Chasing Cars


Escrita por: Vickye S.
Betada por: Adriele Cavalcante




Seu cabelo laranja se envolvia com as luzes do sol da tarde e o sorriso doce nem pensava em sair de suas feições tão delicadas. Há muito tempo não a via tão feliz desse jeito desde, deixa. não ligava de estar sujando seu vestido peplum roxo, que acabara de usar no casamento da prima, de grama. Ela parava o mundo para me entender, e de preferência deitados, onde poderíamos descansar e pensar melhor, pelo menos era o que dizia. Toda vez me questionava porque ela tinha me escolhido para compartilhar a maravilha de conhecê-la, eu sou apenas o , o garoto cantador de músicas românticas bobas toda vez que vê um casal, com vontade de fazer a trilha sonora do namoro. Mas essa foi a última vez que a vi verdadeiramente inebriada de alegria. As últimas semanas da minha melhor amiga tinham sido difíceis, apesar de que daqui a nove meses eu conseguiria ver uma pequena se abrindo para um novo jardim, o problema é Jon; ele não pensava assim e a mandou interromper a gravidez. Eu nunca tinha visto a tão temerosa e insegura como no dia da revelação e ela me contou isso, era uma noite de sexta e estava sem permissão de saída. Enrosquei-me nas escadas do jeito mais delicado a fim de evitar o rugido estridente da madeira velha, tinha vindo por alguns dias até o solar de um conhecido enquanto pintavam a minha casa e havia interrompido a rotina de um jeito bom. Sabia da vontade de apenas observar as lonas iluminadas pelas luzes fosforescentes dando a sensação de ter a noite para esquecer o mundo e depois recordar daquele momento de felicidade plena. Acredito no fato da vida ser feita de momentos e sensações distintas, mas especiais. Notando uma sombra conhecida fui logo colocando e ligando o iPod nas músicas aleatórias, modéstia à parte, tenho um ótimo gosto musical.
"My eyes are no good blind without her
The way she moves,
I never doubt her
/when she talks,
She somehow creeps into my dreams.
"
Peguei sua mão direita e ela me acompanhou nos passos do ritmo da música. Nossa cadência ia diminuindo e senti o pequeno queixo sendo depositado para que eu pudesse afagar os longos fios. Percebi que ela estava chorando quando desabou de vez no piso. As cortinas começaram a se balançar ininterruptamente como se fossem um coração com batidas descompassadas implorando por ajuda, assim como . A garota pranteava com soluços altos e se encolhia cada vez mais como se estivesse definhando. Eu a fiz se aninhar em mim, tentando ganhar um tempo de pensar na resposta certa, normalmente apenas pedia conselhos, não os dava. Primeiro ao perguntar o motivo, ela deixou a mão deslizar a barriga com ternura e em seguida falou da posição do Jonh em relação a isso:
- Falou que não queria, mas eu quero . Eu quero. – A ruiva olhou nos meus olhos – Mas vai ser difícil. Eu não queria que crescesse sem o pai biológico, sei como o bebê vai se sentir.
- Vai ser uma barra mesmo, . Mas nós faremos tudo por nossa conta, não precisaremos de nada nem de ninguém.
Ela subiu um pouco e beijou minha testa.
- O pior é que ele disse que isso não mudava nada e depois soltou um eu te amo.
- Essas três palavras – Levantei três dedos e a garota os tocou – São ditas demais, elas não são suficientes. Eu não sei bem como dizer o que sinto em relação a você e ao .
- É só falar que você pararia o mundo por mim.
Dei de ombros.
- Preciso ver sua graça para lembrar a minha.
- Continue...
- Ele me falou em claras palavras – A minha amiga respirava fundo tentando interromper as lágrimas, custando a pararem – que eu estava sozinha. E eu ia permanecer sozinha.
De Baby blue eyes seguia para Torn, que tinha uma desgraça na letra. Praguejei e mudei rapidamente de música até uma leve seleção de piano solos.
- Você nunca vai estar sozinha – Falei, mas sabia sobre o que ela estava falando.
Aos seis anos, ouviu um barulho no andar de baixo da sua casa no meio da madrugada e ao descer viu sua mãe com muitas malas e as enfiando no porta-malas. Ela sempre olhava a menina que quando percebeu o acontecido implorava para ela continuar com a família, todos os apelos foram ignorados. Mesmo morrendo de frio, foi para fora da casa e perseguiu o carro até depois de ele se perder de vista. A última visão foi da mulher no banco da frente do Chevelle dando partida. A partir daquilo as coisas começaram a desandar, o pai dela iniciara uma série de crises de ansiedade, se recusava a ver a criança e acabou se enforcando no banheiro semanas depois. Passou por alguns orfanatos até chegar à família atual. Minha amiga me revelou que ainda corria atrás de carros imaginários e acordava chorando.
– Voltou a acontecer – declarou na segunda-feira seguinte no meio do meu banho de sol.
O primeiro ano da faculdade me deixava muito estressado, com mau-humor e consequentemente acabava descontando nos outros então decidi matar aquele dia de aula. Retirei o aviso de férias forçadas cobrindo o meu rosto, também conhecido como atestado médico recém-impresso. A garota me contou no caminho do trabalho - nós dois trabalhávamos meio período no consultório médico do meu pai – que ao ver uma Chevelle saiu correndo querendo parar o carro e se jogou na frente dele.
– As suas nunca mais voltaram, não é?
A ruiva me perguntava aquilo porque isso acontecia quando nos conhecemos a cerca de nove anos atrás numa sala de espera do psicólogo especializado em crianças com traumas de perdas extremamente próximas. Eu tinha meu próprio carro imaginário para perseguir. A história é essa: meu irmão cuidava de mim - meus pais rodavam o país trabalhando num cruzeiro - e a nossa relação como a de pai e filho. Numa terça estávamos atravessando a ponte do Brooklyn de carro, tinha acontecido um barulho grande e ele me falou que ia ver o que estava acontecendo. Fiquei quieto balançando a cabeça no banco de trás até ser interrompido por um barulho mais forte do que o primeiro, uma explosão no céu. Projetei-me pra fora do carro na rapidez da minha curiosidade. Os pedaços do que parecia ser um helicóptero caiam a todo o momento enquanto me escondia gritei repetidamente o nome de . Pude ouvir sua voz em um ponto da ponte respondendo “no Dogde verde” então ziguezagueei no meio dos diversos veículos de portas abertas e quanto mais andava mais distante o automóvel ficava. Uma mecha do cabelo preto cacheado encontrava-se cheio de sangue vindo da testa e abaixando o olhar percebi um pedaço da pá da hélice enterrada perto do seu peito.
– Esqueça-se do que foi dito antes de ficarmos muito velhos – ele falava sobre nossas constantes brigas apesar de tudo sempre se resolver – Confuso sobre como é errado – vinha na minha mente quando nossos pais iam nos visitar e diziam que tinha virado praticamente um pai para mim.
- ...
- Você sabe o quanto odeio esse nome - Sua voz foi um ruído fraco – Só sei que estas coisas nunca vão mudar.
Naquele dia seus olhos fecharam e nunca mais tornaram a abrir.
- Nunca mais – meus olhos estavam perdidos no nada e notei que tinha tido um flashback – Não, a sensação de estar ouvindo a explosão ou a voz dele. Sabe, eu sonho com ele às vezes, contudo é coisa boa. me encoraja a enfrentar meus medos.
Virei a placa na porta de vidro para indicar que o consultório estava aberto.
Eu vou começar a contar de hoje caso você tenha se perdido nas minhas idas e vindas do tempo. Forcei-me a ficar na frente do monitor para escrever algo que pudesse entregar quinta-feira. Conti minha raiva ao perceber que ainda não conseguia transferir nada para o papel. Adotei uma vida boêmia tentando ter inspiração, desperdicei dois dias de estudo me enfiando nas ruas mais escuras dos barros próximos e observando a paisagem da janela de um ônibus afim de alguma ideia brotasse. “Open your eyes” tocava pela terceira vez seguida enquanto o visor avisava a ligação de e apertei o botão da lateral para rejeitar a ligação, ela sempre fazia isso quando compunha achei justo eu também ter esse direito. Os acordes iniciais da nossa canção preferida de Snow Patrol soam mais uma vez e tinha decido a repreender minha melhor amiga ao atender, porém ao invés dela outra pessoa falou:
- ? – uma voz masculina indagou.
- Sim. – Respondi confuso - Como sabe o meu nome?
- Você conhece ?
- Conheço.
- Você é da família?
Minha impressão que isso não ia ser uma notícia das melhores, talvez a tenha sido presa por distribuir panfletos naqueles eventos ativistas que ela sempre frequentava.
- Ela é minha prima – menti.
- Bem, encontramos sua foto na carteira da – ouvi o homem limpar a garganta – Junto com o seu corpo na Sentence Highway. Lamento em dizer que sua prima faleceu.
O celular foi de encontro com o chão como um baque surdo. Peguei as chaves da picape do meu pai mesmo sem sabendo dirigir direito, comecei a rota em disparada não ligando para a chance de me envolver em um acidente. “Poderia ser outra pessoa, a sempre esquece as coisas com os outros. Não é ela, não pode ser ela” minha cabeça repetia a cada segundo, mas ao descer do carro vi que era verdade. A minha melhor amiga estirada no chão da estrada perto de um Chevelle amassado no acostamento, eu sabia exatamente o que tinha acontecido. Observei seus olhos verdes, olhos perfeitos que ainda me mostravam tudo que eu sou, já fui e tudo que consigo ver. Ignorei tudo o que todos diziam ao meu redor e me deitei no chão ao seu lado.
Se eu pararia o mundo por você, ? Com toda a certeza.

FIM





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