Deitados na grama à luz do luar e ao som da melodia que nomeei a nossa canção - embora aquela não fosse uma canção de amor - eu me vi em seus braços outra vez, enquanto sua mão acariciava meus cabelos e eu tentava pensar num jeito de fazer meu lado racional funcionar e me tirar dali, em vão.
Seu sorriso bobo calava qualquer palavra negativa que pudesse sair de minha boca e eu me sentia uma idiota apaixonada pela primeira vez. Só então pude afirmar o quanto o amor é cego e constar que pode ser surdo, mudo e imbecil também. Pude sentir o que nas rodas de conversar femininas não podia entender, que as borboletas no estômago e todo aquele lance ridículo eram apenas a mais pura verdade.
Minha cabeça pesava, pensava em tantas coisas, tantas cenas passavam em minha cabeça, que eu parecia que iria explodir. Pensava em nós dois, rindo e zombando um do outro. E pensava em como e ela faziam um belo casal.
Havia momentos em que eu não encontrava motivo para a minha consciência pesada. Éramos dois estranhos incompletos que buscavam preencher seu vazio um no outro. Dois grandes icebergs que pareciam não sentir frio quando juntos. E dizíamos: “Foda- se o que eles pensam”. Cada vez mais presos em nossa própria ilusão, que nos laçava cada vez mais perto um do outro e mais longe da verdade que tanto queríamos esconder.
Mas quando ela vinha - e eu pensava no quão me colocar no seu ponto de vista me incomodaria - por um instante me sentia como uma vadia. Eu me sentia culpada por desejar alguém que já havia sido desejado e dominado por outra. O amor virava pecado pela primeira vez. E por mais que em toda fumaça haja fogo, nunca tivemos sequer um beijo. Boatos tentavam contrariar isso.
No início, tudo era tão mais fácil, mesmo que não tivesse o privilégio de seus toques, eu sentia falta de como tudo começou. Fora tudo tão rápido e, de repente, eu estava perdidamente apaixonada.
Talvez não devesse me culpar tanto, o relacionamento deles nunca foi dos melhores, esses pensamentos meus egoístas também devem ter ajudado muito para este fim. Mas depois de tanto tempo, será que ele parou de a amar? Ficamos sem nos falar por um bom tempo e ele andou fumando muito, acho melhor não criar esperanças quanto a isso.
Seus olhos brilharam quando ele disse que sabia que eu queria me casar com ele. Foi uma brincadeira, mas uma daquele convencido. Ele disse que me amava e tentou me obrigar a dizer o mesmo a ele, mas do jeito que sou, era de se adivinhar que mesmo sendo adoravelmente torturada, não diria aquilo. Pior quando ele me perguntou se eu o achava bonito. Andei mentindo muito, dizendo que ele era feioso e tudo mais, quando o grande problema é o fato dele não ser o MEU feioso.
Nós tínhamos o mesmo maldito defeito, dois orgulhosos inúteis. Uma simples palavra resolveria tudo isso e eu não estaria neste dilema outra vez. Um simples gesto, talvez, como quando naquele dia em que eu jurei que puxou meu rosto e encarou minha boca para beijá-la. Não quero pensar nisso agora, andei sonhando essa cena por milhões de vezes tentando fazê-la parecer realidade, mas até agora, eu juro que não encontrei um jeito de crer em minha própria memória.
estava sozinho, era tudo que eu havia almejado nos últimos tempos, mas por que eu ainda me sentia mal desse jeito? O grande problema de amar alguém de verdade é que fazer essa pessoa feliz se torna mais importante do que resolver sua própria desgraça. E nesse beco sem saída estava eu.
- Você está bem, ? Está tão quietinha hoje, coração. - sussurrou próximo ao meu ouvido, soltando um leve sorriso em seguida.
Havia tantas coisas que eu gostaria de falar, coisas que uma simples desculpa para meu silêncio jamais diriam. Mas eu não estava preparada para sofrer e talvez muito menos para ser feliz...
Fim
N/A: Peço reticências para a vida...
E como toda e qualquer cena fictícia essa teve um final. Mas e na vida real, qual botão se aperta para dar um fim em tudo isso? Estive esperando por algum tempo por uma fic finalizada e romântica. Ela veio e açucarou meu coração do jeito que eu espero ter açucarado o de vocês.
XOXO