Destiny
Autora: Beatriz Melo
Beta: Gi Salgueiro

Capítulo Único.

Eu não lembro quando a vi pela primeira vez.
Era novato naquele colégio, tudo era diferente, todas as pessoas eram diferentes. Além disso, era muito tímido, não fiz amigos fora da minha sala, pelo menos no primeiro semestre, fiz pouquíssimos até a metade do ano, e foi quando eu realmente reparei nela.
Longos cabelos , naquela época eram rebeldes. Pequena, um pouco menor do que eu. Não era um cara alto, tinha a estatura média, e ela ainda conseguia ser menor do que eu e, para mim, assim estava bom. Olhos , naquela época eu não havia reparado como eram tão bonitos.
Nunca tinha falado com ela, não tinha coragem para isso, e pelo visto, ela muito menos.

~Flashback 14 anos antes~
Eu sempre a via na hora da saída, ficávamos esperando nossos pais chegarem para poder nos levar para casa, e foi numa dessas "hora da saída" que ela veio falar comigo pela primeira vez. Nesse dia eu tinha resolvido mudar o meu cabelo, ao invés de colocá-lo para o lado, fiz um topete. Queria mudar um pouco, ver se me sentia diferente e se fazia sucesso com as garotas. Não que eu fosse feio, mas não tinha tanta experiência nem costume de ficar com garotas, eu era bonito.
Quando eu estava indo em direção ao carro para poder ir para casa, não havia reparado que ela estava lá, fiquei surpreso quando ela me parou e falou, com voz nervosa:
-Ei, eu não gosto do seu cabelo assim, prefiro de lado - ela tinha um sorriso nervoso no rosto e sua amiga estava com a cabeça abaixada não acreditando na situação. Eu de tão surpreso, ao invés de responder algo legal, jogar o meu charme, só consegui responder algo idiota, com uma voz nervosa e um sorriso no rosto.
- Mas eu prefiro assim - é, eu respondi isso. Esperando tanto tempo para falar com ela pra responder isso. Eu estava tão nervoso e eufórico que eu não conseguia parar de pensar na merda que eu tinha falado, e, pra piorar a minha situação, eu continuei andando. Mas ela não tinha desistido, e assim que eu me virei ouvi a sua voz:
- Mas eu prefiro de lado - é, ela disse isso, depois dessa eu me virei, e, de novo, ao invés de falar algo charmoso, eu só repeti a mesma coisa.
- Mas eu prefiro assim - a única explicação plausível que eu encontro para entender porque eu repeti a mesma merda de frase foi que eu estava eufórico demais e não estava raciocinando direito. Só que ela não me deu nem a oportunidade de falar nada, depois que eu falei, ela rebateu com um:
- Mas sou eu que olho, então eu digo que prefiro de lado - e ela falou isso com o maior sorriso no rosto, agora sem nervoso. Então não era só eu quem olhava para ela, ela também olhava para mim. Eu já estava rindo, só dei um passo para trás e antes que ela falasse mais alguma coisa, saí andando e entrei no carro.
Fui o caminho inteiro pensando nisso, dormi pensando também. Não sei o porquê, mas no outro dia não fiz topete no meu cabelo, o coloquei de lado, como sempre. Mentira, eu sei sim porque, eu só tinha mudado para fazer sucesso com as garotas, então, se eu fazia "sucesso" sem mudar, pra que eu ia fazer isso? Não fazia sentido.
Nesse dia eu tinha educação física na primeira aula, e, assim que a aula acabou, fui beber água, já que estava morrendo de sede. Quando eu estava enchendo a minha garrafa, ela apareceu com a sua para encher também. Enquanto bebia a água, a vi se aproximar com um sorriso pretensioso no rosto, acho que ela já tinha percebido que o meu cabelo estava como sempre e não deixou essa oportunidade passar, quando ela virou para encher sua garrafa eu pude ouvir a sua voz.
- O cabelo num instante ficou de lado - eu juro que quase engasguei quando ouvi isso. Eu não sabia o que falar, então só respondi um "pois é". Depois disso, não tive tempo de falar nada, ela já tinha saído e voltado para a sua sala.

~Fim do Flashback~

Depois daquele dia nunca mais falei com ela. Não que eu não olhasse mais para ela ou ela para mim, sempre fazíamos isso. Só não nos falamos mais, nem um dos dois tinha coragem de falar um com o outro.
O ano havia acabado e eu mal podia esperar pelo próximo. Quando eu cheguei no primeiro dia de aula no colégio, preferia que o ano não tivesse acabado. Uma das primeiras coisas que eu vi foi um cartaz enorme mostrando uma lista de aprovados em um colégio muito concorrido e a foto de todos eles, e lá tinha o nome e a foto dela bem grande.
Eu não a veria mais naquele ano. Nem no próximo.
Se você quer saber, o colégio ficou uma merda o resto do ano. Não era legal não vê-la nas horas livres.
Meses depois, enquanto eu ia comprar o meu lanche no recreio, eu a vi conversando com seus amigos, talvez estivesse os visitando, não sei. Tudo o que eu vi foi que ela estava diferente. Não sei dizer como, só sei que estava diferente. Mas como dizem, alegria de pobre dura pouco, eu a vi durante 20 minutos, depois disso o recreio já havia acabado e quando minha aula acabou ela não estava mais lá. Até o fim do ano eu só a vi 2 vezes no máximo.
O ano seguinte era o meu 3º ano e eu já tinha praticamente a esquecido. Mudei o meu cabelo para um topete, mas depois voltei ao normal, aquele penteado não combinava comigo. Naquele ano eu tinha mudado de turma e fiz grandes amizades, me divertia bastante, estava aproveitando o meu último ano na escola. Eu só a vi mais duas vezes no ano e me surpreendi bastante, ela havia mudado muito, estava com mais curvas, o seu cabelo parecia estar menos rebelde, estava muito mais bonita. O ano já tinha acabado e eu também já tinha esquecido ela, estava torcendo para passar no vestibular e conseguir entrar numa boa faculdade. Comemorei muito depois de passar na faculdade de Direito, estava livre do peso nas costas e da pressão que era.
A faculdade começou e não podia ser melhor, ia a festas nas sextas e nos sábados à noite, pegava várias garotas, me divertia como nunca. Eu até tive uma namorada, mas ela não era essas coisas todas, era enjoadinha, então o namoro não foi pra frente.
Mais ou menos na metade do ano, teve um show de música eletrônica e eu fui com a minha turma da faculdade. Estava ficando com uma garota quando eu a vi passar por trás dela. Estava acompanhada de um cara, estavam de mãos dadas, não sabia o que aquilo representava, mas tanto faz, eu só conseguia olhar para ela. Como ela tinha mudado, estava perfeita, os cabelos estavam lisos com cachos nas pontas, ela estava mais magra, inúmeras vezes mais bonita do que eu podia imaginar. Acho que o cara era namorado dela, porque não desgrudou o show inteiro, então eu não fui lá dar uma "chegada" nela, o que foi uma pena. Depois daquele show, continuei a minha realidade daquela época, faculdade, estudo, muitas festas e tudo mais.

~Flashback 9 anos antes~
Dois anos tinham passado e eu estava no 3º ano da minha faculdade de Direito. Estava saindo da minha última aula do primeiro dia e no estacionamento estava a maior festa, os veteranos jogavam tinta e água nos calouros e tinha uma grande quantidade de gente observando e ajudando a melar os novatos. Alguns estavam mal humorados por terem melado a roupa, mas quase todos estavam rindo bastante. Enquanto eu encostava no meu carro para observar aquela festa, eu vi aquele sorriso. Ela gargalhava enquanto levava água na cara e era pintada. Ela olhava ao redor para ver se vinha mais alguém com tinta e de repente ela parou me vendo e cerrou os olhos para verificar se era eu mesmo ou se era só impressão, depois que confirmou, ela abriu um sorriso enorme, e depois que foi encerrada a brincadeira com os calouros ela veio falar comigo.
- Oi - ela estava toda melada e sorrindo.
- Oi - eu respondi, rindo também, não era um riso obrigado, saía naturalmente, pela situação em que nós estávamos. - Qual o seu nome mesmo? - É, nós nunca fomos apresentados todo esse tempo. É claro que eu sabia o nome dela, mas não custava perguntar só pra começar algum assunto e não ficar só no "Oi".
- , e o seu? - Ela estendeu a mão para me cumprimentar e depois reparou que ela estava completamente melada, mas não me importei com isso e apertei a sua mão.
- .

~Fim do flashback~

Aí foi quando tudo realmente começou.
Nós ficamos amigos muito rápido. Ela era alegre com os amigos, animada, falante, risonha, brincalhona e estressada, mas quando estava com pessoas estranhas ou com que não tinha tanta intimidade, era extremamente educada, sorria simpática e respondia calmamente a tudo que lhe perguntavam.

~Flashback 9 anos antes~
Nós erámos amigos há 6 meses mais ou menos, e de uns tempos pra cá, eu e ela ficamos mais íntimos, ficamos numa festa há duas semanas e estávamos nos dando muito bem. Eu estava achando muito legal, ela era uma garota incrível. Estávamos jogando vídeo game na minha casa e pela milésima vez eu tentava ensiná-la a jogar futebol, o que parecia impossível. Estava deitado no sofá, jogando uma partida com e lhe dando as coordenadas para que ela aprendesse, o jogo estava no nível mais fácil possível, e parecia que ela não ouvia comando nenhum que eu lhe dava, só a via clicando em todos os botões esperando que acontecesse algo do além. Quando eu fiz o terceiro gol ela desistiu de vez.
- Sem chance, eu desisto - ela se levantou irritada praticamente jogando o controle no móvel. - Eu nunca vou aprender a jogar isso aí.
- Eu acho que se você vivesse uns mil anos ainda não aprenderia a jogar - eu falei, rindo da cara dela enquanto recebia um olhar fulminante e entregava o controle para que colocasse no móvel. - São os fatos, , alguns nascem pra jogar e outros só para apreciar - e agora ela me manda um dedo, um doce essa menina.
- Eu não nasci pra isso, é diferente, mas vamos aceitar os fatos de que eu faço muitas coisas melhores que você, então tá tudo bem você jogar futebol melhor que eu no vídeo game, eu deixo - Ela chegou mais perto de mim ainda em pé, ficando agora do lado do sofá, e me mandou um joinha com os dois polegares. Eu ri da cara dela e da puxei para que deitasse em cima de mim, no sofá, o que ela fez sem pensar direito, já que caiu no meu peito.
- E eu posso saber no que você é melhor do que eu? - Falei enquanto a via se ajeitar em cima de mim.
- Nada que você já não saiba - ela desdenhou e eu a incentivei a falar. - Como por exemplo na cozinha, eu sou muito melhor que você.
- E em mais o que mesmo? - Dei um riso fraco e fiz uma cara de sofrimento como se estivesse reclamando do peso dela sobre o meu, recebendo logo depois um tapa forte no braço.
- Não lembro agora, mas sou muito melhor que você - ela falou, depois de muito pensar, se aproximando de mim e continuou a falar bem próximo ao meu rosto. Eu podia sentir a sua respiração batendo no meu rosto. Concordei com a cabeça e soltei um murmúrio parecido com um "uhum" e a beijei. Ela segurou em meus ombros e eu coloquei meus braços em volta da sua cintura fazendo um carinho na pele exposta que não estava coberta pela blusa. Ficamos nos beijando por um bom tempo e depois encerramos os beijos com selinhos e mordidas.
Foi ali que eu cheguei à conclusão do que eu queria.
Não queria somente ficar com , ela era a garota perfeita. Já tinha parado parar pensar nisso essa semana, mas agora eu realmente tive certeza. Nós tínhamos muitas coisas em comum e as que não tínhamos, ou aproveitávamos isso um no outro ou fazíamos brincadeiras a respeito.

~Fim do Flashback~

Naquele mesmo dia eu a pedi em namoro, não precisava esperar mais tempo para ter certeza. era uma pessoa esquentada por natureza, era meio louca também e um amor de pessoa. Eu adorava irritá-la só para provocar e ela realmente se estressava, era engraçado de se ver. Ela adorava cozinhar e quando davam certo, seus pratos eram uma delícia. Nós torcíamos para o mesmo time de futebol e íamos a todos os jogos possíveis, ela ficava super animada e falava mais palavrão do que eu. Nosso namoro era saudável, tínhamos os nossos problemas como qualquer outro casal, mas nada que não fosse muito bem resolvido depois, se é que você me entende.
Cinco anos namorando, passando por altos e baixos juntos, eu já tinha certeza do que sentia em relação a ela, a pedi em casamento em um jantar romântico, sua resposta não podia ser diferente de "sim" e mais uma vez ela tinha me deixado eufórico.
Hoje em dia estamos casados há 4 anos e mais felizes impossível. Nossa festa de casamento não foi tão grande, minha família é pequena, a maior parte dos convidados foi dos nossos amigos e da família dela, que é enorme. Hoje trabalho como promotor e como juíza, ambos seguimos a carreira que tanto queríamos. Todas as férias viajamos para conhecer o mundo, sempre que podemos.
Depois que fomos morar juntos, como marido e mulher, descobri que ela) tem uma tara por ternos e camisas sociais brancas. É incrível o jeito que ela me olha sempre que estou me arrumando para trabalhar, todos os dias de manhã ela fica olhando para mim com cara de tarada, dando risadinha e falando que me ama de camisa social. É claro que eu dou preferência para comprar ternos todos pretos e camisas brancas, é sempre bom receber um olhar daqueles.
Agora eu estou aqui, voltando de viagem desejando estar em casa, com a minha mulher e o meu filho, Pedro, que tem 2 anos. Lembro do quanto eu amo aqueles dois, de quanto sinto falta deles, e lembro também o quanto eu amo a , o quanto eu amo como ela me beija, é como se sempre fosse a primeira vez, o meu coração ainda dá aquelas batidas fortes toda vez que eu a vejo, lembro de como nós gostamos de conversar antes de dormir, com o rosto muito próximo, de como eu gosto de acordar todos dias de manhã a abraçando inconscientemente enquanto ela está virada e com a cabeça debaixo do travesseiro (uma de suas manias), de quando ela sorri para mim ou quando ela ri por alguma besteira que pensou e não quer compartilhar comigo, de como ela fica estressada com facilidade e eu a beijo para que ela se acalme, dessas coisas simples do dia-a-dia.
Depois do transito infernal, cheguei em casa e assim que abri a porta do apartamento, ela estava deitada no sofá com Pedro sentado no chão brincando com alguma coisa enquanto assistia a alguma coisa na TV. Quando tirei o terno e os sapatos, saiu correndo para dentro do apartamento e eu encarei o corredor vazio sem entender nada.
- Louca – falei, retirando a gravata, subindo as mangas da camisa até o cotovelo e desabotoando os primeiros botões da camisa. Iria comer, estava morrendo de fome, trocaria de roupa depois. Assim que abri a geladeira, se encostou na porta da cozinha e ficou me olhando, tirei o rosto da geladeira e olhei para ela.
- Posso saber o que você tá olhando?
- Eu já disse o quanto eu amo você de camisa social branca? - Ela falou, olhando para mim com cara de tarada. Ela nunca ia mudar.
- Só um milhão de vezes - eu falei voltando o meu rosto para a geladeira e a ouvi fazer um "ah" triste e vi com o canto do olho ela saindo da cozinha. - Mas não custa repetir - aumentei o tom de voz para que ela pudesse me ouvir, logo ela já estava encostada na porta da cozinha de novo.
- Então eu retiro o que disse - aí sim ela me surpreendeu. - Eu amo você com camisa social, com as mangas dobradas até o cotovelo e com os primeiros botões abertos, isso sim é que é homem - ah, nem tinha falado o quanto ela diz que ama o meu cabelo preto, o quanto ela ama eu ser só um pouco mais alto que ela e o quanto eu sou perfeito para ela.
- Vai, tarada – falei, rindo e fechando a geladeira. Assim que a porta bateu, veio correndo na minha direção, pulando em cima de mim, me obrigando a segurá-la e colocando um papel na minha cara. - Já disse que você é meio louca? O que tem nesse... - minha voz foi morrendo a cada palavra que eu lia ali, no final do papel tinha um grande POSITIVO. Quando eu virei para , apertei mais o abraço e afundei o rosto no seu pescoço. Definitivamente nada poderia estar melhor.
A gente pode não ter ficado junto no começo, mas talvez tudo isso tenha sido destino.
“O destino fecha às vezes os olhos, mas bem sabe que para ele voltaremos depois, e que é ele que terá a última palavra.” -Maurice Maeterlinck

Fim!



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