História por Mari Monte | Revisão por That



colocou a última bola brilhante na árvore de natal e a observou, admirando seu próprio trabalho. Suspirou, cansada e triste, sem saber sequer por que resolvera enfeitar a casa com itens natalinos que somente ela mesma iria ver. Tinha comprado tudo aquilo junto com e por insistência dele, que amava o Natal, mais do que qualquer outra festa tradicional ou mesmo o próprio aniversário. Porém, agora, ele não passaria a data comemorativa com ela naquele apartamento, o que tornavam inúteis o pinheiro decorado, o boneco de Papai Noel e a guirlanda na porta.

Sem perceber, já estava com o rosto banhado em lágrimas outra vez. Chorar era o que mais tinha feito nos últimos quatro dias, depois que ele resolvera sair pela porta daquela mesma sala e de sua vida, sem olhar para trás. Tinha quebrado o coração dela em mil pedaços, ao dizer que o namoro de tantos anos havia chegado ao fim, sem ao menos explicar as razões. Dissera que não a amava mais, é verdade, mas isso não convencera a garota, talvez porque fosse difícil demais aceitar.

Quatro dias antes...

andava de um lado para o outro da sala, nervoso. Não queria acreditar no que tinha escutado no hospital, mas não tinha como duvidar dos próprios ouvidos! Se alguém tivesse contado a ele que a namorada que ele tanto amava roubaria a vaga com que ele sonhava desde o início da faculdade de medicina, ele teria gargalhado da piada de mau gosto. Ele e vinham brigando muito nos últimos tempos, por causa de seus plantões não coincidentes e também de coisas banais, porém ele jamais a teria considerado capaz de uma deslealdade.

finalmente chegou ao apartamento e ele nem ao menos esperou que ela colocasse a bolsa no aparador e pendurasse o sobretudo no cabide de pé que ficava próximo à porta. Precisava acabar logo com aquele sofrimento, que começara a sentir no momento em que vira um dos administradores do hospital dizer ao outro que a vaga de chefe da pediatria seria ocupada pela Dra. . A vaga de chefe da pediatria, sobre a qual tinham falado na semana anterior, quando ela dissera que ele tinha chances e que estava torcendo muito por ele.

"Você tem alguma coisa pra me contar, ?" Despejou.

"Te contar?" Respondeu, confusa, enquanto se livrava de suas coisas.

"Me contar, sim. Você tem alguma coisa importante pra me dizer?"

"Não, meu amor." Falou sincera, mas ele, achando que ela estava mentindo, ficou ainda mais decepcionado. Se ela ao menos tivesse a consideração de falar de uma vez...

”Pois eu tenho uma coisa pra te falar, ." Respirou fundo, segurando-se para não chorar. "Acabou. Eu to indo embora." Pronunciou com dificuldade.

"O que, amor?" Ela riu, achando que fosse uma brincadeira qualquer.

"Eu to falando sério, . Eu to indo embora e eu não to com cabeça pra arrumar nada meu agora, então eu venho buscar depois." Disse, pegando as chaves do carro, que ficavam em uma caixa no aparador.

"Espera aí, !" Ela levou a sério, finalmente. "Depois de anos juntos, você simplesmente me diz que vai embora, pega as suas chaves e sai?" Irritou-se.

"Depois de tantas brigas e de tanta decepção, eu não tenho outra coisa a fazer, ok?"

"Decepção? Eu não to enten-"

"Se você tá com a consciência limpa, ótimo pra você, Dra. !" Debochou.

"O que eu fiz?" Questionou, nervosa.

"Eu não preciso te dizer o que você fez." Riu, nervoso. Deveria ser óbvio para ela que ficar com a vaga que ele mais queria seria um problema enorme! Não que ela não tivesse o mesmo direito que ele, mas ela jamais tinha manifestado vontade de ser chefe de nada, apesar de seu pai e sua mãe terem sido diretores de hospitais. "Eu preciso sair daqui! Eu não consigo olhar pra você, quando eu não vejo mais a mulher que eu amava."

"O que?" Ela indagou, sentindo uma pressão no peito e um tremor passando por todo o seu corpo.

"Eu não te amo mais, ." Disse apenas para feri-la, por estar, ele mesmo, sentindo-se como alguém ferido de morte. É claro que ele ainda a amava, já que não se tira do coração a pessoa que ocupa a maior parte dele, de uma hora para outra. Não podia mais ficar com ela, mas a dor que sentia, por isso, era a prova de que o amor estava presente e sendo sufocado pela mágoa.

"Isso não é possível, babe." Ela afirmou, já chorando, se agarrando à blusa dele. "Olha pra mim e diz que isso não é verdade." Implorou.

"Eu venho buscar minhas coisas, depois." Foram as últimas palavras dele, que tirou as mãos dela de sua camisa, sem brutalidade, mas com firmeza.

Tudo o que queria era que ele voltasse e juntasse os cacos espalhados de seu coração. Sem seu , não haveria como reconstruí-lo, porque um grande pedaço fora embora com ele. O maior pedaço saíra com ele por aquela porta e ela não sabia como estava sobrevivendo. Ele era o amor da vida dela, seu melhor amigo, companheiro de todas as horas, sua família. Precisava que ele surgisse e dissesse que tudo ficaria bem, que ele estava de volta para cuidar, proteger e amar, como fora desde o dia em que tomaram trote juntos, na primeira semana de faculdade, e se tornaram amigos inseparáveis, começando a namorar uns meses depois.

Escutou o barulho da chave, a porta se abrindo, e encarou a causa de suas lágrimas, que entrou de cabeça baixa no apartamento. Trazia uma mala consigo e, ao vê-la, a garota começou a chorar ainda mais. Os dois permaneceram em silêncio e paralisados por alguns segundos. Ele secou o rosto, de repente, e ela questionou, calada, o direito dele de chorar, quando fora ele quem escolhera terminar o relacionamento, destruindo quase tudo de bom que lhe restara na vida.

"Ficou bonito." Ele interrompeu os pensamentos dela.

"Ficou." Ela concordou, secamente.

"Eu vou pegar minhas coisas. Tudo bem?" Perguntou, sem jeito.

"É claro que não tá tudo bem, , mas, se é o que você quer, o que eu posso fazer?" Limitou-se a responder, ficando de costas com o pretexto de mexer no fio de luzes pisca-pisca.

Ele encaminhou-se para o quarto e fez as malas, chorando muito. Queria tanto que ela tivesse sido honesta com ele! Queria tanto poder continuar vendo, na mulher por quem era apaixonado, a melhor de todas as amigas. Ela fora quem mais o ajudara a se tornar um bom profissional, o apoio maior que encontrara nas horas difíceis, até quando seus pais duvidaram que ele concluiria o curso. Por que ela não lhe dissera que também queria dirigir a pediatria? Por que dissera tantas vezes que tinha certeza que a vaga era dele?

O imóvel era pequeno e tudo estava muito silencioso para que não escutasse os soluços que ele não conseguiu conter. Então ela não pode se controlar e foi até o quarto, confrontá-lo. Se ele não a amava mais, qual era a razão para chorar daquela maneira? A mudança do apartamento? Pena, por estar machucando a pessoa com quem vivera durante tanto tempo? Ou ele achava mesmo que ela tinha feito alguma coisa? Mas o que, se ela tivesse feito, seria tão grave?

"Alguém, por acaso, disse pra você que eu fiquei com alguém?" Inquiriu, entrando no quarto.

"Você ficou?" Ele a encarou, engolindo seco para controlar o choro.

"É claro que não!" Aborreceu-se. "Foi isso?"

"Não. Eu não acreditaria, se alguém me dissesse isso. É claro que não."

"Então, o que foi, ?" Aproximou-se, cruzando os braços. "Eu não acho que você tenha deixado de me amar, só por causa das nossas brigas. Elas não eram assim tão sérias e a gente até se divertia, fazendo as pazes." Sorriu, recordando. "Eu tenho o direito de saber por que eu perdi você."

"Se você não acha sério o que você fez, você só me prova que eu estou certo em ir embora."

"Eu nem sei do que você tá falando!"

"Da vaga pra chefe da pediatria!" Gritou. "Daquela merda de vaga pra chefe da pediatria, que eu nem sabia que você queria." Voltou a chorar bastante, ao colocar para fora as palavras.

"E não quero mesmo. Eu to confusa." Franziu o cenho.

"Eu escutei o Dr. Lambert, dizendo ao Dr. Schuartz que você vai ser a nova chefe."

"Mas eu não vou ser a nova chefe."

"Depois que eu fui embora, você percebeu o que tinha feito?" Ironizou.

"Não! Eu nunca quis ser chefe de nada, ! Eu gosto de atender e só. Caramba... você sabe disso!"

"E por que ele tava falando isso... dando como certo?"

"Eu não sei!"

Ele ficou em silêncio, olhando para ela. Infelizmente, não conseguia acreditar em suas palavras, lembrando-se do jeito como um diretor falava com o outro.

"A nova chefe da pediatria vai ser a Dra. . Já está tudo certo. Não poderia ser outra pessoa, não é mesmo? Foi transmitido a ela no sangue o talento dos pais."

"Mas nunca achei que ela quisesse e..." O colega tentara argumentar, mas fora interrompido.

"Eu conversei com ela. Não temos razão pra sequer cogitar outro nome."

Ele continuou jogando coisas na mala, com ainda mais pressa, e ela não soube o que dizer. Estava havendo uma grande confusão, porque ela jamais pensara em ser chefe de coisa alguma, muito menos em ocupar a vaga com a qual ela sabia que ele sonhava desde sempre. Quando conversavam sobre como se imaginavam dentro de alguns anos, eles sempre falavam de estarem casados, vivendo em uma casa confortável, com filhos e um cachorro da raça Akita, e atendendo crianças no hospital. sempre acrescentava que ele seria chefe da pediatria e ela admirava o fato de ele sonhar grande.

"Me entristece muito que você não confie em mim, ." Comentou, depois de algum tempo. "Ou que esteja usando isso como uma desculpa."

"Uma desculpa?" Ofendeu-se. "Eu tô destruído, . Você acha que você tá mal, por eu ter ido embora, mas e eu? Eu perdi todos os meus sonhos! Eu queria nossa casa, nossos filhos, um cachorro pra fazer bagunça com eles, o seu abraço e você na minha cama, durante a noite, quando eu chegasse cansado, depois de brigar por mais recursos pra ala da pediatria, ou animado, por ter conseguido. Você comemoraria comigo ou me diria que da próxima vez iria dar certo, porque sempre foi assim entre a gente. Você sempre foi meu porto seguro. E eu até conseguiria fazer o contrário, mas só se você tivesse esse sonho também, e não porque um amigo dos seus pais te convenceu e você nem me contou!"

"Isso não é verdade! Eu to te dizendo que não é verdade e você não tá acreditando em mim." Reafirmou, vendo o agora ex-namorado fechar a mala e o seguiu até a sala. "Olha pra mim, . Eu nunca faria isso."

"Eu queria acreditar, . Eu te amo!" Declarou, triste. "Mas eu escutei quando ele disse que já tinha conversado com você. Mesmo que você agora tenha desistido por causa do nosso rompimento, pra me ter de volta, o fato de ter dito 'sim' a ele, antes, me machucou demais."

Ele abriu a porta e saiu do apartamento, logo entrando no elevador, e ela correu pelas escadas, mas viu que ele já estava dentro do carro, quando conseguiu chegar à rua. Chovia muito, mas ela ficou ali, parada, olhando o carro dobrar a esquina e deixando as lágrimas se esconderem na água que envolvia todo o seu corpo. Tinha esperanças de ver o carro voltar, trazendo seu amor de volta, seu sorriso de volta, e levando embora aquela dor, com que ele a tinha deixado quatro dias antes e que estava tendo que suportar de novo. Não conseguia decidir se era melhor ou pior que ele ainda a amasse e os motivos do término fossem outros.

Quando finalmente entrou em casa, estava ensopada e tremia, de frio e desespero. Tirou as roupas molhadas, tomou um banho quente e colocou o pijama de flanela que usava nas noites frias, quando ainda era solteira, de direito e de fato. Como voltara a ser solteira de fato, teria que recorrer às fontes de conforto e calor antigas, ainda que elas não dessem realmente conta. Precisava do abraço dele, de seus beijos apaixonados, de encostar os pés nas pernas dele, deitado a seu lado com aquele sorriso que, por tanto tempo, guardara só para ela.

Não conseguiu dormir, pensando na conversa dos dois, em por que razão o Dr. Lambert teria dito que ela seria chefe, quando ela havia deixado claro que não tinha qualquer interesse na vaga. Decidiu que falaria com o diretor, no dia seguinte, mesmo que não tivesse certeza de que acreditaria nela, algum dia. Se aquele homem quase perfeito tinha um defeito, era a teimosia, e ele estava convicto de que ela estava tentando manipular os fatos.

Levantou-se para preparar um chá de camomila e foi tomá-lo na sala, onde ficou observando as luzes se acendendo e apagando na grande árvore de Natal, que tinha em volta os presentes que ela já tinha comprado para e a família dele, e que já não sabia como entregaria. Provavelmente teria que escolher um dia em que ele estivesse de plantão e ir até a casa de seus pais, levando um saco como o de Noel, visto que a família era grande e ninguém tinha sido esquecido.

Natal do ano anterior...

Uma árvore de mais de dois metros, muito bem enfeitada, ocupava um canto da grande sala da casa dos e, em volta dela, havia pilhas e mais pilhas de presente. Uma música natalina tocava, mas não era possível escutá-la muito bem, porque havia crianças correndo e gritando, e muitos adultos conversando, animadamente. Era assim todo ano na véspera de Natal! Sempre algum dos abria sua casa para a família e, com cada membro levando o prato que era sua especialidade, eles tinham um banquete de fazer inveja a muito restaurante.

"Você tá bem, amor? Precisando de alguma coisa?" perguntou, atencioso, puxando a namorada pela mão e afastando a garota um pouco de duas de suas tias.

”Eu to ótima! Eu nunca tive um Natal tão animado assim. Nem quando meus pais eram vivos, porque, de qualquer modo, éramos só nós três."

"E aqui somos mais de trinta." Ele riu."É barulhento e às vezes tenho que escutar algumas histórias embaraçosas, mas eu gosto."

"E eu to amando!" Ela sorriu, verdadeira. "É claro que eu penso neles, de vez em quando. É o meu primeiro Natal sem eles aqui, afinal. Mas eu me sinto em casa. Obrigada." Ela o abraçou e ele retribuiu, dando um selinho nela. Não aprofundou o beijo porque eles estavam bem no meio da sala, com a família toda em volta.

"Você não tem que me agradecer, meu amor." Garantiu, sem um se soltar do outro. "Minha família é a sua família agora. Só não é no papel, ainda, mas isso é questão de tempo. A Dra. Green se aposenta ano que vem e, se Deus quiser, a vaga de chefe vai ser minha. Eu to me esforçando muito e o Dr. Schuartz já comentou que eu posso contar com a indicação dele."

"A vaga é sua, claro! Não tem ninguém melhor que você, pra conciliar a parte médica com a administração do pessoal e dos recursos."

"Ano que vem, nós vamos comemorar isso. E o Natal vai ser lá no nosso apartamento. Que tal?"

"É muito pequeno, ! Não caberia toda a sua família naquela sala." Riu.

"A gente faz um almoço no dia vinte e cinco, então. Só pra nós, meus pais e meus irmãos." Ela assentiu. "Mas eu quero tudo enfeitado, como aqui, com uma árvore bem grande, Papai Noel, lâmpadas coloridas e todas essas coisas." Ele parecia um menino falando e a empolgação dele era transmitida a ela, que sentia o coração mais aquecido, depois de um ano tão difícil.

Agora, não teria com quem passar a véspera de Natal e nem o dia seguinte. Não comemoraria o aniversário do Menino Jesus, não comeria castanhas e não veria os pequenos receberem um tio qualquer vestido de Papai Noel, acreditando ser mesmo ele o Bom Velhinho. Não ajudaria as meninas a trocarem as roupinhas das bonecas novas, nem sorriria, vendo aproveitar que um sobrinho ganhara um carrinho de controle remoto para voltar à infância. Provavelmente dormiria antes de meia noite, ou trocaria o plantão e passaria a madrugada no hospital, com as crianças internadas e suas famílias.

, por sua vez, desmarcou o almoço, dizendo aos pais apenas que ele e tinham terminado e que estava passando um tempo na casa de um amigo. Colega dele e de na faculdade, Sam Evans não acreditou quando contou o motivo do desentendimento, mas não conseguiu convencer o amigo cabeça dura, que passou os próximos dez dias se arrastando, indo e vindo de seus plantões.

No dia vinte e três de dezembro, ele viu de longe, entrando em um dos quartos da ala pediátrica, onde trabalhavam. Tinha tentado pegar plantões diferentes dos dela, mas não poderia trabalhar na véspera de Natal e nem no próprio dia, quebrando a tradição de estar com os pais, então só lhe restara aquele dia, para o qual ela também estava escalada. Vê-la doía demais e ele teve vontade de se aproximar, de perguntar se ela estava bem e onde passaria as festas, mas sua mágoa falou mais alto.

Decidiu ir tomar um café e comer alguma coisa, antes de fazer sua ronda, que não tinha urgência. Fez o pedido e escolheu uma mesa em um canto, ficando de costas para a porta, para ter maior privacidade. No entanto, outras pessoas pareciam estar procurando pelo mesmo isolamento e, minutos depois, a mesa que ficava atrás da cadeira dele foi ocupada por dois enfermeiros que tinham começado a trabalhar na pediatria havia pouco mais de um mês.

"...uma boba!" Um deles disse, um pouco alto.

"Fala baixo, Jim! Ela não confidenciou isso a você?" O outro perguntou, mais discreto.

"Ela me contou, naquele dia que ela não parava de chorar um minuto e foi mandada pra casa."

"Então, cara. Fala baixo! Ela não iria querer que isso virasse fofoca."

"Ok, Dylan, mas eu tenho que te dizer que acho uma estupidez! Deixar um hospital onde ela podia ser até chefe de setor, só pra não trabalhar mais com o ex-namorado." Comentou, capturando de vez a atenção de , que até então só estava ouvindo porque não tinha como evitar.

"Não é só por isso e você sabe muito bem. Você mesmo me contou que ela não queria ser chefe de setor, e que foi um dos diretores que cismou com isso, e ficou tentando evitar que os demais indicassem outros nomes. Ela, claramente, se sentiu usada, manipulada... e com razão!" Observou.

"É... você tem razão. Coitada! Perdeu os pais, ano passado, e o padrinho, ao invés de considerar o que ela queria, ficou tentando empurrar o cargo pra ela. Parece que ele até falou pra um dos diretores que ela já tinha aceitado, só pra o cara não levar outro nome ao conselho gestor."

"Ela vai deixar o hospital quando?"

"Eu ontem perguntei se ela ia fazer isso mesmo, porque naquele dia ela tava muito nervosa. Ela me disse que ainda não entregou a carta de demissão, mas que está decidida a fazê-lo quando voltar da viagem que ela vai fazer amanhã." Informou, dando uma mordida em seu sanduíche, até então intocado. já tinha largado o dele, àquela altura, porque sua garganta se fechara, quando se dera conta da injustiça que cometera. "A coitada nem tinha com quem passar o Natal, depois dessa decepção com o padrinho. Vai pra um cruzeiro." O enfermeiro Jim completou, fazendo as lágrimas que estava segurando escorrerem por seu rosto, desenfreadas.

"Pra onde ela vai?" Questionou, de supetão, levantando-se da cadeira e ficando de pé ao lado da mesa dos rapazes.

"Oi?" Dylan devolveu a pergunta. Tanto ele quanto Jim tinham tomado um susto.

"Pra onde a vai? Ela não pode passar o Natal sozinha!" Repetiu a pergunta, sentindo o coração disparado dentro do peito.

"Eu não sei direito... só sei que é um cruzeiro." Jim deu de ombros.

"Tudo bem. Eu acho que ainda consigo encontrá-la aqui. Obrigado." Terminou, literalmente correndo em direção à ala dos pequenos.

Infelizmente, chegou tarde demais. O plantão de acabara exatamente depois da visita ao mesmo quarto em que ele a vira entrar, e ela fora direto para o estacionamento, não passando pela cafeteria ou pela sala de descanso dos médicos, para tentar evitar um possível encontro com ele. Para sua insatisfação, ainda faltavam algumas horas para o final de seu próprio plantão, então ele não pode ir atrás dela.

Foi quase impossível se concentrar em qualquer coisa, naquela noite de trabalho. Não cometeu nenhum erro, é claro, mas se pegou distraído, pensando em e no que fazer para que ela o perdoasse, várias vezes. Nos intervalos, quando era abordado por colegas, que queriam conversar e se distrair, ou trocar alguma impressão sobre um paciente, escutava e respondia o mínimo, torcendo para que ninguém percebesse o quanto a mente dele estava distante dali.

"! Que bom te encontrar aqui!" Foi parado pelo Dr. Schuartz no corredor, quando caminhava de um quarto para outro.

"Olá, Dr. Schuartz. Como vai?" Indagou, apertando a mão de seu superior.

"Tudo bem, graças a Deus, Dr. . Tudo bem!" Sorriu, simpático. "Eu tava querendo falar com você sobre a vaga de chefe da pediatria, deixada pela Dra. Green, recentemente."

"Sim." colocou as mãos nos bolsos de seu jaleco.

"A vaga pode ser sua. Na verdade, é quase certo!" Informou, ainda mais sorridente.

"Sério?" O rapaz franziu a testa. Sabia que a vaga não tinha sido ocupada por , então não estava propriamente surpreso, mas também não conseguiu sentir a empolgação que imaginava que sentiria, por uma vaga que possivelmente tinha acabado com suas chances de passar o resto de seus dias com o amor da sua vida.

"Sério! O Lambert queria a Dra. para o cargo, mas ela reuniu toda a diretoria, há uns dias, e deixou bem claro que a vaga não lhe interessa. Eu pensei que você fosse ficar feliz em ser o mais cotado."

"Eu to feliz com isso, doutor. To muito contente por ter o meu trabalho reconhecido."

"Mas você não parece animado." Observou.

"Eu me separei da e foi por causa dessa mal-... bendita vaga, doutor. Pra ficar totalmente feliz, eu preciso me entender com ela." Explicou.

"Eu te desejo boa sorte, rapaz." Deu um tapinha no ombro dele, em reforço. "E te vejo aqui, no dia vinte e seis, para a assembleia. Feliz Natal!" Completou, dando um abraço rápido no colega de trabalho, que retribuiu os votos, antes de cada um caminhar para um lado.

Não seria, no entanto, tão fácil ele estar na reunião do dia vinte e seis. Depois de muito refletir e de falar com a mãe no telefone, contando tudo e recebendo conselhos, ele chegara à conclusão que teria maiores chances com , se a surpreendesse no cruzeiro, em vez de ir até o apartamento e pedir a ela para não viajar. O problema era que o navio – que ele descobriu ser o Merry Christmas MSC, depois de muito implorar à melhor amiga da garota pela informação – só retornaria no dia vinte e seis, no final da tarde, bem depois do horário para o qual fora marcada a escolha do novo chefe.

Não era impossível que ele fosse eleito pelos administradores sem estar presente e, caso não o fosse, mas conseguisse reatar o namoro com , teria valido à pena perder o cargo. É claro que, ao embarcar naquela aventura imprevista, ele estava se arriscando a ficar sem as duas coisas, mas, mesmo assim, preferia ir atrás da mais importante, ainda que esta não fosse a que parecia mais provável de ser conquistada, naquele momento.

caminhava distraidamente pelo navio, que já navegava, quando o jovem a avistou, enfim. Andou até ela, nervoso, mas tentando ser confiante e acreditar que o discurso que tinha preparado poderia convencê-la a ser dele, outra vez. Quando chegou bem perto, não precisou chamar pelo nome dela, que sentiu a presença de alguém e se virou, surpreendendo-se ao ver que se tratava dele.

"? O que você tá fazendo aqui?" Não escondeu o susto.

"Eu vim implorar que você me perdoe, por não ter acreditado em você. Eu vim te dizer que eu te amo e que eu preciso de você, e que, mesmo sendo um idiota, teimoso, se você me perdoar, eu vou passar o resto dos meus dias te compensando pela merda que eu fiz."

"Você não confiou em mim e isso é muito sério, ." Disse, chateada, mesmo querendo se jogar nos braços dele de uma vez e sabendo que o faria, em algum momento, afinal ele embarcara em um cruzeiro, só para pedir desculpas, e admitira ter cometido um erro.

"Eu sei. E eu bateria em mim mesmo por isso." Falou sério, mas ela riu do jeito dele, que se sentiu um pouco mais relaxado, em razão da risada dela. "Será que conta alguma coisa, em meu favor, eu estar aqui, rompendo com a tradição de passar o Natal com a minha família, pra ficar com você? Ou o fato de que eu posso perder de vez qualquer chance de ser chefe de setor, por não comparecer à reunião onde eu poderia ser escolhido, porque eu preferi subir nesse navio, atrás de você?" Questionou, com aquele semblante suplicante do Gato de Botas no filme do Shrek, e ela teve que fazer um esforço ainda maior para não se render fácil demais.

"Você não deveria ter feito isso, seu maluco. É o sonho da sua vida!"

"Se for junto com você, a Julie, o Daniel e o Tornado." Referiu-se aos nomes que já tinham escolhido, em suas brincadeiras de falar sobre o futuro, para o casal de filhos e o cãozinho que pretendiam ter.

"Eu não sei, ..." Mostrou-se ainda reticente. Tinha ficado muito magoada com a desconfiança dele e temia que seu coração fosse como um vaso de porcelana, que, uma vez quebrado, nunca volta a ser como era antes.

"Será que, se eu me ajoelhar a seus pés..." Continuou, fazendo exatamente o que propunha. "...e disser que eu não sou nada sem você, e que preciso que você seja minha mulher, e esteja ao meu lado pra sempre, você me perdoa? E aceita se casar comigo?" Perguntou, abrindo uma caixinha preta que tirou do bolso, e viu os olhos dela se encherem de lágrimas, que ele esperava que não fossem mais de tristeza. "Essa caixinha é aquela que eu guardei entre as minhas meias e te pedi pra não abrir, . Eu tava esperando justamente o almoço de Natal pra te dar. Eu não to te pedindo em casamento só pra você me perdoar, mas porque eu te amo. Eu te amo muito e eu deixei uma parte do meu coração naquele apartamen-"

Ele não teve tempo de concluir os argumentos, porque ela se ajoelhou na frente dele e colou seus lábios nos dele, com paixão, fazendo com que as pessoas que tinham se reunido em volta, ao vê-lo ficar de joelhos, batessem palmas e dessem gritos entusiasmados. Os dois riram da situação, enquanto ele colocava o anel de noivado na mão dela. Os dois se levantaram e, sorrindo simpáticos para os outros hóspedes do navio, caminharam na direção das cabines, onde poderiam ter privacidade para conversar melhor e se amar.

A conversa ficou para mais tarde, pois atacou os lábios de com os seus, tão logo adentraram a suíte dele. Suas mãos contornaram as curvas do corpo dela, enquanto as dela se agarravam à sua nuca. Quando encontraram o bumbum dela, se demoraram um pouco ali, acariciando e apertando aquela parte do corpo dela que era uma de suas preferidas. Eles tomavam fôlego e começavam a se beijar de novo, de tempos em tempos, e uma das mãos dela iniciou um passeio lento pelo tórax e o abdômen dele.

Quando os dedos furtivos da mão direita do rapaz subiram, desenhando as costas dela, até chegar à altura do seio, ela afastou um pouco o corpo, abrindo passagem para ele alcançar seus mamilos e brincar com eles. Aproveitou para cavar espaço para dentro da camiseta que ele usava, sentindo os músculos dele se contraírem e os pelos se arrepiarem. Os beijos, que, até então, eram intensos, mas lentos, se tornaram mais urgentes e acompanhados de suaves gemidos.

O próximo passo de ambos foi ajudar o outro a se livrar da parte de cima da roupa. Seminus, os dois voltaram a trocar beijos e ele caminhou até próximo à cama, levando a noiva junto. Trocou os lábios dela pelo pescoço e, em seguida, pelo colo, e foi descendo até se ajoelhar na frente dela, sem deixar de tocar e beijar sua pele um segundo sequer. Abriu o botão e o fecho éclair do short que ela usava, e passou os lábios por toda a volta da calcinha de algodão, torturando-a, antes de beijar delicadamente sua intimidade ainda coberta.

"." Ela gemeu, suplicante, segurando com força os cabelos lindamente desarrumados dele.

tirou, finalmente, aquela peça inconveniente e pegou a garota no colo, colocando-a na cama. Desfez-se de sua bermuda e da cueca boxer ao mesmo tempo e chutou as havaianas longe, fazendo gargalhar. O riso gostoso dela o excitou ainda mais e subiu na cama rapidamente, cobrindo-a de beijos e carinhos. Uma de suas mãos subiu por entre as coxas dela, vagarosamente, mas não foi preciso que ela protestasse de novo, para que ele tocasse seu sexo, com a destreza de sempre.

Depois de deslizar por entre os lábios, dois dedos invadiram a vagina dela, e o polegar traçava círculos imaginários sobre o clitóris, que variavam em velocidade e pressão. De olhos fechados, ela se permitiu, por alguns minutos, apenas aproveitar. Abriu os olhos, em choque, quando ele parou, mas não reclamou, pois ele estava lambendo os dedos, com uma cara safada que entregava seus planos. Levantou as pernas dela, colocando-as sobre os ombros e colocou a cabeça entre elas, lambendo e sugando até fazê-la tremer por inteiro.

Colocou-a deitada novamente, ainda com o semblante carregado de malícia, que fez com que ela, mesmo ainda sob os efeitos do intenso orgasmo, não resistisse e imediatamente o empurrasse contra o colchão, para também tocar e saborear seu sexo. Segurou com uma das mãos o membro ereto dele e começou a movê-la em uma velocidade torturantemente lenta, até fazê-lo implorar por mais. Obedeceu aos apelos dele, aumentando o ritmo, mas apenas para diminuí-lo de novo e começar a passar a língua por toda a sua extensão, intercalando as lambidas com chupadas rápidas, que se detinham apenas na pontinha.

", assim é covardia." Ele murmurou, agarrando os lençóis, e ela riu, travessa, mas não demorou a sugá-lo com mais força e rapidez, fazendo com que gozasse não muito depois.

se manteve ereto, então puxou para cima dele, encaixando o membro na intimidade dela, e deixou que ela ditasse um pouco o ritmo. Ela rebolou, como se desenhasse um oito com o quadril, e foi sentindo o prazer aumentar a cada movimento. Ele intensificou suas sensações investindo forte e rápido contra ela, e, passados mais alguns minutos, teve mais um orgasmo, ao qual sucedeu outro dela. O sorriso no rosto, a pele vermelha e o suor entregavam a intensidade de seus prazeres, naquele momento.

"Me conta melhor aquela história de reunião pra escolher o chefe da pediatria, amor." Ela pediu, deitada no peito dele, olhando os dedos dele brincarem com os seus, depois de terem feito amor.

"O Dr. Schuartz disse que eu tenho grandes chances, mas também falou que contava comigo nessa tal assembleia e eu não vou poder ir." Respondeu, quase indiferente.

"E você fala isso assim?" Ela sentou na cama, encarando-o.

"Eu precisava vir atrás de você, ." Explicou. "Não adiantaria nada eu realizar meu sonho de ser chefe, se eu não fosse poder dividir isso com você."

"Mas eu não posso deixar você desistir. A gente tem que dar um jeito!"

"E como?" Ele achou graça.

"Eu já sei! A gente vai sair do cruzeiro e voltar, no dia vinte e cinco." Decidiu, alguns segundos depois de pensar um pouco. "Nós teremos uma parada e dá pra voltarmos de trem." Acrescentou, sorridente, e ele a puxou para junto de si, de novo.

"Você é tão perfeita assim, que, mesmo depois do meu vacilo, vai deixar esse cruzeiro luxuoso, pra me ajudar?"

"Na verdade, eu fico um pouco enjoada no mar e precisava só de uma desculpa." Brincou. "Meu sonho também não seria completo se o meu futuro marido não fosse o chefe da ala, então, sim. Além do mais, eu não pude entregar os presentes que comprei pra toda a enorme família da qual eu vou fazer parte em breve."

"Então, tá decidido. A gente desembarca amanhã." Concordou. "Agora, vem aqui, porque eu vou ter menos tempo sozinho com você, no meio do mar, do que eu esperava." Pediu, segurando o rosto dela e começando um beijo delicioso.

Seus corações estavam inteiros outra vez e aquele foi o melhor Natal de todos!



FIM!


N/A: Muito obrigada por ler!! Se tiver gostado, comente, ok? Ter retorno dos leitores significa muito pra mim!! De coração!!

Fics da autora:
7.Night changes (Ficstape do álbum Four do 1D)
A bruxa tá solta e Insane Mardi Gras (continuação)
A chave para o coração
Corações em pedaços
Dos tons pastel ao vermelho
Fly me to the moon e Moonlight serenade (continuação)
Herança de Grego
Nem tudo é relativo
Provocadora gratidão
Quando nossos corpos falam
Season of love
Segura, peão
Um (nada) santo remédio e O que não tem remédio (continuação)

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