“Existe uma maré nos casos dos homens a qual, levando à inundação, nos encabeça à fortuna. Mas omitidos, a viagem das vidas deles está restrita em sombras e misérias. Em um mar tão cheio estamos agora a flutuar. E nós devemos pegar a correnteza quando nos for útil, ou perder as aventuras a nossa frente.”
1 MÊS DEPOIS...
Antes de ser mãe eu nunca tinha chorado olhando pequeninos olhos que choravam também. Eu nunca fiquei gloriosamente feliz com uma simples risadinha. Eu nunca fiquei sentada horas e horas olhando um bebê dormindo. Antes de ser mãe eu nunca segurei uma criança só por não querer afastar meu corpo do dela. Eu nunca imaginei que uma coisa tão pequenininha pudesse mudar tanto minha vida. Eu não conhecia a sensação de ter meu coração fora do meu próprio corpo. Eu não conhecia a felicidade de alimentar uma bebê tão pequena, mas tão faminta.
Me falaram das dores do parto, do corpo diferente, depois das noites mal dormidas e toda a parte chata, mas nunca me contaram que cada olhar e toque que eu ganho vale mais que qualquer outra coisa no mundo. Não me contaram que esse cheirinho de bebê empreguina na alma e que dói ficar sem ele nem que seja por alguns segundos.
É... 1 mês. Tudo mudou.
Fechei o diário do bebê após escrever as novidades que tinham acontecido no primeiro mês de vida da minha filha. Observei aquele pedacinho de gente dormindo tranquilamente no berço, e o meu sorriso se formou naturalmente. Me levantei com cuidado, colocando o diário do bebê na prateleira que tinha ali, junto com algumas fotos. Julie estava em uma delas, sorrindo lindamente. Soltei um suspiro pesado. Ela fazia falta.
Virei meu corpo para sair do quarto, mas... essa sensação me atingiu. Essa coisa maluca. Franzi a testa com o vento repentino levemente forte que entrava pela janela. Eu tinha que sair dali, afinal, meu estômago estava praticamente nas costas e vento não me alimentaria, mas minhas pernas não me obedeceram. Algo me prendia ali.
O vento continuou...
Hope se mexeu em seu berço, com um chorinho extremamente rápido e voltou a dormir.
Ok. Vento, Hope, e... Julie. Olhei para aquela foto novamente, junto ao diário do bebê que estava ali do lado, onde eu tinha acabado de escrever coisas como o peso de Hope, o tamanho, e a hora do seu nascimento.
03:31 da manhã.
Julie morreu às 03:31 da manhã!
Arregalei meus olhos, colocando a mão na boca no mesmo instante. Aquela sensação estranha se exalou por todo o meu corpo, praticamente me causando um choque. Não, não foi ruim.
Foi... ótimo.
O vento foi cessando aos poucos, mas as lágrimas em meus olhos estavam prontas para sair dali. Eu havia pedido para Julie mandar um sinal, e ela mandou.
O mesmo horário da vida e da morte, as coisas mais bizarras e incríveis que podemos conhecer.
- Ei, o pessoal cheg... Está tudo bem? - arregalou minimamente os olhos ao notar meu estado incrédulo e chorão. Abri um sorriso em meio às lágrimas de alegria que o nosso anjo, mais conhecido como Julie, me proporcionou.
- Está tudo ótimo! - passei a manga da minha blusa em meu rosto, me recuperando de um dos melhores momentos da minha vida inteira.
- O pessoal chegou, e trouxeram um monte de coisa gostosa pra comer! - meu namorado passou a mão pela barriga, arqueado as sobrancelhas de modo convidativo. Olhei mais uma vez para aquela foto que mostrava uma das mulheres mais incríveis que tive o prazer de conhecer. Me apressei para sair do quarto, com a barriga roncando de fome.
Mas ela chorou.
Hope abriu o berreiro no instante em que pisei para fora do quarto. franziu a testa, rolando os olhos de modo exausto. É complicado. Dei todos os meus passos de volta pra trás, pegando meu bebê do berço com cuidado, que cessou o choro ao se acomodar em meus braços.
Vai demorar provavelmente a vida inteira pra eu me tocar da tamanha benção que é essa sensação incrível de conexão entre mãe e filha, aconteceu logo comigo.
- Essa menina é a cara do pai, puta que pariu! - ergueu os braços assim que me viu com Hope no colo, logo dizendo a frase que eu já tinha ouvido desde o primeiro dia de vida da minha filha. Eu a carreguei por 8 meses pra ela nascer a xerox do pai. É isso mesmo. A única coisa que Hope tinha de mim, era a boca. Eu ainda estou tentando superar.
Ataquei todos os salgadinhos e doces que estavam jogados ali na mesa, provavelmente assustando a todos.
- Você não come desde quando? - Jackson perguntou assustado, e meu olhar para o garoto não foi dos melhores.
- Quando você tiver um filho você vai entender o que é isso! - resmunguei em resposta, continuando a comer as guloseimas sem tirar o olhar dele, que ficou visivelmente sem graça.
Oh, o estresse vem de brinde.
- Vamos fazer isso logo ou não? - perguntou impaciente, balançando o envelope branco que estava em suas mãos, com Hope deitada em seu peito.
O dia tinha chegado. O grande dia. Os resultados. A hora da verdade.
Callie fez uma contagem regressiva de 5 até 0, mas gritou quando ela estava no número 3, sendo xingado por longos segundos por ter assustado a bebê.
- Quando eu e Callie casarmos, todos vocês vão no casamento, né? Vocês precisam prometer! Preciso ter certeza de que vamos todos nos encontrar, independente do que estejamos fazendo ou onde estivermos. - ele suplicou com a voz trêmula, e aquilo apertou meu coração horrivelmente.
A mudança é inevitável, seja ela qual for. Às vezes pra melhor, às vezes pra pior. Mas isso... a nossa amizade, a nossa união e o nosso amor... nunca vão mudar. Nunquinha mesmo. Eu sei disso porque eu sinto. Meus instintos não falham. Ah, mas não falham mesmo!!!
As promessas foram feitas e os envelopes foram abertos, todos ao mesmo tempo.
Os gritos? Bem, Hope provavelmente precisaria de um tratamento de perda auditiva. Até eu gritei, confesso. Não teve como não gritar.
Todos passaram. TODOS!
, e passaram na University of North Carolina. Callie iria pra Greenville, East Carolina University. , o orgulho de nossas vidas iria para Duke University, em Durham. e Jackson iriam pra Central Carolina Community College.
Amizade significa ficar feliz pela conquista do amigo. Apenas feliz e nada mais. Mesmo sabendo que eu ficaria atrasada em relação a eles, eu não me importava. Todos ali mereciam, assim como eu, mas eu tinha um dever maior. Eu precisava cuidar da minha pequenininha, e depois, a minha hora de brilhar chegaria.
Nada de pressa. Tudo acontece quando tem que acontecer.
's POV
Nossa vida é uma série de imagens, elas passam por nós como paisagens numa estrada, mas algumas vezes, um momento se congela, e algo acontece, e nós sabemos que esse instante é mais do que uma imagem. Sabemos que esse momento, e todas as partes dele… irão viver para sempre.
Alcançamos a conquista juntos. Selamos um ciclo e começamos outro juntinhos, como sempre vai ser. Não tenho dúvidas.
nos obrigou a dançar em comemoração. Sério. Where Does the Good Go começou a tocar, e mesmo não sendo uma música tão dançante, dançamos. Nunca precisamos de muito dinheiro pra irmos para algum lugar bacana. Nunca precisamos de shows ao vivo para dançarmos. Nunca precisamos de nada a não ser nós mesmos.
Eu já disse que amo meus amigos? Porque eu amo. Não tem nada nesse mundo que me faça tão feliz como estar com eles. E sabe o melhor? É totalmente recíproco.
***
Eu olho nos olhinhos de Hope e meu coração acelera pelo tanto que ela me lembra da mãe forte que ela tem. Não, ela não se parece nada com , mas aquele brilho nos olhos eram dela, incontestavelmente.
- Vou tentar dormir. - se jogou na cama, sem perder tempo. Hope começou a chorar. Eu tive que rir.
- Eu cuido disso. Tente dormir, por favor. - nem mesmo permiti que tentasse se levantar, deixando claro que eu podia cuidar daquilo.
Peguei minha filha no colo, que estava com os olhos atentos a cada detalhe meu. Aquele chorinho foi cessando conforme eu balançava seu corpinho minúsculo contra o meu. Caminhei até a sala, encontrando Marie, minha mãe e Sophia ali com um sorriso no rosto, como se estivessem esperando nós.
- , eu posso segurar ela? - Sophia pediu animada, quase dando pulinhos de ansiedade.
Existem crianças que ficam com ciúmes de outras. Não é o caso da minha irmã. Se ela pudesse, ficaria com Hope todos os dias.
Me sentei no sofá, entregando minha filha com cuidado nos braços da minha irmã que se encantava com cada detalhe da pequena.
- Um dia ela vai estar do seu tamanho, aí vocês vão poder sair juntinhas, sabia? - minha irmã sorriu ao ouvir minhas palavras, não escondendo sua animação pela ideia.
- Eu posso ler uma historinha pra ela agora? Eu trouxe um livrinho da Cinderela. Acho que ela vai gostar! - Sophia pediu com cuidado, com o olhar esperançoso.
É assim que meu coração se derrete a cada dia que passa. Eu vou demorar, e muito, pra superar toda essa fofura das duas juntas.
Coloquei Hope no carrinho que estava ali, o deixando pertinho do sofá, onde Sophia se acomodou e começou a ler a historinha que incrivelmente, prendeu a atenção da minha filha.
Respirei aliviado. Alívio por tudo ter ocorrido bem, por tudo estar no seu devido lugar. Eu não tinha mais nada do que reclamar a não ser o tanto que minha filha cagava.
Sério, como pode um ser tão pequenininho, fazer um estrago tão grande?
- Ei, garotão, vem pra cá. - minha mãe me chamou aos risos, erguendo o pedaço de bolo que estava em suas mãos, coisa que me atraiu, e muito.
- Como você está se sentindo? - Marie perguntou curiosa, intercalando entre olhar pra mim e para Sophia, que continuava a ler tranquilamente para minha filha.
- Felicidade é pouco pra o que eu estou sentindo. Isso tudo é melhor do que eu imaginava! - exclamei extasiado, ainda sem acreditar em todas as cosias magníficas que estavam em minha vida. Nem um sonho poderia ser tão bom.
Eu tive dez minutos para conversar com as vovós corujas antes de Hope chorar escandalosamente. Peguei meu bebê no colo, a levando para a varanda e me sentando na rede que tinha ali, pegando meu celular do bolso e colocando Lost Stars pra tocar. Aquilo sempre funcionava. Ela estava acostumada com música boa desde a barriga.
- Eu juro que vou tocar todas as músicas que você quiser se você deixar a mamãe descansar, ok? Ela precisa te amamentar, trocar essa fralda fedida de porqueira que você faz, e também precisa cuidar dela, portanto, vamos colaborar, ta bem? - sussurrei para a minha filha que estava deitada em meu peito com a cabecinha virada pra mim, me encarando como sempre. Ela acha o pai muito bonito, com certeza! Ou não... Hope resmungou, ameaçando chorar novamente, e então me levantei e balancei seu corpinho do jeitinho que ela gostava. Não tinha como resistir a Adam Levine cantando e um bom colo - Talvez a mamãe fique estressada também, mas é só o cansaço. Vamos ter que deixá-la dormir por um final de semana inteiro se for necessário. Acho até que esse é o melhor presente que podemos dar a ela, afinal, foi um esforço do caramba pra você sair, sabia? - ergui minha filha de modo que ela me encarasse e visse a seriedade do assunto, Hope piscou os olhinhos de modo que deu a entender que ela tinha compreendido tudo o que eu tinha dito, me deixando satisfeito e risonho.
- Espero que esse combinado de vocês seja sério. - a voz de se fez presente, com a minha namorada encostada na porta com os braços cruzados, sorrindo de orelha a orelha.
- Por que você não está dormindo? - estranhei sua presença ali, pausando a música que ainda tocava.
- A cama parece estranha sem você lá. - ela tombou a cabeça pro lado, com aquele olhar adorável que era capaz de derreter qualquer coração.
- Eu te amo, . - as palavras saltaram da minha boca numa tremenda naturalidade, como se aquilo fosse a coisa mais importante a ser lembrada. De fato, era.
- Eu também te amo. Se você quiser conversar sobre qualquer coisa, não tenha medo ou receio de dizer, ok? Por mais que exista a possibilidade de eu não escutar nada que você disser, porque dormi na metade da conversa. - ela soltou uma gargalhada gostosa, se aproximando e encostando a cabeça em meu braço, tocando na pequena mãozinha da nossa filha.
- Eu nunca me senti ansioso pelo futuro antes de te conhecer, sabia? Eu só pensava em Richard. Eu não tinha mais nada em mente. Agora... Oh, isso aqui é a melhor coisa do mundo inteiro. Temos tanta coisa pra viver com essa pequenininha aqui! Obrigado por isso. - intercalei o olhar entre Hope, que estava lutando contra o sono para prestar atenção em minha voz, e em , que olhava diretamente em meus olhos com encanto. Aquilo era meu combustível pra tudo. Meu coração transbordava gratidão a todo momento em que percebo que, caralho, eu sou o homem mais sortudo desse mundo inteiro!
- O futuro parece bom, não parece? - ela abriu um sorriso largo, fechando os olhos e sentindo aquele ventinho delicioso que batia em nós três.
O que nesse mundo todo, não seria bom ao lado das duas gatinhas da minha vida?
É, o futuro definitivamente parece bom.
***
7 ANOS DEPOIS...
Sophia corria pelo jardim atrás de Hope, falhando em todas as tentativas de pegá-la, com a respiração ofegante e cansada.
- Você tem 16 anos e não consegue pegar uma garotinha de 7? Que vergonha, Sophia! - coloquei minhas mãos na cintura num falso teatro de indignação. Minha irmã rolou os olhos e riu, voltando a correr atrás da minha filha, que se enfiava em todos os cantos possíveis, fazendo a tia de besta.
É, eu criei ela muito bem.
- Será que Sophia chamou Benjamin? - se aproximou com os descartáveis em mãos, os colocando em cima da mesa e observando as duas gracinhas correndo e rindo alto.
- Espero que não. - franzi a testa e cruzei os braços, fechando a cara mesmo sem querer.
- , eu também tinha 16 anos quando comecei a ficar com você, lembra? - ela prendeu o riso, fazendo um carinho consolador em meu rosto, o que me fez rolar os olhos.
- É diferente! - protestei.
- Não é não. Sua irmã tem o direito de namorar também, oras! Aliás, você agora tem duas filhas, então controla a emoção porque você ainda vai passar muito nervoso com esse ciúme! - ela não se aguentou e riu na minha cara, enquanto eu ainda permaneci sério.
- Só tem mulher nessa casa! É você, é Sophia, Hope, nossas cachorras, e agora essa coisinha que ainda não decidimos o nome, mas que também é menina! - respondi indignado, apontando para a sua barriga de incríveis 5 meses de gestação. Pois é, tudo de novo. Mais uma garotinha.
- Esses seus chiliques são uma fofura, sabia? - entrelaçou os braços em volta do meu pescoço, iniciando um beijo que continuava a me dar arrepios de tão bom que era. Nada mudou.
Mas aí nosso jardim foi invadido por um batalhão de gente. Ok, algumas coisas mudaram. e Jackson tiveram Blake há um ano, e o menino era a coisa mais agitada do planeta todo. Por sorte, saiu a cara da mãe, porque se saísse a cara de Jackson...
Bem... a implicância de irmão não mudou não.
estava namorando sério com Rachel. Eles se conheceram na faculdade, e aí o amor aconteceu. Sem filhos... por enquanto.
Callie e ... oh meu Deus, o mínimo que esses dois podiam ter feito em todos esses anos era um filho, né? Pois é. Eles trouxeram ao mundo a pequena Taylor, de dois anos. A menina parecia mais um furacão, e quando se juntava com Blake... ou choravam, ou brincavam, ou derrubavam a casa, ou faziam tudo ao mesmo tempo. Fofíssimos, porém terríveis!
Ah sim, também tem , claro... ele conheceu Felicity num bar. NUM BAR. Eles também são pais. De gêmeos. Pois é, como se já não bastasse um, veio dois meninos logo de uma vez, Flynn e Joseph. Eles ainda tinham apenas 6 meses, e eram a cópia do pai, assim como Hope é a minha cara.
Há dois meses, fizemos um bolão, e cada um apostou uma data em que Rachel engravidaria. Eu dei menos de 1 ano, então ainda estava no prazo.
Sim, algumas coisas mudaram. Estávamos formados, empregados e com famílias incríveis. Mas sabe o que não mudou? Nós. Mesmo com toda a correria da faculdade, sempre conseguimos passar por cima das barreiras que foram colocadas em nosso caminho. Juntos, como sempre foi.
A minha vida mudou de um jeito que nem se eu quisesse, conseguiria explicar. Às vezes também bate saudade do passado. Às vezes parece que foi ontem. Tantas sensações, tantas lembranças... Me formando na escola, dizendo adeus aquele ciclo e começando outro. Às vezes sinto falta, principalmente dos jogos de futebol. Ahhh, como eu amava aquela sensação de estar no topo do mundo no fim de um jogo. Também sinto falta de como passávamos o intervalo jogados e exaustos, sempre com bastante comida em volta, principalmente na época em que resolveu ser saudável, que foi quando todos nós fizemos ela cair em tentação com as porcarias que levávamos.
É... a saudade.
Às vezes parece que foi ontem. E, às vezes, parecem as lembranças de outra pessoa. Mas eu digo com orgulho o tanto que amo meu passado, embora ele tenha tido muitas coisas ruins, me ajudou a construir quem sou hoje. E eu amo quem sou, com quem estou e tudo o que eu conquistei.
- Não acredito que essa menina está fazendo 7 anos! Lembro quando eu limpava a bunda dela. - franziu a testa ainda sem acreditar nos 7 anos da afilhada, e francamente, nem eu acreditava.
7 ANOS!
2.555 DIAS QUE ELA ESTÁ NO MUNDO! Como faz pro tempo parar?
- Muita coisa aconteceu nesses anos, né? - questionei com um sorriso que insistia em ficar em meu rosto. Era inevitável. Tanta felicidade tem esse resultado.
- Eu sou advogado, estou casado e tenho gêmeos, então sim, muita coisa aconteceu. Muita mesmo! - ele arregalou os olhos com a própria fala, provavelmente ainda não acreditando naquilo tudo. Isso sempre acontecia comigo. É muita coisa boa na vida de um ser humano só. Às vezes eu ainda penso que estou sonhando, e ainda bem que não faço questão de acordar.
Sophia e Hope brincavam com Blake e Taylor. Eu já estava me despedindo mentalmente do meu jardim, porque ele nunca aguentaria tanta bagunça em uma tarde só.
Brincadeiras à parte...
Ser pai é bem difícil, mas eu tento o meu melhor todos os dias. Ajudo Hope com os deveres da escola, preparo os lanches mais gostosos, porque só sabe enfiar salada, mato e essas coisas saudáveis na lancheira da coitada. Seguro a mão da minha garotinha ao atravessar a rua, mesmo às vezes ela teimando e dizendo já ser uma mocinha. Posso com isso?
Mas acredite, Marie tinha razão. Ela disse que eu sentiria saudade até do cheiro do cocô do bebê, e isso é totalmente verídico. Por sorte, já tínhamos mais uma garotinha a caminho.
Mas não para por aí... Ser pai é uma loucura e tanto! Eu tive que aprender tudo, tive que fazer coisas que jamais imaginei fazendo, mas tudo foi recompensado da melhor maneira possível. Melhor do que dinheiro, fama ou poder.
Teve esse dia que Hope sorriu pra mim pela primeira vez. Eu esqueci de tudo, até da falta de sexo. Eu contava os segundos pra chegar logo em casa e notar o quanto minha filha ficava feliz em me ver. Eu percebi que não fazia questão de mais nada a não ser ver aquele sorriso que me moveu - e ainda move - durante muitos anos e que me alimentou nas maiores dificuldades.
Eu me tornei perito em montar brinquedos, em contar histórias, e fazer cafuné. Mas aí veio a armadilha final... a palavra "papai" saiu da boca da minha filha com o efeito de uma bomba atômica.
Meu mundo parou.
E aí, eu nunca mais fui o mesmo. Meu coração amoleceu feito manteiga e eu não consegui dizer "não" nunca mais, nem quando Hope quis comer chocolate no carro, lambuzando os bancos e sua própria roupa. Tudo o que ela fez se tornou uma obra de arte. Eu quase enquadrei uma camisa branca minha que ela sujou de terra. É esse o efeito que ela causou em mim.
Mas começou a doer um pouco quando ela começou a crescer. Ela já não tem mais um berço, não usa mais fraldas e não chupa mais chupeta. Sinto saudade daquele corpinho minúsculo nos meus braços, mas morro de orgulho por ver a minha pequena grande mocinha crescendo.
Ah... eu achei que tinha sentido tudo o que tinha pra ser sentido até ouvir um "papai, eu te amo" saindo da boca dela. Até hoje não sei explicar tal sensação, e talvez eu nunca consiga, porque é especial demais.
A verdade é que ser pai não é ser fácil. Passar por tudo isso é uma aventura e tanto, mas acredite, é a coisa mais recompensadora que eu já fiz na minha vida.
- Olha só quem chegou! - Dan se fez presente ali com Benjamin ao seu lado, acenando de maneira nervosa e simpática. Sophia correu até o garoto de maneira tímida e com um olhar rigoroso para mim.
- Seja simpático com o garoto! - veio com pressa ao meu lado, com um olhar simpático para o garoto, que se aproximava junto com minha irmã.
- Olha só que gracinha! Meu bebê apresentando o namorado pra família toda! - minha mãe gritou da janela e não conseguiu segurar o próprio riso. Sophia colocou a mão no rosto, mas caiu na risada também.
Minha mãe nesses 7 anos fez cursinho pra stand up. Sério, ela virou mestre em fazer os outros rirem ou passar vergonha. Quem diria, não?! E sim, ela é Dan estavam juntos firmes e fortes, mais do que nunca.
Após nossas risadas cessarem, observei o olhar apreensivo da minha irmã, que realmente estava preocupada em como eu trataria o seu namorado. Encarei o rapaz por alguns segundos, cerrando os olhos minimamente, e acabei recebendo um beliscão discreto da minha mulher.
- Bem vindo à família, Ben. Aqui é uma loucura, mas você vai gostar. -finalmente cedi, olhando a expressão aliviada da minha irmã, e os aplausos de todos. Sim, aplausos! Apertei a mão do rapaz, que riu aliviado.
Nesses 7 anos minha conexão com Sophia foi a um nível que eu pensei que não era possível ter com irmão nenhum, e foi o mesmo com o Jackson. Agíamos como irmãos, nos irritávamos como irmãos, e nos amávamos como irmãos. Sempre estivemos disponíveis um para o outro, e sabíamos que aquilo ali nunca mudaria.
- Cara, olha isso aqui! - veio animado em minha direção dando um gole em sua cerveja, e me oferecendo outra que estava em sua mão - Um quintal cheio de crianças, nossas mulheres, família, e união. Dá pra acreditar que chegamos até aqui? - ele sorriu de modo bobo, totalmente encantado com tudo aquilo, assim como eu. Entramos em um tipo de transe, observando toda aquela correria misturada com felicidade.
- Papai, papai, olha o que o vovô Cooper me deu de presente! - Hope veio trotando em minha direção com uma caixa quase maior que ela. Era uma boneca que ela queria já fazia um tempo, e claro, Cooper deu. Ele sempre fazia os desejos da pequena.
- Essa era a boneca que você queria, não é mesmo? - me abaixei para ficar do tamanho da minha filha, perguntando numa animação que eu sabia que ela ficaria contente.
- Siiiiim! - ela respondeu animada, com aquele sorriso que iluminava meu mundo todinho.
- E você agradeceu? - perguntei cerrando os olhos, sabendo da mania que Hope tinha de primeiro surtar e quase esquecer de agradecer. Minha filha balançou a cabeça negativamente, com um sorriso sem graça - Então corre e vai agradecer, pedaço de gente! - passei a mão em sua cabeça, bagunçando seu cabelo, coisa que a fazia correr mesmo.
Acenei de longe para Cooper, que já estava com Hope em seu colo. O amor ali era nítido!
Nos primeiros anos de vida de Hope não sabíamos muito bem como lidar com toda essa história de “avô”, aliás, os dois avós dela eram uma merda. Não queríamos que nossa filha crescesse em meio a histórias contadas para protegê-la, sendo que ela provavelmente saberia a verdade algum dia, então desde sempre tentamos fazê-la entender que Dan e Cooper eram seus avós, mas que o “meu pai” e o “pai” de estavam trancados em um lugar onde pessoas más ficavam. Pronto, ela aprendeu, se acostumou, e é muito feliz com Dan e Cooper sendo seus avós. Sim, Cooper! Ele se apaixonou tanto por Hope que ele mesmo se chamava de vovô, e era um barato, viu?!
Cooper e Dan fizeram a Skinder Empire crescer muito, e até minha mãe se juntou pra o time. Os três trabalhando juntos funcionava muito bem! Mas não era tudo resumido só a trabalho... Minha mãe e Dan estavam muito bem, obrigado, e Cooper... Bem, ele diz que não, mas ele está envolvidão por uma cliente da empresa, e ela parece sentir o mesmo. Já falamos várias vezes que ele precisa se permitir viver novamente, afinal, Julie já se foi e ele não pode deixar de aproveitar o amor, mas o velho é marrento. Por falar em marrento, lembro bem que eu era assim, queria recusar o amor a qualquer custo, mas quando ele vem, não tem pra onde correr.
Cooper, você está encurralado, meu velho!
Balancei minha cabeça, voltando minha atenção para tudo o que acontecia naquele quintal. pegava o bolo com a ajuda de , enquanto Callie e Rachel ajeitavam a mesa. Me aproximei, pegando minha filha no colo e me ajeitando para o que estava por vir.
Cantamos o parabéns, e a animação de Hope ao soprar as velas era sempre a melhor parte, pois era o que ela mais gostava.
O primeiro pedaço? Ela sempre dava para os papais, mas dessa vez ela decidiu dar para a irmãzinha, que ainda estava na barriga. Essa atitude arrancou muitos sorrisos e um coro de “awnnnn”.
- Ok, ok, vamos lá. - pedi a atenção de todos por um momento, e aquilo tinha se tornado uma tradição de aniversário. Sempre fiz questão de agradecer a presença de todos que estavam no aniversário da minha filha com um discurso brega, porém de coração - Vocês sabem de tudo o que vou dizer, afinal, são sete anos dizendo a mesma coisa, mas eu juro que vou tentar fazer algo diferente dessa vez! - soltamos algumas gargalhadas juntos, e logo os olhares se fizeram mais atentos ainda em minha direção - Nesses sete anos aconteceram tantas coisas, como nossas formações na faculdade, nossos trabalhos, nossos filhos, nossas discussões sobre times - encarei , que riu alto. A gente vivia em pé de guerra por conta de futebol e dos nossos times, coisa de tiozinho mesmo! - e sobre nossas vidas em geral. Crescemos muito, mas sabemos que grande parte desse crescimento só aconteceu porque tivemos o apoio um do outro. Sempre tivemos um ombro abrigo ali para nós, e nada nunca nos faltou. Nosso amor sempre foi mais forte do que tudo, e isso foi e sempre será o suficiente. - finalizei levantando minha garrafa de cerveja, enquanto as crianças levantavam seus refrigerantes, inclusive , por conta da gravidez novamente, e também... Rachel.
- Mulher, por que você tá levantando um copo de refri? - minha voz foi afinando em cada palavra que saía da minha boca, e as risadas ali tomaram conta dos nossos ouvidos por alguns segundos.
- Um pouco atrasada, mas finalmente tá vindo! - Rachel passou a mão pela barriga, e a abraçou de lado, com aquele sorriso todo bobo em seus lábios.
MAIS UMA CRIANÇA!
- EU GANHEI O BOLÃO PORRA! - eu gritei a primeira informação que eu consegui conciliar com a gravidez de Rachel, e aí que rimos mais ainda.
- Aeeeee, o papai ganhou o bolão porr...
- NÃO! - eu e gritamos juntos, calando Hope antes dela terminar aquele bendito palavrão. - Filha, não pode repetir essas palavras feias que o papai fala, está me ouvindo? - falei com calma, dando um beijo em sua testa e finalmente voltando a atenção para a gravidez da Rachel.
- Mulher, finalmente essa fábrica abriu, né? - Callie se expressou animada, abraçando a amiga, assim como todos nós, que quase a esmagamos.
E então o momento parou...
O cheiro, o vento fraco e aquele sol de fim de tarde iluminando o jardim foi o suficiente para me desligar da realidade por alguns instantes.
Eu cheguei a conclusão que o importante é não ser amargo com as decepções da vida. A gente precisa aprender a se desprender do passado e reconhecer que nem todos os dias serão ensolarados, mas ainda assim, precisamos encontrar uma fonte de energia e seguir em frente. É complicado? Pra caralho, mas a vida é assim. Demorei anos para descobrir o meu real propósito nesse mundo, e quando achei, nada mais me importava, então não podemos ter medo de cometer erros, de tropeçar e cair, porque na maioria das vezes, as maiores recompensas vem das coisas que mais tememos fazer. Eu achava que o amor iria destruir a minha vida, mas foi exatamente o contrário. Eu consegui muito mais do que poderia imaginar.
Ninguém sabe para onde a vida pode te levar, a estrada é longa e no final, a jornada é o destino. Esse foi o meu destino, com uma esposa incrível, uma filha maravilhosa, um bebê na barriga, e amigos e família que até parecem de mentira por serem tão perfeitos.
Valeu a pena arriscar!
- Você gostou da sua festinha, meu amor? - perguntou enquanto enchia o rosto de Hope de beijos.
- Gostei sim, mamãe. - ela gargalhou de maneira gostosa, e não resisti, tive que encher de beijo também.
- Eu e sua mãe achamos que você está grande o suficiente agora, então, que tal escolher o nome da sua irmãzinha, hein? - perguntei animado, e os olhinhos da minha filha se arregalaram em surpresa, com um biquinho lindo.
- Sério? - ela perguntou desacreditada, com uma voz engraçada.
- É sério sim!
- Hmmmm, deixa eu pensar... Pode ser Charlotte? - ela perguntou com um certo receio, com um biquinho torto e curioso. Eu e nos entreolhamos e sorrimos.
- Claro que pode, meu amor! Charlotte... Você escolheu muito bem. - deu um beijo estalado em sua testa, enquanto eu dei um hi five na minha pequena.
- O dia foi cansativo e a senhorita tem aula amanhã, está na hora de dormir! - lembrei da parte chata, e Hope fez uma careta.
- Posso dormir com vocês? - ela fez aquele biquinho que te impedia de negar qualquer pedido que ela fizesse, e comemorou sua vitória pulando em meu colo.
Nos ajeitamos e deitamos em nossa cama, e logo depois sentimos nossas cachorrinhas, Joy e Josie subindo na cama também, deitando em nossos pés.
A casa era cheia só de mulher e eu falei sério!
Joy e Jolie foram as cachorrinhas que pegou em uma feira de adoção onde prestou alguns serviços veterinários.
Claro que conseguiu se formar e trabalhar com o que queria. O que foi que ela não conseguiu nesse mundo?!
Me perdi em alguns pensamentos, e em poucos minutos as duas estavam dormindo. Eu agradecia todo dia por ter uma filha que me permitia ver a mágica e a bondade do mundo através de seus olhos, e uma esposa que era mais do que eu merecia pelas próximas três vidas. Me levantei da cama com cuidado, abrindo a porta do quarto e indo para a sala, observando o céu da enorme janela que tinha ali.
- O que houve? Não consegue dormir? - apareceu ali com o cabelo um pouco bagunçado e com a camisola do avesso, mas preferi não dizer nada. Ela estava absolutamente perfeita.
- Não, ainda estou agitado.
- Hmmm, ótimo! - ela deu aquele sorriso safado que ainda me deixava maluco. Em todos esses anos, nada mudou, nada mesmo. O amor, na verdade, só crescia, e a vontade de satisfazê-la continuava sendo minha maior prioridade.
Iniciamos um beijo caloroso e nossas mãos se entrelaçaram. A aliança em sua mão esquerda me fez sorrir, e aquele toque ainda me fazia sentir arrepios.
- Eu te amo, . Eu amo tudo sobre nós, amo tudo o que construímos, eu amo tudo! - falei entre o beijo, encostando seu corpo na parede. Aquele calor e excitação entre nós também nunca mudava.
- Obrigada por me fazer a mulher mais feliz do mundo todinho! - ela jogou a cabeça pra trás, abrindo um sorriso lindo e me beijando novamente.
Caralho...
Sabe o que é amar absolutamente tudo? Então. Eu sempre amei quando nosso quarto estava gelado e como o corpo quente de aquecia o meu. Sempre amei ter o privilégio de ouvir a sua respiração bem leve do meu lado, de admirar e elogiar o seu sorriso, sem cansar. Sempre amei seu toque e MEU DEUS, como eu sinto falta de torcer para que o tempo passasse devagar para ela não ter que ir embora quando éramos adolescentes. Eu sempre quis que o tempo parasse todas as vezes em que ela adormeceu primeiro e eu fiquei a observando. Oh, claro, também brigamos! Batemos as portas e saímos por aí, mas na maioria das vezes, sempre voltamos rindo da cara um do outro e dizendo que não conseguimos ficar bravos.
é a mulher da minha vida!
Às vezes, quando você olha para o seu passado, alguns momentos se sobressaem. O dia em que se formou no colégio, o dia de seu casamento, o dia em que descobriu que ia ser pai. Na maioria das vezes, acontecem nessa ordem. No meu caso, não foi bem assim, mas eu não mudaria absolutamente nada em minha vida. Tudo aconteceu do jeito que tinha que acontecer, e eu sou o homem mais feliz do mundo por isso!
’s POV end
Quando Hope fez 6 meses, me pediu em casamento. Ajeitamos a papelada com nossas mães, e nos casamos duas semanas depois, num sábado. Foi algo totalmente simples, não teve vestido longo, festão e nem nada disso, foi apenas nós num cartório e algumas comidas gostosas com nossos amigos. Aquele dia foi como... Bem, eu ainda não tenho uma palavra certa pra definir, mas eu sei que foi tudo tão incrível, que eu queria casar com todo dia. A propósito, o sobrenome dele caiu super bem pra mim.
Ah, o medo... Não tinha medo. Tinha cansaço, trabalho, a faculdade do e nós aprendendo a lidar com uma criança em nossas vidas. Tinha tudo, menos medo. Um foi a fortaleza do outro, e é isso o que eu mais admiro em nós, a nossa força.
Senti aquele sol gostoso em meu rosto e fechei meus olhos, sentindo o ventinho bater em meu rosto. Deixamos Hope com a minha mãe, já que inventou de me levar em um lugar especial. Eu conhecia aquele caminho, e me encantava ver o quanto ele se esforçava para fazer aquele tipo de coisa. O carro parou, e ele tirou as cestas com nossas comidas do carro e ainda segurou em minha mão, me guiando ao lugar que já estava todo arrumadinho.
Meu marido não existe!
- , isso aqui está a coisinha mais linda! - observei com cuidado cada detalhe. Ele decorou um cantinho onde o sol batia de maneira gostosa, junto à paisagem que o lago nos proporcionava.
O lago onde aconteceu a festa dos terceiros anos, aonde nos vimos pela primeira vez.
- Por acaso eu já fiz algo feio nessa vida? Já te dei provas de que faço tudo bonitinho, inclusive, só olhar para a Hope. - ele deu uma piscada marota, se achando pelo fato de Hope ser simplesmente sua cópia. Mas eu não podia discordar. Em todos esses anos, nunca me decepcionou em nenhuma surpresa ou encontro.
- Espero que essa aqui venha parecida comigo para compensar. - me manifestei sorridente, passando a mão pela minha barriguinha já grande.
- Você já parou pra pensar no tanto de criança que todos nós já fizemos? - meu marido se sentou ao meu lado, com uma expressão pensativa.
- Uma loucura, né? Às vezes eu nem acredito! Às vezes eu acho que isso é só um sonho e que meu despertador vai tocar e vou precisar correr pra ir pra escola e te encarar com aquela cara feia de tão mal humorado que você era! - disparei em meio aos meus próprios risos, apertando a bochecha do meu amor.
- Aquele cara mal humorado, hoje te trouxe pra comer no lugar em que nos conhecemos. Viu o que você fez comigo, garota? - ele disse em tom de negação, mas logo sorriu, me dando um selinho demorado.
Nossos lábios quando se tocavam, ainda me faziam sentir sensações como se nunca tivéssemos nos beijado. Eu ainda sinto todo aquele nervoso e todas aquelas borboletas no estômago quando saímos para algum lugar importante. O cuidado um com o outro cresce a cada dia, e o nosso bem estar e da nossa filha é sempre prioridade. O nosso amor venceu a toda aquela loucura que enfrentamos quando ainda éramos adolescentes, e olha onde estamos hoje!
Quando algo está quebrado, você não pode simplesmente jogar fora, você precisa se esforçar pra consertar. Por sorte, a gente se esforçou e se consertou. Juntos. Eu nunca pensei que fosse dizer isso, mas, às vezes, a melhor maneira de se encontrar, é se perder na vida de alguém. Eu me perdi nos segredos e mistérios daquele garoto marrento que eu conheci quando eu tinha 16 anos, e agora estamos casados, com duas filhas e uma vida tão incrível, que nem nos meus sonhos era tão bom assim.
Amor é rir das tonteiras que o fala. Com ele é assim, a barriga sempre dói de rir. Nossa conexão, companheirismo e intimidade nos fazem manter o equilíbrio para uma relação saudável e balanceada. A gente ainda tem nossa própria essência. Além de tudo, ele é o amigo mais sincero que eu tenho. Nossa história é complicada, mas pra mim, ela é épica. Até hoje, a gente ainda perde noites e noites conversando, conhecendo novas músicas juntos, e as vezes vem um silêncio que fala tudo.
Nossa vida é resumida na nossa felicidade e na felicidade dos nossos amigos. Tudo vira festa ao lado deles, é sempre tudo feito e dito com bom humor e otimismo. Quem em sã consciência não se apaixonaria por tudo isso? Porque eu sei e digo com todas as letras que sou completamente apaixonada pelo o que me tornei e por tudo que tenho. A vida é doce!
Claro... antes dessa doçura, tem aquela coisa amarga, e é realmente um saco. Muitas vezes eu me perguntei o porquê precisamos sofrer tanto antes de sermos felizes, mas acontece que eu já era feliz, mas não enxergava nada de felicidade porque eu me cegava com toda aquela tristeza.
Minha vida não foi fácil e provavelmente a de ninguém é. É difícil ter forças para seguir em frente, mas temos que aprender nossas próprias lições, e até mesmo o pior fracasso, até o pior erro, é mil vezes melhor que nunca tentar.
Por muito tempo eu tive medo de sair daquela bolha que eu estava acostumada a ficar. Sentir tristeza era rotina e eu estava acostumada, acomodada. Quando minha alma e meu coração viram uma brechinha para sair daquilo e eu tive forças para arriscar, tudo mudou. Os anos passam e você aprende a ser você mesma. Você se descobre, você se torna a pessoa que estava ali no fundinho da gaveta e todas aquelas angústias vão embora. A sensação de se sentir confortável em sua própria pele é impagável.
Depois da amargura, vem a doçura.
Cacete, a vida é demais!
O fim é a forma das coisas continuarem vivas!