 e você já está com fome? - perguntou surpreso, abraçando a namorada por trás.
- Não pode mais sentir fome de manhã? - revidou, forçando sua voz de indignado.
- Pessoal, estão todos aqui? - o professor perguntou alto, parado em frente ao ônibus e tentando observar se faltava alguém.
- Está faltando . - gritei para que ele pudesse ouvir e esperá-lo. Aonde diabos esse garoto se meteu?
Fiquei na ponta dos pés para olhar se ele estava chegando. Infelizmente não saí com uma altura bacana, então subir na ponta dos pés era necessário de vez em quando. Depois de alguns minutos, ele chegou, dando passos grandes até entregar suas pequenas malas e se desculpar pelo atraso.
Entramos no ônibus e infelizmente não ficamos no fundo, o que fez todos sentarem em duplas, ou seja, e , Callie e , estava com uma pessoa que nem ao menos era de nossa sala, mas já estava conversando com a mesma. Rápido, não?
Olhei para e para os dois bancos que estavam ao nosso lado e sentei primeiro, esperando que ele sentasse em seguida, porém, a vida é meio sacana às vezes. Jackson havia brotado do chão e sentado ao meu lado, fazendo levantar as sobrancelhas e apenas observar a cena.
- Já tem gente nesse lugar. - falei ríspida, sem olhá-lo.
- Sério? Não estou vendo ninguém aqui, que pena. - respondeu sarcástico e bufei impaciente. Seu prazer era tirar as pessoas do sério.
- Se você não percebeu, eu vou sentar aí, então se eu fosse você dava o fora. - se manifestou sério, olhando para Jackson, fazendo com que o sorriso na cara do mesmo se desmanchasse.
- já está bravinho logo de manhã? Se acalme cara, pode sentar com a sua amiguinha. - Jackson voltou a sua pose de garoto debochado, levantando e indo para outro assento.
- Por que ele enche tanto o seu saco? - era uma pergunta que eu realmente gostaria de saber a resposta.
- Ele é um babaca, só isso.
- Você mal havia chegado na escola e já tinha brigado com ele. Vocês se conhecem fora daqui? - mordi os lábios, porém sem medo de receber uma resposta grosseira ou algo do tipo. Acho que estava ficando imune àquilo.
- Infelizmente sim.
- Por que você se atrasou? - fiz outra pergunta, quase rindo daquilo.
- Tive que deixar minha irmã com minha avó, ela não mora tão perto, tive que acordar de madrugada para isso. Agora, se você não se importa, posso dormir ou você vai fazer mais perguntas? - me encarou sério, porém não estava bravo.
- Desculpe! Pode dormir, são horas de viagem mesmo.
colocou seus fones e colocou uma música qualquer, e nisso não perdi a oportunidade de cutucar seu braço, fazendo-o tirar os fones e me encarar.
- O que você vai ouvir? - segurei o riso, vendo o garoto rolar os olhos.
- Eu sinceramente acho que deveria ter deixado Jackson sentar com você! Vou ouvir algo até cair no sono, mas aqui tem de tudo um pouco. Se eu te oferecer um fone você vai calar a boca? - me ofereceu um de seus fones, me olhando sério e esperançoso.
Encostamos nossas cabeças no encosto do banco e a música começou. Estava tocando Nothing Else Matters, do Metallica, o que me fez querer dar cambalhotas ali no ônibus mesmo, pois eu realmente amava aquela música, mas apenas surtei por dentro e curti o som. Depois dessa, tiveram outras músicas muito boas por sinal. O rapaz havia acabado de ganhar um ponto a mais comigo, mesmo isso sendo irrelevante em sua vida.
O professor anunciou a chegada em nosso destino, e todos começaram a se mover. Olhei para o lado e estava simplesmente des-mai-a-do. O coitado ficou acordado até a quarta ou quinta música, creio eu, e depois disso dormiu como um anjinho, tanto que estava com a cabeça apoiada em meu ombro. Olhá-lo daquele jeito, tão em paz, tranquilo, me dava até dó de ter de acordá-lo.
- Ei, chegamos! - sussurrei em seu ouvido e ouvi resmungos como resposta, como se fosse uma criança de 7 anos se recusando a levantar da cama - ... Acorde! - falei um pouco mais alto, percebendo que havia acabado de chamá-lo pelo seu provável apelido, até o mesmo levantar lentamente e me olhar com os olhos pequenos.
- Foi mal, acabei dormindo em seu ombro, espero não ter babado. - se esforçava para manter os olhos abertos e levantar.
- Babou até demais, quase nos afogou! - respondi bem humorada, fazendo graça.
Descemos do ônibus e pegamos nossas coisas, nos reunindo com o resto das outras salas e nos encontrando com o professor, que estava em frente ao hotel que ficaríamos, ditando as regras. Não era lá aquelas coisas, mas era aparentemente aconchegante.
- Serão 3 pessoas por quarto do mesmo sexo, ou seja, nada de meninos no quarto das meninas e vice versa. Se eu ver ou ficar sabendo que isso aconteceu, vocês sofrerão as consequências quando voltarmos à escola. Hoje é sexta-feira e fomos gentis com vocês, terão o dia livre, mas não podem ir muito longe. Amanhã iremos para o museu e só voltaremos à noite, e iremos embora domingo no final da tarde. Alguma dúvida? - o professor terminou de falar, observando que ninguém tinha nenhuma dúvida.
- Como assim não pode menino no quarto de menina? Esse professor é um empata foda! - esperneou.
- Não é atoa que você é atacante no time, né? - comentou, nos fazendo rir da ótima piada que acabara de ser feita.
***
- Eu trouxe tanta coisa que eu poderia ficar aqui por 1 mês. - Callie comentou enquanto arrumava suas coisas no quarto.
Callie, e eu ficamos em um quarto juntas, claro. O quarto dos garotos era em outro andar, para evitar a facilidade de meninas se encontrarem com meninos e toda aquela frescura.
- Eu sou muito desleixada, mal trouxe o que precisava.
- Pelo jeito você não se esqueceu disso aqui, né? - estava segurando um porquinho de pelúcia em suas mãos. Sim, um porquinho, meu porquinho.
- Ele é ótimo para dormir, juro! É meu travesseiro desde o ano passado, ganhei de presente de . - tentei me defender, tirando o porco de suas mãos. Ele realmente era uma delícia para dormir, não podia deixar de trazê-lo.
Passamos a tarde conversando, rindo, contando nossos piores micos e até deu tempo de tirar um cochilo até descermos para jantar.
- Ouvi dizer que tem um parque aqui por perto, podíamos ir até lá depois de comer, o que vocês acham? - Callie propôs animada enquanto comia feito um cavalo. Todos nós concordamos, menos , que não estava na mesa.
- Em qual andar vocês estão? - perguntou.
- Sexto, e vocês?
- Oitavo. Isso é uma bobagem, qualquer um que quiser pode ir e vir no quarto de todos, não é como se o professor fosse ficar seguindo todos nós. - falava um pouco alterado, provavelmente bravo por não poder dormir com Callie. O amor é lindo, blé.
's POV
Terminamos de jantar e decidimos ir ao tal parque, mas estava faltando alguém, e esse alguém era .
- Podem ir na frente, vou esperar o , ele deve estar por aqui. - falei alto o suficiente para que todos ouvissem.
- Quer que eu espere com você? - se ofereceu, mas neguei com a cabeça, porém agradecendo.
Decidi dar uma volta por ali e tentar encontrar o rapaz, até vê-lo sentado em um banco perto da entrada do hotel.
- Onde você esteve? Não quis nem comer? - perguntei já me sentando ao seu lado.
- Meu celular está sem bateria então liguei para minha vó para saber de Sophia do telefone da recepção. Estou sem fome e com preguiça, por isso estou sentado aqui. E você, está sozinha por quê?
- Eu vim atrás de você. A galera foi num parque aqui perto e eu disse que te esperaria, então... Vamos? - sorri convidativa, já me levantando.
- Eu preciso mesmo ir? Porque sério, eu realmente estou morrendo de preguiç... - não o deixei terminar e o puxei pela mão, fazendo acompanhar meus passos.
- Você vai.
Estávamos andando, mas não estávamos conversando, ele pelo jeito não curtia conversar, era sempre o mais quieto, porém, nada que uma boa conversa não possa mudar isso. Acabei falando a primeira coisa que veio em minha cabeça.
- Quem veio primeiro, o ovo ou a galinha? - segurei o riso, tendo plena noção do quão ridículo aquilo havia sido.
- Da onde veio isso?
- Você nunca puxa assunto com ninguém, então vamos conversar, nem que seja sobre o ovo e a galinha - respondi firme.
- Muito decidida você, mocinha. Eu não faço a mínima idéia de qual tenha vindo primeiro. É uma pergunta quase tão sem resposta como perguntar quem criou o mundo.
- Depende do seu ponto de vista, para os religiosos, quem criou o mundo foi Deus. Mas é tudo duvidoso, esse mundo é uma loucura! Mas a pergunta mais importante é: você acredita em ETs? Porque se você não acreditar, não podemos mais ser amigos. – perguntei séria, ouvindo o som gostoso da risada do rapaz.
- O que deu em você para quase me grudar na parede e perguntar sobre coisas doidas desse tipo? Mas sim, eu acredito em ETs. O universo é grande demais pra ter simples humanos.
Era bom vê-lo assim. Eu não conhecia tão bem, não éramos amigos há anos como eu e , mas sentia que ele era uma pessoa boa.
- É exatamente o que eu penso! acha isso loucura, mas um dia ele vai ver que estamos certos sobre os ETs - falei animada - Mas agora, falando sério, conte mais sobre você, sua família, do que você gosta, o que vai fazer da vida e todo aquele bla bla bla.
- É essa sua maneira de puxar assunto? Que horrível. - respondeu de forma sarcástica.
- É assim que se começa uma amizade, sabia?
- Podemos começar de um jeito diferente. Se você chegar até aquela árvore - apontou para uma árvore um pouco longe mas não tão longe - Eu respondo qualquer coisa que você quiser. - sorriu de maneira desafiadora, e torci a boca em reprovação.
- Isso não é justo, você provavelmente é mais rápido do que eu. - cruzei os braços como uma criança emburrada.
- Te dou 5 segundos de vantagem a partir de... Agora. - terminou de falar e apenas corri o mais rápido que podia, e ainda assim, ele me alcançou num piscar de olhos.
Corri como um patinho desgovernado, rindo e correndo cada vez mais, parando em consequência de um belo tombo. correu até chegar em mim, com os olhos arregalados.
- Caraca, você está bem?
- Meu... Pé! - foi a única coisa que consegui dizer devido a dor. Senti o garoto apertá-lo, me fazendo dar um gritinho ridículo.
- Você deve ter torcido. Foi mal, a culpa foi minha. Vamos voltar para o hotel, eu te ajudo. - envolveu seus braços em minha cintura enquanto os meus ficavam em volta de seu pescoço.
- Não foi culpa sua, foi minha, que nem correr sei.
- Devido ao seu lindo tombo, vou deixar você fazer uma pergunta pra mim. - falou enquanto praticamente me carregava em seu colo, com a voz carregada de dó.
Uma pergunta, ok. Mas qual seria? ’s POV end
's POV
Talvez dar uma oportunidade para me perguntar algo não tivesse sido boa idéia, já que ela estava pensando numa pergunta decente há minutos.
- Como foi seu primeiro beijo?
Depois de ouvir aquilo só me restou uma coisa: rir.
- Foi no mínimo 5 minutos para você me perguntar isso?
- Eu não sei o que perguntar, existem tantas perguntas nesse mundo, mas agora, responda. - mandou autoritária, segurando firme em meu pescoço.
- Eu tinha uns 12 ou 13 anos, foi ruim como qualquer primeiro beijo. E o seu?
- Eu tinha 14 e foi terrivelmente horrível - respondeu rindo - A gente pode continuar com isso? Um fazer perguntas para o outro? - fez a famosa carinha de cachorro que caiu da mudança.
- Podemos, mas não abuse, se não te largo por aqui mesmo!
- O que você vai fazer depois da escola, digo, faculdade? - perguntou animada. Por que diabos garotas adoravam falar daquilo?
- Eu, honestamente, não faço a mínima idéia, e você?
- Provavelmente, engenharia química! - depois dessa resposta, a encarei com aquela expressão extremamente assustada e confusa e vi a mesma rindo.
- Todos me olham assim quando eu respondo isso. Qual é, química é demais!
é um ET, sem duvidas!
- Você deve ter um parafuso a menos! Agora, eu te faço uma pergunta. Você e são amigos desde quando? - perguntei rápido, logo percebendo que estávamos perto do hotel.
- Desde sempre. Nossas mães são melhores amigas e todo aquele nhenhenhe. Você não tem nenhum amigo de infância ou algo assim? - assim que ouvi aquela resposta, foi como um banho de água fria.
- Eu não tenho amigos. - olhei sério para a garota, que me encarava de maneira analítica - Estamos chegando, você ainda tem tempo para algumas perguntas.
- Você tem amigos, tem a mim e o resto do pessoal, mas caso você ache o contrário, podemos tentar ser, não podemos? - perguntou com certa indignação na voz porém logo em seguida, terminou sua fala com um enorme sorriso.
Aquilo fez com que eu me arrepiasse involuntariamente. Ouvir aquilo era realmente estranho e novo. Ela realmente parecia ser uma boa pessoa, mas não sei se seria boa o suficiente para ser minha amiga, digo, será que ela me entenderia?
Deus, estou parecendo uma garotinha!
- Vou pensar no seu caso, mas agora, vamos entrar e cuidar desse pé!
Já havia perdido a conta de quantas noites já tinha passado apenas pensando em como minha vida teria sido se tivesse esses amigões que todos têm. Claro, rolaram aqueles colegas aqui e ali, mas nunca Aquele Amigo.
Olhei rapidamente, capturando seus pontos mais marcantes de beleza, principalmente a boca. Nesses minutos que ficamos conversando foi como se... Tudo estivesse bem? Me senti como um cara normal conversando com uma garota de verdade. As únicas conversas que eu tinha com garotas eram qualquer papo furado e alguns minutos depois já estávamos numa cama. 's POV end
Quando você está com seus amigos, fica difícil andar rápido, e estávamos andando feito lesmas, rindo tanto que até esquecemos de uma coisa. Uma não, duas.
- e ainda não estão por aqui, já faz um tempinho que saímos de lá, eles já deveriam ter nos alcançado. - comentei preocupada. O lugar era grande, estava noite, escuro, talvez tivessem se perdido ou algo assim.
- Vamos voltar. Agora. - pediu autoritário e ninguém protestou, apenas demos meia volta e andamos até chegar ao hotel.
Eu e Callie fomos até nosso quarto e nada da garota. Os meninos também não viram no quarto. Aonde esses dois podiam estar?
Desci e dei uma voltinha pela recepção, fui até a parte dos fundos, que tinha um jardim maravilhoso e também duas pessoas sentadas em uma das redes que tinha ali mesmo, conversando e gargalhando.
- Ei, estávamos procurando vocês dois, onde estavam esse temp... O que houve com seu pé? - perguntei confusa, vendo segurando uma bolsa de gelo em cima de seu pé. Ela e se entreolharam e caíram na gargalhada.
- Sua amiga é péssima na corrida, sabia? - comentou ao terminar de rir.
- Vocês estavam apostando corrida? Quantos anos vocês tem? 7? - cerrei os olhos, cruzando os braços em seguida como se fosse mãe dos dois.
Eu não tinha moral para falar daquele tipo de coisa, eu e fazíamos guerra de travesseiro sempre que tínhamos oportunidade, mas falar aquilo soava maduro.
- Uma criança de 7 anos corre melhor do que eu, com certeza! Vou ver o resto do pessoal, fiquem aqui vocês dois, podemos jogar algo daqui a pouco. - falou enquanto levantava, e mesmo com o pé naquele estado, recusou nossa ajuda.
Encostei-me à parede, observando sua saída, até perceber me encarando.
- Você pode sentar aqui se quiser. - bateu a mão no lugar vazio ao seu lado. Andei lentamente até sentar em seu lado, porém não o olhando.
- Por onde você andou? ficou apenas para te procurar. - perguntei enquanto observava o céu, que estava levemente estrelado.
- Precisei ligar para a minha avó e ver como Sophia está. Vocês podiam ir sem mim.
- Ela ficou com sua avó? Eu sempre quis ser próxima dos meus avós e nunca pude.
Eu realmente sempre quis ter meus avós por perto. Sempre quis aquilo de "poxa, passei o dia com minha avó" ou "ganhei um presente do meu avô", mas nunca rolou pelo fato deles morarem em outros estados e por estarem naquela fase onde apenas querem ficar em casa e relaxar.
- Nossa avó é basicamente nossa mãe, é bom tê-la conosco. - assumiu tão verdadeiramente que dava para sentir.
- Se ela é basicamente sua mãe então você não tem uma ou voc...? - recebi um olhar feio, e repreendi a mim mesma ao perceber a bobagem que estava falando - Desculpe, eu falo coisas sem pensar às vezes!
- Eu tenho uma mãe. - respondeu grosso.
- Eu sei, Sophia falou que a mãe de vocês estava pior naquele dia em que falei com ela no celular - o garoto me olhava com certa raiva, e não tirava a razão dele. Que merda eu estava falando, afinal? - Ok, vou calar minha boca agora.
Parabéns , você merece um prêmio por cagar em tudo.
Depois daquilo não me atrevi nem a dar um suspiro de tão estúpida que estava me sentindo. O pessoal adentrou o local, espantando toda a tensão instalada ali.
- Não tem nada pra fazer aqui, então acho que só nos resta jogar o clássico verdade ou desafio. - sugeriu, sentando em um banco em frente à rede em que eu e estávamos.
- Pode ser, mas alguém precisa buscar uma garrafa. - comentou enquanto encarava o amigo com aquele olhar de "você que deu a idéia, você que busque" e assim foi.
estabeleceu regras a mais, já que seria sem graça se todos ficassem apenas escolhendo "verdade", então só era permitido escolhê-la 3 vezes e o resto seriam desafios, e se alguém se recusasse teriam que pagar um mico. A primeira rodada foi para , que escolheu verdade.
- Qual a senha do seu cartão de crédito? - perguntou rindo, nos fazendo rir logo em seguida - Mas sério... Você já usou drogas?
arregalou os olhos e deu uma risada fraca.
- Pô, acho que um brizadeiro não é nada absurdo. - respondeu sem graça.
- O que é um brizadeiro? - perguntou inocente, com os olhos cerrados.
- É brigadeiro com maconha. - respondeu , fazendo com que todos os nossos olhares fossem para ele.
A segunda rodada foi para Callie, que também escolheu verdade.
- Pior coisa que você já fez?
- Acho que namorar o - respondeu enquanto olhava para o mesmo, vendo sua cara de falsa decepção - Acho que foi quando prendi meu irmão no banheiro por quase um dia todo. Ou quando quase bati numa garota na minha antiga escola.
Callie, você é muito perigosa!
Foi a vez de para .
- É verdade que seu carro é roubado?
Isso daqui é verdade ou desafio ou jogo da palhaçada?
- Foi nada, juro! - respondeu firme, rindo da pergunta da garota.
Depois de todos nós ficarmos sem verdades, sobraram apenas os desafios. A garrafa foi girada, parando em , que desafiou .
- Eu te desafio a ir até a recepção e dizer pra recepcionista que você é gay. Se não fizer, vai pagar um mico, que vai ser... Dizer para o professor que está apaixonado por ele.
prestava? Estava óbvio que não. Levantamos e fomos todos até a recepção com , que foi xingando o garoto até dizer chega. Aproximou-se do balcão lentamente e olhou para trás rapidamente, dando sua última fuzilada em nós.
- Boa noite, você precisa de ajuda, rapaz? - a recepcionista simpática perguntou serena.
- Eu sou gay, eu sou G-A-Y! - soletrou enquanto observávamos a cara da recepcionista de 100% confusa.
- Tudo bem ser gay, meu querido! - e depois dessa, não nos aguentamos e caímos na gargalhada.
Voltamos para o jardim e até não se aguentou e acabou rindo. Ele provavelmente nunca mais veria aquela mulher na vida, então estava tudo bem. Giramos a garrafa e ela a vez de Callie para .
- Eu te desafio a... Dar um beijo no sovaco de . - desafiou rindo enquanto a garota abria a boca indignada, pronta para reclamar - Se não fizer, seu mico vai ser dançar de roupas íntimas no corredor dos quartos masculinos.
provavelmente estava matando Callie repetidamente mentalmente, mas lá foi ela e deu um beijo rápido no sovaco que , que não parava de rir por um segundo.
Nojentos? Nenhum pouquinho, magina!
desafiou a comer uma pequena flor do jardim e apenas comeu algumas pétalas e estranhamente ele disse que era consideravelmente bom. Em seguida, desafiou a dar um beijo nos pés de , o que nos fez rir já que fez uma cara totalmente de derrotado, porém os beijou. Logo depois, foi a vez de para .
- Vocês são nojentos! Chega dessa boiolagem de beijar partes do corpo. , te desafio a beijar . - desafiou firme enquanto todos nós nos entreolhamos, esperando um beijo de cinema.
É AGORA!
se aproximou do melhor amigo e deu um beijo estalado em sua bochecha.
NÃO FOI AGORA!
- Eu falei um beijo de verdade, não isso aí! - protestou.
- Você não especificou aonde era o beijo, queridinho. - a garota respondeu vitoriosa.
A garrafa apontou em para novamente.
- Da próxima vez, vamos jogar com mais meninas pra ver se eu saio no lucro. Mas aí, te desafio a dar um selinho na .
Eu gelei. Queria enfiar minha cara no chão. Olhei para que estava me olhando com uma expressão tranquila e não protestou, simplesmente veio até mim e me deu um selinho que durou no máximo 3 segundos. E nesses 3 segundos eu senti como se tivesse levado um choque, no bom sentido.
Levar choque no bom sentido existe? Não sei. Só sei que aquilo tinha sido bom.
Era a vez de para Callie.
- Eu te desafio a lamber o meu tênis - desafiou enquanto levantava o mesmo, rindo até jogar a cabeça para trás - Se você não quiser, tem o mico. Dançar como uma galinha na frente da recepção.
prestava? Óbvio que também não! Callie levantou, o que significava que iria pagar o mico, apenas a seguimos até a frente da recepção, que tinha no máximo 15 pessoas. Callie sussurrou uma leve ameaça de morte no ouvido do garoto e começou a dançar como uma galinha. Nem preciso dizer que as pessoas em volta estavam morrendo de rir, porque nós também estávamos. Assim que terminou, correu até o corredor para se esconder e tentar parar de rir.
- Além de líder de torcida você pode ser líder das galinhas, amor! - a abraçou sorridente, fazendo todos nós rirmos mais.
- Melhor subirmos, já estou com sono. - falou enquanto apertava o botão do elevador, mas provavelmente estava querendo fugir daqueles desafios malucos.
E ali estava um dos meus maiores medos: elevador. Não, eu não tinha o pegado desde quando cheguei aqui, dando desculpas ridículas para evitá-lo. Sim, é um transporte seguro mas eu simplesmente não me sinto segura dentro dele. É estranho, pequeno e abafado.
- Vejo vocês no quarto, boa noite meninos. - falei rápido e dei longos passos para chegar às escadas antes que alguém perguntasse o porquê daquilo.
Cheguei até o quarto andar com os pulmões pulando para fora. Minha meta era chegar antes do elevador. Qual é? Qual ser humano nunca fez algo assim? Ou quando você está na rua e diz para você mesmo "se eu pisar na linha eu vou morrer". A vida é assim, você auto estabelece desafios ridículos.
Parei para descansar e com isso ouvi passos ficando mais altos. Alguém estava subindo também.
- Você anda bem rápido. - era .
- Resolveu vir de escada por quê? - continuei a andar, porém lentamente.
- Você precisa perder esse medo! O elevador não vai cair do nada, você não vai ficar sem ar e nem morrer lá dentro.
- Eu sei, quem sabe um dia, não é? - sorri sem jeito, tendo arrepios só de pensar na idéia.
Abri a porta do quarto e as meninas já estavam lá, obviamente.
- Você tem medo de elevador, não é? - perguntou desconfiada enquanto abria um saquinho de guloseimas e enfiando vários de uma vez na boca.
- Tenho. Podem me zoar se quiserem. - me rendi.
- Para com isso sua boba! Já tive medo de tanta coisa besta também, e geralmente só passa quando você enfrenta aquilo, então você deveria tentar. - sorriu, batendo na cama como convite para que eu sentasse ao seu lado.
- Quando eu era pequena, fui para a fazenda dos meus avós e em um dia eu fiquei sozinha e tinha uma aranha enorme, de verdade, ela era do tamanho da minha cabeça! E eu a matei, e depois daquilo o meu medo diminui o suficiente para que eu matasse qualquer aranha sozinha. E sim, sou um caso de superação! - Callie falou orgulhosa da própria história, rindo no final de tudo.
Acordamos reclamando, mas acordamos. Tomamos nossos banhos e tomamos nosso café e estávamos prontas para entrar no ônibus. Eram pouco mais de 30 minutos até o museu que iríamos visitar. Estávamos na mesma ordem de lugares, e estava novamente com seus fones, me oferecendo um deles. Eita menino estranho! Simplesmente não tinha dito nada, nem um "oi" ou "bom dia", mas tinha oferecido o fone.
"Hope when you take that jump (Espero que quando você der aquele salto) You don’t feel the fall (Você não sinta a queda) Hope when the water rises (Espero que quando a água subir) You built a wall (Você construa um muro)’’
Ai. Meu. Deus.
Olhei para com os olhos arregalados, que me olhou de volta confuso.
- O que foi?
- A música! Eu amo One Republic mais do que amo o ! - respondi como uma criança que tinha acabado de ganhar um presente.
- Ele sabe disso?
- Na verdade, sabe. Você tem bom gosto musical, . - respondi ainda animada, ficando sem graça ao perceber que havia o chamado pelo apelido novamente.
- Valeu pelo apelido. - colocou seu fone novamente e deu uma piscadinha.
Ouvimos I Lived e outras músicas do One Republic que estavam em seu iPod, e então sentimos o ônibus parar, sinal de que tínhamos chegado.
Museus eram bacanas, de verdade. Ver o trabalho de alguém ali, os quadros, as pinturas, as emoções que estavam concentradas ali era algo realmente interessante. Dizem que se você faz algo com amor, vira algo importante, e lá estava, um lugar enorme, lotado de artes importantes.
Passamos boa parte do dia ali, rodando pelo museu todinho e observando cada detalhe de cada arte por ali. Tocamos no que podíamos tocar, rimos e conversamos. Por algumas horas, eu consegui esquecer quem eu realmente era; a pessoa infeliz e fracassada, mas aquela dor em meu peito nunca me abandonava. Ela estava sempre ali, lembrando que eu não posso fugir de quem eu realmente sou.
Chegamos no hotel cansados e com fome, principalmente . Me perguntava a todo instante pra onde ia tanta comida.
- Vou dormir, pessoal. Hoje é sábado e a lei de acordar às cinco da tarde foi quebrada graças à nossa ida ao museu. - me justifiquei enquanto dava um beijinho em cada um.
- Mas já? Você mal comeu, e afinal, alguém tem que te acompanhar até o elevador, hoje você não escapa! - Callie abocanhou seu lanche, me olhando de maneira inocente.
- Eu até iria, mas eu pretendo comer mais uns quatro lanches. , você já acabou, vai lá. - retrucou de boca cheia.
levantou e sorriu sem mostrar os dentes, se despedindo do pessoal e caminhando ao meu lado.
- Medo de elevador, uh? - riu, já estávamos no corredor da recepção.
Apertou o botão do elevador e poucos segundos depois a porta abriu. Demorei alguns segundos para entrar e abaixei a cabeça. Senti as mãos de do garoto levantando meu rosto lentamente.
- Olha, se estivéssemos num filme, eu provavelmente te beijaria para te distrair mas não valeria o esforço e afinal, você precisa superar isso. Eu sei que parece sufocante e dá um friozinho na barriga, mas elevadores tem manutenção todo ano, eles são seguros de verdade. - tentou me acalmar e deu um pequeno sorriso, apertando o botão para o sexto andar.
Ok, não era tão ruim assim, mas ainda assim, estranho. A porta abriu e saímos lentamente.
- Ainda prefiro as escadas. - gargalhei baixo, respirando fundo.
- Não caiu, não te sufocou e nem nada.
- Quando eu tinha 9 anos, fiquei presa em um elevador por no máximo 2 minutos e me apavorei. Sei que parece ridículo para você mas todo mundo tem isso! - me justifiquei rapidamente, querendo deixar claro que havia uma história por trás daquele medo.
- O importante é que você conseguiu. Agora eu vou subir para dormir, torça para que o elevador não caia comigo dentro! - brincou bem humorado, fazendo uma careta.
- Boa noite e obrigada! - agradeci e dei um sorriso simpático que foi retribuído, e segundos depois a porta se fechou.
No dia seguinte passamos metade da tarde jogando conversa fora e depois fomos arrumar nossas coisas para podermos ir embora. E mais uma vez, fomos na mesma ordem de lugares, eu e ouvindo música em seu IPod tranquilamente até sermos atingidos por uma bolinha de papel. Quando olhei para trás, e estavam com 2 cadernos em mãos arrancando folhas e fazendo bolinhas e Harry e Jude, dois rapazes da nossas sala, fazendo o mesmo. Não demorou para todas as meninas acabarem se envolvendo também e eu não perdi a oportunidade de acertar qualquer pessoa que vi pela frente.
Juro que estamos no terceiro ano, e juro que alguns de nós tem maturidade o suficiente para enfrentar o mundo lá fora também, por mais que seja difícil de acreditar já que né...
Quando eu estiver com 60 anos vou poder encher o peito e dizer para quem quisesse ouvir que SIM, já participei de uma guerra de bolinhas num ônibus escolar na volta de um passeio!
Chegamos em casa e os pais de estavam vendo um filme juntos, abraçados. Eu daria um rim para ver meus pais assim pelo menos uma vez na vida. Jantamos rapidamente e subimos para arrumarmos nossas bagunças. Eu precisava falar com sobre minha decisão de voltar para casa e precisava fazer isso logo.
- Podemos conversar? - dei leve batidas em sua porta, mesmo estando aberta.
- Claro, o que foi?
- Eu vou voltar para casa. Eu amei ficar aqui durante essa semana mas eu preciso voltar. Minha mãe ainda está lá e eu preciso ficar com ela. - disparei a verdade sem rodeios, abaixando a cabeça em seguida.
- Você pode ir, eu não posso te prender aqui! Mas você tem que me prometer que qualquer coisa que seu pai fizer, vai me avisar ou me ligar na hora, ta bem? - me abraçou forte - Você é uma das coisas mais importantes para mim, e eu não quero te ver machucada de jeito nenhum, está me ouvindo? - torceu a boca, claramente frustrado pela minha decisão, mas ainda assim, me apoiando.
- Eu prometo! Eu te amo tanto, gordinho, você nem tem idéia do quanto! E obrigada por tudo, de verdade. - o abracei o mais apertado que pude.
Voltar para casa não era o que eu queria, mas era o que tinha que ser feito. Por mais que minha mãe fosse burra o bastante para deixar essas coisas acontecendo, eu não podia abandoná-la. Ela continuava sendo minha mãe e precisávamos enfrentar nosso problema juntas. E afinal, eu estava acostumada àquilo tudo, então eu simplesmente só suportava. O que eu mereço, a não ser isso? O que a vida me deu de bom até agora além de toda a infelicidade?
"A vida humana é feita de escolhas. Sim ou não. Dentro ou fora. Em cima ou embaixo. E também há as escolhas que importam. Amar ou odiar. Ser um herói ou um covarde. Brigar ou se entregar. Viver. Ou morrer. Essa é a escolha importante. E nem sempre ela está nas suas mãos."
Se pudesse dar uma porrada no despertador, eu daria, mas ainda precisava dele. Era meu último dia na casa de , ou seja, último dia com um ótimo café da manhã decente.
- Bom dia, querida. me contou que você decidiu voltar para casa, é verdade? - tio Chris perguntou desconfiado, e sua expressão mostrava que ele estava torcendo para aquilo ser mentira.
- Uhum. Eu adoro ficar aqui mas eu preciso ficar com a minha mãe também. - tentei esconder a tristeza em minha voz.
- Nossa casa é sua casa, não se esqueça disso, mocinha! - foi a vez de Márcia falar.
Terminamos nosso café e fomos para a escola e acabamos encontrando no caminho, que estava ligado no 320. Como esses garotos conseguem estar sempre animados?
- Ih rapaz, olha quem está vindo ali! - falou baixo, se referindo a garota do segundo ano que andava o paquerando.
- Oi ! Oi amigos do . - a garota nos cumprimentou simpática.
- Essa é a Chloe. Chloe esses são e . - nos apresentou e trocamos alguns sorrisos.
Ouvimos alguém falando conosco, era , que estava com a cabeça baixa tentando ajeitar sua roupa.
- Vocês não vão acreditar! Eu estava tomando meu café da manhã e meu cereal caiu na minha roupa todinha e eu tive que por essa blusa. Eu nem gosto tanto dela assi... Ah, oi! - arregalou os olhos assustada e surpresa assim que percebeu que tinha alguém a mais entre nós.
- Você não tem jeito, não é? , essa é a Chloe. - apresentou as duas, que foram falsamente simpáticas uma com a outra.
- Você que é a melhor amiga de , certo? Ele fala bastante de você. - Chloe arqueou as sobrancelhas e continuou sorrindo. Alguém mais está sentindo esse cheirinho de ciúmes?
- Eu mesma! Vou ao banheiro, vem comigo? - estendeu a mão para mim com um olhar impaciente discreto.
- Você está bem?
- Estou sim, só que o dia já começou ruim. E você, como está? - sentou em um banco qualquer no pátio.
- Você não ia ao banheiro?
- Não, só não queria ficar ali, afinal, eu sou tudo, menos obrigada. - respondeu emburrada. O cheiro está forte né?
- Está com ciúmes? - perguntei provocativa, segurando o riso.
- Jamais! Eu confio no meu taco, ninguém rouba meu lugar na vida de , e caso isso aconteça, eu mato ele! - respondeu firme e séria.
- Meninas, vocês não vão acreditar no que aconteceu! Eu estava saindo de casa e o retardado do meu irmão deixou o skate estúpido dele no quintal e eu acabei pisando e caindo, eu mal sinto minha bunda! - Callie tagarelou sua trágica história, fazendo um bico emburrado ao terminar.
Bela segunda feira, não? Todo mundo ali tinha começado o dia com o pé esquerdo.
- Não aconteceu nada do tipo comigo hoje, na verdade, tive um ótimo café da manhã com e seus pais. - sorri vitoriosa.
- Ele me disse que você ficou lá por uns dias, mas por quê? - Callie perguntou com as mãos na bochecha, sem me olhar. Gelei ao ouvir sua pergunta.
- Meus pais estavam viajando e não gostam que eu fique sozinha, só isso. - respondi a primeira desculpa que veio em minha cabeça, tentando parecer o mais convincente possível. Misericórdia, eu minto pra caraca!
- Bom dia, alunos! Vocês gostaram do passeio? - o professor perguntou, recebendo um "sim" em coro da sala toda - Ótimo, porque vocês terão que fazer um trabalho sobre o que viram. Quero que vocês se juntem em trio ou dupla e façam um resumo do que viram e escrevam um texto sobre a melhor obra que observaram, mas como se fossem o artista. Quero detalhes, capricho e para a próxima aula.
Nos juntamos e ficou Callie com , com , e , e eu.
- Temos hoje e amanhã para fazer isso. Vamos nos reunir na casa de quem? - perguntou.
- Hmmm, minha casa está em reforma, não podemos fazer lá. - respondi rapidamente, mentindo novamente.
- Podemos fazer na minha. Amanhã à noite, depois que sair do trabalho. - cedeu, dando um sorriso sem mostrar os dentes.
Estávamos sentados no jardim da escola durante o intervalo. Callie comentava sem parar sobre os testes de líder de torcida que seriam daqui 3 dias.
- Eu ainda não sei nem dançar dois pra lá e dois pra cá e você quer que eu me inscreva para isso. - balancei a cabeça em reprovação, e a garota me olhou feio.
- Eu quero você na minha casa hoje a noite e também. Vamos mexer esse esqueleto, !
- Eu só quero ver vocês naquele uniforme bonitinho, só isso mesmo. - comentou enquanto enfiava o resto se seu sanduíche na boca.
- Você parece um tarado, cara. - falou sério, repreendendo o amigo com o olhar.
- Você tem que admitir que elas vão ficar lindas naquela roupa, principalmente . - falou enquanto segurava o riso, apenas para provocar , que não resistiu e riu.
- Pena que ela é minha.
- Eu não sou de ninguém, mas pelo jeito você arranjou alguém pra ser sua dona, não é? - perguntou provocativa enquanto olhava para o melhor amigo com as sobrancelhas arqueadas.
- Chupa essa, lindinho. - se intrometeu.
- Ela é só minha amiga. - se justificou, espalmando as mãos no ar de maneira inocente.
- também é só meu amigo, oras. - revidou.
- Olha , se eu pudesse, te beijava agora mesmo. - falou rindo, recebendo um olhar de reprovação de - Ih cara, ela não é sua namorada, então eu realmente podia lascar um beijo nela.
- Não podia e nem pode, eu hein. - estava com a voz alterada, claramente bravo. Ciúmes? Magina.
- A gente só está brincando, relaxa aí. Por isso eu gosto do , ele é o melhor desse grupo - dizia com a voz animada, dando um hi-five em - A gente vai dominar o mundo um dia.
***
Caminhei lentamente até chegar na rua da minha casa. Estava com 0% de vontade de entrar ali, sabia que o inferno voltaria a acontecer mas eu não podia evitar aquilo para sempre.
- Mãe? - perguntei alto, a procurando com os olhos.
Subi até os quartos e não tinha ninguém ali também, apenas bagunça para todo lado, exceto meu quarto, que estava do mesmo jeito que eu havia deixado. Ouvi o barulho da porta da sala e corri escada abaixo para ver quem era.
- Olha quem resolveu voltar. Estava morrendo de saudades de você, filha. - eu me alegraria até transbordar ao ouvir aquilo se ele não estivesse tão bêbado do jeito que estava.
- Cadê minha mãe? Ela deveria estar em casa nesse horário. O que você fez com ela? - levantei meu tom de voz, já nervosa com as possibilidades do que poderia ter acontecido que invadiram minha mente.
Aquilo era horrível, sentir tanto ódio apenas de ouvir a voz daquele homem. Era um ódio tão grande que nem cabia em mim.
- Sua mãe? Eu não sei aonde aquela vagabunda se enfiou. A única coisa que eu sei é que senti sua falta. - se aproximou lentamente, mas por algum motivo, minhas pernas criaram uma coragem repentina, me fazendo correr para fora dali. De onde veio a coragem para isso? Também não sei.
Liguei para minha mãe enquanto caminhava até meu trabalho, mas ela não atendia, o que me deixou agoniada durante a tarde inteira.
- Está tudo bem? - Callie parou em minha frente, balançando as mãos em frente ao meu rosto para chamar minha atenção.
Saí do trabalho e fui para casa de Callie para receber aulas de como ser uma líder de torcida, mas não conseguir falar com minha mãe estava me matando. E se tivesse acontecido algo com ela?
- Estou bem, só cansada. Mas, vamos lá? Podemos começar antes da chegar. - desviei do assunto, apertando os olhos tentando esquecer daquele assunto.
Callie me ensinou passos simples, porém para mim estavam sendo mais difícil do que as aulas de matemática. Assim que chegou, as duas continuaram me ensinando coisas que eu estava começando a pegar o jeito, como por exemplo dar um salto decente, que exigia costas eretas, braços e pernas firmes e esticados.
- Você precisa se concentrar, manter uma alimentação saudável, fortalecer o abdômen e correr bastante durante a semana, literalmente. - Callie explicou com calma. Eu mal sabia andar e teria que correr? Aonde eu amarrei meu burro?
- Parecem coisas absurdas, mas é tranquilo. Vamos arrasar no campeonato quando formos torcer pelos nossos meninos. - obviamente havia falado aquilo pensando no melhor amigo.
- Vocês ainda vão casar, sério. - me joguei no sofá. Senti meu celular vibrando e era uma ligação de um número que eu não conhecia porém atendi mesmo assim.
- Hmm, alô?
- Filha? Onde você está? - era a voz de minha mãe, aquilo fez com que meu coração se acelerasse de felicidade.
- Estou na casa de uma amiga, onde você está? - tentei controlar meu desespero e ansiedade.
- Estou chegando em casa, preciso te ver, estou com saudades de você, garotinha! - pelo seu tom de voz, provavelmente estava sorrindo.
- Já estou indo, até daqui a pouco! - e desliguei - Meninas, tenho que ir! Mas obrigada pelas dicas e tudo mais.
Dei um rápido abraço nas duas e assim que estava na rua dei passos longos para chegar em casa mais rápido. Abri a porta lentamente e minha mãe estava na cozinha, e pelo cheiro, estava fazendo panquecas.
- Oi mamãe, como você está? Como foram esses dias? - perguntei enquanto a abraçava o mais forte que podia.
- Estou bem na medida do possível, os dias foram como os de sempre, você sabe. Mas e você, como está? - perguntou animada, mas a tristeza estava ali em seus olhos, estava óbvio.
- Ficar longe daqui foi maravilhoso, de verdade! Eu tentei te ligar algumas vezes mas não consegui, o que houve?
- Eu e seu pai brigamos e na loucura do momento ele quebrou meu celular, pegou meu dinheiro e o resto você já sabe. - respondeu cabisbaixa e a única coisa que consegui fazer foi abraçá-la novamente e ainda mais forte.
- Mãe, eu não entendo! Qual a dificuldade de sair dessa casa e mudar de vida? Ficar longe dele? - já perdi a conta de quantas vezes havia feito aquela pergunta e já ouvi mil e uma desculpas para ela.
- Filha, seu pai é um idiota, mas ele conhece muita gente, ainda mais agora. Se saíssemos daqui, ele nos acharia em dois tempos. - respondeu séria, olhando em meus olhos.
Nesses momentos eu gostaria de ser um passarinho e cagar na cabeça de meu pai. Até entendo o medo da minha mãe de tentar fazer algo e acabar acontecendo algo pior depois, o que eu não entendo é ele, esse jeito, essa maneira de viver. Qual o propósito de viver uma vida tão miserável desse jeito se tudo poderia ser ao contrário? Nossa sorte era ele não estar em casa, provavelmente estava enchendo a cara e se drogando como um vagabundo, então conseguimos conversar bastante sobre várias coisas. Eu fiquei uma semana longe e voltei assim, amando minha mãe mais do que tudo e conseguindo a entender. O que tinha acontecido que nem eu entendi? Mas sei que, querendo ou não, só temos uma a outra, e mesmo a vida sendo essa droga, o que me afasta do meu pai, me aproxima da minha mãe.
Acordei, desliguei o despertador e olhei para o teto, pensando no quanto meu colchão é uma droga comparado ao colchão da casa de . Fora que meus dias de bom café da manhã haviam acabado, essa era a parte mais triste e lamentável.
Cheguei na escola e estava ali, porém com Chloe. Cumprimentei os dois rapidamente e dei o fora dali, ficar de vela não era meu passatempo favorito. Sentei em um lugar qualquer e observei o pessoal dali.
- Bom dia, gatinha. - Jackson falou sorridente enquanto sentava ao meu lado.
- Ah não, você não! - bufei e já estava pronta para levantar até sentir seu braço me segurando.
- Calma garota, não te fiz nada! Não posso te dar bom dia?
- Não, não pode. - respondi seca.
Jackson é, sem dúvidas, o cara mais babaca daqui. Já tinha ouvido histórias dele humilhando todas as garotas que ele ficava na frente de todos, batia em qualquer um que fizesse algo que não o agradasse, sempre se achando o melhor de todos e o pior de tudo: era um riquinho de merda que vendia drogas para quem quisesse apenas para se divertir. E a pergunta principal é: o que leva alguém a ser assim?
- Aprendeu a ser grossa assim com quem, o ? - riu, acabando com o pouco de paciência que eu tinha no momento.
- Cala essa boca! Você não passa de um babaca mesmo. - falei alto o suficiente para que quem estivesse ao redor ouvisse.
- Você não o conhece mesmo, não é? Te garanto que o babaca é ele. - se defendeu ainda rindo e se afastou.
Olhei para frente e lá estava o pessoal, me encarando com expressões surpresas.
- O que foi isso? - Callie se aproximou rapidamente, olhando feio para quem estava me encarando como se eu fosse maluca.
- Eu ouvi você o chamando de babaca, gostei de ver, acho que vou até te beijar. - quebrou o clima tenso que havia se formado.
- A nova meta da sua vida é ficar comigo e com a , não é? - perguntei brincalhona.
- Como você descobriu? - o garoto fingiu estar surpreso.
- E Callie, não foi nada demais, só Jackson sendo ridículo como sempre.
Fomos para a aula e: química.
Quem é que gosta disso? .
Nas aulas de química eu simplesmente não entendia nadinha, mas com ela por perto estava facilitando a vida de todos, já que a bichinha era a mais inteligente dali sem dúvidas e química era sua matéria preferida. O professor explicou uma matéria nova e rapidamente olhei para com aquele olhar do tipo "me socorre, não entendi uma letra" e ela não pensou duas vezes e começou a explicar tudo para mim e Callie como se fosse uma mãe ajudando o filho com o dever de casa.
- Aonde eu arranjei você mesmo? - sorri como uma criança. Estava orgulhosa por ter entendido sua gloriosa explicação.
- Foi o destino que fez nossos caminhos se cruzarem porque senão vocês reprovariam em química sem dúvidas. Mas gente é tão fác... - se atreveu a falar sua frase clássica que nos fazia querer furar os ouvidos, mas foi interrompida por Callie.
- Não, não é fácil! Só é fácil para você que gosta, mas eu não nasci pra isso, não nasci para estudar. No final de tudo, vou acabar vendendo cachorro-quente na rua ou ser sua empregada, então tenha piedade e arrase no meu salário.
Depois de seu mini desabafo, caímos na risada. Corrigindo: aonde eu arranjei essas duas? Era tão gostoso ter amigas como elas, por mais que eu ainda escondesse uma porrada de coisa, era uma amizade boa, eu me sentia acolhida, me sentia a vontade com elas, e eu não me sentia assim há tempos!
Nossa próxima aula era de geografia e era minha hora de arrasar. odiava geografia então sempre sentávamos juntos porém não adiantava muito já que ele era o tipo de garoto que conversava com a sala toda, fazia gracinhas durante a maior parte do tempo, mas surpreendentemente, era inteligente. Menos em geografia, claro.
- Se você ficar quietinho essa aula, juro que de dou um beijo! - o chantageei e ri ao ver sua cara de surpreso.
- Eu amaria isso porém você é prima do meu amigo e ele me espancaria por isso.
- Você está me dando um fora? Essa doeu! - coloquei a mão no peito mostrando minha tristeza e indignação.
- Bobona! Não se esqueça do trabalho hoje a noite lá em casa. - me lembrou enquanto levantava e saía da sala. O sinal havia batido e mais uma vez ele tinha ficado sem entender a matéria.
Depois de um dia tedioso no trabalho, porque afinal, quase mais ninguém se interessa por CDs ou livros, fui para casa do , que era apenas algumas quadras dali. Toquei a campainha e fui recebida com um enorme sorriso. ainda não havia chegado então ficamos batendo papo por uns minutinhos até eu ver um CACHORRO!!!
- Você tem um cachorrinho e não me contou? Seu falso do caramba! - fingi estar brava enquanto eu pegava o pequeno cachorro.
- Ihhhh dona bravinha, deixe eu me explicar! O adotamos há dois dias, o coitado ainda nem tem nome. - se defendeu rapidamente.
Se eu tivesse um cachorro eu seria uma pessoa mais feliz, de verdade. Olhei para o pequeno, que era realmente pequeno e não consegui largar mais. Era um basenji branco com preto e algumas manchinhas marrons.
- Ele tem cara de... Duke! - encarei o pequeno de forma analítica.
- Gostei do nome.
- Você se lembra quando tivemos nossa primeira conversa decente e eu disse que estava em dúvida entre qual faculdade fazer? Bem, eu nunca tive dúvidas. Na verdade, sempre fui bem decidida com medicina veterinária, e ver esse cachorro só desperta mais ainda minha paixão, isso significa que eu virei aqui todo dia só para ver o Duke. - soltei tudo de uma vez enquanto ainda fazia carinho no cachorrinho.
- Medicina veterinária, sério? Isso é bem bacana! Você vai poder cuidar do Duke daqui uns anos.
Fomos interrompidos pela campainha tocando, que provavelmente seria , e realmente era.
- Um cachorro! - sorriu quando viu o pequeno em meus braços, se aproximando para pegá-lo porém virei as costas, não permitindo.
- , você vai ter que largá-lo uma hora! - alertou rindo.
Assim que soltei o pequeno, o pegou e me encarou debochado e eu simplesmente o fuzilei com o olhar. Alguém avisa que esse cachorro é MEU agora?
- Tudo bem , entendo que seu lado veterinária tenha despertado e , sei que Duke é um cachorro bem fofo, mas esqueçam ele por uns minutinhos e vamos fazer o trabalho. - chamou nossa atenção calmamente, porém por dentro provavelmente estava nos estapeando, pois o ignoramos por longos minutos.
Ver interessado daquele jeito foi como ver um filho passando de ano, sem exagero. Mesmo ele tendo aquele jeito brincalhão e sendo péssimo em geografia, ele realmente levava a escola a sério, mas quem olhasse de fora, pensaria o contrário. Ele se empolgou tanto que fez 80% do trabalho sozinho.
- De onde veio toda essa inspiração? - perguntei desconfiada.
- Eu sou monstro! - respondeu convencido, me fazendo rir - E você , vai fazer o que da vida? Já temos um futuro advogado e uma futura veterinária.
- Eu já perdi as contas de quantas vezes ouvi isso esse ano, sério! Eu ainda não sei, de verdade. - respondeu tentando não parecer desanimado.
Tentei me conter mas não consegui. Fui atrás de Duke e sentei no chão, brincando com o pequeno. Cachorro é uma coisa maravilhosa, assim como qualquer outro animal. São tão puros, tão sinceros, tão companheiros, que faltam palavras para descrevê-los.
- Acho melhor ir embora, está um pouco tarde. , quer uma carona? - perguntou.
Olhei para Duke e meu coração já estava tristonho por ter de ficar longe do pequeno. Antes de ir embora fiz jurar de dedinho que cuidaria bem de Duke. E sim, os juramentos de dedinho são coisas sérias!
- Medicina veterinária, né? - estávamos em seu carro calados e com o som desligado, mas decidiu quebrar o silêncio,
- Uhum! Eu nasci pra isso, sério! Desde pequena eu sempre tive essa vontade de pegar todos os animais abandonados e cuidar deles, e eu simplesmente não me vejo fazendo outra coisa, digo, imagina que chato ficar em um escritório com uma montanha de papéis para ler? Isso não é pra mim! - me calei ao perceber que estava falando feito uma matraca - Desculpe, esse assunto me empolga bastante.
- Pelo menos você está decidida, isso é ótimo.
Estávamos quase perto da minha casa, o que me surpreendeu já que ele lembrava aonde era.
- Você pode me deixar aqui se quiser. - sugeri sem graça.
- Eu me ofereci para te levar até sua casa, não até metade do caminho. É aquela ali, certo? - apontou para a mesma.
- Uhum.
Em poucos segundos ele estava na porta de minha casa.
- Sua casa não estava em reforma? - sua pergunta arregalou meus olhos minimamente, me deixando incrédula.
- Hmmm... Ah.... Está! - tentei parecer o mais convincente possível.
- Ou você não queria que viéssemos aqui? Que feio, dona ! - deduziu a verdade com o bom humor explícito em sua voz.
- Ok, você me pegou. Minha casa não está em reforma mas vocês não poderiam vir aqui de qualquer jeito - me rendi.
- Por que não? - perguntou e quando eu abri a boca para responder - com uma mentira, claro - o celular de tocou, porém ele recusou a ligação, fechando a cara logo em seguida.
- Não quis atender? Que feio, senhor ! - ri, mas o garoto não esboçou nem um meio sorriso.
- A pessoa não merece minha atenção. - encostou a cabeça no banco do carro enquanto fechava os olhos, claramente preocupado ou nervoso com algo.
- Você já ouviu isso mas eu vou te lembrar: você sabe que pode contar comigo para qualquer coisa, ok?
's POV
Assim que vi o número na tela do celular não pensei duas vezes em recusar. O que faz a pessoa ser tão cara de pau a ponto de só fazer merda e começar a te ligar como se nada tivesse acontecido?
Olhei nos olhos de , cheios de pureza e tão sinceros. Mordeu o lábio, e meu olhar oscilava entre seus olhos e sua boca. Não pensei duas vezes ao grudar minha boca na sua. Suas pequenas mãos estavam em meu pescoço e uma das minhas estavam apertando levemente sua cintura. Seus lábios eram tão macios e isso me fazia querer beijá-la ainda mais. Não era um beijo desesperado, era tão calmo que eu poderia fazer aquilo por dias se pudesse. Tivemos que parar pela falta de fôlego, o que era uma droga.
me olhou totalmente sem graça, com as sobrancelhas levemente arqueadas.
- Valeu pela carona, até amanhã. - tentou não tropeçar em suas próprias palavras. Ela estava envergonhada.
Abriu a porta rapidamente e deu longos passos até entrar em casa. Encostei minha cabeça novamente no banco e sorri, apenas sorri. Olhei para a porta de e sorri ainda mais, mesmo ela não estando ali. era diferente, sentia isso. Mas só precisava saber o quão diferente ela era.
"Não importa como planejou, não importa como imaginou. Mesmo sem saber, a vida dá um jeito de lhe encontrar com exatamente aquilo que você precisava… Ou exatamente quem você precisava."
Corri tentando parecer o menos ridícula possível, mesmo sendo algo bem difícil. Cheguei à escola e já tinha tocado o segundo sinal, o que me fez correr até pelo corredor para conseguir pegar meu material e correr até a sala. Olhei rapidamente para trás e estava fazendo rabiscos em seu caderno, aquilo me fez sorrir mesmo sem ser algo merecedor de um sorriso.
Um sentimento estranho me acompanhou durante a manhã toda, mas era estranho no sentido bom. Era um sentimento diferente.
Chegou a hora de nosso intervalo e estávamos reunidos em círculo no jardim da escola, e eu estava naquele tipo de pensamento tão profundo que se encara uma coisa fixamente, sem nem piscar.
- Você está preparada pra hoje, ? - perguntou enquanto abria uma latinha de suco de laranja, me dando um leve tapinha no ombro, me despertando daquele transe.
- An? O que tem hoje? - nem me esforcei para tentar lembrar o que tinha de diferente hoje, estava confusa.
- Nosso teste para líder de torcida, dããã. - Callie respondeu em um tom divertido, e eu simplesmente gelei.
O dia do teste chegou e eu simplesmente não havia me lembrado! Olhei desesperadamente para a primeira pessoa que cruzei o olhar, e puft, estava quase rindo da minha cara. Me retirei dando a famosa desculpa do "vou ao banheiro" antes de começarem com os comentários sobre a minha falta de preparo.
- Olha quem está passando o intervalo sozinha hoje. - ouvi aquela voz que tanto me irritava, Jackson.
Continuei andando e fingindo que nem tinha escutado, porque simplesmente não valia a pena dar atenção.
- A boneca não tem educação, não? - algum de seus amigos perguntou alto o suficiente para que eu ouvisse. Qual era o problema desses garotos? Eu tinha uma leve vontade de conhecê-los só para saber o porquê de eles serem tão babacas desse jeito.
Entrei no banheiro, lavei o rosto e me encarei por alguns instantes. Eu estava no último ano, e em algumas horas eu faria um teste para líder de torcida. Era o tipo de coisa que nunca me imaginei fazendo, porém faria. Eu gostava desse tipo de coisa, de ter pequenas surpresas assim, faz perceber que às vezes você mal se conhece.
***
- E se eu errar algo? - perguntei desesperada enquanto tentava me acalmar, fazendo massagem em meus ombros.
Estávamos todos do lado de fora da quadra, e cada garota estava sendo chamada individualmente. No momento, Callie estava lá dentro. O teste era baseado em mostrar o que cada uma sabia fazer, ou seja, eu já estava ferrada.
Caminhei até o corredor para diminuir o nervosismo e ficar sozinha por alguns minutos. Não tinha ninguém ali, pelo menos, era o que eu achava.
- Arregou? - também estava ali.
- Jamais. Só estou pegando um ar e pensando no que fazer.
- Eu preciso falar com você, será que pode ser agora? - perguntou enquanto se aproximava, ficando em frente a mim.
- Se for sobre o beijo, eu sei bem o que você vai dizer, então me poupe disso. - respondi de maneira grosseira. Se ele repetisse novamente que aquilo foi um erro eu daria uma porrada em sua cara. Ninguém simplesmente beija alguém e acha um erro. Se fosse um erro, não beijaria, então qual é a desse garoto?
- Ih, calminha aí. - falou de modo divertido enquanto colocava as mãos pra cima, fingindo estar se rendendo.
- Estou calma e estamos conversados, tchau. - me virei, o deixando para trás. Após dar no máximo 6 passos, senti sua mão em meu braço - Mas que saco, que foi? - quase gritei.
Eu realmente estava um pouco brava e nem sabia o real motivo. Também não tive tempo de descobrir já que os lábios de estavam nos meus novamente, me causando arrepios assim que se encostaram. Suas mãos estavam em minha cintura e as minhas foram parar em seus cabelos, que eram totalmente macios. Honestamente, era uma sensação tão gostosa que eu poderia beijá-lo por horas. Nossas línguas tinham uma sincronia incrível, deixando o beijo ainda mais incrível.
- Não vou dizer que foi um erro, porque sinceramente, foi uma coisa muito boa. Não só dessa vez, como das outras também. - pausou o beijou, me olhando diretamente nos olhos, logo em seguida me beijando novamente.
Eu nem conseguia raciocinar, apenas aproveitei o momento o máximo que pude.
- , é a sua ve... PUTS! - apareceu no corredor falando alto e logo percebendo que tinha atrapalhado o momento.
Me afastei de o mais rápido que pude, o olhando rapidamente com os olhos arregalados. Estava tão envergonhada que poderia bater minha cabeça na parede até fazer um buraco.
- Caraca gente, foi mal aí, mas está na sua vez, ! - tapou os olhos e tentou conter os risos, adentrando rapidamente a quadra novamente.
Dei longos passos até chegar a porta e senti segurando meu braço novamente. Ah meu Deus, esse garoto ainda vai acabar comigo!
- Boa sorte, gatinha. - sorriu enquanto me dava um selinho demorado, o que me fez sorrir também.
Como é que eu me concentraria em algum teste depois do que tinha acabado de acontecer?
Entrei na sala onde fui chamada, respondi coisas básicas como qual era meu nome, minha turma e todo aquele blá blá blá. Escolhi My First Kiss, do 30H!3 e Kesha como música, que começou instantes depois de terminarem as perguntas. Era uma coreografia que mostrava o básico, posição v-alto, v-baixo, touchdown, touchdown baixo, posição "T", meio "T", arco e flecha, dagas, e no fim, os clássicos claps e um salto não tão exagerado. Honestamente? Eu havia me saído melhor do que imaginava, e pela cara dos jurados, que eram três professores de educação física e uma coreógrafa, consegui arrancar belos sorrisos e aplausos.
Saí dali dando longos passos e os acelerando cada vez mais até conseguir achar , que estava sentada num canto da quadra conversando com .
- Ei, a gente precisa conversar. Desculpe , te devolvo daqui uns minutinhos. - falei enquanto puxava a garota para o corredor, que dessa vez, realmente não tinha ninguém.
- Você e o ! Me desculpe por interromper, mas você sabe né, eu nunca imaginaria chegar aqui e ver vocês se pegando, aliás, vocês ficam bonitinhos juntos. - disparou a falar, empolgada até demais.
- Você não contou para , contou?
- Poxa, você sabe né... Somos melhores amigos e ele sabe quando estou guardando algo, então simplesmente saiu. Mas ele não vai contar para ninguém, eu acho, eu espero. - me abraçou de lado fazendo uma careta, começando a caminhar até a quadra novamente - Mas é sério, vocês ficam bonitinhos juntos.
- Garotas, o resultado do teste sai daqui uma semana. E garotos, teremos o nosso primeiro jogo com outra escola daqui duas semanas, duas da tarde, aqui mesmo, então não se atrasem e nem percam, pelo amor de Deus. - o professor de educação física nos avisou rapidamente e nos liberou para irmos embora.
- Oh I think that I found myself a cheerleader, she is always right there when I need her. - cantarolava enquanto andava com os braços em volta do pescoço da melhor amiga, que sorriu como uma criança.
O dia tinha sido totalmente entediante, mas como sempre, fui para a casa de depois do trabalho, que por sinal, estava cozinhando a única coisa que sabia: macarrão com queijo.
- Oi princesinha, como você está? - perguntei assim que vi Sophia correndo até mim, logo dando um abraço na pequena.
- Bem, e você? Tia está cozinhando pra mim, sabia? - pegou em minha mão, me guiando até a cozinha.
- Hmmmm, pelo menos o cheiro está bom!
- Eu vou aprender a cozinhar outras coisas, juro! Estou comendo macarrão com queijo há dias, não aguento mais, e agora temos que manter forma já que somos líderes de torcida. - falou enquanto tirava a panela do fogão, colocando o macarrão com queijo numa travessa de vidro.
- Você ainda não sabe se passamos no teste.
- Claro que passamos! Cadê a positividade? - colocou as mãos na cintura, indignada. O quão linda ela estava naquele estilo "mãe dando bronca" e com aquele avental de cozinha? Muito.
- Como se pensar positivo adiantasse alguma coisa. - respondi o mais baixo possível.
E realmente, o que adianta pensar positivo ou esperar o melhor? Isso não é o suficiente, isso é só mais uma bobeira que todos dizem, uma maneira de tentar fazer as coisas ficarem melhores, mas acabam deixando-as piores. Não adianta esperar por coisas melhores sendo que elas nunca chegam.
- Claro que adianta! O que te faz pensar assim? - sentou ao meu lado e me encarou por alguns segundos, esperando resposta.
- Digamos que pensar positivo não é algo que tenha melhorado minha vida.
- Por quê? O que está acontecendo? - perguntou preocupada. Pensei no mínimo vinte vezes antes de abrir a boca para começar a explicar a situação.
- Eu tento evitar o máximo falar sobre isso, não é meu assunto favorito, mas é que... - e é com o barulho da campainha que eu me calo. Eu estava prontinha para finalmente desabafar com alguém que não fosse , e sou interrompida.
abriu a porta e convidou para entrar.
- Que cheiro é esse que não é de pizza? Porque você só come isso. - o garoto brincou, arrancando uma risadinha dela, que o trouxe até a cozinha - Ah, oi . - me cumprimentou com um meio sorriso.
Sophia correu até o irmão, que a pegou no colo sem nenhum pingo de dificuldade.
- Quer comer? Juro que está bom. - ofereceu, e aceitou rapidamente enquanto pegava um prato, colocando sua comida e sentando ao meu lado.
Não estava com fome, então apenas o observei dividindo sua comida com Sophia. O jeito como ele a tratava era realmente fofo.
- Você não tem irmãos, ? - perguntou.
- Não, mas eu gostaria de ter, parece ser bacana.
- E seus pais? Você nunca fala deles. A única coisa que você já falou foi sobre eles estarem viajando, que foi o motivo de você ficar na casa de . - perguntou enquanto levantava e colocava seu prato na pia. E mais uma vez, soltei uma de minhas mentiras.
- Meus pais são normais, oras. Às vezes eles viajam a trabalho, nada muito interessante.
- , valeu pela comida, mas eu tenho que ir embora. - levantou, pegando a mão de Sophia - Você quer carona, ? - perguntou enquanto me olhava, o que me deu leves arrepios. Acenei com a cabeça em forma positiva.
- Lembrem que tem uma criança com vocês, não exagerem nos beijos. - sussurrou enquanto abria a porta. Eu não sabia se enfiava a minha cara no chão, ou enfiava a dela, que me fez passar essa vergonha.
ajeitou Sophia no banco de trás do carro e entrou em seguida, e só depois abriu a porta para que eu pudesse entrar. Foi-se a época do cavalheirismo.
Fomos o caminho inteiro sem dizer uma palavra sequer, o que foi totalmente desconfortável. Olhei rapidamente para trás e Sophia havia caído no sono.
- Pronto, está entregue. - anunciou enquanto parava o carro em frente a minha casa.
- Obrigada pela carona e boa noite.
Assim que tentei destravar a porta para poder sair, senti uma das mãos de segurarem meu braço. Eu já sabia o que ia acontecer, e assim foi. Segundos depois nossas línguas estavam entrelaçadas, suas mãos estavam apertando minha cintura levemente, me fazendo ficar mais próxima de seu corpo. Uma de minhas mãos estava em seu ombro e a outra em seu pescoço. Era incrível como um beijo de no máximo um minuto e meio fizesse com que tudo sumisse. Era como se o mundo todinho tivesse parado e tivesse apenas nós dois ali, naquele momento.
- Agora sim. Boa noite, .
Andei até a porta de casa sem olhar para trás, não tinha coragem para isso. Entrei em casa, e foi como se um piano tivesse caído em cima da minha cabeça. Era um ambiente tão ruim, com uma energia tão pesada, que a tristeza vinha à tona.
- Olha só quem chegou, a vagabunda filha! - aquela voz me trazia um nojo inexplicável. Ignorei a provocação e andei até a escada, subi até o terceiro degrau e logo em seguida foi impedida por um puxão de cabelo.
- Agora vai me ignorar, é? Você é uma merda mesmo garota, assim como a sua mãe, que nem deu as caras aqui hoje. - gritou enquanto puxava meu cabelo mais ainda, me fazendo desfazer os passos dados.
- Talvez ela tenha cansado de você, não é? Talvez tenha arranjado um homem de verdade. - falei sem medo e sem pensar também, mesmo sabendo o que viria depois disso. Senti um tapa em meu rosto tão forte que me fez ir ao inferno e voltar no mínimo sete vezes.
- O que você falou? Você acha que eu não sou homem de verdade, é isso? - segurava em meu rosto com uma mão e em meu cabelo com outra - Eu te fiz uma pergunta, responde, porra! - puxou meu cabelo ainda mais forte, me fazendo dar um gemido de dor.
- Você... Não é humano! - foi a única coisa que consegui dizer, e logo em seguida, recebendo os tapas e socos em lugares como barriga, peito, braços e por aí vai.
- Você gosta de apanhar, não é possível! Quantas vezes eu vou ter que te bater pra você parar de me enfrentar ou responder? Você não é nada, absolutamente nada! - gritou, me empurrando até me fazer bater na parede, e logo em seguida pegando minha bolsa e tirando o dinheiro que tinha lá dentro e saindo de casa.
Levantei rapidamente, sentindo as lágrimas quentes pelo meu rosto. Por que diabos ele não me matava de uma vez? Ele me odiava tanto que precisava deixar marcas em mim? Quem é que consegue viver desse jeito?
Minha raiva era tão grande que não hesitei em jogar qualquer coisa que estivesse em minha frente, no chão, incluindo copos e pratos. Eu poderia até mesmo quebrar até as paredes se fosse possível. Sentei no chão e chorei e chorei, sentindo o gosto de minhas lágrimas. Meu pai podia me odiar, mas ele não me odiava tanto quanto eu odiava a mim mesma. Eu era tão inútil que não conseguia fazer meu próprio pai me amar! Eu simplesmente me odiava, e era um ódio tão grande eu que eu queria poder bater em mim mesma. Olhei para o lado e peguei o primeiro caco de vidro que vi e o posicionei em minha barriga, logo o arrastando pela mesma o mais fundo possível. Logo depois levei o caco de vidro até meu pulso, mesmo mal conseguindo enxergar por conta das lágrimas que estavam deixando minha visão embaçada. Me sentia tão impotente que não conseguia sentir a dor dos cortes, então joguei o caco de vidro o mais longe que pude. Nem pra sentir dor eu servia! Eu estava sozinha de um jeito ou de outro, e ninguém podia me salvar daquilo, daquele sentimento, daquela angústia. Não importa o quanto eu tente correr ou fugir, a dor sempre corre mais rápido.
's POV
Tirei Sophia do carro com o máximo de cuidado que podia para não acordá-la. Entrei em casa e estava tudo apagado, o que era um bom sinal. Deixei Sophia em sua cama e fui até o quarto de minha mãe, que estava dormindo profundamente. Sorri ao ver aquilo, porque sinceramente, vê-la dormindo durante a noite era algo tão raro quanto eu entender geografia. Tomei um banho rápido e assim que deitei, lembrei do acontecimento da noite. Qual era o meu problema? Eu tinha que parar de simplesmente puxar para um beijo sempre que estivéssemos sozinhos. Aquela história dela ter se ferrado com outro garoto era algo que estava sempre em minha mente, exceto pelas vezes eu a puxava e a beijava. É como se ela fosse um imã e eu fosse a geladeira. Meu Deus, quando é que eu fiquei tão clichê assim? O fato é que eu precisava parar de beijá-la porque nunca passaria disso, e pelo que dizem, isso sempre resulta em um dos dois começar a sentir algo a mais, e posso garantir que de mim, não conseguiria nenhum sentimento.
"Não se pergunte por que as pessoas enlouquecem. Se pergunte por que não enlouquecem. Diante do que podemos perder num dia, num instante. Se pergunte que diabos é isso que nos faz manter a razão."
Acordei de um jeito diferente, minha mãe estava sentava no fim da cama, me chamando gentilmente.
- Bom dia, filha.
- Onde diabos você estava ontem? Eu levei uma surra. De novo! - disparei a falar nervosa enquanto sentava, segurando a manga da blusa para esconder os cortes em meu braço.
- Eu precisei ficar no trabalho até tarde. Alguém precisa pagar as contas dessa casa. - cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas, e considerei aquilo como uma afronta.
- Se você fosse menos cagona, a gente poderia estar numa casa só nossa, apenas nós duas, com menos despesas, porque sabe, sustentar um bêbado drogado não é nada fácil mesmo. - o cinismo estava explicito em minha voz.
Qual é, são 7 da manhã, não tem como ser simpática.
- Já conversamos sobre isso, não aja como uma criança de 8 anos. Não podemos sair daqui, você sabe que seu pai ou algum colega dele viria atrás de nós e provavelmente nos mataria. - se justificou novamente, nervosa.
- Quer saber? Eu preferia mil vezes morrer a continuar vivendo essa porcaria que você acha que pode ser chamado de vida. - gritei enquanto levantava, indo até o banheiro e batendo a porta do mesmo, deixando minha mãe sozinha.
***
- Bom dia. - apenas havia chegado, estávamos do lado de fora da escola esperando o resto do pessoal.
- Está um bom dia pra cair um meteoro na terra. - respondi grossa, me arrependendo logo em seguida. Ele não tinha culpa da minha vida ser um saco e não merecia ter minha frustração descontada nele.
- E esse mal humor aí, moça? Será que se eu pedir pra o te beijar isso passa? - zombou e logo em seguida caiu na gargalhada, fazendo meus olhos se arregalarem.
- Cale essa boca, viu? Foi só um beijo!
- Não foi só um que eu sei! nunca dá informação pela metade. - ele ainda estava rindo, e acabei não resistindo e ri também.
- Vou matar sua melhor amiga, me perdoe por isso.
- Falando sério, é um cara bacana, mesmo ele não falando tanto como nós, ele é. - falava enquanto me olhava nos olhos, o que estava me deixando sem graça. Qual é a desse povo que precisa fazer contato visual direto quando conversam sobre esse tipo de coisa?
- Bom diaaaaa! Sobre o que vocês estão falando? - Callie brotou ali no meio junto com e .
- Sobre e , eles se beijaram de novo! - respondeu animado, com o sorriso até a testa, percebendo segundos depois o que tinha acabado de falar. O olhei com a pior expressão que pude fazer, o fuzilando com os olhos.
- Quê? Como assim de novo? Porra, o que eu perdi? - estava mais perdido que cego em tiroteio.
- Até te beijou e eu não, caralho! - acrescentou, rindo.
Ai cacete!
- Nós já nos beijamos algumas vezes, nada de mais, sério! E valeu por espalhar, , você agora está na minha lista negra, docinho. - respondi sem graça, terminando minha frase cinicamente enquanto encarava o garoto.
- , você está bem com isso? - perguntou com os olhos cerrados.
- Estou normal, por que não estaria?
- nos contou o que aconteceu na antiga escola de vocês. Aquele seu lance com o garoto, então acho que ele quer ter certeza que você está bem com algum outro cara interessado em você. - respondeu rapidamente de maneira inocente, porém dessa vez, recebendo o pior olhar de .
Alguém por favor, tira desse planeta?
Mas espera aí... tinha contado aquilo?
- Ah cacete, você contou isso para os meninos? - franzi a testa, perguntando confusa para meu primo, que estava quase voando em cima de .
- Desculpe, sério! Foi quando você estava brava com a galinhagem do , e eu acabei contando, mas me desculpa, de verdade! - passou a mão pelos cabelos, tentando se livrar daquela saia justa. Ele é meu melhor amigo, e não posso simplesmente negar seu pedido de desculpas.
Era estranho saber que todo mundo ali sabia de uma fraqueza minha, de uma decepção tão grande. Tudo bem, já tinha passado, mas ainda doía lembrar daquilo, porque realmente tinha sido doloroso e decepcionante. Quem foi o palhaço que disse que se apaixonar era algo bom? Porque eu me apaixonei e a única coisa que consegui foi desgraça.
- Gente, foi mal aí, de verdade. Eu falo pra caralho! - se desculpou, nervoso. O coitado estava totalmente sem graça, realmente não tinha feito nada daquilo por mal, dava para perceber de longe.
- Relaxa, sério! Agora sabemos que não podemos te contar segredos.
Minutos depois daquelas revelações, e chegaram juntos.
- Bom dia, meus amô. O que eu perdi? - perguntou desconfiada, pois assim que os dois chegaram, todos nos calamos.
- Você perdeu o seu melhor amigo soltando o segredo dos outros no meio da roda. - respondeu tentando segurar o riso.
- Segredo de quem? Repete que eu quero ouvir. - perguntou animado, parecendo uma garota querendo saber de uma fofoca.
- Você beijou minha prima. Várias vezes. - respondeu.
's POV
Porra, eu provavelmente fiquei de todas as cores possíveis antes de abrir a boca novamente.
- Me lembrem de atropelar , por favor, porque o carro eu já tenho. - arrisquei a brincadeira, e todos estavam... Rindo? Caralho, como assim? Eu já estava preparado para levar umas porradas de por ter ficado com sua prima.
- Será que vocês podem mudar de assunto agora? Se não vou ter que cavar um buraco e me jogar nele, ou talvez jogar . - pediu sem graça, um tanto quanto adorável.
Por sorte, o sinal tocou, e fomos todos buscar nossos materiais, e por ironia do destino, o armário de era do lado do meu.
- Beijando minha prima, huh?
- Você é do tipo ciumento? Não sabia dessa.
- Não sou, afinal, é grandinha o suficiente pra beijar quem quiser. - respondeu rindo, o que me aliviou, sinal de que não estava bravo - Se você magoá-la, nunca encontrarão seu corpo. - sussurrou em meu ouvido e riu ainda mais, fechando seu armário e caminhando até a sala.
Depois de aulas entediantes, como de matemática e geografia, fomos para a aula de educação física treinar para o nosso primeiro jogo, que seria daqui duas semanas. As garotas estavam na arquibancada assistindo, era a única que dava uns gritos de incentivo para o time, o que era engraçado.
- , preste atenção no que está fazendo! - o treinador chamou minha atenção, desviando meu olhar para a bola.
Depois de duas aulas chutando uma bola e correndo feito um cachorro, finalmente fomos todos liberados. Não posso negar que infelizmente, estava em meus pensamentos há horas. 's POV end
- Quando eu vou ver Duke de novo? - perguntei para , que estava caminhando ao meu lado até a saída da escola.
- Quando você quiser. Se quiser pode ir lá hoje, afinal, vão todos lá pra casa a noite. Prometo que não vai ter pizza pra comer. - anunciou, arrancando "amém", "aleluia" e "finalmente" de cada um de nós.
- Quem é Duke? - perguntou confusa.
- Meu cachorro. que deu o nome.
- Ok, até mais tarde, pessoal. - me despedi, apenas acenando com a mão em forma de tchau.
- Eu vou com você, precisamos conversar. - deu grandes passos até me alcançar.
- Lá vem! Já sei que você vai falar sobre . - eu conhecia como conhecia a palma de minha mão.
- Como é que isso começou? Ele gosta de você ou...?
- Um dia ele veio se desculpar por ter sido grosso comigo e puft, me beijou. Depois rolou outro beijo, outro, outro... Eu não sei aonde isso vai parar, na verdade, não sei nem por que estou fazendo isso! Eu deveria ter aprendido a lição. - bufei decepcionada, finalmente parando para pensar no assunto.
Afinal, o que era aquilo? Dar um beijo aqui e ali sendo que eu mal conheço ? Por mais que fosse algo bom no meio de tanta coisa ruim, isso devia parar. A última coisa que eu preciso é outro garoto para me magoar.
- Não é bem assim. Não é porque um te magoou, que também vai, caso isso se torne algo mais sério. - era o tipo de pessoa que te acalmava com palavras simples, mas com um efeito enorme.
- Não vai se tornar algo mais sério. mal conversa comigo! - me manifestei indignada.
- Ele é novo, ainda está se adaptando. Se você quiser conhecê-lo melhor, faça algo para isso acontecer, não fique apenas esperando que ele venha até você e conte tudo sobre sua vida. - soltei um sorriso enorme assim que ele terminou de falar. Honestamente, ele é a melhor pessoa no mundo todo!
- Você é demais, sabia? Agora vou embora, ainda vou trabalhar. - me despedi, dando um beijinho em sua bochecha e recebendo outro na testa.
Por mais merda que minha vida fosse, eu realmente tive a sorte grande em ter em minha vida.
's POV
- Anda logo, já deve estar preocupada por essa demora toda. - gritei alto o suficiente para que Sophia pudesse ouvir.
- Tô pronta! E você é muito apressado, credo!
- Eu sou folgado? Você quis trocar de roupa três vezes, mocinha! E não me chame de folgado, você só tem 8 anos! - a repreendi, pegando sua mochila e em sua mão.
- Quase 9! O que você vai me dar de presente? - perguntou animada.
- O que você quer ganhar? - a peguei no colo enquanto descíamos as escadas, sentindo aquele perfume de criança que fica impregnado no nariz por horas.
- Ainda não me decidi, vou fazer uma listinha e te entrego quando estiver pronta.
Beleza, minha irmã de 8 anos fará uma lista do que quer ganhar de aniversário e eu sou folgado!
- Já volto, me espere quietinha aqui. - soltei Sophia e caminhei até o jardim, que na verdade, tinha deixado de ser um jardim há tempos.
Vê-la daquela maneira, tão vazia, tão sem vida, simplesmente acabava com a minha alma.
- Estou indo levar Sophia. Você precisa de algo?
- Preciso que você me deixe em paz. - minha mãe respondeu sem me olhar, estava ocupada em manter a cadeira de balanço em que estava sentada balançando.
- Mãe, eu sei que tudo isso é difícil pra você, mas tente melhorar, pelo menos por Sophia. - foi a única coisa que consegui dizer antes de sair rapidamente dali.
Ouvi-la falando daquele jeito era horrível de verdade, mesmo não sendo intencional, ainda assim, era horrível. De uns meses para cá ela desabou de uma maneira tão tremenda, que eu não soube o que fazer no começo, e pra ser honesto, ainda não sei totalmente como lidar com essa situação. Só de pensar nisso tudo, lembrar de como tudo começou, com quem começou, a raiva invadia meu corpo automaticamente. Esse pensamento me acompanhou até quando cheguei até a porta da casa de .
- Olha só quem chegou! - abriu os braços assim que viu Sophia, que correu para abraçá-la.
- Quanto grude! - revirei os olhos.
- Quer um abraço também? Afinal, o que você faz durante a tarde? - perguntou curiosa, ainda estando do lado de dentro de sua casa enquanto eu estava na porta.
- Depende. Hoje, não faço nada.
- Que tal a gente passar o dia juntos? Digo, eu, você e Sophia, claro. - deu um sorriso tão lindo que poxa... Difícil negar esse pedido.
Entrei e logo me joguei no sofá. É, talvez Sophia tivesse razão e eu fosse mesmo um folgadão.
- Temos a tarde toda para conversar, isso é tão legal! - a garota comemorou, o que foi totalmente estranho. Ninguém nunca pareceu feliz por passar uma tarde comigo.
- Você é sempre assim? Feliz com tudo? Até em passar a tarde comigo? - cerrei os olhos.
- Com tudo não, mas com a maioria. E sim, feliz por passar a tarde com você porque é assim que uma amizade funciona! Aliás, posso te fazer uma pergunta?
- Claro. - e tinha como dizer não para aquela garota?
- Você não trabalha e tem carro? Sério mesmo que não é roubado? - dessa vez, que perguntou com os olhos cerrados, me fazendo cair na gargalhada.
- Porra, você nunca ouviu a palavra "ganhar"? Porque eu ganhei do meu avô um pouco antes dele morrer. - respondi ainda rindo.
era engraçada mesmo não tendo intenção de ser, loucura, não? Mas ela sempre fala de um jeito tão alegre e atrapalhado que fica realmente engraçado.
- Ops, sinto muito! Agora tudo faz sentido... Eu posso fazer outra pergunta? - mordeu o lábio inferior, claramente sem graça.
- , vamos passar a tarde juntos, então sim, você pode fazer quantas perguntas quiser!
- Podemos ir ao parque? Por favor? - foi a vez de Sophia perguntar, com a voz arrastada e carregada de meiguice.
- Por mim tudo bem! Vamos, ?
O parque era um lugar tranquilo, ainda mais em dia de semana. Sophia correu para brincar nos brinquedos que tinham por perto, logo se juntando ao resto das crianças que estavam por ali.
- Você quer um sorvete? - perguntei para , que respondeu com um "sim" alegre.
Fomos até o carrinho do rapaz do sorvete, quis um de chocolate com menta, e eu, o mesmo.
- Valeu pelo sorvete, . Mas e aí, o que rola entre você e a ?- perguntou de maneira inocente, como se não estivesse dando muita importância para o assunto, mas eu sabia que por dentro ela estava morrendo de curiosidade. Garotas...
- Não rola nada além de uns beijos aqui e ali, mas eu vou parar com isso. - falar aquilo soou tão estranho, porque não era o que eu realmente queria.
- Ta doido? Por quê? Vocês são bonitinhos juntos, de verdade! - aquela indignação toda me arrancou alguns risos. Como ela conseguia ser tão bobinha daquele jeito? No sentido bom, obviamente.
- A última vez que ela se envolveu com um cara, se ferrou, e como todos dizem, uma hora algum dos dois acabam desenvolvendo sentimentos a mais, e ela nunca vai conseguir nada de mim a não ser uns amassos no carro.
- Vá se lascar! Você pode proporcionar mais do que uns amassos no carro que eu sei! E outra, só porque ela se ferrou com um cara, não significa que você vá fazer o mesmo, oras!
Será que alguém pode me explicar essa revolta toda? Não é como se fosse o amor da minha vida. Ela é só mais uma garota que eu fiquei, por que diabos todos estão achando que vai acontecer algo a mais que isso?
- Eu nunca consegui levar uma garota a sério. Nunca namorei e nem quero. Isso de amor é tão estúpido. - tentei me justificar, o que não resultou em nada bom, já que estava me encarando com aquele olhar 43.
- Eu vou ter que te bater, cara! Você nunca sentiu o amor, como é que você pode tirar essas conclusões? - dessa vez ela realmente estava indignada, não estava nem sendo engraçado.
- Meus pais são a prova que o amor não é tão bacana assim. - eu estava tão concentrado naquele assunto que nem percebi o que tinha falado. Aquilo era um assunto que poucos sabiam, e eu gostava de manter assim.
- O que houve? Se não quiser responder, não precisa, mas é bom falar sobre essas coisas, é bom ter outro ponto de vista sem ser o seu. - sorriu sem mostrar os dentes, e logo em seguida fazendo um carinho rápido em minha mão.
Respirei fundo e... Valia a pena falar sobre aquilo? Valia a pena permitir que soubesse de algo tão intimo como isso? E a resposta era simples: não.
- Prefiro não contar. Mas mudando de assunto, o aniversário de Sophia é daqui duas semanas e eu não faço a mínima idéia do que fazer. Todo ano eu compro um bolo de padaria e comemoro com ela e nossa avó, mas eu queria fazer algo diferente dessa vez. Ela está crescendo rápido demais. - avistei a pequena de longe, que estava brincando animadamente.
- Eu amo aniversários de crianças! Pode ficar tranquilo que eu te ajudo nisso, só preciso de uns dias para pensar nisso!
- Obrigado, de verdade! Mas agora eu quero saber de você, me conte algo interessante. - a curiosidade era real. aparentava ser mais do que um rostinho bonito.
- Eu não sei o que contar... Eu sou tão normal, sabe? Eu tenho pais maravilhosos, amigos ótimos, incluindo você, mas nem sempre foi assim. Eu fiquei dois anos morando em Chicago, e nesses dois anos eu me ferrei bastante porque não conseguia me encaixar de jeito nenhum, nunca achava ninguém que levava nada a sério e isso estava acabando comigo, porque eu sempre preciso de alguém que mantenha meus pés no chão, entende? E essa pessoa sempre foi , e ter ficado longe dele estava me matando. Eu estava tão desesperada em me encaixar que comecei a me envolver com um garoto da escola que não era o melhor exemplo de pessoa. Era do tipo que bebia feito um cachorro e se drogava até não lembrar do próprio nome e as garotas eram tão atiradas que chegava a ser nojento. Era um grupo que tinha umas 15 pessoas, e todos eram assim, com alguns parafusos a menos, até que um dia, Bryan, um cara que fazia parte do grupo, morreu de overdose. Ele era meio apaixonadinho por mim, mas nunca dei bola, e mesmo assim foi um choque muito grande para todos, até para mim, que nem era tão próxima dele, porque querendo ou não, isso acaba mexendo com você. Eu comecei a ver tudo de uma maneira diferente, enxerguei como a vida é preciosa, e como a gente precisa aproveitá-la, mas do jeito certo. Pouco tempo depois, eu voltei para Charlotte e vim pra essa escola e dei graças a Deus por vocês serem consideravelmente normais. - terminou de falar dando um grande suspiro, apertando os olhos, tentando afastar aquela lembrança ruim de sua mente.
Quem diria que , nesse estilo todo fru-fru, amiga de Barbie, já andou com gente barra pesada? A vida é realmente uma caixinha de surpresas!
Depois de passarmos horas conversando sobre coisas totalmente aleatórias, estava na hora de ir para a casa de .
- Você não tem um CD nesse carro? Que ser humano é você? - estava fuçando no carro, tentando encontrar algo.
- Quem ainda compra CDs? É só conectar o celular com o rádio e pronto.
- trabalha numa loja de CDs, você poderia comprar algo lá, talvez ela te dê um desconto... Ou um beijo! - riu ao terminar de falar, e assim que tentei abrir a boca, o toque de meu celular me impediu. Dan estava me ligando.
- Fala.
- Seu pai esteve aqui, em carne e osso. Precisamos conversar, mas não pode ser por telefone, se puder, passe aqui. - Dan estava nervoso, do tipo bravo, dava para perceber em sua voz. Desliguei o celular e virei o volante bruscamente, virando a rua e indo em direção a casa de Dan.
- Ué, aonde vamos? - perguntou confusa.
- Fique quieta, só isso.
Só de saber que meu pai estava por perto, meu sangue fervia, o ódio me dominava.
Assim que chegamos até a casa de Dan, que era em um bairro próximo, porém não tão bem falado, tentei me preparar para o que poderia escutar. Sophia estava quieta, o que era bom, porém , estava claramente confusa e assustada.
- Você fica aqui com Sophia, eu volto daqui a pouco. - saí do carro rapidamente, logo entrando na casa de Dan, que estava bebendo uma lata de cerveja com seu rosto machucado, e nem mesmo me deu oportunidade de falar, disparando a verdade.
- Vou direto ao ponto. Seu pai esteve aqui há algum tempo, dizendo que gostaria que eu trabalhasse para ele, mas óbvio que não aceitei, pois estou do seu lado. Falei que não concordava com o que ele fez com vocês e ele quis colocar Nicky no meio da conversa, o que resultou numa briga, como dá para perceber. Mas , não foi só isso... Eu descobri a alguns dias que seu pai esteve em cidades diferentes, ele realmente se envolveu no lance de tráfico de drogas e armas, mas agora ele... Ele é um assassino. - Dan terminou de falar e deu um longo gole em sua cerveja, observando minha reação.
Aquilo era demais para a minha cabeça, muita informação. Em primeiro, Nicky era a ex mulher de Dan, que morreu num acidente, e Dan sempre dizia que odiava o que meu pai havia feito porque ele nunca faria nada disso com Nicky. Meu pai usá-la como provocação só provava o quão sujo ele era. Em segundo: PUTA QUE PARIU!
- Assassino? Como assim?
- Ele se tornou importante, tem drogas e armas, muita gente pega, porém não consegue pagar e ele simplesmente os mata, e você sabe que minhas informações vem dos meus rapazes, que são totalmente de confiança.
Dan também era traficante, mas aquilo não me incomodava, já que ele era do tipo que fazia negócios com pessoas mais velhas, e seus "rapazes" eram o pessoal que trabalhavam nas ruas, e realmente eram de confiança, eu conhecia a maioria, e todos conseguiam informações facilmente.
Eu não conseguia me mexer, pensar, ou falar mais nada. Aquilo foi como um murro no estômago. Meu pai, o homem que deveria ser meu exemplo de vida, havia se tornado aquilo? Como ele dormia sabendo que era um monstro? Como ele vivia sabendo que abandonou uma família? Como ele conseguia viver tão friamente? Aquilo estava me sufocando, todas aquelas perguntas rondavam pela minha mente.
- Dan, obrigado por isso, de verdade! - meu agradecimento era sincero, pois agora, mais que nunca, queria acabar com aquele filho da puta.
- Eu estou com você, de verdade! E caso ele queira colocar o negócio dele por aqui, vai ferrar o meu negócio e eu não posso deixar isso acontecer.
- Dan, antes de ir embora... Você ainda não descobriu mais nada sobre a outra família dele? - fazer aquela pergunta tinha causado um nó em minha garganta.
- Ainda na mesma. Elas não moram em Charlotte, fica difícil descobrir algo.
Agradeci mais uma vez e fui para o carro, onde e Sophia estavam conversando tranquilamente.
- Você me deve uma explicação. - sussurrou para que somente eu ouvisse.
Ficamos em silêncio até chegarmos na casa de . 's POV end
Toquei a campainha no mínimo 5 vezes e nada de atender. Meu dedo estava há segundos de apertar o botão novamente até que o lindão resolveu abrir a porta.
- Foi mal, eu tava no banho.
- Tudo bem. Cadê o Duke? - perguntei com brilho nos olhos.
- Você veio por mim ou pelo cachorro? - cerrou os olhos - Ok, não precisa responder, entra aí.
Assim que entrei vi o cachorrinho se divertindo com um brinquedinho, e é claro que aquela cena fez com que eu me derretesse inteirinha. Como é possível existir gente que tem coragem de fazer mal a qualquer tipo de animal? É muita crueldade num mundo só! Animais são amigos que não procuramos, e sim, amigos que o nosso coração encontra, e é simplesmente lamentável existir gente que não pensa dessa forma.
- Quem é o cachorro mais lindo do mundo, hein? - peguei Duke no colo e comecei a conversar com o pequeno com aquela voz de retardada que toda pessoa faz quando conversa com um animal.
Algum tempo depois o pessoal estava começando a chegar, primeiro e Callie, que são praticamente uma pessoa só, depois , e por último, , e a Sophia.
- Esse que é o Duke, certo? Que coisinha mais gostosa! - Callie e se aproximaram do pequeno cachorro.
- Um cachorrooooo! Eu posso pegar? - Sophia estava com um sorriso tão lindo que não hesitei em entregar o pequeno em suas mãos com o máximo de cuidado que pude.
- Cadê o rango? Você disse que não ia ser pizza. - perguntou enquanto sentava no sofá, passando a mão na barriga.
- Ta ligado aquelas lasanhas congeladas que é só por no microondas e ta pronto? É o que têm pra hoje. Melhor que pizza, certo? - perguntou e todos concordamos enquanto levantávamos e íamos para a cozinha.
- A gente podia assistir um filme, né? - sugeriu.
- Só se for de terror e se a Callie não escolher, porque ela só escolhe esses filmes cheios de mimimi. - exigiu enquanto colocava sua lasanha no microondas e recebendo um beliscão da namorada logo em seguida.
- Meus filmes são ótimos, seu gordo! Mas tem The Babadook, dizem ser um filme de terror bom, mas pra mim são todos iguais. - Callie sugeriu e todos concordaram, principalmente , que disse estar querendo ver esse filme há algum tempo.
Depois que conectou o notebook com a TV e deixou o filme carregando, estávamos todos sentados comendo, e assim que acabamos, todos se olharam rapidamente.
- lava a louça, falei! - Callie gritou.
- Comigo não morreu! - eu e gritamos em seguida.
Éramos muito maduras, não?
- Quem quiser que o lave a louça põe o dedo aqui, que já vai fechar... - Sophia abriu a mão entre nós enquanto cantava, e todos colocaram - ou tentaram - colocar os dedos dentro da mão da pequena mãozinha da garota.
Sophia, de 8 anos, sacaneando ! Estamos com a criança certa!
- Lava tudo, lindão. - debochou, logo se retirando da cozinha, levando todos com ele.
- Você lava e eu seco. - falei enquanto me aproximava da pia.
- Obrigado meu amor! Como você está? - juntou todos os pratos e começou a lavá-los.
- Bem na medida do possível. E você?
- Estou bem. Aconteceu alguma coisa? Se tiver acontecido algo, você precisa me contar, ok? - estava com aquele olhar que conforta qualquer um, em qualquer situação.
- Não aconteceu nada, está tudo normal. - onde está meu prêmio de mentirosa do ano? Eu não queria mentir, mas também não queria contar a verdade. Aquilo era algo meu, era algo que eu tinha até vergonha de contar, então era melhor mentir.
Assim que terminamos de lavar e secar a louça, fomos para a sala, onde , Sophia e o pequeno Duke estavam num canto do sofá, depois Callie e , e no sofá do lado, e . Se aquilo tinha sido de propósito? Imagina! Me sentei na outra ponta do sofá, ao lado de , que me olhou rapidamente dando um sorrisinho simpático. apagou as luzes e colocou o filme pra rodar.
Não, eu não tinha medo de escuro nem filme de terror, foram medos que eu já tinha deixado para trás, ao contrário de , que era 100% cagona em relação a isso.
- Porra, a gente não podia colocar um filme da Barbie, não? Tem uma criança aqui! - protestou, levando broncas rápidas pelo palavrão na frente de Sophia e por ser tão medrosa.
Rolou o primeiro susto que o filme estava dando no pessoal, e o meu único susto ali foi sentir apertando minha perna levemente e me olhando com os olhos levemente arregalados.
- Você tem medo desses sustinhos? - perguntei baixo, segurando o riso.
- Trauma de infância. Foi mal apertar sua perna. - respondeu sem graça, voltando a prestar atenção no filme novamente.
- Está tudo bem.
O filme acabou e eu simplesmente perdi as contas de quantas vezes havia apertado minha perna, cada sustinho que ele tinha, era um apertão que eu recebia. Sophia adormeceu e encostou a cabeça da garotinha em sua perna.
- Pessoal, vou me mandar, valeu pela noite e pela janta. - disse enquanto pegava Sophia no colo com cuidado para não acordá-la - e , vocês querem carona? - perguntou, e eu assenti rapidamente.
- E a gente fica aqui? Vou furar os pneus do teu carro, seu cachorro! - forçava sua voz de indignação e colocou as mãos na cintura, arrancando gargalhadas de todos ali.
chegou perto de , falando algo que era só para ele ouvir, e em seguida anunciando que não precisaria de carona.
- Vê lá o que você vai fazer com a minha prima, hein! - tentou ser sério, mas não deu certo.
Nos despedimos do pessoal e fomos até seu carro. Metade do caminho foi um silêncio horrível que eu decidi desfazer.
- Trauma de infância? O que houve?
- Sabia que você perguntaria isso - suspirou bem humorado - Uma vez eu estava assistindo um filme de terror com meu avô e um colega dele, que tinha um filho da minha idade. A noite, os três decidiram se fantasiar de monstros e me assustar a noite, eu corri pela casa toda chorando feito um otário. Depois daquilo eu me cago de medo de filme de terror, falo mesmo. - admitiu sem medo, e não tinha como não rir. Eu tentei imaginar aquela cena e ri cada vez mais, porém parei quando senti o carro parando numa rua que não era a minha.
- Não é aqui que eu moro.
estava me olhando tão profundamente que eu estava me sentindo cagada. Segundos depois o silêncio foi quebrado com o som gostoso de sua risada e logo em seguida senti suas mãos segurando meu rosto, aquilo fez eu me arrepiar todinha.
- Eu disse pra mim mesmo que iria parar de fazer isso, mas... Eu... - não o deixei terminar a frase e acabei com o espaço que tinha entre nós, grudando nossas bocas com um beijo tão calminho.
- Eu não faço a mínima idéia do que isso significa ou o que estamos fazendo. - falei entre o beijo, sentindo suas mãos apertando minha cintura cada vez mais forte.
Aquilo estava tão bom que eu não me importei em passar uma de minhas mãos por dentro da camiseta de , que se arrepiou com aquilo e logo em seguida colocou as mãos por dentro da minha camiseta e passeou com elas pelas minhas costas. O quão bom estava aquilo? Muito. O quão sem vergonha na cara éramos por estar fazendo aquilo na frente de uma criança? Muito também. Porém Sophia estava dormindo, então não vale.
Como dizem, alegria de pobre acaba pouco, e a minha acabou assim que tivemos que parar o beijo por falta de fôlego.
voltou a dirigir e assim que chegamos na porta de minha casa, o beijei novamente. Qual é? A carne é fraca.
's POV
Disfarcei ao máximo que pude e eu daria um ótimo ator, pois minha vontade era de quebrar o mundo inteiro de tanta raiva, mas estar junto com o pessoal era divertido, não tinha tempo ruim, era uma ótima distração. Digamos que os beijos de eram uma boa distração também, então tive que parar em um lugar qualquer apenas para aquilo, mesmo sendo ela que havia iniciado o primeiro beijo... E o segundo também.
Antes de sair da casa de , exigiu que eu passasse em sua casa ainda naquela noite e explicasse o que tinha acontecido.
Deixei em sua casa e mandei uma mensagem para , avisando que estava em sua porta. Sim, eu realmente devia uma explicação, e estava pronto para finalmente abrir o jogo. Guardar aquilo só para mim estava sendo sufocante. Devemos não nos arrepender do nosso passado, e sim apreciar o presente. Eu deveria apreciar a boa vontade que tinha em me escutar. Ela merecia isso.
Eu estava pronto. Finalmente pronto.
- Você não quer entrar? - perguntou enquanto se aproximava.
- Sophia está no carro dormindo, podemos ficar aqui fora?
- Podemos. - respondeu enquanto sentava na entrada de sua casa, me chamando com a mão.
- Vou precisar te contar uma longa história, para você entender tudo, e muito íntima também. Honestamente, você será uma das poucas que sabem sobre isso, mas vamos lá. Meus pais eram totalmente apaixonados um pelo outro, pelo menos era o que parecia. Assim que Sophia completou 3 anos, meu pai mudou completamente. Parou de trabalhar, nos tratava tão mal a ponto de bater nos bater, mas minha mãe o amava tanto que não conseguia tomar nenhuma atitude. Ficamos nessa por um ano e meio e depois disso ele simplesmente saiu de casa dizendo que aquela família nunca significou nada para ele, que sempre fomos totalmente insignificantes. Depois disso, minha mãe ficou tão doente que parou de comer, de trabalhar, de conversar, parou de ser mãe. Ano passado ela finalmente melhorou, não totalmente, mas melhorou o suficiente pra conseguir brincar com Sophia, a levar pra passear e fazer essas coisas de mãe e filha, só que há alguns meses atrás, nós descobrimos que meu pai tinha outra família, uma mulher e outra filha, que aparentemente eram melhores que nós, já que ele teve que nos abandonar pra isso. E além disso, ele está envolvido com venda de arma e drogas. Isso tudo foi um balde de água fria. Hoje, quando eu recebi aquela ligação, foi de um rapaz chamado Dan, que foi um grande amigo do meu pai, mas a amizade deles acabou quando meu pai nos abandonou, pois Dan achou aquilo um total absurdo. Assim que cheguei lá, descobri que meu pai está na cidade, e está mais filho da puta também. Desculpa por ter te levado até lá, mas esse assunto me deixa pirado, o ódio me domina só de ouvir algo sobre ele. - revelei a grande verdade, dando um longo suspiro. estava com lágrimas nos olhos. Porra, eu nunca sei o que fazer quando alguém chora perto de mim!
- Eu... Eu sinto muito! De verdade mesmo! Eu nem sei o que falar, . - segundos depois de terminar sua fala, me abraçou. Sim, simplesmente me abraçou, e não, eu não sou acostumado com pessoas me abraçando desse jeito.
- Para de chorar que eu não estou gostando. - limpei suas lágrimas com meus dedos.
- Olha tudo o que você passou! Eu não saberia o que fazer se fosse comigo, e você mesmo depois de tudo isso tenta cuidar de Sophia o máximo que pode. Eu não acredito que seu pai fez isso com vocês, se eu pudesse eu o matava! - e me abraçou novamente. Ok, duas vezes em um dia só já estava demais pra mim.
- Mas isso é algo nosso, tudo bem? Quanto menos gente souber disso, melhor. - alertei enquanto fazia carinho em seus cabelos, já que ainda estávamos abraçados.
- Tudo bem! Mas , o que você vai fazer se encontrá-lo algum dia? - me olhou diretamente nos olhos, ainda deixando algumas lágrimas escapar de seus olhos.
- Não sei, .
Eu nunca parei para pensar naquilo. O que eu faria quando encontrasse Richard? Aquela pergunta não tinha importância no momento, porque estar ali com , conversando sobre coisas que eu não falava com ninguém, me deu um alívio tão grande que eu estava me sentindo mais leve até para respirar. Era essa a sensação de ter algum amigo? De ter alguém ali para te ouvir? Porque honestamente, eu realmente gostei daquilo.
É preciso crer em si mesmo, ter autoconfiança de que se pode encontrar alguém bom na vida, e eu finalmente achei. Essa pessoa se chama .
"Na maior parte das vezes, aquilo que você mais quer é aquela coisa que você não pode ter. O desejo nos parte o coração, nos esgota. O desejo pode ferrar com tua vida. E por mais duro que seja querer muito uma coisa, as pessoas que sofrem mais são aquelas que sequer sabem o que querem."
7 horas, mais um dia. Acordar, me arrumar, ir pra escola. Era sempre a mesma coisa, a mesma rotina, e aquilo realmente estava me deixando agoniada. Eu preciso de algo em minha vida, algo diferente, algo que me mude, algo que me faça lutar, algo que eu possa me apegar, que faça eu me sentir viva! Eu sentia um buraco em meu coração, algo que ainda não havia sido preenchido em nenhum momento da minha vida, e a coisa que eu mais gostaria de saber é: o que vai se encaixar nesse buraco em meu coração?
- , você chegou!
- É hoje!
Callie e estavam tão animadas e a única coisa que eu consegui dizer foi:
- Quê? O que tem hoje?
Suas expressões de decepcionadas foram demais!
- O resultado do teste, oras! - respondeu indignada, porém logo se rendendo ao seu bom humor de sempre.
Talvez eu tivesse alzheimer ou algo do tipo, pois nunca me lembrava desse tipo de coisa!
A semana havia passado voando e eu não tinha percebido! Estava tudo normal, exceto por e , que estavam num grude só, o que me deu uma pontinha de inveja, afinal, eu realmente gostaria de conhecê-lo melhor, porém estava ganhando essa.
's POV
Passar mais tempo com estava realmente sendo bom, não só para mim, quanto para ele também, dava para perceber. Como ele conseguiu guardar tudo aquilo para ele mesmo? Como ele conseguiu passar por tudo aquilo? Ele era de longe, uma das pessoas mais fortes que eu conhecia.
Depois de bater um papo rápido com e Callie, fui até meu armário, e estava no corredor.
- Bom dia, mocinho.
- Bom dia, mocinha. É hoje o dia em que vocês vão virar oficialmente levantadoras de pompons? - perguntou risonho.
- Ei, mais respeito com a futura líder de torcida aqui!
- Ué, já trocou de namoradinha? Você realmente não aguenta uma só, não é? - Jackson se juntou a nós, abrindo seu armário e pegando seu material.
- Vá se foder, cara. - bateu seu armário e saiu dali rapidamente.
já havia me contado sobre seus pais e os pais de Jackson terem sido grandes amigos por anos, mas tudo havia acabado quando sua mãe ficou doente e seu pai sumido.
Como Jackson conseguia ser daquele jeito? Tão rude, tão ridículo, tão sem sentimentos? Eu o olhava e a única coisa que conseguia enxergar era um enorme vazio.
Depois de aulas entediantes, exceto química, finalmente ficaríamos sabendo o resultado do teste. Callie nos arrastou para isso, mas pensando bem, era algo realmente bacana. Se tornar líder de torcida e animar os jogos em que meus amigos jogariam, é o tipo de coisa que eu me lembraria quando estivesse com 80 anos, e ainda contaria para os meus netos!
Uma lista foi colocada no mural de recados da escola e lá estavam os 12 nomes da equipe: Emma, Ashley, Paige, Caitlin, Callie, Hanna, , EU, Sabrina, Carolina, Lydia, Jess e Chloe.
Em primeiro lugar: EU PASSEI!
Em segundo: Hanna, a garota que eu dei uma bolada na cara, estava na nossa equipe. Em terceiro: o que diabos Chloe estava fazendo ali? Eu nem sabia que ela tinha feito o teste!
No final da folha tinha uma observação, dizendo que Callie era a mais qualificada para ser a chefe da equipe.
- A gente conseguiu, eu não estou nem acreditando! - me abraçou e Callie logo se juntou a nós, nos dando um abraço todo torto.
- Callie, você é a chefe!
A bichinha estava tão feliz que estava dando pulinhos e logo encheu de beijos. Ahhhhh, o amor é realmente uma gracinha!
- Parabéns meu amor, agora vai dar mais trabalho cuidar de você com a roupinha minúscula de líder de torcida, mas tudo bem. - me deu um forte abraço, rindo enquanto falava.
- Não só de mim, como de Chloe também.
- Como assim? - perguntou confuso. Nem ele sabia que ela tinha feito o bendito teste!
- Ela está na equipe, e Hanna também!
- Puts, que ótimo! Minha melhor amiga, uma ex ficante e minha atual na mesma equipe, está tudo lindo! - forçou seu tom de voz derrotado.
- E você e Chloe, como estão?
- Bem. Ainda estamos nos conhecendo melhor, mas ela é uma garota incrível. - sorriu, e era uma das coisas que eu mais gostava nele, o sorriso.
já tinha namorado duas vezes, mas sua primeira namorada o traiu, e a segunda o largou por outro. Nem preciso dizer que ele ficou arrasado, né? Mas ele nunca deixou de sorrir e seguir em frente, e essa era sua maior qualidade: nunca desistir da vida, por mais que apareça algo para atrapalhar. Ele é um garoto incrível, e não digo isso só por ele ser meu melhor amigo, digo isso por ser a verdade, e vê-lo feliz, me deixava feliz. Eu finalmente estava começando a gostar de Chloe, e já que eles estavam bem, era o que importava.
- E você e ? Estão mais juntos, estou quase me sentindo trocado.
- Estamos construindo uma linda amizade, se eu fosse você, ficaria com medo de ser trocado mesmo. - provoquei enquanto ria.
- Ah é? - estava rindo e se aproximando, com as mãos abertas. Eu já sabia o que aconteceria, e assim foi. Suas mãos estavam fazendo cócegas em mim, no meio do corredor da escola. Maduros? Claro!
- Pa... Para... Eu vou ficar sem ar! - demorei para terminar a frase devido aos grandes risos.
- Olha só que lindo essas duas CRIANÇAS no meio do corredor. - deu ênfase na palavra "crianças", mas logo se rendendo aos risos, e estava ao seu lado.
- Ela praticamente disse que vai me trocar por , precisei tomar previdências drásticas. - se explicou, parando de me fazer cócegas e me abraçando de lado.
- Esse garoto chegou com tudo! Beijando , brigando com Jackson, quase roubando de ... Você está de parabéns! - olhava para enquanto falava, que acabou rindo daquilo.
- Agora vou dar uma olhada na minha outra garota. Vê se não rouba minha melhor amiga mesmo, cachorro. - apontou para e logo se retirou dali, indo atrás de Chloe. Garotos... Sempre tão gentis e com apelidos maravilhosos entre eles.
- Você conseguiu! Parabéns... Eu acho. - se aproximou rindo.
- Obrigada! Já deu parabéns pra ? - tentei segurar o riso, mas não consegui. Provoca-lo com aquilo era engraçado.
- Ainda não, mas quer saber? Vou procurá-la agora, quem sabe eu dê um beijão nela também. - ele entrou na brincadeira, rindo também.
- Só vai! 's POV end
Eu estava levemente feliz com aquilo, afinal, eu estaria com Callie e torcendo para os nossos garotos. Receber os parabéns das pessoas foi empolgante de verdade, porque eu não estava botando muita confiança nisso.
- Parabéns! - chegou por trás de mim, colocando as mãos em minha cintura e me fazendo dar um pulinho de susto.
- Valeu, ! - chamá-lo pelo apelido parecia tão íntimo, porém estávamos longe disso.
Ele estava olhando para a minha boca. Ok, tentarei não morrer de vergonha depois disso. Senti pegando em minha mão e logo me puxando para longe dali. Assim que nossas mãos se tocaram foi como um choque, como se fossem feitas uma para a outra. Ai cacete, o que diabos eu estava pensando?
Estávamos em um corredor vazio, e eu sabia o que estava por vir, mas assim que tentou me beijar, virei o rosto. Sim, recusei beijar aquele pedaço de mal caminho, mas tinha meus motivos.
- O que foi? - perguntou confuso.
- Acho que... Chega disso. Eu não sei o que isso significa, provavelmente não seja nada, então é melhor por um ponto final. - respondi firme. Sim, eu estava colocando um ponto final naquilo de vez, ou pelo menos, tentando.
- Mesmo? - se aproximou, ficando a poucos centímetros de minha boca. Pelo amor de Deus, como é que eu me seguro desse jeito?
Acabei com o espaço entre nós, o beijando e colocando minhas mãos em seus ombros.
Parabéns, , você falhou!
- Desculpe, sério. - falou entre o beijo, me olhando em seguida. Ah cara, não chore pelo leite derramado! Ignorei seu pedido de desculpas e o beijei novamente, e assim que tivemos que parar por estarmos sem ar, dei um sorriso sem mostrar os dentes e dei o fora dali. Qual era o meu problema?
Nossa equipe de líderes de torcida foi chamada para ter a primeira reunião, ali mesmo, na quadra da escola.
- Olá meninas! Meu nome é Jesy e eu serei a coreógrafa de vocês por um tempo. Depois, será tudo com vocês. Líderes de torcida são classificadas em duas categorias: Sideline ou Competitive. Geralmente as Sideline não são tão cobradas em elevações e saltos acrobáticos, é mais focado em saltos e posições básicas. Já as Competitive, são treinadas para darem saltos acrobáticos e fazem elevações, mas como é o primeiro ano de muitas garotas aqui, seremos Sideline. E sim, também temos uma competição de líderes de torcida junto com o último dia de campeonato, então temos que nos esforçar muito para ganharmos! Aqui estão fotos de modelos diferentes de uniformes, vocês precisam escolher qual preferem, se der, escolham agora. - Jesy era morena, cabelo cacheado, alta e com um corpo impecável. Totalmente linda!
Fizemos um círculo e colocamos as fotos no meio. Tinham modelos diversos, mas o que nos encantou foi o clássico blusa e saia. A blusa chega até o começo da saia, ou seja, a barriga não aparece. E podíamos também, escolher um uniforme a mais, com mangas cumpridas, caso precisasse.
- Vamos querer esse amarelo. - Chloe se pronunciou, recebendo todos os olhares dali.
- Caminha aí, Chloe, todas nós temos que decidir juntas. - Carolina se manifestou, fazendo a garota fechar a cara.
- A camiseta dos garotos será azul, então acho melhor escolhermos esse aqui. - Callie apontou para um uniforme azul e branco e todas nós, menos Chloe, concordamos, pois era realmente o mais bonito. Passamos nossos números e medidas para poder mandar fazê-los.
- Garotas, aqui está os horários dos treinos e ensaios de vocês. Não se atrasem, por favor! Falta apenas uma semana para o primeiro jogo e precisamos ensaiar uma coreografia bacana até lá. Obrigada por hoje! - Jesy entregou papéis para cada uma de nós, nos acompanhando até a saída da quadra.
Olhei o papel e só podia ser brincadeira. Aquilo tudo estava indo bem demais para ser verdade.
- Os horários. - cutuquei , que me olhou confusa, mas logo percebeu o meu desespero.
- Puts, o que você vai fazer?
- Eu não sei! Eu fiquei tão animada com isso tudo que nem que lembrei que teriam treinos e ensaios depois da aula, que são durante meu horário de trabalho também. - respondi derrotada e desesperada.
- , é o nosso último ano! Sei que trabalhar é importante para você, mas lembre-se que isso aqui é o tipo de coisa que vai nos trazer diversão e ficar em nossa memória pra sempre! - sorriu e me abraçou de lado, me fazendo ver um lado bom naquela situação. Como ela conseguia ser desse jeito?
Aquele pensamento me acompanhou durante o dia inteiro e eu já tinha decidido o que fazer. tinha razão, aquilo seria divertido e eu merecia diversão!
Fui trabalhar normalmente, tentando disfarçar ao máximo, mas assim que chegou a hora de fechar a loja, tomei coragem para fazer o que tinha que ser feito.
- George, podemos conversar?
- Claro, querida. O que houve? - George sentou, me oferecendo a cadeira do lado.
- Você sabe que eu adoro trabalhar aqui, de verdade, mas eu me envolvi em uma coisa doida na escola com minhas amigas, agora eu serei líder de torcida e terei ensaios depois da aula, então precisarei me demitir. Desculpe por isso, mesmo! - apertei os olhos, com meu coração apertadinho. Depois de um ano e meio trabalhando ali, largar aquilo por diversão seria estranho.
- Oh minha querida, você é tão jovem e cheia de vida, merece aproveitar seu último ano da escola, sendo líder de torcida ou não! Tenho que admitir que eu e minha esposa estamos pensando em nos mudar daqui, ir para uma fazenda e aproveitar a velhice! - riu ao terminar de falar. George era o tipo de idoso que você sente vontade de apertá-lo por ser tão fofo e agradável, creio que se o mundo tivesse um pouco mais da bondade que ele tem, tudo seria melhor.
- Obrigada por tudo, mesmo!
Nos despedimos com um longo abraço, e saí de lá me sentindo tão diferente! Nossas intenções são sempre as mais sinceras, mas as vezes perdemos a capacidade de exercer limites, e foi exatamente isso que aconteceu: eu só conseguia pensar no quanto me odiava e no quanto merecia sofrer. Mas agora, esse sentimento diferente se define em saber que isso foi a coisa mais gentil que eu tinha feito por mim mesma. As coisas estavam mudando e eu mal percebia! Eu tinha pessoas bacanas ao meu lado, passava bons momentos ao lado deles e agora me divertiria com minhas duas amigas sendo líder de torcida! Eram coisas realmente bacanas, coisas que eu não esperava ter esse ano, mas ainda assim, estava triste. Me sentia triste e incompleta, mesmo tendo coisas boas em minha vida. Por que a tristeza não podia me abandonar? Ou será que eu não queria desapegar da tristeza?
"A felicidade vem em muitas formas. Na companhia de bons amigos, no que se sente quando realiza o sonho de alguém, ou na promessa de esperança renovada. Está tudo bem em deixar-se ser feliz. Porque você nunca saberá quão rápida essa felicidade irá durar."
Depois de uma semana treinando com exercícios que eu nem sabia que existiam e ensaiando coreografias que eu nunca me imaginaria dançando, o dia do jogo finalmente chegou.
Estávamos no vestiário feminino, nos arrumando para nosso primeiro dia como líder de torcida. Nosso uniforme ficou divino, tão bonito que dava dó de usar. A minha sorte grande foi ele não ser o tipo de uniforme que mostra a barriga, se não, eu estaria ferrada para explicar as cicatrizes espalhadas por ali. E sobre as cicatrizes no braço... Nada que pomadas e maquiagens não resolvessem.
- Todas prontas? - Chloe perguntou, passando na frente de cada uma de nós.
- Ainda não.
- Falta o cabelo. - respondeu desajeitada.
- Então arrume logo, um rabo de cavalo alto. - a garota praticamente ordenou, recebendo alguns olhares tortos.
E foi assim durante a semana inteira, Chloe mandando aqui e ali, ou pelo menos, tentando, já que Callie acabava com a graça da garota rapidinho.
- Eu nem acredito que estou vestido um desses de novo. - Callie apontou sorridente para o uniforme, que estava perfeito em seu corpo.
- Estamos muito lindas, eu vou até chorar. - fingiu cara de choro, nos fazendo gargalhar.
Saímos do vestiário e esperamos os garotos para podermos desejar boa sorte.
Os corredores estavam enfeitados com frases de apoio para o time, bexigas, faixas, e tudo o que tinham direito, fora a organização da festa que teria ali mesmo, na escola, para comemorar o começo do campeonato. A escola adversária também estava ali para assistir o primeiro jogo. Esse pessoal realmente leva futebol a sério!
- Meu Deus! Isso aqui é um aeroporto? Porque eu só estou vendo avião! - soltou uma cantada péssima assim que nos viu, colocando a mão no peito e fazendo todos rirem.
- Respeita minha namorada, seu lixo. - deu um pontapé nas costas do garoto, porém riu.
é, sem dúvidas, uma das pessoas mais engraçadas que eu já conheci!
- A gente precisa registrar esse momento, estamos tão lindinhos! - Callie pegou seu celular, pedindo para a primeira pessoa que passava pelo corredor tirar uma foto. Fizemos nossas melhores poses e lá estava nossa primeira foto juntos! Nos abraçamos rapidamente e cada um foi para seu lado.
O jogo seria na quadra aberta, que era maior e melhor para jogos como aquele. Pegamos nossos pompons e corremos em direção ao centro da quadra. Eu estava nervosa, mas era um nervosismo gostoso de sentir, se é que isso existe.
E lá estávamos nós, mostrando nossa tão elaborada coreografia para a nossa, e a escola adversária, que também trouxe sua equipe de líderes de torcida.
- VAI RAVENS! - jogamos nossos pompons para o alto, os pegando antes de caírem no chão para terminar nossa apresentação.
Mesmo estando tímida no começo, fazer aquilo com pessoas que se gosta tornava tudo mais fácil. Sentir algo que não fosse dor era diferente, era gostoso, era bom, era novo.
- Fomos demais! - Emma sorriu e nos juntamos num abraço em grupo.
Alguns minutos se passaram e a outra equipe de líderes de torcida fizeram sua apresentação também, e tenho que admitir que foram super bem!
Faltavam poucos minutos para o jogo começar. Ravens, o time dos garotos, contra os Strikers, time da outra escola.
- Se eles perderem esse jogo eu juro que enfio a cabeça de todos na privada. - gritou como se eles estivessem a ouvindo.
E... Começou!
Gritávamos nossas melhores rimas e frases de incentivo, o que fez a equipe adversária disparar na animação.
- Olha só essas coitadas achando que vão ganhar! - Callie ria e apontava para as outras garotas, que estavam do outro lado da quadra nos encarando feio.
Depois de 15 minutos e nada ter acontecido, eu já estava quase pedindo arrego. Eu não tinha saúde pra gritar pra um monte de macho correndo atrás de uma bola.
- GOL, PORRA! - Callie gritou e nos puxou para um abraço desajeitado. - retiro o que disse, eu tinha saúde para aquilo sim! Gritamos e comemoramos com a maior animação do mundo.
Foi um gol tão rápido que eu nem havia percebido, muito menos visto quem havia marcado, mas como felicidade de pobre dura pouco, minutos depois, os Strikers marcaram um gol também.
O primeiro tempo havia acabado e nós já estávamos exaustas de tanto gritar. Se eles perdessem, eu ajudaria a enfiar a cabeça de cada um na privada.
Assim que o segundo tempo começou, conseguiu roubar a bola de um garoto do time adversário e marcou um gol tão bonito que eu poderia rolar por ali só para dar um beijo nele. Pouco tempo depois, marcou outro gol, fazendo gritar até não conseguir mais.
Sim, os Ravens ganharam e não poderíamos estar mais felizes com isso.
Os garotos saíram do vestiário e correu para abraçar , fazendo Chloe revirar os olhos.
- Vocês viram o meu gol? Foi lindo demais, não foi? - perguntou de maneira convencida e animada.
- Realmente! Eu quis te encher de beijinhos na hora. - assim que terminei de falar, todos pararam e me olharam.
- Ih , não está dando conta do recado? - dava tapinhas nas costas do mesmo, fazendo todos nós rirmos.
- Vocês namoram? - Chloe perguntou para desconfiada para , que arregalou os olhos e riu, negando com a cabeça. A garota mal chegou e já estava me fazendo passar vergonha.
- Vamos para casa e depois nos encontramos aqui para aproveitar a festa, ok? - Callie se afastava em direção a saída, me puxando com uma mão, e com a outra.
- Eu posso ir com vocês? - Chloe perguntou sem graça, nos fazendo parar de andar no mesmo instante. Nos entreolhamos e concordamos com a cabeça. Não podíamos simplesmente dizer não para a garota.
Fomos conversando durante o caminho todo, menos Chloe, que não abria a boca.
- Ei, conte mais de você, menina! Você é sempre quieta assim? - Callie perguntou animada. Existia alguém mais simpática? Não.
- Eu não sei o que dizer... Estou no segundo ano, gosto de tocar violão e amo química. Eu não sou nada interessante. - a garota respondeu de maneira simpática, sorrindo tímida.
Chegamos até a casa de e ficamos o resto da tarde ali, já que a festa seria só a noite. Chloe finalmente estava falando, inclusive até demais; sobre suas viagens em família para outros países, suas festas, e suas aventuras vividas durante a vida. E lá estava mais uma pessoa com uma vida maravilhosa para eu transbordar de inveja.
's POV
Chegamos na casa de e seus pais estavam lá, e foram totalmente simpáticos com todos nós. Ele já havia comentado o quanto era grudado com o pai e que eles eram totalmente tranquilos.
O quão bom poderia ser aquilo? Ter pais juntos, felizes e unidos? Eu realmente ficava feliz por ver que ainda existiam famílias daquele jeito.
Deveríamos ter ido nos arrumar, mas um lindo video-game estava ali, prontinho para ser jogado. Eu e estávamos jogando FIFA e acabamos perdendo noção do tempo, e o resultado daquilo foi ligando sem parar, perguntando onde estávamos, e dizendo que ela e as garotas já estavam na escola.
Chegamos na escola às pressas, mas deu para reparar que estava tudo bem organizado, muita comida, muita gente, muita música, porém nada de bebida. Qual era a graça daquilo?
- Foi você que atrasou todo mundo, não foi? - chegou de surpresa, praticamente gritando por conta da música alta.
- Foram só 40 minutos de atraso. - sorri cinicamente. Ela estava mais bonita que o normal, se é que aquilo era possível.
- Ok, mas agora, vamos dançar!
- Eu não sei dançar nada! - tentei me salvar daquilo e fui ignorado, sendo obrigado a me mover, ou tentar, no ritmo da música.
Estava tocando The Nights, do Avicii. Não era uma música tão bacana para dançar, porém todos estavam se virando como podiam, inclusive eu, com ajuda de . Aquilo estava engraçado, a maneira como ela tentava me ensinar, e mais ríamos do que dançávamos. Olhei ao redor e estava perto de nós, tentando também, dançar com , mas estavam na mesma situação que nós.
que me desculpe, mas estava mais linda ainda. Muito simples, mas muito linda. 's POV end
Se eu era ruim dançando, conseguiu ser 70 vezes pior. Estávamos nos divertindo bastante ao tentar acertar os passos de pessoas que realmente sabiam dançar, porém falhamos. estava um pouco atrás de nós, dançando com e nossos olhares acabaram de cruzando.
- Espera aí. Está tudo errado! Você deveria estar dançando com e eu com , quem sabe assim eu consigo um beijo dela?! - arregalou os olhos minimamente, animado com a própria idéia e riu ao terminar de falar. Puxou minha mão até onde os dois estavam. Esse pessoal não cansa de me fazer passar vergonha? - Gente, troca isso aqui, não quero mais a . , pegue sua donzela. - soltou minha mão e pegou a mão de , que estava gargalhando alto e simplesmente foi dançar com ele sem nem dizer nada.
Eu mato esses dois agora ou daqui a pouco?
- Eu não sei dançar, então acho que isso aqui não vai dar certo. - claramente estava tentando fugir daquilo.
- Podemos tentar. - sorri convidativa, e os olhos do garoto rolaram em reprovação, mas acabou cedendo.
Começou a tocar Want To Want Me, do Jason Derulo e estávamos botando pra quebrar!
Mentira. Estávamos péssimos, mas tudo bem.
- Girl, you're the one I want to want me, and if you want me, girl, you got me. - cantarolava enquanto ria de si mesmo. Ele realmente não sabia dançar.
- There's nothing I, no, I wouldn't do, I wouldn't do, just to get up next to you. - terminei o verso da música, sentindo suas mãos em minha cintura, me puxando para mais perto, mais perto e mais perto.
- Vou pegar algo para beber, já venho. - me separei dele e saí andando o mais rápido que podia.
Eu sentia que tinha um mini demônio sentado em meu ombro esquerdo e no direito, um mini anjo, ambos dizendo coisas diferentes. E claro, segui o conselho do mini anjinho. Por mais que ficar com fosse bom, aquilo tinha que acabar de vez. Eu não sou a garota que ele pode vir beijar sempre que tiver vontade e já era. E afinal, eu deveria lembrar do que aconteceu da última vez. Garotos não querem nada sério nessa idade, então o melhor que eu fazia era acabar com aquilo, e dessa vez iria conseguir!
Fui atrás de algo para beber de verdade, mas não tinha nada alcoólico ali. Mais parecia uma festa de ensino fundamental. Não que eu fosse daquelas que bebe até não poder mais, porém beber em festas era algo normal.
- O que uma menina tão linda está fazendo sozinha? não consegue dar conta disso tudo, não é? - Jackson perguntou ironicamente enquanto segurava um copo que estava cheirando a Vodka.
Por que ele sempre estava no mesmo lugar que eu? Ateus que expliquem essa!
- Onde você conseguiu isso? – apontei para seu copo, ignorando sua piadinha inicial.
- Você não achou que ficaríamos aqui só bebendo esses refrigerantes, né? Tenho minhas fontes, lindinha. - e foi aí que lembrei que Jackson não passava de um playboy de merda que tinha tudo o que quisesse, incluindo bebida alcoólica num lugar que não era permitido.
- Uau, que demais. - minha voz estava coberta por ironia.
- Eu não sou o babaca que você pensa que eu sou, sabia? Você nunca conversou comigo mais do que 2 minutos. Por que você não vai para a festa que vai ter na minha casa depois daqui? Prometo que vai ser legal! - era a primeira vez que eu via Jackson falando como uma pessoa decente.
- Não, valeu. - me virei, andando para longe dali, porém ouvindo passos a mais.
- É sério, vai ser legal, você não vai se arrepender! - Jackson pegou em meu pulso com força para impedir que eu me afastasse novamente. Minha blusa era de manga cumprida, porém muito fina, então estava começando a arder por causa dos cortes que estavam cicatrizando.
- Tudo bem, mas eu não estou afim. - e mesmo recusando ele não havia me soltado - Você já pode me soltar agora. - ordenei séria.
- Muitas garotas gostariam de ser convidadas para uma festa na minha casa, sabia? E você aí, recusando meu convite. - Jackson se aproximava mais a cada palavra que falava. O cheiro de bebida que saía de sua boca podia ser sentido a metros de distância.
- Cacete, não quero ir e pronto, que saco! - fui totalmente grossa e puxei meu próprio pulso, me soltando por conta própria.
- Você é muito estressadinha, mas um dia eu te acalmo. - riu, passando os dedos pelo meu rosto e saiu andando em direção à saída.
Bufei e sentei num banco perto dali, já tinha perdido toda minha animação.
Minutos depois, o pessoal apareceu por ali.
- Estávamos atrás de você mesmo. Vamos embora, comer uma pizza e assistir algo. - falava enquanto o resto o encarava com expressão de indignação.
- Cara, pizza? Chega disso. Vamos para um bar, não tem nada alcoólico aqui e eu preciso beber. - sugeriu animado.
- É isso ou a festa do Jackson, o que vocês preferem? - perguntei impaciente, e ninguém havia se manifestado - Ok, nada de Jackson. Vamos para um barzinho mesmo.
estava com o carro de sua mãe, então levou Callie, e Chloe, e no carro de fomos eu, e .
Fomos a um bar que já conhecia e adorava, era um lugar bem cheio, muita música, e finalmente, álcool! Eu e as garotas fomos até o bar e escolhemos a primeira coisa que vimos.
- Eu vou querer uma caipirinha. - Chloe fez seu pedido.
- Eu quero esse blue lagoo. - foi a vez de Callie.
- Nós duas vamos querer uma margarita. - e eu combinamos de pegar aquela bebida.
Assim que pegamos nossas bebidas, fomos encontrar os garotos, que estavam sentados numa mesa que cabia todos nós.
- Não acredito que vocês pediram essas bebidas de criança! Que decepção. - fingiu realmente estar decepcionado, fazendo careta ao ver nossas bebidas.
- Elas são garotas, cara, não aguentam muita coisa. - estava do seu lado, rindo.
- Que absurdo! A gente aguenta mais do que isso aqui, te garanto. - estava indignada, e realmente, aguentávamos mais do que aquilo com certeza.
- Vou trazer algumas bebidas decentes pra gente e vamos ver quem aguenta mais. - falou em tom desafiador, indo até o bar junto com os garotos.
Se ia dar merda? Possivelmente. Mas realmente não estávamos nem aí para nada naquele momento, e era uma sensação tão boa!
Os garotos voltaram com três bandejas cheias de copos de bebidas variadas. foi a primeira a pegar qualquer copo que viu pela frente e o virou de uma vez, fazendo careta ao terminar.
- Credo, o que eu acabei de beber?
- Um copo de big apple com energético. Gostou? - perguntou enquanto fazia carinho no ombro da melhor amiga.
- Gostei. - respondeu firme. É claro que ela levaria aquilo a sério até o fim.
Todos pegamos um copo de cada e viramos de uma vez. Um copo de tequila já havia me deixado tontinha, mas não paramos por aí. Depois de virarmos mais uns 3 copos decidimos dançar um pouco.
- Ei, sei que estamos nos divertindo, mas pega leve. Ainda lembro a primeira vez que você ficou bêbada. - falou ao pé do meu ouvido, logo sendo puxado por Callie.
Sinceramente, ser namorado de Callie requeria muita energia e disposição, pois a garota nunca estava parada!
Creio que a primeira vez que qualquer pessoa fica bêbada, não é agradável, e a minha também não foi. Foi pouco mais de 1 ano atrás. Eu e fomos numa festa de um garoto da nossa escola antiga, e claro, tinha bebida suficiente para três festas daquela. Tudo sempre começa com "só vou beber isso aqui", "só esse copo" e algum tempo depois você já está tropeçando em si mesma e falando coisas totalmente sem sentido. Nunca é agradável o que vem depois, e no final, tia Márcia acabou descobrindo tudo. Nem preciso dizer que levei bronca por tipo, uma semana, né?
Estávamos todos na pista de dança, e Chloe, e Callie, estava com uma garota desconhecida, estava dançando comigo até ser puxada gentilmente por um rapaz e começarem a dançar juntos, e ... Como sempre, já havia sumido. Fui até nossa mesa para buscar mais algumas bebidas e me deparei com uma cena que não me agradou nenhum pouco. estava beijando uma loira 100% tingida. Fiquei feito boba observando aquela cena por alguns minutos e voltei para a pista de dança, e mesmo não dançando tão bem, dancei. Olhei ao redor procurando por , e adivinha só? Ela estava ficando com o rapaz que a chamou para dançar.
Qual é, Deus? Me manda um gatinho também, por favor!
Depois de não ter meu pedido atendido, fui até a mesa novamente, bebendo mais um copo de não-sei-o-que-é-isso, e segundos depois, o pessoal todo se juntou, até .
Os garotos foram buscar mais bebidas, e quando chegaram, Chloe pegou dois copos de uma vez.
- Ave Maria, o que tinha nesses copos? - perguntou rindo, levemente já alterada pela bebida.
- Nem eu sei mais. - respondeu rindo, pegando dois copos e os virando de uma vez também.
- Vamos fazer uma aposta? Quem beber mais copos de uma vez, ganha 50 dólares de cada um. - propôs. Esse garoto realmente não tinha jeito, porém todos aceitamos.
Bebi 4 copos, e Chloe beberam 5, , e 7 e 9. Ele já era tão acostumado com bebida que seu organismo já não sentia mais nada.
Além de não ter ficado com ninguém, devia 50 dólares para , vê se pode?! Fomos todos dançar novamente, mas dessa vez, estava me acompanhando. Blame, do Calvin Harris estava tocando e eu já não estava ligando se estava dançando bem ou não.
- Você está bem? - perguntou em meu ouvido, já que o som estava totalmente alto.
Apenas assenti e continuei dançando, porém ele estava parado me encarando, e sem pensar, envolvi minhas mãos em volta de seu pescoço e começamos a nos mover juntos. se aproximou lentamente e eu estava pronta para ser beijada até lembrar que ele tinha ficado com aquela loira de farmácia e que eu precisava dar um ponto final naquilo, então simplesmente virei o rosto. Não, não era ciúmes, era apenas eu cumprindo minha palavra.
- O que foi? - arqueou as sobrancelhas, me olhando com uma expressão nada agradável. Não tive tempo de responder já que fomos interrompidos por , nos chamando para irmos embora, dizendo que Chloe não estava passando bem.
- Você está legal pra dirigir ou prefere ir de taxi? - perguntou para , que respondeu que poderia dirigir.
E realmente, os dois nem pareciam ter bebido o tanto que beberam, já que dirigiram normalmente até a casa de Chloe. Descemos dos carros e estava apoiada em mim, não estava tão bem como dizia estar.
UAU.
Era a única palavra que estava em minha mente. A casa de Chloe era do tamanho de todas as nossas casas juntas e mais um pouco, era simplesmente maravilhosa!
- Isso aqui é um castelo ou o quê? - estava tão surpreso quanto eu. Realmente não sabíamos que Chloe era tão rica.
- Que nada! Meus pais devem estar em algum lugar por aí e provavelmente só voltam amanhã, então fiquem à vontade. - respondeu com dificuldade, a coitada estava quase dormindo em pé.
- Eu não deveria ter deixado você beber tanto, foi mal. - se sentou ao lado de Chloe, fazendo carinho em seu cabelo.
- Acho melhor vocês dormirem aqui, já está tarde e dirigir bêbado não pode. - Chloe alertou com a voz arrastada, aproveitando o carinho que recebia.
Aceitamos o convite e subimos para o andar de cima, em direção aos quartos. Nós, garotas, dormiríamos no quarto junto com Chloe. Que nem preciso dizer que é enorme, certo? Os garotos decidiram ficar em um quarto só também, para evitar tanta bagunça.
- Se vocês quiserem algo para vestir, podem pegar naquela gaveta ali. - Chloe apontou para a tal gaveta e corri para achar algo com mangas compridas.
Aquelas roupas deviam ser tão caras que dava até medo usá-las, mas dormir de short jeans e blusa detalhada não seria nada confortável.
Nos trocamos e ficamos batendo papo por um tempo, até o sono chegar para todas, menos para mim.
's POV
Estávamos no quarto todos juntos, até porque não valia a pena bagunçar tantos quartos apenas pra dormir algumas horas.
- Eu fiquei com umas três meninas e uma delas era tão linda, mas tão linda, que eu até namoraria com ela. - comentou, rindo de si mesmo. Aquele ali namorando eu pagava para ver.
- No dia que você namorar o mundo cai, sério. - retrucou, rindo também. Estávamos todos abobados por questão da bebida então ríamos de qualquer bobeira.
- Quando você vai namorar com a Chloe? - perguntou sonolento.
- Quando eu conhecê-la melhor e ter certeza que é amor. Não estou a fim de me ferrar de novo, vocês sabem.
- Como assim se ferrar de novo? - perguntei confuso. Havia coisas sobre os rapazes que eu ainda não sabia, e nem eles sobre mim.
- Eu namorei duas vezes, a primeira me traiu e a segunda me largou por outro. Só tomei no cu, mas espero que dessa vez seja diferente. E você, garanhão, já namorou?
- Eu não, nem pretendo. - e realmente não pretendia, queria aquilo longe de mim.
- Opaaaaa, então eu ainda tenho uma chance com ! - comemorou, quase se entregando ao sono.
- Nenhum de vocês vale o coraçãozinho da minha prima. Boa noite, seus trouxas sem namorada. - se despediu e em menos de 10 minutos, já estava roncando.
Depois de falar várias merdas, todos conseguiram dormir, menos eu. Bebidas me deixavam elétrico.
Encarei o teto e lembrei dos dois foras que levei de , o que era estranho, já que eu nunca levava foras e acima de tudo, não corria atrás de garota nenhuma, mas corri atrás dela. Duas vezes. Levei uma bota nas duas.
Decidi tomar um ar, já que não dormiria tão cedo. Desci as escadas e até levaria um susto se não reconhecesse aquele cabelo.
- O que você está fazendo aqui? - perguntei e deu um pulinho de susto.
- Que susto, merda! - quase gritou, espalmando as mãos no ar de maneira indignada - Não consigo dormir, e você?
Ela estava uma gracinha com aquele pijama que obviamente era de Chloe.
- Também não estou conseguindo. Posso ficar aqui com você?
- Você já está aqui, não está? - arqueou as sobrancelhas e sorriu, desdobrando as pernas para que eu pudesse sentar ao seu lado.
- Você tem noção que me deu dois foras hoje? – ri para disfarçar e não deixá-la tão sem graça. Eu realmente não tinha vergonha na cara!
- , podemos ser amigos, tipo, amigos mesmo, que conversam e desabafam, mas pra isso eu preciso conhecer você. Não quero ser só alguém que você beija de vez em quando e pronto!
Aquilo foi como um balde de água fria na minha cabeça, já que até agora ela realmente estava apenas sendo alguém que eu beijava de vez em quando. Eu conseguia sentir a sinceridade em sua voz. Essa idéia de amigos novos ainda me assustava, mas se eu estava conseguindo construir uma amizade com , também conseguiria com .
- Começamos com o pé esquerdo nisso tudo desde a primeira vez que nos falamos. - ri ao lembrar da primeira vez que falei com . Não fui nada simpático.
- Exato! Você foi um bruto, eu quis dar um soco na sua cara, sério.
- Não foi por mal, mas eu estava nervoso, e eu falo muita merda quando estou nervoso, você já percebeu. - me justifiquei, dando os ombros.
- E como! Mas o que você acha? Podemos tentar ser amigos? - perguntou risonha. Alguém me amarra antes que eu agarre essa menina? Aquele sorriso estava me tirando do sério.
- Podemos! Eu não sei como você pretende fazer esse lance de amizade rolar, mas com começou quando ficamos fazendo perguntas aleatórias uma para o outro e funcionou. - sugeri e ri ao lembrar da primeira pergunta que tinha me feito, que foi se eu acreditava em ETs.
- Como vocês são criativos! Então vou fazer uma pergunta, me deixe pensar... Qual foi a coisa mais doida que você já fez? - perguntou animada, e aquilo me surpreendeu, já que realmente era uma pergunta boa, porém difícil de responder. Eu já havia feito tantas coisas malucas...
- Acho que fugir da polícia.
- Quê? Cara, o que você fez? Não me diga que você já matou alguém! - arregalou os olhos e eu caí na gargalhada.
- Claro que não! Eu estava numa festa e tinha de tudo, bebidas e drogas e a polícia apareceu. Eu realmente estava com drogas comigo, mas não para mim, e até explicar isso eu já teria apanhado de cassetete até não poder mais, então eu tive que meter o pé dali. - suspirou de alívio assim que ouviu minha explicação. Óbvio que aquela não havia sido a coisa mais doida que eu já tinha feito, mas se eu contasse, eu realmente assustaria a garota.
- As drogas realmente não eram pra você? Certeza? - cerrou os olhos, tentando segurar o riso.
- Posso até fazer aquela boiolagem de jurar de dedinho se você quiser.
- Eu estou ficando com sono, mas antes, preciso fazer outra pergunta. Você mudou para a nossa escola esse ano também, mas de onde você já conhece Jackson? - perguntou enquanto levantava.
- Nossos pais já foram grandes amigos, mas Jackson sempre foi desse jeito, podre. – observei seu corpo de maneira discreta. Que corpo!
Nossas mães e pais eram amigos inseparáveis, mas depois que meu pai decidiu nos abandonar e minha mãe se isolou, a amizade não continuou. O pai de Jackson sempre foi do tipo que ganha dinheiro fácil por roubar da empresa em que trabalha. E meu pai fez o favor de ir para uma vida bandida. Qual o retardo desses dois?
- Bem, agora vou dormir, mas não pense que acabou. Ainda tenho trilhões de perguntas para te fazer! Boa noite, . - me deu um beijo estalado no rosto e subiu as escadas.
Pela primeira vez, em muito, muito tempo, eu estava me sentindo tranquilo, era como se nada estivesse errado, eu podia ser eu mesmo. Me juntar com esse pessoal era algo que estava valendo a pena. Quem diria? Uma coisa boa acontecendo em minha vida! 's POV end
Acordamos com Chloe nos chamando para tomar café da manhã em plena 9:30 da manhã. Quem é que acorda esse horário num domingo? Pelo amor de Cristo!
- Você acorda cedo assim sempre ou é só pra tentar ser educada? Porque você pode esquecer a educação então. – falou atrapalhadamente pelo bocejo, com tanto sono quanto eu.
Estávamos todos na cozinha, sonolentos e com as caras amassadas numa mesa que tinha cadeiras o suficiente para umas 15 pessoas.
- Não é por educação, é que eu sou acostumada com isso desde sempre, desculpa por acordar vocês. - Chloe respondeu sem graça.
A empregada estava servindo panquecas para todos e o cheiro estava divino! Há quanto tempo não comíamos algo decente mesmo?
- Seu pai faz o que da vida? Ele é Jesus Cristo? Porque não é possível ser tão rico assim, olha essa casa! - perguntou para Chloe que quase engasgou de tanto rir, nos fazendo rir junto.
- Meus pais são cirurgiões. - respondeu com dificuldade por ainda estar rindo. Agora todo o luxo estava explicado!
Depois de comer, nos trocamos e ficamos conversando na beira da piscina. Sim, piscina! Meu sonho era ter uma piscina no quintal de casa, deve ser tão maneiro!
estava se despedindo do pessoal, dizendo que precisava buscar Sophia, que havia ficado com a avó, e aproveitei a oportunidade para pedir carona.
Oh, essas caronas...
ligou o som do carro e estava tocando Counting Stars. Eu queria subir no capô do carro e cantar e dançar para todos, de tão boa que essa música é.
- Qual é sua banda favorita?
- Não tenho banda favorita, mas gosto de tudo um pouco. A sua é One Republic, dá pra perceber de longe. - respondeu soltando uma risada fraca, me olhando brevemente.
- Eles são incríveis, não consigo me conter! - e não conseguia mesmo. E o silêncio se instalou ali, o que era um saco - Você pode ir conversando comigo agora mesmo, nada de ficar calado! - falei autoritária. Aquele silêncio de incomodava de maneira absurda.
- Sobre o que a bonitinha quer conversar?
- Eu preciso te conhecer, preciso saber do que você gosta, do que não gosta, seus objetivos, suas decepções e principalmente, os seus micos. - sim, os micos de uma pessoa eram a melhor parte de qualquer um.
- Meu maior mico foi ter falado para aquela recepcionista que eu era gay, com certeza.
- Que sem graça! Eu já paguei tanto mico, tipo cair de bicicleta no meio de uma rua lotada, bater a cara num poste, cair no ônibus, pisar no meu próprio cadarço, tem tantos! - e como tinha, eu poderia fazer o livro do micão.
- O que tem de errado com você? - riu - Eu já bati de bicicleta num poste, serve?
Qual é a dos postes que só servem para machucar pessoas?
- Só isso? - perguntei com os olhos cerrados. Não era possível que fosse tão sem graça.
- Pra falar a verdade, eu fui um demônio quando criança. Aprontava demais, subia em todo canto, derrubava tudo, pintava até o teto se possível, mas tive que parar quando o couro começou a comer. - parecia ter lembrado de todas aquelas coisas, já que estava sorrindo verdadeiramente com após revelar aquilo.
- Agora já sei para quem Sophia puxou. - provoquei.
- Realmente! Aquela garota não sossega um segundo, imagina quando crescer?!
parou o carro em frente a minha casa e a tristeza e o desconforto já haviam me dominado. Quando aquela sensação sumiria?
- Valeu pela carona, até amanhã.
- Estou pensando em começar a cobrar pelas caronas, não está fácil pra ninguém. - brincou. Ele estava bem humorado. Um milagre ou eu estava sonhando?
- Nem pense nesse absurdo, rapaz! - respondi rindo e saí do carro.
O quão doida a vida é? Eu não gostava dos garotos e agora éramos amigos. Callie e eram as garotas mais divertidas e simpáticas que eu já tinha conhecido, e agora tínhamos Chloe. Bem, devo admitir que se não fosse por todos eles, meu ano estaria sendo uma droga, mas em relação a isso, estava sendo exatamente o contrário. Sentir aquilo era bom, sentir que pelo menos uma única coisa estava saindo certo, sentir um pouco de esperança que outras coisas também podiam melhorar. Ter esperança é importante, por mais que isso te decepcione às vezes.
"Você tem que se perguntar por que nos apegamos às nossas expectativas, porque o esperado é o que nos mantém estável, ainda de pé, o esperado é só o começo. O inesperado é o que muda nossas vidas."
- Sua cor favorita? - perguntei animada, acompanhando os passos de .
- Preto.
- Comida preferida?
- Qualquer coisa comestível está ótimo.
- Dia do seu aniversário?
- 7 de julho.
- Você gosta de animais?
- Quem não gosta?
- Se você fosse um super herói, qual seria?
- Acho que o Flash.
Estávamos caminhando pelo corredor até chegarmos em nossos armários. Fomos os primeiros a chegar, e aproveitei para conhecê-lo melhor, ou pelo menos, tentar.
- Saber entrar ou saber sair? - a pergunta realmente tinha vários sentidos e ver a reação do garoto ao ouvir aquilo foi o impagável.
- Essa sua cara de anjinho é uma farsa mesmo.
Continuei com o máximo de perguntas que pude até ser interrompida.
- Que bonitinho esse casal! - Callie chegou saltitante.
- Não somos um casal. - falamos juntos e logo em seguida, nos olhamos com aquele olhar de "uau, falamos ao mesmo tempo!".
Assim que todos chegaram, exceto Chloe, pediu atenção e começou a falar.
- Amanhã é aniversário da Sophia e eu organizei uma festinha surpresa, mas não vou conseguir fazer tudo sozinha, então vocês vão precisar me ajudar. e vão precisar sair com ela para algum lugar, pois eu vou arrumar minha casa e enfeitá-la, e Callie vai me ajudar. , e vão pegar o bolo, doces e salgados onde eu encomendei.
Espera aí... Por que eu tinha que passar a tarde com ? Não perdi tempo e tentei protestar.
- Por que eu tenho que ficar com ele? - franzi a testa, apontando para o garoto ao meu lado.
- Porque todos já vão estar ocupados e eu achei que seria bacana você ficar com ele e com Sophia. Você não quer? - fez sua melhor cara de coitada, e todos estavam em silêncio, esperando por minha resposta.
- Eu... Quero. - respondi sem graça, ouvindo as risadas do pessoal em seguida.
- Festa de criança é uma maravilha, só comida boa! - passou a mão na barriga, provavelmente já imaginando o tanto de coisa gostosa que iria comer.
- Melhor amiga, líder de torcida, e agora organizadora de eventos! A gente ainda vai casar. - falou enquanto dava um beijo na testa de , que ficou rosadinha no mesmo instante.
Ahhhh esses dois! Eu realmente espero que se casem mesmo, Chloe que me desculpe.
Tínhamos treinos três vezes por semana e aquilo me deixava realmente cansada, e , mais ainda. Ela era do tipo que vivia com um pacote de guloseimas em mãos, sem se importar se ia engordar ou não, porém tinha um corpo lindo, apesar de toda a comilança. Fazer todo aquele esforço e ter que deixar suas besteiras de lado estava deixando a coitada exausta.
- Me lembre de nunca mais aceitar nada que Callie propor. - resmungou, passando a mão pelo rosto.
- Você vai se acostumar com isso. Mas mudando de assunto, esse lance da festa pra Sophia foi bem gentil da sua parte. - sorri, tentando disfarçar uma certa invejinha que eu estava sentindo. Ela estava tão íntima de que até planejou uma festa pra sua irmã.
- Ela merece! Agora estamos passando menos tempo juntas, já que a deixa na escolinha durante a tarde também, por causa dos nossos treinos, mas ela passa metade da noite comigo e é uma criança incrível! - respondeu com os olhinhos brilhando. Aquele amor que ela tinha por crianças era adorável!
- Imagina quando você for mãe? Vai ser um grude só! - ri, porque realmente, será aquele tipo de mãe que é apegada com o filho ao extremo.
- Eu quero ser como minha mãe foi para mim, a melhor! - sorriu ao terminar sua frase, e desfiz meu sorriso no mesmo instante.
Todos ali tinham famílias maravilhosas, menos eu. Deve ser tão bom poder chegar em casa e se sentir à vontade, se sentir bem, amada, e saber que pode contar com seus pais para tudo. Eu gostaria de sentir aquilo, nem que fosse por poucos minutos. Família é algo que todos temos, mas nem todos sabemos lidar. Ouvir dizendo que quer ser como sua mãe foi para ela, fez com que eu pensasse no que eu quero: NÃO ser como meus pais.
- Isso é lindo, de verdade!
- E você e sua mãe, se dão bem? Você nunca falou dela! - perguntou enquanto alongava os braços.
- Garotas! Vocês estão aqui para treinar, não conversar! - Chloe nos repreendeu, calando a todas nós.
- Ei, não precisa gritar desse jeito! - Callie chamou a atenção de Chloe, que fechou a cara. O que tinha de errado com essa garota? Cruzes.
's POV
Flashback; 8 anos atrás
- Quando essa garota vai parar de chorar? É só o que ela sabe fazer? - meu pai gritou e levantou bruscamente do sofá.
- Ela tem 3 anos, Richard, o que você queria? - minha mãe pegou Sophia no colo, tentando amenizar seus gritos.
- Não sei onde estávamos com a cabeça quando decidimos ter filhos, eles só dão trabalho, puta que pariu!
- O que aconteceu com você? Nossos filhos eram a melhor coisa em sua vida e agora você diz isso? Qual é o seu problema? - mamãe estava totalmente indignada ao ouvir aquilo.
Eu estava atrás da porta da cozinha e ninguém fazia a mínima idéia que eu estava ali. Ouvir aqueles gritos me arrepiavam da cabeça aos pés.
- Oh, não comece com esse papo furado! Cadê o inútil do seu filho? Ele tem 10 anos e não o vejo fazendo nada de decente, nem ao menos estudar. - ao ouvir aquilo, gelei. Meu medo de passar mais um dia apanhando era maior que tudo.
- Deixe o menino em paz, ele só tem 10 anos! Flashback off
Parei em frente a nossa antiga casa, o lugar onde passei minha infância, o quintal em que aprendi a andar de bicicleta, onde Sophia aprendeu a dar os primeiros passos, falar as primeiras palavras, e onde tudo começou. Uma nova família morava ali, a pintura havia mudado, o jardim estava bem cuidado e provavelmente estavam passando momentos melhores lá dentro.
Não sei quanto tempo fiquei ali, mas foi o suficiente pra sentir uma ferida se reabrindo.
Droga, droga, droga!
Como o mundo podia ser tão injusto daquela maneira? Por que não podemos ter o que queremos, nem que seja o mínimo? Por que a felicidade parece ser algo tão inalcançável?
Existem alguns sentimentos que se recusam a ir embora, e minha raiva por Richard era um daqueles sentimentos. Acabar com uma família, com uma casa, do jeito que ele fez, não tinha perdão, não tinha justificativa, não tinha nada. Lembrar que ele tem outra família piora tudo. Só de imaginar ele dando amor para outra mulher e outra filha, me fazia querer matá-lo. Como ele ousa deixar tudo o que ele já tinha aqui, para ter em outro lugar? Se não podíamos ter, a tal família também não.
E foi assim que eu descobri o que faria quando encontrá-lo.
Eu vou matar meu pai. 's POV end
Entrei em casa e fui recebida à gritos.
- Onde você se enfia a noite? Você é mesmo uma vagabunda, assim como sua mãe. - meu pai largou minha mãe, que estava sendo prensada na parede, e veio até mim.
- Que merda você está falando? - senti suas mãos em meu rosto, o segurando firmemente.
- Oras, sua mamãe não te contou do caso que ela está tendo com aquele otário do trabalho dela? E você... Ah você... Deve estar seguindo os mesmos passos. - a cada palavra que saía de sua boca, me apertava mais forte. Minha mãe olhou desesperada, negando tudo com a cabeça. O que estava acontecendo ali?
- Quanto você precisou beber ou se drogar pra falar tanta baboseira desse jeito? - minha raiva era tão grande que não me importava o quanto iria apanhar após falar aquilo. Minha mãe poderia ser tudo, mas não era traidora.
Seus tapas em meu rosto, os puxões em meu cabelo, os empurrões, as cotoveladas brutas em qualquer parte de meu corpo eram algo que ele fazia com tanta facilidade que eu não podia fazer nada a não ser aceitar aquilo, afinal, que força eu tinha contra ele?
Na primeira oportunidade que tive, me soltei dali e corri até meu quarto, trancando a porta o mais rápido possível. Eu honestamente gostaria de entender isso, entender o mundo, e entender porque as coisas tem que ser assim. O mundo é tão cruel, há tantas pessoas fazendo coisas erradas e não são punidas, há tantas pessoas passando por coisas piores e não conseguem ajuda, há tanta injustiça! Por que as coisas tinham de ser todo esse furacão de desgraça?
- Filha, abra a porta, sou eu!- ouvi a voz de minha mãe, dando leves batidas na porta. Levantei e abri rapidamente, logo a trancando de volta.
- Que história é essa? É verdade? Se for verdade, eu juro que saio dessa casa agora mesmo!
- Ei ei ei, calma! Seu pai resolveu fazer uma visitinha em meu trabalho e me viu conversando com um colega, eu juro que foi só isso! Minha filha, por favor, tente ficar o mais longe dessa casa possível, eu não quero te ver apanhando e não poder fazer nada! - disparou a falar, segurando o choro. Sentou ao meu lado, me dando um abraço desajeitado.
- Eu sinto que... Vou morrer... De tanta tristeza, mãe! - quem não se aguentou fui eu. As lágrimas tomaram conta de mim, e os soluços atrapalharam minha fala.
Aquilo acabava comigo, aquela sensação era horrível, eu sentia dores em cada parte do corpo, mas principalmente, na alma. Eu estava machucada, quebrada, tão triste que não conseguia pensar em absolutamente nada, apenas sentir as dores daquela situação.
- Desculpe por isso, meu amor, me desculpe de verdade!
Por que só conseguíamos aqueles momentos mãe e filha nessas situações? Por que não podemos ter um momento bom e feliz juntas? Parece que só somos conectadas pela desgraça que temos em comum em nossa vida.
's POV
- , acoooooorda! Hoje é meu aniversário!
Ouvir aquela voz de felicidade me fez pular da cama, vendo minha irmã ao lado de minha cama, ainda vestida com seu pijama.
- Hoje? Sério? Eu nem me lembrei, me desculpe! - a expressão de decepcionada da pequena me fez rir alto. Puxei Sophia para perto de mim, fazendo cócegas na garotinha. Sua gargalhada gostosa era o único som dali, e tenho que confessar que era algo ótimo de se ouvir logo pela manhã.
- Cadê meu presente? - perguntou assim que tirei minhas mãos de sua barriga, ainda recuperando o fôlego.
- Que tal você escolher? Podemos sair à tarde e comprar algo.
- Ebaaaa! - os pequenos braços de Sophia estavam em volta do meu pescoço, me dando um abraço apertado.
- Agora vá se arrumar porque a senhorita vai para a escola do mesmo jeito.
Sophia pulou da cama, correndo até o banheiro do corredor para tomar seu banho. Fiz o mesmo, levantando e indo ao banheiro que tinha ali mesmo, no meu quarto. E era assim nossa rotina, acordávamos, nos arrumávamos, eu deixava Sophia em sua escola e depois ia para a minha. Saí do banho, me troquei rapidamente e fui atrás da pequena, que tem costume de se atrasar quase todo dia.
- Sophia você está pront... - me calei assim que entrei em seu quarto, vendo aquela cena.
Minha mãe estava penteando o cabelo de Sophia, que sorria e conversava sobre algo relacionado à escola.
- Hm... É... Bom dia, mãe. - eu realmente estava surpreso com aquilo.
- Bom dia. Você vai levar Sophia para algum lugar hoje? - perguntou enquanto trançava o cabelo da pequena com calma e delicadeza.
- Vou levá-la ao shopping para poder escolher algum presente. Você não quer ir junto? - já sabia qual seria a resposta para aquela pergunta, mas como dizem, a esperança é a última que morre.
- Não. Está pronto, filha. Se comporte na escola, tudo bem? - deu um beijo na testa de Sophia, que assentiu sorrindo.
- Vamos, mocinha? - peguei sua pequena mão, caminhando para fora do quarto - E mãe... Tente sair, por favor, nem que seja só até a calçada.
- Não me diga o que fazer, . Faça sua irmã ter um bom aniversário. - levantou também, indo até o corredor e entrando em seu quarto.
Como ela aguenta ficar tanto tempo presa entre aquelas quatro paredes?
Parei meu carro no estacionamento da escola, recebendo alguns olhares. Esse pessoal é tão Maria Gasolina assim?
- Bom dia! - era a única que estava ali.
- Bom dia.
- A festa de Sophia é hoje!
- Eu sei.
- Me responde direito, chato! O que foi? - estava com uma expressão emburrada, feito uma criança.
Meus pensamentos estavam longe dali. Lembrei da cena que vi antes de sair de casa, minha mãe com Sophia, o que era raro, então claro, aquilo havia me deixado alegre.
- Minha mãe estava com Sophia hoje de manhã, até fez uma trança nela, o que é bom, já que eu mal sei prender o cabelo dela. - dei uma risada fraca.
- Isso é ótimo! Apesar de tudo, sua mãe ainda está ali, de um modo diferente, mas está ali. Acho que ela precisa de uma ajuda para mudar isso tudo, o que você acha?
- Como assim? - eu realmente não havia entendido sua pergunta.
- Você precisa ajudar sua mãe a mudar essa situação, precisa dar motivos para que ela saia de casa e tente recuperar esse tempo perdido. - explicou, finalizando com aquele sorriso incrível.
- Minha mãe não tem mais 12 anos. Eu não posso forçá-la a seguir em frente.
- Deixe de ser burro! Você não vai forçá-la a nada, você simplesmente precisa ajudá-la a passar por isso. Pode não parecer, mas você e Sophia são a melhor coisa que ela tem, afinal, vocês continuam com ela apesar de tudo. E se você quiser ajuda, eu estou aqui, claro. - essa garota é, de fato, um anjo.
- Quando foi que você caiu do céu, hein? - perguntei risonho e me abraçou. Ok, eu nunca espero por isso, já que os únicos abraços que eu recebo são os de Sophia.
- , você precisa me abraçar de volta. - alertou sem graça. Passei meus braços por volta de sua cintura rapidamente, obedecendo. - E você precisa se acostumar com abraços, pois eu ainda vou te dar muitos desses.
é incrível, e isso eu não posso negar. Ela diz coisas tão sábias, nos momentos certos, e isso a deixa mais incrível ainda. É o tipo de pessoa que brinca e zoa bastante, mas sabe quando é hora de levar as coisas a sério. Se as pessoas fossem mais como ela, o mundo seria um lugar melhor para se viver.
- Bom dia. - encostou-se a parede, soltando um longo suspiro, com uma cara não tão boa.
- Você está bem, cara?
- Eu sempre estou bem, mas hoje... Não sei! - respondeu cabisbaixo.
- Se você não está bem humorado, é porque tem algo errado.
- Eu tenho muitos tipos de humor, mas hoje... Parece que eu acordei errado, não me sinto eu mesmo. - se explicou.
- Até os melhores ficam para baixo de vez em quando. Se quiser dizer qualquer coisa, estamos aqui para te ouvir. - e lá estava , oferecendo seus serviços de ajuda. 's POV end
Estávamos na aula de geografia, e como sempre, estava sentado ao meu lado, porém estava calado. Estranho. Extremamente estranho.
- O que houve?
- Não sei, , de verdade. Acho que estou com medo. - parecia estar perdido em seus pensamentos.
- Medo do quê?
- De fracassar. Pode não parecer, mas estou pensando muito nisso ultimamente. Eu não consigo nem entender uma matéria de geografia, como eu vou passar nos vestibulares? Estamos no último ano, e depois vai ser tudo diferente, e eu não quero esse tipo de mudança. - respondeu baixo, sem me olhar nos olhos.
Ele é sempre o bem humorado e cheio de gracinhas, vê-lo daquele jeito mexia comigo. Seu medo era normal, afinal, daqui um ano nossas vidas vão mudar completamente e nem todos nós estamos prontos para isso. Mas ... É o tipo de garoto que tem uma luz em cima de sua cabeça, é o tipo que você sente que se dará bem, e ele precisava saber disso.
- Lembra que eu não gostava muito de você? Depois que nos aproximamos, você realmente me surpreendeu, e continua surpreendendo. Você é ótimo, de verdade. Pode não significar muito, mas eu sinto que você se dará bem em qualquer coisa que for fazer, e se eu acredito nisso, você também deveria acreditar. E sobre a matéria de geografia, nada que uma boa professora particular não resolva, certo?- sorri ao terminar, vendo o sorriso de se formando em seguida.
- Obrigado , de verdade!
- Não precisa agradecer, e é sério, se você precisar de ajuda em geografia, posso ser sua professora particular! - falei séria. Me oferecer para ajudá-lo era importante, não podia deixá-lo daquele jeito.
- Você pode ir lá em casa quando não tiver treino e me dar uma forcinha, pode ser? - passou as mãos pelo cabelo, fazendo uma careta sem graça.
- É claro que eu posso!
Ajudá-lo significava ficar longe de casa e explicando uma das minhas matérias favoritas, então é claro que eu estaria disponível para isso!
Papo vai, papo vem, e o sinal para o intervalo tocou. Avistei saindo de sua sala e caminhei até ele.
- Para onde você quer levar Sophia hoje?
- Ao shopping, lá ela pode escolher algo. Aliás, se você não quiser ir, não precisa, por mais que tenha decretado isso. - riu ao terminar. Ouvir aquilo me fez gelar, porque a verdade é que: eu queria ir.
- Eu quero ir sim, se não serei a única que ficou sem fazer nada. - aquilo era uma ótima desculpa para "eu quero passar a tarde com você sim, sem problemas".
- Tudo bem. Vou buscá-la depois que formos embora e iremos direto para o shopping, então me encontre na saída.
Andamos até o resto do pessoal e sentamos no nosso cantinho de sempre.
- Estou cansada, não nasci ser líder de torcida, muito menos para me exercitar tanto. - resmungou enquanto recebia a massagem nos ombros sendo feita por . não estava ali.
- Pense pelo lado bom, hoje não tem treino e tem a festa da Sophia, com muita comida boa. - a lembrou da parte boa do dia.
- Pelo menos isso. Vocês já sabem onde devem buscar as comidas, certo? E o mais importante: não comam tudo no meio do caminho! - alertou séria, rindo em seguida.
Sentei ao lado de Callie, que estava muito quieta. O que tem de errado com as pessoas mais alegres desse grupo hoje?
- Você está bem?
- Estou sim. Só pensativa. - Callie respondeu cabisbaixa, não me convencendo nenhum pouco.
- O que está passando nessa cabecinha?
- Ainda não me acostumei com meus pais separados, ficar com meu pai apenas nos fins de semana, acordar e não ver os dois tomando café da manhã comigo. É tão estranho! Como o amor acaba assim, do nada?
- Acho que o amor não acaba, ele só se desgasta. Você já tentou conversar com eles e saber o verdadeiro motivo disso?
- Já, mas eles sempre fogem da conversa. Eu mereço uma explicação, você não acha? - seus olhos estavam cheios d'água.
- E você amor, o que acha de... O que foi? - arregalou os olhos minimamente ao ver a namorada naquele estado. Abraçou a garota, que não se aguentou e acabou chorando ali mesmo.
- O que houve? - perguntou enquanto se aproximava, sentando na frente de Callie.
- Me desculpem por chorar assim, feito uma criancinha. Eu só estou chateada pela separação dos meus pais. Não tem sentido você construir uma vida toda com uma pessoa e isso simplesmente acabar. - enxugou as lágrimas nas mangas de sua blusa, respirando fundo em seguida.
- É isso. Faz parte. Não sei o motivo da separação dos seus pais, mas às vezes você ama alguém e isso não é o suficiente, ou às vezes você precisa abrir mão daquilo que você mais ama para poder redescobrir o mundo. - se manifestou firme, olhando nos olhos de Callie durante cada palavra que dizia.
- Eu só não consigo entender como o amor some desse jeito, ou o motivo que te leve a querer ficar longe da pessoa que você já está junto há tantos anos, já tem filhos, uma casa, uma vida! - Callie debateu. Ela claramente estava na fase de negação, o que era péssimo em qualquer situação. Doía em mim vê-la daquele jeito. Por que coisas ruins acontecem com pessoas boas? Afinal, qual era o real sentido daquilo? Você amar uma pessoa, se entregar, e no final, não dar certo? Se Callie estava magoada, nem imagino como estavam seus pais. Será que eles pensam que isso foi uma perda de tempo?
- Você não vai conseguir entender nada agora, você não quer aceitar. Mas às vezes, coisas ruins precisam acontecer primeiro, pra quando as boas acontecerem, você entender como tudo se encaixa. - falou novamente, e honestamente, eu acho que ninguém dali esperava isso dele.
Dedicamos nossos minutos finais do intervalo para Callie, que agradeceu incontáveis vezes. Aquela sensação de estar cercada de coisas boas me invadiu. Na verdade não eram coisas, e sim, pessoas. Cada um ali tinha seu jeito, suas manias, mas em momentos como esse, todos ajudaram como puderam, e isso me fez pensar que: e se você comigo? E se eu contasse as coisas que acontecem comigo? Iriam me ajudar ou apenas me achar retardada? Eu gostaria de saber a resposta, e ao mesmo tempo não. Eu não estava pronta para me abrir daquela maneira, e nem deveria. Todo mundo ali tinha seus próprios problemas, eu não tinha o direito de jogar os meus ali, esperando que alguém os resolvessem. O que eu realmente preciso é crescer, aprender a levantar dos meus tombos, aprender a lidar com os problemas sozinha.
's POV
Caminhei até a saída da escola, e já estava lá, vestida com seu moletom cinza de sempre. Caminhamos pelo estacionamento, recebendo alguns olhares, que aumentaram ainda mais quando destravei meu carro. Eu sei, um Honda CR-V é realmente lindo, meu avô arrasou na escolha.
- me contou que você não tem CDs no carro, e eu estou envergonhada por ser amiga de alguém que não tem um mísero CD num carrão desse. Então claro, não podia deixar esse absurdo continuar, e resolvi te trazer isso aqui. - sorria enquanto mexia em sua mochila, tirando de lá um CD do One Republic, o que me fez rir alto.
- Você está me dando um CD da SUA banda favorita?
- Geralmente quando as pessoas ganham algo elas agradecem. Cale a boca e aproveite, é um CD muito bom, uma banda muito boa, e eu sei que você gosta. - fingiu estar indignada, cruzando os braços.
- Desfaz esse bico, moça. E obrigada pelo CD, agora meu carro está completo. - sorri para a garota, que retribuiu.
Liguei o carro e saí dali, indo em direção á escola de Sophia. A garota estava quieta, apenas cantarolando as musicas em voz baixa.
- Agora é a vez da melhor música! - falou alto, sorrindo feito boba.
- Eu gosto dessa.
- Canta comigo!!! When you're happy like a fool, let it take you over, when everything is out, you gotta take it in, OH THIS HAS GOTTA BE THE GOOD LIFE! - cantou não tão alto, mas nem tão baixo. Sua cantoria era algo gostosa de se ouvir.
- Got this feeling that you can't fight, like this city is on fire tonight, this could really be a good life. - terminei de cantar, rindo e balançando a cabeça negativamente. Sou um fracasso cantando.
- Esse é o tipo de música que me deixa toda bobinha, é bom de ouvir, te tranquiliza, te faz sentir sensações tão diferentes, te leva pra outro mundo... Música é a definitivamente a melhor coisa do mundo. - fechou os olhos e encostou a cabeça no banco, suspirando.
Eu podia ser uma porcaria cantando, poderia não lotar meu carro de CDs, mas eu era um amante de música, assim como . É uma maneira de se expressar, de mostrar sentimentos, de cantar alegrias e tristezas. É tão bom achar musicas que cantam tudo o que você sente e pensa, é como se tivéssemos o nosso próprio soundtrack. Música é importante, é essencial, e pode salvar a alma de alguém.
- Eu te entendo! Música é uma coisa tão boa que eu nem consigo colocar em palavras o que eu penso sobre isso.
- apaixonado por música, é isso mesmo? Você é uma caixinha de surpresas. - debochou bem humorada, rindo em seguida.
- Eu sei que sou um idiota na maior parte do tempo, mas sim, eu sou apaixonado por música. - me rendi.
- Você não é idiota. Pessoas idiotas ouvem música, e você a sente. - ouvir aquilo foi como um choque. Não consegui falar nada, apenas sorri. Um sorriso totalmente verdadeiro.
estava do lado de fora do carro, e abriu os braços assim que viu Sophia, que correu para abraçá-la.
- Feliz aniversário, princesa!
- Obrigada, ! Você vai com a gente para o shopping? - a pequena perguntou enquanto tirava sua mochila, logo entrando no carro.
- Vou sim!
Depois de ouvir as histórias hilárias de minha irmã sobre a escola, chegamos ao shopping.
- Eu acho que vou ser professora de química. - Sophia falou enquanto andava de mãos dadas com , que caiu na gargalhada.
- Quem te deu essa ideia maluca? Foi a , não foi? - perguntei indignado. Ninguém no mundo gosta de química a não ser nosso professor, e .
- Sim! Ela disse que é uma matéria muito legal, então eu serei professora de química. - Sophia respondeu sorridente, sem nem saber do que estava falando. A coitada vai se arrepender de ter dito isso um dia.
Caminhamos até chegar num tipo de playground que tinha ali mesmo no shopping, que por sorte, estava praticamente vazio.
- Eu quero ir naquele ali!!! - Sophia apontou para o carrinho bate-bate empolgada, e fomos até lá. Ela ficou ali com mais algumas crianças, e tinha até alguns adolescentes de no máximo 14 anos.
- Era tão bom ser criança, não ter preocupações, não ter matérias difíceis para estudar e não ter que trabalhar. - começou tagarelar, sem tirar os olhos de Sophia.
- Realmente, porém todos crescem, vivem e morrem. É a vida.
- Pois é. Aliás, você ajudou muito a Callie hoje. - sorriu sem mostrar os dentes.
- Ela é uma boa garota, mas precisa se acostumar com a idéia de que as coisas acabam, mudam, somem, e por aí vai.
- É tudo muito questionável, , tudo mesmo.
Fomos interrompidos com a volta de Sophia, que saiu gargalhando do brinquedo. Fomos para mais um, depois outro, em seguida mais um, e claro, mais um. Crianças tem uma energia infinita, agora eu entendo porque minha mãe vivia jogando o chinelo em mim.
- Olha aquilo ali, dá pra tirar foto! A gente pode ir lá? - Sophia perguntou já nos puxando para uma cabine de fotos que tinha ali. Eram aquelas fotos no estilo purikura, que colocamos os efeitos e enfeites.
Peguei Sophia no colo, e ficou do outro lado, deixando a pequena no meio de nós. Fizemos nossas melhores poses para a primeira foto, para a segunda eu já voltei com a minha expressão normal, a terceira e Sophia fizeram careta, e a quarta... Estávamos todos feios pela falta de atenção para a foto. Esperamos alguns minutos e lá estavam nossas fotos, totalmente ridículas pelo efeito de merda que Sophia havia escolhido.
- Eu posso pegar essa foto aqui? - perguntou, apontando para a segunda foto, que não estava tão ruim. Cortei a foto, tentando não rasgar as outras e entreguei para a garota, que sorriu em agradecimento.
Sophia correu em direção a uma loja de brinquedos e eu já estava me preparando psicologicamente para perder horas ali.
- O que eu pego? - a pequena colocou as mãos na cintura, pensativa.
- Quando eu tinha sua idade, eu queria muito, muito mesmo, um patins! - respondeu sorridente.
- Sério? Mas eu não sei andar naquilo!
- Eu posso te ensinar se você quiser, que tal? - abaixou para ficar da mesma altura da pequena, que sorriu assentindo com a cabeça.
Aquilo havia sido tão rápido que eu nem estava acreditando. Sophia realmente quis o patins e mais nada, graças a , que não parou de falar um segundo o quanto andar naquilo era bacana.
- Podemos comer, por favor? - pediu sem graça, o que a deixou mais linda ainda.
Fomos até a praça de alimentação, fazendo nosso pedido no KFC e sentando na mesa mais próxima.
- Eu precisava tanto disso aqui! Eu estou tentando ser saudável por causa disso de líder de torcida e blá blá blá mas eu nasci pra isso, pra comer frango, pra comer fritura, doce, chocolate, beber bastante refrigerante e depois reclamar de celulite! - terminou de falar e enfiou mais um pedaço de frango em sua boca, fazendo Sophia gargalhar e fazer o mesmo.
- Como alguém prefere uma salada do que isso aqui? - foi a minha vez que pegar um pedaço de frango e botar goela abaixo.
Peguei meu celular e mandei uma mensagem para , dizendo que em menos de uma hora estaríamos em sua casa, que respondeu que estava quase tudo pronto.
Depois de comer até cansar, fomos até o estacionamento. Assim que entrou no carro, colocou o mesmo CD para tocar.
- Ah não! Dessa vez, eu escolho o que vai tocar, e não vai ser esse CD de novo. - resmunguei enquanto conectava meu celular no rádio, e a garota fechou a cara imediatamente.
- Mas você provavelmente vai por algo que eu não conheço e... Isso é The Script? - arregalou os olhos em surpresa, sorrindo.
- Sim, The Script. Eu só ouço música boa, gatinha. - dei uma piscadela, dando partida no carro.
- What am I supposed to do when the best part of me was always you? - cantarolou enquanto o vento batia em seu rosto, fazendo seu cabelo bagunçar de um jeito engraçado.
Parei o carro em frente à casa de , ansioso para ver a reação da minha irmã com tudo aquilo.
- Sophia, você está pronta para ver uma coisa bem legal? - o tom de voz convidativo e curioso de animou a pequena ainda mais, enquanto andávamos em direção à porta
- Eu vou ganhar mais presente? - Sophia deu seu palpite, gargalhando.
- Melhor que isso, amorzinho!
abriu a porta e todos ali gritaram "Surpresa", e a reação de Sophia foi impagável. Vê-la tão feliz como naquele momento não tinha preço. 's POV end
Sophia estava tão feliz que nem sabia o que fazer. a encheu de beijos, entregando seu presente, e todos que estavam ali fizeram o mesmo. Chloe também estava ali, porém com cara de quem havia chupado limão.
- Já posso comer até o cu fazer bico? - perguntou animado, recebendo a aprovação de .
Eu havia comido bastante porém comida de festa de criança nunca pode ser recusada. Acompanhei até a mesa que estavam os doces, que tinha de tudo um pouco, canudinhos recheados de doce de leite, marshmallows, pirulitos gigantes, mini cupcakes, bicho de pé, bombons de morango, e claro, brigadeiro e beijinho.
- E aí , como você está? - perguntou enquanto enfiava um canudinho recheado na boca.
- Bem, e você?
- Agora eu estou ótimo, olha pra essa mesa! Eu vou até sentar, daqui ninguém me tira! - puxou um banco que estava ali perto e sentou, me fazendo rir.
- Você não tem jeito!
- Antes que eu me esqueça, como foi sua tarde com o ?
Sabia que aquela pergunta viria de alguém em algum momento da noite. Fui impedida de responder antes mesmo de abrir a boca.
- O que tem eu? - chegou por trás de mim, me fazendo ter arrepios, como sempre.
- Perguntei como foi a tarde com você. Que cheiro é esse? - inflou as narinas, levantando e seguindo em direção à cozinha. Será que ele passa fome?
Olhei para , que estava me encarando.
- Ué, o que foi?
- Você é lind... - foi interrompido por ninguém menos que .
-Venham aqui, a gente vai brincar de chubby bunny!
- Hm, eu sou linda, não é? - perguntei rindo, vendo ficar sem graça. Era isso mesmo? Ele sem graça e não eu? O jogo realmente virou, senhoras e senhores!
- Vamos jogar em duplas, que tal? - propôs.
- Eu não quero brincar disso, é nojento! - Chloe disse com desdém, recebendo olhares incrédulos de todos nós.
- Pode ser meninos contra meninas, então! - refez a proposta, e todos nós aceitamos. abriu um pacote de marshmallows e pôs no centro do balcão. Estava tudo ótimo até o quinto marshmallow, pois depois daquilo eu mal conseguia falar "chubby bunny". foi a primeira a desistir, depois Callie e , em seguida . , e eu estávamos no nono marshmallow.
- Chubby bu... - cuspiu os marshmallows.
Olhei para e quis rir, porém nove marshmallows estavam me impedindo de cometer tal ato. Cuspimos ao mesmo tempo, finalmente rindo daquilo.
- Ganhamos. - falei enquanto dava um hi five no garoto.
- Como é possível nove marshmallows nessas bochechas? Tem algo errado! - estava indignado. Se tinha algo que ele odiava, era perder!
- Para de chorar, neném! - zombei.
Chloe estava sentada no sofá com seu celular em mãos, e Sophia estava ao seu lado.
- Tem joguinho no seu celular? - a pequena perguntou gentilmente.
- Não. - respondeu, revirando os olhos.
- Você quer ver meus presentes?
- Não.
- Você já andou de patins?
- Não. Me deixe em paz! - Chloe falou alto o suficiente para que todos os olhares dali fossem parar nela.
- Você não pode gritar com uma criança assim, Chloe! - foi até a sala e repreendeu a atitude da garota, que não gostou nada daquilo.
- Ela estava enchendo meu saco, o que você queria que eu fizesse?
Agora todos estavam na sala, indignados com aquela cena.
- Pessoal, acho melhor cantarmos o parabéns! - falou sem graça, provavelmente tentando tirar Chloe daquela enrascada.
Fomos até a cozinha e ajeitamos as coisas, apagamos as luzes, acendemos a vela e fizemos a coisa mais divertida que tem num aniversário. Depois de Sophia fazer seus pedidos e apagar as velas, acendemos as luzes novamente e a ajudamos a cortar o bolo.
- Pra quem vai o primeiro pedaço? - Callie perguntou esperançosa, esperando ser a escolhida, porém Sophia entregou o primeiro pedaço para o irmão.
- Não vale, ele é irmão dela! Me dá isso aqui, o próximo pedaço é meu e já era. - Callie pegou a faca da mão de e cortou seu próprio pedaço, fazendo todos caírem na gargalhada.
- Bolo de beijinho é o meu favorito! - falei assim que dei a primeira garfada no bolo, indo ao céu e voltando ao sentir aquele gosto maravilhoso.
- Existe algo nesse mundo que você não coma? - perguntou com os olhos cerrados.
- Feijão! - respondi rapidamente, observando ele arregalar os olhos. Poxa, feijão é estranho!
- Você só falta comer a si mesma, mas não come feijão?
- Aposto que tem algo que você também não coma, então não me julgue, rapaz!
- Eu como de tudo mesmo!
Depois de minutos nessa pequena discussão, fomos chamados para assistir filme.
- Eu escolho dessa vez, pelo amor de Deus! - pediu gentilmente, recebendo um "não" em coro como resposta. Ela tinha medo de filmes de terror então provavelmente colocaria algum filme romântico e nos matar com a melação. Callie e escolheram um filme de terror qualquer, fazendo resmungar até cansar.
estava sentado ao meu lado e conforme o filme passava, ele se acomodava cada vez mais até praticamente estar com a cabeça em meu ombro. Levei minha mão até seu cabelo, fazendo cafuné, sem me importar com tal liberdade que havia tomado.
Depois do filme acabar decidimos ir embora, afinal, teríamos aula no dia seguinte. me ofereceu carona e como sempre, aceitei.
- Obrigada por tudo, , foi o melhor aniversário que eu já tive! - Sophia agradeceu enquanto a abraçava, sorrindo até a testa ao ouvir aquilo.
- Não precisa agradecer, meu amor!
- E ah... Eu prefiro você namorando com o do que aquela outra menina! - Sophia falou mesmo sem ter noção do que aquilo podia causar. Tentamos nos conter, mas caímos na gargalhada.
- A gente não namora, pequena! - se defendeu ainda rindo, recebendo um olhar feio de Chloe.
Caminhamos até o carro e ajeitamos Sophia no banco de trás e os potes de comida também. Se estávamos levando o resto dos doces e salgados para casa? É óbvio que sim!
- Você sabe que vai ter que ensinar Sophia a andar de patins de verdade, certo? Essa garota não esquece de nada, nadinha mesmo! - falou rindo, porém baixo, pois Sophia já havia capotado.
- Eu ensino sem problemas!
E o resto do caminho foi assim, silencioso. estacionou na frente de minha casa, que estava com as luzes apagadas, o que era um bom sinal.
- Sabe... Eu ganhei no chubby bunny, eu mereço um prêmio, não mereço? - se aproximou lentamente de mim, ou melhor, da minha boca.
- ... - fechei os olhos, já me entregando para o que estava por vir. Droga, por que não consigo resistir a isso?
- Eu quero muito te beijar.
Pois foi com essa frase que eu não me aguentei. Falhei novamente, mas quem não falharia? Um garoto maravilhoso daquele falando aquilo ninguém resistiria!
Acabei com a distância entre nós, começando um beijo calmo, aproveitando cada movimento que nossas línguas faziam. Eu não tinha beijado muitos garotos em minha vida, mas aquele beijo... Era diferente, e como era!
Tivemos que parar por falta do bendito ar, e ficamos nos encarando por alguns segundos, apenas ouvindo a respiração um do outro.
- Eu também ganhei o chubby bunny. - falei sorridente, com todo o meu fôlego recuperado.
- E o que você quer como prêmio?
- Que você me beije de novo.
"É meio que tudo, e não é nada. Quando penso na minha vida e quem eu sou, acho que luto pra acreditar que coisas boas acontecem a pessoas boas, que tudo vai dar certo, que vai melhorar. Todos lutamos. É parte da vida. É parte de viver. E a pior parte é a solidão, uma solidão negra e forte que te faz sentir como se não existisse mais mágica no mundo. Sei que o futuro é assustador, sei que o mundo pode intimidar, mas você precisa saber que as vezes quando tudo fica desesperador, as pessoas te acham. A ajuda esta lá fora e você não esta só."
Acordei parecendo um zumbi, mas me arrumei rapidamente. Recebi uma mensagem de , dizendo que me esperaria na pracinha para podermos ir juntos para a escola.
Abri a porta do meu quarto cuidadosamente para fazer o mínimo de barulho possível. Desci correndo, peguei uma maçã verde na fruteira e saí porta afora.
- Olha só se não é a miss saudável. - meu primo brincou assim que me viu, me dando o típico beijinho na testa.
- Estou tentando, já que depois de ontem eu comi feito uma cavala.
- Sobre ontem... E você e ? - era a pergunta que não podia faltar.
- Na mesma. Eu disse que quero ser amiga dele, e até está dando certo, mas ontem rolou uns beijinhos de novo. - enfiei a boca na maçã logo após contar aquilo, dando um olhar inocente.
- E como você se sente sobre isso?
- Honestamente, eu não sei. Eu sinto que ele é diferente, sabe? Ele é tão fechado e cheio de segredos e eu tenho vontade de desvendar tudo isso, e eu nunca me senti assim sobre alguém. Mas ao mesmo tempo, eu não quero nada disso. Acho que eu ainda tenho um pouco de medo. - tentei ser o mais clara possível.
Dizem que quando seu coração é quebrado uma vez, o seu maior medo, é que isso aconteça de novo. E sinceramente? É a mais pura verdade.
- Tudo bem você se sentir assim, contando que você não deixe todas as incertezas ficarem á frente de tudo sempre. Ele é uma pessoa nova na sua vida, talvez isso tudo seja a animação de querer descobrir tudo de uma vez, e depois você se desanimar repentinamente e querer ele longe. Continue tentando ser amiga dele, e vamos ver até onde isso chega. Mas de preferência, sem os beijos. - frisou o fim da frase, fingindo estar bravo.
- Eu vou tentar me controlar, juro!
- E seu pai, ? - essa pergunta era de longe, a pior.
- Podemos não falar sobre ele, por favor? - mordi os lábios, fugindo desesperadamente do assunto.
Meu pai é meu maior medo, minha maior fraqueza, minha maior desgraça, e falar sobre ele, seria como jogar sal em meus cortes.
- Você sabe que pode contar comigo pra absolutamente tudo, não é? E se você quiser ficar lá em casa novamente, as portas estão abertas sempre. - me deu um abraço de lado enquanto andávamos, e não tem nada no mundo que fizesse eu me sentir mais segura do que seus braços.
- Você é maravilhoso, sabia? - sorri enquanto olhava em seus olhos, que tinham um brilho encantador - Mas podemos falar sobre como eu me sinto entediada na maior parte do tempo? Eu estou cansada de fazer a mesma coisa todo dia. - bufei frustrada. A mesmice realmente cansa.
- Podemos sair todo mundo para algum lugar diferente, o que você acha?
- Eu acho ótimo. - sorri.
Não menti, mas evitei o assunto, o que não era bom. É como se eu quisesse aquilo, todo aquele sofrimento, todas aquelas agressões verbais e físicas, mas digamos que eu não tinha muita opção. E talvez seja por isso que eu me odeio cada dia mais.
's POV
Por algum milagre de forças sobrenaturais, fui o primeiro a chegar naquela joça de escola. Me encostei no mesmo canto de sempre e logo em seguida, Callie chegou. Sem .
- Você não costuma ser o último a chegar? - a garota perguntou de maneira engraçada.
- Você não costuma estar sempre grudada com ?
- Ele decidiu esperar a hoje.
Pouco tempo depois, chegou.
- Ué, por que não está aqui? - perguntou confuso, procurando o amigo com os olhos e parando o olhar em Callie.
- Misericórdia, pessoal, ele não é grudado em mim! - respondeu risonha. Será que não dói sorrir tanto assim?
Depois de algum tempo, todos já estavam ali. me cumprimentou com um aceno e um sorrisinho torto, mas meu mau humor matinal não permitiu que eu fizesse o mesmo. Sentia que o dia seria uma grande bosta.
- Hoje tem treino, já posso chorar? - fez um biquinho encantador, fazendo apertar sua bochecha, e Chloe revirar os olhos. Pelo jeito a garota tem ciúmes da amizade dos dois, mas eu fico na minha. Cada um com seus rolos.
- Eu que choro toda vez que vocês estão com aquele uniforme, sério, é lindo demais! - como sempre, frases como aquela, sempre saíam da boca de .
- Quando você vai arranjar uma namorada pra poder sossegar? - perguntou levemente indignado.
- Namoro? Eu passo reto. Namorada dá trabalho demais, muito presente, muita comida, muito dinheiro, e eu não sirvo pra isso. - respondeu, nos fazendo rir.
Para falar a verdade, ele estava certo. Mulher realmente dá muito trabalho, então era melhor levar a vida daquele jeito, na curtição. Pelo menos, às vezes.
Caminhamos até o corredor, indo em direção aos nossos armários.
- E aí, minha prima beija bem? - perguntou de maneira calma, me fazendo gelar de nervoso.
Eu sempre acho que algum dia ele vai virar a mão na minha cara pelo fato de pegar a prima dele sempre que quero, então apenas dei uma risadinha e saí andando. Sou bonito demais pra apanhar por causa de mulher.
Aulas de geografia eram uma encheção de saco imensa, como alguém conseguia gostar daquela coisa? Mas por sorte, as aulas passaram voando e fomos para o treino de futebol, e as garotas, para o treino do clube dos pompons. 's POV end
Os treinos ficavam cada vez mais complicados, já que estávamos sempre tentando fazer algo novo. Depois de um tempo, Callie pediu a atenção de todas nós e começou a falar.
- Meninas, como a maioria já deve estar sabendo, teremos outro jogo sábado, porém será na escola adversária. Vamos ter ônibus que nos levará até lá, e já que o jogo começa às três da tarde, vocês precisam estar aqui às duas.
Olhei para , que olhou para mim com uma expressão de cachorrinho sem dono, já se lamentando pelo esforço que será feito.
- A gente pode tentar fazer alguma pirueta? - Chloe perguntou simpática, recebendo um olhar pensativo de Callie.
- Está cedo demais para isso, Chloe.
- Mas eu consigo, dê uma olhada! - Chloe se organizou com Sabrina, Carolina, Lydia e Jess para a ajudarem. E não é que a garota conseguiu? Deu uma piruetinha muito bem feita.
- Posso tentar também? Não parece ser tão difícil! - se ofereceu, e eu arregalei os olhos. Pra quem não aguenta fazer três abdominais sem reclamar, evoluímos muito.
- Você não vai conseguir, mal consegue se exercitar. - Chloe debochou, fazendo algumas garotas rirem.
- Veremos. - organizou as mesmas meninas da mesma maneira, e repetiu o mesmo ato de Chloe. Sim, ela havia conseguido. - Opsssss! - foi a vez de debochar de Chloe, que apenas arqueou as sobrancelhas e cruzou os braços.
- Uau! Vocês estão ótimas para quem está nisso há tão pouco tempo. - Callie sorriu para todas, mas a moleza não durou muito tempo, já que a mesma ordenou que terminássemos o treino e começássemos a ensaiar a nova coreografia.
Já falei do quanto Callie é bonita? Além de ser uma ótima pessoa, aqueles cachos e sua pele morena a deixavam mais bonita ainda.
Depois de usar e abusar de nossas energias, Callie liberou os últimos dez minutinhos para descansarmos, mas teve a brilhante idéia de irmos assistir o resto do treino dos garotos. Assim que entramos na quadra, os garotos começaram a aplaudir e assobiar. Não sei quanto as outras, mas eu estava bem sem graça com aquilo, já que ainda não havíamos nos trocado, e sempre usávamos alguma blusinha qualquer e um shorts que mais se parecia uma calcinha. Quem tinha começado com aquilo? Preciso mesmo dizer que foi o nosso querido ?
Eu nunca tive a auto-estima lá em cima, nunca me senti uma rainha da beleza, na verdade, muito pelo contrário. E esse é um dos maiores motivos pelo qual eu me corto. Eu não gosto de mim, eu me odeio, e me machucar é a melhor forma de mostrar isso para mim mesma. Aqueles assobios não eram para mim.
Chloe estava na arquibancada fofocando com as meninas, e e Callie estavam mais embaixo, torcendo para e , e logo em seguida me juntei a elas.
Vi que Jackson estava fazendo gracinhas com a bola, e foi como se estivesse tudo em câmera lenta. Jackson chutou a bola em direção a arquibancada apenas para assustar as garotas, porém estava indo na direção de . O que eu fiz? Isso mesmo.
- , você está bem? - me olhou rindo, e logo caí na risada também.
Eu tinha acabado de levar uma bolada na bunda.
- A bonitinha gosta de levar bolada, não é? - Jackson estava atrás de mim, me olhando pervertidamente.
- Cala essa boca. - ri debochada, rolando os olhos para o garoto.
- Você está legal? - perguntou, tentando segurar o riso, porém não aguentou.
- Estou sim. Uma bolada na bunda é sempre bacana de vez em quando. - acompanhei sua risada.
O treinador apitou, anunciando o final do treino, e todos nós fomos até o vestiário.
- Como vocês aprontam uma dessa? Entrar com essas roupinhas logo no final do jogo? - perguntou indignado com as mãos na cintura.
- Você precisa muito de uma namorada, sério. - falou entre risos.
- Deixa o cara. Ele está certo em não querer alguém agora, é bobagem. - se manifestou enquanto parava de rir.
Aquilo foi como um beliscão. Não que eu esperava ter um relacionamento amoroso com , mas ainda assim, era estranho.
Ah, quem precisa disso? Logo agora? Pra falar a verdade, eu concordo também!
- Depende da pessoa também. Eu realmente acho que vou casar com Callie, e vocês podem achar isso bobagem, mas eu vejo tudo de uma maneira diferente. É tudo questão de ponto de vista. - falou recebendo um olhar de nojo de e .
- Então você está na pista pra negócio? Porque conheço alguém interessada em você, . - Chloe sorriu, recebendo a atenção de todos.
- Quem? - perguntamos TODOS ao mesmo tempo.
- A Jess, da nossa equipe. Estávamos comentando sobre os garotos do time e ela disse que você é uma gracinha, e eu disse que iria pelo menos conseguir o seu telefone para poder dar para ela.
Callie e me olharam com uma expressão confusa, e entrei no vestiário rapidamente, pois não era obrigada a ouvir aquela baboseira.
- Você está chateada? - Callie perguntou, encostando a mão em meu ombro.
- Não - desencostei sua mão que ainda estava pousada ali - Ele não é nada meu, gente! Por que eu estaria chateada?
- Cá entre nós, a Chloe só abre a boca para falar abobrinha! - falou impaciente, encarando a garota de longe.
- Vocês duas andam se desentendendo, não é?
- O que ela fez com a Sophia foi tão ridículo. Se atacarem a Sophia, eu ataco também! Fora que ela sempre está querendo mandar na equipe, como se ela fosse a líder. - desabafou, bufando de raiva.
- Acho que ela está se sentindo um pouco deslocada, devíamos tentar conversar mais com ela. - Callie manifestou sua opinião, recebendo um olhar indignado de .
- Ela é muito chatona!
- Não fale assim! Se ponha no lugar dela, poxa. Não vai doer se tentarmos ser amiga dela também. - Callie sempre tentava ver um ladinho bom em tudo, mesmo que fosse bem pequeno. Nos trocamos e saímos do vestiário, encontrando com os garotos, que já estavam do lado de fora.
- A gente podia comer uma pizza hoje, né? - sugeriu.
- Eu não posso, amor. Estou tentando manter minha dieta e você aí querendo acabar com tudo. - Chloe o repreendeu.
- É só não comer, fofinha. - falou impaciente, rolando os olhos e saindo dali ao lado de .
Sobre ele: por que diabos ele mal tinha olhado para mim durante o dia inteiro? Eu hein!
Eu e Callie fomos para a casa da , e logo depois de algum tempo, apareceu para deixar Sophia. Pensei por alguns segundos, e antes que ele entrasse em seu carro, corri até alcançá-lo. Essa curiosidade e necessidade de saber sobre sua vida e entrar nela ainda iria me lascar, e mesmo sabendo disso, eu não desistia.
- .
- Oi?
- Você está bem? Você nem falou comigo hoje, ou nem sequer me olhou. - mordi o lábio, estava sem graça por estar falando aquilo.
- Agora você vai cobrar atenção? - a ironia estava presente em sua voz.
De onde veio aquela grosseria toda?
- Não precisa ser grosso, seu mala. - tentei manter a calma. Quem ele pensa que é?
- Ok, tchau.- entrou em seu carro, e em poucos segundos, eu já nem conseguia mais vê-lo na rua.
Aquilo me deu um aperto no coração. Por que ele tinha que ser desse jeito? Por que dávamos um passo pra frente e dois pra trás?
- Olha o que eu trouxe! - Sophia estava com os patins na mão, sorrindo feito boba.
- Bem que me disseram que você não esqueceria. Podemos ir ao parque, lá tem bastante espaço livre para poder te ensinar, o que você acha? - me ajoelhei para ficar da altura da pequena, que balançou a cabeça positivamente umas mil vezes.
's POV
A coisa toda era verdade. Chloe passou meu numero para Jess, que já havia me mandado uma mensagem. E é assim que eu gosto, de atitude. Eu realmente não tenho paciência pra enrolação.
- Para onde você vai quando me deixa na casa da ? - Sophia estava no banco de trás, segurando seus patins.
- Eu saio pra resolver umas coisas. - e não era mentira, já que eu tentava achar meu pai a todo custo, e eu não podia fazer isso com Sophia perto.
- Que coisas?
- Coisas de gente grande.
- Você nem é tão adulto assim, bobão. - zombou. Meu Deus, o que está acontecendo? Ela acabou de fazer seus míseros 9 anos e já está assim?
- É assim? Então eu vou te dar para um irmão de 50 anos, o que você acha? - brinquei.
- Nãoooooo!!! Eu já não tenho pai, eu não quero ficar sem irmão também! - aquela frase me acertou como um soco.
- Eu nunca te daria pra ninguém, está entendendo? - falei firme, vendo a pequena assentir pelo retrovisor central.
Depois daquilo, ficamos em silêncio, que foi interrompido pelo toque do meu celular, que mostrava o nome de Dan na tela.
- Fala.
- , você precisa vir aqui. - sua voz estava carregada de nervosismo.
- Já estou indo.
Acelerei o máximo que pude até chegar na casa de , tentando ser o mais rápido possível para sair dali, até me chamar.
- .
- Oi?
- Você está bem? Você nem falou comigo hoje, ou nem sequer me olhou. - mordeu o lábio, tentando esconder a timidez.
- Agora você vai cobrar atenção?
Eu não merecia essa encheção de saco logo agora.
- Não precisa ser grosso, seu mala. - bufou, revirando os olhos.
- Ok, tchau. - entrei no carro novamente, tinha mais coisa para fazer.
Cheguei à casa de Dan, que me deu um olhar preocupado misturado com raiva. Eu já sabia que algo sério tinha acontecido, o clima tenso deixava tudo óbvio.
- Ele matou um dos meus caras, e deixou isso aqui junto. - verbalizou nervoso, me entregando um papel sujo e amassado.
''Esse aqui é só o começo. Essa área agora é minha, e espero que o recado tenha sido bem dado. E ... Dê parabéns atrasado para a coitada insignificante da sua irmã.''
Ah não, ele não havia feito isso. Não mesmo!
Chutei a primeira coisa que vi pela frente, sentindo a mão de Dan em meu ombro.
- Quem ele matou? - perguntei enfurecido.
- Oliver. 3 tiros. - respondeu decepcionado, e aquela resposta fez eu me arrepiar.
Eu conhecia a maioria, alguns cresceram junto comigo, já que Dan conhece minha família desde quando eu era um feto, e sempre me mostrou esse lado da vida. O lado das drogas, do crime, e de como tudo pode ser horrível quando não se é ninguém na vida. Oliver era um ótimo rapaz, e não merecia aquilo de jeito nenhum.
- Ele vai pagar por isso, eu juro! - olhei bem em seus olhos, que passaram de decepção para ódio.
- E como vai! 's POV end
Decidimos ir a pé para o parque, e foi uma caminhada e tanto.
- Você está preparada? - perguntei enquanto ajustava os patins de Sophia.
- Eu não sou mais um bebê, vamos loooooogo! - me apressou impaciente.
Peguei em suas mãos e começamos a caminhar lentamente, e ver aquele sorrisinho se formando em seu rosto me dava vontade de sorrir também. E foi assim por muito tempo, até a própria Sophia me pedir inúmeras vezes para soltá-la, dizendo que já tinha aprendido e conseguia fazer aquilo sozinha.
E soltei.
Ela não caiu...
Pelos primeiros 30 segundos.
- Você está bem, Soph? - perguntei enquanto ajudava a pequena, ouvindo as risadas de Callie e . Que coisa feia, meninas!
- Estou sim, foi só um tombinho de nada! - riu ao terminar. A garota é dura na queda!
Depois que Sophia decidiu largar os patins e ir brincar com as outras crianças que estavam por ali, sentei junto com as meninas.
- Você conversou com o ? - perguntou.
- Conversei, e ele foi um grosso. A gente pode, por favor, parar de falar tanto dele? Temos tantas coisas para falar, para descobrir, e vocês aí só perguntando desse garoto chato. - eu realmente estava cansada de só falarem dele.
- Hmm, podemos falar sobre como aquela nuvem se parece uma coxinha? - apontou para o céu.
- Parece mesmo. É engraçado como o universo é incrível, não é? - Callie perguntou enquanto deitava no gramado, e fizemos a mesma coisa.
- Mas é tudo tão estranho, o mundo é um lugar estranho. Às vezes eu não me sinto eu mesma, parece até que eu vivo a vida de outra pessoa. Em outros momentos eu sinto sensações inexplicáveis. Às vezes eu sinto como se eu não fosse daqui. Às vezes eu tento adivinhar o que se passa pela cabeça das pessoas que cometem coisas horríveis. Às vezes eu tento entender o universo, e por aí vai. Sim, o universo, a vida, tudo, é bem engraçado mas também é assustador. - disparei a falar coisas que estavam presas em meu coração há tempos, sentindo um alivio enorme por ter o feito.
- Eu sou exatamente assim! Mas eu acho que todos nós somos assim. Às vezes nos sentimos perdidos e essas sensações e sentimentos aparecem, às vezes ajuda, às vezes piora... Mas o mundo é um lugar mágico, se vocês pararem para pensar bem. - se manifestou.
- Mágico? Mesmo com tanta desgraça? - Callie perguntou num tom confuso.
- Sim, mágico! Sabem quando uma música desperta uma memória? Quando partículas de poeira giram em um raio de luz tiram sua atenção do mundo? Quando sentimos todas essas coisas que não pedem permissão? Quando descobrimos coisas novas, ou quando nos encontramos em algo, ou alguém? É como se você desse um passo além de quem você é e onde está, e por alguns instantes, estamos em um mundo mágico, onde não existe nada além de sensações estranhas e diferentes, porém boas. - sorriu ao terminar.
Aquelas palavras foram simplesmente maravilhosas. A cada dia que passa eu tenho mais certeza de que finalmente arranjei as amigas certas. E por incrível que pareça, não foi tão difícil como eu imaginava permitir pessoas novas em minha vida. E talvez esse seja o maior problema de todos os seres humanos: achar que não tem algo melhor reservado. Agora eu finalmente posso dizer que tenho as pessoas certas comigo, deixando os falsos amigos antigos no chinelo.
- Você pode repetir isso mais tarde para eu poder escrever e imprimir? - Callie brincou, nos fazendo rir - Acho que é por isso que existe muita gente ruim. Elas não se permitem sentir esses presentinhos que a vida nos dá.
Mais palavras incríveis, mas ainda assim, por que eu ainda não consigo mostrar o meu verdadeiro eu para elas? Por que eu simplesmente não falo tudo, não peço ajuda? O que tem de errado comigo? Eu gosto de sofrer, é isso?
Voltamos para a casa da e esperamos o pessoal chegar. Sim, o lance da pizza era verdade.
foi o primeiro a chegar, e toda vez que olho para ele, só consigo pensar em Duke. É, acho que estou apaixonada por um cachorrinho.
Depois de algum tempo, todos chegaram.
- Por que a gente não sai para comer algo diferente? Comida japonesa ou sei lá? Pizza só engorda, e vocês deveriam evitar isso, garotas. - Chloe cruzou os braços, esperando a resposta de todos.
- Por mais que pizza seja meu grande e único amor, também estou cansado de comer só isso, então eu topo a comida japonesa. - se manifestou sobre a idéia, e todos nós concordamos em ir.
Como sempre, estava com o carro de sua mãe, e dividimos as pessoas para ir aqui e ali. Chloe sugeriu um restaurante chamado Ichiban Japanese, onde eu já havia ido com há alguns anos atrás.
- Eu nunca comi isso, . E se eu não gostar? - Sophia estava andando de mãos comigo e com , uma de cada lado.
- Quer saber de uma coisa? Eu não gosto muito de comida japonesa, então se você não gostar, podemos esconder tudo debaixo da mesa, o que você acha? - Sophia gargalhou e concordou com aquela loucura, que provavelmente era mentira, mas contou apenas para fazer a garotinha se sentir mais segura.
Entramos no restaurante e nos sentamos, fazendo nossos pedidos em seguida.
- A gente pode apostar quem come mais? Pelo menos com os temakis? - propôs, e assim que Chloe abriu a boca para reclamar, e disseram que topavam.
Um temaki.
Dois.
Três.
Quatro.
Cinco.
Seis.
Sete.
ganhou.
Chloe olhou para tudo aquilo com cara de nojo e começou a zombar dela, e todos entraram na brincadeira.
- Credo Chloe, você precisa ter mais espírito aventureiro, se divertir, topar nossos desafios. - falou, recebendo o apoio de .
- Vocês só fazem coisas idiotas, oras. E eu sei me divertir sim. - respondeu impaciente, revirando os olhos incontáveis vezes.
- Só acredito vendo. - mesmo Chloe sendo tão fresca, nunca perdia a paciência e nunca desistia de tentar deixá-la o mais confortável possível no meio de nós. Já disse que ele é maravilhoso?
- Eu estava falando com sobre sairmos para lugares diferentes, e tem tanto lugar bacana aqui em Charlotte e eu nunca fui. Tem parques de diversões, jardins, podemos fazer uma caminhada, um piquenique, ir ao teatro ou acampar. O que vocês acham? - perguntou animado e não houve discussão sobre o assunto, todos concordaram no mesmo instante. Eu mal podia esperar por isso!
Papo vai, comida vem, saímos do restaurante para irmos embora, e adivinha? Sophia adorou comida japonesa.
- ? - a voz de sempre me fazia ter arrepios.
- Fala.
- Você vai querer carona? - ele estava sem graça ou é impressão minha?
Eu já tinha evitado entrar em seu carro na ida apenas para não correr o risco de levar novas patadas, e agora ele oferece carona? Ahhhh garoto, não brinque comigo!
- Eu peço para me deixar em casa - olhei para meu primo e virei as costas, indo em sua direção - Você pode me deixar em casa? - perguntei enquanto ouvia zoando com Chloe, que por incrível que pareça, estava rindo.
- O que aconteceu entre vocês? - olhou para discretamente, que estava encostado na porta conversando com .
- Não sei. Ele nem olhou para a minha cara hoje e a tarde foi um grosso.
- Então não posso te dar carona.
Oi? Ele disse mesmo que não ou eu estou maluca?
- Como assim? - ele só podia estar tirando com a minha cara.
- Pare de fugir dele toda vez que ele te tratar desse jeito. Você precisa saber por que ele te tratou assim, e você não vai descobrir isso no meu carro. - riu, dando os ombros como se fosse inocente.
- Eu quero te dar um soco na cara mas também quero te dar um abraço.
- Prefiro a segunda opção. - me abraçou do jeito que ninguém mais conseguia, sussurrando um boa sorte em meu ouvido e dando um olhar positivo.
Fui até o carro de , entrando no mesmo.
- Bota uma música aí, menina. - pediu. Olhei para como se fosse um pedido de permissão e ele apenas assentiu.
O único CD que tinha ali era o meu tão amado Waking Up, do One Republic.
- Ah não... Você que deu esse CD, não foi? - perguntou enquanto gargalhava, nos fazendo gargalhar junto.
- Se achar ruim eu dou outro!
cantarolava All the Right Moves em tom baixo, e em poucos minutos, chegou na casa de , que se despediu deixando beijinhos no ar.
Sozinhos de novo.
Silêncio.
's POV
não abria a boca para nada, nem mesmo olhava para mim. Ok, eu fui um pouco grosso com ela, mas não é motivo pra virar a cara e ficar de birra.
- . - a chamei, mas não tirei os olhos da rua.
- .
- Por que você está brava?
- Porque você é um idiota.
Parei o carro no mesmo instante e olhei para a garota.
- Ainda faltam 3 quarteirões, anda. - ordenou porém ainda não me olhava.
- , pare de frescura. Isso tudo só porque eu não falei com você hoje? Eu não te devo atenção. - chutei o pau da barraca. Pelo amor de Deus, não precisava disso tudo, e minha paciência é muito curta para chiliques ou para qualquer outra coisa.
- A gente tava indo tão bem, mas é sempre assim, em um dia você me beija, no outro finge que eu não existo. Já que estamos tentando ser amigos, você me deve atenção SIM. - elevou seu tom de voz, finalmente olhando pra mim.
- Me poupe! Se esse é o problema, eu não te beijo mais, assim você não precisa ficar choramingando porque não te dei atenção no outro dia.
Quem precisa dela e de toda essa frescura?
- Você é burro? Eu só queria entender porque você faz isso. Eu estou tentando ser sua amiga e você continua não deixando! Você conversa com a numa boa, nunca te vi sendo grosso com ela, então por que comigo? - dessa vez perguntou com o tom de voz mais baixo, já que Sophia estava no carro. Dormindo, mas estava.
E essa pergunta nem eu sabia responder. Eu não sei por que sempre afasto de mim, não sei por que não consigo conversar com ela decentemente. Simplesmente não sei.
- Tudo isso só por que eu não quero dizer nada sobre a minha vida? Va a merda, ! - ri irônico.
- Sua vida é TÃO interessante assim que ninguém pode ter acesso a ela? O que aconteceu? Seu papai não te deu a bicicleta que você queria quando criança? Vá a merda você, ! - cuspiu as palavras cheia de raiva misturada com ironia.
Caralho. Aquilo realmente havia me surpreendido. soltando os cachorros, e mencionar o meu pai no meio não foi nada legal, ainda mais no dia de hoje.
- Sai.
- Sai o que? - perguntou confusa.
- Do meu carro. - se tem uma coisa que eu não aguento, é todo esse mimimi, e ainda por cima dizer coisas que não sabe. revirou os olhos e saiu do carro, batendo a porta com raiva.
Afinal, quem precisa dela?
"Hoje não importa quantos anos nós temos, sempre podemos escolher. Desde o momento que comemos a primeira papinha, estamos fazendo uma escolha. Está em cada um de nós, a responsabilidade de escolher a sua própria vida, seu próprio caminho. A questão é: ao crescer teremos coragem suficiente para fazer isso?"
Sábado. Mais um dia de jogo.
Levantei e fui até o banheiro, esbarrando em quase tudo, já que era quase impossível manter os olhos abertos. Resultado de ficar vendo série até tarde. Qual foi? Private Practice é um seriado muito bom!
Me olhei no espelho por alguns segundos e uma sensação estranha me atingiu, como se minha vida estivesse sendo sugada de mim mesma. Abaixei a cabeça, olhando minha barriga e cintura, com todos os cortes cicatrizados. Eu sentia falta daquilo, do sangue, da dor, da ardência.
Tirei a roupa e entrei no box, ligando o chuveiro e logo sentindo a água morna cair pela minha cabeça, nuca e ombros, e em seguida me perdendo em meus próprios pensamentos. Eu tinha tantas dúvidas, e a frustração por não conseguir a resposta delas me atormentava. Desliguei o chuveiro, me enrolei em minha toalha e troquei de roupa rapidamente, arrumando uma pequena bolsa com o uniforme, tênis e acessórios.
Saí do quarto fazendo o mínimo de barulho possível, descendo as escadas e encontrando minha mãe na cozinha. Machucada. Arregalei os olhos e me aproximei.
- Quando isso aconteceu?
- Ontem. Você ainda não havia chegado, afinal, você anda demorando muito para chegar, o que houve com aquele rapaz que te trazia de carro até a porta? - desconversou com um meio sorriso, me fazendo gelar.
- Como que você sabe disso?
- Eu sou sua mãe, e mães sabem de tudo! Mas me diga, o que aconteceu? - mantia o sorriso fraco nos lábios.
- Ele é um idiota, só isso, e pelo jeito, todos são. - olhei para a escada, e ela entendeu que eu quis me referir ao meu pai.
- Nem todos, meu amor. Quando eu tinha sua idade, namorei com um rapaz muito bacana! Eu pensava que iríamos ficar juntos pra sempre, mas a vida é maluca. - e finalmente sorriu, fazendo uma expressão de dor em seguida, já que sua boca estava cortada.
- E por que não ficaram?
- Seu pai me conquistou. Na época, ele era minha maior certeza.
- Você nunca me contou sobre isso, mãe! Eu não consigo imaginá-lo sendo uma pessoa boa. Eu nunca o vi sendo bom. - a decepção estava bem clara em minha voz.
- Ele já foi bom, mas de uma hora pra outra, parece que roubaram sua alma. Mas como dizem: nada é para sempre! - tentou sorrir novamente e pegou em minhas mãos.
- Um dia, eu juro que vou te tirar daqui, ta bem? Agora eu tenho que ir, mãe! - a abracei rapidamente, peguei uma maçã verde da fruteira e saí porta afora.
Toquei a campainha da casa de e sua mãe me atendeu com um sorriso no rosto.
- Oi, querida! está em seu quarto, ainda se arrumando! Essa garota demora tanto que eu vou te contar... Mas suba, aproveite e a apresse! - rimos e caminhei até o quarto da atrasadinha.
- Sua mãe me deu ordens para vir aqui e te puxar pelos cabelos, se prepare! - me aproximei com as mãos abertas, ameaçando pegar em seu cabelo.
- Babacona! Eu estava fuçando em meu guarda-roupa e olhe o que eu achei! - pegou um bolinho de fotos dela e de outra criança.
- Esse é o...?
- Sim, o ! - caímos na gargalhada, pois ele tinha um corte de cabelo estilo playmobil e usava roupas estranhamente estranhas.
- É a sua antiga turma, né? - peguei uma foto onde estava no meio de vários garotos, a maioria vestido preto e fazendo gestos obscenos.
- Aham. Parece uma gangue maluca - riu - Eu já não falo com nenhum deles, mas espero que eles tenham mudado.
- Agora você tem essa gangue maluca 2.0 aqui, porém uma versão um pouco mais colorida.
A mãe de nos levou até a escola, o que foi ótimo, já que nos atrasaríamos se tivéssemos ido a pé.
- Ok pessoal, entrem logo no ônibus e se acomodem. - o treinador falou alto o suficiente para todos ouvirem e obedecemos.
Dessa vez, quem estava sentado do meu lado era , e e estavam no banco de trás.
- Que tal você fazer um gol pra mim? - sussurrei para , que fez uma careta.
- Ou é pra você, pra ou Chloe, queridinha. - respondeu com a voz afinada.
- Ah é assim? Então eu vou pegar as suas fotos de quando era pequeno e vou mostrar pra todo mundo. - eu precisava usar aquelas fotos contra ele.
- Como você...? , não foi? - riu derrotado, passando a mão pelos cabelos.
- Óbvio! Podíamos fazer um desafio, o que você acha? - arregalei os olhos minimamente animada.
- Que tipo de desafio? - cerrou os olhos, já sabendo que não seria coisa boa.
Não consegui pensar em nada, então cutuquei rapidamente, recebendo um olhar nada bom de , que estava sentado ao lado dela.
- É o seguinte, o tem que fazer um gol pra mim e pra Chloe, o pode fazer pra mim também, o pra Callie e o pra você, mas precisamos de um castigo, caso eles não consigam. O que você sugere? - perguntei dando um sorriso sapeca.
- Hm... Apanhar de chicote? Comer terra? Gelo na cueca? - riu das próprias sugestões.
- Gelo na cueca! É isso mesmo. - escolhi animada, já imaginando aquela cena.
- O que? Ta me zoando, né? - perguntou surpreso, olhando pra mim, e tendo a certeza de que eu não estava zoando nem um pouco.
andou pelo ônibus, até avisar o resto dos meninos sobre o tal, e ninguém protestou, todos se garantindo ao máximo.
Depois de meia hora no ônibus, finalmente chegamos. A escola adversária estava lotada, a maioria nos olhando de cima a baixo. Fomos ao vestiário e nos trocamos rapidamente, fizemos nossos coques, relembramos da coreografia, e finalmente, estávamos prontinhas! Assim que saímos do vestiário, que era de frente com o vestiário masculino, acabei esbarrando em alguém, e esse alguém era .
- Presta atenção! - chamei sua atenção.
- Presta atenção você, garota. - não engoliu a reclamação calado e gritou, saindo andando em seguida. Babaca.
- Vocês não vão se acertar? - Callie se aproximou de mim, com ao seu lado.
- Ele que foi idiota, ele que me expulsou do carro dele, e já que ele é tão cabeça dura, provavelmente não vamos. - dei um longo suspiro, observando o garoto sumir do meu campo de visão.
- O que você disse pra ele não foi legal, . A vida dele não é fácil, sério! - disse de maneira defensiva, mordendo o canto da boca.
- O que você sabe sobre ele? - perguntei curiosa. Eu havia contado para as garotas da nossa discussão, mas não tinha se pronunciado sobre o ocorrido até o momento.
- Posso dizer que bastante coisa.
- Ele contou pra você e não pra mim? Por que você não me disse nada? - cruzei os braços indignada. O problema sou eu, então?
- A vida é dele, . Se um dia ele quiser contar, vai contar. Eu não posso dizer por que não é sobre a minha vida, então não cabe a mim contar ou não. - me olhou sem graça, e saí dali o mais rápido possível. Estava óbvio que o problema era eu, como sempre.
Minutos se passaram e era nossa vez de nos apresentarmos. Em cada jogo seria assim, as apresentações das líderes de torcida dos dois times primeiro.
Tive que deixar minha frustração de lado e me focar na apresentação. Nos posicionamos e começamos a mexer nosso corpo assim que a música Hey Mickey, originalmente de Toni Basil, porém decidimos colocar a versão de uma banda chamada Sweet California, começou. Incluímos as piruetas em nossa coreografia, que foram realizadas por Callie e Chloe, que eram as mais experientes e não corriam tanto risco de erro. O jeito como nossos corpos balançavam em sincronia era algo bonito, era um jeito gostoso de esquecer certas coisas e apenas aproveitar o momento. Fomos muito bem aplaudidas e fomos para nossos devidos lugares.
E... Começou. Ravens contra Lions, e pelo o que diziam, era um time muito forte.
Não posso negar que Jackson é um ótimo jogador, digo, ele realmente consegue trabalhar em equipe. Era uma pena ele só conseguir parecer gente ali, na quadra. Em menos de 10 minutos, o time adversário conseguiu marcar o primeiro gol, e após poucos minutos, outro gol.
- Caralho! - gritei decepcionada. Eles não podiam perder!
- Você está brava comigo? - se aproximou do meu ouvido, por conta do barulho alto dali.
- Não, estou brava comigo mesma, pois isso deixa claro que o problema sou eu. - finalmente falei uma verdade, com a voz carregada de indignação e uma pitada de raiva.
- Não é não! O único problema é que ele é fechado demais e você sabe. - me deu um olhar inseguro, e sorri sem mostrar os dentes em resposta.
é realmente uma pessoa maravilhosa, mas eu acabava sentindo um pouco de inveja daquilo. Ela já havia conseguido a confiança de , enquanto eu ainda não tinha conquistado nem a metade disso.
Voltamos ao clima do jogo, e a garota gritava para , mesmo sabendo que ele não a ouviria.
- Você não deveria estar torcendo por ? - perguntei confusa.
- Deveria, mas eu prefiro torcer pelo meu melhor amigo. Você que deveria torcer por ele! - me provocou bem humorada.
- Jamais! Se eu pudesse, o deixava numa banheira de gelo, isso sim!
- Seu novinho, sua parada. - riu, e não tinha como não rir daquilo também.
- Ele não é o meu noviAEEEEEEEEEE CARALHO! - gritei com toda a força ao ver marcando um gol, com direito a dancinha!
A maioria das pessoas que estavam na arquibancada estavam torcendo para os Lions, e o resto era um pessoal da nossa escola que veio por contra própria, então tentávamos gritar o máximo que podíamos. Minutos depois, Jackson havia feito outro gol, e eu bem que tinha gostado do fato de ter sido ele, pois não vejo a hora de ver os garotos, exceto , pagando o micão.
Nos últimos minutos do jogo, um garoto do nosso time, Liam, fez um gol, encerrando o jogo com 3x2 para os Ravens, e ver a cara de decepção de todos ali estava sendo engraçado.
Corremos em direção aos meninos, que já sabiam o que iam ouvir.
- Vão botar gelo na cueca, vão botar gelo na cueca, vão botar gelo na cueca! - cantarolamos todas ao mesmo tempo, menos Chloe, como sempre.
- Me lembre de matar vocês, por favor! - riu de sua derrota.
- Gelo na cueca? Que babaquice! Quem teve essa idéia? - Chloe repreendeu revirando os olhos, e antes que eu pudesse responder, abriu a boca antes.
- Pare de ser chata! É por diversão, você não sabe o que é isso?- colocou as mãos na cintura e esperou a resposta de Chloe, porém a única coisa que ela conseguiu foi a risada de todos nós.
- Vá á merda, . - Chloe finalmente respondeu e saiu marchando, nos fazendo rir mais ainda, até , que nem se preocupou em ir atrás da garota.
Caminhamos até o vestiário e tiramos nossos uniformes e colocando nossas roupas normais. Assim que saímos dali, ouvimos a gritaria que vinha do vestiário masculino, mas não pensávamos que era tão sério até ouvirmos as pancadas que estavam sendo dadas ali dentro e não pensamos duas vezes antes de entrarmos ali. e estavam praticamente se matando com os garotos do outro time.
- Ei, chega! - Callie gritou tentando se aproximar do namorado, porém não adiantou muita coisa.
Fui até a primeira pessoa que estava mais perto de mim, que era Jackson, e pedi ajuda.
- Eles são do seu time, faz alguma coisa! - gritei, e percebi que aquilo tinha assustado o garoto, que demorou para agir.
Os garotos do time adversário não paravam de provocá-los, e quem conhece sabe que eles não levam desaforo pra casa. Instantes depois, os treinadores dos dois times chegaram ao vestiário, exigindo ordem, e só assim, a confusão acabou.
- Que merda está acontecendo aqui? - o treinador dos Lions perguntou, e os quatro encrenqueiros abriram a boca de uma vez, o que resultou em outro grito do treinador, calando a todos.
- Esses mauricinhos que estão achando que ganharam o mundo só porque ganharam esse joguinho de nada. - um deles falou, e voou para cima dele novamente.
- Não me chama de mauricinho!- gritou enquanto tentava dar outro soco no rapaz, mas Jackson o segurou.
- CHEGA! Vocês têm quantos anos? O futebol é importante, a vitória também, mas o respeito tem que ser maior do que isso! - nosso treinador gritou, calando a todos.
- Exatamente! E como castigo, vocês irão limpar a quadra inteira! Espero que pensem no que fizeram, e não quero que se repita. - o treinador do time adversário ordenou, e recebeu apoio total do nosso próprio treinador, e claro, os garotos não gostaram nada disso.
- Eu nem briguei, mano! Eu só estava tentando separar esses malucos.- gritou indignado, e em poucos segundos, todos estavam revoltados.
-Eu já disse que chega! Ninguém sai daqui enquanto aquela quadra não estiver limpinha!- o treinador ordenou novamente, e todos bufaram e reviraram os olhos, se retirando do vestiário. Esperei todos passarem até ficar ao lado de . Por que eu me preocupava mesmo?
- Você está bem?
- Porra garota, o que você acha? - gritou nervoso, me fazendo dar um passo pra trás.
- Eu só queria ajudar! Bem feito por ter levado essas porradas, você bem que merece pra ver se vira gente! - gritei de volta e me virei para sair dali, sendo impedida por um puxão no braço.
- Vá se foder! - olhou em meus olhos com ódio e apertou meu braço ainda mais, e logo em seguida o soltou. é definitivamente um retardado!
Os garotos estavam limpando a quadra, todos com caras emburradas.
- Limpa direito, chuchu! - gritou, recebendo um dedo do meio de .
- Por que vocês não ajudam ao invés de ficarem sentadas só olhando? - gritou, varrendo o chão muito mal varrido.
- Quem brigou foram vocês, oras.
Minha atenção estava em e Callie, que não paravam de zoar os garotos, e mal percebi quando encheu a mão com os confetes chuva de prata misturada com a sujeira do chão e jogou em nós três. Dá pra entender esse garoto? Bipolar sim ou óbvio?
- Seu viadinho! Você me paga! - Callie correu atrás dele com a vassoura e colocou na frente do garoto, o fazendo cair feito bosta mole.
O que já estava quase limpo, agora já estava sujo novamente, já que todos nós entramos na brincadeira. Acabei esbarrando em Jackson, fazendo o garoto se esborrachar no chão, ou pelo menos, era o que eu pensava, já que ele se levantou rapidamente e me derrubou, me fazendo cócegas.
- Nã...Não...Não vale! - mal consegui terminar minha fala por conta dos risos, e o garoto só parou quando tropeçou nele, fazendo Callie e tropeçarem em seguida.
- O que é isso aqui? Pedimos pra vocês limparem e vocês sujam mais? - o treinador apareceu de repente na quadra, gritando indignado.
- A gente acabou escorregando aqui, foi sem querer! - forçou o riso, tentando disfarçar o indisfarçável, e logo caímos na risada.
- Limpem isso tudo agora, inclusive vocês, garotas! Aonde já se viu?! Na minha época, não era assim, não! - esbravejou, deixando a quadra.
Depois de conseguirmos limpar tudo, fomos para o ônibus que ainda nos esperava, e fomos todos nos mesmos lugares.
Fomos todos para a casa de , e claro, não larguei Duke nem por um segundinho.
- Vocês não acham que vão escapar do gelo na cueca, né? Podem se preparar! - já estava com as forminhas de gelo em cima do balcão e todos soltaram aquele suspiro derrotado.
Fomos para o quintal e cada um tirou sua devida calça, e por mais que eu não quisesse reparar, tinha um... Boneco bem grande. Ele percebeu que eu estava olhando, e parei de olhá-lo no mesmo instante. Cacete, que vergonha!
- Um, dois, três, e... Já! - contamos ao mesmo tempo e cada um colocou quatro gelos de uma vez em suas cuecas.
Suas expressões de dor estavam sendo o máximo, e estava se acabando na risada, já que foi o único que se livrou daquilo.
- Puta que pariu, isso aqui ta doendo pra caralho! - gritou.
- Olhem ao que vocês me submetem! - estava com os olhos fechados e balançando o corpo, e não pude deixar a oportunidade de provocá-lo passar.
- Que tipo de homem você é que não aguenta nem um gelo na cueca?
não riu daquilo, apenas ignorou, e minutos depois, todos os gelos haviam derretido.
-Da próxima, a aposta será com vocês, me aguardem, bonitinhas! - nos ameaçou.
- Cala a boca, playmobil. - não perdi a oportunidade de zoar ele, fazendo todos dali caírem na gargalhada.
- Por que playmobil? - Callie perguntou ainda rindo.
- Ele tinha o corte de cabelo estilo playmobil quando era pequeno. - respondi, recebendo um olhar torto do garoto.
- Você vai se ver comigo, me aguarde. - me ameaçou de maneira divertida, pegando sua calça e entrando de volta na casa, e todos fizeram o mesmo, exceto por , que puxou meu braço novamente, me puxando para perto de seu corpo.
- Você não deveria me provocar desse jeito. - sua respiração batia no pé do meu ouvido, me causando arrepios no corpo inteiro.
- Ou você vai fazer o que? - perguntei desafiadora.
- Eu já falei que você não me conhece.
- De novo esse papo? Vai se ferrar. - tentei sair dali, mas fui impedida.
- Você não cansa de ser tão mimadinha?
Agora ele cutucou a onça com vara curta.
- Eu vou te falar uma única vez: eu sou tudo, menos mimada. - e finalmente me soltei dali, entrando na casa também.
é imbecil como todos os outros garotos, estava comprovado. Sentei-me ao lado de , encostando minha cabeça em seu ombro.
- O que foi agora?
- . Acredita que ele me chamou de mimadinha? - respondi o mais baixo que pude, e tentando esconder minha decepção. Afinal, por que eu estava decepcionada por aquilo? Que era um idiota eu já sabia, mas não pensei que chegaria a esse ponto.
- Dessa vez, eu resolvo isso. - falou sério e levantou, indo em direção à cozinha.
Ops.
's POV
pediu por isso. Quem sabe assim ela para de encher a porra do saco.
Estávamos na cozinha ouvindo as palhaçadas de , até sermos interrompidos por .
- , posso falar com você? - ele estava sério, e eu já até imaginei sobre o que era.
Fomos até o quintal novamente, e provavelmente seria hoje o dia em que eu levaria umas porradas.
- Se você for falar sobre a , me poupe disso. - falei impaciente, pois a minha paciência com essa garota, ou qualquer assunto sobre ela, já estava esgotada.
- Você sabe que somos todos amigos, não é? Amigos mesmo! Você não precisa se esconder de ninguém, então por que você só pisa na bola com ela? - manteve a seriedade, e eu só estava esperando por um murro na cara.
- Você já percebeu que todos falam sobre a como se fossemos algo? Cara, ela não é nada minha, isso cansa.
- Mas ela quer ser sua amiga! passou e passa por tanta coisa, e mesmo assim não se revolta com ninguém, então por que você não pode tentar fazer o mesmo? - ele estava nervoso, e minhas chances de levar um murro estavam aumentando.
- Porque eu não sou a !
- , se você precisar conversar sobre qualquer coisa, você tem a gente! Mas não desconte suas frustrações na minha prima, ela não merece mais uma dor de cabeça.
Apenas assenti e o silêncio tomou conta dali. Eles eram uma família, então é claro que ele defenderia a prima, mas o que não saía da minha cabeça era o fato de ter ouvido que supostamente tem muitos problemas. E quais seriam? Será que eu estava errado em chamá-la de mimadinha?
***
Entrei rapidamente na sala e esperei o começo da aula, que por sinal, era física, uma das melhores matérias, em minha humilde opinião. Talvez o fato de gostar muito da matéria fizesse o professor ficar menos chato, pois era assim que a coisa funcionava, pelo menos para mim. Ver a cara de tédio ou de confusão na cara de todos era um tanto quanto engraçado.
- Pessoal, quero os exercícios da página 18 até 25 para semana que vem. - o professor nos avisou, e as reclamações tomaram conta dali.
Só eu que não achei ruim? Resistores é uma matéria realmente bacana!
A aula seguinte foi geografia, a matéria que eu mais odeio. Pra que porra eu usaria aquela merda bacias hidrográficas na vida? Exatamente, pra nada. E pra piorar, também tínhamos quinhentos exercícios dessa matéria para semana que vem.
Nunca fui tão estudioso, mas também nunca fui tão burro a ponto de repetir o ano ou algo do tipo. O meu problema é ser relaxado, afinal, eu não sei que merda farei da vida até hoje.
Aquela aula parecida durar três dias de tão demorada. Quem é o imbecil que gosta de geografia? Ou a imbecil, que no caso, é a .
Eu sinto raiva dela, mas na verdade não sei o motivo. E que se foda. 's POV end
Sempre ouvi dizer que o terceiro ano é complicado, e agora eu realmente posso concordar. Me deixa ansiosa saber que tudo está prestes a mudar, e ao mesmo tempo me assusta, já que depois disso a tendência é ter outras preocupações e outros objetivos.
- Você vai precisar me ajudar nisso aqui. - ria enquanto apontava para a apostila de geografia.
- Eu posso ir para a sua hoje depois do treino ou amanhã, você que escolhe.
- Pode ser hoje mesmo. Mas sério, como você consegue gostar dessa matéria?
- Pra falar a verdade, eu detestava geografia, sempre colava do , mas uma vez o professor nos separou e eu tive que me virar, e adivinha? Eu tirei dez na prova, DEZ! Eu me achava tão burra e achava que não gostava da matéria, mas na verdade eu gostava e nem percebia, e a partir daquele dia, se tornou a minha segunda matéria favorita, já que a primeira é biologia. - finalizei empolgada. A história é realmente verídica.
- Você é estranha. - gargalhou.
E nossas aulas de geografia eram sempre assim, perdido como cego em tiroteio e eu tentando convencê-lo de que a matéria não era um bicho de sete cabeças. Mas naquela manhã, algo me incomodava. Os olhares de . Ele sentava no fundo, e toda vez que eu me virava para conversar com ou , eu conseguia reparar seus olhares frios e nada agradáveis. Qual o problema desse garoto?
O sinal tocou para o intervalo e saímos sem pressa, afinal, sempre fazíamos a mesma coisa, sentávamos, comíamos, jogávamos conversa fora e voltávamos para a sala.
- Quem é você e o que fez com a minha melhor amiga? - perguntou desconfiado quando viu com uma maçã e uma barrinha de cereais em mãos. Eu também não esperava por essa.
- Estou tentando ser saudável, até que não é tão ruim. - respondeu sem graça, mordendo sua maçã.
- Seria uma pena se... - abriu um pacotinho de fini, aqueles ursinhos coloridos que eram os preferidos da garota.
- Assim não dá, galera. - riu, entregou seu lanche para Callie e saiu dali.
's POV
Quando eu tento realmente ser saudável, esse pessoal me apronta uma dessas. Aqueles ursinhos da fini só podiam ter droga de tão viciantes! Mas esse não foi o meu motivo de sair de lá, na verdade, eu apenas queria fazer xixi mesmo. Deixei meu lanche com Callie, e fui em direção ao banheiro, e assim que saí dali e caminhei pelo corredor, ouvi vozes conhecidas.
- Então a gente se vê hoje à noite?
- Talvez.
Ah não! Credo.
e Jess. Eu jurava que isso era só uma brincadeirinha! Continuei parada ali até a garota se afastar.
- Isso é sério? - me aproximei de , que fechou a cara no mesmo instante.
- Não enche.
- O que houve ontem? conversou com você e isso parece ter te irritado.
- O mesmo de sempre, pra cá e pra lá.
- Você acha que um dia vai conseguir se apaixonar de verdade? - aquelas palavras simplesmente saíram de minha boca, sem mais nem menos.
- Você ta doida? Claro que não!
Nos olhamos por alguns segundos e voltamos para onde o pessoal estava. Peguei meu lanche novamente, sendo interrompida de comê-lo em paz.
- Você comendo maçã? - Chloe parecia confusa, porém logo riu.
- Sim, algum problema?
- Já está na hora de tentar emagrecer mesmo.
Ela está me chamando de gorda? Vaca!
- Eu não estou fazendo isso para emagrecer, apenas estou tentando ser saudável.
- Ela nem é gorda, sua imbecil. - se manifestou, fazendo Chloe fechar a cara e sair dali, e foi atrás.
- Eu não entendo como o aguenta essa garota. Ela é tão sem graça. - Callie falava enquanto amarrava seu cabelo em um coque desajeitado.
- Não foi você que sugeriu que tentássemos ser amiga dela? - perguntei irônica, a lembrando da própria fala.
- Aborta a missão, gente. - respondeu, rindo em seguida.
Eu também não entendia, mas é assim que o amor funciona, né? Às vezes gostamos de pessoas que nem imaginamos que poderíamos gostar. já havia comentado comigo sobre o quanto estava gostando de Chloe, e que quando eles estavam a sós, ela era diferente e todo aquele nhenhenhe de pessoa apaixonada.
Seja com quem for, só quero vê-lo feliz. 's POV end
Nosso treino estava sendo puxado. Sempre tentamos criar passos novos, aperfeiçoar aqui e ali, levantar mais a perna, pular mais alto e por aí vai... Callie nos organizou em duplas para um exercício, e claro, eu estava com .
- , eu preciso te contar uma coisinha. - olhou para mim sem graça, enquanto eu segurava sua perna o mais alto possível.
- Fala.
- Eu vi o com a Jess hoje. Eles pareciam estar meio que marcando um encontro ou algo do tipo. - falou com dificuldade, pois sua perna estava sendo segurada a uma altura bem desconfortável, mas assim que ouvi aquelas palavras, acabei soltando a mesma, fazendo a coitada cair.
- Me desculpa! - abaixei para ajudá-la, mas estava difícil por conta das gargalhadas.
- Eu só estou rindo pra não te dar um tapão, porque doeu. - continuou rindo. As garotas se aproximaram, ajudando a garota a se levantar.
- Vocês sempre atrapalham! Eu serei a dupla de agora, vamos ver se ela vai ficar de conversinha comigo. - Chloe gritou, se aproximando de mim com sua pose de dona do mundo.
- Segura minha perna então, bonitinha. - falei sarcástica, levantando a perna e sentindo as mãos da garota ali.
- Até derrubou a amiguinha só porque ouviu que o está de papinho com a Jess? Eu disse que ela estava interessada nele, e eu não brinco em serviço. - a ironia na voz de Chloe era tão grande que a minha vontade era de enfiar meu pé em sua cara, mas eu não daria esse gostinho pra essa patricinha de meia tigela.
- Eu já peguei o , sabia? Ele beija muito bem. - entrei em seu jogo, e como sempre, a garota fechou a cara, fazendo com que eu me sentisse vitoriosa.
Depois de minutos, Callie começou a falar sobre os saltos e piruetas, e que talvez já estivesse na hora de tentarmos.
- , você ainda não tentou. Quer tentar?
Ok, não poderia ser tão difícil.
E fui. Corri, dei impulso, fui levantada pelas garotas e me joguei para trás e fui segurada... Ou pelo menos, era pra ser.
- Quem foi a cachorra que me soltou? - gritei enquanto ainda estava no chão, minha raiva era maior do que a dor. Caí por cima do braço, o que foi ridiculamente doloroso.
- Chloe, eu vi que foi você! - apontou o dedo para a garota, que apenas riu e negou tudo, tendo apoio das amigas.
- Eu também vi, Chloe. Não pense que isso passará em branco. Você está suspensa por uma semana. - Callie anunciou o castigo da garota, que desfez o sorriso no mesmo segundo.
- Você não pode fazer isso! Eu não fiz nada, ela que é pesada demais, caramba! - tentou se justificar, porém Callie apenas cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas, mostrando que não iria mudar de ideia.
me ajudou a levantar, e céus... Que tombo! Meu braço doía tanto que eu poderia enfiá-lo no nariz de Chloe naquele instante de tanta raiva.
- Você quer ir até a enfermaria? Acho que pode inchar, é melhor você colocar um gelo nisso aí. - Callie se aproximou, me ajudando também.
- Eu estou bem, sério.
- Acho que está bom por hoje. E espero que vocês estejam cientes que eu não aceito gracinhas durante o treino. - Callie falou alto o suficiente para todas ouvirem e em seguida fomos em direção ao vestiário.
- O que você falou pra ela fazer isso com você? - perguntou curiosa e eu soltei uma risada escandalosa.
- Falei que já tinha ficado com o e que ele realmente beijava bem.
- Você não presta! - Callie gargalhava tão alto quanto eu.
Nos trocamos e fomos para fora do vestiário, e lembrei que eu precisava esperar , já que faríamos os exercícios de geografia juntos.
- Adivinha quem fez três gols no treino de hoje? Isso mesmo! - saiu do vestiário masculino gritando e apontando pra si mesmo.
- Adivinha quem foi a maluca que me soltou no meio de um salto? Isso mesmo! - apontei para o meu braço, ainda dolorido.
- A Chloe te fez cair? - perguntou com os olhos arregalados.
- Fez.
- Porra! Mas eu acho que não foi por mal. Aliás, eu queria pedir para vocês pegarem leve com ela, porque ela se sente mal com tudo isso.
Estar apaixonado te deixa trouxa, né? É. E a prova é essa aqui.
- Se ela fosse menos enjoada, quem sabe.
- Talvez a enjoada da história seja você, sabia? - arqueou as sobrancelhas e sorriu ironicamente.
Mudança de planos; enfiarei meu braço na cara dele.
- Olha quem fala! O senhor "minha vida é importante demais para alguém saber". - fui mais irônica ainda, vendo o olhar do garoto mudar completamente.
- Você não me conhece, então cale a boca. - seus olhos foram dominados por raiva no mesmo instante.
- Sempre a mesma coisa. Você deve ser realmente muito interessante, nossa, uau! O que você fez que ninguém pode saber? - provoquei um pouco mais, ele estava pedindo por aquilo.
- , chega! - falou baixinho porém ignorei.
- Você não deveria mexer com quem está quieto, lindinha. - se colocou em minha frente, segurando levemente meu queixo e saindo dali.
Cagão.
- Acho que a gente já pode ir, né barraqueira? - tentou quebrar o clima tenso que tinha ficado ali.
- Podemos.
Duke... Meu pequeno Duke, que não era meu, mas seria, assim que eu o roubasse.
- Você quer comer algo antes? - se jogou no sofá, fechando os olhos em seguida.
- Ei, pode levantar! Vamos começar a lição. - dei tapinhas leves em seu braço.
A porta estava sendo aberta, e um homem bem vestido, elegante e parecido com uma versão mais velha de apareceu ali.
- Oi, pai. Essa aqui é a , a doida que gosta de geografia e vai me ajudar com a matéria. - deu um pequeno resumo sobre a minha pessoa, me apresentando para o homem que veio em minha direção, me cumprimentando com dois beijos no rosto.
- Coitada da garota, vai ter trabalho! Fique a vontade. - o homem riu e se retirou dali, subindo as escadas.
- Acho melhor subirmos também, é mais tranquilo. - levantou e caminhou até as escadas, e eu segui seus passos.
A casa de era muito aconchegante, muito arrumada, muito limpa, mas seu quarto... Misericórdia.
- Como você consegue dormir no meio dessa bagunça toda? - tirei um prato que estava prestes a cair de sua mesa do computador.
- Não começa, já basta minha mãe. - riu e tirou a bagunça de sua cama, me oferecendo o lugar para sentar.
Depois de muitas explicações e reclamações, conseguimos terminar metade dos exercícios em menos de duas horas, e isso já era um grande avanço.
- Tenho que admitir que não é tão ruim assim, vai. - falou sem graça, e meu sorriso foi até a testa.
- Viu só? É facinho!
- Naquelas, né? Mas agora eu preciso perguntar, por que você e o discutiram hoje?
Estava bom demais pra ser verdade.
- Ele é estranho, vive sendo grosso, não me quer como amiga e é isso. Ele me provoca, eu o provoco e ta tudo certo.
- Eu não sou amigo dele, na verdade, acho que ninguém é. Ele é bem bacana comigo e com os caras, mas nunca fala da vida pessoal. Pessoas assim geralmente são traumatizadas com algo, então nem eu, nem ninguém tenta arrancar nada dele. Acho que ele precisa de alguém de verdade, e esse alguém até possa ser você, mas pra isso vocês precisam parar com esse fogo no rabo. Peça desculpas pelas provocações e tente retomar de onde vocês pararam. - ordenou sério, suspirando ao terminar e me olhou bem no fundo dos meus olhos, o que me deixou completamente sem graça.
- Eu realmente quero continuar tentando ser amiga dele, mas ele não deixa! A culpa não é minha, de verdade!
- , ele é homem! Homens são uma porra louca, você precisa lidar com isso. Aliás, você não tem nada a perder, então não custa nada tentar. - deu uma risada gostosa de se ouvir.
Talvez tivesse razão, eu realmente não tinha nada a perder. Mas aquilo era estranho, a vontade incontrolável de querer conhecer e ajudar . De onde vinha essa curiosidade toda? Ou talvez fosse só a minha vontade de ter um desafio em minha vida?
Arrumamos nossos materiais e descemos para a sala, e uma mulher, que eu deduzi ser mãe do , estava ali.
- Filho, o jantar está pronto. - a mulher estava tão concentrada em arrumar a mesa do jantar que nem percebeu que eu estava ali.
- Mãe, essa aqui é a , minha namorada. - assim que falou aquilo, a mulher soltou os garfos que estavam em sua mão imediatamente e olhou para frente.
- Ai... Meu Deus! Jura, filho? Finalmente! , muito prazer, eu sou a Susan! - a mulher me cumprimentou sorridente e eu simplesmente tive um ataque de risos junto com .
- É zoeira, mãe. Sua reação foi demais! - assumiu a brincadeira, e o sorriso da mulher se desfez.
- Garoto idiota, não foi assim que eu te criei! - fingiu estar brava, mas logo se rendeu as risadas - Vocês fariam um belo casal!
- Eu sou muito bonito pra ela. Na verdade, ela veio me ajudar com geografia. - contou a verdade.
- Você nunca gostou dessa matéria, então deve ter dado um trabalho danado! Vocês não querem jantar? Já está tudo pronto! - a simpatia de Susan era incrível, me fazendo aceitar o convite de primeira.
Estávamos todos na mesa comendo frango a parmegiana com macarrão, e sinceramente, eu comeria aquilo todo santo dia, de tão delicioso que estava. Os pais de eram bem falantes e engraçados, então foi muito agradável estar ali.
- Está ficando tarde, vou levar a bonitinha em casa. - anunciou, se retirando da mesa.
Me despedi rapidamente de seus pais, e em poucos segundos estávamos na rua.
- , posso perguntar uma coisa?
- Claro.
- Quando o falou sobre o seu motivo de mudar de escola, eu senti curiosidade em saber como você se sentiu. Sei que é um assunto delicado, e não precisa responder se não quiser.
- É horrível, é estranho e dói. Por que a curiosidade? - perguntei tentando não parecer chateada. Aquele assunto ainda era uma ferida aberta.
- Algum dia, talvez eu me apaixone, e talvez eu quebre a cara, então quero saber o que me espera.
- É claro que você vai se apaixonar! É por isso que você tenta evitar isso tudo? Você nunca quer nada sério com ninguém. - agora estava tudo ficando claro.
- Talvez. Eu realmente não quero ninguém agora, mas acho que isso tudo me assusta um pouco. A vida é tão curta, tão estranha, e às vezes eu me perco só de pensar nisso tudo. - as mãos no bolso, a maneira como falava, os ombros levemente levantados, mostravam sua insegurança.
- Vai acontecer, você querendo ou não. Mas a vida pode ser mais complicada quando se tem mais do que um coração partido. - não planejei dizer aquelas palavras, apenas saíram de minha boca.
- Aconteceu mais alguma coisa com você? Você pode conversar comigo, de verdade. - ouvir aquilo era gostoso, mas saber que não poderia me ajudar em nada, já acabava com a sensação boa do momento.
- Não aconteceu. - sorri em disfarce.
Mais alguns minutos e estávamos na rua da minha casa.
- Chegamos. Boa noite, . - nos despedimos com um abraço rápido e entrei em casa.
E como sempre, tudo estava uma zona, provavelmente era o resultado de uma briga ou algo assim. Subi as escadas rapidamente e assim que minha mão estava na maçaneta de meu quarto, ouvi barulhos vindo dali. Abri a porta lentamente e meu pai estava ali, fuçando em todo canto possível. A sensação de medo tomou conta de mim, afinal, eu nunca sabia o que ele seria capaz de fazer.
- Aonde você guarda a porra do dinheiro? - perguntou raivoso, vindo em minha direção.
- Se você não gastasse todo o seu dinheiro comprando drogas, você não precisaria do meu. - fui o mais irônica que pude, já sabendo o que viria depois daquilo.
- Cadê a porcaria do dinheiro, garota? - apertava meu braço de uma maneira absurda, que já estava machucado pelo tombo de hoje.
- Eu não vou te dar nada, me larga! - tentei soltar meu braço dali, mas só resultou em apertos muito mais fortes, seguido de alguns murros no estômago, que me fizeram ficar mais tonta que o normal.
Eu não tinha trabalhado para simplesmente dar o meu dinheiro tão fácil assim, eu precisava dele, e não me importava em levar uma surra por isso, afinal, eu já estava acostumada com aquilo. Estava acostumada com toda aquela dor, hematomas e feridas incuráveis em minha alma, deixando uma cicatriz aberta.
Todas as pessoas possuem cicatrizes, em todos os tipos de lugares. São como mapas secretos de nossas histórias pessoais, diagramas de velhas feridas. E a maioria pode se curar, deixando apenas uma cicatriz, mas algumas não se curam, e é aí quando tudo se torna insuportável. Algumas feridas não possuem cortes, mas carregamos a dor por todo canto. E o que é pior? Novas feridas que são horrivelmente dolorosas ou velhas feridas que deviam ter sarado mas não o fizeram? Velhas feridas nos ensinam algo. Nos lembra aonde estivemos e o que superamos. Nos ensinam lições para o futuro. Pelo menos, é como gostamos de pensar, mas não é o que acontece, não é? Pois eu continuo aqui, apanhando da mesma maneira, com uma ferida que supostamente deveria ter me ensinado a não voltar para esse caminho. Mas algumas vezes não conseguimos tomar uma atitude, não conseguimos lidar, e então passamos por isso de novo, e de novo, e de novo...
Um novo dia havia começado, mas a rotina continuava a mesma. Meu corpo doía, principalmente meu braço. Fui a ultima a chegar, resultado de uma noite mal dormida e uma preguiça fora do normal, que me impediu de dar passos rápidos durante a caminhada até a escola.
O corredor estava vazio, e minha vontade era de correr para qualquer lugar que não fosse ali. O dia mal havia começado e eu já sabia que seria uma porcaria. Pessimismo é uma merda, mas eu simplesmente não consigo pensar positivo, o que é mais merda ainda.
Dizem que pensar positivo é uma maneira de levar a vida de um jeito mais feliz e saudável. Desde criança ouvimos coisas do tipo ‘’sorria’’, ‘’fique alegre’’, ‘’olhe pelo lado bom’’, e mais um bocado de frases que no fundo, não tem significado nenhum. A realidade nos impede de sermos positivos. Corações são quebrados, amigos te decepcionam, a família é complicada, e por aí vai... Qualquer pessoa deseja ser positiva e feliz, mas talvez essa expectativa de querer ser feliz, é exatamente o que nos impede de sermos felizes. Felicidade é algo confuso, e quanto mais tentamos conquistar isso, mais confusos ficamos, até que chega um ponto onde não reconhecemos mais nada.
Meu pensamento foi interrompido por e Jess, que estavam no corredor, mas consegui me esconder a tempo.
- Você furou comigo ontem. - Jess parecia estar frustrada.
- Eu estava ocupado. - respondeu indiferente, e tive que prender o riso.
- Sei que parece apressado demais, mas você me parece interessante. - Jess falou animada, e eu gostaria de ser uma mosquinha apenas para ver a reação de ao ouvir aquilo.
- Valeu. – continuou respondendo de maneira indiferente.
- Agora vou pra sala, tchau.
Assim que saí do meu esconderijo e revelei minha presença, olhou para mim com o mesmo olhar frio do dia anterior. Me lembrei da conversa com , e talvez fosse um bom momento para tentar acertar as coisas. Talvez...
- , eu... - assim que abri a boca, o garoto se aproximou, me empurrando contra o armário.
- Eu ainda não esqueci o que você disse ontem, e como eu disse, você não me conhece. - aquele olhar horrível continuava ali, fazendo com que meu corpo se arrepiasse.
- Esquece isso! Eu ia pedir desculpa agora mesmo! - ele não se mexeu nem um centímetro, apenas continuou me encarando com aquele olhar assustador.
- Não existe esse lance de desculpa, ! E da próxima vez que você abrir a boca pra tentar me provocar, eu não vou ser tão tolerante.
Ele realmente estava irritado por aquela bobagem? Não era grande coisa!
- Você não consegue nem aceitar um pedido de desculpa? Qual é a merda do seu problema? Sempre tão fechado, misterioso e desconfiado. Eu realmente quero saber o que te fez ficar assim! Por que você não deixa? Que bicho te mordeu? - tentei ter um pouco de bom humor em meio a aquela situação, mas só tinha piorado, já que o garoto me pressionou mais ainda contra o armário e pegou em meus braços, os apertando.
- Para com isso! Eu não quero você xeretando a minha vida, você não entende? - me apertou mais forte ainda.
- Para de ser idiota e me solta, caralho! - tentei me soltar, mas parecia que ele estava se divertindo com aquilo.
- Como você é fraca, . - debochou, apertando ainda mais.
- Vai se foder!
- Você parecia ser interessante, sabia? Mas agora não passa de uma menininha chata. - se aproximou cada vez mais, encostando nossos narizes.
- Você é ridículo, sabia? Talvez sua vida nem seja tudo isso, talvez seja tudo um grande nada, assim como você, que é um nada! - sorri irônica, ignorando a dor.
- Cala a merda da boca! - me empurrou novamente contra o armário. Essa realmente doeu!
- Ei, o que você ta fazendo, cara? - Jackson correu pelo corredor até nos alcançar e ficar ao nosso lado.
- Não se mete! - gritou, ainda me apertando contra o armário.
- O que aconteceu? A garota não te quer mais? Eu já sabia que você não era tão bom assim. - esnobou, fazendo me soltar no mesmo instante e partir para cima dele.
Por que esses idiotas sempre decidem resolver tudo na porrada? Apanhar eu já apanhava em casa, então não me meteria no meio daquela roubada. Apenas corri e bati na sala mais próxima, pedindo por ajuda.
- Chega, rapazes! O que aconteceu aqui? - o professor de física e alguns alunos separaram os dois encrenqueiros. E já que era a sala de Jess, ela correu para ajudar , mas parecia estar tão assustada que se afastou do garoto.
- Esse moleque retardado machucando a foi o que aconteceu. - Jackson respondeu aos berros, fazendo todos os olhos dali se arregalarem, e segundos depois, o diretor estava ali.
- Quem são os causadores desse caos? - assim que perguntou, todos os dedos foram apontados para nós três - Pra minha sala, agora! - ordenou.
Andamos lentamente até chagarmos na sala do diretor, e não ousamos abrir a boca até lá.
- Olha só se não é o e o Tuck aqui, novamente - riu sem humor - Qual dos três vai começar a me dizer o que aconteceu?
Silêncio.
- Eu não tenho o dia inteiro, pessoal! Se não quiserem que eu chame os pais de vocês, vamos tentar resolver isso aqui e agora!
Silêncio.
- Chamarei os pais dos três nesse instante! - assim que pegou o telefone, Jackson começou a falar.
- Ok, ok, eu falo! Eu cheguei atrasado, e vi o discutindo com a no corredor, mas ele estava machucando a garota e eu me meti no meio, e dessa vez eu que me lasquei. - riu ao terminar, limpando o sangue que escorria de sua boca.
- Isso é verdade, ?
A minha vontade era de ferrar a vida do naquele momento, mas algo me impedia.
- Ele só apertou meu braço, não foi nada absurdo, sério. - tentei parecer o mais convincente possível, recebendo um olhar inconformado de Jackson.
O diretor nos encarou por alguns segundos, nos deixando mais nervosos ainda.
- Da próxima vez que eu ver algum de vocês envolvidos em alguma confusão, será suspensão, estamos entendidos? - perguntou sério e impaciente, e concordamos no mesmo segundo, nos levantando e caminhando até a saída - Vão até a enfermaria! Vocês adolescentes e essa mania de saírem se socando... E , se eu souber que você anda machucando alguma menina dessa escola, eu te expulso no mesmo minuto! - deu seu último aviso e nos liberou.
Caminhamos um ao lado do outro em direção a enfermaria, e Jackson insistiu que eu fosse ver o meu braço primeiro.
- O que houve, mocinha? - uma mulher baixinha, de meia idade, aparentemente adorável estava ali em minha frente.
- Meu braço está machucado, só isso.
- Deixe-me ver. - me ajudou a tirar o casaco, revelando um braço totalmente roxo. Depois de cair no treino, levar uma surra do meu pai e receber apertos grátis de , aquele roxo não me surpreendia - Querida, o que você fez nesse bracinho? - perguntou preocupada.
- Eu caí no treino, só isso. - sorri para disfarçar melhor a minha mentira.
A porta foi aberta bruscamente, e tinha que ser o imbecil do .
- Eu só preciso de um gelo, aonde te... - parou de falar assim que viu meu braço.
- Você não pode esperar, rapaz? - a mulher o repreendeu, que saiu da sala no mesmo instante.
Quando fomos matriculados nessa escola, fichas médicas sobre quais medicamentos podíamos ou não tomar eram incluídas, e eu era autorizada a tomar remédios para dor e alguns para asma, que era uma doença que me acompanhava desde sempre. Agradeci e saí o mais rápido possível dali, sendo seguida por .
- !
- O que é? - respondi o mais grossa possível. Ele não tinha o direito de se preocupar agora.
- O que aconteceu com o seu braço? Eu não apertei tanto pra ficar desse jeito, né? - perguntou nervoso, se aproximando cada vez mais.
- Claro que foi você, com a força da sua ignorância! - ri irônica, andando mais rápido, porém sendo puxada pela cintura.
- Quem fez isso? - ele estava sério, me olhando diretamente nos olhos.
- Cacete! Eu caí no treino, lembra? Foi isso, agora me larga, eu hein.
- Não ficaria tão roxo assim só por um tombo! Quem fez isso? - continuou sério, me pressionando cada vez mais contra seu corpo.
- Eu vou te dar uma porrada se você não me soltar agora! - ameacei, sentindo seus braços se afrouxarem, me libertando dali.
- Me desculpa! - gritou, me fazendo parar no mesmo instante. Aquilo só podia ser uma brincadeira.
- O lance de desculpas não existe, . - dei uma última olhada em seu rosto e continuei a andar.
A tristeza estava ali novamente, dominando o meu ser. O tipo de tristeza que faz meu corpo e minha alma doer, e eu não podia fazer nada para evitar aquilo.
"Você já olhou para uma foto sua e viu um estranho no fundo? Te faz perguntar, quantos estranhos tem uma foto sua? Quantos momentos da vida dos outros nós fizemos parte? Ou se fomos parte da vida de alguém quando os sonhos dessa pessoa se tornaram realidade, ou se estivemos lá, quando os sonhos delas morreram. Nós continuamos a tentar nos aproximar? Como se fossemos destinados a estar lá, ou o tiro nos pegou de surpresa? Pense, podemos ser uma grande parte da vida de alguém e nem saber."
Uma semana se passou. Uma semana longa e estranha.
- , você está me ouvindo? - balançou as mãos em frente aos meus olhos, tentando chamar minha atenção.
- Foi mal. O que você disse? - perguntei perdida. Minha atenção estava longe dali.
- Você pegou tudo o que precisava? já deve estar chegando!
Foi uma semana inteira aguentando Jackson insistindo em tentar conversar comigo, receber olhares estranhos de , suportar as dores das surras recebidas, e explicar sobre a história do meu braço roxo, que acabou se espalhando entre o grupo tinha me deixado estranha e pensativa. Mas muito pensativa mesmo! Do tipo que te faz pensar em cada partezinha de toda a sua vida.
- Sim, senhora! Já podemos descer! - tentei me animar, pegando nossa pequena mala com roupas extras.
levou a sério sobre sairmos para lugares diferentes e arranjou um lugar onde pudéssemos relaxar. Ele não disse aonde era, apenas que deveríamos levar comida e algumas roupas a mais. Descemos e pegamos nossas cestas onde estavam nossas comidas. E não era qualquer porcaria, não! conseguiu fazer panquecas doces recheadas com chocolate e morango, e com a ajuda da mãe, fez uma tortinha holandesa.
- Você acha que é um clube ou um spa? Eu morreria por um lugar desses nesse segundo! - a garota deduziu, se rendendo a preguiça matinal e se jogando no sofá, recebendo bronca da mãe em seguida, que a mandou tirar o pé sujo dali.
- sempre gostou muito da natureza, então provavelmente vai nos levar para o meio do mato. - ri.
Eu já posso babar no meu primo e dizer o quanto ele é maravilhoso? Ele sempre foi assim, desde pequeno, sempre quis um tempo apenas para apreciar a natureza e tudo o que temos de bom e nem percebemos.
Minutos depois, o som da buzina tocou e saímos de casa.
- está chegando com . - avisou, encostando no carro, e fizemos o mesmo.
Estavam quase todos ali, só faltavam os dois, que não demoraram para chegar. Começamos a arrumar as coisas no carro de , que na verdade era de sua mãe, mas ele era mais dono do que a própria.
- Coloca isso lá, preciso ir ao banheiro! - deu sua pequena bolsinha para , que se aproximou do porta-malas, que por sinal, era onde eu estava encostada.
Seus olhos azuis, sem brilho nenhum, mal conseguiam olhar para mim. Eu queria falar com ele. Queria continuar de onde paramos antes de toda essa confusão. Queria fazer dar certo. E mais uma vez: por que eu queria tanto isso, mesmo sabendo que na maior parte das vezes aquilo que queremos é aquilo que não podemos ter? O desejo de ter algo é desgastante, mas por mais duro que seja querer algo, posso garantir que as pessoas que mais sofrem são aquelas que não sabem o que realmente querem.
A última vez que nos falamos foi o dia que ele viu meu braço, e depois daquilo, ele abriu a boca para , que abriu a boca para Callie, que abriu a boca para , e assim vai. Resumo da história: todos queriam saber o motivo do meu braço ter ficado tão machucado.
Fui despertada de meus pensamentos com a maior surpresa que poderia ter no momento. A voz de .
- Seu braço está melhor? - perguntou baixo.
Pensei rápido por alguns segundos e não sabia se respondia ou não. , você me deixa maluquinha!
- Está. - não me aguentei, mas tentei ser o mais seca possível. Por mais que seja um saco admitir isso, ele tinha me deixado chateada.
-E quando você vai contar quem fez isso com você? - encostou-se ao meu lado, olhando em meus olhos.
- Por que diabos você acha que alguém fez isso comigo? - meu talento de atriz e mentirosa estava em prática ao fazer aquela pergunta.
- Eu sei quando é um machucado por acidente e quando é um machucado causado por alguém, então me responde, quem fez isso com você? - insistiu, e antes que eu pudesse responder, fui salva pelo gongo, no caso, a , voltando do banheiro e já entrando no carro de .
Entrei no carro de novamente, seguida por e Chloe, e Callie indo no banco da frente.
- Olha só o que temos aqui... Um CD do One Republic! Nem consigo adivinhar quem te deu! - Callie abriu o porta-luvas, achando o CD e olhando para , mas falando em voz alta para que eu ouvisse. Todos deveriam ter pelo menos um CD do One Republic no carro!
- Bota esse CD aí, por favor! - pedi de maneira meiga, logo ouvindo a primeira música começar a tocar, que era Counting Stars.
Sete musicas depois, Can't Stop começou a tocar, e essa música simplesmente me fazia desejar que Deus me puxasse de uma vez pra fora desse mundo de tão maravilhosa que é! Música sempre ajuda, sempre marca nossa vida, não importa o que estejamos passando.
"I guess this is what it's supposed to feel like. (Eu acho que essa deveria ser a sensação) No we don't talk, no we don't talk, we don't talk anymore. (Nós não nos falamos, não nos falamos, não nos falamos mais) I guess this is what it's supposed to sound like (Eu acho que é assim que deveria soar) The universe, the universe, universe is torn." (O universo, o universo, o universo está destruído)
Uma hora e meia no carro e finalmente chegamos. E adivinha? Eu estava certa! nos levou para o meio do mato.
- É isso aqui? - Chloe perguntou confusa, enquanto saíamos do carro.
- É! Eu olhei na internet e parecia ser muito bacana por foto, mas pessoalmente é melhor ainda! - respondeu, respirando fundo, levando o ar fresco para seus pulmões.
- Eu só vim pela comida. - se aproximou, dando leves tapas em sua barriga.
- Como sempre! Aliás, já podemos comer, né? Estou faminta, e eu consegui fazer uma tortinha, estou doida para que vocês provem! - falou animada, e eu não pude perder a oportunidade de zoar com ela.
- Correção: minha mãe me ajudou a fazer uma tortinha!
O lugar era maravilhoso! Com muitas árvores, passarinhos por todo canto, e muito calmo! Caminhamos por um tempinho, analisando o lugar, e encontramos um lago ali. Não podia ficar melhor! Colocamos as toalhas no chão, deixando tudo bem bonitinho pra um pinique decente.
- Isso parece estar muito bom, ! - caminhava com a torta da melhor amiga na mão.
- Parece mesmo, né? E foi facinho de fazer! - a garota estava orgulhosa de sua nova conquista culinária.
- Alguém pode me ajudar a pegar esse negocio aqui? - Chloe gritou, apontando para as bebidas que estavam no chão.
- Se vira! - gritou de volta, gargalhando em seguida.
Chloe pegou o máximo de coisa que pôde e andou em nossa direção, mas levou um tombão no meio do caminho, esbarrando em , que derrubou a torta.
- MINHA TORTA! - levantou e correu, choramingando em cima de sua falecida torta.
- Eu pedi ajuda, a culpa é sua! - Chloe gritou novamente, e naquele momento, pela expressão de , ela poderia chutar todo aquele mato na cara da garota.
- Você não sabe andar, não? - e o bate-boca não parava.
- Chega gente, é só uma droga de uma torta! - foi a vez de gritar, levantando e se limpando.
- Você sempre dizia que eu não sabia nem ferver água, e agora que eu consegui fazer algo, você não pode dizer que é SÓ uma torta! - tentou parecer brava, mas não conseguiu.
- Então fique a vontade para comer do chão. - seguiu sua risada.
Tinha um pouco de tudo, os bolinhos de petit gateau de Callie, os lanches naturais da mãe de , a torta de frango de , os sucos naturais de Chloe, as panquecas sobreviventes de , levou torradinhas com geléia de amora, e além do estômago, levou mini quiches de queijo.
- Isso aqui está muito bom! - elogiou a torta de frango com a boca cheia.
Estava tudo uma delicia, mas aquele sono que aparece após as refeições são irresistíveis! Encostei-me no peito de , que também estava deitado, e fechei os olhos. Aquele vento fresco deixou tudo ainda melhor.
- , vem aqui! - gritou, fazendo o meu travesseiro ambulante sair dali e me deixar deitada parecendo uma batatinha amassada no chão.
- Por que eles estão lá, e nós aqui? - Chloe perguntou desconfiada, sentando ao meu lado.
- Não faço a mínima idéia. Eu só quero dormir.
- Eles estão aprontando alguma coisa, tenho certeza!
- Cala a boca, estou tentando tirar um cochilo!
- Você é grossa assim sempre? - aquela pergunta me fez levantar no mesmo instante, ficando frente a frente com a garota.
- Eu tento ser legal com você, mas você não colabora! Vive cheia de mimimi, e creio eu, que foi pelo fato de você ter sido mimada durante a sua vida inteira, mas aqui a coisa é diferente! Eu só queria tirar um cochilo, porque eu não durmo decentemente há séculos, então a minha vontade é de te comer viva e te fazer de travesseiro. - aquele desabafo tinha sido ridiculamente ridículo, mas foi o que Chloe mereceu.
- Cruzes! Você parece ser legal, mas você nunca me dá uma chance para mostrar que eu também posso ser. - debateu cabisbaixa, e sinceramente, me senti mal por aquilo.
O meu cansaço era tão gigante, que eu só queria deixar tudo como estava e poder viver a porcaria da minha vida em paz. Mas sempre tem alguém no caminho, sempre! Mas afinal, eu não tinha nada a perder, e dar uma chance para Chloe não parecia ser tão ruim.
- Tudo bem, podemos tentar, assim você não tem motivos para me fazer cair no treino novamente. - ri, fazendo a garota rir de maneira sem graça.
- Por que eles estão lá, e nós aqui? - se aproximou, fazendo a mesma pergunta novamente.
Percebi que minha soneca já tinha ido pelo ralo e levantei, andando em direção aos garotos.
- Amor, olha isso aqui! - chamou Callie, que assim que se aproximou, foi atacada por uma... Bexiga cheia d'água!
- Isso não vale! - correu em direção ao porta-malas do carro de , que tinha três baldes cheios de balões de água .
Esses garotos estavam muito espertos, hein?
Peguei o máximo de balões que pude e joguei em qualquer pessoa que passava perto de mim, mas a graça acabou quando fui atingida por um balão em cheio no meio da cabeça. Continuamos com a brincadeira, correndo feito crianças, até escorregando e caindo. Ahhhh, estava tudo liberado naquele momento!
- Ei, ! - gritei, e assim que o garoto olhou para mim, joguei um balão em sua cabeça. Sua reação tinha sido incrível, mas correr dele não estava sendo nada incrível, já que a grama estava molhada, e eu provavelmente levaria um tombo.
E levei.
- Você é realmente vingativo, né? - gargalhei, aguardando o que estava por vir.
- Você não sabe o quanto! - deu uma risada fraca e soltou o balão que estava em suas mãos, me atingindo em cheio. Assim que o garoto começou a dar os primeiros passos, coloquei meu pé na frente, provocando sua queda.
- Que pena, eu também sou! - ri do tombo do rapaz, levantei rapidamente e já corri, pois sabia que ele viria atrás de mim.
Estávamos correndo feito bobos, até que ele finalmente conseguiu me pegar.
- E agora, mocinha, o que eu faço com você? - o bom humor em sua voz era algo bom de se ouvir.
- Você que sabe, mas fique ciente que eu vou me vingar do mesmo jeito.
- Todo mundo tem um ponto fraco em comum. - se aproximou de mim, e eu já estava preparada para o que iria acontecer.
- Qual?
- Esse. - se aproximou mais um pouco e... Começou a fazer cócegas em minha barriga!
- Iss..Isso...Não...Va...Vale! - as gargalhadas eram escandalosamente altas, mas não tinha como controlar.
- Você ainda quer se vingar? - parou de mexer seus dedos, e aproveitei para me sentar.
- Acho que não. - sorri sem mostrar os dentes, e sendo observada pelo garoto por longos segundos.
- Vamos caminhar, vocês querem ir? - apareceu com junto, que deu uma cotovelada no melhor amigo.
- Para de ser jumento! - sussurrou para o melhor amigo de maneira nada discreta - Vocês não podem ir, tchau! - sorriu e se virou, puxando o garoto junto o mais rápido que podia.
- Acho que temos muito tempo para conversar, não é mesmo? - sorriu, e Deus... Que sorriso!
- Podemos voltar para lá? Vamos ter aonde deitar. - o garoto concordou no mesmo instante e andamos até onde estavam as toalhas e nossa comida.
deitou, dobrando algumas toalhas menores e fazendo-as de travesseiro, e eu fiz o mesmo, deitando ao seu lado, sentindo o sol batendo em nossos corpos. Eu não sabia se estava autorizada a tentar puxar assunto, e nem arrisquei. Pra falar a verdade, não merecia nem 1% da minha atenção depois do que houve.
Olhei para o céu, e observei as nuvens correndo ali. Acredito que toda aquela imensidão azul alimenta a minha alma. Estou aqui, mas sou de lá.
- Você gosta desse tipo de lugar? - o garoto quebrou o silêncio que estava instalado ali.
- Gosto. - não quis prolongar a conversa, pois a única coisa que acontece é discussão.
- Quem fez aquilo com você? - voltou ao assunto perturbador.
- Eu já te disse, por que você está insistindo nisso? - sentei novamente e olhei em seus olhos.
- Eu sei quando alguém mente porque eu sou um mentiroso. E dos bons. - sentou também, ficando de frente para mim.
Meu coração estava levemente acelerado, não por , e sim pela situação. Era como se meu corpo estivesse pedindo socorro, e minha mente dizendo "conta logo a verdade", mas minha boca não emitia som algum.
- Eu não posso te contar! - foi a única coisa que consegui dizer.
- Por que não? - elevou seu tom de voz, o que fez meu coração se acelerar ainda mais.
- Eu não quero! Da mesma maneira que você não quer contar sobre sua vida, eu não quero contar o que aconteceu, só isso! - tentei esconder o nervosismo em minha voz, mas pela expressão dele, eu estava falhando.
- Pra você me conhecer, precisa permitir que eu te conheça também. Podemos começar de novo a partir daqui, o que você acha? - perguntou enquanto sorria. ELE SORRIU DE NOVO! Mas o melhor não era o seu sorriso. Não que fosse feio ou algo do tipo, muito pelo contrário, mas a sensação que eu senti naquele momento foi inexplicável, foi como se eu finalmente pudesse contar. Como se eu finalmente pudesse me libertar daquilo.
- Eu vou te contar, mas você tem que prometer não contar pra ninguém, ta bem? - eu finalmente estava pronta.
- Eu prometo.
- De dedinho? - ergui o dedinho mindinho, fazendo rir e entrelaçar seu dedinho no meu.
E quando eu estava prestes a abrir a boca novamente, gritos ficavam cada vez mais altos.
Chloe!
Eu e levantamos rapidamente e fomos até aonde pudéssemos vê-la, e estava sendo carregada por .
- O que houve?
- Ela caiu. - respondeu, tentando segurar o riso.
- Caiu muito bem caído. - completou, não aguentando e rindo, e todos o acompanharam. A roupa de Chloe estava totalmente suja, e com um corte no joelho direito.
- Não tem graça! - repreendeu a todos, porém foi como se não tivesse dito nada, já que os risos continuaram.
- Esse tombinho não foi nada. Se você soubesse de todas as vezes que a já caiu ridiculamente em público, você nem ligaria para as nossas risadas. - comentou, e eu tive alguns segundos de flashbacks com os meus piores tombos, e acreditem, eram realmente ridículos!
- Se tem algum lugar de onde ela caiu, foi do céu! - brincou, causando mais risadas ainda. Eu queria poder ter um bom humor quase inabalável como aquele!
Sentamos todos novamente e aproveitamos o sol que batia ali, junto com o ar gostoso que soprava em nossos rostos. A natureza é algo realmente incrível, não? A maneira como as folhas das árvores caem, o barulho do vento, a altura de cada árvore, os ninhos de passarinhos por ali, e entre outras mil coisas. O sentimento instalado em meu coração era novo, era estranho, mas no bom sentido. Era como se de alguma forma eu soubesse que daqui pra frente, tudo irá mudar. Inclusive minha relação com o senhor mentiroso, nomeado como . Sobre o que ele mente eu não sei, mas irei descobrir.
's POV
Eu já falei o quanto odeio esse maldito despertador? E sobre o quanto eu queria ficar nessa cama pra sempre?
- , anda logo! - Sophia estava na porta do meu quarto, chamando minha atenção. Como ela tinha toda essa energia? Se algum dia eu disser que quero ser pai, por favor, me dê um chute na cara!
Tomei um banho rápido, me troquei e caminhei até o quarto de minha mãe, como de costume, mas ela não estava ali.
- Mãe? - gritei enquanto caminhava até a sala, mas ela também não estava ali.
- Aqui, filho! - seu grito pareceu vir do lado de fora de casa, e lá fui eu, com um quase sorriso no rosto por ter ouvido um "filho" sair de sua boca.
- O que você está fazendo aqui? - observei o pequeno buquê de margaridas em suas mãos, que eram suas favoritas.
- Julie me enviou essas flores, e um convite para jantar em sua casa! Não é incrível? - levantou o papel com felicidade, sorrindo.
É só isso? Um buquê de margaridas e um pedaço de papel que a fazem sorrir? Por que ninguém me avisou antes?
- É realmente incrível, mãe. - eu era péssimo em fingir alguma reação, mas naquele momento era preciso. Afinal, o que a mãe de Jackson queria com a minha depois de todos esses anos afastadas? Fala sério!
- Vá logo levar sua irmã antes que se atrasem! - me apressou de maneira divertida, não tirando o sorriso do rosto. Vê-la sorrindo novamente era realmente bom, mas o motivo daquele sorriso ainda me incomodava.
Quantas segundas feiras faltam para uma mala de dinheiro cair em minha frente? Com certeza, não é essa.
- Por que você não respondeu minhas mensagens, seu chatão? - resmungou, fingindo braveza.
- Eu sou um homem muito ocupado pra responder as mensagens onde você pergunta repetidamente se eu e nos acertamos no sábado.
- O que custava responder?
- Ela é sua amiga também, pergunte a ela.
- Eu quero saber de ambas as partes! Mas afinal, você por acaso anda ocupado com alguém chamada Jess? - revirou os olhos, e soltei uma risada fraca.
- A gente não tem nada, e nem vamos ter.
- Por quê?
- Porque não.
- ‘’Porque não’’ não é resposta! - me repreendeu.
- Vá a merda.
- É sério, me conta!!! - insistiu como uma criança.
- Eu não quero um relacionamento, só isso. – matei sua curiosidade respondendo de forma simples.
- Mal posso esperar o dia em que você estiver apaixonado. - provocou.
- Isso não vai acontecer, fofinha. - baguncei seu cabelo e caminhei até meu armário.
Escola. Tanta gente num lugar só. Eu não sei o nome nem de trinta pessoas. É errado? É errado querer todos longe mesmo sem conhecê-los? É errado achar que todos são iguais? Errado ou não, meu pensamento não mudará.
Jackson e os imbecis que ele diz serem seus amigos passaram por ali, e minha vontade era de perguntar se ele sabia do convite que sua mãe havia feito. Se bem que, Jackson sendo Jackson, não teria perdido um segundo sequer para poder encher o meu saco com isso.
Era tanta aula chata que eu estava quase enfiando o pé da cadeira no meu crânio. Já na terceira aula do dia, o professor de literatura entrou na sala bem humorado e sorridente. Como isso é possível?
- Bom dia, turma! Hoje iremos fazer algo totalmente diferente do que vocês estão acostumados! Irei sortear duplas, e vocês terão essa aula toda para andarem pela quadra, sala de teatro e pátio para conhecerem um ao outro, e eu quero um relatório detalhado sobre o que aprenderam com essa pessoa. E o mais importante: levem a sério, por favor, suas notas estão em jogo. - terminou de falar com um sorriso, para variar.
A maioria das pessoas adorou a nova idéia, mas tenho certeza que se colocarem alguém indesejado com eles, irão fechar a cara no mesmo momento. Idiotas.
A única coisa que estava se passando em minha mente foi o meu próprio pensamento de aulas atrás: "É errado querer todos longe mesmo sem conhecê-los? É errado achar que todos são iguais?".
Mal prestei atenção no sorteio dos nomes, eu apenas queria que fosse minha dupla. Não que eu quisesse ela perto de mim e blá blá blá, mas pra finalmente podermos conversar a sós e eu saber quem tinha feito aquilo em seu braço. Eu realmente fiquei abismado com aquilo, e honestamente, me senti um pouco trouxa por ter piorado a nossa situação no dia de nossa briga.
- e Jackson. - o professor anunciou a nova dupla, e minha vontade era de enfiar o pé da cadeira no crânio dele dessa vez.
Após mais alguns nomes que não me interessavam, finalmente o meu, com alguém que eu não fazia a mínima idéia de quem era, obviamente.
- e Sarah.
Quem diabos é Sarah?
Olhei para a garota baixinha que estava vindo em minha direção, totalmente sem jeito.
- Vocês podem ir. - o professor nos liberou, e dei uma última olhada em , que provavelmente estava querendo chutar a cara do imbecil que era sua dupla.
Caminhamos até o pátio sem dizer nenhuma palavra, a garota nem mesmo olhava pra mim, o que era ótimo.
- Vocês nem mesmo estão tentando! - viramos para trás e lá estava o nosso professor, nos olhando em reprovação.
- Isso aqui é um saco, você sabe, né? - sorri cinicamente, sem me preocupar com a ofensa contra sua tentativa de aula diferente.
- , eu sei que você é um bom aluno, só precisa deixar de ser preguiçoso, principalmente nessa aula. Tente! - sorriu e saiu dali. Porra, pare de sorrir por tudo!
- Então... - Sarah abriu a boca ainda sem graça, na esperança que eu puxasse assunto.
- Não vai rolar. - falei firme, caminhando em direção ao banco, sentando no mesmo.
- Por quê? - sentou-se ao meu lado, com a voz elevada e indignada.
- Você deve ser idiota igual todo o resto. - eu geralmente não pensava no que falava, e talvez isso fosse um problema, já que levei uma cotovelada da garota.
- Você nem me conhece! - arregalou os olhos, inconformada.
- E nem quero! Mas deixe-me adivinhar... Você tem tudo o que quer, namora algum imbecil dessa escola, e da chilique quando borra a unha. Acertei?
O que tinha de tão prazeroso em irritar ou encher o saco de alguém?
- Muito pelo contrário. - arqueou as sobrancelhas e cruzando os braços, ainda indignada.
- Me surpreenda, querida Sarah. - desafiei a garota. 's POV end
Quantos pecados eu cometi pra ter esse castigo que é ter Jackson Tuck como minha dupla?
- Você não vai falar nada?
Estávamos sentados na arquibancada da quadra, e poucas pessoas estavam ali.
- Não pra você.
- Qual é, ! Vamos ficar uma aula inteira aqui fazendo nada?
- Por mim tudo bem. - respondi indiferente.
- Vamos ter que escrever relatórios sobre isso, e eu não vou ficar sem nota por sua culpa. Deixe de ser chata! - levantou, ficando em minha frente, me encarando.
- Então vamos lá! Você é o capitão do time, se acha o dono do mundo, tem dinheiro, humilha todas as garotas, ou seja, você é um idiota. Eu já te conheço, não preciso de uma aula toda pra ouvir o que eu já sei. - dei um sorrisinho cínico no final, fazendo o garoto revirar os olhos.
- Eu tenho uma aula pra te mostrar que sou mais que isso. - arqueou as sobrancelhas, como se estivesse me desafiando.
- Me surpreenda, Tuck.
- Bem, geralmente só me enxergam desse jeito mesmo, estou acostumado. Eu nem sempre fui rico, sabia? Meus pais já passaram por muita dificuldade, mas tudo melhorou. Eu sempre gostei de futebol, sempre mesmo! Eu me esforcei muito pra ser o capitão, então foi algo justo. - dizia suas palavras com seriedade, me olhando esperançoso.
- Era só isso? Credo, Jackson, você é mesmo um saco! - ri de mim mesma, que provavelmente estava fazendo o garoto querer bater minha cabeça no chão.
- Qual o seu problema comigo? Você chegou aqui esse ano e nunca trocou mais do que meia dúzia de palavras comigo. Você simplesmente acreditou em tudo o que seus amigos te falaram. - ele estava oficialmente indignado.
- Todo garoto é imbecil. - eu estava sem graça por aquilo, porque ele tinha razão. Eu nunca o dei uma chance para mostrar ser diferente do que diziam.
- Então por que você é amiga do e do resto dos garotos do seu grupinho? - Jackson arqueou as sobrancelhas, com um meio sorriso, provavelmente se sentindo vitorioso.
- Eles são diferentes!
- Você não acabou de dizer que são todos iguais? Te peguei, ! - ele era oficialmente o vitorioso.
- Ok, eu me rendo! Mas você tem a aula toda pra me mostrar que você não é tão imbecil assim, né? - sorri sem graça, tentando reverter a situação.
- Eu nem sei por onde começar. Me julgam tanto pelas festas, pelas bebidas, pelas drogas, pelas corridas, que eu desisto de tentar mostrar o meu outro lado. - sentou ao meu lado novamente. Espera aí... Corridas?
- De que corridas você está falando?
- Você não sabia dessa? - gargalhou.
- Não!
- Na verdade são rachas. Como você não sabia disso? Todos aqui sabem, eles até vão para assistir! - perguntou divertido, e eu nem tinha reação para aquilo. Jackson era uma caixinha de surpresas.
- Eu não falo com muita gente da escola, deve ser por isso.
- E por que não? - eu detestava essa pergunta.
- Só não gosto. Seus pais sabem dos rachas? - tentei desviar o assunto.
- O que te fez não gostar de falar com as pessoas?- insistiu no mesmo assunto.
- Eu só não gosto, agora responda a minha pergunta! - tentei novamente desviar o assunto, e falhando novamente.
- Vamos lá, Saywer, tudo tem um motivo! O que aconteceu? Algum garoto te magoou e você quis distância de todas as pessoas? - perguntou rindo, mas parando no mesmo instante que viu meus olhos arregalados. Meu corpo gelou no mesmo segundo.
- Responda a droga da minha pergunta, só isso. - fui um tanto quanto grossa, tentando disfarçar.
- Foi mal, eu realmente não sabia! - Jackson pareceu sem graça, desviando o olhar.
- Só esquece.
- Eu entendo como é ruim passar por isso. - falou baixo, e eu não consegui me conter, tive que rir.
- Você é o que mais fica com garotas nessa escola, pega e larga e quer me dizer que me entende? Faça-me o favor! - ele só podia estar de brincadeira!
- Viu só? Aí está você, me julgando de novo. Mas você já se perguntou o que me levou a tudo isso? Aposto que não. - levantou o tom de voz, me dando um choque de realidade. Outra coisa que eu não havia pensado... De novo.
- Me conte o motivo e aí eu peço desculpas. - fiz uma chantagem ridícula, mas pareceu funcionar, já que o garoto começou a falar.
- Você não pode contar pra ninguém, ok? - concordei com a cabeça - Se você contar, eu vou saber que foi você! Mas é uma história um tanto quanto clichê, eu gostava de uma garota, mas ela não gostava de mim, e toda aquela merda de amor não correspondido. Até que decidi curtir minha vida de todas as formas possíveis, porque eu sabia que aquilo não era amor de verdade, entende? Eu nem sei que merda é o amor - riu- Você deve ter ouvido sobre as garotas que eu já ferrei aqui, mas eram garotas que só queriam saber do meu dinheiro, de querer drogas ou saber meus lances do racha, então elas mereceram. - terminou de falar cheio de razão e eu estava incrédula.
- Eu nem sei o que dizer! - ele realmente havia me surpreendido.
- O pedido de desculpas seria uma boa. - riu sem graça.
- Desculpe por todo o julgamento.
- Relaxa! É bom surpreender as pessoas com esse banho de verdade, principalmente você. Eu sempre te achei interessante, desde o primeiro dia. - aquelas palavras me fizeram ficar tão sem graça que eu poderia enfiar minha cara no chão.
- Isso foi uma cantada? Porque eu sou muito ruim pra sacar essas coisas. - falei mais sem graça ainda, me sentindo uma jumenta.
- Só se você quiser que seja. Mas pra falar a verdade, é um sentimento diferente, aquele que você sente quando sabe que a pessoa vai fazer diferença na sua vida, sabe? - me olhou diretamente nos olhos e sorrindo logo em seguida. Eu já disse que o sorriso dele é muito lindo?
- Você pode parar de me deixar sem graça, por favor? - o meu pedido foi feito comigo ainda sem graça, o que foi bem irônico.
- Eu só disse a verdade. Mas agora, conte sobre você. - e finalmente, mudamos para o assunto que eu mais odiava. Eu mesma.
- Eu não tenho o que falar, minha vida é um saco. - pelo menos não falei nenhuma mentira dessa vez.
- Me conte algo legal que você goste na sua vida, é um bom começo. - sugeriu. Pensar naquilo não era difícil.
- Meus amigos. Eu passei tanto tempo tentando evitar um grupo de amigos novo, mas não consegui escapar desse, e pra ser honesta, eu fico agradecida por isso. Todos ali são maravilhosos de maneira única, principalmente , mas isso fica entre nós dois, ok? - brinquei, porém não mentindo novamente.
- Mesmo com no grupo? Que coragem! - dessa vez, Jackson brincou, e minha curiosidade sobre os dois despertou.
- Eu sei que vocês praticamente cresceram juntos, mas não entendo o porquê dessa rivalidade. O que houve? - do jeito que Jackson mostrou ser um livro aberto, acho que finalmente saberia o motivo de ser tão fechado.
- Éramos do tipo que brigávamos pelo mesmo brinquedo, mas conforme o tempo foi passando, estávamos brigando pelo modo em que eu levo minha vida. Ele sempre quis ser o certo, mas tempos depois, ele fazia o mesmo que eu.
Caralho, é muita informação pra uma manhã só!
- Até os rachas?
- Sim. Na verdade, foi por causa dos rachas que ferrou minha vida. Ele perdeu para mim e ficou tão revoltado que deu um jeito de fazer com que meu pai soubesse dos rachas, que só faltou comer meu cu. Isso responde sua pergunta, que é: não. Meus pais não sabem de nada do que eu faço, só as festas mesmo. - terminou sua fala junto com o sinal que havia tocado, anunciando o fim da aula.
- Parabéns, você realmente me surpreendeu, Jackson Tuck! - ri, dando tapinhas em seus ombros.
- Eu te disse. Será que agora você pode parar de me ignorar quando eu tentar falar com você? - perguntou bem humorado, sorrindo também.
- Verei o que posso fazer por você.
Caminhamos para a sala e pegamos nosso material, caminhando para a sala da matéria seguinte.
Jackson Tuck era uma pessoa totalmente diferente para mim a partir daquele dia. Quem diria, não? E mais uma vez, a vida deu um jeitinho de me surpreender, me mostrando o quanto eu estava errada em relação a julgar sem conhecer. E sinceramente? Eu adorei.
's POV
E não é que a querida Sarah conseguiu me surpreender? Para resumir: ela é adotada, tem piadas ótimas, não tem namorado, toca violão e canta, não é rica, aliás, ela trabalha, e eu caí do cavalo com a minha mania de julgar a todos. Mas o mais surpreendente não foi isso, e sim, ver e Jackson sorrindo abestadamente pelo corredor.
No fim de tudo, aquela atividade não havia sido um saco total, mas eu não espero participar disso outra vez.
A hora do intervalo chegou e eu só conseguia pensar em uma pessoa: . E mais uma vez, não por querer ela perto, eu apenas estava curioso.
- Esse lugar parece ser legal, né? - mostrou pequenos papéis com um bar chamado Tin Roof.
- Todo final de semana você vai nos levar pra algum lugar diferente? - perguntou com os olhos cerrados.
- É o nosso último ano, pessoal! Precisamos sair e aproveitar antes de termos responsabilidades maiores. - respondeu empolgado. Ele é, de longe, a pessoa mais disposta e aberta para coisas novas dali.
- Eu topo qualquer coisa pra poder aproveitar nosso último ano. - se manifestou, e logo o resto concordou.
Todos tinham o mesmo plano: ir pra faculdade, casar e ter filhos. Parece um bom plano, mas não pra mim. Todos fazem a mesma coisa, e ter uma família é a última coisa que eu quero. Eu só quero me livrar da escola e curtir o máximo que eu puder, afinal, só vivemos uma vez.
O sinal tocou, buscamos nosso material e fomos para a sala.
Matemática. Álgebra. Eu consigo.
- Vocês tem essa aula para entregar os exercícios da página 34. - o professor anunciou.
Ok, eu não consigo. Quem foi o imbecil que inventou essa matéria?
Abri o caderno numa folha limpa e comecei a rabiscar qualquer coisa ali, apenas para o tempo passar mais rápido.
- , livro, pagina 34, agora! - o velho baixinho estava em minha frente, me encarando profundamente através de seus óculos de grau.
No final, fiz 7 de 10 exercícios. Não era tão ruim, mas a preguiça sempre fala mais alto. Eu só queria fazer o tempo passar pra o último dia de aula, porque a minha única vontade é de vazar dessa merda logo!
Depois de aguentar toda a chatice das aulas, fomos para o treino. Se tinha uma coisa que eu gostava de verdade, é jogar futebol. É aquele velho costume desde moleque.
- , você fica como meio-campo hoje. - o treinador ordenou.
Em campo, nada importa. É como se não existisse mais nada além da bola e da vontade de fazer um gol.
- Ei, aqui! - Jackson gritou, pedindo a bola e apenas ignorei. Corri ali, driblei ali, e bem na hora de chutar a bola, caí.
- Eu estava quase fazendo uma merda de um gol! - gritei enquanto levantava. Preciso dizer quem causou minha queda?
- Você tem que aprender que não tem só você jogando! - Jackson gritou de volta, se aproximando de mim.
- E se eu não quiser? Eu consigo me virar com a bola desde o meio do campo. - foi meu último grito antes de ser interrompido pelo treinador.
- Nós sabemos que você consegue, mas não arrisque desse jeito nos jogos e passe a bendita bola! Futebol é um trabalho em equipe, você sabe o que significa essa palavra? - apenas concordei e voltamos ao jogo, no qual eu continuei levando broncas.
Parei em frente ao vestiário feminino e esperei a dondoca sair, no caso, .
- Ei. - era Jess.
- E aí.
- Bem, eu estava pensando... Poderíamos finalmente sair, o que você acha? - se aproximou, sorrindo descaradamente.
- Depende pra onde.
- Um bar, uma festa... Você que escolhe. - continuou se aproximando, levantando levemente a ponta dos pés.
Vê-la daquele jeito estava ótimo, até e aparecerem com cara de nojo.
- Vou ver o que posso fazer por você. - dei uma piscadela para Jess e me virei, dando longos passos até alcançar as garotas.
- O que ela queria? - sussurrou com os olhos cerrados.
- O que você acha? - ri de forma convencida, recebendo mais olhares de nojo vindo das duas - Será que eu posso roubar sua amiga por alguns minutos? - coloquei os braços em volta de que os tirou no mesmo instante.
- Você precisa de um banho. - deu longos passos até alcançar , que estava indo em direção à saída.
- Você quer uma carona? Podemos ir conversando no caminho. - olhei para , que desviou o olhar rapidamente.
- Eu posso entrar no seu carro novamente? - o sarcasmo em sua voz era inconfundível.
- Foi mal por aquilo, mas às vezes você me tira do sério.
- Jura? - continuou com o sarcasmo, que provavelmente era sua arma defensora.
- Eu quero terminar a nossa conversa. - parei em sua frente rapidamente, chocando nossos corpos.
- Não é tão fácil assim, . - mordeu os lábios, sem olhar para mim.
- Você estava prestes a contar naquele dia, qual a diferença?
- Eu já falei que não é tão fácil assim. - pareceu impaciente, finalmente olhando para mim.
Seus olhos eram uma coisa enigmática. Diziam tanta coisa e ao mesmo tempo não diziam nada. Eu não costumava ter paciência pra esperar nada, mas ao olhar aqueles olhos, era como se eles finalmente me dissessem que eu deveria esperar para descobrir o que a garota achava tão difícil de dizer.
- Quando deixar de ser difícil, estarei aqui pra te ouvir. Você ainda aceita a carona? - perguntei ainda encarando seu par de olhos castanhos.
- Só se eu puder colocar a musica que eu quiser! - brincou, já caminhando até a saída.
Entramos no carro, e decidiu conectar seu celular no rádio, dizendo que gostaria de mudar um pouco, já que só ouvia One Republic toda vez que entrava ali.
Wasn't expecting that, do Jamie Lawson começou a tocar. Se tem uma coisa que tem de bom além dos beijos, é o gosto musical.
Ela não abriu a boca, o que era estranho, já que sempre é tão falante.
- Por que você está tão quieta?
- Porque estou ouvindo a musica, só isso. - sorriu sem graça.
-Sei. Como foi com Jackson hoje?- estava curioso, porque nunca se sabe o que aquele imbecil pode falar.
- Foi bom, ele é legal.
- Estamos falando do mesmo Jackson? - não é possível estarmos falando da mesma pessoa.
- É sério! Ele é bacana de verdade, inclusive me contou sobre esse passado de racha de vocês dois. - riu, mas eu apenas fechei a cara. Se tem uma coisa que eu realmente odeio, é que saibam coisas sobre mim através de outra pessoa.
- Ele vai se ver comigo.
- Ele não fez nada pra você, !
- Eu não gosto que falem nada sobre a minha vida, detesto, aliás. - bati a mão no volante.
- Então aprenda a gostar, pois você ainda vai me falar sobre ela! - falou sem medo, mordendo os lábios novamente. Isso é uma provocação, só pode!
- Digo o mesmo. - me acalmei, falando aquilo por falar, já que não estava nos meus planos compartilhar mais nada com ninguém.
- Afinal, se você conseguiu falar pra , consegue me falar também!
- Ela te contou algo? - arregalei os olhos. Porra, esse povo não consegue deixar a boca fechada?
- Não. Ela disse que não cabia a ela falar sobre sua vida.
Grande , não me decepcionava nunca.
Parei o carro em frente sua casa, e assim que ia abrir a porta, me aproximei da garota. Puta que pariu, é mais forte que eu!
- Não! - falou séria, e eu continuei me aproximando.
- O que foi? Não é algo que nunca fizemos antes. - ri, segurando na mão da garota.
- Posso te pedir um favor? - mordiscou os lábios e me olhou bem nos olhos, o que me deixava mais louco ainda.
- Fala.
- Sai do carro. - saiu primeiro, me esperando. Não entendi, apenas saí do carro também.
se aproximou, sorriu, e fez algo realmente inesperável. Me abraçou de uma maneira que ninguém havia abraçado até hoje, o que foi estranho, mas acabou se tornando bom. Seu corpo encaixava perfeitamente no meu, sua cabeça ficou em meu peito, e o cheiro de seus cabelos invadiram minhas narinas.
- Posso saber o motivo disso aqui? - perguntei sem graça, demorando para abraçar a garota de volta.
- Isso aqui é o que amigos fazem. Boa noite, ! - soltou seus braços dali e deu um beijo estalado em minha bochecha.
Ela realmente conseguiu me surpreender dessa vez, me deixando ali sorrindo feito bobo.
Por que ninguém me contou que receber abraços poderia ser tão bom? É como se eu finalmente sentisse algo diferente de raiva e rancor, e esse sentimento foi causado por , o que me faz pensar que ela talvez valha a pena. Será?
Nos reinventamos a cada momento, porque o mundo muda a todo instante. A mudança nos é imposta, ou às vezes acontece por acidente e fazemos o melhor delas. Tentamos achar novos modos para nos consertar. Ou talvez, somos consertados por outras pessoas. Mas aqui vai a verdade: eu não preciso de conserto.
"Se você ficar procurando razões pra não ficar com alguém, você sempre vai encontrá-las, às vezes é preciso deixar as coisas fluírem por um momento e dar ao seu coração o que ele merece."
's POV
Acordei praticamente me afogando na minha própria baba, e com Sophia na porta do quarto me apressando. Tomei um banho rápido e me troquei, correndo para não me atrasar.
- Pegou seu lanche, filha? - minha mãe saiu da cozinha, me surpreendendo com sua presença.
- Peguei, mamãe! - Sophia chacoalhou seu pacote com o lanche.
- Bom dia, mãe. - falei animado. Ela estar fora do quarto é uma vitória.
- Bom dia, filho. Eu preciso te pedir um favor! - concordei com a cabeça, esperando ela prosseguir - Preciso que me leve até a casa de Julie hoje a noite para o jantar, pode ser? - abriu um sorriso que era raro de se ver nos dias de hoje.
- Claro que levo! - eu não podia dizer não, mas aquilo ainda me atormentava. Por que diabos Julie Tuck chamou minha mãe pra um jantar depois de todos esses anos?
- Vocês vão se atrasar! - alertou, nos apressando. Eu e Sophia fomos até a garagem para poder pegar o carro.
- A mamãe vai pra casa da tia Julie hoje? Faz tempo que elas não se falam, né? - a pequena perguntou curiosa, já sentada no banco de trás do carro.
- Vai sim. E elas realmente não se falam há um tempão, mas hoje elas vão poder por o papo em dia.
- Eu lembro quando o papai ainda ia pra casa da tia Julie. Por que ele foi embora? Eu nunca entendi! - ouvir aquele tipo de coisa era horrível, e fazia minha raiva aumentar ainda mais.
Eu não podia contar a verdade para Sophia, pois ela ainda era uma criança e não entenderia bulhufas.
- Eu também não sei, Soph. Mas você tem a mim, certo? - olhei para trás rapidamente, dando um sorriso simpático pra pequena.
Cheguei na escola e me deparei com conversando com Jackson. É cedo demais pra ver uma merda dessas, senhor! Me aproximei da garota, que me deu um beijo no rosto como cumprimento e Jackson apenas me olhou torto. Eu não ficaria ali nem fodendo. Fui para o corredor e peguei o material da primeira aula, mas meus olhos foram tapados por alguém.
- Fala logo quem é.
- Sou eu, gatinho. - Jess tirou as mãos dali, ficando de frente para mim.
- Oi.
- Credo! Você está estressado? - se aproximou, encostando nossos corpos, e sorrindo descaradamente.
- Sempre estou. - me encostei no armário na tentativa de me afastar, mas a garota me acompanhou.
- Eu posso te desestressar. - falou ao pé do meu ouvido.
- Será que pode mesmo?
- Só depende de você. - deu uma piscadela e se virou, saindo dali.
Qualquer um pensaria que Jess é uma oferecida, mas eu acho o contrário. A garota simplesmente quer se divertir, e por coincidência, eu também.
História. Não era uma matéria tão insuportável, mas essa porra toda rolou há 500 mil anos atrás, pra que eu quero saber disso? Dava uma vontade de dormir imensa!
Após duas aulas de puro "blá blá blá", fomos para a sala de literatura.
- O que vocês acharam da atividade? Gostaram da dupla de vocês? - o professor perguntou animado e a maioria levantou a mão para poder responder, e quem ele escolheu? Pois é, eu mesmo, que nem tinha levantado a caceta da mão.
- Foi bacana. Minha dupla conseguiu me surpreender. - dei uma piscadela para Sarah, que sorriu.
- E você gosta de se surpreender com as pessoas?- o professor continuou.
- Não, é um saco.
- Por que você acha isso? - perguntou gentilmente, e apenas rolei meus olhos.
- Só não gosto, ué. - o professor notou minha impaciência e não ousou fazer outra pergunta.
- Bem, o propósito dessa atividade foi tentar mostrar a verdade: vocês julgam o livro pela capa, querendo ou não. Vocês estão no último ano, e a maioria nem dizia um simples "oi" para o colega. Vocês precisam se preparar, pois o mundo lá fora é bem diferente. Vocês vão ter que falar, discutir, lutar, se esforçar, e a comunicação é a melhor ferramenta para isso. Agora, eu quero os relatórios! - passou de fileira em fileira, recolhendo cada relatório que tinha ali.
Olhei para , que estava sentada ao lado de Jackson, e por incrível que pareça, não estava querendo espancá-lo ou coisa do tipo, muito pelo contrário, estava gargalhando do que o garoto falava, e eu ainda estava me perguntando o motivo dela ter o achado tão legal.
Depois de mais uma aula de "blá blá blá", a hora do intervalo chegou, e Jess estava me esperando na porta. Ela realmente me queria.
- A gente podia sair daqui. - deu aquele olhar convidativo, já segurando minha mão e caminhando pelo corredor.
- Aqui está você! Preciso te fazer uma pergunta! - deu longos passos até chegar onde eu estava, ficando sem graça no mesmo instante.
- O que foi? - desgrudei minha mão da mão de Jess.
- Ah, deixa pra lá. Depois a gente se fala, . - sorriu sem jeito e deu meia volta, saindo dali.
- Espera aí, mulher! - dei longos passos até alcançá-la, deixando Jess pra trás sem me importar. Na verdade, nem eu mesmo sabia porque tinha feito aquilo, afinal, tinha uma garota atrás de mim e eu fui atrás de outra. Dá pra entender?
- Não precisava disso, você largou a menina sozinha! - riu, olhando pra trás rapidamente e vendo Jess indignada com o ocorrido.
- Ela supera - ri- Mas o que você queria perguntar?
- Bem, o Jackson me convidou para assisti-lo correr no sábado. Na verdade, ele convidou todo mundo, inclusive você. - seu olhar estava esperançoso, provavelmente esperando que eu aceitasse o convite.
O convite era realmente tentador, mas não podia aceitar fácil assim, por mais que quisesse matar a saudade que tinha daquele lugar.
Pensei.
Pensei mais um pouco.
Lembrei do tipo de pessoa que tinha nos rachas, e se tornava até perigoso para o pessoal, que não era acostumado com esse tipo de coisa. E assim estava formada a desculpa perfeita.
- Eu topo. - o sorriso da garota se formou assim que ouviu minha resposta.
Voltamos para onde o pessoal estava, e eu pude ouvir de longe os comentários sobre onde iríamos sábado.
- Então você corria? E nem contou pra gente, bicho safado? - por incrível que pareça, não foi que havia dito aquilo, e sim, Callie, o que tornou a frase mais engraçada ainda.
- Corria, mas tive que parar.
- Por quê? - Chloe perguntou.
- Eu meio que fui expulso.
- Por quê? - repetiu a pergunta, curiosa.
- Porque eu fiquei com a garota que o dono de lá estava afim. - fiz aspas com o dedo ao falar a palavra dono, logo recebendo olhares estranhos de todos.
- Esse é o meu garoto! - riu, me dando um tapinha nas costas e acabando com a tensão dali.
Fui para a casa de deixar Sophia, e a garota insistiu para que eu ficasse, mas não pude, pois já tinha compromisso marcado com Dan. E lá fui eu, tentar descobrir mais alguma pista que pudesse me ajudar a encontrar o infeliz do meu pai.
Não precisei bater na porta, pois já estava aberta. Dan me esperava nos fundos da casa, com algumas cervejas que já estavam na mesa.
- Tenho boas notícias. Sei aonde tem um pau mandado do seu pai! - Dan sorriu diabolicamente, e eu tomei a liberdade pra abrir uma cerveja.
- Onde?
- Ele vende droga lá na Opper.
É isso que eu chamo de coincidência! Opper é o lugar principal do racha, onde todos os torcedores ficam, e onde vende de tudo.
- Caralho, eu vou lá sábado! Você sabe como ele é? - perguntei animado com os olhos minimamente arregalados, já me sentindo vitorioso.
- Eu não brinco em serviço! É esse merda aqui. - jogou um papel na mesa, mostrando uma foto do sujeito, que atendia pelo nome de "Ritter"
- Eu mesmo pego esse otario. - dei um gole na cerveja.
- Toma cuidado, e você sabe que tem gente minha lá, então qualquer coisa é só pedir ajuda. - Dan alertou preocupado, levantando a garrafa de cerveja e encostando na minha, numa espécie de brinde.
- Relaxa! A gente vai chegar até o Richard e o fazer pagar por tudo o que ele já fez e está fazendo! - nunca me senti tão determinado na vida como naquele momento, e não pararia até fazer o que tinha dito.
- Mas afinal, o que você vai fazer lá?
- Acompanhar alguns colegas que foram convidados pelo Jackson.
- Colegas, huh? Tem alguma gatinha nesse meio? - Dan sorriu malicioso, e revirei os olhos rindo.
- Ter até tem. Uma tem namorado, a outra é minha... Eu não sei o que ela é, mas eu confio nela o suficiente pra ter contado várias coisas sobre mim. - me surpreendi comigo mesmo, pois não sabia como chamar .
- Isso se chama amiga! Eu fico contente com isso, de verdade, você sempre quis guardar tudo pra si mesmo, e nem sempre é bom - deu um gole em sua cerveja, me olhando desconfiado como se soubesse que estivesse faltando uma pessoa - Tem mais alguém?
- Eu não tenho amigos, Dan. E tem sim, o nome dela é , e eu já peguei. - gargalhei, ouvindo o som da risada do homem em seguida.
- É claro que você tem amigos, apenas não consegue enxergá-los dessa maneira. E olha só, uma gatinha nova na sua vida.
- Bem gatinha. - o corrigi.
- Será que agora seu coração amolece? - juntou as sobrancelhas de modo engraçado, e apenas revirei os olhos.
- Jamais, Dan, jamais!
- Deixe de ser bobão, . Se apaixonar é maravilhoso!
Aquele papo simplesmente me dava vontade de vomitar.
- Que mané se apaixonar! Estou maravilhosamente bem assim.
- Uma hora você vai perceber que está faltando algo. E esse algo, é o amor.
- Cala a boca, vai. - ri, fugindo daquele assunto que tanto me incomodava.
Depois de muitas horas botando todo o nosso papo em dia e relembrando coisas do passado, lembrei do jantar da minha mãe com Julie, me despedindo rapidamente e correndo para casa.
- Mãe? - gritei, a procurando com os olhos pela sala.
- Aqui! - o som de sua voz vinha do andar de cima. Corri pelas escadas até chegar em seu quarto.
Ela estava linda. Arrumada, com uma roupa diferente, cabelo solto e um sorriso impecável no rosto. Eu não acredito que um convite de jantar havia feito ela se animar tanto.
- Vai arrasar, dona Elena. - brinquei, arrancando uma risada de minha mãe.
- Podemos ir? - perguntou risonha, e assenti rapidamente.
Dirigi o mais rápido que pude. Por mais que estranhasse a idéia, eu não podia impedir que minha mãe se divertisse, então quanto mais tempo ela ficasse lá, melhor. Parei na frente da casa dos Tuck, que mais parecia uma mansão de tão grande.
- Você não vai entrar? - minha vontade era de gritar um ''não'' tamanho família, mas não podia fazer isso com a minha própria mãe.
- Não fui convidado. - forcei o riso, tentando escapar daquilo.
- Deixe de ser besta, garoto! Julie vai adorar te ver, vamos!
Porra, nem tinha como fugir daquilo. Caminhamos pelo jardim gigantesco até chegarmos à porta, que foi aberta por um dos seguranças.
- Elena, que saudade! - Julie abraçou minha mãe no mesmo instante em que a viu - , como você está grande, rapaz! - me abraçou também, me deixando sem jeito.
- Eu só entrei pra dar oi, já estou indo embora. - torci para que aquilo desse certo, mas não deu. Julie insistiu para que eu ficasse.
- Cooper está quase chegando, mas podemos jantar sem ele. - Julie sorriu, nos levando até a cozinha.
Eu não visitava aquela casa há anos, mas posso dizer que quase nada mudou. O luxo continuava o mesmo, e eu tinha uma curiosidade imensa de saber como essa família conseguiu sair da merda tão rápido.
Na verdade, eu sabia sim.
O pai do Jackson é gestor de reestruturação, e como já sabíamos há anos, ele roubava dinheiro de onde trabalhava, e pelo jeito, roubou bem roubado. E mesmo sabendo que não falta dinheiro pra nada, Julie trabalhava como terapeuta. Parabéns, família Tuck!
- Mãe, o que tem pra comer hoje? - Jackson apareceu ali, parando no mesmo instante em que viu que estávamos ali. Nos encaramos rapidamente, e com aquele olhar percebi que ele não fazia idéia que aquele jantar aconteceria.
- Oi meu amor. Olhe as visitas que temos para o jantar! - Julie manteve a simpatia, mas a expressão de surpreso de Jackson continuava ali, que tentou disfarçar e cumprimentou minha mãe, e em seguida se aproximou de mim, ficando ao meu lado.
- Que porra é essa aqui? - sussurrou baixo para que apenas eu o ouvisse.
- Sua mãe convidou a minha pra esse jantar, e eu tomei no cu porque tive que ficar também. - sussurrei minha resposta, mantendo um sorriso falso para manter as aparências.
Depois de alguns minutos apenas ouvindo aquele papo de dondoca que as duas estavam tendo, e com Jackson ainda ao meu lado, outra pessoa havia chegado ali. Cooper, pai de Jackson.
- Você chegou! - Julie foi atrás do marido, dando um selinho no mesmo.
- Olha só, temos visita! - adentrou a cozinha animado, cumprimentando minha mãe com um abraço apertado, e um aperto de mão rápido em mim.
A empregada terminou de ajeitar a mesa, anunciando que estava tudo pronto para sermos servidos. A minha vontade era de correr dali, mas não podia fazer aquilo. Mas em compensação, a comida estava realmente boa.
- Como vocês dois estão? Faz tanto tempo que não nos vemos! - Cooper deu uma garfada em seu bolinho de carne.
- Bem. Estamos nos virando. - minha mãe respondeu risonha. Com "estamos nos virando" será que ela quis dizer "eu parei de viver minha vida"? Pois essa era a verdade.
- Sabemos o quanto foi difícil pra você passar por tudo que passou, sentimos muito por isso. - Cooper continuou, e sua fala me deu arrepios inexplicáveis.
- Eu também sinto. Podemos mudar de assunto? - minha mãe estava sem graça com aquilo, mas afinal, quem não ficaria?
Depois de terminarmos de jantar, Cooper se despediu, dizendo que o dia havia sido cheio e estava cansado, enquanto Julie e minha mãe foram para o jardim conversar melhor, e o que me restou? Jackson Tuck.
- Você vai sábado? - perguntou, se jogando no sofá em seguida.
- Vou.
- Que tal correr também? - me encarou seriamente.
- Ta maluco? Essa fase já passou.
- Vamos lá, ... Você pode tentar consertar a cagada que fez e voltar, afinal, era maravilhoso ganhar de você. - gargalhou.
Flashback; 1 ano e meio atrás.
Só faltava mais duas voltas para chegar à linha de chegada. Eu pisava no acelerador da Lexus tão fundo, que o carro só faltava voar.
O prêmio era alto, sempre era. Todos que iam assistir, apostavam de 50 dólares para cima, e quem ganhasse, ficava com aquilo tudo. E eu tinha que ganhar. Precisava ganhar!
O porshe 911 de Jackson se aproximava, e meu coração acelerava ainda mais. E o grande motivo de que eu não podia perder era: o fodão da área, mais conhecido como Tyler, tava puto comigo. O motivo? Bem... Digamos que eu tenha pegado a garota que ele queria, mas isso não vem ao caso. Tínhamos feito um trato: se eu ganhasse, eu poderia continuar nas corridas. Mas o problema é que Jackson também havia brigado feio com o mesmo cara, por outro motivo ridículo: Jackson não tinha pagado o que devia. Tyler fez a mesma proposta para ele, nos colocando numa corrida, apenas nós dois.
Faltava pouco, muito pouco.
Acelerei o máximo que pude.
Jackson se aproximava cada vez mais, e assim continuou, até a linha de chegada. Droga!
Saí do carro derrotado, entregando a chave para Petter, um colega que me alugava o carro nos dias de corrida.
- Você tem um minuto pra sair daqui. - Tyler me empurrou em direção à saída.
- Tyler, espera aí cara, você vai mesmo me tirar só por essa bobagem? - tentei resolver a situação, porque aquela merda de corrida era a única coisa que me fazia bem ultimamente em meio a tantos problemas. Correr era uma maneira de extravasar, e eu não queria perder aquilo.
- Você sempre soube que NINGUÉM tem o direito de mexer comigo, ou com algo que seja meu. - respondeu grosseiramente, ainda me empurrando.
- Ela não era nada sua, porra! - gritei. Eu não tive culpa que a garota preferiu ficar comigo do que com ele.
Tyler não pensou duas vezes antes de dar um murro em meu rosto, que foi muito bem retribuído. Dois bicos não se bicam, e a briga só piorava até o pessoal vir e separar. Jackson me puxava para fora dali com dificuldade, por conta do meu nervosismo e a vontade de continuar a bater naquele imbecil.
- Me larga! É tudo culpa sua! - gritei na cara de Jackson, que revirou os olhos.
- Se você perdeu a culpa não é minha! - devolveu o grito na mesma altura.
- Você é o queridinho do Tyler, sabia que poderia voltar depois mesmo se perdesse! Você quis me foder, isso sim! - continuei gritando, tentando descontar o resto da minha raiva de alguma maneira que não fosse causando outra briga.
- Meu pai não está me dando mesada por causa da merda do castigo, e você sabe que Tyler odeia atrasos. Era você ou eu, cara. - se justificou e virou as costas, caminhando de volta para a entrada da Opper.
- Você me paga, Tuck! - falei ofegante, alto o suficiente para que ele pudesse ouvir, limpando o suor que escorria de meu rosto.
- Veremos, perdedor! - riu debochado e finalmente adentrou no local. Flashback off
- Melhor as coisas continuarem como estão. - por mais que eu quisesse voltar, não ia me desculpar com Tyler. Saí dali, deixando Jackson sozinho e fui atrás da minha mãe, já estava ficando tarde.
Julie caminhava até a saída conosco, dizendo que a partir daquele dia, as coisas voltariam a ser como antes em relação a ela e minha mãe. Muito lindo, Julie, parabéns! Devia ter feito isso anos atrás, enquanto minha mãe se afundava na depressão.
- Vou te deixar em casa e irei buscar Sophia. - avisei à minha mãe assim que entramos no carro, saindo dali o mais rápido possível.
- Nada disso, mocinho! Quero conhecer a garota que cuida da minha filha. - sorriu lindamente ao terminar sua fala, o que fez meus olhos se arregalarem.
Uma noite com Julie Tuck havia feito essa mudança toda, imagina o que aconteceria daqui um mês? De qualquer jeito, ficará muito feliz em conhecer a famosa dona Elena. 's POV end
- E ele te convidou para assisti-lo correr sem mais nem menos? - retirou a tigela de salada de frutas que havia feito horas atrás da geladeira.
Estávamos em sua casa conversando sobre assuntos aleatórios, até que pararmos em Jackson. Callie não pôde ir porque tinha ido jantar com seu pai, e isso havia deixado a coitada mais feliz que porco na lama.
- Eu comentei o quanto ele tinha me surpreendido em tão pouco tempo, e que um dia gostaria de ir vê-lo, mas falei brincando, e ele levou tão a sério que não aceitava "não" como resposta. Mas afinal, o que eu tenho a perder? É bom conhecer coisas novas. - enfiei a colher na tigela, pegando o máximo de frutas que pude.
- Não é uma novidade pra mim, sabemos que eu já fui de uma turminha barra pesada, então qualquer coisa, eu te protejo! - cruzou os braços e fez carão, mostrando sua versão badgirl que me fez rir.
- Eu nem te contei, menina! Ontem eu e o tivemos um momento um tanto quanto adorável. - sorri ao lembrar do momento.
- Hmmmmmmmm, conta isso direito! - exigiu de modo engraçado, me fazendo rir.
- Não deve ter sido nada demais pra ele, sabe? Mas demos um abraço, o nosso primeiro, na verdade. E não que isso tenha sido tão importante pra mim, mas ele pareceu tão surpreso com aquilo, sabe? Ele nem mesmo sabia aonde colocar as mãos! E ele parece não ter amor o suficiente, e isso me faz... Sei lá. Mas foi legal. - sorri ainda mais, me encostando na cadeira e dando um suspiro longo.
- Estou emocionadíssima, calma aí - fez aquela ceninha clássica de choro imaginário, rindo em seguida - Fico feliz por isso, de verdade! Acho que agora vocês finalmente estão indo pelo caminho certo. - sua sinceridade podia ser vista de longe, e isso me deixava sem palavras.
- Eu espero que sim!
- Sophia, vem comer! - gritou, e logo em seguida a pequena apareceu correndo na cozinha.
- Olhem o que eu aprendi a fazer na escola! - a pequena mostrou um barquinho de papel, que estava super bem feito.
- Eu não me aguento com toda essa fofura! - começou a apertar as bochechinhas da garota, que gargalhava alto.
A campainha tocou e pediu para que eu atendesse, porque com certeza era . Dei longos passos até a porta, ainda com a colher na boca e com o barquinho de Sophia na mão.
- Você sabia que a está mesmo levando a sério a... - abri a porta e parei de falar no mesmo instante em que vi uma mulher ao lado de , tirando a colher da boca em seguida - História de ser saudável?- finalizei a frase, totalmente envergonhada por aquilo.
- Que menina linda! É você que cuida da minha filha? - a mulher sorriu, me dando dois beijos na bochecha. Olhei rapidamente com o olhar confuso para , esperando uma explicação.
- Obrigada pelo elogio, mas não sou eu. Quem cuida da Soph é a . - tentei não enfiar minha cabeça no chão de tanta vergonha, observando o garoto segurar o riso.
- , você vai querer...? - parou de falar assim que viu a mulher na porta.
- Gente, essa é a minha mãe. - apresentou a mulher que estava ali, tão sem jeito quanto nós.
- Mamãe! - Sophia correu até a mãe, a abraçando forte.
- Me chamo Elena, prazer em conhecê-las! - cumprimentou da mesma maneira que me cumprimentou.
- Acho que já está bom, né mãe? Vamos! - ele a apressou, andando em direção ao carro.
- Esses jovens de hoje, tudo apressado - Elena gargalhou - Até outro dia, garotas! - caminhou até o carro, segurado Sophia pela mão.
- Espera! - andei até Elena - Sophia fez isso na escola hoje, olha que gracinha! - era para eu ter dado o barquinho, mas acabei dando a colher, e a mulher gargalhou mais ainda, e entreguei o barquinho totalmente envergonhada.
Jesus, filma esse micão!
- Obrigada querida! Qual o seu nome? - ela ainda ria.
- !
- Até mais!
Em primeiro: passei na fila do desastre 89 vezes, e isso foi mais que comprovado.
Em segundo: UOU! Conhecer a mãe de foi meio... Eu nem tenho uma palavra pra isso. Ele com esse jeito de quem foi criado por lobos, vê-lo sem graça pela presença da mãe foi um tanto quanto fofo. Mas o mais incrível foi sentir que essa não seria a única vez que veria Elena. Na verdade, por algum motivo, eu sentia que ainda a veria muitas vezes.
***
Consegui sobreviver por mais uma semana, e boa parte de mim estava incomodada com esse fato, mas aqui estou eu, me arrumando para assistir um racha. Não me preocupei em colocar a minha melhor roupa, pois ninguém dali repararia minha presença, então apenas um jeans preto, uma regata branca com uma blusinha de frio por cima e um converse preto era o suficiente, mas fiz questão de passar o meu tão amado rímel, que era a única maquiagem que eu passava diariamente.
Meu celular tocou, mostrando o nome de na tela.
- Eu, e estamos indo buscar você na sua casa, está pronta? - sua pergunta fez meu estômago dar uma leve revirada. Ela nunca tinha visto minha casa, e extrovertida do jeito que é, iria adorar entrar aqui para tentar conhecer os pais que eu nunca falo sobre.
- Estou pronta sim, estarei esperando na calçada. - desliguei em seguida.
Por sorte, tipo muita sorte mesmo, meu pai não estava em casa, o que era um alívio e ta nto! Desci rapidamente, encontrando minha mãe na cozinha, lavando a louça.
- Vai sair? - esfregava a panela com dificuldade.
- Vou. Qualquer coisa é só me ligar, tudo bem? - balancei o celular para mostrar que realmente estava falando sério.
- Eu sei me virar, filha. Hoje é sábado, seu pai fica na rua até de madrugada. - sua expressão de alívio apertava meu coração de uma maneira absurda.
- Você não sente nem um pingo de vontade de denunciá-lo? De fazê-lo pagar por tudo o que já fez? - me encostei a pia, perguntando de modo extremamente curioso.
- Eu posso ser extremamente sincera? - parou o que estava fazendo no mesmo instante, me encarando profundamente, e eu apenas assenti - Você tem noção do medo que eu sinto? Do medo que eu tenho de tentar fazer algo e nada mudar? Do medo que eu tenho que ele, ou qualquer outra pessoa te machuque? - ainda me encarava com aquele olhar decepcionado que fazia meu coração quebrar em trilhões de pedacinhos.
- Por que você acha que eu nunca o denunciei? Eu sinto a mesma coisa, mãe, mas no meu caso, eu tenho medo que ele acabe fazendo algo contra você. - ficamos nos olhando por longos segundos, e dei um suspiro decepcionado, pois era a única coisa que eu podia fazer.
- Isso não vai durar para sempre, ok? - deu um sorriso sem graça, voltando a esfregar a panela.
- Vou esperar o pessoal na calçada, tudo bem? - me desencostei da pia, andando em direção à porta.
- Você e o rapaz voltaram a se falar? - se virou, me dando um sorriso sapeca.
- Voltamos sim, bobinha! E qualquer coisa você pode me ligar mesmo, viu? Tchau mãe! - retribuí o sorriso, abrindo a maçaneta e saindo dali, sentindo o ar fresco bater em meu rosto.
Nem cinco minutos se passaram, e o carro do parou ali. Entrei no veículo com pressa, pois nunca se sabe quando meu pai bêbado e drogado pode aparecer e fazer um show.
- Quando você vai me apresentar seus pais? - fez a pergunta que seria respondida com uma bela mentira.
- É mesmo, quando eu vou conhecer meu sogro e minha sogra? - brincou, me dando um abraço de lado desajeitado.
- Algum dia, pessoal. E oi pra você, . - desviei o assunto, recebendo um "oi" simpático do garoto.
Depois de no máximo 20 minutos no carro, chegamos ao local, onde já estava nos esperando com Callie, Chloe e . Muitas faces conhecidas estavam por ali, e com isso quero dizer que muita gente da escola estava no local.
Havia uma grande placa escrito ‘’Bem vindos a Opper’’, e demos passos lentos até entrarmos ali, pois era um tanto quanto assustador, já que não era lá um dos lugares mais bem cuidados que já tínhamos visitado.
- Gente, vocês vieram mesmo! - Jackson correu até nós sorridente, cumprimentando cada um.
- Pra falar a verdade eu nem sei o que estou fazendo aqui. - Callie admitiu.
- Vocês podem ficar ali, dá pra ver quase todo lugar em que o carro passa - apontou para um tipo de arquibancada, que já estava um pouco lotada - E se quiserem apostar em alguém, é ali. - apontou para uma mesinha onde tinha um gordo tatuado sentado, e varias pessoas em volta.
- Acho bom você ganhar, não vim pra ver você perder! - ordenei animada, dando um murro fraco no ombro de Jackson, que jurou não perder e saiu dali, dizendo que tinha que se arrumar.
O lugar ficava cada vez mais cheio. Peguei na mão de por questão de segurança, pois se eu me perdesse ali, iria acabar ligando pra minha mãe e pedindo ajuda. Ok, isso foi exagero, mas o tanto de cara que passava e nos olhava dos pés a cabeça chegava a ser constrangedor.
's POV
Pisar naquele lugar novamente era estranho e ao mesmo tempo bom. Pouca coisa tinha mudado. O portão enferrujado continuava o mesmo, o chão cheio de pedras também, e Tom, o gordo tatuado que ficava na mesa de apostas continuava gordo.
Eu tinha que achar Ritter. Observei cada canto possível e nada de encontrar esse imbecil.
- Até que isso aqui não é tão estranho quando imaginei. - Chloe manifestou sua opinião, fazendo todos ficarem surpresos, inclusive eu.
- Você desse jeito toda fresca e patricinha, gostou desse lugar? - brincou com a garota. Foi assim por toda a semana, as duas se dando bem. Ou quase isso.
- Aqui tem tanta menina bonita que ave maria! - falava enquanto acompanhava uma garota com olhos.
Um olho estava no pessoal, e o outro à procura de Ritter, mas para fazer isso direito eu precisava andar, e a desculpa perfeita para isso era ir até a mesa de apostas.
- Eu vou apostar algo e já volto. É melhor vocês irem até a arquibancada e guardarem os nossos lugares. - eu tinha que ir sozinho, para se caso eu achasse aquele palerma, tinha a chance perfeita de tentar arrancar alguma coisa do mesmo.
- Eu também vou. - sorriu sem graça, mostrando 50 dólares em sua mão e se colocou ao meu lado enquanto o resto ia para a arquibancada.
- Você vai mesmo apostar no Jackson? - ri sarcástico.
- E você não? - juntou as sobrancelhas, com a expressão confusa.
- Nem fodendo.
Nos aproximamos da mesa, e todos aqueles caras que a olhavam dos pés a cabeça estavam começando a me irritar. Porra, ela tava do meu lado e ainda assim os idiotas não se tocavam.
- Quando você corria, muita gente apostava em você? - estava na minha frente, na pequena fila que tinha formada ali.
- Muita. - e não era mentira.
Assim que chegou nossa vez, Tom me reconheceu no mesmo instante, levantando da cadeira e me dando os clássicos tapinhas nas costas.
- O que você está fazendo aqui depois de dois anos longe? Vai correr? - perguntou animado, dando um gole em sua latinha de energético.
- Vou nada, só vim para assistir. Inclusive, vou apostar 50 no Petter. Ele ainda está correndo, né?
- Aquele ali nunca para.
parecia sem graça, então peguei o dinheiro de sua mão e apostei em Jackson, e Tom deu aquele olhar safado para nós, fazendo a garota ficar mais sem graça ainda. Saímos dali em direção a arquibancada, mas o fato de não achar Ritter estava me deixando puto. Tantos homens ali, e nenhum era ele.
- Olha só quem está aqui. - fui surpreendido pelo tom de voz sarcástico de Tyler, que também não estava muito diferente, apenas mais acabado.
- Pois é. - fui curto e grosso.
- E com uma garota? Interessante. - Tyler deu um passo para frente, e puxei pela cintura, encaixando o corpo da garota no meu.
- Sim, minha garota. - respondi cinicamente, sentindo arrepios após dizer aquilo, e recebendo um olhar indecifrável de . Foi como se aquela frase fosse uma das coisas mais certas que eu já tinha dito em toda a minha vida.
- Você sabe que eu poderia te expulsar novamente como da última vez, certo? - continuou com seu tom sarcástico e seu sorrisinho falso.
- E o que te impede? - continuei pressionando contra meu corpo, pois era a única coisa que importava no momento.
- Continua marrento, né? Eu sei que o Tuck te convidou, então pode ficar tranquilo. E parabéns pela sua garota, ela é realmente uma delícia. - deu uma olhada geral em , gargalhou e se virou, o que me tirou do sério. Assim que dei o primeiro passo para ir atrás dele, puxou meu braço, e caralho, como ela estava linda.
- Não vale a pena. - deu um sorriso adorável, me puxando pela mão até a arquibancada, andando com dificuldade até chegar onde o pessoal estava.
Eu não sabia que diabos estava acontecendo, mas eu sentia que tinha que protegê-la. Não pedi permissão, mas envolvi meus braços em sua volta, pousando minhas mãos em sua barriga, o que causou arrepios na garota. Seu perfume invadia minhas narinas, o que me desconcentrou da realidade por alguns segundos, quase me fazendo esquecer que eu tinha que achar Ritter.
A corrida estava quase começando, e eu ainda procurava aquele safado. Mas para a minha surpresa, acabei avistando Dan, e não pensei duas vezes antes de me desgrudar do corpo de e ir até onde ele estava.
- O que você está fazendo aqui?
- Você disse que estaria acompanhando um pessoal, e pelo amor de Deus, , aproveite! Eu cuido de Ritter! - respondeu num tom de voz brincalhão, mesmo o assunto sendo sério. Senti uma mão em meu ombro direito. Era .
- Desculpe interromper, eu só fiquei meio preocupada. - se explicou e deu um sorriso sem mostrar os dentes, logo se encolhendo atrás de mim assim que viu Dan.
- Relaxa, esse aqui não vai te tarar nem nada. - ri, ouvindo a risada da garota em seguida.
- Essa é a ? - Dan perguntou, já cumprimentando a mesma.
- Você me conhece? - perguntou surpresa - Mas sou eu sim, muito prazer!
- já te mencionou em uma de nossas conversas. É bom poder te conhecer. - Dan revelou a verdade, e a garota se virou risonha com os olhos cerrados.
- Tem certeza que não vai precisar de ajuda? - perguntei sério, fazendo Dan revirar os olhos.
- Vá aproveitar esse diacho de corrida!
A garota se despediu com um aceno, me encarando em seguida.
- Quem é aquele?
- Um amigo de família.
- E você fala de mim pra ele? Que adorável! - brincou em um tom divertido, me dando uma leve cotovelada.
- Eu falei de todos vocês, dona convencida! - chegamos novamente na arquibancada, tendo todo o mesmo trabalho de chegar ao nosso lugar.
Por mais que Dan estivesse ali tentando dar conta do recado, eu me sentia na obrigação de tentar achar Ritter, mesmo com a minha atenção dividida entre e a corrida, que por sinal, Jackson estava perdendo.
- Ai, caraca! - deu um gritinho nervoso ao ver que a corrida estava acabando e Jackson estava tendo trabalho com um dos adversários.
- Ele vai perder! - Callie colocou a mão no rosto, decepcionada.
- NÃO VAI NÃO! - gritou, balançando as mãos e apontando para o carro de Jackson, que por algum milagre, conseguiu passar o adversário e chegou à linha de chegada. Esse cara fez algum pacto com o demônio, só pode! 's POV end
Apenas... Uau.
estava sendo agradável e protetor, em que mundo estamos, produção? Não que eu tenha achado ruim, muito pelo contrário, mas aquele sentimento era diferente. Era novo. Era estranho. E talvez não fosse bom. Já estive nessa posição antes, de me sentir tão bem com alguém e depois isso ter se tornado uma das coisas mais dolorosas que já tive que enfrentar.
Jackson havia vencido, e no mesmo instante todos saíram da arquibancada e correram em sua direção, o parabenizando e tudo o mais.
- Eu sabia que você ia ganhar! - cheguei perto do garoto com certa dificuldade, dando o meu melhor sorriso possível.
- Eu também sabia - riu convencido - Vai rolar uma festa na casa do Petter, você quer ir?
- Eu adoraria saber quem é Petter em primeiro lugar. - rimos e no mesmo instante Jackson puxou um rapaz pelo braço.
- É esse imundo aqui. - apontou para o garoto alto e forte que estava ali, me olhando descaradamente. Olhei para trás no mesmo instante procurando pelo resto do pessoal como pedido de socorro, mas estavam um pouco longe, já que nenhum deles quis cumprimentar Jackson por ainda o acharem um babaca. Senti uma mão em minha cintura, e o dono daquela mão era .
- ? É você mesmo? - Petter desviou o olhar para , dando uma gargalhada estranha em seguida.
- Não, sou seu avô, viado. - riu, cumprimentando o rapaz com um aperto de mão, colocando sua mão em minha cintura novamente.
- Você vai querer ir pra festa, ? - Jackson perguntou novamente, e eu apenas olhei para como se a resposta dependesse dele, mas o garoto apenas deu de ombros, como se a resposta dependesse só de mim. Facilita aí, rapaz!
- Vai ser legal, pessoal! Hoje é a festa do blackout. - Petter parecia muito animado ao anunciar o tema de sua festa, e eu apenas fingi que havia entendido sobre o que era.
- Você ainda faz essas festas malucas? - questionou.
- As gatinhas adoram, você sabe! Espero vocês lá! - o rapaz acenou e saiu dali, se metendo no meio da muvuca.
Dei tchau para Jackson e me virei, chocando meu corpo com o de , pois ele ainda me segurava.
- Você vai precisar me soltar agora. - pedi sem graça, mesmo não querendo que ele soltasse.
- Foi mal. - retirou sua mão dali, seguindo meus passos até o pessoal.
- Vai ter a festa do blackout, vocês querem ir? - eu jurava que eles não iriam aceitar, mas apenas ouvi vários "sim" da boca de todos, e um "que festa é essa?" vindo de Chloe.
- Petter sempre fez umas festas diferentes, e a do blackout é a festa onde ele retira todas as luzes da casa e os convidados levam sua própria iluminação. - esclareceu a dúvida da garota, que também era minha.
- Me parece um pouco perigosa. - mordeu os lábios de maneira insegura.
- Para de ser cagona! Eu arranjo um bofe pra você. - brincou com a garota, que mostrou a língua para ele.
Caminhamos até a saída, mas parecia estar focado em outra coisa. Olhava para todos os cantos possíveis e andava lentamente.
- Procurando alguém? - me coloquei ao seu lado, arriscando a pergunta.
- Não. - sorriu sem mostrar os dentes, apertando o passo.
dirigia o mais rápido que possível, o que me levou a pensar que depois de ver a corrida, ele sentisse falta daquilo. e provavelmente pensaram o mesmo, mas ninguém abriu a boca para falar nada.
- Chegamos. - estacionou o carro em uma rua que já estava lotada, mas já que era sem saída, não teria problema. Saímos do carro e nos juntamos com o resto do pessoal que estava no carro de , e entramos na casa.
Haviam muitas lanternas cobertas com papel celofane de diversas cores, o que tinha deixado o lugar interessante. A iluminação não estava das melhores, claro, mas dava para saber onde estava pisando. A casa era enorme, com muitas bandejas de bebidas em cada canto possível, e com as garrafas e copos separados para quem quisesse colocar a própria bebida.
- Vai Chloe, nos mostre como você se diverte! - desafiou a garota, entregando um copo para a mesma, que não hesitou em pegar e vira-lo no mesmo instante, nos surpreendendo.
- Se ela pode eu também posso. - pegou o copo mais próximo que tinha dali, bebendo de uma vez, porém logo cuspindo em seguida, dizendo que tinha gosto de pimenta. Dá pra entender?
Decidimos ir até a mesa onde tinham as garrafas e cada um estava bebendo o que queria.
- Você só pode estar me zoando, né? - me viu enchendo o copo de energético e começou a rir.
- Que foi? Muito álcool me da vontade de fazer xixi. - levantei o copo e bebi, observando o garoto misturando algumas bebidas em um novo copo e me entregando em seguida.
Caminhamos até o fundo da casa, que estava mais iluminado e todos estavam dançando ao som de Where Have You Been, da Rihanna. Callie e são aquele tipo de casal que não perde uma música, e sempre são os primeiros a irem dançar, e assim foi. disse que tinha a missão de arranjar um bofe para , e os dois se enfiaram aonde só Deus sabe onde. E quem sobrou? Pois é, parecia até brincadeira.
- Você sabe que eu não sei dançar. - me olhou e riu, já deixando claro que não iríamos dançar.
- Vocês vieram! - Jackson e Petter apareceram ali, os dois com garrafas nas mãos.
- É o que parece. - respondi com o tom de voz óbvio.
- Será que a mocinha aceita dançar comigo? - Petter estendeu a mão, e eu apenas queria correr dali. Seu olhar pervertido me dava vontade de chutar seu nariz.
- Não, porque ela vai dançar comigo. - sorriu para o rapaz e me puxou pela mão, nos enfiando no meio de toda aquela gente que dançava sem se importar com nada.
- Ué, aprendeu a dançar? - perguntei ironicamente, vendo seus olhos azuis se revirarem.
- Petter não é do tipo que só dança com alguém, e isso da pra perceber pelos olhares que ele dá para você ou qualquer outra garota. - justificou sua atitude, tomando o resto de bebida que tinha em seu copo e o jogando em qualquer lugar por ali.
- Obrigada por isso, então.
How Deep Is Your Love tomou conta das caixas de som presentes ali, fazendo o pessoal gritar e se mexer mais ainda. As mãos de estavam em minha cintura, e meus braços em volta de seu pescoço. Nos olhamos profundamente, o que causou um tipo de choque entre nossos corpos, que estavam se balançando de maneira sincronizada.
- Eu gosto dos seus cílios. - falou enquanto observava cada pequena parte do meu rosto, rindo em seguida de sua própria fala.
- Eu gosto deles também. - acompanhei sua risada, olhando em seus olhos novamente.
O quanto um olhar pode te contar? Quanto encanto alguém pode ter ali? Pois no momento, eu estava encantada com a cor dos olhos de , eram totalmente cativantes. Quantas palavras podem ser ditas apenas com os olhos? Pois no momento, não precisávamos dizer nada, não era preciso. Nossos rostos se aproximaram, e logo em seguida, nossas bocas. Nossas línguas se encontraram, em um beijo tão bom, tão profundo, que eu poderia até dizer que havia sido o nosso melhor até agora, mas os outros haviam sido tão bons quanto esse. Pausei minha mão em seu rosto, fazendo carinho em sua bochecha enquanto ainda o beijava, sentindo as mãos do garoto pressionar meu corpo contra o seu.
- Eu gosto da sua boca também. - murmurou, passando o polegar pelos meus lábios.
- Bom saber, pois eu também gosto da sua. - dei um selinho demorado no garoto, e assim que olhei para o lado, vi uma cena maravilhosa.
estava ficando com um garoto que parecia ser muito bonito, mas não pude ter certeza por conta da luz, mas sabia que era ela, pois aquela cabeleira gigante era inconfundível. Por mais que eu gostaria que o garoto fosse , já era uma vitória poder presenciar aquela cena.
- Fiz um bom trabalho, não fiz? - se aproximou de nós, rindo sem parar.
- Da próxima, arranje para ela. - ordenei, rindo com ele.
- Eles são só amigos, doida. Agora eu vou arranjar uma gatinha pra mim, meu serviço está feito. - anunciou sua saída, andando para o sentido contrário do qual estávamos.
e eu continuamos ali, na mesma posição, e honestamente, a sensação de estar envolvida em seus braços era incrivelmente boa. Parecia que não tinha mais ninguém ali a não ser nós, porém nossa paz foi interrompida quando um rapaz esbarrou em nós, junto com sua bebida.
- Tá cego, porra? - gritou, encarando o rapaz em seguida, dando um grito mais forte ainda - Ritter?
No mesmo instante, o tal de Ritter começou a correr feito maluco, e o seguiu. Que escolha eu tinha? Ficar ali olhando a todos, já que meus amigos estavam ocupados, ou correr atrás de ? Claramente a segunda opção.
Digamos que meu pulmão é uma merda por conta da asma, do lugar fechado, e pelo cheiro de maconha que estava na entrada do local. Corri até o jardim, aonde finalmente parou e observou o rapaz subir em sua moto.
- , o que foi? - eu estava curiosa e ofegante, e pela a expressão do garoto, já sabia que receberia um grito.
- Entra, fique com a e diga que eu tive que ir embora porque Sophia está passando mal. - deu suas instruções enquanto corria até seu carro, mas eu simplesmente as ignorei. Não sabia o que estava acontecendo, mas não o deixaria sozinho.
- Eu vou com você, mesmo sem saber para aonde está indo. - parei em sua frente, o impedindo de entrar no carro.
- , não! - falou sério, com o rosto tão próximo ao meu que eu poderia beijá-lo no mesmo instante.
- Eu estou falando sério. - olhei bem em seus olhos desesperados, e o garoto finalmente concordou com aquela loucura.
dirigia tão rápido que não pensei duas vezes em colocar o cinto, jurando para mim mesma que não faria nenhuma pergunta, pois a expressão do garoto não era a das melhores. Ritter estava em nossa frente, correndo o máximo que podia e virando em todas as ruas possíveis, me dando certo medo, pois eu não fazia a mínima idéia de quem ele era, mas sabia que tinha feito algo grave para deixar naquele estado.
Chegamos a uma rua com pouca iluminação, o que era bem irônico, já que tínhamos saído de um lugar assim. A moto do rapaz entrou em um beco onde o carro não passaria, e fez menção de sair do carro, mas segurei sua mão.
- Você está doido? Olha pra isso aqui! Você não vai sair no meio desse beco. - falei autoritária, ainda segurando sua mão como se fosse um caso de vida ou morte, mas não adiantou nada, já que o garoto se virou e abriu a porta rapidamente, batendo-a com uma força tremenda.
Retirei o cinto que estava prendendo meu corpo ao banco, saindo do carro também.
- Entra nesse carro agora! - seu grito alto me deu um pequeno susto, mas não o obedeci, muito pelo contrário, apenas me aproximei ainda mais.
- Quem é Ritter?
- Eu mandei você entrar no carro, então entre! Não enche o saco logo agora! - acabou com a distância entre nós, gritando literalmente na minha cara, me deixando incrédula.
Enquanto se enfiava no beco escuro, eu voltava para o carro, olhando em cada canto dali para ter certeza que não havia mais ninguém. Meus olhos se encheram de lágrimas, por nenhum motivo aparente, mas no fundo, eu apenas queria entender que merda estava acontecendo. O que o tal de Ritter havia feito de tão grave? O que tanto perturbava ? Eu queria saber o que seus olhos não conseguiam me contar, e de repente, só me sobrou uma opção, que parecia que estava sendo guardada exatamente para aquele momento: contar o que meus olhos também não o contava.
Dizem que quanto maior o investimento, maior o retorno. Mas eu deveria ter ciência de que poderia estar correndo o risco de perder o pouco que conquistei até agora, mas algo me dizia que valeria a pena. E muito. Mas até que ponto podemos confiar em nosso coração? Ele é responsável por nos causar tanta dor e confusão. O que fazer?
's POV
Minha raiva dominava meu corpo. Eu só queria encontrar aquele imbecil e o fazer falar tudo o que sabia sobre Richard, mas algo me impedia de ir adiante. Que porra eu tinha na cabeça para largar no meio do nada sozinha? Eu não podia fazer isso, não com ela ali, mesmo querendo muito.
Dei meia volta, seguindo até o carro, entrando rapidamente no mesmo.
O único som que estava sendo feito, era do carro em uma velocidade não tão rápida, já que agora eu não precisava de pressa.
- Eu liguei para dizendo que você teve que me levar para casa porque passei mal. - depois de muito tempo, abriu a boca, com a voz totalmente embargada.
Aquilo foi como um tapão na cara. Ela estava quase chorando por minha causa, e eu nem mesmo sabia o que fazer.
- Olha, eu nem sei o que... - não consegui terminar minha frase pois a garota me interrompeu.
- Para o carro. - fungou, finalmente olhando para mim, e eu não pude negar aquele pedido - Você vai me contar quem é Ritter? - as lágrimas caíam por seu rosto, fazendo meu coração se apertar cada vez mais.
- , é uma coisa complicada. - encostei minha cabeça no apoio do banco, ainda sem saber o que fazer.
Será que um abraço ou um beijo serviriam? Deus, essa é a hora em que você me ajuda!
- Meu pai me bate. - olhou diretamente em meus olhos, que deixavam lágrimas e mais lágrimas escaparem sem parar.
Eu não conseguia pensar ou me mexer. Simplesmente não conseguia. Não sabia nem o que dizer.
- Como é que é? - foi a única coisa que consegui dizer, ainda incrédulo.
- Meu. Pai. Me. Bate. - respondeu pausadamente - Ele fez aquilo no meu braço. Eu não espero ganhar sua confiança do dia pra noite, mas só quero que você saiba que tem a minha, ok? - chorou ainda mais, e não pensei duas vezes em abraçá-la.
Nascemos sozinhos, e é assim que iremos morrer. Mas e tudo o que acontece no caminho? É praticamente um dever ou uma obrigação achar alguém para passarmos o tempo junto. Querendo ou não, precisamos de ajuda, de apoio, caso contrário, estamos completamente sozinhos. E estar completamente sozinho é estranho, é estar afastado da vida real. Mas pessoas como eu, que se acostumam com a solidão, esquecem que podem se conectar com alguém. E quando a gente deixa essa marra, essa vontade de solidão de lado por alguns instantes, podemos ver o quão importante é ter alguém. O quão importante é estar conectado com alguém. O quão importante estava sendo a conexão que se criou no mesmo instante entre e o meu ser.
Continua...
Nota da autora: (27/05/2016) Oi meus amores!!!
Em primeiro lugar, eu quero agradecer, claro! Eu fico tão feliz por saber que vocês estão gostando, cada comentário, cada postagem no grupo, ou cada pessoa que fala diretamente comigo me deixa extremamente feliz, de verdade! Então obrigada por estarem acompanhando, por terem paciência, e por darem uma oportunidade pra fic. Em segundo lugar: EITAAAAAAAAAA!!! O que vocês acham que vai acontecer agora, hein??? Eu particularmente me acabei com esse final, hahah. Saibam que essa fic é muito importante pra mim, e espero que vocês possam ''aprender'' algo com ela.
Até a próxima att!
Meu nome é Luana, mas detesto ser chamada pelo nome, então qualquer apelido serve; Lu, Lua, Ana, Pêra... Nascida e criada em São Paulo desde o dia 04/09/1999, ou seja, 16 aninhos nas costas, com 26 séries na grade, estilo musical totalmente eclético, e muito, mas muito apaixonada por toda a área da saúde e pelos animais.
Gosto de pensar que nada na vida é por acaso, e tento ser uma pessoa melhor a cada dia.
Me enxergo como a personificação de Meredith Grey com Peyton Sawyer, mas é como dizem: não importa a escuridão que tenha em sua vida, o sol nascerá novamente.
Intensa, engraçada nos piores momentos, personalidade fria, mas com o coração de uma maria mole; essa sou eu.
Qualquer erro nessa atualização são apenas meus, portanto para avisos e reclamações somente no e-mail.
Para saber quando essa linda fic vai atualizar, acompanhe aqui.
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