Creeping Death

Autora: Gio Dahmer | Beta: Laura

Capítulo 1.

Eu tenho vivido na escuridão por muito tempo. Ao longo dos anos meus olhos se ajustaram até que a escuridão se tornou o meu mundo. Tudo o que eu vejo é desastre, mas o que eu posso fazer a respeito? Todos nós temos alguma coisa para esconder. Algum lugar sombrio dentro de nós que não queremos que o mundo veja. Então nós fingimos que está tudo normal. Eu não sei por que e como eu consigo ver o que vejo, só sei que me adaptei a esse mundo que achei que não existisse. Do que eu estou falando? Demônios. Literalmente. Criaturas da noite que sempre pensei que só existissem no inferno. Muitas pessoas acreditam que o inferno fica bem abaixo de nós, mas não. Eu era a prova viva de que vivemos nele. Todos eles vivem de disfarce. Pelo o que eu sabia, pessoas normais podiam enxergá-los como outras pessoas normais. Como se os demônios fossem realmente humanos, e eu tenho certeza de que os humanos não suspeitavam de nada. Por alguma razão da qual ainda não me dei o luxo de descobrir, eu posso enxergá-los, quem realmente são. Seus olhos negros, vazios, sem vida e sombrios. Seus olhares insignificantes para humanos, como se fossem superiores, sem mencionar o cheiro de morte que eles possuem. Eu não sei por que, mas eu apenas os reconheço. Pessoas normais os enxergam como humanos enquanto eu os enxergo como realmente são. É como se eles não usassem esse disfarce comigo. Eles, teoricamente, são pessoas, só que mortas. Podem perfeitamente fingir um disfarce humano de dia enquanto de noite simplesmente se tornam “invisíveis”, - exceto por mim - prontos para matar. E é quando eles desaparecem dos olhares humanos que eu consigo ver suas verdadeiras faces. Nada mais e nada menos que pessoas mortas e frias. Os demônios teoricamente são pessoas, podem ser tocadas e vistas, mas acredito que apenas pessoas com o destino como o meu – se é que existem pessoas assim - têm o “prazer” de vê-los como são. Acreditava que os seres sobrenaturais são complexos. Vivem de máscaras e falsidades. Não tenho a mínima ideia do por que eu, dentre bilhões de pessoas no mundo, os enxergava verdadeiramente. A única coisa que eu podia fazer era ignorar, o que mais poderia fazer? Tenho muitas perguntas e nenhuma resposta, e isso é um assunto que me deixava com dor de cabeça.
- ? - pude ouvir meu pai chamando do outro lado da porta. - ? - repetiu mais alto, batendo na porta. Ainda bem que estava trancada, não podia ter privacidade no meu próprio banho.
- Que é? - perguntei de volta, jogando minha cabeça para trás.
- Saia da banheira e vá se arrumar, senão vai chegar atrasada na escola - disse, indo embora em seguida.
Meu pai era um homem ocupado. Desde a morte da minha mãe ele precisava interpretar o papel dela também. Ser pai e mãe ao mesmo tempo devia ser uma tarefa difícil, por isso eu colaborava ao máximo, mesmo eu sendo uma das pessoas “mais na minha” possível. Meu pai já sofrera demais, e eu não me tornaria uma garota rebelde pra querer atenção e causar mais problemas ainda. Respirei fundo e abri a tampa do ralo da banheira, saindo em seguida.
- Está com fome? - perguntou meu pai, assim que desci.
- Um pouco - respondi simplesmente.
- Cereal?
- Ainda bem que me conhece direito - disse, sentando na mesa, em frente ao meu irmão.
- Seu amigo esteve aqui enquanto você estava no banho, papai fechou a porta na cara dele – Chad disse, rindo.
- O quê?! Que amigo? - perguntei me levantando da cadeira. - Pai, por favor não me diga que foi o Brian - ele não respondeu, apenas ficou me olhando como se pedisse desculpas. - Ai meu Deus, que vergonha, que vergonha! - disse andando de um lado para o outro com a mão na cabeça. - Pai! - disse incrédula.
- Ele veio aqui cheio de segundas intenções! O que você esperava que eu fizesse? - disse, tentando argumentar.
- Ele é meu amigo, pai! Como você consegue achar isso? - menti. Brian era meu namorado, mas eu não podia falar isso, ele ia ficar mais paranoico que o normal.
- Desculpe, eu não sabia – não disse nada, apenas fiquei o olhando. - O ônibus da escola chegou – disse apontando para a janela.
- Sabe, pai, ele é da aula de Biologia, estamos até fazendo um projeto juntos – disse. Ficamos alguns segundos em silêncio.
- O ônibus – disse apontando para a janela.
- Tanto faz – respondi indo pegar a minha mochila no canto da cozinha, com Chad atrás de mim.
- , você nem comeu! - ele gritou quando já estava saindo de casa. Não respondi nada, apenas bati a porta com certa agressividade.
Pude ouvir um riso curto vindo de Chad.
- Cale a boca – disse olhando pra ele.
- Mas eu nem fiz nada – respondeu rindo mais ainda.
- Só cale a boca – respondi bufando e apertando o passo para chegar ao ônibus.


- Então, seu pai bateu a porta na cara dele? – Andie perguntou, fechando seu armário em seguida.
- Acho que nunca passei tanta vergonha na vida, sério – disse enquanto andávamos em direção à nossas classe. – Mas eu já liguei para Brian e ele disse que está tudo bem. Tive que inventar que ele era meu amigo se não meu pai ia surtar – disse, revirando os olhos.
- Não sei como você aguenta – Trisha falou, parando na frente da porta da classe.
- Eu não aguento, mas eu tento manter a calma, sabe? Ele já passou por muita coisa, não quero ser mais um problema na vida dele – falei mais para mim mesma do que para elas. Andie e Trisha me olharam com pena. – Mas relaxem, já está tudo resolvido.
- Certo, se você diz – Andie respondeu dando de ombros. – Ashley vai dar uma festa hoje à noite.
- Mas nós nem ao menos gostamos dela – eu disse.
- De fato, não, ela é uma vadia – respondeu. – Mas eu não perco a chance de uma festa, você sabe disso.
- Pode ser legal, - Trisha pronunciou. – Você precisa relaxar, anda com muito peso na consciência por aí.
- Ei, eu não ando com peso na consciência! – disse, tentando parecer incrédula. Eu sabia que isso era verdade. Andie e Trisha apenas se limitaram a me olhar com uma sobrancelha erguida. – Certo. Eu vou. Já sei que vocês não vão parar até me convencer mesmo. – respondi, entrando na sala e indo em direção a alguma cadeira.
- Te busco às oito, então? – Andie perguntou, jogando seus livros de qualquer jeito sob a mesa e ocupando a carteira em minha frente.
- Tenho outra opção? – perguntei numa tentativa de me livrar.
- Você sabe que não – disse sorrindo.
- Que seja, então – respondi bufando, em seguida sentando na cadeira. – Só não espere que eu vá toda arrumada que nem todos os projetos de prostitutas que vão.
- Eu não esperava. Acha mesmo que eu não te conheço?
Apenas sorri satisfeita. Andie e Trisha eram minhas únicas amigas de verdade, um pouco vadias, mas amigas. Conheciam-me desde o primário, praticamente. Não tive tempo de dizer mais nada, o sinal tocou logo em seguida e o professor entrou na classe.
O dia seguiu com as mesmas normalidades de sempre. Mesmas aulas e professores entediantes, mesmo clichê de sempre.


Estava deitada na cama durante dia inteiro. Não estava com a mínima vontade para nada. Na verdade, nunca estava. Já estava ficando cansada de ficar deitada o dia inteiro. Olhei para relógio, que já marcava sete e cinquenta, e só então me lembrei de que Andie iria passar para me buscar em dez minutos. Droga. Não tinha nem ao menos escolhido uma roupa. Não que isso importasse, é claro. Levantei da cama em um pulo, coloquei uma calça jeans e uma blusa qualquer. Não me importava nem um pouco em me vestir decentemente e passar quilos de maquiagem, isso era coisa pra gente fútil que se preocupava com que os outros iam pensar, e eu com certeza não era esse tipo de pessoa. Esperei pouco mais de cinco minutos e Andie me mandou uma mensagem, informando que já estava chegando. Não podia mentir para meu pai falando que ia dormir, ele iria achar muito suspeito. Tinha que pensar rápido. Coloquei alguns travesseiros embaixo da coberta, de modo que parecesse que era eu dormindo. Ótimo. Meu pai nunca iria querer me acordar, então não chegaria mais perto. Não me restava outra saída a não ser descer pelo telhado, mas isso não era problema, tinha feito isso várias vezes. Abri a janela, pisando no telhado, em seguida a fechando de volta. Andei pelo telhado, parando na ponta. Era muito alto, então terminei de descer por uma árvore que tinha perto. De longe pude avistar o carro de Andie, com Trisha ao seu lado.
- Não tinha coisa melhor pra vestir, ? – Trisha perguntou assim que entrei no carro.
- Eu avisei que não iria me vestir direito. Não é como se essa fosse a festa do ano – respondi, revirando os olhos.
- A única coisa que eu espero é que eu arranje alguém pra passar a noite, se é que vocês me entendem – Andie disse, ligando o carro e dirigindo em direção à festa.
- Eca. Apenas eca – eu disse.
- Vai dizer que você não gosta? - Andie disse, me olhando pelo retrovisor do carro.
- Tanto faz – respondi. – Só não queria imaginar essa cena entre vocês.
- Quem sabe um dia você não participe com a gente, – Trisha disse com um sorriso malicioso no rosto.
- Que seja, podemos mudar de assunto, por favor?
Trisha e Andie começaram a falar sobre um assunto qualquer entre elas que não prestei atenção. Encostei a cabeça na janela do carro e apenas fiquei observando coisas aleatórias passarem. Os demônios continuavam vagando pelas ruas, me fazendo suspirar. Por um dia inteiro eu consegui acreditar que era normal. Até agora. Durante o resto do caminho só consegui prestar atenção neles. Todos passaram como vultos, por causa da velocidade do carro, mas eu sabia distingui-los. Eu não aguentava seus olhares superiores diante às pessoas, apenas andando por aí, talvez procurando por suas próximas vítimas. Eles eram a morte em “pessoa”. Pessoas acreditam em destino. Eu acreditava no que via. E eu os via possuindo o corpo de uma pessoa, como se entrassem nele, e então a direcionavam à morte.
Chegamos à festa em alguns minutos. Não estava lotada como mostra todos os típicos filmes americanos, mas tinha um número razoável de pessoas. Pessoas no jardim, piscina, até mesmo no telhado. Entramos na casa e fomos direto para a cozinha. Lá dentro estava muito quente e cheio de pessoas, comecei a me arrepender de ter concordado de ir aquela festa. Esbarramos em muitas pessoas antes de chegar à cozinha, e chegando lá, finalmente arranjamos algumas bebidas para começar a noite bem. Virei pelo menos três shots de vodka antes de sair da cozinha, com uma cerveja na mão. Andie e Trisha logo estavam fora de meu alcance, e como não tinha mais nada para fazer, fui para fora da casa. Não devia ter ido para aquela festa, não estava com saco para isso. Bufei, me arrependendo. Eu odiava festas, odiava lugares com muitas pessoas. Pensei em chamar Andie e Trisha, mas elas já deviam estar na cama com algum homem. Andei mais alguns metros até chegar à esquina da rua da casa e sentei na calçada, observando a rua deserta à minha frente. Havia muita neblina no fim da rua, mas pude jurar que vi pessoas ao final, mas estava escuro demais para enxergar qualquer coisa. Respirei fundo e tomei mais um gole da cerveja. A bebida já estava começando a fazer efeito, pelo visto. Num piscar de olhos, pude ver duas pessoas indo a minha direção. Levantei, achando que era coisa da minha cabeça. Seriam... Eles? Tive certeza que sim a partir do momento que vi seus olhos negros e frios. Por que estariam indo em minha direção? Cerrei os olhos para ter certeza. Eles se aproximavam cada vez mais, e, num ato extintivo fui dando passos para trás, enquanto eles davam pra frente. No meu terceiro passo, bati em alguma coisa atrás de mim.
- O que está fazendo? – ouvi uma voz masculina atrás de mim.
- Caralho! – pulei de susto, deixando a lata de cerveja cair. – Que susto! – disse, me virando. Meu coração só faltava sair pela boca. – De onde você surgiu?
- Desculpe por isso – disse ele. – O que estava olhando? – perguntou olhando para o fim da rua em duvida.
- Eu... – olhei para o fim da rua. Não tinha mais ninguém. – Eu não sei – franzi o cenho. – Quem é você? – perguntei, me virando para ele.
- , . E você?
- Pode me chamar de - disse ainda incerta, olhando para o fim da rua novamente.
- Então, , o que você faz aqui sozinha?
- Só não queria ficar lá dentro – apontei para a casa e voltei a sentar na calçada. – Não sou muito fã de festas.
- Por que veio, então? – perguntou me olhando confuso.
- Fui obrigada – disse simplesmente. – Mas, como você pode ver – disse apontando para as minhas roupas. – Eu não queria estar aqui.
- Não vejo nada de errado com as suas roupas – disse com um sorriso no canto do rosto. – Inclusive acho bem melhor que as outras.
Apenas sorri com o comentário, não tinha mais nada a dizer. Ficamos algum tempo em silencio, até que ele se pronunciou, tentando arranjar algum assunto.
- Então, você está no terceiro ano? – perguntou depois de um tempo.
- Segundo.
- Ah, claro. Segundo.
- Por que? Não pareço madura o suficiente pra você? – perguntei, o encarando.
- Não, não. Não é isso. Quer dizer, não, você é sim... É só que você não tem aquele olhar sabe? – respondeu, parecendo confuso.
- Que olhar? – perguntei, confusa.
- Aquele olhar de desespero – disse olhando para mim. – “Eu sou veterano e vou me formar em menos de um mês, e as minhas noites com garotas bêbadas sem calcinha estão acabadas.” – soltei um riso curto.
- Você tem esse olhar – disse simplesmente.
- Não é? – respondeu, com um sorriso pequeno no canto dos lábios.
Nenhum de nós pronunciou nenhuma palavra a mais, por pelo menos um minuto. Apenas olhávamos para a rua vazia a nossa frente e apreciávamos a música que vinha da festa.
- Eu amo essa música – disse em um tom baixo.
- Quer dançar comigo? – perguntou. Eu definitivamente não esperava por aquilo. Achei aquilo totalmente estranho e fiquei meio enrolada para responder.
- É... Desculpe, é que eu... Não.
- Ok, então. Acho que devo voltar para a festa agora – disse se levantando, parecendo ter se arrependido.
- Não, não. Não é nada com você. É que, é que eu não danço em público – disse rapidamente, me levantando também. – Eu não fico me agarrando também. Aqueles casais me deixam enjoada. Sério, eles ficam se agarrando no shopping na frente de todo mundo. – falei tudo rápido, querendo tirar a tensão do ar.
- Certo, primeiro... – começou, me olhando como se eu fosse alguma louca. – Nós estamos sozinhos aqui – disse olhando em volta. – Segundo, eu estava apenas pedindo uma dança – seu olhar era tão inocente que eu não pude recusar. Afinal era apenas uma dança, certo?
- Ok, então. Só um pouquinho.
Fomos para o meio da rua. colocou suas mãos em volta da minha cintura, e automaticamente coloquei minhas mãos em volta de seu pescoço. Não nos movimentamos muito, apenas dávamos pequenos passos para frente e para trás. A música que tocava na festa, com certeza, não era pra esse tipo de dança, mas continuamos nos movimentando devagar. Essa era a coisa mais ridícula que eu já fizera, por que eu tinha aceitado fazer aquilo mesmo?
- Eu não acredito que estou fazendo isso – disse rindo em deboche. – É a coisa mais idiota que eu já fiz. Isso é tão bobo, sabe? Completamente bobo - não disse nada, seus olhos estavam quase fechados, mas pude ver que ele encarava minha boca. – Desculpe, eu falo demais, eu sei.
- Não tem problema – disse, seguido por um sorriso no canto do rosto.
Apenas continuamos assim por mais alguns segundos, até que ouvimos sirenes vindo de longe. pareceu despertar de algum tipo de transe enquanto eu ficava na ponta dos pés para ver o que ocorria na festa. Tudo o que consegui ver foi todo mundo correndo para todas as direções.
- Parece que a polícia chegou - disse sem se mexer.
- Eu acho que nós devemos ir – falei, tirando lentamente as mãos de seu pescoço. – Sabe, antes que eles nos peguem aqui.
- Certo, então. Quer que eu te acompanhe até sua casa? – perguntou em dúvida.
Pensei um pouco antes de responder. Mal não faria, certo? Aquelas criaturas já vinham em minha direção hoje, se não fosse por talvez eu não estivesse mais aqui. E, ainda mais, era tarde e podia ser perigoso.
- Acho que tudo bem – respondi.
Andamos alguns minutos sem pronunciar nenhuma palavra, afinal não tínhamos muito o que falar. Ele era um completo estranho pra mim, não sabia nem ao menos onde ele estudava.
- Então, , quantos anos você tem? – perguntei, tentando conhece-lo melhor.
- Dezessete – disse simplesmente.
- E onde você estuda? – perguntei tentando puxar assunto.
- Já terminei a escola tem um tempo – respondeu dando de ombros. parecia alheio a qualquer coisa, andava com as mãos no bolso olhando para algum ponto a sua frente, então achei melhor ficar quieta.
As ruas estavam completamente vazias e silenciosas, somente nós dois andávamos. Chegamos a minha casa algum tempo depois.
- É aqui – disse sem saber o que mais dizer.
- Acho que essa é a minha deixa, então – respondeu.
- Eu te convidaria para entrar, mas sabe como é, meu pai e meu irmão estão aí e eles não sabem que eu saí – disse olhando para a janela do meu quarto.
- Entendo. Também já fui assim um dia – disse sorrindo. – Então... Foi bom te conhecer, . A gente se vê por aí.
- É, sim. Foi bom te conhecer também, - ele apenas me olhava sorrindo. – Certo, a gente se vê por aí. – finalizei, me despedindo com um aceno de mão, em seguida indo em direção a árvore para subir para o meu quarto.
Meu quarto estava do mesmo jeito que deixei, o que mostrava que ninguém tinha suspeitado de nada. Pelo menos eu esperava. Deitei na cama, depois de colocar um pijama qualquer, e só então me lembrei das minhas amigas. Eu havia deixado a festa sem nem ao menos vê-las. Mas se não havia mensagens no celular significava que estavam bem. Falaria com elas no dia seguinte. Respirei fundo, encarando o teto. Estava começando a ficar com dor de cabeça, por causa das bebidas, eu imagino. Estava cansada, então fechei os olhos esperando que o sono chegasse.


Acordei com a luz do sol invadindo meu quarto. Podia jurar que tinha fechado a janela, mas tudo bem. Levantei da cama sentindo uma leve tontura, indo direto ao banheiro para tomar banho.
- Vou viajar hoje, provável que só voltei segunda – meu pai me informou assim que pisei na cozinha.
- Trabalho? – perguntei, me sentando em uma das cadeiras.
- Infelizmente – respondeu. – Vai ficar tudo bem aqui?
- Espero que sim – disse simplesmente, fazendo meu pai me olhar preocupado. – To brincando, pai – disse para tentar faze-lo relaxar. Às vezes ele era muito preocupado. – Vai ficar tudo bem.
- Avise o Chad, assim que ele voltar da escola – disse, subindo as escadas para ir pegar as malas.
- Vou avisar.
- Tem certeza que vai ficar tudo bem? – perguntou assim que desceu.
- Tenho, pai – respondi, indo abraçá-lo.
Tudo bem – disse, dando um beijo em minha testa. – Tem dinheiro no cofre caso haja alguma emergência. Qualquer coisa me ligue. Voltarei o mais rápido possível.
- Eu sei pai, eu sei. Boa sorte em seja lá o que você for fazer.
Ele não disse nada, apenas sorriu e pegou sua mala, indo em direção à porta.
- Pai? – o chamei quando já estava na porta.
- Sim? – se virou em minha direção.
- Você foi no meu quarto ontem à noite? – perguntei, me lembrando da janela aberta.
- Não, não. Apenas vi a luz apagada e achei que estivesse dormindo. Por quê? Algum problema?
- Não, nenhum. Só para saber mesmo – respondi sorrindo, para lhe passar segurança. – Boa viagem.
Fui para o sofá assim que ele fechou a porta. Passei o dia inteiro assistindo algum programa qualquer. Estava quase dormindo no sofá, quando meu celular começou a tocar.
- Alô? – atendi sem nem mesmo ver quem era.
- , por que você sumiu ontem a noite? – era Andie.
- Eu? E vocês? Se meteram aonde? – perguntei, me sentando.
- Nós estávamos na festa, até a policia aparecer, é claro. Mas você sumiu, ficamos preocupadas.
- É uma longa historia.
- Sei – disse com ironia.
- Você não quer vir aqui em casa? Posso explicar melhor. Meu pai foi viajar e só volta segunda, você e Trisha podem passar um tempo aqui.
- Certo, vou ligar pra ela. Te vejo daqui a pouco – desliguei em seguida.


- Então, nos conte tudo – Trisha disse assim que abri a porta de casa.
- Onde você se meteu ontem a noite? – perguntou Andie, se jogando no sofá.
- Calma, gente, temos a noite inteira pra falar disso – disse, me sentando em uma das poltronas.
- Tem alguma bebida por aqui? – Trisha perguntou.
- Deve ter alguma coisa na geladeira – respondi. Trisha foi direto para a cozinha.
- Então, como foi a festa ontem? – perguntei à Andie.
- O de sempre – respondeu enquanto pegava uma latinha de cerveja na mão de Trisha. – Dança, bebida, meninos, nada de novo. E você?
- Eu conheci uma pessoa. Um garoto. – disse e no segundo recebi olhares maliciosos das duas, me fazendo rolar os olhos. – Mas não, não fizemos nada.
- Nós... – comecei a lembrar de tudo, eu vi os demônios, ele chegou, os demônios sumiram, nós dançamos, ele me levou pra casa. – Nada de mais. Apenas conversamos. E ele me trouxe pra cá quando a policia chegou.
- Não aconteceu mais nada? – Andie perguntou, se sentando.
- Como eu disse, nada de mais.
Andie e Trisha apenas se olharam com um sorriso que eu não consegui definir o significado.
- Que foi? – perguntei estranhando.
- Nada não – disse Trisha. – Você é tão inocente.
- Não sou! – disse indignada.
- Você sabe que é – insistiram.
- Que seja – respondi, revirando os olhos. – Vocês não querem sair daqui não? Ir para algum pub ou sei lá.
- É assim que se fala – Andie disse já subindo as escadas.


Chegamos ao pub meio hora depois. Estava muito cheio, talvez porque era sábado. Não sei por que eu continuava indo para lugares tão cheios sendo que eu não gostava. Assim que entramos fomos direto ao bar, por onde eu provavelmente ficaria o resto da noite.
- Pode trazer uma garrafa de vodca, por favor – disse ao barman.
- Nem uma cerveja antes, ? – perguntou Andie.
- Você sabe que eu odeio enrolações.
Viramos pelo menos cinco shots antes de Trisha e Andie irem dançar. Eu não gostava muito de dançar, então só permanecia no meu canto, bebendo.
- Uma cerveja, por favor – ouvi uma voz conhecida ao meu lado, logo em seguida um homem sentando ao meu lado.
- Você por aqui? – perguntei à .
- Pergunto o mesmo – disse, mas parecia estar sendo irônico. Apenas levantei uma das sobrancelhas. – Certo, eu vi você entrando, mas eu já vinha aqui também.
- Se você diz – respondi, virando mais um shot.
- Eu te chamaria pra dançar, se já não te conhecesse.
- Fala como se já me conhecesse há muito tempo – respondi com uma risada de deboche.
- Eu conheço – respondeu, novamente me fazendo levantar uma sobrancelha.
- Se você me conhecesse tão bem, saberia que eu quero sair daqui – levantei-me do banco, deixando uma nota em cima do balcão e indo para fora do pub.
- Eu já esperava por isso – disse enquanto me seguia.
O clima lá fora estava frio, mas por algum motivo aquilo não me incomodou. Novamente, sentei na calçada.
- Então, o que você faz?
- Como assim?
- Você já acabou o colégio...
- Ah. Nada de mais, só fico por aí.
- Só fica por aí? Seus pais deixam? – Essa pergunta tinha soado mais infantil que o normal, droga.
- Não tenho pais – disse sem emoção alguma.
- Oh, desculpe, eu não queria...
- Tá tudo bem. Já foi há muito tempo – respondeu olhando para um ponto qualquer a nossa frente.
Ficamos em silêncio por alguns segundos. Comecei a me arrepender de ter tocado no assunto.
- Minha mãe também morreu – disse, tentando reconfortá-lo.
- Como? – perguntou simplesmente.
- Acidente de carro – Não disse mais nada. As memórias daquele dia voltaram com tudo. Eu e minha mãe no carro, e no segundo seguinte tudo o que eu enxergava eram borrões. Respirei fundo antes de continuar. – Eu não sei como eu me sinto sobre isso, sabe? Foi tudo tão rápido, e eu ainda não consigo acreditar que é verdade e que ela se foi. É algo estranho.
- Eu sei como é – respondeu depois de algum tempo, acendendo um cigarro. – Não queremos acreditar em alguma coisa que a nossa mente não consegue viver sem.
- Alguma coisa do tipo.
O silêncio novamente surgiu. Mas não um silêncio desconfortável, apenas não tínhamos nada mais para falar.
- ? – ouvi alguém me chamar de longe. Droga, era o Brian.
- Brian? O que está fazendo aqui? – perguntei, me levantando.
- Seu irmão me contou. Quem é ele? – perguntou se referindo à .
- Brian, ele é só um amigo – disse segurando seus ombros. Brian era muito controlador, às vezes.
- Amigo? – perguntou me olhando.
- É só um conhecido.
- Nós não estávamos fazendo nada, fica calmo - disse com tranquilidade, se levantando também.
- Quem deixou você falar com ela? – Brian perguntou nervoso, se soltando de minhas mãos com facilidade.
- Desde quando eu preciso da sua autorização? – perguntou num tom de deboche.
- Brian – disse em um tom mais elevado, quando percebi que ele ia socar . – Vamos pra casa. Não vale a pena. Ele não fez nada, estávamos apenas conversando.
- Que seja – disse olhando para com raiva. – Vamos embora – pegou em meus pulsos com certa agressividade, me arrastando para longe.
- A gente se vê por aí - disse.

Continua...


Nota da autora: Um pouco confuso, certo? A pp enxerga coisas sobrenaturais... Mas tudo ficará mais claro daqui alguns capítulos. Qualquer duvida também será respondida no meu ask, também podem conversar comigo. Até a próxima.
Nota da beta: Encontrou algum erro? Não use a caixinha de comentários para reclamações. Entre em contato pelo e-mail ou pelo twitter, ok, anjinhos? Laura. xx

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