Quando duas pessoas que tem vidas parecidas se conhecem, pode acontecer duas coisas: dar certo ou errado. Mas como daria certo se ele se recusa a te deixar entrar no seu mundo? Como conseguir a confiança, e a permissão para isso? Será que você consegue desvendar todos os mistérios sobre ele? Será que você está pronta para causar uma pequena (grande) bagunça na vida dele?
"Uma hora você tem que tomar uma decisão. As fronteiras não mantêm as pessoas para fora; elas te prendem dentro de si. A vida é confusa mesmo, é assim que fomos feitos. Então você pode desperdiçar sua vida desenhando linhas ou então você pode viver cruzando-as. Mas há algumas que são perigosas demais para serem cruzadas. E aí vai o que eu sei: se você estiver disposto a jogar a precaução pela janela e se arriscar, a vista do outro lado é espetacular."
's POV
Meus braços ainda estavam à sua volta desajeitadamente, mas não a soltei por um segundo até a mesma se afastar, me encarando profundamente, com a ponta do nariz avermelhada, e limpando as lágrimas rapidamente dos olhos em seguida.
Estávamos a duas quadras de sua casa e imaginar o quanto já havia sofrido naquele lugar ainda me deixava sem reação. Mas eu precisava fazer algo, precisava ajudá-la, precisava ouvi-la, ou fazer qualquer coisa que a fizesse se sentir melhor. Mas como?
- Me desculpa por isso, ta bem? Apenas me deixe em casa e vamos fingir que isso aqui nunca aconteceu. - deu uma risada fraca, totalmente sem humor, e com a voz ainda embargada.
- Eu te levo para qualquer lugar, menos sua casa. - respondi com raiva, mas não dela, e sim de sua revelação. Dirigi até o primeiro lugar que me veio à cabeça: o lago.
permaneceu calada durante todo o trajeto, e a única coisa que eu pensava era no que falar, o que fazer, como ajudar e como lidar com sua revelação. Quem diria que fossemos tão parecidos, não é? Por mais que eu goste de surpresas, essa foi de longe, uma das piores. é apenas uma garota de 16 anos, que supostamente tinha muitos problemas, mas não os contava, e justamente hoje, ela revelou uma das coisas que eu menos esperava.
- Estamos no lago às 3 da manhã, uau. - falou séria, saindo do carro em seguida.
Aquele lago foi aonde nos conhecemos, na primeira festa. A festa em que eu jurava que ela só seria mais um rosto que eu tinha visto na vida, mas no momento, a minha única certeza é de que seu rosto seria algo que eu jamais esqueceria.
- Eu não sei o que fazer exatamente, mas acho melhor sentarmos. - falei cuidadosamente enquanto me aproximava de , que estava parada, olhando o céu de uma maneira única, como se houvesse uma conexão entre todo aquele azul gigante e seus olhos.
deu pequenos passos até a ponte, observando ainda mais a água que passava por ali, refletindo a luz da lua que estava lindamente cheia. Ela finalmente se sentou na beirada da ponte, dando um longo suspiro.
- Eu não sei exatamente porque te falei isso. Acho que foi pelo desespero de tentar fazer você enxergar que eu estou aqui, entende? - disse séria, com a voz quase firme.
- Eu sei que você está aqui, sempre soube. Só não esperava por isso. - fui honesto, pois o momento era digno de honestidade.
- Você pensou que só você tivesse problemas e segredos? - gargalhou fraco, abraçando os próprios joelhos em seguida.
- Eu nunca me preocupei com outra pessoa, mas isso aqui é diferente. Você apanha do próprio pai, ! Ninguém nunca percebeu, e eu me sinto incomodado por isso, porque você... Ninguém merece isso! - quase tropecei em minhas próprias palavras. Mostrar nosso ponto de vista na história é sempre complicado.
- Você não poderia ter feito nada do mesmo jeito, .
Talvez ela tivesse razão, ou talvez não. Como reagir sabendo de uma coisa como essa? Não posso negar que isso desencadeou velhos sentimentos. Aqueles que eu sentia quando Richard me batia, ainda pequeno. É horrível de verdade, é como se nada no mundo fosse tirar aquela dor terrível do seu peito. A sensação de se sentir totalmente incompetente e mal amado é uma das piores da vida.
- Eu não sei como, mas eu quero te ajudar, de qualquer maneira! - olhei para a garota, que ainda abraçava os joelhos como uma criança.
É como se tudo estivesse esclarecido. nunca falou da família, nem mesmo deixou alguém ir até sua casa. Mas a pergunta que eu não conseguia parar de repetir em minha cabeça era: por quanto tempo ela manteve esse segredo?
Toda pessoa tem algo para esconder. Não podemos simplesmente expor todos os nossos segredos para o mundo, pois é assim que acabamos machucados, e também, é uma maneira de arriscarmos a machucar outras pessoas também. Mas chega um momento, onde precisamos nos decidir contar a verdade para nós mesmos, o que é totalmente assustador.
O medo nos deixa para trás, nos derruba, nos cala. Mas afinal, isso é muito errado? Talvez. Mas ainda assim, querendo ou não, é questão de cuidado e proteção. Não é seguro contar nossos segredos para qualquer um, não podemos nos expor dessa maneira, porque uma vez que a verdade é dita, nós temos que encará-la, o que acaba sendo mais assustador ainda. Então, precisou aceitar sua verdade, para depois revelá-la, e eu nem imagino o quão doloroso foi esse procedimento.
- Eu nunca o vi sendo bom. Sempre foi assim, bateu a porta aqui, quebrou algo ali, mas com o passar do tempo, sua diversão se tornou a minha dor. Eu ainda tento entender, mas eu não consigo pensar, não consigo fazer nada. Eu sempre estive confusa, pois eu não sei quem sou, e não sei o que fiz pra merecer isso. - depois de um longo silêncio, falou. Seus olhos ainda olhavam a água, e em questão de segundos, pude sentir a dor que sua voz transmitia.
- Você está tão perdida, que nem consegue saber quem é, e isso é de longe, uma das coisas mais terríveis que pode acontecer com o ser humano. Mas eu sei de uma coisa: você não merece nada disso. Desde quando nos vimos aqui, pela primeira vez, você foi legal, e continuou sendo, até chegarmos aqui, nesse momento. Eu não sei de toda a sua vida, mas agora, mais do que nunca, eu quero saber. Mas não pense que é porque eu sinto dó de você ou algo do tipo, e sim, porque você é forte. já me disse uma vez do tanto de problema que você tinha, e mesmo assim não descontava nas outras pessoas, ao contrário de mim. Então, , de verdade, somos eu e você a partir de agora, tudo bem? - dei o meu melhor sorriso, torcendo para que a garota retribuísse.
O quão rápido as coisas podem mudar? precisou de menos de uma hora para mudar completamente o meu jeito de pensar sobre ela. Eu nunca me permito precisar de ninguém, mas no momento, a minha maior certeza, é de que um precisava do outro. Como se tudo estivesse se encaixando. De onde veio isso? Eu não sei, mas só quero agradecer por ter vindo. 's POV end
Dor, medo, desespero, decepção. Tudo sempre girou ao redor dessas quatro palavras, mas em especial, a dor. Existem vários tipos de dor. Aquela dor que você sente quando torce o pé ou quando cai, ou uma dor aleatória que você não sabe por que está ali. E então tem a dor que está grudada em sua alma. Uma dor tão forte, que você não consegue ignorar. Você não consegue pensar, falar, ou fazer nada. A dor te pára, te bloqueia. E então, você se sente anestesiada, pois é a única coisa que se sente. Mas o que fazer? Tentar ignorar, deixar para lá, fingir que não está ali, ou abraçar a dor? No final, você apenas precisa sobreviver a isso, e esperar, pois não tem o que fazer, a dor continuará ali. Você dorme e acorda na esperança de que ela não esteja mais ali, respira fundo e espera que a dor se vá junto. E quando você finalmente acha que ela não está mais ali, a vida te trás uma nova decepção. E então, o que fazer novamente? Chorar? Desistir? Fingir? Se entregar? Atravessar a dor, ou se acostumar com ela? No meu caso, eu abracei a dor de uma maneira tão forte, que ela impregnou em minha alma.
Após ouvir a voz de dizendo aquilo, é como se eu tivesse anestesiada novamente, mas de uma forma diferente, como se fosse exatamente disso que eu precisava.
- O que acontece agora? Você sabe de uma grande coisa sobre mim e isso parece um pouco injusto. - ri fraco, tentando absorver todo o ocorrido.
- Eu ainda estou tentando entender a situação, . Eu não consigo acreditar que seu próprio pai faz isso com você. Quem mais sabe disso? - questionou cuidadosamente, se sentando mais perto de mim.
- Apenas você e . Ainda não tive coragem para contar para as garotas, é humilhante demais.
- Isso não é humilhante! Você consegue passar por isso sem abrir a boca para reclamar, é exatamente o contrário.
- , eu apanho do meu pai, é óbvio que isso é humilhante! Eu não consigo e nem posso fazer nada! - respondi indignada, porque isso era um fato.
- Eu sei que não é fácil, mas por que você não o denuncia? Medo? - seus olhos azuis se encontraram com os meus, e permanecemos naquela mesma posição por um longo tempo.
- É de tudo um pouco. Ele é alcoólatra e drogado, e minha mãe tem medo de fazer algo e não adiantar e depois acontecer algo comigo, e eu sinto a mesma coisa, então, o que nos resta?
- Para tudo tem uma solução, desde a mais simples, até a mais cruel. - naquele momento, os olhos de perderam o pouco brilho que tinham, e se tornaram obscuros, o que foi, de certa forma, assustador.
- O que você quer dizer com isso? - cerrei os olhos, desconfiada.
- Esquece. Estamos falando sobre você. - deu um sorrisinho torto, e eu nem me preocupei em tentar arrancar a verdade do garoto, porque afinal, finalmente estamos em um momento único e totalmente verdadeiro.
- A grande verdade é que eu não tenho como mudar isso, eu não tenho como conquistar o que eu sempre sonhei. - esbanjei de uma vez, totalmente frustrada.
- Que seria...?
- Um lar - fechei os olhos e sorri, pois na minha imaginação, eu realmente tinha aquilo, e ter, mesmo sendo imaginário, se tornava prazeroso. Acabei com o meu próprio momento e dei continuidade á minha fala- Eu tenho a minha casa, mas não é um lar. Pode-se construir uma casa com qualquer coisa, com madeiras e tijolos, até ficar firme e forte, mas um lar... É mais frágil que isso. É feito com o amor e carinho ali, e com as pessoas que depositam esses sentimentos também.
- Eu me lembro do seu desenho na aula de artes, era uma casa. Muito mal desenhada, mas tudo bem. - riu baixo, e eu segui sua risada por lembrar do meu desenho. Poxa, não estava tão ruim!
- É engraçado, né? Você foi um imbecil quando nos vimos pela primeira vez, e agora, estamos aqui, como amigos de verdade. Eu estou contente por isso, . - ver o sorriso do garoto se formando já me fazia sorrir junto.
- Acho que agora estamos no caminho certo.
- Então você não se importa em finalmente deixar de ser cabeça dura e me deixar entrar na sua vida? Vejo que realmente tivemos um progresso! - brinquei, tentando afastar o clima tenso que já estava ali há muito tempo.
- Por mais difícil que seja admitir isso, sim! - respondeu risonho.
- Não será tão ruim, eu juro!
- Eu sei que não -me olhou de uma maneira tão diferente, que eu poderia parar de respirar no mesmo segundo- Mas agora, o que eu faço? Não posso te deixar ir pra casa, não depois de tudo isso.
- Podemos passar o resto da noite aqui, e de manhã eu fico na casa da . - sugeri a opção mais fácil, afinal, não é como se eu pudesse fugir e pronto.
- E depois você volta pra casa? - arqueou as sobrancelhas, mostrando que não aprovava a idéia.
- Infelizmente. Mas, vamos aproveitar o tempo que ainda nos resta, tudo bem?
No momento não existia coração partido, não existia um pai maluco, não existia a necessidade de um lar. Eu estava anestesiada de uma incrivelmente boa e nova. De uma maneira que só conseguiu.
’s POV
Podemos dizer que é a pessoa mais rápida do mundo. Bastou um "aquele é bonito pra você?", uma meia dúzia de palavras com o rapaz, e em segundos, ele já estava com a boca na minha. Não vou dizer que não gostei, porque estaria mentindo, mas o que não gostei foi da reação de , que não foi das melhores. Por mais que ele tenha brincado sobre dizer que arranjaria um bofe pra mim, eu sabia que não passava de brincadeira.
Já estava tarde e decidimos ir embora. e já haviam ido, o que significa que fomos todos no mesmo carro, só o pó da rabiola.
- Podemos ir pra minha casa. - disse Chloe.
- Eu só quero dormir, só isso. - se enrolou nas próprias palavras, estava levemente bêbado.
Ninguém protestou, então fomos para a casa de Chloe, ou melhor, palácio.
- Meus pais não estão, como sempre, então vocês já sabem o que fazer. - apontou para o quarto de hospedes enquanto subia as escadas, dando um selinho em e o desejando boa noite.
- A gente pode dormir em um quarto separado? - perguntou, sem vergonha nenhuma, mas Callie apenas escondeu o rosto no peito do garoto, causando nossas risadas.
- Só não façam barulho, porque ninguém é obrigado - Chloe respondeu em meio a risadas- , você pode dormir no meu quarto.- sorriu, abrindo a porta do mesmo e entrando.
não perdeu a oportunidade de dar aquela zoada clássica em Callie e , que mostraram o dedo do meio e foram em direção ao quarto pedido.
- Boa noite, pessoal! - me despedi com beijinhos no ar, caminhando até o quarto de Chloe, mas havia passos a mais ali. . Antes que o garoto pudesse abrir a boca, comecei a falar. -Eu sei que você não gosta que eu fique com esses rapazes de festa, mas você precisa parar com isso, tudo bem? Já passou! - falei baixo, tentando passar segurança para o garoto através da minha voz.
Flashback; 1 ano atrás; Quinta feira; Chicago.
Um ano nessa cidade, e certas coisas ainda eram estranhas para mim. Ser praticamente tirada do meu ninho havia sido horrível, e o meu desespero para me encaixar me levou a andar com pessoas que nem me faziam tão bem, mas tudo isso por uma boa causa: o trabalho dos meus pais. Mas nem tudo estava perdido, conhecer pessoas novas foi melhor que nada, e tem mais: terei uma festa de aniversário exclusiva. Pois é, Chicago me deu alguns presentinhos, mas quem eu queria mesmo aqui, é o panaca do . Já não nos vemos há um ano e a saudade está insuportável.
- Está preparada para o seu aniversário? - a voz de minha mãe me despertou do meu transe.
- Claro que estou, estou nesse mundão há quase 17 anos! - falei animada, olhando no relógio, que ainda mostrava que faltavam 4 horas para o meu dia.
- Temos uma surpresa muito especial pra você, filha! - meu pai adentrou a cozinha, sorrindo para minha mãe. O que esses dois estavam aprontando?
- Eu não tenho direito a uma pista do que é? - arrisquei a pergunta, mesmo sabendo a resposta, que foi um ‘’não’’ vindo dos dois.
Em todo esse tempo, sempre passei 00:00h em casa, para comemorar mais um ano de vida ao lado dos meus pais, o que se tornou uma tradição, já que nasci às 00:01. E claro, quando dava 00:02 eu já corria para abrir os presentes, mas conforme você envelhece, mais os presentes diminuem. E justamente hoje, eu não consegui ver nem um papel de presente sequer solto pela casa.
Parei em frente ao relógio como uma criança, apenas observando aquele ponteiro passar e indicar que: FINALMENTE 17!
- Parabéns, filha! - recebi os melhores abraços do mundo, vindo das melhores pessoas: meus pais.
- Onde está o meu presente? - fingi estar emburrada, ainda enfiada naquele abraço triplo.
- O presente é tão grande que nem coube num pacote, acredita? - meu pai brincou, indo em direção a porta, e assim que a abriu, meu coração só faltou parar de tanta alegria.
- !!! - corri o mais rápido que pude em direção ao garoto, que já estava com os braços abertos.
- Foram três horas com a bunda naquele banco de avião, então eu realmente mereci esse abraço -o garoto fez graça, me fazendo gargalhar alto- Feliz aniversário, !- me abraçou ainda mais forte, me tirando do chão.
- Mas e sua mãe? A escola? Quando você vai embora? E ah... Cadê meu presente?- perguntei tudo de uma vez, minha felicidade não permitia perder tempo fazendo pergunta por pergunta.
- Ela não pôde vir, e não achou ruim, pois só vou perder amanhã de escola, já que vou embora no domingo -meu coração já doeu só de ouvir que ele tinha que ir embora- E o seu presente eu te dou depois, coisinha curiosa!- gargalhou, me abraçando novamente.
Minha mãe havia feito um bolo, como de costume, e comemos até encher a pança. Depois de algum tempo, meus pais se despediram e foram dormir, e claro, e eu viramos a noite na conversa, e o convidei para a minha festa, que nem estava sendo organizada por mim, mas era pra mim.
Sexta Feira; 19h.
- Você vai me fazer chegar atrasada na minha própria festa, viado! - gritei pelo corredor, chamando a atenção de .
- Você acha que é fácil deixar esse cabelo lindo desse jeito? - apontou para o topete perfeitamente bem posicionado.
Me despedi de meus pais, que também sabiam da festa, mas não sabiam aonde seria, e pra falar a verdade, nem eu. O som da buzina do carro de Seth tocou, e saí de casa junto com o senhor do cabelo bonito.
- Feliz aniversário, gatinha. - Seth se aproximou, me dando um beijo demorado no rosto, cumprimentando indiferentemente em seguida.
- Obrigada! Esse aqui é o meu melhor amigo , já te falei dele, né? - gargalhei, entrando no carro.
- É só sobre o que você sabe falar. - respondeu de maneira grosseira, ligando o carro e nos levando para o local da minha festa.
Pois é, posso dizer que os meus queridos amigos de Chicago são um pouco... Diferentes.
Chegamos ao local, que demorou vidas para chegar, mas estava explicado: era uma festa num tipo de sítio. Muito espaço, muita bebida, e muita droga. Pois é, foi aqui que eu amarrei meu burro. Mas não é tão ruim quanto parece, afinal, todos aqui me tratam super bem, às vezes, até demais.
Depois de receber vários ‘’feliz aniversário’’ de pessoas que eu nunca tinha visto na vida, e abraços fedorentos de homens dali, consegui sentar em um lugar apenas com .
- Isso aqui é diferente do que eu imaginei. - revelou, dando um gole em sua bebida.
- Parece ruim, mas eu juro que não é. - sorri sem graça, vendo Seth e sua turma virando o máximo de copos possíveis em suas bocas.
- Se você diz... Mas hoje é seu aniversário, precisamos aproveitar ao máximo! - sua animação tomou conta de si, levantou no mesmo instante e me puxou pela mão, me arrastando até onde todos estavam dançando. Somos péssimos dançarinos, mas toda essa saudade te deixa com vontade de fazer de tudo um pouco.
Nossas risadas se misturavam com todo o barulho que estava ali, se tornando quase inaudível, então tínhamos que chegar muito perto um do outro para nos comunicarmos. E no mesmo momento em que nossos corpos se encostaram, nada mais estava ali. Nenhuma risada, nenhuma pessoa escandalosa pedindo por outra bebida, e nem o cheio das drogas estava mais presente. Só nós dois, tudo o que sempre importou. Mas o nosso momento teve fim quando Bryan esbarrou em nós, mais especificamente, em .
- O que você pensa que está fazendo com ela? - gritou totalmente bravo.
Fodeu!
- Dançando com a minha melhor amiga, algum problema? - gritou na mesma intensidade, deixando o garoto ainda mais bravo.
Bryan é simplesmente o cara mais insuportável do planeta terra. É o tipo de pessoa que não sabe ouvir um ‘’não’’. Ele passou os últimos dois meses enchendo a minha paciência sobre esse lance de ficar, e mesmo eu dizendo que não queria pelos quatro cantos do mundo, ele ainda não entendeu. Talvez seja toda a bebida ou as drogas que o deixam esquecido e idiota desse jeito.
- O meu problema é você, seu imbecil!- eu mal pisquei, e a pancadaria começou. Como esse retardado ousa estragar a minha festa desse jeito? Tudo bem que eu não conhecia metade das pessoas ali, mas ainda assim, era minha festa!
- Faz alguma coisa! - gritei para Seth, que foi o primeiro a tentar apartar aquilo tudo, porém tendo muita dificuldade.
- Me larga. - Bryan gritava e esperneava, tentando se soltar dali, enquanto corri para ver como estava.
- Chega! Você estragou tudo, como sempre! Como é possível que você não se toque do quão chato e irritante é? - me aproximei de Bryan, gritando as verdades em sua cara.
- Você fala direito comigo, garota! - gritou ainda mais alto, me dando um baita susto.
- Eu grito sim, você está na porra da MINHA festa, e vai embora agora! - apontei para qualquer porta que vi pela frente, indicando que seu tempo ali havia esgotado.
Em pouquíssimos segundos, Bryan conseguiu se soltar de Seth, retirando uma arma de sua cintura, apontando para mim.
FODEU MESMO!
- Larga essa merda, Bryan! - Seth gritou cuidadosamente enquanto todos corriam dali.
- Ei, você não precisa fazer isso, se acalma! - se aproximou lentamente, ficando em minha frente.
Sempre tentamos imaginar como será se acontecer algo terrível conosco. Tentamos bolar um plano, uma reação, antes mesmo de que a coisa aconteça. Mas quando finalmente acontece, nos encontramos completamente perdidos. E é assim que eu estava no momento: perdida e sem reação.
- Você se acha no direito de falar esse tanto de merda pra mim na frente de todo mundo? -Bryan gritou, se aproximando cada vez mais, enquanto continuava em minha frente- Por que você não grita agora, sua menina metida? - gritou, dando um susto em nós dois.
- Bryan, abaixa essa arma agora! - Tedd apareceu ali, aos berros, e não tem ninguém no mundo que não o obedeça, e não era diferente com Bryan, mas por incrível que pareça, não o obedeceu dessa vez.
-Isso sempre acontece, porra! É uma rejeição atrás da outra, vindo da minha família, das garotas, e eu cansei dessa merda! -Bryan continuou gritando, aproximando a arma na cabeça de - Eu vou matar esse mauricinho e essa patricinha de uma vez e foda-se!
Medo, desespero, e uma sensação horrível de sentir tudo desaparecendo. É assim que funciona quando você está prestes a morrer?
- Você sempre foi um merda, não adianta chorar pelo leite derramado. Agora solta essa merda de arma.- Tedd sacou sua própria arma da cintura, apontando na cabeça de Bryan, que gargalhou alto e finalmente abaixou a arma e se virou para quem ele nunca mais chamaria de amigo novamente.
- Incrível que todo mundo ficou do lado da patricinha aqui, e eu, como sempre, na merda!
- Você fez por onde, Bryan. Agora saia daqui, e nunca mais apareça, está entendido? - sua voz carregada de autoridade fez o garoto dar longos passos para fora dali. Me virei rapidamente até ficar de frente para , o abraçando o mais apertado possível.
- Me perdoa!!! Eu não imaginava que isso poderia acontecer, eu... - minha fala foi interrompida pelas lágrimas que me atrapalhavam.
-Você não tem culpa de nada, ! - seu abraço apertado e desesperado era como um remédio para dor que funcionava em segundos.
Um abraço muda muita coisa. E em momentos assim, de desespero total, apenas esse abraço poderia me acalmar de tal forma. é o único capaz de fazer isso, o único mesmo.
- Obrigada, Tedd! Eu nem sei o que te dizer, você simplesmente salvou nossa vida! - olhei para o rapaz que ainda permanecia ali, apenas observando a cena.
- Você é a nossa meninona, e sabe que Bryan anda mais fora da linha do que o normal, e aqui somos uma família, certo? - apenas assenti, ainda com a cabeça no ombro de .
É engraçado como tudo pode acabar em segundos, não? Apenas um tiro, e nossa vida poderia acabar, mas nunca nos imaginamos nessa situação. Fazemos tantos planos para o futuro, mesmo correndo o risco de nada sair como o planejado, mas o verdadeiro risco é do futuro não chegar. E isso, é um novo recomeço, pois a confusão e o medo nos mostram o quanto vale a pena lutar para viver num mundo melhor. Flashback off.
- Eu sei que já passou, mas eu ainda me preocupo. - deu pequenos passos para frente, ficando em frente a mim.
- Bryan morreu, e aquilo já passou. Estamos vivos, isso que importa, não é? - sorri, olhando diretamente nos olhos brilhosos do meu melhor amigo.
- Eu te amo tanto, mas tanto! Eu não aguentaria viver num mundo sem você. - me envolveu no abraço que eu considero ser o melhor do mundo.
- Você nunca vai me perder, tudo bem? -gargalhei, sentindo seus braços me soltando aos poucos- Agora vamos dormir, tudo bem?- me aproximei novamente para dar um beijo em seu rosto, mas no mesmo instante, também se virou, grudando sua boca na minha num selinho demorado.
Alguém me ajuda aqui, por favor? Acho que vou explodir de vergonha!
- Houve erros. - riu sem graça, me encarando por alguns segundos e se afastando dali, entrando no quarto onde passaria a noite.
Fui para o quarto de Chloe, onde a garota já estava deitada em sua cama, porém acordada.
- Me apunhalando pelas costas, né?
PUTA QUE PARIU!!!
O QUE EU FAÇO?
COMO ELA VIU?
FORAM APENAS 4 SEGUNDOS DE SELINHO!
- O que? Do que você está falando? - arregalei os olhos e me fingi de desentendida, com o coração mais acelerado que uma Ferrari em alta velocidade. Não é possível uma coisa dessas!
- Estou só brincando, boba! Mas você estava no corredor com , certo? - gargalhou alto, provavelmente rindo da minha cara.
- Aham, mas só isso. Estávamos conversando, dando boa noite, apenas. Por quê? Você sabe que foi só isso, né? - meu nervosismo provavelmente estava quase me entregando. Muita calma, , não foi assim que mamãe me ensinou!
-Sei sim.- respondeu com os olhos cerrados.
- É bom que você saiba mesmo, porque nunca rolou nada entre nós e nunca vai rolar, sério! - dei minha melhor risada, disfarçando meu cagaço.
- Vocês dois nunca ficaram ou pensaram nisso? - a calmaria em sua voz, me acalmou automaticamente. Ela não sabia de nada, aleluia irmãos!
- Jamais! Beijar seria como beijar meu irmão.
- Você não tem irmão, . - zombou.
- Você me entendeu! - ri.
Chloe tinha uma cama de casal, o que significava que dormiríamos juntas, o que seria um sufoco pra mim, já que noção de espaço não é o meu forte, então eu preciso de, no mínimo, uma cama inteira para dormir como uma pessoa decente.
Depois de pegar um pijama da garota e me trocar, deitei ao seu lado, e o silêncio dominou o lugar, levando meu pensamento até o pequeno ocorrido no corredor.
- Acho que te devo um pedido de desculpas. - Chloe quebrou o silêncio, se virando para mim.
- Desculpas por...? - induzi a garota a terminar sua frase, me virando para ela também.
- Por ser tão chata às vezes. Você e as garotas são mais divertidas, engraçadas, e eu sou só... Chloe. - sua voz mostrava um tom um tanto quanto decepcionado, o que foi uma baita surpresa.
- Se for assim, eu também preciso pedir desculpas. - ri fraco.
- Podemos tentar sermos amigas? faz tanta propaganda sobre você, e eu quero poder te conhecer melhor para poder comprar o produto. - fez graça, dando um exemplo ridiculamente engraçado.
- Podemos sim, mas só quando acordarmos -sorri, me virando novamente e me cobrindo- Boa noite!
Peguei em meu colar, que havia sido o presente que me deu no meu aniversário, e novamente, o ocorrido no corredor estava em minha mente. Chloe tinha acabado de ser extremamente bacana e eu aqui pensando em . Saia da minha cabeça agora, garoto! 's POV end
A noite estava agradável, estava fresco, e o céu estava começando a clarear. Estávamos ali há horas, conversando sobre coisas totalmente aleatórias e sem sentido, pois 5 da manhã não é horário de falar sobre problemas pessoais e sérios. Pelo menos, não hoje. Sabíamos que teríamos que ter uma outra conversa séria sobre o que eu havia contado, mas de algum jeito, compreendeu a situação e apenas deixou pra lá. Por enquanto.
- Me lembro que tinha uma gata na minha rua, e um dia eu a trouxe pro meu quarto escondido. - revelei mais um momento da minha infância, fazendo rir.
- Sempre muito rebelde, né? Mas você não supera essa história aqui: um pitbull correu atrás de mim enquanto eu andava de bicicleta. E o pior foi que ele conseguiu me fazer cair. - riu, apontando para o braço e mostrando as cicatrizes do tombo.
- Você não sossegava, não?
- Eu fui uma criança bem porra louca, devo confessar. Mas sempre gostei de correr. Corria de bicicleta, e com o passar do tempo, com o carro. - seu sorriso se desfez lentamente.
- Será que aguenta uma corrida sem nada disso? - desafiei brincando, vendo uma expressão engraçada se formar no rosto do garoto.
- Eu corro e ainda levo meu carro nas costas, lindinha. - se gabou, levantando e estendendo a mão para mim.
- Eu tenho asma, não corro nem pra pegar um ônibus. - gargalhei, pegando em sua mão e sendo puxada até ficar de pé.
- Tem asma mas tem ar o suficiente pra me beijar, né? - era brincadeira, mas não deixou de me fazer gelar, como se esse assunto fosse censurado.
- Que calunia! Você que vive me beijando por aí. - entrei em sua brincadeira, com certa vergonha.
- Se você não quiser mais correr o risco de acabar com a sua boca na minha, me avise. - gelei mais ainda.
Não podia dizer "não quero mais" pois seria uma grande mentira. Mas dizer que "quero sim, continue" também seria mentira. Simplesmente assim, confuso mesmo. Ao mesmo que quero, não quero. Ao mesmo tempo em que me sinto mais tão insegura por estar beijando outro, não me sinto. E para sair da saia justa que essa pergunta tinha sido, coloquei em pratica a minha melhor especialidade: desviar o assunto.
- Estou com fome. sussurrei, passando a mão pela barriga.
- Está amanhecendo, então as padarias devem estar abrindo daqui a pouco. Vamos?
- Vamos.
's POV
Por que diabos Chloe deixa o despertador ligado num domingo? Pelo amor de Cristo, garota, É DOMINGO!
- Bom dia. - se espreguiçou, já de pé, olhando para mim.
- São 10 da manhã, maluca! - me sentei, provavelmente com o cabelo todo pro alto.
- Não podemos perder o dia na cama! Vou descer para ajudar a empregada com o café da manhã, você pode acordar o pessoal, por favor? - perguntou simpática, e nem pude dizer não, já que ela desapareceu do quarto num piscar de olhos.
Caralho, são 10 da manhã!
Caminhei para fora do corredor, encontrando Callie, e indo em direção a escada, resmungando sobre o despertador ser tão alto a ponto de acordar até um difunto.
- Tentei acordar , mas acho que ele morreu mesmo. - brincou, descendo as escadas em seguida.
era exatamente desse jeito: o mundo pode estar caindo, mas o bendito não acorda! Caminhei até o quarto onde estava, abrindo a porta delicadamente.
- -sussurrei, me aproximando do colchão no canto do quarto, onde ele estava largado- Acorda, coisinha! -falei mais alto, mas o garoto nem se mexeu- ACORDA!- finalmente gritei.
- Me deixa dormir. - resmungou.
- Não me obrigue a pular em cima de você. Vamos, levante! - me abaixei e cutuquei seu braço inúmeras vezes.
- Você pode jogar um hipopótamo em cima de mim que eu não levanto. - se virou para mim, revelando sua carinha de sono.
- Você que pediu. - gargalhei antes mesmo de me jogar em cima do garoto, que gemia de dor e gargalhava junto comigo.
- Eu me rendo. - disse alto, me empurrando, e finalmente levantei, estendendo a mão para o garoto, que assim que a pegou, me empurrou novamente, causando minha queda.
Em cima de seu corpo.
Com nossas bocas com centímetros de distância.
Ok, vamos parar por aqui.
- Te espero lá embaixo. - falei sem graça, me levantando novamente e caminhando até a porta, mas foi mais rápido. Ah, seu danado!
- Você está sem graça por causa do nosso selinho? - riu.
- Não. - coloquei minha mão na maçaneta, pronta para girá-la.
- Está sim. Foi só um selinho, e foi sem querer. Não precisa ficar assim, afinal, nada rolaria entre a gente, certo? - cerrou os olhos desconfiados.
- Vá escovar esse bafão de bebida. - desviei do assunto, abrindo a porta e saindo rapidamente.
Ai meu Deus, por que eu desviei do assunto? Nada rolaria entre a gente, nadinha! Por que eu não respondi?
Todos estavam na cozinha, sentados e comportados apenas esperando a mulher de meia idade servir o copo de cada um com suco que me parece ser de laranja.
- Acordou o morto? - Chloe perguntou bem humorada.
Mulher, são 10 da manhã, não me venha com esse bom humor!
- Sim. É só se jogar em cima dele e pronto, trabalho resolvido. - sorri, me sentando ao lado de Callie em seguida.
O café da manhã estava sendo extremamente silencioso. Acho que todos estavam com preguiça de falar por conta do cansaço da festa, até porque dançamos e não foi pouco.
Pouco tempo depois, o silêncio foi interrompido pelo barulho do celular de , que teve uma ligação rápida com , dizendo que ela estava a caminho da casa de Chloe também, para podermos aproveitar o dia todos juntos.
O café da manhã estava ótimo, mas não tão ótimo como estar perto de .
Ah, mas que saco! Por que eu estou pensando nesse garoto de novo?
Saia da minha cabeça, eu exijo, ! 's POV end
Liguei para o celular de várias vezes, mas nada dela atender, então precisei ligar para , que disse que todos estavam na casa de Chloe.
e eu tivemos um café da manhã rápido numa padaria qualquer, mas estava ótimo, e depois disso, fomos para a casa de Chloe, que nos atendeu saltitante.
- Bom dia! Vocês passaram a noite juntos, né? - deu aquele olhar desconfiado misturado com malícia.
- Não. - respondemos juntos, nos entreolhando em seguida.
- Vocês estão com a mesma roupa de ontem, bobinhos! - gargalhou, finalmente nos convidando para entrar.
Ok, nem tinha como mentir sobre isso.
- Quem passou a noite com quem? - perguntou curioso assim que entrou na sala e ouviu o último pedaço da conversa.
- Preciso responder? - brincou, e logo em seguida todos estavam na sala, nos olhando de maneira engraçada e pervertida.
- Ah, parem com isso! - me joguei no sofá, colocando uma almofada no rosto de tanta vergonha.
- Aonde vocês passaram a noite? - sentou-se ao meu lado, me olhando de maneira engraçada.
- No lago, apenas conversando. - e não era uma mentira, olhem que progresso.
- Por que saíram da festa mais cedo?
- Eu não estava passando bem, mas não quis ir para casa, só isso. - tentei colocar um ponto final no assunto, mas não funcionou.
- Só isso? - arqueou as sobrancelhas e deu um sorriso sapeca.
- Sim, , só isso. - ri, me levantando e indo em direção a meu primo.
- Bom dia, flor do dia. - senti o meu tão querido beijinho na testa.
- Bom dia. - respondi tão animada quanto ele.
- Está feliz? - sua pergunta fez meu sorriso se desfazer. Não que eu estivesse triste, mas simplesmente não sabia o que estava sentindo. Não era bom, mas não era ruim.
- Pra falar a verdade, não sei o que estou sentindo, só sei que tem a ver com . - falar aquilo fez meu sorriso se refazer.
Tem dias que o mundo parece estar todo do avesso, mas de alguma maneira totalmente inesperada, ele te proporciona momentos como esse, em que você sente que ele está se endireitando aos poucos.
"É da natureza humana ser livre. E não importa por quanto tempo você tenta ser boa, você não consegue esconder uma menina má."
's POV
Dias nublados são os meus preferidos, combinam perfeitamente com o meu humor de merda, que piora toda vez que chego à escola. Mas, pela primeira vez senti que tinha algo diferente ali. Não exatamente algo, e sim, alguém: .
Meus olhos foram à procura da garota, que não estava ali. Ela infelizmente passou a noite em casa, e minha preocupação era de algo ter acontecido.
Sim, eu realmente estava preocupado com ela. Incrível, né? Não. Não tem nada de incrível nisso. Fiz de tudo pra me manter longe de todos, e olha o que me acontece. Não é como se eu tivesse arrependido por basicamente dar um bilhete premiado para em minha vida, isso apenas é diferente. Estranho. Novo. Entre outras zilhões de coisas que essa garota me faz pensar. Mas meu pensamento foi interrompido por uma criatura chamada Jess.
- Bom dia. - abriu um sorriso enorme.
- Bom dia.
- Como você está?
Por que cargas d'água essa garota está me fazendo essa pergunta? É de longe, a pior. Na verdade, eu nem sei o que responder. Passamos todos os dias cercados por crises imensas, com problemas sem soluções, e perdemos a habilidade de julgar o que é normal em nós mesmos ou em qualquer outra pessoa, e mesmo assim, as pessoas constantemente te perguntam como você está. Mas com que diabos você vai saber? Você mesmo não sabe como está!
- Tô legal. - respondi por responder, dando uma olhada rápida pelo local, tentando encontrar .
- Mesmo? - seu tom de voz desconfiado me surpreendeu.
- Por que não estaria? - me encostei na parede, observando a garota de cima a baixo.
- Bem, você saiu correndo feito maluco da festa de Petter, e sua cara não era a das melhores.
- E só por isso você achou que eu não estaria bem? -ri sarcástico- Aliás, não fazia idéia de que você ia nesse tipo de festa.
- Eu vou a todas as festas que tem depois dos rachas. Até quis falar com você, mas já estava te fazendo companhia. - respondeu com desdém, rolando os olhos.
Ihhhhhh, era só o que me faltava.
- Você supera. - sorri cinicamente.
- Ou você pode me ajudar a superar, que tal? - enrolou uma mecha do cabelo em seus dedos, se aproximando cada vez mais.
Porra, não faz isso não!
- Você não desiste fácil mesmo. - falei enquanto observava os olhos da garota encarar minha boca, sem um pingo de vergonha.
- Não até eu conseguir o que quero. - sorriu.
- Bom saber. - me aproximei lentamente de seu rosto, o desviando rapidamente e me desencostando da parede, saindo dali. Nada como deixar uma garota com aquele sentimento de "quero mais".
Pouco tempo depois e todos chegaram, exceto . Isso só pode ser uma brincadeira!
- Sua prima vem pra escola hoje? - me aproximei de , fazendo a pergunta o mais baixo possível.
- Ela prefere estar na escola a estar em casa, acredite! Talvez ela tenha se atrasado ou algo assim. - respondeu no mesmo tom de voz baixo, dando um quase sorriso no final.
Mal sabe ele que eu finalmente sei o motivo de preferir vir pra escola a ficar em casa, mas por enquanto era um segredo apenas entre nós, mesmo eu não vendo problema nenhum em saber disso. Afinal, quem sabe ele também tenha vontade de meter a mão na cara do pai da garota do jeito que eu tenho.
O sinal tocou e todos pegaram seu devido material, mas não vê-la ali estava me atormentando.
A primeira aula demorou séculos para acabar, e assim que o sinal tocou, me lembrei repentinamente do lugar onde a garota adorava ficar quando não queria vir para a aula: a sala de teatro.
Dei longos e discretos passos até chegar lá, abrindo a porta lentamente, e encontrando a garota, que estava caminhando até a porta, mas parou no momento em que me viu.
- Hm... Oi? - seu tom de voz confuso misturado com bom humor fez com que toda aquela tensão e preocupação fossem embora no mesmo segundo.
- Oi. - olhei a garota de cima a baixo, o que parecia um tanto quanto pervertido da minha parte, mas eu apenas quis checar para saber se ela estava realmente bem. E estava, pelo menos, aparentemente.
- O que você está fazendo aqui? - deu pequenos passos até mim, segurando firmemente um livro com umas trezentas milhões de páginas.
- Nada.
- Aham, sei. - cerrou os olhos, rindo em seguida.
- Engraçadinha! Você matou a primeira aula pra ler -dei uma olhada no título do livro, que dizia "Bioquímica: Estrutura de Biomoléculas e Metabolismo" - isso?
- Aham, é uma das primeiras disciplinas da faculdade de medicina veterinária! - respondeu animada, com os olhos brilhantes. É, ela gosta mesmo desse negócio.
- Interessante.
- É mesmo. Mas sério, o que você está fazendo aqui? - repetiu a pergunta, mas dessa vez, estava séria.
Desde quando eu tinha vergonha de perguntar algo? Por mais que qualquer assunto que envolva seu pai seja bem delicado, eu não posso simplesmente deixar de perguntar. Afinal, agora somos eu e . Basicamente juntos. Mas não tão juntos.
- Seu pai fez algo? Você não apareceu e eu pensei que algo tivesse acontecido, até que lembrei que você adora se enfiar nessa sala. - esbanjei a verdade, e a garota permaneceu séria.
- Ele não fez nada. Agora vamos para a aula.
Obviamente aquele não era seu assunto favorito, então parei por ali e apenas a acompanhei até a sala, onde teríamos aula de biologia.
Ouvir sobre ecologia não era tão chato assim, mas meu pensamento estava longe dali. Lembrar que eu havia deixado Ritter escapar me perturbava. Eu ainda precisava encontrá-lo, mas como? 's POV end
Estranha.
É assim que eu me sinto.
Uma revelação sobre a minha vida foi feita e eu apenas sinto desconforto. Naquele momento foi algo tão bom de falar, de se livrar, de se aliviar, mas agora apenas parece que eu revelei uma fraqueza.
- ? - a voz de me despertou.
- Oi?
- Você entendeu a matéria?
Ela está mesmo perguntando se eu entendi sobre biologia?
- Aham. - assim que olhei para o meu livro, que estava aberto, percebi que não entendia metade do que estava ali. Perdi basicamente toda a explicação enquanto viajava no meu mundinho tristonho.
- Você está bem? - sussurrou.
Como eu detesto essa pergunta!
- Uhum, e você? - tentei parecer o mais normal possível.
- Tem certeza?
O que deu nessa garota?
- Tenho. Por quê? - me virei, olhando nos olhos de minha amiga.
- Você me parece um pouco tristinha. Aconteceu alguma coisa? - perguntou de maneira calma.
É, talvez eu não seja tão boa atriz assim.
- Não aconteceu nada, . - me virei novamente, olhando para o meu livro.
Tentei ler no mínimo, umas três vezes, mas nada daquilo entrava em minha cabeça. O que estava acontecendo? Biologia é a minha matéria favorita, poxa!
O sinal para o intervalo tocou e saí da sala lentamente, demorando o máximo que podia. Não queria falar com absolutamente ninguém, apenas queria ficar sozinha.
- Oi ! - Chloe passava pelo corredor, mas parou em frente à minha sala assim que me viu.
- Oi Chloe.
- Tudo bem? - perguntou sorridente, e não de forma preocupada, o que tinha sido apenas um ato de educação.
- Tudo, e com você? - perguntei com certo tédio em minha voz.
- Estou bem.
Caminhamos até achar o resto do pessoal, que estava no mesmo lugar de sempre, falando sobre as mesmas coisas de sempre.
- , o que você acha? - perguntou animado, enquanto fazia carinho no cabelo de Callie, que estava deitada com a cabeça em sua perna.
- O que eu acho do que? - perguntei perdida, e todos os olhares estavam em mim.
- De irmos ao Tin Roof sábado. - respondeu, me olhando de maneira desconfiada, como se soubesse que algo estava errado.
- Pode ser.
Tem dias que gostaria de ser diferente, mas isso é impossível. Estou presa a essa tristeza que me acompanha em cada respiro que dou. E mesmo sabendo que não sou uma má pessoa, faço questão em aproveitar o máximo da tristeza que me acompanha. O por quê? Bem, cada um tem o que merece.
E o resto do dia foi assim, com a cabeça no mundo da lua.
O treino havia sido a mesma coisa cansativa de sempre, e como de costume, fomos para a casa de , inclusive Chloe. E pela primeira vez, eu estava sem vontade de ficar ali. A única coisa que eu precisava no momento era ficar sozinha e pensar.
- Se vamos ao Tin Roof sábado, significa que vamos beber! Ai meu Deus, preciso comer morangos! - levantou do sofá rapidamente, indo em direção à cozinha.
- Por que morangos? - Chloe perguntou.
- Comer morangos deixa o organismo mais resistente ao álcool. - respondeu enquanto enfiava um morango goela abaixo.
- Então vou precisar comer muitos morangos. - Chloe riu, indo até a cozinha também, se juntando a .
- Quando eu tiver a idade de vocês, eu vou poder beber o que vocês bebem? - Sophia perguntou inocentemente, fazendo risadas escaparem da boca de cada uma, inclusive da minha. Essa criança é a coisa mais fofa do mundo!
- Beber é coisa de gente grande, Soph. - alertou.
- Quando eu era pequena, eu vivia roubando o resto de cerveja que sobrava nos copos nas festas de família, apenas para fingir que era adulta. - Callie adentrou a cozinha, se metendo no assunto.
- E você fala isso na frente da criança? Parabéns! - disse em tom de bronca, e Callie começou com as desculpas e dizendo que Sophia não devia fazer nada daquilo.
- , por que você está tão quietinha? - Chloe apareceu ali, parando ao meu lado.
- Estou com uma dor de cabeça horrível, sério! Acho que são as poucas noites de sono. - respondi com a primeira mentira que veio em minha mente, mas a garota parece ter acreditado mesmo.
- Jura? Minha mãe vivia com dor de cabeça por isso também, mas ela tomava um remédio chamado Plassiflorine, e ajudou muito! - respondeu com certa empolgação, provavelmente se sentindo bem em poder me ajudar com meu problema.
Pobre Chloe, se soubesse que a falta de descanso é meu menor problema...
- Então acho que já vou embora, para encontrar uma farmácia aberta! - achei a desculpa perfeita para ir embora dali.
Despedi-me das garotas, que pareciam ter caído direitinho. Ou pelo menos, era o que eu pensava.
- É mesmo uma dor de cabeça terrível ou só uma desculpa para dar o fora daqui? - perguntou assim que chegamos à porta.
- Não seja boba, ! Por que eu iria querer sair daqui?
Atriz mentirosa em ação!
- Você passou o dia todo desligada do mundo, e agora isso. Eu sou sua amiga, e se tiver acontecido alguma coisa, você precisa me dizer! - falou séria, e não pude evitar os arrepios que corriam pelo meu corpo.
Bem que eu gostaria que fosse fácil assim. Apenas falar.
- Não aconteceu nada! Agora eu preciso ir. Até amanhã. - acenei com a mão em forma de tchau, já fora da casa.
Comecei a caminhar com longos passos, com um novo pensamento em mente: de onde vem toda essa dor, decepção e desanimo que ainda por cima, insistem em vir juntos? Ou melhor, por que tudo isso nunca vai embora do meu coração? E mais uma coisa: frustração. É isso o que eu sinto toda vez que chego perto de casa.
- Ei, você é a filha do Sam? - uma voz grossa interrompeu meu pensamento, e o meu medo de virar para trás era grande demais. Por que aquele sujeito queria saber se eu era filha do meu pai?
Estava apenas há alguns passos de casa, e correr parecia a melhor opção para mim.
Parecia.
- O que você quer? - perguntei de maneira desesperada, sentindo o rapaz apertar meu braço.
- Seu pai tem uma pequena dívida com meu patrão. 300 dólares. - respondeu calmo, como se aquilo estivesse sendo a coisa mais normal do mundo.
Ah, esqueci de mais uma coisa: raiva. Era tudo o que eu sentia no momento. E esse sentimento é exclusivo a Sam, meu pai.
- O que eu tenho a ver com isso? E se você não me soltar, eu vou dar um berro tão grande que você vai ficar surdo! - ameacei, mas o rapaz permaneceu com a mesma expressão. Esse rosto não me parecia estranho!
- Se essa dívida não for paga até semana que vem, sua mãe sofrerá as consequências, . - gargalhou de maneira diabólica, e eu simplesmente gelei.
- Co-como você sabe meu nome? - perguntei incrédula.
- Ora, como eu não saberia o nome de uma gracinha dessa? - continuou segurando meu braço com uma mão, e com o outro, pegou em minha cintura.
A única coisa que queria fazer no momento é vomitar em sua cara e chutá-la até não dar mais, ou até chutar o seu brinquedo precioso que fica entre as pernas, mas tinha muito medo de realmente irritar o rapaz e ele fazer algo contra minha mãe. Mas não deixei de me debater e tentar afastá-lo de mim.
- Eu já entendi, agora me larga, porque você é um nojento. - mas se tinha algo que eu podia fazer, era ofendê-lo.
- As mais difíceis são as melhores. - riu - Estarei aqui daqui uma semana, e se você fizer alguma gracinha ou não trouxer, eu mato sua mãe em um segundo, está ouvindo bem? - pegou em meu queixo, esperando uma resposta, e apenas assenti.
O rapaz atravessou a rua, subindo em sua moto e sumindo dali em questão de segundos, e finalmente pude entrar em casa, com lágrimas escorrendo sem parar pelo meu rosto.
Raiva.
Era só o que eu sentia.
O que estava acontecendo com a minha vida? Aonde isso tudo vai parar? Quando isso vai acabar? Eu apenas quero uma resposta!
Corri até o banheiro, tirando a roupa rapidamente, pegando uma pequena lâmina que estava ali e entrando no box em seguida, ligando o chuveiro e me livrando de cada rastro que aquele nojento havia deixado.
Um pai não deve cuidar de seu filho, fazendo de tudo para protegê-lo? Então por que comigo não é assim? Por que tudo tem que ser tão complicado? Por que o desgraçado do meu pai simplesmente não pode ser um pai de verdade? Por quê?
Olhei para a lâmina em minhas mãos. Eu precisava daquilo. Da dor. E também, descontar toda aquela raiva. Posicionei a lâmina em minha barriga, cortando cada vez mais fundo, vendo o sangue ir embora rapidamente, misturado com minhas lágrimas e a água do chuveiro.
Minha vida gira em torno da dor, decepção, desanimo, frustração e raiva. Coisas que sempre estiveram presentes em minha vida. E provavelmente, sempre estarão. Aceitação é o primeiro passo para tudo, e eu sabia que esse era o meu destino.
Me troquei rapidamente, indo até meu quarto e me jogando na cama. Querendo ou não, a vida não para. Eu ainda precisava dormir e acordar que nada tinha acontecido. E assim que estava quase pegando no sono, pequenos flashbacks passaram pela minha cabeça. A festa, atrás de Ritter, e ele em sua moto.
Puta merda!
Ritter novamente!
Era ele!
***
Meu novo medo era simplesmente andar na rua. Pois é, por mais que Ritter tivesse falado que estaria ali em uma semana, nunca se sabe. Caminhei o mais rápido que pude até a escola, e nunca me senti tão aliviada por estar ali.
- Bom dia. - a voz de me fez levar um pequeno susto.
- Ah, é você! -falei aliviada- Cadê a Callie? - perguntei desconfiada. Os dois são praticamente a mesma pessoa, e era estranho não estarem juntos.
- Se atrasou. O que você tem?
E agora? Contar o que aconteceu ou não? Sabia que podia contar qualquer coisa para , mas o meu medo era de sua reação.
- Nada. - me pareceu a coisa certa a dizer.
- , desembucha. Você está estranha desde ontem, o que houve? - perguntou novamente. Droga, por que ele me conhece tão bem?
- Aqui não é um bom lugar para falar sobre isso. - mordi os lábios.
- Você quer jantar lá em casa hoje? Podemos conversar sobre isso que está te incomodando. - perguntou com um tom de voz preocupado.
- Quero sim!
- Bom dia, gente. - chegou com ao seu lado.
Bom aonde?
Assim que chegou, nossos olhares se cruzaram. Droga! Esse garoto me deixa sem graça mesmo sem tentar, ainda mais agora. O que será que ele pensa de mim?
Minutos depois, fomos para a aula de uma das matérias que eu mais detesto: química.
- Bom dia, alunos. Adivinhem o que temos para hoje? - o professor perguntou animado, mas nenhuma boca se abriu para responder sua resposta - Temos um teste surpresa! - assim que revelou aquilo, todas as bocas se abriram para reclamar.
Isso só pode ser uma pegadinha! Em plena terça feira e um teste surpresa de química? Acho melhor começar a rezar desde já!
O professor passou de fileira em fileira, entregando aquela folha maldita para cada aluno. Ok , lembre-se das explicações de , você consegue!
- O que você colocou na 2? - perguntou para , enquanto saíamos da sala juntos da sala, indo para o armário pegar o material da próxima aula.
- A terceira opção. - o garoto respondeu tranquilamente.
- Eu também! E você, ? - perguntou totalmente animada.
- Não sei, não lembro. - respondi rapidamente, dando um sorrisinho em seguida. A verdade é que eu provavelmente tinha errado o teste todo, e não queria expor a minha burrice.
- Química é um amor, não é? - deu um longo suspiro, sorrindo em seguida e esperando uma resposta. Eu e nos entreolhamos e negamos rapidamente com a cabeça.
é a única maluca que conheço que ama química. E quando digo que ama, não estou brincando não! Ela realmente acha a matéria maravilhosa.
Peguei meu material e caminhei até a sala onde teria minha próxima aula, e como brinde, estava me acompanhando.
- Impressão minha ou você está me evitando? - perguntou sério, e parei de andar no mesmo instante.
- Por que estaria?
- Você foi embora da casa da ontem uns 10 minutos antes de eu ir buscar Sophia. - respondeu ainda sério.
- Eu precisava comprar um remédio.
Será que devesse saber sobre o ocorrido? Mas afinal, quem é aquele imbecil? E o que ele havia feito para ?
- Eu poderia ter ido com você. - continuou falando, e sua seriedade dominava.
O que poderia ter acontecido se estivesse comigo naquele momento? O que ele faria? Eu não sabia, mas queria saber. Mas só de lembrar da ameaça de Ritter, meu coração já acelerava. Eu não podia por a vida da minha mãe em risco.
- Você agora é meu segurança ou o que? - minha paciência já estava curta demais.
- Sou. - respondeu de maneira provocativa, com um meio sorriso nos lábios.
- Vai cagar, vai. - ri, e o garoto me acompanhou.
Por mais que aquela sensação de desconforto ainda estivesse presente, ver desse jeito era diferente. Ele parecia preocupado. Preocupado comigo.
Saímos da escola e estava me esperando na entrada. Caminhávamos e falávamos sobre qualquer bobagem, mas não pude evitar olhar em todos os cantos da rua.
- O que você tanto olha? - perguntou. Esse garoto não deixa passar uma!
- Bobagem. - disfarcei, mas provavelmente não o convenci, já que o mesmo fez uma cara desconfiada, mas não disse mais nada, pois havíamos chegado em sua casa.
Fomos para o quarto, e me joguei em sua cama sem pensar duas vezes.
- Agora me conte tudo. - sentou na poltrona que tinha do lado de sua cama.
- Como você consegue fazer isso? - me sentei, sorrindo para ele.
- Isso o que? - perguntou confuso.
- Saber que algo está errado. - continuei sorrindo, e logo em seguida o sorriso dele também estava estampado em seu rosto.
- Eu apenas sei. Agora, me conte.
Vamos lá, hora da verdade!
- No dia da festa eu estava com , e um rapaz esbarrou em nós, e assim que eles se olharam, o rapaz começou a correr loucamente e foi atrás, e eu também fui. Esse mesmo rapaz subiu numa moto e quis ir atrás dele, e por mais louco que pareça, eu fui junto, mas não conseguimos achá-lo, apenas paramos em um beco escuro. E naquele mesmo dia - parei de falar, respirando fundo - Eu contei para sobre meu pai. Foi uma atitude de desespero, sabe? Ele não queria me contar sobre aquele cara, e a única coisa que eu conseguia pensar é que eu precisava dar uma informação sobre a minha vida primeiro, para ele poder fazer o mesmo. - parei de falar, e tinha uma expressão surpresa no rosto.
- Eu nem sei o que dizer! Isso é tão... Bom? Eu acho! Ou não? - perguntou confuso, rindo em seguida.
- Nem eu sei! Mas a história não acaba por aí... - mordi os lábios novamente, me preparando psicologicamente para prosseguir.
- Tem mais? - sua voz surpresa me fez gargalhar.
- Sim, mas essa parte não é boa. Ontem eu fui pra casa sozinha, a pé, e assim que cheguei na rua da minha casa, tinha um homem estranho perguntando se eu era filha do Sam. Eu tentei correr, mas ele agarrou meu braço e disse que meu pai estava devendo para o patrão dele. - tentei continuar a história, mas fui interrompida.
- O que? , pelo amor de Deus! Você vai ficar aqui em casa novamente, e eu falo sério! Olha o tanto de problema que seu pai está causando! - levantou nervoso, praticamente gritando.
- Eu não posso! - me levantei também, ficando de frente para ele.
- Por que não? Me diga um ótimo motivo para eu não denunciar seu pai agora mesmo! - continuou gritando, e as lágrimas em meus olhos já estavam formadas.
- Porque ele disse que se eu fizesse qualquer gracinha, mataria minha mãe. Esse mesmo rapaz é o tal de Ritter que estava seguindo. - nos olhamos por um longo tempo, e não pude segurar as lágrimas que estavam em meus olhos.
- ... -me abraçou- Isso é extremamente grave! Você precisa deixar eu te ajudar! - falou calmamente enquanto afagava meu cabelo.
- Não tem como me ajudar, ! Deixe tudo como está, é melhor assim!
- Melhor assim? Um maluco te ameaça desse jeito e você quer que eu deixe tudo como está? - seu tom de indignação se elevou.
- Sim! Você não conhece esse tal de Ritter e não sabe do que ele é capaz, e também não sabe quem meu pai conhece, e a última coisa que eu quero é te envolver no meio dessa confusão! - falei firme, secando as lágrimas que deixaram rastros pelo meu rosto.
- Eu não posso fazer isso, . - seu tom de voz se abaixou, mas seu olhar decepcionado estava partindo meu coração.
- Você pode e você vai. Me prometa que não vai fazer nada em relação a isso! - dessa vez, o meu tom de voz que se elevou, de uma maneira totalmente autoritária.
Esse é o certo a se fazer. não pode se meter em toda essa bagunça. É a minha vida, são os meus problemas, e eles só dizem respeito a mim.
***
's POV
Não tem nada melhor e mais gostoso do que acordar sabendo que é sexta feira. Mas a minha pequena alegria se vai ao momento em que me lembro que deixei Ritter escapar. Eu precisava achá-lo para poder chegar até Richard. E vou achá-lo, de um jeito ou de outro.
Minha mãe estava grudada em Julie Tuck novamente, jantando todas as noites em sua casa, e passou a semana toda me evitando, e por mais que talvez seja a vergonha ou algo parecido por ter feito aquela revelação, sinto que é algo a mais. E acredite, meu extinto não falha.
- Bom dia, mocinho. Como você está? - apareceu ali saltitante.
- Normal, e você?
- Normal significa estar bem?
- Sim, eu acho que sim.
- Acha? - arqueou as sobrancelhas. Meu Deus, ela não para!
- Eu estou bem, mulher!
Para ser honesto, eu não sei como me sinto. Na maior parte do tempo, eu não sinto nada. Absolutamente nada. Mas quando sinto, grande parte é raiva. E depois, o grande nada volta novamente. Eu estou certo em dizer que estou bem?
- Acho bom mesmo! Como sua mãe está? - perguntou sorridente.
- Acho que posso dizer que ela está bem. Como você sabe, depois daquele jantar maluco, Julie a convida para jantar todos os dias e ela fica alegre por isso.
- Isso é ótimo, não é?
Eu gostaria de dizer que sim. Mas aquela história ainda estava mal explicada. Por que Julie quis se aproximar depois de todos esses anos?
- Eu acho que sim.
- Acha? - me olhou indignada.
- Olha, você sossega! - tentei ser sério, mas não funcionou.
O pessoal chegou, e logo em seguida fomos para a sala de aula.
***
- , passe essa bola! - o treinador gritou, mas não o obedeci.
- Você é surdo? - Jackson gritou do outro lado da quadra.
- Se quiser a bola, venha buscar. - gritei de volta, dando um sorriso cínico para ele.
A maioria dos jogos eram assim, Jackson reclamando e eu não ligando. Qual é, isso aqui é futebol!
- Pare de ser fominha e passe a bendita bola, pelo amor de Deus! - chamou minha atenção no vestiário enquanto nos trocávamos.
- Eu não consigo! - ri de mim mesmo, pois eu realmente não conseguia.
- Vou te matar com aquela bola, você vai ver. - me ameaçou, rindo também.
- , preciso falar com você. - falou baixo enquanto se sentava ao meu lado.
- Diga.
- Não aqui. - me olhou com uma expressão séria.
Ouvir esse tipo de coisa nunca é bom, e ver essa cara de quem comeu e não gostou só piorava.
- Vamos para algum lugar então. - me levantei, batendo a porta do meu armário e saindo do vestiário.
As garotas estavam na saída junto com e , que disseram para todos irmos para a casa de a noite, já que nunca fomos lá.
parou rapidamente para falar com a namorada, explicando que ia sair comigo. Não faço a mínima ideia da desculpa que ele usou, mas deu certo. Pelo jeito, não havia gostado nada de me ver saindo com , já que sua expressão não era a das mais agradáveis.
- Você quer que eu te leve pra um jantar romântico apenas pra você falar o que tem pra falar ou só até a sua casa está bom? - perguntei assim que entramos no carro, e soltou uma risada fraca.
- Jantar romântico, claro! - respondeu forçando uma voz fina, e não pude deixar de rir também.
Estávamos na metade do caminho e não abriu a boca pra mais nada, e aquilo estava me deixando maluco.
- Você não vai contar logo?
- Claro que não! Você está dirigindo, e não sei o quanto essa notícia pode te afetar, então eu prefiro falar quando estivermos na minha casa, onde eu estarei sã e salvo. - respondeu rapidamente, com certo humor em sua voz. Isso estava me cheirando a confusão. E das grandes.
Chegamos em sua casa e aquela enrolação estava me deixando cada vez mais curioso.
- Chegamos, agora fala. - falei impaciente, mas não parecia estar com um pingo de pressa.
- Vamos sentar, o papo vai ser longo. - apontou para o sofá, sentando no mesmo, e me sentei também.
- Vai logo! - quase gritei.
- Quem é Ritter?
Eu não estava pronto pra essa.
- Por que você está me perguntando isso? - o nervosismo em minha voz era óbvio.
O único jeito de saber sobre Ritter é por . O que essa garota fez?
- Responda a droga da minha pergunta. - passou a mão pelo rosto até parar em seus cabelos de forma impaciente, olhando para mim em seguida.
- Quem te contou sobre Ritter?
- , isso é sério! Eu preciso saber quem é esse cara! - sua seriedade estava acabando com a minha paciência.
- E eu preciso saber pra que você quer saber disso! - meu tom de voz se elevou. Era só o que me faltava!
- Porque ele está ameaçando . Está bom pra você? - seu grito calou até o meu pensamento.
- Do que você está falando?
- Ele foi cobrar o dinheiro que o pai dela está devendo pra o patrão dele, ou seja, ele é um empregadinho de merda. E ainda por cima ameaçou matar a mãe dela, caso ela não pagasse ou fizesse alguma gracinha. , isso é realmente sério e eu cansei de não fazer nada pela . - explicou ainda nervoso.
Uma coisa na vida é certa: nunca estamos preparados pra nada. E eu não estava preparado pra ouvir o que tinha acabado de ouvir. E esse é o momento onde tudo piora, mesmo você achando que não é possível.
- Eu preciso fazer algo, eu preciso pegar esse cara, eu TENHO que pegar ele!
Ritter vai ter o que merece junto com meu pai, ah se vai! Ir atrás de uma garota que não tem nada a ver com a história do pai, e ainda ameaçar de matar a mãe é demais. E saber que Richard está por trás dessa historia me faz perder a cabeça. Cada dia que passa eu tenho mais certeza de que matá-lo é a melhor coisa a se fazer.
- Nós precisamos fazer algo! não merece nada disso, e eu me recuso a ficar de braços cruzados novamente. - deu ênfase no ‘’nós’’, e a única coisa que era certa no momento é que não ficaria fora dessa.
estava passando por isso por causa de Richard, meu pai. Meu pai é o responsável por uma nova dor de cabeça para ela. E a garota nem mesmo sabe disso, muito menos . E pela primeira vez na vida eu não sei o que fazer.
- Ela realmente não merece nada disso. - foi a única coisa que consegui enquanto tentava pensar em algo.
- Eu sei que você sabe. - me deu um olhar significativo, e não demorei em perceber que ele se referia a historia de com o pai.
- Que bom, isso já facilita as coisas - ri sem humor - O que você pretende fazer?
- Sinceramente? Eu queria parar o mundo e consertar a vida da . Queria tira-la daquela casa, queria mandar Sam pra cadeia, porque é isso o que ele merece, e dar uma vida melhor pra minha tia, mas isso não está ao meu alcance, então eu apenas quero pegar esse tal de Ritter. - seu olhar parecia decepcionado, e isso aumentava a raiva que sentia por Ritter e por Richard.
- Não tem nada que eu queira mais do que pegar esse safado. - falei enquanto colocava as mãos no rosto, dando um longo suspiro em seguida.
- , quem é esse cara? - jogou o corpo para trás, sentando de maneira desajeitada, mas ainda olhando para mim.
Outra coisa na vida também é certa: nunca estamos prontos para revelar a verdade. Seja ela boa ou ruim, sempre causa impacto na vida de alguém. Mas querendo ou não, eu devia uma explicação para tudo isso, pelo menos para .
- É uma longa história, e eu só posso te contar quando a gente fizer o que eu estou pensando, mas antes, você realmente quer fazer isso? - perguntei sério.
- É claro que sim, !
- Então escute bem... ’s POV end
Raiva. É isso o que eu sinto.
Os dois saindo juntos da escola só podia significar uma coisa: contaria tudo para . Não tem nada pior do que a pessoa prometer que não irá contar algo, e acaba contando. Ah, mas esse garoto vai se ver comigo!
Eu e as garotas estávamos na casa de , como sempre, e eu estava contando os segundos até os garotos chegarem como o combinado de quase toda sexta feira, com direito a muita pizza.
Barulho da campainha. Se for , já posso pegar ele na paulada?
- Demorou pra atender, bicha lerda. - falou brincalhão para Callie, que deu um tapão em seu braço como resposta.
Mais espera... Campainha novamente. . Isso só pode ser uma pegadinha, né?
- Onde diabos está o... - não tive tempo para terminar minha fala, pois fui interrompida pelo barulho da campainha.
É agora! Cabeças vão rolar!
Abri a porta com a maior cara de cu do mundo, e estava junto com . Olhei para com os olhos cheios de decepção, e no mesmo instante ele soube que eu já sabia. Dei as costas, sentando no sofá novamente, e sentou ao meu lado.
- Não vou mentir, eu contei pra ele. Eu precisei. - falou em um tom quase inaudível.
- Você já mentiu. Você prometeu que não ia contar nada, e mesmo assim contou. - não tive coragem de olhá-lo, mas não por estar chateada e sim por ele ter um olhar de cachorro abandonado irresistível.
- Você queria que eu ficasse quieto vendo isso acontecer com você? Eu quero o melhor pra você, eu quero o seu bem! - falou um pouco mais alto, quase chamando a atenção de todos.
- E por acaso o pode ajudar em algo? - perguntei um tanto quanto indignada.
- , eu juro, é só pelo seu bem. - reforçou o aviso e se levantou. Joguei a cabeça pra trás, vendo encostado na parede olhando para mim.
Levantei e fui até a cozinha, ouvindo e fazendo os pedidos das pizzas, e em seguida retirando os pratos, talheres, copos dos armários e colocando na mesa.
- Precisam de ajuda?
- Não. Mas você pode lavar a louça depois. - sorriu e mostrei a língua para ela.
As pizzas chegaram e estávamos comendo feito esfomeados, mas não deixei de ignorar , afinal, eu ainda estava chateada.
- Vocês compraram pizza de chocolate? - Chloe perguntou com os olhos cerrados enquanto abria lentamente uma das caixas de pizza.
- É o que parece. - deu uma risadinha sapeca e abriu a caixa de uma vez, cortando um pedaço da pizza em seu prato.
- Vocês vão sujar essa merda toda e quem vai lavar sou eu. - falei emburrada, arrancando algumas risadinhas deles.
- te ajuda. - Callie falou como se fosse algo óbvio.
- Eu não ajudo nada não. - retrucou, e o olhou feio no mesmo instante.
Depois de comerem e sujarem muito, jogaram os pratos na pia e eu me apressei para começar a lavá-los.
- Coloca esse troço logo. - ergueu um avental de cozinha para , que se recusava a colocar, mas acabou cedendo.
- Se eu fosse mulher eu te pegava, lindão. - zombou dele, e se juntou na zoeira.
- Esse avental está uma gracinha em você, princesa.
- Te garanto que eu sou melhor sem nada. - respondeu com uma sobrancelha arqueada, e todos dali riram e se afastaram, nos deixando sozinhos.
Silêncio.
Mais silêncio.
Estava esfregando os pratos enquanto os secava, mas sua presença estava basicamente me incomodando.
- Você não precisa me ajudar. - falei enquanto puxava o pano de prato e o prato que estava em suas mãos.
- Mas eu quero. - os puxou de volta.
- Mas não precisa. - continuei puxando, mas fomos surpreendidos pela por , que pareceu ter brotado do chão, e com isso, acabou soltando o prato de sua mão, que foi de encontro ao chão e se desfez em mil pedacinhos.
- Puta que pariu, isso aqui é um combo? Ganha um vacilão e um burro vem junto? - perguntei irritada enquanto encarava .
- Eu só queria ver como as coisas estavam por aqui. - o tom de voz de quase fez meu coração doer.
- Estão ruins, você não percebeu? - falei mais alto do que devia, fazendo os dois levarem um breve susto.
Raiva. Muita raiva. Raiva de Ritter, de Sam, e principalmente de mim mesma, por não saber lidar com aquela situação.
- ... - continuou com um tom de voz calmo, e isso me tirou ainda mais do sério.
- O que é? - praticamente gritei, o olhando diretamente nos olhos.
Percebi que e trocaram olhares rápidos e se retirou dali. Encostei-me na pia por alguns segundos e me abaixei em seguida para juntar os cacos de vidros espalhados por ali.
- Por que você não me contou? - se abaixou também, ficando de frente para mim.
- Pra que eu ia te contar isso? Você não pode fazer nada. - respondi com o meu melhor tom sarcástico.
- Você devia ter me contado, .
- Que saco, isso não é sobre você! A vida da minha mãe está no meio disso e você nem liga! - em meio a tanta indignação misturada com raiva, simplesmente apertei todos os cacos de vidro que já tinha juntado no chão, machucando minha própria mão.
- Ei, calma! - apertou meu pulso de maneira que me fizesse abrir a mão, me olhando profundamente com seus olhos azuis encantadores.
- Você vai me contar quem é esse Ritter ou não? - levantei com a ajuda de , que abriu a torneira e enfiou minha mão ali, vendo o sangue descendo ralo abaixo.
- Você ia me contar sobre isso ou não? - seu tom de voz firme me deu arrepios.
- Eu já disse que isso não é sobre você. Não dessa vez. - o encarei por alguns segundos.
- ... - pronunciou meu nome com certa dificuldade e fechou os olhos por alguns segundos, e assim que os abriu novamente, pude perceber que ele estava pensando em fazer algo.
- Você não pode fazer nada, , e eu estou falando sério! - fechei a torneira rapidamente, balançando a mão e respigando água em todo canto, e logo em seguida cruzando os braços.
- Eu não falei nada! - tentou disfarçar, mas Deus, estava tão óbvio!
- Eu posso ver que você quer fazer algo só de olhar nos seus olhos! Você vai me prometer que não vai fazer nada, está me ouvindo? - acho que nunca falei tão sério assim em toda minha vida.
- ! - agora ele que estava indignado.
- Prometa! É a vida da minha mãe, e você não tem o direito de se intrometer nisso! - permaneci séria, esperando ouvir o que eu queria.
- Olha... Eu... Droga! Ta bem, que seja, eu prometo!
- Nada mesmo! E limpa essa bagunça! - falei autoritária e me retirei dali, indo em direção à sala, onde todos estavam.
- Misericórdia, o que aconteceu com suas mãos? - perguntou com os olhos arregalados, chamando a atenção de todos.
- Inventei de pegar os cacos de vidro de um prato quebrado. - sorri sem graça.
- Não quer passar uma pomada, um remédio?
- Não precisa, . Eu vou embora, já está ficando tarde mesmo. - falei enquanto caminhava até a porta, acenando para todos.
- Eu vou com você. - gritou quando eu já estava com a mão na maçaneta. Deu um beijo rápido em Callie e foi em minha direção, e saímos dali juntos.
Caminhamos em silêncio durante maior parte do trajeto, então decidi abrir minha boca e tentar ajeitar a situação. Estar nesse clima com é simplesmente terrível.
- Olha, eu entendo sua preocupação, mas você não deveria ter falado mesmo assim.
-Você tem noção do quanto eu me preocupo com você? - parou em minha frente, olhando em meus olhos.
- Eu sei que você se preocupa, mas eu podia lidar com isso sozinha, sabe? - dei um meio sorriso.
- Eu sei que sim, meu amor. Eu só quero o seu bem, ok? - me envolveu em seus braços no mesmo instante.
- Eu também sei disso. - dei uma risada fraca enquanto nos abraçávamos.
me deixou na porta de casa, e assim que entrei ali, aquela sensação ruim de sempre se instalou em meu coração. Ouvi barulhos vindos do andar de cima, e já sabia o que era. Respirei fundo e subi as escadas, dando passos cuidadosos até meu quarto, mas como o mundo sempre conspira contra mim, meu pai estava ali, revirando meu quarto novamente, provavelmente atrás de dinheiro.
- Mas que merda, você não cansa? - gritei enquanto revirava os olhos, percebendo sua fúria logo em seguida.
Eu já sabia o que estava por vir, já esperava por isso. Não lutei para evitar, apenas senti todas as agressões novamente. Cada um tem o que merece, certo? Certo.
- Chega! - a voz de minha mãe foi o que fez meu pai parar de me dar tapas e socos por todas as partes do meu corpo possíveis.
- Por que você sempre se intromete? - Sam levantou, indo a sua direção, mas antes que ele fizesse algo, minha mãe jogou um bolinho de dinheiro preso por uma borrachinha no chão.
- Some daqui. - minha mãe disse firme, e a risada de meu pai dominou o lugar.
- É assim que eu gosto. - abaixou para pegar o dinheiro e saiu dali em questão de segundos.
- Por que você fez isso? - perguntei enquanto ainda estava no chão.
- Estou exausta. - falou rápido e saiu dali, e pude ouvir o barulho da porta de seu quarto fechando.
Deitei no chão de vez, encarando o teto por tanto tempo que até perdi noção do tempo. Fui despertada pelo barulho do meu celular tocando com mensagens de perguntando se estava tudo bem. Ignorei. Respirei fundo e deitei no chão novamente. Até que o tapete era um tanto quanto bacana. Puxei meu travesseiro e minha coberta e dormi ali, exatamente daquele jeito. Apanhar cansa.
's POV
Acordei com o barulho de Sophia correndo pelo corredor. Essa criança é ligada nos 220, só pode. Desci sonolento até a cozinha, onde minha mãe já estava.
- Bom dia, mocinho. - disse sorridente.
Ainda não estou acostumado com todo esse bom humor. Estar frequentando a casa dos Tuck está fazendo um bem danado a ela, e por mais que eu ainda ache esquisito, ficava quieto.
- Bom dia. Vai sair? - perguntei enquanto encarava sua roupa, e em seguida abri a geladeira, pegando uma caixa de suco.
- Vou sim. Julie me convidou para passar o dia com ela, e levarei Sophia junto, tudo bem? - perguntou mais sorridente ainda.
- Graças a Deus! - ri, abrindo a caixa de suco e bebendo.
- Ei, pare de beber direto da caixa! Não foi assim que eu te criei, moleque. - minha mãe levantou, tomando a caixa de suco da minha mão, porém rindo logo em seguida também.
- Mas já ta acabando! - falei indignado, porém me rendi e ri junto. Vê-la com toda essa alegria fazia meu coração querer sair pelos ouvidos.
Depois de algum tempo, recebi uma mensagem de , dizendo para eu ir para sua casa, e que o pessoal também estaria lá. Meu Deus, esse povo não desgruda. Mas não posso negar que é bom.
Tomei um banho rápido, e fui até a casa de , onde e já estavam.
- Fifa? - perguntou assim que entrei ali, e sorri como resposta.
- Por que vocês vão jogar primeiro? - perguntou indignado.
- Ele é melhor do que vocês. - respondeu de maneira engraçada, fazendo se jogar no sofá e jogar todas as almofadas dali em nós.
Depois de minutos, a campainha tocou, e , Chloe e Callie entraram. Achei estranho não estar no meio, afinal, menina nunca se desgruda né. Em segundos, me lembrei da cena da noite passada. apertando aqueles cacos de vidros fizeram com que eu percebesse mais uma coisa: ela sente raiva. Uma raiva tão grande, que ela acaba fazendo coisas sem pensar. Esse pensamento foi o suficiente pra me deixar levemente preocupado. É, preocupado.
- Cadê a ? - perguntei algo, sem tirar os olhos da TV.
- Não sei, ela não respondeu minhas mensagens. - respondeu alto, já que estava na cozinha.
- Ela deve ter estar dormindo. - Chloe disse otimista.
É bom estar mesmo. 's POV end
Dor. Dor da surra, e dor por ter dormido no chão. O que eu estava pensando?
Olhei meu celular rapidamente, e tinha varias mensagens das meninas, uma delas dizendo que todos estavam na casa de . Confesso que minha vontade de sair do quarto era 0%, mas me lembrei de Duke, e o amor falou mais alto.
Tomei um banho demorado, e aproveitei para me depilar. Pois é, mulher só se fode na vida. Minhas mãos estavam ardendo pelo acontecimento da noite passada, mas de algum modo, eu conseguia transformar tudo aquilo em alívio.
Saí do banho e coloquei uma roupa qualquer, e fui andando rapidamente até a casa de . Toquei a campainha e Chloe abriu a porta com um sorriso enorme. Eu hein.
- Oi , como você está? - perguntou simpática, ainda na frente da porta.
- Bem. - tentei entrar, mas ela não deixou.
- Você pode me contar a verdade. - continuou com seu mega sorriso.
- Porra mulher, eu to bem, agora me deixa entrar. - falei bem humorada, rindo em seguida. Sua preocupação foi um tanto quanto adorável.
- Não posso me esquecer! Lembrei que sua mão estava machucada, e trouxe isso aqui para você. Minha mãe disse que é ótimo. - Chloe tirou um vidrinho de sua bolsa, e sorriu abestado com a atitude da garota.
- Valeu. - ri, pegando da sua mão e caminhando até a cozinha.
- Se eu falo contigo é porque eu quero uma resposta, sabia? - cruzou os braços assim que me viu, e não pude deixar de rir.
- Eu cheguei em casa e caí na cama direto, querida. - dei um beijo em sua bochecha, e um na bochecha de Callie.
- O que é isso? - Callie perguntou apontando para o remédio que Chloe havia trago para mim.
- Um remédio pra minha mão.
- Vem cá então. - a garota pegou o vidrinho e abriu, e assim que colocou aquilo em minhas mãos, senti que aquilo iria queimar até meus ossos.
- PORRA, CHLOE! - gritei, e a garota apareceu assustada no mesmo instante.
- O que houve?
- Esse remédio foi fabricado aonde, no inferno? - balancei as mãos para aliviar toda aquela ardência. Dessa vez, não dava para transformar aquilo em alívio.
- É ruim mas é bom. - sorriu de maneira aliviada.
Ok, estava faltando algo ali.
- , cadê o meu cachorro? - fui até a sala, e não obtive resposta. Ele e estavam tão vidrados na TV que não pensei em outra coisa a não ser me enfiar na frente da mesma.
- SAI DAÍ, MALUCA! - berrou.
- Oi pra você também! Cadê meu cachorro? - perguntei com um sorriso cínico.
- Ele está preso no quintal, agora sai daí pelo amor de Santa Cabrini! - respondeu de maneira desesperada.
- Mano, que santa é essa? - perguntou e todos caíram na gargalhada. Todos estavam se divertindo com aquela situação.
- Como você ousa prender aquela coisa linda no quintal? Você não tem coração? - fingi estar indignada, e colocou as mãos no rosto, demonstrando derrota.
- Eu nem tenho palavras pra isso. - tirou as mãos do rosto e deu um grande suspiro, me fazendo rir mais ainda.
- Você estava jogando? Puts, desculpa! Eu nem vi! - ri ainda mais, finalmente saindo da frente da TV e indo até o quintal.
- Oi amor! - falei com aquela voz de retardada que se faz quando conversa com algum animal assim que vi Duke.
O cachorro estava cada vez maior, e eu sentia que estava vendo meu filho crescendo. Ai, é muito amor! Brinquei com o cachorro até ser interrompida por uma voz que sempre me causava arrepios.
- Você está bem? - se encostou à parede.
- Estou sim, e você? - o encarei por alguns segundos e continuei brincando com o cachorro.
- Estou. Como suas mãos estão? - se abaixou até se sentar ao meu lado, brincando com Duke também.
- Estão bem também. - ri fraco, não tirando os olhos do cachorro.
Respirei fundo e fechei os olhos e senti se levantando. Deu um sorriso rápido sem mostrar os dentes e estendeu a mão. É, eu não esperava por essa. Peguei em sua mão e levantei também, e entramos novamente.
- Vocês não querem deixar a gente jogar então vamos assistir o que quisermos. - Callie estava na frente da TV dessa vez, com Chloe e do lado na mesma pose.
- Querida, minha casa, minhas regras. - jogou várias almofadas nas três, que riram feito hienas.
- Isso é pra você aprender a parar de ser besta. - desligou o vídeo game da tomada em meio aos risos, e a reação de foi incrível.
- Caralho, eu vou fazer você engolir essa TV! Era só pedir pra assistir, não precisava desligar da tomada sua grossa! - gritava, e todos riam de seu chilique.
- Vai chorar também? - Chloe zombou, e se jogou no sofá e enfiou uma almofada em seu rosto, dando um grito abafado.
Minha barriga estava doendo de tanto rir.
- Agora vamos ver o que está passando. - pegou o controle e começou a passar os canais, até que parou em um canal de desenho, e AI. MEU. DEUS.
- SEI QUE VOCÊ VAI QUERER SER, UMA DE NÓS! - Callie começou a cantarolar a abertura do melhor desenho do mundo: O clube das Winx.
- WINX, QUANDO DAMOS NOSSAS MÃOS, NOS TORNAMOS PODEROSAS, PORQUE JUNTAS SOMOS INVENCÍVEIS! - cantamos todas juntas com a maior animação do mundo. Nem preciso dizer que os meninos ficaram com aquela cara de "o que eu estou fazendo aqui?" né?
- Vocês não desligaram meu vídeo game pra esse papelão né? - falou lentamente, e levantou do sofá como se fosse nos matar.
- Cala a boca aí, vai. - praticamente ordenou, e a expressão de derrotado de mais uma vez estava sendo impagável.
Depois de passarmos a tarde zoando o coitado, fomos para nossas devidas casas nos arrumar para irmos ao Tin Roof. Por sorte, ninguém estava em casa, mas ainda assim, me arrumei correndo. Assim que mandou uma mensagem dizendo que ela, e estavam passando para me buscar, chegou uma notificação anunciando o novo single do One Republic.
PUTA QUE PARIU!
Assim que apertei para a música tocar, ouvi a buzina do carro de .
CACETE!
Entrei no carro correndo, e por algum motivo, eles sempre deixavam o banco da frente para mim, o que facilitou meu trabalho. Abri o porta luvas, onde eu sabia que guardava o cabo que conectava o celular com o rádio.
- Oi pra você também. - falou emburrado.
- Nos vimos horas atrás, cara. - falei enquanto conectava tudo rapidamente, e todos estavam me olhando confusos.
"I know I could lie but I’m telling the truth (Eu sei que poderia mentir, mas estou dizendo a verdade) Wherever I go there’s a shadow of you (Onde quer que eu vá, há uma sombra de você) I know I could try looking for something new (Eu sei que poderia tentar achar algo novo) But wherever I go, I'll be looking for you" (Mas onde quer que eu vá, vou estar olhando para você)
É MUITO PRA MIM!
- Gente, olha a voz desse homem! - falei tão sorridente que quase doeu.
- Isso é One Republic né? - perguntou com os olhos cerrados.
- Sim! Olha que música magnífica! - no momento, meus olhos devem estar com a imagem da banda e com corações em volta.
- É cada uma, viu. - riu, e deu partida no carro.
Deu para ouvir a música nova, Wherever I Go, umas seis vezes antes de chegarmos ao Tin Roof.
- Eu não posso ficar aqui ouvindo essa obra divina? - perguntei enquanto todos já estavam fora do carro, e não pensou duas vezes antes de se aproximar e me puxar dali pela cintura.
- Eita. - e falaram juntos, e nós dois caímos na risada.
O lugar era lindo, bem iluminado e bem colorido. Já estava lotado, mas bar é tipo coração de mãe, né? Sempre cabe mais oito.
Fomos direto para o bar, e os garotos pediram tanta coisa que dava pra ficar bêbado por três dias. No momento, eu não sentia nada. Absolutamente nada. Era tanta tristeza, que em momentos como esse, podiam me esfaquear e eu provavelmente não sentiria. Eu merecia esquecer disso tudo um pouco, e uma ótima maneira de fazer isso estava bem na minha frente.
One Dance, do Drake começou a tocar. Ninguém ficou parado, óbvio. Tomei três doses de nem sei o que, e fui para a pista de dança com as garotas. Pode parecer clichê, mas toda essa gente aparentemente feliz em um lugar só, com tanta energia pra gastar em uma noite só, me dá mais ânimo para aproveitar o máximo que posso.
Meu pensamento e meus movimentos ao som da música foram interrompidos logo em seguida:
- Olha só o que temos aqui. - um grupo com quatro garotos se encostou ao nosso, e caímos na gargalhada.
- Eu namoro. - Callie saiu dali rindo .
- Eu quase namoro. - Chloe fez o mesmo.
Eu e ficamos apenas observando os quatro cochichando um no ouvido do outro, e em seguida, dois deles se afastaram, e os outros dois se aproximaram de nós, colocando seus braços em volta de nossos pescoços. Credo, que deselegante.
- Então, qual seu nome? - o garoto perguntou ainda com o braço no meu pescoço. Rapaz, se toque!
- , e o seu? - forcei um sorriso simpático.
- Erick. - respondeu risonho.
- Vocês são só amigas? - o outro rapaz perguntou.
- Sim. - eu e respondemos juntas.
- Poderíamos nos divertir juntos, o que vocês acham? - ele perguntou sorridente, tirando discretamente um pequeno pacote com um tipo de pó branco de seu bolso.
Olhei com os olhos arregalados para , que imediatamente tentou sair dali, mas o rapaz a pegou pela cintura.
- Calma, gracinha. Já vai? - perguntou rindo, e apertou as mãos do rapaz para ele soltá-la, mas não adiantou muita coisa.
- Ok, chega. - afastei o braço de Erick dali, peguei na mão de e tentei puxá-la, mas o rapaz não estava permitindo.
- Vamos lá, só uma cheiradinha. - Erick voltou a colocar o braço em volta do meu pescoço.
- Que saco, a gente não quer! Vocês são surdos ou burros? - gritou, fazendo os dois caírem na risada.
- Olha só, ela é bravinha! - o rapaz continuou segurando pela cintura, que demonstrava estar enojada com aquilo.
- Sempre tem uns idiotas desses, né? - apareceu ali com do lado.
- Sempre. - riu sarcástico.
- Acabou a festa. Soltem as duas. - falou autoritário, mas nada aconteceu.
- Facilitem, pessoal. Vocês são tão amadores que oferecem droga para as primeiras que vocês veem. Precisam treinar mais. - zombou, e Erick não gostou nada daquilo, porém não me soltou.
- E você precisa de umas porradas, meu chapa. - gritou, mas manteve a mesma expressão calma no rosto, o que foi totalmente estranho. Desde quando evita brigas?
- Em primeiro lugar, você está com drogas aqui, eu poderia chamar os seguranças e você iria pra delegacia. Em segundo lugar, não é dando uma chave de braço numa garota que vai fazer ela ficar com você. Agora soltem as duas porque eu não tenho tempo pra perder com vocês. - deu um sorrisinho no final, o que me fez sorrir também. Senti os braços de Erick se afrouxarem e eu e demos as mãos rapidamente, caminhando para longe dali.
- Vocês são muito bonitas e isso dificulta tudo. Não tem como ter sossego em nenhuma festa porque isso sempre vai acontecer. - falava enquanto andávamos até a mesa onde todos estavam, e caímos na risada.
Eu? Bonita? Isso era digno de risadas mesmo.
- Você está bem? - perguntou bem próximo ao meu ouvido.
- Estou sim. Obrigada. - sorri para ele, que retribuiu.
Chegamos até a mesa e estava distribuindo as bebidas para cada um.
- Vamos ver quem aguenta mais. - propôs, e ninguém contestou.
- Eu poderia beber isso aqui pra sempre! - levantou seu copo de bebida, gargalhando algo.
5 doses foram o suficiente pra me deixar um tanto quanto tonta, porém alegre, e essa sensação é tão gostosa que não me segurei quando I Took a Pill in Ibiza começou a tocar. Todos entraram no embalo e voltamos para a pista de dança. Senti alguém puxar minha mão, e eu já estava preparada para xingar tal pessoa, mas era .
- Já ia me xingar, né? - cerrou os olhos, como se tivesse lido meus pensamentos.
- Talvez.
- Se fosse Ryan Tedder não xingaria né, palhaça? - fingiu estar bravo.
- Não fala do meu homem. - gargalhei.
Estávamos todos dançando juntos, até , que estava pelo menos tentando, porém depois de algumas doses de tequila ninguém liga se está dançando bem ou não.
Hands to Myself começou a tocar e eu não poderia estar me sentindo mais livre do que estava naquele momento. Não pensei duas vezes antes de ficar frente a frente com e entrelaçar meus braços em volta do seu pescoço. Não precisou de nada, apenas de alguns segundos para nossas bocas se encontrarem e um beijo rápido e desesperado começar, o que nos fez parar rapidamente por falta de fôlego. Ele me puxou pela mão até um lugar mais reservado e continuamos de onde paramos, mas não estava sendo o suficiente. Simplesmente não estava. Nosso beijo era tão bem sincronizado que chega a ser assustador. Mas todo o calor, aquela mistura de saliva com tequila, toda aquela agitação me fazia pedir por mais, e eu sei que ele estava sentindo o mesmo. Tirei minhas mãos de seu pescoço e as coloquei por baixo de sua camisa. Eu estava mesmo fazendo aquilo, sem um pingo de timidez, e estava sendo incrível. parou o beijo e me encarou por alguns segundos.
- Você está bem? - perguntou com os olhos cerrados, e como resposta, abaixei uma de minhas mãos até seu membro, que já estava bem alegre. Ops.
- Can't keep my hands to myself. - cantarolei de modo provocador, apertando seu membro até ver fechando os olhos e respirando fundo.
Ele me beijou novamente, mas continuei com minha mão ali, e suas mãos que estavam em minha cintura, acabaram descendo um pouco mais. Ops novamente.
começou a distribuir beijos pelo meu pescoço e não pude evitar um arrepio, e uma calcinha provavelmente ficando molhada. Nossas mãos continuavam passeando pelo corpo um do outro, e essas provocações estavam acabando comigo. Uma de suas mãos fez um carinho repentino em minha barriga, me causando outro arrepio. Sua mão parou no botão do meu short, mas de repente parou tudo o que estava fazendo e me encarou de uma maneira inexplicável. O pouco de luz que batia ali, iluminava justamente os seus olhos.
- Não posso fazer nada disso aqui. - falou derrotado, e eu apenas respirei fundo e encostei a cabeça na parede.
- Poderíamos sair daqui e terminar tudo isso. O que você acha? - sussurrei em seu ouvido.
Nos encaramos por longos segundos. Aquele olhar que causa tantos sentimentos de uma vez, que não se consegue decifrar exatamente quais são. Um olhar que significa tanta coisa, e ao mesmo tempo nada. Um olhar tão cheio de história.
- Você está bêbada, .
Ah não. Nada disso. Eu quero me divertir e ele não está facilitando, e isso significa que devo partir para a minha melhor tática. A provocação.
- Eu sei exatamente o que eu estou fazendo, . - coloquei minha mão em cima de seu membro novamente, o apertando com força, e fazendo menção de colocar minha mão por dentro de sua calça, mas assim que tentei, segurou em minhas duas mãos.
- Vamos. - se virou e começou a caminhar em direção à saída, e segui seus passos me sentindo vitoriosa.
Chegamos ao estacionamento e me encostou em seu carro, me dando um beijo desesperado. Abri a porta de trás com dificuldade e entrei rapidamente, e assim que conseguimos ficar confortáveis o suficiente, continuamos nosso beijo.
- Eu pensei que iríamos pra sua casa ou algo assim. - falei em meio aos beijos.
- Não preciso de uma cama pra te mostrar o que eu sei fazer, . - respondeu sério, e rapidamente colocou a mão no botão do meu shorts, pronto para abri-lo, mas o impedi.
- Nem eu. - falei mais séria ainda, com uma sobrancelha arqueada.
Abri a calça de , e mesmo com dificuldade, ele conseguiu abaixá-la o suficiente, e como eu estava praticamente em seu colo, fui para o lado e abaixei para ficar mais confortável para fazer o que estava prestes a fazer.
Seu pênis era algo absurdo de grosso, mas não hesitei em colocá-lo rapidamente em minha boca, o chupando lentamente, sem pressa alguma. Uma das mãos de foram até o topo da minha cabeça, auxiliando nos movimentos vai e vem que eu fazia. Continuei chupando seu pênis e também o sugando rapidamente e parando lentamente, apenas para ver sua reação.
- , pelo amor de Deus! - sua voz quase falha saiu com dificuldade. O suguei tão forte, que deu um leve puxão em meus cabelos.
Olhei para cima, ainda com seu pênis em minha boca, lambendo lentamente sua glande, e dando um sorrisinho sapeca. Vê-lo tão sensível e vulnerável desse jeito me deixava louca e com mais vontade ainda de deixar o momento mais inesquecível do que já estava sendo. Não posso ignorar também, o fato de estar tão tranquila com a situação, que nem me sinto a mesma pessoa. , mais a minha vontade grande de diversão, fez com que eu basicamente me transformasse em outra pessoa. Ou talvez, essa seja uma das melhores versões que eu possa ser de mim mesma.
's POV
Foram incontáveis às vezes que um "não faça isso" se passou pela minha cabeça, mas não pude ignorar tudo aquilo. Toda a excitação, toda a vontade de estar com seu corpo junto ao meu, toda a vontade de pegar em todas as partes de seu corpo fizeram eu me render.
O jeito que estava me olhando estava me deixando maluco. Sua boca em meu pau já estava sendo uma das melhores coisas que já senti, mas aquele olhar... Puta que pariu. Deixei alguns gemidos escaparem, porque caralho, aquilo estava muito bom. Aonde ela aprendeu a fazer isso tão bem?
- , eu to quase... - não consegui terminar minha frase, já que fui interrompido pelos nossos celulares tocando. Sim, os dois.
não parou o que estava fazendo, muito pelo contrário. Acho que pelo fato dos dois celulares terem tocado de uma vez, significava que algo deve ter acontecido, e a garota provavelmente queria fazer o trabalho completo.
Os celulares voltaram a tocar, e eu queria jogá-los pela janela. Porra, isso não é hora de ligar!
- Atenda. - tirou a boca do meu pênis, o que foi uma tremenda decepção.
- O que é? - atendi nervoso, mas em seguida, senti a boca de ali novamente. Não, ela não estava fazendo isso. EU ESTOU NO TELEFONE, MULHER!
Me deu um olhar safado enquanto sugava meu pênis rapidamente, e eu mal entendia o dizia no telefone, eu só tentava conter meus próprios gemidos.
- Ta... Ok... Relaxa, estamos indo. - respondi rapidamente, e assim que desliguei o celular, senti aquela sensação maravilhosa que era gozar.
NA BOCA DE .
Que por sinal, não deixou uma gota escapar. Eu poderia me desmanchar de tão bom que foi sentir isso. Porra, tudo o que eu queria era dar o troco agora mesmo!
- Quem era? - perguntou enquanto eu me recompus, sentando ao meu lado.
- . Precisamos ir embora, a neném da Chloe passou mal como sempre. - respondi frustrado e joguei a cabeça pra trás, dando um longo suspiro.
- Então vamos. - falou animada, e assim que colocou a mão na trava da porta, a segurei, fazendo ficar cara a cara comigo.
- Me aguarde. - falei sério, dando um longo selinho na menina, que deu um sorriso que poderia iluminar toda aquela escuridão do estacionamento.
"Todos queremos crescer. Somos desesperados para chegar lá. Agarrar todas as oportunidades que pudermos para viver. Nos ocupamos tanto tentando sair do ninho, que não pensamos no fato de que será frio lá fora. Frio pra caramba. Porque crescer significa deixar as pessoas para trás. E no momento em que estamos firmes… Estamos sozinhos."
- Bom dia, mocinhas! Vamos comer! - Chloe falava repetidamente a mesma coisa até acordar cada uma de nós.
- Você encheu a cara ontem e mesmo assim acorda cedo? Garota, se joga nessa cama de novo e vai dormir! - Callie resmungou sem nem abrir os olhos.
Dormimos na casa de Chloe novamente, e sim, descemos para tomar o seu super café da manhã, mas a novidade era os seus pais estarem na mesa.
- Bom dia, pessoal! Vocês devem ser os amigos da Chloe, certo? - a simpatia da mulher chegava a doer.
Respondemos um "sim" em coro, e a mulher se apresentou como Claire, e o homem se apresentou como Ted, mas saíram dali segundos depois, dizendo que tinham muito trabalho a fazer. Em pleno domingo. Ok. Beleza.
Minha cabeça estava doendo, assim como a de todos, ou quase todos. Meu olhar se cruzou com o de , que parecia estar ótimo, por sinal. Dei uma risadinha e desviei o olhar. Talvez eu esteja um pouquinho envergonhada agora.
- Me deixa morar aqui, pelo amor de Cristo! - dizia encantado enquanto observava cada alimento que estava na mesa.
- A gente precisa deixar Chloe na creche quando formos sair. - brincou, e a garota fechou a cara no mesmo instante, mas acabou se rendendo às risadas.
- Vocês não precisam vir embora só por causa de mim. - Chloe se defendeu.
- A gente precisa vir sim para podermos ter um canto pra dormir. - assim que falou isso, todos ficaram em silêncio. Sinceridade é uma coisa doida.
- Seu interesseiro de meia tigela! Aqui você não dorme mais! - Chloe abriu a boca formando um "O" inconformado.
- Pelo menos eu aguento beber mais do que você. - o garoto não perdeu a oportunidade de zombar daquilo, e Chloe que revirou os olhos e começou a revidar, e todos se intrometeram no assunto, exceto e eu, já que estávamos ocupados demais nos encarando. Olhá-lo me fazia sentir um tipo de alívio, e também certa vergonha. Mas oras, pra que ter vergonha disso? Eu quis e fiz.
's POV
Uma noite mal dormida, porém uma noite que valeu a pena. A vontade de ir até o quarto onde estava foi enorme, mas não pude. O pouco que dormi, foi pensando nela. Essa garota me surpreendeu mesmo.
Depois do café da manhã, voltamos para arrumarmos os quartos e irmos embora. não estava no quarto, apenas eu, e .
- Não quisemos falar nada lá embaixo pra não deixar vocês sem graça, mas aonde você e estavam ontem? - perguntou cuidadosamente, provavelmente pensando que eu acharia ruim sua pergunta.
- Estávamos lá fora. Ela precisava de um ar. - respondi com a primeira coisa que apareceu em minha mente, mas parece ter dado certo.
- Vocês ficaram de novo? - perguntou dessa vez.
- Ficamos. - respondi com um meio sorriso. Não tinha porque mentir sobre isso, afinal, todos já sabiam.
- Você se importa com ela? - fez outra pergunta, mas essa eu não esperava.
- Que pergunta é essa? - o olhei confuso. A verdade é que eu sabia a resposta, mas dizer isso em voz alta seria oficial, e grande parte de mim não queria isso.
- Você que viu que ela estava com problemas ontem com aquele babaca. Em meio a tanta gente, você estava olhando apenas pra ela, então acho que isso mostra que você se importa. - seu olhar de convencido nem me fez protestar sobre sua resposta. estava certo, mas ninguém precisava saber.
- Acho que vocês podem dar certo. Você é estranho porém legal, e ela é uma pessoa muito boa, então casem e tenham muitos bebês catarrentos. - o bom humor na voz de fez nossas risadas ser o único som no quarto por algum tempo.
- Isso nunca aconteceu e nunca vai acontecer. - respondi firme.
- Você nunca se envolveu com alguém? Tipo, de verdade? - fez a pergunta sem rodeios.
- Não.
- Por quê?
- Porque não. Nunca rolou. Nunca achei a Chloe da minha vida. - respondi bem humorado.
E nem quero achar.
- Mas você vai achar quando menos esperar.
Por que todos insistem nessa história? Não é todo mundo que acha a Chloe da sua vida. Não é todo mundo que merece ser amado. Não é todo mundo que consegue ser amado. As pessoas simplesmente deveriam parar de falar isso.
***
Quase me atrasei para a escola, mas consegui chegar a tempo o suficiente para esbarrar com no corredor. Nos olhamos por alguns segundos, até a garota cair na gargalhada.
- Virei palhaço?
- Não. Mas isso é um tanto quanto engraçado. - se justificou em meio às risadas.
- Isso o que?
- Isso. Eu e você nos olhando assim. - parou de rir aos poucos, voltando a olhar para mim.
- Você quer dizer, você olhando pra mim como se já tivesse chupado o meu pau? - arqueei uma sobrancelha, esperando que minha fala a deixasse sem graça.
- Uou, não precisa ficar dizendo isso em voz alta. - a garota pareceu surpresa, mas não envergonhada. Eu podia jurar que praticamente se esconderia de mim pelos próximos seis meses, mas me enganei. Essa garota é mesmo uma caixinha de surpresas.
- Você não está envergonhada. - afirmei meu pensamento em voz alta.
- Eu não estou envergonhada. - arqueou as sobrancelhas e balançou a boca de forma engraçada, estendendo a mão para irmos para a sala.
As aulas, como sempre, uma chatice. Mil coisas estavam se passando pela minha cabeça, começando pela minha mãe. Para quem mal saía de casa, estava ficando fora demais. Eu, em um grupo de amigos. se mostrando ser alguém surpreendente em vários sentidos. Pela primeira vez, tudo estava mudando, e por incrível que pareça, para melhor. Mas será que vai durar, ou é só o universo zoando com a minha cara?
A hora do intervalo chegou e veio saltitante em minha direção.
- Oi querido! - deu um beijo estalado em minha bochecha.
- Por que tanta animação?
- Porque eu não sou mal humorada como você, gracinha. - deu um sorrisinho cínico e passou as mãos pelos cabelos enormes.
- O que você quer então? - estávamos caminhando até o nosso lugar de sempre.
"Nosso lugar"
Meu Deus, está tudo mudando mesmo.
- Para de ser grosso! - me deu um peteleco na cabeça, mas não reclamei, até mereci - Você podia passar a tarde lá em casa pra colocarmos o papo em dia, o que você acha? - deu um sorriso tão lindo que se tornava impossível dizer não.
- Pode ser.
Encontramos o resto do pessoal e sentei ao lado de , que me deu um sorrisinho meigo. Essa carinha de anjinho não me engana mais.
- Então, já tenho o role do próximo final de semana planejado. - anunciou sorridente, e todos os olharam incrédulos.
- Cara, não tenho dinheiro pra ficar pagando balada todo fim de semana. - protestou em seguida.
- Mas não gastaremos nada dessa vez, só gasolina e comida que podemos levar de casa. - tentou acalmar o garoto, que apenas o olhou confuso.
- Pra onde vamos então? - Chloe perguntou curiosa.
tirou um papel do bolso, jogando no meio da roda, e o pegou.
- Vamos acampar? - sorriu empolgada.
- Sim! - respondeu mais empolgado ainda.
- Qual é, vai mesmo levar a gente pro mato de novo? - Chloe revirou os olhos.
- Vocês preferem ficar em casa se acabando no netflix ou ir a um acampamento com seus amigos? - perguntou esperançoso, mas todos, exceto , responderam um "em casa se acabando no netflix" em coro.
- Eu gostei da idéia, então apoio! - a garota apoiou a idéia do primo, tão empolgada quanto ele.
A verdade é que ela e são praticamente iguais. Gostam de quase as mesmas coisas.
- É meio longe, mas pode ser legal. - se rendeu, torcendo a boca.
- Tudo se torna legal quando estamos juntos. - disse sorridente para o melhor amigo, e claro, não perdeu a oportunidade de ridicularizar o momento.
- Ai que princesa! Vou chorar, calma.
- Imbecil! Mas é verdade! Por mais que eu ame meu Netflix, eu prefiro estar com vocês e aproveitar cada momento que pudermos. - continuou com sua declaração, fazendo Callie se derreter e abraçá-la feito um urso.
- Eu sei que falo muita merda, mas eu topo tudo com vocês. - falou sério, e todos se encantaram com o momento.
- Isso é digno de um abraço em grupo! - gritou, tipo gritou mesmo, para que todos dali ouvissem, e todos se juntaram para um abraço em grupo, inclusive eu.
Eu nunca, jamais, me imaginei numa situação como essa. Grupo de amigos, fazendo tudo juntos, abraço em grupo, e muita união. Nunca mesmo. Nunca fiz questão, nunca precisei. Ou precisava. Querendo ou não, isso me deixava alegre. Eles me deixavam alegre. Diferente das outras vezes, é um sentimento que eu não quero afastar, muito pelo contrário. Tão diferente e tão novo, porém tão bom. É assim que as pessoas felizes se sentem?
Depois de muito mimimi e muito abraço, voltamos para a sala.
- Livro página 66. Todos os exercícios para entregar nessa aula. - o professor de matemática ordenou, bravo pra caramba.
Geometria analítica não é tão difícil quanto parece, mas os resmungos do pessoal dizia o contrário, e o professor os repreendeu no mesmo instante. Porra velho, vai com calma.
Fui um dos primeiros a terminar, e aquele silêncio todo estava me incomodando.
- Vou ao banheiro. - falei para o professor enquanto caminhava até a porta.
- Eu não permiti. - o velho respondeu raivoso. Alguém dá um suco de maracujá pra esse homem?
- E? - o provoquei, fazendo alguns alunos rirem, e saí da sala em seguida.
Os alunos da sala de Jess estava no corredor, e suas roupas indicavam que estavam indo para a aula de Educação Física. Tentei passar reto, mas Jess me puxou pelo braço.
- Ei, sumido.
- Eu estou aqui todo dia. - minha resposta fez a garota ficar sem graça, mas não desistiu da conversa.
- Como você está?
- Bem e você?
- Estou bem também. O que você vai fazer no final de semana? - mordeu o canto da boca, e eu dei uma risada fraca.
- Vou sair. - me virei e continuei caminhando até o banheiro.
Lavei o rosto e me olhei no espelho. Ainda não sei lidar com essas mudanças. Ainda não consigo tirar da minha cabeça, porque sei que por mais que tudo esteja bem agora, é por pouco tempo, e disso eu tenho certeza.
***
Eu e Sophia estávamos na casa de , nos entupindo de sorvete.
- Como sua mãe está? - perguntou com a boca cheia.
- Agora a mãe do Jackson a leva pra todo canto. Não sei de onde veio esse interesse repentino pela minha mãe, mas foi bom pra ela. Se ela está feliz, é isso que importa.
- Exatamente! Fico muito feliz por isso, ! Mas... É... E seu pai? - perguntou sem graça, enfiando mais uma colherada de sorvete na boca em disfarce.
- Na mesma. Mas e você?
- Não tenho nada novo pra contar. Só que... Eu e demos um selinho um dia. Mas foi totalmente sem querer, e foi tão estranho! - a voz de ia de acordo com sua reação, e isso tornava tudo engraçado.
- Vocês formariam um ótimo casal. - gargalhei. Não é mentira, eles realmente fariam um bom casal.
- Vai se ferrar! Ele é como um irmão. - respondeu indignada.
- Aposto a Sophia que um dia vocês ainda vão ficar. - falei sério, mas acabei soltando uma risada alta, vendo a indignação da garota.
- Você é um saco. - riu - Vamos mudar de assunto. Onde você se vê daqui uns 10 anos?
- No Caribe, com cinco mulheres dançando na minha frente e coberto de dinheiro. - fechei os olhos imaginando tudo aquilo em minha mente.
- Estou falando sério! - deu um tapa em meu braço. Esse pessoal sempre acha que deve resolver tudo no tapa ou é impressão?
- Eu realmente não sei. - no momento que respondi, uma sensação estranha me atingiu.
Eu não tenho nada na vida. Nada. Não tenho uma ambição. Não tenho um objetivo. Não tenho algo pra lutar. Não tenho nada. Eu sou vazio. E por algum motivo, isso começou a me incomodar.
- Eu pretendo já estar formada. E se você estiver fazendo nada da vida, podemos fazer metanfetamina juntos, tipo Walter White e Pinkman. - eu queria ter me empolgado o tanto quanto , mas a verdade é que eu não fazia ideia do que ela tinha acabado de falar.
- Quem?
- Como assim "quem"? Walter White e Pinkman. Breaking Bad, sabe? - perguntou esperançosa, e bufou assim que percebeu que eu realmente não sabia. levantou e voltou com o notebook em mãos, sentando ao meu lado novamente.
- O que vamos assistir?
- Breaking Bad, oras. Você não vai morrer sem assistir essa maravilha. - sorriu, e bateu os dedos no teclado rapidamente até colocar o primeiro episódio desse tal de Breaking Bad.
Beleza, o negócio era bom mesmo. Assistimos dois episódios e me lembrei que tinha que ir à casa de Dan, então fui, mas voltaria depois para buscar Sophia.
- Alguma novidade? - Dan, como sempre, com uma bebida em mãos, e eu não recusei quando ele ofereceu.
- Ritter. Temos como pega-lo essa semana. Sei da oportunidade perfeita.
- Conte. - o sorriso em seu rosto estava feito, e logo em seguida o meu também.
Dessa vez, iríamos conseguir. 's POV end
Às vezes, quando alguém morre, algumas pessoas fazem de tudo para evitar o luto, ou tentam o transformar em outro sentimento. Eu fiz o mesmo. Evitei o medo desse dia por uma semana toda. Fiz coisas que não me imaginei fazendo, apenas para tirar isso da minha cabeça. Mas o dia chegou, e não tem como fugir.
Me arrumei rapidamente e desci correndo, encontrando minha mãe na cozinha.
- Bom dia, filha.
- Bom dia. Hm... Você vai chegar cedo hoje? - fiz de tudo para parecer uma pergunta normal e espontânea.
- Não sei, por quê? Você vai chegar tarde? - me deu aquele olhar danado, e apenas revirei os olhos e ri, mas vi que daria uma desculpa perfeita.
- Acho que sim, então não se preocupe. - sorri tentando ser convincente.
Eu sempre voltava um pouco tarde da casa de , e hoje era o dia em que Ritter apareceria ali, na porta da minha casa. E a última coisa que eu quero é que minha mãe descubra dessa história, então eu precisava saber se ela estaria em casa ou não, afinal, nunca se sabe o que pode acontecer.
Me despedi com um abraço demorado e caminhei até a escola.
- Bom dia, flor do dia. - me cumprimentou bem humorada como sempre.
- Bom dia. - forcei um sorriso, que funcionou com ela, mas não com , que estava do seu lado, com uma expressão séria.
Provavelmente estava pensando na perda de oportunidade para pegar o tal de Ritter, seja lá quem ele for.
Por que quando queremos que o dia passe devagar, ele passa rápido? Talvez seja um sinal de que o universo esteja cagando e andando para mim. O último sinal tocou, e fomos guardar nossos materiais no armário.
- Ei, você está bem? - encostou-se no armário do lado, mexendo em uma mecha do meu cabelo.
- Estou. - dei um pequeno sorriso, mesmo sabendo que não adiantaria.
- Eu posso ficar na sua casa, caso algo aconteça. - disse em tom baixo, para ninguém dali ouvir.
- Não. Eu não quero ajuda, não quero ninguém lá, eu não quero nada. Eu só quero acabar com isso e pronto. - bati meu armário, e todos os olhares dali foram parar na minha pessoa.
Bufei e saí dali com passos longos, e para minha surpresa, estava na saída, aparentemente me esperando.
- Vamos, eu te levo pra casa. - descruzou os braços, estendendo a mão para mim.
podia ser idiota pra caraca, mas seu jeito era irresistível. Tinha algo nele que me fazia sentir algo estranho, diferente, mas bom. Um sentimento parecido com segurança. É, quase isso.
Entrei em seu carro e conectei meu celular ao rádio, e o garoto apenas me olhava com as sobrancelhas arqueadas.
- O que foi? Você tem que dar carona com direito a tudo, incluindo ouvir minhas musicas. - disse em um tom óbvio.
Wherever I Go começou a tocar e gargalhou, dando partida no carro em seguida. Não falamos nada durante o caminho inteiro, apenas a voz do meu amado Ryan Tedder estava presente, mas assim que chegamos, ele desligou o som e me encarou por longos segundos.
- Como você está se sentindo?
- Bem.
- Mesmo?
- Mesmo.
- Você não precisa mentir pra mim, . - uma de suas mãos foi até minha nuca, fazendo um carinho tão gostoso que me fez fechar os olhos.
- Estou ansiosa. Quero acabar logo com isso.
Senti o corpo de se mover, mas continuei com os olhos fechados. Senti seu hálito quente batendo no meu rosto, e logo em seguida sua boca na minha, começando um beijo tão calminho, que logo foi esquentando. mordeu meu lábio e caramba... Apenas o puxei para mais perto, colocando minhas mãos em seu pescoço.
- Boa sorte, . - murmurou assim que paramos o beijo, me dando um selinho demorado em seguida.
Saí do carro e caminhei até a porta da minha casa, abrindo a mesma, e entrando naquele lugar que me trazia sentimentos e sensações terríveis.
Esperar. É só o que me resta.
"Você consegue, ." pensei comigo mesma.
's POV
Eu sou um puta de um cara de pau, mas é por uma boa causa.
- Você entendeu tudo o que tem que fazer né? - perguntei pela última vez.
- Cara, sim.
- Vamos ter ajuda. - falei indiferente, mas arregalou os olhos.
- Ajuda de quem? Jesus Cristo? - arriscou a piada, mas continuei com a mesma expressão.
- Você vai ver.
Eu estava ansioso, nervoso, e determinado. Hoje eu pegaria Ritter a todo custo.
- Você me colocou nessa emboscada e nem vai me explicar tudo? Eu não vou arriscar minha relação com por isso, . - a seriedade em sua voz me fez revirar os olhos.
- Eu não te coloquei em nada, e ela não vai nos ver. Depois que ele pegar o dinheiro, vai estar tão assustada que vai correr pra casa, então não vai nos ver. - respondi ainda mais impaciente.
Ansiedade é a palavra pra o momento.
- E depois de tudo?
Depois de tudo... Eu devia uma explicação. Me sentia na obrigação de dar uma. merecia.
- Você vai saber de tudo. - respondi tão sério quanto ele.
No fundo, todo mundo quer acreditar que pode ser durão. Mas acho que também tem a ver com aceitação. Às vezes temos que nos dar o direito de não ser casca grossa uma vez na vida. Ninguém precisa ser durão todos os minutos do dia. Acho que, depois de tudo isso, aprendi que não faz mal baixar a guarda. Na verdade, há momentos que essa é a melhor coisa que se pode fazer.
***
Estávamos na esquina seguinte da rua de , nos dando uma visão perfeita de tudo. Nada havia acontecido, nenhuma movimentação na casa de , e Ritter ainda não havia chegado.
Minutos se passaram e nada. Minha paciência já estava indo pro beleléu, até ouvir o barulho de uma moto. Meu sangue já estava fervendo. Minha vontade era de chutá-lo de sua moto naquele instante, mas não podia. Segundos depois, abriu a porta de sua casa e saiu lentamente.
Raiva.
Muita raiva.
Como alguém é capaz de chegar a esse ponto? Como Richard consegue viver uma vida assim? Como ele ousa fazer alguém, principalmente , passar por isso?
Ela estava entregando algo para Ritter, provavelmente o dinheiro, e assim que se virou para entrar em casa novamente. Ele a segurou pelo braço.
Porra. 's POV end
Passei 40 minutos bisbilhotando pela janela se aquele lixo humano havia chegado, e assim que chegou, saí com as pernas bambas.
"Você consegue, ." repeti comigo mesma novamente.
- Boa noite, princesa. - o homem me olhou de cima a baixo, e dando um sorrisinho nada agradável em seguida, me fazendo revirar os olhos.
- Vamos acabar logo com isso. - tirei a mão com o dinheiro do bolso, entregando em sua mão.
- Gostei de ver. Moça obediente. Merece um trato. - riu, ainda me olhando mais do que deveria.
- Vai pro inferno, Ritter. - dei as costas para sair dali, mas o infeliz me segurou. Era só o que me faltava.
- Como você sabe meu nome? - perguntou com os olhos cerrados, e meu coração disparou.
- Me larga. - tentei me soltar, mas quanto mais eu tentava, mais ele apertava.
- Como você sabe meu nome, garota? - seu sorriso se desfez, e sua impaciência me deixava mais assustada ainda.
"O que você fez?" pensei comigo mesma.
- Eu ouvi por aí, só isso.
- Meu nome não circula por aí, gatinha. - me empurrou até chocar meu corpo contra o pequeno muro que tinha ali, o que doeu pra cacete.
Não. Não. Não.
Não era pra isso estar acontecendo.
- Se você não me soltar, eu vou gritar! - ameacei abrir a boca, mas Ritter colocou uma de suas mãos ali, me impedindo de fazer aquilo.
- Se você olhar BEM pra mim vai perceber que estou armado, e não vejo problemas em gastar uma bala na sua cabeça, ouviu bem? - deu ênfase na palavra "bem", e no mesmo instante observei seu corpo rapidamente, vendo uma arma em sua cintura.
Isso definitivamente não deveria estar acontecendo. Fechei os olhos por alguns segundos, tentando impedir que as lágrimas escapassem.
- Se eu fosse você, largava ela agora mesmo, porque já chamei a polícia.
Aquela voz. A voz dele. Da mesma maneira que me acalmou no instante em que a ouvi, me surpreendeu também. O que ele estava fazendo ali?
Ritter me soltou no mesmo instante, correndo até montar em sua moto. Assim que tentei me aproximar de , um carro, que por sinal, se parecia com o seu, parou bem ali.
- ? - perguntei incrédula assim que vi meu primo dirigindo aquilo.
- Perdão, . - disse rápido, e assim que entrou no carro, acelerou tão rápido que o pneu cantou.
Que diabos acabou de acontecer?
's POV
- Droga, deu tudo errado! - bateu no volante.
Assim que passamos do primeiro quarteirão, um carro saiu de uma rua, andando atrás do nosso. Nossa ajuda estava ali.
Ritter não diminuía a velocidade nem a pau, muito menos . Ele comprou a briga pra ele, ou talvez ele só quisesse saber o motivo disso tudo.
O carro de trás passou na nossa frente, se colocando ao lado da moto de Ritter, avançando com o carro até encostar na moto, e acelerou até estar do outro lado, tentando fazer o mesmo.
Por mais que talvez essa palhaçada pudesse arranhar meu carro, isso não importava no momento. Assim que Ritter tentou fazer uma curva com a moto, avançou mais ainda com o carro, batendo na traseira, o fazendo cair.
Praticamente pulei do carro, assim como e nossa ajuda no carro do lado, que era Dan e um de seus rapazes. Por incrível que pareça, Ritter estava apenas com algumas partes do corpo raladas, e quando tentou levantar dali e pegar sua arma, Dan o segurou pela mão, o fazendo soltá-la no mesmo instante.
- Daqui você não sai, vagabundo. - praticamente gritou, o segurando cada vez mais forte.
O que eu sentia no momento não tinha explicação. Não tinha. O primeiro passo para chegar em Richard estava sendo dado, e eu me sentia radiante.
- Precisamos ir antes que alguém perceba toda essa bagunça. - o comparsa de Dan alertou.
Dan enfiou Ritter em seu porta malas com a ajuda de seu parceiro, e logo em seguida o mesmo montou na moto, que estava batida porém ainda andava. Dan me fez um sinal, e estava na hora de ir buscar respostas para as minhas perguntas.
- É isso, conseguimos. Leve meu carro para sua casa e eu busco amanhã. - falei rapidamente para .
Ansiedade continuava sendo a palavra para a situação.
- O que? Você está maluco? Você me deve tantas respostas! - gritou indignado, o que já era de se esperar.
O celular de tocou, e logo em seguida, o meu. Ninguém mais, ninguém menos do que .
- Você precisa ir e precisa se desculpar com sua prima. Pode colocar a culpa toda em mim, pode fazer o que você quiser, só não diga que eu irei te esclarecer toda essa bagunça depois, tudo bem? - falei pausadamente, para deixar bem claro as "regras" daquilo tudo.
Chega a ser engraçado como sempre que e eu estamos bem, algo atrapalha. Sei que vou ter que pedir muitas desculpas por tudo isso, mas valeu a pena. Eu consegui pegar Ritter.
- Até amanhã, . - deu as costas, entrando no carro logo em seguida.
Chegou a hora da verdade. ’s POV end
Caixa postal novamente. Merda.
Liguei inúmeras vezes para e para , mas não atenderam. Ritter estava armado, e meu maior medo era de que algo pudesse acontecer. Eu já estava tonta de tanto andar pra lá e pra cá, até que meu celular tocou.
- ? Você está bem? Onde você está? - fiz uma pergunta atrás da outra por conta do desespero.
- Estou chegando na sua casa para conversarmos.
- Na minha casa? Não, aqui não. Você sabe. - voltei a andar em círculos, cada segundo mais agoniada.
desligou o celular, e segundos depois ouvi o barulho de uma buzina conhecida. Corri para abrir a porta, e vi o carro de em frente à minha casa. Mas sem o .
- O que aconteceu? Cadê o ? - encostei-me à porta do passageiro, praticamente gritando, impedindo de falar.
- CALMA! Ele está bem. Entra no carro. - gritou em resposta, mas não estava bravo nem nada do tipo. Destravou a porta e entrei.
- Me explica tudo. Agora. - senti meu coração tão acelerado que pensei que ele pularia do meu peito naquele instante.
deu partida no carro, e eu o olhei sem entender, mas fez um sinal com a mão para que eu esperasse. Minutos depois, parou no parque velho que tinha perto da minha casa. Desceu do carro e desci em seguida, dando longos passos até ficar em sua frente.
- Olha, esse não era o plano. Não era pra você saber que estávamos ali. Não era pra você descobrir nada disso, mas assim que Ritter encostou a mão em você, pulou do carro para te ajudar. - explicou tudo antes que eu abrisse a boca. Seu olhar decepcionado fez meu coração acelerar mais ainda.
- Ele prometeu que não ia fazer nada! Por que você se meteu nisso? Eu pedi pra ninguém se intrometer, vocês são surdos? - gritei, pois ninguém ouviria de qualquer maneira. Pelo amor de Deus, eu devo ter falado grego!
- Desculpa se eu me preocupei com você. Desculpa se eu quis fazer algo pra impedir que aquele cara viesse aqui de novo. - a última coisa que qualquer um no mundo gostaria de ver, é bravo. E ele claramente estava bravo.
- Ele não viria aqui de novo! - tentei argumentar, mas ele deu uma risadinha irônica e debateu.
- Como você sabe? Se seu pai estava devendo, provavelmente vai continuar devendo, e ele viria cobrar de você de novo.
- Isso não é sobre você me proteger que eu sei! estava atrás de Ritter, e por algum motivo você aceitou ajudá-lo. Por Deus, , ele estava armado! E se algo acontecesse com você? - já não conseguia mais segurar as lágrimas em meus olhos, e nem a raiva do momento, e comecei a estapeá-lo.
- E se algo acontecesse com você, ? - mais um grito. Segurou meus braços, impedindo que eu continuasse a estapear seu peitoral, e olhou bem em meus olhos.
Nascemos, vivemos, morremos. Às vezes, não necessariamente nessa ordem. Mas ninguém nos diz o quanto vamos sofrer. O quanto vamos sofrer por amor, por família, por amigos, e por situações como essa.
- Antes eu do que você, . - senti as lágrimas quentes descendo pelo meu rosto. Numa escala de 1 a 10, a expressão de braveza de estava em 11.
- NUNCA mais diga algo assim, está me ouvindo? - me envolveu em um abraço tão forte, que seria capaz de quebrar meus ossos. Sua raiva misturada com preocupação foi depositada naquele abraço.
Vida é a coisa mais imprevisível e frágil que existe. Às vezes, frágil até demais. Mas eu não conseguia ficar brava com . Nem tinha o direito. Acho que se colocarmos todas as cartas na mesa veremos que ambos estão errados em alguns pontos, mas isso não importa no momento. A coisa mais importante é estar tudo bem entre nós. Eu não podia me dar o luxo de deixar isso ficar entre nós.
- Nunca mais faça algo desse tipo, ok? - perguntei em meio aos soluços, ainda nos braços de .
- Eu vou tentar. Mas , está tudo bem! Eu estou bem, está bem. - afrouxou os braços aos poucos, me dando um lindo sorriso, que quase me fez sorrir também, mas uma preocupação tremenda com surgiu.
- Onde ele está? - arregalei os olhos minimamente, apertando os braços de sem querer.
- Ele precisou ir com um colega. - sorriu novamente, mas não me convenceu.
-Que colega? Não estavam só vocês dois? - minha preocupação aumentava cada vez mais. Eu já não estava entendendo bulhufas daquilo tudo.
- É uma longa história, . Você vai precisar perguntar pra ele, porque não cabe a mim te explicar. - passou a mão pelos cabelos e respirou fundo, claramente dando um ponto final naquela história.
Aparentemente, tudo estava bem. Ficamos mais alguns minutos ali e me levou de volta pra casa, e a primeira coisa que fiz foi ligar para , mas não obtive resposta.
Fui até o banheiro e peguei minha grande amiga. A lâmina. Toda aquela angústia tinha que passar de alguma forma. O posicionei em minha barriga, fazendo cortes cada vez mais fundos. Era exatamente aquilo que eu merecia. Por minha culpa, havia feito aquilo. Por mim. Se algo tivesse acontecido, seria minha culpa também. Eu merecia todo tipo de dor mesmo.
's POV
Chegamos num galpão abandonado, onde Dan tirou Ritter do porta malas como se fosse um saco de lixo.
- Vamos lá. Comece a falar sobre o merda do seu patrão. - Dan gritou.
Ritter estava jogado no chão, e o comparsa de Dan estava atrás dele, com uma arma apontada para sua cabeça.
- Você acha mesmo que isso vai ser o suficiente pra me fazer falar? - Ritter gargalhou alto.
Não pensei duas vezes antes de lhe dar um chute bem dado no estômago. Abaixei, vendo o homem gemer de dor, e falei bem próximo de seu ouvido:
- Se você acha que não é, então vai ser.
- . Filho de Richard. Quem diria, não é? O que você vai fazer, me matar? Filho de peixinho, peixinho é. - continuou a gargalhar, o que me tirou ainda mais do sério.
Posso ser tudo, menos como Richard. Me recuso a acreditar que esse homem é meu pai. Me recuso a acreditar que esse homem é causador de tanto sofrimento a tanta gente.
- Ele pode não te matar, mas eu posso. Mas antes, você vai falar onde encontramos Richard. Ah se vai! - Dan se abaixou também, dando um soco com vontade no rosto de Ritter.
- Por que eu diria? Vocês não vão me matar, pois precisam de mim pra achá-lo, então, o que vocês vão fazer? - Ritter riu em meio à dor.
- Posso matar seus filhos, o que você acha? - Dan gargalhou também, e a risada de Ritter cessou aos poucos.
Há tempos, Dan buscou informações sobre a vida de Ritter, inclusive sobre seus dois filhos e sua mulher, que havia falecido há 4 anos atrás. Eles moram em um bairro diferente, mas não tão longe.
- Você não faria isso! Seu problema é comigo, seu desgraçado! - Ritter gritou nervoso, tentando atacar Dan a todo custo.
Incrível como envolver a família em algo muda tudo. Em como isso é algo tão importante e essencial. Claro que Dan apenas jogou verde pra colher maduro, já que ele nunca faria isso com ninguém, mas precisou fingir para conseguir as informações desejadas, e Ritter caiu direitinho.
- Você quer pagar pra ver? – Dan arqueou uma sobrancelha, com sua pose durona em frente ao homem.
- Que inferno! Irei me encontrar com Richard de novo daqui duas semanas. Vocês podem ir lá e fazer o que quiserem, apenas deixe meus filhos fora disso. - Ritter gritava mais e mais. O desespero em sua voz estava nítido, mas o que eu não conseguia entender é sua escolha. Esse modo de viver.
- Por que você se meteu nisso? Por que você se envolveu com gente desse tipo? - minha curiosidade foi tão grande, que precisei perguntar, resultando em um silêncio absurdo por longos segundos.
- Eu tive uma vida de merda, larguei a escola, tenho dois filhos que precisam comer, beber, ter o que vestir e contas pra pagar. E não tem ninguém que me ajude, porque minha mulher está morta. Você ainda me pergunta por que eu me meti nisso? - seu olhar indignado e sofrido foi como um choque.
- Existem maneiras melhores de lidar com isso.
- Existem sim, mas no momento em que meus filhos estavam quase sem o que comer, eu não pensei nisso. Não culpo ninguém pelas minhas decisões, porque a culpa é inteiramente minha, mas eu tive meus motivos. - respondeu grosso, mas isso não deixou de me deixar sentido.
Quando dizem que sempre tem alguém com a vida pior que a sua, é verdade.
- Nunca acredite que pode se safar. Você até pode, mas só por um tempo. Sua vida é feita de escolhas e decisões, escolhas erradas, vida errada, escolhas ruins, vida ruim. - respondi bem próximo ao seu rosto, finalmente percebendo seus olhos decepcionados.
- , a lição de moral já acabou? Eu te dou o endereço onde me encontro com seu pai e vocês deixam meus filhos em paz, beleza? - Ritter balançou a cabeça negativamente, provavelmente imaginando a encrenca que estava se metendo.
***
Dan me deixou em casa de madrugada. A noite realmente foi longa. Peguei meu celular e vi 9chamadas perdidas de . Joguei a cabeça pra trás só de imaginar o quanto iria ouvir dela, porém nada que não tenha conserto.
Entrei em casa na ponta dos pés para não acordar ninguém. Óbvio que não consegui dormir, apenas esperei o tempo passar e fui fazer o mesmo de todas as manhãs, fingindo que nada tinha acontecido.
- Bom dia, filho. - minha mãe adentrou sorridente a cozinha, logo preparando a mesa para o café.
- Bom dia.
- Tenho um convite pra fazer.
- Já sei, jantar na casa dos Tuck. - brinquei, mas assim que a olhei, seu olhar quase surpreso mostrava que era exatamente aquilo.
- Hoje as sete, meu bem. E pare de revirar esses olhos. - jogou o pano de prato em mim, fazendo graça.
Vê-la feliz é ótimo, mas jantar na casa dos Tuck não é nada ótimo.
- Tomara que eu seja atropelado por um ônibus antes das sete então. - arrisquei a brincadeira que deixa qualquer mãe enfurecida, e com a minha não foi diferente.
- Não fala bobeira, moleque! Temos uma novidade, e preciso de você lá. - seu tom de voz bravo passou para misterioso em questão de segundos.
- Que surpresa? - cerrei os olhos, observando sua comilança.
- Você terá que ir pra saber. - deu uma piscadinha, e apenas revirei os olhos novamente como resposta, saindo dali em seguida para apressar Sophia.
O que esse pessoal aprontou dessa vez? 's POV end
Atrasada como sempre. Noite mal dormida como sempre também. Peguei meu material rapidamente e fui para a sala, e mal consegui prestar atenção na aula. Eu precisava falar com , mas nenhuma de nossas aulas eram juntas hoje, o que me fazia ficar mais ansiosa ainda. Dele eu estava com raiva, e muita. Quem ele pensa que é pra descumprir uma promessa? Quem ele pensa que é pra se intrometer nisso?
- , você entendeu? - o professor de química perguntou, me despertando do meu transe.
- Entendi o que? - perguntei perdida, abrindo o livro em uma página qualquer.
- Exercícios da página 38, mocinha. Se concentre. - seu tom de voz alto e autoritário me deu um leve susto.
A verdade é que eu estava me lixando pra os exercícios da página 38, eu só queria ver .
Parece brincadeira, mas nem no intervalo o imbecil apareceu. Faltar ele não faltou, pois o pessoal havia me falado, então ele estava fugindo de mim.
- , preste atenção! - Callie gritou, com uma expressão brava no rosto.
Eu também estava me lixando pra o treino, eu só queria ver ! Minha vontade era de gritar e gritar.
Posições novas pra lá e pra cá, novas coreografias pra cima e pra baixo, e nem isso conseguia me distrair. A única coisa que me agradou no dia foi o último sinal sendo tocado, dando fim ao treino. Corri para o vestiário, mas não o feminino, e sim o masculino. Dessa ele não escapa.
- Epa, esse é o brinde do jogo de hoje? - um dos garotos do time fez graça, e eu fiz uma cara de nojo como resposta.
foi o último a entrar, e assim que me viu, veio em minha direção o mais rápido possível.
- O que você está fazendo aqui, sua maluca? - arregalou os olhos em surpresa, me levando para o canto do vestiário, onde os últimos armários são vazios, então ninguém estava ali.
- Você fugiu de mim a manhã inteira, seu idiota! A minha vontade é de te esmurrar! Você mentiu pra mim, quebrou a promessa, e colocou você e em perigo. Qual é o seu problema, ? - tentei me conter, mas comecei a distribuir pequenos tapas em seu corpo.
- , aqui não é lugar pra isso! - tentou pegar em meus braços, mas não permiti.
- Eu te falei que aquilo não era sobre você, e mesmo assim você foi atrás daquele homem.
parecia estar perdendo a paciência, e em questão de segundos, conseguiu pegar os meus dois braços e me empurrou até bater no armário que estava atrás de nós.
- Aqui não é lugar pra isso. - falou pausadamente, olhando diretamente para os meus olhos.
- Que diabos está acontecendo aqui? - a voz do treinador fez com que me soltasse no mesmo instante, e nos viramos para ele, que estava com toda a turma do time atrás.
- Eu precisava falar com ele. - dei o meu melhor sorriso, mas a expressão de merda do treinador permanecia a mesma.
- Você pode fazer isso lá fora. Isso daqui é só pra homens. - deu um suspiro exausto, provavelmente cansado desses problemas com adolescentes.
Dei um olhar intimidador para o garoto e saí dali, ouvindo um "Nunca se sabe quem vai encontrar no banheiro masculino hoje em dia" de algum dos jogadores, mas ignorei.
***
Passei o resto da tarde com e Sophia, contando os segundos para vir buscá-la e podermos conversar. A campainha tocou e corri para atender, sabendo que era ele.
- Você me deve uma explicação, e eu quero que você fale agora. - disparei a falar antes mesmo de pensar em fazer algo, mas ele deu uma risada fraca e foi para o lado, mostrando sua mãe em seu carro, que acenou animadamente pra mim, e retribuí da mesma maneira, mas por dentro estava decepcionada, e ainda brava.
- Parece que vai ficar pra depois. - falou em tom de brincadeira, provavelmente zombando da minha cara.
O que ocorreu foi tão sério e ele nem parece se importar.
's POV
Ver estressadinha é um tanto quanto divertido, mas sei que não vou poder fugir desse assunto pra sempre. Mas o lance é que eu preferia ficar ali e dar sua tão esperada explicação, do que ir jantar na casa dos Tuck, mas não tinha saída.
Chegamos bem no horário, e a mesa já estava arrumada. O cheiro estava ótimo pelo menos.
- Boa noite, meus queridos! - Julie e sua simpatia sem tamanho estavam nos cumprimentando.
Jackson e o pai foram menos calorosos, mas foram educados também. Nos sentamos e não demorou muito para a empregada começar a nos servir.
Muito papo sem necessidade estava rolando, e minha paciência já estava curta. Eu não estava ali pra ouvir sobre aquelas baboseiras.
- Mãe, qual é a surpresa que você tinha? - perguntei impaciente, fazendo ela e Julie se calarem e me encararem por alguns segundos.
- Oh sim, a surpresa. Bem... Eu consegui um emprego! - sua animação ao anunciar foi impagável.
Ela podia ter me dito isso em casa, mas tudo bem. Estou enchendo a pança e isso que importa.
- Que ótimo, mãe! Mas pra que falar disso aqui? - perguntei forçando um sorriso, sem entender sua decisão de fazer isso justo nesse jantar.
- Porque ela vai trabalhar comigo, querido! - Julie respondeu tão animada quanto minha mãe.
Puta merda, estava bom demais pra ser verdade. É ótimo ver minha mãe feliz, finalmente seguindo em frente, mas não dá, não consigo entender todas essas mudanças em tão pouco tempo. Julie Tuck estava sendo amiga demais em pouco tempo. Tem algo errado nessa história.
Enquanto minha mãe e Julie conversavam, fiquei na sala sozinho com Sophia. Meu celular começou a tocar, e o nome de apareceu na tela mas ignorei. Logo em seguida, mensagens dela e do pessoal no nosso grupo do WhatsApp chegaram em meu celular, falando sobre o acampamento no final de semana, que rolaria... Amanhã. Porra, amanhã! Não tem mais como escapar de .
***
Acordei 6 horas. Sim, 6 da manhã num sábado, graças a e sua vontade de aproveitar o máximo que puder. Arrumei todas as minhas coisas nas malas e levei até o carro, e fui para a casa de .
- Bom dia. - abriu a porta sonolento, sentando no sofá em seguida.
Entrei, fechei a porta, e me sentei ao seu lado. Eu também não tinha dado uma explicação para , e isso precisava ser feito logo.
- Eu te devo uma explicação.
- Deve. - continuou na mesma posição, bocejando em seguida.
- Ritter trabalha para Richard. Eu precisava pega-lo pra chegar até Richard e acertar certas coisas. Desculpa ter te colocado nessa situação, . - dei um suspiro quase aliviado.
- Quem é esse porra de Richard? - praticamente pulou do sofá, me olhando sem piscar.
- Meu pai.
Falar isso é um alívio, e ao mesmo tempo um fardo que tenho que carregar. Ser filho de uma pessoa assim não é nada bom, muito pelo contrario.
- O QUÊ?
Justamente a reação que eu esperava.
- Meu pai é traficante de armas e drogas. Ele abandonou minha família há 5 anos, quando eu tinha 13 e Sophia estava pra completar 5 anos. Eu não falo sobre isso, . Essa é a pior parte da minha vida. Mas eu sinto muito por de alguma forma, colocar no meio disso tudo.
- Quem sente muito sou eu. Nem imagino o quanto tudo isso foi horrível, . E você não tem culpa de nada disso! O que seu pai faz, não é sua culpa. O único culpado nessa história é o pai da , por ser um imbecil. - abri os olhos, vendo com um olhar tão consolador, que boa parte da angústia que eu estava sentindo, estava sumindo.
Cada vez que eu falo sobre isso, um peso some das minhas costas. Carreguei isso por tanto tempo, que me livrar disso aos poucos está sendo melhor do que eu imaginava. Por mais complicada que minha vida tenha sido até aqui, talvez eu finalmente esteja pronto pra admitir que arranjei amigos. Amigos de verdade. e , principalmente.
- não sabe de nada disso, então você não pode falar nada pra ela, tudo bem? - fui sério ao fazer a pergunta.
- Uma hora você vai precisar contar. Ninguém pode, e nem tem o direito de fazer isso por você, mas por favor, conte. Ela merece a verdade, . - deu um sorriso sem mostrar os dentes, e um tapinha no ombro em seguida.
- Eu sei.
- Mas afinal, quem eram aqueles homens no outro carro? - cerrou os olhos.
- Dan e Patrick. Dan é uma das pessoas que eu mais confio no mundo. Ele era amigo de Richard, mas agora posso dizer que são inimigos.
- E esse Dan é como o seu pai? Digo, esse lance de arma e drogas? - arriscou a pergunta, e eu ri pela sua expressão.
- Dan vende drogas, mas ele é dono de algo grande. Anos no mercado. - brinquei, o fazendo rir junto comigo.
- Nunca imaginei que você tivesse uma história dessa, .
- Eu também não imaginaria.
Em segundos, ouvimos uma buzina e saímos. Callie estava tirando as coisas do porta malas do carro do pai com dificuldade, e fui ajudar enquanto puxava o saco do sogro.
- Por que tanta coisa?
- Porque meu namorado é um estranho que só leva a gente pro meio do mato, e eu nunca sei o que posso encontrar lá. - fez força pra puxar sua mala, tendo dificuldade em tirar tudo aquilo dali.
Rimos e entramos novamente, mas nem deu tempo de sentar já que ouvimos outra buzina. Chloe, e chegaram de carona com o pai de .
- Essa menina trouxe o mundo pra dormir uma noite fora! - gargalhou, apontando pra Chloe, que mostrou a língua em resposta.
Começamos a arrumar as coisas no meu porta malas e no porta malas do carro da mãe de . Muita coisa pra pouco espaço, mas pra tudo tem seu jeito.
- Para de socar essa sacola desse jeito, tem comida aí! - Callie me repreendeu brava.
e chegaram trinta minutos depois, uma culpando a outra pelo atraso, mas botou ordem no negócio.
- Calem essa boca! Vocês já chegaram, agora vamos! - gritou, calando as duas no mesmo instante.
- Todos prontos? - fechou o porta malas rápido para nada dali cair, já que era bastante coisa.
De repente, todos decidiram ir no banheiro, beber água, lavar as mãos, subir numa árvore, lavar a calçada...
sentou no sofá ao lado do primo, que já estava impaciente.
- Bom dia, pessoal. - um homem que deduzi ser pai de apareceu ali, rindo de toda aquela correria.
- Bom dia tio Chris. - levantou e deu um abraço no homem.
Logo, todos estavam prontos, mas antes de saírmos, não perdeu a oportunidade de dar aquela zoada.
- Quando o senhor vai dar um carro pro ? O coitado está quase comprando uma carroça.
- Ótimo, assim não preciso gastar com um carro de presente. - Chris respondeu rindo, e saímos dali em direção ao carro.
O mesmo esquema de sempre, , Callie, Chloe e num carro, e , e no meu. Seriam no mínimo, uma hora e meia de viagem, o que fez se ajeitar do melhor jeito possível e dormir em minutos.
- Está na hora de por uma música. Solta o som, DJ! - falou animada, mas não moveu um dedo.
- Certas pessoas não merecem ouvir a voz de Ryan Tedder. - a garota respondeu emburrada, e a amiga revirou os olhos.
- Vocês brigaram de novo? Ave Maria, quem vai dormir agora sou eu. - balançou a cabeça negativamente e amarrou o cabelo em um coque, se ajeitando e fechando os olhos em seguida.
Silêncio, bastante silêncio. acabou dormindo de verdade, e apenas olhava pra frente, dando suspiros altos e impacientes.
- Pega esse CD que está aí dentro pra mim. - quebrei o silêncio, apontando para o porta luvas, mas fingiu que não ouviu.
Uma mão no volante e uma no porta luvas. Quais as chances disso dar errado? Todas.
- Olha pra frente! - ordenou, mas ignorei. Ela colocou a mão no porta luvas e eu tirei, voltando minha atenção para a estrada.
- Maluca. - falei baixo, mas ainda assim ela ouviu. Agora o couro come.
- O que você disse? - franziu a testa.
- Nada. - segurei o riso. Sua cara estava demais.
- Você é um idiota, sabia? Primeiro que você nem me explicou nada do que aconteceu, e eu mereço uma explicação! E em segundo, qual o seu problema em atender o celular ou responder minhas mensagens? Se eu falo com você, é porque eu quero uma resposta! - sua indignação estava me matando por dentro.
- Eu estava ocupado. - continuei segurando o riso, mas ela estava tão concentrada em me xingar que nem percebeu.
- Estava ocupado caralho nenhum, para de mentir menino!
Eu não me aguentei e ri. Ri demais.
- Você é demais, . - falei em meio aos risos, e a garota estava boquiaberta, mas começou a rir em seguida também.
- Você é um otário, .
Dizem que, não importa qual seja a verdade, as pessoas vêem o que querem ver. Isso pode ser bom ou ruim. O caso aqui é que a verdade é que é linda. Sua risada é um som agradável de ouvir, e suas caras e bocas se tornam algo bonito de se ver. Essa é a verdade, e eu não posso negar.
- Você vai colocar esse CD pra tocar ou vai continuar com esse showzinho? - tentei ser sério, mas caímos na risada novamente.
Colocou o CD e cantou tudo sem parar, na maior empolgação. Quem a vê assim, nem imagina que sua vida seja tão complicada. Fingiu tão bem por tanto tempo, mas no fundo, acho que eu sempre soube que tinha algo a mais em . E ainda tem...
Burning Bridges começou a tocar, e por algum motivo, essa música me despertava um sentimento muito bom.
- You and I were meant to be, ain't no doubt about it. - cantarolei com , que me olhava orgulhoso.
- Você aprendeu a cantar!
- Como não aprender, né? - ri fraco, voltando a cantar.
I keep on running I'm building bridges that I know you never wanted (Eu continuo correndo, estou construindo pontes que eu sei que você nunca quis) Look for my heart you stole it away (Procuro pelo meu coração, você o roubou)
- Pelo amor de Deus, que música mais baitola é essa que vocês estão cantando? - perguntou sonolento, nos fazendo rir novamente.
- Vai dormir, vai. - mandou brincalhona.
- Sério, tira disso. Põe na radio, sei lá, só tira. - implorou, e obedeceu com cara feia.
Fomos o resto do caminho ouvindo o que julgava como "um monte de música chatona", e finalmente chegamos.
- Caraca, finalmente! - Callie pulou para fora do carro, observando tudo ao meu lado.
foi acordar do melhor jeito possível: dando susto.
- Era disso que eu precisava. - respirou fundo, sorrindo em seguida e abraçando a namorada por trás.
Tiramos as coisas dos carros e começamos a montar as barracas, ou pelo menos tentar.
- Está faltando algo nesse negócio. - olhou confusa para o manual da barraca.
- Você tem que conectar os postes da barraca, lindona. - tirei o manual de suas mãos, o jogando para trás.
- Ei! - gritou com cara feia, mas apenas sorri em resposta e comecei a montar sua barraca.
Callie e dormiriam juntos, assim como Chloe e . Viva o amor, galera!
- Vamos comer pelo amor de Deus. - e resmungaram juntos, e como todos estavam com fome, sentamos em qualquer canto para comer.
Chloe trouxe comida o suficiente pra uma semana, o que estava sendo maravilhoso já que tinha de tudo.
- Preciso de papel. - falou rapidamente, nos surpreendendo e nos fazendo rir.
- Você vai cagar? - perguntou em meio aos risos.
- Vou ué. É a minha cagada matinal. - deu os ombros, fuçando em várias sacolas que estavam espalhadas por ali.
- Aqui. - jogou um rolo de papel pro garoto, que o fuzilou em seguida.
- Você comprou do pior papel? Isso aqui parece lixa de skate, cara! - protestou, nos fazendo rir mais ainda.
É, eu definitivamente não podia estar em um lugar melhor. Depois de comer, voltamos a montar as barracas.
- Você está montando certo? Porque aqui diz que tem que ser de outro jeito. - apareceu com o manual em mãos.
- Eu sei como montar uma barraca. - tirei o manual de suas mãos novamente, o jogando mais longe que da última vez, enfurecendo a garota.
- Você é um saco, sabia?
- Aham.
- E você ainda me deve uma explicação, . - cruzou os braços, ainda brava.
- Agora não. - abaixei para prender a barraca ao solo.
- Pare de me enrolar! Eu deveria estar te chutando por ter feito aquilo.
- E por que não está? - fiz questão de ser bem cínico, pois vê-la brava é impagável.
- Porque eu quero uma explicação, oras! Por que você fez aquilo? - abaixou também, ficando ao meu lado.
Ser ou não ser? Ir ou não ir? Bem ou mal? Contar ou não contar?
- Depois conversamos, . - fui um tanto quanto grosso, o suficiente pra fazer a garota se afastar bufando dali. 's POV end
Me afastei do Chato e fui ajudar Chloe a arrumar as comidas e bebidas.
- Você está bem?
- Claro. Por que não estaria? - perguntei de maneira irônica, mesmo sabendo que não é justo descontar minha frustração em outras pessoas.
- Porque você está amassando meus pães, . - respondeu baixinho, apertando os olhos.
- Foi mal - ri fraco - Só um pouco irritadinha.
- ? - arqueou uma sobrancelha.
- Sim. Ele é insuportável. - revirei os olhos, vendo o sorriso de Chloe se formar em segundos.
- Espero sermos amigos o suficiente para chegar o dia em que eu direi que sempre soube que vocês seriam um casal.
Nunca ouvi tanta asneira numa frase só.
- Cala essa boca. - gargalhei algo, porque aquela frase era digna de risadas.
Terminamos tudo o que tinha pra fazer, e e Callie chegaram com a brilhante ideia de caminharmos até uma cachoeira que tinha ali perto e todos concordaram e pegaram uma roupa a mais. Andar por aquele lugar dava uma sensação de que estava tudo bem e nada importava. Nada de pai maluco por perto. Apenas eu e meus amigos.
- É lindo! - Chloe falou encantada ao chegarmos.
- Você não disse pra trazermos biquínis, seu mané. - Callie deu um peteleco no namorado.
- Sutiã e biquíni é a mesma coisa! Só coloquem um shorts e já era. - respondeu rapidamente antes de levar outro tabefe.
As garotas assim fizeram. Apenas se afastaram até uma árvore para colocarem um shorts, e eu gelei. Minha barriga lotada de cortes e ainda não aprendi a mágica que os fazem desaparecer. Todos correram e entraram na água felizes da vida, e eu ainda pensando numa desculpa para aquilo.
- Por que essa sereia está fora d'agua? - apareceu sorridente. Bipolar sim ou claro?
- Porque a sereia quer. - respondi ríspida, sem olhá-lo nos olhos.
- Você não está com raiva, né? - abaixou até ficarmos cara a cara, e foi aí que percebi que ele estava sem camisa. PUTA MERDA.
- Não. - sorri, tentando tirar os olhos de sua barriga.
- Ótimo. Então vamos. - estendeu a mão.
- Não quero entrar na água. - falei cabisbaixa, na esperança que ele não insistisse.
- disse que você ama nadar, então vem. - pegou em minha mão e puxou, me fazendo levantar.
- Mas eu não quero, ! - gritei, tentando soltar minha mão dali.
- Epa, calminha. - soltou minha mão no mesmo instante, e pude notar o resto do pessoal nos olhando.
- Eu não vou entrar na água, só isso. - me virei, caminhando de volta para onde eu estava.
Eu sou definitivamente uma estúpida. Enquanto todos estavam se divertindo, eu estava me afastando. Mas não tem quem culpar a não ser eu mesma. Cada ato tem sua consequência.
Depois de muito tempo, o pessoal decidiu sair da água, e fomos para aonde nossas coisas estavam.
- Por que você não quis entrar na água? - perguntou desfiado enquanto se secava.
- Só não quis. - dei um sorrisinho torto, entrando na minha barraca e colocando tudo ali, cobertores, travesseiro e mochila.
- Ei, vamos jogar! - gritou, e fomos todos até ele.
Colocamos uma grande toalha no chão, e sentamos, prontos para a brincadeira, que seria... Uno.
- Você está de brincadeira? - bufei.
- Uno é legal, menina. - respondeu pelo amigo.
- Os dois últimos que perderem, vão ter que tomar uma dose desse bebê aqui. - mostrou uma garrafa de vodka.
- Tinha que ter bebida envolvida. - Chloe falou com um tom de voz óbvio, nos fazendo rir.
- Você não pode se não vai passar mal e teremos que ir pra casa. - zombou da garota, que mostrou o dedo do meio em resposta.
- São oito pessoas jogando, até acabar a primeira partida já vai estar na hora de ir embora, seu jumento. - Callie falou cheia de razão, e eu e as garotas concordamos.
- Trás a gente pro mato pra ficar jogando uno? Me poupe né! Vamos beber esse negocio aí. - o tom de voz mandão de surpreendeu a todos.
- Mas quem trouxe as bebidas fui eu! - se defendeu.
- Tem mais?
- Você achou que eu ia trazer uma garrafa só pra essa penca de gente? - abriu um sorriso sapeca, puxando a mala cheia de bebida que estava atrás dele.
- Por isso a gente gosta de você! - largou as cartas do uno e pegou uma latinha de cerveja.
Decidimos ir atrás de lenha para fazer uma fogueira, pois o sol estava indo embora e pelo jeito a noite seria fria.
- Vocês trouxeram fósforo ou isqueiro? - perguntou enquanto largava as últimas lenhas no chão.
Nos entreolhamos e ficamos em silêncio.
- Como assim ninguém trouxe? - ele gritou indignado, balançando a cabeça negativamente.
começou a vasculhar em sua bolsa, e depois de ter jogado quase tudo que estava dentro dela, fora, achou um isqueiro.
- O que seria de nós sem mim? - perguntou sorridente. Mais convencido impossível!
Continuamos a beber e conversar até escurecer.
- Eu não quero que isso acabe. Ouço minha mãe contando histórias sobre os amigos quando ela tinha essa idade e eu fico triste porque ela já não sabe mais aonde eles estão. Foi cada um pro seu canto, e eu não quero isso. Eu não quero que isso aqui acabe. - desabafou, fazendo um bico enorme.
- Toma umas latinhas de cerveja e já começa a se declarar. - brincou debochado, dando um gole em sua latinha em seguida.
- Eu concordo. Eu não quero que a gente se esqueça ou se separe. Eu quero vocês no meu casamento, e no mesmo asilo que eu, quando estivermos todos velhos e enferrujados. - Callie continuou, e aquilo tocou meu coração.
- Pra ser bem honesta, eu fiquei com um pé atrás no começo. Eu não queria me envolver tanto assim com vocês, e olha a que ponto chegamos. Acampando no meio do nada, e mesmo assim conseguimos fazer com que seja divertido. Eu queria que todo mundo tivesse isso, pelo menos uma vez na vida. Esse sentimento de união e tanto carinho que temos um pelo outro. Eu também não quero que isso acabe. - soltei tudo que estava em meu coração, me sentindo aliviada por fazê-lo.
- Eu vou chorar toda a cerveja que eu tomei desse jeito! - fingiu estar chorando, mas logo ficou sério - Eu sei que sou um palhaço, mas eu não trocaria vocês por nada.
- Pessoal, isso aqui é pra sempre, eu garanto. - abriu seu melhor sorriso.
- Vamos brindar a isso! - ergueu sua latinha, e todos nós levantamos as nossas.
- Vocês são incríveis! - Chloe praticamente gritou, já estava levemente alterada pela bebida.
- Falta o . - arrisquei, esperando que o garoto falasse algo sobre nossa amizade.
- Me faltam palavras pra descrever. - fingiu limpar uma lágrima do olho, me fazendo gargalhar.
Essa coisinha diferente que eu estou sentindo, talvez se chame felicidade. Ela vem em muitas formas, inclusive na companhia de bons amigos. Mas o problema é: nunca sei até quando essa felicidade irá durar.
Conversamos durante horas, e todos já estavam mais pra lá do que pra cá. Obrigada pelas bebidas, !
- Vou dormir, boa noite pra vocês! - caminhou até sua barraca com Callie, que deu um aceno em despedida.
As barracas estavam bem afastadas, já que tem casais, e caso eles queiram fazer algo, ninguém precisará ouvir também. Em seguida, todos foram também, menos . Parece até combinado, mas todos realmente estavam com sono.
- Não está com sono? - se sentou ao meu lado.
- Eu bebi tanto energético que vou ficar acordada até 2034. - gargalhei.
- Acho que precisamos conversar. Sei que te devo uma explicação, e sei que você está fazendo de tudo pra não ficar com raiva de mim, mas é realmente complicado, e eu... - não o deixei terminar, apenas encostei nossos lábios.
Por algum motivo, eu não queria ouvir nada daquilo no momento. Não era hora pra falar de problemas. Eu apenas o queria perto de mim, com a boca na minha.
- ... - murmurou entre o beijo, mas não respondi, apenas continuei.
Coloquei uma de minhas mãos dentro de sua camiseta, e sorri ao ver que o arrepiei.
- Você disse pra eu te aguardar, . E eu estou aguardando. - sussurrei em seu ouvido de maneira provocativa.
"Não deixe o momento passar" é o que dizem. Eu não podia deixar passar. me atrai de uma maneira inexplicável. Seu corpo perto do meu é a única coisa que preciso no momento.
Nos olhamos por alguns segundos, e levantou e me puxou pela mão até minha barraca. O espaço era pequeno, mas estávamos conseguindo nos virar.
's POV
Essa garota simplesmente me deixa maluco. É tão surpreendente, que nem encontro palavras. Nossos beijos, cada vez mais desesperados, me faziam querer explodir. Tanta excitação num lugar tão pequeno.
- Bom saber que você estava esperando por isso. - fiquei por cima dela, distribuindo beijos e chupões por seu pescoço.
- Está falando demais, . - sorriu, caminhando com sua mão até chegar no meu pau.
Peguei suas mãos e as segurei, a beijando novamente, e a puxei para ficar sentada, retirando sua camiseta. Não consegui prestar atenção em seus seios, pois tinha algo ali que me chamou mais a atenção.
- , o que é isso? - passei a mão por sua barriga, sentindo todos aqueles cortes ali.
Sua expressão desesperada quase fez meu coração doer. Não é possível que isso esteja acontecendo. Não é possível que ela faça isso consigo mesma.
- Na-nada. - pegou sua camiseta e colocou rapidamente, me empurrando para o lado e saindo da barraca.
- , me explica o que é isso! É o que eu estou pensando? - segui seus passos rapidamente, mas ela andava cada vez mais rápido. Acelerei o passo até conseguir agarrar em seu braço, o puxando com força.
- Não! - se soltou, virando de costas para mim.
A chave para a sobrevivência é a negação. Negamos tudo. Negamos que estamos errados, negamos que estamos com medo, e negamos quando dizemos que não queremos falar sobre algo, mesmo querendo. Às vezes, a realidade dá um jeitinho de vir de fininho e dar um tapa em sua cara.
- , você não precisa mentir pra mim. Eu já conheci gente que faz isso. - tentei ser o mais calmo possível, por mais que a situação não fosse nada fácil.
- Não é nada disso! - tentou desconversar, visivelmente nervosa.
- Negar não muda a verdade, . - me aproximei, a virando novamente para mim.
- Eu não posso falar sobre isso, . Eu não vou falar sobre isso! - sua voz embargada e seus olhos cheios de lágrimas não me fizeram ter dúvidas em abraçá-la.
- Você está assustada, . A vida é assustadora.
- Não, minha vida não é assustadora! Existem tantas pessoas piores do que eu, tantas pessoas doentes, com fome, sem o que vestir... Isso sim é assustador! Minha vida não é assustadora, , eu simplesmente sou fraca! - desabou no choro, sem coragem de me olhar.
- , preste atenção em mim! - coloquei a mão em seu queixo, o levantando até ela conseguir me olhar - Isso também faz parte da vida. Você quis se castigar por todas as coisas ruins que te acontecem, mas nada disso é culpa sua!
- Claro que é! É a minha vida, e eu não consigo muda-lá, então é culpa minha sim! - fungou, passando as mangas da blusa no rosto para enxugar as lágrimas.
- Mas isso é a vida! Nos construímos para quebrar, e depois nos reconstruímos para quebrar novamente. Não é culpa sua, . - a abracei novamente, de maneira que ela não pudesse sair dali.
- Eu não queria que você descobrisse, . Você deve me achar uma imbecil por completo.
- Você segurou firme esse tempo todo mesmo sem ter nada pra segurar, ! Você não é imbecil nem fraca, está me ouvindo? - ela não respondeu, apenas me abraçou forte, ainda chorando.
Se tem uma coisa que eu aprendi ao longo dos anos é que só precisa de uma pessoa, um momento, para mudar sua vida para sempre. Para mudar sua perspectiva ou clarear sua mente. Para te forçar a repensar em muita coisa. é essa pessoa.
Depois que seu choro cessou, limpei as últimas lágrimas que estavam ali passeando por seu rosto, entrelacei nossas mãos e começamos a caminhar de volta pra barraca. Entrei com ela, e sentamos em silêncio por alguns minutos, e decidi que estava na hora de sair dali. Foi um grande dia para ela. Revelações nunca são fáceis, ainda mais quando não são planejadas.
- Fica. - me segurou pela mão assim que fiz menção de sair dali.
- Tudo bem. - falei baixo, sentando ao seu lado novamente.
- Você não é bom com promessas e disso eu sei, mas será que dá pra você não contar pra ninguém sobre isso, por favor? - me olhou ainda decepcionada.
- Não vou contar, pode ficar tranquila.
- Podemos tentar dormir? Porque se eu ficar acordada eu vou chorar e chorar, e eu estou farta disso. - sua voz estava embargada novamente, ameaçando chorar a qualquer segundo.
- Claro que podemos.
Nos ajeitamos e deitamos, ficando aquele silêncio arrebatador no ar. Procurei por sua mão e as entrelacei. Ela não estaria só em nenhum momento a partir de agora.
"Intimidade é uma palavra de cinco sílabas que quer dizer: "Eis meu coração e minha alma, favor moê-los, fazer deles um hambúrguer e bom apetite." É tão desejada quanto temida, difícil de viver com e impossível de se viver sem. Intimidade também está ligada a três coisas inevitáveis: família, romance e certos amigos."
Abri os olhos com certa dificuldade, olhei pro lado e vi dormindo tranquilamente. Abri minha mochila, peguei minha escova de dente e a pasta, saindo dali tentando fazer o menor barulho possível. Peguei um copo d'água e comecei a escovar meus dentes, observando todo aquele verde por ali.
- Bom dia flor do dia. - saiu de sua barraca, toda descabelada.
- Bom dia. - passei a mão pelos seus cabelos, ajeitando aquela bagunça.
- Você chorou durante a noite? - cerrou os olhos, me pegando de surpresa.
- Não, eu dormi demais mesmo. - sorri tentando ser convincente, mas cruzou os braços e arqueou as sobrancelhas.
- Desembucha, . Eu não sou burra.
- Nada importante, eu juro!
- Somos amigas, não somos? Mas você precisa me contar o que acontece pra eu poder te ajudar. - encostou uma mão em meu ombro, e respirei fundo.
- Não tem como ajudar, .
- Tem essa coisa que eu faço quando estou triste... É bem divertido. - sorriu como se estivesse tramando algo e pegou seu celular em seguida.
Hoedown Throwdown, da Hannah Montana começou a tocar, e não consegui deixar de gargalhar alto.
- Você dança Hannah Montana?
- Claro! Você já viu alguém triste dançando isso?
Começamos a nos mexer no ritmo da música, fazendo a coreografia certinha, rindo uma da outra.
- O que é isso? - e Chloe saíram da barraca, rindo conosco.
- Isso somos nós dando um tapa na casa da tristeza - respondeu sorridente, não deixando de dançar - Throw it all together, that's how we roll! - cantamos juntas, parando de dançar porém ainda rindo.
- Obrigada por isso, . - sussurrei em seu ouvido enquanto a abraçava.
- Eu estou aqui pra você a qualquer momento, .
- Eu tive esse sonho doido de que vocês duas estavam dançando Hannah Montana. - saiu de sua barraca, passando a mão pelos cabelos fingindo estar confuso.
- Seu sonho se tornou realidade. - riu.
- Vamos todos dançar. - gritou animada, correndo até a barraca de e Callie, os obrigando a levantar, e logo em seguida foi até a barraca de e ficou confusa, já que ele não estava nela.
Me preparei para ser zoada por um bom tempo e abri a boca.
- Ele está na minha barraca. - todos me deram um olhar pervertido e rolei os olhos, rindo em seguida.
- Danados. - Chloe brincou.
- Espera a gente dormir pra enfiar o menino na sua barraca, né safada? - colocou as mãos na cintura, fazendo uma pose e uma voz tão engraçada que me fez rir alto.
- Eita. - saiu da barraca, se aproximando de nós e rindo do que o amigo havia falado.
- Ok, vamos dançar de novo pra começar o dia bem. - gritou, colocando a música pra tocar novamente.
Lembrarei de dançar sempre que estiver triste, porque sinceramente, realmente adianta.
- Acho melhor irmos embora, não sabemos se está trânsito ou algo do tipo. E amanhã tem aula. - Callie sugeriu e todos concordaram desanimados. Eles realmente gostaram do lugar.
terminou de desmontar sua barraca e foi me ajudar. Eu mal conseguia olhá-lo. Não por vergonha, e sim por medo. Medo de que tudo o que ele havia falado, tivesse sido apenas para me acalmar. Medo dele realmente me achar fraca.
- Você está bem? - o som da sua voz me fez levar um leve susto.
- Estou.
- Você faz isso em mais algum lugar? - perguntou sem me olhar, mas eu sabia que ele estava se referindo aos cortes.
O que é um peido pra quem está cagada? O pior ele já descobriu, então falar todo o resto não seria tão ruim.
- Pulsos e coxas, mas a barriga é onde eu posso esconder a todo tempo.
- Vamos fazer algo quando chegarmos. Só eu e você. - finalmente olhou pra mim.
- O que? - o olhei brevemente, sem coragem para encará-lo.
- Você vai descobrir.
Terminamos de guardar tudo no porta malas novamente, e entramos no carro.
- Meu aniversário é no sábado. - falou como quem não quer nada, mas sorriu feito boba em seguida.
- Quero bolo, só digo isso. - resmungou, fechando os olhos para dormir. Esse garoto basicamente vive pra comer e dormir, mas não o trocaria por nada.
- Podemos sair pra comemorar. - propôs, não tirando os olhos da estrada.
Fomos boa parte do caminho conversando sobre as festas de aniversário de , e ela dizendo que queria algo diferente esse ano. No mesmo instante, comecei a pensar sobre o presente e em como sou péssima com isso. deixou em sua casa, e em seguida deixou , e meu estômago se revirou de nervosismo.
- Eu não sou esse tipo de cara. Eu não sei lidar com demonstrações de afeto, e sou um merda com conselhos. Mas de uma coisa eu sei, e é que vou ajudar você a passar por isso, e vamos começar agora. - disparou a falar, fazendo meus olhos se encherem.
- Lembra quando eu disse que você é um otário? - assentiu com a cabeça - Então, você é um otário incrível, e espero que você saiba disso também. - limpei uma lágrima que insistiu em cair, tendo um sorriso como resposta.
dirigiu por algum tempo até parar na frente de uma casa.
- É sua casa?
- Sim. Minha mãe provavelmente está em casa, e ela vai achar que estamos tendo algo sério porque eu nunca trouxe uma garota pra casa e blá blá blá. - explicou, soltando uma risada fraca em seguida.
Saímos do carro e caminhamos até a porta de , e assim que ele a abriu, Sophia correu para nos abraçar.
- Você trouxe a pra ficar aqui com a gente? - perguntou animada.
- Sim senhora. - abaixou e pegou a irmã no colo.
- Pra sempre? - arregalou os olhos.
- Não, Soph. - respondi rindo, dando um beijinho no rosto da garotinha.
- Oi gente! - a mãe de se aproximou, sorrindo lindamente - , certo? - arriscou, com os olhos cerrados de maneira divertida.
- Certo.
- Então, vocês dois... Estão... Sabe... Namorando? - apertou os olhos, rindo fraco.
- Eu avisei. - sussurrou baixo em meu ouvido - Não mãe, não estamos namorando. Estaremos lá em cima. - pegou em minha mão e a puxou, me guiando por sua casa até chegarmos ao banheiro de seu quarto.
- Você vai me trancar aqui? - perguntei confusa, observando cada detalhe dali.
- Vou. - vasculhou em suas gavetas, retirando uma lâmina dali, o que fez meu coração quase pular do peito - Vou te trancar aqui com essa lâmina do lado, e esse espelho na sua frente. Você vai repetir quantas vezes forem necessárias que você é linda, tudo bem? - pegou em meu queixo gentilmente, me olhando no fundo dos olhos.
- Mas ...
- Nada de "mas". Estarei aqui do lado de fora, e quero que você fale em voz alta. - deu um último sorriso e saiu, trancando a porta.
's POV
Acho que, quando as coisas mudam, acabamos mudando junto. Se alguém me dissesse que eu estaria fazendo isso por alguém, eu teria dado risada. Mas algo me diz que isso merece minha atenção e meu esforço. merece ajuda.
Demorou um tempo, mas aos poucos, ela começou a fazer o que pedi, e sorri. Sorri até cansar, só de ouvi-la dizendo aquelas palavras tão gentis consigo mesma.
- Está bom, você já pode me tirar daqui. - riu, dando leves batidas na porta.
- Só se você me der um beijo quando sair daí. - me aproveitei da situação, rindo junto.
Abri a porta, e entrelaçou as mãos em volta do meu pescoço.
- Acho que você merece mesmo um beijo. - gargalhou, encostando nossos lábios em seguida.
Coloquei minhas mãos em sua cintura, a apertando de leve, fazendo a garota sorrir entre o beijo. Demos alguns passos, sem parar o beijo, até batermos na cama. Deitamos lentamente, e tive que parar o beijo pra observá-la. Observar seu rosto, e ter a última certeza de que eu estava fazendo o certo. O certo por ela, pra ela.
Ficamos nisso por alguns minutos, e nenhum dos dois teve coragem de passar daquilo. estava frágil, e eu não queria parecer que estava me aproveitando daquilo.
Parei o carro na frente de sua casa, e antes que ela saísse, segurei sua mão.
- Se seu pai tentar fazer algo, ou se você tiver vontade de se machucar novamente, me ligue, me mande mensagem, uma carta, qualquer coisa, mas não guarde pra você! - vi o sorriso da menina se formar, me dando um selinho demorado em seguida. 's POV end
Me despedi de com o coração apertado. O que ele fez por mim foi incrível em tantos sentidos que eu simplesmente não queria ficar longe dele. Saí do carro e dei alguns passos, mas de repente, uma dúvida me atingiu como um raio. Eu havia esquecido daquilo por alguns dias. Eu havia interrompido quando ele ia me explicar sobre Ritter, e por mais que eu tivesse esquecido, eu ainda gostaria de saber. Desfiz meus passos, voltando novamente até o carro, me encostando na porta.
- O que foi? - abaixou o vidro, me olhando confuso.
- Você não me explicou sobre Ritter. - a cobrança já não era a mesma, mas ainda assim, pareceu extremamente surpreso.
- Ele é um conhecido meu, . Eu quis ir atrás dele porque não é certo tudo o que ele fez. Eu quis descobrir o que o levou a entrar pra essa vida. - respondeu de maneira calma, dando um sorriso sem mostrar os dentes no final. Por algum motivo, aquilo me pareceu estranho demais. não faz esse tipo que corre atrás de bandidos pra tirar satisfação.
- , eu não sou boba! Conte a verdade. - aquilo não me convenceu nenhum pouco, e não pude esconder minha real curiosidade.
- , eu estou falando a verdade! - bateu as mãos no volante, impaciente. Sua expressão mudou em questão de segundos, e aquilo me assustou.
Virei-me novamente para sair dali, deixando e sua raiva sozinhos. Ouvi o barulho da porta do carro sendo batida, e pude vê-lo correndo em minha direção.
- Olha, eu só queria saber a verdade, ok? - falei impaciente, cansada de todos os nossos bons momentos acabarem assim.
- - segurou em meu rosto delicadamente - Eu estou falando a verdade! Eu estava preocupado com você, e preciso que você confie em mim, ok? - perguntou sério, e mesmo que aquela história não tenha me convencido, resolvi dar um voto de confiança para . Ele estava sendo tão bom comigo e merecia aquilo.
***
Pisquei repetidamente até minha visão desembaçar. Um novo dia chegou, e tudo estava diferente. Diferente por acordar com uma sensação diferente, de acolhimento e de apoio, coisas que conseguiu me proporcionar.
Cheguei à escola e o avistei conversando com sobre seu aniversário.
- , ainda bem que você chegou. Estávamos falando sobre o que faremos no sábado.
- Vamos sair, encher a cara, comer bolo, vomitar tudo e dormir na casa da Chloe? - deduzi de maneira óbvia, arqueando as sobrancelhas e rindo fraco.
- Provavelmente!
O resto do pessoal chegou, e continuamos o assunto até bater o sinal.
- A semana de provas está chegando, então vamos estudar. - o professor de biologia começou a explicar sobre vírus, e todos estavam com caras de tédio.
Vamos combinar, biologia e geografia são claramente as melhores matérias do mundo. Depois de muita explicação, fizemos alguns exercícios e fomos para a aula de química, onde tudo desanda. Claro que, com tudo fica mais fácil, mas infelizmente ela não pode fazer a prova por mim. Por mais que canse toda essa rotina de escola, matéria em cima de matéria, é necessário. É complicado, às vezes dá vontade de jogar tudo pro ar e desistir, mas é necessário.
Estávamos andando pelo corredor, onde encontramos Chloe, que chegou saltitante, se enfiando no meio entre eu e Callie.
- O que vamos fazer no aniversário da ?
- Eu e estamos pensando em fazer algo no Tin Roof. Gostamos de lá. - Callie respondeu.
Fomos para o treino, não tendo descanso pra nada. Callie estava mais dedicada do que nunca.
- Eu estou exausta. - deitou em um dos colchonetes que estava no chão.
- Estamos. - Chloe deitou ao seu lado.
Quem diria, não? Essas duas me mostram que pela pessoa que se ama, aprendemos a gostar até de quem não suportamos.
Fui para o vestiário e me troquei rapidamente, ignorando os cortes em minha barriga. É uma página da minha vida que eu preciso virar, e vou.
Chloe estava encostada em seu armário, encarando o chão distraidamente, mas eu sentia que tinha algo errado ali. Meus instintos nunca falham.
- Aconteceu alguma coisa? - me aproximei com cuidado, e seu olhar foi de encontro ao meu lentamente.
- Não é nada importante, . - sorriu sem graça, voltando sua atenção a seu armário, que estava bagunçado pra caramba.
- Não me enrola não! Vamos, fale! - cruzei os braços, exigindo uma explicação. A garota bufou e apertou os olhos.
- Você e as garotas são ótimas amigas, e eu quero fazer parte disso também. Eu me sinto tão sozinha na maior parte do tempo, entende? Meus pais nunca estão em casa, e eu não tenho ninguém além de . - mordeu o lábio, esbanjando a verdade de uma vez, abaixando a cabeça novamente em seguida.
- E suas amigas daqui da escola?
- São apenas colegas, .
Não posso negar que Chloe é a largada do grupo. Vive na asa do , e sempre deixamos por isso mesmo. Está errado, complemente errado. Sinto-me na obrigação de tratá-la melhor a partir desse instante, afinal, todos me receberam de braços abertos, e por mais que o começo de Chloe não tenha sido dos melhores, ela faz de tudo para agradar. E é sempre assim... Fingimos que somos crescidos e maduros, mas no fundo somos todos um bando de crianças tentando se encaixar em algum grupo para brincar.
- Ainda bem que você tem a gente. - sorri, puxando a garota pela mão para fora dali.
***
No meio da semana, foi anunciado que teria jogo no sábado, o que significa que teríamos que ir junto para torcer. ficou frustrada, mas não deixaríamos de fazer algo para ela. Todos nós concordamos que devíamos fazer uma surpresa no Tin Roof, mas com direito a balões e bolo, mas a parte de ir conversar com o dono do Tin Roof, para falarmos sobre isso ficou para eu e . Como sempre.
- E se ele não deixar? - bati a porta do carro, caminhando até a entrada do Tin Roof.
- Por que não deixaria?
- Vai saber. - dei os ombros.
Entramos e estava vazio, como esperado. Afinal, quem vem para um bar em plena quinta feira?
- Ei, você é o dono daqui? - perguntei para um rapaz que estava atrás do balcão, servindo uma bebida para um senhor que estava sentado em sua frente.
- Não, mas sou filho dele. - o rapaz sorriu simpático.
- Podemos falar com você mesmo? - encostei-me ao balcão.
- Você pode qualquer coisa. - respondeu rapidamente, me deixando sem graça.
- Tivemos essa idéia maluca de comemorar o aniversário da nossa amiga aqui, e eu quero saber se posso trazer alguns balões, um bolo, talvez alguns confetes. - ri tentando esconder meu nervosismo, mordendo o lábio em seguida.
- E quando vocês querem fazer isso?
- No sábado! - respondi animada.
- Vieram ao lugar certo! Exatamente por ser aniversário, fazemos esse tipo de festinha para a pessoa. É o nosso presente. - sorriu, encostando-se ao balcão também, ficando muito próximo a mim.
- Valeu, era só isso mesmo. - pegou em minha cintura, me puxando até ficar reta novamente.
Epa.
- Iremos começar as nove, pode ser? - perguntei sem graça, vendo a cara fechada de .
- Já falei que você pode qualquer coisa. - deu uma piscadela, e me puxou pela mão, claramente impaciente.
- O que foi isso? - segurei o riso vendo sua expressão brava enquanto voltávamos para o carro.
- Eu não gosto disso. Você estava acompanhada e ele sabia, e mesmo assim ficou de gracinha pra cima de você. E não ouse fazer aquela maldita pergunta que você está pensando, porque a resposta é não. - bateu a porta do carro com força, me dando um susto.
- Então você não está com ciúmes? - provoquei.
- Eu não sinto ciúmes de ninguém, . - revirou os olhos, ligando o carro e dando partida.
Minha vontade de rir era grande, mas fiquei calada. Tudo fica mais claro a cada dia. ser durão, é só o modo como se protege.
- Boa noite, rapaz que não sente ciúmes de ninguém. - gargalhei, me aproximando e lhe dando um selinho demorado.
- Não sinto mesmo. - permaneceu sério, me dando um beijo em seguida.
Não me canso desses beijos. Não me canso de como fico besta em sentir que nossas bocas se encaixam perfeitamente.
- Boa noite, .
Sábado, 11:59PM.
nos explicou que sempre passou os primeiros minutos do aniversário com os pais, e não faria diferente esse ano. Fomos todos para sua casa, e fizemos contagem regressiva para meia noite.
- Feliz aniversário!!! - gritamos todos juntos.
Seus pais a abraçaram, e logo em seguida , que quase amassou a coitada.
- Aqui está seu presente. - o garoto pegou uma das caixas que estavam na mesa, entregando para a melhor amiga.
pulou de felicidade ao ver uma câmera instantânea, mais conhecida como "máquina que tira foto bonitinha", ou seja, polaroid. entregou seu presente, que foi uma almofada massageadora. deu um de seus chocolates favoritos, Chloe deu um colar de ouro, humilhando a todos nós. Eu e Callie juntamos uma graninha para comprarmos um boné do Charlotte Bobcats. havia comentado inúmeras vezes o quanto queria um daquele, e surtou ao vê-lo.
Depois dessa chuva de presentes, a mãe de trouxe bolo de prestigio, e comemos até acabar.
- Vocês são incríveis, sério! - ameaçou chorar, e demos um abraço em grupo. Cada dia que passa eu só tenho certeza de que estou com as pessoas certas.
- O que você deseja pra esse ano? - Chloe perguntou sorridente.
- Muito amor, muito dinheiro, e que a gente continue assim. - e sua meiguice, senhoras e senhores!
Chloe levou seu violão e cantamos nossas musicas favoritas, fizemos palhaçadas, e conversamos por um bom tempo, mas tivemos que ir embora, já que tínhamos jogo de manhã.
Acordei com mil ligações de Callie, que gritou comigo pelo celular, dizendo que eu iria me atrasar. E quase me atrasei mesmo.
- Oi mãe - dei um beijo em sua bochecha rapidamente - Tchau mãe. - acenei em despedida, acelerando o passo até chegar à casa de novamente, onde sua mãe já estava pronta para nos levar para a escola.
Acho que já posso morar na casa de , já que fico mais lá do que qualquer outro lugar ultimamente.
- Vamos logo! - Callie gritou assim que nos viu, puxando uma por cada mão, como se fosse nossa mãe.
- É meu aniversário, não grita comigo não! - respondeu emburrada, sentando nos bancos do fundo.
- EU NÃO ESTOU GRITANDO NÃO, É IMPRESSÃO SUA! - Callie berrou, nos fazendo rir até a barriga doer.
- Oi sumida! - Jackson entrou no ônibus, me cumprimentando com um beijo no rosto.
- Quem sumiu foi você, eu estou na escola todo dia! - ri, percebendo o quão desleixada sou.
O que eu pensei sobre Chloe, servia para Jackson. Estive tão concentrada em todos os acontecimentos, que simplesmente me esqueci de Jackson, como se ele fosse um nada. Droga, que tipo de pessoa eu sou?
- Eu também. Mais ou menos. - fez uma careta, sentando no banco da frente.
- Como você está?
- Bem e você?
- Estou bem. Hoje é aniversário da ! - falei animada, apontando para ela.
- Feliz aniversário! - Jackson deu um abraço sem jeito nela, que retribuiu rindo.
Os garotos chegaram e sentaram no fundo conosco, estranhando a presença de Jackson ali, mas começaram a falar sobre o jogo, as estratégias e tudo o mais.
Não era tão longe, então chegamos rápido. Eu e as garotas fomos para o vestiário correndo, nos trocando o mais rápido possível.
Fizemos uma coreografia incrível para a nossa música da vez, Scream and Shout, do Will.i.am com a Britney Spears. Pra ser bem honesta, arrasamos. Pela primeira vez, senti que realmente mereci todos aqueles aplausos.
Saímos saltitantes, e as garotas do time adversário nos olharam com uma cara de nojo inexplicável.
- Você é boa dançarina, parabéns. - sussurrou baixinho em meu ouvido de maneira sedutora enquanto íamos para um lado da quadra, vendo a apresentação das outras líderes de torcida.
- Eu sou boa em algumas coisas mesmo. - arqueei as sobrancelhas, dando um sorrisinho malicioso em seguida.
A maneira como eu me sentia a vontade com se tornava surpreendente. Eu não sentia vergonha em fazer uma piadinha como essa, o que fazia meu corpo gelar. , o que você está fazendo comigo?
- Pode crer que tem. - deu um sorriso safado em resposta.
Paramos de papear e prestamos atenção no jogo, mas teve a brilhante idéia em começar a fazer cócegas em mim, ali mesmo. Tentei rir o mais baixo possível, mas todos estavam rindo junto - já que minha risada é absurdamente escandalosa - menos Jess.
O jogo estava prestes a começar, e dei um selinho em e sussurrei um "boa sorte" em seu ouvido. Jess continuou olhando feio pra mim, e eu apenas sorri cinicamente. Ah, vá catar coquinho na ladeira!
O jogo começou, e a gritaria também. Sempre gritávamos até a garganta doer, mas não parávamos. jogava muito bem, e em um piscar de olhos, fez um gol, e pra melhorar, correu até nós, dando um abraço em e disse que o gol era pra ela. Fofo, não? Mas o jogo não parou, muito pelo contrário.
- VAI RAVENS! - gritamos juntas, balançando nossos pompons como malucas.
Um dos garotos do time adversário foi para tirar a bola de Jackson e chutou sua perna, o fazendo cair forte no chão. Todas nós nos aproximamos, pois ele estava demorando a levantar.
- Você chutou de propósito! - Jackson gritou, se levantando com a ajuda de Liam.
- Você que não sabe jogar feito homem! - o garoto retrucou, deixando Jackson mais nervoso ainda e tentando avançar nele.
Era só o que faltava!
- Nada de discussão aqui! De volta para o jogo agora! - nosso treinador gritou e todos se separaram, mas Jackson jurou que iria acabar com eles nesse jogo.
Se com "acabar" ele quis dizer fazer dois gols maravilhosamente bem feitos, ele acabou com tudo mesmo! O juiz deu o apito final, e corremos feito cangurus drogados pela quadra. Ganhar de 3x0 não é pra qualquer time.
- Me diz que um daqueles gols foi pra mim? - gargalhei enquanto parabenizava Jackson, que não perdeu a oportunidade de zoar qualquer um do time adversário que passasse ao seu lado.
- Claro que foi! - sorriu abertamente e ficamos nos olhando por alguns segundos. Eu enxergava um bom coração em Jackson. Ele é uma boa pessoa, apenas precisa aprender a demonstrar isso.
Voltamos para o ônibus, ainda comemorando muito.
- Vocês foram ótimos, principalmente o . - encarou o amigo, que começou a se gabar sem parar.
- É como eu digo, o que seria de nós sem mim?
***
Dissemos que levaríamos para algum lugar mais tarde, mas ela não fazia idéia que seria o Tin Roof. Cada um foi para sua devida casa, e assim que abri meu guarda roupa, a única coisa que consegui pensar foi: eu definitivamente sou a patinho feio desse grupo. Olhei alguns vestidos que eu nem lembrava mais que tinha, e de todas as opções, o que sobrou foi uma blusa vermelha com uma saia preta justa e uma bota cano baixo. Uma porcaria, mas é o que tem pra hoje. A hora do rímel é como um ritual pra mim, muita calma e concentração.
Ouvi o barulho do meu celular, e vi uma mensagem de , dizendo que estava a caminho. Corri pelas escadas, quase caindo graças ao pequeno salto da bota, e não tive de quem me despedir, já que ninguém estava em casa.
- Gostei da roupa. - me analisou da cabeça aos pés, me deixando sem graça.
- Obrigada. - lhe dei um selinho rápido.
- Isso se tornou um costume? - demorei em entender sua pergunta, e soltei um "ahhhh" quando me toquei que ele estava falando sobre os selinhos de cumprimento, de tchau ou de boa sorte.
- Acho que sim. Você não gosta disso? - fiquei um tanto quanto desesperada. Eu nem mesmo havia me tocado que estava fazendo isso.
- Gosto sim, .
Pouco tempo depois, chegamos ao local, que já estava lotado. O pessoal todo já estava ali, menos , claro. Havia vários balões espalhados com as frases "Feliz aniversário", "Muitas felicidades" e todo esse mimimi.
Fui atrás do filho do dono do bar, que eu nem mesmo havia me dado o trabalho de perguntar o nome. Parabéns, !
- Ei! - cutuquei o braço do rapaz, que sorriu ao me ver.
- Olá!
- Eu estava pensando em quando minha amiga aniversariante estiver chegando, você pedir pra todos gritarem "surpresa" quando ela entrar! Você pode fazer isso também? - eu provavelmente já estava abusando, mas perguntei do mesmo jeito.
- O que o filho do dono do bar não pode fazer? - o rapaz deu um sorriso largo, que podia fazer qualquer uma perder as estribeiras.
Voltei até onde o pessoal estava, e já havia saído para buscar .
- Eles estão vindo! - travou o celular após ler a mensagem.
Corri para avisar o filho do dono do bar - que eu ainda não sabia o nome - que minha amiga estava chegando. Ele rapidamente parou a música, pegou o microfone, e disse para todos gritarem "surpresa" quando tal garota entrasse ali.
E...
- SURPRESA!!! - todo mundo, literalmente todo mundo dali gritou.
's POV
A reação de havia sido impagável. Como sempre, ameaçou chorar, mas em meio a tanta correria, nem teve tempo para isso. Fomos para o bar, onde o filho do dono secava todas as garotas, inclusive .
- Quem é a aniversariante? - ele perguntou.
- Eu! - gritou animada.
- Parabéns, gatinha. Quantos anos?
- Dezoito!
- Beleza, eu vou querer uma cerveja por enquanto. - cortei a conversa dos dois, encarando o rapaz, que sorriu. Ah se eu não conhecesse como os homens são...
- Hoje não quero ver ninguém parado! - gritou animada, puxando a primeira pessoa que pode, no caso Chloe, até a pista de dança.
A música soava alta, e todas aquelas luzes piscando dava um clima legal para qualquer coisa. Fiquei alguns minutos apenas encostado no balcão observando todo aquele movimento, e as garotas também, afinal, ninguém é de ferro.
- Está sozinho? - uma garota quase do meu tamanho sentou no banco que estava do meu lado. Seus olhos estavam bem marcados pela maquiagem forte, e seu vestido dourado dava um belo destaque.
- Não - apontei para o pessoal que estava sem acabando na pista de dança - E você?
- Estou com um pessoal também, mas resolvi procurar uma companhia melhor. - lambeu os lábios lentamente de maneira provocativa.
- E eu pareço interessante pra você? - arqueei uma sobrancelha.
- Parece, mas precisa mostrar se é mesmo. - saltou do banco, ficando de frente para mim.
Em questão de segundos, apareceu saltitante em nossa frente, franzindo a testa ao ver aquela cena.
- Desculpa, mas hoje é meu aniversário e como presente eu quero meu amigo dançando comigo. - me puxou pelo braço sem vergonha nenhuma, deixando a garota com cara de tacho.
- Você estragou meu esquema! - gritei indignado por conta da música alta.
- Eu não estraguei nada! Você e estão juntos, seu jumento! - gritou de volta, porém brava.
- Não estamos juntos, . - gargalhei vendo sua cara bravinha que se tornava adorável.
- E o que todos os beijinhos em publico significam? Hoje é meu aniversário e como presente eu exijo que você fique com ela. - fez bico, cruzando os braços.
- Você está querendo muita coisa, mocinha.
- Cale a boca. - revirou os olhos e riu, me puxando pela mão novamente até chegarmos à mesa onde todos estavam.
O filho do dono do bar estava conversando com o pessoal na mesa, e sorriu ao ver se aproximando.
- Isso aqui é nossa bebida secreta para aniversariantes. - estendeu um copo para a garota, que sorriu e o virou no mesmo instante.
- Isso é incrível!
- Que bom que gostou! Vocês querem algo? - perguntou simpático.
Eu e os garotos sempre comandamos a parte das bebidas, e dessa vez não foi diferente. Em minutos, as bebidas estavam em nossas mesas, e viramos tudo de uma vez, apenas para aquecer.
O cabelo de batia no meio das costas, balançando junto com seu corpo no ritmo da musica, e eu estava a observando feito um bobo. Quem a vê desse jeito, nem imagina tudo o que ela enfrenta, e por alguma razão me sinto privilegiado por saber.
- Cara, sei que você dança mal, mas você não vai ficar parado a noite toda, né? - me deu uma cotovelada, me fazendo acordar do meu transe.
Que diabos eu estava fazendo? Isso é uma balada! Não respondi e me enfiei no meio da multidão, esbarrando em várias pessoas até chegar em .
- Você está quieto hoje. Vai demorar pra me beijar? - encostou em meu ouvido e sussurrou, rindo em seguida.
- Engraçadinha. - ri junto, encostando minhas mãos em sua cintura.
- Credo que sem graça, eu estava falando sério. - balançou a cabeça negativamente.
Claro que isso não passou de uma brincadeira, e no mesmo instante encostei nossas bocas. deu uma mordida fraca em meu lábio inferior, partindo o beijo e me encarando por um longo tempo.
O bendito do filho do dono do bar chegou ao meio da pista de dança com um bolo em mãos, e todos começamos a cantar parabéns. Claro que, quase se jogou em cima do bolo para poder comer também. Recusei o pedaço que me foi oferecido, mas decidiu comer, se afastando de mim.
- Será que agora você está livre? - a mesma garota apareceu ao meu lado, dando um belo sorriso. Puta merda, como eu me controlo desse jeito?
- Parece que sim. - sorri, e a garota envolveu os braços em volta do meu pescoço.
Eu e não estamos juntos. Na verdade, não sei o que estamos fazendo, mas que se dane. Eu não deixaria de ficar com outra pessoa por ela, aliás, isso não é exclusivo.
- Então é agora que você me prova que é realmente interessante? - perguntou bem próxima da minha boca, dando um sorriso convidativo.
Olhei para os lados rapidamente, e vi com a testa franzida, com uma expressão confusa, dando meia volta e saindo dali. Não pensei duas vezes em me desgrudar da tal mulher e ir atrás da garota.
Puta merda, retiro o que disse. Não quero que isso se dane.
- Espera aí. - gritei, esbarrando em todos e recebendo alguns xingos por isso. Dei passos longos até estar perto o suficiente e agarrei seu braço.
- , você não é nada meu. Você pode ficar com quem quiser, eu só não quero ver. - disparou a falar assim que ficou de frente para mim. Aquela fulana podia ser bonita, mas nada se compara a nessa saia justa.
- Nossa que ótimo, então vou lá. - arrisquei a brincadeira, mas cruzou os braços e permaneceu séria.
- Então vá, oras.
- Vou mesmo. - ameacei sair dali, mas a garota deu um tapa em meu braço. Nos encaramos por alguns segundos e caímos na risada.
- Você é muito otário. - entrelaçou os braços ao redor do meu pescoço e ficou procurando algo com os olhos por longos segundos. Eu poderia jurar que ela estava procurando a tal mulher para mostrar quem mandava ali, mas preferi não dizer nada, afinal, estava tudo indo bem.
- Eu sei. E também sei que você está maravilhosa com essa roupa. - sussurrei em seu ouvido lentamente, fazendo a garota se arrepiar.
me olhou e deu um sorrisinho tímido, estendendo a mão para mim, e peguei no mesmo instante, sendo puxado até onde o pessoal estava.
- Apareceram na hora certa. Vamos ver quem aguenta mais. - pegou um copo que estava na bandeja em nossa mesa.
- Sabemos que não será a Chloe. - brincou, arrancando nossos risos.
E foi assim por horas. Bebida, muita dança, mais bebida, e dança de novo, até dar 3 da manhã e decidirmos ir embora. Todos para a casa de Chloe, como sempre. Seus pais faziam mais plantões do que ficavam em casa, o que era ruim em partes.
- Vocês já sabem o que fazer. - Chloe se jogou no sofá mas levantou rápido, subindo as escadas correndo.
- Estou morto, boa noite pra vocês. - se despediu.
Aos poucos todos subiram, sobrando apenas na sala.
- Às vezes eu acho que isso tudo é combinado deles. - riu fraco, sentando ao meu lado no sofá.
- Já me acostumei. Acho que eles sabem o que acontece quando ficamos sozinhos.
- E o que acontece quando ficamos sozinhos? - se aproximou mais, tentando me provocar.
- Acho que isso. - puxei seu corpo até ela ficar sentada em meu colo.
Porra. Ela estava sentada no meu colo, com cada uma das pernas ao lado da minha cintura. Com uma desgraça de uma saia que estava começando a me incomodar. Não me importei em apertar sua bunda com vontade, fazendo sorrir entre o beijo.
- E é só isso que vai acontecer entre nós?
Comecei a passear com uma de minhas mãos até sua coxa, subindo cada vez, e com isso, subindo a saia junto. mordeu o lábio, me dando um beijo feroz.
Conforme passava minha mão por sua coxa, senti algo ali. Machucados por cortes, que já estavam quase totalmente curados. me olhou de maneira decepcionada, saindo de cima de mim no mesmo instante.
- , eu não me importo com isso. - coloquei minhas mãos em seu rosto, mas a garota continuou com o mesmo olhar.
- É horrível, . - fechou os olhos, dando um longo suspiro.
- Eu realmente não me importo, entendeu? - dei incontáveis selinhos na garota, que finalmente sorriu.
- Precisamos de um quarto. - me puxou pela mão sem me olhar, dando passos cuidadosos e me puxando até o último quarto do corredor.
Ao entrarmos e trancarmos, voltamos a nos beijar no mesmo instante. puxou minha camiseta, a tirando e jogando em algum canto do quarto. Tiramos nossos sapatos rapidamente, e voltou a me beijar, com a mão em meu cinto, o abrindo junto com o zíper da minha calça, que também foram parar em algum canto do quarto.
- Você está com toda sua roupa, que injusto. - coloquei a mão no zíper traseiro de sua saia, finalmente tirando aquela peça.
- Você disse que eu estava maravilhosa nessa roupa. - passou a mão pelo meu abdômen, observando cada centímetro do meu corpo.
- Prefiro você sem ela. - peguei na barra de sua blusa, a tirando de seu corpo, revelando seus seios bem presos em seu sutiã. 's POV end
Um observou o corpo do outro por alguns segundos, e antes que eu falasse algo sobre os cortes em minha barriga, que já estavam cicatrizando, nos deitou na cama de forma gentil. Levou as mãos até minhas costas, encontrando as alças do meu sutiã. Engoli em seco, excitada, nervosa e ansiosa. Senti aquela peça se afrouxar, finalmente revelando meus seios ao garoto, que me olhou como se estivesse pedindo permissão para cometer os atos que se passavam por sua cabeça. Fechei os olhos com força, assentindo delicadamente e sentindo toda aquela onda de prazer me atingir ao sentir sua língua em meu seio direito, enquanto suas mãos brincavam com o esquerdo. Não consegui evitar que um gemido baixo saísse de minha boca, enquanto abaixava cada vez mais, distribuindo beijos pela minha barriga. Definitivamente o otário mais incrível que já conheci. Sorri comigo mesma, sentindo suas mãos passearem por meu corpo. O garoto abaixou minha calcinha, e a peça deslizou por minhas pernas, sendo jogada para longe, atingindo o chão. Ergueu seu corpo novamente por cima de mim e afundou rapidamente a mão entre as minhas pernas, finalmente tocando minha intimidade. Meu pequeno susto foi tomado pelo prazer ao sentir seus dedos tocando aquela região com delicadeza, se encharcando pela minha umidade.
- ... - sussurrei com a voz um pouco trêmula, e as unhas quase encravadas em seus ombros - Anda logo com isso! - resmunguei.
- Está com pressa por que, ? - seu olhar provocativo acabou comigo por um segundo.
Coloquei uma mão em sua cueca e pude perceber seu pênis já animadinho. Sorri ao saber que eu havia feito aquilo. Arqueei as costas ao constatar dois de deus dedos entrando em minha vagina em movimentos torturantes.
- Caralho. - minha respiração estava ofegante demais para reclamar de sua demora. Eu sentia minha umidade aumentando progressivamente, junto à todo aquele tesão.
Pude perceber que tentava controlar suas mãos desesperadas, mas ainda assim, com uma mão livre, deu leves tapas em minha bunda. Afundei meu rosto em seu pescoço, gemendo bem ao pé de seu ouvido. A verdade é que eu estava em chamas, eu estava me sentindo maravilhosamente bem ao ver que o garoto desejava meu corpo mais e mais.
- Preciso te deixar prontinha pra mim, . Bem molhadinha. – e com essas palavras, pude sentir que minha intimidade se tornara uma cachoeira. Qualquer desconforto que a falta de lubrificação pudesse me dar, já não existia mais - Você estava me aguardando, lembra? Preciso fazer a espera valer a pena.
fazia movimentos rápidos, o que estava me enlouquecendo. O garoto voltou a distribuir uma trilha de beijos pela minha barriga, abaixando sua cabeça e indo de encontro a minha intimidade, sugando meu clitóris porém não parando de me masturbar. Não tive mais controle do que saía da minha boca, e gemi cada vez mais alto.
- Eu não quero apenas seus dedos, . - falei com certa dificuldade em meio aos gemidos, ainda sentindo sua língua pressionada contra o meu clitóris.
parou o que estava fazendo e deu um sorriso safado, pulando da cama e pegando sua calça em algum canto do quarto, tirando uma camisinha de seu bolso. Finalmente tirou sua boxer, revelando seu pênis ereto.
Colocou a camisinha rapidamente, deitando por cima de mim novamente, tirando os cabelos de meu rosto e me encarando com um olhar totalmente diferente.
- É a sua primeira vez?
Gelei. A insegurança bateu por alguns segundos. já devia ter transado tantas vezes, que estar com uma virgem devia ser estranho. Mas eu não podia mentir. Não tinha motivo para isso. Eu finalmente estava a vontade o suficiente para me entregar para alguém. Para .
- É.
- Eu não vou te machucar, prometo.
- Eu sei que não.
Senti a delicadeza de suas mãos procurando pelas minhas, as entrelaçando. , que é um ogro em pessoa, se revelou paciente, disposto, e carinhoso. Em segundos, senti todo aquele volume entrando dentro de mim, me causando certa dor. Apertei os olhos, segurando em seus braços com muita força, e até os arranhando.
- Está doendo muito? - perguntou com a voz transbordando preocupação, estocando seu pênis em minha entrada com calma, sem tirá-lo dali.
- Eu aguento. Só... Continua fazendo isso. - quase que implorei, e com o passar dos segundos, senti toda aquela dor se transformando em prazer.
- Está tudo bem? - fazia movimentos de vai e vem lentos, mas começou a aumentar a velocidade ao perceber que eu estava me acostumando com aquela dorzinha que se desfazia a cada segundo.
- Mais... Rápido. - implorei, gemendo em seu ouvido.
Meu pedido foi atendido, e aquilo estava me levando ao paraíso. O garoto decidiu inverter nossas posições, me deixando por cima de si, ainda com todo aquele volume dentro de mim.
Caralho... Aquilo estava bom. Na verdade, mais que bom. Rebolei, subi e desci em seu pênis, e nossos gemidos se misturaram. penetrava cada vez mais forte, e eu sentia algo cada vez mais incrível.
- Ah, porra! - senti seus tapas, agora não tão delicados, atingirem minha bunda. Ele conseguiu manter o romantismo por bastante tempo, mas claro... Tudo selvagem se torna melhor.
- Isso, desse jeito... Não para! - continuei rebolando em cima daquele pau que estava me proporcionando um prazer que eu nunca havia tido em toda minha vida. Joguei a cabeça pra trás, apertando os olhos e sentindo as mãos do garoto apertando meus seios.
- Olha pra mim, ! - sua mão subiu com rapidez até alcançar meu queixo, o puxando para perto - Eu quero que você goze olhando bem nos meus olhos. - aquele azul dos seus olhos foi de encontro aos meus, cheios de prazer, tesão e animação.
- , eu... Continua assim... Eu vou...
Mais algumas investidas e cheguei ao meu orgasmo, beijando no mesmo instante em que sentia aquilo sair de mim. Eu sentia meu corpo inteiro formigar, e permaneci deitada sobre seu corpo por alguns instantes, recuperando todo o meu fôlego, dando um beijo intenso naqueles lábios que se encaixavam tão perfeitamente nos meus. Abaixei lentamente, vendo a camisinha coberta por todo aquele líquido branco e a tirei, jogando-a no móvel que ficava do lado da cama. Abocanhei seu pênis duro, o chupando com vontade.
- Puta que pariu, mulher! - murmurou com a voz rouca, esbanjando tesão, colocando as mãos em minha cabeça, me auxiliando nos movimentos.
O suguei cada vez mais rápido, e os gemidos de eram o meu combustível para continuar com aquilo. Não demorou muito tempo até eu sentir aquele gosto amargo invadir minha boca, engolindo cada gota daquilo.
Limpei um cantinho da minha boca, e pela feição do rapaz, aquilo havia sido um tanto quanto sexy. Deitei ao seu lado, ainda ofegante.
- Então isso é o que acontece quando ficamos sozinhos? - me virei para , que me abraçou forte, deixando nossos corpos grudados.
- Parece que sim. - deu uma risada fraca, e não pude deixar de sorrir com aquilo.
Ficamos mais alguns minutos em silêncio, apenas ouvindo a respiração um do outro.
- O que somos, ? - apoiei meu queixo em seu peito, o olhando nos olhos.
- Como assim?
- Nos beijamos há tempos por motivo nenhum, e agora isso aconteceu. Quero saber o que somos. - fui sincera, temendo por sua resposta.
- Hmmm... Uma amizade colorida?
- E aonde isso vai dar? - deitei minha cabeça em seu peitoral, me aconchegando cada vez mais.
- Isso só o tempo vai nos dizer, .
Abri os olhos com dificuldade e me espreguicei. Chloe estava aos berros nos chamando para tomar café.
- Você merece uma surra, baby Chloe. - Callie resmungou sonolenta, levantando em seguida.
Saímos do quarto em direção à cozinha, e estava bem atrás de mim. Nos olhamos e seguramos o riso. Claro que no meio da noite cada um foi para o devido quarto onde deveria estar, e mesmo sem ter graça, se tornava engraçado.
- Bom dia, pessoal! - a mãe de Chloe acenou e sorriu, correndo com um copo de café até a porta, saindo dali.
- Oi mãe, tchau mãe. - Chloe fez graça com a falta de atenção da mulher, que nem se deu o trabalho de responder.
- Ela é assim sempre? - me aproximei da garota.
- Sim. Já me acostumei.
Ninguém estava com ânimo para conversar, todos estavam com sono e provavelmente de ressaca.
- Precisamos estudar, amanhã começam as provas. - lembrou de tal fato desanimado.
- Eu já nem lembrava mais. - Callie bocejou, ainda estava sonolenta.
- Podemos estudar juntos. - Chloe sugeriu animada, mas aquilo não animou ninguém.
- Eu só consigo estudar sozinha, sério. - respondeu séria também, deixando óbvio que estudar junto com a garota não rolaria.
Ninguém concordou com a ideia de Chloe, nem mesmo , que estava quase dormindo em cima de seu prato. Não demorou muito para todos se arrumarem para ir embora, mas meu coração ficou apertadinho só de imaginar Chloe sozinha.
- Eu fico para estudar com você. - dei um sorriso sem mostrar os dentes para a garota, que me deu um abraço de lado.
desceu as escadas correndo, indo até minha direção.
- Quer carona?
- Vou ficar com Chloe.
Nos encaramos por alguns segundos e sorrimos feito bobos. Alguém pode me explicar o que está acontecendo? Porque nem eu sei. Tão estranho conhecer alguém, e em tão pouco tempo, esse tanto de coisa já ter acontecido. Eu nunca, nunca mesmo, me envolvi com alguém desse jeito. estava sendo uma experiência e tanto, mesmo não sabendo o que somos, e nem sabendo aonde isso vai nos levar.
- Se cuida. - me deu um selinho demorado e saiu, fechando a porta em seguida.
- Obrigada por ficar, .
- Não precisa agradecer. Posso te ajudar em alguma matéria, já que você está no segundo ano.
- Eu estou péssima em biologia, e quando digo péssima, falo sério.
Passei horas explicando tudo o que lembrava sobre sistemática de classificação dos seres vivos para Chloe, que depois de muitos esperneios e muitas ameaças de desistir, conseguiu entender.
- Você é melhor que a professora de biologia. - Chloe estava boquiaberta, o que me fez rir.
- É o meu talento. - respondi convencida.
- Obrigada mesmo, mas se você quiser ir embora, pode ir. - falou sem jeito.
- Estou pensando em morar aqui, o que você acha? - brinquei.
- Pelo menos eu não ficaria tão sozinha.
- Você não está sozinha, você tem a gente pra qualquer coisa, ok?
Se tem algo que eu gosto de falar, é isso. É a minha maior certeza. Pelo andar da carruagem, seremos amigos pra sempre, e por mais que pareça clichê, é a mais pura verdade.
- Eu sei que sim, mas sei lá... Às vezes não consigo me sentir à vontade, entende? Às vezes eu me sinto tão sozinha, mesmo com . Não que o problema seja ele, mas eu simplesmente não consigo me encontrar, sabe? - sua expressão apreensiva estava martelando meu coração.
Cada dia uma surpresa nova. Quem diria que Chloe, que tem vida de princesa, se sente desse jeito? Isso é a prova de que dinheiro não significa felicidade.
- Sei muito bem como é isso, acredite. Mas às vezes somos tão apegadas a esse sentimento, que não percebemos que as coisas estão mudando. A gente simplesmente encontra o que precisamos, entende? Um dia você olha pra sua vida e amigos, e consegue deixar aquele sentimento ruim ir embora, ou pelo menos, boa parte dele.
Meu coração estava em festa, pela primeira vez em muito tempo. Muito tempo mesmo. Aquela sensação de que está tudo certo, ou quase tudo, estava ali. Mesmo achando que não conseguiria, consegui amigos maravilhosos, um garoto que me faz sentir coisas malucas, e aos poucos, isso está se tornando o suficiente. Aos poucos, eu sei que todo esse sofrimento, vai ter valido a pena.
- Você é incrível, sabia? - Chloe estava com lágrimas nos olhos, e me aproximei para abraçá-la.
- Só às vezes.
's POV
O acontecimento da noite passada não saía da minha mente. E o sorriso do meu rosto também não.
- Bom dia, rapaz que não para mais em casa. - minha mãe abriu um sorriso gigante ao me ver entrando em casa.
- Bom dia, moça que tem um emprego novo agora.
- Começo amanhã, estou empolgada! - a animação em sua voz deixava tudo bem óbvio.
- Imagino. - falei baixo, sem empolgação nenhuma.
- O que foi? - cerrou os olhos, sabendo que eu estava pensando em algo. Mães tem um tipo de radar pra esse tipo de coisa, sério!
- Você não acha estranho toda essa aproximação da Julie? - falei tudo de uma vez sem rodeios.
- Eu achava, mas olhe para tudo o que aconteceu, filho. Eu estava no fundo do poço e não queria sair de jeito nenhum, mas quando Julie voltou a fazer contato, enxerguei aquilo como um sinal, entende? Eu precisava me reerguer de uma vez, e essa foi a oportunidade perfeita. Você cuidou perfeitamente de Sophia durante todo esse tempo, e eu agradeço por isso, mas eu estou melhor agora. Julie sendo terapeuta, me ajudou ainda mais. - suspirou ao terminar, me olhando diretamente nos olhos.
Um peso foi tirado de minhas costas, permitindo que eu ficasse 100% feliz pela minha mãe.
- E você vai trabalhar do que?
- Serei a contadora de Julie. Já tenho experiência na área, então está tudo bem. - sorriu ao terminar.
- Isso é ótimo! Agora preciso estudar, mãe. - caminhei até a escada.
- E você e aquela garota? - sua pergunta me fez parar de andar e gargalhar.
- Não temos nada, mãe.
- Ainda, né? - perguntou esperançosa, e voltei até onde estava, parando em sua frente.
- Não teremos nada, e disso eu garanto. - arqueei as sobrancelhas, falando com toda a certeza do mundo.
- Quem te garante que não? Você é meu filho e não me engana, mocinho. Sei que você nunca teve nada sério com alguma garota, mas ... Você a trouxe aqui. Você, , meu filho, trouxe uma garota aqui! Se você não gostasse dela, nem que seja só um pouco, nem teria trago, seja lá o que vocês fizeram naquele dia. - tentou segurar o riso, mas não conseguiu, e acompanhei sua risada.
Existe alguém melhor que Elena ? A resposta é não. Nem consigo descrever o quanto eu sentia saudade de todo esse bom humor.
- Ela tem alguns problemas e eu estou tentando ajudar, só isso. - tentei contestar, mas piorou a situação.
- Trouxe a garota aqui pra ajudá-la com os problemas? Você ainda tem dúvidas do que eu disse? - riu mais ainda, se sentindo vitoriosa.
- Eu vou estudar que ganho mais. Você é impossível. - caminhei até a escada lentamente, ainda rindo com ela.
- Eu estou certa e você sabe! - falou alto o bastante para eu ouvir.
Tentei estudar de todas as maneiras possíveis, mas não saía da minha cabeça, e nem as coisas que minha mãe havia falado. Ajudá-la não significa que gosto dela, certo?
Meu pensamento foi interrompido pelo toque do meu celular.
- Oi, Dan.
- Venha pra cá agora. - falou sério e desligou o celular.
Pulei da cama, correndo pela casa até a garagem, ligando o carro e indo o mais rápido possível até a casa de Dan. O encontro com Richard havia chegado e eu estava tão desligado que nem me lembrei. Foram tantos anos com raiva, com uma angústia interminável, e finalmente tenho a oportunidade de acabar com tudo isso.
Entrei no carro com Dan, e Kyle e Josh, dois de seus caras em outro carro. Quanto mais ele acelerava, mais longe parecia estar, mas quando finalmente chegamos, eu sentia que estava tudo chegando ao fim. Richard morreria. Eu iria matá-lo.
Descemos do carro as pressas, entrando num beco fodido de sinistro, entrando em uma porta que havia ali, que dava em uma provável boate abandonada, mas não havia ninguém ali, nem mesmo Ritter.
Não é possível. De novo não. Richard não podia escapar de novo!
Os minutos foram passando, e nada.
- Mas que inferno! - gritei bravo, chutando as tranqueiras que estavam no chão.
O tempo passava, e nada acontecia. Minha paciência estava definitivamente acabada.
- Já passou tempo demais, Dan. - Kyle falou.
- Fizemos tudo direitinho, como isso pôde dar errado? - Dan sussurrou raivoso, mas manteve a calma.
- Ainda vamos conseguir, pessoal. - Josh deu um tapinha em minhas costas.
- Vão atrás daquele merda do Ritter e descubram porque Richard não apareceu. - Dan ordenou, e os dois rapazes saíram dali no mesmo instante.
Eu e Dan não trocamos uma palavra durante todo o caminho, e assim que chegamos em sua casa, nos jogamos no sofá.
- Eu não acredito que não conseguimos. - suspirei derrotado.
- Mas ainda vamos conseguir.
- Temos que conseguir, Dan! - dei ênfase no "temos", como se fosse caso de vida ou morte.
- , você quer matar Richard? - sua pergunta me pegou de surpresa, mas se tem uma coisa que eu não posso fazer, é mentir sobre isso.
- Quero, e vou.
- Você tem certeza?
- Tenho, por quê?
- Porque é o Richard. Matá-lo é bom demais para ele.
- Mas é o que ele merece. Olha tudo o que ele nos fez passar, Dan. - respondi um tanto quanto indignado.
- Eu sei, mas ainda assim, você não merece estragar sua vida por ele. Se ele for pra cadeia, vai pagar por tudo o que fez. Veja, Nicky morreu num acidente de carro porque um bêbado atravessou seu caminho, mas ele foi preso, e ainda está. Não apaga o que ele fez, não a traz de volta, mas é melhor assim. Se ele morresse, não teria tempo para pensar no que fez ou tempo para melhorar. - me deu um olhar sincero e um sorriso sem mostrar os dentes. Suas palavras me fizeram pensar em tudo o que estava acontecendo por alguns segundos, mas eu não consegui arranjar palavras para responder àquilo.
- Você já pensou em mudar de vida, Dan?
- Claro! Mas eu me envolvi tanto com isso, que até acabar com tudo, já devo ter morrido. - gargalhou.
- Você ainda pode.
- Eu sei, porém ainda tem muita coisa a se fazer. - deu um olhar significativo, se referindo a Richard. 's POV end
Após aulas cheias de blá blá blá, fomos para o intervalo.
- Temos prova daqui a pouco. - Chloe soltou um ar derrotado.
- Mas você estudou, né? - perguntou sem olhar para a garota.
- Sim, e adivinha? Não foi com você. - respondeu cinicamente.
- Qual o problema com isso? Eu só não quis ficar pra estudar com você. - deu os ombros, e todos nós arregalamos os olhos com sua resposta.
- O problema foi que você passou a semana passada toda dizendo que ia me ajudar e não ajudou. - a raiva na voz de Chloe estava bem óbvia.
- Mas você teve ajuda do mesmo jeito, então não precisa desse chilique. - respondeu num tom de voz tão frio que até me deu arrepios.
Chloe levantou dali no mesmo instante, dando longos passos para longe dali.
- O que você tem? - perguntei para , que revirou os olhos e respondeu de maneira grosseira.
- Não é da sua conta.
- Ei cara, não precisa disso. O que aconteceu? - se intrometeu, mas apenas se levantou dali também, saindo de perto de nós.
Não pensei duas vezes em segui-lo, e quando me aproximei o bastante, puxei seu braço sem dó.
- O que foi isso? - me coloquei à sua frente, cruzando os braços de maneira intimidadora.
- Nada. - tentou andar, mas não me movi, o impedindo de passar.
- Nada uma ova. Desembucha.
- Vocês mulheres tem TPM, e eu tenho TPP, é isso. - soltou o ar preso em seus pulmões audivelmente.
- TPP? Que porra é isso, menino? - franzi a testa.
- Tensão pré provas, dãããr. - falou como se fosse óbvio, e assim que o olhei, caímos na gargalhada.
- Você só pode estar brincando comigo! - coloquei a mão em minha barriga, ainda rindo.
- É sério! Essa porrada de prova de uma vez me deixa nervoso pra caralho. Não consigo pensar em nada, nem me concentrar. E só de imaginar que ainda tem muito mais disso tudo até na faculdade, me deixa maluco!
- Eu sei que é tenso, mas você consegue, ! Você é estudioso, então vai se dar bem. - dei o meu melhor sorriso, tentando passar o máximo de confiança que eu tinha para ele.
- Eu preciso me desculpar com a Chloe, né? - apertou os olhos, provavelmente se arrependendo do modo como agiu.
- Precisa. Mas afinal, como vocês estão? Vai pedir ela em namoro quando? - brinquei, mas a expressão de pânico de acabou com a graça.
- Não sei! Eu nem sei o que sinto, ! É tão... Estranho.
- Se não fosse estranho, não seria amor. - joguei meu cabelo para o lado, e dei uma piscadinha em seguida.
- Deve ser. Agora vou atrás da minha gatinha. - riu fraco e se virou, saindo dali.
Caminhei de volta para o pátio, mas uma criatura, vulgo , decidiu se fingir de estátua no meio do corredor, me dando um susto danado.
- Porra, não faz isso! - gritei, batendo o pé demonstrando minha raiva.
- Ai, ela está bravinha. - riu, enrolando uma mecha do meu cabelo em seu dedo.
- Você é muito babaca. E aliás, por que você está me seguindo? - arqueei as sobrancelhas, com aquele olhar de "te peguei no flagra".
- Quem disse que eu estou te seguindo?
- Eu sei que está. - soltei uma risada rápida.
- Prova então, bonitona. - desenrolou meu cabelo de seu dedo, fechando a cara em seguida, mas eu sabia que era apenas charme.
- Um corredor vazio. Só eu estava aqui, e de repente, você também. Já pode admitir, bonitão.
- Eu vim atrás do , sua metida. - estava quase vermelho de tanto que estava prendendo o riso.
- Então vá atrás dele, oras.
- Vou mesmo. - começou a caminhar pelo corredor.
- Que pena, porque aqui é o corredor da sala de teatro, que por sinal, está vazia. - sorri vitoriosa, vendo voltar novamente, me puxando pela mão até a sala de teatro.
- Muito espertinha, . - riu, me encostando na parede e se aproximando aos poucos.
- Eu sou mesmo.
Em segundos, nossas bocas já estavam coladas, num beijo lento e calmo. As mãos de desceram até minha cintura, fazendo um carinho gostoso ali. O beijo ficava cada vez mais intenso e cacete... Eu poderia fazer de tudo ali mesmo. interrompeu o beijo assim que ouviu o sinal tocar.
- Temos prova agora.
- Pelo menos é biologia. - respirei aliviada.
- Essa matéria é um saco, mulher. - revirou os olhos, caminhando até a saída.
Abri a porta cuidadosamente, afinal, ninguém podia saber que estávamos ali. Saímos de fininho e começamos a andar pelo corredor, mas paramos assim que ouvimos risadas.
- Belo esconderijo, gente. - Jackson gargalhou junto com um rapaz que estava ao seu lado.
- Sabemos. - acabei rindo junto, mas não moveu um músculo.
O corredor estava ficando cheio, e fomos para nossa sala rapidamente, onde o professor já estava. Depois que todos chegaram e se sentaram, ele começou a falar.
- Bom dia pessoal, e boa prova também. - sorriu sem mostrar os dentes e começou a distribuir a folha da prova para cada um.
- Sei de porra nenhuma. - olhou para a folha com uma expressão confusa, o que arrancou algumas gargalhadas.
- Silêncio, gente. Já podem começar. - o professor falou sério, e o silêncio se instalou no local.
***
- Eu sei que vocês estão cansadas porque tivemos prova hoje, mas juro que o treino de hoje não será tão puxado. - Callie falou alto o suficiente para todas nós ouvirmos.
- Isso é um milagre? - estava surpresa.
- Deve ser.
Começamos nossa longa sequência de aquecimento e exercícios, e o calor que isso tudo dava era uma demonstração do inferno, e andar com blusas de frio a todo instante piorava a situação.
- Foi bem na prova? - perguntei baixo, apenas para Chloe ouvir.
- Acho e espero que sim.
- E o te pediu desculpa? - perguntei na cara de pau mesmo, e ela soltou uma risadinha.
- Pediu. Até entendo, pois semana de provas é realmente estressante. - deu os ombros, mas não parando de se alongar.
- Realmente.
Montamos e ensaiamos passos novos, e Callie nos liberou alguns minutos mais cedo, e com isso, nos arrastou para a quadra dos garotos, para vermos como o jogo estava indo.
- Eita, quanta menina bonita! - gritou, e levou um tapa no braço vindo de .
Poucos minutos depois, o treinador apitou, anunciando o fim do treino.
- Acho que alguém está me seguindo. - falou bem próximo ao meu ouvido, enquanto caminhávamos lado a lado.
- Só acha mesmo. Vim ver os gatinhos desse time jogando bola, mas você não é um deles. - provoquei, e a cara de merda que fez foi impagável.
- Me espera na saída. - deu uma piscadela e entrou no vestiário, e fiz o mesmo.
- Então você e o estão juntos, huh? - Jess veio até meu lado, e parei de arrumar minhas coisas no mesmo instante.
- Hmmm, não.
- Não é o que parece. - cruzou os braços, me olhando feio.
- Isso não parece ser da sua conta também. - dei um sorriso cheio de cinismo e saí de perto dela, entrando no banheiro para me trocar. Era só o que me faltava!
Terminei de me arrumar e saí com as meninas, e pude ver no fim do corredor me esperando.
- Adivinha quem veio perguntar se estamos juntos? - cheguei saltitante ao seu lado, e ele apenas me olhou estranho.
- Jess? - arriscou, e minha animação toda foi pro beleléu.
- Sem graça! Como você sabe?
- Foi só um palpite. E o que você respondeu?
- Que não. Não estamos juntos, né? Ou estamos? - franzi a festa, olhando confusa para , que riu.
- Nem sei. Vamos. - me puxou pela mão até chegarmos ao seu carro.
- Por que você vem com seu carro agora?
- Porque cansei de andar, estou velho. - destravou as portas, e entramos no veículo.
Deu partida no carro, e estava tudo silencioso demais. Abri o porta luvas de fininho, atrás do cabo para conectar meu celular no rádio.
- Tira a mão daí.
- Mas...
- Hoje eu que escolho. - entregou seu celular rapidamente, e fui obrigada a conectá-lo no rádio. Ele escolheu uma música rapidamente, e em seguida A Little Piece of Heaven começou tocar.
- Avenged Sevenfold? - bufei.
- Melhor que One Republic.
- Vou fingir que não ouvi esse absurdo.
Ficamos em silêncio por um bom tempo, e parou para buscar Sophia, que deu pulos de alegria quando me viu. Em alguns minutos, chegamos na casa de .
- Vamos mocinha. - abriu a porta para a irmã, que me mandou um beijo no ar e correu até a porta de .
's POV
Toquei a campainha de , que não demorou a atender.
- Oi gente. - estava com um livro na mão e uma caneta na boca.
- Estou pensando em deixar Sophia na escola até mais tarde. Minha mãe poderia pega-lá quando saísse do trabalho, assim não te atrapalharia mais.
- Ela não me atrapalha, . Eu gosto de fica com a Soph. E aliás, ela é a única coisa que te faz ficar aqui às vezes. - gargalhou, e acompanhei sua risada.
- Você que sabe. Agora vou embora, até mais tarde.
- O que a está fazendo no seu carro? - sua pergunta me fez parar e olhá-la novamente.
- Ela está lá? Nem sabia! - fingi estar surpreso, e a garota apenas rolou os olhos.
Entrei no carro novamente, e estava com a cabeça encostada no banco e os olhos fechados.
- Pra onde vamos?
- Minha casa.
- Fazer? - abriu apenas um olho, com o olhar desconfiado.
- Eu disse que ia te ajudar, lembra?
- Ah sim. - respirou fundo, fechando o olho novamente.
- Talvez fazer sexo também. - prendi o riso, vendo a garota arregalar os olhos no mesmo instante e me dar um tapinha na coxa.
- Não é assim que a banda toca, querido.
- E como é que é? - soltei uma risadinha e a garota respirou fundo antes de começar a falar.
- Sinceramente, nem eu sei. Não sei o que estamos fazendo, e não aonde isso tudo vai parar. A única coisa que eu sei, é que eu não quero me apaixonar e quebrar a cara de novo. - me olhou séria, com a respiração acelerada.
- Não se apaixone então.
- Então isso aqui é um daqueles lances de sexo sem compromisso? - cerrou os olhos.
- Pode ser. Depende de você. - dei uma piscadela, e a garota sorriu em resposta.
não falou mais nada, e o único barulho presente ali foi o do meu celular tocando. Dan.
- Fala.
- Vem pra cá AGORA! - berrou e desligou em seguida.
Puta que pariu, PUTA QUE PARIU.
Virei o carro bruscamente, fazendo o caminho contrário para ir até a casa de Dan. Por incrível que pareça, não abriu a boca, mas ela estava assustada, dava para perceber pelo seu olhar. Em poucos minutos, parei na frente da casa de Dan.
- Você fica aqui, entendeu? - puxei o queixo de delicadamente até ela me olhar.
- Essa é a única opção, né? - arqueou uma sobrancelha, e apertei os olhos.
Saí do carro rapidamente, correndo até a porta de Dan, onde entrei sem bater.
- O que foi dessa vez?
- Kyle, Josh e Ritter estão mortos! - gritou, batendo a mão na mesa em seguida.
- O QUÊ?
Minha raiva não tinha tamanho. Richard passou dos limites de vez.
- Mortos, todos mortos! E como sempre, com essa merda junto. - Dan tirou um papel do bolso e me entregou.
"Vocês se acham mais espertos? Lamentável. Se meteu no meu caminho eu mato mesmo, e esqueço que já foi empregado meu. Desista, Dan. Tire seu time de campo antes que tudo piore. E , você não deveria querer o mal do próprio pai.
Até a próxima bobagem que vocês fizerem, pessoal."
- Caralho! Eu... Eu nem sei o que dizer, Dan! - senti meu sangue ferver no mesmo instante, minhas mãos tremerem e meu corpo soar frio.
- Ele sempre parece estar um passo à frente de nós! Não vou deixar mais ninguém morrer por isso, . Se tornou mais pessoal do que nunca! - os gritos de Dan me davam arrepios e fazia toda aquela tensão aumentar.
- Você está pensando nisso que eu estou imaginando? - meu coração se acelerou assim que Dan me deu o olhar mais raivoso que eu já tinha visto.
- Sim, . Vamos matar Richard de uma vez por todas. Pude sentir até meus fios de cabelo se arrepiando. Em meio à toda raiva e tensão, por um breve momento me lembrei que deixei uma bela garota no meu carro, em um lugar que eu já não sentia ter segurança.
- Eu preciso ir, está no carro e aqui não me parece mais um lugar seguro.
- Não é mesmo, vou procurar outro canto hoje mesmo. - a braveza de Dan era coisa de outro mundo.
Acenei em despedida e me virei para sair dali. não me olhou nem falou nada durante o caminho todo, nem mesmo quando entrou em minha casa.
- ? - o silêncio estava começando a me incomodar, e a raiva, mais ainda.
- Fala. - disse baixinho, apertando os olhos. 's POV end
Se tem algo que eu aprendi é que a melhor coisa que posso fazer às vezes é ficar quieta. O olhar de transbordava raiva, e isso estava nítido.
- ?
- Fala. - apertei os olhos, e por alguns segundos, tive a esperança de que ele contasse o que estava errado.
Senti se aproximar cada vez mais, mas seu olhar estava me assustando tanto que eu apenas queria distância. De tanto dar passos para trás, bati o corpo contra a parede.
- Acho que deveríamos partir para a parte do sexo agora.
Sua boca foi de encontro com a minha, iniciando um beijo tão feroz e cheio de raiva que não consegui aproveitar um segundo daquilo. As mãos de passeavam pelo meu corpo, mas ele usava uma força fora do comum, me apertando como se eu fosse o motivo de toda aquela raiva.
- ... - tentei verbalizar em meio ao beijo, mas fui totalmente ignorada. Sua boca foi até meu pescoço, distribuindo alguns chupões por ali. Suas mãos pararam em minha cintura, e ele não se incomodou em descontar toda sua raiva ali, sem se importar se estava doendo ou não - Você está me machucando! - gritei, e seu rosto ficou de frente ao meu lentamente. Suas mãos foram se afrouxando lentamente, mas continuaram ali.
- , me desculpa! Eu estou tão...
- Bravo? Eu sei, eu percebi. - cortei sua fala e me finalmente me afastei dali, indo para o outro lado da sala.
- Me desculpa, ta legal? Você não tem culpa de nada. - soltou um suspiro demorado e abaixou a cabeça.
Eu sei como é estar nessa situação. Sempre tive as lâminas como solução da minha tristeza e raiva, mas não tinha isso. Ele não sabia como descontar sua raiva, então faria isso com qualquer coisa ou pessoa que estivesse em sua frente.
- Eu não sei o que aconteceu, mas você está totalmente perdido em meio à alguma distração e agindo por frustração. Por que você não me conta o que aconteceu? - me aproximei lentamente, colocando a mão em seu queixo e o levantando.
- Será que a gente não pode simplesmente sentar e ficar em silêncio por algum tempo? - passou a mão pelos cabelos, um tanto quanto sem graça. Peguei em sua mão e a puxei até sentarmos no sofá.
- Você pode deitar sua cabeça no meu colo se quiser. - sorri sem mostrar os dentes, e deitou no mesmo instante.
Não resisti e comecei a fazer um cafuné em sua cabeça. É incrível como uma pessoa pode carregar tantas mágoas, tristezas, segredos, e mesmo assim, ter que encarar todo esse mundo maluco. é de longe, a pessoa mais fechada que eu já conheci, e mesmo assim, com esse jeito doido e estranho, sei que existe uma pessoa maravilhosa debaixo disso tudo.
- Por que você não deixar as pessoas verem o bem em você?
- Porque eu não sou bom.
- Eu sei que é. - tentei argumentar, mas ele apenas riu.
- E como você sabe? - seus olhos estavam fechados, mas se abriram assim que ouviu minha resposta.
- Porque eu sinto que é.
Silêncio novamente.
- , eu vou levantar e te beijar muito. - avisou antes de cometer tal ato, e não pude deixar de rir.
Dessa vez, o beijo estava tão bom quanto todos os outros. Sem raiva nenhuma, e estava ficando cada vez melhor. Suas mãos passeavam delicadamente pelo meu corpo, e não pude deixar de sorrir com isso. retirou minha camiseta com certa impaciência e voltou a me beijar. Nosso beijo era caloroso e cheio de tesão. Claro que, minhas mãos também estavam em ação, e não conteve um gemido baixo sair de seus lábios quando passei a mão em seu pênis por cima da calça.
- A gente não pode transar no seu sofá. Sua mãe e sua irmã sentam aqui. - falei com certa dificuldade, pois nossas mãos e bocas estavam ocupadas.
- É só elas não lamberem o sofá. - ri mais alto do que devia com sua resposta, e ele acompanhou minha risada.
levantou e pegou minha camiseta, e em seguida me puxou pela mão até as escadas, e mesmo com perigo de cair dali, fomos nos beijando até chegarmos em seu quarto. Minhas mãos levantaram sua blusa e ele mesmo a retirou de seu corpo. Tiramos o resto de nossas roupas e me empurrou em direção a sua cama, e ele não perdeu tempo e deitou por cima de mim. Distribuiu beijos por todo o meu pescoço e foi descendo cada vez mais, parando em meus seios, passando a língua em volta da aréola. Fechei os olhos, sentindo todo aquele prazer me invadir. continuou descendo sua boca, e eu já estava sem controle dos meus gemidos. Sua língua tocou meu clitóris e apertei os lençóis com toda a minha força. Ele enfiou dois dedos dentro de mim sem parar de sugar meu clitóris, e aquilo estava me deixando cada vez mais excitada. Eu estava quase chegando lá, e parou todos os seus movimentos. Filho da mãe.
Ele foi subindo sua cabeça novamente, e nossas bocas se encostaram de modo desesperado. Mudei nossas posições rapidamente, e distribuí beijos por todo o seu abdômen. Seu pau estava bem animadinho, e um sorriso escapou de meus lábios. Segurei em seu membro, o masturbando lentamente, e aumentei os movimentos a cada segundo, e ver com os olhos apertados e contendo seus gemidos me deixava tão animada quanto ele. Tirei as mãos dali e coloquei seu pau em minha boca, e ele não conseguiu conter alguns gemidos.
- Porra, .
Continuei sugando todo aquele volume que estava em minha boca, mas parei, assim como ele fez comigo. Sorri para , que fez uma cara brava e deitou por cima de mim rapidamente. Seu membro ereto estava roçando em minha intimidade.
- Sem joguinhos, .
- Quem está fazendo joguinhos aqui? - sorriu maliciosamente, ainda roçando seu pau duro ali.
- Enfia essa porra logo! - gritei impaciente. Oh, eu estava extremamente desesperada, molhada, excitada, e cheia de tesão por aquele garoto. Cheia. Lotada. Transbordando.
abriu uma gaveta da pequena cômoda ao lado de sua cama, retirando uma camisinha dali e a vestindo. Minhas pernas já estavam abertas, e enfiou seu pau em minha entrada, estocando tudo lentamente, me fazendo senti-lo por inteiro. Mordi meus lábios e soltei um gemido alto bem próximo ao seu ouvido. segurou em minha cintura e aumentou o ritmo das estocadas.
Entrelacei minhas pernas em volta dele, indo ao delírio com cada movimento que ele fazia. Gozei, e minutos depois, ele também. Ficamos deitados por algum tempo para recuperarmos o fôlego e ele levantou e foi até o banheiro, e aproveitei para colocar minha roupa novamente ás pressas.
- Você fica melhor sem roupa, . - se encostou na parede, ainda nu.
- Vai se foder. - abaixei e peguei sua cueca em um canto da sala enquanto gargalhava.
- Melhor eu foder você... Espera... Já fiz isso. - riu mais ainda, e tive que acompanhá-lo.
- Você é um tonto.
Terminamos de nos trocar e deitou novamente, e não pensei duas vezes em fazer o mesmo.
- Isso pode dar certo.
- Isso o quê?
- Nosso lance de sexo sem compromisso. Você não quer se apaixonar de novo, eu nunca me apaixonei e nem vou, então não tem como dar errado. - me olhou confiante.
- Realmente.
O barulho de porta abrindo fez revirar os olhos.
- Minha mãe chegou. - fez menção de levantar da cama, mas antes, me deu um beijo demorado.
Levantamos juntos e saímos do quarto, descendo as escadas até encontrarmos sua mãe.
- Oi , eu não sabia que você viria aqui hoje! - Elena se animou ao me ver, se aproximou e me cumprimentou com um abraço apertado.
- Nem eu. - olhei para , que fingiu que nem sabia do que eu estava falando.
- Como foi seu primeiro dia de trabalho? - ele perguntou animado, e Elena disparou a falar.
- Foi ótimo! Como Julie trabalha em um prédio cheio de gente, pude conhecer todos. E adivinha? Lá tem uma máquina de capuccino maravilhosa!
- Isso é ótimo, mãe.
não me engana mais. Ele é adorável com sua mãe, e com a irmã ainda mais. Toda essa pose de durão é apenas seu disfarce.
- É mesmo! E vocês dois, fizeram o que o dia todo?
- Estudamos. - falei rapidamente, forçando um sorriso.
- Agora eu vou levar a pra casa dela e vou buscar Sophia. - me puxou pela mão até a porta, mas me soltei para me despedir de Elena.
- Você não quer ficar para o jantar, querida? - me convidou animada.
- Não mãe, ela não quer. - falou impaciente, e todos nós rimos.
Entramos no carro e fomos conversando sobre várias abobrinhas o caminho todo.
- Boa noite, . - me aproximei e dei um selinho demorado em seus lábios.
- Boa noite, . Se acontecer alguma coisa, você já sabe né? - balançou o celular, e um sorriso se formou em meu rosto.
- Obrigada por isso, de verdade.
"A única maneira de se livrar de uma sombra, é desligando as luzes. Correndo rápido na escuridão. É assim que você enfrenta o medo."
Provas. . Mais provas, treinos, e um pouco mais de .
- Pelo menos amanhã já é sexta feira. - deu um gole no refrigerante que estava em sua mão.
- E o último dia de provas também. - respirou aliviado.
- Deveríamos fazer algo sábado para descansarmos e nos livrarmos de toda essa tensão. - Callie sugeriu.
- Eu prefiro ficar em casa dormindo. A semana foi muito cansativa, e ainda nem sabemos se passamos nas provas ou não. - resmungou, um tanto quanto decepcionada.
Pela primeira vez, eu que estava animada para sair para algum lugar.
- Poxa, a semana foi um saco! Merecemos nos divertir, certo? - todos os olhares foram para mim.
- Isso que você detestava festas. - riu.
Depois de muitas sugestões de lugares, decidimos que iríamos ao Tin Roof novamente. É, o lugar é bom mesmo.
O sinal tocou e já estávamos chorando pelo fato de terem duas provas pela frente.
***
- Eu fui péssima naquela prova. - estava andando de um lado para um outro.
- Você falou isso umas mil vezes e temos certeza que você foi bem. Cala essa boca e senta aqui. - Callie disse impaciente, batendo no lugar vago do sofá.
- Como vocês podem ter certeza disso? - sua aflição estava começando a nos incomodar.
- Porque era prova de química. - eu, Callie e Chloe falamos ao mesmo tempo, com certa impaciência.
Estávamos na casa de , jogadas no sofá e sem disposição para absolutamente nada. passou por lá para deixar Sophia, mas apenas trocamos olhares e ele foi embora. Pra onde? Também não sei.
- Eu queria ser criança de novo, era bem melhor. - Chloe deu um suspiro alto.
- Mas você é, baby Chloe. - Callie brincou, e até nos arrancou alguns risos, mas a garota permanecia séria.
- Por quê? - parou de rir no mesmo instante, ficando séria a altura.
- Meus pais me davam atenção quando eu era menor. - sua resposta fez Callie sentar ao seu lado e a abraçar de lado.
- Entendo como são esses problemas com pais. - ergueu uma mão, e as duas deram um hi five. Mal sabem que eu entendo muito, mas muito bem mesmo, como são esses problemas com pais.
As duas ficaram tendo um papo super deprê de como tudo isso era complicado enquanto eu e fomos procurar algo para comer.
- Então, como você e estão?
Oh, essa pergunta estava quase fazendo falta!
- Bem até demais. - o que se passou pela minha mente não podia ser dito, mas ri da minha própria resposta.
- Finalmente!
- E você, sem nenhum gatinho na mira?
- Não! Até peguei trauma de coisas do tipo. - franziu a testa, balançando a cabeça negativamente como se estivesse espantando alguma lembrança.
- Por quê?
Deu um longo suspiro e me olhou séria, e em seguida, disparou a falar sobre um tal de Bryan, um rapaz que a infernizou em Chicago, e quase a matou junto com . Já podiam chamar um guincho para tirarem meu queixo do chão, pois assim mesmo que eu estava: de boca aperta.
- Foi uma loucura, mas tudo melhorou quando voltei pra cá. - deu um sorrisinho de lado, mas eu ainda estava chocada.
- Cacete, eu estou até sem palavras.
- Todos nós temos algo pesado em nossas vidas, nem que seja só um pouco. - apoiou os braços no balcão, ficando de frente para mim.
- Realmente. - foi só o que consegui dizer, mas o olhar de estava me pressionando de maneira inexplicável.
- Eu não sou boba e já te falei isso, . Eu sei que acontece algo na sua vida que você não quer contar, mas você precisa entender que desabafar sempre é a melhor opção.
- Eu gosto de manter as coisas pra mim mesma. Não discuto tudo até a morte.
- Eu sei que ás vezes é mais fácil se sentir como se fosse a única no mundo que está triste, frustrada, insatisfeita, mas não é bem assim. Talvez, sua melhor opção seja tirar todo esse peso de você. Todos nós precisamos de um pouco de ajuda às vezes, ou de alguém para nos ajudar a lembrar que nem sempre será assim. E eu sei que isso é algo grande, porque você não fala de jeito nenhum, mas não se esqueça nem por um segundo que eu estou aqui pra você, tudo bem? - seu sorriso foi a cereja do bolo. Em meio a tanta gente ruim, ainda existem pessoas assim, que nem devem ser consideradas como pessoas, e sim, anjos. é um anjo, o meu anjo. E mesmo não estando preparada para contar a verdade, sei que isso não se tornará um problema. O laço que criamos conseguiu se tornar mais forte do que isso, e eu não poderia estar mais grata por tal coisa.
- Eu já falei hoje que você é maravilhosa? - tentei conter as lágrimas, que insistiram em sair de meus olhos.
- Não, mas eu sei. - riu fraco, me envolvendo em um abraço forte.
's POV
Dan estava em uma casa nova, um pouco mais longe, e por um bom motivo. O ajudei com o restante da mudança, e comemoramos sentando em seu sofá novo, em sua sala nova, com um ótimo engradado de cerveja.
- Bem melhor que a outra casa. - comentei, observando a pintura recente das paredes brancas.
- Com certeza.
- E agora, qual o plano? Precisamos juntar todas as pistas possíveis para chegarmos até Richard.
- Sim, mas não é tão fácil assim. Ele tem de tudo, drogas, armas, gente esperta com ele, e isso está fodendo todos os nossos planos. - bufou frustrado.
- Eu queria saber como ele começou com tudo isso. Não é possível que tenha sido sozinho, certo? - me virei e o encarei. Dan parecia tão confuso quanto eu.
- Pelo o que eu ouvi, seu pai está nessa nova vida há menos de dois anos, e antes disso, havia outra pessoa fazendo tudo isso, mas não existia essa briga por território.
- E quem era essa pessoa? - a curiosidade veio à tona.
- Um tal de Cook. E tenho que admitir, o cara trabalhava bem, mas seu barco afundou cada vez mais. - bebeu o resto da cerveja que havia em sua garrafa e abriu outra em seguida.
- Isso é estranho demais. Esse tal de Cook trabalhava por aqui, igual você?
- Não. O cara era importante, e o negócio era grande. Ninguém nunca soube dizer ao certo o que aconteceu.
- Beleza, isso é um tanto quanto estranho, você não acha?
- Estranho é, então isso significa que temos que investigar melhor ainda, e com muito mais cuidado porque estou exausto de enterros.
- O próximo enterro será o de Richard. - o sorriso se formou em meus lábios, e batemos nossas garrafas em comemoração.
Dessa vez, tudo daria certo! 's POV end
Metade do nosso intervalo havia passado e meu desespero aumentava a cada segundo. Provas de matemática acabam com o meu psicológico e me fazem sofrer antecipadamente.
- Demorou. - falou assim que viu Chloe chegando, com uma cara nada boa por sinal.
- Eu estou de recuperação em matemática e física! Estou tão ferrada. - colocou as mãos no rosto e grunhiu de raiva.
Ok, isso só serviu para aumentar meu nervosismo. Levantei rapidamente e fui até o bebedouro do corredor, e quase acabei com toda a água dali.
- Deixa água para os peixes, mocinha. - Jackson fez uma voz engraçada, quase me fazendo engasgar.
- Vou mijar até umas horas. - sequei minha boca com a manga da blusa, e o rapaz gargalhou alto.
- Você é uma lady! Mas e aí, como você está?
- Bem, e morrendo de nervosismo por causa dessa prova de matemática. E você?
- Eu estou lindo e bem como sempre.
Nada convencido, não?
- Como você se acha! - estreitei os olhos de maneira divertida, afinando a voz.
- Que tal você ir ao racha amanhã? Terá a festa do grafite em seguida. - apoiou uma de suas mãos na parede, consequentemente ficando mais próximo a mim.
- Festa do grafite???
- Sim. Todos precisam ir de blusa branca, e na festa são distribuídas canetas para escrever nelas.
- Interessante, mas convidou tarde demais. Já vou sair com o pessoal. - falei em tom debochado, me fingindo de difícil.
- Chame eles também. Qual é, você não vai fazer isso comigo, né ? - fez um pequeno bico encantador. É, Jackson Tuck não é de se jogar fora, muito pelo contrário!
- Besta! Mas vou conversar com o pessoal sobre seu convite e te dou a resposta.
- Como você vai me dar a resposta de você nem mesmo tem meu número? - Jackson arqueou as sobrancelhas, e aquilo foi um baita banho de água fria em mim.
Como eu conseguia ser tão desatenta? Entregamos nossos celulares um para o outro, anotando nossos números rapidamente e sendo surpresos pelo sinal altíssimo.
- Até mais, Jackson. - guardei meu celular no bolso novamente e acenei em despedida, e ele fez o mesmo.
O pessoal adentrou o corredor, andando tão lentamente que parecia que estavam pisando em ovos. Fui até eles com passos rápidos, animada com o convite.
- Jackson nos convidou para irmos ao racha e a festa do grafite que vai ter amanhã, o que vocês acham?
- Que porra é festa do grafite? - estava mais confuso qualquer um dali.
Expliquei o que era, e um olhou para o outro, esperando quem abrisse a boca primeiro.
- Tanto faz. Vamos ficar bêbados de qualquer jeito. - se pronunciou primeiro, e em seguida todos concordaram, menos uma pessoa.
- Eu não vou poder ir. Tenho que estudar bastante para a recuperação de matemática e física, que pra piorar, vão ser segunda feira. - Chloe bateu o pé, claramente com raiva.
- Então não vai ter ninguém que faça a gente voltar da festa mais cedo? É isso mesmo, Jesus? - perguntou com falso tom de desconfiança, nos fazendo rir, até mesmo Chloe, que mostrou a língua em resposta.
Entramos em nossa sala e sentamos em nossos lugares, e o professor começou a distribuir a folha da prova para cada um.
"Você consegue! É apenas substitutiva, nada mais que isso." pensei comigo mesma assim que vi a prova repleta de exercícios de equação da circunferência.
Saímos da sala sem falar uma palavra. Correção: prova de matemática mexe com o psicológico de qualquer um.
Callie e decidiram passar o resto do dia juntos e o resto de nós fomos para casa, afinal, uma soneca era mais do que merecida.
Entrei em casa e meu coração ficou apertado automaticamente. O silêncio dali me deu certo alívio, mas não perdi tempo e corri para meu quarto, trancando a porta rapidamente.
Peguei meu celular e mandei uma mensagem para Jackson, dizendo que todos aceitaram seu convite. Meu sono acabou vencendo e dormi ali mesmo.
Meu coração estava tão acelerado que poderia sair pela boca a qualquer instante. Todo o meu desespero iria acabar. Da pior forma possível, mas acabaria.
- Você achou mesmo que poderia escapar de mim? - seu sorriso cheio de maldade me assustava mais do que a faca que estava em sua mão.
- Você não vai mesmo fazer isso, não é? - as lágrimas começaram a rolar pelo meu rosto.
- E por que não faria? - Sam gargalhou alto, e me prensou ainda mais contra a parede.
- Você é meu pai! - gritei, com a visão totalmente embaçada e com o desespero visível em meu rosto.
- Você tem certeza? - passou a ponta da faca afiada pela minha coxa.
Senti a dor tomar conta do meu ser. A faca foi enfiada ali, e mesmo com aquele ferimento, a decepção de estar sendo atacada pelo meu próprio pai ficava por cima da dor da facada.
Dizem que os filhos te fazem querer ser melhor, ser alguém bom, e te muda da água pro vinho. Comigo, a situação foi exatamente o contrario. Sam me odiava desde sempre, e suas ações não me deixavam duvidas.
Claro que, a culpa não é dele, e sim, minha. Eu nunca fui o suficiente para fazê-lo mudar. Nunca fui boa o suficiente para salvar sua alma. Eu simplesmente nunca fui... Nada.
Levantei bruscamente, com a respiração totalmente descompassada. Olhei para minhas pernas para me certificar de aquilo havia sido apenas mais um pesadelo. Todo o medo do meu próprio pai e o sentimento de rejeição eram sensações que não passavam de jeito nenhum. Não pude conter as lágrimas que se juntavam em meus olhos e todo o aperto em meu coração, que a cada instante se tornava mais insuportável. Dizem que nada dura para sempre, que nada permanece o mesmo. Então, por que não consigo parar de me sentir desse jeito?
Corri para o banheiro, batendo em alguns móveis por conta da visão embaçada, e procurei por uma lâmina rapidamente. Eu precisava daquilo. Precisava sentir todo aquele peso fora de mim.
"Se seu pai tentar fazer algo, ou se você tiver vontade de se machucar novamente, me ligue, me mande mensagem, uma carta, qualquer coisa, mas não guarde pra você!"
A voz de ecoava em minha mente, mas a lâmina continuava em minha mão. Merda.
Corri para o quarto novamente, ainda com a lâmina em uma mão, e com a outra peguei meu celular com certa dificuldade e finalmente liguei para .
"O que você está fazendo? Você nunca precisou disso!" pensei comigo mesma. Isso seria eu sendo uma fraca de carteirinha! Desliguei o celular no mesmo instante, e as lágrimas desciam cada vez mais. Levantei a blusa e levei a lâmina até minha barriga, e antes que eu pudesse cometer tal ato, meu celular começou a tocar. .
Respirei fundo, fungando e passando a mão nos olhos, na esperança de tirar todas as lágrimas dali.
- Oi, . - hesitei em atender, mas não me aguentei. Tentei disfarçar o máximo, mas minha voz me entregaria de bandeja. Parte de mim, havia atendido pelo simples fato de ter a certeza que sua voz me acalmaria. Parte de mim sabia que aquilo não era o que eu realmente queria. A dor era uma falsa solução.
- O que aconteceu? Por que você está chorando? - seu tom de voz mudou para preocupado em questão de segundos. Mesmo sem vê-lo, podia imaginar sua reação.
Por que eu estou fazendo isso? Por que eu estou fazendo isso com ele? não merece estar no meio da minha bagunça.
- Na-nada...
- , me conta o que aconteceu! Você está em casa? Eu vou aí agora!
- Estou.
- Ok, estou indo.
Aceitar o fato de que sabia da minha história, dos meus problemas, e que estava disposto a me ajudar, me fazia questionar tudo. estava mesmo certa? Desabafar é mesmo a melhor solução?
Minutos depois, a buzina que eu já conhecia tocou. Desci quase tropeçando em meus próprios pés, mas assim que abri a porta, correu ao meu encontro, com um abraço tão quente e aconchegante que eu me tornara incapaz de falar uma palavra sequer.
- Me desculpa por isso! Eu tive um pesadelo e acordei me sentindo horrível, e meu coração começou a doer tanto, mas TANTO! - olhei diretamente em seus olhos, e seus braços me apertavam cada vez mais, como se aquele abraço não estivesse sendo o suficiente.
- Shhhh... Eu estou aqui agora. - meus olhos se fecharam e seu perfume invadiu meu nariz. Estar em seus braços num momento como esse, estava sendo melhor do que eu jamais pude imaginar. Era como se eu só precisasse daquilo, como se seu abraço fosse capaz de me deixar imune a qualquer mal.
- M-m-meu pai!!! - me afastei de seu corpo no mesmo instante que abri os olhos e vi Sam na esquina, que assim que olhou para nós dois, começou a dar passos mais rápidos.
olhou rapidamente para o mesmo lugar que eu, e puxou minha mão bruscamente até seu carro. Abri a porta e entrei, observando o garoto fazer o mesmo com muita rapidez.
- Você não vai ficar aqui com ele. - acelerou o carro antes que meu pai nos alcançasse.
- , você não precisa fazer isso! Eu estou acostumada com isso tudo, de verdade!
- Você não vai ficar com ele e ponto! - a raiva em sua voz estava explícita.
parou o carro na casa de e buscou Sophia, que assim que me viu, perguntou o motivo do meu choro, e claro, dei uma ótima desculpa que era porque tinha caído na rua.
Crianças são bênçãos, e isso não tem como se negar. Sophia era uma verdadeira princesa, e não tem como explicar o meu desejo de felicidade para sua vida. Meu coração doía só de pensar na possibilidade de vê-la sofrendo por qualquer coisa que fosse.
Entramos na casa de e a garotinha correu para o banho, e o silêncio se tornou perturbador.
- Você está...
- Bravo? Sim. - deduziu o final da minha pergunta, a respondendo impaciente - Eu não posso te deixar voltar para aquela casa, ! Você está nesse estado por um pesadelo, então eu nem imagino como você fica depois que ele te bate. Eu não consigo aceitar uma coisa dessas! - andou de um lado para o outro, passando as mãos pelo cabelo, aparentemente inconformado com a situação.
- E o que eu posso fazer? - minha voz saiu tão baixa, que quase repeti a pergunta por medo dele não ter ouvido.
- Você é cheia de medo desse homem, então não adianta eu falar algo, você não vai fazer! - se aproximou de mim novamente, ficando extremamente próximo ao meu rosto.
- Você acha que essa situação tem jeito? - minha voz estava embargada. Prazer, , mais conhecida como mulher chorona!
- É claro que tem! Tudo tem um jeito. - colocou suas mãos em meu rosto, fazendo carinho com o polegar.
Sentamos no sofá, e os carinhos de não pararam até Sophia correr até nós com seu caderno, nos mostrando as lições que ela havia feito na escola. Aquela criança era incrível. O jeitinho como ela sorria me encantava. Se eu pudesse, a colocaria no meu bolso e não deixaria nada de ruim acontecer. Sophia merecia uma ótima vida.
A pequena nos distraiu por um bom tempo, até Elena chegar.
- Boa noite gente! , você está aqui! - seu sorriso empolgado era contagiante. Agora estava claro de quem havia puxado o belo sorriso.
- E ela vai ficar para o jantar. - acrescentou, fazendo a mãe sorrir mais ainda.
Os três começaram a conversar sobre tudo, como foi o dia de cada um, sobre o tempo, sobre acidentes locais, e sobre a janta, que seria macarrão com queijo. Tentei ajudar, mas Elena dizia que eu era visita e não estava ali para fazer comida, e sim, para comer.
- Vocês estudam juntos, certo? - puxou assunto animada, terminando de arrumar a mesa.
- Certinho!
- E como foi a semana de provas?
- Complicada. - fiz uma careta que a fez rir.
Elena é uma pessoa muito simpática. Ótima de papo e de cozinha, e pra melhorar, faz umas piadinhas incríveis. Ela terminou de comer e praticamente a obrigou a ir descansar, e Sophia subiu junto com a mãe, nos deixando sozinhos novamente.
Levantei e comecei a recolher tudo o que estava na mesa e levei até a pia, afinal, era o mínimo que eu podia fazer. O silêncio ali estava perturbador, mas não tive coragem de abrir a boca. Comecei a lavar a louça tranquilamente, e se encostou ao lado da pia.
- Você apertou os vidros quebrados naquele dia que estávamos discutindo na casa da . Agora tudo faz sentido. - balançou a cabeça, apertando os olhos e jogando a cabeça pra trás.
- E você falhou na sua missão de secar a louça, então tente ser melhor dessa vez. - desliguei a torneira e joguei um pano que estava ali perto para ele, que bufou mas não contestou.
Se alguém me dissesse no começo do ano que eu estaria na casa de , lavando a louça do jantar que tive com sua família, depois de ter tido um surto e quase feito besteira, eu iria rir. Tudo isso me surpreendeu demais. O ponto em que chegamos, toda essa intimidade que já temos e todo o companheirismo é algo que não posso reclamar. Talvez fosse isso que estava faltando.
terminou de secar e guardar as coisas e me puxou até seu quarto, e não me atrevi a abrir a boca para contestar.
- Você pode tomar banho aqui enquanto eu tomo no banheiro do corredor. É só pegar uma toalha naquela gaveta ali - apontou para a parte do meio de seu guarda roupa - E pegar roupas nas gavetas do outro lado.
- Oi? - franzi a testa, estranhando tudo o que ele havia acabado de falar.
- Eu não durmo com menina fedida, . Tome um banho e vista uma roupa minha e já era. - respondeu meio impaciente, mas bem humorado.
- Em primeiro lugar, eu nem mesmo estou fedendo! E segundo, eu não posso simplesmente dormir aqui, vestir uma roupa sua e já era. O que sua mãe vai pensar? - a indignação em minha voz fez o rapaz gargalhar e se aproximar, colocando uma de suas mãos em meu rosto e fazendo um carinho ali.
- Minha mãe não vai pensar nada, na verdade ela até ficou feliz por você aparecer por aqui. E você vai tomar um banho e colocar uma roupa minha sim, ou você está com vergonha?
- Só é meio estranho. - cocei a cabeça, com certa timidez.
- Mulher, eu já te vi pelada! - sua indignação saiu de sua boca alto demais, e a tapei no mesmo instante.
- Fala baixo, cacete!
- Vai logo tomar um banho, fedida. - zombou, pegando sua toalha no mancebo ao lado do guarda roupa e saiu do quarto.
Não tive escolha a não ser pegar a bendita toalha, uma camiseta bem grande e uma cueca também. Afinal, eu não viraria a minha calcinha do avesso, né?
Tomei um banho rápido e me troquei, e as roupas de até que ficou uma gracinha em mim. Saí do banheiro e ele ainda não tinha acabado seu banho, então deitei na cama e fechei os olhos. Como a vida pode ser tão maluca assim? Como é possível acontecer tanta coisa em tão pouco tempo?
Meus pensamentos foram interrompidos por entrando no quarto novamente, apenas de cueca. Dê-me forças, senhor!
- Você gostou do meu look pra dormir? - me sentei, mordendo o lábio de maneira sem graça, mas para o garoto, foi como uma provocação. sorriu sapeca e não perdeu tempo. Seu corpo se encaixou perfeitamente por cima do meu, como se fossem feitos um para o outro.
- Eu realmente prefiro você sem nada.
***
Acordei com o barulho do meu celular tocando. O nome "mãe" na tela fez eu murmurar um palavrão. Eu havia esquecido totalmente de avisar que dormiria fora.
- Oi, mãe. - fui o mais fofa possível, torcendo para não ouvir um grito como resposta.
- Onde você está? Dormiu aonde? Você quase me matou do coração!
- Calma mãe! Estou na casa da minha amiga . Me desculpa por não ter te avisado, ok? - olhei para o lado e vi dormir tranquilamente.
- Não faça mais isso! Você tem planos para hoje?
- Vou sair com o pessoal, e você?
- Pensei em ir até a casa da sua tia Márcia. Não nos vemos há muito tempo e eu estou cansada de estar distante de tudo, inclusive das pessoas.
Quando vemos um adulto, pensamos que eles não enfrentam os mesmo problemas que os nossos. Acreditamos que tudo isso já tenha passado, e que eles tenham superado tudo isso, mas às vezes é bem o contrário. Adultos ainda se sentem sozinhos, ficam tristes, desolados e sem esperança. Mas toda essa idéia de que quando crescemos tudo melhora não nos faz enxergar isso na maioria das vezes.
- Eu apoio a ideia, vai te fazer bem! - sorri, mesmo sabendo que ela não veria aquilo.
- Eu sei que vai. Agora vou desligar, te amo, filha. Aproveite seu dia.
- Eu te amo também, aproveite também!
Sentei na cama, observando aquele ser humano ao meu lado. As sensações que me dá são algo que não pode ser descrito, e meu medo é exatamente esse. Eu não posso desenvolver nenhum sentimento por ele, a não ser que eu queira me ferrar de novo. Droga, por que tudo tem que ser tão complicado?
- Por que você está sentada me encarando? - abriu os olhos lentamente, os coçando e se sentando também, ficando de frente para mim.
- Você é tão bonitinho dormindo, nem parece que é chatinho.
- Pena que não posso dizer o mesmo. - arqueou uma sobrancelha e minha boca se abriu de indignação. Puxei um travesseiro e joguei no garoto, que gargalhou e o puxou de volta, dando o troco na mesma moeda. A brincadeira estava boa, mas cortei toda aquela graça do pior jeito.
- Preciso ir embora.
- Seu pai está em casa nesse horário?
- Não sei. Não temos os horários certos dele, pois está sempre mudando. Um dia ele volta de madrugada, às vezes de manhã, ou a noite, e por aí vai...
- Você já sabe o que fazer, né? Agora vamos comer algo.
Quis enfiar minha cara no chão quando vi Elena na cozinha, mas ela me tratou tão bem e aquilo me deu um baita alivio. Não são todas as mães que gostam de garotas em casa. Tivemos um café da manhã ótimo, e me deixou em casa, mas eu trouxe sua roupa comigo, e não posso negar que sentir seu cheirinho durante o dia me agradou bastante.
Minha mãe não estava em casa, o que significava que ela realmente havia ido para a casa da tia Márcia. Eu não fiquei por muito tempo, apenas tomei um banho demorado e juntei algumas roupas numa bolsa e fui para a casa de , e passamos o dia todo fofocando, e em pouco tempo, Callie se juntou conosco.
- Podíamos ver um filme, né? - Callie fez seu olhar de pidona.
- Mas temos que começar a nos arrumar para sair. - lembrou e virou as costas, correndo para o quarto.
- Poderíamos fazer uma maratona dos filmes da Barbie algum dia, o que você acha? - levantei as sobrancelhas diversas vezes, tentando deixar minha proposta mais atraente.
- Por mais que eu adore Barbie, eu prefiro os filmes das Winx. - Callie fez um gesto com a mão do tipo "sinto muito", e desceu as escadas como um furacão.
- Do que vocês estão falando?
- Sobre passarmos um dia maratonando os filmes da Barbie e das Winx. Qual você prefere?
- Prefiro maratonar Breaking Bad, isso sim - respondeu com o tom de voz óbvio - Agora vamos subir e nos arrumar.
Roupa pra lá, roupa pra cá. estava tirando tudo de seu guarda roupa e reclamando sobre não ter o que vestir, mesmo tendo mais de mil opções diferentes. Eu estava satisfeita com minha regata branca e uma saia preta, que praticamente é o uniforme da balada. Callie colocou um shorts de couro e uma camisa branca bem folgadinha, e finalmente escolheu um cropped e um shorts branco.
Rebocamos nossa cara com base, pó, blush e tudo o que temos direito, e pouco tempo depois, chegou em seu carro junto com , e com , com o carro da mãe como sempre.
- Vocês se arrumam demais pra lugares que não merecem tudo isso. - rolou os olhos discretamente, tentando não parecer... Hm... Ciumento?
- Não vamos sair estragada de casa igual você né, queridão. - respondeu em um tom de completo cinismo.
Nos enfiamos nos carros e nos levou até o lugar novamente, já que ele era o único que sabia o caminho. Estava lotado, e todo mundo estava bem vestido, já que a festa seria depois do fim da corrida.
- Olha só o pessoal que resolveu dar as caras! - Jackson correu até nós assim que nos viu, cumprimentando cada um.
- Só vim pela bebida da festa mesmo. - deu os ombros, sem um pingo de vergonha por sua sinceridade.
's POV
Jackson estava sendo o mais atencioso e simpático possível, mas teve que sair dali para se arrumar para sua corrida.
- Tem menina até do primeiro ano aqui. Eu não fazia esse tipo de coisa no meu primeiro ano não!
- Você andava com um bando de maluco drogado e quer falar da coitada do primeiro ano que veio apenas ver uma corrida? - gargalhou alto, e não hesitei em dar uma cotovelada em seu braço.
Fomos para a arquibancada, e a corrida começou. Eu não fazia a mínima ideia com quem Jackson estava competindo, mas estava torcendo por ele, só por ele ter sido legal conosco.
- Eu nunca faria isso na minha vida! - comentei bem próxima do ouvido de , sem tirar os olhos daquela loucura de corrida.
- Você não mata nem uma barata, menina! - toda essa tiração de sarro não tem limites!
Todos estavam gritando, e a grande maioria estava torcendo para Jackson também, e todos gritaram mais ainda ao ver que ele havia sido o vencedor da noite.
- Esse garoto é maluco, mas deve ser uma sensação muito maneira. - Callie falava animadamente enquanto descíamos da arquibancada.
- Exatamente!
- Isso aqui é uma passarela? Porque uma modelo está passando. - um rapaz jovem praticamente gritou na minha cara. Arregalei os olhos e procurei pela mão do meu melhor amigo no mesmo instante e a apertei. Ele não estava com uma cara agradável, mas me puxou para longe do rapaz, que continuou gritando sobre a minha pessoa.
- Imbecil. - chutou as pedrinhas do chão, e apertou minha mão mais forte ainda.
Todos estavam em volta de Jackson, mas de alguma maneira ele conseguia dar atenção para todos, até chegar em nós novamente.
- Parabéns, Tuck. Agora divide o dinheiro com a gente. - arrisquei a brincadeira, e me surpreendi por arrancar uma risada dele.
- Assim você me fode né.
- A festa vai ser no mesmo lugar daquela outra que fomos?
- Sim, senhora. Inclusive, encontro vocês lá! - gritou, dando um aceno em despedida e sendo puxado pelos amigos para longe dali.
estava andando agarrada ao braço de , e meu coração se derreteu todinho. Achar Callie e fofos já havia perdido a graça. não tem dona, então ainda não sofro de fofura por ele.
Caminhamos até a entrada da casa e entramos rapidamente. A iluminação estava incrível, havia luzes de diversas cores, o que deixava tudo ainda mais animado.
- Hoje não tem Chloe, aproveita moleque! - gritou e deu tapinhas nas costas de , que riu com o amigo.
- Mas tem euzinha aqui! - me intrometi na conversa.
- Cala a boca aí lindona. - o garoto cortou meu barato, porém bem humorado.
Andamos até onde as bebidas estavam e todos encheram seus copos. Sempre fazíamos um aquecimento e bebíamos várias coisas primeiro, e depois íamos dançar. Enchi meu copo novamente e fui puxada por até onde todos estavam dançando.
O que ele tinha de bonito tinha de descoordenado, mas quem liga? O que importa é a diversão. Não tinha muito espaço livre, então sempre estávamos nos esbarrando com alguém, o que se tornou hilário para nós dois. Pulando pra lá, mexendo pra cá, e assim foi por algum tempo, até começar a se beijar com uma morena alta dos cabelos curtos. Ah, não me arrasa não, rapaz!
Procurei com os olhos mas não encontrei. Continuei dançando e vendo meu amigo se atracando com a garota por alguns minutos, até sentir alguém com a mão em minhas costas.
- Tira a mão d...
- Calma, sou eu. - Jackson se revelou antes que eu terminasse minha frase, levantando as mãos para cima, rindo.
- Me empresta uma? - apontei para as canetas que estavam em uma de suas mãos.
- Pode desenhar em mim se quiser. - me entregou uma caneta vermelha, e já que ele se ofereceu, decidi desenhar em sua camiseta, na parte dos ombros.
- Você viu o por aí? - acabei me empolgando e fiz mais alguns desenhos aleatórios por ali.
- Não. Seu amigo está se divertindo bastante, não? - Jackson apontou para , que estava beijando outra garota.
- Esse daí é assim mesmo. - balancei a cabeça e ri.
- Então vamos nos divertir também, mocinha. - Jackson abriu um sorriso de orelha a orelha e me puxou pela mão pelo meio da multidão.
- Mas eu não quero ficar com você! - me aproximei de seu ouvido e gritei, mesmo não sendo necessário.
- E quem disse que vamos ficar? Eu falei pra nos divertirmos. - se aproximou do meu ouvido e deu uma piscadinha em seguida.
Jackson parou na mesa de bebidas e misturou algumas bebidas em dois copos, ficando com um pra si, e me ofereceu o o outro. Viramos um, dois, três, quatro copos de uma vez e senti meu corpo ferver. Eu estava tão alegre que poderia dar cambalhotas por ali se não tivesse tanta gente.
A fama de Jackson não era das melhores, mas ele estava sendo bacana comigo, e aliás, que mal tem retribuir?
- Vem cá, vamos dançar! - cutuquei seu braço e ele me seguiu.
Como é que fica parada durante Cake By The Ocean mesmo? Dançamos sem vergonha nenhuma, e em compensação, ele dança melhor que .
- Você é sempre animada desse jeito? - Jackson gritou, ainda dançando.
- Depende. Quando eu bebo eu fico mais!
- Você e a são bem amigas, né?
- Aham! E você só tem amigo bobão, principalmente aqueles bocós da escola. - minha resposta fez o rapaz gargalhar e diminuir seus movimentos e se aproximar um pouco mais de mim.
- Eles são legais, você apenas não os conhece.
- Nem quero, sai fora!
- Você é engraçada, . - sua risada se destacava em meio todo a aquele barulho.
- Obrigada eu acho. Você é legal até, parabéns Tuck. - foi a minha vez de rir com as minhas próprias bobagens.
- Aqui está você! - apareceu ao nosso lado junto com , que estava com dois copos nas mãos.
- Eu não ia ficar lá assistindo de camarote você beijando várias fulanas né. - coloquei a mão na cintura, mostrando minha indignação.
- Aqui é assim bebê, caiu na rede é peixe. - deu uma piscadinha marota e rimos.
- Rei delas hein! - Jackson se entrosou na conversa, e foi bem tratado por , mas por ... Nem tanto.
- Vou buscar algo pra beber. - virei as costas, me afastando dali.
Pude ver Callie e num canto conversando com pessoas desconhecidas, e e simplesmente evaporaram.
Fiz a mesma mistura que Jackson tinha feito e bebi em segundos.
- Vai com calma. - apareceu ao meu lado, com as sobrancelhas levantadas.
- Isso aqui está muito bom. - enchi o copo novamente, entregando em sua mão, que engoliu todo o líquido rapidamente.
- Jackson Tuck, né? - deu um sorrisinho malicioso e não pude evitar de revirar o olhos.
- Nem rolou nada, vocês atrapalharam. - o provoquei, fazendo um bico para ele.
- Ainda bem. 's POV end
me levou para o fundo da casa, onde tinha menos gente. Todo o barulho estava fazendo um berrar no ouvido do outro, e estava sendo um tanto quanto desagradável. Tivemos tempo de curtir do nosso jeitinho, apenas observando aquela bagunça toda. Into You começou a tocar e meus olhos se arregalaram e um sorriso se formou em meu rosto.
- Já sei, você quer dançar. - o garoto revirou os olhos, e puxei sua mão para o meio da multidão. Eu iria me meter na bagunça, porém por um bom motivo.
Quando dizem que as coisas mudam sem que a gente perceba, nem acreditamos, mas nesses momentos eu consigo ver que é verdade. Para quem não dançava de jeito nenhum e detestava festa, eu realmente mudei. Talvez sejam coisas pequenas assim, que façam grande diferença.
- A little less conversation, and a little more touch my body, cause I'm so into you. - cantarolei bem próxima ao ouvido de , mordendo o lábio de maneira provocativa. O melhor de tudo é que eu não sinto vergonha, e muito menos desconfortável. Ele me passa uma segurança gigante, a ponto de fazer eu me soltar de todas as maneiras.
A animação de todos era contagiante, nem tinha como ficar triste. Eu não podia de jeito nenhum deixar de aproveitar isso. Dancei, bebi, dancei mais, e bebi mais ainda. me desafiou a beber umas misturas malucas com ele, e claro, aceitei.
- Gostou? - riu da careta que eu fiz após beber o último copo.
- Esse estava péssimo!
- Só enchendo a cara né. - e Callie apareceram ao nosso lado, alegres até demais. Louvada seja a bebida!
- É de graça mesmo.
Callie nos agitou para dançar novamente, e botamos pra quebrar.
A vida é maluca mesmo, te tira tanta coisa, mas te dá muitas outras. Todo o amor que não recebo do meu pai, eu recebo dos meus amigos. Claro que não é o mesmo, mas é algo tão importante quanto.
Callie e eu fomos até a mesa de bebidas e enchemos os copos para nós e para os garotos, e mesmo andando com certa dificuldade, chegamos até eles. A cada gole eu me sentia cada vez mais tonta, e meu corpo estava uma fogueira humana. Empurrei para o primeiro canto que vi e o beijei como se fosse a última vez que eu pudesse fazer aquilo.
- Você está bem? - colocou as mãos em meu rosto, me olhando sério.
- Poderia estar melhor. - sussurrei em seu ouvido, depositando um beijinho ali. O olhar surpreso e safado de me deixou com mais calor do que eu já estava. O famoso tesão. Suas mãos puxaram meu corpo para mais perto do seu, e começou a distribuir chupões pelo meu pescoço, e um gemido baixo escapou de meus lábios.
- Boa noite pessoal! - um rapaz subiu em cima de um balcão que havia na entrada da casa - Vocês estão gostando da festa? - todos gritaram um "sim" em coro - Se preparem, pois em alguns minutos terá o tão esperado blackout!
- O que isso significa? - olhei confusa para o garoto, que estava incomodado pela interrupção.
- Todas as luzes se apagam por um tempo, ou seja... - seu olhar malicioso retornou rapidamente. Céus... Esse olhar poderia me fazer ter um orgasmo.
- E vamos fazer o que quando as luzes se apagarem?
- Aqui tem quartos, . - sussurrou em meu ouvido, soprando o hálito quente, fazendo meu corpo se arrepiar.
- E por que não estamos em algum deles? - minha pergunta super convidativa nem precisou de resposta, apenas fui puxada pela mão no meio de toda aquela multidão.
's POV
Essa garota ainda vai acabar comigo. Suas palavras me deixaram duro pra caralho. Eu não queria forçar nada, não queria apressar, e nem parecer que eu só estava afim de sexo, mas ver assim, desse jeitinho... Porra. Demos passos grandes até subir as escadas e andar pelo corredor, que estava lotado. Tentei abrir uma porta, mas estava trancada. A do lado também, e a da frente, trancada também. Minha nossa senhora da paciência, me ajuda aqui!
- Tá tudo trancado. - dei um soco fraco em uma das portas, e mesmo com a iluminação baixa, pude ver a cara de frustrada da garota.
Eu a levaria para meu carro, se ele não tivesse ficado numa rua onde todos podem ver o que acontece dentro dele. Mas... Eu poderia a levar para o banheiro. Não é um lugar agradável, mas deixar uma garota na mão é um pecado gigantesco. Puxei até o banheiro no fim do corredor e tranquei a porta rapidamente.
- Sexo no banheiro? Interessante. - riu descontraída. Ajudei a garota a se sentar na pia, me encaixando rapidamente entre suas pernas.
- Eu não vou te foder aqui, só vou começar o que faremos a noite toda.
Pressionei meu corpo contra o da garota, que me beijava de maneira quase desesperada. Minhas mãos passeavam por sua nuca e não tive pressa em descê-las. estava linda daquele jeito, tão frágil e tão forte ao mesmo tempo. Tão... Minha. Interrompi nosso beijo com incontáveis selinhos e um sorriso sacana. A ponta dos meus dedos desceram até suas coxas, subindo lentamente, levando sua saia junto. Toquei em sua intimidade ainda por cima da calcinha, causando um sustinho na garota, que soltou uma risadinha. Não parei de olhar em seus olhos por um segundo. Gostava de observar como meu trabalho estava sendo feito. Brinquei com o elástico de sua calcinha, e sem aviso prévio, enfiei dois dedos em sua intimidade, observando a garota prender a respiração por alguns segundos e jogar a cabeça pra trás. estava tão molhadinha, pronta para mim. Comecei a masturbá-la, dois dedos dentro dela e o dedão em seu clitóris, intercalando entre movimentos circulares, de vai e vem, e dando alguns apertões, observando atentamente o que meus movimentos provocavam.
- , eu preciso de... - falava com os olhos apertados, tentando conter os gemidos. Meu pau ficava cada vez mais duro ao ver que minhas ações estavam a deixando até sem falas.
- Do que você precisa, ?
- Preciso que você ande logo com isso! - sua respiração descompassada não a impediu de tentar apressar as coisas.
- Você só vai gozar quando eu quiser, . - não importa o quanto eu gosto de sexo, ainda tenho um pouco de orgulho. Estar no controle da situação é realmente incrível e eu não abro mão disso.
Eu sentia meu pênis latejar. A única coisa que eu queria fazer era enfiar meu pau dentro dela. respirava com dificuldade, e seus seios subiam e desciam de forma tentadora. Sua expressão de excitação era impagável. Me agachei o suficiente para observar sua intimidade por alguns segundos, ainda com meus dedos dentro dela. Encostei minha boca ali, chupando sua buceta tão vorazmente que a garota se conteve para não se contorcer, puxando meus cabelos com certa força.
- Isso... Continua assim...
Seus gemidos abafados quase me desconcentravam da realidade. Tê-la ali, daquele jeitinho, me dava vontade de sorrir. Eu havia sido o primeiro homem a chegar ali, a fazer aquilo tudo, e proporcionar uma das melhores coisas da vida: o orgasmo. Levantei meu corpo novamente, ficando ereto - assim como meu pau -, ainda masturbando a garota. Após alguns breves minutos me dedicando ao prazer total de , seu gemido mais profundo e suas mãos me apertando com força anunciaram seu orgasmo. Fui ao céu e voltei com a visão do seu gozo na minha mão. Tão linda, tão incrível, tão entregue a mim. A garota pegou em minha mão com delicadeza, levando meus dedos até sua boca, se deliciando com seu próprio sabor. Ela sorriu em satisfação, e meu corpo se estremeceu. Eu estava louco, excitado, e ansioso demais pra entrar dentro daquela bucetinha apertada. - Você é uma caixinha de surpresas, .
- E você é maravilhoso. - juntou nossas bocas novamente, enlaçando suas pernas em minha cintura, o que fez sua intimidade bater em meu pau por cima da calça.
Todos os toques e beijos estavam nos deixando cada vez mais desesperados um pelo outro. não perdeu tempo e levou uma mão para dentro da minha calça, me fazendo suspirar alto.
- Olha como você me deixa. - dei um olhar rápido para meu pênis, onde a mão da garota estava.
- Acho que posso dar um jeitinho nisso. - deu um olhar pervertido inédito. Puta que pariu! Pulou da pia, abaixando a saia e ficando em minha frente, abaixando lentamente. Eu estava pronto para sentir aquela boquinha trabalhando. E olha... Aquela boca trabalha muito bem.
- Puta que pariu, eu preciso usar o banheiro! - uma voz feminina gritou, dando batidas fortes na porta. Caralho.
- Porra, já ta dentro desse banheiro faz um tempão! - uma segunda voz, porém masculina, gritou por cima.
Duro, excitado, e cheio de raiva. Tudo bem que o lugar que eu escolhi para as preliminares não foi o melhor, mas precisava bater na porta bem na minha vez? Bufei estressado, fazendo um sinal para que levantasse.
Callie, e estavam prontos para irem embora, mas demoramos um bom tempo para achar e . Os deixei em casa, e passou a noite comigo mais uma vez, me satisfazendo de uma maneira inacreditável. 's POV end
A mão de estava em minha cintura, e até fiquei com dó de tirá-la dali, mas foi necessário. Levantei ainda sonolenta e olhei a hora em meu celular. 9:14 da manhã. Por que caralhos acordei tão cedo sendo que dormi tão tarde?
Fui até o banheiro e escovei os dentes com o dedo mesmo, e lavei o rosto. Eu estava com mais uma camiseta de , e estava até bonito. Saí do banheiro sem fazer barulho e olhei o garoto dormir. Eu tinha que ir embora, afinal, se Elena me visse ali novamente, poderia achar ruim. Sentei ao lado de , o cutucando várias vezes, mas nada dele acordar. Balancei seu corpo diversas vezes até o garoto finalmente despertar.
- O que foi? - a voz rouca de sono foi um tanto quanto adorável.
- Eu já vou embora, ok? Nos falamos mais tarde. - desci da cama novamente, vestido minha saia e minha blusa.
- Está cedo demais pra isso, . Deita e dorme de novo. - bateu no lugar vago ao seu lado, e por mais que fosse um belo convite, eu realmente precisava ir.
- Eu não quero que sua mãe me veja aqui. Só desce e abre a porta pra mim, por favor? - me aproximei novamente, fazendo minha melhor cara de coitada para convencê-lo mais rápido.
- Eu te levo.
levantou no pulo e se vestiu com a primeira roupa que viu pela frente. Descemos sem fazer nenhum barulho, e me senti aliviada por isso.
Ficamos quietos o caminho todo, estávamos bem cansados.
- Obrigada, amor. - engoli em seco e arregalei os olhos, colocando a mão na boca por não ter controlado essa bendita palavra de ter saído - Foi mal, saiu sem querer.
- Relaxa, amor. - deu ênfase na palavra e riu, me dando certo alívio.
Dormi durante metade da tarde, e acordei com me intimando até a sorveteria que tinha no bairro. Pedimos nossos sorvetes, mas a expressão apreensiva da garota estava me deixando agoniada.
- Preciso te contar algo muito importante, e você não pode contar pra ninguém, ta bem? Ninguém mesmo! Só você vai saber disso, porque eu realmente preciso dividir isso com alguém. - falou séria, me olhando nos olhos.
estava confiando em mim pra caramba, e eu devia retribuir, afinal, eu ainda não tinha falado pra ninguém sobre tudo o que realmente estava acontecendo com , e eu precisava muito contar para alguém, é coisa demais pra uma cabeça só.
- Eu também tenho algo pra te falar.
- Ai meu Deus! Conta primeiro. - arregalou os olhos, batendo as unhas na mesa.
- Não, conta você.
- Não, você primeiro!
- Ah caralho, vamos falar juntas no 3, ok? - rolei os olhos, acabando com a palhaçada.
- Ok. 1... 2... 3... Eu transei com o .
- Eu fiquei com o .
PARA TUDO!!!
- O QUÊ? - coloquei o pote de sorvete de lado e bati na mesa, sorrindo até doer o rosto.
- VOCÊS DOIS??? Quando? Onde?
Misericórdia, eu preciso soltar fogos!
's POV
Quebra o ovo que eu tô chocada!
- Me explica essa história! - estava sorrindo como se fosse uma coisa boa.
- Me conta primeiro, por favor!
- Você que me chamou aqui, então você começa. - cruzou os braços, e desisti de insistir e comecei a falar.
Flashback On
A quantidade de bebida que eu tomei finalmente queria sair. Avisei que iria ao banheiro e saí procurando o canto de quatro paredes que possuía uma bendita privada. Finalmente achei e subindo as escadas rapidamente e sorri comigo mesma.
O álcool entra e o xixi sai. Saí do banheiro e segundos depois, todas as luzes se apagaram, apenas algumas pessoas perdidas como eu usaram lanternas dos celulares para acharem seus pares. Tentei ligar a minha, mas mal enxergava o que estava na tela por conta da bebida. Caminhei gritando o nome de , esbarrei em muitas pessoas que estavam se beijando, e depois de algum tempo, achei conversando com uma garota. Conversando próximo até demais.
- Ei, o que você está fazendo? - gritei no ouvido do meu melhor amigo, que colocou um dedo em minha boca.
- Conversando.
- Aham. - observei sua mão na cintura da menina, que estava claramente incomodada com a minha presença.
- Eu só estou aproveitando, . - gargalhou, se aproximando ainda mais da garota.
Não, eu não vou deixá-lo ele fazer isso de jeito nenhum.
- Olha, ele está meio bêbado e ele meio que namora -tirei as mãos de da cintura da menina- Então isso aqui não vai rolar. - respirei fundo e vi a garota bufar e se misturar na multidão.
- O que você fez? - parecia uma criança emburrada, e o puxei pela mão até um lugar menos lotado.
- Te impedi de fazer uma cagada! - cruzei os braços.
- Eu só queria beijar alguém. - apertou os olhos e colocou as mãos em meus ombros.
A iluminação do quintal batia aonde estávamos, e pude observar seus olhos me encarando de maneira séria.
- Vou encontrar o pessoal para irmos embora, fique aqui! - me virei para sair dali, mas as mãos de seguraram minha cintura, me fazendo ficar próxima de seu rosto.
- Mas eu continuo querendo beijar alguém, . - olhou para a minha boca e se aproximou, mas virei o rosto no mesmo instante.
- Que merda você está fazendo? - dei um tapa em seu ombro, mas ele continuava com as mãos em minha cintura.
- Shhhh, deixa rolar de uma vez.
Em questão de segundos, sua boca estava grudada na minha, com um beijo quente e com gosto de bebida. Minhas mãos foram parar em seu cabelo, acariciando o mesmo. E por alguns segundos foi assim... Só nós dois. Todo o barulho e agitação tinha sumido. Nosso beijo acelerado e com vigor me deixava com vontade de continuar fazendo aquilo por muito mais tempo, mas nosso fôlego não permitiu.
- Não, não, não, não!!! Por que você fez isso? - me desprendi de seus braços, dando um passo para trás.
- Você gostou que eu sei. - riu, se divertindo com o meu desespero.
- Você não podia ter feito isso, você está com a Chloe, e eu... E-eu não podia ter feito isso com... - me agarrou novamente, me calando com um beijo.
Por mais que minha mente me dissesse que tudo aquilo estava sendo errado, minhas ações não mentiam. Estava bom, e eu estava correspondendo, mesmo sendo errado. Que droga eu estava fazendo? Flashback Off
- Foi isso, . Eu quero contar pra Callie, mas como ela namora, talvez se doa por Chloe também, já que ela praticamente namora com também. - coloquei a mão no rosto, e quando olhei pra novamente, seus olhos brilhavam.
- Isso é tão... UOU! Vocês conversaram sobre isso?
- Ainda não. Estou me sentindo tão estranha!
- Eu sabia que isso ia acontecer um dia! Me surpreendia nunca ter acontecido antes. - gargalhou, e revirei os olhos e coloquei a mão no rosto novamente, totalmente impaciente.
- Eu vou socar sua cara se você sorrir de novo! Isso não é bom, é tipo... Traição! - joguei a cabeça pra trás, dando um longo suspiro.
- Me desculpe! Mas vocês precisam conversar sobre isso e ver o que vão fazer. - ela finalmente parou de sorrir e ficou séria.
- Eu sei. Agora me distraia me explicando sobre você e . - foi a minha vez de sorrir de orelha a orelha.
- Na verdade já faz uns dias, e eu só não contei antes porque... Ah, sei lá. Mas sabe... Rola toda hora! É uma loucura, eu não consigo me controlar! - os gestos e as expressões de me fez rir alto.
- E o que é isso? Vocês estão ficando, se gostando...? - arrisquei alguns palpites e balançou a cabeça negativamente.
- É basicamente sexo sem compromisso e sem sentimento. - sua resposta me fez rir mais alto ainda.
- Como você é bobinha! Isso nunca da certo, !
- Eu não quero me apaixonar e nem ele, quais as chances de dar errado? - arqueou uma sobrancelha, teimando ter razão.
- Todas, sua jumenta! Ninguém controla os sentimentos, e aposto um rim que um de vocês vai acabar se apaixonando.
- Aceito seu rim embalado num papel de presente com lacinho, então. - disse convicta, firme com sua afirmação.
- Veremos!
"Essa é a parte engraçada do destino: acontece, quer você queira ou não."
's POV
Acordar, tomar café e ir pra escola. Uma rotina que não me incomoda tanto, afinal, é necessário. O problema é que isso significa que terei que ver e Chloe.
- Filha, você vai se atrasar! - minha mãe deu leves batidas na porta, me chamando pela segunda vez.
Criei coragem pra levantar da cama, sentindo meu corpo todinho doer. Fiz minha higiene matinal, me troquei e desci para a cozinha.
- Bom dia. Que carinha é essa? - meu pai franziu a testa.
- Estou com dor no corpo, só isso.
- Isso que dá ficar em festa até de madrugada. - minha mãe soltou uma risadinha maligna.
- Mas isso foi sábado! Acho que estou ficando doente. - apoiei os cotovelos na mesa, recusando comer o que estava em meu prato.
- Tome um remédio! Se não melhorar, volte pra casa mais cedo que eu te levo ao hospital. - papai puxou o pote de geleia para perto de si, passando em sua torrada.
- Acho que não vai precisar, mas obrigada. - me levantei, dando um beijo na bochecha dos dois e caminhando até a porta.
- Você vai sair sem comer nada? - mamãe gritou.
- Estou sem fome. Até mais tarde!
O tempo havia fechado um pouco, o céu estava cinzento. Caminhei lentamente até chegar à escola, onde todos já haviam chegado. Meu estômago se revirou de nervoso. não podia ter feito aquilo, e eu não podia ter correspondido. O que eu estava pensando?
- Bom dia, gente. - espirrei em seguida, batendo o pé no chão de raiva, percebendo que estava ficando gripada.
- Saúde, . - Chloe abriu um sorriso meigo, e isso foi um soco em meu rosto.
Tivemos nossas diferenças no começo, mas agora estava tudo indo tão bem. Ela é uma garota boa, e eu fui ruim o suficiente pra beijar seu quase namorado, que é o meu melhor amigo.
- Obrigada.
- Como foi a festa? - ela continuou com o sorriso no rosto, e aquilo estava acabando comigo.
me olhou brevemente e olhou para Chloe em seguida, provavelmente pensando o mesmo que eu. fingiu que nem tinha ouvido, e por sorte, começou a conversar com ela, dizendo o quão legal foi, e o quão bom foi não ter ninguém passando mal nos fazendo ir embora mais cedo. O sinal bateu, e agarrei o braço de , o puxando para o corredor o mais rápido possível.
- O que eu faço? Eu nem consigo olhar pra eles dois direito!
- Você tem que conversar com e ver o que vocês vão fazer. Até lá, não faça e não fale nada, ok? - a calma em sua voz me deixou mais agoniada ainda, mas concordei.
As aulas foram passando, os espirros aumentando, e minha ansiedade também. Nem mesmo as notas azuis das provas e o grande nove e meio em química estavam me distraindo.
- Você está bem? - me olhou preocupado.
- Sim - espirrei - Só espirrando muito. - terminei minha frase com mais um espirro.
- Você está nervosa, . - sua afirmação me pegou de surpresa.
- Eu? Claro que não. Estou normal. - tentei disfarçar, mas continuou com o mesmo olhar de quem sabia que eu estava mentindo. Será que havia contado pra ele o que aconteceu?
- Você está balançando a perna sem parar e batendo as unhas na mesa. - seu olhar vitorioso me fez bufar e virar para frente de novo. Como esse pessoal consegue me conhecer tão bem?
O último sinal bateu, e a única coisa que eu queria era poder ir pra casa, dormir e esquecer que isso tudo aconteceu, mas ainda tínhamos treino.
- Meninas, ainda não estou sabendo se os meninos terão jogo esse sábado ou não, mas quero que a gente treine os saltos. Parece ser extremamente difícil, mas é questão de força de vontade, treino e equilíbrio. Eu e Chloe vamos começar e depois quero que todas tentem fazer pelo menos o básico, tudo bem? - Callie recebeu um "sim" em coro como resposta.
Minha disposição estava zero. Me sentia fraca, culpada e mal por estar ficando doente e por ter feito aquilo com Chloe.
- , sua vez!
Segui as instruções de Callie, mas não consegui me equilibrar e caí feito merda no chão.
- Você está bem? Eu juro que te segurei! - Chloe estava com os olhos arregalados, abaixada ao meu lado.
- Estou. - respondi impaciente, sentindo meu braço doer por conta da queda.
- Ela está doente, deve estar fraca também. - explicou o motivo do meu papelão, e ouvi suspiros de alívio em volta.
- Acho que você está com febre - Chloe colocou a mão sob minha testa - Vem. - pegou em minhas mãos, mas as tirei dali no mesmo instante.
- Pare de ser tão legal e tentar me ajudar, eu consigo levantar sozinha, que saco! - levantei de uma vez, gritando impaciente.
Se ela soubesse o que eu fiz, teria pisado em meu coração no momento em que caí, não me ajudado. Eu não sou merecedora de tanta simpatia e gentileza.
Dei longos passos para fora da quadra, e estava andando rápido para me alcançar.
- O que foi isso? - perguntou baixo, se encostando na porta do vestiário.
- Ela é muito... Legal! Isso está me deixando doida. - abri meu armário e peguei minhas roupas, indo até o banheiro e as trocando.
- Mas se você tratá-la assim, ela vai desconfiar de algo! - cruzou os braços, falando cheia de razão.
- Eu sei, mas...
- Mas nada! Vá embora, eu digo que você está passando mal e precisou ir. Peço para o ir até sua casa a tarde, pode ser?
- Mas aí ele vai saber que eu te contei! - tentei não falar tão alto, mas foi difícil.
- E qual o problema? Somos amigas e você precisou contar! Agora vá, ok? Depois quero saber de tudo! - sorriu sapeca, me dando um abraço que me fez esquecer de toda aquela porcaria por alguns segundos. 's POV end
O treino não demorou muito para acabar, mas Chloe passou o tempo todo com a cara emburrada, visivelmente chateada com o ocorrido. Fomos para o vestiário e me troquei rapidamente para poder falar com .
- Esperando seu macho? - Jackson saiu do vestiário risonho.
- Esperando o amigo dele.
- Eita - nos encaramos e rimos do possível pensamento pervertido que ele teve - Cadê sua amiga?
- Qual delas?
- . Ela é bem legal! - arqueou uma sobrancelha, com um olhar alegre demais pro meu gosto.
- Hm, sei. Estou de olho!
- Só perguntei dela. - espalmou as mãos no ar, se declarando inocente.
- Ela passou mal e teve que ir embora.
- Eu posso ir cuidar dela então. - Jackson sorriu malicioso e dei um tapa em seu ombro.
estava saindo do vestiário e não perdi tempo, caminhei até ficarmos cara a cara.
- Você precisa ir na casa da hoje a tarde e conversar sobre o que aconteceu sábado. E sim, eu sei que vocês ficaram e ela está pirando por isso, então eu acho bom consertar essa cagada que você fez antes que a Chloe comece a desconfiar de algo. - disparei tudo de uma vez, sorrindo como se minha intimação fosse algo normal.
- É... Ok. - franziu a testa e começou a caminhar para a saída.
saiu do vestiário em seguida, parou, me deu um selinho rápido e correu para a saída também, sem nem dizer um "tchau". Garotos...
Entrei em casa devagar, encontrando minha mãe na sala com uma expressão nada boa.
- O que aconteceu dessa vez? - fechei a porta com o pé, deixando a mochila cair pelos ombros até jogá-la em algum canto da sala.
- Eu... Eu preciso sair... Nós precisamos! Troque de roupa rápido! - falou em tom baixo e calmo, encarando o chão.
- Mãe, o que aconteceu? - me aproximei devagar, podendo ver seus braços totalmente machucados.
- Só faça o que eu te falei, pelo amor de Deus! - gritou.
Engoli a vontade de chorar e corri para meu quarto, colocando a primeira roupa que vi pela frente. Minha mãe colocou um agasalho que escondia tudo aquilo, e saímos dali. Nossa caminhada sem rumo e sem conversa me fazia querer gritar de agonia.
- Mãe, para onde estamos indo?
- Não sei, eu só quero andar. Hoje é meu dia de folga e pensei em descansar, mas é tudo o que eu não consigo fazer. Agora eu só quero andar e fingir que não tenho um marido que me bate, tudo bem? Podemos fazer isso? - sua voz embargada fez meu coração doer de uma maneira inexplicável. Concordei com a cabeça, seguindo seus passos.
Acontece que, fomos andando até o parque sem dizer uma mísera palavra, e eu só queria saber o que estava passando em sua mente. Ela decidiu sentar, e fiz o mesmo.
- Podemos conversar?
- Sim, mas não sobre seu pai, tudo bem?
- Tudo bem. Como foi na casa da tia Márcia? - perguntei a primeira coisa que veio em minha cabeça, tentando ignorar o fato que minha mãe estava triste e eu não podia fazer nada por ela.
- Foi ótimo! Conversamos sobre tantas coisas! - suspirou, apertando os olhos - Chega a ser engraçado... Quando éramos crianças não desgrudávamos uma da outra, e agora, mal nos vemos.
- Tente visitá-la mais vezes, mãe! Ela é sua irmã, e sempre vai gostar de te ver lá!
- Eu sei, mas eu não sinto vontade de fazer nada! Tudo o que acontece conosco acaba com todas as minhas energias, filha. Eu queria ser mais presente para você, queria ter coragem para denunciar seu pai e mudar de vida, mas eu só... Não consigo! - balançou a cabeça negativamente e fechou as mãos, provavelmente sentindo raiva por tudo aquilo.
- Você é trabalhadora, uma ótima mãe, e merece uma vida boa! Não é você que diz que nada dura para sempre? - sorri, arrancando um sorriso dela também.
- Você acha que vamos conseguir sair dessa? - seu olhar sério balançou todos os meus sentimentos.
- Eu honestamente espero que sim. - dei um suspiro derrotado, incomodada com o fato de não saber quando isso tudo vai mudar.
- Agora me conte as coisas boas! Como está indo na escola? E aquele garoto? - seu humor se transformou, e o sorriso em seu rosto estava ali novamente.
- Está tudo ótimo! Arranjei amigos maravilhosos!
- E aquele garoto? - sorriu sapeca, se referindo a .
- Ele é um bom amigo também. - falei pouco, tentando não aprofundar o assunto.
- Mas vocês estão namorando? - perguntou sem timidez nenhuma, e não pude deixar de rir.
- Não, mãe. Somos amigos que se beijam às vezes. - fiquei sem graça ao falar isso, mas a risada escandalosa da minha mãe me acalmou no mesmo minuto.
- Na minha época não era assim, viu! E quando eu vou conhecê-lo?
- Pra que você quer conhecê-lo? - perguntei confusa, com a voz cheia de bom humor.
- Quero saber com quem minha filha está se envolvendo, oras.
- Bem, quem sabe um dia. - brinquei.
E nossa tarde foi assim, cheia de conversa e de risada. É bom saber que não estou sozinha nisso tudo. Mesmo tendo passado muito tempo culpando minha mãe pelo o que acontece conosco, eu consigo entender todo o seu medo.
- Seu pai passa menos tempo em casa agora. Sei que ele está por aí fazendo coisa errada, mas é uma coisa boa pra nós, certo?
Estávamos caminhando lentamente de volta para casa.
- Certo, mas o pouco tempo que ele passa em casa, consegue fazer grandes estragos. - encarei seu braço, e sua expressão decepcionada tomou conta de seu rosto.
- O que você acha de jantarmos amanhã na casa da sua tia? - desviou do assunto, e não me atrevi a retomá-lo.
- Acho ótimo!
O barulho do meu celular interrompeu nossa conversa. estava atropelando as próprias palavras, e pelo o pouco que entendi, era pra eu ir até sua casa.
- É o garoto ou alguma amiga? - minha mãe tentou adivinhar e sorriu.
- Amiga com problemas com um garoto.
- Então vá ajudá-la! Te vejo mais tarde, filha. - nos abraçamos e apertei o passo, indo até a casa de .
's POV
Cheguei em casa e me joguei no sofá, colocando a mão no rosto e me odiando profundamente por ter tratado Chloe tão mal. Subi até meu quarto e troquei de roupa, colocando meu pijama preferido.
A tela do meu celular se acendeu, mostrando uma mensagem de , dizendo que passaria em minha casa. Gelei, respirei fundo, e respondi apenas com um "Ok".
deixou Sophia em minha casa e disse que talvez a buscaria um pouco mais tarde, e nem tive tempo de perguntar o por que, já que ele praticamente voou para longe dali. A hora custou a passar, mas ouvir a campainha tocar me fez desejar que não tivesse passado. Pedi para Sophia ir para o quarto, dizendo que teria uma conversa muito séria com uma pessoa. Abri a porta lentamente, sem coragem nenhuma de olhar em seus olhos.
- Eu sei que foi um erro e eu sinto muito por ter aproveitado da situação, afinal, você estava bêbado. Eu também sei que você gosta muito da Chloe e não faria isso de propósito, até porque eu te chutaria até a morte, então eu acho que não se tem muito pra conversar, né? - nem mesmo esperei o garoto me cumprimentar e disparei a falar, e a serenidade no olhar de me fez querer esmurrar sua cara.
- , eu não estava bêbado a ponto de não saber o que estava fazendo. Somos melhores amigos e não mentimos um para o outro, certo? - deu um passo para frente, entrando em minha casa e fechando a porta, porém ficamos parados ali mesmo.
- Certo.
- Eu te beijei porque quis. Não me pergunte o motivo, pois eu não sei, mas ... Eu gostei. - a calma e sinceridade em suas palavras me deixaram literalmente de boca aberta. Que diabos estava acontecendo?
- O QUE? Você não pode ter gostado disso, . Somos melhores amigos, AMIGOS! Você tem a Chloe, e... E... Eu... Eu não sei o que fazer, ou falar, ou pensar! - andei de um lado para o outro, desesperada com a situação.
- Você gostou?
- Por que você está perguntando isso? Não é justo!
- Você gostou ou não? - segurou em minhas mãos, me fazendo parar e me impedindo de fazer um buraco no chão de tanto andar de um lado para o outro.
- Eu n-não se-ei.
- Então eu sou obrigado a fazer isso.
- Isso o quê?
As mãos de foram parar em minha cintura, me puxando para mais perto de si. Seus olhos me olharam com tanto carinho, que não tive nem coragem de tentar impedir o que estava pra acontecer. Nossos lábios se encontram num beijo lento e calmo. E a mesma sensação de que nada mais importava além daquilo voltou.
Mesmo não querendo, paramos o beijo mas continuamos na mesma posição.
- Eu gostei - respondi sua pergunta com os olhos fechados, sentindo sua respiração bater em meu rosto - E esse é o problema! Eu não podia ter gostado, ! É errado!
- O que você quer que eu faça? - se afastou de mim lentamente, passando a mão pelos cabelos com a expressão confusa.
- Eu não sei! Eu... Eu quero que você finja que nada disso aconteceu, nadinha! Isso não é certo e Chloe não merece se decepcionar desse jeito. Ela gosta de você e é assim que deve ser. - respondi aos gritos, ficando mais nervosa a cada palavra que saía da minha boca.
- ...
- Por favor, faça isso! - supliquei, exausta de tanto lembrar de Chloe.
- Você tem certeza? - se aproximou novamente, segurando meu rosto delicadamente.
- Tenho. Agora vai embora, porque se você continuar aqui não vai prestar. - apertei os olhos, tentando esquecer a sensação que é ter seus lábios contra os meus.
- Ainda somos melhores amigos, certo?
- Sempre. - sorri de lado, abrindo a porta em seguida.
Estava tudo resolvido. Nada aconteceu. Pelo menos, não para os outros...
Como conseguimos deixar nossa vida tão complicada assim? Eu gostaria que tivesse sido ruim, pois pelo menos seria mais fácil de esquecer, mas não foi. é meu melhor amigo desde sempre, e por mais que dizem que não estraga a amizade, pode estragar a felicidade de outra pessoa, ou seja, a da Chloe. E ainda assim, ter algo com seria estranho em tantos sentidos.
Me despertei dos meus próprios pensamentos e corri para pegar meu celular, ligando para e a intimando a ir até minha casa, e ela não demorou a chegar.
- Eu quero todos os detalhes, sério! - pediu animada assim que abri a porta.
Sem rodeios, expliquei tudo o que aconteceu, exatamente tudo.
- E é isso, vamos fingir que não aconteceu nada. - falei firme, crente que consigo realmente fingir que nada ocorreu.
- Hello! Vocês se beijaram de novo, e... Uau... Eu nem consigo falar. - arregalou os olhos minimamente e gargalhou.
- Você acha que eu devo contar pra Callie?
- Claro! Ela é nossa amiga também.
- Você jura que jamais vai contar isso pra alguém? Nem se você estiver muito bêbada? - perguntei apreensiva. Meus sentimentos estavam misturados e a flor da pele.
- Juro juradinho. Mas se eu começar a falar algo, você pode pedir pro me beijar também. - me alfinetou com sua brincadeira, e não pensei duas vezes em jogar uma almofada em sua cara.
O problema foi resolvido.
Ou será que só parece que foi? ' POV end
's POV
Depois de sair da escola correndo, buscar Sophia as pressas e deixá-la na casa de , fui para a casa de Dan. Hoje é o dia de ir atrás de mais informações sobre Richard, e algo me diz que vamos nos dar bem, e meus sentidos não falham!
- Aonde vamos? - nem mesmo quis sentar de tanta ansiedade.
- Em muitos lugares. - Dan pegou as chaves do carro que estavam na mesa e saímos de sua casa.
E realmente foram muitos lugares. Passamos boa parte do dia indo pra lá e pra cá, conversando com conhecidos de Dan pra tentar descobrir algo, mas conseguimos pouca coisa. A noite chegou, mas como um homem muito esperto, ele deixou o melhor para o final. Meu sensor de que estávamos chegando perto de uma grande pista estava aceso.
Dan dirigiu por muito tempo até chegarmos até dois galpões enormes e um estacionamento na frente de cada um.
-Que lugar é esse? - forcei a vista para enxergar por onde entrava naquela joça.
-É o lugar em que vamos conseguir o que queremos. O dono disso aqui me deve um favor há muito tempo, e está na hora de cobrar esse favor. - Dan sorriu, abrindo a porta do carro.
A iluminação precária dificultava a agilidade de nossos passos, mas assim que vi aquele homem saindo de uma das portas do primeiro galpão, não consegui dar mais um passo sequer.
Não pode ser.
Simplesmente não pode.
- Dan, quem é o dono desse galpão? - perguntei baixo, observando aquele homem ir até seu carro.
- Frank. Por que você está parado olhando pra um homem entrando num carro? - o humor na voz de Dan me faria rir se eu não estivesse tão focado em guardar cada detalhe daquela cena.
- E qualquer um pode vir aqui? - continuei parado, ainda olhando para o tal homem, que nem mesmo nos enxergou por conta da distância, má iluminação, e aparentemente, pressa.
- Filho, isso aqui é área de bandido. Não é um lugar que sua mãe viria. - Dan riu, mas parou assim que percebeu a seriedade da coisa.
- Você lembra dos Tuck, né?
O homem finalmente deu partida no carro, saindo dali com pressa.
- Sim. Não vai me dizer que...
- Exatamente isso. Aquele homem que acabou de sair é Cooper Tuck.
- , você tem certeza?
- Absoluta!
Dan estava tão surpreso quanto eu, e sua ansiedade aumentou ainda mais. Andamos até entrarmos no primeiro galpão, que estava praticamente vazio, e haviam apenas três pessoas ali.
- Uau, quem é vivo sempre aparece! - um dos homens veio em nossa direção, tirando o cigarro da boca e sorrindo.
- Frank, quanto tempo! - Dan o abraçou, dando tapinhas nas costas.
- Realmente! Você tem um segundinho pra nós?
- Claro. Quem é o garoto? - deu uma tragada em seu cigarro, me olhando rapidamente.
- . - Dan nos apresentou e nos cumprimentamos com apertos de mãos.
- E no que eu posso ajudar?
- Eu preciso de uma informação. - Dan respondeu de uma vez, e o homem gargalhou.
- Isso tem um preço, você sabe.
- Você me deve um favor, lembra? - Dan arqueou as sobrancelhas, fazendo Frank desfazer seu sorriso.
- Ok, diga.
- Você conhece esse homem? - Dan retirou o celular do bolso, mostrando uma foto bem antiga de Richard.
- Quem não conhece esse cuzão? Ele está acabando com tudo o que é nosso. - a raiva na voz de Frank me agradou.
- Você sabe onde encontrá-lo? - me intrometi ansioso.
- Se eu soubesse já teria ido e enfiado uma bala no meio de sua testa. - deu mais uma tragada em seu cigarro, soprando a fumaça para o lado.
- Então ele está mesmo tentando acabar com tudo por aqui, certo? - a boa postura e seriedade de Dan deixava a conversa mais tensa do que já era.
- Sim. O cara é esperto demais, conseguiu foder o homem que era mais respeitado e sucedido daqui.
- E quem é essa pessoa? - as perguntas saltavam de minha boca.
- Cook.
- Bem, se você souber onde esse verme está, me avise! - Dan suspirou, dando um abraço de despedida no colega.
- Pode deixar. Foi bom te ver, Dan. Sinto falta dos velhos tempos. - Frank sorriu.
- Nem me diga!
Me despedi também, e antes de chegarmos na saída, a minha maior dúvida saiu gritante da minha boca.
- Quem era aquele homem que estava aqui?
As gargalhadas de Frank e seus amigos me deram certa raiva, mas sua resposta me deixou tão surpreso que me faltaram palavras.
- Aquele é o Cook, rapaz!
Não.
Não, não e não.
O pai de Jackson é o famoso Cook.
O caminho de volta pra casa foi estranhamente silencioso. Dan havia ficado tão surpreso quanto eu. Cooper Tuck era o tal Cook, que é traficante de armas e drogas.
- Você vai fazer o que agora que sabe disso? - Dan parou o carro na frente de sua casa.
- Não sei, eu não consigo nem pensar nesse momento. - cocei os olhos, soltando um longo suspiro em seguida.
- , seu pai roubou o negócio do Cooper Tuck! Não sei como, mas foi ele! Tudo se encaixa perfeitamente. - os olhos de Dan estavam levemente arregalados, e não pude evitar de arregalar os meus também.
Tudo fazia sentido, tudo se encaixava. Estava tudo claro como água.
- Cooper sempre agiu normalmente em relação aos boatos de que ele roubava dinheiro de onde trabalha. Ele sempre deixou todos acreditarem nisso pra não desconfiarem de outra coisa! Dan, está tudo explicado! - a empolgação em minha voz estava óbvia.
Toda essa descoberta fez um peso sair das minhas coisas. Cooper foi um homem extremamente esperto por todos esses anos, e ainda assim, Richard conseguiu ser mais. Ambição é bom, mas não nesse nível. Richard provavelmente ficou obcecado com tudo isso, e resultou nessa grande confusão que é agora. Mas se tem algo que eu tenho certeza é de que vamos o pegar, de um jeito ou de outro.
- Não sabemos o motivo de Cooper ir atrás de Frank, mas podemos voltar lá amanhã. Combinado? - Dan estava tão empolgado quanto eu.
- Combinado!
Dirigi rapidamente até a casa de . Eu estava atrasado pra caralho pra pegar Sophia. Toquei a campainha três vezes antes da porta ser aberta por uma com a cara amassada.
- Te acordei, né? - perguntei sem jeito, observando seu nariz avermelhado e seu pijama de elefantes.
- Eu só estava cochilando. Sophia já dormiu, você vai ter que pega-la no colo. - abriu a boca em um grande bocejo, me dando espaço para entrar.
Peguei Sophia cuidadosamente no colo, e antes de sair novamente, fiz uma das perguntas que eu menos fazia.
- Você está bem?
- Aham, só um pouco doente. E você?
- Você já tomou remédio?
- Sim. Você está bem ou não? - insistiu na pergunta.
- Estou. - me virei para sair dali, mas a voz de me impediu.
- Se eu te perguntar o motivo da sua demora, você vai me responder? - mordeu o lábio inferior, mas seu olhar sem esperança já sabia a resposta.
- Não. Desculpe a demora e boa noite, . - caminhei novamente até meu carro, colocando Sophia cuidadosamente no banco de trás.
Entrei em casa, indo direto para o quarto de Sophia, a colocando na cama com cuidado.
- Por que demorou tanto? - minha mãe apareceu no quarto, se encostando na porta.
- Tive que sair.
- Pra onde?
- Um lugar.
- , onde você estava? - cruzou os braços, se aproximando com passos lentos.
- Saí com o Dan, mãe. - respondi impaciente, saindo do quarto e indo para o meu, onde minha mãe me seguiu.
- Você ainda conversa com o Dan? - tentou disfarçar a tristeza em sua voz, e não pude evitar de estranhar.
- Sim, algum problema nisso?
- Não, é que... Ele não mantém contato... Não comigo... Não desde... Você sabe. - bufou frustrada.
- Posso pedir pra ele vir jantar aqui um dia desses, o que você acha? - tentei animá-la com a primeira idéia que veio em minha mente.
- Pode ser. Boa noite, filho. - sorriu de lado e fechou a porta do meu quarto.
Tirei toda aquela roupa e me joguei na cama, tentando absorver todas as informações que conseguimos em tão pouco tempo. Finalmente tudo estava começando a andar pra frente, e minha ansiedade aumentava cada vez mais. 's POV end
A manhã foi totalmente normal, mas observar e havia se tornado meu novo passatempo favorito. Saber que aquelas boquinhas já se beijaram me fazia querer gritar. Observar Chloe se tornou um tanto quanto triste, já que ela não fazia ideia do que tinha acontecido, e se soubesse, seria um baita choque pra coitada.
estava distante, mas não quis comentar nada sobre isso. e estavam bem humorados como sempre, e Callie estava com a pá virada de tão mal humorada, mas sua justificativa foi que estava de TPM. E é assim... Conversas, risadas, bom e mau humor, nervosismo e alegria, tudo num grupo só. E não me cansarei de observar também, o quão sortuda consegui ser em relação a isso. Amigos são mais importantes do que aparentam ser.
Eu e Callie fomos para a casa de , que decidiu fazer tapiocas doces antes de contar o que tinha acontecido entre ela e .
- Você vai me dizer logo o que é ou não? - Callie perguntou impaciente, deitando a cabeça em seu braço, o apoiando no balcão da cozinha.
- É complicado, Callie! Primeiro você tem que prometer que não vai contar pra ninguém, tudo bem? - estendeu o dedinho mindinho.
- Ta, agora fala. - a garota entrelaçou seu dedinho ali também.
- Eu e o ficamos.
Não pude deixar de soltar alguns gritinhos baixos, recebendo um tapa no braço de .
- O quê??? - a voz de Callie saiu tão fina que ficou hilário.
- É isso mesmo que você ouviu.
Callie exigiu os mínimos detalhes de toda a história, e contou um por um. A campainha tocou, e corri para atender. Abri um grande sorriso ao ver Sophia, que me abraçou em resposta e correu para dentro da casa, indo atrás de .
- Você está bem? - perguntei de uma vez, olhando diretamente nos olhos de .
- Por que não estaria?
- Você está estranho hoje, . - dei um passo pra frente, ficando bem pertinho do seu corpo.
- Na verdade, estou mesmo é com pressa.
Em questão de segundos, já estava dentro de seu carro, dirigindo para longe dali. Uma sensação estranha tomou conta de mim, me deixando estranhamente agoniada.
Entrei novamente, observando Callie dar broncas e mais broncas em , o que já era de se esperar.
-Eu sabia que você ficaria desse jeito! - bateu as mãos no balcão, claramente frustrada.
- É óbvio que eu ficaria desse jeito! Chloe é o nosso bebê, e ela não merece isso! Você tem noção do quão sozinha ela é? Se ela descobrir que isso aconteceu, vai querer matar vocês dois! - Callie falava mais alto do que o normal, com a voz alterada por conta da raiva.
- Eu não planejei nada disso, apenas aconteceu! - tentava argumentar, mas Callie apenas ria sarcasticamente.
- Você gostou, ! É errado do mesmo jeito. Quer saber? Eu vou dar o fora daqui. - a garota levantou e pegou sua mochila, dando um beijo rápido na testa de Sophia e indo até a porta.
- Aonde você vai? - me enfiei na frente da porta, impedindo que Callie a abrisse.
- Eu vou pra casa do meu namorado, . Acho importante deixar claro o quanto eu gosto dele e o quanto eu ficaria chateada se algo assim acontecesse. - seu olhar decepcionado tirou as palavras da minha boca. Dei um passo para o lado, permitindo sua saída.
se encostou na parede, apertando os olhos, provavelmente se sentindo pior ainda por tudo aquilo.
- Vocês brigaram? - a voz de Sophia nos despertou de toda aquela tensão.
- Não, Soph. Ela só não gostou de uma coisa que eu fiz. - sentou ao lado da pequena, tentando disfarçar que estava chateada.
Pensei em ligar para Callie, mas o melhor era deixá-la sozinha. Ela e Chloe estavam mais próximas por conta dos problemas de família que enfrentam, e com certeza se colocou no lugar da amiga. Bem, eu já passei por isso, e devo admitir que não é nada legal, mas parece que quando se trata dos outros, não é tão terrível assim. Engraçado, não? E mais uma vez, vejo que mudanças acontecem e nem percebemos. A dor de saber que uma amiga ficou com o rapaz que você gosta é horrível, te faz pensar em tudo o que é ruim. Mas tem uma série de coisas que podem levar as duas pessoas a fazerem esse tipo de coisa, talvez por diversão, por curiosidade, ou talvez porque no fundo, realmente se gostam. No caso de e , a ultima opção é o meu palpite. Eles podem achar que não, mas talvez no fundo, eles realmente se gostem, mas ainda não conseguiram encarar esse fato.
Passamos a tarde inteira juntas, e por volta das seis da tarde, minha mãe me ligou, lembrando que iríamos jantar na casa da tia Márcia. Me despedi das garotas e fui para casa.
- Você chegou cedo hoje. - estranhei tal fato e não deixei que comentar.
- Fomos liberados mais cedo hoje, e não me pergunte o motivo pois também não sei. Se troque rápido e vamos! - minha mãe bateu as mãos repetidamente, deixando claro que estava com pressa.
Chegamos na casa da tia Márcia e Callie estava sentada no sofá junto com . Gelei por alguns segundos, me sentindo insegura e desprotegida. Ninguém conhecia a minha mãe, e um jantar de família, onde todos comentam sobre os nossos problemas, podiam finalmente revelar tudo o que eu escondia pra Callie e todo o resto.
Cumprimentei tia Márcia e tio Chris com um abraço apertado. Minha mãe foi ajudá-los a arrumar a mesa, e me restou ir falar com e Callie, que estavam vendo um programa qualquer na TV.
- Oi gente.
- Oi. - Callie disse ríspida.
- Você ainda está brava, ou chateada, ou seja lá o que você está? - sentei no canto do sofá, observando a garota rolar os olhos.
- Eu não estou nada.
- Ela está chateada por vários motivos. Por apunhalar Chloe pelas costas, e também por ter contado pra você primeiro. Mas claro, ela não vai admitir isso. - soltou as verdades de uma vez, dando uma piscadinha pra mim.
- Ei! - Callie o olhou indignada, dando um tapa em seu ombro.
- Eu sei que você se colocou no lugar de Chloe, e eu sei que basicamente foi tudo errado, mas... Sei lá. - gargalhei, me perdendo em minhas próprias palavras - E não te contou antes porque teve medo da sua reação.
- Uhum, ta bem. - me olhou com desdém, mas eu sabia que era pirraça. Me enfiei no meio dos dois, os abraçando forte.
- Não fica brava não, a gente te ama!
- Você pode me amar sem me enforcar? - a garota falou com certa dificuldade, e os soltei no mesmo instante.
Me lembrei de outra coisa que tinha contado para e não para Callie. Estava claro que esconder as coisas dela, nem que seja por pouco tempo, a deixa chateada. Ok, vamos lá, .
- Eu preciso te contar uma coisa. - mordi o lábio, olhando sem graça para ela.
- Só pra ela? - se intrometeu, cruzando os braços.
- Acredite, você não vai querer saber sobre isso. - gargalhei, tentando disfarçar meu olhar malicioso.
- Beleza, to fora dessa conversa. - captou meu olhar, revirando os olhos e se afastando dali.
- Eu vou te contar e você não vai surtar, ok? Minha mãe está aqui, e eu adoraria manter essa informação longe dos ouvidos dela. - falei baixo, dando um sorriso e um olhar ameaçador pra garota.
- Você transou com o ? - Callie sussurrou, me deixando completamente sem reação.
- Como diabos você sabe? - eu estava mais surpresa do que ela ao ouvir minha confirmação.
- Eu sabia que isso ia acontecer! Eu sinto o cheiro do sexo de longe, ! Foi bom? Ele faz um bom trabalho? Vocês usaram camisinha, né? - disparou a fazer perguntas, e eu não sabia se ria ou se tapava sua boca.
- Você é doida, menina! - gargalhamos alto - Foi tudo ótimo, e sim, usamos camisinha.
- Você gosta dele?
Sua pergunta me deixou totalmente sem resposta por alguns segundos. É claramente óbvio que não. Eu, , gostando de ? Não nessa vida.
- É claro que não! O que temos é sexo sem compromisso e sem sentimento. Está ótimo do jeito que está.
- Me poupe! Esse negócio nunca funciona de verdade, ! - voltou a gargalhar.
- E por que não? Muita gente faz isso.
- Você lembra como eu e começamos? Foi basicamente assim. Olha onde estamos hoje! - Callie olhou para , que estava do outro lado da sala, conversando com minha mãe e seus pais.
- Credo, isso não vai acontecer comigo. - fiz uma cara de nojo pra provocá-la.
- Você não manda no seu coração, querida.
- Quem disse que eu tenho coração? - arqueei as sobrancelhas e segurei o riso, notando o quão mentirosa foi minha frase.
-Não banque a durona, . Você é um docinho! - afinou sua voz, deixando sua frase ridiculamente engraçada.
Tia Márcia foi até nós, avisando que a mesa já estava pronta. Levantamos e sentamos na mesa de jantar, que tinha um ótimo escondidinho de queijo e bolinhos de bacalhau.
- Filha, você nem mesmo me apresentou sua amiga! - minha mãe comentou, olhando para Callie sorridente.
- Você sabe quem ela é. Namorada do , seu sobrinho querido. - ironizei minha resposta, colocando mais um pedaço de bolinho em minha boca.
- Essa é a Callie, minha namorada e amiga da , tia. - se intrometeu, dando um olhar superior para mim, se achando por algo que eu deveria ter feito.
- Eu sou a Marie, querida. - minha mãe sorriu novamente, e Callie retribuiu do mesmo jeito.
- E como estão as coisas em casa, Marie? - tio Chris tocou no assunto que eu estava torcendo mentalmente para não tocar.
Oras, isso é um jantar de família! Não podemos trazer coisas tristes para a mesa, certo?
- Ainda não encontrei uma palavra para definir o que acontece naquele lugar. - respondeu com a voz carregada de decepção.
- Você sabe que estamos aqui pra qualquer coisa, né? Se quiser nossa ajuda para denun...
- Chega! - bati uma mão na mesa, interrompendo a fala do meu tio. Olhei com certo desespero para , pedindo ajuda com o olhar.
- Isso não é assunto pra um jantar, gente. - meu primo se manifestou, e agradeci com um pequeno sorriso de canto.
O silêncio tomou conta do lugar durante todo o jantar, até minha tia decidir buscar a sobremesa que estava na geladeira. Até minha vontade de comer seu incrível mousse de limão tinha ido embora, de tanto nervosismo por conta daquela situação. Eu queria tanto, mas tanto contar tudo para as meninas, mas algo me impedia.
- , você está bem? - Callie sentou cuidadosamente ao meu lado, com seu tom de voz baixo e calmo.
- Estou sim.
- Olha, eu provavelmente não estou autorizada a perguntar isso, mas não consigo evitar. O que foi aquilo?
"Conte logo" "Anda, fala de uma vez" "É melhor contar", todas essas frases passeavam pela minha mente, implorando para que eu finalmente fizesse tal ato. Mas algo... Algo totalmente ruim me segurava, tapava minha boca e me impedia. O por que? Também não sei. Pude falar tudo para , então por que não podia contar para minha amiga?
- Callie, é algo tão complicado que é melhor você não saber, tudo bem? Vou pedir do fundo do coração pra você não insistir, porque não posso te contar. - respondi extremamente séria, observando o olhar analítico de minha amiga.
- Tudo bem, me desculpe. - levantou como um furacão, indo para o fundo da cozinha junto ao namorado.
Me joguei no sofá, fechando os olhos. Por que tudo tem que ser assim? Por que eu simplesmente não chuto o pau da barraca e faço o que já deveria ter feito há muito tempo atrás, que é denunciar Sam? Por que essa maldita sensação de puro medo me prende dessa forma? Eu não mereço isso, tampouco minha mãe. Sempre foi uma mulher trabalhadora, honesta, boa, e eu... Nunca fiz nada de errado, nem mesmo roubei uma bala sequer, então, por que diabos isso acontece conosco? O que fizemos de errado? Essa é a parte mais revoltante.
Depois de algum tempo, nos despedimos de todos e fomos para casa, mais conhecido como nosso inferno particular.
- Vocês estavam aonde? - Sam saiu da cozinha às pressas, com uma garrafa de cerveja em mãos.
- Em um lugar melhor que esse. - minha mãe cuspiu as palavras, sendo respondida com um tapa em seu rosto. Apertei os olhos por alguns segundos, fechando os punhos de tanta raiva.
- Você é um covarde! Por que não briga com alguém do seu tamanho? - gritei com fúria, ainda com os punhos fechados.
Foi a minha vez de receber um tapa muito bem dando em meu rosto, que ardeu.
- O que você vai fazer? Fugir com seu namoradinho como naquele dia? - gargalhou, dando um gole em sua cerveja - Ele não está aqui para te ajudar, sua imbecil!
- Pronto, você já nos humilhou. Está satisfeito? - a voz raivosa de minha mãe gritou, o fazendo parar de rir e obter uma expressão nada agradável.
- Cale essa boca, sua vagabunda! - mais um tapa em minha mãe.
Não, não, não! Eu não podia ficar assistindo tudo àquilo mais uma vez. Empurrei seu braço, o fazendo derrubar sua garrafa no chão, a quebrando em incontáveis pedaços. O olhei com raiva, pronta para usar a pouca força que tinha.
- Você é tão desgraçado que nem o capeta vai te querer no inferno, seu verme! - berrei, totalmente dominada pela raiva e sem medo do que estava por vir.
Sam empurrou minha mãe para longe, a fazendo bater na parede e cair. Vê-la daquele jeito, sem força nenhuma, sem poder fazer nada, fazia meu ódio aumentar a cada segundo. A atenção dele veio para mim, e a cada passo que ele dava em minha direção, eu dava um passo para trás.
- Você não quer defender a sua mamãezinha? Então aguente por ela, garota intrometida! - deu um longo passo e agarrou meu braço, o apertando com toda força do mundo.
- VAI. SE. FODER. - falei pausadamente, o deixando mais irritado ainda.
Sam puxou meus dois braços com força até fazer meu corpo bater contra a parede. Fechei os olhos, os apertando com força. De repente, a sensação de seus braços se afrouxando me surpreendeu, fazendo meus olhos se abrirem de novo.
Medo. Tensão. Pânico.
Sam abaixou e pegou um caco de vidro, sorrindo como se aquilo fosse algo agradável.
- Você não vai machucar a minha filha! - minha mãe correu em sua direção, e ele não se importou em levantar o caco de vidro e cortar seu braço.
Meu coração estava extremamente acelerado, tão acelerado, que pensei que ele pudesse explodir.
Sam veio em minha direção, e as lágrimas se formando em meus olhos eram a única coisa que eu tinha no momento. Eu esperava que, por algum motivo, ele se comovesse com o choro da filha. Mas óbvio, isso jamais aconteceria.
- Então a boneca está chorando? - gargalhou literalmente na minha cara, revelando seu bafo absurdo de bebida.
- E-eu vou chamar a p-policia agora mesmo! - a voz embargada de minha mãe fez minhas lagrimas rolarem cada vez mais rápido.
- Oh, chame sim, Marie! Aproveite e chame uma ambulância para levar sua filha morta daqui, caso você realmente chame! - o sorriso inabalável no rosto de Sam fazia meu estômago revirar.
Seu olhar sombrio foi de encontro ao meu, e por mais que eu não conseguisse ver perfeitamente por conta das lágrimas, sua expressão satisfeita fazia meu coração doer. Ele estava satisfeito com o meu pânico. Ele estava fazendo minha mãe assistir tudo aquilo.
E finalmente, encostou aquele pequeno vidro em meu antebraço, o apertando com força até os pingos de sangue caírem no chão.
- PARA! MACHUQUE A MIM! LARGUE MINHA FILHA! - os gritos de minha mãe foram sumindo cada vez mais. Tudo estava girando, girando e girando.
- Filha? Vamos, acorde! - pisquei muitas vezes antes de ver o rosto de minha mãe com clareza.
Senti meu braço arder, e quando percebi que estava no chão, sentei rapidamente, com os olhos arregalados.
- Pra onde ele foi? Cadê ele? - não pude evitar o desespero que tomou conta de mim.
- Ele já saiu daqui. Me perdoe, pelo amor de Deus! Eu... Eu não aguento mais te ver assim! , eu... Me perdoe, filha! - envolveu seus braços em minha volta, num abraço totalmente aconchegante e confortável.
- Mãe, o que vamos fazer? Me responda, por favor! - as lágrimas tomaram conta dos meus olhos novamente, caindo e caindo.
- Você não ficará nessa casa por nem mais um segundo! Vamos arrumar suas coisas e te levar para a casa da sua tia agora mesmo, está me ouvindo? - sua voz séria e autoritária me deu um grande arrepio pelo corpo inteiro.
- Eu não vou te deixar nessa casa sozinha, mãe! - minha indignação foi maior do que sua autoridade. Me levantei com dificuldade, olhando brevemente para meu braço machucado.
- Eu sou sua mãe, ! Você vai e ponto final. Eu não vou permitir que você passe por isso novamente!
- Mas e você?
- Eu sei me virar, filha. Agora vem, vamos cuidar desse braço e arrumar suas coisas.
Todo o medo e pânico estava impregnado em cada parte do meu corpo. Meu coração doía de maneira absurda, que cheguei a pensar que fosse parar a qualquer momento. Meus pensamentos estavam misturados, tentando entender tudo o que aconteceu.
De onde veio todo esse ódio, crueldade e violência? Como foi que ele invadiu nossas vidas?
Como foi que Sam perdeu o seu caminho e foi engolido por todas essas coisas ruins?
Como?
É uma pergunta tão simples, porém sem resposta nenhuma.
's POV
Dan estacionou seu carro no mesmo lugar que a noite anterior, e fizemos a mesma caminhada cuidadosa por conta da falta de iluminação no lugar. Minha ansiedade não cabia em mim.
- Epa, estou imaginando coisas ou estou vendo Dan e novamente? - Frank riu alto, com o bom humor óbvio.
- Não é coisa da sua imaginação, meu caro. - Dan respondeu à altura, com um sorriso no rosto.
- Qual é a da vez? - o homem encostou-se em sua mesa, apagando o cigarro em seu cinzeiro.
- Em primeiro, o que Cook estava fazendo aqui antes de nós ontem à noite? - Dan esbanjou sem rodeios.
- Essa informação eu infelizmente não posso dar, Dan.
- Sabemos quem ele é, Frank. O negócio é bem simples: vocês querem matar aquele porco que anda se metendo nos negócios, e nós também. - apressei minha fala, surpreendendo Dan.
- Você acha que é fácil assim, rapaz? - Frank não tirou seu sorriso impecável do rosto, e pela primeira vez aquilo me incomodou.
- E por que não seria? - questionei, arqueando as sobrancelhas e dando um sorrisinho fraco.
- Porque Cook é meu patrão, e há regras nisso aqui. - Frank gesticulava com a mão incansavelmente.
- Melhor ainda! Marque uma reunião com o homem o mais rápido possível. Tenho certeza que ele vai gostar de nossa proposta. - Dan sorriu de imediato, fazendo o amigo rolar os olhos.
- Isso aqui não é brincadeira! Não posso marcar uma parada com o homem sem que vocês me garantam que isso aqui é sério mesmo. - a preocupação na voz de Frank nos deixou automaticamente sérios.
- Você já me viu brincar alguma vez? - Dan deu dois passos para frente, ficando cara a cara com o homem, que se sentiu totalmente afrontado.
- Beleza, eu vou quebrar o galho de vocês porque também é do meu interesse. E já sabem, né? O que acontece aqui, fica aqui.
Minha ansiedade se transformou em satisfação. O nosso resultado foi como o esperado e nada se compara a sensação de estar dando mais um passo à frente.
Nos despedimos de Frank e saímos dali, comemorando durante o caminho inteiro.
- Dan, você tem que jantar lá em casa um dia desses. - me lembrei da minha mãe, que havia ficado chateada com o afastamento do homem.
- Que? - pareceu não ter entendido minhas palavras, me olhando confuso.
- Minha mãe meio que sente sua falta, sabe? Vocês eram amigos também, e você simplesmente desapareceu da vida dela.
- Não é bem assim. Muita coisa aconteceu. - defendeu-se.
- Eu sei, mas agora está na hora de recuperar o tempo perdido. Fará bem a vocês dois. Você topa? - perguntei receoso, torcendo para que o homem aceitasse de uma vez.
- Claro que topo, moleque. - seu entusiasmo me fez respirar fundo aliviado.
As coisas permaneceram confusas por muito tempo, e a cada dia que passa, tudo se ajeita aos poucos. Finalmente conseguiríamos pegar Richard e manda-lo para o quinto dos infernos. Eu consegui amigos incríveis - aleluia consegui admitir isso pra mim mesmo! -, consegui também, uma garotinha que me surpreende a cada dia que passa. Por mais que o dia seja cheio de coisas malucas, no fim, a dona do meu último pensamento é .
É como se, tudo estivesse encontrando seu lugar. E eu não poderia estar mais feliz com isso. Feliz de verdade.
"No final das contas, há algumas coisas que não dá para evitar comentar. Algumas coisas que a gente não quer ouvir e algumas coisas que a gente fala porque não dá para segurar mais. Algumas coisas são mais do que você diz, elas são o que você faz. Algumas coisas você fala porque não há outra opção. Algumas coisas você guarda pra você mesmo. Mas às vezes algumas coisas falam por si só."
Acordar naquele colchão maravilhoso me fazia esquecer da dor por alguns segundos. Observei cada detalhe do quarto, com as paredes pintadas de bege claro.
Minha mãe falou realmente sério quando disse que me traria para a casa de minha tia, e cá estou eu. Leves batidas na porta foram feitas antes de entrar.
- Dormiu bem? Como você está?
- Tem como dormir mal num colchão incrível desse? - sorri de imediato, sentindo seus lábios em minha testa.
- Como está seu braço? - a serenidade em sua voz me acalmava de maneira inexplicável.
é, é sempre foi o meu refúgio, o meu lugar favorito. Estar com ele é a definição de sorrisos, brincadeiras, doces e arco íris.
- Dolorido. Nada que eu já não tenha me acostumado. - dei os ombros, tentando fazer piada com a minha desgraça, mas meu primo não gostou nada disso.
- Então está na hora de se desacostumar, ouviu? Ele não vai te machucar de novo, . Nunca mais. - me abraçou com força, acariciando meu cabelo ao mesmo tempo.
- Eu não posso ficar aqui pra sempre.
- Você vai ficar aqui o tempo que precisar. Vamos dar um jeito nisso tudo, ok? - segurou meu rosto delicadamente, me olhando no fundo dos olhos.
- Ok. Agora vamos tomar café antes que eu comece a comer os moveis desse quarto. - pulei da cama, o puxando pela mão.
O café da manhã... Ah, como eu estava com saudade disso. A mesa toda colorida, com diversas comidas.
- Você está bem, ? - tia Márcia perguntou cautelosamente.
- Honestamente? Não sei. Eu não consigo acreditar que as coisas chegaram a esse ponto.
- Tentamos fazer sua mãe ficar também, mas seu medo fala mais alto. Meu bem, por que não denunciamos Sam de uma vez por todas?
- NÃO! Se você fizer isso, alguém vai vir atrás de nós do mesmo jeito que vieram atrás de mim! V-você n-não pode fazer isso! - a essa altura, meu desespero estava mais óbvio do que 1+1=2.
- O que? Como assim, foram atrás de você? , o que aconteceu? - o tom de voz sério do tio Chris me fez querer bater a cara no chão. Por que essas coisas simplesmente saltam da minha boca?
- Sam devia dinheiro para um homem, e um dos capangas desse homem veio atrás de mim cobrando esse dinheiro, e caso eu não pagasse, ele mataria minha mãe. Ela não sabe disso, então por favor, não contem! Ela já tem problemas demais. - revelei a verdade com certo receio, sentindo meu coração ser amassado dentro do meu peito.
- Oh meu Deus! , você não pode correr esse perigo! Por que não nos contou antes? Poderíamos ter feito algo! - Márcia falava rapidamente, com a voz cheia de indignação.
- Só me prometa que você não vai contar nada pra minha mãe, por favor. - apertei os olhos com força e joguei a cabeça pra trás, já exausta do assunto.
- Tudo bem, querida. Mas agora você está aqui, e é nossa responsabilidade. Não esconda nada de nós, tudo bem? Faremos de tudo pra te ajudar, . Você é como nossa filha também. - minha tia colocou sua mão sobre a minha, me dando um olhar totalmente reconfortante.
***
Meus olhos procuraram desesperadamente, e eu já não ouvia mais nada que saía da boca de .
- , você está me ouvindo?
- Oi? O que foi? - balancei a cabeça, tentando resgatar as palavras que saíram de sua boca anteriormente.
- Está procurando ele, né? - sorriu de canto, e não tive como negar.
- Eu só... Não sei. Eu gosto da companhia dele, e eu...
- Precisa contar sobre o que aconteceu, né? - arqueou uma sobrancelha, ainda com um sorrisinho no rosto.
- Ele está sendo uma pessoa boa comigo, sabia? Me ajuda, me acalma, mas ainda assim, ele não me conta nada da vida dele. Nadinha mesmo. - soltei um ar decepcionado.
- Tempo ao tempo, . - aconselhou sorridente.
Fomos para o nosso canto de sempre, onde não demorou de chegar. Só de vê-lo de longe, eu já sentia vontade de correr e abraçá-lo. O motivo? Nem eu sei, mas meu coração pedia desesperadamente por isso, como se apenas seu toque fosse me acalmar e me fazer esquecer de toda a loucura.
- Bom dia, . - falei sem jeito, tentando conter minha vontade maluca de abraçá-lo.
- Acho que vocês precisam conversar. - apresentou uma boa oportunidade para eu poder fazer o que estava querendo, saindo dali com passos longos até Callie, que estava chegando também.
- O que foi, aconteceu algo? - arqueou as duas sobrancelhas, com a cara fechada, provavelmente esperando ouvir algo ruim.
Seus olhinhos azuis, cobertos de preocupação quase me desmancharam. Não pensei duas vezes antes de passar meus braços por seu pescoço, o abraçando fortemente. A sensação de conforto foi inteiramente intensa, um sentimento que eu gostaria de poder agarrar e não soltar mais. Seus braços perdidos entrelaçaram minha cintura, unindo nossos corpos ainda mais.
- Eu precisava fazer isso. - sussurrei em seu ouvido, ainda o abraçando com a mesma força, e sendo muito bem retribuída.
- , o que aconteceu com você? - seus braços se afrouxaram aos poucos, mas ainda segurando minha cintura, e seu olhar foi de encontro ao meu.
- Ele me machucou de novo, e minha mãe me mandou pra casa da minha tia por tempo indeterminado. Eu precisava te abraçar porque... Porque... E-eu precisava me sentir segura. - fechei os olhos e os apertei com força, sentindo minhas bochechas queimarem.
Eu estava envergonhada por admitir que me passa segurança. E por mais gostosa que seja a sensação de colocar algum sentimento pra fora, o medo vem junto. O medo de que tudo isso seja um começo para o fim. O medo de que essa segurança se multiplique em sentimentos que eu nem consiga explicar, ou deixar de sentir.
- O que ele fez com você? - a calma em seu olhar se transformou no oposto. Sua braveza saiu nítida em seu tom de voz.
- Não importa, está feito.
- O que ele fez com você, ? - reforçou a pergunta, soltando as mãos da minha cintura e colocando na parede, me cercando.
- Eu não posso te mostrar agora. - mordi o lábio, indicando com a cabeça a chegada do resto do pessoal.
dava passos rápidos, fugindo de Chloe e , que estavam andando de mãos dadas, conversando sobre algo que eu não conseguia ouvir por conta da distância.
***
Qual o sentido de ter aula de educação física se teremos treino logo após? Sem sentido e muito injusto, já que nos cansamos muito mais que os outros.
- Vôlei ou queimada, pessoal? - nosso professor perguntou alto, e a grande maioria escolheu queimada por ser algo mais fácil e menos cansativo.
Eu, Jackson, e Callie estávamos no mesmo time, enquanto o resto do pessoal, estavam no outro.
- Vou queimar você, fofinha. - falou alto num tom ameaçador, apontando para mim.
- Será que vai mesmo? - retruquei sarcástica.
O jogo começou e eu apenas corria de um lado para o outro, fugindo da bola com certo desespero.
- Pelo amor de Deus, mulher! Pega isso aqui e acerta a cara de alguém. - Jackson jogou a bola em minha direção.
Tentei acertar , mas estava a protegendo. Filho da mãe, estragou minha tentativa!
- Então é assim, você defendendo a amiguinha? - perguntei sarcasticamente para , que deu um hi five em .
- Sim, porque vamos ganhar isso aqui. - sua resposta veio no mesmo tom, me fazendo gargalhar e ameaçá-lo com o olhar.
- Será que vão mesmo?
- Claro que vamos, amor. - frisou a palavra "amor", fazendo e Callie rirem junto comigo.
Todas as jogadas que e tentavam eram contra mim, mas Jackson sempre pegava a bola e devolvia de maneira que queimava alguém, e o primeiro foi , que fez de tudo pra fingir que não havia sido queimado.
Callie queimou , que saiu xingando a tudo e todos. quase conseguiu me acertar, e Jackson permitiu que eu tentasse devolver o troco, mas a bola acabou acertando Liam, que tentou fazer o mesmo que .
- , sai da frente da sua amiga e deixa ela jogar, ou a bonitinha não sabe? - Jackson gritou provocativo.
- Que mané não sei jogar! - respondeu no mesmo segundo, altamente indignada.
A garota jogou a bola numa direção que eu jurava que não me acertaria, mas acertou. Bufei ao ver a comemoração dela com , que zombaram ao me ver sair.
- Olha só pra esses gatinhos. - sentei no lugar vago que havia entre e .
- , eu sei que você quer que a gente fique, mas eu já disse que não vai rolar, princesa. já chegou primeiro. - respondeu bem humorado.
- Se não tivesse aparecido, eu com certeza faria algo pra poder te dar uns beijos, . - fez graça, sorrindo safado.
- Seu negócio é dar uns beijos na , né cachorro? - entrei na brincadeira, permanecendo sorridente por um bom tempo até me lembrar da bobeira que eu havia falado - Ai cacete, me desculpa! Ele sabe? - apontei discretamente para , mesmo sabendo que ele estava me enxergando.
- Claro que sabe. - soltou uma risada fraca, balançando a cabeça.
- Ufa! O que você achou disso? - olhei para e cutuquei seu ombro, pois ele estava prestando mais atenção no jogo do que em mim.
- Achei estranho, mas eu sentia que isso iria acontecer em algum momento da vida. Eu não aguentaria ser só amigo daquele pedaço de mal caminho também não. - sorria enquanto as palavras saíam de sua boca, e deu um tapa em seu peito no mesmo instante.
- Respeita minha melhor amiga, seu imbecil.
- Eu só estou brincando, cara.
- E você, como está se sentindo depois de tudo o que aconteceu? - me virei para , que observava cada movimento da melhor amiga, que ainda estava firme e forte no jogo.
- Normal. Finjo que não aconteceu, como ela mesma pediu. Gosto da Chloe e tudo está indo bem. - nem mesmo se deu o trabalho de olhar pra mim, falando palavras que pareciam que já estavam feitas em seu cérebro.
- Essa é a resposta ensaiada que você dá pra quem pergunta sobre isso? - minha pergunta o tirou daquele transe, fazendo nossos olhares se encontrarem.
- Não, essa é a simples verdade.
- Então por que não me convenceu? - continuei a pressioná-lo, determinada a arrancar a verdade dele.
- Aí já não é problema meu. - o bom humor de se transformou em grosseria.
- Pega leve, . Ela só queria saber a verdade, coisa que você recusa a admitir pra si mesmo. - repreendeu o amigo, falando sem medo nenhum.
- Eu gosto da Chloe, gente! Ou pelo menos tento. Eu já nem sei mais que porra eu estou fazendo da minha vida. - o garoto colocou as mãos no rosto, mostrando seu incômodo por aquele assunto.
- Mano, você não pode se forçar a gostar de alguém. Sabemos que ela gosta bastante de você, mas se você não consegue retribuir, o melhor é acabar com isso antes que alguém se machuque de verdade. - aconselhou amigavelmente, se esticando e dando dois tapinhas na perna do amigo.
- Mas eu gosto de estar com ela e gosto da companhia dela! É um começo, não é? - retirou as mãos do rosto e perguntou esperançoso, mas a verdade é que nem eu, muito menos , conseguimos dizer algo, o que fez o garoto fechar os olhos e respirar fundo - Eu não posso magoá-la, gente! Ela é tão sozinha, e eu... Simplesmente não posso!
E aí está um dos grandes problemas que atormentam a vida de muita gente. Claro que precisamos de alguém ao nosso lado - ou não -, mas se prender a alguém apenas para deixar a pessoa feliz, enquanto você está sentindo tudo, menos felicidade, é a pior coisa que se pode fazer.
É algo simples: você apenas precisa deixar essa pessoa e seguir com a sua vida. Claro, simples apenas na teoria. Mesmo assim, terão pessoas que julgarão isso como uma atitude ruim, egoísta, e injusta, mas é exatamente ao contrário. Não podemos nos dar o luxo de perder tempo nos forçando a ter sentimentos por alguém, não é saudável e nem justo com nós mesmos.
- Fazê-la acreditar que você realmente gosta dela é o que vai magoá-la. - verbalizei a conclusão do meu pensamento, vendo a decepção tomar conta do rosto do garoto.
- Eu não posso fazer isso, não agora. - levantou e deu longos passos para a saída da quadra, e no momento em que comecei a caminhar para segui-lo, segurou meu braço.
- Deixa ele pensar, .
Sentamos novamente, observando o jogo que já estava no final.
- Quando vou poder ver o meu cachorro Duke? - chamá-lo de meu já era costume, então saía automaticamente da minha boca tal palavra.
- O seu cachorro eu não sei, mas o MEU você pode ver quando quiser. - deu ênfase da palavra "meu", me fazendo rolar os olhos.
- Tudo bem, se eu não fizer nada com hoje, passarei na sua casa.
Ah, merda! Por que eu falo tanta abobrinha sem pensar?
Falar como se tivéssemos algum tipo de relacionamento só me deixava mais confusa.
- Então vocês estão ficando sério, né?
- Não é bem assim. A gente só... Fica. - espalmei as mãos no ar, mostrando minha confusão.
O jogo finalmente acabou, e ver caminhar saltitante em minha direção só podia significar uma coisa: sua encheção de saco por ter ganhado.
Esperei na porta do vestiário, que me cumprimentou com um selinho.
- Você precisa sair hoje também?
- Não, o que significa que podemos ficar juntos e transar o dia inteiro. - encostou em meu ouvido, sussurrando as palavras que deixaram o que tem no meio das minhas pernas com certo calor.
- Hm, não me parece uma má ideia.
Caminhamos até seu carro, ouvindo música boa durante todo o percurso, buscando Sophia na escola e a deixando na casa de , e finalmente chegando a sua casa.
não perdeu e começou a me beijar assim que entramos em sua casa. Suas mãos caminhavam em todas as partes do meu corpo, o que estava ótimo, até ele chegar ao meu braço. Dei um pequeno gemido de dor, e se afastou assustado.
- O que foi?
- É aqui. - levantei meu braço direito, dando um olhar significativo para , que entendeu o recado.
Levantou minha blusa de manga cumprida lentamente, até revelar os curativos feitos ali.
- , isso está horrível! Como ele fez isso? - massageava os cantos do meu braço carinhosamente, mas sua reação estava exatamente o contrário.
- A garrafa de cerveja dele caiu no chão, e com um dos cacos de vidro ele... - as palavras não conseguiam sair de minha boca, e meus olhos marejaram no mesmo instante.
- Ok, você não precisa lembrar disso. Agora eu estou aqui com você, e nada vai te machucar, está me ouvindo? - suas mãos seguraram meu rosto, fazendo carinho com seus polegares.
Senti a mesma sensação de conforto novamente, que acabou formando um grande sorriso em meu rosto.
- Obrigada por tudo, . - fechei os olhos, ainda sentindo seu carinho.
- Somos amigos, não somos? - deu um sorriso sem graça.
- , eu não sou sua amiga, você não me considera como uma. - abri os olhos, dando um passo pra trás, sendo banhada pelo choque de realidade e desfazendo o sorriso do garoto.
Isso é um fato: não me considera como amiga. Às vezes, parece mais que ele me considera uma ameaça, como se a qualquer momento eu fosse descobrir algo trancado a sete chaves. Claro que toda essa sensação me incomoda, pois a lógica é dar e receber, mas são casos e casos, e nem sempre isso funciona.
- Por que você acha isso, ? - sua voz saiu claramente afetada pela minha afronta.
- Você sabe muitas coisas sobre a minha vida, coisas que nem minhas amigas sabem! E sabe o que eu recebi de volta? Nada. Nem mesmo uma lembrança da sua infância. - sem rodeios, falei toda a verdade de uma vez, vendo a expressão de mudar para algo indecifrável.
- Você quer saber sobre mim? Então lá vai... Eu não tenho pai, ele morreu num tiroteio. Ele era um ótimo pai, e ele morreu. Um dia estava aqui, e no outro já não estava mais. Eu não tenho uma lembrança boa da minha infância pra te contar, . Foi tudo uma droga, entende? Pra não parecer tão merda assim, posso dizer que Sophia mudou muita coisa no bom sentido, mas não fez sumir todas as coisas ruins que aconteceu. Meu pai está morto e eu não falo sobre isso, ok? - suas revelações caíram como tijolos em cima de mim. Cada palavra que saía de sua boca fazia meu coração se apertar mais e mais.
Outro fato: a vida é uma bela merda às vezes.
- , eu sinto muito! Eu não queria... Ah, droga! Me desculpa, tá legal? Eu só queria que você retribuísse e... Você me desculpa? - a aflição tomou conta de mim, atropelando minhas próprias palavras. Droga, o que foi que eu fiz?
- Ei, tudo bem. Só te peço pra que não conte nada a ninguém, porque gosto de manter esse acontecimento longe da vida das pessoas. - seu olhar indecifrável e receoso fez com que eu me sentisse pior ainda.
- Ok, mas você não respondeu se me desculpa ou não.
- , não tem o que desculpar. Você estava curiosa e eu matei sua curiosidade, fim de papo. - deu os ombros, aparentemente nenhum pouco abalado com tal revelação.
Por algum motivo, eu não me senti bem ao saber daquilo. Não senti que finalmente todo o mistério foi revelado, e muito menos que era apenas aquilo. Eu posso ser uma porcaria nas palavras, mas nos sentimentos e intuições, jamais!
's POV
Diferente do que pensei, não transamos. Não que apenas isso me importasse, claro. Passamos a tarde comendo e assistindo as bobeiras da TV. Toda a minha raiva pelo pai de e a minha mentira do ano deixou o clima tão tenso que o tesão evaporou.
adormeceu lindamente em meu colo, com sua cabeça deitada em meu peito. O barulho do meu celular me fez amaldiçoar o bendito que inventou essa desgraça. O nome de Dan apareceu na tela, e o sorriso no meu rosto se formou automaticamente.
- Fala. - sussurrei para não correr o risco de acordar .
- Conseguimos, ! Conseguimos uma reunião com Cook, ou Cooper, seja lá como você preferir. - seu entusiasmo estava contagiante.
- Porra, já? Mais rápido que um trem bala, Dan! Que horas será?
- As nove, e por que você está sussurrando, garoto? - a curiosidade de Dan saiu de maneira engraçada, e fui obrigado a prender o riso.
- Porque eu tenho uma gatinha dormindo no meu colo.
- Ela está na sua casa? - a surpresa de Dan saiu como um grito, me fazendo afastar o celular da orelha.
- Claro né, porra. - ri baixo.
- levou uma garota pra sua casa? É isso mesmo ou é só uma pegadinha? - rolei os olhos com o tom de brincadeira misturado com sarcasmo de Dan.
- É pegadinha, claro. - respondi da mesma maneira.
Desliguei o celular e observei . O tanto que já aconteceu em tão pouco tempo ainda me deixa abismado. Nunca me senti dessa maneira com alguma garota, afinal, nunca tive uma relação intensa desse jeito.
Espera... Relação? Que relação? Já estou até aumentando as coisas!
A mentira que eu havia contado ainda rondava pela minha mente. Eu podia simplesmente falar de uma vez, mas não. Ela provavelmente teria medo de mim se soubesse de toda a história e de todo o meu plano. Ela já conhece crueldade demais com o próprio pai, e mostrá-la que existem mais monstros desse tipo não a ajudaria em nada. No fundo, sei que essa é a melhor escolha a se fazer. No fundo, estou apenas a protegendo.
***
Deixei na porta da casa de e corri com toda a velocidade para a casa de Dan para irmos juntos ao nosso tão esperado encontro com Cook. Ou Cooper. Tanto faz.
- O homem vai cair pra trás quando ver você lá. - Dan dava passos fortes e rápidos em direção à entrada do galpão.
Finalmente adentramos o galpão, mas só Frank estava lá.
- Cadê o cara? - olhei cada detalhe que estava ao redor, na esperança de achá-lo em algum canto.
- Está chegando. - Frank deu uma tragada em seu inseparável cigarro.
Sentei impaciente em uma cadeira de plástico que havia ali, passando a mão pelos cabelos e observando os segundos passarem no relógio de mesa. Dan e Frank conversavam sobre algo que eu não conseguia prestar atenção. Minha paciência é extremamente curta em casos como esse, e em todos os outros também.
Por muito tempo lutei para vencer todo esse ódio contra Richard, mas no fundo acho que sempre soube que eu pararia aqui do mesmo jeito, procurando vingança a todo custo. O que ele fez é simplesmente imperdoável, e o pior é saber que nem remorso ele sente. Mata quem precisa matar em troca de poder. Construiu uma nova família e nos abandonou como se fossemos descartáveis.
Mesmo se um dia ele me desse uma explicação muito boa para tudo isso, não me convenceria. Todas as feridas que ele deixou não cicatrizam de maneira alguma, e está na hora dele pagar por isso.
Meu pensamento foi interrompido quando Cooper apareceu na pequena porta do lugar, ficando incrédulo no momento em que me reconheceu.
- Frank, você me disse que a reunião seria com Dan Turner, então porque tem mais de um homem neste galpão? - Cooper desviou o olhar, mantendo a pose de durão e fuzilando o empregado com os olhos.
- Não aja como se não me conhecesse, Cook. - dei ênfase em seu pseudônimo, dando um sorriso de canto.
- Eu quero conversar com o garoto a sós. - Cooper falou autoritário, e Frank não pensou duas vezes antes de se mover para fora dali, e Dan me deu um olhar positivo, saindo atrás do colega.
- Que loucura, né? Não sabia que ser gestor de reestruturação significa ser traficante de arma e drogas. - me levantei, com o sarcasmo gritante em minha voz.
- Como você descobriu? - permaneceu parado no mesmo lugar, sem mexer um músculo. Sua posição séria poderia amedrontar outras pessoas, mas não a mim.
- Richard voltou, e adivinha? É traficante também. Mas a surpresa não parou por ali, certo? - sorri largamente, me sentindo tão poderoso por finalmente saber de toda a verdade. Dei continuidade à minha fala - O chefe de tudo era você, e de repente não mais. Foi fácil ligar os fatos. Ele te roubou, não foi? - arqueei uma sobrancelha, cruzando os braços.
- Você é mais esperto do que eu pensava, . Mas que porra você está fazendo aqui, moleque? - seu tom sarcástico deu o ar da graça, e finalmente desgrudou os pés do chão, caminhando em minha direção, parando exatamente em minha frente.
- Você está atrás de vingança, não está? Porque por ironia do destino, eu também. Não vamos perder tempo, Cooper. Eu quero o mesmo que você, e juntos podemos acelerar o processo. - ignorei seu sarcasmo, indo direto ao ponto, não perdendo o contado visual por nenhum segundo.
- Você acha que eu preciso de você, ? Me poupe, moleque. - Cooper gargalhou alto, e minha vontade de dar um soco em sua cara fez minha mão coçar.
- Considerando que eu sei de todo esse seu negócio fracassado que eu posso denunciar a qualquer momento, acho que sim, você precisa de mim. - sua risada se desfez no mesmo instante, sendo substituída por uma expressão brava que não me assustou nem um pouco, muito pelo contrário, foi a minha vez de sorrir de orelha a orelha.
- Você não teria essa audácia! - cerrou os olhos, ficando mais bravo a cada segundo.
- Não queira me testar, Cooper. - arqueei uma sobrancelha, sustentando firme minha ameaça.
- Não fode essa porra, moleque! Você quer pegar seu pai também? Ótimo, temos um acordo, mas eu dito as regras aqui, está me entendendo? EU! - Cooper passou a mão pelos cabelos e grunhiu, totalmente abalado pela minha ameaça.
- Por mim está tudo bem. Mas eu quero uma explicação. - o olhei nos olhos, deduzindo que ele adivinharia sobre o que eu estava falando.
- Que explicação, caralho? - sua expressão confusa quase me fez rir, mas manter a seriedade era o foco da situação.
- Como isso aconteceu? Como ele conseguiu roubar tudo de você? - questionei receoso. A resposta podia ser pior do que eu pensava.
Cooper gritou para Frank e Dan entrarem novamente, alegando que não explicaria a história duas vezes, e começou a falar.
- Eu sempre fui muito amigo daquele filho da puta, e ele sempre soube de tudo. Eu nunca quis envolvê-lo nisso porque esse negocio te muda totalmente. Eu perdi a infância do meu filho todinha, deixei meu casamento ficar uma merda por causa disso tudo, mas -olhou para Dan- você deve entender como é complicado sair disso. Ele passou muito tempo sem nem tocar nesse assunto, e eu deduzi que ele tinha seguido meu conselho, mas NÃO! - gritou, gargalhando sem humor e dando continuidade a história - Ele só estava me vigiando, observando cada passo que eu dava para poder me roubar na hora certa. Ele roubou meu estoque, meus clientes, e minha dignidade. E o pior é que até hoje não sei como ele conseguiu fazer tudo isso sozinho! Se vamos pegá-lo tem que ser rápido, pois estou ficando cansado de acordar todo dia vendo que perdi tanta coisa por nada. Eu preciso recuperar o que é meu, estão entendendo? - Cooper deu um soco na mesa, apertando os olhos e respirando fundo.
Richard é um cretino estrelado, só falta o prêmio. Toda a explicação de Cooper foi combustível para o meu ódio, e não me restam dúvidas de que Richard merece morrer da pior maneira possível, não importa o que eu precise fazer, mas ele pagará por todos os danos que causou nesse mundo. E como vai! ’s POV end
Já falei o quanto esse colchão é bom? Porque realmente é, e ser tirado dele é péssimo ao extremo. Eu e tomamos café às pressas e corremos para a escola para não nos atrasarmos.
- Bom dia, gente! - Chloe nos cumprimentou com um aceno, empolgada.
Ai. Meu. Deus.
Ela está feliz. Essa hora!!!
O que ela bebeu?
- Por que você está tão feliz? - questionei com os olhos cerrados.
- Por que eu não estaria? - retrucou ainda mais empolgada.
Coitada, se ela soubesse por onde a boca do quase namorado tinha passado ela com certeza não estaria feliz assim.
soltou um suspiro alto e saiu dali, tentando disfarçar seu incômodo. Não tive tempo de ir atrás dela, balançou a cabeça discretamente de maneira negativa, me impedindo de sair dali.
- Você é meio maluquinha. - fez uma careta engraçada, fazendo Chloe rir.
Sobre , eu ainda estava com um pé atrás em relação à sua história sobre o pai. Ok, é feio duvidar das pessoas, ainda mais sobre um assunto tão sério, mas não existe um botão onde desliga as intuições que temos. Algo me dizia que aquilo estava muito errado, até mesmo os olhos do próprio .
- , nunca me desculpei por ter tratado sua irmã mal naquele dia. - Chloe mudou sua expressão, ficando totalmente séria.
- Mulher, isso foi em 1900 e guaraná com rolha. Nem a própria Sophia se importou. - o rapaz riu, nos fazendo rir junto, até mesmo Chloe, que tratou de se manter séria rapidamente.
- Eu sei, mas eu queria pedir desculpa mesmo assim. Eu sou filha única e totalmente desacostumada com crianças, então... - a garota mordeu o lábio fortemente, deixando os lábios marcados.
- Tudo bem, maluquinha.
O sinal tocou e pensei em finalmente ir atrás de , mas Chloe decidiu vir comigo.
- Você está bem, ?
- Sim, por que eu não estaria? - segurei o riso, vendo a garota revirar os olhos.
- É sério, boba.
- Eu estou bem, e você?
- Ótima. - sorriu de imediato.
Misericórdia, o que ela tem?
- Por que você está tão feliz assim? - cerrei os olhos.
- Está tudo indo bem, eu tenho vocês, e tudo com o está indo tão bem! Ele está mais carinhoso, e eu gosto dessa sensação de que tudo está bem. - seu sorriso se alargou ainda mais, e por mais que seria estranho sorrir por aquilo - principalmente pela parte do -, não me aguentei e sorri junto.
Uma pitada de curiosidade me atingiu. Chloe estava feliz com tudo aquilo, estava claro, mas então como era sua vida antes disso tudo? Pois temos a mania de olhar para alguém e imaginar que tal pessoa tem uma vida feliz e alegre, mas dificilmente deduzimos o contrário.
- E antes de tudo isso, como estava sua vida?
- Que tal você ir até minha casa a tarde? Chamarei as meninas também. Podemos conversar melhor, né?
- Por mim tudo bem.
Pegamos nossos materiais em nossos armários e fomos para nossas devidas salas, e estava sentada em seu lugar com as mãos no rosto, e as tirou dali assim que me viu.
- Eu não consigo nem olhá-la direito, ! Eu queria tanto poder contar pra ela a verdade e tirar esse peso de mim! - encostou sua cadeira ao lado da minha, sussurrando com cuidado, temendo que o melhor amigo pudesse ouvir.
- Eu honestamente não sei o que faria. Se eu fosse ela, gostaria de saber a verdade e ao mesmo tempo não, afinal, não passou de dois beijos, certo? - questionei com uma sobrancelha arqueada, lembrando do meu próprio pensamento de dias atrás, de que e talvez se gostassem, mas ainda não sabiam disso.
- Certo! - respondeu com certo desespero, afastando sua cadeira novamente assim que o professor entrou na sala.
As aulas foram a mesma chatice de sempre, principalmente a de química. Como diabos consegue amar essa matéria?
O sinal indicando o final das aulas fez todos pegarem seus materiais e correrem dali, exceto nós da equipe de líderes de torcida e o time dos garotos, que fomos para o vestiário e depois para a quadra. Minha blusa de manga cumprida cobria o corte em meu braço, mas me incomodava o fato de ser a única usando aquele tipo de blusa, mesmo sendo de tecido leve.
- Os meninos terão jogo sábado, então isso significa o quê? - Callie perguntou sorridente.
- Que temos que ensaiar. - respondemos todas juntas, um tanto quanto desanimadas.
- Nada de desânimo aqui, mocinhas! Bora mexer esses esqueletos! - Callie bateu as mãos, tentando nos despertar.
Hot N Cold da Katy Perry começou a tocar e Callie nos ensinava passo a passo. Às vezes copiávamos coreografias da internet e algumas vezes Callie misturava algo pronto com algo que ela inventava, e não posso negar que ficava ótimo. Callie amava a dança, e mesmo todos nós achando que ela se daria bem se seguisse isso como carreira, seu sonho não deixava de ser psicologia.
O sinal mais gostoso de ouvir é o que indica o final do treino. Fomos até o vestiário e fui a primeira a me trocar, esperando o resto das meninas.
- e Callie, vocês topam ir pra minha casa agora? - Chloe deu leves batidas nas duas portas onde as garotas estavam se trocando, com um olhar esperançoso.
- Topo! - Callie gritou.
- Ah... Eu... Eu tenho que cuidar de Sophia, não vai dar. - mesmo estando por trás da porta, eu podia imaginar a cara de quem fez burrada de .
- Você pode levá-la pra lá! Vai ser legal, ! - a empolgação na voz de Chloe me fez segurar o riso, ainda imaginando as caras e bocas de .
- Ta, eu topo. - arregalei os olhos minimamente, surpresa com sua resposta.
Guardamos nossas coisas em nossos armários, prontas para irmos embora, mas Paige ficou no centro do vestiário e pediu a atenção de todas nós.
- Meninas, no próximo sábado depois desse eu irei me casar, e vocês estão todas convidadas! Não mandei fazer convites, pois resolvemos gastar em coisas mais importantes, então se vocês forem, precisarei do nome de vocês! - Paige terminou sua fala com um grande sorriso, que se transformou em uma gargalhada escandalosa assim que observou nossas caras de surpresa.
- Desde quando você namora? - Ashley, a melhor amiga de Paige brincou, nos fazendo rir também.
- Mas você só tem 17 anos! Você não acha que está muito cedo pra isso? - Jess cruzou os braços, franzindo a testa.
- Eu sou emancipada, e casar aos 17 não é um crime, Jess! Eu estou apaixonada e quero me casar, só isso. - Paige respondeu carinhosamente.
- Você não está grávida? - perguntou curiosa, cerrando os olhos, e não hesitei em dar uma cotovelada na garota, fazendo o resto rir daquela cena. Isso é pergunta que se faça?
- Não, eu não estou grávida. Estou pronta para me casar, só isso. - frisou as duas ultimas palavras, nos assegurando de sua afirmação.
17 anos, emancipada e noiva. Não é um erro nem um crime, apenas um pouco estranho. Justamente nessa idade temos tantas incertezas em relação a tudo, e Paige falava com tanta certeza sobre a decisão de se casar mesmo jovem. Será que todas as incertezas na vida dela já tinham se esclarecido, ou ela simplesmente estava disposta a descobrir tudo ao lado de Ben, seu noivo e jogador no time dos meninos?
Abraçamos Paige e a parabenizamos pelo casamento e saímos dali, encontrando os meninos a nossa espera.
- Paige e Ben vão casar, da pra acreditar nisso? - Callie estava com os olhos brilhando, com os braços em volta do pescoço do namorado.
- Deus que me livre de um castigo desse. - juntou as mãos e sussurrou um "amém".
- Nós vamos, né? Vou comer tanto bem casado! - passei a mão na barriga e fechei os olhos, salivando só de imaginar aquela belezinha na minha boca.
- Claro que vamos! - respondeu animado, e ninguém contestou, deixando claro que iríamos.
Caminhamos até a saída, e estava quieto demais pro meu gosto.
- O que foi? - cutuquei seu ombro, chamando sua atenção.
- Nada.
- Tem certeza?
- Tenho. Eu preciso sair hoje, tchau . - acelerou o passo, apenas acenando de longe, sem nem ao menos me dar um selinho ou algo do tipo.
estava escondendo algo. Já não era a primeira vez que ele fazia algo a tarde, e até onde eu sei, ele não trabalha nem nada do tipo, então aí tem coisa! Pode ser coisa da minha cabeça, mas algo me diz que não. Ugh, por que eu estou sentindo esse tipo de coisa? Eu nem devia me preocupar com ele, certo? Mas essa sensação é mais forte que eu. É como se algo fosse acontecer a qualquer momento. Algo que faça tudo mudar.
Chegamos à casa de Chloe e e Sophia não demoraram a chegar. Nos apossamos do sofá por inteiro enquanto a empregada fazia alguns lanches que não demoraram para irem direto para nossa barriga.
- Chloe, você não respondeu a pergunta que eu te fiz hoje. - dei um longo gole no suco de graviola que veio acompanhado dos nossos lanches.
- Ah claro! Bem, minha vida antes de vocês e do era bem sem graça. Eu acho que nunca tive AQUELA amiga, sabe? - deu ênfase na palavra "aquela" e continuou - Sempre foram apenas colegas e nada mais. Também nunca tive nada sério com um garoto, mas esse ano eu vi e... Ai, não me aguentei! - finalizou rindo, com os olhos brilhando.
Chloe se tornou uma pessoa surpreendente com o passar do tempo. Sua vida era totalmente o contrário do que eu imaginava. Ela era uma pessoa praticamente sozinha, sem os pais por perto e sem amigos, e agora ela tem tudo, assim como eu. Tenho tudo, desde uma mãe maravilhosa que se preocupa até demais comigo, até amigos que eu jamais imaginei que fosse ter. As coisas mudaram, assim como eu também. Ao mesmo tempo em que sinto que estou um bocadinho mas forte, sinto que estou mais fraca, mas aí eu olho pra tudo o que ganhei nesse pouco tempo e até me perco em meio à tantas sensações de gratidão misturada com "por que eu ainda estou aqui?".
- Você era uma pessoa muito sozinha, não era? - Callie perguntou com certo receio, com medo de magoar a garota com sua pergunta.
- Sempre foi o meu jeito, na verdade. Passar o dia em casa tocando violão, lendo, visitando lugares interessantes era o suficiente pra mim. O mais estranho é que às vezes eu esqueço como era a minha vida antes de ir pra festas com vocês e passar mal. - riu com a própria fala, arrancando uma gargalhada até de .
- A vida é uma caixinha de surpresas!
- Realmente! Eu gosto disso, gosto desse grupo de amigos, e gosto de estar com vocês. É como se só estivesse faltando isso. - Chloe deu um sorriso completamente sincero, e uma alegria estranha se apossou do meu peito.
Como era bom sentir que eu não era a única que sentia aquilo! Chloe era parecida comigo e ao mesmo tempo não. Era como se nossos sentimentos fossem os mesmos, e o motivo da minha alegria foi saber que as coisas realmente mudam para todos em algum momento de nossas vidas. Mesmo duvidando tanto que isso pudesse acontecer justo comigo, aconteceu! Não mudou tudo, claro. Ainda há muitas coisas que me tiram o chão, mas em momentos como esse, eu posso dizer com todas as letras que são momentos felizes e significativos, que me mostram que a vida nos surpreende de verdade.
- Mas e se tudo mudar? Ano que vem estaremos fora da escola, e talvez você e podem não durar pra sempre como o esperado. O que você vai fazer? - questionou pensativa, e minha vontade em lhe dar um tabefe era grande.
- Espero que sejamos aquelas amizades que não mudem pela distância, . E em relação ao , eu não faço a mínima idéia do que faria ou como reagiria se acabasse, até porque é a primeira vez que tenho algo sério com alguém. - Chloe passou a mão pelos cabelos, mostrando aflição por ter que pensar em tudo aquilo naquele momento.
- Ninguém sabe responder esse tipo de coisa até acontecer, . - tentei espantar o clima tenso instalado ali, fazendo uma cara brava pra garota sem que Chloe percebesse.
- Não tem escuridão na minha vida. Nunca passei por uma situação difícil, nunca perdi um parente ou algo do tipo. Eu ainda não sei muito sobre perda, então realmente não sei como reagiria a algo assim. - Chloe deu continuidade na conversa, me fazendo falhar na missão de afastar o clima tenso dali.
- Quando acontecer, e se acontecer, você vai precisar dar um passo de cada vez e sobreviver àquilo. - aconselhei receosa, questionando a mim mesma internamente o fato de dar um conselho tão bom que nem eu mesma consigo seguir na maioria das vezes.
- Ok, chega desse papo. Vamos jogar uno, fazer um crochê, fazer uns polichinelos. - expôs seu bom humor, dando um tapa na cara de qualquer desconforto a mais que aquela situação pudesse trazer.
O resto da tarde foi resumido em muitos micos revelados, acontecimentos de nossas vidas e mais milhares de assuntos aleatórios.
's POV
Seis da tarde, e a primeira reunião com Cooper estava prestes a começar. O lugar combinado foi um outro galpão num lugar mais deserto, um pouco mais longe por questão de segurança.
Dan estacionou o carro ao lado do carro de Cooper. Descemos e caminhamos até adentrarmos o local, onde Cooper, Frank e outros dois homens estavam.
- Esse aqui é Jimmy - Cooper começou a falar, apontando para o homem mais alto, branco e dono de cabelos pretos e olhos castanhos escuros, com uma expressão mais séria que uma estátua - E esse aqui é Noah - apontou para o outro homem, também branco e com os cabelos pretos e olhos azuis - E eles são de total confiança, então tudo o que soubermos vai parar no ouvido deles também, estão entendendo? - questionou ríspido.
- Você que manda, não é? - Dan deu um sorriso de canto, levando a situação em total tranquilidade.
Cooper explicou exatamente tudo sobre como sua distribuição de drogas e armas funcionava era feita: ele havia aberto uma pequena empresa de enlatados, e os caminhões e carros de entregas transportavam as drogas e armas junto com seus produtos da empresa, que nem mesmo estava em seu nome. A cada ano eles abriam um negocio diferente para despistarem qualquer tipo de suspeita, o que foi bem sucedido até o momento em que tudo foi roubado do seu estoque, o lugar que ele se recusou a dizer onde ficava.
- Temos que descobrir o cronograma de Richard, ele não distribui tudo apenas para essa cidade, e como todo bom patrão, ele acompanha seus negócios de perto. Da próxima vez que ele voltar, iremos acionar todos os nossos melhores homens e contatos e localizar onde ele fica quando está aqui, entendido? - Cooper olhou para todos lentamente, mantendo a pose séria e fria, ouvindo todos nós dizendo "entendido" em coro.
Tudo estava indo bem, e a cada dia que passava a minha ansiedade aumentava. Pegar Richard era a minha única ambição, e aquilo me dava forças para enfrentar qualquer problema do dia a dia. Saber que ele finalmente pagaria por tudo que havia feito me dava uma gigante satisfação só de imaginar.
Jimmy e Noah mal falavam, apenas prestavam atenção em cada palavra que saía da boca de Cooper. Eu e Dan tiramos todas as dúvidas que tínhamos sobre o plano em geral, e assim foi encerrada a primeira reunião com Cooper Tuck, o grande Cook.
- Você deveria jantar lá em casa hoje. Hoje é dia de estrogonofe, e você sabe o quanto o estrogonofe da minha mãe é bom. - quebrei o silêncio que estava durante o trajeto de volta para a casa de Dan.
- Não posso simplesmente aparecer do nada, .
- Claro que pode! Ela vai gostar da surpresa. Vamos, vai. - insisti - Você vai poder ver Sophia também! - tentei deixar a proposta mais irrecusável usando minha irmã como isca.
- Aquela garota deve estar gigante! - Dan sorriu sozinho - Está bem, eu vou. - se rendeu, e comemorei com um grande sorriso.
Paramos em sua casa para que eu pudesse pegar meu carro e buscar Sophia na casa de Chloe, já que havia mandado uma mensagem dizendo que ela estaria lá.
- Oi , entra aí! - Chloe convidou sorridente, e pude ver sentada em seu sofá.
- Estou com pressa. Só chuta minha irmã pra cá por favor. - a garota riu com a minha fala e entrou novamente, e encostei-me à porta, observando cada detalhe de , que demorou a perceber que eu estava ali e levantou no mesmo instante em minha direção.
- Oi! - falou um tanto quanto sem graça, e não pude deixar de estranhar.
- O que foi? - franzi a testa, observando a aflição no rosto da garota.
- O que você anda fazendo a tarde? Eu sei que não é da minha conta, mas você está um pouco estranho e isso me deixa preocupada porque eu sinto que algo pode acontecer a qualquer momento e eu não quero que algo aconteça, entende? - falou tudo de uma vez, colocando a mão na boca e arregalando os olhos minimamente, dando uma risada totalmente sem humor para disfarçar.
- Sexo sem compromisso e sem sentimentos significa que você não precisa se preocupar comigo, sabia? - arqueei uma sobrancelha, vendo a garota espalmar as mãos no ar com o olhar inconformado.
- Uma ova! Somos amigos antes dessa coisa de sexo, e amigos se preocupam com os outros.
- Saiba que eu fui visitar minha avó nessas tardes, porque ela está doente. Não precisa se preocupar com nada, ok? - levei uma de minhas mãos até seu rosto, fazendo carinho em sua bochecha com meu polegar.
Chloe voltou com Sophia ao seu lado, que correu para me abraçar. Me despedi de com um selinho, o que deixou minha irmã saltitante.
Entrei em casa e mandei uma mensagem para Dan, dizendo que ele já podia ir. Minha mãe estava na cozinha, terminando os últimos preparativos do jantar.
- Oi meus amores! Como foi o dia de vocês?
- Normal e o seu?
- Foi ótimo. Me sinto de volta à vida trabalhando novamente! - respondeu animada, tirando os copos do armário e os colocando na mesa.
- É ótimo ver você desse jeito, mãe!
Ela não teve tempo de responder, pois a campainha tocou e ela correu para atender.
- Não acredito! - a boca de minha mãe formou um "O", totalmente surpresa e sorridente pela presença de Dan ali.
- Senti o cheiro do seu estrogonofe de longe e não resisti! - Dan estava abraçado com minha mãe, que ainda não estava acreditando em sua presença.
- Tio Dan! - Sophia desceu as escadas correndo e pulou em seu colo, sendo recebida por um abraço também.
- Com quantos anos você está? 18? A última vez que te vi, você ainda era do tamanho do meu sapato e agora já está grande assim? - Dan fez graça, fazendo Sophia gargalhar.
Minha mãe correu para colocar mais um prato na mesa, nos apressando para comer antes que esfriasse.
- Me conte como você está, Dan! Não nos vemos há tanto tempo e imagino que temos muito papo pra por em dia. - a empolgação na voz de minha mãe era tanta que eu achava impossível uma simples visita fazer tudo isso.
- Estou ótimo, Lena! - Dan usou o apelido carinhosamente - Ainda estou fazendo a mesma coisa da vida e ficando cada dia mais velho. Mas e você, como está? - a empolgação na voz de Dan estava a altura, e parecia até outro homem.
- Ainda naquele negocio, homem? - o repreendeu - Eu estou bem agora! Passei tanto tempo numa situação que me impedida de dar atenção aos meus filhos e viver minha vida, mas um dia eu acordei pra vida e vi que não estava sendo justo com ninguém aqui e resolvi me reerguer! Estou trabalhando e seguindo em frente e gostaria de ter feito isso anos atrás! - minha mãe não tirou o sorriso do rosto em nenhum momento, mostrando estar realmente bem e mudada.
Meu coração acelerava de felicidade em momentos assim. Vê-la dessa maneira, melhor do que nunca, foi o que eu sempre quis. Seu sofrimento me deixava no fundo do poço junto com ela, e agora que as coisas mudaram eu sentia que finalmente podia respirar ar fresco. Mas todo aquele tempo que ela perdeu trancada em seu quarto, quase morrendo de tanta tristeza nunca será recuperado, e isso faz meu ódio por Richard aumentar a cada batida do meu coração. Matá-lo pode não devolver todo o tempo que minha mãe perdeu, mas com certeza o fará perder o que ele mais ama: o poder.
O jantar foi sucesso, e mesmo minha mãe azucrinando a paciência de Dan pelo fato dele ainda estar envolvido com tráfico, tudo ocorreu bem. Eu e Sophia até subimos mais cedo para deixá-los mais à vontade.
Deitei em minha cama e invadiu meus pensamentos. Eu havia mentido uma porrada de vezes, e nem mesmo me arrependia de tal coisa. Afinal, por que me arrependeria? Eu não posso simplesmente revelar tudo isso pra uma garota que já viu o que é ter um pai horrível de perto. Ela não merece mais uma história triste, muito menos a minha. E muito menos merece saber o quanto eu sou horrível, até porque eu planejo matar meu próprio pai, e mesmo sabendo que pai é quem cria, e que Richard não exerceu esse papel, fazer entender seria o mais complicado. E além de tudo, isso a afastaria de mim, e por mais difícil que seja admitir isso, eu não quero que ela se afaste, muito pelo contrário. Eu preciso tê-la perto de mim por algum motivo que eu ainda não sei qual, mas meu corpo pede pelo dela. Apenas meu corpo, nada de coração no meio disso. Eu estou proibido de ter sentimentos por , pois nunca saberia lidar com essa merda. Aliás, o que o amor tem de bom? Minha mãe é a prova de que isso não dá certo.
's POV end
O dia do jogo finalmente chegou e foi a mesma correria de sempre até estarmos sentadinhos no ônibus que nos levaria até a escola do time adversário. Observei dando atenção total a Chloe, que sorria inúmeras vezes para o garoto. Aquilo estava mais forçado que não sei o quê, mas decidi ignorar e voltar a atenção para , que estava ao meu lado.
- O time dessa escola é bom? - puxei um assunto que com certeza o faria falar rapidamente.
- Pelo o que eu ouvi, é ótimo, mas somos melhores, né? - me deu um olhar fofo, e minha vontade de amassar sua cara estava quase incontrolável.
- Claro! Caso vocês ganhem, te darei um prêmio. - dei uma piscadela e um sorrisinho malicioso, fazendo o garoto rir e balançar a cabeça.
- Você só tem carinha de santinha mesmo, . - se aproximou do meu ouvido, sussurrando as palavras e soprando seu hálito quente ali, fazendo meu estômago dar voltas.
Eu ainda sentia toda aquela vontade de desvendar todos os mistérios de . Sentia vontade de compreender seus sentimentos e conseguir enxergar sua maneira de enxergar o mundo. Eu ainda o achava interessante e isso aumentava a cada dia mais. O motivo é desconhecido, eu apenas sinto, e sinto muito. Talvez seja um erro, talvez não. Eu não sei, mas também não consigo parar de sentir tudo isso.
O ônibus parou e todos desceram às pressas, mas não pensei duas vezes antes de correr até ficar ao lado de , que estava caminhando sozinho, pois Chloe havia dado passos maiores para conseguir terminar de se arrumar.
- Você está tentando até demais, huh? - falei sem o olhar, e pude observar brevemente que ele também não me olhou.
- Eu não posso magoá-la e não vou, ponto final. - respondeu curto e grosso, me deixando um tanto quanto sem graça.
- Eu sei que acabo sendo muito intrometida, mas eu já estive no lugar dela, ok? O garoto que eu gostava ficou com a garota que se dizia minha melhor amiga e foi realmente péssimo, mas eles não eram como você e . O que fizeram comigo foi por maldade, e esse não é o caso de vocês! Eu honestamente acho que você tem sentimentos pela mas não tem coragem de admitir isso pra si mesmo, e enquanto você continuar fazendo isso, não vai ser feliz nem com Chloe nem com ninguém. - falei tudo o que estava entalado na minha garganta de uma vez só, o que causou um impacto tão grande em que o fez parar de andar.
- Eu já estive no lugar dela também, ! Eu já fui traído e a sensação é uma grande bosta, e tudo o que eu não podia fazer, eu fiz. E sabe o pior? Eu não me arrependo! - apertou os olhos e suspirou derrotado, voltando a andar lentamente.
- ... - tentei falar, mas o dedo indicador dele foi até minha boca, me impedindo.
- Quanto mais você fala, mais eu começo a pensar nessa possibilidade de terminar com Chloe e correr pra beijar novamente, então por favor, eu te imploro, fica quieta! - estava impaciente, mas sua expressão decepcionada foi o que mais me incomodou.
Caminhamos em silêncio até o vestiário, e nesses poucos minutos pude pensar no quanto algumas pessoas colocam a felicidade das outras à frente da própria. Às vezes se torna algo admirável, e outras, injusto. Nem todo mundo tem a sorte de encontrar o amor, e quando encontram, tem algo que os impede de ficarem juntos.
Eu e as meninas entramos na quadra e nos apresentamos, recebendo aplausos de todos dali, menos das líderes de torcida dos Titans, o time adversário. Saímos do centro da quadra e elas fizeram questão de esbarrar em cada uma de nós, tentando nos dar medo.
- Querida, você por acaso é cega ou o quê? - Callie gritou com a garota que havia a empurrado com o ombro, a deixando indignada.
- Desculpa, não enxergo torcedoras de perdedores. - a tal garota sorriu cinicamente, se virando e indo até o centro da quadra.
- Vaca do cacete! - Callie grunhiu raivosa, indo até o canto da quadra para observar a apresentação das Titanschatas.
Ao contrário delas, aplaudimos e sorrimos no final, pois não iríamos nos rebaixar àquele nível. Os garotos estavam prontos para entrar na quadra, mas Callie correu e beijou ali mesmo no meio de todos, desejando um boa sorte da melhor maneira. me olhou confiante e mandei um beijo no ar, sussurrando um "boa sorte" lentamente na esperança que ele pudesse ler meus lábios.
O juiz apitou anunciando o começo do jogo, o que levou todos a loucura. Balançávamos nossos pompons incansavelmente, gritando o máximo que podíamos, mas nossa animação foi cortada ao vermos um dos garotos dos Titans fazer um gol. , Jackson e estavam jogando muito bem ao meu ver, já que não entendo bulhufas de futebol. Continuamos gritando e torcendo, e quase tivemos um ataque cardíaco coletivo ao ver perder um gol pela bola ter batido na trave.
O primeiro tempo terminou e todos descansaram o máximo que puderam. Os jogadores voltaram a quadra, e o sinal anunciando o começo do segundo tempo nos fez berrar até cansar. estava prestes a fazer um gol, mas um garoto colocou o pé na frente, o fazendo cair e perder o gol.
CA-CE-TE!
levantou furioso com a ajuda de Jackson, que também estava bravo com a atitude do garoto.
- Isso aí é falta! - gritei, chamando a atenção das garotas.
Os Titans estavam tirando barato do time dos garotos, o que deixou ainda mais bravo e o fez começar uma briga. Larguei meus pompons e corri para o meio da muvuca, onde o juiz e os jogadores estavam tentando por ordem. e Jackson conseguiram segurar , e mesmo com dificuldade consegui parar em sua frente, observando seu olhar de raiva para Zack, o nome que estava escrito atrás da camiseta do rapaz que fez cair.
- Para com isso ou você vai ser expulso do jogo, ! - tentei acalmá-lo, mas ele nem mesmo conseguia prestar atenção em mim.
- Isso aqui é um jogo de futebol, não uma luta! Zack, eu vi perfeitamente o que você fez e não me resta escolha a não ser isso - o juiz levantou o cartão vermelho para o garoto, que gritou indignado e tentou argumentar, mas foi ignorado - E foi falta. Superem e voltem ao jogo feito homens! - finalizou autoritário, acompanhando Zack até um dos bancos dali e voltando a sua posição.
Os garotos soltaram , que finalmente me olhou nos olhos e me deu um selinho demorado, e as meninas gritaram e bateram palmas com aquela cena, fazendo minhas bochechas arderem. Corri para a minha posição e recolhi meus pompons do chão, voltando a torcer. Os minutos passaram e nada de um gol do nosso time, o que estava aumentando nossa aflição e medo da derrota. Literalmente nos últimos minutos do jogo, os Titans fizeram outro gol, e o apito final nos fez correr até os garotos, formando um abraço gigante e desajeitado.
- Vocês estão bem? - Chloe perguntou em meio a toda bagunça, recebendo olhares decepcionados como resposta.
Fomos todos para o vestiário, e nos trocamos rapidamente para não termos que encarar as jararacas das líderes de torcida dos Titans.
Saímos dali e esperando os garotos por alguns meninos, que estavam com as mesmas carinhas decepcionadas e bravas.
- Vocês ganham na próxima, . - arrisquei meu palpite sincero, tentando distrair o garoto.
- Eu estou virado do avesso de tanta raiva, . - bufou, jogando a cabeça pra trás e voltando a olhar pra frente rapidamente.
Caminhamos até a saída, indo em direção ao ônibus, e pra nossa surpresa alguns jogadores e líderes de torcida dos Titans estavam ali, não perdendo a oportunidade de tirar barato de nós. Entrelacei meu braço no de , para impedi-lo de armar outro barraco. As garotas não cansavam de fazer piadinhas e colocar lenha na fogueira, mas estávamos ignorando ao máximo.
- Estão tão tristes que nem mesmo conseguem falar. Será que vão se afogar nas lágrimas também? - a mesma garota que esbarrou em Callie gritou, fazendo minha paciência se esgotar.
- Vê se cresce, garota! - parei e gritei de volta, surpreendendo a todos.
- Olha só, ela fala! - a garota riu, cruzando os braços e fazendo pose de dondoca.
- Ao contrário de você, ela abre a boca apenas pra falar coisas úteis. - Chloe se colocou ao meu lado, gritando também.
- As perdedoras resolveram se defender! Pena que isso não as fizeram ganhar, não é mesmo? - outra garota disse ironicamente, se divertindo com aquilo. Minha paciência estava definitivamente esgotada.
- Então faz o seguinte, já que você está tão feliz pelo seu time de futebol ter ganhado, aproveite e pegue aquela bola e enfie aonde o sol não bate, talvez seja isso que você esteja precisando pra deixar os outros em paz, né? - arqueei uma sobrancelha e sorri cinicamente, vendo a garota ficar totalmente desconfortável ao ouvir aquilo, e as risadas dos meus amigos tomarem conta dali.
- Olha só, agora ela que não consegue falar. Que peninha! - Callie falou alto o suficiente para a garota ouvir, mas não deu tempo para uma resposta, apenas se virou em direção ao ônibus, assim como todos nós, que ainda estávamos rindo da situação.
- Adoro uma treta de mulher! - se jogou em seu lugar, ainda rindo do acontecimento.
- Gostei de ver. - sorriu, dando leves apertos em minha cintura.
- Gente, alguém avisou a Paige que vamos ao casamento? - aquela pergunta me atingiu como um raio, pois eu nem mesmo havia me lembrado de confirmar as presenças. Todos se entreolharam, esperando alguém responder algo.
- Acho que isso responde sua pergunta. - Chloe gargalhou e rolei os olhos, levantando do meu lugar e indo até o de Paige, que estava sentada ao lado de Ashley.
- Oi, você pode trocar de lugar comigo rapidinho pra eu conversar com ela? - pedi sem graça, mas Ashley sorriu e se levantou no mesmo instante, sentando ao lado de , que fez uma cara estranha ao vê-la ali.
- , a que devo a honra de te-la sentada ao meu lado? - Paige perguntou animada, rindo junto comigo ao ouvir aquilo.
- Eu e meus amigos iremos ao seu casamento, e como você disse pra te dar os nomes...
- Ah sim, espere um instante - Paige abriu sua bolsa, pegando uma agenda pequena e uma caneta - Pode falar!
Falei todos os nossos nomes e Paige deu todas as informações para chegarmos até onde aconteceria o casamento. Me levantei para sair dali, mas me sentei novamente rapidamente, encarando Paige por alguns segundos, que já estava estranhando aquilo.
- Desculpa, mas eu preciso perguntar! Por que casar tão cedo? - mordi o lábio inferior, me sentindo sem graça por ser tão enxerida.
- Você não é a primeira que pergunta isso, - riu fraco - E bem, meus pais estão sempre viajando a trabalho, e por isso eu me emancipei. Namoro há 2 anos e sentimos que estamos prontos pra isso. Meus pais acharem totalmente esquisito mas não tentaram me fazer mudar de idéia, pois eu expliquei que não sabemos como será o dia de amanhã. Não sei se terei Ben ao meu lado pra sempre, mas enquanto eu puder tê-lo, eu terei. Acho importante ter tempo para dizer o quanto eu o amo enquanto ele ainda pode me ouvir, ainda mais nesses tempos tão violentos e cruéis. - as palavras de Paige saíram como poesia de sua boca. Ela falava de maneira tão firme e precisa que não a restava dúvidas que ela estava totalmente certa daquilo.
- Isso é lindo, Paige! Eu fico feliz em saber que mesmo em meio a tanta tragédia, existem pessoas que tem espaço para o amor em sua vida. - dei um sorriso largo que contagiou a garota sentada ao meu lado.
Me levantei para devolver o lugar de Ashley, que provavelmente estava querendo esganar com aquela cara de antipático.
- , você não enxerga? - a pergunta de Paige me fez olhar para cada canto do ônibus, procurando tal coisa que eu não enxergava. Eu realmente não havia entendido sua pergunta.
- O que?
- O jeito que te olha! Ele gosta de você, sabia?
Não. Nananinanão. Nops. No.
Eu não precisava ouvir esse tipo de coisa, porque me deixaria mais perdida em meus sentimentos do que eu já era.
- Não gosta não. - desconversei.
- É engraçado o fato de que quando amamos, conseguimos ver o amor de outras pessoas também. E eu vejo como te olha, e por mais que você não consiga enxergar agora por ainda não conseguir decifrar isso, era exatamente desse jeitinho que Ben me olhava no começo, sabia? - arqueou uma sobrancelha, sorrindo ao ver minha expresso assustada.
- O amor te faz enxergar demais, Paige. - gargalhei, voltando para o meu lugar novamente, me surpreendendo ao ver Ashley batendo papo com .
A garota se despediu com um aceno e voltou para seu lugar, e sentei novamente, encarando até ele ficar incomodado com aquilo.
- O que é?
- Você sendo simpático? Nunca vi isso. - ri fraco, vendo o sorriso malicioso do garoto se formar no canto de seu rosto.
- Preciso conseguir meu prêmio com outra pessoa, né?
- Hm, é assim? Acho que vou voltar e dar o prêmio para Zack, já que foi o time dele que ganhou, né? - sussurrei em seu ouvido, o provocando. ficou sério no mesmo instante, me encarando por alguns segundos e se aproximando cada vez mais.
- Ganhando ou perdendo, esse prêmio é meu, . Meu! - falou lentamente, com milímetros de distância entre nossas bocas, chegando a encostar nossos lábios rapidamente para me provocar. E funcionou.
- Nada disso aqui é seu, . - olhei rapidamente para meu corpo, encontrando seus olhos azuis concentrados nos meus.
- Tadinha - soltou uma risada sem humor - Isso tudo é meu, senhorita. E caso você tenha dúvidas, eu posso te provar. - arqueou uma sobrancelha, colocando uma mão em minha perna e fazendo carinho ali, me causando inúmeros arrepios.
Passamos o resto do caminho nessas provocações, e eu teria ido para a casa de se não fosse uma ligação da minha mãe dizendo que estava me esperando na casa da minha tia. Resultado: fui embora cheia de tesão, deixando aquele pedaço de mal caminho frustrado.
Em compensação, estar com a minha mãe foi ótimo. Mesmo sabendo que ela ainda estava naquela casa com aquele monstro, ela aparentemente estava bem. Infelizmente, só aparentemente.
A casa de tia Márcia é o lugar mais confortante que eu conheço, cheia de amor e felicidade, e isso me faz criar uma realidade alternativa em minha cabeça, uma vida sem toda essa dor e sofrimento que enfrentamos há tantos anos.
A vida já havia me mostrado que tudo pode mudar, mas será que tudo muda mesmo? Tudo mesmo? Será que meu destino será como o da minha tia, com um bom marido, um lar, e um filho maravilhoso como ? É a dúvida que eu mais tenho curiosidade e medo, afinal, esperamos sempre pelo melhor mas nem sempre conseguimos. E o que devemos fazer se isso acontecer? Jogar tudo para o alto e tentar novamente ou aceitar aquilo que apareceu em nossa vida?
Eu queria poder dar uma passadinha pelo futuro e ver como tudo será, para ter certeza que tudo de ruim que acontece, valeu a pena. Mas claro, só há uma coisa que eu posso fazer até chegar lá: continuar vivendo. Ou sobrevivendo.
's POV
Tive reuniões com Cooper segunda e terça feira, pois aparentemente, Richard estava em Charlotte novamente. Discutimos tantas coisas, mas nada entrava em minha cabeça. Minha única vontade era encontrá-lo de uma vez e acabar com sua raça. Saber que ele estava por aí me deixava em alerta total, reparando em tudo e todos.
- Eu preciso ver o meu cachorro, ! - choramingou, fazendo bico para o amigo. Estávamos no intervalo, e a garota estava deitada com a cabeça em minhas pernas.
- Cacete mulher, você pode aparecer na minha casa quando quiser! - respondeu impaciente, porém bem humorado.
- Olha que safado, nem convida o resto dos amigos! - Callie cerrou os olhos, falando como se nem estivesse ali.
- É que no fundo ele tem uma paixãozinha pela . - Chloe acrescentou, fazendo graça junto à amiga.
- Vocês são um pé no saco, sabiam? - o garoto bufou - Vocês todos estão convidados a ir até minha casa comer pizza e jogar FIFA hoje à noite, beleza? - finalizou encarando Callie e Chloe, que desviaram o olhar, se fingindo de desentendidas.
- Estava demorando para voltarmos a essa gordice toda. Que tal tapioca no lugar de pizza? - propôs empolgada, recebendo olhares inconformados de todos nós.
- Ai garota, cala a boquinha, vai. - colocou a mão na boca da garota, que deu um tapa para tirá-la dali, revirando os olhos para nós.
Nunca acreditei muito nesse lance de que as coisas mudam com o tempo. Não sei se é porque sempre fui afobado e desesperado demais, e isso me fez agir ao invés de esperar, mas em minha vida realmente foi algo que eu não esperava e até lutava para afastar, e aqui estamos, passando o intervalo juntos, numa espécie de relacionamento não recomendável por riscos de alguém acabar se apaixonando. A grande verdade é que tê-la em minha vida se tornou interessante. Às vezes paro e penso "aonde foi que arranjei uma garota assim?", pois ela é realmente diferente de todas as outras que conheci. é um mar de sentimentos, intensa da cabeça aos pés, e às vezes tenho dificuldade em acompanhar tudo isso, mas só de olhar em seus olhos, me parece que é algo que vá acrescentar em minha vida.
Essa sensação me faz rir sem motivo. As coisas realmente mudam. Pessoas vem e vão e coisas acontecem, e por algum motivo, mantê-la ao meu lado se tornou... Ah, não faço a mínima idéia do que isso se tornou, apenas não consigo larga-lá como fiz com tantas outras garotas. Claramente não é amor - óbvio -, mas eu apenas a quero comigo. Isso não sou eu lutando contra algum sentimento encubado dentro de mim, ok? Apenas sou eu cumprindo minha palavra. Nada de sentimentos. Nadinha de nada. Mas querê-la comigo não é exatamente um sentimento, certo? É apenas uma vontade.
É isso! Eu tenho vontade de mantê-la ao meu lado.
O sinal tocou e nos levantamos resmungando. estava um tanto quanto quieta, apenas havia falado sobre o bendito cachorro de durante o intervalo inteiro.
- O que você tem? - não pensei duas vezes antes de perguntar, até porque não sou desse tipo que tenta deduzir o que a pessoa tem. Se quero saber, tenho que perguntar.
- Nada não. - deu um sorrisinho fraco nada convincente.
- Ok, vamos tentar de novo. O que você tem? - parei em sua frente, a impedindo de dar qualquer outro passo.
- É que... Sabe quando você acorda com uma sensação estranha? - me olhou esperançosa, e balancei a cabeça positivamente, porque de fato eu sabia como era acordar sentindo aquilo - Acordei assim hoje, e não sei o que isso significa, então estou tentando prestar atenção em tudo. Vai que é um sinal, né? - continuou com o mesmo olhar esperançoso, esperando que eu não a chamasse de maluca ou algo do tipo.
- Talvez seja, mas talvez não. Mas caso algo aconteça, não esconda de mim, ok? Me ligue se precisar de qualquer coisa, nem que seja uma perna para apoiar a cabeça. - segurei o rosto da garota delicadamente, que abriu um lindo sorriso. Quando foi que fiquei tão disponível assim? Talvez faça parte da vontade de mantê-la ao meu lado. 's POV end
Eu e chegamos só o pó da rabiola em casa por causa do treino, mas para o azar dele, tinha que sair com Callie para comprarem uma roupa para o casamento de Paige. Por mais que eu quisesse fazer o mesmo, eu estava disposta a reciclar algumas roupas quase não usadas de meu guarda roupa.
- Ei, tome cuidado, ok? Aquela sensação ainda não passou. - eu havia contado a , e suas palavras me acalmaram por certo tempo, mas minha aflição acabou vencendo.
- , coma, tome um banho e tire um cochilo. Tente esquecer isso, nem que seja só um pouco. Te encontro na casa do à noite. - senti seus lábios tocarem minha testa, num beijinho rápido porém cheio de amor.
Segui o conselho de e enchi minha pança, tomei um banho longo, e dormi em seguida, porém dormi até demais. Meu celular tocava e vibrava feito louco por mensagens no grupo do WhatsApp com o pessoal. dizia que eu estava atrasada para comer as tapiocas que ela havia feito, e estava reclamando sobre a garota ter roubado o polvilho de seu armário.
Me troquei rapidamente e desci, vendo minha tia limpando a cozinha, e já que tio Chris não estava ali, deduzi que tinha ficado no trabalho até mais tarde. Me despedi com um beijo em seu rosto e saí dali, enfrentando o vento gelado que batia em meu corpo.
A maldita sensação estranha ainda estava me perseguindo, mas eu tinha certeza que passaria assim que eu me juntasse com meus amigos. Quando tem tempo ruim com eles? Exatamente, nunca.
Meu coração se acelerou ao ver um carro preto, com os vidros mais pretos ainda andar lentamente ao meu lado, como se o motorista estivesse acompanhando meus passos com o veículo. O carro tomou mais velocidade, parando no fim da rua. Tive alguns segundos para pensar em voltar correndo, mas minhas pernas estavam cada vez mais fracas. "Apenas passe reto e continue a andar, Saywer." pensei comigo mesma. Peguei meu celular desajeitadamente do meu bolso, pronta para ligar para qualquer um dos meus amigos. A mesma sensação que me incomodou durante o dia inteiro, mais se parecia como um sensor de perigo. Quanto mais eu me aproximava do carro, mais aquela sensação tomava conta de mim.
- Eu não faria isso se fosse você, mocinha. - torci mentalmente para aquilo não acontecer, mas aconteceu. O homem abaixou o vidro do carro justamente no momento em que eu passei ali, falando alto o suficiente para eu ouvi-lo e vê-lo apontando para o celular.
A merda da rua estava vazia. VAZIA. Deserta. Como uma coisa dessas acontece justo comigo? Só pode ser combinado!
- Eu não tenho dinheiro nem nada, mas você pode levar meu celular. - meu desespero falou mais alto, minhas pernas estavam travadas, e ao invés de sair correndo dali, fiquei parada encarando o homem com uma cara de quem estava se divertindo com aquilo.
Por sorte, alguns carros finalmente estavam vindo, e eu estava preparada para sair dali.
- Você vai entrar no carro sem fazer nenhum escândalo, está me ouvindo bem? - o homem revelou uma arma em sua outra mão, e eu senti o mundo caindo em cima da minha cabeça. Olhei desesperadamente para todos os cantos possíveis, procurando alguma alma viva que pudesse me ajudar naquele momento - Eu não tenho a noite inteira, boneca! - o homem me apressou, batendo o revólver discretamente na porta.
Apertei os olhos com força e caminhei até a porta do passageiro. Meu coração estava tão acelerado que pensei que fosse parar. Entrei no carro rapidamente, ouvindo as travas trancarem as portas.
- Eu... E-eu... - tentei verbalizar, mas meu corpo estava em estado de choque, me impedindo de formar uma frase completa.
- Só me escute, garota. Diga ao meu querido filho que eu estou de olho nele e em cada passo que ele está dando. Como você pode ver, eu estou muito por dentro da vida dele e com quem ele se envolve, não é? - o homem soltou uma risada sem humor, passando o revólver em minha perna lentamente. "Eu tive um dia horrível."
Nós dizemos isso o tempo todo. Descrevemos coisas do nosso dia a dia como horríveis, quando nada horrível está acontecendo de fato, mas quando algo realmente horrível acontece, imploramos para que Deus traga as nossas lamentações e reclamações que temos no dia a dia e levar isso embora. Parece fácil estar cansada pelo treino, estar dolorida depois de levar uma surra de Sam, ou estar exausta por conta dos pesadelos quando realmente passo por algo horrível como isso, ter um homem desconhecido com uma arma apontada para mim, tendo a decisão de tirar a minha vida ou não. Fácil assim.
- Eu n-não conheço s-seu filho! Você deve estar me confundindo com alguém! - as lágrimas em meus olhos estavam prestes a cair, e minha voz saía com dificuldade.
- Ora, ora, ora, então ele não contou sobre o pai pra namoradinha? É um imbecil mesmo! Mas pra esclarecer tudo, irei me apresentar. Sou Richard , pai do rapaz que provavelmente inventou alguma mentira sobre mim por vergonha de contar a verdade. - sua risada diabólica ao ver meu desespero me deixou sem ar.
Não, não e não! Não podia ser verdade. não podia ter mentido de maneira tão grandiosa sobre algo tão sério.
- é seu filho? - perguntei em meio às lágrimas, tentando recuperar o ar que aquela informação me tirou.
- É. Agora vá atrás dele e dê esse recadinho que o papai deixou, ok boneca? - o tal de Richard mantinha o sorriso indestrutível no rosto, me assustando cada vez mais.
Não pensei duas vezes em abrir a porta assim que ouvi a trava sendo liberada, me libertando dali. Corri como nunca corri em toda minha vida, sentindo os brônquios dos meus pulmões se fecharem cada vez mais, me impedindo de ter uma respiração decente, mas aquilo não importava no momento. Eu sentia que podia cair a qualquer momento, mas ver a casa de nunca foi tão bom. Toquei a campainha tantas vezes que pude ouvir me xingando por trás da porta, tendo certeza que era eu.
- O que aconteceu com você??? - arregalou os olhos assim que me viu, e deduzi que meu estado estava deplorável.
Eu não conseguia falar nada. Fui puxada para dentro da casa, sendo observada por todos, que se assustaram ao ver meu estado. Eu não ouvia nada ou via nada. Meus olhos apenas focaram em , que quanto mais se aproximava de mim, eu fugia. Dei longos passos até o quintal, ainda recuperando o ar.
- O que aconteceu com você? Alguém te machucou? - estava desesperado, ainda tentando se aproximar de mim.
- Como você pôde mentir desse jeito? Eu te contei tudo sobre a minha vida e é assim que você retribui? - os soluços me atrapalhavam, as lágrimas embaçavam minha visão, mas ainda assim, pude observar a expressão confusa de .
- Do que você está falando? , o que aconteceu? - o garoto estava cada minuto mais desesperado, ignorando totalmente as minhas acusações contra sua pessoa.
- Seu pai aconteceu! Seu pai, ! Richard veio atrás de mim com uma arma, me mandando te dizer que ele está de olho em você e que está por dentro da sua vida. Isso aconteceu! - gritei impaciente, tentando me livrar daquela raiva que estava fazendo meu coração se acelerar cada vez mais.
nem mesmo se mexeu, estava tão chocado com o que saiu de minha boca que deu tempo de entrar ali, quase tão assustando quanto eu.
- , o que aconteceu? - tentou me abraçar, mas fiz sinal para ele parar. Eu não queria ninguém encostando em mim naquele momento, eu apenas queria respostas.
- , eu juro que não sabia que ele viria atrás de você! E-eu... Me perdoa, por favor, me perdoa! - voltou a tentar se aproximar, mas foi impedido por , que colocou o braço em sua frente. Os dois se entreolharam e voltaram os olhares a mim.
Passei a manga da blusa em meus olhos, limpando as lágrimas que não paravam de cair dali.
- Você vai me explicar essa história toda agora mesmo, ! Está me ouvindo bem? AGORA! - dei mais um grito, dando um susto nos dois. Minhas mãos tremiam e minha voz estava embargada. Eu apenas queria a verdade.
- , você precisa se acalmar! - falou com calma, encarando por alguns segundos e aquilo foi o suficiente para eu me tocar.
Ele sabia.
sabia da verdade, assim como . Por isso estava com no dia do ocorrido com Ritter. Aquele homem tinha a ver com Richard, por isso a história de não havia me convencido. Minhas intuições estavam certas!
- Você sabe. - dei um olhar significativo para , que arregalou os olhos e tentou verbalizar, mas o interrompeu.
- , queríamos te proteger, está bem? Eu sei que é difi...
- Essa coisa entre nós está acabada. Eu não quero te ver ou ouvir a sua voz, entendeu bem? - impedi de terminar sua frase e foi a minha vez de me aproximar dele, cuspindo as palavras em sua cara.
Eu já consegui respostas demais.
"Luta e critica são pré requisitos para se alcançar a grandeza. É a lei do universo, ninguém escapa dela. Porque dor é a vida. Mas você pode escolher sua dor: a dor em busca do sucesso, ou a dor de ser perseguido pelo arrependimento."
's POV
Eu não estava entendendo nada. apenas correu para o quintal e foi atrás. Tentamos ir também, mas nos impediu, dizendo que seria melhor deixá-la se acalmar primeiro e adentrou ali com eles.
- Por que diabos eu não posso entrar no quintal da minha própria casa? É a minha casa! - gritou indignado.
Por sorte, muita sorte mesmo, os pais de saíram para jantar fora.
- Shhhh, eu estou tentando ouvir! - Chloe estava com o ouvido grudado na porta, e em meio todo àquela situação tensa, soltamos risadas baixas.
- Isso é feio demais, menina! - Callie a repreendeu, parando de rir e a olhando com cara feia.
No fundo, estávamos todos pensando a mesma coisa. Nos entreolhamos por alguns segundos, esperando alguém tomar atitude. Encostei meu ouvido na porta também, e todos tentaram fazer o mesmo, mas não deu certo por falta de espaço e bom senso também, mas o que poderíamos fazer? Ficar na curiosidade? Jamais.
- Essa coisa entre nós está acabada. Eu não quero te ver ou ouvir a sua voz, ouviu? - a voz embargada porém firme de me deu arrepios pelo corpo inteiro.
Não demorou até que a porta fosse aberta, mostrando sua carinha de choro e suas mãos trêmulas.
- , me deixa explicar! - tentou alcançá-la, mas o impediu.
Estávamos incrédulos, totalmente sem reação. Que desgraça estava acontecendo?
- Ninguém vai sair daqui enquanto não nos explicarem o que está acontecendo! Somos amigos, não somos? Merecemos uma resposta também, e queremos ajudar! - pela primeira vez, estava falando realmente sério, como se todo o seu bom humor tivesse evaporado pelos ares.
- Isso , diga a verdade para quem realmente quer saber, porque eu não quero. Estou farta disso. - a voz de saiu em uma mistura de decepção com sarcasmo, dando longos passos até a porta, a abrindo e saindo dali como um furacão.
tentou novamente ir atrás de , mas o empurrou, totalmente sem paciência. Meu coração estava apertadinho ao ver toda aquela cena.
- Que droga, ! Fique aqui e diga a verdade de uma vez! Chega de esconder, ta legal? Chega! - gritou embravecido, correndo para fora dali atrás de .
A expressão de estava indecifrável. Apoiou-se na parede, passando a mão pelos cabelos com força, grunhindo de raiva, aparentemente.
- , por favor nos conte o que está acontecendo. Talvez possamos fazer algo por você ou pela . - estava apreensivo, mas foi o único que conseguiu dizer algo após o silêncio dominar o local. olhou para cada um, soltando uma risada longa, nervosa e sem humor em seguida.
- Meu pai é traficante. Ele abandonou minha família e nos trocou pela vida no crime, e esse ano ele decidiu voltar pra infernizar a minha vida, coisa que ele realmente conseguiu fazer, já que ele conseguiu pegar hoje. Agora me diga, , o que você pode fazer por mim? - ria a cada palavra que falava, desmanchando seu riso sem humor quando percebeu que todos estavam ainda mais chocados. Apertei os olhos, engolindo a enorme vontade de chorar que me atingiu.
- O que? , do que você está falando? - Callie perguntou com certo receio, com os olhos arregalados e a expressão surpresa, assim como todos os outros.
- É exatamente o que você ouviu. A verdade está dita. - respondeu com a voz cheia de sarcasmo, e deu longos passos até a porta, mas foi mais rápido e ficou na frente, o impedindo de sair dali.
- Você escondeu isso de nós esse tempo todo? Por que não contou? Por que não pediu ajuda? Tinha que ter esperado algo ruim acontecer primeiro? - gritava suas palavras de maneira indignada. Ele estava decepcionado, confuso, e só Deus sabe mais o quê.
- , chega. Agora não é hora pra isso. - me aproximei, pegando em seu braço e o puxando lentamente, mas ele o afastou bruscamente.
- E quando seria a hora pra isso? O que mais ele escondeu durante esse tempo todo? Eu estou extremamente indignado com isso, e eu quero uma explicação sobre tudo. - continuava inconformado, cuspindo as palavras sem nem pensar antes de dizê-las.
- O meu pai é traficante, abandona a minha família e pega a garota que eu gosto e você está inconformado? Eu não tenho direito de estar inconformado porque eu tenho muita coisa pra consertar. Então por favor, sai da minha frente, e ME DEIXA SAIR DAQUI. - gritou furioso, me fazendo dar um pulinho de susto.
não disse nem mais uma palavra, apenas se moveu, permitindo a saída de , e não pensei duas vezes em correr atrás dele.
- , voc...
- Não! Eu não quero ouvir nada agora! Eu preciso arrumar essa bagunça. - foi a última coisa que falou antes de entrar em seu carro e sair dali tão rápido, que num piscar de olhos eu já nem conseguia ver o veículo.
Entrei novamente na casa de , onde todos estavam sentados e com expressões nada boas. Dei um longo suspiro e me sentei ao lado de Callie, que nem mesmo me olhou.
Por que coisas ruins acontecem com pessoas boas? Perguntamos isso a nós mesmos o tempo todo, e nunca conseguimos achar uma resposta. A verdade foi revelada da pior maneira possível. Magoou e de um jeito que nem imagino como eles irão se recuperar.
- O que vamos fazer? - Chloe quebrou o silêncio instalado no local, com a voz arrastada e receosa.
- O pai do cara é traficante e foi atrás de ! Quem nos garante que não virá atrás de um de nós também? - esbravejou, e minha vontade foi de estapear sua cara por ter esse pensamento horrível em mente. Me levantei rapidamente e me coloquei à sua frente, olhando bem em seu olho e começando a falar o que estava preso em minha garganta.
- Para! Não é hora pra isso! Precisamos ajudar nossos amigos, ok? Você não tem o direito de pensar desse jeito, pois você não sabe o que enfrentou durante todo esse tempo. Você vai calar essa boca e só vai abri-la para falar coisas úteis, está me ouvindo bem? - fui clara e ríspida, ignorando qualquer tentativa que ele teve em tentar me interromper.
- , você sabia disso? - Callie finalmente levantou sua cabeça, e seu olhar surpreso foi de encontro ao meu.
Eu já não tinha motivos para mentir ou esconder aquilo. Guardar o segredo da vida de deixaria de se tornar algo que eu tinha que guardar.
Contei tudo o que eu sabia para o pessoal, que depois de ouvirem a verdade detalhada, conseguiram compreender a situação. havia ficado bravo no começo, mas consegui fazê-lo entender que aquela história não era sobre minha vida e que eu não podia simplesmente contá-la para ele sem permissão. Todos ficaram chocados e calados, mas combinamos que faríamos de tudo para ajudar aos prejudicados nessa história. Afinal, amigos são para essas coisas. 's POV end
Eu sentia minha cabeça girando. Meu coração estava batendo de um jeito que nunca havia batido. Minhas mãos ainda estavam trêmulas, e as lágrimas ainda estavam caindo.
me acompanhou durante todo o caminho sem falar nada. Por sorte, quando chegamos em sua casa, seus pais já estavam dormindo, o que foi um baita alívio e nos poupou de dar explicação sobre o meu estado crítico.
- , o que você está sentindo? - perguntou de maneira cuidadosa, como se qualquer palavra errada fosse me fazer desmoronar.
- Estou sentindo tanta coisa que não consigo nem dizer uma delas. - minha voz saiu baixa e distante. Eu estava em choque. Eu não conseguia pensar.
- Você precisa de algo? O que posso fazer por você? - as perguntas desesperadas de eram um tanto quanto fofas. Em meio a toda essa confusão, ele consegue ter calma e paciência para cuidar de mim.
- Preciso de um banho, da minha cama, e que suma da minha vida. - respondi firme e convicta. Apertei os olhos, tentando afastar as cenas de toda aquela confusão de minha mente.
- Eu preciso me desculpar. Isso também é culpa minha! Se eu tivesse te contado de tudo o que eu sabia, talvez isso não tivesse acontecido, mas não... Eu disse que ele deveria te contar essa história toda, mas olha só no que deu! Eu juro que não entendo, ! Ele deveria ter te contado, ele deveria! - toda aquela paciência voou para longe dali. A expressão e os gestos cheios de raiva de mostrava sua indignação com a atitude de .
- Ele me contou que o pai havia morrido num tiroteio, e também que ele era um ótimo pai. Acho que eu não sou merecedora da verdade, não é? - abri um sorriso sarcástico, sem humor e sem vontade.
Vamos aos fatos: sabia da verdade. sabia da verdade. Eu passei esse tempo todo tentando conhecê-lo melhor e ganhei mentira em cima de mentira como recompensa.
A verdade é que eu sou o problema. estava se divertindo tanto com a porcaria da nossa relação, enquanto eu estava cada vez mais crente que isso nos faria avançar.
- Eu sinto muito, ! Eu nem sei o qu...
- Por que ele te contou a verdade? Quando foi isso? - o interrompi, sem paciência para ouvir o quanto ele sentia muito por tudo aquilo.
- Quando fomos atrás de Ritter. Ele tinha um plano, e eu aceitei ajudá-lo em troca da verdade. Ele me pediu para não te contar, e eu disse que não faria isso pois você merecia ouvir a verdade por ele. Mas eu nunca imaginei que isso fosse acontecer! Se eu soubesse, teria te contado tudo, eu juro! - sua justificativa desesperada e ansiosa só me fez ter certeza do quanto é um bom amigo e sabe lidar com os problemas alheios, e segredos também.
- Você não teve culpa! Não mentiu e nem fez nada de errado, apenas tentou ser um bom amigo, e conseguiu. - me permiti dar um sorriso verdadeiro, mesmo querendo fazer exatamente o contrário.
- Estou aqui pra você, . - o garoto me envolveu em um abraço forte, que sempre me conforta em qualquer situação.
Depois de muito tempo o convencendo que não precisava de nada, subi para tomar um banho e deitar. Bem, esse era o plano...
Uma lâmina. Uma linda lâmina estava em minha frente. Uma lâmina e zilhões de pensamentos e sentimentos desconhecidos. O que fez foi mais do que apenas ter contado mentiras. O que ele foi fez foi magoar meus sentimentos de uma forma tão profunda que nenhum corte seria o suficiente para aliviar aquela dor. E ainda assim, me cortei.
Engraçado que da última vez que quis fazer isso, me impediu e me ajudou, e agora ele é o motivo de todos os inúmeros cortes em minhas coxas, na barriga, e no pulso. Tentei imaginar que todo aquele sangue que escorria, era um sentimento ruim que estava indo embora. Mas não... Nada estava indo embora. Meu coração continuava apertado de maneira como nunca esteve. Meus pensamentos estavam uma bagunça, e eu apenas queria sentar e chorar, e foi isso que fiz durante meu banho.
O que estava acontecendo com a minha vida? Como tudo chegou a esse ponto?
São perguntas que ninguém tem a resposta. São perguntas que eu nem sei mais se quero a resposta.
Saí do banho e me troquei com trajes cumpridos. Me coloquei em frente ao espelho do quarto e o olhei por alguns segundos.
Por quê?
Por que tudo isso acontece comigo?
Por que temos que passar por todas essas coisas ruins antes de todas as coisas boas?
Torna-se exaustivo e esgota todas as expectativas de vida de uma pessoa. Afinal, quem me garante que isso tudo realmente valerá a pena? E se eu acabar como minha mãe?
- , abre essa porta! - a voz grossa de misturada com batidas na porta me deu um baita susto, mas não demorei em atender seu pedido.
- O que foi?
Ele não me respondeu, apenas me olhou decepcionado. Extremamente decepcionado. segurou em meu pulso esquerdo, e minha respiração parou por alguns segundos.
Não. Ele não podia ter descoberto!
- VOCÊ NUNCA MAIS VAI FAZER ISSO, ESTÁ ME OUVINDO? - seu grito autoritário fez meus olhos se encherem de lágrimas no mesmo instante. Eu mal conseguia me mover, e meu pulso com a manga puxada ainda estava sendo segurado por , que também estava com os olhos marejados.
- C-como você d-descobriu? - formulei a frase com muita dificuldade e desabei no choro.
POR QUE ISSO TUDO TINHA QUE ACONTECER DE UMA VEZ?
- , você passou quase uma hora nesse banheiro! veio te procurar para conversar, e eu decidi sair e dizer para ele te deixar em paz, e adivinha o que tive que ouvir? Pra ficar de olho em você, porque essa situação poderia fazer você machucar a si mesma. Você tem noção do que isso me causa? VOCÊ TEM? - gritou novamente, finalmente soltando meu braço e passando a mão pelos cabelos, grunhindo aparentemente de raiva. Raiva de mim. Raiva por eu só fazer burrada.
- Ele não podia ter te falado! - foi a minha vez de grunhir de raiva, batendo o pé junto.
bravo é uma das últimas coisas que qualquer ser humano pode querer ver, pois acredite, é extremamente tenso.
- Ele pode ser um mentiroso, mas eu fico grato por ele ter me contado sobre isso, sabe por que? Porque agora eu posso evitar que você morra, ! A última coisa que eu quero nesse planeta é entrar naquele maldito banheiro e te ver jogada no chão porque tentou matar a dor que está dentro de você, mas ao invés disso, apenas tirou sua vida. - uma lágrima caiu do olho de , e foi como se estivessem jogando sal em todos os meus cortes.
- Eu não queria que tudo chegasse a esse ponto, ok? Mas olhe para tudo isso! Ao mesmo tempo em que tenho curiosidade no futuro, tenho vontade de acabar com tudo, pois meu medo de que tudo piore fala mais alto. Eu não quero mais sentir isso, ! Eu não sei o que fazer! - meus soluços atrapalhavam minhas palavras, e as lágrimas quentes atingiam meu rosto sem parar.
Eu só quero que isso pare! Eu só quero que essa dor e angústia vão embora! Eu imploro!
- Você precisa passar pela dor, não evitá-la. Não adianta você se machucar, pois não vai anular a dor que você sente em seu coração. Eu estou aqui pra você, e sempre vou estar! Vamos passar por isso juntos, tudo bem? - fui envolvida em seu abraço novamente, mas as lágrimas não paravam de sair dos meus olhos. Meu coração estava tão triste que eu já nem sentia mais.
- Eu não sei se consigo fazer isso.
- Você consegue sim! Eu entendo perfeitamente seu medo do futuro, mas saiba que ele está sempre mudando. Você pode o imaginar de um jeito, mas uma coisa eu te garanto: quando ele finalmente se revela, nunca é do jeito que imaginamos! Você precisa ser forte e aguentar firme por mim, por todos os seus amigos, e principalmente por você mesma, tudo bem? Você não está sozinha, e jamais estará! - eu continuei a chorar enquanto ouvia o som de sua voz grossa e cheia de esperança ao pé do meu ouvido.
's POV
Minhas mãos suavam frias e eu sentia meu coração sendo moído a cada minuto que passava. Como Richard foi capaz de fazer uma coisa? Como eu consertaria toda essa bagunça?
Desci do carro rapidamente, correndo até a porta da casa de e tocando a campainha incansáveis vezes.
- Que merda você está fazendo aqui? - abriu a porta e antes que eu pudesse entrar, ele a fechou, ficando do lado de fora junto a mim.
- Eu preciso explicar tudo isso pra ! Você precisa me deixar falar com ela! - meu tom de voz estava mais alto do que o desejado, mas eu mal conseguia pensar em ser uma pessoa decente a essa altura.
- Você precisa ir embora daqui, ! Ela não quer conversar ou te ver. Esquece, tá legal? Apenas deixe em paz. - o som decepcionado da sua vez fez meu coração ficar mais apertado do que já estava, coisa que nunca aconteceu em nenhuma outra situação.
tem 16 anos, tem uma vida complicada e o que aconteceu? Mais complicações. Mais tragédia. Mais um homem ameaçando sua vida. E a culpa é inteiramente minha. Toda a minha vontade de poupá-la de tudo isso não serviu de nada, e entendo o motivo do meu coração estar desse jeito. Eu causei isso.
- Eu só preciso explicar, e depois disso eu sumo da vida dela. Só me deixe entrar e conversar com ela! - implorei, não pensando com claridade. Todas as palavras que saíram da minha boca foram como facadas em meu coração. Imaginar ficar longe de foi o que mais... Doeu.
- Ela precisa descansar, . Tente resolver isso daqui um tempo, por favor. Ela já sofreu o bastante. - o olhar decepcionado de foi como um tapa em minha cara. O rapaz segurou na maçaneta, pronta para abri-la e voltar para sua casa.
- Você precisa me prometer que vai checar se está tudo bem com ela, ok? - minha pergunta fez voltar a me olhar com um olhar inconformado, como se estivesse ofendido com a minha fala - Você precisa checar se ela não SE machucou. Você pode fazer isso pra mim? - fechei os olhos, os apertando com força, sem coragem de olhar a reação de ao ouvir aquilo.
- Do que você está falando? - seu tom de voz duvidoso e surpreso foi o suficiente para eu perceber que ele nunca nem desconfiou que a prima cometesse tais atos contra si mesma.
- , só faça isso. - foi a única coisa que conseguiu sair da minha boca. Em questão de segundos, ele adentrou em sua casa como um furacão.
Eu não tinha esse direito, mas eu não podia permitir que fizesse algo desse tipo novamente. Não por minha causa. Ela não merece se machucar pelas minhas más escolhas.
Entrei novamente em meu carro, respirando fundo e tentando processar tudo aquilo. Tentei descontar toda a minha raiva socando o volante, o que também não adiantou de nada. Tive alguns segundos antes de pegar meu celular e ligar para Cooper.
- Precisamos nos encontrar. AGORA.
Entrei no galpão rapidamente, e Cooper não demorou a chegar. Apesar de ele ter negado meu pedido no começo, exigi que ele fizesse esse "pequeno" esforço pois tinha acontecido algo sério. Muito sério.
- Espero que tenha um ótimo motivo para me chamar a essa hora da noite. - o homem falou impaciente.
- Eu preciso de uma arma. Eu preciso me certificar que estarei preparado para quando encontrar Richard. - disparei a falar, tentando esconder meu desespero sobre a situação.
- , o que aconteceu? - a expressão de Cooper mudou em questão de segundos para sério e aparentemente preocupado.
- Ele está aqui! Ele mexeu com alguém que eu me importo e eu me recuso a deixar isso acontecer novamente. - tentei não me render ao desespero mas não consegui. Eu estava totalmente e completamente desesperado e raivoso.
- Filho da puta! - Cooper grunhiu, dando passos de u m lado para o outro em silêncio - , eu entendo que você esteja abalado com isso, mas não sei se isso é uma boa ideia. - finalizou, parando em minha frente e me olhando de maneira estranha.
- EU ESTOU FURIOSO, COOPER! RICHARD FOI ATRÁS DE ALGUEM QUE É IMPORTANTE PRA MIM E VOCÊ NÃO ACHA QUE ISSO SEJA UMA BOA IDÉIA? - perdi as estribeiras de uma vez, gritando de maneira estrondosa e impaciente.
- Eu quero que voc...
- Eu quero a porra de uma arma, só isso! Estamos todos com o mesmo objetivo, que é matar Richard. Como você espera que eu faça isso? Com uma faca de cozinha? - esbravejei mais uma vez, o interrompendo e deixando o homem de olhos arregalados.
- Você vai ter sua arma. Agora se acalme. - Cooper recuperou sua pose de durão, arrastando duas cadeiras até onde eu estava, me fazendo sentar.
De uma coisa eu tenho certeza: nunca estamos prontos para o momento que a verdade é descoberta. Esse é o problema com os segredos, assim como as tragédias, eles sempre vem aos montes.
2:03 AM. 3:47 AM. 4:55 AM. 5:31 AM.
Foram nesses horários em que acordei durante a madrugada. Foram nesses horários que minha mente não permitiu que eu descansasse e todos os demônios do passado e do presente vieram me infernizar.
Pensei seriamente em faltar na escola, mas de que adiantaria? Afinal, tenho muita coisa a se fazer. Desde ajustar amizades a matar uma pessoa.
- O que você vai querer? - minha mãe terminou de arrumar a mesa do café da manhã, e por mais que tivesse um banquete ali, minha fome era zero.
- Café - atendeu meu pedido no mesmo instante, virando a garrafa de café em meu copo - Num balde. - finalizei minha fala sem humor, mas ela riu do mesmo jeito.
- Dormiu mal? - perguntou sorridente, mordendo uma torrada com geléia.
- Mais do que mal.
"Aja normalmente" repeti comigo mesmo. Oras, tem como agir normal depois do acontecimento da noite passada?
Caminhei lentamente até o lugar onde todo o grupo fica enquanto o primeiro sinal não bate, e os olhares tortos do pessoal me incomodaram mais do que eu imaginei.
- Eu nunca quis que a verdade fosse revelada dessa maneira. Acho que eu preciso... É... Me... Desculpar. - eu estava totalmente sem jeito, e provavelmente deveria treinar mais esse pedido, pois eu o usaria muito com , que não estava ali. E mais uma vez, meu coração apertou de maneira absurda.
- Que culpa você tem do seu pai ser uma pessoa horrível? Você quis guardar um segredo e pronto. Isso não é um crime. Entendi perfeitamente a situação toda, mas agora eu espero que as coisas fiquem bem entre todos nós, principalmente entre você e a . - Callie se manifestou depois de um longo silencio, e não pude evitar em arregalar meus olhos em surpresa. Eu realmente não esperava essa compreensão toda.
- Eu sei que não deveria perguntar isso mas... O que acontece agora? Seu pai está por perto, não está? - fez a pergunta que eu tinha certeza que estava rondando na cabeça de todos ali.
- Eu honestamente não sei, mas eu prometo que ele não vai encostar um dedo em nenhum dos meus amigos. - respondi firme, certo da minha afirmação. Richard não ousaria fazer aquilo de novo. Ele não teria essa audácia toda, mas caso aconteça: não me responsabilizo pelas atitudes loucas que possam ser tomadas.
- Você disse! - falou surpresa, formando um "O" com a boca que se desmanchou lentamente em um sorriso.
- O que? - todos nós estávamos encarando de maneira confusa.
- Você disse que somos seus amigos! , você disse! Você finalmente disse! - alargou mais ainda seu sorriso, e por algum motivo que eu ainda não havia entendido muito bem, todos sorriram também, como se aquilo fosse algo... Importante.
Eu finalmente admitir aquilo era importante pra eles?
- Eu disse isso? Prova! - arrisquei a brincadeira, e no meio de toda aquela tensão, todos aceitaram a mudança de assunto junto com a brincadeira, soltando algumas gargalhadas junto.
Acho que no fundo, isso era mais importante para mim. Isso. Eles. Os momentos. Tudo. Ter amigos é realmente importante.
O barulho do sinal fez nossos sorrisos se transformarem em caras tristes e emburradas. Por sorte - ou não - o armário de era bem ao lado do meu. As palavras estavam quase saltando da minha boca, mas eu tinha medo da resposta que ouviria.
- Você fez o que te pedi? - perguntei sem olhá-lo, mas pude sentir seu olhar sobre mim. Virei o rosto, encarando sua expressão séria e decepcionada.
Ela se machucou.
Ela machucou a si mesma por minha causa.
- , todos nós temos segredos, e você é a prova disso, assim como . Não vou mentir, eu estou me sentindo mal por não ter notado antes, e também me sinto mal por ela ter deixado você entrar na vida dela e só receber mentiras em troca. Mas gosto de pensar que tudo tem seu motivo e que isso tudo são as barreiras que temos que ultrapassar. - eu mal pisquei enquanto ouvia suas palavras. pareceu tão cheio de fé ao dizer tudo aquilo e senti uma pitada de inveja. Eu nunca fui assim, e provavelmente nunca seria.
- Eu admiro toda a sua positividade, de verdade. Eu sei que não tenho o direito de pedir isso, mas espero que você continue meu... Amigo. - tá aí outra coisa que preciso treinar também: admitir para os meus amigos que eles são amigos.
- Eu também espero. - sorriu sem mostrar os dentes, não tão certo de sua resposta.
Respirei fundo diversas vezes, tentando me recompor por completo. estava machucada. Por dentro e por fora.
Pela primeira vez me encontrei sem opção, sem escolhe, sem saída. O que eu faço? 's POV end
O calmante que me deu me fez dormir até 11 da manhã. Claro que é sempre bom acordar tarde desse jeito, mas teria sido melhor se nada daquilo tivesse acontecido na noite passada.
Todo o desconforto, dor e decepção não demoraram a me atingir, e até tentei dormir de novo, mas não obtive sucesso na minha tentativa. Levantei resmungando alto, pois ninguém estava em casa. provavelmente havia inventado uma desculpa esfarrapada para meus tios sobre minha falta a escola.
Tomei um banho rápido, tentando ignorar todos aqueles cortes espalhados pelo meu corpo e a voz de que estava ecoando em minha mente, dizendo que eu deveria chamá-lo caso quisesse me machucar novamente. Engraçado como as coisas mudam.
Ok, não tão engraçado assim.
Uma vida. É isso o que todos nós temos. Parece muito, e às vezes não. Podemos fazer escolhas e mudanças, mas talvez essas coisas não dependam apenas de nós. Uma vida para sentirmos todas essas coisas malucas que certas situações nos proporcionam: tristeza, saudade, decepção, medo, tensão, cansaço, alegria, felicidade e aceitação, fora todas as outras coisas que não conseguimos explicar. Apenas uma vida para cairmos, levantarmos e nos reerguer novamente. Mas e ficar no chão for melhor? Isso é possível?
Todo o meu medo me impede de levantar, e eu continuo no chão, que é de onde eu nunca saio. A não ser quando estou com meus amigos, e principalmente com . Estar com ele é como estar imune a todas as coisas ruins. Claro que houve momentos em que todos esses sentimentos horríveis se transformaram em palavras, me fazendo revelar meus piores segredos, mas depois que isso acontecia vinha aquela sensação de acolhimento e carinho, que fazia minhas revelações valerem a pena.
Ou talvez não.
Valeu ou não?
O que realmente aconteceu entre eu e ele? O que vai acontecer daqui pra frente? O que de fato o fez não confiar em mim o suficiente para contar sobre as coisas mais sérias de sua vida?
Perguntas e mais perguntas sem nenhuma resposta.
diz que eu tenho que ignorar a voz na minha cabeça que diz que não sou boa o suficiente, mas como fazer isso se o mundo me mostra apenas o contrário?
Passei boa parte do dia apenas com uma blusa de manga cumprida e de calcinha, enrolada no cobertor como se fosse um tatu. Qual é, esses trajes são confortáveis! Casa vazia significa isso e filmes da Barbie. Combinação mais que perfeita.
- , cheguei! Como voc... - parou de falar quando observou o que estava passando na TV, soltando uma risada gostosa em seguida - Você não cansa disso mesmo, né?
- Jamais! - acompanhei sua risada, observando seus passos até onde eu estava, se jogando no espaço vago ao meu lado.
- Como você está se sentindo?
- Não consigo explicar. Como foi na escola? - mordi o lábio inferior, tentando esconder a minha verdadeira curiosidade que era saber como o clima estava entre o pessoal com .
- Está tudo bem. Todos conseguiram entender a situação de , e as garotas perguntaram se podem vir te visitar, já que você não responde as mensagens de ninguém. - deu uma piscadinha, pois mesmo tentando disfarçar ele conseguiu adivinhar o que eu realmente queria saber.
- Não estou a fim de falar com ninguém ainda. - respondi sem graça, descendo minha cabeça até encaixá-la em seu ombro.
- Tudo bem. Você vai pra escola amanhã ou vou precisar dizer para meus pais que sua dor de dente piorou?
- Você falou que eu estou com dor de dente? Essa foi a pior desculpa do mundo! - levantei a cabeça novamente, olhando em seus olhos e caindo na risada.
- Foi a primeira coisa que consegui pensar!
- Foi péssimo! Mas a resposta é não. Não quero ir. - suspirei decepcionada. Como seria encarar novamente?
***
- Você sabe que não tem como escapar disso, ! - Sam gargalhou alto.
Corri muito mais do que imaginava que seria possível. Corri de maneira desesperada, sentindo as lágrimas escorrerem pelo meu rosto. A escuridão daquele enorme jardim não me ajudava nenhum pouco.
- Eu não daria nem mais um passo se fosse você. - Richard apareceu em minha frente com uma arma. A arma que me faz dar um pulo de susto. Sam finalmente me alcançou, e meu olhar oscilava entre ele e Richard, que estava sorrindo vitorioso.
Tentei verbalizar, mas não consegui. Minha garganta estava travada, assim como todo o meu corpo. Eu mal me movia, respirava ou pensava.
Cheguei ao fim.
- Vocês terão que passar por cima do meu cadáver se quiserem machucá-la. - aquela voz. A sua voz. A voz de .
Sam me agarrou rapidamente, ficando por trás de mim com uma faca em minha garganta.
Definitivamente cheguei ao fim.
- Acho que isso não vai ser tão difícil. A boneca está pronta para ver o seu príncipe encantado sendo morto? - Richard se aproximou, apertando meu queixo de maneira que eu pudesse olhá-lo nos olhos. Seus olhos cheios de fúria e prazer.
- Não! , vai embora daqui! VAI! - gritei em desespero, tentando não me mexer tanto, já que a faca estava apenas centímetros de distância do meu pescoço.
- Você não vai morrer aqui! - gritou em resposta, e sua mão rapidamente foi até sua cintura, retirando uma arma dali, e antes mesmo que ele a apontasse para Richard, o homem foi mais rápido.
Dois tiros.
Dois tiros foi o que fez cair lentamente no chão.
chegou ao fim, assim como nossa história.
5:48 AM.
Tentei regularizar minha respiração ofegante e descompassada ao perceber que aquilo não havia passado de um horrível pesadelo. De longe, o pior.
Engoli a vontade de chorar que eu estava sentindo e respirei fundo inúmeras vezes. Por que sinto que estou carregando toda a dor do mundo em minhas costas? Por que sinto que não durarei muito tempo aqui?
Me perdi em meus pensamentos por horas, até que decidi fazer algo um tanto quanto diferente. Fui até a cozinha e preparei o café da manhã, omelete, torradas e frutas, junto com o suco de laranja natural que tia Márcia tanto gosta.
- Eu estou sonhando ou fez o café da manhã? - tio Chris coçou os olhos, rindo surpreso.
- Vocês nunca saberão da verdade. - sorri em resposta, ajeitando os últimos detalhes da mesa.
Aparentemente fiz um bom trabalho, pois recebi ótimos elogios.
- Você não vai comer, querida? - titia perguntou confusa. Eu estava totalmente sem fome, mas a desculpa sobre estar com dor de dente serviu como uma luva.
Caminhei até a sala, sentado no sofá e ligando a TV.
AI. MEU. DEUS.
- !!! - gritei alto até demais, mas a emoção é a verdadeira culpada.
- O QUE? - correu até mim, observando cada parte do meu corpo. Provavelmente deduziu que eu havia me machucado ou algo do tipo.
- Olha isso - apontei para a TV - É Fifi e os Floriguinhos! Ficávamos acordados até tarde pra assistir, lembra? - arregalei os olhos minimamente, perguntando esperançosa e empolgada.
- O que houve? - meus tios apareceram preocupados, tentando notar algo de errado ali.
- Está passando Fifi e os Floriguinhos! - respondeu com as mãos no rosto, provavelmente ainda inconformado com o meu grito.
- Isso ainda passa na TV? Lembro que eu e Marie precisávamos obrigar vocês a desligarem a televisão e irem dormir, porque esse desenho passava tarde da noite. - tia Márcia fechou os olhos e gargalhou.
Em meio a tanta coisa ruim, eu consegui boas lembranças como essa. fez minha infância valer a pena, assim como meus tios. Não tive um pai bom, muito menos presente, mas não posso reclamar do que tive. Foram tempos bons. Tempos em que meu coração não doía tanto como agora, e eu mal sabia o que era infelicidade.
Me despedi de meus tios que foram trabalhar, e de , que foi estudar. O que me restava? Filmes da Barbie novamente!
Eu amo os filmes da Barbie, amo mesmo, mas digamos que ela não é uma companhia tão boa. Me vi pronta para conversar com minhas amigas, que mandaram aproximadamente um zilhão de mensagens perguntando se eu estava bem. Elas estavam preocupadas comigo. Preocupadas de verdade. Não falo isso pois suponho que elas estejam, e sim porque sinto.
Mandei mensagens para pedindo para que ela e as garotas me visitassem, e não demorou muito para todas chegarem junto com .
- Estávamos tão preocupadas com você! - Chloe me abraçou forte, e todas fizeram o mesmo.
- Como você está se sentindo? - perguntou com uma voz exageradamente cuidadosa.
- Bem.
- Mesmo? - Callie insistiu, mordendo os lábios.
- Mesmo.
- , nem consigo imaginar o quão horrível foi passar por iss...
- Tem razão, você não consegue, mas eu estou bem. Não quero ficar falando sobre esse assunto, pode ser? - interrompi Chloe, sendo ríspida e direta, mas acabei sendo um tanto quanto grossa também.
- Me desculpe. - disse sem graça, em um tom quase inaudível. Ah cacete, o que estou fazendo?
- Olha, eu que peço desculpas. Isso tudo me deixou um pouco... Estressada. Já aconteceu, eu estou bem, e ninguém morreu por isso, e um dia onde ninguém morre é um dia bom, certo? - abri um sorriso com certa dificuldade, e as três se entreolharam e me abraçaram.
Engraçado como as coisas que digo não condizem com o que penso e sinto. Às vezes parece que meu coração irá parar de bater de tanta tristeza. Às vezes sinto que não irei aguentar viver por muito tempo. Mas as vezes, só as vezes, parece que tudo pode mudar. Parece que tudo pode melhorar. E o que eu tenho que fazer? Isso mesmo: continuar vivendo.
- Então tenha um dia bom, . Não só um, claro. - sussurrou em meu ouvido enquanto me abraçava, e não pude evitar de sorrir.
Callie sugeriu que assistíssemos um filme para afastar toda aquela tensão e nos rendemos a idéia. Quando acabou, todos nós decidimos comer algo, e claro, me ajudou com a louça. Eu lavando e ele secando, uma dupla um tanto quanto talentosa!
- Você não acha que está na hora de contar a verdade?
- Sobre o que? - olhei confusa para , que indicou com o olhar que estava falando sobre meu pulso que estava exposto, já que ergui as mangas para não molhar a roupa.
- Me dê um bom motivo para contar. - propus, desligando a torneira e cruzando os braços, tentando imaginar o que se passava por aquela cabecinha.
- Você se machuca porque acha que não conseguiria lidar com isso de outra maneira, e eu sei que você se perde em meio a toda essa confusão e tenta buscar as respostas para todas as suas perguntas, e eu espero de coração que as encontre, mas as respostas que está procurando estão mais perto do que você imagina. Estão no seu coração e no coração daqueles que a amam. E isso está bem aqui. - encostou-se a pia, olhando para as garotas, que estavam na sala rindo de alguma palhaçada.
- Você está dizendo que se eu permitir que elas saibam da verdade, isso pode me ajudar?
- Isso você só vai saber quando tentar. - sorriu de imediato, me dando um abraço rápido e se afastando dali.
Guardar segredos não dá certo e isso está claro, mas será que está certo? Será que essa é a solução?
Voltei à sala, sentando num sofá de frente para as garotas.
- Você ainda vai querer ir ao casamento da Paige? - Chloe perguntou esperançosa.
- Claro! Preciso manter minha dieta e comer bem casado! - dei algumas batidinhas em minha barriga, fazendo graça.
- Mas o vai. - Chloe sussurrou e levou cotoveladas de Callie e , uma de cada lado, e não consegui segurar o riso.
- Isso não vai ser um problema. - tentei parecer certa da minha afirmação, mas a verdade é que todas nós sabíamos que seria bem o contrário.
- Tenho um vestido que é a sua cara, ! - Callie comentou risonha, ignorando o assunto sobre .
Elas podem me ajudar. A ajuda das minhas amigas pode ser a cura para o meu problema. Elas podem ser o suficiente para me fazer parar.
- Esse vestido é de manga cumprida? - cerrei os olhos, e Callie gargalhou. Mal sabe ela que um vestido de manga cumprida realmente seria necessário.
- Não é não, por quê? - questionou confusa.
É difícil enfrentar o que tememos, difícil pra cacete! Acho que vida é cheia de respostas, mas qual é a certa? Eu preciso tentar até encontrar a certa, não é mesmo? E acho que enquanto eu não encarar meus medos, nunca irei mudar. Escolher o caminho certo nunca é fácil. Não é fácil revelar algo que tem tamanho impacto em minha vida, mas metade de mim espera ter uma vida longa, diferente e até feliz, mas para isso, eu preciso procurar ajuda e esperar. E claro, tudo é questão de tempo, mas a dúvida é: quanto tempo estou disposta a esperar?
Não tem progresso sem mudança. Tudo aquilo que não enfrentamos em nossa vida, vira nosso destino, e os acontecimentos recentes é a prova viva disso.
- Porque eu vou precisar esconder isso aqui. - puxei as mangas da minha blusa lentamente, revelando um dos meus piores segredos.
- N-não me diz que v-você fez isso aí. - gaguejou, com os olhos arregalados e surpresos, assim como Callie e Chloe.
Eu poderia jurar que meu coração parou por algum tempo, mas claro, foi efeito de todo o choque do momento. A verdade é que nunca me senti tão aliviada por falar algo. Nunca me senti tão... Leve.
- Foi, assim como todos os outros cortes distribuídos pelo meu corpo. Eu escondi a minha verdadeira história por muito tempo, mas vocês merecem a verdade. - meus olhos estavam fechados. Eu tinha certo medo de encará-las, mas minhas palavras saíam com tremenda facilidade.
- NÃO! VOCÊ NÃO PODE ESTAR FALANDO SÉRIO! - Callie se levantou bruscamente aos gritos, nos assustando.
Ok, completamente aceitável. Ou não.
- Vocês sempre souberam que algo estava errado, sempre. Eu sempre tentei afastá-las da verdade, mas eu estou pronta agora - respirei fundo, tentando não perder toda aquela coragem que eu estava tendo no momento. O grande momento - Eu já menti várias vezes sobre meus pais, mas a grande verdade é que... - engoli em seco, apertando os olhos por alguns segundos, mas pude ver encostado na escada observando toda aquela cena com um belo sorriso no rosto - A verdade é que meu pai tem alguns problemas. Ele é alcoólatra e usuário de drogas, e há anos ele vem fazendo coisas horríveis como me agredir. Antes que vocês me perguntem o motivo de nunca ter o denunciado, saibam que o medo sempre falou mais alto. Há anos eu tento entender o motivo disso tudo, e ao que parece, eu não lidei muito bem com isso. - ri sem humor ao olhar meus cortes, respirando fundo e observando a expressão de cada uma. estava com lágrimas nos olhos.
- Eu não... ... Eu... Eu te amo tanto e eu queria entender o porque disso tudo acontecer justo com você. Você é incrível! Eu simplesmente... Não consigo. - desabou no choro, mas tentou se recompor rapidamente.
- Eu quero que vocês saibam que esconder isso não significava que eu não confiava em vocês, e sim porque era algo grande demais para eu conseguir fazer, mas finalmente achei a situação certa e o momento certo. - acrescentei, e em questão de segundos pude sentir o abraço das três ao mesmo tempo.
Às vezes as pessoas precisam de provas que tem os amigos certos, precisam de provas que eles são de confiança e que eles estarão lá para momentos difíceis. Bem, eu não preciso disso. Eu já sei. Eu já sinto.
's POV
Levei Sophia para escola, e ao invés de fazer o mesmo, apenas voltei para casa e me joguei em minha cama novamente.
Todos nós já fizemos coisas que não são motivo de orgulho, entendo perfeitamente isso. Ninguém é perfeito. Mas como é que Richard vive com isso? Como ele se levanta todas as manhãs e enfrenta o mundo sabendo que existem muitas pessoas que o odeiam? Será que ele pensa que poderia ter sido uma pessoa melhor? Será que ele se arrepende? Mas estar arrependido é o suficiente? Creio - e espero - que essa não é a vida que ele sonhou, mas foi a vida que o cativou. Por mais que eu tente entender 1% de seus motivos para seguir essa vida, o meu ódio não diminui. Nada muda.
Dormi durante horas, coisa que eu realmente estava precisando. Acordei a tarde com um telefonema de , pedindo para que eu fosse até sua casa.
Não fiz questão de me arrumar e dirigi até sua casa, onde ele e estavam jogando FIFA com toda a empolgação do mundo.
- foi pra escola hoje. - comentou sem tirar os olhos da TV, e sua revelação me fez gelar, e também ter me xingado mentalmente por não ter ido.
Que desencontro do caralho. Isso só pode ser Deus fazendo eu me foder ainda mais.
- Amanhã é o casamento do Ben e todos nós vamos, isso significa que vocês podem conversar. - falou com certo entusiasmo.
- Podemos mudar de assunto? - passei a mão pelo cabelo, claramente agoniado. Eu realmente precisava conversar com ela, mas pelo andar da carruagem, a garota não deve estar querendo me ver nem pelado. Ops, pelado de ouro. Ou pintado de ouro. Tanto faz.
- Na verdade não. No fundo, sabemos que vocês se gostam e queremos ajudar. - pausou o jogo, se virando e olhando para mim. Puta que pariu, eu arranjei um amigo que só fala idiotice ou é impressão minha?
- Eu não gosto dela! - retruquei rapidamente, impaciente com a situação.
- Claro que gosta, você mesmo disse! - sorriu vitorioso e gargalhou.
- Você anda ouvindo coisas demais cara.
- É sério, ! Você disse o seguinte "meu pai é traficante, abandona a minha família e pega a garota que eu gosto e você está inconformado? Eu não tenho direito de estar inconformado porque eu tenho muita coisa pra consertar." - fez aspas com as mãos ao citar minha fala, que me deixou extremamente surpreso.
MINHA fala, MINHA admissão.
- Eu estava desesperado naquele momento! - tentei me defender, chocado ao ver que o garoto realmente prestou atenção naquele momento de loucura.
- Vai tomar nesse teu cu, vai! Você gosta dela e todo mundo sabe, inclusive você mesmo. É foda admitir isso pra si mesmo, mas quanto mais você negar, pior fica. - deu os ombros com uma expressão inocente como se não tivesse tacado lenha na fogueira.
- Se tu não calar essa boca eu vou te encher de pancada com essa televisão, e acredite, vai doer muito. - ameacei sério, mas acabamos caindo na risada. As melhores risadas, com os melhores amigos.
Céus, é tão bom dizer isso!
Ao que parece, e o que dizem é que o problema sobre o amor é que, quando é bom, é muito bom. Quando é ruim, machuca muito. E se você não consegue achar uma forma de balancear todos esses altos e baixos vai te deixar maluco pra caralho.
Suponhamos que eu goste de , quais as chances de dar certo? Já somos essa bagunça toda sem termos nada sério, imagina como casal? Isso definitivamente não vai rolar jamais.
***
- Puta que pariu, tira dessa rádio! - ordenou.
Passamos horas nos arrumando e mais algumas horas esperando o quarteto fantástico das meninas terminarem de se arrumar.
O casamento de Ben e Paige havia chegado. , e estavam em meu carro, e o restante no carro com . Eu ainda não tinha visto , e a cada minuto que passava eu me sentia mais nervoso. Eu, , nervoso por causa de uma garota. Quando é que eu me imaginaria passando por essa situação? Nunca.
- Ouvi dizer que está com um lindo vestido bem coladinho. - comentou e observou as unhas, tentando disfarçar.
- Ouvi dizer que gosta dela. - acrescentou. Rolei os olhos e mostrei o dedo do meio rapidamente, voltando minha concentração para a estrada.
Paige escolheu um lugar bem filha da puta pra casar. O lugar é pouco mais de uma hora de viagem, o Stowe Garden, um tipo de jardim gigantesco, onde podem fazer todos os tipos de festa.
- Eu vou fazer vocês irem a pé se não calarem essa boca. - me manifestei, ouvindo um "uuuuh" debochado em coro.
- Cara, deixa de ser retardado. Dê permissão para sua cabeça seguir seu coração. - estava impaciente, falando sem nem pensar que eu poderia atropelá-lo em qualquer outro momento da vida.
- Eu aposto que não quer nem olhar na minha cara.
- Mas o que aconteceu não foi culpa sua, . Tenho certeza que ela vai se tocar disso e vai te ouvir. - o tom de esperança de era impressionante.
- Quando há escândalo ninguém se importa com os detalhes. - debati, crente que ainda conseguiria enfiar na cabeça dos três de que essa minha história com provavelmente havia chegado ao fim.
- Ai caralho, sabemos que você tem sim uma pequena parcela de culpa nisso, mas você não pode se responsabilizar pelo o que seu pai fez. Você vai tentar conversar com e pronto, está me entendendo? - chutou o pau da barraca, praticamente gritando e querendo arrancar minha cabeça fora.
- Mas...
- Mas nada! Você não prefere se arriscar do que ficar imaginando o que poderia ter sido? - se intrometeu, agora, com o olhar bravo como o do melhor amigo.
- Isso não vai dar certo.
- Como dizia meu avô: você é muito jovem pra acreditar que as coisas não vão dar certo. - concluiu, dando uma piscadinha marota que pude observar pelo retrovisor.
Anjos ou demônios? Não sei. Mas aqui estão meus amigos.
Chegamos ao lugar, e quase caí pra trás ao ver naquele vestidinho. Quando eu penso que ela não pode ficar mais linda, ela vai e fica. Puta merda, como isso é possível?
Adentramos o local, e não pude deixar de observar o quão bonito tudo estava. Andamos até onde ocorreria a cerimônia, que seria ao ar livre. estava fingindo que eu não existia, conversando com todos, menos comigo, o que estava sendo como chutes no saco, ou talvez pior.
Todos cochicharam algo e apertaram o passo, sentando nas cadeiras rapidamente, deixando as duas ultimas vazias. me olhou indiferente, sentando na cadeira. Sentei meio receoso, mas sentei. Seu perfume invadiu minhas narinas, e Deus... Eu queria tanto poder beijá-la.
A demora foi justificável, afinal, é um casamento. O som da música anunciando a chegada da noiva nos fez levantar. Paige provavelmente estava pegando fogo debaixo de tanto pano, mas ela estava linda.
O padre falou toda aquela baboseira, e no momento dos votos de casamento, Callie e se olharam apaixonados. e estavam fingindo que aquilo não estava abalando o emocional deles. Chloe e estavam um tanto quanto distantes um do outro, e prestava atenção em cada palavra.
- Sempre soube que você era a única que me olharia nos olhos e poderia ver minha alma. Eu aceito você como minha parceira e como minha melhor amiga. É um milagre encontrar a paz e a felicidade que você tem me dado. E em agradecimento a esse milagre, eu pretendo, junto a nossas famílias e nossos amigos, te amar e admirar para sempre. - Ben terminou de falar sorrindo de uma maneira incrivelmente diferente, emocionando a recém esposa de maneira absurda.
- Sua energia e paixão me inspiram de forma que eu nunca imaginei possíveis. Sua beleza interior é tão forte que eu não tenho mais medo de ser eu mesma. Eu não temo nada. Nunca pensei que iria encontrar alguém para amar que me amasse incondicionalmente. Você me dá propósito quando eu sinto não ter. Sem você, minha alma estaria vazia, meu coração estaria quebrado, meu ser, incompleto. Eu te amo, e sempre irei amar. - Paige tentou conter as lágrimas, e mesmo chorando, ela sorria como se mais nada no mundo importasse.
O padre autorizou o beijo dos noivos, e todos nós gritamos e aplaudimos. Pude observar algumas lágrimas caindo do rosto de , e antes mesmo de tentar me mover para limpa-las dali, trocou de lugar com , se afastando de mim.
Nos deram instruções para irmos até o salão de festas, que era gigantesco, com um jardim maior ainda, onde a festa aconteceria.
Os noivos tiveram sua primeira dança e toda aquela palhaçada de casamento. As comidas e bebidas estavam ao alcance de todos, e ninguém perdeu tempo.
Meus olhos não saíam de , e por mais que eu tentasse disfarçar, estava se tornando impossível. Jackson apareceu para conversar com , aproveitando e puxando assunto com . Mas que bela merda para se ver!
- Eu vou ter que te chutar pra você ir conversar com ela? - apareceu ao meu lado de repente, me dando um belo susto.
Ele foi o que mais se abalou com toda aquela confusão em que a prima foi envolvida, e desde então ele passou a me ignorar ou falar poucas palavras, e não posso negar que isso mexeu comigo. Claro, se eu estivesse em seu lugar eu provavelmente teria agido da mesma forma, mas é completamente estranho esse clima entre nós.
- Acho que ela está um pouco ocupada agora. - virei o resto de bebida que tinha em meu copo, voltando meu olhar para , que estava rindo de algo que Jackson estava falando.
- , você não pode voltar e fazer um novo começo, mas você pode começar a fazer um novo fim. Eu posso ter ficado puto pelo o que aconteceu, mas isso não me torna cego. Vocês se gostam, está bem óbvio. Você é uma bagunça, mas também é. Vocês podem sem bagunçados juntos, sabia? - expôs seu bom humor, junto com um ótimo conselho, longe de qualquer raiva ou algo do tipo.
- Eu não posso simplesmente chegar lá e conversar! - debati pensativo, esperando que o garoto me desse alguma opção.
- Senhoras e senhores, convido a todos para dançar esta linda música junto com os noivos! - um homem alto, bem trajado, e com voz grossa anunciou no microfone.
- Acho que essa é a sua deixa. - riu, retirando o copo de minha mão e se afastando.
Ignorei o frio em minha barriga e caminhei até , que estava se ajeitando para dançar com Jackson.
- Você vai me desculpar mas ela vai dançar comigo. - anunciei minha chegada com um olhar cínico para Jackson, que revirou os olhos rindo.
- Você não tem um pingo de vergonha nessa sua cara, né? - finalmente abriu a boca para falar comigo, soltando sua braveza em poucas palavras.
Jackson estava segurando a mão de , e por algum motivo - ou um milagre -, Jackson a soltou, me dando um olhar significativo. Ele estava entregando a mão de para mim.
- Eu não me meto em briga de casal. - Jackson espalmou as mãos no ar, declarando inocência e saindo dali.
negou pegar em minha mão, mas eu a peguei do mesmo jeito, as entrelaçando e segurando firme em sua cintura, deixando seu corpo próximo ao meu. Por incrível que pareça, ele não abriu a boca para reclamar.
- Acho que ás vezes a beleza está na tentativa. - sussurrei, e a garota me olhou com as sobrancelhas franzidas.
Love Someone do Jason Mraz começou a tocar, e passamos a nos mover lentamente, junto com muitos outros casais que estavam dançando também. Não me atrevi a dizer uma palavra sequer, mas não porque eu não quis, e sim porque não consegui.
Eu n-ã-o consegui. Eu sou um belo de um merda! Falo tanta porcaria por aí, e na hora de falar sério, eu simplesmente travo.
encostou o rosto em meu ombro, impedindo que eu olhasse em seu rosto. Ouvi a garota fungando baixo, e tentei segurar em seu rosto, mas a mesma não permitiu.
- Eu te odeio, sabia? - foi a última coisa que ela disse antes de dar longos passos até o salão de festas.
Fiquei observando seus passos feito um trouxa, no meio de vários casais que ainda estavam dançando, e quando a música finalmente terminou, corri até , que estava dançando com Jackson.
- Ela correu lá pra dentro! - falei rápido e um tanto quanto desesperado. Jackson me olhava confuso, mas ele era o de menos no momento.
- O que você fez?
- Nada! Estávamos dançando e ela simplesmente disse que me odiava e correu! - levantei as mãos em forma de rendimento e respirei fundo.
Eu sempre sei o que fazer, sempre sei o que falar, e agora olha como estou. OLHE SÓ PRA ISSO! Uma situação totalmente inédita.
me puxou pela mão até onde o restante do pessoal estava e explicou a situação. Entramos todos no salão, e tinha um grande corredor ali com muitas portas. As garotas procuraram no banheiro e nós estávamos abrindo todas as portas restantes, até que...
- ACHEI! - dei um grito, observando sentada no chão de um quartinho, e deduzi que fosse um canto onde as noivas ou donas das festas se arrumam.
foi a primeira a aparecer, caminhando até a amiga e dando um forte abraço na mesma, que estava chorando. Chorando por minha causa. Puta que pariu.
levantou, ajudando a amiga a fazer o mesmo, e antes que caminhasse até a porta, ela correu, puxando a chave da porta e a fechando. Eu e nos entreolhamos confusos, e o barulho da chave girando fez a garota começar a bater na porta, dizendo que não queria ficar no mesmo lugar que eu.
- Hoje foi um dia cheio de amor. Amor que a gente sabe que vocês têm aí nesse coração não tão de pedra. Discutam o quanto quiserem mas vocês não saem daí até conversarem. Amamos vocês, boa festa! - gritou do outro lado da porta, e pude ouvir as risadas ficando cada vez mais distantes.
Essa garota é definitivamente o anjo mais encapetado que eu já conheci!
- Acho que você vai ter que me escutar agora. - falei em um tom divertido, me aproveitando da situação. Talvez ficar preso ali com não seria tão ruim.
- Mas é claro! Você vai contar mentiras ou coisas que não são verdade? - perguntou em tom irônico e debochado. Encarei a garota com um olhar firme e sério, enxergando os vestígios das lágrimas por seu rosto.
Senti o suor frio percorrer pelo meu corpo. Nervosismo do caralho. Eu não posso jogar essa oportunidade fora.
- Meus segredos se empilharam e tomaram conta de tudo, e eu não tinha espaço pra mais nada, nem pra você. Eu estava tão cheio disso tudo que pensei que fosse explodir, e acho que é por isso que tentei descontar minha raiva em você algumas vezes. Mas agora eu não preciso mais me esconder atrás de todos esses segredos. Me perdoa, tá legal? Eu não queria que as coisas acontecessem dessa maneira. - verbalizei tudo o que formei em minha cabeça em poucos segundos. Respirei aliviado, mas com certo peso em meu coração. Como foi que deixei as coisas saírem do controle dessa maneira?
- Você conseguiu contar a verdade para e e não conseguiu contar pra mim? Me dê uma bela explicação pra isso, , pois eu realmente acho que o problema sou EU! - caminhava impaciente de um lado para o outro, cuspindo as palavras de maneira raivosa.
- O problema não é você! Eu só estava tentando... Te proteger. - respondi receoso, mas em questão de segundos pude sentir aquele peso sumindo aos poucos. Falar a verdade nunca foi tão bom.
- PROTEGER DO QUÊ?
- De toda essa loucura! Sua vida já é difícil, e te con...
- Eu NUNCA planejei te contar a verdade sobre minha vida e olha tudo o que aconteceu! Eu NUNCA quis te colocar no meio da minha bagunça, mas mesmo assim eu coloquei, porque eu pensava que podia dar certo, que podia valer a pena! Eu sempre senti que o que você me falava não era verdade mas eu decidi confiar em você, porque você merecia, e agora eu vejo que eu fiz mais uma burrada! - me interrompeu aos gritos, mais brava do que nunca.
Por algum motivo, tudo aquilo me tirou do sério. Acreditar que nunca quis me contar a verdade sobre sua vida me deu uma sensação de... Eu nem sei a palavra certa pra usar. Imaginá-la sendo apenas , em sua versão mais simples e sem história me pareceu estranho. Era como se conhecê-la de verdade fosse tudo o que estava faltando em minha vida.
- Não foi uma burrada! - gritei na mesma intensidade, dando um susto na garota.
- Nós juntos somos uma burrada, porque a grande verdade é que não temos futuro! Você nunca me deixou entrar na sua vida! A única coisa que você não se importou em deixar entrar foi o seu pênis na minha vagina. - riu debochada, cruzando os braços e me olhando com desdém. Foi a gota d'água pra mim.
- Você está insinuando que eu só te usei pra conseguir sexo? - me aproximei lentamente, e a garota se afastava conforme eu andava em sua direção. Suas palavras atiçaram uma raiva em mim sem tamanho.
Eu sempre senti que era mais do que uma garota normal. No fundo, acho que eu sempre soube que debaixo de tudo aquilo tinha uma história interessante. Mas ela falar um absurdo desse foi como se todos esses sentimentos não valessem de nada.
- É o que parece! - arqueou uma sobrancelha tentando manter o olhar firme, batendo o corpo na parede em seguida, encerrando os nossos passos.
- Você realmente achou que eu precisaria de você pra conseguir sexo? Você realmente achou isso, ? - ri debochado. Por mais que boa parte de mim estava em desacordo com a minha atitude, a minha vontade de ficar por cima da situação foi maior. Quem ela pensa que é?
- Cretino! - levantou uma de suas mãos para me dar um tapa, mas a impedi segurando em seu pulso, que deslizou pela minha mão, assim como a manga de seu vestido.
Os cortes recentes estavam todos ali. Ao vê-los, foi como se eu tivesse levado um choque de realidade.
Que merda eu tava fazendo e falando?
- Eu n...
- Só me faça um favor, não finja que se importa, ok? - puxou seu pulso com rapidez, mas a imagem de todos aqueles machucados ficaram grudadas em minha mente.
- , me deixa v...
- Até onde eu me lembro, dias atrás eu disse que essa coisa entre nós estava acabada, e adivinha? Está mesmo. Não fala comigo nunca mais, entendeu bem? - cuspiu as palavras com desdém, abaixando a manga da blusa novamente e se afastando de mim para o mais longe possível, sentando no chão novamente.
Eu fiz tudo errado. Tudo mesmo! Pra começar, eu me aproximei demais, me envolvi demais e menti demais. Obviamente que daria merda, mas nunca imaginei que seria assim. Nunca imaginei que fosse estar em uma situação onde eu falo que gosto de uma garota - em um momento de desespero, para lembrar -, e o pior de tudo: me importo com a garota.
Talvez a grande verdade seja essa: eu e não podemos ficar juntos pelo simples fato de que tê-la comigo significa colocá-la em perigo.
Agora ela tem todos os motivos do mundo para me odiar, o que é bom. Ela pode finalmente seguir sua vida sem mais nenhuma loucura, e eu posso finalmente fazer o que espero há anos: matar Richard.
Continua...
Nota da autora: (31/12/2016)
Gente... que ano, não?! Tanta alegria e tristeza junta, mas também muitas mudanças. Quero agradecer por cada pessoinha que tirou alguns minutos ou horas do dia para ler Blink. Sério, isso tudo pra mim ainda é surreal. Eu nunca vou me esquecer das coisas maravilhosas que essa fic trouxe para a minha vida durante esse ano, e espero que em 2017 tudo melhore ainda mais. Vocês fizeram meu ano todinho valer a pena! Minhas palavras no momento são: gratidão e ansiedade. A vida realmente sempre dá um jeitinho de surpreender, né? Enfim, feliz ano novo para todos, e não se esqueçam de que a felicidade está em você mesmx!!! Com muito amor, Lua!
Meu nome é Luana, mas detesto ser chamada pelo nome, então qualquer apelido serve; Lu, Lua, Ana, Pêra... Nascida e criada em São Paulo desde o dia 04/09/1999, ou seja, 16 aninhos nas costas, com 26 séries na grade, estilo musical totalmente eclético, e muito, mas muito apaixonada por toda a área da saúde e pelos animais.
Gosto de pensar que nada na vida é por acaso, e tento ser uma pessoa melhor a cada dia.
Me enxergo como a personificação de Meredith Grey com Peyton Sawyer, mas é como dizem: não importa a escuridão que tenha em sua vida, o sol nascerá novamente.
Intensa, engraçada nos piores momentos, personalidade fria, mas com o coração de uma maria mole; essa sou eu.
Qualquer erro nessa atualização são apenas meus, portanto para avisos e reclamações somente no e-mail.
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