Acordou naquela manhã com o gosto excêntrico e horrível de uma mistura entre o mau hálito matinal e os vestígios de visitas não desejadas à privada mais próxima, despejando todo o conteúdo alcóolico que inundava seu fígado, razão pela qual passara a noite inteira se revirando nos lençóis amarelados, pressionando as mãos contra a barriga tentando, inutilmente, controlar a náusea. Levantou-se em um pulo desengonçado e tinha a sensação de que o equilíbrio, que julgara ter um dos melhores, lhe tinha abandonado no momento em que seus calcanhares encontraram firmemente o chão. Demorou tempo demais até que suas pernas fossem capazes de se manterem eretas e que o auxílio de apoio não fosse mais necessário. Caminhou sem pressa até o banheiro, franzindo o nariz no momento em que suas narinas captaram o cheiro grotesco do material regurgitado na noite passada, que agora cobria boa parte do azulejo branco-gelo. Olhou-se no espelho velho e se arrependeu momentaneamente do que seus olhos ainda taciturnos viram. Seu cabelo emaranhava-se em pequenos tufos e nós; apalpou com o dedo anelar, frio e calejado, a área arroxeada que envolvia em círculos os arredores de seus olhos null. Malditas olheiras! Parou de se ater aos detalhes de seu rosto e voltou completamente sua atenção à água morna que agora caia pesadamente da torneira entreaberta em suas mãos fechadas em concha e, ao que o recipiente estava cheio o suficiente, jogou o conteúdo em seu rosto cansado e um tanto pálido, lavando qualquer resquício de mágoa e lamento em sua pele.
No retorno ao quarto, voltou o olhar por todo o cômodo desarrumado e estranhamente vazio. A sensação de náusea retornou ao seu estômago, mas conteve-se e segurou o refluxo preso à garganta já dolorida. Percorreu a distância do banheiro até a cama, vez ou outra resgatando suas vestes jogadas ao chão e vestindo-as com precisão, que ao momento que alcançou a cabeceira, estava completamente vestido e pronto para ir embora. Seus pertences, antes depositados na mesinha de cabeceira, agora prontamente presos entre seus dedos: a carteira e o celular. Desbloqueou a tela e as 23 ligações perdidas piscaram para ele; afundou o pequeno aparelho telefônico em seu bolso traseiro e rumou em direção à porta, agarrando a maçaneta com força, contudo, antes que seu corpo estivesse totalmente submerso às sombras do corredor, null voltou o olhar ao quarto desorganizado e fedido e soltou um ofego de lamúria, nostalgia e, quem sabe, de dor e fechou a porta. Na recepção, pagou pela estadia e abriu a porta de vidro fosca. Abraçou o corpo e afundou as mãos dentro do bolso do casaco, desaparecendo ao virar a esquina.
14 E 33rd St, Manhattan, NY.
Noite anterior, mais ou menos às 23:42.
A música alta de um rock antigo qualquer ecoava longinquamente e tudo que null realmente podia ouvir eram os gemidos de puro prazer que a garota soltava sofridamente ao que os lábios dele percorriam toda a extensão da pele alva de seu pescoço, beijando o caminho tridimensional de suas veias, do começo do ombro até a ponta de seu queixo. Rattle N Rum implodia de pessoas de todos os tipos, tamanhos e formas; fora difícil achar um lugar privado e adequado para que suas mãos pudessem perpassar maliciosamente a entrada da saia preta de pregas que null usava, e apertava às vezes gentil, outras brutalmente sua virilha descoberta. A garota repousara a boca próxima demais de seus ouvidos, o fazendo estremecer assim que ela soltou um sôfrego gemido pedindo por mais. Ele a incitou e atendeu ao seu pedido, raspando as poucas unhas que lhe sobravam ao redor de sua região mais íntima e a sentiu tremer em seus braços. Pressionou seu corpo contra o dela, roçando a elevação sob seu jeans na barriga dela. A garota se contorcia e null depositava beijos úmidos em seu ombro nu. Nenhum dos dois conseguia segurar o urgente desejo que nutriam um pelo o outro e null sabia que não podia ficar sem tê-la nem por mais um minuto. Afastou-se com dificuldade e a puxou para si, arrumando a saia da garota. Ela o encarava com uma divertida expressão confusa; os lábios de null se abriram em um sorriso que ela conhecia muito bem. Estava na hora.
null segurou seus pulsos frágeis com mãos firmes enquanto mergulhava na multidão, se desvencilhando do máximo de corpos embriagados que conseguia. Demoraram o que parecia uma imensurável eternidade até acharem a saída; null piscou para Elliot, o segurança, que abriu a pesada porta de ferro e os deixou partir.
O caminho jorrado de beijos e carícias de null, agarrada em seu braço esquerdo, fora insuportavelmente longo. Mas, ao que viraram a esquina da 5th Avenue e caminharam por mais uns longos cinco minutos, null pôde avistar o lugar de sua perdição.
Pegou a chave do quarto com a recepcionista baixinha atrás do balcão e, no minuto que adentraram o elevador e null apertou o botão de número 7, pressionou-a contra a parede e beijou seus lábios com tanto desejo que ambos ficaram sem ar. A porta do elevador se abriu e null entrelaçou os dedos finos nos dele, o puxando para fora.
Entraram no quarto com uma fome insaciável. Segundos se passaram e a saia de pregas preta já fazia parte do piso de madeira, juntamente com sua blusinha de seda, a camisa xadrez e a bermuda surrada de null. Ele colou seus corpos com urgência, espalmando as coxas grossas da garota, levantando-as e ela enlaçou as pernas em sua cintura, roçando ocasionalmente sua virilha na elevação rígida (e para ele, pulsante) sob a boxer cinza dele. Seus pés, ágeis e destemidos, os levaram até a cama, onde se deitou sobre null; os lábios colados em um beijo passional e quase violento. Soltou-se com pesar e se afastou o suficiente para ajoelhar diante do corpo semi-nu de null. Ela mordiscava o lábio inferior e seus olhos o encaravam com fúria. Logo, seus dedos calejados tocavam a pele macia das pernas dela até chegaram ao tecido fino e sedoso da calcinha de renda que cobria sua intimidade. Ele a puxou, tirando a peça calmamente. Seus olhos se encontraram e null entendeu o recado que suas íris null anunciavam. Inclinou o torso até que seu rosto ficasse a centímetros da região indicada; um leve tremor perpassou dos pés até a cabeça de null e ele notou. null encostou o nariz em sua barriga desnuda e percorreu um caminho de beijos estalados e secos do umbigo à sua virilha. Chegando lá, o corpo da garota sob o seu estremeceu-se por inteiro. Ele riu e levantou o rosto, fitando-a; os olhos fechados e os dentes presos em seu lábio inferior, enquanto os dedos de sua mão repuxavam e prendiam com força o lençol.
– Ah, null... – sua voz saiu em um sussurro, quase inaudível. – Hoje, quem vai te fazer gozar sou eu – por fim, sua boca se esticou em um sorriso malicioso e uma risada frouxa e baixa escapou de sua garganta. Lembrava-se perfeitamente da primeira vez em que estiveram juntos. Como ela o tratou como se ele fosse seu mais novo brinquedinho e como sua boca se entortava de um jeito deliciosamente sensual enquanto falava palavras de baixo calão. E, principalmente, de sua voz rouca murmurando em seu ouvido, antes de mordiscar seu lóbulo e puxá-lo.
“Isso, meu querido null, não é fazer amor. Isso é ter um orgasmo.”
Às lembranças de suas noites respingadas de suor, sêmen e respirações falhas, null apertou as mãos na cintura da garota e abaixou o rosto, tocando com a ponta do nariz a parte superior de sua intimidade e com a boca, o centro, deixando sua língua úmida chocar-se contra seu clitóris, sugando sua pele com delicadeza e ao mesmo tempo, veracidade. null urrava e seu corpo contorcia-se a cada novo toque e contato da língua áspera de null contra sua pele macia e lisa. A sensação era tão excruciante e prazerosa que até seus dedos dos pés se contraíam, dormentes. null continuava, em movimentos circulares, a beijá-la como nenhum homem antes a beijou e estar ali, completamente entregue e submissa às suas carícias, a fez sentir um nojo inimaginável de si mesma, pois aquilo não estava certo. Embora quisesse mandá-lo parar e chutá-lo para fora da cama, suprimiu a vontade que tinha de ser a dominadora vadia que sempre fora e deixou-se apreciar a língua dele em toda sua extremidade. null queria ouvi-la gemer e, acima de tudo, queria ouvi-la gemer seu nome e implorar para que ele a possuísse. E estando ali, entre as pernas abertas e trêmulas de null, sabia que não demoraria muito tempo para que ela atendesse ao seu desejo.
A garota tentou manter os ofegos e murmúrios para si, contudo, os espasmos que vez ou outra lhe ocorriam eram de tamanha intensidade que sua boca se abria involuntariamente e sua voz gaguejava ao gritar o nome de null. Ah, como era bom. Para ele, vê-la como uma garotinha de quinze anos indefesa e implodindo de excitação bastava para que seu membro, tão rígido quanto antes, vibrasse em sua cueca. Para ela, o torpor que naufragou por todo seu corpo quando a língua dele atingiu um ponto crucial em seu interior causava-na náuseas, ao mesmo tempo em que um prazer imensurável a atingiu e fez com que todos os pêlos de seus braços se eriçassem e seus dedos dos pés fechassem, contorcendo-se; assim como de sua boca saíram altos e agudos ofegos e gemidos que continham o nome dele. null a sentiu tremer sob seu corpo e riu, sugando-lhe uma última vez.
null se contorceu, soltando as mãos antes presas no lençol aveludado e uma onda de diversas sensações a ocorreu. Ela levantou o rosto – apenas o suficiente para encontrar os olhos null do homem que acabara de fazê-la gozar; ele se afastou e sua expressão de alívio misturou-se com um terror inigualável, uma vontade súbita de tê-lo em si ganhou vida e null disse com um tom abaixo do normal:
– Eu quero você – era tudo o que null queria e precisava ouvir. Ele se encaixou entre as pernas de null e abaixou o tecido que cobria sua ereção elevada. Se inclinou até a mesa de cabeceira, abrindo a gaveta e tirando o pacote azul-escuro de camisinha, rasgando-o imediatamente. Com o preservativo colocado, ele se posicionou entre a abertura da garota e adentrou, gentilmente, sua entrada, parando logo em seguida. Os olhos antes fechados de null se abriram e o encararam com nítida confusão.
Ela agiu rápida e levantou o corpo violentamente, fazendo null rolar na cama, lugar onde ela mesma repousava segundos antes, e sentou em seu colo, roçando sua intimidade na dele. null umedeceu os lábios com a língua e null observou o movimento; ela riu e quando falou, sua voz emitiu um teor tão sensual que fez null gemer.
– Agora é a minha vez – a ânsia de tê-lo dentro de si era maior que seu autocontrole. Espalmou a mão pelo membro dele e o encaixou em si. Ele se sentou, prendendo os braços em sua cintura e apertando sua pele, arranhando-a com a ponta das unhas. A situação chegava a ser, se não cômica, quase irônica. Nunca precisava pedir ou mesmo afirmar que precisava de alguém, mas com ele era tudo diferente; ela tinha que medir as palavras a serem dirigidas a ele e se preocupava em não demonstrar nenhum tipo de sensação, além da luxúria e paixão. Importava-se demais em ser livre para fazer o que bem entendesse de sua vidinha medíocre, a ponto de afastar qualquer um que pudesse (tentasse) dominá-la, inclusive ele. Desde que o vira, tímido e infeliz, numa mesa de bar nos arredores de Brooklyn, prendeu-se à ideia de que ele seria nada mais do que um objeto sexual. Embora não admitisse, em uma noite qualquer, exatamente como aquela em que seus corpos próximos demais dançavam em perfeita sintonia, se apaixonou. Seu coração pulou e ela sabia que estava fodida – literalmente.
A partir de tal fatídica declaração de estado – estava perdidamente apaixonada por um moleque, anos mais novo do que ela -, decidiu que não demonstraria a ele nenhum tipo de afeto; o deixaria maluco por ela, porém, não revelaria seus segredos, ou melhor, seus sentimentos. Só que ali, com seu corpo implodindo sensações altamente reveladoras e deploráveis, tudo o que ela queria era dizer que o amava e o desejava. Não podia, mas queria. E null estava perfeitamente cônscia dos sentimentos dele em relação a ela; sentia amor em cada toque, em cada beijo e isso a agradava mais do que gostaria.
null mostrou-se ansioso, assistindo cada movimento que null fazia, de suas pálpebras abrindo e fechando com violência até o minucioso levantar de seus lábios. Ela pediu mais uma vez.
Em um ato involuntário, contraiu os quadris e a adentrou com força; seu membro entrando por inteiro. null gritou em resposta e ele alternou os movimentos, indo e vindo, lenta e demoradamente. Aquilo a estava deixando louca! Como ele ousava a atiçar de tal maneira? Filho da puta atrevido. Ela apoiou o rosto entre a curvatura do pescoço e do ombro de null, abrindo a boca com incerteza e cravando seus dentes na pele do rapaz. Ele gemeu alto e com dor e rebolou a cintura contra a dela, estocando-a inúmeras vezes. Os dedos de null se apertaram em sua pele, prensando as mãos em seu quadril, enquanto, com movimentos ainda mais rápidos do que os anteriores, colocava-se dentro dela. Tremiam juntos, e os gemidos de ambos se misturavam em uma sinfonia de sons atordoantes que abafavam o quarto do hotel; suavam e alguns fios de cabelo de null grudavam em sua testa. Os gemidos passaram a ser tão altos, que null acreditava que toda New York seria capaz de ouvi-la chegar ao orgasmo.
Enquanto null a penetrava agilmente, null dançou em seu colo, rebolando e apertando-o dentro de si com exagerada violência. Ele murmurou o nome dela e ela sorriu contente com a resposta imediata que recebera. O encaixe entre o corpo de null com o dele era inexplicavelmente perfeito. Pela segunda vez naquela noite, a garota fechou os olhos e sentiu o breve torpor inflamar sua pele. Estava chegando ao seu ápice, mas null não descansou; continuou a adentrá-la com força e velocidade, e a mesma continuou a movimentar-se sobre ele, até que null não pôde aguentar mais e gritou. Sentia seu corpo todo flamejante e a sensação de leveza veio logo em seguida. Ele, que estava contendo seu próprio prazer a fim de senti-la amolecer em seus braços, estocou uma, duas, três vezes, antes de liberar todo o êxtase que prendia em seu corpo e tombou, fazendo os dois caírem pesadamente na cama.
Uma sirena soou distante lá fora e o silêncio que preenchia o quarto se ocupara apenas com o baixo som de ofegos fracos e peitos arfantes. Ainda dentro dela, ele girou o corpo e permitiu que seus rostos ficassem a centímetros um do outro. Depositou um beijo estalado e rápido nos lábios dela e sorriu para a linda garota em seus braços e sentiu que talvez fosse o momento apropriado para vomitar as palavras que relutava em guardar havia meses.
– Eu amo você – ele resmungou e fitou os olhos dela. null o encarou e uma súbita vontade de rir se propagou; ela gargalhou e se desvencilhou dos braços fortes de null, levantando da cama em um pulo. null franziu o cenho, deliberadamente confuso.
null corria pelo quarto, resgatando suas peças de roupa e vestindo-as desengonçadamente. Seu coração doía, ardendo dentro do peito. Queria ser capaz de respondê-lo com a mesma intensidade e dizer que o amava também, mas todas as palavras que saíram de sua boca foram:
– Eu não. Eu já te disse null, você não significada nada além de sexo pra mim – já completamente vestida, null a encarava com um leve brilho no olhar, que ela jurou serem lágrimas prestes a caírem. Ela balançou a cabeça, revogando a ideia e mentalmente se controlando para não ir ao encontro – e conforto – de seus braços. Ele murmurou alguma coisa que ela não pôde ouvir, pois já estava entre o batente e a porta entreaberta. Virou-se para o corredor e antes que pudesse desaparecer da visão dele, ela murmurou.
– Obrigada pela transa. Se quiser repetir a dose, sabe onde me encontrar.
Bateu a porta atrás de si, deixando-o com o coração acelerado e com o cheiro de seu perfume levemente adocicado impregnado não só nos lençóis, mas em todo seu corpo.
14 E 60th St, New York, NY.
Central Park. 16:54.
A brisa calma e morna acariciava seu rosto e a sensação era reconfortante. Os cabelos ao vento balançavam para lá e para cá, alguns fios fixando-se ora em sua testa, ora também em suas bochechas coradas.
Soltou o ar profundamente; ah, como queria voltar no tempo! Sentia-se infeliz e irreversivelmente ingrata. Por que agia de tal forma? Por que fugira quando as palavras que, anos atrás, sempre sonhara em ouvir? Considerava-se uma tola, uma babaca qualquer.
Pensara na noite anterior o dia inteiro; até queimara o couro cabeludo, com o secador, de uma de suas melhores clientes por devida distração. Com a cabeça na lua, saíra mais cedo do Beauty Hair, pois sabia que se continuasse com seu horário, provavelmente acabaria começando um incêndio, onde, acidentalmente, queimaria os cabelos de todas as mulheres que procuravam por um acalanto em seu salão de beleza. Deixara tudo nas mãos de Jannine, sua mais confiável ajudante. Andara pelas ruas sem rumo algum e só percebeu onde estava quando os risos alegres de crianças brincando adentrou seus ouvidos. Continuou seu caminho pelo parque e apertou os braços contra o corpo, abraçando-se. null proclamou todos os xingamentos conhecidos e - não conhecidos - em sua cabeça e se amaldiçoava por não conseguir tirar certos olhos null de sua cabeça. Nem mesmo o modo como tais olhos a fitaram, marejados, quando por um momento de fraqueza, ela se levantou da cama e o deixou para trás. Mas se ele soubesse de sua história, talvez ele a entendesse. Talvez até a perdoasse.
Parou ao avistar um jovem casal, sentado na grama recém-aparada, aos risos e abraços. As mãos estavam entrelaçadas e vez ou outra o garoto roubava um beijo da garota, que batia em seu ombro em reprovação, sorrindo. Estavam felizes e tal sentimento a fez sentir-se enojada.
Lembrou-se da manhã de cento e cinquenta e cinco sábados atrás e de como olhou-se no espelho, com os lábios em um sorriso tão excepcional e contente, que mal pôde conter as lágrimas de felicidade. Estava linda! O vestido branco de seda, rendado no colo e de pedrarias brilhantes incrustradas em toda a extensão da cauda, bordada à mão, que contrastava com o cabelo arrumado em uma trança embutida de fios soltos e enrolados, presos em uma tiara simples e detalhada com bijuterias (azuis, para dar sorte), que segurava o véu quase transparente, de mesmo tecido e textura do material que sobrepunha à cauda. Lembrou-se de encaminhar-se ao portal da igreja e de seu pai a esperando, o cenho franzido e uma expressão séria e solidária em seu rosto.
– Ele foi embora – foi tudo que sua voz conseguiu dizer, antes que null desabasse nos degraus gelados da entrada principal. O véu rasgou ao impacto e o buquê de lírios esfarelou-se no asfalto.
Lembrar-se daquilo era como colocar sal em uma ferida aberta, que já queimava o suficiente sem a dose extra de dor; ainda podia ouvir os sinos ecoando em sua cabeça. Desde então, jurara a si mesma que nunca mais se apaixonaria e que não deixaria que nenhum homem, quem quer que fosse, a tratasse como algo descartável. E a fim de manter seu juramento, trancou seu coração com a chave e jogou-a fora. Virou a vadia mais fria e incompreensível de toda a cidade – e se não fosse, gostava de pensar que sim. Saía em busca de diversão e dormia com um cara diferente todo final de semana. Era livre e gostava de ser assim e de, principalmente, descartá-los com a mesma facilidade que se descarta um papel amassado, inúteis à utilização. Mas com null era diferente. O jeito como a tratava e como desesperadamente a queria chegava a lhe causar arrepios.
null andara distraída em seus pensamentos que nem notou quando seus pés pararam na entrada de um condomínio surrado do subúrbio, em frente ao portão de ferro. Olhou para cima e seu coração saltou em seu peito. Era o prédio dele.
Engoliu em seco e apertou o botão do interfone preso às barras e a cada toque não respondido, o suor em suas mãos escorria cada vez mais. Como foi que chegara ali, afinal? Minutos atrás estava caminhando pelo Central Park e agora, quase sete quarteirões depois, estava ouvindo as batidas de seu coração descompassado entre o barulho da chamada do interfone do apartamento dele. Só podia ter ficado louca, não tinha outra razão.
– Oi? – null respondeu ao final do sexto toque. null hesitou, pensando se deveria ou não falar alguma coisa. Se fosse embora naquele momento, ele, talvez, não suspeitasse de nada; nem saberia que ela estivera ali. A demora deve ter sido grande, pois a voz de null, ansiosa, soara novamente. – Tem alguém aí?
– Oi. Posso subir? – sua garganta se fecha assim que as palavras saem de sua boca. E se ele achasse que a atitude dela era audaciosa e hipócrita devido ao seu comportamento anterior? E se ele dissesse que não? Balançou a cabeça, afastando os pensamentos e esperou.
Ele não respondeu de imediato e um silêncio constrangedor ocupou o zumbido do interfone. O tilintar da tranca se abrindo assustou null e o portão se abriu. Seria muito tarde para correr?
null andava de um lado para o outro em seu apartamento, ansioso. Colocou alguns dedos em sua boca e roeu o que lhe sobrava das unhas, um hábito horrível, ele sabia. Porém, não imaginava que ela fosse atrás dele, não após tais palavras friamente ditas. Os comandos de seu cérebro eram tão confusos que quando o barulho estridente da campainha tocou, tropeçou em seus próprios pés antes de se encaminhar até a porta. Apertou o olho no olho-mágico e a viu. Seu coração batia fortemente e sua respiração era falha. Ah, tamanha ousadia.
Lembrou-se de seu estado pela manhã e uma ânsia quase o fez desistir de abrir a porta. Decidira então, após longos momentos de debates e intrigas em sua cabeça, que a receberia, mas nada sabia sobre suas atitudes ao decorrer da conversa.
null encarava o chão e seus pés brincavam com o tapete fofo de “Boas Vindas” fixado à entrada e quando null finalmente abriu a porta, ela pulou assustada e com olhos arregalados. Ele se apoiou no batente, a encarando com olhos cansados. null notou as bolsas roxas ao redor dos mesmos e se perguntou se ele dormira pelo menos cinco minutos naquela noite. A resposta, que já sabia que encontraria em seu interior, não foi de seu agrado.
– O que você quer? – indagou. O cenho franzido e as sobrancelhas curvadas em indagação. null ficou em silêncio, buscando as palavras certas para dizer.
– Temos que conversar sobre ontem à noite.
– Entra – null se afastou da porta, dando-a passagem. Ela adentrou o apartamento e percorreu o olhar pelo imóvel; um pouco desarrumado, mas limpo e bem decorado. null se encaminhou para a sala e null a seguiu, indicando a poltrona bege para que ela se sentasse. A garota sentou e cruzou as pernas, entrelaçando os dedos e brincando com as respectivas pontas; de cabeça baixa, null não sabia por onde começar. Ele se sentou na frente dela, no sofá marrom de dois lugares, apoiando os cotovelos nos joelhos e com as mãos fechadas rentes ao queixo. Ninguém disse nada e o ambiente começou a ficar desconfortável.
– Eu queria pedir desculpas – o silêncio foi quebrado com a voz baixa, singela e quase inaudível de null. O corpo de null estremeceu, mas ele se manteve ereto e calmo.
– Pelo que, exatamente? Por ter transado comigo ou por ter me feito de otário por todo esse tempo, me tratando como lixo? – ela levantou o rosto e o encarou; a expressão fechada e ligeiramente cômica a deixou desconcertada. – Realmente espero que o pedido de desculpas seja pela segunda opção.
null sentiu os olhos marejarem, contudo, segurou as lágrimas e elas desapareceram antes mesmo de caírem. Não podia se mostrar fraca, principalmente naquele momento.
– Por tudo, basicamente – ele a encarou, confuso. Ela continuou. – Não tenho sido inteiramente honesta com você e ontem... Bom, aquilo me pegou desprevenida e eu entrei em pânico.
A expressão de null continuou a mesma, irreversível. Ela suspirou e sua voz agora saiu um pouco mais alta.
– Eu não me apego e não gosto de me apegar. Mas isso foi antes... De conhecer você – seus olhos brilharam e null sentiu seu coração se apertar. – Achei que pudesse basear nossa relação somente em sexo. Mas não posso e isso é demais pra mim. Gostar de você é demais pra mim – ela se levantou e atravessou a distância entre os dois na sala, sentando-se ao lado dele. null hesitou, mas suas mãos encontraram as dele por alguns segundos. Ele ergueu o pescoço, virando e fixando os olhos nos lábios rosados e levemente carnudos de null. null umedeceu os próprios com a língua e direcionou o olhar para o rosto dela.
– Eu vim pedir uma chance.
Em um impulso descontrolado, ele inclinou o corpo e pressionou os lábios nos dela com força e vontade. null se assustou, mas relaxou ao mesmo tempo em que enlaçava os braços em volta do pescoço de null; seus dedos entrelaçando-se nos fios de cabelo da nuca dele. Daniel impulsionou o corpo para frente e deitou sobre null, com as costas pressionadas no acolchoado do sofá. O beijo ganhou violência, paixão e desejo e ambos estavam sem ar, mas se recusaram a parar. Ele brincava com as mãos pelo corpo dela e ela puxava o cabelo dele sem força.
null abaixou as mãos e direcionou-as até o peitoril de null, abrindo desajeitadamente os botões de sua camisa. Seus lábios se soltaram e ele se afastou apenas o suficiente para jogar a camisa já aberta atrás do sofá. Antes de retomar o beijo, ele a ajeitou nas almofadas e null se apressava em tirar o casaco e também sua blusinha cinza; o sutiã azul-claro à mostra. Com ambas as partes de cima fora de seus caminhos, null focou sua atenção nos botões e zíper da calça social cor de cáqui de null. Abaixou o tecido, segundos depois, e examinou a cueca simples e branca com a qual null revestia seu membro. Ele, no entanto, com as mãos ágeis, já havia aberto e deslizado a calça jeans da garota muito tempo antes.
null acariciou sua excitação por cima da cueca e ele gemeu enquanto ela sorria, os lábios semicerrados. Com o dedo indicador, ele puxou o fio da calcinha do mesmo tom de azul que o sutiã e a abaixou vagarosamente, raspando as unhas na pele nua de suas coxas. Ela tremeu; os pêlos dos braços eriçaram. Tirou a pequena peça de roupa e jogou-a no meio da sala, ajoelhando-se entre as pernas desnudas da garota. Prendeu os olhos nos dela e inclinou o corpo sobre o dela, encostando seu peito no material macio do sutiã dela. Levou apenas uma mão para a altura do quadril dela, alisando e dedilhando a região, até escorregar o dedo até sua virilha, passando gentilmente a ponta pela extremidade. null ofegou em aprovação. null arrastou os movimentos até sua entrada, onde depositou apenas um dedo em seu interior. Seu quadril se contraiu e null gemeu alto. A masturbava com agilidade e a garota se contorcia sob ele. Ela, que ainda mantinha as mãos na região de sua cueca, a puxou e espalmou o membro dele e retribuiu o gesto, acariciando-o.
null alternava entre um e dois dedos e ela respirava pesadamente, além de gemer frases incompreensíveis, enquanto segurava a ereção dele com firmeza. O desejo era mútuo e nenhum dos dois aguentaria por muito tempo. null desacelerou o ritmo e ela também; ele tirou os dedos de sua extremidade, agora nitidamente molhada, e subiu a mão até o seio esquerdo da garota o apertando, antes de levantar o rosto e encontrar com o dela, beijando-lhe a boca.
null e null gemiam e ofegavam; ele encaixou o quadril contra as pernas abertas dela – deixando a cueca deslizar até a coxa – posicionou seu membro entre a virilha e sua entrada, roçando apenas a ponta de sua ereção na garota. Seus olhos se encontraram e os de null exalavam súplica. Ela não disse nada, mas sua expressão era o suficiente para que ele soubesse que ela o queria, agora, mais do que tudo.
– Implore – sua voz saiu autoritária; sua boca contorcida em um sorriso sádico. null comprimiu os lábios em dúvida. Ela não respondeu e o ar que enchia seus pulmões pareceu lhe faltar. Ele encarou a falta de palavras dela um insulto. – Eu mandei – null jogou o peso contra o corpo de null, ainda posicionado entre suas pernas. Com as mãos, ele a surpreendeu e prendeu os pulsos da garota por cima de sua cabeça, pressionando no braço do sofá. O tesão, imensamente explícito, faiscou de seus olhos – você implorar.
– Por favor – disse; os olhos grudados nos dele.
Aquilo era demais para ele. Ela implorou e seu membro vibrou, adentrando-a de uma vez, forte e profundamente. A sensação era tão calorosa e gratificante, que null pôs-se a cravar os dentes em seu lábio inferior, mordendo-o com tanta força que sentiu o gosto amargo e metálico do sangue em sua boca. null a penetrava em movimentos ritmados e únicos, com a pressão perfeita. Seu pênis a preenchia de tal forma que o prazer se intensificava a cada estocada, rápida e ainda mais forte. Ele puxou as coxas de null para cima, apoiando-as em seus ombros; a posição favorável o ajudava – e a ajudava – a manter suas ações estáveis e mais profundas do que antes. O suor escorria da testa de null até o seu pescoço, dançando por entre as veias transpostas; null investia violentamente e seus músculos à mostra se comprimiam. O calor inusitado, juntamente com a sensação de torpor, não tardou a chegar para null, mas ele não parou. null prendeu as pálpebras fechadas em seu rosto e suas sobrancelhas erguidas; ainda não havia chegado ao clímax, mas estava quase. O corpo inteiro de null formigava assim como o de null; os dedos dos pés se contorceram e aquela estranha e deliciosa sensação de leveza a arrebatara antes que null pudesse soltar-se dentro dela. Ele continuou por poucos minutos, impondo força e violência em suas últimas estocadas, deixando-se escorrer pela virilha de null. Ao que ambos atingiram o máximo – ela primeiro, depois ele –, null jogou o corpo por cima do dela, o rosto entre os seios carnudos e suados de null. Ele podia ouvir o coração descompassado da garota e distraiu-se com o levantar e abaixar do peito dela, enquanto a mesma respirava com dificuldade. null levou uma das mãos até o topo da cabeça de null e espalmou os dedos nos cabelos molhados do maior, acariciando-o.
O momento perdurou por poucos segundos até que alguém se pronunciasse e, para surpresa de null, foi ela.
– Eu também.
– Eu também o quê? – ele levantou o rosto, observando, surpreso, a expressão angelical e feliz de null. A ironia da situação a fez rir. Nunca imaginara que diria tais palavras, tampouco que rastejaria de volta para alguém. Mas ele o fez, e ela também o faria.
– Eu também amo você.
Fim.
Nota da autora: Oi! Como vocês estão? Bom, Do I Wanna Know? não sai do meu repeat há duas semanas e eu achei que serial legal escrever uma coisa sobre e bem, deu nisso aí que vocês acabaram de ler. Estou ciente de que a escrita está maçante e que a história tá mais pra clichê do que pra original, mas eu tentei e fazia muito, mas muito tempo mesmo, que eu não escrevia algo mais... picante, por assim dizer. Ah, queria agradecer aos conselhos e à revisão perfeita da minha editora wannabe mais linda de todas: Claudia, obrigada! Sem você o que seria de mim (e das minhas fics!), hein?! Tô postando mesmo porque ela disse que CBTY tá maravilhosa (ou seja, que tá decente o suficiente pra vocês lerem) e é isso aí.
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