Escrita por: Rafaela Julich
Betada por: Laura Bertão



Eu via aquele show como se fosse a primeira vez em que o via tocar. Seus cabelos longos se moviam freneticamente, alguns fios grudados em sua face devido ao suor de tocar por duas horas a fio. Ele parecia estar em outra dimensão, completamente alheio às milhares de pessoas a sua frente, gritando enlouquecidas, pulando umas sobre as outras com a melodia extasiante, tão entorpecidas por sua música quanto ele. Era assim que tocava: Completamente entorpecido, apaixonado, como se pudesse sentir cada acorde, cada nota, cada batida. Era impressionante como ele se entregava à música. Era maravilhoso como sua guitarra parecia fazer parte dele, como uma parte de seu corpo. Era por isso que toda vez que eu tinha uma oportunidade de vê-lo no palco, eu nunca deixava de ser impressionada.

estava ao seu lado, também dedilhando sua guitarra com uma velocidade espantosa, de olhos fechados, como se o som que fizesse o hipnotizasse completamente. Todos da banda pareciam ser deixados levar pela música que eles mesmos faziam, como se ela fosse um ser vivo, no palco com eles, orquestrando-os. Mesmo após dez anos, eles não deixavam de surpreender sua plateia. Era simplesmente fantástico como o McFLY arrastava multidões para uma arena, e como cada pessoa naquele amontoado de gente parecia tão hipnotizada com a melodia elétrica que saía das guitarras de e . De onde eu estava, no canto do palco, eu ainda achava incrível aquela imensidão de pessoas, juntas por um propósito maior: A música. E eu achava mais incrível ainda o fato de conhecê-los, de ter os visto evoluir musicalmente, desde as cantorias ao redor de uma fogueira na praia de Dover, até o dia em que comoviam dezenas de milhares de pessoas para vê-los tocar. Dez anos, e aquilo ainda me impressionava.

Da banda de garotos que abria os shows da turnê de Bruce Springsteen, para os homens de um dos grupos mais cobiçados da atualidade. E um deles, aquele de cabelos longos – mesmo que agora, devido à moda do momento, tivessem cabelos longos –, grudados ao rosto, tão compenetrado em sua criação, era meu, e somente meu. Fazia-me rir alguns cartazes escritos com loucuras de amor direcionadas a , e ao invés de me sentir enciumada por saber que ele poderia ter, diante do mundo todo, a mulher que ele quisesse, eu me sentia realizada por ele ter realizado seu maior sonho. Por eles terem conseguido. Eles eram a sensação da música, a revolução da década, o orgulho britânico. O meu orgulho. E mesmo após uma década, lá estava eu, ao lado de , vibrando como duas groupies por nossos esposos.

Obrigada, Nova York! gritou pelo microfone após finalizarem a última música do roteiro, fazendo com que a multidão aplaudisse e berrasse como se eles fossem deuses vivos perante seus olhos. Os integrantes do McFLY, meus melhores amigos, abraçaram-se em êxtase como se aquele fosse o primeiro show de suas carreiras, e se despediram com animação da plateia em furor.
Meu sorriso se alargou quando encontrou meus olhos, finalmente notando minha presença depois de horas embriagado em sua música, e veio correndo em minha direção, me abraçando fortemente como se não me visse há dias, e eu sabia que para ele, realmente parecia assim, uma vez que quando ele tocava, seu tempo simplesmente parava. Ele espalhava dezenas de beijos por todo meu rosto, me intoxicando com seu deslumbre, fazendo meu peito encher ainda mais de orgulho e alegria. Meu marido era fantástico.

“Você viu só, meu amor?” perguntou com fascínio, como se não fosse em todo show que ele recebia toda aquela comoção por parte da plateia. “Meu Deus, isso foi incrível!” então envolveu meu rosto com suas mãos, cheias de calos devido ao seu fervor ao tocar uma guitarra, aquele sorriso maravilhoso estampado em seu rosto. As velhas cicatrizes de guerra ainda estavam lá; uma na sobrancelha, outra no nariz e uma no canto de seus lábios. Elas agora eram menores e menos visíveis do que quando as vi pela primeira vez, naquela tarde ensolarada no sítio quando ele voltara para mim, mas ainda me lembravam dos dolorosos anos que tive que viver sem . Parecia uma memória distante e quase apagada, sobreposta por todos os momentos de felicidade que se seguiram desde então. Mas as cicatrizes ainda estavam lá, lembrando-nos dos anos de sofrimento, lembrando-nos do quão maravilhoso era estarmos juntos, mesmo após tanto tempo.

1979. Um ano importante. O começo do fim de uma Era. O mundo era outro, apesar da bipolaridade ainda permanecer e parecer eterna, enquanto o Reino Unido via Margareth Thatcher surgir como a primeira mulher a comandar o antigo império. No entanto, apesar dos grandes eventos históricos que vivenciávamos, era a música que mais me surpreendia. Ela havia sido revolucionada, com o punk de Sex Pistols, o rock poético do Queen, o metal fervoroso de Iron Maiden, o pop romântico de Elton John, a guitarra enlouquecida de Eric Clapton. Eu amava a década de 1960, já que obviamente foi a década em que vivi os melhores – e piores anos da minha vida –, mas eu devia admitir que a década de 1970, musicalmente, havia me surpreendido de formas astronômicas.

Mas fora nessa década, porém, que me vi entristecer como nunca, desde que a Guerra de 64 tirara de mim. Há dois anos, meu Rei havia sido encontrado morto em seu banheiro, em Memphis, Estados Unidos. Desde aquele épico dia em que me pedira em casamento em um show do Elvis em Las Vegas, sempre que tínhamos a oportunidade, ele me levava para ver o Rei. Quando a fama se tornou inevitável aos garotos, e todas as cidades do mundo brigavam para tê-los em suas arenas, vi-me rodeada de todos os talentos possíveis.
havia se tornado amigo íntimo de Keith Richards, que passava todos os verões embriagado no quintal de nosso sítio. havia presenciado diversos momentos das brigas espantosas de Sid Vicious e Nancy Spungen quando se aventurava a sair com Sid em Londres, por insistência deste. Apesar de um pouco perturbado, Sid era um garoto fantástico. Até ter sido encontrado morto, neste mesmo ano de 79. ainda idolatrava Bruce Springsteen, e afirmava que abrir seus shows, bem no começo, havia sido o ponto máximo de sua carreira; mesmo depois de ter ganhado tantos prêmios e ele mesmo ser o autor de concertos estrondosos. E continuava o mesmo , incansável, com seu eterno espírito de garoto, saindo de uma festa e pulando para outra, com Roger Daltrey, Eddie Van Halen, Ozzy Osbourne, e quem quer que estivesse preparado para uma noitada. continuava a ser o solteirão mais cobiçado da Inglaterra.

E era neste ambiente embriagado de música, que hoje eu não mais escrevia poemas para o jornal local de Bolton, mas escrevia uma coluna especial para a Rolling Stone a cada duas semanas. Era inclusive por esta razão que eu me encontrava em Nova York, com a incrível coincidência de ser na mesma época em que tocava com o McFLY em sua turnê nos Estados Unidos. Jann Wenner, meu editor-chefe, estava patrocinando um baile de gala beneficente, e minha presença – e obviamente, de meu marido super estrela – era muito requisitada. Depois de tantos anos, eu ainda não havia me acostumado completamente com aquela vida.

A fama dos garotos foi completamente inusitada e inesperada; com o lançamento de seu primeiro CD, logo estavam em primeiro lugar nas paradas musicais não só do Reino Unido, como dos Estados Unidos. Eles conquistaram o mundo em uma velocidade espantosa. Por isso foi tão difícil me acostumar com seu sucesso, apesar de saber que eles conseguiriam. Eu sempre soube, desde quando aqueles garotos arrastavam garotas histéricas para o bar do tio Lewis.

“Estou com saudade da Jo,” reclamou enquanto percorríamos o corredor de dentro da arena até sua saída, seu braço no entorno da minha cintura e o meu na dele. Dei um beijo em sua bochecha, apertando-o ainda mais contra mim. Já fazia quinze dias que ele estava em turnê, e apesar de insistir para que eu me juntasse a ele como eu sempre fazia no começo, agora era difícil deixar Joanna sozinha em casa.
Ela estava naquela fase em que os amigos eram a coisa mais importante de sua vida, e apesar de amar viajar com o pai, ela não queria deixar Bolton nem por um instante sequer. E se eu deixasse uma garota de acontecer anos sozinha em um sítio onde seu avô a deixava fazer tudo – absolutamente tudo – o que quisesse, eu tinha medo do que poderia acontecer. Joanna havia puxado o espirito rebelde da mãe, e o aventureiro do pai.
“Ligamos pra ela quando chegarmos ao hotel,” procurei acalmá-lo, pois sabia que uma das piores coisas para ele em sair para uma turnê mundial, era nos deixar para trás. Ele voltava para Bolton sempre quando tinha uma folga, mesmo que eu insistisse para que ele aproveitasse os lugares fantásticos que visitava, mas há dez anos, percorrendo o mundo tantas vezes, ainda voltava para mim, sempre que tinha uma oportunidade. Mary e Meredith haviam concordado em manter um olho em Jo enquanto eu viajava, por isso eu estava tranquila naquele momento.

“Te vemos amanhã, então?” me perguntou quando finalmente chegamos ao estacionamento da arena, agarrada a ele tanto quanto eu estava a . Ele estava ansioso para chegar ao seu hotel, onde seus dois filhos o esperavam. Larguei por um instante para poder abraçar meu melhor amigo, já que a saudade por ele também me dominava toda vez que aqueles quatro saíam em turnê.
“Espero que tenha muito álcool nessa festa do seu chefe amanhã, me lançou uma piscadela antes de entrar em um carro com duas modelos loiras agarradas a ele. Rolei os olhos em brincadeira antes de mandar-lhe beijos no ar, vendo-o partir para o que, supus, só podia ser alguma festa badalada de Nova York.
“Feliz aniversário para vocês dois,” abraçou a mim e com euforia, ainda extasiado pela energia do show que acabara de fazer. Ah sim... Nosso aniversário de dez anos de casados. Esse era, também, um dos motivos pelos quais Jo não quisera me acompanhar à viagem para os Estados Unidos. ‘Sabe-se lá o que vocês dois vão ficar fazendo durante o aniversário de vocês. Ew, não. Aproveitem. Eu prometo que vou me comportar com o vovô,’ foram suas exatas palavras.

e eu trocamos um olhar cúmplice antes de entrarmos dentro do sedan preto, o motorista já nos aguardando. Não havíamos preparado nada especial, apesar de dez anos serem algo grandioso. A verdade era que não precisávamos comemorar algo que já celebrávamos todos os dias. Não era uma surpresa o fato de estarmos a tanto tempo juntos. Eu poderia apenas deitar naquela cama de hotel com , assistir a um filme horroroso na televisão, e ainda assim teríamos o aniversário.
Eu nem ao menos observava a paisagem linda de Nova York à noite, a cidade que realmente nunca dormia. estava deitado em meu colo, seus cabelos loiros agora secos, mas verdadeiramente emaranhados, no entanto, eu ainda conseguia fazer algum afago. Seus olhos cintilavam de alegria do show que havia terminado, mas tinha algo a mais ali. Sua ternura usual, que aquecia minha alma toda vez que direcionava seus olhares a mim.

‘Sempre me perguntam qual o segredo de um relacionamento duradouro, parecem ficar surpresas quando digo que eu e estamos juntos há tanto tempo. A verdade é que não há nenhum segredo. Quando você encontra sua alma gêmea, não existem segredos para a felicidade. Ela vem naturalmente, ’ disse em uma de suas inúmeras entrevistas à televisão, mas aquela em particular, era a minha favorita. Eram raras às vezes em que perguntavam por algo que não fosse sua música, por isso ele surpreendera a todos com aquelas palavras. Jamais imaginavam que aquele roqueiro rebelde, que tanto pula e tanto enlouquece em seus shows, fosse, na verdade, um romântico incurável.
‘O que te faz acreditar que ela seja sua alma gêmea?’ ele foi perguntado.
‘Eu não acredito. Eu sei. Eu a amo desde que me entendo por gente. Eu fantasio com ela desde a primeira vez que a vi. ’ Então a plateia suspira e o entrevistador o olha com surpresa. Eu sinto meu coração acelerar como o de uma garotinha.
‘Oh, sim. foi a paixão platônica de por muitos anos,’ disse daquele seu jeito galanteador, achando graça pelo fato de todos estarem espantados com a história.
‘Quer dizer que sua esposa inicialmente não amava você de volta?’ o apresentador perguntou e riu.
‘Não, não. Ela era muita areia pro meu caminhãozinho,’ ele respondeu, recebendo exclamações de protesto da audiência feminina. ‘É verdade, é verdade! Ela ainda é! Ela namorava esse idiota, irmão de , por sinal, e eu tive que esperar até que ela pudesse ser minha. Mas durante todo esse tempo, ela sempre foi o amor da minha vida. ’
Eu olhava para a televisão embasbacada, com Mary e Meredith aos suspiros ao meu lado, não muito diferentes das garotas da plateia daquele programa de TV. Até Jo parecia amolecida, mesmo insistindo não ser nem um pouco romântica e chamando-nos de melosos sempre que tinha oportunidade. ‘Tem alguma história em especial que você poderia compartilhar conosco?’ Agora até mesmo o entrevistador parecia comovido.
‘Bem, cada dia é especial, para falar a verdade. Sem querer parecer piegas, ’ respondeu, rindo ao ver rolar os olhos. ‘Gosto de uma história que eu nem ao menos me lembro muito bem, que meu pai adora nos contar, de quando éramos pequenos, e John, pai de , sempre a levava para o sítio que hoje moramos, para pescar. Nesta época em especial, era inverno e brincava de patinar no lago que estava congelado. Eu devia ter meus oito anos, e apesar de não entender bulhufas do que sentia, sabia que a amava. Então o gelo debaixo dela trincou, e como eu estava a assistindo de longe, como sempre gostava de fazer, fui correndo e mergulhei naquela água congelante para salvá-la. Eu sempre gosto de ouvir essa história, porque mostra que, mesmo que eu não lembre, eu faço tudo por essa mulher, desde sempre. ’
E então o auditório fica em pleno silêncio, as garotas fanáticas com seus olhos cintilando, até mesmo meus amigos parecem prender o ar, pois não acho que tenhamos contado aquela história para alguém. Somente fiquei sabendo dela quando me mudei para o sítio, todos aqueles anos atrás, quando fugi da casa de Mary e finalmente me vi apaixonada por . Ela também era a minha favorita.

Portanto, dentro daquele carro, apesar de tantas coisas terem mudado, outras continuavam as mesmas. , acima de tudo e todos, era quem mais tinha se transformado; não devido à fama, muito antes disso. Ele jamais fora o mesmo, desde que voltara da guerra. As memórias dela ainda nos assombravam, embora não como antes. Nos primeiros meses, até mesmo nos primeiros anos, era perseguido pelos horrores que vivera, através de pesadelos que o faziam acordar no meio da noite, aos gritos. Eu então o abraçava com todas as minhas forças, até ele perceber que ele estava ali comigo, que eu jamais o largaria novamente. Do mesmo jeito que estávamos agora. Sempre que ele chegava de um show, corria para meu colo, como se eu descarregasse todo seu cansaço, como se eu o trouxesse de volta para a realidade após horas navegando na dimensão paralela em que ele se enfiava dentro de sua música.

“Minha linda,” disse, seu tom carinhoso, o sorriso largo nos lábios, como se eu ainda fosse aquela garota de vinte anos, como se não tivesse envelhecido um segundo sequer. Fiz uma careta, porque desde sempre nunca soube como lidar com seus elogios, e colei nossos lábios dezenas de vezes até que o motorista avisasse que havíamos chegado ao nosso hotel. abriu a porta e esticou a mão para que eu descesse, e continuamos andando de mãos entrelaçadas até o elevador. Nem mesmo esperei para a porta fechar e entrelacei meus braços no pescoço de , trazendo-o para perto de mim, seu sorriso maravilhoso estampado em seus lábios.
“Dez anos, hein?” arqueei as sobrancelhas, um sorriso brincalhão brincando nos meus.
“Dez anos... Como diabos eu consegui manter uma mulher como você do meu lado por dez anos?” indagou lascivo, suas mãos acariciando minhas costas, fazendo-me arrepiar em cada parte do meu corpo.
“Vou te contar como você conseguiu,” respondi no meu pior tom galanteador, aproximando-nos ainda mais um do outro, e não tardei a colar nossos lábios que nunca se cansavam de se explorar. Dez anos beijando a mesma boca, dez anos sentindo as mesmas explosões e reviravoltas no fundo do estômago, o mesmo frio percorrendo a espinha.
Para os leigos, era realmente difícil acreditar como um casal podia ficar tanto tempo juntos e ainda serem capazes de despertar um no outro as mesmas sensações de quando eram adolescentes. Mas como já dissera, para nós tudo isso vinha naturalmente. Eu não era ingênua o suficiente em dizer que tudo era sempre perfeito; a distância constante era difícil, as mulheres do mundo todo enlouquecidas por ele às vezes conseguiam chegar aos meus nervos, mas ele sabia como recompensar. sabia como me mostrar que ele era meu, e somente meu.
A minha intenção quando aquela porta de elevador abrisse já no apartamento de hotel, era de pular em seu colo e deixar com que nos levasse até o quarto...

Ew!” a voz de Joanna me fez afastar de intuitivamente, uma vez que era incrível como minha filha amava reclamar quando eu e seu pai ficávamos, vamos dizer, íntimos. Mas o que ela estava fazendo ali? “Vocês nunca se desgrudam?”
Lá estava ela, seus cabelos loiros amarrados em um rabo de cavalo alto, uma sobrancelha arqueada e a típica cara de repulsa adolescente. Era incrível a semelhança com , mesmo que, até hoje, ele insistisse em dizer que ela se parecesse comigo. Os olhos eram dele, bem como o nariz perfeitamente moldado. Até o modo como ela arqueava as sobrancelhas era dele. Talvez seu jeito rebelde ela houvesse herdado de mim.
“Jo, minha pequena!” correu em direção à filha e eu não contive o riso quando ela inicialmente fez careta quando seu pai a abraçou forte, logo se rendendo ao abraço e pulando em seu colo. “O que você está fazendo aqui?”
“Eu sabia que chatos como vocês dois são, provavelmente passariam seu décimo aniversário assistindo televisão ou fazendo algo que velhos fazem,” Jo disse rolando os olhos, e eu ri, pois era exatamente isso que iriamos fazer. Bom, não somente isso.
“Então viemos pra cá a fim de fazer uma surpresa!” De repente percebi que Mary estava sentada no sofá da pequena sala, ao lado de tio Lewis. Meus olhos quase saltaram das órbitas quando percebi que eles haviam decorado o apartamento todo com rosas e velas. Olhei incrédula em direção à Mary. A idade finalmente parecia chegar até ela, seus cabelos agora levemente esbranquiçados e as pequenas, ainda que visíveis rugas espalhadas pelo rosto. No entanto, continuava elegante de uma maneira que só ela sabia ser. Minha mãe levantou-se do sofá e veio em nossa direção, abraçando – que ainda mantinha seus braços ao redor de Jo – e me envolvendo por fim. “Eu concordo com Jo, não podíamos deixar vocês comemorarem essa data tão importante como velhos,” ela riu de sua última palavra, pois sempre achava graça quando a neta nos chamava assim.
Jo mantinha um brilho orgulhoso nos olhos por sua ideia, mas eu ainda estava demasiada surpresa pela presença dos três ali. Chamei-a pela mão para que ela viesse enfim me abraçar, e por incrível que pareça, ela veio sem reclamar. Abriu aquele sorriso maravilhoso, parecido com o de , que iluminava todo o lugar, e escondeu seu rosto em mim, abraçando-me fortemente. “Obrigada, querida,” agradeci em seu ouvido, e minha pequena esticou a cabeça para me encarar. Apenas deu uma piscadela e finalmente me soltou.
“Agora vamos não é mesmo, vó. Eu não quero ficar aqui para assistir esse romance meloso todo,” Jo reclamou rolando os olhos, de sua maneira típica. “Vamos logo, vô!”
Tio Lewis levantou-se com dificuldade do sofá, como se o lugar estivesse confortável demais. “É seu avô quem está velho demais para essas coisas...” ele disse com divertimento, abraçando-me e depois o filho, logo entrelaçando sua mão na estendida de Jo.
“Bobagem, vovô. O senhor é muito mais legal e divertido que esses dois,” Jo brincou e mandou língua, logo chamando o elevador. “Nós estamos no quarto de baixo. Tentem não fazer muito barulho. Ew, isso foi muito estranho.”
E logo que o elevador chegou, os três trataram de adentrá-lo, Joanna tagarelando no ouvido dos avós, que escutavam a tudo que ela dizia como se fosse a conversa mais importante do mundo. Era inevitável que meu coração se aquecesse ao ver aqueles três. Minha família.

sorria abobalhado, e logo entrelaçou sua mão na minha para que pudéssemos ver o que nossa filha havia aprontado. Toda a sala estava iluminada apenas por luzes de velas, e sobre a cama enorme de casal havia várias pétalas de rosas espalhadas. Incrível como Joanna podia ser romântica, mesmo afirmando ser completamente o oposto. A sacada do quarto estava aberta, e por estarmos na cobertura do hotel, a vista de Nova York era simplesmente de tirar o fôlego, o Empire State Building logo mais à frente, brilhando como nunca. Mas não foi isso que mais chamou minha atenção, e sim a mesa de jantar posta perto das grades da sacada. Uma mesa maravilhosamente decorada com velas e flores.
“Não acredito que aquela pestinha fez tudo isso,” disse incrédulo, olhando de mim para a mesa, completamente maravilhado. Talvez, realmente, aquela maneira era melhor de passar nosso aniversário do que ver algum filme bobo na TV.
“Ela puxou o pai,” rebati, sabendo que o romantismo de Jo só podia ter vindo de uma pessoa.
se aproximou, fazendo meu coração acelerar da maneira que somente ele sabia fazer, e logo envolveu meu rosto com suas mãos do jeito que ele sabia que eu amava. Daquele jeito que me fazia sentir completamente protegida, completamente amada por aqueles olhos que me encaravam com tanta intensidade, como se pudesse me ver por inteiro.
“Você se lembra do nosso primeiro beijo?” eu perguntei, após fazer um grande esforço ao descolar nossos lábios, vendo rir levemente.
“É claro que me lembro... O dia em que você ficou mais bêbada na vida...” ele respondeu brincalhão, abraçando-me pela cintura e me apertando contra seu corpo. Estapeei-o de leve no ombro.
“Ei! Eu nem estava tão bêbada assim,” tratei de falar, fazendo rir descaradamente agora.
“Amor, Joanna não está aqui. Você não precisa fingir que era uma puritana,” ele disse brincalhão, jogando a cabeça sutilmente para trás enquanto ria, daquele jeito adorável.
“Okay... Eu estava realmente chapada. Nenhuma pessoa devia ser permitida a beber tanta tequila assim,” eu rebati, lembrando-me daquele dia no sítio em que nos beijamos pela primeira vez, após eu ter bebido sabe-se lá quantas doses de tequila naquele jogo em que eu sempre, sempre perdia.
“E você se lembra de que foi você quem me beijou?” perguntou maroto, um sorriso ironicamente lindo brincando no canto de sua boca.
“Mas é óbvio. Você só ficava me provocando e não tinha coragem de me beijar logo de uma vez!” entrei em seu jogo, vendo agora uma expressão ofendida – e completamente falsa – preencher seu rosto.
“Ei! Eu era um cavalheiro!” afirmou incrédulo, fazendo-me gargalhar.
“Sim, realmente muito cavalheiro da sua parte agarrar uma moça tão bêbada quanto eu estava aquele dia...” brinquei, beijando-o de leve e vendo um sorriso aparecer em seus lábios.

“Eu sempre te digo que jamais entenderei como diabos alguém como você está comigo... E eu poderia ficar horas e horas falando sobre o quão sortudo eu sou por ter você, . Sobre como eu sou agradecido por Benjamin ter te magoado há tantos anos atrás. Àquela bendita garrafa de tequila,” Dougie brincou, fazendo-me rir apesar da seriedade em seus olhos, mas o sorriso nos lábios. “Eu poderia ficar mais uma eternidade falando sobre o quanto eu te amo, sobre como eu continuo a te amar mais e mais a cada dia que passa, sobre como eu não sei viver sem você, sobre como você é a mulher da minha vida e eu sinceramente não sei o que seria de mim...” aquelas lindas palavras saiam com facilidade dos lábios de e nunca deixavam de me deixar maravilhada. Seu talento em dizer coisas lindas que me faziam suspirar era nato. “Mas eu acredito fielmente que atos falam mais que mil palavras...”
E então nossas bocas estavam coladas pelo que parecia a milésima vez, com as sensações da primeira. Eu não podia deixar de sorrir em meio aquele beijo, enquanto agarrava os cabelos de e o trazia o mais perto de mim possível. A menor distância ainda era insatisfatória.
“Eu te amo, . E eu prometo te amar pelos próximos cem anos...” sussurrei, um tanto alheia devido àqueles olhos hipnotizantes sobre mim, que sorriam tanto quanto seus lábios, que colaram-se nos meus novamente.
“Agora só falta mais uma coisa...”
se afastou de mim por alguns instantes, adentrando nosso quarto e me deixando curiosa para saber o que ele faria. No minuto seguinte, escutei aquela melodia que nunca falhava em me estremecer, que agora tocava meu coração com um tanto de tristeza quando o dono daquela voz deixara esse mundo de maneira tão injusta. No entanto, ela era a nossa música. A música que começou a fazer serenatas há tantos anos atrás, enfurecendo Mary e aquecendo meu coração. Aquela música que ele tocava toda vez em que chegava em casa depois de tantas semanas em turnê. Aquela música que o Rei parecia ter escrito especialmente para nós.

Somethings are meant to be... cantarolou enquanto se aproximada, sua voz tão linda quanto a de Elvis. “Take my hand,” então entrelaçou nossas mãos e começamos a nos mover de acordo com a doce melodia. “Take my whole life too...” ele continuou, fazendo-me fechar os olhos quando encostei minha cabeça em seu ombro e ele nos liderava em uma dança lenta e sutil, beijando meu pescoço de tempos em tempos. Quando o último verso da música estava prestes a acabar, desencostei de seu ombro para que pudesse encará-lo com o maior dos meus sorrisos, não muito diferente do dele. tocou seus lábios nos meus com um carinho que fazia meu coração acelerar, antes de sussurrar a última frase da música e me fazer ter certeza de que para mim também, era impossível não me apaixonar por ele, todos os dias.
For I can’t help falling in love with you...


FIM



Nota da autora: Wow! Foi definitivamente uma aventura escrever algo relacionado com Dear Diary depois de tanto tempo. Acredito que a finalizei há uns... Dois anos? E comecei a escrever ela há... Seis? SEIS? Jesus, eu comecei a escrever Diary Diary há seis anos atrás... Eu era literalmente um feto! Tinha dezesseis anos! Hoje tenho vinte e fucking dois anos! Como estou velha! Bom, foi uma aventura escrever, pois hoje sou uma pessoa completamente diferente daquela garota sonhadora que começou a escrever Dear Diary há tantos anos atrás... Porque é tão engraçado olhar para trás e ver que tanta coisa mudou... E foi tão incrível olhar para frente, tentar imaginar meus personagens dez anos depois que a história acabou. Pois se eles tivessem tomado vida própria, eu tenho certeza, apesar de não ser mais aquela romântica incurável, que esses dois ainda estariam juntos, e completamente apaixonados um pelo outro. Espero que vocês tenham gostado dessa visão – mesmo que pequena – do futuro, tanto quanto eu gostei de escrevê-la. Não sei se alguém ainda lembra de Dear Diary, mas se sim, obrigada por estarem aqui lendo esse especial! Obrigada pelas meninas do site pelo convite! Foi realmente maravilhoso. E obrigada a todas vocês que já leram Dear Diary, eu sempre a abro para ver os comentários incríveis que vocês me deixam. Eu juro, eu sempre os leio. E caso tenha ai alguma leitora que se interesse em entrar no Grupo no Facebook das minhas fanfics – mesmo que ultimamente eu ando bem parada, sem nenhuma novidade :( - eu adoraria tê-las lá. Eu ainda me aventuro em escrever de vez em quando, apesar de achar que não tenho mais o mesmo ‘talento’ de antes. O tempo passa, você começa a ficar preocupada com outras coisas, com outras responsabilidades, e acaba deixando alguns hobbies de lado... Espero que os deuses do Olimpo me agraciem novamente com o ‘dom’ da criatividade... Enfim, já divaguei demais! Obrigada novamente, a todas!
See you all soon!
Rafa.

Links:
twitter, ask, facebook, weheartit, tumblr pessoal, tumblr da minha obsessão por One Direction, grupo no facebook.

Outras fics:
+ The One That I Need (finalizada), Different Ways To Say I Love You (finalizada), Yours To Hold (finalizada), Sam's Wedding (finalizada), 98 and 6 Degrees (finalizada), Three Cheers For Sweet Revenge (finalizada), Dear Diary (finalizada), Nothing Personal (finalizada), The Rizza (em andamento)


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