História por Roby e Mah | Revisão por Taaci


[N/A: Coloquem pra carregar essas duas músicas:
In Case - Demi Lovato
e Here Without You - 3 Doors Down e dem o play quando pedirmos (:]


Nunca pensei que viver sem ela fosse tão doloroso. Faz 18 anos desde que minha garota foi embora, e ainda lembro com extrema clareza cada traço de seu rosto, seu sorriso, seus olhos, sua risada, sua voz sempre calma e passiva, sempre dizendo coisas otimistas e tentando fazer os outros sorrirem. Ela era meu mundo, minha luz, minha felicidade... E quando ela se foi, a sensação foi semelhante a levar seguidos tiros profundos no coração, tão doloroso e ardente, uma ferida aberta que jamais poderia se fechar.
A única que sempre me entendeu e que sempre esteve do meu lado, que me dava palavras de conforto e me transmitia segurança mesmo quando quem precisava de tudo isso era ela. A primeira e a única mulher que realmente amei em toda minha vida. Todos os dias, todas as horas e segundos, não houve nem ao menos um único momento no qual eu não tenha pensado nela em todos esses 18 anos, nos quais já não a tenho mais ao meu lado. E pensar que antes eu nem ao menos sabia que a amava, ou melhor, saber eu sabia, mas não admitia isso... Eu tinha medo. Medo de admitir que a amava e medo de perdê-la.
Mas ainda me lembro daquele outono, no qual eu finalmente pude provar tanto para ela quanto para mim mesmo meus verdadeiros sentimentos.
Eu caminhava pelas ruas de São Francisco logo ao lado de um amigo meu na época, Mike. Mãos nos bolsos, gorro na cabeça, meu corpo estava ali, porém minha mente se mantinha longe, bem longe dali, vagando por quartos e quartos, corredores e enfermeiras, até chegar ao único que me interessava: o quarto dela.

FLASHBACK ON

Mike falava como louco, não parava por nem um mísero momento, provavelmente nem respirava. Seu blá blá blá sobre qualquer garota nova que ele estava pegando não me interessava em nada, o que realmente me interessava estava bem longe dali, provavelmente dormindo.
- Ei, , você tá me ouvindo? - Mike perguntou segurando meu ombro.
- Quer que eu minta ou que eu diga a verdade? - Retruquei, suspirando.
- Vou escolher a mentira, por favor.
- Eu ouvi cada palavra.
- Você é horrível, cara, já te contaram isso? - Mike disse voltando a andar e me fazendo rir, caminhando logo a seu lado.
O silêncio se fez entre nós dois por um bom tempo, até quando finalmente passamos pela tão conhecida árvore que me dava visão do grande prédio do hospital geral da cidade, mais precisamente de uma específica janela na mesma direção daquela laranjeira gigantesca: a janela dela.
- Preocupado com ela? - Mike perguntou também encarando a janela longínqua.
- Pra caramba... Ela é minha melhor amiga, cara - disse sentindo meu coração apertar só de lembrar-me da mesma naquele quarto.
- Melhor amiga ou mais que isso? - Mike comentou e eu podia ouvir seu tom divertido, me virei pra ele.
- Melhor amiga. Só melhor amiga - enfatizei encarando seus olhos.
- Só melhor amiga uma ova, tanto eu quanto qualquer um pode ver que vocês dois são algo muito mais intenso que melhores amigos, e que você sente algo bem forte por ela. Não tente negar.
- Eu tenho namorada, Mike, lembra disso?
- Lembro e sei que ela também tem total conhecimento dos fatos, como todo mundo.
- Eu gosto da Lory, da Lory, entendeu isso? - enfatizei bem o nome da minha namorada, só pra deixar claro para ele (e tecnicamente falando, pra mim também).
- Me engane, tente se enganar, isso não muda a verdade, e a verdade é que você não gosta da Lory, mas sim de outra garota, uma que você adora chamar de melhor amiga só pra esconder o que realmente sente, uma que está bem ali, não tão longe de você. Se liga, , você não sabe quanto tempo ela vai continuar aqui, vai ficar enrolando até quando? - a onda de informações (verdadeiras) que Mike jogou em mim me pegou como um grande balde de água fria.
- E daí se isso fosse verdade, o que eu poderia fazer de qualquer forma? - disse um tanto hesitante, coçando a cabeça por cima do gorro.
- Nem vem com essa de "socorro, o que faço" você sabe muito bem que ela te ama, ela já falou isso milhares de vezes, não foi? Pois então, vai lá e pronto, fala pra ela o que você sente!
- Mike... Entende isso, eu não sei quanto tempo ela ainda vai continuar aqui, não sei o quanto ela ainda pode aguentar.
- Exatamente por isso você tem que fazer cada momento ser o melhor de todos! - Mike sorria como se pudesse ver que as coisas seriam boas tanto para mim quanto para ela.
- Como eu faria isso? - perguntei sincero, confuso e ainda meio paralisado.
- Faça as coisas que ela gosta. Eu sei lá, , o melhor amigo dela é você, não eu, do que ela mais gosta? O que ela sempre quis? Tem alguma coisa?
Aquela frase fez minha mente borbulhar, meu sorriso se alargar, e uma ideia (em minha opinião, claro) maravilhosa surgir em minha mente.
- Mike, você é o amigo mais incrível que eu poderia ter, EU TE AMO - disse pegando seu rosto e beijando sua bochecha, fazendo-o reclamar.
- Arg, para de ser gay, que nojo, não é pra mim que você tem que falar isso não, ok? - Ele dizia limpando a bochecha, me fazendo rir.
- Eu sei, mas, antes, preciso resolver algumas coisas. – disse, me distanciando de Mike. Fui correndo até uma casa bem conhecida por mim, toquei a campainha e Lory apareceu.
- ! Que saudade, amor! - ela disse. Parei por alguns segundos processando o que ia falar.
- Lory... Precisamos conversar.


* * *


Demorei três dias pra finalmente resolver tudo que eu precisava. Convencer os pais dela foi a parte mais difícil, eles não queriam permitir a minha ideia maluca por nada, mas depois de conversar com o médico principal e receber a aprovação dele, eles se acalmaram e viram que eu não tinha nenhuma intenção ruim com a filha deles (pelo menos não dessa vez).
Eu carregava comigo um buque de margaridas, a flor favorita dela, enquanto andava em direção ao seu quarto. Logo que cheguei em frente ao mesmo, bati duas vezes ouvindo sua voz calma pedindo para que eu entrasse. Assim fiz, lentamente abrindo a porta e observando a garota na cama, a janela aberta e a luz do lado de fora iluminando parte de seu rosto, que sorria observando as estrelas lá fora.
- Lindas, né? As estrelas. É algo tão... Mágico - ela comentou, rindo logo em seguida e se virando para mim. Seus olhos encontraram os meus, meu sorriso aumentou assim como o dela.
- Oi, .
- Oi, - respondi abaixando a cabeça, mas logo voltando a encará-la.
. Minha menina, a melhor amiga que eu poderia pedir... Tão linda, tão perfeitinha, tão frágil e sofrendo tanto. Seu estado de saúde já não era dos melhores há muito tempo, ou apenas nasceu com um problema no coração, sempre tomou remédios para isso, mas agora os remédios já não adiantavam mais, ela estava cada vez pior desde que entrara no hospital há dois meses. Agora não fazia mais nada sem supervisão médica e cada batimento cardíaco era controlado pelos sete monitores presentes naquela sala.
- Faz dias que você não me visita, achei que não te veria mais... - não deixei que ela continuasse aquela frase horrível, apenas mostrei o buquê escondido atrás de mim e vi seu sorriso se alargar ainda mais.
- Nunca mais tente terminar esta frase, , eu nunca te deixaria nem em um milhão de anos. É que esses dias eu estava preparando uma surpresa pra você.
- E o que é? - eu podia ver a ansiedade e o brilho em seus olhos, talvez porque ninguém tinha feito nada de especial para ela desde que se deitou naquela cama branca.
- É uma surpresa, não vou te contar agora. As enfermeiras estão chegando para te ajudar a se trocar, você vai dar uma volta comigo.
- Impossível, , eu mal posso dar três passos pra longe dessa cama.
- É pra isso que existem as cadeiras de roda, . Fica tranquila. Até os seus pais aceitaram. Acredite, não foi fácil. - ela riu de mim por conhecer os pais rígidos que ela tem, tinha noção do quanto foi difícil conseguir que a minha ideia passasse pela mente do Sr. e da Sra. , aqueles velhos rabugentos que eu teria a maior honra de chamar de sogro e sogra.
Naquele momento os pais de entraram na sala e explicaram que tudo havia sido aceito por eles e, principalmente, pelo médico, que garantiu que nada de ruim aconteceria com ela. Tudo estava sob controle, seus batimentos, sua respiração, tudo em bom estado, ou pelo menos o suficiente para que ela pudesse ter o melhor passeio de sua vida comigo.
Esperei do lado de fora até que ela se arrumasse e, acredite, nunca valeu tanto a pena esperar por ela. Nunca havia visto tão linda desde que a conheci. Talvez pelo fato de que agora, infelizmente só agora, eu finalmente consegui admitir pra mim mesmo que era a garota da minha vida, aquela que eu passaria o resto dos meus dias ao lado, nem que fosse só para olhar pra ela, simplesmente por sentir sua presença. apareceu com um vestido azul claro, preso por um cinto em sua cintura, o que a deixou mais linda ainda. Usava uma sapatilha linda em seus pés e, para finalizar, colocou um sobretudo por cima. Ela estava linda. Linda. Perfeita. Eu definitivamente não mudaria nada.
- Uau. - foi tudo que consegui falar.
- Que foi? Parece que nunca me viu de vestido. - ela falou como se estivesse usando a roupa mais simples do mundo e, sim, ela estava.
- Nada, deixa pra lá... Vamos? - perguntei, pegando a mala de roupas que sua mãe havia feito para ela, além da bolsa com os inúmeros remédios que ela teria que tomar diariamente.
- Você não vai mesmo me dizer pra onde a gente vai? - ela perguntou, mas logo desistiu da resposta quando saiu do hospital na sua cadeira de rodas e viu um carro esperando por nós logo na entrada do prédio. Seus pais estavam logo em frente ao carro, sua mãe estava chorando, pois não queria se despedir e seu pai veio em nossa direção para colocar as malas no carro.
- Filha, fica bem, ok? Espero que se divirta! – Seu pai disse lhe beijando a testa.
- Como posso me divertir se nem sei onde estou indo? – disse me fazendo rir e seu pai apertar suas bochechas.
- , já estou com saudades de você, minha menina – Era a vez de sua mãe se despedir.
- Não se preocupe, mãe, vou estar em boas mãos. – Ela respondeu me olhando pelo canto do olho e piscando.
Ok, aquilo foi o suficiente pra me deixar nervoso. Parece que agora que eu realmente sei que amo (ou melhor, que foi esfregado na minha cara que eu a amo pelo Mike) cada movimento dela parece mais intenso. Ou ela ficou ainda mais linda, ou sou eu que estou ficando obcecado.
É provável que seja a segunda opção.
- Vão com Deus! – Senhora disse enquanto entrávamos no carro.
A porta se fechou e o carro deu partida, deixando o hospital para trás.
- Não acredito que estou saindo daqui, depois de tanto tempo presa ali dentro - confessou encarando a imagem do grande prédio já distante. – Obrigada por isso – ela se virou para mim, se aproximando bem de meu rosto.
- Po-Por nada – disse sorrindo e coçando a nuca.
- Serio... Obrigada – Ela se aproximou bem, muito bem de mim, beijando o canto da minha boca. Oh, sério, por que isso? – Eu te amo, . – ela disse sorrindo logo em seguida, voltando para seu canto do banco. Apenas sorri. Talvez eu tenha admitido para o mundo inteiro que a amava, mas com ela era diferente, eu simplesmente não conseguia, o nervosismo estava maior do que pensei.
Por mais que só estivéssemos indo até o aeroporto de carro, o caminho era longo, era uma hora e meia até chegar lá, então tivemos que nos distrair. A sorte de você se apaixonar pela sua melhor amiga é que você sabe exatamente como distraí-la, do que brincar e o melhor: você pode fazer qualquer brincadeira com ela, afinal, antes do apoio, melhores amigos estão no mundo para rirem uns dos outros, nossas risadas contagiaram até o taxista, que logo já entrava na brincadeira. E foi desse jeito que aquela uma hora e meia passou como um minuto, logo o motorista já tirava as malas do táxi enquanto eu arrumava em sua cadeira de rodas. Paguei o táxi, peguei as malas e entramos no aeroporto, apenas eu e ela. Parei bem na porta do aeroporto e pedi para que me esperasse.
- O que aconteceu? - ela perguntou.
- Nada, só quero que, a partir de agora, você use isto. - Enfiei a mão na minha mochila e dela tirei uma venda preta. se assustou quando viu que eu me aproximava dela com a venda.
- Quê? Eu não vou usar isso, ! - ela falou me empurrando para trás.
- Ah, você vai. - Um olhar divertido surgiu em meus olhos. - , eu falei que era uma surpresa, você não pode simplesmente descobrir para aonde nós vamos, logo no check-in. - cedeu às minhas palavras e eu coloquei a venda, sorrindo vitorioso.
- Eu te odeio, .
- Eu acho que não, .
Já vendada, continuava me xingando enquanto estávamos na fila do check-in, as pessoas na fila olhavam e comentavam, como se nunca tivessem feito loucuras com quem amavam.
Como eu combinei com os superiores do aeroporto antes de ter inclusive fechado a viagem, fomos levados até uma sala separada, onde não poderíamos ouvir os anúncios do alto falante, pra surpresa não ser estragada pela moça no som gritando pra onde iríamos. Por esse motivo, os convenci a deixarem-nos num cômodo separado e quieto, e que, quando chegasse a hora do nosso voo, alguém viesse chamar sem dizer o nome do lugar aonde íamos, óbvio.
- Fala a verdade, estamos mesmo num aeroporto? - ela perguntou, rindo. Levei sua cadeira até o sofá, no qual ela mesma se sentou, com uma ajudinha minha.
- Sim, só que numa sala separada - Respondi sinceramente, isso não precisava esconder.
- Por quê?
- Pra você não descobrir de jeito nenhum pra onde vamos! - Disse rindo vendo-a fazer uma careta engraçada e fofa.
- Você é mau, ! - Ela reclamou fazendo bico. Aquele bico, dizer que eu não queria beijá-la naquele momento seria uma mentira. Uma grande, grande mentira.
Não demorou mais de meia hora para que uma moça alta viesse nos chamar. Levei até onde o avião estava, parando logo em frente à escada do mesmo, éramos os últimos a entrar, então...
- , agora tenho uma notícia pra te dar - comecei a dizer, vendo uma de suas sobrancelhas se levantando.
- O quê? - ela perguntou sorrindo de lado.
- Bom, você vai, mas a cadeira fica - Disse me aproximando e pegando suas mãos. Sua expressão antes sorridente e ao mesmo tempo interrogativa se tornava tensa e medrosa.
- Quê? Mas, ... Eu não vou conseguir.
- Ah, vai sim, eu te ajudo. - peguei um de seus braços e a fiz apoiar em meu ombro, ela se levantou com dificuldade, segurei em sua cintura, prendendo-a firmemente em mim.
Tenho que admitir que subir aquelas escadas com apoiada em mim não foi um desafio fácil, mas logo estávamos dentro do avião. Ajudei a sentar em seu lugar, logo me sentando a seu lado. Sem que ela soubesse, puxei o nó da venda e a mesma caiu em seu colo. Sua expressão de surpresa foi realmente engraçada.
- Ah, luz! - ela comentou rindo e me fazendo rir junto.
- Pode ficar sem ela por enquanto.
- Obrigada, papai, por me permitir ficar sem a venda.
- Que isso, filha. Você sabe, eu sou o melhor pai do mundo.
- Credo, nem brinca, imagina você sendo pai? Coitada da criança. - Ok, isso mexeu comigo.
- Mas, meu Deus, , e essa não confiança no meu potencial como melhor pai do mundo? - ela riu.
- To brincando, só brincando. - ela falou apertando minha bochecha - Você vai ser o melhor pai do mundo, . Principalmente porque eu não vou deixar você tratar nosso filho mal, né? - Eu me virei para ela com uma expressão espantada e, com certeza (veja bem, eu disse com certeza, com absoluta certeza), vermelho. Ela riu (lê-se: gargalhou). - Você acredita em tudo que eu falo. Que fofinho. - Ela disse se virando para a janela e encarando a paisagem.
Ela pode ter rido, dito que era brincadeira, mas, dentro de mim, algo ficava repetindo várias e várias vezes que aquilo era bem mais que uma simples frase dita da boca pra fora.

* * *


Depois de algumas horas, dormia tranquilamente em meu ombro, mas infelizmente tive que acordá-la, pois havíamos chegado ao nosso tão esperado e misterioso destino.
- Ei, , acorda. A gente chegou. - Ela nem se moveu, continuava em um sono profundo. Porém, mesmo baixa, sua voz pôde ser ouvida.
- Não, , para... Isso não. - Mas ela estava dormindo... O quê?
- , tá tudo bem? Você tá acordada?
- , isso é muito... Ahh! - Isso foi um gemido? O que ela tá sonhando? Será... Será que tem outro ? Não, para de ser idiota, só existe um ! E sou eu! Ai, meu Deus, ela tá sonhando comigo. Ai, meu Deus, o que eu faço? Ai, meu Deus, eu pareço um gay falando isso e... Opa. Parece que alguém está querendo dar um oi ali em baixo... Isso não é bom. Obrigada, , ótima hora e lugar para acordar o monstro.
- , ACORDA. - Ela pulou da cadeira com uma expressão um tanto assustada.
- O que foi, menino? Precisa disso? Que susto. - Ah precisa, precisa sim!
- Toma. - Disse e entreguei a venda para que ela colocasse. - A gente já chegou.
- Por que você não tá olhando pra mim? O que eu fiz? - O QUE VOCÊ FEZ? NADA! SÓ DESPERTOU QUEM NÃO DEVERIA. Olhar pra você? Claro! Com o meu rosto estilo tomate americano. To super bem, nossa, to maravilhoso. Parabéns pra você, , nem um dia com ela e já está assim. Você merece um prêmio.
- Só coloca a venda, por favor. - Pedi com a maior calma do mundo.
- Mas, ...
- COLOCA LOGO.
- Ta, calma, estressadinho. - Eu continuei olhando os bancos já vazios em minha frente. Definitivamente, eu não queria encará-la. – Pronto. Amarra pra mim? - Inocentemente me virei, pensando que ela estava realmente com a venda, coisa que não era verdade.
- HÁ! - Dei um pulo pra trás e ela segurou firme meu rosto. - Ta vermelhinho, por que ta vermelhinho? - Ela perguntou com um sorriso divertido nos lábios. Roubei a venda de suas mãos e coloquei, eu mesmo, para não termos mais problemas, sejam eles de qualquer tipo. Ela bufou.
- Cara, você é muito chato. Definitivamente não sabe brincar. - Comentou, me fazendo dar um pequeno sorriso.
Levantei-me então pegando suas mãos e a ajudando a fazer o mesmo. Suas pernas pareciam estar um pouquinho mais firmes. Do mesmo modo que subimos as escadas, descemos do avião, ela apoiada com o braço em meu ombro, eu segurando sua cintura e a puxando pra mim. Pegamos nossas malas e seguimos até onde pudéssemos pegar um táxi, coisa que não demorou a acontecer. Em pouco tempo já havíamos chegado ao chalé.
Estava nevando bastante. O chão estava completamente coberto de neve e o carro tinha algumas dificuldades para se movimentar. Quando finalmente parou, eu fui o primeiro a sair, pedindo para o motorista levar nossas malas para dentro da grande casa de madeira.
- ? - Chamei entrando com a cabeça pela porta do carro.
- Oi - respondeu ela se virando para onde minha voz vinha.
- Vem cá - Pedi esticando minha mão. a pegou se aproximando da porta, me abaixei pegando suas pernas com um braço e passando o outro por trás de seu corpo, tirando-a do carro e a levantando, segurando-a como princesa.
- - ela gritou assustada e depois rindo.
- Relaxa, , você definitivamente não sabe brincar. - Disse retrucando sua fala de antes, vendo-a abrir um sorriso realmente lindo.
Levei-a para dentro da casa, e fomos recebidos por uma senhora com uma aparência de mais ou menos uns 60 anos de idade.
- Bem-vindos! Senhor e Senhorita , estou certa? - Ela perguntou sorridente.
- Sim, senhora - confirmei.
- Sei de sua situação, senhor. Prometo cooperar com suas vontades - ela falou fazendo uma reverência leve e apontando para o longo corredor que se seguia. - Por aqui, o quarto de vocês é logo neste andar.
Seguimos a senhora pelo caminho até chegarmos ao primeiro quarto, número 08 que era o de , entramos no mesmo e coloquei-a no chão, ela se manteve, no começo, meio bamba. Desfiz o nó de sua venda, permitindo-a ver o quarto, grande e aconchegante.
- Isso é lindo - Ela disse sorridente.
- Sabia que ia gostar - Respondi rindo, vendo-a andar ainda meio cambaleante, até sua cama, sentando-se na mesma.
- A cama é confortável também - Ela comentou me encarando, olhos nos olhos.
Sorri amarelo. Que fofa.
- Senhor, me acompanhe até seu quarto, por favor! - a velha pediu. Fui com ela até a porta ao lado do de , abrindo a mesma e encarando um quarto completamente idêntico ao dela.
- Muito obrigada, er, senhora...
- Lúcia, pode me chamar de Lúcia, senhor - Ela se apresentou - Se me der licença, voltarei para meus serviços.
- Claro, sem problemas - Disse observando as malas jogadas num canto do quarto, colocando as mãos no meu bolso, e suspirando, logo voltando para o quarto ao lado, que, vale dizer, tinha coisas bem mais interessantes que o meu, ou melhor... Uma coisa.
Ao chegar ao quarto vi sentada sobre um móvel em frente à janela, estava encarando a vista. Mesmo a neve sendo a única coisa possível de enxergar, olhava com admiração cada floco caindo, seus olhos brilhavam somente de ver aquela imensidão branca. Ela realmente amava aquilo.
- Você andou até aí sozinha? - Ela finalmente notou minha presença no quarto, me olhou e logo deu um sorriso.
- Acho que tudo isso está me dando forças, desde que entrei naquele hospital eu nunca tive um dia tão perfeito. - um sorriso bobo apareceu no meu rosto só de saber que ela estava amando estar ali, comigo.
- E essa ainda não é a melhor parte.
- Eu to ansiosa, , muito mesmo.
- Fica tranquila, , o tempo vai passar voando. - Ela sorriu para mim, mas logo seus olhos se encheram de lágrimas. - Por que você tá chorando?
- Eu não to chorando, , to feliz, muito feliz. Talvez eu nem esteja acreditando que eu realmente estou aqui com você. Isso parece um sonho.
- Parece, mas esse sonho vai ser o melhor da minha vida, e eu espero que seja da sua também. - sentei na cama. Os olhos dela continuavam lacrimejados.
- Sabe, quando eu era pequena, eu não estava nem aí para o meu problema, para mim naquela época, ter um probleminha no coração não era nada demais. Eu não tomava os remédios que mandavam, eu não fazia nada direito. A culpa foi minha, toda minha de estar nesse estado agora, se eu tivesse feito tudo direito eu não estaria com tantos limites na possível melhor viagem da minha vida. A gente estaria neste momento brincando de guerra de bola de neve lá fora, e não trancados aqui dentro. - Suas lágrimas começaram a cair, ela enxugou e continuou. - Quando eu desmaiei, acordei no hospital e recebi a notícia de que ficaria lá até melhorar, , aquilo foi o fim do mundo. Você não sabe o quão angustiante é querer fazer alguma coisa e não poder levantar de uma cama, não poder fazer nada. A cada dia eu tive que tomar o dobro de remédios que eu tomaria se não tivesse sido tão burra. Me desculpa, , por não te deixar aproveitar esse paraíso. - Uma lágrima tentou escapar do meu rosto, mas não deixei, fui até ela e enxuguei suas lágrimas. Ela se desculpava, mas mal sabia que nós não estaríamos ali se não fosse por ela.
- , tá tudo perfeito, eu não preciso de mais nada. Você acha que em um milhão de anos eu me importaria de te carregar no colo? Nunca, . Não tenta se culpar por algo assim, se preocupa com o hoje, o aqui, o agora... comigo, . - Um pequeno sorriso voltou a surgir em seu rosto. - E se você pensa que a gente não pode brincar na neve você tá muito, muito enganada, menina.

* * *


Acordei com uma disposição, sinceramente, incrível. Depois da conversa que tive com noite passada, não pude parar deixar de pensar em coisas pra fazê-la sentir que aquela viagem seria a melhor de toda a sua vida! Não eram mais que oito horas quando saí da minha cama, colocando uma roupa de frio e caminhando em direção ao quarto ao lado. Bati na porta algumas vezes, mas ela não me dava resposta. Resolvi entrar do mesmo jeito. Abri a porta com cuidado, entrando no quarto e vendo deitada, dormindo feito pedra. Aproximei-me bem da cama, passando a encarar seu rosto angelical e praticamente infantil, qualquer um que olhasse pra ela, não diria que ela já tinha 21 anos, não mesmo.
Cada vez mais perto, apoiei minhas mãos na cama, uma de cada lado dela, levando meu rosto próximo do dela, eu podia sentir sua respiração calma. Seu cabelo estava todo bagunçado no travesseiro, sua boca entreaberta, realmente aquela era uma visão muito convidativa. Fechei meus olhos tentando não fazer o que eu queria. Ela está dormindo, você não deveria se aproveitar dela enquanto ela está assim, totalmente vulnerável. Meu subconsciente me dizia repetidas vezes, mas sinceramente? Eu não estava me importando nem um pouco com o que ele dizia. Toquei meus lábios nos dela, sentindo um leve formigamento. Respirei fundo, assim abrindo meus olhos e então encarando a imensidão brilhante dos olhos... Dela.
- Oi – ela disse, me encarando frente a frente, estávamos tão próximos que chegava a ser torturante não poder quebrar logo aquela distância. Dizer que dei um pulo e que logo já estava praticamente na porta não seria surpresa, certo? Certo.
- E-Eu tentei te acordar, você não abria os olhos por nada, por isso estava perto, desculpa – Disse qualquer coisa que viesse na minha cabeça, olhando para o chão. Eu parecia um adolescente, credo. Ela simplesmente se levantou, bocejando, e logo depois esticando bem os braços para cima. Seus olhos novamente encontraram os meus, ela sorria gentilmente.
- O que vamos fazer hoje? – Ela perguntou. A vermelhidão sumiu e o nervosismo também assim que ela disse essa frase, um sorriso largo tomou conta de tudo em meu rosto, e eu corri até sua cama, me sentando na ponta da mesma, exibindo a venda preta de antes para , que me encarava confusa.
- Algo muito, muito legal, mas você vai ter que pôr isso antes! – Pedi levantando a venda.
- Vai me fazer usar isso de novo? – Ela bufou, me fazendo rir.
- Não só mais essa vez como ainda mais algumas, se me permite abusar um pouquinho da sua paciência – disse um tanto quanto formal, fazendo gargalhar.
- Muito bem, senhor, faça o que quiser – Ela disse, tirando o cobertor de cima de si e saindo da cama, vestindo somente uma camisola de seda curta e fina. Ótima escolha de vestuário, aprovada. – Mas, antes, eu preciso me trocar! Te chamo daqui 5 minutos.
caminhou até a porta de seu quarto, a apontando para que eu saísse, assim fiz (infelizmente), deixando-a sozinha lá dentro. Cinco minutos depois, duas batidas puderam ser ouvidas na minha porta. Pedi para que a pessoa entrasse (pessoa na qual eu sabia, e muito bem, quem era).
- Pronta para o passeio muito, muito legal! – Ela disse entrando no quarto. Ela usava uma jeans clara, uma bota marrom sem salto, um sobretudo grosso marrom também que ia até o meio de suas coxas praticamente. Um cachecol rosa claro e um gorro da mesma cor.
– Pode cobrir meus olhos, senhor mistério! - Ri me levantando da cama e seguindo até onde ela estava, já de costas para mim, posicionei a venda em seus olhos, dando um nó e assim a virando para mim.
- Ta vendo alguma coisa? – Perguntei.
- Nada – respondeu sorrindo.
- Quantos dedos têm aqui? – Fiz a tão famosa questão, levantando somente um único dedo em frente à venda.
- Sete.
- Perfeito, vamos – Ri, empurrando-a dali. andava bem, mesmo que suas pernas ainda se mantivessem um tanto quanto bambas.
- , me ajuda antes que eu bata em alguma coisa – Ela pediu esticando seu braço, o peguei caminhando com ela até a porta de entrada do chalé. Abri a mesma fazendo um barulho baixo, dando de frente para os montes de neve que cobriam o começo da porta, provável que o chão estava coberto com até uns 40 centímetros de neve.
- Vem cá – Disse pegando suas pernas e a carregando no meu colo, levando-a para o lado de fora. – Pronta?
- Como nunca. – Ela respondeu firme. Coloquei-a no chão devagar, seus pés tocaram a neve e a expressão de foi ficando cada vez mais inexplicável, uma mistura de alegria e confusão. Ela levantou e pisou com o pé umas cinco vezes, pé por pé, até soltar um suspiro alto.
, isso é...
- Neve – Respondi sorrindo. – Você disse que, por meses, só pôde ver a neve e agora queria que você soubesse que você pode senti-la, tocá-la, o quanto quiser, é tudo seu, – Disse, puxando o nó da venda, pendendo-a em meus dedos ao lado de meu corpo e libertando a visão de , que encarava a imensidão branca à sua frente, com um sorriso maravilhoso nos olhos. Ela passou a correr, quase pulando, indo pra longe, eu fiquei com medo que ela caísse, suas pernas ainda não estavam completamente boas. Mas nada aconteceu, ela somente continuou correndo e jogando neve para todos os cantos. Me abaixei formando uma bolinha de neve em minhas mãos e joguei em sua direção, acertando em cheio suas costas. deu um pulo, se virando para mim com uma expressão assustada.
- Você jogou uma bola de neve em mim? - ela disse me olhando com felicidade e raiva nos olhos.
- Talvez - concordei rindo, enquanto via-a pegar uma bolinha por ela e jogar em mim, errando. - Opa! - gritei enquanto corria dela. Uma guerra de bolas de neve começou, ela me acertou algumas vezes, e eu errei também... Algumas. Ela corria na minha direção, rindo e cheia de neve na roupa, mas quando estava quase chegando suas pernas cederam. Nunca corri tanto na minha vida como corri naquela hora. Antes que ela caísse, a segurei pelos braços, puxando-a para mim, ficando frente a frente com seu rosto, que rapidamente se fez vermelho. Não consegui deixar de sorrir. - Cuidado - pedi rindo, enquanto ela ficava séria, ainda meio corada. soltou minhas mãos ao mesmo tempo caindo de costas na neve.
- Ei! - gritei rindo, enquanto ela se mantinha caída ali. Deitei a seu lado, observando o céu logo acima de nós. Da boca de o ar saiu numa fumaça branca formava pelo frio, ela riu logo depois.
- Isso pode ficar melhor? - ela perguntou sorridente. Ela ainda olhava para cima, enquanto eu encarava seu perfil delicado e sorridente.
- Espero que sim - respondi abrindo um largo sorriso. virou seu rosto, arregalando os olhos e sorrindo ainda mais.
- Mais surpresas? - ela parecia animada, muito mais que animada na verdade.
- Mais surpresas - respondi como se falasse com uma criança pequena. - E eu espero que você goste! - disse sincero.
- , não tem como eu não gostar! Olha pra isso! Eu fiquei presa naquele hospital tanto tempo... E agora, você além de me tirar dali, me trouxe pra esse lugar lindo, me fez tocar a neve que você sabe que eu nunca podia dentro daquele lugar porque faria mal pra mim, me fez correr sendo que antes eu mal conseguia me manter em pé! Me fez fazer guerra de bola de neve sendo que ontem mesmo eu havia te dito que eu nunca poderia, e ainda diz que isso pode ficar melhor, me responde você, tem como eu não gostar? - depois daquilo foi impossível não sorrir, encarando seus lindos olhos, brilhantes e arregalados de animação. Toquei sua bochecha fazendo carinho com o meu polegar.
- Se fiz isso quer dizer que você merece! Se você conseguir andar, correr, e até me bombardear com neve, foram feitos seus, porque você, , é a pessoa mais forte que eu já conheci em toda minha vida! - ficou vermelha, realmente vermelha, sorriu e mordeu seu lábio inferior, me encarando.
- Obrigada, , por tudo, mas por, principalmente, sempre ficar comigo, mesmo com tudo isso... Obrigada - ficamos nos encarando por alguns instantes, até ela fechar os olhos e então se levantar, logo eu fiz o mesmo.
- Me leva? - ela pediu esticando os braços. Virei de costas, senti subir em mim, me abraçando pelo pescoço. Prendi suas pernas em meus braços, e comecei a andar na direção do chalé. Rindo com daquele jeito, assim como para ela, aquilo também não podia melhorar para mim.
Voltamos para o chalé, almoçamos e ajudei a chegar a seu quarto, logo fui para o meu, me troquei e esperei que batesse em minha porta para a próxima, e talvez melhor, surpresa da viagem. Passaram-se alguns minutos e, finalmente, ela apareceu em meu quarto. Descemos as escadas e aquela senhora, Lucia, estava nos aguardando.
- Já estão prontos?
- Sim, senhora.
- Perdoe-me pelo intrometimento, senhor, mas não está meio cedo? Ainda são uma e meia.
- Nós vamos andando até lá, Lucia, por isso estamos indo cedo. A neve nos impede de ir de carro para lá, por isso vamos cedo. A gente não pode se atrasar.
- Muito bem, então. Bom passeio para vocês. - Ela disse e assim saímos do chalé e começamos a andar. Não foi fácil, tinha que andar devagar, pois mesmo já conseguindo se movimentar, ainda tinha suas dificuldades. Por alguns momentos eu fazia com que se apoiasse em mim, para que pudéssemos adiantar os passos, mas logo ela voltava a andar sozinha.
Passaram-se talvez umas duas ou três horas desde que havíamos começado a andar, paramos em algum lugar para descansar, comemos alguma coisa e partimos.
Já deveriam ser umas cinco horas e só estávamos na metade do caminho. Minhas pernas estavam doendo, mas eu precisava de força para que não parasse também.
- Eu to cansada. Vamos sentar um pouco?- ela pediu fazendo bico e eu não tive como recusar.
- Tudo bem. - concordei e sentamos na neve, quer dizer, eu sentei. deitou e começou a fazer anjos de neve, falando que, por ela, poderia ficar ali daquele jeito pelo resto de sua vida e me fez sorrir por saber que tudo só iria melhorar. Já passavam das seis horas, então tivemos que continuar a caminhada. Enquanto andávamos, ela quis puxar assunto.
- Você ta perdendo aula na faculdade só pra estar aqui? Nerds não deveriam fazer isso. - eu ri.
- Não sou Nerd, .
- É sim, não negue - ela disse.
- Nego sim porque não sou! – afirmei.
- "Não acredito que tirei só A no trabalho de química, estou decepcionado comigo mesmo" - ela me imitou fazendo voz grossa.
- Você não pode viver do passado, ! - me defendi rindo. Pois é, eu realmente havia falado aquilo, no primeiro ano do ensino médio num trabalho que eu realmente merecia nota máxima! E ok, eu realmente sou nerd, um pouco.
- Fala como se você fosse um velho - ela riu comentando, assim como eu.
Mais algumas horas e, finalmente, havíamos chego ao tão esperado lugar ou pelo menos quase... Pouco antes de realmente chegarmos, parei e pedi que ela me esperasse.
- Odeio quando você para e pega alguma coisa na mochila. , eu não gosto da...
- VENDA! - completei, rindo de sua cara decepcionada.
- Droga. - ela suspirou e virou-se de costas para que eu colocasse a venda preta.
- Pronto. Vem cá, pega minha mão. - falei e ela estendeu a mão para que eu segurasse. Fui a guiando até o local mais esperado por mim desde minha conversa com Mike.
- Já chegou?
- Não. - falei e continuei a andar, sem tirar o sorriso do meu rosto por ao menos um segundo.
- E agora? - ela continuou a perguntar um segundo depois da minha resposta.
- Não, .
- Agora chegou? - ela continuava me provocando.
- Quando chegar eu aviso, . - murmurei e ela bufou.
Continuou fazendo aquela pergunta por bastante tempo, mas quando finalmente se cansou de perguntar eu parei de andar.
- ?
- Oi?
- Agora chegou. - falei e ela sorriu. Ainda sem tirar sua venda, continuei.
- Sente-se! – pedi, trazendo-a junto de mim. Ficamos ali por um bom tempo, somente ouvindo os sons daquela noite fria. Não nevava, e a isso eu agradeço, andar aquilo tudo com quilos de neve caindo em minha cabeça não seria algo muito bom. - Alguma ideia de onde estamos?
- Nenhuma - ela respondeu rindo.
- Fico feliz então - Respondi aliviado.
- Só sei que seja lá onde for... É o melhor lugar da terra pra mim a partir de agora - ela disse sorridente.
- Sabe, , a ideia de te trazer aqui não foi minha realmente, foi de Mike, lembra-se dele?
- Mike tigelinha? - ela comentou o apelido do garoto por causa de seu cabelo, eu não pude deixar de rir.
- Ele mesmo, bem... Ele foi o grande salvador da pátria, ele disse que ninguém sabe quanto tempo você ficará conosco aqui e por isso que eu deveria fazer de cada momento o mais especial, e foi isso que eu fiz, ou pelo menos tentei fazer...
- Ou que conseguiu... - ela completou minha frase olhando pra cima. De repente, olhando para o céu, pude começar a ver alguns tons de verde surgirem, iluminando a escuridão daquela noite, estava na hora.
- Espero! - respondi a ela, me levantando e puxando-a para cima juntamente, deixando-a de costas para mim. - Chegou a hora!
- Hora de quê? - ela perguntou com um sorriso ainda mais largo.
- De acabar com o mistério! - sussurrei em seu ouvido, logo voltando a falar - , hoje, neste exato momento: 22 de setembro de 1992, à meia noite e um minuto, eu e você estamos em plena Noruega prestes a presenciar uma das coisas mais lindas do mundo.
- Você só pode ta brincando comigo - o sorriso em seu rosto ficava maior a cada palavra e era possível notar que, mesmo de venda, estava radiante.
- , eu nunca falei tão sério. - foi tudo que disse. Sem que ela percebesse, puxei o nó de sua venda e a mesma caiu sobre a neve. E foi assim, naquela hora, que o maior sonho da minha foi realizado ao meu lado.
Os olhos dela brilhavam intensamente, mais até do que as estrelas, que apenas aumentavam cada vez mais a beleza daquele espetáculo. Aquilo era perfeito, as cores dançavam em perfeita harmonia pelo ar e formavam a paisagem mais linda que o homem pode ver: A aurora boreal. As cores lindas que me permitiram ter o melhor momento da minha vida com a mulher mais linda do mundo. Tudo parecia um sonho, um lindo sonho que eu poderia passar anos dormindo apenas para não acabar com ele. Cores e mais cores dominavam a escuridão, eram diversos tons de verde, azul e até um pouco de roxo, pintando a imensidão.
mantinha as mãos na boca, cobrindo a mesma e mantendo seus olhos arregalados, brilhantes. Ainda me lembro do dia em que ela me contou sobre seu sonho, sair de sua casa e ir ver as auroras boreais, isso quando ainda tinha 12 anos de idade. Ela se virou para mim, com lágrimas nos olhos, me abraçando com força.
- , como você se lembrou disso? Como assim? Você é louco? Você me trouxe até a Noruega, só pra realizar um sonho egoísta meu? Que tipo de homem é você? Você existe? Você não é real, não é possível, ah - ela falava e falava sem parar, chorando cada vez mais na minha blusa, mantendo um abraço forte e carinhoso. - Obrigada, obrigada, obrigada, obrigada - ela repetia, enquanto eu a abraçava ainda mais forte. - Eu te amo.
Aquilo me fez sorrir ainda mais. Separei-a de mim e peguei com uma mão seu rosto, fazendo-a me encarar atentamente, olho no olho.
- É, acho que já está mais que na hora para eu dizer isso, pra você, pra mim mesmo, e pro mundo todo e quem mais quiser ouvir, - disse sorrindo, vendo-a segurar as lágrimas que queriam com tanto fervor caírem - Eu amo você! Sempre amei e sempre vou amar, até o fim da minha vida, até além dela. Eu amo você! - terminei assim vendo uma lágrima rolar por seu rosto, limpei-a logo depois colando seus lábios nos meus. Tão macios e quentes... Aquela era definitivamente uma das melhores sensações do mundo. O beijo ficou intenso rapidamente, tantos anos reprimindo aquilo... Finalmente eu podia beijá-la e beijá-la quantas vezes quisesse, e sem nem ao menos me preocupar em não poder, porque, agora que estávamos juntos, nada no mundo poderia jamais nos separar. Nem mesmo a morte.
O beijo acabou (infelizmente). Ela respirava com dificuldade e estava realmente vermelha.
- E esse foi definitivamente o melhor beijo da minha vida - ela comentou rindo. Acariciei suas bochechas, sorrindo e mordendo meu lábio inferior.
- O mesmo pra mim - disse sincero.
- Pode parar de mentir agora – nós rimos, ela me deu mais um selinho rápido - Não, mas calma... E sua namorada? - perguntou me encarando seriamente.
- Bem, ela deixou de ser a minha namorada um tempo antes de irmos viajar - confessei.
- Ótimo... - ela sorriu abraçando meu pescoço com seus braços. - Não gostava dela mesmo.
- Por que será, né, ? - perguntei irônico abraçando sua cintura. - Mas e minha nova namorada? Você gosta dela?
- Nova? Quem? - ela perguntou rindo, entrando na brincadeira.
- Uma que na realidade não sabe que namora comigo.
- E quando você vai contar pra ela? - ela perguntou mordendo seu lábio.
- Quando ela me beijar de novo, espero que logo.
- Logo quando?
- Agora.
- Agora?
- Agora. - disse sorrindo roçando meu nariz no dela, logo em seguida a beijando novamente, sentindo cada pelo se arrepiar e uma sensação de felicidade percorrer meu corpo todo, juntos naquela noite de outono, sob as luzes coloridas da aurora. Eu e ela, finalmente, estávamos juntos, sendo aquele somente o início do infinito.

FLASHBACK OFF

[N/A: Dem o play na primeira música (In Case)!]
E hoje eu estou aqui, 18 anos depois, dia 22 de setembro de 2013, estou eu aqui novamente. Noruega, o melhor lugar do mundo para mim. Todos os anos desde que não tenho mais comigo, eu venho visitar a cidadezinha nos dias 21 de Setembro. Fico no mesmo chalé e, ao anoitecer, subo a montanha e vejo a aurora. Infelizmente, a dona Lucia, que cuidava do chalé, faleceu há alguns anos, então eu o comprei para não ter perigo de outra pessoa estar lá quando eu fosse visitar.
Depois que voltamos para São Francisco naquela semana em que levei para ver a aurora boreal, ficamos juntos durante mais três anos. No primeiro, levei-a para todos os lugares possíveis, aproveitei ao máximo ao seu lado. Íamos para parques, cinema, fizemos inúmeras viagens pelo mundo e, no final do dia, eu a colocava na cama e cuidava dela, do jeito que uma princesa merece. Tudo isso para que ela pudesse viver intensamente, não importava quanto tempo ainda tivesse de vida.
No nosso segundo ano juntos, foi minha vez de receber uma surpresa de : ela estava grávida! Eu ia ter um filho com ! Foi a melhor notícia que recebi em toda a minha vida. Os médicos falaram que havia muitos riscos para ela em ter aquela criança, que o bebê poderia nascer com o mesmo problema no coração que ela, mas nós não desistimos de nosso filho. E oito meses e meio depois, em 15 de agosto de 1994, nossa nasceu. Saudável, linda e toda pequenininha, minha filha era igualzinha a em cada detalhe, e eu amei isso.
Passamos um ano como a família mais feliz do mundo, mesmo ainda tendo algumas crises e indo parar no hospital, estava saudável e feliz, tomava seus remédios regularmente e cuidava de nossa filha enquanto eu trabalhava. Corria tudo perfeito, tudo aquilo parecia parte da continuação do meu sonho inacabável ao lado de . Mas, seguido dos sonhos, os pesadelos sempre aparecem e desde que se foi o meu não acaba mais.

FLASHBACK ON

Voltei para casa mais cedo naquele dia, queria poder passar mais tempo com as duas mulheres da minha vida... Quer dizer, a mulher e a menina da minha vida, já que uma tinha apenas um ano. Abri a porta e estava brincando com nossa filha, sentadas no tapete da sala, ela olhou para mim e sorriu. Como em todos os outros dias, veio andando até mim, me abraçou e me deu um beijo. Muitos dizem que depois de um tempo os casais brigam muito. Errados. Não houve um dia, nesses três anos que estive com , em que eu sequer pensei que seria melhor sem ela.
- Chegou cedo hoje. – ela disse.
- Tava com saudade de vocês. – Respondi. Andei até a sala e peguei no colo, dando um abraço nela e um beijo em sua testa. – Vou tomar um banho e já desço pra brincar com vocês. – Falei e então subi as escadas em direção ao meu quarto, logo peguei uma toalha e fui para o banheiro.
Saí do banho e me troquei. Quando estava prestes a descer, apareceu em nosso quarto e me abraçou forte, disse que me amava e não soltou nem por um segundo, perguntei o motivo de tanta força no abraço, mas ela não respondeu, simplesmente continuou com o forte abraço e eu respondi a ele, abraçando com tanta intensidade como ela abraçava. me beijou. Um beijo intenso, talvez até mais intenso do que qualquer outro que já havíamos dado. Ela olhou pra mim.
- Eu sinto a sua falta todas as tardes em casa...
- Eu também sinto a sua, princesa. Eu só consigo pensar em você e na nossa filha em todos os segundos que eu estou trabalhando. Eu queria poder ficar com você aqui em casa pra sempre.
- Lembra-se do dia em que a gente veio morar junto? As brincadeiras que a gente fez limpando a casa? – Como esquecer, , como?
- Lembro. Lembro também que eu descobri o seu ponto fraco... – Um olhar divertido tomou conta de mim e ficou com medo. Ela sabia o que viria a seguir.
- Não. Cosquinha não, ! – Ela já ria antes mesmo de eu começar a fazer cócegas nela e correu para o outro quarto na tentativa de fugir.
- Nada foge de mim, ! Cosquinha, sim! – nós dois rimos como loucos e quando, finalmente, a peguei, ela deitou no chão e eu deitei em cima dela e a beijei. Fui descendo meus beijos até sua nuca, seu verdadeiro ponto fraco. Ela deu uma risada de leve por sentir cócegas naquele lugar, mas logo me puxou para cima novamente para que eu pudesse beijá-la. - Vamos descer, a tá lá em baixo. – Ela concordou e eu saí de cima dela e a ajudei a levantar. Virei para a porta do quarto e andei até a mesma. Ela me chamou.
- Ei. – Me virei de volta para ela. – Eu te amo, jamais se esqueça disso.
- Eu também te amo, , pra sempre. – Ela sorriu para mim e eu fiz o mesmo. – Agora vamos? – ela assentiu com a cabeça e me virei de costas para ela novamente e logo comecei a andar. Porém a presença de logo atrás de mim não era mais sentida por mim. Olhei para trás exatamente no momento em que as pernas de cederam e ela foi ao chão. Não consegui segurá-la a tempo, ela caiu e seus olhos se fecharam.
Não, isso não, não hoje.
Corri até , segurei seu corpo e coloquei uma de minhas mãos sob sua cabeça, minhas lágrimas não mais se continham.
- , NÃO FAZ ISSO COMIGO, NÃO ME DEIXA, NÃO AGORA! EU PRECISO DE VOCÊ, . EU NÃO VIVO SEM VOCÊ AO MEU LADO! EU NUNCA FUI O SEU PORTO SEGURO, VOCÊ SEMPRE FOI O MEU. É VOCÊ QUEM ME CONFORTA. VOCÊ É A PESSOA MAIS FORTE E MAIS PERFEITA QUE EU JÁ CONHECI. MEU MUNDO É VOCÊ. EU NÃO SOU NADA SEM VOCÊ... Nada, . Nada... – Deitei minha cabeça sobre o peito dela, seu coração já não batia mais. Nunca pensei que meu mundo fosse desabar em poucos segundos dessa maneira. Ela não pode me deixar, eu não sei o que eu faço sem ela. - Por favor... Não vai. – Solucei as palavras. Não tinha mais forças para nada, estava jogado sobre o corpo de minha esposa, chorando, sem reação.
Vizinhos que ouviram meus gritos ligaram para o pronto socorro e logo já estávamos dentro de uma ambulância em direção ao Hospital Geral. No caminho, os médicos usavam aparelhos para tentar reacordar o corpo dela. Nada dava certo, nada fazia com que meu mundo voltasse para mim. Era tarde demais. Ela se foi.

FLASHBACK OFF

Só de me lembrar a agonia daquele dia meu coração aperta. Essa é a única lembrança ruim que eu tenho dela, todas as outras são perfeitas e são essas que eu tento guardar para mim.
Como havia dito, estou na Noruega novamente, mas, diferente dos 18 outros anos que vim sozinho, dessa vez estava com alguém mais do que especial: minha filha. O projeto de agora já tinha 19 anos, mesmo com tudo isso, ela ainda era meu bebê... Apesar de só eu concordar com isso.

[N/A: Dem o play na segunda música (Here Without You) e, se acabar, coloque de novo!]

- Pra que da venda, desde o começo? – perguntou, tateando o ar, enquanto andava pela neve, até chegar onde eu estava. Ajudei a chegar ao topo, assim deixando-a de costas para mim. Um lindo flash veio à minha mente, era como se eu visse minha em minha frente, naquela linda noite de setembro.
- Porque tem que ser surpresa, não seja teimosa, – Pedi, rindo, ela bufou.
- Ta, mas quando eu vou poder tirá-la? – minha filha perguntou insistente.
- Calma, falta pouco... Só mais alguns segundinhos... – Disse observando as luzes verdes iluminarem o céu, pouco a pouco, até finalmente iluminarem completamente onde antes só havia escuridão. Olhei em meu relógio, 00:01 ele marcava. – Agora – puxei o nó da venda, libertando a visão de para aquele evento maravilhoso, que me trazia maravilhosas lembranças.
- Pai... Isso é – tampava sua boca com as mãos, seus olhos estavam arregalados e marejados. – Isso é lindo!
- Sua mãe pensava o mesmo, no dia em que me declarei para ela, foi exatamente aqui, onde estamos agora. Ela sempre havia sonhado em ver a aurora e, como eu não sabia exatamente quanto tempo eu ainda tinha com ela, eu a trouxe aqui, para que seu sonho fosse realizado, logo ao meu lado. – Enquanto eu dizia aquilo, cenas e mais cenas passavam em minha mente, claras imagens daquela noite fria na qual eu e finalmente havíamos ficado juntos, meus olhos, como sempre, lacrimejavam.
- Ela devia ser incrível, né, pai? – chorava. Abracei de lado, carinhosamente, sentindo uma lágrima rolar por meu rosto.
- Ela era, , ela era a mulher mais incrível que eu já tive a oportunidade de conhecer em toda a minha vida! A mais forte, a mais linda... Vocês teriam se dado tão bem. Quando ela ainda era viva, você e ela não se desgrudavam. Quantas vezes você chorava no meu colo e era só sua mãe te pegar no colo que você parava na mesma hora? – Ri da lembrança, enquanto chorava ainda mais.
- Eu queria me lembrar dela, Pai, por que eu não posso? Por que ela foi embora? – minha filha me abraçou mais apertado, enterrando sua cabeça em meu ombro.
- Ela não foi embora, , ela sempre esteve conosco. Aqui – apontei para seu coração, logo depois beijando sua testa – E para se lembrar dela, não precisa de muito, se olhe no espelho. Resolvido – Brinquei fazendo-a rir.
- Odeio quando me faz isso. – Ela comentou me afastando.
- O quê? – perguntei sorrindo.
- Faz piada quando eu to chorando, fico confusa e não sei se continuo chorando ou se rio. – Ela riu soltando mais algumas lágrimas por seus olhos.
- Isso é porque eu sou o melhor pai do mundo – Disse vendo fazer uma careta.
- Não se gabe tanto, Pai, por favor – Ela pediu me fazendo rir. Abracei-a forte, enquanto permitia que minhas lembranças voassem para um passado um pouco distante, mas muito, muito feliz.
Dezoito anos e eu jamais me casei novamente, nem sequer me interessei por mais nenhuma mulher, pois sei que nenhuma delas é como minha . Nunca ao menos pensei que poderia ter sido mais feliz com qualquer outra pessoa. De repente, aquele sentimento ardente e profundo me atingiu. Uma paz e um sentimento de tranquilidade tomaram conta de todo meu coração. Abri meus olhos ainda abraçando minha filha, observando as luzes dançarem à minha frente. Sorri, sabendo que novamente, como em todas as vezes que eu visitava aquele lugar, ela também estava ali, junto de mim, junto de nós, como ela realmente nunca havia saído.

, não posso dizer que tivemos todo o tempo do mundo para ficarmos juntos, mas sei que o tempo que tivemos foi o suficiente para que você se tornasse o meu mundo. Todas as lembranças e todos os momentos ficarão eternamente guardados em minha memória e em meu coração. Você fez de mim uma garota que não tinha nada para poder continuar e poder ter um final feliz, a mulher mais realizada de todo o universo. Você me deu amor, me deu carinho, me deu força, me deu esperanças que jamais pensei que poderia sequer ter algum dia. Você me trouxe a felicidade que eu sempre sonhei, mas que nunca pensei que poderia ter. Para você, eu era seu porto seguro, mas eu nunca serei metade do que você foi para mim. , você me deu uma família, uma filha maravilhosa e saudável, anos de extrema felicidade e amor. Você me fez ter forças para levantar todos os dias, superar obstáculos e realizar coisas que nunca pensei que conseguiria. Você foi meu herói, meu melhor amigo e o amor da minha vida e além dela. Continuou comigo até meu último suspiro, e eu nunca poderei te agradecer por tudo que fez por mim. A única coisa que posso te dizer agora é que te amo e que isso nunca irá mudar. Agora ou em outras vidas, eu sempre te amarei, não importa o que aconteça.
Te agradeço por cada risada, por cada momento, por cada instante que me fez sorrir e, principalmente, por me amar, ninguém jamais poderia me fazer feliz como você fez. Lembre-se sempre, meu amor, a vida e a morte não é o que separa quem nasceu pra ficar junto, e a eternidade apenas começou para nós dois. Todas as vezes que você ver aquelas lindas luzes brilharam no céu nas noites frias de outono, tenha certeza de que eu estarei com você.
Pra sempre sua... ”.


Nota da autora: Olá lindonas, tudo bem? Primeiramente MUITO obrigada por ter lido essa fic! E se você gostou ou já leu outra fic nossa, agora criamos um grupo no facebook \o/ o link está aqui ( https://www.facebook.com/groups/624756710986861/?fref=ts ) caso vocês queiram participar para conhecer as outras fictions ou mandar dicas e sugestoes <3 Beijos da Roby e da Mah
Nota da Beta e NÃO da Autora: Encontrou algum erro de script/html/português? Avise-me através deste e-mail ou pela ask. Não use a caixa de comentário com essa intenção. Obrigada.
Agradecimentos sobre a fiction? Somente com a autora!

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