Fanfic finalizada.

Prólogo

A gente sempre acaba nessas bagunças da vida. Sempre. Você pode até se achar perfeita, que seu pum não fede ou que não tem mal hálito de manhã. Faz yoga, é vegana, toma tudo livre de lactose, frutose, soja, aveia, felicidade.
Mas, meu bem, desculpe frustrar suas tão belas e inocentes convicções: Um dia, você vai encontrar o problema. Ou então, o problema vai te encontrar.
E foi assim, por mais certa que eu pudesse achar estar, que eu enfiei o pé nessa grande e fedida jaca. Mas quer saber? Eu não me arrependo de nada.


•••



Se perguntassem a ela o que lhe passou pela cabeça quando resolveu aceitar o convite de Kennedy para saírem beber com alguns amigos, talvez não houvesse resposta além do som dos grilos. Pois até ela mesma se perguntava como podia se deixar usar dessa maneira.
, ou como a chamavam, era uma garota adorável nos auges dos vinte e dois anos. Não era muito alta, mas também não poderia ser chamada de baixinha. Só de magrela, como seu irmão a chamava. Seus olhos eram de um tom verde estranho, quase felino, que ela fazia questão de destacar com a máscara para cílios.
A desistência da faculdade logo no primeiro ano a fez voltar a morar com os pais em Chandler, e com a ajuda de seu pai conseguiu um emprego aceitável na livraria de um amigo do mesmo. Muito embora livros não fossem seu hobby favorito, uma vez que era ativa demais para conseguir ficar parada em um só lugar lendo, mas a Borralhos era um lugar ‘ok’.
Seu lance com Kennedy era algo que vinha da bagagem do final do ensino médio. Ele era sua grande paixão e ela, no entanto, poderia ser desenhada como uma grande boneca inflável para as noites em que ele não conseguia se dar bem nas baladas. Contudo, a garota havia conquistados seus amigos de um jeito que nem ela conseguia entender, transformando-os em uma grande e idiota família.
A parte engraçada é que no fundo de sua mente tão feminista, condenava garotas, que assim como ela, se deixavam passar por objeto só para um dia, quem sabe, conquistar aquele tão almejado cara. Entretanto, tinha consciência de que seria mais fácil se candidatar a presidente do que isso acontecer, mas simplesmente não conseguia largar o osso. Era um ciclo interminável de choro, dedos em riste e sexo no carro. Não importa quantas loiras, ruivas ou morenas ele esfregasse no seu nariz... Na manhã seguinte, ele seria perdoado.

Mas, talvez, não aquela noite.

Poderia ser só sua mente lhe pregando uma peça, ou então de fato, sua Stella Artois estava amarga demais em sua língua. Ou o ódio que corria como ácido em suas veias estivesse lhe dando aquele gosto ruim na boca. Amarga. Como ela queria que a boca dele estivesse enquanto ocupado com aquela “uma”.
Estava determinada a fazer aquele joguinho de sedução que perdurava havia anos pender para o seu lado. Afinal de contas, Kennedy era, sim, o seu homem, só faltava ele oficializar toda aquela angustiante situação. E foi com esse pensamento que ela agarrou sua bolsinha e saiu para fumar. Ou tentou, até esbarrar com um já bêbado John, um dos amigos de Kennedy, o qual a garota não era lá muito fã.
- Olha por onde anda, O’Callaghan. – disse seca, continuando seu caminho com a intenção de deixa-lo para trás. Só que ele a seguiu, resmungando coisas inteligíveis para ela, já que se encontrava fugindo dele. Parou logo no limite do fumodromo e então se virou para ele novamente, raivosa. – Tá me seguindo exatamente por que, querido?
O rapaz era loiro, alto e magro demais. Com tatuagens demais. Olhos verdes demais. E irritante demais para que pudesse aguenta-lo sendo o completo babaca que geralmente era com ela. Só que naquele momento, do lado de fora do clube, embriagado e com frio, ele pareceu ponderar antes de ser rude sem motivos com a moça a sua frente. Apenas a encarou com os olhos terrivelmente verdes e entortou a boca, deixando passar por ela palavras, metaforicamente, vomitadas.
- Preciso da sua ajuda. – disse, simplesmente.
- Perdão? - não pode evitar o choque que lhe acometeu ao ouvir aquilo. Quando, em um milhão de anos, ouviria aquilo sair da boca do cara que colocava constantemente pimenta na sua pizza? - Eu ouvi direito? Será que é comigo? Quanta tequila você tomou, John?

Estava ocupada demais gargalhando e convulsionando com a graça da piada interna que ao menos percebeu a seriedade do rapaz. Não que aquilo pudesse significar alguma coisa, uma vez que John era mesmo um bêbado calado.
- Já acabou? – perguntou após a ver secar os olhos, dramaticamente.
- Manda ver.
John estava sério até demais, os olhos semicerrados e os braços cruzados na altura do peito. Estalou os lábios e deu uma espiadela para dentro do clube antes de voltar sua atenção a loira a sua frente.
- Sei que não somos melhores amigos...
- Nem somos amigos, em todo caso. – cortou-o em um muxoxo.
- Que seja, nem somos amigos, mas você é uma garota e você é a foda fixa do Kennedy. – pausa para a absorção do tamanho absurdo jogado contra sua cara. – Sem querer ofender, claro.
Mas já ofendendo ”, não pode deixar de completar mentalmente.
- O que eu quero dizer é que... Você conhece a Sienna, minha ex. Loira, peituda, gostosa, boquete maravilhoso? – a garota assentiu, um pouco enojada com a quantidade de detalhes desnecessários sobre a mulher – Eu já não sei mais o que faço para conseguir ela de volta. Já mandei até flores, bombons. Estou a ponto de mandar uma tele-mensagem para ela.
- Nesse caso você quer que ela se mude para o Canadá, não é? – disse mais para si mesma do que para ele – Puta coisa de psicopata isso.
- Não muito diferente do que você e o Kenny fazem.
Opa. Opa. Opa.
Foi tudo que a mente de gritou. Um grande sinal vermelho pendurado sobre sua cabeça. O que diabos estava acontecendo ali? John O’Callaghan estava mesmo insinuando que seu longo e turbulento relacionamento com Kennedy era algo semelhante ao doentio e psicopático que ele mantinha com Sienna? Porque se fosse, era bom ser brincadeira.
- Desculpe te dizer isso assim, mas ela não vai voltar pra você assim, John. Você já é um jogo ganho, não representa nenhum desafio pra ela. Pra que ela vai querer voltar para um lugar da onde já conseguiu tudo o que queria? – disse dando ombros, sem parar para realmente analisar suas palavras.
- Você ao menos se escutou falar? Já pensou em usar seus conselhos em si mesma?
- E com isso você quer dizer... – perguntou assoprando a fumaça do cigarro para longe.
- Que você, querida , sou eu. E é por isso que é exatamente de você que eu quero ajuda. – John roubou o cigarro de seus dedos, dando uma tragada para então continuar seu monologo – Eu vejo o quanto você se desgasta com os constantes rompantes sexuais que nosso amigo Brock tem, nem todos contigo. Eu sei o que é você ver alguém que deveria ser seu trocando saliva com outro alguém.
- E?
- E nós podemos mostrar pra eles que eles estão errados achando que nós voltamos sempre que eles estalarem os dedos.
- Mas nós voltamos.
- Que seja, . O que eu quero te propor é simples: finja que está comigo para fazermos Sienna e Kennedy sentirem na pele o que é estar em segundo plano. – sua expressão era meio maníaca, com um sorriso enorme no rosto. Esperançoso era uma palavra a ser arriscada no momento.
E tudo que ouviu em resposta foi a gargalhada divertida de , que chegou a chorar de rir. Por longos minutos foi tudo que ele ouviu: ela rir, bater na própria coxa, resmungar entre risos algo como “que otário” e afins. Então, ela finalmente parou, ficando séria de repente.
- Espera, isso é sério?
Ele nada disse, apenas a olhou entediado e acenou positivamente, o que fez com que ela ficasse na ponta dos pés, puxando o rosto oval do rapaz para perto do seu. O movimente inesperado fez com que John arfasse e fechasse os olhos a espera do possível beijo. Que nunca veio.
cheirou a boca do loiro, como quem procura algum resíduo de droga pesada ou bebida alcoólica de mendigo. Quando percebeu que o mesmo só fedia a cerveja, riu sem humor e o soltou.
- Amanhã, depois que a sua ressaca passar nós vamos conversar e bem sério. E é bom que isso não seja mais uma das suas brincadeiras idiotas. – estava genuinamente interessada na proposta estupida e infantil de John, não podia negar. Mas também não poderia negar o pé atrás que ele a mantinha.
- Espera. Isso é um sim? – gritou ao ver ela se afastar, voltando para dentro do clube.
- Isso é um: vamos ver que merda é essa. – ela só riu e voltar a dar-lhe as costas.


Capítulo 1 - Mostre a todos que há vida após "ele"

Estava dolorida demais, o tapete embaixo de si a pinicava na barriga e na bochecha. O mundo estava girando mais rápido que o normal, e o cheiro de comida que vinha da vizinha a estava deixando mais que enjoada. E mesmo com todos aqueles incômodos a afligindo, poderia dizer que não se levantaria dali antes da hora de ir para a cama, não fosse a campainha tocando tão alta.
E foi só nesse momento que ela amaldiçoou os pais por viverem viajando. Seria pedir demais alguém ir atender a porta enquanto ela curtia a ressaca no tapete da sala? Mas não, teve que se levantar e seguir até o saguão enrolada na manta do sofá, uma vez que perdera o vestido da noite anterior em algum lugar da casa. Ficar na ponta dos pés não foi tão estranho quanto ver a figura loira de sobretudo de John parada a frente de sua porta com sua usual cara de idiota, fazendo uma única pergunta correr desenfreada por sua mente: o que aquele esquisito estava fazendo ali?
É mesmo. Aquele papo estranho de plano de Scooby-Doo para trazer Kennedy definitivamente para o aconchego de seus braços.
Abriu a porta sem se importar em parecer uma louca descabelada que tinha rímel escorrido nos olhos e estava enrolada em uma manta mexicana de sofá. Não deu bom dia, nem sorrisos amigos, apenas deu um passo para o lado e indicou que o rapaz poderia entrar.
- Bom dia pra você também, luz do dia. – John disse ao jogar-se sobre o sofá sem qualquer cerimonia, esticando os pés sobre o mesmo e entrelaçando as mãos atrás da sua cabeça, observando que mantinha o ar emburrado.
- Cala boca e tira o pé do sofá, seu sem educação. – disse ao afastar os all star do garoto do estofado, lhe dando as costas em seguida para subir a escada – Vou tomar um banho, não mexa em nada. – gritou já no alto.


Foram os quinze minutos mais demorados de toda sua vida, pensava John, enquanto olhava pela centésima vez a mesma foto da mãe de com a garota no colo em um parque. Quando ela finalmente desceu, ele se pôs em pé em um pulo e lhe lançou um olhar sarcástico de quem diz “não adianta demorar, porque não vai conseguir melhorar nada aí”. Ela fingiu não ligar, apenas deu ombros e alcançou a bolsa que estava jogada sobre o vaso de chaves.
- Antes de conversamos, eu vou precisar de um café. – explicou enquanto procurava sua chave do carro e arrastava o rapaz para fora.
Não trocaram nenhuma palavra pelo caminho, nem o som do carro foi ligado. Só Deus sabia a dor de cabeça infernal que aquela garota estava. Tudo o que precisava era de um café enorme com muito açúcar, algo bem gorduroso e com chocolate para comer e então, quem sabe, ter uma conversa de gente grande com O’Callaghan, por isso se manteve em silencio até seu pedido chegar.
- Você come como um javali. – apontou o rapaz com tom enojado.
- Foda-se.
- Que boca suja pra uma mocinha. – provocou.
- Foda-se, pai. – disse levantando o dedo do meio para ele, que riu. – Ok, já podemos conversar.

John se recostou em sua cadeira e bebericou de sua bebida, observando o rosto passível da moça a sua frente. Se conheciam há tanto tempo e mesmo assim não sabiam quase nada um do outro, só faziam piadas idiotas um do outro ou se alfinetavam por motivos bobos. Eram crianças, praticamente. E mesmo assim já passavam poucas e boas nas mãos de pessoas que não sabiam corresponder sentimentos. Foi ali, sentando frente a ela que soube que era hora dos dois se redimirem consigo mesmos e se ajudarem. Eles teriam seus idiotas de volta.
- É uma coisa simples, . Tanto Kenny quanto Sienna não tem pena alguma de pisarem em nós. Eles vão em frente, trocam de casos e no fim da noite eles voltam do ponto de partida. – evitava olhar em seus olhos e algo o dizia que a verdade que ele pronunciava a machucava. – Talvez, desse jeito estúpido, eles gostem de nós. Não sei quanto a você, mas eu amo a Sienna e eu vou tê-la novamente. E se você amar o Kennedy também, vou te ajudar a trazê-lo para seu lado. Porque eles podem não ser o que merecemos, mas é do que gostamos. Eu acho. – seu discurso era inflamado, tinha até adotado uma postura otimista. – O que me diz, ?
O silêncio durou por quase dois minutos enquanto a garota encarava a xicara de café com tanto afinco. O suspiro que se seguiu foi tudo que John precisava ouvir:
- Eu o amo, sim.

Lá estava novamente o sorriso do Coringa preso no rosto do loiro. Nada como a felicidade de matar dois coelhos com uma cajadada só. Alcançou a mão de sobre a mesa e a fez olhar em seus olhos.
- Confia em mim. Não somos muito amigos, eu sei. Mas, confia em mim e até o fim do mês nós dois vamos ser pessoas comprometidas.
- É bom ser verdade, John. Me sinto patética me agarrando a você como minha ultima esperança de ter o Kennedy.
Novamente, ele riu. Mas não pelo teor de suas palavras e sim por ver Donna e Pat entrando na cafeteria em que se encontravam. Fingiu não os ver e entrelaçou seus dedos nos de o mais rápido que pode. A garota bem que tentou puxar a mão de volta em um gesto de pura repulsa, mas o loiro abanou a cabeça negativamente, sussurrando um breve “nosso plano começa agora”.
Bem que tentou fazer um “hã”, mas quando se deu conta, Donna, sua amiga, já estava ao seu lado com um sorriso suspeito no rosto, os olhos grudados no tampo da mesa onde sua mão e a de John estavam enroscadas. Mais que rápido a puxou de volta, com as bochechas vermelhas.
- Oi, Donna. Oi Pat. – tentou dizer em meio a gaguejos envergonhados, enquanto John só ria a sua frente. – Querem... Sentar?
- Na verdade, não. Senti que atrapalhamos algo por aqui. – disse a garota de cabelos curtos e ruivos ainda com o sorriso maldoso no rosto. Oh, elas teriam tanto para conversar de noite.
- Não atrapalharam nada. – John abanou o ar, e puxou uma cadeira para um deles sentar – Só estávamos conversando um pouco.
- Vocês? Conversando? - foi a vez de Pat soar cético e maldoso, sentando na cadeira que o amigo lhe oferecera – Não acho que possa ficar mais estranho depois de ver vocês de mãos dadas.
Como se fosse humanamente possível, conseguiu ficar ainda mais vermelha. Nunca se sentira tão constrangida na vida, além de ser uma péssima atriz para ter que fingir ter algo com O’Callaghan. Ela travou, não soltava uma só palavra, só um sorriso amarelo que soou mais como um gemido de dor. Estava passando as rédeas da atuação para o rapaz. Permanentemente. Pois sabia que ia estragar aquela merda muito fácil.

- Preciso ir ao banheiro. – foi a primeira coisa que lhe correu a mente quando destravou. Levantou-se tão rápido que quase levou a pequena mesa junto. – Com licença.
Oh meu Deus. Oh meu Deus. Que vergonha absurda. Pat e Donna agora achavam que ela realmente estava transando com John escondido. Pelos céus, que plano maldito ela tinha se enfiado. Kennedy não iria a querer mais depois que soubesse. Ou iria?
Marchou até o banheiro tão depressa que mal percebeu a presença da amiga em suas costas, rindo até demais. A observou pelo espelho, depois de jogar um pouco de água em seu rosto. Sentia-se tão estupida por não conseguir ser uma boa mentirosa.
- Então, você e John... De mãozinhas dadas no café. Isso sim é inesperado, a. – Donna se apoiava contra a pia do banheiro, deixando o quadril magro e proeminente saltar a sua frente. Ela era tão magra que às vezes dava medo.
- Não é isso que você está pensando, por favor. – queria ser dessas garotas que conseguem formular respostas rápidas, mas sempre soava estupida. Respondeu mesmo assim, afinal isso é estar na defensiva - Ele foi... Pegar o guardanapo, mas eu já... Estava pegando. Aí ele esbarrou na minha mão. E só.
Os olhos azuis da ruiva se estreitaram em desconfiança, mas resolveu deixar toda a mentira deslavada, mesmo que descontextualizada para a mesma, de lado e riu em cumplicidade.
- Já era hora de seguir em frente. Mas não vou te pressionar, você vai me contar quando quiser.
- Não há nada pra contar, D.
- Há sim! Ele é grande? - disse no tom mais sacana que conseguiu reproduzir.
Pervertida!,pensou sem segurar o riso.
- Por Deus, Donna. Como eu vou saber disso?
As duas voltaram à mesa com risinhos abafados. Agora o estrago já estava feito, os dados já estavam rolando e ambos sabiam disso. A partir do momento que saíssem dali, Pat e Donna iriam espalhar o que viram para todos os amigos. Logo, Kennedy e Sienna saberiam. Logo, o plano realmente começaria a andar.
John piscou para a loira que lhe devolveu um sorriso sem graça, pegando sua bolsa em cima da cadeira junto com seu casaco de couro.
- Já tenho que ir. Tenho milhões de livros para dar baixa naquela bendita livraria. – disse em um suspiro dramático. – Quer uma carona para voltar?


Capítulo 2 - Você já mostrou quem é que manda hoje?

Ela até que aceitou bem o fato de fingir ter um encontro com John naquela noite no Artie’s, um barzinho de gente estranha, onde ele tocaria. Sem contar que Kenny estaria lá e pela primeira vez em anos, ela não seria a idiota que acabaria a noite sozinha jogando Pou no celular.
Estava se olhando no espelho fazia quase meia hora, observando a saia de cós alto preta e larga, a meia calça de renda escondendo as pernas branquelas. Subiu os olhos ao encontro da cropped escrita com um grande “fuck” disfarçado no meio de um símbolo da Chanel. Estava em duvida entre uma jaqueta Varsity ou uma de couro para jogar por cima, mas sabia que independente da escolha estava linda e alta sobre as ankle boots de couro preto. É, estava linda e queria que Kennedy engasgasse com a baba ao vê-la entrar naquele bar.
A buzina soou alto o suficiente do lado de fora para que agarrasse sua bolsa de tachinhas e a jaqueta Varsity preta e branca que estava jogada sobre a cama e voasse até a porta da entrada. John ainda buzinava em algum ritmo estupido só para provocá-la, o que a obrigou a dar um tapa em sua cabeça logo após entrar no carro. O rapaz estava perfumado, vestido com uma blusa de algodão azul, um casaco por cima e uma calça jeans. Estava normal. E normal no vocabulário de dedicado a John, queria dizer “gato”.
- Boa noite, bonita. – disse em meio aos risos, animado ao ver a ansiedade nos olhos de . Não houve resposta, não que ele esperasse, apenas deixou o carro em movimento e tornou a falar. – Relaxa, vai dar tudo certo.
Revirou os olhos, não conseguiu conter a lufada de ar que fugiu de seus lábios. Não sabia dizer se estava nervosa que esse plano ridículo desse errado ou que Kennedy a fizesse cair na dele facilmente como sempre. Mesmo tendo conversado com John na tarde anterior enquanto voltavam da cafeteria e ele tendo dado os detalhes mais minuciosos do plano que ele denominou “Trazer nossos idiotas”. Ela riu ao ele ter se referido a eles como “idiotas” quando eles eram os idiotas ali.
- Por que mesmo eu não podia ir no meu carro? - disse a garota enquanto desligava o som do carro que tocava uma musica um tanto estranha.
- Porque você, possivelmente, passou a tarde toda rolando nos meus lençóis do Batman. – disse ao estacionar o carro uma esquina antes do bar, que parecia estar lotado. Virou-se para a garota ao seu lado enquanto puxava o cinto de segurança e ignorou a cara de choque da mesma perante suas palavras. – Lembre-se que nós somos namoradinhos e que a missão de hoje é mostrar pro Kenny e para Siena que não vamos terminar a noite sozinhos. Nada de olhadas longas e apaixonadas para ele. Nada de esbarrões “sem querer” – fez aspas no ar -, hoje você é minha.
deu uma risada abafada e saiu do carro sendo seguida pelo rapaz. Bateu a porta e contornou o carro a seu encontro. John por sua vez a puxou para seu lado, segurando-a pelo ombro enquanto iam a caminho do bar.
- Aposto que esse é seu maior sonho se tornando realidade.
- Pode apostar, meu maior sonho sempre foi comer a magrela do Kennedy.
- Que ofensivo, O’Callaghan. Ofensivo. – disse em falsa repreensão. – Pois saiba que um dos meus sonhos sempre foi ganhar uma girafa... Agora olhe o que eu tenho ao meu lado! Sonhos podem, sim, virar realidade.
Ele gargalhou e lhe beliscou em repreensão, tendo como resposta um sonoro “ai” da loira. E apesar das provocações entraram sorrindo e abraçados no bar, recebendo olhares curiosos e, talvez um tanto, desacreditados dos amigos que se encontravam reunidos em uma mesa no canto.
Um olá geral bastou como cumprimento. John sentou-se ao lado de de forma displicente, com a mão acidentalmente sobre sua coxa e direcionando a mesma um sorriso engraçado. E nada daquele clima passava despercebido aos olhos do moreno sentado do outro lado da mesa que mantinha os braços cruzados e os olhos sobre , o que a deixava constrangida.
Depois de uma cerveja ou duas, John se levantou pra ir começar sua apresentação, beijou a testa da garota e se foi.
Era estranho a sensação de ter todos aqueles pares de olhos sobre si. Donna a encarava com os olhos azuis e risonhos, as mãos cruzadas embaixo do queixo incitando que ela dissesse algo logo. Pat, Jared, Stela e Alicia. Todos com aqueles enormes olhos que se pudessem diriam “hm, hm, hm” enquanto a cutucavam na cintura provocativos.
- Que foi, seus esquisitos? - disse querendo não parecer sem graça. Mataria John por deixa-la na boca dos lobos, sozinha. Ainda mais com Kennedy a olhando tão fixamente com aquela cara estranha. E com Donna que logo perguntaria mais sobre os tamanhos do O’Callaghan.
- Nada. – disse a ruiva a sua frente, dando ombros, mas ainda com a expressão engraçada presa no rosto, assim como o riso preso na garganta.
- Eu sei que vocês querem tirar sarro, então, podem mandar ver. – entornou um gole de sua garrafa logo após falar, só conseguindo escutar o grupo explodindo em risadas e sonoros “eu não acredito” com silabas gritadas e estendidas, só para chamarem mais atenção ainda.
John, que já estava se apresentado, teve que dar uma olhada para a mesa em que antes estava sentado, observando recebendo as risadas intermináveis e piadinhas sem graça dos amigos. Sorriu enquanto cantava vendo o semblante sem graça da garota, tão graciosa escondendo o rosto de todos que a olhavam. Não podia entender como Kenny a tratava como um nada enquanto a mesma o endeusava de um jeito incrível. Se fosse ele, nunca permitiria que uma garota como aquela escorregasse por entre seus dedos como ele estava fazendo com . Mas não podia negar que o olhar ciumento nos olhos do amigo assim que os viu entrando abraçados não era o de alguém que iria deixar sua maior conquista fugir assim tão rápido. E como quem não perde um segundo, viu Brock se mover para a cadeira em que antes ocupava, esticando o braço no apoio das costas da loira. Rezou internamente para que se lembrasse de todas as diretrizes que ele havia lhe dito.
- Então, você saindo com John. - disse Kennedy próximo a seu ouvido fazendo-se escutar sobre a música de John. – Quando pretendia me contar?
Quase se engasgou com a bebida que tomava quando ouviu-o. O que era pra ela fazer mesmo? O que foram todas as coisas que John tinha dito? Oh meu Deus, o perfume de Kennedy deveria ter alguma coisa que a fazia esquecer todas as coisas ao seu redor. Virou-se lentamente para ele com um sorriso forçado preso no rosto. Lembrou-se de todas aquelas moças de vestido curto em que aquela mão que pendia inocentemente sobre seu ombro passeou; assim como o que seu comparsa de crime tinha lhe dito: Não caia na lábia do Kennedy.
- Quando fosse conveniente. – disse suavemente, como quem fala com uma criança.
O rapaz não pode negar o choque que lhe tomou. Desde quando ficava lhe escondendo as coisas? Era sua garota. Sempre foi e sempre seria. Não tinha o menor direito de sair por aí saindo abraçada com o primeiro par de calças que surgisse na frente. Principalmente se o par de calças fosse um amigo seu.
- Eu achei que nós tínhamos algo. – falou sem se preocupar em soar rude, tirando o braço de trás dela.
- É, eu também achei. – disse ultrajada. – Mas ao que me consta você nunca se preocupou em seguir em frente. Achei que não fosse se importar se eu fizesse o mesmo.
- Você nunca se incomodou com isso, .
O tom de voz alto do rapaz chamou a atenção dos amigos na mesa. Stela parecia congelada com a cerveja a caminho da boca, olhando a discussão com a mesma cara embasbaca de Donna. Jared até fez menção de interromper, mas Donna o ameaçou com o olhar.
- Eu nunca... O que? Olha, aqui não é hora nem lugar pra lavar roupa suja. E sinto ser a pessoa que vai lhe informar que o mundo continua girando mesmo sem você. – disse a garota se levantando, irritada pela ousadia do rapaz. – Agora se você me der licença vou comprar alguma coisa para beber.
Ela saiu na maior pose de “nem ligo pra você” que conseguiu. E apesar de se sentir ultrajada pelas palavras de Brock, ela mal podia esperar pela oportunidade de ficar sozinha e comemorar o ciúmes do rapaz com pulos e gritos. Enfim, conseguira arrancar alguma reação do rapaz que não fossem gemidos no fim da noite sem sorte dele. Encostou-se no bar, tamborilando os dedos no tampo do balcão, esperando pela boa vontade do atendente lhe trazer a cerveja. Não conseguia tirar o sorriso vitorioso do rosto, queria tanto contar seu pequeno progresso para John. Olhava-o de longe, tão concentrado tocando uma música lenta de olhos fechados. Percebia o esforço do rapaz para deixar de ser rude com ela, nos últimos dias vinha se tornando uma companhia tão agradável que nem parecia o mesmo John que tinha desenhado vários pintos em seu rosto uma vez que pegou no sono no sofá de Donna de tão bêbada. Talvez, e só talvez, ele não fosse o completo babaca que ela achava.
Terminou sua cerveja, torcendo para que a apresentação do rapaz terminasse logo e eles pudessem conversar. Encontrou-se apertada para ir ao banheiro, mas de algum modo não conseguia tirar os olhos do amigo no palco, ele era fascinante quando empolgado com a música. Mas ouvia a voz de Stela soar ao longe na sua mente dizendo que “não pode segurar xixi que faz mal”, então desistiu de observá-lo e foi ao banheiro.
E foi só depois de lavar as mãos que se deu conta que havia mais alguém no banheiro.
Mas que droga, foi tudo que sua mente rosnou, ao observar Kennedy no reflexo do espelho apoiado na porta que estava fechada. Sentiu-se encurralada quando ele caminhou em sua direção. Uma vez ela conseguia escapar de Kenny, mas duas... Duas era pedir demais, ainda mais quando ele estava tão cheiroso e atrativo com aquela barba por fazer.
- Eu queria pedir desculpas por àquela hora, na mesa. – disse se aproximando da loira que estava encostada de costas na pia, olhando-o um tanto assustada. - Não tive a intenção de soar possessivo ou de dizer que estive certo em te deixar de lado por muitas vezes. Eu só... Fiquei incomodado por te ver com outro cara, assim do nada. – disse por fim, parando em sua frente, as mãos no bolso da calça e a maior cara de cachorro sem dono do mundo.
- Tudo bem, eu não ligo.
- Mas eu ligo, . – Kenny tirou as mãos de bolso e enroscou de leve nos cabelos platinados da garota, segurando sua nuca de modo que ela não tivesse como escapar do seu olhar incisivo. – Você pode até achar que não, mas eu ligo. Afinal de contas, você sempre foi a minha garota.
- As coisas mudam, Kenny. – disse tentando soar firme sobre aqueles olhos que lhe pareciam tão apaixonados e enciumados.
- Eu sei. As coisas mudam, mas nós nunca vamos mudar. Eu estou aqui agora e não vou te trocar por ninguém essa noite.
- E amanhã? - sua voz saiu acusadora, um tanto enraivecida. – Amanhã você vai me trocar por alguém, como sempre.
- Não vou. – foi tudo que sussurrou antes de aproximar os lábios dos dela.
Congelada. Era como se sentia entre a pia e Kennedy. Ele estava tão próximo de beija-la e ela queria tanto aquilo. Pensou seriamente em mandar um foda-se para o plano maléfico do amigo e voltar para os braços do amado. Quando seus lábios foram tocados pelos dele sentiu seus olhos semi-cerrarem e as pernas tremerem. Sensações já tão conhecidas.
Estava quase dando passagem para sua língua quando a voz de John soou tão clara em sua mente: “nós podemos mostrar pra eles que eles estão errados achando que nós voltamos sempre que eles estalarem os dedos”. Droga, ele estava certo, ela não podia voltar pra ele só em um estalar de dedos. E com uma força sobrehumana afastou Kennedy de si, correndo porta a fora um tanto zonza.
Esbarrou em umas duas pessoas, desconcertada demais para pedir desculpas, até encontrar John ao lado do bar e agarrar seu braço. O rapaz a olhou assustado, estava pálida demais, como se tivesse visto um fantasma.
- O que foi que te aconteceu, mulher? - disse largando sua cerveja no balcão.
- Kennedy aconteceu. Me seguiu até o banheiro e tentou me beijar.
Ele até que tentou reprimir a pontada de ciúme que sentiu, mas não conseguiu. Embora satisfeito com o rumo que o plano estava tomando, não sentiu-se confortável ao imaginar a namorada postiça nos braços de outro marmanjo.
- E você fez o que?
- Fugi. Saí correndo e deixei ele lá com cara de idiota. – confidenciou – Entrei em pânico, John. Ele ficava falando coisas como “você é minha garota” e sendo lindo. Argh. Quase estraguei tudo.
Ela continuou tagarelando até o amigo rir e manda-la voltar a se sentar com o resto do grupo, ele logo voltaria a se juntar com eles, só precisava tocar uma ultima música e já contornaria a situação. Fez o que ele disse, mesmo com algo gritando em seu intimo que aquilo iria dar merda ao avistar Sienna, toda linda e loira sentada na mesa com os amigos. O único lugar vago era ao seu lado. Aquela, definitivamente seria uma longa noite. Não que não gostasse da garota, pois saiam sempre juntas com as meninas para fazer coisas juntas, mas ela tinha aquela cara de garota mimada que te deixa enjoado por não ter cabelos sedosos como o dela.
John subiu no pequeno palco do Artie’s, vestiu a alça do violão no ombro e olhou carismático para as pessoas nas mesas. Limpou a garganta, soando alto no microfone e fazendo as pessoas se silenciarem para prestarem atenção nele.
- Essa é a minha ultima da noite, é uma composição minha e eu queria dedicar ela para uma garota que está aqui hoje. Espero que você goste, essa se chama WhenI’mat Home.
E então o som do violão começou a soar pela casa. Sienna tinha o corpo totalmente virado para o palco, o sorriso convencido no rosto como quem diz “nunca vai me superar”. Já tinha o cotovelo sobre a mesa e cabeça sobre a mão, revirava os olhos conforme a letra ia saindo da boca do loiro, mal conseguia acreditar que ele estava cantando uma música para a ex. Poderia alguém ser mais patético? A música terminou, os aplausos soaram e então ele agradeceu e deu a vez para outro cantor. Saiu sorridente cumprimentando todos que lhe estendiam a mão e diziam que ele tinha um talento imensurável. Mas de algum modo ele não conseguia tirar os olhos da mesa em que seus amigos estavam. Viu a ex-namorada sentada logo ao lado de e não pensou duas vezes em ir até elas. Kennedy já havia voltado a mesa e lhe direcionava um olhar predador a cada passo que dava em direção a , que estava conversando com Stela.
Sem pensar nas consequências, John adentrou o espaço entre as duas e puxou a loira pela nuca levemente, selando seus lábios com urgência.
estava chocada, estava falando sobre como Hugh Jackman era delicioso e de repente a boca de John estava colada na sua, seus dedos embrenhados em seus cabelos, puxando-os de leve como quem ordena uma atitude. Sua reação automática foi colocar a mão sobre o rosto do garoto e abrir passagem para que ele pudesse beija-la com mais afinco. Sentiu-se estranha por estar gostando do beijo, do jeito como John sorria entre ele e como acariciava seus cabelos. Foi tudo tão rápido e logo ele estava lhe dando um selinho para se afastar. Não conseguiu evitar olha-lo embasbacada, imitando o sorriso que estava no rosto do mesmo.
- E aí, gostou da música que te dediquei? - disse sorridente para a garota que arregalou os olhos.
A música era para ela então.
- Eu... Eu... – gaguejou sem graça, odiava ficar embaraçada tão fácil – Eu achei adorável. Uma graça, para falar bem a verdade. – tentou não soar tão sarcástica quanto deveria.
- Ótimo. Então agora nós já podíamos ir zarpando, estou tão cansado. – e lá estava a droga da carinha de cachorro a olhando com aqueles olhos verdes pidonhos. Sua vontade era de mandar ele se catar e continuar conversando com as amigas, aproveitando os olhares latentes de Kennedy – que parecia ter evaporado da mesa naquele momento.
Abanou a cabeça em concordância e despediu-se dos amigos enquanto seu acompanhante ia pagar sua parte da conta. Afinal, mesmo sendo de mentira, ele era seu namoradinho e tinha que fazer boa impressão. Quando o mesmo voltou agarrou sua bolsa e seguiram de braços dados até a porta.
Talvez eles tenham até tentado, mas no fim explodiram em risos. Afinal, alguém tinha percebido o ciúme liquido nos olhos de Sienna e Kennedy? Aquele plano, por fim, parecia estar dando algum resultado.


Capítulo 3 - Querida, sua agenda é sempre cheia. Sempre.

Quando se é jovem, tem essa coisa de ser normal seu celular tocar umas trinta vezes por dia, você ser super requisitada e popular. Mas, com aquela tal garota dos cabelos platinados as coisas nunca foram normais. Seu celular tocava no máximo duas vezes por dia. Uma era sua mãe lembrando que, assim como ela, seu cachorro também comia, bebia e queria dar umas voltas na quadra. A outra era da locadora pedindo (ou talvez implorando) aqueles dvd’s que haviam sido alugados a quase dois meses atrás. Por isso era totalmente compreensivo o estranhamento ao ver sete chamadas perdidas na tela do aparelho branco em sua mão.
Mais compreensivo ainda ficar extremamente excitada (com direito a risadinhas involuntárias) em ler que quem havia lhe ligado por sete vezes durante aquele dia fora Kennedy. Ele mesmo, Kennedy Brock, o babaca que nunca lhe ligava no dia seguinte.
Tudo bem que aquele não era o “dia seguinte” daquele beijo quase roubado no banheiro do bar e sim o – ela contou nos próprios dedos, só para não dar um numero maior sem querer – quarto dia seguinte. E foi da exata maneira que John disse que aconteceria. Conseguia ouvir aquela voz enjoada de gente enjoada falando sem parar ao seu lado no carro como se ainda fosse aquela noite no domingo. E a lembrança ainda a deixava com um sorriso idiota nos lábios.

(No carro, no domingo. Pós-Artie’s)

- Eu ainda não consigo acreditar que você me beijou. Podia, no mínimo, ter me avisado antes. – disse fingindo estar emburrada, enquanto procurava um cd decente no porta-cds do garoto. – Podia parar ali na farmácia pra eu poder comprar um Listerine. Ou soda caustica pra lavar a boca.
- Ah, fica de boa aí, . – John abanou o ar, querendo faze-la se calar, e lhe deu um sorriso convencido – Pra quem está aí se fazendo de difícil, nem parece que adorou me beijar. Aliás, eu sinto que nenhum outro beijo, na sua vida, vai ser igual a esses. Sou ótimo nisso.
Se houvesse algum resquício de modéstia naquele corpo magrelo dele, talvez tivesse acabado de evaporar por seus poros ali. Entretanto, não parecia ter sido atingida pelo comentário presunçoso do amigo, apenas deu ombros com um sorriso sarcástico preso no rosto.
- Mas pode apostar que não vai ser mesmo. Alias, nem comer rollmops depois desse seu beijo vai ser a mesma coisa. – disse sorrindo tão angelicamente que nem parecia ter ofendido o rapaz.
- Você é uma maldita de uma ingrata mesmo, hein. – disse estacionando o carro em frente 0à casa da garota, sem realmente parecer se importar com os elogios proferidos por aquela boquinha cor de rosa. Quando a garota começou a tirar o cinto, foi obrigado a começar a rolar seu discurso de pai – Ele vai te ligar ainda essa semana, eu sei. Você foi fantástica resistindo daquele jeito, é doloroso dizer isso, mas parabéns.
- Eu queria poder dizer obrigada, mas não vou te desapontar, então... Eu sei, sou fantástica, nasci pra isso. – seu tom de falsa modéstia o fez gargalhar e manda-la calar a boca.
Os cinco minutos seguintes foram pura aula de não ouse atender esse celular e deixe ele pensar que você tem mais coisas pra fazer. A garota já estava começando a bocejar quando viu pelo retrovisor um carro atrás deles. Observou discretamente por cima do ombro o carro preto e compacto, a placa da cidade combinando números que ela conhecia. Em um sorriso se voltou para John e mesmo com ele tagarelando em seu ouvido o puxou para perto e encostou seu nariz no dele.
- Kenny nos seguiu. – sussurrou para ele, confabulando um plano em sua mente – Olha, finja que não vai gostar disso.
A principio ele não teve reação quando os lábios dela tocaram os dele. Tão macios e decididos, pareciam estar felizes em contato com os seus. Os dedos da garota se enrolando nos cabelos de sua nuca o fizeram despertar para traze-la mais para perto, puxando-a pela cintura, enquanto abria sua boca para provar com mais calma o gosto dela. E apesar de tudo ser faz de conta, ele até que parecia estar gostando de tirar uma casquinha da garota.
Sentiu-se contrariado quando tentou puxar o corpo magro da garota para cima do seu durante aquele simples beijo, tentando transforma-lo em um amaço bom de fim de noite, e sentiu a mão de o barrando pelo peito e rindo contra seus lábios.
- Não se anima não, meu bem. – riu, buscando a bolsa jogada no chão do carro. Tornou a olhar para trás e não viu mais sinal do carro de Kennedy parado atrás deles. Ok, aquilo havia sido, e muito, estranho.
John murmurou algo enquanto ela saia e contornava o carro. No fundo de sua mente pré-programada e masculina ele pensou que realmente se daria bem naquela noite. Uma pena que não. O toc-toc em sua janela o despertou de pensamentos que queriam ser libidinosos, a desceu e revirou os olhos para uma muito sorridente.
- Esqueci de agradecer por hoje. Eu acho que nós estamos progredindo e muito. Obrigada, John. – foi tudo o que saiu de sua boca, antes de lhe dar as costas e sair correndo em direção a casa.
Ela parecia um tanto desajeitada aquelas horas, talvez estivesse bêbada. Mas a única coisa que passou pela cabeça de John foi de como ele queria poder bater na porta dela e pedir para ficar, pois queria continuar os beijos que começaram. Nunca diria isso para alguém, e mataria quem conseguisse ler sua mente.
(Acabou o flashback, podem ascender às luzes!)

Já havia acabado de empilhar os livros novos que havia acabado de cadastrar. Já havia dado uma volta na cafeteria e roubado um copo de leite quente. Já havia ido ao banheiro e já havia mandando um e-mail para Stela pedindo seus sapatos de volta. Logo, não havia nada a fazer senão ficar girando como uma idiota na cadeira em que trabalhava.
Já estava na terceira volta, decidida a só parar quando estivesse para vomitar, quando o som do sininho acima da porta da entrada da livraria tocou. Passos apressados e então um rosto familiar parou logo a sua frente sem folego. O que Kenny estava fazendo ali?
- Eu estou te ligando há dois dias, por que você não me atende? - cumprimentos dispensados, ele foi direto e incisivo, curvando-se em direção ao balcão que escondia . A garota empalideceu, tentou lembrar da desculpa pré-fabricada que lhe fora imposta.
- Eu... – gaguejou alguns “eu” mais antes de conseguir soltar – Meu celular está meio louco. Minha mãe também reclamou que me ligou e que só caia na caixa postal. Vai entender essas operadoras loucas.
Descrente, era como o rosto impassível de Kennedy estava. Um riso sem vida escapou por seus lábios e ele então sacudiu a cabeça.
- Tudo bem, acontece. Mas já que eu estou aqui e seu telefone não funciona, vou te fazer o convite que queria ter feito desde quarta. – pausa dramática para poder sentir seus ovários se contorcerem perante aquele sorriso malicioso escondido no rosto sério do rapaz. – Vamos sair hoje, dar uma volta, tomar uma cerveja pelos velhos tempo? Se o John não se importar, claro.
O modo como ele citou o nome do amigo foi tão ácido e maldoso que quase se jogou no chão de felicidade por conseguir fazer ciúmes nele. Nem teve tempo de pensar direito, seu lado apaixonado respondeu antes que tivesse a chance.
- Ah, quem liga se ele se importa? Então, te vejo as oito. – mal conseguia falar com tamanho sorriso idiota no rosto.
Kennedy sorriu em concordância e piscou antes de sair já sem pressa. Sentia-se vitorioso por não ter que pensar na sua garota nos braços do amigo aquela noite, aquilo já vinha lhe consumindo há tempos.
Assim que ouviu a porta bater a garota pescou o celular na bolsa, os dedos impaciente quase discando para China no celular de touchscreen, quase se desmanchou em risadas histéricas quando John atendeu um tanto irritado o celular.
- Ele veio me chamar para sair! – disse alongando animadamente as silabas das palavras, rodando novamente na cadeira.
- O que?
- Kennedy. Veio me ver e me chamou para sair.
Silêncio. Seguido de um xingamento e buzinas.
- Olha, eu estou meio que em um transito horrível aqui. Já chego aí para nós conversarmos. – foi tudo que disse antes de desligar o telefone na cara da loira.
Não que ela tivesse ligado, apenas continuou a girar como uma criança em sua cadeira. Se tivessem flores ali na livraria elas, com toda a certeza do mundo, seriam despetaladas uma a uma enquanto ela cantava “bem me quer, mal me quer” como uma adolescente estupida que nunca havia crescido.
Uma hora e meia depois. Foi o tempo que John levou para entrar esbaforido na livraria quase atropelando um cliente que saia de lá. Ele apenas deu ombros desajeitado e se encostou de qualquer jeito no balcão observando anotar algo em seus papeis.
- Você não ouve nada do que eu digo mesmo, não é?
- O que? - retrucou na defensiva, cruzando os braços logo abaixo dos seios – Ele que veio aqui, não atendi nenhuma ligação. E – disse elétrica, ficando em pé num pulo – ele me chamou para sair. Hoje. Estou tão feliz, John.
A cara entediada de John a fez parar de pular. Oh droga, lá vinha o tom de pai para ela. Ele pacientemente estalou os lábios e fez uma cara de pena para a garota. Pensava em como alguém poderia ser tão ingênua de não conseguir ver aquelas garras escondidas na pele de cordeiro que o amigo vestia. Como não podia ver as intenções de Kennedy ao convida-la para sair?
- Liga pra ele e diz que esqueceu que tem algo muito importante pra hoje e não pode faltar. E, quem sabe, na semana que vem vocês possam sair. Mas só quem sabe.
Ela até tentou abrir a boca para contestar, mas ele foi mais rápido.
- Ele não te chamou pra sair porque vai te pedir em casamento, acorda pra vida, . Ele só quer ver se ainda consegue te comer quando quiser. Isso é um teste e você só vai se fazer de otária se sair com ele hoje. Então, pega essa droga desse seu celular e inventa um compromisso bem idiota, só pra diminuir ele.
- Idiota como ter que te aturar? - soltou em um muxoxo.
- Eu ouvi isso. – apertou os olhos em sua direção, sem paciência. – Idiota como fazer sopa pra mendigos ou lavar o cachorro. E faz logo, na minha frente, só pra eu ter certeza que você não vai dar pra trás.
O grito de angustia ficou preso na garganta. Lá se ia um encontro a luz de velas pelo ralo. Queria poder se lembrar do motivo de ter ligado para o estraga prazeres do John.
Discou o numero tão conhecido de Kenny, que a atendeu logo após o terceiro toque, a voz animada a cumprimentando.
- Oi, Kenny. Olha, eu só queria avisar que... – o rapaz a interrompera, o que aumentou a cara de bunda de John logo a sua frente. Ela estava se remoendo por dentro enquanto ouvia Kenny dizer que estava animado pela noite que viria – É sobre isso mesmo que eu quero falar. Não vou pode sair. Lembrei que tinha combinado com Donna e Alicia de irmos fazer as unhas hoje. Então... Fica pra ouro dia, sei lá. – ele até que tentou persuadi-la, ela bem que queria ser, mas a cara de John a estava deixando assustada. – Tenho que ir, chegou gente aqui a livraria.
Desligou o celular o jogou sobre sua mesa desarrumada e logo jogou-se sobre sua cadeira com a expressão mais carrancuda do mundo. Quase grunhiu em desanimo. John deu a volta no balcão e bagunçou seus cabelos, um sorriso radiante em seus lábios.
- Eu sei, foi horrível. Mas, olhe pelo lado bom: Agora você é um prêmio que vale a pena correr atrás. Trocou-o por uma noite de manicure. É alguém que não se deixa em segunda opção.
- Cala boca, não tenta me animar se não for comprar um vinho pra compensar. – disse grossa.
- Compro vinho, queijo e te faço as unhas. Se isso te fizer perceber que nós já avançamos metade do nosso objetivo.
Revirou os olhos verdes impaciente, queria tanto poder matar o loiro com o grampeador de ferro que estava ao seu alcance. Uma pena ainda ser dia e ter câmeras demais por ali. Então ela apenas deu ombros e o expulsou dali. Quando ele estava quase na porta o chamou de volta.
- O que foi?
- Nada. Já disse o quanto te odeio hoje? - disse sarcástica lhe mandando um beijo. John o segurou no ar e guardou no bolso, rindo.
- Não meu amor, mas guarde essa raiva pra mais tarde. Quero discórdia no meu colchão. – e bateu a porta atrás de si, acenando quando passou em frente à vitrine em que lhe mostrava o dedo do meio.
E apesar de todo o contratempo e o desconvite, até que se sentia bem por saber que o plano ainda estava segundo os conformes.


Capítulo 4 - Insert the pulga behind their orelha

Todo mundo tem aqueles dias em que só de colocar o pé fora da cama já se sente a pior merda do mundo. Nenhuma roupa fica boa, parece que o peito ficou menor (se é que dá pra ficar menor que isso!), aquela maldita franja que você nem sabe porque cortou, não fica lisa por nada e aquele delineador com o gatinho puxado que sempre consegue acertar? Nem fale do bendito, porque parece que sua mão automaticamente desenvolveu Parkinson. E era exatamente esse tipo de dia que estava tendo.
Acordou a contra gosto com a ligação de algum idiota que disse que era engano, bateu o mindinho do pé na quina da cama quando levantou para fazer xixi. Não tinha comida na geladeira, teria que tomar café fora. A ração pro cachorro tinha acabado, teve que ir comprar. E antes que tudo ficasse ainda pior, resolveu se enfiar em uma legging e um top, prender o cabelo em um rabo de cavalo, pegar o cartão e ir correr na pista.
Correu por quase quarenta minutos e na volta resolveu parar na cafeteria que havia ido com John na sexta só para poder ter um café da manhã decente. Sentou-se no balcão mesmo, sem querer dar uma de espaçosa e ocupar uma mesa sozinha. Pediu um café e um pedaço de torta, mesmo depois de ter corrido uma vida na pista. Estava suada, descabelada e, muito provavelmente, fedida. Até fingiu que não ligava, mas o fingimento caiu por terra quando viu uma espécie de anjo da Victoria’s Secret entrando praticamente em câmera lenta em seus saltos altos, cabelos loiros, ondulados e esvoaçantes, e vestido mullet, que em qualquer ser humano fica ridículo, mas nela ficou lindo.
Sienna retirou os óculos escuros assim que entrou no Café revelando aqueles olhos azuis piscina que fizeram ter vontade de se afundar no banco. A garota deu um sorriso ao avistar sentada sozinha no balcão, terminando de comer e foi ao seu encontro. Não estava de todo feliz em ir conversar com a menor, mas tinha que saber o que estava rolando entre ela e seu ex.
só conseguia pensar em porque seus amigos tinham que vir no mesmo lugar que ela para comer.
- Bom dia, amiga. – disse Sienna, tentando não soar forçada. Falhou miseravelmente.
- Bom dia, S. – retribuiu em um meio sorriso.
A ex de John sentou-se ao seu lado e jogou sua bolsa no banco vago, um sorriso elástico preso nos lábios coloridos de rosa. Pediu um café sem cafeína com leite de baixa lactose, sem açúcar, por favor. Bebericou o pedido, sempre observando de canto de olho a menor descabelada ao seu lado devorando a torta de amora no prato. Estalou os lábios quando viu que estava engolindo o doce e virando-se para ela.
- Então, Sienna como estão as coisas? - tentou ser simpática.
- Nada fora do normal, fui convidada para um ensaio fotográfico em Nova Iorque. – disse a loira sem emoção - E você, algo novo pra contar? Algum namorado novo na área?
Sutileza. Tá aí um dom que não é para todos.
coçou a orelha, sabia que estava sendo sondada, investigada se era um risco em potencial para a mais velha. Tanto ela quanto John dependiam da resposta que daria. E para a infelicidade de ambos, era péssima no improviso. Tentou lembrar-se dos livros que sua mãe uma vez lhe dera, das coisas que ouvia nos programas de auditório de madrugada, qualquer coisa que ajudasse a sair dessa saia justa.
Então, uma luz brilhou sobre sua cabeça. O que a fazia voltar todas as vezes para Kennedy mesmo depois de tê-lo visto com outra?
A competitividade. A vontade de ser mil vezes melhor que aquela anterior que ele trepou no bar. Com Sienna provavelmente não era diferente. E se ela queria, daria alguma coisa pela qual lutar.
- Na verdade, namorado, não. Eu e John ainda não estamos nem perto desse nível. Sabe, eu sei que ele é seu ex e tudo mais – revirou os olhos tentando parecer engraçada e descolada –, mas amiga, não sei como deixou ele escapar.
- Ele era muito grudento comigo, ciumento. – deu ombros.
- Isso é o de menos. Ele é um ás na cama e faz uma massagem nos ombros como ninguém.
Ele nunca fez massagem em mim, gritava a mente da mais velha, forçando um sorriso no rosto enquanto queimava de ciúmes por dentro.
- Ainda bem que você deixou ele de lado, parece que eu acabei de descobrir o País das Maravilhas. – disse provocativa, se parabenizando por dentro por conseguir soar tão maldosa. Viu Sienna se contorcer desconfortável sob a cadeira, soube que estava indo certeira na dor.br> - Mas você não estava com Kennedy? - deixou escapar o que tanto queria perguntar. – Quero dizer, sempre achei que vocês fossem um casal. E além disso você e John sempre viviam se alfinetando como duas crianças...
- As coisas mudam, S. John mudou e eu mudei.
- Parece estranho, já que até semana passada ele me ligava todas as noites bêbado se declarando. Não parece ter mudado em nada para mim. – disse o mais azeda que conseguiu, o que fez rir por dentro.
- É, eu sei, mas é que ele encontrou uma substituta a altura. – alfinetou, levantando-se e arrumou o top que havia enrolado um pouco.
- A altura? Sem querer ofender , mas eu não acho, não. – e lá estava um risinho sarcástico.
- Você entregou ele em uma bandeja de prata. Eu aceitei. Ele parou de te ligar no mesmo instante. É, eu acho que não estou a altura mesmo... Sou melhor, amiga. – lançou um beijinho no ar, tão sarcástica quanto Sienna e foi pagar a conta, para logo em seguida ir embora.
Mas não sem antes acenar um tchau com um sorriso vitorioso estampado no rosto.

•••


Estava jogado sobre a cama olhando desinteressado para a televisão. Alguma coisa estranha o incomodava, mas nunca saberia dizer o que era. Talvez fosse o fato de que Sienna mandara uma mensagem um tanto confusa há meia hora atrás convidando-o para passar na casa dela e verem um filme. Ou o comportamento estranhamente ainda amigável de Kennedy nos dias anteriores.
Quer dizer, se um amigo seu saísse por aí com Sienna ele ficaria louco, quebraria tudo e mataria o cara. Mas não Kennedy, ele simplesmente pareceu conformado o suficiente e ajudou a pagar as cervejas.
Pensou em e seus cabelos descoloridos, o jeito anormal de ser tímida e ao mesmo tempo adorar chamar a atenção. As roupas diferentes e o perfume doce que ela usava. O jeito como ela cantou Radiohead no carro com ele no dia anterior, quando foram comer uma pizza com os amigos. Não conseguia pensar em um modo de enganar uma garota como aquela. Não mesmo.
Podiam se conhecer desde o ensino médio, mas nunca realmente tiveram uma conversa decente, uma convivência pacifica como vinham tendo nas ultimas semanas. E se mostrava especialmente encantadora com cada faceta nova que apresentava. O que o fazia pensar no porque te implicar tanto com a garota por tanto tempo. Provavelmente, era pela diversão de vê-la dar um rugido e revirar os olhos, pensar por cinco segundos e o fazer se sentir o maior idiota do mundo quando lhe devolvia uma resposta na mesma moeda. Ou quando um aprontava com outro, fazendo trotes infantis e matando os amigos de tanto rirem.
É, havia perdido tempo brincando de gato e rato quando poderiam ter sido amigos há mais tempo.

Agarrou o telefone que estava sob o criado-mudo e ligou para a garota, que atendeu logo no segundo toque. Não soube dizer o que o fez ligar para ela, só sabia que havia algo gritando que precisava vê-la.
- Fala, seu mala. – atendeu graciosa e delicada, como sempre.
- Boa noite pra você também. – a garota riu do outro lado da linha, e ele logo tornou a falar – Você tá ocupada agora?
- Estou tentando me vestir na verdade, acabei de sair do banho.
E foi inevitável não pensar nela nua, estirada na cama o chamando com um dedo. Teve que sacudir a cabeça para espantar a imagem mental e continuar a conversa.
- Certo. E depois de vestir sua burca, vai fazer alguma coisa?
- Não, eu... Ai! – o barulho de tropeço e alguma coisa caindo – Espera aí, eu não vou conseguir vestir minha calcinha com uma mão só.
Ela só pode estar brincando comigo, John pensava de olhos fechados, com a imagem de em sua frente tirando a calcinha com uma só mão, mas invés de pô-la. É, as coisas estavam realmente estranhas.
- Pronto. – disse alongando os “os” quando voltou a linha. – O que você queria mesmo?
O que ele queria mesmo?
- Bem, eu estou sem nada pra fazer hoje e queria saber se, de repente, sei lá. Nós podíamos ver um filme ou alguma coisa. – disse tentando parecer casual, mas acabou soando como um garotinho.
O silencio do outro lado da linha foi um pouco constrangedor para si. E era estranho se sentir constrangido por uma garota, ainda mais uma garota com quem ele não tinha nada. Nada real para eles, claro, porque para os outros...
Foi quase um minuto até resolver rir em resposta, mandando ele vir logo para sua casa pois nada no mundo a faria vestir um jeans e sair de casa.
Dito e feito.
Em quase quinze minutos ele estava saindo de casa e parando na loja de conveniências do posto de gasolina a caminho da casa de para poder comprar alguma coisa para comerem. E um pacote de camisinha, só por acaso.

•••


estava terminando de pentear os cabelos embaraçados quando a campainha tocou. Foi uma cruzada até achar os chinelos, escondidos embaixo da cama, e descer a escada para atender a porta.
John estava com uma cara entediada do outro lado e quando pôs os olhos nela pareceu analisa-la dentro daquele moletom comprido e o shorts curto parcialmente escondido pelo mesmo. Não era nada sexy como Sienna o recepcionaria, mas era bem o jeito que era. A viu dar as costas e convidar para entrar, seguiu-a para a cozinha e jogou as sacolas sob o balcão.
- E aí, vamos ver o que? - perguntou ficando na ponta dos pés para alcançar os copos na prateleira, quase derrubando um.
- Uma animação do Tim Burton.
- Legal. Então vai ligando as coisas lá na sala que eu vou fazer pipoca. – expulsou ele da cozinha aos risos.
John já havia arrumado as coisas na sala e estava jogado no sofá, ouvindo as pipocas estourarem na cozinha e cantando uma música da Avril Lavigne. E de repente a pipoca parou de estourar, logo em seguida a cantoria que foi substituída por uma gargalhada estridente e convulsionada. com certeza havia se quebrado e John não perderia a oportunidade de se matar de rir da amiga. Correu para a cozinha e encontrou a loira com as mãos no joelho tentando recuperar o ar, mas quando viu o rapaz na soleira da porta tornou a rir escandalosamente.
Ainda sem entender ele varreu a cozinha com os olhos, encontrando um pacote vermelho sobre a bancada. Pacote vermelho que deveria ter sido guardado no seu bolso, não na sacola que ela obviamente havia mexido. E como não havia nada a ser feito, riu junto.
- Eu não acredito que você trouxe camisinhas de morango pra cá, seu pervertido. – disse ainda rindo – Vocês homens só tem isso na cabeça: desbravar pepecas!
- Desculpa, foi mais forte do que eu. – guardo o preservativo no bolso, tentando parar de rir e piscou o mais sensualmente que pode. – É essa sua beleza extraordinária.
- Tarado! Guarda esse seu piu-piu bem guardado nas calças, e mexa essa bunda pra sala que eu quero ver o filme. – o empurrou pelo ombro e agarrou a tigela com a pipoca, fazendo-o levar as cervejas que ele tinha comprado.

•••


Já passava das três da manhã quando o sono começou a dar sinal de vida e fazendo-os coçar os olhos. O garoto até tentou avisar que iria para casa, mas insistiu que não havia problema. Já estava alta mesmo. Sua cama era grande e desde que ele jurasse se comportar ela não via porquê faze-lo dormir na sala.
Foram cambaleantes para o quarto colorido da garota que tinha um cheiro forte do perfume que ela usava. se jogou na cama e foi seguida por John que jogou-se ao seu lado. Conversaram sobre nada por alguns minutos, até a garota puxar as cobertas até o queixo e apagar.
Ele estava deitado de barriga para cima, os braços cruzados embaixo da nuca, quase dormindo quando cabelos acertaram seu rosto e um braço o abraçou pela cintura. A respiração suave no seu peito e o cheiro de baunilha o acertando em cheio. estava dormindo em seu peito. Sorriu e com algum esforço acariciou os cabelos da garota.
É, havia algo estranho. Mas era estranhamento certo.

•••


Não havia como negar o quanto era esquisito acordar de calça jeans enquanto dormia abraçando uma garota. Tinha o braço trespassado por sobre a cintura da mesma e o rosto afundado em seus cabelos. Foi no mínimo constrangedor se pegar nessa posição tão... íntima.
Pescou o celular dentro do bolso da camisa xadrez que usava e percebeu que já estava quase na hora do almoço. Mesmo sem um pingo de sono, não levantou, apenas voltou a deitar com a barriga para cima e observar a garota ao seu lado dormir.
Os olhos que na maioria das vezes pareciam tristes, mas ao mesmo tempo tinham o poder do olhar de um predador, pareciam tão serenos enquanto fechados sonhando com alguém. Os lábios cheios, sem o usual tom vermelho, entreabertos, a deixavam tentadora. E o faziam sentir-se patético por estar há dias analisando cada pequeno detalhe da garota.
Ameaçou levar os dedos nos lábios da garota, só para sentir a textura, pois isso o estava atormentando. No entanto o barulho da campainha o fez dar um pulo assustado, enquanto se revirou e resmungou. A campainha soava insistentemente, o que fez a garota rugir e bater em John.
- Atende lá, por favor. Tô com preguiça de levantar. – disse mole e manhosa. – Deve ser a Donna mesmo.
- Mas, a casa é sua. Levanta aí. – disse rouco, o que classificou como “muito sexy para de manhã”.
- Por favorzinho, John. – disse ainda mais manhosa, o que dificultou ainda mais o ato de negar. Ele só bufou, fingindo estar indignado e se levantou. Quando estava quase na escada a garota o gritou – Ah, eu te amo! Obrigada.
Seguiu até a porta de entrada rindo do seu estranho bom humor naquela manhã, até abri-la, então pareceu ter congelado no lugar.
Lá estava Kennedy Brock, de jaqueta jeans e sua barba perfeitamente feita. Sem esquecer a cara de choque ao ver o amigo despenteado em sua frente, com aquela cara de travesseiro e cheirando a . Queria poder afundar o punho no nariz de John, mas não tinha motivos concretos para tal, uma vez que não tinha mais qualquer ligação com sua garota. Por enquanto.
- Quem era? - gritou do alto da escada, descendo devagar se agarrando no corrimão.
Ken bateu os olhos na garota descabelada e com aquele moletom comprido e meias pretas. Conseguiu imaginar a revelia que tinha acontecido por ali e quase desmoronou imaginando os dedos de John contornando o corpo esguio da sua garota. E sem dizer um oi ou um tchau virou as costas e saiu.
Quando a loira conseguiu chegar no andar de baixo, John já estava fechando a porta desconcertado. Olhou-o curiosa e procurou por Donna atrás dele, obviamente não a encontrando.
- Ué, quem era?
- Kennedy. – disse sem deixar de mostrar seu próprio espanto.
- E o que ele queria? - aqueles olhos brilhantes de esperança o sufocaram, assim como a tristeza que eles mostraram quando ele explicou que ele não disse nada, só foi embora.
seguiu para a cozinha, fingindo não estar desanimada, tentando se convencer que era só mais uma parte do plano dando certo. Enquanto John se perguntava, ainda na porta, se aquilo realmente estava valendo a pena, já que estava pondo em risco sua amizade com Kennedy e começando a admirar mais do que deveria.
No fim, não se respondeu nada, apenas deu ombros e foi para a cozinha.
- Me faz um chocolate quente, mulher! – gritou e recebeu um dedo do meio como resposta. Observou a garota lutar contra a altura da prateleira que guardava as canecas e chegou a conclusão que, sim, estava admirando mais do que era seguro.


Capítulo 5 - Seus problemas você deve esquecer.

Ela estava relutante a aceitar isso, entretanto, em todo caso, para uma quarta-feira a semana já estava o suficientemente estranha. Não que no meio em que vivia isso não fosse normal, longe disto, só que aquilo já era um pouco demais.
Rosas apareciam no seu capacho todas as manhãs. Uma única flor com um bilhete escrito com letra de mão, todas as vezes um poema diferente. Isso desde sexta-feira. E as mensagens em seu celular, estranhamente românticas de um numero desconhecido que nunca lhe atendia.
Fora o e-mail que recebera de Stela que ainda piscava em sua tela:

Queridinhos,
Só estou mandando o ‘memo’ da semana, caso alguém esqueça ou finja que não foi convidado. E não, isso não foi uma indireta para o GARRETT. Não mesmo. E de qualquer maneira, nós já nos programamos e não quero desculpa nenhuma antes do feriado. Então, calem a boca e façam o que eu digo, seus lindos.
Para os esquecidos:
Quarta-feira – Cervejada. Como sempre, na casa da Donna. Não esqueçam de levar cada um uma caixa. Não esqueçam que Subzero não é cerveja. Nem Devassa.
Quinta-feira – Concentração na casa da Donna para saída do feriadão. Não esqueçam escova de dentes. E toalhas, entendeu, ?
Sexta e sábado – Ressaca moral e física. Shame on you, bitches.
Domingo – Voltando para casa de óculos escuros.
E agora que vocês não tem desculpas pra fingir esquecer, vou mandar essa mensagem no celular de cada um. HA!
Uma ótima semana. Claro que vai ser ótima, vocês vão passar comigo, duh.


Por que ela tinha que ter amigos tão esquisitos? Por que, Deus?
Fechou a tela do notebook e foi procurar uma roupa para ir para a cervejada que aconteceria na casa da amiga mesmo sem estar com vontade de sair da cama. Juntou uma calça skinny e uma camiseta do Batman que estavam perdidas pelo guarda-roupa, uma calcinha pequena que combinasse com o sutiã preto que usaria. Arrastou-se até o chuveiro, e de lá, levou quase uma vida até conseguir chegar a casa da ruiva.
Teve que bater na porta da casa por cerca de meia hora até a alma bondosa, que era Alicia, atender. A garota já estava mais pra lá do que pra cá, torta sobre os enormes saltos que usava, mas gritou e agarrou a amiga assim que a viu. Foi arrastada até a sala onde os amigos jogavam Twister.
Sim, jogavam Twister como umas crianças drogadas. A bunda de Stela estava toda a mostra, por culpa de sua saia que tinha enrolado e já Jared tinha o rosto praticamente em seus seios. Donna estava quase sentada nas costas do amigo, praticamente caindo de bêbada. Pat estava sentado no sofá se contorcendo de rir e Garrett ao seu lado tinha o celular em punho batendo fotos do que ele dizia ser da brincadeira. Mas todos sabiam que era a foto da bunda da Stela que seria seu plano de fundo pelos próximos cinco anos.
Kennedy estava jogando vídeo game com John. Algo muito adulto como Mario Kart. E Sienna estava pegando mais cerveja na cozinha.
- Vocês são uns animais mesmo. – disse rindo e jogando a cerveja sobre a mesa de centro que estava afastada – Quantos anos vocês tem mesmo? Treze?
E era o que faltava para despencarem um sobre o outro gargalhando. Stela foi a primeira a levantar, abaixando a saia e trocando os pés até a amiga. Logo estavam todos entornando cervejas e vodcas vagabundas, rindo como hienas ao som de alguma daquelas músicas eletrônicas que Alicia era apaixonada.
Já passava das quatro da manhã, já haviam jogado o jogo da garrafa – o qual todo mundo teve que beijar todo mundo, sem exceções, pois todos eram maduros assim – e campeonato de bate. Donna e Pat já estavam se abraçando e abraçando a porcelana do vaso, assim como Sienna. Jared tinha ido levar Stela para casa e ainda não havia voltado. Talvez nem voltasse. Alicia estava em uma discussão muito bêbada intelectual com Kennedy sobre o efeito estufa. E e John estavam deitados no tapete da sala fazendo briga de dedão.
- Ei, eu tenho um presente pra você. – disse a loira de repente, levantando-se e correndo pegar a bolsa – Ó, pra você.
John estava mais lento que o normal, então demorou a processar a queda do embrulho vermelho sobre sua barriga. A garota tornou a deitar ao seu lado, dessa vez de bruços com os cotovelos no chão e as mãos segurando o queixo. Parecia ansiosa para que ele abrisse o presente.
- O que é?
Ela rolou os olhos e bufou, murmurou algo que ele entendeu como “é um cachorrinho” e mandou ele abrir logo.
De dentro do pacote vermelho surgiu um livro. Na capa havia um coelho e seu titulo era “It’s Happy Bunny – O Amor É Chato”. O rapaz se desmanchou em risadas, assim como .
- Olha, muito obrigado.
- Você nem olhou a dedicatória, olha logo. – disse ainda rindo.
“Nós somos dois idiotas atrás de idiotas, mas no fundo eu espero que nós sejamos idiotamente felizes sendo idiotamente idiotas. Seu idiota.
Com carinho, Super .

- Você é uma graça. – disse a empurrando e ficando por cima da garota, apertando sua bochechas mesmo com os tapas em retaliação. - Foge não, tô agradecendo. Ainda faltam as cocegas e os beliscões na barriga.
- Me larga, seu monstro! – dançava embaixo do rapaz como uma cobra querendo fugir dos dedos que lhe faziam cocegas sobre as costelas, tentava estapear o rapaz mas não conseguia – Me larga, eu vou fazer xixi nas calças.
- Só se você disser que me ama.
- Eu te amo. – gritou rápida, entre risos e contorções. – Eu te amo, agora para, por favor.
- Diz que eu sou lindo.
- Joooooohn, por favor. – o rapaz desceu os dedos e a atacou na barriga, fazendo gritar embaixo dele. – Tá bom, tá bom. Você é lindo e eu te amo. Amo muito, meu Deus, como eu amo.
- Só porque você pediu com jeitinho. – e sentou sobre as pernas da garota com os braços levantados em sinal de redenção.
ainda ria, o rosto infantilmente rosado e os cabelos platinados emaranhados no chão. Quando conseguiu recuperar o folego forçou John a sair de cima de si e jogar-se ao seu lado com a barriga para cima, então um grito ecoou pela sala e a garota avançou sobre ele gritando “revanche”.
Começaram como tapas, depois cocegas e de algum jeito ela estava mordendo a bochecha do rapaz que tentava a todo custo puxa-la pelo braço para parar com aquilo. Conseguiu segura-la pelos ombros, o que fez os cabelos da garota formarem uma cortina sobre seus rostos. não conseguia parar de rir, sentia-se a criatura mais louca da terra, mas ainda assim estava inexplicavelmente feliz.
Ele esticou uma mão e afastou o cabelo da garota para trás da orelha, podendo assim ver melhor seu rosto. Os olhos de gato estavam lacrimejantes de tanto rir, os lábios quase sempre rosados, agora tinham um tom avermelhado tão convidativo. Prendeu-se ali, embasbacado querendo, mais uma vez, beija-la. Mesmo sem motivos, uma vez que nem Sienna, nem Kennedy estavam ali para sentirem ciúmes. Ele só queria provar do gosto de tic-tac de laranja que a boca de tinha.
Ela ficou sem reação quando o rapaz mexeu em seus cabelos, a encarou com tanta vontade quase hipnotizado. Os olhos verdes queimando em seus lábios. E a estranha vontade de beijar John. Na verdade, estranha seria bondade, era apavorante a vontade que estava de selar os lábios no dele.
A verdade era que mesmo Kennedy não sendo tão fiel assim ao relacionamento deles, ela era. Se ficou com dois ou três garotos nesses cinco anos foi muito. Sentia como se estivesse traindo a si mesma e todo aquele sentimento platônico que tinha por Kenny. Mas ali, sentada sobre as pernas de John, o cabelo atrás da orelha e aquele olhar profundo sobre si, ela só sentiu que estava sendo uma perfeita lerda ao não beija-lo. E foi isso que fez. E caso se arrependesse colocaria a culpa no José Cuervo que a obrigaram tomar.
John mal pode perceber o momento em que ela se abaixou ainda mais em sua direção, deixando os lábios sobre os dele, a principio tão de leve que ele achou que estava delirando, só entendendo o que estava acontecendo quando a língua da garota tocou seu lábio inferior, obrigando-o a acordar e esboçar alguma reação. Agarrou os cabelos dela, arrumando-a de um jeito que o fizesse tirar melhor proveito daquele beijo. , por sua vez, se ajeitou melhor sobre o corpo do rapaz, segurou com firmeza o rosto do mesmo e suspirou ao senti-lo beija-la com tanta vontade. Num piscar de olhos já estavam sentados no chão da sala, no colo de John, agarrando cabelos e mãos bobas passeando. Foi quando um barulho de pigarro se fez presente.
O rapaz a empurrou um pouco para o lado, meio desnorteado, deixando que Alicia entrasse em seu campo de visão, um sorriso travesso no rosto de menina.
- Ah não, não precisa parar. Eu só ia perguntar se vocês iriam se importar se eu gravasse pra colocar mais tarde no X-Videos. – disse da maneira mais meiga que pode. tinha o rosto afundado na curva do pescoço do loiro, morta de vergonha. Não era do tipo que se amassava com qualquer um no meio da sala dos outros. Era mais do tipo escondidinha mesmo. E ser pega com a mão na massa por Alicia era totalmente desconfortável. Por isso mandou um dedo do meio em resposta e saiu do colo do garoto contra gosto. Mostrou a língua para a morena a sua frente, que só lhe mandou um beijo.
- Você é o perfeito exemplo de empata foda. – disse se jogando no sofá tapando os olhos, morta de ódio por ter sido interrompida.
- Disponha.
grunhiu e jogou uma almofada que estava a seu alcance no rosto da amiga, que só riu ainda mais. O loiro que estava sentado logo a frente do sofá, no chão, parecia estático olhando para Alicia que ainda conversava com a loira. Não sabia se ria ou se chorava. Podia prever que cor era a calcinha que usava não fosse a morena entrar na sala. Mas podia ser pior, talvez fosse Kennedy e a reação nada sobrea do amigo vendo o agarramento dos dois e não terminasse em coisa boa.
Não viu quando Alicia deixou a sala, só acordou do transe que se encontrava quando sentiu alguém puxar seus cabelos de leve, virando-se e encontrando os olhos verdes de que transbordavam meiguice. A garota o chamou com o dedo para dividir o sofá. E ele o fez, o mais rápido que pode. Deitou-se logo atrás dela, deixando-a na ponta do sofá, virada de costas para ele. Um sorriso lhe escapou ao sentir o cheiro de baunilha que vinha dos cabelos platinados dela.
- Sabe, nós somos gênios. – disse ela depois de um tempo em silencio, girando de frente para o garoto, quase encostando os narizes. Ele não pareceu entender, mas mesmo assim ela continuou – Alguém tem lotado minha casa de rosas e meu celular de mensagens. Isso é um ótimo sinal que ele está, totalmente, querendo me reconquistar.
- Realmente. Sienna já me ligou com todas as desculpas humanamente possíveis para me ver. Foi em todas as apresentações que eu fiz essa semana e surgiu na porta da minha casa a noite passada quase me agarrando.
- Que falta de sorte a sua, coitadinho. – disse fazendo biquinho em falsa pena – Uma loira gostosa se jogando pra cima dele. Não podia imaginar pior. – e apertou sua bochecha.
John por sua vez riu sem humor. Havia algo errado consigo há dias. Não conseguia se concentrar em trazer Sienna de volta como queria há um mês. Quando via alguma loira passando na rua com um suéter ou uma blusa de botão tudo o que conseguia pensar era em uma desculpa para visitar de noite. Na noite anterior, quando Sienna se jogou para ele, sua mente insistia em lhe mostrar flashes do programa vespertino que teve com , usando o pretexto de que precisava de cordas novas para o violão. E apesar de sua ex-namorada estar com a blusa aberta deixando a mostra o sutiã de renda preta, parada implorando um pouco de amor na sua porta, ele só disse “boa noite” e voltou para dentro do apartamento para trocar mensagens pelo whatsapp com a amiga. E não é preciso ser perito para saber que a situação já estava saindo do controle para o loiro. Talvez, fosse hora de deixar esse plano de lado antes de sair mais ferido dessa história do que quando entrou.
Contudo, era difícil dizer alguma coisa, quebrar o pacto que havia firmado com a garota, quando a mesma insistia em passar a ponta do nariz em seu pescoço, solta o ar quente da respiração ali, abraçando-o na altura da cintura enquanto ensaiava para dormir em seus braços. Resolveu adiar, no dia seguinte ele terminaria todo aquele plano que nem deveria ter começado. Voltarei a ver Sienna como sua única heroína e voltaria a correr atrás de Kenny.
Tudo voltaria ao normal. Não voltaria?

•••


Era um mistério para a humanidade a capacidade que Donna Weiz tinha de encher a cara, dar vexame e no dia seguinte, de manhã cedo, conseguir acordar linda e renovada, com os pulmões de um recém nascido berrando pela casa para os outros levantarem as bundas moles e irem tomar café.
- Nós temos duas hora de estrada pela frente, limpem o vomito da cara e vão engolir um café e uma aspirina! - ela gritava, jogando sua mala escada abaixo, uma vez que estava pesada demais para carregar.
Dor de cabeça. Era tudo que sentia. Atrás dos olhos, no meio deles, nas têmporas e até na nuca. Tudo doía. Assim como suas costas. Definitivamente, dormir no sofá era pior do que transar nele.
O braço de John estava sobre sua cintura, confortavelmente a mantendo aquecida. Ela por sua vez tinha a mão engatada na blusa que ele usava, na altura do peito, sentindo as batidas uniformes de seu coração. E apesar da dor no corpo e a posição péssima que se encontrava - quase caindo, quase ficando no sofá – era visível que não queria sair dali. Só saiu pois outro berro ensurdecedor de Donna reverberou pelas paredes da casa, a obrigando a sair delicadamente do abraço sonolento do loiro.
O café da manhã foi estranho, todos com a maior cara de zumbi do século, pouco animados para o transito que pegariam, muito animados para a festa da Independência. Fora que a margarina que Donna usava tinha um gosto estranho. Coisa de vegan esquisito.
Já era quase dez da manhã quando conseguiram terminar de se espremerem dentro dos carros e conseguirem botar o pé na estrada. Com quatro pessoas dentro de cada carro, o único carro que foi com um casal foi o de Pat e Donna. E o de John estava incrivelmente desconfortável com Kennedy e Sienna no banco de trás.
- Então, eu estou curioso para saber... Quando vocês começaram a sair, digamos, romanticamente? - perguntou Kennedy, no tom mais inquisidor que conseguiu, assim que eles alcançaram a rodovia principal.
Oh, droga.
Aquelas seriam as duas horas mais longas das duas vidas, pensaram e John.


Capítulo 6 - Em caso de ressaca de paixão, quebre o vidro

Deveriam tomar por ponto que uma casa no lago é, sim, coisa de rico. No caso dos pais de Stela, ser rico e ser humilde nunca estariam no mesmo patamar, visto que a modesta casinha que eles passariam o feriado era, na verdade, um adorável chalé de dois andares de madeira nobre fincado, literalmente, na beira do lago. Com uma casa de barcos no lugar da garagem e tudo. No lugar do quintal cheio de rosas, um belo lençol de água. Assim teriam evitado a vergonha de ter trazido, sem querer, aquela meia com um furo no lugar do dedão.
A casa tinha quatro quartos enormes, preparados para essas temporadas de feriados em família. Três deles decorados com duas camas de solteiro e um era a suíte do casal, a qual obviamente Stela usaria. A cozinha toda em mármore era invejável, assim como a sala de estar com um enorme sofá de couro dividindo a vista da janela para o lago.
dividiria o quarto com Donna, mesmo tendo plena certeza de que a ruiva escaparia para o quarto de Pat, seu namorado, no meio da noite. Já John dividiria o quarto com Jared, logo à frente do quarto da loira. Não que isso dissesse alguma coisa, mas ele poderia, sem querer, errar as portas de madrugada quando voltasse do banheiro. Já Kennedy ficara de dormir no mesmo quarto que Pat, ao passo que Sienna e Alicia fariam o mesmo. Garrett até que tentou fingir que dormira sozinho na sala, mas sua mala sem querer foi parar no mesmo quarto que o de Stela. Sem querer.
- Quero planos pra essa noite e quero agora. – disse uma toda arrumada de vestido floral e jaqueta jeans desabando no sofá ao lado de Kennedy, como quem não quer nada. – Não vou aguentar ver essas caras de bunda a noite toda.
- Eu vi um lugar que parecia ser legal quando nós passávamos pela cidade. Talvez a gente pudesse dar um pulo lá e ver. – disse Alicia.
- Fechou! Vão se arrumar, dou quinze minutos. – disse subindo a escada aos pulos para pegar os sapatos.
Levou cerca de meia hora para saírem de casa e mais ou menos uma para acharem o lugar que Alicia havia visto. Já estavam quase desistindo e parando na Yoguland que Donna havia achado quando a morena abriu o berreiro no banco de trás gritando “É ali, é ali” para um bar de fachada vermelha e branca chamado FUNtasia. Não parecia ser do agrado de todos, mas o movimento de pessoas entrando estava interessante.
O som de alguém desafinado cantando Sweet Home Alabama chegava a ser letal. Jared foi o primeira a bater os olhos na placa ao lado do caixa que dizia “Noite do Karaoke” e caiu na risada chamando atenção dos outros logo em seguida. A animação foi geral, o que resultou uma inscrição em massa para ocuparem o palco. Segundo Sienna, eles iriam arrasar.
Três ou quatro baldes de cerveja depois, uma ou duas músicas de Michael Jackson mal cantadas e uma de Adele, foi a vez de Donna ir cantar. Os cabelos flamejantes e o andar decidido, cantando Candyman no pequeno palco de um jeito que deixaria Christina se remoendo de inveja. Logo em seguida fora Stela e Alicia interpretar Wannabe, algo que se classificaria entre hilário e uma merda. Então Jared, Pat e Ken encarnaram o Village People e deram o show mais traumático da vida dos cidadãos de Pinetop quando cantaram YMCA.
Então finalmente chegou a vez de ser chamada. As palmas das mãos geladas e suadas, os olhos verdes arregalados em ansiedade. Estava congelada na cadeira, mas John a olhava carinhosamente transbordando confiança para que ela subisse lá e cantasse a música que ele escolheu para ela. Já estava passando por idiota quando conseguiu levantar da cadeira e seguir até lá vacilante. A moça de cabelos cor de rosa em cima do palco lhe entregou o microfone, discretamente perguntou o nome da música que queria. Em questão de segundos no telão a suas costas e na pequena tela a sua frente a letra de Smile de Lily Allen surgiu enfeitada por flores havaianas.
A primeira estrofe saiu afinada e baixa, o que fez Donna gritar de sua cadeira para ela cantar mais alto. Seus olhos bateram nos de John, sorridente e com os polegares para cima. Também bateram em Kennedy sisudo entendendo tudo. E isso a fez querer cantar mais alto e mais solta.
O alvo estava abatido.
- Now you're calling me up on the phone, so you can have a little wine and a moan. – cantou o mais venenosa que pode, arrancando risos e aplausos de sua mesa. Sentiu-se poderosa por poder tirar aquele ressentimento de dentro de si, sentiu que podia qualquer coisa. Entendeu o que se passava na cabeça de John quando ele tocava nos bares, era o gosto da liberdade.
E a liberdade tinha gosto de Budweiser.

•••


Seis horas da manhã, no banco de trás garotas e um Patrick desmaiados, na vergonha de terem sido enxotados do bar. Ninguém nunca saberá como eles chegaram inteiros na casa do lago, mas chegaram.
As manhãs pós-farra tendem as coisas mais vergonhosas do mundo. Aquele barulho angustiante de vomito, os gemidos e resmungos de dor de cabeça, uns roxos bizarros em partes esquisitas do corpo. O prato do dia é aspirina e remédio para enjoo, o menos pior que se vire fazendo uma canja e um suco de laranja.
Dormiram a tarde toda jogados de qualquer jeito pela primeira coisa plana e macia que viram pela frente. Quando conseguiram acordar já era cinco da tarde, quase hora de ir correndo para o White Mountain Country Club, onde aconteceria a queima de fogos e a festa da Independência.
Donna já estava arrumada com o melhor vestido que trouxe na mala, os saltos altíssimos nos pés e os cabelos ruivos curtos e desfiados jogados. Sacudiu impaciente que ainda estava deitada com a roupa da noite anterior.
- Eu não acredito que você não se arrumou, Monroe! – disse lhe arrancando as cobertas, o que fez a loira gemer manhosa. – Levanta logo daí, já está todo mundo esperando lá embaixo.
A loira se virou para cima, o rosto pálido e os olhos fundos, a cara de enjoo. Um caco, definia.
- Não tô legal, Dons. Avisa a galera lá que eu vou ficar e vão festar. – forçou um sorriso no rosto branquicelo, mas falhou. A ruiva deu um risinho maternal e se dobrou até sua mala pescando de lá um remédio de nome complicado, buscou um copo de agua na cozinha e a obrigou a tomar, na promessa de que ficaria nova em folha no outro dia. Lhe beijou a testa e desejou melhoras.
Assim que chegou no andar de baixo, Alicia a recebeu com um grito de aleluia e pulou do sofá. Só então percebeu a ausência de atrás da amiga. Assim como todos.
- Cadê a ? - perguntou Sienna, surgindo da cozinha.
- Ela não vai, está passando mal. Eu avisei pra gente só dar Nesquik pra ela tomar, mas ninguém me ouve. – Donna deu ombros e indicou a porta – Então, vamos?
O grupo se dirigiu até o carro, Stela ficou para trás para fechar a porta, mas parou ao ver John sentado no sofá com uma expressão pensativa no rosto.
- John! – chamou-o, tirando do transe e fazendo-o voltar os olhos para ela – Eu já estou fechando a porta, querido. Vamos.
- Na verdade, - disse ao se levantar, esfregando a palma das mãos no jeans escuro que usava – eu vou ficar. A não está legal, vai que ela passa mal e precisa de ajuda. E... Não que eu seja bom nessas coisas... – ele monologava, tentando achar a desculpa perfeita para ficar.
- Já entendi tudo. – Stela sorriu confidente. – E pode deixar que eu te acoberto nessa. Cuida bem da minha amiga, Cornelius.
A porta da frente bateu e logo o barulhos dos carros se afastando se fez presente. Vacilante ele subiu as escadas, sem saber muito bem o que faria para ajudar . Abriu a porta do quarto em frente ao seu e deixou a luz do corredor entrar no quarto, já escuro, dela, encontrando-a deitada coberta até o pescoço de olhos fechados. Seguiu até ela, sentando-se na cama ao seu lado, tirou delicadamente o cabelo que lhe caia no rosto. Mas não delicado o suficiente, pois abriu os olhos meio dopada e lhe estendeu um sorriso.
- Por que você não foi na queima de fogos? - perguntou com a voz enrolada.
- Porque alguém tinha que ficar aqui e cuidar de uma bêbadazinha. – replicou em tom infantil.
- Que bom que foi você que ficou. – foi tudo que saiu de sua boca antes de se virar e voltar a dormir, deixando John com o sorriso mais besta que já lhe coube no rosto.

•••


Já era cerca de oito horas e a casa estava cheirando a batatas. John suspeitava que sua amiga estivesse acordada, dado pelo barulho do chuveiro no andar de cima. Ponderou se deveria chama-la para jantar ou deveria levar seu prato para cima, mas apenas decidiu por sentar numa das banquetas da cozinha e abrir uma cerveja gelada. Acima de tudo, precisava resfriar as ideias.
A verdade é que há dois dias sua vida estava virada de cabeça para baixo. Primeiro era Sienna com suas roupas coladas e decotadas falando manso com ele, tocando seus braços sem querer o tempo todo e soando como a garota mais frágil do mundo que ele deveria proteger. Então vinha com aquela cara entediada de sempre, os cabelos loiros sempre rebeldes, lhe beijando pelos cantos sem dar explicação e depois fingindo que nada aconteceu. O primeiro ponto a lhe abalar foi a conversa no carro que tiveram com Ken e Sienna, totalmente constrangedora sobre o como haviam começado a se relacionar.

- Eu sempre a achei interessante, você sabe meu gosto por garotas diferentes. – ele se explicou, amaçando o volante entre os dedos. – Então uma hora rolou.
- Uma hora... Rolou? - Sienna murmurou entre dentes, chocada. Já Kennedy parecia muito cético e inexplicavelmente irritado com aquilo.
- Mas mesmo com toda aquela implicância mútua? Do nada vocês decidiram sair por aí se beijando e trocando músicas?
- É algo muito recente. Nem nós sabemos explicar, então não tente entender. – disse emburrada, acuada na porta que internamente estava orando para o carro capotar logo. John não deixou de olha-la pelo canto dos olhos, toda carrancuda, com um bico. Estupidamente adorável.

Já não sabia mais o que fazer. Quase um mês atrás tudo se resumia a ter Sienna Hummington outra vez em seus lençóis. E então quando ela finalmente volta a lhe dar sinais de querer ser sua outra vez, ele se encontra obcecado por uma baixinha magrela que era algo como a ex-namorada de seu melhor amigo. Isso não era certo. Até porque ele ainda recebia ligações e mensagens da vez em que escreveu seu telefone no banheiro feminino da rodoviária dizendo que era um michê.
Além do mais, na noite anterior, enquanto ela cantava no karaokê ele só conseguia prestar atenção em como ela conseguia se tornar desinibida acompanhando a musica com caretas e fingindo um sotaque inglês. Agora ele sabia o porque de Ken nunca ter dado um basta na relação bumerangue dos dois, era impossível ficar muito tempo longe dela. Por experiência própria ele sabia que no ultimo mês inventou as desculpas mais absurdas para ver a loira, nem que fosse por cinco minutos.
Ridículo. Ele se sentia ridículo. Sua única paixão havia sido Sienna e descobrir que queria gastar mais tempo com o apavorava. E também o estimulava a fazê-lo.
- Você sabia que... – disse entrando distraída na cozinha, arrancando John de seus pensamentos, o que o fez dar um pulinho. – Te assustei?
Virou-se para encara-la com os cabelos úmidos e shorts jeans e camiseta, uma cara de quem nunca tinha estado de ressaca. Ela se sentou ao seu lado na banqueta e o encarou.
- Parece um fantasma andando pela casa. – deu ombros e tornou a virar a cerveja – O que você estava falando antes?
- Ah! Era que já faz quase um mês que nós estamos nessa de trazes os idiotas de volta.
- E o que tem?
- Que tem que estamos tendo um ótimo progresso. Você deveria trabalhar com isso e deixar de ser músico. – riu e lhe deu um soquinho no ombro em forma de apoio. Mas parou de rir ao ver a expressão desanimada do amigo. Se não soubesse de sua pouca força até acharia que talvez o tivesse machucado, mas não. – O que foi?
- Sobre isso... Eu – engasgou, incerto - queria te dizer que não quero mais continuar com o plano.
- Mas por que? Eu achei que Sienna estivesse na sua.
- Porque, talvez, eu não – disse vacilante, lento na escolha de palavras, com medo de revelar algo que não deveria – tenha mais certeza de querer ficar com ela. - Para com isso. Ela é maravilhosa, linda, loira. Boquete maravilhoso, lembra? Você sempre foi um babão por ela, não ia desistir assim do nada. Pode ir me contando. – insistiu, cruzando os braços, o mesmo tom de pai que ele usava contra ela.
- Não é nada, . Eu só não quero mais.
A garota parecia desapontada, abaixou os olhos para o tampo do balcão, um biquinho formado em seu rosto. Parecia tão confusa em relação a decisão do amigo, até porque era algo que ela vinha pensando constantemente também: se queria, de fato, Ken de volta. Já não se encontrava mais tão certa do que queria, só sabia que quando sozinha tinha a necessidade de ligar para John e saber de seu dia. E acima de tudo sentia medo de que com o termino no plano ocorresse o termino da cumplicidade que haviam adquirido.
- John. – chamou-o após alguns minutos em silencio, ainda mantendo a cabeça baixa. – Isso não quer dizer que nós vamos ter que, obrigatoriamente, voltar a nossa antiga rotina de sermos babacas um com o outro, né?
Sua resposta foi uma sonora e gostosa risada. O dedo comprido de John encontrou seu queixo o levantando, obrigando-a a olhar em seus olhos. O verde felino encontrou os verdes carinhos do rapaz, que ainda ria da inocência da garota.
- Mas não mesmo. – disse, recebendo um enorme sorriso animado em troca. A garota voou em seu pescoço, lhe dando um abraço apertado.
- Ótimo, porque mesmo se nós fossemos continuar sendo babacas eu iria querer uma companhia para nadar depois desse super jantar de batata queimada. – disse voltando a sentar-se direito na banqueta, com um sorriso sapeca no rosto.
- Batata quei...? Minhas batatas no forno! – em um salto já estava alcançando o forno. – Espero que goste de sucrilhos, porque essas belezinhas aqui, já era.




Capítulo 7 - Faça amor, não faça guerra.

É difícil acreditar que possa existir coisa melhor nesse mundo do que deitar em uma espreguiçadeira na varanda e sentir o vento varrer sua pele. Uma cerveja bem gelada na mão, um amigo para conversar sobre teorias da conspiração na morte de Marilyn Monroe.
E era exatamente assim que e John se encontravam na varanda da casa do lago de Stela. Jogados sobre espreguiçadeiras caríssimas, observando o céu estrelado de mais uma noite quente de verão. Vez ou outra alguns olhares demorados lhe eram dados entre si, sem que o outro percebesse, ambos se analisando e conversando sobre nada.
Do nada, a garota arremessou sua garrafa no gramado bem cuidado a viu rolar. Em um salto estava em pé logo a frente de John. Um sorriso sapeca brincando em seu rosto. Aparentemente coisa boa não viria.
- Sabe o que eu estou muito afim de fazer? - perguntou como quem não quer nada, um ar falsamente ingênuo.
- Diga.
- Skinny dipping!
O garoto se engasgou com a cerveja que tomava, tamanho o choque de ouvir aquelas palavras. Precisou sacudir sua cabeça e olhar novamente só para ter a certeza de que não estava tão bêbado a ponto de ter alucinações.
- Perdão?
- Nadar pelada, Johno. – disse com ar debochado de sempre, revirando os olhos para ele – Sabe, arrancar as roupas e cair na agua, nadar um pouco... Se divertir.
- Olha, você nem bebeu tanto pra ter ideias desse tipo ainda. – observou o rapaz.
- E desde quando precisa estar bêbado pra se fazer alguma coisa idiota? - disse a loira dando ombros – Vamos, por favor.
- Espera, você tá falando sério? Tipo, sério mesmo?
Revirou os olhos verdes novamente, desta vez não se dignou a respondê-lo, apenas deu as costas e arrancou a própria blusa e jogou sobre ele. Os chinelos também saíram dos seus pés, seguido do pequeno shorts que deslizaram em meio a rebolados engraçados rumo à grama. Usava um lingerie preto e rendado.
A garota o olhou por sobre o ombro com longas piscadas e um sorriso cretino no rosto, as mãos em direção ao meio das próprias costas. A próxima coisa que John viu foi uma peça preta e quente em seu dorso.
O sutiã de .
Gargalhou perante o olhar desconsertado do rapaz para a peça e aproveitou sua distração para correr até o pequeno píer da casa e se jogou na água causando um grande barulho. Ele ainda observava a peça rendada em sua mão, cético. Aquela garota só podia ser louca de pedra. E graças a Deus ele também.
- Você está demorando. – cantarolou a loira de dentro da água, nadando em círculos sob si mesma. Mal o viu arrancar a regata branca e a bermuda que usava a e correr em direção ao píer só de cueca, só pode vê-lo caindo na água ao seu lado e submergindo.
Emergiu, os cabelos colados no rosto e cuspindo água para todos os lados em meio aos risos. veio em sua direção nadando com a água na altura do nariz, espichou-se sobre ele e tirou os cabelos dos olhos, um sorriso amigável nos lábios. Então acertou seu rosto com água o que fez com que ambos começassem a rir como crianças e jogar água um no outro.
- Para, assim não é justo. – gemeu com um bico no rosto e esfregando os olhos depois de terem brincado feito crianças por longos minutos – Essa sua patinha é muito grande, joga uma onda na minha cara.
- Você quem começou, . – riu e jogou os cabelos molhados para trás, logo depois fingindo que iria jogar mais água na garota.
- Tá bom, eu desisto. – levantou os braços na altura dos ombros, rendida. – Só vou boiar. – disse com um sorriso infantil no rosto.
Os cabelos esbranquiçados se abriram na água como um leque assim que jogou a cabeça para trás. Os olhos fechados em uma expressão de deleite ao sentir-se mais leve do que a própria água. Pequenos seios alvos e pálidos sob a luz da lua tinham os mamilos eriçados sob o vento que soprava sob eles, pareciam tentadores e pedintes de um toque, uma atenção. E até seus pés aparecendo sob a água pareciam tentadores ao olhar predador que John lhes direcionava inconsciente.
Tinha os lábios mordidos, sentia-se patético devorando a garota com os olhos, mas já havia algum tempo que não conseguia segurar mais esse impulso.
Devorá-la. Ele queria poder.
Principalmente quando os lábios dela estavam minimamente esticados em um sorriso de prazer.
- Não sei por que, mas eu acho que você está me secando, Cornelius. – soltou ainda de olhos fechados, batendo os pés levemente na água, o sorriso se alargando no rosto ao ouvir a tosse desconfortável de John. Deu um impulso para voltar a ficar em pé e riu alto da reação do rapaz que parecia ter quase se afogado. – Tudo bem, não precisa ficar nervoso, pode apreciar a arte. – disse em tom de brincadeira.
John estava estático no lugar, riu um pouco desconfortável por ter sido pego no flagra. Mas não parecia ligar, ao menos não na penumbra onde não era possível ver sua bochechas ruborizadas, enquanto nadava em direção a John.
- Me diz o que você está pensando. – pediu, assim que ficaram frente a frente, olhando para o rapaz, ao passo em que ele olhava para a agua negra que os cercava.
Nada disse por longos minutos, apenas pensou na merda que queria fazer ali. Podia ver o contorno dos seios de sob a água e não conseguiu reprimir um risinho. Na vida nós só temos duas respostas: o “sim” e o “não”. Na maioria das vezes o seu “não” já está ganho, só resta sair em busca do “sim”. E foi com essa filosofia de para-choque de caminhão que tomou coragem de olhar nos olhos faiscantes de e lhe sorrir sacana como sempre.
- O que eu estou pensando? - repetiu a pergunta que lhe foi feita. Os olhos semicerrados, algumas gotas lhe escorrendo do rosto ao pescoço e se perdendo em meio a tatuagem em seu peito. A loira prendeu a respiração sem querer e mordiscou levemente seu próprio lábio inferior antes de tornar a falar, já não tão mais segura sob sua postura controladora.
- Por favor. – murmurou.
Aproximou-se dela e tirou o cabelo colado ao lado de seu rosto, prendendo-o atrás da orelha. Enquanto seus olhos estavam fixados um no outro, seus dedos percorriam na bochecha da garota em uma caricia disfarçada, logo descendo por seu pescoço, parando em sua nuca. Ela já tinha os olhos fechados, ele tinha o nariz quase encostando-se ao seu, tentando lembrar os motivos para não se deliciar naquela hora mesmo com aqueles lábios avermelhados da loira. Soprou um riso contra seus lábios, lutando contra a vontade de também fechar seus olhos.
- Eu estava pensando em... – em que estava pensando? - Deixa pra lá. – disse em um sussurro.
entreabriu os olhos, que o encarava oblíquos e entorpecidos, mordiscou os próprios lábios e desenhou o contorno dos braços magros do rapaz com a ponta de seus dedos até os ombros. Enroscou os dedos em torno da fina corrente que este tinha presa ao pescoço e soltou um suspiro.
- É, deixa pra lá.
Um vácuo tomou conta de sua mente assim que a puxou mais para perto pela cintura e os seios firmes e nus se puseram contra seu peito, igualmente nu. Pele contra pele, os olhos estagnados nos lábios tão bem desenhados de e a vontade de beija-los outra vez o fizeram morder seus próprios lábios outra vez.
Mas para que ficar só na vontade mesmo?
Sua mão livre tornou a tocar no rosto da garota, o polegar desenhando seu lábio inferior. Em um movimento inesperado ela abocanhou e o sugou levemente, os olhos dentro dos de John. E aquele era o sinal que precisava.
Cortou a mínima distancia em que estavam os lábios sedentos se encontrando em uma fúria sem explicação. Línguas em perfeita sincronia, os dedos perdidos nos cabelos, o gosto doce em suas bocas. Logo as pernas da garota estavam entrelaçadas as suas e nos intervalos entre um beijo e uma respirada ela tinha se afundado em seu pescoço, beijando-o e deixando marcas. Uma mordiscada no lóbulo da orelha, os dedos atrevidos dançando abaixo da água no dorso do rapaz que não se encontrava nada atrás das provocações já que se encontrava com a mão cheia por suas coxas e ainda tímidas para seguirem para sua bunda. Por pouco tempo.
Soltou um suspiro assim que ele tocou seu seio de forma incisiva, possessiva. Não controlou o impulso de fechar as unhas no peito do rapaz o marcando com um arranhado. Marca que foi devolvida em forma de um chupão na altura da clavícula. Ela riu e o puxou para um novo beijo, mais calmo, enquanto seus dedos novamente seguiam mais ao sul por baixo da água, traçando um caminho gentil até o limite da cueca de John. Então foi a vez dele suspirar contra seus lábios, quando o tocou tão intimamente por dentro da peça.
- Não brinca comigo assim, Monroe. – disse em um fio de controle, os olhos cerrados e enlameados de tesão, a mão apertando o braço de , indeciso entre tirar a mão da garota de lá ou incentiva-la a continuar.
- Desculpe, John. Eu nunca brinco em serviço. – murmurou ao mesmo tempo em que mordiscou seu lóbulo da orelha e apertou firme o membro do garoto que já dava sinais de estar pronto.
O tempo pareceu parar, eles ao menos podiam lembrar que ainda estavam no quintal da casa onde eles e os amigos passavam o feriado e que poderia chegar alguém a qualquer momento. Só estavam ali, se devorando, exatamente como o garoto desejara minutos atrás.
Ele ajeitou sua perna de forma que pudesse sentar a garota em sua coxa sem que perdessem qualquer mínimo contato. Acariciou com devoção todas as partes do corpo da garota que suas mãos permitam alcançar, ao mesmo tempo em que ela o acariciava tão intimamente, a mão deslizando por seu membro pulsante, os lábios doces percorrendo a região de seu pescoço e ombro. Desceu sua mão da cintura da loira e se atreveu a mergulhar os dedos por dentro da diminuta e única pessoa a qual a mesma usava. O resultado foi um gemido desconcertador e deliciosamente erótico que se repetiu no mesmo instante em que ele invadiu sua intimidade com o dedo.
Apertou-se contra o corpo magro de John, pode jurar que ouviu o som dos fogos de artificio estourando ali próximo, as estrelinhas coloridas pulando em frente aos seus olhos. Mas não era testemunha confiável uma vez que tinha os lábios presos a John e sua mão masturbando o rapaz. Estava quase enlouquecendo com os dedos indo e vindo do rapaz dentro de si, a outra mão dele massageando suavemente sua cintura.
Aquilo era o inferno. E nunca tinha sido tão bom se queimar.
Estavam quase lá, os pés formigando, os lábios já dormentes de tanta pressão exercida. Contudo, algo fez parar subitamente se afastando de John por alguns miseráveis centímetros, obrigando-o a parar seu serviço tão bem feito. Riu um pouco sem folego e o roubou um selinho para logo em seguida se desvencilhar dele e nadar em direção a borda do píer. Sua bunda ficou no ar, no modo o qual se pendurou no mesmo e o escalou. Desatou a correr rindo em direção a casa. Não sem antes gritar:
- Quem chegar primeiro fica por cima.

Ele demorou alguns segundo assimilando as palavras da loira e quando as entendeu parecia um risco em direção a casa, quase escorregando vez ou outra. Adentrou a casa sem dar a mínima se estava encharcado ou não, procurou por algum sinal de , encontrando somente algumas meias pegadas molhadas no chão de madeira que seguiam para as escadas. Subiu-as de dois em dois degraus, o coração batendo na garganta e a ereção desconfortável e dolorosa entre suas pernas.
O corredor dos quartos estava totalmente apagado, exceto pela luz que vinha de seu quarto com a porta entreaberta. Tentou não parecer um tarado, mas não conseguiu conter o sorriso sacana ao ver a garota ajoelhada sob o colchão no qual ele dormia, os braços cobrindo precariamente os seios, assim como a calcinha a cobria. Os cabelos bagunçados e os lábios inchados e vermelhos formavam uma imagem tão erótica para seus olhos que por alguns segundos congelou no lugar.
Observou-a levantar da cama, caminhando como um gato em sua direção. Pegou sua mão e o puxou para dentro do quarto, fechou a porta a suas costas dando duas voltas na chave. O arrastou até a cama e o fez sentar na beirada fazendo com que ficassem quase da mesma altura, uma vez que a cama era alta. Puxou-o para um beijo terno, sem pressa. Foi descendo beijos por seu queixo, peito e barriga, até chegar na barra da boxer preta que usava. Levantou os olhos até os olhos profundos de John, estava quase ronronando e tinha um sorriso devasso no rosto. Abaixou lentamente a peça com a ajuda dele e prontamente o membro ereto surgiu em sua vista.

Jogou a roupa longe por cima dos ombros, e tornou sua atenção para o rapaz a sua frente. Beijou a curva do joelho que estava a sua frente, subiu para a parte interna da coxa e subiu novamente os olhos para ver o loiro se retesando em expectativa. Finalmente tornou a toca-lo onde desejava, primeiramente com as mãos, para aquecer. Quando achou que já era suficiente deu um tímido beijo na glande e John suspirou em agonia. Beijou toda sua extensão e ele a pegou pelos cabelos firmemente. Ao voltar sua atenção para a glande o lambeu como um gato e logo se pôs a chupa-lo.
Estrelas. Lindas e enormes, explodindo em morte. Ele via constelações se formando dentro daquela boca quente, úmida e pecadora de .
Ela o deixava ditar o ritmo, vez ou outra parando para sugar somente a cabeça, ou masturba-lo enquanto o fazia. Não conseguiu deixar de ouvir os gemidos entrecortados que ele lhe dava, apreciando em deleite todas as sensações que podia lhe provocar.
Naquele momento era uma deusa, não a perfeita idiota.
Puxou-a para cima novamente quando sentiu que estava próximo demais de explodir em êxtase e ocupou a boca dela na sua ao passo em que a empurrava para deitar-se na cama, obrigando-a a rastejar para trás ainda o beijando.
E lá estava ela, os cabelos platinados espalhados pelo travesseiro, encharcando-os. Os lábios vermelhos e intumescidos contrastando com a pele alva, as bochechas avermelhadas. O peito subindo e descendo acompanhando a respiração ofegante e aquele olhar entreaberto finalizavam uma obra tentadora. E ele se apressou em aproveitar sugando levemente a pele na altura do seio, sem deixar marcas.
Beijou demoradamente o seio direito, enquanto tocava o outro. Sugou o mamilo, o contornou com a língua, a garota abaixo de si arqueou as costas devido ao espasmo que a acometeu. Deu atenção ao outro, mais preparado para arrancara a mesma reação. Desceu os breves beijos e sucções pelo torso, lambeu longamente logo abaixo do umbigo da garota. Ela arfou em resposta. Deslizou a única peça que a cobria pelas pernas da garota. Beijou suas coxas, subiu pela virilha, tornou o carinho nos seios.
parecia não poupar as unhas em suas costas, os gemidos estrangulados. Já não aguentava mais ficar brincando assim. Empurrou John para o lado e engatinhou sob seu tronco, deixando os cabelos molhados e os seios roçarem no corpo do rapaz. Atacou seus lábios de forma latente ao mesmo tempo em que rebolava sob sua ereção o torturando mais um pouco.
O loiro se ajeitou meio sentado, meio deitado, as costas encostadas na cabeceira da cama. Arrebatou para um novo beijo, puxando-a pela cintura ainda em cima de si. Uma vez devidamente arrumada sobre seu colo, era lhe deu um selinho e encostou a testa na sua, os olhos verdes encarando os seus. Levou a mão até o ponto que os unia, levantou-se brevemente e então foi uma questão de segundos para dois virar somente um.
Conectada e preenchida, deliciosamente preenchida. Deu um suspiro contra os lábios de John e começou a se movimentar sobre ele. Subindo e descendo, as grandes mãos dele a levando pela cintura. Mais um beijo cumplice. Os músculos das coxas começaram a reclamar do esforço passado alguns minutos, queimavam, mas nunca ousaria parar. Estava quase lá.
Os lábios ainda colados ao de John, as mãos embrenhadas em seus cabelos sedosos. O ir e vir tão ritmado, hora lento, hora rápido demais a atingiam de um jeito inexplicável. E a tamanha cumplicidade que sentia nos braços do amigo a deixava levemente entorpecida. Sentia os dedos dos pés começarem a formigar, o bolo de sensações se avolumando no baixo ventre. O incentivo que faltava lhe tocou com o dedo indicador, movimentando-se circularmente em seu ponto de prazer. Logo, foi um passo para se derreter sobre o rapaz, entorpecida e mole, a respiração precária assoprando no ouvido dele.
Virou-a sobre a cama sem sair de dentro dela, impeliu-se mais contra , até sentir que não aguentaria mais, então saiu de seu calor e deixou-se vir sob o lençol. Murmurou algo indecifrável e deixou-se cair ao lado da garota, ainda arfante. Ela o encarou com um sorriso sonolento, os olhos tão calmos.
Esticou-se até ele e tocou a ponta de seu nariz, recebeu um sorriso igualmente mole. Lhe deu um selinho demorado e então se arrastou até deitar no peito dele.
Nus em pelo e cobertos por uma fina camada de suor. Deitados abraçados, trocando caricias.
Era estranho admitir, mas foi ali, deitada nos braços do cara que pouco tempo atrás era um grande problema para ela, tão sonolenta quanto podia estar, que descobriu a diferença entre fazer amor e fazer sexo.
E fazer amor era ter uma mecha enrolada dos cabelos por John, ao invés de ver uma bunda magra enrolada no lençol fumando na sacada. No fim das contas, era muito bom fazer amor.




Capítulo 8 - Uma vez idiota, sempre idiota.

Acordou com o ar quente sendo soprado em seu rosto. Abriu os olhos ainda sonolenta e deu de cara com John a sua frente, dormindo tão tranquilamente quanto um bebê, respirando em seu rosto. Não conteve um sorriso.
Retirou o braço do rapaz de cima de si delicadamente, afastou o lençol que os cobria e se pôs de pé. Olhou pela janela e constatou ainda ser noite. Não soube dizer porquê, mas respirou tranquila em menção de não ter sido pega no flagra pelos amigos.
Parou para observar-se nua frente ao reflexo da janela e riu ao ver a marca de chupão na altura da sua clavícula e outra no seio esquerdo. Balançou a cabeça ainda achando graça. Viu a camisa de botão que John usara no dia anterior jogada ao pé da cama e vestiu-a de costas para cama. Saiu em busca de sua calcinha, mas esta parecia perdida em outra dimensão.
Ainda tinha que juntar as roupas jogadas no quintal, só para não dar mais motivos de piadinhas entre os amigos.
Desceu rapidamente as escadas, o vidro da varanda escancarado mostrava as peças de roupa perdidas na grama. Apressou-se em ir busca-las, pisando nas pontas dos pés na grama molhada de orvalho. Fechou a janela e tornou para o andar de cima com o bolo de roupas apertados contra seu peito. Teve a delicadeza de jogar o jeans e camiseta de John sobre a cama do mesmo e seus chinelos no pé da cama.
Estava indo para seu próprio quarto quando ouviu John se espreguiçar e virou-se para ele.
O rapaz a encarava com o rosto sonolento, os olhos verdes tão preguiçosos e os cabelos displicentes jogados para todos os lados. Sentiu a mornidão no peito ao ver vestindo sua camiseta ciente de que não tinha nada por baixo. E em contra partida sentiu-se uma menininha abandonada no meio da noite pelo amante fujão na ponta dos pés.
- Tá indo onde? - perguntou com a voz rouca, esfregando os olhos com as costas da mão.
- Deixar minhas roupas no meu quarto. Fui apagar as evidencias. – disse em tom brincalhão e voltou em direção ao seu quarto, jogando as roupas e sapato ao lado da cama. Voltou para o do garoto e deitou-se ao seu lado. Este, por sua vez, a puxou para mais perto, fazendo-a deitar a cabeça em seu braço.
- Evidencias? Todo mundo já acha que nós fazemos isso sem precisar de evidencia nenhuma. – ele disse com a voz abafada contra seus cabelos, fazendo a loira rir.
- Eu não preciso de idiota nenhum fazendo mais piadinhas ainda sobre a minha vida sexual. – disse revirando os olhos – Ainda mais agora que nós estamos “terminando”. – fez aspas no ar, mesmo que o rapaz pudesse não ver – Eles vão acabar pensando que eu terminei com você por seu desempenho.
John riu e afastou-se um pouco dela. Apoiou-se em seu braço dobrado e fingiu avalia-la por alguns minutos, o que deixou a garota inquieta.
- O que foi? - perguntou.
- Não. Eles definitivamente não iriam achar que esse foi o motivo do nosso termino. Olha só esse chupão! – puxou um pouco a blusa da garota com sua mão livre e revelou o seio alvo e marcado, arrancando risos de , que puxou a blusa outra vez, se cobrindo. – Très magnifi. – forçou um sotaque francês e juntos os dedos em direção ao polegar beijando todos em seguida.
riu alto e o estapeou pela idiotice. E mesmo com as lagrimas nos olhos de tanto rir forçou-se a ficar o mínimo séria, só para falar com um biquinho.
- Merci monsieur, n’est pas nécessaire. Je sais que suis belle. – disse com seu melhor sotaque francês e logo sem seguida ambos caíram no riso.
- Não sabia que falava francês. – ele soltou após algum tempo em silencio. voltou a se ajeitar na cama, passando o braço por debaixo do travesseiro e virando-se para ele.
- Metade da minha família mora no Canadá e fala francês. – explicou – Então minha mãe obrigou, tanto eu quanto Tristan, a aprender a falar, caso um dia nós quiséssemos ir pra lá. Bem, Tristan mora lá, mas eu... Eu nunca quero ir praquele lugar. – disse enfadada.
Ele achou graça no jeito cheio de desdém que ela falou. Mas não ousou inquerir nada sobre, apenas concordou.
Silêncio outra vez. Mas não desconfortável. Estavam se olhando tão cumplices, a cabeça tão longe em pensamentos. Os olhos escorrendo por seus rostos decorando detalhes inconscientemente um do outro.
O rapaz levou os dedos em direção aos cabelos da menor, ajeitando-os atrás de suas orelhas. Desceu a mão por seu rosto fazendo um carinho agradável. , por sua vez, não conseguiu manter os olhos abertos e nem o ronronar que fugiu de sua garganta. Ambos com um leve sorriso bobo no rosto que nunca conseguiria ser explicado.
- Então, nós estamos nos separando. – ele disse de repente, fazendo-a abrir os olhos.
- Pois é, a separação mais difícil de todos os tempos. – fez deboche e secou as lagrimas imaginarias do rosto. – Mas, foi muito legal sabe.
- Sei.
- Sempre te achei um babaca, mas na verdade, John, – ela foi se virando até ficar de bruços com metade de seu corpo por cima do tórax do rapaz – você é um cara muito bacana. E eu não me arrependo de nada do que a gente fez, foi muito instrutivo. – disse revirando os olhos novamente e rindo – Só me arrependo de não ter sido sua amiga antes.
John novamente esticou os dedos em direção aos cabelos da garota e fez um leve cafuné. Os lábios repuxados em um sorriso amigável e cumplice.
- Eu também me arrependo disso. – sussurrou confidente. E deixou o silencio voltar a tomar conta do recinto enquanto enrolava uma mecha do cabelo de .
Ela o olhou uma ultima vez e então apoiou-se nos cotovelos e lhe deu um selinho.
Simples.
Cru e infantil.
Ainda assim, para qualquer um, seria muito significativo.
- Vou ir para cama já. Boa noite, Johno. – disse um tanto desconcertada após seu impulso impensado, mas sem parecer nem um pouco desconfortável. Já estava quase de pé quando ele a segurou pelo pulso.
- Ninguém vai ligar se você dormir aqui. – até tentou parecer indiferente. Mas só tentou. Ela riu e soltou seu pulso das mãos dele.
- Nós terminamos nosso namoro, John. Vai soar muito mais convincente se eu dormir no meu quarto com Donna. Agora, boa noite. – disse e bateu a porta logo atrás de si após apagar a luz do quarto.
Ao entrar no seu e fechar a porta, deixou-se escorregar ao chão ainda apoiada por essa. Riu com as mãos nos lábios e a sensação estranha em sua barriga. Era como se tudo dentro dela estivesse se avolumando e criando asas. Estranho e reconfortante ao mesmo tempo. Levantou-se e pegou um pijama qualquer na bolsa, tomou um banho rápido e foi para a cama, mas não conseguiu pregar os olhos. Queria voltar para a cama que dividiu com John e dormir lá. Queria entender o real motivo de não faze-lo.


Foi mais uma daquelas manhãs de ressaca massacrante, com a diferença de que ela foi superada na marra para poderem arrumar as malas e meter o pé na estrada.
Voltaram na mesma formação que vieram. O mesmo silencio constrangedor e um cd da Britney Spears para irritar. E provavelmente nada no mundo era tão desconfortável quanto ver os olhos de Kennedy presos em si pelo retrovisor. Quase não pode evitar a vontade de se jogar de joelhos no gramado de Donna quando finalmente chegaram a Chandler.
- Ah! Lar, doce lar. - disse a ruiva saindo teatralmente de dentro do carro e tirando os óculos.
Pat a ajudou com as malas enquanto o resto se virava para jogar as devidas coisas dentro de seus respectivos carros.
– Vocês foram uma ótima companhia nesse final de semana... Menos ! Você foi péssima. – disse Donna apontando o dedo no rosto da amiga, acusadora e risonha – Enfim... Eu vou dormir, tchau. – e bateu a porta atrás de si.
- Ela é louca. – Stela disse após alguns segundo ainda olhando para a porta fechada, deu ombros, como se isso fosse muito usual vindo de Donna Weiz. – E eu também já vou indo. – mandou um beijo coletivo e se enfiou dentro do carro. E logo todos os demais também o fizeram.
Ou quase todos.
ainda estava parada procurando seu pendrive de músicas dentro da bolsa distraída - bolsa esta que mais parecia um buraco negro – quando alguém se arriscou a bater em seu vidro, assustando-a. Os olhos arregalados foram em direção a janela, encontrando um Kennedy um tanto sem graça. Abaixou o vidro.
- Hã, oi? - disse incerta.
- Oi, . Eu... Bem... – ele gaguejava ao mesmo tempo em que fazia diversos sinais com as mãos, sacudindo-as. – A bateria do meu carro arriou, e... Eu estou sem dinheiro pro taxi. Como todos já foram, será que você não poderia me dar uma carona? - ensaiou um sorriso tímido para a garota que apenas riu e acenou positivo com a cabeça.
Desceu do carro e o ajudou a encaixar as malas em seu porta malas e logo foi seguida para dentro do carro novamente. Foi desconcertante o silencio que tomou conta do veiculo, mas não fez menção de quebra-lo mesmo assim.
Quem o fez foi Kennedy.
- Desculpa perguntar, mas John e você terminaram? - perguntou indiscreto, olhando-a fixamente.
Ela freou o carro do nada fazendo com que o rapaz acabasse por quase bater no painel do carro. Estava lívida, com uma careta estranha. Olhou para trás assustada, afim de checar se não havia risco de alguém bater em sua traseira, logo voltando seus olhos lentamente para o moreno ao seu lado.
- Perdão? - soltou incrédula. – Quem... Quem te contou?
Um sorriso malicioso foi o sinal da confirmação. Ele não sabia, ela só colheu o verde que lhe fora oferecido. Sentiu-se burra e mesmo assim tornou a por o carro em movimento.
- Ninguém, na verdade. Eu só senti um clima estranho entre vocês. Nada de beijinhos de despedida. – disse em tom enjoado, como toda vez em que tocava no assunto “Minha garota na mão dos outros” e continuou a falar – Posso saber o motivo?
Podia não ser a pessoa mais perceptiva do mundo. E de fato, qualquer um sem um mínimo de percepção teria sentido a esperança jorrando da boca do rapaz inconscientemente quando perguntou.
- Não. – disse seca, sem conseguir evitar.
- Por acaso, assim, não foi por minha causa, foi? - indagou tão inocentemente.
Rolou os olhos ao mesmo tempo em que virava a esquina. Nunca a casa de Ken lhe parecera tão longe.
- Aonde você está querendo chegar com sua sutileza, Brock? - foi sem rodeios.
Respirou fundo, tomando uma coragem que não sabia para que. Coçou o cavanhaque e a nuca logo em seguida. Sentiu por alguns segundos que estava pisando em ovos, não conversando com a sua garota.
Sua garota.
De uns tempos para cá essa sentença nunca soou tão correta. Ela sempre fora a garota com quem pode contar, sempre ali depois que a ressaca passava ou quando estava triste. Sempre esteve ali, onde quer que ali fosse. E de repente, não estava mais.
Doeu infinitamente, feriu seu orgulho ver pendurada no pescoço de John como um pequeno mico leão, trocando mimos e piadinhas.
E quanto a ele, afinal? Monroe era uma posse sua, desde que tinham somente dezessete anos. Sua, e John cantor-de-bar nenhum a tiraria disso.
E por isso respirou fundo outra vez e quando o carro finalmente parou em frente a sua casa que dividia com mais dois colegas, destravou o cinto e avançou sem aviso sobre .
A principio ela pareceu meio arredia, empurrando-o e rugindo contra seus lábios. Mas não se negou a retribuir, não tão apaixonadamente quanto antes, mas tão bom quanto se fosse.
Ela era macia como se lembrava, o mesmo gosto de Tic-tac e a agradável mania de arranhar sua nuca. Tê-la ali tão saudosa entre suas mãos, tão entregue o fez acreditar que sempre foi tão tolo por não a prender em si quando não teve competição. Mas, antes tarde do que nunca.
Permitiu se largar dos lábios dela, mais ainda perto o suficiente para sentir a respiração quente bater contra seu rosto. Ambos de olhos fechados, mãos segurando os rostos. Tão cumplices em um beijo roubado.
- Vamos fazer certo dessa vez. – suspirou próximo aos lábios da garota, escorregando sua mão para o pescoço da mesma a acariciando. – Eu tenho essa noção de que caguei com grande parte da nossa história juntos, mas...
As palavras morreram no ar. Ken tinha os olhos fechados apertados, tão envergonhado de si mesmo por estar praticamente se declarando para . E como um raio a noite no Artie’s o arrebatou.
Precisava vomitar aquilo de dentro dele antes que se afogasse em palavras. Antes que deixasse pra depois e o depois fosse tarde demais.
- Mas..? - a loira o incentivou, ainda mantendo os olhos fechados.
- Eu não posso deixar isso assim, sem um fim. Porque eu gosto de você, . Eu sempre gostei. E temo dizer que possivelmente, se isso não der certo, eu ainda vou gostar de você por um bom tempo. – disse em um sussurro tímido. – Se você me desse uma última chance, mesmo que ela tenha gosto de impossível, eu faria o nosso ‘nós’ valer a pena. Por favor? - o tom auspicioso a fez arrepiar, mas as promessas ainda mais.
Um rebuliço tomou conta de seu interior. A festa das borboletas idiotas foi tão grande com aquelas palavras que sentiu enjoo e alivio ao mesmo tempo, um calor no rosto e um frio nas pernas. Abriu seus grandes olhos felinos encontrando os de Ken tão acanhados por suas próprias palavras e sorriu infantilmente.
Podia resumir todos seus sonhos de adolescência em uma só frase proferida por Ken: “Eu gosto de você”. E tremia só de repetir mentalmente as frases ditas por ele. E mesmo assim, não soube o que responder, só curvou-se um pouco sobre ele e depositou em pequeno beijo em seus lábios.
Kennedy riu. As formigas nas palmas das mãos sumiram.
Ela ainda era a sua .
- Eu acho que sexta seria um bom dia para sair pra jantar, não? - o tom bobo de felicidade tomou Ken de surpresa. Sentiu-se um completo idiota apaixonado levando a rainha do baile para o McDonald’s. E era tão bom se sentir assim. - É, seria. – concordou debilmente, retirando suas mãos do rosto do rapaz e voltando-se para o volante.
- Eu vou indo então. Preciso ligar para o guincho ir buscar meu carro lá na ruiva. – disse o moreno destravando sua porta e saindo carro. A loira apertou o botão no painel para abrir o porta-malas, deixando que o rapaz pegasse suas coisas do carro.
Tinha a testa encostada no volante, os olhos fechados e a mente rebobinando a declaração mais crua que já ouvira. Posto que fora a única. Estava alheia a tudo, presa em um êxtase sem explicações.
Não ouviu quando o porta-malas foi fechado e mal percebeu quando a porta ao seu lado tornou a abrir, somente caindo em si ao ser cutucada na cintura. Levantou a cabeça assustada dando de cara com Ken sorrindo ao seu lado.
- Acho que esqueci alguma coisa com você aqui. – disse em um tom divertido.
abaixou o olhar para analisar a si mesma, ver se não tinha nada do rapaz caído no chão ou no banco do passageiro. Então foi surpreendida pela mão do moreno em seu queixo o leve puxar que a fez ir para a frente de encontro a boca macia de Ken por um curtíssimo período de tempo.
O quão fofo pode ser um beijinho roubado?
Ela enrubesceu e ele riu lhe dando outro selinho e saindo do carro. Antes de bater a porta ainda disse um orgulhoso e sonoro “nos vemos sexta” e então foi para dentro de sua casa deixando uma embasbacada do lado de fora que demorou pouco mais de dois minutos para reparar que deveria por o carro em movimento caso quisesse ir para seu lar, doce lar.


Duas semanas se passaram, quarta-feira surgiu de repente, tão rápida e rasteira que nem se pode sentir. Junto com ela trouxe a sensação de vazio e angustia esquisita. A fase da negação poderia ter passado, mas de alguma forma, sentia-se incompleto sem suas desculpas para ligar para alguém ou poder passar seu braço por cima do ombro desse alguém quando saiam juntos.
Ele se encontrava jogado em seu sofá, os dedos melecados de chips de queijo e os olhos grudados na maratona de Game of Thrones. O celular ao seu lado, quase como uma sombra, na doce esperança de tocar e ser uma certa loirinha o chamando para uma pizza. Riu sem humor ao perceber que não prestara atenção alguma ao episódio que corria na tela. Então desistiu de se iludir, arrumou a manta do sofá embaixo de si e puxou uma almofada como travesseiro. Com alguma sorte, dormiria sem pensar muito em nada.

O que lhe pareceu alguns minutos depois, foi bruscamente arrancado de seu sono pelo barulho insistente da campainha. Provavelmente Garrett pedindo abrigo ao amigo por ter esquecido as chaves com algum dos colegas de apartamento. Mas ficou visivelmente chocado ao notar Sienna com seu vestido de verão e cabelos perfeitamente ondulados, linda como a maldita modelo que era, parada na soleira de sua porta.
A loira lhe sorriu e entrou no apartamento sem pedir licença. O garoto fechou a porta atrás de si um tanto aturdido e a seguiu até o sofá, onde a mesma se instalara. E sentados lado a lado em silencio, batendo joelhos para disfarçar o nervosismo eles ficaram. Até Sienna pigarrar alto, bateu os saltos no chão só para chamar a atenção de John, tendo prontamente os olhos verdes do rapaz fixados em si.
- Eu precisava falar com você, Johno. – ela disse, como se desabafasse, virando-se de frente para John – Essas coisas entre nós, inacabas e estranhas, elas... Estão me tirando o sono - pegou as mãos dele nas suas – Eu preciso saber, de verdade John, se você ainda tem sentimentos por mim. De qualquer tipo. Você tem?
Suspirou. Olhou para o nada. E a garota ao menos precisou de uma resposta. Apenas riu anasalado, apertando suas mãos como se agradecesse.
- Eu sabia. – disse conformada. – Acho que eu sempre soube. Todos sempre souberam. Menos você. E ela. – e em um pulo estava em pé, andando a esmo pela sala, continuando seu monologo. – E eu fico honrada na verdade, de ter sido substituída por alguém como ela.
John a olhou aturdido. De que diabos aquela mulher estava falando?
- . – respondeu como se lesse sua mente. – Sempre foi ela, não? - soltou um riso sem humor e virou de costas para ele. – Eu deveria estar morrendo de ciúmes e me humilhando como alguns dias atrás, mas eu acho que... – voltou a ficar de frente para o loiro e mexeu em seus próprios cabelos desconcertada – Você está sendo um idiota por deixar ela escapar dos seus dedos assim.
Os olhos verdes presos em Sienna, como se ela falasse uma linguagem alienígena que soasse estranhamente com inglês, mas não fizesse muito sentido em sua dimensão. Alias, nada ali estava fazendo muito sentido. Ou seria só sua mente lhe pregando uma peça de que sua ex-namorada estava ali pra lhe ajudar a recuperar (se é que se pode falar assim) ?
- Perdão, mas eu acho que eu perdi uma parte fundamental do seu discurso. – disse meio perdido, também ficando em pé.
- Ora, larga mão de ser idiota, John O’Callaghan! – gritou a loira de repente. – Você está perdendo a garota que sempre quis impressionar e por quê? Me diz por que, Johno. – Sienna voou em sua direção, agarrando seu rosto magro entre suas mãos delicadas, forçando-o a olha-la.
- Porque... – arriscou um tanto amedrontado - Eu sou um bunda mole?
Um sorriso enorme se espalhou pelo rosto da loira, que lhe deu um tapinha amigável no rosto, em concordância.
- Exatamente. Você é um bunda mole. – lhe deu as costas, continuando a andar a esmo. – O que eu quero te dizer é que antes de tudo isso começar, de nós namorarmos e termos nos tornado dois bobos, nós éramos amigos. E eu espero continuar sendo. – disse movendo as mãos em círculos pelo ar, exasperada.
- Entendo, mas entenderia mais se você pudesse se explicar melhor. – disse John entortando o lábio com medo da possível represália.
A loira somente riu em resposta e parou em frente ao porta retrato que se encontrava ao lado da televisão da sala. Nele tinha uma foto de todos no ano novo inteiramente bêbados e felizes. Ela nas costas de John, prendendo suas pernas ao redor da cintura do rapaz, as mãos levantadas acima da cabeça. Ambos pareciam estar gritando algo.
Haviam sim sido felizes, não podia negar. Mas sempre havia faltado aquela coisa mágica que torna tudo especial. Um sentimento. E tudo o que sempre tiveram foi o tesão, o fogo correndo nas veias, o toque quente da pele com a pele. Mas nunca amor.
Ela sempre subjugada por ser modelo, tratada como se nunca tivesse saído da pré-escola, por mais que fosse formada em administração. Ele sempre tão mimado, acostumado com o mundo nas mãos e pegando tudo que pudesse sem deixar nada em troca. Por isso não deram certo: John era o rei do mundo, nunca se entregaria a um sentimento; Sienna era romântica e impulsiva e não se via presa a alguém que não queria um futuro.
Mas havia algo dentro de si, talvez fosse a sensação de proteção maternal que sempre teve ou a amizade que sentia pelo rapaz, era algo gritando para que ela o acorda-se e visse que já estava na hora de ele ir atrás de sua felicidade. Antes que a felicidade o trocasse por outro par de calças.
- Eu estou indo embora semana que vem. Nova Iorque. – não havia tristeza ou remorso em sua voz. Na verdade, nunca lhe pareceu tão limpa assim. Largou o porta retratos e virou-se com os olhos sorridentes para o loiro. – Na verdade, eu só vim até aqui para garantir que você não vai deixar o Kennedy se dar bem com esse seu plano machista e idiota. – disse em um meio sorriso ao perceber o olhar de choque nele, que perguntava como ela poderia saber daquilo. – Ah, pois sim que você achou que eu comprei essa de que o relacionamento de vocês não tinha nada suspeito? Acorda, aonde vocês estudaram eu já dei aula.
Sienna não conseguiu segurar as gargalhadas que lhe escaparam deixando com que John se sentisse ainda mais burro.
- Ai, John... – suspirou assim que teve a oportunidade de parar de rir – Só vocês mesmo para serem ingênuos o suficiente a ponto de se enganarem, mas não enganar os outros. Menos Ken, - ela disse com o dedo parado no ar, o sorriso zombeteiro ainda preso no rosto angelical – ele realmente se empenhou em reconquistar quando descobriu que vocês “terminaram”.
- É, fiquei sabendo. Pelo menos para alguém deu certo. – disse tentando parecer conformado.
- Você é um puta de um bunda mole mesmo! – soltou inconformada, fazendo uma careta logo em seguida – E vai ficar aí se sentindo miserável enquanto nessa sexta ele vai pedir ela em namoro, merda. Você vai ter que fazer alguma coisa pra impedir isso.
Os olhos verdes se encontravam ridiculamente esbugalhados. A sensação inexplicavelmente sufocante o tomou: ele a perdera.
O que mais poderia fazer se todo o seu plano já fora descoberto desde o inicio. Fora ele quem dera a ideia, fora ele quem empurrou a garota por quem sempre fora confusamente apaixonado para os braços do amigo. Tudo o que podia fazer era continuar assistindo de longe a degradante e triste série de desventuras que aconteceriam graças a esse relacionamento destinado a fracassar.
- Fazer alguma coisa? Eu já fiz. Eu que fiz essa merda, fiz ele querer ela outra vez. – disse sem animo, se jogando no sofá, frustrado. – Ela é cega de amores por ele, então tanto faz eu me mexer e ir atrás. sempre vai preferir ele.
A loira rugiu a sua frente, enfurecida. Segurou novamente o rosto dele entre suas mãos e como uma mãe dando bronca em um filho, ela soltou entre dentes: - Se você não fizer, eu faço. – rosnou – É mais do que óbvio que ela também gosta de ti, mas ninguém a fez admitir ainda.
- E o que você espera que eu faça, S? Que eu vá lá na casa dela e a obrigue a entender os sentimentos dela em relação a mim e finalmente deixar o Brock para o passado? - disse sarcástico, soltando-se da mulher. – Realmente, não me parece nem um pouco estupido.
- Nada disso, meu amor. – resmungou ainda sem paciência – Donna vai fazer ela entender que é apaixonada por você. Os garotos vão fazer parecer com que você tenha... – deixou as palavras morrerem no ar com um sorriso cumplice nascendo no rosto.
- Eu tenha o que, Sienna? - perguntou desconfiado.
- Com que você tenha fodido o encontro deles de propósito. E o resto é com a gente. – e subitamente estava animada demais.
Por um segundou John realmente cogitou a possibilidade da ex estar usando metanfetamina ou ácido. Que merda estavam planejando pelas costas dele?
E então uma luz finalmente se acendeu: eles fariam aquilo mesmo se ele não quisesse.
”Se você não fizer, eu faço.”
Seus amigos eram pequenos demônios disfarçados de cupido. E ele estava fodido na mão deles.
- Espera um minuto, eu quero ver se entendi. Tanto você quanto meus amigos e as amigas da fizeram um plano para estragar o pedido de namoro do Ken e fazer parecer que a culpa foi minha. É isso? - perguntou incrédulo.
- Sim. – esticou o i sorridente.
- E tecnicamente isso faria a e eu ficarmos juntos. – era como estar pisando em ovos, cada palavra escorregando cuidadosamente de sua boca, a expressão incrédula grudada em seu rosto.
- Juntíssimos. – Sienna finalmente parecia ter se acalmado e o ar feliz pelo entendimento de John deveria estar contagiante. No entanto, ele realmente parecia desacreditado e riu em sua cara por fim.
Ela lhe deu a língua e bateu na saia de seu próprio vestido se arrumando para sair. Não ligou para a reação do ex-namorado, afinal, sua missão já estava cumprida. O alvo secundário já fora avisado.
- Sienna, isso não vai dar certo. Ela vai voltar a me odiar, isso sim. – disse correndo os dedos pelos próprios cabelos, confuso.
A garota riu e pegou sua clutch jogada sobre o sofá. Foi em direção ao rapaz e tocou seu rosto com a palma gelada de sua mão.
- Ela nunca iria te odiar por você ter dado uma desculpa perfeita para ela ser sua. – disse e foi embora, sem nem dar tchau, deixando um John embasbacado para trás. Ele piscou e piscou, até limpou a garganta pensando em falar sozinho, mas no final apenas se levantou e trancou a porta, apagou as luzes e foi para o quarto. Olhou o teto por longuíssimos minutos antes de pegar no sono, somente pensando na cara com que abordaria o assunto no dia seguinte com os amigos.
Porque sim, ele realmente queria foder aquele encontro.




Capítulo 9 - Ele prometeu nunca mais te deixar. Era mentira.

Sorrisos sacanas grampeados em rostinhos bonitos, todos reunidos ao redor da mesa de vidro comprada em nove prestações por Donna. Reunião de cúpula, alguns diriam. Ou talvez da ONU para um plano diabolicamente mágico que erradicaria a fome no mundo.
Mas, não.
Eram só amigos determinados a arruinar um pedido de namoro. E só.
Estavam Donna, Pat, Jared, Stela, Alicia e Garrett rabiscando papéis, fingindo ser pequenos gênios do mal ao ditarem coisas a respeito de .
No fim detinham duas listas em seu poder. Uma continha coisas que a vitima em questão detestava. A outra as que ela, por motivos de saúde, deveria evitar. Ambas estavam ligadas por setas e acarretavam os tópicos leves como "isso eu posso relevar" como os mais graves do tipo "190, qual sua emergência?".
E então, só então, começaram a se mexer para cada um cumprir sua parte.
A ruiva foi a primeira. Enfiou a mão na bolsa e remexeu por dentro até encontrar o celular. Usou as ligações recentes para fazer a chamada e então sorriu quando a atendeu esbaforida, sem nem dar oi.
- O que foi agora? - grunhiu a loira, mal humorada.
- Alô, - disse Donna, esticando os 'os' de propósito só para irrita-la ainda mais – Amiga, eu estou ótima, obrigada por perguntar. Meu dia foi maravilhoso também!
- Eu não perguntei nada. Aliás, nem queria saber. - resmungou do outro lado da linha, aparentemente havia sido acordada. - Agora, desembucha, o que foi que aconteceu de tão urgente pra você cometer o disparate - Donna riu nesse ponto, era um discurso padrão, obviamente. E então aumentou o tom - de me acordar às... - provavelmente estaria alcançando o relógio na cômoda - Sua vaca, ainda é de noite! São onze, malditas, horas da noite!
- De nada. - gracejou a ruiva - É o seguinte, vou passar aí te buscar pra termos uma noite das garotas.
- Eu não...
- Nhé. Nhé. Nhé. - fez tom de deboche e logo depois volto a falar normal - Quem não perguntou nada agora fui eu. Então sai de dentro desse pijama, se enfie dentro de um vestidinho que eu já vou sair te buscar.
- Mas, Don...

O telefone foi desligado, antes que a loira pudesse dar algum motivo válido para não ir. Assim, mesmo contra a vontade, ela iria ir porque essa era , a garota que sempre dava um jeito de ver todos felizes.
Donna olhou sorridente para os amigos, que já se arrumavam para sair. Os apressou e disse que iria sair com e cumprir sua missão.
No fundo estava feliz. Sempre houve essa desconfiança de boa parte (toda parte!) do grupo de que havia sim algum sentimento oculto entre Johno e . Algo que nem eles entendiam bem e não sabiam como reagir.
Lembrava-se perfeitamente de cutucar Pat cada vez que ele mencionava que o relacionamento que os dois pareciam ter não era de verdade. Ela os defendia, por Deus!
Jogava na cara de Pat a vez em que pegaram os dois de mãos dadas no café. Ou a vez em que os viu na loja de instrumentos musicais comprando alguma coisa, o braço de John passado por cima do ombro da amiga e o nariz afundado no topo de sua cabeça. Era óbvio que os dois estavam apaixonados.
Só que depois da viagem, em uma reunião dos garotos, Ken confidenciou a Garrett e Pat que estava solteira outra vez e tinha lhe dado uma chance. E então algo cheirou estranhamente errado. Foi tomar satisfações com a loira, que simplesmente lhe sorriu triste e disse que não haviam dado certo, uma pena.
Mas era com Donna que ela estava falando e Donna não aceitava sorrisos tristes e histórias mal terminadas.
E como anjos enviados em sua porta, Alicia e Sienna surgiram com uma história absurda de que John e precisavam de uma intervenção. E urgente.

- Eles nunca namoraram de verdade. Eu ouvi eles confabulando sobre um plano para fazer ciúmes no Ken e na S. - disse Alicia estirada no sofá. - Mas agora eles se "separaram" e estão mais estranhos do que já eram.
- John só sai do apê pra comer e fazer as apresentações. Ele está robótico! - chiou Sienna, parecendo horrorizada. - Os garotos falaram que ele mal consegue olhar pra cara do Ken depois que ficou sabendo que ele voltou com .
Os olhos de Donna foram direto para Alicia esperando que a mesma falasse algo sobre a amiga, mas a mesma ficou olhando para as mãos e assim que percebeu o olhar da ruiva em si deu ombros.
- O que você quer que eu diga? - suspirou a garota - continua a mesma dissimulada de sempre. Ela finge que não aconteceu nada, mas eu sempre pego ela olhando furtivamente para o celular mesmo com o Ken a tiracolo!
- É por isso que viemos direto para você com isso, Dons. - disse Sienna - Nós precisamos da sua ajuda para uma intervenção amorosa nesses dois, antes que seja tarde, e você com toda sua sagacidade e malicia vai nos ajudar, claro!
A principio ficou chocada. Então riu desacreditada. E só quando viu os rostinhos sérios a sua frente entendeu que elas não estavam de brincadeira.


Logo todos já estavam a par da situação e se juntaram como em um icônico episódio da Liga da Justiça prontos para ceifar um relacionamento já destinado a ruína por natureza. E sobrou logo para ela a parte mais difícil: drenar alguma verdade do poço de cinismo ambulante que era quando sobre seus sentimentos.

Buzinou escandalosamente a frente da casa da loira e logo a luz da varanda se acendeu. veio em sua direção com uma expressão pouco feliz e vestida com, o que deveria ter sido, a primeira peça de roupa que surgiu em sua frente. Resmungou muito até chegarem a seu destino e ficou ainda mais irritadiça quando descobriu que somente ela fora tirada da cama.
- Mas que merda é essa, Donatella? - grunhiu depois de perceber que ninguém mais chegaria - Eu pensei ter ouvido "noite das garotas", mas só tem eu, você e essa sua cara feia cheia de sardas aqui.
- Querida, segundo a gramatica, tendo mais de um sujeito já podemos usar o plural. Garotas, aqui, seriamos eu e você. Mas aí você adicionou minha cara feia e cheia de sardas... - disse a ruiva meigamente ao enrolar uma pequena mecha de cabelo entre os dedos, na melhor expressão inocente que pode reproduzir.
estreitou os olhos verdes desacreditando que havia sido tirada de sua cama morna e macia para ter que observar Donna tomando café a sua frente. Café! Às onze e meia da noite.
Sempre foi muito incisiva e cheia de opinião, essa era uma verdade sobre Donatella "Donna" Weiz. Uma seta vermelha em direção a múltiplos alvos, pronta para acertar sem dó nem piedade caso houvesse uma pequena possibilidade de estar certa sobre determinado assunto. E acredite, ela sempre estava certa sobre tudo.
Contudo, ao parar para analisar o rosto cansada e nada amigável da loira, ela travou. Não havia por onde começar o assunto pretendido. Talvez tivesse sido uma péssima ideia ter tirado ela da cama. Talvez falar pessoalmente não fosse seu forte, afinal era uma blogger. Se fosse ao banheiro poderia chamar a amiga pelo whatsapp e perguntar como quem não quer nada: E então, quando você vai assumir que é cheia de tesão e amor por O'Callaghan?
Mas não poderia. E isso meio que a entediava. Havia um jeito e ela o acharia. Ela sempre acha de qualquer maneira.
ameaçou se levantar após ter dito uma série de palavrões pra amiga. Algo sobre ela ser filha de alguma coisa e merecer tomar em algum lugar. A puxou pelo braço com um pedido de desculpas e se ofereceu pra pagar um pedaço de cheesecake com framboesa, seu preferido.
Esperou pacientemente até a torta chegar e a loira enfiar o primeiro pedaço na boca para, enfim, começar o que pretendia.
- Quando você iria me contar? - perguntou tentando usar um tom não tão ofendido, debruçando-se um pouco sobre a mesa. Queria avaliar a expressão de , mas ela parecia confusa sobre o assunto. - Sobre você e John nunca terem estado juntos de verdade. - Explicou sua pergunta.
Ela engasgou com a garfada de torta, assustada demais com a pergunta. Só pode voltar ao normal depois de uma série de tapas nas costas. Ainda estava meio roxa quando conseguiu falar algo.
- Quem te falou isso? - perguntou lívida, em resposta.
- E isso importa? - deu ombros ao tempo em que rolava os olhos. - Eu sou sua melhor amiga e você esteve por mais de um mês me enrolando sobre um relacionamento que nunca existiu. E pra que? - perguntou retoricamente em um tom exasperado. - Pra ter o babaca egoísta e mentiroso do Kennedy de volta.
A loira abaixou a cabeça sem saber se deveria estar envergonhada por ter ocultado algo de sua melhor amiga ou por ela ter razão sobre os atributos de Kennedy. - Desculpa. - murmurou sem jeito. - Eu não quis esconder isso de você, é sério.
Donna não pareceu ligar, apenas balançou a cabeça como se desacreditasse.
- Sabe a pior parte, ? É que você realmente voltou com o Kenny, mesmo estando apaixonada por outro cara. - soltou irritada.
até poderia ter se engasgado novamente, tamanho foi o choque das palavras da ruiva contra seu rosto. Ficou pálida, depois vermelha. Obviamente não era boa atriz para disfarçar, mas havia alguma pequena chance de ter escutado errado a amiga.
- Perdão?
- É isso mesmo que você escutou. Ou você acha que sou burra o suficiente pra não perceber que você está caidinha de amores pelo Johno? - grunhiu um tanto cínica para a amiga.
- Mas eu não... - tentou começar tropeçando em suas próprias palavras gaguejando como uma idiota, mas a careta entediada de Donna a barrou. - Aonde você quer chegar com isso, Weiz?
- Quero chegar no ponto em que você larga mão de ser tonta e me diz logo toda a verdade sobre esse assunto.
- Eu não estou apaixonada por ele. Ponto. - disse na defensiva, cruzando os braços abaixo dos seios, como se pudesse ficar menos vulnerável a Donna e seus olhos de gavião.
Ela riu na sua cara e tomou mais um gole de café.
- Ok, continue negando para si mesma. Mas saiba que todo mundo pode ver isso.
suspirou e desviou seu olhar para a mesa do lado. Um jovem casal de mãos dadas conversando sobre nada e trocando aqueles malditos olhares cheio de corações.
Sua mente viajou no dia em que era ela e John de mãos dadas sobre a mesa, ela tão desconfortável por toda a proximidade e ele tão confiante em seu discurso sobre amarem seus pares. Sentiu uma fisgada no coração. Estava fodida.
- Você não entende, D. - disse sem emoção, rolando os olhos - Eu me sentia tão protegida quando estava do lado dele, como se nem o sol pudesse me queimar. - riu em um estado nostálgico, lembrando-se de cada escapada que tiveram. - E quando ele me beijava, mesmo que fosse de faz de conta, era como estar derretendo por dentro. Eu me sentia estupida e vulnerável.
Parou, voltando a olhar para a amiga, os olhos tristes e conformados.
- Era como se a gente encaixasse, como uma porcaria de um lego. Era meio mágico. - murmurou. - E senti que foi tão certo quando a gente transou, sabe? - puxou uma grande lufada de ar em um suspiro - Não era só um sexo casual entre amigos que estavam mentindo. Foi exatamente como eu desejei que fosse entre mim e Kennedy: confidente e emocional. - um sorriso triste surgiu em seu rosto. - Mas eu sou muito garotinha, Donna. Nós não pertencemos juntos. Fim de história.
- Burra. - disse Donna simplesmente, recebendo um olhar assustado em resposta. - Você é uma puta duma burra.
- O que? - perguntou confusa.
- Você! - disse apontando para sem conseguir acreditar na burrice da amiga - Você fica aí se lamentando, falando que vocês não pertencem juntos. Quem disse que não? - estava exasperada fazendo gestos exagerados no ar ao tentar botar um pouco de juízo na cabeça da amiga. - Ao menos você disse algo pra ele sobre isso ou só deu uns amassos no Ken pra perceber isso?
- O que você quer que eu diga? - piou revoltosa e dobrou três dedos da mão, esticando somente o polegar e o mínimo levando-os até a orelha fingindo ser um telefone. - Oi, John é a . Então, só queria dizer que eu acabei confundindo toda a nossa merda, por favor, venha me amar! - reproduziu em uma voz debochada. - Realmente, me parece muito jogo mesmo.
A ruiva deu ombros em sua frente já irritada. Pediu a conta e preferiu ficar em silêncio depois de um breve "ok, você está certa" até chegarem a frente da casa da loira novamente.
já estava fechando a porta quando a amiga abaixou o vidro do passageiro e lhe chamou:
- Você passou cinco anos da sua vida correndo atrás do seu próprio rabo achando que era certo. Agora você sentiu o que realmente era certo, então faça um favor para si mesma e vá ser feliz. - disse impassível e nem esperou resposta para arrancar o carro e sumir em fumaça dali, deixando pensativa para trás.

Estava há horas rolando na cama como uma bola, irritada e angustiada demais para pregar os olhos novamente. Flashes de sua conversa com Donna a atormentavam o sono. E se Donatella estivesse certa e ela estivesse realmente só perseguindo o próprio rabo a troco de nada? E se ela realmente estivesse apaixonada por John?


Tinha tido um dia péssimo, como de costume.
Estava úmido e quente demais. Todos estavam ocupados demais trabalhando ou estudando para lhe darem atenção. Nem seus pais lhe atendiam mais.
O que tinha de errado no ar?
Almoçou uma tigela de Fruit Loops e depois de zapear os canais da televisão a cabo desistiu de ficar rolando pelo sofá e foi em busca do seu celular. Tinha que sair ou acabaria enlouquecendo.

Pegou as chaves do carro que estavam no aparador da sala, vestiu as sandálias de qualquer jeito e saiu a esmo pelas ruas de Chandler.
Donna não estava em casa, disso ela sabia. E mesmo que estivesse, talvez a ruiva não fosse a melhor opção do dia, não depois da “conversa de garotas” de que tinham tido. Alicia e Stela estavam estudando para alguma prova importante, explicaram pelo celular. Garrett nem a atendeu e não tinha o numero de Pat. Jared estava trabalhando.
Nem passou na sua cabeça ligar para Ken. Algo sobre se verem no dia seguinte ou qualquer coisa do gênero.

No rádio estava tocando Radiohead. E Radiohead a levava direto a John.
Era estranho como ultimamente tudo a fazia lembrar dele.
O bonsai ao lado de sua cama era verde. Os olhos de John eram verdes.
As toucas no saldão de inverno. John usava muitas toucas no inverno.
A MTV. John era músico.
As estrelas coladas no seu teto. John a tinha feito conhecer as estrelas.

Talvez tenha sido o calor, ou seu subconsciente lhe pregando uma peça, mas não havia como negar que estava em frente ao prédio onde John morava. No fundo sabia por que estava lá. No fundo sabia que ninguém iria vê-la naquela tarde. Só ele poderia.
Nem tentou arrumar desculpas para não descer. Apenas pegou sua bolsa que estava jogada no banco do passageiro e foi à porta.
Não havia porteiro, só uma porta de vidro e um painel com os números dos apartamentos. Já havia sido escoteira, e quando não se tem a chave para entrar o jeito é apertar todos os botões que alguém eventualmente acaba abrindo. E por fim, depois de cinco minutos de luta, alguma alma iluminada finalmente abriu a porta.
Apertou cerca de dez vezes a campainha e nenhum som saia de dentro do apartamento. Nem passos, TV ou liquidificador. Apenas um silencio mortal que a fez se sentir estupida por tentar uma surpresa.
Era . E era a que estragava as surpresas, não a que fazia as surpresas.
Agarrou novamente a bolsa, era melhor ir embora antes que alguém aparecesse a achasse mais louca do que realmente era.


•••



O dia havia sido interessante, apesar do stress que o calor trazia.
No dia anterior havia recebido uma ligação, uma confirmação para tocar em um casamento. Não era sua praia, mas como o sobrenome da noiva não lhe era estranho de colunas sociais, aceitou.
Almoçou na casa da mãe, ouviu os resmungos do pai e jogou um pouco com os irmãos. Até sentiu saudades de quando morava com aquele bando, mas a saudade passou assim que começaram a lhe cobrar um emprego decente.
Há anos era a mesma conversa: Não importava em quantos bares tocasse, quantas pessoas influentes conhecia ou quanto tirava por noite. Eles só o queriam dentro de um cubículo no escritório, usando gravata e passando gel no cabelo.
John queria mais da vida do que ver a mesma parede pintada de branco-gelo todos os dias. E esse era o motivo de toda vez que tocavam no assunto ele estava irremediavelmente atrasado para algo.
Catou suas coisas, deu um beijo na mãe e antes de sair enfatizou a tristeza com um “uma pena não poder ficar mais”. Mais um suspiro e então correu para o carro.
Era agridoce a sensação de visitar a família. Pois sempre começava com bolo e café e terminava com murros na mesa e café.
Talvez essa fosse a sensação de ir a Disney em um dia de chuva: mágico e frustrante ao mesmo tempo.
Antes de ir para casa passou no mercado, sua geladeira estava vazia a décadas.
Subir as escadas com sacolas era um martírio. Não que morar em um prédio sem elevador não fosse martírio suficiente por si só. Trombou com alguém com que descia e quase derrubou as sacolas. Ouviu um desculpe e pregou seu pé no degrau.
Ela era loira. Baixa. Magricela.
Ela tinha uma voz que vinha seguindo sua mente por dias a fio.

? – perguntou alto o suficiente para fazer a pessoa que já fazia a curva do andar parar.
— John! – a voz da garota lhe soou tão animada que um sorriso se fixou em seu rosto. – Pensei que não ia conseguir te ver hoje.
Sorriu e indicou o topo da escada como direção. tomou algumas sacolas de sua mão para ajudar e foram juntos até seu apartamento.
Depois de guardarem as coisas e se servirem de refri, o silêncio constrangedor tomou conta do ar.
Longe dele achar ruim uma visita vespertina da garota. Longe dele achar ruim ela estar por perto de qualquer jeito. Mas era estranho.
Estranho pois passaram vários dias se evitando inconscientemente, como se não fosse mais certo serem amigos como haviam prometido que tentariam.

— O que você está fazendo perdida por esse lado da cidade? – perguntou depois de se jogar no sofá e estender os pés sobre a mesinha de centro a sua frente.
— Na verdade, nada. Eu vim te ver. — soltou, jogando-se ao seu lado. — Estava de bobeira em casa e resolvi vir ver se você queria companhia pra... Sei lá, fazer nada. Isso se você não estiver fazendo nada.
— E por que não me ligou? — achou engraçado quando ao perguntar ela ergueu as mãos ao lado do rosto e montou uma carinha angelical só para responder um infantil:
— Surpresa! Só pode rir pela resposta. O que mais esperar dela?
Nesses dois meses tudo o que tinha relacionado a ela eram surpresas. Tanto sobre a garota quanto a si mesmo. Sempre era tão bom ser surpreendido.
Ficaram por ali um bom tempo, jogados no sofá falando sobre nada e comendo chips. E quando o silêncio baixou, ela o olhou com os malditos olhos de gato e sorriu.
— Como é bom conversar com você. — disse em um sorriso — Depois de todo esse negócio com o Ken, eu fiquei com vergonha de ligar pra conversar ou algo assim... Mas é bom saber que nada mudou e que nós ainda podemos ser amigos. — e o apertou no braço.

Não respondeu nada, apenas assentiu forçou um sorriso ao comentário.
Algo dentro do seu peito bufou com a menção honrosa da palavra “amigos”. Bufou e murchou em seguida.
E se toda aquela conversa mole de Sienna fosse só um engano, afinal ele muitas vezes vivia chapado. Dá pra confundir brisa com amor dependendo da fumaça. Não dá?
E se a paranoia te faz pensar que talvez tenha deixado o fogão acesso ou a porta destrancada, ela também te faz lembrar cada pequeno detalhe de uma pessoa, ou o som da sua voz. Ou em como ela deveria estar pensando em você, não no seu amigo.
Provavelmente Sienna o diagnosticou com a doença errada: Não era paixão, era idiotice.
Depois de decidir que sua bunda já tivesse tomado o formato do sofá ela mandou o rapaz ir tomar um banho. Era noite, era calor e eles iriam, definitivamente, sair pra tomar alguma coisa.
Ele somente bateu uma continência exagerada para ela, chamou-a de “Sargento Monroe” e sumiu no corredor.

ficou boa parte da meia hora que se seguiu batendo pacientemente os saltos contra o chão e olhando curiosamente ao redor.
John não demorou a aparecer cheirando a colônia e vestido com jeans e uma regata.
A garota amava o Vintage 95, mas decidiram estar cheio demais para que pudessem ficar. E enquanto John batia contra o porta luvas falando para irem ao Fibber Magees, ela achou que seria uma ideia melhor pararem na distribuidora de bebidas e comprarem alguma coisa, ir para casa do garoto e ligar o ar condicionado.
— Você fez eu me arrumar todo só para voltar para casa. — reclamou enquanto segurava a porta para deixa-la passar com as compras.
— Querido, você só tomou um banho. Nem se deu o trabalho de pentear esse cabelinho aí.
Deu ombros ao comentário, não sem menear um sorriso. Deixou as compras sobre a mesa da cozinha e apressou-se em colocar todas as coisas geladas no freezer para não correr o risco de acabar sendo obrigado a tomar cerveja quente.
E enquanto se ocupou em procurar uma vasilha para os salgadinhos, revirava sem pena seus cds e dvds, jogando alguns sobre a mesa de café no centro da sala.
Era engraçado, deveria admitir. Os dois ali, dividindo o mesmo espaço sem brigas, mas ainda sem o trato. Um mundo paralelo, diriam os especialistas nessa causa perdida chamada juventude. Sentiu sua falta durante aquelas semanas arrastadas. Acreditou ser indelicado de sua parte ligar e ficar flertando com a garota do seu melhor amigo.
Mesmo que a vontade de fazer fosse maior que tudo.
Por que tinha que ser ela a garota insossa que desabrocha na sua frente como uma flor de cerejeira e se mostra o ser humano mais compatível com suas causas? Ela era tão estupidamente linda com suas saias altas e croppeds com frases engraçadinhas; toda venenosa com suas tiradas cretinas e o fazia se sentir o cara mais babaca da face da terra por tê-la entregado em uma bandeja com molho de abacaxi para Kennedy.
E ele nem a comeria direito.

Obrigou a garota a assistir Scarface e concordar com ele sobre como seria do caralho ter uma montanha de cocaína em sua mesa. Depois ela o obrigou a assistir uma comédia meia boca e concordar com ela que toda a garota deveria ter um vizinho gostoso como Chris Evans que abre a porta do apartamento pelado.
Lá pelo meio da noite decidiram que seria uma ótima ideia acender o baseado que tinha na bolsa e então jogar Just Dance como duas crianças. Comeram Oreos com Nutella e procuraram receitas pra curar larica na internet. Mas só descobriram que poderiam fazer mais arte com os doces que tinham em casa.
De volta ao sofá com apenas um controle para jogar algum jogo de guerra que aparentemente era difícil demais para e a obrigava a ficar jogando outro jogo. O de atrapalhar John jogando.
Estava com a cabeça em seu colo e beliscava seu braço, já havia mordido a parte perto do seu joelho e agora estava tentando enfiar o dedo em seu nariz. Quase matou seu personagem no jogo quando ela ficou de joelhos no sofá, bem ao seu lado, e abocanhou sua orelha.
— Você quer parar com isso, mulher? — disse rindo a segurando longe de si com uma mão e tentando jogar com a outra. Mas ela se lançou sobre seu corpo tapando seus olhos e o derrubando para o lado com seu peso. — , pelo amor de Deus!
Ainda com a mão em seus olhos e o corpo sobre o seu ela colou os lábios em sua bochecha e riu sob a paralisação do rapaz. Arrastou seus lábios para o queixo dele enquanto escorregava lentamente a mão que cobriam os olhos do rapaz. E antes que tivesse a chance de pensar em recuar, o beijou tão lenta e demoradamente quanto pode.

Algo desligou-se dentro do seu cérebro. Talvez tenha segurado o ar demais enquanto a beijava, mas realmente não conseguia se lembrar de como acabaram semi-nus no sofá. Era aquele maldita pele sedosa que escorregava debaixo da sua palma fazendo sinapses, respiração, o mundo em si, falhar.
Não existia mais nada no mundo. Fosse Kennedy, Sienna, um emprego melhor. Eram só John e ali como se o mundo tivesse parado naquela casa do lago e eles nunca tivessem saido daquele cama.
Alcançou o fecho do sutiã branco dela, as unhas raspando de leve nas suas costas. Ela resfolegou contra seu pescoço.
- Não me deixa nunca mais, por favor. - ela sussurrou, os dedos enrolando em seus cabelos, a boca formigando em seu ombro.
Ele nem precisava pensar pra responder:
- Nunca mais.

Tornou a suspirar. Donna estava certa, era apaixonada por John.
A barba rala roçando em seu pescoço, o cheiro bom que vinha da sua pele. Como pensou que conseguiria trocar isso por uma vida meia-boca com Ken?
Queria viver no limite. E viver no limite só seria certo se fosse com John e seu violão naquele carro velho, falando sobre besteiras e jantando pizza fria. Soava como um sonho.
Ele desceu a mão por sua cintura e acertou a barra da calcinha com a ponta dos dedos. Lá estavam eles novamente.
Mas não seria como da primeira vez, não depois de toda a epifania que Donatella tinha lhe causado, não depois de ele ter dito que não a deixaria mais.
Já havia arrebentado o limite de casualidade quando era sobre sexo. Queria um pouco de amor de verdade para variar.
Segurou seu pulso gentilmente e murmurou contra seu pescoço:
- Você me ama?
Ele estava petrificado, o silencio sobre as respirações pesadas.
A pedrada do entendimento lhe atingiu como uma forte pontada na fonte.
- Você ao menos gosta de mim?
Silêncio e mais silencio. O desespero preso na garganta.
De novo não. Por favor, não.
- John?! - chamou-o com uma pontada de dor na voz.
Pela terceira vez ele não respondeu. E nem precisaria. A resposta era não e ela sabia.

Caiu do sofá em um baque surdo. Ela o tinha repelido.
A viu cruzar a sala, vestindo a roupa na velocidade da luz. Tentou dizer algo, mas as palavras não encontravam a saída e nem as frases correspondiam a sua formação.
Ela o olhou antes de abrir a porta e seu coração desaprendeu a bater: ela estava chorando.
Não, por favor, não chore.
Queria poder levantar e a apertar contra seu peito, dizer mil vezes sim, que gostava dela e provavelmente a amasse. Mas observou como um idiota ela bater a porta com um soluço engasgado.

Não me deixa nunca mais.
Ele não seria o novo Kennedy.
Agarrou a calça jogada sobre a mesa de centro e a vestiu de qualquer jeito. Correu tão desesperado pelas escadas que nem lhe passou pela cabeça que poderia se machucar. Estava no primeiro andar quando ouviu a porta da entrada bater forte.
Terminou de descer aos pulos. Talvez a alcançasse na esquina.
A viu lutar contra a porta e as lagrimas.
- ! - gritou enquanto corria ao seu encontro e a viu se enfiar no carro desesperada - , por favor!
Mas já era tarde, ela já tinha dado a partida.
Ele a deixou ir.

Bateu desesperada na porta de madeira maciça. As lagrimas correndo livre por seus rosto.
Jogou-se nos braços de Donna quando a mesma abriu a porta, deixando-a sem reação.
- Você estava errada. - resmungou em meio a soluços para a amiga.
- E você ranhenta. - riu afastando-a pelos ombros e a medindo com um olhar preocupado - O que aconteceu, ?
- Nós não somos um lego. - sussurrou.
- Obviamente, não. Somos seres humanos. - respondeu confusa.
- Não você e eu. - replicou irritada – John e eu.
Donna só fez soltar um 'oh' de entendimento e então puxou a amiga para dentro de casa com um sorriso.
- Você tá chapada, né?
- Talvez.
A ruiva fechou a porta e tentou se preparar psicologicamente para socar aquela cara magrela de John quando o visse.

Ele estava deitava no tapete da sala se sentindo o ser mais desprezível do mundo.
Era para ele dar um motivo para ser sua. Mas só dera um motivo para ela odiá-lo de vez.
Pegou o celular e escrever cinquenta vezes Eu amo você.
Mas nunca apertou o botão para enviar.




Capítulo 10 - Amor não é essa coisa que te tira o ar. Isso é asma.

Suas técnicas para o coque perfeito sempre foram muito falhas. Talvez exigisse demais de si o fato do rabo de cavalo não ter ondinhas de cabelo frouxo no topo da cabeça. Mas no fim, gostava do que via no reflexo do espelho quase totalmente desembaçado.
Os cabelos loiros presos no coque trabalhoso, os fios dourados dos brincos brincando sobre seus ombros nus que o vestido preto não escondia. A maquiagem leve que seus dotes permitiam e o perfume caro que sua mãe havia dado no natal. Tudo colaborando para parecer divina nessa noite importante.
sabia, claro que sabia.
Garotas sempre sabem quando vão ser pedidas em namoro oficialmente. Garotas sempre dizem sim depois de um fiasco emocional como o vivido no dia anterior (que só serviu para reforçar a tese de que, sim, era Kennedy que - apesar das pisadas na bola - merecia seu coração).
Então se arrumou no seu melhor, se perfumou no seu melhor, até tentou emagrecer para parecer melhor. Tudo para enaltecer seu ego quando alguém soubesse sobre o anel prateado enforcando seu dedo, estapeando-o dolorosamente na cara por ter ficado calado justo quando não devia.
Balançou a cabeça querendo afastar os pensamentos. Mas tinham sido assim as últimas 24 horas desde que voltara da casa de Donna: divididas entre se esforçar pra esquecer-se de John e se esforçar pra pensar em Kennedy.

Foi o caminho todo de sua casa até a casa dos Monroe sentindo coração bater na garganta, tentando lembrar as palavras que tinha ensaiado para o espelho e a listinha to do que executariam aquela noite.
Era certo, não era? Pedir ela em namoro depois te todo aquele tempo?
Bem lá no fundo sentia-se bobo por se perguntar isso. Óbvio que era certo, ela era sua. Sempre fora e sempre seria. A sua e de mais ninguém.
Esbarrou a mão na caixinha de veludo azul dentro de sua calça depois de fechar a porta do carro, já em frente da casa da garota.
Cara, aquela era a única merda que ele já teve certeza na vida.

- Sabe, se você realmente vai fazer isso, devia fazer com estilo. - disse Garrett atravessado em seu sofá, tomando o seu copo de limonada sem parecer culpado - Sabe do que garotas gostam? - até tentou responder, mas logo o rapaz tinha sentado direito e disse um tom mais alto - Flores! Garotas amam flores.
- Flores? - perguntou incrédulo - E quanto aos diamantes?
- Vamos tentar não ser superficiais aqui? Garanto que adoraria receber flores nesse encontro cósmico de namoradinhos que você está programando.
Kennedy se arrumou na poltrona em que estava. Procurou na memoria alguma mera referencia de que realmente gostaria daquilo, contudo não encontro nada a favor. Mas também nada contra. E, além disso, seria interessante reforçar o seu lado romântico para ela.
- E que flores eu deveria entregar pra ela, espertalhão?
- Bem, - o garoto assumiu um tom pensativo, como se analisasse as vastas opções, então estralou os lábios e apontou para o amigo com um sorriso - segundo John, as flores preferidas de são…


Acônitos.
Um vasinho decorado com florezinhas roxas. Foi a primeira coisa que viu assim que abriu a porta, após terem tocado a campainha. Logo atrás delas estava Ken com sua camisa social impecável.
Não pode deixar de olhar com estranheza para os longos caules repletos de flores, mas ignorou o pensamento assim que o rapaz a cumprimentou com um selinho.
- Está linda, sabia? - disse e lhe estendeu o presente - Pra você, suas favoritas.
- Minhas favoritas? - soltou com descrença, quase perguntando “desde quando?” involuntariamente ao deixar o presente sobre a mesa do telefone.
- É, exótica como você.
- Sempre exótico alguém gostar de veneno de lobo. Quero dizer, acho que ninguém no mundo gosta. – deu ombros ainda observando as flores como se achasse absurdo alguém dar uma planta venenosa de presente.
- Você obviamente não é todo mundo.
Não quis resmungar sobre o presente, nem sobre a insistência sobre um gosto de botânica que não tinha, apenas deu de ombros e fingiu que tinha ganhado margaridas esquisitas.
- Bem, temos que ir senão perdemos a reserva. – disse puxando-a delicadamente para fora e esperando-a trancar a porta. Enroscou seu braço ao dela durante o curto trajeto até o carro, parecendo satisfeito com o próprio cavalheirismo ao abrir elegantemente a porta do carro para sua garota.
- Aonde vamos?
- Surpresa. Mas garanto que vai amar.

Uma notificação de um novo e-mail havia pipocado em sua tela e a curiosidade foi maior que a pilha de trabalhos sobre sua mesa.
O texto era rápido e sucinto:
Kennedy,
esteve comentando comigo sobre uma saidinha romântica que vocês estão programando. Como conheço minha amiga sei que ela vai te deixar escolher tudo e como eu te adoro consegui um cupom de desconto de um restaurante que o John disse que ela a-m-a!
Espero que vocês se divirtam, qualquer coisa é só me ligar.

Com carinho,
Stela.


Estacionou o carro logo em frente a um pequeno restaurante indiano escondido no centro da cidade.
Kennedy tinha o sorriso mais confiante do mundo no rosto ao entrar e dar seus nomes, pediria o prato preferido de e então quando terminassem iria entregar o anel de compromisso como havia ensaiado durante toda a semana.
tinha uma careta desconcertada no rosto, mal podia acreditar no pesadelo que aquele lugar era. O cheiro de tempero no ar, a decoração meio embolorada e o fato de ter que sentar em uma almofada suspeita no chão enquanto estava de vestido.
Qualquer restaurante seria melhor que comida étnica. Odiava comida temperada e não conseguir entender o nome dos pratos. Fora que quase sempre acabava ficando doente depois de ser obrigada a comer.
- Boa noite, já sabem o que vão pedir? – perguntou a garçonete ao lado da mesa baixa.
- Vão ser dois meenmoilee. – disse Kennedy sem titubear já que quando ligou mais cedo para Stela, a mesma lhe confirmou que esse seria o prato preferido de .
- Escolhendo por mim, huh? – disse com um olhar divertido para o rapaz assim que a garçonete deu as costas.
- Sempre o melhor pra minha garota. – disse lhe oferecendo uma piscadela.
Conversaram amenidades até a mesma mulher voltar lhes entregando uma cumbuca fumegante e um sorriso cordial.
se retorceu em sua almofada, sem conseguir evitar retorcer o nariz para o creme amarelado a sua frente. Como gostaria de ter o paladar de Donna nessas horas.
Bastou uma colherada na boca para o estrago estar pronto.
Tinha gosto de peixe. E de coco. Era picante e quente. Com muito esforço conseguiu engolir, mas o gosto sambou em sua língua fazendo-a enjoar muito rápido.
Empurrou a tigela sem delicadeza alguma para cima do rapaz e correu desajeitada até o que lhe pareceu o banheiro.

Da mesa o moreno observava a porta fechada enquanto comia o restante do prato. Como ela podia ter como comida preferida algo que a fazia vomitar sem mal terminar de engolir a primeira colherada?
Talvez ela fosse mais maluca do que ele lembrava.

Levou uma eternidade para criar coragem e sair do banheiro.
Como alguém podia ser tão fiasquenta quanto ela mesma? Passar mal em um encontro era bem sua cara mesmo. E a pior parte era que nem podia jogar agua gelada no rosto pra não borrar a maquiagem sofrida que tinha feito.
Deu-se por vencida de enxaguar a boca e marchar de volta até sua almofada.
- Você está legal?
- Até que sim. – deu ombros. – Nós podemos ir? Está bem abafado aqui.
- Claro, só me deixe pagar isso. – disse Ken ao se retirar em direção ao caixa.

Um silêncio incômodo havia se instalado no carro enquanto seguiam sem rumo pelo centro da cidade. Já haviam ligado o som baixo, olhado para fora da janela e tamborilado os dedos no volante. Sentiu que deveria falar alguma coisa quando pararam no semáforo.
- Então, está a fim de comer uma sobremesa? Sei de um lugar bem legal que inaugurou recentemente, você vai amar. – soltou incerto, arriscando um sorriso para a garota ao seu lado.
enrolava uma mecha de cabelo que havia soltado de seu coque distraidamente. Concordou com a cabeça, talvez algum doce tirasse aquele gosto estranho de sua boca.

Metade da galera estava reunida na pizzaria tomando cerveja e fugindo da dieta no meio da semana.
Sienna e Donna conversavam animadamente sobre os lugares novos que tinham descoberto recentemente, até a loira dar um gritinho animado e esticar o indicador para Ken chamando sua atenção.
- Sei um lugar que você precisa levar a ! – disse empolgada.
- Ah é? – resmungou desinteressado. Ultimamente todo mundo parecia saber onde ele ‘de-ve-ria’ levar ou não .
- É! Uma amiga minha abriu um café que serve alguns doces finos e a especialidade dela são macarons. Daqueles coloridinhos, sabe? – disse em um biquinho de pura fofura. – E todo mundo sabe que a a ama macarons com cappuccino gelado!
- John disse que ela ama o de nozes. – disse Donna – Mas não deixa ela comer mais que três.
- Por quê? – perguntou interessado.
- Por nada. Só não deixe!


LesPalais era uma cafeteria simpática no fim da rua que tinha cheiro de chocolate quente e canela, realmente acolhedora e sofisticada. Um enorme quadro negro atrás do balcão todo desenhado dava um charme especial ao lugar.
Assim que chegaram escolheram uma mesa e Kennedy se prontificou de ir ao balcão fazer o pedido, enquanto a loira simplesmente olhava ao redor, encantada com a delicadeza do lugar. Mal viu quando o moreno sentou a sua frente e segurou sua mão.
- Uma graça aqui, não?
- Eu adorei esse lugar, Ken. – disse sorridente, pelo menos algo da noite tinha que ser bom.
- Sabe, eu estava pensando, já que começamos a noite tão mal, talvez nós pudéssemos ir lá pra casa, ver um filme... – parou pra pensar em algum filme que alguém tinha dito que ela gostava – Pode ser Os Miseráveis, que eu sei que você adora.
Inesperadamente explodiu em risadas por longos segundos.
- Você é tão engraçado, Kenny.
- Engraçado? – perguntou confuso.
- É, fazendo piada da minha cara... Todo mundo sabe que eu odeio musicais. – fez uma careta engraçada para o rapaz – Você é muito bobo.
Queria ter pelo menos conseguido se sentir um pouco constrangido, porém um garçom, que não deveria ter mais que dezessete anos, chegou para entregar o pedido da mesa o livrando da situação.

não conseguiu conter um gritinho animado ao ver o prato repleto de macarons dispostos como um arco-íris. Alcançou um e o enfiou inteiro na boca, mastigando-o com um sorriso no rosto.
- Que gostoso. Eu amo macarons! – disse em um sorriso para o moreno. – É de leite vegetal? – apontou para o copo de cappuccino que lhe tinha sido oferecido.
- Hm, eu acho que... Não? – Ken optou incerto. Existia mais leite além do da vaca, afinal?
- Desculpa, eu sou intolerante a lactose. – empurrou o copo para longe de si com uma careta. Se um dia fizesse um ranking de noites constrangedoras, essa estaria no topo de todas. – Você podia pedir um café preto pra mim, se não for muito incomodo.
Kennedy só abanou a cabeça e retornou ao balcão.

A loira voltou a comer, tentando controlar a vontade de checar o celular ou gritar para que Kennedy pedisse logo ela em namoro pra poder ir pra casa.
Estava com a sensação de ter engolido areia, a garganta estava arranhando e o céu da boca coçava. Lhe parecia que o ar estava pesado para respirar. Só podia ser a ansiedade.
Mas quando Kennedy retornou a mesa lhe lançou um olhar estranho e ela soube que havia algo errado.
- O que aconteceu com a sua boca? – perguntou tentando não parecer apavorado.
puxou o celular da bolsa e a imagem do seu rosto lhe pegou de surpresa.
Os lábios estavam inchados e vermelhos.
- Do que é isso? – perguntou desesperada apontando para o doce. O ar pesado agora passava arranhando sua garganta, obrigando-a a dar uma tossida.
- Nozes e amêndoas.
- Você quer me matar ou o que? – gritou com a voz já rouca dando um pulo da cadeira, tentando procurar uma posição pra respirar melhor – Sou... Alérgica... Chama... Emergência. – disse em pausas, o ar faltando e a tosse levando o que conseguia entrar.
Viu de relance o rapaz pegar o celular, mas não chegou a ouvir sua voz, o teto ficou preto e não teve nem a oportunidade de sentir seu corpo desmaiado bater pesado contra o chão.



Capítulo 11 - Você disse que não podia piorar? Vish...

Estava sentado no chão da sala com Pat tentando arduamente se concentrar no jogo que estavam jogando, mas sua mente estava à milhas dali.
Por mais que se esforçasse para apertar a sequência certa de botões, tudo que conseguia pensar era em todo o plano dando errado e eles sendo descobertos, ou que mesmo o plano dando certo, ainda terminava a noite com Ken. E Deus sabia que só a ideia de ver com um anel prateado no dedo sorrindo para cima e para baixo com seu amigo o deixava com náuseas, mas isso não conseguia ser pior do que se sentir o maior idiota da terra depois de ter perdido a sua chance. Queria ter conseguido se explicar sobre aquela noite, mas não havia explicação para a bola confusa de ideias que se formou dentro do cérebro e desceu para a garganta impedindo de responder que sim, ele a amava.
Por Deus, ele amava aquela loira magricela.

Ouviu Donna gritar da cozinha para Pat que ia dar a descarga no telefone do rapaz se ele não atendesse de uma vez, antes de ela mesma atender de má vontade.
- John, você tá bem? – perguntou o moreno, após o personagem de John morrer novamente no jogo.
Abriu a boca em um inaudível “o”, queria falar sobre tudo que estava sentindo e pensando, mas a bola de ideias estava lá novamente, pairando sob o caminho de tijolos amarelos. Deu ombros, falou um sim com gosto de não, que não convenceu nem a si mesmo.
- Você sabe que vai dar tudo certo, não? E mesmo que não dê, o que poderia acontecer de pior? – disse Pat tentando confortar o amigo da melhor maneira possível.
John nem chegou a responder, pois Donna entrou com o rosto sem cor segurando o celular na mão. Sentiu os músculos gelarem como se tivesse entrado em uma banheira de gelo, possivelmente perdeu alguma batida do coração. Podia não saber o que tinha acontecido, mas sabia que não era nada bom.
- A gente fodeu com tudo. – soltou em choque. – Temos que ir, a está inconsciente no hospital e o Ken está surtando. Eu não...– então, com um soluço, ela desabou em choro. – É tudo minha culpa.
John até quis ser gentil e confortar a amiga, mas tudo que saiu de sua boca foi um “qual hospital ela está?” desesperado, antes de agarra as chaves do carro e os três saírem pela porta.


- Eu só quero uma informação. Uma. Maldita. Informação. – gritava um rapaz loiro ao balcão de informações. – Será que eu vou ter que entrar de quarto em quarto e achar a minha irmã?
John reconheceu Stela agarrando o braço do rapaz e o puxando para um dos bancos quando eles se aproximaram. Logo ao lado deles o resto dos amigos.
- Não vai adiantar nada você ficar fazendo uma cena agora, logo eles vão falar alguma coisa sobre o estado dela, não tente fazer o segurança te jogar na calçada. – disse a morena com um tom materno tentando acalmar o rapaz.
- Se você quiser podemos ir lá fora e eu te atropelo pra você poder voltar aqui como paciente e procurar ela em paz. – Garrett soltou venenoso em direção ao loiro ao lado de Stela, mas o mesmo pareceu o ignorar.
- Garrett, seja sensível, por favor. – a garota grunhiu entredentes – Tristan está preocupado com a assim como nós, não seja um babaca!
John entrou entre os amigos antes que Garrett tivesse a oportunidade de responder.
- Como ela está? - perguntou a Stela.
- Ainda não tivemos noticias. Tudo que sei foi que ela desmaiou numa cafeteria e a trouxeram pra cá, mas acho que é algo pior, pois já faz horas e ninguém sabe informar o estado dela.
Em um sonoro suspiro de derrota o loiro sentou ao lado do amigo rabugento, não havia mais nada em sua mente senão a voz de Pat o perguntando o que de pior podia acontecer... Agora ele realmente não sabia responder.


- Ele acha que eu não saquei o jeito que ele olha pra ela, ele tá me tirando pra otário, cara... Ele vai ver só, eu vou quebrar aquela cara canadense dele. – resmungou Garrett ao seu lado depois que Stela e Tristan, irmão de , saíram para pegar um café.
O loiro rolou os olhos em direção ao amigo, confuso com o conteúdo da conversa. - Mas do que diabos você está falando? Ele não está olhando de nenhum jeito pra Stela, seu paranoico. – soltou impaciente dando ombros – Aliás, eu queria saber o que ele está fazendo aqui? Não era pra estar em Toronto ou algo assim?
- Você é um péssimo amigo, não liga pros meus problemas! – resmungou em uma careta de nojo - O Kennedy ligou pros pais dela, se te interessa tanto, e parece que ele era o que estava mais próximo no momento.
- E onde ele estava? – perguntou interessado.
- Tomando café com a minha namorada! – gritou exasperado recebendo um olhar de reprovação de uma enfermeira que passava - Desculpa.- sussurrou sem graça em direção a enfermeira – Você percebe minha preocupação? - voltou a se virar para o amigo - A irmã dele está no hospital e ele foi tomar café com a minha namorada. Não tem nada de bom aí...
- Na verdade, eu estava perguntando do Kennedy.
Garrett rolou os olhos teatralmente e bateu contra a própria testa. Não conseguia acreditar que estava ali sentado do lado do seu suposto melhor amigo que não parecia lhe ouvir enquanto sua namorada - que ainda não havia sido informada do novo estado civil - estava bebericando café com o irmão modelo da amiga. Amiga que estava morrendo, ou algo assim.
– Olha, se eu fosse você nem iria querer saber onde Kennedy está, porque ele estava querendo arrancar sua cabeça fora. - disse sem humor, então virou pro amigo depois de um tempo em desespero - Ele quer arrancar sua cabeça! Literalmente arrancar sua cabeça fora. Meio que ele descobriu nosso plano e quer te matar.
– Ótimo, como se eu não tivesse mais com o que me preocupar mesmo. - resmungou John sem dar importância. - Acho que também vou comprar um café, vocês querem alguma coisa? - perguntou a Pat e Donna, que negaram. - Vamos lá pegar o café, cara. - disse para Garrett que o seguiu em um pulo.
Não chegou a cruzar dois corredores e antes que pudesse perceber estava no chão com o lábio sangrando. Até tentou entender o que estava acontecendo, mas só pode focalizar a imagem de Kennedy se lançando violentamente sobre si novamente.
Tentou levantar, enquanto Garrett se encarregava de segurar Brock, que tomado por uma fúria incrível empurrou o amigo e partiu para cima de John novamente. Foram socos, chutes e uma mordida. Respingos de sangue no chão e a equipe de segurança os arrastando depois de alguns minutos.

- Isso é realmente necessário? - perguntou John apontando para a algema presa em seu pulso e na cadeira que estava sentado dentro da sala da segurança. Ao seu lado um Kennedy possesso.
Haviam sido brevemente remendados, a fim de não fazerem uma trilha de sangue pelo hospital, e então foram levados pela segurança para uma sala afastada onde foram contidos.
- Se for pra impedir os dois animais de se amaciarem na porrada… Sim, é. - respondeu o senhor com um bigode engraçado que estava observando os dois. - Eu deveria ter chutado o rabo de vocês pra fora daqui com tanta força que até os seus netos iriam sentir o formato da minha bota na bunda deles, só não fiz isso porque aquela mocinha ruiva chorou muito para eu deixar vocês ficarem. - disse rolando os olhos a menção do drama de Donna.
Quando os dois passaram sendo arrastados por quatro seguranças que mais pareciam armários com pernas, prontos para serem enxotados sem qualquer delicadeza do lugar, Donna se prostrou a frente deles e se desmanchou em lagrimas, falando um dialeto de nariz entupido e miados fininhos que aliados de sua cara meiga e sardenta amoleceram a segurança. Ao menos não tinham piorado ainda mais uma situação de merda como aquela.
- Você sabe, Howie - Ken disse ao segurança depois de ler seu crachá - a culpa disso tudo é dele aqui. - apontou John com o ombro - Ele aprontou pra minha namorada quase morrer. Você deveria estar chamando a policia uma hora dessas, não me algemando na cadeira.
- Isso não é verdade! - grunhiu o loiro - Se você não fosse tão alienado, não teria feito essa merda toda.
- Agora a culpa é minha? - o moreno gritou, se levantando avançando para cima do loiro, sendo impedido pela algema - Você é doente John, completamente doente, seu psicopata!
- Eu sou doente? Pra você isso tudo era um jogo, não era?! - John devolveu aos berros, também ficando em pé com o pulso preso a cadeira pregada no chão - “Quem vai ganhar a garota no final” - disse fazendo aspas no ar com a mão livre- Você jogou com ela por seis anos, seu idiota, e ela te amava. Mas você não pode ver ela seguir em frente, teve que amarrar ela de volta, seu egoísta de merda.
- Egoísta de merda? Se você quer falar sobre egoísmo, então podemos começar pela parte em que você achou que seria bonito induzir seus amigos a falar coisas pra mim que trariam minha garota pro hospital só pra você tentar ficar com ela!
- Ela não é sua garota! - o loiro gritou enfurecido - E foram eles que fizeram tudo, sabe por quê? Porque eles conseguem ver que você nunca vai fazer ela feliz de verdade, não depois de tanto tempo brincando com os sentimentos dela. - abaixou o tom de voz depois de arriscar olhar para Howie que os observava com uma careta - Se você a conhecesse como eu conheço, nenhum de nós estaria aqui agora.
Kennedy ficou em silencio, seu rosto em uma careta horrorizada. Não conseguia acreditar que as pessoas que chamava de amigo poderiam ter feito aquilo para lhe prejudicar. Pior ainda, arriscar o bem estar de por puro achismo. Howie aproveitou o silencio e estalou os lábios audivelmente.
- É… - disse estendendo a letra como quem presenciou uma cena constrangedora - A ruiva que me desculpe, mas vocês são casos perdidos e vão ficar na calçada mesmo, porque eu sei que se eu largar vocês o sangue vai voltar a jorrar.

Já passava das oito e meia da manhã quando acordou numa sala estranha, cercada por uma cortina por todos os lados.
Uma certa agonia se apossou de seu corpo quando viu os tubos de silicone presos ao seu braço e o oxigênio sendo soprado diretamente no seu nariz. Queria ao menos se lembrar de como fora parar ali. Apalpou o lado da cama até achar o botão para chamar a enfermeira, que não levou mais que dois minutos para chegar.
- Que bom que está acordada, senhorita Monroe. - disse a senhora negra uniformizada de branco que entrou pelas cortinas - Está se sentindo bem?
- Sim, eu acho. - sua voz estava rouca e sua garganta arranhando - Onde eu estou?
- No hospital, querida. Mais precisamente na UTI. - o barulho do monitor cardíaco avisou que o coração da garota batia mais rápido - Não há necessidade de ficar nervosa, meu bem. O pior já passou e seu medico logo virá vê-la.
- O que aconteceu?
A mulher, que mais tarde disse se chamar Isis, deu a volta e pegou o prontuário pregado no pé da maca.
- Choque anafilático. - disse depois de uma breve leitura - Quem diria que um macaron pudesse fazer tanto estrago, hein?! - disse simpática. - Tem uma legião lá fora pedindo pra te ver, perguntando de dois em dois minutos sobre você, querida. - Isis soltou como um segredo sussurrado, achando graça na situação. - Você foi até motivo de briga.
rolou os olhos verdes desacreditada. Até mesmo debilitada aqueles selvagens, também conhecidos como seus amigos, saiam destruindo tudo que vissem pela frente.
Isis ficou conversando um pouco mais, até o médico chegar. Ficou contente em ver a garota acordada e melhor, infelizmente ela não poderia deixar o hospital no momento, mas a transferiu para um apartamento, onde poderia receber visitas.

- Você está horrível! Foi a primeira coisa que ouviu quando Tristan, seu irmão, entrou no quarto em que tinha sido acabado de ser instalada.
Fazia mais de um ano que não o via, pois o mesmo estava morando no Canadá. E mesmo estando horrível como ele havia dito e estando presa na cama por todos aqueles tubos de silicone, não conteve o gritinho rouco de alegria ao vê-lo.
- O que você está fazendo aqui? - soltou em toda sua rouquidão estranha, sentada em um pulo na cama.
- Estava a caminho de São Francisco pra uma reunião, mas fui convocado para ficar de olho em um baiacuzinho que deu entrada no hospital. - disse com uma voz engraçada, dando um peteleco no nariz da irmã. - O que foi que você aprontou dessa vez, magrela?
A loira se ajeitou na pilha de travesseiros as suas costas e deu ombros. O que poderia responder? Nem ela sabia o que tinha acontecido.
- Juro que dessa vez sou inocente. - falou com um sorriso cansado - O Ken não sabia que eu sou alérgica a nozes e meio que descobriu da pior forma. - riu sem graça, sendo acompanhada pelo irmão.
- Ah, essa parte eu entendi. Ele é o tipo de idiota que consegue sair com uma garota por anos e não saber absolutamente nada sobre ela. - resmungou Tristan, se sentando na cama com a irmã. - Mas, o que eu realmente quero saber é por que ele e John estavam brincando de tirar sangue da cara um do outro.
- Ah meu Deus, isso era verdade? O que aconteceu? - disse com os olhos arregalados.
- Eu não sei muito, só vi que Donna estava aos prantos grudada em um segurança pedindo pra ele não jogar eles pra fora. - Tristan parecia sério - Sei que você está fragilizada, acabou de sair da UTI, mas … Eu acho que o seu “acidente” foi intencional.
apenas riu e sacudiu a cabeça, que ideia idiota era aquela de que Kennedy a machucaria de propósito.
- Tristan, não fala merda. Por que o Kennedy iria querer me ver encenando PulpFiction com uma injeção de adrenalina no coração? - soltou sem humor, observando o loiro levantar e jogar a bolsa que pendia de seu ombro sob o sofá no qual passaria a noite. Ouvi o irmão narrar calmamente sobre quando voltava do seu café com Stela e viu os rapazes sendo contidos e os seguiu a fim de evitar alguma injustiça assim que fossem tirados da vista dos outros, mas então ouviu eles gritando entre si.
A garota ficou quieta por alguns segundos, abraçando os próprios joelhos, tentando entender porque seus amigos fariam aquilo com ela. Porque John faria aquilo com ela.
Por Deus, não fazia o menor sentido. Se ele quisesse tê-la era só falar. Se ele falasse ela seria capaz de esquecer tudo: os deslizes, as briguinhas, Kennedy… Era só ele abrir a boca e falar o que ele não falou naquela noite e tudo estaria certo.
Mas não aquilo… Aquilo soava errado de todas as malditas maneiras que errado poderia significar. A colocar em risco de vida só por um capricho era surreal demais para que pudesse acreditar. Talvez Tristan estivesse precisando de uma audiometria ou de um padre, pois ou estava ouvindo tudo errado ou estava ouvindo outras vozes do além.
- Tris, eu preciso falar com a Donna. - disse depois de vários minutos calada, sua voz ainda rouca. - Eu quero tanto que você esteja ficando louco.





John havia ficado firme na porta do hospital até boa parte da primeira noite depois de ter sido expulso, só indo embora depois de Stela confirmar que estava estável e seria transferida para o quarto. Ainda tinha sua entrada negada, assim como Kennedy, então se contentou em ficar com a bunda colada na calçada, esperando por informações, ou até a saída de .
No domingo de manhã Donna apareceu em seu apartamento com o rosto lavado em lagrimas, seguida por Alicia e Pat. A principio a ruiva grunhia coisas inteligíveis e uma vez acalmada contou entre soluços que Tristan havia desmascarado o plano deles para .
- John ela me desmontou completamente. – disse em um miado – Eu não consegui mentir, não consegui falar nada. Eu só estava me sentindo tão culpada. – um suspiro escapou de seus lábios – Ela falou que todos nós somos seres desprezíveis brincando de Deus, que nunca mais quer ver a gente.
O loiro se afundou no sofá, os ombros encolhidos enquanto Donna voltava a chorar. Não se lembrava de um dia ter se sentido tão bosta como se sentia agora.
Talvez tivesse sido mais fácil ter admitido desde o começo que perdera a garota, tentado se convencer que há muitos peixes no mar, ido beber até afogar o que o sufocava por dias... Ou talvez ter aprendido que ele e planos não eram uma equação que tinha o resultado certo no gabarito.
Pegou o telefone sem pensar e ligou para a garota, precisava ao menos se explicar, se desculpar, qualquer coisa. Mas os toques se estenderam até quase cair na caixa postal, quando finalmente foi atendido a voz não era a de .
- Alô? – perguntou Tristan do outro lado da linha.
John deu uma breve gaguejada, devia ter previsto que a garota não atenderia o telefone sabendo que quem estava ligando era ele.
- Tristan, oi. - disse da maneira mais suave que pode - A está por ai? Preciso falar urgente com ela.
- Ela não quer falar com você, John. - disse depois de um longo silencio - E nem com nenhum dos seus amigos.
- Por favor, Tristan. É importante, eu preciso explicar o que aconteceu.
- Não, John. Ela não quer falar com ninguém. - respondeu com a voz firme, uma pitada de raiva podendo ser ouvida nela - O que vocês fizeram foi...
- Eu preciso explicar o que aconteceu, Tristan!
- Ela está indo pro Canadá comigo. - disse rápido, como quem arranca um band-aid - E eu realmente acho que não há nada pra explicar. Deixem ela em paz, precisa disso pelo menos agora. - e desligou o telefone sem ao menos esperar uma resposta.
Alicia e Pat falavam ao seu lado, mas nenhuma palavra era absorvida. Só conseguia pensar na tempestade que havia causado por um erro bobo e como sua vida havia se tornado em uma grande novela mexicana em poucos dias.

Naquela noite sonhou com pegando o avião no aeroporto e indo embora sem ao menos lhe dar tchau, apenas o apagando completamente. Acordou lavado em suor com a imagem dos olhos verdes julgando-o silenciosamente, desafiando-o a deixar tudo terminar assim.
Mas ele não iria deixar. Não dessa vez.



Capítulo 12 - Não Esconda Sua Loucura

Eles dizem que você nunca sabe quem você realmente é até se perder completamente.
E eu acho que foi isso que aconteceu comigo. Me perdi, sem chance de voltar a ser quem eu era antes.
No fim é verdade o que todos dizem sobre se você não encontrar o problema, ele faz questão de te encontrar.
E do pior jeito possível.
Foi de coração partido depois de uma experiência traumática com mix de nozes e uma lição e tanto sobre confiança que só um milhão de anos de terapia poderia remendar, que eu peguei um avião com meu irmão sem saber se voltaria no dia seguinte ou se voltaria algum dia para Chandler.
Talvez nos primeiros meses eu não tenha pensado tão racionalmente quanto agora eu gostaria que tivesse. Talvez eu tenha desligado meu telefone por três meses seguidos e bloqueado alguns contatos das minhas redes sociais. Talvez uma vez eu tenha atendido ao telefone e gritado mais alto do que gostaria com a minha melhor amiga. Mas eu tinha razão e por isso ela não desistiu de mim, por isso ela tentou explicar porque do jeito torto deles eles tentaram ajudar o que o destino parecia estar afastando.
Mas eu levei um bom tempo pra entender que Donna, Stela e Alicia eram românticas incuráveis e queriam me ver feliz e por isso as perdoei, assim como perdoei Sienna, Pat, Jared e Garrett.
Kennedy levou ainda mais tempo, apesar de saber que ele estava completamente no escuro quanto ao plano que faziam por nossas costas, pois nada me magoava mais do que saber que somente uma parte dele esteve comigo durante todo tempo que estivemos juntos. Era humanamente impossível você ficar tanto tempo com alguém e ela ser uma completa desconhecida para você. E ele era o tipo de idiota que conseguia isso.
Quanto a John... Bem, não é fácil descobrir que seu lugar favorito no mundo é uma mentira. E meu coração estava partido em milhares de pedaços que nunca mais poderiam ser colados de volta.
Volta e meia ele curtia alguma foto minha no instagram, ou me ligava de madrugada quando estava bêbado e eu havia desenvolvido uma resistência quase ferrenha quando se tratava de apertar o botão de atender e ignorar mensagens privadas, pois a ideia de ouvir seu pedido de desculpas e isso amolecer meu coração me apavorava. Mas depois de um ano voando de um lado para o outro do planeta junto com meus pais e suas palestras sobre sexologia, eu já havia passado tempo demais longe de casa, longe da minha vida. Dias que se transformaram em semanas, que se transformaram em meses em que tudo que fiz foi tecer desculpas para me manter longe, para fingir que estava bem e inteira. Quando eu obviamente não estava.
Então afundada na poltrona do avião aterrissando pra chegar em casa eu senti que algo me apavorada mais do que a perspectiva de perdoar John; eu estava completamente apavorada em ter que recomeçar tudo do zero e seguir em frente.

(John)


John O'Callaghan, orgulhosamente, informa que está há 36 horas sem stalkear a Srtª Ann Monroe em nenhuma rede social.
Era o que estaria escrito numa placa, caso eu precisasse notificar o mundo da minha pequena vitória.
Mesmo depois de um ano e dois meses sendo ignorado, desprezado e qualquer outro sinônimo para abandonado que houvesse no dicionário, eu ainda não havia desistido de tentar estar presente nem que fosse em uma ínfima parte da vida de .
Obviamente, minha falha foi épica, pois havia sido trancado para o lado de fora e a chave devidamente destruída, enquanto ao meu redor observei sedento nossos amigos, um por um, serem perdoados e retomarem a amizade do ponto que havia parado. E eu, bem, eu tinha minhas mensagens recebidas, visualizadas e ignoradas com sucesso.
Mas eu merecia, afinal é o que se ganha por ouvir uma ruiva que não come queijo.
Você sempre tem que desconfiar de quem não gosta de queijo.
Sobre meu pequeno progresso, pode-se dizer que foi alguma coisa, até eu jogar tudo pelos ares ao descobrir que ela estava voltando.
Devo isso ao pequeno defeito de meus atuais colegas de aparamento não saberem manter um segredo (ou não fazerem barulho durante o sexo) e colarem post-it's na porta da geladeira com o horário que o avião de pousaria naquele dia. No fundo eu acho que foi intencional, como se Donna e Pat realmente quisessem que eu fizesse a cena que eu fiz, me humilhando pela irritação e escondendo as chaves do carro da ruiva para obrigá-la a ir usar o meu - comigo dentro. Mas nada me tira da cabeça que o cinzeiro de vidro que ela jogou na minha direção tinha sido para acertar bem no meio dos meus olhos.
- Se ela ficar irada comigo por te ver aqui, saiba que eu assisti horas suficientes de CSI para ninguém descobrir que fui eu quem te matei. - Donna disse antes de bater minha porta com mais força do que o necessário, mas antes que pudesse dar um passo abriu-a novamente, os olhos verdes pingando ódio - Ou armo tudo pra parecer suicídio.
Tornou a bater a porta tão forte que provavelmente a tinha lacrado. Tentei não ligar muito, iria ver depois de todo aquele tempo. Iria vê-la e mal podia acreditar que real.
Elas pareceram demorar uma eternidade lá dentro, ou pelo menos eu já tinha ouvido Sam Smith o suficiente para parecer que cinquenta anos já tinham se passado. Talvez tivesse até tirado uma soneca sem tem percebido.
Talvez estivesse com algum problema com as malas. Talvez Donna estivesse perdida nos portões. Seria uma boa ideia eu ir atrás delas?
Antes que pudesse meter meu nariz para fora da porta eu a vi vindo, empurrando o carrinho cheio de malas e caixas naquele mar de gente que era o estacionamento. Estava dentro de um suéter cinza e preto, os cabelos um pouco mais longos e um pouco mais acinzentados. Minha boca abriu sem permissão e então bati a cabeça contra o volante. Ela estava linda e tinha sido uma péssima ideia vê-la assim.
Quatrocentos e poucos dias tinham se passado desde a ultima vez que eu a vi, mas nenhum deles conseguiu afastar a memória dela de mim, nenhum deles conseguiu mentir pra mim como ela realmente era. E mesmo pela janela do carro podia ver a minha garota vindo linda em minha direção, como uma felina, rindo com a amiga, alheia a informação que eu estaria aqui.
Tudo bem que isso estragaria um pouco seu humor, mas eu ainda a veria por pelo menos uns quinze minutos, aproveitaria sua presença antes de voltarmos pra nossa programação normal de frio glacial. Algo dentro de mim ainda tinha alguma esperança de que quando ela me visse pelo retrovisor lembraria que gostava de mim e esqueceria toda aquela magoa de antes.
Algo dentro de mim me chamava de babaca aos berros em resposta.
A poucos metros do carro Donna fez menção de pará-la, murmurou alguma coisa em seu ouvido e a expressão alegre em seu rosto mudou completamente. O que quer que Donna tenha dito não havia a deixado feliz, mas também não a tinha feito dar meia volta e pegar um novo voo para Groelândia ou onde quer que ela estivesse antes e essa era minha única felicidade.
- Destranca o porta-malas, cabeção. - Donna grunhiu jogando aquela bolsa estupidamente gigante dela no banco do passageiro e tornando a dar a volta para ajudar a amiga, nem ouviu quando eu resmunguei um "sim senhor, senhor" e bati continência a suas costas. Ela ainda estava irada comigo por pensar que a loira ficaria irada com ela.
Eu por outro lado não poderia estar ligando menos para isso agora. Estava sentindo uma crise de ansiedade se formando dentro de mim, fazendo a palma das minhas mãos coçarem e meu coração descompassar. Qualquer desculpa serviria para ver de perto logo agora que eu podia.
Bati a cabeça no volante novamente, o que Garrett diria pra mim se me visse assim? Provavelmente um 'você está virando uma bichinha' seguido de um arroto sonoro e então se levantaria e iria atrás da namorada, pois depois da provação que passou com Tristan ele grudou um velcro nas costas na coitada e não a larga mais. Coisa que eu deveria ter feito também quando tive a chance.
Mas meu Garrett mental estava mais que correto: eu estou virando uma bichinha mesmo.
Juntei os fiozinhos de coragem que estavam sobrando, sai do meu lugar do motorista e fui até onde elas estavam e então tudo me atingiu de uma vez: colocou aqueles olhos verdes assustadores em mim e eu esqueci meu próprio nome. Só conseguia pensar em como eu era idiota e muito, muito burro por ter a deixado escapar. O pensamento não era novo pra mim, mas sendo investigado pelos olhos de gato dela tudo se tornava mais real, e o que eu tinha preso na minha garganta há mais de um ano atrás estava rugindo para sair. E isso me assustava.
Dei um passo para trás como um reflexo, quase fugindo para dentro do carro novamente - como se em minutos ela não fosse estar lá dentro também -, mas Donna foi mais rápida e depois de jogar uma das dezenas de malas para dentro do porta-malas se virou para mim curiosa, já abandonando o ódio. Provavelmente porque a ainda não havia surtado com a minha presença ali.
- O que foi, cabeção? - perguntou pegando mais uma mala pequena, pronta para encaixa-la dentro do carro.
estava parada a uns cinco passos de mim e eu podia sentir seu perfume, eu podia ver todas as suas expressões e eu vi que apesar de arredia, ela não estava com raiva de me ver. Ela apenas tornou a se virar para o carrinho e pegar mais uma de suas malas e jogar para dentro. Ela nem ligou, ela simplesmente... Continuou.
- Eu... Vocês... - gaguejei tentando encontrar alguma desculpa para não ter seguido das ordens de Donna de simplesmente ficar no carro - Vocês estavam demorando, pensei que precisassem de alguma ajuda com as malas, sei lá. - falei a primeira coisa que pensei.
- Ah, mas, por favor. - Donna soltou um suspiro dramático e jogou mais uma mala para dentro - Essa louca trouxe a mudança dela, que é isso minha gente.
- Mas é a minha mudança mesmo. - disse tentando esconder uma risada.
- Garota, tá na hora de eu te apresentar o minimalismo, você é muito exagerada. Têm umas vinte malas de cinquenta quilos cada. Você tá traficando roupa pra cá, isso sim, sua muambeira.
As duas caíram na risada e logo comecei a rir junto, Donna era muito ridícula. A melhor pessoa que eu conhecia. empurrou a ruiva pelo ombro e deu-lhe a língua.
- Se continuar me atentando não vai ganhar seu presente, sardenta.
Peguei duas malas de uma vez e passei rente a , ignorei seu perfume que me envolveu como um abraço para não ter que agarra-la ali mesmo. Donna deu ombros e ainda me cutucou.
- É isso que eu ganho por largar meu netflix and chill com meu príncipe pra vir buscar essa magricela ingrata faladora de francês que trouxe uma pulseirinha de um templo budista e fala que isso é presente, Johno. E ela me chamou de sardenta, me defenda. - Donna falou tão rápido e tão engraçado com uma voz quase infantil que eu só não me engasguei com a risada, pois dei muita sorte.
Joguei a ultima mala para dentro e me virei para a ruiva que me encarava rindo com os braços cruzados embaixo dos seios, igual uma criança mimada. a ao seu lado ria da idiotice da amiga.
- Você não é a gatinha vegana que estava me chamando de cabeção agora pouco? - apontei para ela - Pois se pode chamar um homem com o dobro do seu tamanho de cabeção, pode muito bem atacar sozinha uma com a metade dele com algum brócolis ou couve que você tem escondido por aí. - então sai arrastando o carrinho de malas de volta para a onde eles deveriam estar.
- Valentão especista! - gritou a ruiva a minha costas aos risos e então entrou no carro. Quando voltei estava parada em frente à porta do passageiro, atrás da do motorista, olhando distraída para o celular. Passei por ela e estiquei minha mão para abrir a porta, porém ela foi mais rápida e segurou meu braço antes que eu pudesse fazer isso.
- Hm, obrigada. - começou envergonhada, os olhos mal me alcançando.
- Por..? - quis saber sobre o que se tratava o agradecimento.
- As malas. - explicou. - Na verdade eu nem pude te dar um oi direito, então... Oi. E obrigada. - disse em um sorriso estranho.
- Oi, depois de tanto tempo. - resmunguei, tentando não parecer frustrado por isso. Vamos todos fingir que não falhei.
- Oi, Adele. - ela finalmente me olhou nos olhos e deu um sorriso verdadeiro antes de fazer uma careta com a piada idiota. Ficamos em silencio por alguns segundos nos observando, antes dela fazer uma barulho de estralo com a língua - Bem, vamos poder conversar mais na festa da Stela. Então, vamos pegar a estrada porque eu tenho muita coisa pra desempacotar. - ela disse já abrindo a porta, pronta para entrar.
- Nós vamos? - não foi minha intenção soar incrédulo a afirmação, mas depois de tanto tempo sem nenhuma noticia direta, ser recebido como se nada tivesse acontecido era muito estranho.
Ela ficou me olhando um pouco antes de acenar com a cabeça, entrar no carro e bater a porta. E então meu coração bateu desritmado, meio abobado com a notícia. Meu Garrett interior tinha razão mesmo, eu estava virando uma bichinha.

()


Era muito estranho estar em casa novamente.
Principalmente quando ali não parecia mais a minha casa.
John e Donna haviam me ajudado com as malas e mesmo com a insistência da minha amiga em ficar, preferi ficar sozinha e colocar minhas coisas em ordem. Mas uma pontadinha de arrependimento me atingiu certeira quando botei meu olhos no vasinho de flores mortas que ainda estava no aparador, desde o dia que o ganhei.
A pressa em ir embora havia sido tanta que nem me livrar das benditas eu pude quando voltei do hospital. Tristan grudou nas minhas costas me fez fazer a mala de qualquer jeito enquanto me abraçava em meio a minha crise de choro. Eu fui embora e os acônitos ficaram envenenando minha sala por todo aquele tempo.
Rolei os olhos tentando não deixar a magoa voltar, joguei a bolsa de qualquer jeito no sofá empoeirado e me livrei daquela lembrança bem no fundo de um saco preto de cem litros. Pelo resto da tarde focaria em deixar minha casa habitável e então veria o que seria da minha vida.
Ninguém, no mundo todo, nunca quis que uma faxina durasse tanto quanto eu quis naquele dia.
Já passava de meia noite quando consegui me jogar na cama de banho tomado, cada centímetro do meu corpo doendo, mas com a sensação de dever cumprido ao olhar ao redor e ver todas as coisas em seu devido lugar. Minha mãe ficaria orgulhosa.
Estava quase pegando no sono depois do enorme yakissoba que havia comido quando o celular vibrou embaixo do meu travesseiro me acordando.
Era uma mensagem, um único emoji no espaço. John havia me mandado um cocôzinho sorrindo.
E eu estava tão cansada que não consegui evitar o sorriso que me escapou junto com o suspiro. Provavelmente eu era aquele cocô, na verdade, mas quem liga? Estava tão cansada de fugir dele e vê-lo hoje só me provou ainda mais isso.
Respondi com um de um bonequinho roncando e apertei o celular contra o peito. Não esperei a resposta e adormeci sorrindo com a ideia de que iria arrumar toda essa bagunça na minha vida.

Sábado, dia da festa de Halloween de Stela, e durante toda a semana ela, Donna e Alicia me fizeram correr igual uma louca com os preparativos e suas fantasias. E pensar que achei que elas deixariam eu ir de fantasma usando um lençol com dois furos.
Então eu estava ali, encarando meu próprio reflexo no espelho, vestida de Princesa Jujuba esperando alguma das meninas virem me dar carona para a festa, quando a louca da minha melhor amiga começou a gritar a plenos pulmões na frente da minha casa.
- Vem, gostosa, seu Uber chegou.
Apenas ignorei o poço de besteira e desci as escadas para irmos logo. Ela estava do lado de fora do carro, vestida de Daphne, se sacudindo de um lado para o outro. No banco de trás estavam Jared e Pat, John era o motorista e eu estava morrendo para ver a fantasia deles. Halloween era a melhor época do ano e como eu já havia passado sozinha o anterior, pretendia aproveitar horrores este na companhia dos meus amigos e suas fantasias sempre arrasadoras.
- Gata, eu tenho um mistério pra você. - disse chegando perto dela fingindo uma caminha sensual no meu vestido rosa e lilás e peruca rosa, totalmente fora do clima - Duvido você descobrir o porquê da tua boca ainda não estar colada na minha. - pisquei bem forçadamente para Donna e todos explodiram em gargalhadas. Pat enfiou a cabeça para fora do vidro e então eu vi que seus cabelos longos estavam em rolos no topo de sua cabeça, provavelmente ele seria a Princesa Leia, seu sorriso denunciou o que viria a seguir.
- Ih amor, eu não deixava… Falou que você é lerda, agora eu beijava. - disse indignado sacudindo a cabeça para nós.
- Isso porque você não sabe o estrago que a gente faz quando você sai, meu amor. - ela disse com falso desdém na direção do namorado rindo logo em seguida. - Vocês são todos uns tarados ridículos e vamos logo que eu quero minhas travessuras.
Donna se jogou no banco de trás ao lado de Pat e o agarrou, logo sobrou o banco da frente, ao lado de John para mim. O caminho todo nós mal nos falamos, não fosse o barulho do som alto e o casal no banco de trás fazendo bagunça.
Eu lembrava bem que tinha prometido para ele que iriamos conversar lá, mas agora que havia chegado a hora eu realmente queria abrir um buraco no concreto e ver se conseguia chegar até a China. Estava tão mais fácil mantermos o contato como fizemos nos últimos dias: trocando emojis idiotas. Talvez eu ainda não estivesse preparada para conversar. Talvez eu só quisesse beber e dançar com as garotas.
Quando o carro parou fui a primeira a pular a ir cortando pelos carros estacionados no gramado da casa de Stela, ouvi os protestos de Donatella as minhas costas, mas preferi fingir que o som alto vindo da mansão estava encobrindo os gritos dela. Era isso ou ter que sorrir amarelo e puxar algum assunto com Johno e eu realmente preferia enfrentar a ira da minha amiga mais tarde e conversar bêbada com ele depois.
Já passava de uma da manhã e eu estava em meu quinto copo de vodca e soda limonada, na verdade minha meta ali era secar a garrafa de Sky e dançar Ellie Goulding com Austin, um amigo gay maravilhoso de Stela, até o dia amanhecer ou meu sapato perder o salto. Estávamos no canto da pista improvisada na sala enorme da mansão quando Stela nos puxou e arrastou até o meio onde o resto do pessoal estava.
- Achou que ia se esconder a noite inteira? - Stela disse com as mãos na cintura virada para mim. Apenas ri e neguei com a cabeça, puxando-a mais para perto para dançar.
- Vocês tem o dom de sentir o cheiro do medo, não é como se eu pudesse me esconder. - disse dando ombros.
Logo Alicia chegou atrás de mim, dando um tapa nada delicado na minha bunda como cumprimento, seguida de Donna que começou a resmungar qualquer coisa que não puder ouvir, pois a visão que tive além do ombro de Stela desligou até a música ensurdecedora de dentro da casa.
John estava encostado na parede do lado oposto da onde nós estávamos, uma cerveja na mão, uma morena magérrima vestida de Holly Golighty, de Bonequinha de Luxo, parada a sua frente o impedindo de se mover, tocando-o com qualquer desculpinha e cheia de risinhos.
Vi vermelho quando ela subiu a mão pelo seu braço até seu peito coberto com a fantasia de Woody e ele sorriu largo. Quis empurrar quem quer que estava na minha frente e derrubar aquela louca igual um pino de boliche. Então caí em mim, que tipo de reação louca era aquela? Claro que depois de tanto tempo ele seguiria em frente e sairia com outras garotas.
Respirei fundo e voltei-me para as garotas que dançavam sem se preocupar com meu pequeno momento de ira interno. Donna se jogou para o meu lado, parecendo uma minhoca no chão quente, me obrigando a dançar junto com ela e Alicia.
- Quem é aquela morena com o John? - perguntei para elas tentando parecer casual, mas posso ter a leve impressão de ter soado como um investigador do Law & Order.
Donna me deu um olhar malicioso, deliciada com a ideia de me provocar como o troco por ter deixado ela sozinha no começo da festa. Jogou seus cabeços de Daphne para o lado e deu um suspiro alto, para poder cobrir o som da música.
- É a Claire, estuda com a Stela e a Alicia. - Allie concordou ao seu lado, meio bêbada - Ela já está predando o Johno tem tempo, passou a semana toda em cima das meninas pra ter certeza que ele vir. Você acredita nisso? Ela é rápida no gatilho. Falou que ele é muito gostoso, que ia fazer um estrago com ele e... - ela dizia com seu dedo indicador desenhando esticado no ar, cada palavra que saía da boca dela podia ser trocada por “mas você não vai deixar ela ganhar essa, vai?”, me desafiando na cara dura. Como se desafiar uma pessoa bêbada foi a coisa mais sabia a fazer mesmo.
- Ah, dá licença. - empurrei ela sem me importar se ela ou Allie reclamariam e marchei em direção a John e sua Holly do outro lado da sala.
Que se dane que não era reação para mim, eu não passei um ano e dois meses longe de casa para voltar e deixar o meu cara com outra qualquer. Mas não mesmo.
Eu sentia meus tornozelos tremendo em cima dos saltos, tamanha a força que eu fazia a cada pisada no chão. Queria poder grudar ela pelos cabelos e arrastar para bem longe do meu Woody, queria ser bem das cavernas mesmo, mas graças a Deus eu era civilizada e mesmo bêbada eu ainda pude por na minha linda cabecinha cor de rosa que ainda que estivesse flertando com John ela não era minha inimiga ou algo assim… Nós tínhamos até algo em comum, mau gosto pra escolher homens, coisas do gênero.
Por isso apenas cheguei perto deles e toquei a mão de John, chamando sua atenção e sorri inocente. Observei ele a afastar delicadamente e engolir em seco, como se não quisesse que eu tivesse o visto flertar com outra garota.
- Ei, . - disse se desencostando da parede e arrumando a camisa engraçada de vaqueiro. - Aproveitando a festa?
- Mais ou menos. - murmurei - Quem é sua amiga? - virei para ela, arrumando meu cabelo de algodão doce inocentemente.
- Claire, muito prazer. - ela disse prontamente muito simpática estendendo a mão. Droga, eu realmente tinha zero motivos pra não gostar dela.
- John, eu odeio ter que te tirar daqui, mas eu acho que deixei meu celular no seu carro. Tem como a gente ir rapidinho buscar ele lá? - falei cortando a conversa com uma careta triste emendada com um biquinho que não podia ouvir não.
Ele me observou brevemente confuso, como se soubesse que eu estava aprontando, mas mesmo assim acenou com a cabeça e se desculpou com Claire para me seguir por entre as pessoas dançando.
Uma pequena multidão estava espalhada pelo gramado e tinham tantos copos vermelhos pelo chão que tive que engolir a vontade de chamar todos de porcos enquanto arrastava o cowboy de brinquedo para fora comigo. Respirei aliviada quando finalmente estávamos em uma área livre, em direção a onde, duas quadras para baixo, o carro estava estacionado.
Abri minha pequena bolsinha em forma de cupcake em busca do meu maço de cigarros, se eu fosse conversar, ao menos iria precisar daquela consolo. Foi quando minha desculpa me traiu sem misericórdia.
Esbarrei o dedo sem querer no botão de ligar do celular e o brilho da tela se espalhou por toda pequena bolsa e eu gelei. O loiro ao meu lado limpou a garganta e em seguida solto uma risada.
- Então você esqueceu o celular no meu carro, não? - perguntou e pude sentir o tom malicioso na pergunta.
- Olha que interessante, achei! - falei fingindo surpresa, com a voz meio arrastada - Surgiu do nada aqui, nossa.
- Aham, sei. - murmurou - Pareceu meio que uma desculpinha pra me tirar lá de dentro. - ele disse dando um passo em minha direção e eu me encostei no carro atrás de mim.
Respirei fundo e peguei um cigarro do maço o acendendo, era agora então.
- É, era desculpinha mesmo. - falei assoprando fumaça para ele que parecia surpreso com minha honestidade repentina - Vi você e a sua amiguinha e não gostei, resolvi tirar você de lá, pronto.
- E o que você vai fazer agora que me tirou de lá? - perguntou, dando mais um passo me encurralando contra o carro.
Tão logo suas palavras deixaram a boca tive três segundos de vácuo mental, nada passou pela minha cabeça quando ele disse aquilo, a não ser sorrir na minha malicia embriagada, largar o cigarro recém-aceso no chão e puxá-lo pelo colete de estampa de vaca para mais perto e colar seus lábios nos meus com urgência.
- Agora eu vou ser malvada com você, Cowboy. - sussurrei contra sua boca, antes de o atacar com saudade novamente.
De uma coisa eu tinha certeza: cigarro queimando intocado aos meus pés seria meu único arrependimento da noite.


Capítulo 13 - O seu idiota está logo ao lado (Parte Um)

(John)


Ela era louca.
Completamente louca.
Mas disso eu já sabia. E era um pouco da loucura dela que me encantava.
Eu já sabia que a noite seria longa no minuto em que coloquei os olhos naquele vestido perigosamente curto, e nem precisei notar sua fuga minutos mais tarde quando estacionei para saber que eu seria o otário mais fodido daquele lugar naquela noite. Porque eu, com toda certeza do mundo, seria.
Contudo, contrariando minhas próprias previsões, ali estava eu sendo seduzido por aquele pequeno demônio de peruca rosa, sendo devorado enquanto a prensava contra o carro em que ela havia se encostado. A pequena mentirosa colada em mim, ronronando contra minha boca, eu cheio de saudades do seu gosto, do seu cheiro, quase estragando minha própria calça em antecipação.
"Agora vou ser malvada com você".
Por favor, seja. Seja terrível comigo.
Estava pouco ligando para as pessoas ao redor passando e mexendo conosco ou para o barulho do cara ao fundo vomitando, afinal eu tinha Monroe com sua boca espetacular colada no meu pescoço, mordiscando o lóbulo da minha orelha, me torturando lentamente com as unhas enfiadas embaixo da blusa na base das minhas costas.
Minhas mãos pareciam ter vontade própria, mas também não seria eu o ser sem coração que as impediria de passear por aquela terra de seda e veludo que era a pele da minha garota. Meus dedos escorregaram de sua cintura para seu quadril, puxando-a de encontro a minha iminente ereção enclausurada, logo escorregando para baixo do vestido indecente podendo tocar a carne da sua coxa.
a soltou um suspiro alto em meu ouvido, esfregando os lábios na pele do meu pescoço. Puxei-a novamente para um beijo, mas ela achou que seria uma boa ideia ficar apenas mordiscando meu lábio inferior enquanto me olhava de baixo, aqueles olhos verdes falando safadezas pra mim, me incitando a ser malvado de volta. Minhas mãos, já atentadas sem precisarem de um motivo, se animaram com o convite e se espalmaram sobre a bunda perfeitamente redonda dela. O apertão veio em seguida, junto com os dedos atrevidos seguindo o caminho do elástico da calcinha que ela estava usando.
Poderia ter agarrado suas coxas e colocado ela grudada em minha cintura, e Deus, como eu queria ter feito aquilo. Mas bastou uma balançada forte demais e o carro em que estávamos encostados soou o alarme ridiculamente alto em nossos ouvidos.
— Porra! — ela gritou, me empurrando assustada. Ela olhou ao redor com os olhos arregalados e se deu conta, finalmente, do que estava acontecendo e caiu na risada. Juntei meu chapéu vermelho que havia escorregado da cabeça enquanto arrumava a saia do vestido.
Seus dedos magros e quentes se entrelaçaram aos meus despretensiosamente e ela encostou a cabeça no meu braço enquanto seguíamos calados para meu carro estacionado no final da rua.
— Minha casa, por favor. — disse assim que afivelou o cinto de segurança. Não contestei, apenas segui o caminho que sabia tão bem enquanto sua mão subia e descia pela minha coxa querendo tirar minha atenção da rua.
— Você quer causar um acidente, por acaso?
— Você tem tanta sorte de eu não estar fazendo coisa pior. — ela disse virando seu rosto para mim com uma expressão falsamente meiga, ao mesmo tempo em que seus dedos brincavam com a fivela do meu cinto. — Ou seria azar?
Azar, muito azar, .
Tão logo estacionei em sua garagem a loira desafivelou seu cinto e engatinhou para meu colo, o sorriso maldoso preso no rosto angelical e os dedos se embrenhando por meu cabelo em um carinho lento.
Suas resoluções de inferno foram atualizadas com sucesso.
— Então, você tem uma cobra na sua bota mesmo ou é só papinho? — ronronou cheia de graça contra minha boca, me tirando a oportunidade de resposta com um beijo.
Minha vontade era de devorá-la, consumir cada centímetro do seu corpo com devoção e saudade, fazê-la engolir cada frase engraçadinha em um suspiro ou perder a cabeça como eu quase perdi ficando tanto tempo longe dela.
O estado de torpor tomou conta do meu corpo conforme meus dedos apertavam sua carne por debaixo do vestido querendo senti-la mais, enquanto os seus riscavam meu peito conforme me desabotoava a camisa.
Pouco a pouco meus sentidos foram se desfazendo ao passo que eu me perdia mais em , querendo desesperadamente me enterrar em seu calor.
— Vamos pra dentro, quero te foder na sua cama com calma. — minha voz saiu como um rosnado contra seu pescoço arrepiado. estava rebolando contra meu colo, aumentando a fricção entre nossos corpos e me fazendo ficar ainda mais dolorosamente duro dentro do jeans. — ... — murmurei desesperado tentando fazê-la ir comigo para dentro da casa onde não correríamos o risco de sermos visto. Então ela me deu uma ultima olhada sacana antes de voltar para o banco do passageiro, a peruca corajosamente ainda no lugar, mas o vestido vergonhosamente amaçado e levantado até a altura da cintura.
Eu deveria saber que aquele olhar significava alguma outra maldade por trás do seu ato bondoso de me ouvir prontamente, contudo fui ingênuo o suficiente achando que ela não me torturaria ainda mais.
Ledo engano.
Assim que minha mão encontrou o trinco da porta, a mão de encontrou a fivela do meu cinto e desfez o fecho rápido demais. Meus músculos travaram no lugar enquanto em câmera lenta ela desceu até o zíper e soltou o botão, um gemido escapou furtivamente no momento que ela me alisou, puxou meu pau para fora da cueca e chupou a glande como um sorvete.
Todas as vezes que fiz birra no supermercado para comprarem Snow Flakes. Que quebrei os brinquedos dos meus irmãos e fingi que não fui eu. Que pisei na pata do cachorro e não pedi desculpas. Todas as vezes em só fechei os olhos e fingi orar enquanto minha mãe agradecia pelo alimento... Todos meus pequenos deslizes idiotas de toda minha vida estavam voltando ali contra mim. Logo ali naquela boca que deveria ter uns quarenta graus e sabia exatamente como me deixar na ponta dos pés. Minha cabeça bateu contra o encosto do assento involuntariamente, tive que fechas os olhos para me concentrar em não gozar logo na segunda vez que seus lábios desceram em mim. Meus dedos grudaram em seu cabelo e eu não soube explicar se queria incentivá-la a ficar ou arrancá-la de lá. Arrisquei abrir meus olhos e olhar para ela, só para encontrar seus olhos verdes brilhando na penumbra do carro e um sorriso maldoso em seu rosto, totalmente divertida em me ver sem chão.
Um rosnado se desprendeu de minha garganta quando ela simplesmente se afastou, o sorriso ainda lá, antes de dar uma ultima olhada e estralar os lábios, saindo correndo até a porta.
Aquela garota seria a minha ruína e eu a queria tanto que chegava a doer fisicamente. Não posso afirmar com alguma porcentagem de certeza se tranquei, ou até mesmo fechei a porta do carro — ou meu jeans — antes de sair correndo atrás dela. Não lembrava nem como havia cruzado o jardim tão rapidamente, minha mente só processou a sensação dos meus dedos correndo sua barriga por baixo do vestido e da minha boca devorando a parte do seu pescoço que a peruca não escondia enquanto ela travava uma batalha para abrir a porta.
Foram necessários três passos apos a porta ter sido aberta para eu poder grudá-la contra a parede do hall de entrada e ter suas pernas apertadas ao redor do meu quadril. Fechei a porta com um chute que poderia ter acordado a vizinhança toda, se eu ao menos estivesse ligando para alguma coisa.
Segui trôpego andando as escuras, minhas mãos segurando com firmeza o traseiro de e ela muito ocupada em me beijar. Seria cômico se não fosse trágico eu dizer que encontrei o sofá em uma joelhada dolorosa e acabei nos derrubando de um jeito nada delicado no tapete da sala.
— Já estava começando a duvidar que era o John mesmo. — disse rindo enquanto se sentava sob meus quadris — Tudo dando muito certo, nenhum acidente, nenhum incêndio na cozinha, nenhuma piadinha idiota aleatória.
— Eu só estava esperando o momento propício. — respondi enquanto me sentava e vi seu sorriso morrer lentamente enquanto me encarava.
parecia ter desistido de sua provocação e eu, de alguma forma, podia ver que algo mais no fundo de seus olhos quando ela enlaçou suas pernas na minha cintura e segurou meu rosto com as duas mãos. Era quase como um sussurro perdido no verde estranho dos seus olhos me pedindo para ficar.
Ela me beijou devagar, os dedos correndo levemente por minha nuca, logo se afastou, soltou suas pernas de mim e ficou em pé esticando sua mão para que eu a tomasse com a minha. Deixei que me guiasse pela escada, vez ou outra virando com um sorriso no rosto roubando-me um beijo ou dois. Quando chegamos em seu quarto ela me fez ficar parado no meio do cômodo enquanto acendia a luz do abajur para então virar-se para mim com seu falso olhar inocente e soltar o zíper lateral do seu vestido o fazendo ir ao chão e minha ereção latejar incomodamente.
Veio em minha direção e se desfez da minha blusa enquanto na ponta dos pés, com algum esforço, beijava minha orelha. Eu quis rir de seu esforço em ficar da minha altura, mas ela foi mais rápida ao ir me empurrando em direção a beirada da cama onde me fez sentar e terminou de puxar minhas calças pelas pernas. então ficou entre elas e com a maior calma possível tirou seu sutiã também cor de rosa e deixou seus pequenos seios a minha mercê.
Beijei-os como se eles merecessem ser adorados - e mereciam -, senti o gosto salgado da sua pele sem pressa, dedilhando suas coxas devagar para memorizar cada curva de seu corpo como se eu fosse perdê-la assim que acordasse.
Puxei-a para a cama, seus olhos semicerrados em minha direção e seu corpo todo entregue a mim me faziam sentir na obrigação de agradá-la, de satisfazê-la completamente. Me curvei sobre ela para beijar seus lábios mais uma vez, logo desci meus beijos a sua orelha, mordi levemente seu lóbulo e a senti estremecer embaixo de mim. fez menção de tocar nos meus braços, nesse momento decidi que eu estaria no comando.
— Vamos brincar, que tal? — murmurei na curva de seu pescoço enquanto retirava suas mãos de mim e as deixava presas contra o colchão ao lado do seu corpo. — Você vai ser uma garota boazinha e fazer o que eu mandar.
— Nós vamos ter um problema aí John, porque eu não sou uma garota boazinha. — disse em meio a um sorriso safado.
— Mas vai ter que ser, se quiser gozar. — respondi contra sua boca escorregando minha mão para o fundo de sua calcinha encharcada fazendo um gemido se desprender de sua garganta. — Você vai ter que manter as mãos longe de mim, só pode olhar e sentir, se me tocar eu paro tudo e nós dois vamos ficar insatisfeitos. Estamos entendidos? — perguntei enquanto fazia movimentos circulares em seu clitóris sob a calcinha, sua resposta foi apenas um gemido débil.
Desci minha boca para sua pele novamente beijando seu pescoço e a linha da sua clavícula, um suspiro alto se fez audível quando depositei um beijo em seu seio esquerdo e segurei firmemente o direito. De canto de olho observei segurar o lençol apertado entre os dedos. Fiz um rastro com a língua de seu seio até a altura do umbigo, fui abaixando a única peça que ainda a cobria enquanto mordiscava a pele macia de sua barriga e ouvi os suspiros ressoarem dela.
Puxei-a para mais perto da borda da cama e me ajoelhei no chão com ela toda exposta com as pernas abertas em minha frente. Beijei toda a parte interna de suas duas coxas aproveitando cada retesada que seu corpo dava até finalmente depositar um beijo no alto de sua intimidade. Escorreguei minha língua por toda sua extensão e chupei de leve seu clitóris, suguei e lambi-a por longos minutos enquanto ela se debatia e gemia indefesa agarrando os lençóis. Eu podia sentir que em poucos segundos ela iria gozar quando ela se atreveu a agarrar meus cabelos e empurrar os quadris contra mim. Afastei meus lábios dela com um sorriso maldoso e segurei suas duas mãos enquanto me levantava em sua frente.
— John… Por favor. — ronronou frustrada — Não para, por favor.
— Eu te avisei, . — minha voz saiu rouca pelo tesão de vê-la tão entregue, eu havia passado incontáveis dias esperando para vê-la assim novamente. Me curvei contra o seu corpo, levando suas mãos até a altura de sua cabeça onde as mantive presas. — Você não foi uma boa garota.
— Vou ser boazinha, eu juro. — disse meiga levantando seu rosto em minha direção — Por favor?
— Agora eu vou ser malvado com você, . — murmurei ao soltar suas mãos para juntar seu joelhos e deixá-la virada de lado com seu pés para fora da cama.
Contornei sua cintura com a ponta dos dedos, desci para sua bunda que apertei com firmeza e ouvi seu ronronar suave logo ser substituído pelo som agudo do tapa que estralou em sua bunda. soluçou surpresa, mas o calor em seus olhos não me enganaram, ela gostava daquilo. Mais três tapas e virou o rosto contra o colchão, seu gemido preencheu o quarto tão alto e eu já estava quase gozando em antecipação. Com dois dedos pirracei seu clitóris mais uma vez, só para ouvir aquele gemido delicioso de novo e sentir ela rebolar contra mim.
— Você sempre anda molhada assim ou só está feliz em me ver? — sussurrei em seu ouvido, ainda debruçado sobre ela, fodendo ela com os dedos. Deu uma risada boba como resposta e enlaçou meu pescoço desengonçadamente apertando os lábios contra os meus, remexeu apenas mais uma vez os quadris antes de morder meus lábios e se contorcer em minha mão enquanto gozava.
— Se você soubesse que só você me deixa assim... — respondeu em um ronronar assim que recuperou o folego. Isso e o modo como ela mordeu a ponta do polegar inocentemente me fizeram chegar ao meu limite.
Tirei minha ultima peça de qualquer jeito e tive que ter o sangue frio de ir atrás de minha calça pegar uma camisinha na carteira e colocá-la. Só a imagem da minha garota deitada e seus cabelos cor de rosa espalhados pela cama poderiam me fazer perder o ar antes mesmo de sentir seu corpo nu contra o meu. Segurei com firmeza em suas coxas e a puxei contra mim penetrando-a lenta e completamente. gemeu alto quando sai de dentro seu calor e voltei rápido demais. Fodi sua boceta apertadinha até ela vir mais uma vez no meu pau gritando meu nome, só então pude me desfazer num orgasmo que parecia uma onda me levando embora.
Cai pesado na cama ao seu lado puxando-a para mim para encontrar seu olhos felinos semicerrados me encarando letárgicos e sua peruca cor de rosa perdida sobre a cama, do que fez com que alguns fios loiros grudassem na camada fina de suor que tinha em sua testa.
Podia sentir o calor inocente e tímido se espalhar pelo meu peito e a estranha satisfação de finalmente tê-la encaixada em meus braços como um pedaço perdido de quebra-cabeças. Eu finalmente estava no lugar certo, no meu próprio pedacinho do paraíso, abraçado com a garota que seria a minha perdição e não podia estar mais feliz.
— Eu te amo. — soltei de repente e nunca senti as palavras saindo tão fácil e com tanto significado. já tinha os olhos fechados, mas um daqueles sorrisos lindos se desenhou em seu rosto.
— Você vai repetir isso amanhã pra mim, só pra eu ter certeza. — disse sonolenta ajeitando a cabeça em meu ombro.
E eu repetiria quantas vezes fosse necessário, a minha vida toda em plenos pulmões, para qualquer estranho na rua, eu repetiria se aquilo me garantisse que toda noite ela dormiria assim nos meus braços e acordaria ao meu lado. Porque ela era a garota que eu amava e nada nunca poderia mudar isso.
O sono já estava me derrubando e eu podia ver as luzes dançando atrás dos meus olhos, mas podia jurar que a ouvi suspirar bem baixo:
— Eu te amo mais.



Capítulo 14 - O seu idiota está logo ao lado (Parte Dois)

Estava acordada há mais de vinte minutos sentindo a ponta de seus dedos correndo pelas minhas costas nuas em um carinho constante, sua respiração batendo morna em meu pescoço, mas meus olhos se recusavam a abrir.
A noite passada estava em um loop infinito no meu cérebro, o que ele havia dito repassava em letras grandes e coloridas em minha mente e eu não queria ter que pensar sobre nada, eu só queria manter meus olhos fechados mais cinco minutos e aproveitar sua presença.
Um resmungo se desprendeu da minha garganta quando seus dedos cessaram o carinho, mas ele não me respondeu, apenas virou-me para ele ajeitando-me em seus braços, tirando alguns fios de cabelo do meu rosto.
— Bom dia.
Relutante meus olhos se abriram e John entrou no meu foco.
Estava tão errada quando achei que quatrocentos dias longe iriam anular o efeito dele sobre mim. Nada nunca anularia John O’Callaghan em mim, não importava o quanto eu tentasse.
Meu rosto provavelmente estava inchado, os olhos remelentos, meu cabelo uma bagunça. Eu devia estar parecendo um completo acidente de trem numa manhã pós-sexo, mas mesmo assim ele me olhava como se eu fosse um por do sol no mar. Seus dedos correram por minha bochecha em um carinho sossegado e ele logo se inclinou em minha direção para me dar um selinho sem nem me esperar responder seu bom dia.
— Ainda não tinha tido a chance de te dizer como você é linda de manhã cedo. — ele murmurou contra meus lábios e meu coração se inundou com a mornidão.
— Alguém acordou muito romântico hoje. — respondi em um sopro, segurando o cabelo da sua nuca entre meus dedos. Ele apenas riu contra minha pele e se arrastou contra mim para deitar sua cabeça em minha barriga nua e abraçar meus quadris.
— Eu só não quero errar com você outra vez. — grunhiu e eu vi seus olhos se fechando como se estivesse tentando afastar uma memória ruim, meus dedos correram por seus cabelos o incentivando a falar — Quando você foi embora sua sombra assombrava o espaço que sobrava na minha cama, ficava presa entre cada música que eu tentava compor. Você estava por todo lado, menos do meu.
Seu polegar circundava o osso do meu quadril, seu hálito esquentando minha pele a cada palavra, e eu estava em algum lugar orbitando pelo espaço tentando voltar para terra para lhe responder. Minha respiração estava falha, assim como as batidas do meu coração, ansioso para ouvir o resto do que John tinha para falar.
— Ano passado foi o pior ano da minha vida, . Não estou usando de hipérboles, foi literalmente o pior ano de todos. Pensava em você basicamente todos os dias e quando não pensava sobre você eu escrevia sobre você, desenha você, forçava você a ser o assunto da conversa pra poder matar um pouco da minha saudade. — John pausou brevemente para respirar fundo e vomitar as palavras — Sinto muito por tudo que te causei com aquele plano estupido. Eu fui infantil, descuidado e egoísta. Estava com ciúmes e medo de te perder, mas , nada se compara ao quanto eu sinto por ter te deixado ir embora aquela noite no meu apartamento. Isso está saindo tão brega, eu sei, deveria ter dito desde o começo que...
As palavras morreram em sua boca e meu coração disparou curioso com o que ele diria.
— Dito que…?
Ele virou o rosto em minha direção, os olhos cheios de algo que eu não soube decifrar na hora. Sentou-se na cama, ainda bem perto de mim, seu sorriso tímido perdido ali.
— Que eu te amava. — soltou depressa, me fazendo cair em mim novamente.
— Amava?
— Amava, amo e até mesmo se você continuar fugindo de mim eu provavelmente ainda amarei. — completou com um sorriso.
Eu queria pular na cama até estourar todas as molas, gritar até minhas cordas vocais fazerem um calo, queria beijá-lo até arrancar os lábios fora, ele havia repetido e eu não poderia estar mais fora de mim.
Um rugido baixo arranhou minha garganta e antes que eu pudesse pensar direito já tinha me jogado contra seu corpo o derrubando no colchão, beijando seus lábios com tanta vontade que posso até tê-los machucado. Mas não eu não poderia ligar menos.
— Você é tão lerdo, Cornelius. — resmunguei entre um sorriso — Eu amo isso em você. Amo tudo em você. — disse enquanto ele deslizava os dedos por minha cintura e o sorriso lindo preso no rosto — Mas se você pensar em partir meu coração outra vez eu juro que...
John me calou com um beijo antes que eu pudesse concluir.
— Não será necessário, qualquer perversidade que você pensar em fazer comigo se eu fizer uma estupidez dessa eu farei três vezes pior. — disse solene apoiando-se em seus cotovelos para ficar sentado na cama — Agora, se você puder ficar quietinha pra eu poder pedir desculpas de um jeito nada cristão nesse seu corpinho, eu agradeceria. — ele até tentou me puxar, mas fui mais rápida e em um pulo estava de pé ao lado da cama arrancando um grampo que machucava minha cabeça.
— Na verdade você vai ter que pedir desculpas rapidinho no chuveiro, tenho um compromisso com Donna e Pat agora no almoço. — revirei meu armário atrás de toalhas para nós e me virei para encará-lo ainda largado na cama.
— Eles também te chamaram? — resmungou se levantando preguiçosamente. E Deus, que visão aquele homem era nu de manhã. — Eu pensei que eles estavam me chamando pra almoçar só porque queriam meu carro emprestado pra fazer a mudança.
— E eu achei que você ia me pedir desculpas de joelhos no box, mas fomos todos enganados aqui. — segui para o banheiro fingindo reclamar até John colar em minhas costas e me arrastar para o banheiro.
Em um resumo rápido eu o perdoei, mas não foi rápido e nós tomamos dois banhos.
Gostaria de poder dizer que chegamos religiosamente no horário combinado, mas o carro de John havia ficado a noite inteira com os faróis acesos e infelizmente estava sem bateria - ele não parecia nada chocado com o fato - e o meu estava com meu irmão, logo tivemos que enfrentar dois ônibus até a casa da mãe de Donna do outro lado da cidade. E Deus sabe como foi difícil encontrar um mercado aberto para comprar um santo refrigerante naquele domingo de manhã.
Fingi não estar surpresa ao ver mais quatro carros estacionados no gramado da Sra. Weiz, parece que estávamos todos presos em uma pequena conferencia secreta afinal de contas.
Donna nos atendeu com um sorriso enorme no rosto, estava estranhamente animada e elétrica, me arrastando para a cozinha e largando John despachadamente com os garotos na sala. Alicia, Stela e Sienna estavam reunidas ao redor de um livro de receitas na ilha da enorme cozinha conversando animadamente. O cheiro de comida estava tão bom que tive que refrear meu impulso de ir beliscar escondida nas panelas. Larguei minhas sacolas sobre o balcão e as cumprimentei rapidamente.
— Então, quem vai querer mimosas? — disse alto chamando a atenção delas levantando a garrafa de champanhe e suco de laranja que havia trazido.
— Garota, você já quer começar a beber? — Stela fingiu indignação ao contornar as amigas e alcançar um copo no escorredor de louças da mãe de Dons e me estendeu de forma dramática — Pois eu estou junto com você, derruba isso.
Logo Alicia e Sienna a imitaram pegando copos enquanto eu preparava o drink enquanto a ruiva ia mexer em algo nas panelas e ignorava nossas bebidas. Isso era estranho, levando em conta que era ela quem bebia direto do gargalo qualquer garrafa colorida com alguma porcentagem de álcool.
Preparei seu copo e como uma ótima amiga levei para ela, como resposta ganhei um sorriso amarelo de recusa.
— Sabe o que é, eu vou ficar só no refri hoje, mas obrigada. — disse sem tirar os olhos do seu refogado de abobrinha que cheirava maravilhosamente.
— Assim a gente vai pensar que você está grávida e escondendo da gente, Donatella. — Alicia fez a piada e todos rimos, mas a ruiva continuou calada. E mais uma vez eu gostaria de ter tido uma reação decente, mas congelei junto com ela e seu silêncio.
— Espera aí! Você está grávida mesmo? — repeti atônita. Ela apenas levantou os olhos do fogão e me olhou com seus grande olhos azuis cheios de culpa. Ok, eles estavam mais para travessos, mas eu gosto de pensar que ela se sentiu culpada por esconder isso de mim.
— Está certo, vocês me pegaram, suas cretinas. — se rendeu virando animada para as garotas boquiabertas sentadas ao redor do balcão, agradeci mentalmente por não ser a única que não sabia esconder a surpresa — Eu queria ter contado antes, mas não queria ofuscar o retorno da nossa canadense preferida.
— Como isso foi acontecer? — Sienna deixou escapar o que todas nós queríamos perguntar.
A ruiva revirou os olhos e estendeu um sorriso maldoso antes de responder. — Sissy, papai e mamãe gostam de brincar de plantar sementinhas de repolho na horta da mamãe, sabe querida? — ela usava um tom ridículo como se falasse com uma criança, o que nos obrigou a rir histericamente — Mas eles nunca realmente usam sementinhas porque elas ficam no pacote de sementes. E numa dessas brincadeira o pacote de sementes rasgou e coincidentemente mamãe estava com a terra fértil porque esqueceu de tomar seu remédio anti repolhos e… Foi assim que aconteceu.
Eu estava, literalmente, chorando de tanto rir e sabia que não estava sozinha nessa, Alicia e Sienna já estavam grudadas na ruiva meio rindo e meio parabenizando. A agarrei assim que tive a oportunidade e enchi seu rosto sardento de beijos.
— Você não sabe como eu estou feliz por saber que vou ser tia de um repolho. — e agora as lagrimas já não eram mais de risos, eram de felicidade.
— Eu bem que percebi que você estava engordando… — a morena disse a abraçando pelo outro lado e beijando seus cabelos.
— Agora você foi cruel, ridícula. — resmungou a estapeando de brincadeira.
Já estava no meu terceiro prato de pudim e disposta a me arriscar por um quarto quando Pat ficou em pé e bateu seu garfo teatralmente contra seu copo chamando a atenção de todos.
— Nós chamamos vocês aqui hoje por um motivo muito especial, na verdade.
— Pra pedir meu carro emprestado para a mudança! — John brincou ao meu lado o que fez Pat rir e dar os ombros concordando.
— Também! Mas… Não tem um jeito menos dramático de falar isso? Eu acho que... — resmungou para Donna que tinha um sorriso empolgado no rosto. Ela apenas se levantou rápida como um raio e tomou a frente.
— Nós vamos nos casar. — soltou animada em direção aos pais na ponta da mesa, logo completou rapidamente ao perceber que eles estavam segurando a respiração pela surpresa — E eu estou grávida.
Eu podia jurar que o Sr. e a Sra. Weiz iriam desmaiar pela cor de giz que ficaram, mas eles apenas se levantaram para felicitar o casal - apesar de eu ter quase certeza que o Sr. Weiz ameaçou Pat de morte caso ele magoasse sua princesa de qualquer maneira. Ali nós podíamos ver claramente que os Weiz tinham um padrão genético de ameaça no sangue. Que Deus abençoe nosso repolhinho.
Stela sugeriu um café para ajudar a digerir a informação, e toda a soja e berinjela que comemos, logo estávamos todos na sala conversando sobre a futura cerimonia quando percebi Kennedy quieto demais perto da janela. Ainda não tinha tido uma chance de conversarmos pessoalmente e temia que ele achasse que ainda tinha algum ressentimento, apesar de termos trocados algumas mensagens enquanto eu ainda estava no Canadá.
Sussurrei para John que iria falar com Ken, no fundo fiquei com medo de ele fazer uma cena de ciúmes e eu ter que sufocar ele com uma almofada, contudo ele apenas concordou e logo voltou sua atenção para Pat que relatava como havia feito o pedido de casamento.
— Ei.
— Oi, a. — ele disse visivelmente surpreso por minha aproximação, ajeitando sua postura — Está tudo ok?
— Sim, está tudo ótimo na verdade. E com você?
— Tudo… Ótimo. — respondeu incerto.
— Eu… As coisas… É… — gaguejei debilmente e quis me chutar. Sabia exatamente o que queria falar, mas não conseguia formar uma frase coerente. Ken por sua vez apenas colocou a mão sobre meu ombro e seus olhos compreensivos me disseram tudo que eu queria falar para ele.
— Está tudo bem, . Você não precisa explicar nada, eu sei que nós funcionamos melhor como amigos e você ama outro cara. - ele revirou os olhos como se estivesse zombando do discurso que alguém lhe passara, algo que eu dificilmente duvidava que não tivessem feito - Não havia motivo para forçarmos essa situação mesmo. Espero que possamos continuar sendo amigos sem qualquer drama no meio.
Soltei o ar que inconscientemente estive segurando em um alivio inexplicável. As ultimas vinte e quatro horas haviam sido uma montanha russa emocional e eu estava satisfeita de finalmente conseguir sair desse carrinho com meus conflitos resolvidos positivamente. Talvez positivos demais considerando o caso de Weiz.
— Não posso te prometer sem drama, mas continuar amigos é uma ideia que me agrada muito.
Ele ensaiou um sorriso e logo virou-se em direção aos demais que conversavam entretidos demais para notar nossa pequena conversa paralela. Apontou distraidamente para John no sofá e me olhou significativamente.
— Queria que você pudesse ver o olhar que ele te dá quando você não está olhando. É o tipo de olhar de quem está perdido no deserto há dias e finalmente encontra água. — disse em um tom deslumbrado. — Mas mais do que isso, queria que você pudesse ver o modo como você olha para ele quando acha que não tem ninguém olhando. Todo mundo espera encontrar alguém que te olhe tão maravilhada que te faça se sentir o idiota mais sortudo do mundo. Aquela girafa de araque não sabe a sorte que tem. — fez graça quando o acertei de leve no braço — Se ele um dia te magoar, você sabe que eu acabo com ele.
— Eu seguro e você bate, fechado? — brinquei cerrando meus olhos numa pose que deveria ser ameaçadora, mas só arrancou uma risadinha dele.
— Me desculpe por ter sido um babaca, você merece ser feliz, . Tudo bem se não for comigo, desde que você mantenha esse sorriso lindo onde ele está.
Eu havia pensado mais cedo que seria uma cena constrangedora se o abraçasse ali, contudo mal pude notar o momento em que o fiz, só cai em mim quando seus braços enlaçaram meu ombro e me apertaram contra si. Não era desconfortável ou constrangedor, era muito bom na verdade, mas não parecia mais como o lugar certo que eu me encaixava e eu sabia por quê.
— Mas se você quiser meu carro está ligado lá fora só esperando a gente fugir. — sussurrou contra meus cabelos me fazendo soltar dele rindo.
Olhei para O’Callaghan segurando sua xícara de café tão alheio a nós, os lábios repuxados em um sorriso enquanto conversava com os amigos. Nem mesmo se eu quisesse eu iria fugir, não depois de encontrar onde eu me encaixava.
Nah, quem sabe na próxima.
Já era noite quando pegamos o ônibus para minha casa, apesar dos insistentes convites de carona que Garrett e Stela nos propuseram. John se ajeitou contra a janela e me puxou para seus braços, minha cabeça contra seu peito podendo escutar perfeitamente as batidas do seu coração.
Uma vez, há muito tempo, eu tinha escutado que lar não era um lugar e, para mim naquele momento, não havia feito muito sentido.
Mas agora fazia.
Lar não é a casa de tijolos com um grande jardim e uma cerquinha branca. Lar é o sentimento de pertencer a algum lugar e ter motivos para ficar. Talvez lar tenha cabelos loiros, olhos ridiculamente lindos, toque violão e use coturnos. Talvez ele me faça ter vontade de ter uma casa de tijolos com um jardim e cerquinha branca.
O ônibus estava quase no terminal quando levantei meus olhos em sua direção e soprei sem pensar duas vezes:
— Você é o meu lar.
Talvez nosso trajeto tenho demorado um pouco mais que o de costume, um beijo perto da hora de apertar o sinal de parada pode atrasar sua rota em quase duas horas, com sorte, se não for domingo. Mas eu não podia estar ligando menos, estava feliz de qualquer maneira.
Pois não importava onde eu estivesse, se eu estivesse com ele, estava em casa.




FIM!!



Nota da autora: Termina aqui nossa saga de sofrimento e risadas com e John. Espero que tenham gostado e me acompanhem em uma próxima história que está vindo.
Muito obrigada por terem me dado uma chance lendo essa história, significa muito para mim!
Caso queiram falar comigo, conversar, arrancar info vocês podem me achar no grupo do Facebook e no twitter (@weirdokiddos). Também estou pelo Wattpad, vocês podem acompanhar outras histórias em andamentos e finalizadas que estão por lá.
E não esqueçam de comentar.



Nota da beta: Oi! O Disqus está um pouco instável ultimamente e, às vezes, a caixinha de comentários pode não aparecer. Então, caso você queira deixar a autora feliz com um comentário, é só clicar AQUI.

Qualquer erro nessa fanfic ou reclamações, somente no e-mail.


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